faculdade damÁsio curso de pÓs-graduaÇÃo lato … · 1 castro, carlos alberto pereira de....

79
FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO PREVIDENCIÁRIO FLÁVIO PEREIRA PEDROZA ENQUADRAMENTO DE ATIVIDADE ESPECIAL E CONVERSÃO DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: ASPECTOS PRÁTICOS E CONTROVERTIDOS RECIFE - PE 2017

Upload: buitu

Post on 27-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

FACULDADE DAMÁSIO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO PREVIDENCIÁRIO

FLÁVIO PEREIRA PEDROZA

ENQUADRAMENTO DE ATIVIDADE ESPECIAL E CONVERSÃO DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: ASPECTOS PRÁTICOS E CONTROVERTIDOS

RECIFE - PE

2017

Page 2: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

FACULDADE DAMÁSIO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO PREVIDENCIÁRIO

FLÁVIO PEREIRA PEDROZA

ENQUADRAMENTO DE ATIVIDADE ESPECIAL E CONVERSÃO DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: ASPECTOS PRÁTICOS E CONTROVERTIDOS

Monografia apresentada à Faculdade

Damásio, como exigência parcial para

obtenção do título de Especialista em

Direito Previdenciário, sob orientação do

professor Bruno Antony Dantas de Veiga

Cabral.

RECIFE - PE

2017

Page 3: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

FLÁVIO PEREIRA PEDROZA

ENQUADRAMENTO DE ATIVIDADE ESPECIAL E CONVERSÃO DE

TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: ASPECTOS PRÁTICOS E

CONTROVERTIDOS.

TERMO DE APROVAÇÃO

Esta monografia apresentada no final do Curso

de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito

Previdenciário, na Faculdade Damásio, foi

considerada suficiente como requisito parcial

para obtenção do Certificado de Conclusão. O

examinado foi aprovado com a nota ________.

São Paulo, 23 de novembro de 2017.

Page 4: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

Flávio Pereira Pedroza

TERMO DE RESPONSABILIDADE

Trata-se de termo por meio do qual o autor da monografia assume toda a

responsabilidade pelo texto e ideias defendidas no trabalho isentando o orientador.

A aprovação do trabalho monográfico não significará o endosso do conteúdo por

parte do orientador, da banca examinadora ou da instituição.

Page 5: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a aposentadoria especial e o

instituto da conversão do tempo de contribuição especial em comum, no Regime

Geral de Previdência Social. Buscar-se-á desenvolver um estudo sobre os critérios

para efetivação do enquadramento das atividades especiais, cujo objetivo é proteção

do trabalhador que no ambiente de trabalho exercia suas atividades como portador

de deficiência ou exposto a agentes, nocivos, insalubres ou perigosos, através da

redução do requisito temporal necessário à concessão da aposentadoria. Pretende-

se evidenciar algumas situações controversas em que a prática administrativa

diverge da dogmática jurídica do tema, de modo a oferecer um retrato

compreensível dos critérios e requisitos para enquadramento de atividades especiais

e conversão do tempo de contribuição, elucidando o seu impacto na concessão dos

benefícios e os aspectos controvertidos da questão, presentes nas lides judiciais.

Palavras-chaves: Aposentadoria Especial. Conversão de Tempo de Contribuição.

Agentes Nocivos. Enquadramento de Atividades Especiais.

Page 6: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

ABSTRACT

The present study aims to analyze the special retirement and the institute of the conversion of special contribution time in common, in the General Regimen of Social Welfare. It will be sought to develop a study on the criteria form implementing the framing of the special activities, whose objective is the protection of workers that exercise their activities as a disabled person or exposed to harmful, unhealthy or dangerous agents, through the reduction of the time requirement for the granting of retirement. It is intended to highlight some controversial situations in which the administrative practice diverges from the legal dogma of the theme, in order to offer a comprehensible picture of the criteria and requirements for the framing of special activities and conversion of contribution time, elucidating its impact on the concession of the benefits and controversial aspects of the issue. Keywords: Special Retirement. Contribution Time Conversion. Harmful Agents. Framing of Special Activities.

Page 7: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9

1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA E HISTÓRICA DA APOSENTADORIA ESPECIAL 10

1.1. Conceito e fundamentos da aposentadoria especial ................................. 10

1.2. Evolução legislativa ...................................................................................... 12

1.3. Beneficiários da aposentadoria especial .................................................... 18

1.4. Conclusões .................................................................................................... 20

2. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL E SEU IMPACTO NA

RENDA MENSAL INICIAL. ............................................................................................. 21

2.1. Conversão de tempo especial em especial ................................................ 21

2.2. Conversão de tempo especial em tempo comum ...................................... 23

2.3. Conversão de tempo comum em tempo especial ...................................... 25

2.4. Conversão de tempo de serviço especial da pessoa portadora de

deficiência ............................................................................................................ 28

2.5. Impacto do tempo de serviço especial na renda mensal inicial ............... 30

2.6 Conclusão ....................................................................................................... 33

3. REQUISITOS PARA O RECONHECIMENTO DO EXERCÍCIO DE ATIVIDADE

ESPECIAL ......................................................................................................................... 35

3.1. Enquadramento por categoria profissional ................................................ 36

3.1.1. Enquadramento por analogia .................................................................... 40

3.2. Enquadramento por exposição a agentes nocivos .................................... 41

3.2.1 Caráter exemplificativo do rol de agentes nocivos ..................................... 43

3.2.2 O laudo técnico de condições ambientais de trabalho - LTCAT ................ 44

3.2.3. O perfil profissiográfico previdenciário – PPP ........................................... 47

3.2.4. Agente nocivo ruído .................................................................................. 48

3.2.5. Agente nocivo eletricidade ........................................................................ 50

3.3. Conclusão ...................................................................................................... 51

4. A POSSIBILIDADE DE AFASTAR O ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE

ESPECIAL PELO USO DE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL............ 53

4.1. O adicional de seguro de acidente de trabalho e o custeio da

aposentadoria especial ....................................................................................... 53

4.2. A discussão acerca do uso de EPI e o enquadramento especial. ............ 54

4.2.1. Julgamento do ARE 664.335/SC .............................................................. 57

Page 8: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

4.3. Conclusão ...................................................................................................... 62

5. CASOS ESPECIAIS DE ENQUADRAMENTO E CONVERSÃO DE TEMPO DE

SERVIÇO ESPECIAL. ...................................................................................................... 63

5.1. Vigilante ......................................................................................................... 63

5.2. Marítimo ......................................................................................................... 65

5.3. Pessoa com deficiência ................................................................................ 68

5.3. Professor ....................................................................................................... 71

CONCLUSÃO ................................................................................................................... 76

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 78

Page 9: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

9

INTRODUÇÃO

Com o presente trabalho, pretende-se analisar de forma técnica e prática a

questão da conversão do tempo de contribuição especial em comum no regime geral

de previdência social e seu impacto na concessão dos benefícios previdenciários,

para os casos de segurados expostos a agentes agressivos e perigosos no ambiente

de trabalho e outros casos específicos.

Para tanto se buscará desenvolver um estudo sobre o instituto do

enquadramento das atividades especiais, cujo objetivo é proteção do trabalhador

que no ambiente de trabalho exercia suas atividades como portador de deficiência

ou exposto a agentes, nocivos, insalubres ou perigosos, através da a redução do

requisito temporal necessário à concessão da aposentadoria.

Por meio de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, pretende-se evidenciar-

se algumas situações controversas em que a prática administrativa diverge da

dogmática jurídica do tema, de modo a oferecer um retrato compreensível dos

critérios e requisitos para enquadramento de atividades especiais e conversão do

tempo de contribuição, elucidando o seu impacto na concessão dos benefícios e os

aspectos controvertidos da questão, presentes nas lides judiciais, descrevendo como

a dogmática jurídica trata a questão.

No primeiro capítulo, mostraremos o conceito, fundamentação e histórico

legislativo do benefício. Em seguida, no segundo capítulo, será estudado o instituto

da conversão de tempo de serviço especial e como se dá o impacto da

aposentadoria especial na renda mensal inicial dos benefícios. O capítulo terceiro irá

tratar do enquadramento por exposição a agentes nocivos e o enquadramento por

categoria profissional. No quarto será discutido se uso de equipamento de proteção

individual é capaz de afastar o enquadramento da atividade especial. Por fim, no

quinto capítulo veremos alguns casos especiais de enquadramento e conversão de

tempo de serviço previstos em legislações correlatas.

Page 10: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

10

1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA E HISTÓRICA DA

APOSENTADORIA ESPECIAL

Inicialmente, iremos conceituar a aposentadoria especial e indicar qual

fundamento que justifica sua existência.

1.1. Conceito e fundamentos da aposentadoria especial

Castro1 define a aposentadoria como uma espécie aposentadoria por tempo

de contribuição:

“Aposentadoria especial é uma espécie de aposentadoria por tempo de contribuição, com redução do tempo necessário à inativação, concedida em razão do exercício de atividades consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física.”

Em posicionamento um pouco divergente, ensina Landenthin2 que a

aposentadoria especial seria um benefício autônomo, não se confundindo com

nenhuma outra das espécies de benefícios:

“Assim, aposentadoria especial não é modalidade de aposentadoria por tempo de contribuição com tempo reduzido e nem tampouco de aposentadoria por invalidez, distinguindo-se em todos os sentidos das demais aposentadorias, como demonstrado anteriormente. Possuí características sui generis de benefício previdenciário com vistas à proteção do trabalhador que durante anos se expôs a agentes agressivos prejudiciais à saúde ou integridade física.”

Não obstante, trata-se de prestação previdenciária de natureza preventiva e

protetiva do trabalhador que no ambiente de trabalho exercia suas atividades

exposto a agentes, nocivos, insalubres ou perigosos. Exige-se do segurado 15, 20

ou 25 anos de exposição a agentes agressivos prejudiciais à sua saúde ou

integridade física no desempenho de suas atividades laborativas.

Portanto, destaca Portela3, as diferenças apontadas não são suficientes para

afastar o denominador comum entre os dois tipos de benefícios. O autor4 ainda

1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 26.

Page 11: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

11

identifica três correntes distintas quanto à fundamentação da existência da

aposentadoria especial: reparatória, isonômica e preventiva.

Na corrente reparatória, o fundamento seria a reparação financeira do

desgaste físico extraordinário suportado pelos trabalhadores expostos a agentes

insalubres no desempenho de suas atividades. Este entendimento é defendido por

Castro5.

Já a corrente isonômica defende que o fundamento é o limite temporal para

além do qual o exercício da atividade seria, presumidamente, prejudicial em demasia

ao trabalhador. Deste modo, não poderia exercer a atividade dita especial durante

igual período ao de outras consideradas comuns.

Gonçalves6 considera ambas as correntes acima em conjunto:

“A Aposentadoria Especial, portanto, é um benefício previdenciário que busca compensar o trabalhador pelo desgaste decorrente da sujeição a agentes prejudiciais à sua saúde e integridade física, e também antecipar sua saída do ambiente de trabalho que lhe é prejudicial, mediante redução do tempo necessário para obter aposentadoria...”

Finalmente, para a corrente preventiva, o benefício se justifica pela

necessidade de se encerrar o exercício da atividade insalubre precocemente, antes

que haja prejuízo efetivo à saúde do trabalhador. Landenthin7 advoga a natureza

preventiva do benefício:

“Ressalta-se que a pretensão do legislador ordinário foi a proteção do trabalhador. Por essa razão, retira-o da exposição do agente agressivo pela aposentadoria antes que padeça de alguma doença, protegendo-o.”

Em consonância com as duas últimas correntes, isonômica e preventiva, o

parágrafo 8o do artigo 57 da lei no. 8.213/91 determina o afastamento do exercício

de qualquer tipo de atividade considerada especial ao trabalhador beneficiário de

aposentadoria especial, sob pena de cancelamento do benefício.

3 Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 146

4 ibidem. posição 170.

5 Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 733. 6 Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed.

Curitiba: Alteridade Editora, 2015.p. 59. 7 Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 25.

Page 12: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

12

No entanto, conforme já destacado por Portela8, tanto a corrente isonômica

quanto a preventiva não se aplicam no caso de exposição a agente nocivo perigoso.

Com efeito, não há prejuízo à saúde do segurado no desempenho da atividade, mas

sim risco potencial de sofrer um acidente. Portanto, não há presunção de que terá

uma vida laborativa menor.

Porém, a redução no tempo de trabalho exigido para a aposentação é

justificada pela redução potencial do risco, conforme bem exemplificado pelo autor9:

“Por exemplo, se um trabalhador exerce sua atividade com risco de sofrer uma descarga elétrica, terá esse risco diminuído se trabalhar menos tempo nessas condições. Em termos estatísticos, ao se reduzir o tempo de inatividade de 35 para 25 anos para esse trabalhador, estar-se-á diminuindo em 40% o risco do mesmo ter um acidente de trabalho e sofrer um choque elétrico durante sua vida laboral.”

De todo modo, trata-se de um mecanismo de proteção à saúde e segurança

do trabalhador, conforme apontado por Lima10 no I Seminário sobre Aposentadoria

Especial como Instrumento de Proteção à Segurança e Saúde do Trabalhador -

Conferências Proferidas.

1.2. Evolução legislativa

Explica Landenthin11, a legislação previdenciária relativa à aposentadoria

especial é bastante complexa e extensa, sofrendo frequentes modificações ao longo

do tempo. Ibrahim12, inclusive, considera este “um dos mais complexos benefícios

previdenciários, não sendo exagero considerá-lo que produz maior dificuldade de

compreensão e aplicação de seus preceitos”.

8 Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição. 205.

9 ibidem.

10 Lima, Cristiane Queiroz Barbiro. I Seminário sobre Aposentadoria Especial como Instrumento

de Proteção à Segurança e Saúde do Trabalhador-Conferências proferidas. Ebook. http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2011/10/i-seminario-sobre-aposentadoria-especial-como-instrumento-de-protecao-a-seguranca-e-saude. p. 17. 11

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 122. 12

Ibrahim, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16a ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

p. 609.

Page 13: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

13

Portela13 destaca a profunda divergência na doutrina e na jurisprudência no

tratamento do tema:

“Há profunda divergência na doutrina e na jurisprudência no tratamento dos temas afetos a esse benefício previdenciário. Seu tratamento legislativo é assistemático, insuficiente e instável, com sucessivas alterações desde a criação do benefício pela lei no. 3.807/60”

Nas palavras de Gonçalves14 a legislação sobre o tema “passou por muitas

alterações, motivando o surgimento de inúmeras lides judiciais e provocando

reflexões da doutrina e da jurisprudência.”.

Tanto Castro15 como Gonçalves16 elucidam que o direito do segurado de

comprovar o caráter especial de seu trabalho se baseará na sistemática vigente à

época em que o labor foi executado, sendo que tal entendimento encontra amparo

no princípio do direito adquirido, previsto no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal.

Neste sentido, Portela17 reforça que a compreensão do tema exige não

apenas conhecimento das normas em vigência, mas do histórico legislativo:

“O desenvolvimento do estudo da aposentadoria especial se dará pela análise teórica e prática dos seus principais temas, não apenas com base no regime atual imposto pela Lei no. 8.213/91, mas também analisando de forma detalhada a legislação anterior, o que se impôe na análise de qualquer benefício previdenciário.”

Deste modo, passaremos agora a um breve estudo do histórico legislativo

relativo à aposentadoria especial, descrevendo como o tema foi abordado pelo

legislador ao longo do tempo e seu impacto para os benefícios atuais.

A aposentadoria especial teve início com a edição lei nº 3.807 de 26 de

agosto 1960 (Lei Orgânica da Previdência Social - LOPS), mas especificamente o

artigo 31, sendo este o primeiro momento no ordenamento jurídico pátrio em que os

legisladores trataram do tema:

13

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 126. 14

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed.

Curitiba: Alteridade Editora, 2015. p. 67. 15

Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2015. p. 740. 16

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed.

Curitiba: Alteridade Editora, 2015. p. 70 e 72. 17

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 126.

Page 14: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

14

“Lei 3.807/60. Art. 31. A aposentadoria especial será concedida ao segurado que, contando no mínimo 50 (cinqüenta) anos de idade e 15 (quinze) anos de contribuições tenha trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços, que, para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo.”

Além do tempo de contribuição, havia o requisito de etário mínimo a cumprir:

55 anos.

Portela18 destaca o fato de que o Decreto nº 35.448 de 1º de maio de 1954 já

teria introduzido no ordenamento jurídico a noção de benefício especial aos

trabalhadores expostos a agentes nocivos:

“Dec. 34.448/54. Art. 29. A aposentadoria ordinária será concedida ao segurado que, contando, no mínimo, 55 (cinquenta e cinco) anos de idade e 15 (quinze) anos, pelo menos, em serviço que, para êsse efeito, forem, por decreto, considerados penosos ou insalubres.”

Conforme bem frisado por Castro19, Landenthin20 e Portela21, o requisito de

idade mínima foi posteriormente suprimido pela Lei nº 5.540-A de 23 de maio de

1968.

Em 25 de março de 1964, foi editado o decreto nº 53.831 previsto no artigo 31

da LOPS. Esta norma trazia em seu quadro anexo a relação dos agentes agressivos

(físicos, químicos e biológicos) e classificação das ocupações profissionais, cujos

exercícios ou exposições possibilitavam a concessão do benefício ao segurado. Este

quadro anexo estabelecia também o tempo de atividade mínima necessário para a

percepção do benefício para cada agente nocivo ou profissão (15, 20 ou 25 anos).

Tal decreto foi revogado expressamente pelo Decreto nº 62.755 de 22 de

maio de 1968, que em seu artigo segundo, determinou, no prazo de 30 dias, a

apresentação de projeto de regulamentação da aposentadoria especial de que trata

o art. 31 da Lei nº 3.807/60. Contudo, como tal projeto nunca foi apresentado.

18

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 256.. 19

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 733. 20

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 124.. 21

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 256.

Page 15: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

15

Em 10 de setembro de 1968 o Decreto nº 63.230 introduziu novos quadros de

classificação de agentes nocivos (quadro I) e de atividades profissionais (quadro II).

Conforme destacado por Portela22, foi o primeiro regulamento a prever a conversão

de tempo especial em especial, para aqueles que trabalharam em atividades

especiais com critérios temporais mínimos diferentes.

O Decreto nº 83.080 de 24 de janeiro de 1979 aprova o novo Regulamento

dos Benefícios da Previdência Social. A norma trouxe novos quadros anexos,

novamente separando os agentes nocivos físicos, químicos e biológicos (quadro I) e

as atividades profissionais (quadro II).

A possibilidade de conversão de tempo especial em comum foi estabelecida

com a lei 6.887 de 10 de dezembro de 1980, em seu artigo 9º, § 4º.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, os benefícios de

aposentadoria por tempo de contribuição e por idade passaram a ser expressamente

previstos no artigo 202 da Carta Magna:

“CF. Art. 202. É assegurada aposentadoria, nos termos da lei, calculando-se o benefício sobre a média dos trinta e seis últimos salários de contribuição, corrigidos monetariamente mês a mês, e comprovada a regularidade dos reajustes dos salários de contribuição de modo a preservar seus valores reais e obedecidas as seguintes condições :

I - aos sessenta e cinco anos de idade, para o homem, e aos sessenta, para a mulher, reduzido em cinco anos o limite de idade para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, neste incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal;

II - após trinta e cinco anos de trabalho, ao homem, e, após trinta, à mulher, ou em tempo inferior, se sujeitos a trabalho sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidas em lei;

III - após trinta anos, ao professor, e, após vinte e cinco, à professora, por efetivo exercício de função de magistério.

§ 1º - É facultada aposentadoria proporcional, após trinta anos de trabalho, ao homem, e, após vinte e cinco, à mulher.

§ 2º - Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos sistemas de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei. (grifei).”

22

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 256.

Page 16: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

16

Como podemos observar, no inciso II do artigo 202 do texto há previsão de

concessão de benefício com redução do requisito temporal para àqueles que

laboraram sob condições especiais.

A lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre o Planos de

Benefícios da Previdência Social, estabeleceu as condições e regras da

aposentadoria especial em seus artigos 57 e 58.

“Lei 8.213/91. Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.

Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo.”

Os requisitos de tempo mínimo de contribuição (15, 20 ou 25 anos),

permaneceram inalterados desde a previsão inicial do benefício, no art. 31 da Lei nº

3.807/60.

O decreto nº 357 de 07 de dezembro de 1991 em seu artigo 29523 determinou

que fossem considerados os agentes agressivos e profissões previstos nos anexos I

e II do Decreto 83.080/79 e anexo único do Decreto 53.831/64.

Tanto Landenthin24 como Portela25 asseveram a dramática mudança ocorrida

com a publicação da Lei nº 9.032 em 28 de abril de 1995, que trouxe várias

alterações importantes na Lei nº 8.213/91 em relação ao tema da aposentadoria

especial. O primeiro autor, inclusive, destaca a grande redução no número de

concessões do benefício, de quase quarenta mil em 1995 para apenas 604 em

2002.

Inicialmente, o artigo 57 foi alterado para excluir o enquadramento por

categoria profissional. Deste modo, aponta Portela26 “a partir de 28 de abril de 1995,

23

Decreto no. 357/91. “Artigo 295. Para efeito de concessão das aposentadorias especiais serão

considerados os Anexos I e II do Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, aprovados pelo Decreto 83.080, de 24 de janeiro de 1979, e o Anexo do Decreto 53.831, de 25 de março de 1964, até que seja promulgada a lei que disporá sobre as atividades prejudiciais à saúde e à integridade física.” 24

iLandenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 128.. 25

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 326. 26

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 326.

Page 17: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

17

deixou de existir no ordenamento jurídico brasileiro a modalidade de enquadramento

por atividade profissional, conhecido como enquadramento por função.“.

No entanto, adiantamos que a lei nº 9.032/95 só foi regulamentada com o

advento do Decreto nº 2.172 de 05 de março de 1997. Portanto a entrada em vigor

da lei 9.032/95 deve ser estendida até a edição do referido decreto. Desta forma,

existem entendimentos jurisprudenciais permitindo o enquadramento por categoria

profissional até 05 de março de 199727.

O parágrafo 3º do referido dispositivo legal também foi alterado para incluir o

“trabalho permanente, não ocasional nem intermitente” como condição de

enquadramento. No entanto, com bem lembra Gonçalves28, somente a partir da

vigência da Lei nº 9.032/95 o requisito de permanência passou a fazer parte do texto

legal.

Neste sentido, a Turma Nacional de Uniformização editou a súmula 49, in

verbis:

“TNU. Súmula 49. Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física não precisa ocorrer de forma permanente.”

Houve também a inclusão do parágrafo29 6o no artigo 57 que vedou

expressamente o desempenho de atividade exposta a agente nocivos aos já titulares

de benefício de aposentadoria especial. A possibilidade de se converter tempo de

contribuição especial em comum foi novamente prevista no § 5º.

O Decreto nº 2.172 de 05 de março de 1997 trouxe nova regulamentação

para a aposentadoria especial. Os quadros anexos do Decreto 83.080/79 foram

revogados expressamente pela norma, que trouxe em seu anexo IV nova tabela de

classificação de agentes nocivos. Observarmos no referido anexo a exclusão dos

agentes físicos umidade, frio e do agente periculoso eletricidade.

27

Recurso Especial RESP 354737. 28

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed. Curitiba: Alteridade Editora, 2015.p. 82. 29

Lei 8.213/81. Artigo 57, § 6º: É vedado ao segurado aposentado, nos termos deste artigo, continuar no exercício de atividade ou operações que o sujeitem aos agentes nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta lei.

Page 18: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

18

A Lei nº 9.732 de 11 de dezembro de 1998 apresentou alterações

importantes, como bem apontado por Landenthin30. Primeiramente, cria um

financiamento específico para o benefício, com alíquotas adicionais variando de 6%

a 12% sobre a remuneração dos empregados sujeito a condições especiais31. Além

disso, passa a exigir informações sobre a utilização de equipamentos de proteção

individual (EPI) nos formulários de comprovação de exercício de atividade insalubre.

A Emenda Constitucional nº 47 de 5 de julho de 2005 alterou a redação do

art. 201 § 1º para incluir no rol de beneficiários de aposentadoria com critérios

diferenciados a pessoa portadora de deficiência. Tal direito encontra-se

atualmente regulamentado pela lei complementar nº 142 8 de maio de 2013. Trata-

se de espécie de aposentadoria especial, conforme apontado por Castro32 e

Lazzari33, com requisitos temporais reduzidos, com possibilidade, inclusive, de

conversão de tempo de serviço.

Por fim, em 06 de maio de 1999 foi publicado do Decreto nº 3.048, o qual

substituiu o Decreto no. 2.172/97, e é o que atualmente encontra-se em vigor, com

os agentes nocivos previstos em seu anexo IV.

1.3. Beneficiários da aposentadoria especial

Após esta breve exposição do histórico legislativo, cabe tecer alguns

comentários acerca das espécies de contribuintes que fazem jus ao enquadramento

da atividade especial.

30

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 145. 31

Lei 9.732/98. Art. 2o. . “Os arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, passam a vigorar

com as seguintes alterações: Art.57.§ 6o O benefício previsto neste artigo será financiado com os recursos provenientes da contribuição de que trata o inciso II do art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de contribuição, respectivamente.” 32

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 758. 33

Lazzari, João Batista [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 6a ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 317.

Page 19: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

19

Landenthin34 e Portela35 elucidam que a legislação vigente (artigo 57 da Lei nº

8.213/91) não excluiu nenhuma das espécies de segurados (empregado, empregado

doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso, segurado especial e

facultativo) do direito à aposentadoria especial.

A despeito disso, o Decreto nº 3.048/99 excluir do rol de segurados que

fazem jus ao benefício o empregado doméstico, o segurado especial e

contribuinte individual de forma geral, admitindo apenas, neste último caso,

aqueles que filiados à cooperativa de trabalho ou de produção:

“Decreto 3.048/99. Art. 64: A aposentadoria especial, uma vez cumprida a

carência exigida, será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual, este somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.(Redação dada pelo Decreto nº 4.729, de 2003).”

Os referidos autores e igualmente Castro36, no entanto, apontam que o

decreto extrapolou do poder regulamentar, pois estabeleceu restrição não prevista

na legislação que pretendeu regulamentar, em clara ofensa ao princípio da

legalidade.

Em harmonia com autores, defendemos que nenhum decreto, portaria,

instrução normativa ou qualquer outro ato administrativo da mesma natureza pode

ultrapassar as balizas estabelecidas na lei, muito menos criar direito novo, seja

obrigação ou sanção, que não tenha sido previamente estabelecido pelo Poder

Legislativo.

Este, inclusive, é o entendimento sumulado da Turma Nacional de

Uniformização:

“Súmula 62 da TNU: O segurado contribuinte individual pode obter reconhecimento de atividade especial para fins previdenciários, desde que consiga comprovar exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física.”

34

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 25. 35

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição. 205. 36

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 739.

Page 20: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

20

Portanto, a jurisprudência reconhece de forma ampla o direito do contribuinte

individual ao reconhecimento da atividade exercida como especial.

Em relação aos demais segurados, Portela37 defende que não é correto negar

o reconhecimento de trabalho insalubre ao empregado doméstico, uma vez que

nenhum dos pressupostos do trabalho doméstico é incompatível com o trabalho

sujeito a condições especiais. Ademais, a Emenda Constitucional no 72/13

estabeleceu igualdade de direitos entre o trabalhador doméstico e os demais.

Por outro lado, afirma o autor, os segurados especiais realmente não fazem

jus ao enquadramento da atividade especial, uma vez que é beneficiário unicamente

da aposentadoria por idade.

1.4. Conclusões

A aposentadoria especial sofreu inúmeras alterações ao longo dos anos. No

entanto, a análise acima não pretendeu esgotar todas as alterações normativas

sofridas por esta espécie de benefício. Apenas as mudanças mais importantes foram

pontificadas.

Dentre as alterações apontadas, destacamos as seguintes que serão

abordadas novamente nos próximos capítulos, explicitando com maiores detalhes o

seus impactos na aposentadoria especial: publicação da Lei 9.032/95, que extinguiu

o enquadramento por categoria profissional, o Decreto 2.172/97, que excluiu os

agentes perigosos do rol de agentes agressivos, a lei 9.732/98 que passou a exigir

informações sobre a utilização de EPI e o Decreto 3.048/99, atualmente em vigência.

37

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição. 2227.

Page 21: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

21

2. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL E SEU

IMPACTO NA RENDA MENSAL INICIAL.

Analisaremos agora o instituto da conversão do tempo de tempo de serviço e

como ela afeta o valor da renda mensal inicial dos benefícios, considerando o

tratamento atualizado das normas jurídicas.

2.1. Conversão de tempo especial em especial

Atualmente, o direito ao benefício de aposentadoria especial é regulado pelo

artigo 64 do Decreto 3.048/99, in verbis:

“Decreto 3.048/99. Art. 64. A aposentadoria especial, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual, este somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.”

Os requisitos de tempo mínimo de exposição são iguais para os trabalhadores

do sexo feminino e do sexo masculino. A determinação do tempo de exposição (15,

20 ou 25 anos) para cada atividade ou agente nocivo está elencado nos anexos dos

Decretos nºs 53.831/64, 83.080/79, 2.172/97 e 3.048/99. Lembrando que, conforme

explicitado no capítulo anterior, os dois primeiros tiveram vigência simultânea até 05

de março de 1997.

No entanto, não raro o trabalhador pode desempenhar atividades com

critérios de contribuição mínimos diferenciados, sem, contudo, ter completado os

requisitos mínimos em nenhuma delas. A título de exemplo, pode ter parte do

período laborativo exposto a agente nocivo asbestos (tempo de exposição 20 anos)

e parte exposto a benzeno (tempo de exposição de 25 anos).

Porém, assevera Landenthin38, não haveria sentido em desconsiderar o

tempo especial exercido, ainda que tenha preenchido os requisitos apenas de forma

parcial. Nas palavras da autora:

“A conversão era, portanto, medida esperada para regularizar a situação daqueles que tivessem trabalhado em duas ou mais empresas insalubres,

38

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 155.

Page 22: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

22

penosas ou periculosas sem terem completado em qualquer delas o prazo mínimo exigido que lhes correspondesse o direito ao benefício especial.”

Ensina a autora39 que a conversão “nada mais é que um critério de

equivalência. Períodos de tempo com diferentes graus de nocividade (15, 20 ou 25

anos) não podem se misturar, somar, sem antes tornarem-se iguais.”.

O direito a conversão de tempo especial em especial foi introduzido no

ordenamento jurídico com a edição do Decreto nº 63.230/68. A conversão do tempo

especial atualmente está regulada no artigo 66 do Decreto nº 3.048/99.

“Decreto 3.048/99. Art. 66. Para o segurado que houver exercido duas ou mais atividades sujeitas a condições especiais prejudiciais à saúde ou à integridade física, sem completar em qualquer delas o prazo mínimo exigido para a aposentadoria especial, os respectivos períodos de exercício serão somados após conversão, devendo ser considerada a atividade preponderante para efeito de enquadramento. (Redação dada pelo Decreto nº 8.123, de 2013)”

A conversão se dá através da aplicação do “fator de conversão” ao tempo a

ser convertido. O fator de conversão é determinado dividindo-se o tempo de

exposição da atividade para qual se pretende converter pelo tempo de exposição da

atividade exercida.

Exemplificando: caso queiramos converter um período de trabalho exercido

com exposição a agente nocivo com tempo máximo de exposição de 20 anos para

um com exposição máxima 15 anos, o fato de conversão será dado pela divisão 15

÷20, ou seja, 0,75.

O § 2o do artigo 66 traz a tabela completa de conversão, abaixo reproduzida:

39

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 160.

Page 23: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

23

Tempo a converter

Multiplicadores

Para 15 Para 20 Para 25

De 15 anos - 1,33 1,67

De 20 anos 0,75 - 1,25

De 25 anos 0,60 0,80 -

O parágrafo único do artigo 251 da Instrução Normativa INSS 77/2015 define

atividade preponderante como “aquela que, após a conversão para um mesmo

referencial, tenha maior número de anos.”.

2.2. Conversão de tempo especial em tempo comum

A conversão de tempo especial em tempo comum foi introduzida com a

publicação da lei no. 6.887/80. Conforme destacado por Portela40, a conversão é

possível a qualquer tempo, inclusive para períodos anteriores à Lei 6.887/80, sendo

esse entendimento pacificado na jurisprudência41.

De forma semelhante à conversão de tempo especial em especial, a

conversão de tempo especial em comum visa aproveitar o tempo em que o segurado

trabalhou exposto a agentes agressivos para a concessão de aposentadoria por

tempo de contribuição, somando-o, após conversão, ao tempo comum.

No entanto, em razão dos requisitos de tempo de contribuição diferenciados

entre homens e mulheres, os fatores de conversão são distintos para cada sexo.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o benefício de

aposentadoria por tempo de contribuição passou a ser devido ao segurado que

cumprir tempo mínimo de contribuição para o regime previdenciário, conforme

dispunha o seu art. 202, inciso II - redação original -, in verbis:

40

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 3912. 41

REsp no 1.310.034 - PR

Page 24: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

24

“CF. Art. 202. É assegurada aposentadoria, nos termos da lei, calculando-se o benefício sobre a média dos trinta e seis últimos salários de contribuição, corrigidos monetariamente mês a mês, e comprovada a regularidade dos reajustes dos salários de contribuição de modo a preservar seus valores reais e obedecidas as seguintes condições :

(...)

II - após trinta e cinco anos de trabalho, ao homem, e, após trinta, à mulher, ou em tempo inferior, se sujeitos a trabalho sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidas em lei;”

O fator de conversão, portanto, é determinado dividindo-se o tempo mínimo

de contribuição necessário para a aposentadoria integral (35 no caso os homens ou

30 no caso das mulheres) por 15, 20 ou 25, conforme o tempo de exposição máximo

da atividade.

Por exemplo, para determinar o fator de conversão de um período de

atividade trabalhado sob a exposição de agente nocivo ruído (tempo de exposição

máximo 25 anos) para tempo comum, no caso de um segurado do sexo masculino,

basta dividirmos 35 por 25, o que nos daria 1,4. Isto significa que, ao pleitear a

aposentadoria por tempo de contribuição, tal período será majorado em 40%. Se o

segurado fosse do sexo feminino, o fator seria 1,2 (30 ÷25), ou seja, um incremento

de 20%.

O artigo 70 do Decreto nº 3.048/99 dispõe a seguinte tabela de conversão,

cujos valores já eram previstos desde a publicação do Decreto 357/91:

Tempo a converter

Multiplicadores

Mulher (para 30) Homem (para 35)

De 15 anos 2,00 2,33

De 20 anos 1,50 1,75

De 25 anos 1,20 1,40

Gonçalves42 destaca o fato de que antes da entrada em vigor do Decreto

357/91 a tabela com fatores de conversão apresenta valores diversos.

42

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed.

Curitiba: Alteridade Editora, 2015.p. 93.

Page 25: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

25

Notadamente, os fatores de conversão eram idênticos para homens e mulheres, o

que gerou controvérsia jurídica acerca do fator de conversão que deveria ser

aplicado aos períodos laborados durante vigência do Decreto 83.080/79.

Porém, como bem apontado por Castro43, o STJ pacificou a questão44,

determinado que se use o fator de conversão vigente à época da concessão da

aposentadoria por tempo de contribuição. Tal entendimento foi adotado pela TNU,

que editou a seguinte súmula de no. 55:

“TNU. Súmula 55. A conversão do tempo de atividade especial em comum deve ocorrer com aplicação do fator multiplicativo em vigor na data da concessão da aposentadoria.”

2.3. Conversão de tempo comum em tempo especial

Antes da vigência da lei 9.032/35 havia a possibilidade de realizar a

conversão inversa: tempo comum em especial. No entanto, o referido dispositivo

legal extinguiu tal possibilidade.

Desta forma, Ibrahim45 afirma ser impossível atualmente realizar esse tipo de

conversão. Em entendimento divergente, Castro46 aponta que tal restrição não se

deve aplicar a períodos anteriores a edição da referida norma. Este mesmo

entendimento é compartilhado por Landenthin47.

No julgamento do Pedido de Uniformização e Interpretação de Lei Federal

(PEDILEF) 50011033420124047001 de 19 de novembro de 2015, a Turma Nacional

de Uniformização entendeu não ser possível a conversão inversa.

“Ementa. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. CONVERSÃO DE PERÍODOS DE TEMPO COMUM EM ESPECIAL. LABOR ANTERIOR À LEI 9.032/95. IMPOSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO EM VIGOR À ÉPOCA DA REUNIÃO DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. RECURSO REPETITIVO DO STJ. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO PROVIDO.”

43

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 758. 44

Recurso Especial REsp 1.151.363/MG - julgado como repetitivo. 45

Ibrahim, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16a ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

p. 624. 46

Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2015. p. 751. 47

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 167.

Page 26: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

26

12. Nos termos em que decidido pelo STJ no RESP. 1.310.034/PR, reconheceu-se que, no que se refere ao direito à conversão de tempo de trabalho prestados sob regimes jurídicos distintos (especial e comum), prevalece a legislação em vigor quando do implemento dos requisitos da aposentadoria, e não a legislação em vigor quando da prestação do serviço. 13. Extrai-se do julgado da Corte Especial que são fenômenos distintos a conversão entre regimes jurídicos e a qualificação da natureza do trabalho, cada um (fenômeno) disciplinado diferentemente quando à questão do direito intertemporal. 14. Em outras palavras, no que se refere ao direito à conversão de tempo especial em comum, e vice e versa, decidiu o STJ que prevalece o direito vigente à época do implemento dos requisitos à aposentadoria. Já quanto à qualificação da natureza do trabalho prestado (se especial ou comum) prevalece o direito vigente à época do momento do labor. 15. Calcado em tal entendimento, divirjo, respeitosamente, da afirmação contida nos julgado anteriores da TNU acima citados no sentido de que “a prevalecer a tese do REsp 1310034, de que a lei que incide para definir a possibilidade de conversão entre tempo de serviço especial e comum é a vigente quando do preenchimento dos requisitos para a aposentadoria, não se poderia mais converter os períodos de atividade por categoria profissional, considerando que a legislação atual não permite mais essa forma de conversão”. 16. O julgado do STJ não prejudica a conversão do tempo especial por categoria, posto que a qualificação jurídica do tempo de trabalho é aquela prevista na legislação da época do labor, de modo que, exercido o trabalho quando possível o reconhecimento da atividade especial pelo mero enquadramento da categoria profissional, está garantido o reconhecimento de tal condição, incorporada ao patrimônio do segurado. 17. Por outro lado, mantida a possibilidade de conversão de especial em comum com a redação dada ao § 5º do art. 57 da Lei nº 8.213/91 pela Lei nº 9.032/95, o tempo de trabalho exercido como especial por enquadramento da categoria é conversível em comum quando do requerimento da aposentadoria. 18. Consigno, ainda, que a prevalência do entendimento do STJ decorre, além da natureza do próprio instituto do recurso repetitivo, do próprio papel institucional da TNU, uma vez que a Lei nº 10.259/2001 previu a constituição da Turma Nacional de Uniformização com vista a apreciar “divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ” (art. 14, § 2º). 19. Tal papel de submissão do entendimento da TNU à jurisprudência dominante do STJ é explicitado inequivocamente, a meu sentir, no que disposto no §§ 4º e 5º do art. 14 da referida Lei nº 10.259/2001: “§ 4o Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça - STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência. § 5o No caso do § 4o, presente a plausibilidade do direito invocado e havendo fundado receio de dano de difícil reparação, poderá o relator conceder, de ofício ou a requerimento do interessado, medida liminar determinando a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.” 20. Em conclusão, é o caso de conhecer-se do incidente, dando-lhe provimento, para julgar improcedente o pedido inicial, no que se refere à conversão do tempo comum em especial prestado anteriormente ao advento da Lei nº 9.032/95, em virtude de os requisitos para a aposentadoria terem se dado já sob a vigência desta lei, quando não mais possível tal conversão. (grifos nossos)

O acórdão argumenta que a possibilidade de conversão ou não de tempo de

serviço deve ser estabelecida conforme a legislação vigente na época do

requerimento da aposentadoria. No entanto, ressalva o direito ao enquadramento da

Page 27: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

27

atividade especial por categoria profissional. O julgador faz distinção entre o regime

jurídico da aposentadoria e a qualificação da natureza do trabalho.

Igual entendimento foi compartilhado pelo Superior Tribunal de Justiça no

julgamento do Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial (AgRg no Resp)

666891:

“Ementa. PREVIDENCIÁRIO. CONVERSÃO DE TEMPO COMUM EM ESPECIAL. REQUERIMENTO POSTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI N. 9.035/95. INVIABILIDADE. ENTENDIMENTO FIRMADO NO RESP 1.310.034/PR. CUNHO DECLARATÓRIO DA DEMANDA INCÓLUME. 1. Existem, na demanda, um cunho declaratório - reconhecimento de trabalho exposto a fator de periculosidade - e um condenatório - promover a conversão e, preenchido o requisito contributivo temporal (25 anos), conceder a aposentadoria especial. 2. Para a configuração do tempo de serviço especial, deve-se observância à lei no momento da prestação do serviço (primeiro pedido basilar do presente processo); para definir o fator de conversão, observa-se a lei vigente no momento em que preenchidos os requisitos da concessão da aposentadoria (em regra, efetivada no momento do pedido administrativo). 3. Na hipótese, o pedido fora formulado em 18.8.2011, quando já em vigor a Lei n. 9.032/95, que deu nova redação ao § 3º do art. 57 da Lei n. 8.213/91 e, consequentemente, revogou a possibilidade de conversão de tempo comum em especial, autorizando, tão somente, a conversão de especial para comum (§ 5º). 4. Aos requerimentos efetivados após 28.4.1995 e cujos requisitos para o jubilamento somente tenham se implementado a partir de tal marco, fica inviabilizada a conversão de tempo comum em especial para fazer jus à aposentadoria especial, possibilitando, contudo, a conversão de especial para comum (REsp 1.310.034/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/10/2012, DJe 19/12/2012). 5. Observa-se, contudo, que deve ser mantido, como deferido na origem, o reconhecimento dos períodos trabalhados em condições especiais. 6. Entender que houve o fornecimento e a utilização dos equipamentos de proteção individual e que estes contribuíram para neutralização dos ruídos demandaria análise do material fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na Súmula 7/STJ. Agravo regimental improvido. ..EMEN:”(grifos nossos).”

Entendemos, no entanto, que tais decisões são aparentemente contraditórias.

Se por um lado vedam o direito a conversão de tempo comum em especial

atualmente, por outro lado, em respeito ao princípio do tempus regit actum,

argumentam que o direito ao reconhecimento de trabalho especial rege-se pela

legislação vigente na época da prestação do labor. Não obstante, este é o

entendimento dominante nos tribunais atualmente.

A conclusão de Weber48 resume bem a questão:

48

WEBER, Aline Machado. A conversão de tempo comum em especial: mais uma controvérsia

entre STJ e TNU. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4749, 2 jul. 2016. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/35128>. Acesso em: 19 set. 2017.

Page 28: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

28

“Dito de outro modo, a conversão de tempo comum em especial deve seguir o regime jurídico vigente no momento em que se completam os requisitos para a concessão do benefício, e não aquele referente à data em que a atividade foi exercida, de modo que, a prevalecer o mais recente entendimento do STJ, que parece, ademais, mais consentâneo com a posição do STF, a conversão de tempo de serviço deve ser tida como questão concernente ao regime jurídico da aposentadoria a ser requerida. Nessa linha, após a vigência da Lei 9.032/95 só é possível a concessão de aposentadoria especial ao segurado que efetivamente exercer todo o tempo de atividade exigido (15, 20 ou 25 anos) em condições especiais.”

2.4. Conversão de tempo de serviço especial da pessoa portadora

de deficiência

A aposentadoria da pessoa com deficiência é regulamentada na Lei

Complementar nº 142 de 08 de maio de 2013. O artigo 3o dispõe sobre os requisitos

de tempo de contribuição para percepção do benefício:

“LC 142/13. Art. 3º. É assegurada a concessão de aposentadoria pelo RGPS ao segurado com deficiência, observadas as seguintes condições: I - aos 25 (vinte e cinco) anos de tempo de contribuição, se homem, e 20 (vinte) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência grave; II - aos 29 (vinte e nove) anos de tempo de contribuição, se homem, e 24 (vinte e quatro) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência moderada; III - aos 33 (trinta e três) anos de tempo de contribuição, se homem, e 28 (vinte e oito) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência leve; ou IV - aos 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se mulher, independentemente do grau de deficiência, desde que cumprido tempo mínimo de contribuição de 15 (quinze) anos e comprovada a existência de deficiência durante igual período. Parágrafo único. Regulamento do Poder Executivo definirá as deficiências grave, moderada e leve para os fins desta Lei Complementar.”

Esta norma jurídica será analisada com maior profundidade posteriormente.

No momento gostaríamos de destacar o seu artigo 7o:

“LC 142/13. Art. 7o Se o segurado, após a filiação ao RGPS, tornar-se pessoa com deficiência, ou tiver seu grau de deficiência alterado, os parâmetros mencionados no art. 3o serão proporcionalmente ajustados, considerando-se o número de anos em que o segurado exerceu atividade laboral sem deficiência e com deficiência, observado o grau de deficiência correspondente, nos termos do regulamento a que se refere o parágrafo único do art. 3o desta Lei Complementar.“

Page 29: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

29

Observamos no referido artigo a previsão de conversão de tempo de

contribuição entre os períodos de trabalho nos quais exerceu atividade sem a

presença de deficiência e os exercidos quando presente a condição de deficiente.

O decreto nº 8.145 de 03 de dezembro de 2013 alterou o decreto 3.048/99

para incluir os artigos 70-E49 e 70-F50, nos quais constam a tabela de multiplicadores

para conversão entre os períodos de tempo de contribuição comum e especial e o

período de atividade na condição de portador de deficiência.

Mais uma vez, tais fatores de multiplicação são determinados através da

divisão do tempo de contribuição necessário para concessão da aposentadoria por

tempo de contribuição (30 se mulher ou 35 anos se homem) ou especial (15, 20 e 25

anos) pelo tempo requerido para a concessão da aposentadoria especial do

deficiente (20, 24 e 28 para segurados do sexo feminino, e 25, 28 e 33 para os

segurados do sexo masculino) e vice-versa, considerando o grau de deficiência

preponderante.

Grau de deficiência preponderante é definido pelo parágrafo primeiro do artigo

70-E como “aquele em que o segurado cumpriu maior tempo de contribuição, antes

da conversão, e servirá como parâmetro para definir o tempo mínimo necessário

para a aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com deficiência e para a

conversão.”.

Um questionamento que pode surgir é no caso de segurado que tenha

desempenhado atividade sob condições especiais ao mesmo tempo em que

ostentava a condição de portador de deficiência.

Por exemplo, se segurado do sexo masculino desempenhar atividade especial

com tempo de exposição de 25 anos (redução de 10 anos no tempo de contribuição)

49

Decreto 3.048/99. Art. 70-E. Para o segurado que, após a filiação ao RGPS, tornar-se pessoa com

deficiência, ou tiver seu grau alterado, os parâmetros mencionados nos incisos I, II e III do caput do art. 70-B serão proporcionalmente ajustados e os respectivos períodos serão somados após conversão, conforme as tabelas abaixo, considerando o grau de deficiência preponderante, observado o disposto no art. 70-A: 50

Decreto 3.048/99. 70-F. A redução do tempo de contribuição da pessoa com deficiência não poderá

ser acumulada, no mesmo período contributivo, com a redução aplicada aos períodos de contribuição relativos a atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. § 1º. É garantida a conversão do tempo de contribuição cumprido em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física do segurado, inclusive da pessoa com deficiência, para fins da aposentadoria de que trata o art. 70-B, se resultar mais favorável ao segurado, conforme tabela abaixo:

Page 30: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

30

na qualidade de portador de deficiência grave (redução de 10 anos no requisito de

tempo de contribuição) terá direito a redução de 20 anos no requisito temporal da

aposentadoria, podendo usufruí-la com apenas 15 anos de tempo de contribuição?

A resposta é não. O artigo 1051 da Lei Complementar 142/2013 veda

acumular a redução devida pelo exercício de atividade especial com a prevista na

própria lei complementar.

No entanto, Castro52 advoga que é possível acumular a redução para aqueles

que exercem a atividade de magistério, prevista no artigo 201, § 8º da Constituição

Federal, com a prevista na LC 142/2013.

O parágrafo 3º do artigo 70-F ainda prevê a possibilidade de conversão do

tempo especial, quando exercido na condição de pessoa com deficiência, em

comum para fim de cálculo do valor da renda mensal da aposentadoria por idade,

mas não para o cômputo da carência.

2.5. Impacto do tempo de serviço especial na renda mensal inicial

Atualmente o benefício da aposentadoria especial é calculado conforme regra

estabelecida no artigo 29, inciso II, da lei 8.213/91:

“Lei 8.213/91. Art. 29. O salário-de-benefício consiste:

I - para os benefícios de que tratam as alíneas b e c do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário; II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo“

De pronto, observamos que enquanto no benefício de aposentadoria por

tempo de contribuição há incidência do fator previdenciário, o mesmo não ocorre

com a aposentadoria especial.

51

Lei complementar 142/2013: Art. 10. A redução do tempo de contribuição prevista nesta Lei

Complementar não poderá ser acumulada, no tocante ao mesmo período contributivo, com a redução assegurada aos casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. 52

Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2015. p. 761.

Page 31: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

31

É não poderia ser diferente, pois como bem apontado por Portela53, não

haveria sentido em assegurar o direito à concessão da aposentadoria com tempo

reduzido e ao mesmo tempo penalizar o trabalhador que se aposenta mais cedo

com a incidência do fator previdenciário, fator este que foi criado pela Lei nº 9.876 de

26 de novembro de 1999 como “forma de estimular as pessoas a se aposentarem

mais tarde”54.

Em seu artigo o §7º, a lei 9.876/99 determina que o “fator previdenciário será

calculado considerando-se a idade, a expectativa de sobrevida e o tempo de

contribuição do segurado ao se aposentar, segundo a fórmula constante do Anexo

desta Lei”.

ANEXO - CÁLCULO DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

Onde: f = fator previdenciário; Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria; Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria; Id = idade no momento da aposentadoria; a= alíquota de contribuição correspondente a 0,31.

Para melhor visualizar a repercussão nos benefícios, podemos comparar um

caso hipotético de dois segurados, um que trabalhou em atividades comuns por 35

anos e outro que exerceu atividades apenas consideradas especiais por 15, 20 ou

25 anos. Caso ambos queiram se aposentar aos 55 anos, em setembro de 2017, o

primeiro terá redução de cerca de 30% no valor de sua renda mensal devido à

aplicação do fator previdenciário.

O exemplo hipotético acima demonstra a grande vantagem em se pleitear a

aposentadoria especial em relação à aposentadoria por tempo de contribuição.

No entanto, tal vantagem nem sempre é absoluta. Há casos em que o fator

previdenciário pode superar a unidade, sendo vantajoso a sua aplicação. Como

exemplo de caso, podemos citar o trabalhador que exerceu atividade especial

durante tempo mínimo necessário para a concessão da aposentadoria especial e irá

se aposentar aos 67 anos em setembro de 2017.

53

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição. 2375.. 54

Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2015. p. 567..

Page 32: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

32

Caso opte pela aposentadoria por tempo de contribuição, terá direito a

conversão do tempo especial em comum, o que dará 35 anos de tempo de

contribuição comum. Neste caso, o fator previdenciário será igual a 1,1351, ou seja,

terá um incremento de 13% em relação ao valor do benefício caso optasse pela

aposentadoria especial.

Lembramos que o segurado tem direito ao melhor benefício que fizer jus, em

atendimento ao disposto no artigo 687 da Instrução Normativa INSS nº 77 de 21 de

janeiro de 2015. Portanto, perfeitamente cabível a conversão do tempo de

contribuição conforme descrito no exemplo anterior, ainda que já completado de

forma integral o tempo mínimo para a concessão da aposentadoria especial.

Outro ponto a destacar é o incremento do tempo de contribuição

proporcionado pela conversão do tempo especial. Consideramos a seguinte

situação: o segurado do sexo masculino completou 35 anos de tempo de

contribuição e irá se aposentar em setembro de 2017 aos 57 anos. Nessas

condições o fator previdenciário será de 0,7464, ou seja, irá ter uma redução de

25,36% na renda mensal inicial (RMI).

No entanto, consideremos que parte do período foi laborado em condições

especiais e que após conversão desse tempo especial em comum, o tempo de

contribuição foi majorado para 38 anos. Neste caso, o fator previdenciário será igual

a 0,8148, um incremento de 6,84% na RMI.

Caso o segurado já estivesse recebendo o benefício, caberia ao mesmo

pleitear revisão administrativa ou judicial, tendo como objeto o pedido de incremento

do tempo de contribuição e, consequentemente, do fator previdenciário, através do

reconhecimento de período especial e conversão em tempo comum.

Em relação à revisão através de reconhecimento de período especial, convém

salientar que segundo a Lei nº 8.213/91, em seu artigo 103, com redação dada pela

Lei nº 10.839 de 05 de fevereiro de 2004:

“Lei 8.213/91. Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo.”

Page 33: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

33

No entanto, para os casos em que há questões não apreciadas pela

Administração quando do ato de concessão, a incidência da decadência pode ser

afastada. Neste sentido, confira-se a Súmula nº 81 da Turma Nacional de

Uniformização:

“TNU. Súmula 81. Não incide o prazo decadencial previsto no art. 103, caput, da Lei n. 8.213/91, nos casos de indeferimento e cessação de benefícios, bem como em relação às questões não apreciadas pela Administração no ato da concessão.”

Portanto, existe a possibilidade de revisão dos benefícios previdenciários em

relação ao bem jurídico que não foi objeto de apreciação ou decisão na concessão

ou na negação do benefício, considerando que tais questões não podem estar

acobertadas pelo instituto da decadência.

Em específico, em relação à possibilidade de cômputo período especial não

apreciado quando da concessão administrativa do benefício, o Superior Tribunal de

Justiça assim decidiu no julgamento do AgRg no Resp 1.407.710/PR:

“Ementa. PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 103 DA LEI 8.213/91. 1. Hipótese em que se consignou que "a decadência prevista no artigo 103 da Lei 8.213/91 não alcança questões que não restaram resolvidas no ato administrativo que apreciou o pedido de concessão do benefício. Isso pelo simples fato de que, como o prazo decadencial limita a possibilidade de controle de legalidade do ato administrativo, não pode atingir aquilo que não foi objeto de apreciação pela Administração". 2. O posicionamento do STJ é o de que, quando não se tiver negado o próprio direito reclamado, não há falar em decadência. In casu, não houve indeferimento do reconhecimento do tempo de serviço exercido em condições especiais, uma vez que não chegou a haver discussão a respeito desse pleito. 3. Efetivamente, o prazo decadencial não poderia alcançar questões que não foram aventadas quando do deferimento do benefício e que não foram objeto de apreciação pela Administração. Por conseguinte, aplica-se apenas o prazo prescricional, e não o decadencial. Precedentes do STJ. 4. Agravo Regimental não provido.“.(grifos nossos).

2.6 Conclusão

A conversão de tempo de serviço trabalhado em condições especiais tem por

objetivo compensar os segurado que exerceram atividades laborativas sujeitos a

agentes insalubres, perigoso ou penosos ou aos portadores de deficiência que

atendem aos critérios definidos em lei, através de acréscimo em seu tempo de

contribuição.

Page 34: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

34

Conforme visto, os fatores de conversão são determinados através de simples

fórmula de equivalência matemática. Elucida Gonçalves55:

“Da análise das tabelas de conversão, é facilmente percebido que cada

fator de conversão é resultado de divisão matemática entre o tempo buscado e o tempo a converter.”

Conclui o autor:

“Por essa razão, conclui-se que a legislação a ser observada em relação à conversão de tempo de serviço especial em comum é a vigente no momento da concessão do benefício, pois nesse instante o trabalho desempenhado em atividade especial é transformado em tempo comum e a proporcionalidade deve ser assegurada em relação ao tempo exigido atualmente para a aposentadoria comum”

Desta forma, a conversão de tempo comum em especial não é mais admitida

no ordenamento jurídico.

No entanto, ressaltamos novamente que o direito ao reconhecimento de

trabalho especial rege-se pela legislação vigente na época da prestação do exercício

de atividade.

Por fim, conforme ilustrado através de exemplos, a conversão de tempo

especial é capaz de gerar repercussão positiva aos benefícios previdenciários de

aposentadoria, seja na concessão ou após esta, em pleitos de revisão, sendo

inclusive, neste último caso, capaz de afastar a incidência do prazo decadencial.

55

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed.

Curitiba: Alteridade Editora, 2015.p. 82.

Page 35: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

35

3. REQUISITOS PARA O RECONHECIMENTO DO

EXERCÍCIO DE ATIVIDADE ESPECIAL

Como visto no capítulo 1, nos períodos anteriores a 29 de abril de 1995 o

artigo 57 da lei 8.213/91 admitia duas formas de enquadramento do tempo de

serviço especial: por categoria profissional e pela efetiva exposição a algum agente

nocivo capaz de prejudicar a saúde ou integridade física do trabalhador,

independentemente da atividade exercida.

Kertzman56 esclarece que os períodos de descanso determinados pela

legislação trabalhista, inclusive férias, ou em gozo de auxílio-doença e

aposentadoria por invalidez acidentária, ou salário-maternidade são igualmente

contabilizados como tempo especial, desde que na data de afastamento do trabalho

exercesse atividade considerada especial.

No entanto, Castro57 e Landenthin58 discordam quanto a limitação imposta

em relação auxílio-doença. Os autores advogam que mesmo no caso do

afastamento não acidentário o período deveria contar como se estive o seguro

efetivamente laborando sob condições especiais.

Com a edição da Lei nº 9.032/95, para qualquer atividade, prevista ou não no

Decreto n. 53.831/64 ou nos anexos I e II do Decreto n. 83.080/79, apenas o

enquadramento por efetiva exposição aos agentes agressivos tratados persistiu.

No entanto, conforme discutido no capítulo 2, o direito do segurado de

comprovar o caráter especial de seu trabalho se baseará na sistemática vigente à

época em que o labor foi executado, conforme previsto no artigo 70, § 1o do Decreto

3.048/99.

Em razão disto, importante analisar as duas formas de enquadramento,

porquanto ambas ainda podem se aplicar na concessão de benefícios atuais.

56

Kertzman, Ivan. Curso prático de direito previdenciário. 14ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 407. 57

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 761. 58

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 109.

Page 36: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

36

3.1. Enquadramento por categoria profissional

Na lição de Ibrahim59, o enquadramento por categoria profissional

possibilitava a aposentadoria especial para segurados pertencentes a determinadas

categorias profissionais.

Landenthin60 pondera que “o enquadramento por profissões era uma

conquista dos trabalhadores, que não precisavam comprovar exposição aos agentes

agressivos, mas tão somente que pertenciam a uma categoria profissional.”.

Ensina Portela61 que segurado deverá comprovar o exercício de função ou

atividade profissional arroladas no quadro anexo aos Decretos nº 53.831/6464, a

partir do código 2.0.0 (Ocupações) e no Anexo II do Decreto nº 83.080/79, não

havendo necessidade de demonstrar a exposição efetiva a agentes insalubres.

Para comprovação da atividade desempenhada, ensina Landenthin62 que é

necessário apenas a indicação correta da atividade na CTPS, conforme previsto no

artigo 4º do Decreto 63.320/68, que regulamentou a aposentadoria especial:

“Decreto 63.320/68. Art. 4º. Quando o segurado exercer atividade penosa, insalubre ou perigosa, na forma da classificação constante dos Quadros anexos, a emprêsa deverá anotar em sua carteira profissional, bem como no livro de registro de que trata o artigo 41 da Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei número 5.452, de 1º de maio de 1943), a atividade profissional exercida de modo a caracterizá-la devidamente.”.

Trata-se, portanto, de presunção legal, pois prescinde de comprovação da

efetiva exposição a agentes nocivos. Além disso, no julgamento do Recurso Especial

(RESP) 421062, o STJ entendeu que tal presunção é absoluta (juris et de jure):

“Ementa. PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CONTAGEM DE TEMPO DE SERVIÇO. EXERCÍCIO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS. MOTORISTA DE ÔNIBUS E CAMINHÃO. PRESUNÇÃO DE EXPOSIÇÃO A AGENTES NOCIVOS ATÉ A EDIÇÃO DA LEI 9.032/95. MP 1.523/96. EXIGÊNCIA DE LAUDO TÉCNICO PERICIAL. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. As Turmas da Terceira Seção deste Superior Tribunal já consolidaram o entendimento no sentido de que o

59

Ibrahim, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16a ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

p. 610. 60

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 132. 61

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 2619. 62

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 132..

Page 37: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

37

período de trabalho exercido em condições especiais em época anterior à MP 1.523/96, convalidada pela Lei 9.528/97, não será abrangido por tal lei, em respeito ao direito adquirido incorporado ao patrimônio do trabalhador. A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislação em vigor à época da prestação do serviço. 2. In casu, a atividade de motorista de caminhão de cargas e de motorista de ônibus era enquadrada nos Códigos 2.4.4 do Quadro Anexo do Decreto 53.831/64 e no Código 2.4.2 do Anexo II do Decreto 83.080/79. Existia a presunção absoluta de exposição aos agentes nocivos relacionadas nos mencionados anexos. 3. Contudo, a presunção de insalubridade só perduraria até a edição da Lei 9.032/95, que passou a exigir a comprovação do exercício da atividade por meio dos formulários de informações sobre atividades com exposição a agentes nocivos ou outros meios de provas, o que foi feito por meio do Formulário SB-40. 4. Destarte, merece parcial reforma o acórdão recorrido, na parte em que entendeu estar comprovado o exercício de atividade especial em período posterior à MP 1.523/96, convalidada pela Lei 9.528/97, visto que a partir de então, como dito acima, passou-se a exigir laudo técnico pericial para comprovação da exposição a agentes insalubres, o que não se verificou nos presentes autos. 5. Recurso especial a que se dá parcial provimento.”.(grifos nossos).

Este entendimento foi compartilhado pela Turma Nacional de Uniformização

nos julgamentos PEDILEF 05172528920124058300 e PEDILEF

05202157520094058300.

Landenthin63, inclusive, aponta para o fato de que é possível impetrar

mandado de segurança para fins de obtenção de enquadramento como especial

por presunção legal, “em razão de o enquadramento dispensar dilação probatória.”.

Porém, algumas atividades necessitam de especificação para viabilizar o seu

enquadramento como especial, a exemplo da atividade de motorista, prevista no

item 2.4.4 do anexo único do Decreto 53.831/64 e item 2.4.2 do anexo II do Decreto

83.080/79. Neste caso, a legislação especificou que apenas motoristas de

caminhão de carga, ônibus e bondes fazem jus ao enquadramento por presunção

legal.

Ocorre que, em razão do preenchimento incompleto da carteira de trabalho e

previdência social (CTPS), podem surgir dúvidas em relação a real natureza do

trabalho. Por exemplo, na CTPS, em determinado vínculo, pode vir anotado apenas

a atividade genérica “motorista” sem especificar o tipo de veículo conduzido pelo

empregado.

63

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 206.

Page 38: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

38

Assim, elucida Portela64, tal informação não é suficiente para considerar o

período especial, pois é necessário prova de que o trabalho de motorista era

exercido nas condições determinadas pelos decretos – veículos pesados, como

ônibus e caminhões -, caso contrário não há como reconhecer a especialidade da

atividade.

Nestes casos, o autor esclarece que a prova testemunhal poderá fornecer a

informação complementar necessária ao enquadramento da atividade. Ele esclarece

ainda:

“No âmbito administrativo, temos que a própria IN no

45/10 estabelece que a justificação administrativa é o procedimento destinado a suprir a falta de documento ou fazer prova de fato ou circunstância de interesse do beneficiário perante o INSS. Assim, desde que existente início de prova material, é lícita sua complementação para fins de enquadramento de período especial. “

Apontam Lazzari65, Portela66, Ibrahim67, Landenthin68, Gonçalves69 que o

marco temporal final para reconhecimento do exercício de atividade especial é o dia

28 de abril de 1995, data da publicação da Lei nº 9.032/95. Assim, somente até

essa data é possível enquadrar determinada ocupação como especial por presunção

legal.

Embora concordemos com o entendimento dos citados autores, gostaríamos

de compartilhar, como contraponto, a seguinte decisão do STJ no julgamento do

RESP 354.737:

“Ementa. RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE EXERCIDA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS ATÉ O ADVENTO DA LEI Nº 9.032/95. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA INSALUBRIDADE, PRESUMIDA PELA LEGISLAÇÃO ANTERIOR. TEMPO DE SERVIÇO. CONVERSÃO EM TEMPO COMUM. POSSIBILIDADE. DIREITO ADQUIRIDO AO DISPOSTO NA LEGISLAÇÃO EM VIGOR À ÉPOCA DO TRABALHO ESPECIAL REALIZADO. NÃO-INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO

64

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 2619. 65

Lazzari, João Batista [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 6a ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 288. 66

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 326. 67

Ibrahim, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16a ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

p. 610. 68

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 133. 69

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed.

Curitiba: Alteridade Editora, 2015.p. 64.

Page 39: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

39

DA APLICABILIDADE IMEDIATA DA LEI PREVIDENCIÁRIA. ROL EXEMPLIFICATIVO DAS ATIVIDADES ESPECIAIS. TRABALHO EXERCIDO COMO PEDREIRO. AGENTE AGRESSIVO PRESENTE. PERÍCIA FAVORÁVEL AO SEGURADO. NÃO-VIOLAÇÃO À SUMULA 7/STJ. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL AO QUAL SE DÁ PROVIMENTO. 1. O STJ adota a tese de que o direito ao cômputo diferenciado do tempo de serviço prestado em condições especiais, por força das normas vigentes à época da referida atividade, incorpora-se ao patrimônio jurídico do segurado. Assim, é lícita a sua conversão em tempo de serviço comum, não podendo ela sofrer qualquer restrição imposta pela legislação posterior, em respeito ao princípio do direito adquirido. 2. Até 05/03/1997, data da publicação do Decreto 2.172, que regulamentou a Lei nº 9.032/95 e a MP 1.523/96 (convertida na Lei nº 9.528/97), a comprovação do tempo de serviço laborado em condições especiais, em virtude da exposição de agentes nocivos à saúde e à integridade física dos segurados, dava-se pelo simples enquadramento da atividade exercida no rol dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 e, posteriormente, do Decreto 611/92. A partir da referida data, passou a ser necessária a demonstração, mediante laudo técnico, da efetiva exposição do trabalhador a tais agentes nocivos, isso até 28/05/1998, quando restou vedada a conversão do tempo de serviço especial em comum pela Lei 9.711/98. 3. A jurisprudência se pacificou no sentido de que as atividades insalubres previstas em lei são meramente explicativas, o que permite afirmar que, na análise das atividades especiais, deverá prevalecer o intuito protetivo ao trabalhador. Sendo assim, não se parece razoável afirmar que o agente insalubre da atividade do pedreiro seria apenas uma característica do seu local de trabalho, já que ele está em constante contato com o cimento, em diversas etapas de uma obra, às vezes direta, outras indiretamente, não se podendo afirmar, com total segurança, que em algum momento ele deixará de interferir na saúde do trabalhador. 4.Não constitui ofensa ao enunciado sumular de nº 7 desta Corte a valoração da documentação apresentada que comprova a efetiva exposição do trabalhador a agentes prejudiciais à saúde. 5. Recurso especial ao qual se dá provimento.”. (grifos nossos).

A tese defendida na decisão é que a Lei nº 9.032/95 só foi regulamentada

com o advento do Decreto nº 2.172/97. Portanto a entrada em vigor da lei 9.032/95

deve ser estendida até a edição do referido decreto. Desta forma, permite-se o

enquadramento por categoria profissional até a data de 05 de março de 1997.

No julgamento do PEDILEF 05007011020124058502, a TNU proferiu decisão

semelhante:

Ementa

PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. VIGILANTE. IMPOSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO POR CATEGORIA PROFISSIONAL APÓS INÍCIO DA VIGÊNCIA DO DECRETO 2.172/97. 1. O quadro anexo ao Decreto nº 53.831/64 dividia-se em duas partes: a primeira, relacionava os agentes nocivos à saúde (itens classificados nos subcódigos do código 1.0.0); a segunda, relacionava as ocupações profissionais contempladas com presunção de nocividade à saúde (itens classificados nos subcódigos do código 2.0.0). A atividade de vigilante era reconhecida como especial por analogia com a atividade de guarda,

Page 40: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

40

prevista no código 2.5.7 do Decreto nº 53.831/64, ou seja, na segunda parte do quadro anexo ao Decreto nº 53.831/64. Trata-se, pois, de enquadramento por categoria profissional. 2. O enquadramento por categoria profissional só é possível até 28/04/1995, porque a Lei nº 9.032/95 passou a condicionar o reconhecimento de condição especial de trabalho à comprovação da efetiva exposição a agentes nocivos prejudiciais à saúde ou à integridade física, de modo habitual e permanente (vide nova redação atribuída ao art. 57, § 4º, da Lei nº 8.213/91). A exigência de comprovação da efetiva exposição a agente nocivo é incompatível com a presunção de insalubridade que até então se admitia em razão do mero exercício de determinada profissão. 3. Apesar de o enquadramento por categoria profissional ter sido abolido pela Lei nº 9.032/95, ainda se admite o enquadramento da atividade de vigilante como especial no período compreendido entre 29/04/1995 (início da vigência da Lei nº 9.032/95) e 04/03/1997 (antes de entrar em vigor o Decreto nº 2.172/97), porque o Decreto nº 53.831/64 persistiu em vigor nesse período. 4. Uniformizado o entendimento de que a partir de 05/03/1997, quando iniciou a vigência do Decreto nº 2.172/97, não cabe reconhecimento de condição especial de trabalho por presunção de periculosidade decorrente de enquadramento na categoria profissional de vigilante. 5. Pedido provido. (grifos nossos)

3.1.1. Enquadramento por analogia

O artigo 272 da IN INSS nº 77/2015 determina o rol taxativo de ocupações e

atividades passíveis de enquadramento por presunção legal:

“IN INSS 77/2015. Art. 272. Não será admitido enquadramento por categoria profissional por analogia, ou seja, a função ou atividade profissional tem que estar expressamente contida em um dos anexos relacionados nos incisos I e II do art. 269.”

Mas a própria norma, em seus artigos 273 e 274, traz exceções: poderão ser

enquadradas por categoria profissional as atividades de vigia ou vigilante e os

auxiliares e ajudantes de qualquer das atividades arroladas no quadro anexo do

Decretos nº 53.831/6464 e no Anexo II do Decreto nº 83.080/79, a despeito de não

expressamente previstas.

No entanto, o tratamento jurisprudencial diverge: é possível enquadrar

atividades análogas àquelas previstas nos decretos previdenciários. Em março de

2015, através do RESP nº 201300440995, o STJ firmou o posicionamento de que é

possível o enquadramento da atividade de tratorista, por analogia á de motorista

de caminhão.

Neste sentido, a TNU editou súmula de número 70 com o seguinte teor: “A

atividade de tratorista pode ser equiparada à de motorista de caminhão para fins de

Page 41: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

41

reconhecimento de atividade especial mediante enquadramento por categoria

profissional.”.

Por fim, enunciado 32 do Conselho de Recursos da Previdência Social admite

o enquadramento da atividade, mesmo no caso de registrada em CTPS ocupação

divergente da efetivamente desempenhada pelo trabalhador:

“Enunciado 32/CRPS. A atividade especial efetivamente desempenhada pelo (a) segurado (a), permite o enquadramento por categoria profissional nos Anexos aos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979, ainda que divergente do registro em Carteira de Trabalho da Previdência Social - CTPS - e/ou Ficha de Registro de Empregados, desde que comprovado o exercício nas mesmas condições de insalubridade, periculosidade ou penosidade.”

3.2. Enquadramento por exposição a agentes nocivos

Castro70 apresenta a seguinte definição de agente nocivo:

“Entende-se por agentes nocivos aqueles que possam trazer ou ocasionar danos à saúde ou à integridade física do trabalhador nos ambientes de trabalho, em função de natureza, concentração, intensidade e fator de exposição.”

Portela71 explica que “os agentes nocivos podem ser identificados como

elementos naturais ou artificiais que afetam a saúde dos trabalhadores ou ameaçam

sua integridade física.”.

As condições para o enquadramento dos períodos de trabalho especial estão

dispostas no § 1º do artigo 64 do Decreto nº 3.048/99:

“Dec. 3.048/99. Art. 64. § 1o A concessão da aposentadoria especial prevista neste artigo dependerá da comprovação, durante o período mínimo fixado no caput:

I - do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente; e (Incluído pelo Decreto nº 8.123, de 2013) II - da exposição do segurado aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou a associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física. (grifos nossos).”

O Decreto nº 3.048/99 define trabalho permanente “aquele que é exercido de

forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição do empregado, do

70

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 737. 71

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 594..

Page 42: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

42

trabalhador avulso ou do cooperado ao agente nocivo seja indissociável da produção

do bem ou da prestação do serviço”.

No entanto, relembramos a súmula 49 da TNU: “Para reconhecimento de

condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a agentes nocivos à

saúde ou à integridade física não precisa ocorrer de forma permanente.”. Desta

forma, o critério de permanência não se aplica para períodos anteriores a

29/04/1995.

Castro72 exemplifica cada um dos tipos de agentes nocivos:

“- físicos: os ruídos, as vibrações, o calor, as pressões anormais, as radiações ionizantes, etc; - químicos: os manifestados por névoas, neblinas, poeiras, fumos, gases, vapores de substâncias nocivas presentes no ambiente de trabalho, etc; - biológicos: os micro-organismos como bactérias, fungos, parasitas, bacilos, vírus, etc.;”

O rol de agentes nocivos está previsto nos anexos dos Decretos nºs

53.831/64 e 83.080/79, 2.172/97 e 3.048/99. Lembramos mais uma vez que os dois

primeiros tiveram vigência simultânea até 05/03/1997 e o último está vigente desde

06/05/1999.

Lembra Kertzman73 que para ser caracterizada a condição especial da

atividade, a exposição ao agente nocivo deve estar acima do limite de tolerância

estabelecido conforme critérios de avaliação quantitativos ou qualitativos.

Neste sentido a IN INSS 77/2015 em seu artigo 279, aponta a metodologia e

o limites de tolerância para enquadramento da atividade como especial:

Art. 279. Os procedimentos técnicos de levantamento ambiental, ressalvadas as disposições em contrário, deverão considerar: I - a metodologia e os procedimentos de avaliação dos agentes nocivos estabelecidos pelas Normas de Higiene Ocupacional - NHO da FUNDACENTRO; e II - os limites de tolerância estabelecidos pela NR-15 do MTE.

Nas palavras de Portela74, a Norma Regulamentadora (NR-15) do Ministério

do Trabalho e Emprego (MTE) é a “baliza técnico-jurídica da insalubridade e

periculosidade trabalhista e previdenciária”.

72

Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2015. p. 737. 73

Kertzman, Ivan. Curso prático de direito previdenciário. 14ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 407.

Page 43: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

43

Aponta Cardoso75 que para “aplicação da NR 15 – Atividades e operações

insalubres é necessário, para a maioria dos casos, fazer uma avaliação ambiental e

comparar com o padrão estabelecido, o limite de tolerância.”. Explica a autora:

“No Brasil, a NR 15 – Operações e atividades insalubres adota como definição de limite de tolerância aquela concentração ou intensidade máxima ou mínima relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente que não causará dano à saúde do trabalhador durante sua vida laboral (válido para jornada de 48 horas por semana, o “valor teto” é o limite que não pode ser ultrapassado em momento algum da jornada de trabalho; e o valor máximo, em cada uma das concentrações obtidas nas referidas amostragens, não deve ultrapassar os valores obtidos na equação, sob pena de ser considerada situação de risco grave e iminente).”

3.2.1 Caráter exemplificativo do rol de agentes nocivos

Segundo o artigo 68 do Decreto 3.048/99:

“A relação dos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial, consta do Anexo IV.”

Já o artigo 277, § 1º da IN INSS 77/2015 dispõe que “Os agentes nocivos não

arrolados no Anexo IV do RPS não serão considerados para fins de caracterização

de período exercido em condições especiais.”.

Observamos, portanto, que a administração considera atualmente como

taxativo o rol de agentes insalubres.

No entanto, o STJ, no julgamento do REsp 1.306.113-SC, enquadrou como

especial período de trabalho exercido sob a exposição do agente nocivo

eletricidade, ainda que o período em questão fosse posterior à publicação do

Decreto 2.172/97 que veio a suprimir tal agente físico do rol de agentes nocivos.

Desta forma, a corte superior considerou o rol de agentes nocivos previstos nos

decretos previdenciários como meramente exemplificativo.

74

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 585. 75

Cardoso, Luiza Nunes. I Seminário sobre Aposentadoria Especial como Instrumento de

Proteção à Segurança e Saúde do Trabalhador-Conferências proferidas. Ebook. http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2011/10/i-seminario-sobre-aposentadoria-especial-como-instrumento-de-protecao-a-seguranca-e-saude. p. 33.

Page 44: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

44

Tal entendimento é compartilhado pela TNU (precedentes: PEDILEFS

05008061420124058202, 50010955620144047205, 0338801520104013800, dentre

outros).

Portanto, o consenso jurisprudencial consolidado é que, uma vez

comprovada a exposição a algum agente considerando agressivo em determinado

período, admite-se o seu enquadramento como especial, ainda que tal agente

agressivo não esteja presente no rol original.

Nas sábias palavras de Landenthin76:

“O que não se pode permitir é que somente os agentes agressivos constantes dessas listas sejam utilizados, como se fossem a única fonte para o enquadramento dos períodos especiais, o que, como vimos, não é verdade. Faz-se necessária uma visão panorâmica de todo o ordenamento jurídico, sempre com um olhar crítico acerca da legalidade e constitucionalidade daquelas informações."

Portela77, no entanto, exprime opinião contrária. Para o autor, o

enquadramento como especial de agentes não previstos caracteriza “invasão da

competência dos Poderes Legislativos e Executivo.”. Ele cita ainda o problema do

custeio, pois a “ausência de previsão normativa implicará, certamente, na ausência

de fundamento para cobrar o adicional SAT.”.

O adicional de Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) tem como objetivo

“subsidiar o pagamento da aposentação dos segurados expostos a agentes

nocivos.”78.

3.2.2 O laudo técnico de condições ambientais de trabalho - LTCAT

Em relação à comprovação do exercício de atividade especial, dispõe o artigo

58, § 1º da Lei nº 8.213/91:

“Lei 8.213/91. Art. 58. § 1º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de

segurança do trabalho nos termos da legislação trabalhista.”

76

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 109. 77

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 975. 78

Ibrahim, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16a ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011. p.

262.

Page 45: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

45

Portela79 e Gonçalves80 defendem que o Laudo Técnico de Condições

Ambientais de Trabalho (LTCAT) passou a ser exigido para todas as funções a partir

de 13 de outubro de 1996, data da edição da Medida Provisória 1.523/96, exceto

para o agente nocivo ruído e calor, para os quais sempre foi exigida a medição

técnica do nível81.

Antes, a comprovação dava-se através dos antigos formulários SB-40, DSS-

8030, os quais eram preenchidos pelo empregado conforme modelo fornecido pelo

INSS82.

Com posicionamento divergente, Landenthin83 destaca algumas decisões do

STJ (AgRg no REsp 877.972/SP e AgRg no REsp 1.066.847/PR), nas quais o

entendimento firmado foi o de que apenas a partir de 10 de dezembro de 1997, data

da publicação da lei 9.528, o LTCAT passou a ser efetivamente exigido.

O artigo 261 da IN INSS nº 77/2015 ainda aponta os seguintes documentos

que podem substituir o LTCAT, desde que contenham os mesmos elementos

informativos básicos:

“IN INSS 77/2015. Art. 261. I - laudos técnico-periciais realizados na mesma empresa, emitidos por determinação da Justiça do Trabalho, em ações trabalhistas, individuais ou coletivas, acordos ou dissídios coletivos, ainda que o segurado não seja o reclamante, desde que relativas ao mesmo setor, atividades, condições e local de trabalho; II - laudos emitidos pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO; III - laudos emitidos por órgãos do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE; IV - laudos individuais acompanhados de: a) autorização escrita da empresa para efetuar o levantamento, quando o responsável técnico não for seu empregado; b) nome e identificação do acompanhante da empresa, quando o responsável técnico não for seu empregado; e c) data e local da realização da perícia. V - as demonstrações ambientais: a) Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA; b) Programa de Gerenciamento de Riscos - PGR; c) Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção - PCMAT; e d) Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO.”

79

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 1964. 80

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed.

Curitiba: Alteridade Editora, 2015.p. 82. 81

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 1072. 82

AgRg no Resp. 877.972/SP. 83

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 208.

Page 46: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

46

Oportuno destacar que o laudo técnico extemporâneo, aquele emitido em

data posterior ao período de exercício da atividade, só é aceito pelo INSS caso a

empresa expressamente informe “que não houve alteração no ambiente de trabalho

ou em sua organização ao longo do tempo”, nos termos do § 3º do artigo citado

acima. O §4º define alterações no ambiente de trabalho ou em sua organização

como aquelas decorrentes de:

“I - mudança de layout; II - substituição de máquinas ou de equipamentos; III - adoção ou alteração de tecnologia de proteção coletiva; e IV - alcance dos níveis de ação estabelecidos nos subitens do item 9.3.6 da NR-09, aprovadas pela Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, do MTE, se aplicável.”

No entanto, a Súmula 68 da TNU firmou o seguinte posicionamento acerca da

questão:

“TNU. Súmula 68. O laudo pericial não contemporâneo ao período trabalhado é apto à comprovação da atividade especial do segurado.”

Portela84 destaca o seguinte:

“O teor da súmula é singelo, não condicionado o laudo extemporâneo a espelhar as condições de trabalho semelhantes aquelas em que exercidas a atividade, o que pode gerar enquadramentos ou desconsiderações de períodos especiais de forma indevida.”

Discordamos do autor em relação ao enquadramento ser indevido, pois o

aumento da importância do incentivo à melhoria dos ambientes de trabalho e à

preservação da saúde dos trabalhadores, aliado a evolução tecnológica, vem

propiciando ambientes de trabalho cada vez mais salubres.

Ressalta Landenthin85: “o avanço tecnológico propiciou ambientes menos

agressivos em relação ao passado, cujas máquinas obsoletas e pesadas faziam

muito mais barulho e poluíam na mesma proporção”.

De fato, dados da previdência social demonstram que a quantidade de

registro de acidente de trabalho por motivo de doença no trabalho foi reduzida de

30.170, em 200686, para 15.571, em 201487.

84

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição. 1964. 85

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 214. 86

Ministério do Trabalho e Emprego [et al]. Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho. Brasília,

2008. E-Book. http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2015/08/AEAT-2008.pdf. p. 15. 87

Ministério do Trabalho e Emprego [et al]. Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho. Brasília,

2014. E-Book. ftp://ftp.mtps.gov.br/portal/acesso-a-informacao/AEAT201418.05.pdf. p. 15.

Page 47: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

47

Logo, pode-se comprovar o exercício da atividade especial através dos

formulários previstos na legislação, com os requisitos necessários, mesmo que tais

documentos tenham sido elaborados em data posterior à prestação dos serviços,

pois tal fato não compromete a prova do exercício de atividade em condições

especiais, uma vez que, tendo sido verificado pelo médico ou engenheiro do trabalho

que o ambiente de labor é prejudicial na data da elaboração do Laudo, é seguro

assumir que antes, sem a evolução das condições de segurança, as condições

eram, no mínimo, iguais às verificadas na época do labor, ou até piores.

3.2.3. O perfil profissiográfico previdenciário – PPP

De acordo com Kertzman88, o Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP é

um importante documento para fins de caracterização do exercício de atividade

especial, pois “reúne as informações dos demais documentos, analisando a situação

específica de cada segurado.”.

O formulário já era previsto desde edição da lei 9.528/97, que alterou o artigo

58 da Lei nº 8.821/91 para incluir o § 4º com a seguinte redação:

“Lei 8.832/9. Art. 58. §4º. A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica desse documento.”. grifamos.

No entanto, tal documento só passou a ser obrigatório a partir de 01 de

janeiro de 2004, conforme disposto no artigo 248, inciso I, alínea b da IN INSS nº

77/2015.

O artigo 264 do citado dispositivo legal define o PPP como histórico laboral do

trabalhador que contém, entre outras informações básicas, os resultados de

monitoração biológica e avaliações ambientais.

O § 8o do artigo 68 do Decreto nº 3.048/99 informa se dever da empresa

elaborar o manter atualizado o PPP, que deverá ser fornecido ao trabalhador no

prazo máximo de 30 dias da rescisão do seu contrato de trabalho. O §7º do artigo

266 traz ainda outras situações nas quais o fornecimento do PPP será obrigatório,

sendo uma delas, por óbvio, “sempre que solicitado pelo trabalhador, para fins de

requerimento de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais;”.

Ainda sobre o PPP, Portela89 salienta o seguinte:

88

Kertzman, Ivan. Curso prático de direito previdenciário. 14ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 410. 89

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição. 2099..

Page 48: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

48

“As informações técnicas do PPP devem estar amparadas no LTCAT. Desque que o PPP passou a ser exigido, sua apresentação é suficiente para o enquadramento, não sendo necessário apresentar também cópia do laudo técnico, ainda que o INSS possa exigir o documento da empresa - jamais do segurado.”

Portanto, a apresentação do PPP dispensa a exigência de apresentação do

LTCAT. Este, inclusive, é o entendimento firme da TNU (PEDILEFS

00060054220074036315, 200971620018387 e 200972640009000).

No entanto, salientamos que é dispensável a apresentação do laudo técnico.

Sua elaboração continua sendo obrigatória, pois o PPP deve ser sempre elaborado

com base no LTCAT90.

3.2.4. Agente nocivo ruído

O ruído é agente nocivo quantitativo. Isto significa que a simples exposição

não é suficiente para permitir o enquadramento, sendo necessário que a intensidade

ultrapasse o limite de tolerância definido na legislação. Este agente agressivo

encontra-se arrolado no item 1.1.6 do anexo único do Decreto 53.831/64, item 1.1.5

do anexo I do Decreto 83.080/79 e, atualmente, no item 2.01 do anexo IV do Decreto

3.048/99.

O nível de ruído considerado insalubre varia de acordo com a época em que a

atividade foi desempenhada. Já é pacificado na jurisprudência91 o entendimento de

que deve ser fixado, até 05 de março de 1997, o limite de tolerância previsto no

Decreto 53.831/64, este que era de 80 dB (oitenta decibéis). Entre 06 de março de

1997 e 18 de novembro de 2003, por força do Decreto 2.172/97, o limite era de 90

dB (noventa decibéis). Finalmente, a partir de 19 de novembro de 2003, o limite

decresceu para 85 dB (oitenta e cinco decibéis) dada a alteração do Decreto

3.048/99, trazida pelo Decreto 4.882/03.

90

IN INSS 77/2015. Art. 266. § 5º. O PPP deverá ser emitido com base no LTCAT ou nas demais

demonstrações ambientais de que trata o inciso V do artigo 261. 91

TNU. Súmula 32: O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial,

para fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto n. 53.831/64 (1.1.6); superior a 90 decibéis, a partir de 5 de março de 1997, na vigência do Decreto n. 2.172/97; superior a 85 decibéis, a partir da edição do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003.

Page 49: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

49

Conforme já debatido, tal entendimento está em consonância com o princípio

do tempus regit actum, o qual permeia a caracterização da atividade especial.

No entanto, consideramos no mínimo um contrassenso considerar que

determinado nível de ruído em 1997 era prejudicial à saúde e atualmente não é

mais, afinal a fisiologia humana permanece a mesma, não tendo evoluído em tão

pouco tempo.

Entendemos, portanto, que o quê evoluiu foi o conhecimento acerca dos

efeitos do ruído no corpo humano, de modo que atualmente a ciência pode

determinar com mais precisão a intensidade sonora capaz de prejudicar a saúde do

trabalhador. Logo, o sensato seria considerar o limite de tolerância atualmente

determinado - 85 dB - independente da época de prestação do labor.

Gonçalves92 aponta a existência da doutrina e na jurisprudência defensores

desta última tese.

Não raro o trabalhador é exposto a níveis variados de ruído ao longo da

jornada de trabalho. Nestes casos, a NR-15 do MTE, em seu anexo I, determinar o

seguinte:

“NR-15. Anexo I. 6. Se durante a jornada de trabalho ocorrerem dois ou

mais períodos de exposição a ruído de diferentes níveis, devem ser

considerados os seus efeitos combinados, de forma que, se a soma das

seguintes frações:

𝐶1

𝑇1+𝐶2

𝑇2+...

𝐶𝑛

𝑇𝑛

exceder a unidade, a exposição estará acima do limite de tolerância.

Na equação acima, Cn indica o tempo total que o trabalhador fica exposto a

um nível de ruído específico, e Tn indica a máxima exposição diária

permissível a este nível, segundo o Quadro deste Anexo.”

No entanto, no caso de não ser possível adotar esta técnica, Lazzari93

destaca que a TNU uniformizou o entendimento de que seria possível utilizar a

média aritmética simples de todas as medições encontradas. De fato, assim

decidiu o órgão julgador no PEDILEF 50138346120144047205:

92

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed.

Curitiba: Alteridade Editora, 2015.p. 105. 93

Lazzari, João Batista [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 6a ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 288.

Page 50: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

50

“EMENTA. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. RUÍDO. PERÍODO ANTERIOR À LEI 9032/95. DEVE SER APLICADA A APURAÇÃO DA MÉDIA ARITMÉTICA CASO NÃO HAJA PARÂMETROS A RESPEITO DA MÉDIA PONDERADA. JURISPRUDÊNCIA ATUAL DA TNU. ACÓRDÃO ANULADO E RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM PARA APLICAÇÃO DOS PARÂMETROS ESTABELECIDOS. QUESTÃO DE ORDEM Nº 20 DA TNU. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO PROVIDO.”

3.2.5. Agente nocivo eletricidade

O agente perigoso eletricidade era previsto no item 1.1.8 do Decreto

53.831/64. No entanto, mesmo tendo o do Decreto nº 2.172/97 o abolido o agente

nocivo perigoso como apto a considerar a atividade exercida como especial,

entende-se que, como já debatido, o rol de atividades previstas é meramente

exemplificativo, podendo o segurado comprovar a efetiva exposição a agentes

insalubres para fazer prevalecer o direito ao reconhecimento da atividade como

especial, mesmo no caso de agente nocivo perigoso.

Recentemente, a Lei nº 12.740, de 8 de Dezembro de 2012 alterou o art. 193

da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e redefiniu os critérios para

caracterização das atividades ou operações perigosas:

"CLT. Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a: I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.”.(grifamos).

Neste sentido, o STJ, em sede de recurso repetitivo (REsp 1306113), definiu

que é perfeitamente possível a configuração do trabalho exposto ao agente

perigoso, exercido após a vigência do Decreto nº 2.172/97 (Anexo IV), como

atividade especial, para fins de aplicação do art. 57 da Lei nº 8.213/91

(aposentadoria especial):

“Em suma, mantendo o entendimento firmado quando integrante da Terceira Seção desta Corte, entendo ser cabível, desde que devidamente comprovado, o enquadramento do trabalho exposto ao agente perigoso eletricidade, exercido após a vigência do Decreto 2.172/97, como atividade especial, para fins de aposentadoria especial. Registro, ainda, que, tanto no precedente mencionado pelo INSS (REsp 992.855/SC), como em outros

Page 51: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

51

que relatei, embora fazendo menção ao limite temporal, efetivamente tal não prevalece.”

Em relação ao limite de tolerância, o Decreto 53.831/64 fixou o valor de 250

volts. No entanto, gostaríamos de apresentar decisão recente, de 09 de maio de

2017, do Tribunal Federal da 3a Região no julgamento da APELREEX -

apelação/remessa necessária 00019778520174039999, da qual destacamos o

trecho abaixo:

“Na Seção de Registros Ambientais, está descrito como fatores de risco, entre outros, choque elétrico, queda de materiais e queda pessoas em alturas. - Assim, muito embora não conste de forma explícita a exposição a tensão elétrica superior a 250 volts, pela atividade do autor (manutenção da rede de energia) e pelo risco de choque elétrico atestado pelo empregador, é possível inferir que houve a exposição a tensão elétrica superior ao nível legalmente exigido para reconhecimento da especialidade. Observe-se que, no caso do agente agressivo eletricidade, até mesmo um período pequeno de exposição traz risco à vida e à integridade física.”

O julgador considerou que, pela existência de risco de choque elétrico e

considerando as atividades desempenhadas, é possível o enquadramento da

atividade, ainda que não informado de forma explícita a exposição a tensão elétrica

superior a 250 volts.

3.3. Conclusão

Como exposto, a caracterização da atividade especial deve respeitar o

princípio do tempus regit actum. Desta forma até 28/04/1995, data de publicação da

lei 9.032/95, é possível o enquadramento da atividade por presunção legal,

presunção essa que é considerada absoluta pela jurisprudência pátria.

A comprovação dá-se através, principalmente do registro em CTPS, sendo

permitido ao segurado utilizar outros meios de prova, inclusive a testemunhal, como

forma de atestar a efetiva atividade desempenhada.

A partir de 29/04/1995 em diante, deve-se verificar a efetiva exposição do

trabalhador aos agentes insalubres no ambiente de trabalho, exposição esta que

deve ser habitual e permanente. No entanto, apresentamos decisões nas quais o

enquadramento por categoria profissional foi postergado até 05/301/1997,

fundamentadas no fato de que a lei 9.032/95 só foi regulamentada com o advento do

Decreto nº 2.172/97

Page 52: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

52

Atualmente a comprovação é feita com o preenchimento por parte da

empresa do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), documento que contém

o histórico laborativo do empregado e cuja elaboração é baseada em Laudo Técnico

de Condições Ambientais de Trabalho ou documento similar, sendo que a

apresentação deste último por parte do segurado é dispensada.

O rol de ocupações e agentes nocivos previstos nos decretos previdenciários

é considerado pelos tribunais como sendo meramente exemplificativo. Ou seja, é

permitido o enquadramento por analogia de outras atividades ou agentes insalubres,

desde que capazes de prejudicar a integridade física do trabalhador.

Os agentes nocivos apresentam várias peculiaridades em relação ao seu

tratamento normativo e jurisprudencial. Aqui apresentamos dois do tipo físico: ruído

e eletricidade. Outros mereciam um destaque igual, tais como frio, calor, agentes

químicos, etc. Mas, por motivos óbvios, optamos por manter o escopo limitado aos

dois apresentados.

Page 53: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

53

4. A POSSIBILIDADE DE AFASTAR O ENQUADRAMENTO

DA ATIVIDADE ESPECIAL PELO USO DE EQUIPAMENTO

DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.

A NR 06 do MTE em seu item 6.1 define que o equipamento de proteção

individual (EPI) como “todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo

trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a

saúde no trabalho.”. O item 6.3 da norma estabelece ainda a obrigatoriedade por

parte das empresas em “fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao

risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento.”.

Com a edição da Medida Provisória MP nº 1.729 de 02 de dezembro de 1998,

convertida na Lei nº 9.372 em 11 de dezembro de 1998, o § 2° do artigo 57 da lei

8.213/91 passou a exigir que no laudo técnico constasse “informação sobre a

existência de tecnologia de proteção coletiva ou individual que diminua a intensidade

do agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção

pelo estabelecimento respectivo.”.

Atualmente, o uso de EPI eficaz deve vir registrado no campo 15.8 do

formulário Perfil Profissiográfico Previdenciário, conforme modelo do anexo XV da IN

INSS 77/2015.

4.1. O adicional de seguro de acidente de trabalho e o custeio da

aposentadoria especial

Ao inserir os §§ 6º e 7º no art. 57 da Lei n.º 8.213/91, a MP nº 1.729/98

estabeleceu que a aposentadoria especial será financiada com recursos

provenientes da contribuição de que trata o inciso II do art. 22 da Lei nº 8.212/9194,

94

Lei 8.213/91. Art. 22. Inciso II. para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº

8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave.

Page 54: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

54

cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais,

conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a

concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ouvinte e cinco anos de

contribuição, respectivamente. Esta contribuição é conhecida como adicional do

seguro de acidentes de trabalho - SAT.

Portela95 explica, no entanto, que o “mero recolhimento do tributo não faz

surgir o direito subjetivo do seguro” e da mesma maneira “ausência de seu

recolhimento não impede a obtenção do benefício.”.

Segundo Kertzman96, caso a nocividade dos agentes presentes no ambiente

de trabalho seja eliminada ou reduzida através da utilização de EPI eficaz, a

empresa estará desobrigada ao pagamento do respectivo adicional do SAT e,

consequentemente, o segurado não terá direito ao enquadramento da atividade

exercida como especial.

Entende-se por eficaz o equipamento capaz de “neutralizar ou reduzir para

níveis não agressivos a exposição aos agentes insalubres.”97.

Entretanto, o enunciado 21 do Conselho de Recursos da Previdência Social

(CRPS) instrui o seguinte:

“CRPS. Enunciado n. 21. O simples fornecimento de equipamento de proteção individual de trabalho pelo empregador não exclui a hipótese de exposição do trabalhador aos agentes nocivos à saúde, devendo ser considerado todo o ambiente de trabalho.”

Portanto, ao menos nas instâncias administrativas superiores, o fornecimento

de EPI pelo empregador não afastaria de imediato o enquadramento especial da

atividade.

4.2. A discussão acerca do uso de EPI e o enquadramento especial.

Há de se observar que a consideração do tempo de serviço especial deve

seguir a lei vigente à época de sua prestação. Até 02 de dezembro de 1998, não

havia no âmbito do direito previdenciário o uso eficaz do EPI como fator de

descaracterização da atividade especial. Logo, as atividades realizadas antes deste

95

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 33570. 96

Kertzman, Ivan. Curso prático de direito previdenciário. 14ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 411. 97

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. posição 3368.

Page 55: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

55

marco temporal deverão ser consideradas especiais independentemente da

existência de EPI.

Neste sentido, o § 6º do artigo 279 da Instrução Normativa INSS 77/2015

prevê que somente a partir de 03 de dezembro de 1998 a adoção de EPI nas

demonstrações ambientais será considerada98. Desta forma, tal entendimento está

pacificado no âmbito administrativo. No âmbito judicial, assim decidiu o Tribunal

Federal da 3a Região, no julgamento da AC 00186509020164039999:

“Ementa PROCESSO CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. AVERBAÇÃO DE ATIVIDADE RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL. ATIVIDADE ESPECIAL. EXPOSIÇÃO A AGENTES NOCIVOS. RUÍDO. HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS. COMPROVAÇÃO. OBSERVÂNCIA DA LEI VIGENTE À ÉPOCA PRESTAÇÃO DA ATIVIDADE. EPI EFICAZ. INOCORRÊNCIA. FONTE DE CUSTEIO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. IMEDIATA IMPLANTAÇÃO DO BENEFÍCIO. I - A orientação colegiada é pacífica no sentido de que razoável início de prova material não se confunde com prova plena, ou seja, constitui indício que deve ser complementado pela prova testemunhal quanto à totalidade do interregno que se pretende ver reconhecido. Portanto, os documentos apresentados, complementados por prova testemunhal idônea, comprovam o labor rural antes das datas neles assinaladas. II - Ante o conjunto probatório, reconhecido o labor na condição de rurícola, em regime de economia familiar, nos períodos de 10.03.1981 a 31.12.1982, 06.04.1974 a 09.03.1981 e de 01.01.1983 a 01.09.1985, devendo ser procedida à contagem de tempo de serviço cumprido no citado interregno, independentemente do recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias, exceto para efeito de carência, nos termos do art. 55, parágrafo 2º, da Lei 8.213/91. III- No que tange à atividade especial, a jurisprudência pacificou-se no sentido de que a legislação aplicável para sua caracterização é a vigente no período em que a atividade a ser avaliada foi efetivamente exercida. IV- O E. Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso especial de nº 1.398.260/PR (Relator Ministro Herman Benjamin, julgado em 05.12.2014, Dje de 04.03.2015), esposou entendimento no sentido de que o limite de tolerância para o agente agressivo ruído, no período de 06.03.1997 a 18.11.2003, deve ser aquele previsto no Anexo IV do Decreto n. 2.172/97 (90dB), sendo indevida a aplicação retroativa do Decreto nº 4.8882/03, que reduziu tal patamar para 85dB. V - A exposição habitual e permanente a hidrocarbonetos aromáticos garante a contagem especial, consoante Decreto nº 2.172/1997 (código 1.0.19) e Decreto nº 3.048/99 (código 1.0.19). Nos termos do §2º do art.68 do Decreto 8.123/2013, que deu nova redação do Decreto 3.048/99, a exposição, habitual e permanente, às substâncias químicas com potencial cancerígeno justifica a contagem especial, independentemente de sua concentração. No caso dos autos, os hidrocarbonetos aromáticos possuem em sua composição o benzeno, substância relacionada como cancerígena no anexo nº13-A da NR-15 do Ministério do Trabalho. VI - No julgamento do Recurso Extraordinário

98

Instrução NormativaINSS 77/2015. Art. 279. § 6º Somente será considerada a adoção de

Equipamento de Proteção Individual - EPI em demonstrações ambientais emitidas a partir de 3 de dezembro de 1998, data da publicação da MP nº 1.729, de 2 de dezembro de 1998, convertida na Lei nº 9.732, de 11 de dezembro de 1998, e desde que comprovadamente elimine ou neutralize a nocividade e seja respeitado o disposto na NR-06 do MTE, havendo ainda necessidade de que seja assegurada e devidamente registrada pela empresa, no PPP, a observância:

Page 56: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

56

em Agravo (ARE) 664335, em 04.12.2014, com repercussão geral reconhecida, o E. STF afirmou que, na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador no âmbito do PPP, no sentido da eficácia do EPI, não descaracteriza o tempo de serviço especial, tendo em vista que no cenário atual não existe equipamento individual capaz de neutralizar os malefícios do ruído, pois que atinge não só a parte auditiva, mas também óssea e outros órgãos. VII - Ademais, deve ser desconsiderada a informação de utilização do EPI quanto ao reconhecimento de atividade especial dos períodos até a véspera da publicação da Lei 9.732/98 (13.12.1998), conforme o Enunciado nº 21, da Resolução nº 01 de 11.11.1999 e Instrução Normativa do INSS n.07/2000. VIII - Relativamente a outros agentes (químicos, biológicos etc.) pode-se dizer que a multiplicidade de tarefas desenvolvidas pelo autor demonstra a impossibilidade de atestar a utilização do EPI durante toda a jornada diária; normalmente todas as profissões, como a do autor, há multiplicidade de tarefas, que afastam a afirmativa de utilização do EPI em toda a jornada diária, ou seja, geralmente a utilização é intermitente. IX - Os artigos 57 e 58 da Lei 8.213/91, que regem a matéria relativa ao reconhecimento de atividade especial, garantem a contagem diferenciada para fins previdenciários ao trabalhador que exerce atividades profissionais prejudiciais à saúde ou à integridade física e não vinculam o ato concessório do beneficio previdenciário à eventual pagamento de encargo tributário. X - Fixo os honorários advocatícios em 15% (quinze por cento) sobre o valor das prestações vencidas até a data da sentença, nos termos da Súmula 111 do STJ e de acordo com o entendimento firmado por esta 10ª Turma. XI - Nos termos do artigo 497 do Novo Código de Processo Civil, determinada a imediata implantação do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição. XII - Apelação do autor provida. Apelação do réu improvida.”

Na decisão acima apresentada, o referido tribunal definiu como marco

temporal a data da conversão da MP em lei.

No entanto, em relação aos períodos posteriores a dez/1998, a possibilidade

de se elidir o enquadramento da atividade quando há o fornecimento de EPI pelo

empregador é objeto de disputas judiciais. Nas palavras de Carbinatto99:

“Muito se tem discutido, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, sobre a possibilidade de se afastar a especialidade do período laborado em condições insalubres, quando houver utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) eficaz.”

A questão já foi objeto de súmula da TNU:

“TNU. Súmula 9. O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado.”

Castro100 entende como acertada esta orientação da TNU. O autor aponta a

existência de estudos que comprovam os malefícios do agente nocivo ruído não só

99

CARBINATTO, Edelton. A utilização de equipamento de proteção individual (EPI) eficaz pode

elidir a especialidade do tempo de serviço. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 4104, 26 set. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/30601>. Acesso em: 21 set. 2017.

Page 57: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

57

ao aparelho auditivo, como também alterações físicas e psíquicas que não evitadas

pelo simples uso do protetor auricular.

Carbinatto101 exprime opinião contrária:

“Resta evidente, portanto, por meio de estudo científico dos protetores auditivos, que a utilização de EPI eficaz reduz o nível do ruído a níveis aceitáveis e não prejudiciais à saúde. Da mesma forma, os EPIs são eficazes para proteger o trabalhador dos demais agentes insalubres.”

Gonçalves102 destaca a falta de “certeza, no meio científico, sobre os efeitos

extra-auriculares provocados pelo ruído...”. Em relação aos demais agentes nocivos,

a autora aponta a falta de consenso na doutrina e na jurisprudência sobre o tema.

Após a análise da questão, o autor concluiu o seguinte:

“A descaracterização da atividade, portanto, exige a comprovação por laudo técnico de que houve o fornecimento de EPI adequado ao risco, que esse equipamento foi efetivamente utilizado pelo trabalhador e que elimina a nocividade ou a reduz a níveis toleráveis.”

Este entendimento é compartilhado por Castro103, segundo o qual:

“...não basta a simples indicação do fornecimento de EPI eficaz no PPP. Deverão ser produzidas provas dessa eficácia nos termos na Norma Regulamentadora n. 06 do Ministério do Trabalho e Emprego…”

4.2.1. Julgamento do ARE 664.335/SC

A discussão envolvendo o fornecimento de EPI teve a sua repercussão geral

reconhecida pelo STF no ARE 644.355/SC. Gonçalves104 resumiu a questão da

seguinte forma:

“...a controvérsia girou em torno da precedência da fonte de custeio e aposentadoria especial, suscitando um embate entre direito social e financiamento. Argumentou a autarquia previdenciária que o simples fato de a empresa mencionar, por meio de formulário do Perfil Profissiográfico

100

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª

ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 746. 101

CARBINATTO, Edelton. A utilização de equipamento de proteção individual (EPI) eficaz pode elidir a especialidade do tempo de serviço. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 4104, 26 set. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/30601>. Acesso em: 21 set. 2017. 102

Gonçalves, Mariana Amelia Flauzino. Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª

ed. Curitiba: Alteridade Editora, 2015.p. 110. 103

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 747. 104

Gonçalves, Oskandro Osdivel, Floriani Neto, Antonio Bazilio. OS NOVOS CONTORNOS CONFERIDOS À APOSENTADORIA ESPECIAL PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: O JULGAMENTO DO ARE N. 664.335 SOB S PERSPECTIVA DA ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO. Espaço Jurídico Journal of Law. v. 16. n. 2, Joaçaba, 2015, p. 589-599.

Page 58: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

58

Previdenciário (PPP), a eficácia do EPI, estariam elididos os riscos para o trabalhador. Com isso, haveria uma redução no SAT contribuído pela empresa. Logo, o argumento do INSS foi pela impossibilidade de conceder benefício sem a correspondente fonte de custeio, haja vista o princípio da preservação do equilíbrio financeiro e atuarial, em medida que vincula a concessão de aposentadoria especial ao pagamento do adicional do SAT pela empresa.”.

Como já visto anteriormente, o adicional do SAT subsidia o pagamento da

aposentadoria dos segurados expostos a agentes nocivos. Desta forma, ensina o

autor, a concessão de aposentadoria especial para atividades nas quais não houve o

respectivo recolhimento do SAT ensejaria violação ao princípio da preservação do

equilíbrio financeiro e atuarial.

Ao julgar o caso, o STF adotou duas teses distintas: uma específica para o

agente nocivo ruído e outra geral, aplicável aos demais agentes nocivos.

Em relação ao ruído, prevaleceu o entendimento, já consolidado pela TNU, de

que, quando há sujeição em patamares acima dos limites legais, o uso de EPI não

descaracteriza a situação de insalubridade, uma vez que o equipamento não é

capaz de neutralizar todos os efeitos nocivos do agente agressor. Colacionamos

abaixo o entendimento expresso no item 12 da ementa do acórdão:

“12. In casu, tratando-se especificamente do agente nocivo ruído, desde que em limites acima do limite legal, constata-se que, apesar do uso de Equipamento de Proteção Individual (protetor auricular) reduzir a agressividade do ruído a um nível tolerável, até no mesmo patamar da normalidade, a potência do som em tais ambientes causa danos ao organismo que vão muito além daqueles relacionados à perda das funções auditivas”

Desta forma, a tese de falta de custeio e violação ao princípio da preservação

do equilíbrio financeiro e atuarial não foi aceita pela corte, que entendeu que “não há

o que se falar em falta de fonte de custeio se o benefício estava previsto no texto da

própria CF.”105.

“5. A norma inscrita no art. 195, § 5º, CRFB/88, veda a criação, majoração ou extensão de benefício sem a correspondente fonte de custeio, disposição dirigida ao legislador ordinário, sendo inexigível quando se tratar de benefício criado diretamente pela Constituição. Deveras, o direito à aposentadoria especial foi outorgado aos seus destinatários por norma constitucional (em sua origem o art. 202, e atualmente o art. 201, § 1º, CRFB/88). Precedentes: RE 151.106 AgR/SP, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 28/09/1993, Primeira Turma, DJ de 26/11/93; RE 220.742, Rel. Min. Néri da Silveira, julgamento em 03/03/98, Segunda Turma, DJ de 04/09/1998..”

105

Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. p. 3536.

Page 59: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

59

Portela106 critica esse posicionamento da suprema corte:

“A decisão, caso mantida, gerará quebra de isonomia no financiamento do benefício. Mesmo submetendo seus trabalhadores a condições especiais, a empresa não arcará com o ônus financeiro dos benefícios que originará, quebrando a lógica do benefício desde as alterações promovidas pelas Leis nos 9.032/95, 9.528,97 e 9.732,98. Portanto, prevalecendo o voto como decidido pelo STF, o legislador deverá adequar a forma de cobrança do adicional do SAT em relação ao ruído”

Por outro lado, para os demais agentes nocivos, a tese vencedora a seguinte:

“11. Consectariamente, a primeira tese objetiva que se firma é: o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial.”

A TNU vem, então, mudando o seu posicionamento, conforme podemos

observar no julgamento do PEDILEF 00009617020104036304:

“VOTO-EMENTA EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. LABOR RURAL. MENOR DE IDADE INFERIOR A CATORZE ANOS. RECONHECIMENTO PARA FINS PREVIDENCIÁRIOS. FINALIDADE PROSPECTIVA-PROTETIVA DA NORMA. SÚMULA Nº 5/TNU. ATIVIDADE COM EXPOSIÇÃO A AGENTES AGRESSIVOS. NEUTRALIZAÇÃO POR MEIO DO USO DE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) EFICAZ. NOVO POSICIONAMENTO DA TNU EM FACE DA DECISÃO DO STF NO ARE Nº 664.3 35 NA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL. EXCEÇÃO AO AGENTE NOCIVO RUÍDO. QUESTÕES DE ORDEM N. 20 e 24/TNU. INCIDENTE PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTE PONTO, PROVIDO.”

Contudo, entendemos que a simples menção do uso de EPI no Perfil

Profissiográfico Previdenciário não afasta o enquadramento da atividade, porquanto

se faz necessário comprovar a sua eficácia.

O STF em momento nenhum admite que a simples declaração unilateral do

empregador, no Perfil Profissiográfico Previdenciário, serviria para comprovar a

efetiva neutralização do agente nocivo, dando margem a que direitos sejam

suprimidos. Destacamos abaixo a transcrição do que foi colocado no item 11 da

ementa do ARE 664.335/SC:

“11. A Administração poderá, no exercício da fiscalização, aferir as informações prestadas pela empresa, sem prejuízo do inafastável judicial review. Em caso de divergência ou dúvida sobre a real eficácia do Equipamento de Proteção Individual, a premissa a nortear a Administração e o Judiciário é pelo reconhecimento do direito ao benefício da aposentadoria especial. Isto porque o uso de EPI, no caso concreto, pode não se afigurar suficiente para descaracterizar completamente a relação nociva a que o empregado se submete.”

106

Ibidem.

Page 60: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

60

Para Arruda107, muitos empregadores, como forma de reduzir custos,

declaram existir EPI eficaz no ambiente laborativo, sem sequer, em realidade,

fornecer o equipamento.

Assim, afirma Carbinatto108:

“Cabe ao segurado comprovar o seu direito, demonstrando que não houve a entrega de EPI adequado ao seu biotipo, que não houve treinamento na empresa, que os Certificados de Aprovação (CAs) dos EPIs informados nos formulários PPP eram efetivamente válidos, enfim, buscar qualquer meio de prova para afastar a informação que lhe é prejudicial ou não está em sintonia com o meio ambiente laborativo no qual exerce atividade remunerada.”

No entanto, Ladenthin109 exemplifica agentes nocivos, além do já mencionado

ruído, nos quais o uso de EPI é totalmente ineficaz: calor, agentes biológicos,

hidrocarbonetos e benzeno. Em relação ao último, a autora cita o Memorando-

Circular nº 08/DIRSAT/INSS de 08 de julho de 2014 que, embasado em parecer

técnico da FUNDACENTRO, orienta desconsiderar o fornecimento de EPI quando

há exposição a tal agente químico. Por fim, concluiu que “EPI eficaz é uma falácia,

sendo devido a aposentadoria especial independentemente de seu fornecimento ou

não.”. Acrescenta ainda que o adicional SAT é sempre devido, pois o agente

agressor nunca é eliminado completamente do ambiente de trabalho.

Concordamos com a autora neste ponto. O item 6.6.1 da NR 06 é explícito ao

afirmar que cabe ao empregador não apenas fornecer o equipamento, mas

proporcionar o treinamento adequado e fiscalizar o seu uso.

Portanto, a eficácia do EPI depende não apenas de fatores técnico, mas

também de fatores humanos e ambientais. Em estudo recente sobre o uso de

equipamento de proteção individual e intoxicação por agrotóxico, Cargin110 conclui

que, apesar de haver treinamento, a resistência por parte dos trabalhadores e a

falha na fiscalização por parte da empresa em relação ao uso adequado acabam por

tornar EPI ineficiente: 107

Arruda, Ricardo Fatore. Aposentadoria especial. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862,

Teresina, ano 22, n. 5171, 28 ago. 2017. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/60018>. Acesso em: 19 set. 2017. 108

Gonçalves, Oskandro Osdivel, Floriani Neto, Antonio Bazilio. OS NOVOS CONTORNOS

CONFERIDOS À APOSENTADORIA ESPECIAL PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: O JULGAMENTO DO ARE N. 664.335 SOB S PERSPECTIVA DA ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO. Espaço Jurídico Journal of Law. v. 16. n. 2, Joaçaba, 2015, p. 593. 109

Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed.

Curitiba: Juruá, 2014. p. 299. 110

Cargnin, Marcia Casaril Dos Santos Cargnin et al. Fumicultura: uso de equipamento de

proteção individual e intoxicação por agrotóxico. Revista de Pesquisa : Cuidado é Fundamental Online, 01 April 2017, Vol.9(2), pp.466-472.

Page 61: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

61

“Os resultados revelam que os fumicultores, em sua grande maioria, estão expostos a produtos agrotóxicos embora relatem fazer uso de EPI. No entanto, ao analisar os resultados, percebe-se que eles utilizam os EPI de maneira fragmentada, deixando-os expostos aos agrotóxicos e mais suscetíveis a agravos para a sua saúde. Os fumicultores relatam que recebem orientações quanto ao uso dos agrotóxicos, porém as condições do clima aliado às inadequações dos EPI contribuem para que o uso não ocorra de forma efetiva. Portanto, faz-se necessários um maior número de estudos científicos na região para identificar que estratégias poderiam ser utilizadas para adequar os EPI ao clima e, assim, motivar os fumicultores para que o utilizem de forma correta, visando a proteção de sua saúde.”

Por exemplo, o TRF da 5ª Região, no julgamento da Apelação Cível AC

00116423520144036183, ao analisar o caso concreto, afastou a eficácia do

equipamento de proteção individual:

“Ementa PROCESSO CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. REVISIONAL. APOSENTADORIA ESPECIAL. REMESSA OFICIAL TIDA POR INTERPOSTA. ATIVIDADE ESPECIAL. EXPOSIÇÃO A AGENTE NOCIVO. RUÍDO. AGENTES BIOLÓGICOS. COMPROVAÇÃO. OBSERVÂNCIA DA LEI VIGENTE À ÉPOCA DA PRESTAÇÃO DA ATIVIDADE. EPI INEFICAZ. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VERBAS ACESSÓRIAS. I - Aplica-se ao presente caso o Enunciado da Súmula 490 do E. STJ, que assim dispõe: A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou do direito controvertido for inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas. II - No que tange à atividade especial, a jurisprudência pacificou-se no sentido de que a legislação aplicável para sua caracterização é a vigente no período em que a atividade a ser avaliada foi efetivamente exercida. III - Admite-se o reconhecimento do exercício de atividade especial, ainda que se trate de atividades de apoio, desde que o trabalhador esteja exposto aos mesmos agentes nocivos inerentes à determinada categoria profissional, bem como, em se tratando de período anterior a 10.12.1997, advento da Lei 9.528/97, não se exige a quantificação dos agentes agressivos químicos, mas tão somente sua presença no ambiente laboral. Nesse mesmo sentido, aponta o art. 150 da Instrução Normativa do INSS/ Nº 95 de 07 de outubro de 2003. IV - Mantido o cômputo especial dos interregnos de 01.01.1990 a 20.10.1990 e 06.03.1997 a 22.07.2008, eis que a autora esteve sujeita a fatores de risco biológicos, em decorrência da prestação de serviços de enfermagem em pacientes, nos termos dos códigos 1.3.4 do Decreto nº 83.080/1979 e 3.0.1 do Decreto nº 3.048/1999. Outrossim, os intervalos de 01.01.1990 a 20.10.1990 e 06.03.1997 a 10.12.1997, tendo em vista que a requerente exerceu a função de auxiliar/técnico de enfermagem, atividade profissional prevista no código 2.1.3 do Decreto nº 83.080/1979. V - No julgamento do Recurso Extraordinário em Agravo (ARE) 664335, em 04.12.2014, com repercussão geral reconhecida, o E. STF expressamente se manifestou no sentido de que, relativamente a outros agentes (químicos, biológicos, etc.) pode-se dizer que a multiplicidade de tarefas desenvolvidas pela parte autora demonstra a impossibilidade de atestar a utilização do EPI durante toda a jornada diária; normalmente todas as profissões, como a do autor, há multiplicidade de tarefas, que afastam a afirmativa de utilização do EPI em toda a jornada diária, ou seja, geralmente a utilização é intermitente. VI - Os juros de mora e a correção monetária deverão observar o disposto na Lei nº 11.960/09 (STF, Repercussão Geral no Recurso Extraordinário 870.947, 16.04.2015, Rel. Min. Luiz Fux). VII - Havendo parcial provimento à apelação do réu, mantidos os honorários advocatícios na forma definida em sentença, qual seja, em percentual a ser definido em liquidação do julgado, nos termos do artigo 85, 3º e 4º, do NCPC; considerando o valor das

Page 62: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

62

diferenças vencidas até a data da sentença, nos termos da Súmula 111 do E. STJ - em sua nova redação, e de acordo com o entendimento firmado por esta 10ª Turma. VIII - Remessa oficial tida por interposta e apelação do réu parcialmente providas. (grifos nossos).”

4.3. Conclusão

Como exposto, para períodos anteriores a 02 de dezembro de 1998 é

irrelevante para o enquadramento da atividade como especial a informação de que

havia o fornecimento de EPI eficaz, por falta de previsão legal. O mesmo

entendimento, consolidado pelo STF, é aplicado ao agente nocivo ruído,

independentemente da data do exercício da atividade, bastando que a exposição

ultrapasse o limite de tolerância permitido pela norma vigente à época do labor.

Daquela data em diante e para os outros agentes nocivos, desde que o

equipamento seja comprovadamente eficaz, o fornecimento de EPI impossibilita o

enquadramento da atividade como especial.

No entanto, existem agentes nocivos, além do ruído, como o benzeno, para

os quais o EPI seria totalmente ineficiente. Ademais, o fornecimento deve vir

acompanhado de treinamento e fiscalização de seu uso.

Neste contexto, acreditamos, torna-se muito dificultoso averiguar a eficácia do

equipamento no caso concreto, de modo que defendemos o reconhecimento do

exercício de atividade especial mesmo para os casos em houve uso e fornecimento

de equipamento de proteção individual pelo trabalhador.

Page 63: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

63

5. CASOS ESPECIAIS DE ENQUADRAMENTO E

CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL.

5.1. Vigilante

A atividade de vigilante, apesar de não expressamente prevista, foi

equiparada à de guarda, está sim com previsão expressa no item 2.5.7 do Decreto

nº 53.831/64, conforme estabelece a súmula nº 26 da Turma de Uniformização das

Decisões das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais, in verbis:

“TNU. Súmula 26. A atividade de vigilante enquadra-se como especial, equiparando-se à de guarda, elencada no item 2.5.7 do Anexo III do Decreto n° 53.831/64. (DJU 22/06/2005)”

O entendimento da TNU corrobora o caráter exemplificativo da lista de

atividades e agentes nocivos contida nos decretos previdenciários, o que permite a

inclusão de atividades análogas às previstas na norma jurídica. No âmbito

administrativo, o artigo 273 da IN INSS nº 77/2015 regula a matéria:

“IN INSS 77/2015. Art. 273. Deverão ser observados os seguintes critérios para o enquadramento do tempo de serviço como especial nas categorias profissionais ou nas atividades abaixo relacionadas:

(...)

II - guarda, vigia ou vigilante até 28 de abril de 1995”

Uma vez que o item 2.5.7 do Decreto 53.831/64 não prevê a exigência de uso

de arma de fogo, entendemos que o enquadramento da atividade como especial, ao

menos para períodos anteriores a lei 9.032/95, independe de uso de arma de fogo.

Outras profissões contempladas no referido decreto trazem uma restrição

como condição para o enquadramento, a exemplo do item 2.4.4 (Motorneiros e

condutores de bondes. Motoristas e cobradores de ônibus. Motoristas e ajudantes de

caminhão) e do item 2.5.4 (Pintores de Pistola), entre outros.

Se o legislador quisesse impor tal restrição ao reconhecimento da atividade

de vigilante (equiparada a de guarda), teria explicitado isto no referido dispositivo

legal, a exemplo do que fez com as outras profissões.

Page 64: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

64

Este foi o mesmo entendimento manifestado pelo TRF da 3ª Região no

julgamento da APELREEX 00284022820124039999:

“Ementa. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRETENSÃO DE REDISCUSSÃO DA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. ATIVIDADE ESPECIAL. VIGIA SEM ARMA DE FOGO. 1. São cabíveis embargos de declaração quando o provimento jurisdicional padece de omissão, contradição ou obscuridade, bem como quando há erro material a ser sanado. Não servem os embargos de declaração para a rediscussão da causa. 2. No presente caso, para comprovar a atividade de vigia, trabalho que corresponde ao exercício de atividade de guarda, classificado no código 2.5.7 do Anexo do Decreto nº 53.831/64, foi juntado aos autos Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP. Tal atividade é de natureza perigosa, porquanto o trabalhador que exerce a profissão de vigia ou vigilante tem sua integridade física colocada em efetivo risco, não sendo poucos os relatos policiais acerca de lesões corporais e morte no exercício de vigilância patrimonial. 3. O reconhecimento da natureza especial da atividade de vigia independe da demonstração de que a parte autora utilizava-se de arma de fogo para o desenvolvimento de suas funções, conforme posicionamento adotado na 10ª Turma desta Corte Regional. 4. Resta mantido o reconhecimento da atividade especial. 5. O termo final da base de cálculo dos honorários advocatícios foi fixado na data do acórdão por ter sido este o momento em que houve a condenação do INSS. 6. Não há incompatibilidade entre a aplicação da Súmula 111 do E. STJ e as disposições do novo Código de Processo Civil. 7. Embargos de declaração rejeitados.” (grifamos).

Com pensamento consoante, Rodrigues111 esclarece que no caso de

exercício da atividade em empresa especializada em vigilância e segurança

empresarial, o porte de arma de fogo pode ser presumido.

De todo modo, admite-se qualquer meio de prova para comprovação do uso

de arma de fogo no desempenho das atividades laborativas, sendo prescindível a

apresentação de laudo técnico. Assim decidiu a TNU no julgamento dos PEDILEFs

05182762620104058300 e 50083668120124047110,

Para períodos posteriores a 05 de março de 1997, mesmo tendo o Decreto nº

2.172/97 abolido o agente nocivo perigoso como apto a considerar a atividade

exercida como especial, entende-se que o rol de atividades previstas é meramente

exemplificativo, podendo o segurado comprovar a efetiva exposição a agentes

insalubres para fazer prevalecer o direito ao reconhecimento da atividade como

especial, mesmo no caso de agente nocivo perigoso.

Em recente decisão no PEDILEF 05020133420154058302, a Turma Nacional

de Uniformização, revendo o seu entendimento anteriormente consolidado, admitiu o

111

RODRIGUES, Romildo. A atividade de vigilante e a aposentadoria especial. Revista Jus

Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 3878, 12 fev. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/26695>. Acesso em: 3 out. 2017.

Page 65: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

65

enquadramento da atividade de vigilante como especial, mesmo após 05 de março

de 1997:

“EMENTA: PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO. TEMPO ESPECIAL. ATIVIDADE DE VIGILANTE ARMADO EXERCIDA APÓS O DECRETO 2.172/97. RECONHECIMENTO CABÍVEL. RECURSO REPETITIVO DO STJ. QUESTÕES DE ORDEM Nº 18 E 20/TNU. INCIDENTE PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTE PONTO, PARCIALMENTE PROVIDO.”

5.2. Marítimo

A atividade de marítimo apresenta peculiaridades no seu tratamento, as quais

merecem destaquem: fator de conversão superior e período maior de permissão ao

enquadramento por presunção legal. Abordando o segurado marítimo, leciona

Weber112:

“Assim como ocorreu com outras categorias profissionais até o advento da Emenda Constitucional n.º 20, de 15 de dezembro de 1998, à categoria dos marítimos embarcados era conferido um regime especial de cômputo de tempo de serviço, ao que se convencionou denominar ano marítimo. Com a referida EC 20/98, sobreveio vedação constitucional a qualquer contagem fictícia de tempo de contribuição, à exceção do trabalho reconhecido como especial e, mais recentemente, dos segurados portadores de deficiência, para os quais, na dicção da atual redação do art. 201, §1º, da Constituição, ainda é legítima a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria.” (grifos nossos).

A conversão de tempo de contribuição do marítimo era prevista no § 1º, artigo

54 do Decreto nº 83.080/79:

Decreto 83.080/79. Art. 54. § 1º. O caso de segurado marítimo, cada 255 (duzentos e cinqüenta a cinco) dias de embarque em navios nacionais contados da data do embarque à do desembarque equivalem a 1 (um) ano de atividade em terra, obtida essa equivalência proporcionalidade de 255 (duzentos e cinqüenta e cinco) embarque para 360 (trezentos e sessenta) meses em terra.

Atualmente está regulada no artigo 91 da Instrução Normativa INSS nº

77/2015:

“IN INSS 77/2015. Art. 91. Será computado como tempo de contribuição o tempo de serviço marítimo exercido nos moldes do art. 93, até 16 de dezembro de 1998, vigência da Emenda Constitucional nº 20, de 1998, em navios mercantes nacionais, independentemente do momento em que o

112

WEBER, Aline Machado. Consequências previdenciárias do trabalho do marítimo embarcado: o

ano marítimo e a aposentadoria especial. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n. 3829, 25 dez. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/26226>. Acesso em: 20 set. 2017.

Page 66: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

66

segurado venha a implementar os demais requisitos para a concessão de aposentadoria no RGPS. (...) § 2º O período de marítimo embarcado exercido na forma do caput será convertido, na razão de 255 (duzentos e cinquenta e cinco) dias de embarque para 360 (trezentos e sessenta) dias de atividade comum, contados da data do embarque.”

Ou seja, o chamado ano marítimo consiste em multiplicar cada dia trabalhado

embarcado pela razão 360/255 (aproximadamente 1,412) para fins de apuração do

tempo de contribuição. Este fator de conversão é ligeiramente superior ao das

atividades com tempo de exposição de 25 anos, qual seja, 1,4.

A conversão prescinde de apresentação de formulários previdenciários de

comprovação do exercício de atividade insalubre, fato este explícito no artigo 94 da

referida instrução normativa:

“IN INSS 77/2015. Art. 94. A conversão do marítimo embarcado na forma do art. 92 não está atrelada aos anexos dos Decretos nº 53.831, de 25 de março de 1964 e nº 83.080, de 24 de janeiro de 1979, não sendo exigido o preenchimento do Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP.”

Desta forma, trata-se de espécie de enquadramento por categoria

profissional, com presunção absoluta de exercício de atividade insalubre, bastando

ao segurado comprovar os dias de embarque e desembarque das embarcações,

sendo que o período em terra será computado como tempo de serviço comum.

Destacamos que o afastamento de férias, doença, entre outros são

computados igualmente como especiais, nos termos do inciso II, artigo 92 da

mesma:

“IN INSS 77/2015. Art. 92. O marítimo embarcado terá que comprovar a data do embarque e desembarque, não tendo ligação com a atividade exercida, mas com o tipo de embarcação e o local de trabalho, observando que: II - o período compreendido entre um desembarque e outro, somente será considerado se este tiver ocorrido por uma das causas abaixo: a) acidente no trabalho ou moléstia adquirida em serviço; b) moléstia não adquirida no serviço; c) alteração nas condições de viagem contratada; d) desarmamento da embarcação; e) transferência para outra embarcação do mesmo armador; f) disponibilidade remunerada ou férias; ou g) emprego em terra com mesmo armador.

Observamos que o enquadramento por presunção legal do marítimo tem

como marco temporal final a data de 16 de dezembro de 1998, data da publicação

da EC nº 20/98. Já para as demais ocupações previstas nos anexos dos Decretos

Page 67: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

67

nºs 53.831/64 e 83.080/79, a partir da vigência da lei nº 9.035/95 não mais se permite

o seu enquadramento por categoria profissional.

Weber113 elucida ainda não ser possível acumular a contagem pela conversão

do ano marítimo com a conversão de tempo especial, no caso de exercício de

atividade considerada especial em concomitância com o exercício de atividade

embarcada:

“Entretanto, e a despeito de não haver tal vedação legal expressa anteriormente a 1991, a razão de ser de ambos os institutos permite se conclua pela impossibilidade da sobreposição de contagens reduzidas em favor do marítimo cuja atividade, além de ter sido realizada em alto-mar, esteja também prevista como especial nos anexos dos decretos reguladores. É que não se faz possível a aplicação simultânea de duas leis que tratam sobre assuntos similares, sob pena de o intérprete criar uma terceira regra (lex tertia) e, com isso, transmudar-se em legislador positivo. No caso dos marítimos, as situações, além de autonomamente regulamentadas, nunca se confundiram, razão pela qual também jamais puderam ser sobrepostas.”

Neste sentido, no julgamento da AC 499773 o TRF da 5ª Região decidiu:

“Ementa. PREVIDENCIÁRIO. COMPROVAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO INSALUBRE. CÔMPUTO DE TEMPO ESPECIAL. MARÍTIMO. IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO PELO ANO MARÍTIMO CONCOMITANTEMENTE COM A CONVERSÃO DE TEMPO DE ESPECIAL. APELAÇÃO IMPROVIDA. 1. Afirma o apelante que o INSS deixou de considerar período em que prestou serviço militar obrigatório, bem como também não computou o tempo de de embarque em atividade em terra, e concomitantemente, o tempo de atividade de risco em comum, de forma que seu coeficiente de cálculo deve ser majorado para 100%, mediante o acréscimo no tempo de serviço. 2. Antes da Lei 9.032/95, para a contagem de tempo de serviço especial, não se fazia necessária a apresentação de laudo comprovando a exposição aos agentes agressivos, sendo suficiente apenas a demonstração do exercício regular da atividade e o seu enquadramento na legislação como de caráter especial. Após a edição do referido diploma legal, 032, de 28.04.95, o reconhecimento da insalubridade passou a exigir a efetiva exposição aos agentes agressivos especificados na legislação previdenciária. 3. Tempo de serviço militar prestado já computado pelo INSS. Impossibilidade de se converter um mesmo período utilizando-se o fator 1,4 (em razão do autor estar exercendo uma atividade considerada insalubre) e o ano marítimo (255 dias em mar equivalendo a 360 dias em terra). 4. A utilização do ano marítimo de forma concomitante com o cômputo de tempo especial não é possível, uma vez que na hipótese haveria uma dupla contagem de tempo fictício. Entender de forma diversa significaria conferir um tratamento por demais favorável ao marítimo em relação às demais categorias profissionais, o que certamente não corresponde à vontade do legislador. 5. Apelação improvida.” (grifamos).

113

WEBER, Aline Machado. Consequências previdenciárias do trabalho do marítimo embarcado: o

ano marítimo e a aposentadoria especial. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n. 3829, 25 dez. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/26226>. Acesso em: 20 set. 2017.

Page 68: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

68

5.3. Pessoa com deficiência

Ensina Damião114:

“O direito ao trabalho é um dos mais importantes dos direitos humanos e a inclusão social das pessoas com deficiência não se resume na sua inserção no mercado de trabalho, mas preocupa-se, também, com meio ambiente laboral, adequado e com a garantia de benefícios previdenciários diferenciados.”

Neste sentido, a EC nº 47/2005 introduziu por meio do § 1º115 do artigo 201 da

Constituição Federal a previsão de critérios diferenciados de concessão de

aposentadoria para os segurados portadores de deficiência. O dispositivo legal em

apreço é norma de eficácia limitada, ou seja, depende de regulamentação e

integração por meio de norma infraconstitucional, no caso, lei complementar.

Apenas em 08 de maio de 2013, com a edição da Lei Complementar nº

142/2013, cuja regulamentação deu-se através do Decreto nº 8.154 de 03 de

dezembro de 2013 - que, por sua vez, alterou o Decreto nº 3.048/99 -, tal lacuna

legislativa foi preenchida.

O conceito de pessoa com deficiência está presente no em seu artigo 2o:

“LC 142/2013. Art 2. Para o reconhecimento do direito à aposentadoria de que

trata esta Lei Complementar, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.”

Lazzari116 destaca que tal texto é reprodução do art. 1o da Convenção de

Nova York e que igualmente está previsto no artigo 20, § 2º da Lei nº 8.742/1993, o

qual regular a concessão de benefício assistencial ao portador de deficiência e ao

idoso.

Exemplifica Damião117:

“A deficiência sensorial ocorre quando um ou mais dos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar) não funcionam total ou parcialmente, como a

114

Damião, Regina Toledo. Drumond, Sybelle Luzia Guimarães. A Efetivação do Direito à Aposentadoria Especial das Pessoas Portadoras de Deficiência. Conpedi Law Review. Vol. 1(5). 2016, pp. 8-28. 115

CF. Arigo 201. § 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar. 116

Lazzari, João Batista [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 6a ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 318. 117

Damião, Regina Toledo. Drumond, Sybelle Luzia Guimarães. A Efetivação do Direito à

Aposentadoria Especial das Pessoas Portadoras de Deficiência. Conpedi Law Review. Vol. 1(5). 2016, pp. 8-28.

Page 69: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

69

perda parcial da visão ou da audição. Por deficiência física, entende-se a alteração total ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano que compromete a função física. Alguns exemplos são a paralisia cerebral, amputação ou ausência de membro, tetraplegia, paraplegia, dentre outros. Deficiência mental ou intelectual é o retardo, um problema no cérebro humano que leva seus portadores a um baixo rendimento cognitivo, ou seja, redução da capacidade intelectual quando comparada ao padrão considerado normal para idade, como ocorre com portadores de síndrome de Down, autismo, entre outras anomalias da saúde mental.”

A LC nº 142/2013 estabeleceu três graus de deficiência para os segurados

portadores de deficiência: leve, moderada ou grave. Os requisitos de tempo de

contribuição para a concessão das aposentadorias pelo RGPS são,

respectivamente, para os segurados do sexo masculino, 25, 29 e 33 anos. Para as

seguradas do sexo feminino, os requisitos são diminuídos em cinco anos cada um,

ou seja, 20, 24 e 28 anos.

Já no caso das aposentadorias por idade, foi mantido o tempo mínimo de

quinze anos, mas reduzida a idade mínima em cinco anos para ambos os sexos.

Conforme disposto no artigo 70-B do Decreto nº 3.048/99, e por óbvio, o

tempo exigido deve ser cumprido na condição de pessoa com deficiência. Não

obstante, permite-se a conversão de entre tempo de contribuição comum e na

condição de portador de deficiência, assunto que já foi discutido no capítulo 2 desta

monografia.

Ainda, admite-se a contabilização de tempo de contribuição, na condição de

pessoa com deficiência, anterior à vigência da LC nº 142/2013, desde que

comprovada esta condição.

Em relação ao temível fator previdenciário, este somente incidirá para

beneficiar, ou seja, caso seu valor seja maior que um. Caso contrário, acabaria por

prejudicar o segurado que viesse a se aposentar mais cedo.

Para fins de concessão do benefício, o grau de deficiência, assim como a

data provável de seu início, será determinado através de perícia realizado pelo

próprio INSS.

A lei não define os critérios de enquadramentos nos diversos graus de

deficiência (leve, moderado e grave). No entanto, o § 4o do artigo 70-D do Decreto

nº 3.048/99 determina o seguinte:

“Decreto 3.048/99. Art. 70-D, § 4o. Ato conjunto do Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, dos Ministros de Estado da Previdência Social, da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Advogado-Geral da União definirá impedimento de longo prazo para os efeitos deste Decreto.”

Page 70: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

70

Tal ato conjunto, aponta Lazzari118, se materializa através da Portaria

Interministerial SDH/MPS/MF/MOG/AGU no. 1 de 27 de janeiro de 2014.

Sobre esta Portaria, opina Araújo119:

“Compete à perícia própria do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS aplicar esse instrumento de avalição médica e funcional, que é denominado de Índice de Funcionalidade Brasileiro, aplicado para fins de Classificação e Concessão da Aposentadoria da Pessoa com Deficiência – IF-BrA. Cuida-se, por conseguinte, de importante marco normativo no âmbito das políticas previdenciárias voltadas para as pessoas com deficiência, mediante o qual se efetiva o direito desses trabalhadores à aposentadoria com critérios diferenciados de tempo de contribuição e de idade.”

Acrescenta Damião120:

“Bom anotar, também, que a avaliação da funcionalidade da pessoa portadora de deficiência segue as normas da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Índice de Funcionalidade Brasileiro (IFBrA), aplicável para fins dessa aposentadoria especial. Não é ainda demais esclarecer que a tabela do CIF avalia o efeito da deficiência na limitação da atividade laboral para todas as modalidades, lembrando, física, sensorial e mental, levando-se em conta, também, sua participação, em todas relações sociais.”

Araújo121 explica o seguinte sobre o cálculo do IF-BrA:

“O IF-Br é composto por atividades que estão divididas em sete domínios, correspondentes àqueles que constam na CIF, quais sejam: i) sensorial; ii) comunicação; iii) mobilidade; iv) cuidados pessoais; v) vida doméstica; vi) educação, trabalho e vida econômica; vii) socialização e vida comunitária. Cada domínio tem um número variável de atividades, que totalizam 41. Por exemplo, no domínio sensorial, encontram-se as atividades de observar e de ouvir; e, no domínio comunicação, têm-se as atividades de comunicar-se/recepção de mensagens e comunicar-se/produção de mensagens. Cada uma dessas 41 atividades do instrumento é avaliada por uma escala de pontuação que considera a dependência dos sujeitos avaliados em relação a outras pessoas ou a produtos e tecnologias, sempre em comparação às demais pessoas no contexto em que o sujeito está inserido.”

118

Lazzari, João Batista [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 6a ed.

Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 318. 119

ARAÚJO, José Maurício Lindoso de; OLIVEIRA, Orion Sávio Santos de. Questionamentos

judiciais da vigência da Portaria Interministerial SDH/MPS/MF/MPOG/AGU nº 1, de 27 de janeiro de 2014 e suas implicações para a aposentadoria da pessoa com deficiência nos termos da Lei Complementar nº 142/2013. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5077, 26 maio 2017. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/57527>. Acesso em: 5 out. 2017. 120

Damião, Regina Toledo. Drumond, Sybelle Luzia Guimarães. A Efetivação do Direito à

Aposentadoria Especial das Pessoas Portadoras de Deficiência. Conpedi Law Review. Vol. 1(5). 2016, pp. 8-28. 121

ARAÚJO, José Maurício Lindoso de; OLIVEIRA, Orion Sávio Santos de. Questionamentos

judiciais da vigência da Portaria Interministerial SDH/MPS/MF/MPOG/AGU nº 1, de 27 de janeiro de 2014 e suas implicações para a aposentadoria da pessoa com deficiência nos termos da Lei Complementar nº 142/2013. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5077, 26 maio 2017. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/57527>. Acesso em: 5 out. 2017.

Page 71: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

71

Da avaliação do IF-BrA, conforme disposto na Portaria Interministerial,

resultará em uma pontuação, cujo valor varia de 2.050 a 8.200. Quanto menor, mais

grave é a deficiência:

Grau Pontuação

Leve Maior ou igual a 6.355 e menor ou igual a 7.584

Moderado Maior ou igual a 5.740 e menor ou igual a 6.354.

Grave Menor ou igual a 5.739.

Outro ponto de destaque é que o dispositivo normativo, em seu artigo 3o,

define impedimento de longo prazo como aquele “que produza efeitos de natureza

física, mental, intelectual ou sensorial, pelo prazo mínimo de 02 (dois) anos,

contados de forma ininterrupta.”.

5.3. Professor

A atividade de professor de magistério estava prevista no item 2.1.4 do

Decreto 53.831/64, classificada como penosa e com tempo de exposição máximo de

25 anos, sendo uma das ocupações passíveis de enquadramento por categoria

profissional, e, tal como qualquer outra, apta à conversão do tempo de contribuição

de especial para comum. No entanto, Castro122 aponta que a partir de 30 de junho

de 1981, com a publicação da EC nº 18/81, ela foi excluída do rol de categorias

profissionais, em razão da criação de regras específicas relativas a aposentadoria

especial do professor.

Esta emenda assegurou a concessão da aposentadoria após 30 anos de

exercício de magistério para os homens e 25 anos para as mulheres. Atualmente, a

matéria é disciplinada pelo artigo 201, § 8º da CF, o qual manteve os mesmos

requisitos temporais.

Desta forma, conversão de tempo de professor é admita apenas até aquela

data limite, tendo o STF solidificado tal entendimento no julgamento do ARE

122

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª

ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 755..

Page 72: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

72

703.550-RG, que teve repercussão geral reconhecida, o qual foi reafirmado no

julgamento dos Embargos de Declaração no Recurso Especial RE-ED 715765:

“Ementa. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EMBARGOS RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL DE MAGISTÉRIO EM TEMPO DE SERVIÇO COMUM, APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 18/1981. IMPOSSIBILIDADE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA NO ARE 703.550-RG. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA. 1. Os embargos de declaração opostos objetivando a reforma da decisão do relator, com caráter infringente, devem ser convertidos em agravo regimental, que é o recurso cabível, por força do princípio da fungibilidade. (Precedentes: Pet 4.837-ED, rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJ de 14/3/2011; Rcl 11.022-ED, rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJ de 7/4/2011; AI 547.827-ED, rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, DJ de 9/3/2011; RE 546.525-ED, rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, DJ de 5/4/2011). 2. A conversão de tempo de serviço especial prestado na atividade de magistério em tempo de serviço comum, após a Emenda Constitucional nº 18/1981, não é possível, nos termos da jurisprudência fixada pelo Plenário desta Corte no julgamento do ARE 703.550-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 21/10/2014. 3. In casu, o acórdão recorrido assentou: “TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. PROFESSOR. CONVERSÃO DO TEMPO ESPECIAL EM COMUM. POSSIBILIDADE. INCIDENTE PARCIALMENTE PROVIDO.” 4. Agravo regimental DESPROVIDO.”

Tal entendimento foi adotado no âmbito administrativo:

“IN INSS 77/2017. Art. 273. Inciso III. professor: a partir da Emenda Constitucional nº 18, de 30 de junho de 1981, não é permitida a conversão do tempo de exercício de magistério para qualquer espécie de benefício, exceto se o segurado implementou todas as condições até 29 de junho de 1981, considerando que a Emenda Constitucional retirou esta categoria profissional do quadro anexo ao Decretos nº 53.831, de 25 de março de 1964, para incluí-la em legislação especial e específica, que passou a ser regida por legislação própria;”

Divergentemente, Castro123 defende a tese que “admite a conversão do

tempo de contribuição de magistério em tempo comum até o advento da Lei no.

9.032/95...”. No entanto, não é o que prevalece atualmente.

Por outro lado, surgem questionamentos acerca da natureza jurídica da

aposentadoria do professor do ensino fundamental, infantil e médio. Seria ela

modalidade de aposentadoria especial e, por consequência, deveria ser afastada a

incidência do nefasto fator previdenciário?

123

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª

ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 755.

Page 73: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

73

Decerto, a Lei nº 9.876/99, que institui o fator previdenciário e trouxe outras

alterações a Lei 8.213/91, tentou amenizar o seu impacto, trazendo regra específica

para estes profissionais:

“Lei 8.213/91. Art. 29. § 9o. Para efeito da aplicação do fator previdenciário, ao

tempo de contribuição do segurado serão adicionados: II - cinco anos, quando se tratar de professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio; III - dez anos, quando se tratar de professora que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio."

Para a idade, não há acréscimo algum. No entanto, é óbvio que os

beneficiários deste tipo de aposentadoria serão mais jovens que a média dos

demais.

Podemos exemplificar o efeito negativo do fator previdenciário: uma

professora, que completou 25 anos de atividade de magistério aos 48 anos de

idade. Nas condições descritas, haverá redução de aproximadamente 46% na sua

renda mensal inicial, ou seja, quase metade. Observamos, então, que o tratamento

legislativo tem pouco efeito prático em atenuar os malefícios deste redutor para os

professores.

A jurisprudência tem sido vacilante sobre o tema, com mudanças de

posicionamento recentes. No julgamento na AC 50016665420104047112, o TRF da

4ª Região decidiu que, apesar de a Lei 8.213/91 não disciplinar a aposentadoria por

tempo de serviço do professor dentro da subseção que regula a aposentadoria

especial é razoável classificá-la como tal:

“EMENTA. PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO. APOSENTADORIA ESPECIAL DE PROFESSOR. APURAÇÃO DA RENDA MENSAL INICIAL. FATOR PREVIDENCIÁRIO. APLICABILIDADE CONDICIONADA À POSIÇÃO JURÍDICA MAIS FAVORÁVEL AO SEGURADO. 1. Considerando que a aplicação do fator previdenciário tem por escopo desestimular aposentadorias precoces, a sua aplicação, de forma indistinta, ao cálculo da aposentadoria dos professores, acarreta o esvaziamento da norma que busca valorizar o exercício das funções de magistério, mediante a garantia de aposentadoria a partir de critérios diferenciados. 2. Nos casos de aposentadoria do professor com tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, a aplicação do fator previdenciário somente é possível quando se mostrar mais benéfica ao segurado. 3. Recurso provido.”

Até 2014, o Superior Tribunal de Justiça, reconhecendo como especial a

aposentadoria de professor e enquadrando-a na forma do art. 29, II, da Lei nº

Page 74: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

74

8.213/91, vem decidindo pela exclusão da incidência do fator previdenciário no

cálculo da RMI dessa espécie de aposentadoria. Precedentes AGRESP

201100953032:

“4. Dessa forma, restando comprovado que a parte autora cumpriu funções de magistério por mais de 25 anos, não deve sobre ela incidir a aplicação do fator previdenciário, como redutor, no cálculo do benefício (aposentadoria por tempo de serviço de professor, espécie 57 - id. 4058306.784626), devendo ser implantada nova renda mensal inicial, com o pagamento das diferenças apuradas, a partir do requerimento administrativo.”

O posicionamento da TNU igualmente era favorável a não incidência

(PEDILEF 05044507620144058401).

No entanto, em 2015 a Corte Superior decidiu no EAARES 201402730687:

“Ementa. PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. FATOR PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE DE PROFESSOR. OMISSÃO SANADA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS PARA SANAR OMISSÃO SEM EFEITO MODIFICATIVO. 1. A parte autora, ora embargante, neste momento em sede de embargos de declaração, aduz que a aposentadoria do professor é equiparada à aposentadoria especial, a qual afasta a incidência do fator previdenciário. 2. No caso específico, a segurada exerceu atividades de magistério no período de setembro de 1994 a novembro de 2010. 3. A contagem ponderada do tempo de magistério, para fins de obtenção de aposentadoria por tempo de serviço comum, não encontra óbice, uma vez que a atividade era considerada penosa pelo Decreto 53.831/1964, cuja observância foi determinada pelo Decreto 611/1992. Precedentes. 4. Incide o fator previdenciário no cálculo do salário de benefício da aposentadoria por tempo de serviço de professor quando a segurada não tiver tempo suficiente para a concessão do benefício anteriormente à edição da Lei 9.876, de 1999, como no presente caso, conforme asseverado pelo Tribunal a quo. 5. Embargos de declaração acolhidos para sanar omissão sem efeito modificativo.”

A TNU alterou seu entendimento para refletir a mudança do STJ. Desta

forma, o posicionamento atual da TNU é contrário. No julgamento do PEDILEF

05044411720144058401 assim decidiu:

“PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR. FATOR PREVIDENCIÁRIO. INCIDÊNCIA, SALVO QUANDO O SEGURADO CUMPRIU OS REQUISITOS PARA APOSENTAÇÃO ANTERIORMENTE À EDIÇÃO DA LEI N. 9.876/99. PRECEDENTES DO STJ. ENTENDIMENTO FIRMADO POR MEIO DE REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. QUESTÃO DE ORDEM N. 13/TNU. INCIDENTE NÃO CONHECIDO. -Em face de todo o exposto, ressalvado o posicionamento pessoal deste relator, DEIXO DE CONHECER do Incidente de Uniformização em razão do novo posicionamento desta Corte, no sentido de que incide o fator previdenciário na aposentadoria por tempo de serviço do professor quando o segurado não possuir tempo suficiente para concessão do benefício anteriormente à edição da Lei n. 9.876/99 (que introduziu o Fator Previdenciário).”

Page 75: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

75

Este é que prevalece atualmente.

No entanto, como vimos para os casos de aposentadoria especial e de

aposentadoria especial do portador de deficiência, quando o legislador concede o

benefício de antecipação da aposentadoria, através da redução do tempo mínimo

exigido, igualmente concede a prerrogativa de afastar a incidência do fator

previdenciário. Tal decisão justifica-se, pois, mesmo com o benefício de

aposentação prematura, seria o segurado prejudicado no valor do benefício, uma

vez que, em razão da pouca idade, com certeza o fator previdenciário iria reduzir

consideravelmente a renda mensal inicial da aposentadoria. Desta forma,

entendemos que o mesmo deve aplicar ao professor.

Neste sentido, Medeiros124 defende que “a aplicação do fator previdenciário

no cálculo da aposentadoria diferenciada do professor viola o artigo 201, §8º da

Constituição Federal de 1988, desembocando no fenômeno da

inconstitucionalidade.” A autora justifica o seu entendimento:

“Com isso, observa-se que, na prática, a incidência do fator previdenciário no cálculo da aposentadoria do professor do ensino básico esvazia a previsão constitucional que assegura o direito de jubilação com requisitos diferenciados. Isso porque, ou o professor aguardará mais tempo para se livrar dos efeitos deletérios do fator previdenciário, desnaturando a antecipação prevista na Constituição, ou terá que aceitar a redução drástica da renda mensal do benefício – fato, inquestionavelmente, não desejado pelo constituinte.”

Acreditamos que tal tese pode servir como base para obter a mudança de

jurisprudência, buscando o enfoque constitucional a fim de se distanciar das causas

já julgadas improcedentes.

124

Medeiros, Ivana Souto de. Aposentadoria do Professor do Ensino Básico no Regime Geral de

Previdência Social: Inconstitucionalidade da Incidência do Fator Previdenciário no Cálculo do Benefício. Revista da Defensoria Pública da União. n. 7. Brasília, jan/dez. 2014, p. 263-290.

Page 76: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

76

CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo analisar a aposentadoria especial, o

enquadramento de atividades especiais, o instituto da conversão do tempo de

contribuição e o impacto na renda mensal dos benefícios, no regime geral de

previdência social brasileiro, à luz da legislação passada e vigente e da

jurisprudência.

Instituída em 26 de agosto 1960 através da lei 3.807, e atualmente com

previsão Constitucional no artigo 201, trata-se de espécie de aposentadoria por

tempo de contribuição devida ao segurado que tiver trabalhado durante toda a

jornada de trabalho em locais considerados nocivos à sua saúde ou à sua

integridade física ou mental, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco)

anos, um verdadeiro mecanismo de proteção à saúde e segurança do trabalhador.

Vimos que tal mecanismo pode ser encarado tanto como medida isonômica

e protetiva, garantindo a redução do tempo de exposição do segurado aos agentes

nocivos, de modo que seja retirado do ambiente insalubre antes do

comprometimento de sua saúde, como medida compensatória, garantido aos

beneficiários retribuição pelo exercício de atividade nociva.

Apresentamos o histórico da aposentadoria especial, sua evolução e

alterações legislativas ao longo do tempo, mudanças estas que alteraram de forma

substancial os requisitos para concessão do benefício e para comprovação e

enquadramento das atividades especiais. No entanto, o direito ao reconhecimento

de trabalho especial rege-se pela legislação vigente na época da prestação do labor,

de modo que a compreensão do tema exige não apenas conhecimento das normas

em vigência, mas do histórico legislativo. Portanto, mesmo com a reforma da

previdência que se aproxima, os temas aqui abordados continuaram relevantes.

Estudamos também os diversos critérios e requisitos para o reconhecimento

das atividades especiais, descrevendo como a dogmática jurídica trata a questão.

De suma importância no sistema previdenciário, o benefício mostra-se como

um dos mais complexos, com profunda divergência na forma com a doutrina e a

jurisprudência tratam o tema e, por este motivo, objetivo de várias lides judiciais.

Desta forma, apesar de não terem sido tratados todos os aspectos possíveis,

esperamos que o presente estudo tenha-se justificado, e que o aprofundamento das

Page 77: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

77

questões aqui tratadas proporcione uma atuação mais qualificada e segura para os

profissionais que atuam área, sejam eles do ramo do direito ou não, garantido aos

segurados a melhor orientação possível e solução mais satisfatória aos problemas

relativos à concessão/revisão de seus benefícios.

Page 78: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

78

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, José Maurício Lindoso de; OLIVEIRA, Orion Sávio Santos de. Questionamentos judiciais da vigência da Portaria Interministerial SDH/MPS/MF/MPOG/AGU nº 1, de 27 de janeiro de 2014 e suas implicações para a aposentadoria da pessoa com deficiência nos termos da Lei Complementar nº 142/2013. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5077, 26 maio 2017. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/57527>. Acesso em: 5 out. 2017. Arruda, Ricardo Fatore. Aposentadoria especial. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5171, 28 ago. 2017. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/60018>. Acesso em: 19 set. 2017. Carbinatto, Edelton. A utilização de equipamento de proteção individual (EPI) eficaz pode elidir a especialidade do tempo de serviço. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 4104, 26 set. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/30601>. Acesso em: 21 set. 2017. Cardoso, Luiza Nunes. I Seminário sobre Aposentadoria Especial como Instrumento de Proteção à Segurança e Saúde do Trabalhador-Conferências proferidas. Ebook. http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2011/10/i-seminario-sobre-aposentadoria-especial-como-instrumento-de-protecao-a-seguranca-e-saude. Acesso em: 20 set. 2017. Cargnin, Marcia Casaril Dos Santos Cargnin et al. Fumicultura: uso de equipamento de proteção individual e intoxicação por agrotóxico. Revista de Pesquisa : Cuidado é Fundamental Online, 01 April 2017, Vol.9(2), pp.466-472. Castro, Carlos Alberto Pereira de, Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. Damião, Regina Toledo. Drumond, Sybelle Luzia Guimarães. A Efetivação do Direito à Aposentadoria Especial das Pessoas Portadoras de Deficiência. Conpedi Law Review. Vol. 1(5). 2016, pp. 8-28. Gonçalves, Oskandro Osdivel, Floriani Neto, Antonio Bazilio. Os Novos Contornos Conferidos à Aposentadoria Especial pelo Supremo Tribunal Federal: o julgamento da ARE N. 664.335 sob a Perspectiva da Análise Econômica do Direito. Espaço Jurídico Journal of Law. v. 16. n. 2, Joaçaba, 2015, pp. 579-600. Ibrahim, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16a ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011. Kertzman, Ivan. Curso prático de direito previdenciário. 14ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2016. Landenthin, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria especial: teoria e prática. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2014.

Page 79: FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · 1 Castro, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p. 733. 2 Landenthin,

79

Lazzari, João Batista [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 6a ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. Medeiros, Ivana Souto de. Aposentadoria do Professor do Ensino Básico no Regime Geral de Previdência Social: Inconstitucionalidade da Incidência do Fator Previdenciário no Cálculo do Benefício. Revista da Defensoria Pública da União. n. 7. Brasília, jan/dez. 2014, p. 263-290. Ministério do Trabalho e Emprego [et al]. Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho. Brasília, 2008. E-Book. http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2015/08/AEAT-2008.pdf. Acesso em: 19 set. 2017.

Ministério do Trabalho e Emprego [et al]. Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho. Brasília, 2014. E-Book. ftp://ftp.mtps.gov.br/portal/acesso-a-informacao/AEAT201418.05.pdf. Acesso em: 19 set. 2017. Portela, Felipe Mêmolo. Aposentadoria Especial. São Paulo, 2014. E-book. RODRIGUES, Romildo. A atividade de vigilante e a aposentadoria especial. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 3878, 12 fev. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/26695>. Acesso em: 3 out. 2017. Savaris, José Antônio (coord.). Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed. Curitiba: Alteridade Editora, 2015. WEBER, Aline Machado. A conversão de tempo comum em especial: mais uma controvérsia entre STJ e TNU. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4749, 2 jul. 2016. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/35128>. Acesso em: 19 set. 2017. WEBER, Aline Machado. Consequências previdenciárias do trabalho do marítimo embarcado: o ano marítimo e a aposentadoria especial. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n. 3829, 25 dez. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/26226>. Acesso em: 20 set. 2017. WEBER, Aline Machado. Notas sobre a aposentadoria “especial” do professor. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20,n. 4496, 23 out. 2015. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/35139>. Acesso em: 4 out. 2017.