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FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSO GESTÃO E TECNOLOGIA INDUSTRIAL ALEXANDRE CESTARI DE BRITO GERENCIAMENTO DA COMUNICAÇÃO EM TIMES VIRTUAIS: FERRAMENTAS E PRÁTICAS Salvador 2011

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FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC

PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSO

GESTÃO E TECNOLOGIA INDUSTRIAL

ALEXANDRE CESTARI DE BRITO

GERENCIAMENTO DA COMUNICAÇÃO EM TIMES VIRTUAIS:

FERRAMENTAS E PRÁTICAS

Salvador

2011

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ALEXANDRE CESTARI DE BRITO

GERENCIAMENTO DA COMUNICAÇÃO EM TIMES VIRTUAIS:

FERRAMENTAS E PRÁTICAS

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu da Faculdade Tecnologia SENAI

CIMATEC como requisito parcial para a obtenção do título de

Mestre em Gestão e Tecnologia Industrial.

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Goes Oliveira

Co-Orientador: Prof. Dr. Cristiano Vasconcellos Ferreira

Profa. Dra. Liliane de Queiroz Antonio

Salvador

2011

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Ficha catalográfica

B862g

Brito, Alexandre Cestari de.

Gerenciamento da comunicação em times virtuais: ferramentas

e práticas. / Alexandre Cestari de Brito. 2011.

180f.; il.; color.

Orientador: Profº Drº. Sérgio Góes Oliveira.

Dissertação - Faculdade de Tecnologia Senai-CIMATEC,

Mestrado em Gestão e Tecnologia Industrial , 2011.

1. Gerenciamento da comunicação. 2. Times virtuais. 3.

Times globais. 4. Gerenciamento de projeto. 5.

Desenvolvimento de produto. I. Faculdade de Tecnologia Senai-

CIMATEC. II. Oliveira, Sérgio Góes. III. Título.

CDD: 658.404

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ALEXANDRE CESTARI DE BRITO

GERENCIAMENTO DA COMUNICAÇÃO EM TIMES VIRTUAIS: ferramentas

e práticas

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em

Gestão e Tecnologia Industrial, Faculdade de Tecnologia SENAI Cimatec.

Aprovada em 08 de julho de 2011.

Banca Examinadora

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Ricardo Goes Oliveira

Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de

São Paulo pela Fundação Getúlio Vargas, São Paulo.

Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC

Co-orientadora: Profa. Dra. Liliane Queiroz Antônio

Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC

Membro interno: Prof. Dr. Francisco Uchoa

Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo

Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC

Membro externo: Prof. Dr. Adriano Leal Bruni

Doutor em Administração pela FEA / USP

Universidade Federal da Bahia

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Dedico este trabalho a Aline, mãe, pai e Tais.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me suportaram nessa longa jornada.

Agradeço à Aline pela paciência e contribuição nesses longos meses de escrita.

Aos meus orientadores Sérgio Góes, Cristiano Ferreira e Liliane Queiroz, que me deram

suporte e luz nessa caminhada acadêmica.

Agradeço aos meus colegas Márcio Alfonso, Milton Lubraico, Nahuel Osanai, Alex

Arenzana, Rafael Croppo, Carina Tronco, Verônica Lisboa, Daniela Benazzi, Laura

Dedino, Delane Araújo, Marcelo Tannure, Marlus Santos, João Arielo, Julia Pentagna,

Riccardo Fulchignoni, Thiago de Laurentis, Soraia Nóbrega, Mariana Dias, Daniel

Abondanza, Maurício Martins, Giulio Medina, Andrea Yokomi, Alessandra Rossi, Rômulo

Barros, Natália Jordão, Samuel Sabatini, Carla Macedo e Aline Leite que dedicaram

minutos preciosos de seus dias de trabalho para que eu pudesse coletar os dados que se

transformaram nas informações descritas nessa dissertação. Não posso deixar de

agradecer a Magnólia Lima por ler e autorizar as publicações relativas a esse trabalho.

Aos meus colegas de mestrado pelas horas de estudos, discussão e confraternização

nesses mais de dois anos juntos.

Ao CMPA e à UFRGS pela magnífica formação que me proporcionaram.

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ACKNOWLEDGMENT

I intent to thank my colleagues who dedicated time to answer to my questionnaires, in

order to collect data for this research. Without their support this long journey would not be

completed. I thank Saravanan Sakthivel, Robert Lawrence, Ashok Mathrubutham,

Sivakumar Ramalingam, Mark Foulkes, Orlando Carrasco, Ian Loo, Jeeth Joseph, Baskar

Ramachandran and Ryan Manalastas for supporting me on my research.

DANKSAGUNG

Ich bedanke mich an alle die diesen Arbeit unterstützt haben. Ein spezielles bedankung an

Florian Kiesewalter, Raimund Heubel, Jens Pott, Gerald Schmoldt and Rainer Kledzinski,

die Zeit gegeben haben, um die Informationen dieser Arbeit versammelt zu werden. Ohne

ihre Hilfe, konnte ich nicht diese Arbeit fertig machen.

致谢

/借此机会特别感谢我在地球另一侧的同事们,虽然由于时区的差异电话沟通很困难,你们却仍

能致力于我的这项工作.

尽管我们未曾谋面,但我们完成了赋予我们的工作,这证明了跨区域的团对可以有效工作,这也

为我们开启了新项目开发更广阔的合作窗口, 邓迎春, /张华, 薛媛, 潘进, 阎绍威, 喻端,

吴雅勤, 向征, 向海峰, 周珊, 傅达香, 周忠勇, 雷虎,

衷心感谢你们为这篇论文收据数据所付出的时间. 非常感谢.

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RESUMO

Esta pesquisa buscou identificar e analisar ferramentas e práticas de comunicação virtual

em um time virtual de um projeto global de uma empresa do ramo automotivo, com

centros de centros de desenvolvimento dispersos em diversos países. Isso se deve ao

fato de que grande parte dos problemas enfrentados pelos times de projeto é oriunda da

dificuldade de comunicação entre seus membros, o que se torna mais evidente quando

estes estão conectados virtualmente. Para isso, tomou-se como base o aporte teórico da

Gestão de Times Virtuais Globais e Gestão da Comunicação. Para tanto foi realizada

revisão do estado da arte sobre gerenciamento de projetos, comunicação em times de

projeto e times virtuais de projeto. Além disso, foram aplicados instrumentos de pesquisa

para prospecção de dados primários que permitiram a identificação das principais

ferramentas e práticas de comunicação virtual, que foram analisadas à luz do referencial

teórico revisado. Este serviu de base para a confecção dos instrumentos de coletas de

dados realizadas ao longo desse trabalho. A pesquisa, em três etapas, focou a visão dos

gerentes de projeto inicialmente, e foi aprofundada na segunda etapa, entrevistando-se

pessoas-chave dentro da estrutura do Projeto Alfa. A terceira etapa, de questionários

fechados, objetivou corroborar e aprofundar estatisticamente as observações anteriores.

Com a triangulação entre os dados, pode-se melhor entender e descrever o processo, as

ferramentas e as práticas de comunicação de um time virtual global. O resultado da

pesquisa foi um panorama sobre a comunicação no Projeto Alfa, e os diversos fatores que

a influenciam. As dificuldades encontradas pelos membros para comunicar-se e serem

entendidos torna-se notória. Uso adequado das ferramentas, dispersão geográfica,

diferenças culturais e conhecimento de inglês são variáveis que impactam diretamente na

troca de informações entre as pessoas. Os desafios, a construção de confiança e o

cumprimento dos objetivos do projeto são preocupações dos entrevistados no seu dia a

dia de trabalho. Dessa forma, obtiveram-se informações importantes para se entender e

poder melhorar a comunicação em projetos futuros da Autoglobo.

Palavras-chave:

Times virtuais (globais), gerenciamento da comunicação, gerenciamento de projetos,

desenvolvimento de produtos distribuídos, práticas de comunicação.

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ABSTRACT

This research aimed to identify and analyze the communication tools and practices in a

virtual team of a global Project in an automotive industry with development centers (PDs)

spread in several countries. This is originated by the fact that several problems faced by

Project teams come from the difficulties of communication of the team members, which is

even more remarkable when people are virtually connected. For this matter, the theoretical

background was based on Global Virtual Teams Management and Communication

Management. With this objective, the state of the art about Project management,

communication in Project teams and virtual teams was revised. Furthermore, research

tools were applied to prospect primary data which allowed the identification of main

communication tools and practices, analyzed afterwards in the sense of the theoretical

reference. This served as basis for the data collection along this research. The research,

conducted in three steps, focused initially on the Project managers view, and deepened in

the second phase, with interviews with working level key members. The third phase,

closed questionnaires, aimed to corroborate and statically deepen prior observations. With

data triangulation among data, it allowed a better understanding and description of the

communication´s process, tools and practices of a global virtual team. The outcome of this

research was an overview about communication into Project Alfa, and the several factors

which influences on it. The difficulties faced by the members to communicate and being

understood are notorious. The proper use of tools, geographic dispersion, cultural

differences and English knowledge are variables which directly impact on information

exchange among people. Challenges trust build and accomplishment of targets are daily

concerns of the interviewees.. Therefore, it was obtained important information to

understand and improve communication on futures projects at Autoglobo.

Keywords:

Global virtual teams, communication management, Project management, distributed

product development, communication practices

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Artigos e assuntos mais referenciados na plataforma Ebsco. ....................... 28

Quadro 2 - Vantagens e desvantagens de times multiculturais. ..................................... 58

Quadro 3 - Informações pessoais e profissionais dos entrevistados. ............................. 80

Quadro 4 – Informações básicas sobre os entrevistados. ............................................. 90

Quadro 5 - Categorias de análise para as ferramentas de comunicação. ....................... 91

Quadro 6 - Categorias de análise para dispersão do time. .......................................... 102

Quadro 7 - Categorias de análise para conhecimento de inglês. ................................. 105

Quadro 8 - Categorias de análise para trabalho com pessoas de outros lugares. ......... 109

Quadro 9 - Categorias de análise para melhorias na comunicação. ............................. 113

Quadro 10 - Categorias para diferenças culturais. ...................................................... 118

Quadro 11 - Resultado da regressão de dados. ......................................................... 142

Quadro 12 – Uso apropriado das ferramentas e processo de comunicação. ................ 144

Quadro 13 - Efetividade das ferramentas e processo de comunicação. ....................... 145

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição da amostra por nacionalidade. ................................................ 122

Tabela 2 - Distribuição da amostra por área funcional ................................................ 123

Tabela 3 - Distribuição etária da amostra ................................................................... 124

Tabela 4 - Distribuição de tempo de empresa dos pesquisados. ................................. 124

Tabela 5 – Resultado para uso adequado das ferramentas de comunicação. .............. 125

Tabela 6 - Uso adequado de telefone pelos membros do time. ................................... 125

Tabela 7 - Disponibilidade de ferramentas de comunicação virtual. ............................. 127

Tabela 8 - Eficiência das ferramentas de comunicação............................................... 129

Tabela 9 - Frequência de uso das ferramentas de comunicação. ................................ 130

Tabela 10 - Dispersão geográfica como fator limitante de comunicação....................... 131

Tabela 11 - Comunicação virtual e construção de confiança. ...................................... 139

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Curva S Stressed de formação de times de trabalho ..................................... 34

Figura 2 - Hierarquia organizacional ............................................................................ 54

Figura 3 - Rede social dentro de uma organização ....................................................... 55

Figura 4 - Influência da cultura para um grupo social .................................................... 56

Figura 5 - Efetividade de times homogêneos e heterogêneos........................................ 57

Figura 6 - Fluxo de informações no Projeto Alfa. .......................................................... 62

Figura 7 – Fases da Pesquisa. .................................................................................... 69

Figura 8 - Hierarquia na Autoglobo. ............................................................................. 71

Figura 9 - Ranking das ferramentas mais utilizadas para comunicação. ......................... 93

Figura 10 - Ranking das ferramentas de comunicação virtual segundo desempenho. ..... 95

Figura 11 - Auto-avaliação sobre domínio das ferramentas de comunicação. ............... 128

Figura 12 – Urgência como fator de escolha da ferramenta de comunicação virtual. .... 129

Figura 13 - Dispersão geográfica como limitante para comunicação, segundo experiência

internacional. ........................................................................................................... 132

Figura 14 - Impacto das diferenças culturais na melhoria de habilidades profissionais

(esquerda) e interpessoais (direita). .......................................................................... 133

Figura 15 - Diferenças culturais trazem melhores ideias para solução de problemas. ... 134

Figura 16 - Diferenças culturais trazem melhores ideias para solução de problemas, visão

dos chineses............................................................................................................ 135

Figura 17 - Retrabalho oriundo do baixo conhecimento do idioma inglês. .................... 136

Figura 18 – Idioma inglês como fator de recrutamento para o Projeto Alfa. .................. 137

Figura 19 - Comunicação exclusivamente virtual e construção de confiança. ............... 139

Figura 20 - Virtualidade impõe necessidade de disciplina. .......................................... 140

Figura 21 - Processo de comunicação e cumprimento de objetivos. ............................ 141

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição da população por nacionalidade. .............................................. 61

Gráfico 2 - Ferramentas citadas como de maior desempenho. ...................................... 94

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LISTAS DE SIGLAS

ABEPRO - Associação Brasileira de Engenharia de Produção

ANOVA - Analysis of Variance (Análise de Variância)

ANPAD - Associação Nacional De Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

CAPES - Coordenação para Aperfeiçoamento do Ensino Superior

CMC – Comunicação mediada por computador

DDS – Desenvolvimento Distribuído de Software

ENG – Engenharia

FIN - Finanças

GP – Gerenciamento de Projetos

GVT – Global Virtual Teams (times virtuais globais)

IM – Instant Messaging (mensagens instantâneas / chat)

MNF – Manufatura

n – Tamanho da amostra

PMI – Project Management Institute

TI – Tecnologia da Informação

TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação

VoIP - Voice over Internet Protocol (voz por protocolo de internet)

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LISTAS DE SÍMBOLOS

r2 – Coeficiente de Determinação Linear

– Média aritmética

s - Desvio Padrão

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 18

1.1 Definições do problema ..................................................................................... 21

1.2 Objetivo............................................................................................................ 22

1.3 Importância e Motivação para o estudo do projeto da Autoglobo .......................... 22

1.4 Aspectos Metodológicos.................................................................................... 24

1.5 Organização da Dissertação de Mestrado .......................................................... 24

2. REVISÃO DA LITERATURA ESPECIALIZADA ...................................................... 26

2.1 Projetos Globais ............................................................................................... 29

2.2 Times Virtuais de Projeto................................................................................... 30

2.2.1 Criação e Maturação de Times Virtuais de Projeto ........................................... 33

2.2.2 Confiança em Times Virtuais de Projeto .......................................................... 35

2.3 Comunicação em Times de Projeto .................................................................... 38

2.3.1 Comunicação Formal e Informal ..................................................................... 41

2.4 Ferramentas de Apoio a Comunicação Virtual em Projetos.................................. 42

2.4.1 E-mail ........................................................................................................... 44

2.4.2 Telefone ........................................................................................................ 45

2.4.3 Chat .............................................................................................................. 47

2.4.4 Audioconferência ........................................................................................... 48

2.4.5 Videoconferência ........................................................................................... 48

2.4.6 Webinar ........................................................................................................ 49

2.4.7 Intranet e Team Rooms .................................................................................. 50

2.4.8 Web 2.0 ........................................................................................................ 51

2.4.9 Redes Sociais ............................................................................................... 52

2.5 Idioma Oficial.................................................................................................... 55

2.6 Diferenças Culturais .......................................................................................... 55

3. A AUTOGLOBO .................................................................................................. 59

3.1 Projeto Alfa....................................................................................................... 60

3.2 Fluxo de Informações no Projeto Alfa ................................................................. 61

3.3 A forma de comunicação na Autoglobo .............................................................. 62

3.4 Constituição de um Time de Projeto na Autoglobo .............................................. 66

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4. METODOLOGIA .................................................................................................. 67

4.1 Estudo de Caso ................................................................................................ 67

4.2 Etapa 1 ............................................................................................................ 70

4.3 Etapa 2 ............................................................................................................ 72

4.3.1 Técnica de Coleta de Dados na Etapa 2.......................................................... 72

4.3.2 O Roteiro de Entrevistas da Etapa 2 ............................................................... 73

4.3.3 Técnica de Análise de Dados na Etapa 2 ........................................................ 73

4.3.4 Etapa 3 ......................................................................................................... 76

4.3.5 O Questionário da Etapa 3 ............................................................................. 76

4.3.6 Técnica de Análise de Dados na Etapa 3 ........................................................ 78

5 ANÁLISE E RESULTADOS DA PESQUISA .......................................................... 79

5.1 Resultados da Etapa 1 ...................................................................................... 79

5.1.1 Ferramentas de Comunicação Virtual.............................................................. 80

5.1.2 Desempenho das Ferramentas para Comunicação Virtual................................ 83

5.1.3 Impacto do Idioma na Comunicação ............................................................... 84

5.1.4 Diferenças Culturais na Comunicação ............................................................. 85

5.1.5 Dispersão Geográfica e Fusos Horários na Comunicação ................................ 85

5.1.6 Comunicação no Desempenho de um Projeto ................................................. 87

5.1.7 Comunicação na Satisfação dos Membros do Time ......................................... 88

5.1.8 Conclusões sobre a Etapa 1 ........................................................................... 89

5.2 Resultados da Etapa 2 ...................................................................................... 89

5.2.1 Ferramentas de comunicação virtual: uso e desempenho................................. 91

5.2.2 Fator dispersão geográfica e fuso horário ...................................................... 102

5.2.3 Impacto do conhecimento de inglês por parte dos membros do projeto ........... 105

5.2.4 Trabalho com pessoas de outros lugares ...................................................... 109

5.2.5 Melhorias na comunicação ........................................................................... 112

5.2.6 Diferenças Culturais ..................................................................................... 118

5.3 Resultados da Etapa 3 .................................................................................... 121

5.3.1 Ferramentas de Comunicação ...................................................................... 124

5.3.2 Dispersão Geográfica................................................................................... 130

5.3.3 Trabalho com diferentes culturas .................................................................. 132

5.3.4 Língua Inglesa ............................................................................................. 135

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5.3.5 Confiança .................................................................................................... 138

5.3.6 Processo de Comunicação ........................................................................... 139

5.3.7 Correlação entre Variáveis ........................................................................... 142

5.4 Limites e limitações ......................................................................................... 145

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 147

5.1 Conclusões .................................................................................................... 152

5.2 Contribuições ................................................................................................. 153

5.3 Atividades Futuras de Pesquisa ....................................................................... 153

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 155

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista da Etapa 1 ....................................................... 164

APÊNDICE B – Roteiro de entrevista da Etapa 2 ....................................................... 166

APÊNDICE C – Perfil expandido dos entrevistados na Etapa 2 ................................... 168

APÊNDICE D – Questionário da Etapa 3 ................................................................... 169

APÊNDICE E – Perfil dos respondentes da Etapa 3 ................................................... 171

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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos 20 anos, o mercado automotivo mundial vem passando por profundas

mudanças. Os mercados americano e europeu em níveis de baixo crescimento, a entrada

maciça de fabricantes japoneses, coreanos e, recentemente, chineses em diversos

mercados, o avanço das legislações de segurança e emissões veiculares e a chegada de

mais consumidores nos mercados emergentes, notadamente Brasil, Índia e China são

alguns dos fatores que marcaram a indústria automotiva nas décadas entre o final do

século XX e início do século XXI. Tais fatores geraram um alto grau de competitividade

entre os fabricantes tradicionais e entrantes, exigindo uma mudança na forma pela qual

os projetos automotivos são conduzidos.

Os desenvolvimentos, que eram feitos basicamente nos Estados Unidos e na Europa,

passaram a ter participação das unidades periféricas em virtude dos menores custos de

mão-de-obra somados à boa formação de engenheiros e técnicos locais. Na virada do

milênio, em decorrência da migração de trabalhos para países como Brasil, Austrália,

China e Índia, foram criados e fomentados centros de excelência em desenvolvimento de

produtos nesses países, inicialmente focados em adaptações para os mercados regionais

e pequenos desenvolvimentos. Atualmente, estes centros estão liderando projetos de

novos produtos, tendo as operações da Europa e Estados Unidos como times de suporte.

Na verdade, o que se vê hoje não é apenas a migração de operações, mas sim uma

mudança na forma de condução de um projeto. Muitos dos novos veículos são

desenvolvidos com times distribuídos por vários países, cada um tendo uma expertise

distinta. Este cenário originou a formação dos Global Virtual Teams (Times Virtuais

Globais - GVT). Estes são definidos como um grupo de pessoas geograficamente

disperso, culturalmente diverso, que se comunica principalmente por meios baseados em

tecnologia da informação e que trabalha colaborativamente para o atingimento de um

objetivo comum (MAZNEVSKI; CHUDOBA, 2000; SHACHAF, 2005; ANDRES, 2002;

DESANCTIS; MONGE, 1999; LEE, 2002). Andres (2002) afirma que a virtualização dos

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times de projeto deveu-se a dois motivos principais: utilização das habilidades de pessoas

dispersas geograficamente e conclusão dos projetos em menor tempo.

Apesar de times virtuais de projeto existirem desde a década de 60, foi nas décadas de

1980 e 1990 que houve a sua profusão e o ganho de poder de decisão (KIRKMAN et al.,

2002). A revolução tecnológica ocorrida principalmente a partir de 1990, notadamente

com a difusão da internet, permitiu a esses times realizarem atividades de

desenvolvimento de produtos mesmo que fisicamente distantes (JARVENPAA; LEIDNER,

1999). Em outras palavras, a necessidade de realizar encontros face a face (presenciais)

para que as informações pudessem ser transmitidas entre os membros do time foi

reduzida. Entretanto, junto com a facilidade de troca de informações surgiram novos

problemas. Pela facilidade e rapidez com que os dados transitam, as pessoas descuidam

nas mensagens, permitindo informações incompletas ou dúbias. Isso ainda é acentuado

quando os membros do time não estão no mesmo local de trabalho. Tais problemas

agravam-se em condições reais de projeto, quando as pessoas vivem em fusos horários

diferentes, têm línguas maternas distintas, culturas diferentes e práticas de trabalho e

gestão distintas. Mesmo tendo-se padrões corporativos e uma língua corporativa oficial,

os diferentes sotaques e níveis de fluência oral muitas vezes dificultam significativamente

uma comunicação telefônica eficiente, sem que os participantes utilizem algum texto,

impresso ou eletrônico, como forma de apoio à comunicação.

Assim, nas atividades diárias de gerenciamento de projeto e desenvolvimento de produto;

em virtude de o objetivo dessas atividades ser a conclusão de uma tarefa, a falta de

atenção aos processos de comunicação gera cargas de trabalho e tensão dentro do time

que muitas vezes acabam prejudicando a qualidade do resultado. Tendo-se isso em

consideração, e ainda tendo-se processos locais diferentes, o andamento de um projeto

gera desentendimentos que potencialmente atrapalham ou atrasam a conclusão da

atividade (WIESENFELD, RAGHURAM; GARUD, 1999). Somando-se a isso, o

desenvolvimento de um produto é uma atividade crítica para a corporação,

principalmente, devido aos elevados recursos investidos para lançá-lo no mercado. Na

indústria automotiva, por sua vez, os números são particularmente expressivos. O

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lançamento de um novo veículo no mercado global envolve recursos financeiros na ordem

de centenas de milhões de dólares e algumas centenas de pessoas trabalhando em

distintas partes do mundo para viabilizar um ciclo de desenvolvimento que pode chegar a

quatro anos.

Diante do que foi exposto até então, este trabalho apresenta importância em virtude das

necessidades mercadológicas, econômicas e técnicas, que as empresas com pretensão

global necessitam ao fazer uso dos GVT, frente a pouca literatura produzida no Brasil.

Esta é uma realidade para muitas corporações (DUCKWORTH, 2008), entretanto, mesmo

organizações transnacionais têm encontrado dificuldades em implementar de forma

eficiente tais times. Conforme Duarte e Snyder (2003, 2006), as empresas precisam

adaptar-se rapidamente ao novo mercado, aumentando sua competitividade global e

maximizando suas competências. Durante décadas, as transnacionais norte-americanas e

européias impuseram seu estilo de trabalho e gerenciamento, dando pouca importância

às especificidades locais. Eram anos onde o mercado mundial tinha carência de produtos

e a concorrência e exigência eram baixas. Hoje não se pode ignorar os requerimentos e

necessidades locais, bem como a oferta de mão-de-obra disponível em diversos países.

Desse modo, a importância desse trabalho é tanto maior quanto maior for a necessidade

de trabalhos globais.

Assim, é de fundamental importância para qualquer empresa que tenha necessidade de

uso de GVT conhecer as especificidades enfrentadas por esses times e quais as técnicas

e boas práticas de governança podem ser utilizadas para melhor gerenciar a

comunicação entre seus participantes. Destarte, o presente trabalho se propôs a entender

como a comunicação é realizada dentro de um projeto automotivo global, em que

diferentes países participam ativamente do processo de desenvolvimento de produto e

tomada de decisões e, principalmente, apresentar sugestões (boas práticas) para facilitar

a comunicação entre os atores envolvidos no projeto. Em decorrência disto, objetivou-se

com esse trabalho de Mestrado Profissional contribuir para a empresa, na qual foi

realizada a pesquisa de campo, a aumentar a eficiência e eficácia em seus projetos,

sendo isso um diferencial competitivo no acirrado mercado automotivo mundial.

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O desenvolvimento deste trabalho considerou o contexto de um projeto veicular global, no

qual diversos centros de desenvolvimento participam ativamente do processo de projeto e

de tomada de decisões. Para tanto, foi realizada uma pesquisa entre os membros do time

para compreender as dificuldades, as vantagens e os desafios enfrentados em um

trabalho de tal envergadura. Foram avaliadas as ferramentas de comunicação virtual

utilizadas e as técnicas empregadas, recebidas ou desenvolvidas, para a comunicação,

com o intuito de entender os pontos críticos para uma comunicação eficiente entre os

diversos locais do projeto.

1.1 Definições do problema

No atual contexto de desenvolvimentos automotivos, onde novos projetos são suportados

por times nos mais diversos países e fusos horários, com línguas e culturas distintas, o

fator comunicação torna-se primordial para o sucesso de tal atividade. Uma análise prévia

do cotidiano em desenvolvimento de produtos revela que se encontra no quesito

comunicação em projetos globais uma das principais dificuldades para o lançamento

de produtos cumprindo os objetivos de qualidade, custo e tempo. Por outro lado, observa-

se que as empresas investem elevados recursos no desenvolvimento de soluções

técnicas para os seus produtos e gestão de processos, mas não dedicam a devida

atenção para aspectos da comunicação. Nos projetos em andamento da Autoglobo, a

grande dificuldade não está na parte técnica, mas sim no processo de comunicação entre

os membros do time. Na maioria das vezes, tem-se a ideia de que pessoas que trabalham

em uma mesma empresa possuem o mesmo comportamento profissional; entretanto os

laços culturais são fortes, independente da origem das pessoas e precisam ser

respeitados, para que os GVT trabalhem realmente como um time (LEE-KELLEY;

SANKEY, 2008).

Em função da contextualização e problematização supracitadas, esta pesquisa teve como

questão de pesquisa a seguinte indagação:

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22

Como as ferramentas e práticas de comunicação virtual adotadas por membros de um

Time Virtual Global impactam no processo de comunicação de um projeto global?

1.2 Objetivo

Este estudo teve como objetivo geral identificar e analisar como as ferramentas e práticas

de comunicação virtual utilizadas na Autoglobo impactam no processo de comunicação de

um projeto global.

Seguindo a linha do objetivo geral, esse trabalho buscou compreender o processo, as

características e as dificuldades existentes na gestão da comunicação entre os membros

que participam de um time virtual de desenvolvimento automotivo, assim como identificar

as boas práticas que promovam o aumento da eficiência e eficácia desse time. Com isto,

visou-se potencializar os benefícios do emprego de GVT. Em outras palavras, com este

trabalho, pretendeu-se aprofundar o conhecimento sobre a gestão da comunicação virtual

em Global Virtual Teams.

Os objetivos específicos deste trabalho foram:

a) Estruturar o conhecimento sobre as ferramentas e práticas de comunicação virtual

em times virtuais;

b) Identificar ferramentas e práticas de comunicação virtual em times virtuais da

Autoglobo;

c) Analisar ferramentas e práticas de comunicação virtual em times virtuais na

Autoglobo;

d) Entender como o uso correto das ferramentas de comunicação virtual pode

aumentar o desempenho de um time de projeto;

e) Identificar boas práticas que auxiliem na comunicação em times virtuais.

1.3 Importância e Motivação para o estudo do projeto da Autoglobo

O Projeto Alfa cobre o desenvolvimento de um novo veículo global da Autoglobo. Essa

por sua vez é uma empresa de origem norte-americana que desenvolve e produz veículos

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em todos os continentes, e será melhor descrita no capítulo 3. O Projeto Alfa, por sua vez,

pode ser visto como o primeiro projeto a ser liderado pelo Centro de Desenvolvimento de

Produto da Autoglobo no Brasil que será produzido e comercializado em diversos

continentes. Ainda, é a primeira vez que as unidades norte-americana e européia servem

de suporte à liderança brasileira.

Esse pioneirismo tem causado diversas dificuldades na gerência do projeto, em vista de

alguns processos e formas de comunicação serem novidade para muitos membros. Para

a maioria do time envolvido, mesmo com muitos anos de empresa, essa é a primeira vez

onde, mesmo pequenas alterações de projeto, precisam ser compartilhadas e aprovadas

por pessoas espalhadas pelo mundo; a maioria das reuniões é realizada em inglês; o

design de uma peça sob responsabilidade do Brasil precisa ser compatível com peças

sob responsabilidade européia, etc. Dessa forma, dificuldades de comunicação já

existentes em projetos anteriores foram ampliadas no Projeto Alfa.

Pelo fato de o Projeto Alfa ser pioneiro na Autoglobo, e um dos pioneiros no Brasil,

diversos contratempos são enfrentados diariamente por não se ter conhecimento de como

as atividades de desenvolvimento de um novo veículo são impactadas pela comunicação

mediada por computador, e pela interface entre pessoas de países e culturas distintas.

Dentro da Autoglobo tem-se como prática usar a unidade européia como benchmark1

quando se tratam de projetos globais, processos de comunicação e condução de

atividades. Entretanto, as tentativas de se utilizar os mesmos processos, muitas vezes

resultaram em pouca eficiência, principalmente pelo fato de os projetos conduzidos pela

Europa geralmente terem foco regional, que mais tarde eram adaptados às condições

locais e localizados em outras plantas. Dessa forma, mesmo sendo desenvolvidos na

Europa e produzidos em diferentes locais, tais produtos não podem ser denominados

globais na essência. O Projeto Alfa, por sua vez, foi concebido como global, recebendo

requerimentos de projetos de diversos mercados desde os primeiros esboços. Partindo

dessa premissa, diversas atividades tiveram seu desempenho comprometido pelo não

conhecimento em como agir e se comunicar globalmente.

1 Anglicismo que denota busca de melhores práticas que conduzem a melhor desempenho.

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1.4 Aspectos Metodológicos

Com o intuito de entender a comunicação em times virtuais de projetos e identificar boas

práticas, foi realizado um estudo de caso único de caráter exploratório-descritivo de um

projeto de veículo global de uma montadora transnacional instalada no Brasil.

Utilizou-se para esse fim uma estratégia qualitativa de investigação, composta de duas

fases com entrevistas em profundidade, e uma terceira com aplicação de questionário.

Isso visou a coleta de dados primários para análise.

Após, com os dados coletados em mãos, estes foram analisados e as informações

compiladas, de forma a identificar as boas práticas em gestão da comunicação em

projetos envolvendo times virtuais na Autoglobo. Maiores detalhes sobre o aspecto

metodológico estão descritos no Capítulo 3.

1.5 Organização da Dissertação de Mestrado

Esta Dissertação está estruturada em cinco Capítulos, organizados da seguinte forma:

O Capítulo 1 apresenta a introdução, objetivos, questões e métodos de pesquisa.

No Capítulo 2 é realizada a fundamentação teórica contemplando projetos globais, times

virtuais de projetos, gerenciamento da comunicação em projetos, ferramentas de

comunicação virtual e aspectos gerais que influenciam o gerenciamento da comunicação

em projetos.

O Capítulo 3 apresenta a Autoglobo e o Projeto Alfa em maiores detalhes.

O Capítulo 4 disserta sobre os procedimentos metodológicos utilizados para

levantamento e análise dos dados da pesquisa.

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No Capítulo 5 é apresentada a Autoglobo e são discutidos e analisados os dados

coletados.

No Capítulo 6 são apresentadas as considerações finais sobre o trabalho, vantagem e

desvantagem das práticas sugeridas, assim como, recomendações para trabalhos futuros.

Nos Apêndices são apresentados os instrumentos específicos utilizados para o

desenvolvimento das pesquisas, bem como informações complementares.

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2. REVISÃO DA LITERATURA ESPECIALIZADA

Neste capítulo, inicialmente, apresenta-se a revisão da literatura com o objetivo de

caracterizar o que vem a ser um projeto global e times globais de projeto. Em seguida,

trata-se dos assuntos que serviram de referência teórica e base para a elaboração dos

instrumentos de coleta de dados. Portanto, ao longo deste capítulo, buscou-se

caracterizar os assuntos descritos anteriormente, procurando apresentar as suas

principais potencialidades e limitações no que se refere à gestão da comunicação em

times virtuais de projetos.

Com o intuito de revisar a literatura mais relevante produzida no Brasil e no mundo sobre

os temas centrais deste estudo foi feito levantamento junto aos bancos de dados

científicos nacionais (Capes, ABEPRO, ANPAD2 e Scielo3) e internacionais (Ebsco4). As

palavras-chave utilizadas foram: gerenciamento de projetos, gestão da comunicação,

times virtuais e projetos globais.

Nos bancos de dados Capes, ABEPRO e ANPAD foram encontradas diversas

dissertações e teses defendidas, dentre as mais relacionadas com o tema dessa pesquisa

podem ser citadas:

a) Duranti (2008) versa sobre comunicação em times virtuais. Todavia foca no lado

cultural pela realização de um survey com brasileiros e americanos que trabalham

em uma empresa de Tecnologia da Informação (TI).

b) Andrade (2009) discorre sobre a comunicação em gerenciamento de projetos do

ponto de vista conversacional. A tônica do trabalho dá-se sob o foco sócio-

comportamental, e não com enfoque técnico como se pretende nesse trabalho.

c) Braga (2004) realiza um estudo de caso em uma empresa de desenvolvimento de

software localizada na Bahia com atuação nacional. O propósito da pesquisa foi

uma comparação entre o método de Gerenciamento da Comunicação proposto

pela PMI e o atualmente em uso na empresa. Não há menção sobre times virtuais. 2 Coordenação para Aperfeiçoamento do Ensino Superior, acesso em 10.Abr.2010; Associação Brasileira de

Engenharia de Produção, acesso em 10.Abr.2010; Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, acesso em 10.Abr. 2010. 3 www.scielo.org

4 www.ebscohost.com/

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d) Silveira (2008) faz uma pesquisa exploratória sobre a comunicação em projetos

globais de empresas multinacionais de capital nacional, sendo as entrevistas feitas

com funcionários brasileiros locados no Brasil. Porém esse trabalho não entra nos

meandros da comunicação de times virtuais, pois os projetos estudados tinham o

seu desenvolvimento realizado principalmente na matriz brasileira.

Em termos de publicações em revistas e congressos, observa-se que o tema times

virtuais tem maior abordagem no Brasil referente ao desenvolvimento de software, e

poucos discutem a comunicação em times multiculturais. Dentre essas, as mais

relevantes encontradas pelas palavras-chave podem ser citadas:

a) Cortimiglia, Dutra e Gabrielli (2006) tratam sobre a gestão de conhecimento em

times de projeto. É sugerida uma ferramenta (iProject) para facilitar o

compartilhamento de informações no âmbito de um projeto, sem, contudo entrar

nos meandros da comunicação em times virtuais.

b) Numa abordagem sobre desenvolvimento de software, Monteiro e Alencar (2007)

apresentam boas práticas identificadas em uma grande empresa do setor de

telecomunicações. O que é apresentado, na verdade, são formulários de registro a

serem preenchidos, que servirão de histórico, guia operacional e base de dados

para ações. As autoras não abordam os pormenores da comunicação virtual,

apesar de a pesquisa ter sido realizada em uma empresa de telecomunicações.

c) Dois artigos publicados sobre desenvolvimento de software (TRINDADE; MORAES;

MEIRA, 2008; FARIAS et al., 2009), discutem, de forma teórica e prática

respectivamente, sobre a comunicação em times distribuídos. O segundo foca em

empresas de médio e grande porte que atuam em desenvolvimentos nacionais e

internacionais. Ambos usam a expressão Desenvolvimento Distribuído de Software

(DDS) para elucidarem esse tipo de time.

d) Cossulin (2007) apresenta um estudo teórico sobre a gestão de times virtuais de

TI. Os pontos e conclusões apresentados corroboram com as informações contidas

na revisão de Estado da Arte desse trabalho.

Na base Scielo foi encontrado apenas um artigo (CASEY, 2010) que trata de um estudo

de caso em time virtual de desenvolvimento de software, com membros na Irlanda e

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Malásia. Versa sobre comunicação, sobre e-mail e face a face, e construção de confiança

entre os membros. Conclui que a forma de trabalhar, gerenciar e comunicar de um time

virtual é distinta de um time colocalizado5, sendo isso um desafio às empresas que

buscam sua implementação.

Os artigos mais referenciados e importantes encontrados na plataforma Ebsco e seus

assuntos estão apresentados no quadro 1.

Quadro 1 - Artigos e assuntos mais referenciados na plataforma Ebsco.

Liderança em times virtuais globais Kayworth e Leidner (2002)

Coordenação temporal e gerenciamento de

conflitos em times virtuais globais

Montoya-Weiss, Massey e Song (2001)

Paul et al. (2005)

Massey, Montoya-Weiss e Hung (2003)

Kankanhalli, Tan e Wei (2007)

Harvey e Griffith (2007)

Compartilhamento de informações em

times virtuais globais

Zakaria, Amelinckx e Wilemon (2004)

Times virtuais globais do ponto de vista de

recursos humanos

Harvey, Novicevic e Garrison (2005)

Brandl e Neyer (2009)

Duckworth (2008)

Confiança em times virtuais globais Webster e Wong (2008)

Grosse (2002)

Henttonen e Blomqvist (2005)

Panteli e Tucker (2009)

Jarvenpaa, Shaw e Staples (2004)

Fonte: Ebsco (2011).

Dessa forma, entende-se o estudo da comunicação em times virtuais globais como um

campo a ser melhor explorado pela academia, e a ser melhor compreendido pela

organizações, com o intuito de otimizar seu desempenho. Diversos fatores, tais como

5 Time de projeto onde os membros estão fisicamente localizados próximos.

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ferramentas de comunicação e diferenças culturais, afetam a comunicação, e são pouco

pronunciados em projetos tradicionais (colocalizados).

2.1 Projetos Globais

Com o aumento da complexidade de produtos e serviços ocorridos nas últimas décadas,

os desenvolvimentos de produtos passaram a requerer atenção e sistemas robustos de

monitoramento e controle por parte das organizações. Assim, não basta apenas

desenvolver o produto, é necessário que este siga instruções e normas, sejam elas

corporativas ou legais. Segundo PMI (2008, p. 5) projeto é ―um esforço temporário

empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo‖. A Norma DIN 69901,

por sua vez, considera projeto como um trabalho único, com objetivos de custo e

qualidade, limitado em termos financeiros, de tempo e de pessoal, distinto de outras

atividades e com organização específica (HAB; WAGNER, 2006).

Ao longo do século XX houve uma mudança no conceito e nos projetos veiculares.

Inicialmente pensados para atendimento de necessidades regionais, a virada de milênio

viu surgir os projetos globais, veículos concebidos e projetados para atender requisitos

legais e de consumidores de diferentes mercados. Essa tendência objetivou

principalmente ganho de escala, com consequente redução nos custos de projeto e

fabricação (HARVEY; GRIFFITH, 2007). Efeito desse movimento foi o processo de fusões

e aquisições, que reduziu de 62 na década de 1960 para 12 em 2005 o número de

fabricantes independentes de veículos (BECKER, 2007).

Com a entrada de novos players6 no mercado automotivo mundial, principalmente as

japonesas na década de 1980 e chinesas na primeira década do século XXI, houve um

aumento da concorrência, forçando as empresas tradicionais a mudar sua forma de

atuação e a maneira como os veículos são desenvolvidos, ao passo que a comunicação

eletrônica permitiu o trabalho com times espalhados pelo mundo de uma forma sem

precedentes na história (LIPNACK; STAMPS, 1997). Ao mesmo tempo, consumidores de

6 Anglicismo para empresas que atuam e competem ativamente em um mercado.

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mercados emergentes passaram a desejar veículos similares aos mercados

desenvolvidos, não mais se contentando com produtos defasados tanto em termos de

estilo quanto de tecnologia. Neste cenário, as empresas precisaram buscar reduzir os

custos de desenvolvimento, bem como racionalizar produtos e plantas de manufatura.

Assim, não se fala mais em produtos para mercados específicos, mas em produtos

globais. Entretanto, para que o produto torne-se um sucesso, não basta apenas produzi-lo

em diversos países. É fundamental que ele seja pensado e desenvolvido com tal objetivo.

Para isso, faz-se necessário que os mercados-alvo participem ativamente na fase de

projeto, com pessoal de engenharia, manufatura, marketing e estratégia atuando

juntamente com o grupo-líder. Veículo global compreende a satisfação de normas legais e

desejos dos consumidores. Significa que o mesmo veículo deve ter design bonito para os

brasileiros, ser seguro para os europeus e acessível aos indianos. Engenheiros e

designers em uma região terão que projetar o veículo pensando em outros mercados,

mesmo sem nunca tê-los visitado. Essa abstração requer uma mudança na forma de

pensar e agir, ao mesmo tempo em que depende cada vez mais de informações trocadas

entre os membros do time.

Em outras palavras, para atender estes diferentes mercados, as empresas precisam

organizar times de projeto geograficamente dispersos, que se comunicam utilizando os

recursos disponíveis, com o objetivo de entregar um produto ou serviço com a qualidade

especificada, custo adequado e no tempo correto. Em suma, neste contexto, surgiram os

GVT, que necessitam comunicação clara e explícita entre as partes.

2.2 Times Virtuais de Projeto

Atualmente, face às características dos projetos automotivos, não se pode restringir um

desenvolvimento a um grupo pequeno de pessoas. Faz-se necessário, sim, grande

formalidade, com regras e responsabilidades claras para cada um dos integrantes do

time. Isso é fundamental quando se considera que o desenvolvimento de um veículo novo

tem a duração de 24 e 48 meses, envolve centenas de pessoas e pode consumir algumas

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centenas de milhões de dólares. Dessa forma, o PMI (2008) define time de projeto como

um grupo de pessoas que atua conjuntamente para o atingimento de um objetivo comum.

Engloba, assim, todas as pessoas que, direta ou indiretamente, trabalham em tarefas

diversas e necessárias para a consecução do produto ou serviço. Portanto, com a atual

complexidade existente em projetos automotivos, é comum que esses times somem

algumas centenas de pessoas, muitas vezes locadas fisicamente distantes, tais como em

campos de prova, fornecedores, centros de pesquisa próprios ou externos, unidades de

negócio diferentes, etc.

Segundo Bonelli, Forcellini e Rabechini (2008, p. 30), espera-se de um time de projeto

―vigor, coragem, ânimo para realização de atividades, ou seja, energia para fazer

acontecer‖. Lipnack e Stamps (1997), por outro lado, afirmam haver um paradoxo em

times de trabalho: individualidade é necessária para cooperação. Portanto, tem-se que ter

em mente que um time não é apenas o somatório dos indivíduos, mas sim um grupo

coeso que usa as sinergias internas para alcançar objetivos específicos.

Os primeiros times virtuais remontam os anos 1960, todavia foi com o advento e difusão

da internet nos anos 80 e 90 que sua aplicação tornou-se facilitada; as diversas barreiras

de comunicação foram derrubadas pela Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC)

(JARVENPAA; LEIDNER, 1999). Segundo Barmeyer et al. (2003), os times virtuais

multiculturais trabalham à distância com um objetivo preciso, e podem, dessa forma,

aproveitar a sinergia de suas competências sem a necessidade de deslocamentos, ao

passo que Bell e Kozlowski (2002) somam ainda aos times virtuais a possibilidade de as

empresas poderem responder de forma mais rápida e flexível às demandas do mercado.

Da mesma forma que se pode aproveitar as competências regionais, e produzir melhores

resultados, esbarra-se em dificuldades culturais, de liderança e comunicação (BELL;

KOZLOWSKI, op. cit.).

A forma como as pessoas se expressam varia de povo para povo, assim como a

separação entre o lado pessoal e o lado profissional é distinta. Em adição a isso, os

diferentes fusos horários envolvidos são dificultadores de comunicação, assim como a

vontade dos membros do time em trabalhar em horários fora do tradicional a sua região.

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Como elucidam Lipnack e Stamps (2000), os times virtuais globais precisam formar-se e

ao mesmo tempo manter-se espalhados, da mesma forma que a diversidade cultural

neles existente os beneficia, principalmente pelo fato de pessoas ao redor da mesa terem

visões distintas sobre o mesmo assunto.

Por sua vez, Maznevski e Chudoba (2000) apontam a integração entre as diversas

culturas como fator chave para o desempenho de um projeto. Da forma similar, Duarte e

Snyder (2006) e Kleim e Ludin (1998) apontam dois fatores que perfazem a maior

complexidade dos times virtuais: a transposição de fronteiras temporais, geográficas e

organizacionais, e o uso de meios eletrônicos para comunicação e colaboração.

Da mesma forma, as expectativas individuais devem ser explícitas. A não congruência de

pensamentos faz com que tarefas simples tornem-se demoradas, e a distância entre os

participantes pode afetar a forma como as pessoas interpretam as ações alheias

(DUCKWORTH, 2008). Como as pessoas não se vêem, o feedback ou uma resposta

interina (―estou agindo, informo em dois dias‖) torna a o relacionamento entre os membros

mais agradável, ao mesmo tempo em que as pessoas passam a ser percebidas como

importantes. Essa melhor interação entre os membros produz identificação entre eles, o

que Fiol e O´Connor (2005) consideram fundamental para a coesão entre os participantes

de um projeto virtual, principalmente por haver pouco contato face a face.

Ao mesmo tempo em que as responsabilidades precisam ser definidas, a autonomia entre

os times é de fundamental importância, evitando que cada movimento deva ser aprovado

pelo Gerente Geral do Projeto. A delegação de responsabilidade a gerentes locais, e a

clara limitação de suas responsabilidades provê autonomia aos times e flexibilidade às

unidades envolvidas. Em linha com esse pensamento, Binder (2007) aponta algumas

características para profissionais que trabalharão em times virtuais, tais como:

a) Capacidade de comunicação em outras línguas e com culturas diferentes.

b) Pensamento global.

c) Autodisciplina, organização e autoconfiança.

d) Tolerância a ambiguidades.

e) Baixa necessidade de interação social.

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f) Abertura e flexibilidade de horário e relacionamento.

Embora sejam características desejáveis, nem sempre todas estarão presentes em uma

mesma pessoa. Sendo assim, a montagem de times de projeto deve ser feita de forma a

obter-se sinergia entre os diversos membros, para que o time seja maior que a soma dos

indivíduos (LIPNACK; STAMPS, 2000).

2.2.1 Criação e Maturação de Times Virtuais de Projeto

Naturalmente, a implementação de times virtuais de projeto é um grande desafio para as

organizações. A mudança na forma de agir, somada à melhoria de infraestrutura, é uma

transformação que não ocorre rapidamente, e que Lee-Kelley e Sankey (2008)

consideram um limitador para o crescimento de empresas globais em certas regiões.

Neste sentido, a criação e a maturação destes times são fundamentais para seu efetivo

desempenho. Shachaf (2005) considera a diversidade cultural um dificultador para a

criação dos times virtuais, bem como um fator que pode enfraquecer sua efetividade.

Estruturar um time para trabalhar em sinergia não é um processo imediato, tampouco

simples, e varia com diversos fatores, como experiência, flexibilidade e infraestrutura. Em

se tratando de times virtuais, esse processo pode ser mais longo em comparação com

times colocalizados; a formação do time é um fenômeno dependente da flexibilidade e

abertura dos membros (LIPNAK; STAMPS, 1997). A diminuição do contato face a face

proporcionada pela TIC, o que positivamente reduz os custos de projeto (DUARTE;

SNYDER, 2003), impacta na receptividade dos membros (LIPNAK; STAMPS, 1997).

Silveira (2008), por sua vez, em pesquisa com gestores brasileiros de projetos globais,

afirma que os encontros presenciais são insubstituíveis.

Lipnack e Stamps (1997) apresentam a chamada curva S Stressed de formação de times

(figura 1) onde se observam as diversas fases de um projeto percebidas pelos seus

membros. Mostra os pontos altos e baixos de uma relação de contato e interdependência

entre os profissionais. As fases de concepção e maturação de um time de projeto.

a) Início: criação do time, quebra das resistências e exploração das idéias.

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b) Lançamento: é a fase do ―vai ou racha‖. Propostas vagas são definidas e regras e

liderança são estabelecidas.

c) Desempenho: fase onde o time ultrapassa obstáculos, o sentimento de time está

formado e o progresso do projeto é rápido.

d) Teste: o projeto é comparado às expectativas e a desempenho do time é testada.

e) Entrega: fase final, onde o time conclui o projeto e consolida as informações

importantes. Com o fechamento dos trabalhos, muitos membros nunca mais terão

contato entre si.

Figura 1 - Curva S Stressed de formação de times de trabalho

Fonte: Lipnack e Stamps (1997, p. 143).

Lipnack e Stamps (op. cit.) pontuam algumas dicas para a consolidação e maturação de

times virtuais:

a) Investir em contatos face a face nas etapas de Início e Lançamento.

b) Revisar o trabalho dos times antes de sua conclusão e acompanhar o andamento

do processo.

Formação

Tempestade

Percentual de Mudanças

Normalização

Desempenho

ChecagemAvanço

Início Lançamento Performance Teste Entrega

Tempo

Fase

FeedbackInício

-Transição

+/-Meio

+Transição

+/-Final

-

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c) Ter check points7 claros para que o time possa convergir e alinhar o trabalho.

d) Celebrar a conclusão do projeto, mesmo que algumas etapas não tenham atingido

o desempenho desejado.

Quando se trata da formação de times de projeto, o PMI (2008) elucida algumas

características importantes a serem consideradas:

a) Disponibilidade: quando quem estará disponível.

b) Habilidade: as competências necessárias para participação.

c) Experiência: as pessoas já fizeram trabalhos semelhantes de forma eficiente?

d) Interesse: as pessoas estão interessadas em participar desse projeto?

e) Custo: qual será a remuneração dessas pessoas? Serão contratadas pessoas

externas?

Duarte e Snyder (2006), Binder (2007) e Lipnack e Stamps (2000) citam algumas

características desejáveis para membros de times virtuais, tais como flexibilidade,

comunicação, visão global, etc., todavia nada comentam a respeito da formação do time

em si, como é feita a junção das pessoas para a formação do time. Regras básicas de

formação e gerenciamento de times como integração, comunicação e coesão são

aplicadas em times virtuais bem como em colocalizados.

2.2.2 Confiança em Times Virtuais de Projeto

Em qualquer trabalho coletivo, confiança entre os participantes é um fator preponderante

para o sucesso da empreitada. Deming (WHITNEY, 1994, p.vii, tradução nossa) versa a

respeito:

Confiança é mandatório para otimização de um sistema. Sem confiança, não pode haver cooperação entre pessoas, times, departamentos, divisões. Sem confiança, cada componente protegerá seus interesses imediatos em detrimento dos interesses de longo prazo, e em detrimento de todo o sistema. Mudança é requerida. Isso significa a

adoção e integração de novo princípios8.

7 Anglicismo para pontos de checagem das etapas do projeto

8 Trust is mandatory for optimization of a system. Without trust, there cannot be cooperation between people,

teams, departments, divisions. Without trust, each component will protect its own immediate interests to its

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Da mesma forma que os ofícios medievais eram baseados em confiança mútua

(LIPNACK; STAMPS, 2000), times virtuais precisam de confiança entre seus membros

para ser efetivos (CASEY, 2010), principalmente em função de as pessoas não se

encontrarem fisicamente. Como apontam Jarvenpaa, Shaw e Staples (2004), a confiança

induz consequências diretas e positivas para as organizações. Por outro lado, confiança é

um valor subjetivo, que varia entre pessoas. Como afirma Grosse (2002), é importante

que em times virtuais haja indivíduos com desejo de confiar nos outros.

Em contraponto, Lipnack e Stamps (1997) afirmam que confiança tem sua origem

principal no desempenho individual. Uma leitura desse desempenho individual pode ser

dada ao atingimento de objetivos. Quanto mais a pessoa concluir suas atividades e atingir

suas metas, maior será sua capacidade de ser confiada. Todavia, como a confiança é um

valor subjetivo, é difícil basear-se apenas em métricos objetivos como discutido pelos

autores. Em pesquisa com trabalhadores de TI, Webster e Wong (2008) demonstraram as

diferenças em grupos de trabalho locais e virtuais. Apesar de ambos terem sentimento e

identidade de time semelhantes, os primeiros foram melhor percebidos por seus pares em

termos de comunicação e confiança. Por outra perspectiva, Panteli e Tucker (2009)

demonstram que a construção de confiança em times virtuais depende de um equilíbrio

de forças, muito apoiado no conhecimento, em detrimento de hierarquia ou interesses

individuais.

Por sua vez, Binder (2007) afirma que a confiança é o cerne do gerenciamento de

projetos globais. A confiança forja o pensamento de que todos estão atuando para o

atingimento do objetivo comum. Lipnack e Stamps (2000), Duckworth (2008) e Kirkman et

al. (2002) afirmam que a ausência de contato face a face dificulta a formação de

confiança ao mesmo tempo que facilita sua perda. Os mesmos autores reforçam que

times virtuais de sucesso dão especial atenção à criação de confiança nos diversos

estágios de desenvolvimento. Com o objetivo de aumentar a confiança, Henttonen e

own long-term detriment, and to the detriment of the entire system. Transformation is required. This means adoption and integration of new principles.

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Blomqvist (2005), assim como Grosse (2002) sugerem que encontros face a face sejam

fomentados nas etapas iniciais do projeto (LIPNACK; STAMPS, 1997).

Binder (2007), por sua vez, propõe maneiras de se criar e manter a confiança entre os

membros, algumas pouco ortodoxas como perguntar hobbies dos participantes, e mesmo

propor campeonatos virtuais de xadrez entre os membros. Estudo realizado por

Jarvenpaa e Leidner (1999) afirma que times de projeto com alta confiança mútua fazem

grande troca de mensagens de cunho pessoal ao longo de todo o projeto, assim como

Kirkman et al. (2002) expõem que a confiança é criada pela ética entre os pares.

Por outro lado, pelo fato de a maior parte da comunicação ocorrer por meios virtuais, um

dos potenciais destruidores de confiança é a chamada cegueira virtual, definida por

Duarte e Snyder (2006) como comunicar a respeito de uma pessoa ou assunto, supondo

que a pessoa em questão ou responsável pelo assunto não está presente. Isso é dos

grandes perigos das reuniões onde não se pode ―ver‖ todos os presentes, ou nos e-mails

com diversas pessoas copiadas, não se sabendo exatamente quem lerá a mensagem.

Não se pode esquecer, todavia, que os e-mails muitas vezes seguem caminhos diversos,

e podem ser encaminhados futuramente a quaisquer pessoas do projeto, ou mesmo

externas. Nesse sentido, especial atenção deve ser deferida a mensagens escritas, sejam

elas impressas ou eletrônicas, com a finalidade de não ser quebrada a confiança. Da

mesma forma, Duckworth (2008) aponta um fator para a quebra de confiança virtual: as

pessoas tendem a dedicar maior atenção às atividades locais, onde seus pares e

superiores percebem mais claramente seu engajamento. É o chamado ―quem não é visto

não lembrado‖ 9 (DUCKWORTH, op. cit., p. 7, tradução nossa).

Pelo lado gerencial do projeto, a clara e explícita definição de tarefas e responsabilidades

é um dos elementos-chave para o seu sucesso. Em consonância a isso, tanto a definição

como as comunicações associadas devem ser claras, assim como o suporte dos demais

membros deve ser efetivo (JARVENPAA; LEIDNER, 1999). Projetos globais são trabalhos

em time, e todos precisam estar inseridos e devotados à tarefa. Não se pode pensar em

9 Out of sight, out of mind.

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confiança entre membros do time se não houver claro comprometimento de todos para a

consecução do objetivo (DUCKWORTH, 2008).

Apesar de todos os avanços tecnológicos, e das novas formas de interação entre os

membros de um time, o fato de encontrar os colegas fisicamente ainda é uma das formas

mais efetivas de construção de confiança. Como os times virtuais são menos

hierarquizados, as pessoas sentem-se mais confortáveis em entrar em contato com os

demais. Não existe a porta a ser entrada; o sentimento de igualdade é maior. Assim,

quando se tem a oportunidade de visitar as outras unidades, deve-se fazer um esforço

para encontrar todos os colegas de time ali locados, independente de posição hierárquica

(BINDER, 2007).

2.3 Comunicação em Times de Projeto

A partir do momento em que o homem passou a viver em sociedade, a comunicação

transformou-se em necessidade constante para sua sobrevivência e evolução. Nos dias

de hoje, como ressaltam Damiani, Adorno e Ângulo (1999, p. 4), ―todos os integrantes de

uma organização, sem exceção, se comunicam‖. Desanctis e Monge (1999) expõem a

comunicação como item vital para qualquer organização, tornando-se ainda mais

premente quando times virtuais estão em uso, enquanto Martin-Vega (2004) apresenta

como resultado de pesquisa em corporações multinacionais na Europa, Estados Unidos e

Japão indicando que 75% dos gerentes de engenharia consideram a falha na

comunicação como a principal barreira para a excelência corporativa.

Em projetos, entretanto, comunicação não se limita à fala entre seus membros. A

distribuição de informações tais como manuais ou resultados de pesquisas e testes estão

englobadas nos eventos de comunicação. Todavia, Adler (2007, p. 72, tradução nossa)

ressalta que ―comunicação não necessariamente resulta em entendimento‖ 10.

Corroborando com essa afirmação, Barmeyer et al. (2003) e Massey, Montoya-Weiss e

Hung (2003), afirmam que problemas de comunicação em times virtuais residem em

10

Communication does not necessarily results in understanding.

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39

maus entendimentos oriundos de uma comunicação falha, seja em diálogos seja em

contextos interpretados equivocadamente, o que Maznevski e Chudoba (2000)

consideram ser um dos fatores tanto para o baixo desempenho como para falhas em

projetos. Como bem elucida Wille (2005, p. 89), ―na era da comunicação uma das

principais queixas que se ouve é sobre a falta dela‖, opinião também compartilhada por

Davidson (2000). Rabechini, Carvalho e Laurindo (2002), por sua vez, afirmam que as

informações e comunicações devem fluir como uma teia pela empresa, e não apenas de

cima para baixo. Straus e McGrath (1994), também, expõem que a dependência sobre

comunicação será tanto maior quanto maior for a complexidade do projeto em questão.

Por outro lado, quando se fala em comunicação virtual, deve-se levar em conta que se

perdem certos dados marginais. Talvez o mais significativo seja a expressão corporal.

Warkentin e Beranek (1999) dissertam sobre o assunto, considerando esse um fator

dificultador para comunicação virtual. Isso significa que a informação deve ser transmitida

de forma clara, assim como o entendimento correto apoiar-se apenas no que está escrito.

Dinsmore e Silveira Neto (2006) dividem a comunicação em falada e não falada. Para os

autores, a comunicação falada abrange encontros face a face bem como ligações

telefônicas e teleconferências. Características marcantes desse tipo de comunicação são

o tom de voz e volume, elementos-chave que influenciam no entendimento por parte do

receptor.

Por sua vez, a comunicação não falada pode ser dividida em duas: linguagem corporal e

escrita, esta última compreendendo as áreas gráfica e informatizada. A linguagem

corporal é um elemento constante quando se está face a face com outra pessoa, mas de

impacto nulo quando a informação é transmitida de forma escrita ou por áudio. Ela auxilia

na interpretação da mensagem falada. A forma escrita, por outro lado, toma cada vez

mais corpo em times de projeto, notadamente quando se aumenta a complexidade e o

número de pessoas envolvidas. Da mesma forma, a escrita tem a vantagem de poder ser

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usada como registro de fatos ou para futuro follow up11. Informações escritas englobam

minutas de reunião, manuais, pesquisas, e-mails, registros de engenharia, etc.

Conforme Craide, Brito e Moscon (2009), a forma como a comunicação é feita entre

membros de times virtuais ainda não está clara para os gestores; ainda depende da

experiência pessoal, e de como os membros do time estão integrados. Matveev e Nelson

(2004) seguem a mesma linha, considerando as habilidades individuais como

fundamentais para o estabelecimento de atitudes coesivas e de alto desempenho. As

ferramentas de comunicação virtual ainda não estão difundidas entre os diversos níveis

da organização, bem como as operações de cada região estão baseadas algumas vezes

em plataformas diferentes. Outro fator importante levantado na pesquisa desses autores

foi a dificuldade de comunicação entre fusos horários diferentes, sendo esse fator mais

significativo do que domínio do idioma ou cultura. Assim, a maior dificuldade encontrada

baseia-se na baixa ou ausência de sobreposição entre os horários normais de trabalho

entre as unidades globais. Isso requer flexibilidade dos membros para atender reuniões

em horários anteriores ou posteriores à jornada normal de trabalho.

É recorrente, por parte de membros de times virtuais, inferir que a dificuldade de

comunicação dá-se devido à virtualidade. Todavia, Jarvenpaa e Leidner (1999) propõem

que a comunicação é mais afetada por fatores como contexto e tempo do que pelo meio

utilizado, enquanto Maznevski e Chudoba (2000) afirmam que teleconferências bem

organizadas e conduzidas podem ser tão eficientes quanto reuniões presenciais. Não se

pode deixar de observar que a proposição foi feita em 1999, quando os meios de

comunicação eletrônicos ainda não estavam plenamente difundidos, Hoje, da forma como

as empresas trabalham, não se pode mais culpar a tecnologia pelas dificuldades de

comunicação virtual, mas sim afirmá-la como uma ferramenta de extremo valor quando se

trata de comunicação com pessoas remotamente locadas.

11

Anglicismo utilizado para referir-se a cobrar uma pessoa a respeito de uma tarefa.

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2.3.1 Comunicação Formal e Informal

Outra classificação para comunicação comumente utilizada é a formal e informal. Beber

(2008) cita a comunicação formal como a utilizada para garantia da difusão das

informações necessárias ao trabalho, enquanto a informal resulta do ambiente social

existente nas organizações. Ambas estão presentes em projetos, e fazem-se igualmente

importantes. Ao passo que a comunicação formal procede da estrutura organizacional

propriamente dita (KUNSCH, 2003) e é compartilhada em reuniões, pesquisas e

relatórios, a informal encontra seu espaço nos corredores e encontros não oficiais de

membros do time. Como exemplificam Zenun, Loureiro e Araújo (2009) e Nardi e

Whittaker (2002), é a conversa em torno do bebedouro, é comer e beber juntos. Por outro

lado, Kirkman et al. (2002) dizem que excelentes idéias nascem em encontros no corredor

e nas pausas para café.

A comunicação formal, por sua vez, é mais fácil de ser processada e controlada. Como se

difunde por documentos oficiais e está descrita no planejamento de comunicação do

projeto (PMI, 2008), as informações divulgadas estão em acordo com as diretrizes

organizacionais. Em razão do acima exposto, esse tipo de comunicação geralmente é de

fácil entendimento, e não possuem mensagens em segundo plano; não se necessita de

suportes como linguagem corporal ou entonação para serem compreendidas.

Em um ambiente de gerenciamento de projetos, grande parte da comunicação se dá de

maneira informal, mesmo assim, sendo as informações trocadas de grande importância

para o sucesso do trabalho.; esse tipo de comunicação é afetado enormemente pela

distância física entre os membros do time, bem como a confiança pode ser maior entre

pessoas que trabalham próximas (WHITTAKER, FROHLICH; DALY-JONES, 1994;

HERBSLEB et al., 2000; HERBSLEB; GRINTER, 1999). Outro ponto a favor da

comunicação informal é sua velocidade. Em ambientes instáveis12 ou de alta velocidade

de mudanças, a comunicação formal não consegue acompanhar as alterações do projeto

(HERBSLEB et al., 2000; HERBSLEB; MOCKUS, 2003). Herbsleb e Grinter (1999) ainda

12

Entenda-se como ambientes em que as mudanças são rápidas e não estão sob o controle do time de projeto, como regulamentações governamentais, tendências de consumo, etc.

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pontuam que a comunicação informal não se encontra na estrutura oficial de comunicação

do projeto; é simplesmente o acesso de membros do time a outros, conforme a

necessidade, não requerendo a autorização ou conhecimento da gerência. Conforme

Kunsch (2003, p. 83) ―o sistema informal de comunicações emerge das relações sociais

entre as pessoas‖.

Em virtude de a comunicação informal ser feita basicamente de maneira oral, ela está

acompanhada ao menos da entonação, caso seja feita via áudio, o que facilita

sobremaneira a compreensão pelo receptor. Em contraponto, o e-mail muitas vezes

também é utilizado de uma maneira bastante informal. Entretanto, essa forma informal

escrita não tem suporte algum para entendimento, o que pode dificultar um entendimento

mais claro (KASPER-FUEHRER; ASHKANASY, 2001).

Por outro olhar, a comunicação informal é de grande valia para a coordenação de times.

Pela sua simplicidade e agilidade, e também pela formação de redes sociais entre os

membros, a comunicação informal fortalece os laços de espírito de time, bem como

facilita a distribuição de informações e o acompanhamento de tarefas. Por outro lado, um

potencial risco à comunicação informal é a ausência de início e conclusão (WHITTAKER,

FROHLICH; DALY-JONES, 1994), o que pode gerar dificuldade em monitoramento da

evolução da tarefa. Kunsch (2003) cita também a comunicação informal como um

potencial risco, pelo subproduto de boatos ou rumores. Por outro lado, a comunicação

informal em projetos multilocalizados pode ser melhorada com viagens dos membros no

início do projeto, de forma que as pessoas se conheçam face a face (WEBSTER; WONG,

2008; HERBSLEB; GRINTER, 1999; GROSSE, 2002); e parte dos objetivos desses

encontros deve ser explicitamente a confecção de uma rede social, não se limitando a

tarefas exclusivamente relacionadas às atividades do projeto.

2.4 Ferramentas de Apoio a Comunicação Virtual em Projetos

Existem distintas ferramentas de apoio à comunicação virtual, as quais podem ser

empregadas ao longo do processo de projeto de produtos. A utilização destas

ferramentas depende, basicamente, do tipo de informação a ser transmitida, dos

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envolvidos e dos recursos disponíveis, bem como da motivação dos membros em utilizá-

las adequadamente (CASEY, 2010). Como afirma Heerkens (2002), a forma como a

mensagem é transmitida muitas vezes é tão importante quanto a mensagem em si.

Quando se fala em comunicação em times virtuais, não se pode deixar de lado os meios

de comunicação baseados em computador e internet. Mesmo ligações telefônicas estão

sendo feitas via tecnologias Voice over Internet Protocol (VoIP) 13, ou seja, via

comunicação mediada por computador (CMC). A revolução tecnológica ocorrida nas

últimas décadas, principalmente após o computer-on-a-chip14 nos anos 1970, e a internet

nos anos 1990, permitiu que a comunicação se realizasse de forma rápida e pessoal,

mudando a forma como as pessoas interagem.

Brislin e Yoshida (1994) sugeriam que a área de recebimento de correspondências fosse

grande o suficiente para que as pessoas pudessem conversar enquanto verificavam suas

correspondências diárias. Esse tipo de infraestrutura hoje, 25 anos depois, é

desnecessária, pelo fato de que as correspondências chegam principalmente de forma

eletrônica. A parte de correspondências físicas nas empresas hoje, muitas vezes está

restrita a duas caixas, uma para ―saída‖ e outra para ―entrada‖ que acumulam

correspondências por semanas, pois as pessoas perderam o costume de checá-las

regularmente.

Na verdade, em ambientes corporativos, a CMC confunde-se com a própria comunicação.

Os profissionais permanecem mais tempo com os olhos na tela do computador do que em

outras atividades. Dessa forma, as possibilidades de comunicação hoje oferecidas

possuem poucas barreiras. Mesmo a parte de infraestrutura, que por muito tempo foi o

maior dificultador, hoje está cada vez mais disponível. Telefonia celular, internet wireless

e notebooks contribuíram de forma significativa para a ampliação da CMC.

Os meios de troca de informação podem e devem ser usados em paralelo, sendo que

cada mensagem tem um forma adequada de transmissão. Dentre as ferramentas de

13

Voz por protocolo de internet. Tecnologia que permite que as ligações telefônicas sejam feitas via internet. 14

Computador em um chip. Quando os computadores passaram de mainframes para PCs.

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comunicação virtual utilizadas em projetos globais, as mais utilizadas são descritas a

seguir.

2.4.1 E-mail

Também conhecido como correio eletrônico, é uma ferramenta que permite a troca de

mensagens, com a possibilidade de se anexar arquivos eletrônicos. Sem dúvida o e-mail

é a ferramenta de comunicação virtual mais utilizada em times de projeto para

comunicação (SILVEIRA, 2008; SHACHAF 2005). Grosse (2002), por sua vez, aponta o

e-mail como a ferramenta mais atrativa para times virtuais. É uma forma clara e simples

de envio e recebimento de informações, bem como diversas pessoas podem ser

informadas de uma só vez, assim como arquivos anexos podem facilitar o entendimento.

Lipnack e Stamps (2000) apontam o e-mail junto com o telefone e a conversa face a face

como os meios de comunicação pessoal mais importantes.

Com certeza é uma ferramenta essencial e de baixíssimo custo, entretanto é também

uma das mais mal utilizadas (DUARTE; SNYDER, 2006). Em pesquisa empírica Damiani,

Adorno e Ângulo (1999) apuraram que menos da metade das mensagens trocadas

realmente agregam valor ao trabalho. Conforme Berkum (2008, p. 203, tradução nossa),

―toneladas de e-mails semi-interessantes, mas sem relevância direta com nada‖ 15 são

encaminhadas ao longo de um projeto como informação aos demais membros.

Dentre as suas vantagens podem ser citadas:

a) Assíncronismo: não necessita que emissor e receptor estejam simultaneamente

conectados. Essa facilidade permite que membros em fusos horários adversos

troquem informações com facilidade.

b) Tempo para escrita e leitura: em conjunto com o assincronismo, o e-mail permite

tempo ao emissor para escrever e ao o receptor ler cuidadosamente a mensagem

(GROSSE, 2002). Isso se torna primordial quando se tem pessoas não nativas ou

com baixo conhecimento do idioma. É facultado a essas pessoas, tempo para

releitura ou mesmo ajuda de colegas para confirmação de clareza (SHACHAF,

15

―tons of semi-interesting-but-not-directly-relevant-to-anything e-mail”

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45

2005). Paralelamente, Dinsmore e Silveira Neto (2006) elucidam que a

comunicação escrita deve ser clara o suficiente para que não possa ser mal

interpretada.

c) Multidestinatário: permite que diversas pessoas sejam informadas com uma única

mensagem, da mesma forma que os destinatários podem ser vistos dentro do

corpo da mensagem. Dessa forma pode ser criada uma lista de distribuição dentro

do time, ou mesmo várias, conforme nível e conteúdo das informações, em que

rapidamente as pessoas corretas são identificadas e informadas.

d) Envio de arquivos e web links16: permite a troca não apenas de textos, mas

também de arquivos em formatos diversos, tais como fotos, figuras, relatórios que

facilitam a compreensão da mensagem, da mesma que web links podem direcionar

tanto para intranet quanto para internet fontes com maiores informações.

Por outro lado, um vício disseminado em muitos usuários é o uso de e-mails como forma

de conversação, em paralelo ao ―responder a todos‖. O primeiro cria mensagens longas,

que precisam ser lidas desde o início para compreensão plena, enquanto o segundo

muitas vezes envolve pessoas que não necessitam da informação em questão. Isso, em

termos corporativos gera desperdício de tempo, podendo impactar no tempo de projeto,

em virtude dos membros terem que desviar atenção a assuntos não correlatos.

2.4.2 Telefone

Juntamente com o e-mail, o telefone é uma das ferramentas básicas para comunicação

virtual (Binder, 2007). Dentre as ferramentas de comunicação virtual analisadas neste

estudo, o telefone é a mais antiga, datando seu desenvolvimento do século XIX. Todavia,

é uma ferramenta que vem evoluindo e se aperfeiçoando continuamente, a ponto de estar

sempre atualizado tecnologicamente. Tanto a versão por fio quanto sem fio ou móvel são

dispositivos imprescindíveis para comunicação em qualquer time de projeto. Lipnack e

Stamps (1997) consideram o telefone como a maior adição à comunicação pessoa a

pessoa desde a evolução da fala. Não se pode esquecer, ainda, que áudio e

16

Endereço de página na intranet ou internet.

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videoconferências são baseadas em telefonia. No contexto deste trabalho, está sendo

considerado nesse item apenas o uso do telefone em si como ferramenta de

comunicação. Seu suporte a conferências foi analisado em itens posteriores.

Uma das vantagens do telefone é seu suporte à interatividade remota dos participantes,

mesmo que prescinda das evidências visuais (KRAUT et al., 2002). Essa é uma

necessidade entre pessoas localizadas remotamente: falar em tempo real com colegas do

outro lado do mundo. Essa facilidade, ressalta Binder (2007), é de extrema valia para

coletar feedback de membros remotos, já que as pessoas são mais suscetíveis a falar do

que escrever sobre esse assunto. Hinds e Weisband (2003) citam o telefone como uma

tecnologia eficiente para entendimento mútuo, devido aos fatores sociais e a participação

ativa de ambas as partes. Por sua vez, Herbsleb et al. (2000), assim como Hinds e

Weisband (2003) afirmam ser o telefone menos suscetível a mal entendidos do que

comunicação escrita, sendo uma ferramenta essencial na solução de problemas. Berkum

(2008), a seu modo, considera um telefonema de 30 segundos equivalente a uma série de

e-mails o que torna o primeiro uma ferramenta de grande valia para esclarecimentos e

entendimentos.

Todavia, Grosse (2002) reitera a dificuldade do uso dessa ferramenta por pessoas sem a

devida habilidade na língua. Como pouquíssima informação além das palavras é

transmitida, muitas pessoas apresentam dificuldade em comunicar-se por esse meio fora

de sua língua materna.

Por outro lado, Kraut et al. (2002) ressaltam que nem sempre as pessoas estão

disponíveis, o que faz com que a maior parte das ligações dentro de uma empresa não

são atendidas na primeira vez. Dois recursos interessantes que podem ser adicionados

ao sistema de telefonia de uma empresa são identificador de chamadas e secretária

eletrônica. O primeiro pode servir como forma de priorização para o atendimento das

chamadas; o segundo serve como uma forma de adiantar o assunto a ser discutido ou

deixar um recado para retorno da ligação. Fato curioso sobre esse último recurso é como

as pessoas lidam com ele. Enquanto americanos o usam frequentemente, brasileiros não

tem o costume de deixar mensagens.

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Binder (2007), por sua vez, cita o telefone como substituto a encontros face a face quando

esses não são possíveis, para discussão de assuntos delicados ou conflituosos. A

entonação e mesmo a interatividade são fatores que permitem uma solução menos

conturbada para esse tipo de assunto.

2.4.3 Chat

É a forma de troca de mensagens curtas de texto instantâneas (BERGERON, 2003). O

uso de chats, também chamados Instant Messaging17 (IM), foi primeiramente difundido

para uso privado, tendo sido introduzido como ferramenta profissional no início da década

de 2000 (HERBSLEB et al., 2002). Muller et al. (2003) apontam o uso de chats como

fonte de redução de custos, ao passo que essa ferramenta pode substituir parcialmente

comunicações mais custosas, como telefonia ou teleconferências. Os mesmos autores

apontam como principais utilizações dos chats para resolução de pequenas dúvidas,

saber se a pessoa está disponível e socialização, sendo essa última também apontada

por Herbsleb et al. (2002). Por sua vez, Kraut et al (2002) apontam o chat como um meio

próximo à conversação falada, o que facilita a comunicação.

Pode se dizer que o grande difusor dos IM foi o ICQ, lançado em 1996. Atualmente, o

MSN Messenger é um dos mais utilizados, embora diversos softwares de comunicação,

como Skype e MS Net Meeting, tenham essa função acoplada. A grande vantagem do

chat é poder trocar mensagens e informações em paralelo a outras atividades, como

reuniões. Duas vantagens podem ser facilmente reconhecidas: sincronismo e escrita. O

sincronismo agiliza o envio e o recebimento de informações, ao passo que a escrita

auxilia principalmente quando se trata de nomes e números. Muitas vezes é difícil

entender números pelo sotaque da pessoa, enquanto que nomes asiáticos ou germânicos

são difíceis de serem entendidos por brasileiros; e a recíproca é verdadeira. Todavia,

Duarte e Snyder (2006) observam que um número elevado de pessoas participando de

uma mesma conversa pode atrapalhar a identificação de quem disse o quê e quando. Em

17

Mensagens instantâneas

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uma discussão com número elevado de participantes, quiçá acima de quatro, talvez seja

mais efetivo o uso de telefone.

2.4.4 Audioconferência

Audioconferência é a ferramenta que possibilita diversas pessoas comunicarem entre si

simultaneamente por voz. Em virtude de seu fácil uso associado à eficiência de poder-se

conversar com os demais membros, a audioconferência é uma ferramenta extremamente

difundida em times de projeto. Mesmo em times que estão a poucas centenas de metros

de distância, como prédios distintos dentro de um mesmo complexo, sua utilização é

expressiva.

Quando se fala em audioconferências, pode-se pensar em uma junção entre telefone e

reuniões presenciais. Como muitas vezes não se pode reunir todos os membros em uma

sala devido à dispersão geográfica, a audioconferência pode cobrir essa deficiência.

Todavia, não se pode esquecer das limitações inerentes. Talvez se possa citar a ausência

de informações visuais e corporais (WEBSTER; WONG, 2008; MASSEY, MONTOYA-

WEISS; HUNG, 2003) como uma das mais importantes limitações dessa ferramenta de

comunicação virtual.

2.4.5 Videoconferência

Videoconferência é uma das ferramentas mais utilizadas por times virtuais (DUARTE;

SNYDER, 2006), e possibilita que times dispersos possam conversar ―face a face‖.

Lipnack e Stamps (1997) apuraram que a simples instalação de uma web cam sobre o

monitor faz com que as pessoas se comuniquem de forma mais informal com colegas

remotos. O uso de videoconferência foi bastante facilitado nos últimos anos pela difusão

dos softwares de conversação, principalmente MSN Messenger, Cisco Webex e MS Net

Meeting. Apesar de sua fácil operação, o uso de tais ferramentas ainda é dificultado pela

baixa velocidade de transmissão de dados, o que ocasiona baixa qualidade nas imagens

recebidas, além de atraso entre voz e vídeo, agregando pouco valor à comunicação

(GROSSE, 2002). Para usos privados, essa desvantagem pode ser relevada, todavia,

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quando se fala em termos corporativos, baixa qualidade associada com atraso entre som

e imagem torna essa ferramenta pouco eficiente.

2.4.6 Webinar

É a união de audioconferência com compartilhamento em tempo real de informações na

tela do computador. Uma ou mais pessoas compartilham a tela do computador, e todos

visualizam a mesma informação. Essa ferramenta proporciona um ganho de eficiência

significativo em audioconferências, fazendo com que todos os participantes tenham

acesso à mesma informação, ao mesmo tempo em que elimina a necessidade de envio

de arquivos antecipadamente, que podem deixar os servidores lentos e gerar versões

paralelas, e de impressão de cópias. Assim, diferentes fontes de informação são

visualizadas em tempo real, facilitando o acompanhamento e entendimento do assunto.

Talvez, o principal benefício se dá quanto ao entendimento de números e nomes,

notadamente em reuniões com diferentes países. O sotaque, habilidade no idioma inglês

e os nomes em outras línguas são grandes dificultadores em conferências.

Por outro lado, mesmo que não haja a necessidade de compartilhamento de arquivos

durante a reunião, a disponibilização da tela compartilhada possibilita que a minuta da

reunião seja escrita em tempo real, permitindo aos demais acompanhar e opinar sobre

seu conteúdo de uma forma mais prática (BINDER, 2007). Dessa forma, diminui-se a

possibilidade de a minuta ser escrita de forma errada, e permite aos participantes saber

de antemão o que será divulgado.

O fato de ter-se um guia visual que pode ser seguido, a visualização de nomes, números

e gráficos ajuda no entendimento da reunião, ao mesmo tempo em que auxilia na

concentração sobre o tema. Isso pode ser melhor percebido em reuniões longas, ou

quando uma pessoa necessita atender apenas um tópico em específico. Ela pode atender

a reunião e fazer trabalhos em paralelo até que veja seu assunto na tela. Isso gera ganho

de desempenho pelo fato de a pessoa não necessitar ficar concentrada em assuntos não

a si pertinentes, enquanto poderia fazer tarefas mais importantes.

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2.4.7 Intranet e Team Rooms

O uso de redes de informações em projetos é cada vez mais comum em empresas.

Enquanto intranet é a rede interna da empresa como um todo, acessível por todos os

funcionários, team rooms são espaços virtuais com acesso exclusivo para os membros do

time de projeto, onde esses podem trabalhar colaborativamente em documentos e

arquivos (HINDS; WEISBAND, 2003). A concentração de informações em um local virtual

assegura que os membros, independente de local ou horário, tenham acesso às

informações necessárias e atualizadas, bem como facilita a preparação de cópias de

segurança (BINDER, 2007). Como afirmam Lipnack e Stamps (2000, p. 48, tradução

nossa) ―você precisa de uma companhia onde todos tenham acesso à coleção de

conhecimento da organização independente de tempo e espaço‖ 18. Os mesmos autores

vão mais longe, questionando os imensos investimentos em sistemas que funcionam

apenas fisicamente dentro do escritório. Esse questionamento baseia-se no fato de que

cada vez mais funcionários perfazerem atividades de home office19 necessitando, dessa

forma, de acesso à intranet. Por outro lado, os team rooms são uma forma de assegurar

que informações importantes do projeto estejam a salvo de roubo ou acesso indevido.

Porém, dois fatores foram fundamentais para o efetivo uso da intranet: a difusão da

internet e o aumento da velocidade de transmissão de dados. Sem a evolução ocorrida no

início do século XXI, esses recursos teriam pouca utilidade para a maioria das empresas.

Entretanto, o uso e nível de sofisticação dessas ferramentas podem variar muito entre

empresas. Conforme Lipnack e Stamps (1997), o uso da intranet pode dar-se em três

etapas:

a) Site simples com links para eventos, pessoas e comunicações.

b) Site com informações, diagramas, modelos e resultados dos trabalhos já

executados.

18

You need a company where everyone has access to the collective intelligence of the organization regardless of time and space. 19

Anglicismo para trabalho em casa. O funcionário desempenha suas atividades normais de trabalho a partir de sua casa, não necessitando estar fisicamente na empresa.

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51

c) Ferramenta interativa, com informações on line, processos dinâmicos e

realimentação automática de informações, linkadas20 a outras fontes.

2.4.8 Web 2.0

Após a difusão da internet nos anos 1990, o início do século XXI assistiu aos internautas

interagindo de forma ativa na rede. Foi com o uso de ferramentas livres como blogs, wikis,

compartilhamento de fotos e vídeos e as redes sociais que surgiu a chamada Web 2.0

(SOLOMON; SCHRUM, 2007). Apesar de parecer uma nova versão pelo uso da

expressão ―2.0‖, essa nova internet é apenas uma evolução da rede mundial de

computadores criada no CERN (ANDERSON, 2007). O uso dessas novas tecnologias

facilitou o surgimento de redes sociais, o entrosamento entre os membros de um time,

bem como a troca de informações.

A Web 2.0 está modificando a forma como nos relacionamos com o computador; os

softwares, que tradicionalmente eram comprados e instalados nos computadores, estão

migrando para a rede. Isso significa que um computador conectado à internet tem à sua

disposição uma infinidade de ferramentas e softwares para serem utilizados, e muitas

vezes de forma gratuita. É a internet servindo como plataforma de dados (O'REILLY,

2010). Essa mudança na forma de interação permite que os cidadãos comuns, antes

receptores de informações, passem a gerar e disponibilizar dados e opiniões na rede

(STILLMAN; MCGRATH, 2008, RICHARDS, 2007).; essa interação pode ser colaborativa,

com diversas pessoas atuando sobre a mesma plataforma de dados (SOLOMON;

SCHRUM, 2007).

As principais ferramentas da Web 2.0 são:

a) Blogs: são web sites21 dedicados à divulgação de comentários pessoais. Podem

ser genéricos ou específicos sobre um assunto, e possibilitam a divulgação de

mídias e links para outros sites. Via de regra os leitores podem tecer suas opiniões

a respeito dos comentários e assim interagir com os demais usuários. A principal

20

Anglicismo que significa associação entre coisas ou assuntos, ou o uso de hiperlinks para outras fontes.

21 Anglicismo para página de internet.

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52

diferença entre os blogs e as home pages predecessoras é a atual velocidade de

atualizações, muito superior às antecessoras (ANDERSON, 2007).

b) Podcasts: é o compartilhamento de mídias, sejam vídeos ou áudios, para que

sejam ouvidas em MP3 players22 ou em outros computadores.

c) Wikis: são web sites onde as pessoas podem colaborativamente escrever, editar e

alterar as informações disponíveis. Um dos principais sites mundiais é o

Wikipedia23 (MADDEN; FOX, 2006), uma enciclopédia on line que contém mais

informações que a Enciclopédia Britânica (SOLOMON; SCHRUM, 2007). Apesar

da argumentação de que os wikis podem ser alvos de vandalismo, tendo suas

informações deturpadas, há correntes de estudo indicando que tais atos são

rapidamente corrigidos pelo processo colaborativo de automoderação

(ANDERSON, 2007).

Em termos organizacionais, pode-se pensar na utilidade da Web 2.0 principalmente

quanto a blogs e wikis. Os primeiros seriam usados para a distribuição de informações

relevantes com a agilidade necessária em projetos dinâmicos ou ambientes instáveis,

enquanto os últimos seriam melhor aplicados como enciclopédia corporativa. Em virtude

de as grandes corporações possuírem um vocabulário técnico muitas vezes peculiar, isso

facilitaria a integração de novos membros, bem como permitiria um entendimento comum

sobre termos e processos. Essa enciclopédia serve, inclusive, como central de

treinamento, onde cursos podem estar disponíveis, sendo sua atualização constante com

as mais novas tecnologias e processos disponíveis. Dessa forma, o conhecimento tácito

dos membros passa a ser conhecimento explícito da empresa, protegendo-a contra sua

perda pela saída do funcionário.

2.4.9 Redes Sociais

Redes sociais são ligações entre pessoas motivadas por razões profissionais e/ou

pessoais, e são praticamente tão antigas quanto a própria Humanidade. Hoje, com o

auxílio da internet, há uma facilidade muito grande em sua busca e auto-identificação. As

22

Aparelhos portáteis para reprodução de som e imagens. 23

www.wikipedia.org

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53

redes sociais podem ser definidas como ligações não lineares, flexíveis, dinâmicas, não

hierárquicas e auto-organizáveis motivadas por objetivos comuns (MARTELETO; SILVA,

2004; TOMAÉL, ALCARÁ; CHIARA, 2005). Quando se fala em redes sociais suportadas

pela internet, pode-se observar o Linked In e o Facebook como as principais ferramentas,

sendo o primeiro focado no lado profissional. Na verdade, essas redes ligam pessoas com

interesses semelhantes, e podem servir como ponto de partida para novos desafios

profissionais.

Por outro lado, a Era da Informação já sobrepujou a Era Industrial em termos de geração

de valor, bem como estabeleceu novos parâmetros para a condução dos negócios

(LIPNACK; STAMPS, 2000). As empresas não precisam mais necessariamente dominar

todos os detalhes de seu processo, mas sim ter redes que supram suas necessidades. De

maneira análoga, um time de projeto dentro de uma empresa não carece dominar todas

as especificidades do projeto. O estabelecimento de redes sociais internas passa a ser de

vital importância nessas atividades, na forma que se possa buscar o conhecimento de um

funcionário específico, que pode estar alocado em outro projeto ou mesmo país. A rede

social corporativa fornece esse conhecimento necessário para se acionar alguém de fora

do time. Como discutem Cross e Parker (2004), as empresas estão menos direcionadas

aos relatórios formais e aos processos burocráticos; é mais importante que as tarefas

sejam cumpridas. Esse novo pensamento faz com que as pessoas criem laços superiores

aos formais e estritamente corporativos, chegando muitas vezes a formação de amizades

dentro do círculo organizacional.

Assim, a hierarquia rígida da Revolução Industrial cede espaço a ligações dinâmicas e

informais, que acabam por ter um desempenho no cumprimento das tarefas superior em

relação às exclusivamente formais e hierárquicas. Essas ligações, todavia, não devem ser

interpretadas como aleatórias. Elas são muitas vezes fruto de necessidades entre os

funcionários, que acabam por formar redes de conhecimento internas à organização, e

posteriormente se beneficiam pela maior amplitude de informações que podem ser

coletadas por meios informais. Um estudo realizado por Cross e Parker (op. cit.) em uma

empresa petrolífera, e resumidamente apresentado nas figuras 2 e 3, mostra como esse

tipo de rede é muito mais abrangente do que apenas aos times operacionais. A rede

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54

apresentada na figura 3 baseia-se na frequência de troca de informações entre os

membros.

Figura 2 - Hierarquia organizacional

Fonte: adaptado de Cross e Parker (2004).

O que pode ser percebido na figura 3 é a dependência da organização em torno de Cole.

Isso representa dois riscos: a saída deste da organização quebraria linhas de

comunicação estabelecidas, da mesma forma que ele atua como um gargalo na

comunicação, podendo atrasar o fluxo de informações.

Cross e Parker (op. cit.) afirmam ainda que as pessoas tendem primeiro a tentar obter

informações por sua rede de contactos ao invés de procurar em banco de dados ou

literatura.

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55

Figura 3 - Rede social dentro de uma organização

Fonte: adaptado de Cross e Parker (2004).

2.5 Idioma Oficial

Quando se fala em comunicação, um dos primeiros fatores que vem à mente é o idioma.

Não se pode pensar em comunicação sem considerar-se o idioma utilizado. Quando se

trabalha com times virtuais, esse fator toma maior vulto, pois dificilmente se contará com a

linguagem corporal para expressar idéias e informações. Dessa forma, é de primordial

importância o estabelecimento de um idioma oficial, para que todos os envolvidos possam

compartilhar das informações. Atualmente o inglês é considerado o idioma global para

negócios (ADLER, 2007). Por sua vez, Shachaf (2005; 2008) considera o inglês como

uma língua de construção informal e de simples aprendizado, o que torna mais fácil a

comunicação entre não nativos. Por outro lado, Kaushik (2009) adverte para as diferenças

linguisticas entre os diversos países de língua inglesa. É importante que nesses times

haja uma homogeneização do idioma, para que todos os seus membros entendam-se

mutuamente.

2.6 Diferenças Culturais

Quando se trabalha com times virtuais, não se pode negligenciar as diferenças culturais

entre seus membros. Entre as diferenças podem ser citadas cultura, religião, hábitos e

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valores que podem influenciar na forma como as pessoas trabalham. Adler (2007) define

a cultura como algo comum a um grupo social, que os mais velhos tentam passar aos

mais novos e que molda o comportamento do grupo. A figura 4 apresenta a ligação entre

cultura e comportamento.

Figura 4 - Influência da cultura para um grupo social

Fonte: Adaptado de Adler (2007).

Segundo Brislin e Yoshida (1994), após a Segunda Guerra Mundial houve um aumento

significativo da comunicação intercultural, principalmente devido a intercâmbios

acadêmicos, viagens aéreas, aumento das transações comerciais internacionais, a

absorção pelo mercado de trabalho de mulheres e minorias étnicas, bem como a

movimentações migratórias e de refugiados. Isso causou alterações na forma como as

pessoas se relacionam e se comunicam, e que anteriormente eram pouco observadas ou

atentadas. Culturas individualistas, como a norte-americana ou alemã, fazem uma

separação clara entre a esfera privada e profissional, enquanto culturas coletivistas, como

a persa ou indiana, tendem a misturar amizade com relação profissional (ADLER, 2007;

KANKANHALLI, TAN; WEI, 2007). Fazendo outra distinção entre culturas, Lee (2002)

aborda como orientais sob a influência do Confucionismo comunicam-se com seus pares

e superiores.

Por outro ângulo, a diversidade de culturas dentro de um time gera melhores decisões,

em virtude da diferença de perspectivas analisadas (SHACHAF, 2005), ao mesmo tempo

Cultura

ValoresComportamento

Atitudes

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57

em que os próprios membros de times heterogêneos percebem a melhor qualidade nas

tomadas de decisão (PAUL et al, 2005). Daily e Steiner (1998) corroboram com essa

afirmação, demonstrando que times culturalmente diversos apresentam número

significativamente maior de soluções para um mesmo problema. Por outro lado, Adler

(2007) e Lewis (1995) advertem que apesar da potencial produtividade, times

multiculturais experimentam seguidamente baixos níveis de desempenho, ocasionados

não pela diversidade em si, mas pelo gerenciamento ruim dessa diversidade. Isso se deve

principalmente aos entendimentos errôneos entre os membros do time. Ainda segundo a

autora, a eficiência máxima desses times apenas é atingida com a correta condução de

sua heterogeneidade. A figura 5 mostra a efetividade de times homogêneos comparada

com times heterogêneos. Dessa forma, empresas transnacionais necessariamente devem

atentar às peculiaridades existentes em ambientes com pessoas de origens diversas.

Essas peculiaridades, todavia, devem ser atentadas por todos os níveis da organização,

desde o presidente até o chão de fábrica.

Figura 5 - Efetividade de times homogêneos e heterogêneos.

Fonte: adaptado de Adler (2007).

Por outro ângulo, Kankanhalli et al (2007) apontam a maior incidência de conflitos em

times multiculturais. Isso dá-se pelas diferentes opiniões individuais, ou de grupo, sobre

determinados temas.

Cultura e valores são características intrínsecas aos povos. Por mais que o mundo hoje

esteja globalizado e as diferenças estejam diminuindo, as diferenças e barreiras culturais

existem e não podem ser negligenciadas. Lipnack e Stamps (1997, p. 17, tradução nossa)

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afirmam ―ser melhor atravessar barreiras do que bater contra elas‖ 24. O quadro 2

apresenta um comparativo entre vantagens e desvantagens de times multiculturais.

Quadro 2 - Vantagens e desvantagens de times multiculturais.

Vantagens Desvantagens

Maior abertura para novas idéias. Maior ambiguidade.

Múltiplas perspectivas. Maior complexidade.

Múltiplas interpretações. Mais desentendimentos.

Maior criatividade. Mais falhas na comunicação.

Maior flexibilidade. Dificuldade em chegar a acordos.

Maior habilidade na resolução de problemas. Dificuldade em ações específicas.

Fonte: adaptado de Adler (2007).

24

It is far better to cross boundaries than to smash them.

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3. A AUTOGLOBO

A Autoglobo é uma multinacional de origem norte-americana e capital aberto, sendo

listada entre as cinco maiores montadoras de veículos do mundo. Presente em todos os

continentes, opera 80 plantas de manufatura empregando aproximadamente 176 mil

funcionários. Possui centros de desenvolvimento de produto nos Estados Unidos, Europa,

Brasil, China, Japão e Austrália, atuando desde veículos de passageiros a caminhões

pesados. No Brasil possui quatro unidades operacionais, compreendendo três plantas de

manufatura e dois Centros de Engenharia. Na América do Sul ainda possui operações

fabris na Argentina e Venezuela. Historicamente, é reconhecida pela inovação e

desenvolvimento de novas tecnologias automotivas. Entre seus quadros, encontram-se

centenas de mestres e doutores focados em desenvolvimento de soluções tecnológicas.

Dentro de sua estratégia global de desenvolvimento de novos produtos, tem focado a

especialização em seus centros de engenharia, tendo o Brasil sido contemplado com o

desenvolvimento de veículos pequenos de baixo custo para mercados emergentes, a

Europa com veículos médios e motorizações e Estados Unidos com veículos grandes,

picapes e motorizações para esses segmentos. Dentro das atividades da engenharia de

produto brasileira, podem ser destacadas as atividades de localização, principalmente de

veículos desenvolvidos em outras regiões e que serão manufaturados localmente,

principalmente nas plantas do Brasil e da Argentina.

O departamento de Desenvolvimento de Produto emprega aproximadamente 1500

pessoas no Brasil, entre técnicos, engenheiros e designers, tendo capacitação para

desempenhar a maior parte das atividades de desenvolvimento, validação e

homologação25 de veículos. Dentro da estratégia global, a unidade brasileira está sendo

envolvida fortemente em novos projetos, o que a impele a interagir e entender os

mercados e legislações de outros países, que não os usualmente focados anteriormente.

Essas novas situações estimulam os funcionários locais a se conectarem estreitamente

com os colegas de outros países, sendo a comunicação em outras línguas e com outras

culturas uma atividade diária.

25

Atividade de certificar a conformidade do veículo com a legislação do país onde este será comercializado.

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60

Prática que já ocorre há muitos anos, e que foi sensivelmente afetada pelos novos

projetos globais é o intercâmbio de funcionários, seja por viagens de negócios seja por

expatriação. Essa atividade tem o objetivo de divulgar e implementar melhores processos

ao redor do mundo.

Dentro de suas políticas de recursos humanos, pontua fortemente o tratamento igualitário

de seus funcionários, independente de cor, credo, etnia, sexo ou orientação sexual,

estimulando, assim, a diversidade entre seus quadros. A Autoglobo, neste sentido,

considera que a diversidade promove melhores escolhas para a organização.

3.1 Projeto Alfa

O Projeto Alfa a ser estudado se passa na Autoglobo, sendo o primeiro projeto de um

novo veículo global cujo desenvolvimento é gerenciado pelo time brasileiro, cujas

unidades norte-americana, européia e asiática são suporte. O Projeto Alfa em questão é o

desenvolvimento de um novo veículo de passeio do tipo SUV26 voltado principalmente

para os mercados emergentes e cuja fabricação ocorrerá em plantas na América do Sul e

na Ásia.

A liderança das atividades de Engenharia, Compras e Finanças é do time brasileiro, tendo

apoio das demais unidades. O desenvolvimento de Design e Engenharia é realizado no

Brasil, com exceção das atividades de Powertrain27, que são divididas entre Brasil e

Europa. O Projeto Alfa compreende um universo total de aproximadamente 700 pessoas,

espalhadas por todos os continentes. Esse total engloba pessoas dedicadas

integralmente e parcialmente ao projeto. A distribuição aproximada por país pode ser vista

no gráfico 1 (não estão apresentadas as nacionalidades com menos de 1%). Não

obstante, é importante frisar que um percentual pequeno do time, menos de 100 pessoas,

26

Sport Utility Vehicle, (Ford Ecosport, Hyundai Tucson, Jeep Cherokee). 27

Engloba a parte de motorização do veículo, incluindo motor base, transmissão, sistema de combustível, controle de emissões, etc.

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61

realmente tem comunicação virtual global frequente, e foi nessa população que esta

pesquisa foi centrada.

Gráfico 1 - Distribuição da população por nacionalidade.

Fonte: Coleta de dados (2011).

3.2 Fluxo de Informações no Projeto Alfa

Em decorrência de sua abrangência global, as informações necessárias para o

desenvolvimento do Projeto Alfa originam-se em unidades distintas, e precisam migrar

pelos times envolvidos. Grande parte dos requerimentos e mudanças origina-se de

necessidade mercadológicas e legais, que são consolidadas pelo departamento de

Planejamento Estratégico, e repassadas para o departamento de Engenharia. O fluxo de

informações dentro do Projeto Alfa pode ser melhor visualizado na figura 6.

Não obstante, com o ganho de conhecimento e reconhecimento gerados pelo Projeto

Alfa, a Autoglobo visa novos projetos para os anos vindouros, com complexidade e

dimensões iguais ou maiores que o atual.

Alemanha4%

Brasil67%

China15%

Reino Unido9%

Índia5%

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62

Figura 6 - Fluxo de informações no Projeto Alfa

28.

Fonte: elaborado pelo autor (2010).

3.3 A forma de comunicação na Autoglobo

Na Autoglobo, as atividades de projeto sofreram pouca mudança na migração de times

colocalizados para times virtuais. Não houve implementação de nenhuma nova

ferramenta de comunicação virtual, tampouco treinamento para melhorar a comunicação

entre as partes. O que houve, entretanto, foi a intensificação de uso das ferramentas de

CMC (comunicação mediada por computador). Devido ao projeto abranger pessoas em

diferentes locais, inclusive no Brasil, a utilização de webinars e audioconferências foi

amplamente disseminada. Mesmo reuniões que em projetos anteriores eram feitas

presenciais, hoje são feitas via CMC.

Algumas boas práticas, como a elaboração on line da minuta durante a reunião, estão

sendo implementadas, embora sejam, algumas vezes, oriundas da aprendizagem

individual dos profissionais, sem treinamento ou orientação formal por parte da empresa.

A infraestrutura, da mesma forma, foi pouco alterada. Apesar da disponibilização de

telefone 0800 e acesso remoto à intranet, o que melhora sensivelmente a condução de

reuniões fora do horário de trabalho, os indivíduos não possuem dispositivos head set

para participarem das reuniões com as mãos livres, somada à baixa qualidade de

28

PD significa centro de engenharia.

Planejamento Estratégico – Região 2

Planejamento Estratégico – Região 3

Planejamento Estratégico – Região 1

Centro de Engenharia 2

Centro de Engenharia 3

Gerência do Projeto(Brasil)

Centro de Engenharia 1

Planejamento Estratégico Global

(Brasil)

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diversos aparelhos de telefone. Quando se compara com a situação no início do projeto,

observa-se melhoria das condições, embora ainda distantes das ideais para um efetivo

trabalho virtual. Ao longo do ano de 2009 pôde ser observada uma flexibilização por parte

dos membros do projeto, seja no Brasil seja na Ásia, em termos de horários de reuniões.

Inicialmente havia uma grande dificuldade em se marcar reuniões após o horário de

trabalho devido à baixa participação os membros. Deve-se ter em mente que, em relação

ao Brasil, a Índia está 8,5 horas à frente e à China, 11 horas. Dessa maneira, reuniões

seguidamente afetam a vida particular de parte do time.

O intercâmbio e a visita dos membros entre as unidades são facilitadores de integração.

Dessa forma, ao longo do projeto observa-se a visita de membros das outras unidades,

bem como de brasileiros indo esporadicamente às outras regiões. Os viajantes

compreendem melhor o funcionamento e quem são as pessoas, servindo como

multiplicadores locais. A China, em especial, por se tratar de uma joint venture, busca ter

representantes permanentemente no Brasil, principalmente da Engenharia, mas também

nas áreas de Compras e de Finanças, que se revezam a cada dois ou três meses

aproximadamente. Essa aproximação física dissemina-se capilarmente, favorecendo o

trabalho entre os membros distantes.

A Autoglobo possui sistema de videoconferência, entretanto são raras as ocasiões em

que ele é usado, basicamente reuniões específicas da diretoria. Pode-se afirmar que a

esmagadora maioria dos fóruns são cobertos por audioconferências e webinars. Isso

pode ser compreendido pelo forte apelo técnico das reuniões, onde números e

informações necessitam ser compartilhados. Por esse lado, pouco agregaria ao

desempenho do encontro a visualização dos participantes.

Para audioconferências, a Autoglobo possui um sistema global onde qualquer pessoa,

independente de sua unidade e localização geográfica, pode atender às reuniões.

Diversas pessoas utilizam a ferramenta até mesmo para atender reuniões que se passam

no mesmo prédio, mas que elas não precisam atender durante todo o tempo. Elas ficam

escutando a discussão, fazendo atividades em paralelo, e passam a participar de forma

ativa somente quando são chamadas ou o assunto de seu interesse começa a ser

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discutido. Isso propicia ganho de rendimento, pelo fato de a pessoa não precisar parar

suas atividades para atender uma reunião cujo assunto não lhe diz respeito no momento,

ao passo que se poupa o tempo de deslocamento.

Em virtude de o Projeto Alfa envolver reuniões quase que durante as 24h do dia, a

Autoglobo disponibiliza para todos os seus funcionários no Brasil um número 0800, que

pode ser acessado de qualquer ponto do território nacional, bem como pode ser acessado

via Skype de qualquer local do mundo um número 1-888 gratuito nos Estados Unidos, não

implicando em custos de ligação ao funcionário.

Para uso em webinars, a Autoglobo disponibiliza os softwares MS Net Meeting e Cisco

Webex, ambos globalmente. O Webex se sobressai pelo fato de pessoas externas à

intranet da empresa poderem conectar-se. Isso facilita, inclusive, que as pessoas do time

atendam de casa, utilizando seus computadores privados. O MS Communicator, apesar

de ser uma ferramenta basicamente de chat, também possui a função de

compartilhamento de tela. Entretanto, ela é usada principalmente quando duas pessoas

estão falando ao telefone e necessitam compartilhar ou resolver algo rapidamente.

Em termos de língua oficial, a Autoglobo, por ser de origem norte-americana, adota o

inglês. Documentos enviados para fornecedores, tais como solicitações de cotação,

especificações técnicas de projeto, etc., são escritos em inglês. Informativos corporativos

são geralmente enviados na língua do país, juntamente com versão em inglês. Todavia,

observa-se que nem todos os funcionários têm domínio do idioma. Isso pode ser muito

bem notado em reuniões, sejam presenciais ou por telefone.

Mesmo documentos e mensagens feitos por brasileiros para brasileiros muitas vezes são

escritos em inglês. Um dos motivos para isso é a presença de estrangeiros nos quadros

da unidade brasileira, que nem sempre falam português, e também por que muitos desses

documentos e mensagem podem ter que ser enviados ao exterior. Todavia, essa não é

uma prática plenamente disseminada. Encontram-se muitos e-mails com discussões em

português, que acabam indo para o exterior, ou envolvendo estrangeiros no Brasil. Isso é

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um complicador, porque a pessoa que não fala português acaba ficando sem o histórico

das discussões, mesmo estes estando presentes no corpo da mensagem.

O MS Communicator, por sua vez, está disponível globalmente desde o ano de 2007. O

uso no Brasil começou tímido, com poucas pessoas cadastradas e poucas mensagens

trocadas. Entretanto, hoje é uma ferramenta usada pela maioria das pessoas envolvidas

no Projeto Alfa. É comum as pessoas ficarem com diversas janelas abertas, trocando

mensagens com pessoas diferentes. Muitas vezes se troca mais mensagens instantâneas

do que ligações telefônicas. Uma curiosidade é que o chat é usado frequentemente em

paralelo à chamada telefônica, para se sinalizar quem está chamando. Isso se deve ao

fato de que algumas pessoas não atenderem o telefone para se manterem concentradas,

mas atendem quando solicitado via chat.

Os chats estão sendo bastante utilizados na Autoglobo em suporte a webinars, pelos dois

fatores acima descritos. Observa-se que o time locado no Brasil o utiliza de forma ampla,

semelhante ao time asiático. Todavia, não se observa a mesma difusão no time europeu.

Muitas pessoas não estão cadastradas e, das cadastradas, muitas não costumam

permanecer on line. Entretanto, essa postura européia vem mudando ao longo de projeto,

junto com a percepção de utilidade da ferramenta. O comentário de um engenheiro locado

na Inglaterra, que inicialmente não utilizava a ferramenta, mas passou a usá-la por

sugestão reflete isso: ―Você tinha razão o Communicator dá muito jeito‖.

Em termos de uso e aplicação de intranet e team rooms, pode-se dizer que a Autoglobo

encontra-se no último nível de desenvolvimento (LIPNACK; STAMPS, 1997). Em virtude

de o Projeto Alfa ser global, tendo pessoas ao redor do mundo acesso às mais diversas

informações, tem-se as informações disponíveis na intranet. Pode-se notar que na

Autoglobo utiliza-se de dois tipos principais de intranet: drives29 compartilhados e web

based30. O primeiro é como se fosse um disco rígido compartilhado, geralmente mais

específico e acessado por poucas pessoas. Por isso, contém informações mais

específicas para o time detentor. A transmissão de dados é mais rápida e é muito utilizado

29

Anglicismo para disco rígido. 30

Baseado em formato internet, porém acessado somente dentro da empresa.

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para arquivos dinâmicos, onde diversas pessoas o acessam simultaneamente. O tipo web

based tem a transmissão de dados mais lenta e é utilizado como depositório de

informações gerais do programa. Arquivos que são pouco modificados e servem de base

para times funcionais distintos ficam disponíveis nesse sistema.

3.4 Constituição de um Time de Projeto na Autoglobo

A Autoglobo não possui um processo rígido e objetivo para seleção dos membros dos

times de novos projetos. Basicamente, as pessoas são alocadas para as novas funções

de acordo com a conclusão dos projetos anteriores. Dentro das áreas funcionais (Elétrica,

Chassis, Powertrain, etc.) os engenheiros têm especialização por sistemas (Distribuição

de Potência Elétrica, Freios, Sistema de Admissão de Ar), que irá direcionar suas

atividades em novos projetos. Por outro lado, a área de Gerenciamento de Projetos atua

em todas as frentes e não há especialização por área funcional. Em projetos maiores,

como o Alfa, pode haver, sim, a distribuição de responsabilidades por área funcional

(Powertrain, Elétrica, Chassis, etc.), todavia a estrutura de gerenciamento varia de projeto

para projeto, não tendo regras definidas de constituição.

Todavia, é estimulada e gerenciada a rotação das responsabilidades de gerenciamento

de projetos, de forma que todas as pessoas conheçam as diferentes disciplinas da área.

Essa mudança ocorre geralmente entre seis e doze meses e permite uma ampla visão

dos processos e atividades gerenciais. Em casos específicos, há reposicionamento de

profissionais conforme a necessidade de um projeto especial, seja por conhecimento

técnico ou gerencial, não sendo isso regra.

Dessa forma, não se espera, ao menos na teoria, que haja falta de conhecimento técnico

na formação dos times, haja vista que há especialização em algumas áreas e generalismo

em outras.

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67

4. METODOLOGIA

Fruto de uma pesquisa exploratório-descritiva com base em estudo de caso único, esse

trabalho seguiu uma abordagem qualitativa, focado no levantamento de dados

secundários (literatura) e primários (entrevistas semi-estruturadas e questionários).

Também pode ser classificado como um estudo transversal, pois o interesse do estudo

recai sobre o momento em que os dados são coletados (VIEIRA, 2006).

Do ponto de vista de escolha do objeto de pesquisa, baseou-se na interação e na

facilidade de acesso aos pesquisados, pois se ressalta que o autor trabalha na Autoglobo,

mais especificamente no Projeto Alfa. Assim, não houve dificuldade na obtenção de

dados, bem como os escolhidos puderam ser reacessados para esclarecimentos

pontuais. Isso foi primordial para o correto entendimento dos processos estudados.

O posicionamento exploratório desse trabalho busca uma visão geral acerca do assunto,

e também pelo tema ter sido pouco explorado (GIL, 1999); ademais, conforme este autor,

esta forma de pesquisa visa a desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias,

tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para

estudos posteriores. Todavia, em virtude dessas características, esse tipo de pesquisa

muitas vezes não possui caráter definitivo, pois objetivam subsidiar a realização de

trabalhos futuros, não devendo ser generalizadas indiscriminadamente. Apesar de

apresentarem pouca rigidez no planejamento, as pesquisas exploratórias são adequadas

como fase inicial de uma investigação (GIL, op. cit.).

4.1 Estudo de Caso

Yin (2005) apresenta o estudo de caso como uma estratégia de pesquisa para responder

perguntas do tipo ―como‖ e ―por que‖. O autor condiciona o estudo de caso quando o

objeto de análise não está sob controle do pesquisador e pertence a um contexto de vida

real e contemporâneo. Dessa forma, esse método pode fornecer informações mais

transparentes quando os limites das situações investigadas não são claros, podendo

melhor descrever o contexto em questão.

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68

Uma vantagem do estudo de caso apontada por Roesch (1999) é a exploração em

profundidade de processos sob diferentes ângulos. Não é necessário, por outro lado, o

estabelecimento rígido de parâmetros de pesquisa, e estes podem ser alterados ao longo

da pesquisa conforme novas informações e opiniões são encontradas. Ademais, Yin

(2005) alega que os estudos de caso podem ter dois tipos de variantes que são: estudo

de caso único e estudo de caso múltiplo, sendo que a presente pesquisa teve como

opção o estudo de caso único e em profundidade.

É importante ainda traçar alguns comentários a respeito da triangulação de dados que é

sugerida por Yin (2005) como condição para a realização de um adequado estudo de

caso. Conforme o autor, para que o estudo de caso tenha maior confiabilidade é

necessário que se utilize mais de uma técnica de coleta dos dados na pesquisa a fim de

confrontar a informação entre as fontes. Corroborando, Martins (2008) e Flick (2009)

ressaltam que a convergência de resultados advindos de fontes distintas oferece um bom

grau de confiabilidade ao estudo. Assim, a triangulação garantirá que descobertas em um

estudo de caso serão convincentes e acuradas.

Deste modo, é importante destacar que a triangulação utilizada nesta pesquisa é a de

fontes de dados, pois foram adotadas diferentes formas (documentos, entrevistas e

questionário) para sua coleta, mas tendo em vista a corroboração do mesmo fato ou

fenômeno (FLICK, 2009).

Já em relação ao caráter descritivo, seu propósito é o de obter informação sobre

determinada população, opiniões e características e como os eventos estão associados

entre si (ROESCH, 1999; RICHARDSON, 1999). Os estudos de natureza descritiva

também visam a entender como um fenômeno ou organização funciona, sendo indicados

para descrever características de grupos relevantes (GIL, 1999).

Menciona-se também que este estudo de caso foi respaldado por técnicas de coleta e de

análise de dados qualitativas e quantitativas. Segundo Flick (2009), pesquisas qualitativas

e quantitativas são complementares, sendo que as informações obtidas na fase qualitativa

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podem balizar as descobertas da etapa quantitativa, bem como permitir uma melhor

compreensão sobre o tema. Além disso, apesar de ser mais apropriado o uso de

instrumentos qualitativos no estudo de caso, Yin (2005) afirma que tal método poderá ser

realizado a partir de evidências qualitativas e quantitativas, pois não implica em uma única

fonte de evidência.

Tendo-se dados qualitativos e quantitativos disponíveis, partiu-se para triangulação das

informações, objetivando atestar sua qualidade. Os dados quantitativos visaram a

aprofundar o conhecimento em pontos e situações específicas; o uso de questionários

com maior número de participantes permitiu, de maneira mais segura, extrapolar o

conhecimento obtido (FLICK, 2009), bem como ―medir determinadas variáveis de um

grupo social‖ (RICHARDSON, 1999, p. 189).

Nota-se que a presente pesquisa foi dividida em três etapas, as quais serão melhor

descritas a seguir. Na figura 7 está exposto esquematicamente o presente estudo.

Figura 7 – Fases da Pesquisa.

Fonte: elaborada pelo autor (2011).

Etapa 1

Etapa 2

Entrevistas com Gerentes de Projeto

Entrevistas com Coordenadores de Time

Questionário com Coordenadores de Time

EntendimentoRelevância para Autoglobo

Triangulação

Revisão da Literatura

Etapa 3Análise de Conteúdo

Estatística DescritivaRegressão Múltipla

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70

4.2 Etapa 1

Com o intuito de verificar a pertinência e relevância do tema para a Autoglobo, realizou-se

uma etapa inicial, a fim de investigar, do ponto de vista dos gestores de times virtuais, sua

percepção acerca de como é realizada a comunicação e a troca de informações, as

ferramentas utilizadas e as dificuldades enfrentadas. Não se objetivou, assim, aprofundar

a maneira de realização da comunicação em si, mas como esta é vista pelas pessoas que

gerenciam o projeto.

Para isso, conduziram-se entrevistas semi-estruturadas com cinco pessoas de nível

gerencial do Departamento de Gerenciamento de Projetos da Autoglobo. Com o intuito de

melhor entender a posição hierárquica destes dentro da Autoglobo, um extrato

organizacional do Departamento de Engenharia de Produto está apresentado na figura 8.

Apesar de EC1 e GP1 não participarem do Projeto Alfa, foram escolhidos por amostragem

de acessibilidade (GIL, 1999; RICHARDSON, 1999) e também por terem experiência

como gestores de times virtuais. Ambos participaram de projetos com times dispersos em

localidades diferentes do mundo. Os demais entrevistados participam ativamente do

Projeto Alfa, assim escolhidos por amostragem intencional (GIL, 1999).

O roteiro de entrevistas, apresentado no Apêndice A desta Dissertação, pode ser dividido

em quatro partes, cada qual focando aspectos diferentes da comunicação.

a) Ferramentas de comunicação (questões um a sete): como o uso das diferentes

ferramentas é visto pelos gestores, bem como vantagens e dificuldades

encontradas por estes. Busca-se, também, verificar a ligação entre as ferramentas

e os níveis de conhecimento de inglês e diferenças culturais.

b) Dispersão do time (questões oito a 11): tanto do ponto de vista geográfico quanto

temporal. Verificar se os entrevistados percebem as diferenças de forma distinta

entre fuso horário e localização geográfica, e como essa dispersão impacta no

processo de comunicação.

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71

c) Processo e Desempenho (questões 12 e 13): objetivou-se entender como o

processo de comunicação impacta no desempenho de um projeto e também na

satisfação dos membros do time.

d) Melhoria de processo (questões 14 e 15): intentou-se verificar diferenças entre

boas práticas de comunicação virtual e local, bem como identificar oportunidades

de melhoria na comunicação.

Figura 8 - Hierarquia na Autoglobo.

Fonte: elaborada pelo autor (2010).

Deve ser observado que não foi mencionado o Projeto Alfa durante essa etapa de coleta

de dados. Isso foi feito de forma intencional, para verificar o processo de comunicação

virtual, independente de onde ele está sendo utilizado.

Ressalta-se que as entrevistas foram gravadas em mídia eletrônica e transcritas

posteriormente pelo próprio autor. A análise dos dados das entrevistas foi feita por análise

de conteúdo (BARDIN, 2010, RICHARDSON, 1999; ROESCH, 1999), a qual se constitui

como uma técnica adequada para análise de entrevistas em pesquisas qualitativas. Por

fim, é importante destacar que a realização da coleta de dados inicial foi de suma

Diretor PD América Latina

Engenheiro-Chefe – Programas

Veiculares (EC1)

Gerente (GP1)

Supervisores

Engenheiros de Programa

Gerentes

Supervisores

Engenheiros de Programa

Engenheiro-Chefe – Projeto Alfa (EC2)

Gerente Executivo (GP2)

Supervisores

Engenheiros de Programa

Gerente Ásia-Pacífico (GP3)

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importância para que fosse possível aprofundar os temas ao longo da etapa 2 na

Autoglobo, a qual será descrita a seguir.

4.3 Etapa 2

Nessa etapa, foram escolhidas pessoas que exercem posição de coordenação de time

por critério intencional (GIL, 1999), levando-se em conta o nível de comunicação virtual e

global que estas exercem. Ademais, são membros que consolidam e divulgam

informações entre os times. Desta forma, buscou-se ter um panorama geral de como as

pessoas percebem e vivenciam a comunicação virtual global dentro do Projeto Alfa.

Em virtude do desenvolvimento de um veículo ser uma atividade multifuncional, foram

pesquisadas opiniões de pessoas dos departamentos de Engenharia de Produto,

Manufatura, Finanças e Compras. Assim, foi possível ter-se uma visão ampliada em

termos de comunicação em times de projeto. Da mesma forma, procurou-se coletar dados

com pessoas localizadas não apenas no Brasil, mas também nas principais unidades

envolvidas no projeto.

4.3.1 Técnica de Coleta de Dados na Etapa 2

Durante a etapa 2 coletaram-se dados por entrevistas semi-estruturadas, gravadas em

mídia eletrônica e posteriormente transcritos pelo autor. O uso dessa técnica objetivou dar

liberdade aos pesquisados para falarem sobre o processo de desenvolvimento de

produto, de forma que expusessem detalhes inerentes à comunicação em times virtuais.

Essa afirmação é corroborada por Gil (1999), que afirma ser a entrevista a melhor forma

para levantamento de dados em profundidade sobre um assunto e uma das técnicas mais

utilizadas para investigações nas ciências sociais. Sabe-se, também, que esse tipo de

entrevista, por se valer de questões abertas, permite que o informante fale livremente,

podendo-se melhor captar e entender sua perspectiva sobre o tema (ROESCH, 1999).

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4.3.2 O Roteiro de Entrevistas da Etapa 2

Tendo-se por base as informações obtidas ao longo da etapa 1, buscou-se montar um

roteiro de entrevistas que abrangesse de forma mais aprofundada fatores e nuances

específicas do Projeto Alfa. O roteiro pode ser divido da seguinte forma:

a) Ferramentas de comunicação (questões um e dois): observado que a maior parte

das ferramentas de comunicação é utilizada pelos gestores, buscou aprofundar

suas formas de utilização diária entre os membros do time. Objetivou-se levantar

suas frequências de uso e desempenho.

b) Idioma inglês (questão três): como foi verificado na etapa 1 certa dificuldade de

comunicação devido ao baixo conhecimento de inglês de alguns membros, buscou-

se explorar esse tema, do ponto de vista de pessoas que lidam com um nível

hierárquico mais baixo, bem como pessoas de menor tempo de empresa.

c) Dispersão do time (questões quatro a nove): identificado que a dispersão, tanto

geográfica quanto de fuso horário são fatores limitantes e dificultadores da

comunicação em projetos globais, buscou-se aprofundar o assunto. Isso envolveu

dificuldades de comunicação, vantagens e desvantagens de se trabalhar com

pessoas localizadas remotamente e entendimento mútuo entre os membros.

d) Melhoria da comunicação (questões 10 e 11): essa parte buscou verificar com os

membros se melhores práticas são identificadas, e como estes tentam implementar

essas melhorias. Como a etapa mostrou a necessidade de se melhorar os

processos de trocas de informações, aqui se tentou identificar tais oportunidades.

e) Pergunta aberta (questão 12): como na primeira etapa surgiram comentários sobre

itens são previamente questionados, deixou-se essa última pergunta para

oportunizar aos entrevistados livre posicionamento sobre o tema comunicação.

4.3.3 Técnica de Análise de Dados na Etapa 2

A técnica utilizada para analisar os dados levantados nas entrevistas foi a análise de

conteúdo, a qual, segundo Bardin (2010) e Richardson (1999), é um conjunto de

instrumentos metodológicos que aborda, objetiva e sistematicamente, os documentos de

comunicação para obter-se características qualitativas em profundidade. Roesch (1999)

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74

descreve a análise de conteúdo como uma técnica de transformar o discurso direto em

um texto descritivo; afirma, também, que o uso de citações literais é uma forma de melhor

retratar idéias e opiniões, devendo ser utilizada nos relatórios de pesquisa. Por sua vez,

Bardin (2010), afirma que a análise de conteúdo objetiva a superação da incerteza e o

enriquecimento da leitura. A autora ainda afirma ter a análise de conteúdo a função

heurística de aumentar a propensão a descobertas, bem como de servir de prova sobre

hipóteses e inferências.

O diferencial da análise de conteúdo é seu poder de extrair ideias e discursos dos dados,

de forma a entendê-los e traduzi-los para uma linha científica. A sistematização da análise

foi baseada nas perguntas, e eventualmente foram agrupados discursos que respondiam

a mesma pergunta. Para que a análise fosse objetiva, não foram util izados os mesmos

discursos em blocos diferentes, sendo isso uma das premissas dessa técnica (BARDIN,

2010; RICHARDSON, 1999). Ainda, a presente pesquisa baseia-se na Análise de

Enunciação, muito aplicada a entrevistas semi-estruturadas (BARDIN, 2010).

Seguindo-se Bardin (op. cit.), o uso dessa técnica foi feito em três etapas:

1 Pré-análise: organizou-se o material, objetivando tornar operacionais as idéias iniciais.

2 Exploração do material: implementou-se os procedimentos. De acordo com Bardin

(2010, p. 127) ―esta fase, longa e fastidiosa, consiste essencialmente de operações de

codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas‖.

3 Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: foram geradas as inferências e

resultados da investigação, tornando as informações válidas e significativas.

Deste modo, para que a análise de conteúdo tenha seus princípios respeitados, faz-se

necessária a categorização dos fragmentos da comunicação. Franco (2008) e Bardin

(2010) enunciam algumas premissas:

a) Homogeneidade dos documentos: devem seguir critérios precisos de escolha e

não apresentar singularidades que destoem destes.

b) Exaustão dos dados: deve-se levantar todos os dados, mesmo que apresentem

dificuldade de acesso.

c) Exclusividade: os elementos podem estar em apenas uma única categoria.

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d) Objetividade dos codificadores: definidos precisamente, com intuito de evitar

dúvidas na distribuição dos elementos.

e) Adequação do conteúdo aos objetivos: os elementos devem ser pertinentes ao

conteúdo e objetivo da pesquisa.

Deve-se ainda esclarecer que, conforme aponta Vergara (2008) e Franco (2008), há três

tipos de grades de análise para definição das categorias. A Grade Aberta seria aquela em

que se identificam as categorias conforme estas vão surgindo ao pesquisador, além de

ser permitido seu rearranjo durante o andamento da pesquisa. Já a Grade Fechada

sugere que as categorias são definidas preliminarmente, conforme o objetivo e a literatura

relativos ao tema da pesquisa. Por fim, a Grade Mista mescla características das grades

anteriores, pois as categorias são definidas a priori como na grade fechada, porém,

admitindo adições posteriores, de acordo com achados nos dados coletados (VERGARA,

2008).

No presente trabalho, optou-se por uma grade mista para definição das categorias finais,

como apresentado a seguir:

a) Ferramentas de comunicação virtual.

b) Dispersão do time.

c) Conhecimento de inglês por parte dos membros do projeto.

d) Trabalho com pessoas de outros lugares.

e) Melhorias de comunicação.

No decorrer das entrevistas observou-se que o fator diferenças culturais foi

frequentemente citado pelos membros do time, sendo adicionada a posteriori.

No que tange à preparação dos dados para análise, Bardin (2010) lista como a pré-leitura

dos documentos, formulação de hipóteses e recorte dos dados. Este último poder ser feito

desde o nível das palavras até o tema. O presente trabalho o fez em nível do tema, pois

visou entender o assunto dos questionamentos, e não a significação linguística das falas.

Bardin (2010, p. 131) ainda afirma que o tema é utilizado como recorte quando se deseja

―estudar motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, de tendências, etc.‖.

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76

Com essas atividades concluídas, partiu-se para a análise propriamente dita, cujos

resultados estão apresentados no próximo capítulo.

4.3.4 Etapa 3

Após a conclusão das entrevistadas semi-estruturadas, e com os dados parcialmente

analisados, foi elaborado o questionário com objetivo de levantamento de dados para

validação e complementação do conhecimento (FLICK, 2009). Esta, portanto, constituiu-

se como a fonte quantitativa de dados para a pesquisa.

De forma a obter-se dados que expusessem a realidade da comunicação virtual no

Projeto Alfa, foram inquiridos membros do time que representassem as regiões envolvidas

(Brasil, Europa e Ásia-Pacífico), bem como as áreas afetadas (Engenharia, Manufatura,

Compras e Finanças). A amostragem intencional (RICHARDSON, 1999) focou em

membros do time que efetivamente têm maior contato e interação com as demais regiões

de maneira frequente.

4.3.5 O Questionário da Etapa 3

De forma a se corroborar e explorar as informações obtidas na etapa 2, elaborou-se um

questionário de forma a se levantar dados quantitativos sobre a percepção dos membros

do time sobre o processo de comunicação no Projeto Alfa. No que concerne à tipologia

das perguntas, o instrumento adotado nesta pesquisa contempla as seguintes

modalidades:

a) Questões fechadas com uso de escala de Likert do tipo razão (FLICK, 2009; GIL,

1999).

b) Questões fechadas com uso de escala de importância, que são uma variação de

Likert e que buscam classificar a importância de algum atributo (MARTINS, 2008).

É importante falar também sobre as duas partes em que está dividido o questionário. A

primeira visou a levantar informações pessoais e profissionais do respondente. Em

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77

seguida, iniciaram-se os questionamentos propriamente ditos. Foram elaboradas 20

afirmações onde os pesquisados deveriam marcar o grau de concordância (discordo

totalmente – concordo totalmente). Duas perguntas com cinco subitens fecham o

questionário, solicitando que os pesquisados marcassem o grau de efetividade e

frequência de uso das ferramentas de comunicação virtual estudadas. O questionário

pode ser dividido nos seguintes blocos de questionamentos:

a) Ferramentas de comunicação (questões um a sete, 21 e 22): explora a percepção

dos membros do time sobre uso adequado bem como frequência e desempenho

das ferramentas de comunicação disponíveis.

b) Dispersão do time (questões 8 a 10): busca compreender como os membros

percebem a dispersão do time e seu impacto sobre o processo de comunicação.

c) Conhecimento de inglês (questões 11 a 14): cobre o conhecimento de inglês dos

membros, assim como suas deficiências. Busca também uma auto-avaliação sobre

habilidade de inglês.

d) Diversidade cultural (questões 15 e 16): como se dá o impacto das diferentes

culturas envolvidas no Projeto Alfa sobre o processo de comunicação.

e) Confiança (questão 17 e 18): em virtude de o fator confiança ter aparecido em

diversas momentos da etapa 2, buscou-se aqui verificar como o time percebe isso

em relação a comunicação e diversidade cultural.

f) Disciplina (questão 19): tendo-se verificado a necessidade de maior disciplina na

comunicação virtual ao longo da etapa 2, buscou-se quantitativamente verificar a

percepção dos membros do time.

g) Processo de comunicação (questão 20): utilizou-se essa questão como variável

dependente para as análises de correlação dentro do processo de comunicação.

O Apêndice D apresenta o questionário utilizado.

No intuito de reduzirem-se possíveis não entendimentos no preenchimento dos

questionários, foi conduzido um pré-teste (RICHARDSON, 1999; GIL, 1999) com um dos

membros do time. Apenas pequenas correções de ortografia foram necessárias.

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78

4.3.6 Técnica de Análise de Dados na Etapa 3

Como essa etapa visava a corroborar e a medir aspectos gerados pelas entrevistas

utilizou-se estatística descritiva, de dispersão e regressão múltipla no tratamento dos

dados. Para isso, após a tabulação dos dados (GIL, 1999), fez-se o tratamento e análise

dos dados com uso do software SPSS 1631, sendo esse um dos mais empregados em

estudos estatísticos nas Ciências Sociais (BRUNI, 2009).

O questionário foi dividido em duas partes, segundo os dados a serem coletados. A

primeira parte (dados pessoais e profissionais) empregou variáveis qualitativas nominais

(nacionalidade, área funcional e morada no exterior) e quantitativas numéricas (idade,

tempo de empresa e quantidade de idiomas falados) (BRUNI, op. cit.). Essas informações

almejavam ter-se uma visão da amostra da pesquisa. As variáveis das questões um a 22

por sua vez eram realmente os dados primários que seriam analisados, e foram tratadas

como quantitativas ordinais (BRUNI, op. cit.), de forma que pudessem ser comparadas e

correlacionadas entre si.

Como análise final, buscou-se, por regressão múltipla (BRUNI, op. cit.), uma relação entre

ferramentas e práticas e a percepção resultante da comunicação no Projeto Alfa.

Almejava-se, assim, encontrar um modelo que a representasse dentro do Projeto Alfa.

Nessa análise de regressão múltipla, foi utilizada a técnica stepwise, que segundo Field

(2009) citando Wright (1997, p.181), aplica-se melhor a estudos exploratórios. Essa ação

buscou identificar os fatores chave que melhor representam a comunicação virtual no

Projeto Alfa, a fim de identificá-los e poder-se atuar para a melhoria da comunicação em

projetos futuros.

31

www.spss.com

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79

5 ANÁLISE E RESULTADOS DA PESQUISA

5.1 Resultados da Etapa 1

A fase inicial deste estudo objetivou levantar dados genéricos de como os gestores de um

projeto percebem a comunicação em times virtuais. A etapa 1 deveu-se à pouca literatura

de origem nacional disponível sobre comunicação em times virtuais. De um modo geral, a

literatura refere-se, de forma mais ampla, a times virtuais em projetos de TI, notadamente

desenvolvimento de software. Dessa forma, buscou-se, em um primeiro momento, coletar

a visão de gestores de projeto na Autoglobo sobre ferramentas de comunicação mediada

por computador e comunicação virtual. Foram escolhidos cinco Gerentes de Projeto (GP)

e Engenheiros-Chefe32 (EC) com experiência em times virtuais e projetos com times

distribuídos. Essas pessoas foram escolhidas por amostragem intencional (EC2, GP2 e

GP3) por trabalharem diretamente no Projeto Alfa e por amostragem de acessibilidade

(EC1 e GP1) (GIL, 1999). Estes últimos não trabalham diretamente no Projeto Alfa,

entretanto já gerenciaram times virtuais.

As entrevistas foram conduzidas em português, exceto com GP3. Apesar de este

conseguir comunicar-se com os demais membros to time em uma mistura de português e

espanhol, a coleta de dados foi realizada em inglês para evitar erros de interpretação e

uso inadequado de palavras. As entrevistas semi-estruturadas (roteiro apresentado no

Apêndice A) foram realizadas durante o mês de julho de 2009; no quadro 3 são

apresentadas características pessoais e profissionais dos entrevistados.

A seguir é analisado e exposto os resultados das entrevistas. Pode-se notar, assim, a

relevância e pertinência de se estudar o assunto comunicação em times virtuais de

projeto.

32

Nível hierárquico acima de gerente.

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80

Quadro 3 - Informações pessoais e profissionais dos entrevistados.

EC1 EC2 GP1 GP2 GP3

Idade 49 53 34 36 52

Tempo de

Empresa 26 31 10 14 30

Nacionalidade brasileira brasileira brasileira argentina mexicana

Experiência

Internacional

Brasil,

EUA

Brasil,

EUA,

Europa

Brasil,

EUA Argentina, Brasil

México, EUA,

Europa, Ásia,

Brasil

Idiomas português,

inglês

português,

inglês

português,

inglês

espanhol, inglês,

português

espanhol,

inglês, japonês

Fonte: coleta dos dados (2009).

5.1.1 Ferramentas de Comunicação Virtual

Em se tratando das ferramentas de comunicação virtual mais utilizadas e sua frequência,

houve demonstração de homogeneidade entre os entrevistados. Exceto em se tratando

de chat, as respostas e opiniões foram bastante semelhantes umas com as outras.

Corroborando com Shachaf (2005) e Silveira (2005), o e-mail foi citado por todos os

pesquisados como a forma mais comum para troca de informações. Os entrevistados

consideram o e-mail como uma forma simples e prática de compartilhar informações,

entretanto, muitos membros ainda não sabem usar de forma correta essa ferramenta,

como já exposto por Heerkens (2002). EC2 e GP3 afirmaram explicitamente que muitos

dos e-mails recebidos por eles são apenas para informação, agregando pouco valor

(DAMIANI, ADORNO; ÂNGULO, 1999), mas que os leva a ler para, apenas após,

perceberem que não precisavam fazê-lo. Isso se torna ainda pior quando há uma cadeia

de e-mails, pois nem sempre o último contém todas as discussões e precisa-se passar

praticamente um a um para se ter uma visão detalhada do assunto. Lee-Kelley & Sankey

(2008) já haviam comentado o assunto, indicando essa atitude como prejudicial para a

empresa. Em decorrência desse mau hábito, acaba-se dedicando muitos minutos para

leitura de e-mails desnecessários.

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81

Em razão da grande quantidade de e-mails recebidos por eles, há uma triagem,

principalmente pelo remetente (superior hierarquicamente) ou por haver algum indicativo

de urgência (como flag33 do MS Outlook, HOT ou URGENTE). Grande parte dos e-mails é

descartada sem mesmo serem lidos. GP2 entende que quando há urgência em alguma

ação, o remetente liga ou vai à sua mesa.

Uma vantagem do e-mail sobre outros meios apontada pelos entrevistados foi o não

sincronismo entre os envolvidos, o que proporciona tempo para leitura e escrita das

mensagens, assim como afirmado por Shachaf (2008) e Grosse (2002) e Kraut et al

(2002). EC2 afirmou que se deve cuidar a forma como se escreve para pessoas de outras

culturas, o que aprendeu em contato com pessoas da Índia. Questões que, para

brasileiros soam como normais, pessoas de outras culturas podem interpretar de forma

negativa, atrapalhando o bom relacionamento entre os membros. Dessa forma, atenção

redobrada deve ser dedicada à escrita para pessoas de outras culturas. Shachaf (2005)

aponta essa questão, afirmando que o cuidado como se escreve com outras culturas é

fundamental para o bom relacionamento e desempenho da comunicação. Heerkens

(2002) corrobora com a vantagem da mensagem escrita, afirmando que se tem a

oportunidade de retrabalhá-la até que se entenda como correta. Todavia, aponta também

como sujeita a má interpretação pela falta de tom ou inflexão.

A segunda ferramenta mais citada em termos de utilização foi webinar. Todos os

entrevistados afirmaram usá-la diariamente, algumas vezes ao dia. A principal vantagem

associada é poder acompanhar o que se está discutindo tendo textos ou gráficos à sua

frente. Isso facilita não só o acompanhamento do assunto, bem como o entendimento,

principalmente quanto a números e nomes próprios. GP1 e GP3 afirmaram ser essa

ferramenta de grande ajuda, principalmente para pessoas que tem dificuldade em

comunicar-se em inglês. Outra vantagem indicada por EC1 é a não necessidade de se

enviar arquivos em avançado: ―Isso reduz o fluxo de e-mails, assim como acelera o

33

Ferramenta do MS Outlook, que indica com uma bandeira colorida mensagens enviadas com alta importância.

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82

processo de comunicação‖. Como os documentos não precisam enviados

antecipadamente, pode-se atualizar as informações até poucos minutos antes da reunião.

O uso de team rooms foi apontado como uma forma eficiente para que os membros do

time tenham acesso à informação de forma centralizada, evitando-se a existência de

versões paralelas. Entretanto, a forma como as informações são armazenadas nem

sempre facilita a procura. GP3 comentou que não basta dizer que a informação está

disponível no team room, pois muitas vezes é difícil achá-la. Nessas ocasiões é

importante enviar junto o link direto onde foi armazenada, de forma que as pessoas a

encontrem rapidamente. Por outro lado, GP2 faz uso dessa ferramenta para

benchmarking de outros projetos: ―Muitos dos processos e ferramentas da Autoglobo

estão disponíveis em team rooms, o que permite uma implementação facilitada. Pode-se

observar o que outros times fazem e implementam‖. Da mesma forma, serve de grande

valia para compartilhamento de informações. EC1 afirmou que essa ferramenta é muito

útil para manter o time trabalhando 24 horas e acessando a mesma fonte de dados, fato

citado por Lipnack e Stamps (2000). Com isso alivia-se os servidores de e-mail, já

pontuado por Nauman e Iqbal (2005), bem como pessoas podem acessar dados mesmo

longe de seus computadores.

Uma situação um tanto curiosa foi a citação no que concerne à baixa utilização de chat.

Três dos entrevistados afirmaram não utilizar essa ferramenta, sendo que apenas um a

utiliza com frequência. Uma razão apresentada é a baixa velocidade de troca de

informações, o que acaba induzindo-os a fazerem uma ligação telefônica. Em

contrapartida, foi indicada como uma ferramenta interessante para uso em paralelo a

reuniões, quando se pode solucionar algo de forma rápida sem interrompê-la,

coadunando com Muller et al. (2003) e Walther (2002). Pode-se entender o baixo uso

decorrente da comunicação horizontal; como poucos gerentes usam, poucos ficam

inclinados a utilizá-la, pois seus pares não a utilizam. Dessa forma, o uso do telefone

torna-se mais rápido e eficiente. Interessante se notar que nenhum dos entrevistados

indicou ser inadequado o uso de chat, ou que seu uso poderia distrair a atenção.

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83

Fazendo um resumo do que foi dito sobre ferramentas de comunicação virtual, observa-se

certa dificuldade entre as pessoas para que as informações sejam entendidas de forma

correta. Tal afirmação encontra base em trabalho experimental de Straus e McGrath

(1994). Apesar das facilidades disponíveis hoje em termos de comunicação, ainda há

dificuldade entre as pessoas para que se entendam e transmitam as informações de

forma desejável. Um questionamento feito durante a etapa 2 foi se as pessoas entendem

e se sentem entendidas quando na transmissão de informações. Essa dificuldade de

comunicação já havia sido relatada por Adler (2002), Barmeyer et al. (2003) e Wille

(2005).

5.1.2 Desempenho das Ferramentas para Comunicação Virtual

Em termos de desempenho na comunicação, houve uma leve vantagem de webinar

(GP1, GP3 e EC2) sobre telefone (EC1 e GP2). Curioso notar que apesar de ser colocado

em segundo lugar em termos de frequência, este foi considerado o mais eficiente. A

principal razão desse desempenho se deve ao acompanhamento do áudio por texto,

como já apresentado anteriormente. As três indicações dadas levam em consideração

argumentos semelhantes, como acompanhamento da discussão pelos tópicos do arquivo

compartilhado e facilidade para quem não domina o idioma. Considerando-se que o

webinar é uma forma virtual de reunião, onde os participantes têm acesso à mesma

informação, justifica-se a preferência por essa modalidade de comunicação quando não

se tem o time colocalizado. É importante destacar que o uso de Cisco Webex, disponível

globalmente para todos os funcionários da Autoglobo, permite atendimento da reunião

mesmo não se estando conectado à rede da empresa, ou seja, qualquer computador

pode acessar o link, auxiliado pelo número 0800. Isso permite o atendimento de reuniões

de casa, o que é fundamental quando se precisa reunir com o time na China, 11 horas a

frente do fuso brasileiro.

Outro fato curioso é a classificação do e-mail como a ferramenta de menor efetividade

para comunicação virtual, mesmo sendo apontada como a mais utilizada pelos

entrevistados. Em termos de argumentação, houve homogeneidade nos motivos que

levam ao baixo desempenho: cópia desnecessária de pessoas, falta de foco e

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informações distribuídas em cadeia longa de mensagens. A transformação dos e-mails

em chat, dito ―ping-pong‖ por GP2, com troca consecutiva de mensagens curtas, foi

apontada como um dos motivos para baixo desempenho desse meio de comunicação.

Quiçá seja necessário treinamento para os membros do time de forma que essa

ferramenta seja melhor utilizada, ou pelo menos que diminua seu uso indevido. Duarte e

Snyder (2006), bem como Damiani, Adorno e Ângulo (1999) já haviam exposto as

dificuldades em uso do e-mail. Por ser uma ferramenta de fácil utilização e não deixar a

pessoa exposta à interpelação imediata, ele pode ser usado como um subterfúgio para o

não enfrentamento, da mesma forma que deixa registrada a resposta.

5.1.3 Impacto do Idioma na Comunicação

O idioma foi comentado como um fator fundamental na comunicação, em linha com o que

Adler (2007) já havia exposto. Apesar de a Autoglobo ter o inglês como língua oficial, os

diferentes sotaques e aptidões muitas vezes dificultam a comunicação (KAUSHIK, 2009).

O telefone foi dado como o meio mais suscetível a dificuldade de comunicação em virtude

da língua. A falta de apoio e tempo de resposta foi apontada como a principal causa da

dificuldade. Por outro lado, não houve unanimidade quanto à forma mais robusta frente ao

idioma. E-mail e webinar foram apontados como meios melhores para se retirar a barreira

da língua. O primeiro por permitir tempo de leitura e escrita, corroborando com Shachaf

(2005) que citou o e-mail como forma de transpor barreiras linguisticas, o segundo por ter

apoio da escrita. Talvez maior habilidade dos membros do time de projeto frente ao

idioma inglês possa reduzir essa dificuldade. Ainda, a comunicação com pessoas do

Oriente foi considerada, na perspectiva de brasileiros, mais suscetível a dificuldades de

idioma frente a europeus ou norte-americanos. Essa maior dificuldade é apontada como

uma mistura de sotaque acentuado, tanto em chineses quanto indianos, e pelo baixo

conhecimento da língua no caso dos chineses. GP2 comentou a facilidade de

comunicação que teve em uma viagem corporativa à Alemanha, podendo falar inglês em

postos de gasolina e lojas, ao mesmo tempo em que explicitou a difícil conversa com

indianos, mesmo estes tendo uma gramática perfeita.

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85

5.1.4 Diferenças Culturais na Comunicação

Em termos de meio de comunicação versus diferenças culturais, a heterogeneidade de

respostas foi elevada. O que se percebe é que não é o meio de comunicação em si que

aumenta ou diminui as diferenças culturais, mas sim a postura das pessoas frente a

culturas diferentes, o que Lipnack e Stamps (1997) escreveram como atravessar as

barreiras culturais. Nota-se, assim, que encontros face a face facilitam o entendimento do

assunto, pois agregam informações corporais e não verbais. GP1 e EC2 foram bastante

enfáticos quanto a essas informações marginais, assim como GP3 afirmou que a forma

como as pessoas se propõem a trocarem informações é mais relevante do que a

ferramenta de comunicação virtual, posicionamento este sustentado também por

Heerkens (2002), Matveev e Nelson (2004) e Shachaf (2005). Em um projeto envolvendo

culturas diferentes, como é o caso do Projeto Alfa, atenção especial deve ser dada a esse

tipo questão. A falta de habilidade para lidar com culturas diferentes pode colocar a perder

os benefícios do trabalho 24 horas por dia ou da melhor escolha de soluções.

5.1.5 Dispersão Geográfica e Fusos Horários na Comunicação

Foi perguntado aos entrevistados de forma independente o impacto da dispersão

geográfica e do fuso horário. Todavia, as respostas foram mescladas, inclusive GP1

respondeu diretamente sobre fuso horário quando perguntado sobre dispersão

geográfica. Essa confusão entre os fatores pode estar relacionada, no Projeto Alfa, em as

unidades estarem distribuídas, simultaneamente, de forma geográfica e em fusos

horários. Apenas as unidades brasileira e norte-americana encontram-se com apenas

uma hora de diferença. Todavia, como a maior parte da comunicação se dá entre Brasil,

Europa e Ásia, acaba-se confundindo os conceitos.

O que mais se indicou em termos de fator de escolha de meios de comunicação foi a

diferença de fusos horários, principalmente com Índia e China. No que tange à Europa,

como o Brasil pode se comunicar sincronicamente pelas manhãs, não foi indicada grande

dificuldade. De forma similar, não foi apontada dificuldade de comunicação com Estados

Unidos, visto que este tem apenas uma hora de diferença. GP2 comentou que muitas

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vezes se tem dificuldade de comunicação mesmo com pessoas localizadas no Brasil. A

diferença entre fusos é que gera pouco tempo de sobreposição entre times exigindo maior

eficiência na comunicação, segundo observa GP1. Por outro lado, GP3 e EC1

ressaltaram que essas barreiras podem ser ultrapassadas com a disponibilidade de

acesso remoto aos sistemas corporativos, telefone e intranet. Isso já é parcialmente

disponível no Brasil, entretanto nem todas as unidades globais têm esse benefício. Com a

rápida disposição de novas ferramentas de comunicação virtual, a Autoglobo está se

adaptando, mas ainda não de forma completa. Essa necessidade de disponibilidade da

infraestrutura corporativa aos membros do time fora de seu ambiente de trabalho havia

sido apontada por Duarte e Snyder (2006) como fator fundamental para o gerenciamento

de times virtuais.

A cadência de reuniões do projeto Alfa começa às sete horas da manhã, quando se têm a

maior parte das unidades envolvidas, sendo que nesse horário já findou o expediente

normal na China. É uma reunião gerencial, onde são discutidos status e principais

problemas encontrados e que merecem atenção. Observando-se as agendas,

principalmente dos gerentes e engenheiros-chefe, não é incomum encontrar-se reuniões

começando às nove horas da noite, basicamente com a China. Da mesma forma que

esporadicamente há reuniões iniciando às seis horas da manhã, novamente com a China

em final de expediente, ou para que não colidam com a das sete horas. Algumas vezes já

foi comentado sobre ter-se times com turnos distintos, revezando-se em começar mais

cedo e ficar trabalhando até mais tarde. Todavia, o maior empecilho para que isso se

materialize é a condução desses até a fábrica, que se encontra na região metropolitana, e

cuja estrada de acesso é conhecida por risco de acidentes e assaltos. Por outro lado, a

maioria dos mensalistas (engenheiros e analistas) usa ônibus corporativo para

deslocamento, o que os obrigaria a usar condução própria, sendo que a Autoglobo não

tem política para reembolso de combustível nessas situações.

O posicionamento dos entrevistados sobre fuso horário encontra embasamento em

Matveev e Nelson (2004). A dificuldade de comunicação oriunda do não sincronismo entre

as horas de trabalho força principalmente o uso de e-mail, já apontado como uma

ferramenta que não necessariamente tem alto desempenho (DUARTE; SNYDER, 2006).

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87

Em linha com o exposto acima, quando questionados sobre as regiões de maior

dificuldade de comunicação, o Oriente foi apontado como a principal. Nisso, há a mescla

de sotaque com o fuso horário. As respostas indicaram esses dois fatores, não sendo a

cultura em si o maior dificultador. Em contrapartida, a Europa foi apontada como a região

de mais fácil comunicação. Parte disso é resultado do bom conhecimento de inglês, nativo

para os britânicos e fluente para os alemães. Somando-se a esta questão, a sobreposição

de aproximadamente quatro horas diárias entre as partes. Esse sim foi indicado como o

fator preponderante para a boa comunicação. Como os europeus estão mais

acostumados a lidar com projetos globais, ou pelo menos a ter mais contato com as

demais unidades, isso é entendido como conhecimento tácito que facilita o fluxo de

informações. Como a Europa pode contatar todas as unidades durante seu expediente

normal de trabalho, a troca de informações e discussões são significativamente mais

favoráveis.

5.1.6 Comunicação no Desempenho de um Projeto

Quando questionados sobre a influência da comunicação no desempenho de um projeto,

houve unanimidade em citá-la como fator fundamental, como Desanctis e Monge (1999)

já haviam proposto. Como pontuou GP1, ―Impacto total! Comunicação é a base do nosso

trabalho, ninguém trabalha sozinho‖. EC1, por sua vez, corroborou com essa afirmação:

―Impacta em tudo. Troca de informações é tudo para o nosso trabalho‖. É consenso, por

outro lado, de que a comunicação não flui de forma ideal. Ainda há muito retrabalho e

tomada de decisões erradas em função de pouca informação disponível ou que não

chegou na hora devida. A solução ótima só pode ser escolhida quando se tem todas as

informações pertinentes, afirmou EC2. Não ficou explícito nas respostas, mas parte da

dificuldade de comunicação pode ser devida à novidade de que é um projeto global para a

maioria dos participantes. Como muitos processos diferem entre as unidades, muitas

informações ficam perdidas em e-mails, sobrecarregados pelo hábito de copiar diversas

pessoas. Como o time no Brasil precisa consolidar informações oriundas de diversos

países, essas precisam chegar no momento certo. GP2 afirmou:

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Há pessoas que não entendem o direcional da mesma forma que a gente está comunicando. Não entendem que os due dates

34 são esses. Interpretaram de

diferente forma. Ou não comunicamos da forma correta. A gente vai perdendo eficiência nisso. Por isso acredito que não é só a comunicação, mas é chave para isso que as regiões trabalhem com os mesmos processos, mesmas ferramentas.

Barmeyer et al. (2003), bem como Wille (2005) suportam as afirmações acima quanto à

dificuldade de comunicação e entendimento. Cada vez mais se transmitem informações,

todavia, a comunicação nem sem captada correta e a tempo.

5.1.7 Comunicação na Satisfação dos Membros do Time

A satisfação e motivação dos membros pela comunicação foi outra exploração realizada.

Foram apontadas duas vertentes a esse respeito. A primeira no sentido de se a pessoa

não conseguir expressar seus pensamentos de forma correta, basicamente quando não

se está na língua materna, há frustração e o senso de necessidade ou importância podem

não ser captados pelo ouvinte. Isso é corroborado pelo fato de muitos funcionários não

terem domínio do inglês, o que é percebido claramente em reuniões. Isso pode causar

certa frustração na pessoa, que leva à desmotivação. A segunda vertente aponta para a

comunicação de prioridades e status de projeto. Devido à grande complexidade do

Projeto Alfa, diversas tarefas são realizadas simultaneamente e são interdependentes.

Quando não se transmite a prioridade correta, ou essa não é entendida, criam-se

barreiras e atrasos ao longo da cadeia, com forte impacto sobre o resultado final. Tal

situação é apontada por Jarvenpaa e Leidner (1999) como um fator negativo para o

desempenho de projetos.

Ponto semelhante apontado foi a divulgação de informações acerca da empresa. GP1

expressou: ―Eu não gosto de ver a Autoglobo fazendo algo e eu saber apenas pelos

jornais, não por comunicação interna. Se alguém me pergunta algo na rua sobre a

empresa e eu não sei, eu fico deprimido. Eu preciso saber responder a pergunta. Isso

desmotiva‖.

34

Anglicismo para data de entrega, de conclusão de uma tarefa.

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89

5.1.8 Conclusões sobre a Etapa 1

Com o que foi levantado nessa etapa, fica patente a importância da comunicação em um

time de projeto. Tanto pelo ponto de vista de desempenho, como pela percepção e

satisfação de seus membros. A migração de projetos locais para projetos globais está

mudando a forma como as pessoas trabalham, se comunicam e interagem. Diferentes

fusos horários, ferramentas e formas de comunicação e proficiência na língua inglesa

foram apontados como os principais fatores e dificultadores nesse projeto.

Apesar de o fator diversidade cultural ter sido assinalado e comentado pelos

entrevistados, ele ocupa uma posição marginal dentro do contexto da comunicação. É

necessário atentar-se às diferenças culturais entre os países e membros do time, mas

não sendo isso o principal problema da comunicação. O comportamento dos membros

frentes a novos desafios e ambientes de projeto, bem como conhecimento de línguas são

sinalizados como as principais barreiras a serem transpostas para a melhora de

desempenho em times de projeto virtuais.

Esses resultados serviram de base para a reflexão sobre os assuntos tratados nesta

pesquisa, bem como para a etapa 2. Cabe ressaltar que, apesar de se tratar de um

aprofundamento em termos de pesquisa, os roteiros de entrevistas utilizados são

distintos.

5.2 Resultados da Etapa 2

Os dados para a etapa 2 foram coletados entre os meses de agosto e novembro de 2010.

As entrevistas semi-estruturadas foram feitas com membros-chave do Projeto Alfa;

pessoas que têm maior contato com outros departamentos e regiões, tendo que usar de

forma mais intensa as ferramentas de comunicação virtual. Essa frequente comunicação

virtual, quiçá diária, origina as maiores dificuldades, pois as informações cruzam fronteiras

de espaço e tempo. Por exemplo, tem-se o fato de o Brasil se encontrar a quatro horas de

fuso da Europa, oito e meia da Índia e 11 da China. Assim, grande parte da comunicação

é feita de forma assíncrona, bem como é comum a comunicação fora do expediente

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normal de trabalho. No quadro 4 apresenta-se o perfil resumido dos entrevistados. No

Apêndice C é possível encontrar o perfil expandido dos profissionais que participaram

desta etapa da pesquisa. Como referência, os pesquisados têm em média 34,5 anos de

idade e 8,5 anos na Autoglobo.

Quadro 4 – Informações básicas sobre os entrevistados.

Nome35 Nacionalidade Graduação Departamento

Fritz Alemã Eng. Mecânica Engenharia

Karl Alemã Eng. de Produção Finanças

Liu Chinesa Administração Gerenciamento de Projetos

Joana Brasileira Administração Compras

Arnel Filipina Eng. Industrial Compras

Ana Brasileira Eng. Mecânica Engenharia

Dakshi Indiana Eng. Mecânica Manufatura

Maria Brasileira Eng. de Alimentos Gerenciamento de Projetos

Camila Brasileira Eng. Química Engenharia

Jack Singapuriano Eng. Mecânica Gerenciamento de Projetos

Fonte: coleta de dados (2010).

Ressalta-se que os entrevistados foram selecionados de forma que fossem cobertos os

departamentos de maior interação e comunicação, a fim de possibilitar a obtenção de um

panorama geral da comunicação dentro do Projeto Alfa. Da mesma forma, a coleta de

dados cobriu as operações brasileira, européia e asiática do referido projeto.

Os dados coletados nas entrevistas foram agrupados em categorias iniciais,

intermediárias e finais de análise respeitando, assim, os postulados do método de análise

de conteúdo (BARDIN, 2010). Portanto, a seguir, são apresentados os resultados obtidos

nesta etapa da pesquisa oriundos da coleta de dados realizada com os nove profissionais

atuantes no Projeto Alfa. Cada item a ser desenvolvido apresenta em seu início o quadro

com todas as categorias de análise identificadas.

35

Os nomes verdadeiros foram trocados para manter o anonimato dos respondentes.

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5.2.1 Ferramentas de comunicação virtual: uso e desempenho

O quadro 5 apresenta as categorias de análise para ferramentas de comunicação virtual.

Quadro 5 - Categorias de análise para as ferramentas de comunicação.

Categoria Final Categoria Intermediária Categoria Inicial

Ferramentas de

Comunicação Virtual

E-mail Temas complexos

Desempenho

Dados marginais

Mau uso

Assincronismo

Backup de informação

Atraso na comunicação

Telefone Temas complexos

Confiança

Alto desempenho

Agilidade

Chat Agilidade

Temas simples

Webinar Temas complexos

Agilidade

Alinhamento de informações

Intranet e Team Room Colaboração

Compartilhamento de

informações

Fonte: coleta dos dados (2010)

Buscando uma comunicação eficiente entre seus funcionários, a Autoglobo investe e

disponibiliza diversas ferramentas de comunicação virtual para seus funcionários, tais

como e-mail, webinar, chat, etc., que, de um modo geral, resultou em nenhuma

reclamação por parte dos entrevistados sobre indisponibilidade de recursos, sendo que

dois afirmaram ter todas as ferramentas necessárias disponíveis. Dakshi apresenta um

ponto de vista claro, ―a Autoglobo possui as melhores ferramentas de comunicação

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atuais‖ 36, opinião esta compartilhada por Maria. Todavia, esta expôs o seguinte

contraponto:

Acho que a gente tem muita ferramenta na Autoglobo, mas a gente não sabe usar na totalidade todas elas. Então acho eu que a gente tinha que aprender a usar melhor as ferramentas, por que elas existem. Estão disponíveis. Acho que é só questão de fazer bom uso.

Liu, por sua vez, elucidou a escolha por determinada ferramenta:

Na verdade depende do objetivo. Como eu disse, se você quer esclarecimento, informação, apenas ligue. [...] Mas eu prefiro, eu penso que o melhor modo de comunicação é face a face, o segundo telefone, e o terceiro escrever. [...] Se eu

preciso de registro, eu prefiro usar e-mail. [...] No Communicator você pode dizer

que é um registro, mas para mim não é oficial.37.

Jack apóia Liu quando diz ser o telefone de grande utilidade para troca de informações,

ao passo que o e-mail serve para registrar informações e mensagens.

Dakshi comentou ainda sobre a escolha da ferramenta:

[...] as ferramentas estão todas disponíveis para nós. Apenas precisa-se pensar qual a mais eficiente para o caso específico. Não necessariamente uma ferramenta se aplica a tudo. Depende de cada caso qual a melhor ferramenta para comunicar com outras pessoas. Às vezes você precisa fazer por e-mail por que você precisa compartilhar detalhes. [...] Depende qual é o problema, e das

pessoas com as quais você está se comunicando.38

Em termos de utilização, os entrevistados demonstraram usar amplamente as

ferramentas de comunicação virtual disponibilizadas (e-mail, webinar, chat, team rooms,

telefone e audioconferências), sendo a frequência de uso dependente da complexidade

do assunto e da pessoa com quem se comunica. Foi solicitado aos pesquisados que as

colocassem em ordem decrescente de frequência de uso. Após foi dada pontuação (5

36

The company has the best communication tools actually. 37

Actually it depends on your target. As I said, if you want clarification, information, just give them a call. […] But I prefer, I think the best way of communication is face to face, the second one is a call, and third way is writing. […] If I need a record, I prefer use e-mail. […] In communicator you cannot, you can say it́ s record,

but for me it́ s not official. 38

Because the tools are all available to us. Probably just a matter of you think what is the most efficient one for a particular case. Not necessarily one tool to apply to everything. It depends on each case which tool is the best one to communicate with other people. Sometimes you have to do by e-mail because you have to share details. Depends on what the issues are, and people you are communicating.

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mais usada – 1 menos usada). Somando-se as pontuações dadas às ferramentas, obtém-

se a figura 9, mostrando claramente uma diferente frequência de uso. Em termos de

observação no projeto Alfa, o ranking resultante de utilização das ferramentas é

compatível com o observado no dia a dia de trabalho.

Figura 9 - Ranking das ferramentas mais utilizadas para comunicação.

Fonte: coleta dos dados (2010).

O que foi observado pelos pesquisados, na verdade, é o mau uso ou falta de critério na

utilização de alguns recursos, notadamente do e-mail. Camila e Ana foram enfáticas em

citar o e-mail como a ferramenta menos eficiente na comunicação. Por outro lado, Camila,

Liu, Dakshi, Arnel e Karl citaram como ferramenta mais eficiente de comunicação o

encontro face a face, mesmo este não sendo sugerido pelo roteiro de entrevista, e não

sendo viável em todas as ocasiões devido à dispersão do time por diversos países. Isso

pode ser entendido como uma deficiência dos profissionais em comunicar-se

virtualmente, hipótese essa que encontra embasamento em Lipnack e Stamps (1997). Por

outro enfoque, Kiesler e Cummings (2002) levantaram dados que demonstram que

mesmo poucos momentos de discussão face a face resultam em grande efeito sobre a

interação entre membros do time.

Apesar de todas as evoluções ocorridas nos últimos anos em relação à comunicação e

informática, as pessoas ainda têm a necessidade de ver e tocar as demais com as quais

estão conversando. Um atenuante para isso poderia ser a instalação de web cams nas

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

E-mail Telefone Chat Webinar Team Room

Po

ntu

ação

Ferramenta

Ranking das ferramentas de comunicação

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estações de trabalho, como sugeriu GP2 na etapa 1. Note-se, aqui, que apesar de a

Autoglobo possuir um sistema de videoconferência, este só é utilizado pela Diretoria em

reuniões específicas, e não é permitido o uso de web cams dentro da empresa.

Além da frequência de utilização das ferramentas de comunicação virtual, objetivou-se

entender como os entrevistados percebiam o desempenho destas. Foi solicitado que

colocassem em ordem decrescente de desempenho. Após, foi atribuída pontuação (5

melhor desempenho – 1 menor desempenho) para as ferramentas analisadas. O

resultado, em termos de citação para a ferramenta de maior desempenho, pode ser visto

no gráfico 2.

Gráfico 2 - Ferramentas citadas como de maior desempenho.

Fonte: coleta dos dados (2010).

Pôde ser observada uma maior dispersão em termos de ferramenta citada como de maior

desempenho, embora metade dos entrevistados tenha feito referência ao telefone. Essa

evidência corrobora com a literatura (KRAUT et al., 2002; BINDER, 2007; HINDS;

WEISBAND, 2003; HERBSLED et al., 2000; BERKUM, 2008), que indica este como uma

ferramenta valiosa na solução de dúvidas e mal entendidos quando se tem o time

disperso.

Já a indicação de e-mail e webinar fundamenta-se na riqueza de informações contidas

nessas ferramentas. Enquanto o primeiro permite anexar arquivos e outras mensagens, o

E-mail; 20%

Telefone;

50%

Webinar; 20%

Team Room; 10%

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último utiliza a sinergia entre voz e textos e/ou gráficos para a troca de informações. Fato

curioso foi a indicação de team room como elemento de alto desempenho por Dakshi.

Isso pode ser explicado por este profissional fazer parte do departamento de Manufatura,

e ter comentado durante a entrevista que necessita não apenas da explicação sobre o

assunto, mas de imagens a respeito. Soma-se a isto, o fato de ele ser responsável pelas

plantas da Ásia, e frequentemente necessitar de suporte destas para aprovação ou

avanço de estudos. Devido ao fuso horário e ao tamanho dos arquivos, reuniões e e-mails

têm sua utilização limitada.

Na figura 10 apresenta-se o ranking geral das ferramentas de comunicação virtual quanto

ao seu desempenho, conforme opinião dos profissionais investigados. Pode-se observar

uma relação entre a pontuação total das ferramentas com sua citação como maior

desempenho. É interessante observar que, mesmo não tendo sido citado como de maior

desempenho por nenhum dos entrevistados, o chat aparece na mediana do ranking. Isso

se deve ao bom desempenho geral atribuído a ele, visto como uma forma eficiente e

rápida de resolver pequenas dúvidas, sem impactar no andamento de outras atividades.

Desta forma, aliando-se a frequência de uso com a solução rápida de dúvidas, o chat

torna-se uma ferramenta de grande valia para comunicação em times virtuais.

Figura 10 - Ranking das ferramentas de comunicação virtual segundo desempenho.

Fonte: coleta dos dados (2010).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

E-mail Telefone Chat Webinar Team Room

Po

ntu

ação

Ferramentas

Ranking de desempenho das ferramentas

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De uma forma geral, o e-mail foi citado por seis entrevistados como a ferramenta mais

utilizada para comunicação com os demais membros do time, apesar de essa não ser a

ferramenta apontada como de maior desempenho. Esse resultado encontra

embasamento em Silveira (2008) e Shachaf (2005). A opinião de Liu, corroborando com

Walsh e Maloney (2002) e Bell e Kozlowski (2002), aponta o e-mail como ferramenta

essencial para comunicação assíncrona com o time no Brasil, estando ela baseada na

China, tendo dificuldade, portanto, para comunicação em tempo real. Um fato inusitado,

citado por Fritz, foi a tentativa, no passado, de desativar o botão Responder a todos do

MS Outlook. Ele comenta, ainda, um episódio ocorrido no dia da entrevista, em que duas

pessoas trocaram diversos e-mails a partir de uma comunicação geral do time, insistindo

em copiar todos, mesmo que a maioria não tivesse necessidade de estar copiada.

Percebe-se, ainda, a partir da análise dos dados, que o e-mail é considerado pelos

entrevistados uma ferramenta interessante para troca de informações complexas, sendo

apontado explicitamente por quatro pessoas, principalmente quando há a necessidade de

troca de arquivos. Joana, por exemplo, afirmou utilizar o e-mail quando precisa informar

diversas pessoas simultaneamente. É uma ferramenta útil quando se necessita arquivar a

comunicação, como comentou Liu, opinião compartilhada por mais cinco membros. Indo

ao encontro das colocações expostas por Heerkens (2002), Liu ainda citou essa

possibilidade como algo negativo quando se enviam informações erradas ou

emocionalmente escritas. Mesmo que se tente cancelar a mensagem enviada39 a

mensagem após o envio, isso não é garantia de sua exclusão. Em suas palavras: ―Se

você faz algo errado, isso vai pelo mundo. [...] e depois disso você tenta cancelar a

mensagem, mas já foi pelo mundo e você não pode cancelar a mensagem enviada‖ 40.

Por outro lado, o e-mail pode ser considerado a ferramenta mais controversa dentre as

analisadas, sendo indicado por apenas duas pessoas como a de maior desempenho. Em

termos gerais, as opiniões se dividem entre alto e baixo desempenho, ao mesmo tempo

em que alguns entrevistados citam ora como de alto desempenho, ora como baixo.

Embora apontado como a mais utilizada, é a que tem maior número de reclamações,

39

Expressão utilizada pelo software MS Outlook. 40

If you do something wrong, it will go around the world. […] and after that you want to recall, but it́ s gone around the world, and you cannot recall.

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97

principalmente por seu mau uso (cinco comentários). Embora as pessoas visualizem a

sua importância, tem-se claro que a sua utilização não é a ideal. EC1 e EC2 já haviam

comentado na etapa 1 acerca do grande número de e-mails recebidos diariamente, o que

impossibilita a leitura de todos, assim como copiar pessoas desnecessariamente. Fritz

coadunando com essa visão expos:

O problema, o resultado é que sua caixa de entrada nunca está vazia. Vem um

monte de porcaria, mas você precisa ler todos os e-mails, para verificar se são importantes ou não. E-mails em demasia. Faz-se necessário ler, e difícil de

diferenciar os importantes dos menos importantes.41

Ainda ligado nesse ponto, Bell e Kozlowski (2002) já indicavam o uso inadequado de e-

mails quanto se necessita alinhamento e acordo entre os membros. EC2 já havia

apontado isso, que foi agora corroborado com as demais entrevistas. Fritz, bem como

Jack e Joana comentam a quantidade de e-mails recebidos sobre o mesmo assunto,

sendo esse tipo de discussão mais produtivo para reunião, seja presencial ou virtual.

Maria, Liu, Dakshi e Arnel apontam uma deficiência do e-mail quanto à falta de dados

marginais como tom de voz e linguagem corporal, fator que Kraut et al (2002) associam à

comunicação virtual. Dessa forma, o destinatário não sabe a intenção do remetente,

podendo gerar desentendimentos e quebra de relação entre os membros.

Outra reclamação dos entrevistados foi o atraso na comunicação (KRAUT et al, 2002).

Como a quantidade de e-mails recebida é muita alta, não necessariamente se consegue

ler todos. Como explicita Karl: ―Nós recebemos muitos e-mails e as coisas não estão

andando. Eu não leio todos os meus e-mails. Eu não consigo. Quem consegue?‖ 42. Na

mesma linha de pensamento, Liu e Maria apóiam a opinião de Karl. Ana ainda aponta

falha no e-mail no que tange a garantia de que a outra pessoa irá lê-lo. Ela o classifica

como uma ferramenta unidirecional, que muitas vezes precisa ser verificada a ação na

outra ponta, fato considerado também por Davidson (2000).

41

The problem, the result, is that your mail box is never empty. Comes lots of shit, but you need to read all the e-mails, to check if it́ s important or not. Too many e-mails. Makes necessary to read and difficult to differentiate important and less important. 42

We are receiving some many e-mails, and things are not working, I don´t read all my e-mail I can´t. Who can?

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98

Embora o telefone seja a ferramenta de comunicação mais antiga entre as abordadas,

sua constante evolução o coloca entre as mais utilizadas e, ao mesmo tempo, entre as de

maior desempenho. As tecnologias de telefonia sem fio, celular e, mais recentemente,

VoIP, fazem com que esse meio de comunicação seja de extrema valia. Segundo avaliou

Maria ―Ah, eu acho que nesse sentido (desempenho) não tem nada melhor que o

telefone, a conversa mesmo‖. Tal posição é compartilhada por Liu, Jack, Ana e Joana, e

encontram base nos achados de Maznevski e Chudoba (2000). A grande vantagem do

telefone é a agilidade, possibilidade de interação mesmo com as pessoas estando em

outros países, de forma que as dúvidas que surgem ao longo da discussão podem ser

esclarecidas imediatamente, fato citado por Liu, Jack e Joana. Todavia, há a necessidade

de sincronismo, fato que Liu expõe em sua fala: ―Na China eu geralmente uso telefone.

Eu uso muito telefone. [...] Quando comunico com o Brasil, eu escrevo, por causa da

diferença de horário e por não ter sobreposição (de horas de trabalho)‖ 43.

Outro ponto interessante, citado por Ana foi o comprometimento quando do uso do

telefone. Ela afirmou que olhar no olho, ou conversa por telefone quando se está distante

faz com que as pessoas se comprometam mais com as atividades (HARVEY; GRIFFITH,

2007). Esse tipo de comprometimento, já havia sido identificado por Duarte e Snyder

(2006) e Heerkens (2002) como uma maneira mais amigável de formar relações

profissionais entre membros de um time virtual.

O chat foi uma das ferramentas mais citadas e comentadas pelos entrevistados e, de um

modo geral, foi considerado como bastante útil em troca de informações. É percebido

como uma ferramenta auxiliar às outras, seja para fazer follow up, como citado por Maria

e Dakshi, ou para saber se a pessoa está disponível para uma ligação, como citado por

Karl e Jack, corroborando com Walther (2002) e Muller et al (2003). É interessante notar,

também, a mudança de pensamento sobre a ferramenta. Fritz disse ter sido estimulado

por outros membros a instalá-lo e, desde então, o utiliza diariamente. Joana, por sua vez,

afirmou usar o chat quando necessita de respostas rápidas e curtas (MULLER et al, 2003;

KRAUT et al, 2002). Considerou esta ferramenta mais eficiente que o telefone, pois este,

43

In China I usually use phone, I use telephone a lot. […] When communicating with Brazil, I write, because the time difference and that there is no overlap.

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99

se a pessoa não atende, não se consegue comunicação. O chat, por seu lado, fica

piscando na tela do destinatário, o que facilita sua visualização. Isso serve, inclusive,

como suporte ao telefone. Portanto, quando uma ligação não é atendida, é comum o

envio de uma mensagem pedindo que o telefonema seja retornado.

Como membro do time, o autor observa que o uso de chat vem aumentado ao longo do

projeto, tanto em quantidade de pessoas que o utilizam como em relação à sua

frequência de uso, mesmo resultado encontra por Muller et al (2003) em pesquisa de

campo. É comum observar várias janelas do aplicativo abertas simultaneamente, mesmo

que não estejam em uso, também identificado por Walther (2002) e Isaacs et al (2002) em

pesquisas de campo. A pessoa troca alguma informação e deixa o aplicativo aberto, pois

muitas vezes outras comunicações são trocadas ao longo do dia. Todavia, Maria citou a

resistência de algumas pessoas em utilizá-lo:

[...] apesar de eu ver que tem muita gente que tem resistência a usar o Communicator. ―Ah, não quero instalar isso‖. E nem são mais velhos. Às vezes você pensa que os mais velhos é que tem mais resistência em usar instant messaging assim. Mas eu vejo que tem gente nova, inclusive no nosso time que não aceita, sabe, usar o Communicator.

Essa resistência pode ser percebida pelo fato de muitas pessoas não estarem ainda

registradas no aplicativo, ou permanecerem off line no sistema. Entretanto, quanto mais

pessoas conectam-se, mais as demais se sentem pressionadas a utilizá-lo, o que deve

expandir continuamente a sua utilização a nível corporativo. E, como esse software

funciona exclusivamente na intranet, a empresa não corre o risco de as pessoas

utilizarem-no para conversas privadas com pessoas externas.

Por outro lado, o chat não pode ser considerado uma ferramenta universal. Sua utilização

encontra base para assuntos simples, como apontado por Karl, Jack e Maria. Devido a

suas restrições, temas complexos merecem o uso de telefone ou outra ferramenta, como

já havia sido apontado por EC1 na etapa 1.

Uma ferramenta obrigatória quando se formam times virtuais na organização é o webinar.

Este, portanto, foi citado pela maioria dos entrevistados como fundamental para um

projeto global, principalmente pela agilidade nas soluções (Maria, Camila, Arnel, Jack e

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100

Joana). Assim, sua utilização pode ser entendida de duas maneiras: como reunião, com

marcação antecipada, agenda, etc., e como auxiliar para resolução de dúvidas enquanto

de ligações telefônicas. Joana e Arnel citaram o uso do MS Communicator para

compartilhamento de tela durante telefonemas. A praticidade foi a fácil configuração

desse software, em comparação com Cisco Webex ou MS Net Meeting, uma vez que,

como o software está ativo para o chat, é rápido o compartilhamento de tela.

Na forma de reunião, o webinar foi citado por Ana como uma prática fundamental para a

consolidação de informações e manutenção do time atualizado quanto às atividades e

status do projeto. Em suas palavras ―Para ter todas as informações no mesmo lugar. Eu

acho que isso é a comunicação mais efetiva que tem. Ter todas as informações

consolidadas juntas, e todo mundo sabendo onde está‖. É importante ainda citar que seu

time está distribuído no Brasil, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, o que torna

mandatório o uso de reuniões virtuais. Arnel também comentou que atende webinars

tanto na Autoglobo quanto em sua casa, e que o compartilhamento de tela durante essas

reuniões é de primordial importância para que se chegue aos objetivos desejados.

Eu prefiro fazer webinar a enviar e-mails, por que na maioria dos casos, e-mails causam diferentes interpretações dependendo da pessoa que está lendo, e

também depende do nível de conhecimento de inglês da pessoa. Eu diria que a ferramenta mais importante é ter esses webinars.

44

Como há uma dispersão grande dos membros do Projeto Alfa por diversos países, é difícil

diferenciar reuniões de webinars. Mesmo reuniões onde todas as pessoas estão na

mesma planta, em virtude da distância entre os prédios, muitas pessoas atendem

remotamente. Isso faz com que praticamente todas as reuniões tornem-se webinars,

sendo costume enviar simultaneamente na convocação da reunião a sala e o link do

webinar. Há três softwares disponíveis para tal fim: Cisco Webex, MS Communicator e

MS Net Meeting, sendo que o último está entrando em desuso. Na maioria das reuniões

utiliza-se o Cisco Webex, e o MS Communicator é muito utilizado quando se necessita de

auxílio em algum telefonema em andamento, por sua rapidez e praticidade. Nas palavras

44

I would prefer doing conference calls than sending e-mails, because in most cases doing e-mails cause different interpretation depending on person reading it, and also depends on the person´s knowledge in terms of English communication. I should say most important tool is having these conference calls.

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de Joana: ―Eu acabo usando mais o webinar pelo Communicator, às vezes quando é uma

pessoa, abro rapidinho, dá uma olhada aqui‖.

Outro ponto citado foi a conexão de webinar com temas complexos. Arnel, Ana, Jack e

Camila fazem tal ligação, afirmando ser mais produtivo esse tipo de ferramenta quando se

necessita discutir algo que está sendo demorada a solução, e muitas pessoas precisam

participar da discussão.

Já a intranet pode ser considerada uma ferramenta antagônica. Fritz, Ana e Dakshi a

consideraram como a de maior desempenho, enquanto que os demais a colocaram nas

últimas posições. Isso pode ser explicado pela dispersão do time dos dois primeiros

(Brasil e Europa), enquanto o time de Manufatura Ásia-Pacífico necessita de informações

claras e visuais sobre o produto. Dakshi já havia expressado a necessidade de terem-se

figuras sobre o assunto a ser discutido para uma resposta precisa. Como ele mesmo

expôs: ―[...] se eu tenho um problema de projeto, eu preciso adicionar uma imagem de

onde o problema está, e se eu tenho uma proposta, nós temos que comunicar a proposta

por desenhos. É ser claro sobre o que fazer. Deve ter uma imagem para representação‖45.

Dessa forma observa-se que o compartilhamento de informações por intranet é algo

importante para um time de projeto virtual (Fritz, Joana, Jack, Ana e Maria). Estando as

informações em um local central, facilita a produção de cópias de segurança por parte da

empresa, bem como deixa o time com o mesmo nível de informação, o que não ocorre se

a informação é enviada por e-mail. Esse último pode não ser enviado a todos os

interessados, bem como gerar versões paralelas.

Em especial o time de Compras faz uso dessa ferramenta, principalmente como uso

compartilhado de arquivos. Joana comentou acerca de algumas planilhas que são

mantidas compartilhadas, sendo atualizadas constantemente por diversas pessoas, e que

servem de subsídios para atividades e prioridades de outros times. Ana e Fritz também

apontam essa ferramenta como útil em atividades colaborativas. Talvez o uso de intranet

45

[…] if I have an issue in the design, I have to add a picture where the issue is, and if I have a proposal, we need to communicate what́ s the proposal thru drawings. I t́ s pretty much being clear what to do. Should be a picture representation.

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não seja difundido por falta de hábito, ou por necessidade de ter o registro da informação

enviada (por e-mail). Muitas informações que poderiam ser compartilhadas por intranet

ainda são divulgadas por e-mails, com os riscos potenciais já citados.

5.2.2 Fator dispersão geográfica e fuso horário

O quadro 6 apresenta as categorias de análise para dispersão do time de projeto.

Quadro 6 - Categorias de análise para dispersão do time.

Categoria Final Categoria

Intermediária

Categoria Inicial

Dispersão do time Geográfica Dificuldade de comunicação

Reunião do time

Alinhamento de informações

Contato pessoal

Dados marginais

Fuso Horário Dificuldade de comunicação

Reunião do time

Fonte: coleta de dados (2010).

A dispersão geográfica e de fuso horário são fatores complicadores na comunicação entre

membros de um time de projeto. E isso pôde ser verificado durante as entrevistas. Maria e

Liu apontaram como maior desvantagem da dispersão geográfica é não se ter contato

físico com os demais membros. Isso acarreta dificuldade de comunicação, ao mesmo

tempo em que remove dados marginais (KRAUT et al, 2002), como gestos e fisionomia

Nas palavras de Maria:

[...] a pessoa viaja, vem para cá, você conhece. Depois já facilita a comunicação, né. Esta é a questão da distância, de você não conhecer a pessoa. Mesmo que ela já veio, você já conhecer, ela está ainda em outro país não é a mesma coisa

de ela estar aqui, de a gente poder ir na mesa do cara, é muito mais rápido, né.

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Posição semelhante foi de Liu, que entende o conhecimento físico entre as pessoas como

um facilitador para a comunicação virtual. Karl ainda comentou: ―Você nunca sabe se a

pessoa está disponível ou não. Você não pode ir à mesa e conversar‖ 46.

Por sua vez, Dakshi explicitou algo comentado superficialmente por outros:

(Dispersão geográfica) Impacta muito. Como o horário de trabalho é diferente em todos os países, temos muito pouco tempo para fazer reunião com todos os países; às vezes precisamos tomar uma decisão aqui, e precisamos esperar pelos outros países, outras regiões. Isso atrasa o processo de decisão. É principalmente a espera. [...]. Mesmo que você tenha representantes, como eu de Manufatura,

Mesmo assim eu preciso discutir com o meu time, Eu não posso concluir o trabalho sozinho. Eu preciso esperar um dia para comunicar com eles por e-mail ou telefone.

47

Em apoio ao exposto, Arnel também comentou sobre o atraso no processo de decisão

devido á diferença de fuso horário. Ele cita a difícil a comunicação sincrônica com a Ásia,

e chegar mais cedo ou ficar até mais tarde não é uma prática que possa ser repetida

seguidamente: ―Definitivamente a diferença de fuso horário entre Ásia e América do Sul é

um grande desafio para esse projeto‖ 48.

Outro ponto de vista, levantado por Joana, foi o compartilhamento de informações. Como

as pessoas não têm contato diário, muitas informações ficam retidas não

intencionalmente. É a falta da conversa de corredor ou no café citada por Zenun, Loureiro

e Araújo (2009), Herbsleb et al (2002) e Kirkman et al. (2002).

De uma maneira geral, foi citada a diferença horária com mais ênfase do que a dispersão

geográfica em si, principalmente relacionada à Índia e China. Karl foi enfático em sua

resposta sobre dispersão geográfica e horária: ―Muito complicado. Mas mais com fuso

horário. Fuso horário é o fator de maior dificuldade. 11h com a China, 12h com a

46

You never know when people are reach or not. You cannot walk over and talk. 47

It impacts a lot. Like the working time is different in all the countries, so we have very less time to have

meetings with all the countries; sometimes we need to take a decision here and we need to wait for other countries or other regions. It delays the decision process. It́ s mainly waiting. […] Even if we have reps like me from manufacturing, I still need to discuss with my team, I cannot finish the job here myself. I have to wait for a day to communicate with them thru e-mail or meeting or thru phone. 48

Definitely the time difference between Asia and South America is a big challenge for this program.

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Austrália. Índia é muito bom, 8h (risos). Eles começam tarde e trabalham até tarde‖ 49.

Quatro dos entrevistados apontaram o atraso na comunicação, causada tanto pela

geografia quanto pode fuso horário como um dos fatores dificultantes em se trabalhar com

times dispersos.

Em relação aos Estados Unidos, por sua vez, que tem pouca diferença de fuso, mas

distante geograficamente, não foi levantada nenhuma dificuldade. Mesmo a respeito da

Europa, que tem três a cinco horas de fuso, pouco foi comentado. Nesse sentido, Fritz

expôs: ―(A dificuldade é) fuso horário. É difícil marcar uma reunião quando se precisa da

China ou da Índia e Europa e América do Sul. É difícil planejar. Precisa ser de manhã

cedo, cedo para América do Sul. A Índia tem que trabalhar até mais tarde‖ 50. Essa

opinião foi compartilhada por Ana, que possui função análoga no Brasil, Liu, Karl e Arnel.

Por outro ângulo, a diferença de fuso horário requer maior clareza nas comunicações.

Como grande parte das informações é trocada por e-mail, faz-se mister que esta seja

clara e objetiva. O atraso intrínseco de um dia, pode estender-se por muitos outros,

simplesmente pelo fato de informação não ser clara. Arnel foi incisivo sobre o assunto:

Se a Ásia não enviar o pedido claramente, você perde um dia, por que na hora em que você é informado sobre o assunto, já é o dia seguinte. E se houver questionamento, atrasará mais um dia para ser resolvido. A menos que tudo esteja claro na primeira vez, leva dias até que seja solucionado. Se não for claro, a cada dia virão novos questionamentos

51.

Dessa forma, fica claro o ponto onde a dispersão impacta na comunicação. De uma

maneira geral, essa dificuldade de comunicação foi apontada claramente por seis

entrevistados. A falta de contato diário torna a comunicação truncada. Trocas rápidas de

informações, espontâneas em encontros de corredor, dificilmente ocorrem por meio

telefônico. Ainda mais quando nem sempre as pessoas encontram-se no escritório 49

Very complicated. But more with time zones. Time zone is the most difficulty factor. Eleven hours to China, 12h to Australia. India is pretty good, 8 hours (laughs). They start later and work later . Not good at all for China. 50

Time difference. It́ s hard to plan meeting, when you need to put China or India and Europe and South

America. It́ s difficult to plan. It must be very early in the day, early for FSAO. India has to work late. 51

If Asia does not send clearly request, you lose one day, because by the time, you get concerned, will be the following day. And if there are further questions, it will delay another day again to get it resolved. Unless everything is clear at the first time, it takes several days to get solved. If it́ s not clear, every day come news questions.

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simultaneamente. A comunicação que ocorre é muito mais objetiva, focada em assuntos

específicos.

Todavia, tendo-se do princípio que projetos globais precisam de times virtuais, fica

patente a necessidade de treinamento e flexibilidade dos profissionais para atuar nesses

ambientes. O contato face a face tende a diminuir com a profusão dos times virtuais, o

que vai impactar em como as pessoas se comunicam com colegas remotos. Esse é um

tema que as corporações precisam atentar para que seus projetos possam ser concluídos

dentro dos objetivos estabelecidos.

5.2.3 Impacto do conhecimento de inglês por parte dos membros do projeto

O quadro 7 apresenta as categorias de análise para impacto de conhecimento de inglês

na comunicação de times de projeto.

Quadro 7 - Categorias de análise para conhecimento de inglês.

Categoria Final Categoria Intermediária Categoria Inicial

Conhecimento de

Inglês

Dificuldade de

entendimento

Sotaque

Baixo conhecimento

Expressões regionais

Dinamismo das reuniões Baixo conhecimento

Fonte: coleta de dados (2010).

Como o Projeto Alfa possui times em diversos países, é de fundamental importância que

seus membros tenham uma língua comum para troca de informações. Sendo o inglês

uma língua global (SHACHAF, 2005, 2008), e a matriz da Autoglobo sendo norte-

americana, é natural que este seja o idioma oficial. É importante ressaltar que não apenas

para o Projeto Alfa, mas para a empresa como um todo o inglês é a língua oficial; tanto

que, mesmo apresentações regionais são preparadas nesse idioma, influenciadas,

também pela presença de estrangeiras em seus quadros. Fritz expos uma visão

contundente, indo ao encontro do afirmado por Adler (2007): ―Todo mundo, mesmo os

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106

chineses falam inglês. Inglês é a língua global para negócios. Exceto por razões pessoais,

se você falar inglês, é suficiente. Você não precisa de outra língua‖ 52.

Quando questionados se havia deficiência por partes dos membros do time em

conhecimento de inglês, e isso interferia na eficiência da comunicação, apenas uma

pessoa respondeu negativamente. Todos os demais foram pragmáticos em reconhecer a

necessidade de melhoria no conhecimento desse idioma por parte dos membros do time.

E isso em termos gerais, não ficando restrito a um departamento ou país. Expressões

como ―Sim, com certeza.‖, ―Claro!‖ 53, ―Ooh, sim!‖ 54 foram feitas com firmeza e

exclamação pelos entrevistados. Camila e Ana, inclusive, deram exemplos de situações

reais em que os participantes de reuniões não conseguiam entender uns aos outros.

De uma forma geral, houve reclamação em termos de conhecimento da língua,

principalmente sobre Brasil, China e Índia. Todos os brasileiros afirmaram ter dificuldade

para entender os chineses e indianos, os últimos pelo sotaque. Em contrapartida,

europeus e asiáticos acenaram ter dificuldade para entender os brasileiros. Fritz foi

categórico em considerar o nível do inglês brasileiro inferior ao indiano e mesmo ao

chinês. E ainda expôs que a dificuldade de comunicação oral gera maior quantidade de e-

mails, impactando na qualidade da comunicação. A respeito dos europeus, houve apenas

um caso isolado, um exemplo de uma reunião. Isso pode ser considerado como caso

especial, pois os demais entrevistados nada comentaram sobre dificuldade de

entendimento com europeus em termos de idioma.

Ana, por sua vez, teve uma colocação lógica: ―Tem muita gente que não se comunica

bem em inglês e por conta disso, a gente entende coisa errada‖. Comunicar-se bem e ter

a mesma definição para o que se está discutindo é crucial para que se atinjam os

objetivos propostos. Hall e Johnson (2002) elucidaram a necessidade de se ―falar a

mesma língua‖ em um projeto. Isso é mais nítido quando trabalha em times

multifuncionais. Engenheiros, analistas financeiros e compradores precisam ser claros na

52

Everybody, even Chinese speak English. English is world language for business. Except by personal reasons, if you speak English, it is sufficient. You don´t need another language. 53

Sure! 54

Ooh, Yes.

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107

comunicação, evitando subentendidos, que corriqueiramente acabam sendo entendidos

de forma equivocada.

Sotaque foi outro ponto comentado por todos os entrevistados. Aliado à dificuldade de

expressar-se, esse é um fator dificultador na comunicação. Dentre os brasileiros, houve

muitos comentários sobre o sotaque indiano. Devido à colonização britânica, o inglês é

largamente falado e dominado pelos indianos, fazendo com que eles tenham uma fala

bastante rápida. Somando-se isso ao sotaque forte, foi considerado de difícil

entendimento (Maria, Ana). Essa característica de diferentes versões para o mesmo

idioma já havia sido relatada por Kaushik (2009), mostrando a necessidade de uma

padronização dentro de uma mesma língua. Dakshi indiretamente, e sem ser questionado

a respeito, corroborou com essa posição: ―Particularmente aqui, quando eu falo as

pessoas não entendem. Mas quando eu escrevo, as pessoas entendem. Com a China é a

mesma coisa. Quando eu escrevo é melhor do que falar‖ 55.

Uma técnica curiosa e elegante para pedir repetição da fala foi exemplificada por Joana.

Ao invés de simplesmente pedir para a pessoa repetir, ―gente, a linha está muito ruim hoje

eu não estou conseguindo escutar direito, dá para falar de novo, repetir. Então é a

paciência mesmo que você tem que exercer no dia a dia‖.

Outro ponto importante suscitado por Joana foi uma mudança estrutura l no departamento

de Compras. Baseando-se no nível de inglês das pessoas, elas foram alocadas para

atividades locais ou globais. Ela exemplificou o caso de compradores ―que tem 30-35

anos de casa‖ e não se comunicavam em inglês. Eles começaram a treinar compradores

assistentes que falavam muito bem inglês. Posteriormente foram alocados para atividades

regionais, ―comprar, negociar somente o dia a dia, reajuste de preço com fornecedor,

pedido de parada de linha‖. ―Para os novos programas eles vão deixar somente

compradores que falam inglês fluente. É uma forma que ter pessoas que têm experiência,

dando business diário, dando suporte para quem fala a língua fluente‖. É uma

reorganização simples que tende a melhorar o desempenho do time.

55

Particularly here, when I say people don´t understand. But when I write, people understand. With China the same thing. When I write better than talking.

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Um fator citado por quatro dos entrevistados foi o uso de expressões regionais. Ana

comenta que muitas vezes as expressões são traduzidas para o inglês, perdendo o

sentido para os demais. Da mesma forma, Karl comenta que os indianos usam

expressões conhecidas somente por eles.

Uma observação feita por Maria foi a diferença de dinâmica entre uma reunião conduzida

em inglês e português. Na última a participação das pessoas é muito maior, opiniões e

pontos de vista são compartilhados de forma mais espontânea. Inclusive afirma que em

reuniões conduzidas em inglês, algumas pessoas acabam não tirando suas dúvidas por

timidez ou vergonha. Liu e Camila também apontaram a dinâmica das reuniões, todavia,

não comparando entre os dois idiomas. Outra consequência é o maior tempo necessário

para esclarecimento dos assuntos, opinião compartilhada por Karl, Maria e Arnel. Como o

entendimento não ocorre na primeira vez, é necessário repetir tanto a pergunta quando a

resposta algumas vezes, o que ao longo de uma reunião impacta tanto na dinâmica de

condução quanto no tempo de duração. Em última análise, ou a reunião demora mais do

que o planejado, ou nem todos os assuntos podem ser abordados corretamente.

Percebe-se assim, que o entendimento mútuo entre as pessoas ainda está longe de ser

ideal. Há o lado do idioma e o lado da cultura. Os dois somados, acarreta dificuldade no

esclarecimento de dúvida e alinhamento de informações. A solução desse problema

necessariamente passa pela melhora do conhecimento de inglês por parte dos membros

to time de projeto.

Em suma, como dito por Arnel: ―Comunicação errada sempre acontece Tanto na

comunicação oral quanto na escrita‖56.

56 Miscommunication is always happening. Either the communication orally or written.

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5.2.4 Trabalho com pessoas de outros lugares

O quadro 8 apresenta as categorias de análise para trabalho com pessoas de outros

lugares.

Quadro 8 - Categorias de análise para trabalho com pessoas de outros lugares.

Categoria Final Categoria

Intermediária

Categoria Inicial

Trabalho com

Pessoas de outros

Lugares

Vantagens Experiências diversas

Aprendizado

Trabalho 24h

Desvantagens Desafios

Fuso horário

Contato pessoal

Atraso / dificuldade na comunicação

Fonte: coleta de dados (2010)

Quando se parte para um projeto global, com times virtuais, tem-se o objetivo de melhorar

o desempenho e/ou baixar os custos envolvidos. Por outro lado, serão vivenciadas

adversidades pouco presentes em times colocalizados. Procurou-se, dessa maneira,

identificar nas entrevistas como os profissionais observam e entendem essas vantagens e

desvantagens.

Fritz, Karl, Camila, Arnel e Jack tiveram uma posição positivista, mais focadas no lado

profissional, indicando como vantagem vivências diferentes, o que enriquece as

discussões técnicas. Na verdade, é um dos cernes dos times virtuais globais:

experiências diversas, opiniões diversas que mostram o assunto sob outro ângulo,

gerando maior quantidade de ideias e melhores soluções, pensamento esse que

corrobora com Daily e Steiner (1998)

Outro aspecto levantado pela literatura, e comentado por Karl, Joana e Ana é o trabalho

24 horas. Nas palavras de Ana: ―tem a vantagem, eu termino um trabalho aqui e mando

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para o Fritz, ele faz enquanto eu estou dormindo. Quando eu chego 7h da manhã já está

na minha tela. Eu tenho oportunidade de trabalhar round the clock‖ (DUCKWORTH, 2008;

BELL; KOZLOWSKI, 2002). Ao mesmo tempo em que citam esse potencial, eles

reconhecem que não funciona sempre, e que precisa de tempo para poder ser

implementado. É a oportunidade de acelerar o processo andando lado a lado com o risco

de atraso em virtude das dificuldades de comunicação.

De uma forma bastante abrangente, oito dos entrevistados citaram como vantagem em se

trabalhar com pessoas de outros locais o aprendizado gerado. Tanto do ponto de vista

profissional quanto pessoal.

Em contrapartida, não se pode negar que há desvantagens, dificuldades como elucidou

Ana. Os aspectos comportamentais, técnicos, como baixa qualidade de conexão, e de

flexibilidade pessoal são pontos importantes a serem considerados quando se decide

implementar um time virtual. As desvantagens citadas foram diversas, mas abordando

principalmente atrasos para recebimento de resposta devido ao fuso horário (Maria,

Camila, Dakshi, Karl e Liu). Esse fator pode ser mesclado com dificuldade de

comunicação, em virtude de os membros não estarem próximos, tampouco no mesmo

fuso horário. Todavia, houve certo posicionamento dos entrevistados, considerando as

dificuldades como desafios, que ao final são interessantes tanto para o lado profissional

quando pessoal. Maria expôs bem: ―Acho que são desafios mesmo que a gente tem. E

acho que desafio é uma coisa boa; não é uma coisa ruim. Você tem que se esforçar

mais‖. Ana teve discurso semelhante: ―As desvantagens são as dificuldades. De

comunicação e o processo fica mais lento, lento no sentido de como você precisa

comunicar com muita gente, isso demora mais‖.

Ainda dentro de dificuldade de comunicação, Maria citou o estabelecimento falho de

papéis e responsabilidades. O não estabelecimento claro de processos e

responsabilidades ocasiona que a informação siga um caminho tortuoso entre origem e

destino, levando mais tempo e podendo ser distorcida. Ela citou o exemplo da joint

venture na China. Como é uma joint venture, nem todas as informações podem ser

passadas; todavia, não existe uma regra clara do que pode e do que não pode ser

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passado. Por política da Autoglobo, informações confidenciais como volumes de

produção, custos de componentes e sistemas e datas-chave de projetos, etc. não podem

ser divulgados para terceiros, Entretanto, essas informações são essenciais,

principalmente para que o time de Compras chinês possa negociar melhor com sua base

de fornecedores. Assim, esse é um tipo de definição que nem sempre está claro dentro

dos processos internos. Mesmo níveis mais elevados na hierarquia têm certa dificuldade

em definir informações que podem ou ser compartilhadas com a joint venture.

Outro ponto que dificulta a comunicação, levantado por Maria e Camila, foi o não

conhecimento pessoal dos colegas de trabalho, e não ter proximidade física. O primeiro

fator pode ser considerado de cunho sociológico (já discutido no item 4.7.2), enquanto o

segundo força os membros a usar ferramentas de comunicação virtual. Quando as

pessoas não estão acostumadas, treinadas, a isso, pode gerar dificuldades tanto

sociológicas quanto operacionais, como já descrito no item 4.7.1.

O fator fuso horário foi citado de formas diferentes. A seu modo, Camila lembrou um

evento que lhe marcou:

No momento eu confesso a você sinceramente que a maior desvantagem que está a alarmando o nosso time é de horário. Por que a gente [...] tem que conectar em reunião de madrugada, ou muito cedo, ou muito tarde, [...] e faço um horário mais flexível. Só que esse horário flexível nem sempre é viável. [...] a gente teve uma reunião dessas semana passada, que terminou na quarta-feira duas e meia,

e a gente tinha que chegar no dia seguinte às oito por que tinha reunião para atender com o pessoal do Projeto Beta

57, [...] e tinha que ser de manhã, por que

tinha uma pessoa que está viajando e está na Alemanha, então tinha que ser de manha para essa pessoa poder participar. Então a gente não podia nem sequer dormir um pouco mais e chegar um pouco atrasados. Isso gerou um cansaço na gente que refletiu a semana inteira.

Karl e Dakshi comentaram, também a respeito de fuso horário, entretanto, pelo lado de

atraso de resposta. Como as pessoas estão espalhadas, respostas da Europa ou da Ásia

acabam vindo, na grande maioria das vezes, no dia seguinte. Dakshi, por ser

representante da Manufatura Ásia, acaba por ter que esperar por resposta, como já foi

relatado no item 5.2.1, como também já exposto por Arnel: a primeira comunicação não

57

Outro projeto global, iniciado posteriormente ao Projeto Alfa.

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112

for clara, gera uma sequência de e-mails que atrasa por vários dias a obtenção de uma

solução.

Fritz, por sua vez, comentou sobre a necessidade de treinar pessoas em processos. Isso

pode ser entendido como necessidade de as pessoas seguirem processos globais, todos

no mesmo processo. A Autoglobo tem programas de treinamento, e os gestores do

Projeto Alfa buscam continuamente fazer benchmarking e seguir processos globais. Por

outro lado, esse treinamento pode ser, também, compreendido pela relativa baixa

experiência do time brasileiro, especialmente no quesito técnico. Essa posição já havia

levantada em outras ocasiões por Fritz. Apesar de o time ser dedicado e buscar aprender

e aperfeiçoar-se, ainda há uma diferença na parte técnica significativa entre os times

brasileiro e europeu.

Fazendo-se um balanço entre vantagens e desvantagens reportadas, observa-se um

posicionamento muito mais positivo do que negativo dos participantes. Mesmo que uma

maior quantidade de pontos negativos tenham sido levantados, em nenhum momento

houve o uso de expressões como ―ruim‖, ―não gosto‖, ―prefiro trabalhar em projetos

regionais, com pessoas locais‖. Isso deve ser considerado como positivo pela Autoglobo,

pois as pessoas enxergam dificuldades, tem problemas para a execução de suas

atividades, entretanto não ficam intimidadas ou coagidas pela situação. Muito pelo

contrário, vêem as adversidades como oportunidades de crescimento, tanto profissional

quando pessoal, e buscam melhorar seu comportamento dia a dia. Não se pode, também,

desconsiderar, a relativa baixa idade dos entrevistados, estando a maioria na faixa baixa

dos 30 anos. A flexibilidade e abertura para novas experiências são mais altas na

juventude. A mesma pesquisa conduzida com pessoas mais velhas poderia diferir no

resultado.

5.2.5 Melhorias na comunicação

O último conjunto de perguntas focava nas potencialidades de melhoria nos processos de

comunicação. Foram perguntas abertas em como a Autoglobo poderia aumentar o

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desempenho da comunicação dentro de um time virtual. O quadro 9 apresenta as

categorias de análise para melhorias na comunicação.

Quadro 9 - Categorias de análise para melhorias na comunicação.

Categoria Final Categoria

Intermediária

Categoria Inicial

Melhorias na

Comunicação

Disciplina Processo

Reuniões

Comunicação constante

Alinhamento de

informações

Base de dados comum

Clareza na mensagem

Infraestrutura Equipamentos

Flexibilidade Mobilidade de dados

Horário de trabalho

Contato pessoal Contato pessoal

Aprendizado Ferramentas de comunicação virtual

Conhecimento de inglês

Fonte: coleta de dados (2010).

Disciplina foi um dos temas suscitados, principalmente no que diz respeito a processos e

condução de reuniões. Ana elucidou que se o processo for robusto e seguido pelo time, a

melhoria é contínua. Para que isso seja alcançado, a retroalimentação deve ser seguida;

isso significa que a falha ocorrida deve ser estudada para que não se repita. Todavia, ela

afirma que os processos estão em constante mudança, o que faz com que as pessoas

nem sempre o sigam por desconhecimento. Esse tipo de dificuldade já havia sido citado

por Wiesenfeld, Raghuram e Garud (1999) e Bell e Kozlowski (2002), notadamente no

que tange a times remotos, pertinente ao Projeto Alfa. Maria, Joana e Jack apóiam a

citação de Ana, afirmando necessidade de maior uso dos processos estabelecidos.

Em outra linha, Camila, Liu, Ana, Maria e Karl apontaram a necessidade de maior

disciplina na convocação e condução de reuniões. Essa disciplina engloba convocar as

pessoas corretas, ter uma agenda a ser seguida e distribuir o material antecipadamente,

pontos citados por Heerkens (2002) como fundamentais para o eficiente andamento das

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mesmas. Camila por sua vez, questionou se todas as reuniões marcadas realmente são

necessárias, e exemplificou casos em que a reunião era convocada sem assunto definido,

as pessoas atendiam sem saber o motivo, e ao final decidia-se marcar outra reunião para

então discutir-se o assunto. Isso, segundo Jarvenpaa e Leidner (1999) são fatores que

minam a confiança no time, fazendo com muitos não atendam as próximas reuniões,

impactando diretamente no desempenho do projeto. Karl foi bastante explicito em seu

comentário: ―Por que convidar 18 pessoas, se apenas duas ou quarto estão falando. Nós

temos que definir quais os tópicos vamos discutir. E ter uma minuta clara‖ 58. Liu, a seu

turno, citou o Projeto Beta como benchmark, onde as informações e arquivos a serem

discutidos são distribuídos previamente, facilitando a preparação e dinâmica das reuniões.

Por outro lado, seis entrevistados indicaram a necessidade de comunicação frequente

entre os membros. Jack citou que muitas vezes um e-mail fica sem resposta por 30 dias.

Uma maior frequência de comunicação ajuda mesmo em criar confiança entre os

membros, facilitando as atividades diárias.

Outro ponto a ser melhorado é o alinhamento de informações. Dois pontos foram

levantados como principais. O primeiro é ter uma base de dados comum (Ana, Maria,

Joana, Karl e Dakshi). Isso significa ter arquivos e informações disponíveis para todos os

membros do time, e evitar a criação de versões paralelas. Maria exemplificou uma

situação vivenciada, em que diversos arquivos eram mantidos em paralelo, monitorando a

mesma tarefa, sendo que as informações divergiam entre os arquivos. O excesso de

controle já havia sido exposto por Heerkens (2002) como um fato a ser controlado pelo

projeto: ―Uma das chaves para gerenciar a documentação efetivamente – e evitar o

excesso, fazer apenas o que faz sentido e agrega valor‖ 59. O fato de haver versões

paralelas já é um risco potencial para um projeto; um agravante que pode ser induzido a

partir de Cross e Parker (2004), quando mencionam que as pessoas tendem a buscar

informações por sua rede de contato em detrimento da banco de dados. A confiança em

uma informação não oficial, que pode estar desatualizada acarretará prejuízos ao projeto,

58

Why invite 18 people, when just 2 or 4 are talking. We have to define which are the topics we are discussing. And have a clear minute. 59

One of the keys to managing documentation effectively is to avoid excess—to do only what makes sense and adds value.

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potencialmente incorrendo em retrabalho ou atraso, fato que já havia sido cotado por EC2

na etapa 1.

Indo ao encontro do acima exposto, a divulgação de informações do projeto foi citada

como deficiente. Joana ilustrou a situação com reuniões de status, onde muitas

informações eram compartilhadas, e que não estão mais sendo realizadas. O efeito disso

é que a divulgação das informações fica a cargo de gerentes e supervisores, o que gera

distorções entre os times. Enquanto alguns mantêm seu time atualizado com as últimas

informações, outros não o fazem. Sobre isso, PMI (2008) propõe a identificação dos stake

holders, bem como as informações devem ser divulgadas. Da mesma forma, as

informações desencontradas resultam em prioridades individuais que não estão alinhadas

com as do projeto como todo, impactando nos requisitos de custo, tempo e qualidade.

Assim, Joana, Ana, Arnel, Liu, Maria e Dakshi apontam falhas e necessidade de

melhorias nessa questão.

Infraestrutura foi outro ponto a ser melhorado (Camila, Liu, Fritz, Maria e Dakshi).

Principalmente no concerne à telefonia e intranet. Karl corrobora com Kraut et al. (2002),

quando fala: ―Um telefone melhor, onde eu possa ver quem está ligando. Eu não preciso

de secretária eletrônica. Eu só quero saber quem está ligando‖ 60. E prosseguiu: ―Aqui há

muito ruído ambiente. E os telefones são muito ruins. É difícil de entender por que há

barulho nos dois lados. Barulho pela linha, ou ao redor‖ 61. Fritz, por sua vez, coadunou

com a opinião de Karl: ―Comunicação no Brasil é ruim. Você não tem head set, telefones

são ruins. Qualidade é ruim, muito ruído de fundo‖ 62. Tal posição encontra suporte em

Lipnack e Stamps (2000), quando afirmam a necessidade de uma infraestrutura, tanto

física quanto de software que suporte o trabalho virtual. Pela parte de software, Maria

elucidou bem a situação, citando o número limitado de drives compartilhados e pequeno

espaço disponível em team rooms para armazenamento de informação. Isso obriga os

membros a continuamente apagar arquivos para poder gravar informações mais recentes.

60

A better phone, where I can see who is calling. I don´t need an answer machine. I just want to know who is

calling. 61

Here is noise level happening around. And the phones are very bad. It́ s difficult to understand because there much noise on both sides. Comes noise thru the lines, or around. 62

Communication in Brazil is bad. You don´t have head set, phones are bad. Quality is bad, too much back ground noise.

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Isso, no dia a dia de um projeto ocasiona certa perda de histórico, e por outro lado

dificulta a gravação de informações. Muitas vezes há a necessidade de se gravar um

arquivo no computador, criar espaço em team room, para depois transferir o arquivo para

o team room. Como já citado, esses subterfúgios criam o potencial para versões paralelas

de um mesmo arquivo. Em suporte a essas necessidades, o PMI (2008) também aponta a

observância de técnicas para que tenha a infraestrutura correta para o desempenho de

um projeto.

Um ponto comentado para que melhore a comunicação foi a flexibilidade de horários e

acesso às informações. Essa foi apontada principalmente em termos de os membros

poderem atender reuniões em horários fora do expediente normal (quatro citações), e ter

as informações disponíveis (três citações). Camila expõe experiências próprias com o

time da Ásia. Em virtude da grande diferença de horário, um time sempre precisa atender

as reuniões fora de seu horário de trabalho, e deve haver sacrifício intercalados, cada vez

um time atendendo fora da jornada normal de trabalho.

Por outro ponto de vista, Fritz sugeriu que a mobilidade de informações via notebooks

deveria ser ampliada. ―Usar laptops para ser flexível. Nós viajamos muito. Todo mundo

deveria ter um laptop‖ 63. Tal ponderação sobre mobilidade já havia sido exposta por EC2

na etapa 1. Esse posicionamento sobre acesso às informações há havia sido citado por

Lipnack e Stamps (2000) como um requisito para as empresas na Era da Informação.

Duarte e Snyder (2003), da mesma forma apontaram a necessidade de pleno acesso às

ferramentas e informações do projeto, independente de sua localização. A mobilidade da

informação permite que as pessoas estejam com o nível mais atualizado de informação

sobre o projeto, podendo tomar melhores decisões. Quando a pessoa não está em sua

mesa, não tem acesso aos dados recentes, o que pode gerar atraso em tomadas de

decisão, ou mesmo a tomada de decisões equivocadas baseadas em informação

obsoletas. Ainda falando sobre mobilidade, EC2 citava telefones móveis e VoIP como

forma de localizar as pessoas, independente de onde elas estivessem dentro da empresa.

63

Use laptop to be flexible. We travel a lot. Everybody should have a laptop.

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117

Um comentário feito por Arnel, que vai ao encontro do sugerido por EC2 na etapa 1, foi o

atendimento de reuniões de sua casa, demonstrando a necessidade de conectividade

mesmo fora do ambiente físico da empresa e flexibilidade no horário de trabalho. Essa

última também é apoiada por Liu, que exemplifica work shops realizados no início do

projeto entre Brasil e China, quando, alternadamente, os times trabalharam no turno da

noite para poder comunicar-se sincronicamente.

Outro ponto salientado pelos entrevistados foi a necessidade de aprendizado por partes

de alguns membros, principalmente língua inglesa e ferramentas de comunicação.

Dakshi, Fritz, Karl e Liu foram explícitos em recomendar aulas de inglês para os

membros. Em virtude do baixo conhecimento, as dificuldade de entendimento, como

reportado em 5.2.3, são evidenciadas. Interessante de notar que expatriados, tanto os

profissionais quanto seus familiares, chegando ao Brasil têm aulas de português. A

Autoglobo entende isso como um fator que facilita a adaptação dos estrangeiros ao local.

Por outro lado, a falta de habilidades com as ferramentas de comunicação também foi

apontado como fator negativo para troca de informações. Com o desconhecimento das

funcionalidades das ferramentas, as pessoas acabam usando prioritariamente uma ou

duas, que não necessariamente são as mais adequadas. Jack e Maria apontam

claramente essa necessidade, enquanto Fritz sinaliza indiretamente, quando expressa a

quantidade de e-mails gerada sem a devida necessidade. Maria, por sua vez deixa

bastante clara a necessidade de aprendizado sobre as ferramentas:

[As ferramentas] Estão disponíveis. Acho que é só questão de fazer bom uso. O time de recursos aqui do PD

64, uma época, tentou fazer um curso sobre

administrar, mas depois pararam. Hoje não tem ninguém fazendo isso no PD. Webex por exemplo, tem um monte de gente que não usa nem 10% dos recursos que tem. Muitas ferramentas que a gente não usa direito. Mesmo e-mail, eu vejo muito que a pessoa entra nova na Autoglobo recém formada Às vezes já trabalhou em outras empresas. Mas quem é recém formado e entra aqui, ninguém ensina nada. O cara tem que usar Outlook pela primeira vez na vida; mal e mal ele vai

abrir o e-mail e pronto. Ele vai descobrindo aos poucos os macetes, as ferramentas o que ele pode usar dali. Mas ele descobriu sozinho, ele não tem ninguém que ajude. Acho que é questão de entender melhor como as ferramentas funcionam.

64

Sigla para Product Development (Center) – Centro de Desenvolvimento de Produto

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118

Em suma, as perguntas finais, abertas para que as pessoas pudessem expressar mais

livremente seus pontos de vista sobre a comunicação produziram informações valiosas

para melhorar a comunicação entre os membros do time.

5.2.6 Diferenças Culturais

O quadro 10 apresenta as categorias de análise utilizadas para diferenças culturais.

Quadro 10 - Categorias para diferenças culturais.

Categoria Final Categoria Intermediária Categoria Inicial

Diferenças Culturais Forma de trabalho Europeus

Chineses

Indianos

Brasileiros

Oportunidades e Desafios Aprendizado

Desafios

Fonte: coleta de dados (2010).

Embora não fosse objetivo inicial desse trabalho a abordagem cultural da comunicação,

essa foi incluída em virtude da frequência com que foi citada pelos entrevistados.

Somente Dakshi não mencionou as diferenças culturais como fator importante na

comunicação, e principalmente, em suas dificuldades. O fator diferenças culturais não

está restrito a projetos internacionais, como expos Lewis (1995). Mesmo em situações

onde membros de um mesmo país estão trabalhando conjuntamente, encontram-se

situações multiculturais (ARMSTRONG; COLE, 2002).

Em se tratando das ferramentas de comunicação virtual, Camila comentou sobre a

dificuldade em se comunicar por e-mail com a China. Essa dificuldade ampara-se no

proposto por Bell e Kozlowski (2002), quando apontam que as diferenças culturais atuam

como fatores negativos para a comunicação, sendo agravados com o aumento da

complexidade das atividades. Em suas palavras: ―se comunicar com o pessoal da China

por e-mail não é fácil eu acho, por que o oriental tem uma maneira de raciocinar e

perguntar as coisas diferente dos ocidentais mesmo‖. Esse tipo de dificuldade já havia

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119

sido identificado por Lee (2002), suscitando a influência confucionista sobre como as

pessoas se comunicam.

Quando indagados sobre a influência da dispersão geográfica e de fuso horário, assim

como registrado na etapa 1, algumas respostas direcionaram diretamente a diversidade

cultural. Sendo a dispersão nesse projeto principalmente leste-oeste (Brasil, Europa, Índia

e China), esta se confunde com a diversidade cultural entre seus membros. E essa

diversidade impacta na forma como as pessoas se comunicam e se comportam. Tal

questão já havia sido levantada por EC2 na fase 1. Na literatura, tal entendimento

encontra base em pesquisas de Armstrong e Cole (2002), que identificaram causas

diversas para comunicação truncada entre times dispersos. E esse tipo de adversidade é

baseado não somente em culturas sociais diferentes, mas também em culturais

organizacionais de unidades remotas da mesma organização, que podem ser tão fortes e

contrastantes quanto em culturas nacionais. Nesse ponto Maria afirmou ser necessário

aprender como as demais culturas influenciam as pessoas, e como deve ser feita a

comunicação, diferente para cada povo. Ao encontro disso, Armstrong e Cole (2002)

demonstraram como líderes de projeto na Compute Company adaptaram o modo de falar,

cobrar e ordenar pessoas, conforme a origem da outra pessoa.

Diferenças de comportamento dependendo da sociedade ou grupo em que se já havia

escrito por King e Frost (2002), e foi muito bem retratado por Joana sobre treinamento e

adaptação:

[...] nos Estados Unidos, quando os latinos chegam para trabalhar, depois de certo tempo eles tem um treino: como a cultura funciona. Um simples abrir a porta um

homem para uma mulher pode se caracterizar um assédio. No Brasil é uma coisa totalmente normal. Aqui é falta de educação você abrir e não deixar a mulher passar. São coisas bestas que eu acho que poderia ajudar, A gente pode estar infringindo alguma coisa da cultura deles, uma forma de falar. Às vezes você vê que eles ficam brabos com a gente por uma coisa que você nem sabe que pode estar causando.

A exposição de Joana sobre treinamento intercultural encontra apoio em Brandl e Neyer

(2009), quando sugerem a necessidade de mostrar às pessoas envolvidas em GVT as

diferenças existentes, e como portar-se diante delas.

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No quesito comunicação em língua inglesa, não foi apenas o conhecimento propriamente

dito que dificulta a comunicação clara. Foi apontado que a forma como as pessoas se

comunicam, escrevem, falam, varia entre as regiões, e isso é um dificultador para a

comunicação e entendimento. Mais uma vez não é apenas o lado profissional agindo

sobre a comunicação. Mesmo o inglês sendo uma língua de gramática simples

(SHACHAF, 2005, 2008) e de uso global para negócios (ADLER, 2007), ainda há um

caminho a ser percorrido antes de sua plena implementação e entendimento.

Por outro lado, quando questionados sobre as vantagens e desvantagens de se trabalhar

com pessoas de outros lugares, a maior frequência de respostas recaiu sobre o lado de

conhecer novas culturas, novas pessoas. Maria, por sua vez, representou bem esse

sentimento:

Acho que expande muito a nossa cabeça. [...] Contribui para o nosso crescimento. Pessoal também, não só profissional. Você pode melhorar o seu jeito de lidar com

as pessoas, de um modo geral. Aperfeiçoa também o seu modo de comunicar, como você vai lidar com as pessoas. Deixa de viver no seu mundinho, começa a ampliar seus horizontes.

A seu modo, Camila concordou com esse pensamento: ―Eu gosto muito de falar com

pessoas de culturas diferentes, de aprender coisas de outros mercados que eu nunca

trabalhei na vida. Isso para mim é encantador. [...] a gente sai daquele mundinho que só a

gente conhece‖. E foi mais longe, num ponto específico: ―Ainda mais hoje em dia que a

China está crescendo, a gente está tendo muito contato com a China. Isso é tipo um

currículo que a gente está fazendo, especialmente na Autoglobo‖.

Liu, por sua vez, expos uma visão levemente distinta: ―Eu acho muito interessante

conhecer pessoas de outros países, elas têm opiniões diferentes. E isso é muito

interessante de conhecer. Outra coisa interessante de trabalhar com pessoas, é que você

pode conhecer o país delas‖ 65.

65

I think it́ s very interesting to know people from different countries, they have different opinions. And that́ s very interesting to know. Another interesting thing to work with people, you can go to their countries.

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De um modo geral, apontou-se os potenciais interculturais e de aprendizado como as

vantagens de se trabalhar com pessoas de outras culturas (GROSSE, 2002). Os

diferentes modos de agir, se comportar, se comunicar foram citados como riscos e

desafios para o sucesso de um time virtual. E esse ponto pode ser entendido até como

situações de gafe. Liu, até sem jeito, comenta sobre o uso de roupas coloridas, que havia

sido alertada, ainda na China, que algumas cores não eram bem vistas, adequadas de

serem usadas no Brasil, sendo, todavia, perfeitamente normais na China.

Algo a ser comentado foi a diferença das respostas entre as etapas 1 e 2. Apesar de

diferenças culturais ter sido citada na etapa 1, a citação foi superficial e em poucos

momentos. Já na etapa 2 foi amplamente citada, o que influiu em abrir uma categoria de

análise específica. Tal antagonismo pode ser gerado pelos diferentes níveis hierárquicos

dentro da Autoglobo. Como na etapa 1 foram selecionadas pessoas em nível hierárquico

superior, todas com mais de dez anos de empresa, e que se relacionam com pessoas do

mesmo nível, pode-se entender com um nível de homogeneização maior. Em

contrapartida, a menor experiência dos entrevistados na etapa 2, pode-se entender

melhor a heterogeneidade de respostas e vivências dentro do Projeto Alfa. Da mesma

forma, indo de encontro ao exposto por Maria sobre dinâmica de reuniões, em reuniões

que envolvem membros de gerência e diretoria, pouca diferença se nota entre os

presentes físicos e os virtuais. A interface entre todos pouco se diferencia pela localização

em que estão.

5.3 Resultados da Etapa 3

A etapa 3 coletou dados quantitativos de como os membros do Projeto Alfa comunicam-

se e como percebem essa comunicação. Foi selecionada uma amostra de 52 nomes de

um universo de 80 pessoas, sendo que 39 pessoas responderam. O perfil dos

respondentes pode ser visto no Apêndice E. Salienta-se que nenhum dos entrevistados

anteriormente recebeu o questionário, objetivando-se evitar viés nas respostas. A amostra

dos respondentes incluiu todas as regiões e áreas envolvidas no projeto. Da mesma

forma que na etapa anterior, foram escolhidas pessoas por amostragem intencional

(RICHARDSON, op. cit.), por serem os membros com maior comunicação virtual e global.

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Nem todos os questionários foram respondidos integralmente. Assim, observa-se que

alguns gráficos e figuras apresentam número total de resposta inferior a 39. Mesmo

assim, foram considerados para efeito de análises estatísticas descritivas.

Dentre os respondentes pode ser notada uma maior participação de brasileiros, seguidos

por chineses. Isso pode ser justificado pela liderança brasileira no projeto global,

enquanto a forte participação chinesa pode ser pontuada pela situação de joint venture.

Ademais, mesmo sobre a liderança brasileira, a China possui alta independência,

principalmente no que tange à parte financeira e de seleção de fornecedores (Compras).

A tabela 1 mostra a distribuição dos respondentes por nacionalidade.

Tabela 1 - Distribuição da amostra por nacionalidade.

Nacionalidade Respondentes %

Brasileira 20 48%

Chinesa 12 29%

Indiana 4 10%

Alemã 3 7%

Inglesa 2 5%

Filipina 1 2%

Total 42

Fonte: Coleta de dados (2011).

Quanto à distribuição por áreas funcionais, houve uma predominância de pessoas

oriundas dos Centros de Desenvolvimento de Engenharia, compreendendo

Gerenciamento de Projetos (GP) e Engenharia (ENG). Isso se deve à maior necessidade

de troca de informações entre as diversas regiões por essas áreas. Estratégia tem

pequena participação devido ao tamanho reduzido do time, e ao time brasileiro concentrar

as informações. As demais regiões possuem pequena interface com os demais times do

Projeto Alfa. Manufatura (MNF), por outro lado, possui a peculiaridade de o time

responsável pela planta brasileira não ter contato com as demais regiões, enquanto que

um time de apenas três pessoas faz a interface entre as plantas asiáticas e o restante do

time no Brasil. Finanças (FIN) e Compras, por sua vez, possuem algumas pessoas-chave

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que interligam os times e regiões, enquanto um número grande de analistas e

compradores foca nas atividades locais. Na tabela 2 está apresentada a distribuição dos

respondentes segundo área funcional.

Tabela 2 - Distribuição da amostra por área funcional

Área Respondentes %

GP 10 24%

FIN 7 17%

ENG 15 36%

Estratégia 1 2%

MNF 1 2%

Compras 8 19%

Total 42

Fonte: Coleta de dados (2011).

Em termos de experiência internacional, observa-se alta vivência dos respondentes no

exterior. Da amostra, 67% afirmou ter morado fora de seu país de origem, sendo

importante pontuar que todos os chineses já tiveram essa experiência. Interessante notar

também a abrangência das experiências. Todos os seis continentes foram destino de

experiência internacional aos pesquisados.

Os respondentes apresentam média etária de 32,0 anos (tabela 3) e de 6,5 anos de

empresa. A distribuição em termos de tempo de empresa pode ser vista no gráfico 6, e

demonstra concentração em pessoas com pouco tempo.

Em termos de quantidade de línguas faladas, obteve-se média ( ) de 2,4, sendo que um

pesquisado afirmou falar apenas seu idioma nativo, 26 são bilíngues, oito falam três

idiomas e quatro expressam-se em quatro idiomas.

De uma forma geral, observa-se uma grande dispersão de opinião dos pesquisados.

Todas as questões, incluindo todos os subitens nas questões 21 e 22, obtiveram

pontuação máxima (cinco ou sete de acordo com a questão), e 17 receberam pontuação

mínima.

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124

Tabela 3 - Distribuição etária da amostra

Faixa Etária Respondentes %

20-29 13 32%

30-39 24 59%

40-49 3 7%

>50 1 2%

Total 41

Média 32,0

Fonte: Coleta de dados (2011).

Tabela 4 - Distribuição de tempo de empresa dos pesquisados.

Tempo de empresa Respondentes %

≤5 23 56%

6-10 14 34%

≥11 4 10%

Total 41

Média 6

Fonte: Coleta de dados (2011).

5.3.1 Ferramentas de Comunicação

As primeiras cinco perguntas buscaram a opinião sobre o uso correto das ferramentas de

comunicação pelos membros do Projeto Alfa. De maneira semelhante ao encontrado

durante as entrevistas, houve grande dispersão das respostas. Na tabela 5 estão

apresentados médias e desvios padrão quanto ao uso adequado das ferramentas de

comunicação.

Podem ser observados menores médias e maiores desvios padrão para e-mail e telefone.

Em relação a e-mail, o alto desvio padrão corrobora com as opiniões dos entrevistados,

quando apontamentos antagônicos foram dados. Ao mesmo tempo em que alguns

membros vêem como primordial e bem feita a utilização dessa ferramenta, muitas

pessoas ainda tem dificuldade no seu uso adequado.

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125

Tabela 5 – Resultado para uso adequado das ferramentas de comunicação.

Média Desvio Padrão

E-mail 4,4 1,5

Telefone 4,6 1,7

Chat 5,0 1,1

Webinar 5,1 1,3

Team Room 4,7 1,2

Fonte: Coleta de dados (2011).

No que tange ao uso do telefone, obteve-se uma distribuição não gaussiana, apresentada

na figura 12. Esse resultado pode ser entendido pelo potencial de se melhor esclarecer

dúvidas e mal entendidos (HINDS; WEISBAND, 2003; HERBSLEB et al, 2000), ao mesmo

tempo em que dificulta a comunicação por pessoas com dificuldade na língua (SHACHAF,

2005). Todavia, o baixo conhecimento de alguns membros, com certa timidez de outros

em utilizar o telefone, pode originar o resultado da tabela 6. As entrevistas apontaram a

vantagem do uso dessa ferramenta para esclarecimentos (Maria) e para confiança e

comprometimento dos membros (Ana), ao mesmo tempo em que citaram dificuldades de

entendimento, principalmente em função de sotaque e baixa habilidade em língua inglesa

(Camila).

Tabela 6 - Uso adequado de telefone pelos membros do time.

Nota Respondentes %

1 2 5%

2 2 5%

3 9 21%

4 4 10%

5 8 19%

6 13 31%

7 4 10%

Média 4,59

Desvio Padrão 1,68

Fonte: Coleta de dados (2011).

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126

O chat, por sua vez, obteve a segunda maior média, menor desvio padrão e maior nota

mínima (três), indicando melhor aptidão dos membros em seu uso. Confrontando-se essa

informação com a pergunta 22, tem-se que nem todas as pessoas utilizam essa

ferramenta diariamente. Isso faz com que os usuários efetivos tenham melhor

discernimento a respeito, resultando em melhor utilização.

Por outro lado, o webinar foi a ferramenta com a maior média e desvio padrão

intermediário entre os demais. Voltando-se à etapa 2, essa ferramenta obteve 20% de

indicação de melhor desempenho, coadunado com a média elevada recebida na etapa 3.

Como já comentado anteriormente, o webinar conjuga as vantagens de se compartilhar

arquivos em tempo real, suportando as discussões por áudio, facilitando a compreensão

do assunto.

A média intermediária entre as demais obtida por team rooms, é homogênea quando

analisadas por nacionalidade e time funcional. Assim, entende-se como uma ferramenta

útil para compartilhamento de informações, relativamente bem utilizada pelos membros do

Projeto Alfa.

A disponibilidade de meios diversos para comunicação é fator chave para o sucesso de

um time virtual (LIPNACK; STAMPS, 1997). Quando inquiridos sobre a disponibilidade de

ferramentas capacitando os membros a realizar comunicação virtual, os dados,

apresentados na tabela 7, corroboram a opinião dos entrevistados: muito satisfatória.

Mesmo havendo pontuação dois e três, observa-se uma concentração acentuada nos três

níveis extremos superiores, com média 5,7. Como já haviam pontuado Maria e Dakshi, a

Autoglobo disponibiliza as ferramentas necessárias. Dessa maneira, em linha com o

encontrado anteriormente, pode-se inferir que não é a indisponibilidade de ferramentas

que prejudica a comunicação virtual entre os membros do time.

A pergunta 11, por sua vez, questionou os pesquisados se suas habilidades com

ferramentas de comunicação virtual lhes provinham capacitação para comunicar-se

adequadamente com os demais membros do time. As respostas concentraram-se nos

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127

três níveis superiores, com aproximadamente um terço para cada nível. A média 6,0 e s =

0,83 (figura 14). demonstra autoconfiança dos pesquisados quanto à aptidão de uso das

ferramentas. Todavia, essa autoconfiança pode ser considerada, até mesmo, um ponto

cego, pois viu-se nas questões iniciais, principalmente e-mail, assim como nas

entrevistas, que há espaço para melhoria. Até pode-se pensar que a falta de domínio das

ferramentas seria concentrada em outros grupos de membros, embora não se possa

afirmar ou generalizar tal hipótese com os dados existentes.

Tabela 7 - Disponibilidade de ferramentas de comunicação virtual.

Nota Respondentes %

1 0 0%

2 1 2%

3 1 2%

4 5 12%

5 12 29%

6 8 19%

7 15 36%

Média 5,72

Desvio Padrão 1,32

Fonte: Coleta de dados (2011).

Um fato que talvez possa ser contraditório com os achados em entrevistas foi a forma

como as pessoas escolhem as ferramentas de comunicação. Em ambas as etapas

anteriores, foi comentado sobre mensagens que ficam perdidas entre as dezenas de e-

mails recebidos diariamente. Todavia, os dados quantitativos mostram um panorama

diferente. A figura 12 mostra a distribuição de respostas quanto à escolha da ferramenta

segundo a urgência da comunicação ou atividade. Observa-se que mais de 70% das

respostas são positivas a esse respeito (notas cinco, seis e sete). No entanto, o que foi

comentado no início desse parágrafo encontra respaldo nas notas baixas atribuídas.

Mesmo que grande parte dos membros tenha bom discernimento quanto à ferramenta a

ser utilizada dependendo da urgência da informação ou atividade, alguns ainda não têm

esse conhecimento. Ou mesmo os comentários nas entrevistas tenham saído de casos

extremos, enquanto o questionário tenha sido respondido de uma forma mais genérica.

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128

Além disso, as notas baixas podem estar relacionadas ao posicionamento de Maria,

sugerindo treinamento, principalmente aos novos na empresa, sobre como melhor utilizar

as ferramentas de comunicação disponíveis.

Figura 11 - Auto-avaliação sobre domínio das ferramentas de comunicação.

Fonte: Coleta de dados (2011).

De forma a ratificar o ranking das ferramentas de comunicação quanto á sua eficiência, foi

solicitado que os pesquisados opinassem sobre a eficiência de cada ferramenta. Como

esperado, a média resultante apresentou exatamente o resultado das entrevistas, como

pode ser visto na tabela 8.

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129

Figura 12 – Urgência como fator de escolha da ferramenta de comunicação virtual.

Fonte: Coleta de dados (2011).

Tabela 8 - Eficiência das ferramentas de comunicação.

Ferramenta de

Comunicação

Média Desvio Padrão

Telefone 6,2 1,0

E-mail 5,3 1,7

Chat 5,2 1,3

Webinar 5,2 1,5

Team Room 4,8 1,5

Fonte: Coleta de dados (2011).

A mesma tabela retrata a controvérsia do e-mail. Enquanto segunda ferramenta mais

eficiente, é a com maior desvio padrão, retratando a dissonância de opiniões, tendo sido,

até mesmo, considerada com nota mínima (muito baixa) por dois pesquisados em termos

de eficiência. Por outro lado, a média mais alta juntamente com o mais baixo desvio

padrão apresentado pelo telefone pode ser comparado com a maior citação como

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130

ferramenta mais eficiente nas entrevistas. Esse resultado apoia Binder (2007), que cita o

telefone como essencial a times virtuais, bem como Hinds e Weisband (2003) e Herbsleb

et al (2000), quando o indicam como meio de comunicação menos suscetível a mau

entendimentos.

De forma semelhante ao encontrado quanto à eficiência, o resultado das frequências de

uso das ferramentas de comunicação virtual corroborou com as informações obtidas

durante as entrevistas. A tabela 9 mostra as médias e desvios padrão encontrados.

Tabela 9 - Frequência de uso das ferramentas de comunicação.

Ferramenta de

Comunicação

Média Desvio Padrão

E-mail 4,9 0,3

Telefone 4,8 0,3

Chat 4,5 0,9

Team Room 3,7 1,2

Webinar 3,4 1,1

Fonte: Coleta de dados (2011).

Apesar de o e-mail ser apontado significativamente como mais utilizado em relação ao

telefone na etapa anterior, não foi observada a mesma diferença nos dados objetivos.

Isso pode ser explicado pela forma como os dados coletados. Enquanto nas entrevistas

perguntou-se pela ordem de uso, na etapa atual foi solicitado que as ferramentas fossem

avaliadas independentemente. Essa forma de posicionamento faculta ao pesquisado

maior liberdade de opinião, classificando as ferramentas de forma mais espontânea e

relativa entre elas, o que pode ter gerado o resultado da tabela 3.

5.3.2 Dispersão Geográfica

Quando o assunto é dispersão geográfica e limitação da comunicação, encontra-se uma

concentração em respostas positivas, como visto na tabela 10. Menos de 25% das

respostas apontaram desacordo com a afirmação, sendo que apenas uma pessoa

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131

discordou totalmente. Em contrapartida, sete membros concordaram totalmente, indo ao

encontro das opiniões encontradas nas entrevistas anteriores.

Tabela 10 - Dispersão geográfica como fator limitante de comunicação.

Nota Respondentes %

1 1 3%

2 3 8%

3 5 13%

4 6 15%

5 6 15%

6 11 28%

7 7 18%

Média 4,9

Desvio Padrão 1,68

Fonte: Coleta de dados (2011).

Quando se faz a análise por nacionalidades, encontram-se opiniões semelhantes. Mesmo

as pessoas locadas fisicamente na Europa, que assim têm maior facilidade de

comunicação por ter sincronismo parcial com todas as demais regiões, apontam essa

limitação. Isso contradiz a opinião GP2 na etapa 1. Mesmo que a Europa tenha

sobreposição de jornada de trabalho com as demais regiões, os europeus percebem a

dispersão geográfica como restrição à comunicação global.

A Engenharia, por sua vez, apresentou a menor média ( = 4,1) e maior desvio padrão (s

= 1,7) entre todas as áreas avaliadas. Os respondentes dessa área estão locados no

Brasil, Europa e China; logo, tem dispersão acentuada. Talvez um agravante para o time

de Engenharia seja a frequente necessidade de comunicação de números, códigos e

nomes de fornecedores, que, devido aos sotaques, são difíceis de entender. Por outro

lado, os times de Compras e Finanças, que possuem linguagem técnica análoga à

Engenharia, tem posição antagônica. Similar à Engenharia, o time de GP (formado

basicamente por engenheiros) considera a dispersão um fator negativo para a

comunicação. Todavia, apenas com os dados disponíveis não se conseguiu entender o

por que da opinião dissonante dos demais tida pela Engenharia.

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132

Quando se analisa sob a ótica das pessoas que tiveram experiência internacional,

observa-se que estas percebem a dispersão como menos impactante na comunicação (

= 4,6; s = 1,8) que os que nunca moraram fora ( = 5,4; s = 1,3) (figura 13). Mesmo tendo

mesma moda (seis) e um aspecto de distribuição semelhante, objetivamente tem-se que

as pessoas que já moraram fora tem maior facilidade de comunicação. Esse resultado,

maior limitação para as pessoas sem experiência internacional, coaduna com a o

posicionamento de Camila, que afirmava que as pessoas mais viajadas comunicavam-se

de forma mais clara que os demais.

Figura 13 - Dispersão geográfica como limitante para comunicação, segundo experiência internacional.

Fonte: Coleta de dados (2011).

5.3.3 Trabalho com diferentes culturas

Como extraído das etapas anteriores, as diferenças culturais são um fator relevante em

GVT, influenciando o sucesso de um time virtual (ADLER, 2007; LEWIS, 1995). Sob a

visão de habilidades, tanto profissionais quanto interpessoais, os respondentes

posicionaram-se de forma semelhante, com médias ( = 5,95 e = 6,05,

respectivamente) e desvios padrão (s = 1,1 e s = 1,0, respectivamente) próximos. A figura

14 apresenta as distribuições para ambos os casos.

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Figura 14 - Impacto das diferenças culturais na melhoria de habilidades profissionais (esquerda) e interpessoais (direita).

Fonte: Coleta de dados (2011).

Essa percepção de aprendizado já havia sido explicitada por Maria, Joana, Liu e Camila

na etapa 2, bem como encontra embasamento em Daily e Steiner (1998) e Grosse (2002).

É a abertura de horizontes, exposição a opiniões diversas e aprendizado que potencializa

os times virtuais a gerar mais ideias e tomar melhores decisões (SHACHAF, 2005; DAILY;

STEINER, 1998).

Analisando-se o impacto da diversidade cultural sobre o desempenho da comunicação

observa-se uma opinião levemente positiva por parte dos pesquisados ( =4,5; s = 1,6).

Mesmo quando se separam os dados entre as pessoas que moraram no exterior, os

resultados são semelhantes. Os com experiência internacional apresentaram = 4,5 e s =

1,8, enquanto os demais obtiveram = 4,7 e s = 1,8. Essa percepção corrobora com Stahl

et al (2010), que não verificaram impacto negativo da diversidade sobre o desempenho da

comunicação em times multiculturais.

A pergunta 16, por sua vez, buscou a percepção dos pesquisados quanto a melhores

ideias e soluções para os problemas enfrentados pelo time. De uma forma positiva ( =

5,2; s = 1,4), os pesquisados entendem a diversidade cultural como positiva para o

projeto. Praticamente 70% das respostas encontram-se no nível de concordância

(pontuação igual ou superior a cinco), como pode ser visto na figura 15. Dessa forma, as

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134

respostas encontradas, corroboram com as opiniões obtidas nas entrevistas anteriores,

bem como encontram respaldo na literatura (SHACHAF, 2005; DAILY; STEINER, 1998).

Figura 15 - Diferenças culturais trazem melhores ideias para solução de problemas.

Fonte: Coleta de dados (2011).

Um resultado um tanto destoante, tanto da literatura quanto geral foi a opinião dos

chineses ( = 4,1; s = 1,7), apresentada na figura 16 A literatura encontrada (SHACHAF,

2005; LEUNG et al, 2008; DUARTE; SNYDER, 2006; STAHL et al, 2010) aponta

justamente o oposto: que a diversidade gera mais ideias e criatividade. Uma explicação

possível para esse resultado pode ser a situação de joint venture da unidade chinesa,

onde políticas e valores corporativos não estão sob pleno domínio da Autoglobo. Ou pode

haver ocorrido mau entendimento sobre a pergunta, que levou os respondentes a

confundir maior quantidade de ideias com conflitos interculturais, fato já descrito por Stahl

et al (2010).

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135

Figura 16 - Diferenças culturais trazem melhores ideias para solução de problemas, visão dos chineses.

Fonte: Coleta de dados (2011).

A homogeneidade apresentada na maioria das perguntas a respeito de diferenças

culturais demonstra boa assimilação e entendimento por parte dos pesquisados dos

valores da Autoglobo, que prega o aceite e estímulo à diversidade, seja cultural, racial ou

de orientação sexual. No tocante ao Projeto Alfa especificamente, essa integração entre

culturas é fundamental para o andamento e sucesso do projeto, já que tantas pessoas, de

países e culturas diferentes precisam constantemente troca informações e suportar uns

aos outros nas diversas atividades relacionadas.

5.3.4 Língua Inglesa

Quando solicitados à auto-avaliação sobre seus conhecimentos de língua inglesa, os

pesquisados percebem-se aptos à comunicação; nenhuma pontuação abaixo de cinco.

Isso, todavia, não retrata as opiniões das entrevistas anteriores. Por outro lado, como os

pesquisados nessa etapa são os membros com maior frequência de comunicação global,

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136

estes podem estar mais acostumados com o idioma, e sentirem-se mais capacitados para

comunicação.

Por outro lado, quando consultados sobre a geração de retrabalho (reuniões e

comunicações) oriunda do baixo conhecimento do idioma, observa-se uma concentração

nos níveis positivos, como pode ser observado na figura 17. Tal percepção já havia sido

apontada nas etapas anteriores e pela literatura (ADLER, 2007; SHACHAF, 2005). Apesar

de as cinco respostas em nível dois divergirem do esperado de uma curva gaussiana, a

concentração entre os níveis cinco e sete, pode ser entendida como evidência da

necessidade de domínio do idioma oficial da empresa para a boa comunicação dentro de

um time de projeto.

Figura 17 - Retrabalho oriundo do baixo conhecimento do idioma inglês.

Fonte: Coleta de dados (2011).

Separando-se as respostas por nacionalidade, tampouco se obteve informações

esclarecedoras, devido aos baixos tamanhos de amostra. Somente Brasil (n=19) e China

(n=10) poderiam demonstrar alguma tendência, todavia não encontrada. O que se afere é

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137

a percepção maior dos brasileiros ( = 5,6) de que a falta de domínio do idioma inglês

gera retrabalho frente aos chineses ( = 4,3). Mesmo assim, a dispersão de opinião entre

brasileiros (s = 1,7) é maior que a dos chineses (s = 1,3). Esses resultados para o Brasil

podem ser gerados pelo fato de o Brasil liderar o projeto, e ter maior troca de informações

com as demais regiões. Todavia, apenas com os dados objetivos não se pode afirmar

com certeza tal inferência.

A pergunta 14 verificou a opinião dos pesquisados sobre se o domínio da língua inglesa

quando da alocação de um novo membro para o Projeto Alfa. Como esperado, as

respostas concentraram-se na parte superior da escala, com = 6,2 (segunda maior

pontuação) e s = 1,0. A dispersão de respostas está mostrada na figura 18, mostrando

que aproximadamente 75% dos pesquisados vêem o domínio do idioma como altamente

considerado para os novos membros. Lipnack e Stamps (2000) já haviam citado isso

como fundamental para a boa comunicação em times de projeto globais. Da mesma

forma, Fritz comenta em sua entrevista que, em termos profissionais, o inglês é suficiente

para comunicação, não havendo necessidade de domínio de outro idioma.

Figura 18 – Idioma inglês como fator de recrutamento para o Projeto Alfa.

Fonte: Coleta de dados (2011).

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138

5.3.5 Confiança

Um ponto que não havia sido explorado explicitamente nas etapas anteriores, mas que foi

comentado por Maria, Ana, Jack e Liu, foi confiança em times de projeto, e como as

ferramentas e comunicação poderiam fomentá-la. Jack chega até mesmo a usar a palavra

―amigo‖ durante a entrevista. Com esse intuito, foram inseridas duas afirmações no

questionário focando o tema.

Como a literatura e as coletas de dados anteriores apontaram a necessidade de

encontros face a face para melhor construção de confiança entre os membros do time,

intentou-se confirmar tal hipótese de forma quantitativa entre os participantes do Projeto

Alfa. Afirmou-se que o uso exclusivo de comunicação virtual contribuiria para a criação de

confiança entre os membros. A figura 19 demonstra leve rejeição a tal hipótese, todavia

não de forma veemente. Considerando-se como os entrevistados haviam se posicionado,

e com embasamento na literatura (ARMSTRONG; COLE, 2002; CRAMTON, 2002;

AUBERT; KELSEY, 2003; JARVENPAA; LEIDNER, 1999, GIBSON; MANUEL, 2003),

esperava-se uma concentração maior nas respostas discordantes. Na verdade, a

literatura (AUBERT; KELSEY, 2003; JARVENPAA; LEIDNER, 1999, GIBSON; MANUEL,

2003) explicita a necessidade de comunicação clara, objetiva e constante para a

formação de confiança em times e projeto, embora não tenham sido encontradas

referências que ligassem especificamente o uso de ferramentas de comunicação virtual

com construção de confiança.

A tabela 11 apresenta média e desvio padrão para a relação comunicação e construção

de confiança, separada por faixa etária. Observa-se, todavia, uma maior necessidade de

contato físico entre os profissionais com mais de 40 anos para o estabelecimento de laços

de confiança. Apesar de todas as ferramentas e o modo digital da vida de hoje, o ―olho no

olho‖ segundo Ana ainda é essencial para as relações, incluindo as profissionais.

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139

Figura 19 - Comunicação exclusivamente virtual e construção de confiança.

Fonte: Coleta de dados (2011).

Tabela 11 - Comunicação virtual e construção de confiança.

Classe Etária Média Desvio Padrão

20-29 3,8 1,7

30-39 4,0 2,0

>40 3,5 1,9

Fonte: Coleta de dados (2011).

Sobre a afirmação de que diversidade cultural influencia positivamente na construção de

confiança, observa-se um posicionamento neutro com leve tendência à concordância ( =

4,3).

5.3.6 Processo de Comunicação

As duas últimas afirmativas focaram quanto ao processo de comunicação dentro do

Projeto Alfa. A primeira sobre disciplina, enquanto a última focou em uma forma geral.

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140

Observa-se que a virtualidade do projeto força a maior disciplina entre seus membros,

como observado na figura 20. Tal perspectiva corrobora tanto com as opiniões de Ana,

Jack, Joana e Maria quanto com os escritos de Wiesenfeld, Raghuram e Garud (1999),

Armstrong e Cole (2002) e Bell e Kozlowski (2002).

Figura 20 - Virtualidade impõe necessidade de disciplina.

Fonte: Coleta de dados (2011).

Quando se faz a mesma análise separando-se por área funcional, há um desencontro de

opiniões. Compras posicionou-se de forma positiva ( =5,2, s=2,3), enquanto Finanças

postou-se negativamente ( =3,8, s=1,5). Todavia, o espalhamento registrado por

Compras demonstra um não consenso, podendo-se levantar a dúvida sobre

generalização.

Por outro ângulo, analisando-se por nacionalidade, a distribuição de respostas aproxima-

se do resultado geral, não se observando tendências distintas. Assim, isso pode ser visto

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141

como entendimento entre as culturas de que a disciplina é algo necessário ao andamento

do projeto, principalmente quando o time se encontra espalhado pelo mundo.

Esperava-se nessa afirmação, todavia, uma maior corroboração pela etapa quantitativa,

pois as dificuldades de comunicação virtuais, como pontuadas por Liu, deveriam impor

maior disciplina dentro do time. Observa-se sim, tendência de entendimento da

necessidade de disciplina maior para projetos globais, todavia, com distribuição bastante

aberta de respostas, indo de extremo a extremo.

A última afirmação buscava uma visão sobre comunicação e o cumprimento dos objetivos

do projeto. Como observado na figura 21, o time entende com neutralidade, levemente

tendente à concordância, essa afirmação, vendo como algo que deva ser melhorado. Da

mesma forma, o espalhamento encontrado confirma o não alinhamento de opiniões, com

respostas indo de extremo a extremo.

Figura 21 - Processo de comunicação e cumprimento de objetivos.

Fonte: Coleta de dados (2011).

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142

O posicionamento dos pesquisados frente à última pergunta corrobora com as entrevistas,

e abre caminho para novos questionamentos a respeito de comunicação e times virtuais

globais. Uma maior ênfase talvez seja importante em como os processos de comunicação

devam ser gerenciados, bem como a forma como as pessoas trocam informações possa

ser melhorada. Uma gama de treinamentos e processos pode ser pensada, como Maria já

havia comentado na etapa 2, objetivando aumento de desempenho na comunicação,

gerando projetos mais eficientes e de maior qualidade.

5.3.7 Correlação entre Variáveis

Por fim, fez-se análise de regressão múltipla (BRUNI, 2009; FIELDS, 2009) com o objetivo

de correlacionar-se as respostas das questões. A afirmativa 20 (Communication process

in Project Alfa is appropriate to deliver the objectives of the project.66) foi utilizada como

variável dependente (resultado da pesquisa), enquanto as demais foram consideradas

independentes. Foi utilizada regressão múltipla stepwise (WRIGHT, 1997 APUD FIELDS,

2009) para melhor tratamento dos dados, posto ter base qualitativa. No quadro 11 estão

apresentados fatores de regressão encontrados.

Quadro 11 - Resultado da regressão de dados.

Questão r2 Sign.67

1 Membros do Projeto Alfa utilizam e-mail de forma apropriada. 0,649 0,000

2 Membros do Projeto Alfa utilizam chat de forma apropriada. 0,204 0,124

3 Membros do Projeto Alfa utilizam telefone de forma apropriada. 0,356 0,019

4 Membros do Projeto Alfa utilizam webinar de forma apropriada. 0,091 0,305

5 Membros do Projeto Alfa utilizam team rooms de forma

apropriada.

0,352 0,020

6 Ferramentas disponibilizadas pela Autoglobo provêem plena

capacidade de comunicação aos membros do Projeto Alfa.

0,368 0,016

7 Urgência na informação/atividade é o principal fator de escolha da 0,222 0,103

66

O Processo de comunicação no Projeto Alfa é apropriado para o atingimento dos objetivos do projeto. 67

Significância.

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143

ferramenta de comunicação pelos membros do Projeto Alfa.

8 Ter o time trabalhando em países diferentes é um fator limitante

para comunicação no Projeto Alfa.

-0,304 0,040

9 Trabalhar com pessoas de outros países força os membros do

Projeto Alfa a melhorar suas habilidades profissionais.

0,443 0,004

10 Trabalhar com pessoas de outros países força os membros do

Projeto Alfa a melhorar suas habilidades interpessoais.

0,388 0,012

11 Deficiência na lingual inglesa gera repetição de comunicação e

reuniões para esclarecer e fechar atividades no Projeto Alfa.

-0,315 0,035

12 Suas habilidades em inglês lhe provêem a capacidade necessária

para comunicação com membros do Projeto Alfa.

0,259 0,070

13 Suas habilidades com as ferramentas de comunicação lhe

provêem a capacidade necessária para comunicação com os

membros do Projeto Alfa.

0,199 0,130

14 Habilidades na lingual inglesa são muito consideradas para

alocação de pessoas no Projeto Alfa

0,305 0,040

15 Diversidade cultural no Projeto Alfa contribui para alto

desempenho na comunicação.

0,320 0,032

16 Trabalhar com pessoas de outras culturas traz melhores ideias

para resolução de problemas.

0,351 0,021

17 Comunicação exclusivamente virtual contribui para a construção

de confiança entre membros do Projeto Alfa.

0,507 0,001

18 Diversidade cultural contribui para construção de confiança entre

membros do Projeto Alfa.

0,319 0,033

19 Trabalho virtual impõe maior disciplina no seguimento de

processos aos membros do Projeto Alfa.

0,332 0,028

Fonte: Coleta de dados (2011).

No tratamento dos dados, foi optado por não se atribuir valor às respostas omitidas.

Dessa forma, os questionários com respostas faltantes foram desconsiderados, o que

resultou em 34 questionários sendo analisados na regressão. O resultado gerou

determinação linear (r2) ajustada de 0,30, com significância de 0,15. Dessa forma, obtém-

se que o modelo utilizado com todas as questões como variáveis não consegue

representar o fenômeno. É notável, também, a baixo valor de correlação das afirmações

com a variável dependente. Considerando-se valor de boa qualidade para correlações

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144

lineares iguais ou superiores a 0,60 (BRUNI, 2009), apenas a questão 1 - uso apropriado

do e-mail (r2=0,65) pode ser considerado como representativa para o processo. Essa

ligação entre e-mail e comunicação já havia sido indicada nas entrevistas, quando os

pesquisados sinalizaram ser o único meio de comunicação entre unidades sem interface

de horas de trabalho (Liu), permitindo tempo para que as pessoas escrevam e leiam

cuidadosamente a mensagem (EC2) ou para informar diversas pessoas simultaneamente

(Joana) e manter registros (Joana e Liu).

Na busca de uma correlação o uso apropriado das ferramentas e o processo de

comunicação (afirmativa 20; Communication process in Project Alfa is appropriate to

deliver the objectives of the project), fez-se a mesma análise de regressão, todavia

considerando apenas as primeiras cinco perguntas. O objetivo foi entender como o seu

uso explica o processo de troca de informações. Apesar de haver uma leve variação nos

números encontrados em relação a primeira regressão, houve pouca melhora na

explicação. O resultado está apresentado no quadro 12.

Quadro 12 – Uso apropriado das ferramentas e processo de comunicação.

Questão r2 Sign.68

1 Membros do Projeto Alfa utilizam e-mail de forma apropriada. 0,677 0,000

2 Membros do Projeto Alfa utilizam chat de forma apropriada. 0,183 0,139

3 Membros do Projeto Alfa utilizam telefone de forma apropriada. 0,455 0,002

4 Membros do Projeto Alfa utilizam webinar de forma apropriada. 0,106 0,265

5 Membros do Projeto Alfa utilizam team rooms de forma

apropriada.

0,298 0,036

Fonte: Coleta de dados (2011).

O modelo resultante dessa nova análise é significativo (significância = 0,00) e r2 ajustado

de 0,45 (não explica o resultado). O que pode ser notado em relação à primeira regressão

é o aumento da correlação do processo de comunicação com o uso apropriado do

telefone, mesmo assim ainda com correlação de baixa qualidade (BRUNI, 2009), não

explicando o processo. O entendimento disso é que não é apenas o uso correto das

ferramentas de comunicação que resultará em uma comunicação apropriada dentro de

68

Significância.

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145

um projeto. A forma como as pessoas se expressam, a integração e aceite das diversas

culturas, etc. são condições necessárias para a correta troca de informações entre os

membros do time.

Em uma última tentativa de correlação, verificou-se a efetividade das ferramentas com o

processo apropriado de comunicação. O resultado encontra-se no quadro 13.

Quadro 13 - Efetividade das ferramentas e processo de comunicação.

Ferramenta r2 Sign.69

E-mail 0,208 0,105

Chat 0,009 0,478

Webinar 0,321 0,025

Telefone 0,148 0,187

Team room 0,164 0,162

Fonte: Coleta de dados (2011).

Novamente encontrou-se valores que não podem ser considerados representativos para o

modelo (r2 ajustado = 0,08; significância 0,17). Logo o modelo de correlação não explica o

processo de comunicação apropriado, tampouco é significativo.

Assim, não se conseguiu obter um modelo que expressasse o adequado processo de

comunicação dentro do Projeto Alfa. As tentativas de se chegar a uma relação de causa e

efeito para esse fenômeno, importante para que a Autoglobo pudesse de forma mais

efetiva implementar melhorias no projetos vindouros, não obtiveram sucesso.

5.4 Limites e limitações

O assunto comunicação envolve aspectos técnicos e organizacionais, além de sócio-

antropológicos, os quais são importantes quando se trata de times multiculturais. Mesmo

que ao início dessa pesquisa não se objetivasse entrar nos meandros culturais da

comunicação isso não foi possível. Devido à frequente citação por parte dos entrevistados

69

Significância

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146

na etapa 2 de fatores culturais e interculturais, foi necessário o uso de uma categoria de

análise que cobrisse o assunto. Apesar de ter-se em mente que aspectos culturais não

estão diretamente ligados à Gestão e Tecnologia Industrial, não foi possível evitar tais

assuntos. Embora se considerasse este assunto de pouco interesse prático na empresa

na qual o trabalho foi desenvolvido, analisou-se de modo que possa ser melhor entendida

a comunicação em projetos com times virtuais. Além disso, é importante frisar que a

Autoglobo tem por política o aceite e estímulo à diversidade dentro de seus quadros. Da

mesma forma, não se havia pensado em associar ferramentas de comunicação com

criação de confiança. Todavia, como suscitado por um número significativo de

entrevistados, esse tema foi abordado na etapa Quantitativa.

Considerando-se o objeto do estudo, como forma de avaliar o cenário da gestão da

comunicação no desenvolvimento de produtos, foi analisado um projeto de produto

específico de uma empresa como tema de estudo de caso único, o que implica que

alguns resultados poderão não ser generalizáveis ou aplicáveis indistintamente em outras

situações. Da mesma forma, como o projeto de produto em questão tem países

específicos envolvidos, a troca desses países pode gerar questões e achados diferentes.

Mesmo que se tenha procurado abranger departamentos e países distintos e

representativos, resultados podem variar quando abordados outros projetos,

departamentos e países Todavia, tratando-se de pessoas em gestão da comunicação,

conclusões aqui obtidas poderão servir de base para outros estudos.

É importante considerar que, as comunicações entre os membros dos times são feitas

primordialmente em inglês, principalmente quando escritas. Por ser uma língua informal e

de gramática simples (SHACHAF, 2005), o emprego de outro idioma como oficial em um

time virtual pode, da mesma forma, acarretar percepções e resultados diferentes para os

questionamentos realizados.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou estudar, analisar e entender como se dá a comunicação em

um projeto de um novo veículo conduzido por um time virtual global, onde a liderança está

fisicamente localizada no Brasil. Para tanto, buscou-se amparo na literatura nacional e

estrangeira sobre times de projeto, projetos globais, comunicação, entre outros, para que

fosse possível a condução de uma pesquisa que melhor retratasse essa realidade.

Para que esse objetivo fosse alcançado, utilizou-se o estudo de caso único, com o intuito

de entender como e por que certas dificuldades são encontradas na comunicação,

impactando diretamente no desempenho do projeto. Além disso, o fato de ter sido

estudado um projeto em andamento, em seu próprio ambiente, sem interferência externa,

permitiu obter-se dados práticos e vivenciados por seus membros. Assim, não foram

criadas condições de experimento, nem sempre condizentes com a realidade de um

projeto.

Somando-se a isso, o desenvolvimento da pesquisa em três etapas de coleta de dados foi

de fundamental importância para a correta definição dos assuntos a serem abordados e

triangulação dos resultados. Como foi encontrada pouca literatura nacional que retratasse

o tema, a etapa 1 abriu os horizontes para onde deviam ser focados os questionamentos

em profundidade. Na etapa 2, pôde-se aferir com pessoas-chave dentro do projeto, que

têm maior contato interdepartamental e multicultural, para esclarecer aspectos da

comunicação em times virtuais. Por fim, a etapa 3 permitiu aprofundar e corroborar com

os resultados anteriores, de uma forma mais objetiva e mensurável.

Deste modo, inicialmente identificou-se que, apesar de o inglês ser o idioma oficial da

Autoglobo, foi apontada deficiência por parte de seus membros, que deve orientar os

esforços da empresa para cobrir tal deficiência. Da mesma forma, os diferentes sotaques

impactam no correto entendimento das informações, o que requer que seus membros

redobrem a atenção na comunicação, corroborando com Kaushik (2002) e Shachaf

(2008). Por outro lado, trabalhar com pessoas de culturas díspares exige formatos

diferentes de mensagens. Esse fato é agravado pela falta de dados marginais, como

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entonação e linguagem corporal. Ou seja, constatou-se que em certas comunicações; a

clareza da mensagem passa a ser tão importante quanto seu conteúdo, como já apontado

por Kankanhalli (2007).

Outro fator a ser considerado em projetos globais, conforme dados obtidos nesta

pesquisa, é a dispersão de seus membros, tanto geograficamente quanto em termos de

fuso horário, mesmo que ambos possam estar mesclados. A diferença de fuso horário foi

um fator apontado como dificultador para a comunicação, principalmente via telefone ou

em reuniões, indo ao encontro do que versam Matveev e Nelson, (2004). A sobrecarga

em mensagens escritas assíncronas pode potencializar entendimento equivocado,

minando tanto o desempenho quanto a confiança entre os pares, situação corroborada

pela literatura utilizada e estudada no presente trabalho (DUARTE; SNYDER, 2006;

DINSMORE; SILVEIRA NETO, 2006).

Sobre as ferramentas de comunicação virtual, não se observou reclamação em termos de

falta destas ou acesso a elas. Nesse ponto os entrevistados foram elogiosos sobre a

variedade e a disponibilidade. Da mesma forma, estes indicaram usar as diferentes

ferramentas com frequência, sendo a escolha baseada em quesitos como rapidez,

riqueza de dados, etc. o que coaduna com a visão de Casey (2010) e Heerkens (2002).

Um fato curioso observado na pesquisa é a opinião dos investigados sobre e-mail. Apesar

de este ser a ferramenta mais utilizada, e de segundo maior desempenho, muitas críticas

foram-lhe direcionadas, principalmente focando o seu mau uso, sendo esse apontamento

levantado tanto na etapa 1 quanto na etapa 2 e corroborando com Shachaf (2008), Duarte

e Snyder (2006) e Berkum (2008). Da mesma forma, o webinar foi citado como

fundamental para a condução de discussões sobre temas complexos, como sugere

Binder (2007). Os pesquisados entendem a necessidade de ferramentas diferentes para

atividades distintas, e poucas dificuldades encontram em sua utilização. Ademais, a

relativa baixa idade pode ser um fator que favoreça seu uso, e a adaptação às novas

tecnologias.

A dispersão dos membros, por outro lado, foi confundida entre geográfica e de fuso

horário. Todavia, os pesquisados deram maior ênfase sobre o fuso horário, como

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ressaltado por Matveev e Nelson, (2004). As principais consternações foram a respeito de

não se conhecer a pessoa com quem se fala, dificuldade de acesso e localização das

pessoas, e atraso e clareza das mensagens. O fato de se conhecer pessoalmente os

colegas foi apontado como um facilitador na comunicação. Os entrevistados expressaram

maior facilidade de comunicação com pessoas que já haviam se encontrado, inclusive

citando exemplos. Em outra linha, o fato de se estar remoto cria dificuldades de se achar

a pessoa, seja por telefone ou outra ferramenta. Fato este agravado pelo fuso horário,

que limita as horas de trabalho sobrepostas entre as diversas regiões. Em linha a isso, o

atraso e a clareza das mensagens foram citados como riscos à comunicação e ao projeto,

situações já evidenciadas na obra de Kankanhalli (2007). Averiguou-se que o atraso

natural de um dia entre Brasil e Ásia é fortemente agravado se as mensagens não forem

claras desde a primeira vez. Assim, o tempo gasto para esclarecimentos impacta na

conclusão das atividades, fator fundamental em projetos nos dias de hoje. Cada dia de

atraso pode afetar a data de lançamento do produto, e na rentabilidade da empresa

diretamente.

A deficiência em conhecimentos de inglês foi apontada como risco ao projeto, acarretando

discussões longas, ou mesmo não entendimento e não esclarecimento de dúvidas. Esta é

vista como uma questão a ser melhorada para que haja o bom desempenho tanto do

projeto quanto de times virtuais. Essa dificuldade de entendimento foi entendida

basicamente por duas linhas: conhecimento e sotaque, sendo que tal dificuldade de

entendimento oral sobrecarrega as mensagens escritas (e-mail), como já apontado por

Duarte e Snyder (2006) e Dinsmore e Silveira Neto (2006).

Em contrapartida, trabalhar com pessoas de outros lugares foi visto pelos pesquisados

como algo mais positivo do que negativo. As vantagens apontadas foram as experiências

diversas encontradas e a possibilidade de se manter o projeto rodando 24h por dia. Deste

modo, os dados apontaram que trabalhar com pessoas de outros lugares proporciona

visões diferentes sobre o mesmo tema, engrandecendo as discussões, e tomando-se

decisões melhores, em linha com o já afirmado por Shachaf (2005), Paul et al, 2005),

Daily e Steiner (1998) e Lipnack e Stamps (1997). Todavia, as dificuldades em se

comunicar com pessoas remotamente foi identificada como a desvantagem nesse

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quesito. Contudo, paralelamente, essas dificuldades foram consideradas, até mesmo,

desafios interessantes de serem ultrapassados pelo time, não sendo vistos

exclusivamente pelo lado negativo.

A pesquisa também evidenciou que a disciplina das pessoas envolvidas em projetos

virtuais globais retrata principalmente o acompanhamento das informações e unificação

de arquivos, bem como na condução de reuniões. Entretanto, agenda, minuta, condução

de reuniões e convocação das pessoas realmente importantes foram citadas como pontos

a serem melhorados. O alinhamento e a divulgação de informações relevantes do projeto

foram destacados pelos pesquisados como fatores fundamentais para seu desempenho.

Ademais, ficou constatado que, em virtude do tamanho, dispersão e complexidade do

Projeto Alfa, muitas informações acabam não chegando a todos os membros, o que faz

com decisões sejam tomadas de forma equivocada. Identificou-se, também, a

dependência pessoal na divulgação das informações. Alguns times acabam recebendo

informações mais rápida ou frequentemente em relação a outros, o que pode impactar na

satisfação, como já identificado na etapa 1.

A questão relacionada à infraestrutura, corroborando com Duarte e Snyder (2003, 2006),

Kraut et al (2002) e Lipnack e Stamps (2000), também foi citada como algo a ser

aprimorado. Telefones melhores e maior espaço virtual para arquivamento de

informações foram alguns pontos mencionados pelos entrevistados que podem ser

melhorados. E por último a flexibilidade em termos de mobilidade de informações e

horário de trabalho foi aludida como necessitando melhorias, fator já apontado por

Lipnack e Stamps (1997). Mobilidade de informação significa acesso e transporte. Em

virtude das viagens e acesso à intranet, dotar os membros com notebooks poderia

aumentar o desempenho do projeto. E em termos de jornada de trabalho, foram citadas

as reuniões noturnas, principalmente, como necessidades de adaptação dos profissionais

para esse novo contexto.

Outra questão refere-se ao contato pessoal com membros de outras regiões, a qual foi

pontuada como algo a ser desenvolvido para melhorar o fluxo de informações, como já

citado por Lipnack e Stamps (2000) e Kirkman et al (2002), e confiança, corroborando

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com Duckworth (2008) e Jarvenpaa e Leidner,(1999). Isto porque o aprendizado engloba

o melhor domínio do idioma inglês e das ferramentas de comunicação e a simples

disponibilidade destas não garante o uso adequado ou eficiente, principalmente quando

se trata de profissionais jovens ou recém chegados na empresa.

Por último, o lado multicultural foi apontado como dificultador para comunicação e, por

outro lado, como engrandecedor do trabalho. O fato de se trabalhar com pessoas de

culturas diversas apresenta-se como oportunidade para conhecer novas visões e

opiniões, bem como deixar as pessoas mais abertas, tanto profissional como

pessoalmente. As dificuldades enfrentadas são vistas como oportunidades de

crescimento e de se descobrir coisas novas mesmo sem sair do lugar.

Para concluir a pesquisa, os dados quantitativos elucidaram alguns aspectos que não

podiam ser mensurados com dados qualitativos. O maior número de respondentes frente

às etapas anteriores auferiu luz aos achados.

Em termos de disponibilidade de ferramentas de comunicação, os dados oriundos dos

questionários (tabela 7) corroboram com os relatos das entrevistas. Como afirmado por

Dakshi e Maria explicitamente, a empresa proporciona as ferramentas necessárias para a

comunicação virtual entre seus funcionários. A disponibilidade das ferramentas e sua

escolha segundo urgência da informação ou atividade coadunam com as percepções

qualitativas anteriores.

Da mesma forma, a dispersão geográfica foi confirmada como fator limitante para a

comunicação adequada entre os membros do time (tabela 10). Essa limitação acaba por

coibir uma comunicação mais direta, o que acarreta sobrecarga de algumas ferramentas,

notadamente o e-mail.

Novamente a diversidade cultural foi apontada como um fator positivo tanto para o projeto

quanto para os profissionais. Melhores ideias e soluções para o projeto e aprendizado,

tanto profissional quanto interpessoal, foram confirmados pela amostra de respostas.

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Notou-se também nesta etapa que os pesquisados consideraram-se aptos à comunicação

em língua inglesa, fato dissonante das etapas anteriores. A afirmação sobre auto-

avaliação pode não ter sido o melhor método para aferir o conhecimento por parte dos

membros. Por outro lado, a consideração da língua é apontada como fator de seleção

recebeu uma das maiores médias entre as respostas (figura 18). Isso demonstra a clareza

de percepção pelos membros de que o idioma oficial da empresa é fundamental para que

a pessoa possa desempenhar suas atividades de forma satisfatória e que a necessidade

de comunicar-se com os demais membros é chave para o desempenho do projeto.

Por fim, abordou-se acerca do processo de comunicação. A disciplina, suscitada

anteriormente foi reafirmada, enquanto que, de uma forma geral, o processo de

comunicação dentro do Projeto Alfa não foi considerado satisfatório. O posicionamento

próximo de neutro dos respondentes deixa clara a necessidade de aprimoramentos

gerais, de forma a melhor suportar o andamento das atividades. Como já havia sido

exposto nas entrevistas, há espaço para melhoria na comunicação dentro de um time

virtual, bem como haviam sido listados alguns pontos críticos.

Por outro lado, a relação entre os diversos fatores e o processo de comunicação

resultante não pôde ser obtida de forma clara. Apenas dois fatores tiveram um coeficiente

de determinação linear (r2) na zona de boa qualidade. A fraca correlação entre as

variáveis expõe a complexidade do processo de comunicação virtual global. Mesmo

fazendo-se uma varredura abrangente de fatores que influem na comunicação, oriundos

das entrevistas anteriores, não se obteve um modelo que os representasses. Logo,

pesquisas mais aprofundadas necessitam ser conduzidas para que se tenha um

panorama mais claro entre variáveis independentes e a comunicação resultante.

5.1 Conclusões

O resultado desse trabalho servirá de base para que organizações possam melhor

conduzir seus projetos com times virtuais, objetivando ganhos econômicos oriundos do

maior desempenho. Da mesma forma, a tecnologia aplicada nesses projetos deve ser

pensada a fim de cobrir suas expectativas e necessidades, de modo que não se torne

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fator de frenagem do projeto. E, de forma social, mostra-se que é possível aplicar o

conhecimento gerado como melhoria até mesmo no modo em que as pessoas trabalham.

Apesar de não ter sido tratado ao longo dessa pesquisa, o que foi aqui desenvolvido pode

ser valioso quando se pensa em estímulo ao home office, que empresas estão

implementando em seus quadros, de forma a garantir menores custos operacionais em

paralelo a melhores condições de trabalho para seus funcionários.

5.2 Contribuições

Inicialmente, pensa-se que o presente trabalho contribui para o melhor entendimento da

comunicação em times virtuais de projetos globais, e permite à Autoglobo ter informações

concretas de como esses times operam. É a primeira vez que esse tipo de pesquisa foi

realizado dentro da empresa, trazendo à tona aspectos desconhecidos para ela.

Da mesma forma, constatou-se com a realização desta pesquisa que pouco ainda foi

produzido no Brasil a respeito de times virtuais globais. Assim, este trabalho elucida

características intrínsecas aos times virtuais e projetos globais, tendo o Brasil como ator-

líder em um projeto global, o que o torna relevante para pesquisadores e acadêmicos

interessados em estudar assuntos relacionados a esta linha de pesquisa.

Para o autor, por sua vez, o presente trabalho contribuiu para entender como os demais

membros do time percebem a comunicação, de forma que possa melhor desenvolver

suas atividades de gerenciamento de projetos, função que exerce atualmente. Acredita-se

que esta contribuição estende-se ainda a todos os profissionais que hoje atuam em times

virtuais globais, ou que futuramente possam vir a participar deste tipo de projeto.

5.3 Atividades Futuras de Pesquisa

Essa pesquisa cobriu seus objetivos de identificar e analisar ferramentas e práticas de

comunicação virtual em um time virtual de um projeto global. A estruturação do

conhecimento, por sua vez, serve de base para melhorias que possam ser implementadas

em outros projetos.

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154

Pode-se, todavia, buscar novos conhecimentos em cada um dos temas tratados nesta

Dissertação, bem como abordar projetos em outros ramos da economia ou com

condições de contorno distintas, alargando assim o conhecimento sobre esse tipo de time.

Por outro lado, a elaboração de manuais ou cartilhas que sirvam de guia para novos times

e projetos é algo a ser futuramente tratado, com o objetivo de facilitar para empresas e

corporações a implementação de times virtuais e projetos globais.

Pontos específicos para trabalhos futuros podem ser a confiança em times globais de

projetos, e como isso impacta na comunicação. A forma como a confiança é construída

virtualmente, e como o desempenho de um projeto está relacionado. Também, o uso

adequado das ferramentas de comunicação, e sua melhor utilização, visto que o e-mail foi

ao mesmo tempo citado como vital para um projeto e o mais mal utilizado. Uma melhoria

no seu uso pode gerar ganhos substanciais, que podem ser medidos em outra pesquisa.

Ainda, medir correlação entre desempenho na comunicação e domínio do idioma inglês

pode ser uma atividade importante para se entender o desempenho de um projeto.

Há muitas nuances que podem ser analisadas dentro de times virtuais de projeto e o que

isso acarreta para as empresas e projetos. Esse campo de estudo apresenta lacunas

ainda não estudadas que tem grande importância para as corporações que se utilizam de

times virtuais de projeto.

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APÊNDICE A – Roteiro de entrevista da Etapa 1

1. Qual a frequência de uso das ferramentas de comunicação a seguir?

Team Room: intranet para compartilhar informações de projetos e sociais, disponível

apenas para os membros do time.

Webinars: reuniões de áudio com compartilhamento de informações pelo computador.

Chat: troca de texto em tempo real.

Muitas vezes

ao dia

Diariamente Todas as

semanas

Alerta de chegada

de mensagens

E-mail

Team Room

Webinars

Chats

2. Existe uma ferramenta de comunicação que você acha que tem melhor desempenho

na troca de informações? Por quê?

3. Existe uma ferramenta de comunicação que você acha que tem pior desempenho na

troca de informações? Por quê?

4. Existe alguma ferramenta de comunicação em que as dificuldades de idioma são

amplificadas? Por quê?

5. Existe alguma ferramenta de comunicação em que as diferenças de idioma são

atenuadas? Por quê?

6. Existe alguma ferramenta de comunicação que amplifica as diferenças culturais? Por

quê?

7. Existe alguma ferramenta de comunicação que atenua as diferenças culturais? Por

quê?

8. A dispersão geográfica impacta na escolha da ferramenta de comunicação? Por quê?

9. O fuso horário impacta na escolha da ferramenta de comunicação? Por quê?

10. Existe um país ou região que você acha que a comunicação é mais fácil? Por quê?

11. Existe um país ou região que você acha que a comunicação é mais difícil? Por quê?

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12. Como a comunicação impacta no desempenho do projeto? Por quê?

Troca de Informações.

Tempo para resolver problemas .

Identificação errada dos problemas.

13. Como a comunicação impacta na satisfação dos membros do time?

Impacto positivo? Por quê?

Impacto negativo? Por quê?

14. Você já identificou boas práticas de comunicação em times virtuais que não se

aplicam a times colocalizados.

Como foram essas práticas em cascata para o time?

15. Quais são as oportunidades para melhorar a comunicação em times virtuais?

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APÊNDICE B – Roteiro de entrevista da Etapa 2

1. Name:

2. Citizenship:

3. College:

4. Age:

5. Years at the Company:

6. Function / Department:

7. Languages spoken:

8. Have you ever lived abroad? Where?

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

1. What tools do you use more often for communication in Project Alpha? Why?

2. Rank the following tools in terms of performance to exchange information in the

Project Alpha? (e-mail, phone, webinar (Webex, Net Meeting), MS Communicator,

share point) Why?

3. In your view, are there gaps in knowledge of the English language by members of

teams of Project Alpha?

Positive response - How does this knowledge gap in the English language of some team

members interfere in the efficiency of communication?

Negative response - you realize that English is spoken and understood by all people?

4. How do you perceive the geographical dispersion as a complicating factor in the

communication between members of Project Alpha?

5. What are the biggest difficulties to communicate and exchange information with people

from other places?

6. In the exchange of information in Project Alpha, what is your perception about mutual

understanding between people of the Team?

7. What advantages do you note working with people from other places? Why?

8. What disadvantages do you note working with people from other places? Why?

9. Do you notice differences in communication with the members of Project Alpha

(Europe / India / Brazil)? What are these differences?

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10. In your opinion, how communication tools could be better used, so that information

exchange would be facilitated?

11. Do you identify good practices for communication in global projects that are not used

by all members of the team? Which? How could they be implemented by the

Company?

12. Do you have something to comment on communication in the Project Alpha?

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APÊNDICE C – Perfil expandido dos entrevistados na Etapa 2

Fritz Karl Liu Joana Arnel Ana Dakshi Maria Camila Jack

Nacionalidade Alemã Alemã Chinesa Brasileira Filipina Brasileira Indiana Brasileira Brasileira Singapuriano

Graduação Eng.

Mecânica Eng. de

Produção Administração Administração

Eng. Industrial

Eng. Mecânica

Eng. Mecânica

Eng. de Alimentos

Eng. Química Eng. Mecânica

Idade 44 35 40 29 40 31 32 33 31 30

Anos de Empresa

16 9 8 6 11 7 10 7 5 6

Departamento Engenharia Finanças Gerencia-mento de Projetos

Compras Compras Engenharia Manufatura Gerencia-mento de Projetos

Homologa-ção

Gerenciamento de Projetos

Línguas alemão, inglês

alemão, inglês

chinês, inglês, francês

português, inglês,

espanhol, italiano

Filipino, inglês,

alemão,

japonês, espanhol

português, inglês,

espanhol

tâmil, híndi, inglês,

português

português, inglês

português, inglês,

espanhol

Inglês, taiwanês, japonês, chinês

Já morou

fora? não

Estados

Unidos

Inglaterra, Holanda, França

Itália Inglaterra,

Alemanha não não não não Japão, China

Local de trabalho

Alemanha Brasil China Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Xangai

Função

Supervisão

de Powertrain

Global

Supervisão de Finanças

Gerencia-

mento do Projeto Alfa na

China

Coordenação de Compras

Supervisão de Compras

Supervisão

de Powertrain

Brasil

Manufatura

plantas Índia e China

Gerencia-mento do Projeto Alfa no

Brasil

Homologa-ção Ásia-Pacífico

Coordenador de Projetos

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APÊNDICE D – Questionário da Etapa 3

The intent of this survey is to provide information for the research of my Master

Thesis, under Communication in Virtual Teams.

It was already approved by Ford, and no name will be published in the Thesis.

Virtual team means people spread around the world working with common objective.

Virtual communication means communicating thru computer based media.

Webinar means virtual meeting; use of audio or phone supported by desktop sharing

(Webex / Net Meeting / Communicator).

PART I - General Identification

Citizenship:

Age:

Years at the Company:

Function / Department:

Languages spoken:

Have you ever lived abroad? Where?

PART II - Mark x on the box you think better express your opinion about the sentence.

QUESTIONS Fully

disagree

Fully agree

1. Project Alfa team members use e-mail very appropriately.

1 2 3 4 5 6 7

2. Project Alfa team members use chat /

communicator very appropriately. 1 2 3 4 5 6 7

3. Project Alfa team members use phone very appropriately.

1 2 3 4 5 6 7

4. Project Alfa team members use webinar very appropriately

1 2 3 4 5 6 7

5. Project Alfa team members use team rooms very appropriately

1 2 3 4 5 6 7

6. Tools provided by the company can fully

provide communication capabilities for Project Alfa team members.

1 2 3 4 5 6 7

7. Urgency of information / task is the main driver to choose the communication tool by Project Alfa team members.

1 2 3 4 5 6 7

8. Having the team working from different

countries is a limitation factor for communication among Project Alfa team members.

1 2 3 4 5 6 7

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9. Working with people from different countries chases Project Alfa team members to improve professional skills.

1 2 3 4 5 6 7

10. Working with people from different countries improves interpersonal skills for Project Alfa team members.

1 2 3 4 5 6 7

11. Lack of English knowledge generates re-communication and re-meetings to clarify and close tasks on Project Alfa.

1 2 3 4 5 6 7

12. Your English skills provide you the necessary capability for communicating

among Project Alfa team members.

1 2 3 4 5 6 7

13. Your communication tolls skills provide you

the necessary capability for communicating among Project Alfa team members.

1 2 3 4 5 6 7

14. English skill is much considered when bringing new members to Project Alfa.

1 2 3 4 5 6 7

15. Cultural diversity among Project Alfa team members contributes for higher communication performance.

1 2 3 4 5 6 7

16. Work with people from different cultures brings better ideas to solve issues.

1 2 3 4 5 6 7

17. Communicating solely thru virtual communication tools contributes for trust build among Project Alfa teams members.

1 2 3 4 5 6 7

18. Cultural diversity contributes to build trust among Project Alfa team members.

1 2 3 4 5 6 7

19. Virtual work imposes Project Alfa team members to be more disciplined on following the processes.

1 2 3 4 5 6 7

20. Communication process in Project Alfa is appropriate to deliver the objectives of the project.

1 2 3 4 5 6 7

21. How effective would you rank the following communication tools?

TOOL Very low Very high

E-mail 1 2 3 4 5 6 7 MS Communicator 1 2 3 4 5 6 7 Webinar 1 2 3 4 5 6 7 Phone 1 2 3 4 5 6 7 Team rooms 1 2 3 4 5 6 7

22. How frequently do you use the following communication tools?

TOOL Less than once a week

Once a week

2-3 times a week

Daily Several times a day

E-mail

MS Communicator

Webinar

Phone

Team rooms

Page 172: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC PROGRAMA … · minutos preciosos de seus dias de trabalho para que eu pudesse coletar os dados que se ... Diferenças culturais trazem melhores

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APÊNDICE E – Perfil dos respondentes da Etapa 3

ID Nacionalidade Idade Tempo de Empresa

Área Idiomas falados

Morou fora?

1 Brasileira 31 6 GP 3 Não

2 Brasileira 26 4 FIN 3 Não

3 Brasileira 33 6 GP 4 Sim

4 Chinesa 27 5 ENG 2 Sim

5 Alemã 47 18 GP 2

6 Brasileira 28 4 GP 2 Não 7 Alemã GP 2

8 Brasileira 30 5 ENG 4 Sim

9 Chinesa 24 2 ENG 2 Sim

10 Brasileira 29 5 GP 2 Sim

11 Brasileira 31 4 GP 2 Sim

12 Brasileira 35 7 Estratégia 3 13 Brasileira 30 6 ENG 2 Sim

14 Chinesa 33 6 ENG 2 Sim

15 Chinesa 32 5 ENG 2 Sim

16 Alemã 54 26 GP 2 Não

17 Inglesa 35 15 ENG 1 Sim

18 Inglesa 40 10 ENG 2 Sim 19 Brasileira 23 3 FIN 2 Sim

20 Brasileira 29 5 GP 2 Não

21 Filipina 37 12 MNF 4 Sim

22 Chinesa 30 7 GP 2 Sim

23 Chinesa 28 4 Compras 2 Sim

24 Chinesa 28 3 Compras 2 Sim 25 Chinesa 31 7 ENG 2 Sim

26 Indiana 31 4 FIN 2 Não

27 Chinesa 30 6 Compras 2 Sim

28 Brasileira 30 5 ENG 2 Sim

29 Brasileira 27 4 FIN 4 Sim

30 Indiana 34 5 ENG 3 Sim 31 Brasileira 30 5 Compras 3 Não

32 Brasileira 35 9 ENG 2 Não

33 Chinesa 28 4 FIN 2 Sim

34 Brasileira 44 2 ENG 2 Não

35 Indiana 30 6 ENG 3 Sim

36 Brasileira 34 3 Compras 3 Sim 37 Brasileira 29 7 FIN 2 Não

38 Indiana 33 6 ENG 3 Sim

39 Brasileira 32 5 Compras 2 Não