folclore, roteiro de pesquisa (por tião rocha)
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Tio Rocha
Folclore
Roteiro de Pesquisa
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Sebastio Rocha
Antroplogo, Folclorista e Educador Popular
Fundador e Presidente do Centro Popular de
Cultura e Desenvolvimento CPCD (1994/97)
Presidente da Comisso Mineira de Folclore
CMFL (1995/98)
Diagramao
Lene Marques
Regina Bertola
estimulada a reproduo total ou parcial
desta publicao desde que citada a fonte e
sem fins lucrativos.
Belo Horizonte / MG
- 1996 -
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Esta publicao resultou de pesquisas de campo desenvolvidas pelo autor em escolas de
1, 2 e 3 graus de Belo Horizonte/MG, durante os anos de 1975 a 1978.
Por ocasio da XV Semana de Folclore, em 1979, a Coordenadoria de Cultura do Estadode Minas Gerais resolveu publicar este trabalho, distribuindo-o para todas as Delegacias
Regionais de Ensino/DREs e Prefeituras Municipais do Estado de Minas Gerais.
Posteriormente outras edies foram feitas pelo SENAC/MG em 1980 e SESI/MG em 1987.
Quando da realizao do "I Encontro dos Secretrios Municipais de Cultura de Minas
Gerais", ocorrido em 1989, a Secretaria de Estado da Cultura / SEC-MG fez nova reedio.
A presente edio - revista e atualizada pelo autor - foi patrocinada pelo Centro Popular
de Cultura e Desenvolvimento/CPCD e pela Comisso Mineira de Folclore/CMFL visando
atender aos educadores brasileiros, contribuindo para a busca de caminhos e
alternativas metodolgicas, duradouras e inovadoras, que possibilitem a criao e
consolidao de uma Escola de qualidade, prazerosa, integrada comunidade e
umbilicalmente comprometida com a cultura e o desenvolvimento integral das nossas
crianas e adolescentes.
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Comecei a pensar que eu talvez tivesse sido enganado por minha famlia. Ou nopoderia ser descendente de rainha nenhuma, ou aquilo no tinha a mnima importnciapara ningum. Nunca mais tive coragem de falar sobre isto.
Ao final do segundo grau, fui morar em Ouro Preto e, um dia, lendo Ao DeusDesconhecido, de John Steinbeck, sentado nos fundos da Igreja de So Jos, comecei aobservar a construo e pensar sobre as muitas paredes e muros de pedras que estavam minha volta.
Foram feitos por quem? por que? como? quando? Descobri naquele instante que nopodia responder a estas e tantas outras questes, simplesmente porque no conhecia ahistria dessa gente...no conhecia a minha histria.
E essa gente no seria a mesma da qual eu me originara?Foi naqueles dias que resolvicursar Histria. Voltei para Belo Horizonte e entrei para a Universidade. Durante 4 anosestudei a vida e a trajetria de reis, rainhas e personagens importantes de tudo quanto foilado. Mas, mais uma vez, s me apresentaram a histria oficial ou oficializada. Nunca tiveuma aula sequer sobre a minha tia.
Onde poderia eu estudar as minhas origens? Foi ento que resolvi partir para a
Antropologia. Quem sabe ali encontraria minhas respostas. Devorei livros e bibliotecas,garimpei cidades e campos. Conheci todo tipo de gente, nos livros, nas ruas e nas roas.Virei um andarilho atrs dos files de minha cultura. A Academia me titulou Antroplogo,especialista em Cultura Popular e Folclore. E, quanto mais aprofundava meus estudos,mais acreditava que, em algum momento, poderia responder s minhas muitas emltiplas questes e encontrar o caminho das pedras e das minhas heranas familiares ecomunitrias.
A veio o meu conflito com a Academia, neste momento a Universidade Federal de OuroPreto onde trabalhava. Ela queria que eu fosse professor. E eu teimava em sereducador. No se tratava de um jogo de palavras. Queria participar de umauniversidade que se dispusesse a prender e no apenas ensinar.
Hoje, depois de mais meio sculo de existncia, creio que consegui desvendar grandeparte destas incgnitas. A minha caminhada, como era de se esperar, levou-me para oslados da Educao. A universidade e a sociedade queriam que eu fosse professor. Fui e,sem modstia, competente, tanto de 1, 2 e 3 graus. Mas isso no me bastava. Eu queriair mais fundo. Queria ser educador. E queria fazer da nossa cultura a matria prima domeu trabalho.
Para me facilitar esta empreitada me demiti da Universidade, juntei um grupo de amigose fundamos em janeiro de 1984 o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento. O CPCDest a caminho de seus 20 anos e hoje d abrigo institucional para uma srie de sonhos eanseios, acolhe amigos de estrada e andarilhos que nem eu, parceiros de teimosia eutopias, companheiros de empreitadas no campo da educao de qualidade e do
desenvolvimento sustentado, a partir da cultura.Iniciados em Curvelo, cidade situada no centro de Minas, os projetos do CPCD seespalharam por outras regies do Estado (Vale do So Francisco, Vale do Jequitinhonha,Vale do Rio Doce e Alto So Francisco) e foram disseminados para outros estados (EspritoSanto, Bahia, Maranho, Par e Amap) e pases (Moambique e Guin Bissau).
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J ia me esquecendo! Minha tia Gorda foi Rainha Perptua do Congado. E todos os anos- de agosto a outubro - ela, devidamente trajada com manto, coroa e cetro reais, erahomenageada com danas e embaixadas por ternos de Moambiques, Congos,Marujos, Viles, Catops e Caboclinhos. E saa em alegres cortejos pelas ruas protegidapor um plio, acompanhando as guardas cantando e louvando Nossa Senhora doRosrio, santa branca, padroeira e patrona das irmandades negras e catlicas queconstruram estas Minas Gerais.
Eu tinha orgulho de t-la como tia - e como rainha - mas, infelizmente, nunca pudemencion-la ou estud-la na escola. Pena, pois mereceria, junto com muitos outros eoutras, um captulo especial na construo da histria do povo brasileiro.
Quem sabe, algum dia, tenhamos em cada biblioteca de cada escola deste pas, umaestante especial, abarrotada de livros, textos e publicaes dedicados vida, aossaberes, aos fazeres e aos quereres das pessoas da comunidade onde esta escola existee funciona.
Hoje, tento colocar o que aprendi e descobri a servio de crianas e adolescentes, paraque estes no percam, prematuramente, sua realeza e dinastia, sua auto-estima e suahistria. E tambm estou a servio dos adultos ou que j as perderam ou as deixaram em
algum canto da vida.Nossa misso no CPCD fazer com que estas crianas e estes adultos possam no s sereapropriar de seus saberes e fazeres, mas fazer de sua cultura e identidade, instrumentosde seu desenvolvimento e a matria-prima de sua cidadania.
Bem, destino ou no, acredito que essa trajetria pessoal foi determinante para meconduzir para o que fao hoje. Tornei-me educador porque acredito que esta a nicamaneira de devolver - sob forma de prticas educativas inovadoras e desafiadoras - portodos os privilgios, oportunidades e possibilidades que tive e vivi, ao povo do qual,privilegiadamente, fao parte.
Esta apenas mais uma histria repleta de muitas vidas.
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Cultura: matria-prima da folclore
"Todo e qualquer ser humano tem cultura." Esta uma das poucas "verdades
absolutas"da Antropologia. Apesar desta afirmao parecer bvia, no , pois h muita
gente ainda que pensa que alguns seres humanos no tm cultura. Por isso, importante
ressaltar esta 'obviedade'.
Outra verdade antropolgica que em praticamente toda e qualquer
comunidade humana existem e interagem diversos componentes substantivos -
indicadores sociais - que definem, identificam e constroem a cultura do grupo humano
que a vive:
1) as formas organizativas (o social, isto , a famlia, os laos de parentesco, o compadrio,
os grupos, as turmas, etc.),
2) as formas do fazer (o tecnolgico, o cientfico, o artstico, o artesanal. o literrio, etc.),
3) os sistemas de deciso (o poltico, a autoridade, a liderana, etc.),
4) a viso de mundo (o religioso, o ontolgico, o depois, o futuro, etc.),
5) o meio ambiente (o contexto, o entorno, o ecolgico, etc.),
6) a memria (o passado, a origem, o anterior, etc.),
7) as relaes de produo (o econmico, o trabalho, a sobrevivncia, etc.)
Estes componentes so extremamente dinmicos, interdependentes e formam
uma rede de relaesque so condicionantes e condicionadas pelo corpo de valores
(as ideologias, a arbitrariedade, a solidariedade, a violncia, o afeto, o respeito, os
modismos, o machismo, o egoismo, o amor, a ternura, os preconceitos, a alegria, o prazer,
etc) da sociedade.Consideramosculturaexatamente esta rede de relaes, processos e interaes,
que forma um padro ou um desenho, definidor da identidade da comunidade ou
grupo social. (Veja o desenho 1).
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Consequentemente, o planejamento da dinmica do desenho - seja local,
regional ou nacional - que constitui o cerne das propostas e polticas de
desenvolvimento, deveria ter como caracterstica e nfase a heterogeneidade e a
diversidade, que de fato constituem a marca de nossa cultura, o carter de nosso pas e
sua verdade histrica.
Assim sendo, no podemos admitir, por exemplo, como democratizao dacultura brasileiraum maior acesso dos diferentes grupos sociais espalhados por este pas
aos bens de uma dada cultura, porque isto a homogenizaria e a uniformizaria,
desfigurando-a. Por outro lado, perderamos o carter de nao brasileira, porque
estimularamos o desenvolvimento social e econmico de um nico desenho, o que no
corresponderia ao nosso processo histrico.
Sendo a educao o principal gerador de oportunidades para o desenvolvimento
social e econmico de um pas (cfe. ONU/1990), a poltica educacional no poderia estar
desvinculada dessa premissa bsica (a heterogeneidade) e, obrigatoriamente, deveria
ter na diversidade de desenhos culturais da nossa sociedade a alternativa e o ponto de
partida para a realizao do pleno e integral desenvolvimento da nao brasileira.
S considerando uma educao plural, cuja matria prima de ao pedaggica
seja a cultura, poderemos democratiz-la e, assim, caracteriz-la no singular como
brasileira.
- E o Folclore ? Onde ele entra nessa histria ?
Se estamos de acordo com as premissas anteriores, verificaremos que "toda e
qualquer forma de conhecimento" uma leitura e interpretao, parcial e relativa, da
cultura.Como qualquer outra cincia, o Folclore mais uma maneira de ler e interpretar a
rede de relaes e os desenhos culturais de uma sociedade. Para isso, esta cincia utiliza-
se de instrumentos metodolgicos de pesquisa: a observao e a anlise de tudo aquilo
que seja tradicional, funcionale de aceitao coletivadentro do grupo social estudado.
Seja o conhecimento cientfico (sistemtico e sistematizado, resultante da
aplicao de mtodos especficos para cada cincia), seja o conhecimento no-formal
(emprico, no-sistematizado, resultante da vivncia e do senso comum), ambos, um e
outro, so e sero sempre relativos e parciais. Nenhum melhor ou superior ao outro.Antagnicos muitas vezes, complementares outras, no opostos necessariamente.
Ambos importantes porque permitem e possibilitam uma leitura mais densa e uma
compreenso mais profunda do ser e da cultura humanos. E esta a finalidade do
conhecimento, creio eu: possibilitar uma leitura mais densa, mais profunda, mais rica,
mais abrangente e mais humana da "travessia" humana.
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E o Folclore, como cincia humana e social, irm da Antropologia, e parte desse
conhecimento, , em sntese, a possibilidade de leitura "dos saberes, dos fazeres e dos
quereres humanos", estudados sob a "luneta" da tradicionalidade, da aceitao coletiva
e da funcionalidade. (Veja o desenho 2)(*)
Conceituao
Folclore , portanto, a cincia humana e social que estuda os fatos e as relaes,
os processos e as realizaes de um grupo social - materiais, sociais e espirituais, objetivas
e subjetivas, orais e escritas - tradicionais, funcionais e de aceitao coletiva, integradas
vivncia popular e dinmica do cotidiano, resultantes da difuso no tempo e no
espao.Estas manifestaes, tambm chamadas de cultura popular, coexistem com as
formas de cultura erudita (ou acadmica) e de massa (ou de consumo), conservando
suas funes histrico-sociais. O artesanato e a medicina caseira, as crenas e
supersties, as grias e provrbios, as danas e festas populares tradicionais so alguns
entre os incontveis exemplos, objetos da cincia folclrica. Para que o(a) leitor(a) no
fique em dvida: o Folcloreestuda o folclore (A cincia, com F maisculo, estuda o fato,
com f minsculo), razo pela qual muitas vezes a mesma palavra aparece com grafia
diferenciada.
Para se chegar ao conhecimento sobre o que ou no fato folclrico, devemos
analisar alguns aspectos que constituem suas caractersticas primordiais:
- se o fato tradicional, funcional e de aceitao coletiva:
condies essenciais (e "sine qua non") para existncia do fato
folclrico;
- o grupo social que o recolhe e o vivencia;
- como se manifesta e interage este fato dentro do grupo;
- a atualidade e a funcionalidade do fato na vida das pessoas e
da comunidade;- como se articula o fato na trama ou no desenho cultural da
comunidade.
Fato Folclrico
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O povo no folclore
Existem inmeras definies de Folclore e, em todas elas, se confere ao povo uma
importncia fundamental. E, em verdade, ele a possui.
- Porm, quem esse povo que faz ou utiliza os bens folclricosou portador de folclore? - Todos ns !
- Ser o Folclore smbolo dos pobres e dos analfabetos ?
- No !
- Sero portadores de folclore os intelectuais ou eruditos ? - Sim !
A palavra "povo" pode dar margem a toda espcie de interpretao. Em relao
a cincia folclrica povo um todo - conjunto de indivduos integrantes de uma dada
cultura, situado em um ambiente geograficamente determinado - sem distino ou
determinao por classes, grupos sociais, polticos ou econmicos.
Partindo desta premissa, todos ns somos, querendo ou no, parte do
povo e, portanto, produtores e consumidores de cultura, cujos aspectos
tradicionais, funcionais e de domnio coletivodenominamos Folclore.
O Folclore no smbolo de pobreza, nem propriedade particular de umacamada fixa ou predeterminada da populao, ainda que seja entre a parcela da
populao com menores oportunidades de acesso ao conhecimento erudito e s
informaes veiculadas e/ou adquiridas atravs das instituies escolares, religiosas e
polticas que o encontramos. Este segmento que cultiva, mais intensamente, a maioria
dos fatos e dos bens folclricos, no porque quer, mas de maneira natural e com a
mesma razo pela qual os pssaros cantam.
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A tradio no folclore
A tradio o conjunto de fatos e elementos (materiais, sociais e espirituais) que
uma poca ou uma gerao doa ou entrega a que lhe sucede para que esta, por sua
vez, o retransmita, com seus fatos ou elementos incorporados, sua imediata sucessora.
Tradio equivale a atualidade de fatos ou fenmenos no tempo e no espao,porque ela o fator de identidade - unio, carter, coerncia e coeso - de um povo
atravs dos tempos. Um fato folclrico essencialmente um fato tradicional, isto quer
dizer, um fato entregue ou doado de uma gerao outra. O jogo da "amarelinha" ou
"mar" ou "ma" folclrico no porque nossos avs e pais brincaram, mas porque ns e
nossos filhos brincamos e brincam. Ele tradicional porque, vindo do passado, atual e
presente, alm de ter uma funo social e ser de domnio pblico. Ao contrrio da
Histria que a cincia dos fatos humanos do passado, o Folclore estuda os fatos
tradicionais no presente.No existe povo que seja to miservel que no tenha tradio, pois ela que
cria, fertiliza, alinhava, reproduz e incorpora os valores e realizaes humanas de uma
poca. Ritos e costumes, tcnicas e hbitos de trabalho, cantos e lendas, msicas e
supersties, danas e jogos, enfim, todas as reas da ao humana vivem, se
recompem, se cristalizam, se transformam, se criam, se difundem, se expandem, no
tempo, no espao e atravs da tradio.
Os povos que no se conhecem a si mesmos, porque no se estudam, no se
pesquisam, ou no se descobrem, por ignorncia, por desinteresse, por vergonha de suas
origens ou por excesso de valorizao de valores culturais importados, nunca tero sua
identidade e auto-estima formadas, nunca tero definida e conhecida sua
personalidade e, portanto, jamais sero coerentes, autnticos e harmnicos.
A criao no folclore
O individual e o coletivo, o anonimato e o popular esto sempre presentes num
fato folclrico. Todos sabemos que toda e qualquer obra tem um criador, seja ele um
cidado comum, um poeta, um msico, um arteso, etc. Uma criao (material, social
ou espiritual) passando do indivduo-criador sua coletividade, tornar-se- popular se
houver identificao (de funo e aceitao) entre ambos, autor e comunidade.
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As aes humanas so sempre respostas s suas necessidades. Uma ao
qualquer, ao fazer sentido e dar respostas para um nmero cada vez maior de pessoas,
vai, gradativamente, passando do uso ocasional e espordico para o uso constante e
sistemtico, transformando-se num hbito. A prtica dos hbitos gera o costume. A
vivncia dos costumes cria a tradio. A tradio, como j vimos, o acervo de solues
e respostas, saberes e fazeres humanos herdados e doados entre as geraes.O nome do autor (ou autores) da maioria dos fatos folclricos, em geral, fica
oculto, perdendo-se no tempo. Conta-se o milagre, mas no conta o nome do santo.
Por isso, dizemos que os fatos folclricos so annimos. Descobrir ou identificar o(s)
autor(es) de um fato folclrico no o invalida ou diminui o seu valor cultural, ou contrrio,
permite-nos fazer uma leitura mais profunda e abrangente do fenmeno da difuso
cultural.
NECESSIDADE RESPOSTA USO HBITO COSTUME TRADIO
O valor funcional do folclore
No se pode entender o Folclore como um conjunto de fatos gratuitos ou sem
funo. Tudo que o povo faz, pensa, sente e expressa est intimamente relacionado e
integrado ao seu mundo e ao seu dia-a-dia social, material e espiritual. Os provrbios e as
danas, os ritos e as anedotas, o artesanato e as supersties, os brinquedos e os
remdios caseiros, entre outros tantos fatos, existem, no por existir, por gerao
espontnea, mas para atender e responder s necessidades ( intelectual, de lazer,
religiosa, mgica, material, sade, ldica, existencial, etc.) de um grupo social local,
regional ou nacional.
Ningum faz uma colher de pau toa. Todos ns sabemos como faz-la e para
que serve: mexer doce e angu, alm de servir para bater (levemente) na cabea de um
gago; a gagueira passa pelo susto do baque seco.
Assim como a colher de pau, todos os fatos folclricos existem para atender a
uma funo cultural - social, econmica ou espiritual - de um grupo ou de um povo.
A atualidade do folclore
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Vimos que toda e qualquer manifestao folclrica tem uma funo a preencher
na sociedade atual. Se os romances, os costumes, as crenas, as simpatias, as frmulas de
remdios caseiros, etc. houvessem permanecido estticos e imutveis, se nada fossem
mais que fatos passados, sem presena e significado no nosso dia-a-dia, sem atualidade,
no seriam elementos de interesse folclrico. Poderiam ser, no mximo, exemplos de uma
poca, importantes para ilustr-la ou compreend-la como histria, porm noconstituiriam jamais um fato folclrico, vivenciado por uma coletividade, tradicional,
dinmico e atual, como deve ser entendido e visto todo e qualquer fato folclrico.
A dinmica do folclore
A funo de um fato folclrico no pode e/ou deve ser congelada no processo
de evoluo de um povo atravs dos tempos e, nem to pouco, pode ser aprisionadaem determinada rea geogrfica. Isto seria o mesmo que coisificar os fazeres e os
saberes folclricos, transformando-os de elementos culturais vivos em fsseis, vistos e
apreciados apenas como "simples e bonita coleo de borboletas. A cincia folclrica
trabalha com fatos e manifestaes universais. A sua grande riqueza a sua diversidade
na unidade, isto quer dizer que, um mesmo fato pode e tem inmeros acrscimos e
variaes em sua estrutura e funo, frutos do tempo e do espao onde ele se manifesta.
A estria de Dona Baratinha e Dom Rato, por exemplo, encontrada sob inmeras
variantes em praticamente em todo o mundo. Assim, podemos encontrar, em quase
todos os pases, os mesmos fatos folclricos sob formas e variantes " moda da casa".
O Folclore, como fruto da atividade humana, est sujeito, portanto, a alteraes
tanto na forma quanto no contedo, resultantes do processo de difuso e da
apropriao cultural. Uma dana que antigamente foi de carter guerreiro ou religioso
ou parte de um ritual, pode constituir-se, hoje, em um folguedo ldico e mera diverso. Se
nos for possvel, atravs de pesquisas, observar, estudar e determinar esta transformao,
teremos um maior e mais profundo conhecimento de nossa realidade e de nossa
formao cultural. Caso contrrio, devemos observ-la e entend-la em sua forma,
funo e significado atuais e dentro do grupo que a pratica. Esta uma das muitas
funes do folcloristas.
Segundo Varagnac, todo fato folclrico pode responder, no curso dos sculos,
necessidades diferentes e mentalidades diferentes, e para esta compreenso
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fundamental no s o estudo e a pesquisa sistemticas, mas tambm o respeito pelas
coisas do povo.
Se algum educador ou pesquisador ousar este mergulho corre o risco de afogar-se
literalmente numa cincia que se constri com o crebro e a alma, podendo transformar-
nos em seres mais humanos e melhores.
Porque trabalhar com folclore na escola
O Folclore, visto sem a viseira do preconceito, um forte elemento de formao
de cidadania e de nacionalidade. , ao mesmo tempo, o que nos confirma a condio
de seres humanos universais e nos reafirma e nos diferencia como seres brasileiros,
italianos, alemes, mexicanos, etc. Visto alm de eventos, os fatos folclricos de que
somos portadores so matria prima da melhor qualidade para a nossa formao
educacional e comunitria, pois so parte do acervo de conhecimentos e de
contribuies que ns herdamos e trazemos para o desenvolvimento de nosso grupo
social. Bem utilizado o Folclore pode tornar-se importante elemento de criao de auto-
estima, afirmao da personalidade e consolidao da cidadania. E, de quebra, facilitar
o aprendizado da linguagem, do raciocnio lgico, da prpria histria e de sua
comunidade.
Tentaremos, a seguir, apresentar algumas orientaes especficas para um melhor
e maior aproveitamento do Folclore nas escolas de 1o e 2o graus, a partir da vivncia dosprprios alunos.
O mal hbito que tem os professores de sempre e apenas enviar seus alunos para
pesquisar uma dana, um folguedo ou uma festa, longe do contexto dos alunos, embora
importante como trabalho escolar, fortalece a idia de que o aluno-pesquisador no tem
nada a ver com o que ele pesquisa. O resultado em geral terrvel. Os alunos copiam
enciclopdias medocres, o professor no l os trabalhos porque, em geral, j conhece o
contedo copiado. Pronto. Realizou-se mais uma semana do folclore na escola. Quantaenergia desperdiada. Quanto preconceito foi criado e estimulado. Quanta possibilidade
de educao integral se perdeu.
Qualquer trabalho de pesquisa escolar sobre Folclore para alcanar os resultados
esperados, deve ser antecedido pela pesquisa das manifestaes folclricas dentro de
casa e na vizinhana e, s posteriormente, esgotados os temas e abordagens nos nveis
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familiares e comunitrios, os alunos devem partir para a pesquisa fora do seu universo
imediato, seja atravs dos livros, seja atravs de atividades de campo. Esta medida
importante porque prepara o estudante, que reconhecendo-se portador de folclore,
pode melhor, mais profunda e respeitosamente conhecer outros portadores, como iguais
e diferentes, mas nunca como estranhos, inferiores ou apenas exticos.
Evidentemente no possvel querer encontrar todos os temas, combinaes detemas e aspectos folclricos dentro da famlia e/ou comunidade. O campo de ao do
Folclore to amplo quanto capacidade do ser humano criar e propor solues,
alternativas, saberes e fazeres. Por isso, afirmamos que o Folclore universal, apesar de
ns o estudarmos quase sempre moda da casa, isto : o folclore em casa ou na
comunidade, ou o Folclore em Minas Gerais (e no folclore mineiro), ou o Folclore em
Gois (e no o folclore goiano).
Ao propormos este roteiro de pesquisa pretendemos fornecer aos educadores
alguns caminhos que se seguidos podero apresentar resultados extraordinrios.
Este roteiro foi, antes de tornar-se um texto de orientao, testado e aplicado,
com xito, pelo autor em escolas de 1o., 2o. e 3o. graus de Belo Horizonte/MG.
Posteriormente, este roteiro foi usado por vrios educadores mineiros e nos mais variados
nveis de profundidade, sempre com muito bons resultados.(Esta uma das razes porque
este trabalho j foi editado, reeditado e reproduzido inmeras vezes por rgos pblicos
e particulares de educao e cultura de Minas Gerais).
No existem frmulas ou sistemas exatos e rgidos para a pesquisa folclrica.
Observao cuidadosa e registro fidedigno so, entretanto, premissas fundamentais para
se obter uma consistente pesquisa. Por outro lado, confiamos no bom senso doseducadores, que conhecedores e parceiros de seus educandos, sabero dosar estas
orientaes, adequando-as ao ritmo, s possibilidades e potencialidades de seus alunos.
Uma pesquisa folclrica deve ser sempre uma atividade
prazerosa, uma possibilidade de crescimento de alunos,
pesquisadores, professores, familiares e comunidade; s por isto
deveria fazer parte do dia-a-dia da escola. Devido a estapossibilidade, repugnamos a prtica do folclore apenas como
evento ocasional, obrigatrio e de data marcada ('ms de
agosto') na vida das escolas.
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Devido a esta possibilidade, repugnamos a prtica do folclore apenas como evento
ocasional, obrigatrio e de data marcada (ms de agosto) na vida das escolas.
Esta viso estereotipada, entretanto, somente ser alterada quando os educadores se
convencerem que:
(1) educao uma troca de saberes e fazeres entre professores e alunos, algo que s
ocorre (e teima existir) no plural, numa relao entre iguais entre professor e aluno;
(2) a cultura o ponto de partida e a matria prima de uma prtica educativa integral e
transformadora.
Esquema geral
REGIO
MUNICPIO
BAIRRO
VIZINHANA
CASA
TEMAS
ESCOLHER
RECOLHER
PREPARAR
O QUE?
ONDE?
COMO?
Fonte: MORAES, Wilson Rodrigues de, Folclore Bsico
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Metodologia de pesquisa
Para elaborao de trabalhos prticos sobre Folclore e sua orientao, indicamos
um esquema geral bastante simples:
- O QUE ? . . .utilizar como tema de pesquisa;
- ONDE ? . . . ir buscar esse tema;
- COMO ? . . .realizar essa tarefa.
O QUE a razo do trabalho, aquilo que o aluno vai recolher e preparar como
sua atividade escolar. A escolha do tema pode ser sugerida pelo professor ou, se o aluno
receber boa dose de esclarecimentos e estmulos, ele prprio pode optar por um
determinado tema a pesquisar. A motivao para a pesquisa e escolha do tema podemser encontradas nas prprias relaes familiares do aluno, no seu convvio cotidiano, nos
fatos comuns da vizinhana e do bairro (urbano) ou da localidade (rural) onde mora.
ONDE, portanto, pode e deve ter como ponto de partida a casa, a famlia do
prprio aluno. Aps a pesquisa familiar o tema pode ser obtido nas vizinhanas e no
bairro onde mora o aluno. No tem sentido pedir a um aluno do 1o. grau residente no
bairro Betnia, em Belo Horizonte, para fazer um trabalho sobre o folclore do Mato Grosso
ou do Nordeste, antes de ele primeiro conhecer a si mesmo e a comunidade onde vive.
Do mesmo modo, muito mais coerente um professor trabalhando em Teresina solicitarde seus alunos um trabalho sobre o Folclore no Piau, existente naquela capital e no bairro
onde est situada a escola, do que um estudo sobre as manifestaes folclricas do Vale
do Itaja, em Santa Catarina.
COMO o conjunto de passos e mtodos para se efetuar a atividade. Esta parte
exige que os alunos sejam orientados e motivados para que desenvolvam a sua
capacidade de observar e registrar os fatos e informaes vivenciadas. Quando a
pesquisa exige que se converse com pessoas da comunidade, porm estranhas, por
exemplo, os alunos devem ser preparados para se aproximar das pessoas, para entrar em
determinado ambiente e para participar de algum acontecimento popular. A nossa
sugesto que os alunos faam o oposto do que fazem, em geral, a maioria dos
jornalistas de televises e pesquisadores inescrupulosos, que adotam comportamentos e
atitudes desrespeitosos diante dos grupos ou das manifestaes folclricas, no se
importando com o que e como os fatos esto ocorrendo, mas apenas cata de material
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para o seu trabalho, de preferncia em busca do que seja fantstico ou extico, usando
o povo para seus prprios fins, sem entend-lo em suas manifestaes, razes e
explicaes.
Como a relao pesquisador-informante no um processo mecnico, mas
fundamentado no respeito e no dilogo educativo e isso no se aprende nos livros, mas
pelo prprio convvio, aconselhamos que alunos ainda sem maturidade para vos maisaltos, pratiquem suas pesquisas folclricas, primeiro no mbito familiar e comunitrio e, s
posteriormente, se lancem em pesquisas de campo alm de suas fronteiras de
convivncia.
Desejamos novamente observar que as recomendaes aqui feitas esto sujeitas,
claro, ao bom senso dos professores para adequ-las aos nveis de maturidade e
escolaridade de seus alunos, pois um mesmo tema pode ser estudado com maior ou
menor profundidade, dependendo do estgio dos alunos. Assim, tambm a critrio dos
professores, os trabalhos escolares podero ser executados individualmente ou em grupo,
se bem que s vezes, o prprio assunto escolhido ou a maneira de busc-lo, poder
determinar a melhor forma de faz-lo.
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O QU?
Temas sugeridos para trabalhos escolares
TEMAS ASSUNTOS ESPECFICOS
1 - Linguagem Popular - Termos e expresses mais caractersticos e usuais da
comunidade; histrias, grias, lendas, ditados e provrbios,
gestos e mmicas, etc. e sua explicao popular.
2 - Nomes Populares - Nomes ou apelidos com que o povo batiza ruas, caminhos,
bairros, povoados, acidentes geogrficos, etc. e sua
explicao popular.
3 - Apelidos - Apelidos de pessoas (ou alguma coisa) da comunidade e sua
explicao popular.
4 - Nome de Plantas e
Animais
- Nomes que o povo d aos diversos animais e plantas
caseiras, medicinais, etc. e sua explicao popular.
5 - Comidas e Bebidas - Aquelas comuns na comunidade, dirias, festivas e
ocasionais e suas respectivas receitas e formas de utilizao
populares.
6 - Arte e Artesanato - Trabalhos de artistas e artesos populares que, utilizando-se
de instrumentos rudimentares ou as prprias mos, produzem
formas e objetos utilitrios ou figurativos; descrio do processo
e dados sobre os artesos.
7 - Medicina Popular - Chs, pomadas, garrafadas e outros remdios de confeco
caseira, o seu preparo e formas de utilizao; ervas medicinais
e sua aplicao.
8 - Ritos de Passagem - Comemoraes populares de nascimento, batizado,
namoro, noivado, casamento e morte; costumes populares de
comemorao de datas festivas como Natal, Pscoa, Ano
Novo, etc.
9 - Religio - Cultos e cerimnias religiosas populares fora do campo de
ao litrgica de qualquerigreja ou religio.10 - Brinquedos e
Brincadeiras
- Aqueles no aprendidos nas escolas, parques infantis ou
clubes; caractersticas, formas e requisitos das brincadeiras e
sua explicao pelos prprios participantes.
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11 - Caa, Pesca e
Agricultura
- Instrumentos e tcnicas de trabalho tradicionais na
comunidade e sua explicao popular.
12 - Supersties - Aquilo que as pessoas da comunidade acreditam que faam
bem ou mal; registrar a explicao popular.
13 - Tipos Populares - Vendedores, pregoeiros, msicos ambulantes, etc. da
comunidade; suas caractersticas, maneiras de viver, trabalhar,etc.
14 - Casos Contados - Casos (causos) de pescadores, caadores, etc., contados
por eles mesmos.
15 - Danas - Aquelas danas (livres e abertas a todos), tradicionais da
comunidade; caractersticas, tipos e pocas das danas e sua
explicao popular.
16 - Folguedos
Populares
- As danas e coreografias adotadas por grupos especficos,
organizados e tradicionais na comunidade; formas de
organizao e dos rituais destes grupos e sua explicao por
eles mesmos.
17 - Festas Cclicas - Aspectos populares e tradicionais das festas religiosas e
profanas que tem carter cclico e anual: Natal, Ano Novo,
Reis, Carnaval, Quaresma, Semana Santa, Pscoa, Divino
Esprito Santo, Ms de Maria, Juninas, Rosrio, etc., descrio
das manifestaes e caractersticas populares (no litrgicas)
e tradicionais destas festas.
18 - Festas Religiosas
em Geral
- Festas dedicadas aos diversos santos, padroeiros e s datas
santificadas da comunidade; descrio das caractersticas e
aspectos populares.
ONDE?
Locais de pesquisa
Muita gente continua com a idia incorreta de que Folclore algo que acontece
longe da gente, que preciso ir busc-lo em algum lugar distante, de preferncia entre a
gente pobre, da periferia ou da roa, "entre as pessoas que fazem o folclore. Esta viso
mope e, muitas vezes preconceituosa, tem sido uma das razes porque o estudo do
Folclore ocupa pouco (ou nenhum) lugar nas escolas. A conceituao do Folclore como
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cincia antropolgica mostra que todos ns, querendo ou no, somos portadores de
folclore.
Dentro do conceito de 'sociedade civilizada' (da qual fazemos parte), ao
contrrio da 'sociedade grafa' (sem escrita) da qual fazem parte os indgenas brasileiros,
por exemplo, coexistem e podem ser analisadas, normalmente, 3 formas culturais distintas:
1 - cultura erudita (ou acadmica) que a maneira de viver de um indivduo (ou grupo
social) orientada, dirigida ou, at mesmo, imposta por uma instituio (Estado, Escola ou
Igreja, por exemplo). Seus valores so dirigidos e, em geral, permanentes.
2 - cultura de massa (ou de consumo) que a maneira de viver de um indivduo (ou
grupo social) orientada, dirigida ou, at mesmo, imposta pelos modismos e necessidades
imediatas criadas e/ou estimuladas pelos meios de comunicao em geral (Rdio,
Televiso, Jornais, Revistas, etc.). Seus valores so dirigidos e, em geral, temporrios e
mutveis.
3 - cultura popular (ou folclrica) a maneira de viver de um indivduo (ou grupo social)
no dirigida por qualquer instituio (como Estado, Escola ou Igreja) e, nem to pouco,
de carter temporrio ou modismo (como Rdio, TVs, Jornais, etc), mas aprendida e
difundida pela tradio - permanente e dinmica - fruto da vivncia diria, familiar e
comunitria, no tempo e no espao.
Ao contrrio das formas anteriores, a cultura popular tende a ser permanente e noimposta. Quando esta cultura incorpora a tradio e, portanto, a atualidade,
consolidando a sua funcionalidade e fortalecendo os mecanismos de aceitao popular
e domnio coletivo, denominamos de cultura folclrica (ou Folclore).
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A maioria dos temas sugeridos para pesquisas podem ser encontrados entre os
prprios alunos, seus familiares e vizinhos.
- No se usa gria em casa ou no bairro? - Ningum tem apelido?
- Algum est isento de superstio? - Ningum conhece (ou pratica) nenhuma
ao para evitar o mal (ou buscar o bem estar) em casa?- Ningum conhece nenhum jogos ou brincadeiras: "mar", "cinco marias, "bola de
meia", etc. por exemplo?
- Nunca se prepara em casa um ch ou remdio caseiro ou alguma comida
tradicional?
- Como a famlia comemora o nascimento de uma criana? - Nenhum rito,
nenhuma simpatia, so feitas? -Como se faz nen dormir? - Nenhum acalanto?
Poderamos fazer inmeras perguntas semelhantes a estas e, com certeza,
teramos respostas afirmativas para quase todas, aps uma breve pesquisa em casa e na
vizinhana. Por isso, ao sugerir aos educadores o uso do bom senso queremos dizer-lhes
que:
- pesquisar perguntar, indagar, buscar respostas (quantitativas e qualitativas)
para nossos questionamentos e aprimoramento de nosso conhecimento. Portanto,
ao propor
uma pesquisa apresente questes (e perguntas) que estimulem os alunos a
busc-las e respond-las em quantidade e qualidade.
Casa
Vizinhana
Bairro
Municpio
Regio
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Como?
Realizao do trabalho
Propomos como metodologia de trabalho o seguinte esquema em 3 fases:
Escolher Recolher
Preparar
Escolher
Tema e Local
Recolher Observao e Registro:
- Ateno
- Discreo
- Fidelidade
Preparar Texto/Produto final:
- Local
- Pessoas
- Fatos
- Observaes
- Resultados
- Meios utilizados
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A ) Escolher
O desenho abaixo d uma excelente dimenso do que pode ser feito em termos
de pesquisa sobre folclore na escola. Todos os 9 temas listados so possveis e passveis se
serem encontrados, e com facilidade, nas casas de todos os alunos e nas de seus vizinhos.
De acordo com o grau de escolaridade dos alunos, os temas para pesquisa podem serapresentados como (1) busca das manifestaes folclricas e dos aspectos significativos
no processo cultural da comunidade, ou pode-se explicar que, (2) se busca dentro do
temas "tudo aquilo que no se aprende (ou aprendeu) nas escolas, nos livros, atravs de
jornais, revistas, rdios, televiso, nem que foi ensinado pela Igreja ou pelo Estado".
Linguagem Popular Brinquedos
Vizinhana
Nomes e Apelidos Ritos de Passagem
Casa
Tipos Populares Supersties
Casos Contados Comidas e Bebidas
Medicina Popular
B ) Recolher
O prximo passo a pesquisa propriamente dita, isto , recolher e reunir todas as
informaes sobre o tema escolhido. Neste momento o fundamental : a observao e o
registro.
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Observar implica em se colocar em estado de total ateno, visando apreender
todas as informaes e fatos expostos pelo informante. Como isso um processo de
aprendizagem, fundamental recomendar aos alunos:
- muita ateno em tudo o que observar;
- discreo quando estiver observando;- fidelidade quando estiver registrando.
Lembramos aos educadores que os alunos devero ser instrudos sobre normas de
conduta para conversar com informantes, principalmente se estes forem pessoas
estranhas a eles. Este tipo de preocupao se deve ao fato de que um informante vai
estar falando de sua vida, sua maneira de pensar, agir e sentir, portanto, importante
que se estabelea uma relao cordial, amigvel e respeitosa entre quem informa (e
fala) e quem pesquisa (e escuta).
Indicamos alguns procedimentos teis para este casos:
1 - aproximar-se com discreo e procurar conquistar a simpatia do informante. Expor
com clareza os objetivos do trabalho um bom comeo para se estabelecer uma
relao de confiana entre o pesquisador e o pesquisado;
2 - usar linguagem apropriada, clara e objetiva. A linguagem rebuscada ou muito formal
inibe o dilogo;
3 - o informante quem deve falar e livremente; quanto menos for interrompido, melhor;
por isso, as perguntas devem ser feitas com o objetivo de fazer o informante falar; no
formule perguntas que j tragam consigo a resposta;4 - importante conversar sobre o mesmo assunto, inclusive formular as mesmas
perguntas, para vrios informantes, pois s assim pode-se medir e avaliar a existncia do
fato folclrico;
5 - nunca interrompa uma manifestao folclrica para fazer perguntas ou outros
registros, como fotos e vdeos, por exemplo;
6 - o informante no deve ficar annimo ( a no ser que ele assim o deseje); quanto mais
informaes sobre ele obter, mais rica, verdadeira e contextualizada ser a pesquisa.
C) Preparar
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Todo o material anotado e recolhido deve ser colocado de forma a facilitar a sua
utilizao e consulta posteriores. Todos ns sabemos como se fazem anotaes,
rascunhos, etc. necessrio pass-las a limpo, o mais rpido possvel, enquanto as
informaes esto "quentes e frescas" em nossas cabeas, evitando esquecimentos e
perdas. Quando houver gravaes, o contedo das fitas deve ser transcrito. Este um
trabalho enjoado de se fazer, mas necessrio para que o material possa ser utilizado eaproveitado integralmente.
Depois de organizar todo o material de campo obtido, o trabalho ser preparado
visando os fins a que ele se destina: ser entregue ao professor, ser publicado, etc.
H vrias maneiras de se apresentar um trabalho de pesquisa. Eis algumas sugestes:
1 - apresentao do tema: do que se trata e o que tentou-se buscar;
2 - os meios usados na pesquisa e os informantes que possibilitaram a obteno
das informaes.
3 - onde e quando foram feitos os registros: os locais, como as pessoas reagiram
e/ou participaram , etc.
4 - o fato, o objeto da pesquisa; descrev-lo mantendo-se fiel ao registro e, em
seguida explic-lo a partir da perspectiva do pesquisador; "o que vi e o que
aprendi".
5 - ilustrar o trabalho com todos os elementos obtidos e/ou produzidos, fotos,
textos, desenhos, esquemas, mapas, etc.
Este esquema apenas uma sugesto de roteiro de apresentao dos resultados obtidosno campo. Haver professores que prefiram estrutur-lo de maneira diferente, por
exemplo:
1 - descrevendo o local onde foi feita a pesquisa;
2 - as pessoas informantes (ou no) que vivem na comunidade e/ou esto
envolvidas no tema pesquisado;
3 - a apresentao do tema e as observaes feitas;
4 - os resultados obtidos, as dificuldades e facilidades encontradas, etc;5 - os meios usados para realizar o trabalho e os anexos produzidos.
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Concluso
preciso lembrar que o tom dominante de qualquer trabalho deve ser o presente,
seja pela ao, seja pela funo. Tudo o que o aluno descrever dever estar
acontecendo ou ser usual na poca em que o trabalho foi realizado.
As coisas e os fatos passados interessam como elementos de ligao e
reconstruo dos caminhos percorridos pelo tema do passado - de onde e como veio -
ao presente, como est e como se vive hoje. O fato folclrico no o ocorrido, mas
sempre o que est ocorrendo.
Voltamos a insistir que se d especial ateno aos trabalhos sobre Folclore a partir
de temas que possam envolver os alunos, suas famlias e a comunidade onde vivem e
funciona a escola, pois s assim, praticando, poderemos desmistificar o conceito de
Folclore como algo estranho e distante do universo da escola (educadores, educandos e
comunidade). Mesmo nas ocasies em que haja interesse especfico por um folguedo,
uma dana ou uma festa, importante estud-la e verific-la a partir da perspectiva do
ambiente familiar e comunitrio dos alunos.
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Sugestes Bibliogrficas
- ALMEIDA, Renato - "Manual de Coleta Folclrica"; Campanha de Defesa do Folclore
Brasileiro, Rio de Janeiro, 1968.
- ALMEIDA, Renato - "A Inteligncia do Folclore"; Cia. Editora Americana - MEC, 2a.edio, Rio de Janeiro, 1974.
] ALMEIDA, Renato - "Vivncia e Projeo do Folclore"; Livraria Agir Editora - INL, RJ, 1971
- ARAJO, Alceu Maynard- Folclore Nacional, 3 vol., Edies Melhoramentos, SP, 1967
- CARNEIRO, Edison -"Dinmica do Folclore"; Editora Civilizao Brasileira s/a, Rio de
Janeiro, 1965.
- CASCUDO, Lus da Cmara - "Dicionrio do Folclore Brasileiro"; 2 vol., Instituto Nacional
do Livro/INL-MEC, Braslia, 1972.
- LIMA, Rossini Tavares de - "Folclore do Dia-a-Dia em Relatrio de Estudantes"; RevistaBrasileira de Folclore 27:113 - 17, Rio de Janeiro, 1970.
- MARTINS, Saul - Folclore: Teoria e Mtodo; Imprensa Oficial de MG, BHte, 1986.
- MORAES, Wilson Rodrigues de - "Folclore Bsico"; Cadernos Didticos de Folclore No.1,
Editora Esporte e Educao, So Paulo, 1974.