ficha de apoio rede conceptual da acção 10º ano

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Agir e acção derivam do termo latino agere cujo significado é agir, produzir, fazer e corresponder a um acto contínuo. Fazer provém do termo facere que é usado para significar uma actividade realizada num dado instante . Quando dormimos realizamos acções inconscientes, como por exemplo: ressonar, falar em voz alta… ACÇÃO HUMANA ESCOLA SECUNDÁRIA DE BOCAGE Ficha de Apoio - A rede conceptual da acção Deixando de lado alguns usos puramente técnicos da palavra acção’ (por exemplo, acção como participação no capital de uma empresa), o núcleo significativo da palavra estriba na produção ou causação de um efeito. A palavra ‘acção’ emprega-se às vezes para falar de animais não humanos (diz-se que a acção das cigarras é benéfica para a agricultura) ou, inclusive, de objectos inanimados (diz-se que a gravitação é uma forma de acção à distância ou que a toda a acção exercida sobre um corpo corresponde uma acção igual de sentido contrário). Mas sobretudo usamos a palavra ‘acção’ para nos referirmos ao que fazem os humanos. Aqui só nos interessa este tipo de acção, acção humana. As nossas acções são (algumas das) coisas que fazemos. Na realidade o verbo ‘fazer’ cobre um campo semântico bastante mais amplo que o substantivo ‘acção’. O latim distingue o agere do facere (aos quais corresponde em português agir e fazer). Ao substantivo latino actio, derivado de agere, corresponde o substantivo acção. Assim, até de um ponto de vista etimológico, ‘acção’ só carreia a carga semântica de ‘agir’ e não propriamente de ‘fazer’. Tudo quanto realizamos é parte da nossa conduta, mas nem tudo o que realizamos constitui uma acção. Enquanto dormimos realizamos muitas coisas: respiramos, suamos, damos voltas, apertamos a cabeça contra a almofada, sonhamos, talvez ressonemos alto ou falemos em voz alta ou andemos sonâmbulos pela casa. Todas estas coisas as realizam inconscientemente, enquanto dormimos. Realizamo-las mas não nos damos conta delas, não temos consciência de que as realizamos. A estas coisas que fazemos inconscientemente não lhes vamos chamar acções. Texto de apoio – A rede conceptual da acção Professora Júlia Martins | Novembro 2010

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Page 1: Ficha de apoio rede conceptual  da acção 10º ano

Agir e acção derivam do termo latino agere cujo significado é agir, produzir, fazer e corresponder a um acto contínuo.

Fazer provém do termo facere que é usado para significar uma actividade realizada num dado instante .

Quando dormimos realizamos acções inconscientes, como por exemplo: ressonar, falar em voz alta…

ACÇÃOHUMANA

Agente – O autor da acção. O sujeito que escolhe, decide o que quer fazer e como o quer fazer.

ESCOLA SECUNDÁRIA DE BOCAGE

Ficha de Apoio - A rede conceptual da acção

Deixando de lado alguns usos puramente técnicos da palavra ‘acção’ (por exemplo, acção como participação no capital de uma empresa), o núcleo significativo da palavra estriba na produção ou causação de um efeito.

A palavra ‘acção’ emprega-se às vezes para falar de animais não humanos (diz-se que a acção das cigarras é benéfica para a agricultura) ou, inclusive, de objectos inanimados (diz-se que a gravitação é uma forma de acção à distância ou que a toda a acção exercida sobre um corpo corresponde uma acção igual de sentido contrário). Mas sobretudo usamos a palavra ‘acção’ para nos referirmos ao que fazem os humanos. Aqui só nos interessa este tipo de acção, acção humana.

As nossas acções são (algumas das) coisas que fazemos. Na realidade o verbo ‘fazer’ cobre um campo semântico bastante mais amplo que o substantivo ‘acção’. O latim distingue o agere do facere (aos quais corresponde em português agir e fazer). Ao substantivo latino actio, derivado de agere, corresponde o substantivo acção. Assim, até de um ponto de vista etimológico, ‘acção’ só carreia a carga semântica de ‘agir’ e não propriamente de ‘fazer’.

Tudo quanto realizamos é parte da nossa conduta, mas nem tudo o que realizamos constitui uma acção. Enquanto dormimos realizamos muitas coisas: respiramos, suamos, damos voltas, apertamos a cabeça contra a almofada, sonhamos, talvez ressonemos alto ou falemos em voz alta ou andemos sonâmbulos pela casa. Todas estas coisas as realizam inconscientemente, enquanto dormimos. Realizamo-las mas não nos damos conta delas, não temos consciência de que as realizamos. A estas coisas que fazemos inconscientemente não lhes vamos chamar acções.

Vamos reservar o termo ‘acção’ para as coisas que realizamos conscientemente, dando-nos conta de que as fazemos.

Há, no entanto, coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta delas, mas sem que à sua realização corresponda uma intenção nossa. Damo-nos conta dos nossos ‘tiques’ e de muitos dos nossos actos reflexos, mas realizamo-los involuntariamente, constatamo-los como espectadores, não os efectuamos como agentes. (A palavra ‘agente’ é outra das palavras derivadas do verbo latino agere.) Por algo que sentimos depois de comer damo-nos conta de que estamos a fazer a digestão. Mas fazer a digestão não constitui (normalmente) uma acção. Pelos sorrisos dos que nos observam damo-nos conta de que estamos a ser ridículos. Mas ser ridículo (praticar actos ridículos) não é uma acção, mas uma reacção, algo que nos passa despercebido e que lamentamos (a não ser que o façamos de propósito, como provocação; neste caso já seria uma acção). Também não chamamos acção a esses aspectos da nossa conduta de que nos damos conta, mas que não efectuamos intencionalmente.

Texto de apoio – A rede conceptual da acçãoProfessora Júlia Martins | Novembro 2010

Page 2: Ficha de apoio rede conceptual  da acção 10º ano

ACÇÃOHUMANA

INTENÇÃO

Decisão – é uma escolha que implica uma preferência. Designa categoricamente a acção a realizar.

Deliberação - análise dos motivos que nos leva a agir desta ou daquela maneira.

Motivo

No presente estudo limitar-nos-emos às acções humanas conscientes e voluntárias, às que daqui em diante chamaremos acções (sem mais). Uma acção é uma interferência consciente e voluntária de um homem ou de uma mulher (o agente) no normal decurso das coisas, que sem a sua interferência haveriam seguido um caminho distinto do que por causa da acção seguiram. Uma acção consta, pois, de um evento que sucede graças à interferência de um agente e de um agente que tinha a intenção de interferir para conseguir que tal evento sucedesse."

MOSTERÍN, Jesús (1987). Racionalidad y Acción Humana. Madrid: Alianza, pp. 141-142.

A intenção é sempre a intenção de fazer algo, é sempre activa, implica uma certa tensão em direcção à realização de uma acção, à produção de um evento. (…) Enfim, as minhas intenções são as ideias que eu quero realizar.Por vezes, contrapõe-se ingenuamente a acção às ideias. E supõe-se o “homem de acção” parco em palavras e ideias. Mas não há acção humana sem intenção, e as intenções são ideias.

MOSTERÍN, Jesús (1987). Racionalidad y Acción Humana. Madrid: Alianza

A decisão determina a acção.Entre as diversas possibilidades que nos são colocadas

para a nossa acção, a opção por uma delas é primordial. Através da comparação dos prós e dos contra dessas

possibilidades, nós optamos por uma, decidimo-nos por aquela que melhor responde ao nosso projecto. Ao optar por essa acção rejeitamos todas as outras possibilidades de agir.

A decisão implica, assim, uma aposta, um compromisso e a aceitação de todos os resultados que daí possam decorrer.

No fundo, diríamos que decidir é criar. Ao decidir realizamos algo de nosso, algo de novo na realidade, alterámo-la por nós próprios, pela nossa acção. Ao agir decididamente assumimo-nos e escolhemo-nos.

Adaptado

A decisão é sempre fruto de uma deliberação

O motivo é o porquê da acção. O motivo responde ao porquê, a decisão responde à pergunta quê, que fazemos, identifica a acção. Na filosofia da acção o motivo é consciente ou susceptível de o ser. (…) dizer o motivo ou a causa da acção é dizer o mesmo.

O motivo é o motor do nosso agir.O mesmo motivo pode originar várias acções. Ter fome pode fazer-nos decidir por

cozinhar, ir a uma restaurante ou roubar alimentos.

Texto de apoio – A rede conceptual da acçãoProfessora Júlia Martins | Novembro 2010