f30 nietzsche estudos

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  • 7/25/2019 f30 Nietzsche Estudos

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    NIETZSCHE: TRAOSBIOGRFICOS- Acompanhe algumasimportantes passagens da vida do filsofo: seunascimento, em Rken; sua nica paixo, ou!alom"; a rela#o com $agner e a esposa,

    %osima; a profetio do bermensh'super-homem(; a loucura em )urim; e a morte,assistido pela irm mais nova, *lisa+eth, em$eimar

    O PENSAMENTO DE NIETZSCHE- sepisdios da %omuna de .aris foram fundamentaispara o acirramento das posi#/es pol0ticas de1iet&sche, 2ue o colocaram ao lado dosantidemocratas, dos anti-socialistas, e contra todo e

    2ual2uer tipo de prega#o 2ue visasse a igualdade,tornando-o um apologista da distin#o

    AS INFLUNCIAS DE NIETZSCHE- %onhe#a as personalidades 2ue influenciaramo pensamento de 1iet&sche e sai+a o 2ue cadaum deles contri+uiu na vida do filsofo

    DOSTOIEVSKI E NIETZSCHE- 1iet&schefoi grande admirador de 3ostoievski, autor 2ueinspirou-o com seu homem-id"ia, 2ue vive de acordocom as prprias regras, indiferente ao sofrimento 2uesuas a#/es possam provocar

    EM BUSCA DO SUPER-HOMEM-1iet&sche profeti&ou para um futuro adiante 4sua vida a chegada de um super-homem, ummessias 2ue colocasse a ple+e em seu devido

    lugar e resta+elecesse a associa#o de 5+om5 e56usto5 com 5no+re5 e 5digno5, su+stituindoassim os tortos valores do cristianismo

    NIETZSCHE FILSOFO- A doutrinaniet&schiana " anti-intelectualista por excel7ncia Aoacentuar o ato, e no a reflexo ou a medita#o,privilegia o 5experimental5 !e h8 indeciso entre

    Apolo e 3ion0sio, entre a ra&o e a emo#o, elerecomenda seguir o deus das +acantes

    NIETZSCHE: ESCULPINDO OINDIVDUO- A tentativa de prever osnovos tempos da humanidade rendeu diversase contraditrias repostas de pensadores,filsofos e homens de letras 9ual seria o novoparadigma do homem ocidental do futuro .ara1iet&sche, certamente seria o super-homem,um egoc7ntrico 2ue se oporia 4s multid/es

    NIETZSCHE, A CONSTRUO DOZARATUSTRA- 9ue motivo levou um ateuassumido como 1iet&sche a fa&er de um carism8ticol0der religioso do passado, aratustra, o ve0culo dasua mensagem *sse ato mostra 2ue o pensadoralemo, apesar de no ser mais cristo racional eintelectualmente, carregava os tra#os de um filho depastor

    NIETZSCHE E A DECADNCIA-.ara 1iet&sche, a democracia representava umregime decadente !ua misericrdia para comos fracos e doentes era um sinal dedecomposi#o dos valores superiores, 2ue iam-se perdendo 4 medida 2ue o poder eratransferido para as massas

    NIETZSCHE E O ASCETA- 1em mesmo avida do homem santo, to admirada e enaltecida pelocristianismo, escapou do arguto e contundente olharde 1iet&sche filsofo classificou a repdia dosascetas aos pra&eres da vida como um exemplo daforma extrema da orgulhosa vontade de poder

    A MORTE DE DEUS- aplace,

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    B!"# $%&!& R%"'('

    "...Sim j sei de onde venho...tudo o que tocam as minhas mos se torna luz e o quelano no mais do que carvo. Certamente, sou uma chama!"- 1iet&sche, @

    V)*' *% +)'"#

    9uem o conheceu na2uela "poca, entre @B-CB, no deixou de se comover ao v7-loDriedrich 1iet&sche, devastado por uma miopia de @E graus, andava como 2ue 4s cegas,tateando com as mos ou com a +engala o perigoso espa#o em+a#ado 2ue imaginava nasua frente 3esde 2ue o aposentaram precocemente aos FG anos da Hniversidade deIasil"ia na !u0#a, deu-se a ter uma vida de po+re cigano, arrastando-se de penso empenso, de 2uarto em 2uarto, por cidades italianas 'J7nova, Kene&a, !orrento, )urim(,francesas, '1ice( ou recantos su0#os 'como !ils-Laria( !e +em 2ue nascido em Rcken,em @E de outu+ro de @GG, no cora#o da !axMnia, pode-se di&er 2ue 1iet&sche passouseu tempo de adulto mais fora do 2ue dentro da Alemanha

    pai, um pastor, parece 2ue talentoso, um monar2uista convicto e preceptor de princesas,+ati&ou-o com o nome dos reis prussianos - Drederico 3eu-lhe o nome e infeli&mentetam+"m lhe legou uma estranh0ssima doen#a *ra isso 2ue o fa&ia agora, homem feito,

    ver-se 6ogado na cama por dias a fio torturado por pavorosas enxa2uecas, seguidas deeternas indisposi#/es estomacais e tonturas de toda ordem

    U' &. %&+'&&' /')01#

    Doi este estado lastimoso 2ue fe& com 2ue uma sua conhecidaLal=ida von LeNsen+urg, uma dedicada senhora casamenteira,no parasse de arran6ar-lhe encontros com umas mo#as 2uepassavam por seu salo *ra uma luta arrancar a2uele misginodo fundo da penso em 2ue estivesse para 2ue fosse dar umapasseio com alguma da2uelas prometidas

    .or uma pelo menos ele se interessou - di&em 2ue chegando 4paixo - uma 6ovem russa 2ue vivia no cidente chamada pelo

    extico nome de ou !alom" e por 2uem ele, inutilmente, seentusiasmou por uns oito meses no ano de @O *la, maistarde, casou-se com o poeta Rainer Laria Rilke, e tam+"mfre2Pentou Dreud, de 2uem se tornou disc0pula

    O +' 2'"%

    !eu melhor momento de relacionamento foi com Richard $agnere com a mulher dele, %osima, 2uando fre2Pentou assiduamente,em peregrina#/es de fim de semana, a manso do compositor em)ri+schen, na !u0#a Ami&ade 2ue come#ou a desmoronar em@Q 2uando fare6ou no grande mestre sinais de concess/es aogosto popular e acenos indiscretos ao cristianismo, religio a 2ualele devotou um dio crescente Ao %ristianismo e 4 id"ia da

    ?gualdade$agner, um egoc7ntrico assumido, 2ueria 2ue o iniciante1iet&sche 'era trinta anos mais 6ovem 2ue o compositor( fosse

    uma esp"cie de arauto das suas peras e no um intelectual independente 2ue5caminhasse 6unto a ele5 1iet&sche, anos depois, disse 2ue os dois, ele e $agner, eramdois +arcos navegando na mesma dire#o, encontrando-se a2ui e ali, mas com rotasdiferentes, e 2ue se no se davam +em entre as 8guas, seguramente o fariam 2uando seencontrassem num outro lugar 1os c"us

    U "#(3$%4 %&+)(#

    3urante mais de de& anos a2uele es2uisito professor alemo, 2ue chamava a aten#o daspessoas por andar com um +igodo de cossaco, trancado com seus livros e pap"is em

    aposentos soturnos, dedicou-se a produ&ir candentes escritos contra tudo o 2ue eraesta+elecido e at" mesmo o 2ue consideravam no convencional 'como o socialismo e ofeminismo( .oucos deixam de ler uma p8gina de 1iet&sche sem uma forte impresso - a

    Lou Salom rejeitou casar comNietzsche

    Wagner decepcionou Nietzsche

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    favor ou contra * 2ue escrita 1ingu"m como ele empunhara o alemo assim, amarteladas

    U /%"&'*# )/%&&)#")&('

    1ada de sistema ou de portentosos tratados, nenhum pedantismo caracteri&a os escritosde 1iet&sche Ao contr8rio, redigiu versos, aforismos, uma prosa de par8grafos curtos,

    frases secas, certeiras, com extraordin8ria carga emocional Reali&ou uma fa#anha - era oprimeiro pensador moderno da Alemanha a a+ominar a paixo nacional pelo texto o+scuro'religiosamente respeitada pelos intelectuais alemes( Kiu-se na pele de um novo profeta:um aratustra, o velho mago iraniano, renascido +em no meio da *uropa cidentalAlgu"m 2ue vinha anunciar a todos 2ue uma 1ova rdem adviria * nela, malgrado oscrentes, 3eus no mais existia prprio homem como conhec0amos, desapareceria

    O profeta Zaratustra, voando para Ahura Mazda OSenhor da Sa!edoria"

    O &!/%-5#%

    !e foramos em algum dia remoto, como %harles 3ar=in sugerira, um macaco, o homemde agora era uma ponte, uma passagem para um outro devir a ser: o do S+ermensh, osuper-homem i+erto dos entraves do +em e do mal, este novo ser, um tit, um colossoegoc7ntrico, viria para a con2uista futura do mundo Hma nova ra#a de homens,recuperando e restaurando as aut7nticas e primitivas puls/es '+8r+aras, violentas,extremadas( sufocadas pela moral convencional e pela religio, levaria tudo de roldo

    L#!+!' % #(%

    M#scara mortu#ria de Nietzsche

    .aradoxalmente, disse num certo momento, 2ue no 2ueria disc0pulos *ra serio )eve-osaos magotes *ndoidou de ve& em )urim, em 6aneiro de @C, 2uando acharam-no aosprantos a+ra#ado num cavalo espancado 3urante os de& anos restantes afundou-se numadensa n"voa Lorreu na pe2uena $eimar, a capital cultural da Alemanha, no dia OE deagosto de @CBB A sua irm mais nova *li&a+eth recolhera-o para l8 em @CQ, entendendode 2ue somente o s0tio de Joethe era suficientemente ilustre para acolher em seus ltimosdias o famoso e infeli& irmo louco

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    A(5! S+5#/%"5'!% 9;

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    F)%*)+5 N)%(6&+5%E !&+' *# &!/%-5#%

    A *%+'*8"+)' *' +)%*'*% #+)*%"('4

    1iet&sche tinha a firme convic#o de 2ue a sociedade europ"ia em 2ue vivia estava

    atacada por profundos males, cu6as sinais de decad7ncia mais evidentes revelavam-se: a(pela expanso do li+eralismo 'visto como doutrina de uma +urguesia senil e covarde, semenergia para reprimir a emerg7ncia da nova +ar+8rie(; +( pela crescente demanda pelademocracia feita por sindicatos e pelo populacho em geral, ao 2ual se associavammovimentos feministas e outros li+ert8rios '5por2ue, +em sa+es, chegou a hora da grande,p"rfida, longa, lenta re+elio da ple+e e dos escravos; 2ue cresce e continua a crescer5-aratustra, ?K parte( ; c( pelo crescente imp"rio do mau gosto, no teatro, na pera, namsica, exposto pela difuso e divulga#o da arte popular '5V 2ue, ho6e, os pe2uenoshomens do povinho tornaram-se os senhoresisso, agora, 2uer tornar-se senhor de todoo destino humano h, no6o 1o6o 1o6o5- aratustra - ?K parte, F(

    O)%"& ')& %#('& *' *%+'*8"+)'

    3eve-se ao cristianismo, segundo 1iet&sche, a origem mais remota da crescente

    de+ilita#o da elite europ"ia, na medida em 2ue a2uela religio retirou dela, da antigacasta no+re, a capacidade de retalia#o *sta era necess8ria para afirm8-la como poder,mas devido 4 prega#o da tolerTncia, e pelo exerc0cio intil da piedade, da compaixo e doperdo, a velha estirpe se enfra2ueceu, senili&ou-se

    cristianismo " uma religio de escravos 2ue louvava a po+re&a, a humildade 'dos po+res" o Reino dos %"us( e a covardia 'dar a outra face(, opondo-se 4 "tica dos fortes, dossenhores romanos dio paulino ao sexo nada mais era do 2ue um disfarce do dio 2ue ocristianismo devota 4 vida, devido ao sentimento de inferioridade intr0nseca da2ueles 2uese ressentiam contra os seus dominadores A influ7ncia dos evangelistas envenenou Roma,contri+uindo para a sua decad7ncia ao fa&er com 2ue o senhores do imp"rio perdessem oel e a crueldade 2ue era preciso para manter coeso o seu dom0nio do mundo sconceitos de +em e do mal esto superados por2ue 3eus morreu, logo era preciso encarara realidade e concentrar a aten#o na ela+ora#o de uma outra "tica 2ue se +aseasse

    apenas na for#a do car8ter e da personalidade do indiv0duoO !% 7'6%

    O pr$ncipe%tirano, um modelo dosuper%homem gravura deS&'al$"

    A expectativa de 1iet&sche, a nica esperan#a 2ue ele vislum+rou para evitar a +ancarrotada grande cultura ocidental, amea#ada pelo mau gosto do populacho e pela poss0velinsurrei#o das massas 'como correra com a %omuna de .aris em @Q@(, era aguardar a

    chegada do super-homem A ele, a este novo messias, estaria reservada a tarefa hercleade en2uadrar a ple+e, reprimindo seus anseios pol0tico e sua des2ualifica#o est"tica super-homem no existia na "poca em 2ue 1iet&sche viveu, mas profeti&ou sua chegada

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    para o futuro *le " 2uem executaria a transmuta#o dos valores, fa&endo com 2ue 5Iom5e 5Wusto5 voltassem a ser associado a 51o+re5 e 53igno5, e no mais a 5.o+re5 ou5Xumilde5, como ocorria na moral crist

    !% # &!/%-5#%

    *ste poderoso e to popular personagem da imagina#o niet&scheana derivou doromantismo alemo 'com sua incontida cele+ra#o do g7nio, do indiv0duo dotado devirtudes incomuns( mas tam+"m da seculari&a#o da mitologia, encarnada num .rometeuredivivo, 68 assinalado por Joethe g7nio " uma for#a irracional, um fenMmeno danature&a, 2uase divino e a+solutamente extraordin8rio: assim o enalteceram Joethe,Dichte e Xegel '2ue afinal conviveram com 1apoleo Ionaparte( *le encontrava-se +emacima dos demais mortais, sendo caracter0stico dele usar os outros seres humanos apenascomo degrau para sua ascenso V um forte, um aristocrata 'no no sentido de sangue,mas de personalidade(, um colossal egoc7ntrico 2ue fa& suas prprias leis e regras e 2ueno segue as da manada Las o super-homem pode ser visto tam+"m como o resultadoltimo da uma concep#o evolucionista !e, no passado remoto, como ensinou 3ar=in,fomos precedidos pelos s0mio, sendo o homem do presente apenas uma ponte, o futuroseria irremediavelmente dominado pelo super-homem

    N# /'&&'*# %#(# N# /%&%"(% N# 7!(!# s0mio 'forma primitiva de

    exist7ncia( homem 'ponte para

    o devir( super-homem 'personalidade

    dominante do futuro(

    A/#0)'"*#-&% *% M'!)'$%4

    "mo os valentes mas no basta ser esadachim # deve#se saber, tambm, contra quemsacar a esada!"- aratustra

    1iet&sche, com sua admira#o pelas personalidades fortes, determinadas a tudo, alinhou-se a La2uiavel Am+os manifestaram sua prefer7ncia pelos homens titTnicos 2uepovoaram a "poca renascentistas Auda&es, ego0stas, incorrendo no crime e na mentira,artistas do em+uste e do engano, vivendo perigosamente entre a vida e a morte, a2ueles

    tiranos, tais como %simo de Ledici '@E@C-@EQE( ou do seu pai Jiovanni de la Iande 1ere'@GC-@EOU(, 2ue eram capa&es de, ao mesmo tempo 2ue cometiam as piores+ar+aridades, proteger, estimular e patrocinar, a mais esplendorosa manifesta#o art0stica2ue a *uropa conheceu - a cultura do Renascimento .aralelo a eles, compartilhando omesmo cen8rio dos pr0ncipes mecenas e condotieros italianos, cele+rou o artista-tirano, oaventureiro a la Ienvenuto %ellini '@EBB-@EQ@(, 2ue somava sua ha+ilidade com a espadae o lidar com venenos com o mais refinado +om gosto art0stico ogo, uma das conclus/es2ue 1iet&sche chegou, ao interessar-se por a2uelas personalidades, " de 2ue em nome dapreserva#o e do deleite da arte superior, perene, magn0fica, 2ual2uer sentimento "tico ouhumanit8rio passava a ser despre&0vel, seno mes2uinho As atri+ula#/es da2uelespr0ncipes, com os 2uais simpati&ou, lhe chegaram ao conhecimento por meio da cultivadaami&ade 2ue ele esta+eleceu com o Waco+ Iurckhardt, um su0#o, grande historiador dacultura grega e renascentista, com 2uem ele privou na cidade de Iasil"ia a partir de @QB,e 2ue escrevera um ensaio cl8ssico so+re o tema 'A %ivili&a#o da Renascen#a italiana,

    @UB(

    ()simo de Medici, e*emplo dotirano refinado

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    I"74!8"+)' *% D'J)"

    dar=inismo, difundido largamente aps a pu+lica#o em @EC da 5rigem das *sp"cies5,ensinou 2ue a 1ature&a " amoral A so+reviv7ncia dos seres existentes no " determinadapor crit"rio "ticos, nem pelas regras do Iem e do Lal A sele#o dos mais aptos no se fa&o+edecendo aos princ0pios morais, mas sim pelo desenvolvimento da capacidade de

    so+reviv7ncia e de adapta#o As conse2P7ncias morais lgicas extra0das dessa visonaturalista da exist7ncia, aplicadas 4 sociedade em geral, condu&em 4 eugenia de DrancisJalton, no podendo ser outras seno em ter 2ue concordar 2ue somente os mais capa&est7m direito 4 vida Aos fracos ca+e um destino inglrio: a morte ou a su+misso - 5o fracono tem direito 4 vida5 1iet&sche de certa forma, ainda 2ue com desaven#as, ela+orou ametaf0sica do dar=inismo, fa&endo da sua filosofia uma espirituali&a#o da teoria dasele#o das esp"cies e da vitria do mais capa&, apresentada pelo grande naturalista

    I"74!8"+)' *% D#&(#)$&)

    1iet&sche impressionou-se com a literatura de 3ostoi"vski, o criador do personagemniilista radical 2ue, por sua ve&, era inspirado no ra&nochintsN, o solit8rio homem-id"ia, umproduto scio-pol0tico do Lovimento 1arodniki, o populismo russo do s"culo >?>.ersonagem vivamente extra0do da realidade russa do tempo do c&ar, " um ateu ematerialista 2ue vive em fun#o de uma causa, a 2uem ele se d8 integralmente, ao estilo

    de 1etch8iev .or ela, pela causa, dedica a sua vida, fa&endo ele mesmo suas regras: 5!e3eus no existe, tudo " permitido5'?van

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    percep#/es originais, est"ticas e existenciais, todas elas relevantes, e 2ue muitocontri+u0ram para a compreenso do homem moderno e para os fenMmenos art0sticos epol0ticos 2ue acometeram o s"culo >>

    N)%(6&+5% % #& !'*)"5#&

    !uprema ironia deu-se com a id"ia do super-homem - tornada popular com a ascenso deXitler e dos na&istas ao poder na Alemanha dos anos trinta -pois terminou por cair noagrado popular 'para +em poss0vel escTndalo de 1iet&sche se vivo fosse( 1os *stadosHnidos, de imediato, surgiram uma s"rie de comics, de heris em 2uadrinhos dotados depoderes extraordin8rios mundo ento foi inundado por uma enxurrada de curtashistorias ilustradas 2ue fi&eram por difundir e, claro, adulterar completamente o sentidooriginal do super-homem imaginado por 1iet&sche 3e certa forma, ocorreu uma incr0velmetamorfose 2ue fe& com 2ue uma ideologia elitista e exclusivista como a 2ue 1iet&schedefendeu, aca+asse, depois de apropriada pela indstria da cultura de massas, por gerarum 0cone cultuado pelas multid/es de 6ovens anMnimos do nosso s"culo 1o final dascontas as massas fi&eram por cani+ali&ar o super-homem

    O super%homem, cultuado pelas massas

    C#"74!)"*# /'' # &!/%-5#%

    "$u assento minhas coisas no %ada" &"'ch hab, mein Sach( au) %ichts *estellt+- Lax!tirner - *u e o seu prprio, @GE

    P#*%#&, % &"(%&%, )*%"()7)+' !'(# #)%"&"' +#"7)!'1# ")%(6&+5%'"' *# &!/%-5#%

    I"&/)'1# F#"(%&

    M)(#4.)+'9%'?

    .rometeu, o tit 2ue ousou desafiar os deuses l0mpicos, passando a viverde acordo com seus princ0pios

    R%"'&+%"()&('9)('4)'"#?

    pr0ncipe ma2uiav"lico, o tirano 2ue utili&a-se operacionalmente dosvalores morais em fun#o do poder

    R#"()+'9'4%1?

    g7nio, concep#o do romantismo alemo, a grande personalidade 2ue seconfronta com seu "poca e vem anunciar um novo tempo, uma nova

    "poca, indiferente aos clamores contr8rios 2ue provoca

    P#/!4)&('9!&?

    niilista russo, o ra&nochintsN, a2uele 2ue estava fora do sistema decastas da Rssia %&arista e 2ue, revoltado, empenhava-se com fervor em

    torno da causa

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    N)%(6&+5% % ' D%+'*8"+)'

    1iet&sche, morto em @CBB, nunca sentiu nenhuma simpatia pelademocracia Ao contr8rio, considerava-a um regime cu6a presen#aem 2ual2uer pa0s 68 prenunciava uma irrepar8vel decad7ncia %omosintoma disso, da decomposi#o dos valores superiores 2ue fi&eram

    a glria da cultura ocidental, ele apontou o verdadeiro culto, 2ue namoderna sociedade - envenenada pelo cristianismo e peloli+eralismo dos med0ocres - presta aos fracos, aos fracassados e aosinsanos A compaixo para com o 2ue " d"+il e enfermo pareceu-lhe o sinal mais agudo da decomposi#o de uma cultura 2ue outrorafora superior

    A $#"('*% *% /#*%

    Doi *li&a+eth Dster-1iet&sche, a irm do pensador, tutora doesplio dele conservado no 1iet&sche-Archiv em $eimar, 2uemorgani&ou e deu a forma final, em @CB@, um ano depois da mortedo pensador, ao volume do er -ille zur acht, a Kontade de

    .oder 1ada mais era do 2ue uma enorme cole#o de aforismos,+em mais de UBB, alguns alcan#ando a medida de uma p8gina, 2ueele tentou distri+uir em 2uatro livros, com um con6unto de escritosum tanto desconexos 2ue ele decidira 6untar num livro s .or"m odefinitivo acesso de dem7ncia 2ue o acometeu em )urim, em @C,impediu-o disso livro pode perfeitamente ser considerado comoo testamento pol0tico e filosfico de 1iet&sche 'se +em 2ue asele#o 2ue ela fe& foi muito criticada pelos especialistas e peloscr0ticos e outros admiradores de 1iet&sche( e igualmente a sumaderradeira de tudo o 2ue ele escrevera at" ento V de alguns dosseus aforismos, especialmente o de nmero FC, e de alguns mais,2ue extraiu-se o 2ue se segue e 2ue ele chamou de 5a corrente

    descendente5

    A !*'"' *# +%"(# *' '$)*'*%

    Nietzsche temia o governo das multides-erlim, ././"

    1iet&sche, como idelogo contra-revolucion8rio, responsa+ili&ava o clima geral dedecad7ncia, 2ue ele sentiu generali&ar-se na sua "poca, aos eventos da revolu#o francesade @QC Lomento em 2ue, segundo ele, a e2uivocada id"ia de igualdade esta+eleceudireitos comuns a todos, deixando-se a *uropa levar pela 5supersti#o da igualdade entreos homens5 A era moderna, por conseguinte, nascia so+ o signo de um grande e2uivoco,respons8vel nico pelas enormes modifica#/es no universo social e cultural .ara ele, adecad7ncia do mundo moderno facilmente se verificava pelo fato do centro da gravita#oter-se deslocado da personalidade aristocr8tica 'Y( - do homem de exce#o, ser

    extraordin8rio e raro - , para uma r+ita ple+"ia, concentrada no tipo comum, ordin8rio,dominada pela alma do re+anho, onde reinava o med0ocre, o filisteu, o fracote, o doenteogo, a ascenso das massas, to cele+rada e enaltecida pelos progressistas de todas as

    Nietzsche em .01.

    2liza!eth 3& Nietzsche

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    tend7ncias e pelos pol0ticos li+erais-radicais do s"culo >?>, no passava para ele de umsintoma da profunda crise geral da civili&a#o europ"ia

    'Y( Aristocr8tico a2ui entendido no sentido 2ue Aristteles deu a esta palavra: o melhor,no necessariamente o de descend7ncia no+re, o de sangue a&ul

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    A M#(% *% D%!& s"culo >> foi o s"culo da O /%"&'%"(# *% N)%(6&+5%

    Nietzsche em .014

    E *%7%&' *' C!4(!'

    Driedrich 1iet&sche estava se recuperando em Iasil"ia, na !u0#a, de uma doen#a 2ue oatacara na Juerra Dranco-.russiana de @QB 'ao prestar servi#o de assist7ncia aos feridosdo ex"rcito alemo(, 2uando chegou-lhe uma terr0vel not0cia *m mar#o de @Q@ apopula#o de .aris havia se re+elado contra o governo derrotado .ior, os oper8riosestavam pondo fogo nos grandes pr"dios p+licos e depredando as o+ras de arteespalhadas pela capital francesa, entre elas a +ela %oluna de KendMme *ra a %omuna de.aris 2ue havia sido proclamada no dia @ de mar#o de @Q@, 2ue se tornaria um dos maisviolentos levantes populares da *uropa do s"culo >?>

    Doi um cho2ue para ele Ainda estonteado pelas informa#/es 2ue rece+era, refugiou-se na

    casa do historiador da cultura Waco+ Iurckhardt '@@-@CQ(, o c"le+re helenista ehistoriador da cultura, pes2uisador da ?t8lia renascentista, 2ue igualmente estavadesconsolado Acreditaram os dois amigos 2ue toda a arte ocidental estava amea#ada!"culos de +ele&a estavam em vias de ser totalmente devastados pelo vandalismo dasmassas parisienses revoltadas

    s episdios da %omuna de .aris foram fundamentais para o acirramento das posi#/espol0ticas de 1iet&sche nde

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    A destrui5+o da (oluna de 6end7me

    8aris,.01."N)%(6&+5% +## A"()+)&(#

    ata2ue direto 2ue 1iet&sche desencadeou contra o cristianismo radicali&ou-se com o seu5 Anticristo5 '3er Antichrist(, mas foi inicialmente exposto na A genealogia da moral 'urJenealogie der Loral(, de @Q Argumentou 2ue a "tica crist era uma moral deescravos, de gente fraca e vil 2ue havia, atrav"s do cristianismo, desvirili&ado o esp0ritosenhorial e dominante dos aristocratas A origem desse processo, segundo 1iet&sche,remontava 4 aos tempos da .alestina ocupada pela ra#a romana, ra#a de senhores s6udeus, impotentes em poder livra-se deles, terminaram por aperfei#oar a psicologia doressentimento provocando uma inverso dos valores )udo a2uilo 2ue era 5d"+il5,5humilde5, 5med0ocre5, eles apresentaram como 5+om5, en2uanto palavras tais como5no+re&aZ, 5honra5, 5valor5, foram vistas como 5mal5 resultado desse tra+alho desapador, feito por s"culos de prega#o crist, foi o enfra2uecimento das energiasvivificantes da sociedade ocidental, especialmente das suas elites, na medida em 2ue o5doentio moralismo ensinou o homem a envergonhar-se de todos os seus instintos5

    A %%4)1# *#& %&+'$#&

    A re+elio dos escravos na moral se deu devido a sua impot7ncia para destruir com aescravido 'ou o seu avalista, o poder romano( A nova religio - o cristianismo - tornou-se o instrumento deles para canali&ar o seu dio impotente, um 5dio 2ue tinha acontentar-se com uma vingan#a imagin8ria5 produto desse ressentimento foi fa&er com2ue os escravos, a 5ra#a inferior e +aixa5, tornassem tudo a2uilo 2ue fosse digno e no+reem algo pecaminoso )ransformaram a prostra#o e a po+re&a em virtude, e a a+6etacovardia de dar o outro lado da face em caso de agresso, num ato su+lime de perdo

    Kia, portanto, o cristianismo como uma doen#a maligna 2ue havia atacado o ?mp"rio

    Romano, contri+uindo para 2ue ele sucum+isse vitimado por uma esp"cie de 5fe+re dascatacum+as5 *, pior, 5a mentalidade aristocr8tica foi minada at" o mais profundo de siprpria pela mentira da igualdade das almas; e se a cren#a na prerrogativa da maioria fa&e far8 revolu#o - " ao cristianismo 2ue devemos sua difuso !o os 6u0&os de valorescristos 2ue 2ual2uer revolu#o vem transformar em sangue e crime cristianismo "uma insurrei#o do 2ue raste6a contra o 2ue tem eleva#o: *vangelho dos pe2uenostornado +aixo5

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    (ristianismo, religi+o dos fracos tela de Mantegna"

    A $#4(' & %"%)'& ')&(#+3()+'&

    .ortanto, os nossos conceitos de +em e de mal eram estratagemas dos derrotados, 2uefi&eram a fa#anha de su+stituir os valores superiores da no+re&a 3essa forma retiraramdela, enternecendo-a com rogos de piedade, a seiva necess8ria para aplicar uma pol0tica

    de mo firme para conter esse moderno movimento neo+8r+aro, cu6a carantonha haviaemergido na %omuna de .aris de @Q@ socialismo no passava de um 5cristianismodegenerado [\ o anar2uista e o cristo v7m da mesma cepa [\5 *ra preciso, pois,primeiro, expurgar de si esta moral de gente covarde Retornar 4s fontes de energiaaristocr8ticas, aplicar uma pol0tica da impiedade, onde somente o mais no+re e o mais virilfosse tomado em considera#o

    53eus est8 morto5 Doi sua mais c"le+re proclama#o %omo conse2P7ncia, os homensdeveriam +uscar valores 2ue transcendessem a moral convencional divulgada pelocristianismo; um retorno 54 ordem de castas, 4 ordem hier8r2uica [\ para a conserva#oda sociedade, para 2ue se6am poss0veis tipos mais elevados, tipos superiores - adesigualdade dos direitos " a condi#o necess8ria para 2ue ha6a direitos5 %oncluiudi&endo: 59uais so a2ueles 2ue mais odeio no meio da canalha dos nossos dias Acanalha socialista, os apstolos [\ mirando o instinto, o pra&er, o contentamento dotra+alhador no seu pe2ueno mundo - 2ue o tornam inve6oso, 2ue lhe ensinam a vingan#a[\ a in6usti#a nunca reside na desigualdade dos direitos, ela est8 na reivindica#o dedireitos iguais5

    N)%(6&+5% % ' H)&(.)'

    1iet&sche rompeu tam+"m com a rela#o entre a Dilosofia e a Xistria 2ue havia sidoesta+elecida por Xegel, entendida esta ltima como uma crMnica da racionalidade%onsiderava 2ue 5o excesso de histria5 parecia 5hostil e perigoso 4 vida5, limitador daa#o humana, ini+indo-a 3evia-se ousar, avan#ar perigosamente para o ilimitado, por2uea racionali&a#o histrica levava o homem a 5perder-se ou destruir seu instinto fa&endocom 2ue ele no ouse soltar o freio do Zanimal divinoZ 2uando a sua intelig7ncia vacila e oseu caminho passa por desertos indiv0duo torna-se ento timorato e hesitante e perde aconfian#a em si5 terminando por fa&er com 2ue 5a extirpa#o dos instintos pela histria

    transforma os homens em outras tantas som+ras e a+stra#/es5I"&()"(# +#"(' ' R'61#

    1iet&sche recolocou claramente o confronto outrora posto pelos romTnticos 2uandoopunham os instintos - geralmente entendidos como uma manifesta#o da pure&a eautenticidade humana - 4 ra&o, s0m+olo do utilitarismo cin&ento e materialista

    punha-se, como conse2P7ncia, 4 id"ia de 2ue os acontecimentos histricos ensinavam oshomens a no repeti-los, defendendo a teoria do eterno retorno, de remota inspira#o nafilosofia pitagrica e na f0sica estica, 2ue compreendia a aceita#o de peridicasdestrui#/es do mundo pelo fogo e seu ressurgimento 3esta forma, no s tudo poderiaacontecer novamente como tudo poderia ser tentado outra ve&

    E !&+' *# &!/%-5#%

    A id"ia da necessidade da forma#o de uma nova elite - no contaminada pelo cristianismoe pelo li+eralismo - e 2ue ao mesmo tempo os transcendesse, acometeu 1iet&sche desde

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    muito cedo .ode-se di&er 2ue 68 pensava assim nos seus tempo do internato em .forta W8na2uele tempo mostrou-se o+cecado pela forma#o de uma seleta falange intelectualrespons8vel pela transmuta#o de todos os valores, cu6a o+riga#o e dever maior era aprote#o de uma cultura superior amea#ada pela vulgaridade democr8tica

    'esde jovem fascinou%se pela elite

    morte de 3eus 1o s a ci7ncia desprendeu-se definitivamente de 2ual2uer apelo aoso+renatural, como a maioria das constitui#/es pol0ticas dos novos regimes 2ue surgiramafirmaram sua posi#o secular e agnstica, separando-se das cren#as %hegou-se at" aoradicalismo sovi"tico 2ue pronunciou-se como um *stado ateu !e +em 2ue a religioainda constitui um poderoso fator de mo+ili&a#o das massas e um, at" agora,insu+stitu0vel apoio "tico e moral, deve-se reconhecer 2ue as elites modernas deram ascostas a 3eus Las esse gigante da religio, da teologia e da imagina#o prodigiosa dos

    homens no morreu de uma ve& s Doi morto aos poucos ao longo do s"culo >?>, deaplace a 1iet&sche

    'eus criou o homem Miguel 9ngelo"

    D%!&, !' 5)/.(%&% *%&+'(3$%4

    Ao enviar a 1apoleo Ionaparte uma cpia do seu tra+alho chaniquecleste' ec/nica Celeste, E vols, @QCC-@OE(, o matem8tico aplace,2uando 2uestionado pelo imperador so+re o papel de 3eus na cria#o,respondeu 2ue 50e n(avais as besoin de cette h1oth2se#l35, 2ue ele nonecessitara da hiptese da exist7ncia de 3eus para edificar a sua teoria dosistema solar %om isso, com tal declara#o arrogante, 2ue fe& o gosto edeliciou 1apoleo, a2uele expoente maior da f0sica do ?luminismo rompiadefinitivamente com os elos dos seus predecessores Jalileu e 1e=ton, 2ueainda ligaram o )odo-.oderoso 4 forma#o do cosmo e 4 sua preserva#o

    O '"#&()+) % ' 5!'")6'1# *% C)&(#

    Laplace, 'eus uma hip)tesedesnecess#ria

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    !e, no s"culo >K???, a Revolu#o de @QCe a moderna ci7ncia francesadavam in0cio ao +animento de 3eus, na Alemanha a prega#o peloafastamento do )odo-.oderoso das coisas do mundo se fe& pela verve dafilosofia e, pasme-se, pela prpria teologia

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    *m defesa da cultura] culto ao g7nio] programa do super-homem]As melhores+iografias de 1iet&sche

    O /%"&'%"(# *% N)%(6&+5%

    O /#'' *# &!/%-5#%

    grande programa do super-homem, portanto, estavapronto )ratava-se de uma a+rangente reforma 2ueprocurava dar um senso de propsito a uma exist7nciana terra a+andonada pela deidade s interesses depoucos devero ter proemin7ncia so+re todos osdemais, a for#a do esp0rito so+repu6ar8 a fra2ue&a, asade do esp0rito suceder8 2ual2uer ti+ie&, a guerrados esp0ritos su+stituir8 a pa& %omo conse2P7ncialgica disso, as necessidades dos indiv0duosexcepcionais tero sempre preced7ncia contra o

    esp0rito nivelador esta+elecido pela gravita#o impostapela mediocridade mundo filisteu, dominado pelapasmaceira da vida rotineira dever8 dar lugar 4 aud8cia, 4 dan#a, e 4destre&a intelectual A de viver-se perigosamente

    A %$#4(' +#"(' # (*)#

    A prega#o de aratustra foi entendida por Jeorge !teiner como umadesconformidade, entre tantas outras, com a vida tediosa da sociedade+urguesa fin de si^cle, onde o mundo aventureiro e +elicoso doaristocracia cedia espa#o ao utilitarismo frio, pr8tico e calculista, dohomem +urgu7s ocidental Hma "poca a+solutamente +anal na 2ual asociedade cient0fico-positivista via-se crescentemente dominada peloesp0rito li+eral-igualit8rio, 2ue impedia o afloramento da individualidadesingular, a emerg7ncia do grande homem, da personalidade fora de

    s"rie, 2ue o profeta vinha pressagiar Hm estado de esp0rito 2ueencontrou sua melhor expresso no dito do poeta )h"ophile Jautier:5.refiro a +ar+8rie ao t"dio5

    A $#"('*% *% /#*%

    !e !chopenhauer, um pessimista assumido, desenvolveu a teoria de2ue a vida no tinha nenhum sentido racional e 2ue todos ns "ramosapenas express/es da vontade, uma vontade de viver instintiva,animal, csmica, 2ue estava entranhada na nature&a e em ns,1iet&sche ir8 atri+uir 4 vontade uma outra dimenso ?nfluenciadopelas teses de %harles 3ar=in '@BC-@O(, como a luta pela vida e aso+reviv7ncia do mais apto, ele considerou a vontade '$ille(como umafor#a positiva so+re o Xomem, uma energia 2ue mo+ili&a-o, fa&endo-o

    ultrapassar os o+st8culos e vencer os desafios 2ue se lhe antep/em3a0 redu&ir 2uase tudo na exist7ncia 4 luta pela vontade de poder'$ille &ur Lacht(

    A necessidade vital 2ue o homem tem de sempre lan#ar-secompulsivamente so+re os demais o+6etos da nature&a e so+re o restoda sociedade visando o seu dom0nio, estaria assentada na antigapremissa de 2ue 5cada um de ns dese6a, no poss0vel, ser o senhor detodos os homens, e preferivelmente deus5 *sta vontade de poder "vital e amoral, independe de crit"rios "ticos, " uma esp"cie de pulsoincontrol8vel 2ue fa& com 2ue o homem enfrente todas as vicissitudespara saci8-la 'concep#o 2ue foi recentemente reaproveitada porLichel Doucault na sua 5microf0sica poder5, e com a viso de 2ue asociedade " um conflito permanente entre poderes, 2ue transcendem a

    simples luta pol0tica partid8ria e ideolgica, englo+ando as pol0ticascl0nicas, da sade p+lica, dos sanatrios e das pris/es(

    (sar -orgia .;1

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    M&3oucault, influenciado por

    NietzscheA /#4()+' *% *#")#

    ?sto condu&iu a 2ue 1iet&sche aceitasse e enaltecesse 2ual2uer pol0ticade dom0nio, acreditando-a inevit8vel 1o Al"m do +em e do mal'Wenseits von Jut und Ise(, conclu0da em @U, e 2ue " de certaforma, a complementa#o final em prosa do aratustra, afirma 2ue 5avida mesma " essencialmente apropria#o, ofensa, su6ei#o doestranho e mais fraco, opresso, dure&a, imposi#o de formas prprias,incorpora#o e, no m0nimo e mais comedido, explora#o5

    A $#"('*% *#& ')& 7#(%&

    *videntemente 2ue esta manifesta#o de vontade de poder, em sua

    plenitude, s pode ser exercida pelos mais fortes Aos fracos ca+e ao+edi7ncia respeitosa ou aceitar o exterm0nio silencioso *sta figuravitoriosa, altaneira, 2ue imp/e sua vontade so+re tudo e todos, nopode ser constrangida pela moral comum dos homens vulgares, dospreceitos seguidos pelas maiorias, ou pelo imperativo categricokantiano, 2ue dese6ava tornar toda e 2ual2uer a#o numa lei universal

    mais forte fa& suas prprias regras, esta+elece para si 2ual " amelhor conduta e no espera de forma nenhuma 2ue os outros o sigam'" o 5fa#am o 2ue eu digo e no o 2ue eu fa#o5 de 1apoleo( *le nodeve estranhar se o consideram duro e insens0vel, 2ui#8 at" desumano,pois estes so os atri+utos do super-homem, 2ue trafega so+er+o noseu limpo particular e s tem gestos generosos para com os demais

    na medida em 2ue isto o enaltece ou satisfa&

    3espre&a 5o covarde, o medroso, o mes2uinho o 2ue pensa na estreitautilidade; assim como o desconfiado, com seu olhar o+stru0do, o 2uere+aixa a si mesmo, a esp"cie canina de homem, 2ue se deixamaltratar, o adulador 2ue mendiga, e so+retudo o mentiroso - " cren#a+8sica de todos os aristocratas 2ue o povo comum " mentiroso5 Aohomem comum, ao fraco em geral, s lhe resta a serventia de ser umdegrau de apoio so+re o 2ual a figura de escol dever8 calcar em suaascenso os cimos mais elevados de uma exist7ncia superior

    U' +#"('-!(#/)'

    1iet&sche de certa forma es+o#ou, com sua prosa impressionista, o 2ue

    poder0amos considerar como uma contra-utopia ou uma utopiadireitista 1a sociedade futura 2ue imaginou, a harmonia seriaesta+elecida apenas entre os 2ue se consideravam iguais - a nova

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    no+re&a formada pelos super-homens - 2ue regeriam uma comunidaderigidamente hierar2ui&ada, despida da moral comum, dominada pela5+esta loura5 2ue exerceria sua autoridade +aseada numa impiedosavontade de poder

    A o+ra de 1iet&sche, so+ o estrito ponto de vista pol0tico e ideolgico,

    foi a mais profunda e radical manifesta#o intelectual contra as grandescartas e documentos 2ue se posicionaram pela e igualdade e li+erdade2ue vieram 4 lu& na cultura ocidental, desde a 3eclara#o dos direitosdo homem e do cidado da Revolu#o Drancesa, passando peloLanifesto comunista de Larx e *ngels, at" as leis sociais da sua "poca

    E! ! *)"')(%Q

    A rocha do Lago Silvanaplate, =ue inspirou Nietzsche

    prprio 1iet&sche nunca deixou de ter consci7ncia de 2ue suasposi#/es, assumidamente radicais, teriam conse2P7ncias terr0veis nosanos vindouros 9ue para ele seriam tomados por uma rea#o contra-revolucion8ria de dimens/es espantosas 1o *cce Xomo, por exemplo,a sua auto+iografia pu+licada somente em @CB, oito anos aps a suamorte, reconhece: 5%onhe#o a minha sorte Alguma ve& estar8 unidoao meu nome algo de gigantesco - de uma crise como 6amais haver8existido na terra, da mais profunda coliso de consci7ncia, de umadeciso tomada, mediante um con6uro, contra tudo o 2ue at" essemomento se acreditou, exigiu, santificou *u no sou um homem, soudinamite5

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    N)%(6&+5%: %&+!4/)"*# # )"*)$*!#

    E !&+' *# )"*)$*!#

    9uem seria doravante o novo evangelista, o 2ue sairia pelo mundo afora anunciando a

    chegada dos novos tempos e sendo ele mesmo o novo s0m+olo disso Kisto 2ue osacerdcio se esclerosara ou se exaurira durante a grande expanso ocidental, era preciso2ue algu"m o sucedesse As respostas foram, como no podia deixar de ser, mltiplas econtraditrias .ensadores, filsofos, homens de letras de todas as latitudes, lan#aram-se,cada um ao seu modo e de acordo com sua veneta, a descrever esse novo 5animal-pol0tico5 2ue, segundo eles, seria o novo paradigma do homem ocidental do futuro

    O H#% *# R%"'&+)%"(#

    Aretino.;/>%.

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    redor 3etestando o parasitismo da aristocracia e do clero, ele tam+"m deveria 5retificar aslinhas fronteiri#as do +em e do mal5 *sse moderno Lessias do .rogresso, do 5iniciadorcient0fico5, do implantador da 5sociedade industrial5, no leva de maneira uma vidaimaginativa ou sentimental, seno 2ue 5uma sucesso de experi7ncias5 .ara tanto eledevia seguir algumas regras 2ue o ha+ilitem a levar uma vida produtiva e criativa:

    R%'& *# &')"(-&)#")'"#- evar, en2uanto ainda dotado de vigor, uma vida a mais original e ativa poss0vel

    - ?nteirar-se cuidadosamente de todas as teorias e de todas as pr8ticas

    - Recorrer a todas as classes sociais e colocar-se pessoalmente em cada uma delas,mesmo as mais diferentes, chegando inclusive a criar rela#/es 2ue no existiram antes

    - *mpregar a velhice em resumir as informa#/es coletadas so+re os efeitos 2ueresultaram das suas a#/es, para esta+elecer novos princ0pios so+re a +ase deles

    F#"(%: S'&()%" C5'4( - H)&(.)' *%4 &'"&)#"), =, /'

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    M&-aCunin .0.;%.01?", e*emplo paraos niilistas

    Acredita-se 2ue a forma mais extremada desses niilistas foi assumida pelo terrorista!"rgio 1etch8iev 'um seguidor de Iakunin, 2ue, entusiasmado disse dele 5!o magn0ficosesse 6ovens fan8ticos, crentes sem deus, heris sem frases5( *le, 6untamente com)kach"v, expMs no 5.rograma das a#/es Revolucion8rias5, de @UC, uma verdadeiracartilha do terrorista, o ideal do comportamento niilista

    O C'(%+) *# R%$#4!+)#"3)#

    @ - revolucion8rio " um homem perdido 1o tem interesses prprios, nem causasprprias, nem sentimentos, nem h8+itos, nem propriedades; no tem se2uer um nome)udo nele est8 a+sorvido por um nico e exclusivo interesse, por um s pensamento, poruma s paixo: a revolu#o

    O - 1o mais profundo do seu ser, no s de palavra, mas de fato, ele rompeu todo e2ual2uer la#o com o ordenamento civil, com todo o mundo culto e todas as leis, asconven#/es, as condi#/es geralmente aceitas, e com a "tica deste mundo !er8 por isso

    seu implac8vel inimigo, e se continua vivendo nele ser8 somente para destru0-lo maisefica&mente

    F - revolucion8rio deprecia todo o doutrinarismo: renunciou a ci7ncia do mundo,deixando-a para a prxima gera#o *le s conhece uma ci7ncia: a da destrui#o

    G - 3espre&a a opinio p+lica 3espre&a e odeia a atual "tica social em todas as suasexig7ncias e manifesta#/es .ara ele " moral tudo o 2ue permite o triunfo da revolu#o, eimoral tudo o 2ue a o+staculi&ar

    E - revolucion8rio " um homem perdido ?mplac8vel com o estado e, em geral, com todaa sociedade privilegiada e culta, de 2uem ele no deve esperar piedade nenhuma %adadia deve estar disposta a morte 3eve estar disposto a suportar a tortura

    U - !evero consigo mesmo, deve ser severo com os demais )odo os sentimentos ternos ea+randados sentimentos de parentesco, de ami&ade, de amor, de agradecimento einclusive de honra, devem ser sufocados nele por uma nica e fria paixo pela causarevolucion8ria

    Q - A nature&a de um aut7ntico revolucion8rio excluiu todo o romantismo, todosentimentalismo, todo entusiasmo e toda a sedu#o *xclui tam+"m o dio e a vingan#apessoal A paixo revolucion8ria convertida nele em paixo de cada dia, de cada minuto,deve ser seguida pelo c8lculo frio '( iguemo-nos com o mundo livre dos +andidos, onico autenticamente revolucion8rio na Rssia

    - Reagrupar este mundo numa for#a invenc0vel; eis a2ui a nossa organi&a#o, nossaconspira#o, nossa tarefa

    F#"(%: F'"+# V%"(!) - E4 /#/!4) !, ;, V#4 II, /' -=O &!/%-5#% *% N)%(6&+5%

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    Nietzsche .0;;%./44", o criadordo super%homem )leo de -aroda"

    %hega-se por fim a id"ia do super-homem 'S+ermensch( de 1iet&sche, 2ue tam+"mconstituiu-se numa formid8vel tentativa intelectual do idealismo e da metaf0sica alem '68presente no 5Dausto5 de Joethe, e no 5?ch5 de Dichte( em dar sua contri+ui#o para aconstru#o desse novo indiv0duo 2ue, para o pensador, certamente emergiria no vindouro*le " pois um amalgama e tam+"m uma s0ntese das ideali&a#/es anteriores .or"m osuper-homem niet&scheano no es+o#a nenhuma a#o para prover as multid/es, nem vempara li+ert8-las de regimes in6ustos e opressores V um egoc7ntrico, 2ue, ao contr8rio doheri niilista, ir8 tentar opor-se 4s multid/es, 4s massas *le se identifica com a for#a ecom a so+er+a e no com o desvalimento e a ti+ie& %om o punho duro, fechado, 2ue+rada uma exig7ncia ou uma amea#a, e no com a mo tr7mula e ar2ueada do pedinte*le " corpreo, " sensual, ama a vida e fascina-se pelo dom0nio, de si e o 2ue exerce so+reos outros 9uer ser grande, 2uer ser reconhecido, pois 5o mundo gira em torno dosinventores de valores novos: gira invisivelmente; mas em torno do mundo giram o povo ea glria; assim anda o mundo5

    A& "#$'& (3!'& *# &!/%-5#%

    3espre&a a religio crist, com seu 3eus morto, cu6a "tica ele considerou umaespirituali&a#o da antiga casta dos sacerdotes 2ue se 6untou 4 fra2ue&a, 4 po+re&a e 4covardia da gente comum %ristianismo " uma teologia de ressentidos, uma f" deenfermos e de desgra#ados i+erto das cangas pesadas e ini+idoras da moralidade crist e+urguesa em 2ue foi educado e formado, o super-homem, seguramente, ir8 for6ar 5comcompanheiros 2ue sai+am afiar a sua foice5 uma nova moralidade Xa+itando 5a casa damontanha5 ou a floresta, incessantemente superando a si mesmo, altivo como a 8guia eastuto como a serpente 2ue acompanham aratustra, o seu anunciador, ele, com seuscola+oradores, chamados de 5destruidores e despre&adores do +em e do mal5, inscrever85valores novos ou t8+uas novas5 *le " o devir a ser, ele " o futuro

    A& +''+(%&()+'& *# &!/%-5#%

    %omo sereconhece

    .ela personalidade extraordin8ria e pelo car8ter forte, in2ue+rant8vel 1opelo nascimento nem pela educa#o, mas pela ine2u0voca presen#a e fasc0nio

    2ue exerce so+re os demais .or sua ol0mpica arrogTncia

    nde ele seencontra

    1o futuro, no devir a ser, ele trar8 as novas t8+uas no mais presas aosconceitos do +em e do mal

    9ual a suamorada

    A casa da montanha, os altos picos, acompanhado pela 8guia e pelaserpente, +em distante da moralidade convencional e do cristianismo

    9uais as leis2ue o+edece

    As 2ue ele mesmo fa& super-homem " o legislador de si mesmo e o autordas suas prprias e exclusivas regras

    2ue eleama

    seu corpo, do 2ual no tem vergonha *le se exi+e, se mostra, aceita asensualidade como natural e no tem a m0nima id"ia do 2ue " ou representa

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    o pecado A vida " prolifera#o e exu+erTncia, " dom0nio, amor e crueldade*m seguida a isso, ama os valentes, os cora6osos, os 2ue di&em sim a vida,os auda&es 2ue no se prendem aos limites e no temem o desconhecido

    9uais soseus inimigos

    s sacerdotes, os pregadores da morte, seres vingativos 2ue detestam avida e veneram o al"m cristianismo com sua moral de escravos, de gente

    impotente e ressentida com a vida 2ue eledetesta

    A canalha, o populacho, por2ue envenena tudo o 2ue toca seusentimentalismo mela tudo, tem +ocarra grotesca e sede insaci8vel %hega a

    duvidar 2ue a vida tenha a necessidade deles 1o tem consolo para ocorcunda, para o doente, para o fraco e covarde 9uer 2ue eles

    desapare#am, 2ue sumam

    2ue maisodeia

    A id"ia de igualdade defendida pelos democratas e pelos socialistas in6usto" tentar fa&er iguais os desiguais

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    N)%(6&+5% % ' D%+'*8"+)'

    1iet&sche, morto em @CBB, nunca sentiu nenhuma simpatia pelademocracia Ao contr8rio, considerava-a um regime cu6a presen#aem 2ual2uer pa0s 68 prenunciava uma irrepar8vel decad7ncia %omosintoma disso, da decomposi#o dos valores superiores 2ue fi&eram

    a glria da cultura ocidental, ele apontou o verdadeiro culto, 2ue namoderna sociedade - envenenada pelo cristianismo e peloli+eralismo dos med0ocres - presta aos fracos, aos fracassados e aosinsanos A compaixo para com o 2ue " d"+il e enfermo pareceu-lhe o sinal mais agudo da decomposi#o de uma cultura 2ue outrorafora superior

    A $#"('*% *% /#*%

    Doi *li&a+eth Dster-1iet&sche, a irm do pensador, tutora doesplio dele conservado no 1iet&sche-Archiv em $eimar, 2uemorgani&ou e deu a forma final, em @CB@, um ano depois da mortedo pensador, ao volume do er -ille zur acht, a Kontade de

    .oder 1ada mais era do 2ue uma enorme cole#o de aforismos,+em mais de UBB, alguns alcan#ando a medida de uma p8gina, 2ueele tentou distri+uir em 2uatro livros, com um con6unto de escritosum tanto desconexos 2ue ele decidira 6untar num livro s .or"m odefinitivo acesso de dem7ncia 2ue o acometeu em )urim, em @C,impediu-o disso livro pode perfeitamente ser considerado comoo testamento pol0tico e filosfico de 1iet&sche 'se +em 2ue asele#o 2ue ela fe& foi muito criticada pelos especialistas e peloscr0ticos e outros admiradores de 1iet&sche( e igualmente a sumaderradeira de tudo o 2ue ele escrevera at" ento V de alguns dosseus aforismos, especialmente o de nmero FC, e de alguns mais,2ue extraiu-se o 2ue se segue e 2ue ele chamou de 5a corrente

    descendente5

    A !*'"' *# +%"(# *' '$)*'*%

    Nietzsche temia o governo das multides-erlim, ././"

    1iet&sche, como idelogo contra-revolucion8rio, responsa+ili&ava o clima geral dedecad7ncia, 2ue ele sentiu generali&ar-se na sua "poca, aos eventos da revolu#o francesade @QC Lomento em 2ue, segundo ele, a e2uivocada id"ia de igualdade esta+eleceudireitos comuns a todos, deixando-se a *uropa levar pela 5supersti#o da igualdade entreos homens5 A era moderna, por conseguinte, nascia so+ o signo de um grande e2uivoco,respons8vel nico pelas enormes modifica#/es no universo social e cultural .ara ele, adecad7ncia do mundo moderno facilmente se verificava pelo fato do centro da gravita#oter-se deslocado da personalidade aristocr8tica 'Y( - do homem de exce#o, ser

    extraordin8rio e raro - , para uma r+ita ple+"ia, concentrada no tipo comum, ordin8rio,dominada pela alma do re+anho, onde reinava o med0ocre, o filisteu, o fracote, o doenteogo, a ascenso das massas, to cele+rada e enaltecida pelos progressistas de todas as

    Nietzsche em .01.

    2liza!eth 3& Nietzsche

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    tend7ncias e pelos pol0ticos li+erais-radicais do s"culo >?>, no passava para ele de umsintoma da profunda crise geral da civili&a#o europ"ia

    'Y( Aristocr8tico a2ui entendido no sentido 2ue Aristteles deu a esta palavra: o melhor,no necessariamente o de descend7ncia no+re, o de sangue a&ul

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    A M#(% *% D%!&

    s"culo >> foi o s"culo da morte de 3eus 1o s a ci7ncia desprendeu-sedefinitivamente de 2ual2uer apelo ao so+renatural, como a maioria das constitui#/espol0ticas dos novos regimes 2ue surgiram afirmaram sua posi#o secular e agnstica,separando-se das cren#as %hegou-se at" ao radicalismo sovi"tico 2ue pronunciou-se

    como um *stado ateu !e +em 2ue a religio ainda constitui um poderoso fator demo+ili&a#o das massas e um, at" agora, insu+stitu0vel apoio "tico e moral, deve-sereconhecer 2ue as elites modernas deram as costas a 3eus Las esse gigante da religio,da teologia e da imagina#o prodigiosa dos homens no morreu de uma ve& s Doi mortoaos poucos ao longo do s"culo >?>, de aplace a 1iet&sche

    'eus criou o homem Miguel 9ngelo"

    D%!&, !' 5)/.(%&% *%&+'(3$%4

    Ao enviar a 1apoleo Ionaparte uma cpia do seu tra+alho chaniquecleste' ec/nica Celeste, E vols, @QCC-@OE(, o matem8tico aplace,2uando 2uestionado pelo imperador so+re o papel de 3eus na cria#o,respondeu 2ue 50e n(avais as besoin de cette h1oth2se#l35, 2ue ele nonecessitara da hiptese da exist7ncia de 3eus para edificar a sua teoria dosistema solar %om isso, com tal declara#o arrogante, 2ue fe& o gosto e

    deliciou 1apoleo, a2uele expoente maior da f0sica do ?luminismo rompiadefinitivamente com os elos dos seus predecessores Jalileu e 1e=ton, 2ueainda ligaram o )odo-.oderoso 4 forma#o do cosmo e 4 sua preserva#o

    O '"#&()+) % ' 5!'")6'1# *% C)&(#

    !e, no s"culo >K???, a Revolu#o de @QCe a moderna ci7ncia francesadavam in0cio ao +animento de 3eus, na Alemanha a prega#o peloafastamento do )odo-.oderoso das coisas do mundo se fe& pela verve dafilosofia e, pasme-se, pela prpria teologia

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    Christentums' ess6ncia do cristianismo(, onde assegurou ser 3eus uma pro6e#o dosdese6os de perfei#o do homem Kivendo em meio a infelicidade e na inseguran#a dosentimento de morte, os humanos ideali&avam um reino perfeito nos c"us, onde seroeternamente feli&es e imortais *ra a aliena#o do homem 2ue criara a cren#a no !er!upremo, sentindo-se depois oprimido por ele mesmo fenMmeno diria Larx 'outro5matador de 3eus5(, engendrara a sociedade capitalista moderna, onde o %apital manipula

    os +urgueses e oprime o proletariado

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    D#&(#)$&) % N)%(6&+5%D# 5#%-*%!& '# &!/%-5#%

    3&'ostoivsCi .0>.%.00."

    O& /)$)4)#& *# 5#% %0+%/+)#"'4

    ":...; ermitido a todo indiv9duo que tenha consci6ncia da verdade re*ularizar sua vida

    como bem entender, de acordo com os novos rinc9ios. %este sentido, tudo ermitido:...; Como eus e a imortalidade no e>istem, ermitido ao homem novo tornar#se umhomem#deus, seja ele o ?nico no mundo a viver assim."- D 3ostoi"vski - di8logo com odemMnio 'in ?rmos

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    O homem%idia gravura de Lu$s de-en, in DOs 'em7nios"

    S% D%!& "1# %0)&(%

    .ouco antes de morrer, 3ostoi"vski voltou novamente ao homem-id"ia pois entendia-ocomo a encarna#o mal"fica das puls/es modernas; o ate0smo, o li+eralismo, o socialismoe o niilismo, 2ue amea#avam sua !anta Rssia ortodoxa 3esta ve& esse personagemressurge nos ?rmos

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    Hma nova casta se formaria em torno de princ0pios e identifica#/es comuns, uma novardem dos )empl8rios, composta por seres 2ue no s 5sai+am viver mais al"m doscredos pol0ticos e religiosos, seno 2ue tam+"m ha6am superado a moral5 .odiam fa&er o2ue lhes desse na telha, sem receio de 2ual2uer tipo de puni#o supersticiosa 1iet&sche,antes de Dreud, a+oliu o pecado

    * assim foi feito s homens-id"ia do nosso s"culo, os na&i-fascistas, os comunistas, osli+eral-imperialistas, transformaram nosso mundo numa grande arena ideolgica,eliminando dela tudo a2uilo 2ue, em algum momento, lhes pareceu adverso, dissidente,parasit8rio, +i&arro, nocivo, atrasado ou +anal a maioria deles sem es+o#ar umremordimento se2uer 1iet&sche, em ess7ncia, nada mais fe& do 2ue transpor para afilosofia o discurso do demMnio relatado por 3ostoi"vski, o 2ue no lhe causou nenhumconstrangimento moral, por2ue, afinal, se 3eus no existe, tam+"m no h8 !atan8s

    N)%(6&+5% )"(%"'*#

    %onsta 2ue 1iet&sche foi internado depois de um estranho acidenteem 2ue se envolveu em )urim, em 6aneiro de @C Ao ver da sua6anela um po+re cavalo ser +rutalmente espancado pelo dono,interpMs-se entre o carroceiro e o animal, envolvendo-o com uma+ra#o, +ei6ando-lhe o focinho em l8grimas Repetia,inconscientemente, a cena descrita no sonho de Raskolhnikov;2uando a2uele, ainda crian#a, enla#a e +ei6a a carca#aensangPentada de uma "gua +rutali&ada por um +ando de +7+adosDoi a ltima homenagem de 1iet&sche, 68 demente, fe& 4 fic#o de3ostoi"vski %ondu&iram-no primeiro para um sanatrio na Iasil"ia,do 2ual foi removido para 1aum+urg, aos cuidados da me *m@CQ, com ela morta, sua irm *li&a+eth levou-o para $eimar, onde faleceu em OE deagosto de @CBB

    Nietzsche .0;;%./44"

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    N)%(6&+5% 7)4.#

    A 7)4#)' !"*'"'

    A filosofia do super%homem ilustra5+ode E& 2dneF"

    %ou+e a

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    um instrumento da a#o e no para atravanc8-la .ode-se di&er 2ue os s0m+olos maisprecisos do seu filosofar so a ponte 'a travessia, o ir para o outro lado, o transcender(, eo trap"&io 'a +usca do perigo, do risco, de tentar viver no limite m8ximo das experi7nciasposs0veis(, para fa&er da vida uma grande aventura Assim despre&a os 2ue acusam-no defomentar a hN+ris, o excesso de a#o, a falta de limites, o exagero

    U' 7)4#)' *' )*1#

    Xeidegger disse ter sido 1iet&sche o primeiro a conce+er metafisicamente o momento em2ue 5o Xomem se apressa a assumir o poder na terra na sua totalidade5 !o+re esse novohomem, so+re esse super-homem, recaem pois todas a responsa+ilidades *le no temmais para 2uem apelar tal como o ltimo dos homens ainda fa&ia no santu8rio em ru0nasdo seu 3eus morto ogo, deve fa&er crescer dentro de si for#as vitais e exist7nciasextraordin8rias: 5!o+e, pensamento vertiginoso, sai da minha profundidade5 5 meua+ismo fala )ornei 4 lu& a minha ltima profundidade5'Assim Dalou aratustra, ???, @(1o poder8, esse esp0rito livre, ter contempla#o com suas fra2ue&as, ter compaixo dosoutros ou de si lhe " inomin8vel A palavra de ordem " endurecer Da&er do seu interior, docorpo e mente, uma intranspon0vel coura#a, capa& de desviar de si o sentimentalismo e apiedade .ara 1iet&sche, afinal, sempre pareceu inaceit8vel um 3eus todo-poderoso 2ue sedeixasse levar por preces, ladainhas ou louvores, dos humilhados e ofendidos

    *sse ser de 1iet&sche tem um fim em si mesmo, ele " a fonte exclusiva da sua energia, ele" o seu prprio consolo por2ue, afinal, 53eus est8 morto5 Las de onde extrair firme&apara o extraordin8rio desafio 2ue " viver num mundo sem 3eus A 2ue reservas humanasrecorrer Wustamente a2uelas, as mais ocultas, as 2ue foram sufocadas pelos valoresreligiosos e pela racionalidade dos metaf0sicos, as virtudes do instinto, da preserva#o, daagresso, 5o lado mais poderoso, mais tem0vel, mas verdadeiro da exist7ncia, o lado em2ue sua vontade mais exatamente se exprime5'Kontade de .oder - GQU( 3eve-se exploraresse interiores, 5nossas planta#/es e 6ardins desconhecidos5 pois 5somos todos vulc/esesperando a hora da erup#o5'Jaia %i7ncia, ?,C( *sse tit solit8rio e viril, tal como umdeus de si mesmo, +usca ento as alturas para fugir do ar empestado pelas multid/es epelo agito dos mercados, procurando l8 em cima nas estratosferas a companhia dasestrelas V com ele 2ue as 8guias se identificam

    :m filosofia para =uem ha!ita os picos elevadosfotoGMonte Olimpo, Hrcia"

    O 5#% ! *%$)

    !eguindo a lgica de 3ar=in, 2ue via as esp"cies em luta permanente para manterem-se eadaptarem-se, afirmou 2ue o homem 5" um animal ainda no definido5, " algo 2ue aindaest8 em constru#o 1o o+edecendo ao des0gnio divino mas sim as suas puls/es einstintos de so+reviv7ncia, de uma nature&a humana 2ue ama lutar, o homem fa& a siprprio Da&endo do agn, do com+ate, a sua ra&o de ser, at" mesmo o conhecimentosuperior 2ue ad2uire resulta de um duelo, provido 2ue foi pela fa0sca resultante doentrechocar da espadas umas contra as outras Ao redor dele tudo " um guerra civil,contra os outros e contra as adversidades em geral *le " um perp"tuo superador de simesmo

    .ortanto, ele no v7 na 1ature&a uma me dadivosa e +oa como Rousseau a imaginou,mas sim uma madrasta 2ue ao mesmo tempo 2ue lhe permite a vida " avara nas suas+enesses: exu+erante na sua licenciosidade mas mes2uinha nos seus +enef0cios*xatamente por isso, a con2uista se6a l8 do 2ue for tem um pre#o e um sa+or

    incompar8vel A deciso de enfrentar as coisas por"m no " un0ssona e nem tra&resultados iguais Alguns se decidem e vencem, os fortes; outros no, os fracos, oscovardes Lerecem eles viver %a+e 4 8rvore da vida suportar em seus galhos esses frutos

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    inteis, +ichados, estragados, sem esperar 2ue nenhum vento salutar os a+ale e osderru+e

    A /&)+#4#)' *% N)%(6&+5%

    A teoria do ressentimento como expresso dos vencidos da vida " uma apreci8vel, se +em2ue 2uestion8vel, contri+ui#o de 1iet&sche 4 psicologia moderna )omou-a da leitura 2ue

    ele fi&era do 5 homem do su+terrTneo5, de 3ostoievski, um relato tortuoso de ummisantropo neurtico !e Xegel estruturou sua concep#o da hierar2uia social e daforma#o do estado a partir de um duelo primeiro, onde o vencido, para manter-se vivoaceitava ser escravo e reconhecia no vencedor o seu senhor 'ver 5Denomenologia do*sp0rito5, @BQ(, 1iet&sche tam+"m ir8 remontar 4 esse hipot"tico duelo para extrairoutras conse2P7ncias

    em+ate dele se d8 na .alestina no tempo da ocupa#o romana, 2uando a casta desacerdotes 6udeus, impotentes em derru+ar o con2uistador, destilou para todos os lados oveneno do ressentimento )udo a2uilo 2ue era associado ao romano, o 2ue era no+re,altivo, cora6oso, passou a ser denunciado como 5mau5 .or outro lado, o 2ue era vil, fracoe covarde, pareceu-lhes ser 5+om5 3essa forma, por meio dessa sutil e corrosivaartimanha, deram come#o ao tra+alho de sapa visando atingir a solide& psicolgica dovencedor .assado algum tempo, os vencedores, os no+res romanos, minados por essediscurso dos cupins sacerdotais, deram-se por vencidos A+andonaram ou a+dicaram osseus princ0pios, o 2ue at" ento lhes dava coragem, capitulando finalmente frente a+ar+8rie invasora

    A 4)"!'% *# 7'+#

    Xavendo uma linguagem do forte, h8 por sua ve& uma do fraco, uma linguagem dore+anho - a amarga retrica dos cativos V dela 2ue deve-se precaver X8 nela umevidente discurso do ressentimento, 2ue atri+ui todas as desgra#as do mundo e da suavida aos outros ?ncapa& de assumir a sua responsa+ilidade pessoal 'atri+uto apenas dosfortes(, se6a l8 no 2ue for, o med0ocre, o pe2ueno, o de 5 alma estreita5, transfere a causados seus inmeros fracassos e decep#/es a tudo o 2ue est8 al"m e acima dele 'em 3eusou no dia+o, nos no+res, no senhor, no patro, etc( sentimento melindrado dore+anho, expresso coletiva do ordin8rio e do +aixo, volta-se ento contra o 2ue se

    destaca, para o excepcional, acusando-o com dedos numerosos e tr7mulos de no terfracassado e sucum+ido na vida como os demais %ondena igualmente 5as paix/es 2uedi&em sim5: a altive&, a alegria, o amor do sexos, a inimi&ade e a guerra - enfim, 5tudo o2ue " rico e 2uer dar, gratificar a vida, dour8-la, eterni&8-la e divini&8-la - tudo o 2ue agepor afirma#o5 'A Kontade de .oder - GQC(

    ?nteressa constatar 2ue 1iet&sche foi um arguto o+servador das terr0veis ma&elas edistor#/es psicolgicas 2ue a domina#o de um ser humano so+re o outro provoca 3ecerta forma ele inverte o primado marxista de 2ue as id"ias dominantes so as da classedominante .ara 1iet&sche, ao contr8rio, so os dominadores 2ue t7m 2ue precaver-secom as perigosas e de+ilitadoras id"ias dos dominados, pervertidas 2ue foram exatamentepor terem sido de alguma forma oprimidos, o pega6osos lodo ple+eu 2ue tudo envolve,invade e a+ala

    H#%, ! '")'4 *#%"(% dominado, o pe2ueno, o ple+eu, " um ser aviltado *le no tem palavra nem se guiapela verdade Kive de estratagemas, 2uase todos +em longe do 2ue poderiam serconsiderados como dignos ou honrados ?sto, por sua ve&, ira fa&er com 2ue 1iet&schedenuncie a exist7ncia de um universo externo ao indiv0duo superior, composto, acima dele,por um poderosos discurso moral, religioso e metaf0sico, repressor, e, a+aixo dele, peloressentimento do re+anho, 2ue fa& com 2ue as puls/es naturais, fonte das suascaracter0sticas maiores 2ue alimentam o seu talento e o seu desafio, impossi+ilitadas devirem a se reali&ar, voltem-se para o seu interior, corroendo-o, aviltando-o, sufocando-o *o 2ue di& essa acusa#o opressora 9ue tudo a2uilo 2ue percorre no 0ntimo do humano,2ue seus instintos e fantasias outras 2ue lhe so sugeridas nos seus sonhos, so em geralpecaminosos, indignos, profanadores de uma pure&a 2ue ele deveria preservar para podersalvar-se 9ue, di&em-lhe mais, a +usca do ser +em dotado pela afirma#o pessoal e pelo

    exerc0cio legitimo das suas 2ualidades no passa de orgulho, de hN+ris, de am+i#odesmedida resultado disso, dessa crueldade para com a prpria esp"cie, " 2ue o

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    homem, psicologicamente mutilado, 5torna-se um animal doente5 V um ser eternamenteatormentado por ter 2ue viver com uma carnalidade e sensualidade latente, exigindocoisas 2ue ele sempre ter8 2ue negar, ocultar, contornar e sepultar, o+rigando-o a raste6arfrente a deuses 2ue o 6ulgam culpado

    O& "%'*#%& *' $)*'

    3e certo modo, ainda 2ue por outro Tngulo ideolgico, 1iet&sche segue a tarefa da?lustra#o no seu com+ate ao sacerdote 1o se trata somente de algu"m 2ue vive daexplora#o da supersti#o e da crendice dos simples, 2ue 2uer manter o povo naignorTncia para usufruir de prestigio e poder 2ue a posi#o clerical lhe confere homemde preto para 1iet&sche " algo ainda pior V um inimigo da vida, ele persegue com denodotoda e 2ual2uer forma de expresso de autenticidade, de criatividade, de sensualidade,denunciando-a como fruto do orgulho e da arrogTncia, tratando-as como uma perigosamanifesta#o do pecado V, pois, toda uma cultura religiosa milenar, herdada dosmandamentos 6udaicos e do clericalismo romano, estruturada nos mandamentos do51o5' 51o invocar8s no rou+ar8sno matar8s, etc(, 2ue deve ser denunciada emfavor de uma doutrina da afirma#o, 2ue enfati&e um altissonante 5!im5

    *le, o sacerdote, a pretexto de salvar a alma, " o respons8vel pela doen#a do homem%om a morte de 3eus, a exist7ncia do +em e do mal se volatili&ou, a pr"dica religiosa notem mais nenhum sentido Lant7-la apenas prolonga o mal estar entre os humanosAconselhar, ainda assim a todos, a mansido, a humildade, a tolerTncia e a caridade, savilta ainda mais as gentes, al"m de envergonhar os homens de for#a e talento3esconsiderando serem eles os portadores de uma exu+erTncia animal, ini+em ou mutilama mais aut7ntica potencialidade criativa 2ue possuem

    %onclama assim 2ue Wesus %risto, martiri&ado na cru&, 0cone da dor e do sofrimento, se6asucedido por 3ion0sio, o deus pago da alegria, do del0rio m0stico, 2ue vem para cele+rar erego&i6ar-se com a vida, e a coroa de espinhos 2ue apresilhava a testa sangrada do galileu,su+stitu0da fosse pelos 6ocosos chifres do deus-+ode dos velhos pagos 9ue, enfim, oinspirador da castidade, da a+stin7ncia e do 6e6um, desse lugar ao estimulador do frenesi,da sensualidade e do exagero *m termos freudianos trata-se da li+erta#o do id e do egodas imposi#/es do superego

    'ion$sio, o deus da folgan5a

    A /#&)1# *' 7)4#)' *% N)%(6&+5%

    Xa+ermas, expondo o confronto 2ue esta+eleceu-se na Alemanha do s"culo >?> entre asduas correntes opostas emergidas am+as da filosofia de Xegel, os hegelianos de es2uerda,ou 6ovens hegelianos 'Larx, Iauer, Xess, Ruge, etc( e os de direita 'Rosenkran&, Xinrichse ppenheim(, viu em 1iet&sche um repdio e uma supera#o delas .ara os hegelianos dees2uerda tratava-se de erigir uma nova sociedade 2ue definitivamente ultrapassassea2uela em 2ue viviam, para os de direita, ao contr8rio, apontavam a religio e o estado,

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    como os nicos capa&es de voltar a aglutinar uma sociedade civil amea#ada de dissolu#o.erfilou-se deste modo a2uilo 2ue Loses Xesse chamou de 5o partido do movimento5 e o5partido da perman7ncia5

    Drente a esse verdadeiro ca+o-de-guerra entre a revolu#o e o conservadorismo, 2uedominou o cen8rio alemo da "poca de Iismarck, 1iet&sche, re6eitando o radicalismo

    revolucion8rio +em como o imo+ilismo reacion8rio, dedicou-se a um tra+alho de sapa paraa+alar os fundamentos deles, negando-se a aceitar fosse o governo da massas como oregime dos reis A s0ntese disso foi o super-homem 2ue, simultaneamente, afastava-se dasmultid/es e dos socialistas e desconsiderava os sacerdotes e os monarcas

    P'()*# *# #$)%"(# N)%(6&+5% % # "%#-#'"()

    P'()*# *' /%'"8"+)'

    Wovens hegelianos 2uepretendiam converter afilosofia numa pr8tica capa&de condu&ir a sociedade aosocialismo e ao igualitarismo

    p/e-se a am+os ,reservando ao super-homem um papel dedupla supera#o, darevolu#o e da rea#o

    Xegelianos de direita, 2ue apenasdese6am manter a dinTmica dasociedade +urguesa, desde 2ue elano corroesse os primadossagrados da religio e do estado

    Iegel, o paradigma da filosofiaalem+ moderna

    O& +)"+# (%#& +'/)(')& *% N)%(6&+5%

    T%# S)")7)+'*#

    1iilismo'1ihilismus(

    *xpresso polivalente Lovimento intelectual e pol0tico do s"culo >?>, etam+"m expresso usada por )urgueniev para definir a descren#a nastradi#/es religiosas e institucionais at" ento vigentes s crentes do1ada 'do latim nihil( talve& fosse apropriado di&er, apesar de paradoxalou contraditrio Assim classificaram-se os militantes do ate0smo, osanar2uistas, os populistas russos, e todos a2ueles 2ue se empenhavamem desafiar as normas de comportamento e a duvidar ostensivamenteda religio e da exist7ncia de 3eus Hma das marcas da modernidade

    )ransvalora#o'Hmvertung aller$erte(

    *xig7ncia da filosofia niet&schiana na recupera#o dos valores no+resperdidos, fa&er do 5mau5 voltar a ser 5+om5, elogiar o orgulho, avaidade, a so+er+a e a arrogTncia humana, e at" o dese6o de vingan#a,despre&ar o 2ue " vil, o 2ue " fraco, o 2ue " humilde, o 2ue recende 4ral" ?nverter totalmente os valores "ticos do cristianismo, rea+ilitandoos antigos valores esgotados da cultura 3e certa forma " arestaura#o do ethos pago 2ue girava ao redor do heri e doguerreiro intr"pido

    !uper-homem'S+ermensch(

    )eoricamente a2uele 2ue ir8 superar 'S+er( o homem Hm novo ser2ue, tra&endo as novas t8+uas, assumir8 na totalidade aresponsa+ilidade de viver num mundo ausente de 3eus %aracteri&a-sepor sua determina#o a+soluta, pela confian#a em sua intui#o, peloseu car8ter in2ue+rant8vel, por uma solido ativa, cora6osa, e sem

    concess/es no tocante a sua meta '$erke( *le " um criador, um duro,2ue no se deixa tomar pela compaixo, dele " o devir

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    Kontade depot7ncia '$ille &urLacht(

    )rata-se da pulso permanente pela vida e pelo dom0nio Re2uer amo+ili&a#o completa das energias, f0sicas e mentais, paraincessantemente condu&ir as coisas 4s ltimas conse2P7ncias $ille &urLacht " o dom0nio e a supera#o de si, das de+ilidades, e, tam+"mdom0nio so+re os outros e so+re a nature&a A vontade li+erta por2ue "criadora

    *terno retorno'e=ige $iderkunft(

    Repto niet&scheano 4 id"ia do progresso dos evolucionistas; 4 divisoem tr7s etapas da histria dos positivistas; 4 cren#a do cristianismo nasalva#o da alma, nascida em pecado e redimida pela gra#a V umaretomada da concep#o c0clica 'cikls( dos pitagricos e dos esticos2ue viam um eterno perecer e renascer da nature&a e da histria )udo2ue houve exaurido o Jrande Ano, voltar8 a ocorrer, intermediado pelofogo e pela destrui#o peridica

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    N)%(6&+5%, ' +#"&(!1# *# Z''(!&('

    A !% Z''(!&(' /#+!'

    Nietzsche, profetaniilista

    "er ensch ist ein Seil, *e@nA)t zBischen ier und bermensch # ein Seil Aber eninemb*runde. $in *e)Dhrliches EinAber, ein *e)Dherliches u)#dem#-e*e, ein *e)DhrlichesFurAcblic@en, ein *e)Drliches Schaudern und Stehenbleiben."

    "G homem corda distendida entre o animal e o suer#homem8 uma corda sobre umabismo travessia eri*osa, temerrio caminhar, eri*osos olhar ara trs, eri*osotremer e arar."- 1iet&sche 5Assim falou aratustra5, @F

    Leditando por de& anos numa caverna no alto de uma montanha, aratustra, apenas nacompanhia dos seus animais prediletos, a 8guia e a serpente, determinou-se +aixar 4plan0cie 3ecidira-se depois da2ueles anos de rigor eremita vir comunicar aos homens achegada de um novo messias, o S+ermensch - o super-homem, o 2ue dominar8 o futuroAssim feito, aratustra enumera a 2uem sua mensagem se dirige:

    O& %4%)(#& /# Z''(!&('

    - os 2ue vivem intensamente, 2ue so indiferentes aos perigos '=elche nicht &u le+em=issen( por2ue so capa&es de atravessar de um lado para outro;

    - os grandes desdenhosos 'der grossen Kerachtenden(, por2ue esto sempre tentandochegar a outra margem;

    - aos 2ue se sacrificam pela terra 'die sich der *rde opfen(;

    - o curioso, o 2ue 2uer conhecer '=elcher erkennen =ill(;

    - 2uem tra+alha e reali&a inven#/es engenhosas '=elcher ar+eiter und erfinder(;

    - o 2ue pre&a a sua prpria virtude 'sein )ugen lie+t(;

    - a2uele 2ue distri+ui o seu espirito entre os demais 'gan& der Jeist seiner )ugend sein=ill(;

    - o 2ue dese6a viver e deixar viver '=illen noch le+en und nicht mehr le+en(;

    - 2uem no se6a exageradamente virtuosos, nem excessivamente moralista '=elcher nicht&u viele )ugenden ha+en =ill(;

    - a2uele 2ue no fica a espera de agradecimentos ou recompensas 'der nicht 3ank ha+en=ill(;

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    - o 2ue no trapaceia 'ein falscher !pieler(;

    - o 2ue se orgulha dos seus feitos '=elcher goldne $orte seine )aten voraus=irft(;

    - o com+atente do presente 'den Jegen=_rtigen &ugrunde gehen(;

    - o 2ue desafia e fustiga o seu 3eus '=elcher seinen Jott &Pchtig(;- o de alma profunda 'dessen !eele tief(;

    - o de alma tras+ordante, 2ue es2uece de si mesmo 'sich sel+er vergisst(;

    - 2uem tem o espirito e o cora#o livres 'der freien Jeistes und freie Xer&en ist(;

    - os vaticinadores, os 2ue prenunciam o relTmpago prximo 'dass der Ilit& kommt, undgehn als KerkPndiger &ugrunde(, um relTmpago 2ue se chama super-homem'S+ermensch(

    P#!% Z''(!&('

    Zaratustra, fundador do zoroastrismo

    aratustra ou oroastro, fundador da religio persa, foi um profeta ariano 2ue por volta deUBB a% pregou a exist7ncia do Iem e do Lal como entidades distintas e totalmenteantagMnicas 'at" ento a cren#a geral era de 2ue o mesmo deus era capa& de uma coisa,como a outra( V o autor dos J_th_s, cinco hinos 2ue formam a mais antiga e sagradaparte do Avesta, o livro santo do &oroastrismo 1iet&sche tomou conhecimento deleprovavelmente por interm"dio da o+ra de um erudito da "poca, inspirando-se entona2uela fant8stica personalidade

    motivo de um ateu assumido como 1iet&sche ter lan#ado mo de um carism8tico l0derreligioso do passado, fa&endo-o ve0culo da sua mensagem, deve-se a 2ue o pensadoralemo racionalmente e intelectualmente deixara de ser cristo, mas psicologicamente eemocionalmente ainda seguiu tendo a mente de um crente Afinal, 1iet&sche era filho de

    um pastor luterano 2ue igualmente explica o tom de sermo da sua prosa, carregada depar8+olas, sim+olismos e imagens litrgicas e locais sagrados, presentes na maioria doscap0tulos do 5Assim falou aratustra5 A escolha tam+"m tratou-se de uma provoca#o,pois o aratustra ficcional dele retornou a cena exatamente para desfa&er o 2ue o realprofeta ariano fi&era h8 mais de dois mil e 2uinhentos anos passados, isto ", instituir aid"ia do Iem e do Lal

    O A"()+)&(#

    aratustra " pois um Anticristo *le no veio do deserto como Wesus %risto, mas simdesceu do alto da montanha, do fundo da caverna, como viu .lato os filsofos emergiremem +usca do sol, em +usca da vida 1o se dirige aos po+res, ao humildes, aos doentes,aos perdidos e aos fracos, muito menos lhes promete o Reino dos %"us !eu p+lico "

    outro V o dos vencedores, dos afirmadores da vida, os 2ue 2uerem viver o a2ui e o agora,tendo a )erra como seu nico reino Arenga aos 2ue despre&am 3esceu 4 plan0cie paraanular o cristianismo

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    A sua meta " atingir uma parte especifica da humanidade, os homens superiores 'hherenLenschen(, a 2uem %risto ignorou aratustra " sim um %risto da elite, pois 1iet&scheescreveu o evangelho do super-homem - o 2ue anuncia um novo tempo, uma era em 2ue3eus morreu 'dass Jott tot ist(, na 2ual o Xomem se apressa para assumir o poder natotalidade, na 2ual ter8 2ue arcar com as conse2P7ncias morais e "ticas de um mundo

    sem 3eus.ara tanto, ele, o super-homem, operar8 a transvalora#o )udo o 2ue o cristianismoestigmati&ara - o orgulho, o ego0smo, a ri2ue&a, a vontade de poder, a sensualidade e ano+re&a de esp0rito - dever8 voltar a modelar e inspirar a humanidade A resigna#o, adocilidade e o servilismo, por sua volta, sero sucedidos pela a#o, pela inconformidade epelo dom0nio - A lamria do resignado, ceder8 lugar ao grito do forte

    s prprios s0m+olos 2ue cercam aratustra, a 8guia e a serpente 'meinen Adler undmeine !chlange(, antigas met8foras &oolgicas do orgulho, da arrogTncia e da astcia,contrap/em-se 4s do cordeiro e do peixe - os favoritos de %risto - 0cones da mansido, da2uietude e da simplicidade !e %risto pregou o !ermo da Lontanha para os po+res deespirito, aratustra lan#a sua isca para al#ar os destemidos seu " um *vangelho dosDortes !ua mensagem no " para todos, " para poucos

    V)$% /%)#&'%"(%"'ch seht nach oben, Benn ihr nach $rhebun* verlan*t. Hnd ich sehe hinab, Beil icherhoben bin. -er von euch @ann zu*leich lachen und erhoben seinI -er au) den hJchstenKer*en stei*t, der lacht Aber alle rauer#Siele und rauer#$rnste."

    "Glhais ara o alto quando asirais elevar#vos. $u, como j encontro#me acima, olho arabai>oL Muem entre voc6s ode estar acima e ao mesmo temo *ar*alharI quele queescalou o mais elevado dos montes, ri#se de todas as tristezas encenadas da vida."-aratustra - da leitura e da escrita

    *n2uanto aratustra pregava na 8gora, a aten#o da multido desviou-se para o alto ondeestava um e2uili+rista numa fr8gil corda Hm outro, um rival, afo+ando-se, terminou por

    precipitar-se no cho, estatelando-se agoni&ante +em perto do profeta desastradohomem, no seu estertor, acredita 2ue agora o dia+o o arrastar8 para o inferno%onfortando-o, aratustra di&-lhe: 5Amigo - palavra de honra 2ue tudo isso no existe, noh8 dia+o nem inferno !ua alma ainda h8 de morrer mais r8pido do 2ue seu corpo: nadatema5 9uando o trape&ista ca0do ainda se lamenta pela vida 2ue levou 5rece+endopancadas e passando fome5, o profeta consolou-o respondendo: 51o, voc7 fe& do perigosua profisso, coisa 2ue no " para ser despre&ada5' du hast aus der Jefahr deinen Ierufgemacht( 3ito isso ele mesmo trata de sepult8-lo com suas prprias mos

    A cena do profeta tendo em seus +ra#os um morto, " a 5piet85 de 1iet&sche *ste " omodelo de homem do profeta, o 2ue compete, o cora6osos 2ue arrisca, o 2ue diariamentevive na corda +am+a, e 2ue morre por isso mesmo, por levar uma vida perigosa 'eingef_hrliches le+en(

    O& +#/'"5%)#& *% Z''(!&('

    Zaratustra =uer o le+o tela de 'elacroi*"

    %omo o povo 'Kolke( no lhe deu ouvidos, aratustra, resmungando 52ue me interessam apra#a p+lica, o populacho e as orelhas cumpridas do populacho5, concluiu ento 2ue

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    precisava de companheiros 'Jef_hrten(: os 52ue dese6am seguir a si mesmos, para onde2uer 2ue eu v85 Afinal ele viera 5para separar muitos do re+anho5 9ue tipo de companhia2uer o profeta Wustamente os 2ue 5os +ons e 6ustos5 mais odeiam - o 2ue lhes despeda#aos valores, o infrator, o destruidor - por2ue " esse o criador

    1o so os negligentes nem os retardados 2ue o seguiro, mas sim os inventivos, os 2ue

    colhem e se divertem, os solit8rios e todos a2ueles unidos pela solido, interessados emescutar coisas inauditas - a marcha do profeta ser8 a marcha deles Assim " 2ue suaora#o dirige-se para os 2ue esto atacados pela 5Jrande 18usea5'der grossen *kel(, ot"dio de 2uem vive numa "poca em 2ue o antigo deus morreu, mas 2ue no existe aindanenhum outro novo deus aratustra veio para afastar deles a som+ra dos deuses antigos2ue ainda escondem-se atr8s das nuvens do presente Keio para mostrar-lhes a verdadeiraface da nature&a, chegou par torn8-la humana, para desmagi&8-la

    2ue irritava so+remodo o profeta era o ltimo homem 'let&ter Lensch(, um teimoso,5ina+al8vel como um pulga5, 2ue, segundo Xeidegger, no 2ueria 5se desfa&er da suadepreci8vel maneira de ser5 Ao insistir em viver de acordo com os valores desaparecidos,em prender-se a um 0dolo 2ue 68 se fora, esse ca+e#a-dura continuava a fre2Pentar osantu8rio do deus ca0do em ru0nas Ali, nada mais achando nele, o estulto agachava-se,arrastava-se no p, em meio aos cacos, atr8s das co+ras e dos sapos para ador8-los

    A ('"&7#'1# *# 5#%

    "-as *ross ist am enschen, das ist, dass er eine KrAc@e und @ein FBec@ ist8 Bas *eliebtBerden @ann am enschen , das ist, dass er ein ber*an* und ein Hnter*an* ist"

    " *randeza do homem ser ele uma onte, e no uma meta o que se ode amar nohomem ser ele uma transio e um ocaso."- D1iet&sche - Assim falou aratustra, ?,G

    1um primeiro momento da histria espiritual do homem, pelo menos o de esp0rito sadio,ele no passa de um camelo, 2ue, como o desgra#ado animal, apenas a6oelha-se eagradece 2uando lhe do uma +oa carga %arrega pelo deserto as culpas por ter nascido1a sua humilde corcova avoluma-se as penas do mundo, so+recarregado pelas regrasmorais e pelas imposi#/es 2ue lhe fa&em, 2ue lhe di&em - tu deves '3u-sollst( .or"m, nodeserto, isolado, d8-se uma transforma#o camelo vira um leo V o espirito 2ue,li+erto, 2uer ser 5o senhor do seu prprio deserto5 Agora " ele 2uem, rugindo desafiante,responde - eu 2uero '?ch =ill( !e +em 2ue o leo no consiga ainda criar os novosvalores, ele pelo menos, assentado na sua for#a e vigor, sacode para fora a canga 2ueafligia o po+re camelo 38-se ento a derradeira transforma#o - o leo vira crian#a !impor2ue a crian#a " es2uecimento, " um novo come#o, " o em+rio do super-homem 2ue,ao crescer e desenvolver-se, 52uer conseguir o seu mundo5

    camelo '

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    O camelo, s$m!olo do conformismo e daresigna5+o

    O& )"))#& *# /#7%('

    aratustra " um cele+rante da carnalidade, um pregador da vida vivida, da sensualidade,do pra&er de dominar, ou do simples go&o em existir V o grito do instinto sufocado .orconse2P7ncia, seus inimigos so os 2ue detestam a vida, os 5acusadores da vida5'Ankl_ger des e+ens(, os 2ue reprimem e condenam a volpia, os 2ue di&em 2ue aspuls/es humanas so artes do demMnio, os 2ue pregam o utro Lundo, como ossacerdotes e os moralistas, 2ue insistem em fa&er com 2ue o homem envergonhe-se doseu prprio corpo e das suas sensa#/es, chamando-as inumanas, imundas e pecadoras

    profeta 2uer o diferente, o 2ue se distingue, o 2ue se vangloria, o altivo com 6ustara&o, o indiv0duo so+erano e viril, no as massas 2ue 5tra&em mau olhado 4 )erra5 !uaspalavras no devem ser 5apanhadas por patas de carneiros5 ogo todos os democratas, ospregadores da igualdade e correlatos, so seus advers8rios, os odiados inimigos .ois omundo 5gira ao redor dos inventores de valores novos5 'die *rfinder von neuen $ertendreht sich die $elt(, da .ersonalidade Lagn0fica e no do homem comum, 2ue vivediscursando - 5somos todos iguais perante 3eus 5 ra, como deus morreu o homemsuperior ressuscitou da sua sepultura V para ele 2ue a lu& do futuro +rilha

    W (!*# ! &. !"*#1o h8 para o profeta dois mundos, o de c8 e o de l8, nem corpo separado da alma, nem+em nem mal )udo " uma coisa s %arne " espirito, a terra tam+"m " c"u, o maltam+"m " o +em homem imaginou haver um al"m por2ue ele sonha, e no seu sonho -5vapor colorido diante dos olhos5 - lhe aparecem fantasmas dos mortos e das coisaspassadas, por isso ele, iludido, conce+eu um utro Lundo ?ngrato, ao inv"s de exultarcom a exist7ncia rece+ida, percorre os c"us com os olhos supersticiosos atr8s de umaestrela, acreditando ir parar ao seu lado no futuro

    !eguidor de Xer8clito - 2ue via o %osmo um produto do agn, da luta -, aratustraassegurava 2ue toda a +atalha a ser travada " uma +em-vinda guerra terrestre na 2ual osuper-homem 'expurgando ou afastando de si os sentimentos caritativos e piedosos,

    afirmando-se so+re si mesmo com os valores 2ue ele mesmo criou( se lan#ar8 nacon2uista do devir Las, adverte, antes do super-homem atingir esse futuro, haver8 ocrescimento do deserto - uma grande amea#a ao o8sis onde se homi&iava o homemsuperior

    O 7)45# *% Z''(!&('

    1o final do canto de aratustra '.arte ?K - o sinal(, depois do profeta ter dispensado osgrandes dignat8rios 'rei, imperador e o papa(, no identificando neles os sinais do super-homem, ele pro6eta a2uele 2ue advir8 A sua no+re&a no " resultado de t0tulos, nem desangue S+ermensch " o 2ue ir8 superar o homem e, para tanto, 68 expurgou de si todaa fra2ue&a e vilania to comum aos humanos *le no tem pe6o em 2uerer vingar-se, nemse envergonha em ter dio, sa+e 2ue se alme6a a alegria tam+"m ter8 2ue suportar osofrimento Las nem os homens superiores 2ue o profeta encontrou pelo caminho osatisfa&em

    5.ois +em5, disse ele, 5estes homens superiores adormecem en2uanto eu estou desperto1o so os meus verdadeiros companheiros5 via6ante 'der $anderer( aps terpercorrido uma longa peregrina#o, na 2ual esgrimiu-se em mil encontros e outros tantospercal#os, recolheu-se de volta ao seu ermit"rio !entado na pedra em frente a gruta elepede 2ue cantem 5utra Ke&5, por2ue ele afirmava o *terno Retorno das coisas )udo o2ue aconteceu nos remotos tempos voltaria a ocorrer - a histria " um circulo no umaascenso .alavras como honra e no+re&a certamente voltaro a relu&ir

    A 5#' *% Z''(!&('

    %om seus ca+elos em+ran2uecidos eri#ados pelos vMos dos p8ssaros, o s8+io sentiu 2ue oleo estendido aos seus p"s recostara a ca+e#orra dourada no seu colo, lam+endo asl8grimas 2ue escorriam pelas suas mos vidente estava exausto Afinal ele era um

    montanhista 'ein Iergsteiger( 2ue detestava as plan0cies Leditando, aratustra foitomado de s+ita emo#o !entiu-se maduro por2ue 2ue soara a sua hora, a sua alvorada

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    - o Jrande Leio-3ia chegara anncio, o sinal de 2ue o super-homem estava por vir fe&com 2ue ele, l"pido, aspirando somente a sua o+ra, deixasse a sua gruta Assim como o

    alvorecer sai por detr8s das montanhas escuras, ele saiu para ir rece+er o seu filho

    3ies ist mein Lorgen, mein )ag he+t an: +erauf nun, +erauf, du grosser Littag - Alsospracht arathustra, und verliess seine Xhle, glPhen und stark, =ie eine Lorgensonne,

    die aus dunklen Iergen

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    N)%(6&+5% % # A&+%('

    1a ampl0ssima cr0tica 2ue 1iet&sche desenvolveu contra os chamados valores ocidentais,nem a vida do asceta, do homem santo, to admirada e enaltecida pelo cristianismo,escapou do arguto e contundente olhar do filsofo A2ueles a 2uem a maioria das pessoasidentificava como representantes da mais pura e impressionante das atitudes - o completo

    e radical repdio aos pra&eres da vida - , apresentavam-se aos olhos dele, de 1iet&sche,como um exemplo de uma forma extremada da orgulhosa vontade de poder

    Nietzsche, a revolta contra a flagela5+o da carne

    A !%' #+'&)#"'4 *# '&+%('

    1iet&sche disse no seu livro Eumano, demasiado humano, de @U,2ue, para tornarem suas vidas mais suport8veis e tam+"m maisinteressantes, os homens santos ou os ascetas, tratavam de travar5guerras ocasionais5 contra o 2ue chamou de seus 5inimigosinternos5 Ao tomar consci7ncia de 2ue eles tam+"m no estavamlivres da vaidade, 2ue o dese6o de glria no lhes era estranho, e 2ue,inclusive, at" eles eram acometidos por apetites sensuais, explicava

    2ue a exist7ncia do asceta resumia-se numa cont0nua +atalha onde seenfrentam o +em e o mal 1uma desastrada guerra travada entre ocorpo e a mente .or desconhecerem ou reprimirem os pra&eres dacarne, 6amais satisfa&endo as exig7ncias do sexo, os anacoretaspassam a ser permanentemente atormentados por sonhos delirantes,por fantasias erticas as mais esca+rosas e dissolutas s po+ressantos, em sua volpia pelo mart0rio, desconheciam de 2ue era6ustamente a aus7ncia de sexo 2ue fa&ia com 2ue fossem assoladospor tenta#/es e pesadelos de toda ordem

    A 3 +#"&+)8"+)'

    .ara exaltar ainda mais a vitria deles so+re a sensualidade

    'a representante mais ativa do demMnio(, e paraimpressionar os no-santos, os ermit/es, para valori&ar-se,difamavam-na e a estigmati&avam, associando-a, aexcita#o, ao pecado e ao mal Ao espalharem 2ue o homemera gerado em pecado, fi&eram com 2ue 2ual2uer serhumano, desde o seu nascimento, nos princ0pios mesmo dasua vida, se sentisse marcado pelo sinal da transgresso,por2ue at" o ato 2ue os gerava, con+io carnal, foidenunciado por eles como algo repugnante V de se imaginar,pois, o enorme estrago 2ue tal doutrina, assumida naplenitude por !anto Agostinho, no provocou nas fam0liascrists, deixando em cada crente uma sensa#o ininterrupta de m8 consci7ncia *stigma2ue revelou-se em sua plenitude no verso de %alderon de la Iarca: 5a maior cula dohomem ter nascido5

    E/*#+4%&, ' (#4%"+)' *# &3)# /'1#

    O santo, a volJpia pelomart$rio

    A dura vida da ascese

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    !e +em 2ue " comum 4s religi/es pessimistas condenarem o ato da procria#o como umacoisa ruim, 1iet&sche recorda 2ue *mp"docles, o grande filsofo de Agrigento 'GCG-GGGa%(, um s0m+olo da tolerTncia sexual dos pagos,