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Ficha para identificação do Artigo Final – Turma 2016
Título: Grêmio Estudantil: Uma Proposta de Participação Política e
Democrática na Escola.
Autora: Andreia Aparecida Prado
Disciplina/Área:
Pedagogia
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Bento Mossurunga – Ensino Fundamental e Médio
Município da escola: Ivaiporã
Núcleo Regional de Educação: Ivaiporã
Professor Orientador: Profª. Dra. Marleide Rodrigues da Silva Perrude
Instituição de Ensino Superior:
Universidade Estadual de Londrina
Relação Interdisciplinar: Comunidade Escolar
Resumo:
O Grêmio Estudantil é uma instância colegiada de representação dos estudantes, que fortalece o processo pedagógico, por meio da organização política dos alunos no espaço escolar, contribuindo para a concretização da gestão democrática e proporcionando aos estudantes o desenvolvimento de suas potencialidades intelectuais, sociais e culturais. O presente artigo tem como propósito apresentar uma análise sobre a participação dos jovens estudantes no Grêmio Estudantil como uma das instâncias colegiadas. A proposta surgiu da vivência escolar que apontou para a necessidade de estudar a participação dos estudantes no Grêmio Estudantil, refletindo em que medida a participação destes nesse espaço pode influenciar na relação estabelecida entre o aluno e a escola, e como esta pode e deve criar mecanismos de participação dos estudantes, em seu interior, contribuindo para a formação integral do mesmo e a efetivação de uma gestão democrática. Foi utilizada a pesquisa-ação como instrumento pedagógico e científico, no intuito de uma pesquisa intencionada à transformação participativa democrática no interior da escola e
fora de seus muros. Concluímos que o trabalho desenvolvido possibilitou a participação dos jovens estudantes na gestão da escola por meio da instancia colegiada do Grêmio Estudantil e que essa participação tem fragilidades que são superadas com o processo de formação desses estudantes e colaboração de todos os profissionais da educação por meio de mecanismos de participação.
Palavras-chave:
Participação; Gestão democrática; estudante; Grêmio Estudantil.
Formato do Material Didático: Artigo
Público:
Discentes
GRÊMIO ESTUDANTIL: UMA PROPOSTA DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E DEMOCRÁTICA NA ESCOLA.1
Andreia Aparecida Prado2
Profª. Drª Marleide R. da Silva Perrude3
RESUMO
O Grêmio Estudantil é uma instância colegiada de representação dos estudantes, que fortalece o processo pedagógico por meio da organização política dos alunos no espaço escolar, contribuindo para a concretização da gestão democrática, proporcionando aos estudantes o desenvolvimento de suas potencialidades intelectuais, sociais e culturais. O presente artigo tem como propósito apresentar uma análise sobre a participação dos jovens estudantes no Grêmio Estudantil como uma das instâncias colegiadas. A proposta surgiu da vivência escolar que apontou para a necessidade de estudar a participação dos estudantes no Grêmio Estudantil, refletindo em que medida sua participação nesse espaço, pode influenciar na relação estabelecida entre o aluno e a escola, e como esta pode e deve criar mecanismos de participação dos estudantes, em seu interior, contribuindo para a formação integral do mesmo e a efetivação de uma gestão democrática. Foi utilizada a pesquisa-ação como instrumento pedagógico e científico, no intuito de uma pesquisa intencionada a transformação participativa democráticas no interior da escola e fora de seus muros. Concluímos que o trabalho desenvolvido possibilitou a participação dos jovens estudantes na gestão da escola por meio da instância colegiada do Grêmio Estudantil e que essa participação tem fragilidades que são superadas com o processo de formação desses estudantes e a colaboração de todos os profissionais da educação por meio de mecanismos de participação.
Palavras Chaves: Participação; Gestão democrática; estudante; Grêmio Estudantil.
1 Artigo produzido como trabalho final do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da etapa
conclusiva do Programa de Desenvolvimento Educacional- (PDE), criado pelo Governo do Estado do Paraná, para promover a Formação Continuada dos educadores da Rede Pública Estadual de Educação, como parte integrante do Magistério do Ensino Fundamental e Médio em parceria com as IES (Instituto de Ensino Superior). 2 Docente da rede estadual do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE)2016/2017. 3 Doutora em Educação, docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de
Londrina.
1. INTRODUÇÃO
O Grêmio Estudantil é uma instância colegiada de representação máxima dos
estudantes na escola e seu principal objetivo é fomentar a discussão entre os
estudantes de seus deveres e direitos fortalecendo o processo pedagógico e
permitindo a construção de um espaço privilegiado de aprendizagem, cidadania,
convivência, responsabilidade e de luta por direitos dentro do princípio da gestão
democrática, inclusive em torno da comunidade escolar.
O Grêmio Estudantil é visto como um espaço importante nessa direção, onde os jovens podem organizar-se, discutir política, reivindicar levando em consideração os problemas da escola e da sociedade da qual fazem parte, configurando-se como um lugar de formação política do estudante. (MENDES, 2011, p. 51).
Assim, essa instância colegiada é formada por todos os discentes e
representado pelos estudantes eleitos em um processo democrático. Estes devem
estreitar a comunicação dos alunos entre si e com a comunidade escolar,
promovendo atividades educacionais, culturais, cívicas, desportivas e sociais, sendo
o Grêmio um espaço privilegiado por promover a democracia, desenvolvendo ética e
a consciência política e crítica.
Nas observações como Professora Pedagoga no cotidiano escolar sobre a
participação dos jovens estudantes nas tomadas de decisões da escola e na
efetivação dessas ações ao longo dos anos de trabalho na escola pública4, foi
perceptível alguns limites na participação dos alunos nas instâncias coletivas,
principalmente no Grêmio Estudantil, instância de organização de caráter de
representatividade estudantil.
As conversas informais com alunos, professores e funcionários evidenciaram
como entraves a falta de conhecimento por parte dos jovens da legislação que
4 Atuo no colégio que foi espaço da pesquisa como Professora Pedagoga nas Séries Finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio desde 2005. Anteriormente trabalhei como professora regente de sala de aula nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental por sete anos. Sou graduada em Pedagogia pela Univale – Faculdades Integradas do Vale do Ivaí, tenho pós-graduação na área de Gestão Escolar e Educação Especial pela UNOPAR.
garante a existência do Grêmio Estudantil, pois desde a formação até a função de
cada membro não está devidamente elencada para o fortalecimento e ampliação
das suas ações no interior e fora da escola. Como consequência, observamos uma
desestruturação da instância em questão que não consegue ter uma atuação
significativa na escola, não conseguindo portanto, efetivar ações por falta de
planejamento de suas atividades. A equipe escolar procura intervir nas ações do
Grêmio, porém seus representantes não conseguem participar de forma democrática
na tomada de decisão e nas avaliações das atividades pedagógicas desenvolvidas
na escola.
Diante do exposto apontamos para a necessidade de estudar a participação
dos estudantes no Grêmio Estudantil, refletindo em que medida sua participação no
espaço escolar, pode influenciar na relação estabelecida entre o aluno e a escola, e
como esta pode e deve criar mecanismos de participação dos estudantes, em seu
interior, contribuindo para a formação integral dos mesmos e a efetivação de uma
gestão democrática.
O tema proposto surgiu a partir da necessidade de enfrentar dificuldades em
organizar o Grêmio Estudantil em uma escola pública do Município de Ivaiporã-PR e
direcionar suas atividades buscando ampliar a participação dos alunos. O mesmo
tornou-se relevante quando foi detectada a ausência de embasamento teórico e
prático dos estudantes com relação a essa temática e, consequentemente, da
dificuldade que os mesmos possuem para discutir e disseminar a importância do
colegiado no interior da escola.
Assim o tema “articulação entre os segmentos de gestão da escola –
Instância Colegiada Grêmio Estudantil” intitulado como “Grêmio Estudantil: Uma
Proposta de Participação Política e Democrática na Escola”, surgiu das indagações
originadas no cotidiano de trabalho como professora pedagoga, objetivando sobre
as possibilidades de o Grêmio Estudantil tornar-se uma instância de representação
do educando e colaborar para ações democráticas que transpusessem os muros da
escola.
Considerando que o trabalho do Grêmio Estudantil necessita ser planejado,
refletido e analisado para que suas ações sejam consistentes e possam realmente
efetivar-se na escola, indagamos: Como orientar alunos para que possam contribuir
para gestão democrática da escola? Como garantir sua real participação, por meio
do Grêmio Estudantil, nos espaços coletivos numa perspectiva democrática?
Nesse sentido, o trabalho teve como objetivo de discutir e orientar os
estudantes, ampliando seus conhecimentos sobre os marcos legais da agremiação
estudantil, subsidiando-os para traçar caminhos de organização em diversas
situações de forma democrática, promovendo ações que transponham o muro da
escola, possibilitando a discussão e reflexão sobre sua organização e participação
efetiva como agentes de sua própria formação.
O Grêmio Estudantil: Uma Proposta de Participação Política e Democrática na
Escola, como já exposto, surgiu da vivência na escola pública onde se observa que
o jovem estudante tem pouco espaço para participar da organização e concretização
das ações na escola. Também da necessidade do reconhecimento do Grêmio
estudantil como instância colegiada por meio da formação dos mesmos.
Para o desenvolvimento do Projeto de Intervenção Pedagógica envolvemos
os representantes eleitos do Grêmio Estudantil e os alunos Ensino Fundamental
séries finais do 8º e 9º ano e Ensino Médio. Para tanto, utilizamos a pesquisa-ação
como instrumento pedagógico e cientifico, com intuito de uma pesquisa intencionada
à transformação participativa. Buscamos interagir com os alunos na prática
pedagógica para a produção de novos conhecimentos no âmbito político, social e
cultural, e que os mesmos, de posse de tais conhecimentos, os contextualizassem
na reorganização do Grêmio Estudantil. Assim, elaborar a construção de
conhecimentos pelos próprios alunos do Plano de Ação dessa instância, para que
pudessem promover uma transformação positiva no interior da escola vivenciada ao
longo dos encontros. (FRANCO, 2005).
Como procedimentos, utilizamos o estudo bibliográfico e análise documental
tendo como fonte de consultas livros, teses e dissertações destacando o Grêmio
Estudantil e a gestão democrática.
Mobilizamos os alunos dos três turnos para a participação nos encontros de
formação que foram desenvolvidas utilizando vídeos, textos, imagens e músicas no
sentido de dinamizar as atividades, promovendo interesse dos alunos em
participarem da instância de participação estudantil5.
5 Os encontros foram organizados em nove encontros de quatro horas aula, num total de 36 horas
aulas.
O principal objetivo de cada atividade desenvolvida ao longo dos encontros
era oportunizar a representatividade dos alunos por meio do Grêmio Estudantil na
gestão democrática da escola pública, promovendo mecanismos de participação por
meio de uma formação politica6 dos alunos para atuarem nas instâncias colegiadas,
em especial o Grêmio Estudantil e dar subsídios na elaboração do Plano de Ação da
Grêmio Estudantil.
O presente artigo apresenta algumas considerações sobre a participação dos
estudantes na escola e, por meio do Grêmio Estudantil, na gestão democrática.
Ações propostas no Projeto de Intervenção Pedagógica e desenvolvidas com os
estudantes buscaram estudar e analisar a atuação do Grêmio Estudantil no interior
da escola, resgatando a participação dos mesmos, na escola pública e na gestão
democrática. Objetivou-se envolver o corpo discente de um Colégio Estadual de
Ensino Fundamental e Médio do município de Ivaiporã-Pr, na discussão sobre
representatividade e atuação da instância na escola, refletindo sobre a participação
do mesmo enquanto Instância Colegiada, bem como orientando e acompanhando a
elaboração do Plano de Ação.
1.2. DESENVOLVIMENTO
A escola em seus objetivos educacionais deve visar não apenas a integração
do educando na sociedade, mas a sua formação humana integral que desenvolve o
intelectual, afetivo, físico, moral, social, cultural e pessoal. Ela deve ser um espaço
privilegiado na construção de experiências participativas, de diálogo, de socialização
e de organização política, caracterizando um espaço democrático. Conforme Hora
(2007, p.31)
Essa formação envolve também a compreensão dos princípios de socialização pedagógica e democrática por sujeitos que trazem consigo aportes cognitivos e éticos, mas que ainda não se encontram plenamente seguros para o exercício de suas obrigações e de seus direitos democráticos. (HORA, 2007)
6 Em suma, é necessário esclarecer que quando nos referimos à política, não estamos fazemos
nenhuma menção à política partidária, mas à participação política enquanto direito e dever de todos, instrumento fundamental para a construção de uma sociedade mais humana, participação democrática, para Dallari (1984, p.8) “[...] „política‟ se refere à vida na polis, ou seja, à vida em comum, às regras de organização dessa vida, aos objetivos da comunidade e às decisões sobre todos esses pontos” (DALLARI,1984, p.8, grifo no original).
Tendo em vista o tempo que os jovens passam juntos no espaço escolar, este
propícia um ambiente favorável à socialização e a criação de grupos. Esse tempo
partilhado pode determinar a direção de certas atividades, assim como forma de
perceber o mundo. Muitos desses jovens encontram no Grêmio Estudantil esse
espaço. Para Mendes (2011, p.16) “[...] é um espaço de representação dos alunos
na escola, mas também de sociabilidade, lazer e política.” Espaço onde os jovens
encontram seus pares, dialoga com as diferenças, enfrentam conflitos internos e
externos e buscam de alguma maneira se reafirmar como ser social.
A escola, na realização de seu trabalho pedagógico e no cumprimento de sua
função social e democrática, visa à transformação social e, portanto, a autonomia do
educando, e precisa promover a participação de seus estudantes na sua gestão,
“[...] especialmente quando se pretende educar para autonomia intelectual e política”
(PARO 2000, p.92). No entanto, enquanto educadores, precisamos superar ideais
imaginários e conceitos centralizadores e autoritários que estão enraizados em
nossas práticas cotidianas devido a um sistema que teoriza uma prática e concretiza
outra. “No grêmio estudantil, os jovens aprendem a lidar com a pluralidade de
interesses que compõem a vida em comum dentro da escola. a vivência no grêmio é
um canal para a expressão da politização desses jovens” (MENDES, 2011, p.21).
O Grêmio Estudantil é um espaço de discussão, pautado na livre interação
entre os participantes e a comunidade, é um espaço onde podem organizar, discutir
politicamente e reivindicar levando em consideração os problemas da escola e da
sociedade da qual fazem parte, configurando-se um lugar de formação política do
estudante, espaço que propicia experiências importantes no processo de formação
dos jovens. É importante incentivar o Grêmio Estudantil na escola como forma de
motivar a formação de lideranças, como estratégia de participação e democracia na
escola.
Nessa perspectiva, a participação do jovem na escola sinaliza um caminho importante para uma educação pública que almeje construir o sujeito. Essa é uma forma de se buscar existência, ser ouvido, ultrapassar o papel de coadjuvante no processo educacional e na própria vida (MARTINS, 2010, p.216).
Na década de 80 a história do Brasil foi marcada pelos movimentos da
sociedade brasileira baseados nos princípios de democracia e participação social,
projetando um novo cenário de mobilização e organização social amplo que
provocou mudanças nas relações de poder em todas as áreas, inclusive na
educação. No final de 1980, a gestão democrática da educação é incorporada ao
texto da Constituição Federal de 1988, no seu artigo 206, que estabelece o
pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e a gestão democrática do
ensino, na forma da lei como princípios básicos. Antes da publicação da
Constituição, podemos citar a Lei Federal nº 7.398, de 04 de novembro de 1985 que
já assegurava a organização de grêmios estudantis com finalidades educacionais,
culturais, cívicas, desportivas e sociais.
Posteriormente, temos a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
n°. 9394/96, reafirmando este princípio de gestão democrática, obrigando as escolas
públicas a implantar colegiados de gestão. Com a aprovação da lei, cada instituição
precisou organizar suas instâncias de participação coletiva na construção e
efetivação de sua proposta pedagógica.
A LDB 9394/96 também determina que a direção da escola crie condições
para que os alunos se organizem no Grêmio Estudantil, participando do Conselho
Escolar e Conselho de Classe por meio de seus representantes.
Assim Ferreira (2000, p. 79) define gestão democrática como:
[...] processo de aprendizado e de luta política que não se circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra, nas especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a possibilidade de criação de canais de efetiva participação e de aprendizado do „jogo‟ democrático e, conseqüentemente, do repensar das estruturas de poder autoritário que permeia as relações sociais e, no seio dessas, as práticas educativas. (FERREIRA, 2000)
Por mais que as leis expressam os ideais democráticos que norteiam as
políticas educacionais do país e que legitimam a representação dos alunos como
sujeitos detentores de deveres e direitos, permeando o exercício da cidadania nas
ações da escola para concretização da gestão democrática, a realidade da escola
está longe de concretizar as leis que por si não garantem uma efetiva participação
dos jovens nas tomadas das decisões da escola que ainda está condicionada a
conceitos ideológicos e autoritários.
Nesse sentido, a escola precisa elaborar mecanismos de efetivação da
participação dos estudantes em sua gestão, por meio do Grêmio Estudantil. È
necessário suscitar o interesse dos alunos em sua auto-organização, para que
tenham clareza do papel que podem e devem desempenhar na comunidade escolar.
Deste modo, a escola precisa fomentar a participação dos jovens no universo
escolar, como afirma Bordenave (1983; p.46). “Apesar de a participação ser uma
necessidade básica, o homem não nasce sabendo participar. A participação é uma
habilidade que se aprende e se aperfeiçoa.” A participação dos jovens estudantes na
escola é um recurso de infinitas possibilidades relacionadas ao processo de
formação do indivíduo.
Nos discursos que percorrem a escola sobre a participação dos estudantes é
perceptível um perfil criado no imaginário por meio das ações registradas na história
brasileira, criou-se um figuração que permeia um padrão de participação do jovem
estudante o que não corresponde com a realidade sócia cultural e econômica dos
jovens da atualidade. O jovem estudante dos dias de hoje também tem interesse de
participar e tem participado de ações que buscam transformações no interior da
escola como em toda a sociedade.
Historicamente os estudantes do ensino fundamental e médio atuaram na
política nacional participando antes do período do regime militar de 1964,
protestando contra os rumos da sociedade, principalmente contra os sistemas
escolar e universitário. O período da ditadura militar no Brasil foi uma época terrível
para as organizações estudantis, principalmente as escolas de ensino secundarista,
que logo após o fim desse período não conseguiram se organizar enquanto
entidades de participação popular. Gerações de estudantes posteriores não tiveram
acesso a qualquer tipo de organização estudantil, fazendo com que não lhes fosse
repassada a tradição organizativa dos estudantes. Para Poerner (1979, p.47) “O
movimento estudantil é a forma mais adiantada e organizada que a rebelião da
juventude assume o Brasil”.
De acordo com Poerner (1979) o governo militar respondeu com muita
violência aos atos corajosos dos estudantes. Na época, houve perseguições aos
membros de entidade estudantis, que, por sua vez, também foram consideradas
ilegais. Os estudantes passaram a se organizar clandestinamente. Com a onda de
perseguições, prisões e torturas, o movimento foi perdendo forças, especialmente
nos primeiros anos da década de 70.
Segundo Mendes (2010) e Martins (2011) o retorno dos Grêmios Estudantis
ocorre oficialmente em outubro de 1985, com a promulgação da Lei Federal n.º
7395/85 pelo presidente José Sarney, posteriormente reformulada pelo Deputado
Aldo Rebelo como Lei Federal nº7398/85, que possibilitou uma maior interação entre
o estudante e a escola, apesar de sofrerem intervenções por parte do governo. Em
1992, acontecem sucessivas manifestações nas ruas contra a corrupção no
governo, dando início ao movimento de estudantes chamado Caras Pintadas,
movimento social que teve grande apoio dos estudantes secundaristas e
universitários, que resultou no Impeachment do Presidente de República, Fernando
Collor de Melo (MARTINS 2010; MENDES 2011).
No Ano de 2004 temos as lutas e ações protagonizadas pela juventude em
torno do movimento passe-livre7 e da redução de tarifas, abordando uma questão de
interesse social.
Colocando em discussão o transporte público urbano, sua forma mercantilizada, as lutas e ações protagonizadas por uma juventude em torno da bandeira do passe livre e da redução de tarifas escaparam a circunscrição de um tema estritamente estudantil, abordando uma questão social que tem afetado duramente, cada vez mais, grande parte da população dos centros urbanos brasileiros. (GROPPO et al. 2008, p.157).
Em 20168, foi possível acompanhar pelas mídias e redes sociais as
ocupações das escolas e universidades pelos estudantes secundaristas e também
de representação de Grêmios Estudantis em várias regiões do país, principalmente
no Estado do Paraná. Com o lema “Ocupar e Resistir” o movimento, que ganhou o
nome de “Primavera Secundarista”, posicionou-se contra a Medida Provisória (MP)
746, que visa reformular o Ensino Médio, debatendo também da Proposta de
7 “O termo passe livre se refere a gratuidade no transporte coletivo. No Amapá e na cidade do Rio de
Janeiro o passe-livre estudantil já era uma realidade, o que teria, segundo o próprio movimento, servido de inspiração para se levantar essa bandeira de luta. Importante frisar que a luta pelo passe-livre não é e não tem sido uma exclusividade do MPL, sendo encampada por outras organizações, formais e informais.” (GROPPO et al., 2008, p.158) 8 Do G1 São Paulo. Ocupações, atos e polêmicas: veja histórico da reorganização escolar. 2015. Disponível
no link: http://glo.bo/1QkqCWT Acesso em 15/11/2016 FARINA, Erik. SCIREA, Bruna. O que move as ocupações de escolas no Estado. Ano 2016 Disponível no link: http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/educacao/noticia/2016/05/o-que-move-as-ocupacoes-de-escolas-no-estado-5804779.html Acesso em 15/11/2016
Emenda Constitucional (PEC) 241 que depois foi intitulada PEC 55 que implicará em
cortes em diversos setores, congelando por 20 anos os investimentos, atingindo
principalmente a saúde e educação.
Os movimentos de ocupações nas escolas se iniciaram a princípio no interior
das mesmas, onde os alunos organizavam suas assembleias e decidiam fazer as
ocupações como forma de protesto, muitos desses faziam parte do Grêmio
Estudantil. O movimento foi tomando força se estendendo para todo o país que teve
o apoio dos da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas-UBES e da União
Nacional Estudantes-UNE, outras entidades de representação dos estudantes, de
movimentos sociais e outros.
A partir de então é possível, acompanhar diferentes participações dos jovens
em movimentos de ações sociais. Encontramos atualmente várias discussões em
torno da participação juvenil diante de novas formas de ações coletivas já que a
imagem que se faz dos jovens e sua participação nos movimentos sociais se dá no
contexto social no qual esse jovem está inserido.
2. A VOZ DO JOVEM ESTUDANTE NO ESPAÇO DA ESCOLA E SUA
PARTICIPAÇÃO NO GRÊMIO ESTUDANTIL.
Compreendendo a importância de possibilitar a efetivação da participação
desses jovens por meio do Grêmio Estudantil na gestão da escola pública, foi
desenvolvido um trabalho de formação por meios de encontros que possibilitou aos
alunos estudar, investigar e enriquecer os seus conhecimentos sobre tal instância de
participação e que estes, proporcionando o entendimento sobre a sistematização da
instância colegiada para que de fato exerçam o seu papel, conscientes de sua
abrangência e função e assim efetive sua participação democrática na escola.
Na escola pública, espaço da pesquisa, há um incentivo para a implantação
do Grêmio Estudantil, no contexto da gestão democrática, de acordo com o Projeto
Político Pedagógico da instituição, “Grêmio Estudantil é um órgão máximo de
representação dos estudantes do estabelecimento com o objetivo de defender os
interesses individuais e coletivos dos alunos” (IVAIPORÃ, 2012, p. 29). Porém foi
perceptível que os jovens estudantes têm interesse em participar, porém pouca
informação de como participar e de que caminhos percorrer, muitos mostraram não
ter conhecimento sobre o que é um Grêmio Estudantil ou o que são Instâncias
Colegiadas, ficando evidente que os mecanismos da escola, a qual foi espaço de
pesquisa, não está conseguindo proporcionar a efetiva participação dos estudantes
no Grêmio estudantil e nas ações da mesma, ficando distante dos que prevê seus
documentos sobre a participação dos participantes do Grêmio.
Segundo Bordenave (1983; p.31) “O menor grau de participação é o de
informação”, assim podemos concluir que é de suma importância que a escola
informe seus estudantes como participar.
Assim, foram propostos e desenvolvidos oito encontros de formação9,
promovendo o diálogo e o estudo com os jovens estudantes para construção de
novos conceitos, perfazendo o que pensa o jovem da atualidade, contextualizando
com a história da participação em movimentos estudantis no Brasil e em sequência,
uma análise e estudo sobre como ocorre a gestão democrática na escola por meio
das instâncias colegiadas e em especial, a participação dos jovens estudantes pela
representatividade no Grêmio Estudantil, finalizando com construção de um plano de
ação desta instância colegiada.
Os oitos encontros tiveram o propósito de promover o diálogo e o estudo com
os jovens estudantes para construção de novos conceitos. No primeiro encontro as
atividades tiveram propósito de conhecer o jovem estudante da escola e o que
pensam acerca de vários assuntos, possibilitando uma reflexão e debate sobre os
mesmos e como lidam com seus conflitos internos e externos. Foi possível traçar
caminhos pedagógicos que buscaram a formação dos estudantes ao longo dos
encontros. No primeiro momento os participantes mostraram-se tímidos e com uma
leve desconfiança diante da possibilidade de expressarem suas opiniões e posições
sobre assuntos que rodeiam o cotidiano de um jovem, expressaram por vários
momentos se realmente poderiam falar o que pensavam sobre “o que é ser jovem?”,
mesmo após os vídeos de mobilização para o debate.
Afirmaram que sempre ocorre certa desaprovação dos professores e até
mesmo de alguns colegas sobre seus ideais, opiniões e anseios. Expressaram ter
muitas dúvidas sobre o futuro, mas no momento procuram viver cada instante como
se fosse único, expressaram que a juventude é uma idade que precisa ser vivida
9 As atividades desenvolvidas fazem parte Caderno Pedagógico da implementação do Projeto de
Intervenção Pedagógica na escola proposto no PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional), que tem como intuito proporcionar um espaço de formação política, social e cultural, principalmente os representantes eleitos do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Pública.
sem pressa mesmo eles tendo pressa de serem maior de idade. Alegaram que já na
juventude a família, a escola e a sociedade exigem muito dos jovens, mas não
permitem expressar seus medos e sonhos com os quais precisam lidar sozinhos.
Como medo apontaram alguns desses medos como principais: as drogas, a
violência, não ter um emprego, não ser aceito em um dos grupos que se formam
dentro e fora da escola, da solidão, de escolher uma profissão errada e ser infeliz.
Quanto aos sonhos os principais: ter um bom emprego, fazer faculdade e ter uma
família e ser feliz.
Quando indagados a respeito da participação expuseram que raramente a
escola permite expressarem suas opiniões e que as pessoas em geral afirmam que
são muito imaturos para participar de alguma decisão, até mesmo do cotidiano da
sala de aula. Alguns alunos que haviam participado das ocupações em 2016,
disseram que havia comentários que eles eram manipulados por interesses de
outras pessoas ou pela mídia. Segundo os jovens, isso os irritava por que tinham
conhecimento e consciência do que estavam reivindicando, não estavam naquele
momento por manipulação. Outros expressaram que a escola não respeita o jeito
diferente de ser de cada jovem e que tem alguns que não querem “nada com nada”,
mas tem opinião e essa precisa ser respeitada.
Todavia, construir uma definição da juventude não é fácil, principalmente
porque os critérios que a constituem são históricos e culturais. A juventude como
categoria social é historicamente construída de acordo com o contexto em que se
encontra inserida e pelos grupos sociais que se formam conforme os mais diversos
interesses, de acordo com Groppo (2000, p. 7) “[...] a juventude é uma concepção,
representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios
indivíduos tidos como jovens”.
Observa-se que existem grupos e segmentos juvenis organizados que falam por parcelas da juventude, mas nenhum grupo tem delegação de falar por todos aqueles que fazem parte da mesma faixa etária. E certamente pesquisadores, pais ou „responsáveis‟ também não podem falar por eles. (ALMEIDA, EUGENIO, 2006, p.105)
O Estatuto da Criança e do Adolescente caracteriza na condição de criança
aquele de idade até doze anos incompletos e adolescente é aquele que estiver entre
doze e dezoito anos de idade. Já o Estatuto da Juventude, LEI Nº 12.852/2013
considera jovem a pessoa até vinte nove anos de idade, mas diante da
multiplicidade de grupos de representação jovem que existe, esse é um parâmetro
legal, mas que não consegue delimitar a representação do que é ser jovem.
A realidade social demonstra, no entanto, que não existe somente um tipo de juventude, mas grupos juvenis que constituem um conjunto heterogêneo, com diferentes parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e poder nas sociedades. Nesse sentido, a juventude, por definição, e uma construção social, ou seja, a produção de uma determinada sociedade originada a partir das múltiplas formas como ela vê os jovens, produção na qual se conjugam, entre outros fatores, estereótipos, momentos históricos, múltiplas referências, além de diferentes e diversificadas situações de classe, gênero, etnia, grupo etc. (ABRAMOVAY, ANDRADE, ESTEVES, 2007. p.21).
Nos dias atuais a forma que o jovem se coloca diante a sociedade vai
depender de suas convicções e interesses. Existe uma diversidade de formas e
conteúdos da participação da juventude dessa geração, apresentando um desafio à
escola que busca maior aproximação com esses jovens. Assim não pretendemos
traçar um perfil único e acabado dos jovens que participaram, mas lançar um olhar
atento às proposições por eles apontadas.
No segundo e terceiro momentos os participantes foram convidados a
compreender como ocorreu a participação dos movimentos estudantis no Brasil
dentro de contexto histórico, levando-os a contextualizar e analisar como ocorreu a
participação dos jovens estudantes de cada período histórico, fazendo referências
com as participações dos movimentos estudantis nos dias atuais. Foram realizados
vários apontamentos de quais eram os conflitos e reivindicações de cada período
com o contexto atual. Para melhor compreensão foram utilizadas músicas, vídeos,
textos, imagens.
Nesse momento os alunos expressaram a vontade de participar, que segundo
eles o “fazer a diferença” na escola, na comunidade e até mesmo no país como os
estudantes de outras épocas fizeram. Em suas falas expressaram que têm
interesses em participar das ações da escola, mas ao mesmo tempo, alegam que
não sabem como. Outros já disseram que o jovem de hoje tem muitas ocupações e
atividades diferente dos outros momentos históricos, até mesmo o alcance das
informações que hoje é facilitada pelos vários meios de comunicação e recursos
tecnológicos que também os leva a se dividirem em diferentes interesses e grupos.
Quando indagados sobre a participação no Grêmio Estudantil afirmaram
desconhecer como participar e até mesmo o que é um Grêmio e todos foram
unânimes em afirmar que não têm conhecimento sobre o que são instâncias
colegiadas.
O envolvimento da comunidade na escola é primordial para construção de
uma educação de qualidade. A escola e a gestão democrática não podem andar
separadas na construção de uma prática educativa de qualidade. As instâncias
colegiadas são órgãos de representação da comunidade escolar constituindo em
espaços de discussão, de planejamento, de deliberação, acompanhamento e
avaliação dos processos que interferem direta e indiretamente no processo
pedagógico. Todos são fundamentados no Projeto Político Pedagógico e no
Regimento Interno de cada instituição escolar. Entretanto, são mecanismos de ação
coletiva com algumas particularidades regulamentadas pelo Regimento Interno e
seus estatutos próprios formulados em consonância com as legislações
educacionais vigentes, sem caráter político-partidário, religioso, racial, nem fins
lucrativos, tendo como foco o desenvolvimento da proposta pedagógica e a
efetivação do processo de ensino.
Em especial procuramos atê-los às particularidades de como ocorre a
participação do Grêmio Estudantil, que é o órgão máximo de representação dos
estudantes na escola, já que este deve representar os estudantes, defender seus
direitos, estreitar a comunicação dos alunos entre si e com a comunidade escolar,
promovendo atividades educacionais, culturais, cívicas, desportivas e sociais. Esse
espaço é privilegiado por promover a democracia, desenvolvendo ética e a
consciência crítica e política. Porém, a realidade da escola está longe de ser
democrática. São poucas as iniciativas de formação do Grêmio Estudantil,
delimitando suas atividades em participações na organização de atividades apenas
culturais (festas, exposição de trabalhos, apresentações artísticas) e esportivas
(interclasses, amistosos e atividades recreativas), sem fazer relevância ao papel
político, social e democrático que esta instância deveria ter. O Grêmio Estudantil
deveria fazer a diferença no interior das escolas, deveria ter autonomia e ter
espaços concretos de participação. Podemos perceber que isso não acontece sobre
os limites da participação, Martins (2010, p.68) afirma:
Mesmo que hoje alguns estudantes não tenham conhecimento pleno dos seus direitos, o grêmio é uma garantia legal. Nesse aspecto, ao contrário do que já aconteceu em outros tempos, há que se pensar a sua existência e funcionamento na perspectiva do direito e não, simplesmente, de uma concessão. (MARTINS, 2010)
No outros dois encontros subsequentes, foi abordada a participação como
temática de discussão, com o objetivo de recolher dados sobre quais conhecimentos
os estudantes têm sobre participação, democracia, gestão democrática e instâncias
colegiadas. Os alunos debateram sobre democracia e gestão democrática
enfatizando a participação dos estudantes nas tomadas de decisões por meio da
representatividade do Grêmio Estudantil e identificando cada instância Colegiada.
Ao analisar as falas dos jovens sobre a participação política democrática no
interior e fora da escola em ações sejam elas coletivas ou individuais os jovens
apontam ter dificuldades em participar de atividades que exijam muito tempo e
dedicação como o Grêmio Estudantil. Afirmam que participam de várias outras
atividades que exigem tempo e compromissos, alguns por interesse próprios e
outros por imposição dos pais como cursos de inglês, informática, preparatório para
vestibular, cursos profissionalizante, karatê, natação, além dos compromissos
escolares, sociais, religiosos e outros. Alegam sofrer muita pressão dos pais, da
escola e de toda a sociedade para atingir resultados positivos como no ENEM, no
vestibular, escolher uma profissão tão jovem com tantas possibilidades que a
globalização de informações trouxe.
No entanto os jovens mostram um entendimento dos problemas que afligem a
escola, a comunidade escolar e o país, reconhecem a importância política na escola,
da discussão dos problemas do ensino e da educação, tanto em suas vidas
cotidianas quanto para a sociedade em geral. Com a participação em grupo,
desenvolveram o interesse em participar, aprimoraram o diálogo, procuraram mais
informação, questionaram e passaram a se organizar politicamente e
democraticamente. Resultando na organização de uma nova eleição para os
representantes do Grêmio Estudantil.
Durante o sexto, sétimo e oitavos encontros com os estudantes, esses foram
apresentando o interesse em participar das discussões apresentadas como também
propondo a reorganização do Grêmio Estudantil do Colégio10. Iniciou-se então o
processo de construção do Grêmio Estudantil por meio de um processo eleitoral
seguindo as orientações da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná
de junho 201211 a representação dos estudantes nessa instância ocorreu por meio
de um processo eleitoral democrático, organizado e efetivado por eles próprios12.
Se considerarmos a escola como espaço da ação estudantil, a sua
representatividade na gestão escolar, tem como principal canal o Grêmio Estudantil,
que tem como amparo legal a Lei Federal nº 7.398, de 04 de novembro de1985, que
seu a Art.1º assegura a organização de estudantes como entidades autônomas que
representa os interesses dos estudantes de 1º e 2º grau com finalidades
educacionais, culturais, cívicas esportivas e sociais. (BRASIL, 1985)
No Estado do Paraná temos a Lei Estadual nº 11.057, de 17 de janeiro de
1995 que assegura em Art. 1º e 2º a livre organização de grêmios estudantis, para
representar os interesses e expressar os pleitos dos alunos, tanto nos
estabelecimentos de ensino publico como privado de Ensino 1º e 2º graus no Estado
do Paraná, sendo de competência exclusiva dos estudantes a organização do
Grêmio Estudantil. No Art. 3º desta mesma Lei, estabelece que caberão aos
estabelecimentos paranaenses de ensino assegurar espaço de divulgação das
atividades do Grêmio Estudantil como local para as reuniões de seus membros.
(PARANÁ, 1995).
O Grêmio Estudantil é um espaço que os diversos grupos de jovens podem
se encontrar na busca de interesses comum, onde as atividades são realizadas por
10
No ano de 2016 a instância do Grêmio não havia sido organizada, os alunos que eram
representantes eleitos muitos haviam sido transferidos e outros tinham concluído o Ensino Médio. 11
Para subsidiar a organização do Grêmio Estudantil na rede Estadual de Ensino do Paraná, as escolas contam com um manual que apresenta a legislação pertinente e também modelos de documentos necessários para sua implementação (PARANÁ, 2012). No site do portal da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED) há também informações aos alunos sobre a política, expansão, criação e reativação dos grêmios no sentido de contribuir para a organização dos alunos. É necessário ressalta que o “O Grêmio Estudantil não tem caráter político-partidário, religioso, racial e também não deverá ter fins lucrativos” (PARANÁ, 2012, p.08). 12 Considerando as orientações do documento no primeiro momento foi constituída uma comissão
pró-grêmio, formada por alunos representantes de turmas. Foi elaborado um estatuto e organizado uma assembleia geral. Na assembleia, os candidatos esclareceram a todos o que é um Grêmio Estudantil mostrando a sua finalidade na escola, nesse momento também foi apresentado e aprovado o Estatuto do Grêmio, formando a Comissão Eleitoral, que teve a responsabilidade de marcar a data da eleição e receber a inscrição de chapas e candidatos, fiscalizaram todo processo eleitoral e resolveram eventuais situações que surgiam no processo eleitoral. Os membros dessa Comissão fizeram a apuração dos votos, declararam os vencedores e em outro momento foi organizado um ato de posse.
eles e para eles, no qual vão aprendendo a dialogar para chegar a uma ação
comum. É também espaço no qual podem trocar experiências e informações,
aprender a lidar com conflitos, onde as atitudes políticas são construídas, lidam com
os acertos e os erros de suas tomadas de decisões e nessa relação com os outros
eles constroem suas identidades. “A participação é uma vivência coletiva e não
individual, de modo que somente se pode aprender na práxis grupal. Parece que só
se aprende a participar, participando” (BORDENAVE, 1983, p.74, grifos no original).
Na participação do Grêmio Estudantil os estudantes devem se inquietar com
os problemas do cotidiano ao seu redor e unir-se para pensar alternativas e
soluções para os problemas na escola, objetivando efetivar a sua participação na
gestão democrática da instituição escolar. No processo de formação da agremiação
estudantil os interessados são inicialmente desafiados a organizarem-se para sua
fundação, mobilizando os demais alunos e negociando com professores, equipe
diretiva e pedagógica da escola.
A participação dos estudantes, em especial no Grêmio Estudantil, está
intimamente ligada ao processo de aprendizagem que vai sendo construído na
prática e nas atividades cotidianas dentro da escola. A escola tem um papel
fundamental no processo de construção da participação dos estudantes no Grêmio,
cabe a ela incentivar, mobilizar e orientar os alunos a formação dessa instância
colegiada.
Todo esse processo de organização para a eleição dos representantes do
Grêmio Estudantil é um processo rico de aprendizagem política, social e
participativa, que exige dos jovens engajamentos, organizações, consciência,
diálogo, ações que pode ter acertos e erros, influenciando no desenvolvimento
individual e coletivo dos estudantes. Porém, para que esse processo se concretize,
há a necessidade de incentivo e intervenção dos profissionais da escola, sem que
estes imponham opiniões que descaracterize o papel formador da participação dos
alunos no Grêmio Estudantil o que procurou-se desenvolver nos encontros com os
estudantes durante o processo de implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica.
Analisando o processo que ocorreu desde o início dos trabalhos com os
estudantes até a nova formação do Grêmio Estudantil foi perceptível uma grande
evolução do processo de diálogo, Nos encontros proporcionados com os jovens
estudantes, eles expressaram que anseiam por espaços que possibilitem expor suas
opiniões e se mostraram interessados em participar da organização e efetivação das
ações escolares. No decorrer das atividades que resultou na reorganização do
Grêmio Estudantil a organização política dos alunos no espaço escolar contribuiu
para a concretização da gestão democrática e proporcionou o desenvolvimento de
suas potencialidades por meio da participação e da representatividade em diversas
situações dentro e fora da e nas outras instâncias colegiadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acreditando ser essencial lançar um olhar atento e aprofundar sobre a
participação efetiva dos estudantes na gestão escolar como exercício de cidadania e
de democracia foi proposto um processo de formação com os estudantes, sendo a
escola um espaço coletivo social e político que visa à formação humana integral
objetivou-se oportunizar a representatividade dos alunos por meio do Grêmio
Estudantil na gestão democrática da escola pública.
Nos encontros proporcionados com os jovens estudantes procuramos
informar e formar os mesmos para que com os novos conhecimentos pudessem
participar mais das ações da escola efetivando a gestão democrática, e a cada
encontro promovemos mecanismos de participação do Grêmio Estudantil na gestão
democrática da escola pública construindo espaços de atuação e formação do
Grêmio Estudantil.
O trabalho junto aos estudantes significa um reconhecimento do espaço
escolar como um local que é para eles, e que estes precisam sentir corresponsáveis
pela construção de tal espaço. Essa participação proporciona aos jovens um
redimensionamento de seus olhares para este ambiente, eles passam a sentir-se
como parte do contexto escolar, descobrem como podem participar, contribuir e
valorizar os espaços e ações da escola, levando-os a refletir nas suas atitudes
dentro e fora da escola individualmente e coletivamente. A educação, em seus
diversos documentos que regem as ações da escola, almeja uma sociedade
consciente de seus deveres e direitos que se façam exercer a democracia
consciente é necessário informar, formar e permitir exercer tais direitos e deveres.
Todavia, foi perceptível que a participação dos jovens estudantes na gestão
democrática possui fragilidades que perpassam pelo interesse dos alunos de
participarem dos mecanismos que favorecem essa participação e da abertura de
diálogo que a escola deve proporcionar para que os alunos possam expressar suas
opiniões.
A escola é um “organismo vivo” que se organiza, se desenvolve, se
transforma no momento em que as informações se reproduzem. Um trabalho
pedagógico político, democrático, consciente, social, permite ao estudante sua
formação cidadã. O trabalho com Grêmio Estudantil pode colaborar para o processo
de participação coletiva com responsabilidade e comprometimento dos mesmos. É
necessário não homogeneizar essa participação sobre a juventude, pois eles não
possuem uma característica única. No entanto, a escola precisa refletir se, em sua
prática cotidiana, está proporcionando espaços de diálogo e participação
democrática de seus jovens estudantes e há de se questionar no contexto escolar,
se o jovem está sendo instigado a discutir assuntos nos quais estão envoltos.
Se queremos uma sociedade mais justa e igualitária de direitos e deveres há
que se educar para isso. No espaço do Grêmio Estudantil os alunos são levados a
pensar nos outros, são levados a discutir e aprender a dialogar para que possam
propor ações que atendam ao coletivo. Levá-los a compreender que não podem
fazer suas próprias regras e que existem leis e regras que orientam as nossas ações
e a sociedade como todo, compreender que a partir de suas habilidades individuais
podem contribuir para o coletivo. Antes, porém, é necessário instigar, orientar,
apontar caminhos que podem ser percorridos. Para Bordenave (1983) quanto maior
o grau de informação e o de participação, quanto maior o conhecimento de como
participar maior será a participação dos jovens estudantes.
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