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Federação Catarinense de Municípios – FECAM
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48 3221-8800 – www.fecam.org.br – [email protected]
CRISE ECONÔMICA E FINANCEIRA: O IMPACTO DA REVISÃO GERAL
ANUAL
A história recente revela que a sólida base econômica estabelecida pelo Tripé
Macroeconômico – regime de metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante –
desenvolveu um ambiente favorável para o crescimento econômico, provocando elevação de
investimentos públicos e privados, nível de desemprego em mínima histórica e ganhos sociais.
Entretanto, a matriz econômica foi descaracterizada pelas novas diretrizes da política econômica
exercida após a eclosão da Crise Financeira Mundial de 2008.
Em 2010 com o objetivo de sanar os efeitos deletérios provocados pela Crise Financeira, o
governo federal instituiu políticas expansionistas e intervencionistas pautadas na expansão do
crédito; aumento do nível de renda; incentivos à produção e ao consumo; proteção e subsídios a
setores específicos; aumento dos gastos em serviços públicos e expansão dos benefícios sociais.
O estabelecimento dessa nova matriz econômica favoreceu a crise de 2015 e sua expectativa
em igual porte para 2016. Essa situação é a mais desafiadora já vivenciada pelo Brasil desde a
década de 30, quando houve queda real do Produto Interno Bruno (PIB) de 2,10% e 3,30%, em
1930 e 1931 respectivamente. As expectativas negativas para o cenário econômico atual, com
queda real de 3,5% do PIB1, sustentam-se pela baixa confiança das empresas e dos consumidores;
deterioração das condições políticas; elevação da taxa de desemprego e da dívida pública; queda da
produção e comércio; dificuldade na implementação de ajustes fiscais e normalização da política
monetária dos Estados Unidos.
Os fundamentos macroeconômicos atualmente exercidos no Brasil determinaram a mudança
na trajetória do Produto Interno Bruto (PIB). O gráfico 1 confirma a desaceleração do crescimento
a partir de 2010 e sustenta a queda real do PIB em 2015 e 2016. A média de crescimento para o
período entre 2011-2014 foi de 1,59%, valor 3,03 pontos percentuais (p.p.) menor que o apresentado
em igual período anterior. Em 2015, o resultado divulgado pelo IBGE sobre a evolução acumulada
1 Estimava do Fundo Monetário Nacional (FMI) divulgado na primeira edição de 2016 do relatório Panorama
Econômico Mundial com perspectivas drásticas para o Brasil.
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do PIB até o 3º trimestre do ano denota queda real de 3,2%. Em suma, a média de desaceleração
econômica, entre 2015 e 2016, é de -3,35%.
Gráfico 1. Crescimento Média Real do PIB por Mandato Presidencial
*Resultado divulgado pelo IBGE referente à taxa acumulada ao longo do ano até 3º Trimestre de 2015. Para
2016, a informação denota a estimativa do PIB realizada pelo FMI no relatório Panorama Econômico Mundial
com perspectivas drásticas para o Brasil.
Fonte: IBGE – Elaboração: FECAM
Os condicionantes de crescimento econômico verificados nos últimos anos, como
crescimento da população economicamente ativa, a expansão vigorosa do crédito e o boom dos
commodities, não são capazes de impulsionar o crescimento sustentável da economia brasileira em
médio e longo prazo. Nesse contexto, destaca-se também o descontrole no ritmo de crescimento
dos preços e o aumento dos gastos públicos como condições explícitas dos equívocos na condução
da política econômica.
O desequilíbrio fiscal ocasionado pelo aumento sistemático dos gastos públicos da União
resultou na expansão do endividamento do setor público. Em 2014, o setor público obteve déficit
primário de R$ 17,2 bilhões, o primeiro déficit deste 1998. No exercício de 2015, o resultado
primário apresentou-se deficitário, sendo de R$ 115 bilhões. Com a nova matriz econômica, entre
2,49%2,13%
3,49%
4,62%
1,59%
-3,35%-4%
-3%
-2%
-1%
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
1995-1998 1999-2002 2003-2006 2007-2010 2011-2014 2015-2016*
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2010 a 2014, houve aumento médio dos gastos da União em 12,66%, em compensação o acréscimo
médio das receitas foi apenas de 10,83%.
O aumento do endividamento do setor público reflete o descompasso do equilíbrio entre
receitas e despesas. Desde 2006, havia uma tendência de queda na relação dívida e PIB, passando
de 27,4%, em janeiro daquele ano, para 17,2% em abril de 2014. Entretanto, nos últimos 19 meses
houve um acréscimo de 5,7 p.p no endividamento público, chegando a 22,9% do PIB em novembro
de 2015. Notadamente, torna-se necessário reverter essa trajetória fiscal para assegurar a
sustentabilidade da dívida pública e do crescimento econômico a longo prazo.
No regime de meta de inflação, a autonomia e a credibilidade do Banco Central do Brasil –
instituição que define a taxa de juros para o alcance da meta da inflação – é de suma importância
para ancorar as expectativas inflacionárias do mercado em prol da desaceleração do nível de preços,
fato não evidenciado no País, o que corrobora para aumentar a inércia inflacionária nos próximos
anos. Em 2015, o Índice de Preço do Consumidor Amplo (IPCA) atingiu seu maior valor, desde
2002, ao chegar a 10,67%, valor substancialmente acima da meta estabelecida para o período (limite
superior a 6,5%). Para este ano, a estimativa de mercado realizada pelo relatório Focus2 indica
inflação de 7,61%, também acima da meta do exercício.
A consolidação da crise econômica do País é evidenciada pelas recentes informações
relativas ao nível de emprego. No Brasil, observa-se um estreitamento no mercado de trabalho, com
aumento da taxa de desemprego para 6,9% em dezembro de 2015, ficando significativamente acima
da taxa apesentada no mesmo período do ano anterior (4,3%).
Para os Municípios catarinenses, o mercado de trabalho apresentou acentuado dinamismo,
entre 2008 a 2014, com média de criação de postos de trabalho na ordem de 76.599. Em 2015,
conforme gráfico 2, houve uma modificação no ritmo de criação de empregos formais, com queda
de 58.599 postos de trabalho no estado.
2 Relatório Focus de 12 de fevereiro de 2016, divulgado pelo Banco Central do Brasil (BACEN).
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Gráfico 2. Evolução dos Postos de Trabalho nos Municípios de Santa Catarina
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (CAGED) – Elaboração: FECAM
O principal setor que contribuiu para a diminuição dos postos de trabalho foi a indústria de
transformação, com fechamento de 36.754 postos de trabalho em 2015. Esse valor representa
62,72% do total das perdas realizadas no período.
Tabela 1. Evolução dos Postos de Trabalho nos Municípios de Santa Catarina
Postos de Trabalho 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Indústria 16.948 3.682 42.045 14.059 15.896 19.749 5.713 -36.754
Construção Civil 10.239 4.204 8.965 8.808 3.175 4.054 4.565 -8.549
Comércio 20.375 21.452 30.099 22.006 16.800 15.665 11.597 -9.515
Serviços 31.903 31.027 33.648 38.390 29.144 35.678 31.228 -2.814
Agropecuária -464 -6 -117 -286 -1.252 706 -86 -967
Total 79.001 60.359 114.640 82.977 63.763 75.852 53.017 -58.599
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (CAGED) – Elaboração: FECAM
Os dados mostram um arrefecimento no ritmo de expansão do emprego formal na economia
catarinense. Esse comportamento é condizente com o agregado nacional, o qual se apresenta com
aumento na taxa de desemprego e diminuição do crescimento econômico.
Os efeitos deletérios sobre a economia brasileira provocados pela crise ainda estão longe de
serem superados. A retomada do crescimento depende de uma extensa agenda, começando pelo
79.001
60.359
114.640
82.977
63.763
75.852
53.017
-58.599-80.000
-60.000
-40.000
-20.000
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
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equilíbrio orçamentário e reformas tributárias, política, administrativa e previdenciária. Deve-se
criar um ambiente propício ao crescimento sustentável com a ampliação dos recursos para saúde e
educação, aumento de investimentos em infraestrutura – contribuindo para diminuir o “Custo
Brasil” – e o aumento da produtividade do capital e da mão de obra.
SITUAÇÃO FINANCEIRA E EXPECTATIVAS EM 2016
O equilíbrio fiscal é o processo chave a ser realizado pela União para que ocorra a
desaceleração dos níveis de preços e o aumento do crescimento econômico. No entanto, equacionar
a diminuição real de 6,3% das receitas federais ocorridas em 2015, com o aumento exagerado dos
gastos obrigatórios (previdência social, encargos da dívida) resultou em profundos cortes em
investimentos e programas sociais.
Em 2015, a União sinalizou o contingenciamento de despesas não obrigatórias em R$ 79,5
bilhões. O Ajuste Fiscal realizado pelo governo federal no ano anterior foi de R$ 42,88 bilhões,
sendo que R$ 16,73 bilhões são relativos a investimentos e R$ 26,16 bilhões em gastos diretos ao
atendimento da população, como em saúde, educação e assistência social.
Gráfico 3. Diminuição Real das Despesas da União – 2015
*PAC: Programa de Aceleração do Crescimento,
Fonte: STN – Elaboração: FECAM
-6,90%
-10,60%
-11,50%
-17,60%
-25,40%
-30,00% -25,00% -20,00% -15,00% -10,00% -5,00% 0,00%
Saúde
Des. Social
Despesas Discricionárias
Educação
PAC*
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Conforme gráfico 3, as despesas discricionárias acumularam queda real de 11,50%, entre
janeiro e dezembro de 2015, frente ao mesmo período do ano anterior. Destaca-se nessa variação a
queda real dos gastos em educação na ordem de 17%. Com relação aos investimentos, houve
diminuição real de 25,4% em gastos no Programa de Aceleração do Crescimento.
Nesse quadro crítico inserem-se os Municípios, que ao longo dos anos, após a promulgação
da Constituição Federal de 1988, assumiram centenas de programas e demandas no atendimento ao
cidadão, elevando de forma drástica e insustentável as despesas sem a devida obtenção dos recursos
financeiros. Além do aumento das despesas municipais, observa-se também a concentração dos
recursos tributários por parte da União na ordem de aproximadamente 62%, enquanto que, para os
Municípios, os recursos disponíveis da arrecadação tributária nacional são de apenas 17%.
De fato, a concentração é um dos principais motivos para o insuficiente nível de recursos
dos Municípios, agravada pela elevada dependência dos Municípios às transferências
constitucionais. Os dados divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), referentes ao ano
de 2014, mostram que 81,69% dos Municípios catarinenses possuem mais de 50% de suas receitas
orçamentárias decorrentes das transferências.
Desse modo, fica evidente a pressão que as transferências constitucionais exercem sobre as
finanças municipais e que qualquer variação no comportamento destas causam sério impacto local.
A tabela 1, apresenta a evolução real das transferências constitucionais entre os anos de 2013 e
2015.
Tabela 1. Evolução Real3 das Transferências Constitucionais dos Municípios Catarinenses
Ano 2013 2014 2015
Variação Perdas
FPM 1,59% 2,94% -4,45% 138.106.390,48
ICMS 4,49% 4,81% -9,73% 396.828.589,29
IPVA 1,34% 4,38% -2,30% 15.327.872,07
FUNDEB 11,21% 5,04% -8,01% 193.679.026,91
TOTAL 4,85% 4,25% -7,25% 743.941.878,75
Fonte: Portal das Transferências Constitucionais – Elaboração: FECAM
3 A evolução real considerou o Índice Nacional do Consumidor Amplo (IPCA) do exercício de 2015 (10,67%).
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Durante os últimos anos as transferências obtiveram crescimentos reais positivos em virtude
das condições econômicas favoráveis. No entanto, em 2015, o desempenho dos repasses sofreu
inversão drástica. As principais transferências4 apresentaram queda real de 7,25%, totalizando
perdas reais de R$ 743,9 milhões. Só em relação ao FPM, os Municípios catarinenses deixaram de
receber em termos reais, em 2015, mais de R$ 138,10 milhões. Já em relação ao ICMS,
compartilhado pelo Estado de Santa Catarina, foi o imposto que sofreu a maior diminuição entre as
transferências, com queda real de 9,73% e perdas reais de R$ 396,82 milhões.
O provável cenário econômico de 2016 deteriora ainda mais as finanças dos municípios. A
retração da produção e do consumo inibe a arrecadação em todos os níveis governamentais. Os
primeiros repasses do FPM neste ano já refletem a crise. Ao comparar o acumulado de janeiro de
2015 com o mesmo período do ano anterior, observa-se queda real de 21,16%.
Os dados apresentados são apenas parte da inconsistência do modelo federativo brasileiro,
que privilegia a concentração do poder e da arrecadação na União e Estados, especialmente para a
formação e regulação das políticas públicas. De forma geral, o equilíbrio na partilha tributária é
essencial para alavancar condições de investimentos necessárias para a promoção do crescimento
econômico.
REVISÃO SALARIAL ANUAL EM 2016
A profunda recessão enfrentada pela economia brasileira tem provocado efeitos cada vez
mais extensos na arrecadação dos tributos. Essa situação favorece consideravelmente a diminuição
no crescimento das receitas tributárias dos municípios. Nesse cenário, destaca-se também o
constante aumento das responsabilidades municipais para o atendimento das demandas da
sociedade.
Destarte, os municípios de Santa Catarina encontram-se em uma armadilha fiscal, e qualquer
acréscimo em suas despesas causa sério desequilíbrio orçamentário. Em 2016, a revisão salarial
anual torna-se o principal desafio para os gestores municipais, já que a correção monetária dos
4 Fundo de Participação dos Municípios (FPM); Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e
sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB)
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salários, dada uma inflação elevada, tende a acarretar dispêndio com pessoal acima do limite
estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
No gráfico 4, apresentamos a evolução da receita corrente líquida (RCL), gastos com pessoal
e nível de preços (IPCA). Entre 2007 e 2015, RCL obteve crescimento real constante, exceto em
2015, quando ocorreu uma drástica reversão no nível de crescimento desta receita. Nesse mesmo
período a evolução real dos gastos com pessoal seguiu a mesma trajetória, com reversão equivalente
também em 2015.
Gráfico 4. Evolução da RCL, IPCA e Gastos com Pessoal
Projeções 2016: IPCA de 7,56% estimado no Relatório Mercado Focus, disponibilizado pelo Banco Central.
Gastos com Pessoal definida com base na evolução do nível de preços do ano anterior de 11,36% (INPC).
Receita Corrente Líquida projetada com base no crescimento da arrecadação do ano anterior e com banda de ajuste de
2 pontos percentuais (2% - 4%).
Fonte: TCE/SC, STN e IBGE – Elaboração: FECAM
De fato, o crescimento dos gastos com pessoal até 2014 foi suprido nesse período com o
aumento considerável das receitas. No entanto, com a mudança da trajetória de crescimento da RCL
e o elevado aumento dos níveis de preços, a revisão geral anual dos servidores públicos de 2016
pode comprometer o equilíbrio orçamentário dos municípios catarinenses.
12%
20%
7%
14%
17%
11%
8%
15%
4% 4%
2%
8%
18%
14%
13%
16%
20%
10%
18%
5%
11% 11%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Otimista Pessimista
RCL Pessoal IPCAProjeções 2016
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O gráfico 5 apresenta os principais fatores que motivaram o aumento dos gastos com pessoal
nos Municípios catarinenses. A primeira condição implica que o acréscimo se refere à revisão anual
dos salários médios dos servidores. Entre 2007 e 2014, os salários médios obtiverem ganhos reais
consideráveis, exceto em 2012. No acumulado desse período, os salários foram ajustados em média
114,72%, contra uma inflação acumulada de 60,13%, diferença real favorável aos servidores de
54,59%.
Gráfico 5. Crescimento da Quantidade e Salários Médios dos Servidores Municipais de
Santa Catarina
Fonte: MTE – Elaboração: FECAM
A segunda situação que motivou o aumento das despesas desse grupo refere-se à quantidade
de servidores públicos. Essa influência é resultante da municipalização dos serviços públicos. Esse
fenômeno decorre da regulamentação do parágrafo único do art. 23, concomitante ao art. 241, da
Constituição Federal, que permite a definição das políticas públicas e encargos pelo governo federal,
com a consequente exigência de servidores públicos nas administrações municipais para executar
programas e convênios, os quais vêm se configurando num cenários de completa sobrecarga aos
5,69%
10,25%
13,40%
8,19%
15,42%
4,48%
13,60%
9,65%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Quantidade de Servidores Salários Médios IPCA
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Municípios, no que diz respeito à divisão de responsabilidades na prestação de serviços básicos à
população.
O descompasso entre a elevação das responsabilidades e a diminuição das receitas torna-se
fatore relevante para deteriorar o quadro vigente. O gráfico 6 compara a evolução real das despesas
e receitas orçamentárias dos municípios catarinenses. O fenômeno da municipalização é
evidenciado claramente para os períodos de 2005-2008 e 2013-2014. Nessas duas fases, o
crescimento das despesas municipais foram superiores ao da arrecadação. A gravidade da situação
se acentua no último período (2013-2014), onde o aumento das despesas foi de 6,17 pontos
percentuais (p.p.) acima do apresentado pelas receitas.
Gráfico 6: Evolução Real das Receitas e Despesas Orçamentárias
Fonte: STN e TCE-SC – Elaboração: FECAM
A municipalização dos serviços e programas Federais e Estaduais obrigou os Munícipios a
contratação de novos profissionais, o que resultou no aumento expressivo das despesas com pessoal.
Durante os últimos anos, os Municípios assumiram novas obrigações relativas à prestação de
serviços de saúde, educação, assistência social, habitação, entre outros, competências até então
inexistentes ou prestadas pela União ou Estados e que passaram a onerar os cofres municipais.
39,51%
27,95%
7,54%
35,91%
28,64%
1,37%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
2005-2008 2009-2012 2013-2014Despesas Receitas
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Em 2014, os Municípios de Santa Catarina tiveram ônus de mais de R$ 66 milhões no custeio
desses programas. De acordo com o gráfico 7, na área da educação, os Municípios assumiram em
torno de 51% do custeio para a manutenção do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
No Programa de Estratégia da Saúde da Família (ESF), as responsabilidades para o custeio são de
60% para os Municípios e 40% para os demais entes da Federação. No caso do Programa
Assistência Farmacêutica Básica, para sua manutenção, apenas 35% dos recursos são oriundos de
transferências e 65% são relativos a recursos próprios dos Municípios.
Gráfico 7: Custeio de Programas Federais - 2014
*Programa Agentes Comunitários da Saúde
Pesquisa amostral realizada nos municípios catarinenses.
Fonte: Portal de Transparência - Elaboração: FECAM
40%
60%
35%
65%
55%
45%
65%
35%
71%
29%
49%
51%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Transferências
Municípios
Transferências
Municípios
Transferências
Municípios
Transferências
Municípios
Transferências
Municípios
Transferências
Municípios
ES
F
Far
mác
ia
Bás
ica
Saú
de
Bu
cal
Sam
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S*
PN
AE
Saú
de
Ed
uca
ção
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O acréscimo nos custos de pessoal é contínuo para os Municípios em virtude do aumento
das demandas sociais e das novas responsabilidades assumidas anualmente. Fato novo dentro desse
cenário ocorreu expressamente em 2015. O aumento exacerbado no nível de inflação corroeu as
receitas municipais e aumentou custeio dos serviços públicos, em especial energia elétrica e
combustível, conforme gráfico 8.
Gráfico 8: Evolução dos Principais Custos dos Municípios
Fonte: STN e TC-SC – Elaboração: FECAM
De forma geral, as despesas de conservação e manutenção; combustível; energia elétrica;
artigos de limpeza e serviços laboratoriais e hospitalares obtiveram crescimentos vultosos em todos
os períodos analisados. Entre 2005 e 2012, a energia elétrica e combustível, considerando o IPCA,
obtiveram acréscimos acumulados de 49,10% e 32,7%, respectivamente. Além desses custos, fica
evidente também que a indexação monetária dos preços praticados nos contratos administrativos
firmados pelos municípios colabora para o aumento anual das despesas.
A desaceleração da atividade econômica freou o crescimento nominal da RCL para apenas
4,19% em 2015, entretanto, em termos reais, houve uma queda de 6,48%. Já em 2016, levando em
16,5%
-0,7%
5,8%2,8%
16,1%14,8%
10,3%
16,3%
8,6%
26,9%30,2%
49,1%
28,6%
32,7%
23,2%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Artigo de Limpeza Energia Elétrica Conservação e
Manutenção
Combustível Serviços Laboratoriais
e Hospitalar
2007-2009 2010-2012 2013-2015
Federação Catarinense de Municípios – FECAM
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consideração o cenário econômico recessivo, estima-se que a RCL apresente crescimento nominal
em torno de 2% e 4%. Caso o ajuste dos salários seja com base no nível de preços, em média de
11%, estima-se que o equilíbrio orçamentário dos Municípios fique comprometido, em especial o
limite de gastos com pessoal.
O gráfico 9 demonstra que a evolução com gastos de pessoal dos municípios catarinenses
obteve crescimento constante entre 2006 e 2015. Fatores que impulsionaram esse aumento foram a
municipalização das políticas públicas e a atualização real dos salários.
Gráfico 9. Média do Limite Constitucional de Gastos com Pessoal - SC
Fonte: TCE/SC e STN – Elaboração: FECAM
De forma geral, a média dos gastos com pessoal dos municípios sempre esteve dentro dos
limites estabelecidos na LRF. Entretanto, com a estimativa de crescimento da receita em nível
inferior ao da a atualização monetária dos salários, os gastos com pessoal em 2016 tendem a
ultrapassar o limite prudencial ao atingir 53,04% no cenário mais otimista. A estimativa realizada
para um cenário pessimista, com crescimento da RCL de 2% e revisão dos salários em 11,3%,
resulta em o dispêndio com pessoal acima da legalidade estabelecida na LRF, atingindo na média
dos municípios catarinenses 54,08%.
42,67% 42,48% 41,28%44,10% 44,26% 43,42%
47,66% 48,01% 48,57% 49,53%
53,04% 54,08%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 -
Otimista
2016 -
Pessimista
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Ao analisar as estimativas por municípios, identifica-se que as condições são ainda mais
críticas. O gráfico 10 apresenta a quantidade de municípios por faixas de limites de gastos com
pessoal estabelecidos na LRF. Em 2015, mesmo diante do quadro desfavorável na arrecadação e
em virtude do contingenciamento realizado em custeio e pessoal, 11,86% dos municípios já estavam
acima do limite de gastos com pessoal, e 25,08% atingiram o limite prudencial. Outros 63,05% dos
municípios ainda mantinham-se abaixo desses limites expressos na LRF.
Gráfico 10. Limite Constitucional de Gastos com Pessoal – Municípios Catarinenses
Fonte: Dados Primários dos Municípios Catarinenses – Elaboração: FECAM
Porém, as previsões para o ano de 2016, quer seja no cenário otimista ou pessimista, indicam
que aproximadamente 75% dos municípios não devem atingir o limite prudencial ou ultrapassar o
limite de gastos com pessoal fixado na LRF. No pior cenário, 55,25% dos municípios catarinenses
terão gastos de pessoal acima dos 54% da RCL, descumprindo assim a Lei de Responsabilidade
Fiscal, e outros 20,34% estarão na iminência de descumprir a lei, pois atingirão o limite prudencial.
Apenas 26,44% estarão dentro da legalidade.
11,86%
47,46%
55,25%
25,08%
20,34%18,31%
63,05%
32,20%
26,44%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
2015 2016 - Otimista 2016 - Pessimista
Descumprimento a LFR Limite Prudencial Cumprindo a LRF
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Dado o cenário apresentado, a Federação Catarinense de Municípios – FECAM, objetivando
contribuir para o equilíbrio orçamentário e financeiro dos Municípios, especialmente diante do atual
cenário de drástica queda das receitas públicas, alerta que a revisão salarial anual não deve colocar
em risco o equilíbrio fiscal e os limites determinados na LRF.
Por fim, se torna imprescindível que o gestor público estude e estime o impacto da revisão
salarial anual em seu respectivo orçamento e que, por meio dessa análise, determine um índice de
revisão compatível com a realidade das finanças municipais.