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RESINAS DE BARREIRA A indústria de alimentos poderia ousar mais REFRIGERANTES Cápsulas ameaçam as garrafas de PET? Fevereiro/2014 Nº 600 UD OS MASTERS POR TRÁS DAS CORES COM CARA DE LAR

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Resinas de baRReiRaA indústria de alimentos poderia ousar mais

RefRigeRantesCápsulas ameaçam as garrafas de PET?

Fevereiro/2014

Nº 600

UdOs masteRs pOR tRás das cORes cOm caRa de laR

Fevereiro / 2014plásticos em revista

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EDITORIAL

Filiada à norte-americana Society of Automotive Engineers, a SAE Brasil se debruça sobre pesquisas a respeito dos prováveis efeitos na engenharia da mobilidade esperado com a escassez global de petróleo no período aproximado de 50

anos. As recentes descobertas de mais reservas do combustível em regiões como a do Golfo do México ou o frisson em torno da corrida de investidores atrás do óleo e gás natural seccionados do gás de xisto, matriz chave para tornar a curto prazo os EUA autos-suficientes em petróleo, podem causar um soluço positivo nos gráficos, mas os levantamentos respeitados pelos técnicos da SAE convergem de forma inexorável para a chegada a mais um ciclo de carência mundial da fonte finita de energia.

Essa perspectiva de escassez de pe-tróleo e, a tiracolo, a promessa colateral de declínio nas emissões de gás carbônico, são o mote para o atual relançamento do carro elétrico, movido a baterias recarre-gáveis e cujo surgimento remonta ao final do século 19, na Escócia e EUA. Desde então, a indústria automobilística tem acusado intermi-tentes recaídas no estudo e concepção de modelos sem tipo algum de emissão. Um renitente calcanhar de aquiles dos veículos elétricos é a disponibilidade de baterias acessíveis (inclusive na troca ) e capazes de armazenar carga suficiente para se percorrer uma distância útil. Nos anos 70, por exemplo, sob a pancada dos choques do petróleo e o espocar das primeiras preocupações com o meio ambiente, estreou nos EUA o CitiCar, da montadora Vanguard-Sebring, apto a rodar 48 km/h a cada recarga de suas baterias de chumbo ácido, cuja recarga consumia de quatro a 10 horas. O CitiCar saiu de cena ao final da década, vitimado por segurança insuficiente.

Do tipo chumbo ácido, as montadoras evoluíram para as baterias de níquel hidreto metálico e hoje estão na versão de lítio-íon, de recarga mais rápida e adequadas a trajetos maiores, mais compatíveis com a mobilidade na vida real. Apesar do progresso a bordo das baterias lítio-ion, os carros elétricos permanecem uma promessa e, entre os pedregulhos por remover do caminho, constam a ausência de sistemas de postos preparados e a cara manutenção dos veículos eletrificados.

Nesse meio tempo, os híbridos se popularizam como saída provisória. Mas os experimentos tecnológicos, montagem de redes de abastecimento e lançamentos de carros elétricos continuam a borbulhar, indicando uma tendência sem volta. A visão do carro 100% elétrico já faz tremer nos alicerces, devido à sua antevista extinção, redutos como sistemas de transmissão e de diferencial (transferência

e distribuição uniforme do torque) ou dos óleos para o motor. Vale o mesmo para peças plásticas como o tanque de combustível soprado, aplicação hoje no cartão de visitas de polietileno de alta densidade. Outro desafio para o plástico emerge da preferência de montadoras âncoras, como BMW, Audi e Mercedes Benz, pelo uso de alumínio nas partes externas. Como pesa quase a metade do peso original em aço, o alumínio converge para o consumo menor de combustível. Em razão do preço, seu uso hoje limita--se a determinados modelos de luxo mas

a experiência histórica vaticina que toda revolução vem de cima para baixo. O plástico não presencia esses movimentos com apatia. A BMW sustenta que seus carros elétricos i3 e i6 são os primeiros do mundo com carroceria de termofixo à base de fibra de carbono. A Smart, por seu turno, já lançou carro conceito sem metal, à base de epóxi e fibra de carbono na carcaça.

Os técnicos da SAE Brasil afirmam deparar com uma incógnita: qual o futuro das resinas em autopeças? Afinal, elas procedem do petróleo, cuja futura escassez leva ao encarecimento do combustível e seus derivados. O que colide com o ideal de um carro econômico, no sentido de preço ao alcance popular. Nas conversas com futurólogos da entidade, pulam na mesa hipóteses como investimentos maciços em bioplásticos, hoje ausentes dos carros, por aliarem predicados ambientais com a ausência da matriz petrolífera na composição. Reina hoje, no entanto, o consenso de que, à parte características técnicas, plásticos de fontes renováveis dependem de brutal economia de escala para se avizinharem dos preços das resinas convencionais. De outro lado, ninguém põe em dúvida a capacidade do plástico de se reinventar. Façam seu jogo. •

O futuro no escuroPrevisão de escassez de petróleo põe plásticos em xeque no carro elétrico

SUMÁRIOVisorRESINAS DE BARREIRA Passividade da indústria refreia evolução

ConjunturaTUBOS CORRUGADOSTigre-ADS monta segunda planta no país

OportunidadesIN MOLD LABELMack Color e Vitopel desenvolvem filme show

SensorADALBERTO VIVIANIConsultor analisa duelo das cápsulas de refrigerantes com garrafas de PET

RasantePLANO GERALCurtas, quentes e cáusticas

3 QuestõesOSVALDO CRUZ Distribuidor comenta efeitos das barreiras tarifárias para resinas

TrajetóriaINPLAC 40 anos sem rugas

Fábrica ModeloNORD WEST Uma butique de injeção de peças técnicas

SustentabilidadeAG PLASTEngarrafadora entra em PET bottle to bottle

INTECMAT Aposta no filão de biocompostos

MarketingOS LANÇAMENTOS DE PRODUTOS E SERVIÇOS

TendênciasWETBIKE Com plástico, dá para navegar pedalando

ESPECIAL

UDOS MASTERS POR TRÁS DAS CORES COM CARA DE LAR

Fevereiro/2014Nº 600 - Ano 51

DiretoresBeatriz de Mello Helman

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REDAÇÃO

DiretorHélio Helman

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Direção de ArteSamuel Felix

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ADMINISTRAÇÃO

DiretoraBeatriz de Mello Helman

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AssinaturasKeli Oyan

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CapaSamuel Felix

Foto da CapaShutterstock

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Processo DRT/1, número 11554/90, de 10/09/90Circulação: Março / 2014

MEMBRO DA ANATECAssociação das Editoras de Publicações Técnicas

Dirigidas e Especializadas

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20 anos de economia estabilizada, coroados hoje com baixo desem-prego e massa salarial crescente ainda não são suficientes para

deflagrar uma evolução com a mesma intensidade entre as embalagens flexíveis com agentes de barreira. Progressos são patentes na área. Convertedores, dão a entrever os entrevistados nessa reportagem, contam com equipamentos em dia com o mundo, matérias-primas da elite global estão ao alcance da mão e, apesar do rilhar dos dentes da inflação, o consumo familiar segue adiante. No entanto, apontam algu-mas fontes de peso, a demanda brasileira por esses flexíveis para alimentos ainda não corresponde em cheio ao potencial do país – nichos consolidados para resinas de barreira no exterior permanecem pouco explorados e, entre as interpretações para a situação, alega-se a inclinação do público por dar primazia ao fator custo, embora seu

poder aquisitivo seja bandeira eleitoral. Por essa linha de raciocínio, a indústria de alimentos e sua cadeia de embalagens flexíveis estariam se curvando à cultura do consumidor, contemplando-o com soluções ok de preservação dos alimentos, mas repre-sando as possibilidades de ganhar mercado, à sombra da economia de escala, com a oferta de tecnologias multicamada mais requintadas e, atestam analistas ouvidos por Plásticos em Revista, já entranhadas no dia a dia de economias emergentes. O radar dessa situação intrigante e do que vem por aí é o ícone brasileiro do estudo e desenvolvimento de flexíveis com barreira, diz Claire Sarantópoulos, pesquisadora científica do Centro de Tecnologia de Emba-lagens (Cetea), astro da entrevista a seguir. A propósito, as convertedoras Mazda, Valfilm e Deltaplam e, entre os produtores de ma-teriais de barreira, Dow, Solvay e Tredegar, esquivaram-se de participar da reportagem.

PR - Poderia indicar alimentos cujas embalagens flexíveis acusavam, sob pressão dos custos, barreira de qualidade sofrível há cerca de 5 anos e hoje em dia essa propriedade de barreira evoluiu a olhos vistos, devido ao salto no consumo e consequente economia de escala?

Claire - Foi significativa a melhoria de barreira dos filmes laminados metalizados, tanto em termos de barreira a gases como ao vapor d’água, em especial à base de BOPP, para aplicações como embalagens de alimentos de baixa atividade de água. Por exemplo, produtos desidratados, snacks e biscoitos. Também mudaram de patamar tec-nológico os filmes coextrusados com barreira de poliamida (PA) e copolímero de etileno e álcool vinílico (EVOH), inclusive com inúme-ras opções de películas encolhíveis.

No mercado de derivados de tomate no Brasil, expressivo no plano mundial, a pene-tração de flexíveis também causou grandes mudanças no setor de embalagens plásticas. Em grande parte, tratam-se de estruturas híbridas, ou seja, filmes metalizados lami-

Flexíveis com barreira poderiam desfrutar bem mais o mercado se a indústria deixasse a retranca

Dá pra garfar bem mais

Claire Sarantópoulos: progresso das barreiras atrelado à selagem.

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nados a filmes coextrusados com barreira polimérica. Normalmente, associa-se um filme de PET metalizado a filmes coex com PA e/ou EVOH.

PR - Como justifica esse progresso? Claire - A melhoria de barreira nos

filmes decorre, principalmente, dos inves-timentos em infraestrutura de produção de embalagem. Avanços na formação de profissionais de maior competência na área também foram determinantes para a evolução do setor. O norte dos desenvolvimentos de melhoria de barreira não tem sido o aumento de espessura e gramatura dos materiais. Ao contrário, buscam-se estruturas cada vez mais finas, com redução de material e manutenção ou até melhoria de desempenho. Os materiais tem evoluído para o que cha-mamos de polímeros de alta performance. Aliás, falando em barreira de embalagens,

trusados com barreira em EVOH seguiu o crescimento interno de produtos cárneos processados e do leite asséptico em emba-lagem flexível. Foi também relevante para o avanço do mercado de estruturas de barreira coextrusadas o aumento do mercado de exportação de carne fresca embalada a vácuo. Neste último cenário, verificaram-se vários investimentos em modernas linhas de coextrusão.

PR - Quais as consequências da evolução observada quanto à ação de barreira sobre a vida útil dos alimentos acondicionados?

Claire - No caso de alimentos sensíveis à umidade, em geral comercializados à temperatura ambiente, o aumento de barreira dos filmes metalizados associado a selagens herméticas assegura melhor qualidade do produto e vida útil mais longa. Trata-se de

fator importantíssimo para um país de clima quente e úmido, com grande parte da popula-ção concentrada em ca-pitais litorâneas. Já para os produtos sensíveis ao oxigênio, em grande parte perecíveis e ofer-tados sob refrigeração, o aumento da vida útil está associado à temperatura de comercialização, à eficiência da retirada do oxigênio dentro da em-

balagem além da barreira a gás do material. Nesse caso, os três requisitos devem ser atendidos para se ter ganho significativo de vida útil e qualidade.

PR- Quais os pontos a desejar que nota no emprego dos materiais de barreira em filmes técnicos de alimentos no Brasil?

Claire - O mercado brasileiro ainda é pobre em opções de filmes de alta permea-bilidade a gases, para aplicações em frutas

e hortaliças minimamente processadas. Por exemplo, filmes microperfurados a laser, ainda importados.

PR - No universo brasileiro de filmes alimentícios com barreira, dominam com folga as tradicionais estruturas de três camadas. É muitíssimo restrita a parcela de filmes de sete ou nove camadas. No Primeiro Mundo, por seu turno, vários alimentos no passado acondicionados em três camadas hoje são embalados em uma quantidade de substratos bem maior. Se o consumo brasileiro de alimentos decolou nos últimos 10 anos, mérito em especial do poder aquisitivo das classes populares, por quais motivos as embalagens locais, escoradas nos ganhos de escala, não acompanharam essa evolução tecnológica?

Claire - A pressão por preço baixo da embalagem ainda mantém uma parte do parque de coextrusão defasada frente às novas tecnologias. Outro fator influente é o limite de aceitabilidade de baixa qualidade de produtos alimentícios por grande parte dos consumidores brasileiros. Contudo, foram significativos os investimentos em novos equipamentos multicamada; permi-tem trabalhar com espessuras mais finas de polímero barreira e resinas selantes de alta performance. Também operam com maior número de resinas por filme, usando os melhores polímeros para cada requisito exigido da película, otimizando os custos de

Hortaliças: potencial pouco desbravado para flexíveis com barreira.

é impossível não fazer menção às resinas de alta performance em selagem hermética.

PR - Quais os tipos de alimentos cujos filmes multicamada, devido a custos, não recorriam cinco anos atrás à barreira de EVOH e hoje o fazem no Brasil, devido à explosão do consumo em especial nas classes mais pobres?

Claire - Em termos de mercado con-sumidor, o avanço na área de filmes coex-

Carne fresca: investimentos em coextrusão no rastro das exportações.

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novos materiais fabricados com tecnologia de ponta.

PR - Quais são, no mostruário brasi-leiro de flexíveis para alimentos, as típicas estruturas multicamada mais distantes e defasadas em relação ao modelo de embalagem hoje em dia adotado no Pri-meiro Mundo para acondicionar o mesmo produto?

Claire - A meu ver, vale ressaltar o uso ainda pequeno de embalagens plásticas termoformadas para o acondicionamento a vácuo ou em atmosfera modificada, no setor de varejo e food service no Brasil. Baixos volumes, conivência com a baixa produtividade e os desperdícios nos es-

tabelecimentos de varejo, além da falta de investimento em máquinas de acondicio-namento são entraves associados à esta defasagem, mesmo em relação a outros países da América Latina.

PR - Por quais motivos, policloreto de vinilideno (PVDC) é a barreira menos usada no Brasil, em geral preterida por PA ou EVOH?

Claire - As restrições de processabi-lidade e a agressividade aos equipamentos das resinas de PVDC para confecção de filmes coextrusados multicamada e de filmes revestidos de PET ou BOPP limita o

número de fornecedores que aderem a esta tecnologia de barreira. Contudo, frente à ma-nutenção das propriedades de barreira a gás em condições de alta umidade, o que não acontece com PA e EVOH, PVDC tem sido a opção de alguns novos investimentos de convertedores no país, especialmente com vistas ao mercado de carne fresca.

PR - Como vê as perspectivas para o incremento de uso de BOPET a partir da anunciada expansão, pela Tredegar, da ca-pacidade nacional desse tipo de poliéster?

Claire - O uso da embalagem plástica flexível, em especial stand up pouch, como alternativa às versões plásticas rígidas, ao pote de vidro e às latas para alimentos; o

desenvolvimento de embalagens do tipo refil para o mercado de higiene e limpeza e cosméticos e, por fim, a expansão do mercado de ração animal, criam um ce-nário favorável ao uso de PET. O crescente interesse por máqui-nas automáticas de acondicionamento, termoformadoras ou form-fill-seal, tam-

bém colabora para o aumento de consumo desse material. A possibilidade de receber revestimentos orgânicos e inorgânicos, para conferir diferentes propriedades de barreira, amplia as possibilidades de utilização do BOPET.

PR - Em seu livro (coautora) “Re-quisitos de conservação de alimento em embalagens flexíveis” (2001, Cetea), o papel dos agentes de barreira é ressaltado, em especial, nos capítulos de maioneses e molhos cremosos; alimentos congelados; carnes, aves, pescados e derivados e pet food. Quais as tendências a curto prazo?

Snacks e biscoitos: melhoria da barreira a gases e vapor d’água.

Cárneos processados: barreira de EVOH bafejada pelo aumento do consumo.

Claire - Uma forte tendência no merca-do de alimentos é o aspecto de conveniência e praticidade no consumo do produto. O desdobramento dessa tendência está asso-ciado a vários aspectos da embalagem, mas vale citar a tendência de porções menores, inclusive que favoreçam a portabilidade, ou seja, o consumo em trânsito (on-the-go) e preparo rápido em microondas de produtos prontos ou semi-prontos, em especial os refrigerados. Para acondicionamento de porções menores é necessária maior bar-reira, pois a relação área de embalagem e peso de produto aumenta. Para conservação de alimentos refrigerados, porcionados, as técnicas de acondicionamento a vácuo ou atmosfera modificada exigem boas proprie-dades de barreira das embalagens. Nesse compartimento, note-se os lançamentos de frios fatiados e carnes porcionadas em bandejas com atmosfera modificada. Outro aspecto favorável ao desenvolvimento de filmes com barreira é seu uso como alterna-tiva a embalagens de vidro e latas, ambas de elevada barreira a gases e umidade.

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Na esfera do plástico, os agentes de barreira compõem o nicho que, ao pé da letra, junta a fome com a vontade de comer. Ou seja,

conectam a conservação de alimentos com as propriedades das embalagens flexíveis. Esse link fortaleceu-se no Brasil da última década pelas mudanças no consumo das famílias, em especial de baixa renda; o requinte e distribuição nacional dos ca-nais de autosserviço (supermercadistas)e a ascensão da cultura de combate aos índices infames de comida desperdiçada e descartada no país.

As reviravoltas provocadas por esse processo em intenso andamento são capta-das em cheio pela demanda pela resina de barreira premium, o copolímero de etileno e álcool vinílico (EVOH). Antes restrito ao circuito da elite dos filmes alimentícios, seu uso como barreira a oxigênio e di-óxido de carbono, movido por ganhos

de escala, hoje atinge no país estruturas multicamada circunscritas no passado a nichos do consumo mais abonado. Esse panorama fica patente em análises como a de Guilherme Ferreira do Nascimento, en-genheiro de desenvolvimento da brasileira Intermarketing, importadora de EVOH do grupo japonês Kuraray.

Um destaque em aplicação, ele diz, é o retorno do saquinho com propriedades melhoradas para leite. Com essa estrutura multicamada que inclui EVOH, o produto permanece intacto por longo período, perto de 120 dias em temperatura ambiente, numa alfinetada na atual supremacia da caixa cartonada asséptica. “É um grande sucesso no exterior e estamos trazendo a tecnologia ao Brasil graças à parceria com fornecedores e clientes”, encaixa Nasci-mento. Embora a indústria de alimentos seja o maior mercado para EVOH, setores como o de cosméticos, agroquímicos e

saneantes têm alargado o espaço para o copolímero, acrescenta o especialista.

Segundo análise da Intermarketing, em 2013 predominaram as vendas de grades de EVOH com 32% e 38% de teor molar de etileno para aplicações alimen-tícias. A Kuraray, inclusive, lançou um tipo específico para processo de Double Bubble. “Nesse caso, EVOH mostra-se capaz de acompanhar o estiramento sem perder propriedades de barreira”, ele explica. Mercados-alvo são os de carnes frescas e embutidos que ainda optam pelas alternativas de PA e do copolímero de cloreto de vinila e vinilideno (PVDC). Contudo, distingue Nascimento, EVOH se destaca nos quesitos de eficiência, redução de e facilidade de reciclagem, assegura Nascimento.

Outra tecnologia recente da Kuraray, ele insere, é a chamada O2 Scavenger. Além de oferecer barreira a gases, esse grade de

Fervem os avanços entre os materiais de barreira

Por trás da muralhaRESInAS DE bARREIRA/FORnECEDORES

Tripas para embutidos: referência de Selar no brasil.

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EVOH retém oxigênio, tornando a embala-gem impermeável até a saturação, elucida o engenheiro. Completando a lista de ino-vações, aparece o tipo EVOH Elastomérico, de comportamento mecânico semelhante ao de PA, mas provido de características de barreira e resistência química próprias do copolímero. Esse produto, no entanto, não entra na produção de estruturas mul-ticamada para embalar alimentos, mas é opção para bombonas de agroquímicos, avalia Nascimento. “Hoje, fornecemos para recipientes de até um litro o grade usual de EVOH. Mas, com o novo tipo elastomérico, graças a suas propriedades mecânicas, poderemos expandir a atuação para até 20

que essa tendência emplaque de vez no Brasil, onde prevalecem as estruturas de barreira com cinco camadas, inclusas as de adesivos no cômputo. “Muitos fabri-cantes já desejam isso. Afinal, quanto mais camadas, melhores serão as características da película”, assinala, deixando implícita a rentabilidade superior do filme. Assim, é possível explorar diferentes composições e, por tabela, baixar os custos, ele fecha.

Para Anderson Pinto da Silva, repre-sentante técnico de vendas no país da ale-mã Basf, fera no fornecimento global de PA, a melhoria notada em flexíveis com barreira para alimentos é mérito, em especial, da luta contra a distância entre área produtiva

shelf-stable”, acrescenta Da Silva.Entre os feitos recentes da Basf,

consta a oferta dos grades SL (Slow Crystallization) de PA Ultramid. “São homopolímeros aperfeiçoados para apli-cações em filmes”, sumariza o técnico. “A ampla janela de processamento contempla esses materiais com maior produtividade e menor formação de quebras”. Com essa performance, assinala, os grades SL lograram substituir em várias estruturas multicamada as blendas de homopolímero com copolímero de PA.

Além disso, desde fevereiro deste ano, a Basf passou a comercializar parte do portfólio de PA 6 produzido no Brasil sob

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litros, inclusive com melhor resistência química a solventes”, pontua.

Na percepção do engenheiro, o uso do EVOH pode, sim, resultar competitivo, já que ele confere menor espessura e maior barreira em certas aplicações e quando comparado ao desempenho de PA e PVDC. “Para chegar a esse resultado, é necessária a formulação adequada do filme e seleção do grade apropriado de EVOH, levando em consideração a vida de prateleira requeri-da”, ressalta.

Apesar do investimento na impor-tação de coextrusora para filmes de sete ou nove camadas, Nascimento acredita

e os centros de consumo. Trunfo da PA, ele comenta, é sua excepcional resistência me-cânica, o que resulta em menor espessura dos filmes, custo competitivo e redução do volume de material descartado. “Outra vantagem é a adequação do material a diversos processos, a exemplo de extrusão balão e de matriz plana ou da tecnologia de biorientação”, esclarece. PA também tem vez, prossegue, em filmes de tampa ou fundo de recipientes termoformados, bem como em estruturas laminadas. “Nesses casos, as resinas apresentam alta resistên-cia térmica, o que permite seu emprego em embalagens do tipo retortable em produtos

sua assinatura Ultramid em substituição à marca Mazmid, da Mazzaferro, cuja unidade de polimerização e beneficiamento foi adquirida pelo grupo alemão em 2012.. Na planta em São Bernardo do Campo (SP), a empresa produz cinco grades para flexíveis, dos quais três de PA 6 e dois do copolímero PA 6/6.6.

Ao comparar o mercado brasileiro com economias maduras, como Estados Unidos e Europa, e com emergentes asiáticos, Da Silva percebe enorme dis-tância tecnológica. Mas também enxerga oportunidades para embalagens dos tipos stand-up e shelf-stable. Um passo nessa

brunelli: barreira aguçada em nova embalagem para queijos e carnes.

boaventura: segurança alimentar e prazos de validade atraem investimentos em filmes.

Selar: barreira a gases com ganhos de brilho e transparência.

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visorRESInAS DE bARREIRA/FORnECEDORES

direção é o interesse por equipamentos para produção de filmes de até nove ca-madas. “Isso permite ampla variação de estruturas, desde as mais simplificadas até as de alta complexidade”, afiança. Além disso, comenta, na Europa grassa a tendência de aplicação de barreira de PA, via paper coating ou in-liners, contra migração do óleo mineral proveniente de caixas de papelão utilizadas para trans-porte. “Isso terá um peso significativo na América do Sul desde que implementada uma legislação específica no continente europeu”, condiciona.

Segundo nota o executivo da Basf, o parque de extrusão no Brasil ainda apresen-ta muitos equipamentos defasados mas, ele garante, máquinas recém-adquiridas, em grande parte importadas, demonstra que fabricantes locais estão determinados a mudar o cenário. Contudo, interpreta, o sentimento de incerteza quanto à política econômica e dúvidas sobre o avanço do mercado fazem com que a tomada de de-cisões não seja tão rápida. Alavanca para esse desenvolvimento são as exigências

por parte de brand owners, como frigorí-ficos, pastifícios e indústria de alimentos. “Novas necessidades demandam esforços, bem como maquinário capaz de produzir estruturas diferenciadas. O ganho com o uso de extrusoras para estruturas de mais camadas é nítido”, ele analisa. Apesar de o investimento ser maior nesses modelos, coloca, os resultados são superiores e permitem que sejam utilizados materiais de alto valor agregado em películas mais finas, diminuindo o custo final.

Busca constante do mercado de ali-mentos, julga Carlos Catarozzo, executivo de vendas e marketing da japonesa UBE na América Latina, é a diminuição de perdas. Para responder a essas demandas, as PAs da grie nipônica saíram de homopolímeros básicos, sem aditivos, para terpolímeros, como PA 6, 6.6 e 12, ele aponta. Os mate-riais, segue Catarozzo, têm alta resistência mecânica e, assim, permitem a diminuição da espessura da embalagem.

Em 2013, diz o executivo, a UBE trabalhou forte no Brasil seu terpolímero Terpalex para aplicações de termoformados

mais fundos e com melhor distribuição nos cantos, “ponto débil das embalagens atuais”, ele afirma. Para 2014, a empresa lança copolímeros para aplicação retort com resistência a condições severas de temperaturas, ele antecipa.

Catarozzo percebe forte onda mundial com relação a stand-up pouch. “Esse tipo de embalagem cada vez mais substitui metais e vidros. Observamos o movimento em gôndolas de supermercados em todo território nacional no acondicionamento de produtos de higiene pessoal, domis-sanitários e pet food”, informa. Ainda no âmbito do futiro do mercado brasileiro, o especialista acredita no incremento do uso de coextrusoras de sete e nove camadas.

No Brasil, distingue Catarozzo, o mostruário de PA da UBE faz sucesso em embalagens encolhíveis para carnes e em termoformados que requerem alta resistência mecânica, como em peças de bacon mais rígidas. Embora 2013 tenha sido um ano de novidades, o mercado marcou pela turbulência, analisa o execu-tivo. Apesar disso, o escritório comercial brasileiro aumentou a equipe de vendas e manteve o giro de 500 t/mês, inclusos homo e copolímeros de PA. Para o período atual, a empresa projeta crescimento de perto de 5%.

Por enquanto, a UBE deixa de lado seus planos de formular PA no Brasil e segue com expansão da unidade em Castellon, na Espanha, com capacidade adicional de 10.000 toneladas anuais. O foco do aumento é em produtos ready to use, ou seja, poliamidas com aditivos, que garantem soluções completas à clientela.

“Até cerca de cinco anos atrás, a população comprava alimentos para con-sumo diário e era intenso o desperdício de produtos”, rememoram Fernando Antunes e Daniela Giusti, respectivamente gerente geral de vendas e gerente de contas Packa-

Poliamidas DSM: estruturas de barreira acima do padrão vigente no brasil.

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ging & Extrusion do escritório brasileiro da holandesa DSM, pêndulo mundial em PA para coextrusão. Hoje em dia, eles completam, as mudanças nos hábitos de consumo familiar e o cotidiano atribulado acenderam o pavio da propensão para se comprar alimentos passíveis de armazena-gem por tempo maior, entre eles queijos, carnes e embutidos. “Também pesa em prol dos flexíveis com barreira a atual preocupação com regulamentações de segurança alimentar e meios para evitar a contaminação”, encaixa Antunes.

Apesar da demanda crescente e de um parque transformador com equi-

pletora de aditivos formulados pela DSM para melhorar a produtividade e acaba-mento de filmes blow, cast ou biorientados. Em 2013, por sinal, a empresa introduziu a linha Akulon XS sob o chamariz de melhor processamento de PA 6 em filmes tubulares. “Permite uma faixa mais ampla de ajuste superior à proporcionada pela co-poliamida 66/6, ultrapassando-a também nos quesitos de barreira e resistência”, arrematam os gerentes da DSM.

No plano geral, as estruturas multica-mada nacionais equiparam-se em desem-penho de barreira às adotadas no Primeiro Mundo, considera Kleber Brunelli, gerente

sem eles”. A Europa, fecha o especialista, pende pela adoção de estruturas de 11 ou mais camadas para a obtenção de filmes de alta barreira sem laminação e alumínio.

Em seu retrospecto do mercado interno dos últimos cinco anos, José Bo-aventura, gerente de marketing da divisão de polímeros para embalagens e aplica-ções industriais da DuPont Brasil, não flagra casos de melhorias dramáticas nas propriedades de barreira a gases ou vapor d’água em flexíveis. Em contrapartida, ele identifica o aumento da disponibilidade de estruturas laminadas com alta barreira. “Daí o significativo avanço sobre tradicionais embalagens de vidro e metal de flexíveis como stand up pouches, envelopes e sacos laminados, contendo alumínio ou BOPP ou BOPET metalizados”, constata o execu-tivo. “Além do embalamento, o uso dessas estruturas estende-se a aplicações como refis para produtos de higiene e limpeza”.

Boaventura antevê uma engorda nos investimentos em, flexíveis de custos mais competitivos e melhor barreira e hermetici-

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Catarozzo: PA com lugar cativo em embalagens encolhíveis para carnes.

pamentos e know how em dia com o mundo, reconhecem os dois executivos, o mercado brasileiro de embalagens com barreira ainda rateia em alguns pontos. “O usuário final ainda não procura produtos técnicos como deveria e mantém o foco em custos, pressionando assim o fabricante e impedindo a entrada de soluções mais avançadas”, ilustra Daniela.

Para ajudar a vergar essas resistên-cias e abrir caminho para os flexíveis com barreira habituais nos países desenvolvi-dos, Antunes e Daniela acenam aos conver-tedores com os grades de PA 6 Akulon, a linha de copoliamida 66/6 Novamid e uma

técnico da divisão de polímeros para emba-lagens da DuPont Brasil. “Mas pode haver defasagem quanto à eficiência de selagem ou facilidade de abertura”, ele pondera. “As principais diferenças notam-se na qualida-de de acabamento e na produtividade da conversão (fabricação da embalagem) e da etapa de envase”. Brunelli também pinça peculiaridades brasileiras nas tecnologias de produção e estratégias de suprimentos. “Nos EUA, é notória a preferência por processos mais produtivos de conversão, a exemplo do revestimento e laminação por extrusão, enquanto aqui predomina a lami-nação com adesivos à base de solventes ou

Estrutura com barreira: espessura mais fina e alta resistência mecânica.

nascimento: EVOH à sombra do retorno do saquinho coex de leite

Da Silva: basf nacionaliza cinco grades de PA para flexíveis.

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dade, “esforço impulsionado pelo rigor na segurança alimentar e aumento dos prazos de validade”, argumenta. Como referência, ele cita o negócio de exportação de carnes in natura ou processadas, para as quais se exige validade estendida para acomodar o tempo gasto para a remessa ao exterior, fora atender às exigências sanitárias inter-nacionais e vencer os entraves ao uso de insumos como compostos clorados ou o antioxidante tri nonil fenil fosfito (TNPP).

A DuPont marca de perto esse fu-megar de bons sinais com sua poliamida amorfa Selar, em regra utilizada em mis-turas com poliamida homo ou copolímero

para ampliar a barreira ao vapor d’água, explica Brunelli. “Selar mantém a barreira a gases mesmo na presença de umidade, além de contribuir para o brilho e transpa-rência da embalagem”, ele frisa. O gerente põe na mesa os predicados de Selar com o recente desenvolvimento de embalagem para queijos e carne fresca ou processada. “A composição alinha PET/PA+Selar/EVOH/Surlyn (ionômero)/camada de se-lagem”, expõe o especialista. “Na camada externa, o poliéster confere brilho e maior produtividade ao envase, ao impedir uma embalagem de grudar na outra”. Quanto

DSM: poliamidas impulsionadas pelas mudanças de hábitos de consumo.

à permeação do oxigênio, Brunelli avalia ter sido reduzida nessa embalagem em três vezes perante os resultados do ponto de partida do desenvolvimento. Resultou equivalente a perto da metade dos valores obtidos para as estruturas de envase de carne e queijo convencionais, ele con-fronta. “A barreira ao oxigênio influi de forma decisiva para baixar a atividade de microorganismos aeróbios, causa-dores da deterioração de carnes frescas ou processadas”. Boaventura martela a tecla dos progressos constatados na barreira ao vapor d’água e oxigênio dessa embalagem por obra da ação conjunta de

Selar, composto de poliamida e EVOH. A presença de Surlyn na composição, ele completa, adiciona resistência à perfuração e termoencolhimento. “Dispensa, assim, a aplicação de raio gama para reticular o filme”, observa.

Em meio à multidão de flexíveis de alimentos conquistados no Brasil por Selar nesses 10 anos, Brunelli enaltece as tripas poliméricas para embutidos. “A combinação de poliamidas convencionais com Selar aumenta a barreira a gases e incrementa o brilho e transparência”, sintetiza o gerente da DuPont. •

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conjunturaTIgRE-ADS

baião de doisPor que o Nordeste merece marcação ao vivo da Tigre-ADS

Pelo menos até os próximos quatro anos, o Nordeste deve continuar a crescer acima da média nacional, empurrado por investimentos

acima de R$ 160 bilhões até 2020, prevê divulgado estudo da consultoria Ten-dências. O motor desse avanço, crêem analistas, não deve mais contar, em plano decisivo, com os gastos das famílias. Afinal, alega essa corrente, o impacto dos programas de transferência de renda já se completou na região e, daqui por diante, a adição de contemplados será de cunho marginal. Assim, o impulso da economia nordestina tende a vir agora do floresci-mento do agronegócio e da indústria, a exemplo de novas refinarias de petróleo, unidades de usinas eólicas e montadoras a exemplo do complexo orçado em US$ 6 bilhões a ser ativado no ano que vem pela Fiat em Goiana (PE) , com 11 sistemistas no entorno.

Na esfera do plástico, esse forró de

bons fluidos contagia a Tigre-ADS, supras-sumo em tubos corrugados de polietileno de alta densidade (PEAD) para saneamento e drenagem pluvial, com duas fábricas no Chile e há cinco anos em campo no Brasil, através de sua unidade em Rio Claro (SP). José Antonio Cattani Xavier, gerente geral dessa joint venture da brasileira Tigre com a norte-americana Advanced Drainage Sys-tems (ADS), já sente no caixa o afago da brisa nordestina. Em sua carteira, reluzem obras como as da estrutura dos estádios Arena Pernambuco, Duna e Fonte Nova, ou então, redes para a Companhia Pernambu-cana de Saneamento e para o complexo urbanístico Alphaville Sergipe. A firmeza do terreno convenceu a empresa a aplicar cerca de R$ 20 milhões numa filial no Nordeste, cuja capacidade instalada deve atingir 450 t/mês em plena carga, condição agendada para ser alcançada até o fim do ano. Com essa segunda fábrica no Brasil, a Tigre-ADS deve duplicar seu não reve-

lado potencial total de produção no Cone Sul,valorizando assim uma sociedade em partes iguais que, quando implantada em 2009, foi orçada em US$40 milhões. No ano passado, solta conciso Xavier, a produção do seu trio de fábricas somou 16.000 toneladas.

O governo Dilma tem nome feito como gestor ineficiente de obras de in-fraestrutura, segmento ao qual os dutos da Tigre-ADS se conectam. Mas isso não esvanece o ânimo de Xavier em relação à segunda fábrica da empresa no Brasil. “Existe uma lentidão de grandes obras de forma geral, a exemplo da universalização do saneamento defendida pelo Instituto Trata Brasil”, concorda o gerente geral. “Mesmo assim, temos feito um trabalho grande pelo país”. Além do contrato com a Compesa, ele exemplifica como bons resultados obtidos na esfera estatal, as obras fornecidas para a unidade de Rio Claro,no interior paulista, da empresa Foz, contratada via parceria público privada (PPP) para prestar serviços de esgotamen-to sanitário. No plano da iniciativa privada, Cattani destaca projetos como o da rede de drenagem pluvial para a futura planta catarinense da BMW.

A marcação ao vivo do mercado é a justificativa-chave brandida por Xavier para erguer a fábrica em Marechal Deodoro, em Alagoas. “O custo de logística para transportar tubos é muito alto e tomamos essa decisão para baixar o tempo e gasto de frete”, esclarece. “Além do mais, perto de 50% do faturamento em 2013 foi gerado na região”. O gerente não abre o parque de

Tubos corrugados: demanda em acensão em empreendimentos privados e infraestrutura.

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“Tubos corrugados de PEAD são de 50% a 75% mais leves que os de aço e têm perto de 1/10 do peso dos tubos de concreto”, compara José Antonio Cattani Xavier, gerente geral da Tigre-ADS. “Além disso, resistem à corrosão e são imunes à reação galvânica e eletromecânica”. Na tabela ao lado a empresa lista os atributos-chave dos corrugados com os concorrentes em drenagem saneamento.

TUBOS lEVES BATEM PESADO

COMPARAçãO

Quimicamente inerte

Eficiência hidráulica

Vida útil

Peso

Instalação

Comprimento dos Tubos

Quantidade de Emendas

Tempo de instalação

TIgRE-ADS - PEAD

Variação de pH de 1,5 a 14

Manning = 0,009 a 0,012

75 anos

1200 mm = 40 Kg/m

1200 mm = 24 tubos

Barras de 6 metros

144 m = 23 pontos de junção / emendas

50% mais rápido

OuTRAS TECnOLOgIAS

Variação de pH de 3 a 12

Manning = 0,013 a 0,017

30 anos

1200 mm = 1360 Kg/m

1200 mm = 144 tubos

Tubos de 1 metro

144 m = 143 pontos de junção

Xavier: região responde por quase a metade da receita.

Filial em Alagoas: Tigre- ADS dobra capacidade no Cone Sul.

extrusoras em Alagoas, mas informa que o portfólio de PEAD abrange os diâmetros de 450 a 1.200mm em tubos de seis metros de comprimento, destinados a redes de saneamento, e nos diâmetros de 100 a 1.500 mm para sistemas de drenagem. “O sistema de ponta e bolsa efetua a união dos tubos”, detalha. “Ou seja, é realizado por um encaixe, sendo a bolsa alargada”. Conforme assinala, a bolsa sobressai pela resistência à distorção, corte e rachadura, operando reforçada com duas bandas ce-râmicas de 50 mm e dois anéis de vedação.

Quanto à localização da nova uni-dade, Xavier deixa claro que os fatos de a Bahia monopolizar as plantas de PEAD da região e de seu polo petroquímico acenar com benefícios a transformadores de plás-tico não conseguiram destronar Alagoas na seleção da Tigre-ADS. “Priorizamos a questão do produto final ao cliente, mas não podemos negar que os incentivos fiscais de Alagoas contribuíram de forma muito significativa para esse investimento”, reconhece Cattani. Quanto à matéria-prima, ele revela não empregar PEAD proveniente de Camaçari, recorrendo à resina do Rio

Grande do Sul e Rio de Janeiro.Única produtora de PEAD no país, a

Braskem, sob a justificativa de adequação do portfólio às necessidades do mercado, optou por servir o reduto de tubos corruga-dos com a planta swing no Rio de Janeiro, licenciada da tecnologia Univation, e com a resina formulada em Triunfo (RS) pelo processo slurry, expõe Ederson Munhoz Reis Matos, gerente de conta de PE do grupo. “Nosso principal grade para cor-rugados destinados à drenagem é a resina HT 5303”, coloca. “Mas estamos desenvol-vendo outro grade para uso em drenagem e esgoto, nas pegadas da normatização para corrugados neste último nicho”.

José Antonio Cattani Xavier estaciona

a Tigre-ADS na pole do mercado nacional de tubos corrugados. Do observatório da Braskem, Matos não se manifesta sobre a liderança, mas enxerga oito rivais de peso no ramo. “E algumas empresas avaliam ingressar no mercado”, apimenta o executivo. Sem descer às tonelagens, Matos dimensiona em 12% o aumento no consumo brasileiro de PEAD em tubos em 2013 perante 2012. “Do volume aferido no ano passado, uma parcela de 55% cabe a tubos de pressão (água, gás etc.) PE 100 e PE 80, enquanto corrugados (esgoto, drenagem, comunicação etc.) participaram com 34% e subdutos e tubos de irrigação responderam por 11%”, atribui o gerente da Braskem. •

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OpOrtunidades

Kraft, Catupiry, M. Dias Branco. Marcos Rossi, presidente da Mack Color, ilustra com essas âncoras os avais já obtidos pelo filme de in

mold label (IML-impressão no comparti-mento do molde) desenvolvido na surdina por sua empresa e a produtora de polipro-pileno biorientado (BOPP) Vitopel. Rossi reconhece a existência de concorrência doméstica para sua película, mas tem em sua carteira de clientes a prova dos nove da performance do seu filme nos moldes de injeção. “Constitui um casamento per-feito entre a qualidade e desempenho do BOPP da Vitopel com nossa tecnologia de

impressão”, traduz o dirigente.Embora acumule mais de uma década

de milhagem no Brasil, o processo IML ainda não tirou todo o sumo do mercado por razões como a dependência dos com-ponentes importados. Entre eles, como revela o próprio comportamento de Rossi, sublinhando a nobreza da sua clientela já conquistada, consta a inclinação genera-lizada dos transformadores por recorrer à película trazida de fornecedores como os da Bélgica. É esse hábito que ele quer romper. Sem números comprobatórios na mão, o presidente da Mack Color estima as impor-tações com base na condição de IML como

tecnologia relativamente recente no país, em termos do grau de sua disseminação entre indústrias de transformação. “Diante das dimensões da demanda, as importações de filme IML representam uma quantidade muito tímida, em torno de 10% a 20% da necessidade de nossos clientes”.

Rossi afirma saber de várias tentativas frustradas na praça, inclusive com outros fornecedores de BOPP, para chegar a um fil-me de IML páreo com o da sua criação com a Vitropel. “A parceria no desenvolvimento começou na virada de 2011 com longo estudo, a cargo do nosso departamento de marketing, sobre as dificuldades dos clien-

Mack Color e Vitopel atingem excelência em filmes de in mold label

A chegada ao topo

MACk COLOR

Rossi: tecnologia zera problemas de estática na aplicação do filme.

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tes e como a concorrência as enfrentava”, rememora o dirigente. No ano passado, conta, começaram as vendas regulares e, para o exercício atual, Rossi espera firmar vendas com um time estimado de 10 a 15 empresas de médio e grande porte. Referência nesse sentido é o lançamento dos copos promocionais e colecionáveis de PP, gravados com imagens das cidades sede dos jogos da Copa. Os filmes com tratamentos especiais da Vitopel são im-pressos, de acordo com as quantidades estipuladas pelo cliente, e comercializados pela Mack Color. “Devido a diversidade dos nossos sistemas de impressão, atendemos de pequenas a grandes tiragens do filme de IML”, acena Rossi. “Quanto aos prazos, efetuamos o primeiro fornecimento na média de 15 dias desde o recebimento das artes até a entrega final do filme, enquanto

nas repetições suprimos o cliente em sete dias em média”.

Além de bater os prazos dados pela concorrência, o pulo do gato nesse desen-volvimento, deixa claro Rossi, foi a resolu-ção dos problemas de estática no momento de aplicação da película. “Concebemos com exclusividade um sistema de acabamento e corte”, ele revela. “O equipamento efetua o processo de corte automático e empilha os maços de fime nas quantidades reque-ridas pelo cliente, sem contato manual e diminuindo ao máximo a estática junto à robótica de aplicação da película”. A ope-ração, frisa Rossi, é 70% mais rápida que os métodos convencionais da concorrência. “Eles realizam o processo em corte e vinco, manuseando o filme e assim geram aumen-to de estática na aplicação”, ele esclarece.

Transparentes ou opacos (brancos),

os filmes para IML da Vitopel exibem es-pessuras de 55 a 79 micra. A Mack Color, insere Rossi, padronizou seus fornecimen-tos em 60 micra, medida capaz de cobrir 90% da demanda, julga o empresário. “A propósito, em caso de irregularidades na peça injetada, como ranhuras, desvios ou riscos na moldagem, os filmes mais es-pessos podem corrigi-las”. No terreno dos custos, o empresário não se apega tanto à diferença entre os preços internos e os das importações de BOPP, a matéria-prima a ser impressa para o processo IML. “Nossa vantagem está na agilidade do processo e na disponibilidade imediata do produto, mérito da fabricação local”, coloca Rossi. “Não dependemos da burocracia de inter-nação das importações e o cliente, por sua vez não corre o eventual risco de receber filme fora de especificações”. •

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sensor

Garrafas e latas aguardam uma chocoalhada a partir do ano que vem, quando ganha o mercado mundial, pelas mãos da Coca-

Cola, um sistema de fabricação caseira de bebidas gaseificadas geladas, via cápsulas, patenteado pela parceira norte-americana Green Mountain. A fé da fera em carbo-natados nesse divisor de águas, aliás, é mensurável pelo fato de ter cacifado 10% de participação acionária na Green Moun-tain. Seu equipamento competirá com o da israelense SodaStream, cujo preparo do refrigerante transcorre em meio minuto e calcula-se que poupe o consumo familiar de 430 latas e garrafas ao ano. Sob esse remelexo em carbonatados, vibram a voga de criar produtos em casa e uma senhora incógnita pelos flancos do plástico: qual será o impacto sobre a embalagem e a demanda de PET, cujo mercado nº1 sempre foi o de refrigerantes? É por essa zona de turbulência que trafega a entrevista de Adalberto Viviani,

presidente da Concept Planejamento em Marketing e Comunicação, requisitada consultoria com milhagem platinum nos ramos de bebidas e alimentos.

PR – Como avalia o impacto sobre as vendas de garrafas e latas de refrigerantes para consumo no lar provocado pela intro-dução da máquina de fabricação de refrige-rantes em cápsulas, agendada para o ano que vem? Quais os tamanhos de garrafas mais e menos vulneráveis a essa inovação?

Viviani – É cedo para dizer. Temos em jogo uma mudança de hábito. Abrir um refrigerante em casa é muito diferente de produzi-lo. Existe um manuseio que altera a raiz do uso, pois o produto deixa de ser um PPB (pronto para beber) e passa a exigir preparo. Outro ponto é que, depois de pronto e colocado no copo, há uma perda de referência da marca. Qualquer produto pode estar ali. Além disso, a intervenção do consumidor no preparo pode alterar o

resultado final. É mais ou menos como se o suco pronto voltasse para o mercado do suco integral. Aliás, este pode ser um efeito secundário.

Também é preciso entender qual o preço da máquina e seu resultado final. As máquinas de café constituem um produto que entra no universo do desejo, no qual o hábito de tomar café se transformou em diferencial para o consumidor. Começamos com um processo em que o café passou a ser cobrado nos restaurantes após as refeições para valorizar o produto. Passamos pelas cafeterias nos grandes centros, chegamos aos baristas e o café foi sendo incorporado como hábito elegante e descolado. O refri-gerante não tem essa pegada. É diferente. É um produto para a família, com muito peso do público infantil. Pode ser uma máquina com cunho de diversão, como se fosse um brinquedo. Mas refrigerante não é café. O café é um produto que passa pela manufatura na residência. A máquina de café promove uma experiência positiva. Qual o sabor do refrigerante? O consumidor gosta do refrige-rante ‘de máquina’, existente hoje em dia em lanchonetes e restaurantes? São itens que precisam ser avaliados no processo.

Como o consumo tende a ser no lar, a embalagem que mais vai sofrer será a de 2 litros ou mais, o grande mercado de refrigerantes. No entanto, não creio em impacto significativo de curto prazo, a não ser que haja uma pressão do produtor em reduzir a disponibilidade do produto para criar essa mudança.

Consultor avalia a possibilidade de o refrigerante feito em casa encurralar as garrafas de PET

Vai sair faísca?ADALbERTO VIVIAnI

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PR – Como enquadra a participação do consumo doméstico habitual de refrigeran-tes entre os vários cenários e situações de consumo dessa bebida no Brasil?

Viviani – O consumo de refrigerantes em embalagem familiar no Brasil é superior a 80% em volume.

PR – Em quais pontos, a seu ver, a má-quina de refrigerantes em cápsulas poderá, se seu uso estiver massificado, deflagrar mudanças significativas nos hábitos de consumo doméstico do produto?

Viviani – Com as cápsulas tendo um período de patente e exclusividade, tere-mos outros fabricantes delas atuando no mercado. A distribuição em autosserviço é menos complexa do que em bares. Temos um universo de possibilidades. Mas a prin-cipal será a oportunidade de ter o produto sempre em casa disponível. Os efeitos para a logística são fenomenais, pois as empresas deixarão de transportar água e embalagens. Cada caminhão transportará mais litros de consumo. A máquina também poderá ser utilizada, hipoteticamente, para outros produtos, como sucos. Se isso acontecer, podemos ter marcas de bebidas agregando segmentos distintos.

PR – Quais as possíveis frentes de consumo que essa máquina deve abrir para os refrigerantes de um modo até hoje inatingível pelas latas e garrafas de PET?

Viviani – Depende da máquina. Se as cápsulas forem para várias unidades de resultado final, teremos um uso. Se forem individuais, haverá outro resultado. Vale lembrar que o mercado de refrigerantes tem de lidar com mudanças conceituais, que pregam que bebidas devem ser sau-dáveis e o refrigerante não tem este atributo reconhecido. A máquina não interfere nessa

percepção. Se o foco for o universo corpora-tivo, por exemplo, a tentativa será fortalecer o consumo de refrigerantes no público adulto fora do lar e ter esta bebida como um snack, para consumo imediato. Não me parece ser um grande mercado, especialmente por concorrer com as outras bebidas e com o próprio café.

PR – Como analisa o custo-benefício dessa máquina de refrigerante perante o consumo do produto na embalagem?

Viviani – Não temos o preço final da máquina nem das cápsulas. Se nos

LOngE DE DAR InSônIAEmbora afirme carecer de maiores informações sobre o desenvolvimento, Evandro

Cazzaro, diretor da canadense Husky na América do Sul, aposta na continuidade do consumo mundial das embalagens PET em refrigerantes, em meio à ofensiva ensaiada pelas cápsulas de fabricação doméstica do produto. Sua posição é lastreada numa das vocações da Husky, a construção de injetoras de pré-formas de classe mundial. O segmento de bebidas carbonatadas, confia o executivo, prosseguirá o grande motor da demanda pelo poliéster grau garrafa. Em paralelo, ele nota que gigantes mundiais de bebidas têm colocado esforços em nichos de reconhecido apelo de saúde & bem estar (wellness), como sucos, chás, água e isotônicos, o que tem ricocheteado no portfólio de inovações da Husky. “Nossos sistemas estão cada vez mais habilitados a oferecer soluções de menor custo para a fabricação de frascos para esses produtos”, encaixa o diretor. Como referência, Cazzaro cita a plataforma HyPET HPP 5.0, com trunfos a exemplo da injeção em alta cadência, sem limitações de ciclos, de pré-formas com gargalo de 38 mm.

Cazzaro: garrafas imunes à fabricação caseira de refrigerantes.

Viviani: manuseio altera a raiz do uso do refrigerante.

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sensorAdAlberto ViViAni

basearmos nos preços das cápsulas atuais de café, teremos preços não tão reduzidos, mas certamente haverá mais margem para a indústria. Volto a lembrar que a máquina,

SEM EngARRAFAMEnTOSPelo menos até o próximo ano,

as garrafas PET permanecerão com sua cadeira cativa no reduto de refrigerantes, afirma Donald Loepp, editor de Plastics News, publicação nº1 do setor plástico norte-americano. “Essas máquinas são muito caras. É um mercado de nicho”, ele sustenta, referindo-se ao projeto da Coca-Cola e Green Mountain.

Para comparação, Loepp menciona a israelense SodaStream, que oferece sistema similar de fabricação caseira de refrigerantes. Trata-se da patrocinadora do comercial, transmitido em primeira mão no caríssimo intervalo da finalíssima do campeonato de futebol americano Super Bowl, em 2 de fevereiro, com a atriz Scarlett Johansson apelando para o lado saudável e supostamente ambiental da marca. No texto, destaque para o bordão “menos açúcar e menos garrafas”. Pois bem, emenda o

Loepp: refrigerante em cápsula é mercado de nicho.

jornalista, as vendas anuais da SodaStream chegam a US$ 500 milhões, enquanto as da Coca-Cola beiram nada menos que US$ 50 bilhões, confronta o especialista. “A maior parte dos consumidores ainda preferirá os recipientes de uso único”, ele encaixa.

Mesmo que a máquina da Coca-Cola sacuda o mercado, o segmento de água mineral continuará um porto seguro para o PET. “Esse setor cresce mais rápido do que o de bebidas carbonatadas e deve logo se

tornar o principal consumidor da resina grau garrafa”, Loepp prevê. O editor de Plastics News ainda lembra que o cenário para o PET há tempos não anda bom, decorrência notória do excedente na oferta, e que o crescimento, mesmo com a demanda da indústria de refrigerantes, foi ínfimo em anos recentes. Além do mais, constata, o público tem preferido bebidas que trazem menos prejuízo ao organismo, como a água e opções não carbonatadas.

Scarlett Johansson: “menos açúcar e menos garrafas” com a máquina da SodaStream.

como a de café, tem de estar incorporada a um universo de status para os consumido-res. Se não estiver, não será introduzida no cotidiano.

Refrigerantes: influência decisiva do público infantil.

PR – PET é a resina termoplástica mais reciclada, mérito evidente de garrafas de refrigerantes. Com a eventual consolida-ção da máquina de fabricação doméstica de refrigerantes, sem dependência da emba-lagem, o quanto a parcela de garrafas de PET descartadas nos lares, disponibilizadas para reciclagem, poderá diminuir?

Viviani – Existem dúvidas sobre o impacto que a máquina terá. Para chegar ao ponto de reduzir significativamente o uso e a reciclagem de PET, terá de haver uma adesão popular muito grande. Mas ela deve entrar num nicho, buscar formadores de opinião para poder determinar um perfil e influenciar todo o mercado. Minha percepção é de um movimento de longo prazo. É como responder quanto a menos de café os super-mercados ou as cafeterias vendem com as cápsulas em um país em que milhões ainda usam o coador de pano e de papel.

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“Essas máquinas de fabricação caseira de refrigerantes e o preço unitário das cápsulas só seriam acessíveis a um público de razoável poder aquisitivo que, na prática não é grande consumidor de refrigerantes”, opina Auri Marçon, presi-dente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). Até por dever de ofício, a postura do dirigente é compreensível, ainda mais se fincada no terceiro produtor de refrigerantes do planeta. Em sua argumen-tação, Marçon passa ao largo da tendência ascendente da fabricação doméstica de produtos e da aritmética sem pátria da eco-nomia de escala advinda de uma produção massificada. Quem ousaria dizer, nos anos 90, que a classe C teria acesso franqueado a celular, computador e TV de tela plana?

Para Marçon, a novidade das cápsu-las é uma sacada da cadeia de refrigerantes na tentativa de trazer de volta um consu-midor infiel e menos frequente. Por isso, prossegue o porta-voz da Abipet, não é de se esperar diminuição relevante na demanda pelo poliéster, pois a máquina de fabricação doméstica apenas resgata ou agrega adeptos. Além do mais, vaticina, o mercado brasileiro de refrigerantes é mo-vido pela garrafa tamanho família. “Cerca de 70% do consumo de refrigerantes é feito em garrafas de 2 litros”, pontua Marçon.

Marçon: tentativa de laçar consumidor infiel e esporádico.

Tamanho família: 70% do consumo brasileiro

de refrigerantes.

Incluindo os tipos de 1 litro e 1,5 litro, a fatia chega a 80%, ele acrescenta. Sob outro ângulo, nota, ao pensar que o modelo em cápsulas tomaria lugar de recipientes menores de dose única, o efeito negativo surtiria sobre as latas de alumínio, julga o presidente da Abipet.

Nessa mesma linha, Marçon acredita que a reciclagem do PET não sairá per-dendo e que a cadeia produtiva da resina dificilmente sentirá um baque, pelo menos no primeiro momento. Porém, ele ressalva, é preciso lembrar que uma movimentação assim, vinda da Coca-Cola, não acontece ao acaso. “A empresa possui inúmeras marcas e atua em diversos segmentos de bebidas que poderiam funcionar bem com um equipamento desse tipo”, arremata. Única produtora de PET no país, a M&G não deu entrevista.

nãO é uMA bOMbA RELógIO EnCAPSuLADA

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Nos Estados Unidos, prossegue o industrial, a Rotoline tem 40 máquinas instaladas e 2013 foi um ano positivo em relação às vendas, embora ele não abra quantos modelos foram comercializados. Com essa aproximação, aliás, os custos serão mais compatíveis com a realidade atual, o que deve impulsionar os negócios e alavancar o padrão de atendimento no pós-venda, com assistência técnica espe-cializada, sublinha De Luccas.

A retomada da transformação de plás-ticos nos Estados Unidos é também fator crítico para o bom desempenho da planta. Por lá, ele encaixa, o setor é diversificado e a máquina tipo carrossel é a mais requi-sitada. “É um equipamento adequado para produção seriada”, ele prossegue. Além desse modelo, as linhas suttle também são montadas em Ohio, sendo que os cabeço-tes e braços para todas as rotomoldadoras são enviados do Brasil. Sobre essas partes, inclusive, incide tarifa de importação de aproximadamente 3%, percentual quase irrisório em comparação aos impostos de internalização brasileiros.

Enquanto Kent esbanja competiti-

MAIS bARATO EM DóLAR

Washington De Luccas

Vantagens competitivas fizeram com que a Rotoline, sediada em Chapecó (SC), começasse, no início do ano, a montar linhas de rotomoldagem em sua filial de Kent, em Ohio (EUA). Segundo Washington De Luccas, diretor-presidente da empresa, os clientes locais ganharão com entrega rápida, menor interferência de variações cambiais, bem como frete mais barato. “Outro fator pertinente que pesou na decisão foi o tamanho do mercado norte-americano, o maior mundialmente”, estabelece. A previsão de De Luccas, até o fechamento desta edição, era de entregar os dois primeiros equipamentos feitos em Kent em fevereiro.

vidade, a fábrica catarinense da Rotoline sofre com as mazelas do Custo Brasil. “Temos problemas com infraestrutura, cus-tos de frete interno, burocracia nos portos e alta carga tributária”, enumera o diretor. A Rotoline continuará montando e ven-dendo moinhos da Reduction Engineering, parceira da empresa, apenas no território brasileiro, onde é válida sua licença para esses auxiliares.

VOLTA POR CIMA

Carlos FadigasO resultado da Braskem em valores

não decepcionou em 2013. A receita líquida consolidada no ano passado somou R$ 41 bilhões, uma expansão de 13% com

MERCADO bRASILEIRO DE RESInAS TERMOPLÁSTICAS - ESTIMATIVA 2013 MAXIQuIM

MIL TOnELADASPRODUÇÃO

EXPORTAÇÃO

IMPORTAÇÃO

CONSUMO APARENTE (CA)

PEbD672

217

133

588

PEbDL855

241

353

968

PEAD1.054

348

306

1.012

SERVIçO COMPLETO DA MAXIQuIM

A conduta da Braskem de não avaliar em separado a performance anual de seus tipos de polietileno anima, em contrapartida, analistas a projetarem es-ses indicadores. Com nome feito como termômetro do mercado, a MaxiQuim solta aqui sua avaliação em serviço com-pleto. Além de destrinchar o consumo aparente dos polietilenos, estende os cálculos do exercício de 2013 às demais resinas commodities.

RASAnTE

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relação a 2012. De acordo com a empresa, a apreciação média no dólar, que variou 10% no período, influiu no balanço. Além do mais, com a adoção da contabilidade de hedge, a petroquímica conseguiu em 2013 reverter o prejuízo de R$ 738 milhões do exercício anterior e consolidar lucro líquido da ordem de R$ 507 milhões.

No ano passado, a Braskem investiu R$ 2,72 bilhões, sendo que 40% do montante foram destinados à construção do complexo petroquímico mexicano. A planta está agendada para partir em 2015 e terá capacidade de gerar 750.000 toneladas de PEAD e 300.000 toneladas de PEBD. A estimativa para os desembolsos neste ano aponta para R$ 2,66 bilhões no total.

Enquanto isso, a divisão petroquímica do Complexo Petroquímico do Rio de Janei-ro (Comperj), que será gerida pela Braskem, caminha a passos tão lentos quando a crença na viabilidade do projeto diante do parâmetro em preços das resinas resultantes da rota norte-americana do gás de xisto. Para Carlos Fadigas,presidente do grupo petroquímico, dificilmente a decisão final de investimento irá à apreciação do conselho

da empresa ainda em 2014. Sem isso, o valor dos aportes, capacidades de resinas, cronograma do Comperj e preço médio para compra de gás não saem este ano.

MInIAVAnçOS

No ano passado, a Braskem produziu no Brasil 2,58 milhões de toneladas de PE e permanece com sua política de não desmembrar os indicadores de consu-mo aparente da resina entre os tipos de densidades alta, baixa e baixa linear (ver quadros da MaxiQuim nesta página). Em comparação a 2012, a alta foi de 2%. No

caso do PP, a produção no ano passado totalizou 1,62 milhão de toneladas, uma queda pequena de 1% sobre o exercício anterior. Pelos lados de PVC, a expansão em Alagoas resultou em produção 17% maior, correspondendo a 582.579 tonela-das em 2013. Com a aquisição dos ativos da Solvay Indupa no Brasil e Argentina, a capacidade total do vinil da Braskem sai de 750.000 t/a para 1,25 milhão de t/a. No balanço da petroquímica, suas plantas internacionais, localizadas nos Estados Unidos e Alemanha, venderam juntas 1,8 milhão de toneladas de PP, um avanço de 3% sobre 2012. Essas unidades geraram 1,78 milhão de toneladas da resina, 2% a mais sob a mesma base de comparação.

DE JOELHO nO MILHOUma das primeiras grifes de bio-

compostos a bater às portas do Brasil, a Cereplast pediu concordata (Chapter 11) em 10 de fevereiro último, com a cabeça na guilhotina: um dos credores pleiteou a conversão do pedido de recuperação judicial em falência da empresa, badalada referência no beneficiamento de ácido po-

MERCADO bRASILEIRO DE RESInAS TERMOPLÁSTICAS - ESTIMATIVA 2013 MAXIQuIM

(grau garrafa)

PE´S2.581

805

792

2.568

PS392

28

32

396

PP1.627

326

287

1.588

PVC820

14

484

1.291

PET415

29

146

533

POLIOLEFInAS4.208

1.131

1.079

4.155

TOTAL5.835

1.202

1.742

6.375

Fevereiro / 2014plásticos em revista

28

lilático (PLA) comprado da NatureWorks.Nos nove meses findos em 30 de setembro passado, a componedora reportou prejuízo total de US$ 34 milhões e vendas limitadas a US$ 2,1 milhões, conforme foi divulgado na mídia. Entre as justificativas para a che-gada ao pré-sal financeiro, foram citadas a retração norte-americana da demanda de biomateriais e os passos de tartaruga da regulamentação europeia para o segmento.

DEu EMPATE especial em recipientes transparentes, segundo adiantou na mídia global. Con-forme foi assinalado, PS é mais acessível, mas PLA possibilita recipientes menos espessos e que ocupam menos espaço no frete. Dos pontos a desejar, PLA ainda não se presta ao envase a quente (hot fill). No embalo, pintou a notícia de que a suíça Clariant, GPS mundial em pigmentos e masters, juntou-se à Danone na concepção de agentes espumantes capazes de reduzir a densidade de PLA.

FILME COM FInAL FELIz

Sem distinguir as vendas de injetoras das de sopradoras, a unidade de Máquinas para Plásticos, a Romi aferiu em 2013 vendas de 220 máquinas, quantidade muito similar à obtida em 2012 (221 uni-dades). O preço médio por unidade nesta comparação cresceu 12,4%, refletindo a recuperação de preços conduzida em 2013. Entre os mercados que mobilizaram as entregas, a empresa alinha embalagens, autopeças, móveis, utilidades domésticas e prestação de serviços.

bIOguRTE

Pesquisa da consultoria MaxiQuim constata crescimento de 3,5% da indústria brasileira de embalagens plásticas flexíveis em 2013 versus 2012. O setor emplacou, no ano passado, produção de 1,88 milhão de toneladas e o o faturamento cresceu 14,4% em 2013, para R$ 13,7 bilhões contra anteriores R$ 12 bilhões. Quanto às exportações, a desvalorização do real frente ao dólar ajudou a materializar aumento de 13,6%, equiparáveis a 60.000 toneladas (receita de US$ 207 milhões) contra 53.000 em 2012. Por sua vez, as importações recuaram 8,3%, fechando em 124.000 toneladas (receita de US$ 624 milhões), abaixo das 136.000 precedentes. Noves fora, o consumo aparente de embalagens plásticas flexíveis exibe saldo de 1,940 milhão de toneladas em 2013, volume 2,3% acima do balanço de 2012. •

A parisiense Danone, trem bala global em lácteos, converteu perto de 5% de suas embalagens de iogurte, originalmente de poliestireno alto impacto (HIPS), para o ácido polilático (PLA) e apalpa as chances de expandir o uso desse bioplástico, em

RASAnTE

ESPECIALESPECIAL

30Fevereiro / 2014

plásticos em revista

Aviso aos produtores de master-batches: no setor de utilidades domésticas, a vida não anda fácil para o roxo e suas tonalidades.

Sábio é jogar essa cor pra escanteio ao menos até a próxima virada fashion. A constatação é uníssona entre Plasvale e Coza, feras na transformação desses utensílios, bem como da Bertussi Design (ver entrevista na página 32), estúdio es-pecializado em projetos para UDs e outros setores. Em contraste, se saíram bem em 2013 o preto e o prata para a linha cozinha e verde esmeralda em outros nichos, como limpeza e organização, verifica Darlene Gomes, diretora comercial e de marketing da Plasvale, sediada em Gaspar (SC). “Para jarras, garrafas e copos, investimos no neon colorido, como verde limão, laranja e rosa pink. Foi um sucesso”, comemora.

Darlene percebe que, no ramo de UDs, só é viável investir em uma tona-lidade sob medida quando a fabricação, no fim das contas, for bastante elevada.

“Exclusividade e produções especiais estão relacionadas a volumes expressivos”, ela ressalva. Trabalhos personalizados, aliás, entram apenas no portfólio direcionado à exportação. Nesse reduto, ela ilustra, despontam laranja e azul para a Argentina e vermelho para Paraguai e Colômbia. Enquanto isso, no Brasil, há tendências que vivem sempre em alta. “Verde é um clás-sico em UD de plástico, visto por nossos consumidores como cor básica. Tem saída em todo território nacional”, ela comenta.

Para 2014, os planos da Plasvale estão voltados justamente ao design, personaliza-ção e diferenciação. “Queremos fazer com que o plástico seja visto como um item de moda”, ela pontua. Além disso, prossegue Darlene, o objetivo é tornar o produto de-sejável aos olhos, de forma que a compra por impulso seja cada vez mais um fator dominante. Para ela, a decisão de adquirir o artefato começa pelo visual e só em um segundo momento o comprador considera a necessidade da peça para seu dia a dia.

O encarecimento do custo em manter empregadas domésticas, de acordo com a executiva da Plasvale, em nada influencia o negócio de UDs. A inspiração para desen-volvimentos arrojados e inovadores, ela assinala, vem da necessidade de mudança desencadeada por consumidores cada vez mais exigentes. “Preferências e tendências para diferentes classes sociais, que con-seguíamos distinguir de forma clara no passado, não existem mais”, esclarece. O parque da transformadora é composto por cerca de 40 injetoras. Polipropileno (PP) é a resina mais utilizada, com uma fatia de 80%. O restante fica com poliestireno (PS).

De seu lado, a Coza, parte do Grupo Brinox, observou que os conservadores preto e branco fizeram a cabeça da clientela no ano passado. “Houve pitadas pontuais de verde esmeralda e coral”, insere Márcia Balestro, supervisora de desenvolvimento de produto. Por seu turno, amarelo e roxo, saíram do mostruário de UDs da empresa. Independentemente do apelo do momento,

Fernanda de Biagio

Fabricantes de UDs revelam táticas para chamar a atenção dos consumidores

O plus da sedução

ESPECIAL

31Fevereiro / 2014

plásticos em revista

ela acrescenta, o branco e tons naturais sempre têm lugar entre as novidades, pois permitem uma variedade de combinações.

Pela experiência da Coza, de Caxias do Sul (RS), a aposta em cores sob medida é vantajosa apenas quando o tom pode ser inserido na produção regular. “Trabalhar a

exclusividade em lotes es-peciais gera muitas perdas. Além disso, o custo do pro-duto seria muito elevado”, Márcia justifica, mas não abre suas últimas formula-ções feitas por encomenda e muito menos quem fornece os masterbatches.

Segundo nota a su-pervisora, o apelo visual deve estar atrelado à funcio-nalidade da peça. “A estética

é atrativa, mas o consumidor está muito cauteloso quanto à utilização do produto. Ele compra somente quando sabe que irá usar”, ela informa, contrastando com a opinião da diretora da Plasvale. A maior parte das UDs fabricadas pela grife gaúcha é, conforme a praxe, injetada com PP e PS.

Márcia balestro: branco e tons naturais sempre em alta.

Darlene gomes: compra por impulso determina sucesso em uDs.

Plasvale: tendências comuns a todas as classes sociais.

ESPECIALESPECIAL

32Fevereiro / 2014

plásticos em revista

uD/DESIgn

Cores exclusivas em utilidades domésticas (UDs) representam sofisticação e diferenciação em um mercado mega concorrido.

No entanto, não é um artifício que deve ser utilizado sem planejamento e a qualquer preço. Por sinal, volume e regularidade são fatores cruciais e precisam ser analisados. Se eles não justificarem o investimento, não há nada de errado em escolher tonalidades existentes nas cartelas dos fornecedores de masterbatches. Só que, a partir daí, é preciso ousar na criatividade, seja na mistura de tons, efeitos ou no formato, porque peças com forte chamariz visual se destacam na prateleira e fazem com que a compra por impulso determine o sucesso ou fracasso das marcas. Na entrevista a seguir, Betina Brentano, gerente

de projeto da gaúcha Bertussi Design, ás na estética de UDs premium, descreve os atributos chave para o segmento atrair e reter o consumidor brasileiro.

PR – Entre seus projetos de 2013, quais as principais cores, tons ou efeitos, até então inéditos, que predominaram em UDs?

Betina Brentano – Trabalhamos bas-tante com efeitos de transparência, semi--transparência e reflexão que polímeros como acrílico (PMMA) e SAN propiciam, especialmente quando aplicados a formas geométricas curvilíneas ou facetadas. Será lançada na edição da Gift Fair (10-13/3,SP) a linha inédita chamada Discovery. Ela utiliza esse recurso de uma forma pouco usual em utensílios domésticos.

PR – Pela sua percepção, quais as cores e tons que caíram em desuso em UD hoje em dia? E quais estão em alta atual-mente? E quais os demais efeitos estéticos hoje em evidência em UDs no Brasil?

Betina Brentano – Roxo e fúcsia estão bastante em desuso, especialmente na cor fechada. Tons cítricos, como laranja ou mesmo o verde cítrico, ficaram muito batidos e deram lugar a tons pastéis. O próprio verde, inclusive, assumiu novas formas em cartelas mais discretas e escu-ras e tornou-se tendência.

PR – Quais são as cores preferidas, em UDs, dos consumidores brasileiros, independente de moda ou tendências passageiras?

Betina Brentano – O mercado bra-sileiro tem maior número de vendas em

Diferenciação e desempenho tornam-se objetos de desejo, percebe designer da Bertussi

Pista livre para a sofisticação

ESPECIALESPECIAL

34Fevereiro / 2014

plásticos em revista

uD/DESIgn

produtos na cor branca e natural (trans-parente). Mas também percebemos, em algumas áreas, certo conservadorismo e apego a tons padrão, como vermelho e azul primários. Estes insistem em perdurar em algumas categorias, como a de isotérmicos – caixas térmicas e garrafões. Contudo, é preciso questionar se esse apego é de fato do público final ou se o trader é que impõe um filtro mais duro. No último caso, o con-sumidor permaneceria carente de opções sofisticadas na hora da compra.

PR – Pela experiência da Bertussi Design, produtores de UDs têm investido em cor ou tonalidade exclusiva ou tendem a buscar o que há disponível nos mostruá-rios dos fornecedores?

Betina Brentano – De um modo geral, mesmo as grandes empresas tendem a optar por tons disponíveis nas cartelas de seus fornecedores. O habitual é indicarmos um determinado pantone, que será busca-do nos fornecedores em uma tonalidade similar. Não vivenciamos experiência de desenvolvimento exclusivo até hoje.

PR – Como você classifica a compra por impulso entre os fatores que desen-cadeiam a decisão de levar UDs pelo consumidor? E qual o peso do apelo visual nessa compra por impulso?

Betina Brentano – A compra por im-pulso se aplica muito ao segmento de UDs. Isso acontece principalmente em produtos

fabricados com plástico, dado o grande apelo visual e custo relativamente baixo em relação a peças similares de outros materiais. Isso permite que o consumidor renove sua casa de maneira fácil, acessível e frequente.

PR – UDs em geral são opacas. Como encara a tradicional resistência do consumidor a soluções translúcidas ou transparentes para UDs no Brasil?

Betina Brentano – Não verificamos esta resistência. As linhas translúcidas estão crescendo muitíssimo, tanto em volume quanto em margem e representam parte significativa de nossa receita de UDs plásticas.

PR – O encarecimento do custo de empregadas domésticas tem se refletido, de alguma forma, no negócio de UDs? Tem inspirado a criação de produtos? Dar exemplos.

Betina Brentano – Observamos uma aproximação do consumidor final com o universo dos utensílios para o lar, cujo uso era atribuição das emprega-das domésticas. Estes artefatos passam a ser, portanto, utilizados de fato por quem os compra. Isso abre margem para produtos com maior so-fisticação estética, acaba-mento e altas exigências funcionais. Peças com valores mais elevados passam a ser viáveis, posto que diferenciação e desempenho tornam-se objetos de desejo. Por exemplo, produtos para armazenagem devem ter aspecto bom o suficiente para ir à mesa, ao passo que escorredores de pra-

tos acabam se transformando em itens de decoração.

PR – Como avalia as pressões do cul-to à sustentabilidade no negócio de UDs?

Betina Brentano – As utilidades domésticas em plástico servem muitas vezes para substituir o uso de embalagens descartáveis, então até acabam ajudando nesse ponto. As discussões sobre susten-tabilidade muitas vezes carecem de dados e argumentos objetivos. Em relação aos produtos de plástico, acreditamos que, com projetos bem feitos e o uso racional da matéria-prima, temos mais vantagens do que problemas, pois trata-se de um mate-rial muito versátil e plenamente reciclável.

PR – Quantos clientes a Bertussi possui hoje no ramo de UDs? Esse seg-mento corresponde a qual fatia do total de projetos do escritório?

Betina Brentano – Hoje temos apro-ximadamente 15% da carteira concentrada em UDs com receita proporcional.

betina brentano: roxo e fúcsia em desuso no mercado brasileiro.

Cesto de roupa: referência da bertussi para requinte e funcionalidade.

ESPECIALESPECIAL

36Fevereiro / 2014

plásticos em revista

UDs e cosméticos comandam os setores que mais encomendam formulações exclusivas de master-batches para a Cromex, blue chip

nacional em concentrados. “Na esfera da injeção de UDs, destacam-se os pedidos de cores com glitter e, tendência hoje em alta no ramo, tonalidades translúcidas”, distinguem Roberto Herrero Lopes, coordenador de laboratório de cores, e Luis Ghidelli, gerente de desenvolvimento dessa componedora controlada pela família Wajsbrot.

O prazo de exclusividade, acertado em comum, para uso da formulação sob medida é muito variável. “No segmento de cosmé-ticos, dura de um a dois anos, enquanto em UDs o prazo aumenta e, na indústria automobilística, oscila de acordo com os lançamentos”, explicam os dois executivos. A propósito, eles encaixam, muitas vezes os clientes têm uma noção de tonalidade e efeito em vista, mas não possuem um padrão físico. “Nesse caso, abrimos as portas para que ele escolha uma cor de efeito já existente ou desenvolva sua proposta com o colorista, a partir de nossos estudos de tendência de mercado para cada aplicação”.

Francielo Fardo, diretor superintenden-te da paranaense Colorfix, assina embaixo. “A cor ou tonalidade especial agrada o consumidor em busca desse diferencial nas embalagens”, pondera. Transformadores como os de UDs, indica, são receptivos a inovações em efeitos – perolados, marmo-

rizados, com interferência de transparência etc. – que devem relacionar-se com o público a ser atendido. Pesquisas de mercado e tendências de futuras cores, com as quais devem se identificar determinados perfis de consumidores, também ajudam a Colorfix a nortear os desenvolvimentos de concen-trados personalizados, completa Fardo. “Ajudam na diferenciação dos produtos, inclusive para agregar valor ou incutir um desejo, e a cativar clientes através da cor, pois eles reagem à ação e à emoção”. A depender da demanda, condiciona o diri-gente, a Colorfix entrega a amostra de uma formulação individualizada entre cinco e 10 dias úteis.“Dispomos ainda de um catálogo com mais de 40.000 cores”.

No âmbito de UDs, Fardo enxerga um pendor pelo emprego de efeitos a exemplo de metalizados, marmorizados, fluorescentes e até fosforescentes. Nessa trilha, insere, a Colorfix introduz para UDs e artigos de po-lipropileno (PP) a linha ClearFix Colorants, acenando com transparência e brilho.

A indústria de UDs é a terceira no ranking das que mais demandam masters exclusivos para a Colorfix, situa Fardo. Pelo seu crivo, os efeitos estéticos em evidência em UDs no país alinham-se em duas ver-tentes. “No universo adulto, estão em alta os perolados, fosco e brilhante, até de efeitos transparentes e opacos, neutros e coloridos, brilho cromado, cobres e tons pastel”, expõe. “Em relação ao universo infantil,

Feras em concentrados indicam quando é vantajoso investir em cores e efeitos exclusivos

A paleta das fórmulas sob medida

uD/MASTERS

ESPECIALESPECIAL

38Fevereiro / 2014

plásticos em revista

uD/MASTERS

sobressaem os efeitos perolados, verniz, tons suaves e materiais transparentes”. Para a temporada de 2014, ele arremata, “as cores farão parte de um degradê, do vermelho profundo ao rosé”.

Cores e tonalidades sob encomenda são a praia da Cromaster, identifica o sócio e diretor industrial João Daniel. Mas, aos seus olhos, o reduto de UDs anda retraído a investir em concentrados personalizados.

“Com a invasão dos importados, os custos de UDs nacionais ficaram muito apertados e seus produtores então partiram para artigos transparentes tonalizados e muitas vezes as tampas são coloridas, translúcidas ou opacas”, observa. Em determinados casos, assinala Daniel, quando almeja valorizar ou distinguir suas UDs, o transformador parte para o efeito transparente fluorescente. “Em outra situação, relativa a ações promocionais em feiras ou eventos, a Cromaster já contri-buiu com cores peroladas especiais de custo mais acessível”, arremata o componedor.

Na maioria das vezes, considera Daniel, os transformadores desenvolvem cor ou tonalidade exclusivas com mais de um fornecedor. “Apenas aqueles com uma solicitação técnica ultra específica ou fideli-

zados por um atendimento especial utilizam nesse trabalho um único componedor parceiro”. Em decorrência desse quadro geral, completa, varia muito o prazo em que o mercado nacional clona um master concebido por encomenda. Na mesma trilha, Daniel comenta que, no plano geral, uma dificuldade do transformador em repassar ao componedor sua real necessidade técnica tem a ver com os gastos. “Quanto maior a

exigência tecnológica, maior o custo da formulação e para prover a solução técnica e comercial adequada, envolvemos a área de marketing do cliente no desenvolvimento do concentrado”. Conforme a urgência, delimita Daniel, a Cromaster, escorada num lastro de 30 anos de bagagem, comparece com a formulação desejada no mesmo dia do pedido, mas em média o faz entre três e cinco dias. “Realizamos todos os ensaios e homologações necessárias das amostras”, sublinha o industrial.

“A Termocolor tem como característica a criação de produtos personalizados”, as-segura o gerente comercial Wagner Catrasta. Tanto que, segundo ele, 80% dos desenvol-vimentos são cores especiais e com efeitos. No ano passado, os projetos sob encomenda

apresentaram crescimento de 20%, um ritmo que se mantém estável desde 2010. Aspecto negativo, no entanto, é a clonagem quase imediata. “O mercado de plásticos, assim como diversos outros, está cada vez mais dinâmico e globalizado. A oferta de insumos é enorme”, justifica.

A maior dificuldade notada nos clientes em indicar precisamente as tonalidades exclusivas que desejam é a falta de padrão, informa Catrasta. “Muitas vezes, a área de marketing nos traz ideias de cores de peças que não são plásticas. Temos de desenvol-ver, da forma mais fiel possível, para não deixarmos o cliente frustrado”, ele comenta. Com altos investimentos em laboratório e profissionais capacitados, a Termocolor oferece resposta rápida a esses pedidos e entrega amostras para testes em três dias, o gerente afiança.

Entre seus projetos exclusivos, a Termocolor destaca tons neon, cores fos-forescentes, com efeitos perolizados, mes-clados, aromatizados e com bactericida. Esses concentrados, informa Catrasta, foram aplicados em segmentos como construção civil, descartáveis, utilidades domésticas, brindes, linha branca, brinquedos, emba-lagens, cosméticos, móveis de jardim e eletroeletrônicos.

Em 2013, entre as formulações sob encomenda, sobressaíram os efeitos peroli-zados, cores vibrantes, neon e aromatizados. Os redutos que mais demandam soluções personalizadas, pelo visto, foram os de hi-giene, limpeza doméstica, UDs e cosméticos. Em UDs, especificamente, caíram em desuso tons pastéis, como bege, creme e marrom, no passado utilizados de forma ampla. Para este ano, por conta da Copa do Mundo, verde e amarelo entraram com tudo.

No caso da Cristal Master, produtos especiais representam de 20% a 30% dos desenvolvimentos. “Os efeitos variam de tons perolados e metalizados, até neon, com

Cabides: reduto marcado pela diversidade de cores vivas.

ESPECIALESPECIAL

40Fevereiro / 2014

plásticos em revista

borda, furta-cor, fluorescentes, cores com glitter, termocrômicos e fosforescentes”, enumeram Aline Arndt, coordenadora de vendas internas, e Fábio Fazolim, gerente co-mercial. Essas criações exclusivas atendem a diversos segmentos, como brinquedos, cosméticos, higiene e limpeza e descartáveis.

No nicho das UDs, tonalidades variam de acordo com o público para o qual os

utensílios são direcionados, opinam Aline e Fazolim. No atacado e nas famosas lojas de R$ 1,99, cores e efeitos não apresentam alterações significativas. “O custo é muito apertado”, explicam. Por outro lado, com relação a artefatos voltados ao mercado de elevado valor agregado e design diferencia-do, há projetos tocados pela Cristal Master que incluem até agente antimicrobiano à base de zinco. “Ele proporciona alta eficiência na eliminação de fungos e bactérias e é extre-mamente competitivo”, asseveram. Inclusive, em um caso específico de inovação da empresa, a aplicação do aditivo não chegou a aumentar em R$ 0,05 o custo da peça final.

Os aportes em melhorias e expansões na componedora não param. Em março, Aline e Fazolim esperam a chegada de uma extrusora dupla rosca com capacidade de 600 t/mês. Em 2013, a Cristal Master já havia adquirido outras três máquinas, aptas a gerarem 15.000 t/ano, que estão operando a todo vapor. Para os próximos anos, a meta

é instalar linhas de produção em todas as filiais. “Atenderemos todo o país com rapidez e competitividade”, completam.

Pela percepção de Thiago Ostorero, gerente comercial da Engeflex do Brasil, na maioria dos casos, é mais vantajoso apostar na concepção exclusiva de um masterbatch do que alterar um molde para injeção de UDs. Segundo ele avalia, dependendo da comple-

xidade e custos envolvidos, o transformador pode desfrutar de um ano de tranquilidade até que o mercado copie o tom específico. Difícil, em alguns casos, é apenas convencer o cliente de que o pantone selecionado é o mesmo visto no artefato plástico pronto, ele reclama. Os projetos especiais mais recentes da Engeflex compreendem produtos peroli-zados e fluorescentes de alto desempenho e voltados aos setores de cosméticos, limpeza doméstica, higiene pessoal e lubrificantes.

Por sinal, agilidade é marca registrada da empresa. Ostorero avisa que em 24 horas consegue entregar um desenvolvimento de cor ou tonalidade, dependendo, claro, da complexidade e características técnicas. “Alguns casos demandam busca de novas matérias-primas e tecnologias junto a nossos fornecedores”, esclarece Ostorero. Mas, no geral, a resposta é quase instantânea porque o laboratório trabalha dia e noite. “Possuímos ainda um equipamento com baixa capacida-de e que nos ajuda com amostras piloto e

pequenos lotes de produção”.De acordo os especialistas da filial bra-

sileira da Ampacet, Raquel Morais, executiva de desenvolvimento de negócios, e Sérgio Bianchini, gerente da mesma área, o mercado doméstico de UDs é extremamente pulveri-zado. A maior parte desses transformadores é de pequeno porte e focada em produtos de combate, portanto sem muita inclinação

à encomenda de cores exclusivas. Para o corpo de utensílios de cozinha, distinguem, a resina mais usada é a natural e, quando os produtores tendem aos masterbatches, optam por brancos e pretos. “Cores dife-rentes estão associadas a potes e tampas”, notam Raquel e Bianchini. Em outros itens, ainda em UD, como escorredor de pratos, de macarrão, bacias de uso geral, cestos de lixo e de roupa, pá de lixo, cabides e fruteiras, despontam o verde, azul, cereja, lilás, laranja e rosa. “Já o bege para potes e marrom para tampas caíram em desuso”, eles reconhecem.

Essa fatia da clientela da Ampacet está mais preocupada em trabalhar com con-centrados que mantenham o padrão de cor estabelecido em vez de adotarem os efeitos especiais. “É um mercado considerado de baixo valor”, julgam. Efeitos diferenciados têm espaço em artigos de decoração e uten-sílios premium. “Ainda assim, observamos que a busca por inovação em cores perma-

uD/MASTERS

Ostorero: fórmulas criadas em 24 horas.

Fardo: Colorfix aposta na transparência e brilho.

Daniel: pressão das importações sobre uDs nacionais.

Aline Arndt e Fazolim: quatro novas extrusoras em 2013 e 2014.

ESPECIAL

41Fevereiro / 2014

plásticos em revista

nece restrita e baseada em custo”. Outro fator que complica a situação é a entrada de simi-lares importados, que chegam com preços baixíssimos ao ponto de venda. No fim das contas, mesmo as coleções mais sofisticadas competem pelo mesmo consumidor.

Embora os desenvolvimentos ex-clusivos sejam clonados com rapidez, o segmento de UDs não se importa. “Peque-nos fabricantes trocam de cor com muita flexibilidade. Logo, existe baixa fidelidade”, analisam Raquel e Bianchini. A Ampacet, de acordo com seus executivos, cria um master sob encomenda em até três dias. Essa agilidade é resultado de investimentos em equipamentos de colorimetria, bem como em injetoras e sopradoras. Contrastando com as

UDs, as categorias de cosméticos e higiene pessoal demandam muito mais tonalidades exclusivas e sob medida, já que a competição na gôndola por distintas variantes de uma mesma linha é grande. “A cor, nesse caso, é um grande diferencial”, balizam.

No caso da Clariant no Brasil, desen-volvimentos especiais e exclusivos cres-ceram em 2013. “Translucidez predomina, mas alternativas de efeitos, como o perolado, cada vez mais aparecem no nascimento de produtos”, destaca Antonio Rollo, gerente de marketing na América Latina. Investir em opções sob encomenda, aliás, é crucial quando o objetivo for ganhar participação de mercado, inclusive no caso de UDs. “Renovação da linha atrai mais a atenção

do consumidor, que está sempre em busca de inovação”, garante. Embora as cópias aconteçam com rapidez, ainda é valioso ser pioneiro e aproveitar essa posição enquanto ela dura.

Segundo intui Rollo, a decisão sobre um subtom ou concentração exata de cor é sempre um desafio. De qualquer forma, a empresa conta com o centro ColorWorks para criações e, dependendo do projeto, o trabalho de desenvolvimento para a clientela pode ser concluído no mesmo dia.

No ano passado, a Clariant se de-bruçou na concepção de efeitos aliados à transparência para atender linhas premium em UDs. “Ter cores mais intensas e concen-tradas sem poluir o artefato foi outro foco importante”, delimita o gerente. Em meio a projetos da empresa para esse reduto, tonalidades vivas de violeta e rosa estão em alta, muitas vezes entrando no lugar do azul. Ao mesmo tempo, a intensidade não chega ao ápice e tons pastéis permanecem com cadeira cativa. Segundo a ColorForward 2015, ferramenta de previsão de cores para o mercado plástico desenvolvida pela múlti, tendências apontam para uma paleta mais viva. Tons escuros e misteriosos também chegam com força, contrastando com transparência e texturas, finaliza. •

PP nA RETAguARDA DA QuALIDADEAté o momento, está para existir quem derrube as cores transparentes

de UDs. Pelo flanco da matéria-prima, a Braskem reverencia essa tendência em polipropileno (PP) com grades de copolímero random e a família Pris-ma, estabelece Andressa Argani Abreu, engenheira de aplicação do grupo petroquímico. “Junto com a resistência ao impacto, essa propriedade óptica da resina traz outra visão do produto ao consumidor”, ela pondera. “Afinal, a UD de alta qualidade não se relaciona apenas à transparência, mas à durabi-lidade”. Nessa mesma trilha do padrão premium, ela encaixa a exigência de espessuras maiores. Em paralelo, Andressa enaltece os préstimos de grades de PP da série Maxio para UDs. “Ela acena com a possibilidade de reduzir custos através da economia de energia e diminuição dos ciclos de injeção”.

Catrasta: efeitos especiais incluem aromatizados e bactericidas.

Rollo: paleta de tons vivos para 2015.

bianchini: em uDs, fidelidade à cor é baixa.

PP: avanços na transparência e rigidez.

Fevereiro / 2014plásticos em revista

42

3 questões

Barreiras às importações de resinas deixam Brasil à margem

do mundo, sustenta distribuidor.

OSVALDO CRuz

A globalização é um processo perma-nente de melhoria de competitivi-dade, provocado pela necessidade de competir interna e externamente.

Nessa trilha, a abertura do comércio ex-terior não visa conter ou baixar os preços internos, mas aumentar a economia pelo melhor aproveitamento de suas vantagens comparativas. Essas premissas básicas de uma agenda econômica hoje passam longe do governo Dilma, apontado em estudo da Organização Mundial do Comércio como o nº1 em medidas protecionistas em 2013. Estilhaços desse retraimento pegam na carne da cadeia do plástico, percebe nesta entrevista Osvaldo Cruz, gerente geral da Entec, distribuidora de resinas importadas, entre elas polietileno da Dow.

PR - Diante das incessantes medidas antidumping concedidas para importações brasileiras de polipropileno (PP) e polieti-leno (PE), quais as alternativas concretas para os importadores de poliolefinas não

virarem uma espécie em extinção? Cruz - A curto prazo não há o que fazer,

porque os preços internacionais estão em alta também. Porém, com os preços vol-tando para os patamares do ano passado, haverá espaço para os importadores atua-rem. Atualmente, o mercado brasileiro de plásticos deseja importar; já há uma cultura que compreende que o mercado precisa estar aberto e isso é importante para todos. Esse entendimento é muito importante para as necessárias mudanças que, em algum momento, os governantes terão de entender e implantar.

PR - Como avalia os reflexos dessa profusão de barreiras tarifárias sobre a trajetória dos preços brasileiros de polio-lefinas?

Cruz - Os reflexos compreendem desequilíbrios de todas as ordens e preços das matérias-primas sempre desalinhados com os internacionais. Em decorrência, os preços das embalagens e artefatos transformados em geral também ficam

desalinhados, causando prejuízos ora para o fabricantes, ora para os consumidores. Nessas circunstâncias, é impossível para os fabricantes possuírem uma política de exportação. Enfim, vivemos fora da realidade de outras regiões. Dessa forma, caímos fora do comércio internacional, com a nossa indústria de embalagens praticando a auto-fagia econômica.

PR - Na voz unânime dos analistas, em poucos anos os EUA se tornarão exportado-res de PE derivado da rota do gás de xisto e a América latina será o mercado externo preferencial. A nova rota é muito mais barata que a matriz da nafta, dominante no Brasil. Como vê a possibilidade de o governo brasileiro vir a atender pedidos de medidas antidumping para importações brasileiras de PE produzido a custo mais baixo nos EUA, devido a uma vantagem tecnológica?

Cruz - A continuar essa política marca-da por nacionalismo e xenofobia, encabeça-da pelo governo federal, são muito grandes as chances de esses pleitos de antidumping serem atendidos. O que será um desastre para o país, acarretando mais atraso a uma conjuntura na qual alguns grupos, em determinados períodos, obtêm vantagens cada vez mais questionáveis. Elas acabam perdidas a longo prazo e mergulham o país no subdesenvolvimento.•

Fechar é regredir

Cruz: mercado brasileiro deseja importar.

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trajetória

Nos idos de 1974, quando o polo catarinense de flexíveis sequer era um brilho nos olhos dos empreendedores, Fernando

Marcondes de Mattos, especialista em economia do governo estadual, enxergou no plástico o material do futuro e uma forma de ajudar na geração de empregos e desenvolvimento de Florianópolis e região. Com esse faro, constituiu a Inplac que, 40 anos depois, tem nome feito como ás de ouros nacional na extrusão, coextrusão, flexografia e tecnologia de sacos valvula-dos. “Crescemos 20 vezes desde então, à média de 8% ao ano e a área construída passou de 2.500 para 25.000 m²”, calcula Roberto Marcondes de Mattos, irmão do controlador Fernando e CEO e diretor industrial da empresa. Arisco a detalhar

metas o presidente deixa no ar a possibi-lidade de uma mexida no perfil da Inplac, ainda sem prazo definido mas consistente o bastante para ser ventilada. “Estamos estudando o mercado de ráfia”.

Mal saído da faculdade de Enge-nharia, Roberto Marcondes de Mattos capitaneou a instalação original e assumiu o leme da produção em Biguaçu. O mu-nicípio aliás, venceu as alternativas para sediar a Inplac por uma razão sentimental. “Foi onde meus pais se conheceram; ele era promotor e ela, professora”, revela o presidente. Em valor atualizado, ele orça o investimento em R$10 milhões. “Foi financiado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e incentivos fiscais do Fundo de Desen-volvimento de Santa Catarina (Fundesc)”.

À época, assinala Mattos, a concor-rência da Inplac contabilizava cerca de 10 transformadoras no Sul. “A oferta de sacos era relativamente adequada à demanda, mas o potencial de crescimento era bastan-te alto”. A Inplac entrou em cena mandando bem em regime de três turnos de trabalho e com efetivo de 100 funcionários. “A planta partiu com quatro extrusoras blown da alemã Reifenhäuser e sua capacidade instalada era de 100 t/mês”, especifica o CEO. O portfólio de estreia, prossegue o fundador, exibia sacos monocamada para calcário e fertilizante. “Pesavam 200 gramas, bem acim da embalagem atual de 85 gramas”, ele compara.

Já no segundo ano de produção re-gular, em 1976, a Inplac mostrava sua assi-natura ao país na condição de fornecedora de sacos coextrusados. Foi uma evolução significativa a ponto de Mattos listar, ao lado da extrusora tubular Reifenhäuser, uma coextrusora da canadense Brampton entre os equipamentos marcantes nos 40 anos de travessia da Inplac. À sombra des-sa infra industrial, insere Mattos, a empresa sobressaiu como pioneira no país ao boti-nar, com seus sacos de polietileno, aqueles confeccionados com papel nos mercados de cal e calcário. Em seu retrospecto, o presidente pinça a década de 1980 como o período mais rentável da Inplac.

No momento, a fábrica em Biguaçu possui capacidade máxima, trabalhando 30 dias por mês, da ordem de 2.550 t/mês, projeta Mattos. Apesar do latejar do agronegócio e do crescimento econômico

Inplac completa 40 anos sem perder o pique do começo

Com pulmão de garotoInPLAC

Inplac: modelo reconhecido de gestão.

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de regiões afastadas, como o Nordeste, o CEO corta no ato a hipótese de erguer uma unidade filial. “Os produtos da Inplac são referência de mercado e não teríamos como replicar nossa fábrica no Nordeste”. Na mesma trilha, ele descarta a ideia de pro-duzir sua sacaria nos EUA, para desfrutar o polietileno mais barato, proveniente da rota do gás de xisto, tanto em vendas internas como em exportações. “Por enquanto, nossa atenção está dedicada a dobrar para 2.000 t/a nossas remessas de sacos para os EUA, hoje equivalentes a 10% da produção da empresa”.

A solidez do negócio e a excelência na gestão tornam a empresa um alvo natural de sondagens em torno de joint ventures ou compra de concorrentes e de acenos de fundos privados para ingressarem no quadro de acionistas. “Temos recebido propostas neste sentido e sempre as ana-lisamos sem pressa”, desconversa o CEO.

O mercado atual de sacos flexíveis difere em 180º do encontrado pela Inplac em 1974. Sobram concorrentes, há apenas um produtor de polietileno no país, campos como a indústria sucroalcooleira estão no fundo do poço, a informalidade grassa na

transformação e a carga tributária chegou ao estágio de obesidade mórbida e nó cego. Mesmo assim, Mattos dá a entrever que, se o tempo voltasse, tudo começaria outra vez. “A escolha do segmento plástico continua acertada até hoje; creio que Fer-nando repetiria sua decisão”.

Fernando e Roberto tornaram a Inplac referência de indústria familiar bem administrada. E a continuidade desse padrão embute um desafio. “O quadro de parentes resume-se aos dois irmãos. “Pela programação estabelecida por ele, ficarei na posição atual pelos próximos 10 anos, quando então o substituirei como Chairman”, esclarece Roberto Marcondes de Mattos. “Nesse meio tempo, teremos que encontrar uma pessoa para a cadeira de CEO”. •

Mattos: crescimento ininterrupto de 8% ao ano.

Sacos valvulados: papel perdeu mercados.

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fábrica modelo

Ao embarcar no quinto ano de estrada, a catarinense Nord West se empenha em fugir de tentações, como apostar na economia de es-

cala, para não por a perder sua vocação de uma ourivesaria de injeção. Desde o início, seu forte são peças técnicas à base de resi-nas de engenharia e de alta complexidade, como aquelas dirigidas às áreas náutica, metal mecânica, automotiva e odontoló-gica, expõem os sócios Adriano Francisco Reinert, incumbido da diretoria industrial, e Marcelo Mattos de Lemos, responsável pela área financeira. O foco em tiragens limitadas de artefatos fora do convencional tende a ser fortalecido com a concretização do anunciado projeto de incorporar uma sala com ambiente controlado na sede em Joinville.”Será utilizada para a manipulação de peças da área médica”, delimitam os dois controladores.

No momento, o parque de injeção da empresa aloja quatro injetoras hidráulicas da grife alemã Arburg, munidas de patente-ado sistema de gerenciamento de energia e com respectivas forças de fechamento de 40, 50,150 e 200 toneladas. “Damos preferência a essa marca em razão da altís-sima tecnologia, precisão e durabilidade”, assinalam os sócios. Entre as metas para o

exercício atual, abrem, consta a compra de injetora Arburg de 300 toneladas equipada com periféricos da Piovan, Husky e Moretto. Reinert e Lemos afirmam sempre compra-rem as máquinas já equipadas com os auxi-liares. A quinta injetora, eles adiantam, será aproveitada na expansão da Nord West em produtos médicos e odontológicos. “Nesse caso, cogitamos inclusive trabalhar com resinas commodities, pois a dificuldade não está apenas no material, mas nos cuidados com o manuseio do produto”, assinala Lemos. Na foto atual, a planta transforma 100 t/mês de resinas de engenharia virgens, volume que em evoluído à média anual de 20%, ele calcula.

As injetoras da Nord West rodam seis dias por semana em quatro turnos de seis horas, especifica Reinert. “Uma delas opera com robô Star Seiki e, no plano geral, as linhas agrupam dry cooler e chiller da Piovan; aquecedores de câmara quente da Husky; alimentadores e desumidificadorers da Arburg e aquecedores de molde até 250 ºC da Piovan e Moretto”, revela o dirigente. Como as linhas são consideradas recentes,

Nichos premium norteiam a produção da Nord West

Ourives de peças técnicasnORD WEST

Arburg: injetoras para artefatos de baixa oferta local.

nord West: ênfase na automação do processo.

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Lemos: plano de investir em sala de ambiente controlado.

seu custo de manutenção é ultra baixo, define Lermos. “Tem sido inferior a 1% do faturamento”. Sem matrizaria própria, a Nord West recorre aos préstimos do polo ferramenteiro de Joinville. “Na média de 70 a 90 dias a partir do pedido, nos entregam o molde pronto para entrar em produção”.

O ambiente fabril é climatizado por obra de 12 exaustores eólicos e nele, inclu-sos supervisores e operadores, trabalham 17 funcionários às voltas com os setores de injeção, metalização e acabamento. “Em essência, eles controlam a qualidade das peças produzidas, embora nossas injetoras e acessórios sejam de alta repetitibilidade”, observa Steinert. Quanto à atualização de conhecimentos do efetivo, ele informa dispor, no sistema de qualidade, de um indi-cador de horas de treinamento. “Realizamos treinos mensais para cada área”.

Credenciada na gestão de produtivida-de e qualidade pela ISO 9001:2008, a Nor-dwest resguarda seus custos zelando pela economia de energia e água. “Monitoramos os indicadores do consumo de eletricidade a cada semana e nossas máquinas moder-nas são um ponto a favor nesse sentido”, considera Reinert. Em relação ao consumo de água, Lemos é taxativo. “Utilizamos uma tecnologia, basicamente um sistema fecha-do, que dispensa o tratamento de água e tem o menor consumo do mercado”. •

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SuSTEnTAbILIDADEAg PLAST

O grupo AG Plast, fera na produção de garrafas PET e de polietileno de alta densidade (PEAD), acaba de estender o braço no nicho

premium da reciclagem bottle-to-bottle (BTB). Foi a primeira investida da empresa na recuperação de plásticos, decisão tomada após três anos de minuciosas pesquisas, sublinha o diretor executivo Anderson Guimarães. “Não entramos nesse ramo antes pela dificuldade de encontrar sucata PET no mercado”, justifica. No total, foram desembolsados R$ 30 milhões para montar a recicladora junto às atividades de sopro em Juiz de Fora (MG). O retorno é esperado em seis anos, ele antevê.

A planta BTB conta com uma linha da austríaca Starlinger, cuja capacidade alcança 750 t/mês, em operação desde dezembro. Embora Guimarães não dê deta-lhes sobre como sua cadeia de suprimento está estruturada, ele acredita na expansão e

melhora da coleta seletiva no país. Dentro da empresa, as embalagens PET são sele-cionadas, trituradas e convertidas em flakes. Estes, depois, passam por intenso processo de limpeza e descontaminação em um reator, sob alta temperatura e pressão, até atingir a pureza necessária. Outra vantagem, aliás, é menor consumo de água e energia em com-paração a outros sistemas de produção de resina reciclada grau alimentício, incluindo despolimerização, ou mesmo fabricação de frascos multicamada com miolo de material recuperado, assegura a AG Plast.

A recicladora já roda em três turnos com nível de ocupação de 70%, ainda que, até o fechamento desta edição, não contasse com aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fornecer o poliéster BTB para a indústria alimentícia. A partir da certificação, por sinal, a resina pós-consumo gerada proporcionará eco-nomia de 10.000 t/a de PET virgem e será

direcionada ao sopro de garrafas. “É esse o mercado que queremos atender”, assevera o diretor. A visita dos técnicos da agência reguladora está agendada para março e, de antemão, Guimarães avisa que a Starlinger é homologada mundialmente para suprir o segmento de bebidas. Pelas projeções do industrial, a diferença de preço do flake BTB em relação ao recuperado pelo método mecânico convencional chega a 30%. Sem a permissão para contato com alimentos, o PET reciclado é utilizado na produção de sacos de lixo, solados, pisos, conduítes, mangueiras, componentes de automóveis, fibras e outras embalagens.

No mercado doméstico, a CPR, divisão do Valgroup, opera no Rio de Janeiro a única planta brasileira certificada para fornecer o poliéster BTB. Contudo, há outros projetos tomando corpo. O grupo italiano M&G, por exemplo, instala em Poços de Caldas (MG) uma fábrica do tipo com capacidade de 18.000 t/a, equivalente a reciclar perto de 400 milhões de garrafas. Ao mesmo tempo, a Clodam, especializada na recuperação tradicional de PET, mostrou intenção de homologar suas unidades em Diadema (SP) e Maceió (AL) para fornecer a resina grau alimentício. •

AG Plast entra na reciclagem de PET bottle-to-bottleTutu à mineira

guimarães: visita da Anvisa agendada para março.

Fernanda de Biagio

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As pressões do culto à sustentabi-lidade não dão trégua e, no meio do turbilhão, o mercado de com-postos plásticos ditos amigáveis

ao ambiente fervilha. Para se diferenciar no meio da ferrenha concorrência, a Intecmat firma sua estratégia no desenvolvimento de soluções sob medida. “Nossos produtos são feitos de acordo com a necessidade de cada cliente e características técnicas dese-jadas para o artigo final”, delimita o diretor Carlos Razzino. Junto com essa tática, a empresa, que iniciou suas atividades em 2006 no Centro de Desenvolvimento das Indústrias Nascentes (Cedin) de São Carlos (SP) e tornou-se independente em 2009, depositou suas fichas em formulações com cargas de fonte renovável. Hoje em dia, a Intecmat já vende para cerca de 50 trans-formadores. O portfólio da componedora, situa Razzino, é utilizado principalmente na produção de móveis com designs alternati-vos, além de brindes, itens para escritório e embalagens de cosméticos.

Os carros-chefe são misturas de polipropileno (PP) com fibra de coco ou

farinha de madeira, pontua o industrial. Para consolidar sua aura sustentável, inclu-sive, a Intecmat já agregou ao mostruário compostos baseados em ácido polilático (PLA), com o intuito de tornar o produto final biodegradável. Contudo, segundo o diretor, não é possível estabelecer com precisão o tempo de degradação desses artefatos. A empresa, de qualquer forma, assegura ter conduzido estudos sobre o processo de decomposição com corpos de prova em condições controladas e alega que algumas variáveis, como espessura da peça, podem influenciar o resultado. “Isso é específico para cada formulação, cada artigo e suas dimensões”, ele ressalta.

Os compostos da Intecmat são pro-cessáveis por injeção, extrusão e roto-moldagem. De acordo do Razzino, não há restrições para aplicações. Entretanto, ele encaixa, são necessários alguns ajustes na máquina. “O principal desafio para o desen-volvimento desses produtos é a quebra de paradigma frente a um novo conceito de material”, sublinha. As empresas parceiras precisam ser bem orientadas para que

entendam os benefícios e promovam tais adaptações nos equipamentos, ele assinala.

Em sua sede, cuja capacidade chega a 100 t/mês, a Intecmat possui para ensaios uma linha de injeção e uma de extrusão, ambas equipadas com periféricos, moldes e matrizes. A empresa também presta ser-viços de consultoria e desenvolve fórmulas para pesos-pesados como Faber-Castell, Johnson & Johnson, Ingredion, HP e Mag-nesita. Atuam junto à Intecmat, inclusive, seis bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-gico (CNPq), integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Apesar de não dar detalhes, Razzino antevê expansões para a planta de São Carlos ao longo do exercício atual. Em paralelo, acaba de chegar ao time um dos maiores experts do país em compostos de PP para a indústria automotiva, Ricardo Luís Duarte de Sousa. Ele atuou por anos na Produmaster, reconhecida na distribuição nacional de termoplásticos, bem como em compondagem por meio de parceria com a japonesa Prime Polymer. •

Intecmat recorre a formulações verdes sob medida O alfaiate dos biocompostos

InTECMATFernanda de Biagio

SuSTEnTAbILIDADE

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CADERNO DE MARKETING

MateriaisBElSUlPA na área

Belsul America, filial loca-lizada em Nova York (EUA). Por aqui, a representante gaú-

cha mantém uma equipe técnica de engenheiros químicos prestando as-sistência local.

No momento , o carro-chefe da Technical Plymers no país é o com-posto de PA com fibra de vidro. A Belsul não bene-ficia os materiais distribu-ídos, mas a situação pode mudar em breve, deixa no ar Corrêa. “Temos proje-tos de oferecer o produto

conforme especificação de nossos clientes”. No âmbito de plásticos de engenharia, por sinal, a empresa gaúcha atua há cerca de 10 anos na venda de poliacetal (POM), copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) e copolímeros de PA. No mostruário, aparecem tam-bém resinas commodities importadas, como polietileno (PE), polipropileno (PP), PET e PVC, bem como alguns aditivos.

Impressão 3DSTRATASYSGeração multimaterial

A produtora de impres-soras 3D Stratasys acaba de lançar o modelo multi-material colorido Objet500 Connex3. A tecnologia de triplo jateamento permite que o equipamento use três

materiais para fabricação de peças com combinações rígi-das, flexíveis e transparentes. Como não é necessário rea-lizar montagem ou pintura, a utilização dessa impressora 3D ainda proporciona eco-nomia de tempo, informa a empresa. “Objet500 Connex3 ajuda fabricantes a validarem o design e tomar decisões estratégicas antes de iniciar a produção”, sublinha a Stratasys.

Em um processo si-milar ao de uma impres-sora jato de tinta 2D, três matérias-primas coloridas – CeroCyan, VeroMagenta

e VeroAmarelo – resultam em centenas de cores vivas. Estas são combinadas ao portfólio de fotopolímeros Polyjet da Stratasys, que inclui materiais digitais, rígidos, tipo borracha, trans-parente e de alta temperatura, que simulam plásticos de engenharia padrão. Objet500 Connex3 é recomendado

para modelagem com ABS digital e possibilita a criação de modelos, moldes e peças que se encaixam nas carac-terísticas dos artigos finais. A impressora gera em 3D pro-tótipos na cor, durabilidade e acabamento desses artefatos e os trabalhos de impressão chegam a operar com 30 kg de resina por ciclo.

A Stratasys ltd. foi for-mada em 2012 por meio da fusão da Stratasys Inc., de Minneapolis (EUA), e Objet ltd., de Rehovot, Israel. A empresa também fabrica materiais para prototipagem e produção, contando com

Corrêa: expectativa de vender 600 t no primeiro ano.

A Belsul, de Porto Ale-gre (RS), comemora a distri-buição de poliamidas (PA) 6 e 6.6 da norte-americana Technical Polymers. No pri-meiro ano de comercializa-ção regular, o volume deve chegar a 600 toneladas de resina, prevê Sérgio Sanches Corrêa, presidente e CEO da agente autorizada brasileira. A parceria, ele comenta, foi consolidada por meio da

Objet500 Connex3: protótipo com características iguais às do produto final.

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120 fotopolímeros baseados em jato de tinta e dez termo-plásticos proprietários com base em FDM.

MáquinasMACROBanho de espuma

Verbete na extrusão de filmes e chapas, a canadense Macro acena com uma opção

para turbinar películas de matriz plana: uma camada de espuma resultante da injeção de nitrogênio. A tecnologia de coextrusão cast da empresa é empre-gada para estruturas de até 11 camadas, com largura máxima de três metros e emprego de uma diversidade de materiais, entre eles agen-tes de barreira.O acréscimo de uma camada espumada individual, pela avaliação

da Macro, alarga o espectro de aplicações finais da pelí-cula. Além de proporcionar redução de peso e economia no emprego de resinas, a estrutura de espuma gera proppriedades favoráveis ao filme coex. O aproveitamento de uma ou mais camadas espumadas, demonstram os ndicadores da macro, incrementam atributos como

o isolamento térmico e acús-tico, além da flexibilidade e a conformabilidade. O efeito da opacidade, por sua vez, pode ser obtido sem a adição de cargas à película.Com essa tecnologia da camada espumada, a Macro asse-dia campos como bandejas termoformadas, pouches, laminados premium e filmes de maior dureza e brilho em-pregados como chamarizes na prateleira.

Macro: camada espumada reduz peso do filme cast.

MáquinasKRAUSSMAFFEIVanguarda eletrizante

Primeiro carro elétrico com carroceria e partes es-truturais à base de termofixo reforçado com fibra de car-bono, o compacto BMW i3 tornou-se um bem sucedido campo de provas para tecno-logias da KraussMaffei, bóli-do alemão em máquinas para transformação de plástico. No caso do carro eletrificado, a empresa supriu a planta da montadora em Leipizig com quatro instalações de moldagem por injeção e

reação, a exemplo de duas linhas de duas placas equi-padas com robôs. Cada equipamento MX 4000-17200/12000/750WL pesa 400 toneladas e tem sete metros de comprimento, nove de largura e sete de altura, além de força de fechamento de 4.000 tone-ladas. Como referência da vanguarda desses proces-sos, a KraussMaffei divulga que a parte externa da porta e sua subestrutura são in-jetadas numa única etapa, unidas por um movimento da placa e coladas uma a outra, assegurando alta

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CADERNO DE MARKETING

ORgAnOgRAMA

Adriana Belmiro (foto) assume a presidência da subsidiária brasileira da alemã Balluff, especia-lizada em sensores e soluções de automação in-dustrial, a exemplo de auxiliares no monitoramento de garrafas transparentes, bobinas de filmes, corte e perfuração de blisters e envase e secagem de embalagens. Em seu novo posto, Adriana sucede Claudio Kreitmeyer, que deixou a empresa. * Paulo Motta, gerente de negócios para a América do Sul da unidade de negócios de polímeros especiais da Rhodia, ingressou na Styrolution como diretor para a América do Sul.

precisão dimensional dos elementos, por um material plástico não revelado pela empresa. Painéis lateriais, o para-choque traseiro e o capô também são injetados com máquinas da KraussMa-ffei. No caso do processo de moldagem por transferência de resina, sobressaem em Leipzig 20 unidades adeptas

lo mais competitivo perante a alternativa do alumínio, metal de alta preferência em carrocerias de carros elétri-cos de luxo. A estrutura de fibra de carbono contribui para compensar o peso das bateriais e, ao mesmo tempo, rodar mais milhas coma mesma carga de energia. Por

sinal, para assegurar o forne-cimento da matéria-prima, a BMW firmou com a também alemã SGl Carbon AG a joint venture SGl Automotive Car-bon Fibers. O sistema inclui produção da fibra no Japão, sua manufatura nos EUA e preparo final do compósito na Alemanha. •

HP-RTM: cabeçote (detalhe) opera sob alta pressão.

bMW i3: fibra de carbono com epóxi desloca alternativa do alumínio.

dessa tecnologia com alta pressão e agrupadas pela KraussMaffei na série de equipamentos HP-TRM.

Conforme foi informado à mídia, a máquina prima pela rapidez nos sistemas de reação, trunfo para a redução do ciclo, e exibe destaque como cabeçotes capazes de adicionar um agente interno de separação à moldagem do composto de epóxi com fibra de carbono. O cabeçote injeta a resina no interior da cavidade e satura as fibras

ali alojadas em processo sob alta pressão e emitindo estimativas da duração e temperatura dessa etapa. Uma vez endurecida, a auto-peça resultante torna-se dura e leve ao extremo.

O BMW i3 é fruto de pesquisas da montadora para baixar o custo do compósito de fibra de carbono e torná-

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TOP DO MÊS

AnunCIE EM PLÁSTICOS EM

REVISTA

(11) 3666-8301 [email protected]

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TENDÊNCIASWETbIkE

Sobram no Brasil engenho e arte para extrair aplicações de produ-tos fora do escopo original. Gar-rafas de PET, por exemplo, viram

luminárias; carrinhos de supermercado serviram para substituir trenós, em treinos sob 40º à sombra para as Olimpíadas de Inverno em Sochi, na Rússia. Vai nessa toada a proposta da WetBike, criação do empresário Clemente Martinez. “Aos 48 anos, comecei a andar de bicicleta e percebi que existiam modelos para correr, subir morro, passeio, competições e tipos ergométricos. Mas não havia para ativida-de aquática”, ele conta. Com esse estalo, Martinez encarou o desafio de conceber uma estrutura flutuante que pudesse ser utilizada tanto para o lazer, quanto para exercícios físicos.

Os desenvolvimentos começaram há oito anos, mas o lançamento oficial aconteceu somente em 2013, durante a feira Equipotel, explica o inventor. Por enquanto, a fabricação é realizada em séries muito pequenas e o preço suge-rido para venda é R$ 4.500. Porém, ao que parece, o produto já caiu no gosto da freguesia e o primeiro lote, de 50 unidades, esgotou. Para 2014, a meta é extremamente ambiciosa. “Queremos vender cerca de 1.000 WetBikes”, ele projeta, acrescentando que o equipamento é seguro, estável e indicado para todas as idades. Contudo, para chegar nessa marca, o empresário precisará encontrar um parceiro que alavanque a escala de produção. Atualmente, a bicicleta aquática é montada por um amigo no bairro do

Ipiranga, em São Paulo, e o prazo para entrega chega a 30 dias.

Quando inflados, os flutuadores assumem 2,8 metros de comprimento por 30 cm de diâmetro. São feitos de tecido de poliéster com composto à base de bor-racha nitrílica e PVC. Chegar ao material ideal não foi difícil, pois já é utilizado na confecção de botes infláveis, esclarece Martinez. A única adaptação necessária deu-se em relação à fixação da ferragem que liga a bicicleta aos flutuadores. Estes, por seu lado, têm capacidade de ar de cinco libras e são fornecidos pela Zefir, vista por Martinez como líder na fabrica-ção local do chamado banana boat, bem como caiaques infláveis e botes para a prática de rafting.

A WetBike suporta pessoas com até 150 kg, é silenciosa, não agride o am-biente e tem vida útil de dez anos, afiança Martinez. Além disso, caso algum dos flutuadores fure, pode ser reparado sem necessidade de substituição. A bicicleta aquática já foi aprovada em rios, lagos e represas, e navega bem em mar calmo, com ondas de até um metro. Sem leme nem vela. •

navegar de bicicleta

Martinez: flutuador de poliéster com borracha nitrílica e PVC.

Wetbike: vida útil de até dez anos.

Fernanda de Biagio