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FOLHA DE ROSTO ANÁLISE DE REDES PESSOAIS E RENDIMENTO ESCOLAR EM ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL IELMO MARINHO/RN Resumo Nas últimas décadas a população brasileira vem passando por transformações demográficas significativas na sua estrutura etária, tal como têm mostrado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em suas pesquisas amostrais e censitárias. Uma das áreas afetadas por essas transformações, é a educação, sobretudo no rendimento escolar dos alunos. Diante disso, objetiva- se estudar a relação entre o redimento escolar e análise das redes pessoais dos alunos de Ensino Médio Ensino Médio da Escola Estadual Ielmo Marinho/RN, tendo como unidade amostral dois estudantes (Mary e Ricardo Pseudônimos) desta instituição que realizaram o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no ano de 2015. Constatou-se constatou-se que o baixo rendimento apresentado por Ricardo no Exame Nacional do Ensino Médio, está associado a uma alta Densidade, a um grande número de Cliques, e a uma pequena Distância Geodésica de sua rede. Por outro lado, o alto rendimento apresentado por Mary este associado a um cenário relacional totalmente contrário ao de Ricardo, ou seja, uma baixa Densidade, a um baixo número de Cliques, e a uma maior Distância Geodésica de sua rede pessoal. Palavras-Chave: Exame Nacional do Ensino Médio. Redes Pessoais. Rendimento Escolar.

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FOLHA DE ROSTO

ANÁLISE DE REDES PESSOAIS E RENDIMENTO ESCOLAR EM ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL IELMO MARINHO/RN

Resumo

Nas últimas décadas a população brasileira vem passando por transformações demográficas significativas na sua estrutura etária, tal como têm mostrado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em suas pesquisas amostrais e censitárias. Uma das áreas afetadas por essas transformações, é a educação, sobretudo no rendimento escolar dos alunos. Diante disso, objetiva-se estudar a relação entre o redimento escolar e análise das redes pessoais dos alunos de Ensino Médio Ensino Médio da Escola Estadual Ielmo Marinho/RN, tendo como unidade amostral dois estudantes (Mary e Ricardo – Pseudônimos) desta instituição que realizaram o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no ano de 2015. Constatou-se constatou-se que o baixo rendimento apresentado por Ricardo no Exame Nacional do Ensino Médio, está associado a uma alta Densidade, a um grande número de Cliques, e a uma pequena Distância Geodésica de sua rede. Por outro lado, o alto rendimento apresentado por Mary este associado a um cenário relacional totalmente contrário ao de Ricardo, ou seja, uma baixa Densidade, a um baixo número de Cliques, e a uma maior Distância Geodésica de sua rede pessoal.

Palavras-Chave: Exame Nacional do Ensino Médio. Redes Pessoais. Rendimento Escolar.

ANÁLISE DE REDES PESSOAIS E RENDIMENTO ESCOLAR EM ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL IELMO MARINHO/RN*

INTRODUÇÃO

As mudanças da dinâmica demográfica têm afetado diretamente a

educação, o que tem interferido nas relações entre a oferta e a demanda por

vagas, e no próprio rendimento dos alunos dentro do sistema de ensino. Essas

transformações demográficas acabam influenciando o sistema de ensino como

um todo, porém é no Ensino Médio que essas questões acabam ganhando mais

evidência.

Partindo desse princípio, o Ensino Médio na condição de etapa final da

educação básica, torna-se um divisor de água com relação ao futuro profissional

ou acadêmico dos estudantes. Mas, essa etapa de ensino é considerada por

muitos como a mais problemática, uma vez que registra altas taxas de evasão,

abandono, baixo desempenho nas avaliações e um reduzido número de alunos

matriculados nesse ciclo educacional. Além do mais, possui uma estrutura

curricular densa, com muitas disciplinas e pouca praticidade, o que agrava ainda

mais a situação de desmotivação por parte da maioria dos jovens. Tudo isso

repercute diretamente na aprendizagem e, consequentemente, nos indicadores

educacionais.

Em meio a essa problemática, a demografia passa a desempenhar um

papel de suma importância, uma vez que, a população escolar recebe influência

direta das transformações que ocorrem na estrutura etária, tendo como resultado

o surgimento de um campo denominado demografia da educação, para tratar

* Trabalho apresentado durante o XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Poços de Caldas, Minas Gerais, 22 a 28 de setembro de 2018

dessas questões. A população analisada pela demografia da educação é

prioritariamente a população em idade escolar, entre 6 a 24 anos, cujo grupo

corresponde ao ensino fundamental, médio e superior.

Vale ressaltar que a demografia da educação perpassa a simples análise

da população escolar (estrutura, tamanho e composição), englobando também

outros aspectos da dinâmica da população escolar, como por exemplo, a

construção de indicadores de desempenho escolar.

Nesse sentido, os indicadores de rendimento escolar tem apontado que há

um expressivo percentual da população de 15 a 17 anos no Brasil que não está

cursando o Ensino Médio. Entretanto, esse número vem reduzindo, de acordo

com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual de

pessoas que não frequentavam escola, da população de 15 a 17 anos de idade,

caiu, passando de 22,6%, no ano de 2000, para 16,7%, no ano de 2010.

Esses números têm refletido também no redimento escolar dos alunos, ou

seja, no sucesso ou insucesso deles dentro do sistema de ensino. O rendimento

escolar também é uma maneira de medir os conhecimentos e aptidões

adquiridos ao longo do ano letivo, por meio de provas e exames aos quais os

alunos são submetidos, se constituindo assim em um indicador muito usada para

a tomada de decisões no campo educacional.

A pesquisa foi desenvolvida com alunos de Ensino Médio, com idades entre

15 a 17 anos de idade, da Escola Estadual Ielmo Marinho/RN, que realizaram o

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no ano de 2015. Objetiva-se com

nessa discussão investigar os impactos das transformações demográficas sobre

o redimento escolar, à luz da análise das redes pessoais dos alunos. Para

alcançar esse objetivo, a estrutura discursiva do artigo está alicerçada em X

seções temáticas: Dinâmica demográfica do município de Ielmo Marinho entre

1970 e 2000; A educação no contexto das transformações da estrutura etária;

Demografia, educação e população em idade escolar; Rendimento escolar e

Análise de Redes Sociais; Metodologia de análise; Rendimento dos alunos da

Escola Estadual Ielmo Marinho no EMEM 2015; e Rendimento escolar e Análise

de Redes Sociais dos alunos da Escola Estadual Ielmo Marinho no ENEM 2015

Dinâmica demográfica do município de Ielmo Marinho/RN

A dinâmica demográfica brasileira vem apresentando importantes

mudanças, principalmente com o processo de queda das componentes

demográficas, fecundidade e mortalidade. A queda da mortalidade se deu em

virtude das melhorias nas condições sanitárias e no acesso aos serviços de

saúde, o que acarretou na transição de altos a baixos níveis de mortalidade

(ALVES, 2008).

No que se refere ao processo de declínio da fecundidade, este posterior ao

da mortalidade, além de provocar queda do crescimento populacional,

impactando diretamente sobre a configuração da estrutura etária, o que pode ser

comprovado quando se analisa pirâmides etárias de uma população em

momentos distintos (CARVALHO, 2004).

A identificação dessas mudanças demográficas ao longo do tempo fazem

parte do processo de “transição demográfica”, caracterizado pela queda das

taxas de mortalidade e natalidade (ALVES, 2008). Há uma ampla literatura que

aprofunda a discussão sobre a transição demográfica no Brasil e explica as

causas e consequências de tal processo (BRITO, 2007; WONG, CARVALHO,

2006; CAMARGO, SAAD, 1990; ALMEIDA, WAJNMAN, 2005).

A mudança na estrutura etária atinge vários campos, entre eles, o sistema

educacional, onde o impacto dessa nova dinâmica populacional afeta a demanda

por educação. Logo, as condições favoráveis resultantes do processo de

transição demográfica, ou seja, a existência de um “5bônus demográfico” hoje no

Brasil caracteriza-se como uma excelente oportunidade para se investir na

educação básica de qualidade para os jovens e na qualificação profissional para

a população adulta.

Apesar dessas mundanças serem muito discutidas no âmbito do território

brasileiro, numa perspectiva macro, é importante deixar claro que a nível

municipal essas informações também são relevantes, para a definição de ações

de planejamento por parte do poder público. Por esse motivo, para a

compreensão das questões educacionais do município de Ielmo Marinho, é

necessário o estudo de sua dinâmica demográfica.

5 ALVES, J. E. D. O Bônus Demográfico e o crescimento econômico no Brasil. Rio de Janeiro,

Aparte, Inclusão Social em Debate, IE-UFRJ, 06/12/2004.

Esse município, por sua vez, nas últimas três décadas do século XX,

apresentou crescimento populacional negativo, sendo que nos períodos de

1970-1980 e 1980-1991, as taxas foram de respectivamente -0,38% e -0,12%.

Por conseguinte, no período correspondente a 1991- 2000 apresentou uma taxa

de crescimento populacional positiva de 1,34%.

As taxas de crescimento poopulacional de Ielmo Marinho foram analisadas

no contexto do Brasil e do Rio Grande do Norte, tal como mostra a tabela 1:

Tabela 1: Taxa de crescimento geométrica, Brasil, Rio Grande do Norte e Ielmo Marinho,1970 – 2010

Período Brasil Rio Grande do Norte Ielmo Marinho

1970-1980 2,48% 2,05% -0,38%

1980-1991 1,93% 2,21% -0,12%

1991-2000 1,64% 1,58% 1,34%

2000-2010 1,17% 1,32% 1,73%

A análise da tabela 1 evidencia uma queda no crescimento populacional de

Ielmo Marinho, no período de 1970 a 1980. Tal aspecto pode ser atribuído ao

fenômeno migratório, uma vez que, neste período o município sofreu com a

decadência da atividade algodoeira, provocada por pragas. Nos períodos

subsequentes as taxas de crescimento começaram a aumentar, uma evidência

disso foi justamente o fato do município de Ielmo Marinho ter apresentado entre

2000 e 2010 um crescimento maior do que o observado no Rio Grande do Norte.

A educação no contexto das transformações da estrutura etária

A utilização das pirâmides etárias como instrumento de análise da dinâmica

demográfica é essencial, porque permite observar a evolução da população,

além de proporcionar o conhecimento da estrutura etária de uma dada população

por sexo, segundo os grupos de idade. Conforme Cerqueira e Givisiez, (2004),

a pirâmide etária é um gráfico com um poder explicativo extraordinário, pois uma

breve observação da mesma já nos permite concluir se a população ali

representada possui uma estrutura etária jovem ou envelhecida. Os gráficos 3,

4,5,6 e 7, mostram a evolução da estrutura etária do município de Ielmo Marinho

no período compreendido de 1970 a 2010.

As pirâmides etárias mostram a evolução da estrutura etária da população

do município de Ielmo Marinho, de 1970 a 2010, conforme os censos

FONTE: IBGE – Censos Demográficos: 1970-2010

demográficos. São nítidas as mudanças na estrutura dessa população, ao longo

das décadas: elas podem ser notadas no estreitamento da base e no

alargamento da porção superior.

Na pirâmide etária de 1970, observa-se uma base larga, condizente ao

grupo etário de 0 a 4 anos, apontando alta fecundidade no período. Já no ano

de 1980, a pirâmide etária apresenta ainda uma base larga, mas com os

primeiros indícios de uma mudança na estrutura etária, devido ocorrer uma

redução na base e um pequeno alargamento do seu corpo, comparada a da

década anterior.

As pirâmides de 1991 e 2000 reforçam o processo de declínio da

fecundidade em curso no município, em um ritmo menor, se comparado

vivenciado no Brasil nas últimas décadas. Mesmo assim, a fecundidade continua

alta, evidenciada por uma base ainda larga, sendo o grupo de 0 a 4 anos bem

significativo na estrutura etária.

Na pirâmide etária de 2010, percebem-se mudanças significativas, visto

que, sua base é relativamente menor quando comparada às demais faixas, um

reflexo da queda acentuada da fecundidade nas últimas décadas. Outro ponto

de destaque é o alargamento do topo da pirâmide, demonstrando aumento da

expectativa de vida da população.

Diante da análise, constata-se que o município de Ielmo Marinho vem

passando por um processo de transformação da sua estrutura etária, saindo

gradualmente de uma estrutura etária jovem para uma estrutura etária adulta, e

posteriormente, adentrará em um processo de envelhecimento de sua

população.

Portanto, as mudanças na estrutura etária observadas ao longo das cinco

últimas décadas, demonstradas por meio das pirâmides abaixo, ainda são

pequenas, mas a longo prazo, trarão implicações em diversas áreas,

principalmente na demanda por educação.

Gráfico 3: Pirâmides etárias de Ielmo Marinho/Rio Grande do Norte, 1970, 1991 e 2000

Fonte: Gráficos elaborados com base nos dados IBGE (BRASIL, 1970 a 2010)

10 5 0 5 10

0 a 4 anos5 a 9 anos

10 a 14 anos15 a 19 anos20 a 24 anos25 a 29 anos30 a 34 anos35 a 39 anos40 a 44 anos45 a 49 anos50 a 54 anos55 a 59 anos60 a 64 anos65 a 69 anos70 a 74 anos75 a 79 anos

80 anos ou mais

1970

Homens Mulheres

10 5 0 5 10

0 a 4 anos5 a 9 anos

10 a 14 anos15 a 19 anos20 a 24 anos25 a 29 anos30 a 34 anos35 a 39 anos40 a 44 anos45 a 49 anos50 a 54 anos55 a 59 anos60 a 64 anos65 a 69 anos70 a 74 anos75 a 79 anos

80 anos ou mais

1991

Homens Mulheres

10 5 0 5 10

0 a 4 anos5 a 9 anos

10 a 14 anos15 a 19 anos20 a 24 anos25 a 29 anos30 a 34 anos35 a 39 anos40 a 44 anos45 a 49 anos50 a 54 anos55 a 59 anos60 a 64 anos65 a 69 anos70 a 74 anos75 a 79 anos

80 anos ou mais

2010

Homens Mulheres

Demografia, educação e população em idade escolar

A dinâmica educacional é resultante da dinâmica demográfica, à medida

que as mudanças na estrutura etária se refletem no campo educacional. As

transformações na estrutura etária redefinem a proporção da população em

idade escolar diante da população total. Nesse sentido, as componentes

demográficas influenciam na demanda por educação. O percentual da

população em idade escolar em cada nível de ensino e o nível de escolaridade

são alguns aspectos que caracterizam a demografia da educação.

Sob a ótica demográfica, a educação exerce importante papel no

crescimento econômico e melhoria na qualidade de vida, pois possibilita a

progressão escolar do indivíduos dentro do sistema de ensino, até chegar ao

nível superior ou ao mercado de trabalho.

Partindo desse princípio, a universalização do atendimento escolar até

2016 era uma das prioridades estabelecidas pelo novo Plano Nacional de

Educação (PNE). Em outras palavras, toda a população de 15 a 17 anos deve

estar na escola no prazo estabelecido. Outra prioridade até 2020 para o Brasil é

o alcance de uma taxa líquida de matrícula no ensino médio de 85% dessa

mesma população.

É sabido que nem todos os indivíduos de 15 a 17 anos estão estudando ou

cursando o ensino médio regular, como aponta o Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE). No último censo demográfico, apenas 83,3% das pessoas

de 15 a 17 anos frequentam a escola, enquanto 16,7% estão fora dela. Diante

disso, é louvável examinar a relação entre população em idade escolar e o

acesso ao ensino médio no contexto municipal.

Trazendo essa análise para o contexto do estudo de caso, a tabela 2 mostra

proporção de população em idade escolar (Ensino Médio) entre 1970 e 2010, no

município de Ielmo Marinho.

Tabela 2: Proporção da população em idade escolar em relação à população total Ielmo Marino 1970 a 2010 – Ensino Médio

População 1970 1980 1991 2000 2010

Total 9575 9225 9106 10251 12171

15 a 17 anos 503 670 735 710 776

(%) 5,2 7,3 8,1 6,9 6,4 Fonte: IBGE – Censos Demográficos: 1970-2010

Percebe-se, na tabela 2, uma pequena variação ao longo das décadas, da

população de 15 a 17 anos. No entanto, entre 1991 e 2000 e 2010, nota-se uma

tendência decrescente bem acentuada no percentual dessa população. Todavia,

em termos absolutos, ocorreu um aumento dessa faixa etária entre os anos de

2000 e 2010, representando um número maior de indivíduos no ensino médio.

Para complementar essa análise, a tabela 3 traz a relação entre o número de

matrículas no ensino médio e a população de 15 a 17 anos do município.

Tabela 3: Número de matrículas no ensino médio em relação à população de 15 a 17 anos - Ielmo Marinho, 2000 a 2010

2000 2010

População 710 776

Matrícula 93 580

(%) 13,1 74,7

Fonte: Censo escolar, 2000-2010

A tabela 3 revela uma situação preocupante para o ano de 2000: apenas

13,1% da população de 15 a 17 anos estava matriculada no ensino médio

regular. Diante desta realidade, deve-se levar em consideração que uma parcela

dessa população estava no Ensino Fundamental e a outra fora da escola. Porém,

no ano de 2010, houve uma melhora significativa desse percentual, alcançando

74,7% de alunos matriculados, valor próximo ao do Brasil no mesmo período,

que apresentava um percentual de 80,7% de alunos regulares no ensino médio.

Outro indicador útil para a compreensão dessa problemática, é o número

de alunos matriculados no Ensino Médio. O gráfico 8 apresenta a evolução das

matrículas no Ensino Médio, entre 2000 e 2014, para o município de Ielmo

Marinho.

Gráfico 8: Número de alunos matriculados no ensino médio Ielmo Marinho 2000 – 2014

0

100

200

300

400

500

600

Fonte: Censo escolar, 2000-2014

É possível perceber na análise do gráfico 8, uma melhora significativa no

número de matrículas, o que pode ser um indicador do aumento na quantidade

média de anos de estudo da população municipal. Porém, quando há a quebra

desse ciclo de alunos matriculados no Ensino Médio, com idades entre 15 e 17,

pode haver o desencademaneto de consequências negativas, com por exemplo,

o não ingresso da população de 18 a 24 anos no Ensino Superior e a perda de

mão-de-obra qualificada.

Essas caracteriísticas demográficas identificadas no município de Ielmo

Marinho, pode estar relacionada aos efeitos das mudanças populacionais

vivenciadas pela população nacional, como também por fatores de ordem local,

próprios do município. Por envolver diretamente o trato com a população em

idade escolar, essas informações demográficas são importantes para auxiliar o

município no planejamento educacional dos seus diferentes níveis de ensino.

Porém, é preciso ir além da análise dos indicadores demográficos de educação,

é necessário analisar as teias de relações sociais e pessoais que envolvem os

alunos de Ielmo Marinho, uma vez que, a sua rede de relacionamentos pode

interferir em seu rendimento escolar.

Rendimento escolar e Análise de Redes Sociais

Vários indicadores demográficos são utilizados para se analisar o

rendimento escolar de uma população, e a maioria deles está pautada no modelo

de fluxo escolar, a partir do qual são calculadas as taxas de aprovação,

reprovação, evasão e abandono (RIGOTTI e CERQUEIRA, 2004). Todavia, é

importante deixar claro que esse rendimento apresentado pelo aluno, e

legitimado por esses indicadores, está diretamente associado a um conjunto de

fatores ligados ao campo relacional do indivíduo, como por exemplo, a família, a

escola e comunidade onde ele mora (RIANI, 2004).

Existe neste caso, uma série de fatores sociais associados ao rendimento

escolar, ou seja, os resultados apresentados pelos indicadores educacionais são

influenciados por uma rede de relações pessoais estabelecida na população

analisada. Por esse motivo, é preciso situar esses indicadores de rendimento

escolar no interior dos sistemas de relações dos quais eles dependem, pois caso

contrário, eles representarão somente a produtividade e a racionalidade formal

do sistema escolar (BOURDIEU e PASSERON, 2012). Essa teia relacional é

caracterizada no âmbito da análise de redes sociais, ou seja, no campo das

relações pessoais estabelecida pelos alunos em sua vivência cotidiana.

Por esse motivo que os indicadores demográficos de rendimento escolar

devem ter sua interpretação permeada pela a análise das redes pessoais. Essa

análise examina os atores sociais, seus papéis e suas ligações. É um método

pautado na compreensão do comportamento dos indivíduos de forma articulada,

em que cada relação construída pode significar trocas de informações de

diferentes naturezas, usadas em vários tipos de atividades cotidianas

(FREEMAN, 2004). Por esse motivo, que o foco da análise de redes não é o

atributo que um ator apresenta, mas sim a relação que ele estabelece com

outros, que é um dos princípios básicos para a formação da estrutura e do

conteúdo rede (HANNEMAN, 2001).

Aplicando essa abordagem teórico-metodológica ao rendimento escolar

do aluno, mais precisamente na análise e interpretação da estrutura de sua rede

de relações, há a necessidade de identificação das esferas sociais em que essa

rede está organizada. Nesse sentido, parte-se do pressuposto de que o

rendimento escolar do aluno se alicerça através de três esferas sociais: a escola,

a família e a comunidade (MARTINEZ-OTERO, 2012; CARVALHO, 2013; RIANI,

2004), que ao serem analisadas de forma estrutural dão origem a rede de

relações do aluno.

Nesse sentido, ao estabelecer relações sociais cotidianas na família, na

escola e na comunidade, o indivíduo constrói uma rede de contatos pessoais,

por meio da qual se dá o seu processo de inculcação de valores, ideias e

conhecimentos historicamente produzidos. Nesse espaço social, caracterizado

por uma rede de relações familiares, escolares e comunitárias, os atores

existentes exercem influências distintas no processo educativo, uma vez que

esses atores ocupam posições diferentes no campo de relações sociais do

indivíduo (BOURDIEU, 2001; RIANI, 2004).

Nesse caso, a nota ou qualquer outro indicador deve estar associada com

a análise da rede de relações pessoais do aluno. Tal abordagem tanto é válida

para avaliar o rendimento do aluno nas avaliações escolares quanto nas

avaliações de caráter nacional, como por exemplo, o Exame Nacional do Ensino

Médio (ENEM). Para isso é necessário definir uma série de procedimentos

metodológicos para articular rendimento escolar e Análise de Redes Pessoais.

Metodologia de análise

Para realizar uma análise articulada entre o rendimento dos alunos da

Escola Estadual Ielmo Marino no ENEM 2015 e suas respectivas redes, foi

preciso o desenvolvimento de uma série de procedimentos metodológicos.

Inicialmente foram definidas as métricas da Análise de Redes que iriam ser

utilizadas. Definiu-se como métricas a Densidade, a Distância Geodésica, e os

Cliques.

A densidade expressa o nível de conecividade existentes entre os atores

da rede, e é expressa em termo percentuais (%), por isso os seus resultados

desse indicador variam sempre de 0 a 100%. A distância Geodésica, por sua

vez, é a menor distância entre dois nós, é uma maneira de pensar a força das

conexões, pois atores que estão conectados por uma seqüência curta de laços

ou que têm maior número de conexões são considerados mais estáveis e, por

isso, apresentam comportamento mais previsível. Já os Cliques baseia-se no

princípio da formação de grupos de atores com relações em comum. As pessoas

se conhecem entre si, e com isso há o compartilhamento de experiências,

através das intersecções relacionais estabelecidas no contexto cultural do gupo,

o qual na maioria das vezes congrega pessoas de atitudes e comportamentos

parecidos (LAZEGA e HIGGINS, 2014).

Essas três métricas foram calculadas tendo como nível de análise o aluno

(LAZEGA; HIGGINS, 2014, p. 35). Tendo o aluno como nível de análise

individual, tais métricas foram associadas com as notas obtidas pelos alunos no

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) do ano de 2015. A escolha desse

exame se justifica pelo fato de ser uma avaliação padronizada, realizada pelos

estudantes brasileiros do Ensino Médio.

Considerou-se sucesso escolar o aluno que obteve média maior ou igual

a 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), no ano de 2015. O

insucesso escolar corresponde ao aluno que obteve média inferior a 450 pontos

no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), no ano de 2015.

A escolha dos 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM),

como forma de definir se o aluno alcançou - ou não - o sucesso, foi em

decorrência de ser um dos critérios de seleção, determinado pelo Ministério da

Educação (MEC), como pré-requisito para o aluno ser beneficiado por algum

programa de acesso ao ensino superior brasileiro, por exemplo, o Sistema de

Seleção Unificado (SISU) e o Programa Universidade para Todos (PROUNI),

que são algumas das formas de ingressar no ensino superior (MEC, 2016).

Posteriormente, escolheu-se como amostra dois alunos da Escola

Estadual Ielmo que fizeram o ENEM em 2015. Esses dois alunos receberam o

pseudônimo de Mary e Ricardo, para resguardar suas respecitvas identidades.

As três métricas de redes foram calculadas para cada um desses indivíduos e

analisadas de forma articulada com o redimento de cada um no ENEM 2015.

Esses alunos foram os que para o ano de 2015 obtiveram, respectivamente, o

melhor e o pior rendimento no ENEM, dentre os alunos de 15 a 17 anos da

Escola Estadual Ielmo Marinho. Para situar esses alunos no contexto escolar em

que estavam inseridos, foi feita uma análise do rendimento dessa escola no

ENEM 2015.

Rendimento dos alunos da Escola Estadual Ielmo Marinho no EMEM 2015

O rendimento da Escola Estadual Ielmo Marinho, no Enem 2015 é

expresso através de áreas do cnhecimento. São elas Ciências Humanas e suas

Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Linguagens e Códigos

e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias. O quadro 1 mostra a

pontuação obtida pela escola em cada uma dessas áreas, no ENEM 2015.

Quadro 1: Médias finais por áreas do Conhecimento dos estudantes da Escola Estadual Ielmo Marinho, no Enem 2015

Área do conhecimento Média dos estudantes (Pontos)

Ciências Humanas e suas Tecnologias 495

Ciências da Natureza e suas Tecnologias 424

Linguagens e Códigos e suas Tecnologias 441

Matemática e suas Tecnologias 415

Fonte: elaborada pelo autor com base em dados do Inep

Verifica-se, no quadro 1, que o pior rendimento ocorreu em Matemática e

suas Tecnologias (MT), com pontuação média de 415 pontos, seguida pela área

de Ciências da Natureza (CNT), com 424 pontos. Em Linguagens e Códigos e

suas Tecnologias, apresentou-se também um baixo rendimento com 441 pontos.

Em Ciências Humanas e suas Tecnologias foi a área do conhecimento onde

ocorreu a classificação de melhor rendimento, com média de 495 pontos.

A fim de analisar o conjunto de dados sobre o rendimento escolar dos

estudantes da Escola Estadual Ielmo Marinho, no Enem 2015, a Tabela 5

apresenta valores de tendência central (média) e de dispersão (desvio padrão e

valores máximo e mínimo). Tais medidas são importantes para compreender a

variação do conjunto de dados analisados.

Tabela 5: Os valores obtidos para as médias, desvio padrão, valor mínimo e valor máximo dos estudantes da Escola Estadual Ielmo Marinho - 2015

Média Desv. Padrão Mín. Máx.

CHT 494 60 386 630

CNT 424 50 350 531

LCT 441 50 310 550

MT 415 50 323 530

RD 465 120 200 720

Após comparar a média final dos estudantes brasileiros com a média final

dos estudantes da presente pesquisa, pode-se observar no gráfico abaixo que,

em todas as áreas do conhecimento, as médias dos estudantes da Escola

Estadual Ielmo Marinho estão abaixo da média nacional.

Gráfico 9: Comparação de médias de notas por área de conhecimento no Enem - 2015

Fonte: Elaboração própria com base nas notas dos estudantes no Enem 2015

Como podemos observar no Gráfico 9, Ciências Humanas e suas

Tecnologias foi a área do conhecimento na qual os estudantes alcançaram as

maiores notas, com média nacional de 558 pontos e os estudantes da escola

analisada obtiveram 494 pontos. Em Linguagens e Códigos e suas Tecnologias

foi a área do conhecimento com a maior disparidade em relação à pontuação,

sendo a média nacional de 505 pontos e a média da escola analisada de 441

pontos.

Outro ponto de destaque foi Matemática e suas Tecnologias, com o pior

rendimento entre os estudantes de forma geral, pois a média nacional foi de 466

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

CHT CNT LCT MT

PO

NTO

S

Nacional Esc. Ielmo Marinho

Fonte: Elaboração própria com base nas notas dos estudantes no Enem

2015

pontos e a da escola analisada de 415 pontos. Já Ciências da Natureza e suas

Tecnologias, a pontuação foi baixa, semelhante à obtida em matemática, com

uma média nacional de 479 pontos e a média da escola analisada de 424 pontos.

Para fins comparativos a tabela abaixo mostra os rendimentos por área

do conhecimento acrescentado da redação, entre os alunos com o melhor e o

pior rendimento no Enem 2015.

Tabela 6: Comparação de rendimentos por área do conhecimento mais a redação no Enem - Escola Estadual Ielmo Marinho, 2015

Área do conhecimento e Redação

Aluno com o maior rendimento (Mary)

Aluno com o menor rendimento (Ricardo)

CHT 595,4 479,4

CNT 531,2 387,8

LCT 486,9 502,4

MT 529,7 377,4

RD 720 200

Média 572,6 389,4

Fonte: Elaboração própria com base nas notas dos estudantes no Enem 2015

Observa-se que, em relação a Ricardo, Mary obteve as melhores médias

em todas as áreas de conhecimento, exceto em Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias. Merece destaque a discrepância quando se observam as notas da

redação: uma diferença exorbitante de rendimento.

A tabela 7, apresenta o percentual dos estudantes que obtiveram sucesso

e insucesso escolar por área do conhecimento e redação, tomando como ponto

de corte 450 pontos, proposto pelo MEC para concorrer à bolsas de estudos em

instituições de ensino superior.

Tabela 7: Percentual dos estudantes que obtiveram sucesso e insucesso escolar por área do conhecimento e redação - Escola Estadual Ielmo Marinho, 2015

Área do conhecimento e Redação

Sucesso escolar ≥450 pontos

Insucesso escolar <450 pontos

CHT 76,9% 23,1%

CNT 23,1% 76,9%

LCT 53,8% 46,2%

MT 19,2% 80,8%

RD 50% 50%

Fonte: Elaboração própria com base nas notas dos estudantes no Enem 2015

Destaca-se, a partir dos resultados dos estudantes, o sucesso escolar

alcançado em Ciências Humanas e suas Tecnologias (CHT), com 76,9%. Em

Matemática e suas Tecnologias (MT), e Ciências da Natureza e suas

Tecnologias (CNT), registrou-se o pior rendimento entre todas as áreas, com o

percentual de insucesso escolar de 80,8% e 76,9%, respectivamente.

A partir da comparação dos rendimentos expressados nas médias,

constata-se uma situação de baixa qualidade no ensino dos estudantes da

Escola Estadual Ielmo Marinho. Analisados os dados, percebe-se uma diferença

de rendimento abissal entre os estudantes da referida escola com relação aos

estudantes a nível nacional.

A análise também demonstra um baixo rendimento dos estudantes em

Matemática, seguido por Ciências da Natureza (Química, Física e Biologia). Em

especial, a área da Matemática revela uma precariedade na qualidade do ensino

dos conteúdos de base quantitativa no Brasil. Além disso, o fracasso no ensino

e as dificuldades por parte dos alunos em relação à Matemática, são os

principais fatores responsáveis pelo fracasso ser superior ao sucesso (VITTI,

1999). Essas características de rendimentos devem ser analisadas no contexto

das redes pessoais dos alunos.

Rendimento escolar e Análise de redes Sociais

As redes pessoais fornecem indicadores que não podem expressar o

rendimento escolar dos estudantes. Todavia, contribuem para entendermos

como a rede de relações em torno de um indivíduo pode impactar no seu

rendimento escolar. Para relacionar redes pessoais ao rendimento escolar,

utilizaram as métricas de Densidade, Distância Geodésica e Cliques. A tabela 8

mostra o resultado do cálculo dessas métricas para os dois alunos analisados.

Tabela 8: Densidade, Distância Geodésica e Cliques – Mary e Ricardo - Escola Estadual Ielmo Marinho, 2015

Densidade Dist. Geodésica Cliques

Mary 0.2447 1.4 passos 35,6

Ricardo 0.7727 1.1 passos 145,3

Fonte: Projeto Habitus de Estudar: construtor de uma nova realidade da educação básica na Região Metropolitana de Natal(2015)

A tabela 8 apresenta a média de conexões da rede de Mary que é 0.2447,

caracterizando-se como baixa densidade, ou seja, uma baixa conectividade. Já

a densidade da rede de Ricardo é de 0.7727, representando uma rede densa,

de alta conectividade.

A baixa conectividade de Mary significa que os atores da rede não trocam

informações entre todos e demonstra uma possível falta de eficiência no fluxo de

informações entre os seus integrantes. Ao contrário da rede de Ricardo, onde

ocorre fluidez de informações devido à sua alta conectividade.

A distância geodésica 1,4 de Mary foi de 1,4. Assim, são necessárias, em

média, 1,4 pessoas para a informação enviada chegar ao seu destino final. Já

Ricardo apresenta uma distância geodésica de 1,1 passos, ou seja, 1,1 pessoas

até a informação chegar ao seu destino. Nos dois casos, as médias das

distâncias geodésicas são semelhantes e consideradas baixas. Dessa forma, o

número de intermediários para a informação alcançar seu destino é pequeno.

Nota-se, na tabela 8, que o estudante Ricardo apresenta uma média de

cliques maior em comparação à estudante Mary. Dessa maneira, a rede do

estudante Ricardo é mais fragmentada em grupo do que a de Mary. Esses

grupos são formados provavelmente de familiares e amigos. Portanto, a

formação de grupos fechados ou cliques apontam benefícios - ou não - aos

estudantes.

Para aprofundar essa análise análise, as figuras 1 e 2 trazem

representações gráficas das redes sociais dos dois estudantes analisados.

A análise da figura 1, referente a representação sociométrica da rede

Mary, mostra uma rede pouco densa, em termos de articulação entre os

indivíduos. A rede de Mary, é da ordem de 0,2 de densidade, ou seja, o que em

porcentagem equivale a 20%. Já na figura 2, referente a representação

sociométrica da rede de Ricardo, há uma densidade da ordem de 0,7 que em

termos relativos equivale a 70%. O que esses dados apontam, em termos de

rendimento escolar e em termos de estruturação do campo relacional?

Em relação a rede de Mary, trata-se de uma estrutura reticular de baixa

conectividade, uma vez que nem todas as conexões possíveis foram

estabelecidas (ALEJANDRO e NORMAN, 2005). Já na rede de Ricardo, a maior

parte das suas relações possíveis foram estabelecidas, o que tende a contribuir

para a potencialização do fluxo informacional na estrutura da rede. Teórica e

hipoteticamente, essas representações de densidade poderiam levar a crer que

Ricardo teria apresentado melhor rendimento escolar, em relação a Mary, pelo

fato desta possuir uma rede menos densa.

Figura 1: Representação sociométrica da rede pessoal de Mary

Figura 2: Representação sociométrica da rede pessoal de Ricardo

Fonte: Elaboração própria com base dados Projeto Habitus de Estudar: construtor de uma nova realidade da educação básica da Região Metropolitana de Natal (2015)

Porém, o rendimento de Ricardo no Exame Nacional do Ensino Médio foi

inferior ao de Mary. Isso significa que o fato de Ricardo ter uma rede com

densidade de 70% não interferiu positivamente no seu rendimento nesse exame

de avaliativo. Pois, no caso me Mary, mesmo tendo uma baixa densidade em

sua rede, da ordem de 20%, isso não impediu que ela chegasse a alcançar um

bom rendimento no Exame Nacional do Ensino Médio.

Isso se explica pelo simples fato da densidade de uma rede envolver

diferentes tipos de laços, e por maior que seja o valor desse indicador é possível

que boa parte dos laços estabelecidos, não favoreçam ao processo de difusão

de informações de cunho educacional. Resumindo, ter uma rede de densidade

alta não significa dizer que essa condição favorecerá ao desempenho escolar do

aluno, uma vez que, essa alta densidade esteja voltada para a circulação de

outros tipos de informações.

Assim, quando se analisa uma densidade, antes de se basear somente

pelos seus critérios quantitativos, é necessário identificar se a predominância

dos laços estabelecidos é de ordem familiar, escolar ou nas relações de

vizinhança. É preciso saber quais as esferas sociais (família, escola,

comunidade) que mais influenciam no valor da densidade da rede do aluno, pois

isso será um indicador para saber a contribuição dessa métrica no rendimento

do discente em suas avaliações, como é o caso do Exame Nacional do Ensino

Médio. Para o caso específico o que se pode hipotetizar é que a composição das

redes de Mary e Ricardo apresentam configurações específicas com relação às

influências que cada um recebe da família, da escola, e da comunidade onde

estão inseridos, no que tange ao rendimento no Exame do Nacional do Ensino

Médio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O município de Ielmo Marinho, assim como diversos municípios

brasileiros, nos últimos anos têm apresentado significativas modificações em

suas estruturas etárias, mais precisamente quando se considera o período de

1970 a 2010. Essas modificações têm interferido sobre os níveis de fecundidade,

nas taxas de crescimento populacional, na razão de dependência e

consequentemente no arranjo e no fluxo da população em idade escolar, nos

diferentes níveis de ensino.

Por esse motivo, a análise da dinâmica de uma população deve estar

associada ao entendimento dos indicadores demográficos ligados ao campo

educacional. Para o município de Ielmo Marinho, ficou constatado que a

proporção de alunos entre 15 e 17 anos, matriculados no Ensino Médio tem

evoluído em um ritmo muito lento ao longo do tempo. O fato de poucos alunos

ainda estarem cursando esse ciclo escolar, na idade adequada, tem tido reflexos

nas avaliações realizadas, o que pode ser comprovado ao analisar o baixo

rendimento no Exame Nacional do Ensino Médio.

No âmbito da Escola Estadual Ielmo Marinho, constatou-se um baixo

rendimento dos estudantes em Matemática, seguido por Ciências da Natureza

no Exame Nacional do Ensino Médio. Isso significa dizer que a maior parte dos

alunos dessa instituição obtêm insucesso no Exame Nacional do Ensino Médio,

principalmente nos conteúdos de Matemática, Química, Física e Biologia. Porém

esse rendimento pode estar associado às redes pessoais do aluno, e não só a

estrutura do sistema de ensino estadual.

Entretanto, quando se considerou o rendimento dos alunos no contexto

de sua rede de relações pessoais, a partir dos alunos usados como amostra

(Mary e Ricardo), para a Escola Estadual Ielmo Marinho, percebeu-se a seguinte

situação: constatou-se que o baixo rendimento apresentado por Ricardo no

Exame Nacional do Ensino Médio, está associado a uma alta Densidade, a um

grande número de Cliques, e a uma pequena Distância Geodésica de sua rede.

Por outro lado, o alto rendimento apresentado por Mary este associado a um

cenário relacional totalmente contrário ao de Ricardo, ou seja, uma baixa

Densidade, a um baixo número de Cliques, e a uma maior Distância Geodésica

de sua rede pessoal. Por isso, para entender essa relação entre rendimento

escolar e redes pessoais, é preciso articular diferentes níveis de análise (o

município, a escola e o indivíduo), diferentes indicadores demográficos e a

utilização de métricas relacionais específicas, que permitam ir além das

informações quantitativas, que possibilitem o entendimento da natureza

qualitativa da rede, ou seja, da sua composição (família, escola, comunidade).

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