filosofia capítulo 05 · convidando vários enviados das cidades-estados gregas e ... império de...
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FILOSOFIA – Capítulo 05
Helenismo: a difusão da cultura
grega e a busca pela felicidade
O REINO DA MACEDÔNIA 02
ALEXANDRE, O GRANDE: VIDA E CONQUISTAS 03
O ESTOICISMO 04
O EPICURISMO: O ENCANTAMENTO DOS “JARDINS” DE EPICURO
06
CETICISMO 08
CINISMO 09
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 10
EXERCÍCIOS PROPOSTOS 10
SEÇÃO ENEM 12
Edessa
Bizâncio
Istambul (atual)
Delfos
Corinto
Políegas
Imbros
Tenedos
Lemnos
Icos
Tasos
Antipolis
Peparetos
Magara
ArgosOlímpia
Cefalônia
Corcira Larissa
Leucas
Zanto
Messena
Pilos
Esfactéria
Potidaco
Samotrácia
Pela
Ábidos
Hecatones
Helesponto
PérgamoAmbracia
Termópilas
Halonesos
Elis
Esparta
CiteraAnafe TelosThera
Olinto
Proconeses
Tróia
Ceos Siros
Cós
Icária
Samos
Quios
Paira
LerosParos
CimolosSitnos
Melos
Cálcis Sardes
Magnésia
MiletoEpidauro
Andros
Delos
Rodes
Cárpatos
Cnossos
Gortina
Amargos
Astipaleia
Naxos
Trezena
Lesbos
Mitilene
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Patras
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Grécia no séc. V a.C. Neste mapa, é possível observar as cidades-estados gregas, bem como a Macedônia.
Atlas histórico escolar. MEC/Fename.
O Período Helenístico (ou Helenismo) compreende o período que se estende desde do século IV a.C. até o início da Idade
Média, apresentando características gregas e romanas. Seu início está intrinsecamente ligado à figura de Alexandre, o Grande,
rei da Macedônia, e às suas expedições e conquistas.
A palavra helenismo, do grego hellenismós, significa “falar grego”. Assim, helenista é o nome dado àqueles que utilizaram o
idioma grego para se comunicar, seja por escrito ou apenas oralmente. Helenístico também pode se referir àquele que adotara
o grego como segunda língua. Por exemplo, no livro Atos dos Apóstolos, presente na Bíblia Sagrada, a palavra helenístico foi
utilizada para se referir aos judeus que substituíram sua língua materna pelo grego. É importante notar que, com o tempo,
Helenismo: a difusão da cultura grega e a busca pela felicidade
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a palavra helenismo deixa de se referir somente a
uma transformação de idioma para abranger toda uma
cultura helenística. Dessa forma, passou a representar
o fenômeno de aculturação dos outros povos que, não
sendo gregos ou orientais, adotaram a cultura e a forma
de viver e conceber o mundo dos gregos. Para que tal
transformação fosse efetuada, foi fundamental a figura
de Alexandre, conhecido como o maior conquistador e
estrategista da Antiguidade.
O REINO DA MACEDÔNIAG
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Busto de Filipe II à mostra na Gliptoteca Ny Carlsberg
Localizado na Península dos Bálcãs ou Península Balcânica, o reino da Macedônia situava-se na região nordeste da Grécia. A maioria de sua população era formada por camponeses livres que se dedicavam a tarefas ligadas à terra e à criação de gado. Apesar de algumas diferenças, a língua macedônica era muito semelhante à língua grega.
Os atenienses, pertencentes à maior e mais importante cidade grega, tinham um modo muito peculiar de ver os estrangeiros. Embora fossem também gregos, os macedônicos eram desprezados pelos atenienses, sendo considerados bárbaros e devendo ser mantidos longe das glórias e dos privilégios reservados somente aos “verdadeiros homens gregos”.
No ano de 359 a.C., Filipe se torna rei da Macedônia, aos 23 anos de idade, no lugar do rei Amintas IV, ficando conhecido então como Filipe II. Filipe II foi assassinado em 336 a.C., ao ser apunhalado por um de seus soldados, Pausânias, diante da população durante o festival de outubro. Nesse festival, comemoravam-se as cerimônias de casamento da Macedônia, inclusive o da filha do rei, Cleópatra. Aproveitando aquela ocasião, Filipe II fez uma espécie de encontro internacional, convidando vários enviados das cidades-estados gregas e outros líderes dos povos balcânicos.
N0 450 km
Império de Alexandre
Batalhas
Morte de Dario(330)
Morte de Alexandre(323)
Gaugamela(331)
Báctria
Babilônia
Górdio
Trácia
Mênfis
Alexandria
Oásis de Siwa
Pella Granicius (334)
Isso (333)
DESERTO DAARÁBIA
ÍNDIAEGITO
ASSÍRIA
MACEDÔNIA
PÉRSIA
SAARA
ANATÓLIA
HINDU CUSH
Mesopotâmia
Pasárgada
Hecatómpilos
Susa
Ecbatana
BucefaliaProftasia
Patala
Morte de Dario(330)
Pasárgada
Hecatómpilos
Susa
Ecbatana
Morte de Alexandre(323)
Gaugamela(331)
Báctria
BucefaliaProftasia
Patala
Babilônia
Górdio
Trácia
Mênfis
Alexandria
Oásis de Siwa
Pella Granicius (334)
Isso (333)
DESERTO DAARÁBIA
ÍNDIAEGITO
ASSÍRIA
MACEDÔNIA
PÉRSIA
SAARA
ANATÓLIA
HINDU CUSH
Mesopotâmia
MAR NEGRO
Rio Dniester
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Dnieper
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Indus
Rio Eufrates
Rio Nilo
Rio Tigre
Rio Veiga
Rio Danúbio
MAR CÁSPIO
MAR DE
ARAL
OCEANOÍNDICO
MAR MEDITERRÂNEO
GOLFO PÉRSICO
O Império Macedônico conquistado por Filipe e por Alexandre:
território que se estendia dos Bálcãs à Índia, incluindo o Egito
e a Báctria (aproximadamente o atual Afeganistão).
Antes de se tornar um grande rei, com glórias e honrarias devidas somente aos deuses, Filipe havia passado três anos como refém na cidade grega de Tebas, num momento em que o reino da Macedônia enfrentava uma grande crise, devido às guerras em que o reino esteve envolvido. Em Tebas, Filipe teve a oportunidade de estudar as táticas de guerra mais sofisticadas de seu tempo e também as inovações estratégicas militares tebanas, principalmente a falange. Ao regressar para a Macedônia em 360 a.C., tendo também estudado os métodos militares dos gregos, com sua experiência, Filipe montou as falanges, constituídas de dez fileiras de infantaria armada com novas lanças, duas vezes mais longas do que aquelas comumente utilizadas, possuindo cada uma cerca de cinco metros de extensão. Com tal formação, os soldados que carregavam tais lanças podiam ficar mais distantes do que os que estavam à frente na batalha. Desse modo, as lanças da retaguarda, projetando-se entre as da primeira fileira, eram absolutamente devastadoras contra os exércitos inimigos. Como resultado dessa disposição e técnica, as falanges formavam um escudo, quase como um ouriço, praticamente indestrutível. Apoiando a retaguarda, havia a cavalaria. Os homens que a constituíam portavam uma armadura diferente em força e peso e combatiam por trás os opositores, deixando os inimigos encurralados. Como reforço, o exército de Filipe ainda possuía as catapultas, capazes de lançar pedras de mais de dez quilos a distâncias que chegavam a 200 metros. Enfim, Filipe da Macedônia formou um exército com força e perícia quase indestrutíveis, composto de homens bem treinados e dispostos à conquista do mundo, que se iniciou pela Grécia, já enfraquecida devido à Guerra do Peloponeso.
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Os soldados (ou falangistas) mantinham uma formação cerrada, com as armas das primeiras linhas projetadas para a frente, de modo que seria impossível atingir qualquer homem da formação sem ser perfurado por alguma lança. Essas lanças, chamadas sarissas, mediam de quatro a cinco metros e eram constituídas apenas de uma ponta afiada e um contrapeso. Os membros restantes da formação, aqueles que ficavam longe da primeira linha, mantinham as lanças elevadas em média de 45º graus, numa posição de prontidão e anulando parcialmente um ataque pelo alto, por exemplo, caso a cavalaria inimiga saltasse sobre a primeira linha de lanças. Os homens que ficavam nas últimas fileiras da falange eram usados como substitutos, quando os soldados da frente morriam ou tombavam, além de constituirem uma força de “empurrão” para toda a formação, de modo que o inimigo era literalmente esmagado sob o avanço do Exército.
Após a conquista da Grécia, os macedônicos se puseram à conquista da Pérsia, que possuía um vasto império, e dominaram também outros povos, sendo atraídos, principalmente, por tesouros e terras cultiváveis. Foi durante as comemorações que antecederiam o início da conquista dos persas que Filipe II veio a falecer, assumindo o trono então seu filho, Alexandre.
ALEXANDRE, O GRANDE: VIDA E CONQUISTAS
Busto de Alexandre. Cópia romana em mármore do original de Lisipo, de 330 a.C. (Museu do Louvre). Segundo Plutarco, as esculturas de Lisipo representavam fielmente o famoso conquistador macedônio.
Com a morte de Filipe II, Alexandre (356-323 a.C.) se tornou rei da Macedônia, com apenas 20 anos. No entanto, sua pouca idade não representou qualquer empecilho para a genialidade de uma das figuras mais importantes da história da Antiguidade. Tendo construído um dos maiores impérios da história, alguns homens de seu tempo chegaram a afirmar que Alexandre pertencia à descendência direta de Zeus. Antes de se tornar rei, Alexandre já tinha tido experiências políticas e militares ao lado do pai. Aos 16 anos, por exemplo, quando Filipe liderou um ataque contra a cidade de Bizâncio em 340 a.C., Alexandre assumiu o controle do reino da Macedônia. Já na batalha de Queroneia, decisiva na conquista de Atenas, Alexandre liderou a cavalaria, o que foi fundamental para a vitória macedônica. Conta-se que sua personalidade era sobremaneira singular. Por um lado, era um homem de visão diferenciada, extremamente inteligente, que buscava construir uma síntese entre o Oriente e o Ocidente. Alexandre era conhecido por seu respeito aos derrotados e por sua admiração pelas ciências e pelas artes, o que ficou claro com a criação da cidade de Alexandria (atual Istambul), que se tornou, substituindo Atenas, a cidade mais importante do mundo em sua época, devido ao seu caráter cultural, científico e econômico (talvez pela influência do mestre e preceptor Aristóteles, que educou Alexandre durante sua infância), sendo substituída por Roma somente trezentos anos depois. Por outro lado, Alexandre apresentava-se como um homem extremamente instável, violento e cruel, inclusive com aqueles que lhe eram mais próximos.
Como resultado de todas as suas campanhas e guerras, Alexandre criou um império que se estendia da Grécia à extremidade da Índia. Como rei e general de seus exércitos, nunca perdeu uma batalha. Não voltou para a Macedônia, sua terra natal, depois de suas conquistas, permanecendo na Babilônia até sua morte.
Em 323 a.C., com apenas 33 anos, Alexandre morreu, vitimado por uma febre. Seus generais passaram, então, a disputar o poder entre si. O vasto império acabou se dividindo em reinos menores, entre os quais se destacam a Macedônia, a Síria, Pérgamo e o Egito. Os generais de Alexandre se tornaram os governantes desses reinos, que
permaneceram até as invasões romanas.
As consequências das conquistas de Alexandre para a cultura grega e para a Filosofia
A consequência política mais importante dos feitos de Alexandre foi o desmoronamento da importância sociopolítica da poleis grega. Com as conquistas sobre toda a Grécia, a liberdade dos homens livres, característica que sustentava a democracia grega, mais propriamente a ateniense, perdeu sua força e vivacidade. Atenas, a principal polis grega, agora, fazia parte dos povos conquistados. Por mais que Alexandre respeitasse os atenienses e mantivesse a cidade
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como sua aliada, a liberdade, sustentáculo da democracia, foi duramente atingida. Após a morte de Alexandre, com a formação dos reinos do Egito, da Síria, da Macedônia e de Pérgamo, a importância da cidade livre, da polis, foi perdida e seu ideal de independência e liberdade foi praticamente esquecido. Desse modo, a polis pensada por Platão e Aristóteles, com seus ideais de moralidade e organização tidos como a forma perfeita de organização social e política, passou a ser vista como uma utopia.
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Alexandre Magno e seu cavalo Bucéfalo, na Batalha de Isso. Mosaico encontrado em Pompeia, hoje no Museu Arqueológico Nacional, em Nápoles.
De cidadão, o homem grego se tornou súdito. Já não era a assembleia de homens livres que governava a cidade, mas agora eles recebiam ordens e tinham de acatá-las, uma vez que estavam submetidos pela força e pelo poder militar e político da Macedônia.
Em 146 a.C., com as invasões romanas, a Grécia perdeu totalmente sua liberdade, tornando-se província de Roma. Desse modo, os gregos, não podendo definitivamente retornar ao ideal de cidadania da polis, aquele que valorizava os ideais cívicos de sua cidade e por isso o homem se identificava somente com ela (prova disso era o tratamento dos gregos dispensado aos estrangeiros), passaram a valorizar uma ideia cosmopolita, ou seja, já que não havia uma cidade com a qual o sujeito se identificasse, o mundo passaria, então, a ser sua cidade.
Nesse novo contexto de cosmopolitismo, o homem não estava mais preocupado em se tornar cidadão, passando agora a se preocupar consigo próprio, não tendo mais como identidade a comunidade política, mas sim o indivíduo, o homem particular, ou seja, ele mesmo. Desse modo, se a cultura do mundo clássico, das cidades-estados gregas, se empenhava em formar o cidadão, esse novo mundo criado por Alexandre trouxe à tona o indivíduo, que, ao contrário do cidadão antigo, que se preocupava com o bem e com a felicidade de todos, passou a se preocupar consigo e com a sua felicidade. Ética e política tornaram-se coisas distintas. A ética clássica, presente até Aristóteles, baseava-se na união entre homem e cidadão, sendo que o bom político era, consequentemente, o melhor homem. Agora, a ética se estruturava de maneira autônoma, buscando compreender como o homem singular deve agir e viver para ser feliz particularmente.
Da cultura helênica para a cultura helenística
Com as conquistas de Alexandre, o mundo se tornou um só reino. Isso significa que a cultura dos helenos, que antes era preservada somente entre os povos gregos, principalmente em Atenas, foi difundida pelo mundo. Por cultuar os ideais gregos, Alexandre, ao dominar os demais povos, difundiu a cultura helena, que se espalhou pelo mundo e foi absorvida, de um ou de outro modo, por todos os povos conquistados. A própria Roma, que mais tarde dominou a Macedônia, absorveu a cultura grega, por exemplo, quando renomeou os deuses gregos e os cultuou em seus ritos religiosos.
Dentro da nova perspectiva de homem, visto agora como indivíduo, se fez necessário encontrar um novo modo de vida. Assim, foi preciso pensar em uma moral que levasse em conta o homem particular e que pudesse se constituir em uma forma para que este encontrasse a felicidade. Dessa maneira, a filosofia se dirigiu ao homem concreto e individual e, em alguma medida, ocupou o lugar antes reservado à antiga polis e à sua religião. A filosofia ofereceu novos conteúdos para a vida espiritual, iluminou a consciência, ensinou o homem a viver e a ser feliz. A preocupação filosófica do helenismo foi predominantemente ética, tendo as demais especulações filosóficas se subordinado a este interesse prático. Há uma concepção terapêutica da filosofia, segundo a qual os filósofos helenistas comparam sua arte com a do médico. Dessa forma, assim como os médicos curam os males do corpo, a filosofia cura os males da alma. A filosofia cuida das enfermidades da alma causadas pelas falsas crenças e pelos temores diante da vida e da morte.
É nesse contexto que surgem as escolas filosóficas – estoicismo, epicurismo, ceticismo e cinismo –, que pretendem apresentar para os homens uma nova maneira de ser e viver que possa levá-los à felicidade.
O ESTOICISMO
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Busto de Zenão de Cício no Museu de Pushkin
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Fundada por Zenão de Cício (332-262 a.C.), cidade localizada em Chipre, em 300 a.C., a escola estoica representou a mais importante das correntes de pensamento do Período Helenístico. A palavra estoicismo tem sua origem no termo stoa poikilé, que significa pórtico pintado, local em que os membros dessa escola se reuniam. Dentre as principais figuras que compunham a escola estoica, estão Cleantes (331-232 a.C.) e Crisipo (280-206 a.C.).
A ideia de natureza é essencial para compreendermos o estilo de vida e a proposta de felicidade pregada pelo estoicismo. Segundo essa escola, a Filosofia é dividida em três partes, a física, a lógica e a ética, sendo esta última a mais importante. Nessa concepção, a Filosofia é vista como uma árvore, na qual os frutos correspondem à ética, a raiz à física e o tronco à lógica.
Para o estoicismo, o homem deve viver segundo o que é natural. Dentro dessa concepção ética, o homem pertenceria à natureza, vista como o macrocosmo, sendo o ser humano somente um microcosmo. Dessa forma, o microcosmo está submetido ao macrocosmo. Para que o homem alcance a felicidade verdadeira, suas ações devem estar de acordo com o macrocosmo, ou seja, com aquilo que a natureza determina.
São três as virtudes que levariam o homem à felicidade: a inteligência, que o conduziria ao conhecimento e ao discernimento do bem e do mal; a coragem, que consiste em conhecer o que deve ser temido e o que não deve ser temido; e a justiça, que seria o conhecimento do que deve ser dado a cada um segundo o que lhe é devido. Em sua concepção, o estoicismo dirá que não existe nada além da vida terrena: se o homem é natureza e deve se inteirar a ela, ao morrer ele continua a ser natureza, de outra forma, certamente, mas simples natureza. “O homem dissolve-se na natureza.”
Dentro de sua proposta ética, podemos perceber que o estoicismo estará próximo de um determinismo ou fatalismo: as coisas estão determinadas pela sua natureza, e, se assim é, o homem deve aceitar tal natureza, tal “destino” e cumpri-lo, fazendo sempre o que é correto. Isso não significa que o sujeito não tenha vontade ou capacidade de pensar naquilo que é certo ou errado, mas que ele deve aceitar o que é inevitável, se for isso o que a racionalidade do cosmos determinar. É importante perceber que a natureza não é arbitrária e irracional, por isso os estoicos insistiam no esforço para conhecer a racionalidade intrínseca à natureza, compreendendo, assim, as suas determinações, sem se desesperar diante delas.
Nesse ponto, encontra-se aquilo que talvez seja o maior ensinamento do estoicismo: se os acontecimentos seguem o curso da natureza, o homem deve aceitá-los de forma tranquila, buscando nessa aceitação a verdadeira felicidade. Dessa forma, o sujeito deve alcançar a ataraxia (estado de paz interior) por meio da tranquilidade da alma,
possível somente àquele que constrói sua fortaleza interior, ou atinge a apatheia, que seria a indiferença a tudo o que acontece, de modo que os fatos da vida, sendo inevitáveis porque são naturais, não podem tirar a paz interior do homem. O estoicismo ensina o homem a enfrentar as vicissitudes da vida de forma calma, resignada, e, sobretudo, digna. Esse estado é alcançado por meio do autocontrole e da austeridade de uma vida disciplinada e construída somente com o que é estritamente necessário à sobrevivência, sem qualquer luxo ou culto às coisas supérfluas.
A escola estoica teve grande aceitação no mundo romano (posterior ao mundo helênico), tendo como principais representantes pensadores da qualidade de Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) e Marco Aurélio (121-180), imperador de Roma após 161. Em sua versão latina, o estoicismo se manifestou principalmente na ideia de indiferença a tudo o que acontece na vida do homem, sem que este perca a paz interior construída com a racionalidade filosófica.
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O suicídio não era um tabu para os estoicos. Diante de uma
situação extrema, seria a solução mais racional a ser tomada
pelo homem.
É interessantíssima a ideia trazida pelo estoicismo sobre a possibilidade do suicídio. De acordo com essa corrente, se a natureza é racional e o homem deve viver de acordo com essa racionalidade, preservando o autocontrole e a paz interior, em alguns casos, o suicídio se torna natural. Por exemplo, quando o sujeito é acometido de uma doença grave e incurável, que lhe causará, inevitavelmente, uma dor tamanha, tirando-o do controle de si mesmo, provocando a angústia e o sofrimento como consequências, afastando-o definitivamente da felicidade,
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o mais racional seria, portanto, deixar de viver. Por isso, o suicídio é visto pelos estoicos como um caminho racional diante de situações extremas e não como um pecado ou um erro.
As influências do estoicismo serão claramente identificadas no cristianismo, quando este, anos depois, tecerá elogios ao autocontrole, à resignação diante dos acontecimentos e sofrimentos inevitáveis e à vida simples e abnegada em vista de um ideal maior que está para além desse mundo.
O EPICURISMO: O ENCANTAMENTO DOS “JARDINS” DE EPICURO
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Busto de Epicuro
Das escolas do Período Helenístico, talvez a que defenderá
a mensagem mais fascinante seja o epicurismo. Fundado
por Epicuro (341-270 a.C.), o epicurismo traz como pano
de fundo de uma vida feliz a procura pelo prazer, que deve
ser buscado em todas as coisas, o desprezo pela morte e a
negação do temor aos deuses.
Epicuro nasceu em Samos e chegou a Atenas em 323 a.C.,
mesmo ano da morte de Alexandre, o Grande. Fundou sua
escola em Atenas em 306 a.C., depois de viajar por muitos
lugares e conhecer os homens e o mundo. Diferentemente
das escolas de Platão (a Academia) e de Aristóteles (o Liceu),
a escola de Epicuro não era um centro de investigação
filosófica em busca da verdade sobre o mundo ou sobre
o homem, identificando-se mais como um permanente
retiro espiritual, em que os amigos se reuniam para buscar
a felicidade por meio de uma vida simples e regrada,
entregue à reflexão sobre o homem e à busca do prazer.
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Detalhe da obra Escola de Atenas, de Rafael Sanzio. Em destaque, Epicuro.
Rejeitando o dualismo alma e corpo, Epicuro dirá que o
homem e o mundo são formados por átomos, ideia retirada
do pré-socrático Demócrito. Segundo este, os átomos, que
em si são eternos, se juntam formando todos os seres,
inclusive o homem. Uma vez que tais seres são destruídos,
esses átomos são separados e voltam à natureza, formando
então outros seres. Na concepção religiosa do epicurismo,
não existiria vida após a morte, uma vez que a própria alma
humana é formada também por átomos e, quando o homem
morre, esses átomos são simplesmente dispersados. Assim,
Epicuro vai contra a preocupação dos homens em querer
agradar os deuses com ritos e sacrifícios, uma vez que não
há por que agradá-los, já que a alma não irá para junto
deles após a morte. Além disso, Epicuro, em sua Carta sobre
a felicidade, escrita para seu amigo Meneceu, dirá que os
deuses vivem em um lugar chamado de intermundo, não
se importando com a vida dos homens, e, por isso, estes
também não deveriam se preocupar em agradá-los, pois
deles “nada temos a esperar e nada a temer”.
Dentro de uma visão materialista, Epicuro dirá que o
único conhecimento verdadeiro é aquele obtido por meio
dos sentidos, que também são materiais, sendo eles os
instrumentos pelos quais o homem conhece os seres do
mundo. Desse modo, o epicurismo valorizará as sensações,
pois entende que elas são o testemunho imediato dos
sentidos, sendo sempre verdadeiras.
Se não há vida após a morte e o destino, em certa
medida, segue a natureza dos seres, sendo que o homem
pode também seguir algumas coisas determinadas por
si mesmo, resta ao homem buscar uma vida feliz nesta
realidade terrena, vivendo cada dia como uma construção
propriamente humana em busca do prazer. A boa vida,
a felicidade neste mundo, deve ser a meta a ser atingida
pelo sujeito.
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Ao contrário do que se pensou por muito tempo, Epicuro
não pregava uma vida de prazeres imoderados e sem
limites, não podendo ser considerado, assim, o defensor de
um hedonismo1 raso e superficial, no sentido de que o que
vale na vida é o prazer em si mesmo, sem consequências
de qualquer natureza.
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O hedonismo, no sentido mais conhecido da palavra, é a busca pelo prazer sem medida e sem consequências. Se entendido deste modo, o epicurismo não pode ser chamado de hedonismo.
El hedonismo, de Ana Roldán.
Segundo a doutrina epicurista, o homem atinge uma vida
feliz à medida que busca o prazer de forma moderada e
equilibrada. Há uma clara distinção entre os prazeres ligados
ao corpo e os prazeres ligados à alma, sendo estes mais
importantes do que aqueles. Não são todos os prazeres que
trazem a tranquilidade, mas somente os prazeres simples e
racionalmente discernidos. Nas palavras de Epicuro, “todo
prazer é bom, mas nem todos devem ser desejados. Toda
dor é ruim, mas nem toda dor deve ser rejeitada”. Segundo
a ética epicurista, o homem feliz é aquele que é austero
e moderado, buscando os prazeres simples e virtuosos,
racionalmente escolhidos. É por isso que o filósofo dirá que,
de todas as virtudes, a mais valiosa é a prudência, pois é
por meio dela que o homem é capaz de discernir os prazeres
e escolher os melhores. Assim, Epicuro estabelece uma
hierarquia entre os prazeres, dividindo-os em:
1º. Prazeres naturais e necessários. Exemplo: comer o suficiente para saciar a fome.
2º. Prazeres naturais e não necessários: Exemplo: comer comidas refinadas.
3º. Prazeres não naturais e não necessários: Exemplo: riqueza, poder e prestígio.
Segundo Epicuro, os prazeres da primeira categoria devem
ser buscados, os da segunda podem ser buscados de vez
em quando e os da terceira nunca devem ser buscados, pois
são insaciáveis e levariam o homem à angústia.
Sobre o mal e a dor, Epicuro dirá que ambos são inevitáveis.
Desse modo, dirá que o mal físico ou é facilmente suportável
ou, se é insuportável, dura pouco e leva à morte. E a morte
não deve ser vista com medo ou como um mal em si, ela é,
simplesmente, a suspensão dos sentidos. Epicuro, em sua
Carta, dirá que “quando ela (a morte) está presente, nós
não estamos, e quando nós estamos presentes, ela não está
presente”, por isso, a morte não deve representar nada para
o homem. Já em relação aos males da alma, Epicuro dirá que
a filosofia é capaz de curá-los e de libertar completamente
o homem de tais males.
Como devemos viver: a síntese de Epicuro
Epicuro nos forneceu uma síntese de sua mensagem no
chamado quadri-fármaco (ou quatro remédios para os males
do mundo), que consiste em quatro lições a serem seguidas
para se alcançar a verdadeira felicidade:
1ª. São vãos os temores dos deuses e do além.
2ª. É absurdo o medo da morte.
3ª. O prazer, quando for entendido de modo justo, está
à disposição de todos.
4ª. O mal ou é de breve duração ou é facilmente
suportável.
Seguindo esses princípios, o homem poderá alcançar a paz
interior, a absoluta imperturbabilidade, sendo então feliz.
No fim de sua Carta sobre a felicidade, Epicuro diz:
Medita, pois, todas essas coisas e muitas outras a
elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus
semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer
acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre
os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um
mortal o homem que vive entre bens imortais.
EPICURO. Carta sobre a felicidade a Meneceu. Ed. bilíngue,
grego/português. Tradução de Álvaro Lorencini e
Enzo Del Carratore. São Paulo: Editora Unesp, 1997.
1 Hedonismo: doutrina que encontra no prazer o sumo bem e na busca do prazer o objetivo da vida do homem. Os cirenaicos são os fundadores dessa doutrina, colocando os prazeres do corpo acima dos prazeres da alma. Mas mesmo os cirenaicos condenavam os excessos e diziam ser necessário manter um domínio sobre si mesmo ao experimentar os prazeres.
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CETICISMO
Busto de Pirro, fundador do ceticismo
Fundado por Pirro de Élida (365/360-275/270 a.C.), o ceticismo, também conhecido como pirronismo, é uma das escolas mais importantes do Período Helenístico. Apesar de a tradição considerar o ceticismo como uma escola, ao contrário de Epicuro e dos estoicos, o ceticismo foi mais um pensamento, uma ideia que se disseminou pelo mundo do que propriamente uma escola. Os seguidores de Pirro não eram discípulos, mas simples admiradores que tomavam sua vida e atitudes como modelo para a busca da felicidade.
Pirro fez parte do Exército de Alexandre, o Grande, e com ele foi até a Índia. Nesse caminho, percebeu que as convicções gregas, as verdades que até então eram arraigadas e inquestionáveis de sua tradição, não passavam de um modo particular de ver o mundo, ou seja, as verdades ditas pelos gregos, que pareciam incontestáveis e evidentes, eram somente mais uma visão particular ao lado de outras visões diferentes sobre os mesmos assuntos. Com isso, Pirro concluiu que verdades únicas e absolutas não existem, não passando de opiniões.
Pirro não deixou nada escrito, a exemplo de alguns pré-socráticos e do próprio Sócrates. Quem escreveu sobre seus ensinamentos foi seu seguidor Tímon. Segundo Tímon, para que o homem seja feliz, ele deve ficar atento a três coisas:
• Como são as coisas por natureza.
• Qual deve ser nossa disposição em relação a elas.
• O que nos ocorrerá se nos comportarmos assim.
De acordo com Tímon, Pirro dá uma resposta a tais questionamentos:
1. As coisas são igualmente sem diferença, sem estabilidade, indiscriminadas; logo, nem nossas sensações nem nossas opiniões são verdadeiras ou falsas;
2. Sendo assim, não é necessário ter fé nas coisas, mas sim permanecer sem opiniões, sem inclinações, sem agitações, dizendo a respeito de tudo: “é não mais do que não é”, “é e não é”, ou “nem é, nem não é”;
3. Aqueles que se encontram nessa posição, ou seja, aqueles que atingirem tal atitude frente às coisas, em primeiro lugar alcançarão a apatia e depois a imperturbabilidade. Ou seja, essas pessoas
alcançarão a felicidade.
A dúvida é uma das atitudes do cético. Será que realmente
existem verdades absolutas sobre as coisas? Para o ceticismo,
não.
A ideia central do ceticismo é, portanto, que o homem não pode encontrar uma verdade absoluta sobre nada no mundo. Dessa forma, cético é aquele que não busca a verdade, pois sabe que ela é impossível de ser atingida, seja porque o homem não tem condições de encontrá-la, seja porque ela não existe. De uma forma ou de outra, a postura do homem deve ser a de se abster de julgar o que as coisas são, de não emitir qualquer resposta à pergunta: o que é? Assim, se as coisas são indiferentes, sem medida e indiscerníveis, sendo que os sentidos, a razão, o pensamento não podem dizer o que as coisas são ou deixam de ser, o homem deve se contentar em simplesmente não buscar a verdade, permanecendo sem nenhuma inclinação, na total indiferença. É essa indiferença que levaria o homem à felicidade. Não há por que se angustiar e perder a paz interior em busca da verdade, pois esta não existe ou é impossível de ser encontrada. Está aqui o ponto principal da argumentação cética, resumida no conceito de époche, que significa a suspensão do juízo.
Um dos mais importantes representantes do ceticismo foi Sexto Empírico (séc. II), que escreveu suas Hipotiposes Pirrônicas, principal fonte que temos de conhecimento do ceticismo antigo. Em sua obra, ele dirá que o ceticismo é “a faculdade de opor de todas as maneiras possíveis os fenômenos e os noumenos [coisas em si mesmas, essências das coisas], e daí chegarmos, pelo equilíbrio das coisas e das razões opostas, primeiro à suspensão do julgamento (epokhé) e, depois, à indiferença (ataraxia)”.
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Diógenes, o cínico mais famoso. Andava com uma lanterna nas mãos em busca de um homem que fosse realmente justo.
A palavra cínico, provavelmente utilizada pela primeira vez
para se referir a Diógenes de Sinope, tido como o fundador
dessa escola filosófica, provém do grego kynismó ou kynós e
do latim cynismu, que significa “cão”. Desse modo, Diógenes
e os demais cínicos ficaram conhecidos como os “cães da
cidade”. Porém, Antístenes, seguidor de Sócrates e quase
contemporâneo de Platão, foi o primeiro a viver segundo
os princípios adotados pelo cinismo, sendo considerado,
portanto, seu primeiro fundador. Nesse caso, Diógenes é
visto como uma espécie de refundador do cinismo, pois é
ele o maior e mais importante expoente desse pensamento.
A ideia central do cinismo é a mais anticultural das
concepções filosóficas da Grécia Antiga: Diógenes declarou
que toda pesquisa filosófica abstrata e teórica, bem como
a matemática, a física, a astronomia, a música e todo e
qualquer outro tipo de conhecimento teórico, é inútil para
levar o homem à felicidade. Essa concepção é claramente
identificável com sua célebre “procura pelo homem”. Conta-se
que Diógenes saía pela cidade, de dia, com uma lanterna
na mão, dizendo procurar “um homem que fosse justo”.
Com isso, ele queria encontrar um só homem que vivesse
de acordo com a natureza, longe de todas as convenções
da sociedade e indiferente ao próprio capricho da sorte e
do destino, sabendo reencontrar sua verdadeira e original
natureza, vivendo conforme essa natureza e com isso
alcançando a verdadeira felicidade.
O modo de vida do cínico, em especial de Diógenes,
resume o porquê de os participantes dessa escola serem
conhecidos como os “cães”: os cães não se importam com
nada, não perdem a paz em busca de comida, mas comem o
que aparece; não se angustiam porque não têm onde dormir,
mas dormem em qualquer lugar e, sobretudo, não têm
qualquer vergonha em fazer o que é natural, satisfazendo
suas necessidades em frente a todos e quando sentem
vontade. Da mesma forma deveriam ser os homens, que
devem agir sem se preocupar com as convenções sociais ou
qualquer norma de conduta. É interessante observar que é
o animal que diz para o cínico como ele deve viver e agir,
e não o contrário: uma vida sem metas (metas que a
sociedade coloca como necessárias, como obter riquezas
e prestígio), uma vida sem necessidade de moradia fixa e
também sem conforto. Segundo o cinismo, esses prazeres
são criados pelos homens e são dispensáveis à vida feliz.
Segundo Diógenes, “quanto mais se eliminam as
necessidades supérfluas, mais se é livre”. Tal liberdade
pregada pelos cínicos se manifestava em todos os sentidos:
liberdade da palavra, pois diziam o que queriam da forma
que queriam, sendo considerados, por isso, arrogantes;
e liberdade da ação, pois faziam o que queriam, em qualquer
lugar que estivessem e diante de qualquer pessoa.
O trecho a seguir nos dá uma visão mais clara do modo
de viver e pensar dos cínicos:
Costumava fazer qualquer coisa à luz do sol, mesmo o
que diz respeito a Demeter e Afrodite (comer e amar). [...]
Se comer não é estranho, nem mesmo na praça pública
é estranho. Não é estranho comer; portanto, também
não é estranho comer na praça pública. [...] Costumava
masturbar-se em público e dizia: quem me dera pudesse
aplacar a fome esfregando-me o ventre.
DIÓGENES, Laércio. VI, 69.
Os cínicos desprezavam o prazer, pois, segundo eles,
o prazer não só debilita o físico, mas escraviza a alma,
que se torna dependente das coisas ou homens que trazem
tal prazer. Dessa maneira, os cínicos viam como ideal de vida
a ser alcançado a autarquia, ou seja, bastar-se a si mesmo,
sendo preciso, para isso, a apatia e a indiferença diante de
todas as coisas. Conta-se que um dia Alexandre, o Grande,
foi visitar Diógenes, que estava em seu barril (ele vivia em
um barril), a tomar o sol da manhã. Chegando perto de
Diógenes, Alexandre, o homem mais rico e poderoso da
Terra, disse: “Pede-me o que quiseres que eu te darei”. Ao
qual Diógenes responde: “Não me faça sombra. Devolve meu
sol”. Apesar de parecer uma anedota, a história resume o
ideal do cinismo: o homem não necessita de nada a não ser
daquilo que a própria natureza se encarregou de lhe dar.
Nada que não seja natural é essencial à vida, e a felicidade
só pode ser alcançada a partir de uma vida simples e de
acordo com a natureza.
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Alexandre visita Diógenes. O rei admirava tanto o “cão” que
disse: “Na verdade, se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser
Diógenes”.
O encontro de Alexandre com Diógenes de Sinope. Pierre Pujet,
1680. Museu do Louvre.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01. Intelectual e espiritualmente, de fato, a época de
Alexandre assinala na Grécia uma mudança decisiva,
que afetou especialmente as minorias cultas. No novo
mundo dos grandes impérios, quando a civilização grega
já tinha se espalhado por todo o Oriente próximo, [...] os
horizontes do indivíduo grego viam-se consideravelmente
alargados, mas ao mesmo tempo este havia perdido o
sentimento de segurança que a vida da antiga cidade
podia lhe dar.
Segundo o texto, no Período Helenístico, “os horizontes
do indivíduo grego viam-se consideravelmente alargados,
mas ao mesmo tempo este havia perdido o sentimento
de segurança que a vida da antiga cidade podia lhe dar”.
REDIJA um texto explicando o que isso representou para
os gregos dessa época.
02. EXPLIQUE por que a ideia de cosmopolitismo foi
importante para o Período Helenístico.
03. No Período Helenístico “a sensação de isolamento,
desenraizamento e insegurança era, de fato, forte o bastante
para estimular muitos homens a buscar uma forma de vida
que lhes proporcionasse uma íntima sensação de segurança
e estabilidade. Isto foi o que as novas filosofias do Período
Helenístico se puseram a proclamar.”
A partir do trecho anterior, REDIJA um texto explicando a
importância das escolas filosóficas para o Período Helenístico.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. (UFMG) Leia este trecho:
Dependendo das condições anteriores, o mesmo vinho
parece azedo para aqueles que acabaram de comer
tâmaras ou figos, mas parece ser doce para aqueles que
consumiram nozes ou grão-de-bico. E o vestíbulo da casa
de banhos esquenta os que entram, mas esfria os que
saem, se ficam esperando nele. Dependendo de se estar
com medo ou confiante, o mesmo objeto parece temível
ou terrível ao covarde, mas de forma alguma a alguém
mais corajoso. Dependendo de se estar em sofrimento ou
em situação agradável, as mesmas coisas são irritantes
para os que sofrem, e agradáveis para os que estão bem.
..........................................................................
..........................................................................
Se, então, não se pode preferir uma aparência à outra,
com ou sem uma demonstração ou um critério, as
diferentes aparências que ocorrerem, em diferentes
condições, serão indecidíveis. De modo que a suspensão
do juízo com relação à natureza dos existentes externos
é introduzida também desse modo.
SEXTO EMPÍRICO. Hipotiposes pirrônicas I, 110-117.
Com base na leitura desse trecho, REDIJA um texto
caracterizando a corrente filosófica que defende as
afirmações nele contidas.
02. Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não
luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde,
como ainda proporciona ao homem os meios para
enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos
períodos em que conseguimos levar uma existência rica,
predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos
prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.
EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu).
Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore.
São Paulo: Editora UNESP, 2002. p. 41.
REDIJA um texto respondendo à seguinte pergunta:
simplicidade é sinônimo de felicidade?
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03. Leia o trecho a seguir.
Mas acontecem muitos sobressaltos tristes, horríveis,
duros de se agüentar.
Como não podia afastar-vos deles, armei vossos espíritos
contra todos: suportai bravamente. Nisto vós estais à
frente de um deus: ele está à margem do sofrimento dos
males, vós, acima do sofrimento.
Desprezai a pobreza: ninguém vive tão pobre quanto
nasceu. Desprezai a dor: ou ela terá um fim ou vos dará
um. Desprezai a morte: a qual vos finda ou vos transfere.
Desprezai o destino: não dei a ele nenhuma lança com
que ferisse o espírito.
Antes de tudo, tomei precauções para que ninguém vos
retivesse contra a vontade; a porta está aberta: se não
quiserdes lutar, é lícito fugir. Por isso, de todas as coisas
que desejei que fossem inevitáveis para vós, nenhuma
fiz mais fácil do que morrer.
Coloquei a vida num declive: basta um empurrãozinho.
Prestai um pouco de atenção e vereis como é breve e
ligeiro o caminho que leva à liberdade [...]
A isso que se chama morrer, esse instante em que a
alma se separa do corpo é breve demais para que se
possa perceber tão grande velocidade: ou o nó apertou
a garganta, ou a água impediu a respiração, ou a dureza
do chão arrebentou os que caíram de cabeça, ou a sucção
de fogo interrompeu o respirar; seja o que for, voa. Por
acaso enrubesceis?
Passa rápido o que temestes tanto tempo!
SÊNECA. Carta sobre a Providência Divina.
A partir da leitura do trecho anterior e de outros
conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto
caracterizando e explicando a corrente filosófica expressa
por ele.
04. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso,
teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe
incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em
que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só
o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe
ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo
depois em uma só negação total [...]
A partir do trecho anterior, retirado do livro A cartomante,
de Machado de Assis, REDIJA um texto identificando a
corrente filosófica presente no trecho e explicando sua
premissa fundamental.
05. É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e
o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos
como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão
dele praticamos toda escolha ou recusa, e a ele chegamos
escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre
prazer e dor.
EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu).
Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore.
São Paulo: Editora UNESP, 2002. p. 41.
A partir do texto e de outros conhecimentos sobre o
assunto, REDIJA um texto se posicionando a favor de ou
contra a seguinte afirmação: o homem feliz é aquele que
busca o prazer e se afasta da dor em todas as ocasiões.
06. A filosofia se preocupa com muitas questões teóricas,
como, por exemplo: o que é a verdade? O que é o
conhecimento? O que distingue uma boa ação de uma má
ação? O que é justiça? Ou, ainda, o que dá legitimidade
a um governo? Para essas questões, a filosofia oferece
muitas respostas.
SMITH, Plínio. O que é ceticismo? São Paulo: Brasiliense, 1992.
p. 07. Coleção Primeiros Passos, 262.
A partir dessa citação, REDIJA um texto considerando a
seguinte afirmativa: se a filosofia responde várias coisas
sobre as mesmas questões, podemos considerar alguma
delas realmente verdadeira?
07. Aprovo os sentimentos fortes e generosos dos estóicos,
que dizem que as coisas externas não são impedimento
para a felicidade, mas que o sábio é feliz, mesmo que
o toro de Falárides o esteja queimando. Os idiotas não
participam de nenhum bem, pois o bem é virtude ou aquilo
que participa as virtudes; as coisas que provêm dos bens,
que são aquelas das quais se tem necessidade, sendo
vantajosas, cabem apenas aos sábios, assim como as
coisas que provêm dos males, que são aquelas das quais
não se tem necessidade, cabem apenas aos viciosos. São,
com efeito, coisas nocivas. E por isso todos os sábios
são estranhos ao dano em ambos os sentidos; não são
capazes de causar dano, nem de sofrer dano, enquanto
os idiotas estão em situação contrária.
CRISIPO. Fr. 586. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia:
filosofia pagã antiga. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2003. p. 300.
No texto anterior, Crisipo defende uma postura estoica
diante das adversidades do mundo. REDIJA um texto
definindo quais os princípios defendidos pelo estoicismo
que levariam o homem a tal postura.
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08. Sustentava por isso que nada se pode obter na vida
sem exercícios, aliás, o exercício é o artífice de qualquer
sucesso. Eliminados, portanto, os esforços inúteis,
o homem que escolhe as fadigas requeridas pela natureza
vive feliz; a ininteligência dos esforços necessários é
a causa da infelicidade humana. O próprio desprezo
pelo prazer para quem esteja a isso habituado é algo
dulcíssimo. E assim como os que estão habituados a viver
nos prazeres passam de má vontade para um teor de vida
contrário, também aqueles que se exercitam de modo
contrário, com maior desenvoltura desprezam os mesmos
prazeres. Estes eram seus preceitos e a eles conformou
sua vida. Falsificou realmente a moeda corrente, porque
dava menor valor às prescrições das leis do que às da
natureza. Modelo de sua vida, dizia, foi Héracles, que
nada antepôs à liberdade.
DIÓGENES, Laércio. Vida dos filósofos. In: REALE, Giovanni.
História da Filosofia: filosofia pagã antiga. 3. ed.
São Paulo: Paulus, 2003. p. 257-258.
REDIJA um texto relacionando a citação anterior com
a ideia de “cão” trazida por Diógenes de Sinope, a qual
caracteriza a escola do cinismo.
SEÇÃO ENEM
01. Dizemos que a finalidade do cético é a tranqüilidade nas
matérias de opinião. Pois, tendo começado a filosofar
para julgar as representações e apreender quais são
verdadeiras e quais são falsas, de modo a obter a
tranqüilidade, deparou com uma discordância de igual
força; e, não podendo decidi-la, suspendeu seu juízo
sobre ela. Estando em suspensão de juízo, ocorreu-lhe
casualmente a tranqüilidade nas matérias de opinião.
SEXTO EMPÍRICO. Hipotiposes pirrônicas.
Em virtude dessa descoberta do cético pirrônico, para
que o homem se mantivesse no estado de tranquilidade,
ele deveria
A) afirmar que as coisas são como aparecem.
B) negar que as coisas são como aparecem.
C) opor a todo argumento um argumento igual.
D) abster-se do julgamento e não emitir opinião.
E) recusar-se a reconhecer os dados sensíveis.
GABARITO
Fixação01. No Período Helenístico, os gregos, por terem
tido suas terras invadidas pelos exércitos
macedônicos, perderam sua liberdade política e,
como consequência, perderam a segurança
que a cidade, sua cultura e os valores cívicos
representavam para eles. Dessa forma,
os gregos, em particular os atenienses, se viram
na situação de povo dominado, o que retirou
deles a possibilidade de se autodeterminarem e
decidirem conjuntamente o seu futuro e o da polis.
Por outro lado, seus horizontes se alargaram, uma
vez que o mundo se tornou um único território,
havendo um sincretismo de culturas, o que fez
com que os gregos pensassem em si mesmos,
individualmente, sem se preocuparem com a
cidade, estando exatamente nesse fato a origem
das escolas filosóficas do Período Helenístico.
02. Com as invasões macedônicas, os gregos, por
não mais se identificarem exclusivamente com
sua cidade e seus valores, se viram pertencendo
a um mundo muito maior. Dessa forma, não mais
se definiam como cidadãos desta ou daquela
cidade, mas agora se sentiam cidadãos do mundo
ou cosmopolitas. Essa possibilidade permitiu que
eles se desprendessem de sua origem, fazendo-os
pensar no mundo todo como um único lugar, não
havendo mais a ideia de estrangeiro ou cidadão.
Sendo assim, independentemente da cidade que
habitavam, a vida deveria ser vivida na busca da
felicidade própria e particular.
03. Com as conquistas de Alexandre, os homens
gregos viram-se sem uma cidade e sem um
ideal de vida cívica a seguir. Aquilo que lhes
garantia a felicidade, que era justamente o
poder de se reunirem na praça pública e juntos,
como cidadãos, decidirem o futuro da polis,
lhes foi retirado. Desse modo, um novo modo
de vida deveria servir como caminho para que
os homens pudessem novamente ser felizes,
e foi isso que as escolas filosóficas do Período
Helenístico se propuseram a fazer. Cada uma
delas trazia uma maneira de ser e viver com a
qual o homem poderia alcançar a paz interior e,
consequentemente, a felicidade.
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Propostos01. A corrente tratada é o ceticismo. Essa corrente de
pensamento defende a tese de que é impossível
encontrar o conhecimento verdadeiro. Além
disso, para o ceticismo, ou pirronismo, o homem
deveria suspender os juízos, pois ele não tem
condições de saber emitir opiniões sobre os seres
ou o mundo.
02. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja
capaz de se posicionar argumentativamente a
favor de ou contra essa ideia. É muito útil, quando
possível, valer-se de outros filósofos em sua
argumentação).
A favor: Sim, simplicidade é sinônimo de
felicidade. Acompanhando o argumento de
Epicuro, podemos perceber que a posse de bens
vários e abundantes não é garantia de uma
vida feliz e realizada. Existem muitos exemplos
e testemunhos de pessoas que, apesar de
terem uma vida luxuosa proporcionada pela
riqueza, não são felizes ou realizadas, mas
sofrem demasiadamente pela falta de algo que
preencha seu vazio existencial. Dessa forma,
uma vida mais simples, menos apegada aos bens
materiais, embora estes sejam fundamentais
para a manutenção do mínimo de conforto para a
vida do homem, pode ser o caminho mais viável
para a felicidade.
Contra: Não, simplicidade não é sinônimo de
felicidade. Ser simples não significa ser feliz,
pois, se assim o fosse, teríamos de concordar
que todas as pessoas que possuem uma vida
mais luxuosa, mais rica, seriam necessariamente
infelizes, e isso não se comprova. O que faz ou
não uma existência feliz é a atitude interna do
homem diante das situações. Dessa maneira,
é totalmente possível e plausível que existam
homens que gozem de luxos e sejam felizes,
e homens que tenham uma vida simples, com
poucos bens, e sejam profundamente infelizes.
O que importa é a atitude interna do indivíduo,
não o que ele possui, seja muito ou pouco.
03. A corrente filosófica expressa no trecho em
questão é o estoicismo. Sêneca foi um dos
principais filósofos estoicos do período do Império
Romano e suas influências foram sentidas,
inclusive, no cristianismo. Essa corrente filosófica
se caracteriza pela busca da apatheia, ou seja,
a perfeita indiferença a todos os acontecimentos
externos à vida humana, sejam eles bons ou
maus. Assim, o estoicismo defenderá que o
homem construa uma fortaleza interior que seja
inabalável e que garanta a ataraxia ou paz interior.
Nada pode tirar a paz do homem, nada pode
retirar o homem de seu estado de autocontrole
e concentração para a busca da sabedoria pelo
estudo da Filosofia. Essa ideia de indiferença se
manifesta no desprezo à dor, à morte, ao destino
e à pobreza presente no texto.
04. O texto representa a corrente filosófica do
ceticismo antigo ou pirronismo. Segundo tal
corrente, o homem deve duvidar de tudo, pois não
existem verdades absolutas sobre nada. Aquilo
que se tem como verdade são ideias particulares
dos indivíduos que, não raras as vezes, são
contrárias às ideias dos demais, o que leva à
conclusão que nenhuma dessas ideias é, em si,
a correta. Tal corrente tem seu início com Pirro,
soldado do Império Macedônico que, em suas
batalhas ao lado de Alexandre, percebeu que em
cada localidade, em cada povo, em cada cultura,
as verdades sobre os mesmos temas variavam.
A partir disso, concluiu que não existem verdades
absolutas sobre qualquer assunto. Tal ideia se
manifesta na dúvida constante sobre todas as
coisas, atitude própria do cético.
05. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja
capaz de se posicionar argumentativamente a
favor de ou contra essa ideia. É muito útil, quando
possível, valer-se de outros filósofos em sua
argumentação).
A favor: O princípio de toda escolha humana é,
de fato, a busca pela felicidade e a recusa da
dor. Tal atitude é plenamente humana, uma
vez que ninguém pode, por natureza, desejar a
dor como causa de possibilidade da felicidade.
Os animais agem dessa forma, buscando o prazer
que, no caso, é a satisfação de seus instintos.
Por que o homem seria diferente, se ele também
goza de uma natureza instintiva? Tal princípio da
satisfação do prazer e fuga da dor encontra-se
vastamente defendido na história da Filosofia,
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começando com Epicuro, passando por Stuart Mill
e chegando a Nietzsche e Freud. Tomando como
exemplo, para corroborar o argumento, Nietzsche
dirá que a escolha daquilo que nega o prazer e
busca deliberadamente a dor é próprio dos seres
inferiores, da “moral de rebanho”, apregoada
pela moral cristã ocidental, representando,
segundo o filósofo, a decadência humana. Quem,
em sã consciência, escolheria deliberadamente
o sofrimento e rejeitaria o prazer? Não há
justificativa razoável para tal atitude. Seria a
própria desnaturalização do homem.
Contra: A felicidade não pode ser consequência
somente das ações que trazem prazer ao
homem. Se assim fosse, teríamos de afirmar que
todos aqueles que lutam e, devido à sua luta,
sofreram ou ainda sofrem por uma causa maior,
moralmente justificável, como a democracia em
regimes totalitários, não são felizes. Ao contrário,
percebe-se que, apesar da dor, que nesse caso
é o contrário do prazer, essas pessoas são sim
felizes, pois seu sofrimento tem como justificativa
uma causa maior. Como exemplo, temos Santo
Agostinho, quando este fala sobre a distinção
entre a cidade dos homens e a cidade de Deus.
Segundo ele, vivemos na cidade dos homens e,
para sermos fiéis a Deus, devemos deixar todos
os prazeres dessa cidade terrena e, assumindo a
dor e o sofrimento, esperarmos o momento em
que possamos ir à cidade de Deus. Nesse caso,
podemos dizer que a felicidade na Terra não é
trazida pelo prazer, mas a dor seria o caminho
para a felicidade perfeita e plena.
06. O argumento mais legítimo para defender o
ceticismo é justamente o de que o conhecimento
verdadeiro não é possível, pois muitas são as
respostas para as mesmas questões. Se muitas são
as respostas, e várias são plausíveis e sustentadas
pela razão, qual delas seria verdadeira? Como
exemplo dessa tese, temos Descartes, que rejeita
as bases filosóficas que sustentavam as ciências
justamente porque poderiam ser colocadas
em dúvida. Se algo é realmente verdadeiro,
tal verdade deve se legitimar por argumentos
irrefutáveis. Não é possível pensar em uma
ciência, por exemplo, a Física Moderna, em que
os resultados dos cálculos podem ser superados,
encontrando-se outros resultados para o mesmo
movimento dos corpos. Porém, a realidade das
ciências humanas é outra, diferentemente das
ciências exatas. Se, nestas, a verdade deve
permanecer sempre a mesma, naquelas, pelo
fato de terem como objeto o homem, e sendo
este essencialmente indeterminado, poderíamos
pensar que as verdades dessas ciências podem
ser aprimoradas ou, mesmo, totalmente refeitas
com o passar do tempo.
07. O estoicismo é a corrente filosófica do Período
Helenístico que prega a total resignação do
homem diante dos acontecimentos da vida para se
atingir a felicidade. Nesse caso, o homem deveria
construir uma fortaleza interior de modo que as
vicissitudes da vida, ou seja, os acontecimentos,
bons ou maus, não lhe tirassem do estado de paz
interior ou ataraxia. Para o estoico, o ideal seria
atingir a apatheia, que é exatamente a indiferença
diante de todas as coisas, pois só por meio dessa
indiferença é possível alcançar a felicidade. Essa
ideia é clara no texto de Crisipo quando ele fala
sobre o sábio, que suporta o fogo, ou seja, as
adversidades e acontecimentos externos, sem
perder contudo a paz, não sendo tais coisas
impedimento à sua felicidade.
08. Representante mais importante da escola cínica,
Diógenes de Sinope demonstrou o total desprezo
pelas coisas do mundo, sejam materiais ou não,
em vista de uma vida simples e feliz. Para ele,
o ideal de felicidade estaria no total desapego de
todas as coisas, a exemplo do cão, que não tem
nada como seu e vive inteiramente de acordo
com sua natureza. Para os cínicos, a vida natural
é a que deve fazer sentido para o homem, pois
nada que não seja parte da natureza deve ser
considerado para a busca da felicidade. O cão vive
totalmente entregue à sua natureza e, por isso,
vive feliz.
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