filme entre os muros da escola

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  • 5/25/2018 Filme Entre Os Muros Da Escola

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    Os conflitos no cotidiano escolar: uma anlise do filme Entre osmuros da Escola1

    Vanessa Raianna Gelbcke2(UFPR) [email protected]

    Resumo:

    O presente trabalho tem como objetivo problematizar a relao professor/a-estudante partindo da

    anlise do filme Entre os Muros da Escola de Laurent Cantet (Frana, 2007). Durante o

    desenrolar da trama fica evidente que a relao professor/a-estudante relativamente

    conflitante, conflitos estes que surgem durante o desenrolar de toda relao humana, e

    principalmente no ambiente escolar, porque se baseiam no convvio de classes sociais, culturas,

    valores e objetivos diferentes. Diante dos atritos demonstrados na trama, atestam-se os problemas na

    convivncia em sala de aula, e na relao professor/a-estudante, obstculos que podem ser

    comparados com a realidade brasileira. Neste sentido procura-se entender, tendo como ponto de

    partida o filme, como estabelecida esta relao, qual a importncia da comunicao/dilogo no

    processo de ensino aprendizado e quais prticas propiciam um bom ou mau convvio em sala de aula.

    Palavras chave: Conflitos, Relao professor/a-estudante, Entre os muros da escola.

    Conflicts in school life: an analysis of the film "Between the walls of theSchool

    Abstract

    This paper aims to problematize the relationship between teacher and student by analyzing the film

    "Between the Walls School" by Laurent Cantet (France, 2007). During the course of the plot it is

    evident that relationship between teacher and students is on the conflicting, these conflicts that ariseduring the course of all human relations, especially in the school environment because they are based

    on the interaction of social classes, cultures, values and different objectives. Given the friction shown

    in the plot, testify to the problems in living together in the classroom and in the relationship teacher

    and student, obstacles that can be compared with the Brazilian reality. In this sense we seek to

    understand, taking as its starting point the film, as this relationship is established, the importance of

    communication / dialogue in the teaching and learning practices which provide a good or bad

    interaction in the classroom.

    Key-words: Conflicts, Relationships between teacher and student, Between the walls of the school

    Trabalho orientado pela Prof Dra. Lennita Oliveira Ruggi e desenvolvido a partir de discusses do Grupo de EstudosOlhares sobre a Escola: educao e gnero no debate cinematogrfico2Graduanda do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paran

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    1 Introduo

    Entre os Muros da Escola um filme francs que tem sido comentado em diversos

    ambientes, mas, com maior nfase, no que se refere rea educacional. Dentre os comentrios

    que tive a oportunidade de ouvir, destacavam-se os que diziam que tal filme a prova de queos/as estudantes esto definitivamente multiculturalizados, e mostrava o esforo de um

    professor em pr em prtica seu poder de transformao, porm, seu empenho parece ser em

    vo, visto que no h colaborao por parte dos/as estudantes. Em outras palavras, os

    comentrios, com algumas excees, giravam em torno de dizer que o/a estudante o/a

    culpado/a pelos problemas educacionais, pois no colabora com o trabalho do/a professor/a.

    Diante disso, e aps a exibio da trama em um evento, organizado pelo Grupo de Estudos

    Olhares sobre a Escola: educao e gnero no debate cinematogrfico passei a questionarcomo construda e mantida a relao entre o/a professor/a-estudante, pois julgo, ser este um

    aspecto de fundamental importncia para que o processo educacional atinja seus objetivos, ou

    seja, formar integralmente os/as estudantes.

    Com o objetivo de problematizar esta relao e suas consequncias no processo de

    ensino-aprendizagem, levo em considerao que aspectos como interao, respeito e

    comunicao formam a base para que os conflitos presenciados em sala de aula sejam

    amenizados, pois, sendo um ambiente caracteristicamente heterogneo, conflitos estaro

    presentes durante todo o decorrer do processo educacional, e devem ser compreendidos como

    oportunidades de aprendizagem e no como problemas a serem resolvidos ou situaes a

    serem evitadas ou como o inimigo da "ordem" que sempre imperou na escola. O conflito o

    resultado dos "diferentes" e das "diferenas" que hoje convivem no espao escolar. Sendo

    assim busco identificar como tais aspectos so trabalhados na trama pelo professor Franois e

    quais as consequncias que geram no comportamento dos/as estudantes. Nesta linha de

    argumentao, parto do princpio que o/a professor/a to responsvel pelo processo

    educacional quanto o/a estudante.

    2 Breve sinopse do filme Entre os muros da Escola

    Entre os Muros da Escola uma produo que trabalha com a linguagem de

    documentrio, obtendo, assim, um efeito de autenticidade, proporcionando ao/ espectador/a

    uma aproximao entre realidade e fico, ou seja, o filme constri a impresso de capturar as

    situaes exatamente como acontecem no cotidiano das escolas, sendo desta forma uma fonte

    da qual podemos extrair inmeras anlises das prticas educacionais.

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    O mesmo protagonizado por Franois Bgaudeau (autor do livro que inspirou a

    trama) interpretando Franois Marin, que era professor de lngua francesa em uma escola da

    periferia parisiense. A trama utiliza como cenrios: sala de professores, sala de conselhos,

    gabinete do diretor, ptio escolar e principalmente a sala de aula de uma turma de stima srie

    frequentada por um grupo de africanos/as, asiticos, latino-americanos/as e franceses de treze

    a quinze anos, ou seja, adolescentes com seus desejos, medos e incertezas prprias da idade.

    Nela se passam vrias situaes caractersticas deste ambiente, que nos levam a refletir sobre

    o papel do/a professor/a na sociedade atual, como condutor/a de vidas atravs do aprendizado,

    e o poder que relegado a este/a profissional que deve ter conscientizao da sua prtica, pois

    ela poder destruir planos ou realizar sonhos.

    3 A Instituio e o Poder

    O filme traz para discusso vrias facetas encontradas em sala de aula, apesar de ser

    uma produo de uma realidade francesa se assemelha em muitos de seus problemas

    realidade brasileira. Problemas estes que podem ser observados facilmente como: as

    dificuldades de aprendizagem e ensino, uma comunicao inadequada que no leva em

    considerao a realidade contextual dos alunos, a reproduo de um ambiente de imposio

    que nega o dilogo democrtico, um apego s normas como base para disciplina e as tensesexistentes entre os/as integrantes (estudantes e professores/as). Nesta perspectiva considero

    ser fundamental teorizar a estrutura escolar, pois nela encontraremos as bases dos problemas

    citados.

    Tomo como princpio que a escola tem a funo de sistematizao do processo

    formativo que visa inculcar valores, ensinamentos, mediando e procurando formas para que

    os saberes historicamente produzidos sejam apropriados pelos/as estudantes. Neste processo o

    papel destinado ao/ professor/a o de transmissor/a do conhecimento e cabe ao/ estudantememoriz-los. Em algumas excees que fogem a esta dinmica encontraremos instituies

    que trabalham com o conceito de socializao de conhecimentos entre professores/as e

    estudantes. Porm, no podemos deixar de considerar que este processo ocorre dentro da

    Instituio escolar, que tem historicamente a funo de disciplinar esta situao

    disciplinadora surgiu no sculo XIX com a instituio disciplinar que consiste na utilizao de

    mtodos que permitem um controle minucioso sobre o corpo das pessoas atravs dos

    exerccios de domnio sobre o tempo, espao, movimento, gestos e atitudes, com uma nica

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    finalidade: produzir corpos submissos, exercitados e dceis, com o objetivo de impor uma

    relao de docilidade e utilidade. (FOUCAULT, 2010).

    Assim, o poder disciplinar que caracteriza a estrutura e o funcionamento de

    instituies, de modo particular, da escola, constitui-se por dispositivos como o olhar

    hierrquico, a sano normalizadora e o exame. Podemos observar, em inmeras cenas do

    filme, exemplos que nos do a possibilidade de melhor compreenso do que representam tais

    recursos coercitivos no espao escolar, em especial na sala de aula. (FOUCAULT, 2010).

    O professor Franois um ser absoluto em sala de aula, sua autoridade indiscutvel,

    visto que preciso pedir para se levantar, tirar o bon ou o capuz para assistir a aula e s falar

    aps levantar a mo, a presena do diretor igualmente poderosa, todos devem ficar de p em

    sinal de respeito autoridade. Nas primeiras cenas do filme, durante uma aula de francs em

    que se trabalhava a lngua coloquial e a culta, quando indagado por alguns alunos a respeito

    do desuso de tal formao gramatical, o professor exemplifica relatando um momento que

    teve com amigos, em um bar, na noite anterior, quando utilizavam do imperfeito do

    subjuntivo para conversar. Portanto, o professor fala assim, e isso a regra, independente da

    realidade de seus alunos, tampouco de seu meio cultural. Neste momento do filme,

    observamos a hierarquia que se estabelece entre as condutas de uma classe (intelectual) frente

    a outras, especificamente ali, a formada por filhos de imigrantes e alguns franceses da classe

    popular.Ao final da trama, podemos destacar a situao em que o professor se exalta e acaba

    insultando duas alunas, Esmeralda e Louise, o que desencadeia uma discusso com agresso

    no intencional . Ao escrever a ocorrncia, no cita que havia insultado as estudantes, e

    quando questionado pelo diretor se isto havia acontecido, orientado a apenas mencionar o

    fato, sem detalhamento - evidenciando, assim, a superioridade do professor em relao aos/as

    estudantes.

    Tal situao tambm exemplifica a sano normalizadora que tem funo corretiva e

    forma um sistema duplo de gratificao e punio. Neste caso o aluno Soyleumanee, expulso

    da instituio devido a seu histrico comportamental por no respeitar as normas

    institucionais impostas. Assim, percebemos que a escola tem o controle sobre o/a estudante,

    no considerando as seus interesses e vontades3. Numa das cenas o professor exige que uma

    das estudantes, Khoumba,leia um texto tirado do livro o Dirio de Anne Frank, ela diz que

    no quer ler, o professor responde argumentando que a sua vontade no prevalece na sala de

    No estamos aqui defendendo que o/a estudante v a escola e faa apenas o que der vontade e o professor deva se adaptar aestas vontades, mas que quando levamos em considerao a realidade e interesse deles/as, certamente, esta vontade serdespertada

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    aula e sim a dele; constrange a aluna na frente dos colegas de classe pedindo que estes

    nomeiem sua atitude como insolente; depois a ameaa dizendo que conversaro aps a aula.

    Ao final da aula o professor a obriga a se desculpar pela insolncia, diante de suas amigas,

    com palavras ditadas por ele e no com a real inteno dela de se desculpar. Ou seja, a escola,

    como um todo, tenta controlar todas as aes dos/as estudantes, at mesmo as que envolvem a

    subjetividade.

    Porm o/a professor/a no o pice da hierarquia escolar, este/a submetido/aa uma

    hierarquia administrativa e pedaggica que o controla. Ele mesmo, quando demonstra

    qualidades excepcionais, absorvido pela burocracia educacional para realizar a poltica do

    Estado, portanto, da classe dominante em matria de educao. Na instituio escolar o/a

    professor/a que julga o/a estudante mediante a nota, porm este julgamento levado para os

    conselhos de classe onde ser definido, juntamente com a equipe pedaggica e diretoria, o

    destino do/a estudante. Ele/a, tambm define o programa da disciplina, mas dentro dos limites

    prescritos. Em poucas palavras, os/as professores/as esto, a todo tempo, sendo

    inspecionados, por seus superiores, que por sua vez, so inspecionados pelo Estado, atravs

    de secretrias e ncleos educacionais.

    Porm por mais que o Sistema educacional esteja permeado destas imposies, a

    educao no um beco sem sada, onde uma vez que ingressamos devemos andar nos

    trilhos, disciplinando nossos/as estudantes, para que se tornem teis a sociedade. Tenho a

    convico de que a subverso que trar benefcios a sociedade, tornando-a mais democrtica

    e igualitria. Diante disto o que se pretendeu nesta discusso foi evidenciar que a escola est

    permeada por relaes de poder e que em qualquer circunstncia que venhamos a analisar, na

    vida real ou na fico do filme que buscamos retratar, estamos diante de sinais de resistncia a

    certo tipo de poder, e esta resistncia, mais a heterogeneidade do ambiente, que acabam por

    gerar os conflitos que temos presenciado na educao contempornea.

    4 A Relao Professor/a-Estudante

    Segundo teorias da psicologia o/a homem/mulher um ser racional, emocional, e

    social por natureza. Desde o nascimento j fazemos parte da sociedade e formamos grupos

    com pessoas das mais diversificadas crenas, origens e personalidades. A escola se torna o

    local onde estes grupos diversificados se encontram e tm que conviver por um determinado

    tempo. Ou seja, a escola um ambiente heterogneo frequentado por pessoas, que devido s

    caractersticas da espcie humana, se relacionam e interagem com o propsito (pelo menos

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    deveria ser) de produzir conhecimentos e saberes. E cabe ao/ professor/a desenvolver

    habilidades que possibilitem uma melhor adaptao s novas culturas e aos novos padres de

    conduta social. Nesse contexto, a relao professor/a estudante representa um esforo a mais

    na busca da praticidade e eficincia no preparo do/a educando/a para a vida, numa redefinio

    do processo ensino aprendizagem.

    Sendo assim, compreendo que a escola formada por subjetividades que so

    produzidas, ou seja, a subjetividades no esto na origem nem permanente natureza

    humana. Mesmo se considerarmos determinados modos de a subjetividade se organizar em

    relao ao psquico, esses modos esto relacionados aos padres identitrios e normativos que

    se constituem em cada poca. Esses padres identitrios esto ativamente presentes no s nas

    macrorrelaes, mas tambm circulam nas microrrelaes entre os sujeitos.

    Ento, se no h uma subjetividade com valores universais vlidos para qualquer

    tempo e lugar, se no h uma constituio psquica que valha para qualquer poca, uma vez

    que ela sempre produzida em determinado tempo, as regras transmitidas nas relaes entre

    professores e alunos na escola tambm se modificam. Mudam as regras, mudam as formas de

    sujeio, mudam as formas de transgresso, mudam os processos de subjetivao.

    Talvez o que esteja sendo sinalizado na crise da autoridade docente (Aquino, 1996),

    ainda que muitas vezes inconscientemente e de diferentes modos, justamente a falncia de

    um modelo de instituio com base na ideia de disciplina. Podemos supor que a prpria

    configurao social que est se modificando, e essa modificao est ligada produo de

    outro sujeito, que se torna presente tambm nas relaes entre professores/as e estudantes,

    causando, muitas vezes, um estranhamento por ambos. Mesmo se considerarmos que os/as

    professores/as fazem parte dessa nova produo subjetiva, podemos perguntar se algumas

    vezes seu discurso no se mantm amarrado em valores construdos na poca em que eles/as

    prprios foram educados/as. Em outras palavras, o/a professor/a escolar muitas vezes insiste

    num diagnstico da rebeldia do/a estudante a partir do modelo do poder disciplinar em que

    ele/a foi sujeitado/a. Porm, para os/as estudantes, o/a professor/a pode aparecer como algum

    desatualizado/a, seja em funo das informaes tecnolgicas que eles/as rapidamente obtm,

    ou mesmo em funo da postura disciplinar creditada, em princpio, aos docentes. Talvez a

    forma mais apropriada de encaminharmos essa problemtica seja tentando sair do discurso da

    culpabilizao generalizada, entendendo que tanto os/as professores/as quanto os/as

    estudantes afetam e so afetados pelo mesmo processo de mudana social.

    Mais do que um desencontro entre geraes distintas, o que se apresenta aqui umprocesso de transformao social que abarca a instituio escolar e seus/suas agentes. Dessa

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    maneira, conforme coloca Aquino (1996), a indisciplina pode estar indicando o impacto do

    ingresso de um novo sujeito histrico, com outras demandas e valores, numa ordem arcaica e

    despreparada para absorv-lo.

    O mal-estar na confrontao dos/as estudantes e professores/as fala do modo pelo qual

    os prprios agentes institucionais so atravessados/as pela configurao social, mas tambm

    coloca em jogo as transformaes sociais que esses agentes possibilitam. Tal como peas do

    tabuleiro social, as instituies desenham novas configuraes, o que implica uma anlise

    transversal ao mbito didtico-pedaggico (Aquino, 1996)

    Portanto, para alm da impotncia que alguns/mas professores/as sentem em relao

    indisciplina do/a estudante, talvez essa ltima possa estar deflagrando a existncia de outros

    sujeitos em sala de aula, marcados/as por essa nova modalidade de organizao da instituio

    escolar, mas que tambm a constituem. Nessa medida, podemos dizer que, se por um lado a

    escola reproduz os valores hegemnicos da sociedade, por outro, pelos impasses enfrentados

    em sala de aula, ela tambm participa da transformao desses valores, pois um lugar

    fundamental na produo de sujeitos, sejam professores/as ou estudantes.

    Logo o questionamento que proponho como podemos, enquanto educadores/as,

    desenvolver um trabalho que desenvolva integramente nossos/as estudantes, promovendo a

    emancipao humana, sem deixar de considerar todos os aspectos acima mencionados.

    Para Freire (1996), o papel do/a professor/a de desafiador/a, capaz de promover a

    educao como prtica de liberdade,e tem como funo combater um naturalismo histrico

    que desconhece a historicidade do homem como fazedor de sua prpria histria. O/A

    professor/a aquele que possui uma prtica progressista que tende a desenvolver junto aos/s

    estudantes uma capacidade crtica, a curiosidade para perguntar, conhecer, atuar, reconhecer,

    estimular a insubmisso, a indocilidade. Esse/a professor/a caminha por uma direo

    emancipadora, consciente de constituir-se constantemente a partir de uma curiosidade

    epistemolgica construda pela superao de sua curiosidade ingnua, capaz de compreender

    sua funo e o mundo criticamente, visando romper com verdades rotuladas socialmente

    que podem gerar preconceitos, discriminaes e esteretipos. Sua postura tica deve ser

    compatvel com suas palavras e prticas na sala de aula, j que aprendemos uns com os

    outros, pelo prprio exemplo.

    Nesta linha de argumentao considero como princpios fundamentais, para a

    realizao deste trabalho, a integrao, o respeito e a comunicao. Tais aspectos devem estar

    articulados para que se crie um ambiente propcio para que o processo ensino aprendizagemse torne prazeroso tanto para o/a professor quanto para o/a estudante. Porm para que possam

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    ser colocados em prtica, necessrio conhecer quem so nossos/as estudantes, em que

    realidade estamos atuando para que os saberes faam sentidos para eles/as. Neste sentido o

    filme traz uma prtica do professor Franois, uma atividade de autorretrato, com o objetivo

    que os/as estudantes argumentassem quais so seus gostos, seus interesses, suas histrias de

    vidas, e outros aspectos que optarem por inclurem na atividade. O questionamento desta

    proposta se relaciona at onde o/a professor/a pode ir, neste conhecer o/a estudante? Na

    trama, muitos/as estudantes reagiram mal proposta e foram obrigados/as a realizarem,

    neste sentido me questiono: at que ponto certas atitudes dos/as professores/as no invadem a

    intimidade do/a estudante? E, alm disso, mesmo que o autorretrato desse um panorama

    sobre a heterogeneidade da sala de aula, este foi uma imposio e no houve um respeito

    aos/s estudantes. Durante toda a trama o respeito no era um aspecto recproco, os/as

    estudantes tinham a obrigao de respeitar o professor, porm este no possua respeito

    pelos/as estudantes. Como na cena em que insulta as alunas chamando-as de vagabundas,

    ou quando no considera os conhecimentos que eles/as trazem consigo, por se tratar de uma

    turma formada por indivduos de diversas culturas, estas no eram valorizadas na sala de aula,

    eram negadas em prol da valorizao da cultura Francesa.

    Da mesma forma a comunicao se centrava no professor, e quando os/as estudantes

    demonstravam autonomia e criticidade tentando comear um debate ele ficava incomodado,

    perdia a sensao de poder, e utilizava como ttica inferiorizar os argumentos, no dando

    importncia. Como no questionamento de Khoumba sobre o professor utilizar sempre os

    mesmos nomes (estadunidenses) de pessoas nas frases de exemplo, e tal questionamento no

    trabalhado com a devida importncia. Quanto integrao podemos citar o pedido do

    professor de que os/as estudantes colocassem crachs nas carteiras, para que os/as estudantes

    que no se conhecessem soubessem o nome dos/as colegas. Mas ser que s saber o nome

    suficiente para que a turma interaja? Esta atitude mostra que uma preferncia por uma

    dinmica esttica ao invs de uma dinmica integracionista.

    Esses aspectos, respeito, comunicao e interao, devem ser conduzidos pelo

    professor, por mais que a responsabilidade pelo clima em sala de aula tambm seja dos/as

    estudantes. Ou seja, a relao entre professor/a e estudante depende, fundamentalmente, do

    clima estabelecido pelo/a professor/a, da relao emptica com seus/suas estudantes, de sua

    capacidade de ouvir, refletir e discutir o nvel de compreenso dos/as estudantes e da criao

    das pontes entre o seu conhecimento e o deles/as.

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    4 Consideraes Finais Por uma Pedagogia do Dilogo

    Longe de pretender encontrar uma soluo universal para a problemtica da relao

    entre professores/as e estudantes, pretendo aqui propor uma Pedagogia do Dilogo, poisconsidero que a partir do dilogo, entre os/as agentes educacionais, ser possvel identificar oque podemos melhorar em nossa prtica, para promover uma educao que faa diferena e

    no apenas reproduza as relaes de discriminaes e submisses presentes na sociedade.

    Partindo da afirmao de Freire (1974:112) segundo a qual [...] o dilogo nutre-se de

    amor, de humildade, de esperana, de f, de confiana. por isso, que apenas ele permite a

    comunicao, considero que somente quando professores/as e estudantes descobrem-se

    como pertencentes da mesma histria, do mesmo presente e do mesmo futuro que o dilogo

    se far presente. claro que esta comunicao no fcil, principalmente dentro dainstituio escolar que compromete o verdadeiro dilogo, se estruturando em relaes

    hierarquizantes, orientada para fins puramente pragmticos e rentveis. Em uma instituio

    moldada por tais princpios, no haver possibilidade de instaurar uma pedagogia do dilogo.

    Assim, o/a professor/a deve subverter-se dentro de tal instituio, para que o dilogo seja

    instaurado. Vale ressaltar que no existe uma didtica do dilogo, no existem tcnicas de

    dilogo, ele na verdade uma atitude dialgica.

    Exemplificando uma atitude contrria ao dilogo Freire nos diz que:

    [...] ns ditamos ideias, no as trocamos. Ns damos lies, no debatemos nemdiscutimos os assuntos. Ns trabalhamos para o aluno e no com ele. Ns lheimpomos uma ordem qual ele no adere mas se acomoda. Ns no lhe fornecemosos meios de um pensamento autntico, pois ao receber as frmulas que lhedistribumos, no faz mais do que armazena-las. Ele no as assimila, porque aassimilao no pode seno o fruto de uma pesquisa. E a pesquisa exige, daqueleque a tenta, um esforo de recriao, uma reinveno. (FREIRE, 1974: 101)

    Uma sala de aula, um seminrio, uma reunio de grupo, um escola, enfim, deveria ser

    um lugar onde todas as intervenes tm valor e sentido, onde toda crtica acolhida. Neste

    sentido compreende-se a preocupao de Freire em empregar o dilogo para a formao de

    uma verdadeira comunidade humana, atravs da educao:

    a educao deveria fornecer ao homem os meios para a discusso corajosa de suaproblemtica e de sua insero nesta problemtica. Deveria adverti-lo dos perigos deseu tempo, para que, conhecendo-os, ele pudesse reunir a fora e a coragem de lutarem vez de ser levado a perder, apesar de tudo, seu Eu, submetido s vontades dooutro. A educao deveria coloc-lo em dilogo constante com o outro, predisp-loa constantes revises, a analise crtica de seus conhecimentos, a uma certa revolta,no sentido mais humano do termo (FREIRE, 1974: 101)

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    Para concluir defendo que se uma comunidade humana ainda possvel, preciso

    comear na Escola, mas esta comunidade no ser obra exclusiva de professores/as, preciso

    que cada um/a comece por tomar sua mo a educao de si mesmo/a, que consiste em

    assumir a responsabilidade de si mesmo/a. E isso possvel graas a uma pedagogia que

    elimine toda relao autoritria, atravs do amor e da amizade, resumindo, atravs de um

    dilogo posto a prova em cada pequeno encontro de todos os dias da mais tenra idade.

    Referncias

    Filme: Entre os Muros da EscolaTtulo Original: Entre lesMurs.Origem: Frana, 2008.

    Direo: Laurent Cantet.Roteiro: Laurent Cantet, Franois Bgaudeau e Robin Campillo, baseado em livro de Franois Bgaudeau.Produo: Caroline Benjo, CaroleScotta, Barbara Letellier e Simon Arnal.Fotografia: Pierre Milon, Catherine Pujol e GeorgiLazarevski.Edio: Robin Campillo e StphanieLgerElenco: Franois Bgaudeau, NassimAmrabt, Laura Baquela, CherifBounadjaRachedi, Juliette Demaille, DallaDoucoure, Arthur Fogel e Damien Gomes.

    AQUINO, JulioGroppa. Confrontos na sala de aula: uma leitura institucional da relao professor-aluno.4.ed. So Paulo: Summus, 1996.

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    FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios a prtica educativa. 13. ed. So Paulo: Paz eTerra, 1999

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