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compilações doutrinais
VERBOJURIDICO ®
EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA:
O DIREITO DE REVERSÃO
___________
Maria Elisabete Almeida Rocha
VERBOJURIDICO EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 2
ÍNDICE
Introdução 4
1.As principais garantias dos particulares face à expropriação. 6
1.1. A garantia geral e as garantias específicas 6
2.A garantia específica: o direito de reversão 6
2.1.Noção de direito de reversão 6
2.2.Fundamento do direito de reversão 7
2.3. A natureza jurídica do direito de reversão 7
3. Pressupostos do direito de reversão 8
4. Cessação do direito de reversão 9
5.Caducidade do direito de reversão. 10
6.Garantias do direito de reversão e preferência 10
7. A aquisição pela via do direito privado e o direito de reversão 11
8. O procedimento do direito de reversão 13
8.1Sub – procedimento administrativo 13
8.2.Sub – procedimento judicial 13
9Análise de Jurisprudência relacionada com o direito de reversão 14
9.1Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo. 14
9.1.1.Matéria de facto 14
9.1.2.Conclusões / parecer do T.A.F.L. 15
10.Comentário ao presente acórdão 15
10.1. O direito de reversão pelo desvio da cedência da finalidade pública 16
10.2.O exercício do direito de reversão 17
10.3 Data do exercício do direito de reversão e respectivo prazo de caducidade. 17
10.4. O direito de reversão e a aquisição pela via do direito privado 18
11.Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo (cessação do direito de reversão) 19
11.1.Matéria de facto 19
11.2.Conclusões 21
ELISABETE ROCHA EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 3
PRINCIPAIS ABREVIATURAS
A-----Autora
ART----Artigo
CC------Código Civil
CRP----Constituição Portuguesa da República
CE------Código das Expropriações (Lei nº 168/99 de 1 de Setembro)
CJA-----Cadernos de Justiça Administrativa
CPA-----Código de Procedimento Administrativo
DL------Decreto de Lei
DR-------Diário da República
DUP------Declaração de utilidade pública
LPTA----- Lei de Processo dos Tribunais Administrativos, aprovada pelo Decreto
-Lei nº 167/85, de 16 de Julho.
MCOTA--Ministério das Cidades e do Ordenamento do Território e Ambiente
PER------Programa Especial de Realojamento
PROC----Processo
STA-----Supremo Tribunal Administrativo
TAFL----Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa
TC--------Tribunal de Círculo
VERBOJURIDICO EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 4
Expropriações por Utilidade Pública O Direito de Reversão
———
Maria Elisabete Almeida Rocha
Introdução
Neste pequeno trabalho de investigação e análise de jurisprudência, que se insere na cadeira
de Jurisprudência do Ordenamento do Território e Urbanismo, iremos analisar uma das garantias
do particular na Expropriação por Utilidade Pública, nomeadamente, uma garantia específica, ou
seja, o direito à reversão dos bens expropriados. Podemos definir este instituto como um direito
que, embora decorrente do acto expropriativo, é próprio do expropriado como forma de neutralizar
o efeito daquele acto e que só se subjectiva depois de consumada a expropriação, e de se verificar
que o bem que dela foi objecto não foi aplicado ao fim para que foi expropriado ou que cessou a
sua aplicação a esse fim. Traduz no poder de aquele primeiro titular o fazer voltar à sua esfera
jurídica, por força da desnecessidade da expropriação do bem ao fim de utilidade pública que se
visava prosseguir.
A temática central deste trabalho é a análise nos fundamentos do Direito de Reversão, e
vincar as suas causas de cessação e a sua caducidade, ou seja, explicitar que a cessação e a
caducidade são dois conceitos jurídicos diferentes, muitas vezes na prática confundidos, mas que
em relação ao direito de reversão têm pressupostos de exigibilidade e actuação diferentes.
Mas antes de analisar em concreto os acórdãos sobre este tema, veremos então a tramitação
prática deste direito de reversão, começando por referir e delimitar este conceito, como sendo uma
garantia específica dos particulares para poderem fazer face à expropriação, delimitando a sua
natureza jurídica, não esquecendo os seus pressupostos, e a sua não aplicação ao fim, e a sua
cessação de aplicação ao fim, e ainda o problema da aquisição dos bens pela via do direito privado,
e descortinando os seus trâmites processuais.
O que realmente pretendemos com este trabalho é vincar a diferença prática e jurídica de
algumas causas da cessação e caducidade do direito de reversão, recorrendo ao enquadramento
geral deste direito, e à análise destes dois últimos conceitos, através da exposição teórica e
consequente análise prática de acórdãos.
De acordo com o C.E. de 1991, no seu art. 5º n 4 refere que o direito de reversão cessa
quando tenham decorrido 20 anos sobre a data da adjudicação; quando seja dado aos bens outro
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destino, mediante nova declaração de utilidade pública; quando haja renúncia expressa do
expropriado. Já no nº6 do mesmo preceito, a reversão deve ser requerida no prazo de dois anos a
contar da ocorrência do facto que a originou, sob pena de caducidade, sem prejuízo de assistir ao
expropriante, até ao final do prazo, de 20 anos, o direito de preferência na alienação dos bens para
fins de interesse privado. O artigo 5º nº1 do C.E. de 91 considerava como factos constitutivos do
direito de reversão; a não aplicação dos bens ao fim que determinou a expropriação no prazo de
dois anos a contar da adjudicação; e ter cessado a aplicação dos bens ao fim que determinou a
expropriação.
No que respeita ao C.E. de 1999, mantém como factos constitutivos do direito de reversão
(art. 5º nº1,a) e b)), as mesmas situações práticas do art. 5º nº1 do C.E. de 1999, no que concerne à
cessação do direito de reversão a situação entre os dois códigos é a mesma, havendo uma pequena
alteração é em relação ao prazo de caducidade do direito de reversão, que no actual C.E. de 99 era
de 3 anos a contar da ocorrência do facto que a originou, sob pena de caducidade.
É então sobre estas diferenças e semelhanças práticas da caducidade e cessação do direito de
reversão que nos iremos debruçar ao longo do trabalho, sem primeiro fazermos um apanhado geral
de todos os requisitos e condições deste instituto.
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1.As principais Garantias dos Particulares face à expropriação1
1.1. Garantia geral e garantias específicas
A primeira garantia de que os particulares dispõem face à expropriação é uma garantia de
carácter geral. Com o efeito, sendo o acto de declaração de utilidade pública um acto
administrativo, o particular por ele lesado dispõe, tal como acontece em relação a qualquer acto
administrativo, de direito à impugnação contenciosa, com fundamento em ilegalidade (art. 268º,
nº4 da CRP). Mas o C.E. prevê ainda algumas garantias específicas dos particulares perante a
expropriação, tais como, a caducidade da D.U.P, a indemnização e o direito de reversão, este
último que analisaremos de seguida.
2. Garantia específica: o direito de reversão
2.1. Noção
Podemos definir direito de reversão como aquele direito que tem por base os bens
expropriados que não sejam aplicados ao fim cuja utilidade pública justificou a expropriação, que
dele tenham sido desviados ou que tenham sobrado das obras (parcelas sobrantes), devem reverter
ao primitivo proprietário a requerimento deste ou dos seus herdeiros. Mas a reversão não existe se
os bens ou direitos expropriados tiverem sido ou, antes da decisão sobre o respectivo pedido,
vierem a ser destinados a outros fins de utilidade pública ou permutados com outros afectados a
qualquer destes fins2.
Por outro lado, podemos também dizer que a reversão é um direito que, embora decorrente
do acto expropriativo, é o próprio do expropriado como forma de neutralizar o efeito daquele acto e
que só se subjectiva depois de consumada a expropriação e de se verificar que o bem que dela foi
objecto não foi aplicado ao fim para que foi expropriado ou que cessou a aplicação a esse fim.
Traduz-se no poder de aquele primeiro titular o fazer voltar à sua esfera jurídica por força da
necessidade da expropriação do bem ao fim de utilidade pública que visava prosseguir3.
De forma concreta, quando o beneficiário da expropriação der aos bens expropriados uma
utilização diferente da prevista no acto da D.U.P, quando não utilize o bem expropriado no prazo
1 Fernando Alves correia, “ As Garantias do Particular na Expropriação por Utilidade Pública”, Coimbra, 1982,
Coimbra, cit., pág.. 114. 2 João Melo Franco/ Herlânder Antunes Martins, “Dicionário de Conceitos e Princípios Jurídicos”, 3ªed., rev. e act.,
Coimbra, Almedina, 1993,cit., pág. 771. 3 Podemos seguir a fundamentação deste entendimento no Ac. do TAF de Coimbra de 26-04-2007.
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de 2 anos a contar da adjudicação ou quando a aplicação ao fim previsto da DUP tiver cessado, o
expropriado tem o direito de requerer a reversão ou retrocessão dos bens (art. 5º do C.E.) 4.
2.2.Fundamento do direito de reversão
A reversão traduz-se na possibilidade que o expropriado tem de reaver a propriedade do
prédio expropriado, quando lhe tenha sido dada outra utilidade, ou destino que não o previsto na
declaração de utilidade pública, ou, ainda, se tiver cessado a aplicação a esse fim. Os factos
jurídicos constitutivos da reversão são, assim a inércia da expropriante e a alteração do fim
expropriativo5.
Este direito encontra fundamento na garantia conferida pela constituição ao direito de
propriedade, nomeadamente no art. 62º da C.R.P.: “ A todos é garantido o direito à propriedade
privada e à sua transmissão em vida ou por morte, nos termos da constituição”. Se a finalidade da
expropriação não se realizar dentro do prazo que se considera aceitável, ou se se verificar
posteriormente que o imóvel não é necessário à realização daquele fim, deixa de estar legitimada a
violação do direito de propriedade. O que na prática significa, é que a expropriação está sujeita à
condição resolutiva de a entidade expropriante dar ao bem expropriado o destino específico de
utilidade pública que fundamentou a aquisição6.
O direito de reversão consiste, ainda, num afloramento do princípio da proporcionalidade,
pois surge quando se constata, ou se depreende com elevado grau de certeza, que o fim de utilidade
pública já não exige a lesão daquele bem particular.
2.3. Natureza jurídica do direito de reversão
Com o este direito estabelece-se uma importante garantia do particular e, ao mesmo tempo,
um importante instrumento de moralização da actividade expropriativa. Daqui decorre que o
interesse público ou a causa de utilidade pública que constitui a causa da expropriação acompanha-
a mesmo para além da sua consumação. É neste sentido, que Alves Correia, refere que existem
várias teses quanto à natureza jurídica da reversão, designadamente a que a considera como um
direito legal de compra conferido ao expropriado e a que a vê como uma condição resolutiva7.
4 Fernanda Paula Oliveira, “Direito do urbanismo”, CEFA, Coimbra, 2001, cit., pág. 108 e 109. 5 Cfr., Pedro Elias da Costa, “ Guia de expropriações por Utilidade Pública”, 2ª ed., rev. e act.; Nov. 2003,
Almedina, pág. 245. 6 Fernando Alves Correia, “As Garantias do Particular………………..”, cit.,pág. 166. 7 Cfr., José Osvaldo Gomes, “ Expropriações por utilidade pública”, Texto Editora, 1997, pág. 397…...Este autor
relativamente à natureza jurídica do direito de reversão, refere ainda outra tese, a de que a reversão constitui um direito de preferência na reaquisição do bem expropriado.
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Em relação à primeira tese, os defensores desta tese encaram a reversão como um direito
reconhecido pela lei aos antigos proprietários dos bens expropriados, de comprar os bens não
utilizados ao fim de utilidade pública específica que justificou a expropriação. Esta posição
maioritária merece-nos algumas reservas, na verdade considerar a reversão como um direito legal
de compra pressupõe que o expropriado ao manifestar a sua pretensão de readquirir total ou
parcialmente os bens que lhe tinham sido retirados e que não foram aplicados ao fim de utilidade
pública previsto no acto declarativo se apresente como o animus de um qualquer comprador, o que
não nos parece correcto, já que ele pretende fazer valer um direito que lhe assiste na qualidade de
sujeito passivo da expropriação.
De acordo com última tese relativa à natureza jurídica do direito de reversão, que parece ser
a que melhor exprime a verdadeira natureza jurídica da expropriação, o acto expropriativo tem a
sua justificação no facto de os bens serem necessários para a realização de uma finalidade
específica, pelo que a expropriação está condicionada pela efectiva subsistência da causa. Se tal
causa desaparecer, o expropriado passa a ter o direito de reaver o bem, o que demonstra que a
consistência da transferência da propriedade dos bens decorrente da expropriação para a entidade
beneficiária da mesma está sujeita à condição resolutiva de esta dar ao bem expropriado o destino
específico de utilidade pública. Deste modo, estando a transferência do bem dependente de uma
condição resolutiva, tal significa que se desaparecer, por qualquer motivo, o fim público que foi a
causa da expropriação, os efeitos cessam, impondo a repristinação das coisas no “status quo ante”,
restituindo ao ex – proprietário o preço que tinha recebido na indemnização e recuperando a
propriedade do bem8.
3. Pressupostos do direito de reversão
O artigo 5º do C.E. fixa os pressupostos do exercício do direito de reversão. Conforme o
disposto neste artigo, no seu nº1, o direito de reversão nasce, na situação de 2 anos após a data de
adjudicação, se os bens expropriados não forem aplicados ao fim que determinou a expropriação, e
ainda quando tiverem cessado as finalidades da expropriação, nomeadamente, se a entidade
expropriante decidir dar outro destino económico ao bem expropriado, depreende-se que as
finalidades da expropriação cessaram.
Resumindo o direito de reversão dos bens expropriados mostra-se previsto em duas
situações: a primeira não serem aplicados ao fim que determinou a expropriação no prazo de dois
anos após a adjudicação, na segunda situação, ter cessado a aplicação a esse fim. Enquadram-se na
primeira todas as situações em que os bens expropriados não foram utilizados para o fim que
8 Fernando Alves Correia, “ As Garantias do Particular……………….”, cit., págs. 351 a 353..
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determinou a expropriação e, portanto, quer aquelas situações em que os bens não foram aplicados
pelo expropriante a qualquer fim, quer aquelas em que os bens foram aplicados a fim diferente
daquele a que se destinavam, em face da declaração de utilidade pública. Por sua vez enquadram-se
na segunda situação os casos em que o bem expropriado foi aplicado ao fim que determinou a
expropriação, mas essa aplicação cessou posteriormente.
4. Cessação do Direito de Reversão
Constituem causas de cessação do direito de reversão as seguintes situações:
a) Decurso de 20 anos sobre a data da adjudicação (art. 5º nº4, al. a))9;
b) Se uma nova D.U.P. der outro destino aos bens expropriados, ou seja, se os afectar à
realização de uma obra diversa daquela para a qual foram expropriados (art. 5º, nº4, al.b));
c) Renúncia do expropriado ao direito de reversão (art. 5º nº4, al.c)). Por regra, a renúncia,
deve ser expressa, exceptuando-se dois casos previstos no n.ºs 6 e 7 do art. 5º, em que são
interpretadas como renúncia as seguintes condutas do expropriado:
O acordo entre a entidade expropriante e o expropriado, ou demais interessados, sobre
outro destino a dar ao bem expropriado, ou sobre o montante do acréscimo da indemnização, no
caso de nova D.U.P;
O não exercício do direito de reversão no prazo de 60 dias após a comunicação da
entidade expropriante, ao expropriado e demais interessados conhecidos do projecto de alienação
de parcelas sobrantes, feita por carta ou ofício registado com aviso de recepção.
d) Renovação da D.U.P. com fundamento em prejuízo grave para o interesse público, dentro
de 1 ano após o momento em que tenha nascido o direito de reversão (art. 5º, nº4, al. d));
e) Início da realização de obra contínua em qualquer local do traçado (art. 5º, nº2). De
acordo com o art. 5º nº4, entende-se por obra contínua aquela que tenha configuração geométrica
linear e que, pela sua natureza, é susceptível de execução faseada ao longo do tempo,
correspondendo a um projecto articulado, global e coerente.
9 Ac. do S.T.A. de 23-02-1995, proc. nº 32346: “ II- decorridos 20 anos sobre a data da adjudicação do imóvel
expropriado cessa o direito de reversão, tenha ou não sido possível exercitá-lo (art. 5º nº 4 do C.E.), III- O art. 329º do C.CV. ao prescrever que o prazo de caducidade só começa a correr no momento em que o direito puder legalmente ser exercido respeita apenas aos prazos de caducidade em que não é conhecido o momento a partir do qual se contam”.
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O direito de reversão renasce quando, em caso de obra contínua, os trabalhos forem
suspensos, ou estiverem interrompidos por prazo superior a 2anos. Neste caso, a reversão deve ser
requerida no prazo de 3 anos a contar do final daquele (art.5º, nº9).
5. Caducidade do direito de reversão
O direito de reversão caduca, se não for requerido no prazo de 3 anos a contar da ocorrência
do facto que originou o seu nascimento (art. 5º, nº1, als. a) e b) do C.E., ou do final do facto que
originou o seu renascimento (art. 5º, nº9 do mesmo preceito). Caducando o direito de reversão, fica
o expropriado com o direito de preferência na primeira alienação dos bens, até ao final do prazo de
20 anos sobre a data da adjudicação. O direito de preferência pode cessar através de renúncia
expressa do expropriado ou por meio de renúncia tácita, nos termos previstos para o direito de
reversão, nos nºs 6 e 7 do art. 5º do C.E.10.
O novo regime parece pretender que este direito de preferência dos expropriados só existe
decorridos que estejam 3 anos sobre o facto que origina o direito de reversão; decorrido esse prazo.
Assim, durante esses 3 anos, os expropriados só poderiam requerer a reversão: se o bem fosse
entretanto alienado os expropriados não seriam preferentes. Se considerarmos, que este direito de
preferência é uma específica forma do exercício do direito de reversão, não se encontrando
qualquer justificação para que se retire aos expropriados, neste período, aquele direito de
preferência11.
6. Garantia dos direitos de reversão e de preferência
Tanto o direito de reversão como o direito de preferência nascem quando se verificam os
seus pressupostos legais, não constituindo qualquer objecção o facto de, entretanto, o bem
expropriado ter sido transmitido a terceiro. Quando o bem já tiver sido transmitido a terceiro, a
jurisprudência não é unânime sobre se o recurso do acto que a indefere a reversão deve, ou não, ser
admitido. Nem o direito de preferência nem o direito de reversão têm eficácia real, assim sendo,
não podem ser opostos a terceiros. No entanto, pode o bem ter sido transmitido através de acto
administrativo que ainda não se consolidou na ordem jurídica, contudo, mesmo que já não haja
possibilidade de exercer o direito de reversão, o expropriado tem ainda, interesse em reclamar uma
indemnização.
10 Pedro Elias da Costa, “ Guia de Expropriações por Utilidade Pública…”, cit.,pág. 248. 11 José Viera da Fonseca, “ Principais Linhas inovadoras do Código de Expropriações de 1999”, Revista Jurídica de
Urbanismo e Ambiente”, 1999, nº14, cit., pág. 119.
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Parece-nos, assim, ser preferível a doutrina que defende a admissibilidade de recurso, já que
a transmissão do prédio expropriado não constitui um impedimento absoluto ao exercício do direito
de reversão, nem retira ao expropriado o interesse em impugnar o seu indeferimento12. Deste modo,
caso a entidade competente para decidir não tenha reconhecido o direito de reversão, deverá o
requerente interpor recurso contencioso dessa decisão, devendo ser chamados a intervir nesse
recurso os terceiros adquirentes do bem, a quem o provimento do recurso possa directamente
prejudicar (art. 36º nº1, al. b) da L.P.T.A.). Ao expropriado deverá ser atribuída uma indemnização
correspondente aos danos causados pelo não exercício do seu direito, a ser fixada nos termos gerais
do direito, cabendo a responsabilidade dessa indemnização por pertencer à entidade expropriante13.
7. Aquisição pela via do direito privado e o direito de reversão
A tentativa de aquisição dos bens ou direitos necessários ao desempenho de uma actividade é
caracterizada no código como por via do direito privado. Embora a reversão esteja pensada para as
hipóteses em que tenha havido declaração de utilidade pública e adjudicação do bem expropriado, e
não obstante defendermos que a aquisição do bem pela via do direito privado não faz ainda parte
do procedimento expropriativo propriamente dito, o direito de reversão deve também poder ser
exercido naquelas situações em que o particular, nos termos do art. 11º, tenha cedido o bem pela
via do direito privado. E isto compreende-se na medida em que, a tentativa de aquisição do bem
pela via do direito privado não é qualquer tentativa de aquisição privada do bem, mas uma tentativa
de aquisição que antecede necessariamente um procedimento expropriativo, pelo que o particular
sabe que não chegando nesta fase a acordo com o eventual beneficiário da expropriação, este
lançará mão do processo expropriativo. Trata-se deste modo, de uma aquisição substitutiva da
expropriação e umbilicalmente ligada a ela14.
Porém a doutrina, entre ela, José Vieira da Fonseca, não concorda com esta posição,
referindo que a aquisição pela via do direito privado é um procedimento administrativo, mais
precisamente uma específica fase do procedimento expropriativo. Esta concreta relação jurídico –
procedimental, pode ser qualificada como um sub – procedimento administrativo, porque integra
uma sucessão ordenada de actos e formalidades tendentes à formação, manifestação e execução da
vontade, não só de quem desenvolve uma actividade administrativa (art.1º, nº1 do CPA). A
conclusão é evidente: a aquisição pela via do direito privado é uma aquisição expropriativa,
12 Ac. do S.T.A. de 22-04-1997, C.J.A. nº6, 1997, pág. 43: “ I- A transmissão a terceiro de bem expropriado, pelo
expropriante, não é por si facto impeditivo do exercício pelo proprietário expropriado do direito de reversão. II- Em tal situação assiste-lhe, pois, legitimidade para impugnar contenciosamente a decisão administrativa que lhe tenha negado o direito de reversão”.
13 Pedro Elias da Costa, “ Guia de Expropriações por Utilidade Pública…”, cit.,pág. 249. 14 Fernanda Paula Oliveira, “Direito do urbanismo”, cit., pág. 111.
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efectuada no âmbito de uma relação e procedimento expropriativos, e os vendedores expropriados
são titulares do direito de reversão15.
O legislador preocupou-se em regular a aquisição substitutiva da expropriação para que se
reconheçam ao particular garantias idênticas às que dispõe os particulares que não querendo vender
o bem pela via do direito privado acabam por ser expropriados, designadamente a garantia de que o
preço da venda seja o preço justo (tal como a indemnização o terá de ser). Mal se compreenderia
que o particular que colaborou com as entidades que pretendem prosseguir finalidades públicas,
vendendo-lhes os bens, ficassem menos protegidos do que aqueles, que não colaborando, acabam
por ser expropriados. E esta fundamentação tem tanto mais razão de ser quanto ao abrigo do actual
C.E., se determina expressamente que quando uma determinada entidade pretende adquirir um bem
ao particular para prosseguir um determinado fim de utilidade pública, tem, logo na resolução de
requerer a D.U.P., de identificar essa finalidade, ficando, por isso, a partir de aí vinculado a ela.
Porem se adquirir o bem ao particular pela via do direito privado para uma determinada finalidade
identificada na resolução de requerer a D.U.P. e, posteriormente, o utilizar para um fim diferente,
parece-nos que não deve poder ser recusado ao particular o exercício do direito de reversão, se tal
direito não decorrer de qualquer cláusula do contrato, quanto mais não seja, por cumprimento do
princípio da boa – fé, ou da confiança contratual16.
Não obstante, o S.T.A. já considerou, por várias vezes, não ser este o meio idóneo para
reagir contra o incumprimento, por parte da Administração ou do contraente privado na esfera
jurídica do qual ingressou o bem (apesar de nas hipóteses sub iudicio ter ocorrido um acto de
declaração de utilidade pública, este Tribunal considerou que a celebração posterior de um contrato
de compra e venda em “ moldes privados” para operar a adjudicação do bem veda ao recurso ao
procedimento de reversão)17
15 José Viera da Fonseca,”Principais linhas inovadoras……………….”, cit., pág. 133 e 141. Embora este autor tenha
uma concepção diferente no sentido de que não concorda que a tentativa de aquisição do bem pela via do direito privado já se encontra inserida no procedimento expropriativo, acabará chegará a esta conclusão, nomeadamente de que aquisição do bem pela via do direito privado não afasta o direito de reversão.
16 Fernanda Paula Oliveira, “Direito do urbanismo………………...”, cit., pág. 112. 17 Cfr., Fernanda Paula Oliveira, “ Há expropriar e expropriar………….…(ou como alcançar os mesmos objectivos
sem garantir os mesmo direitos) ”, C.J.A., nº35, Setembro/Outubro, 2002, pág.41 a51.
ELISABETE ROCHA EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 13
8. O procedimento do direito de reversão18
A tramitação do exercício do direito de reversão consta dos artigos 74º a 79º do C.E., e
divide-se em duas fazes: decompõe-se num sub – procedimento administrativo e num sub –
procedimento judicial.
8.1. Sub-procedimento administrativo
No que concerne a este procedimento, este inicia-se com o requerimento de reversão que
deverá ser dirigido à entidade que tenha declarado a utilidade pública da expropriação ou que haja
sucedido na respectiva competência (art.74ºnº1). Segue-se nos termos do art. 75º, a audiência da
entidade beneficiária da expropriação e dos outros interessados (titulares de direitos reais sobre o
prédio a reverter ou sobre os prédios dele desanexados, cujos endereços sejam conhecidos), de
acordo com o artigo 75º. De seguida, a entidade competente emana a decisão de autorização da
reversão ou da recusa. Se o interessado não for notificado de qualquer decisão no prazo de 90 dias,
pode fazer valer o direito de reversão no prazo de um ano mediante acção administrativa comum a
propor no T.C. a autorização da reversão é notificada ao requerente, ao beneficiário da
expropriação e aos interessados cujo endereço seja conhecido sendo ainda publicada por extracto
na IIª série do Diário da República (art.76º).
8.2.Sub-procedimento judicial
O interessado deverá deduzir o pedido de adjudicação perante o T.C. da situação do prédio
ou da sua maior extensão, no prazo de 90 dias a contar da data de notificação da autorização (art.
77º nº1), sendo pressuposto do pedido de adjudicação dos bens, que a reversão tenha sido
autorizada pela entidade competente. Depois sendo o beneficiário da expropriação citado para
deduzir a oposição quanto ao valor das benfeitorias ou deteriorações que eventualmente hajam
ocorrido no prédio a reverter (art. 78º).
Efectuados os depósitos ou restituições a que haja lugar, o juiz adjudica o prédio ao
interessado ou interessados com o ónus ou encargos existentes à data da D.U.P. e que hajam
caducado definitivamente (art. 79º).
18 Fernanda Paula Oliveira, “Direito do urbanismo……………”, págs. 109 e 110; e, em relação ao mesmo assunto,
procedimento e trâmites do direito de reversão, ver, Pedro Elias da Costa, “ Guia de Expropriações por Utilidade Pública…”, cit.,pág. 250 a 256.
VERBOJURIDICO EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 14
9. Análise de jurisprudência relacionada com o direito de reversão
9.1. Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo19
9.1.1. A matéria de facto
Este acórdão tem por base o facto de A. ter interposto recurso de uma sentença do T.A.F.L.,
que julgou procedente a excepção peremptória de caducidade do direito de reversão, que a
recorrente pretendia ver reconhecido na presente acção de reconhecimento de um direito acabando
o tribunal por absolver a Ré do pedido.
Ao nível dos factos ficaram provadas as seguintes situações:
A A. requereu a aprovação e o licenciamento de um projecto de loteamento de para um
terreno da sua propriedade, sendo autorizado o referido loteamento por parte da C.M.C. em 19-04-
1989, com emissão de alvará em 2-06-2008.
Nesse alvará foi estipulado a cedência pela A. à C.M.C. de duas parcelas e nove lotes de
terreno, sendo a primeira parcela destinada a arruamentos e a segunda destinada a fins de interesse
público a definir pela Câmara.
Com a escritura datada de 18-05-1989, outorgada entre a A. e a C.M.C., foi declarado pela
A. fazer uma doação pura e irrevogável ao Município de Cascais, de duas parcelas e nove lotes de
terreno, estes últimos destinados aos fins que a Câmara entender.
Por protocolo outorgado em 9-02-1996 entre a Ré (C. M. C.), a B…SA e a C…SA,
aprovado pela CMC, por deliberação pela Assembleia Municipal em 15-01-1996, foi acordado
promover em conjunto um programa de habitação social traduzido na construção de cerca de 1200
fogos destinados ao realojamento de famílias carenciadas, em terrenos privados e públicos do
Município, e nos restantes 200 fogos a comercializar em venda livre pelas segundas contraentes.
Em 9-10-1996, a CMC aprovou uma permuta sobre os terrenos anteriormente referidos,
para construções no âmbito do PER, a referida permuta passou a englobar designadamente os lotes
10, 11, 17, 18 e 19 cedidos pela A. á Ré (C.M.C.), destinados ao fim de interesse público que a
Câmara entendesse.
Em 21-11-1996, por escritura celebrada entre a CMC e a B…SA, em conformidade com o
referido protocolo inicial, acordaram as partes na troca de terrenos, dos lotes cedidos pela A. á Ré.,
ora foram transmitidos à segunda outorgante, destinados à construção e livres de encargos ou ónus,
por troca com conjunto de outros prédios desta.
19 Ac. do S.T.A. de 27-11-02-2007, proc. nº 01095/06, relator do processo, Fernanda Xavier.
ELISABETE ROCHA EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 15
Em execução do protocolo PER foram construídos 1000 fogos para habitação social e
infra- estruturas de uso colectivo, recebendo a C.M.C. da B….SA e da C…SA, em permuta
terrenos para instalações de equipamentos sociais, sendo posteriormente na conservatória
territorialmente competente os lotes cedidos pela A. à Ré a favor de B…SA, e posteriormente esses
lotes foram vendidos a D, E, F, G, e H …..Lda e posteriormente a terceiros.
Em 19-07-2000, a A. requereu ao Presidente da C.M.C. a reversão da propriedade, cujo
requerimento foi indeferido. Em 29.10.2001 a A. propôs a competente acção judicial.
9.1.2. Conclusões / parecer do TAFL
Nesse tribunal houve um parecer no sentido do provimento do recurso com base em três
fundamentos essenciais: o primeiro, o facto de o direito de reversão se considerar exercido com a
formulação do respectivo pedido, perante a entidade com competência para o apreciar. Neste caso,
tendo o pedido de reversão sido dirigido à entidade administrativa a quem os terrenos foram
cedidos para fins de interesse público, deve entender-se como data do exercício do direito, a 19 - 07
-2000, do referido pedido. O segundo fundamento, é o facto que o exercício do direito de reversão
é de três anos, dado que este é regulado pela lei em vigor à data em que ele é exercido. Ora, em 19-
07-2000, vigorava já o C.E. de 99. O art. 5º nº5, deste mesmo preceito, estabelece para o pedido de
reversão um prazo de 3 anos a contar da ocorrência do facto que a originou. O último fundamento
tem por base o facto gerador do direito de reversão, que é constituído pelo desvio da finalidade
pública da cedência dos terrenos.
O facto de o protocolo assinado entre a C.M.C. e a B…SA, subjacente ao contrato de
permuta celebrado entre as partes, e a realização de construções no âmbito do PER, e o desvio da
finalidade pública, a ter existido apenas se concretizou com a venda efectuada pela B…SA a
terceiros. Este entendimento é contrário à sentença recorrida que considerou que o desvio da
finalidade pública ocorreu com a celebração da permuta dos lotes por outros terrenos propriedade
da B...SA, não tendo então a C.M.C. ,condicionado a afectação daqueles lotes à prossecução de
qualquer fim público, designadamente a habitação social, e por ter sido estipulada a afectação
daqueles terrenos à construção livre de encargos e ónus.
10. Comentário ao presente acórdão
Naquilo que interessa à presente anotação, podemos afirmar que este acórdão coloca várias
questões relacionadas com o direito de reversão que seguidamente depois dá resposta, para chegar
a uma conclusão na sentença final. A primeira questão coloca é a de saber quando é que existe
efectivamente direito de reversão, por desvio da cedência de finalidade de utilidade pública dos
bens em causa, ou seja, em contradição com o princípio da prossecução do interesse público. A
VERBOJURIDICO EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 16
segunda situação tem a ver com o exercício do direito de reversão, ou seja, quando é que existe
direito de reversão e que lei é que regula esse mesmo direito. A terceira questão que se levanta tem
a ver com a data do exercício do direito de reversão, qual o seu prazo de caducidade, ou seja,
quando é que efectivamente existe caducidade do direito de reversão. A última questão que releva é
se o particular tendo cedido gratuitamente os bens pela via do direito privado, poderá ou não
exercer o direito de reversão. Vejamos atentadamente cada uma das situações.
10.1. O direito de reversão pelo desvio da cedência da finalidade pública
A primeira questão coloca em relevo o facto de saber realmente quando é que ocorreu, e com
que fundamentos, o direito de reversão pelo desvio da cedência da finalidade pública. Antes de
descrevermos este problema em concreto, vejamos o que se entende por direito de reversão. O
direito de reversão é uma garantia do direito fundamental de propriedade privada que pretende
actuar, essencialmente, nas situações em que as posições jurídicas afectadas pela expropriação não
chegaram a ser ou deixaram de estar adstritas aos fins que determinaram a expropriação, bem como
naquelas em que o interesse público que fundamentou a expropriação, de natureza transitória, foi
plenamente satisfeito ou de tal modo alterado que o objecto da expropriação deixou de contribuir
para essa prossecução20.
O direito de reversão por desvio da finalidade pública da cedência rege-se pela lei vigente à
data do exercício desse direito, sendo-lhe aplicável com as necessárias adaptações, o disposto
quanto à reversão no C.E., e no art. 16º nº3 do DL 334/95. Vejamos então se esta afirmação tem
correspondência prática. Para existir este desvio é necessário que haja um desvio também ao que
foi estatuído na D.U.P., esta pode ser definida, como o acto que reconhece determinados bens, e é
necessária à realização de um fim de utilidade pública mais importante do que a expropriação que
lhes era dada. A D.U.P. engloba, no seu conteúdo, dois diferentes actos: a identificação de um fim
concreto de utilidade pública a prosseguir através da figura da expropriação, e ainda a
determinação dos bens necessários à realização daquele fim.
Por outro lado, em qualquer caso, o direito de reversão quando haja desvio da finalidade
pública fundamenta-se na própria CRP (art. 62º), como corolário da protecção da propriedade
privada. Neste caso, a sentença recorrida considerou que esse desvio ocorreu na escritura pública
de permuta dos lotes cedidos gratuitamente pela autora á Ré (Câmara), celebrada em 21-11-1996,
por nela não se ter condicionado a afectação daqueles lotes à prossecução de qualquer fim,
designadamente a habitação social, e, ao invés, se ter estipulado a sua afectação à construção, livre
de ónus e encargos. Para o S.T.A. de acordo com os factos provados considera que o desvio da
20 José Viera da Fonseca,”Principais linhas inovadoras………………..”, cit., pág. 132.
ELISABETE ROCHA EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 17
cedência dos lotes em causa só ocorreu com a venda desses lotes a terceiros, entre Agosto de 1998
e Julho de 1999, sendo que esta consideração, vai ter implicações na decisão final, pelo facto de A.
ainda está em tempo de exigir o direito de reversão, mas á frente aludiremos a esta questão.
10.2.O exercício do direito de reversão
Em relação à segunda questão, que tem a ver com o exercício do direito de reversão, ou seja,
quando é que existe direito de reversão e que lei é que regula esse mesmo direito à data do seu
exercício. De acordo com o art. 5º nº1, als. a) e b) do actual C.E. ,existe direito de reversão se no
prazo de 2 anos após a data da adjudicação, os bens expropriados não foram não foram aplicados
para o fim que determinou a expropriação, e se, entretanto, tiverem cessado as finalidades da
expropriação. Verificamos neste caso que a A. poderia exercer o direito de reversão dos lotes, pois
estão preenchidos os requisitos deste direito, mas a questão que se coloca é a de saber qual a lei que
regula esse direito, pois os factos desde a cedência dos lotes até á permuta e venda decorreu entre
1996 e 1999, qual é então a lei (C.E.) que se aplica. Neste caso o direito de reversão pelo desvio da
finalidade pública, é regulado pela lei vigente à data do exercício desse direito21 e não pela lei
vigente à data da cedência dos lotes, que de acordo com nº3 do art. DL 334/95 de 28 de
Dezembro22. Esta situação está directamente ligada terceira questão sobre a caducidade do direito
de reversão.
O C.E. de 99, no art.5º nº5, refere que a reversão deve ser requerida no prazo de 3 anos a
contar da ocorrência do facto que a originou, sob pena de caducidade, decorrido esse prazo assiste
ao expropriado, até ao final do prazo previsto na alínea a) do nº4, o direito de preferência na
primeira alienação dos bens.
10.3.Data do exercício do direito de reversão e respectivo prazo de caducidade
A terceira questão que se levanta tem com a data do exercício do direito de reversão, qual o
seu prazo de caducidade, qual o dies a quo desse mesmo prazo de caducidade, ou seja, quando é
que efectivamente existe caducidade do direito de reversão. A caducidade pode ser definida como
uma figura jurídica especial, que actua quando determinado direito, devendo ser exercido, dentro
de certo prazo não o seja23.
21 A jurisprudência do S.T.A. tem reiterado de modo pacífico este entendimento.vd., por ex., Ac. de 23-4-1996, Ac.
de 19-1-1995, Ac.01.07.1998. 22 “O cedente tem direito de reversão sobre as parcelas cedidas nos termos dos números anteriores, sempre que haja
desvio de finalidade pública da cedência, aplicando-se com as necessárias adaptações, o disposto quanto à reversão no Código das Expropriações”.
23 João Melo Franco/ Herlânder Antunes Martins, “Dicionário de Conceitos…………….”, cit., pág. 136.
VERBOJURIDICO EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 18
No acórdão em análise, existe a discordância com a sentença recorrida em dois pontos: qual
a data que a A. exerceu o direito de reversão, e se já passou ou não esse prazo de caducidade.
Quanto à data que exerceu o direito de reversão, o que releva para o prazo de caducidade do direito
de reversão, é a data de entrada na C.M.C., do referido requerimento de A. a pedir a reversão
(19.07.2000), e não a data da instauração da presente acção (29.10.2001), pois o direito de reversão
é sempre exercido primeiro junto da entidade administrativo, havendo recurso ao tribunal para
decidir qualquer litígio (art. 74º nº1 do C.E.).
Quanto ao prazo de caducidade do direito de reversão, à data em que A. exerceu o direito de
reversão (19.07.200), estava já em vigor o C.E. de 99, dispondo no art. 5º nº5 a reversão deve ser
requerida no prazo de 3 anos a contar da ocorrência do facto que a originou, sob pena de
caducidade, logo tanto no C.E. de 91 como no de 99, o prazo de caducidade deste direito conta-se
do facto que originou a reversão, ou seja, no presente caso do desvio da finalidade pública com a
venda dos lotes a terceiros, então à data em que entrou em vigor o novo C.E. o prazo de caducidade
do direito invocado, que era então de 2 anos ainda estava em curso pois este é de 3 anos, sendo um
prazo substantivo aplica-se o art. 297 nº2 do C.C.
10.4. O direito de reversão e aquisição pela via do direito privado
A última questão que releva, é se o particular tendo cedido gratuitamente os bens pela via do
direito privado (art. 11º do C.E.), poderá ou não exercer o direito de reversão. A aquisição privada
de bens traduz-se numa aquisição derivada, ao contrário da expropriação, que se traduz numa
aquisição originária de direitos. Para alguns autores, a consideração da tentativa de aquisição do
bem pela via do direito privado fora do procedimento expropriativo tem, precisamente, a
desvantagem de não permitir fazer funcionar aí, ou seja, quando o bem é adquirido por essa via, o
direito de reversão ,e se o beneficiário da expropriação acabar por utilizar o bem adquirido para
um fim diferente daquele que determinou.
Quanto a nós, embora a reversão esteja pensada para as hipóteses em que tenha havido
D.U.P. e a adjudicação do bem expropriado, e não obstante defendermos que a aquisição do bem
pela via do direito privado, não faz ainda parte do procedimento expropriativo propriamente dito,
entendemos que o direito de reversão deve também poder ser exercido nas situações em que o bem
foi adquirido por essa via. Se uma determinada entidade adquirir o bem pela via do direito privado
para uma determinada finalidade identificada na resolução de requerer a declaração de utilidade
pública, e posteriormente, o utilizar para fim diferente, parece-nos que não deve poder ser recusado
ELISABETE ROCHA EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 19
ao particular o exercício do direito de reversão, se tal direito não decorrer de qualquer cláusula do
contrato, por cumprimento do princípio da boa fé ou da confiança contratual24.
Concluindo, o direito de reversão por desvio da finalidade pública da cedência rege-se pela
lei vigente à data do exercício desse direito, tendo em conta o prazo de caducidade, e a condição
essencial para se exercer o direito de reversão, é a de que o bem relativamente ao qual se pretende
exercer aquele direito, tenha entrado no património do expropriante por via da expropriação por
utilidade pública ou por qualquer via comprovadamente substitutiva dela e/ ou umbilicalmente a
ela ligada.
11. Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo (Cessação do Direito de Reversão) 25
11.1. Matéria de facto
Este acórdão tem por bases a seguinte factualidade: A.e B…e respectivas mulheres,
interpuseram recurso de anulação do indeferimento do pedido de reversão de imóveis expropriados,
da autoria do Secretário de Estado Adjunto do Ordenamento do Território, com fundamento na
constituição pelo DL 303/2000, de 28/11, de um direito de usufruto, a favor da “ Fundação para a
Protecção e Gestão Ambiental da Salinas do Samouco” por trinta anos.
Relativamente à matéria de facto ficou provado resumidamente o seguinte:
Em 31-03-1997 foi publicada em D.R. a declaração de utilidade pública urgente da
expropriação de seis parcelas que pertenciam a ambos os recorrentes, cuja finalidade declarada
naquela publicação é declarar a recuperação das salinas do Samouco;
A adjudicação do direito de propriedade à entidade expropriante ocorreu no ano de 1999,
no ano de 2002, foi requerido pelos agora recorrentes ao M.C.O.T.A. a reversão com fundamento
em não aplicação aos fins para os quais se procedera à expropriação;
11.2. Comentário ao acórdão
A grande questão que se levanta neste recurso / acórdão, consiste em determinar se o acto
recorrido que indeferiu pedido de reversão dos ante proprietários das parcelas de terreno
expropriadas, é ilegal por invocar como motivo da impossibilidade da reversão a constituição de
usufruto a favor de entidade diferente da expropriante, ou seja, será que a criação do usufruto
24 Cfr., Fernanda Paula Oliveira, “Coordenar e concertar, em vez de mandar”, Cadernos de Justiça Administrativa, nº39, Maio/ Junho de 2003,cit., págs. 49 e 50.
25 Ac. do S.T.A. de 16-03-2004, proc. nº 062/03, relator Rosendo José…
VERBOJURIDICO EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 20
causa, por si só, a impossibilidade do direito de reversão. O direito de usufruto é o direito de gozar
temporária e plenamente uma coisa ou direito alheio, sem alterar a sua forma ou substância (art.
1439º C.C.).
De acordo com o nº4 do art. 5º do C.E. de 99 , o direito de reversão cessa quando tenham
decorrido 20 anos sobre a data da adjudicação, quando seja dado aos bens expropriados outro
destino; quando seja dado aos bens expropriados outro destino mediante nova D.U.P.; quando haja
renúncia do expropriado; quando a D.U.P. seja renovada com fundamento em prejuízo grave para o
interesse público, dentro de 1 ano a contar da verificação dos actos previstos no nº1 anterior. Porém
o artigo 78º do DL 303/2000, de 28/1126, que prevê que a reversão tenha lugar mesmo quando o
domínio do prédio tenha sido transmitido a outra entidade, posteriormente à expropriação, indo
contra as causas do art. 5º nº4 do C.E. Na espécie em análise não houve transferência do domínio
publico do Ministério expropriante para outra entidade, mas sim a constituição de um usufruto por
30 anos a favor da fundação, que é uma pessoa pública.
Mas, o que importa é que a transferência de domínio ou apenas a constituição de um encargo
de carácter real, mesmo atípico, como seria o usufruto sobre bens dominais, não é nos termos do
C.E. 99, e tal como nele é regulada a reversão, uma forma de cessação deste direito do expropriado.
Pode concluir-se que o direito de reversão apenas cessa verificada alguma das situações
previstas no art. 5º nº4 C.E., sendo para este efeito irrelevante que exista transferência do domínio,
constituição de direito de propriedade de outro particular por alienação da entidade expropriante
ou, por maioria de razão, a constituição de direito real menor como o usufruto sobre o bem
expropriado.
Concluindo de acordo com toda a fundamentação deste acórdão, o direito de reversão no art.
5º do C.E. de 99, não desaparece pelo facto de o Estado, entidade expropriante ter constituído
através de D.L. um direito de usufruto por vários anos das parcelas expropriadas a favor de uma
Fundação, pessoa jurídica de direito privado, criada pelo próprio Estado. Por outro lado o direito de
reversão apenas cessa nas situações previstas no art. 5º nº4 do C.E., sendo para esse efeito
irrelevante que exista transferência do domínio, constituição de direito de propriedade de outro
particular por alienação da entidade expropriante ou, por maioria de razão, a constituição de direito
real menor como o usufruto sobre o bem expropriado.
26 Este D.L. criou a fundação para a Protecção de Gestão Ambiental da Salinas do Samouco, intuída pelo estado
através dos Ministros do Equipamento Social, do Ambiente, Desenvolvimento Rural…com o fim, de promover a conservação e manutenção daquelas salinas e gerir um modelo de desenvolvimento sustentável para o eco – sistema.
ELISABETE ROCHA EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 21
12. Conclusões
1. O direito de reversão é a principal garantia dos expropriados, é o poder legalmente
conferido ao expropriado de readquirir o bem objecto de expropriação, em regra mediante a
restituição ao beneficiário da expropriação ou à entidade expropriante da indemnização que lhe foi
atribuída ou outro valor, quando o bem não tenha sido aplicado aos fins indicados no acto de
declaração de utilidade pública ou essa aplicação tenha cessado.
2. O direito de reversão só existe nas situações previstas no artigo 5º nº1, alíneas a) e b) do
C.E., sendo um direito específico (garantia específica) dos expropriados e entidades expropriantes
para fazer face à expropriação.
3. A caducidade só cessa de acordo com as situações previstas no artigo 5º nº4, alíneas a) a
c), ou seja, respectivamente quando tenham passado 20 anos sobre a data da adjudicação, pois
como refere José Osvaldo de Ascensão, “ a nossa ordem jurídica é tendencialmente infensa a
onerações perpétuas do direito de propriedade, pelo que referido prazo de 20 anos se justifica por
razões semelhantes às que estão na base da prescrição e usucapião”.
3.1.Cessa ainda o direito de reversão quando, for dada aos bens expropriados outro destino
mediante nova declaração de utilidade pública, sendo manifesto que se constituiu na esfera jurídica
do interessado o direito de reversão dos bens, pois só assim se justifica uma nova declaração de
utilidade pública, mas no caso de aos bens ser atribuído o mesmo destino, mediante nova
declaração de utilidade pública, o expropriado também está impedido de exercer o respectivo
direito de reversão.
3.2.Considera-se como causa extintiva do direito de reversão, a renúncia do expropriado,
devendo ser clara, inequívoca e expressa, podendo abranger parte ou totalidade dos bens
expropriados. Ocorre ainda a cessação quando a declaração de utilidade pública seja renovada, com
fundamento em prejuízo grave para o interesse público, dentro de um ano a contar da verificação
dos factos que compõem o direito de reversão.
4. Quanto à caducidade, a grande alteração entre o C.E. de 91 e o C.E. de 99, é o facto de
que actualmente a reversão deve ser requerida no prazo de 3 anos a contar da data da ocorrência do
facto que a originou sobre pena de caducidade, mas no anterior C.E., esse prazo era de 2 anos.
Podemos concluir que cessação e caducidade, são dois conceitos jurídicos totalmente distintos, pois
a cessação refere-se a um conjunto de situações práticas que se não foram cumpridas o direito de
reaver o bem acaba, já a caducidade, é a extinção automática ou ipso dos efeitos jurídicos do
contrato, em consequência de um facto jurídico srticto sensu a que a lei atribui esse efeito, ou seja,
é uma figura especial que actua quando determinado direito, devendo ser exercido dentro de certo
prazo, senão caduca o direito em agir e exigir. Mas apesar das diferenças práticas do conceito de
VERBOJURIDICO EXPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA – O DIREITO DE REVERSÃO : 22
caducidade e cessação, no direito de reversão ambos são semelhantes, pois estão interligados, pois
têm por base o decurso do tempo, vejamos um exemplo, “…ao direito de reversão caduca, quando
passado 3 anos a contar da ocorrência do facto que a originou….”,(art. 5º, nº5º), já a o direito de
reversão cessa “..quando decorridos 20 anos sobre a data de adjudicação..” (art. 5º nº4, al. a)).
ELISABETE ROCHA
Trabalho realizado no âmbito do 2.º Ciclos de Estudos em Direito Administrativo Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Julho de 2008
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