faculdades de ensino superior da paraÍba fesp … - fesp... · 4 prÓs e contra da reduÇÃo da...
TRANSCRIPT
1
FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
ALEXANDRE TOMAZ PANTA DA SILVA
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
CABEDELO-PB
2017
2
ALEXANDRE TOMAZ PANTA DA SILVA
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo Científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.
Área: Direito Penal
Orientador: Profº. Esp. Ricardo Sérvulo Fonsêca
da Costa
CABEDELO-PB
2017
2
ALEXANDRE TOMAZ PANTA DA SILVA
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.
APROVADO EM /_ _/2017
BANCA EXAMINADORA
Profº. Esp. Ricardo Sérvulo Fonsêca da Costa Orientador - FESP
Profº. Ms. Eduardo de Araújo Cavalcanti Membro - FESP
Profº. Dr. Antônio Germano Ramalho Membro - FESP
SUMÁRIO
4
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................... 05
2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..................................... 07
2.1 DO ATO INFRACIONAL ................................................................................... 07
2.2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO .............................................................................. 09
2.3 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ...................................................................... 09
2.4 DA REMISSÃO ................................................................................................. 11
3 O ATUAL SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ..................................... 12
4 PRÓS E CONTRA DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL ........................ 16
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 22
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 24
5
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Alexandre Tomaz Panta da Silva* Ricardo Sérvulo Fonsêca da Costa**
RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso tem o intuito de avaliar até que ponto a redução da idade penal para os 16 (dezesseis) anos de idade contribuirá como medida eficaz na diminuição dos índices de violência no âmbito social do país. Um tema polêmico e objeto de debate entre os operadores de direito e pelos legisladores. Ficam cada vez mais visíveis as divergências que existem no ordenamento jurídico penal referente ao tema, uma vez que não mais se enquadra com a realidade dos dias atuais. O menor de 18 (dezoito) anos vem praticando crimes de diversos tipos porque não se sente intimidado com as medidas previstas na Legislação a eles atribuída, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), levando-se, assim, à prática reiterada de atividades ilícitas, pela certeza de impunidade. Diante dessa situação, tramitam no Congresso Nacional diversos projetos que objetivam a redução da idade penal, com o objetivo de combater os crimes praticados por menores. É importante ressaltar que somente a diminuição da maioridade penal não é suficiente para combater os delitos praticados por adolescentes, é preciso que o Estado também cumpra com a sua obrigação.
PALAVRAS-CHAVE: Maioridade Penal. Ato Infracional. Estatuto da Criança e do Adolescente. Sistema Penitenciário Brasileiro.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Atualmente a prática de crimes bárbaros cometidos por menores de 18
(dezoito) anos vem tornando-se algo frequente, insurgindo na população debates e
discussões cada vez maiores, quanto a possível redução da maioridade penal como
método de reduzir a criminalidade.
Considerando a inserção de menores cada vez mais cedo no mundo do crime,
muitas vezes utilizados como meio de execução por maiores de idade, pois sabem de
* Graduando em direito, aluno concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da Fesp Faculdades,
semestre 2017.1. E-mail: [email protected]
** Advogado - com 23 anos de experiência, atuando nas áreas do Direito eleitoral, criminal e civil. Jornalista; Apresentador de TV (Programa "Justiça Ideal" - TV MASTER); Membro da APLJ - Academia Paraibana de Letras Jurídicas. Pós-Graduado em Direito Processual Civil, pela Universidade Potiguar
- Natal/RN; Doutorando em Direito Eleitoral pela UMSA - UNIVERSIDAD DEL MUSEO SOCIAL ARGENTINO, Buenos Aires – AR; Professor Universitário; Professor de Pós Graduação. E-mail: [email protected]
6
que o menor possui condição de inimputável, gera para a população a certeza da
impunidade.
O sentido do termo “impune”, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa (2004, p. 1082), implica em: “Que escapa ou escapou à punição; que não
é ou não foi castigado; impunido. ” São inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos
por expressa disposição do artigo 27 do Código Penal: “Os menores de dezoito anos
são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação
especial”.
Consequentemente, para alcançar um maior ideal de segurança, parte-se à
defesa da redução da idade penal para os 16 (dezesseis) anos de idade. Nos dias de
hoje há um crescente envolvimento de menores em atos infracionais em alguns casos
apresentando condutas em muito semelhantes à de criminosos violentos, e em sua
maioria, estes menores são reincidentes.
Atualmente um menor é julgado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
através de penalidades chamadas de medidas socioeducativas, proibindo o menor de
idade a ficar mais de três anos internado em instituição de reeducação. Esta é uma
das questões mais polemicas a respeito da maioridade penal. O menor infrator entre
12 (doze) anos e menor de 18 (dezoito) anos de idade, será levado a julgamento numa
Vara da Infância e da Juventude e poderá receber punições como advertência,
obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade
assistida, inserção em regime de semiliberdade ou internação em estabelecimento
educacional. Não podendo ser encaminhado ao sistema penitenciário.
Países como Inglaterra e Estados Unidos, leva-se em conta a índole do
criminoso, pois não existe idade mínima para a aplicação de pena. Em Portugal e na
Argentina, atinge-se a maioridade penal aos 16 (dezesseis) anos, na Alemanha essa
idade é 14 (quatorze) anos. Aos que defendem a redução da maioridade penal,
acredita-se que os menores infratores não recebem a punição devida, para eles, o
Estatuto da Criança e do Adolescente é muito tolerante e não intimida os que
pretendem transgredir a norma.
Outra argumentação é que se a legislação eleitoral considera o jovem de 16
(dezesseis) anos próprio para votar, consequentemente o mesmo possui idade
suficiente para discernimento de seus atos e para responder diante da justiça pelos
7
seus crimes. Diante destas considerações, espera-se expor motivos pertinentes e
condições necessárias para um debate acerca da redução da maioridade penal.
2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
2.1 DO ATO INFRACIONAL
O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069/90, foi criado
para suprir o Código do Menor, uma vez que esse estava ultrapassado e não surtia
mais efeitos. Foi aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o
objetivo de garantir proteção aos menores infratores.
Através do Estatuto da Criança e do Adolescente o constituinte incorporou
como obrigação da família, da sociedade e do Estado garantir os direitos da criança e
do adolescente. Sendo assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente, parte da
concepção doutrinária de direitos humanos, tratando, sem discriminação, todas as
crianças e adolescentes.
O ato infracional é o ato condenável, de desrespeito às leis, à ordem pública,
aos direitos dos cidadãos ou ao patrimônio, cometido por crianças ou adolescentes.
O ato infracional se configura apenas se àquela conduta corresponder a uma hipótese
legal que determine sanções a quem praticou.
No caso de ato infracional cometido por crianças de até 12 (doze) anos,
aplicam-se as medidas de proteção. Neste caso o órgão responsável pelo
atendimento é o Conselho Tutelar. O ato infracional cometido por adolescente entre
12 (doze) anos e menores de 18 (dezoito) anos, deve ser apurado pela Delegacia da
Criança e do Adolescente a quem cabe encaminhar o caso ao Promotor de Justiça
que poderá aplicar uma das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da
Criança e do Adolescente.
De acordo com o artigo 103 do ECA, o ato infracional é conduta da criança e
do adolescente que pode ser descrita como crime ou contravenção penal. Se o infrator
for pessoa com mais de 18 (dezoito) anos, o termo adotado é crime, delito ou
contravenção penal.
A doutrina se divide segundo qual teoria o ECA teria adotado. A teoria tripartida
do direito penal aponta como elementos do delito a tipicidade, a antijuridicidade e a
culpabilidade. E a teoria finalista onde o delito é fato típico e antijurídico.
8
Independentemente da posição acolhida pelo Estatuto, verificamos que o artigo está
de acordo com a Constituição Federal quando dispõe em seu artigo 5º, inciso XXXIX
que:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (BRASIL, 1988).
Embora a prática do ato seja descrita como criminosa, o fato de não existir a
culpa, em razão da imputabilidade penal, a qual somente tem início aos 18 (dezoito)
anos, não lhe será aplicado pena. Vale ressaltar que a contravenção penal é ato ilícito
de menor importância que o crime, e que só acarreta ao seu autor a pena de multa ou
prisão simples. O menor de dezoito anos é inimputável, porém capaz inclusive a
criança, de cometer ato infracional, passíveis então de aplicação de medidas de
proteção e medidas socioeducativas.
Percebe-se assim que os menores de idade no Brasil podem praticar crime ou
contravenção, desde que observada a data do fato. O que se modifica é o nome
legalmente utilizado, pois tal infração é chamada de ato infracional. Portanto o
adolescente entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos que praticar um ato infracional estará
sujeito a processo contraditório, com ampla defesa. Após o devido processo legal,
receberá ou não das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do
Adolescente.
O ato cometido pelo menor infrator é visto como diferente daquele praticado
pelos demais, haja vista o seu desenvolvimento mental encontra-se em evolução e
não pode ser igualado ao de uma pessoa adulta, munida de capacidade mental e
física totalmente desenvolvida. Assim, todos os atos infracionais perpetrados por
adolescente são igualados aos delitos previstos no Código Penal e nas leis
extravagantes, bem como na Lei de Contravenções Penais.
Em relação os atos infracionais praticados por menores, precisamos verificar
quais os motivos que levam os adolescentes a praticar tais atos. Alguns desses
motivos podem variar desde a ausência de uma estrutura familiar até a falta de
atuação do Estado nas áreas de educação, lazer, habitação, entre outras dificuldades
encontradas no seio social.
9
2.2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO
O Estatuto da Criança e do Adolescente traz nos seus dispositivos as medidas
protetivas e socioeducativas de maneira diferenciada, de modo que as medidas
protetivas devem ser aplicadas conforme o disposto no art. 98 do Estatuto da Criança
e do Adolescente, as medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis
sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.
As medidas previstas nesse artigo dão ampla proteção às crianças e aos
adolescentes e rompe com a situação irregular aplicando a proteção integral. Na
atribuição das medidas protetivas, deve ser respeitado o que está contido no art. 100
do ECA: ”na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades
pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários.
As medidas de proteção sempre serão aplicáveis aos menores de 12 (doze)
anos, no entanto, poderá o adolescente passar pelas medidas protetivas e pelas
medidas socioeducativas. Assim, tais medidas podem ser imputadas pela autoridade
judiciária, como também pelo Conselho Tutelar, tudo em respeito ao art. 136, inciso I
do ECA atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e
105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII (BRASIL, 1988).
As medidas de proteção visam reinserir o jovem no ambiente familiar, não
possuem caráter punitivo, pois sempre devem prevalecer, na aplicação dessas
medidas, a necessidade pedagógica e o retorno ao convívio social. Portanto possui
caráter educativo, pois visam o cumprimento dos direitos da criança e do adolescente
pelas próprias pessoas que os estão violando.
2.3 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
As medidas socioeducativas constituem na resposta do Estado, aplicado pela
autoridade judicial, ao adolescente que cometeu ato infracional. Embora possuam
aspectos sancionatórios e coercitivos, não se trata de penas ou castigos, mas de
oportunidades de inserção em processos educativos.
As medidas socioeducativas podem ser aplicadas tanto de forma isolada como
cumulativamente, bem como podendo ser substituídas a qualquer momento.
10
A advertência é uma repreensão verbal feita pelo Juiz e poderá ser aplicada
sempre que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria. Seu
propósito é de alertar o adolescente e seus familiares aos riscos do envolvimento com
o ato infracional.
A obrigação de reparação ao dano é quando o ato infracional tratar de danos
ao patrimônio, sendo assim o Juiz pode determinar que o adolescente restitua a coisa,
promova o ressarcimento do dano, ou por outra forma compense o prejuízo da vítima.
Caso a medida esteja impossibilidade de ocorrer, poderá ser substituída por outra
para evitar que os pais ou responsáveis sejam os verdadeiros culpados pelo ato.
Prestação de serviços à comunidade consiste na realização de tarefas em
institutos assistências, hospitais, escolas ou outros estabelecimentos congêneres,
bem como em programas comunitários ou governamentais e não governamentais. As
tarefas devem compreender no máximo 08 (oito) horas semanais, nao podendo
prejudicar a frequência à escola e/ou a jornada de trabalho, e não podem ultrapassar
o período de 06 (seis) meses. O prazo desta medida deve ser proporcional à gravidade
do ato praticado.
Liberdade assistida é uma forma de o adolescente ser responsabilizado pelo
delito que cometeu sem a necessidade de se afastar de casa, da escola ou do
trabalho. Destina-se a acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Durante esse
período o menor será supervisionado por um orientador capacitado, designado pela
autoridade competente. O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece um prazo
mínimo de 06 (seis) meses, com a possibilidade de ser prorrogada, renovada ou
substituída por outra medida.
A semiliberdade é normalmente admissível como início ou como forma de
progressão para o meio aberto, uma forma que beneficia aqueles que já se encontram
privados de liberdade e que obtém o direito a uma medida mais favorável. Para esta
medida é obrigatória à escolarização e a profissionalização. Não comporta prazo
determinado, e deverá ser revista a cada 06 (seis) meses.
A internação é medida privativa de liberdade, sujeito ao princípio da brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição em particular de pessoas em
desenvolvimento. É a mais severa das medidas socioeducativas, pois priva o menor
de sua liberdade, portanto é aplicada apenas em casos mais graves, em caráter
excepcional e obedecendo ao devido processo legal. O menor deverá permanecer
privado de sua liberdade o menor tempo possível, e este tempo não poderá
11
ultrapassar 03 (três) anos. Atingindo o limite de 03 (três) anos, o adolescente deverá
ser posto em liberdade, e dependendo do caso, sujeitar-se à medida de semiliberdade
ou liberdade assistida. Deve levar em consideração que tal medida não possui
natureza de pena, e sim de medida socioeducativa.
As medidas socioeducativas têm o intuito de fazer com que o menor infrator se
coíba da prática de novos delitos, e o aplicador deve levar em consideração a
capacidade deste menor em cumprir determinada medida, além da personalidade do
adolescente, referências familiares e condições sociais, políticas e econômicas. Na
aplicação das medidas deve haver proporcionalidade entre a infração cometida e a
penalidade imposta, de modo que o menor seja punido de maneira justa para que
possa ser ressocializando.
2.4 DA REMISSÃO
O instituto da remissão, ensejador da extinção ou suspensão do procedimento
para apuração de ato infracional cometido por adolescente, é previsto no Estatuto da
Criança e do Adolescente, é uma espécie de perdão concedido pelo Promotor de
Justiça ou pelo Juiz de Direito. Trata-se de ato bilateral, onde o adolescente,
juntamente com os seus pais ou responsáveis troca o processo por uma medida
antecipada.
Existem duas formas de remissão, a remissão ministerial, também conhecida
como remissão pre processual, que é concedida pelo Promotor de Justiça como forma
de exclusão do processo, que deverá ocorrer antes de iniciar o processo
socioeducativo, já a remissão judicial, chamada também de remissão judicial, é
concedida por um Juiz após o início do processo, podendo ser suspenso ou
extinguido. A hipótese para a aplicação da remissão dependerá das consequências
do ilícito perpetrado, além da sua situação social e a sua colaboração para o ato.
O artigo 126 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a remissão como
forma de exclusão do processo, podendo ainda ser suspenso ou extinto para
averiguação do delito praticado.
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional. Parágrafo
12
único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do processo (BRASIL, 1988).
Além disso, de acordo com o artigo 127 do ECA, a remissão poderá ser
aplicada cumulativamente com alguma outra medida socioeducativa, desde que não
seja privada a liberdade do agente, como no caso do regime de semiliberdade e da
internação. Vejamos:
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação (BRASIL, 1988).
Também poderá ser revisto pela autoridade judicial a qualquer tempo, a pedido
do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público. Portanto a
remissão poderá ocorrer sempre que atender às circunstâncias e consequências do
fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou
menor participação no ato infracional. Como já observado, a remissão não implica
necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem
prevalece para efeito de antecedentes. Todavia, só poderá incluir a aplicação de uma
das medidas socioeducativas em meio aberto.
3 O ATUAL SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO
O conceito de prisão como pena teve seu início na Idade Média, conforme
explica Mirabete (2013, p. 249):
A pena de prisão teve a sua origem nos mosteiros da Idade Média, como “punição imposta aos monges faltosos, fazendo com que se recolhessem às suas celas para se dedicarem, em silêncio, à meditação e se arrependerem da falta cometida, reconciliando-se assim com Deus”. Essa idéia inspirou a construção da primeira prisão destinada ao recolhimento de criminosos, a House of Corretion, construída em Londres em 1550 e 1552, difundindo-se de modo marcante no século XVIII.
No início do século XIX começaram a surgir às prisões com celas individuais e
oficinas de trabalho do Brasil. O antigo Código Penal de 1890 permitiu o
estabelecimento de novas modalidades de prisão, considerando que não mais haveria
penas perpétuas ou coletivas, limitando-se às penas restritivas de liberdade individual,
com penalidade máxima de trinta anos.
13
Em nosso país existem três tipos de pena e estas estão presentes no artigo 32
do Código Penal. São privativas de liberdade, restritivas de direitos e de multa.
Com a reforma do Código Penal, pela Lei n. 7.209/84, foi abandonada a
distinção entre penas principais e acessórias. Dessa forma, com a nova lei existem
somente as penas comuns (privativas de liberdade), as alternativas (restritivas de
direitos) e a multa.
É muito comum vermos a imprensa noticiar a falta de vagas nos presídios e o
estado precário dos estabelecimentos prisionais já existentes, fatos que com certeza
nos levam refletir quanto à possibilidade de recuperação do detento.
Sabemos que o sistema carcerário no Brasil é muito precário. A precariedade
e as terríveis condições ao que os detentos são submetidos atualmente são
desumanas. Os presídios e penitenciárias se tornaram depósitos de pessoas, onde a
superlotação acarreta violência sexual entre presos, faz com que doenças graves se
proliferem, as drogas cada vez mais são apreendidas dentro dos presídios, e o mais
forte, subordina o mais fraco.
O atrasado sistema penal do país não colabora e junta, em cadeias
superlotadas, criminosos primários e homicidas, sequestradores, estupradores e
outros. O resultado é que, ao invés de ser um espaço para reeducar o preso, o sistema
carcerário do Brasil se tornou uma espécie de “pós-graduação” no mundo do crime.
Outro fator que deve ser debatido diz respeito ao alto custo para criação e
manutenção dos estabelecimentos carcerários, fazendo com que as autoridades
competentes, no caso os Governadores estaduais, esqueçam-se de suas
responsabilidades. De outra banda, também temos o problema com relação à
capacidade do Poder Judiciário de processar, analisar e julgar os diversos pedidos
que são feitos durante a execução penal em prazos exíguos.
O Brasil administra um dos seis maiores sistemas penais do mundo, ainda
assim há um déficit com relação ao número de presos e o número de presídios. A Lei
de Execução Penal (LEP) evidencia detalhes a respeito das normas prisionais
brasileiras, ou pelo menos o que almeja para o sistema prisional. Tem como objetivo,
não a punição, más ao invés disso a ressocialização das pessoas condenadas.
A população carcerária do nosso país atualmente gira em torno de 512 mil
detentos, segundo informações do Departamento Penitenciário Nacional. O número
de vagas que existem no sistema e a quantidade de presos no país tem uma diferença
14
de aproximadamente 200 mil. Por isso é que o Ministério da Justiça defende a posição
de aplicação de penas alternativas ao encarceramento.
Além disso, também é preciso uma mudança extrema no sistema, pois as
penitenciárias se transformaram em verdadeiras “fábricas de revolta humana”. O uso
indiscriminado e descarado de celulares dentro dos presídios é outro fator que
confirma a falência. Através desses aparelhos os grandes traficantes conseguem
contato com aliados fora do estabelecimento prisional e continuam a comandar o
tráfico nos morros e nas favelas. Na grande maioria das vezes os próprios agentes
penitenciários são coniventes com tal situação e deixam de tomar alguma providência,
pois temem algum tipo de represália por parte do apenado.
A sociedade somente se sentirá protegida quando o preso for recuperado. A
prisão existe por castigo e não para castigar, jamais devemos nos esquecer disso. O
Estado não se julga responsável pela obrigação no que diz respeito ao condenado. A
superlotação é inevitável, pois além da falta de novos estabelecimentos, muitos ali se
encontram já com penas cumpridas e são esquecidos. A falta de capacitação dos
agentes, a corrupção, a falta de higiene e assistência ao condenado também são
fatores que contribuem para a falência. Na verdade, o Estado tenta dar oportunidade
aos encarcerados quando eles já estão reclusos, quando o melhor seria dispor de
recursos para que eles sequer chegassem a cometer crimes.
O problema com os sistemas prisionais vem perdurado há séculos sem uma
solução, não tiveram início há pouco tempo. Para tentar resolver o problema dos
estabelecimentos prisionais brasileiros, a primeira tarefa seria mudar o sistema penal,
separando os acoimados pela graduação de seus crimes, e punindo com
encarceramento somente aqueles crimes que realmente fizerem jus à pena,
entretanto, é preciso estabelecer as regras de penas alternativas.
No entanto, para isso acontecer, é imprescindível que o poder judiciário seja
célere, o que não acontece nos dias atuais. Mesmo com a chegada da Lei de
Execução Penal, com a jurisdicionalização da execução da pena, quando também
foram inseridas algumas inovações com a reforma do Código Penal Brasileiro, a
situação carcerária continuou a mesma, ainda que tenham sido construídos vários
presídios, que aos poucos foi se degradando e tornando-se locais impróprios para
seres humanos e que não se alinham com o conceito moderno de prisão, salvo
algumas exceções.
15
Também é necessário nos presídios e penitenciárias que os funcionários que
estão no convívio diário com os presos sejam capacitados, de modo que possa
reintegrar o apenado à sociedade. Além do mais, também é preciso que se melhore a
alimentação, disponibilidade de tratamento médico, odontológico, assistência jurídica,
criação de novas vagas e especialmente a agilidade dos pedidos e decisões judiciais.
O sistema carcerário não possui controle sobre seus apenados, as frequentes
rebeliões, motins, fugas em massa, espancamento, entre outros fatores, deixam claro
a situação de total descontrole. Notoriamente convivemos com o desentrosamento e
falta de vontade política que se distância do Poder Judiciário da realidade carcerária.
A fim de buscar soluções para estes problemas, o Ministério da Justiça formou
uma comissão ao Departamento Penitenciário Nacional, cuja função é percorrer
cadeias de todo o país com o objetivo de elaborar um Plano Diretor do Sistema
Penitenciário. Existe também o estudo da liberação de presos cujos crimes são
considerados de menor potencial gravoso. É claro que isso demandaria
acompanhamento e fiscalização desses detentos. Ocorre que não existem
funcionários suficientes para esse serviço. A solução então seriam pulseiras
eletrônicas para fiscalizar esses detentos enquanto estiverem libertos.
No Estado de Minas Gerais já se faz a utilização do monitorando eletrônico
através de tornozeleiras nos presos que cumprem regime semiaberto, permitindo a
localização desses por ondas de rádio quando estiverem fora das unidades. A
previsão é de que até o final do ano de 2015, o número de presos monitorados através
das tornozeleiras chegue a quatro mil. Existem outros Estados que optaram pela
privatização dos presídios, como por exemplo, o Maranhão, com a iniciativa privada
da construção da Central de Custódia de Presos da Justiça, que ficará responsável
pela administração do presídio. Na Bahia existem cinco prisões que são administradas
em parceria com a iniciativa privada.
Essa privatização funciona com o Estado fazendo um contrato com a empresa
particular que passa a ser responsável pela construção e administração da cadeia,
fornecendo aos detentos alimentação, educação, trabalho e saúde. Todos os
funcionários que trabalham no presídio são contratados por essa empresa. O Governo
permanece com a função de supervisionar e fiscalizar o setor privado. A Ordem dos
Advogados do Brasil tem sua posição contrária à privatização do sistema prisional.
Para a OAB o problema da segurança pública é do Estado, não podendo ser tratado
pela iniciativa privada.
16
4 PRÓS E CONTRA DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
A questão da redução da maioridade penal está sendo cada vez mais debatida
na sociedade. A prática de atos infracionais violentos cometidos por menores de 18
(dezoito) anos vem amedrontando as pessoas, tendo elas cada vez mais desejado a
diminuição da faixa etária penal. Tal assunto tem os seus lados positivos e negativos.
O principal argumento para quem defende a redução da idade penal é a sensação
de impunidade que ecoa pela sociedade, a população se vê refém de
criminosos juvenis, que praticam crimes porque não temem qualquer tipo de
represália. Portanto, a sensação de impunidade, percorre tanto em meio aos
criminosos, como em meio à sociedade refém, que se agrupa em vítimas e vítimas
em potencial, pois mesmo os que não tenham sido alvos dos infratores, vivem em
constante medo, pressentindo que se algo acontecer, nada poderão fazer.
Tramita no Congresso Nacional o projeto de emenda constitucional nº 171/93
que foi apresentado via Câmara dos Deputados, pelo Deputado Benedito Domingos,
do PP do Distrito Federal, com o intuito de modificar o art. 228, da Constituição
Federal, que fala sobre a inimputabilidade penal do menor de 18 (dezoito) anos,
reduzindo-a para 16 (dezesseis) anos de idade.
De acordo com o artigo 228 da Constituição Federal, são penalmente
inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às normas da legislação especial.
A Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno a PEC para reduzir a
maioridade penal, em setembro de 2015, reduzindo de 18 anos para 16 anos
maioridade em crimes hediondos (estupro, sequestro, homicídio qualificado e outros),
latrocínio, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte. Foram 323 votos a
favor, e 155 contrários a redução, houve apenas 2 abstenções. A proposta precisa
passar por mais um turno na Câmara dos Deputados para seguir para avaliação no
Senado Federal.
O autor do projeto, o Sr. Benedito Domingos, usou como base para sua
argumentação o conceito de imputabilidade, ou seja, na capacidade de entendimento
do ato delituoso como pressuposto da culpabilidade, justifica a redução da maioridade
penal na crença que a idade cronológica não corresponde à idade mental, sobretudo
nos dias de hoje, em que a liberdade de imprensa, ausência de censura, liberação
sexual, independência prematura dos filhos, consciência política, acabam por
capacitar o jovem do entendimento do que é correto ou não em matéria penal.
17
Para entender melhor, podemos imaginar que duas pessoas cometam um
homicídio com meios cruéis. Porém um possui mais de 18 (dezoito) anos, e o outro
menos de 18 (dezoito) anos. O primeiro poderá ser condenado a um mínimo de 12
anos, e a um máximo de 30 anos de reclusão. O segundo, que é considerado
inimputável, arcará com as consequências do Estatuto da Criança e do Adolescente,
a mais grave sendo a internação em estabelecimento educacional, por um período
máximo de três anos.
Portanto ambos cometeram cruelmente um assassinato, porém, o menor, não
passará na pior hipótese, mais do que três anos internado num estabelecimento
educacional. Não parece justo, além do que, tal possibilidade de internação é de rara
ocorrência, pois é uma medida excepcional, usada em casos de extrema necessidade,
o Estado procurará a todo custa evitá-la.
A simples advertência é o meio repressivo mais utilizado. Quando muito, terá
que prestar serviços à comunidade, que na prática consiste comparecer, vez ou outra,
a reuniões educativas e auxiliar em programas assistenciais, como os realizados em
hospitais e escolas. E deve-se levar em consideração o fato os estabelecimentos
educacionais estão sempre com sua capacidade cheia, e todos os dias aparecem
novas ocorrências que, obviamente os estabelecimentos não possuem, nem de longe,
espaço para a demanda de jovens.
Não há grande mistério em entender, porque a sociedade protesta contra a
impunidade. Ela de fato existe. O infrator que não conta com 18 (dezoito) anos possui
o alvará para praticar os ilícitos que bem lhe convém, consciente de que,
provavelmente, será apenas advertido e logo estará livre para praticar os mesmos
atos.
Por tais motivos, não poderíamos comparar o jovem dos dias atuais com o
jovem dos anos de 1940 ou 1950, não sendo mais considerados inimputáveis, ou
melhor, incapazes de entender o caráter ilícito do ato, em face de presunção absoluta
de desenvolvimento mental incompleto, como era em 1940, quando foi instituído o
Código Penal que delimitou a idade penal para 18 (dezoito) anos. E diga-se de
passagem, o mesmo encontra-se ultrapassado.
Além disso, traz como alicerce desta redução, supostas oposições legais, que
seriam: a faculdade de casar-se aos 16 (dezesseis) anos, a possibilidade do voto
também aos 16 (dezesseis) anos e a capacidade para empregar-se aos 14 (quatorze)
anos.
18
O nobre doutrinador Mirabete (2013, p.210) analisa a inimputabilidade de tal
forma:
De acordo com a teoria da imputabilidade moral (livre-arbítrio), o homem é um ser inteligente e livre, podendo escolher entre o bem o mal, entre o certo e o errado, e por isso a ele se pode atribuir à responsabilidade pelos atos ilícitos que praticou. Essa atribuição é chamada imputação, de onde provém o termo imputabilidade, elemento (ou pressuposto) da culpabilidade. Imputabilidade é, assim, a aptidão para ser culpável.
Partindo desse ponto, podemos dizer que ele condensa a problemática plena,
quando se debate sobre a redução da maioridade penal. Assim podemos efetuar
diversos questionamentos, quais sejam: como verificar se uma pessoa tem aptidão
para ser culpável? Como aferir se o agente tem a capacidade de discernir entre o que
é certo e o que é errado?
Para solucionarmos esse conflito, devemos transcrever o conceito de
imputabilidade penal nos dizeres de Mirabete (2013, p. 210):
Há imputabilidade quando o sujeito é capaz de compreender a ilicitude de sua conduta e de agir de acordo com esse entendimento. Só é reprovável a conduta se o sujeito tem certo grau de capacidade psíquica que lhe permita compreender a antijuridicidade do fato e também a de adequar essa conduta a sua consciência. Quem não tem essa capacidade de entendimento e de determinação é inimputável, eliminando-se a culpabilidade.
As opiniões da sociedade quanto à redução, ou não, da maioridade penal são
diversas. Os que são contra à redução argumentam que, tomando essa atitude,
haveria a inclusão das crianças e adolescentes infratores no sistema penitenciário,
porém, essa não seria uma medida viável pois a cadeia não é atualmente, suficiente
para ressocializar os adultos, portanto seria praticamente improvável haver uma
ressocialização dos menores infratores.
Um dos fatores principais que nos levam a pensar sobre a redução da
maioridade penal é o fato das constantes práticas abusivas e ações criminosas com
atuação ou participação de menores. Dentre as opiniões dos que defendem a
redução, encontram-se todos aqueles citados pelo Deputado Benedito Domingos,
autor do projeto exposto anteriormente.
Para os que defendem essa corrente, os menores infratores não recebem a
punição devida. Para eles, o Estatuto da Criança e do Adolescente é muito
complacente com os infratores e não intimida os que pretendem infringir a lei. Se a
legislação eleitoral diz que o adolescente de dezesseis anos tem capacidade para
19
votar, ele também tem idade suficiente para responder perante a Justiça pelos crimes
cometidos. Por esse e outros motivos, não podemos comparar o jovem de dezesseis
anos de hoje, com os de sessenta ou setenta anos atrás.
Reale (2011, p.161) ao se posicionar à favor da redução da maioridade penal,
argumenta ainda que:
No Brasil, especialmente, há um outro motivo determinante, que é a extensão do direito ao voto, embora facultativo aos menores entre dezesseis e dezoito anos, como decidiu a Assembleia Nacional Constituinte para gáudio de ilustre senador que sempre cultiva o seu “progressismo”[...]. Aliás, não se compreende que possa exercer o direito de voto quem, nos termos da lei vigente, não seria imputável pela prática de delito eleitoral.
Tal posicionamento é acompanhado por outros juristas e doutrinadores como
Nucci (2009, p. 294), que também defende a possibilidade de Emenda à Constituição
para reduzir a maioridade penal:
Não é admissível acreditar que menores entre 16 anos ou 17 anos, não tenham condições de compreender o caráter ilícito do que praticam, tendo em vista que o desenvolvimento mental acompanha, como é natural, a evolução dos tempos.
Do mesmo modo entendemos que se um jovem pode ter capacidade para
votar, ele também terá discernimento ao praticar crimes, ainda que hediondos.
Evidencia-se também que, ao completar dezesseis anos de idade, o adolescente já
pode contrair matrimônio, desde que autorizados pelos pais ou tutores, passando,
dessa forma, a ser chefe de família, ter a responsabilidade da mantença de um lar e
educação e criação dos filhos, inclusive podendo ser proprietário de empresa e
gerenciá-la.
Portanto, os que são a favor da redução acreditam que ficaria mais viável para
os dias de hoje, a redução da maioridade penal dos dezoito para os dezesseis anos
de idade, sem a obrigação de exame de desenvolvimento psíquico-emocional do
menor. Assim, ao atingir os 16 (dezesseis) anos de idade, o agente irá se submeter
às normas do Código Penal.
Novamente percebemos a comparação dos jovens de hoje com os jovens de
décadas atrás, de modo que podemos concluir que hoje em dia eles não mais se
equiparam, tendo em vista o acesso aos meios de comunicação de massa, influências
poderosas tanto da televisão, como da internet, e que o jovem tem conhecimento
amplo do mundo.
20
Nesse contexto, qualquer jovem de 16 (dezesseis) anos já sabe o que é ou não
permitido pela lei, sendo ele um ser livre, de direitos e obrigações, e que possui
condições de escolher entre o que é certo, e o que é errado. De acordo com Porto
(2013, p. 35), o marco de 18 anos não está em conformidade com o padrão de nossa
sociedade, vejamos:
A legislação penal adotou o critério puramente biológico ao estabelecer o marco etário a partir do qual a pessoa passa a ser responsável pelos atos que pratica. Trata-se de sistema que obedeceu a parâmetros de desenvolvimento física, mas que não deixa de ser aleatório, pois poderia ter sido fixada a idade de 17 ou de 19 anos. Assim, mesmo que o adolescente tenha pela capacidade de entender o caráter ilícito de sua conduta, a idade inferior a 18 anos o torna irresponsável por presunção legal. O sistema está, por óbvio, inadequado.
O discurso de que os infratores são apenas crianças indefesas está, há muito,
ultrapassado. Esses jovens têm total consciência de seus atos. A reforma penal é
observada por alguns operadores do direito, como uma medida eficaz para que se
possa combater os delitos praticados por menores, já que, para a grande maioria dos
juristas, o Estatuto da Criança e do Adolescente é apresentado como proteção dos
delinquentes, não sendo capaz de cessar a violência juvenil.
Tendo isso em mente, surge a corrente pró-redução, indignada pela
impunidade e exigindo que se reduza a maioridade penal para 16 (dezesseis) anos,
com a boa intenção de reduzir a criminalidade, consolar as vítimas e, desse modo,
amenizar a impunidade do Brasil, que ficou conhecido com o “país da impunidade”.
A corrente que se formou em sentido antagônico à redução da maioridade
penal costuma alegar que não podemos tratar como adulto aquele que ainda é
criança. O ponto importante é da possível inconstitucionalidade da PEC,
impossibilitando a alteração de um item que está compreendido como um direito e
uma garantia individual, tendo em vista que o art. 27 do Código Penal está envolvido
pela Constituição Federal, em seu artigo 228, bem como o art. 104 do ECA, que
estabelecem a idade de dezoito anos como limite para imputabilidade do jovem.
Segundo Silva (1996. p. 188), garantia individual é o direito que reconhece
autonomia ao particular em relação aos demais membros da sociedade e face ao
próprio Estado. Deste modo, ao avaliarmos o texto do artigo 228, da Constituição,
percebemos que a natureza da norma se amolda com a liberdade negativa, no sentido
de não deixar que o Estado puna o menor de dezoito anos. Nesse compasso, antes
21
de qualquer modificação a respeito do tema é necessário que se cumpra o
determinado no art. 4º, do ECA:
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1988).
Evidenciamos claramente que o disposto no artigo citado não está sendo
cumprido, ou até está, todavia, de forma parcial por parte do Estado. Quando o ECA
foi criado o objetivo era garantir uma legislação justa às crianças e aos adolescentes.
Para os que adotam essa corrente, como o ex-presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil, defendem que: “a redução da maioridade penal não diminuirá a
onda de violência que assola o País, pois, se o Código Penal, válido para os maiores
de idade, impedisse crimes, ninguém iria cometê-los depois do 18º aniversário”
(BRITTO).
Muito se tem discutido a questão da ressocialização do preso. O maior desafio
da ciência criminal-social é desvendar caminhos para retirar o infrator do mundo do
crime e reinseri-lo na sociedade. Visa-se assim dar aos encarcerados, condições para
que possam ter uma nova vida. A pena privativa de liberdade, na teoria, baseia-se na
ideia de afastar o indivíduo da sociedade por determinado tempo, e durante esse
período, prepará-lo para voltar a viver no corpo social. Porém, o sistema prisional
brasileiro encontra-se em falência. Portanto quem defende a corrente contra a
redução, entende que o cárcere não consegue cumprir a missão ressocializadora do
infrator.
Os que são contrários a redução da maioridade penal, afirmam que com a
redução da idade penal, os maiores que usam crianças e adolescentes para cometer
delitos, recrutariam crianças ou adolescentes com idade ainda mais precoce,
conduzindo ao mundo do crime um grupo cada vez mais jovem, o que não resolve o
problema da violência.
A Ex-Ministra do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie Northfleet, também
se posicionou contra a redução, criticando da seguinte forma:
O que ocorre é que geralmente se discute a legislação e mudanças na legislação sobre um clima de tensão, de emoção. E isso não é necessariamente a melhor forma de discutir a legislação. A questão da criminalidade é bem mais ampla, vai além do estabelecimento de penas, do
22
endurecimento dos regimes prisionais, deveria ser tratada de formas mais amplas (NORTHFLEET).
Não se trata apenas de reduzir ou não a maioridade penal, mas sim, debater o
processo de execução das medidas impostas aos jovens, que não se mostra eficaz,
de modo que nos leva a concluir que é o Estado que não cumpre com suas políticas
sociais básicas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante desse perigoso desafio de ser a favor ou contra a redução da maioridade
penal, parece mais sensato propor ideias e sugestões que procurem mitigar a
violência e que também devolva para a população a confiança na Justiça.
Antes de qualquer atitude, deve-se fazer uma reforma penitenciária. O Brasil
possui um dos piores sistemas prisionais do mundo, sem dúvida, precisa ser
imediatamente reformado. Nenhuma medida será realmente eficaz se não houver
uma mudança na postura hesitante em que as autoridades estão mantendo perante a
falência do sistema.
A redução da maioridade penal, no entanto, só surtira um efeito de alivio
momentâneo para a população, pois ao colocar menores de idade no atual sistema
prisional do país, a chance de ressocialização será mínima. É como varrer a sujeira
para debaixo do tapete. A reforma prisional deve ocorrer de maneira a aumentar a
quantidade de presídios pelo país.
No Brasil, não há diferença entre cadeira, prisão e penitenciaria. Existe uma
mistura de réus que aguardam julgamento e os que já estão condenados. Deve haver
essa separação. A cadeia deve ser o local em que o indivíduo que acaba de ser preso
é levado, uma estadia eminentemente provisória, somente enquanto durar a
comunicação entre a autoridade policial e o juiz. A prisão é o local para onde vão
aqueles que aguardam julgamento sem liberdade, também em caráter provisório.
Também o destino daqueles que já foram julgados, porem aguardam liberação de
vaga em penitenciaria.
Penitenciaria é finalmente o local onde os que já foram condenados ficarão. É
o local definitivo para se cumprir a pena. Porem no Brasil essa distinção não existe,
pelo fato de que não temos uma estrutura decente para distinguir tais locais. O que
23
possuímos são estabelecimentos precários que, são ao mesmo tempo, cadeia, prisão
e penitenciaria.
Portanto deve haver imediatamente uma reforma que tenha um dos objetivos
expandir, em progressão geométrica, a quantidade de vagas em estabelecimentos
prisionais. Isso não ocorre pelo fato de desinteresse político em tal reforma. A
desculpa usada pelo governo é de que o custo para essa expansão será alto, porém
a verdade é que não surtiria efeito imediato, causando assim o desinteresse para tal
ação, pois muito provavelmente o resultado demorará mais do que um mandato para
começar a surtir efeito.
Além dessa expansão, deve haver uma melhoria na condição dos presídios,
dar ao detento uma condição digna. O mesmo não deverá nem ser tratado como um
animal, pois cedo ou tarde o mesmo retornará ao convívio social cheio de ódio e
rancor, porém o mesmo não pode ser tratado com tudo de bom e do melhor. O ideal
é que o sistema penitenciário distribua seu orçamento de tal modo que os
encarcerados não sejam submetidos a tratamento humilhante. É imprescindível que
tenham uma alimentação suficiente para que não passem fome, o lazer deve ser
mínimo, com incentivo ao esporte. Trabalhos com alguma contraprestação pecuniária,
e que permitam remição.
Deve haver um meio termo, nem punição excessiva, nem tratamento
demasiadamente brando. Nós, cidadãos, transferimos parcelas de nossa liberdade
para que o Estado, unificando-se, administre e garanta a liberdade geral da nação,
nosso conceito de pacto social. Portanto não poderá deixar de punir aquele que
quebrou o pacto. Caso o Estado se omita em punir quem rompeu o pacto social, a
vítima, ou família da vítima, sente-se na necessidade de fazer justiça com as próprias
mãos, já que o governo não objetivou o fazimento da mesma.
Além dessas medidas para o progresso do quadro brasileiro, deve-se instruir
todos aqueles que estão à volta da tutela prisional, em especial agentes penitenciários
e os juízes da execução penal. Portanto a primeira ação a ser tomada pelo Estado,
deve ser a tão ignorada reforma penitenciaria. As correntes pró-redução e contra
redução continuam na insistência de apoio a medidas que, se feitas agora, serão
nulas. Não se esta rejeitando as ideias, mas é evidente que somente após o início da
reforma penitenciária, que as medidas planejadas poderão começar a funcionar.
Uma vez em andamento a reforma, é hora de tomar medidas objetivas
direcionadas à questão da maioridade penal. É claro que atualmente os menores de
24
18 anos possuem plena capacidade fática de responsabilidade pelos seus atos, é
inadmissível que fiquem impunes caso transgridam a ordem penal.
Portanto, defendemos no presente trabalho, a redução da idade penal para 16
anos de idade, porem só terá qualquer eficácia se feito posteriormente à reforma
penitenciaria, que deve ser a exigência emergencial do Estado, antes dela nada
poderá ter ampla eficiência.
REDUCTION OF CRIMINAL MAJORITY
ABSTRACT This course conclusion work aims to assess to what extent the reduction of legal age to sixteen (16) years of age will contribute as an effective measure in reducing the rates of violence in the social sphere of the country. A controversial issue and subject of debate among legal professionals and legislators. It is increasingly visible differences that exist in criminal law concerning the issue as it no longer fits with the reality of today. The smallest of eighteen (18) years has been practicing crimes of various types because they do not feel intimidated by the measures provided for in the legislation attributed to them, the Statute of Children and Adolescents (ECA), taking thus the repeated practice illegal activities, by the certainty of impunity. Faced with this situation, in the National Congress several projects aimed at reducing the penal age, in order to fight crime by minors. In short, it is important that only the reduction of criminal responsibility is not enough to combat the crimes committed by teenagers, it is necessary that the State also comply with its obligation.
Keywords: Majority Criminal. Infraction. Child and Adolescent Statute. Brazilian Prison System.
REFERÊNCIAS AFONSO DA SILVA, José. Curso de Direito Constitucional Positivo. 27. Ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Ed. Martin Claret: 2013. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988.
. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte Lei. Brasília, DF, 1940.
. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 1990.
25
BRITTO, Cezar. OAB: reduzir idade penal é propaganda enganosa contra violência. Disponível em: <http://www.oab.org.br/noticia/9116/oab-reduzir-idade- penal-e-propaganda-enganosa-contra-violencia>. Acesso em: 20 de setembro de 2016.
CURY, Munir; SILVA, Antônio Fernando do Amaral e; MENDEZ; Emílio García. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais. São Paulo: Malheiros, 2012.
GRACIE NORTHFLEET, Ellen. Governadores do Sudeste têm proposta para mudar lei penal. Disponível em: http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,governadores-do-sudeste-tem-proposta- para-mudar-lei-penal,20070212p16105. Acesso em: 17 de setembro de 2016.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 10ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2009.
JESUS, Damásio E. de. Direito penal. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, vol. 01.
MELLO, Marília Montenegro Pessoa de. Imputabilidade penal: adolescentes infratores: punir e (res) socializar. Recife: Nossa Livraria, 2014.
MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Ed. Saraiva, 2015.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Atlas, 2013.
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. Ed. Forense: 2013.
NEVES NETO, José Antônio. Discurso sobre a maioridade penal. João Pessoa: A União, 2014.
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal: introdução e parte geral. 37 ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 01.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. Revista e Atual e Amp. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2009.
OTTOBONI, Mário. Ninguém é irrecuperável: APAC: a revolução do sistema penitenciário. São Paulo: Cidade Nova, 2011.
POPULAÇÃO CARCERÁRIA. STJ – Brasil: 4ª maior população carcerária do mundo. Disponível em: http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp:tmp.area=398&tpm.texto=1125 33. Acesso em: 22 de setembro de 2016.
PORTO, Ivonaldo. Estatuto da Criança e do Adolescente: estímulo à criminalidade juvenil. Revista Jurídica Consulex, ano XVII - nº 392, 2013.
REALE, Miguel. Nova fase do direito moderno. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
26
SÁTIRO JÚNIOR, Fernando Cordeiro. “O artigo 228 da Constituição Federal e a impossibilidade jurídica de reduzir à menoridade penal por meio de emenda constitucional”. Disponível em: <
www.datavenia.net/opiniao/artigo228constituicaofederal.htm>. Acesso em 17 de
setembro de 2016.
SCHELB, Guilherme Zanina. Violência e criminalidade infanto-juvenil: Intervenções e encaminhamentos. Brasília: [s.n.], 2014.
SISTEMA PRISIONAL. Dados Inéditos do CNMP. Disponível em: <http:/www.cnmp.mp.br/portal/noticia/3486-dados-ineditos-do-cnmp-sobre-sistema- prisional>. Acesso em: 22 de setembro de 2016.
TAVARES, José de Farias. Direito da infância e da juventude. 1. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2011.