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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil
Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA
Mestrado Profissional em Gestão Empresarial – MPGE
Maria de Fatima Silva
MODA OU ARTE?
O CASO DAS SANDÁLIAS JAILSON MARCOS À LUZ DA FILOSOFIA DE
SCHOPENHAUER
RECIFE
2015
Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil
CPPA – Centro de Pesquisa e Pós-graduação em Administração
MPGE - Mestrado Profissional em Gestão Empresarial
CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES
Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso
à dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE do Centro de Pesquisa
e Pós-Graduação em Administração – CPPA – da Faculdade Boa Viagem é definido em três
graus:
Grau 1: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);
Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência, restrita a
consulta em ambientes de bibliotecas com saída controlada;
Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto,
se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou
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A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.
Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, afim de que se preservem as
condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de administração.
Título da Dissertação: “Moda ou arte? O caso das sandálias Jailson Marcos à luz da filosofia
de Schopenhauer”
Nome da autora: Maria de Fatima Silva
Data da Aprovação: 27 de novembro de 2015
Classificação conforme especificação acima:
Grau 1 ×
Grau 2 ×
Grau 3 ×
Recife, 25 de fevereiro de 2016
Assinatura da Autora
Maria de Fatima Silva
MODA OU ARTE?
O CASO DAS SANDÁLIAS JAILSON MARCOS À LUZ DA FILOSOFIA DE
SCHOPENHAUER
Dissertação apresentada como requisito
complementar para obtenção do grau de
Mestre em Gestão Empresarial do Centro
de Pesquisa e Pós-Graduação em
Administração – CPPA da Faculdade Boa
Viagem – DeVryBrasil, sob a orientação
do Prof. Dr. Rafael Lucian.
RECIFE
2015
Catalogação na fonte -
Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE
S586a Silva, Maria de Fatima.
Arte ou Moda? O caso das sandálias Jailson Marcos à luz da
filosofia de Schopenhauer / Maria de Fatima Silva. – Recife:
FBV | DeVry, 2015.
114 f. : il.
Orientador (a): Rafael Lucian
Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade Boa
Viagem - DeVry.
Inclui anexo.
1. Arte. 2. Arte vestível. 3. Moda. 4. Consumo. 5.
Schopenhauer. I. Título. DISS 658[15.2]
Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry
''Todos nós temos a oportunidade de ver além do mundo
das aparências, olhando para dentro de nós mesmos''
Arthur Schopenhauer.
AGRADECIMENTOS
Agradeço,
Ao meu orientador professor Dr. Rafael Lucian (contaminado pelo design) pela paciência,
cobranças, estímulos e, especialmente, a confiança neste nosso projeto construído de forma
inteligente e criativa.
À FBV DeVry por me proporcionar esta oportunidade e aos professores do MPGE, em
especial, Haj e Dorinha.
À doce avaliadora externa Maria Alice Rocha pelo olhar encantador que trouxe a essa
dissertação.
Ao querido amigo professor Marcelo Machado Martins que, juntos, subimos os primeiros
degraus desta longa e emocionante escada.
Ao complô do bem das coordenadoras Lívia Valença, Marina Ramires, Daniela Vasconcelos,
Danielle Simões-Borghiani e à professora Hajnalka Gatique, que me estimularam e me
apoiaram nessa jornada.
À turma dez, que é 10! A troca de artigos nas madrugadas desses dois anos muita força
envolvida para chegarmos juntos ao final. Agradeço especialmente a Dani, minha parceira de
trabalhos e profissão, sem ela essa trajetória teria sido muito mais difícil.À Dante, Deusa,
Mauro, Raquel, Rosana e Vera, que fortaleceram nossos aperitivos didáticos, parceiros até os
últimos momentos. E a energia de Chris, Evandro e João Bosco que, por motivos diferentes,
não conseguiram terminar o sonho que começamos juntos.
Aos colegas de trabalho e aos amigos da vida que me estimularam e me apoiaram
enormemente nessa jornada,
Aos amigos professores Adailton Laporte, Bartos Bernardes, Cristina Huggins, José Carlos
Marçal, Kátia Lima e Robson Lustosa que, em momentos diferentes, contribuíram para o
desenvolvimento desta dissertação.
Aos amigos José Carlos Mélo e Vera Cabral que não mediram esforços para iluminar meu
caminho.
Aos queridos alunos pela torcida e paciência. Nos capacitamos para melhor capacitá-los.
À minha querida família, por entender minha ausência que se fez presente em quase todo
tempo do mestrado, pela força, incentivo, torcida e, principalmente, por acreditar demais em
mim.
À Jailson Marcos, pela confiança, dedicação e paciência. E por me permitir invadir seu
atelier, estudar seus pisantes e seus preciosos consumidores.
Enfim, seguindo o pensamento do filósofo Arthur Schopenhauer, existe um passado para cada
presente. Passado e presente agora juntos:
queridos Marcelo Machado Martins e Rafael Lucian, dedico este trabalho a vocês.
MUITO OBRIGADA!
RESUMO
O objetivo deste trabalho buscou realizar um estudo ns sandálias Jailson Marcos com o intuito
de compreender se são produtos de moda ou de arte. Para atingir o objetivo foi necessário
investigar o processo criativo do sapateiro para localizar sua percepção de arte, compreender
sua percepção de moda e descobrir como surgem suas ideias no momento da criação. Para
adentrar no tema foi estudado o consumo de produtos do vestuário e de moda movidos pelo
hedonismo, pelo encantamento, através das necessidades e desejos dos consumidores à luz da
filosofia de Schopenhauer em O Mundo como Vontade e Representação, assim como a
efemeridade da moda entendida através de teóricos contemporâneos. Sua natureza qualitativa
possibilitou a análise documental de falas do sapateiro Jailson Marcos em entrevistas
divulgadas na mídia. Através dos resultados fez-se necessário analisar o consumo sob a
perspectiva do Arts and Crafts que direcionou aos princípios da arte vestível, do wearable art.
Palavras-chave: Arte. Arte vestível. Consumo. Moda. Schopenhauer.
ABSTRACT
This work aimed to study the sandals Jailson Marcos Brand, in order to investigate and
understand if the products are characterized as fashion or can be considered an art. To achieve
the goal was required to know the Creative Process Shoemaker to realize what it means art in
the owner's design and Understanding his fashion Perception to understand how the insights
appear when he creates the products. To support the research was held a study on the
consumption of clothing and fashion products powered by hedonism and enchantment , as well
as through the needs and desires of the consumer based in Schopenhauer's philosophy in his
work "The World as Will and Representation"
As well as the fashion ephemerality understood through the Contemporary theorists. Its
qualitative nature enabled the documentary analysis of the speeches Shoemaker Jailson Marcos
in published interviews in the media. Through the results it was necessary to analyze the
consumption on Arts and Crafts perspective that directed the study to the Principles of wearable
art.
Keywords: Art. Wearable art. Fashion. Consumption. Schopenhauer.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- O fetiche do salto alto ............................................................................................................ 17
Figura 2 - Saltos de um universo imaginário e arquitetônico nos calçados Jailson Marcos ................. 18
Figura 3 - Página título da primeira edição do livro O Mundo como Vontade e Representação .......... 26
Figura 4 - Schopenhauer ....................................................................................................................... 27
Figura 5 - Recife aos olhos dos turistas ................................................................................................. 34
Figura 6 - Cor na moda | Cor fora de moda ........................................................................................... 36
Figura 7 - Modelo de justificativas e valores ....................................................................................... 40
Figura 8 - Categorias do prazer com produtos ...................................................................................... 41
Figura 9 - Le Bon Marché ..................................................................................................................... 46
Figura 10 - Funções dos produtos de acordo com Löbach e Norman ................................................... 49
Figura 11 - Primeiro sapato que se tem registro .................................................................................... 51
Figura 12 - Sapatos que participaram das Leis Suntuárias .................................................................... 52
Figura 13 - Sandálias Jailson Marcos .................................................................................................... 55
Figura 14 - Um ciclo normal de moda .................................................................................................. 56
Figura 15 - Comparação do Ciclo de Vida de Produtos de Moda ......................................................... 57
Figura 16 - Estilistas contemporâneos do Wearable Art - Alexander McQueen, Iris Van Herper ..... 60
Figura 17 - O Manto da Apresentaçao de Artur Bispo do Rosário ....................................................... 61
Figura 18 - Jailson Marcos na mídia ..................................................................................................... 61
Figura 19 - Divulgação espontânea por parte dos consumidores .......................................................... 62
Figura 20 - Ronaldo Fraga visita loja JM .............................................................................................. 63
Figura 21 - Walter Rodrigues palestra em Recife e encontra Jailson MarcosErro! Indicador não
definido.
Figura 22 - Bilhete de Carol Garcia a Jailson Marcos .......................................................................... 63
Figura 24 - Sandálias Jailson Marcos 2005 ........................................................................................... 64
Figura 25 - Sandálias Jailson Marcos 2015 ........................................................................................... 65
Figura 26 - Ofício de sapateiro .............................................................................................................. 66
Figura 27 - Jailson Marcos na Fenearte 2015........................................................................................ 67
Figura 28 - Esquema teórico ................................................................................................................. 67
Figura 29 - Etapas da pesquisa .............................................................................................................. 70
Figura 30 - Corpus pesquisado .............................................................................................................. 73
Figura 31 - Palmilha estendida JM e modelo pré-dinástico .................................................................. 83
Figura 32 - Resultado da Análise .......................................................................................................... 85
Figura 33 - Arquitetura moderna ........................................................................................................... 86
Figura 34 - As formas arquitetônicas .................................................................................................... 86
Figura 35 - Fonte de inspiração ............................................................................................................. 87
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................................. 10
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 15
1.1 Contextualização da pesquisa .................................................................................................. 15
1.2 Problema de pesquisa.......................................................................................................... 18
1.3 Objetivos .............................................................................................................................. 19
1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 19
1.3.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 19
1.4 Justificativas ........................................................................................................................ 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................................... 22
2.1 A compreensão da arte por Schopenhauer ............................................................................. 22
2.1.1 A vida e obra de Schopenhauer ........................................................................................ 22
2.1.2 A metafísica do belo ........................................................................................................... 32
2.1.3 Consumo .............................................................................................................................. 37
2.1.4 Consumo como representação schopenhaueriana ........................................................... 37
2.1.5 Consumo hedônico ............................................................................................................. 38
2.1.6 Consumo por encantamento .............................................................................................. 40
2.1.7 Satisfação do consumidor .................................................................................................. 42
2.1.8 Marketing de experiências ................................................................................................. 43
2.2 A perspectiva da moda pelo design .......................................................................................... 44
2.2.1 Breve história do design ..................................................................................................... 44
2.2.2 Design de moda ................................................................................................................... 50
2.2.3 Design de moda aplicado aos calçados ............................................................................. 51
2.2.4. Consumo de moda ............................................................................................................. 55
2.3 Arte, moda e artesanato ............................................................................................................ 57
2.3.1 Arts and Crafts ................................................................................................................... 57
2.3.2 Artwear .............................................................................................................................. 58
2.3.3 Arte, moda e arquitetura ................................................................................................... 59
2.3.4 Wearable Art ...................................................................................................................... 59
2.4 Jailson Marcos ........................................................................................................................... 61
3 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 69
3.1 Delineamento da pesquisa .................................................................................................. 70
3.2 Etapas da pesquisa .............................................................................................................. 70
3.3 Processo de coleta de dados ...................................................................................................... 70
3.3.1 Estudo de caso..................................................................................................................... 71
3.3.2 Pesquisa documental .......................................................................................................... 72
3.3.3 Análise de conteúdo ............................................................................................................ 75
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 85
4.1 Limitações .................................................................................................................................. 88
4.2 Sugestões para pesquisas futuras ............................................................................................. 88
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 89
APÊNDICE A ....................................................................................................................................... 95
15
1 INTRODUÇÃO
A metafísica da beleza, a percepção da arte no processo criativo e o consumo de efêmeros
produtos de moda que perpassam do hedonismo ao encantamento motivaram esta pesquisa de
mestrado. O consumo associado à arte, moda, design, estética e marketing, analisados à luz da
filosofia, direcionado à sua compreensão, de acordo com o pensamento do filósofo Arthur
Schopenhauer, assim como a linha de pensamento do contemporâneo Gilles Lipovestky.
A moda em sua constante renovação busca mudanças constantes em um ciclo de vida que tem
se encurtado a cada estação. Através das imagens, moda e arte constroem um caminho paralelo,
argumenta-se que, muitas vezes, caminham juntas, dialogam, se entrelaçam e, por vezes, são
confundidas. A arte se apoia nas referências individuais, sua criação baseia-se nos valores
estéticos com conteúdos intelectuais, enquanto que a moda se fundamenta nos conteúdos
funcionais. A moda é movida pela efemeridade, a arte por produtos de vida útil mais prolongada
(BONSIEPE, 2002; SVENDSEN, 2010; PIAZZA, 2015). Essa inquietação motivou a
construção da pergunta da pesquisa, conduziu a contextualização, os objetivos geral e
específicos, bem como as justificativas para a realização desta pesquisa, presentes neste
capítulo.
1.1 Contextualização da pesquisa
Durante séculos a vida coletiva se desenvolveu sem o culto às fantasias e às novidades, sem a
instabilidade e a temporalidade efêmera da moda que, nesse contexto, certamente não quer dizer
sem mudança nem curiosidade ou gosto pela realidade exterior (LIPOVETSKY, 2005).
O crescimento da população aliado à crescente produção de bens tem, ao longo do tempo,
ativado novas necessidades e despertado o desejo de consumo através de um ciclo vicioso. Na
sociedade contemporânea é possível observar que quanto mais se consome, mais se quer
consumir: a época da abundância é inseparável das satisfações desejadas e de uma capacidade
de eliminar apetites de consumo, sendo toda saturação de uma necessidade acompanhada,
imediatamente, por novas procuras (LIPOVETSKY, 2005). Nessa premissa, o desejo é
demorado, suas exigências tendem para o infinito; a satisfação é curta, parcimoniosa e medida.
Após o desejo ser satisfeito cederá lugar em breve a um novo desejo, em um ciclo que se repete,
para cada desejo satisfeito, dez pelo menos são contrariados (SCHOPENHAUER, 2001).
16
A satisfação das necessidades está, então, atrelada às histórias individuais, às experiências de
aprendizagem e ao ambiente cultural do indivíduo consumidor. Nessa perspectiva, todo querer
precede uma necessidade que relaciona-se com o desejo rumo à privação e ao sofrimento que
só terá fim através da satisfação desses (SCHOPENHAUER, 2001).
Duas formas de consumo são, então, definidas por Hirschman e Holbrook (1982). Além da
satisfação das necessidades básicas através do consumo utilitário, o consumidor busca
experiências multissensoriais, relacionadas ao prazer, ao hedonismo. O consumo hedônico
possibilita a vivência de experiências prazerosas na aquisição ou uso de bens ou serviços. Elas
são experiências multissensoriais, prazerosas e emotivas que acontecem na interação do
consumidor com o consumo, na satisfação do desejo que tem origem através das necessidades.
O design, por sua vez, tal qual grande parte das ciências contemporâneas, se utiliza de
referências filosóficas para se conceituar originalmente e para desenvolver metodologias de
criação. Apesar disso, percebe-se que, pragmaticamente, há pouca investigação que relaciona
o mix de marketing com a arte, a essência da estética, conceitos de design e estudos de consumo
de produtos de moda.
A moda reflete a maneira como as pessoas vivem, os estilos de vida, conta a história do
consumidor, tem o poder de resgatar memórias e estimular o consumo e o desejo. Para Frings
(2012), a mudança da moda acontece não apenas através do estímulo ao consumo, muda porque
as pessoas estão em constante mudanças; porque reflete os estilos de vida e eventos atuais e,
especialmente, porque as pessoas cansam dos produtos que têm. Em alguns segmentos da moda
esse é um fato recorrente, tanto na produção de peças do vestuário quanto no segmento de
acessórios como bolsas, cintos, bijuterias e sapatos.
Anualmente, mais de dezenove bilhões de pares de calçados são produzidos no mundo
(SANTIAGO; MIRANDA, 2014), desde os funcionais aos que seguem tendências de moda e
são descartados com maior velocidade. O sapato, entre os vários itens do mercado da moda, é
considerado um dos grandes objetos de desejo. Sonhos, vontades e sensações são despertadas
e estimuladas. Em algumas situações, esse produto do vestuário, assim como outros, também
pode despertar lembranças e resgatar memórias agradáveis que impulsionam o consumo. O
fetiche dos calçados estimula o consumo e é comumente apresentado através dos saltos altos,
que também remetem à elegância, poder e sensualidade, refletindo-os além do estilo, gosto
17
individual e status social (SEFERIN, 2012), como se pode observar na publicidade do sapato
na figura a seguir (Fig. 1).
Figura 1- O fetiche do salto alto
Fonte: Santa Lolla, 2015
No antigo teatro grego os atores utilizam saltos para representar sua hierarquia na peça, quanto
mais alto mais importante seu papel. O salto começou a ser utilizado moderadamente no final
do século XVI (LAVER, 2011). Os saltos derivam dos chapins do século XVI, plataformas
utilizadas pelas cortesãs venezianas para elevá-las do chão e se distanciarem da sujeira nas ruas
(CHOKLAT, 2012), funcionando como uma necessidade básica.
As empresas de calçados utilizam-se das pesquisas de tendências, dos bureaux especializados,
antecedendo ao processo criativo, porém, além destes dados, as referências culturais locais vêm
agregando novos valores, transformando-os em produtos diferenciados e desejados. Isso pelo
fato do mercado de calçados, entre os produtos de moda, ser o que mais seduz.
Pernambuco não é considerado um foco calçadista, ainda é muito tímida a abordagem deste
assunto nos cursos de design de moda. Mesmo assim, já é possível observar o surgimento de
algumas marcas de calçados que oferecem produtos a consumidores locais e nacionais, como
os exemplos de Jailson Marcos, Gabi Fonseca, Adriana Ribeiro, Fernando Viana, Vitalina, entre
outros.
Jailson Marcos, em seu processo criativo na produção de calçados, aparentemente, faz um
resgate de referências da cultura regional através das alpargatas dos boiadeiros, nos traços
cosmopolitas do entorno de uma grande cidade, nos volumes desconstruídos e reconstruídos,
nas assimetrias das formas inusitadas que rompem com a tradição, a ousadia das sobreposições
e os entrelaces curiosos e inovadores. Nessa linha criativa, os saltos passeiam por um universo
18
imaginário e fantasioso, que desafia o equilíbrio e a gravidade, repensando uma tradição aliada
à uma modernidade futurística. A ousadia na inovação das formas para a construção da sua
identidade estética-artística é visível no trabalho do sapateiro, vide exemplo (Fig. 2).
Figura 2 - Saltos de um universo imaginário e arquitetônico nos calçados Jailson Marcos
Fonte: Fanpage Jailson Marcos, 2015
1.2 Problema de pesquisa
Para Solomon (2002) o consumo sobrevive da satisfação de uma necessidade, dando forma ao
desejo. Satisfação é a sensação de realizar uma necessidade ou desejo, a expectativa positiva
gerada como resultado da experiência de consumo (MANNETTI et al, 2014) sejam essas
necessidades básicas ou prazerosas.
Sob a ótica de Schopenhauer, são as necessidades que, ao serem transformadas em desejos
satisfeitos, alimentam o consumo hedônico e, trazendo-as para a atualidade, essas necessidades
em si não são criadas pelo marketing, surgem antes, quando o marketing associado a outros
fatores influenciam os desejos (SOLOMON, 2002).
Lipovetsky (2004), complementarmente, traz a reflexão de que o consumo hedônico
corresponde a produtos e serviços que se relacionam aos cinco sentidos. A lógica da efetivação
da compra passa pela busca de um bem-estar subjetivo, é desinstitucionalizada e intimizada, é
um ato individualizado, representando um cenário ideal para os consumidores.
Dentre as necessidades humanas, o homem precisa de calçados para proteger seus pés contra o
frio, calor ou a aridez do solo; no entanto, não se faz necessário um modelo ou marca
específicos: o desejo é que direciona à escolha.
A moda sobrevive da efervescência do tempo, da velocidade de renovação de produtos que,
hoje adorados, amanhã são esquecidos, enquanto que a arte pode perdurar por muito tempo, às
vezes, com duração infinita.
19
Com o desejo de entender como acontece o processo criativo e a percepção do criador no que
se refere à moda e à arte presente em produtos do vestuário, será trabalhado nesta dissertação
de mestrado o seguinte problema de pesquisa:
À luz da filosofia de Schopenhauer, as sandálias Jailson Marcos são produtos de moda ou de
arte?
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
Compreender se as sandálias Jailson Marcos são produtos de moda ou de arte.
Para atingir tal meta, é necessário determinar etapas intermediárias que ajudem o pesquisador
a conduzir sua investigação. Sendo assim, o próximo subtópico apresenta os objetivos
específicos.
1.3.2 Objetivos específicos
Objetivo específico 1: investigar a percepção de arte no processo criativo de Jailson Marcos;
Objetivo específico 2: compreender a percepção de moda no processo criativo de Jailson
Marcos;
Objetivo específico 3: descobrir como surgem as ideias no processo criativo de Jailson Marcos.
1.4 Justificativas
Através das justificativas apresentam-se as lacunas teóricas, que ajudaram a mostrar porque se
justifica pesquisar o tema e como uma dissertação de mestrado vai crescer em trabalho como
ciência. As justificativas fortalecem os argumentos para realização desta pesquisa.
Esta pesquisa traz à tona conceitos consagrados pela literatura de marketing, mas que ainda não
foram confrontados à luz da filosofia de Schopenhauer. É uma abordagem inovadora para
investigações sobre moda e arte, com recortes sobre consumo hedônico e encantamento em
produtos do vestuário e, obviamente, se trata de um tema pouco estudado e pouco relacionado.
A escolha da filosofia de Schopenhauer como luz das análises se deu, primordialmente, por
seus textos possuírem forte alinhamento com a atual e mais forte corrente de estudos em Design
representada por Lipovesky, como será aprofundado no referencial teórico. O design possibilita
20
o consumo a partir do momento que oferece produtos com símbolos e significados dentro do
sistema de circulação e socialização do consumo dos mesmos (FAGGIANI, 2006). Sendo o
marketing de moda uma disciplina completamente independente do design, essa pesquisa ganha
sentido e se torna oportuna pela inovação teórica proposta.
Adentrando às passagens da obra de Shopenhauer que embasam tal triangulação está a
passagem que assume que, enquanto a nossa consciência está preenchida pela Vontade1, as
pessoas são subjugadas pelo impulso do desejo, pelas esperanças e pelos temores contínuos que
ele faz nascer, ou seja, enquanto os consumidores forem súditos do querer não existirá nem
felicidade duradoura, nem tampouco repouso (SCHOPENHAUER, 2001). Dessa forma, a
estética como princípio da individualização assume papel central na luta entre os seres, seus
desejos e felicidades.
A existência da sociedade hedonista foi sugerida como resultado da união das ações de
marketing, da sociedade de consumo e da vida. Os valores hedônicos prevalecem e são guiados
tanto pelo crescente consumo quanto pelo hábito desenvolvido na sociedade, o de acúmulo de
bens (ALBUQUERQUE et al, 2010). Como os produtos têm o seu valor hedônico e/ou utilitário
intrínsecos, os consumidores também desenvolvem diferentes níveis de valor de compra
hedônico e/ou utilitário.
Enquanto que, para Braudillard (2003), as necessidades visam mais os valores que os objetos,
e sua satisfação possui, em primeiro lugar, o sentido de uma adesão a tais valores. A escolha
fundamental, inconsciente e automática do consumidor é aceitar o estilo de vida de determinada
sociedade particular. Portanto, deixa de ser escolha e, dessa forma, acaba igualmente por ser
desmentida a teoria da autonomia e da soberania do consumidor.
O processo de design se pauta nos processos, nos produtos e no consumidor, através do
fetichismo ou simbolismo dos objetos que tem foco em como os processos criativos e
metodológicos refletem nos produtos e nos significados dos mesmos, agregando-lhes valores
simbólicos. Simbolismo esse obtido através das experiências vividas, das sensações e dos
aspectos de uso, além dos valores pessoais e da experiência cotidiana de cada possível
consumidor que percebe o produto de uma forma diferente de outros. O design atua com a
1Vontade e Representação são iniciados em letras maiúsculas pois são considerados substantivos, são entidades da
filosofia schopenhaueriana.
21
perspectiva de representar de uma forma coletiva ao mesmo tempo que o usuário a percebe
individualizada (CARDOSO, 2008; LÖBACH, 2001).
22
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesse capítulo será abordada a compreensão de Schopenhauer. O consumo da sociedade atual
é explicado através do pensamento do filósofo em uma obra escrita no período em que surgiram
as primeiras lojas de departamento na Europa, quando a palavra consumo não fazia parte do
vocabulário cotidiano. A evolução e importância do design, aliado aos estudos de
comportamento do consumidor vem, ao longo do tempo, ganhando espaço, gerando símbolos,
produzindo novos significados aos produtos, promovendo o prazer da contemplação e do
encantamento, assim como a percepção da estética e da arte no complexo mundo de
experiências emocionais.
2.1 A compreensão da arte por Schopenhauer
O objetivo desta seção é adentrar a filosofia de Shopenhauer em busca de respaldo teórico que
oriente a construção dessa dissertação. Tal esforço é importante pois trará ao debate o
pensamento filosófico original e seu desdobramento contemporâneo, fazendo conexões entre
arte, design, consumo e produtos de moda. Além da possibilidade de permitir a reflexão sobre
como o consumo é estimulado através da satisfação das necessidades que são criadas, recriadas
e renovadas. Passados duzentos anos da publicação dessa obra magna, essa dissertação se
propõe a analisar produtos de moda contemporâneos, sob sua ótica filosófica.
2.1.1 A vida e obra de Schopenhauer
Antes de compreender sua filosofia, é necessário visitar o contexto ao qual ela foi escrita. A
história de Arthur Schopenhauer tem início no ano de 1788, na cidade livre de Dantzig, Gdansk
na atual Polônia, em período anterior à Alemanha ser constituída como país. Teve uma vida
confortável, entre várias viagens com a família, viveu no conforto burguês, recebeu e exigiu
pouco amor na infância. Seu pai, um comerciante aristocrático, a mãe de beleza exuberante e
carreira artística frustrada (STRATHERN, 1998).
Arthur passou a maior parte da sua vida em Frankfurt, no entanto, durante a infância, passou
por várias mudanças. Com apenas cinco anos, a família mudou-se para Hamburgo, fugindo do
domínio prussiano e, aos 10 anos, foi enviado à Paris para estudar francês durante dois anos.
Na adolescência, aos 15 anos, em uma viagem em família realizada pela Europa, Schopenhauer
se encantou com Piccadilly e os teatros de Londres. Contrariando aos seus anseios pessoais por
uma vida literária, foi forçado a uma imersão, que durou meses, para estudar inglês em
Wimbledon, em uma escola muito rígida, que incluía maus-tratos diários aos alunos, que eram
23
frequentemente chicoteados e, para despertar, eram jogados na piscina antes do café da manhã,
além de fazê-los digerir a “cozinha inglesa” e do tempo dedicado aos serviços religiosos,
enquanto seus pais continuavam a viagem pela Escócia. Ainda nesta trajetória de formação
acadêmica, a escola o preparou para alguns passeios turísticos. Schopenhauer esteve por dois
meses em Bordeaux, na mesma casa em que o poeta lírico e romancista alemão Hölderlin (1770-
1843) foi acometido por um acesso de loucura.Também esteve no local onde 6 mil escravos
foram aprisionados e acorrentados em inimagináveis condições de falta de higiene, em Toulon
(STRATHERN, 1998; SCHOPENHAUER, 2013). A percepção da miséria, as guerras, os
mendigos mutilados e “expostos” nas ruas, durante as viagens com a família, contribuíram para
potencializar a oscilação do seu comportamento depressivo, agravado pelo histórico familiar
melancólico e instabilidade mental (STRATHERN, 1998).
Durante a vida, para acompanhar os pais nas longas viagens, foi-lhe imposto que recebesse
aulas de negócios. Contra sua vontade, apesar de já demonstrar aptidão intelectual, continuou
sendo preparado pelo pai para ser um homem de negócios, resultando em ter que trocar,
temporariamente, os estudos para trabalhar em um estabelecimento comercial em Hamburgo,
local onde viveu. Por seus anseios em desempenhar um papel próprio no mundo cultural, viveu
momentos de muita angústia pessoal (STRATHERN, 1998; SHOPENHAUER, 2013).
Com o suicídio do pai em 1805, a família mudou-se para Weimar, no entanto, Schopenhauer
continuou na cidade com as aulas e os negócios da família. Dois anos depois, contrariando os
sonhos do patriarca, reuniu forças e mudou-se para Gotha, com o objetivo de se preparar para
a universidade e iniciar os estudos clássicos. Com idade mais avançada que os outros alunos,
foi expulso da escola por escrever um poema de mau gosto sobre um professor alcoolizado. Em
consequência, foi morar com a mãe, com quem teve muitos problemas durante toda a vida, por
se chocar com seu comportamento, não aceitando seus relacionamentos amorosos e pelo ciúme
do sucesso da mesma, que havia se tornado estrela dos salões literários (STRATHERN, 1998;
SCHOPENHAUER, 2013).
Após quatro anos de ranhuras no relacionamento entre mãe e filho, para alívio de todos, mudou-
se para Göttingen, em 1809, matriculando-se na escola de medicina. Ao mesmo tempo,
começou a seguir sua trajetória intelectual, frequentando aulas de filosofia, quando tem os
primeiros contatos com a obra de Platão e Kant, que tiveram forte influência na construção da
base filosófica do seu pensamento (STRATHERN, 1998; SCHOPENHAUER, 2013).
24
Desde a infância, foi estimulado pelos pais a fazer relatos diários sobre as viagens que fazia,
enchendo cadernos de anotações, uma prática que o acompanhou ao longo da sua vida. Na
escola de filosofia, seus cadernos revelam o espírito crítico em relação às obras dos mestres.
Entre os grandes filósofos, Schopenhauer se destacou pela forma refinada, elegante e requintada
de falar, sendo, dessa forma, considerado um dos maiores filósofos e estilistas2 da literatura,
logo após Platão (STRATHERN, 1998).
Durante sua vida profissional, foi uma figura difícil, pessimista, com uma filosofia atraente,
cativante e forte, uma carga de emoção da sua personalidade agressiva e egoísta, possessivo e
ciumento. Mesmo tendo como base o idealismo alemão, sua filosofia contemporânea e seu
pensamento não se encaixavam em nenhum dos sistemas da sua época. Seu pensamento
filosófico recebe influência de Kant, Platão, Buda, Goethe e Hegel, assim como da filosofia
hindu, que lhe forneceu justificativa intelectual para toda sua visão pessimista (STRATHERN,
1998).
O filósofo, frequentemente, demonstrava que não gostava da vida, considerando-a uma piada
de mau gosto e, movido por essa visão, desprezava os que tinham um ponto de vista otimista
(STRATHERN, 1998; SHOPENHAUER, 2013). O pessimismo lhe era, aparentemente,
revigorante, no entanto, o filósofo o adotara por declarar que “o mundo é indiferente ao nosso
destino, não é de propósito que ele nos frustra” (STRATHERN, 1998).
Com a mudança para Weimar, teve a oportunidade de conhecer Goethe, um famoso poeta,
romancista e dramaturgo alemão, um gênio amadurecido (STRATHERN, 1998; FRASER,
2012), que lhe transmitiu conhecimentos artísticos e recebeu influências de Schopenhauer para
sua obra ‘A teoria das cores’. No princípio deste estudo, publicado em 1810, Goethe discordou
fortemente da teoria de Newton sobre luz e cor, estudando a física da luz, na qual sua oposição
é de ordem filosófica e prática. Na tentativa de minimizar as discordâncias sobre o uso da cor
na arte, recorreu a uma linguagem pessoal para expor suas ideias, fazendo alusão aos ‘efeitos
sensuais e morais’, à ‘privação’ e ao ‘poder’, além de relacionar as cores aos estados
emocionais, pois observava a cor a partir da percepção individual, até hoje utilizado na
psicologia das cores e de grande relevância para o design (FRASER, 2012).
2 Diz-se do, ou o escritor notável por causa do apuro de estilo, do burilamento da linguagem, que tem um estilo
apurado. Fonte: www.significados.com.br.
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Concomitantemente, descobriu a filosofia hindu que forneceu justificativa intelectual para sua
filosofia pessimista, que permaneceu atual até o fim de sua vida (STRATHERN, 1998). A
ilusão do que se pode ver através dos conceitos pré-existentes, como é possível observar na
citação a seguir, e perceber que a visão das coisas acontece de acordo com o repertório
individual de cada um. Repertório esse que vai se modificando através do tempo, tais como o
conhecimento que potencializa a percepção das coisas, através da Representação, quando
analisada pelo ponto de vista do sujeito e não apenas como objeto, visto que relaciona a
sensibilidade, o entendimento e o conhecimento,
E Maya é o véu da ilusão que, ao cobrir os olhos dos mortais, lhes faz ver um mundo
que não se pode dizer se existe ou não existe, um mundo que se assemelha a um sonho,
à radiação do sol sobre a areia, onde, de longe, o viajante acredita ver uma toalha de
água, ou ainda a uma corda atirada por terra, que ele toma por uma serpente
(SCHOPENHAUER, 2001, p.14).
A teia de Maya, que se assemelha a um sonho, e que também remete ao Mito da Caverna de
Platão, ao dizer que enquanto o sujeito se limita à percepção sensível assemelha-se a homens
sentados acorrentados lado a lado sem poder mover a cabeça para os lados em uma caverna
escura, limitando-se a visualizar as sombras formadas pela claridade de uma fogueira externa,
sombras essas que se movem e podem adquirir formatos surreais. No entanto, ao sair da caverna
e conhecer as imagens reais, adquire o conhecimento e, mesmo ao voltar a caverna, já não mais
conseguirá ver aquelas sombras (SCHOPENHAUER, 2001).
Schopenhauer doutorou-se na Universidade de Berlim, recolheu-se em Rudolstadt para redigir
sua tese intitulada‘Sobre a raiz quadrupla do princípio de razão suficiente’, que consiste na
exploração kantiana dos tipos de causa e efeito; defendendo-a aos 25 anos (STRATHERN,
1998; SCHOPENHAUER, 2013).
Conhecedor da literatura, admirador e com ideias bem definidas sobre as artes, freqüentador de
teatro, concertos e galerias, Schopenhauer escreveu muito sobre diversas manifestações
artísticas, (como bom observador durante todas as viagens que realizou) entre todas,
considerando a música a mais elevada (BARBOSA, 1997; STRATHERN, 1998). Para o
filósofo, a música é de tamanha grandeza que se localiza acima de todas as artes, vai além das
imagens e das ideias, “fala diretamente a imagem da coisa-em-si” (BARBOSA, 1997, p.74). O
jovem músico Wagner foi contaminado com seu pessimismo, descobrindo-o antes da fama seu
espírito jovem misturado ao niilismo anárquico próprio que, durante anos, buscou inspiração
artística através das leituras de Schopenhauer, que também influenciou filósofos posteriores
como Nietzsche, Freud e Ludwing Wittgenstein (STRATHERN, 1998).
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Lecionou na Universidade de Berlim, contemporâneo de Hegel, o mais famoso filósofo alemão,
cuja linha de pensamento era considerada exagerada, passando do sublime ao ridículo, fato que
Schopenhauer considerava monstruoso, tratando-o com desprezo. Desta forma, tornou-se seu
rival na disputa de títulos da filosofia alemã e decidiu marcar suas aulas para o mesmo horário.
No entanto, enquanto que as aulas de Hegel eram lotadas, para sua decepção, suas aulas eram
solipsistas (vazias), fato que, além de decepcioná-lo, fortaleceu seu desafeto pela filosofia
acadêmica (STRATHERN, 1998; SCHOPENHAUER, 2013). Como resultado positivo desse
fato, o texto sobre Metafísica do Belo é parte de um conjunto de preleções de aulas de Estética
lidas em 1820, dois anos depois da sua obra O Mundo como Vontade e Representação
(BARBOSA, 2001).
Essa obra prima, idealizada e escrita durante muitos anos, apesar de ter sido concebida ainda
na adolescência, quando o filósofo tinha 15 anos, sua redação tarda um pouco, tendo iniciado
11 anos depois (BARBOSA, 1997), concluindo-a no ano seguinte, em 1815 (STRATHERN,
1998). Tamanha era a confiança no sucesso do seu trabalho que, na primeira tentativa de
publicação, enviou ao editor uma nota pessoal que acompanhava o original, com o seguinte
texto: “este livro será a fonte e a motivação de uma centena de outros livros”. Para sua tristeza,
após uma espera que durou 16 anos, recebeu um comunicado dos editores de que quase toda
sua obra havia sido rasgada, pois foi considerada malsucedida (STRATHERN, 1998;
SCHOPENHAUER, 2013).
Figura 3 - Página título da primeira edição do livro O Mundo como Vontade e Representação
Fonte: Schopenhauer Die Welt als Wille und Vorstellung, 1819
Esta obra filosófica, composta por quatro livros foi, finalmente, publicada em 1819 (Fig. 3),
nos quais filosofa sobre diversos temas como a teoria do conhecimento, a filosofia da natureza,
a metafísica do belo e a ética, entre outros.
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Impaciente, não conseguia entender o porquê de não fazer sucesso, nem o porquê do silêncio
de tantos anos. Em síntese, jamais conseguiu entender o que havia de errado consigo, apesar de
afirmar constantemente que compreendia o mundo e seus erros.
Finalmente, após 35 longos anos de espera, a fama merecida da sua obra-prima O Mundo como
Vontade e Representação finalmente chega, deixando-o muito feliz. O sucesso, para
Schopenhauer, sempre demorou a chegar, com o livro Parerga et paralipomena chegou em
1853, de forma inesperada e também tardia (STRATHERN, 1998). Depois da convivência com
tantos insucessos, e por sua excentricidade, Schopenhauer manteve a desenvoltura agressiva e
o ar de superioridade perante todos; sua arrogância não o permitia demonstrar a felicidade e a
satisfação com o sucesso, chegando a pedir as referências das publicações em jornais às pessoas
com quem ainda tinha contato, para ler no dia seguinte.
Sofreu pela contradição de caráter presente em toda vida, vivendo os últimos 30 anos em
Frankfurt. Sua vida chegou ao fim aos 72 anos, em 1860, na cidade de Frankfurt, onde havia
vivido seus últimos anos.
Figura 4 - Schopenhauer
Fonte: Jules Lunteschütz (1822–1893)
A contribuição de Schopenhauer (retratado na Figura 4) para a filosofia e para a construção do
pensamento ocidental é indiscutível, entretanto, ao longo dos anos, sua contribuição tornou-se
distante da pragmática empresarial. Ao escrutinar tal filosofia, esta dissertação contribui com o
resgate da compreensão shoupenhauerniana que, de forma precisa, pode ser de grande valia
para a compreensão de problemas contemporâneos, entretanto, é necessário, previamente,
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apresentar seu pensamento e sua forma de compreender o mundo. “O apelo de Schopenhauer
ao temperamento criativo continua até hoje inspirando quase tantas respostas quanto criadores”
(STRATHERN, 1998, p.42).
Entre as várias obras que deixou, a mais importante foi O Mundo como Vontade e
Representação. Shopenhauer passou anos para concluir sua gigantesca obra-prima com mil
páginas, o que demostra o zelo que teve pela obra e sua incapacidade de dar-se por satisfeito,
sempre buscando melhorias no texto (SCHOPENHAUER, 2001; STRATHERN, 1998).
Schopenhauer classifica a Vontade como a objetivação mais imediata do mundo, um sentimento
mais íntimo do corpo, que provoca dor, que provoca o querer que precede uma necessidade. “A
Vontade só existe no entendimento, in abstracto. É apenas pela reflexão que existe, uma
diferença entre querer e fazer: com efeito é a mesma coisa [...] ela designa-se dor quando vai
contra a vontade, pelo contrário, chama-se bem-estar ou prazer” (SCHOPENHAUER, 2001,
p.110).
Nessa obra, o autor mostrou sua compreensão sobre um mundo sensível nos seus múltiplos
aspectos e abundância, como resultado da contínua e renovada Vontade, em que defendeu o
temporário e ilusório, a satisfação das necessidades e a realização dos desejos individuais. O
prazer em realizá-las dando lugar a outros desejos, fazendo surgir novas necessidades. O prazer,
para o filósofo, é visto como um momento negativo que pode ser suspenso quando da sua
realização e logo volta a ser negativo, ganhando um outro formato (SCHOPENHAUER, 2013).
As teorias contemporâneas de consumo reafirmam o pensamento de Schopenhauer, assim como
as teorias do Marketing Estratégico, que afirmam que os desejos são estimulados, criados e
recriados, transformando-se em necessidades. Na atualidade, o marketing e os estudos sobre
comportamento do consumidor trabalham na perspectiva de antever, estimular, criar e recriar
necessidades, algumas até então desconhecidas por consumidores.
Pelo fato do ser humano tentar viver o presente, passado e futuro ao mesmo tempo, desenvolve
uma habilidade de predizer algumas necessidades ainda inexistentes. Em particular, utiliza-se
de muitos artifícios para se transportar a um tempo que já não exista ou que talvez possa não
vir a existir. Consequentemente, fortalece o poder e a capacidade de sofrer, de forma que os
tempos se confundem, o futuro pode ser previsto e o passado permanece infinitamente presente
(SCHOPENHAUER, 2001).
29
Ao aprofundar os estudos filosóficos, percebe-se que existe um passado para cada presente. Os
humanos acreditam dominar a vida livremente, transitando entre passado, futuro e presente ao
mesmo tempo, ou seja, o controle total de um período de tempo, o império ilimitado do possível.
O passado depende do presente para sua existência, fazendo-se necessário que, no presente, o
tempo que o sucede, seja pensado, seja resgatado. A relação humana entre passado, presente e
futuro é um tema bastante amplo, com uma grande motivação a ser analisada
(SCHOPENHAUER, 2001).
No campo da moda, passado, presente e futuro fazem uma interação produtiva. É o passado que
só existe condicionado ao presente. Seguindo essa linha de pensamento, “nada de moda sem tal
revolução da relação com o devir histórico e o efêmero” (LIPOVETSKY, 2005, p. 69). De
acordo com esse autor, para o sistema da moda existir, foi necessário que o moderno fosse
aceito e desejado, assim como que o presente fosse considerado mais importante que o passado,
em oposição ao pensamento de Schopenhauer, que traz a importância do passado sempre
presente no tempo presente, ou seja, passado e futuro neste infinito presente. Por conseguinte,
a sociedade não vive sempre no presente, pois busca referências no passado, observando o
presente para construir o futuro, o que estar por vir, efetivamente uma das características da
hipermodernidade, a crono-reflexividade (LIPOVETSKY, 2004).
Daí se tem a importância dessa obra, ainda atual, tanto para estudos na área de design como na
área de estudos sobre consumo e comportamento do consumidor. Os fundamentos seguem
atualizados. Percebe-se que as esperanças e pretensões dão origem e alimentam os desejos. A
Vontade dá a chave da própria existência fenomenal do indivíduo e seu significado, mostrando
a força interior que produz o seu ser, suas ações e seu movimento.
Para Schopenhauer, Representação é a objetividade da Vontade, quando esta se torna objeto.
Na verdade, localiza-se na nítida fronteira que separa o objeto do sujeito, na demarcação de
quando começa um e quando termina o outro. Pela ótica da filosofia de Schopenhauer, o
primeiro ponto de vista é que o mundo existe apenas como Representação. Para ele, o mundo
existe enquanto Vontade, a vontade dá a chave da própria existência fenomenal do indivíduo e
seu significado e mostra a força interior que produz o seu ser, as suas ações, o seu movimento
(STRATHERN, 1998), como se pode observar:
A Vontade é cega, perpassa todas as coisas e é sempre destituída de objetivo [....] é
isso que provoca toda miséria e sofrimento do mundo, que só termina com a morte.
Nossa única esperança é nos libertarmos do poder dessa Vontade e da carga de
individualidade e egoísmo atada a ela. Isso só pode ser obtido pela renúncia expressa
na compaixão por nossos irmãos sofredores, pela abnegação da vontade tal como
30
praticada pelos santos e eremitas de todas as raças e credos, e pela apreciação estética
das obras de arte (que inclui a contemplação sem vontade) (STRATHERN, 1998,
p.25).
Dessa forma, a Vontade é a essência de todas as coisas e de toda força da Natureza ou de todo
conhecimento, até então desconhecido. Para Schopenhauer, esse conceito de Vontade não tem
origem em um fenômeno, origina-se na consciência individual que a reconhece, embora não
possua uma forma definitiva (SCHOPENHAUER, 2001). Para a sua efetivação, o processo tem
início no momento que a Vontade passa pelos mecanismos do cérebro e se transforma em
entendimento. Logo, ganha forma como Representação para estimular a Vontade e é a
objetivação da Vontade que a torna objeto.
Diante dessa perspectiva, pode-se dizer que a Vontade é a chave da própria existência, a
essência determinante de todas as coisas do mundo e da natureza, o princípio da
individualização. A Vontade, nesta perspectiva, é o elemento que dá sentido às coisas através
da união entre corpo e sentimento, a essência da metafísica e o enigma da vida, um querer
individual que não cessa, que se renova.
É a Vontade que move a inconsciência. Efetivamente,
Enquanto nossa consciência está preenchida pela nossa Vontade, enquanto somos
subjugados pelo impulso do desejo, esperanças e pelos temores contínuos que ela faz
nascer, enquanto somos súditos do querer, não existe para nós nem felicidade
duradoura, nem repouso (SCHOPENHAUER, 2001, p.206).
Para Schopenhauer, a Vontade produz o sofrimento, a dor. O desejo é alimentado pelas
esperanças e pretensões, pois, tem origem nas necessidades e na Vontade. Vontade que é
renovada através da realização de um desejo que, após satisfeito, dá origem a outro desejo,
fazendo surgir uma outra necessidade em um ciclo interminável de sonhos e anseios. É a
Vontade que produz o sofrimento.
Didaticamente, no esforço de fazer-se claro aos leitores, Schoupenhauer, metaforicamente,
compara a Vontade como calor e a Representação com a luz, ou seja, é “a Vontade que dá a
chave (do enigma) da própria existência fenomenal do indivíduo e seu significado e mostra a
força interior que produz o seu ser, as suas ações, o seu movimento” (SCHOPENHAUER, 2001,
p.109-110).
Trazendo a filosofia em análise, ao objeto de interesse desta dissertação, pode-se dizer que o
consumo de produtos de moda, que é um fenômeno contemporâneo, teve seu início em um
período anterior à Revolução Industrial. No entanto, nos dias atuais, é possível observar que
31
houve, comparativamente, um aumento do desejo e uma necessidade latente e crescente, cada
vez mais presente na sociedade, que agora vive a chamada era do hiperconsumo
(LIPOVETSKY, 2005). São as diferenças individuais que atuam de forma coletivizada, através
dos vários sentimentos, os valores, os desejos e as necessidades de cada um se interligam aos
outros com poder de produzir o surgimento de um novo fenômeno da Vontade.
Contextualizando o pensamento de Schopenhauer, a metafísica acredita em Vontade como o
mecanismo da felicidade, baseia-se nos pensamentos da arte, especialmente a música, para o
filósofo considerada a mais maravilhosa entre todas. Fazendo-se uma analogia com a passagem
de um desejo à sua realização, seguido de outro desejo em um ciclo capaz de tornar o homem
feliz, comparando ao andamento de uma música, cuja melodia harmônica e seus movimentos
dissonantes, por vezes dolorosos e tristes, seguidos por compassos com movimentos rápidos,
alegres, em allegreto, o alegro majestoso. Em uma sinfonia, vários movimentos contam a
história, emocionam, entristecem, trazem felicidade e satisfação.
Para Lipovetsky (2005), a expansão das necessidades na sociedade possibilita a inversão da
ordem financeira passar para o universo da moda através da efemeridade que comanda a
produção e do consumo (em massa). Resultado do tempo breve da moda, da efemeridade, do
desuso e das novas necessidades estimuladas pelo hiperconsumo. Com efeito, são os desejos
que precedem às necessidades, segundo Schopenhauer, é o fim de um sofrimento, de uma
privação que, rapidamente, dá lugar a outro.
Atualmente, o consumidor é exposto diariamente a uma quantidade de produtos bem maior do
que as suas necessidades, o que pode provocar o estímulo a compras não planejadas, a compra
por impulso (ÂNGELO et al, 2003). Impulso que foge à razão, que foge da lógica do querer e
da vontade, no entanto, além de assumi-los conscientemente, é necessário mantê-lo vivo
(SCHOPENHAUER, 2001). Certamente, uma urgência que surge como uma resposta a um
estímulo imediato com força para estimular a compra, “ continuar ou fugir, temer a felicidade
ou o gozo são, na realidade, a mesma coisa: a inquietude de uma vontade sempre exigente, sob
qualquer forma que se manifeste, enche e perturba sem cessar a consciência”
(SCHOPENHAUER, 2001, p.206).
A compra por impulso acontece de forma repentina quando o consumidor, movido por alguma
emoção, não controla seus atos (ENGEL et al, 1995). Produtos de moda, como os calçados, tem
o poder de alimentar o impulso nas necessidades básicas acidentais. As compras por impulso,
com fortes traços de emoção, trazem o consumo hedônico para esse contexto em uma
32
tempestade de paixões que atormentam a tirania do desejo que estimula do consumidor,
estimulando a efetivação da compra (SCHOPENHAUER, 2001).
Para Engel, Black e Miniard (1995), na efetivação da compra por impulso, o consumidor não
conhece sua necessidade até posicionar-se frente ao produto, enquanto que para Rook (1997) o
impulso encoraja a compra imediata, fortalecendo o indivíduo para uma ação imediata. Entre
as categorias de consumidores por impulso, uma delas baseia-se na busca de prazer de comprar
(COSTA e LARAN, 2003). Fazendo um paralelo com o pensamento de Schopenhauer, que diz
que é esse impulso de novos desejos que acontece de forma objetiva, provocando que o sujeito
saia da sua normalidade, independente da relação existente com a vontade.
2.1.2 A metafísica do belo
Como forma de equilibrar seu ser em relação à felicidade da alma e a dor da Vontade,
Schopenhauer propõe o equilíbrio através da metafísica do belo, das expressões abstratas na
concretização das formas necessárias. Para o filósofo, é através da arte que o Mundo como
Representação terá uma nova apresentação, a outra face, o avesso do Mundo como Vontade,
que considera a arte como uma manifestação da Ideia.
Para melhor entendimento do conceito de Ideia, faz-se uma analogia ao pensamento de Löbach
(2001), que busca referência no design ao trazê-lo como
uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um determinado. O design
consiste na codificação da ideias para, com a ajuda dos meios correspondentes,
permitir a sua transmissão aos outros. Já que nossa linguagem não é suficiente para
tal, a confecção de croqui, projetos, amostras, modelos constitui o meio de tornar
visivelmente receptível a solução (LÖBACH, 2001, p.16).
É o conhecimento estético que remete à nomenclatura de Metafísica. O Belo é a objetivação
mais perfeita da Vontade, e onde não existe fronteira entre o sujeito e o objeto que, ao se
fundirem, permite a contemplação (CACCIOLA, 1998). Sendo assim, ao entender a arte como
portal, diz-se que é através dela que o inconsciente se comunica positivamente com o consciente
(SCHOPENHAUER, 2001).
Para adentrar no tema do design e alcançar um melhor entendimento filosófico do consumo,
será estudado a diferença entre estética e “semântica”. A consciência e o conhecimento do
objeto como coisa-em-si, itens indissociáveis na contemplação estética. A contemplação do
belo, o sentimento da beleza que é provocado pela contemplação que a precede, provocando o
prazer estético. A beatitude dessa contemplação capaz de libertar a Vontade, a ideia que se
expressa e se individualiza através da riqueza e clareza das formas, o Belo que age sobre os
indivíduos, o sentimento da beleza provocado.
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Neste estudo, os signos não serão analisados, a pesquisa será limitada à análise estética e sua
riqueza de significados, à clareza das formas, à percepção individualizada, ou seja, a
representação da estética como fruto do conhecimento imediato do objeto.
O Sublime está associado ao êxtase, um superlativo do Belo, que ultrapassa a própria
individualidade. Um estado de êxtase tem força para remover as barreiras de resistência do
sujeito diante da beleza. O sujeito que se volta para seu núcleo, para o lado mais íntimo do ser
onde está localizada a consciência pura, ao conhecimento puro, em busca da elevação plena da
liberdade e da consciência, libertos da vontade e do conhecimento prévio do objeto, o lado
subjetivo da estética independente da vontade, revela o sentimento do sublime. Quando o belo,
em sua transição ao sublime, age sobre o indivíduo e o sentimento da beleza, envolve-o,
convidando à contemplação, elevando-o ao estado de êxtase, de encantamento, pode-se dizer
que é um fenômeno efêmero da Vontade (SCHOPENHAUER, 2001).
Uma alegria através do conhecimento puro, intuitivo que independe da Vontade, o Sublime, o
lado subjetivo da contemplação do prazer estético. Para o filósofo, a Natureza tem esse poder
de despertar o prazer estético, por vezes momentâneo, até mesmo nos menos sensíveis, pois
que a natureza, por vezes, solicita contemplação estética, posicionando o homem em sujeito
que conhece além da Vontade. Podendo ser observado que é o sentimento da beleza que provoca
o Belo a agir sobre si, posicionando-se acima de si, acima da personalidade, acima da vontade,
permitindo, dessa forma, a distinção do sentimento de Sublime que distingue-se do Belo.
A contemplação estética baseia-se no lado objetivo da beleza, pois que a Natureza, por vezes,
nos solicita por contemplação estética, posicionando o homem em sujeito que conhece além da
Vontade. É o sentimento da beleza que provoca o Belo, que age sobre si, acima da
personalidade, acima da Vontade, sendo, dessa forma, o sentimento do Sublime que se distingue
do Belo.
A Contemplação precede de dois elementos: o conhecimento do objeto e a consciência isenta
da Vontade. Tanto no Sublime quanto no Belo, o objeto da contemplação estética parte da
objetivação da Vontade em graus determinados, ou seja, ao explicar que um objeto é Belo,
refere-se à Contemplação estética, quando a visão é acionada e se tem consciência da sua
individualidade, isenta da vontade.
Pode-se exemplificar a contemplação da natureza e da vida a partir da contemplação do belo,
um bom exemplo acontece através do olhar dos turistas nesta imagem da cidade do Recife –PE
34
(Fig.5), que observam detalhes, atentos as mais diversas formas, a estética, a arquitetura, ao
estilo de vida dos transeuntes, a contemplação estética da natureza local e do entorno. Enquanto
que os residentes, já acostumados e a visão acomodada com a natureza e as formas, já não
observam os detalhes, não se detém a contemplá-los.
Figura 5 - Recife aos olhos dos turistas
Fonte: Álvaro Severo, 2012
Dá-se o nome de bonito a toda coisa bela, alegre. No entanto, o filósofo traz a beleza negativa
para essa discussão, que consiste no feio, no repugnante que, tal qual o bonito positivo, também
tem o poder de estimular a vontade e suprimir a contemplação, nesse caso, puramente estética,
por vezes, resultando em repulsa, em horror.
O sentimento do prazer estético, segundo Schopenhaur, acontece através da luz, da visão. Para
a contemplação e realização do sentimento estético faz-se necessário a importância da luz
natural ou artificial. A luz que nas diversas religiões representa o bom, a salvação, enquanto
que a escuridão e a treva, o mal. Para que a visão cumpra seu papel, faz-se necessário a presença
da luz, da iluminação, pois, sem esta nada seria visto, contemplado, em suma, precisa dela para
existir. É ela que permite o conhecimento contemplativo das formas, a harmonia das cores, o
prazer estético, o sentimento da beleza provocado no observador. É preciso harmonizar, por
diversos meios, os fins estéticos com os fins utilitários para se alcançar a contemplação estética
na arte, podendo ser percebida como uma necessidade. O prazer estético também acontece
através da arte, que Schopenhauer (2001) considera a manifestação suprema e perfeita sobre
todas as coisas, já que para alguns esta imita a Natureza e reproduz ideias oriundas da
contemplação.
35
Nessa perspectiva, a estética do objeto sob a ótica de Löbach (2001) faz parte do processo
criativo, os aspectos estéticos são investigados com objetivo de reconhecer a percepção do
observador, do consumidor. Em relação à estética do objeto, o foco de atenção está na descrição
do que é perceptível e torna-se possível realizar uma descrição desta realidade estética. No
processo de metodologia de design, para o projeto de um produto é necessário conhecer e
enumerar as características estéticas que atendam os valores e que correspondam às
necessidades do consumidor, muitas vezes satisfeitas com o uso do produto, se manifestando
como valor de uso.
Relacionando a percepção da estética com o mundo da experiência e da reflexão, pode ser
considerado uma espécie de caverna imaginária em que vive a sociedade, escura e cheia de
incertezas, capaz de iludir com a percepção do que se acredita ser real. O Mito da Caverna de
Platão ilustra essa reflexão, quando os homens acreditavam estar vendo as imagens ilusórias
criadas através de sombras e luz (BARBOSA, 2007). Aquele que sai da caverna e vê as imagens
reais, que adquirem conhecimento, ao regressar não mais conseguirão ver aquelas sombras
(SCHOPENHAUER, 2001). “Enquanto nos fechamos exclusivamente na percepção sensível,
assemelhar-nos-emos a homens sentados numa caverna obscura, acorrentados tão
apertadamente” (BARBOSA, 2007, p.179). Esse mesmo autor traz para esta reflexão o fato da
complexidade do trabalho intelectual estar aliada às sensações dos sentidos, traduzindo na
capacidade de recepção dessas, para transformar em imagens através do entendimento. Dessa
forma, sem essa percepção não seria possível a Representação, para simplificar, de forma
comparativa, a uma televisão sem o satélite para a transmissão dos programas.
De acordo com Löbach (2001), a estética pauta-se nos valores individuais que, por vezes,
assemelham-se entre os pares. São formulados com frequência, apoiando-se nas bases
emocionais ou racionais. Entre os valores humanos, esta dissertação se detém aos estéticos por
ter uma relação direta com o tema abordado e com o design. Considerando o valor estético
como categoria, ao se estudar ou analisar produtos de uso direto do consumidor ou localizados
no entorno, sempre contemplados estando presentes tanto na consciência individual quanto na
coletiva, agregando-lhes valor.
Através da Estética acontece a libertação. Com o conhecimento é possível escapar da
escravidão. Segundo Schopenhauer, a “estética ensina o caminho através do qual o efeito do
Belo é atingido, dá as regras às artes, segundo as quais ela deve produzir o Belo”. A Estética
como princípio da individualização, o conhecimento potencializando a percepção da Estética
36
(SCHOPENHAUER, 2001). Já para Löbach (2001), a individualização se distingue na estrutura
da consciência através da percepção pessoal influenciada pela vida cotidiana, dessa forma, pode
sofrer variações e mudar com o tempo. A constância das variações acontece pelo anseio por
mudança e a necessidade por novidades alimentadas pelo desejo humano.
O mercado da moda, por sua própria efemeridade, sofre além da pressão econômica as
influências constantes de alterações estéticas que direcionam a produção e estimulam anseios e
desejos dos consumidores. Produtos que rapidamente são descartados e substituídos por outros
que, com velocidade semelhante, também serão substituídos e comercializados através das
novas preferências estéticas (LÖBACH, 2001).
A importância das cores refletem, definem e delimitam o espírito da estação, da coleção de
moda (SEIVEWRIGHT, 2009). Cores podem ter diferentes significados de acordo com a
cultura, com o tempo e com o local, promovendo novos significados e transmitindo mensagens
significativas (FRASER, 2012; SEIVEWRIGHT, 2009). Assim como a estética, a mudança de
cores de uma estação para outra tem acontecido com uma velocidade feroz, de um momento
para outro a cor predileta da estação entra em desuso e rapidamente é substituída por outra.
como pode-se observar a seguir (Fig. 6).
Figura 6 - Cor na moda | Cor fora de moda
Fonte: Lilian Pacce, 2015
Partindo da compreensão do significado físico e psicológico da cor, que transmite credibilidade,
além de tornar-se atrativo ao público a que é direcionado o projeto, as cores na moda seguem
influências múltiplas e variadas dentro das paletas propostas pelas pesquisas de tendências,
sendo previstas e monitoradas por várias organizações mundiais (FRASER, 2012;
SEIVEWRIGHT, 2009). Nesse contexto, Seivewright (2009) traz à discussão que a cor é
37
fundamental no processo de design, à medida que pode ser um dos primeiros elementos a ser
notado, é um dos primeiros a ser definido nos projetos.
Os símbolos são utilizados através de produtos de moda para representar a identidade do
consumidor. Para Svendsen (2010) uma das formas de representar o significado, de apresentar
a individualidade, visto que o vestuário faz parte da individualidade, apresenta grupo ao qual
pertence classe social, faixa etária, informações sociodemográficas. A construção da
simbologia presentes em produtos de moda, os saltos e suas formas, as modelagens das roupas,
a mistura no uso de materiais e das novas tecnologias em produtos.
Para Lipovetsky (2005) a moda é pautada nos fatores culturais que tem como ponto de
referência o incentivo ao individualismo, o culto das aparências e a estetização das formas a
definem. Através dos valores, significados, estilos e normas de vida conduzem o consumidor à
busca crescente por novidades. Enquanto que, para Schopenhauer (2001), o impulso quando
assumido conscientemente é acompanhado por uma constante Vontade.
2.1.3 Consumo
Para Blackwell et al (2008), o consumo representa “o uso do produto adquirido pelo
consumidor” (BLACKWELL et al, 2008, p.167). McCraken (2003), por sua vez, considera que
o consumo é um fenômeno cultural, moldado e dirigido a partir de considerações culturais, e
complementa o seu pensamento ao dizer que tanto os bens de consumo quanto o design
trabalham em todos os seus aspectos a partir dessas considerações.
2.1.4 Consumo como representação schopenhaueriana
A compreensão do consumo de moda pela filosofia schoupenhaeuriana é possível se o conceito
de Representação for revelado e trazido para o debate como a transformação de um
conhecimento abstrato em realidade, ou seja, a efetivação da realização da Vontade.
Sendo assim, para a perspectiva dos estudos no campo do comportamento do consumidor, pode-
se dizer que a compra é uma Representação simbolizada (efetivada) através da objetivação da
Vontade. São as necessidades que surgem e se renovam dando origem a novas necessidades
através de um conjunto de sensações renováveis. Para Baudrillard (2004), o consumidor
relaciona a obrigação ao prazer e à satisfação, que o denomina feliz, sedutor, participante.
Na contemporaneidade, o consumidor, enquanto cidadão moderno, não tem que se esquivar a
essas sensações citadas anteriormente. McCraken (2003) compara-as a obrigatoriedade do
38
trabalho e da produção, fazendo parte do cotidiano deste consumidor.O mundo da moda em sua
faceta efêmera reflete a forma como o consumidor tem se comportado perante esse
hiperconsumo crescente quando os produtos mudam, se transformam e seduzem os
consumidores. Sob a ótica schoupenheueriana, esse consumo reflete a compra como uma
Representação, como a objetivação da Vontade, no momento que o desejo se transforma em
aquisição do produto.
Ao trazer essa reflexão para o presente observa-se que o princípio filosófico se mantém
atualizado, ao verificar que para Hirschman e Holbrook (1982) o consumo hedônico relaciona-
se a aspectos multissensoriais, emocionais e fantasiosos presentes na relação indivíduo-produto.
Quando o consumidor acredita que a necessidade será satisfeita na aquisição do bem ou
produto, nesse momento, Schopenhauer (2001) relata que essa necessidade, após satisfeita, dará
vazão à outra.
Ao contrário, Albuquerque et al (2010) enfatiza que consumidores podem também despertar
sensações hedônicas relacionadas ao ato de não consumir, pois, muitas vezes, o prazer está
localizado na experiência proporcionada através da descoberta de possibilidades, em observar
vitrinas, experimentar produtos, comparar preços, analisar características dos produtos que
proporcionam o mesmo prazer, a aventura da busca. A diferença sob o aspecto comercial
consiste em não efetivação da compra.
2.1.5 Consumo hedônico
O consumo é classificado como hedônico quando vai além da satisfação da necessidade de
consumir. Em verdade, busca-se o prazer no consumo, ato que, cotidianamente, é mais
relacionado ao desejo que à própria necessidade, podendo ser obtida através das reações
positivas quando as emoções e estímulos multissensoriais se fazem presentes, motivam e
determinam o consumo (HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982) ou através de diferentes níveis
de valor hedônico, desenvolvidos pelo consumidor na compra de produtos (TONETO; COSTA,
2011).
Restritamente, a existência de uma sociedade hedonista resulta da união das ações de marketing,
da sociedade de consumo e estilo de vida. Aliado a isso, os valores hedônicos prevalecem e são
guiados tanto pelo crescente consumo quanto pelo hábito desenvolvido nesta sociedade, de
acúmulo de bens (ALBUQUERQUE et al, 2010).
39
Os produtos adquirem valor hedônico e/ou utilitário que despertam novas dimensões no
comportamento do consumidor através de imagens multissensoriais, fantasias e emoções
construindo as relações de compra entre o hedônico e o utilitário.
Para facilitar e conduzir a compreensão, faz-se necessário entender que todo querer precede
uma necessidade, isto é, de uma privação, de um sofrimento, que somente a satisfação põe um
fim, por conseguinte, o desejo satisfeito cede lugar a outro, no entanto, esse mesmo desejo pode
deixar de existir, tornando-se incapaz de produzir a dor caso não haja esperança que o alimente
(SHOPENHAUER, 2001).
São as esperanças e as pretensões que engendram e alimentam o desejo (SCHOPENHAUER,
2001). A busca das sensações de prazer que está em descobrir “coisas”, em se divertir no ritual
dessa descoberta (ALBUQUERQUE et al, 2010).
Na sociedade de consumo, diversos fatores influenciam a escolha da aquisição de produtos e,
em particular, para esse projeto de dissertação, sapatos, tendo em vista a diversidade e
quantidade de produtos que são oferecidos aos consumidores. Uma pesquisa realizada pela
Federação do Comércio - FECOMÉRCIO apresenta números impressionantes, no Brasil se
consome mais calçados do que muitos produtos de necessidades básicas, equiparando o
consumo de calçados ao de um dos produtos da cesta básica, o feijão.
O consumo, que é regido pelas necessidades hedônicas e/ou utilitárias, é movido pelas
necessidades humanas. As necessidades básicas movimentam-se em direção às justificativas
utilitárias, são importantes qualidade e utilidade dos produtos, enquanto que as necessidades de
entretenimento e prazer, as hedônicas (Fig. 7). O consumo hedônico é motivado pela felicidade,
pelo prazer em consumir, muitas vezes, independe do preço do produto. Enquanto que o
utilitário pauta-se na funcionalidade, na utilidade e qualidade dos produtos. Löbach (2001)
reflete sobre conhecer as necessidades e desejos do consumidor para, dessa forma, “dotar o
produto com as funções adequadas a cada uso” (LÖBACH, 2001, p.55).
Seguindo esse raciocínio chega-se ao design sob o ponto de vista das distinções visuais e da
semântica cultural com poder de influenciar nas emoções, no comportamento e atitudes do
consumidor. As emoções, segundo Bonsiepe (2011), são fenômenos efêmeros, de curta
duração, pois acontecem de forma instantânea, interrompendo o fluxo das ações, enquanto que
os sentimentos têm maior duração, pois referem-se a atitudes relacionadas a possíveis futuras
ações. No momento que a consciência é preenchida pela Vontade, o sujeito é conduzido ao
40
impulso de desejo e esperanças, as expectativas do consumidor que, quando alcançadas,
provocam a satisfação.
Figura 7 - Modelo de justificativas e valores
Fonte: Arruda Filho e Dolakia, 2013
2.1.6 Consumo por encantamento
Na contemporaneidade, o design do produto está cada vez mais focado no consumidor, nas suas
percepções e emoções, na importância do usuário como elemento central do processo de design
(JORDAN, 1998). Observa-se forte tendência em produtos que atuam com estímulos
emocionais, que levam em consideração a base cognitiva das emoções do produto, a aparência
e suas relações hedônicas (DESMET e HEKKERT, 2002). Aliado a um mix de sentimentos
que, associados ao prazer, resultam em benefícios hedônicos no consumo do produto que seja,
satisfação, orgulho, confiança, segurança e emoção.
A percepção dos produtos de consumo é resultado das respostas emocionais provenientes de
avaliação pessoal. Ou seja, este é um processo individualizado, apesar do consumidor estar
inserido em um grupo e estes se influenciarem nas decisões de consumo, a emoção é individual
(DESMET e HEKKERT, 2002), enquanto que Jordan (1998) correlaciona investigação
comportamental ao prazer de usar o produto afetando futuras escolhas.
O prazer na utilização de um produto é definido por Jordan (1998) como os benefícios
emocionais e hedônicos associados ao uso do produto, enquanto que para Desmet e Hekkert
(2002) quando o benefício excede a funcionalidade abrange emoções agradáveis e considera o
prazer como uma dimensão da emoção. Para Syarief (2008), ao longo da história, o prazer se
localizou entre a lógica e os sentidos.
41
As emoções de prazer estão presentes na relação com o produto, funcionando como seu ponto
de partida. É o prazer como benefício emocional que complementa a funcionalidade do objeto.
Quando produtos que eliciam emoções, que fazem o consumidor pensar em possui-los
conduzindo a fantasias que podem, dessa forma, provocar uma emoção como o desejo, levando
em conta a base cognitiva das emoções do produto (DESMET e HEKKERT, 2002). Jordan
(2008) classifica quatro tipos de prazeres que o ser humano relaciona ao consumo de produto:
o fisio-prazer, sócio-prazer, psico-prazer e ideo-prazer (Fig. 8).
Figura 8 - Categorias do prazer com produtos
Fonte: Jordan (2008)
O fisio-prazer relaciona o corpo aos sentidos, ou seja, os prazeres relacionados ao corpo através
dos cinco sentidos humanos, especialmente quando acontece a interação através da visão e do
tato. No sócio-prazer a interação acontece compartilhada com outros consumidores,
conferindo-lhe status social. O psico-prazer relaciona as questões cognitivas e emocionais do
consumidor, ao seu estado psicológico, como exemplo o uso de produtos interativos. Enquanto
que o ideo-prazer está relacionado ao resultado da experiência e do julgamento de valores do
produto para o consumidor (DESMET e HEKKERT, 2002; JORDAN, 2008).
O lado afetivo da experiência do produto através de elementos como prazer e emoção agregam
valor ao produto (DESMET e HEKKERT, 2002). As experiências prazerosas entrelaçam a
visão e a emoção com força capaz de produzir vínculos com o consumidor. Neste caso, é o
prazer que ganha forma quando o objeto é possuído, usado ou através da sua interação com o
usuário. Percebe-se que este fato tem início em momento anterior ao consumo através da
visualização, quando a imagem do produto produz o encantamento através do objeto, com seus
vínculos e interações (SYARIEF, 2008). Para Rocha (2004), o encantamento é a sensação de
estar “apaixonado”, de que não se pode viver sem o produto, quando o consumidor não sabe
explicar a razão de gostar, de querer.
Jordan (2008) trabalha as necessidades do consumidor, sugerindo uma linha hierárquica com
três níveis. No primeiro, localiza a funcionalidade do produto, que seja capaz de desempenhar
as funções adequadamente. No segundo, a usabilidade que permite o consumidor utilizar o
42
produto sem dispender muito esforço no uso ou manuseio. No terceiro, o prazer, quando
conexão emocional entre consumidor e produto é capaz de ultrapassar os benefícios oferecidos,
promovendo bem-estar pessoal. A satisfação relaciona-se com a avaliação cognitiva, o
encantamento com a reação emocional que supera a expectativa do consumidor (DESMET e
HEKKERT, 2002).
2.1.7 Satisfação do consumidor
Oliver (1987) relaciona a satisfação do consumidor ao desempenho do produto, enquanto que
para Angnes et al (2015) a satisfação do consumidor potencializa a recompra. Nessa premissa,
a importância de oferecer experiências prazerosas ao consumidor, as emoções e sentimentos
valorizam a experiência de consumo ao agregar valor aos produtos e resultar na satisfação do
consumidor. Nessa linha de raciocínio, significa que desempenho alcançado resulta em
satisfação. Quando esse desempenho vai além das expectativas, o consumidor se encanta com
o produto, movimentando o hedonismo do consumo.
As expectativas são provocadas pela experiência de consumo, pelo boca-a-boca ou através das
informações e promessas do marketing. Acontece a comparação por parte do consumidor ao
perceber se recebeu o que esperava, ou seja, se as necessidades e expectativas foram satisfeitas
(Angnes et al, 2015). No entanto, percebe-se que, dentro de uma gama multifacetada de
produtos, somente o desempenho dos produtos não provocará a satisfação, faz-se necessário
analisar como o consumo é influenciado através do afeto, que tanto pode ser positivo como
negativo, ou seja, experiências positivas e negativas, concomitantemente (OLIVER, 1987).
No pós consumo acontece a avaliação do consumidor, decorrente da satisfação de suas
expectativas em relação ao produto. Blackwell, Engel & Miniardi (2008) refletem sobre a
avaliação positiva ou negativa que acontece no pós consumo, que refletirá no envolvimento
hedônico das futuras decisões de consumo como resultado da satisfação do consumidor. Nessa
mesma linha de pensamento, Oliver (1987) argumenta que os processos de pós compra são
fundamentais para a decisão da recompra de um produto. Esse é um fato que atrai a atenção dos
pesquisadores de consumo, como exemplo, alguns consumidores de calçados que recompram
o mesmo produto, apesar de novos modelos que são lançados a cada ano e da enorme oferta de
calçados no mercado de consumo, representando a satisfação da marca e do produto específico.
Nos produtos em que o consumo é utilitário essa é uma prática relativamente frequente, no
objeto de estudo dessa dissertação de mestrado, vários fatores estão envolvidos, além do
hedonismo do consumo. Fatores esses como as tendências de moda, a influência através do
43
marketing ou o desejo em sentir parte de determinados grupos, por exemplo (OLIVER, 1987;
CASTILHO & MARTINS, 2005).
2.1.8 Marketing de experiências
As pessoas mudaram e, paralelamente, também mudaram as formas de consumo. Esse é um
novo paradigma de consumo contemporâneo, um advento atual que vem provocando uma outra
forma de pensar o Marketing para adaptar-se a esta recente realidade do mercado de consumo.
Diariamente, o consumidor é exposto a milhares de imagens, marcas e produtos. Com a
globalização e a democratização das informações, esse consumidor, cada dia mais exigente,
mais informado, mais preocupado com seu bem-estar e a satisfação das suas necessidades,
sejam de caráter utilitário ou hedônico. Nesse contexto, tem-se percebido a sensação do tempo
estar encurtando devido à crescente demanda de atividades, resultando em muitos indecisos em
suas decisões de compra. Para Agostinho (2013) o Marketing de Experiências possui uma
alternativa mais direta, sensorial e emocional com capacidade de conquistar esses
consumidores.
Marketing de Experiências, esta nova teoria tem como proposta a oferta de experiência de
consumo, rompendo com o modelo tradicional e massificado. Um estudo do Boston Consulting
Group, publicado no AdAge3, apresenta como resultado que a geração Millenials (nascidos
entre 1980 e 2000) preferem experimentar que consumir. Partindo desse resultado, aponta-se o
direcionamento de um novo modelo de consumo, fruto de exigências do mercado. Quelch
(2010), especialista em marketing e branding global, em entrevista para o Dossiê Consumidor
3.0, da revista HSM Management4, traz para esta reflexão esse novo grupo de consumidores,
classificando-os como os que “vivem o presente” e preferem gastar mais em experiências que
em consumo de bens. Partindo dessa premissa, empresas iniciam ajustes e começam a repensar
modelos para oferecer novas experiências de compra e atendimento diferenciado, para que o
consumidor se sinta especial. São experiências centradas no ser humano e seus valores, cuja
proposição baseia-se nos aspectos funcionais, emocionais e espirituais. Holbrook (1982) traz
para a reflexão a experiência como um fenômeno espiritual com variedade de significados
simbólicos e critérios estéticos, compreendido como estado consciente e subjetivo.
3Advertising Age - AdAge é considerada a principal fonte mundial de notícias, inteligência e conversa para as
comunidades de marketing e mídia.
4Revista HSM Management publica sobre as tendências mundiais e os principais conceitos em gestão.
44
De acordo com Roberts (2005), as pesquisas demonstraram a emoção como assunto legítimo,
afirmando que são as emoções que movem o ser humano e não a razão, apesar do entrelaçado
existente entre elas. A importância de envolvê-las e descobrir seu significado, assim como
afetam o comportamento, fez movimentar as pesquisas na área do marketing, ao detectar que a
vontade crescente das pessoas em escolher produtos ou experiências que permitam satisfazer
necessidades e desejos através do estímulo às emoções, sem deixar de fortalecer os valores.
Nesse contexto, o consumidor passa a ser o centro das atenções do marketing.
2.2 A perspectiva da moda pelo design
De acordo com Castilho e Martins (2005), a moda entre as várias linguagens deste mundo
complexo tem mantido um diálogo com as artes, com estudos do design, pesquisas de novas
tecnologias e as mídias. Nessa perspectiva, é o marketing que instaura o tempo, fortalecendo as
significações através dos seus discursos, ou seja, o marketing no entendimento do consumidor
de produtos de moda (LUCIAN, 2015).
2.2.1 Breve história do design
A história do design acompanha a evolução da manufatura e, em algum grau, o próprio
desenvolvimento dos meios de produção. Sua origem é desconhecida, porém, remete ao período
ancestral, quando os produtos já tinham forma e atendiam às necessidades humanas. Vitruvius
viveu cerca de 80 – 10 a.C., sua obra: Dez livros sobre a arte em construção, foi um dos
primeiros trabalhos sobre configuração e projeto que descreve a necessidade do arquiteto em
relacionar a arte à ciência e a relação entre teoria e prática. Disserta que “toda construção deve
obedecer a três categorias: a solidez (firmitas), a utilidade (utilitas) e a beleza (venustas)”
trazendo a tona a base para o conceito do funcionalismo que só veio a ser utilizado com o design
moderno no Século XX (BÜRDEK, 2010, p.17).
Trazendo tais conceitos para o contemporâneo, é possível adentrar aos estudos de design e
observar que os preceitos de Schopenhauer, embora não explicitamente referenciados,
permanecem atuais e ainda contributivos para a discussão acadêmica. O design se utiliza de
referências filosóficas para se conceituar, para desenvolver as metodologias de criação
(BONSIEPE, 2011).
No entanto, somente com a industrialização, a invenção da máquina a vapor utilizada nas
indústrias têxtil e de transportes na Grã-Bretanha que se possibilitou o avanço acelerado dos
produtos e meios de produção (CARDOSO, 2013).
45
A Revolução Industrial, então, provocou forte impacto na sociedade do século XVIII, tanto nos
processos de fabricação quanto na criação de produtos, com forte e importante repercussão no
consumo até o período atual. Somente após esse período o design conquista seu sentido atual,
quando tem início a industrialização da produção e o aumento da oferta de bens de consumo
(CARDOSO, 2013; CARDOSO, 2008; BÜRDEK, 2010).
As indústrias logo sentiram a necessidade do design. A princípio, artistas foram contratados
para trabalhar no processo de criação com o intuito de interferir no gosto da população através
de novas configurações de produtos. O design, então, começou a ganhar espaço no processo
criativo, as fábricas aos poucos substituíram as oficinas, a mecanização se fez presente, o
planejamento nas várias etapas do processo produtivo, a divisão de tarefas, o designer para gerar
e gerir o projeto. A indústria têxtil foi um dos primeiros setores a sentir necessidade deste
profissional no seu quadro de funcionários, quando os tecidos produzidos na Inglaterra
atingiram valores acessíveis a um maior número de compradores que desejavam adquiri-los.
Nesse período, já se percebia que o aumento da produção estimulava um maior consumo
(CARDOSO, 2008).
Uma elite consumidora já se fazia presente em alguns países na metade do século XIX. A
produção industrial aumentou os bens disponíveis, a produção de bens efêmeros estimulava o
desejo de possuir e de fazer parte de uma nova classe social economicamente ativa, quando o
consumo foi transformado em uma atividade de lazer para uma pequena minoria da sociedade
(CARDOSO, 2008).
Coincidindo com o período que Schopenhauer produzia seus textos filosóficos na Alemanha,
surgiram as primeiras lojas de departamento na Europa (Fig. 9), que promoveu o consumo
feminino a uma atividade de lazer, à realização de desejos através do mundo de possíveis sonhos
presentes nestes espaços, estimulando o imaginário e a construção do pensamento ‘consumir
com os olhos’, dessa forma, novos hábitos de consumo fizeram ascender essa nossa classe
consumidora (CARDOSO, 2008).
Com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, deu-se início a um período de recessão
econômica, a grande depressão (1929-1935). Para sair da crise, o consumo precisava ser
estimulado, ao mesmo tempo que o desejo de renovação e substituição dos produtos antigos
por considerá-los fora de moda, enfatizando, desta forma, o estilo e a moda. Deu-se início ao
surgimento de um novo conceito para agregar valor aos produtos e estimular este consumo
através do design, o styling. A pesquisa das tendências como conhecemos na
46
contemporaneidade, os produtos teriam um ciclo de vida sendo substituído por outros e
impulsionando novas vendas, prática que segue até a atualidade (CARDOSO, 2008).
Figura 9 - Le Bon Marché
Fonte: Visual Merchandising, 2011
Na América Latina, o design só se estabeleceu após a Segunda Guerra, ainda que de forma
bastante tímida. Para o argentino Tomas Maldonado, que nos anos 1980 lecionou nas
Universidades Federais de Pernambuco e da Paraíba, o design deveria libertar-se das tradições
artesanais e ser desenvolvido seguindo conceito do moderno. Já o alemão Gui Bonsiepe, com
forte orientação tecnológica, atuou no Programa de Design Brasileiro do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ e contribuiu com o incentivo e a
conscientização das atividades do design. No seu discurso teórico, o subdesenvolvimento
tecnológico, a inovação e a periferia eram temas constantes (BONSIEPE, 1983).
Com as diferenças históricas e as influências culturais (CARDOSO, 2008; BÜRDEK, 2010), o
design, no Brasil, que recebeu todas essas influências, precisou de alguns anos para adquirir sua
maturidade e identidade. Em decorrência a essa maturidade e a busca de novas soluções, desde
os anos 1980, vive-se um verdadeiro boom no design. Fato que, no Brasil, coincide com o fim
da Ditadura Militar, ao mesmo tempo que, no cenário internacional, velhos paradigmas foram
quebrados e o design finalmente se libertou das normas rígidas, ingressando na era digital que
trouxe velocidade e “uma grande dose de liberdade para o exercício do design” (CARDOSO,
2008, p.242).
Novos pressupostos, modelos e paradigmas, vive-se a pós modernidade plural. Percebe-se
novas formas de consumo neste cenário, outros possíveis consumidores que são beneficiados
pelos produtos de design. Segundo Cardoso (2008) “à medida que a produção industrial vai se
tornando mais precisa e diferenciada, é no âmbito eminentemente subjetivo da experiência e da
emoção que as verdadeiras decisões de projeto vão se dar” (CARDOSO, 2008, p.236).
47
Uma nova prática projetual em diversas áreas de conhecimento, da cibernética à sociologia, o
design com uma nova visão interdisciplinar (CARDOSO, 2008). Dentro dos métodos aplicados
do conhecimento de design, Bürdek (2010) traz a necessidade de uma reflexão filosófica pelas
constantes crises que direcionam os sentidos do design, daí a importância das ciências humanas
nesse contexto.
A consciência de que o industrialismo tenha atingido uma certa maturidade – ou de
que tenhamos ingressado em uma nova fase, como querem alguns, de capitalismo
tardio – aponta em pelo menos duas direções opostas. Por um lado, a difusão mundial
de um modelo consumista americano significa que a perpetuação do sistema atual
depende da expansão contínua da produção e do consumo (CARDOSO, 2011, p. 236).
Ainda nesse período, o design se despede do aspecto unicamente funcional, se valendo da arte
e outros valores para retrabalhar objetos de uso cotidiano (BÜRDEK, 2010). É, pois, na arte
que o mundo como Representação se apresenta, como um avesso do mundo como Vontade,
como sua outra face (SCHOPENHAUER, 2001). Bonsiepe (2002) traz uma reflexão ao afirmar
que “arte e design são mundos de discursos diferentes. A primeira se apóia no autor referência
individual, o último na resolução de problemas sociais” (BONSIEPE, 2002)
Nessa premissa, faz-se necessário compreender o design através das configurações dos
produtos, das formas de vida e desenvolvimento da sociedade (LÖBACH, 2001). A forma de
pensar e se relacionar com os produtos, a influência do design que altera a maneira como o
indivíduo vê os novos produtos e bens de consumo e como se sentem em relação a estes,
percebendo-se que os bens de consumo, os produtos e os objetos comuns rapidamente se tornam
objetos de desejos (FORTY, 2007).
As informações desta atividade profissional são relativamente recentes. O presente está sendo
construído em tempo real, através do passado recente e com os olhos focados no futuro, fato
que pode ser percebido através da importância crescente do design no contexto nacional, nessa
linha de raciocínio. Cardoso (2008) resgata a fala sobre o design brasileiro, a forma como é
visto, a velocidade que tem mudado e transformado o mercado de trabalho, e a efemeridade nas
formas de consumo do design, através da rápida transformação. Cardoso (2008), ao se referir
ao designer no mercado global, vai buscar uma frase do movimento ambientalista dos anos
1990, “pense em escala global, atue no local”. A globalização fomentou o reconhecimento do
design e suas metas, apesar de esta profissão ainda ser incipiente e ter o destino imprevisível.
O mercado, com muitas possibilidades, encontra-se aberto ao novo e ao inovador, atua em
48
diversas fronteiras que são: “a ideia e o objeto, o geral e o específico, a intuição e a razão, a arte
e a ciência, a cultura e a tecnologia, o ambiente e o usuário” (CARDOSO, 2008, p.253).
Atentos às complexas características individuais no contexto globalizado, nesse sentido,
algumas empresas decidiram se posicionar em diversas localidades com o intuito de sondar o
mercado, de desenvolver produtos para serem consumidos nesta rede global, podendo, desta
forma, aproximar as tendências, integrando os estudos e resultados. Com o mercado globalizado
e com a velocidade das informações, o design caminha em direção ao futuro; design, tecnologia
e pensamentos filosóficos se mesclam, através de pensamento sistêmico, correspondendo à
lógica da indústria (CARDOSO, 2013).
Desde a Revolução Industrial, o design tem sido trabalhado como processo de resolução de
problemas. Neste período, surgiu a divisão das tarefas e a separação das atividades manual e
intelectual em algumas indústrias. Desta forma, o poder de produção com maior qualidade foi
ampliado, mais rápido e com menor custo (CARDOSO, 2008; NEUMELER, 2010). O que
aconteceu, de acordo com Cardoso (2008), foi que, com a profissionalização do designer, o
design se encaixou como um fenômeno humano através do processo de projetar e de fabricar
objetos, ou artefatos, que são objetos resultados de trabalho humano.
Inerentes ao ser humano, pois, todos possuem necessidades, e são essas que dão origem aos
produtos. Para Löbach (2001) são as carências que dão origem às necessidades que buscam
satisfação, determinam o comportamento humano e originam os produtos. Em suma, o design
é fruto de uma necessidade.
Faz-se necessário uma reflexão sobre as funções dos produtos e sua percepção, sejam através
de valores afetivos ou simbólicos. As funções práticas, estéticas e simbólicas para Löbach
(2001), na mesma linha de pensamento, Norman (2008), classifica por visceral,
comportamental e reflexivo (CARDOSO, 2013). Embora a nomenclatura seja diversificada,
observa-se que essas funções estudadas por diversos autores conduzirão aos consumos
utilitários e hedônicos como representado na imagem comparativa das funções dos produtos,
de acordo os autores Löbach e Norman (Fig. 10).
Como o design detém um importante papel de criador de símbolos e significados, Cardoso
(2013) exemplifica que um sapato pode ser simplesmente um sapato, mas além disso, contém
também uma gama de informações, de valores, estilos, podendo estar carregado de significados
e símbolos. Dessa forma, entende-se que, metaforicamente, através dos significados acrescidos
49
aos objetos, estes ganham vida e se comunicam com o consumidor, ao mesmo tempo que tem
poder de proporcionar a comunicação entre os pares, entre os grupos sociais, delimitando
classes sociais, sugerindo atitudes e comportamentos, estimulando desejos, e dando origem às
novas necessidades (CARDOSO, 2013; BÜRDEK, 2010; LÖBACH, 2001).
Figura 10 - Funções dos produtos de acordo com Löbach e Norman
Fonte: Silva; Martins, 2013
No mundo contemporâneo, é difícil imaginar uma vida sem design. O design está presente
durante todo o dia em todos os espaços, do espaço privado ao público, do individual ao coletivo.
No entorno, o design está presente em toda parte, de acordo com Bürdek (2010), configurado
de forma consciente ou inconsciente, seja próximo ao corpo (produtos do vestuário) ou de uso
espacial. É considerado responsável pela definição de grupos sociais, que se definem através
dos produtos e suas comunicações. Para Andrade (2012) “o design não é algo efêmero; é um
reflexo plural de nossos tempos” (ANDRADE, 2012, p.17).
Em relação ao objetivo geral desta dissertação de mestrado, o aspecto do design que,
particularmente, desperta interesse é o design de moda e, especialmente, sua interface com a
produção de calçados, sendo assim, o consumo deste produto através da história da moda, da
sociedade de consumo e dos calçados.
50
2.2.2 Design de moda
Na história da sociedade, a moda sempre esteve relacionada ao status social, tendo início com
as sociedades de classe, da Idade Média até a industrialização. Nesse período, procurava
distinguir-se dos outros através do uso de símbolos de status. Entre os diversos tipos possíveis,
as expressões de comportamento e o código de vestir através da sua linguagem. Hoje, muitos
códigos permanecem, apesar dos símbolos terem se modificado ao longo do tempo, através dos
estilos de vida, da globalização, do desejo de pertencimento a grupos sociais. Verifica-se que
esses fatores estimulam, através da moda, e que algumas simbologias implícitas a essa lhes
conferem a posição social, ou a ideia de que a detém.
Desde o Renascimento, a moda tem influenciado as sociedades. O ser humano, desde o início
da sua história social, começou a cobrir seu corpo por diversos motivos, seja por proteção,
pudor ou como uma maneira de se ornamentar. O vestuário se transformou em moda, a
democratização através do prêt-à-porter, os eventos foram disseminados, as publicações
encheram bancas de revista, as novas formas de consumir a moda. A necessidade fez surgir as
escolas de Design de Moda e a profissionalização nas diversas atividades do setor
(SVENDSEN, 2010).
Teve início a divulgação dos eventos de moda nos principais noticiários mundiais, com
cobertura ao vivo, transmitidas em tempo real para as diversas mídias. As distâncias se
encurtaram, a moda ganhou papel de destaque e se globalizou. Na atualidade, é vista como
importante por merecer tamanho destaque. Para Svendsen (2010), possivelmente, essa atenção
a torne importante, visto o surgimento da moda para ambos os sexos, para todas as idades, para
classes sociais e tribos urbanas, que ultrapassaram as roupas, invadindo outras áreas de
consumo.
Os tempos se confundem, passado, presente e futuro convivem juntos, traduzindo em uma moda
efêmera (LIPOVETSKY, 2005). Para Svendsen (2010) a moda não se resume à inserção de
novos produtos ao cenário, pode também ser o momento em que o retira de “moda”, exemplifica
essa reflexão através da observação relativa ao uso dos chapéus, ou seja, quando este entrou em
desuso, um acessório considerado elegante em alguns eventos sociais, mesmo assim saiu de
cena no dia-a-dia.
Cada instante de duração, por exemplo, só existe com a condição de destruir o
precedente que o engendrou, para ser também, em breve, por sua vez anulado; o
passado e o futuro, abstração feita das consequências possíveis daquilo que eles
contêm, são coisas tão vãs como o mais vão dos sonhos, e o mesmo se pode dizer do
51
presente, limite sem extensão e sem duração entre os dois (SCHOPENHAUER, 2001,
p.13).
As peças do vestuário, no período que antecederam à moda, eram semelhantes para todas as
classes sociais, diferenciando-se, unicamente, no material e no uso dos ornamentos que deram
origem aos acessórios. As formas das roupas foram mudando ao mesmo tempo que os
acessórios, no entanto, estes de forma mais veloz. Com o surgimento das primeiras revistas de
moda, entre 1770-1780, a difusão desses produtos ganhou em velocidade (SVENDSEN, 2010).
É notória a presença dos acessórios nas pinturas rupestres, nos relatos antigos e, hoje, no
cotidiano das pessoas. Desde o período neolítico, já se tem registro do uso de calçados, com
diversas funções, assim, conclui-se que os calçados surgiram por necessidade de proteger os
pés.
2.2.3 Design de moda aplicado aos calçados
Apesar da história dos calçados remontar a um longínquo passado,Van der Linden (2004) relata
que se encontra arraigada à história cultural de cada povo. No entanto, o estudo do design de
calçados é relativamente recente.
Estima-se que o primeiro calçado surgiu no período paleolítico, desenvolvido com a função de
proteger os pés do frio, calor e do solo (Fig. 11). Os mais antigos exemplos já remetem a
preocupação com a função, a forma, ao design (SEFERIN, 2012). Surgiu pela necessidade de
proteção, passando por símbolo de distinção social, crendices, até chegar ao afeto, ao fetiche.
Chocklat (2012) traz para a reflexão o fenômeno da paixão pelos calçados ter nascido ao mesmo
período que estes produtos são transformados em objetos de desejo, sonho, poder e sedução
(ANDRADE, 2012).
Figura 11 - Primeiro sapato que se tem registro
Fonte: Choklat, 2012
52
Ao longo da história, o sapato passou por diversos formatos e materiais, diferentes formas de
uso, acabamentos e ornamentos. Na idade média, o tamanho e formato do bico determinava o
status social. Até o século XIX os pés dos sapatos eram iguais e, somente a partir desse período,
a ergonomia passou a ser um item na construção de um calçado, tendo apenas em 1880 a
numeração começando a ser adotada.
No Egito Antigo, as leis suntuárias foram aplicadas nos calçados, as sandálias eram de uso
exclusivo das classes mais altas. As leis eram violadas, o desejo de consumo estimulado. A
burguesia buscava imitar a corte em um processo repetitivo que perdura até a atualidade,
quando os consumidores imitam os artistas, os famosos ou formadores de opinião. Como
Svendsen (2010) comenta “o desejo por itens do consumo simbolicamente poderosos se torna
então um mecanismo autoestimulador que é, ao mesmo tempo, causa e consequência de
desigualdade social” (SVENDSEN, 2010, p. 42). Enquanto que, no universo da moda, as Leis
Suntuárias presentes do século XIII ao século XVII reservavam peças do vestuário, cores,
acessórios e calçados para algumas classes específicas (Fig. 12).
Figura 12 - Sapatos que participaram das Leis Suntuárias
Fonte: Sapatos: espírito da moda, 2015
O vestuário passou por uma longa trajetória até transformar-se em moda, e na sua trajetória
desenvolve o papel de indicar posições sociais em diferentes épocas. Durante séculos,
constituiu-se como identificador do indivíduo, tais como: identidade regional, ocupação, classe
social e religião. Percebe-se que, através da sua evolução e das modificações, funcionou como
indicador das relações sociais, identificando os grupos que participam nos diversos espaços
públicos. As túnicas utilizadas até a Idade Média foram sendo substituídas por peças mais
53
ajustadas, mais próximas ao corpo, confeccionadas sob medida, percebendo-se, dessa forma, a
influência da corte e das altas classes, nesse período (CRANE, 2006).
No final do século XVI, ocorreu o boom do consumo, estimulado pela nobreza elisabetana. As
famílias estimuladas a almejar status através de competições sociais, dando início ao consumo
mais individualizado e cada vez menos familiar, que fez produzir novos padrões de consumo
em novas e escrentes escalas (MCCRAKEN, 2003), que perduram até a contemporaneidade.
Considerado elemento de cultura material, repleto de significados, os artefatos deixam de ser
produzidos de forma individualizada, passando a ser produzidos para um conjunto de artefatos
e consumidos por um grupo da sociedade (CARDOSO, 2008). Em suma, percebendo que
através da cultura material se entende a forma, a produção e o consumo.
O desenvolvimento dos calçados através do tempo comunica os desejos e anseios por novidade
na sociedade contemporânea. As aspirações sociais, as formas de usar e o inserir as outras
funções intrínsecas desse produto, quando a elegância vence o conforto e outros aspectos são
inseridas nesse contexto: funcionais, estéticos e simbólicos (SEFERIN, 2012).
Para Löbach (2001), no processo de criação e desenvolvimento desses artefatos, leva-se em
consideração a possibilidade de satisfazer as necessidades de seus consumidores através das
funções práticas, estéticas e simbólicas, ou como Andrade (2012) classifica como funções
subjetivas, simbólicas e funcionais dos produtos, imprescindível para o uso, respeitando esses
conceitos quando concebidos, bem como fatores ergonômicos, sociais, sustentáveis,
econômicos e tecnológicos.
Sendo assim, o designer, através do desenvolvimento de produtos físicos ou digitais,
desenvolve e insere habilidades científicas, artísticas e filosóficas nos objetos ao transmitir
mensagens e significados, tendo como preocupação, muitas vezes, tanto a estética quanto a
funcionalidade desses artefatos (ANDRADE, 2012).
A necessidade de transformação, a metamorfose individual, o desejo de mudar, através da
renovação que o atual mercado impõe ao consumidor. Barthes (1979) fala do poder de
transformação individual em outro, a metamorfose humana que também é perceptível com o
uso de sapatos que conferem o poder de transformação, tanto fisicamente quanto em relação a
autoestima. O uso do salto eleva a mulher, reposiciona seu corpo, modifica a percepção,
confere-lhe uma nova postura, sentimento de poder (SEFERIN, 2012).
54
As influências dos mecanismos de sedução, atrelados ao impulso, a satisfação dos desejos e as
necessidades do consumidor que busca viver novas experiências, emoções e sensações. Curioso
observar a velocidade com que o encantamento se acaba dando lugar a outro, um sapato novo
provoca emoções, tem o poder de encantar, de seduzir, ao passo que após usado já não provoca
essas mesmas sensações no consumidor (ANDRADE, 2012).
Os sapatos usados contam muitas histórias, tanto ao longo da história social quanto no âmbito
individual. O salto, ao projetar a pessoa, promove-lhe novas sensações com força para alterar
as atitudes e o estilo de vida dos consumidores, “o estilo original não é mais privilégio do luxo,
todos os produtos são doravante repensados tendo em vista uma aparência sedutora”
(LIPOVETSKY, 2005, p.163).
Acompanhando a evolução tecnológica, através do avanço da informática que democratiza a
comunicação, a troca de arquivos e compartilhamento de conhecimentos, os novos recursos e
equipamentos disponíveis, o processo criativo quase utiliza de novos processos e novas
referências e vem sendo utilizadas na concepção de projetos com identidade para produtos
inovadores. A identidade do design é motivada pelo anseio de autonomia e poder de decidir o
futuro (ANDRADE, 2012; CARDOSO, 2008). Com a globalização, os produtos rapidamente
atravessam continentes, passando de locais a globais. Cardoso (2008) traz a reflexão da
necessidade de desenvolver projetos de valor universal em um universo fragmentado, ou seja,
pensar na modernização sem esquecer da linha de pensamento consciente das culturas locais.
Na atualidade, os calçados, mais que produtos desenvolvidos para proteção dos pés, ganham
destaque como elementos de experimentação e inovação, através dos materiais e novas
tecnologias (LÖBACH, 2001; COX, 2009).
O sapato, entre os vários itens do mercado da moda, é considerado um dos grandes objetos de
desejo, quando sonhos, vontades e sensações são despertadas, estimuladas. Em algumas
situações, os calçados, assim como outros produtos do vestuário, também despertam as
lembranças, resgatam memórias remetendo o usuário a algum lugar através do tempo ou do
espaço. O fetiche dos calçados estimula o consumo. Fetiche esse comumente apresentado
através dos saltos altos que também remetem à elegância, poder e sensualidade, refletindo-as
além do estilo, gosto individual e status social (SEFERIN, 2012).
Nas imagens das sandálias (Fig. 13) do potiguar Jailson Marcos, radicado em Recife, há mais
de vinte anos no cenário pernambucano da moda, é possível observar traços arquitetônicos
representados por meio do design de moda configurado no artefato calçado com variada gama
55
de referências e inspirações para criações de novos modelos, incluindo diferentes formas,
materiais, cores, tecnologias e técnicas de produção (ANDRADE, 2012).
Figura 13 - Sandálias Jailson Marcos
Fonte: Jailson Marcos, 2015
2.2.4. Consumo de moda
A produção e renovação de produtos de moda movidos pela sua efemeridade direcionam o
consumo e o descarte com grande velocidade. Produtos já nascem com data de validade
programada, quase vencidas, tornando-se voláteis (LIMA, 2006; LIPOVETSKY, 2009).
Lipovetsky (2009) reflete sobre a obrigatoriedade imposta pelo mercado através de lançamentos
contínuos e frequentes, produtos com vida comercial abreviadas rapidamente são substituídos
por outros que, provavelmente, repetirão o mesmo ciclo.
Mesquita (2004) e Cidreira (2005) refletem sobre a velocidade feroz com que os produtos
entram e saem de moda, uma coleção que rapidamente é consumida e renovada, substituindo a
anterior que rapidamente será descartada e substituída. Vive-se um tempo acelerado, com uma
moda veloz e novas coleções sazonais que se encontram em constantes mudanças, pressionado
pelo mercado que exige produtos novos, forçando uma constante renovação. Dessa forma, para
as autoras supracitadas, fazer moda não é somente substituir a moda do ano anterior, mas
desclassificá-la.
O Ciclo de Vida dos Produtos tem sido estudado, determinado e utilizado como modelo de
consumo na perspectiva do Marketing. O conceito de CVP5 apresenta a vida dos produtos no
mercado, que é movido pelo comportamento de consumo, regido pelas necessidades do
consumidor, pela oferta de novos produtos (POLLI e COOK, 1969) que, descrevendo sua
evolução, passa por uma série de estágios (COX, 1967). Ou seja, em três estágios: introdutório,
de aceitação e de regressão. Nesses estágios, o ciclo passa por seis fases: inovação, elevação,
5CVP: Ciclo de Vida dos Produtos
56
aceleração, aceitação, declínio e obsolecência (SOLOMON, 2002). Na maioria dos produtos,
a curva do CVP é representada em formato de sino (Fig. 14).
Figura 14 - Um ciclo normal de moda
Fonte: Solomon, 2001, p.
Iniciando o percurso com baixo crescimento no momento que os produtos são introduzidos no
mercado nos estágios introdutórios. Nessa fase, é frequente que alguns recebam um pouco de
rejeição, por tratar-se do período de aceitação, sendo consumidos apenas por alguns grupos
específicos. O período de identificação e aceitação acontece com a percepção do desempenho
do produto, período em que um maior segmento de consumidores o adota, as vendas crescem
em ritmo mais acelerado, alcançando a maturidade do ciclo. A saturação é provocada pela
diminuição do consumo, nesse período (estágios de regressão), os produtos são retirados ou
substituídos, o que acontece quando o declínio passa a ser suficientemente baixo e o produto
sai de cena, a partir daí, um novo produto é apresentado e o ciclo é renovado (POLLI e COOK,
1969).
Na lógica da efemeridade, o sistema da moda é movido pelo gosto por novidades, sua constante
renovação no universo das fantasias faz com que os CVP de moda sejam abreviados,
provocando incessantes mudanças. Por sua efervescência temporal, a curva de consumo difere
da maioria dos produtos, vive-se em um ciclo ditado pelos bureaux de tendências, pela
velocidade com que são criadas e recriadas novas coleções (LIPOVETSKY, 2005). Os ciclos
de moda são imprevisíveis, dura o tempo para atender uma necessidade, ou apenas até o
surgimento de novos produtos que provocam o esquecimento da necessidade anterior, O CVP
é controlado pelos calendários dos próximos lançamentos, os produtos que entram e saem do
mercado com velocidade planejada, apesar da indústria ter controle sobre esse tempo de vida,
um breve retorno ao passado mostra que esse tempo está sendo encurtado.
Nas semanas de moda – Fashion Weeks – acontecem os lançamentos conceituais que
rapidamente são traduzidos para o consumidor. Esse ciclo tão veloz, segundo as teorias de
Marketing, passa por quatro estágios: distinção, emulação, massificação e declínio.
57
O período de distinção antecede a emulação ou maturidade, nesse período, o desejo de
consumir, de fazer parte do grupo através da imitação. Seguido da massificação - o período do
declínio que demonstra que o ciclo está finalizando e será renovado.
Figura 15 - Comparação do Ciclo de Vida de Produtos de Moda
Fonte: Solomon, 2002, p. 408
O ciclo de vida dos produtos de moda, ilustrado na figura 15, acontece em tempos e velocidade
diferentes, ou seja, o Modismo dura pouco tempo, obtém rápida aceitação e declina
rapidamente, enquanto que o Clássico tem longa aceitação e permanece por maior tempo no
mercado, às vezes, classificado como anti-moda (SOLOMON, 2002).
2.3 Arte, moda e artesanato
Para Solomon (2002) existe uma distinção entre arte e artesanato, indo buscar referências no
Movimento Arts and Crafts que defende o artesanato criativo, valoriza o trabalho manual na
medida que, para o autor, produto de arte é desprovido de função funcional, sendo trabalhado
com a finalidade da contemplação estética que, além disso, desempenha função utilitária.
Complementa o pensamento citando diferenças na produção, esclarecendo que a arte é pensada
de forma original e sutil, enquanto que o artesanato possibilita a produção mais rápida.
2.3.1 Arts and Crafts
O movimento que teve origem na Inglaterra na segunda metade do século XIX até inicio do
século XX, surgiu como fruto da desigualdade social, da velocidade da indústria, provocando
a miséria urbana, provenientes em oposição à mecanização promovida pela Revolução
58
Industrial. A desilusão, as preocupações estéticas e sociais, provocadas pela produção em massa
e a desumanização do processo industrial motivaram o surgimento do movimento e estimularam
o resgate às manualidades, uma arte mais voltada à natureza (MACKENZIE, 2010), uma reação
à Revolução com retorno aos ofícios manuais, inserindo, dessa forma, a arte na vida do povo.
De acordo com Mackenzie (2010), decepcionados com a baixa qualidade dos produtos
industrializados, o movimento Arts and Crafts defendia que o operário conhecesse todo o
processo de produção. A produção de arte sob encomenda, tendo como intuito a valorização da
satisfação do produtor no momento da criação, da produção que, provavelmente, proporcionaria
a contemplação do futuro consumidor. Produtos artesanais com identidades pautadas na
fidelização de materiais, do resgate às tradições e às formas.
Para Harashima (2013) o artesanato é uma atividade antiga, que remonta ao início da história
social humana. Com o passar do tempo, tem se transformado em geração de emprego e renda.
Valorizada pelas atividades turísticas através da ressignificação contemporânea do artesanto e
do fortalecimento da identidade do artesão.
Löbach (2001) também traz a divisão do trabalho industrial como forma de o trabalhador só
conhecer uma parte do processo, produzindo, dessa forma, pouco contato com o fruto do seu
trabalho.
2.3.2 Artwear
Surgiu na década de 1960 e se fortaleceu com a cultura do feito à mão, do retorno ao passado e
a contestação ao mundo industrializado, defendido pelo movimento Hippie, na década de 1970.
Para Mendonça (2013) a artwear é considerada uma das mais importantes manifestações no
universo da arte contemporânea, que aconteceu através do cruzamento dos mundos da moda e
das artes, quando artistas (nas escolas de arte) começaram a criar peças tendo como base
elementos têxteis que se transformaram em obras que vestiam o corpo. Artistas plásticos
proziram peças do vestuário que deram origem à arte vestível. O movimento segue a mesma
linha de raciocínio produtivo do arts and crafts.
Arte e moda estão intimamente relacionadas, provocando confusão em seus conceitos, em seus
limites. A pergunta clássica, “até onde a arte influencia a moda e vice-versa?, perdura até a
contemporaneidade, gerando discussões enriquecedoras sobre o assunto. A arte utilizada na
moda, a moda que busca referência na arte, ou seja, a arte usada na moda (MENDONÇA, 2013).
59
2.3.3 Arte, moda e arquitetura
Apesar da distância exitente entre a alta-costura e peças comerciais do vestuário, esta, muitas
vezes, utiliza-se da arte para vestir o corpo. Em um retorno ao passado da história da moda,
pode-se perceber que os criadores se viam como artistas, conceituando suas criações como
obras de arte e recorrendo aos conceitos da arte que, apesar de serem vestíveis e
comercializadas, não tinham como objetivo ser “traje de moda” (MENDONÇA, 2013). Nessa
perspectiva, o corpo vestido funciona como suporte de representação artística, muitas vezes,
essas peças resultam em exposições em museus e galerias.
Segundo Schpoenhauer (2001) a arquitetura trabalha formas, luz, gravidade e resistência. A
gravidade que tende para baixo e a resistência impede que isso aconteça. As formas aliadas a
essa luta de resistência provocam a contemplação e sustentam a metafísica schopenhaueriana
através da beleza, que estimula a consciência estética e o conhecimento da ideia. A relação
moda/arquitetura tem início no final da Idade Média através da verticalização da arquitetura,
influenciando o vestuário (BUENO, 2013). Enquanto que Seivewright (2009) resgata o que a
moda e a arquitetura tem em comum, ambas partem do corpo humano para ganhar forma, para
projetá-las, ambas partem de uma superfície plana antes de se tornarem tridimensionais.
Complementando a frase de Coco Chanel que diz que “Moda é arquitetura. É uma questão de
proporções”.
Para Coppola (2010), o binômio arte e moda faz parte de uma reflexão não recente. Na década
de 1980, nos Estados Unidos, um movimento já pesquisava a arte de vestir e as relações entre
arte e moda, uma arte que pudesse ser contemplada e usada: o Wearable Art.
2.3.4 Wearable Art
Como resultado da diversidade de técnicas e da crescente fonte de materiais, teve início nos
anos 1950, através de uma mudança na área têxtil promovida pelo desenvolvimento industrial
que estimulou a criatividade dos artistas da época. Em oposição à mecanização promovida pela
Revolução Industrial, com proposta de possibilitar o uso e a contemplação de peças de arte que
pudessem ser vestidas, uma arte vestível teve origem nos Estados Unidos, nos anos 1960, ou
seja, uma obra de arte produzida por um artista transformada em peça do vestuário com mais
liberdade. Transcendendo à função de indumentária, não seguindo os ditames da moda,
utilizando-se da liberdade de ousar, de experimentar, resultando em peças atemporais, “não
passarão de moda, não virarão velharias, terão o seu próprio alento, a própria mensagem, o
próprio porque. Moda além da moda, levando intrinsecamente sua resposta, mostrando a
60
diferença que existe entre o utilitário e o artístico, entre o artesanato, a moda e a arte”
(SITÔNIO, 2012) wearable art: “a arte que não passa de moda”.
Artistas do Wearable Art migraram para o design, para a produção de peças do vestuário, no
entanto, em quantidade reduzida, seguindo a ideologia do feito a mão. O uso de inovadores e
ousados experimentos utilizados no vestuário e acessórios por diversos artistas e designers na
linha do tempo da moda, como Alexander McQueen e Iris Van Herper, exemplificados nas
figuras a seguir (Fig. 16), entre outros, fez evoluir a valorização artística e estimularam a
atemporalidade de produtos de moda.
Figura 16 - Estilistas contemporâneos do Wearable Art - Alexander McQueen, Iris Van Herper
Fonte: Kylieepq6; Arabia.style7
Em 1980, o Wearable Art chega ao Brasil (SITÔNIO, 2012). A obra de Artur Bispo do Rosário – O
Manto da Apresentação (com o qual ele se apresentaria a Deus) (Fig. 17), um exemplo de arte vestível
brasileira, arte e moda se confundem e se aproximam, se complementam, se fundem.
Para Mendonça (2013), a Wearable Art trabalha na intersecção entre o universo do vestuário e
das artes plásticas através da valorização do feito à mão, da experimentação e da exploração de
diferentes materiais e suas técnicas de manuseio.
São características reconhecíveis na Wearable Art, a par da paixão de seus criadores
pela escolha do material a ser trabalhado, o valor imputado aos tecidos feitos à mão,
a experimentação constante para conseguir o exato efeito desejado, a exploração das
diferentes possibilidades da matéria prima, a aplicação das mais elaboradas técnicas
artísticas, aproximando a obra das artes ditas maiores e a tentativa de manter um
distanciamento da moda comercial. Esse desejo de isolamento do círculo da moda
pode ser explicado, talvez, pela ânsia de reconhecimento como uma forma legítima
da arte que, durante largo tempo, mantivera-se um reduto predominantemente
masculino. Já a moda foi, por muitos anos, considerada “coisa de mulher”. Como a
Artwear congregava em seu seio um grande número de representantes do sexo
feminino que trabalhavam com tecidos e trajes, a procura por uma recontextualização
6https://kylieepq.wordpress.com/ 7http://arabia.style.com/fashion/news/iris-van-herpen-to-host-solo-exhibition-at-the-cartel-dubai-for-art-night/
61
de sua obra como arte séria, elidindo a conotação de “trabalho de mulher”,
incrementou a necessidade desse distanciamento do fashion (MENDONÇA, 2013,
p.2).
Figura 17 - O Manto da Apresentaçao de Artur Bispo do Rosário
Fonte: tecituras, 20158
2.4 Jailson Marcos
No vasto território do consumo, é pertinente realizar um estudo de caso sobre a percepção de
arte e moda e como acontece o processo criativo do consumo hedônico, observado através de
referências presentes nas sandálias Jailson Marcos (JM). A importância dessa pesquisa se dá
pela visibilidade que o seu trabalho tem no mercado local e entre famosos nacionais, que pode
ser observado através dos consumidores e admiradores da marca, sejam através de espaços reais
ou virtuais, como pode ser observado na figura 18.
Figura 18 - Jailson Marcos na mídia
Fonte: Arquivo pessoal Jailson Marcos, 2014
8https://tecituras.files.wordpress.com/2011/03/arthur-bispo-do-rosc3a1rio-manto.jpg
62
JM participa ativamente das redes sociais Facebook e Instagram. Nesses espaços virtuais, é
possível observar as demonstrações espontâneas de desejo dos produtos por parte dos
consumidores. O mesmo pode ser observado na mídia impressa, através de editoriais de moda
em revistas de abrangência nacional, como exemplo, as revistas Vogue e Elle, que são
divulgados na fanpage da marca nas redes sociais e comentadas pelos consumidores (Fig. 19).
Figura 19 - Divulgação espontânea por parte dos consumidores
Fonte: Fanpage Jailson Marcos, 2015
Além dos consumidores, percebe-se que a admiração se faz presente por parte de estilistas,
profissionais de moda, designers, artistas, cantores e formadores de opinião que, ao passarem
pela cidade do Recife, vão ao atelier ou à loja da marca para conhecer e adquirir produtos, como
pode observar Ronaldo Fraga (Fig.20) que confessa acompanhar as criações através das redes
sociais (ALBERTO, 2015).
O estilista Walter Rodrigues (Fig. 20), em palestra sobre oportunidade do mercado varejista do
projeto Inspira Mais, realizada no Marco Pernambucano da Moda, Recife – PE, em setembro
de 2015, cita Jailson Marcos como exemplo ao falar sobre a importância e oportunidade de
surpreender o consumidor, de proporcionar novas e boas experiências, ao citar que “cada
entrada de um cliente numa loja precisa ser vista como uma oportunidade de surpreendê-lo. É
necessário tornar a compra uma experiência especial” (SANTOS, 2015).
Os calçados Jailson Marcos entraram no mercado local e vem, ao longo do tempo, estimulando
o desejo dos consumidores. Seus produtos sempre presentes na mídia através de notícias que
relatam ou anunciam lançamentos, das participações em renomados eventos no universo
63
brasileiro da moda, como o São Paulo Fashion Week – SPFW, imagens de formadores de
opinião e artistas usando-os ou de coleções produzidas especialmente para estilistas famosos,
como Ronaldo Fraga, Melk Z-Da e Eduardo Ferreira. O início da sua carreira foi marcado com
uma coleção para Beto Kelner, que marcou sua primeira experiência nas passarelas da moda
(MARCOS, 2015).
Figura 20 - Ronaldo Fraga visita loja JM - Walter Rodrigues palestra em Recife e encontra Jailson Marcos
Fonte: João Alberto, 2015
De forma involuntária, o início do trabalho de Jailson Marcos faz referências ao do italiano
Salvatore Ferragamo, através suas formas ousadas, das composições, da irreverência, da
mistura de materiais, texturas, harmonia das cores e das características do trabalho experimental
e artesanal (MARCOS, 2015). Carol Garcia, professora de consumo e moda, percebeu essa
conexão entre as linhas de trabalho, através da experimentação, da estética, das formas ousadas
e inovadoras, materiais alternativos entre os profissionais (Fig.s 22 e 23), ilustrando-a em uma
matéria para um jornal curitibano Gazeta do Povo, em novembro de 1996.
Figura 21 - Bilhete de Carol Garcia a Jailson Marcos
64
Fonte: acervo Jailson Marcos, 2014
Segundo Choklat (2012), para Ferragamo (1898-1960), um ícone italiano na produção de
calçados inovadores, no momento da criação, o designer não pode ter medo de experimentar.
No início da carreira, ao desenvolver sapatos para as drags queen, JM teve a oportunidade de
experimentar e extravasar sua criatividade, utilizando diversas técnicas como papier mârché e
materiais alternativos.
Figura 23 – Criações de Jailson Marcos e de Salvatore Ferragamo
Fonte: Acervo Jailson Marcos, 2014 Fonte: Salvatore Ferragamo, 2015
Através de um resgate histórico de documentos e imagens, percebe-se que, ao longo do tempo,
seus produtos passaram por grandes transformações estéticas; os conceitos (princípios) da arte,
estética, Gestalt, harmonia, modelagem e pesquisa se fazem mais presentes e visíveis, apesar
da permanência de determinados traços marcantes da identidade da marca.
Figura 22 - Sandálias Jailson Marcos 2005
65
Fonte: Diário de Pernambuco, 2015
Percebe-se uma estética de formas orgânicas, naturais, curvilíneas em 2005, enquanto que, em
2015, torna-se arquitetônica, geométrica, os traços foram modernizados, retas e curvas
trabalham em harmonia, as tendências de moda se fazem presentes e a composição de cores é
trabalhada de forma a realçar os detalhes. A evolução das formas estéticas acompanha o
amadurecimento profissional do sapateiro, visivelmente observado através das figuras 24 e 25.
Figura 23 - Sandálias Jailson Marcos 2015
Fonte: Jailson Marcos, 2015
O sapateiro, segundo Andrade (2012), aprende o ofício na oficina, na própria fábrica (Fig. 26),
não frequenta escolas de moda, dessa forma, a estética vai sendo desenvolvida intuitivamente
ou por observação. Existe uma carência de mão de obra qualificada devido à complexidade na
produção artesanal de sapatos, pois, para desenvolver um par de sapatos, envolve entre duzentas
e trezentas operações (FRINGS, 2012).
66
Figura 24 - Ofício de sapateiro
Fonte: Comparsaria, 2015
No início da carreira, Jailson Marcos experimentou diversos materiais e técnicas, o papier
mârchê, palha, cortiça, plásticos, couro e a mistura destes. No seu trabalho, é perceptível que o
sapateiro vai buscar referências no passado para construir produtos no presente, com traços
futuristas, nessa premissa, seguindo uma linha de raciocínio que direciona ao pensamento do
filósofo Schopenhauer (2001) que diz que existe um passado para cada presente. De tal forma
que a estética das formas é trabalhada através de diversos olhares, passado e futuro se
complementam e se entrelaçam, JM vai buscar referências em um tempo passado para o
seguinte, as referências históricas se fazem presentes.
O surgimento do Mercado Pop, em 1996, na cidade do Recife-PE, uma feira de artesanato
inspirado no Mundo Mix que acontecia em São Paulo que teve como referência eventos em
Londres, chegando a Pernambuco com uma versão mais regional.Teve início no movimento
mangue e tinha como objetivo a popularização da cultura nordestina e sua fusão aos aspectos
da cultura pop. Resultou em um espaço que reuniu diversas expressões artísticas, como o
artesanato, design, música e pintura e o desejo de, através da participação dos expositores,
possibilitar a abertura de novos mercados a esses expositores. Neste evento, através da
participação e apresentação, os calçados Jailson Marcos foram conquistando e seduzindo
consumidores, funcionando verdadeiramente como sua primeira vitrine (SOUZA, 2014). O
público deste evento aponta para quem viria a ser seus fortes consumidores até a atualidade.
Atualmente, a grande vitrine continua em uma feira de artesanato (Fig. 27), a Feira Nacional de
Artesanato (Fenearte) que, desde 1999, acontece anualmente na cidade de Olinda – PE, com
duração de 12 dias. Há alguns anos transformada em um evento internacional, conta com a
67
participação de diversos países de todos os continentes. A edição de 2015 recebeu mais de 330
mil visitantes, de acordo com a edição online do dia 13 de julho do Jornal do Comércio (2015).
Figura 25 - Jailson Marcos na Fenearte 2015
Fonte: elaboração própria, 2015
Nas suas criações, Jailson Marcos promove um diálogo entre arte, estética, design e artesanato
brasileiro, tendo as sandálias sertanejas a primeira inspiração, o ponto de partida, que aliado aos
conceitos arquitetônicos, a assimetria, aos vazados, sobreposições e pespontos o sapateiro
constrói seu universo de criação.
Na trajetória profissional, a estética dos seus produtos passou de conceituais a comerciais, sem
perder os traços marcantes estéticos, as características artesanais, a modelagem diferenciada e
as referências culturais presentes e não caricatas nos seus produtos. O contato com os
consumidores permitiu o entendimento dos mesmos através das opiniões, comentários e
sugestões que influenciaram e fortaleceram a trajetória estética utilizada ao longo da carreira.
Figura 26 - Esquema teórico
68
V7
V8
V9
V10
V3
V4
V5
V6
V2V1
UTILITÁRIO
ENCANTAMENTO
HEDONISMO
VONTADE
NECESSIDADE
REPRESENTAÇÃO
MODA
ARTE
CONSUMO
DESEJO
Fonte: dados da pesquisa, 2015
A Vontade estudada nessa dissertação segue a linha de pensamento de Arthur Schopenhauer
em ‘O Mundo como Vontade e Representação’, ou seja, derivada da palavra em inglês Will,
que significa dar possibilidade.
A Vontade que se origina no íntimo humano é o elemento que dá sentido às coisas através da
união entre corpo e sentimento, é um querer que não cessa, que se renova. É a objetivação mais
imediata, o sentimento mais íntimo do corpo que provoca o querer, que precede uma
necessidade. Para Schopenhauer, para cada Vontade que se concretiza, dez outras foram
perdidas e substituídas por novas vontades.
A Representação é a objetivação da Vontade. O ser humano acredita viver passado, presente e
futuro ao mesmo tempo, com isso, desenvolve habilidades de predizer algumas necessidades
ainda inexistentes ou desconhecidas e utilizar-se de artifícios para se transportar no tempo.
Transitando entre eles (tempo), concomitantemente, por acreditar que domina a vida
livremente. No entanto, para o passado existir é necessário do tempo presente para firmar essa
existência, ou seja, o passado só existe condicionado ao tempo presente de agora.
No campo da moda, passado, presente e futuro fazem uma interação produtiva. De acordo com
Lipovetsky, para o sistema da moda existir, foi necessário que o moderno fosse aceito e
desejado e que o presente fosse mais importante que o passado e aceito.
A expansão das necessidades e a efemeridade da moda resultam em um abreviamento da vida
útil dos produtos que, rapidamente, entram em desuso promovendo o surgimento de novas
necessidades estimuladas pelo hiperconsumo crescente.
69
A importância dos estudos sobre consumo e comportamento, baseados no pensamento
filosófico de Schopenhauer em sua obra O Mundo como Vontade e Representação, trazem
como tema para reflexão que são as esperanças e pretensões que dão origem e alimentam os
desejos. O consumidor acredita que sua necessidade ou desejo será satisfeita após a aquisição
ou consumo do produto, no entanto, esse desejo satisfeito dará lugar a outro.
Os desejos tem forte poder de estimular o consumo. Classificado hedônico quando vai além da
necessidade de consumir, relacionando o desejo ao prazer, enquanto que, no consumo utilitário,
as necessidades básicas se movimentam em direção a utilidade e a qualidade dos produtos. Já
o encantamento é aquela sensação de estar apaixonado, de não poder viver sem o produto em
que o consumidor não sabe explicar a razão de gostar, de querer.
A arte se apoia nas referências individuais, sua criação se baseia nos valores estéticos com
conteúdo intelectual, sua vida útil, em muitos casos, pode ser infinita, enquanto que a moda é
efêmera, segue um processo metodológico, tendo como foco o consumidor e seus desejos e
necessidades, fundamentada nos conteúdos funcionais.
Moda, arte e seus caminhos paralelos que se entrelaçam e, por vezes, se confundem. Através
da promoção de um diálogo entre moda, arte, estética e artesanato, JM investe na estética das
formas, na desconstrução das formas, nas referências arquitetônicas, na assimetria e nas formas
inusitadas. Desafia o equilíbrio, inverte a função dos objetos ou parte deles, repensa a
modernidade futuristas com referência a um longínquo passado, utilizando-a na construção da
sua identidade estética.
3 METODOLOGIA
Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos a serem utilizados na investigação da
questão desta pesquisa, de acordo com a pergunta: As sandálias Jailson Marcos são produtos
de moda ou de arte?
Nesta seção são detalhados os procedimentos utilizados na pesquisa, apresentado o desenho
metodológico, instrumento de pesquisa, instrumentos de coleta e método de análise que
envolvem a mesma. Por se tratar de uma pesquisa com embasamento filosófico, de uma
representação não-numérica, sãoestudadas as percepções de arte e moda, os sentimentos e
emoções, buscando entender os significados no processo criativo e a percepção de arte e moda.
A metodologia é qualitativa, em que a pesquisa passa pela coleta, análise e interpretação de
informações (YIN, 2001). A escolha pela pesquisa exploratória proporciona maior
70
familiaridade com o problema, o planejamento é flexível, possibilitando a visualização de
variados aspectos relacionados ao fato estudado (GIL, 2002).
3.1 Delineamento da pesquisa
Para Yin (2001) o estudo de caso de caráter exploratório tem como propósito estabelecer um
debate sobre o tema estudado e o desejo de compreender um fenômeno contemporâneo no
cotidiano real. Por se tratar de uma pesquisa acadêmica de produtos comerciais, por
considerações pragmáticas, a coleta de dados se dá através da realização de uma pesquisa
documental em entrevistas, falas e relatos que permitem compreender se as sandálias Jailson
Marcos são produtos de moda ou arte através de investigação no processo criativo.
3.2 Etapas da pesquisa
Este estudo seguiu proposta de Gil (2010), de acordo com esquema a seguir:
Figura 27 - Etapas da pesquisa
Fonte: Gil (2010)
3.3 Processo de coleta de dados
Essa pesquisa foi conduzida através de uma análise documental, sendo assim, a primeira
atividade da pesquisa foi conhecer o clipping coletado por JM no período de 1992 a 2015.
Durante esse período, foram coletados 116 publicações que serviram de matéria bruta para as
Formulação do problema
As sandálias Jailson Marcos são produtos de moda ou de arte?
Determinação
dos objetivos
Geral e
Específicos
Caracterização
da pesquisa
Exploratória
Elaboração dos
instrumentos para coleta de
dados
Pesquisa documental
Técnica de análise
Análise de conteúdo
Análise e
discussão dos
resultados
Considerações
finais
71
análises. Com esse material, foi possível entender a evolução estética dos produtos e o
crescimento profissional no mercado de trabalho, assim como a importância de realizar essa
pesquisa para a dissertação do mestrado.
Compreender a percepção de JM no momento de criação dos calçados de sua marca, por meio
de dados secundários impressos e digitais, possibilitou melhor desempenho na evolução da
pesquisa qualitativa, pois, além das informações obtidas através das falas na entrevistas, as
descrições da vida social também poderão ser fonte de informação para novas pesquisas
(GASKELL, 2002).
3.3.1 Estudo de caso
Entre as estratégias de métodos de pesquisa qualitativa, o estudo de caso é um dos mais
utilizados quando se pretende examinar os acontecimentos contemporâneos, não permitindo a
manipulação de comportamentos relevantes. Segundo Yin (2001) “o estudo de caso conta com
muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de
evidências que, usualmente, não são incluídas no repertório de um historiador: observação
direta e série sistemática de entrevistas” (YIN, 2001, p.18).
Apesar da possível sobreposição entre estudo de caso e pesquisas históricas, o estudo tem poder
de diferenciar-se através da capacidade de lidar, além do estudo histórico, com grande universo
de evidências, ou seja, documentos, entrevistas, observações e artefatos. Por se tratar de uma
técnica em que os procedimentos metodológicos não são definidos, em algumas situações,
podem surgir vieses que podem comprometer a qualidade do resultado na pesquisa. Para
minimizar esse efeito, faz-se necessário maior rigor na coleta e análise de dados (YIN, 2001).
A opção por estudo de caso se deu devido à importância como estratégia contemporânea da
pesquisa e a possibilidade de investigação direcionada à pergunta do estudo. O aprofundamento
lógico em pesquisas sociais, na atualidade, tem sido cada vez mais utilizado, funcionando como
um investigador do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos.
Para Yin (2001), as questões utilizadas na pergunta “como” e “por que” são ambivalentes e
necessitam de esclarecimentos.
Em resumo, o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as
características holísticas e significativas dos eventos da vida real, tais como ciclos
de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas
em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores (YIN,
2001, p.13).
72
Em síntese, o estudo de caso, amplamente utilizado em pesquisas sociais, consiste em um
aprofundamento exaustivo do estudo do objeto, permitindo, dessa forma, um maior e mais
detalhado conhecimento sobre o tema estudado. Por algum tempo, não foi considerado como
técnica científica, no entanto, na contemporaneidade, é perceptível a forma crescente da
utilização do estudo de caso com diversos propósitos (GIL, 2002).
A pesquisadora estudou um único caso como objeto de pesquisa, com interesse em pesquisar
um caso específico, particular com o propósito de estabelecer uma discussão e promover debate
sobre o tema, o caso, para compreensão de um fenômeno individual, em suma, o estudo de caso
único não representará uma “amostragem”, pois tem como objetivo fazer uma análise
generalizante, estudar uma única organização.
3.3.2 Pesquisa documental
A riqueza de informações contidas em uma pesquisa documental possibilita o resgate histórico,
a construção da relação entre informações que ajudam a identificar conceitos, comportamentos,
assim como a maturação e a evolução do tema pesquisado. A pesquisa documental pode se
constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as
informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou
problema.
Trata-se de uma técnica exploratória de investigação científica com prévia organização e
catalogação das informações para análises posteriores. Para a coleta de dados, faz-se necessário
a aplicação de instrumentos elaborados com uso da técnica selecionada mais apropriada,
seguindo algumas etapas.
Após a catalogação, de acordo com Lakatos (2003), o pesquisador deve seguir algumas etapas:
seleção, codificação e tabulação. Na seleção, primeiro momento, acontece o exame detalhado
dos documentos, observando os aspectos mais importantes de acordo com os objetivos
específicos da pesquisa, e registrando a quantidade de dados disponíveis com atenção para
evitar informações incompletas ou detalhamento insuficiente. O agrupamento dos dados por
categoria que acontecem na codificação são gerados códigos para facilitar o manuseio. A
tabulação facilita a identificação da relação entre os dados. Trata-se de conhecer, categorizar,
analisar e elaborar sínteses sobre o objeto de pesquisa (SILVA et al, 2009).
Os dados coletados em documentos previamente catalogados, como jornais que formam um
clipping (impresso e eletrônico), blogs, sites e canais do youtube mapeiam o campo da pesquisa
73
documental e formam o corpus da pesquisa, esgotando todas as pistas até sua saturação, ou seja,
quando as informações se tornarem repetitivas.
Na construção do corpus faz-se necessário a criação de uma tabela quantificando os
documentos pesquisados em um período de tempo da vida profissional do pesquisado. Para esta
dissertação de mestrado, a busca por informações em 116 publicações que possibilitaram a
coleta de dados seguiu-se de acordo com o quadro a seguir:
Figura 28 - Corpus pesquisado
Período Clipping
Jornal
impresso
Clipping
Jornal
eletrônico
Entrevistas
Site
YouTube
Blogs
1992 2
1996 3
1998 3
1999 3
2000 4
2001 2 1
2002 13
2003 16
2004 14 1
2005 13
2006 2
2007 5
2008 5
2009 1
2010 6 2
2011 5
2012 2 1
2013 2 1 1
2014 4 1
2015 1 1 1
101 8 3 4
Fonte: dados da pesquisa, 2015
Após análise do clipping aconteceu a seleção dos temas mais recorrentes e pertinentes à
pesquisa, localizando 52 publicações com informações, citações e depoimentos que
contemplam a arte, moda, artesanato, processo criativo e fontes de inspiração.
De acordo com Silva et al (2009), a extração das informações segue um método, um roteiro de
procedimentos, utilizadas como fonte de informações que buscam coletar dados que servirão
para elucidar questionamentos constantes nas fontes primárias, ou seja, documentos sem o
tratamento analítico prévio.
74
A organização das informações e sua categorização acontece através da localização, coleta de
citações e entrevistas que fazem parte do pensamento sobre temas específicos em um período
de tempo da vida profissional do sapateiro Jailson Marcos.
Tendo como intuito ler nas entrelinhas dos dados coletados, compreender o pensamento e as
percepções através da delimitação dos conceitos e sentidos das palavras dentro do contexto da
frase, do texto falado ou não. Que acontece através da reunião das partes e os aspectos
relevantes ao tema e expressões recorrentes pesquisados. São dispositivos comunicativos que
se transformam na construção de versões sobre eventos de realidades sociais. Relevante a
preocupação de observar a origem do documento, para quem foi produzido, em qual contexto
e, por fim, qual o significado da informação.
Na categorização, as informações foram separadas de acordo com o tema pesquisado,
resultando em seis categorias. que agrupadas deram origem ao quadro que pode ser visto no
Apêndice A.
75
3.3.3 Análise de conteúdo
A análise desta dissertação se deu através da interpretação do conteúdo contido nas palavras
que representam o pensamento e a ideologia trabalhada pelo sapateiro Jailson Marcos.
Referenciado pela teoria estudada ao longo desta pesquisa das áreas de moda, arte, filosofia,
consumo, hedonismo, encantamento e marketing, foi possível analisar as categorias de análise
que se referem aos objetivos específicos da pesquisa.
Objetivo específico 1: Investigar a percepção de arte no processo criativo de Jailson Marcos.
Categoria 1 – arte x processo criativo
Para atender a proposta do Objetivo específico 1, através da pesquisa documental, a existência
da percepção da arte no processo criativo de JM através dos documentos analisados à luz da
filosofia de Schopenhauer.
ARTE
Sempre soube que meu ofício estaria atrelado ao universo da arte (16/10/2014 -
Empreendedores da Moda: Jailson Marcos, o artesão dos calçados -
www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/empreendedores-da-moda-jailson-marcos-
o-artesao-dos-calcados/).
Sempre me interessei pela arte e, em geral, (...)bastou isso para me identificar com
essa arte (24/06/2013 - Sandálias ganham design diferenciado no sertão – Entrevista a
Lilian Pace no GNT Fashion -
gnt.globo.com/programas/gntfashion/videos/2651837.htm).
Foi aí que descobri minha verdadeira arte (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo
aos pés - brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
Assim descobri minha arte (17/10/10 - Com nome e sobrenome – Suplemento Jornal
do Commércio).
Trabalho com arte e produzo muitos modelos sob encomendas (30/04/2001 - Pulo
do gato dos artesanais - www.old.pernambuco.com/diario/2001/05/05/
empregos6_0.html).
ARTESANAL / ARTESÃO
Meu trabalho é completamente artesanal (19/09/2015 - Conhecendo a coleção de
sapatos do designer Jailson Marcos – Em entrevista ao blog da Dany -
www.youtube.com/watch?v=UTJCtQ5PQLU).
Sou artesão mesmo. Sapateiro, de verdade, sabe? E tenho orgulho de dizer que
comecei na raça, sozinho (16/10/2014 - Empreendedores de moda: Jailson Marcos, o
76
artesão dos calçados - www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/empreendedores-da-
moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-calcados/).
Pelo material analisado, as falas do sapateiro fazem inferência ao conceito de arte utilizado
como sinônimo de produto manufaturado, artesanal. Tendo como objetivo manter a tradição
artesanal, trabalhar peças exclusivas e personalizadas. De acordo com as falas do sapateiro, é
possível verificar que seu trabalho, em diversas circunstâncias se autodenominando como tal,
se relaciona a conceitos de artesanato, de arte e de produtos de moda interligados.
Para Schopenhauer (2001), a arte reproduz ideias (eternas) que são concebidas da contemplação
pura, a partir de uma tela em branco, ou seja, uma arte não alimenta outra. Harashima (2013)
traz para reflexão o artesanato como uma atividade antiga, que remonta ao início da história
social humana. Ao longo do tempo, tem proporcionado trabalho e renda, assim como tem sido
valorizada pelas atividades turísticas através da ressignificação contemporânea do artesanato e
do fortalecimento da identidade do artesão.
A distinção entre arte e artesanato foi citada por Solomon (2002), ao buscar referências em um
movimento que defende o artesanato criativo, valoriza o trabalho manual na medida que para
ele, produto de arte é desprovido de função funcional, sendo trabalhado com a finalidade da
contemplação estética que, além disso, desempenha função utilitária, o Arts and Crafts.
Complementa o pensamento citando diferenças na produção, enquanto a arte é pensada de
forma original e sutil, enquanto que o artesanato possibilita a produção mais rápida. Uma arte
mais voltada à natureza (MACKENZIE, 2010), com retorno aos ofícios manuais.
De acordo com Mendonça (2013), a artwear é considerada uma das mais importantes
manifestações no universo da arte contemporânea, que aconteceu através do cruzamento dos
mundos da moda e das artes, quando artistas (escolas de arte) começaram a criar peças tendo
como base elementos têxteis que se transformaram em obras que vestiam o corpo. Artistas
plásticos produziram peças do vestuário que deram origem à arte vestível. O movimento segue
a mesma linha de raciocínio produtivo do Arts and Crafts.
Categoria 2 – moda x processo criativo
Objetivo específico 2: Compreender a percepção de moda no processo criativo de Jailson
Marcos.
77
Na categoria 2, busca-se analisar a percepção da moda no processo criativo através dos
documentos analisados.
A criação dos calçados apresentados está baseada no conceito de que moda se move
em busca de conhecimento (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -
http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
DIFERENTES/DIFERENCIADOS
Eu adoro recriar saltos, buscar diferencial. Isso é muito importante na moda. E o
mais bacana disso é que tem muito ainda para ser feito, criado. E me surpreendo a cada
criação (18/10/2015 – Editorial – www.jailsonmarcos.com).
Apesar de toda a simplicidade, os turistas adoram o conforto do ateliê e ficam surpresos
com o design diferenciado das minhas sandálias (25/09/2014 - Saiba onde comprar o
melhor da moda pernambucana -
www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/interna_turismo,53
1724/descubra-onde-comprar-o-melhor-da-moda-pernambucana.shtml).
Minhas sandálias criam uma família. Muitos modelos partem de uma mesma ideia e vão
se multiplicando em peças diferentes (22/10/2014 – Um novo espaço para Jailson
Marcos - http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-
marcos/).
Não trabalho com o comum, na verdade fujo dele. Gosto de produzir uma moda
diferente. Só fico satisfeito quando visualizo o que fiz em 360° e vejo que todos os
ângulos estão diferentes (12/12/2013 - O talento inconfundível de Jailson Marcos -
Chá da tarde com Rosângela Société - rosangelasociete.wordpress.com/tag/rosangela-
gomes/).
As plataformas são as que eu mais gosto de fazer. Elas fogem um pouco do
convencional, pois quando criamos em cima de uma ideia, há mais possibilidades
(06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -
http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
Queria algo moderno, mas integrado à nossa cultura. (01/10/2010 – a arte dele está nos
pés - Supl_JOR_JM 01/10/2010).
Acredito que o mercado sempre abre as portas para quem faz um produto diferenciado.
Mas é importante persistir e buscar inspiração dentro de cada um mesmo. Abomino a cópia (17/12/2006 - Jailson: sapateiro com grife – Suplemento Jornal do
Commércio).
Meu trabalho é um mix. Peças diferentes do que a gente encontra nas sapatarias (19/10/2004 - Estilistas antecipam o verão - Caderno Viver made in Recife - Diário de
Pernambuco).
No que se refere à análise sobre o que é Moda para JM, o discurso tende para conceituar moda
como sinônimo de produtos do vestuário com estética diferenciada. No entanto, a teoria mostra
que a efemeridade da renovação da moda promovida pelo consumo e descarte ocorre com
78
velocidade feroz, ou seja, ao serem lançados já estão programados para saírem de cena (LIMA,
2006; LIPOVETSKY, 2009). Vive-se um tempo acelerado, com uma moda veloz e novas
coleções sazonais que se encontram em constantes mudanças, pressionado pelo mercado que
exige produtos novos, forçando uma constante renovação. Dessa forma, para as autoras
supracitadas, fazer moda não é somente substituir a moda do ano anterior, mas desclassificá-la
(CIDREIRA, 2005; MESQUITA, 2004).
EXCLUSIVAS/PERSONALIZADAS
A demanda aumentou muito, mas quero manter as coisas exclusivas,
personificadas (28/03/2012 – As sandálias de Jailson Marcos -
www.joaoalberto.com/2012/03/28/as-sandalias-de-jailson-marcos/).
EXPERIMENTOS
Para dar continuidade ao meu processo criativo eu experimento todos os tipos de
materiais: cana, couro, casca de árvore, palha (18/10/2015 – Editorial –
www.jailsonmarcos.com).
Essa coleção específica tem uma brincadeira. Estou dando um ressignificado às
criações que já fiz, brincando com elas. Pego um bico que vira um traseiro, um cabedal
de cobre vira um traseiro… Eu gosto disso. (24/10/2014 – Um novo espaço para Jailson
Marcos - http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-
marcos/).
Pego algo antigo e vou inventando, avaliando se dali pode sair alguma coisa nova…
Eu só consigo definir um modelo quando olho para ele em 360 graus. Em cada ângulo,
vejo uma forma nova (22/10/2014 – Um novo espaço para Jailson Marcos -
http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-marcos/).
Não quero nada industrializado nas minhas sandálias. Prefiro a experimentação, que
me permite criar organicamente peças cheias de identidades/referências culturais de
nossa terra, sem perder de vista o conforto e a qualidade (16/10/2014 - Empreendedores
de moda: Jailson Marcos, o artesão dos calçados -
www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/empreendedores-da-moda-jailson-marcos-
o-artesao-dos-calcados/).
Através das falas de JM localizadas através da pesquisa documental, percebe-se que o sapateiro
se pauta na construção de produtos diferentes, pouco convencionais, sendo o diferencial um dos
seus objetivos. De acordo com Lipotestky (2009), no universo da moda, os produtos cotidianos
seguem uma metodologia de design, realiza-se pesquisas de tendências que incluem estudo
sobre formas, cores e conceitos, para a criação de produtos direcionados a um público
79
específico, desde o início do processo criativo, passando pelo momento da produção até o
consumo. Enquanto que para Walter Benjamim, a moda é a “eterna recorrência” do novo que
potencializa a velocidade com que se renova e provoca o esquecimento de produtos
anteriormente desejados. Produtos de moda no lançamento já tem data marcada para sair de
cena, o que vai contrário aos produtos JM que seguem produzidos anos após seu lançamento.
Na literatura especializada percebe-se que existe uma diferença entre produtos de moda e
produtos do vestuário. Os produtos de moda, geralmente, duram o período de uma estação.
Seguindo essa linha de pensamento, Mesquita (2004) e Cidreira (2005) refletem sobre o ciclo
de renovação dos produtos de uma coleção que rapidamente será consumida e renovada,
substituindo a anterior que, com a mesma velocidade, também será descartada e substituída.
Jailson Marcos experimentou diversos materiais e técnicas, o papier mârchê, palha, cortiça,
plásticos, couro e a mistura destes. Involuntariamente, no início da carreira, seu tabalho fez
referências ao do italiano Salvatore Ferragamo (1898-1960), através de suas formas ousadas,
das composições, da irreverência, da mistura de materiais, texturas, harmonia das cores e das
características do trabalho experimental e artesanal (MARCOS, 2015). Segundo Ferragamo, de
acordo com Choklat (2012), no momento da criação, o designer não pode ter medo de
experimentar.
Categoria 3: Ideias x processo criativo
Objetivo específico 3: Descobrir como surgem as ideias no processo criativo de Jailson Marcos.
Para dar continuidade ao meu processo criativo eu experimento todos os tipos de
materiais: cana, couro, casca de árvore, palha (18/10/2015 – Editorial –
www.jailsonmarcos.com).
IDEIA
Desses desenhos, surgem várias ideias, que dou forma nos moldes que já tenho
(16/10/2014 - Empreendedores de moda: Jailson Marcos, o artesão dos calçados -
www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/empreendedores-da-moda-jailson-marcos-
o-artesao-dos-calcados/).
As plataformas são as que eu mais gosto de fazer. Elas fogem um pouco do
convencional, pois quando criamos em cima de uma ideia, há mais possibilidades
(06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -
http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
80
Capto as ideias e trago para o meu universo. (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo
aos pés - brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
ARQUITETURA
Tudo. Em geral artes plásticas, arquitetura, eu gosto de ver forma, é no universo,
em geral, e eu já vejo essas formas no calçado. (30/12/2014 -
http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/nobalaio-30122014-retrospectiva-2014/).
Pego um bico que vira um traseiro, um cabedal de cobre vira um traseiro… Eu gosto
disso. E o bacana é captar uma forma nova a partir de algo que já existe. Mas,
claro, sempre preocupado com a harmonização das linhas, das curvas, da
arquitetura (24/10/2014 – Um novo espaço para Jailson Marcos -
http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-marcos/).
Me inspiro muito na arquitetura, na geometria, nas formas, nas curvas – isso está muito
ligado ao meu trabalho. (22/10/2014 – Um novo espaço para Jailson Marcos -
http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-marcos/).
Dialogo também com a geometria e as paralelas. Gosto muito de arquitetura
(25/09/2014 - Saiba onde comprar o melhor da moda pernambucana -
www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/interna_turismo,53
1724/descubra-onde-comprar-o-melhor-da-moda-pernambucana.shtml).
Elas podem vir da natureza, das artes plásticas e da arquitetura, como as volutas
da arquitetura barroca, além dos novos prédios em construção no mundo
(06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -
brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
As plataformas são as que eu mais gosto de fazer. Elas fogem um pouco do
convencional, pois quando criamos em cima de uma ideia, há mais possibilidades.
(06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -
http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
Capto as ideias e trago para o meu universo. Elas podem vir da natureza, das artes
plásticas e da arquitetura, como as volutas da arquitetura barroca, além dos novos
prédios em construção no mundo (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -
http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
Me inspiro na desconstrução da arquitetura moderna, no design de móveis, em
tudo o que vejo pela cidade (01/10/2010 – a arte dele está nos pés - Supl_JOR_JM
01/10/2010).
Mercado São José, alfaias, boias de pescar, volutas de arquitetura barroca, gradeados e
sacadas da Rua da Aurora, antena parabólica, bandeira de Pernambuco, cana de açúcar,
tudo serve de inspiração para mim. O universo me inspira (Dez/2007 - Inovação nos
calçados é sinônimo de sucesso – Agenda cultural/dez 2007- Recife – PE).
Utilizo o desconstrutivismo (sic) da engenharia moderna, a exemplo do prédio da Casa
do Comércio (Av. Tancredo Neves, em Salvador) (Caderno 2ª_A Tarde 09/12/2003).
81
Tudo pode ser uma fonte de inspiração, que é ampla. O discurso desse bloco tende para a
arquitetura, sua desconstrução, formas geométricas. Dessa forma, JM vai buscar referências
arquitetônicas para o formato dos seus produtos, através da desconstrução de formas, da
sobreposição de elementos, da verticalização de alguns produtos ou de usos de elementos da
arquitetura no produto. As formas capturadas com o olhar podem estar nas ruas, nos mercados
ou entorno da cidade. A arquitetura que trabalha formas, luz, gravidade e resistência, de acordo
com Schopenhauer (2001).
Para melhor entendimento do conceito de ideia, uma analogia ao pensamento de Löbach (2001)
que busca referência no design ao trazê-lo como
Uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um determinado. O design
consiste na codificação da ideias para, com a ajuda dos meios correspondentes,
permitir a sua transmissão aos outros. Já que nossa linguagem não é suficiente para
tal, a confecção de croqui, projetos, amostras, modelos constitui o meio de tornar
visivelmente receptível a solução (LÖBACH, 2001, p.16).
UNIVERSO
Tudo. Em geral, artes plásticas, arquitetura, eu gosto de ver forma, é no universo, em
geral, e eu já vejo essas formas no calçado. (30/12/2014 -
http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/nobalaio-30122014-retrospectiva-2014/).
Capto as ideias e trago para o meu universo. Elas podem vir da natureza, das artes
plásticas e da arquitetura, como as volutas da arquitetura barroca, além dos novos
prédios em construção no mundo (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -
http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).
Elas podem vir da natureza, das artes plásticas e da arquitetura, como as volutas
da arquitetura barroca, além dos novos prédios em construção no mundo(06/11/2010 -
Jailson Marcos, o mundo aos pés -
brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html)
Mercado São José, alfaias, boias de pescar, volutas de arquitetura barroca, gradeados e
sacadas da Rua da Aurora, antena parabólica, bandeira de Pernambuco, cana de açúcar,
tudo serve de inspiração para mim. O universo me inspira (Dez/2007 - Inovação nos
calçados é sinônimo de sucesso – Agenda cultural/dez 2007- Recife – PE).
Nas falas presentes nas entrevistas de JM, é possível perceber que o artesão utiliza-se das
referências artísticas, da desconstrução e reconstrução de formas que passeiam por um universo
imaginário, produzindo novas formas, novas soluções.
SALTO
82
Eu lembro que uma das primeiras sandálias que fiz, o salto era o pé de um guarda roupa,
então procurei um torneador, mandei ele tornear e virou um salto. Então é isso, esse
universo em si que me inspira. (30/12/2014 -
http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/nobalaio-30122014-retrospectiva-2014/).
Vi uma boia de pescar e pensei: isso dá um salto (01/10/2010 – a arte dele está nos pés
- Supl_JOR_JM 01/10/2010).
O sentido das palavras no discurso sobre os saltos fantasiosos e as formas não convencionais
remetem o leitor a pensar, de novo, na experimentação, na busca por novas formas,
diferenciadas, inovadoras.
Os saltos que alimentam o fetiche, que estimulam o consumo, que remetem à elegância, poder
e sensualidade, refletindo o estilo, gosto e status social (SEFERIN, 2012).
Na sua linha criativa, os saltos passeiam por um universo imaginário, fantasioso, que desafia o
equilíbrio e a gravidade, repensa uma tradição aliada à uma modernidade futurística, a ousadia
na inovação das formas para a construção da sua identidade estética-artística, visível no seu
trabalho. Através da necessidade de transformação, da metamorfose individual, do desejo de
mudar, através da renovação efêmera que o atual mercado impõe ao consumidor (SEFERIN,
2012). Os sapatos históricos e as histórias contidas nos sapatos individuais e seu caminhar, tanto
ao longo da história social quanto no âmbito individual.
PALMILHA
Fiz uma brincadeira, eu prolonguei a palmilha com o cabedal cobrindo os dedos dos
pés, e isso virou identidade no meu trabalho. (30/12/2014 -
http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/nobalaio-30122014-retrospectiva-2014/).
Essa essência nordestina não é algo que eu coloco nos sapatos propositalmente. Ela
está nas minhas raízes (25/09/2014 - Saiba onde comprar o melhor da moda
pernambucana -
www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/interna_turismo.53
1724/descubra-onde-comprar-o-melhor-da-moda-pernambucana.shtml).
Observando suas tiras que se cruzam para proteger os pés desenvolvi duas linhas. Em
uma, resgatei as mesmas características, apenas redesenhando a parte do dorso do pé.
Na outra, estilizei as sandálias usadas em regiões arenosas, como o sertão e o
deserto, virando a ponta de maneira acentuada (26/07/2014 - DP online
http://www.old.pernambuco.com/diario/2004/07/26/ vivermulher1_0.html).
Fiz uma releitura dos sapatos sertanejos, arredondando e emborcando o bico das
sandálias, e isso agradou os antenados com a moda quanto os mais desligados
(Dez/2007 - Inovação nos calçados é sinônimo de sucesso – Agenda cultural/dez 2007-
Recife – PE).
83
Apesar das informações quanto a autoria deste formato, foi localizada que este é o design
utilizado nas sandálias inspiradas em modelos pré-dinásticos, confeccionadas em ouro de
Psusennes I (1036 – 939 a.C.) - acervo do Museu Egípcio do Cairo (Fig. 31). No entanto, o
grande diferencial do sapateiro Jailson Marcos foi trazer referências estéticas utilizadas quase
um século antes de Cristo para a atualidade, funcionando como diferencial de seus produtos e
tornando-a marca registrada da sua marca.
Figura 29 - Palmilha estendida JM e modelo pré-dinástico
Fonte: Jailson Marcos Fonte: Museu Egípcio do Cairo
INSPIRAÇÃO
Ai comecei a.... a entender esse universo do calçado (19/09/2015 - Conhecendo a
coleção de sapatos do designer Jailson Marcos – Em entrevista ao blog da Dany -
www.youtube.com/watch?v=UTJCtQ5PQLU).
Sou um criador, e isso tudo me instiga a criar ainda mais (24/10/2014 – Um novo
espaço para Jailson Marcos - http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-
espaco-para-jailson-marcos/).
Gostava de criar e inventar coisas (16/10/2014 - Empreendedores da Moda: Jailson
Marcos, o artesão dos calçados - www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/
empreendedores-da-moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-calcados/).
São nos traços dos desenhos que sempre surge uma ideia e é com ela que busco
atingir a minha missão, o diferencial (07/05/2014 - Made in Pernambuco -
www.azdecor.com.br/tag/jailson-marcos/).
Acompanho muitos trabalhos feitos aqui e priorizo a essência da nossa cultura”, “Meu
trabalho pensa a moda dentro de uma cultura regional (07/05/2014 - Made in
Pernambuco - www.azdecor.com.br/tag/jailson-marcos/).
Acredito que o mercado sempre abre as portas para quem faz um produto diferenciado.
Mas é importante persistir e buscar inspiração dentro de cada um mesmo. Abomino a cópia (17/12/2006 - Jailson: sapateiro com grife – Suplemento Jornal do
Commércio).
84
Em alguns relatos, o sapateiro cita as sandálias sertanejas como seu ponto de partida para
responder a pergunta. Utilizando-se, em algumas situações, da memória discursiva,
parafraseando a si mesmo, sustentando palavras ou frases já ditas, o que fortalece a construção
dos sentidos (GOMES, 2006).
Pelo que se pode observar, percebe-se, através das falas contidas nas entrevistas veiculadas nas
mídias, que o sapateiro utiliza-se de experimentos na busca por produtos diferentes do que o
mercado oferece. Seu processo criativo tanto pode ter origem através da recriação de produtos,
como através de traços, desenhos, croquis, ou seja, uma ideia o conduz a outra, suas próprias
criações são referências para novas, fato que o surpreende a cada criação. Em alguns protocolos,
é possível observar a referência a elementos da tradição cultural, e geométricos, à arquitetura.
Embora citado algumas vezes, o tema cultura não foi analisado porque não estava contemplado
nos objetivos dessa dissertação.
85
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa procurou investigar um produto do vestuário no mercado por provocar desejos,
alimentar necessidades, fortalecer emoções e encantar consumidores. Procurando compreender
se as sandálias Jailson Marcos são produtos de moda ou de arte, a análise possibilitou esclarecer
os objetivos específicos desse estudo.
Como forma de organizar as ideias em torno do tema e facilitar a compreensão do leitor, foi
elaborado um esquema teórico que reflete as principais variáveis abordadas na análise e que
são retomadas neste capítulo.
A construção de produtos de moda segue uma metodologia para o planejamento e a criação de
uma coleção pautada em uma pesquisa de tendências que é resultado do trabalho dos bureaux
de tendências presentes e conectados em vários países. De forma que, na sociedade globalizada,
é frequente encontrar exemplos de peças do vestuário com muita semelhança em diversas partes
do planeta, fruto de uma globalização que tem grande influência no mundo da moda.
Figura 30 - Resultado da Análise
Fonte: dados da pesquisa, 2015
Como resultado da pesquisa (Fig. 32), pode-se perceber que os calçados artesanais de JM são
carregados de referências da arquitetura moderna brasileira, a estética, a geometrização, a
desconstrução e as assimetrias trabalhadas de forma harmônica e diferenciada. Elementos
arquitetônicos foram citados como referência em várias entrevistas e é perceptível no resultado
dos seus trabalhos.
Por sua formação em Educação artística, traz na bagagem as referências de arte. Entendendo
arte como área de expressão artística relacionada com técnicas e habilidades individuais, tendo
86
o sentimento do artista dentro de si, funcionando como uma tela em branco em que o artista a
transforma com liberdade, saindo de nobres inspirações do mundo imaginário para a realização
física de ideias ousadas e inovadoras.
Tal constatação torna-se evidenciável apenas através da análise dos fragmentos documentais
levantados na elaboração desta dissertação. Ao contrastar a fonte da ideia com seu produto final,
apenas olhos treinados podem julgar senso matemático ou modelos tradicionais na inspiração
de Jailson Marcos. Seu estilo é, acima de tudo, resultado de uma ideia passante, viva, tal como
a metafísica do belo atribui aos entes entre a representação e a vontade.
Figura 31 - Arquitetura moderna
Fonte: Jailson Marcos, 2015 Fonte: Revista das dicas, 2015
Figura 32 - As formas arquitetônicas
Fonte: casanovah, 2015 Fonte: Jailson Marcos, 2015
Em vários momentos, o sapateiro cita que utiliza-se de referências culturais no seu processo
criativo, alimentando-se, assim, da fonte do cangaço e da estética das alpargatas dos vaqueiros
nordestinos, assim como de elementos culturais da região nordestina.Trata-se de um trabalho
artesanal, como resultado de análise, é possível observar que os produtos fazem alusão no que
87
se refere aos materiais utilizados, como a mistura no uso do couro e palha, que são produtos
que referenciam o nordeste brasileiro.
Sob tal perspectiva, é possível questionar o papel desta inspiração original em relação ao
conceito tradicional de moda, o qual não exclui tais possibilidades de seu repertório criativo.
Na moda, então, os produtos cotidianos seguem tendências, formas, cores e conceitos, são
direcionados a um público específico, desde o início do processo criativo, passando pelo
momento da produção até o consumo. Os produtos de moda, ao contrário das criações de JM,
tem vida útil presumidamente resumida, ao serem apresentados ao mercado consumidor já tem
data marcada para sair de cena.
Finalmente, sobre o seu processo criativo, o artesão relata, através das entrevistas, que sua
inspiração é alimentada do universo, que tudo pode ser uma referência, repetindo, com
freqüência, duas principais fontes que são a desconstrução das formas arquitetônicas e a
tradição cultural através das sandálias sertanejas (Fig. 35), como comentado anteriormente.
Figura 33 - Fonte de inspiração
Fonte: archdaily, 2015 Fonte: portal do cangaço, 2015
Seu trabalho, enfim, foca o diferencial no processo criativo. Percebe-se que o sapateiro faz uma
conexão entre passado e futuro, transformando as formas em produto do vestuário presente.
Inspira-se na estética da arquitetura moderna para produzir de forma artesanal, como os antigos
sapatateiros, produtos que alimentam o desejo, estimulam a face hedônica do consumo,
produzindo encantamento nos consumidores. Curioso observar que produtos criados em
coleções passadas transformam-se em peças atemporais e continuam sendo consumidas e
encantando seus fieis e novos consumidores. Nessa perspectiva, os produtos JM fazem uma
88
junção de moda, arte, artesanato e arquitetura, produzindo produtos através da arte vestível, do
Wearable Art.
Pragmaticamente, Wearable Art está no sentido oposto à moda, percorre uma trajetória com
liberdade de criação com o propósito de ser vestível, independente dos modismos. Para tanto,
ao adentrar o universo do caso, pode-se afirmar que Jaílson Marcos trabalha a conexão entre
arte, artesanato, arquitetura e vestuário, seguindo os preceitos do Wearable Art, que não se
rende ao fast fashion, ao sistema da moda que é propenso a constantes mudanças para o público
ávido por mudanças, em um breve espaço de tempo. Jailson Marcos faz um elo entre o passado
e o futuro, uma ponte que retorna ao passado, ao Arts and Crafts, direcionando seu trabalho ao
Wearable Art, ou seja, a arte vestível.
4.1 Limitações
Havia o agendamento e a confirmação para realização de uma entrevista em profundidade com
o sapateiro Jailson Marcos, no entanto, a poucos minutos do horário previsto, o mesmo se
comunica informando estar doente e solicitando adiamento da entrevista, que foi remarcada e
cancelada mais duas vezes. Com o avanço da data, optou-se por substitui-la por uma pesquisa
documental, processo que foi facilitado pelo material previamente catalogado e pela
interatividade da comunicação e sua democratização que pontencializa a disseminação das
informações através da internet. Embora haja prejuízo na troca das técnicas, a pesquisa
documental foi realizada com todo o rigor metodológico recomendado pela literatura para que
os resultados fossem relevantes.
4.2 Sugestões para pesquisas futuras
A pesquisa mostra que esse é um tema amplo e com muitas lacunas a serem preenchidas,
pesquisadas. A evolução estética, o significado semiológico dos produtos Jailson Marcos, nos
20 anos de existência da marca, certamente, revelará a grande evolução estética, com
possibilidade de relacioná-la ao tempo vivido pelo artesão.
Assim como estudar o encantamento produzido nos consumidores que compram e recompram
seus produtos anos após haverem sido lançados no mercado, fato que foge à lógica do consumo
de moda.
89
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95
APÊNDICE A
C
ateg
ori
as
PR
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DA
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LO
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#1 Jailson
Marcos, o
mundo aos pés
06/1
1/1
0
http://brunosoutomaior.blogspot.com
.br/2010_11_01_archive.html
Depois de largar o trabalho na área de
administração pública, o desejo de atuar em algum
negócio ligado à moda começou a se manifestar em
Jailson. Ele iniciou fabricando cintos e bolsas
artesanais e, após um curso, em São Paulo, com um
artesão argentino, que o ensinou a costurar sapato
mocassim, apaixonou-se de vez pelos calçados.
Passou, então, a criar sapatos para as irmãs e os
amigos. “Todos gostaram. Foi aí que descobri
minha verdadeira arte”, conta ele.
#2 Pulo do gato
dos artesanais
30/0
4/0
1 http://www.old.pernambuco.com/dia
rio/2001/05/05/empregos6_0.html
Trabalho com arte e produzo muitos modelos
sob encomendas, principalmente as plataformas e
sapatilhas baixas, que são uns dos modelos fortes
para esta estação.
96
#3 Com nome e
sobrenome
17/1
0/1
0
Revista JC
SUPL_JOR_JM_O1/10/2010
Tenho formação em educação artística e já fui
funcionário público, mas não gostava do que fazia.
Deixei o emprego e fui para São Paulo comprar
cintos e bolsas para vender. Foi quando conheci um
argentino que me ensinou a fazer mocassins
costurados à mão. Assim descobri minha arte.
#4 Empreendedor
es da Moda:
Jailson
Marcos, o
artesão dos
calçados -
16/1
0/1
4
http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d
esignemoda/empreendedores-da-
moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-
calcados/
Tudo começou de maneira despretensiosa, como
lembra o próprio Jailson. “Antes de morar no
Recife, em 1985, estudava Educação Artística na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Sempre soube que meu ofício estaria atrelado ao
universo da arte. Gostava de criar e inventar
coisas, mas, como todo menino de uma cidade de
interior [sou de Santana do Matos], vivia o dilema
de ter que estudar e trabalhar ao mesmo tempo.
#5 Sandálias
ganham design
diferenciado no
sertão (Lilian
Pace)
24/0
6/1
3
GNT Fashion (00:50)
http://gnt.globo.com/programas/gntfa
shion/videos/2651837.htm
sempre me interessei pela arte e em geral (...)
argentino que me ensinou a fazer um mocassim,
sapato típico indígena, bastou isso para me
identificar com essa arte.
AR
TE
SA
NA
TO
/
AR
TE
SÃ
O
#6 AS
IRRESISTÍVE
IS
SANDÁLIAS
DE JM 11/0
8/1
2
(Celebs PE)
http://www.celebspe.com.br/as-
irresistiveis-sandalias-de-jailson-
marcos/
No que diz respeito ao incentivo local, o designer
foi bastante criterioso e reconheceu o estímulo dos
lojistas da cidade quando se trata de trabalhos
artesanais. “Os empresários locais acreditam nos
profissionais ligados ao artesanato, tenho
exemplos como as lojas Refazenda, Avesso,
97
Preta da cor, entre outras, que acreditam no
nosso trabalho”, comentou. Uma revelação
interessante feita pelo próprio Jailson é que os seus
calçados criados a partir de um estilo
contemporâneo e exclusivo atraiu um público
masculino significativo. “Tenho uma boa clientela
masculina. O mercado masculino gosta da
exclusividade e também as próprias mulheres
levam e incentivam as peças para os parceiros”,
disse o criador do estilo da palmilha estendida.
#7 Conhecendo a
coleção de
sapatos do
designer
Jailson Marcos
19
/09/1
5
Blog da Dany
https://www.youtube.com/watch?v=
UTJCtQ5PQLU
1:41
Meu trabalho é completamente artesanal, então,
por ser artesanal, aqui outra sandália que adoro ...
estilo gladiadora, sendo masculina
DANY- É assim, é um masculino mas que pode ser
usado né”..
[[ J: é unissex
[[ D: eu usaria
JM: eu brinco muito com isso, minhas sandálias
não tem sexo não.
#8 Empreendedor
es de moda:
jailson marcos ,
16/1
0/1
4
Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d
esignemoda/empreendedores-da-
moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-
calcados/
Da confecção de acessórios para entrar no mundo
dos calçados, foi um salto. “Um amigo argentino,
que era meu vizinho na Boa Vista, me ensinou a
costurar à mão um mocassim. Fiz o primeiro para
minha irmã e, a partir dos pedidos das amigas dela,
98
o artesão dos
calçados
formei uma cartela de clientes bem razoável.
Porém, para ficar mais conhecido na cidade, decidi
que ia vender meus sapatos na feirinha de Boa
Viagem. [...] Sou artesão mesmo. Sapateiro, de
verdade, sabe? E tenho orgulho de dizer que
comecei na raça, sozinho”, contou.
#9 Saiba onde
comprar o
melhor da
moda
pernambucana
25/0
9/1
4
http://www.diariodepernambuco.com
.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/in
terna_turismo,531724/descubra-
onde-comprar-o-melhor-da-moda-
pernambucana.shtml
Tudo tem seu tempo. Meu trabalho ainda é
artesanal, com produção diária de 25 pares.
Para qualquer indústria, é muito pouco, mas
eles têm um significado e um valor agregado
para mim". Em relação aos viajantes, Jaílson faz a
propaganda: "Apesar de toda a simplicidade, os
turistas adoram o conforto do ateliê e ficam
surpresos com os design diferenciado das minhas
sandálias"
#10 UM NOVO
ESPAÇO
PARA
JAILSON
MARCOS
22 /
10/1
4
http://portaltagit.ne10.uol.com.br/mo
da/25184/um-novo-espaco-para-
jailson-marcos/
Meu trabalho é bem artesanal. Eu venho desse
processo e primo por isso. Com o tempo, a coisa
foi aumentando e tomou uma proporção tão grande
que eu tive que dar uma organizada na produção,
no que se diz respeito à área física do ateliê,
maquinários… Meu projeto é fazer uma reforma,
para daí poder atender melhor a essa demanda da
loja e, futuramente, de possíveis franquias. Já tenho
alguns empreendedores interessados, mas não me
sentia seguro em atender essa demanda.
99
Independente de qualquer coisa, quero prezar
pelo sapato artesanal, sem grande escala.
#11 AS
SANDÁLIAS
DE JAILSON
MARCOS
28/0
3/1
2
http://www.joaoalberto.com/2012/03
/28/as-sandalias-de-jailson-marcos/
A marca Jailson Marcos, que já tem pontos de
venda em diferentes estados brasileiros, emprestou
sua cara recentemente para compor o figurino de
algumas novelas famosas, calçando o personagem
do ator Wolf Maya em um folhetim deste ano.
Apesar da visibilidade estrondosa, Jailson não
pensa em industrializar ou massificar sua produção.
“Quero manter a tradição artesanal”, fala o
artista, que administra em sua residência a fábrica
e o ateliê de suas produções. “A demanda
aumentou muito, mas quero manter as coisas
exclusivas, personificadas”, comenta ele, que dá
liberdade aos clientes para adaptarem os calçados.
Jailson já teve algumas experiências de venda no
exterior e conta com uma cliente fixa na Espanha,
que anualmente leva diversos pares de sua coleção,
todos elogiados lá na Europa.
AU
TO
DID
AT
A
#12 Empreendedor
es de moda:
Jailson
Marcos, o
artesão dos
calçados
16
/10/1
4
Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d
esignemoda/empreendedores-da-
moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-
calcados/
Da confecção de acessórios para entrar no mundo
dos calçados, foi um salto. “Um amigo argentino,
que era meu vizinho na Boa Vista, me ensinou a
costurar à mão um mocassim. Fiz o primeiro para
minha irmã e, a partir dos pedidos das amigas dela,
formei uma cartela de clientes bem razoável.
100
Porém, para ficar mais conhecido na cidade, decidi
que ia vender meus sapatos na feirinha de Boa
Viagem. [...] Sou artesão mesmo. Sapateiro, de
verdade, sabe? E tenho orgulho de dizer que
comecei na raça, sozinho”, contou.
#13 Clippings - Site
JM
18/1
0/1
5
FS_007 O Mercado Pop reunia gente pensante, que
produzia muita coisa bacana....Já no segundo, que
ocorreu de forma inusitada dentro de um outro
evento no Centro de Convenções, comecei a
produzir para vender lá. Então a cada edição era
uma nova coleção de 15 a 20 modelos de sapatos.
E tudo eu fazia sozinho: criava, cortava,
costurava.
MO
DA
#14 O talento
inconfundível
de
Jailson Marcos
12/1
2013
Chá da tarde com Rosângela Société
https://rosangelasociete.wordpress.co
m/tag/rosangela-gomes/
O trabalho de Jailson Marcos não demorou tanto
para ser reconhecido e valorizado. O diferencial do
que ele produz é visivelmente detectado. O trabalho
artesanal tem um alto nível de qualidade somado ao
conforto e beleza, além disso, Jailson conseguiu
expressar em suas criações uma identidade bem
forte e própria, produzindo sempre o diferente.
“Não trabalho com o comum, na verdade, fujo
dele. Gosto de produzir uma moda diferente. Só
fico satisfeito quando visualizo o que fiz em 360°
e vejo que todos os ângulos estão diferentes”,
explica o artista.
101
#15 Jailson
Marcos, o
mundo aos pés
06/1
1/1
0
http://brunosoutomaior.blogspot.com
.br/2010_11_01_archive.html
O designer cria o sapato dos sonhos de qualquer
reles mortal, com total exclusividade. Sandálias,
tamancos, rasteiras, saltos torneados, agulha,
anabela e sandálias plataformas conceituais para
desfiles. “As plataformas são as que eu mais
gosto de fazer. Elas fogem um pouco do
convencional, pois quando criamos em cima de
uma ideia, há mais possibilidades”, diz. Jailson
produz independente de coleções, seguindo a
vontade de criar peças diferentes. De acordo com
ele, seus calçados são mais adequados para o verão
e resultam de muita pesquisa. “Capto as ideias e
trago para o meu universo. Elas podem vir da
natureza, das artes plásticas e da arquitetura, como
as volutas da arquitetura barroca, além dos novos
prédios em construção no mundo”.
#16 Made in
Pernambuco
07/0
5/1
4
http://www.azdecor.com.br/tag/jailso
n-marcos/
O atelier de Jailson define seu trabalho como a
tradição artesanal com status de alta costura. O
designer já desfilou em importantes eventos do
mundo da moda, como a São Paulo Fashion Week
e seus calçados estão fazendo sucesso nos pés de
famosos. Jailson Marcos definiu seu trabalho como
a busca pela essência da moda regional.
“Acompanho muitos trabalhos feitos aqui e
priorizo a essência da nossa cultura”, explicou.
102
“Meu trabalho pensa a moda dentro de uma
cultura regional”.
#17 Moda made in
PE
28/0
3/1
2
http://www.joaoalberto.com/2012/03
/28/as-sandalias-de-jailson-marcos/
Quem diria que uma demissão inesperada e uma
indenização bem aplicada fariam surgir uma marca
de sucesso como a das sandálias do Jailson
Marcos? Pois foi assim, após ser demitido da
empresa onde trabalhava, que Jailson deixou o
Recife com destino a São Paulo e começou a
produzir cintos e bolsas de modo artesanal. “A
demissão me preocupou, mas me fez sentir um
alívio enorme”, conta o artista, “pude começar a
trabalhar com arte e moda, que era o que me
encantava.” Hoje, Jailson Marcos é rapidamente
reconhecido em suas sandálias pelos quatro cantos
do país. Criou a tendência da palmilha estendida,
que virou sua marca registrada de sucesso.
#18 A arte deles
está nos pés
01/1
0/1
0 Supl_JOR_JM_01/10/10 O antigo Mercado Pop foi um laboratório. A cada
mês que um evento acontecia, criava uma nova
coleção, de 20 pares.
#19 Jailson
Marcos, o
mundo aos pés
06/1
1/1
0
http://brunosoutomaior.blogspot.com
.br/2010_11_01_archive.html
As peças do designer é presença marcante nas
passarelas do calendário da moda brasileira, em
parceria com estilistas renomados. No desfile
Primavera-Verão 2010/2011, da São Paulo Fashion
Week, elas estiveram no desfile da coleção Turista
Aprendiz, do mineiro Ronaldo Fraga. Com este
103
tema em mente, Jailson buscou inspiração na Rua
da Praia, no Centro do Recife, através das boias de
pescar. “A criação dos calçados apresentados
está baseada no conceito de que moda se move
em busca de conhecimento”, afirma.
#20 Empreendedor
es de moda:
Jailson
Marcos, o
artesão dos
calçados
16/1
014
Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d
esignemoda/empreendedores-da-
moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-
calcados/
Atualmente, jailson marcos emprega nove pessoas
em seu empreendimento (oito na produção e uma
no setor administrativo). “como moro aqui,
começamos a produzir por volta das 8h da manhã.
Sou autodidata e, geralmente, esboço algumas
peças numa salinha que tenho lá nos fundos da
casa. Desses desenhos, surgem várias ideias, que
dou forma nos moldes que já tenho”, disse ele,
que vai inaugurar, na próxima quinta-feira (23/10),
uma nova loja na galeria Joana D’Arc, no Pina.
#21 UM NOVO
ESPAÇO
PARA
JAILSON
MARCOS
22 /
10/2
014
http://portaltagit.ne10.uol.com.br/mo
da/25184/um-novo-espaco-para-
jailson-marcos/
Eu sou autodidata. Nunca fiz cursos de desenho ou
design. Me inspiro muito na arquitetura, na
geometria, nas formas, nas curvas – isso está muito
ligado ao meu trabalho. Eu tenho uma forma bem
diferente de criar – é quase como uma moulage.
Pego algo antigo e vou invertendo, avaliando se
dali pode sair alguma coisa nova… Eu só
consigo definir um modelo quando olho para ele
em 360 graus. Em cada ângulo, vejo uma forma
nova. Minhas sandálias criam uma família. Muitos
104
modelos partem de uma mesma ideia e vão se
multiplicando em peças diferentes.
AR
QU
ITE
TU
RA
#22 Saiba onde
comprar o
melhor da
moda
pernambucana
25/0
9/2
004
http://www.diariodepernambuco.com
.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/in
terna_turismo,531724/descubra-
onde-comprar-o-melhor-da-moda-
pernambucana.shtml
A primeira parada é na Rua Visconde do Uruguai,
97, Torre, bairro da Zona Norte do Recife, mais
especificamente no ateliê do artista plástico Jailson
Marcos. O local remete às casas do interior
nordestino: muro baixo, cadeiras no terraço e
azulejos rebuscados. “As pessoas costumam se
lembrar da casa da avó, quando vêm ao ateliê”,
conta Jailson. Ele mostra suas sandálias em
expositores montados pelos cômodos da casa, que
possuem ainda esculturas de sapatos gigantes feitos
de papel machê. As sandálias de Jailson
incorporam as características das alpercatas (ou
“alpargatas”), um calçado de couro típico dos
sertanejos, que protege a frente do pé e tem
aberturas nas laterais para ventilar. “Essa essência
nordestina não é algo que eu coloco nos sapatos
propositalmente. Ela está nas minhas raízes”,
explica o artista. “Dialogo também com a
geometria e as paralelas. Gosto muito de
arquitetura”, revela.
#23 UM NOVO
ESPAÇO
PARA
22
/10/2
01
4
http://portaltagit.ne10.uol.com.br/mo
da/25184/um-novo-espaco-para-
jailson-marcos/
Eu sou autodidata. Nunca fiz cursos de desenho ou
design. Me inspiro muito na arquitetura, na
geometria, nas formas, nas curvas – isso está muito
105
JAILSON
MARCOS
ligado ao meu trabalho. Eu tenho uma forma bem
diferente de criar – é quase como uma moulage.
Pego algo antigo e vou invertendo, avaliando se
dali pode sair alguma coisa nova… Eu só consigo
definir um modelo quando olho para ele em 360
graus. Em cada ângulo, vejo uma forma nova.
Minhas sandálias criam uma família. Muitos
modelos partem de uma mesma ideia e vão se
multiplicando em peças diferentes.
Essa coleção específica tem uma brincadeira. Estou
dando um ressignificado às criações que já fiz,
brincando com elas. Pego um bico que vira um
traseiro, um cabedal de cobre vira um traseiro… Eu
gosto disso. E o bacana é captar uma forma nova
a partir de algo que já existe. Mas, claro, sempre
preocupado com a harmonização das linhas, das
curvas, da arquitetura.
PR
OC
ES
SO
CR
IAT
IVO
#24 Made in
Pernambuco
07/0
5/1
4
Http://www.azdecor.com.br/tag/jails
on-marcos/
Os traços saídos de uma folha de papel e
transformados em realidade na pequena fábrica
montada no fundo do atelier do designer são únicos.
Basta um olhar para reconhecer um sapato ou
sandália do designer. “São nos traços dos
desenhos que sempre surge uma ideia e é com
ela que busco atingir a minha missão, o
diferencial”, contou Jailson Marcos.
106
#25 Editorial – site
de JM
18/1
0/1
5 FS_09 Eu adoro recriar saltos, buscar diferencial. Isso
é muito importante na moda. E o mais bacana disso
é que tem muito ainda para ser feito, criado. E me
surpreendo a cada criação.
#26 Desconstrução
09/1
2/0
3 Caderno 2ª_A Tarde 09/12/2003 Utilizo o desconstrutivismo (sic) da engenharia
moderna, a exemplo do prédio da Casa do
Comércio (Av. Tancredo Neves, em Salvador).
#27 Conhecendo a
coleção de
sapatos do
designer
Jailson Marcos
19/0
9/1
5
Blog da Dany (2:05)
https://www.youtube.com/watch?v=
UTJCtQ5PQLU
Quando eu crio, geralmente, eu penso na mulher,
quando eu estou criando a coleção, eu crio
primeiro a feminina, né? Porque você tem mais
delicadeza, tem que pensar um pouco mais o corpo,
no conjunto mesmo, e depois que eu crio a
feminina eu transformo aquele modelo em um
masculino.
#28 Empreendedor
es de moda:
Jailson
Marcos, o
artesão dos
calçados
16/1
0/1
4
Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d
esignemoda/empreendedores-da-
moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-
calcados/
Atualmente, jailson marcos emprega nove pessoas
em seu empreendimento (oito na produção e uma
no setor administrativo). “como moro aqui,
começamos a produzir por volta das 8h da manhã.
Sou autodidata e, geralmente, esboço algumas
peças numa salinha que tenho lá nos fundos da
casa. Desses desenhos, surgem várias ideias, que
dou forma nos moldes que já tenho”, disse ele,
que vai inaugurar, na próxima quinta-feira (23/10),
uma nova loja na galeria Joana D’arc, no pina.
107
#29 Um novo
espaço para JM
22/1
0/1
5
http://portaltagit.ne10.uol.com.br/mo
da/25184/um-novo-espaco-para-
jailson-marcos/
Sou um criador, e isso tudo me instiga a criar
ainda mais. Nesse novo espaço, quero atingir um
novo público, e esse objetivo é meu novo desafio.
#30 Conhecendo a
coleção de
sapatos do
designer
Jailson Marcos
19/0
9/1
5
Blog da
Danyhttps://www.youtube.com/watc
h?v=UTJCtQ5PQLU
O primeiro sapato que fiz, eu fiz masculino, fiz pra
mim. Aí os amigos começaram a gostar, se
identificar. Passei a criar pra minhas irmãs, as
primeiras cobaias. Aí comecei a.... a entender esse
universo do calçado.
#31 Editorial – site
de JM
18/1
0/1
5
FS_08 Para dar continuidade ao meu processo criativo eu
experimento todos os tipos de materiais: cana,
couro, casca de árvore, palha.
#32 Jailson
Marcos, o
mundo aos pés
06/1
1/1
0
http://brunosoutomaior.blogspot.com
.br/2010_11_01_archive.html
O designer cria o sapato dos sonhos de qualquer
reles mortal, com total exclusividade. Sandálias,
tamancos, rasteiras, saltos torneados, agulha,
anabela e sandálias plataformas conceituais para
desfiles. “As plataformas são as que eu mais gosto
de fazer. Elas fogem um pouco do convencional,
pois quando criamos em cima de uma ideia, há mais
possibilidades”, diz. Jailson produz independente
de coleções, seguindo a vontade de criar peças
diferentes. De acordo com ele, seus calçados são
108
mais adequados para o verão e resultam de muita
pesquisa. “Capto as ideias e trago para o meu
universo. Elas podem vir da natureza, das artes
plásticas e da arquitetura, como as volutas da
arquitetura barroca, além dos novos prédios em
construção no mundo”. P
AL
MIL
HA
ES
TIC
AD
A
#33 Fantasia nos
pés
09/1
2/0
3
Caderno 2_a tarde 09/12/2003 Fiz primeiro um modelo para mim, deu certo e as
pessoas gostaram. Esse bico levantado vou sempre
reeditar em meu trabalho, porque já virou marca
registrada.
#34 Tradição
artesanal com
status de alta
costura
26/0
7/2
004
JOR_JM_Trad Alta costura_07.2004 Observando suas tiras que se cruzam para proteger
os pés desenvolvi duas linhas. Em uma, resgatei as
mesmas características, apenas redesenhando a
parte do dorso do pé. Na outra, estilizei as
sandálias usadas em regiões arenosas, como o
sertão e o deserto, virando a ponta de maneira
acentuada.
#35 Do mundo
18/1
0/1
5 FS_13 Tem uma cara oriental também, e um toque
meio greco-romano.
109
#36 Inovação nos
calçados é
sinônimo de
sucesso
Dez
2007
Agenda cultural_dez 2007 Fiz uma releitura dos sapatos sertanejos,
arredondando e emborcando o bico das
sandálias, e isso agradou os antenados com a moda
quanto os mais desligados.
N
SP
IRA
ÇÃ
O
#37 Tradição
artesanal com
status de alta
costura
26/0
7/1
4
DP online
http://www.old.pernambuco.com/dia
rio/2004/07/26/
vivermulher1_0.html
Muito antes de suas sugestões, o pernambucano
Jailson Marcos já havia descoberto a plasticidade
das sandálias de vaqueiro, chamadas por essas
bandas de alpercatas xô boi. "Observando suas
tiras que se cruzam para proteger o pé
desenvolvi duas linhas. Em uma, resgatei as
mesmas características, apenas redesenhando a
parte do dorso do pé. Na outra, estilizei as
sandálias usadas em regiões arenosas, como o
sertão e o deserto, virando a ponta de maneira
acentuada", relembra. As duas viraram sua marca-
registrada. "Com elas até fui convidado para calçar
os modelos de Eduardo Ferreira e da estilista Lena
Santana, no último Fashion Rio", conta Jailson.
#38 No BALAIO
30/1
2/1
4
http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/
nobalaio-30122014-retrospectiva-
2014/
8:21 – 9:35
ENTR- O que te inspira? A gente dá uma volta por
aqui e vê que tem coleções incríveis, são espelhada,
imagino, em diversas coisas.
JM – Tudo. Em geral, artes plásticas,
arquitetura, eu gosto de ver forma, é no universo
em geral e eu já vejo essas formas no calçado. Eu
110
Entrevista falada lembro que uma das primeiras sandálias que fiz, o
salto era o pé de um guarda roupa, então procurei
um torneador, mandei ele tornear e virou um salto.
Então é isso, esse universo em si que me inspira.
ENTR- e de que maneira as tuas origens sertanejas
estão nas tuas criações?
JM – Eu tenho isso no meu... na minha cultura, no
meu subconsciente, meu pai criava gado, então eu
gostava de ver a roupa de couro, os adornos do
cavalo. E tem essa coisa de Pernambuco também,
quando eu descobri essa sandália alpercata no
mercado São José que era o lugar onde eu sempre
ia, e observando ela, um certo dia eu criei uma pra
mim, e fiz uma brincadeira: eu prolonguei a
palmilha com o cabedal cobrindo os dedos dos pés,
e isso virou identidade no meu trabalho. E isso, pra
mim, foi um momento marcante na minha carreira.
#38 Mais perto da
moda
pernambucana
05/1
0/0
3
made in recife 2003_JC_05out2003
001
(arquivo digitalizado)
Quero desviar os olhares para os pés, que
parecerão flutuar por causa dos saltos
aerodinâmicos.
#40 Inovação nos
calçados é
Dez
2007
Agenda cultural Recife - _dez 2007 Mercado São José, alfaias, boias de pescar, volutas
de arquitetura barroca, gradeados e sacadas da Rua
da Aurora, antena parabólica, bandeira de
111
sinônimo de
sucesso
Pernambuco, cana de açúcar, tudo serve de
inspiração para mim. O universo me inspira.
#41 A arte deles
está nos pés
01/1
0/1
0 Supl_JOR_JM 01/10/2010 Me inspiro na desconstrução da arquitetura
moderna, no design de móveis, em tudo o que
vejo pela cidade.
#42 A arte deles
está nos pés
01/1
0/1
0 Supl_JOR_JM 01/10/2010 Vi uma boia de pescar e pensei: isso dá um salto.
#43 Estilistas
antecipam o
verão
19/1
0/0
4 DP
Viver_made in Recife_DP_19/10/04
Meu trabalho é um mix. Peças diferentes do que
a gente encontra nas sapatarias.
#44 Jailson:
sapateiro com
grife
17.1
2.0
6
Supl_JCa 17.12.2006 E como anda o mercado para sapateiros em Recife?
Acredito que o mercado sempre abre as portas para
quem faz um produto diferenciado. Mas é
importante persistir e buscar inspiração dentro
de cada um mesmo. Abomino a cópia.
#45 Em busca dos
sapatos
femininos
ideais 25/0
1/1
5
JC
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal
/suplementos/jc-
mais/noticia/2015/01/25/em-busca-
O conforto é sempre pensado pelo designer de
sapatos Jailson Marcos na hora de elaborar suas
peças. As coleções de Jailson são repletas de
rasteiras e a maioria dos saltos tem até 5 cm.
Autodidata, ele busca inspiração nos ensinamentos
112
dos-sapatos-femininos-ideais-
165403.php
do italiano Salvatore Ferragamo. “Outra coisa em
que sempre penso é na palmilha. Nunca deixo o pé
apertado. Mesmo quando o sapato é coberto, deixo
o pé à vontade”, explica.
TR
AD
IÇÃ
O C
UL
TU
RA
L
#46 Made in
Pernambuco
07/0
5/1
4
http://www.azdecor.com.br/tag/jailso
n-marcos/
O atelier de Jailson define seu trabalho como a
tradição artesanal com status de alta costura. O
designer já desfilou em importantes eventos do
mundo da moda, como a São Paulo Fashion Week
e seus calçados estão fazendo sucesso nos pés de
famosos. Jailson Marcos definiu seu trabalho como
a busca pela essência da moda regional.
“Acompanho muitos trabalhos feito aqui e
priorizo a essência da nossa cultura”, explicou.
“Meu trabalho pensa a moda dentro de uma cultura
regional”.
#47 Saiba onde
comprar o
melhor da
moda
pernambucana
25/0
9/1
4
http://www.diariodepernambuco.com
.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/in
terna_turismo,531724/descubra-
onde-comprar-o-melhor-da-moda-
pernambucana.shtml
Essa essência nordestina não é algo que eu coloco
nos sapatos propositalmente. Ela está nas minhas
raízes.
#48 Empreendedor
es de moda:
jailson marcos,
o artesão dos
calçados 16/1
0/1
4
Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d
esignemoda/empreendedores-da-
moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-
calcados/
Com o trabalho mais reconhecido pelo grande
público, o criador de calçados foi chamado para
montar uma exposição, no Centro de Convenções
de Pernambuco, com sapatos de papel machê. O
resultado foi tão satisfatório que a mídia e os
formadores de opinião se renderam aos encantos do
113
potiguar. “Ganhei uma resenha de uma jornalista
do Rio Grande Sul, a Carol Garcia, que associava
meu trabalho ao de Salvatore Ferragamo – designer
italiano que, até então, eu desconhecia. E,
pesquisando, vi que tínhamos muitas coisas em
comum, mas minha produção tem uma coisa única:
o processo artesanal. Não quero nada
industrializado nas minhas sandálias. Prefiro a
experimentação, que me permite criar
organicamente peças cheias de
identidades/referências culturais de nossa terra,
sem perder de vista o conforto e a qualidade”, falou.
#49 Jailson
Marcos
JU
NH
O 2
010
https://www.blogger.com/profile/045
18906164762052001
Tradição artesanal com status de alta costura, é
assim o trabalho do designer de sapatos Jailson
Marcos. Modelos exclusivos que passaram pelas
passarelas de todo o mundo, e que você também
pode ter.
#50 Sandálias
ganham design
diferenciado no
sertão (Lilian
Pace)
GNT Fashion
24/0
6/1
3
Sandálias ganham design
diferenciado no sertão (Lilian Pace)
GNT Fashion
Comecei a me integrar mais com a cultura local e
vi essa sandália nordestina, essa sandália alpercata
que é uma sandália que o nordestino usava, que o
cabedal cobria os dedos dos pés ...
114
#51 A arte deles
está nos pés
01/1
0/1
0 Supl_JOR_JM 01/10/2010 Queria algo moderno, mas integrado à nossa
cultura.
#52 No BALAIO
30/1
2/1
4
http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/
nobalaio-30122014-retrospectiva-
2014/
8:21 – 9:35
Entrevista falada
ENTR- e de que maneira as tuas origens sertanejas
estão nas tuas criações?
JM – Eu tenho isso no meu...na minha cultura,
no meu subconsciente, meu pai criava gado, então
eu gostava de ver a roupa de couro, os adornos do
cavalo. E tem essa coisa de Pernambuco também,
quando eu descobri essa sandália alpercata no
mercado São José, que era o lugar onde eu sempre
ia , e observando ela, um certo dia eu criei uma pra
mim, e fiz uma brincadeira: eu prolonguei a
palmilha com o cabedal cobrindo os dedos dos pés,
e isso virou identidade no meu trabalho. E isso pra
mim foi um momento marcante na minha carreira.