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ÉTICA E NEOLIBERALISMO: RAZÕES OPOSTAS
José Renato Polli⋅⋅⋅⋅
Resumo: Este artigo tem como objetivo contribuir para a discussão a respeito das relações
entre ética e pensamento neoliberal. Analisando o quadro histórico da economia brasileira
contemporânea e os efeitos da adoção do receituário neoliberal na elaboração de políticas
públicas no Brasil, na década de 90, este trabalho procura demonstrar uma oposição racional
entre os princípios fundamentais da ética clássica universalista e os da ética neoliberal do
mercado.
Palavras-chave: Ética, Neoliberalismo, Racionalidade.
Felizmente, os discursos neoliberais, cheios de modernidade, não têm força suficiente para acabar com as classes sociais e, muito menos, com os conflitos e lutas entre elas. (FREIRE, 1994, p. 93)
Uma crise, uma pseudo-solução
Os anos 80 foram considerados a década perdida na economia mundial, devido às
crises geradas no seio do capitalismo que afetaram, sobretudo, os países subdesenvolvidos.
Em resposta a essas crises, no Brasil, o pensamento neoliberal encontrou espaço no campo
político e influiu decisivamente na elaboração das diversas políticas públicas dos anos 90,
provocando efeitos nocivos para o desenvolvimento cultural e sócio-econômico. A adoção
exacerbada slogan do liberalismo, a não-interferência do Estado na economia (embora o faça
com toda força) e a transferência de suas responsabilidades para o setor privado, surpreendia
os decanos da “nova ordem”, como Milton Friedman1. Paradoxalmente, tais soluções partiam
⋅ Doutor em Educação – Filosofia da Educação (FEUSP). Professor do Centro Universitário Padre Anchieta e da Faculdade Padre Anchieta de Várzea Paulista. Diretor do Colégio Paulo Freire. 1 Milton Friedman (1912-2006), economista americano. Foi o grande inspirador das reformas neoliberais para a América Latina a partir dos anos 70. Integrante da Escola Monetarista de Chicago, que defendia uma radical defesa dos interesses privados, foi conselheiro de ditaduras e governos pós-ditatoriais que ajudaram a incentivar
do mesmo espectro ideológico e prático que criara essa realidade, assumido por uma social-
democracia de direita, outrora defensora de direitos sociais e econômicos. Embora com menor
intensidade, os efeitos do neoliberalismo ainda podem ser sentidos na sociedade mais ampla,
já que valores, crenças teóricas, sistemas de gestão empresarial e políticas públicas
localizadas ainda decorrem desta cosmovisão, uma metanarrativa, um grande discurso. 2
Os preceitos keynesianos3 e a política de bem estar social, presentes na Europa e nos
EUA do pós-guerra, foram sendo minados gradativamente a partir dos anos 70,
principalmente a partir da retomada que Milton Friedman empreendeu dos preceitos de F.
Hayek4, refundando o neoliberalismo, que logrou êxito nos anos 80, atingindo o Brasil nos
anos 90.
A fragilização das relações entre Estado e os horizontes da cidadania, um processo de
desregulamentação em que as tomadas de decisão passaram a se restringir ao nível dos
interesses privados, não necessitando mais da legitimação dos cidadãos, tornou-se fio
condutor da chamada flexibilização de normas econômicas e políticas. As corporações
transnacionais influenciavam de tal maneira as decisões governamentais em países em
desenvolvimento, que o mercado global acabava por se constituir em autoridade política. (cf.
Altvater, 1999, p. 119-120)
A diferença social entre os povos podia ser percebida na própria condição de renda e
seus desdobramentos. Quase 900 milhões de habitantes nos países ricos viviam, na metade da
década de 90, com uma renda per capita da ordem de U$ 20 mil anuais, ao passo que cerca de
3,5 bilhões de pessoas no terceiro mundo viviam com até U$ 350 anuais, cerca de U$ 30
mensais. 150 milhões de crianças passavam fome em todo o mundo. No início do terceiro
milênio, previa-se 180 milhões, sendo que, destas, 12 milhões morrerão antes de completar 5
meses. Outro dado alarmante é o que indicava a existência de cerca de 800 milhões de pessoas
o concentracionismo da riqueza e as disparidades sociais. Recebeu duras críticas de seus colegas americanos, como James Tobin, que preconizavam maior intervenção do Estado na economia. 2 O movimento filosófico da pós-modernidade, na baila das transformações engendradas no contexto das crises globais dos anos 80, insistia no fim das metanarrativas, ingenuamente dando sustentação ao avanço neoliberal, já que não haveria mais nada por fazer: a história chegara ao fim, a ética perdera sua força, a razão perecera. Já enfraquecido e desacreditado, este movimento praticamente se desintegrou. Seus antigos defensores revisaram suas teses iniciais e hoje negam a existência histórica de um tempo pós-moderno. 3 John Maynard Keynes (1883-1946) foi um economista britânico que preconizava uma intervenção estatal na economia. Em 1999 a revista Time o considerou uma das personalidades mais influentes do século XX. 4 Frederick August von Hayek (1899-1992), economista austríaco influenciador da escola monetarista de Chicago. Em 1944, publicou o best-seller O caminho da servidão (Road to Serfdom), a bíblia do pensamento neoliberal antisocialista.
analfabetas em todo mundo, com um crescimento anual deste percentual em cerca de 12
milhões. Dos 90 milhões de nascidos em todo o mundo naquela década, 60 milhões estavam
nas áreas miseráveis (DOWBOR, 1995).
A interdependência entre empresas de países desenvolvidos aumentava, como no caso
da Alemanha, em que 90% de todas as exportações eram realizadas com empresas de outros
países industrializados. A participação dos chamados “países emergentes” nas transações
comerciais, ficava restrita ao irrisório, cerca de 1,61%. A concorrência se deslocava para os
locais de produção, nos países centrais, onde eram investidos maiores recursos financeiros e
tecnológicos para a formação de mão-de-obra (cf. Paqué, 1996, p. 25-30).
Controlando a dinâmica produtiva e os destinos de nações inteiras, grandes
corporações davam o tom das políticas econômicas globais.
[...] as grandes empresas transnacionais, inicialmente concentradas no setor produtivo, hoje dominando igualmente os eixos dinâmicos dos serviços e das finanças. Cerca de quinhentas a seiscentas empresas controlam 25% da produção mundial, dominam as áreas tecnologicamente dinâmicas, e modelam o mundo segundo as exigências da competição (DOWBOR, 1995, p.9).
Os mais afetados pelas promessas não cumpridas pela social-democracia, que
incorporou o discurso neoliberal, foram os jovens trabalhadores, atingidos pela precarização
da relação salarial, perdidos no contexto do “novo espectro”, o fenômeno neoliberal. Um
neofacismo econômico se instalava, devido à perda da capacidade das democracias em
redistribuir riquezas. Um regime social e um sistema de relações sociais muito desiguais,
frente a uma democracia desarmada. Pensava-se em exorcizar esse espectro a partir da
continuidade da exploração de uns sobre outros, de países ricos em relação aos pobres, dos
grandes conglomerados industriais internacionais reduzindo as chances das nações
emergentes. Dessa forma, diz o pensador, o neoliberalismo arrogava-se formulador da solução
para exorcizar um problema que ele próprio constituiu. (cf. Santos, 2002, p. 3)
Entre as estratégias dessa solução estaria a desregulamentação dos mercados
financeiros, de produtos e do trabalho, como forma de acesso ao desenvolvimento econômico
e à ampliação de postos de trabalho. Permanecia um entendimento de que a economia
mundial encontrava-se estruturada nas relações entre centro e periferia. Paradoxalmente, um
mercado regulado pretendendo sua desregulamentação para se auto-regular. O capitalismo se
funda em processos constantes de crise, cuja ação estatal visa amenizar.
Além dos efeitos econômicos perversos, uma série de consequências puderam ser
sentidas naquele contexto e ainda hoje. Vários intelectuais brasileiros se debruçaram sobre a
tarefa de analisar profundamente o processo da globalização neoliberal.
Para Santos (2000)5, a globalização é, ao mesmo tempo, uma fábula, uma perversidade
e um horizonte de possibilidades. Trata-se de uma fabricação que gera confusão de espíritos,
ideologizados a partir de um discurso único sobre o próprio mundo, alicerçado nos interesses
do dinheiro, da economia. Uma fábula porque cria a sensação de uma “aldeia global”, como
se fundissem e desaparecessem as diferenças entre povos, regiões e pessoas, mais ou menos a
partir de uma idéia geral do fim dos Estados Nacionais e numa suposta uniformidade de
interesses. Na verdade, por trás dessa fábula, escondem-se os interesses das instituições que
regem a economia e as finanças mundiais, em detrimento dos interesses de cuidado com as
populações, que vão percebendo sua vida ficar mais difícil ao longo do tempo.
A perversidade sistêmica, diz o geógrafo, se materializa numa pobreza crescente, num
desmantelamento da vida material, num desemprego crônico, na fome e no desabrigo, na
baixa qualidade de vida. A construção desse processo ocorre, segundo o autor, pela unicidade
das técnicas em torno dos interesses financeiros e dos grandes conglomerados econômicos.
Grandes centros econômicos como Nova Iorque, Londres e Tóquio concentram a maior parte
do domínio da riqueza mundial. A globalização é, ao mesmo tempo, um período e uma crise
persistente com características duradouras. Essa crise se agiganta na medida em que as
tiranias do dinheiro e da informação contribuem para forjar uma permissividade e
aceitabilidade no comportamento dos agentes hegemônicos.
Tais tiranias legitimam o espectro ideológico neoliberal, forjando aquilo que está
intimamente ligado ao nosso interesse de discussão, um novo ethos, novas formas de relações
sociais interpessoais que definem o caráter das pessoas. A competitividade, o consumismo e
os totalitarismos são facilmente aceitos graças à confusão de espíritos que se instala. Essa
confusão se assenta na substituição da idéia da competição justa pela idéia de competitividade
perversa, porque a realidade atual elimina qualquer forma de compaixão e consideração para
com o outro. Os individualismos de toda ordem (na vida econômica, na vida política eleitoral,
nas regiões e cidades) intensificam essa idéia do outro como coisa. Desrespeitos são
5 Milton Santos (1926-2001) é, ao lado de Octávio Ianni (1926-2004), um autor brasileiro de renome internacional, que se dedicou a uma análise complexa sobre o fenômeno da globalização. Boa parte de suas ideias sobre a questão está expressa em Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal (2000).
legitimados pela entronização da lógica dos instrumentos, dos pragmatismos, em detrimento
da lógica das finalidades. Nesta mesma linha de raciocínio, Manfredo Oliveira nos lembra que
“a mídia mobilizou-se para que as falácias da teoria neoliberal sejam aceitas como
verdadeiras, usando seus mais variados recursos, que vão desde os austeros comentários dos
analistas econômicos até os scripts das novelas e programas humorísticos”. (OLIVEIRA,
1994)
Na contramão do discurso, dados recentes do CEPAL (Comissão Econômica para a
América Latina), órgão da ONU, indicam que cerca de 200 milhões de latino-americanos
vivem abaixo da linha da miséria. No Brasil, apesar dos esforços no combate à pobreza, ainda
temos cerca de 50 pessoas entre miseráveis e pobres vivendo em condições degradantes. O
Neoliberalismo na América Latina, fez com que os ricos se tornassem mais ricos e os pobres
mais pobres, expulsos do sistema e alijados em subclasses sem força de veto e de melhorar a
própria situação. A falta de alimentos é assumida pela FAO (Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação). Intelectuais europeus posicionam-se contra esta situação
desde os anos 90.
A distribuição de riqueza na América Latina é concentracionista, grande parte da população vive em absoluta miséria. Enquanto os ricos se tornam mais ricos, não somente os pobres se tornam mais pobres, mas também cada vez mais pobres são expulsos do sistema e lançados nas subclasses daqueles que não dispõem de força de veto, ou seja, daqueles que não conseguem mais melhorar a sua situação através dos próprios esforços (HABERMAS, 1993, p. 61).
A ética, a razão e a política como a busca do bem comum, são reinterpretadas para as
finalidades dessa razão sistêmica. Na medida da destruição da política como mecanismo de
mudança social, o discurso ético assume papel fundamental, como amortecedor de
consciências e moralização de práticas.
Em tais condições, instalam-se a competitividade, o salve-se-quem-puder, a volta do canibalismo, a supressão da solidariedade, acumulando dificuldades para um convívio social saudável e para o exercício da democracia. Enquanto esta é reduzida a uma democracia de mercado e amesquinhada como eleitoralismo, isto é, consumo de eleições, as “pesquisas” perfilam-se como um aferidor quantitativo da opinião, da qual acaba por ser uma das formadoras, levando tudo isso ao empobrecimento do debate de ideias e à própria morte da política. Na esfera da sociabilidade, levantam-se utilitarismos como regra de vida mediante a exacerbação do consumo, dos narcisismos, do imediatismo, do egoísmo, do abandono da solidariedade, com a implantação, galopante, de uma ética pragmática individualista. É dessa forma que a sociedade e os indivíduos aceitam dar adeus à generosidade, à solidariedade e à emoção com a entronização do reino do cálculo – a partir do cálculo econômico – e da competitividade (SANTOS, 2000, p. 54).
A globalização configura-se como uma dissolução da modernidade, uma crise e uma
decadência da economia capitalista. A ideologia da globalização teria um sentido real, que é a
realização da destruição da esperança do iluminismo em um mundo de paz, liberdade e justiça
como utopia possível. Dentre os resultados práticos dessa formulação econômica, está a
desvinculação entre a própria economia e as sociedades civis democráticas, destruídas
gradativamente, contribuindo para o desaparecimento do poder de regulação sócio-política da
economia e das desigualdades sociais. Caberia um esforço por compreender de maneira
responsável esse fenômeno (cf. Thielen, 1998, p. 263).
O neoliberalismo não é uma ciência, por duas razões: ele trabalha com pressupostos que contradizem a realidade, e ele é uma religião, na forma de idolatria, que celebra o culto permanente do sacrifício dos homens e da natureza, no altar do capitalismo. O neoliberalismo é uma pseudo-utopia, porque ele não inaugura uma nova forma de vida, porém totaliza e transfigura uma parte da falsa realidade existente – o mercado capitalista – como utopia aspirando totalitária e intolerantemente, perante outros esboços de sociedade, à plena realização da ilusão e da pseudo-utopia do mercado total. (THIELEN, 1998, p. 86)
Entre a ética neoliberal do mercado e a Ética da Solidariedade Universal há uma
distância racional que nem sempre é percebida. Desta forma, cabe-nos fazer lembrar as
diferenças fundamentais entre essas duas perspectivas, a partir dos principais referenciais
teóricos da ética contemporânea.
Ética como cuidado e responsabilidade solidária universal
Pensando as condições históricas objetivas em que vivemos hoje, após duas décadas
da instalação política do processo neoliberal no Brasil e analisando os valores hegemônicos
deste modelo, apontaremos uma flagrante transgressão de princípios éticos por ele
patrocinada.
A urgência em resgatar as reflexões em torno do conceito de ética impõe-nos uma
análise profunda deste conceito, um tanto quanto complexo. Por razões de ordem cultural e
etimológica, o termo vem sendo utilizado em sentido meramente pragmático, entendido como
a simples normatização da vida. Atribui-se à ética uma intencionalidade localizada, a partir de
terminologias como ética empresarial, ética nos negócios, etc.
Nos primórdios da filosofia ocidental, encontramos nos clássicos, especialmente na
Ética a Nicômaco6 de Aristóteles, os elementos fundantes de uma razão ética. Assim como a
política, um tratado sobre a ética, o pensamento ético tem como objetivo aprimorar valores
através de escolhas racionais, visando o bem comum. Qualquer mecanismo que abale o bem
comum está em oposição aos princípios éticos que sustentam uma sociedade democrática,
política e economicamente. A ética, portanto, caracteriza-se como uma forma de cuidado.
Sua legitimidade passa pelo debate político.
6 Uma das obras clássicas do pensamento ético, a Ética a Nicômaco constitui-se, segundo especialistas como anotações dos discípulos de Aristóteles sobre suas aulas. Nicômaco, segundo alguns, seria seu filho. Colocava a questão da felicidade como ponto central da compreensão sobre a política e a ética. Dizia que, na convivência entre pessoas no âmbito da polis, surgiu a necessidade de ajuda mútua com o objetivo de alcançar uma vida feliz. A polis, enquanto comunidade de agir livre e feliz reúne cidadãos por causa de sua liberdade. A comunidade política e os indivíduos, portanto, têm em comum a experiência do alcançar o bem do ser humano. Para o estagirita, é mais nobre e perfeito experimentar a liberdade na polis, liberdade que é entendida como pressuposto da ação. A lei e o direito concorrem para o horizonte ético e o indivíduo, através de um “acostumar-se”, buscaria condições para viver bem e livremente. A própria vida intelectual dependeria da condição de pertencimento do filósofo ao universo da vida na polis (cf. Aristóteles, 1999, p. 191-211).
a legitimidade ética de nosso agir está intimamente marcada pela sensibilidade política, ou seja, o ético só se legitima pelo político. Em que pese o desgaste que tal perspectiva vem sofrendo em decorrência do uso banalizado e cínico dessas categorias, é preciso insistir no compromisso ético/político do pesquisador (...) (SEVERINO, 2002).
O enfraquecimento do discurso político e da efetiva mobilização social transformadora
no contexto da globalização neoliberal é motivação para a entrada em cena do discurso ético,
utilizado para as finalidades das forças da dominação. Trata-se de uma demonstração cabal do
uso da ética como atividade deslocada da intenção emancipadora e transformadora,
instrumentalizada para as finalidades do mercado7, visto como o grande agente regulador das
desigualdades que ele próprio cria. No entanto, como vimos, as preocupações éticas
remontam os primórdios da filosofia, nem sempre direcionadas para intenções
intrumentalizadoras.
A reflexão ética que propomos, a partir de uma análise do contexto contemporâneo, se
referencia na tradição crítica da Teoria Crítica da Sociedade, criada pelos pensadores da
chamada Escola de Frankfurt, sobretudo a partir das contribuições do filósofo alemão Jürgen
Habermas8. Habermas é o inaugurador da segunda fase da Escola de Frankfurt, embora
concordando com as análises de seus mestres, colocou sob avaliação o seu idealismo, seu
pessimismo e a crença na impotência humana em resgatar o potencial crítico e transformador.
Em verdade, contesta a impossibilidade de construção de um projeto emancipatório, cerne da
crítica de Theodor Adorno (um dos mestres da Escola de Frankfurt) à Razão Instrumental -
uma força condicionadora capaz de neutralizar a ação dos sujeitos individuais e coletivos.
Habermas se opõe a essa ideia, propondo uma Razão Comunicativa, favorecedora do
entendimento e da elaboração de alternativas de ação para a mudança social, para a
7 No bojo dessas finalidades, fala-se de uma ética da r esponsabilidade social das empresas, um placebo ou uma perfumaria adotada para dourar a pílula do discurso neoliberal. Há estudos no campo das Ciências Sociais que colocam em dúvida a validade e a amplitude das ditar práticas de responsabilidade social. 8 Jürgen Habermas é natural de Düsserldorf, tendo nascido em 18 de junho de 1929. Estudou Filosofia, História, Literatura e Psicologia, chegando à sua condição de doutor em 1954. Apresentou como trabalho de livre docência o texto Mudança estrutural na esfera pública (1984), uma de suas obras fundamentais, em que analisa o conceito de esfera pública – um espaço livre de debate, existente nos primórdios da modernidade -, propondo o seu resgate. Entre 1956 e 1950 foi assistente de pesquisa no Instituto de Pesquisas Sociais e Frankfurt. Posteriormente, lecionou em Heildelberg e Frankfurt entre 1961 e 1971, quando se torna professor visitante da Universidade de Princeton. No início da década de 70, também se dedica a pesquisas junto ao Instituto Max Planch, em Stanberg. Nos anos 80, passou a destacar-se pela sua interlocução com os filósofos do movimento da pós-modernidade e, desde então, ganhou projeção internacional, tornando-se um dos maiores intelectuais contemporâneos.
emancipação.9 No bojo de sua Teoria do Agir Comunicativo, Habermas elabora com seu
colega Karl-Otto Apel, a Ética do Discurso, que sugere uma fundamentação racional-
intersubjetiva da escolha de valores, numa razão comunicativa entre sujeitos que cooperam na
busca da verdade. Supõe normas racionalmente validáveis. O método dessa perspectiva ética
é o da comunicação intersubjetiva, num sistema participativo que conduz aos consensos em
torno de normas e princípios para a ação. Visa a garantir a igualdade de condições entre os
sujeitos (discurso autêntico), não apenas em nível da comunicação, mas na própria condição
de vida. Os dissensos e dificuldades da comunicação, segundo Habermas, podem ser
resolvidos através de processos democráticos de comunicação.
A ética é uma ciência da razão prática, que, fundamentando-se numa razão
comunicativa, exprime normas e fins para o agir. Transformando a ética kantiana10 e
propondo uma ética vista como reconstrução processual, Habermas vê no agir comunicativo,
o abandono de uma razão monológica, substituída por sujeitos que pensam e agem
comunicativamente visando o bem para o ser humano, com vistas à formulação de consensos,
que fluem da compreensão mútua entre os sujeitos da comunicação. As noções individualistas
são superadas na medida em que o individualismo torna-se incompatível com a Teoria da
Ação Comunicativa, porque para ela o homem é um ser plural. (cf. Rouanet, 1993, p. 229)
Desse fundamento, Habermas acredita poder emergir a emancipação e a ampliação dos
horizontes da participação cidadã. Enquanto uma ética universalista, a Ética do Discurso tem
como princípio a reciprocidade generalizada, o reino dos fins é pensado a partir de uma
regulação em uma comunidade de comunicação, onde a compreensão intersubjetiva se
relaciona à ideia dos direitos e deveres dos sujeitos. (cf. Borges, Dall’Agnol e Dutra, 2003, p.
96) Não só os saberes e normas são admitidos no processo comunicativo e no debate ético,
mas também os interesses afetivos e a autonomia, percebidos como elementos generalizáveis
no contexto intersubjetivo (cf. Rouanet, 1993, p. 229).
A ética da solidariedade universal que emana dos postulados habermasianos reaviva o
sentido do direito à realização pessoal e coletiva, bem ao modo do projeto iluminista, 9 Gelson João Tesser esclarece que emancipação “é um tipo especial de auto-experiência, porque, nela, os processos de auto-entendimento se entrecruzam com um ganho de autonomia. Nela se ligam idéias “éticas” e “morais”. Se for verdade que, nas questões éticas, nós procuramos obter clareza sobre quem somos nós e quem nós gostaríamos de ser, e que, nas questões morais, nós gostaríamos de saber o que é igualmente bom para todos, então é possível afirmar que, na conscientização emancipatória, as ideias morais estão conectadas a uma nova autocompreensão ética. Nós descobrimos quem não somos porque aprendemos, ao mesmo tempo, a nos ver numa relação com os outros sujeitos” (cf. Tesser, 2001, p. 3). 10 Immanuel Kant (1724-1804) é um filósofo prussiano iluminista, grande referência para as éticas universalistas contemporâneas, que supõem a definição racional de valores universais para orientar a conduta humana.
reforçando as intenções de formular democraticamente “juízos éticos e políticos a partir de
princípios universais de justiça” (ROUANET, 1993, p. 16). Juízos estes afetados pelos valores
neoliberais, que invertem as perspectivas universalistas, voltando-se para o particularismo,
mesmo que discursando em favor da regulação social para todos.
Em vista dos dilemas consequentes do modelo neoliberal, existe a necessidade de
recolocar o debate ético através dos processos de educação formal. Em que medida o
neoliberalismo permite esse debate e ações que viabilizem uma reflexão sobre a possibilidade
de uma ética universalista? O diálogo está contaminado por impurezas - ideologias e
interesses - que afetam o consenso. No entanto, apesar dos conflitos e contradições que nos
interpõe a história, pode-se investir numa argumentação intersubjetiva tolerante, como
dispositivo que contribui para a construção de uma esfera pública livre11, palco do efetivo
debate.
O caminho para a superação dos dilemas do modelo neoliberal não será construído
com base num discurso que se reproduza no nível da consciência, nem a partir dos
paradigmas tradicionais, binários, mas a partir de um processo dialético-dialógico.
Por essa razão, Habermas, “ao analisar as transformações ocorridas nas duas últimas
décadas no campo social, político e econômico, lança duras críticas diante do poder de
superposição da economia de mercado, neoliberal, sobre o “destino” das sociedades
contemporâneas. Os mecanismos poderosos de dominação social levam à destruição do tecido
da sociedade organicamente estruturada a partir de práticas comunicativas, solidárias e
emancipatórias da vida humana que constituem o mundo da vida” 12. (cf. Zitkoski, 2003, p.
16) As opções econômicas ao modelo neoliberal podem ser engendradas na medida em que se
reinstituam sistemas de autogestão e autosustenção no plano da política social, para que a
11 O conceito de esfera pública em Habermas significa a possibilidade de ampliação da participação política de todos os cidadãos na sociedade, ampliando-se também os espaços públicos que levam ao debate democrático. Trata-se de superar o controle do Estado sobre a vida política. Habermas indica em sua obra Mudança estrutural da esfera pública, que houve uma decadência da esfera pública burguesa do início da modernidade, devido ao desenvolvimento do Estado, que ocupou deliberadamente o espaço da política, diminuindo o poder crítico da esfera pública burguesa. A esfera pública burguesa, em suas origens, consistiria na reunião de indivíduos privados que debatem a ação do Estado sem a sua coação. 12 O conceito de “mundo da vida”, desenvolvido por Habermas, tem o significado de um mundo intersubjetivo, as relações que diversos sujeitos desenvolvem entre si, levando em consideração a sua cultura, sua linguagem, suas formas de comunicação, o mundo objetivo, o mundo subjetivo e o mundo social. São seus componentes as diferentes culturas, ordenações e estruturas de personalidade, bases para a coordenação da ação e a socialização (cf. Tesser, 2001, p. 146).
mudança econômica esteja atrelada ao interesse maior da emancipação, numa rede de
solidariedade que parta dos “de baixo”. A superação da pobreza política é um desafio maior
que o da pobreza material e tem provocado a emergência de pressões contra as injustiças
crescentes no modelo neoliberal, “porque a contradição também nunca foi tão flagrante: o
centro nunca foi tão rico e também nunca foi tão injusto” (DEMO, 2000, p. 265). Essa
distorção, segundo Habermas, será corrigida na medida em que estejamos mais atentos aos
princípios democráticos que aos ditames do mercado.
Os planos da experiência social são múltiplos e variados, não se restringindo
propriamente às estratagemas dos modelos econômicos hegemônicos. O resgate das
experiências cotidianas é salutar para o entendimento de como os valores são construídos
pelos sujeitos no âmbito de suas relações com a vida material e do trabalho. Fazer emergir
experiências históricas cotidianas, no plano das relações de exploração capitalista, para delas
extrair oportunidades para a construção/reconstrução do ideal emancipatório.
Se vingam a competitividade, o individualismo, a falta de solidariedade, as
dificuldades para o convívio e a implantação de uma sociedade democrática e se os
consumismos, os pragmatismos, os narcisismos os imediatismos, tomam o lugar da ética,
suprimindo a generosidade e realçando a competitividade a partir do modelo econômico, há
que se repensar o sentido de uma ética solidária universal.
O capitalismo, mesmo lançando mão das chamadas políticas compensatórias, como
já advertiu Habermas, não dará conta de suprimir o peso das formas negativas de
desenvolvimento nos países periféricos, vislumbradas nos altos índices de desemprego e na
luta pelo trabalho. Apesar da redução da pobreza e do desemprego, verificados nos últimos
anos em países latinoamericanos, a supressão da participação cidadã nos destinos políticos da
sociedade ainda se configura como grande problema.
O debate ético, redimensionado em função dos próprios interesses do mercado, que se
desdobra em esforços para se autolegitimar, fica restrito ao plano dos interesses privados. Nos
anos 90 que os sistemas de reengenharia e qualidade total, as certificações ambientais, os
mecanismos tecnológicos modernos, as ideias de eficácia e eficiência, sufocaram os espaços
de reflexão. Paradoxalmente, os decanos do meio empresarial indicam a necessidade de
fundar uma comunidade baseada no compromisso e na compaixão. O debate ético, também
está sujeito, por conta dessas posições a se redimensionar em função dos próprios interesses
do mercado, que se desdobra em esforços para se autolegitimar:
Com reengenharia, qualidade total, ISSO-9000, robótica, benchmarking, e tantas outras palavras mágicas que prometem eficiência e eficácia, o capitalismo lean and mean, impelido pelas próprias regras de eficiência, deixa pouco espaço para refletir sobre valores. E é curioso ver o papa da ação empresarial norte-americana, Peter Druker, em pleno colapso do comunismo, escrever um livro intitulado “A sociedade pós-capitalista”, buscando a construção de uma comunidade “baseada no compromisso e na compaixão” (DOWBOR, 1995, p. 9).
A aceitação passiva desse quadro não condiz com uma perspectiva histórico-dialética,
que leva em conta a possibilidade da transformação e da emancipação social. O fatalismo e o
convencimento de que não há outros meios para encaminhar a vida paralisam as utopias
emancipatórias.
A crise faz com que os ainda incluídos no sistema, e os que exercem poder de decisão
na esfera política, sejam indiferentes diante da parcela de pessoas totalmente excluídas, a
exemplos dos desempregados, mendigos, marginais que vivem em guetos de miseráveis, entre
outros grupos sociais.
O cinismo do discurso econômico suprime preocupações de caráter ético. As
limitações e supostas realidades fátuas, neoliberais, a ética perversa das leis do mercado, não
conseguem suprimir a crescente consciência da necessidade do sentido da esperança.
O preço a ser pago pela introdução da economia de mercado inclui: desigualdade social, novas divisões, e uma porcentagem elevada, não passageira, de desempregados. Haverá um número relativamente elevado de desempregados nos novos Estados da Alemanha porque uma parte da população é idosa e a outra mal preparada para suportar a considerável pressão de mudança: para isso é necessária robustez de espírito e preparo cognitivo. Como sempre acontece nos casos de uma transformação social alterada, as crises são descarregadas sobre a vida, a saúde física e psíquica dos indivíduos mais fortemente atingidos (HABERMAS, 1993, p. 60).
Nesse emaranhado de situações derivadas de uma expansão dos interesses do capital,
colocam-se como fundamentais os debates em torno do significado das ações meramente
estratégicas das políticas econômicas mundiais e seu caráter evidentemente antiético. No dizer
de Karl-Otto Apel.
A total ambivalência de toda apelação pública por responsabilidade política, é, por exemplo, repentinamente iluminada pela recomendação de um prêmio Nobel de Economia, de que, em função da recomposição do equilíbrio da biosfera humana, em vista da superpopulação da terra, dever-se-ia deixar morrer de fome os habitantes do Terceiro Mundo que não podem se ajudar a si próprios (APEL, 1994, p. 216).
Antonio Joaquim Severino lembra que “não pode ser considerada moralmente válida
nenhuma ação que degrade o homem em suas relações com a natureza, reforce sua opressão
pelas relações sociais ou consolide a alienação subjetiva.” (SEVERINO 2002, p. 95) É
imperativo, como queria Paulo Freire, que a “ética do mercado”, seja vista como uma das
afrontosas transgressões da Ética Universal do Ser Humano, perversidade sistêmica que
parece limitar o poder dos esforços em torná-la menos malvada. Uma nova ética está em
gestação, calcada na racionalidade comunicativa, que se funda em uma idéia de inclusão
global de pessoas, que se estrutura ao redor dos valores fundamentais ligados à vida, ao seu
cuidado, ao trabalho, às relações cooperativas e à cultura da não violência e da paz.
Por meio da educação, pode ser detectada a necessidade de encontrar uma nova base
de mudança, que deveria se apoiar em algo que fosse global e comum, de fácil compreensão e
viável, uma base ética, de uma ética mínima para que se abram possibilidades de solução para
os problemas que hoje vivenciamos, uma revolução ética mundial, em que se possa fazer um
pacto ético fundado não apenas na razão, mas na sensibilidade humanitária e numa
inteligência emocional expressas pelo cuidado, pela responsabilidade social e ecológica, pela
solidariedade generacional e pela compaixão, atitudes capazes de comover as pessoas e de
movê-las para uma prática histórico-social libertadora. (cf. Boff, 2000, p. 19) Trata-se da
capacidade mencionada por Paulo Freire em eticizar o mundo:
Na medida em que nos tornamos capazes de transformar o mundo, de dar nome às coisas, de perceber, de inteligir, de decidir, de escolher, de valorar, de, finalmente eticizar o mundo, o nosso mover-nos nele e na história vem envolvendo necessariamente sonhos cuja realização nos debatemos. (FREIRE, 2000, p. 33)
A ética é própria dos humanos: “não se pode falar de ética entre os tigres”. (FREIRE,
2000, p. 112) A globalização econômica neoliberal é um empecilho demasiado forte para a
realização de um projeto emancipatório centrado na humanização. Por essa razão, consolidar
uma ética da solidariedade universal é investir numa prática pedagógica dialógica, que
permite discutir valores e normas de convivência, para, quem sabe, atingirmos um patamar de
conviviabilidade sustentável.
Referências
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O regime de acumulação sob dominância financeira
Dr. Cristiano Monteiro da Silva13
Resumo
As últimas décadas evidenciaram um processo de acumulação capitalista comandado
principalmente por instituições financeiras, o qual trouxe uma ampliação da apropriação de
renda na forma de juros. No contexto, surgiu a tese da Acumulação Financeira, que vem
sendo muito apropriada por diversos meios acadêmicos. O seu conteúdo expõe uma análise
crítica das relações sociais de produção vistas nas últimas décadas, em termos mais
específicos, as determinações do Capital Portador de Juros sobre o processo da construção da
riqueza.
Palavras-chaves: Capital Portador de Juros; Mundialização Financeira; Acumulação
Financeira.
1. A Tese da Acumulação Financeira
Este texto tem como único objetivo apresentar uma leitura sobre a construção da tese
da Acumulação Financeira, a partir das elaborações de seus principais expoentes, publicados
no Brasil. Este objetivo se justifica porque tal tese vem sendo muito apropriada por
pesquisadores, em diversos centros acadêmicos, em nível mundial, portanto, a difusão de suas
premissas pode contribuir para introduzir tal conhecimento para aqueles ainda leigos, e talvez
ampliar a capacidade crítica tendo em vista futuras novas elaborações.
A tese da Acumulação Financeira é resultado de uma extensa pesquisa preocupada
com a problemática das questões essenciais do capitalismo contemporâneo. O seu principal
expoente é Chesnais (2005, 1998, 1996), mas conta ainda com a participação de outros
importantes autores, para citar alguns exemplos: Gérald Duménil, Dominique Lévy, Michel
Husson (MARQUES & NAKATANI, 2008).
Os estudos de Chesnais (2005, 1998, 1996) sobre as questões essenciais do
capitalismo contemporâneo e a resultante tese da Acumulação Financeira estendem-se por
13 Coordenador do curso de Ciências Econômicas do UNIANCHIETA.
mais de uma década e expressa distintas fases de pesquisa, perceptíveis quando se analisa os
textos desse autor, publicados no Brasil.
No livro A mundialização do capital, publicado no Brasil em 1996, a questão central
passa pelo capital produtivo, e sobre as funções que este assume para fazer frente às
exigências do capital portador de juros14. Alguns anos depois, no livro A mundialização
financeira: gênese, custos e riscos, publicado no Brasil, em 1998, o autor avança e apresenta
uma nova formulação, na qual as tendências do capitalismo contemporâneo são comandadas
pela economia política de um capital financeiro cada vez mais concentrado. E, somente no
livro A finança mundializada, lançado no Brasil em 2005, através de seu artigo O capital
portador de juros: acumulação, internacionalização, efeitos econômicos e políticos, vê-se a
conclusão sobre a hegemonia do capital portador de juros e o regime de acumulação
financeira (MARQUES & NAKATANI, 2008).
Para CHESNAIS (2005), nas últimas décadas do século XX, a forma de organização
capitalista mais identificável continua sendo a das grandes empresas, conhecidas como
transnacionais, que seguem exercendo o papel organizativo da produção de mercadorias, em
vários cantos do mundo. Contudo, de seu ponto de vista, fato mais recente e muito importante
é o crescimento da participação das instituições financeiras não-bancárias (Fundos de Pensão,
Fundos de Investimentos), isto é, do capital portador de juros no processo da acumulação
capitalista, também em nível mundial. “O mundo contemporâneo apresenta uma configuração
específica do capitalismo, na qual o capital portador de juros está localizado no centro das
relações econômicas e sociais” (CHESNAIS, 2005, p.35).
CHESNAIS (2005) e os defensores da tese da Acumulação Financeira explicam que
no período do pós-guerra o controle desse excedente de capital forjou a hegemonia do capital
portador de juros.
Até a grande depressão de 1929, a Finança assumia um papel hegemônico. Houve uma
interpenetração do capital bancário com o capital industrial, sustentada principalmente na
14 Marx (1988), através de seus estudos do modo de produção capitalista concluiu que o capital, visto como uma relação social, podia se manifestar sob as seguintes formas: o capital produtivo ou capital industrial, investido na compra de meios de produção e força de trabalho, o capital comercial, destinado a circulação de mercadorias, e o capital monetário ou capital portador de juros. O capital portador de juros é uma das formas assumidas pelo dinheiro. O dinheiro adquire a função de mercadoria-capital. “Dinheiro – considerado aqui como expressão autônoma de uma soma de valor, exista ela de fato em dinheiro ou em mercadorias – pode na base da produção capitalista ser transformado em capital e, em virtude dessa transformação, passar de um valor dado para um valor que se valoriza a si mesmo, que se multiplica. Produz lucro, isto é, capacita o capitalista a extrair dos trabalhadores determinado quantum de trabalho não-pago, mais-produto e mais-valia, e apropriar-se dele. Assim adquire, além do valor de uso que possui como dinheiro, um valor de uso adicional, a saber, o de funcionar como capital”. (MARX, 1988, p.241)
inovação tecnológica baseada na mecânica. Esse processo atingia todos os aspectos de
funcionamento das empresas. A mecanização permitia aumentar a produtividade do trabalho.
O capital investido nas técnicas permitia um ganho superior ao da fábrica tradicional. A
primeira hegemonia se esgotou com a crise de 1929.
No pós-guerra a Finança perdeu sua hegemonia, surgiu como alternativa o
compromisso Keynesiano. O controle da atuação nacional e internacional do capital portador
de juros deu-se por meio do Sistema de Bretton Woods, o reconhecimento parcial do direito
do trabalho, e o “Estado de Bem Estar Social”, que expressou uma forma mais centralizada e
reguladora dos fluxos de capitais. Entretanto, as políticas de regulação não conseguiram
conter a crise estrutural do capitalismo vista a partir da década de 70. O retorno da hegemonia
do capital portador de juros deu-se com as mudanças institucionais, no Reino Unido, um dos
centros do capital portador de juros (DUMÉNIL & LÉVY, 2003).
Em 1958, enquanto o controle do câmbio atingia seu ponto máximo, permitiu-se a
criação de um mercado interbancário de capitais líquidos em dólares, definido como mercado
de eurodólares. Muito antes da crise do petróleo, as empresas multinacionais norte-
americanas começaram a depositar seus excedentes nesse mercado. Para (CHESNAIS, 2005),
essa foi a primeira base de operações internacionais do capital portador de juros.
A etapa seguinte foi marcada pela reciclagem dos petrodólares. Essa reciclagem deu-
se com o aumento de abertura de linhas de crédito dos bancos a governos dos países menos
desenvolvidos.
Em 1979, o Banco Central dos Estados Unidos aumentou as taxas de juros.
Estabeleceu-se assim o que se pode considerar como uma ditadura dos credores
(CHESNAIS, 2005). Os países da periferia, antes incentivados a adquirir os empréstimos,
agora endividados, entraram em crise devido às novas condições de pagamentos.
A multiplicação por três e mesmo por quatro das taxas de juros, pelas quais as somas emprestadas deviam ser reembolsadas, precipitou a crise da dívida do Terceiro Mundo, cujo primeiro episódio foi a crise mexicana de 1982 (CHESNAIS, 2005, p.40).
A primeira etapa do período que marca a hegemonia do capital portador de juros
inicia-se em fins da década de 70, quando houve a reversão de políticas financeiras
centralizadas para as mais descentralizadas. A elevação da taxa de juros pelo Banco Central
americano, em 1979, e a sustentação desta diretriz nos primórdios da década seguinte, foram a
primeira expressão da centralização financeira em favor dos países centrais. A esse respeito,
Chesnais (2003, p.48) esclarece que,
A primeira fase do “poder da finança” foi a “ditadura dos credores” que, como toda ditadura, foi fruto de uma forma de golpe de Estado, decorrente do aumento da taxa de juros reais sobre o bônus do Tesouro dos Estados Unidos, que passou, em alguns meses, de 2-3% a 10-12% no início dos anos 1980.
O retorno da hegemonia do capital portador de juros deu-se sob bases diferentes
daquelas predominantes em fins do século XIX, que perdurou até a crise de 1929. Nas últimas
décadas do século XX, no contexto de uma correlação de forças marcadas por derrotas da
classe trabalhadora, houve a internacionalização capitalista, a adoção do neoliberalismo em
vários países e passaram a predominar novas interpenetrações entre a finança e a indústria
(MARQUES, 2009).
A partir da década de 80, sob o comando dos Estados Unidos e da Inglaterra, ocorreu a
liberação do movimento dos capitais e a desregulamentação dos sistemas financeiros, em
nível mundial. Para CHESNAIS (2005), isso possibilitou ao capital portador de juros ampliar
ainda mais seu poder social e uma forte atuação sobre mercados especializados, recém
criados, voltados à valorização financeira.
A acumulação financeira passou a predominar em relação a outras formas de
valorização capitalista. As instituições financeiras fazem uso da função especulativa e
preferem os ativos com liquidez mais imediata, consolidando um regime de acumulação com
dominância financeira. A Acumulação financeira é conceituada por Chesnais (2005, p.37)
como sendo a:
centralização em instituições especializadas de lucros industriais não reinvestidos e de rendas não consumidas, que têm por encargo valorizá-los sob a forma de aplicações em ativos financeiros – divisas, obrigações e ações – mantendo-os fora da produção de bens e serviços.
2. A externalidade a produção
O capital portador de juros, ou seja, as instituições financeiras, sobretudo as não-
bancárias, conforme mencionado, constitui um capital de tipo específico, cujo traço
fundamental é o de manter um nível elevado de externalidade a produção. Na concepção de
Chesnais (2005, p. 35),
Esse capital busca fazer dinheiro sem sair da esfera financeira, sob a forma de juros de empréstimos, de dividendos e outros pagamentos recebidos, a título de posse de ações, e enfim, de lucros nascidos de especulação bem sucedida. Ele tem como terreno de ação os mercados financeiros integrados entre si no plano doméstico e interconectados internacionalmente. Suas operações repousam também sobre as cadeias complexas de créditos e de dívidas, especialmente entre bancos.
Nas últimas décadas, especialmente nos países centrais, o baixo nível de crescimento
do produto e a taxa de investimento podem ser explicados pelo domínio do capital portador de
juros sobre o regime de acumulação capitalista. Nota-se, portanto, que são consequências de
um regime de acumulação regulado pelas finanças, que por sua vez determina uma nova
interpenetração do capital monetário com o capital industrial, mais concentrada na
valorização financeira. Nesse cenário, Chesnais (2003, p.50) faz o seguinte comentário:
A pressão “impessoal” exercida pelos mercados financeiros sobre os grupos industriais, através do nível comparado da taxa de juros sobre os títulos da dívida e sobre o nível de lucros industriais, deu lugar a formas novas, bastante impositivas, de interpenetração entre “finança” e “indústria”. A entrada de fundos de pensão e de investimentos financeiros no capital de grupos conduziu a mudanças importantes nas formas de relação e nas modalidades de entrelaçamento entre a finança e a grande indústria, cujas conseqüências para os assalariados estão ainda longe de terem terminado.
A natureza do capital portador de juros determina um distanciamento maior entre a
gestão e o capital produtivo funcional. Ocorre uma externalidade da produção, percebida pela
queda na formação bruta de capital fixo, vista em diversas economias. O grande volume de
capitais é aportado em ativos financeiros.
A tese aqui defendida sustenta que os detentores das ações e de volumes importantes de títulos da dívida pública devem ser definidos como proprietários situados em posição de exterioridade à produção, e não como credores (CHESNAIS, 2005, p. 48).
Passa a prevalecer o domínio relativo da finança sobre o regime de acumulação. Isso é
demonstrado pela crescente participação dessa fração sobre a mais-valia social, mas também
pelo fato das relações de propriedade sob o comando do capital portador de juros gerar no
âmbito das empresas uma nova lógica, totalmente de curto prazo, que não apoia certos tempos
de maturação dos projetos, de forma que os grupos industriais e comerciais passam a ser
regulados pela cotação de suas ações na bolsa.
A ideia de externalidade a produção possui muita importância para se compreender a
tese da acumulação financeira. Chesnais (2005) inclusive destaca que a dimensão dessa
externalidade é particular dessa etapa, e deve ser analisada teoricamente. Sendo assim,
Chesnais (2005, p.53) argumenta que,
A teoria da interpenetração entre capital industrial e capital de empréstimo tem efeitos políticos importantes em termos de concentração de poder, no plano nacional e internacional. O interesse dos marxistas por esses aspectos, que são um dos pilares da teoria do imperialismo, levou-os a deixar de lado uma questão cuja implicação é considerável. Trata-se da questão da distância da finança em relação às atividades de produção de investimento no sentido amplo (tecnologia incluída), do olhar fortemente externo que ela põe sobre aquilo que constitui o cerne da atividade produtiva.
Analisando a teoria de Chesnais (2005), deduz-se que para este autor o processo de
centralização de capitais, seja no Brasil ou em qualquer outro país, explica-se pelo papel
dominante das instituições financeiras não-bancárias, das finanças, para fazer uso do termo
empregado pelo autor, sobre o regime de acumulação, que procura manter certa externalidade
ao mundo da produção, tendo opção estratégica por outros meios de lucros, sobretudo os que
compõem os mercados financeiros.
A esse respeito, conforme Chesnais (2005, p.54),
A restauração do poder da finança teve dois resultados cujas conseqüências para a reprodução do capital no longo prazo não podem ainda ser apreciadas, mas devem ser postas em evidência. A primeira é a força formidável da centralização do capital, compreendida como processo nacional e internacional (especialmente transatlântico) que resulta das fusões e aquisições (F&A) orquestradas pelos investidores financeiros e seus conselhos. A segunda diz respeito a maneira pela qual a finança conseguiu alojar a “exterioridade da produção” no próprio cerne dos grupos industriais.
A economia política que se vê em favor da internacionalização do Capital Portador de
Juros trouxe a varias sociedades formas de acumulação capitalista pautadas em operações
financeiras.
Enfim, trata-se de um conhecimento teórico cuja justificativa social é muito grande,
porém, ainda não devidamente apropriada. Mas os limites deste texto remete-nos a conclusão.
Conclusão
Entende-se que o debate a respeito das determinações do Capital Portador de Juros no
processo da economia mundial ainda é incipiente. Há um campo vasto para outras reflexões.
Os limites deste texto foram evidenciados na parte inicial. O objetivo central foi apresentar a
apropriação dos principais expoentes da tese da acumulação financeira. Contudo, a partir das
leituras aqui apresentadas convém destacar duas questões que, de nosso ponto de vista, são
importantes problemas de pesquisa.
Resta conhecer mais precisamente as condições sistêmicas que determinaram tamanho
excedente de capital, visto por Chesnais (2005) como a base para a hegemonia do Capital
Portador de Juros e a Mundialização Financeira. Sem dúvida, houve um processo histórico
que permitiu a extração de excedente da periferia do sistema. Então quais foram os impactos
deste processo nas condições estruturais das economias localizadas na periferia do sistema?
E, enfim, sobre o tema da externalidade da produção, a primeira vista, parece-nos uma
forma que não se apropria devidamente das contradições do desenvolvimento produtivo
capitalista, isto é, das mudanças organizativas que levam a concentração econômica, e seus
reflexos na sociedade. De imediato, a crença é que tal movimento impõe relações de
dependência para o capitalismo periférico, mas, também ao grande capital financeiro.
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RENTISMO, DOENÇA HOLANDESA OU DESENVOLVIMENTO BRASI LEIRO?
AS POSSIBILIDADES A PARTIR DA RENDA PETROLEIRA DO P RÉ-SAL
Paulo Daniel e Silva 15
Carlos Eduardo Colangelo 16
RESUMO
Este artigo apresenta uma abordagem sintética sobre o significado do rentismo, da doença holandesa, particularmente na Venezuela, país petroleiro, desenvolvendo um paralelo com a economia brasileira. Neste sentido, faz-se uma breve análise das medidas adotadas, até então, pelo governo brasileiro, para combater o rentismo, a doença holandesa e promover o desenvolvimento econômico e social.
Palavras-chave: Petróleo, Venezuela, Brasil, desenvolvimento.
Rentismo e Doença Holandesa – O Modelo Venezuelano
Nos anos setenta, a economia venezuelana, como a de muitos países exportadores de
petróleo, recebeu uma quantidade significativa de moeda estrangeira, por conta
essencialmente do choque no preço do petróleo. Houve um aumento do produto nacional,
entretanto, não impulsionou o desenvolvimento de outros setores produtivos da economia do
país.
Duas teorias distintas são predominantemente usadas para analisar os problemas
econômicos enfrentados pela Venezuela, devido à bonança petroleira: a teoria da “doença
holandesa” e a teoria do “capitalismo rentístico”.
Na década de 1970, o país optou por deixar de lado o isolacionismo regional e passou
a empreender ações regionais destinadas a criar laços com países cujo consumo de petróleo
desejava prover. Com a valorização do preço do petróleo pela Opep, da qual a Venezuela era
membro destacado e atuante, o país conseguiu aprofundar seu desenvolvimento econômico e
atuação internacional. O apogeu dessa fase deu-se com a primeira administração Carlos
15 Economista, Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Professor do departamento de administração e economia da Unianchieta. Este artigo foi desenvolvido como conclusão do projeto de Iniciação Científica, promovido pelo Centro de Pós Graduação, Extensão e Pesquisa da Unianchieta. 16Graduando em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário Unianchieta e aluno de Iniciação Científica.
Andrés Pérez, de 1974 a 1979, quando os setores de petróleo, aço e cobre foram
nacionalizados. A Venezuela passou a atuar ativamente na política internacional: no plano
mundial, por meio dos Movimentos dos países Não-Alinhados, e no plano regional, com a
criação do Sistema Econômico Latino-Americano (Sela, sediado em Caracas) e procurando
ocupar o papel de potência regional, estendendo sua influência no Caribe e na América
Central. A alta dos preços do petróleo, como destaca Monteiro, permitiu ao país substituir a
Doutrina Betancourt pelos sonhos bolivarianos de liderar a América Latina.
A ação diplomática venezuelana projetou o país e seu presidente ao primeiro plano.
Internamente, a Venezuela atingiu seu melhor desempenho econômico, social e de
estabilidade política.
Conforme destaca Barros (2007, p.74), com a ascensão de um modelo de democracia
conciliatório que vigorou até 1998, foi executada uma série de políticas incentivadoras da
industrialização por substituição de importações (exoneração de tributos para matérias-primas
e bens de capital destinados à indústria, financiamento industrial subsidiado e promoção
direta por parte do Estado à siderurgia e petroquímica) e foi criado um organismo de
planejamento, CORDIPLAN – Oficina Central de Coordinaciòn y Planificación de La
Presidencia de La República, cujo principal objetivo era formular as diretrizes das políticas
econômicas de cada período presidencial. O primeiro programa formulado Foi “Plan
Cuaternal (1960-1964)” que apresentou
“pela primeira vez de maneira precisa a necessidade de por em prática um modelo de desenvolvimento econômico que compreenda dois eixos: A industrialização e a modernização da agricultura. Sobre esta base, o Estado assumiu o papel de “promotor” do processo de industrialização para atenuar a crise e estimular o setor privado mediante o auxílio financeiro e medidas protecionistas” (BANKO, 2006; p.7-8).
A industrialização por substituição de importações, entretanto, não se completou. Ela
foi abortada pela “doença holandesa” 17 causada pela alta dos preços internacionais do
petróleo, em 1973, que chegou a US$ 45 o barril ( em valor não corrigido)
17 A teoria da doença holandesa tem sido utilizada para tratar problemas típicos das economias primário-exportadoras. Seu nome remonta ao comportamento que a economia holandesa teve nos anos sessenta, logo após a descoberta de grandes reservas de gás natural no país, a partir de quando ocorreu aumento concomitante da população nacional de gás natural e dos preços internacionais do produto. Durante o período de “bonança gasífera”, a Holanda recebeu uma grande quantidade de moeda estrangeira e o imediato aumento de superávit comercial fez a moeda nacional se sobrevalorizar. No momento seguinte, a produção industrial do país passou a enfrentar problemas, decorrentes da apreciação da moeda nacional, para concorrer com os produtos de outros países tanto no mercado interno quanto no externo. A baixa competitividade da indústria nacional levou a um aumento das importações, principalmente de produtos industrializados, e a uma diminuição significativa das
Dada essa solidez do pacto de governabilidade venezuelano, a instabilidade política
que se inicia no início do ano de 1989 surpreendeu tanto atores políticos como analistas. O
período entre os anos de 1989 e 1993 é de fundamental importância para a delimitação e
compreensão da profundidade da crise que se iniciara, e de qual era a margem de manobra
que possuíam os principais atores do puntofijismo.
De acordo com Villa (2005, p.156), as relações entre o comportamento da economia
do petróleo e o sistema político também são importantes para explicar a crise do puntofijismo.
O comportamento negativo da economia nos anos de 1980 afetou de forma relevante a base
material redistributiva do regime venezuelano, fato que mostrava que a eficácia política do
Pacto de Punto Fijo estava intrinsecamente atrelada ao comportamento do modelo rentista
petrolífero.
Com a crise dos anos de 1980, a chamada “década perdida”, toda a América Latina
enfrentou uma derrocada econômica, que acabou por condicionar profundamente as opções
neoliberais econômicas feitas pelas elites políticas na região latino-americana.
No final da década de 80, era visível que, enquanto ascendia a nova hegemonia liberal,
“o pensamento crítico perdera sua vitalidade, e muitos estruturalistas e marxistas aderiram, de
uma forma ou de outra, ao projeto liberal-conservador que durante a década de 90 promoveu
uma rodada de “modernização conservadora”” (FIORI, 2001; p.45).
O problema de rentismo na economia venezuelana desenvolveu-se com maior
potencialidade no momento em que a economia venezuelana parecia estar melhor. A grande
entrada de recursos nos anos setenta não gerou apenas uma crise conjuntural, uma “doença
holandesa”. A elevação da capacidade produtiva superou o crescimento do mercado
doméstico, independentemente da valorização do câmbio.
“Dijimos al comienzo que hacia los años 1977-1978 el curso de la economía venezolana sufrió lo que, de primeira impresión, parecia ser solo um simple y convencional traspié. ¡Falsa impresiones! Más pronto que tarde esse aparente parpadeo reveló su verdadero contenido y mostro lo que llevaba adentro: um anuncio de que advenía um drástico cambio de rumbo; una indicación cada vez más inequívoca de que habían concluido un tiempo y sus formas económicas propias. Esos años, entonces, marcan um hito em la vida contemporánea de Venezuela, y por gratuidad Del azar también in hito personal.” (Baptista, 2004; p.13).
exportações de outros produtos que não o gás natural. Em pouco tempo, a abundante entrada de moeda estrangeira para a compra de gás natural levou a Holanda a um processo de desindustrialização e de perda de competitividade internacional (CORDEN 1994).
As razões da economia rentista para Asdrúbal Baptista eram o crescente aumento da
renda distribuída pelo Estado de maneira desconectada da produção e a má distribuição e
aplicação desses recursos internamente. Neste sentido, entende-se que, na Venezuela, a renda
petroleira é entendida como uma renda internacional da terra e, portanto, não é produto do
esforço produtivo interno.
A renda então, apropriada e distribuída pelo Estado, deu lugar a um caso particular de
desenvolvimento capitalista impulsionado pelo Estado devido à receita advinda da renda
internacional da terra. Esta lógica permeia toda a sociedade venezuelana.
“El petróleo venezolano, hasta décadas muy recientes, fue em su casi exclusividad um objeto para el mercado mundial. Así, por exemplo, entre 1920 y 1995 el 91 por ciento de petróleo extraído se comercializo em El extranjero. Esto significa que el precio de mercado del petróleo extraído se comercializo em el extranjero. Esto significa que el precio de mercado del petróleo ES El precio que paga el mercado mundial y que, por lo tanto, La renta que da lugar la propriedad sobre el recurso es uma renta internacional, o una renta proveniente del mercado mundial.” (BAPTISTA, 2004; P.17).
Portanto, para Baptista, a renda petroleira exerceu certos efeitos positivos, gerando um
grande impulso ao desenvolvimento econômico desde o começo do século até 1978, quando
este modelo deixou de ser viável.
É por isso que, em 1978, se inicia uma crise em meio à abundância de receitas
petroleiras e com um investimento máximo, o qual representa um indicador dos problemas de
absorção da renda.
A sobrevalorização do Bolívar foi funcional ao desenvolvimento econômico e
manufatureiro até o final dos anos sessenta, pois garantiu o acesso a importações baratas de
todo tipo, incluindo bens de capital e intermediário para o processo de substituição de
importações.
Entretanto, uma vez que o estreitamento do mercado estabeleceu limites a expansão
industrial, a sobrevalorização do Bolívar, com o fechamento do mercado externo, tornou-se
um obstáculo para o desenvolvimento.
Para Mommer (In BAPTISTA, 1997; P.XXV), a economia rentista é definida por três
elementos: a) é uma forma de desenvolvimento capitalista; b) é uma forma de
desenvolvimento capitalista nacional sustentado pela renda internacional da terra e c) esta
renda corresponde, em primeira instância, ao Estado.
Em países desenvolvidos a renda da terra caiu até níveis que tornaram a condição
rentísta desprezível. Adam Smith, em 1776, já assinalava essa tendência. “Quanto mais
determinada mercadoria sofre uma transformação manufatureira, a parte do preço
representada pelos salários e pelo lucro se torna maior em comparação com a que consiste na
renda da terra.” (SMITH, 1983; p.80).
Nos países exportadores de petróleo, em geral, e na Venezuela, em específico, isso não
ocorreu. O petróleo não pode ser extraído em qualquer lugar e, embora necessite de alguma
tecnologia para ser retirado do solo, seu preço, devido a alta demanda pelo produto em relação
a sua possibilidade de oferta, continuou composto majoritariamente pela renda da terra.
Para Barros (2007, p.47), o êxito da economia rentísta implica, de maneira inevitável
que a renda se transforma pouco a pouco, de uma força dinamizadora em um obstáculo cada
vez mais intolerável para o desenvolvimento normal do sistema. Daí se desprende o colapso
da economia rentista.
Neste sentido, FURTADO (1999; p.26) afirma que “o processo histórico de formação
econômica do mundo moderno pode ser observado de três ângulos: i) a intensificação do
esforço acumulativo mediante a elevação da poupança de certas coletividades; ii) a ampliação
do horizonte de possibilidades técnicas; iii) o aumento da parcela da população com acesso a
novos padrões de consumo.”
Portanto, Furtado considera que não se trata de três processos distintos, mas de três
faces em interação de um só processo histórico. Acrescenta que é fácil perceber que sem
inovações técnicas o aumento da poupança não é sustentável no longo prazo e que a
ampliação do poder de compra da população é elemento essencial para a reprodução dinâmica
do sistema.
Um aumento abrupto das receitas petrolíferas em uma economia como a venezuelana
amplia um dos ângulos da observação de Furtado, o aumento da parcela da população com
acesso a novos padrões de consumo, porém, limita o esforço acumulativo mediante elevação
da poupança e limita a ampliação do horizonte de possibilidades técnicas; ambas as limitações
são decorrência da facilidade em adquirir moeda estrangeira nesses períodos.
Outro ponto importante destacado por Furtado amplia a análise da economia
venezuelana no século XX.
“O excedente, ao permitir aprofundar no tempo e no espaço a divisão social do trabalho, viabiliza a acumulação, e o desenvolvimento não senão uma das formas que esta pode assumir. Muitos têm sido os fins a que se tem destinado o excedente: a construção de muralhas, de pirâmides, manutenção de cortes etc. Só excepcionalmente ele foi usado para o desenvolvimento, ou seja, para abrir caminho à realização das múltiplas potencialidades dos membros de uma sociedade.” (FURTADO, 1984; p.106).
A Venezuela, por ser um país petroleiro, consegue em vários momentos ampliar
consideravelmente seu excedente. Porém, esse aumento do excedente não advém do
aprofundamento, no tempo e no espaço, da divisão social do trabalho. Desta forma, o
excedente não viabiliza a acumulação, embora sirva para ampliar o acesso a novos padrões de
consumo.
As possibilidades de abertura de caminhos às múltiplas potencialidades dos membros
da sociedade venezuelana ficam, portanto, estéreis. A característica rentística da economia
venezuelana é responsável por esta esterilidade. A saída do esgotamento desse modelo de
organização econômica passa necessariamente por um elemento, como destaca Furtado, de
intencionalidade.
“Mais do que transformação, o desenvolvimento é invenção, comporta um elemento de intencionalidade. As condições requeridas para que esse elemento se manifeste com vigor dão-se historicamente, ou seja, são irredutíveis a esquemas formalizáveis. Somente o enfoque analógico nos permite abordar questões como: por que se intensifica a criatividade e por que os frutos desta convergem para produzir e realizar um projeto de transformação social com o qual se identificam os membros de uma coletividade?” (FURTADO, 1984; p.105-106).
A sociedade venezuelana precisaria romper com a ordem do período em que a
economia rentista prevaleceu. Este rompimento pressupõe novas instituições, novas formas de
participação política que supere o clientelismo do período rentista e gere outros tipos de
consensos e, principalmente, uma nova finalidade para a renda petroleira.
Para Barros (2007, p.80), a Venezuela não teve grandes dificuldades para adquirir os
meios que tornariam viável e possível qualquer finalidade decidida coletivamente. Porém,
essa mesma facilidade em conseguir os meios impediu a definição de fins comuns.
A abundância petroleira não derivada do trabalho e da divisão social da produção
levou a Venezuela a um equilíbrio nos anos 60 e 70 que impediu que o país tivesse qualquer
possibilidade de superar aquelas condições econômicas. Além disso, suas instituições
políticas construídas desde a década de 50 permaneciam intocadas.
De acordo com Barros (2007, p.81), após o esgotamento da economia rentista, essas
instituições entraram em crise e a abundância petroleira passou a ser apropriada apenas pelos
setores sociais mais próximos ao Estado e a companhia estatal de petróleo.
A partir de então, as instituições políticas passaram a ser questionadas; manifestações
populares de grande repercussão, como o Caracazo no final dos anos 80, duas tentativas de
golpe militar no começo dos anos 90 e uma abstenção eleitoral crescente durante todo o
período expressam esse momento de crise.
Uma visão de desenvolvimento
A teoria desenvolvimentista ganhou importância no debate internacional após a 2ª.
Guerra Mundial quando o mundo precisou ser reconstruído. A partir de então, especialmente
no terceiro mundo, começaram a ocorrer discussões sobre os rumos econômicos de países que
haviam recentemente passados por mudanças políticas profundas, como por exemplo, a
conquista da independência política ou a ascensão ao poder de governos que davam grande
destaque às propostas de desenvolvimento nacional.
A reflexão sobre desenvolvimento teve como causa principal, a tomada de consciência
do atraso econômico em que vive a grande maioria da humanidade. Indicadores mais
específicos, tais como mortalidade infantil, incidência de enfermidades contagiosas, grau de
alfabetização e outros logo foram lembrados, o que contribuiu para unir as idéias de
desenvolvimento, bem-estar social, modernização, enfim tudo que sugeria acesso às formas
de vida criadas pela civilização industrial.
“Mais do que um tema acadêmico, essa reflexão foi alimentada pelo debate político nascido das grandes transformações produzidas pela Segunda Guerra Mundial, tais como o desmantelamento das estruturas coloniais e a emergência de novas formas de hegemonia internacional fundadas no controle da tecnologia e da informação e na manipulação ideológica. Importante função catalisadora coube, numa primeira fase, às novas instituições internacionais – as Nações Unidas, suas comissões regionais e agências especializadas – cujos secretariados técnicos realizaram trabalhos empíricos e interpretativos no quadro da nova problemática. A penetração no mundo acadêmico foi inicialmente lenta. No que respeita à ciência econômica, as dificuldades conceituais para abordar a nova temática não seriam das menores. Os primeiros enfoques acadêmicos procuraram assimilar os problemas do desenvolvimento retardado (ou subdesenvolvimento) ao mau funcionamento da economia internacional, ou seja, ao abandono dos sãos princípios da doutrina liberal.” (FURTADO, 2000; p.25)
O processo histórico de formação de um sistema econômico mundial, cujo ponto de
partida é a aceleração da acumulação que conhecemos como Revolução Industrial, apresenta
dois pontos distintos.
Como destaca Furtado (2000; p.26), o primeiro retrata a transformação, ou seja, o
processo de destruição total ou parcial das formas artesanal, senhorial e corporativa de
organização da produção e de progressiva implantação de mercados de ingredientes da
produção: mão-de-obra e recursos naturais apropriados privadamente. Essa transformação no
sistema de dominação social responsável pela organização da produção abriu mais amplos
canais à divisão do trabalho e ao avanço das técnicas, o que realimentaria o processo de
acumulação. O segundo ponto reflete a ativação das atividades comerciais, amais
precisamente, da divisão do trabalho inter-regional.
As regiões em que se localizou a aceleração da acumulação tenderam a especializar-se
naquelas atividades produtivas em que a revolução em curso no modo de produção abria
maiores possibilidades ao avanço da técnica, transformando-se em focos geradores do
progresso tecnológico.
Contudo, a especialização geográfica também proporcionava aumentos de
produtividade, vale dizer, permitia uma utilização mais eficaz dos recursos produtivos
disponíveis. Causados pelo intercâmbio externo, esses aumentos de produtividade serviam de
vetor de transmissão das inovações na cultura material que acompanhavam a intensificação da
acumulação.
“A formação do sistema econômico mundial apoiou-se, assim, tanto no processo de transformação das estruturas sociais como no processo de modernização do estilo de vida. Desenvolvimento e subdesenvolvimento, como expressão de estruturas sociais, viriam a ser resultantes da prevalência de um ou outro desses dois processos. Cabe, portanto, considerar o desenvolvimento e o subdesenvolvimento como situações históricas distintas, mas derivadas de um mesmo impulso inicial e tendendo a reforçar-se mutuamente. Quanto mais ampla fosse a divisão internacional do trabalho, mais profunda seriam as transformações sociais no centro do sistema e mais intensa a modernização das formas de vida em sua periferia. Portanto, para compreender as causas da persistência histórica do subdesenvolvimento, faz-se necessário observá-lo como parte que é de um todo em movimento, como expressão da dinâmica do sistema econômico mundial engendrado pelo capitalismo industrial.” (FURTADO, 2000; p.28).
A industrialização retardada que teria lugar nos países que se haviam inserido no
sistema econômico mundial pela via da modernização far-se-ia em concorrência com as
importações e não com a atividade artesanal preexistente.
Longe de ser um reflexo do nível de acumulação alcançado, a evolução do sistema
produtivo assume a forma de um processo de adaptação no qual o papel diretor cabe às forças
externas e internas que definem o perfil da demanda final.
Portanto, as estruturas sociais desses países sejam tão distintas das que constituíram ali
onde avançaram paralelamente acumulação e diversificação da demanda.
A mecanização das infra-estruturas e as transformações impostas à agricultura pelo
esforço de exportação e pela evolução da demanda interna, bem como o impacto da
industrialização na construção civil, na confecção e outros setores em que era importante a
atividade artesanal, põem em marcha um amplo processo de destruição de formas de emprego
que o ritmo de acumulação está longe de poder neutralizar. A intensa urbanização, presente na
totalidade dos países subdesenvolvidos, é a manifestação mais visível desse processo de
desestruturação social.
A modificação das formas de produção priva de suas ocupações tradicionais, buscam
abrigo em sistemas subculturais urbanos que só esporadicamente se articulam com os
mercados, mas sobre eles exercem uma forte influência como reservatórios de mão-de-obra.
Realizando em grande parte sua reprodução no quadro de um sistema informal de
produção, as populações ditas marginais são a expressão de uma estratificação social que tem
suas raízes na modernização. A inadequação tecnológica, a que se referem alguns
economistas, de um ângulo de vista sociológico traduziu-se na polaridade modernização-
marginalidade.
“Foi o esforço visando a unificar o quadro conceitual dessa problemática que produziu a teoria da dependência. Esta se funda numa visão global do capitalismo – enfocando como um sistema econômico em expansão vertical e horizontal e como uma constelação de formas sociais heterogêneas – que permite captar a diversidade no tempo e no espaço do processo de acumulação e as projeções dessa diversidade no comportamento dos segmentos periféricos. Graças a esse enfoque, foi possível aprofundar a análise das vinculações entre as relações externas e as formas internas de dominação social nos países que se instalaram no subdesenvolvimento, bem como projetar luz sobre outros temas de considerável significação, tais como a natureza do Estado e o papel das firmas transnacionais nos países de economia dependente. Ali onde a modernização se apoiou na exploração de recursos não-renováveis (por extremo, o caso dos países exportadores de petróleo presta-se mais facilmente à análise), o excedente retido no país de origem tendeu a ser captado por um sistema de poder local. Em razão disso, a vinculação externa condicionou sobremodo a evolução da estrutura de poder, favorecendo seu fortalecimento e centralização. Esse processo de condensação de poder em instituições centralizadoras, coincidindo com a desestruturação social a que fizemos referência, empresta ao Estado características que apenas começam a ser percebidas em sua originalidade. Sendo Estado, no essencial, um instrumento captador de excedente, a evolução das estruturas sociais tende a ser fortemente influenciada pela orientação dada por ele à aplicação dos recursos que controla.” (FURTADO, 2000; p.29).
Constitui, evidentemente, caso limite a situação dos países que se vinculam ao exterior
mediante exploração de recursos não-renováveis e em que o Estado é o instrumento
privilegiado de acumulação controlada do interior. Contudo, nos demais países
subdesenvolvidos a evolução política se vem orientando no mesmo sentido, sendo geral o
fortalecimento do aparelho estatal e a emergência, sob sua tutela, de novas formas de
organização social.
Os investimentos em infra-estrutura e nas indústrias básicas dependem diretamente do
poder público, ou de garantias dadas por este a grupos estrangeiros. A poupança local, em
grande parte compulsória, inexistiria sem a iniciativa do Estado, o qual assume
responsabilidades crescentes no campo da produção, podendo as empresas por ele criadas
operar com ampla margem de autonomia, perdendo a validade muitos dos critérios
tradicionalmente usados para diferenciar atividades públicas de privadas.
A reflexão sobre o desenvolvimento, ao conduzir a uma progressiva aproximação da
teoria da acumulação com a teoria da estratificação social e com a teoria do poder, constitui-
se em ponto de convergência das distintas ciências sociais.
“As primeiras idéias sobre desenvolvimento econômico, definido como um aumento do fluxo de bens e serviços mais rápido que a expansão demográfica, foram progressivamente substituídas por outras referidas a transformações do conjunto de uma sociedade às quais um sistema de valores empresta coerência e sentido. Medir um fluxo de bens e serviços é operação que somente tem consistência quando tais bens e serviços se ligam à satisfação de necessidades humanas objetivamente definívies, isto é, identificáveis independentemente das desigualdades sociais existentes. Quando o economista adiciona gastos realizados pelos consumidores, está em busca de uma variável representativa da demanda efetiva e não de um indicador de bem estar-social. Contudo, é a idéia desta última que está contida no conceito de desenvolvimento. O debate em torno desse ponto, de aparência técnica, traria à tona os aspectos ideológicos das políticas de desenvolvimento e levaria à crítica dos tipos de sociedade postulados implicitamente por essas políticas.” (FURTADO, 2000; p.30).
A temática tradicional circunscrita aos “obstáculos ao desenvolvimento” tendeu a ser
substituída por outra saída do debate sobre os “limites ao crescimento”, os “estilos de
desenvolvimento”, os “tipos de sociedade”, a “ordem mundial”. O aprofundamento da análise
das relações internacionais de dominação-dependência e de sua introjeção nas estruturas
sociais permitiu ver com maior clareza a natureza das forças que respondem pela tendência à
persistente concentração da renda em benefício das economias dominantes e pela
marginalização de frações crescentes de população nos países de economia dependente.
O Pré-sal brasileiro
Com a descoberta de reservas de petróleo a aproximadamente 7.000 metros de
profundidade no total de 40 bilhões a 80 bilhões barris, a tendência é que ocorra uma
abundância de dólares na economia brasileira com grande tendência de valorização do Real
perante o Dólar.
O governo brasileiro já aprovou leis importantes para o controle das reservas
petroleiras, bem como, medidas para conter a possível valorização da moeda local. O Novo
Marco Regulatório, constituído de 4 projetos de leis que foram aprovados, essas leis tem
como característica dar novos horizontes ao processo de exploração do petróleo encontrado
nas camadas do pré-sal.
Primeiramente a Lei 5.938/2009, que visa introduzir o regime de partilha para as áreas
de exploração do pré-sal. Esse regime será concedido apenas às áreas do pré-sal e as
declaradas estratégicas pelo governo federal, áreas já exploradas e para campos de exploração
já concedidos, vigora-se a lei sobre regimes de concessão.
Torna a Petrobras monopolista na operação dessas áreas de exploração do petróleo em
todos os blocos encontrados. Além disso, abre o direito de outras empresas participarem na
exploração desse petróleo desde que a Petrobras participe com no mínimo 30% do consórcio.
E o mais importante, e ao mesmo tempo, o mais polêmico, altera a divisão dos
royalties e participações especiais na exploração dos blocos do pré-sal. Fazendo com que os
estados e municípios, sejam contribuídos de uma forma mais igualitária.
Esse projeto de lei foi o dos que mais geraram conturbações politicas, isso graças ao
modo de como é distribuído os royalties nas explorações dos outros campos e bacias de
petróleo. O Rio de Janeiro, por exemplo, é creditado em aproximadamente 70% de toda a
distribuição de royalties do país. Por mais que esses royalties sejam concedidos como uma
forma de externalidade negativa, e que os maiores campos de exploração de petróleo se
encontram no estado do Rio de Janeiro, os valores recebidos são astronômicos e a falta de
controle abre as portas para corrupção, desvios e péssimos investimentos. Isso nos leva a
concluir que talvez a melhor forma fosse o Estado através da Petro-Sal ter controle dos
royalties e participações especiais. E com essas arrecadações realizarem investimentos em
setores estratégicos e ao mesmo tempo setores que são problemáticos em cada estado e
município do país, dentre os quais são de direito o recebimento desses investimentos.
Outro problema desse projeto de lei, é que com a autorização de empresas
estrangeiras, permitindo participarem do processo de exploração as mesmas realizarão
somente o investimento, tornando a Petrobras responsável pelos danos e prejuízos, ou seja,
esse capital investido é um capital externo a produção, ou seja, um capital monetário.
Esse capital tem como único objetivo a lucratividade dessa operação, recebendo um
lucro pela renúncia a liquidez.
O Projeto de lei 5.939/2009 representa a abertura da nova estatal, a PetroSal. Esta
estatal tem com principal objetivo gerir os contratos do regime de partilha de produção. Ela
representará a União e fará auditoria dos custos e investimentos. Ou seja, toda a parte
administrativa ficará sobre o controle dessa empresa. Com a criação da Petro-Sal, cria-se uma
posição de maior autonomia do Estado perante a decisões sobre o setor petrolífero do país.
O projeto de lei 5.940/2009 consiste na criação do Fundo Social. Esse Fundo Social
tem como objetivo acumular poupança com os recursos do regime de partilha de produção das
áreas exploradas nas camadas de pré-sal, que será responsável para o controle da apreciação
cambial decorrentes do aumento das exportações e, também, para investimentos nas áreas de
combate a pobreza e promoção de cultura, educação, saúde, ciência e tecnologia, adaptação as
mudanças climáticas e recuperação do valor da aposentadoria do INSS.
O Fundo Soberano, se bem sucedido, é uma das armas que o país terá para evitar os
possíveis problemas da enxurrada de dólares que entrará no país, com capacidade de realizar
investimentos tanto no Brasil como no Exterior, garantindo ao país uma sustentabilidade
financeira.
Por último, e não menos importante, o Projeto de lei 5.941/2009, concedendo a
capitalização da Petrobras. Essa lei garante a Petrobras o direito de exercer atividades de E &
P, em determinadas áreas do pré-sal. E seu pagamento poderá ser feito por meio de títulos da
divida pública do país. Neste sentido, essa lei garante à união a possibilidade de ter maior
participação nas ações da Petrobras.
TABELA 1
De acordo com a Tabela 1, ao desenvolver algumas projeções do que significa a
descoberta da camada de pré-sal pode-se observar, que em determinadas condições pré-
estabelecidas, uma receita bruta, com o preço do barril médio de US$ 80 dólares, de US$ 7,2
bilhões ao ano, representando 3,5% do total das exportações brasileiras realizadas em 2010.
Premissas Básicas P R É - S A LCusto total de exploração (US$ / barril) 20Início da extração (ano) 2013 P R O J E Ç Õ E SPreço do petróleo (US$/ barril) 80
Reserva recuperável (bilhões de barris) 72Duração da reserva (anos) 75
Royalties (US$ bi) 576Participação Especial (US$ bi) 2.538Total (US$ bi) 3.114
Em 10 Anos:Royalties e Particip. Especial (US$ bi) 267Receita Bruta (US$ bi) 504Rendimento do Fundo (US$ bi) 69
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2080 2081 2082 2083 2084 2085 2086 2087Dados operacionaisProdução anual (milhões barris) 90 180 270 360 540 720 900 1.080 1.080 900 720 540 360 270 180 90Extração (mil barris/dia) 250 500 750 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 750 500 250
Cálculo da Participação Especial (US$ bilhões)Receita Bruta 7,2 14,4 21,6 28,8 43,2 57,6 72,0 86,4 86,4 72,0 57,6 43,2 28,8 21,6 14,4 7,2Alíquota de Royalties 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0%Royalties 0,7 1,4 2,2 2,9 4,3 5,8 7,2 8,6 8,6 7,2 5,8 4,3 2,9 2,2 1,4 0,7Custo total de exploração 1,8 3,6 5,4 7,2 10,8 14,4 18,0 21,6 21,6 18,0 14,4 10,8 7,2 5,4 3,6 1,8(=) Receita Líquida de Produção (RLP) 4,7 9,4 14,0 18,7 28,1 37,4 46,8 56,2 56,2 46,8 37,4 28,1 18,7 14,0 9,4 4,7Parcela a deduzir (isenta) 2,7 2,3 1,9 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5(=) Base de cálculo para PE 2,0 7,0 12,1 17,2 26,5 35,9 45,3 54,6 54,6 45,3 35,9 26,5 17,2 12,5 7,8 3,1Alíquota da PE 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0% 70,0%Participação Especial (PE) 1,4 4,9 8,5 12,0 18,6 25,1 31,7 38,2 38,2 31,7 25,1 18,6 12,0 8,7 5,5 2,2Royalties + Participação Especial 2,1 6,4 10,6 14,9 22,9 30,9 38,9 46,9 46,9 38,9 30,9 22,9 14,9 10,9 6,9 2,9Patrimônio do Fundo (US$ bi) 2 8 19 34 57 88 127 174 2.986 3.025 3.055 3.078 3.093 3.104 3.111 3.114Rendimento do Fundo (US$ bi) 0,08 0,42 1,10 2,12 3,63 5,79 8,58 12,01 236,98 240,41 243,20 245,36 246,87 247,90 248,61 249,00Rentabilidade do Fundo 8%
A partir de 2020 até 2080, conforme as estimativas, pode ser o período em que as
explorações de petróleo chegariam ao seu nível máximo, com 3.000.000 barris por dia,
obtendo-se uma receita bruta de US$ 86,4 bilhões, equivalendo a 43% do total das
exportações brasileiras em 2010, sendo US$ 8,6 bilhões somente de royalties. Ou seja, serão
aproximadamente 60 anos na qual a receita petroleira entrará com um volume imenso de
dólares em nosso país.
Assim, podemos observar que temos um período de mais de meio século para o Brasil
implementar politicas econômicas e sociais, para enfim elevar o grau de crescimento e
desenvolvimento econômico e social.
Outro ponto importante é o controle das arrecadações dos royalties e das participações
especiais, para que assim, esse crescimento e desenvolvimento econômico atinjam toda a
população brasileira, e não um desenvolvimento concentrado nas metrópoles.
Considerações Finais
Ao analisar o caso venezuelano de rentismo e doença holandesa, denota que apesar de
o Brasil possuir um parque industrial produtivo, poderá sofrer consequências graves caso não
interfira no processo econômico petroleiro que será em breve.
As leis aprovadas pelo Congresso Nacional e o governo brasileiro visam preservar os
recursos minerais, neste caso, o petróleo da camada de pré-sal e através do Fundo Soberano,
desenvolver políticas públicas e a estabilidade da moeda perante o Dólar, entretanto, ao
regulamentar as leis é primordial que o governo além de destinar porcentagens da renda
petroleira à políticas públicas, deve-se planejar suas ações no sentido de ampliar à população
serviços essenciais ao desenvolvimento da sociedade brasileira.
Além do que, ter um controle ativo do câmbio no sentido de não provocar um processo
de desindustrialização brasileira, algo peculiar das economias petroleiras, pois para se tornar
uma nação desenvolvida é essencial desenvolver uma indústria de base e com alta tecnologia,
visando à “equalização” dos termos de troca e o desenvolvimento da sociedade e do
capitalismo brasileiro.
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MACEDO, Sabrina Fernanda* MENEGUETE, Clélia*
FERRATO, Elio**
Resumo O processo de internacionalização traz a qualquer organização uma oportunidade singular, pois, transpor as fronteiras do seu país é mostrar-se ao mundo, adequar-se às novas culturas e construir uma imagem da sua marca e do seu país. Claro que tudo isso é possível, mas requer conhecimento, planejamento e subsídio financeiro para fixar-se em novos mercados. Com este estudo de caso, pretende-se trazer à tona o diferencial de uma empresa que está realizando este processo da internacionalização, embora ainda provido de dados elementares neste estágio do desenvolvimento do negócio, principalmente quando praticado por organização brasileira sem experiência internacional e com o objetivo de conquistar de modo ético o continente africano, como parte de sua visão de globalização, iniciando-se o processo por Angola, país com o qual o Brasil tem fortes vínculos sociais e econômicos, mesmo antes de sua independência de Portugal. Palavras-chave: Processo de internacionalização; ética nos negócios; mundo globalizado; novos mercados
* Graduadas no Curso de Comércio Exterior do Centro Universitário Padre Anchieta ** Professor Doutor, Coordenador do Curso de Comércio Exterior, orientador do trabalho
1. INTRODUÇÃO 1.1 GLOBALIZAÇÃO NO CONTEXTO EMPRESARIAL
A globalização é marcada pelo fomento à economia, pelos interesses econômicos e
pelas oportunidades de mercado, como atestam vários cientistas das organizações brasileiros e
estrangeiros.
A globalização caracteriza-se, portanto, pela expansão dos fluxos de informações – que atingem todos os países, afetando empresas, indivíduos e movimentos sociais-, pela aceleração das transições econômicas – envolvendo mercadoria, capitais e aplicações financeiras que ultrapassam as fronteiras nacionais- e pela crescente difusão de valores políticos e morais em escala universal (BARBOSA, 2006, p. 28).
É neste cenário que se criam empresas, investem-se em nichos de mercados e crescem
as oportunidades em todos os cantos do mundo; a globalização passou a identificar países,
antes marcados pela pobreza e guerras, como potenciais lugares de prosperidade e
crescimento econômico e social.
O presente estudo de caso aborda primeiramente alguns elementos básicos a respeito
da revisão teórica, embora seja sofrível em termos de volume de literatura, aponta alguns
dados econômicos do país Angola, indica algumas estratégicas elementares de
internacionalização, descreve o cenário atual daquela nação, faz referências ao tipo de
pesquisa elaborada para este estudo de caso e, finalmente, tece considerações finais a respeito
do trabalho.
1.2 INTERNACIONALIZAÇÃO
A história mostra que a segunda revolução industrial foi primordial para a renovação e
implementação de novas tecnologias, provocando melhoria sensível na qualidade de vida da
humanidade, especialmente do primeiro mundo, alcançando posteriormente um número
significativo de países, inclusive o Brasil, embora muitos países tenham perdido a
oportunidade da época. O desenvolvimento alcançado na primeira revolução industrial, desde
a energia a vapor do século XVII até a robotização e avanço da informática, no século XXI,
impulsionaram a expansão da industrialização e do comércio mundial, fortalecendo a
existência do fenômeno da internacionalização das empresas.
Neste contexto, nota-se hoje que é de grande importância a análise que as empresas
têm a realizar para planejar e elaborar os seus objetivos estratégicos no médio e longo prazos.
Os objetivos de número importante de organizações visam à expansão de mercados seja este
interno ou externo e as empresas vão se modelando ao cenário mundial, político e econômico
ao longo do tempo.
A necessidade do avanço induz as empresas a buscarem novos mercados, assim como
outras necessidades competitivas que visam o aprimoramento de toda cadeia, da mão de obra,
da tecnologia, da matéria-prima e dos serviços em geral.
Assim, é plausível afirmar que as organizações que concentram seus esforços apenas
no mercado onde atuam, acabam tornando-se pequenas em meio a forte concorrência. As
empresas geralmente buscam as melhores formas de atuação, dentro das estratégias para
coordenar sua matriz, filial ou coligada no exterior. A empresa instalada fora do país, deve
estar direcionada para as mesmas vantagens que busca em sua visão e missão no mercado
nacional, o qual, no contexto, pode ser chamado de processo de internacionalização.
Para um processo que se acentuou durante a década de 1990, praticamente todas as organizações, independente do porte, foram afetadas pela integração da economia mundial - a globalização. Ou seja, pela atuação em mercados externos, pela competição com empresas internacionais no mercado interno ou pelo relacionamento com fornecedores de outros países (DANIELS; RADEBAUGH, 1997).
A internacionalização para uma empresa implica expandir suas atividades além das
fronteiras de sua matriz. Pode-se resumir que esta atitude decorre de uma série de decisões
interligadas, as quais irão incrementar os resultados financeiros em decorrência das
prospecções de mercados e buscar rentabilidade nas atividades desenvolvidas. Na segunda
metade do século XX, a internacionalização era vista ainda somente como operações
rotineiras de exportação ou de importação. No final da década de 1990, em função da
globalização, que permitiu a inserção do país no mundo da tecnologia da informação, e a forte
competitividade industrial que empurrou para fora aquelas organizações mais arrojadas e
dispostas a correr riscos na arena internacional.
A internacionalização e a expansão do comércio internacional são marcados por
vários acontecimentos históricos posteriores à segunda guerra mundial, os quais contribuíram
para a abertura de comércio, o crescimento econômico e social e o novo desenho da economia
mundial que transformou o mundo desde então.
Dentre os acontecimentos significativos que contribuíram para um novo impulso
econômico mundial, podem ser citados: o plano Marshall, a partir da entrada de recursos na
Europa, no período de 1948 a 1951, que fomentou os setores industrial, agrícola e econômico
destruídos pela 2ª guerra mundial; a criação do FMI (Fundo Monetário Internacional); a
criação do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) que tinha em vista harmonizar as
políticas aduaneiras e também foi a base de criação da OMC (Organização Mundial do
Comércio), instituída com a função de impulsionar a liberalização comercial, dentre outras
atividades e, por fim, a instituição do BIRD – Banco Interamericano de Reconstrução e
Desenvolvimento – hoje conhecido como Banco Mundial.
A partir da formação desses organismos de ajuda internacional, foi possível a criação
de blocos econômicos como o Nafta (North American Free Trade Agreement), Mercosul,
União Europeia, entre outros, os quais foram alavancadores de negócios que serviram de
multiplicadores a uma quantidade importante de organizações privadas e estatais.
Para o processo de internacionalização, é preciso compreender os riscos, estudar o
mercado, conhecer as preferências e necessidades de seus clientes, assim como a cultura,
dados concretos do mercado, as legislações existentes e contratar pessoas qualificadas e
treinadas para exercer as devidas funções operacionais com o mercado internacional.
O Brasil é um país em plena transformação, é cada vez maior a quantidade de
empresas que se projetam para o exterior, abrindo novos mercados, inovando e gerando
riquezas tanto para o Brasil quanto aos países que acolhem.
As relações internacionais constituem o outro eixo comum de renovação da indústria brasileira. As formas de inserção das empresas no cenário internacional podem variar, mas os esforços das mais competitivas apontam, em geral, para níveis crescentes de exportações e investimentos em bases produtivas e comerciais no exterior (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER; 1997: p. 359).
Internacionalizar significa ir muito além de simplesmente exportar produtos, significa
expandir as operações, planejar a produção, conhecer as legislações e mercados de atuação,
além de investir em tecnologia e inovações.
Inovação é mais que criatividade. Trata-se de criar e divulgar a utilização se um novo produto, serviço, processo ou sistema, desde a concepção de uma ideia até a sua implantação e exploração bem sucedida. (PINCHOT, GIFFORD; 2004; p.19)
É possível presumir que internacionalizar exige muito planejamento, ousadia,
inovação e espírito empreendedor. Depois de completado o processo de internacionalização,
aquela inferência é traduzida por realidade efetiva.
Há inúmeras necessidades que podem estar relacionadas ao termo internacionalização
não apenas na expansão e ampliação de mercados. Entre eles, o acesso às novas tecnologias e
mercados que necessitam de reconstrução pela mão de obra especializada, conhecimento
“know-how”, busca por matéria-prima, incentivos políticos e fiscais e o desenvolvimento
econômico.
O desenvolvimento econômico de um país passa pelo desenvolvimento de atividades empresariais fora de suas fronteiras. A exportação e, em particular, o investimento direto oferecem as empresas possibilidades de acesso á mercados, tecnologias, suprimentos e ideias (LOUREIRO, 1995: p.1).
1.3 ESTRATÉGIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO
Estratégia é o conjunto de planos para atingir os objetivos, é algo que toda empresa
precisa ter para se guiar e prosseguir com êxito.
Dentro das estratégias, buscam-se alguns pontos vitais para os negócios, os quais são
denominados de regras para o sucesso, sendo elas:
• Padrões – servem para medir o desempenho atual e futuro de uma empresa, padrões
são os objetivos e metas que pretendemos alcançar.
• Regras de relacionamento com o ambiente externo – Encaixam-se aqui as tecnologias
e inovações que construiremos para que produtos RECITRANS sejam vendidos, e
com isso como alcançará competitividade sobre a concorrência.
• Estabelecimento das relações e dos processos internos na organização, manterem o
chamado conceito organizacional.
• Determinar as regras que conduzam as atividades do dia, também conhecidas como
políticas operacionais.
1.4 PROJETO DE INTERNACIONALIZAÇÃO
A RECITRANS é uma organização 100% brasileira e que atua no mercado interno.
Foi pioneira no seu ramo em terras brasileiras, construiu seu mercado, tornou-se líder de
vendas e consequentemente planejou suas atividades para as exportações, algo, e vital para a
empresa, em termos financeiros. Como líder de mercado e com toda experiência adquirida ao
longo dos anos, firmaram-se os projetos, as estratégias e a construção de uma sólida
organização. O mercado interno já não era suficiente para as expectativas da RECITRANS.
Investir em um país que possa gerar oportunidade e rentabilidade aos negócios, desta
maneira e com a estratégia elaborada, fizeram pouso em solo africano. Angola! País que
desperta da guerra, com expectativas de tornar-se um país promissor, não só por conta das
grandes reservas de petróleo e minério, mas também pelo plano traçado pelo Governo, o qual
busca o crescimento de todo setor industrial e oferece grandes incentivos fiscais, Luanda-
Angola pode ser a oportunidade certa.
2. ANGOLA: TERRITÓRIO E POPULAÇÃO
Angola estende-se por 1.246.700 km², com grande variedade climática.
O extenso litoral atlântico, de 1.600 km, defronta-se com litoral brasileiro na mesma
latitude do nordeste do Brasil.
Administrativamente, Angola está dividida em 18 províncias, de diferentes vocações
econômicas.
O território angolano é extraordinariamente rico em recursos naturais, oferecendo
oportunidades imediatas para atividades empresariais focadas no setor primário: petróleo,
diamantes, minério de ferro, ouro, terras agrícolas e pastoris, recursos florestais, entre outros.
As águas frias do litoral sul estão entre as mais piscosas do mundo. Rios caudalosos
que descem das terras altas propiciam imenso potencial de aproveitamento hidrelétrico.
À medida em que as atividades comerciais focam o setor primário, este vem a crescer
e se diversificar, indo além da excessiva concentração no setor petrolífero e de diamantes,
surgem neste panorama de maneira extraordinária oportunidades no setor secundário e no
terciário.
Antecipando-se a isso, empresas estrangeiras têm estabelecido presença comercial
direta em Angola, inclusive as brasileiras de serviços, realizando vultosos investimentos
naquele que promete ser um dos mercados mais atrativos da África Subsaariana.
A população total está em volta de 13 milhões de habitantes fortemente concentrada
na capital (mais de cinco milhões) em virtude do êxodo provocado pela guerra civil.
Quase 60% da população acima de 15 anos de idade afirma saber ler e escrever em
português.
A população angolana é majoritariamente jovem. Houve grandes progressos em
instrução pública e em formação de treinamento profissional, desde a independência. No
entanto, grandes contingentes da população, mesmo no meio urbano, ainda está fortemente
vinculada aos valores sociais e ao universo simbólico próprios da sociedade tradicional
africana, ao qual a organização burocrática, impessoal e orientada ao lucro da empresa
capitalista pode parecer estranho, despropositados ou mesmo inumanos. Diferentemente do
que ocorre em muitos países da África Subsaariana, a epidemia de AIDS que assola o
continente não atingiu níveis calamitosos e está prestes a ser contida. Portanto, sob esse
aspecto, as empresas estrangeiras estabelecidas no país não têm que se defrontar com custos
extraordinários imediatos e com futura redução de mercado consumidor.
3. ECONOMIA ANGOLANA
Nos últimos anos, a economia angolana obteve altíssimas taxas de crescimento devido
à expansão do setor petrolífero e a retomada de atividades econômicas interrompidas ao longo
de 40 anos de conflitos armados. As cifras a seguir mostram o alto crescimento angolano nos
últimos anos (números relativos ao Brasil entre parênteses): “11,2% em 2004 (5,7%), 20,6%
em 2005 (3,2%) e 18,6% em 2006 (4,0%), 20,3% em 2007 (Brasil: 5,7%) e 13,2% em 2008
(5,1%)3.”
(Fonte: Consulado de Angola, estimativa dezembro/2008).
Em função da atividade petrolífera (dois milhões de barris diários, equivalente à atual
produção brasileira de petróleo) e pelo fato de Angola ter uma população relativamente
pequena, o país desfruta um dos maiores PIB per capita da África.
A tabela abaixo demonstra o crescimento do PIB de Angola depois da paz:
Fonte: www.cia.gov
Nos próximos anos, segundo a Economist Intelligene Unit, a taxa de crescimento do
PIB e outros indicadores econômicos devem evoluir como segue:
Fonte: Ministérios do desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Nota: A moeda de Angola é o Kuanzas (kz)
4. PREVISÃO DE CRESCIMENTO PARA ECONOMIA ANGOLANA
De acordo com um estudo realizado pelo BID - Banco Interamericano de
Desenvolvimento, a economia angolana deverá crescer 10% em 2010, e 8,0% no ano
subseqüente, o que será o ano de 2011.
Segundo o relatório preliminar do Banco Mundial, a recuperação do país será uma das
mais dinâmicas, e expressivas do continente africano, depois da queda significativa do PIB no
ano de 2009.
Nos anos de 2008, a economia de Angola teve um fraco desempenho com a
exportação de petróleo, chegando a cerca de 1,8 milhões de barris por dia, com isso o governo
angolano teve de fazer cortes nas despesas de investimento e o consumo privado. As
estimativas são que a recuperação dessa queda seja o aumento da procura externa pelo
petróleo.
A economia angolana é uma das mais desiguais da África, deverá interromper a
expansão dos últimos três anos, cerca de 20%, e sofrer uma contração na ordem dos 7% em
2010, previa o Banco Mundial.
Não obstante, estimativas asseguram que no ano de 2010, a situação de Angola
melhorou significativamente, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), o
crescimento do país ultrapassou 10%.
Angola continua sendo extremamente dependente, quando se fala de petróleo, embora
o país esteja conseguindo diversificar sua estrutura positiva no setor não petrolífero como nas
áreas de construção civil, agricultura e serviços.
É notável que o crescimento per capita aumente, principalmente nas áreas
metropolitanas, mas a situação ainda não é uma das melhores para os angolanos, que são
atingidos pelo desemprego e pela pobreza, segundo relatos mais atuais da mídia internacional.
Segundo especialistas do Banco Africano do Desenvolvimento, a economia de Angola
está crescendo, mas o volume de corrupção permanece sendo endêmico, segundo dados do
Banco Mundial.
5. CENÁRIO ATUAL
Angola ficou conhecida por suas guerras civis por longos anos, geradas por ideologias
diferentes e que devastaram quase todo território. Arrasada por 26 anos de guerra civil, o país
passa por um processo de reconstrução.
Em resultado à necessidade de reconstrução da economia pós conflitos, estão em
andamentos e alguns quase concretizados, muitos projetos importantes que assumem papéis
desenvolvedores da infra-estrutura angolana, tais como, a reabilitação das estradas de ferro,
importantíssimo para o escoamento de cargas dentro do país, assim como a reabilitação de
estradas para caminhões e carros e pontes, reconstrução de aeroportos e os diversos projetos
nas áreas petrolíferas e de minérios.
No ano de 2008, o crescimento de Angola foi de 21%, um dos maiores do mundo. E
as previsões para 2009, concretizaram-se positivamente, e registraram um índice de 15,2%.
Neste ritmo o país oferece boas oportunidades de negócios, e isto se reflete nas várias
empresas brasileiras que estão fixando-se neste país; em dezembro de 2009, o número
chegava próximo a 100 empresas brasileiras instaladas em Angola.
Segundo Guides (2007, p.64), “a paz libera recursos que antes eram destinados à
guerra, para serem aplicados em novas oportunidades abertas pela economia.”
Angola é um país que caminha para um desenvolvimento, mas o percurso em busca
deste requer uma melhoria grandiosa em todo seu parque industrial.
O parque industrial estava sucateado em 2002, ao final da guerra, e necessita e grandes investimentos para reduzir a dependência das exportação. Quase tudo que se encontra nos supermercados é importado da Europa, da Ásia, dos Estados Unidos, de Israel, da Holanda e do MERCOSUL (GUIDE, 2007, p.65).
Segundo o consultor de acesso ao mercado, Aristóteles Abreu Filho, Angola
demonstra seu grande potencial de comprador, representando oportunidades para todos os
setores da economia, principalmente alimentação, vestuário, construção civil e suas cadeias
produtivas na sequência.
O governo incentiva tanto o investimento interno como o externo. O setor têxtil do
país é um dos que mais necessita de fomento pois quase todo tecido comercializado no país é
importado, o que acarreta custos maiores e qualidade nem sempre garantida. As guerras civis
devastaram o país, a população e chegando até às plantações de algodão.
O governo voltou-se em 2009, para este setor e traçou planos para seu
desenvolvimento até 2012. Dentro deste período, eles irão reativar o cultivo de algodão, que
já foi dito sobre sua disseminação durante às guerras civis, e por consequência acarretou na
quebra das três grandes indústrias de confecção existentes naquele país. Para Ferreira (2006,
p.14) o ambiente de negócios encontra-se atualmente favorecido, quer pelo clima de paz, que
vigora desde 2002, quer pelos sinais de coerência e sustentabilidade das reformas econômicas,
quer ainda pela legislação específica favorecendo o investimento privado.
É neste cenário que a RECITRANS busca sua oportunidade de internacionalização no
continente africano, através do mercado angolano inicialmente. Além da própria necessidade
local, a organização associou à estratégia o diferencial do seu produto: fibras têxteis
ecologicamente corretas a serem fornecidas dentro de Angola e escoada para a Europa e
demais países do continente Africano.
Dentro de Angola, um ponto crucial da estratégia é a utilização do incentivo fiscal
SGP – Sistema Geral de Preferências, este foi criado para que os países em desenvolvimento
pudessem ter acesso a mercados desenvolvidos. Este incentivo propicia vantagens para quem
importa bens ou serviços de países em desenvolvimento.
O mercado da RECITRANS é extremamente inovador, dentro do panorama deste país,
pois, além de desenvolver a atividade de reciclagem, ou seja, os insumos são coletados
diretamente do “lixo”, resultam na produção de fibras de polipropileno, as quais tornam-se
matérias-primas às indústrias têxteis e automobilísticas.
Angola está em crescimento e ideias ecologicamente corretas são bem-vindas dizem
os angolanos e, por isso, o projeto RECITRANS não somente tem uma função econômica,
com bases sociais, através da implementação do processo de reciclagem e da utilização da
mão-de-obra local.
Mesmo com o país em pleno desenvolvimento, em algumas partes de Luanda é
permanente a presença de muito lixo espalhado pelas ruas, casas semidestruídas, restos de
quase tudo, podem ser encontrados por lá. Diante deste cenário, a RECITRANS planeja
desenvolver e promover uma consciência sobre a necessidade e rentabilidade sobre a coleta
coletiva de materiais. Algumas empresas alemãs de coleta de lixo já estão instaladas no país,
promovendo esta atividade e vendendo o resultado.
O que fortalece as perspectivas estabelecidas pela RECITRANS, para a formação de
possíveis parcerias, o que inicialmente seria importado do Brasil, já seria possível extrair da
própria coleta realizada no país.
Dentro de Angola, existem organizações concorrentes no aspecto da coleta seletiva;
para a RECITRANS, porém, a organização traz um diferencial com a produção das fibras ao
setor têxtil. A China também marca presença em Angola, porém a RECITRANS possui
algumas vantagens pela proximidade da língua e cultura, além de estrutura e experiência neste
ramo.
[...] em termos de importância para os negócios, aparecem as três variáveis relacionadas com as questões culturais: língua comum, proximidade cultural e laços históricos, que assumem uma importância acima da média para todas as empresas, sendo que a língua comum registra a cotação mais elevada de todas (COSTA, 2006. p.41).
Outra característica de dificuldade, certamente volta-se para o movimento portuário.
Este se revela congestionado, muitas vezes os navios levam duas semanas para atracar e mais
duas para o desembaraço alfandegário, o que dificulta em termos de controle e planejamento
dos períodos de chegada e partida de mercadorias. Isto traz um obstáculo à manutenção de
estoques e desova da produção.
Outros problemas encontrados no processo de internacionalização da RECITRANS
em Angola e que podem ser destacados são: a burocracia, corrupção e problemas com o visto
de trabalho. É comum ministros angolanos serem sócios de grandes empreendimentos, o que
pode caracterizar tráfico de influência.
A RECITRANS, assim como muitas outras empresas brasileiras, são perseverantes e
buscam desafiar as próprias circunstâncias, mantendo a visão de descobrimento de mercado e
dispor como maior desafio o oceano Atlântico, que separa os dois países.
E não é em vão que os outros países aumentam suas linhas de crédito em Angola,
como é o caso do Brasil ( 500 milhões de dólares) , segundo informações da SECEX em
2010.
6. MÉTODO DA PESQUISA
A empresa pesquisada é a RECITRANS, que iniciou suas operações de comércio
internacional muito recentemente e, portanto, não se tem registros dos resultados das
operações citadas ao longo deste estudo de caso. Optou-se por descrever, qualitativamente,
explorando de forma relativamente aprofundada os seus interesses e prospecções com relação
à possibilidade de instalar-se em Angola, como primeiro passo de seu processo de
internacionalização rumo ao continente africano.
Espera-se que esse projeto de internacionalização traga àquela organização
pesquisada resultados financeiros e econômicos importantes ao longo do tempo, não obstante,
para este momento, são conhecidos os seus planos de preparação e análises de riscos. Não
obstante, em não tendo ainda resultados concretos da internacionalização, vê-se este ponto
como forma delimitante da pesquisa ora efetuada.
Seria de bom alvitre que se efetuasse uma nova pesquisa a respeito da evolução da
organização para detectar seus novos pontos fracos e fortes em operação no mercado
angolano, com vistas a novas possibilidades de internacionalização em outros países do
continente africano.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o fato do Brasil ainda ser caracterizado por um “player” novo no
mercado da internacionalização, no sentido de instalar sucursais em territórios estrangeiros, é
esperado que muitos ajustes e aprendizados ocorram ao longo do tempo, com considerável
custo financeiro em sua curva de aprendizagem.
Vale mencionar, entretanto, que levando em conta as dificuldades econômicas
vivenciadas pelas organizações brasileiras nos últimos 30 anos, elas têm dado respaldo ao
aprendizado do empresariado local, como um todo podemos citar: a instabilidade da moeda
mesmo com câmbio flutuante, mudanças estruturais e conjunturais da política tributária e
fiscal, política industrial amorfa, recursos insipientes por parte das instituições financeiras
federais, falta de incentivo ao empreendedorismo de mercado internacional, entre outras.
Apesar de todas aquelas insuficiências indicadas acima, vários empresários brasileiros
têm disposição e coragem de atirar-se no investimento da internacionalização como no caso
da Vale do Rio Doce, da Marcopolo, da Brasil Foods, da Weg, entre outras, já que essas
atitudes trazem benefícios incalculáveis ao escritório central no Brasil, onde a pró-atividade,
espírito de luta, conquista, aprendizado, inovação e superação têm significado importante na
sua vida profissional e pessoal.
É plausível pensar-se que a experiência da RECITRANS em solo africano, iniciando-
se em Angola, seja uma história repleta de muitas novas experiências positivas, apesar de
todas as dificuldades possíveis daquele país, e que poderá apresentar o crescimento
econômico anual muito além das médias mundiais. Portanto, para o futuro, pode-se elucidar e
voltar ao estudo de caso desta organização, podendo assim descrever sua trajetória de êxito e
sucesso naquele continente gigante e antigo da África.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, A. F. Política, globalização e economia. São Paulo: Editora Contexto, 2006
COSTA, C. G. Proximidade cultural e dinamismo econômico São Paulo: Editora RAE; 2006)
DANIELS, S. D.; RADEBUGH.H. International business: environments, and operation.
USA: Addison-Wesley, 1997
FERRAZ. A; KUPFER, M.; HAGUENAUER, R. Made in Brazil - desafios competitivos para a empresa. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1997 FERRE
IRA; Patricia Magalhães. Tendências de desenvolvimento em
Angola. Lisboa: IEEI, 2010
GUIDE; Antonio Marques. O modelo da TV pública em Angola. São Paulo: Editora da USP,
2007
LOUREIRO; Fernando Augusto de Andrade Vieira. Internacionalização de empresas. In:
Cadernos de gestão tecnológicas. São Paulo:CYTED-NPGCT –USP.
MARQUES; Dalton Siqueira Marques. Internacionalização de franquias; dissertação de
mestrado- USP. São Paulo: Editora da USP, 2006
PINCHOT, GIFFORD. Intra-empreendedorismo na prática. Rio de Janeiro, Editora
Campus, 2004
ZONA DE DESENVOLVIMENTO DE ANGOLA. Disponível em www.angoladigital.com.br; Acesso em 04/04/2011.
INTERNACIONALIZAÇÃO E LOGÍSTICA DE SERVIÇOS: PROJET O DE
IMPLANTAÇÃO DE CUSTOMER SERVICE POR EMPRESA BRASILEIRA DE
PEQUENO PORTE
ENSAIO ACADÊMICO
KRETZMAN, VERÔNICA* MENDES, LÍLIAN*
PELEGRINI, DAVI* ROCHA, TAINÃMOARA*
CARDOSO, DANIELL* CASTELLUBER, MAIRA*
FERRATO, ELIO**
RESUMO Ao se internacionalizar, as empresas estão expostas a uma pressão competitiva muito maior do que a existente no mercado local. Esse ambiente gera pressões no lado da demanda, com consumidores que exigem alta qualidade e preços baixos, e também no lado da oferta, onde acontece a competição com rivais internacionais. Neste contexto, o avanço tecnológico como fator que permite lançar produtos superiores aos da concorrência, com redução de custos e preços através da inovação nos processos de produção, já é incorporado como parte da estratégia de número significativo de organizações com background para esse nível de expansão. Porém, a prestação de serviços de alta qualidade, enquanto diferencial competitivo, é pouco explorada, não sendo frequentemente considerada como principal fundamento para uma estratégia capaz de fidelizar clientes e agregar valor ao produto, atribuindo um selo de qualidade à imagem da empresa. O presente estudo desenvolve o plano de internacionalização da empresa Link! Indústria e Comércio LTDA, constituída em 2008 à raiz do objeto do Projeto Integrador do curso Superior de Tecnologia em Comércio Exterior. Embasado na diversidade da prestação de serviços como diferencial competitivo, são considerados fatores inerentes a tal operação a compreensão básica a respeito das Teorias de Internacionalização, do Posicionamento de mercado, e, principalmente, do Planejamento Estratégico que poderá viabilizar a implantação de uma filial em Portugal. Palavras-chave: Internacionalização; avanço tecnológico; diferencial competitivo; planejamento estratégico; logística de serviços.
* Graduados no UniAnchieta pelo Curso Superior de Tecnologia em Comércio Exterior
** Professor Doutor em Engenharia de Produção e Coordenador do Curso de Comércio Exterior
1. Introdução
A organização criada atua no ramo de componentes elétricos onde a estratégia da
então nomeada Link! Importação e Comércio, era revender maquinário industrial importado,
desenvolvendo-se inicialmente na indústria nacional, aproveitando-se da versatilidade do seu
produto para ganhar mercado e know how.
Constituição: Março de 2008 em sociedade limitada.
Razão Social: Link! Importação e Comércio LTDA – nome fantasia: Link!
Classificação da Atividade: 4363-00/00 Comércio de Máquinas para uso Industrial
Ramo de Atuação: Indústrias produtoras de falantes, transformadores, eletrodomésticos e
demais Componentes Elétricos.
Produto Comercializado: Bobinadeira automática e computadorizada, com comprimento de
fio programável, destinada à produção de bobinas e relés dotados de controle de tensão.
Modelo: BOK-01A/BTR-1
Origem: Shenzhen, China - Fornecedor: Nittoku Engineering Co. LTD.
O equipamento com tecnologia chinesa apresentava diferenciais competitivos que o
mercado nacional não podia oferecer. Menor, mais leve, de operação simples e com precisão
maior do que milimétrica no bobinar dos fios, o sistema computadorizado permitia ainda,
armazenar em sua memória diversas características de volume, quantidade de voltas, tipo de
fio, tensão, etc. permitindo que um único equipamento fosse capaz de produzir diversos tipos
de bobinas. Não usando apenas da tecnologia, pacotes de treinamento, assistência e a tradição
do fornecedor Chinês nesse segmento de mercado tornavam a aquisição viável, e conferia ao
produto credibilidade e qualidade capazes de justificar o preço de venda.
A aceitação do produto foi tão positiva, que o plano de ação foi reformulado para
incorporar também o mercado externo. Para ganhar credibilidade internacional, Link! Firmou
parceria oficial com seu fornecedor e passou a prospectar clientes na América Latina. Iniciou
as vendas para a Argentina, adotando como estratégia a busca por empresas com filiais e
parceiros fora do país, aplicando propostas diferenciadas de fornecimento “casado” para o
grupo. Para que o fator geográfico não causasse impacto negativo, já que a distribuição seria
feita a partir da sede no Brasil, a importação das bobinadeiras da China e exportação das
mesmas para a Argentina foi operada em regime de Back to Back.
Com a mercadoria entregue diretamente ao cliente, não ocorre a nacionalização da
mesma e o preço não sofre alteração de impostos brasileiros. Em sua primeira parceria com
outra indústria de segmento similar, a Matrizol LTDA, produtora de papéis térmicos, a Link!
varia o mix de produtos para atender a demanda de um projeto específico para o Chile,
fornecendo também os componentes termo-isolantes de todos os transformadores elétricos
produzidos para o país durante sua fase de recuperação após o terremoto de 2010. O sucesso
da parceria resulta na aquisição da Matrizol, incorporando também sua carteira de clientes,
mantendo-se no segmento de componentes elétricos e abrindo um novo mercado. A aquisição
levou a alteração do ramo de atividade e razão social, passando a atuar como Link! Matrizol
Indústria e Comércio de Componentes Elétricos LTDA.
Como explica o Economista Dr. Francisco Américo Cassano, em seu artigo “A Teoria
Econômica e o Comércio Internacional” (PESQUISA & DEBATE 2002) “[...] Embora a
questão de maiores lucros seja fundamental para a decisão de lançar-se um novo produto, as
empresas consideram em primeiro lugar a demanda do mercado em que elas já atuam.”
Sendo assim, o novo cenário formado fundamentou a internacionalização, fez clara a
sua necessidade e teve como principal motivação para a mesma:
• Promover a Sustentabilidade do negócio;
• Desenvolver After Marketing do Mercado Europeu, que após a expansão resultante da
incorporação Matrizol, era carente por serviços autorizados e special care.
Considerando a Teoria, a Organização Industrial e o Ciclo de Vida do Produto
A Teoria da Internacionalização (Buckley & Casson, 1976; Rugman, 1980) é
embasada no fato de que a empresa se internacionaliza a partir do momento em que se
envolve em processos mais complexos do que a exportação em si. Tal conclusão é
concomitante com o estudo sobre Organização Industrial (Caves, 1971; Hymer, 1960) cuja
premissa de êxito no estrangeiro depende da exploração das vantagens comparativas de um
produto para com as imperfeições do outro mercado e produtos em questão. A empresa
internacionaliza-se para explorar as vantagens de outros países e não ficar dependente das
oscilações das exportações e importações.
Relacionar estes estudos permite descobrir o processo de internacionalização como
parte da evolução organizacional no cenário corporativo, sem limitá-lo apenas às operações de
compra ou venda fora do âmbito nacional. No cenário em questão, a empresa Link! Indústria
e Comércio LTDA incorpora esse conceito à sua Missão, expandindo seu projeto de
internacionalização para o seguimento de serviços, explorando-o como vantagem competitiva
não só para seu mercado, mas também para seu produto.
Estendendo o entendimento de tais estudos para a análise prática do produto em si,
segundo a Teoria do Ciclo dos Produtos (Raymond Vernon, 1996), considerando o tempo de
vida de um produto e o investimento feito ao longo da mesma, existe um ciclo de vida
composto por três fases, resumidas, basicamente, na introdução de um novo produto, sua
maturação e posterior padronização:
Após a introdução, surge a necessidade de expandir a produção, considerando
naturalmente a tendência de absorver mercado externo. A ida para o exterior marca a fase de
maturidade do produto, ou seja, a empresa busca no mercado externo um complemento para
seu próprio mercado, este constitui o ápice da vida do produto.
Relacionar as três teorias acima permitiu a Link! Indústria e Comércio LTDA projetar
sua internacionalização em seu conceito mais completo e prático, compondo seu processo de
amadurecimento e unindo esses dois fenômenos na conquista de posicionamento de mercado.
Figura 01: Ciclo de Vida do Produto: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_de_vida_do_produto> Acesso em Fev.2011
2. Referencial teórico
2.1 Internacionalização e Análise de Investimentos
Investir significa aplicar recursos monetários em empreendimentos a fim de gerar
lucros, normalmente, em longo prazo. Investir é preciso, o investimento é o único meio
através do qual o crescimento da capacidade produtiva pode ser contínuo e inovado.
No caso da empresa investigada – Link! Matrizol Indústria e Comércio LTDA – a
internacionalização era motivada pela necessidade de atender um mercado específico, o que
tornava ainda mais importante a análise do projeto, pois falhas no mesmo colocariam em risco
não só o investimento em si, mas também o mercado até então desenvolvido. A aplicação do
capital deveria ser consciente e precisa, para que um novo projeto, aparentemente capaz de
alavancar receitas e levar o produto à sua maturidade, não se transformasse em um risco
desmedido, uma decepção futura. A seguir é apresentado o desfecho da Análise de
Investimentos que efetivamente comprova a viabilidade do projeto ilustrado, bem como os
fatores estudados, decisivos à lucratividade e atratividade de sua implantação:
A análise de fluxo de caixa financeiro é um instrumento de gestão e importante fator
na tomada de decisão, pois só através dele é possível obter uma visão global da capacidade de
movimentação financeira da empresa e também da proposta de investimento. A previsão dos
recursos financeiros, vendas, pagamentos, recebimentos e saldos são representados como
entradas e saídas, de forma acumulada ao longo do tempo, evidenciando picos na
movimentação, períodos de “gargalo” ou “conforto” financeiro, possibilidade de realizar
aplicações ou necessidade de redução de despesas.
Tabela 01: Fluxo de Caixa Financeiro Link! Matrizol Indústria e Comércio LTDA.
O Payback Period consiste no tempo necessário para que as entradas geradas pelo
investimento cubram o gasto inicialmente realizado. No entanto, não se faz um investimento
para recuperar o capital, e sim para obter lucro. Portanto, deve ser utilizado como método
analítico, e não como ferramenta aprobatória, pois não considera os ganhos após a
recuperação do investimento, nem o escalonamento das entradas.
A Taxa de Retorno Interno (TIR) determina a atratividade do investimento, o retorno
próprio do projeto, obtido por meio do fluxo de caixa do mesmo e da comparação com o custo
da oportunidade do negócio (Custo capital). Sabendo apenas que a TIR de determinado
projeto é, por exemplo, 15% ao ano, não é possível julgar se o mesmo é atrativo ou não, pois
apenas essa informação não oferece base para comparação. Porém, sabendo que o custo de
oportunidade do mesmo é de 12% ao ano, pode se concluir que o projeto é economicamente
viável, pois as entradas superam o investimento inicial feito no projeto.
Tabela 02: Demonstrativo do Cálculo de Payback para o Projeto de Internacionalização Link! Matrizol Indústria e Comércio LTDA.
Tabela 03: Demonstrativo do Cálculo da Taxa de Retorno Interno para o Projeto de Internacionalização Link! Matrizol Indústria e Comércio LTDA.
A TIR de um investimento pode ser: maior do que seu custo capital: significa que o
investimento é economicamente atrativo; igual à taxa mínima do custo capital: indica um
investimento economicamente indiferente; menor do que a taxa mínima de custo capital: o
investimento não é economicamente atrativo, pois seu retorno não cobre sequer seu custo
inicial.
O Valor Presente Líquido (VPL) é uma função utilizada na análise da viabilidade de
um projeto de investimento. Ele é definido como o somatório dos valores presentes dos fluxos
estimados de uma aplicação, calculados a partir de uma taxa dada e de seu período de
duração. Essa taxa é chamada Taxa de Atratividade ou Custo Capital, e representa o mínimo
que um investidor se propõe a ganhar em um investimento, ou o máximo que um tomador de
dinheiro se propõe a pagar quando faz um financiamento. Os fluxos estimados podem ser
positivos ou negativos, de acordo com as entradas ou saídas de caixa. A taxa fornecida à
função representa o rendimento esperado do projeto.
3. A Gestão Financeira que Antecede o Projeto
Tabela 04: Demonstrativo do Cálculo do Valor Presente Líquido para o Projeto de Internacionalização Link! Matrizol Indústria e Comércio LTDA.
Diferentemente da análise do investimento, o estudo a seguir precede a execução do
projeto e determina a disponibilidade financeira para o investimento. Não bastava à Link!
Matrizol estudar a viabilidade ou tempo de retorno projetado para sua internacionalização, era
mandatório para implantação do projeto a análise da situação financeira inicial da
organização, antes de mover fundos para executá-lo. Segue o estudo da situação econômica da
organização ilustrada, que permite concluir sua aptidão para a realização do investimento no
projeto.
“A análise de balanços envolve a avaliação de um conjunto de demonstrações financeiras e outras informações fornecidas pelas empresas, não se limitando exclusivamente ao
Balanço Patrimonial e à Demonstração de Resultado do Exercício. (SCHRICKEL, 1999, p. 118).”
Assim como o Fluxo de Caixa Financeiro, a Análise do Fluxo de Caixa Operacional
permite o estudo da movimentação global do capital e auxilia na tomada de decisão com base
nas atividades financeiras da organização, porém, neste fluxo, o registro é atual. Sabe-se o
saldo em caixa depois de pagas as despesas e também os recebíveis em curto prazo.
Fundamental para determinar a capacidade financeira de investimento na internacionalização
e o nível de comprometimento com fornecedores.
Feita a partir da Demonstração de Resultados (DRE) e também do Balanço
Patrimonial do ano vigente e ano anterior, a Análise Vertical e Horizontal do Balanço
Patrimonial permite um “diagnóstico” da situação financeira da organização, revelando o
Tabela 05: Demonstrativo do Fluxo de Caixa Operacional da Link! Matrizol antes de iniciar o projeto.
Tabela 06: Análise Vertical do Balanço Patrimonial Link! Matrizol
Tabela 07: Análise Horizontal do Balanço Patrimonial Link! Matrizol
comportamento da mesma de um ano para o outro, insuficiência de capital e nível de
imobilização.Sendo avaliações complementares entre si, geram conclusões exatas apenas
quando avaliadas em conjunto. A Análise Vertical estuda cada grupo de contas do ativo e do
passivo e as compara ao grupo como um todo. Já a Análise Horizontal indica as variações de
resultado entre o ano base e o ano anterior.
As análises revelaram um crescimento satisfatório de capital em bancos e
investimentos, de um ano para outro, a partir da queda na porcentagem de duplicatas a receber
subentende-se a entrada do recebível. A redução de imóveis evidenciou a visão
empreendedora da empresa, que, não mantendo capital imobilizado, pode investir em fundos
com rendimento futuro. Embora haja dívida com fornecedores, não há sinal de
comprometimento e, uma vez que a capacidade para pagar seus credores não está afetada, a
necessidade de compra pode ser atribuída ao aumento das vendas.
4. Logística de Serviços
Como mencionado na introdução, diferente da maioria dos embasamentos para
expansão corporativa, o Projeto de Internacionalização Link! Matrizol foi fundamentado,
dentre outros estudos, na Prestação de Serviços Enquanto Diferencial Competitivo e fator
gerador de lucro. Embora o termo Gestão de Serviços não seja relativamente novo
(publicações a respeito datam antes de 1993), apenas recentemente o conceito foi vinculado às
operações de Logística, mais especificamente, à Gestão da Cadeia de Suprimento.
“A gestão da cadeia de suprimentos apresenta-se no atual ambiente de negócios, como uma ferramenta que permite ligar o mercado, a rede de distribuição, o processo de produção e a atividade de compra de tal modo que os consumidores tenham um alto nível de serviço ao menor custo total, simplificando assim o complexo processo de negócios e ganhando eficiência (BALLOU et al., 2000; CHISTOPHER, 2001; BOWERSOX e CLOSS, 2001).”
O sucesso de um negócio já não depende mais única e exclusivamente da tecnologia,
qualidade ou do preço do produto oferecido. A própria globalização tornou estes requisitos
algo básico no desenvolvimento de qualquer produto, forçando as organizações a buscar
outros aspectos como diferencial competitivo. A definição da qualidade do produto estende-se
também à qualidade do serviço prestado (“Revolução nos Serviços - Albrecht, Karl
8522101361) e o próprio cliente passa a representar a continuidade do negócio.
A partir da Relação cadeia de suprimentos x serviços, o Projeto de Internacionalização
Link!Matrizol foi desenvolvido analisando as questões logísticas sob a ótica da otimização o
serviço prestado, e considerando a nova realidade da Logística de Serviços.
O Ciclo da Prestação de Serviços
Figura 02: Pirâmide da Logística de Serviços. <http://www.highpluss.com.br/index2.htm> Acesso em jan.11
Ao programar os serviços prestados foi preciso considerar o objetivo principal do
projeto: Promover maior sustentabilidade ao negócio no mercado europeu, atendendo sua
demanda e suprindo sua necessidade pela prestação de serviços – com a necessidade mais
básica e óbvia de qualquer empreendimento: LUCRO. Assim, desenvolveu-se uma linha de
serviços capaz de atender tanto o cliente que já adquiriu produtos Link! Matrizol, e, dentro do
período de garantia de seu produto, precisam de atendimento, quanto àquele cliente cujo
tempo de garantia está acabado. Considerando que o tempo de garantia da maioria dos
produtos comercializados é de dois anos, e que as atividades de ambas as empresas antes da
incorporação iniciaram-se em 2008, o perfil de cliente que representa consumo ativo e
capacidade de gerar lucro, compreende mais de 50 % da carteira de cliente européia.
De acordo com Philip Kotler e Gary Armstrong (KOTLER, ARMSTRONG 2000),
posicionamento de mercado se define como “[...] ato de desenvolver a oferta e a imagem da
empresa para ocupar um lugar destacado na mente dos clientes-alvo”. Daí a importância do
tempo de garantia, é nesse período que a empresa se posiciona junto ao cliente, fidelizando-o.
5. O porquê de Portugal
Embora inicialmente inusitada, houve muitos pontos que fizeram de Portugal o local
ideal para implantação da Filial Link! Matrizol Indústria e Comércio. Em pesquisa acerca dos
países mais resistentes e burocráticos à abertura de novas empresas estrangeiras, realizada no
ano de 2009 com mais de 2.350 especialistas e 87 países analisados, desenvolvida pelo BIRD
(Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento – grupo de assistência técnica e
financeira para países em desenvolvimento ao redor do mundo, que objetiva reduzir a pobreza
através de projetos em diversas áreas) foram avaliadas as leis e as práticas que afetam o
Com clientes ativos desde 2008, o ciclo da
prestação de serviços é movido pelas
vendas realizadas, passando pelo período
de garantia do produto e retornando para a
necessidade de serviços ao término da
mesma.
Movimentação Constante
Figura 03: Ciclo da Prestação de Serviços – Ilustrativo.
investimento estrangeiro direto. No rol dos países mais burocráticos, o Brasil fica em quarto
lugar, aqui os estrangeiros levam em média 166 dias para abertura de empresas, perdendo
apenas para Angola (263 dias), Haiti (212 dias) e Venezuela (179 dias). No fim da lista estão
Canadá (seis dias), Ruanda e Geórgia (quatro dias). O estudo em questão mostra apenas um
dos fatores pelo qual é importante considerar a burocracia do local onde se pretende
internacionalizar e saber quão resistente este local é ao capital estrangeiro.
A incorporação da carteira Matrizol não só alterou o mix de produtos oferecidos pela
Link! mas também aumentou a concentração de clientes na Europa, gerando,
consequentemente, a demanda por serviços diferenciados, em um mercado com níveis
elevados de expectativa e exigência do consumidor. A principal preocupação logística era
atender a região sem a barreira da posição geográfica matriz-mercado. Era preciso atender o
mercado europeu sem entrar, necessariamente dentro dele, submeter-se aos impostos,
burocracia para abertura de empresas e concorrência. Daí a importância estratégica de
Portugal. A proximidade dos vizinhos europeus ligados em sua maioria com redes de metrô
desenvolvidas justamente com esse propósito, eliminariam a barreira logística de
deslocamento. No entanto, existe muito mais para explorar no ambiente lusitano. Portugal
mostra-se pioneiro em muitos aspectos e bastante focado no desenvolvimento intra-estrutural.
A determinação do país em atrair investimentos fez de Portugal uma opção a ser analisada e
considerada, ao que tudo indica, como um possível player importante no futuro europeu.
Menos Burocracia, Mais Empresas
Foi essa iniciativa que rendeu à Portugal o prêmio da primeira edição do European
Enterprise Awards, em 2006, na categoria Improving the Business
Environment. O objetivo do prêmio é, como o próprio nome já diz,
recompensar as empresas com iniciativa empreendedora no mercado europeu,
em 5 categorias específicas. Portugal foi premiado por melhorar o ambiente
negocial na europa, o responsável foi o projeto Empresa na Hora, implantado
em 2005, permitindo a criação de empresas pela internet, de maneira rápida (42 minutos) e
com todo suporte legal necessário. (Maiores informações sobre o European Enterprise
Awards através do endereço eletrônico http://ec.europa.eu/enterprise )
Projeto Sucursal na Hora
A Sucursal na Hora é uma medida do programa SIMPLEX 08, promovida pelo
Ministério da Justiça, e resultante de um intenso processo de “desburocratização” pelo qual
Portugal vem passando desde 2005, quando lançou serviços como o mencionado acima,
permitindo que processos para abertura de empresas e envio de informações obrigatórias,
antes feito de maneira complexa, lenta e cara, fossem agilizados e se tornassem mais
acessíveis aos empresários, fazendo de Portugal a opção mais prática para negócio na Europa,
e atraindo muitos investimentos para o País. Após a instituição de tais programas, mais de
48.183 empresas foram constituídas, e 72% deste total foi feito através destes novos serviços.:
A Sucursal na Hora foi criada pelo Decreto-Lei n.º73/2008, 16 de
Abril, e entrou em funcionamento no dia 17 de Abril de 2008.A
criação de sucursais em Portugal por empresas estrangeiras passou
a ser imediata, no mesmo dia e num único local, disponível em 8
pontos: No Registro Nacional de Pessoas e no Balcão dos Registros
em Lisboa, e nas Conservatórias de Registro Comercial de
Bragança, Cascais, Elvas, Lisboa, Loulé e Vila Nova da Cerveira. Para criar a Sucursal, o
Representante Legal da Empresa Estrangeira apresenta a documentação necessária
(comprovante da existência da empresa estrangeira, deliberações sociais que aprovam a
criação da sucursal, etc.), indicam os representantes da sucursal em Portugal e escolhem a
designação que querem utilizar: sucursal, representação permanente ou outra equivalente. De
imediato, o registro é criado e a nomeação dos seus representantes é publicada no sítio das
publicações do Ministério da Justiça(http://publicacoes.mj.pt/). A sucursal fica inscrita nas
secretarias de finanças e nos registros de seguro social. Imediatamente é entregue de forma
gratuita à nova sucursal:
- Cartão de identificação da sucursal;
- Código de acesso à certidão permanente da sucursal e, a pedido do representante
legal, também um código de acesso a uma certidão permanente em Inglês;
- Número de seguro social da sucursal;
A partir da firma da Sucursal na Hora criada, é gerado automaticamente um registro de
domínio na Internet. Ex.: [email protected] e www.sucursalemportugal.pt
Até agora, a criação de sucursais através do método tradicional podia custar até €495.
A criação de sucursais através do método tradicional passou a custar €200. E a criação de
uma Sucursal na Hora custa metade desse valor: €100. No caso da Sucursal na Hora, trata-se
de uma redução de cerca de 80%.
Maiores informações sobre o Projeto que dá sequência ao grande momento de
abertura do mercado Português, e que contribuiu para o principal fator estratégico do Projeto
de Internacionalização Link!Matrizol estão disponíveis através do endereço eletrônico:
www.portugal.gov.pt
6. Método da pesquisa
Para a realização deste ensaio foi utilizado o método de pesquisa qualitativa, de cunho
exploratório, calcado em uma série de análises bibliográficas nacionais e internacionais, além
de apoiado em informações obtidas por intermédio de entrevistas pessoais não estruturadas a
alguns empresários brasileiros do setor, de pequeno porte.
7. Considerações finais
Após estudar as teorias que fundamentaram o conceito de Internacionalização, aliado à
compreensão do ciclo de vida de um produto e também ao conceito do novo cenário da
Logística de Serviços, tendo a prestação de serviços como fator capaz de agregar valor ao
produto, conclui-se que Internacionalizar uma organização também é internacionalizar seus
processos e sua cultura organizacional, carregando para o exterior sua essência principal e
know how que a conduziram até tal ponto evolutivo, atentando também, às necessidades do
novo mercado, e avaliando como o perfil empresarial deverá ser introduzido, considerando
todos os ambientes do marketing externo.
Mais ainda, concluí-se que a internacionalização é tida como inevitável para não
sucumbir a uma constante estagnação de lucro (incluindo nesse contexto a importância do
fator “cliente” como agente promovedor de lucro) e como evolução natural ao ciclo de vida de
um produto e serviço, permitindo a renovação e lucratividade do mesmo, e
conseqüentemente, da nova organização formada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBRECHT, Karl. Revolução nos Serviços. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. BALLOU, Ronald H.; GILBERT, Stephen M.; MUKHERJEE, Ashok. New Managerial Challenges from Supply Chain Opportunities. Industrial Marketing Management. 29, p.7-18, 2000. BOWERSOX, Donald J.; CLOSS, David J. Logística Empresarial: O Processo de Integração da Cadeia de Suprimento. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2001. BUCKLEY, Peter; CASSON, Mark. The Future of the Multinational Enterprise. London:Macmillan, 1976. CASSANO, Francisco Américo. Economista pela PUC/SP, Mestrando em Economia Política
pela PUC/SP. Dissertação de Mestrado publicada em artigo da revista PESQUISA &
DEBATE, SP, volume 13, n. 1(21), p. 112-128, 2002
CAVES, R. International corporations: the industrial economics of foreign investment. Economical, v. 38, February 1971, p. 1-27. COSTA, Jaciane Cristina ; LADEIRA, Wagner Junior ; RODRIGUEZ,Jorgelina Beltrán. A gestão da cadeia de suprimentos: teoria e prática. XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 ENEGEP 2005 ABEPRO 691. FERRATO, Elio. Internacionalização: Reflexões sobre sua sustentabilidade. Artigo SIMPOI/FGVSP, Anais 2008 KOTLER, ARMSTRONG - Philip Kotler e Gary Armstrong, Introdução ao Marketing - 2000
4ª Edição Editora LTC.
SCHRICKEL, Wolfgang Kurt. Demonstrações financeiras: abrindo a caixa preta: como interpretar balanços para a concessão de empréstimos. 2ª edição, São Paulo: Atlas, 1999. VERNON, R. (1966). The product-cycle hypothesis in a new international environment. Oxford Bulletin of Economics and Statistics, vol. 41.
.
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: IDENTI FICANDO
UM CONJUNTO DE BOAS PRÁTICAS
Vivaldo José Breternitz, [email protected], Faculdade de Computação e
Informática/Universidade Presbiteriana Mackenzie
Antonio César Galhardi, [email protected], Faculdade de Computação e
Informática/Universidade Presbiteriana Mackenzie
Diego Delgado Oliveira Lopes, [email protected], Faculdade de
Computação e Informática/Universidade Presbiteriana Mackenzie
Resumo: A consciência de que é preciso evitar danos ao meio ambiente está chegando à área de Tecnologia da Informação (TI), área cada vez mais importante no ambiente empresarial; a rápida obsolescência dos equipamentos utilizados nessa área e o alto consumo de energia exigido por eles são alguns dos desafios enfrentados pelas organizações que precisam atender às expectativas da sociedade e, ao mesmo tempo, trazer bons resultados aos seus acionistas. Assim, foi objetivo da pesquisa aqui relatada de identificar um conjunto de boas práticas capazes de minorar os impactos negativos derivados das atividades ligadas á TI no âmbito de uma companhia de grande porte, que utiliza intensivamente TI em suas atividades, de forma a que esse conjunto pudesse balizar o processo de Planejamento Estratégico de TI da organização. Essas boas práticas podem, total ou parcialmente, serem adotadas por qualquer organização, independentemente do porte de sua estrutura de TI. Para o desenvolvimento do trabalho, foi delineada uma pesquisa de natureza exploratória, desenvolvida através de pesquisa bibliográfica complementada por estudo de campo. Palavras-Chave: Tecnologia da Informação, Sustentabilidade, Planejamento Estratégico de TI
INTRODUÇÃO
No decorrer de sua história, o homem muitas vezes esbarrou em suas capacidades
limitadas para conseguir sobreviver, gerando assim estímulos para que levaram ao
desenvolvimento de meios que evitassem sua extinção. Em consequência dessa luta pela
sobrevivência, o ser humano evoluiu e aumentou sua capacidade produtiva através do
desenvolvimento de ferramentas, permitindo que se multiplicassem suas capacidades de
controle sobre o ambiente. Mas essa evolução não aconteceu de maneira equilibrada: quanto
mais rápida ela acontecia, em menos tempo o meio ambiente (e o homem nele inserido)
sentia o impacto das suas interferências. Nesse cenário, e em função do crescimento da
população e do consumo cada vez maior dos recursos naturais, está se criando a consciência
de que é preciso evitar os desperdícios e principalmente, diminuir os danos ao meio
ambiente.
Os principais alvos dessa nova forma de pensar são as empresas (especialmente as de
grande porte), que na ótica da população, são os principais vilões no que se refere à agressão
ao meio ambiente. Na atualidade, não se encontram registros de organizações de grande porte
operando sem o uso intensivo de Tecnologia da Informação, que da mesma forma que torna
viável a existência dessas organizações, gera inúmeros problemas ligados ao meio ambiente.
Os recursos necessários à criação de novas tecnologias, sua rápida obsolescência e o alto
consumo de energia e de outros recursos exigido por seu uso, são os principais desafios
enfrentados pelas organizações que buscam atender às expectativas da sociedade e às
diretrizes dos governos na busca da sustentabilidade e, ao mesmo tempo, trazerem resultados
adequados às expectativas de seus acionistas.
OBJETIVO
Isso posto, foi objetivo da pesquisa aqui relatada identificar um conjunto de boas
práticas capazes de minorar os impactos negativos derivados das atividades ligadas á
Tecnologia da Informação no âmbito de uma companhia seguradora de grande porte
(doravante donominada Companhia), que utiliza intensivamente TI em suas atividades, de
forma a que esse conjunto pudesse balizar o processo de Planejamento Estratégico de TI dessa
mesma organização. As boas práticas identificadas podem, de forma total ou parcial, serem
adotadas para qualquer organização, independentemente do porte de sua estrutura de TI.
Cabe observar que a Companhia tem uma área de Responsabilidade Social e
Ambiental, que no entanto não atua em aspectos ligados a TI e que Heng et al. (2011)
ressaltam a importância da divulgação de boas práticas como forma de estimular as
organizações a se preocuparem com o assunto.
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Para o desenvolvimento do trabalho, foi delineada uma pesquisa de natureza
exploratória. No que se refere aos procedimentos técnicos, desenvolveu-se uma pesquisa
bibliográfica complementada por um estudo de campo, que egundo Wazlawick (2010)
constitui um passo fundamental e prévio para qualquer trabalho científico. Nessa linha,
pretendeu-se que os procedimentos adotados fossem os propostos por Goode (1979), que
afirma deverem ser os projetos de pesquisa empreendidos com um estudo inicial da
bibliografia disponível, de forma a que o pesquisador tenha seu trabalho mais focado e se
diminuam as possibilidades de duplicação desnecessária de esforços.
O estudo de campo, nos termos propostos por Gil (1999), foi desenvolvido através de
entrevista semi-estruturadas, que de acordo com Diehl e Tatim (2004), permitem ao
pesquisador desenvolver a entrevista na direção que considere adequada – é uma forma de
explorar amplamente um tema proposto. Flick (2004) diz que quando o entrevistado possui
um grande conhecimento sobre o tópico em discussão, em uma entrevista semiestruturada
pode fornecer algumas informações não antes abordadas que podem possuir valor para a
pesquisa.
Foram entrevistados os seguintes profissionais, empregados da Companhia:
− Coordenador de Infraestrutura de TI.
− Coordenador de Assistência Técnica de TI.
− Coordenador de Engenharia de Infraestrutura de TI.
− Gerente de Governança de TI.
− Gerente de Responsabilidade Social e Ambiental.
As entrevistas semiestruturadas seguiram o roteiro básico que se segue, tendo sido
realizadas no período de agosto e setembro de 2010, nas dependências da referida empresa.
Com todos os profissionais citados acima foram abordados os seguintes itens:
1. Qual seria o primeiro passo para se implementar práticas de sustentabilidade
dentro de uma empresa?
2. Na ausência de políticas e diretrizes da empresa em relação ao tema, é possível a
implantação de práticas de sustentabilidade?
3. Existe algum processo ou atividade que você tentou implantar sem êxito? Em
caso positivo, por que você acredita que tenha falhado?
4. Quais os projetos e planos futuros de sua área em relação a esse tema?
Para o Gerente de Responsabilidade Social e Ambiental foram apresentadas também as
questões que se seguem
1. Você tem algum controle do impacto causado pela área de TI ao meio ambiente?
2. Sua área utiliza/executa algum mecanismo, atividade, processo para evitar ou
diminuir os impactos ambientais da área de TI?
Para os profissionais de TI, foram apresentadas também as questões que se seguem:
1. Você consegue mensurar o impacto causado pela sua área ao meio ambiente?
2. Sua área utiliza/executa algum mecanismo, atividade, processo para evitar ou
diminuir os impactos ambientais da área de TI?
Após a conclusão das entrevistas, os dados levantados foram analisados pelos
pesquisadores, tendo eventuais dúvidas sido dirimidas através de novos contatos com os
entrevistados.
RESULTADOS DA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
São apresentados aqui os resultados da pesquisa bibliográfica, agrupados em três
blocos: Responsabilidade Social Ambiental, Uso Intensivo de TI nas Organizações e
Planejamento Estratégico de TI.
Responsabilidade social ambiental
Nos últimos séculos, o desenvolvimento tecnológico da humanidade foi inigualável;
em nenhum outro período foram feitas tantas descobertas, em todos os campos da ciência.
Isso gerou uma incrível capacidade de produção e de controle dos elementos naturais. No
entanto, esse também é o período histórico em que o ser humano mais avançou em relação
aos meios que podem levá-lo à extinção (DIAS, 2007).
Almeida (2002), deixa claro que o desenvolvimento tecnológico tem tornado cada vez mais
curto o espaço de tempo em que seu impacto sobre o meio ambiente e sobre a sociedade seja
plenamente sentido. A adesão à busca da sustentabilidade pressupõe, portanto, uma noção
clara da complexidade e das sutilezas do fator tempo. Sobretudo, exige uma postura não
imediatista, mas sim uma visão de planejamento e de operação capaz de contemplar o curto, o
médio e o longo prazos, ou seja, cria-se uma percepção de que tudo afeta a todos, cada vez
com maior intensidade e em menor tempo e que o desenvolvimento deva ser buscado, mas de
forma sustentável.
Para Cavalcanti (2009), o desenvolvimento sustentável não se refere especificamente a
um problema limitado de adequações ecológicas de um processo social, mas a uma estratégia
ou modelo múltiplo para a sociedade, que deve levar em conta tanto a viabilidade econômica
como a ecológica. Num sentido abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável leva à
necessária redefinição das relações sociedade/natureza e, portanto, a uma mudança
substancial do próprio processo civilizatório.
A noção de sustentabilidade pode ser melhor entendida quando atribui-se um sentido
amplo à palavra sobrevivência. O desafio da sobrevivência, luta pela vida, sempre dominou o
ser humano. Inicialmente, no enfrentamento dos elementos naturais e, mais tarde,
principalmente agora no século XXI, no enfrentamento das consequências trazidas pelo
imenso poder de transformação desses elementos acumulados pelo homem (ALMEIDA,
2002).
A conscientização ambiental ao longo do tempo ocorreu paralelamente ao aumento de
denúncias de destruição do meio ambiente. Pode-se notar que o crescente envolvimento da
sociedade civil, reunindo-se em organizações não governamentais e pressionando
organizações públicas e privadas a mudarem suas políticas de conduta, gerou um grande
número de normas e regulamentos que se disseminaram pelo mundo. Essa nova realidade
implica em uma radical mudança de atitude por parte das organizações do setor privado e
público da economia, que têm cada vez mais de a necessidade de considerar a opinião pública
como um dos fatores motivadores a discussão de questões ambientais (DIAS, 2007).
Ainda segundo Almeida (2002), no mundo atual a atividade econômica, não pode ser
pensada ou praticada de forma isolada, porque tudo está inter-relacionado, em permanente
diálogo. A sustentabilidade exige uma postura preventiva, que identifique tudo que um
empreendimento pode fazer de positivo para ser maximizado e de negativo para ser
minimizado. Ainda de acordo com esse autor, no universo empresarial, a dimensão ambiental
era vista (e ainda é em muitos casos), na melhor das hipóteses, como um mal necessário. No
máximo, as empresas submetiam-se aos controles estabelecidos pelo poder público.
Com base nessas observações, sugere-se (DIAS, 2007), que o desenvolvimento
sustentável nas organizações apresente três dimensões: a econômica, que prevê que as
empresas têm de ser economicamente viáveis, trazendo retorno ao investimento realizado; a
social, que deve buscar proporcionar as melhores condições de trabalho aos seus empregados
e, por fim, a ambiental, que indica que a empresa deve adotar processos produtivos mais
limpos e oferecer condições para o desenvolvimento de uma cultura ambiental em seu seio. O
fundamental para as organizações é estabelecer um equilíbrio entre essas três dimensões para
que todo o sistema torne-se viável.
Almeida (2002) acredita que para ser sustentável, uma organização tem de buscar em
todas as suas ações e decisões, em todos os seus processos, atividades e produtos, incessante e
permanentemente, a ecoeficiência. A empresa deve incluir entre seus objetivos o cuidado com
o meio ambiente, o bem-estar dos stakeholders e a constante melhoria da sua própria
reputação. Deve fazer com que seus procedimentos levem em conta não somente os custos
presentes, mas também os custos futuros, estimulando a busca constante por ganhos de
eficiência, através do investimento em inovação tecnológica e de gestão.
Atualmente, segundo Dias (2007), há diversas razões que podem incentivar uma
empresa a se envolver mais concretamente em técnicas de gestão ambiental como parte de seu
processo de desenvolvimento e inovação; dentre elas necessidade de redução de custos,
incremento de qualidade de seus produtos e serviços, melhoria da imagem, demanda do
mercado, concorrência, legislação ambiental, certificações ambientais, exigências dos
fornecedores etc.
Dada essa situação, surge um novo conceito, o de responsabilidade social empresarial
(RSE), que visa promover um comportamento empresarial que integra elementos sociais e
ambientais que não necessariamente estão contidos na legislação, porém, que atendem às
expectativas da sociedade em relação à empresa; o objetivo dessa pesquisa se coaduna com
esse conceito.
Uso Intensivo de TI nas Organizações
Para que as organizações sobrevivam e prosperem no atual ambiente de negócios, é
fundamental o uso intensivo da TI, que Rezende e Abreu (2007) conceituam como os
conjunto de recursos tecnológicos e computacionais utilizados para a geração e uso da
informação.
O enorme salto tecnológico ocorrido nos últimos anos, especialmente após a
popularização da WWW (World Wide Web), da tecnologia cliente/servidor e dos
microcomputadores e dispositivos móveis, transformou, de maneira decisiva a forma pela
qual trabalhamos. Quando se adiciona tecnologia, pode-se executar qualquer processo com
custo menor, menos recursos, mais qualidade, menos tempo – enfim, com mais eficiência e
eficácia.
Com o constante aumento da concorrência global, as empresas precisarão ter, além
processos melhor executados, mais informações acerca do mercado, dos planos e intenções
de consumidores, competidores, governos e outros stakehorders.
Porém, a utilização de TI não é somente fonte de benefícios. Traz também um impacto
negativo muito grande ao meio ambiente, desde o desenvolvimento de produtos até o seu
descarte; a IBM (2010) discute diversos aspectos desses problemas, relatando que entre 1990
e 2009, economizou 5,1 bilhões de kWh de eletricidade, deixou de emitir cerca de 3,4 milhões
de toneladas métricas de CO2 e poupou mais de US$ 370 milhões apenas através de ações na
área de conservação de energia – aliás, já em 2007 as atividades ligadas a TI eram
responsáveis por cerca de 2% da geração total de CO2 (THE CLIMATE GROUP, 2009).
Garcia e Milagre (2008), mencionam como grandes problemas, além dos recursos
naturais necessários à produção de hardware, a grande quantidade de energia utilizada pelos
grandes data centers, energia necessária ao funcionamento e meios de resfriamento dos
computadores, além do descarte dos itens tecnológicos que se tornaram obsoletos; a vida útil
dos equipamentos vai se tornando cada vez mais curta, fazendo com que as grandes
corporações e até mesmo as pessoas comuns, troquem frequentemente seus computadores,
impressoras, celulares e outros, que geralmente acabam sendo descartados no meio ambiente,
trazendo inúmeros problemas, como a contaminação pelos seus componentes tóxicos. Para se
ter uma ideia da gravidade do problema, apenas no Brasil foram vendidos cerca de 26 milhões
de telefones celulares e quase 14 milhões de computadores no ano de 2010 (INFO, 2010).
Planejamento Estratégico de TI
Como mencionado anteriormente, para que as organizações sobrevivam e prosperem
no atual ambiente de negócios, é fundamental o uso intensivo da TI. De forma análoga, o
senso comum permite afirmar que a utilização de técnicas de planejamento estratégico,
mesmo que de forma intuitiva ou não formal no caso de organizações de menor porte, é
fundamental para que as mesmas sobrevivam e prosperem.
Mintzberg (2004), diz que planejamento pode ser entendido como “pensar no futuro”,
afirmando também que o mesmo é um procedimento formal que passa por diversas etapas,
dentre elas a análise do ambiente para que se possa formular as diretrizes da organização,
determinando-se estratégias e planos de ação que levarão aos resultados esperados, medidos
através de alguma sistemática de controle determinada.
Sendo a utilização intensiva de TI fundamental para que a organização atinja seus
objetivos, é natural que a mesma deva ser objeto de planejamento, que é formalizado através
do que muitos autores, como Rezende (2002), chamam de Planejamento Estratégico de
Tecnologia da Informação (PETI) e que pretende fornecer uma visão geral dos conceitos,
modelos, métodos, práticas e ferramentas de TI necessários para que a organização atinja seus
objetivos maiores.
É importante registrar que o PETI deve ser coerente com as demais estratégias e
planos de ação traçados para as demais áreas da organização, pois a pura e simples aplicação
de TI aos processos empresariais não gera benefícios que justifiquem os recursos dispendidos
(MAÑAS, 2002).
Como resultado da pesquisa bibliográfica, pode-se inferir que é útil tentar identificar
um conjunto de boas práticas a ser incluido no PETI da organização em estudo, balizando sua
elaboração e visando minorar os impactos negativos derivados das atividades ligadas á
Tecnologia da Informação – essa utilidade levou os pesquisadores ao desenvolvimento do
estudo de campo, cujos resultados são apresentados a seguir.
RESULTADOS DO ESTUDO DE CAMPO
São apresentados aqui, item a item, os resultados da pesquisa de campo; inicialmente
são trazidos os resultados obtidos nas discussões dos itens apresentados a todos os
entrevistados.
Ítem 1: Qual seria o primeiro passo para se implementar práticas de sustentabilidade
dentro de uma empresa?
Percebeu-se, na maioria dos entrevistados, uma tendência a apontar como primeiro
passo a existência de apoio das lideranças. O Coordenador de Infraestrutura de TI acredita
que é preciso ser o tema explicitado na declaração de missão da área de TI, mostrando que ser
uma área sustentável é tão importante quanto, por exemplo, ser uma área de ágil e flexível –
julga ser preciso incluir as preocupações com sustentabilidade no dia-a-dia da área e de cada
colaborador.
O Coordenador de Assistência Técnica de TI, acredita que os líderes precisam
conversar com suas equipes para mostrar os benefícios que podem ser alcançados com a
realização das práticas sugeridas pela Companhia, incentivando cada um deles a atuar como
um “agente sustentável”, que adiciona valor à Companhia, à sua equipe e a si mesmo.
Um grupo menor discorda e indica que o primeiro passo para se estabelecer uma
política de sustentabilidade dentro de uma empresa é ter este tema fortemente associado aos
valores pessoais de cada colaborador. Segundo o Gerente de Responsabilidade Social e
Ambiental, área ligada ao departamento de Recursos Humanos da Companhia, é preciso
mudar o modo como se contrata os funcionários, sendo preciso analisar se os candidatos
possuem em suas características, além dos requisitos definidos para o cargo, entendimento
sobre sustentabilidade e sobre práticas ambientais. Como é inviável reavaliar o quadro atual
de colaboradores, sugere-se então que a empresa promova programas de treinamento para
que seus funcionários adquiram estes conceitos básicos.
Ítem 2: Na ausência de políticas e diretrizes da empresa em relação ao tema, é
possível a implantação de práticas de sustentabilidade?
A maioria dos entrevistados acredita que a adoção de práticas de sustentabilidade em
um ambiente corporativo não é inviabilizada pela inexistência de diretrizes e políticas da
empresa, porém este processo apenas muito lentamente adquirirá um grau de maturidade que
possa ser considerado eficiente.
O Gerente de Governança de TI acredita que os funcionários podem e devem trazer
contribuições sobre sustentabilidade para a empresa, sem a necessidade de esperar por uma
diretriz da alta hierarquia da empresa. O coordenador de Infraestrutura de TI concorda com a
afirmação e complementa, dizendo que o colaborador precisa agir de forma pró-ativa trazendo
para a Companhia inovações e tendências, sugerindo melhorias e identificando os pontos
falhos nos processos existentes. Segundo o mesmo, durante a sua carreira no ambiente
corporativo, pôde perceber que essas melhorias, mesmo que pequenas, podem causar
impactos de porte.
Baseando-se principalmente em sua experiência em outras empresas, o Coordenador
de Engenharia de Infraestrutura de TI, afirma que uma empresa que não está aberta a receber
este tipo de proposta reluta mais em desenvolver projetos com diretrizes sustentáveis do que
as que acreditam no tema. Ele afirma que um dos principais motivos para isso são os custos
iniciais, usualmente altos, que muitas dessas iniciativas têm em relação às tradicionais,
fazendo com que algumas empresas simplesmente não queiram avaliar o retorno dos
projetos, sejam eles quantitativos ou qualitativos; Heng et al. (2011) afirmar que as empresas
tendem a somente abraçar projetos desse tipo quando os mesmos trazem retorno financeiro no
curto prazo. Outro aspecto considerado importante pelo entrevistado é a viabilização de um
canal de comunicação que permite ao colaborador trazer suas ideias e críticas em relação ao
tema..
Ítem 3: Existe algum processo ou atividade que vocês tentaram implantar que não deu
certo? Se sim, por que você acredita que tenha falhado?
A totalidade dos entrevistados informou que não houve tentativas falhas de
implantação de processos sustentáveis em TI dentro da Companhia.
Item 4: Quais os projetos e planos futuros de sua área em relação a esse tema?
Dois (40%) dos entrevistados afirmam que possuem projetos futuros. O Coordenador
de Assistência Técnica de TI pretende criar um processo de gestão de fornecedores conhecido
no mercado como trade in, ou seja, se escolhe os fornecedores que derem a opção de
recompra do hardware fornecido quando este estiver em desuso. Outro projeto que está em
fase de teste é o uso de vídeo conferências nas reuniões que envolvem os cargos de gerência e
superiores a fim de reduzir gastos com viagens, que geram uma alta emissão de carbono.
O Gerente de Responsabilidade Social e Ambiental pretende viabilizar a revisão dos
processos da Companhia, automatizando-os com o uso de formulários eletrônicos que geram
uma redução no número de impressões e em consequência, no uso de papel.
Foram também discutidos dois itens específicos com o Gerente de Responsabilidade
Social e Ambiental, a saber:
Ítem 1: Você tem algum controle do impacto causado pela área de TI ao meio
ambiente?
Os únicos controles disponíveis referem-se aos gastos com energia e impressão e com
descarte de hardware obsoleto.
Ítem 2: Sua área utiliza/executa algum mecanismo, atividade, processo para evitar ou
diminuir os impactos ambientais da área de TI?
O entrevistado respondeu que, acerca do tema, a área de Responsabilidade Social e
Ambiental criou um comitê onde os números obtidos com os controles são apresentados, e
discutidos mecanismos para melhorar esses números, sendo também apresentados novos
conceitos de sustentabilidade em TI e as sugestões advindas dos colaboradores. Esse comitê é
formado pelos líderes da área operacional de TI e por funcionários da área de
Responsabilidade Social e Ambiental.
Outras atividades são a execução de campanhas, como por exemplo, incentivando a
utilização dos dois lados das folhas de papel nas impressões, coleta seletiva e prática da
reciclagem.
Foram também abordados dois itens apenas junto aos entrevistados que atuam na área
de TI; os resultados obtidos são apresentados a seguir.
Itens 1: Você consegue mensurar o impacto causado pela sua área ao meio ambiente?
Quatro (75%) dos entrevistados informaram que não tem controle sobre as atividades de TI.
Neste ponto, vale frisar que o Gerente de Governança de TI, área responsável por coletar os
indicadores estratégicos, táticos e operacionais da empresa, afirma não ter qualquer
relacionamento com o tema. Um (25%) dos entrevistados afirma ter controles sobre gastos
com energia e papel, mas de forma apenas quantitativa, sem conseguir identificar os fatores
que levam a obtenção deste número.
Ítem 2: Sua área utiliza/executa algum mecanismo, atividade, processo para evitar ou
diminuir os impactos ambientais da área de TI?
Quatro (75%) dos entrevistados dizem que realizam atividades em TI de cunho
sustentável. O Coordenador de Assistência Técnica de TI determina que seja adotada a
técnica de impressão multi-up, ou seja, configura-se as impressoras para que imprimam quatro
páginas por folha de papel, duas na frente e duas no verso (essa configuração é utilizada
apenas nos andares onde são impressas mais de 4000 mil folhas ao mês). Também adota-se
o gerenciamento de energia dos computadores através da utilização de uma ferramenta que
faz com que após 10 minutos sem uso o monitor seja é desligado e a cada 30 minutos o
computador entre em stand by.
Já o Coordenador de Infraestrutura de TI checa se os fornecedores de hardware
possuem três selos que garantem o atendimento a critérios de sustentabilidade, o Electronic
Product Environmental Assessment Tool (EPEAT), o Restriction of Certain Hazardous
Substances (RoHS) e o Energy Star 5; Outra atividade que vem sendo adotada é a
virtualização de desktops, com a troca de desktops comuns por thin clients (máquinas mais
simples, baratas e que consomem menos energia que um desktop tradicional) e a virtualização
de servidores, concentrando o trabalho realizado pelos servidores tradicionais em um único
servidor, usualmente de maior porte.
O Coordenador de Engenharia de Infraestrutura de TI é responsável pelas obras que
envolvam a área de TI, como por exemplo, a construção e manutenção do data center. Na
construção do data center da Companhia, foram tomados cuidados com relação à
sustentabilidade, em especial no que se refere a técnicas de resfriamento e utilização de
geradores e no-breaks eficientes, uso de com lâmpadas tipo led, uso vidros que diminuem a
entrada de calor e madeira de reflorestamento.
O CONJUNTO DE BOAS PRÁTICAS
Do resultado das pesquisas bibliográfica e de campo, concluiu-se ser válido incluir as
boas práticas que se seguem no processo de Planejamento Estratégico de TI da Companhia,
pois esse conjunto pode contribuir na busca da sustentabilidade das operações de TI da
mesma. As boas práticas propõem desde mudanças na filosofia de trabalho da Companhia e
de seus funcionários, até práticas muito simples a serem adotadas no cotidiano e que podem
reduzir os impactos de TI no meio ambiente.
Boa Prática 1: Estabelecer a sustentabilidade como uma das estratégias da área de TI.
O objetivo desta prática é garantir que o tema se tornará parte do cotidiano do
funcionário fazendo com que a implantação das outras práticas se torne mais fácil. Sugere-se
que a alta administração inclua a sustentabilidade na missão e visão da área de TI, tornando
pública a intenção de se ter uma área de TI preocupada com os impactos negativos que causa
ao meio ambiente e, que assuma uma postura pró-ativa na busca de soluções que minimizem
ou evitem estes problemas.
Boa Prática 2: Disseminar os conceitos de sustentabilidade estabelecidos pela Companhia
entre seus colaboradores.
A fim de divulgar, esclarecer dúvidas e tornar real a preocupação da empresa com o
tema, recomenda-se que os líderes façam reuniões periódicas com suas equipes. Nestas
reuniões, os líderes podem definir os objetivos de suas áreas com relação ao tema, demonstrar
os avanços conquistados, os pontos a melhorar e também abrir um canal de comunicação para
que os funcionários participem, identificando quais os pontos negativos e positivos da área em
relação ao tema, sugerir novas atividades etc., permitindo que participem ativamente desta
iniciativa.
Boa Prática 3: Capacitar a equipe de trabalho.
Ter colaboradores atualizados e alinhados com o tema facilita a prática da
sustentabilidade. Indica-se a realização de mini cursos, palestras e outras atividades sobre
sustentabilidade para os funcionários da área de TI. Para as futuras contratações, sugere-se
que os gestores de TI, no momento de avaliação de um candidato, analisem além das suas
competências técnicas e pessoais tradicionais, se o candidato tem noções de sustentabilidade e
se possui algum engajamento com na área pela participação em ONGs ou atividades
similares.
Boa Prática 4: Abrir canais de comunicação.
Aconselha-se a criação de mecanismos de comunicação, além das reuniões de equipe,
que permitam ao funcionário propor novas ideias a qualquer momento. Como forma de
estímulo, pode-se criar prêmios para as melhores sugestões, porém para evitar a banalização,
sugere-se que cada ideia seja submetida com um mínimo de formalização, como por exemplo,
explicitando justificativas e benefícios.
Boa Prática 5: Medir os gastos com energia e papel.
Estes gastos estão entre os mais facilmente mensuráveis em uma área de TI. Sugere-se
a criação de indicadores que permitam a visualização desses gastos, possibilitando uma
análise avaliação rápida dos mesmos bem como a tomada de medidas visando reduzi-los,
também rapidamente. Isso cria um senso de urgência acerca do assunto, facilitando o
envolvimento de toda a área, que poderá ser ainda mais intenso se reduções significativas
forem obtidas de forma relativamente rápida.
Boa Prática 6: Criar um comitê de Sustentabilidade de TI.
Sugere-se a criação deste comitê para analisar os processos da área de TI em termos de
sustentabilidade, para validar as propostas trazidas pelos líderes da área ou as que
encaminhadas através dos canais de comunicação e ainda para definir os rumos que a área
deve seguir para manter ou melhorar seu nível de sustentabilidade.
Boa Prática 7: Escolha de fornecedores adequados.
Recomenda-se filtrar seus possíveis fornecedores observando se os mesmos atendem a
critérios como os fixados por entidades/padrões como o EPEAT (Electronic Product
Environmental Assessment Tool) que avalia o impacto ambiental gerado por equipamentos
eletrônicos de acordo com uma ampla série de critérios, o RoHS (Restriction of Hazardous
Substances Directive) que proíbe (por ora na União Europeia) que algumas substâncias como
metais pesados sejam utilizados na fabricação de certos produtos e o Energy Star, criado nos
Estados Unidos e já adotado em diversos países) que visa promover produtos energeticamente
eficientes.
Outro ponto que deve ser avaliado é o se o fornecedor provê algum tipo de garantia em
relação ao descarte dos produtos adquiridos quando estes caírem em desuso; para isso sugere-
se o fechamento de contratos com previsão de trade in, que consiste na recompra dos
produtos obsoletos por parte do fornecedor com a garantia de que estes serão descartados de
uma maneira não prejudicial ao meio ambiente.
Boa Prática 8: Virtualização de desktops.
Com o objetivo de reduzir o consumo de energia e de matéria utilizado na construção
de hardware, sugere-se a troca dos desktops tradicionais por máquinas mais simples (thin
clients) a serem interligados à infraestrutura central de armazenamento e processamento da
Companhia.
Boa Prática 9: Virtualização de servidores.
Com os mesmos objetivos e de maneira similar à acima proposta, recomenda-se a
troca dos servidores tradicionais por um único servidor capaz de prover os serviços de
armazenamento e processamento necessários.
Boa Prática 10: Impressão multi-up e frente-e-verso.
Recomenda-se adotar como padrão os formatos de impressão multi-up (impressão de
imagens de várias páginas em uma única folha de papel) e frente-e-verso de forma a reduzir
o consumo de papel.
Boa Prática 11: Gerenciamento de máquinas sem uso.
Recomenda-se gerenciar o tempo em que desktops permanecem sem utilização,
tomando automática e gradualmente providencias como desligamento do monitor, passagem
para o estado de stand by e depois para o estado de hibernação.
Boa Prática 12: Resfriamento de servidores.
Especialmente para empresas que possuem data center de grande porte, recomenda-se
realizar o resfriamento eficiente de seus servidores. Sugere-se uma técnica conhecida como
corredor frio, onde as frentes dos servidores são voltadas um corredor que recebe ar frio,
enquanto o ar quente liberado pelas máquinas é capturado de forma a evitar que se misture
com o ar frio, o que diminuiria a eficiência do processo de resfriamento. Com essa técnica
são reduzidos os gastos com condicionamento de ar (energia, equipamento etc.).
Boa Prática 13: Utilização de equipamentos eficientes.
Recomenda-se avaliar se os equipamentos a serem adquiridos como os nobreaks e os
geradores de energia, sejam eficientes, ou seja, consumam pouca energia elétrica e gerem
pouco calor.
Boa Prática 14: Reciclagem de materiais de TI.
Aconselha-se a reciclagem e/ou o encaminhamento à coleta seletiva de lixo de
materiais sem utilidade como, por exemplo, restos de cabos de rede, material de embalagem,
papel etc., dando um destino adequado a esses materiais ao invés de simplesmente descartá-
los.
Boa Prática 15: Realizar reuniões via teleconferência.
Visando reduzir os custos e impacto ambiental de viagens de automóvel, ônibus, avião
etc., recomenda-se o uso de teleconferência para realizar suas reuniões – o uso dessa
tecnologia vem se tornando cada vez mais comum e eficiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa bibliográfica e do estudo de campo permitem afirmar que,
atualmente, existe uma grande necessidade de definir políticas de sustentabilidade e, ao
mesmo tempo, de se utilizar cada vez mais os recursos disponibilizados pela TI. Baseando-se
nisso, os pesquisadores acreditam ser vantajosa a adoção das boas práticas descritas neste
trabalho.
Para prosseguimento da pesquisa na área, sugere-se o mensuração dos resultados
financeiros ligados à adoção das boas práticas de sustentabilidade em TI. Ao longo do estudo
de campo, pode-se notar que um dos principais fatores que levam a alta direção da
Companhia a adotar as políticas de sustentabilidade, são os benefícios que podem ser
alcançados com a adoção de tais práticas.
Outro tema que poderia ser tratado é a adoção de cloud computing (computação na
nuvem), concentrando-se as tarefas de processamento de dados em data centers de muito
grande porte, projetados e construídos com cuidados especiais em relação à sustentabilidade –
seria uma radicalização da idéia de virtualização dos servidores.
Também poderia ser objeto de estudo a construção de um modelo formal a ser
aplicado às atividades de TI na busca da sustentabilidade.
Finalmente, poderiam ser desenvolvidos estudos voltados pra o que Heng et al. (2011)
chamam de Green by IT, ou seja, a situação na qual as empresas, por meio de sistemas de boa
qualidade e pela adoção de processos que economizam recursos, podem conter as pressões de
custos ou oferecer ao mercado novos bens e serviços e aos seus empregados melhores
condições de trabalho.
Chamou a atenção dos pesquisadores a importância dada por todos os entrevistados
ao fato de a conscientização dos colaboradores ser tão importante quanto o fato de as
lideranças estabelecerem ou não diretrizes para sustentabilidade; trata-se de um assunto que
deve ser tratado sob a ótica da educação, e não da pura e simples propaganda junto aos
empregados . Observou-se também que o tema sustentabilidade deve ser tratado de forma
multidisciplinar, por envolver aspectos ligados à tecnologia, educação, legislação, finanças e
outros
REFERÊNCIAS
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O poder econômico
Maria de Fátima Moreira Silva Rueda18
Define-se poder econômico como a capacidade dada a um determinado agente
econômico, pertencente a um setor específico da economia, de autonomia e independência em
relação aos seus concorrentes e a capacidade de determinar preços e a sua capacidade de
excluir concorrentes.
Um agente econômico detentor de poder econômico detém sozinho a capacidade de
tomar decisões que afetam todo o desenvolvimento das atividades sociais, principalmente nos
aspectos relacionados à atuação econômica no mercado de produção de bens e serviços,
independentemente dos demais agentes.
O poder econômico, tradicionalmente pode ser adquirido de forma natural ou de forma
artificial. Na forma natural, a aquisição de poder econômico ocorre quando há conquista de
consumidores por sua própria eficiência, pela qualidade dos bens e serviços ofertados, pela
utilização do instrumental de marketing de forma eficiente. A forma artificial ocorre pela
realização de atos que levam a concentração econômica.
Pode-se afirmar que os atos de concentração são uma forma de aquisição de poder
econômico de forma artificial. E sempre que se fala em concentração, há um acúmulo de
poder econômico maior ou menor nas mãos de um agente econômico.
Discute-se se a concentração do poder econômico pode ser utilizada para beneficiar ou
prejudicar os interesses sociais. É verdade que uma empresa detentora de poder econômico,
em tese pode ter mais condições e quase sempre tem, de investir em pesquisa e
desenvolvimento de novas tecnologias e que poderia contribuir para elevação da qualidade de
vida da população.
Mas fato é que quase sempre o poder econômico é exercido visando a prática de
maiores preços no mercado propiciando uma maior transferência arbitrária de renda do
consumidor para o produtor, possibilitando, ainda, a sua interferência nas quantidades de bens
e serviços ofertados.
Não se pode desconsiderar que os agentes econômicos buscam atingir seus interesses,
mesmo que no longo prazo, de realizar a maximização de lucros, não medindo esforços,
mesmo que ferindo a ética, a moral, o meio ambiente para obter vantagens e atingir seu
objetivo maior.
18 Mestre em economia e advogada. Professora universitária.
1- Caracterização de estrutura de mercado
A forma de atuação e organização dos agentes econômicos é determinada pelas
características do produto e da própria forma como se estabelece no mercado. Os principais
fatores que determinam a organização dos mercados são número de empresas que atuam
naquele mercado e o potencial dos consumidores. E para melhor compreender a estrutura de
mercado, existem basicamente 3 tipos de mercado: competição perfeita (mercado
concorrencial), monopólio e oligopólio.
1. 1 - Mercado concorrencial
A característica básica deste mercado é a existência de muitos ofertantes. Em regra
não há distinção de produtos, por serem homogêneos e semelhantes. Esse mercado é
caracterizado por: a) atomicidade; (b) fluidez e (c) inexistência de barreiras à entrada e à
saída.
Atomicidade: é composto por muitos ofertantes e muitos consumidores de pequeno porte.
Fluidez: homogeneidade dos bens ofertados e simetria de informações para todos os agentes
econômicos.
Barreira à entrada e à saída: neste mercado não existem barreiras à entrada e saída.
Qualquer um pode entrar e sair do mercado, sem que haja qualquer percepção, seja por
parte dos consumidores ou fornecedores.
Afirma-se então que esse mercado é auto-regulável, servindo do sistema de preços
como um mecanismo ou um sinalizador próprio do mercado, fazendo com que o mercado
funcione sempre em equilíbrio. De que forma? Sempre que um ofertante tentar aumentar o
preço de seus produtos, o consumidor procurará um outro concorrente com mais atrativos.
Obviamente que não existe um mercado tão perfeito assim. Entretanto, existem alguns poucos
mercados que se aproximam deste modelo, por exemplo, o mercado de commodities.
Percebe-se que, neste mercado, nenhum dos agentes integrantes, sozinhos, detém
poder.
1. 2 - Monopólio
O monopólio caracteriza-se pela atuação no mercado de um único ofertante. Por sua
vez, este mercado é definido pela atuação de uma única empresa, de modo que esta influencia
decisivamente os níveis de preço e de produção que venham maximizar seus lucros. Pode até
ser que quando uma empresa monopolista aumenta seus preços venha a perder alguns
clientes, mas não todos. O monopólio é facilitado pela existência de barreiras à entrada.
Barreiras são impedimentos à entrada de novas firmas produtoras naquele segmento. As
barreiras podem ser naturais quando o investimento depende de altas somas de capital e
investimento em tecnologia. Essa característica torna o próprio investimento uma barreira à
entrada.
Pode-se exemplificar como monopólios naturais a prestação de serviços de gás
canalizado, de telefonia fixa, de energia elétrica e de esgoto, entre outros.
Por sua vez, os monopólios legais decorrem de restrições previstas em lei.
Um exemplo de barreira legal é a concessão de patentes. Ela possibilita que um agente
econômico detenha o direito de explorar um bem ou serviço com exclusividade. Assim sendo,
a concessão de uma patente pode representar a formação de um monopólio de um bem.
É importante notar que o monopolista indubitavelmente detém poder de mercado, ao
passo que ele determina a quantidade de bens produzidos e o nível de preços cobrados. Assim
sendo, quando uma empresa opera um negócio em monopólio, ela pratica preços mais
elevados do que os que seriam praticados no mercado de concorrência perfeita. Não é por
outra razão que monopólios que atuam em mercados de base, tal como telefonia ou
saneamento básico, estão sujeitos a políticas de modicidade de tarifas.
1.3 - Oligopólio
Um oligopólio caracteriza-se pela existência de um número bastante reduzido de
produtores ou comerciantes, de modo que a atuação isolada de cada uma delas afeta as demais
empresas e as atividades econômicas das demais empresas também a afetam. Ocorrendo
mudanças no nível de produção e no preço de uma firma afetarão as quantidades que outros
vendedores podem vender e os preços que podem cobrar. Os ofertantes individuais são
interdependentes, diferentemente do que ocorre no mercado de concorrência pura ou no
mercado de monopólio.
Labini (1984)¹ define a estrutura da indústria levando em consideração aspectos
relacionados à extensão absoluta do mercado, dado pelo volume de vendas para um dado
preço, capacidade de absorção do mercado que é a elasticidade da demanda em relação a
variação no preço e distribuição no volume de vendas entre empresas de diferentes tipos.
Um aspecto importante a se observar é que no mercado concorrencial os lucros são
frutos de “atritos” e são transitórios; já no oligopólio o lucro é fruto das próprias
características estruturais e são permanentes.
Conclui-se que as formações monopolísticas e oligopolísticas, ou seja, a maior
concentração de mercado tende a alterar a distribuição dos frutos do progresso técnico
acentuando a desigualdade da renda a favor daqueles capitalistas e com prejuízo para os
rendimentos do trabalho, pois a rigidez dos preços conduz a lucros crescentes.
2.Conceito e definição de concentração econômica
O Dicionário Houais da Língua Portuguesa define concentração como sendo
“formação de uma grande empresa a partir, entre outros processos, da compra e da fusão de
firmas menores ou de acordos firmados entre elas”.
A concentração de capitais é explicada pelo crescimento dos capitais individuais, à
medida que os meios sociais de produção e subsistência são transformados em propriedade
privada de capitalistas.
Karl Marx (1984, p. 146) descreve a concentração da seguinte maneira:
“todo capital individual é uma concentração maior ou menor de meios de produção com comando correspondente sobre um exército maior ou menor de trabalhadores. Toda acumulação torna-se nova acumulação. Ela amplia, com a massa multiplicada da riqueza, que funciona como capital, sua concentração nas mãos de capitalistas individuais e, portanto, a base da produção em larga escala e dos métodos de produção especificamente capitalista.”
A concentração de capitais leva à centralização destes. A centralização ocorre por
meio da mudança na distribuição de capitais existentes, crescendo em uma mão até formar
massas grandiosas, porque é retirado de muitas mãos individuais. Dessa forma, a
centralização complementa a acumulação ao permitir que os capitalistas expandam a escala de
suas operações industriais.
“É concentração de capitais já constituídos, supressão de sua autonomia individual, expropriação de capitalista por capitalista, transformação de muitos capitais menores em poucos capitais maiores... o capital se expande aqui numa mão até atingir grandes massas, por que acolá ele é perdido por muitas mãos. É a centralização propriamente dita, distinguindo-se da acumulação e da concentração” (MARX, 1984, p. 147).
Os mecanismos que viabilizam a consolidação da concentração e centralização do
capital possibilitam a formação de empresas de porte cada vez maior, e ao mesmo tempo
passando o controle para as mãos de um número cada vez menor de pessoas, relativamente ao
aporte de capital.
De fato, a concentração e centralização do capital levam ao desenvolvimento de uma
estrutura de mercado cada vez mais oligopolizada ou monopolizada, com a formação de
combinações entre empresas que visam a dominar a concorrência. Assim, o alto grau de
centralização acaba por resultar em um número reduzido de empresas em determinado setor
econômico acirrando a concorrência e tornando mais vantajoso o caminho da combinação
entre as empresas, ou seja, do surgimento dos cartéis, trustes, fusões e joint ventures.
2.1- Cartel, trustes, fusão e joint venture
O cartel baseia-se em um acordo entre as empresas rivais para ação comum nos
negócios, a fim de dominar o mercado e estabelecer comportamentos de controle mais rígido
sobre o preço (KON, 1994)
Os membros do cartel mantêm independência financeira, não se submetendo a um
controle central e apenas se comprometem com políticas comuns de preços e de ofertas nos
negócios.
O truste resulta de luta em que o mais fraco renuncia à independência econômica.
Vindo do inglês “confiar”, truste é a situação em que uma empresa ou até mesmo pessoa tem
o controle sobre um número de produtores, onde é possível modificar livremente o preço dos
mesmos. O truste é formado quando grandes empresas unem-se a seus concorrentes de
mercado menores, onde consequentemente cria um monopólio em um determinado ramo de
produção, isto é, um truste é a fusão de empresas do mesmo ramo. Os trustes são proibidos
por lei em muitos países, sendo que no Brasil o controle antitruste é feito pela Lei nº. 8.884/94
– CADE.
Na fusão, a independência das firmas é totalmente abolida e as antigas firmas
desaparecem para dar surgimento a uma nova entidade comercial, com uma unidade orgânica
sob direção única, pela compra de uma firma por outra, com unificação do capital. Se a
tendência da moderna economia é do crescimento das fusões, em períodos de recessão
econômica as empresas tendem a se “rearrumar” no mercado vendendo sua participação
acionária e a oligopolização se acentua (KON, 1994).
Em geral, as empresas adquiridas quando ocorre o processo de fusão, vendem a sua
participação acionária por razões como a iminência de falência, obrigações tributárias ou
outras acima de suas condições de pagamento, desvantagens técnicas relacionadas ao pequeno
porte, ou desvantagens administrativas pelo fato de serem muito grandes para serem
comandadas por uma única pessoa. Em qualquer uma das situações, as dificuldades podem
baratear os preços de vendas dessas empresas, facilitando a aquisição para a firma adquirente.
A empresa que adquire, por outro lado, tem como razões, para a compra de outra
empresa, objetivos ou motivos, como: a) possibilidade de obter ou de ampliar as economias
de escala quando se encontram em um tamanho abaixo do ponto ótimo de funcionamento com
relação aos custos; b) complementariedades que podem ocorrer entre as empresas e no caso
inicia-se um processo de integração vertical, que resulta na realização de várias fases do
processo de produção e distribuição de um produto por diferentes unidades empresariais
integradas; c) possibilidade de crescimento com maior velocidade e segurança quando a
aquisição de uma firma já em operacionalização economiza o tempo necessário para a
aquisição de novos equipamentos e de conhecimentos; d) possibilidade de dominação do
mercado eliminando rivais e partindo para a monopolização da produção; e) quando fatores
financeiros ou promocionais favorecem o preço das ações no mercado acionário, ao se
reunirem capitais em única empresa.
A joint venture pode ser definida como uma fusão de interesses entre uma empresa
com um grupo econômico, pessoas jurídicas ou pessoas físicas que desejam expandir sua base
econômica com estratégias de expansão e diversificação, com propósito explícito de lucros ou
benefícios, com duração permanente ou a prazos determinados. Um modelo típico de joint
venture seria a transação entre o proprietário de um terreno de excelente localização e uma
empresa de construção civil, interessada em levantar um prédio sobre o local. Ou ainda, um
inventor de um novo processo, produto ou tecnologia associado a um capitalista para formar
infra-estrutura adequada para a fabricação ou realização da tecnologia por meio de joint
venture.
Outro exemplo de joint venture seria um fabricante de conservas de alimentos que
oferecesse uma fusão de interesses para um fazendeiro, que controlasse a matéria-prima em
quantidade e qualidade adequadas para transformação em alimentos conservados. Existe
ainda uma certa inibição entre executivos perante à fusão empresarial por joint venture, em
caso de transferência de tecnologia ou qualquer outro ativo intangível que não possui proteção
legal, patentes e marcas registradas, que poderiam ficar no domínio público, uma vez
utilizado como aporte de capital para uma transação de joint venture.
2.2 - Mensurando a concentração econômica
A mensuração da concentração fornece os elementos empíricos necessários para a
avaliação da situação de competição de um mercado e para as comparações intertemporais
que permitam examinar a dinâmica do processo de mercado do lado da oferta (KON, 1994).
Alguns aspectos podem dificultar a operacionalização dessa medida, como: a) a
definição do mercado, que pode se referir a um produto único, a bens substitutos, a produtos
similares, a regiões específicas etc.; b) a inclusão ou não de importações e exportações na
medida; c) a distinção entre estabelecimento e empresa; d) a escolha do indicador adequado
para ser tomado como base de mensuração; e) a disponibilidade de informações estatísticas
adequadas.
Os indicadores selecionados para servir de parâmetro de mensuração, usualmente
seguem três critérios: capacidade produtiva, número de empregados e os ativos possuídos. A
capacidade produtiva pode se relacionar à quantidade física de produção ou ao valor
monetário das vendas.
Conclusão
Em síntese, uma vez que se concebe poder econômico como a capacidade de um
agente impor unilateralmente as condições de mercado e, em última instância, determinar
preços, quantidade e, conseqüentemente afetar o mercado fornecedor, o mercado de trabalho e
o mercado consumidor, é salutar o empenho necessário para reconhecer que o poder
econômico pode representar um grande perigo ao bem estar social, visto que seu abuso
implica em transferência arbitrária de renda do consumidor para o ofertante e a conseqüente
redução do bem-estar social.
Com esse intuito faz-se necessário que os Estados adquiram as condições necessárias
que viabilizem o monitoramento das operações que levam a aquisição artificial de poder
econômico.
Esse controle preventivo deverá ter o propósito de evitar a concentração que levaria a
monopolização ou domínio de mercado por uma empresa com postura dominante, o que sem
dúvidas, permitiria a formação de uma estrutura oligopolística, o que conduziria à formação
de trustes e cartéis, prejudicando sobremaneira a concorrência de mercado.
Referências Bibliografias
KON, A. Economia Industrial. São Paulo: Nobel, 1994.
LABINI, Paolo Sylos. Oligopólio e Progresso Técnico, 2ª. Edição, p. 47, Rio de Janeiro: Ed.
Forense Universitária, 1984
MARX, Karl. O capital, Volume I, livro primeiro, tomo 2, capitulo XXIII, São Paulo: Abril
Cultural, 1984.
SWEEZY, P. M., Teoria do Desenvolvimento Capitalista, São Paulo: Abril Cultural, 1983
BUSINESS PROCESS MANAGEMENT
Mariana Roveri Giollo, Carlos Eduardo Câmara19
19Mariana Roveri Giollo – Aluna do curso de Sistemas de Informação – Unianchieta
Dr. Carlos E. Câmara – Professor do curso de Sistemas de Informação – Unianchieta
RESUMO Este artigo consiste no estudo de Gerenciamento de Processos de uma organização, com a utilização de uma solução de Gestão de Processos: o BPM, que apresenta melhores práticas realizadas para a análise, definição, execução e administração dos processos. Utilizando como método o BPM e aplicando o BPMN, que é um padrão para modelagem de processos permite à empresa modelar seus processos do inicio ao fim, sejam internos ou externos.
A primeira análise realizada na empresa resulta na definição do modelo “AS IS” e com a aplicação das técnicas de melhoria do processo, é possível identificar falhas, gargalos e redundância na execução do processo e desenvolver a partir disso o modelo “TO BE” , com o objetivo de reduzir tempo, gastos e desperdício de recursos da empresa.
PALAVRAS-CHAVE: BPM; BPMN; Modelo AS IS; Modelo TO BE.
INTRODUÇÃO
Business Process Management determina estratégias de gestão e modelagem de
processos, a partir da construção de fluxos (workflow´s) define suas atividades e suas
interações, uma vez que dentro da sua modelagem existem elementos que definem a execução
e interação de todos os elementos relacionados ao processo (humanos e automáticos).
A existência do BPM decorre da evolução dos processos empresariais e da necessidade
de mitigar problemas operacionais e burocráticos visando atender a evolução dos processos
tecnológicos, possibilitando a integração de serviços.
A partir da visão estratégica o modelo de evolução e correção de falhas é aplicável. O
BPM em sua definição obriga que a prática de visão estratégica seja feita (para obter as
modelagens AS IS e o TO BE).
A partir de um processo real (execução de serviço de cerimonial) foi possível aplicar a
visão estratégica de modelagem de processo utilizando o BPM como ferramenta, e com isso
foram desenvolvidos os modelos AS IS e TO BE.
O AS IS é a modelagem do processo atual, seguindo as regras definidas para atribuição
de responsáveis, tempos e aplicativos relacionados, com o objetivo de identificar os pontos
falhos dentro deste processo.
Fazendo uma análise estratégica dos pontos falhos identificados no AS IS é possível
fazer a construção de um novo modelo de processo, que elimina as falhas. Esta modelagem é
chamada de TO BE.
DEFINIÇÃO BPM
O BPM é uma metodologia, um conjunto de práticas que se baseiam no fato de que os
processos são contínuos e mais importantes do que integrar os processos internos, é controlar
os processos externos (que ocorrem com fornecedores, clientes, etc.). Com o BPM, é possível
analisar, definir, executar e administrar os processos, tornando possível a interação entre as
pessoas e diversas aplicações informatizadas. Possibilita que as regras de negócio na forma de
processos sejam remodeladas pelas próprias áreas de gestão, sem a interferência das áreas
técnicas.
O BPM integra todas as evoluções e conceitos de Gestão de Processos. Permite adaptar
os processos de negócios à tecnologia existente na empresa e auxilia os usuários a
modelarem, automatizarem e gerenciarem seus próprios processos.
BUSINESS PROCESS MODELING NOTATION (BPMN)
Business Process Modeling Notation é um padrão para modelagem de processos.
Consiste em uma técnica especialmente voltada para a definição e documentação de processos
de negócio com padrões de notação definidos.
O BPMN possui um único modelo de diagrama, chamado de BPD ou DPN. Um dos
objetivos do BPMN é criar um mecanismo simples para o desenvolvimento dos modelos de
processos de negócio e ao mesmo tempo poder garantir a complexidade inerente aos
processos. E dessa maneira, fornecer uma notação padronizada que seja compreensível por
todas as partes interessadas no negócio, incluindo analistas do negócio, que são responsáveis
por criar e refinar os processos, os colaboradores técnicos, que são responsáveis para executar
os processos, os gerentes de negócio, que são responsáveis por monitorar e controlar os
processos. Por meio da notação BPMN, deve ser possível mapear os processos internos e
externos da empresa (BARBARÁ, 2006).
MODELAGEM “AS IS” E “TO BE”
Modelagem é a atividade de desenhar, construir modelos que representam a realidade.
Estes modelos são utilizados para desenhar os processos de negócio de uma organização,
podendo assim, melhorar o entendimento sobre aquele processo.
Com o modelo desenhado, é possível ensinar outras pessoas sobre aquele processo, com
mais facilidade de entendimento e visão, com isso treinar outros colaboradores mais
facilmente. É possível aos gestores, diretores e analistas discutir, compreender os processos,
apoiar a melhoria continua, identificar falhas e ruídos no processo e especificar sistemas de
informação.
Na notação BPMN, existem duas fases de modelagem e desenho dos fluxos. O modelo
AS IS é desenhado na primeira fase e nesse momento se desenha o fluxo do processo como
realmente é executado contendo erros e acertos, sem nenhuma alteração na forma como as
atividades são realizadas, por mais simples que pareça a alteração. A documentação do
processo é muito importante para identificar pontos positivos e negativos. Sendo assim, torna-
se difícil partir para a melhoria sem compreender o que realmente precisa ser melhorado, e os
pontos de atenção, pois o problema identificado em uma determinada etapa pode ser
conseqüência de outra, e se o fluxo não estiver claro e as relações não forem analisadas, corre-
se o risco de os erros persistirem. O modelo AS IS é importante para conhecer e compreender
como os processos realmente acontecem dentro da empresa. Para poder analisar, priorizar os
problemas que devem ser solucionados e, a partir disso, obter um processo bem estruturado.
Para modelar um processo é necessário selecionar os processos que serão mapeados,
identificar seus responsáveis, participantes e especificar quais recursos serão necessários. É
necessário saber quais informações são relevantes para o entendimento do processo como um
todo.
No segundo momento, é desenhado o fluxo no modelo TO BE. Para o desenvolvimento
desse fluxo são realizadas análises e discussões em cima do modelo AS IS, com o objetivo de
melhorar o processo em questão, inová-lo ou mesmo questionar se ele se faz necessário e, se
de fato atende às necessidades da empresa. O desenho TO BE trata-se do modelo ideal, de um
processo mais eficiente, em que pretende-se otimizá-lo, inová-lo e verificar se de fato agrega
o valor necessário a organização (BALDAM, 2009).
ESTUDO DE CASO
A aplicação do estudo foi realizada em uma Empresa de Cerimonial. Para a modelagem
dos processos foi utilizado o Business Process Modeling Notation (BPMN), e a definição das
atividades e do fluxo do processo foi realizada em cima do processo principal da empresa.
Primeiramente, foi realizada uma análise no processo atual da empresa, contendo seus
pontos positivos e negativos sem ser feita nenhuma melhoria. Obtendo através disso a
modelagem AS IS.
A partir do modelo AS IS, foram identificados alguns pontos falhos, que poderiam trazer
algum tipo de prejuízo para a empresa, sendo assim, foram aplicadas técnicas de melhorias e
com isso desenvolvido o modelo TO BE, com o objetivo de otimizar e melhorar o processo,
evitando que estas falhas ocorram durante a execução.
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Para a aplicação do conceito BPM e da Notação BPMN estudada anteriormente, foi
analisada uma empresa, a qual não possuía seus fluxos de processos bem definidos para o
gestor, e nem para os funcionários. Por esse motivo, eram criadas muitas situações de
conflitos e impasses por falta de comunicação entre funcionários/clientes, clientes/gestor e até
mesmo entre funcionários/gestor.
O foco da empresa escolhida para análise é o contato diretamente com o cliente, através
de reuniões, planejamentos, e-mails e contatos telefônicos. E, quando há tais falhas de
comunicação interna, muitas vezes estas acabam sendo transmitidas ao cliente. Seja por
alguma informação incorreta, confusão de informações ou até mesmo pela insegurança
transmitida no momento de conversar com o cliente e não ter conhecimento do que já foi
acordado ou definido com o gestor.
Neste caso em especifico, a empresa selecionada trabalha com Eventos. Dessa forma, é
imprescindível ter todos os detalhes muito bem definidos e claros, entre cliente e gestor. As
reuniões têm como objetivo montar todo o planejamento, o roteiro, com horários definidos.
Neste momento, é muito importante que o gestor consiga entender todos os detalhes que o
cliente “sonha e idealiza” para aquele evento. É importante o esclarecimento de todas as
dúvidas para ambos. E, para que se tenha clareza nas informações, também é necessário haver
comunicação interna, entre funcionários e gestores, pois se houver alguma falha de
comunicação, dependendo do nível desta falha cometida, pode ser fatal para o sucesso do
evento e a satisfação do cliente.
Com o intuito de melhorar os processos internos e, para que esses possam ser
refletidos externamente, foi realizada uma análise nos processos da empresa do
funcionamento atual, seguindo a metodologia BPMN e todos os conceitos estudados sobre
BPM. No início da análise e modelagem, foi desenvolvido um modelo AS IS.
Atores e elementos identificados Cliente Responsável por iniciar o fluxo do processo. O processo se
inicia quando o Cliente entra em contato com a empresa
(por meio de email ou telefone).
Secretária É o primeiro contato do Cliente. Responsável por
intermediar e manter o contato entre o Cliente e a
Cerimonialista, fazer a contratação das recepcionistas para
a recepção no dia do evento.
A Secretária atua também na Confirmação de Presença,
pois se a conformação for passiva, é ela quem atenderá os
convidados e confirmará a presença dos mesmos. Caso a
confirmação seja ativa, ela entrará em contato com os
convidados relacionados numa lista de presença.
Cerimonialista Responsável pela coordenação de funcionários e pelos
contratos da empresa com os Clientes. No dia do Evento,
ela é responsável por acompanhar a montagem.
Recepcionistas Responsáveis por estarem presentes no dia do Evento. Elas
recebem o planejamento na semana do evento, para que
possam ter conhecimento dos acontecimentos que deverão
ocorrer no Evento e são responsáveis por acompanhar todos
esses acontecimentos, anotar os horários para a geração do
Relatório Final e auxiliar outras tarefas ou procedimentos
necessários no Evento.
Características da Empresa
• Na contratação do serviço de Cerimonial, é necessário que o Cliente entregue
uma cópia de cada contrato para a empresa de Cerimonial, para que seja possível certificar na
montagem do Evento que, a decoração, o Buffet, o DJ ou a banda, a iluminação estão de
acordo com o contrato feito pelo Cliente.
• Existem dois serviços prestados pela empresa que são: Cerimonial para o dia ou
Assessoria. Na primeira opção, a Cerimonialista acompanhará todo o
desenvolvimento do Evento e, no dia do Evento, desde o seu início (montagem) até o
fim. E no segundo, o Cliente será acompanhado ou assessorado nas reuniões com os
fornecedores que julgar necessário, como por exemplo, decoração, Buffet, som, e o
acompanhamento no dia do evento será da mesma forma, a Cerimonialista
acompanhará todo desenvolvimento do Evento desde o seu inicio até o fim.
DEFINIÇÃO DOS PROCESSOS AS IS
Como demonstra o fluxo ilustrado na figura abaixo, no primeiro contato feito pelo
Cliente com a empresa, a Secretária agenda uma reunião com o Cliente que é realizada com a
Cerimonialista. Nesta reunião, a Cerimonialista apresenta os serviços ao cliente. Nesse
momento, o Cliente decide por Assessoria ou Cerimonial para o dia.
Nesta reunião, o cliente também escolhe confirmação Ativa ou Passiva. Após essas duas
decisões, a Cerimonialista gera o contrato e apresenta ao cliente.
O cliente analisa o contrato e se decidir contratar o serviço, assina o contrato, caso
contrário o cliente pode levar o orçamento para reavaliar e a reunião é encerrada.
Após a assinatura do contrato, se for (serviço de) no caso da Assessoria, a secretária
agenda as visitas com os fornecedores, que neste caso, são acompanhadas pela
Cerimonialista.
Duas semanas anteriores à data do evento, a secretaria faz o agendamento da reunião de
planejamento. Nesta reunião, é desenvolvido o planejamento, que deve conter todos os
acontecimentos, como por exemplo: horário de início do evento, início do coquetel, início do
jantar, agradecimentos, abertura da pista de dança, que são definidos e solicitados pelo cliente.
Após o planejamento desenvolvido, a secretária faz a contratação das recepcionistas para o
evento (a quantidade de recepcionistas é definida em função da quantidade de pessoas
convidadas para o evento e de sua complexidade).
Na semana do evento, as recepcionistas contratadas, recebem o planejamento via email.
Na data do evento, a Cerimonialista faz o acompanhamento da montagem, e o
acompanhamento do evento do início ao fim.
Ao termino do evento, é gerado um Relatório Final com todos os horários relacionados
aos acontecimentos que foram definidos no planejamento, e se houve alguma (ocorrência)
problema ao decorrer do evento, também é descrito nesse relatório, que é enviado ao cliente.
MELHORIAS E MODELAGEM TO BE
Após o desenvolvimento do modelo AS IS, foram realizadas algumas análises e alguns
pontos que necessitavam de melhorias foram identificados. O modelo AS IS facilitou na
identificação de alguns pontos críticos e falhos que haviam na empresa que poderiam causar
algum tipo de prejuízo. Os problemas identificados foram:
• Falta de comunicação com o Cliente que não retornava sobre a contratação
do serviço, ou seja, quando um Cliente recebia o orçamento e não retornava a resposta sobre a
contratação ou não do serviço, a Empresa não entrava em contato para ter um feedback do
Cliente. Sendo assim, foi aplicada uma melhoria neste processo, que consiste em, passados
dois dias da primeira reunião na qual foi apresentado o serviço e gerado o orçamento, a
Secretária deve entrar em contato com o Cliente para obter um feedback do motivo pelo qual
não retornou, podendo ser, esquecimento, insatisfação com o valor do contrato ou com algum
serviço apresentado. Sendo assim, essa é uma forma de obter a opinião dos clientes, sejam
positivas ou negativas, mas que de alguma maneira possam contribuir em melhorias dos
serviços para a evolução da empresa.
• Referente ao pagamento feito pelos Clientes, uma das regras da Empresa, é
que o pagamento esteja 100% realizado até a data do evento. Isso não era questionado em
momento algum, pois não se tinha controle dos Clientes que pagavam e dos Clientes que não
pagavam. Este problema sendo identificado, foi realizada uma melhoria no processo que
consiste na validação ou não do pagamento realizado pelo Cliente antes do evento ser
realizado. Neste caso, a Secretária deve verificar se o pagamento do serviço contratado foi
concluído e, caso não tenha sido, deve-se entrar em contato com o Cliente para verificar a
situação. Este processo deve ser executado logo após a reunião do desenvolvimento do
planejamento, que deve acontecer até duas semanas antes da data do evento.
� Referente à contratação das Assistentes, que trabalham no dia do
evento, a contratação antes era feita após o desenvolvimento do planejamento, então faltava
muito pouco tempo para a data do evento e, poderia causar problema na contratação como
falta de disponibilidade da Recepcionista, por exemplo, na data do Evento. Então para
melhorar este procedimento, a contratação das recepcionistas deve acontecer logo em seguida
da contratação do serviço, pois caso haja algum problema, há tempo hábil para solucioná-lo.
DIFERENÇAS AS IS X TO BE
O cliente analisa o contrato e se decidir
contratar o serviço, assina o contrato, caso
contrário o cliente pode levar o orçamento
para reavaliar e a reunião é encerrada.
O cliente analisa o contrato e se decidir
contratar o serviço, o cliente decide a forma
de pagamento e assina o contrato, caso
contrário o cliente pode levar o contrato para
reavaliar e a reunião é encerrada. Após dois
dias, se o cliente não retornar o contato, a
secretária deve entrar em contato com ele
para ter um feedback. Caso o cliente queira
contratar o serviço, então o processo volta ao
ponto de assinar o contrato, caso contrário, o
processo é encerrado sem a contratação do
serviço.
Após o planejamento desenvolvido, a
secretária faz a contratação das
recepcionistas para o evento (a quantidade de
recepcionistas é definida em função da
quantidade de pessoas convidadas para o
evento e da complexidade do evento).
Após a assinatura do contrato, a secretário
deve contratar as recepcionistas para o
evento (a quantidade de recepcionistas é
definido em função da quantidade de pessoas
convidadas para o evento e da complexidade
do evento). Se for no caso da Assessoria, a
secretária agendará as visitas com os
fornecedores, que neste caso, são
acompanhadas pela Cerimonialista.
Na semana do evento, as recepcionistas
contratadas, recebem o planejamento via
email.
Na semana do evento, as recepcionistas
contratadas, recebem o planejamento via
email. E a secretário verifica se o pagamento
foi concluído, caso não tenha sido, ela devera
entrar em contato com o cliente para verificar
a conclusão do mesmo.
CONCLUSÃO
Após uma pesquisa bibliográfica sobre BPM e sobre aplicações das técnicas BPMN, foi
desenvolvido o modelo AS IS, com foco nos processos atuais da empresa, onde foram
identificados alguns pontos falhos na execução destes processos. Tais pontos afetavam
diretamente o rendimento do serviço, o atendimento ao cliente e a própria gestão do negócio.
Como resultado dessa aplicação, foi possível avaliar e identificar os pontos positivos e
negativos no fluxo do processo da empresa, como também perceber o quanto é importante
para as empresas, modelarem e documentarem seus processos a fim de obterem um
conhecimento do funcionamento de seu próprio organismo empresarial. Muitas vezes
pequenas falhas podem contribuir em um grande prejuízo para a empresa. A gestão dos
Processos de Negócios, também facilita à empresa, fornecer treinamentos e mostrar o fluxo
dos processos a pessoas não especializadas no assunto de forma simples, mesmo sobre
processos complexos. Com o desenho de como o processo funciona atualmente (AS IS), foi
possível realizar análises e debates, em busca de melhorar o processo, tornando-o mais
otimizado e atendendo de maneira satisfatória as necessidades da empresa, a partir disso foi
definido o modelo TO BE. As análises de melhoria na modelagem do TO BE, teve por
objetivo de reduzir recursos, tempo e processamentos desnecessários e alterar o processo de
forma a atender algumas falhas que haviam no processamento e que resultavam em problemas
diariamente para a empresa.
A Gestão de Processos tem se tornado uma necessidade para as organizações e possibilita
a empresa estar preparada para atender as exigências do mercado, através da sua flexibilidade
em atender as necessidades de mudança dentro do tempo hábil, tornando um diferencial e
possibilitando uma gestão eficiente no atendimento de seus clientes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BARBARÁ, S.; et al. Gestão por Processos: Fundamentos, Técnicas e Modelos de
Implementação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.
BALDAM, Roquemar, et al Gerenciamento de Processos de Negócios. BPM - Business
Process Management. São Paulo: ÉRICA, 2007.
BPM Brasil. Disponível em <http://bpmbrasil.com.br/>. Acessado em Outubro de 2010.