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Escola secundria Jacome RattonAno Letivo 2013/2014Introduo

O Homem , essencialmente, um ser social e cultural que vive integrado num mundo de valores. A cincia e a tcnica marcam profundamente a nossa poca, manipulando e transformando a realidade, numa forma de poder do Homem sobre a natureza, poder que, progressivamente se voltou para os seres vivos, inclusive o prprio Homem. Teremos de perguntar se estes poderes manipuladores e transformadores que a cincia tem, ser sempre benfico. Por isso, a tica est presente nas mais diversas situaes da ao humana e a qualquer momento. na investigao cientfica e na sua aplicao, na vida profissional e no seu exerccio, nas diversas aes que o homem tem perante o ambiente, que se torna fundamental que a tica o acompanhe nas relaes que desempenha com tudo aquilo que o circunda. a tomada de conscincia das ameaas de extrema gravidade que pesam no s no nosso ambiente, mas tambm, sobre a humanidade inteira, que leva o Homem a refletir e a questionar.A tecnocincia um conceito amplamente utilizado na comunidade interdisciplinar de estudos de cincia e tecnologia para designar o contexto social e tecnolgico da cincia. O termo indica um reconhecimento comum de que o conhecimento cientfico no somente socialmente codificado e socialmente posicionado, mas sustentado e tornado durvel por redes materiais no-humanas. O termo "tecnocincia" foi criado pelo filsofo belga Gilbert Hottois em fins dos anos 1970.A cincia e a tcnica, desde o sculo XVII, permitiram humanidade realizar enormes progressos no controlo e explorao da Natureza. Muitas das suas aplicaes foram benficas minorando o sofrimento humano e melhorando o seu mundo de forma a que o Homem se sentisse cada vez melhor. Por outro lado, contriburam tambm para aumentar a capacidade destrutiva de aparelhos militares.O desenvolvimento cientfico e tecnolgico teve incio aps a deflagrao dos engenhos atmicos em Heroshima e Nagasaki. Estes acontecimentos foram decisivos e despertaram a conscincia da comunidade mundial de cientistas, polticos, tcnicos e filsofos para o maior problema que a humanidade enfrenta no final do sculo XX: o desenvolvimento tecnolgico irresponsvel e incontrolado.Porm, no sculo XX, muitas descobertas e experincias levadas a cabo, mostram que no era possvel continuar a sustentar o princpio da neutralidade da cincia e a tcnica pois a cincia e a tcnica esto, nos dias de hoje, em muitos domnios, claramente ao servio de estratgias do poder de multinacionais. E as experincias cientficas realizadas durante a 2 Guerra Mundial, nos campos de concentrao alemes assumiram formas condenveis e esto longe de constiturem casos isolados.

Evoluo da Tecnologia

A evoluo da cincia distingue-se em trs etapas: Etapa da ferramenta (surgimento de auxlios de atividades humanas. Estas ferramentas necessitam de esforo intelectual para a sua criao, e de esforo fsico na sua aplicao), Etapa da mquina e da energia ( na mesma necessrio esforo intelectual para planificar e orientar as operaes, mas no necessrio esforo fsico, pois a mquina trabalha pelo homem) e a Etapa da automao (nesta etapa, tanto o esforo fsico como intelectual do homem excludo. Quando criada, a mquina trabalha como o homem e pelo homem. Nesta fase, em que vivemos, deu-se a revoluo informtica).

Evoluo da Cincia

A evoluo da cincia pode ser notada: no Renascimento (em que houve uma expanso da cincia como saber novo e revelador de progresso com a descoberta de mundos que tinham sido ignorados at data), na Modernidade (com a revoluo industrial o homem consegue dominar e controlar a natureza), com o Iluminismo (XVIII) e Positivismo (XIX) (em que a cincia comeou a ser vista, no como saber, mas, como poder. Para alguns, era como uma religio e algo superior/inacessvel queles que no estavam ligados a ela) e at nas duas grandes Guerras Mundiais (em que comearam a mostrar os perigos e poder da cincia, como por exemplo, o uso de avies que antes simbolizava a liberdade humana, e que com as guerras se transformaram numa arma.Tecnocincia

A tecnologia est cada vez mais presente e poderosa nas nossas vidas, tornando-nos muito dependentes dela. Esta tem contribudo para o desenvolvimento da nossa civilizao em como para o seu bem-estar e qualidade devida. Neste momento no nos conseguimos imaginar a viver sem ela. Aps o impacto das bombas atmicas de Hiroshima e Nagasaki, a comunidade cientfica deparou-se com a necessidade de distinguir cincia e tecnologia. A cincia consiste num conjunto de verdades, logicamente encadeadas entre si, de modo a fornecer um sistema coerente. Permite que o Homem tenha um conhecimento objetivo da realidade. O Homem aplica esse conhecimento para tornar mais eficiente inovaes materiais e essa aplicao constitui a tecnologia. A tecnologia contrasta com a tcnica que se refere a outros recursos no informados pelo conhecimento cientfico, que o Homem utiliza para resolver problemas prticos.Por um lado, a cincia constitui a fonte da tecnologia e fornece-lhe as formas e saber que iro permitir criar tecnologias, por outro lado ela dependente dessas tecnologias. Como podemos ver, a cincia e a tecnologia esto intimamente interligadas, embora seja possvel fazer a sua distino. O seu desenvolvimento e progresso assentam na sua cooperao mtua, da o conceito de Tecnocincia.

O poder e riscos da tecnocincia

A sociedade contempornea pode caracterizar-se pelo seu avano tecnolgico-cientfico, presente nas mais insignificantes atividades do dia-a-dia. Porm, os riscos do progresso cientfico so inmeros. As profundas transformaes sociais, culturais e cientficas das nossas sociedades colocaram novos problemas ticos, o que levou a que se colocasse a questo de saber "se tudo o que tecnicamente se pode fazer, se deve eticamente realizar", isto , at que limites dever avanar o conhecimento e as aplicaes tecnolgicas?Contudo, no nos podemos esquecer que as vantagens da cincia so imensas. O poder que a cincia e a tcnica puseram nas nossas mos permite-nos realizar muitos dos nossos sonhos. Hoje o avano cientfico alcanou um nvel que nos permite resolver problemas que a humanidade tem vindo a sofrer ao longo de muitos anos, como por exemplo, a eliminao da pobreza e da misria assim como a cura de doenas e da morte prematura. E, da mesma forma que podemos mudar a nossa realidade presente, podemos tambm projetar e construir o nosso futuro. No parecem existir limites para o desenvolvimento da cincia e da tcnica. Aquilo que era antes impensvel tornou-se hoje banal: manipulaes genticas, clonagem de seres, inseminao artificial, morte assistida, etc. importante alertar para a responsabilidade dos cientistas e para os limites da sua atividade. Hoje, podemos comprovar que a cincia pode dar-nos bem-estar, mas tambm pode trazer consigo violncia, destruio, morte, etc. Exemplo disto, so as duas grandes guerras mundiais.O imenso poder alcanado pelo homem atravs da cincia pode lev-lo ao triunfo ou sua destruio. Outras consequncias negativas do enorme poder da cincia so: a degradao do ambiente e a produo industrial desenfreada. A produo industrial levou a tais excessos que hoje vrias espcies esto extintas e o equilbrio global do planeta azul est posto em causa pela interveno desenfreada do homem. A reflexo crtica sobre a orientao e controle tico da cincia e da tcnica hoje uma necessidade reconhecida. Exige-se uma reflexo urgente que determine cdigos de moral da cincia e que oriente o desenvolvimento tecnolgico para metas socialmente aceites, e que a sociedade considere prioritrias. Esta reflexo no poder ser no sentido de limitar o direito ao conhecimento e pesquisa cientfica, mas no poder deixar de apelar necessidade da existncia de cdigos ticos que garantam o respeito pelo ser humano, a vida e a diversidade de espcies do planeta. H uma forte ligao da cincia e da tecnologia com a poltica e a economia. O grau de desenvolvimento tecnolgico de uma sociedade depende do grau de riqueza dessa sociedade. A evoluo da cincia obedece a estratgias de ordem poltica e social. o Estado, em ltima anlise, que incentiva ou impede o trabalho do cientista, que estabelece um plano prioritrio de investigao cientfica. Os maus usos da cincia e os perigos dalgumas aplicaes trouxeram para a ordem do dia um ar de desconfiana e um certo receio alarmista quanto ao papel da cincia. A conscincia dos riscos e dos perigos das ms aplicaes tecnolgicas no pode, porm, levar a uma posio irracionalista e anticientfica, que no avalia o papel fundamental da cincia nos nossos dias.

A tecnocincia necessria para o desenvolvimento da espcie humana, pois o ser humano pode desenvolver o seu conhecimento e fazer um maior controlo do mundo em que vive para uma melhor qualidade de vida, o que proporciona ao homem a satisfao das suas principais necessidades. O mundo torna-se uma aldeia global em que tudo e todos se tornam mais prximos. H uma maior facilidade de comunicao e disperso da informao. E tambm h uma grande fonte de informao global, a Internet. Mas tambm permite ao homem o desenvolvimento material, mas no o do prprio ser humano. Cria necessidades, em vez de as satisfazer. Existe grande insegurana em rede devido invaso de privacidade e vrus. No pelo avano tecnolgico que o ser o humano mais feliz, bem pelo contrrio.A tecnocincia apresenta graves consequncias, como a corrida pelos recursos, discrdia entre povos referente a questes ticas, maior contraste social, terrorismo, guerra, entre outros. Tambm apresenta um conjunto de grandes riscos:

Riscos Ecolgicos: A industrializao apresenta-se, na nossa cultura, como a via mais adequada para o crescimento e desenvolvimento econmicos das sociedades, crendo-se que confere s pessoas o acesso a uma existncia mais digna e a uma qualidade de vida superior. Porm, industrializar implica exploraes das riquezas naturais, o escoamento de recursos energticos, o abatimento das florestas, a reduo dos modos de vida agrcola, a desoxigenao ambiental e, consequentemente, o perigo do extermnio da vida na terra. Com este conflito, instala-se a dvida: industrializao e consequente inquietao ecolgica, ou primitivismo agrcola e subdesenvolvimento?

Riscos da globalizao:

A Internet e outros recursos tecnolgicos possibilitados pela informtica esto a provocar uma imensa revoluo, to radical como a que foi operada pela mquina na revoluo industrial. Com estas novas tecnologias o mundo tornou-se mais pequeno e ao alcance de todos. -nos possvel estar em todo o lado ao mesmo tempo. A esta viragem civilizacional anda ligado o fenmeno da globalizao. A globalizao constitui-se, pois, como um problema na medida em que no acarreta apenas benefcios para a humanidade, mas tambm portadora de aspetos negativos. Um deles est a possvel perda das nossas razes culturais e da nossa identidade nacional. O sentimento nacional constitui, desde sempre, um valor incentivado e todos os cidados se orgulham da sua ptria. Mas as diferentes sociedades no podem viver isoladas e voltadas para si prprias. Elas so obrigadas a estabelecer acordos polticos, compromissos econmicos, intercmbios culturais que consideram vantajosos para a qualidade de vida dos cidados. Muitas pessoas vm nestes acordos uma possibilidade de ingerncia em assuntos internos que consideram pr em risco a vida dos povos como entidades autnomas. Com este conflito tambm se instala a dvida: sim ou no industrializao? Entre ser cidado do mundo e pertencer aldeia global ou estar exilado numa ilha, ancorado na sua prpria cultura? O que ser prefervel?

Riscos Bioticos:

As questes relacionadas com a biotica so as mais difceis de responder pelo facto de estarem relacionadas com a vida humana e levantarem grandes problemas ticos. Com a revoluo tecnolgica, houve uma evoluo nas reas da Medicina da Reproduo, da Engenharia Gentica, biotecnologia, entre outras.

Guerra e evoluo da tecnocincia Guerra e cincia, em especial guerra e tecnologia andam juntas e o desenvolvimento da ltima foi um grande diferencial que definiu seu rumo. Para analisarmos a relao entre guerra e tecnologia, ou seja, guerra e a cincia aplicada, temos que primeiro fazer uma definio de tecnologia. Para essa anlise usaremos conceitos do texto Racionalizao subversiva por Andrew Feenberg, onde o autor cita ideias de relacionamento entre tecnologia e Sociedade. Em seu texto, Feenberg define tecnologia como um elaborado complexo de atividades que se cristalizam em torno da fabricao e uso de ferramentas. Essa definio nos suficiente para analisarmos a tecnologia em perodos de guerra.Para a anlise das relaes entre guerra e cincia, usaremos trs linhas de pensamento do supracitado do Feenberg, sendo elas o determinismo tecnolgico, o construtivismo e o indeterminismo.O determinismo tecnolgico se baseia na suposio de que a tecnologia tem uma lgica funcional autnoma, tendo um progresso que segue um caminho unilinear fixo e independente da sociedade. Isso significa que a tecnologia seria como a cincia e a matemtica, porm, diferente destes a tecnologia causa um impacto forte e imediato na sociedade, sendo que a tecnologia no sofreria de um retorno desse impacto. Segundo o determinismo tecnolgico as instituies sociais devem se adaptar imperativos da base tecnolgica, o que em resumo estaria dizendo que a tecnologia molda e define a sociedade.O construtivismo defende que as teorias e as tecnologias no so determinadas ou fixadas partir de critrios cientficos e tcnicos. Atores sociais fazem as escolhas entre diversas solues viveis para um dado problema baseados no seu conhecimento, embora a definio do problema mude constantemente conforme solucionado. Essas ideias j vo contra a ideia de uma tecnologia unilinear e Auto geradora.Por fim, o indeterminismo citado por Feenberg nega os chamados imperativos tecnolgicos, mostrando que a tecnologia no pode se impor fatores sociais. Aplicando essas ideias para analisar a relao entre guerra e cincia podemos dar a essa relao um carter construtivista e indeterminista.Assim como o prprio Feenberg nega o determinismo tecnolgico para a sociedade, achamos difcil ver na relao guerra e cincia um carter determinista sendo que, o estado, investindo grandes quantidades de capital em cincia e tecnologia, precisa de um retorno rpido de seu investimento no permitindo que a tecnologia seja criada cegamente. So necessrias pessoas que avaliem os problemas que precisam ser resolvidos na guerra e que juntas faam ferramentas que tragam solues viveis dentro de um leque de diversas. Sendo assim, podemos afirmar que em pocas de guerra, como o maior investimento em P&D do estado, a cincia como um todo fica voltada soluo de questes pertinentes guerra. Tiramos um exemplo disso de uma citao no texto Feiticeiros e Aprendizes por Eric Hobsbawm, onde ele comenta que durante a segunda guerra, os alemes no concluram a bomba atmica no porque no conseguiriam ou no quisessem, mas porque os investimentos em foguetes trariam retornos em um prazo menor. Essa relao tambm uma relao de dependncia, a guerra depende da cincia e a usa para melhorar suas ferramentas como transportes, meios de comunicao, alimentao de tropas, e melhores formas de combater o inimigo, entre elas armas qumicas e nucleares, que no seriam possveis sem o investimento e avano na cincia.Mas no so apenas as criaes cientficas voltadas a fins blicos que se desenvolvem com a guerra. O avio, criado no final do sculo XVIII com o simples propsito de ser uma mquina mais pesada que o ar que fosse capaz de voar, foi usado com fins blicos pela primeira vez na primeira guerra, inicialmente para misses de reconhecimento e mais tarde para bombardeios e combates areos. Ele foi introduzido na guerra com status de brinquedo, mas quando se deram conta de seu potencial para causar danos aos inimigos, a pesquisa aeronutica ganhou grandes investimentos para desenvolver a sua nova arma.O carter indeterminista citado na relao entre a guerra e a cincia dado pela dependncia de ambas fora de vontade das pessoas envolvidas e da tica, da moral, fatores sociais e culturais, custos do progresso, entre outros fatores subjetivos que guiam as aes das pessoas. Um exemplo interessante pode ser tirado do livro de Godfrey Hardy, grande matemtico ingls da primeira metade do sculo XX, Autojustificao de um matemtico, onde temos a viso dele de cincia no seguinte trecho.

Godfrey Harold Hardy (1877-1947) Uma cincia considerada til se seu desenvolvimento tende a acentuar as desigualdades existentes na distribuio de riqueza, ou ainda, de um modo mais direto, fomenta a destruio da vida humana.Alm destas duras palavras, Hardy em seu livro se vangloria por ter dedicado a sua vida matemtica pura, uma arte abstrata e intil, sem nenhuma aplicao prtica. Estas palavras foram escritas no perodo da segunda guerra, e fica claro que ele como cientista preferiu se abster de participar da evoluo dessa cincia da destruio que ele via. Reforando a ideia, as contribuies para a guerra no dependem apenas do investimento feito em uma dada rea, mas tambm de como as pessoas vm a sua rea e at vm a prpria guerra.

FilosofiaTecnocincia

Aplicao guerra: evoluo da cincia e armas