fora da igreja não há salvação

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Imersão Apologética Fora da Igreja não há salvação

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Fora Da Igreja Não Há Salvação

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Imersão ApologéticaFora da Igreja não há salvação

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Igreja x Reino de DeusPara evitar confusões é conveniente, antes de mais nada, determinar o sentido, das duas expressões reino de Deus e Igreja, cujo uso será frequente nesta aula

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Conceito de reino de DeusA expressão reino de Deus aparece ao menos cinquenta vezes nos Evangelhos de São Marcos e São Lucas. São Mateus, pelo contrário, utiliza-se raramente (XII, 28; XXI, 31, 43), substituindo-a pelo hebraísmo reino dos céus. Mas, pouco importa, porque as ditas expressões têm o mesmo sentido. O reino de Deus, ou reino dos céus era o assunto em que Jesus mais insistia.

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Conceito de reino de DeusOs judeus, fundando-se nos oráculos messiânicos, esperaram durante alguns séculos o estabelecimento dum grande Reino, que devia propagar-se pelo mundo, e dum Rei que Javé havia de enviar para o governar . Portanto, a fundação desse reino devia ser a obra do Messias . Mas o reino que Jesus prega não era semelhante àquele que os Judeus imaginaram. É a nova religião, a grande sociedade cristã que Jesus Cristo vai fundar e que há de implantar na terra até ao dia em que será juiz e rei na sua última vinda. O reino de Deus tem, pois, duas fases:a) um reino terrestre, no qual poderão entrar todos os homens do mundo;b) um reino celeste e transcendente, um reino escatológico, que será estabelecido no céu.

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Conceito de IgrejaEtimologicamente, a palavra Igreja (do grego «ekklesia», assembleia) designa uma assembleia de cidadãos convocados por um pregoeiro público.

A. Na linguagem escriturística a palavra tem dois significados: a) No sentido restrito e conforme à etimologia, aplica-se, quer à assembleia dos cristãos que se reunem numa casa particular (Rom. XVI, 5; Col. IV, 15) ( 1 ), quer ao conjunto dos fiéis da mesma cidade ou região; tais são, por exemplo, a igreja de Jerusalém (Act., VIII, 1; XI, 22; XV, 24), a Igreja de Antioquia (Act., XIV, 26; XV, 3; XXIII, 1), as Igrejas da Judeia (Gal. I, 22), da Asia (I Cor., XVI, 19) e da Macedónia (II Cor., VIII, 1);

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Conceito de Igrejab) Geralmente, Igreja designa a sociedade universal dos discípulos de Cristo. Nesta significação é empregada no evangelho de São Mateus no célebre Tu es Petrus - Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mat., XVI, 18). Aparece o mesmo sentido com bastante frequência nos Actos (V, 11; VIII, 1, 3; IX, 31), nas Epístolas de S. Paulo (I Cor., X, 32; XI, 16; XIV, 1 ; XV, 9; Gal., I, 13;. Ef,, I, 23; V, 23; Col., I, 18) e na Epístola de S. Tiago (V, 14).

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Conceito de Igreja para os S. PadresA palavra Igreja encontra-se em ambos os sentidos:

a) em sentido restrito ou de assembleia de fiéis, por exemplo, Didaché (IV, 12); ou de agrupamento local ou regional dos fiéis: como na Epístola de São Clemente para os Corintios no endereço e XLVII, 6; b) em sentido geral, para designar o conjunto dos fiéis pertencentes à religião cristã, encontra-se nos escritos do papa São Clemente, de São Inácio, de São Ireneu, de Tertuliano, e de São Cipriano.

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Conceito de IgrejaB. Conforme a doutrina católica, a palavra Igreja, tomada em sentido geral, aplica-se à sociedade dos fiéis que professam a religião de Cristo, sob a autoridade do Papa e dos Bispos.

a) Como sociedade, a Igreja possui as três características comuns a toda a sociedade, a saber: fim, sujeitos aptos para atingir o fim, e a autoridade com a missão de os conduzir ao fim,b) Os caracteres da Igreja como sociedade religiosa, têm natureza especial. O fim que prossegue é de ordem sobrenatural; porque não tem em vista os interesses temporais dos súbditos, mas Unicamente a salvação das suas almas. A autoridade, que assume a direção, é uma autoridade sobrenatural que recebeu de Jesus Cristo um tríplice poder.

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Conceito de Igreja1. O poder doutrinal infalível para ensinar a doutrina de Cristo;2. O poder sacerdotal para comunicar a vida divina pelos sacramentos e;3. O poder de governar, que impõe aos fiéis o que é necessário ou útil para a sua salvação.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Segundo os protestantes liberais e os modernistas, como Jesus Cristo tinha semente a missão de estabelecer o reino de Deus, não podia ter pensado em fundar a Igreja. O reino de Deus, como o concebem os nossos adversários, é incompatível com a noção católica de Igreja, O reino de Deus pregado por Jesus Cristo é, pois: 1. Para uns, um reino meramente espiritual; 2. Para outros, um reino somente escatológico. Mostraremos que estes dois sistemas são uma interpretação incompleta e, por consequência, falsa do pensamento e obra de Cristo.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação do sistema do reino de Deus meramente interior.

1.° Exposição do sistema. — Segundo Sabatier e Harnack, “Jesus nunca pensou em fundar uma Igreja, ou sociedade visivel, mas limitou-se a pregar um reino de Deus interior e espiritual. A sua única preocupação foi fundar o reino de Deus na alma de cada fiel, operando nela uma renovação interior e inspirando-lhe para com Deus os sentimentos dum filho para com o seu Pai. Jesus encontrara, na geração do seu tempo, uma religião exclusivamente ritual e formalista. Não a proibiu expressamente, mas considerou como secundário este aspecto externo da religião.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?A grande novidade que pregou, o elemento original e propriamente seu, que constitui, por assim dizer, a essência do cristianismo, é o lugar preponderante que atribui ao sentimento. Deste modo, o reino de Deus é reino íntimo e espiritual, destinado às necessidades da alma, sem imposição alguma de dogmas, instituições positivas e ritos meramente externos, deixando neste ponto completa liberdade ao modo de pensar individual. Por conseguinte, a organização do cristianismo, como sociedade hierárquica, não entra no plano traçado pelo Salvador ; a Igreja visível, é criação humana, cujas causas e origens pertencem ao domínio da história.”

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?RefutaçãoConcedemos sem dificuldade aos nossos adversários que a essência da religião pregada por Cristo é sobretudo espiritual, que a maior inovação do cristianismo foi a renovação interior pela fé, pela caridade e pelo amor ao Pai e que Jesus estabeleceu uma diferença essencial entre o farisaísmo daquele tempo e a nova religião. Não devemos porém exagerar, porque a espiritualidade do reino dos céus não era estranha ao conceito que dele faziam os profetas.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação

Mas podemos categoricamente afirmar que o reino de Deus, anunciado e fundado por Cristo, é um reino meramente individual, uma sociedade invisível composta das almas justas, sem nenhum caráter coletivo e social? Podemos afirmar que a perfeição interior deve ser considerada como a essência do cristianismo, por ser ela só a obra de Cristo? De modo nenhum.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação

O jesuíta Alfred Loyse (posteriormente condenado por São Pio X por heresia. Iremos também refutá-lo) refuta esta falácia: “Não seria lógico, diz ele, considerar como essência total duma religião o que a diferencia das outras. A fé monoteísta, por exemplo, é comum ao judaísmo, ao cristianismo e ao islamismo, e contudo de modo nenhum se deve procurar, fora da ideia monoteísta, a essência destas três religiões. O judeu, o cristão o muçulmano admitem igualmente que a fé num só Deus é o primeiro e principal artigo do seu simbolo. É pelas suas diferenças que se estabelece o fim essencial de cada uma delas, mas não são somente as diferenças que constituem as religiões... Jesus não quis destruir a Lei, mas cumpri-la. É pois natural que haja no judaísmo e no cristianismo elementos comuns, essenciais a ambos— A importância destes elementos não depende da sua antiguidade, nem da sua novidade, mas do lugar que ocupam na doutrina de Jesus Cristo e da importância que o próprio Jesus Cristo lhes dá.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação

Por outras palavras, o «reino de Deus» não é exclusivamente espiritual, só porque o Messias ensinou que era sobretudo espiritual. Tudo isto é evidente, se interpretarmos as palavras de Jesus Cristo, segundo as condições do meio e das ideias, em que foram proferidas.

Jesus insistia particularmente na ideia de perfeição interior e de renovação espiritual para corrigir os falsos conceitos dos judeus, que esperavam um reino temporal, por se terem fixado quase exclusivamente no elemento secundário das profecias. Queria persuadir-lhes que o reino de Deus que veio fundar não era reino temporal, nem o triunfo de uma nação sobre as outras, mas reino universal, para todos os povos, no qual poderia entrar todo o homem de boa vontade pela prática das virtudes morais e interiores.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação

Ademais, a expressão reino de Deus seria muito imprópria se devesse entender-se do reino de Deus na alma individual; porque, nesse caso, não se trataria de um reino, mas de tantos reinos quantas as almas.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?RefutaçãoOs partidários deste sistema, para provar a sua tese, fundam-se no texto de São Lucas (XVII, 20) Ecce regnum Dei intra vos est, que traduzem deste modo: O reino de Deus está em vós. Mas esta passagem tem outro sentido e, segundo o contexto, deve traduzir-se; O reino de Deus está no meio de vós. Os fariseus interrogam Jesus e perguntam-lhe quando virá o reino de Deus. Jesus responde: “o reino de Deus não virá com mostras exteriores. Não dirão: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá; porque eis aqui está o reino de Deus no meio de vós”. Como é fácil de ver, estas palavras no contexto não só não favorecem, mas parecem até ir contra a ideia de um reino meramente espiritual; porque, dirigindo-se esta resposta aos fariseus, que não criam e que, por conseguinte, se punham fora do reino, Jesus não lhes podia dizer que o reino de Deus estava nas suas almas.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?RefutaçãoOs partidários deste sistema, para provar a sua tese, fundam-se no texto de São Lucas (XVII, 20) Ecce regnum Dei intra vos est, que traduzem deste modo: O reino de Deus está em vós. Mas esta passagem tem outro sentido e, segundo o contexto, deve traduzir-se; O reino de Deus está no meio de vós. Os fariseus interrogam Jesus e perguntam-lhe quando virá o reino de Deus. Jesus responde: “o reino de Deus não virá com mostras exteriores. Não dirão: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá; porque eis aqui está o reino de Deus no meio de vós”. Como é fácil de ver, estas palavras no contexto não só não favorecem, mas parecem até ir contra a ideia de um reino meramente espiritual; porque, dirigindo-se esta resposta aos fariseus, que não criam e que, por conseguinte, se punham fora do reino, Jesus não lhes podia dizer que o reino de Deus estava nas suas almas.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Conclusão

Da genuína interpretação do texto de São Lucas e das razões que demos, pode se concluir que o reino de Deus não é meramente espiritual, mas coletivo e social e que, por conseguinte, não se pode afirmar que Jesus Cristo nunca pensou em fundar uma Igreja visivel.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação do sistema do reino de Deus meramente escatológico.

Exposição do sistema. — Segundo Alfred Loisy, a fundação da Igreja nunca entrou nos planos do Salvador. Na época em que apareceu Nosso Senhor, era ideia corrente entre os Judeus que o Messias havia de inaugurar o reino final e definitivo de Deus, isto é, o reino escatológico. Ora, analisando os textos dos Evangelhos, semente sob o aspecto crítico e sem os deformar com interpretações teológicas, parece certo que Jesus compartilhava o erro dos seus contemporâneos.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação do sistema do reino de Deus meramente escatológico.

Por consequência, a sua pregação tinha dois fins:

1. Anunciar vinda próxima do reino e o fim do mundo, intimamente conexosentre si; 2. Preparar as almas para esses acontecimentos por meio da renúncia dos bens do mundo e da prática das virtudes morais para alcançar a justiça. Portanto, o Cristo da história não pôde sequer pensar em fundar uma Igreja, isto é, uma instituição estável.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação do sistema do reino de Deus meramente escatológico.

A Igreja pode, portanto, definir-se: A sociedade dos discípulos de Cristo, que, vendo que o reino escatológico não se realizava, se organizaram e se adaptaram às condições atuais. Se perguntarmos a Loisy que havemos de fazer dos textos que narram a instituição da igreja, responder-nos-á, com os protestantes Iiberais, que não são históricos pois “são palavras de Cristo glorificado” e, por conseguinte, interpretações ou maneiras de pensar dos primeiros cristãos. Em seguida, Loisy conclui que “a instituição da Igreja por Jesus Cristo ressuscitado não é, para o historiador, fato palpável”.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação

Jesus Cristo, tendo apenas o objetivo de preparar as almas para a vinda iminente do reino dos céus e para a sua parusia, não podia ter pensado em organizar uma sociedade estável: tal é a ideia mestra do sistema de Loisy. Ora, para provar esta tese seria necessário retalhar o texto evangélico sem motivo justificável e fazer uma escolha inadmissível ou uma interpretação fantasiosa das passagens referentes à Igreja, como vamos demonstrar.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?Refutação

Sujeitemos a exame cada uma das afirmações de Loisy. Primeiramente, será verdade que os contemporâneos de Jesus tinham semente a ideia de um reino de Deus escatológico? Como muito bem observou o Pe. Lagrange, podemos distinguir claramente na literatura daquele tempo duas manifestações do pensamento judeu: a dos apocalipses e a dos rabinos.

Ora tanto uns como outros afirmavam que o reino messiânico não se identificava com o reino escatológico, e ambos se preocupavam com o porvir do reino de Israel neste mundo. A única diferença que havia entre eles é que os primeiros insistem mais no reino escatológico e os segundos, no reino do mundo atual. Por conseguinte, se Jesus Cristo tivesse adotado as ideias dos apocalipses, pregaria semente um reino escatológico e corrigiria as ideias dos rabinos. Ora Jesus não o fez.

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Jesus pensou em fundar uma Igreja?RefutaçãoVemos claramente do exame imparcial dos Evangelhos que o Salvador descreve um reino que tem duas fases sucessivas, uma terrestre e outra escatológica ou final. A primeira é apresentada por Jesus Cristo com características que não podem de modo algum aplicar-se ao reino escatológico e se adaptam perfeitamente à vida presente. Fala de um reino já fundado: “Desde os dias de João Baptista até agora, o reino de Deus padece força e os que fazem violência são os que o arrebatam” ( Mat., XI, 12). Quando replica aos fariseus, que o acusam, de expulsar os demônios em nome de Belzebu, diz: “Se eu lanço fora os demônios pela virtude do Espirito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus” (Mat., XII, 28)

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Jesus fundou uma Igreja hierárquicaEstado da questão

a) Os protestantes ortodoxos não admitem que Jesus tenha posto à frente da sua Igreja uma autoridade visível. Entretanto, concedem a historicidade e até a inspiração dos textos evangélicos que os católicos alegam em favor da sua tese.

b) Os racionalistas, os protestantes liberais e os modernistas, pelo contrário, rejeitam a autenticidade desses textos, dizendo que foram redigidos posteriormente por autores desconhecidos e insertos na narração evangélica depois dos acontecimentos, quer dizer, no momento em que a instituição da Igreja hierárquica era um fato consumado,

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Jesus fundou uma Igreja hierárquicaEstado da questão

A tese católica baseia-se, portanto, em dois argumentos:1 - Um, fundado nos textos evangélicos, que, com todo o direito, podemos utilizar contra os protestantes ortodoxos;2 - Outro, histórico em que nos propomos refutar a falsa concepção dos liberais e dos modernistas acerca da origem da Igreja hierárquica.

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Jesus fundou uma Igreja hierárquicaArgumento escriturísticoQuando sustentamos a possibilidade de encontrar a instituição duma Igreja hierárquica nos textos evangélicos, não queremos afirmar que Jesus declarou explicitamente que fundava uma Igreja hierárquica para um dia ser governada pelos Bispos sob o primado do Papa; até porque nunca pronunciou explicitamente estas palavras. Para demonstrarmos a nossa tese, basta provar que encontramos o equivalente no fato de ter escolhido doze Apóstolos e de lhes ter conferido poderes especiais que não concedeu aos outros discípulos.

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Jesus fundou uma Igreja hierárquicaA - A escolha dos dozeTodos os Evangelistas são concordes em testemunhar que Jesus, escolheu doze entre os discípulos, a quem deu o nome de Apóstolos (Mt X, 2-4; Mc III, 13, 19; Lc VI, 13, 16; Jo I, 35 e seg).

Instruiu-os duma maneira particular, desvendou-lhes o sentido das parábolas que as turbas não compreendiam (Mt XIII, 11) e associou-os à sua obra mandando-lhes que pregassem o reino de Deus aos filhos de Israel (Mt X, 5, 42; Mc VI, 7,13; Lc IX, 1, 6).

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Jesus fundou uma Igreja hierárquicaB - Poderes conferidos ao colégio dos dozePoderes conferidos ao colégio dos doze:a) Ao colégio dos doze, — a Pedro em particular (Mt XVI, 18, 19) e a todo o colégio apostólico (Mt XVIII, 18), — Jesus primeiro prometeu o poder de ligar no céu o que eles ligassem na terra, isto é, uma autoridade governativa que os constituiria juízes nos casos de consciência e lhes comunicaria a faculdade de preceituar ou proibir e, portanto, de obrigar; de modo que todo o que não obedecesse à Igreja seria considerado como pagão ou publicano (Mat., XVIII, 17),

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Jesus fundou uma Igreja hierárquicab) Poucos dias antes da ascensão, Jesus conferiu aos doze Apóstolos o poder que antes lhes tinha prometido “Todo o poder me foi dado no céu e na terra; ide, pois, e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que eu vos tenho ordenado, e estai certos de que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt, XXVIII, 19, 20).

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Jesus fundou a sucessão apostólicaProvamos que Jesus Cristo fundou uma Igreja hierárquica pelo fato de ter instituído uma autoridade de ensino e governo na pessoa dos Apóstolos, Vejamos agora se a jurisdição conferida aos Apóstolos era transmissível e, no caso afirmativo, em quem devia recair a sucessão.

Também aqui há duas teses: a racionalista e a católica: a) Na primeira não se põe o problema da transmissão da jurisdição apostólica, porque, segundo ela, a hierarquia não é instituição de origem divina, mas meramente humana, Do mesmo modo que o órgão é criado pela necessidade, assim o episcopado é o resultado de várias circunstâncias e necessidades da primitiva Igreja.

B) Segundo a tese católica o episcopado é de direito divino e os bispos, tomados no seu conjunto, são os sucessores dos Apóstolos, dos quais receberam os poderes e os privilégios inerentes ao cargo.

Page 34: Fora Da Igreja Não Há Salvação

Jesus fundou a sucessão apostólicaConsultemos agora os factos e vejamos se os Apóstolos transmitiram os poderes que possuíam.

a) Examinemos, em primeiro lugar, as Epístolas de São Paulo e por elas veremos que São Paulo, ainda que se a autoridade suprema nas Igrejas que fundara (I Cor V, 3; VII, 10-12; XIV, 27-40; II Cor XII, 1-6), delegava às vezes noutros os seus poderes. Encarregou Timóteo de instituir o clero em Éfeso, e deu-lhe os poderes impor as mãos e de estabelecer a disciplina (I Tim V, 22). Do mesmo modo escreveu a Tito estas palavras: “Deixei-te em Creta para que regulasses o que falta…” (Tit, I, 5). Portanto, Timóteo e Tito receberam a missão de organizar as Igrejas e os poderes de impor as mãos, isto é, os poderes episcopais.

Page 35: Fora Da Igreja Não Há Salvação

Jesus fundou a sucessão apostólicaConclusãoDe tudo o que precede, podemos tirar as seguintes conclusões: 1 - Tanto dos textos evangélicos, como dos documentos da Igreja primitiva, deduz-se claramente que os poderes apostólicos eram transmissíveis e foram de facto transmitidos;2 - Os Apóstolos comunicaram os seus poderes a delegados, elevando alguns discípulos à plenitude da Ordem e confiando-lhes a missão de governar as igrejas por eles mesmos fundadas e de fundar outras novas; 3 - Portanto, é falso afirmar que o episcopado nasceu da mediocridade de uns e da ambição de outros; porque não foi “a mediocridade que estabeleceu a autoridade”, mas o Evangelho. Os Bispos foram instituídos para receber a missão e os poderes que Jesus tinha conferido aos Apóstolos e, por isso, tomados coletivamente, são os sucessores do colégio apostólico.

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O problema das notas da verdadeira IgrejaE quase desnecessário ajuntar que, tendo Nosso Senhor pregado semente um Evangelho, só podia fundar uma Igreja. Além disso, muitos dos seus ensinamentos indicam claramente a sua vontade acerca deste assunto. Quando apresenta, por exemplo, o cristianismo sob a figura dum rebanho, afirma que deve haver “um só rebanho e um só pastor” (Jo X, 16 ). Como em nossos dias vemos uma verdadeira explosão de novas igrejas protestantes, nos vem a pergunta: qual é então a verdadeira Igreja fundada por Jesus Cristo? Como poderemos distingui-la das falsas igrejas?

Qual a verdadeira Igreja?

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À primeira vista esta investigação parece supérflua, porque de fato já está feita. Efetivamente, quando provamos que a Igreja fundada por Jesus Cristo é uma sociedade hierárquica cujo chefe visível é São Pedro e que os Bispos de Roma são os seus sucessores no primado, ficou demonstrado que a Igreja Romana é a verdadeira Igreja. Todavia, uma vez que os dissidentes consideram os Bispos de Roma como usurpadores e não como herdeiros legítimos da primazia de Pedro, convém que nos coloquemos num ponto de vista comum e aceite pelas Igrejas dissidentes, ao menos por aquelas que possuem a hierarquia. Tomando pois as quatro notas dadas pelo concílio niceno-constantinopolitano (século IV) muito antes da separação das Igrejas grega e protestante, procuraremos demonstrar que só a Igreja romana, com exclusão das outras confissões, possui estas quatro notas.

Qual a verdadeira Igreja?

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As notas da verdadeira Igreja

1.° Definição - Por “nota” da Igreja entende-se qualquer sinal pelo qual a verdadeira Igreja de Cristo se pode distinguir das falsas Igrejas;

2.° Espécies - As notas podem ser negativas e positivas: a) Nota negativa é aquela cuja ausência provaria a falsidade duma Igreja, mas cuja presença não basta para demonstrar que essa Igreja é verdadeira. As notas negativas podem ser inúmeras e encontrar-se em qualquer Igreja ou religião. Por exemplo: ensinar o monoteísmo, prescrever o bem e proibir o mal, indicam que uma Igreja pode ser, mas não que é necessariamente a verdadeira religião; b) Nota positiva é aquela cuja presença prova a verdade da Igreja em que se encontra: por conseguinte, é uma propriedade exclusiva da sociedade fundada por Jesus Cristo.

Qual a verdadeira Igreja?

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As notas da verdadeira Igreja

3.° Condições - Para que uma propriedade possa considerar-se como “nota” da Igreja é necessário, segundo a definição, que seja essencial e visível:

a) Essencial - Se a propriedade não fosse da essência da verdadeira Igreja, se não tivesse sido indicada por Jesus Cristo como pertencente à sociedade por Ele fundada, não poderia evidentemente ser distintivo da verdadeira Igreja;b) visível - Um sinal não o poderá ser, se não for externo, se não puder ser observado, se não for mais visível que a coisa significada. Portanto, nem toda a propriedade essencial pode ser nota da Igreja, porque existem muitas propriedades essenciais que são indiscerníveis. A infalibilidade é uma propriedade essencial da Igreja de Cristo e contudo não é nota ou sinal, porque não é visível: para a reconhecer seria necessário saber de antemão que se trata da verdadeira Igreja.

Qual a verdadeira Igreja?

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As 4 notas dos concílios de Niceia e Constantinopla

No século IV o concílio de Niceia-Constantinopla propôs quatro propriedades pelas quais podemos distinguir a Igreja de Cristo das falsas igrejas. São:

1 - a unidade; 2 - a santidade; 3 - a catolicidade; 4 - a apostolicidade.

“Et unam, sanctam, catholicam et apostolicam Ecclesiam”. Três destas notas — a unidade, a catolicidade e a apostolicidade, estão intimamente relacionadas entre si e são de ordem jurídica. A segunda, a santidade, é de ordem moral. Por este motivo separaremos das outras três e dela nos ocuparemos em primeiro lugar.

Qual a verdadeira Igreja?

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A santidade

A santidade consiste em que os princípios ensinados pela Igreja de Cristo devem levar à santidade alguns dos seus membros, A santidade como nota da Igreja compreende, portanto, dois elementos ; a santidade rios princípios e a santidade dos membros.

A santidade tem as duas condições que pertencem essência das notas:

a) É propriedade essencial - Facilmente se prova pela natureza do Evangelho de Jesus que a santidade dos princípios é um distintivo essencial da verdadeira Igreja. O Salvador não se contentou com impor a observância obrigatória dos preceitos, lembrando os deveres do Decálogo (Mt XIX, 16-19) deseja que os seus discípulos se avantagem, que vivifiquem a letra pelo espírito, isto é, pela intenção, que a sua justiça não seja formalista como a dos fariseus, mas que assente no amor de Deus e do próximo. “Eu vos digo que se a vossa justiça não for mais perfeita que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus” (Mt V, 20).

Qual a verdadeira Igreja?

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A santidadeb) E propriedade visível - Não pode haver dúvida alguma quanto A. visibilidade dos princípios . Mas já não sucede o mesmo com a santidade dos membros. Sendo a santidade uma qualidade interior, somente conhecível de Deus, pode objectar-se que não é propriedade visível, nota da verdadeira Igreja.

É inegável que a santidade consiste sobretudo num fato interno e que a hipocrisia pode revestir as aparências da santidade. Contudo, podemos estabelecer, como regra geral, que o exterior é o espelho fiel do interior. A santidade, cujas manifestações externas se conhecem, é propriedade visível principalmente quando anda acompanhada da humildade . Por conseguinte, considerada no conjunto dos membros da Igreja, pode ser uma nota de incalculável valor ainda que as vezes possa haver lamentáveis enganos.

Qual a verdadeira Igreja?

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A UnidadeA unidade, como nota da Igreja, consiste na subordinação de todos os fiéis à jurisdição da mesma hierarquia e ao mesmo magistério docente. A unidade tem as duas condições requeridas:

a) É propriedade essencial - Jesus quis que houvesse “um só rebanho e um só pastor” (Jo X, 16). Por isso pediu “que todos sejam um” (Jo XVII, 21). Pregou um só Evangelho e exigiu a adesão de todos os seus discípulos a essa doutrina revelada; daí a unidade da fé. Quem quer o fim quer os meios; por esse motivo instituiu a hierarquia permanente, à qual comunicou os poderes necessários para assegurar a unidade da jurisdição e a unidade da fé;

b) É propriedade visível - A subordinação de todos os fiéis a uma jurisdição única é fato visível e verificavel; não é mais difícil comprovar a unidade hierárquica da Igreja do que a das outras sociedades. A fé, porém, objetam os adversários, é qualidade interna, e por conseguinte não é visível. Sem dúvida, a fé é interior e invisível se se considera cm si mesma, porém, por mais interna que seja, manifesta-se por atos externos, tais como a pregação, os escritos e a recitação de fórmulas de fé. Além disso, a unidade, de que falamos, é sobretudo a de governo, que é o princípio da unidade de fé e de culto. Se a primeira se realiza, as outras duas também se realizarão, como consequências naturais.

Qual a verdadeira Igreja?

Page 44: Fora Da Igreja Não Há Salvação

A CatolicidadeCatólica quer dizer universal. Etimologicamente, catolicidade é a difusão da Igreja por todo o mundo. Os teólogos distinguem entre: 1 - A catolicidade de fato, que é absoluta e física, isto é, compreende a totalidade dos homens; 2 - A catolicidade de direito, que é relativa e moral, enquanto a igreja de Cristo se destina a todos e se estende a um grande número de regiões e de homens.

a) É propriedade essencial - Ao passo que a Lei primitiva e a Lei moisaica se dirigiam semente ao povo judaico, único depositário das promessas divinas, a Lei nova destina-se universalidade do gênero humano: “Ide, diz Jesus aos Apóstolos, e ensinai todas as nações” (Mt XXVIII, 19). Logo qualquer Igreja que ficasse confinada ao seu meio, que fosse a Igreja duma província, duma nação, duma raça, não teria as características da Igreja de Cristo, visto que Jesus pregou a sua doutrina para todos e fundou uma sociedade universal.b) A propriedade visível - Não é difícil comprovar a difusão do cristianismo ; contudo, a nota de catolicidade nem sempre é tão visível como poderia parecer à primeira vista, porque o número dos adeptos duma sociedade pode variar segundo as diversas fases da sua história. A catolicidade, porém, não anda à mercê duma variação de números, nem diminui pelo fato de em algumas épocas estar sujeita a lamentáveis defecções; basta que permaneça sempre católica de direito.

Qual a verdadeira Igreja?

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A CatolicidadeCatólica quer dizer universal. Etimologicamente, catolicidade é a difusão da Igreja por todo o mundo. Os teólogos distinguem entre: 1 - A catolicidade de fato, que é absoluta e física, isto é, compreende a totalidade dos homens; 2 - A catolicidade de direito, que é relativa e moral, enquanto a igreja de Cristo se destina a todos e se estende a um grande número de regiões e de homens.

a) É propriedade essencial - Ao passo que a Lei primitiva e a Lei moisaica se dirigiam semente ao povo judaico, único depositário das promessas divinas, a Lei nova destina-se universalidade do gênero humano: “Ide, diz Jesus aos Apóstolos, e ensinai todas as nações” (Mt XXVIII, 19). Logo qualquer Igreja que ficasse confinada ao seu meio, que fosse a Igreja duma província, duma nação, duma raça, não teria as características da Igreja de Cristo, visto que Jesus pregou a sua doutrina para todos e fundou uma sociedade universal.b) A propriedade visível - Não é difícil comprovar a difusão do cristianismo ; contudo, a nota de catolicidade nem sempre é tão visível como poderia parecer à primeira vista, porque o número dos adeptos duma sociedade pode variar segundo as diversas fases da sua história. A catolicidade, porém, não anda à mercê duma variação de números, nem diminui pelo fato de em algumas épocas estar sujeita a lamentáveis defecções; basta que permaneça sempre católica de direito.

Qual a verdadeira Igreja?

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A Apostolicidade

A apostolicidade é a sucessão continua e legítima do governo da Igreja desde os Apóstolos. Para que haja apostolicidade é necessário que dos chefes atuais possamos remontar aos fundadores da Igreja, isto é, aos Apóstolos e a Jesus Cristo. É necessário, além disso, que esta sucessão seja legítima, segundo as leis da hierarquia, isto é, que não se tenha introduzido no seu acesso ao governo nenhum vício essencial capaz de invalidar a sua jurisdição.

A apostolicidade de governo compreende a apostolicidade de crenças. Uma vez que os chefes da Igreja têm por missão principal, transmitir aos homens o depósito integral da Revelação, segue-se que a apostolicidade da doutrina deve dimanar da apostolicidade de governo, como o efeito da causa. Mas a apostolicidade da doutrina não é nota da Igreja porque não é propriedade visível. Para sabermos se uma doutrina é apostólica, é preciso indagar por quem foi antes ensinada.

Qual a verdadeira Igreja?

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A Apostolicidade

A apostolicidade preenche as duas condições da nota:

a) E propriedade essencial - Pelo facto de Jesus Cristo instituído uma hierarquia permanente, só pode haver Ireja onde estiverem os legítimos sucessores dos Apóstolos;

b) E propriedade visível - Não é mais difícil verificar a sucessão apostólica dos Papas e dos Bispos do que a dos elides de qualquer sociedade humana, por exemplo a sucessão dos reis de França ou de Portugal.

Qual a verdadeira Igreja?

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Definição - Sob o termo geral de protestantismo devem entender-se todas as doutrinas e Igrejas nascidas da Reforma no século XVI.

A palavra Reforma serve também para designar o protestantismo, porque os seus chefes principais, Lutero e Calvino, disseram-se enviados de Deus, encarregados de reformar a lgreja de Cristo, de restaurar a religião do Espírito e de substituir, pela luz da verdade e pureza da moral, as trevas do erro e a corrupção dos costumes: “o Post tenebras lux”.

Noções preliminares sobre o protestantismo

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Origem

Consideramos o protestantismo sob um aspecto geral, sem nos demorarmos nas circunstâncias particulares que desencadearam perturbações em vários países da Europa. As causas que deram origem ao protestantismo são de três espécies: intelectuais, religiosas e políticas.

a) Causas intelectuais - Existe um laço de união muito estreito entre o movimento religioso da Reforma e o movimento intelectual do Renascimento. Desde os meados do século XV ate ao ano de 1520, época em que apareceu o luteranismo, o Renascimento estava em plena evolução. O humanismo não somente se assinalava pelo culto da antiguidade pagã, mas também pela reação contra a filosofia escolástica, pelas tendências racionalistas e pela crítica independente, que se estendia a todos os domínios do saber, sem exceptuar a Bíblia.

Noções preliminares sobre o protestantismo

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Origem

b) Causas religiosas - A independência intelectual correspondia à desenfreada liberdade nos costumes. Durante vários séculos tinham-se introduzido deploráveis abusos quase em toda a parte. Pode dizer-se que o nível moral na Igreja tinha baixado e esta cumpria imperfeitamente a sua missão divina. Na Alemanha sobretudo, o alto clero, mal recrutado entre os grandes senhores e em posse de grandes territórios, aspirava só a dominar e servia-se mais da Igreja do que a servia. O mal tinha também penetrado nos mosteiros e, o próprio papado, tendo-se tornado uma potência italiana, preocupava-se com os seus interesses materiais e descuidava muitas vezes os negócios da Igreja que tinha a seu cargo.

Noções preliminares sobre o protestantismo

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Origem

b) Causas religiosas - Nestas circunstáncias, era indispensável e todos anelavam uma reforma radical, não da constituição da Igreja nem do dogma, mas da disciplina e dos costumes. Essa reforma fez-se finalmente por ocasião do Concílio de Trento, mas infelizmente vinha demasiado tarde. Lutero tinha já desencadeado no seio da Igreja uma verdadeira revolta, que não era a simples reforma necessária, mas a subversão completa do dogma e a quebra violenta da unidade da Igreja.

Noções preliminares sobre o protestantismo

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Origem

b) Causas políticas - Por mais importantes que fossem as causas intelectuais e religiosas, a Revolta protestante foi sobretudo a consequência dum movimento politico proveniente da ambição dos Chefes de Estado, que, na emancipação das Igrejas nacionais subtraídas à autoridade de Roma, descobriram o melhor meio de aumentar o poder e de tornar-se ao mesmo tempo chefes espirituais e temporais dos seus vassalos, e de enriquecer apossando-se dos bens eclesiásticos.

Noções preliminares sobre o protestantismo

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O protestantismo compreende três Igrejas principais a luterana, a calvinista e a anglicana. Cada Igreja subdivide-se em várias seitas.

Luteranismo

Origem - Da Alemanha, mais que de nenhum outro país, se pode dizer com verdade que o protestantismo teve por princípio as três causas antes mencionadas, No começo do século XVI o terreno estava completamente preparado para receber um movimento reformador só faltava o homem e a ocasião para se atear o incêndio. Este homem foi Lutero, e a ocasião, a questão das indulgências.

As igrejas protestantes históricas

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Martinho Lutero nasceu em 1483 e morreu em 1546 em Eisleben na Saxônia. Em 1505 entrou no convento dos Agostinianos de Erfurt e foi depois professor de teologia em Winttenberg, Em 1517 o papa Leão X encarregara os Dominicanos de pregar novas indulgências, com o fim de recolher esmolas para terminar a Basílica de São Pedro em Roma. Lutero, melindrado por esta missão ter sido confiada a uma ordem diferente da sua, começou por combater os abusos e, logo depois, o fundamento das indulgências e a sua eficácia. Zuínglio, reformador suíço, nascido em Wildhaus defendeu antes de Lutero a teoria da ineficácia das boas obras. Lutero foi excomungado em 1520.

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Calvinismo

Calvino nasceu em Noyon na Picardia em 1509. Estudou direito em Bourges onde travou relações com o helenista alemão Wolmar, o que o iniciou na doutrina de Lutero. Depois de pregar em Paris (1532) julgou que era prudente sair de França e retirou-se primeiro para Estrasburgo e depois para Basileia, onde acabou de escrever (1536) a sua obra Instituição cristã, em que expôs as suas ideias. Chamado a Genebra para ensinar teologia, foi expulso durante algum tempo e depois chamado de novo. Em seguida, empreendeu a reforma dos costumes, do dogma e do culto. Perseguiu com intransigência cruel todos os seus adversários. As vítimas mais notáveis da sua intolerância foram Diogo Gruet e principalmente Miguel Servet queimado em 1553.

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Anglicanismo

A Reforma protestante irrompeu na Inglaterra pouco depois de começar o Iuteranismo na Alemanha. Os historiadores consideram o heresiarca Wiclef (século XIV) como o precursor do anglicanismo. A tentativa abortou, mas as suas ideias deixaram nas almas o fermento da independência favorável ao cisma do século XVI, cujo autor foi Henrique VIII. Este rei, depois ter defendido a Igreja católica, abandonou-a, despeitado por não ter conseguido de Clemente VII a anulação do matrimônio com Catarina de Aragão.

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Anglicanismo

Em 1534 obrigou a assembleia do clero e as duas Universidades a subscrever uma fórmula em que se declarava que “o Bispo de Roma não tinha mais autoridade na Inglaterra que os outros bispos estrangeiros”. Ao mesmo tempo, fez admitir a proposição que “depois de Cristo, o Rei é o único chefe da Igreja”. Apesar de separada da unidade católica, a Igreja da Inglaterra conservou a mesma doutrina no reinado de de antes. O cisma só degenerou em heresia Eduardo VI, sucessor de Henrique VIII. Por instigações de profissão de fé, composta de 42 artigos extraídos quase na íntegra das confissões dos reformados da Alemanha (1553). No tempo da rainha Isabel (1563) estes 42 artigos foram refundidos e reduzidos a 39.

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Ficou demonstrado que a Igreja romana é a única verdadeira, instituída por Jesus Cristo. Deveremos daí concluir que há necessidade de pertencer à Igreja Católica para alcançar a salvação? No caso afirmativo, que espécie de necessidade é essa, e como se deve entender a frase corrente: “Fora da Igreja não há salvação”?

Fora da Igreja não há salvação

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A necessidade de pertencer à verdadeira Igreja funda-se em dois argumentos: um escriturístico e outro de razão:

Argumento escriturístico - A vontade de Jesus Cristo a este respeito é explícita. De fato disse aos Apóstolos: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Aquele que crer e for baptizado, será salvo; o que, porém, não crer será condenado” (Mc XVI, 15-16). Destas palavras se deduz claramente que a sua doutrina será pregada em todo o universo por intermédio dos Apóstolos e dos seus sucessores legítimos, e que os homens têm obrigação de abraçar essa doutrina sob pena de serem condenados por Jesus Cristo.

Fora da Igreja não há salvação

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Argumento da razão - A necessidade de pertencer à verdadeira Igreja prova-se também pela razão com o seguinte raciocínio: se a Igreja Católica é a única depositária da verdade religiosa ensinada por Jesus Cristo, se ela é a verdade, é evidente que se impõe como uma necessidade, porque a natureza da verdade é ser exclusiva. Ora, a Igreja Católica é a única verdadeira, como ficou demonstrado.

Fora da Igreja não há salvação

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Sentido da fórmula: “Fora da Igreja não há salvação”

Em princípio a filiação à Igreja Católica é necessária. Mas que espécie de necessidade é esta? Qual a significação do axioma “Fora da Igreja não há salvação”? Esta questão pertence ao domínio da teologia e, por isso, nos limitaremos a dizer o que pensam os teólogos a este respeito.

Se examinarmos rapidamente o ensino tradicional da Igreja, parece que não foi plenamente esclarecida, porque tem sido considerada somente sob um ponto de vista muito restrito.

Fora da Igreja não há salvação

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Sentido da fórmula: “Fora da Igreja não há salvação”a) Geralmente, até ao século XVI, os SS Padres e, Doutores da Igreja ensinam que é absolutamente necessário pertencer à Igreja, de modo que os hereges e os cismáticos, que não se submetem à autoridade disciplinar e doutrinal da Igreja, não podem de modo algum alcançar a salvação. Esta intransigência, porém, é mais aparente do que real, pois parece provir de não se pôr a questão sob todos os seus aspectos. Santo Agostinho, por exemplo (séc. IV), depois do estabelecer em princípio que é necessário pertencer à Igreja para obter a salvação, acrescenta que pode uma pessoa estar em erro, que se pode enganar a respeito da verdadeira Igreja, e não ser herege.

Fora da Igreja não há salvação

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Sentido da fórmula: “Fora da Igreja não há salvação”b) No século XVI, São Roberto Belarmino e Soares desenvolvem a questão e discutem sobretudo as condições que se requerem para pertencer ao corpo da Igreja.

c) No século XIX, os teólogos realizam grandes progressos na aplicação do dogma, distinguindo, e com razão, diversos sentidos das palavras pertencer e necessidade.

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Segundo uns, de dois modos pode uma pessoa pertencer à Igreja: realmente (in re) e em desejo (in voto). De fato, diz Bainvel, podemos “pertencer à Igreja em desejo, pela vontade, ou coração, quando desejamos ser membros da Igreja, posto que, propriamente falando, não o sejamos. Esté desejo pode ser explícito, como nos catecúmenos ou implícito, isto é, quando uma pessoa ainda não conhece a igreja, mas deseja pôr em prática o que Deus quer. Todos os homens de boa vontade implicitamente fazem parte da Igreja” (Bainvel, Hors de l'Église pas de salut).

Fora da Igreja não há salvação

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Segundo uns, de dois modos pode uma pessoa pertencer à Igreja: realmente (in re) e em desejo (in voto). De fato, diz Bainvel, podemos “pertencer à Igreja em desejo, pela vontade, ou coração, quando desejamos ser membros da Igreja, posto que, propriamente falando, não o sejamos. Esté desejo pode ser explícito, como nos catecúmenos ou implícito, isto é, quando uma pessoa ainda não conhece a igreja, mas deseja pôr em prática o que Deus quer. Todos os homens de boa vontade implicitamente fazem parte da Igreja” (Bainvel, Hors de l'Église pas de salut).

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Outros fazem distinção entre a alma e o corpo da Igreja, e afirmam que é de necessidade de meio (necessitate medii) pertencer à alma da Igreja, e de necessidade de preceito (necessitate praecepti) pertencer ao corpo da Igreja.

Fora da Igreja não há salvação

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a) Ora pertencem à alma da Igreja todos aqueles que vivem em ignorância invencível — infiéis, hereges, cismáticos — e observam a sua religião em boa fé e se esforçam por agradar a Deus, segundo as luzes da sua consciência, Deus as julgará segundo os seus conhecimentos e as suas obras e não segundo o que ignoravam.

b) Não pertencem à alma nem ao corpo da Igreja todos os que estão em erro voluntário e culpável, os que sabem que a Igreja católica é a verdadeira e, contudo, não entram nela porque não querem observar os deveres que a verdade impõe. E sobretudo a estes, que «pecam contra a luz como diz Newman, que se aplica a máxima: “Fora da Igreja não há salvação”.

Fora da Igreja não há salvação

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Aos que duvidam destas duas interpretações, basta ler dois documentos do Beato Pio IX, o Singulari quadam e sua encíclica direcionada aos bispos da Itália Quanto conficiamur.

Fora da Igreja não há salvação

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Seja qual for o modo de interpretar a fórmula: “Fora da Igreja não há salvação”, podemos deduzir estas conclusões:

1 - Segundo a opinião unânime dos teólogos, é absolutamente necessário pertencer à alma da Igreja, pois que a graça é o único meio de conquistar o céu;

2 - É necessário também, em certo modo, pertencer ao corpo da Igreja. Dizemos, em certo modo, porque é preciso distinguir entre os que conhecem a Igreja e os que a não conhecem. Para os primeiros, é de necessidade de meio e de preceito pertencer visivelmente, externamente, in re, ao Corpo da Igreja. Os segundos, — que não podem estar obrigados a obedecer a um preceito que ignoram, — basta que pertençam implicitamente, isto é, pelo desejo, não formulado com palavras, mas contido no ato de caridade e na vontade de fazer o que Deus quer.

Fora da Igreja não há salvação