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FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO DA UNESP/TUPÃ E
COMUNIDADES TRADICIONAIS AMAZÔNICAS: RELATO DE AÇÃO
PELA MISSÃO AMAZÔNIA 2015 E SEUS DESDOBRAMENTOS
MORAES, Nelson Russo de1
LIMA, Anderson Rodolfo de2
GAMBA, Fabio Brega3
Eixo Temático: Universidade, sociedade e políticas públicas
RESUMO
A dialogicidade com os mais variados atores e a sua proximidade do campo de políticas
públicas faz com que a "gestão social" fortaleça o ensino, a pesquisa e a extensão em qualquer
área da formação humana. Na Administração provoca a reflexão sobre a origem, o modo de
sustentação e os impactos do modo de produção vigente. Na UNESP Tupã, a "gestão social"
foi tomada como tema transversal de trabalhos em diversas disciplinas e se expressou de
maneira prática na estruturação de um grupo de estudos denominado "Grupo de Estudos em
Democracia e Gestão Social", que abarca ações de pesquisa e extensão universitária
(especialmente nas áreas de transparência pública, terceiro setor e comunidades tradicionais).
Em 2015, com recursos captados junto ao CNPq foi realizada a 1ª MISSÃO AMAZÔNIA,
que levou universitários e um docente à aproximação com povos tradicionais amazônicos em
uma ação que resultou no resgate da história oral de um povo para que pudessem ser
reconhecidos como Comunidade Tradicional.
Palavras-Chave: Gestão Social, Universidade, Comunidades Tradicionais, Amazônia.
1 INTRODUÇÃO
A contemporaneidade reservou demandas extremamente complexas à humanidade, de
modo a fazê-la buscar por uma mais plena formação de seus profissionais. Para além dos 1 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”/Tupã. Doutor. [email protected] 2 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”/Tupã. Mestrando. [email protected] 3 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”/Tupã. Especialista. [email protected]
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impactos diretos ou reflexos indiretos de fenômenos como a globalização, a rede mundial de
computadores/internet e o surgimento de novos modelos organizacionais, a compreensão dos
problemas sociais e a promoção do desenvolvimento social ambientalmente sustentável
impelem ao enfrentamento multiprofissional e interdisciplinar de demandas, muitas vezes
bastante complexas (MORAES et al, 2015a).
A priorização de perspectivas dialógicas pela teoria crítica frankfurtiana estabelece
como caminho essencial ao desenvolvimento, seja ao nível intra organizacional ou em
sociedades maiores e mais complexas, a aproximação e a análise do contexto envolvente a
cada decisão ou fato social, conforme a tradição marxista.
Dentre os diversos campos formativos delineados pela divisão sociotécnica do
trabalho e legitimados pelas diversas legislações brasileiras, a administração é uma das
profissões que sofreram maiores alterações pela reorganização das demandas planetárias, se
ajustando entre as novas tecnologias e a formação de novos mercados globalizados e
competitivos (PORTO JÚNIOR et al, 2015).
Por outro lado, ao passo e ao tempo em que novos olhares multiculturais
internacionais são lançados para fora do país em busca de novos horizontes, sejam de capitais
ou de demandas globais, também são derrubados velhos paradigmas da administração,
exigindo-se maior envolvimento com a sociedade na qual está inserida.
A administração, como profissão, como ciência e como arte se reinventa na busca de
profissionais que possibilitem maior equilíbrio entre as organizações e a sociedade em sua
relação produção e demanda, seja na perspectiva da gestão social ou na perspectiva da gestão
estratégica. Sobre isso, Tenório (2005) destaca que:
Gestão social contrapõe-se à gestão estratégica à medida que tenta substituir a gestão tecnoburocrática, monológica, por um gerenciamento mais participativo, dialógico, no qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes sujeitos sociais. E uma ação dialógica desenvolve-se segundo os pressupostos do agir comunicativo habbermasiano (TENÓRIO, 2005, p. 120).
A nova administração pautada sobre princípios de governança, ética e
responsabilidade social exige da universidade a formação de profissionais, que para além de
habilidades, desenvolvam competências que sustentem a resolução de diversos níveis de
problemas, o que coaduna com a busca do perfil do gestor social, que conforme Fischer,
Roesch e Melo (2006, p.22) é “um mediador multiqualificado, situando-se em um contínuo
que vai da capacidade de dar respostas eficazes e eficientes às situações cotidianas à
capacidade de enfrentar problemas de alta complexidade”.
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No Curso de Administração da Faculdade de Ciências e Engenharia/Câmpus de Tupã
da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, foi articulado e implantado em
2014, o Grupo de Estudos em Democracia e Gestão Social – GEDGS, que dentre suas ações
desenvolve pesquisas e extensão na área de desenvolvimento de comunidades tradicionais.
Neste sentido, delineando-se como campo de análise ex-post, foi realizada a Missão
Amazônia 2015 contando com a participação de três universitários e um docente da UNESP
em uma visita técnica de seis dias a algumas comunidades tradicionais amazônicas. Nesta
comunicação científica, responder-se-á à problematização “qual a principal repercussão social
da Missão Amazônia 2015?”.
Para as atividades universitárias tanto de pesquisa como de extensão, na Missão
Amazônia 2015, foram realizadas ações em três comunidades tradicionais: Comunidade de
Remanescentes de Garimpo de Cristais de Pequizeiro (Pequizeiro/TO), Comunidade de
Geraizeiros do Povoado Matinha (Guaraí/TO) e a Comunidade de Pescadores do Povoado do
Senhor do Bonfim (Araguacema/TO), sendo os trabalhos desenvolvidos nesta última
comunicados neste artigo científico.
2 MISSÃO AMAZÔNIA 2015: APROXIMAÇÕES
2.1 O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNESP E A QUEBRA DE PARADIGMAS
O Curso de Administração do Câmpus de Tupã foi instalado em 18 de agosto de 2003
junto com a inauguração da Unesp Tupã, que foi concebida a partir do ofício nº 512/02 que
previa a criação de novas unidades e a implantação de novos cursos em Campi já existentes
da UNESP no estado de São Paulo. O curso gradativamente estruturou suas disciplinas, sendo
marcado pela modalidade em Agronegócio, tendo seu ato de reconhecimento na portaria
CEE/GP n° 436, de 29/10/2003, publicada no diário oficial de 30/10/2003, devidamente
amparado pela RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2005 que instituiu as Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração. (BRASIL, 2005)
Neste cenário o curso foi moldando a sua identidade, e nesta construção a Gestão
Social contribuiu para a formação de profissionais protagonistas e atuantes no espaço social,
por meio da criação do Grupo de Estudos em Democracia e Gestão Social – GEDGS.
O GEDGS é um grupo de estudos que tem por finalidade promover pesquisa e
extensão alinhados, dentre outros, pelos temas "Democracia", "Gestão Social", "Terceiro
Setor" e “Comunidades Tradicionais”. Para que suas ações sejam exitosas, mantém parcerias
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com diversas universidades, associações e órgãos públicos, dialogando com as comunidades
locais e sociedade planetária acerca de suas demandas e prioridades.
Com sede na Faculdade de Ciências e Engenharia da UNESP (Câmpus de Tupã), o
grupo foi criado em abril de 2014, sendo certificado pela UNESP no dia 21 de julho de 2014.
Tendo sido registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do Ministério da Ciência e
Tecnologia/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ se
propôs a desenvolver ações de ensino por meio de reuniões semanais e a extensão por meio da
criação do Observatório de Democracia e Gestão Social que desenvolve o mapeamento das
organizações do terceiro setor do município de Tupã/SP. O Observatório também realiza
assessoria administrativa gratuita às organizações sociais da região, apoia o desenvolvimento
sustentável de comunidades tradicionais brasileiras e ainda monitora a transparência das
prefeituras municipais brasileiras.
Com recursos captados junto ao CNPq, à Reitoria da UNESP e à associação Social
Desenvolvimento Humano e Comunitário, bem com parcerias com outras universidades
(Universidade Federal do Tocantins e Instituto Federal do Tocantins), o GEDGS realizou a
primeira missão Amazônia em outubro de 2015, com o objetivo de promover a gestão social
nas comunidades tradicionais amazônicas, visando preencher esta lacuna de estudos e
pesquisas nestas comunidades, buscando o fortalecimento e desenvolvimento destes grupos.
Neste cenário, de pesquisa e extensão, o GEDGS consolida-se como um grupo onde a
“gestão social” tem espaço de aplicação de conceitos, de comunicação com a comunidade e
de busca de solução para diversos problemas da sociedade ou em outras palavras como espaço
democrático, interinstitucional de práticas interdisciplinares de ensino, pesquisa e extensão.
2.2 AS COMUNIDADES AMAZÔNICAS: AMOSTRAS DE IMENSAS DEMANDAS
A Amazônia é uma área territorial de dimensões gigantescas, sobre a qual sempre
pairou o pensamento de ser uma localidade demograficamente vazia que deveria ser habitada
por pessoas do restante do país, sem se levar em conta as populações que ali residiam, e
formada, em sua grande maioria, por caboclos, seringueiros, ribeirinhos, pescadores, índios,
quilombolas, camponeses, etc. (CAÑETE e RAVENA-CAÑETE, 2010).
Ainda, segundo o mesmo autor, pelo fato da região ser composta por diversos tipos de
solos, esta área se torna um mosaico, que quando consideramos os ciclos da natureza e que
estes solos fazem parte destes ciclos, entendemos que este mosaico amazônico não está
somente relacionado a este elemento, mas de toda a diversidade encontrada naquela região,
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seja ela biológica, ambiental e principalmente social, pois este ecossistema, o amazônico é
exemplo da integração e interação da população que ali reside com a natureza.
Há centenas de milhares de anos, povos diversos foram sendo constituídos e
miscigenados formando a população amazônica, com destaque para as populações indígenas,
colonizadores (religiosos, bandeirantes e os indigenistas) e migrantes contemporâneos.
A composição da sociedade amazônica passou por um processo de formação
decorrente da miscigenação entre diferentes grupos étnicos, dentre eles os portugueses,
negros, ameríndios (povos indígenas da América antes da chegada dos europeus) e
mamelucos. Os dois últimos grupos, ameríndios e mamelucos, foram utilizados por longo
período pelos seus potenciais no extrativismo. A utilização destes grupos se deu desde o
contato inicial dos povos europeus na região Amazônica durante a conquista, povoamento e
colonização da Amazônia (MACHADO, 2010). O autor ainda descreve que, o potencial
extrativo de ameríndios e mamelucos foi aproveitado pelas bandeiras fluviais, as missões
religiosas, os assentamentos de fortificações militares, os núcleos agrícolas e pecuários, o que
propiciou a consolidação da conquista do espaço geográfico, até o retorno da atividade
extrativa da floresta, quando da exploração e produção da borracha.
A partir da presença destes grupos étnicos e suas atividades econômicas, no ambiente
amazônico, dá-se origem a uma estrutura sociocultural peculiar àquela região, resultado da
movimentação e sedimentação dos grupos e seus empreendimentos, no processo de conquista
e colonização do território amazônico (MACHADO, 2010).
As comunidades tradicionais amazônicas, à margem da instituição do Decreto 6040
(2007), vivem com diversas dificuldades, que partem da própria identificação e
reconhecimento de seu povo como tradicional, pois de acordo com a própria conceituação,
proposta e desenvolvida pelas ciências sociais e que acaba sendo incorporado ao ordenamento
jurídico, o conceito de população tradicional acaba sendo compreendido somente quando há
uma relação entre a interface de biodiversidade e sociodiversidade (LINHARES, 2009).
Ressalta ainda que, o debate acerca do assunto ultrapassa os limites da academia conforme há
uma implicação de presença ou ausência da cobertura jurídica.
Situado na margem direita do rio Piranhas, afluente direto do rio Araguaia, o Povoado
do Senhor do Bonfim (uma típica Comunidade Tradicional de Pescadores), fica a 40 km da
sede municipal de Araguacema/TO, polo turístico de destaque Estadual e Nacional, por estar
às margens do rio Araguaia e por sua beleza paisagística, principalmente no período de
diminuição do volume de água deste rio, quando belas praias se formam devido a este fato
(LOPES, 2007). Situado no vale do médio rio Araguaia, na divisa de estados entre o
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Tocantins e o Pará, suas principais vias de acesso são pelas águas do rio Piranhas e pela
rodovia estadual TO 436. Possui aproximadamente 60 famílias que vivem, em sua maioria,
em casas feitas de adobe (casas típicas da região, feitas com barro amassado e cobertas de
palhas de babaçu, uma palmácea local). Seus moradores possuem origem, principalmente,
dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia. Além destes originários, inclui-se a população
ribeirinha que utilizava, e ainda utiliza o rio como estrada.
O povoado é conhecido regionalmente devido a Romaria do Senhor do Bonfim, que
surgiu devido à migração de nordestinos para as “Bandeiras Verdes” - elemento simbólico
presente no imaginário de parte do campesinato nordestino, que migrou para Amazônia entre
a última década do final do século XIX e a década de 1950 do século XX (DE CARVALHO,
2014). De acordo com Lopes (2007), as homenagens ao Senhor do Bonfim, no município de
Araguacema, iniciaram por volta de 1932, com a achegada de uma família vinda do
Maranhão, em poder da imagem do Santo que deu origem ao nome do povoado. Esta imagem
foi encontrada por uma família quando esta fugia dos conflitos ocasionados pela Balaiada,
entre os anos de 1838 e 1841. Porém, foi a partir das décadas de 70 e 80, quando houve na
região um processo de ocupação mais intenso que a festividade foi ganhando popularidade e
devotos do santo (LOPES, 2007). Salienta-se o fato de que a imagem pertencer, até os dias
atuais, à mesma família que a encontrou, estando hoje na quarta geração dos guardadores do
santo, e isto provoca uma relação conflituosa entre a igreja católica e a família, proprietária da
imagem, pelo controle da festa (LOPES, 2007).
Segundo Lopes (2007), dois pontos são considerados importantes e que contribuíram
para a ocupação daquela região e crescimento da romaria religiosa: a criação da
Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) que objetivava ocupar a
região com a implantação de grandes projetos agropecuários e a descoberta de ouro, primeiro
em Serra Pelada, e depois em localidades próximas ao vilarejo. Conforme De Carvalho
(2014), o que permitiu o surgimento e ampliação do povoado, foi o fato deste local ser um
centro de peregrinação.
Apesar do local não existir muitas alternativas de ocupação, por parte dos moradores,
uma parte destes consideram-se lavradores, onde “tocam roças” de subsistência. Porém, a
grande maioria dos moradores vive dos rendimentos gerados em função da romaria (LOPES,
2007), quando aproveitam o espaço de suas casas para alugarem aos fiéis e até mesmo os seus
quintais que se tornam áreas de camping, tendo em vista, que durante o período de festejo, o
local recebe milhares de pessoas durante aproximadamente 15 dias.
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Outra atividade praticada por parte dos comunitários é a pesca artesanal que, é aquela
onde o pescador tem uma participação, direta ou indireta, no processo de captura do pescado,
utilizando instrumentos relativamente simples e a praticam sozinhos, em regime de economia
familiar ou em regimes de parcerias com outros pescadores, tirando desta atividade sua renda
principal (RAMIRES et. al., 2012a e 2012b e SILVA et. al., 2007).
Os pescadores do Povoado Senhor do Bonfim, estão associados à Colônia de
Pescadores de Araguacema (Z-5), que possui, dentro do Estado do Tocantins, uma das
colônias de pesca considerada de grande organização (NETO et. al., 2005). Conforme a
descrição do autor, a posição do município de Araguacema, em relação ao Rio Araguaia, é
favorecida pela quantidade de cursos d’agua em suas proximidades, e tal fato favorece a uma
elevada diversidade de organismos aquáticos que contribuem para a manutenção da atividade
e geração de renda durante praticamente o ano todo (NETO et. al., 2005).
Além da captura exclusiva do pescado, outro organismo aquático bastante apreciado
na região Amazônica, e também no município de Araguacema, são os quelônios, em especial
tartaruga da Amazônia (Podocnemis expansa) e Tracajá (Podocnemis unifilis). Quelônios é
nome dado ao grupo específico de animais que faz parte da classe dos répteis e seus
representantes mais conhecidos, popularmente, são as tartarugas (incluindo as marinhas e as
de água doce), os cágados, os jabutis e os tracajás (ATAÍDES et. al., 2010).
Historicamente, os quelônios têm desempenhado um papel importante como recurso
natural, sendo os índios os primeiros a consumirem sua carne, ovos, gordura e vísceras. Logo
este costume estendeu-se às populações ribeirinhas da Amazônia, tornando-se um hábito
alimentar que se segue há muitas gerações, sendo, portanto, importante recurso da fauna para
estas populações (KLOSOVSKI, 2003; PANTOJA-LIMA et. al., 2009; SALERA JUNIOR,
et. al., 2009; ARAUJO, 2011; MOREIRA et. al., 2014 e EISEMBERG et. al., 2015). Pela
variedade de produtos extraídos desses animais, a utilização de quelônios tomou proporções
de comércio potencial e lucrativo, e por serem sensíveis às modificações ambientais causadas
pelo homem, são animais que podem, constantemente, figurar listas de espécies ameaçadas de
extinção (KLOSOVSKI, 2003).
3 DESENVOLVIMENTO
A primeira Missão Amazônica foi realizada em outubro de 2015, saindo de Tupã no
estado de São Paulo, em destino ao Estado do Tocantins e do Pará. A missão tinha como foco,
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aproximar a universidade, dos povos tradicionais amazônicos, esta sendo caracterizada como
uma pesquisa descritiva e exploratória.
Foram visitadas as comunidades tradicionais: Comunidade de Remanescentes de
Garimpo de Cristais de Pequizeiro (Pequizeiro/TO), Comunidade de Geraizeiros do Povoado
Matinha (Guaraí/TO) e a Comunidade de Pescadores do Povoado do Senhor do Bonfim
(Araguacema/TO).
Na Comunidade de Pescadores do Povoado do Senhor do Bonfim foi observado à
premência do resgate histórico da formação da comunidade de modo que esta não se esvaneça
com o passar das gerações. Paralelamente se atentou para a importância de que esta
comunidade pudesse ser reconhecida como Comunidade Tradicional, por meio da composição
de documentos científicos legítimos.
Por suas características, a comunidade do Povoado do Senhor do Bonfim se enquadra
como “comunidade tradicional” no Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que instituiu
a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais e
que assegura o fortalecimento e garantia de seus diretos territoriais, sociais, ambientais,
econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de
organização e suas instituições. (BRASIL, 2007)
O reconhecimento de comunidade tradicional poderá trazer maior força para a
articulação com as esferas do governo, políticas públicas relacionadas aos direitos dos Povos
e Comunidades Tradicionais. Paralelamente a relevância deste trabalho se faz presente
na preservação dos direitos culturais e a memória cultural dos pescadores. (BRASIL, 2007)
Com o objetivo de fazer o levantamento histórico, foi utilizado como linha
metodológica a o Resgate da História Oral que se justifica na possibilidade de sistematização
dos fatos por meio de entrevistas permitindo a manifestação de indivíduos que não possuem
ou não tem os meios para se manifestarem diante das injustiças praticadas pela sociedade.
(PORTELLI, 1997)
Com o intuito de fazer a genealogia da comunidade, foi utilizado a etnografia que se
baseia em experiência pessoal e em participação, que envolve três formas de recolher dados:
entrevistas, observação e documentos, os quais, originam a descrição narrativa, que por meio
de gráficos e diagramas contam a história. (SOUZA, 2000)
As informações levantadas possibilitaram a criação da árvore genealógica das
primeiras famílias que chegaram à comunidade e a descrição de três gerações posteriores aos
pioneiros, apontando quando os membros de famílias diferentes se uniam em novas células
familiares, gerando a mistura das mesmas.
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A coleta de dados foi realizada em três dias na comunidade, tendo reunido algumas
famílias na igreja local para uma reunião comunitária de apresentação das pessoas e da
proposta, validando as informações fornecidas pelos indivíduos, o que permitiu a construção
da pesquisa estruturada na memória cultural e na dialogicidade dos seus membros.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os desdobramentos da Missão Amazônia aponta a necessidade do fortalecimento da
aproximação da universidade com povos tradicionais, considerando-se que a universidade não
se omite – e nem poderia o fazer – em sua participação nos debates sobre a cunhagem de
termos e as perspectivas de aplicação transversal de politicas públicas. Expõe que as
responsabilidades de buscas de soluções para os problemas não se limitam à região onde se
inserem os fenômenos, mas sim reverberam por toda sociedade.
As famílias da Comunidade Tradicional (de pescadores) do Povoado Senhor do
Bonfim (Araguacema/TO) continuam vivendo da pesca, do artesanato e de pequenos roçados,
assim como vai experimentando a aproximação (e mesmo o ingresso em seu território, como
moradores definitivos) de pessoas vindas de longe com vistas a exploração de negócios dada a
romaria religiosa anual ou mesmo de pescadores não tradicionais. Contudo, o mapeamento de
de 12 famílias tradicionais, com a delimitação nominal de seus descendentes e a publicação
deste trabalho contribui significativamente para a preservação da memória e para a
instrumentalização da condição cidadã desta comunidade tradicional brasileira.
REFERÊNCIAS
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