exegese genesis 19 30-38

24
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO ELMER MENDES BARBOSA GÊNESIS 19, 30-38 São Bernardo do Campo Março de 2014

Upload: elmer-mendes-barbosa

Post on 25-Nov-2015

49 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO

    FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA

    RELIGIO

    ELMER MENDES BARBOSA

    GNESIS 19, 30-38

    So Bernardo do Campo Maro de 2014

  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO

    FACULDADE DE FILOSOFIA E CINCIAS DA RELIGIO

    PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO CONCENTRAO EM LINGUAGENS DA RELIGIO

    ELMER MENDES BARBOSA

    GNESIS 19, 30-38

    Exegese apresentada ao curso de Ps-

    Graduao em Cincias da Religio da

    Universidade Metodista de So Paulo,

    Segundo semestre, como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Mestre em

    Cincias da Religio.

    Orientadores: Prof. Dr. Jos Ademar Kaefer;

    Prof. Dr. Trcio Machado Sirqueira.

    So Bernardo do Campo Abril de 2014

  • Contedo

    I. Traduo Interlinear .............................................................................................................. 4

    1.1. Traduo Literal ............................................................................................................. 5

    II. Critica Textual ........................................................................................................................ 6

    III. Delimitao do Texto ........................................................................................................ 8

    IV. Estrutura do Texto ............................................................................................................. 9

    V. Coeso do Texto .................................................................................................................. 11

    VI. Anlise Semntica ........................................................................................................... 12

    VII. Data e Autoria ................................................................................................................. 16

    VIII. Formas Literrias ............................................................................................................. 17

    IX. Contexto do Texto ........................................................................................................... 18

    X. Os Descendentes de L ...................................................................................................... 20

    XI. Atualizao ...................................................................................................................... 22

    Bibliografia .................................................................................................................................. 23

  • I. Traduo Interlinear

    wyt'nOb. yTev.W rh'B' bv,YEw: r[;ACmi jAl l[;Y:w: 19:30 fillhas-dele e-duas-de no monte e-ele -habitou De - Zoar L E Ele Subiu

    `wyt'(nOb. yTev.W aWh hr"['M.B; bv,YEw: r[;Ac+B. tb,v,l' arEy" yKi AM[i filhas-dele e-duas-de ele em-a-caverna e-ele-habitou em-Zoar para-habitar ele-temeu porque com-ele

    !qE+z" Wnybia' hr"y[iC.h;-la, hr"ykiB.h; rm,aTow: 19:31 idoso nosso-pai A mais nova-para (a)primognita E (ela)disse

    `#r !yIy: Wnybia'-ta, hqL:B; !yIy: !hw: 19:34 a mais nova - para a primognita e (ela) disse no dia seguinte E Ele foi

    ybik.vi yaiboW hl'y>L;h;-~G: !yIy: WNq,v.n: ybi_a'-ta, vm,a, yTib.k;v'-!he deita e-entra esta noite- tambm vinho demos (a) beber meu pai onten eu deitei - vs

    `[r;z") Wnybia'me hYW AM[i semente. de nosso pai e preservemos com ele

    !yIy"+ !h

  • `!h
  • II. Critica Textual

    19,30 - wyt'(nOb. (venotayv) o Pentateuco samaritano, a septuaginta, a vulgata e alguns

    manuscritos hebraicos medievais acrescentam: AM[i - sufixo de ~[i (preposio

    que indica companhia ou proximidade; regime de numerosos verbos; partcula

    concessiva. Com, junto, junto/a, em companhia de; tambm, ademais, alm disso, e,

    inclusive, incluso, ao lado de, beirando, pegando, apesar de, no obstante. 1

    Assim, wyt'(nOb. (venotayv) um acrscimo que d nfase a companhia :

    L habitou numa caverna, ele na companhia (ao lado) de suas duas filhas. No

    mudando o sentido do texto da BHS.

    19,32 hk'l. ( lechah) Para ser lido (no Pentateuco samaritano): (leciy) ybil. ? talvez:

    caminhemos, vamos, transladar-se de um ser mvel ou animado de um lugar para o

    outro. 2

    Que pode ser traduzido como Vamos, demos a beber vinho a nosso pai... que

    tem coerncia com a interpretao de que foi tomada a deciso em conjunto, e no

    baseado na ordem da primognita: vem, demos a beber vinho a nosso pai...

    19,33 aWh+ (hu), provavelmente para ser lido (severin3, pentateuco samaritano):

    awhh; (hahv) aquela, naquela. E deram de beber vinho a seu pai naquela (aquela)

    noite. Tambm no interfere na traduo da BHS.

    19, 34 - ybi_a' (avi ), na septuaginta, sufixo na primeira pessoa do plural , para ser lido:

    Wnyba (vinu)? Incerto. No muda o sentido do texto, as tradues optam por pai ,

    ybi_a'-ta meu pai.

    1 SCHOKEL, Luis Alonso. 1997, p.502.

    2 Idem, p.177.

    3 Severin (lit. so supostos, so sugeridos, so cogitados): leituras sugeridas, supostas ou cogitadas.

    FRANCISCO, Edson de Faria, 2008, p92-93.

  • 19, 37 - ba'_Am ( moav) A septuaginta inseriu: le,gousa evk tou/ patro,j mou,, , inserido

    ybia'ime rmoale ?

    A LXX com este acrscimo da nfase a descendncia de L, a preservao da

    semente. Esta verso tenta dar significado ao nome Moabe, ou explicar a razo da

    primognita ao d-lhe o nome de Moabe.

    Texto da Septuaginta

    kai. e;teken h` presbute,ra ui`o.n kai. evka,lesen to. o;noma auvtou/ Mwab le,gousa evk tou/ patro,j mou ou-toj path.r Mwabitw/n e[wj th/j sh,meron h`me,raj

    Traduo Literal:

    A primognita gerou filho e ela o chamou de Moabe, dizendo: a partir do meu pai.

    Este o pai dos moabitas at o dia hoje.

    dizendo: a partir do meu pai; do meu pai; semente de um pai.

    ybia'ime rmoale ? lemor meabiy - significado incerto. A tentativa da LXX ao acrescentar

    na traduo valida no sentido de optar por uma traduo da palavra ba'_Am (Moabe).

    (lemor): dizendo ( passim; equivale a) meabiy = moabe?

    19,38 - Amv. A Septuaginta e a Vulgata acrescentou: Amman (Ammon). A

    Septuaginta e alguns manuscritos hebraicos medievais4 acrescentou: Amman le,gousa =

    rmoale !woMc; (amon lemor) dizendo, equivale a amon (Ammon).

    4 Mss Manuscrito(s) hebraico(s) medieval(is) citado (s) nas edies de B. Kennicott, de G.B. de Rossi e

    de C.D. Ginsburg.

  • III. Delimitao do Texto

    O captulo 18 e 19 apresenta ser uma unidade entendida a partir da narrativa da

    destruio de Sodoma e Gomorra (18, 1 - 19,38) que inicia-se na apario de YHWH -

    E fez se v por YHWH nos carvalhos de Mamre, at a gerao (descendncia) dos

    sobreviventes de Sodoma (L e suas filhas).

    Schwantes aborda o capitulo (19) como uma unidade que recebeu diversos

    adendos e incorporaes, por exemplo, no comeo quando foi integrado num s

    conjunto, ao cap.18.5

    H quem proponha subdividir este captulo em duas ou mais narraes, por exemplo

    em que uma trata de L (v.1-28), e outra de suas filhas (v.29-38). o que se v , por

    exemplo, na traduo do Joo Ferreira de Almeida, que encontra trs unidades em

    nosso captulo. 6

    A estreita relao entre o captulo 18 e 19, e a sequencia da narrativa em torno

    de Abrao, L e suas filhas e a destruio de Sodoma e Gomorra no nos deixa dvida

    de que uma diviso de percope nestes captulos custosa e pode comprometer a

    anlise do texto. Mas levando em considerao que cada percope trabalha com seu

    contexto, conclui-se que exegeticamente possvel trabalhar uma parte menor do

    texto dentro de uma unidade maior.

    Contudo, nossa percope de anlise Genesis 19, 30-38, que tem consistncia

    dentro do cap. 18 e 19, ser estudada a partir de uma exegese nestes versculos que

    mostram a posteridade de L, pai dos moabitas e amonitas.

    5 SCHWANTES, Milton, Deus V Deus Ouve, 2013, p.137.

    6 IDEM, p.140.

  • IV. Estrutura do Texto

    A narrativa desta percope estrutura-se, com base em nove versos, mas

    encabeada pela narrativa do verso 307 que faz uma transferncia (ligao) entre a

    sada de L com suas filhas da cidade de Sodoma e a descendncia de L.

    Estrutura do Captulo 198

    Captulo 19

    v.1-3 L, bom Hospedeiro

    v.4-11 No, meus irmos

    12-28 Um resgate difcil

    v.31-38 Descendncia de L

    Estrutura da percope (v.30-38)

    I. Ttulo: L e Suas Duas Filhas (v.1 a)

    1. Habitao Numa Caverna (v.1 b)

    II. Inicio da Trama Para Conservar a Descendncia de l (v.31-32)

    1. A velhice de L e o Costume de Toda Terra (v.31 b)

    1.a. A Deciso das Filhas (v.31 a)

    2. O Vinho Para Embriaguez (v.32)

    2.a. A Preocupao Com a Descendncia (32 b)

    III. A Embriaguez de L (33 35)

    1. Incesto (33b , 35b)

    2. L No Percebe (no deitar e no levantar) de Suas Filhas (v.33b , 35b) 7 Alguns biblistas entendem que o verso 29 tambm faz parte desta ligao, isso ser discutido na

    coeso do texto. 8 SCHWANTES, Milton. 2013, p.147.149 -153

    Quando Deus arrasou as cidades da

    plancie, lembrou-se de Abrao e tirou

    L do meio da catstrofe que destruiu

    as cidades onde L vivia. L partiu de

    Zoar com suas duas filhas e passou a

    viver nas montanhas, porque tinha

    medo de permanecer em Zoar. Ele e

    suas duas filhas ficaram morando

    numa caverna. 29-30 (NVI)

  • IV. A Concepo Das Filhas de L (v.36)

    V. Moabe O filho da primognita (v.37)

    1. O Surgimento dos Moabitas (v.37b)

    VI. Amom o filho da mais nova (v.38)

    1. O Surgimento dos Amonitas (v.38b)

  • V. Coeso do Texto

    Dentro da estrutura do captulo 19, Kidner trata esta percope (19, 30-38) como

    um eplogo: L e suas filhas9. Shcwantes entende que o verso 29 faz parte desta

    ligao (29,30) que conclui a unidade do captulo 19, e o intitulou como As filhas: do

    silncio a decises (v.29-38)10.

    importante que se pense de fato na seguinte conjuno: 29, 30 fazem a ligao

    ou uma espcie de introduo para dar base a narrativa seguinte das filhas que ao se

    encontrarem morando em caverna (gruta), viu-se a semente do pai sendo ameaada

    de extino.

    A narrativa sobre as filhas no exclusividade tambm desta percope. J havia

    sendo descritas nos versos anteriores: v.8, 12,15 e 16.

    O que diferencia esta percope da unidade que o cap.19 e tem levantado

    questionamento sobre sua posio neste captulo a genealogia (histria de

    parentelas)11, o que no se encontra no cap. 18 e 19.

    YHWH havia dado ordem para L escapar para o monte (montanha) no v.17, no

    para Zoar, e do verso 24 a seguir YHWH comea a destruio de Sodoma, no qual a

    esposa de L e seus genros (prometidos de suas filhas) tambm foram destrudos.

    Com o extermnio de toda Sodoma, e a sobrevivncia de L e suas filhas necessrio

    considerar esta percope como parte do cap.19.

    modo de concluso, poder-se- destacar que as diversas partes deste captulo se

    encaixam muito bem. Os v. 1-3 abrem a cena e, ao faz-lo, direcionam nosso cap.19

    para o 18, o que de resto tambm se d pela preferncia a Abrao em v.27-29. Os v. 4-

    11 enfocam o problema, a ameaa dos homens em visita casa de L. O conjunto

    maior de versculos v.12-28 trata do resgate de L. O relativismo insucesso deste

    prepara as cenas finais entre as duas filhas e seu pai na caverna. Eis, uma narrao

    bem sequenciada. 12

    9 KIDNER, Derek. 1979, p.126.

    10 SCHWANTES, Milton. 2013, p.147.

    11 IDEM, p.143.

    12 IDEM, p.143.

  • VI. Anlise Semntica

    Subiu L de Zoar e habitou no monte (caverna). bv,YEw (vayeshev) e ele habitou,

    (morfologia em bv;y" particpio com valor substantivado. Apresenta sentido de

    autoridade ou de habitante)13. Aparece duas vezes no verso 30, e ele habitou, e uma

    vez tb,v,l (lashevet), para habitar, no mesmo sentido: L e suas filhas passou a ser

    habitante, a povoar, ser morador das cavernas.

    Ele e suas duas filhas. wyt'(nOb (venotayv) filhas dele. Aparece duas vezes no

    verso 30, (tB substantivo comum feminino: filha), no v. 36 aparece novamente

    (tAn*b) venot filhas de.

    A primognita disse a menor: nosso pai j velho e no h homem na terra que

    entre a ns. hr"ykiB.h; (habechirah) a primognita, h; particle article rykiB'

    adjective feminine singular absolute 14 = primognita , primeiro parto, primicia de sua

    virilidade. A palavra primognita (habechirah) aparece 5 vezes nesta percope (31, 33,

    34 e 37), em todas relacionadas a hr"y[iC.h; (hatseirah) a mais nova, de ry[ic'

    adjective feminine singular absolute15, a pequena, mida, a menor, caula.

    v. 31 - A mais velha disse a mais nova (habechirah - hatseirah

    v. 33 A mais velha deitou com o pai (habechirah)

    v.34 Disse a mais velha mais nova (habechirah - hatseirah)

    v. 35 A mais nova deitou com o pai (hatseirah)

    Nosso pai j velho ( !qE+z" - zaqen) de !qz verb qal perfect 3rd person masculine

    singular16

    - ser um homem velho, idoso, tornou-se velho. [...] E no homem na terra

    que entre a ns, segundo o costume de toda a terra. Algumas palavras aparecem

    apenas aqui no verso 31: vyaiw> veish homem , (w> particle conjunction vyai noun 13

    SCHOKEL, Luis Alonso. 1997, p.299. 14

    BibleWorks. 15

    BibleWorks. 16

    BibleWorks.

  • common masculine singular absolute17

    ). #r - venishkevah26

    bK;v.Tiw: - vatishkav27

    Hb'k.viB. -beshichvah28 yTib.k;v'-!he shachavti-hen29

    Bkv (raiz primitiva) deitar-se

    (para descansar; relao sexual;

    morrer; ou qualquer outro

    propsito) ; -x absolutamente,

    17

    BibleWorks 18

    BibleWorks. 19 l[; particle preposition suffix 1st person common plural homonym 2 20 l. particle preposition awb verb qal infinitive construct 21 &. particle preposition %r,D, noun common both singular construct 22

    hqv verb hiphil imperfect 1st person common plural suffix 3rd person masculine singular 23 w> particle conjunction hqv verb hiphil waw consec imperfect 3rd person feminine plural 24

    hqv verb hiphil imperfect 1st person common plural suffix 3rd person masculine singular 25

    !yIy: noun common masculine singular absolute 26

    w> particle conjunction bkv verb qal imperfect 1st person common plural 27

    w> particle conjunction bkv verb qal waw consec imperfect 3rd person feminine singular 28

    B. particle preposition bkv verb qal infinitive construct suffix 3rd person feminine singular

  • Deita-te com ele v. 34 ybik.vi - shichvi30

    derrubar, cobrir(-se), deitar (-se),

    fazer deitar, deitar para dormir,

    deitar-se com, alojar, hospedar,

    violentar, descansar, dormir, ficar.

    STRONG, 2010,p.1964

    Preservemos a Semente de

    Nosso pai. V.32, 34

    [r;z") zara 31 [r;z semente, sementeira,

    posteridade, descendncia, prole.

    STRONG, 2010,p 1622.

    Passamos a analisar agora uma frase que se encontra em dois versos de nossa

    percope: E ele no soube quando ela se deitou, nem quando ela se levantou v.33, 35.

    As palavras: [d:y"-al{)w> - yada-velo32 (e ele no soube) , da raiz [dy conhecer, saber

    (propriamente, constatar pela viso); palavra usada numa grande variedade de

    sentidos, figurados, literais, em eufemismo e deduo (incluindo observao, cuidado,

    reconhecimento, e causativo instruo, designao, punio, etc) [Como segue]: -

    reconhecer, familiaridade, familiarizado com, aconselhar ... STRONG, 2010,p 1674.

    Assim, na bebida, L sai de cena; seus ltimos atos no lhe so coneecidos (v. 35,36).

    H ai um impactante jogo de sentidos: L no conhece ao conhecer! Ora, o verbo

    conhecer seguidamente expressa, no hebraico, a relao sexual (Gnesis 4,1). Aqui,

    nos v. 33.35, L no conhece (=percebe) ao conhecer (manter relaes sexuais).

    Desumaniza-se! 33

    As duas filhas conceberam (!'yr

  • LXX ? incerto; Moabe pai dos moabitas. Bem-Ami o nome do filho da mais nova

    (!AM[;-ynE)b.) filho do meu povo35, pai dos filhos de Amon amonitas.

    O dia at (at hoje)v.37, 38 (~AY*h;-d[;) = d[; particle preposition homonym 3 h;

    particle article ~Ay noun common masculine singular absolute.

    35

    STRONG, 2010,p 1130.

  • VII. Data e Autoria

    O cap. 19 de Gnesis complexo nos quesitos data e autoria. Algum redator

    estava interessado em contar a histria de L e sua genealogia, ento comps este

    texto (?). Surge a hiptese da nossa percope (v.30-38), dentro desta autoria

    desconhecida:

    1. Um redator escreve a histria (estria?) para narrar o surgimento dos moabitas

    e amonitas, dando assim nfase ao modo imoral (incestuoso) pelo qual eles

    surgiram, fundamentando ainda mais sua inimizade, ou no aceitao dos

    moabitas e amonitas por parte dos hebreus.

    A peculariedade desta percope faz-nos pensar que o redator queria claramente

    afrontar os moabitas e amonitas, dando claramente sua origem como sendo de uma

    relao imoral.

    Schwantes diz que o texto do cap. 19 indica que sua origem (do texto) no

    poderia ser to antiga, e que os exegetas adeptos da critica literria das fontes

    designam seu autor como o javista, tido por muitos, do 10 sculo a. C.36 Seguimos por

    este mesmo entendimento.

    36

    SCHWANTES, Milton. 2013, p.146.

  • VIII. Formas Literrias

    Nossa percope pode ser entendida dentro da etiologia37, por se tratar de uma

    narrativa que fornece uma explicao para um determinado nome ou situao. Para

    tal deveramos considerar o acrscimo da LXX ao fazer o trocadilho com o nome

    Moabe, semente de um pai.

    Pode-se classificar tambm como genealogia, apesar de que no temos uma lista

    grande (10 geraes / 14 geraes) que traa a descendncia ou parentesco, mas

    temos as geraes de L Moabe e Amom.

    Coats classifica nossa percope como saga familiar. Uma prosa longa, uma

    narrativa tradicional tendo uma estrutura de episdios e desenvolvida ao redor de

    temas ou assuntos esteiotipados. COATS, G, Comentrio a Genesis, p.319.

    Talvez ela tenha um pouco da etiologia, e da genealogia, mas a forma mais

    evidente desta percope seja de fato a saga.

    37

    Roland E. Murphy, O. Carm. Introduo ao Pentateuco.

  • IX. Contexto do Texto

    A percope (v.30-38) est muito bem contextual com a histria de Abrao, afinal

    de contas L era seu sobrinho. O contexto maior exatamente quando YHWH chama

    Abro e lhe faz promessas (cap.12). Ao partir de em busca das promessas, Abro vai

    acompanhado de L (12, 4). Na sequencia temos:

    12, 10 ss Abro desce ao Egito

    13, 1 ss Abro volta do Egito

    13, 7 ss Abro e L se Separam

    14, 1 ss Guerra dos Reis / L Levado Cativo / Abro Resgata L

    15, 1 ss YHWH promete um filho a Abro / Sarai e Hagar

    17, 1 ss Abro passa a se chamar Abrao

    18, 1 ss Visitao de YHWH Abrao

    19, 1 ss - Visitao de YHWH L / Destruio de Sodoma e Gomorra

    A Descendncia de L cap. 19, 30-38

    20, 1 ss Abrao Nega Sara em Gerar

    21, 1 ss Nascimento de Isaque

    22, 1 ss Sacrifico de Isaque

    23, 1 ss Morte de Sara

    24, 1 ss Isaque & Rebeca

    25 A Morte de Abrao

    O capitulo 19, este sim, est na continuidade da segunda parte do cap.18 e dos cap.

    13-14. A destruio de Sodoma o assunto, em 19, 1-38. E aqui chega a concluso o

    que iniciara no cap.13, o que da a esta narrao sobre a cidade, que acolhem L, uma

    importncia especial. O final do cap.19 ainda parte desta composio, que vem

    desde o cap.13. [...] O tema e o conto das duas filhas de L, que do continuidade

    famlia, em meio s muitas runas, so um desafio para interpretao: havamos-nos

  • acostumado a entender as filhas de L como smbolo de decadncia, mas para o

    (contexto do) cap. 19, esta no a tnica. 38

    Sodoma, Gomorra e Zoar.

    Sodoma39 cidade ao lado sul do mar morto, marcava o limite geogrfico dos

    cananeus a sudeste, numa fronteira que comeava a sudoeste, em Gaza.

    Aparentemente localizada numa regio frtil, conforme se conclui da escolha feita por

    L para ali fixar moradia (Gn 13.10). A cidade se tornou um grande centro comercial, e

    por isso, objeto de cobia por parte dos reis poderosos (Gn 14).

    Entendo ser provvel que Sodoma e Gomorra se situavam, para o imaginrio de nosso

    cap.19, onde em tempos histricos e at hoje est o mar morto, onde agora se cheira

    enxofre (19,24), se v estelas de sal (19,26), onde, enfim, acabou a vida, devido a sais e

    a falta de chuva. Sim, a junto s guas do mar tudo morto! Este o lugar por

    assim dizer vivencial do cap. 19: atravs dele se explica porque aquelas guas se

    tornaram antivida. Junto s guas a vida se foi! Um tal fenmeno raro da natureza

    abriga a memria. O contexto humano e social do cap.19 deveras histrico, no

    assim o local, a cidade, onde a narrao est ancorada. 40

    Zoar nosso contexto menor, pois L pediu pra ir para Zoar (19 23). Depois

    subiu L de Zoar e habitou no monte (caverna), conf. 19,30. Esta cidade ficava na

    extremidade suleste do mar morto, posteriormente Moabe, filho de L, toma esta

    cidade.

    38

    SCHWANTES, Milton, 2013, p.17,18. 39

    HARRIS, R. Laird. ; ARCHER, Jr. Gleason L. & WALTKE, Bruce K. 1998, p.1466. 40

    SCHWANTES, Milton, 2013, p.144.

  • X. Os Descendentes de L

    Quase L morre em Sodoma. Os anjos insistiram com L para sarem de Sodoma,

    tendo ele hesitado, foi levado a fora (19, 15-16). J em Zoar, nas montanhass,

    encontra-se numa situao difcil, seus genros (prometidos) tinham achado que ele

    estava brincando e no saiu de Sodoma, morreram l (19,14).

    Com suas filhas (sua esposa havia se tornado uma esttua de sal conf. 19, 26),

    nas montanhas, surge a questo: L no teria descendentes? A quem interessa saber a

    de descendncia de L? Como esta trama ser contada?

    A narrativa altamente estilizada: os nomes das filhas (a velha e a nova); a

    facilidade como elas logram o pai e a descrio idntica de cada encontro. O

    significado do sucinto relato do nascimento o de que as linhagens de Moab e Amon,

    genealogicamente aparentadas de Israel, provm das filhas de L. O escrnio de Moab

    e Amon (que mais tarde se tornaram inimigos de Israel) por nascerem de forma

    ridcula e tipicamente oriental. O principal impulso da narrativa, entretanto, servir de

    contraste entre Abrao e L. O Justo Abro espera pelo Senhor para lhe dar terras e

    um filho. L e suas filhas esto sem nada, apenas tentando sobreviver. E ainda se

    encontram nesta condio graas a sua relao com o escolhido Abrao. 41

    Moabe Moabita

    O filho da mais velha se tornou pai dos moabitas. Em deuteronmio 2, 10 YHWH

    diz pra no perturbar os moabitas, nem os provoquem a guerra, pois Ele havia

    entregado aquela regio aos descendentes de L (regio de Ar, habitada antigamente

    pelos emins).

    Foi Moabe que tentou contratar um profeta (Balao) para amaldioar Israel

    (relato no livro de nmeros). Tambm praticou atos (rituais) de prostituio religiosa,

    associados com sacrifcios de mortos (Nm 25). Vrios profetas dirigiram mensagens

    contra Moabe: Ams (cap. 2), Isaas (15-16) , Jeremias (48) e Ezequiel (25).

    41

    BROW, Raymond E. ; FITZMYER, Joseph A & MURPHY, Roland E., 2007, p.89

  • Rute (a moabita), casou-se com Boaz e se tornou uma antepassada de Davi e do

    Messias (livro de Rute). Mas foi tambm sob Davi que Israel conquistou as terras dos

    moabitas. Eles conquistaram sua independncia apenas depois da morte de Acabe (2

    Sm 8,2; 2 Rs 3, 4-27).

    Amon Amonitas

    O filho da mais nova torna-se o pai dos amonitas. Assim como aos moabitas,

    YHWH no permitiu que Israel invadisse a terra dos amonitas (Nm 2,19), Israel tinha

    que incluir Amon como seu parente.

    Ao contrario do que fizeste a Moabe, Israel no atacou os amonitas (Dt 2,37), mas

    tambm tiveram uma convivncia conflitante.

    Os amonitas por sua vez, se uniram algumas vezes com os moabitas para tentar

    arruinar Israel, por isso, de acordo com deuteronmio 23, perderam o direito de se

    identificar com Israel por pelo menos dez geraes.

    Salomo levou mulheres amonitas para seu arem (1 Rs 11), uma dessas mulheres

    se chamava Naam, me de Roboo (1 Rs 14).

    Os amonitas foram derrotados pelos israelenses em vrias ocasies: por Jeft (Jz

    11), por Saul (1 Sm 11), por Davi (2 Sm 10;12). Os amonitas tinham seu prprio deus,

    chamado Milcom (1 Rs 11.5). Tambm adorava camos, o deus de Moabe (Jz 11.29;

    mencionado tambm na pedra moabita). As duas divindades tambm foram adoradas

    pelos israelitas em certas oportunidades.

    Os amonitas afligiram continuamente os descendentes de Abrao (Am 1. 12-15; Jr

    40. 13; Ne 2. 10,19). Vrios profetas pronunciaram a maldio de Deus sobre eles (Sf

    2.8-9; Jr 49. 1-6; Ex 25. 1-7). Ao invs de desfrutar as bnos da aliana, a atitude

    deles para com o povo da aliana fez sobrevir-lhes a maldio divina. 42

    42

    HARRIS, R. Laird. ; ARCHER, Jr. Gleason L. & WALTKE, Bruce K. 1998, p.1136.

  • XI. Atualizao

    Uma deciso errada e toda vida parece no se acertar mais. E se L tivesse

    buscado se entender com Abrao (nem foram eles que se desentenderam foram os

    pastores dos seus rebanhos), ao invs de seguir cada um pro seu lado, no poderiam

    ter conversado e resolvido? E se L no tivesse escolhido ir pelo vale do Jordo? E se,

    e se ?

    O problema de L foi suas escolhas ou foi no ser escolhido? Talvez os dois. Mas

    diante de tantos acontecimentos, poderamos dizer que L no foi destrudo em

    Sodoma por causa da intercesso de Abrao junto a YHWH. A cidade no escapou,

    afinal no tinha nem dez justos para livrar aquela cidade da destruio.

    L recebeu a benevolncia da vida preservada por YHWH, ele e suas filhas. Mas seus

    atos resultaram em consequncias desastrosas. Afinal melhor ter um futuro

    desastroso ou ter filhos que carreguem o nome da famlia? Decises que pesam sobre

    toda humanidade, at os dias de hoje.

  • Bibliografia

    Bblias / Verses:

    ALMEIDA, Joo Ferreira de. Trad. A Bblia Sagrada (revista e corrigida no Brasil). So

    Paulo. Sociedade Bblica Brasileira, 1993.

    BBLIA, Portugus. Bblia sagrada nova verso internacional. So Paulo: Geogrfica,

    2000.

    BBLIA. Portugus. Bblia sagrada. NVI. So Paulo: Vida, 2000.

    BBLIA SAGRADA: Nova Traduo na Linguagem de Hoje (NTLH). Barueri/SP: Sociedade

    Bblica do Brasil, 2000.

    A BBLIA VIVA Editora Mundo Cristo, 2000.

    Bblia Edio Pastoral, Paulinas, 1990.

    Bblia de Jerusalm, 2012, Paulus.

    Bblia Sagrada Edio Popular, 1976, Paulinas.

    BHS Biblia Hebraica Stuttgartensia

    FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bblia Hebraica, Vida Nova, 2003, 715p.

    Dicionrios:

    HARRIS, R. Laird. ; ARCHER, Jr. Gleason L. & WALTKE, Bruce K. Dicionrio Internacional

    de Teologia do Antigo Testamento, Vida Nova, 1998, 1789p.

    STRONG, James. Lxico Hebraico, Aramaico e Grego. Sociedade Bblica do Brasil, 2002.

    SCHOKEL, Luis Alonso. Dicionrio Bblico Hebraico Portugus. Paulos, 1997, 798p.

    Comentrios:

    BROW, Raymond E. ; FITZMYER, Joseph A & MURPHY, Roland E., Novo Comentrio

    Bblico So Jernimo Antigo Testamento, Acadmia Crist & Paulus, 2007, 1263p.

    KIDNER, Derek. Introduo e Comentrio de Gnesis, Vida Nova, 1979, 208p.

  • BRUCE, F.F. (org.). Comentrio Bblico NVI, editora Vida, 2008, 2271p.

    SCHWANTES, Milton. Deus V, Deus Ouve ! Oikos, 2013, 280p.

    ALTER, Robert. Genesis: translation and commentary. New York: Norton & Company, 1996 COATS, George W. Genesis: with an introduction to Narrative Literature. The Forms of the Old Testament Literature. Vol.1. Grand Rapids: Eerdmans, 1983 Teologia

    RAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento. Traduo Francisco Cato. 2ed. So Paulo: ASTE/Targumim, 2006 SCHMIDT, Werner H. A f no Antigo Testamento. Traduo Vilmar Schneider. So Leopoldo,RS: Sinodal, 2004 SELLIN, E.; FOHRER, G. Introduo ao Antigo Testamento Volumes 1 e 2. Traduo D.Mateus Rocha. So Paulo: Academia Crist; Paulus, 2012 ROSEL, Martin. Panorama do Antigo Testamento: Histria, Contexto, Teologia. Traduo deNelson Kilpp. So Leopoldo: Sinodal / EST, 2009 WOLFF, Hans Walter. Antropologia do antigo Testamento. Traduo Antonio Steffen. SoPaulo: Ed. Hagnos, 2007 Digital Bible Works