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    Na famlia a autoridade exercida como servio e por amor.

    A renovao das geraes no seio da famlia tambm permite a mais harmoniosa aliana entrea tradio e a novidade. As geraes mais velhas transmitem s geraes mais novas, como asua mais preciosa herana, aqueles valores perenes que no esto sujeitos usura do tempo e

    no passam com as modas. As geraes mais novas representam a abertura ao novo, aodinamismo e criatividade, que tornam vivos esses valores perenes.

    Num outro aspeto a famlia representa o contexto mais adequado e harmonioso para ocrescimento e educao das novas geraes. A famlia nasce da unidade e complementaridadedas dimenses masculina e feminina, que cooperam, nessa unidade e complementaridade,

    para a integridade da educao humana.

    O casamento, como unio entre um homem e uma mulher, tem representado nas sociedades eculturas mais diversificadas um smbolo dessa riqueza que representa a dualidade sexual, daunidade dessa diversidade. A mensagem bblica exprime-o com as palavras do Gnesis:

    Deus os criou homem e mulher e viu que a sua obra era muita boa.Esta riqueza dadualidade sexual, da unidade e complementaridade dos dois sexos, est presente na famlia e,

    por seu intermdio, deve penetrar em toda a sociedade. Todos os mbitos da vida socialganham com o contributo simultneo, diversificado e harmnico das especificidadesmasculina e feminina, que so complexas, no so rgidas e uniformes, mas so umainsubstituvel riqueza.

    A famlia e a crise econmica e social

    3. A crise econmica e social que o nosso pas atravessa vem evidenciando, precisamente, ariqueza que representa a famlia. Tem sido a solidariedade familiar, que se traduz emsolidariedade entre geraes, em muitos casos, o primeiro e mais seguro apoio de quem se va braos com o desemprego, ou a queda abrupta de rendimentos, com a consequenteincapacidade de fazer face a compromissos assumidos que se destinam satisfao denecessidades familiares essenciais, como a da habitao.

    Mas esse apoio no suficiente. A crise tambm evidencia que a comunho e solidariedadeque se vivem no seio da famlia no pode limitar-se ao seu mbito interno. A famlia no podefechar-se sobre si. Esse esprito de comunho e solidariedade deve partir da famlia e alargar-se sociedade inteira. Deve traduzir-se na entreajuda entre vrias famlias. As experincias demuitas comunidades crists so j disso testemunho, mas no demais salientar a necessidade

    de se multiplicarem essas experincias de partilha entre famlias.Na raiz da crise que atravessamos esto fracassos de um modelo econmico assente namaximizao do lucro e do consumo. Afirma Bento XVI na sua mensagem para o DiaMundial da Paz deste ano (n. 5): O modelo que prevaleceu nas ltimas dcadas apostava na

    busca da maximizao do lucro e do consumo, numa tica individualista e egosta quepretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta s exigncias dacompetitividade. Olhando de outra perspetiva, porm, o sucesso verdadeiro e duradouro podeser obtido com a ddiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da prpria capacidade deiniciativa, j que o desenvolvimento econmico suportvel, isto , autenticamente humanotem necessidade do princpio da gratuidade como expresso de fraternidade e da lgica do

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    A gratuidade tpica das relaes familiares deve servir de modelo para este novo paradigmade desenvolvimento econmico.

    A famlia e a abertura vida

    4. Talvez o mais eloquente sinal de que a crise da instituio familiar se traduz em malefciossociais seja o da crise demogrfica, que muitos consideram o mais grave dos problemassociais das sociedades europeias, numa perspetiva do seu futuro mais ou menos prximo. Asltimas estatsticas apontam Portugal como um dos pases com mais baixa taxa de natalidadeem todo o mundo.

    A famlia abre-se, por desgnio natural, vida.

    Poder parecer irrealista salientar a importncia desta abertura vida no atual contexto social,em que o desemprego e a precariedade laboral atingem de modo particular os jovens. Estefacto deve levar-nos a no nos resignarmos com esta situao, como se ela fosse inevitvel,

    como se a economia no devesse estar ao servio da pessoa humana, e fosse a pessoa humanaa dever sujeitar-se s exigncias da economia. Salienta Bento XVI na encclica Caritas inveritate (n. 25), a propsito da instabilidade laboral, que quando se torna endmica aincerteza sobre as condies de trabalho, resultante dos processos de mobilidade edesregulamentao, geram-se formas de instabilidade psicolgica, com dificuldade a construir

    percursos coerentes na prpria vida, incluindo o percurso rumo ao matrimnio.

    Mas, por outro lado, a crise que atravessamos tambm reflexo da crise demogrfica. Numasociedade em envelhecimento, as despesas pblicas sero cada vez maiores em penses,sade, etc., e as receitas cada vez menores. Assim, o financiamento do Estado h de ser cadavez mais problemtico.

    claro o bem que representa hoje a maior longevidade, o facto de os idosos viverem maistempo do que noutras pocas. O que problemtico no isso; no h idosos a mais,

    porque estes so sempre uma riqueza, e nunca um peso. O que problemtico e causadesequilbrios que no nasam crianas.

    Afirma ainda Bento XVI na encclica Caritas in veritate (n. 44): A abertura moralmenteresponsvel vida uma riqueza social e econmica. () A diminuio dos nascimentos,situando-se por vezes abaixo do chamado ndice de substituio, pe em crise tambm ossistemas de assistncia social, aumenta os seus custos, contrai a acumulao de poupanas e,

    consequentemente, os recursos financeiros necessrios para os investimentos, reduz adisponibilizao de trabalhadores qualificados, restringe a reserva aonde ir buscar oscrebros para as necessidades da nao. Alm disso, as famlias de pequena e, s vezes,

    pequenssima dimenso correm o risco de empobrecer as relaes sociais e de no garantirformas eficazes de solidariedade. So situaes que apresentam sintomas de escassa confianano futuro e de cansao moral. Deste modo, torna-se uma necessidade social, e mesmoeconmica, continuar a propor s novas geraes a beleza da famlia e do matrimnio, acorrespondncia de tais instituies s exigncias mais profundas do corao e da dignidadeda pessoa. Nesta perspetiva, os Estados so chamados ainstaurar polticas que promovam acentralidade e a integridade da famlia, fundada no matrimnio entre um homem e umamulher, clula primeira e vital da sociedade, preocupando-se tambm com os seus problemas

    econmicos e fiscais, no respeito da sua natureza relacional.

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    Ajudam a combater a crise da natalidade medidas fiscais, que promovam o emprego juvenil,ou que facilitem a conciliao entre o trabalho e a vida familiar. Mas o contributo decisivo

    para vencer a crise demogrfica situa-se no plano da cultura e da mentalidade. H que superaro cansao moral e a falta de confiana no futuro a que alude a encclica Caritas inveritate. Saber que a vida sempre um dom que compensa todos os sacrifcios s com esta

    conscincia pode ser vencida a crise da natalidade.

    Qualquer mensagem de desvalorizao da vida humana acarreta consequncias negativas aeste respeito. Uma delas sem dvida a mais grave o aborto e sua banalizao a quevimos assistindo entre ns com a cobertura da lei vigente. Afirma, ainda, sobre esta questo, aCaritas in veritate (n. 28): Quando uma sociedade comea a negar e a suprimir a vida, acaba

    por deixar de encontrar as motivaes e energias necessrias para trabalhar ao servio doverdadeiro bem do homem. Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento dumanova vida, definham tambm outras formas de acolhimento teis vida social. O acolhimentoda vida revigora as energias morais e torna-nos capazes de ajuda recproca.

    A famlia, um projeto duradouro

    5. Para vencer a crise demogrfica, como em relao a muitos outros aspetos relativos suafuno social, h que acreditar na famlia como um projeto duradouro, assente numcompromisso de doao total e no na volatilidade dos sentimentos. S nesse contexto razovel a deciso de ter filhos. Se a sade e coeso da sociedade dependem da sade ecoeso da famlia, esta est estritamente ligada sua estabilidade.

    Vai-se generalizando, porm, a opo por formas de convivncia marital precria, querecusam esse compromisso; tal como cada vez mais frequente o recurso ao divrcio, o que alegislao vigente tambm no deixa de facilitar em extremo.

    Salienta, a este respeito, a exortao apostlicaFamiliaris consortio (n. 11), de Joo Paulo II,que a sexualidade diz respeito ao ncleo ntimo da pessoa humana e se realiza de maneiraverdadeiramente humana, somente se parte integral do amor com o qual homem e mulher seempenham totalmente um para com o outro at morte. A doao fsica total verdadeira sna medida em que envolve toda a pessoa, tambm na sua dimenso temporal, com acomunho de projetos para o futuro: se a pessoa se reservasse alguma coisa ou a

    possibilidade de decidir de modo diferente para o futuro, s por isto j no se doariatotalmente. Esta totalidade corresponde tambm s exigncias de uma fecundidaderesponsvel, a qual supe o contributo contnuo do pai e da me para o crescimento

    harmonioso dos filhos.Por isso, ainda segundo essa exortao apostlica (n. 11), o lugar nico, que torna possvelesta doao segundo a sua verdade total, o matrimnio. Este no uma ingernciaindevida da sociedade ou da autoridade, nem a imposio extrnseca de uma forma, mas umaexigncia interior do pacto de amor conjugal que publicamente se afirma como nico eexclusivo, para que seja vivida assim a plena fidelidade ao desgnio de Deus Criador. Estafidelidade no mortifica a liberdade da pessoa, pe-na em segurana em relao aosubjetivismo e relativismo, f-la participante da Sabedoria Criadora.

    A esta luz, no demais lembrar a responsabilidade que representa a preparao, mais remota

    e mais prxima, para o casamento. Uma preparao que envolve as famlias, as instnciaseducativas e a Igreja.

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    Importa, ainda, salientar como, tambm neste aspeto, deve evitar-se que cada famlia se vejasozinha a enfrentar dificuldades que possam conduzir rutura. A experincia de um casal quesoube superar as suas dificuldades de relacionamento pode servir de ajuda para outros que seconfrontam com essas dificuldades. Experincias de entreajuda entre famlias neste campotambm devem multiplicar-se no mbito das comunidades crists.

    E se verdade que a Igreja nunca deixar de proclamar a indissolubilidade do casamento,antes de mais perante quem se prepara para o contrair, tal no pode significar insensibilidadeou indiferena perante o sofrimento de quem experimentou um fracasso matrimonial,independente de qualquer juzo de culpa, que at pode nem existir. A Igreja acolhe eacompanha com solicitude essas pessoas.

    Olhamos com simpatia e apreo os movimentos e instituies que se preocupam e dedicam famlia, encarnando o amor de Deus e manifestando-lhe o rosto amvel da Igreja.

    A sociedade imagem da famlia

    6. Muitas vezes a famlia encarada como um refgio que protege de um ambiente hostil dasociedade que nos rodeia, um osis de harmonia no meio do deserto, um espao dehumanizao no meio de um mundo desumanizado. E assim de facto. Mas tambm

    podemos encarar a famlia de outra perspetiva: como a fonte e o fermento de onde parte arenovao da sociedade. assim atravs dos filhos, que se devem proteger das msinfluncias da sociedade, mas que tambm a esta podem dar muito do que recebem na famlia.

    Os valores que se vivem na famlia a pessoa amada e acolhida como ser nico e irrepetvel,o amor gratuito, a solidariedade espontnea, a autoridade como servio, o valor do doente edo idoso, a aliana da tradio e da inovao, a unidade e complementaridade das dimensesmasculina e feminina, a fidelidade e o compromisso devem estender-se, por seu intermdio,a toda a sociedade: s empresas, aos servios pblicos, s escolas e hospitais, s comunidadeseclesiais, s associaes. A famlia o modelo, o dever serde qualquer convivncia humana.

    Num contexto de crise econmica e social, que para muitos se traduz em desalento e falta deperspetivas de futuro, esta a mensagem que queremos transmitir, como antdoto a essedesalento e como ajuda superao dessa crise: que a famlia seja reconhecida e apoiada namisso social que s ela pode desempenhar.

    Ftima, 11 de abril de 2013