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FICHA PARA CATÁLOGO
PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: Mecanização da Agricultura
Autor José Costa
Escola de Atuação Colégio Estadual Vera Cruz
Município da escola Mandaguari
Núcleo Regional de Educação Maringá
Orientador Prof. Dr. Lupércio Antônio Pereira
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Disciplina/Área (entrada no PDE) História
Produção Didático-pedagógica Mecanização da Agricultura
Relação Interdisciplinar
(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Geografia e matemática
Público Alvo
(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Alunos do segundo ano do curso Técnico em Administração (ADM)
Localização
(identificar nome e endereço da escola de implementação)
Colégio Estadual “VERA CRUZ” Ensino fundamental, médio e profissionalizante
Rua Gomercindo Bortolanza,779 – Centro – Fone: 44 32331555
Email: [email protected]
Mandaguari - Paraná
Apresentação:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
Este caderno temático tem como objetivo resgatar por meio de pesquisas parte da História do Norte/Noroeste do Paraná, destacando município de Mandaguari. Mostrar a importância que teve a cultura do café e o quanto contribuiu para o desenvolvimento econômico e social da região.
Porém, em 1975 um fenômeno natural transformou a paisagem agrícola e modificou a vida de muitas pessoas de forma drástica.
Na madrugada do dia 18 de julho de 1975 foi de perplexidade “um verdadeiro cataclismo”. Foi como noticiaram os jornais a respeito da geada negra que dizimou os cafezais paranaense. Como conseqüência desse fenômeno o Paraná tornou-se um dos estados de maior produção agrícola baseando na mecanização.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) economia; geada; mecanização; Paraná; café;
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁCENTRO DE APOIO A EDUCAÇÃO BÁSICA
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONALDEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE MARINGA
TEMA: HISTÓRIA DO PARANÁ E CONSEQÜÊNCIAS ECONÔMICAS SOCIAIS COM A GEADA DE 1975
TÍTULO: MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA
PROFESSOR PDE: JOSÉ COSTA
Produção Didático-Pedagógica, “Caderno Temático”, prevista no Projeto de Intervenção Pedagógica como estratégia de ação a ser utilizada pelo professor PDE durante a Implementação do Projeto na Escola, como requisito ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010, do Estado do Paraná.
Orientador: Lupércio Antônio Pereira.
MANDAGUARI/PR2011
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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: José Costa.
Área PDE: História.
Núcleo: Maringá.
Escola de Implementação: Colégio Estadual Vera Cruz - Ensino Fundamental,
Médio e Profissionalizante.
Público objeto da Intervenção: Alunos do 2º ano Técnico em Administração
(ADM).
Professor Orientador IES: Lupércio Antônio Pereira.
IES Vinculada: Universidade Estadual de Maringá – UEM
Tema de Estudo do Professor PDE: História do Paraná e Conseqüências
Econômicas Sociais com a Geada de 1975.
Título: Modernização da Agricultura.
PROBLEMA/PROBLEMATIZAÇÃO
A população paranaense é formada por diversas correntes migratórias, mas
quero aqui dar ênfase à região noroeste, principalmente o município de Mandaguari,
onde o café foi fator econômico que impulsionou a colonização. Apesar dos
contratempos climáticos, o café se tornou um produto capaz de atrair inúmeros
colonizadores de várias regiões brasileiras e até do exterior. Entretanto, em 1975
ocorreu uma severa geada que mudou os rumos da economia e da demografia
regional. O objetivo deste trabalho é proporcionar aos alunos do 2º ano do curso
Técnico em Administração um conhecimento mais aprofundado dos efeitos da
geada de 1975 para a sociedade da micro-região de Mandaguari.
UNIDADE TEMÁTICA I
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História do Paraná
A História do Paraná não é estudada da maneira como deveria. Poucos
professores atendem a lei nº 13.381/01, mesmo por que, não existe na matriz
curricular a disciplina de História do Paraná, e para piorar a situação, em alguns
colégios foram retiradas as aulas de História de algumas séries para a
implementação de filosofia, deixando ainda mais desfalcada a disciplina de História.
Contudo, verifica-se a obrigatoriedade do ensino dos conteúdos de história no
ensino fundamental e médio da rede pública estadual, como podemos observar nas
Diretrizes Curriculares da Educação Básica: “Cumprimento da lei nº 13.381/01, que
torna obrigatório, no Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual, os
conteúdos de História do Paraná”. (DCE SEED, 2008, p. 45)
Entretanto, nós professores de História, compreendemos a necessidade de se
estudar a História do Paraná no contexto de formação dos educandos. O número de
aula deixa muito a desejar. Neste sentido, a escola e nós profissionais devemos
incentivar uma proposta para desenvolver e valorizar o conhecimento do Estado
onde moramos.
Uma visão mais ampla, impessoal e plenamente baseada no conhecimento
nas pesquisas, estudos, neutraliza qualquer expressão bairrista. Nesse sentido,
refletiremos sobre a atualidade e o que já passou é uma forma de entender a nossa
História.
Seguindo o raciocínio de Cainelli & Shimidt, problematizar, o conteúdo a ser
trabalhado, algumas questões podem orientar uma abordagem problematizadora
dos conteúdos, tais como: “por quê?”, “como?”, “quando?”, “o que?”. (DCE SEED,
2008, p. 72)
Nesse sentido, é importante afirmar e reafirmar a visão de Fausto (1995,
p.13):
Sem ignorar a complexidade do processo histórico, a História é uma disciplina acessível às pessoas com diferentes graus de conhecimento. Mais que isso, é uma disciplina vital para a formação da cidadania. Não chega ser cidadão, quem não consegue se orientar no mundo em que vive, a partir do conhecimento da vivência das gerações passadas.
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Portanto, há uma grande dificuldade de se encontrar uma bibliografia que
trate da história paranaense. Na verdade, a História do Paraná só começou a ser
divulgada a bem pouco tempo.
Sendo assim, é imprescindível que se comece a estudar os principais fatos
marcantes que elevaram o Paraná como um dos principais estados que forma a
República Federativa do Brasil.
O Processo de Colonização
A Companhia de Terras Norte do Paraná – CNTP organizou a colonização de
suas terras na forma denominada Colonização-Dirigida. Esta é realizada por
empresas ou pelo poder público, cujo planejamento atende à vinda de colonos e
onde as terras são divididas e eficientes meios de comunicação e transporte
organizados, pois seu objetivo é a venda das terras e o povoamento (STECA;
FLORES, 2008, p. 138).
As glebas compradas pela CTNP foram pagas até três vezes: primeiro ao
Estado, depois aos que possuíam títulos de posse verdadeiros ou duvidosos e, por
fim, aos posseiros. Isso deu credibilidade aos títulos de propriedade ofertados pela
companhia (STECA; FLORES, 2008, p. 139).
Sobre esse assunto, afirma Oberdiek (1997) que
um dos problemas para a rápida demarcação era quantidade de títulos de posse irregulares ou falsos. Então a terra toda deveria ser regularizada rapidamente para não dar tempo de se criar dúvidas. Alguns desses documentos irregulares ou falsos estavam relacionados com antigas concessões, como a Cia Marcondes. [...] E se os ingleses demorassem muito para contestar os supostos títulos por estas famílias, poderiam tornar irreversíveis as reivindicações de posse, o que a CTNP queria evitar. (p.76)(Ressalva ainda que) [...] a colonização foi organizada para que gerasse lucros e se autofinanciasse antes mesmo de produzir com a agricultura e/ou extração de bens naturais. Ou seja, o capital financeiro inglês criou condições para que o próprio processo de colonização fosse financiador de si mesmo. (p.76)
De fato, as glebas compradas foram divididas em pequenas propriedades
com cerca de 30 hectares, mas, existiam propriedades menores com até 5 a 10
hectares. Foram separados também lotes urbanos (para dinamizar a atividade
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comercial) e lotes rurais. Existem autores que interpretam esta divisão do território
em pequenas propriedades como “socialização da colonização e da produção”. O
problema é que essa “socialização” beneficiou apenas aos vendedores das terras e
não aos colonos (STECA; FLORES, 2008, p.139).
Fazia parte também da colonização dirigida estabelecer o perfil do colono. Já
que partiam do princípio de que a região era deserta foram buscar migrantes e
imigrantes para serem os ocupantes dessas terras. Estes, deveriam adquirir as
terras por meio da compra e habitar os núcleos urbanos para garantir o
desenvolvimento do comércio (STECA; FLORES, 2008, p. 139).
Neste sentido, segundo Oberdiek,
[...] a região havia tido as concessões e algumas famílias estavam instaladas, e outros habitantes estavam como posseiros. Ademais, havia índios que eram os habitantes naturais. Tanto estes como aqueles não eram considerados proprietários da terra, ou seja, não haviam comprado (1997, p. 18).
Para Steca e Flores (2008, p. 139), “a condição estabelecida para conseguir a
escritura de posse era a ocupação efetiva da terra, que muitas vezes seria paga com
o cultivo. Mesmo nos terrenos urbanos havia o compromisso da construção de
casas num curto espaço de tempo”.
A exploração da madeira permitiu que os lavradores sem posses, ao
adquirirem lotes, se mantivessem até as primeiras colheitas, além de possibilitar a
construção de casas e de outras benfeitorias. Já havia na época, uma preocupação
com relação à preservação de 10% das matas, mas a falta de fiscalização, tanto por
parte da Companhia quanto do poder público, favoreceu ao não cumprimento da lei
(STECA; FLORES, 2008, p. 139-140).
Não se desejava então, com o projeto de colonização, que aqui viessem
trabalhadores, mas sim compradores. O lucro da venda da terra teria que ser
garantido. A chance de ser dono dos lotes originava a força-de-trabalho necessária.
O pequeno produtor comprava suas terras a prestações, tornando-a rentável com o
seu trabalho, acreditando estar produzindo divisas apenas para si, enquanto que, na
verdade, tornava produtiva toda uma região e é claro, beneficiava os responsáveis
pelo projeto de colonização. A Companhia vendia as terras com prazos de
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pagamento parcelados para até quatro anos. O que atraía os compradores para a
região, também, era o baixo preço das terras (STECA; FLORES, 2008, p. 140).
Segundo Pedro Callil Padis:
A Companhia de Terras Norte do Paraná, adquiriu as suas glebas do Governo do Estado, à razão de 20 mil Réis por alqueire paulista, em 1925. Quinze anos depois, em 1940, ela os vendia à razão de 500 mil Réis. Uma década depois, 1950, o preço por alqueire não ia além dos 10 mil cruzeiros, ou seja, cerca de quinze vezes o salário mínimo fixado para a região norte-paranaense e oito vezes o estabelecido para a cidade de São Paulo. (1981, p. 126)
A produção exigia pouco capital e era comum a mão-de-obra ser apenas
familiar. As terras ficavam sempre de fundo para um riacho e de frente para uma
estrada. Isso facilitava o escoamento da produção. Produzia-se algodão, milho,
feijão, arroz, cana-de-açúcar, rami, amendoim etc.. O cultivo desses produtos já
estava previsto nos contratos de trabalho com o colono de café. Enquanto o café
crescia, comercializavam-se os demais produtos (STECA; FLORES, 2008, p. 141).
Assim, pode-se dizer que a Companhia de Terras Norte do Paraná – CNTP,
que organizou o processo de colonização; o Governo do Estado, o qual permitiu tal
processo; os pioneiros, os quais enriqueceram, e os migrantes e imigrantes,
responsáveis pela realização do trabalho, fizeram parte no processo de colonização
do Norte Novo.
O Café
Existem relatos comprovando que, desde 1801, o café já se encontrava na
lista de produtos exportados pelo Paraná, eram remetidas algumas arrobas para o
Rio de Janeiro. No entanto, essa produção fazia-se em pequena escala. O café
começou a ganhar impulso no Paraná a partir da década de 1860, quando
fazendeiros paulistas ocuparam algumas porções do Norte Paranaense, na região
do rio Itararé. Inúmeras frentes pioneiras de fazendeiros e proprietários isolados
vieram com suas famílias se instalarem espontaneamente no Paraná, que, na
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época, não tinha uma boa estrutura e era cercado por florestas e animais silvestres
(BRAZ, 2002, p. 13).
O Norte do Paraná, por possuir a fertilíssima terra roxa (de origem vulcânica),
um clima favorável e obtendo uma liberdade na produção, pelo regime de quotas (ou
prestação) que foi imposto aos outros Estados, mas a ele não, aos poucos foi
desenvolvendo e expandindo a cultura cafeeira pelo Paraná. Os produtores sabiam
que as raízes do café precisavam de solos férteis e profundos e o nosso Estado era
ideal (BRAZ, 2002, p. 13).
Segundo Braz (2002, p. 13), “o Paraná se expandia e a região Norte era
desbravada e ocupada, houve a ocupação espontânea e a dirigida, feita pelo
governo e as companhias colonizadoras”.
Continuando e ampliando o domínio cafeeiro, surgia o chamado Norte Novo,
sendo a região caracterizada pela existência de um clima ameno, terra roxa e
vegetação formada pela mata tropical. Matas ora baixas, ora altas, com árvores de
tamanhos enormes em conseqüência da fertilidade do solo (BRAZ, 2002, p. 13).
Com uma terra porosa, úmida, sem rochas e de boa profundidade, o Norte
Novo foi ocupado entre 1920 e 1950. A colonização ocorreu de Cornélio Procópio
até o rio Ivaí. Tiveram grande influência as companhias colonizadoras, como a
Companhia de Terras Norte do Paraná. O Norte Novo apresenta na atualidade
cidades muito bem desenvolvidas como Londrina, Maringá, Apucarana, Arapongas
entre outras (BRAZ, 2002, p. 13).
Economia Cafeeira Antes da Geada
Para tanto vamos expandir nossos conhecimentos sobre o Estado do Paraná,
especificamente para a região norte e sua economia cafeeira, que foi uma das
maiores produtoras deste produto no Brasil nos períodos de 1950 a 1975.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o fim das proibições de plantio em decorrência das geadas, a quantidade de pés de café plantados atingiram o patamar de 160 milhões, sendo que 99,83% encontravam – se na região norte. A produção aumentou tanto que Londrina foi denominada Capital Mundial do Café, pelas belezas dos cafezais, dada a fertilidade do solo, gerando muitas riquezas para a região. (Steca, Lucinéia Cunha & Flores, Mariléia Dias. História do Paraná, 2008, p. 197)
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Em Mandaguari, norte do Paraná, na agricultura o interesse maior era o
cultivo do café, devido à excelente qualidade da terra. Entretanto, outras culturas se
faziam ao lado da cultura cafeeira, pois o feijão, o arroz, o milho, o algodão e a
batata, a princípio eram cultivadas apenas para a subsistência das famílias, sendo
que, posteriormente, começou a ser produzida para fins comerciais.
Das terras cultivadas com extensas plantações de cafezais podemos destacar
quer pela sua riqueza, como pela exuberância dos pés de café as seguintes
plantações: fazenda Dourado, de Manuel Garcia; fazenda São Paulo, de Julio
Meneguete; fazenda Monte Alegre, de Ezequiel José da Silva; fazenda Rochedo, de
Antonio Munhoz Diana; fazenda São Pedro, de Geraldo Miraque; fazenda Santo
Antonio, de João Mancine e a fazenda de Olivio Valério, Santo Antonio. Estas
estavam localizadas na sede do Município, pois nos Distritos eram inúmeras as
fazendas (FONTES, BIANCHINI, 1997, p. 131).
Para se ter uma idéia da abundância da produção de café, em 1957 nossa
produção só foi suplantada por Colatina no Espírito Santo; São Manuel e
Fernandópolis em São Paulo; e Rolândia no Paraná.
De acordo com Fontes e Bianchini (1997, p. 131), “a produção cafeeira
correspondeu a 89% de toda a produção agrícola, com cerca de 14 mil toneladas
estimada na moeda da época em CR$ 523.200”.
O crescente comércio interior e exterior e em marcha para o oeste, como um
grande desbravador aponta o café. Segundo Wachowicz (1972) o crescimento da
cafeicultura transformou essa região, em centro de atração de pessoas: brasileiros e
estrangeiros, em direção ao Paraná, transformando-o em ponto de encontro de
todas as gentes, atraídos pela riqueza do ouro verde, o qual comandava o
desenvolvimento do Estado, criando cidades, abrindo estradas, expandindo
ferrovias.
Economia Cafeeira Após a Geada
Quando observamos as dificuldades meteorológicas da região imaginamos os
obstáculos encontrados, por esses pioneiros desbravadores para sobreviver, mas
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por meio de uma determinação, eles nunca desanimaram, mas, em 1975, a Geada
Negra começou a ampliar o perfil econômico da região.
Vejam o que disse o ex-governador Jaime Canet Junior e o ex-presidente
Ernesto Geisel ao sobrevoar a região de Londrina, Maringá e Umuarama, dizimadas
pela geada de 1975, assistindo com tristeza a morte e a esperança entre os
produtores: ““Está tudo perdido”, sentenciaram os dois governantes com os pés já
em terra firme, mas abalados pela contestação”. (Folha de Londrina – Caderno Rural
– Edição do dia 17 de julho de 2010)
Segundo Roberto Bondarik (2010), “em 18 de Julho de 1975, há trinta e cinco
anos, ocorria a Geada Negra, que erradicou a cafeicultura no Estado do Paraná”.
Bondarik (2010) explica que “naquela ocasião muitos não tiveram discernimento da
amplitude dos problemas causados e das conseqüências que seriam geradas por
esta geada, talvez ainda hoje muitos ainda não tenham essa compreensão”.
De acordo com Bondarik (2010),
revistas e jornais daqueles dias mostram o frio europeu que atingiu o sul do Brasil. Em Curitiba ainda se relembra e comemora a neve daquela ocasião. No norte, onde o café era a principal atividade econômica, o frio intenso assumiu ares de tragédia [...]. Haviam ocorrido geadas fortes em 1963, 1964 e 1966, prenúncios da maior de todas. No dia seguinte, a Folha afirmava que os cafeicultores estavam de luto, mas os órfãos, a história mostra isso, eram a população do Norte, em especial os colonos, os pequenos proprietários, os comerciantes, as cidades, todos aqueles que se relacionavam direta ou indiretamente com a cafeicultura. Foram todos atingidos em seu modo e no seu estilo de vida, tivemos de reaprender a viver.
“Um verdadeiro cataclismo”. Assim noticiaram os jornais da época a respeito
da geada negra que se abateu sobre o Norte do Paraná, dizimando cerca de 850
milhões de pés de café e mudando definitivamente as configurações econômicas de
Londrina e região (CAMARGO, 2010).
Segundo Mariana Camargo (2010), foi a maior geada de que se tem notícia
no Brasil. O fim dos cafezais resultou, ao longo dos anos seguintes, em um dos
maiores êxodos populacionais ocorridos no Brasil e um dos maiores do mundo.
Portanto, a economia cafeeira teve um longo período de duração, mas a partir
de 1975, o ciclo do ouro verde começou a dividir espaço com novas atividades
produtivas. Nesse sentido o historiador Ruy Cristovam Wachovicz escreve:
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Os agricultores preferiram não se expor mais as perdas intermitentes com o café. Deu-se maior ênfase ao soja, ao trigo e a pecuária. Com isso, a região começou a perder parte de sua população. O café sempre exigiu uma numerosa mão-de-obra, que começou então migrar para centros urbanos do Estado ou para outras unidades da federação. (WACHOVICZ, 1995, p. 263).
Concluindo, a partir de 1975, nasceu um novo Norte Paranaense, mais
urbano, mas seu poderio econômico vive até hoje um perfil diferente, mais
diversificado em termos de produção agrícola, uso de novas tecnologias, mas nunca
deixando ser um celeiro de alimentação para nós que vivemos no Paraná, para
muitos brasileiros e até ajudando a alimentar uma parte da população mundial.
UNIDADE TEMÁTICA II
Monocultura
Historicamente, no Brasil, a agricultura se desenvolveu com base na
monocultura e no latifúndio. Prova disso são as diversas atividades desenvolvidas,
em especial o cultivo da cana-de-açúcar, do café, e a partir do século XX, da soja,
da laranja, etc..
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De acordo com a Enciclopédia Encarta (2001), Monocultura é
a utilização da terra com uma só cultura permanente. Sua prática determina uma série de efeitos negativos sobre a estrutura do solo, como a diminuição da produtividade a longo prazo, em virtude da intensificação do processo de erosão do solo e dos riscos de enchente (ENCARTA, 2001).
A monocultura de cana-de-açúcar no Nordeste e do café no Sudeste,
associada à grande propriedade rural e ao escravismo, foi o sistema predominante
no Brasil. Embora as relações de trabalho e a estrutura de produção tenham
evoluído, a monocultura ainda imprime fisionomia especial a extensas áreas rurais
brasileiras (ENCARTA, 2001).
De acordo com Taís Andrade (2011), “no Norte do Paraná predominam as
monoculturas comerciais de algodão, cana-de-açúcar, e principalmente soja, laranja,
trigo e café. A erva-mate, produto do extrativismo, é também cultivada”.
A mecanização e a introdução da monocultura aumentaram o tempo livre da
família, os períodos de ociosidade. Houve, em função disso, alterações nos horários
de trabalho, um aumento no tempo de lazer, uma redução da importância do
trabalho feminino nos serviços agrícolas, uma elevação do nível de escolarização
dos filhos, urbanização e proletarização dos jovens (PERSGRI II, 1981, p. 45).
Ocorreram mudanças na organização produtiva do grupo familiar. Houve casos de
famílias que apresentaram diferentes divisões de trabalho em que parte da família
se dedicava ao trabalho no próprio estabelecimento rural e outra parte se dedicava a
atividades na cidade como o assalariamento, ou dedicação a pequenos negócios
particulares. Neste caso, tudo indica que estava se dissolvendo, pelo menos
temporariamente, a coincidência entre unidade de produção e unidade de consumo
que tradicionalmente caracterizava a exploração familiar dos colonos. As
transformações na divisão interna do trabalho, provocadas pela introdução da
máquina, fizeram com que a unidade familiar fosse cada vez mais reduzida a uma
unidade de consumo, como ocorre, freqüentemente, na organização urbana do
trabalho (GREGORY, 2002, p. 228).
Êxodo Rural e Migração
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No século XX o Paraná conheceu um grande aumento demográfico por mérito
das possibilidades que o Estado oferecia. Não obstante, estimativas recentes
mostram que houve, nas décadas de 80 e 90, uma estagnação nesse crescimento.
E a população que se concentrava no campo está partindo para as cidades,
ocasionando um enorme êxodo rural, que se mantém acelerado. (BRAZ, 2002, p.
77)
De acordo com Braz (2002, p. 77), “esse fenômeno vincula-se às profundas
transformações que mudaram o panorama do Estado e à passagem do Brasil a um
país urbano industrial”.
Braz (2002, p. 77) ainda salienta que “pesquisas apontam que até o final do
século, mais da metade da população mundial viverá em cidades e que as
concentrações urbanas se expandirão”.
Durante as últimas décadas do século 20, o Paraná conheceu um êxodo rural
muito grande em virtude, principalmente, do crescimento das modernas atividades
agroindustriais ligadas à produção de soja e trigo. Altamente mecanizadas, estas
atividades exigem bem menos mão-de-obra do que outras culturas mais tradicionais,
como a do café, por exemplo (BRASIL, 2005, p. 32).
O resultado mais imediato foi o crescimento urbano e a mudança do perfil das
cidades, que viram suas indústrias e serviços prosperarem (BRASIL, 2005, p. 32).
O Paraná que, à época da proclamação da República, era uma das menores
unidades da Federação, entrou no século 21 como a quinta maior economia do País
(BRASIL, 2005, p. 32).
Pode se assim compreender de forma clara que a diminuição da produção do
café, novos problemas surgiram como, por exemplo: o crescimento desordenado
das médias e grandes cidades de pequenos produtores que venderam suas
propriedades e tentaram uma forma de ganhar a sobrevivência como assalariado.
Assim escreve o Historiador Sérgio Odilon Nadalin (2001, p. 87):
Explica se o grande êxodo rural, fruto das transformações nas estruturas agrárias do norte do Paraná, ocasionando um fenômeno relativamente recente de migrações internas, que refletem na urbanização. (NADALIN, 2001, p. 87)
O Estado do Paraná sofreu profundas mudanças, principalmente no período
de 1975 a 1991 e mais precisamente na zona rural. A mecanização agrícola 14
provocou o esvaziamento do campo, especificamente nas áreas de terras férteis e
propícias à mecanização.
O Norte do Paraná, tomado pela cafeicultura, viu esta lavoura perecendo com
as geadas, ferrugem e outros males e também sentiu o grande êxodo rural. Os
estudiosos e o censo populacional constatam que mais de 267.000 moradias foram
fechadas na zona rural e grande parte dessas propriedades rurais foi anexada em
outras propriedades. Praticamente 1/3 da população paranaense passou pelo
fenômeno da diáspora.
Migração é, de acordo com a Enciclopédia Encarta (2001), o
deslocamento de pessoas de um lugar para outro, geralmente motivado por dificuldades econômicas e/ou políticas em seu lugar de origem, ou por melhores oportunidades oferecidas nos lugares de destino.
As migrações podem ser temporárias ou definitivas. Estas últimas podem ser
internas (dentro do país ou do estado) ou externas. Neste caso, ocorre a emigração
ou a imigração, dependendo do ponto de referência: emigra quem sai de sua terra e
imigra quem entra a outro país ou estado. Até o final do século XIX, existia também
a migração forçada de escravos africanos para as Américas (ENCARTA, 2001).
As migrações temporárias são de diversos tipos: quotidianas, como no caso
do deslocamento do lugar de residência para o local de trabalho; sazonais, em
regiões agrícolas, quando da época das colheitas ou da plantação, e eventuais,
como ocorre nos países industrializados quando determinadas indústrias empregam
mão-de-obra temporária para atender picos de procura não previstos (ENCARTA,
2001).
A migração líquida é a diferença entre partidas e chegadas. A migração total é
a soma de partidas e chegadas, sendo uma medida de mobilidade da população
(ENCARTA, 2001).
Já a migração inter-regional é o movimento migratório entre uma e outra
região do mesmo país, causado por fatores de atração e/ou expulsão. No Brasil, o
primeiro grande movimento migratório ocorreu em fins do século XIX, tendo como
elemento de atração o auge da exploração da borracha, que levou milhares de
nordestinos a migrar para a Amazônia, expulsos pela seca que já caracterizava sua
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região natal. Durante a década de 1960, um novo e considerável contingente de
moradores da região nordeste migrou para as grandes capitais do centro-sul, em
busca de melhores condições de trabalho na então pujante indústria da construção
civil. Já nas décadas seguintes, um grande número de pessoas, na sua maioria da
região sul, buscou a fronteira agrícola da Amazônia, guiado pelo estímulo dos
programas de colonização oficial e premido pela dificuldade de obter ou mesmo
comprar terras na região de origem, especialmente no Paraná e no Rio Grande do
Sul (ENCARTA, 2001).
A migração interurbana são movimentos migratórios que se produzem entre
cidades. Eles podem ser temporários, quando o migrante reside em uma cidade e
trabalha na outra, (a chamada migração pendular) ou definitivos, quando há
deslocamento da população de cidades menores de uma região para uma ou mais
cidades de maior importância. Esse tipo de movimento de pessoas é uma das
características de países desenvolvidos como os Estados Unidos, que possuem
uma economia muito dinâmica e uma rede urbana bem estruturada. Nessas
condições, a migração interurbana ocorre em todos os sentidos. No caso de países
em fase de desenvolvimento e com uma economia concentrada em poucas regiões,
como o Brasil, a migração apresenta um sentido, das cidades menos dinâmicas para
as mais dinâmicas (ENCARTA, 2001).
A migração intra-regional é a migração dentro de uma mesma região,
processo que pode ser causado por diversos fatores isolados ou combinados, como
secas, abertura de frentes de trabalho ou implantação de novas áreas industriais.
Neste caso, o termo regional deve ser entendido como correspondendo a uma
macrorregião. O grande deslocamento de migrantes nordestinos para o Maranhão,
na época da construção da rodovia Transamazônica, é um exemplo (ENCARTA,
2001).
A migração intra-urbana é o movimento migratório que se dá no interior das
grandes cidades ou áreas metropolitanas. Geralmente é causado pela ocupação de
áreas até então desocupadas, para atender necessidades de expansão da cidade. O
poder político administrativo local (prefeituras) e os promotores imobiliários são os
principais agentes desse processo, com o primeiro determinando as novas áreas
disponíveis e o segundo viabilizando as construções residenciais (ENCARTA, 2001).
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Uma história de migrações, de deslocamentos de população, revela
comportamentos, padrões de relações sociais, momentos de crise... Traduz
fenômenos culturais e, nesses e outros aspectos, as migrações permitem-nos
compreender os fatos humanos – entre outros, políticos, religiosos e econômicos
(NADALIN, 2001, p. 8).
Todo o dia ouvimos e lemos a respeito da miséria e da violência nas grandes
cidades e os problemas no campo. Engajados na preocupação em compreender a
associação destes fenômenos, geógrafos, sociólogos e demógrafos, em especial,
têm se debruçado na pesquisa, publicação e defesa de teses a respeito (NADALIN,
2001, p. 9).
Do Sudeste para o Sul, sobretudo, também associamos ao tema a imigração
de estrangeiros, tal a influência cultural e populacional desses elementos nestas
regiões. Costumamos mesmo distinguir migração (interna) da imigração
(internacional), como se este fosse um critério básico na classificação dos
deslocamentos populacionais. Esquecemo-nos, assim, que as migrações são
fenômenos sociais e eminentemente históricos. Esquecemo-nos, também, que o ato
de migrar está associado ao nosso cotidiano, à procura de algo melhor, sempre mais
adiante (NADALIN, 2001, p. 9).
De acordo com Nadalin (2001, p. 10), a “ação de migrar articulado à carta da
riqueza fácil, ou rápida; do triunfo, portanto, da busca da aventura; e, ou, à procura
de uma “dificuldade a vencer”, ou seja, a procura da riqueza obtida pelo trabalho”.
Para Nadalin (2001, p. 10)
o ato de migrar também se articula, muitas vezes, ao ato político e econômico do domínio, da invasão, por vezes da conquista; e, de modo igual, da predagem. Ou, à busca do risco, do perigo, do inusitado, em suma, do conhecimento – embora, nesses casos, talvez estejamos saindo da esfera da migração stricto sensu, para entrar simplesmente no ato dos deslocamentos humanos enquanto viagens, peregrinações, ou vagabundagem.
Nadalin (2001, p. 11) explica que “a colonização fazia-se por meio de
migrações – e elas teriam sido “espontâneas”, “dirigidas” e, ou, “planejadas””.
Salienta também, que “em última instância, sob o olhar interesseiro da metrópole
portuguesa e, mais tarde, do novo Estado brasileiro”; e que “nunca é demais frisar,
17
em detrimento dos antigos habitantes da região e seus descendentes” (NADALIN,
2001, p. 11).
Nessa mesma linha, os termos migração e migrações referem-se igualmente
ao processo de conquista e ocupação/povoamento do território por uma determinada
população “branca”, isto é, constituída no âmbito de uma civilização colonial, luso-
brasileira (NADALIN, 2001, p. 11).
No processo dos deslocamentos populacionais, muitas vezes os homens
espalharam a miséria, a morte, a doença e o ódio. Mas, também, plantaram cidades
e verdadeiros “sistemas de civilização”. Construíram impérios, ou se viram
esmagados por eles. Para tudo isso, utilizaram-se de vários “instrumentos”, dentre
os quais a bravura, o desprendimento, a violência, a covardia e a traição (NADALIN,
2001, p. 11).
UNIDADE TEMÀTICA III
Modernização da Agricultura
A Região Norte foi a primeira atingida pela modernização, por possuir uma
economia baseada na monocultura cafeeira, estruturada na pequena e médias
propriedades, com uso intensivo de mão-de-obra.
Segundo dados do IBGE, as conseqüências da modernização, no período de
1970 e 1985 são visíveis: redução da área destinada à cafeicultura em cerca de
59%; aumento da área com pastagens em torno de 32%; aumento das lavouras
temporárias em 59%; diminuição do emprego no campo e aumento do êxodo rural;
concentração fundiária, marcada pelo desaparecimento de 66.257 estabelecimentos
agrícolas de 0 a 10 ha. e 28.689 com área entre 10 e 100 ha.; aumento do trabalho
temporário e surgimento dos “sem terra” (MORO, 2000, p. 39).
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A modernização agrícola gerou grandes transformações no cotidiano da
paisagem rural paranaense, passou a ser lugar comum os conflitos sociais
envolvendo milhares de trabalhadores sem terra, por meio de acampamentos e
ocupações de latifúndios e, conseqüentemente, implantação de assentamentos
rurais. Aqui vale ressaltar que no estado do Paraná entre 1979 e 1999, foram
implantados 233 assentamentos rurais envolvendo 15.059 famílias, numa área de
294.465 ha. (FERNADES, B. M. in: MELLO, 2000, p. 54). Com a conquista da terra,
os assentados passaram a organizar a produção de forma familiar e cooperativada.
Segundo Pereira (1999), a partir de 1965 tornou-se indispensável aumentar a
produtividade da agropecuária, e isso não seria possível com os instrumentos
existentes. Surgiu então a necessidade de investimentos elevados para a adoção de
novos processos produtivos que possibilitassem a expansão da produção brasileira.
Como a estrutura agrária não apresentou avanços, não existia uma classe dinâmica
de pequenos produtores capazes de absorver avanços tecnológicos, visto que não
tinham nível de escolaridade suficiente. Assim, as políticas de aumento da
produtividade foram implementadas apenas por grandes e médios produtores, os
únicos em condições de se adequarem ao processo de inovação.
Desse modo, as políticas sugeridas eram de curto prazo, como preços
mínimos, crédito e assistência técnica, beneficiavam apenas grandes e médios
produtores, e mantinham a estrutura agrária vigente e apoiada em vultosos
subsídios. Nessas condições, iniciou-se a ampliação do uso da mecanização, de
fertilizantes, defensivos agrícolas e outros insumos, que viabilizou a utilização de
grandes áreas em uma mesma propriedade e permitiu a expansão de culturas de
larga escala, como a soja, o milho, o trigo e a cana-de-açúcar.
A modernização da agropecuária brasileira foi simultânea ao desenvolvimento
de uma tendência mundial de uso intensivo de insumos industriais poupadores de
terra e trabalho nos processos produtivos desse setor, que ficou conhecida como
revolução verde. Outro fator que contribuiu para esse processo foi a saída de um
estágio de substituição de importações na economia brasileira para o de estímulo às
exportações, nas quais a agricultura teria um papel importante. Nesse caso, a
agropecuária exportaria produtos para um mercado internacional exponencialmente
crescente e ainda incentivaria a indústria nacional, pois passaria a demandar
insumos industriais em larga escala.
19
Segundo Braz (2002, p. 76), “no tempo do Paraná tradicional, a agricultura
não visava, especificamente, ao lucro, mas o consumo, o que tornava sua produção
baixa e sem grandes inovações técnicas”. O autor salienta que “com os anos se
passando, os agricultores perceberam a necessidade de algumas mudanças”.
(BRAZ, 2002, p. 76)
A partir de 1970, houve uma rápida modernização da agricultura paranaense.
No meio agrícola, o termo modernização refere-se ao uso cada vez maior de
máquinas, adubos, defensivos e sementes selecionadas. Mas podemos dizer que
essa modernização ocorreu porque o Brasil estava ampliando o seu parque
industrial, sobretudo com a vinda de algumas empresas estrangeiras. (BRAZ, 2002,
p. 76)
As pesquisas organizadas em laboratórios desenvolviam sementes
geneticamente modificadas e excelentes técnicas para garantir maiores índices de
produtividade. Nesses novos tempos, o agrônomo se fez muito necessário, e, sob
sua orientação, gerou-se uma maior e melhor produção. A agricultura do Paraná é
moderna, isso porque apresenta formas de organização da produção mais
avançada, como é o caso das cooperativas. (BRAZ, 2002, p. 76)
De acordo com Braz (2002, p. 77) “em meio a esses acontecimentos
marcantes, nossas exportação agropecuária representava grande elevação”. Para o
autor, “como resultados dessas transformações, a economia paranaense mostrava
um perfil bem diferente dos anos anteriores”. (BRAZ, 2002, p. 77)
Contudo, a modernização agrícola tem acarretado, ao longo dos anos, alguns
problemas tais como: o mau uso dos recursos naturais, a expulsão dos
trabalhadores que lidam com o plantio e a colheita e o aumento do número de
latifúndios. Outro aspecto importante é a urbanização que vem aumentando de
maneira intensa, enquanto o campo está perdendo sua população devido ao êxodo
rural que se agrava pela mecanização no setor. (BRAZ, 2002, p. 77)
Diversidade Econômica no Campo
Ao iniciar-se a década de 1960, mesmo com o crescimento da indústria
madeireira, a base agrícola passou a ser dominante na região. Esta assumiu, ao
20
longo da década de 1960, o primeiro lugar na produção de milho e criação de suínos
no Paraná, diversificando sua produção com a introdução de outras culturas, tais
como mandioca, feijão, trigo, soja e mesmo o café, ainda que em escala bem menos
significativa para o contexto microrregional (PERIS, 2003, p. 108).
No Paraná, nos setores de produção da economia mercantil e da economia
de subsistência, onde ambos empregaram uma população economicamente ativa, o
trabalho escravo foi essencial. (SANTOS, 2001, p. 68)
Durante o século XX, a diversificação econômica do país tirou do setor
cafeeiro o mando político exclusivo, exigindo governos que articulassem,
democraticamente ou ditatoriamente, novas forças políticas alicerçadas em outros
setores da economia. As classes médias urbanas, os militares, a burguesia foram
reivindicando e ocupando espaços econômicos, culturais e políticos em articulação
com oligarquias regionais. Esta diversificação se manifestou de formas diferentes
nas diversas regiões. Na região Sul, os eurobrasileiros foram conquistando espaços
em conseqüência da criação e do desenvolvimento de colônias. Ou seja, houve uma
redistribuição espacial do poder e da economia no Brasil. Alguns destes novos
espaços, no caso do Sul, seriam ocupados e criados pela população migrante.
(GREGORY, 2002, p. 65)
Segundo Braz (2002, p. 74), “durante a década de 70, praticamente todo o
espaço territorial paranaense disponível estava sendo ocupado e o processo de
expansão agrícola diversificava-se cada vez mais, completando pelo domínio
agrícola vastas regiões do Estado”.
O café, que movimentou de forma esplêndida a economia do Paraná, perdia
sua elevada posição e com isso aumentavam as culturas da soja, do feijão, do
milho, do trigo e do centeio. Era crescente a produção de leguminosas e de grãos,
muitas vezes direcionadas para exportação. O clima e o solo paranaense também
favoreciam a fruticultura, seja as frutas tropicais como a banana, o abacaxi, a
laranja, o limão, a manga seja as frutas de clima mais frio e temperados como o
caqui, o figo, a castanha, a maçã, o pêssego, a uva entre outras. (BRAZ, 2002, p.
75)
Braz (2002, p. 75) salienta que “não bastando a agricultura também ganhava
impulso a pecuária com a criação de bovinos e suínos, aves e eqüinos”.
21
Em virtude de ser mercantil e por visar a lucros, a agricultura paranaense é
extremamente sensível aos preços do mercado e às condições de financiamento por
parte do governo ou de bancos de desenvolvimento agropecuário. Dessa forma
explica-se o caráter diversificado das culturas praticadas que reagem aos estímulos
do financiamento e a maior rentabilidade adquirida através dos preços. (BRAZ,
2002, p. 75-76)
Com o desenvolvimento do Município de Mandaguari, norte do Paraná, e
conseqüentemente o seu desmembramento, outros interesses na agricultura
surgiram. A área cultivada, além do café, com 17.000 ha, havia o arroz com casca
5.000 ha, o feijão com 1.500 ha, a batata com 200 ha, o milho 2.800 ha, e outros
produtos tais como: o trigo, a banana, o pêssego, a tangerina, a laranja, o abacate, a
mandioca, a batata doce, cana-de-açúcar, manga, abacaxi, alfafa, cebola, limão,
maçã, melancia e tomate (FONTES, BIANCHINI, 1997, p. 131).
Apesar de algumas vezes os fenômenos climáticos afetarem a agricultura,
ocasionando crises, muitos eram os produtos exportados em 1948, tais como: feijão
em geral; café; milho; arroz pilado; lâminas de cedro; cedro compensado; algodão
em caroço; suínos (cabeças); arroz em casca; galináceos (cabeças); peças de
madeira de lei (não especificado); madeira compensada (não especificada); quirera
de arroz; batata inglesa e couros crus, salgados (de bovinos) (FONTES, BIANCHINI,
1997, p. 131).
PRODUTOS QUILOS VALORCafé 17.600 há 523.200Arroz em casca 5.000 há 25.600Feijão 1.500 há 12.000Bata inglesa 200 há 10.500Milho 2.800 há 7.500
Entre os anos de 1953 e 1957, a produção de café apresentou alternativas
em seu desenvolvimento, oscilando para mais ou menos até atingir o valor mais
elevado no último ano do período. Vale ressaltar que no ano anterior havia caído ao
mínimo já verificado, o que demonstra a grande recuperação realizada em 1957.
ANO ÁREA CULTIVADA (ha) TONELADAS VALOR1952 19.200 18.000 420.000
22
1953 4.800 4.500 120.0001954 10.400 4.800 192.0001955 12.800 7.500 225.0001956 16.800 1.956 68.2501957 17.600 14.400 523.200
Reforma Agrária
Ainda em Mandaguari, norte do Paraná, quando o povoado ainda era
conhecido por seus primeiros moradores como o povoado Vitória, a região era
extremamente rica, tanto na qualidade das terras, como também do clima e coberta
por uma mata virgem, riquíssima em madeiras de lei.
Estes são, inegavelmente, os fatores naturais que favorecem uma região e
promovem seu progresso de maneira vertiginosa. Isto foi o que aconteceu com o
povoado Vitória, depois chamado Lovat e por fim designado Mandaguari,
definitivamente. Esta natureza exuberante e rica atraía inúmeras famílias que aqui
chegavam diariamente.
Ao se fixarem na terra, passavam a desbravar as matas, para poder da
madeira, fazerem suas casas e tudo o mais que fosse necessário, como limpar a
terra para poder cultivá-la e depois dela tirar sua subsistência.
Segundo Fontes e Bianchini (1997, p. 129), “em conseqüência da abundância
da madeira, as serrarias começaram a surgir e com elas a concentração de grupos
grandes de pessoas, que geralmente era necessário para seu funcionamento”.
As serrarias não só em Mandaguari, mas em toda a região norte do Paraná,
foram fatores de povoamento e fixação do homem à terra.
A extração de madeiras desenvolveu-se de imediato, e as serrarias foram
implantadas de Mandaguari até as barrancas do rio Paraná, ao lado de uma
agricultura que ia nascendo nos lugares da mata, era a cultura de café, que no auge
de seu esplendor tomou o nome de “ouro verde” (FONTES, BIANCHINI, 1997, p.
129).
No tocante à reforma agrária, a Enciclopédia Encarta (2001), conceitua a
reforma agrária como sendo “a redistribuição da propriedade da terra, promovida
pelo Estado, em benefício dos lavradores sem terra ou com terras insuficientes”.
23
A partir de 1942, a questão agrária começou a ser discutida com ênfase e tida
como um obstáculo ao desenvolvimento do país. Mas não foi aprovada nenhuma lei
que introduzisse alterações de importância no regime jurídico da posse e do uso da
terra (ENCARTA, 2001).
No final da década de 1950, os debates ampliaram-se com a participação
popular. Em 1962, foi criada a Superintendência de Política Agrária (SUPRA), com a
atribuição de executar a reforma agrária (ENCARTA, 2001).
Em 13 de março de 1964, o presidente da República assinou decreto
prevendo a desapropriação, para fins de reforma agrária, das terras localizadas
numa faixa de 10 km ao longo das rodovias, ferrovias e açudes construídos pela
União. Mas, em 31 de março de 1964, o presidente da República foi deposto, tendo
início o ciclo dos governos militares, que duraria 21 anos (ENCARTA, 2001).
Em novembro de 1964 foi aprovado o Estatuto da Terra, que se constituiu na
primeira proposta articulada de reforma agrária, feita por um governo, na história do
Brasil. Entretanto, no final de 1994, o total de famílias beneficiadas pelo governo
federal e pelos órgãos estaduais de terra, em projetos de reforma agrária e de
colonização, foi da ordem de 300 mil (ENCARTA, 2001).
De acordo com Dias e Gonçalves (1999, p. 157),
A partir desses movimentos e de seus órgãos de representação, os trabalhadores rurais conquistaram um espaço maior no cenário social, ampliando o debate político acerca de questões fundamentais, como por exemplo, a reforma agrária, a extensão da legislação social trabalhista para o campo, as condições de trabalho e de vida, relações de trabalho, preços e política agrícola, entre outros (DIAS, GONÇALVES, 1999, p. 157).
Assim, o Norte do Paraná – região integrada social e economicamente ao
restante do Brasil, sobretudo devido ao grande contingente populacional de
imigrantes, de diversos Estados do país, que aqui aportava e à produção de café,
principal produto de exportação no período – também se viu envolvido nessa
efervescência política e social dos anos 50 e 60. O surgimento do sindicalismo rural
de orientação comunista, a impetração de ações trabalhistas na Justiça do Trabalho
e a proliferação greves nos sítios e fazendas de café marcaram o período (DIAS,
GONÇALVES, 1999, p. 157-158).
24
UNIDADE TEMÁTICA IV
Estratégias de Ação
A elaboração da produção didática pedagógica para auxilio de professores e
alunos a respeito do tema História do Paraná e Conseqüências Econômica Social
com a Geada de 1975. Intitulado como Modernização da Agricultura. Serão
discutidas questões como monocultura, êxodo rural, migração, mecanização da
agricultura, diversidade econômica. Reforma agrária e outros assuntos pertinente
relacionados ao meio rural.
Nas aulas de história será abordada a importância que a história do Paraná
tem no cotidiano de cada um de nós, dando destaque à economia cafeeira e as
conseqüências trazidas para os lares de milhões de paranaense após o fenômeno
de 1975, episódio esse conhecido como Geada Negra.
Os materiais utilizados serão: fotos, textos, gráficos, reportagens,
depoimentos de pessoas que viveram esse inesquecível fato.
Ao apresentar textos relacionados com o tema será feito uma comparação
entre a população urbana e rural antes e depois da geada de 1975.
Estratégias Metodológicas
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Serão trabalhadas com os alunos as estratégias, utilizando sempre nas aulas
material concreto para melhorar o ensino-aprendizagem, como: uso da TV Pendrive;
filmes; visitas; pesquisas; entrevistas; relatórios; seminários; documentários;
confecção de painel; criação de portifólio pelos alunos para organizarem suas
pesquisas, relatórios, textos, fotos, depoimentos, gráficos, reportagens e etc..
Para desenvolvimento do ensino aprendizagem, serão trabalhados os
seguintes objetivos:
- Identificar a História do Paraná fazendo reflexões sobre sua importância em
nosso dia a dia;
- Fazer reflexão sobre a história regional, discutindo questões como:
monocultura, êxodo rural, migração, mecanização da agricultura, diversidade
econômica no campo e reforma agrária;
- Ampliar o senso crítico dos alunos em relação à população urbana rural
antes e depois da geada de 1975;
- Identificar as conseqüências econômicas e sociais que a grande geada de
1975 trouxe para a região noroeste do Paraná (Mandaguari) e a partir desta
assimilação compreender melhor a situação que vive a maior parte da população
paranaense que sofreram algum tipo de perda de identidade decorrente deste
fenômeno;
- Conhecer a produção cafeeira do Município de Mandaguari até a atualidade;
- Conhecer a verdadeira razão que muitos agricultores deixaram a zona rural
e passaram a residir nos grandes centros urbanos gerando um grande contingente
de mão-de-obra barata.
Após a contextualização do tema serão desenvolvidas ações que auxiliarão
no desenvolvimento do ensino aprendizagem, onde serão feitas várias atividades:
- Será feita apresentação do projeto, falando de sua importância e de seu
desenvolvimento;
- Realizará um questionário de sondagem que busca identificar o que o aluno
conhece sobre a História do Paraná e o que ele pretende saber sobre a mesma;
- Em seguida será feita uma introdução e reflexão sobre a História do Paraná;
- Após a introdução os alunos farão uma pesquisa sobre a História do Paraná,
trazendo para a sala recortes de revista, jornais, textos pesquisados pela internet e
etc., para a confecção de um painel. Ao concluir a atividade cada aluno comentará o
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que pesquisou fazendo um debate sobre o assunto pesquisado, em seguida farão
um relatório;
- Será feito, interpretação e reflexão sobre monocultura, êxodo rural,
migração, mecanização da agricultura, diversidade econômica no campo e reforma
agrária. A metodologia utilizada será aula expositiva, PowerPoint, TV pendrive,
vídeos, pesquisas, relatórios, debates, trabalho individual e em grupo;
- Os alunos farão pesquisas, entrevistas, seminários e assistirão
documentários para identificar as conseqüências econômicas e sociais que a grande
geada de 1975 trouxe para a região noroeste do Paraná (Mandaguari);
- Farão visitas aos viveiros de mudas e as máquinas beneficiadoras de café,
para conhecer o processo de plantio do café e como é beneficiado;
- Fazer visita a grandes fazendas que eram grandes produtoras de café, e
hoje encontra - se abandonadas.
Ao concluir cada atividade, cada aluno fará um relatório para colocar em seu
portfólio, que será avaliada cada atividade feita e também no final será avaliado o
portfólio.
O referido material será desenvolvido em 32 aulas de 50 minutos cada.
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