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Este artigo teve como objetivo caracterizar o perfil dosalunos do 8º semestre de graduação em Enfermagem eidentificar os fatores que facilitam e dificultam, para osestudantes, a elaboração do Trabalho de Conclusão deCurso (TCC), ou monografia. Tratou-se de uma pesquisaexploratória realizada em uma instituição de ensinoprivada na cidade de São Paulo. A amostra foiconstituída de 76 alunos, sendo 83% do sexo feminino,52,6% solteiros e 63,1% auxiliares de enfermagem. Osentrevistados relataram que suas maiores dificuldadesforam tempo, custos e procura de um orientador, e o quemais facilitou foi a oportunidade de aprender a realizarpesquisa, o fato de possuir um orientador e o poder deescolha do tema.

Palavras-chave: Enfermagem. Monografia. Pesquisa.

RESUMO ABSTRACT

The aim of this article was to characterize the profile of an8th semester group of undergraduate Nursing studentsand identify the factors that make the learning easy ordifficult at the moment of elaborating their UndergraduateFinal Year Project (UFYP) or monograph. It was anexploratory research developed in a private educationinstitution in the city of São Paulo. The sample wasconstituted by 76 students – 83% of female, 52,6% of singlepersons and 63,1% of nursing auxiliaries. The interviewedones described time, costs, the search for a mentor and therequirement of carrying through the UFYP for beingapproved in the course as their major difficulties; the mostfacilitating factors were the opportunity of learning howto develop a research, to be accompanied by a mentor andthe power of choice on the subject.

Key words: Monograph. Nursing. Research.

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acilidades e dificuldades naelaboração de trabalhos

de conclusão de curso

ROSADÉLIA MALHEIROS CARBONI

Enfermeira. Mestre em Educação – Mackenzie;Professora do curso de Enfermagem – UNINOVE.

[email protected]

VALNICE DE OLIVEIRA NOGUEIRA

Enfermeira. Mestre em Enfermagem – UNIFESP;Professora do curso de Enfermagem – UNINOVE.

[email protected]

Recebido em: 14 maio 2004Aprovado em: 17 jun. 2004

FUndergraduate final year project: facilities and difficulties in its elaboration

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IntroduçãoA enfermagem é uma profissão destinada

ao ‘cuidar’ e, para que o exercício das atividadesprofissionais tenha qualidade, ela necessita decompetência, que se refere à tríade constituída deconhecimento, habilidades psicomotoras eatitudes. Segundo Zacharias (2004, p. 1), “ascompetências pressupõem operações mentais,capacidades para usar as habilidades, empregode atitudes, adequadas à realização de tarefas econhecimentos.”

De acordo com a trajetória histórica daEnfermagem, percebe-se que se enfatizava,prioritariamente, o desenvolvimento dashabilidades, ou seja, o enfermeiro era reconhecidopela destreza manual decorrente de sua práticaprofissional. Sua formação estava diretamenteatrelada a uma classe elitizada, vinculada àsubmissão do profissional médico e à adoção do‘taylorismo’, características marcantes nodesempenho de suas funções (SANTOS, 2003). Asubmissão, a obediência e o autodesprendimentoforam características consideradasimprescindíveis para a atuação do enfermeiro,conforme o “modelo nightingaleano” (GEOVANINI

et al., 1995), que perdura até hoje.Em contrapartida às posturas

desempenhadas pelos enfermeiros em meadosdo século XX, Alcântara (1963) já comentava anecessidade de pesquisa em Enfermagem, dequalificação e valorização do enfermeiro, além daparticipação efetiva em todo e qualquer processode mudança, seja no campo social, econômico ouadministrativo. A partir do fim dos anos 70 einício dos 80, evidenciaram-se as reformaseducacionais na graduação e na pós-graduaçãoem Enfermagem, valorizando cada vez mais acapacidade cognitiva desse profissional. Tal fatosofreu influência direta das transformações naárea da saúde – sugeridas na Conferência deAlma Ata e na 8ª Conferência Nacional de Saúde– e na esfera política com a criação do Sistema

Único de Saúde e a Reforma Sanitária.No que concerne ao âmbito educacional, o

ensino de Enfermagem em nível superior passapor uma série de reformulações sugeridas pelaAssociação Brasileira de Enfermagem (ABEn), epelas Diretrizes Curriculares do ConselhoNacional de Educação, sustentadas legalmentena Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996.Segundo Brasil (1996), o aluno deveráadquirir/desenvolver competências que farãodele um profissional capacitado para atender àscrescentes exigências do mercado de trabalho.

A Resolução n. 03/2001 do ConselhoNacional de Educação define que o profissionalenfermeiro deve ser capaz de conhecer e intervirnos problemas/situações de saúde-doença maisprevalentes no perfil epidemiológico nacional,com ênfase em sua região de atuação,identificando as dimensões biopsicosociais dosseus determinantes (BRASIL, 2001). Isso quer dizerque esse profissional necessita de conhecimentocientífico para aplicar em sua realidade prática,documentando-a para expandir idéias ecaracterizar sua práxis como ciência.

Nesse contexto, o aluno de Enfermagempossui uma série de exigências que perduram atéo final da graduação: atividadesextracurriculares, cumprimento de disciplinasteóricas e práticas – experiências vivenciadas aolongo dos quatro anos de formação acadêmica.Durante a graduação, além de o discentedesenvolver estudos dirigidos, seminários,avaliações formais teóricas e práticas, deverárealizar um Trabalho de Conclusão de Curso(TCC), considerado aqui como monografia.Nessa construção, ele será estimulado a optarpelo estudo de um determinado tema, e a definirum método adequado e os sujeitos da pesquisa. Éimportante ressaltar que esse estudante, futuroenfermeiro, deve adotar uma prática embasadacientificamente, o que se obtém por meio deestudos e pesquisas. O intuito da disciplina é

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possibilitar a oportunidade de vivenciar a leitura,entrar em contato com estudos realizados,observar aspectos éticos e sua aplicação naspesquisas com seres humanos e analisarresultados e sua aplicabilidade na prática, assimcomo desenvolver a noção de aplicabilidade deum método científico. Heyden; Resck; Gradim(2003) entendem que o TCC, além de introduzir oaluno na pesquisa utilizando recursosmetodológicos, lhe permitirá aprender a resolverproblemas e o incentivará a prosseguir suaformação acadêmica.

Um trabalho de investigação científica nãotermina com sua elaboração, nem com adivulgação dos resultados à comunidadecientífica e demais profissionais interessados,para que sejam apreciados, analisados ecriticados; ao contrário, esse processoretroalimenta, com dados as reformulações doconhecimento (LOPES, 1993). Nesse percurso decomposição do material, faz-se presente umorientador para cada aluno e um professorcomum à sala de aula que abordarão desde osprimeiros conceitos, na fase inicial do projeto depesquisa, até a conclusão do TCC.

Percebe-se que, embora existam fatores quefacilitam a elaboração do trabalho, como umprofessor que o acompanha em sala de auladurante um ano e um orientador, outros parecemdificultá-la, como a ansiedade, a complexidadedo processo de construção, assim como ocumprimento de normas. Quais são, então,segundo os alunos de Enfermagem do 8ºsemestre de um centro universitário da redeprivada, os fatores ‘facilitadores’ e‘dificultadores’ do desenvolvimento do TCC?

Para responder a essas indagações, oobjetivo deste estudo foi caracterizar o perfil dosgraduandos do 8º semestre do curso deEnfermagem de uma escola privada e identificaros fatores que facilitam e dificultam a elaboraçãodo TCC.

Material e métodoO tipo de pesquisa foi a ‘exploratória de

campo’, que, segundo Gil (1996), objetivaproporcionar maior familiaridade com oproblema, visando a torná-lo mais explícito ou aconstruir hipóteses, e envolve entrevista compessoas que tiveram experiências práticas com oproblema pesquisado. A pesquisa foi realizadaem maio de 2003 em uma instituição de ensinosuperior da rede privada da cidade de São Paulo.Foram autorizadas as entrevistas por meio desolicitação formal e agendadas as datas para acoleta dos dados.

A amostra foi constituída por 76 (65,9%)graduandos do 8º semestre do curso deEnfermagem do período vespertino. Excluíram-se desta pesquisa os estudantes que estavamausentes e aqueles que não desejaram participar.O instrumento de coleta de dados foi compostode cinco perguntas abordando o perfil dosparticipantes e os fatores facilitadores edificultadores da elaboração do TCC. O objetivodo estudo, a participação voluntária e a garantiade anonimato foram informados pelaspesquisadoras; aqueles que aceitaram assinaramum termo de consentimento livre e esclarecido,seguindo os preceitos éticos pautados naResolução 196/96 do Conselho Nacional deSaúde (CNS, 1996). Os dados foram apresentadossob a forma de percentual e número absoluto(Tabelas).

Resultado e discussãoEm relação à caracterização da amostra, 63

(83%) eram do sexo feminino e 13 (17%) do sexomasculino, explicitando, mais uma vez, a maioriafeminina no curso de Enfermagem. SegundoSantos et al. (2002), a incorporação da mulher àspráticas do cuidar se mescla com a própriahistória da humanidade, evidencia-se com oadvento do cristianismo e, nos dias atuais aindarepresenta maior contingente.

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D’Innocenzo (1993) comenta que a maiorinserção de homens na profissão poderiarepresentar uma mudança em questões salariais,nas condições de trabalho e maior valorizaçãoprofissional. Segundo Reis (2002), apesar de aenfermagem ser uma profissão escolhidaprincipalmente por mulheres, cada vez mais oshomens se dedicam a ela. No período de 1970,apenas 1% dos enfermeiros era do sexomasculino; atualmente, de cada 100 profissionais,14 são homens.

Quanto ao estado civil, 40 (52,6%) eramsolteiros, 30 (39,5%) casados, 5 (6,6%) divorciadose um (1,3%) não informou. Em relação àprofissão, 48 (63,1%) eram auxiliares deenfermagem, 6 (7,9%) técnicos de enfermagem, 4(5,3%) atuam em outra profissão e 18 (23,7%) nãoresponderam.

A Enfermagem, independentemente donível do indivíduo que a exerça (médio ouuniversitário), é uma área promissora e umcampo vasto para a aquisição de vínculosempregatícios, ainda que a situação econômico-política nacional não seja, de modo geral,confortável para o mercado de trabalho. Asatividades desenvolvidas pelos profissionais denível médio no contexto hospitalar, assim como aconvivência com o enfermeiro, podem despertara necessidade e o interesse em realizar um cursouniversitário em Enfermagem, pela possibilidadede ascensão profissional e pessoal.

Gomes (1998), em seu artigo Carreiras emalta, comenta que, no Brasil, a graduação emEnfermagem é muito procurada, ocupando a 7ªcolocação entre as demais profissões, em virtudedo crescimento das áreas de atuação doenfermeiro.

Ainda quanto à caracterização da amostra, 44(58%) tinham um emprego, 12 (15,8%) doisempregos, dois (2,6%) três, um (1,3%) quatro, um(1,3%) cinco e 16 (21%) não responderam. A idadevariou entre 22 e 50 anos, com média de 33,28 anos.

O aluno de Enfermagem, principalmente odas instituições privadas, muitas vezes trabalhadesde cedo para contribuir com a renda familiar,ou ainda ser o provedor da família; faz curso deauxiliar ou técnico em enfermagem e exerce aprofissão, fato este percebido no presente estudo:63,1% são auxiliares e 7,9% técnicos, o que poderetardar sua admissão no curso superior emrazão da idade, dado que 62% dos participantestêm idade acima de 31 anos.

Outro fator importante a ser considerado éa situação econômica do país, pois em algumasocasiões o indivíduo prioriza o atendimento denecessidades humanas primárias, comoalimentação, vestuário e moradia, e a educaçãopode ser encarada como um planejamentode futuro.

Em relação aos fatores que facilitaram aelaboração do TCC, as respostas estãoapresentadas no Tabela 1. Os mais citados foram:oportunidade para aprender a realizar pesquisa,o fato de possuir um orientador e o poder deescolha do tema.

É importante ressaltar o grande número decitações. Apesar de os estudantes dedicarem

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Tabela 1 – Fatores que facilitaram a elaboração do TCC

*Número de citações (n).

fatores facilitadores n

oportunidade para aprender a realizar pesquisa científica

possuir um orientador

escolha do tema

49

47

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relação professor-aluno

hábito de leitura

motivação à pesquisa

possibilidade de realizar o TCC em dupla

não ter necessidade de apresentação oral

cronograma a cumprir

39

39

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34

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construção do conhecimento científico

acesso ao material bibliográfico nas bases de dados

apresentação em pôster

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pouco tempo às atividades acadêmicas, em razãoprincipalmente do trabalho diário, observa-sepelas respostas que o objetivo maior é aprender arealizar pesquisa científica, o que reforça a idéiade que, para a Enfermagem, a pesquisa é uminstrumento que vai ao encontro do próprioreconhecimento e valorização profissional,permeando conhecimento, habilidade e atitude.

De acordo com Abreu; Masetto (1990), oaluno pode adquirir conhecimentos, habilidadese atitudes. O conhecimento é composto deinformações, fatos, conceitos, princípios, teorias einterpretações, análises, estudos, entre tantosoutros; a habilidade refere-se a tudo o que oaluno deve aprender a fazer, desenvolvendocapacidades intelectuais, afetivas, psíquicas emotoras; as atitudes são definidas como oscomportamentos que se apresentam diferentesdaqueles que apresentavam anteriormente a umaexperiência, isto é, a disciplina vivenciada. Apesquisa atua no controle de qualidade das açõese confere à enfermagem poder e status deprofissão universitária, o que contribui para amelhoria das condições de vida da população epara a produção do saber (ALMEIDA, 1995). Taisações valorizam a Enfermagem como ciência enão apenas uma profissão.

Ter um orientador possibilita ao alunocompreender melhor o processo de elaboração,desde a delimitação de um tema, construção deproblema, hipótese, justificativa, objetivos,método, até sua conclusão. O orientador é umfacilitador do processo, conhece o tema e guia oaluno durante o seu desenvolvimento.

É importante salientar que o aluno necessitacumprir exigências que são indissociáveis àrealização do TCC, pois a organização, oenvolvimento e o interesse são aspectos quepodem garantir o sucesso do trabalho. Parafacilitar o desenvolvimento das atividades ediminuir a angústia gerada pela proximidade daentrega do produto final – a monografia –, na

instituição, avalia-se o trabalho escrito, sem quehaja necessidade da defesa oral. Essa não-obrigatoriedade talvez seja a causa do últimolugar alcançado pela apresentação em pôster naescala dos elementos sugeridos como facilitadoresdo trabalho. Isso se deve ao fato de os alunossaberem que seriam submetidos à análise de umprofessor com emissão de um conceito que,somado à avaliação escrita, poderia ou nãoaprová-los na disciplina. A apresentação do TCCem pôster, e não apenas a entrega do trabalhoescrito, possibilita o exercício da apresentaçãooral, assim como o compartilhar do conhecimentocom os demais. Profissionais de todas as áreasnecessitam de uma base de conhecimentos a partirda qual possam exercer sua prática, e oconhecimento científico lhes proporciona umabase sólida (POLIT; HUNGLER, 1995).

Em relação aos fatores que dificultaram aelaboração do TCC, as respostas estãoapresentadas no Tabela 2.

As maiores citações foram as de tempo,custos e procura de um orientador.

O prazo para a elaboração do TCC é de umano; trata-se de um tempo razoável, porém, como

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Tabela 2 – Fatores que dificultaram a elaboração do TCC

*Número de citações (n).

fatores que dificultaram n

tempo

custo

procura de um orientador

exigência em realizar o TCC para aprovação no curso

obrigatoriedade de seguir uma metodologia

relação professor-aluno

não possuir o hábito de leitura

apresentação em pôster

acesso ao material bibliográfico nas bases de dados

desmotivação à pesquisa

cronograma a cumprir

possibilidade de realizar o TCC em dupla

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os alunos são trabalhadores, isso pode dificultara busca do material bibliográfico, odesenvolvimento e a coleta de dados. Além disso,eles convivem com a ansiedade em virtude dosprazos de entrega para correção e, muitas vezes,por causa da pouca compreensão de todo oprocesso. Quando opta por desenvolver umtema, o estudante, muitas vezes, refere ser difícildelimitá-lo e definir os objetivos. Sabe-se que adelimitação do tema promove um conhecimentoaprofundado do objeto pesquisado. Em relaçãoaos objetivos, quanto maior o número e acomplexidade, maior o período de tempo paraconcretizá-los e maiores as dificuldadesadvindas. Muitos alunos vivenciam esta situaçãoe, nesse momento, o orientador e o professor deTCC têm o papel de direcioná-los para que osobjetivos possam ser alcançados em consonânciacom a disponibilidade de tempo.

O custo foi bastante citado, provavelmenteem virtude de a maioria deles [discentes]informar não ter computador nem impressora,obrigando-se a pagar digitação e impressão.Durante essa elaboração são feitas muitascorreções, exigindo, muitas vezes que o sejanovamente digitado e impresso. Outra alegaçãodos pesquisados é que, durante a elaboração,arcam com o sustento de suas famílias e usamtransporte coletivo para acesso às bibliotecas elocais de coleta de dados, além do pagamento damensalidade do curso.

O orientador deve ser um professor dainstituição e cabe ao aluno contatá-lo. Noentanto, muitas vezes, mesmo com o auxílio doprofessor da disciplina, não consegue o aceite denenhum dos contatados. Justifica-se adificuldade pela quantidade de alunos quebuscam orientação e pela pouca disponibilidadede horário dos docentes.

O TCC é exigido para aprovação no curso epode-se perceber que gera ansiedade, pois eles sãoautores de um estudo, serão avaliados com rigor

quanto ao desenvolvimento conforme normas,encadeamento lógico das idéias, uma certaprofundidade e apresentação do conhecimento dotema estudado. A construção da pesquisa éjulgada pelo aluno como uma exigência a mais docurso. Nessa construção, dizem eles, existemdificuldades de articulação com o cotidiano e coma realidade da profissão; caso não fosseobrigatória, muitos dela abdicariam. O fato é queesse trabalho final é considerado uma prova defogo que os discentes precisam vencer paratornarem-se enfermeiros. Dessa forma, existe umcompromisso em transformar nossos futuroscolegas em profissionais que reconhecem evalorizam a contribuição da pesquisa para aqualidade do cuidado e o crescimento daprofissão (ÂNGELO, 1989).

A obrigatoriedade de seguir umametodologia é um outro fator muito citado e foipercebido pelas pesquisadoras durante um ano.Parece existir uma dificuldade em se apreender ométodo a ser seguido, o modo como as referênciasdevem ser citadas, a lógica que deve existir, aforma como devem ser apresentados os resultados,a importância da coerência entre o tema, oproblema, os objetivos, o método e a conclusão.

A relação professor-aluno é muitoimportante; por isso, precisa haver empatia entreeles e, muitas vezes, isso não ocorre. Pode haverdivergências entre o que o aluno pretendeestudar e o que o orientador aconselha, em razão,por exemplo, de não haver literatura suficiente;da mesma forma, na delimitação do tema, ou naelaboração do objetivo. Acrescente-se a isso aquestão da disponibilidade de horário do aluno edo orientador, que nem sempre coincidem.

Demo (1997) aborda a relação professor-aluno ao ressaltar que o professor deve orientar oaluno a expressar-se de modo fundamentado,exercitar formulação própria, reconstruir autorese teorias e tornar cotidiana a pesquisa. Énecessário que essa relação não seja de

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dependência, mas, sim, que o aluno o veja comoum facilitador, alguém que o oriente a buscarrespostas às suas indagações.

Pode-se perceber que, embora o hábito deleitura seja referido como facilitador (39citações), também é mencionado por 24 dosparticipantes da amostra como um fator quedificulta. A falta do hábito de leitura podeconstituir dificuldade em virtude da necessidadede exploração das literaturas pertinentes aotema, com sua posterior seleção, análise einterpretação. Acredita-se que alguns alunosleiam pouco, algumas vezes somente para asprovas e isso pode tolher esse processo. Ocostume de ler pode facilitar a compreensão dotexto e a elaboração do trabalho científico. Essedeve ser reforçado na vida acadêmica eestimulado sempre, para ajudar o aluno asuperar as falhas advindas do ensino médio.

Para Demo (1997), o aluno tem a idéia deque vai à universidade assistir às aulas e fazerprovas e de que, se passar, estará formado. Essavisão deve ser trabalhada e modificada. Cursar auniversidade não é somente cumprir disciplinas,e sim assumir compromisso com a formação éticae crítica e com a busca de conhecimento,objetivando formar um profissional capaz deprovocar mudanças, pesquisar e, com isso,inovar, racionalizar e melhorar o que já existe. Háde se estar sempre buscando mudar opensamento de que as notas possibilitamformação universitária. Cabe ao professorenvolver o aluno no processo ensino-aprendizagem a fim de despertar-lhe o interesseem buscar o conhecimento continuadamente.

Assim, é necessário desmistificar a pesquisaem relação à separação artificial do ensino, com oreconhecimento de sua articulação com a práticae a superação do modelo que vê a aprendizagemcomo domesticação do aluno (SAUPE;WENDHAUSEN; MACHADO, 2004).

ConclusãoA existência de uma estrutura apropriada

para pesquisa (a definição de temas, o espaçopara a realização do trabalho, o orientador e abibliografia) foi considerada um facilitador paraa realização do TCC.

Existe uma correlação positiva entre ascondições socioeconômicas dos entrevistados eos fatores ‘tempo’ e ‘custos’, assinalados como osprincipais dificultadores do processo.

Existe uma correlação negativa entre onúmero de professores orientadores e aquantidade de alunos que necessitam elaboraro TCC.

Há diferenças de expectativas entre osagentes pedagógicos e os estudantes quanto àvinculação do TCC ao término do curso e aorecebimento do diploma.

Em virtude da escassez bibliográfica acercado assunto, outros estudos são necessários paracorroborar os dados evidenciados por estapesquisa, embora se acredite que os resultadosaqui encontrados são comuns em instituições deensino superior privadas em virtude do perfilsocioeconômico e cultural do graduando deEnfermagem, das experiências vivenciadas emoutras instituições privadas e das discussõescom outros docentes.

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