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1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ASSAÍ (PR) “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las” Santo Agostinho O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ vem, por meio dos Promotores de Justiça que a esta subscrevem, com fulcro no artigo 129, IX, da CF, art. 25, VI, da Lei 8625/93, art. 2º, VI, da Lei Complementar Estadual nº 85/93, art. 120, VIII, da Constituição do Estado do Paraná e Lei nº. 7347/1985, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR em face do ESTADO DO PARANÁ , Pessoa Jurídica de Direito Público interno, ora representado pelo Procurador-Geral do Estado, o qual pode ser encontrado para citação na Rua Conselheiro Laurindo, n.º 561,

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1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA

PÚBLICA DA COMARCA DE ASSAÍ (PR)

“A esperança tem duas filhas lindas, a

indignação e a coragem; a indignação nos

ensina a não aceitar as coisas como estão;

a coragem, a mudá-las”

Santo Agostinho

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ vem,

por meio dos Promotores de Justiça que a esta subscrevem, com fulcro no

artigo 129, IX, da CF, art. 25, VI, da Lei 8625/93, art. 2º, VI, da Lei

Complementar Estadual nº 85/93, art. 120, VIII, da Constituição do Estado do

Paraná e Lei nº. 7347/1985, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR

em face do ESTADO DO PARANÁ, Pessoa Jurídica de

Direito Público interno, ora representado pelo Procurador-Geral do Estado, o

qual pode ser encontrado para citação na Rua Conselheiro Laurindo, n.º 561,

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

13º andar, Centro, CEP 80060-100, no Município de Curitiba/PR, pelos fatos

argumentos de fato e de direito:

I - LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimidade ad causam do Ministério Público para o

presente instrumento brota cristalino dos artigos 127, 129, incisos II e III e

144, todos da Constituição Federal e artigos 1º, inciso IV e 5º, inciso I,

ambos da Lei n. 7.347/85, sendo patente que o objeto dela – direitos difusos

atingidos – alcança reflexamente toda a comunidade local, pelo que resta

plenamente autorizada a atuação do Parquet.

A legitimidade para figurar no polo ativo da presente ação é

patente diante do exercício da função institucional em defesa do

cumprimento da Constituição da República.

A segurança pública, devido à sua essencialidade e

necessidade para sobrevivência da coletividade, possui natureza jurídica de

serviço público exclusivo do Estado.

A sua não prestação ou prestação precária atinge a grupo

indeterminado de pessoas, unidas pela circunstância fática de encontrarem-

se residindo ou em permanência transitória nos Municípios que integram a

Comarca de Assaí/PR e figuram como vítimas ou potenciais vítimas em toda

sorte de infrações penais, cujo objeto de interesse é indivisível e

indisponível.

Da mesma forma, a presente ação busca garantir a ordem

(segurança) pública e a preservação da incolumidade das pessoas e do

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

patrimônio, zelando pela efetividade dos serviços de relevância pública,

assegurados constitucionalmente.

Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SEGURANÇA PÚBLICA. LEGITIMIDADE.

INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. IMPLEMENTAÇÃO DE

POLÍTICAS PÚBLICAS. OMISSÃO ADMINISTRATIVA. 1. O Ministério

Público detém capacidade postulatória não só para a abertura do

inquérito civil, da ação penal pública e da ação civil pública para a

proteção do patrimônio público e social do meio ambiente, mas

também de outros interesses difusos e coletivos [artigo 129, I e III,

da CB/88]. Precedentes. 2. O Supremo fixou entendimento no

sentido de que é função institucional do Poder Judiciário

determinar a implantação de políticas públicas quando os órgãos

estatais competentes, por descumprirem os encargos

políticojurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer,

com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos

individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional,

ainda que derivados de cláusulas revestidas de conteúdo

programático. Precedentes. Agravo regimental a que se nega

provimento. (RE 367432 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda

Turma, julgado em 20/04/2010, DJe-086 DIVULG 13-05-2010 PUBLIC

14-05- 2010 EMENT VOL-02401-04 PP-00750)

II - LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO DO PARANÁ

A atribuição de prestar os serviços de segurança pública recai

sobre o Estado do Paraná, conforme consta da Constituição da República

(art. 144), o que dispensa maior discussão. Do mesmo modo, prevê a

Constituição Estadual, em seu art. 46, in verbis:

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Art. 46 – A Segurança Pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos é exercida, para a preservação da

ordem pública e incolumidade das pessoas e do patrimônio,

pelos seguintes órgãos:

I - Polícia Civil;

II - Polícia Militar;

III - Polícia Científica.

(…)

III – COMPETÊNCIA DESTE JUÍZO

A redação do art. 2º, da Lei n. 7.347/85 é clara e determina

que a competência para julgamento da Ação Civil Pública é do juízo do local

onde ocorrer o dano, estabelecendo o legislador competência absoluta e

indeclinável.

Assim, não restam dúvidas de que este juízo é competente

para processar e julgar o presente feito.

IV - DOS FATOS

A presente demanda tem como escopo a defesa do direito

difuso à segurança pública, objetivando a adoção de todas as

providências necessárias para designação e manutenção de quadro de

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

efetivo da Polícia Civil em número suficiente para atender aos

Municípios que integram a Comarca de Assaí

Tramitam na Vara Criminal de Assaí, desde o já longínquo

ano de 2004, Pedido de Providências n.º 2004.000045-0 visando

acompanhar e solucionar as carências estruturais da Delegacia de Polícia e

Cadeia Pública local, situada na A. Paul Harris, n.º 170, Conjunto Copasa,

nesta cidade, que atende os municípios de Assaí, São Sebastião da

Amoreira e Nova América da Colina.

Nota-se que, desde o ano de 2004, o quadro de carência de

pessoal com número reduzido de investigadores de polícia e um desvio de

função dos poucos existentes para realização da custódia dos presos da

carceragem permanece o mesmo.

Com efeito, não obstante os esforços envidados para o

regular funcionamento da Delegacia Polícia local, sempre assoberbada com

população carcerária muito além da sua capacidade, o problema em questão

permanece sem qualquer perspectiva de solução.

Note-se que não foram poucos os ofícios enviados à

Secretaria de Segurança Pública e à Subdivisão Policial de Cornélio

Procópio visando à solução das carências apontadas (fls. 11, 15, 64, 87, 96,

97, 98, 148, 156, 157, 198, 201, 216, 258, 281, 358, 361, 371, 383, 392 e

393).

No entanto, as respostas encaminhadas ao juízo criminal de

Assaí pelos órgãos de segurança pública (fls. 65, 109, 145, 150, 217, 362,

373, 395) longe de resolver o problema, mostraram-se evasivas, vazias,

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

eternizando a solução das vicissitudes apontadas, postergando a elucidação

de algo impostergável.

Ora excelência, conquanto o ente público demandado

esforce-se em argumentar que a carência de servidores lotados na 34ª

Delegacia de Polícia Civil somente seria equacionada com a realização de

concursos públicos, certo é que desde de 2004 muitos anos se passaram; os

concursos foram realizados; as autoridades vieram a óbito, se aposentaram,

foram exoneradas; assumiram novas autoridades; delegados, juízes e

promotores foram removidos e promovidos, enfim, o mundo inteiro mudou. A

única coisa que não muda, todavia, é a situação de falta de servidores em

número adequado para o bom andamento dos serviços públicos prestados

pela Delegacia Regional de Assaí.

Gize-se que a cadeia pública local tem capacidade atual para

custódia de 24 (vinte e quatro) presos. Por todo esse tempo a população

carcerária superou bastante esse limite máximo, encontrando-se atualmente

com cerca de 40 detentos, muitos dos quais condenados definitivos que, em

regime fechado, deveriam cumprir a pena em estabelecimento adequado,

qual seja, estabelecimento de segurança máxima ou média, a teor do artigo

33, parágrafo primeiro, “a”, CP, porém, mas, por não conseguirem vaga para

inserção no sistema, continuam inflando a Cadeia Pública de Assaí e

assoberbando os poucos servidores que nele se encontram lotados.

De fato, a par dessa população carcerária que se encontra

muito fora do limite máximo de absorção da unidade, há ínfima

disponibilidade de pessoal para atendimento das necessidades de

segurança local. A cadeia conta com 0 (zero) AGENTES DE CADEIA

PÚBLICA. As funções de segurança são realizadas, mediante revezamento

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

por turnos somente pelos poucos INVESTIGADORES DE POLÍCIA

disponíveis para a unidade

Com efeito, excelência, a situação que sempre foi crítica,

atualmente encontra-se caótica.

Conforme se verifica através das informações ocasionalmente

atualizadas pela autoridade policial local (fls. 71, 82, 146, 199, 209, 228, 326

e 378), a Delegacia de Polícia de Assaí sempre contava com ao menos três

investigadores de polícia aptos para, ainda que com desvio de função,

exercer a guarda interna e externa do setor de carceragem temporária,

sendo necessário, na pior das hipóteses, no mínimo três investigadores de

polícia e três agentes de cadeia (contratados por processo de seleção

simplificado), para atender satisfatoriamente os serviços de polícia judiciária

da comarca.

Todavia, as mais recentes comunicações da Delegacia de

Polícia de Assaí (fls. 384 e 396) indicam a existência de somente 1 (um)

investigador de polícia verdadeiramente apto para o exercício pleno das

funções, podendo realizar diligências investigatórias, tirar plantões e realizar

a guarda interna e externa da carceragem.

De fato, após a recente aposentadoria do investigador Paulo

Martins Correia e o trágico suicídio do investigador José Miguel Portes, o

único investigador capacitado plenamente para a função é o servidor Edson

Gonçalves Marques o qual, em verdade, é lotado na DP de São Sebastião

da Amoreira e está exercendo suas atividades na Delegacia de Assaí por

força de ordem de serviço (fls. 396).

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Existem ainda três investigadores lotados na 34ª D.P (Fábio

Rodrigo Príncipe, Kazunori Nakasono e Weber Sciorra Vieira) que na

verdade nada investigam, pois não ainda fizeram o curso de formação, e,

com exceção de Fábio, que encontra-se atualmente matriculado e cursando

a Escola Superior da Polícia Civil, não há previsão de quando os demais

realizarão tal curso (nova resposta evasiva às fls. 402/403), tampouco há

garantias de que quando o fizerem permanecerão exercendo suas atividades

nesta comarca. Suas funções resumem-se, logo, a serviços administrativos e

burocráticos.

A bem dizer, atualmente não existe qualquer investigação

nos crimes cometidos na Comarca de Assaí, pois o único servidor

capacitado a fazê-lo encontra-se em desvio de função, realizando a

guarda interna e externa do setor de carceragem temporária (passando

alimentação, remédios, abrindo e fechando o pátio de sol, verificnado o setor

interno, as visitas, agendando tratamento médico, etc.), a qual, vale repisar,

encontra-se com o dobro da sua capacidade carcerária.

Essa situação de designar investigadores para atuar como

agentes de carceragem é corriqueira no Estado do Paraná, onde os

Investigadores de Polícia são também responsáveis pela guarda de presos

provisórios, o que caracteriza atividade ininterrupta. Confira-se o art. 6º, VII,

da Lei Complementar Estadual nº 96/2002:

Art. 6º - Aos Investigadores de Polícia compete:

(…)

VII – zelar pela integridade física e moral, e guarda de presos

provisórios, recolhidos nos setores de carceragem das

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

unidades policiais civis, enquanto interessarem à investigação

policial;

Isto significa que é preciso haver ao menos um

Investigador de Polícia, capacitado para suas funções, de forma

permanente, na Delegacia, a fim de atender eventualidades dentro da

cadeia pública. Equipara-se, assim, ao cargo de Agente Penitenciário, para o

qual é estabelecido o Regime de Trabalho em Turnos – RTT.

Com efeito, para atividades ininterruptas, o Decreto Estadual

nº 2.471/2004 estabeleceu o Regime de Trabalho em Turnos – RTT:

Art. 4°. Fica regulamentado o Regime de Trabalho em Turnos

– RTT, para as atividades com atuação ininterrupta de 24

horas de serviço, para o servidor ocupante de cargo/função

com carga horária prevista no artigo 4° da Lei n° 13.666/02,

da seguinte forma:

I - 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso, com

duas folgas mensais, para aquele servidor com jornada

de oito horas diárias; ou

II – Omissis

III - Omissis

§ 1°. O regime de trabalho para os ocupantes do cargo de

Agente Penitenciário será o previsto no inciso I, deste

artigo.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Este Decreto é aplicável aos servidores da Polícia Civil do

Paraná, por força do art. 1º, § 3º, do Decreto 4.345/2005:

Art. 1º. O servidor público civil do Estado do Paraná, da

Administração Direta e Autárquica, deverá laborar em jornada

pela carga horária de seu cargo adotando-se, nos casos

específicos, o regime de turno de trabalho conforme

estabelece a legislação estadual, para atendimento integral

do serviço.

§ 1º. Entende-se por carga horária a quantidade de horas

semanais a que deve se submeter a atividade laborativa do

cargo público, que é de 40 (quarenta) horas.

§ 2º. Entende-se por jornada a quantidade de horas diárias

de atividade laborativa a que um servidor deve se submeter,

de acordo com a carga horária de seu cargo.

§ 3º. O regime de turno de trabalho deverá obedecer ao

que dispõe o Decreto nº 2.471, de 14 de janeiro de 2004,

estendendo-se as disposições daquele Decreto aos

demais órgãos da Administração Direta e Autárquica do

Poder Executivo.

Assim, apenas para realizar a guarda dos presos

provisórios (e, na prática, alguns definitivos), é necessário que 4

(quatro) dos Investigadores de Polícia hoje lotados na Delegacia de

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Assaí dediquem-se EXCLUSIVAMENTE a estas atividades, a fim de que

se revezem, em jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso.

Ademais, ao menos um desses Investigadores de Polícia

deveria ser do sexo feminino, a fim de possibilitar diligências

imprescindíveis, especialmente no que tange às visitas aos presos. Caso

haja falha na fiscalização do ingresso de mulheres nas dependências da

Delegacia de Polícia, algumas das deletérias consequências são o ingresso

de aparelhos de telefonia celular, drogas e armas e utensílios para tentativas

de fuga.

Novamente cumpre salientar, além da guarda de presos

provisórios, os Investigadores de Polícia possuem outras atribuições – mais

condizentes com o seu cargo, diga-se – que consubstanciam atividades

externas. Ou seja, enquanto 4 (quatro) Investigadores dedicar-se-iam

exclusivamente para a guarda dos presos provisórios, outros quatro

restantes realizariam todo o trabalho efetivo de polícia judiciária, ou seja, a

análise de cenas de crimes, a colheita de provas, o cumprimento de

mandados de prisão, busca e apreensão, etc. Apenas a título de exemplo,

confira-se novamente o art. 6º, da Lei Complementar n. 96/2002:

Art. 6º - Aos Investigadores de Polícia compete:

(…)

V - prender ou fazer prender delinquentes contra os quais

houver mandado de prisão ou em flagrante delito,

providenciando, neste caso, o acompanhamento de

testemunhas;

(...)

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

XI - cooperar, demonstrando espírito de colaboração, com as

autoridades policiais e seus agentes auxiliares, em todas as

investigações para a descoberta de crimes e seus autores,

empenhando o máximo esforço para o completo êxito das

diligências;

Importa novamente ressaltar que os Investigadores devem

ser formados na Escola da Polícia Civil . Caso contrário, somente podem

realizar atividades administrativas, o que exclui a guarda de presos e a

realização de diligências externas.

Os Escrivães de Polícia, por sua vez, também se fazem

necessários 24 horas por dia. As suas atribuições, no Estado do Paraná,

estão fixadas no art. 7º do Anexo I do Decreto Estadual nº 4884, de 24 de

abril de 1.978.

Os autos de prisão em flagrante (atribuição do Escrivão,

prevista no inciso VII do mencionado art. 7º), por exemplo, devem ser

elaborados imediatamente, independentemente da hora em que ocorre a

prisão em flagrante, conforme se infere do art. 306 do Código de Processo

Penal:

Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se

encontre serão comunicados imediatamente ao juiz

competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à

pessoa por ele indicada. (Redação dada pela Lei nº 12.403,

de 2011).

§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da

prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu

advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. (Redação

dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Ademais, é atribuição do Escrivão encaminhar a vítima para

exame pericial (inciso XIX do mencionado dispositivo legal). Em crimes

sexuais, por exemplo, é imperativo que alguns exames se deem nas

primeiras horas que sucedem o fato, sob pena de se perder a prova do

crime.

Isto significa que é preciso haver ao menos um Escrivão de

Polícia, de forma permanente, na Delegacia. Destarte, são necessários ao

menos 4 (QUATRO) Escrivães de Polícia, permanentemente, para se

revezarem em jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso.

Do exposto, verifica-se que para a manutenção de um regime

de plantão na Delegacia de Assaí, são necessários ao menos 8

Investigadores (ou 4 investigadores e 4 agentes de carceragem) e 4

Escrivães, totalizando 12 (doze) servidores da Polícia Civil do Paraná.

Ressalte-se que não estamos tratando, aqui, do número adequado de

servidores da Polícia Civil na Delegacia de Assaí, mas do número mínimo

para o desenvolvimento das atividades de polícia judiciária de forma

ininterrupta, conforme o art. 144, § 4º da CF.

Sobre a necessidade de se manter serviço policial

ininterrupto, confira-se as seguintes decisões do E. TJ-PR:

REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

DE OBRIGAÇÃO DE FAZER EM DEFESA DA SEGURANÇA PÚBLICA.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

INSUFICIÊNCIA DE EFETIVO HUMANO NA POLÍCIA CIVIL NO

ÂMBITO DOS MUNICÍPIOS DE MANGUEIRINHA E HONÓRIO SERPA,

QUE CONTA APENAS COM UM ESCRIVÃO DE POLÍCIA.

PRETENSÃO DE CONDENAÇÃO DO ESTADO NA OBRIGAÇÃO DE

FAZER CONSISTENTE EM ASSEGURAR A ADOÇÃO DAS

PROVIDÊNCIAS LEGAIS E ADMINISTRATIVAS NECESSÁRIAS

PARA PREENCHIMENTODE UM QUADRO MÍNIMO DE SERVIDORES

DA POLÍCIA CIVIL EM TAIS MUNICÍPIOS. SENTENÇA DE PARCIAL

PROCEDÊNCIA. RECURSO DO ESTADO DO PARANÁ. SENTENÇA

DE PARCIAL PROCEDÊNCIA, QUE DETERMINA AO ESTADO DO

PARANÁ QUE, NO PRAZO DE SEIS MESES, DESIGNE PARA A

DELEGACIA DE MANGUEIRINHA NÚMERO SUFICIENTE DE

DELEGADOS, ESCRIVÃES E INVESTIGADORES DE POLÍCIA PARA

O CUMPRIMENTO DA ESCALA DE PLANTÃO E DEMAIS

ATIVIDADES, SOB PENA DE MULTA PESSOAL AO SECRETÁRIO DE

SEGURANÇA. (…) SITUAÇÃO OBJETO DA LIDE QUE REVELA

DESCUMPRIMENTO A PRECEITO CONSTITUCIONAL RELATIVO À

SEGURANÇA PÚBLICA. PRESENÇA DE APENAS UM SERVIDOR

(ESCRIVÃO) NO MUNICÍPIO (E DE UM DELEGADO DESIGNADO,

QUE ATENDE OUTRAS CINCO DELEGACIAS) QUE INFRINGE A

PREVISÃO CONSTITUCIONAL, POIS IMPOSSIBILITA A

CONSECUÇÃO DE TODOS OS ATOS E MEDIDAS NECESSÁRIAS NA

ÁREA DE SEGURANÇA PÚBLICA PREVISTAS EM LEI, DEIXANDO A

POPULAÇÃO EM EVIDENTE CARÊNCIA. A IMPLEMENTAÇÃO DE

POLÍTICA PÚBLICA EXISTENTE NÃO TRATA DE ATO

DISCRICIONÁRIO, MAS VINCULATIVO, PELO QUE, HAVENDO

OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NESTE SENTIDO, É

POSSÍVEL A INTERVENÇÃO DO JUDICIÁRIO, PARA FAZER VALER

A LETRA CONSTITUCIONAL. INOCORRÊNCIA DE OFENSA AO

PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES IN CASU.

CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO DE FAZER DETEMINADA PELA

SENTENÇA QUE DEVE SER MANTIDA. (…) (TJPR - 4ª C.Cível - AC -

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

730910-4 - Mangueirinha – Rel.: Maria Aparecida Blanco de Lima -

Unânime - - J. 23.08.2011).

“APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO AÇÃO CIVIL

PÚBLICA OMISSÃO DO ESTADO NO CUMPRIMENTO DO DEVER DE

PRESTAR SEGURANÇA PÚBLICA AUSÊNCIA DE DELEGADO DE

POLÍCIA, NÚMERO INSUFICIENTE DE ESCRIVÃES E

INVESTIGADORES DE POLÍCIA, BEM COMO DEFICIÊNCIA DE

EQUIPAMENTOS NAS DELEGACIAS DE POLÍCIA DOS MUNICÍPIOS

DE ALTO PIQUIRI E BRASILÂNDIA DO SUL. EFETIVO POLICIAL

INSUFICIENTE PARA A SEGURANÇA DOS REFERIDOS MUNICÍPIOS

SENTENÇA PARCIALMENTE PROCEDENTE COM COMINAÇÃO DE

MULTA DIÁRIA DIREITO DE SEGURANÇA PREVISTO

CONSTITUCIONALMENTE COMO GARANTIA FUNDAMENTAL

SOCIAL LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA

INGRESSAR COM AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA ADEFESA DE

DIREITOS DIFUSOS NÃO CABIMENTO DE ADIN POR OMISSÃO

PARA A DEFESA DE NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA E IMEDIATA

DANO EVIDENCIADO NOS AUTOS RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA

DO ESTADO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SEGURANÇA

PÚBLICA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE RAZOABILIDADE DA

PRETENSÃO IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA TEORIA DA

RESERVA DO POSSÍVEL - DIREITO À SEGURANÇA QUE COMPÕE

O ROL DAS GARANTIAS AO MÍNIMO EXISTENCIAL O

DESCUMPRIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DEFINIDAS EM

SEDE CONSTITUCIONAL LEGITIMA A INTERVENÇÃO DO PODER

JUDICIÁRIO - AUSÊNCIA DE DISCRICIONARIEDADE DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO CUMPRIMENTO DE PRECEITOS

FUNDAMENTAIS PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES NÃO

PODE SER USADO COMO ESCUDO PARA JUSTIFICAR OMISSÃO

DO ESTADO FRENTE AOS DEVERES CONSTITUCIONAIS

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

POSSIBILIDADE DE COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA - SENTENÇA

MANTIDA EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO RECURSO DE

APELAÇÃO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJ-PR 1114016 PR

111401-6 (Acórdão), Relator: Fernando Antonio Prazeres, Data de

Julgamento: 08/02/2012, 13ª Câmara Cível)

Caso não se adote o Regime de Trabalho por Turno –

RTT, deve-se observar que a carga horária dos servidores da Polícia Civil do

Paraná é de 40 horas semanais (conforme disposto no já transcrito art. 1º, §

3º, do Decreto Estadual nº 4.345/2005), e a própria Constituição Federal

limita a jornada diária a 8 horas diárias (art. 39, § 3º, c.c. art. 7º XIII, ambos

da CF).

A semana possui 168 horas. Assim, se, em uma situação

ideal, houvesse 4 Escrivães de Polícia na Delegacia de Assaí (por exemplo,

já que na realidade só existem dois), ainda assim cada um precisaria

trabalhar 42 horas semanais para manter a atividade de forma ininterrupta,

extrapolando o limite legal.

Confira-se a seguinte decisão do TJ-PR sobre o regime de

trabalho dos policiais civis do Paraná:

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. SINDICATO -

LEGITIMIDADE - REQUISITOS - LEI Nº 9.494/97 (REDAÇÃO DA

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.180-35) - JORNADA DE TRABALHO DOS

POLICIAIS CIVIS - SUJEIÇÃO AO REGIME DE TEMPO INTEGRAL E

DEDICAÇÃO EXCLUSIVA – DIREITO À CONTRAPRESTAÇÃO PELO

LABOR EXTRAORDINÁRIO - INVIABILIDADE - AUSÊNCIA DE

DIREITO LÍQÜIDO E CERTO À CONVOCAÇÃO FORMAL PARA

OPERAÇÕES ESPECIAIS. (...) Pela natureza jurídica dos serviços

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

públicos, especialmente os relativos à polícia civil, pode a forma de

cumprimento da jornada de trabalho, especialmente a escala de

plantão, ser determinada por lei, que, no caso, não desrespeita o

limite máximo de 40 horas semanais, assegurada a compensação

das horas extraordinárias, sem a necessidade de efetivação de

acordo ou convenção coletiva de trabalho, nos termos permitidos

pelo art. 39, § 3º da Constituição Federal." (Juiz Péricles Bellusci de

Batista Pereira, Mand. Seg. nº 141.742-1). 2. Em razão da natureza

especial de suas funções, os policiais civis não têm direito líqüido e certo

de serem convocados formalmente (por escrito), para participação de

operações especiais. Conquanto os atos administrativos em geral sejam

via de regra solenes, é perfeitamente possível a sua exteriorização pela

forma verbal, em se tratando de determinações de polícia em casos

especialíssimos e de urgência, como nas convocações para batidas,

"blitz", rondas e arrastões. (TJPR - IV Grupo de Câmaras Cíveis - MS -

142168-9 - Curitiba - Rel.: Ivan Bortoleto - Unânime - - J. 11.12.2003)

Como se vê, é mais vantajoso para o Estado do Paraná adotar o Regime

de Trabalho em Turnos – eis que precisará lotar menos servidores da

Polícia Civil – do que se cumprir a legislação relativa à jornada de

trabalho de 40 horas semanais dos referidos funcionários públicos.

O que não se admite é que apenas 2 Escrivães de Polícia e 4

Investigadores de Polícia (3 deles ainda sem curso de formação) realizem

toda a atividade policial de três municípios, estando 24 horas por dia e 7

dias por semana à disposição do serviço público, por força da omissão do

Estado do Paraná em prover adequadamente o serviço de segurança

pública.

Note-se que, na prática, não só os investigadores de polícia,

mas também os dois escrivães (Janos Tonkovich e Miria Berta) são

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

obrigados, pela necessidade do serviço, a largar suas atividades e, em total

e ilegal desvio de função, e fora de suas atribuições legais, compor, com o

único investigador capacitado, um plantão para os serviços de carceragem,

em turnos de 24/48 horas que, além de não possuir previsão normativa,

extrapola a carga horária semanal prevista para os respectivos cargos.

Diante deste quadro, não é preciso grande esforço para

perceber que é impossível sequer o adequado atendimento àquelas pessoas

vitimadas por uma infração penal. Ainda, o que não dizer acerca da

necessária investigação dos delitos praticados. A situação é tão precária que

os inquéritos concluídos mensalmente são ínfimos, fazendo com que apenas

chegue ao gabinete desta Promotoria de Justiça os inquéritos policiais de

réus presos. Poucos são os casos de conclusão de inquéritos policiais de

réus soltos.

Destaca-se que, nos autos do Pedido de Providências que

instrui a presente demanda, o Ministério Público e o Judiciário (no limite de

suas atribuições e do referido meio processual) já tomaram todas as

medidas possíveis para que fossem implementadas mudanças na situação

caótica que encontra-se a Delegacia de Polícia de Assaí perante a

Secretaria Estadual de Segurança Pública e Estado do Paraná, porém, não

foram obtidas respostas e providências satisfatórias. A proposta derradeira

de realização de Termo de Ajustamento de Conduta formulada pelo Parquet,

evitando, assim, a judicialização da presente demanda coletiva, foi

simplesmente ignorada pelos representantes do ente público demandado

(fls. 387 e seguintes).

Para ressaltar a gravidade da situação, cumpre transcrever na

presente peça parte dos relatos prestados pela autoridade policial (fls. 385):

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

“Assim, enquanto o (único) investigador está realizando

todos os serviços afetos à carceragem, os quais não

são de sua competência, os serviços fins da polícia

judiciária, ou seja, apuração das infrações penais, são

sobrestados, com atraso na conclusão dos

procedimentos, gerando o aumento da impunidade e

insegurança, deixando a sociedade á mercê da própria

sorte.

Contudo, neste momento o desvio de função dos

investigadores não é o principal problema, e sim a notória

falta de efetivo, chegando-se ao ponto de em

determinados momentos do dia apenas um servidor

estar na delegacia, em virtude de serviços externos e férias

regulamentares de outros funcionários, fazendo,

concomitantemente o atendimento ao público e a guarda

interna e externa da Delegacia, ou seja, uma atribuição

prejudicando a outra, o que causa riscos e prejuízos

consideráveis ao já carente, deficitário e vulnerável sistema

de segurança desta unidade policial.

Tais fatos já foram comunicados à Subdivisão Policial de

Cornélio Procópio, inclusive solicitando a transferência de

carceragem desta Delegacia de Polícia e a lotação de, no

mínimo, três investigadores de polícia nesta Delegacia.”

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Como se vê, diante de tal lamentável quadro, acrescido à

iminência do final de ano e o usual deslocamento de policias militares

lotados no batalhão desta comarca para o litoral, na chamada “Operação

Verão”, é grande a probabilidade de, em breve, ocorrerem novas

fugas/rebeliões no setor de carceragem temporária da 34ª Delegacia

Regional.

Exemplo concreto de que pode decorrer da equação:

superlotação carcerária + falta de servidores + falta de efetivo policial

encontra-se às fls. 92, 146 e 158/162 dos autos do Pedido de Providências

que instrui a presente, comprovando os fatos ora apontado, sem olvidar do

recente motim envolvendo o detento Nilton César Silva na cela do seguro,

que culminou com sua transferência para outro estabelecimento

penitenciário (cópia em anexo) com a colaboração do Juiz da VEP de

Londrina.

Insta ressaltar que a Comarca de Assaí é formada também

pelos Municípios de São Sebastião da Amoreira e Nova América da Colina,

e, segundo dados fornecidos pelo IBGE (censo de 2010) e disponibilizados

na página da Subprocuradoria Geral de Justiça para Assuntos de

Planejamento Institucional do Ministério Público do Estado do Paraná1,

atualmente a população estimada da Comarca conta com

aproximadamente 30.000 (trinta mil) habitantes.

Extrai-se destes dados que a existência de um único

investigador capacitado para atender o serviço de polícia judiciária de todos

os municípios da Comarca e, concomitantemente, realizar os serviços de

carceragem seria algo cômico, se não fosse trágico.

1 http://www.planejamento.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=2614

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

O Estado do Paraná tem descumprido deliberadamente a sua

obrigação constitucional de prover a segurança pública aos cidadãos locais,

especialmente no que tange à manutenção de um número mínimo de

servidores da Polícia Civil na Delegacia local e ao cumprimento da legislação

relativa à custódia de presos na cadeia pública.

Chega-se, assim, à inafastável ilação de que se é impossível

a observância daquelas diligências previstas no art. 6º do Código de

Processo Penal, como colheita de vestígios do crime, realização de exames

periciais, elaboração de laudos e oitiva de testemunhas, é não só possível

como imperioso que seja disponibilizado efetivo policial para um

andamento mínimo das investigações criminais dos delitos ocorridos nesta

Comarca.

V – DO DIREITO

V.1) DEVER ESTATAL DE GARANTIA DA SEGURANÇA

PÚBLICA

Nos termos do art. 5º, caput, da Constituição, a todos os

brasileiros e estrangeiros residentes no País é garantida a inviolabilidade do

direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos

termos do disposto nos incisos I a LXXVII desse artigo. Como se não

bastasse, estabelece o § 2º do art. 5º que: "Os direitos e garantias

expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e

dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a

República Federativa do Brasil seja parte".

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Sendo invioláveis o direito à vida, à liberdade e à segurança, o

mínimo que se pode exigir do Estado de Direito, numa interpretação

sistemática do texto constitucional, é a garantia desses direitos, para que

sejam realmente positivados. O direito à segurança, na verdade, é o direito

guardião dos direitos fundamentais, pois sem segurança todos os demais

direitos valerão muito pouco ou quase nada, e o chamado Estado de direito

se transforma no estado da desordem, da insegurança e do desrespeito à

ordem juridicamente constituída. Nestes termos a própria Constituição

Araucariana descreveu:

Art. 46 - A segurança pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da

ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio, pelos seguintes órgãos: I - Polícia Civil; (...)

Assim, ao Estado do Paraná, não se reserva, pois, a mera

conveniência e oportunidade em prestar ou não, devida e satisfatoriamente,

a Segurança Pública. Antes, constitui um dever de natureza Constitucional.

Dever este, cujo cumprimento exige atenção aos requisitos mínimos

estatuídos em Lei.

A segurança pública consiste numa situação de preservação

ou restabelecimento da convivência social pacífica, possibilitando que a

sociedade goze de seus direitos e exerça suas atividades sem perturbação

de outrem.

Corresponde a um dever estatal (art. 144, da Constituição

Federal e arts. 46 e 47 da Constituição Estadual) e também a um direito

fundamental, extraído do art. 5º, caput da Carta da República, que protege o

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. A

garantia da segurança é papel do Estado, uma vez que sua garantia é

primordial para o gozo de todos os demais direitos. Sem segurança é

impossível o pleno desenvolvimento da personalidade humana, devendo ser

compreendida como proteção a outros direitos, sejam individuais ou

coletivos.

O papel estatal de garantir a segurança de seus cidadãos é

um dos fundamentos da própria existência e legitimação do Estado.

Independentemente da ideologia política adotada, a existência do direito à

segurança sempre vai ser reconhecida.

A questão da segurança pública é um dos centros de

preocupações atuais da sociedade brasileira e que exige do Estado a

instituição de mecanismos e instalações adequadas à relevância do munus

atribuído constitucionalmente.

O dever estatal de garantia da segurança surge como

contrapartida ao monopólio estatal do uso da força e da proibição da

autotutela e cria no cidadão a expectativa de que será efetivamente

protegido, de modo que a omissão do Estado corresponde a uma quebra de

confiança pondo em risco a própria legitimação estatal.

É papel do Estado debelar o perigo e adotar medidas de

proteção não apenas no aspecto normativo, mas sim no nível efetivo e real.

Tal necessidade de proteção se faz concreta por meio da

tomada de medidas operacionais, na qual a adequação do efetivo policial

desta Comarca e melhorias das condições estruturais da Delegacia de

Polícia é um perfeito exemplo.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

A prestação da segurança pública como função estatal é um

DEVER-PODER, que não admite discussões, cabendo também ao Poder

Judiciário decisivo papel na sua concretização, assumindo seu papel na

temática dos deveres de proteção e desempenhando inclusive atividade

pedagógica sobre os poderes omissos, demonstrando que a inação não é

capaz de inviabilizar o atendimento das necessidades básicas da população

e dos direitos fundamentais da coletividade, acarretando uma mudança de

pensamento, infelizmente provocada pelo desgaste político originado da

demanda judicial.

A respeito, confira-se as oportunas colocações do Promotor

de Justiça Décio Alonso Gomes:

O Estado Democrático de Direito estabelece compromissos dos

entes públicos com a sociedade, sendo certo que, nos termos do

art. 144 da Constituição da República, segurança pública é dever do

Estado e direito de todos, devendo ser exercida para preservação da

ordem pública, incolumidade das pessoas e do patrimônio. E, dentro

da idéia de que ao Estado Moderno compete não só assegurar as

liberdades públicas como, efetivamente, disponibilizar direitos sociais

prestacionais à comunidade, dúvida não resta de que as ações de

segurança pública mostram-se indispensáveis para a manutenção e

preservação de um pacífico convívio gregário. Em síntese apertada,

segurança pública configura um serviço público coletivo essencial.

A qualidade do serviço prestado no âmbito da segurança pública (estatal)

arvora-se em tema prioritário no seio comunitário. A sociedade capitalista

gira em torno da venda e do consumo do bem “segurança”, sendo certo

que os menos afortunados aguardam o correto cumprimento do dever

prestacional do Estado. (...) Neste enfoque, a falta de estrutura estatal

aos órgãos encarregados pela segurança pública inviabiliza a

realização de qualquer trabalho, ficando sua atuação restrita, como

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

já vem se tornando usual, à pequena criminalidade que, por

questões que transcendem esta análise, é identificada na prática de

delitos. A criminalidade de grande danosidade, quase sempre com

infiltração em órgãos públicos, por outro, lado fica à margem da atuação

policial por uma miríade de fatores. Assim, resta ao Poder Judiciário,

guardião último das necessidades públicas, o papel de salvaguarda

deste falido e olvidado sistema. Ocorre que a inércia judicial, de um

lado, e os indizíveis interesses privados, de outro, fazem com que a

máquina judiciária não seja movimentada, impedindo a implementação

dos mínimos direitos fundamentais (individuais ou sociais/coletivos).

Cada vez mais é necessária decisão política para instrumentalizar os

direitos constitucionais, conferindo eficácia à norma jurídica. E, diante da

conjuntura nacional e realidade política experimentada, cada vez

mais é necessária a intervenção do Judiciário para fazer valer estes

direitos constitucionais. (...) Diante da idéia de que é dever do

Estado-Administração oferecer segurança pública à população,

havendo comprovada ineficiência deste tipo de serviço público por

causa do déficit de patrimônio humano, presente omissão estatal

em assegurar o que é direito da coletividade, não resta outro

caminho senão a provocação do Poder Judiciário para o

restabelecimento da legalidade via controle judicial. 2 Grifou-se.

Assim, ao Estado do Paraná não resta opção, devendo

prestar devidamente a segurança pública em termos adequados e eficientes,

sujeitando-se aos requisitos mínimos estatuídos em lei.

Nesta Comarca constatam-se duas situações. Em primeiro

lugar, os Municípios de São Sebastião da Amoreira e Nova América da

Colina encontram-se completamente desassistidos no tocante às atividades

2GOMES, Décio Alonso. Política Criminal Brasileira e o Papel do Ministério Público in MinistérioPúblico e políticas públicas. Rio de Janeiro: Lúmen Juris. 2009. p. 34/36.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

de polícia judiciária, não contando com exclusivas Delegacias de Polícia

estruturadas, Delegados de Polícia, Escrivães ou Investigadores de Polícia.

Há, quando muito, deslocamento esporádico de um escrivão

da DP de Assaí para tais municípios, atuando em locais precários de

atendimento, com finalidade quase que exclusiva de lavratura de autos de

prisão em flagrante.

Assim, revela-se que a população de tais Municípios depende

da atuação exclusiva dos policiais civis lotados em Assaí, necessitando

deslocar-se até este Município para a realização de um registro de

ocorrência. A distância entre tais cidades e Assaí é de cerca de 30km e o

transporte público na região é extremamente precário, o que,

frequentemente, desestimula a população a buscar o Poder Público para a

solução de conflitos.

Da mesma forma, a Delegacia de Polícia de Assaí, cujo

efetivo policial é insuficiente para sua própria população, ainda é

responsável pelas outras duas cidades pertencentes à Comarca, o que vai

de encontro à exigência constitucional de uma Polícia Civil minimamente

estruturada.

Eventuais alegações de que o Estado do Paraná não

dispõe de nenhum dos funcionários (delegado, escrivão ou

investigador) aguardando nomeação ou sem lotação designada não

poderá ser acolhida como justificativa.

A uma porque desde o ano de 2004 o ente público

demandado é instado nos autos do Pedido de Providências n.º

2004.0000045-0 (0000045-03.2004.8.16.0047) a se estruturar e a prover as

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

necessidades desta Delegacia de Polícia, sendo realizados neste ínterim

concursos para os cargos de investigador, escrivão, bem como processos

seletivos para agentes de cadeia, que, se designados fossem, amenizariam

o problema.

A duas porque para atender a ordem judicial, em caráter

emergencial, deve e pode efetivar um remanejamento das carreiras. Da

mesma forma, a invocação de carência de recursos mostra-se desarrazoada

diante dos vultosos gastos em publicidade e obras voluptuárias (matéria da

Gazeta do Povo - “PR não investiu o mínimo em saúde, mas gasto com

publicidade subiu 668%” - em anexo), devendo-se priorizar aquelas

despesas que se apresentem juridicamente (e não politicamente)

primordiais.

Com efeito, restando plenamente configurada a

abusividade governamental na omissão de implementação de políticas

públicas tendentes à melhoria da segurança pública em nossa

Comarca, legitima-se o controle e a intervenção do Poder Judiciário

nesta esfera, em caráter excepcional.

V. 2) IMPOSSIBILIDADE DE INVOCAR A RESERVA DO POSSÍVEL.

MÍNIMO EXISTENCIAL

A divisão de Poderes do Estado está edificada nos termos do

art. 2º da Constituição da República, o qual verbera que: “São Poderes da

União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o

Judiciário”.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

A tripartição de poderes, embora pareça simplesmente

estanque em uma leitura apressada, trabalha com base no sistema de freios

e contrapesos (checks and balances), no qual um dos poderes exerce

parcela de controle sobre o outro. Tal conjectura constitucional pode ser

ressaltada pela introdução no dispositivo de parte que diz que os Poderes do

Estado são “harmônicos entre si”.

Há, certamente, um núcleo duro que não pode sofrer a

interferência de outro poder, pois se trata de uma função eminentemente

ligada à essência de cada qual. Contudo, nenhum dos Poderes pode exercer

seu papel de forma irresponsável e imune à essência do sentimento

constitucional erigido com a Carta Magna atual.

Trata-se de simples reprodução do princípio republicano, que

tem como uma de suas características diferenciadoras da monarquia, a

responsabilidade do agente público e porque não dizer dos Poderes, diante

de algo maior, que é o sentimento constitucional, representado pelos valores

que sustentaram a redação da Constituição.

Nesse aspecto, promover melhorias ou estruturar o sistema

penal, penitenciário e carcerário de forma minimamente operacional não está

dentro do âmbito do núcleo duro intangível do Poder Executivo. Muito pelo

contrário. A postura de garantir um mínimo é controlável pelos outros

Poderes, notadamente o Poder Judiciário no exercício de sua missão de

aplicar a Lei ao caso concreto com a força de definitividade e impositividade

que lhe é conferida.

Nota-se que a omissão indevida do Estado no caso em

análise viola direitos que convergem por vulnerar a dignidade humana de

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

todos os presos, afrontando um dos fundamentos da República Federativa

do Brasil (art. 1º, III, da Constituição da República).

Enfrentando casos semelhantes, os Tribunais Pátrios têm

sustentado a impossibilidade de o Estado se eximir da obrigação com base

na teoria da Reserva do Possível, uma vez que a medida ultrapassa a

discricionariedade e relaciona-se com o mínimo existencial que deve ser

garantido ou ao indivíduo ou à coletividade como um todo. Colhe-se dos

acórdãos a seguir:

APELAÇÕES CÍVEIS/REEXAME NECESSÁRIO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA

- PRELIMINARES - REJEITADAS - ESTADO DE MINAS GERAIS -

OBRIGAÇÃO DE FAZER [...] SUPERLOTAÇÃO DA CADEIA -

TRANSFERÊNCIA DE PRESOS PARA ESTABELECIMENTO

ADEQUADO - POSSIBILIDADE - MULTA DIÁRIA - MINORAÇÃO -

SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 1- Quando os interesses

individuais homogêneos indisponíveis - dentre eles, a incolumidade e a

dignidade dos detentos - têm repercussão no interesse público, estando

os presos sob a custódia do Estado, não há que se falar em ilegitimidade

ativa do Ministério Público ou em inadequação da ação civil pública. 2-

Embora a determinação de obras públicas constitua medida

programática restrita ao âmbito do mérito administrativo - que

demanda planejamento, política pública, prévios estudos e previsão

orçamentária -, a determinação de observância da capacidade

carcerária e de transferência dos presos que extrapolam a referida

capacidade e não estão em cumprimento de prisão provisória, por

outro lado, é medida que se impõe e se mostra afeta à legalidade do

ato administrativo, passível de controle jurisdicional. [...] (TJ-MG -

AC: 10220140001177002 MG , Relator: Hilda Teixeira da Costa, Data de

Julgamento: 09/06/2015, Câmaras Cíveis / 2ª CÂMARA CÍVEL, Data de

Publicação: 12/06/2015)

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

V.3) NÃO INCIDÊNCIA DE JUÍZO DE

DISCRICIONARIEDADE

Com efeito, a discricionariedade da Administração Pública não

pode ser invocada se a inércia do Estado vulnera direitos que se relacionam

ao mínimo existencial, destinado a garantir e efetivar no caso concreto a

dignidade da pessoa humana.

Cumpre ponderar que não existe discricionariedade da

Administração Pública nas hipóteses em que a Constituição Federal e a

Constituição Estadual determinam – com clareza – a forma legal da

prestação do serviço de segurança pública. Da mesma forma, os termos

peremptórios constantes da legislação pertinente à restrição da liberdade

dos presos e detidos não permitem juízo de conveniência e oportunidade às

autoridades responsáveis pelo seu atendimento.

Registre-se que a pretensão ministerial não se encontra

dentre aquelas arroladas na esfera dos atos discricionários, ou seja, dentre

aqueles em que se avalia a conveniência e oportunidade, mas dentre

aqueles atos vinculados, que fixam prévia e objetivamente a tipificação legal

do único e possível comportamento da administração pública em face da

situação concreta, não admitindo apreciação subjetiva de nenhuma espécie.

A Administração Pública está adstrita ao princípio da

legalidade estrita, incumbindo ao Poder Público o dever de aplicar a lei em

seus devidos termos, não sendo admissível que a desídia ou a simples

vontade da autoridade transcenda, modifique ou adapte a norma jurídica aos

seus entendimentos e conveniências.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Age de forma arbitrária o agente que atropela a lei, que deixa

de agir quando a lei impõe, ou age de modo desvirtuado com a intenção

legal, tratando-se de ato ilegal, passível de correção judicial.

O Estado do Paraná é responsável direto pela implantação

das condições que garantam a adequada prestação dos serviços de

segurança pública nesta Comarca, sendo que a sua falta de compromisso

com a efetivação deste direito fundamental exige a intervenção do Ministério

Público para restabelecimento do respeito às Constituições Federal e

Estadual e às demais legislações atinentes aos fatos em tela.

Atualmente se entende que a grande maioria dos atos

administrativos lato sensu é sempre de algum modo vinculada, ainda mais

no cumprimento das ordens constitucionais, implicando numa atuação

ministerial não somente destinada a corrigir atos comissivos que porventura

desrespeitem os direitos constitucionais, mas também voltada à correção

dos atos omissivos, buscando a concretização das promessas de cidadania

previstas na chamada Constituição Cidadã.

Os direitos fundamentais possuem um núcleo essencial no

qual não há justificativa para inércia ou inadimplência, inexistindo qualquer

margem de discricionariedade, havendo total vinculação de todos

(administradores, legisladores, juízes).

Sendo certo que os recursos públicos são limitados,

incapazes de atender todas as necessidades da sociedade, determinando

escolhas estatais sob o manto da reserva do possível, entende-se que tal

justificativa não se aplica em relação aos direitos fundamentais, sendo certo

que parcelas significativas desses recursos públicos se esvai pelo caminho

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

da corrupção, do agigantamento dos quadros públicos para acolhimento de

apadrinhados políticos, dos vultosos gastos com publicidade e contratações

voluptuárias.

Ainda que presente a discricionariedade, ela só seria legítima

se compatível com os primados da eficiência e efetividade e sempre quando

inclinada para a melhor opção, que evidentemente não ocorre no presente

caso.

V.4) SINDICABILIDADE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PELO

PODER JUDICIÁRIO

Prefacialmente, a segurança pública está inserida no

conceito de políticas públicas, entendidas como escolhas e ações

governamentais.

Além de política pública, é direito fundamental, incumbindo

ao Poder Judiciário assegurar sua efetiva aplicação, sendo certo que deve

ser superada a postura passiva diante da sociedade, assumindo-se uma

nova atitude que leve em conta os valores e determinações constitucionais

olvidados pelos demais poderes, transcendendo a noção de freios e

contrapesos.

Como muito bem observa Dirley da Costa Junior:

Ademais, deve e pode o Ministério Público, através de ação civil pública,

provocar a atuação do Judiciário no controle da omissão total ou

parcialmente inconstitucional do poder público na implementação das

ações e serviços de saúde, caso verifique, por exemplo, que o Município

não está concretizando o seu dever constitucional de assegurar o direito

em questão, em face da inexistência ou deficiente prestação dos serviços

públicos de saúde para a comunidade local, forçando que os munícipes

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

se desloquem para outros Municípios ou outros Estados à procura de

atendimento médico-hospitalar. A providência judicial não se distingue da

acima apontada para a efetivação do direito à educação. Assim, na falta

de um posto médico ou unidade hospitalar necessária para assistência

da comunidade local, a decisão poderá consistir na condenação do ente

estatal a construí-la e fazê-la funcionar regularmente ou a cobrir os

custos de um serviço prestado pela iniciativa privada.3

A atuação do Ministério Público na defesa dos interesses

coletivos lato sensu se justifica na dificuldade da sociedade civil em se

defender autonomamente, sendo que tal tutela deve superar antigos

paradigmas, sendo sensível às novas demandas sociais e ao novo papel

que o Poder Judiciário deve desempenhar para a construção de um efetivo

Estado Democrático de Direito.

Discorrendo a respeito, José Marinho Junior:

E se assevere de plano: as políticas públicas são sindicáveis pelo

Poder Judiciário. Havendo transgressão frontal a direito

prestacional, cabe sim ao Poder Judiciário a função de retificar a

conduta administrativa, se revestida de ilegalidade ou

inconstitucionalidade, mesmo quando escorada em

“discricionariedade”. (...) há que repudie tal idéia sob o argumento de

que o juiz, ao assumir a posição do agente eleito, estaria violando o

princípio democrático e pondo em risco o equilíbrio da tripartição de

poderes. Não é bem assim. Evidentemente, como bem dito por nosso

brilhante colega Aarão Reis, ninguém deseja um governo de juízes, mas

sim definir claramente os espaços constitucionais em que o Poder

Judiciário deve agir para compelir democraticamente o Executivo a

3 COSTA JUNIOR, Dirley da. Controle judicial das omissões do poder público. São Paulo: Saraiva, 2004, p.304/306.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

respeitar a vontade política do Constituinte Originário. Eduardo Garcia

de Anterria, em La Constitución como Norma y El Tribunal Constitucional

(pp. 1-20), ao replicar objeções ao judicial review, aduziu que, em se

admitindo dobrar a Constituição (e os direitos por ela veiculados) aos

sabores das políticas públicas de um ou outro governo nada restaria da

Lei Magna senão uma carta de compromisso ocasional de grupos

políticos, susceptível ao equilíbrio e ao desequilíbrio da briga entre

“situação” e “oposição”, uma naturalmente buscando eliminar a outra. E

isto ninguém mais deseja, agüenta ou pode tolerar. Não se pode, por

óbvio, interpretar cláusula de proteção à sociedade em desfavor da

mesma. É desarrazoado sustentar-se que o dito ativismo fira a

Democracia Participativa, quando esta sofre violações muito mais graves

diante do não-atendimento de dever prestacional. (…) Enquanto poder

contramajoritário, cabe ao Judiciário a defesa da Democracia ainda

quando isto significar a intervenção judicial na Administração

Pública que insista em desrespeitar e se colocar acima dos ditames

constitucionais e legais que vinculam a todos nós.4 Grifou-se.

Ressalte-se que a atuação judicial que se busca através da

presente ação expressa uma prévia deliberação majoritária do constituinte

(direito fundamental à adequada prestação da segurança pública) e do

legislador (condições mínimas de encarceramento) sendo absolutamente

legítimo seu desempenho, que visa preservar um direito fundamental e dar

cumprimento à lei.

Com a emergência do chamado “neoconstitucionalismo”, faz-

se cada vez mais presente o fenômeno da judicialização da política, com um

4 PAULO JÚNIOR, José Marinho. O Ministério Público e a concretização de direitos prestacionais –sindicabilidade de políticas públicas e prestação judicial de serviços públicos in Ministério Público e políticaspúblicas. Rio de Janeiro: Lúmen Juris. 2009. p. 140/142.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

deslocamento do poder da esfera do Executivo e Legislativo para o

Judiciário.

O juiz deixa de ser a “mera boca que pronuncia as palavras

da lei” na concepção de Montesquieu, adotando-se novas leituras do

princípio da separação dos poderes e visões favoráveis a um ativismo

judicial em prol dos valores constitucionais.

Ativismo este que se fortalece diante da falta de

representatividade, legitimidade e credibilidade do Legislativo e Executivo

brasileiro e que deve ser festejado, já que as demandas da sociedade estão

sendo satisfeitas.

Essa linha de pensamento foi inaugurada e fortalecida pelo

Supremo Tribunal Federal que, desde a decisão proferida na ADPF 45

MC/DF (DJU de 29.4.2004) , estabeleceu a legitimidade constitucional do

controle e da intervenção do Poder Judiciário em tema de implementação de

políticas públicas quando configurada hipótese de injustificável inércia estatal

ou de abusividade governamental.

Sobre esta base, o Min. Eros Grau afirma que:

“O Supremo fixou entendimento no sentido de que é função institucional

do Poder Judiciário determinar a implantação de políticas públicas

quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos

político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal

comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou

coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados

de cláusulas revestidas de conteúdo programático”5

5 (RE 367432 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 20/04/2010, DJe-086 DIVULG 13-05-2010 PUBLIC 14-05-2010 EMENT VOL-02401-04 PP-00750)

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Ao Poder Judiciário cabe velar para que os demais poderes

observem a ordem jurídica, mas também determinar que cumpram as

disposições constitucionais, mesmo quando as maiorias ocasionais

(presentes no Legislativo ou Executivo) se oponham.

Em precursor estudo acerca do princípio da proibição de

retrocesso jusfundamental, a Procuradora do Estado Marcelene Carvalho da

Silva Ramos ensina:

Nesse ponto da formulação da temática da judicialização das políticas

sociais, ou a possibilidade de implementação de políticas

públicas/sociais por determinação judicial, ressalta a importância do

princípio da proibição de retrocesso que visa como já se falou, impedir o

legislador de abolir determinadas posições jurídicas por ele próprio

criadas. Trata-se, agora, de enfrentar a delicada questão da aplicação

do princípio de retorno às políticas já concretizadas. Pois bem, no tema

do controle judicial das políticas públicas, que envolve diretamente

a concretização dos direitos fundamentais, em especial, os direitos

sociais, o Poder Judiciário brasileiro evoluiu de uma posição inicial

(desde o advento da Constituição Federal de 1988) mais

conservadora, para posicionamentos mais progressistas,

acolhedores dos direitos fundamentais sociais como direitos

subjetivos individuais, decorrentes das normas constitucionais

inscritas, v.g., nos artigos 6º e 196 da Carta Republicana, que

asseguram o direito à saúde e impõem ao Poder Público um dever

político-constitucional impostergável, que se negligenciado, em

última ratio, afronta o próprio direito à vida. (...) A questão da

judicialização das políticas públicas é conexa com o polêmico tema

do denominado ativismo judicial, que vem sendo desempenhado

pelo Supremo Tribunal Federal, sob o entendimento de que ele se

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

converte em necessidade institucional quando os poderes públicos

omitem-se das obrigações constitucionais, dentre elas, a da

concretização dos direitos fundamentais. (...) Pela via desse marco,

fica evidenciado que o STF adota a tese de que o Judiciário pode

sim exigir que o Executivo ou o Legislativo cumpram com seu

dever constitucional, implementando políticas públicas sem que se

vislumbre qualquer conflito de competência ou interferência de um

poder em outro, em mau-ferimento ao princípio da separação dos

poderes, eis que o Judiciário está cumprindo com o papel que lhe é

atribuído pela Constituição, que é o de ser guardião da Constituição e

consequentemente, da supremacia da Carta e da eficácia de suas

normas, em especial em se tratando de direitos fundamentais.6 Grifou-se

O direito fundamental à segurança pública foi assegurado

constitucionalmente, no entanto, é necessário que os agentes públicos

promovam atos materiais para sua implementação. A omissão reiterada e

injustificável do Estado do Paraná (ainda que parcial) que não promoveu a

satisfação espontânea do direito à vida segura acarreta lesão a tal direito

fundamental, que autoriza o exercício do direito de ação e atuação do Poder

Judiciário.

O poder estatal é uno e apenas por uma questão operacional

é exercido segundo um critério funcional. As formas de expressão do poder

estatal devem ser utilizadas finalisticamente e não como um fim em si

mesmas, tornando impossível a invocação do princípio da separação dos

poderes para justificar a violação dos próprios objetivos estatais.

6 SILVA SANTOS, Marcelene Carvalho da. Princípio da proibição de retrocesso jusfundamental:aplicabilidade. Curitiba: Juruá, 2009, p. 62/69.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Não há dúvida, portanto, quanto à possibilidade jurídica de

determinação judicial para que o Poder Executivo concretize políticas

públicas constitucionalmente definidas.

A jurisprudência do STF é pacífica a este respeito:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SEGURANÇA PÚBLICA. LEGITIMIDADE.

INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. IMPLEMENTAÇÃO DE

POLÍTICAS PÚBLICAS. OMISSÃO ADMINISTRATIVA. 1. O Ministério

Público detém capacidade postulatória não só para a abertura do inquérito

civil, da ação penal pública e da ação civil pública para a proteção do

patrimônio público e social do meio ambiente, mas também de outros

interesses difusos e coletivos [artigo 129, I e III, da CB/88]. Precedentes.

2. O Supremo fixou entendimento no sentido de que é função

institucional do Poder Judiciário determinar a implantação de

políticas públicas quando os órgãos estatais competentes, por

descumprirem os encargos político jurídicos que sobre eles incidem,

vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a

integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de

estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas

de conteúdo programático. Precedentes. Agravo regimental a que se

nega provimento. (RE 367432 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU,

Segunda Turma, julgado em 20/04/2010, DJe-086 DIVULG 13-05-2010

PUBLIC 14-05-2010 EMENT VOL-02401-04 PP-00750).

Igualmente, a garantia de um direito fundamental não pode

ser delimitada por fundamentos externos ao ordenamento jurídico, por

invocação de fatores econômicos.

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

A Constituição Federal determina objetivos a serem

efetivamente atendidos e o Estado do Paraná a eles se vincula, de tal forma

que o orçamento é instrumento para a respectiva realização e não seu óbice.

O Poder Judiciário tem compromisso com a efetivação dos

direitos fundamentais e não com conveniências políticas, programas

partidários ou questões orçamentárias.

Ainda que relevante, a questão financeira não pode impedir a

atuação judicial, determinando, em caso de impossibilidade, o

remanejamento emergencial de recursos e futuros ajustes orçamentários.

Se para legitimidade constitucional da intervenção do Poder

Judiciário na implementação de políticas públicas, cuja atribuição originária

cabe ao Poder Executivo, é necessária a comprovação de que a omissão de

Poder Público esteja revestida do propósito de inviabilizar, sem justificativa

plausível, o adimplemento de prestações positivas para a implementação e

consecução dos direitos sociais relacionados, no caso, à segurança pública,

na hipótese vertente, a expedição de 21 ofícios aos órgãos estatais,

durante mais de 10 anos (fls. 11, 15, 64, 87, 96, 97, 98, 148, 156, 157, 198,

201, 216, 258, 281, 358, 361, 371, 383, 392 e 393 dos autos do Pedido de

Providências n.º 2004.000045-0), configura omissão abusiva, ilegal e

injustificada, dando ensejo à função institucional do Poder Judiciário de

determinar a implantação de políticas públicas aos órgãos competentes.

VI. ANTECIPAÇÃO (PARCIAL) DOS EFEITOS DA TUTELA

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

Consoante o art. 273, inciso I, do Código de Processo Civil, o

juiz pode antecipar os efeitos da tutela quando presentes a prova inequívoca

que o convença da verossimilhança das alegações e haja fundado receio de

dano irreparável ou de difícil reparação.

A prova inequívoca consubstancia-se nos documentos

juntados com a inicial, que comprovam a superlotação da carceragem da

Delegacia de Polícia local, assim como o deficit de efetivo destinado às

atividades de polícia judiciária da Comarca.

A verossimilhança das alegações expostas decorre do direito

fundamental à segurança pública assegurado constitucionalmente e da

normativa que garante condições mínimas aos privados de liberdade.

Passamos, então, a analisar o fundado receio de dano

irreparável.

A segurança pública possui caráter essencial, sendo

inadmissível exigir-se da população que se aguarde a obtenção de tal

prestação. Da mesma forma, como demonstrado, a atual situação impede a

efetiva garantia da segurança, inexistindo servidores em número suficiente

que investiguem, colham provas e realizem a guarda e custódia dos presos,

enfim que exerçam de forma eficiente as atividades de polícia judiciária.

Ora, como a criminalidade não se reduz, pelo contrário, só

viceja diante da inércia estatal, inegável o justo receio de lesão grave e

irreparável aos membros desta comunidade.

Da mesma forma, a população resta insegura diante da

probabilidade concreta de fugas e rebeliões e os presos são submetidos a

danos irreparáveis de ordem física, moral e psíquica frente às condições

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

desumanas a que são submetidos, possibilitando homicídios, lesões

corporais e tráfico de drogas no interior das celas, casos de contaminação

por doenças infecciosas, destruição do patrimônio público e assim por

diante.

Demonstrada, pois, a presença do periculum in mora da

efetivação da tutela pleiteada que, se pela emergencialidade, não pode ser

antecipada por inteiro, deve, ao menos, se dar parcialmente, sendo razoável

e proporcional à ponderação dos interesses contrapostos a medida abaixo

sugerida.

Assim, mister a concessão de medida antecipatória,

determinando-se como obrigação de fazer ao Estado do Paraná:

a) a designação imediata, exclusivamente para esta

Comarca, de mais 02 (dois) Investigadores de Polícia ou

Agentes de Cadeia/Carceragem, devidamente capacitados,

para trabalhar na Delegacia de Polícia de Assaí, juntamente

com os servidores já existentes – com a devida reposição de

servidores durante o gozo de férias, afastamentos etc. –,

fixando-se multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais)

para garantir-se o cumprimento da obrigação, na forma do art.

11, da Lei n.° 7.347/85, valor a ser destinado ao Conselho da

Comunidade da Comarca de Assaí/PR, bem como, em caso

de reiterado descumprimento, multa pessoal ao Exmo.

Secretário de Segurança Pública, por ato atentatório à justiça

de acordo com o art. 14, V e § único do CPC, com a expressa

advertência de que não servirá como cumprimento da

determinação judicial eventual remanejo de servidores que

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

respondam sindicâncias, procedimentos administrativos,

inquéritos policiais, ações penais por quaisquer tipos de

crimes e ações civis de responsabilidade por improbidade

administrativa. Ainda, o réu deve ser advertido acerca da

impossibilidade de redução do referido número de servidores,

bem como do atual número de servidores lotados, por se

tratar do mínimo para o funcionamento do regime de plantão

das atividades da Polícia Civil em Assaí.

VII – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Preliminarmente, requer-se:

VII.1) Seja requisitado ao Delegado de Polícia responsável

pela Comarca de Assaí para que remeta a este juízo e integre à presente

ação informações quanto ao número e espécie de funcionários da polícia

civil existentes e necessários, além de recursos materiais para o

desempenho em grau mínimo das atividades de Polícia Civil nos Municípios

da Comarca;

VII.2) Seja oficiado à Secretaria de Estado da Segurança

Pública e Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, Delegacia-Geral de

Polícia Civil, Delegacia de Polícia de Assaí e ao Conselho da Comunidade

de Assaí, enviando-se cópia da petição inicial, dando-se ciência de seu

conteúdo a todos os interessados.

VII.3) Diante do exposto, REQUER O MINISTÉRIO PÚBLICO

DO ESTADO DO PARANÁ:

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

a) o recebimento da presente Ação Civil Pública nos termos

em que foi proposta, com processamento em conformidade com a Lei n.°

7.347/85, citando-se o Estado do Paraná na pessoa do Excelentíssimo

Senhor Procurador-Geral do Estado, com endereço na Rua Conselheiro

Laurindo, nº 561, 13º andar, Centro, CEP 80060-100, na cidade de

Curitiba/PR para, querendo, responder a presente ação, sob pena de revelia

e confissão quanto à matéria de fato alegada;

b) a produção de todas as provas admitidas em direito,

requerendo, desde logo, a oitiva de testemunhas, cujo rol será

oportunamente apresentado, inspeção judicial, perícias e juntada de novos

documentos, tudo conforme exigir o contraditório;

c) a notificação do Estado do Paraná para que se manifeste a

respeito da tutela antecipada requerida, no prazo de 72 (setenta e duas)

horas, conforme decorre do art. 2° da Lei n.° 8.437/92, concedendo-se, na

sequência, o provimento liminar como espécie de tutela de urgência, na

forma do art. 11, da Lei n.° 7.347/85 a implicar na determinação de que o

Estado do Paraná, através da Secretaria Estado de Segurança Pública ou

outro órgão administrativamente competente que venha a lhe substituir ou

suceder adote as medidas e providências administrativas necessárias para

cumprimento da obrigação de fazer consistente em designação imediata,

exclusivamente para esta Comarca, de mais 02 (dois) Investigadores de

Polícia ou Agentes de Cadeia/Carceragem, devidamente capacitados,

para trabalhar na Delegacia de Polícia de Assaí, juntamente com os

servidores já existentes – com a devida reposição de servidores durante o

gozo de férias, afastamentos etc. –, fixando-se multa diária no valor de R$

1.000,00 (mil reais) para garantir-se o cumprimento da obrigação, na forma

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

do art. 11, da Lei n.° 7.347/85, valor a ser destinado ao Conselho da

Comunidade da Comarca de Assaí/PR, bem como, em caso de reiterado

descumprimento, multa pessoal ao Exmo. Secretário de Segurança Pública

ou autoridade equivalente, por ato atentatório à justiça de acordo com o art.

14, V e § único do CPC, com a expressa advertência de que não servirá

como cumprimento da determinação judicial eventual remanejo de

servidores que respondam sindicâncias, procedimentos administrativos,

inquéritos policiais, ações penais por quaisquer tipos de crimes e ações civis

de responsabilidade por improbidade administrativa. Ainda, o réu deve ser

advertido acerca da impossibilidade de redução do referido número de

servidores, bem como do atual número de servidores lotados, por se tratar

do mínimo para o funcionamento do regime de plantão das atividades da

Polícia Civil em Assaí.

d) a procedência da ação e condenação do Estado do Paraná,

confirmando-se definitivamente os pedidos acima descritos, além de

obrigação de fazer consistente em designar e manter no exercício de suas

funções, na Comarca de Assaí, Escrivães, Investigadores e Auxiliares de

Cadeia/Carceragem, devidamente concursados e capacitados, e em número

suficiente à demanda de serviço, e para a manutenção de um regime de

plantão na Delegacia de Assaí, ou seja, ao menos 8 Investigadores (ou 4

investigadores e 4 agentes de carceragem) e 4 Escrivães, totalizando 12

(doze) servidores da Polícia Civil do Paraná, adotando todas as medidas

legais, em matéria administrativa e orçamentária, para efetivo

cumprimento da decisão judicial, imediatamente após o trânsito em julgado;

1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Assaí

e) Seja fixada multa diária, em valor a ser arbitrado por Vossa

Excelência, para o caso de descumprimento ou mora no cumprimento da

sentença após o trânsito em julgado;

f) intimação pessoal do Ministério Público de todos os atos do

processo.

Atribui-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para

fins fiscais.

Assaí, 04 de dezembro de 2015.

PEDRO PIRES DOMINGUES WANDERLEY

Promotor Substituto