filosofia e história da biologia vol. 8, n° 1, 2013 filosofia e ... · concepto de salud con...

145
ISSN 1983-053X Filosofia e História da Biologia 8.1 Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia – ABFHiB Filosofia e História da Biologia vol. 8, n° 1, 2013

Upload: vuongtuyen

Post on 15-Oct-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • ISSN 1983-053X

    Filo

    sofia

    e H

    ist

    ria

    da B

    iolo

    gia

    8.1

    Associao Brasileira de Filosofia e Histria da Biologia ABFHiB

    Filosofia e Histria da Biologia

    vol. 8, n 1, 2013

  • Filosofia e Histria da Biologia

    Volume 8, nmero 1

    Jan.-Jun. 2013

  • Associao Brasileira de Filosofia e Histria da Biologia ABFHiB

    http://www.abfhib.org

    DIRETORIA DA ABFHiB (GESTO 2011-2013)

    Presidente: Maria Elice Brzezinski Prestes (USP) Vice-Presidente: Lilian Al-Chueyr Pereira Martins (USP/RP)

    Secretrio: Waldir Stefano (UP Mackenzie) Tesoureira: Marcia das Neves (Secretaria Municipal Educao SP) Conselheiros: Ana Maria de Andrade Caldeira (UNESP/Bauru)

    Anna Carolina Krebs Pereira Regner (Unisinos) Charbel Nio El-Hani (UFBA)

    Antonio Carlos Sequeira Fernandes (UFRJ, Museu Nacional)

    A Associao Brasileira de Filosofia e Histria da Biologia (ABFHiB) foi fundada no dia 17 de agosto de 2006, durante o IV Encontro de Filosofia e Histria da Biologia, realizado na Uni-versidade Presbiteriana Mackenzie, em So Paulo, SP. O objetivo da ABFHiB promover e divulgar estudos sobre a filosofia e a histria da biologia, bem como de suas interfaces epistmicas, es-tabelecendo cooperao e comunicao entre todos os pesquisa-dores que a integram.

    Filosofia e Histria da Biologia

    Editores: Lilian Al-Chueyr Pereira Martins (USP/RP) Maria Elice Brzezinski Prestes (USP)

    Editor associado: Roberto de Andrade Martins (UEPB) Conselho editorial: Aldo Mellender de Arajo (UFRGS), Ana

    Maria de Andrade Caldeira (Unesp), Anna Carolina Regner (Unisinos), Charbel Nio El-Hani (UFBA), Gustavo Caponi (UFSC), Marisa Russo (Unifesp), Nadir Ferrari (UFSC), Nelio Bizzo (USP), Pablo Lorenzano (UBA, Argentina), Palmira Fontes da Costa (UNL, Portugal), Ricardo Waizbort (Fiocruz), Susana Gisela Lamas (UNLP, Argentina)

  • ISSN 1983-053X

    Filosofia e Histria da Biologia

    Volume 8, nmero 1

    Jan.-Jun. 2013

  • Filosofia e Histria da Biologia V. 8, n. 1, jan./jun. 2013 homepage / e-mail da revista: www.booklink.com.br/abfhib [email protected] ABFHiB Associao Brasileira de Filosofia e Histria da Biologia

    Caixa Postal 11.461 05422-970 So Paulo, SP www.abfhib.org [email protected]

    Copyright 2013 ABFHiB Nenhuma parte desta revista pode ser utilizada ou reproduzida, em qualquer meio ou forma, seja digital, fotocpia, gravao, etc., nem apropriada ou estocada em banco de dados, sem a autorizao da ABFHiB. Publicada com apoio da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) Preparao dos originais deste volume: Marcelo Viktor Gilge e Marcia das Neves Direitos exclusivos desta edio: Booklink Publicaes Ltda. Caixa Postal 33014 22440-970 Rio de Janeiro, RJ Fone 21 2265 0748 www.booklink.com.br [email protected]

    Filosofia e Histria da Biologia. Vol. 8, nmero 1 (jan./jun. 2013). So Paulo, SP: ABFHiB, So Paulo, SP: FAPESP, Rio de Janeiro, RJ: Booklink, 2013.

    Semestral viii, 132 p.; 21 cm. ISSN 1983-053X

    1. Biologia histria. 2. Histria da biologia. 3. Biologia filosofia. 4. Filoso-fia da biologia. I. Martins, Lilian Al-Chueyr Pereira. II. Prestes, Maria Elice Brzezinski. III. Martins, Roberto de Andrade. IV. Filosofia e Histria da Bio-logia. V. Associao Brasileira de Filosofia e Histria da Biologia, ABFHiB.

    CDD 574.1 / 574.9

    Filosofia e Histria da Biologia indexada por: Clase - http://dgb.unam.mx/index.php/catalogos Historical Abstracts - http://www.ebscohost.com/academic/historical-abstracts Isis Current Bibliography - http://www.ou.edu/cas/hsci/isis/website/index.html Latindex-http://www.latindex.unam.mx/buscador/ficRev.html?opcion=1&folio=20393 Philosophers Index - http://philindex.org/

  • v

    Sumrio

    Andrea Revel Chion, Elsa Meinardi, Agustn Adriz-Bravo Elementos para un anlisis histrico-epistemolgico del concepto de salud con implicaciones para la enseanza de la Biologa

    01

    Antonio Carlos Sequeira Fernandes, Celso Lira Ximenes, Miguel Telles Antunes Na Ribeira do Acara: Joo Batista de Azevedo Coutinho de Montaury e a descoberta documentada de megafauna no Cear em 1784

    21

    Claudio Ricardo Martins dos Reis A argumentao darwiniana em A origem das espcies: de casos especficos a princpios gerais

    39

    Esteban A. Greif, Alberto Onna Sobre la transmisin y la produccin del conocimiento cientfico, un estudio de caso: Darwin y Muiz

    61

    Jos Alsina Calvs Conceptos anteriores a la propuesta del trmino biologa: Historia de los Animales de Buffon

    75

    Lus Junqueira Vida Artificial e seu correlato biolgico: algumas possibilidades e limitaes

    91

    Roberto de Andrade Martins A doutrina das causas finais na Antiguidade. 1. A teleologia na natureza, dos pr-socrticos a Plato

    107

  • vii

    Apresentao

    A imagem da capa deste fascculo de Filosofia e Histria da Biolo-gia remete a artigo que discute a formao da concepo de causas finais na Antiguidade, e sua utilizao para explicar os fenmenos naturais, especialmente em Scrates e Plato. Noutro extremo temporal, outro artigo contextualiza as iniciativas recentes relacio-nadas Vida Artificial, discutindo as possibilidades abertas por essa nova rea de pesquisa na atualidade.

    O sculo XVIII tematizado em artigo que discute as contri-buies de Buffon para a distino entre seres vivos e no vivos e em artigo que procura identificar os locais de coleta de fsseis no Nordeste do Brasil.

    O sculo XIX o cenrio para a discusso sobre a difuso das ideias de Darwin na Argentina, por Francisco Xavier Muiz, dis-cutindo, oportunamente, cincia dos pases europeus e latino-americanos. A argumentao de Darwin em A origem das espcies objeto de anlise em artigo que compara as explicaes do natura-lista para casos especficos, como o do pombo domstico, e para princpios gerais, como o das relaes de animais e plantas, entre outros.

    O conceito de sade objeto de anlise em artigo que finaliza com discusso sobre sua relao com o ensino de Biologia.

    Os Editores Lilian Al-Chueyr Pereira Martins

    Maria Elice Brzezinski Prestes Roberto de Andrade Martins

  • viii

    A capa deste fascculo de Filosofia e Histria da Biologia traz um

    mosaico que retrata um grupo de filsofos caracterizados por vestimentas tpicas associadas aos oradores gregos e filsofos do perodo clssico. A segunda e a terceira figura, a partir da esquer-da, so consideradas como representando Lsias e Plato.

    O Mosaico da Academia de Plato, da Casa de T. Siminius Stephanus, Pompeii, sculo I, integra coleo do Museu Arqueo-lgico Nacional de Npolis.

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 1

    Elementos para un anlisis histrico-epistemolgico del concepto de salud con impli-

    caciones para la enseanza de la Biologa

    Andrea Revel Chion Elsa Meinardi #

    Agustn Adriz-Bravo

    Resumen: En este trabajo presentamos un recorrido histrico-epistemolgico de los conceptos de salud y enfermedad realizado con el objetivo de exponer someramente los debates que han tenido lugar en con-textos histricos, filosficos, epidemiolgicos y mdicos. A partir de este anlisis, proponemos un modelo multicausal y multirreferencial, susceptible de ser aplicado en la escuela secundaria, que se ajusta a las prescripciones curriculares actuales en la Argentina. Este modelo mostr recoger la comple-jidad del binomio salud-enfermedad, superar las limitaciones del modelo biologicista e incluir la estrecha relacin entre el ambiente y la salud. Palabras clave: salud; ambiente; modelo multicausal y multirreferencial; prescripciones curriculares

    Elements for a historical-epistemological analysis of the concept of

    health with implications for the biology Teaching

    Grupo de Historia, Epistemologa y Didctica de las Ciencias. Instituto CeFIEC. Facultad de Ciencias Exactas y Naturales. Universidad de Buenos Aires. Avenida Elcano, 3929, Buenos Aires, Argentina, CP 1427. E-mail: [email protected] # Grupo Didctica de la Biologa. Pabelln 2, Ciudad Universitaria. Avenida Inten-dente Giraldes, 2620, Buenos Aires, Argentina, CP 1428EGA. E-mail: [email protected] Grupo de Historia, Epistemologa y Didctica de las Ciencias. Calle Freire, 935, Dpto. 6, Buenos Aires, Argentina, CP 1426. E-mail: [email protected]

  • 2

    Abstract: In this paper we introduce a historic-epistemological overview on the concepts of health and illness, carried out with the aim of present-ing succinctly the debates that have taken place in historical, philosophical, medical, epidemiologic circles. From such an analysis, we propose a multi-causal and multireferretial model, susceptible of being applied at high school, for it would be inkeeping with the present curricular prescriptions for such level in Argentine. This model showed the complexity of the binomial col-lect health and disease, overcome the limitations of the model biologist and include the close relationship between the environment and health. Key words: health; environment; multicausal and multireferential model; curricular prescriptions

    1 INTRODUCCIN Los debates referidos a los alcances de los diferentes modelos de

    salud y enfermedad y a las relaciones entre ellos tienen lugar en mbi-tos muy alejados de las instituciones educativas, ya sean estos mbitos filosficos, epidemiolgicos o histricos; por ello, esos debates mu-chas veces llegan a las instituciones educativas con aos de retraso. Es as como, al menos en educacin, coexisten modelos ya perimidos con otros ms recientes, siendo todos relativamente insuficientes para explicar fenmenos tan complejos como los relacionados con la salud y la enfermedad a la luz de las demandas curriculares actuales de la escuela media tales como la participacin ciudadana y la toma de decisiones en cuestiones sociocientficas a partir de juicios crticos. Este condujo a realizar un anlisis de los modelos disponibles, con el fin de determinar el que pudiera resultar ms apropiado para imple-mentar en la escuela media a fin de alcanzar aquellas finalidades curri-culares.

    Las interpretaciones identificadas en las fuentes consultadas inclu-yen de modos ms o menos explcitos los determinantes contempla-dos en la salud-enfermedad. Se ha abrevado en fuentes que abordan la historia de las enfermedades, fuentes que se abocan a cuestiones mdicas y epidemiolgicas, otras que encaran las discusiones filosfi-cas en torno a los alcances de los conceptos de salud-enfermedad, en funcin de que hemos considerado que la propia complejidad de este binomio demanda de todos estos referentes para su estudio.

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 3

    2 ANLISIS HISTRICO-EPISTMICO De acuerdo con Adriz-Bravo (2010), el anlisis histrico-

    epistmico se puede definir como un anlisis epistmico e internalista de un determinado campo en la historia de la ciencia. Segn este au-tor, se trata de un anlisis porque se realiza una descomposicin del contenido a estudiar. Es un anlisis epistmico porque est centra-do en las particularidades de un contenido baseado em modelos te-ricos, y se afirma que es internalista porque se concentra primordi-almente en las variables internas de la dinmica del conocimiento, sin desconocer los condicionantes externos, es decir, elementos histri-cos y sociales que marcan e impactan en la constitucin de los con-ceptos cientficos. En este sentido, sera posible decir, a propsito del anlisis histrico-epistemolgico de un cierto conocimiento, que:

    [...] tiene por objetivo entender su naturaleza, su significado y sentido al determinar las causas que posibilitaron su aparicin, identificar las diferentes etapas de su construccin en el mbito cientfico, as como las condiciones de sus transformaciones sucesivas hasta llegar al aula como objeto de enseanza. (Martnez-Sierra & Poirier, 2008, p. 200)

    2.1 Los cambios en las formas de concebir la salud y la en-fermedad a lo largo de la historia.

    En el senso comum, hasta poco ms de 1880 se persista en afir-mar que la salud era el resultado de una accin divina, un don para aquellos que cumplan con los preceptos de un credo religioso. Papp y Agero (1994) afirman que la prdida de la salud estuvo, desde la prehistoria, ligada a una venganza o un castigo de los dioses. Varian-tes anteriores a la tradicin judeo-cristiana sostenan que la enferme-dad era el producto de un desequilibrio con el orden csmico o de un agresor externo enviado (Carmona, 2005; Le Goff & Truong, 2005). Estas concepciones se inscriben en una perspectiva unicausal1 del origen de la enfermedad.

    1 El modelo unicausal reconoce una causa nica para la enfermedad, siempre ubicada por fuera del organismo que fue la concepcin dominante desde los inicios mismos de las sociedades (Estrada Ospina, 2006).

  • 4

    Nacido en Cos, Hipcrates (460-370 a.C.) expulsa lo mgico que reinaba en torno a las enfermedades y afirma que estas slo dependen de causas racionales que podan ser descubiertas por medio de la observacin minuciosa y metdica de los pacientes. Propuso que la salud derivaba de la justa distribucin del aire, el agua, la tierra y el fuego, coordinados con los cuatro humores del cuerpo: sangre, flema, bilis y atrabilis.

    Ms tarde, Galeno (130-200 d.C.) sintetiza los conocimientos de los mdicos griegos y edifica una ciencia con bases anatmicas y fisio-lgicas. Afirmaba que cada elemento en la naturaleza tena una causa final por lo que, en ese mismo sentido, cada rgano cumpla una fun-cin precisa. Apoy la teora hipocrtica de los humores y, en base al predominio de unos u otros, describi cuatro temperamentos huma-nos: sanguneo, colrico, flemtico y melanclico.

    Papp y Agero (1994) afirman que tras la cada del imperio de oc-cidente, la Iglesia Catlica rigi los fines espirituales de la sociedad que diariamente esperaba el Juicio final y subordina todas las ramas del saber a las finalidades religiosas, dejando de lado a la ciencia edifi-cada hasta el momento.

    Alrededor del ao 1800, hombres y mujeres de zonas rurales de Europa, espoleados por el hambre, emigraron a las ciudades en busca de mejores empleos encontrando, en un enorme nmero de casos, condiciones de vida sumamente miserables: hacinamiento, formas inadecuadas de eliminacin de residuos y excretas, olores pestilentes, y enfermedades tales como tuberculosis, fiebre tifoidea y clera, agra-vadas todas por la desnutricin. Lentamente se comienza a negar la aceptacin de un desenlace mortal frente al que nada puede hacerse (McKeown, 2006), y a considerar factible la intervencin en el ambi-ente con el objetivo de controlar las enfermedades.

    En 1842, Edwin Chadwick (1800-1890) abogado y funcionario del servicio pblico de salud de Londres, que particip en la reforma de la Ley de Pobres, present los resultados de un informe que mostraba que los sectores de la poblacin londinense que vivan en la miseria sufran un porcentaje ms elevado de enfermedades que los de secto-res de mayores recursos, al tiempo que afirmaba que muchas de aquellas enfermedades eran evitables. Aquel informe sent las bases del movimiento higienista: William Farr (1807-1883) en Inglaterra y

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 5

    Louis-Ren Villerm (1782-1863) en Francia, cuyas preocupaciones principales eran el control de las enfermedades, tambin construyeron informes epidemiolgicos sobre las condiciones de vida (Caponi, 2002). La enfermedad es considerada un fenmeno social, y la higiene se convertir en el centro de su accionar a travs de la eliminacin de la basura, la instalacin de agua corriente, el control de las cloacas, y la ventilacin de las viviendas (Arredondo, 1992). El hacinamiento, la pobreza, el hambre asociada, las jornadas de 69 horas semanales que cumplan los trabajadores fabriles ingleses y el trabajo infantil sern fuertemente denunciados por los higienistas como factores desenca-denantes o agravantes de las enfermedades (Watts, 2000).

    Bajo esta concepcin puede reconocerse a los higienistas pre-pasteurianos, quienes buscaban en el ambiente las causas de las en-fermedades; as, los llamados miasmas, aquellos vapores que conside-raban que se desprendan de los enfermos o de las sustancias en des-composicin, fueron los primeros elementos a atacar para controlar las enfermedades. Los primeros higienistas no pueden inscribirse de lleno en una perspectiva unicausal, porque buscan los orgenes de las enfermedades en varios factores asociados al ambiente. Adems, y como se sugiri, la eficiencia que mostr el movimiento higienista podra no estar reida con atribuirle a Dios alguna responsabilidad en la aparicin de las enfermedades (Dubos, 1974).

    Los trabajos de Francesco Redi (1626-1697), Ignaz Semmelweis (1818-1865) y finalmente Louis Pasteur (1822-1895) permitieron aceptar el origen microbiano de las enfermedades. A pesar del reco-nocimiento del origen microbiano de algunas enfermedades, los higi-enistas post-pasteurianos siguieron teniendo en cuenta los principios higinicos que haban demostrado con creces ser efectivos. Burnet y White (1982) sostienen que el verdadero control de las epidemias pudo lograrse cuando se conocieron los mecanismos de contagio.

    La higiene posterior a Pasteur reproduca el esquema del higienis-mo clsico, esencialmente miasmtico, generalizando sus afirmaciones a partir de un conocimiento bien fundado; as enunci que: (a) toda enfermedad se debe a un microbio; y (b) todo microbio precisa para multiplicarse de condiciones higinicas precarias (Hayward, 1989).

    La aceptacin de la teora contagionista supuso aceptar tambin que la enfermedad no surga solo del aire, sino que los alimentos, el

  • 6

    agua, y hasta las manos de los mdicos podan contener microbios. La experiencia de Semmelweis es ilustrativa no solo del xito que logra-ron las acciones higienistas, sino tambin de la resistencia que tendra que soportar la teora basada en los grmenes.

    Los avances y xitos en el campo de la medicina hicieron que las explicaciones mgico-religiosas dejaran lugar paulatinamente a un modelo terico biologicista para explicar el desequilibrio y la aparicin de la enfermedad que considerada a la salud como la ausencia de enfermedad (Arredondo, 1992). Esta sustitucin no modific sin embargo el modelo terico; la unicausalidad, cuyos mximos expo-nentes fueron Pasteur y Robert Koch (1843-1910) no fue capaz de explicar por qu el mismo agente causal no produce siempre enfer-medades; al no incluir otros factores descifr de manera parcial las causas de la enfermedad. Ahora son las bacterias, los virus u otras noxas las causas nicas de la enfermedad.

    Caponi (2002) afirma que el xito de la microbiologa post Pasteur llev a los investigadores en salud a buscar para todas las enfermeda-des una causa microbiana, aun para aquellas debidas a carencias o a defectos genticos. En numerosos casos, ese reduccionismo se revel inadecuado.

    El avance de la medicina y de los mbitos asociados a ella, tales como la bacteriologa y la farmacologa, gener una sobreestimacin de sus xitos, al menos en lo referido a las enfermedades infecciosas. Segn Castro (2011) y McKeown (2006), muchas enfermedades in-fecciosas fueron controladas en mayor medida por el avance de la sanidad y las medidas sociales, a travs de intervenciones tales como la potabilizacin del agua para consumo, el control en la distribucin y la preparacin de alimentos, la mejora en las condiciones de haci-namiento, la limitacin de la jornada laboral y la prohibicin del tra-bajo infantil. Incluso la vacunacin es considerada, desde esta pers-pectiva, tanto una medida mdica como social, y ser solo cuando las medidas sociales fallen en prevenir las infecciones que entrar en accin la medicina con las drogas especficas.

    Segn McKeown (2006), las infecciones disminuyeron en el mun-do occidental en los ltimos tres siglos principalmente por dos moti-vos: la mayor resistencia a las enfermedades debida a la mejora de la nutricin, y la disminucin de la exposicin a las infecciones despus

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 7

    de que aquellas medidas higinicas se introdujeran progresivamente a partir de finales del siglo XIX.

    La concepcin biologicista se ajusta al modelo cartesiano, donde la metfora de la mquina ser til para representar el organismo huma-no y sus desarmonas; la enfermedad sera el dao a dicha maquinaria y, en esa perspectiva, el mdico ser quien la repara.

    Desde que Descartes propuso como propio de la ciencia slo el co-nocimiento de la maquinaria humana, dejando el alma, inmortal e inaccesible, al cuidado divino, el estudio cientfico del ser humano excluy el rasgo ms conspicuo de la naturaleza humana: el fuero mental. (Archiga 1997, p. 8)

    Segn la posicin biologicista, la causa de la enfermedad es un agente biolgico; el tipo de razonamiento causal de este modelo tiene limitaciones interpretativas bien definidas, ya que puede explicar la enfermedad en trminos de los propios procesos biolgicos, pero sin otros alcances, por ejemplo, al verse imposibilitado de explicar por qu solamente algunos individuos y no todos los que se contagian llegan a enfermarse, ni por qu razn algunos grupos presentan una alta frecuencia de una enfermedad mientras que en otros est prcti-camente ausente (Laurell, 1982).

    El reduccionismo biolgico ser criticado en el mbito de la epi-demiologa a partir de los aos 1960 en virtud de la exclusin de otros factores para explicar la enfermedad caracterstica bsica de la uni-causalidad en la que se inscribe y por ser ahistrico, es decir, por negarle a la enfermedad su carcter histrico y socio-cultural.

    Respecto del reduccionismo biolgico en relacin a la salud, Campos afirma:

    Este objeto de estudio y de intervencin estar reducido en mltiples dimensiones: por un lado, un enfoque desequilibrado hacia el lado biolgico, al olvidarse de las dimensiones subjetivas y sociales de las personas, lo que acarrear que los saberes y prcticas estn marcados por el mecanicismo y la unilateralidad en el enfoque. Por otro lado, se aborda ms a la enfermedad que al individuo; aun cuando ste es considerado, se piensa en un individuo fragmentado, un ser compu-esto de partes que slo en teora guardan alguna nocin de interde-pendencia. (Campos, 2001, p. 79)

  • 8

    2.2 La definicin de la OMS En 1946, la OMS propuso que la salud es el estado de completo

    bienestar, fsico, mental y social y no solo la ausencia de afecciones o enfermedades, lo que represent un paso adelante, especialmente porque permiti superar la idea de la salud como ausencia de enfer-medad, en la que el alcance limitado del anlisis se evidencia en la referencia casi exclusiva a las alteraciones orgnicas. As, al introducir la OMS la nocin de bienestar hace alusin a los aspectos psicolgi-cos y sociales.

    Finalizada la Segunda Guerra Mundial, la propuesta se inspir en la necesidad de alertar acerca de la importancia de concretar esfuerzos para lograr mejores condiciones de vida para todos. Fue indudable-mente un modo de indicar que las necesidades de las poblaciones no se limitaban a un funcionamiento biolgico correcto. Represent decididamente una visin innovadora, sin perjuicio de lo cual fue susceptible de crticas (Estrada Ospina, 2006).

    Ser criticado el hecho de que la salud y la enfermedad no pueden asociarse a un estado puntual, ya que los individuos se mueven y osci-lan entre ambos extremos (salud- enfermedad y muerte) de acuerdo al quiebre o al refuerzo de la relacin con el ambiente; es decir que la cuestin es procesual, no puntual (Kornblit & Mendes-Diz, 2000).

    La exclusin de la nocin de estado es imprescindible para in-cluir una visin dinmica y cambiante para la salud, opuesta a una visin mecanicista y biologicista caracterstica de la concepcin hegemnica de la medicina tradicional. Alrededor de la dcada del 1970 en relacin con la crtica a la idea de estado, Milton Terris (1915-2002) a quien se le adjudica haber incluido un aspecto subje-tivo para la salud al separar los trminos enfermedad (disease) y ma-lestar (illness), aludiendo al hecho de que es posible la coexistencia del bienestar y la enfermedad propuso que la salud debe concebirse como un proceso complejo y dialctico, biolgico y social, alejado del equilibrio, pero con cierto grado de estabilidad como consecuencia de mecanismos de adaptacin y relaciones dinmicas, ecolgicas, cultura-les, polticas, econmicas, vitales e histricas (Mittelbrunn, 2008).

    Por otro lado, se critica si es posible pensar en un completo bienes-tar fsico-mental y social, aun para las sociedades ms desarrolladas, con los mejores niveles de asistencia, educacin, etc. La respuesta es

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 9

    taxativamente negativa porque, adems, es inevitable tener en cuenta el carcter oscilatorio en el binomio salud-enfermedad, con lo cual, aun si se consideraran aquellos sectores ms favorecidos, la idea de un estado sanitario completo es insostenible.

    2.3 Los inicios de la multicausalidad En la dcada de 1960, la perspectiva unicausal comienza a ser cu-

    estionada en el mbito mdico; en primer lugar, debido a sus limitaci-ones para explicar acabadamente el proceso de la salud a la enferme-dad y, en segundo lugar, porque se identifica que la perspectiva uni-causal, en el campo de los servicios de salud, condujo a costosas in-versiones de infraestructura para el diagnstico y tratamiento de las enfermedades, con el resultado de que solo una pequea porcin de la poblacin accedi a dichas estructuras, y por lo tanto pervivieron grandes sectores sin servicios eficientes de salud (Estrada Ospina, 2006).

    Ren Dubos (1901-1982) propuso en 1959 que la salud es un es-tado fsico y mental razonablemente libre de incomodidad y dolor, que permite a la persona en cuestin funcionar efectivamente por el ms largo tiempo posible en el ambiente donde por eleccin est ubicado. Aos despus afirm: La salud y la felicidad son manifesta-ciones de la manera en que el individuo responde y se adapta a los desafos que le plantea la vida diria (Dubos, 1974, p. 26).

    La salud no es entonces considerada como ausencia de toda en-fermedad, sino en relacin con un ambiente constantemente cambi-ante que impone enfrentar a millares de noxas, estmulos, presiones y problemas. Si bien, tal como se ha resaltado, la nocin de estado sigue an vigente, fue Dubos quien enfatiz por primera vez la necesidad de considerar al ambiente en un sentido amplio, en el que las deter-minaciones sociales tomaran un lugar preponderante.

    El modelo multicausal, es decir, la perspectiva que asume que no hay una sola causa para explicar la enfermedad sino que coexisten varias, surge con el objetivo de proponer un nuevo marco que inter-prete el proceso de salud y enfermedad. Se consolid partir de 1960 y permiti comprender algunas enfermedades devenidas con el desar-rollo de la civilizacin industrial como por ejemplo las enfermedades

  • 10

    cardiovasculares, en las que intervienen mltiples causas: tabaco, hi-percolesterolemia, hipertensin, estrs etc.

    Dir Dubos:

    De hecho, muy pocas enfermedades tienen una sola causa. Miles de personas son portadoras de microbios de gripe, tuberculosis, infecci-ones estafiloccicas y muchas otras. Sin embargo, la inclemencia del tiempo o el hambre, incluso la disensin familiar pueden ser la chispa que haga estallar la enfermedad. Cada enfermedad, de cualquier clase que sea, suele ser consecuencia de una variedad de causas, no de una sola y no hay dos personas que reaccionen de la misma manera a una misma causa. (Dubos, 1974, p. 13)

    En apoyo a esta idea, el mdico sanitarista argentino Ramn Car-rillo expone la famosa afirmacin: Frente a las enfermedades que genera la pobreza, frente a la angustia, la tristeza y el infortunio social de los pueblos, los microbios como causa de enfermedades, son unas pobres causas (Ordez, 2004, pp. 144-147).

    Los inicios de la multicausalidad pretendieron identificar aquellas relaciones que hicieran posible prevenir la enfermedad, identificar la causa y el efecto, y romper la cadena causal, ya sea modificando o suprimiendo algunas de las variables intervinientes. Pero el modelo, as planteado, se mostr incapaz de buscar algunos tipos de causas, y solo pudo dar una respuesta de carcter prctico para disminuir los problemas sanitarios sin tocar las causas estructurales. Al respecto, Estrada Ospina plantea:

    Se defiende as una idea muy particular de multicausalidad que en la prctica se ha convertido en una especie de nueva trampa epistemo-lgica, conceptual y metodolgica ya que no permite avanzar en la construccin de un conocimiento complejo en donde se precise con toda claridad el peso de las determinaciones causales, sean estas natu-rales o sociales. (Estrada Ospina, 2006, p. 171)

    Alrededor de 1965, los epidemilogos americanos Gurney Leavell y Hugh Clark propusieron el modelo de la trada ecolgica, o modelo causal ecolgico, como una variante del modelo multicausal segn la cual el hombre vive en un medio ambiente que evoluciona constan-temente por las actividades humanas y apenas, y con grandes dificul-tades, ha conseguido cierto equilibrio con algunas enfermedades (Burnet & White, 1982).

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 11

    Este modelo establece que los elementos causantes de la enferme-dad se ordenan en tres categoras o factores: agente, husped y ambi-ente, interrelacionados en un equilibrio constante; la alteracin de uno de ellos causa alteracin en los otros (Estrada Ospina, 2006). Pueden reconocerse en el pasado lneas de accin y de pensamiento en este sentido, tal como lo representa el control de la epidemia de clera de Londres de 1849 por parte de John Snow (1813-1858), que actu sobre los pozos de provisin de agua para consumo, contaminados con aguas provenientes de las letrinas (Cartwrigt & Biddiss, 2005; Watts, 2000).

    Aunque en el modelo se expresa la intencionalidad de establecer las interacciones entre el ambiente y la salud, el mismo ser criticado por no dimensionar la categora social y, en ese sentido, el proceso vuelve a biologizarse. La visin ecolgico-biologicista muestra nue-vamente los factores intervinientes en el proceso salud-enfermedad como ahistricos, estableciendo una especie de ruptura con lo social, y escindiendo esta categora de la natural a propsito de la interpreta-cin del proceso salud-enfermedad. Si bien se incorpora el ambiente constituyendo parte de la trada, se enfatiza lo externo, lo que le val-dr que se le adjudique adscribir solapadamente a la (uni) causalidad externa (Estrada Ospina, 2006).

    En la dcada de los aos 1970, tal vez como consecuencia del au-ge de los movimientos ecologistas y humanistas, el concepto de am-biente en una perspectiva amplia comienza a aparecer de un modo explcito, al tiempo que se reconoce la influencia del entorno social en los procesos de salud-enfermedad cuestin olvidada desde que Dubos la planteara a fines de los aos 1950. En este sentido, el mdi-co italiano Alessandro Seppilli propone, en 1971, que la salud es el equilibrio funcional mental y fsico que lleva a una integracin din-mica del individuo con el ambiente natural y social (Berlinguer, 1994).

    Paulatinamente, se asume que la comprensin acabada del proceso de salud-enfermedad exige de la integracin de conocimientos de diferentes orgenes, generando aquello que llamaremos un espacio multirreferencial.

    Najmanovich y Lennie sugieren que las dificultades epistemolgi-cas, como las relacionadas con el determinismo causal, es decir, la pretensin de que la ciencia deba ocuparse de lo reproducible y de las

  • 12

    relaciones causa-efecto, lentamente empiezan a resquebrajarse y des-dibujarse. En relacin con la complejidad de las cuestiones vinculadas a la salud, se advierte que no es posible limitar su anlisis a relaciones unvocas entre sus elementos, sino que ese anlisis debera estar ori-entado hacia las probables relaciones y sus efectos entre los facto-res que se involucran en la salud y la enfermedad.

    El enfoque multicausal se sustenta en la necesidad de la inclusin de determinantes biolgicos, sociales, polticos etc., en especial los enfoques interdisciplinarios intentan alertar acerca del dispar impacto que ciertos determinantes ejercen en el proceso salud-enfermedad.

    Maglio (2008) sugiere que, como reaccin a dichos enfoques, sur-ge en el marco del estudio de las enfermedades infecciosas emergen-tes la epidemiologa crtica dentro del enfoque histrico-social basada en el reconocimiento de la naturaleza mltiple del surgimiento de las enfermedades. De acuerdo con este modelo, la tarea clave es analizar los marcos conceptuales existentes (estudios microbiolgicos, anatmicos, fisiolgicos, etc.) y responder a la pregunta: Qu ha quedado ocultado bajo este modo de concebir la enfermedad? La pretensin es alertar acerca del hecho de que no se pretende limitar o suplantar el aporte de las reas que tradicionalmente han encarado el estudio de las enfermedades, sino que el problema reside en lo que ellos denominan exceso de ciencia, es decir, un enfoque demasiado estrecho. En medicina hacemos dao con dos extremos: con un positivismo biologicista que no tiene en cuenta lo cultural o con un culturalismo relativista que no tiene en cuenta lo biolgico (Maglio, 2008, p. 131).

    Paul Farmer (1996) afirma que se debe asumir un enfoque din-mico, sistmico y crtico al que se sumen las ciencias sociales, al tiem-po que Diamond (2006) y Oldstone (2002) hacen una fusin de los elementos biolgicos, sociales e histricos para la explicacin de la conquista de Amrica por los espaoles; la omisin de cualquiera de dichos elementos describira una escena incompleta y pobre de los hechos.

    El modelo histrico-social, del cual son representantes Jaime Breilh, Giovanni Berlinguer y Asa Laurell, enfatiza, por primera vez, la estrecha relacin existente entre la salud, la enfermedad y el contex-to histrico y social, incorporndolo al anlisis epidemiolgico. No

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 13

    niegan la existencia ni la relevancia de lo biolgico, ni la importancia del proceso adaptativo entre husped, agente y ambiente, pero se preguntan acerca de las razones por las que se presenta cierta pro-blemtica en un momento y en un grupo social determinado, siendo esto lo que determina la historicidad. Denuncian as la ineficacia de la prevencin y el control de las enfermedades de mantenerse las relaciones de explotacin que las generan (Arredondo, 1992).

    Los procesos de salud-enfermedad estn determinados por procesos sociales, econmicos, polticos y culturales, que inciden en los modos de vida posibles de las comunidades, la calidad de los estilos de vida familiares e individuales y las relaciones con la naturaleza y el territo-rio social. (Breilh, 2003, p. 51)

    En este contexto, la enfermedad es considerada una incapacidad para mantener las condiciones homeostticas, no solo en relacin con las funciones del organismo sino tambin en relacin con el ambien-te, es decir que la integracin sujeto-ambiente tambin ser determi-nante del nivel de salud. Berlinguer dir, a propsito de dicha interac-cin:

    Integracin, obviamente, no significa adaptacin forzosa del hombre a condiciones inhumanas. Al contrario, es una condicin que permite prolongar la vida y llegar a completar el ciclo biolgico en la relativa plenitud de las capacidades fsicas y mentales. (Berlinguer, 1994, p. 33)

    La relacin de la salud con el ambiente, desde esta perspectiva, es estrechsima, ya que el proceso salud-enfermedad est determinado por el modo como en el que el ser humano se apropia de los recursos de la naturaleza en los diferentes momentos histricos.

    3 SALUD Y ENFERMEDAD: MBITOS DE USO DE LOS CONCEPTOS

    En la actualidad conviven varias concepciones acerca de la salud y la enfermedad. Pocos conceptos son usados en contextos tan diferen-tes y, por lo tanto, con un abanico de alcances y significados tan am-plio; algunos de esos contextos son el mdico, el cultural y el socio-econmico.

  • 14

    En el contexto mdico, el concepto que prevalece es el de la en-fermedad como hecho objetivo sustentado en las evidencias anatmi-cas, fisiolgicas o bioqumicas, reconocible y categorizable de acuerdo a las clasificaciones de la medicina actual. En este contexto, aunque sea de modo implcito, se mantiene la concepcin de salud como la ausencia de enfermedad.

    En el mbito cultural el concepto es el de malestar o dolencia a travs del cual los individuos manifiestan sentirse enfermos, teniendo como referentes los patrones de la cultura dominante; desde aquellos mandatos, el objetivo que persiguen es recuperar el patrn considera-do normal. Hay una estrecha relacin entre los patrones de normali-dad y la nocin de salud como una construccin histrica y social, que conlleva a valoraciones respecto de qu es deseable o tolerable. As, ciertos estados podran ser considerados morbosos en el marco de una cultura y no en otra. El caso de la obesidad podra ser un ejemplo paradigmtico de este siglo (Kornblit & Mendes-Diz, 2000; Berlinguer, 1994).

    En relacin con el contexto social-econmico, tal como se co-ment, se considerar que la salud es un bien econmico con un peso fundamental en el desarrollo de los pases, al tiempo que es la estruc-tura social la que determina los patrones de enfermedad, como mues-tran por ejemplo las epidemias de Sida y de diabetes; es decir, cmo se puede explicar la propagacin del VIH sino es a travs de los pa-trones sociales, o cmo se podra analizar la pandemia de diabetes tipo II sin analizar la poltica econmica agroalimentaria? (Nabhan, 2006).

    3.1 El mbito escolar Desde nuestra perspectiva, en el mbito escolar se impone una

    mencin explcita de la relacin entre salud y ambiente; asumiendo el carcter procesual de la salud se resalta la imposibilidad de separar ambos conceptos. La palabra salud proviene del latn salus, que signi-fica estar en condiciones de poder superar un obstculo. De esa palabra derivan salud y salvacin, y el trmino castellano salvarse incluye el significado original de superar una dificultad. En esta lnea se puede considerar que la salud nos permite superar los obst-culos que el ambiente propone. Canguilhem, a su tiempo, defini el

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 15

    concepto de salud como la posibilidad de enfrentar las situaciones nuevas a partir del margen de tolerancia y de seguridad para superar las infidelidades del medio: Lo normal es vivir en un medio en que fluctuaciones y nuevos acontecimientos son posibles (Canguilhem, 1990, p. 146).

    Entendemos que el ambiente es el entorno que afecta y condicio-na las circunstancias de vida y comprende el conjunto de valores naturales, sociales y culturales existentes en un lugar y un momento determinado, que influyen en la vida del ser humano y las generacio-nes venideras (Meinardi & Gonzlez Galli, 2009).

    En relacin con el ser humano y el ambiente, Caponi (1997) recu-erda que Canguilhem plantea la existencia de una relacin dialctica del individuo con su medio y la inexistencia de algo semejante a una salud perfecta. La salud y la enfermedad son procesos inevitables que se suceden uno a otro; la polaridad salud-enfermedad es dinmica, cualitativa.

    Focalizados en este mbito hemos propuesto un enfoque, que de-nominamos multicausal y multirreferencial, para la explicacin del origen de las enfermedades, lo que ha conducido a sostener una concepcin de salud como adaptacin diferencial al ambiente. As, se considera que son varios los factores que generan la aparicin de las enferme-dades de all la importancia de concebir el ambiente en los trminos en los que se lo ha expuesto y varios tambin los referentes y cam-pos de conocimiento requeridos para su explicacin:

    Muchos de los aportes ms importantes en la creciente investigacin de las EIE [Enfermedades Infecciosas Emergentes] han examinado los problemas epistemolgicos asociados a esta tarea, y estn familia-rizados con la naturaleza mltiple del surgimiento de las enfermeda-des. Los factores responsables incluyen cambios ecolgicos, como los que se producen a causa del desarrollo econmico o agrcola, o anomalas climticas; cambios demogrficos y comportamientos hu-manos; transporte y comercio; tecnologa e industria; adaptacin y cambio de los microbios; y fracaso de las medidas de salud pblica. Un reciente informe del Instituto de Medicina sobre infecciones emergentes ni siquiera clasifica las amenazas microbiales segn su ti-po de agente, sino de acuerdo a los factores que estn relacionados con su emergencia (Farmer, 1996, p. 268).

  • 16

    El modelo de salud-enfermedad sugerido fue escogido en funcin de asumirlo capaz de superar algunas limitaciones epistemolgicas del modelo biologicista. Por otra parte, las demandas curriculares actuales de muchos pases enfatizan la importancia de la adquisicin de com-petencias para participar en asuntos socio-cientficos a partir de jui-cios crticos (Jimnez-Aleixandre & Federico-Agraso, 2009) cuyo cumplimiento podra peligrar si la problemtica de la salud y la en-fermedad es encarada desde la perspectiva biologicista.

    4 A MODO DE CONCLUSIN Los conceptos de salud y de enfermedad, tal como han sido ex-

    puestos, son complejos y de muy difcil precisin; decidir qu elemen-tos deberan ser incluidos en ellos y cules excluidos ha generado debates y controversias en los mbitos que se han dedicado a este anlisis a lo largo de la historia. Ciertamente, tales debates y contro-versias distan mucho de haber concluido pero conocerlos es funda-mental para comprender en qu han consistido dichos debates y las dificultades que supuso y supone un consenso en torno a los alcances de estos conceptos. Analizadas las limitaciones del modelo biologicis-ta imperante en las instituciones educativas en funcin de las pres-cripciones curriculares sealadas, hemos expuesto la necesidad de concebir un modelo complejo, multicausal y multirreferencial (Revel Chion & Meinardi, 2009; Revel Chion, Adriz-Bravo & Meinardi, 2010a), con claras, explcitas y fuertes vinculaciones con el ambiente social y natural. A modo de ejemplo, el curriculum para la asignatura Educacin para la salud, de la Ciudad Autnoma de Buenos Aires plantea entre otras orientaciones:

    Promover la interpretacin del organismo humano en su doble di-mensin biolgica y cultural, advirtiendo los riesgos de explicaciones y argumentos puramente biolgicos.

    Promover el logro de un pensamiento crtico y el acceso al conoci-miento como saber integrado, a travs de las distintas reas y disci-plinas que lo constituyen y a sus principales problemas, contenidos y mtodos. (Argentina, 2004, p. 5)

    Creemos que el modelo multicausal y multirreferencial propuesto se alinea con estas prescripciones y ofrece un marco propicio para

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 17

    que los estudiantes identifiquen el carcter complejo del proceso de salud-enfermedad.

    REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

    ADRIZ-BRAVO, Agustn. Aproximaciones histrico-epistemolgicas para la enseanza de conceptos disciplinares. Re-vista EDUCyT, 1 (1): 107-126, 2010.

    ARCHIGA, Hugo (coord.). Ciencias de la salud. Mxico: Siglo XXI, 1997.

    ARGENTINA. SECRETARA DE EDUCACIN. Direccin gene-ral de planeamiento y currcula. Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires. Educacin para la salud. Documento de Trabajo. Plan BC. 6680/56. Buenos Aires, 2004.

    ARREDONDO, Andrs. Anlisis y reflexin sobre modelos tericos de salud y enfermedad. Cuadernos de Sade Pblica, 8 (3): 254-26, 1992.

    BERLINGUER, Giovanni. La enfermedad: sufrimiento, diferencia, deligro, seal, estmulo. Buenos Aires: Lugar, 1994.

    BREILH, Jaime. Epidemiologa crtica. Buenos Aires: Lugar Editorial, 2003.

    BURNET, Frank Macfarlane; WHITE, David O. Historia natural de la enfermedad infecciosa. Madrid: Alianza, 1982.

    CAMPOS, Gasto Wagner de Sousa. Gestin en salud: en defensa de la vida. Buenos Aires: Lugar, 2001.

    CANGUILHEM, Georges. Lo normal y lo patolgico. Buenos Aires: Siglo XXI, 1990.

    CAPONI, Sandra. Georges Canguilhem y el estatuto epistemolgico del concepto de salud. Historia, Ciencias, Sade Manguinhos, 4 (2): 287-307, jul.-out. 1997.

    . Miasmas, microbios y conventillos. Asclepio: Revista de Historia de la Medicina y de la Ciencia, 1: 155-182, 2002.

    CARMONA, Juan Ignacio. Enfermedad y sociedad en los primeros tiempos modernos. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2005.

    CARTWRIGHT, Frederick; BIDDIS, Michael. Grandes pestes de la historia. Buenos Aires: El Ateneo, 2005.

    CASTRO, Roberto. Teora social y salud. Buenos Aires: Lugar Editorial / UNAM, 2011.

  • 18

    DIAMOND, Jared. Armas, grmenes y acero. Madrid: DeBolsillo, 2006. DUBOS, Ren. Salud y enfermedad [1965]. Trad. Monserrat Miquel.

    Alexandria, VA: Time-Life, 1974. (Coleccin Time-Life Books) ESTRADA OSPINA, Victor. Salud y planificacin social. Buenos Aires:

    Espacio, 2006. FARMER, Paul. Social inequalities and emerging infectious diseases.

    Emerging Infectious Diseases Journal, 2: 259-269, 1996. HAYWARD, John. Historia de la medicina. Mxico, D. F.: Fondo de

    Cultura Econmica, 1989. JIMNEZ-ALEIXANDRE, Mara Pilar; FEDERICO-AGRASO,

    Marta. Justification and persuasion about cloning. Research in Scien-ce Education, 39 (3): 331-347, 2009.

    KORNBLIT, Ana La; MENDES-DIZ, Ana. La salud y la enfermedad: aspectos biolgicos y sociales. Buenos Aires: Aique, 2000.

    LAURELL, Asa. Acerca de la reconceptualizacin de la epidemio-loga. Salud Problema, 8: 5-9, 1982.

    LE GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas. Una historia del cuerpo en la Edad Media. Buenos Aires: Paids, 2005.

    MAGLIO, Francisco. La dignidad del otro: puentes entre la biologa y la biografa. Buenos Aires: Libros del Zorzal, 2008.

    McKEOWN, Thomas. Los orgenes de las enfermedades humanas. Madrid: Triacastela, 2006.

    MARTNEZ-SIERRA, Gustavo; POIRIER, Pierre Franois Benoit. Una epistemologa histrica del producto vectorial: del cuaternin al anlisis vectorial. Latin-American Journal of Phisics Education, 2 (2): 201- 208, 2008.

    MEINARDI, Elsa; GONZLEZ GALLI, Leonardo. Por un ambi-ente sano. Ensear Mejor. Buenos Aires: Ediba, 2009.

    MITTELBRUNN, Carlos Ponte. Conceptos fundamentales de la salud a travs de su historia reciente. Asociacin para la defensa de la Sanidad Publica de Asturias, 2008. Disponvel em: . Acesso em 02 maro 2013.

    NABHAN, Gary Paul. Por qu a algunos les gusta el picante: alimentos, genes y diversidad cultural. Mxico, D. F.: Fondo de Cultura Econmica, 2006.

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2013. 19

    NAJMANOVICH, Denise; LENNIE, Vera. Pasos hacia un pensami-ento complejo en salud. Disponvel em: . Acesso em 02 maro 2013.

    OLDSTONE, Michael B. A. Virus, pestes e historia. Mxico, D. F.: Fondo de Cultura Econmica, 2002.

    ORDEZ, Marcos A. Ramn Carrillo, el gran sanitarista argentino. Electroneurobiologa, 12 (2): 144-147, 2004.

    PAPP, Desiderio; AGERO, Abel Luis. Breve historia de la Medicina. Buenos Aires: Claridad, 1994.

    REVEL CHION, Andrea; ADRIZ-BRAVO, Agustn; MEINARDI, Elsa. Anlisis histrico-epistemolgico de las con-cepciones de salud desde una perspectiva didctica: narrando la historia de la peste negra medieval. VIII Congreso Enseanza de las Ciencias, Septiembre 2009, Barcelona. Enseanza de la Ciencia, nu-mero especial del VIII Congreso: 168-172, 2009.

    . La argumentacin cientfica escolar en relacin con la cons-truccin de un modelo complejo de salud. IX Jornadas Nacionales y IX Congreso Internacional de Enseanza de la Biologa, Tucumn, 2010. Pp. 828-832, in: Anais... Tucumn, 2010 (a).

    WATTS, S. J. Sheldon J. Epidemias y poder: historia, enfermedad, imperia-lismo [1997]. Trad. Carlos Gardini. Barcelona: Andrs Bello, 2000.

    Data de submisso: 16/09/2012 Aprovado para publicao: 14/12/2012

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 21

    Na Ribeira do Acara: Joo Batista de Azevedo Coutinho de Montaury e a descoberta documen-

    tada de megafauna no Cear em 1784

    Antonio Carlos Sequeira Fernandes* Celso Lira Ximenes

    Miguel Telles Antunes Resumo: Em 1784 foram descobertos, na regio do vale do rio Acara, situada a Noroeste do Estado do Cear, fragmentos sseos de animais da megafauna pleistocnica que habitava o Nordeste do Brasil. Transportados para Fortaleza, os ossos foram remetidos a Portugal pelo governador da capitania, Joo Batista de Azevedo Coutinho de Montaury e depois encami-nhados ao Museu Real da Ajuda em Lisboa, extraviando-se ulteriormente. Citados em relatrio do governador, os fsseis correspondem primeira descoberta documentada de megafauna no pas, mas cujo ponto especfico de coleta permaneceu um mistrio desde ento. Atividades de campo, entre-tanto, permitiram tecer novas consideraes sobre a rea de provenincia dos ossos, recolhidos durante a escavao de um poo ou cacimba em um tanque natural da regio. Com base nas informaes da documentao hist-rica e nas observaes geolgicas nas reas de ocorrncia de granitoides na regio de Sobral foi possvel indicar a fazenda Paj, ento propriedade de Jernimo Machado Freire, como o mais provvel local de coleta dos fsseis. Palavras-chave: fsseis; megafauna; Pleistoceno; sculo XVIII * UFRJ. Museu Nacional, Quinta da Boa Vista s/n, CEP 20940-040, Rio de Janeiro, RJ. Bolsista de Produtividade do CNPq e Scio Correspondente Brasileiro da Aca-demia das Cincias de Lisboa. E-mail: [email protected] Museu de Pr-histria de Itapipoca. Rua Anastcio Braga, 349, altos, CEP 62500-000, Itapipoca, CE, Brasil. Doutorando do Programa de Ps-Graduao em Geolo-gia da Universidade Federal do Cear/Pici, Humberto Monte s/n, CEP 60455-760, Fortaleza, CE. E-mail: [email protected] Academia das Cincias de Lisboa. Rua Academia das Cincias, 19, 1249-122, Lis-boa, Portugal. CICEGE, Universidade Nova de Lisboa/Caparica, Lisboa, Portugal. E-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]
  • 22

    Ribeira do Acara: Joo Batista de Azevedo Coutinho de Mountaury and the registered discovery of the Cear megafauna in 1784

    Abstract: Bone fragments from the Brazilian Northeastern Pleistocene megafauna were discovered close by Acara River valley in the north-western part of the Cear state. Bones were sent to Fortaleza, then sent to Portugal by the governor Joo Batista de Azevedo Coutinho de Montaury. The concerned specimens, deposited at the Ajuda Royal Museum in Lisbon, were subsequently lost. The fossils reported to the governor had been dis-covered during the excavation of a well in a natural depression. This is the first record of megafauna in Brazil, even if the exact locality from which these remnants were found remains unknown. Field research in the above referred area shed a new light on the issue. On the basis of historical docu-ments and geological observations at Sobral, where there are granite out-crops, we may conclude that Paj farm (which belonged then to Jernimo Machado Freire) is the most probable site to have yielded the fossils. Key-words: fossils; megafauna; Pleistocene; 18th century; Brazil

    1 INTRODUO Na segunda metade do sculo XVIII ocorreram os primeiros re-

    gistros documentados sobre a presena de megafauna fssil no terri-trio brasileiro e a primeira remessa de fsseis a Portugal. Coletados principalmente nas capitanias de Minas Gerais e do Cear, a coleta desses fsseis deu-se por motivos completamente distintos. Em Mi-nas Gerais as descobertas decorreram em virtude da explorao do ouro em lavras junto s margens dos rios, enquanto no Cear elas ocorreram devido a escavaes em tanques naturais destinados acumulao de guas pluviais. Por volta de 1784, este ltimo motivo resultou na descoberta de ossadas da megafauna pleistocnica na regio do vale do rio Acara, situado a noroeste do atual Estado do Cear. Transportados para Fortaleza, os exemplares fossilferos foram remetidos a Portugal em 25 de outubro do mesmo ano pelo ento governador da capitania, Joo Batista de Azevedo Coutinho de Mon-taury (?-1810). Enviados posteriormente a Martinho de Mello e Cas-tro (1716-1795), secretrio de Estado (ministro) da Marinha e Dom-nios Ultramarinos do Reino, os exemplares foram, a exemplo dos fsseis coletados em 1785 em Minas Gerais, conhecidos como o Monstro de Prados (Fernandes et al., 2012, p. 16), possivelmente encaminhados ao Museu Real da Ajuda em Lisboa, extraviando-se

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 23

    ulteriormente. Quanto localidade onde os ossos foram coletados, a literatura paleontolgica brasileira resume-se a apenas transcrever as informaes contidas no ofcio de Montaury a Martinho de Mello e Castro, sem uma indicao mais acurada de sua rea de ocorrncia. Atividades de campo recentes, entretanto, permitiram tecer novas consideraes sobre a rea de provenincia dos fsseis e o seu con-texto histrico e cientfico, objetivos do presente trabalho.

    2 O OFCIO DE JOO BATISTA DE MONTAURY As informaes biogrficas sobre Montaury so escassas. De

    acordo com Guilherme Studart (1856-1938), Montaury foi, por Pa-tente Rgia de 19 de maio de 1781, despachado Capito-Mor do Cea-r, e das mos dos governadores interinos recebeu o cargo a 11 de maio do seguinte ano (Studart, 2004, p. 335). Segundo o historiador, Montaury no fez um governo notvel, caracterizando-se por um excessivo e mal entendido rigorismo (idem, p. 336), no promoven-do benefcios para a capitania. Como governador, permaneceu no cargo at julho de 1789, quando deixou a capitania por permisso rgia. Mudou-se para Portugal, mas voltou ao Brasil em 1808 quando acompanhou o squito do prncipe regente D. Joo, j com a patente de marechal. Na viagem, fez-se acompanhar da esposa, D. Francisca de Souza Coutinho (?-?), e dos filhos Marcos Antnio Azevedo Cou-tinho Montaury (guarda-roupa da famlia real), Anna Maria Antonia Souza Vilhena Montaury e Carlota Francisca Margarida Vilhena Mon-taury (ambas aafatas, damas a servio das senhoras da famlia real). Em 18 de maio de 1810, Montaury viria a falecer no Rio de Janeiro.

    Durante sua permanncia como governador da capitania do Cea-r, Montaury encaminhou a Portugal diversos produtos naturais regi-onais, como amostras de madeiras, exemplares de carnaba e de ani-mais, alm de minrios e minerais. Na remessa a Martinho de Mello e Castro, datada de 25 de outubro de 1784, foram encaminhados dois caixotes repletos de produtos, encontrando-se, no caixote de nmero 1, os ossos monstruosos procedentes da ribeira do Acaracu, rea situada na regio noroeste da capitania do Cear (Figura 1):

  • 24

    Fig. 1. Primeira pgina do relatrio remetido por Joo Batista de Montaury a

    Martinho de Mello e Castro em 25 de outubro de 1784 com a relao do contedo do caixote nmero 1: Pedaos de ossos monstruosos.... Fonte:

    Arquivo Histrico Ultramarino, Cx. 10, Doc. no. 609, p. d609f.

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 25

    Seis pedaos de ossos monstruosos, e quase petrificados, cujos fo-ram achados na ribeira do Acaracu, na distncia de mais de quarenta lguas do mar, em uma fazenda pertencente a um Jernimo Machado Freire, mandando este abrir um tanque, ou poo, em cuja ocasio fo-ram achados os ditos ossos na mesma parte em que se abria o dito poo, ou tanque, na profundidade de mais de trinta palmos, em que se achavam enterrados, no aparecendo, porm, a caveira, ou os os-sos pertencentes cabea, pelos quais talvez se poderia vir no conhe-cimento da qualidade do animal de que so os mesmos ossos, por no haver animal algum to monstruoso, nem tradio de que jamais o houvesse nesta capitania, a que se possam atribuir aqueles ossos. Na referida parte onde se acharam se no pde descobrir mais cousa alguma, por sair dela na altura dos trinta palmos, em que foram acha-dos, agora que embaraou o aprofundar-se mais. E ainda que s queira supor, que so os mesmos ossos de elefante, sabe-se muito bem que o continente da Amrica no os produz, e nem h tradio, por mais que se tenha investigado, que nesta capitania se visse nunca elefante algum. (Joo Batista de Azevedo Coutinho de Montaury, Relao ou Pormenoria das Cousas, que vo dentro nos Caixotes N. 1, e Caixotinho comprido, e estreito N. 2 ambos com o seguinte Le-treiro: Ao Ilmo. E Exmo. Sr. Martinho de Melo e Castro. Do Conse-lho de Sua Majestade Fidelssima. Seu Ministro, e Secretrio de Esta-do dos Negcios da Marinha, e dos Domnios Ultramarinos etc. etc. A entregar na Secretaria de Estado dos Negcios da Marinha, e Do-mnios Ultramarinos, Lisboa, Arquivo Histrico Ultramarino, Cx. 10, Doc. no. 609, pp. d609f-d609g, de 25 de outubro de 1784)

    Apesar de reconhecer a importncia da ossada, ressaltada pelas su-as dimenses e por se tratar de um animal no conhecido na regio, em seu ofcio Montaury deu informaes vagas sobre o local de cole-ta dos ossos monstruosos, mas importantes para a identificao mais detalhada da regio de coleta dos fsseis: o vale do Acara, a distncia do litoral e o fato dos ossos terem sido encontrados em propriedade do coronel Jernimo Machado Freire (?-1797). Foi em uma dessas propriedades, certamente banhada pelo rio Paj, que fo-ram encontrados os ossos enviados por Montaury a Portugal.

    3 AS FAZENDAS DE JERNIMO MACHADO FREIRE Os dados biogrficos sobre o coronel Jernimo Machado Freire

    so pouco conhecidos. Sabe-se, entretanto, que sua histria est liga-

  • 26

    da herana que lhe foi deixada por seu tio, o capito Domingos Machado Freire (?-1754), homem rico e influente em Sobral.

    Domingos Machado Freire era um portugus natural do Minho, antiga provncia portuguesa que foi a origem da maioria dos colonos portugueses que chegaram ao Brasil durante o sculo XVIII. Na pro-vncia do Cear, Domingos Machado Freire foi verdadeiro patriarca no Parazinho [povoao de Par, da qual foi fundador] onde constru-iu a Capela em honra de N. Sra. do Livramento, inda hoje centro de peregrinao no municpio de Granja (Araujo, 1974, p. 179). Ao falecer, em maro de 1754, deixou no inventrio vrias propriedades para seu sobrinho, Jernimo Machado Freire, com a obrigao de casar com uma filha de seu sobrinho Francisco Machado, e havendo algum impedimento justo pelo qual no se possa casar com ela, que casar com quem quiser contanto que seja mulher branca e crist velha (idem, p. 179). Sobre a obrigao de casamento, h dvidas sobre sua concretizao, j que aparentemente no existe nenhuma outra informao a respeito.

    Com a herana, Jernimo Machado Freire tornou-sehomem de posses e, ao longo de sua vida, ocupou cargos importantes em Sobral alm de, certamente, aumentar seu patrimnio. De acordo com o padre Francisco Sadoc de Araujo (1931-) em sua Cronologia Sobralense (Araujo, 1974), Jernimo Machado Freire participou ativamente da sociedade de Sobral. Em 12 de fevereiro de 1768, com o posto de tenente-coronel, tomou posse no cargo de Juiz Ordinrio da Ribeira do Acara (idem, p. 243) e, em 5 de julho de 1773, participou da sole-nidade de transformao categoria de vila a povoao da Caiara que recebe o pomposo nome de Vila Distinta e Real de Sobral (idem, p. 259). Participou como oficial da Cmara da vila de Sobral nos anos de 1775 e 1783 e foi membro fundador da Irmandade do Santssimo Sacramento em Sobral em 1752, funcionando inicialmente na igreja matriz da cidade; na Irmandade, ocupou o cargo de Juiz Presidente de 1765 a 1766 (Frota, s/d). Em 24 de julho de 1791 faleceu, com a idade de 41 anos, sua esposa Germana Francisca de Vilar (1750-1791)

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 27

    e, em 4 de junho de 1797, com mais de 80 anos, Jernimo Machado Freire faleceu sem deixar descendentes, sendo sepultado na Matriz de Sobral (idem, p. 345), a igreja de Nossa Senhora da Conceio da Caiara, situada na praa junto a qual construiu sua casa, em 1778.

    Ao longo de sua vida, Jernimo Machado Freire acumulou grande fortuna e muitas terras, tanto na regio ao sul e sudeste de Sobral como em Camocim, junto ao litoral da capitania, ao norte da cidade, e mesmo nas proximidades da vila de Fortaleza. Nelas disse possuir 73 escravos distribudos nas suas diversas propriedades (Sou-za & Funes, 2011, p. 8), como as fazendas Groaras, Passagem, Volta, Batoque, So Jorge, So Cosme e Boca da Peixada, s margens do rio Groaras; Flores e Paj, s margens do rio Paj; Patos e Aracatiau, s margens do rio Aracatiau; Umicy, na regio do Aracatiau; Cachoei-ra, junto ao riacho Barriga; Cangati, Conceio e Todos os Santos, s margens do rio Cur; e Jacarasuli, Estreito e Santa Rosa, s margens do rio Camocim (Frota, 1974). Dessas fazendas, muitas das quais ainda existem com seus nomes originais, as situadas ao longo dos rios Groaras, Paj e Barriga corresponderiam s mais provveis de onde teriam sido coletados os ossos citados no ofcio de Montaury.

    4 DEMARCANDO A REA DE PROCEDNCIA DOS FSSEIS

    De fato, ao escrever a Martinho de Mello e Castro, Montaury fez poucas observaes sobre a localidade de procedncia dos ossos, somente indicando a ribeira do Acaracu, na distncia de mais de quarenta lguas do mar, em uma fazenda pertencente a um Jernimo Machado Freire (Arquivo Histrico Ultramarino, Cx. 10, Doc. no. 609, p. d609f, 25 de outubro de 1784), onde ao ser aberto um tanque, ou poo, foram achados os ossos em uma profundidade de mais de trinta palmos (cerca de seis metros).

    A designao ribeira do Acaracu utilizada por Montaury abrange uma vasta regio atualmente conhecida como vale do Acara e que

  • 28

    englobava os rios Munda, Aracati-Mirim, Aracatiau, Acara e Co-rea, na regio noroeste do Cear. Durante muitos anos os paleont-logos que ainda estudam a megafauna no Cear acreditavam que esta ocorrncia estaria no territrio do atual municpio de Acara, na regi-o do litoral oeste do Estado. Ao indicar a distncia de cerca de 40 lguas do litoral e o nome do proprietrio das terras, Montaury possi-bilitou a demarcao da rea a ser analisada para se determinar de onde teriam sido coletados os ossos. Das 22 fazendas de Jernimo Machado Freire, quinze situavam-se na regio demarcada, principal-mente as localizadas ao longo das margens dos rios Groaras e Paj e do riacho Barriga, a sudeste de Sobral (Figura 2). A anlise da geolo-gia regional permitiu, entretanto, delimitar melhor a rea de proveni-ncia dos ossos.

    Fig. 2. Mapa com a localizao das fazendas de Jernimo Machado Freire ao longo dos rios da Bacia Hidrogrfica do rio Acara. Em destaque, a loca-lizao da fazenda Paj onde certamente os fsseis foram coletados e enca-

    minhados ao governador da capitania, Joo Batista de Montaury, que os remeteu a Martinho de Mello e Castro, em Portugal.

    Fonte: Celso Lira Ximenes.

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 29

    Os tanques naturais, tipo de depsito onde foram encontrados os fsseis relatados por Montaury, so feies geomorfolgicas tpicas da regio Nordeste do Brasil. Configuram-se em depresses formadas em rochas cristalinas, iniciadas por ao de intemperismo qumico (dissoluo de minerais da rocha pela gua) e fsico (variaes da temperatura do ambiente) agindo sobre a rocha, moldadas posterior-mente por ao erosiva. Ximenes (2009, p. 474) destacou trs fatores condicionantes para a formao dos tanques: existncia de rocha grantica, exposio dessas rochas na superfcie (em relevo no muito alto) e existncia de fraturas e esfoliaes nas mesmas, por onde a gua possa percolar e reagir com a rocha.

    Durante o processo de preenchimento dos tanques nos perodos de chuvas, no decorrer da poca pleistocnica, enxurradas carreavam para o seu interior ossadas de animais presentes nos seus arredores, onde ficavam ento acumulados. Cheios de gua, os tanques tambm serviam de fonte para os animais que viviam na regio e que, devido s bordas ngremes dos mesmos, neles poderiam cair e, sem poder sair, ali morriam e tinham seus ossos preservados nos sedimentos acumulados (Silva, 2008, p. 154; Ximenes, 2009, p. 471; Arajo Jr. et al., 2011, p. 105; Teixeira et al., 2012, p. 40).

    Viana et al. (2007, p. 800) registraram 183 localidades com ocor-rncias de fsseis de megafauna pleistocnica no Nordeste, nmero que certamente j deve ultrapassar mais de duas centenas. So ocor-rncias associadas a vrios tipos de depsitos, como tanques naturais, cavernas, ravinas e depsitos lacustres e fluviais. Desses depsitos, cerca de 60% das ocorrncias pertencem a tanques naturais, como os que ocorrem no estado do Cear, encontrados em granitoides onde se desenvolveram os processos intempricos e erosivos que levaram formao dos tanques naturais e dos depsitos sedimentares que os preencheram.

    Devido sua geometria e possibilidade de acumulao de gua para suportar os perodos de seca na regio, muitos desses tanques naturais foram ento escavados desde o perodo colonial, como ocor-reu na fazenda do coronel Jernimo Machado Freire em 1784. Um excelente exemplo recente e ilustrativo de tanque natural escavado com potencial para a acumulao de gua nos perodos de chuva o Tanque do Jirau I, em Itapipoca, tambm no Estado do Cear e

  • 30

    distante aproximadamente 80 km da rea de ocorrncia da fazenda Paj, escavao semiaberta onde so encontradas ossadas de mamfe-ros pleistocnicos (Ximenes, 2003, p. 131; Arajo Jr., 2012, p. 12; Figura 3).

    Fig. 3. Tanque do Jirau: tanque natural de escavao semiaberta recente (A) no municpio de Itapipoca, formado em rocha granitoide contendo sedimen-

    tos e ossadas pleistocnicas (B). Tanque semelhante nas terras da fazenda Paj do coronel Jernimo Machado Freire seria a fonte das ossadas enviadas

    por Joo Batista de Montaury a Portugal. Fonte: Antonio Carlos S. Fernandes.

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 31

    Assim, o ponto de partida para localizar a ocorrncia citada por Montaury era delimitar a distribuio das rochas granticas na rea de influncia da antiga ribeira do Acaracu. Anlise do mapa geolgico do Cear (CPRM, 2003) e uso de imagens de satlite do software livre Google Earth possibilitaram identificar as reas granticas com relevo favorvel e estabelecer um permetro para verificao em campo. Para identificao das fazendas utilizou-se os mapas municipais esta-tsticos, escala 1.100:000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tstica (IBGE, 2000).

    As fazendas de Jernimo Machado Freire localizadas nos vales dos rios Cur e Camocim foram logo descartadas por estarem fora da ribeira do Acaracu. Nas fazendas situadas ao longo dos rios Groaras e Aracatiau o relevo formado por rochas de origem metamrfica desprovidas de fraturas e sem relevo rochoso propcio formao de tanques naturais onde se acumulariam os restos da megafauna e, por-tanto, tambm foram descartadas. As fazendas Flores e Paj, s mar-gens do rio Paj, e a fazenda Cachoeira, junto ao riacho Barriga, fo-ram ento selecionadas como as reas mais propcias.

    O setor de maior potencial encontra-se na regio das antigas fa-zendas Paj e Cachoeira, onde afloram rochas granitoides providas de fraturas e relevo na forma de lajedos e inselbergs (morrotes rochosos, quase sem vegetao), e em cujas propriedades se encontraria o tan-que de onde foram retirados os ossos encaminhados a Montaury. As sedes das fazendas esto situadas no territrio do atual municpio de Sobral, tendo a sede da fazenda Paj as coordenadas 04 02 44 S e 40 03 48 W, localizada entre o serrote do Paj e a serra da Corrente (localmente chamada de serra das Andorinhas), elevaes granticas que se destacam no relevo, e a da fazenda Cachoeira as coordenadas 03 45 15 S e 40 06 37 W, prxima serra do Barriga (Figura 4).

  • 32

    Fig. 4. Fotomontagem em 180 mostrando, ao centro, a sede atual da fa-zenda Paj entre o serrote do Paj ( direita) e a serra das Andorinhas (

    esquerda). A antiga propriedade do coronel Jernimo Machado Freire apre-senta a ocorrncia de rochas propcias formao de tanques naturais, onde

    se encontram acumuladas ossadas de mamferos pleistocnicos. Fonte: Antonio Carlos S. Fernandes.

    Como elemento adicional de comprovao s concluses dos tra-balhos de campo, ressalta-se que, dentro dessas reas escolhidas, j foram identificados restos sseos pleistocnicos provenientes de tanques naturais da regio nas atuais fazendas Oiticica e Maurcio, situadas, respectivamente, a sudeste da fazenda Paj e a nordeste da fazenda Cachoeira (Viana et al., 2010, p. 174, tabela 1). No entanto, considerando a distncia de 40 lguas do mar citada no ofcio de Montaury, o que equivale a aproximadamente 240 km, a rea de mai-or probabilidade para a localizao do tanque escavado em 1784 a da fazenda Paj, pois a fazenda Cachoeira fica mais ao norte, cerca de 40 km - e, portanto, somente a 200 km do mar.

    importante ressaltar que esse clculo da distncia do mar citado por Montaury em seu ofcio provavelmente no era em linha reta, mas possivelmente a distncia percorrida por caminhos terrestres, do local da descoberta dos fsseis a algum ponto do litoral onde havia grande movimentao comercial no sculo XVIII, como, por exem-plo, o porto de Camocim, no litoral oeste do Cear.

    5 O DESTINO DOS OSSOS REMETIDOS A PORTUGAL De modo semelhante ao ocorrido com os ossos recolhidos no ano

    seguinte por Simo Pires Sardinha (1751-1808) na regio de Prados (MG), tambm encaminhados a Portugal (Fernandes et al., 2012), os fragmentos de ossos remetidos corte por Montaury no mais so encontrados em instituies portuguesas, devendo ter se perdido h

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 33

    um longo tempo. Da mesma forma que os fsseis de Prados, seu destino fica no campo das suposies.

    Os ossos possivelmente foram guardados no Museu Real da Aju-da em Lisboa e, a partir da, seu destino tornou-se incerto. No incio do sculo XIX, atravs de Domingos Vandelli [Domenico Agostino Vandelli (1735-1816)], o Museu da Ajuda enviava duplicatas para o Gabinete de Histria Natural da Universidade de Coimbra, e outros Academia das Cincias. Vale ressaltar que o esplio do Museu da Ajuda, pouco depois da extino dos conventos em 1834, foi transfe-rido para o ex-Convento de Jesus, o qual foi doado Real Academia das Scincias por D. Maria II (1819-1853). Mais tarde, por volta de 1860, as colees de mineralogia, zoologia e botnica foram enviadas para a Escola Politcnica, sendo que a parte de zoologia atualmente est integrada ao acervo do Museu Bocage, que atualmente faz parte do Museu Nacional de Histria Natural e de Cincia da Universidade de Lisboa (Fernandes et al., 2012, p. 17). Entretanto, em nenhuma das instituies verifica-se a presena dos ossos enviados por Montaury. Na Universidade de Coimbra pouco resta da coleo original de fs-seis do Gabinete de Histria Natural, e os poucos espcimens que ainda se encontram rotulados no tm a indicao de sua origem, prejudicando a sua identificao no atual acervo do Museu Mineral-gico e Geolgico - hoje Museu da Cincia da Universidade de Coim-bra (ibid., p. 17). A utilizao das colees em aulas e as obras e mu-danas ocorridas tambm afetaram significativamente o acervo origi-nal (Callapez et al., 2010, p. 63).

    Alm disso, cabe ressaltar que, por ocasio da invaso de Portugal pelas tropas francesas em 1808, boa parte das colees portuguesas e do Museu da Ajuda foram levadas para o Musum national dHistoire naturelle por tienne Geoffroy Saint-Hilaire (1779-1853), incluindo um dente de mastodonte que hoje se encontra no museu de Paris (Antunes, 2011, p. 461; Fernandes et al. 2012, p. 17). Entretanto, no h referncia presena de um dente no relatrio de Montaury, o

  • 34

    qual se resume somente citao da existncia de seis pedaos de grandes ossos, sendo mais provvel outra origem para essa pea.

    6 CONCLUSO Apesar da carncia de informaes sobre a regio de coleta dos

    fsseis provenientes do vale do Acara, o relatrio de Montaury e as informaes histricas sobre as propriedades de Jernimo Machado Freire, acrescido dos levantamentos de campo na regio, permitiram indicar a rea da fazenda Paj como a localidade mais provvel de coleta dos fsseis, um achado de grande importncia histrica e cien-tfica para a Paleontologia brasileira.

    O extravio posterior dos ossos, entretanto, no permitiu uma identificao dos animais a cujas ossadas pertenciam os restos coleta-dos. A referncia sua monstruosidade permite considerar a grande dimenso dos fragmentos sseos, provavelmente de mastodontes, um dos componentes da megafauna do Nordeste brasileiro, registrados em outras escavaes de tanques naturais no Cear como, por exem-plo, o Tanque do Jirau em Itapipoca.

    AGRADECIMENTOS

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnol-gico (CNPq, Proc. 401762/2010-6/Edital Fortalecimento da Paleon-tologia Nacional e 301328/2009-9, Bolsa de Produtividade em Pes-quisa) pelo auxlio financeiro. A Jos Manuel Brando pelo apoio na obteno dos documentos originais de Montaury presentes no Arqui-vo Histrico Ultramarino, Lisboa, Portugal. A Edilberto Florencio (Casa do Capito-Mor Jos de Xerez Furna Uchoa, Sobral) e Rai-mundo Nonato Rodrigues de Sousa (Universidade Estadual do Vale do Acara) pelas informaes e apoio documentao referente a Jernimo Machado Freire. A Expedito Rodrigues Paiva (Escola de Ensino Mdio e Fundamental, Groaras) pelo apoio s atividades de campo na regio de Groaras.

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 35

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANTUNES, Miguel Telles. Saint-Hilaire e as Requisies em Lisboa material do Brasil e outro. Traduo e discusso de: LA MISSION DE GEOFFROY SAINT-HILAIRE EN ESPAGNE ET EN PORTUGAL (1808) HISTOIRE ET DOCUMENTS PAR LE Dr. E.T. HAMY. Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities research medium, 2 (2): 392-464, 2011.

    ARAUJO, Francisco Sadoc de. Cronologia Sobralense. Volume I: sculos XVII e XVIII. Fortaleza: Grfica Editorial Cearense, 1974.

    ARAJO JNIOR, Hermnio Ismael de; PORPINO, Kleberson de Oliveira; XIMENES, Celso Lira; BERGQVIST, Lilian Paglarelli. Anlise multivariada como ferramenta tafonmica no estudo das associaes quaternrias de mamferos do Nordeste do Brasil. Gaea Journal of Geoscience, 7 (2): 104-111, 2011.

    ARAJO JNIOR, Hermnio Ismael de. Tafonomia da acumulao fossilfera de vertebrados pleistocnicos do tanque do Jirau, Itapipoca, Estado do Cear, Brasil. Rio de Janeiro, 2012. Dissertao (Mestrado em Cincias (Geologia)) Instituto de Geocincias, Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro.

    CALLAPEZ, Pedro Miguel; MARQUES, Jlio F.; PAREDES, Ri-cardo; ROCHA, Carla. Retrospectiva histrica das coleces de paleontologia do Museu Mineralgico e Geolgico da Universida-de de Coimbra. Pp. 61-68, in: BRANDO, Jos M.; CALLAPEZ, Pedro M.; MATEUS, Octvio; CASTRO, Paulo. (ed.). Coleces e Museus de Geologia: misso e gesto. Coimbra: Museu Mineralgico e Geolgico da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos de Histria e Filosofia da Cincia, 2010.

    CPRM. Atlas Digital de Geologia e Recursos Minerais do Cear Escala 1:500.000. Fortaleza: Companhia de Pesquisa de Recursos Mine-rais/Servio Geolgico do Brasil, 2003. CD-ROM.

    FERNANDES, Antonio Carlos Sequeira; ANTUNES, Miguel Telles; BRANDO, Jos Manuel; RAMOS, Renato Rodriguez Cabral. O Monstro de Prados e Simo Pires Sardinha: consideraes sobre o primeiro relatrio de registro de um fssil brasileiro. Filosofia e His-tria da Biologia, 7 (1): 1-22, 2012.

    FROTA, Herbert Carneiro. Irmandade do Santssimo Sacramento. Uma histria de f e de honra. Sobral: Instituto Executivo de Formao,

  • 36

    s/d. Disponvel em . Acesso em: 29 janeiro 2012.

    FROTA, Luciara Arago. Estudo do remanejamento da pecuria da zona norte do Estado do Cear. Vol. 1, pp. 155-172. Fortaleza: SUDEC, 1974.

    IBGE. Mapa Municipal Estatstico, Folha Sobral, escala 1:100.000. Rio de Janeiro: IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, 2000.

    SILVA, Jorge Luiz Lopes da Silva. Reconstituio paleoambiental baseada no estudo de mamferos pleistocnicos de Maravilha e Poo das Trincheiras, Alagoas, Nordeste do Brasil. Recife, 2008. Tese (Doutorado em Geo-cincias) Instituto de Geocincias, Universidade Federal de Per-nambuco.

    SOUZA, Raimundo Nonato Rodrigues de; FUNES, Eurpedes An-tonio. Negros no serto do Acara no sculo XVIII-XIX (1709-1822). Pp. 1-16, in: I Simpsio de Histria do Maranho Oitocentista, 2011. Anais, So Lus, 2011.

    STUDART, Guilherme. Notas para a histria do Cear. Braslia: Senado Federal, Conselho Editorial (Edies do Senado Federal, vol. 29), 2004.

    TEIXEIRA, Luana; POZZI, Henrique Alexandre; SILVA, Jorge Luiz da. Patrimnio Arqueolgico e Paleontolgico de Alagoas. Macei: Institu-to do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Iphan), 2012.

    VIANA, Maria Somlia Sales; XIMENES, Celso Lira; ROCHA, La-rissa Amanda de Sales; CHAVES, Arquimedes Pompeu de Paulo; OLIVEIRA, Paulo Victor de. Distribuio geogrfica da mega-fauna pleistocnica no Nordeste brasileiro. Vol. 1, pp. 797-809, in: CARVALHO, Ismar S.; CASSAB, Rita C. T.; SCHWANKE, Ci-bele; CARVALHO. Marcelo A.; FERNANDES, Antonio C. S.; RODRIGUES, Maria A. C.; CARVALHO, Marise S. S., ARAI, Mitsuru; OLIVEIRA, Maria E. Q. (eds.). Paleontologia: Cenrios de Vida. Rio de Janeiro: Intercincia, 2007. 2 vols.

    VIANA, Maria Somlia Sales; OLIVEIRA, Paulo Victor de; CHAVES, Arquimedes Pompeu de Paulo; VASCONCELOS, Vanessa vila; MELO, Robbyson Mendes; OLIVEIRA, Gina Cardoso de; SOUSA, Maria de Jesus Gomes; LIMA, Thiago de Albuquerque; ROCHA, Larissa Amanda de Sales; BARROSO,

    http://www.camaleo.com/books/0008292651214eab31c27http://www.camaleo.com/books/0008292651214eab31c27
  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 21-37, 2013. 37

    Francisco Rony Gomes. Mamferos Fsseis Quaternrios da Regi-o Noroeste do Cear. Revista de Geologia, 23 (2): 171-181, 2010.

    XIMENES, Celso Lira. Proposta metodolgica para um programa de micro-reservatrios alternativos de gua nos sertes semi-ridos brasileiros, associado ao resgate de fsseis. Fortaleza, 2003. Dissertao (Mestrado em De-senvolvimento e Meio Ambiente) - Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA, Universidade Federal do Cear.

    ______. Tanques Fossilferos de Itapipoca bebedouros e cemitrios de megafauna pr-histrica. Vol. 2, pp. 465-478, in: WINGE, Manfredo; SCHOBBENHAUS, Carlos; SOUZA, Clia R. G.; FERNANDES, Antonio C. S.; BERBERT-BORN, Mylne; QUEIROZ, Emanuel T.; CAMPOS, Diogenes A. (eds.). Stios Ge-olgicos e Paleontolgicos do Brasil. Braslia: Ministrio de Minas e Energia, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Servio Geolgico do Brasil, 2009.

    Data de submisso: 03/12/2012 Aprovado para publicao: 10/01/2013

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 39-59, 2013. 39

    A argumentao darwiniana em A origem das es-pcies: de casos especficos a princpios gerais

    Claudio Ricardo Martins dos Reis *

    Resumo: Este estudo pretende reconstruir parte da argumentao de Char-les Darwin na obra A origem das espcies. Primeiramente, ser examinada sua explicao sobre casos especficos, como a origem e diferenciao das raas do pombo domstico. Em seguida, ser feito um exame da argumentao darwiniana a respeito de regularidades empricas, como os padres de distri-buio e variao dos organismos. Por ltimo, ser analisada a explicao de Darwin sobre princpios gerais, como o das relaes de animais e plantas na luta pela existncia e o princpio da divergncia de caracteres, explicitando a relao deste com o princpio de seleo natural. Os argumentos de Darwin sero estruturados de maneira clara em premissas e concluso. Alm disso, sero considerados seus pressupostos filosficos e a utilizao de estratgias argumentativas com fins de persuaso. Palavras-chave: Darwin, Charles; estratgias argumentativas; princpio da divergncia; regularidades empricas

    The Darwinian argument in The origin of species: from specific cases to general principles

    Abstract: This study aims to reconstruct part of the argument of Charles Darwin in The origin of species. First, his explanation will be examined on spe-cific cases, such as the origin and differentiation of races of the domestic pigeon. Hereafter, will be performed a review of the Darwinian argument about empirical regularities, as the distribution patterns and variation of organisms. Finally, Darwin's explanation on general principles will be ana-

    * Membro do grupo de pesquisa Racionalidade e Controvrsia e da Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS). Estudante de graduao em Cincias Biolgicas e pesquisa-dor em iniciao cientfica no Laboratrio de Ecologia Filogentica e Funcional (LEFF) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Avenida Bento Gonalves, 9500, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected]

  • 40

    lyzed, such as the relations of animals and plants in the struggle for existence and the principle of divergence of character, explaining its relationship with the principle of natural selection. Darwin's arguments are clearly structured in premises and conclusion. Furthermore, will be considered his philosophi-cal assumptions and his use of argumentative strategies for purposes of persuasion. Key-words: argumentative strategies; Darwin, Charles; empirical regularities; principle of divergence

    1 INTRODUO De forma geral, houve uma crescente preocupao, por parte dos

    filsofos, a respeito da maneira com que certos argumentos so apre-sentados. Cada vez mais, pginas de diversos estudos foram sendo ocupadas pela anlise de estratgias argumentativas com fins de per-suaso. Isso aparentemente interessante, visto que mais um aspec-to a ser tratado filosoficamente. Um estudo que explicite a retrica de uma argumentao poder, assim, estar contribuindo fortemente para um exame filosfico mais completo e esclarecedor. No entanto, nem sempre isso o que acontece. preciso reconhecer que h tremen-dos exageros em certas concepes. Esse crescente interesse pela retrica causado, em certa medida, pelo avano de acadmicos ps-modernos e neopragmatistas. Richard Rorty, por exemplo, em Conse-quences of pragmatism, nos diz que: a filosofia delimitada, como qual-quer gnero literrio, [...] pela tradio (Rorty, 1982, p. 92) e que chamar de verdade uma declarao somente dar-lhe um tapinha retrico nas costas (Rorty, 1982, p. 17). Apesar de contrariar tanto a perspectiva do senso comum como aquela proporcionada pelo co-nhecimento cientfico, Rorty alm de outros vrios que escrevem acerca do giro retrico no se do o trabalho de oferecer uma evidncia sequer em favor de suas concepes (Bunge, 2010; Haack, 2003).

    Porm, este trabalho pretende mostrar que possvel (e desejvel) reconhecer um lugar legtimo para as estratgias argumentativas e, juntamente, aceitar valores intelectuais como a clareza, a racionalida-de, a consistncia e a verdade objetiva. Com efeito, a anlise da ret-rica numa argumentao no poder ser frutfera sem pressupor esses valores. Tratar-se-ia daquilo a que Susan Haack denominou racioc-nio fajuto (fake reasoning), o qual possui como caracterstica distintiva

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 39-59, 2013. 41

    a indiferena ao valor verdade da proposio que se argumenta a favor (Haack, 2011, p. 59); seria, portanto, um tipo de pseudoinvestigao.

    Especificamente, a literatura filosfica possui um registro bastante interessante das interpretaes a respeito da argumentao darwinia-na. Para citar brevemente alguns poucos exemplos:

    Michael Ghiseling, Anthony Flew e Ernst Mayr, entre outros, in-terpretam o argumento geral de Charles Darwin (1809-1882) em ter-mos hipottico-dedutivos (Ghiseling, 1984; Flew, 1997; Mayr, 1982). A abordagem de Elliot Sober mais complexa (Sober, 1984). Ele divide o raciocnio de Darwin em duas partes: uma descrio das condies para a atuao da seleo natural, com uma estrutura for-mal do tipo se-ento, e a hiptese emprica de que essas condies so encontradas na natureza. Fred Wilson critica as reconstrues hipottico-dedutivas do argumento geral de Darwin e explicita suas premissas com o objetivo de analisar o suporte emprico proporcio-nado pela teoria darwiniana (Wilson, 1991). David Hull, por sua vez, enfatiza a natureza probabilstica do argumento geral de Darwin (Hull, 1973). Mas Philip Kitcher em um captulo do livro Reason and rationality in natural science, intitulado Darwins achievement, que faz uma anlise da persuaso na argumentao darwiniana (Kitcher, 1985). Segundo ele, o grande mrito de Darwin continua sendo devi-do s razes e evidncias apresentadas em A origem das espcies; porm, reconhece em Darwin uma grande habilidade para com a linguagem persuasiva. Cada vez mais, a literatura filosfica comporta o uso de estratgias argumentativas nas obras de Darwin (Martins, 2012; Reg-ner, 2001), embora continue havendo profundas controvrsias quan-to estrutura do argumento darwiniano.

    O presente artigo objetiva analisar a argumentao darwiniana, es-truturando-a de forma clara e concisa em premissas e concluso, ao mesmo tempo em que considera o uso da linguagem por Darwin.

    Esta anlise compreender trs nveis distintos: a. casos especfi-cos, os chamados particulares (entidades concretas); b. regularidades empricas (padres gerados por particulares); e c. princpios (assun-es extremamente genricas). Porm, importante destacar que no se versar sobre os particulares, as regularidades ou os princpios em si, mas sim sobre o modo como Darwin os tratou, tendo em vista seu

  • 42

    objetivo de convencer-nos sobre a importncia e o vigor da teoria de descendncia com modificao.

    Os argumentos darwinianos que sero reconstrudos neste artigo pertencem aos quatro primeiros captulos da obra The origin of species by means of natural selection or the preservation of favoured races in the struggle for life (Darwin, 1872).

    2 A ARGUMENTAO DARWINIANA SOBRE CASOS ESPECFICOS: A ORIGEM E DIFERENCIAO DAS RAAS DO POMBO DOMSTICO

    No captulo 1 da obra, denominado Variao em estado doms-tico, uma das sees trata das Raas dos pombos domsticos, suas diferenas e origem. Darwin a inicia discorrendo sobre a importn-cia de se estudar em profundidade um caso especial com o intuito de desvendar leis gerais. Ele se prope, assim, a falar de um grupo em particular: o dos pombos domsticos. Logo no incio, Darwin apre-senta uma estratgia argumentativa interessante, pretendendo con-vencer-nos de que um grande conhecedor das raas do pombo domstico. Afirma que possuiu uma grande quantidade delas e, inclu-sive, recebeu espcimes das mais variadas regies. Alm disso, diz ter se relacionado com importantes colecionadores e chegou a entrar em clubes de columbfilos de Londres.

    Aps essa introduo estratgica, Darwin se prope a descrever as grandes diferenas e peculiaridades de 12 das muitas raas do pombo domstico. Ele trata de vrias diferenas no comportamento e na anatomia interna e externa das raas. Entre elas:

    (a) o comportamento peculiar hereditrio da cambalhota-comum de voar a grandes alturas, em bandos compactos, e dar cambalhotas no ar;

    (b) o papo extremamente desenvolvido e que distendido pelo papo-de-vento-ingls;

    (c) o comportamento de distender a parte superior do esfago pe-lo gravatinha;

    (d) as penas nucais curvadas formando algo como um capuz no fradinho;

    (e) o som extremamente peculiar que emitem o corneteiro e o garga-lhada; e

  • Filosofia e Histria da Biologia, v. 8, n. 1, p. 39-59, 2013. 43

    (f) o grande nmero de penas na cauda do rabo-de-leque, as quais se mantm na vertical e que podem fazer com que a cabea e a cauda se toquem.

    Aps enfatizar essas diferenas, Darwin se prope a convencer-nos de que seguramente um ornitlogo classificaria todas essas raas em espcies diferentes, incluindo algumas delas at mesmo em gne-ros separados, caso no soubesse que se trata de animais domsticos. Apesar disso, Darwin diz estar convencido e em concordncia com a opinio comum dos naturalistas de que todas as diferentes raas do pombo-domstico descendem de uma nica espcie: o pombo-de-rocha Columba livia. O argumento de Darwin para sustentar essa tese pode ser sintetizado da seguinte maneira:

    (P1) implausibilidade de o homem ter domesticado uma gama de supostas espcies de pombo que no so conhecidas em estado sel-vagem (Darwin, 1872, pp. 17-20);

    {P2} princpio da parcimnia1; {C/P3} inexistncia das supostas espcies selvagens;