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Formação Básica I Escola de Formação Shalom 1 FORMAÇÃO BÁSICA I Formação Extra-comunitária ASSISTÊNCIA DE FORMAÇÃO

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Formação Básica I

Escola de Formação Shalom 1

FORMAÇÃO BÁSICA I

Formação Extra-comunitária ASSISTÊNCIA DE FORMAÇÃO

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Escola de Formação Shalom 2

SUMÁRIO Primeira Aula Deus se revela Segunda Aula A Santíssima Trindade Terceira Aula Deus Pai Quarta Aula A Pessoa de Jesus Quinta Aula A Pessoa do Espírito Santo Sexta Aula Os Dons e carismas do Espírito Santo

CARGA HORÁRIA

AULA DIA TURNO HORA Primeira Aula Deus se revela

Sábado Tarde 14:00

Segunda Aula A Santíssima Trindade

Sábado Tarde 16:00

Terceira Aula Deus Pai

Domingo Manhã 08:00

Quarta Aula A Pessoa de Jesus

Domingo Manhã 10:00

Quinta Aula A Pessoa do Espírito Santo

Domingo Tarde 14:00

Sexta Aula Os Dons e carismas do Espírito Santo

Domingo Tarde 16:00

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INTRODUÇÃO GERAL

Você está recebendo em mãos uma versão compacta do curso de Formação Básica para um curso de fim de semana. Essa versão foi inspirada e preparada a fim de dar uma resposta atualizada e criativa que alcance a humanidade a quem estamos destinados e a quem devemos desposar com parresia e inteligência missionária. Sabendo que o homem hodierno tem uma rotina completamente diferente de algumas décadas atrás, não podemos nos contentar em realizar atividades que por mais que estejam “tradicionalmente” organizadas (cursos, aulas, etc.), ainda tem alcance tímido e incipiente. Não podemos responder de forma desatualizada aos grandes flagelos que grassam a vida cotidiana, impedindo que o homem de hoje caminhe para a estatura de Cristo.

O curso de formação básica nasceu sob a inspiração de formar o homem por inteiro, sobretudo pela

oração, além do conhecimento, alcançando sempre os “pontos nevrálgicos” do seu crescimento para santidade e “o desconhecimento da verdade sobre Jesus Cristo, das verdades fundamentais da fé e da ação do Espírito Santo que atua nos corações e os converte, fazendo assim possível a santidade, o desenvolvimento das virtudes e o vigor para tomar, a cada dia, a cruz de Cristo, deve ser um fato freqüente, entre nós, católicos”1, foram fortes aspectos que nos impulsionaram a nos comprometermos com o veemente apelo do Santo Padre, João Paulo II, para uma Nova Evangelização e nos impeliu a assumir o nosso papel de “agentes e destinatários da Boa Nova da Salvação e a exercer no mundo, vinha de Deus, uma tarefa evangelizadora indispensável” 2.

Todo processo evangelizador só se concretiza plenamente através de duas etapas profundamente

importantes, onde uma não prescinde da outra. Como primeira etapa prioritária e fundamental compreendemos a “proclamação vigorosa do anúncio de Jesus Cristo morto e ressuscitado (querigma), raiz de toda a evangelização, fundamento de toda promoção humana e princípio de toda e autêntica cultura cristã”3, anúncio este capaz de levar os batizados a darem “sua adesão pessoal a Jesus Cristo pela conversão primeira” e como segunda etapa imprescindível, a catequese, pois cometeríamos um erro grave se ficássemos satisfeitos em apenas anunciar Jesus Cristo, sem oferecer posterior e permanentemente formação doutrinária e teológica que proporcione subsídios que permitam ao indivíduo ultrapassar os desafios da vida nova em Cristo. É esta formação que “atualizará incessantemente a revelação amorosa de Deus manifestada em Jesus Cristo, levando a fé inicial à sua maturidade e educando o verdadeiro discípulo de Jesus Cristo”4. Portanto esta catequese não pode chegar de “forma superficial, incompleta quanto aos seus conteúdos, ou puramente intelectual, sem força para transformar a vida das pessoas e de seus ambientes” 5.

Diante desta necessidade fundamental de atingirmos o processo de evangelização em sua plenitude,

surgiu o curso de Formação Básica (FB), que tem a proposta de oferecer uma formação sólida na doutrina e pontos fundamentais da teologia católica adaptadas à realidade dos leigos hoje, que tenham tido uma primeira experiência com Deus através dos diversos canais que a Igreja oferece.

Como o objetivo deste curso é de ultrapassarmos o conteúdo informativo e atingirmos o aspecto

formativo, isto é, que verdadeiramente a informação doutrinária e teológica recebida penetre no mais profundo do ser de cada pessoa e transborde em mudança concreta de vida; vimos a necessidade de levarmos os alunos a orarem com o conteúdo ministrado em sala de aula. Para isto, cada módulo é composto de um livro texto que contém os objetivos e conteúdo de cada aula, destinado somente àqueles que anteriormente receberam o treinamento para se tornarem ministros de ensino e um livro de exercícios de oração, destinado principalmente ao aluno. Este livro de exercício de oração traz orientações para orações diárias sobre os temas apresentados no livro texto, com o intuito de aprofundar o que o ministro de ensino informou em sala de aula.

O ministro de ensino deverá, pelo menos uma vez, fazer os exercícios diários de oração, relativo ao

módulo que está ensinando, por dois motivos fundamentais: primeiro, para que ele possa acrescentar ao conteúdo experiências pessoais daquele determinado assunto que está ministrando; segundo, para ficar em unidade com o que seus alunos estão experimentando pessoalmente e possa promover e fomentar a oração diária e a partilha semanal, pois é através da partilha dos frutos trazidos pela oração diária que o aluno verificará o seu real crescimento e vivência do tema que está sendo estudado. Isto deve ser feito durante os quinze minutos primeiros de aula, uma vez que, sem oração, a teologia e a doutrina serão mero conhecimento intelectual que não transforma vidas.

Nossa experiência na formação de leigos nos Centros de Formação da Comunidade Católica Shalom

nos tem ensinado que, em nenhum momento, este curso de Formação Básica (FB) deverá substituir a reunião de grupo de oração, círculos bíblicos, círculos de casais ou outras atividades características da riqueza de cada 1 Doc. de S. Domingo Cap. I, 39 - 40 2 Idem Cap. I,94. 3 Idem Cap. I,33 4 Idem Cap. I,33 5 Idem Cap. I,42

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movimento. A formação de leigos deve ser feita a partir destes encontros nas células-mãe e de forma paralela a eles, mediante o curso de formação básica, que abrange casais, adultos, jovens e adolescentes.

O curso é ministrado através de módulos. Cada módulo contém material para ser ministrado numa

carga horária de 12 horas/aula por fim de semana que ao final será pedido do aluno um relatório de avaliação do aproveitamento do curso, através de prova oral para aqueles que tem dificuldades intelectuais ou físicas (analfabetos ou deficientes físicos), ou escrita.

Este curso vem sendo aplicado desde o ano de 1991, em diversas cidades, idades e níveis culturais,

que já fizeram seminário de vida no Espírito Santo e continuam a freqüentar seus grupos de oração no período do curso. Temos colhido frutos concretos e abundantes: um maior amor à Igreja, à Palavra de Deus, aos sacramentos, à oração, à liturgia, a Maria Santíssima, aos sacerdotes, e também crescimento espiritual e profundas conversões. O programa de formação foi aplicado também em algumas cidades onde não havia escolas de formação, no sistema de final de semana, ministrado em duas etapas, tendo as pessoas se comprometido a fazerem os exercícios de oração durante os dois meses que separavam a primeira etapa da segunda e concluir os exercícios de oração após a segunda etapa por mais dois meses. É muito importante que este programa de Formação Básica atinja um maior número de pessoas.

Entregamos este curso aos cuidados da Rainha da Paz e de Santa Teresa de Jesus.

Shalom!

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

Caro irmão (ã), ministro de ensino,

Louvado seja Deus por sua presença no ministério de ensino! Que o seu ministério possa ser

exercido sempre na unção do Espírito Santo, em unidade perfeita com o Senhor Jesus, o verdadeiro e único Mestre. A seguir você encontrará os pontos básicos e fundamentais que não podem deixar de ser abordados nas aulas. Esses textos são como roteiros que contém os assuntos de cada aula. Você, ministro de ensino, se guiará por ele, mas confiamos que dará continuidade pesquisando e aprofundando cada um dos temas na bibliografia indicada no final de cada assunto.

Observe os procedimentos importantes a serem tomados no início do curso, conforme orientação

abaixo: 1. oração inicial com louvor, entrega e escuta de Deus para este curso. 2. explicação aos alunos sobre a pedagogia do curso, isto é, o aspecto informativo e formativo, o que

requer a fidelidade à carga horária à oração. 3. Ao final, momento de partilha dos frutos dos exercícios de oração. 4. Preenchimento da lista de freqüência dos alunos. 5. Avisos. Que Deus o abençoe e faça primeiramente em você tudo aquilo que será ensinado para seus alunos.

Shalom!

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PRIMEIRA AULA

DEUS SE REVELA ROTEIRO DO CONTEÚDO 1 - Deus se revela 1.1 Na criação do universo 1.2 Na criação do homem 1.3 Na história da salvação do homem 2 - O homem recebe a revelação de Deus 2.1 Na natureza. 2.2 Nas intervenções de Deus na história " Deus-conosco" 2.3 Em si 2.4 No outro 3 - A Igreja: transmissora da Revelação divina (Cat 84-95)

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

• DEUS SE REVELA

o "Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem. Fá-lo revelando seu

mistério, seu projeto benevolente, que concebeu desde toda a eternidade em Cristo em prol de todos os homens. Revela plenamente seu projeto enviando seu Filho Bem-Amado, Nosso Senhor, Jesus Cristo, e o Espírito Santo"6.

o Como Deus é uno e trino, é impossível amar e conhecer um, sem amar e conhecer os outros

dois necessariamente. Este conhecimento de Deus (conhecimento no sentido bíblico da palavra, que pressupõe intimidade e relação prolongada entre duas pessoas), é sempre iniciativa de Deus. Ele é quem se faz ver (e é este o sentido da palavra revelar ou seja, tirar o véu), e esta revelação é gradativa.

o Historicamente falando, Deus escolheu um povo, e a partir de Abraão foi-se deixando ver,

experimentar, foi dando curso ao que hoje em dia chamamos de História da Salvação. O Senhor Deus Altíssimo resolve entrar no tempo e levar a criatura humana a usufruir da eternidade, não só depois da morte, mas desde aqui e agora, como nos diz São João: "A vida eterna consiste em que te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste"7.

o Esse conhecimento de Deus alcança o homem pela luz natural da razão e pelo senso da fé,

que é exercitado e sustentado pelo Espírito Santo, a partir das palavras e ações de Deus. Assim é que ensina o catecismo da Igreja católica: "Mediante a razão natural, o homem pode conhecer a Deus com certeza a partir de suas obras. Mas existe uma outra ordem de conhecimento, que o homem de modo algum pode atingir por suas próprias forças, a da revelação divina”8.

o Na criação do universo

o Leia Gn 1 (todo), sublinhando as palavras-chave, como: "Princípio", "Deus disse", "Faça-se",

"Façamos" e outras.... o Através destas passagens das escrituras encontramos quatro afirmações importantes:

o - O Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora dele. Tudo e todos, temos um

princípio. o - Só Ele é Criador. Só Deus cria do nada, só Deus é capaz de dar a vida, pois só Ele tem a

vida em si mesmo. E tudo isso Ele fez e faz movido por um só motivo: deixar transbordar de si mesmo sua essência - o amor. Deus é amor que cria, que dá vida e que sustenta a criação. Deus é amor traduzido e refletido em todo ser vivente. Deus não está em tudo como se tudo fosse um pedaço de Deus, mas toda a criação é sinal daquilo que Ele é: Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Deus disse: Faça-se a luz! E a luz foi feita8. A Revelação assim nos ensina que tudo foi criado por uma ordem explícita de Deus.

o - Tudo o que Deus faz corresponde ao que Ele pensa e está em uníssono com o que Ele é. E

Deus é amor. É esta a verdade da qual precisamos estar profundamente imbuídos e convencidos: Deus é amor, e tudo criou por amor e para o amor.

o - Tudo o que existe depende daquele que o criou. Nós sabemos que só Deus é, que nele nada

tem princípio ou fim, que tudo nele é absoluto e perfeito, que "todas as coisas subsistem nele"9 e que, como rezamos a cada missa, só Ele "dá vida e santidade a todas as coisas".

o Observação: Algumas pessoas questionam se as coisas aconteceram como está escrito no

primeiro capítulo da Bíblia ou se foi uma evolução de milhões de anos. O que a Igreja diz é que esta linguagem é, obviamente, uma linguagem figurada, e que os capítulos 1 e 2 do livro de

6 Catecismo da Igreja Católica,50 7 Jo 17,3 8 Catecismo da Igreja Católica,50 8 Gn 1,3 9 Col 1,17b

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Gênesis têm por objetivo descrever a criação e afirmar a verdade de fé de que tudo vem de Deus, e não, descrever o mecanismo que Deus utilizou para esta criação.

o Na criação do homem o "Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança"10.

o A obra prima da criação de Deus é o homem. É sobre o homem que Ele imprime sua imagem e

semelhança. É ao homem que capacita conhecê-lo e amá-lo. É com o homem que Deus partilha outro atributo que é só seu: a liberdade, o livre arbítrio. Deus doa-lhe a vida, uma alma imortal e a liberdade.

o Os dois primeiros capítulos de Gênesis deixam bem claro que tudo foi criado para o homem.

Do universo mais longínquo ao elemento mais microscópico que talvez nunca venha a ser descoberto pelo homem. Tudo foi criado para ele, em prol de sua vida, de sua felicidade, do seu conhecimento de Deus, de sua caminhada de amor. O Senhor Deus cria todas as coisas para dá-las ao homem. Deus criou todas as coisas para que o homem delas usufruísse, e visse nelas o quanto era amado pelo seu Senhor; para que o homem gozasse de suas criaturas e em resposta louvasse, na mais perfeita liberdade e consciência, Àquele que tudo lhe dera por amor. Para nós o importante neste momento da formação básica, é estarmos conscientes de que tudo foi criado por amor para o homem.

• O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus

o Mas o que o difere das demais criaturas, dos animais e das plantas que também foram criados

por amor? É que o homem participa da natureza divina ao receber de Deus uma alma imortal dotada de inteligência e vontade que formam a base de sua liberdade, elevando-o assim à semelhança de Deus. O ser humano é a obra prima de Deus porque foi criado por amor e para o amor. O homem é vocacionado a amar. e é livre para amar a Deus acima de todas as coisas, e aos outros por amor a Deus. Dentre todas as outras obras da criação visível, só o homem pode amar a Deus. A criação reflete a glória de Deus, mas o homem a reflete de forma perfeita porque pode, como Deus, ser livre e amar. E esta, na verdade, é a única e real liberdade do homem: optar por amá-lo acima de todas as coisas, com toda a sua inteligência, vontade, com todas as suas forças.

• O homem é um ser religioso

o O desejo por Deus está no coração de homem. O homem tem a graça de buscar a Deus, de

desejar ir ao encontro de Deus, pois foi criado por Ele e para Ele. O seu princípio e fim último é Deus. A felicidade da sua vida se encontra no coração de Deus, por isto, é somente na vida de união com Deus que será verdadeiramente feliz.

o A dignidade do homem está na sua vocação de viver em comunhão com Deus. Ele precisa se

relacionar com Deus, ser íntimo de Deus da mesma forma que um filho precisa se relacionar com o seu pai. Assim nos diz S. Agostinho: "Quando eu estiver por inteiro a vós não mais haverá dor e provação; repleta de vós por inteiro, minha vida será verdadeira"11.

o Esta busca de Deus pode se manifestar de várias maneiras: através das orações, sacrifícios,

cultos, meditações, etc. ou até mesmo esta busca pode acontecer através de caminhos falsos onde será impossível encontrá-lo. E ainda esta busca pode ser esquecida, ignorada ou até rejeitada claramente. Esta busca do homem a Deus é uma conseqüência da busca de Deus ao homem. É Deus que ama primeiro, quem nos busca primeiro12. Deus não cessa de chamar todo homem a procurá-lo, para que viva e encontre a felicidade: "Um semeador saiu a semear"13. Deus que sai em direção ao homem. Deus que não espera a vinda do homem, mas sai à sua procura, não escolhendo ninguém e querendo a todos.

o Encontramos ainda que: "Com efeito, o reino dos céus é semelhante a um pai de família que

saiu ao romper da manhã a fim de contratar operários para a sua vinha"14. Deus, continuamente como este pai de família, chama os homens ao reino dos céus, à salvação.

10 Gn 1,26 11 Hipona, Agostinho, Confissões, 10,28-39 12 cf. 1 Jo 4,10 13 Mt 13,3 14 Mt 20,1

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Chama a todos, e a qualquer hora, sem fazer nenhuma discriminação, nem acepção de pessoas. Todos são chamados a esta vida de união com Deus. Deus chama o homem e o capacita, com o dom da graça, oferecido no batismo, a responder ao seu chamamento.

o “Esta busca de Deus requer do homem todo esforço de sua inteligência, retidão da sua

vontade, um ‘coração reto’, e também o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar Deus"15, "pois todo o mal do homem e todos os seus erros são conseqüência de não seguir plenamente os ensinamentos de Deus"16.

• O homem é chamado a viver a comunhão com Deus e os irmãos

o A criação do homem à imagem e semelhança de Deus lhe concede a capacidade intrínseca e

essencial para amar e para conhecer a Deus, como já vimos, mas também lhe confere a capacidade intrínseca e essencial para amar e conhecer a si mesmo, ao outro e às coisas.

o Havendo Deus criado o homem, “homem e mulher”17, Ele colocou na essência do ser humano

a abertura intrínseca para o outro, a profunda necessidade do outro para conhecer-se a si próprio, para amar e ser amado, para chegar a Deus. O homem sexuado é "metade" (= sexus, parte) e está, assim aberto para o outro, de quem necessita, e para Deus de quem vem e para quem vai. O livro do Eclesiástico capítulo 17,1-12 nos ajuda a aprofundar isto.

• O homem é chamado a participar da obra da criação administrando a terra

o À semelhança de Deus-Criador, o homem é chamado a participar da obra de criação

administrando a terra como Deus a administraria e utilizando a sua inteligência para descobrir e inventar o que é para o bem do homem.

o Exatamente porque o homem é livre, é racional, é inteligente e dotado de uma alma imortal

que o possibilita a amar a Deus, pois dele é imagem e semelhança, o Senhor lhe dá domínio sobre tudo, como lemos nos dois trechos propostos. O homem recebe de Deus a ordem de administrar toda a criação (tudo em que haja sopro de vida); Deus lhe dá a posse da lei da vida, chamando-o a ser co-criador que significa gerar novas vidas, ou seja, outros seres humanos, além de poder transformar a natureza. As palavras que encontramos em Gênesis são: "Que ele reine", "Eis que vos dou", "dominai", "multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a". E com a bênção de Deus, o homem e a mulher foram chamados a assim viver e a agir com um único fim: "celebrar a santidade do seu nome, e o glorificar por suas maravilhas apregoando a magnificência das suas obras". O domínio e a posse em Deus é sinônimo de serviço de doação, e não de poder de dominação ou de destruição. E esta reflexão nos leva a perceber a diferença gritante entre o projeto inicial de Deus ao criar o homem e dar a ele a posse da criação, e o que aconteceu depois do desastre do pecado original... Nós hoje, recriados em Jesus Cristo, somos chamados a novamente viver o projeto inicial do Senhor, seja nos relacionamentos, seja na posse dos bens materiais, seja no respeito da vida humana, seja no que consideramos prioridade para a nossa vida. Nós fomos criados para receber o olhar de Deus em nossos corações e celebrar a santidade de seu nome, ou seja, sermos o louvor da sua glória, celebrando-o continuamente18. Nesta semana nós somos convidados a louvar a Deus Pai Criador, que tudo fez por amor com perfeita sabedoria. Somos chamados a nos encantarmos com a criação e agradecermos por ela e pela sensibilidade de sabermos que ela é um presente seu e meu. Somos chamados à gratidão por podermos usufruir dela e de sermos capazes de transformá-la, de sermos co-criadores com o Senhor. Também devemos pedir ao Senhor a sua sabedoria para fazer com responsabilidade o nosso papel de administradores dos bens do Senhor a nós confiados, tanto os espirituais (a inteligência, a vontade, a liberdade, a razão, a alma imortal) quanto os materiais.

o Na história da salvação

o Da caminhada com o homem no paraíso, passando pela promessa do Salvador após o

pecado, Deus vai dando ao longo da História da Salvação momentos especiais onde Ele se revela tal como é, e o homem o percebe dentro de suas limitações humanas e na medida em que corresponde à graça.

15 Catecismo da Igreja Católica,30 16 Is 48,17s 17 cf. Gen 1,27 18 cf. Ef 1,12

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o Deus utiliza uma pedagogia toda especial de revelar-se ao homem de uma maneira que este possa percebê-lo e interpretar o que Ele quer dizer. Exemplos disso seriam a sarça ardente (Ex 3), a coluna de fogo (Num 9,15-23) e o carro divino (Ez 1).

o Ao longo da História da salvação, Deus se utiliza igualmente de acontecimentos para revelar

ao homem seu modo de ser e agir. Exemplos disso seriam: 2 Sam 11 e 12, o livro de Jó, o livro de Rute, inúmeros Salmos, entre eles o 63, 64, 65, 91. Poderiam ainda ser listados os episódios da vida de José no livro de Gênesis, da torre de Babel, da Arca de Noé, todo o livro de Oséias, e episódios da vida de José, Maria, Mãe de Jesus e Saulo, no Novo Testamento (para citar somente alguns).

• O HOMEM RECEBE A REVELAÇÃO DE DEUS

o Deus, que por uma decisão totalmente livre, se revela e se doa ao homem, comunicando-lhe a

sua própria vida divina, o cria e o capacita a conhecê-lo e amá-lo.

Na natureza o Desde cedo, na história da salvação, o homem foi capaz de perceber a presença de Deus

através da natureza19. Esta percepção é fruto da reflexão de um povo, que se abriu à graça de entender que tudo vem de Deus, que só Deus é eterno, não criado, existe antes de tudo e desde sempre e que tudo criou. O texto de Gen 1 é antiquíssimo e um dos exemplos mais preciosos de revelação de que o homem, através da natureza criada, vê Deus não criado e criador de tudo. Outro belo exemplo disto encontramos no Salmo 8.

o Existem também outros textos bíblicos do Antigo Testamento que mostram o homem

percebendo que Deus se utiliza da natureza para falar-lhe. É o caso do dilúvio, do episódio de Sodoma e Gomorra, da Torre de Babel (todos no Livro do Gênesis), da nuvem de fogo, do maná e das codornizes, das doze pragas do Egito, da abertura do Mar Vermelho (todos no Livro do Êxodo), da abertura do rio Jordão, no sol que parou (no Livro de Josué nos capítulos 3 e 10), entre inúmeros outros exemplos que você mesmo recordará. É ainda o caso de muitíssimas passagens dos Evangelhos (Mt 8,27, dentre outras) e do Livro dos Atos (At 27 e 28). A natureza, em si, fala ao homem de Deus. Deus se utiliza da natureza para revelar-se ao homem.

Nas intervenções de Deus na história -"Deus - conosco"

o O exemplo típico de como o homem percebe Deus intervindo em sua história é a expressão

muito típica do Antigo Testamento: "Deus de Abraão, Isaac e Jacó". Deus "entra" na história da vida pessoal de Abraão para formar um povo, de tal forma que a cada vez que Ele intervém, a partir daí20 intervirá em toda a história do povo e não mais na existência de um homem apenas, uma vez que ele não é mais Abrão ( = pai elevado), mas Abraão ( = pai de uma multidão)21.

o Da revelação e intervenção na história do povo através da natureza ou teofanias (muitas vezes

chamadas de aparições de "anjos" no Antigo Testamento, como por exemplo no capítulo 18 de Gênesis, Deus passa a revelar-se através dos profetas, homens e mulheres escolhidos por Deus para falar ao povo em seu nome. Os patriarcas, que foram os "pais" de Israel, (Abraão, Isaac, Jacó), os grandes líderes que conduziram o povo (Moisés, Josué, Juizes, Esdras, Neemias, Davi, Salomão, Judas Macabeu) foram mais e mais sendo substituídos pelos profetas, que falavam ao povo em nome de Deus, exortando-o, ensinando-lhe, anunciando Aquele que seria a maior e mais definitiva participação de Deus na pobre vida humana, o Emanuel, o Deus-conosco (vale a pena ler Is. 7,10-24): Jesus Cristo, o próprio Deus que se faria homem.

Nas intervenções de Deus em sua vida pessoal

o Deus se revelou ao homem ao longo de muitos séculos, até que finalmente no tempo propício,

enviou o seu próprio Filho em quem se revelou, fazendo-se Deus-conosco. Hoje, Deus ainda age na história, como na vida pessoal de cada um de nós. De forma muito concreta, posso experimentar isto pelas graças que recebo, pelas transformações que percebo ir além da ação humana.

19 cf. Gen 1 20 cf. Gn 12ss 21 cf. Gn 18

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Formação Básica I

Escola de Formação Shalom 10

o Neste item será interessante levar os alunos a partilharem várias intervenções de Deus em

suas vidas pessoais. Seria bom que o professor introduzisse o item com um testemunho de sua própria vida, deixando claro que a grande e fundamental intervenção de Deus em sua vida foi o batismo que recebeu quando criança e que abriu sua alma para receber e acolher Deus.

"Deus no outro"

o Tome Mt 25,31-46

o Peça aos alunos para avaliarem em silêncio como têm visto Deus no outro e como têm amado

concretamente Deus, em seus irmãos. Em seguida, conte-lhes como você tem feito isso, como Deus tem utilizado dos seus irmãos para revelar-se a você.

• A IGREJA: TRANSMISSORA DA REVELAÇÃO DIVINA

o A Revelação está completa em Jesus. Assim, em Jesus e com Jesus se dá a plenitude da

Revelação de Deus. Em Jesus e por Jesus Ele se revela plenamente como Trindade. Em Jesus Ele nos faz filhos no Filho e se revela como Pai: Pai de Jesus e - em Jesus - nosso Pai.

o A Igreja, porém, tem por dever e missão aplicar a verdade revelada por Jesus às diversas

necessidades pelas quais passam seus fiéis ao longo da história. Assim, os documentos da Igreja são aplicações da verdade revelada pelo evangelho às situações e desafios concretos da vida do homem no tempo. Vejam-se, por exemplo, as diversas encíclicas sobre o trabalho, a família, o controle da natalidade, o sofrimento humano, a missão dos leigos, a defesa da vida, etc. Jesus não falou diretamente da pílula anticoncepcional, por exemplo, nem da eutanásia. Porém, o que Ele revelou e o modo como viveu e morreu aplica-se a toda situação da vida humana e permite à Igreja, iluminada pelo Espírito Santo, e após estudo científico da realidade de hoje, responder, à luz do Evangelho, qual a vontade de Deus acerca destes e de outros desafios tão cruciais na vida do homem.

o Embora este assunto seja aprofundado mais adiante, quando falarmos de Jesus

especificamente, é necessário que se saiba que nele, por Ele e com Ele, realiza-se a plena revelação de Deus e que a Igreja vela e zela por esta revelação - da qual é depositária - e tem o dever de aplicá-la ao concreto da vida humana.

o Fale da importância da obediência à Igreja para estar no centro da vontade de Deus,

especialmente hoje em dia, quando tantas idéias e mentalidades tentam nos afastar dessa vontade, mascarando-a e distorcendo-a. Partilhe como você descobriu orientações essenciais através de um documento da Igreja e leve-os a partilhar como eles têm recebido as orientações do Magistério da Igreja.

o É importante que estimule seus alunos a procurar conhecer, e se aprofundar no conhecimento

da vontade de Deus através dos documentos da Igreja. Leve para sala de aula, alguns documentos que você tenha ou que seja fácil de arranjar, para apresentá-los aos seus alunos, esclarecendo-os que eles podem encontrar respostas para os mais variados assuntos.

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Escola de Formação Shalom 11

SEGUNDA AULA A Santíssima Trindade

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1 - A fé Católica é trinitária

2 - Elementos constitutivos-Doutrina da Santíssima Trindade

3 - Três aspectos da Santíssima Trindade: O dogma

3.1 Igualdade

3.2 Diferença

3.3 Unidade

4 - Mistério e dinâmica da Trindade

5 - A ação trinitária de Deus:

6 - A Trindade e nós:

6.1 Nós e o Pai

6.2 Nós e o Filho

6.3 Nós e o Espírito Santo

6.4 Na Trindade encontramos nossa identidade

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

• A FÉ CATÓLICA É TRINITÁRIA o O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Cremos e

confessamos um único Deus, que é Pai, é Filho e é Espírito Santo. Todos nós cristãos somos batizados "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"40. "Batizar em nome de" significa "consagrar a alguém" ou mesmo "colocar a serviço de". Portanto, pelo batismo, todos os homens são colocados a serviço ou são consagrados ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

• ELEMENTOS CONSTITUTIVOS - DOUTRINA DA SANTÍSSIMA TR INDADE

o É o próprio mistério de Deus. Deus é três. São Três Pessoas iguais e distintas, mas

subsistentes em uma só natureza. o Um só Deus: existe uma só essência ou uma só natureza ou substância divina, um só

princípio: uma só divindade; o Três Pessoas: significa dizer que um único Deus se dá a conhecer como Pai, como Filho e

como Espírito Santo. Não são três deuses, mas um só Deus ou uma só natureza divina, que se afirma três vezes.

• TRÊS ASPECTOS DA SANTÍSSIMA TRINDADE: O DOGMA

o Igualdade: A Trindade é Una

o A igualdade das três Pessoas da Santíssima Trindade é uma verdade fundamental para a

nossa fé. As três Pessoas divinas são iguais em tudo, idênticas em tudo. Todas três Pessoas divinas possuem a mesma santidade, a mesma glória, a mesma fortaleza, a mesma bondade, a mesma eternidade, onipotência, onisciência. Enfim, todas as grandezas e perfeições divinas são iguais nas três Pessoas divinas. Elas não dividem, nem retalham a única natureza divina. Pai, Filho e Espírito Santo são iguais em tudo: " A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas um só Deus em três Pessoas: “a Trindade é consubstancial”. As Pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro: “O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus quanto à natureza”. “Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina"41.

o Assim nos diz um testemunho da Igreja dos primeiros séculos:

o "É esta a fé católica: veneramos um só Deus na Trindade, e a Trindade na unidade. Sem

confundir as Pessoas e sem dividir a substância. Porque uma é a Pessoa do Pai, outra é a Pessoa do Filho, e outra, a do Espírito Santo. Mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo tem a mesma divindade, igual glória, uma co-eterna majestade".42

o Diferença: As Pessoas são distintas

o As pessoas divinas são iguais em tudo, mas são distintas entre si: "Deus é único, mas não

solitário. ‘Pai’, ‘Filho’, ‘Espírito Santo’ não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são realmente distintos entre si: ‘Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho”43. O que torna as três Pessoas distintas sem dividir a unidade divina é unicamente o seu relacionamento entre si, ou seja, "a distinção real das três Pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras":44a primeira pessoa é o "Pai" em relação à segunda, o “Filho” único.

o Deus Pai

40 Mt 28,19 41 Catecismo da Igreja Católica, 253 42 Símbolo pseudo-atanasiano em: MADALENA, G. de Sta. M. Intimidade Divina, n. 224, 2 43 Catecismo da Igreja Católica, 254 44 idem, 255

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� É a origem dos outros dois, não no sentido de procedência, de ser a fonte dos outros dois. Ele é a natureza original, por isto os outros dois se chamam Deus Filho e Deus Espírito Santo.

o Deus Filho

� A segunda Pessoa só é "Filho" em relação a primeira que é seu Pai. É a segunda Pessoa divina, que procede (não no sentido de tempo nem de criação, porque as pessoas divinas são incriadas) do Pai, vive um relacionamento perfeito de amor com o Pai, e expressa em si o pensamento do Pai, sendo por isto mesmo também chamado Palavra, Verbo, ou Sabedoria divina. Jesus também é chamado na bíblia de “Princípio”45, porque foi nele e por Ele que o Pai criou todas as coisas visíveis e invisíveis46. Jesus procede do Pai também porque é o enviado do Pai47. É o Filho quem revela o Pai48. Jesus ao revelar que Deus é "Pai", quis dizer que Deus é origem primeira de tudo e ao mesmo tempo é bondade e amor para todos os seus filhos.

o Deus Espírito Santo

� Aquele que é gerado do Pai antes de todos os séculos - o Filho -, anuncia o envio de um "outro Paráclito", a terceira Pessoa que procede do Pai e do Filho, o Espírito Santo, que é assim revelado como uma outra pessoa divina em relação a Jesus e ao Pai. Este também tem origem eterna e revela-se na sua missão temporal: é enviado aos Apóstolos e à Igreja, pelo Pai e pelo Filho49. O Espírito procede do Pai pelo Filho50, pois o Filho tem comunhão consubstancial com o Pai do qual procede o Espírito.

o O Concílio de Florença, 1438, assim nos ensina: "O Espírito Santo tem sua essência e seu ser

subsistente ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de Ambos como de um só Princípio e por uma única expiração"51. Assim é este a terceira Pessoa divina, que procede do Pai (que é a fonte dele e do Filho) e também do Filho (porque é o Filho que o envia a nós)52. Sendo onipresente, se reúne aos dois e vive com eles, numa comunidade de vida e de amor, e representa com perfeição o amor divino que os une.

o A relação íntima entre as três Pessoas divinas é irreversível, mas não permutável. Cada

Pessoa "tem o seu lugar" no mistério Trinitário. O Pai será sempre Pai, apesar de comunicar substancialmente tudo aquilo que Ele é. O Filho será sempre Filho, mesmo que tenha recebido do Pai a mesma natureza divina, e o Espírito Santo será sempre Espírito Santo, mesmo procedendo do Pai e do Filho.

o Unidade: A Unidade divina é Trina.

o Tome Jo 17,21-23

o Tudo procede do Pai e tudo volta para o Pai. Do Pai procede o Filho e o Espírito Santo. O

Espírito Santo tem a missão de congregar tudo e todos em torno de Cristo para que Cristo entregue definitivamente tudo e todos ao Pai. Desta forma acontece a união, a comunhão total entre as três Pessoas divinas. "Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho"53. Por esta unidade trinitária ao rendermos glória ao Pai, o fazemos pelo Filho no Espírito Santo: É o culto das pessoas, infinitamente distintas na Trindade.

o Tome Jo 10,38

o Estas palavras de Jesus revelam sua íntima união com o Pai. O Verbo de Deus está, por

natureza, unido ao Pai de modo substancial, assim como Deus-homem vive intimamente unido ao Pai: toda as suas potências, forças, afeto, inteligência tendem sempre para o Pai; toda a sua vontade está voltada intimamente para a vontade do Pai. Mesmo exercendo o seu ministério, percorrendo os caminhos da Palestina, pregando, instruindo, discutindo com os

45 cf. Gn 1,1 46 cf. Col 1,15-17 47 cf. Jo 17,18 48 cf. Mt 11, 27 49 cf. Jo 14, 26; 16,14 50 cf. Jo 15,26 51 Catecismo da Igreja Católica, 246 52 Jo 16,7 53

Catecismo da Igreja Católica, 255

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fariseus, curando os doentes, ocupando-se de todos, Jesus continua, no seu íntimo, a viver esta maravilhosa vida de união com as divinas Pessoas.

o Tome Jo 16,13-15

o Estas palavras de Jesus denunciam a unidade do Espírito Santo com o Pai e com Ele, o

Espírito Santo não falará palavras suas, mas palavras que ouviu do Pai e conseqüentemente do Filho.

• MISTÉRIO E DINÂMICA DA TRINDADE

o As três Pessoas divinas gozam no íntimo de sua essência de uma perfeita amizade: luz, amor,

felicidade, num grau infinito. Portanto, Deus nunca está sozinho, nem em si mesmo e nem em nossas almas. Este mistério como já dissemos, não pode ser entendido e explicado pela lógica, porém pode ser abraçado e vivenciado pela oração e pela vida, na fé.

o "A vida trinitária é uma mútua e incansável doação em perfeita comunhão: O Pai que se dá

totalmente ao Filho, o Filho que se dá totalmente ao Pai e dessa mútua doação procede o Espírito Santo dom substancial que, por sua vez, reflui no Pai e no Filho”54.

o Tome Col 1,15-17

o O Pai serve o Filho ao criar todas as coisas para Ele e esvazia-se de si ao doar-se inteiramente

ao Filho. Assim é que ensina o catecismo da Igreja Católica: "Tudo o que é do Pai, o Pai mesmo o deu ao seu Filho Único ao gerá-lo, excetuado o seu ser de Pai"55.

o Tome Jo 4,34

o O Filho, que por ser Filho faz a vontade do Pai, ama-o ao esvaziar-se de si de tal forma que só

se alimenta da vontade do Pai e do desejo de cumprir a Sua Vontade Salvífica para nós. Assim Jesus serve o Pai.

o Retome Jo 16,13-15

o Da mesma forma toda a alegria do Espírito Santo está em servir, amar, e abrir-se ao Pai e a

Jesus sem reservas. O Pai que tudo criou no poder e no amor do Espírito Santo, também vê seu Filho fazer tudo no mesmo Espírito.

• A AÇÃO TRINITÁRIA DE DEUS

o Cada Pessoa divina opera a obra comum segundo a sua propriedade pessoal. É através das

missões divinas que as três Pessoas manifestam o que lhes é próprio na Trindade: Deus Pai, do qual são todas as coisas; Deus Filho, que se fez carne56, assumindo a natureza humana para realizar nela a nossa salvação e Deus Espírito Santo, que une todos os homens a Cristo e fá-los viver nele.57 Mas as três Pessoas divinas são inseparáveis naquilo que são e naquilo que fazem58: A ação de Deus é uma obra comum das três Pessoas divinas.

o Na ação própria de cada Pessoa da Santíssima Trindade, as outras Pessoas também estão

presentes e ativas. Cada Pessoa da Trindade, só é ela mesma porque vive numa total entrega para as outras duas Pessoas. Como o Pai seria Pai se não tivesse Jesus, o Filho, o revelador de forma perfeita e irrestrita? Como Jesus seria o Filho se o Espírito Santo não o tivesse gerado no seio da Virgem Maria, revelando-o como homem no mistério da Encarnação do Verbo, e a partir daí tê-lo acompanhado e ungido, fazendo dele o Cristo, o Ungido do Pai? Como o Espírito Santo seria o amor de Deus "derramado em nossos corações"59 ou "o penhor", a garantia da nossa salvação, se Jesus não tivesse obedecido ao Pai até o fim, morrendo e ressuscitando por nós? Percebemos, então, que nunca somente uma das Pessoas da Trindade age. Em tudo o que Deus é e faz Ele é Uno e Trino, seja na Criação, na Encarnação, na vida pública de Jesus, na Crucificação, na Ressurreição ou em Pentecostes.

54

Catecismo da Igreja Católica,246 55 idem, 56 cf. Jo 1,14 57 cf. Catecismo da Igreja Católica, 258 58 cf. Idem, 268 59 Rm 5,5

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Um não vive ou age sem o outro, mas só vive e age para o outro, na verdade e na transparência, na luz e no amor. Somente quando buscamos a Deus com esta mesma disposição de alma: amor, verdade, serviço, abertura e transparência poderemos encontrá-lo e conseqüentemente sabermos quem de fato nós somos.

• A TRINDADE EM NÓS

o O relacionamento Trinitário transborda para as criaturas. Da mesma forma que as três Pessoas

da Santíssima Trindade vivem um relacionamento íntimo, um diálogo de amor entre si, elas desejam viver esse diálogo com cada um de nós. O Filho que se inclina para o Pai permanecendo um no outro60. O Filho e o Espírito Santo que juntos se voltam para o Pai; ambos enviados para uma missão, pelo Pai. Há uma comunhão tão profunda na ação deles que quase se confunde um com o outro61. Tanto Jesus quanto o Espírito Santo vivem e agem em nós. Esta união dos dois se abre para a fonte comum, para o Pai62. O Pai e o Espírito Santo estão unidos no amor a Cristo. A vinda de Jesus ao mundo é obra do Pai e do Espírito Santo63. São os dois que orientam a caminhada de Jesus. É o Filho de Deus porque se deixa conduzir pelo Espírito Santo64.

o A Trindade totalmente feliz e perfeita em si mesma, não fecha dentro de si sua vida, seu bem, sua felicidade, mas quer compartilhar seus bens próprios com as suas criaturas. A Trindade deseja iniciar um diálogo com o homem. Não apenas a divindade única, mas cada uma das três Pessoas deseja ter uma relação especial com ele, levando-o a encontrar e firmar sua identidade. Deus chama à existência inúmeros seres para comunicar-lhes a bondade e a felicidade em diferentes graus e modos. Não por necessitar das criaturas, porque elas nada podem acrescentar à sua glória e felicidade65. Não por haver nelas algum bem ou amabilidade, mas para fazê-las participantes de seu bem. Por mais que Deus se doe às inúmeras criaturas, jamais se esgotará, e tudo que Ele toca se transforma em bem.

o Nós e o Pai

o Temos uma relação especial com o Pai. Somos considerados por Ele, seus filhos. É Cristo que

nos leva a Ele: "Ninguém vem ao Pai senão por mim"66. É vivendo e amando no Cristo que vivemos e amamos no Pai67. Em Cristo, o Pai deseja ter essa vida de união com cada um dos seus filhos. Deseja participar e interferir na história de cada um de nós. A vida de cada homem tem muito valor para o Pai e Ele deseja cuidar dela. Para isso necessita viver conosco um relacionamento íntimo e concretiza isto fazendo morada no nosso coração68. Morar um no outro é a intimidade da convivência. Deus deseja conviver conosco, partilhar vidas. E este nosso relacionamento com o Pai é participado com o Filho e o Espírito Santo. Cada pequeno detalhe de nossas vidas não passa despercebido diante dele, porque Ele nos ama.

o Nós e o Filho

o Jesus assim roga ao Pai: "Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós

somos um: Eu neles e Tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim"69. A profunda e misteriosa união entre as três Pessoas divinas, Jesus quer vê-la prolongada em nossos corações. Nós somos para Jesus seus "irmãos" (amigos)70. Ele é o nosso eterno intercessor diante do Pai. Nós somos tão importantes para Ele, no Pai, que Ele deu sua vida por cada um de nós, e destruiu o muro de inimizade entre nós e as três Pessoas. Ele nos revela o Pai e o Espírito71. São Paulo chegou a viver esta intimidade total e radical da Trindade e com a Trindade, através de Cristo: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim"72. O Pai e o Espírito Santo se alegram e nos impulsionam a intensificar nossa relação íntima com Cristo, pois assim intensificam nossa relação íntima com eles.

60 Jo 1,18 61 cf. Rm 8,2.9-10 62 cf. Rm 8,11; Jo 14,26 63 cf. Lc 1,35 64 cf. Rm 8,14 65 cf. Eclo 42 21 66 Jo 14,6 67 cf. Jo 16,27; Jo 14,21 68 cf. Jo 14,23 69 Jo 17,22s 70 cf. Lc 12,4; Jo 15,15 71 cf. Jo 15,9s 72 Gal 2,19s

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o Nós e o Espírito Santo o E como não poderia deixar de ser, nós temos também uma relação especial com o Espírito

Santo. A relação do Filho com o Pai, quem nos introduz nela é o Espírito Santo: "O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse"73. O Espírito Santo nos fará "conhecer", isto é, vivenciar o mistério divino. Nós somos templos do Espírito Santo e por habitar dentro de nós, por viver conosco na intimidade, nós podemos conhecê-lo e Ele pode e deseja nos ensinar profundamente74. É necessário que como Jesus, nos deixemos conduzir pelo Espírito Santo para nos tornarmos filhos de Deus75 e podermos ter essa relação íntima, filial, porque o Espírito Santo foi derramado nos nossos corações76. É Ele quem nos santifica, quem nos ensina a rezar, a falar com o Pai, pelo Filho. É Ele quem socorre a nossa fraqueza e ao dialogarmos com Ele, o nosso diálogo está aberto e transparente para o Pai e o Filho.

o Na Trindade encontramos nossa identidade

o Esta vida de união com cada uma das Pessoas da Santíssima Trindade é a nossa realização

mais profunda: "a gloriosa liberdade dos filhos de Deus"77. A morada da Santíssima Trindade em nossos corações, a "permanência" com a Santíssima Trindade tem o objetivo de nos santificar e nos transformar sempre mais na imagem do Filho de Deus78. Este relacionamento íntimo entre cada Pessoa da Trindade e o homem o levará a viver "pela Trindade", isto é, viver pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito, transformando-o cada vez mais semelhante ao Filho, que serve e ama o Pai no Espírito Santo. Precisamos crescer cada vez mais nesta vida de união com eles. É isto que Deus nos chama a viver.

o Tome Col 3,1-3

o Nossa identidade, origem e fim último é Deus. Numa imagem bem simples: nós só

conhecemos nosso rosto quando temos um espelho. Caso não tenhamos, nunca de fato saberemos como e quem nós somos e viveremos às custas daquilo que dizem de nós ou de como os outros nos vêem. Da mesma forma nossa verdadeira identidade, imagem e rosto só podem ser vistos se tivermos Deus como espelho, pois Ele é o nosso criador e só Ele pode dar a vida, como já no-la deu.

o É na oração, na busca desse Tu que encontraremos o nosso verdadeiro Eu e teremos curadas

as deformações que temos da nossa própria imagem. No seu amor, Deus nos convida e chama a participarmos da mesma dinâmica de relacionamento que existe na Trindade. Se o Pai só se reconhece como Pai no Filho, da mesma forma eu só serei verdadeiramente filho ou filha de Deus, só serei pessoa íntegra, inteira e livre quando participar da vida trinitária desde agora neste mundo. Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus e isso significa que nós temos com Ele a mesma relação de origem, ou seja, o amor. Cada um é único, especial e insubstituível, como nos asseguram as Escrituras79, e cada um é fruto dessa infinita e abundante criação que nunca se esgota e nunca se repete (eis aqui um argumento lógico, real e irrefutável contra o princípio da reencarnação). A oração nos dá o verdadeiro sentido da individualidade e da autonomia que cada ser humano tem diante de Deus e diante de si mesmo. Olhando para o Pai, para Jesus e para o Espírito Santo como pessoas reais e vivas, veremos que nós também estamos nos tornando reais, pois a realidade é Cristo80, no sentido pleno da palavra.

o A oração voltada para a realidade da Trindade nos ensinará também a nos relacionarmos uns

com os outros, pois sendo Deus comunidade de amor, nos levará também a sê-lo. A oração verdadeira diante do Senhor nos arrancará das garras do nosso egocentrismo capaz de nos levar à morte, e nos assegurará o papel que temos a cumprir no Reino, dentro da soberana e perfeita vontade do Pai, sendo servos e transparentes uns com os outros.

73 Jo 14,26 74 cf. Rm 8,16 75 cf. Rm 8,14-16 76 cf. Gal 4,6 77 Rm 8,21 78 Rm 8,29 79 cf. Is 43,1-5 80 cf. Col 2,17

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TERCEIRA AULA

Deus Pai ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. As falsas imagens de Deus

2. As imagens de Deus no Antigo Testamento

2.1 O Senhor de toda vida do homem

2.2 O Deus dos Exércitos

2.3 O Deus protetor oculto na nuvem

2.4 O Criador de todas as coisas

2.5 O Deus de Abraão, Isaac e Jacó

2.6 O Rochedo

2.7 Todo-Poderoso (El Shadai)

2.8 Deus misericordioso, lento para cólera

2.9 Deus Pai de Amor

3. Jesus nos revela que Deus é Pai

4. Obras de amor de Deus Pai

4.1 Encarnação

4.3 nos participantes da sua natureza divina

4.4 Providenciando tudo para nós

4.5 Concedendo a Filiação Divina

4.6 Perdoando os nossos pecados

5. Fé no Amor misericordioso de Deus

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

• AS FALSAS IMAGENS DE DEUS o Tomar Jo 14,8s

o Todos nós, de uma forma ou de outra, guardamos em nós uma imagem deformada de Deus,

isso porque aprendemos errado ou porque projetamos em Deus as imagens imperfeitas que nos cercavam na primeira infância. Qual de nós não ouviu um dia na vida: "Não faz isso senão papai do céu castiga" ou, "papai do céu vai ficar triste com você?" Precisamos purificar nossa mente sobre o que recebemos e sabemos de Deus. Em grande parte esta foi a missão de Jesus: revelar-nos o Pai. A única possibilidade de sairmos destas falsas imagens é vermos o que Deus fala de si mesmo na Bíblia, entendendo as Escrituras a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo. Reconhecendo que o nosso conhecimento de Deus é parcial e imperfeito, devemos empreender um itinerário para encontrá-lo, não como imaginamos, mas como verdadeiramente ele é…

o É importante levantarmos falsas imagens que, de modo geral, parecem ocupar os

pensamentos de muitos cristãos de nosso tempo. Estas imagens nascem a partir de visões deturpadas de Deus, visões que todos trazemos, em menor ou maior nível.

• Deus não é

• Um Deus distante

o Muitas pessoas acham que Deus é distante, quer dizer, indiferente ao que acontece aos

homens, que não se importa se estejam bem ou mau. Este pensamento não é verdadeiro, porque Deus não é egoísta, nem deixa os homens na solidão, sem se importar com seus sofrimentos, ansiedades, problemas ou tristezas. Tem falsa imagem de Deus quem o vê como alguém muitíssimo poderoso que não dá espaço para o homem, que o reduz a um "nada" de quem ele se afasta e que não deseja acolher. Devemos lembrar a imagem do Filho pródigo que manifesta o coração amoroso de Deus ansioso pelo retorno do seu filho (nós pecadores). O ensinamento de Jesus sobre Deus não diminui a majestade divina, Deus continua como aquele que “está nos céus”, porém é também o “Pai Nosso” ou segundo a expressão do tempo de Cristo o “Abbá”, que significa paizinho ou papai.

• Um Deus escravo

o Esta é outra falsa imagem de Deus onde o homem o instrumentaliza, achando que Deus é um

objeto de resolução para seus problemas, seu "escravo". Esta falsa concepção de Deus perde de vista a majestade divina, sendo o ponto inverso da anterior, não compreende que os juízos divinos são eternos e imutáveis, que devemos sempre nos aproximar de Deus com o santo temor.

• Um Deus opressor

o É a falsa imagem do Deus tirano e cobrador, que vê em Deus alguém que anota nossas faltas

para nos castigar uma a uma. É um Deus que oprime, com o qual eu tenho que manter aparências para ao morrer ser recompensado por uma boa vida. Desta forma, compreende-se Deus como alguém a quem "pago" minha salvação com promessas, esmolas, novenas e ritos feitos não por amor e com o coração, mas por medo de ir para o inferno e para aplacar a cólera de Deus. O não reconhecimento da misericórdia e da gratuidade de Deus faz nascer esta deturpação que atinge no âmago o relacionamento com o Pai.

o Nesta visão, Deus, de vez em quando, "até" pode conceder um presente, atender à minha

oração, mas isso se eu fizer tudo certinho e merecer. Esta falsa imagem de Deus nos leva a ter um relacionamento cheio de cobranças a Deus, que provoca um profundo fechamento de coração à sua ação amorosa em nossas vidas. Precisamos compreender que Deus nos deu tudo e mesmo que Ele nos tire algo, Ele não nos deve nada, porque tudo que temos ou somos não merecíamos ter ou ser. Tudo é graça, tudo é acréscimo de Deus para as nossas vidas. Ao contrário do que muitos pensam, nós é que devemos tudo a Deus.

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• AS IMAGENS DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO o Mesmo não tendo sido ainda totalmente revelado, o que só aconteceu com a vinda de Jesus

Cristo, os livros do Antigo Testamento vão descortinando gradativamente a verdadeira imagem de Deus. Vejamos as seguintes passagens:

• Deus é Senhor da vida humana:

o "Hoje, fizeste o Senhor, teu Deus, prometer que ele seria teu Deus, enquanto tu... Observarias

suas leis, seus mandamentos... e lhe obedecerias fielmente. E o Senhor fez-te prometer, neste dia, que serias um povo que lhe pertença de maneira exclusiva,... um povo consagrado ao Senhor, teu Deus, como ele o prometeu"81.

o "Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo

o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças"82.

• O Deus dos exércitos83 o É usado no sentido daquele que combate em favor do seu povo. Evoca a manifestação de

Deus na história dos homens. O termo hebraico (Sebaot) pode ser também traduzido como “Deus de todo o poder”, o que traduz ainda melhor a imagem de um Deus que intervém em favor do seu eleito, do seu povo, dos seus filhos. Deus que deseja interferir, participar da vida de seus filhos. Que se importa com eles.

• O Deus protetor oculto na nuvem:

o "Então o Senhor lhe disse: Eis que me vou aproximar de ti na obscuridade de uma nuvem, a

fim de que o povo ouça quando eu te falar, e para que também confie em ti para sempre”84. o "Durante todo o curso de suas peregrinações, os israelitas se punham a caminho quando se

elevava a nuvem que estava sobre o tabernáculo; do contrário, eles não partiam até o dia em que ela se elevasse. E, enquanto duravam as suas peregrinações, a nuvem do Senhor pairava sobre o tabernáculo durante o dia, e durante a noite havia um fogo na nuvem, que era visível a todos os israelitas"85.

• Deus, o Criador de todas as coisas

o "Quem, pois, realizou estas coisas? Aquele que desde a origem chama as gerações à vida, eu,

o Senhor, que sou o primeiro o que estarei ainda com os últimos"86. o "Fui eu quem fez a terra, e a povoei de homens; foram as minhas mãos que estenderam os

céus, e eu comando todo o seu exército"87.

• O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó o "Deus disse ainda a Moisés: Assim falarás aos israelitas: é Javé, o Deus de vossos pais, o

Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, que me envia junto de vós. Este é o meu nome para sempre, e é assim que me chamarão de geração em geração"88.

• Deus, o Rochedo

o A imagem do rochedo traduz a confiança do povo na proteção de Deus, evoca a firmeza e a

segurança, um sentimento muito bem descrito pelo frei Raniero Cantalamessa: “Quem sabe, talvez impressionados pelo contraste entre a areia do deserto e as rochas do maciço do Sinai, os poetas de Israel viram simbolizado nisso a diferença entre o homem e Deus: o homem ‘é como pó’; Deus é um ‘rochedo eterno’!”89

81 Dt 26,17-19 82 Dt 6,4-5 83 cf. 2Sm 5,10 84 cf. Ex 19,9 85 cf. Ex 40,36-38 86 Is 41,4 87 Is 45,12 88 Ex 3,15 89 CANTALAMESSA, Raniero, Subida ao monte Sinai, p.45

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o Esta imagem foi decisiva para a caminhada do povo de Israel, manifestada de forma especial

nos salmos: “Eu te amo, Senhor, minha força. O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador. Ele é meu Deus, a rocha em que me refugio, meu escudo, a arma da minha vitória, minha cidadela. Louvado seja ele! Invoquei o Senhor, e venci os meus inimigos”90.

• Deus, o Todo-Poderoso (El-Shadai)

o Quando se apresenta a Abraão, Deus apresenta-se como o “El-Shadai”. Esta expressão é de

difícil tradução e parece querer indicar o “Deus das montanhas”, o que evoca o Deus que se coloca sobre todas as coisas e as governa. Neste sentido a tradução Todo-Poderoso apresenta-se muito significativa. Deus é aquele que do alto governa todas as coisas e vela por seu povo Israel. Este mesmo título é usado pelo salmista para manifestar a proteção de Deus sobre os que se colocam sob sua guarda: “Aquele que habita onde se esconde o Altíssimo e passa a noite à sombra do Poderoso (Shadai). - Do Senhor eu digo: ‘Ele é meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus: nele confio!’ -“91.

• Deus Misericordioso, lento para cólera

o Uma manifestação de Deus no Antigo Testamento merece especial atenção, o episódio que

Moisés intercede junto a Deus pelo povo que havia pecado construindo o bezerro de ouro92. Deus manifesta sua misericórdia e passa diante de Moisés que grita em louvor: “O Senhor, o Senhor, Deus misericordioso e benevolente, lento para a cólera, cheio de fidelidade e lealdade, que permanece fiel a milhares de gerações…” Esta experiência de Moisés faz entrever o coração cheio de misericórdia de Deus que seria revelado por Jesus Cristo.

• Deus, Pai de amor

o O profeta Isaías revela a figura majestosa de Deus, que com o seu infinito poder, vem libertar

Israel, mas ao mesmo tempo a figura terna do pastor que gera seu povo, que cuida do seu rebanho, que ama como um pai:

o Tome com seus alunos

o Is 40,10-11

o Is 41,8-10

o Isaías 41,13s

o Todas estas belíssimas manifestações de amor são características de alguém que ama como

um pai. E esta é a verdadeira e única imagem de Deus: Pai. Deus é um Pai de amor. Precisamos nos relacionar com Deus como nosso Pai e crer no seu amor por nós para que possamos ter uma vida de união verdadeira com Ele. Só os que crêem que Deus os ama com amor profundo expõem suas vidas para Ele, permitem que Deus interfira na sua história. O mundo causou uma ferida profunda no coração de muitas pessoas que não conseguem sentir o amor de Deus por elas, por esta razão são pessoas que cobram de Deus, de si mesmas e dos outros, não conseguem enxergar o valor da sua vida e a dos seus irmãos. Pessoas que não se lançam na providência de Deus, que não compreendem o valor do sofrimento que, apesar de não dizerem, sentem que Deus é um risco para sua vida. A experiência com o amor do Pai é uma necessidade para os homens do nosso mundo…

o Deus também se revela como nosso redentor e auxílio: "Pois eu, o Senhor, teu Deus, eu te

seguro pela mão, e te digo: Nada temas, eu venho em teu auxilio... Aqui Deus nos revela que em todas as situações da nossa vida nós podemos contar com a sua ajuda, com a sua salvação. Deus quer nos auxiliar para que possamos ultrapassar as nossas dificuldades e desafios da vida. É importante sabermos que contamos sempre com a ajuda de Deus, que Ele nos livra de todos os perigos, basta que o procuremos e nos unamos a Ele. Desta forma, afasta todo o medo do nosso coração e nos faz crescer na esperança e na fé.

o Apesar de, desde o Antigo Testamento, já ser revelado a imagem de Deus como Pai, é Jesus quem culmina esta revelação.

90 Sl 18, 2-4 91 Sl 91,1-2 92 Ex 34, 5-7

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• JESUS NOS REVELA QUE DEUS É PAI

o Assim nos fala Jesus:

o "Ora, a vida eterna consiste em que te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro"93.

o "Ninguém jamais viu a Deus, o Filho unigênito que está no seio do Pai, foi quem o revelou"94.

Só Jesus pode nos fazer conhecer a Deus Pai. o "Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar"95. "Eu falo o

que vi junto de meu Pai"96.Revelar o Pai para a humanidade é o grande dom de Jesus. É Jesus que nos mostra a paternidade divina.

o Jesus revela a bondade do Pai celeste que faz nascer o sol sobre maus e bons: "Deste modo

sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos"97; que alimenta as aves do céu e veste os lírios do campo, o que fará pelo homem?98; que sempre está pronto para perdoar seus filhos99; que vai atrás da ovelha perdida100. Jesus afirma que o Pai nos ama: "Pois o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus"101.

• OBRAS DE AMOR DE DEUS PAI:

o Jesus nos revela que Deus é um pai de amor. Meditemos sobre as obras e as provas de amor

que Deus realizou por cada um de nós:

• Encarnação o Deus nos prova concretamente o seu amor através da encarnação do seu filho, que humilhou

a si mesmo assumindo a condição humana: o "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho

único, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados"102.

o "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o

que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna"103.

• Através da morte do seu Filho o O ápice da manifestação do amor de Deus-Pai por nós é a morte do seu Filho amado para nos

conceder salvação e vida nova: o "Mas, eis aqui uma prova brilhante do amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores,

Cristo morreu por nós. Portanto muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira"104.

o "Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua

morte? Fomos pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo, para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova"105.

• Fazendo-nos participantes da sua natureza divina

93 Jo 17,3 94Jo 1,18 95 Mt 11,27 96 Jo 8,38 97 Mt 5,45 98 cf. Mt 6,26-30 99 cf. Lc 15,11-24 100 cf. Lc 15,3-7 101 Jo 16,27 102 1Jo 4,9-10 103 Jo 3,16 104 Rm 5,8-9 105 Rm 6,3-4

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o Fomos elevado à participação na vida divina, e esta é a prova da vida nova que o Pai nos

concedeu pela morte do seu Filho: o "O poder divino deu-nos tudo o que contribui para a vida e a piedade, fazendo-nos conhecer

aquele que nos chamou por sua glória e sua virtude. Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas a fim de tornar-vos por este meio participantes divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo"106.

o Providenciando o que precisamos

o Tome Mt 6,25-26. 32-34

o No Sermão da Montanha, Jesus anunciou a providência de Deus-Pai na vida do homem, que

abraça todas as suas necessidades. o Concedendo a filiação divina

o Tome Gal 4,4-7, Ef 1,5, Rm 8,14-17 e I Jo 3,1

o Em Cristo, fomos adotados como filhos e herdeiros de Deus, e recebemos o Espírito Santo,

que é o único capaz de nos convencer desta filiação, a ponto de clamarmos a Deus como Pai, e de fato nos apossarmos dos bens espirituais, que Ele derrama sobre nós abundantemente, sendo que o maior bem é a vida eterna.

o Perdoando os nossos pecados

o Tome Lc 15,18-24

o Nesta parábola observamos que o amor de Deus é concreto através das suas atitudes com

relação ao filho: como o espera, o acolhe, o restaura, parecendo esquecer todo o passado... O Senhor sabe que somos frágeis e por isso nos ama e tem misericórdia.

• FÉ NO AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS

o Santa Teresa d'Ávila, definiu a oração, isto é, a vida espiritual como "um comércio de amizade

entre a alma e Deus, por quem se sente amada"107. Sentir-se amado, estar convicto do amor de Deus por nós, é a condição primeira, para termos esse relacionamento íntimo com Deus. Precisamos deixar que Deus nos faça experimentar o seu amor por nós. Precisamos deixar Deus nos amar. É a experiência com o amor de Deus que enfraquece as resistências do nosso coração soberbo, prepotente, independente de Deus.

o Deus é Pai, Deus é nosso Pai! O mais amoroso, o mais terno dos pais! É desta raiz que

germina toda a nossa vida espiritual. É isto que nós precisamos respirar, deixar crescer e desabrochar: Deus é meu Pai de amor. Para que seja gerado em nós o amor filial, humildade, confiança, abandono, alegria. Só uma pessoa que se sente, que se crê infinitamente amada corresponde a esse apelo de amor por um impulso, um desejo bem simples de amar. As virtudes são germinação espontânea e natural da fé no amor de Deus. Precisamos compreender, experimentar que somos filhos de Deus e, por conseguinte, infinitamente amados, com amor paternal por Deus, nosso Pai.

o É a fé no amor de Deus por nós que explica tudo, que ilumina tudo, que esclarece tudo para

nós. Mesmo quando Deus nos faz passar por caminhos sombrios, momentos difíceis, é a fé firme no amor de Deus Pai que nos guiará e sustentará. É esta fé que nos fará dizer como Santa Teresinha: "É tão doce servir a Deus na noite da provação! Temos só esta vida para vivermos de fé" e ainda: "Sei que, além das nuvens, meu Sol está sempre a brilhar". Como sabe isto? Pela fé no amor misericordioso de Deus.

106 II Pd 1,3-4 107 Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, 8, 5

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QUARTA AULA

A Pessoa de Jesus ROTEIRO DO CONTEÚDO 1. Quem é Jesus Cristo?

2. Jesus Cristo e a Criação

3. O Pecado Original

4. O Pai nos dá Jesus, nosso Salvador

5. A Salvação é uma Pessoa

6. A mediação definitiva de Jesus.

7. O Único Mediador e os "Mediadores criados".

8. Jesus e a sua missão

9. A perpetuação do mistério da salvação

10. O Corpo de Cristo toma parte em sua missão

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

• QUEM É JESUS CRISTO? o Já houve quem duvidasse da existência histórica de Jesus Cristo, julgando sua figura um mito,

ou a personificação da doutrina cristã. Hoje em dia, opiniões como estas são absurdas entre aqueles que possuem um mínimo de conhecimento da história da humanidade. Além dos documentos cristãos bíblicos ou não, documentos históricos judaicos e até documentos pagãos falam muito claramente de Jesus e de sua morte violenta. (Exemplo: documentos judaicos do conhecido historiador Flávio Josefo, os "Anais" do historiador pagão Tácito, etc.)

o Porém, quem foi Jesus Cristo e o que Ele veio realizar entre os homens?

o Uns o admiram apenas como um homem perfeito, ou como um suave idealista, e até como um

revolucionário pacífico... Mas como se pode excluir de Jesus sua condição sobrenatural? Infelizmente, entre os que reconhecem a condição sobrenatural de Jesus ainda há alguns profundamente enganados a seu respeito, como por exemplo, os que partiram para considerá-lo "uma das manifestações" de Deus no tempo, como Zoroastro, Buda, etc.

o Menos grave são os que consideram Jesus apenas como um profeta que tão dedicado à sua

missão, acabou dando a vida por ela. Sim, Ele é de fato profeta, mas não só, nem principalmente isto, embora seja o maior de todos os profetas e criador de um rumo novo para a humanidade. A figura de Jesus, suas palavras e seus milagres são de tal dimensão, que se torna absurdo conhecê-lo realmente sem proclamar que Ele é o Filho de Deus e o Salvador de todos os homens.

o Rm 5,12-21 - São Paulo, nesta passagem, explica para nós os elos de ligação entre a culpa de

Adão e a condenação de todos os homens, para nos fazer ver a indiscutível relação entre Jesus Cristo e todos os homens, de todos os tempos e lugares, deixando claro para nós a natureza Divina de sua Pessoa, e o alcance de sua obra salvífica.

o É através de Jesus Cristo, de "um" só homem, que "todos" os homens receberam "um juízo de

justificação". Antes, todos estavam submetidos ao "veredicto da condenação" e à morte; por Jesus, receberam a abundância da graça e o dom da justiça, substituindo a morte pela vida.

• JESUS CRISTO E A CRIAÇÃO

o A criação é o fundamento dos desígnios salvíficos de Deus para o homem e o princípio da

história da salvação da humanidade. Por seu lado, o mistério de Cristo derrama sobre o mistério da criação a luz decisiva: revela o fim em vista do qual Deus "criou o céu e a terra", e a glória da nova criação em Cristo108. Assim, a revelação da criação é inseparável da obra de salvação da humanidade.

• O PECADO ORIGINAL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA TODA A HUMANIDADE

o Tome Gênesis 1,15-17; 3,1-19

o Através deste gênero literário carregado de simbolismo, o autor sagrado nos revela o mal uso

que fez o primeiro homem de sua liberdade, e as conseqüências dele para toda a humanidade.

o Ensina o Catecismo da Igreja Católica que graças à comunidade de origem, o gênero humano forma uma unidade, e vive uma misteriosa lei de solidariedade, mesmo na sua rica variedade de culturas109. Em virtude desta unidade e desta solidariedade que todos os homens nascem implicados no pecado de Adão, por uma transmissão que é ainda um mistério para as criaturas. Este pecado que recebemos de Adão é assim por nós contraídos, e consiste no fato de nascermos110:

o - na culpa (privados da justiça diante de Deus);

108 cf. Romanos 8,18-23 109 cf. Catecismo da Igreja Católica, 360 e 361 110 cf. Idem 404, 405

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o - sem os meios que possibilitam alcançar a Deus, (privados da graça sobrenatural ou

santificante). o - inclinados a negar a Deus e sua vontade, em prol de nós mesmos e dos bens passageiros

que nos atraem. Isto é o que chamamos de concupiscências, ou inclinação à ânsia desordenada do ter, do poder, e do prazer. São estas as concupiscências com que o demônio enganou Adão e Eva, que tentou enganar Jesus no deserto e que ainda hoje nos tenta enganar:

o - A concupiscência da carne - "o fruto da árvore era bom para comer";

o - A concupiscência dos olhos - "de agradável aspecto";

o - a soberba da vida - "e mui apropriado para abrir a inteligência".

o Em Mt 15,18-20, Jesus explicitamente fala que não é o que está fora do homem que o

mancha, mas o que brota de seu coração.

• O PAI NOS DÁ JESUS, O NOVO ADÃO, QUE NOS SALVA, RED IME, JUSTIFICA E PERDOA

o O pecado atraiu ao homem maldições e sofrimentos como nós lemos no relato do livro do

Gênesis, capítulo 3. No entanto, podemos constatar a fidelidade do amor de Deus em relação ao homem ao respeitar a sua liberdade, embora ele a tenha usado de maneira errada. Mesmo tendo-se envolvido na morte e perdido a intimidade com Deus, este não lha tirou e lhe prometeu salvação. Depois da primeira queda, que chamamos original e originante, o homem não foi abandonado por Deus. Isto é atestado pelo autor sagrado no livro do Gênesis, através de toda uma linguagem simbólica: "Então o Senhor Deus disse à serpente: Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida. Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar"113. A tradição cristã vê aí o anúncio de Jesus que, pela sua obediência até a morte na cruz, repara superabundantemente a desobediência do primeiro homem.

o Agora é o momento de você voltar com seus alunos ao texto de Rom 5,12-21.

o Concebido pelo Espírito Santo no ventre de Maria, pelo mistério da Encarnação, Jesus tornou-

se homem sem deixar de ser Deus-Filho. Nesta verdade que se a nossa fé na Salvação que Ele nos trouxe, porque:

� Sendo Deus é que Jesus pôde obedecer perfeita e incondicionalmente a Deus até a

morte na Cruz;

� E sendo Homem pôde, por sua obediência, possibilitar a todo homem que se unir a Ele pelo Sacramento do Batismo:

o Tornar-se justo diante de Deus, ou seja, ter cancelada a culpa que, pela unidade e

solidariedade de toda a raça humana trouxe ao nascer. o E receber a Graça que o possibilitará alcançar seu fim Supremo que é a perfeita união com

Deus. • O PAI SE DÁ A NÓS EM JESUS

o O Pai se dá em perdão e em totalidade a nós na pessoa de Jesus. Jesus na cruz é o retrato

fidedigno do Pai, que perdoa porque ama e não porque seja fraco. o Perdoar vem do latim PER-DONARE, que significa: cercar com o dom de si mesmo. Por isso o

Pai não nos manda um "remédio" para nos salvar da condenação eterna por termo-nos afastado dele pela desobediência, ELE SE DÁ INTEIRAMENTE, CONCRETAMENTE na pessoa de Jesus, a quem Ele é inseparável pelo mistério da Trindade.

o Pela sua morte de Cruz, Jesus diz não à desobediência, ao contrário de Adão, e assim reconcilia toda a humanidade e toda a criação com o Pai. Ele vence Satanás (I Jo 3,8b) e

113 Gn 3,14s

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anula o “documento de acusação” que havia contra nós, como eloqüentemente nos relata S. Paulo em Col 2,13-15 (ler com os alunos).

o Nisto consiste a justiça de Deus manifestada pela Salvação em Jesus Cristo.

• A SALVAÇÃO É UMA PESSOA

o Jesus é a Salvação desde toda a eternidade. Porém, a Salvação que é Jesus, entrou para a

história do homem, na plenitude dos Tempos. o O nome Ieshuah (Deus que salva) mostra bem que quando os judeus esperavam o Messias, o

Ungido, o Emanuel (= Deus-conosco), eles esperavam uma PESSOA e não um acontecimento. Muitos de nós não encontramos a salvação porque a vemos como um fato (e um fato passado!) e não como uma pessoa.

o O que nos salvou foi o abandono de sua vida. O que nos salvou foi sua PESSOA

entregue por nós. Ele mesmo é o nosso resgate, o preço pago por nós.

• A MEDIAÇÃO DEFINITIVA DE JESUS o Antes de começar a estudar esta parte, você deverá ler toda a Carta aos Hebreus.

o Quando o primeiro homem pecou, perdeu a Graça Santificante. Quando Jesus realizou a

Redenção do homem, a Graça Santificante retornou ao homem . o O Sacrifício de Jesus não foi um Sacrifício apenas cultual, como os sacrifícios do Antigo

Testamento, nos quais o sacerdote entrava no santuário para aspergir com sangue de animais o propiciatório, a fim de interceder pelos pecados do povo. Cristo entrou no santuário Celeste com Seu próprio sangue e obteve uma Redenção Eterna (cf. Hb 9,12-15). Aquele rito sacrificial de expiação era uma prefiguração do Sacrifício definitivo que Jesus iria fazer.

o O Sacrifício de Cristo inaugura uma Aliança Nova e objetiva entre Deus e os homens (cf. I Tm

2,6). Ele aparece então como Mediador, que se apresenta a nosso favor ante a face de Deus (cf. Hb 9,24).

o Aspectos de Sua intercessão:

o Súplica (Hb 12,24).

o Mérito (I Pd 1,19)

o Algumas outras passagens: I Tm 2,5; Col 1,16; I Pd 1,11; Jo 1,3; Gl 3,15-18; Lc 2,22-35; Lc

4,17-21; Mt 12,17-21; Mt 21,4-9; Mt 26,64

• O ÚNICO MEDIADOR E OS MEDIADORES CRIADOS o O fato de Jesus ser o único Mediador entre Deus e os homens não põe fim à função

intercessora:

• De Maria: A ela é reservado um posto especial no exercício da Mediação de Jesus Ressuscitado. Maria é associada à realeza e à intercessão de Jesus, como Sua Mãe e de todos os discípulos;

• Dos Anjos: Os anjos continuam sua função de intercessores e de instrumentos dos desígnios de Deus

(cf. Hb 1,14), mas fazem-no como anjos do único Mediador;

• Dos Santos: Associados à realeza do único Mediador (Ap 2, 26s; 3,21; 12,5);

• Dos membros da Igreja terrestre: pelo Apostolado e pelas orações, unidos aos méritos de Jesus. o A doutrina da Igreja afirma que sem a Redenção pela Cruz de Jesus Cristo o homem

descendente de Adão é irremediavelmente pecador. Portanto, para o homem, quer tenha vivido antes ou depois de Jesus Cristo, quer O conheça ou ignore, não pode haver Graça alguma que não venha de Jesus Cristo: Este é a fonte infinita e superabundante de toda a Graça e de toda santidade.

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o Assim, nosso destino sobrenatural (nascemos para um dia ver Deus face a face) não pode se

realizar sem Jesus Cristo. Não temos nem podemos ter por nós mesmos nem mérito, nem virtude, nem santidade, pois todo mérito, virtude e santidade é Jesus vivendo em nós.

o Tudo o que sobrenaturalmente recebem os homens vem sempre de Jesus, "pela riqueza de Sua Graça" (Ef 1,7). Se quisermos unir-nos a Deus, outro meio não há senão apoiar-nos em Jesus, passar através dele: nosso Mediador (cf. I Tm 2,5), nossa ponte, nosso Caminho. Eis o caminho único de Salvação e Santificação. Eis o Grande Mistério da nossa incorporação em Cristo, por Ele mesmo revelado aos Apóstolos na noite anterior à Sua paixão: "Eu Sou a verdadeira vide... Permanecei em mim e Eu em vós"... (Jo 15,1-4). Estamos em Cristo comunitariamente por causa de sua Morte e Ressurreição e individualmente porque Seu Sacrifício foi aplicado a nós no nosso Batismo. Porém, "permanecer nele" requer também nossa colaboração livre e pessoal.

• O SIGNIFICADO DO AMOR E DA OBEDIÊNCIA DE CRISTO

o Ao nos salvar pela obediência, Jesus substituiu a nossa obediência pela Sua obediência. Somente Deus poderia, desta forma, refazer o laço amoroso que nós havíamos quebrado pelo pecado original.

o Assim, fomos salvos não pelo sofrimento de Jesus em si, mas pela OBEDIÊNCIA AMOROSA DE JESUS AO PAI.

o Jo 10,17s

� “O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas

eu a dou de mim mesmo porque tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai” .

o O “mandamento” que o Filho recebeu é antes de tudo de nos amar. O Pai transmitiu ao Filho a

Sua “paixão de amor”, que o conduziu à cruz. Jesus morreu por nosso amor, porque isto consiste em obedecer ao Pai. Desta forma, Cristo morreu por amor a nós (cf. Ef 5,2) para obedecer ao Pai (cf. Fl 2,8).

o Amor e obediência se confundem mutuamente. o A Salvação operada por Jesus foi um ato de amor a nós por amor ao Pai. Não há obediência

verdadeira sem amor e não há amor verdadeiro sem obediência. o A obediência é uma homenagem de amor, em reconhecimento amoroso da autoridade do Pai

e do seu desejo de ter todos os seus filhos consigo. Da unidade da Trindade deriva o amor. É o amor a fonte da obediência mais perfeita, porque ela “não consiste em cumprir com toda a perfeição a ordem recebida, mas em fazer sua a vontade de quem ordena”. 7É o amor de Jesus ao pai que o faz compartilhar perfeitamente com o Pai a mesma vontade.

• É importante ressaltar que a obediência de Jesus ao Pai não foi fácil. Pelo contrário, foi a obediência

mais difícil, mais dolorosa, custou-lhe muito, custou-lhe o suor de sangue, porque Jesus obedeceu divinamente com uma vontade igual à nossa.

• Jesus ao ser um com o Pai, cumpriu a obediência perfeita e amorosa que o levou a morrer na cruz (cf.

Jo 3,35; Jo 5,17; Jo 5,20; Jo 5,37; Jo 8,49; Jo 10,15; Jo 10,30; Jo 12,26.49; Jo 14,6.9-10.20.28; Jo 15,8.15.23; Jo 16,3.23.25.32; Jo 20,17-21).

• AS CONSEQUÊNCIAS DA OBEDIÊNCIA DE CRISTO

• A vida de Jesus Cristo foi, desde a Sua entrada no mundo até a morte de cruz, obediência, isto é,

adesão a Deus. Porém, Ele obedeceu a Deus na pessoa de intermédio que Ele, mesmo sendo Deus e superior a todos eles, não rejeitou obedecer autoridades (cf. Lc 2,51) e a instituições humanas (cf. Mt 17,27). Devido ao meu pecado atual, sou também merecedor da morte espiritual.

• E Jesus foi além: na Sua Paixão, Ele leva sua obediência ao ponto culminante, entregando-se sem

resistência a poderes desumanos e injustos, “passando, através de todos os seus sofrimentos, pela experiência da obediência” (Hb 5,8), fazendo de Sua morte, “o sacrifício mais precioso a Deus, o da obediência” (cf. Hb 10,5-10). Por esta razão é que “Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos” (Fil 2,9-11).

7 Cantalamessa, Raniero, – A vida sob o Senhorio de Cristo, cap VI, número 4, p. 111.

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• Por isto, a morte de Jesus também me atinge, porque foi também para merecer de Deus o seu perdão

e a restauração da minha amizade com Ele, que Jesus morreu e ressuscitou. Com Sua obediência, a Salvação nos foi oferecida gratuitamente, em troca de nada (cf. Fil 2,6-11; II Tim 1,9-10). A obediência de Jesus Cristo é a nossa salvação e nos obtém de novo o dom de sermos de novo obedientes a Deus (cf. Rm 5,19). Viver a salvação é aceitar, extasiado, a gratuidade deste amor obediente e, em retribuição obedecer amorosamente a Deus, SENDO COMO JESUS, ASSIM COMO JESUS FOI COM O PAI. Só Deus poderia fazer-se homem para nos levar de volta ao seio amoroso da Trindade (cf. Jo 17). Só Ele poderia fazer este caminho de tornar-se homem para nos introduzir Nele, por Ele e com Ele no relacionamento amoroso que é a VIDA TRINITÁRIA.

• Todo fiel deve “ter em si os mesmos sentimentos de Cristo Jesus que se aniquilou, tomando a

condição de servo (…) fazendo-se obediente até a morte” (Fl 2,7-8).8 A obediência cristã deve sempre ultrapassar a criatura que ordena e fixar os olhos em Deus, pois é por Ele que nos submetemos.

• Por nossa obediência assumiremos o senhorio de Jesus em nossa vida e seremos verdadeiramente

livres, não com a falsa liberdade que o mundo chama de liberdade, mas com a verdadeira liberdade dos filhos de Deus (cf. Gal 5). Nós obedecemos porque em primeiro lugar obedecemos a Deus e, a única exceção para não obedecermos, é no caso de nos imporem ordens contrárias ao querer divino (cf. At 4,19). Exceto neste caso, é sempre lícito obedecer, mesmo quando a nossa vontade é contrariada, mesmo quando temos que renunciar a nossos próprios desejos, nossos projetos pessoais, pois com certeza esta renúncia é mais agradável a Deus que qualquer boa obra, principalmente quando está em jogo a vontade clara de Deus, sua Lei, o bem da Igreja, a dependência das autoridades constituídas (cf. Dn 9,4-10; Jo 6,38; Rm 13,1; Lc 10,16; Ef 5,21-22 e 6,1.5; I Sm 15,22).

8 cf. Lumen Gentium 42

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QUINTA AULA A Pessoa do Espírito Santo

ROTEIRO DO CONTEÚDO

1. A identidade do Espírito Santo 2. O sentido da palavra “Espírito” no Antigo Testamento 3. A personalidade do Espírito Santo no Antigo Testamento 4. O sentido da palavra “Espírito” no Novo Testamento. 5. O Espírito Santo é uma Pessoa 6. O Espírito Santo e Jesus nos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) 7. Na Encarnação do Verbo 8. Na pregação de João Batista 9. No Batismo de Jesus 10. Nas ações de Jesus 11. O Espírito Santo no Evangelho de São João 12. O Espírito Santos nos Atos dos Apóstolos 13. O Espírito Santo na carta aos Romanos 14. O Espírito Santo e nós

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

• A IDENTIDADE DO ESPÍRITO SANTO o Nós cristãos, confessamos com a Igreja que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da

Santíssima Trindade, distinta do Pai e do Filho, dos quais procede eternamente:

� “Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida; que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Foi Ele que nos falou por meio dos profetas; Ele nos foi enviado por Jesus Cristo, depois da Sua ressurreição e da Sua ascensão ao Pai. Ele ilumina, vivifica, protege e conduz a Igreja, cujos membros purifica se eles não se furtam à ação da graça, que penetra no mais íntimo da alma, e torna o homem capaz de responder ao apelo de Jesus: Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito”9.

o Sabemos que na sua vida íntima, Deus é Amor (I Jo 4, 8. 16), amor comum às três pessoas

divinas (Pai, Filho e Espírito Santo). E o Espírito Santo é a expressão pessoal desse doar-se, desse ser-Amor, Pessoa-Dom, do qual deriva: a doação da existência a todas as coisas, mediante a criação; e a doação da graça a nós, mediante toda a economia da Salvação.

• A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO DIVINO NO ANTIGO TESTAM ENTO o No Antigo Testamento, desde o Livro do Gênesis, o Espírito é a pessoa divina por meio da

qual Deus Pai infunde a vida. Segundo o sentido latino “Ruah”, significa hálito, respiração. Sopro vital (cf. Ecle 3, 21; Sl 103 (104), 29-30), por esta razão o Espírito Santo é a efusão do amor divino, pois assim como a respiração é a expressão da vida do homem, em Deus o Espírito Santo é a expressão da vida, a efusão da vida e do amor do Pai e do Filho, efusão tão substancial e perfeita que é Pessoa. Neste sentido, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade é chamada de “Espírito do Pai e do Filho”, “Espírito de amor em Deus”, “Sopro” do amor divino, “dom de Deus”.

o É nesse sentido que é interpretada a expressão de Gen 1, 1-2: “No princípio, Deus criou o céu e a terra e o Espírito Santo de Deus pairava sobre as águas”.

o “Este conceito bíblico de criação comporta não só o chamamento à existência do próprio ser

do cosmos, ou seja, o dom da existência, mas comporta também a presença do Espírito de Deus na criação, isto é, o início do comunicar-se salvífico de Deus às coisas que cria. Isto aplica-se, antes de mais nada, ao homem, o qual foi criado à imagem e semelhança de Deus: “façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança” (Gn 1, 26)10.

o Tudo foi criado com a participação uníssona da Trindade, que participou da Criação como três

pessoas em uma só pessoa, unida em sua vontade e em seu poder. “A criação é a obra comum da Santíssima Trindade”11.

o Deus criou tudo através do Verbo Eterno, seu Filho Único e do Espírito Santo (Jo 1, 1-4).

o “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e pelo sopro de sua boca todo o seu exército” (Sl

32 (33), 6). o Nestas passagens anteriormente mencionadas do Antigo Testamento, o Espírito Santo não

aparece como uma pessoa, quer dizer, como alguém que tem ação distinta de Deus, ele aparece como o Espírito de Deus que inspira, dá vida, transforma o interior do homem, porém isto não significa que o Espírito divino (Ruah) não tivesse sua personalidade.

o O que acontece é que o Antigo Testamento fala do Espírito Santo de modo velado, porque a

REVELAÇÃO NÃO ESTAVA COMPLETA, mas desde o PRINCÍPIO Ele agia no mundo.

o Somente no Novo Testamento, com Jesus, teremos a revelação nítida, explícita do Espírito Santo, como uma das três Pessoas da Santíssima Trindade.

9 Paulo VI, Credo do povo de Deus 10 Dominum et Vivificantem, João Paulo II 11 Catecismo da Igreja Católica, 292

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o Ainda encontramos no Antigo Testamento algumas passagens, que nos mostram o espírito

divino se comportando como um mestre que indica um caminho a ser seguido (Sl 142(143), 10; Ne 9, 20; Zc 7, 12; Is 59, 21); outras que ressaltam que o Messias prometido seria pleno do Espírito divino (Is 11,1-5; Is 42,1-3; Is 61,1; Joel 3,1-3), que este Espírito seria dado a “todos” os homens (Is 32,15-20; 44,3-5) e os transformaria em novas criaturas (Ez 11, 19; 18,31; 36,26; 37,1-14).

o É importante lembrarmos ainda que o Antigo Testamento vê Deus como uma só pessoa,

tendo-se em vista que o povo de Israel estava cercado de nações pagãs politeístas e a lei de Moisés e os profetas enfatizavam a unicidade de Deus, pois não havia como revelar ao povo de Israel toda a riqueza da vida de Deus, isto é, afirmar que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, sem perder a sua unidade.

o É no livro da Sabedoria, escrito já mais próximo do Novo Testamento, que temos uma figura

mais nítida (embora não perfeitamente delineada, pois isso só acontecerá com Jesus) da pessoa (que é descrita como a sabedoria de Deus) e da ação do Espírito Santo (santificador, educador das almas).

• A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO NO NOVO TESTAMENT O

o Percebemos, portanto, que desde o Antigo Testamento já havia uma tendência entre os judeus

de querer apresentar o Espírito Santo como uma pessoa (Is 63,10s; II Sm 23,2), porém é no Novo Testamento que o Espírito Santo é apresentado como a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade (cf. Jo 14,26; Jo 16,7; At 2,1-22).

o Através da vinda do Filho de Deus ao mundo (cf. Rm 8,32), o homem passou a ter um

conhecimento mais profundo de Deus: “Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça. Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,16-18).

o Jesus nos deu a conhecer o “nome” do Pai: “Manifestei o teu nome aos homens (cf. Jo 17,6-

26). Dar a conhecer um nome, para o judeu é revelar ou dar a conhecer o “ser na sua totalidade e “manifestar o nome de Deus” era dar a conhecer Deus na sua natureza íntima em toda a sua riqueza interior. E Jesus dar a conhecer o Pai a “todos” os homens, de uma forma mais sublime e profunda. É exclusivamente com Jesus que temos o conhecimento pleno do Pai. Neste sentido, Jesus nos apresenta o Espírito Santo como Pessoa divina que “procede do Pai”, e que ele mesmo “enviará” junto com o Pai.

o “O Espírito Santo é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-la divinamente,

ele que é “o Senhor que dá a Vida”, fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma humanidade proveniente da sua”12.

• O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA:

o Em muitos textos do Novo Testamento, que já vimos e outros que vamos estudar

detalhadamente adiante, o Espírito de Deus manifesta-se com personalidade toda sua, própria e distinta do Pai e do Filho.

o O próprio Deus, respeitando a limitação humana que associou a Sua ação por Seu Espírito a

elementos da natureza, utilizou-se e ainda hoje se utiliza destes mesmos elementos para manifestar a presença do Seu Espírito. Não podemos, porém, nos fixarmos na idéia de que o Espírito Santo é uma ação de Deus, ou que é um vento, ou uma pomba, ou fogo. Estes elementos são símbolos ou sinais da presença e da ação do Espírito. Nosso relacionamento com o Espírito Santo deve ter por base o fato de que ELE É UMA PESSOA. Vejamos o conceito de pessoa: a reflexão humana define, distingue a PESSOA, como o ser vivo que possui inteligência e vontade, tem personalidade própria, de modo que não se confunda com outras, é capaz de apreciar outras pessoas e a si mesma. Assim, é necessário que nós nos esforcemos por conhecer o Espírito, falar com Ele, pedir-lhe sua ajuda e estar atentos às suas inspirações.

o Abra para testemunhos de alguém que percebe ser o Espírito Santo uma pessoa e que se

relaciona com Ele assim. Em seguida, dê seu próprio testemunho sobre isto e crie uma

12 Catecismo da Igreja Católica, 485

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expectativa nos alunos sobre a próxima aula, onde veremos como Jesus se relacionava com o Espírito Santo como uma Pessoa.

• O ESPÍRITO SANTO NOS EVANGELHOS SINÓTICOS: o Cronologicamente, a primeira referência que temos nos Evangelhos ao Espírito Santo é em

Lucas 1,15, quando se faz o anúncio do nascimento do precursor (João Batista), que seria cheio do Espírito Santo no ventre de sua mãe: "porque será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem cerveja, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo"; o que se cumpriu em Lucas 1, 41: "Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do "Espírito Santo".

o Veja estas duas passagens com seus alunos, analisando como no Novo Testamento o Espírito

Santo - certamente por influência da revelação feita por Jesus - é apresentado como uma Pessoa da Santíssima Trindade que age em conjunto com o Pai e o Filho, para interferir na história da humanidade através do derramamento de poder, unção, graça e amor.

o Na obra da Encarnação:

o Analise com seus alunos as passagens de Mateus 1,20 e Lucas 1,35. Compare com o

momento da Criação (Gen 1), quando o Espírito junto com o Pai e o Filho dão origem a vida. Aqui, nestas duas passagens, a Pessoa do Espírito Santo é responsável também junto com o Pai de gerar Jesus no ventre de Maria. A diferença é que no texto de Gênesis este Espírito aparece como Deus que é espírito, aqui já aparece como uma das pessoas da Trindade que com o Pai gera o Filho em Maria. É importante ressaltar que o Filho foi "gerado", não "criado" e que é e continua sendo por toda a eternidade "consubstancial ao Pai" "um com o Pai e o Espírito Santo". Chame a atenção para a diferença entre "encarnação" e "criação". Na Encarnação Deus realiza o ato de fazer com que o Verbo - que sempre existiu, pois não tem princípio nem fim - se tornasse carne. Na criação, Deus realiza o ato de dar a vida do nada.

o Entre os profetas e servos de Deus do Antigo Testamento, as manifestações do Espírito Santo

sempre eram ocasionais e transitórias. Para que o dom se tornasse definitivo, era preciso que se realizasse o gesto inigualável, correspondente às aspirações do Profeta: "Sois vós, Senhor, o nosso Pai... Porque, Senhor, desviar-nos para longe dos vossos caminhos?... (Is 63,16s)" Oh! se rasgásseis os céus, se descêsseis (Is 64,1).

o "Os céus abertos", Deus descendo à terra a fim de converter os corações... esta será com

efeito, a obra do Espírito Santo, manifestada na Encarnação do Verbo. o João 1,14: O Verbo que se fez carne para manifestar-se aos homens, já existia desde sempre

(Jo 1,1; I Jo 1,2). E começou a ser carne no seio de Maria, por obra do Espírito Santo. o O Espírito Santo tem assim, papel fundamental na vinda de Jesus ao mundo, e em toda a obra

de nossa salvação. o Na pregação de João Batista

o Em Lucas 3,16 (Mt 3,11s; Mc 1,6-8; Jo 1,26-34). Nesta passagem e em suas paralelas, João

Batista diz que é Jesus quem "batizará no Espírito Santo". Sabemos que "batizar" significa "mergulhar". Jesus, de fato, é o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1,29) que, nos resgata da escravidão do pecado, com seu sangue derramado e nos "mergulha no Amor Unificador da Trindade - o Espírito Santo - que, por sua vez, testemunha Cristo ao nosso próprio coração e (cf. I Cor 12,1-3) e ao mundo (cf. At 2). Este "mergulho no Espírito de Deus", nos insere na Trindade, tornando-nos templos do Espírito (cf. I Cor 3,16). Assim, o batismo de João Batista não era um sacramento, mas um sinal de arrependimento e de adesão à doutrina de preparação para a vinda de Cristo; enquanto que o Batismo de Jesus é "no Espírito Santo", quer dizer, na "Pessoa do Espírito Santo", sendo um sacramento, um "sinal eficaz" que nos insere na própria Trindade. Ele nos torna-nos filhos de Deus (cf. Rm 8,1-27), torna-nos novas criaturas (cf. II Cor 5,17; Tia 1,18), faz de nós testemunhas do Evangelho (Jo 14,16-20; Lc 12,12) e leva a Igreja a clamar pela nova vinda de Cristo (Ap. 22,17).

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o Atualmente se usa muito a expressão "batizar no Espírito Santo". Esta é uma expressão inadequada, retirada do livro dos Atos dos Apóstolos, quando a Igreja fazia ainda uma diferença entre o "batismo de João" - pela água - e o "batismo no Espírito", ou imposição de mãos para receber o Espírito Santo. Um bom exemplo disto é Atos 18,25 e 22,16, para o "batismo de João" e Atos 10, para o "batismo no Espírito" (isto é, ministrar a efusão do Espírito pela imposição das mãos) e Atos 1,1-5 para a diferença entre os dois. Devido a esta prática que persiste até hoje, devemos substituir a expressão "batismo no Espírito Santo ( = mergulho no Espírito Santo) por" efusão do Espírito Santo" (= transbordar do Espírito Santo), uma vez que o Espírito Santo está em nós desde o batismo sacramental.

o No Batismo de Jesus:

o Em Mateus 3,13-17 (Mc 1,9-11; Lc 3,22; Jo 1,32), percebemos novamente a presença da

Trindade, onde o Espírito de Deus se manifesta sob a forma de uma pomba a fim de ser visível e reconhecível como um sinal a João (Jo 1,32). Vem desta passagem a representação do Espírito Santo como uma pomba.

o João Batista é possuído pelo Espírito Santo de modo especial, três meses antes de nascer (na

visitação de Maria a Isabel). Mas, ao esperar pela vinda do Messias, esperava ou aguardava uma nova manifestação do Espírito Santo, a qual substituísse o Batismo de arrependimento que ele pregava. Porém Jesus o surpreendeu, quando quis ser "Batizado" no mesmo lugar em que João batizava. O Espírito Santo então se manifesta sobre Ele numa forma ao mesmo tempo simples e divina revelando a divindade sem parecer agir, porque quem fala é o Pai. Contudo, Sua presença é indispensável para o diálogo entre o Pai e o Filho. É o Espírito Santo que faz com quem o encontro se realize, que comunica a palavra de complacência, de orgulho e de amor que Lhe vem do Pai, e que O coloca na atitude de Filho. E o Batismo de água, que João julgava abolido, torna-se, pelo gesto de Jesus, o que futuramente será usado para nós.

o Então, no Batismo de Jesus, percebemos a presença das Três Pessoas da Santíssima

Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, cada qual com a sua personalidade própria. o Nas ações de Jesus:

o Nenhuma criatura tem o Espírito Santo tão plenamente quanto Ele: "Além de toda medida" (Jo

3,34) como também do modo dele: Ele não sente o Espírito Santo como um força que lhe vem de fora e o invade: Ele é um com o Espírito Santo (Jo 16,14s). Todas as ações de Jesus manifestam que nele age permanentemente o Espírito Santo. "Cheio do Espírito Santo", Jesus manifesta-O por todos os seus gestos. É o Espírito que O conduz ao deserto, para prepará-lO pela oração e jejum para sua missão (Mt 4,1; Lc 4,1).

o Faça um paralelo com o dia a dia dos alunos, especialmente em referência a decisões

importantes que tenham de tomar na vida. Como, nestas e em outras ocasiões fundamentais, devem pedir ao Espírito que os leve ao deserto e lhes fale ao coração (cf. Os 2,16); é "cheio da força do Espírito Santo" que Jesus volta para a Galiléia (Lc 4,14) e ensina nas sinagogas, proclama que o Espírito Santo O ungia para que Ele cumprisse a sua missão de Salvador do mundo (Lc 4,18s; Mt 12,18-21). É pelo Espírito Santo que Jesus expulsa os demônios (Mt 12,22-35). Toca-se aqui no ponto crucial do pecado contra o Espírito Santo, que consiste em atribuir-se ao demônio algo que é feito por Deus, exatamente como ocorreu aqui nesta passagem: os fariseus, que conheciam a Lei e o poder de Deus, ainda assim atribuem a Belzebu algo que havia sido feito pelo Espírito Santo de Deus. Este episódio mostra o quanto Deus é cioso da ação do Espírito na Trindade, no nosso coração e na Igreja.

o Nas passagens de Mc 13,11; Mt 28,16-20 (Lc 24,44-49; Mc 16,15-18; Jo 20,21s) e suas

paralelas, percebemos que o Espírito Santo é uma pessoa atuante na evangelização, aliás, é somente no Espírito e pelo Espírito que se dá a verdadeira evangelização, pois Ele é o seu autor.

• O ESPÍRITO SANTO NO EVANGELHO DE SÃO JOÃO:

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o Embora Lucas seja conhecido como "Evangelista do Espírito Santo", é João quem o menciona

mais vezes e quem dá uma doutrina mais detalhada sobre a sua ação. o Na passagem de João 3,1-15, o Espírito Santo é apresentado como "Espírito" e como "vento",

manifestando que Ele é uma Pessoa que realiza o renascimento do homem no Espírito. o Em João 3,25-36 encontramos a presença das Três Pessoas da Santíssima Trindade, o Pai e

o Espírito Santo que testemunham o Filho, o Filho e o Espírito Santo que testemunham o Pai e o Pai e o Filho que testemunham o Espírito Santo concedendo-Lhe sem medidas.

o São João fala da presença do Espírito Santo no Sacrifício de Jesus:

o Jo 7,37-39; Jo 14,16-26; Jo 15,26s; Jo 16,1-15.

o Jesus manifesta o Espírito Santo que vive nEle e com Ele por todos os seus gestos, mas não

pode mostrá-lO como distinto dele mesmo. Para que o Espírito Santo seja derramado e reconhecido, é preciso que Jesus parta. Enquanto Jesus vivia sua vida terrena, os discípulos nada temiam porque Jesus sempre tomava sua defesa e os livrava de qualquer embaraço. Depois que Jesus partiu, o Espírito Santo tomará Seu lugar de Paráclito (Defensor). Porém, Ele não falará em Seu próprio nome, mas em nome de Jesus, de quem é inseparável: relembrará aos discípulos os seus gestos e palavras, dando-lhes a verdadeira compreensão delas mesmas; Dar-lhes-á forças de enfrentar o mundo "em nome de Jesus", de descobrir o sentido de Sua morte e de dar testemunho do Mistério divino que se esconde atrás destes acontecimentos. Convencê-los-á do amor de Deus, do próprio pecado, do triunfo da verdadeira justiça e da derrota de Satanás.

o Por isto, quando chega a "hora de Jesus" (Jo 13,1/ Jo 17,1), este entrega o seu espírito nas

mãos do Pai (não se trata do Espírito Santo, mas de Sua alma). Porém, o Pai e Jesus glorificado derramarão Sua presença no Espírito Santo que nos será dado em Pentecostes.

o São João fala da presença do Espírito Santo na Ressurreição de Jesus: o Jo 12,23-32; Jo 19,30; Jo 20,22ss.

o Morto e Ressuscitado, Jesus traz à Igreja o dom do Espírito. Um homem que morre, por maior

que tenha sido, e continue a influência de sua memória entre os povos, está fadado a pertencer ao passado e suas idéias e influências serem substituídas por outras melhores e mais modernas. Suas palavras e idéias podem passar adiante, mas ele não tem mais nenhum poder sobre elas, que ficam à mercê das mudanças e interpretações particulares de cada um. Jesus, pelo contrário, quando morre, entrega seu espírito a Deus e, depois de Ressuscitar e subir aos céus, exaltado à Sua direita, derrama sobre a humanidade o Espírito Santo, que guardará intacta a verdade, e mais ainda, será o portador de Sua presença real, e não apenas de suas idéias.

o No Evangelho de São João, vemos acentuadamente e com maior riqueza de conteúdo o

Espírito Santo como Pessoa. Jesus fala do Espírito Santo com o termo "Paráclito", que significa: consolador, advogado, defensor, aquele que segura a outra ponta. Alguém que inteligente e amorosamente socorre, defende, consola, auxilia e cujas atividades que serão desempenhadas são próprias de uma pessoa.

o Jesus, através do Espírito, nos assegura a presença e a assistência de um outro consolador

até que Ele venha por uma segunda vez. É o Espírito Santo que guiará e ensinará sobre o pecado, a justiça e o juízo, além de conduzir à verdade plena. Não "falará de si mesmo, mas "dirá" tudo o que ouvir e anunciará as coisas futuras (cf. Jo 16,8-13). Por estas razões, o Espírito Santo não pode ser uma força ativa, que não possui inteligência, pois só uma pessoa pode falar, confortar, iluminar, guiar e confirmar. O Espírito Santo tem diversos nomes, como já vimos, mas Ele é uma Pessoa.

o A obra do Paráclito é convencer o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em

Deus. Ele vem nos ensinar a crer em Deus. Ele vem nos revelar concretamente a existência de Deus que é amor, vem nos convencer a cerca do amor de Deus por nós, e nos leva a ter uma

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experiência com o Pai, que é nosso Criador, que é nosso Salvador que é Aquele que nos santifica, que nos sustenta, que providencia tudo para nós. O Espírito nos faz ser cristãos, retirando-nos da vida pagã, da vida natural, puramente humana, puramente materialista.

o O Espírito Santo, Paráclito, o Espírito da Verdade nos convencerá a respeito da justiça, porque

Jesus vai para junto do Pai para nos justificar. Nada pode justificar os nossos erros, os nossos pecados, nem os traumas, o sofrimento, as nossas obras, as nossas próprias punições e tantas outras coisas que nos apegamos para nos justificar. O Espírito Santo vem nos fazer compreender e experimentar a justificação de Jesus.

o São João também nos diz que o Espírito Santo nos convencerá a respeito do juízo, que

consiste que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado com todas as sus obras que são mortas, com todas as suas seduções. O Espírito Santo denuncia as obras do mal, faz-nos discernir as obras das trevas e nos torna livres para optar sempre pelo bem.

o A pomba, no Batismo de Jesus, e as línguas de fogo, no dia de Pentecostes, são a missão

visível do Espírito Santo, enquanto que a comunicação de um dom e de uma graça são a missão invisível, espiritual do Espírito Santo. No entanto, todos os dois modos são realizados Ele.

• O ESPÍRITO SANTO NOS ATOS DOS APÓSTOLOS: o O Livro dos Atos nos mostra um dos períodos de maior vitalidade do Espírito Santo na Igreja.

Não que a Sua vitalidade jamais tenha diminuído (Ele é Deus e não muda), mas a nossa fé e abertura a Ele oscilam no decorrer da história da Igreja.

o Em Atos 1,8, Jesus nos revela que a Pessoa do Espírito Santo, a pessoa divina, terceira

pessoa da Santíssima Trindade, nos dará a força de sermos suas testemunhas, onde nós estivermos. O Espírito Santo agindo poderosamente em nós, nos fará testemunhas autênticas de Jesus Cristo. Dar-nos-á a sua força, que é um dom. Jesus distingue claramente a força que os apóstolos receberão e Aquele que dará esta força com a sua vinda.

o Em Pentecostes o Espírito Santo é derramado sobre a Igreja, formada pelos discípulos

reunidos no Cenáculo. E Sua ação apresenta primeiramente dois aspectos: um aspecto exterior, que são os prodígios e milagres (sinais), um aspecto interior que é conversão e o perdão dos pecados, para em seguida lançar os seus fiéis "até os confins da terra", a fim de colaborarem com o Espírito na Sua obra, que não está presente somente no ponto de partida, mas acompanha e guia todas as ações dos que a Ele se entregam docilmente.

o Em Atos 2,1-36, no dia de Pentecostes, vemos os frutos maravilhosos e concretos da presença

e ação pessoal do Espírito Santo, pois, com a Sua chegada Ele concede os dons divinos, que só podem ser dados necessariamente por uma Pessoa divina. Com a Sua chegada, Ele concede aos apóstolos uma capacidade sobrenatural que os transforma em verdadeiras testemunhas de Jesus.

o Cada nação que há debaixo do céu viu e ouviu os apóstolos proclamarem as maravilhas de

Deus em sua própria língua. O Espírito Santo não deixa, portanto, que a Boa Nova de Deus fique acorrentada, mas faz com que se difunda larga e poderosamente.

o O Espírito Santo também realiza a unidade, a comunhão dos fiéis entre si e com Deus. Todos

são atraídos ao redor de Deus, formando a Igreja. o Percebemos ainda que o Espírito Santo cura, liberta e fortalece aqueles homens que antes

estavam fechados, medrosos, incapazes de serem testemunhas de Jesus, para todos os povos de todos os lugares. Como um vento impetuoso poderia proporcionar mudanças tão profundas e radicais, e graças especiais? Somente uma pessoa divina poderia conceder graças divinas: a cura, a libertação, a mudança de vida, de mentalidade, a santificação, a compunção de corações.

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o O Espírito Santo era concedido a todos e com Ele todas as suas características pessoais, os seus dons, a sua graça, não por fim último de dar-se a conhecer à alma, mas porque quer que façamos uso dessas graças, pois a sua posse e uso tornam-nos participantes da Vida divina. Tudo isto não era mais privilégio de alguns, mas de todos aqueles que cressem e se abrissem à Sua ação, para "todos que ouvissem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus" (At 2,39).

o "Ser cheio do Espírito Santo", ser "pleno do Espírito Santo", significa ser cheio, ser pleno da

força, das virtudes, dos dons concedidos pela Pessoa do Espírito Santo. É comparável a um pai de família que transmite à sua mulher e filhos sua riqueza interior: o amor, alegria, confiança etc. Ficar sem a sua presença é ser privado da participação de sua riqueza interior. Portanto, não é ficar repleto de uma pessoa, mas repleto das suas virtudes e dons que emanam da presença do Espírito.

o "Falar em outras línguas" é um dom que só o Espírito Santo possui, mas Ele concede aos

discípulos o poder ou capacidade de falarem em outras línguas. É alguém que doa alguma coisa que é Sua, ou seja, o Espírito Santo doa o falar em línguas.

o "Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido do Pai o Espírito Santo prometido, derramou-

o como vós vedes e ouvis" (At 2,33s). Este verbo "derramar" empregado para descrever a ação do Espírito Santo, não tem o significado ou idéia do ato de derramar, como se o Espírito Santo fosse um líquido. Ao contrário, significa sempre uma atividade de uma Pessoa que através da sua presença divina penetra o cristão. Ou seja, Ele penetra uma realidade impessoal que se distingue claramente do seu doador e que é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

o Em todo o livro dos Atos dos Apóstolos nos é apresentada a ação do Espírito Santo, o que

confirma mais e mais que Ele é uma pessoa e admirável. o O Espírito Santo é alguém que tem pressa em instaurar o Seu Reino, em estabelecer e fazer

com que a Igreja se desenvolva e ainda atingir e transformar a vida de cada fiel. É o que percebemos claramente neste livro dos Atos: depois de seu envio no dia de Pentecostes, encontramos frutos de conversão (Atos 2,37). Os primeiros cristãos se tornaram profundamente virtuosos (Atos 2,42-47), possuíam um só coração e uma só alma, oravam todos cheios de grande graça e não havia entre eles nenhum necessitado (Atos 4,32-35). A assistência da Pessoa do Espírito Santo fazia com que os Apóstolos "anunciassem com intrepidez a Palavra de Deus" (Atos 3,12-26; 4,1-12.31; 5,20-32; 7,1-53; 13,16-52; 14,21; 17,22-34; 20,17-38; 22,1-22; 26,1-23) e a Igreja crescesse em número (Atos 9,31). Era reconhecida a Sua ação na vida dos Apóstolos, pois se admiravam a coragem e a sabedoria dos Apóstolos, que eram "homens iletrados e sem posição social" (Atos 4,13). Enfrentavam açoites, prisões, humilhações, mais em primeiro lugar obedeciam a vontade de Deus (Atos 4,19. 5,29). Por suas mãos realizavam-se entre o povo muitos milagres e prodígios (Atos 3,6-10; 5,12-16; 6,8; 8,4; 9,32-43; 14,8-10; 19,11s; 20,9-11; 28,1-10).

o O Espírito Santo, que é o próprio Deus, demonstra assim a sua atividade e ação, que sempre

existiu, mas que no Novo Testamento aparece de uma maneira clara e concreta. É desta forma que Ele é e continua sendo a "alma" da Igreja, a "respiração" da Igreja, a "vida" da Igreja e quer ser presente e atuante em nossas vidas.

o Todas essas atividades dos Apóstolos eram a ação, a força ativa da Pessoa do Espírito Santo,

que as transformaram em canal de graças para os seus irmãos (Atos 8,18-25.34-40; 10,44-48; 16,11-15; 19,6); que os fizeram perceber a astúcia do demônio (Atos 5,1-11), que os tornaram cheios de sabedoria, de autoridade, de firmeza, de terem um apostolado cheio de vigor, de força, de eficácia, pois se deixavam conduzir pela inspiração do Espírito Santo (Atos 21,4) e tinham coragem de ir até as últimas conseqüências, ao ponto de não se importarem não só de serem presos, mas até de morrer pelo nome do Senhor Jesus (Atos 21,13s). Eles mesmo reconheciam que todas as ações de Jesus, a força, a coragem, a decisão de fazer a Vontade do Pai, todo o bem que Ele fez e continua fazendo, tem como autor a Pessoa atuante do Espírito, a unção do Espírito Santo (Atos 10,38).

o Precisamos estar conscientes da importância do relacionamento íntimo que precisamos ter

com a Pessoa do Espírito Santo, depois de termos conhecido mais profundamente a sua ação poderosa, não só na nossa vida de apostolado, mas também na nossa vida pessoal.

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o Quando nós experimentamos uma consolação, uma doçura que inebria a nossa alma, quando nós reconhecemos os nossos pecados que nos faz derramar lágrimas de arrependimento sincero, e engolirmos as palavras do sacerdote ao pronunciar a nossa absolvição e o coração, a alma se estremecer de alegria pela reconciliação e a paz com Deus. Quando oramos com fervor, o nosso coração nada em delícias do céu e as horas passam ligeiras e não trocaríamos estas horas por todas as alegrias da terra. Pois bem toda essa felicidade, essa consolação, essa alegria, esse fervor, essa força é o Espírito Santo, é a ação do Espírito em nossas vidas.

o Imaginemos como não vai ser nossa alegria, nosso prazer no céu, já que desde agora mesmo

pobres e cheios de miséria, nosso coração goza de tanta alegria e arrebatamento sob a ação do Espírito Santo.

o O ESPÍRITO SANTO NA CARTA AOS ROMANOS: o Tome Rom 8 e leia até o versículo 27, pedindo que os alunos sublinhem toda vez que

encontrarem a palavra Espírito escrita com letra maiúscula (as vezes em que esta palavra aparece aqui em minúscula ela não se refere ao Espírito Santo de Deus).

o Para que nós possamos compreender o que S. Paulo diz sobre o dom do Espírito no capítulo

oitavo da carta aos Romanos, precisamos antes compreender o significado do Pentecostes e da nova aliança.

o Assim exclama Sto. Agostinho: "Quem não ficaria impressionado desta coincidência e,

simultaneamente, desta diferença? Contam-se cinqüenta dias da celebração da Páscoa até o dia em que Moisés recebeu a lei em tábuas escritas pelo dedo de Deus; da mesma forma, cinqüenta dias depois da morte e ressurreição dAquele que, como cordeiro foi conduzido à imolação, o Dedo de Deus, isto é, o Espírito Santo, enche de si todos os fiéis reunidos" 13

o As profecias de Jeremias e Ezequiel, citadas anteriormente (item 3.2), nos esclarecem sobre o significado da nova aliança: "Eis a aliança que, então, farei com a casa de Israel - oráculo do Senhor: Incutir-lhe-ei a minha lei; grava-la-ei em seu coração. Serei o seu Deus e Israel será o meu povo."(Jr 31,33). A lei de Deus não era mais gravada em tábuas de pedra, mas nos nossos corações. Não era mais um mandamento (lei) exterior, vindo de fora para dentro, mas um mandamento selado no mais profundo dos nossos corações, era agora um mandamento (lei) interior, vindo de dentro para fora. Recebíamos com a lei do Espírito a capacidade, o desejo, como se fosse a nossa própria vida, algo nosso, de praticar os mandamentos de Deus, e isto quem nos explica melhor é o profeta Ezequiel: "Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo, tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Dentro de vós meterei meu Espírito, fazendo que obedeçais as minhas leis e sigais e observais os meus preceitos"(Ez 36,26s).

o Em seguida, analise com os alunos os seguintes temas:

o "A lei do Espírito de vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte" (Rm 8,2).

o Enquanto o homem vive separado de Deus, parece-lhe um obstáculo para sua felicidade (Ex:

os Mandamentos parecem difíceis ou até impossíveis de se viver). O "homem velho" que há em nós vive até sem perceber numa revolta contra Deus, que parece querer o contrário de determinadas coisas que Ele deseja. Mas quando lhe vem o Espírito Santo, dá-se uma mudança em seu coração: O Espírito Santo atesta-lhe que Deus é verdadeiramente favorável e benigno, põe-lhe diante dos olhos tudo o que Deus foi capaz de fazer por ele, e o quanto a vontade de Deus é para o seu bem, pois Ele, que não poupou Seu próprio Filho em nosso favor, não é nosso inimigo, mas nosso aliado. E mais: faz-nos compreender que Seus Mandamentos nos foram dados para nosso bem, e que agora Deus não se limita mais a ordenar-lhe que façamos ou não algo, mas Ele mesmo faz conosco e em nós. Esta é a Nova Lei de que S. Paulo fala em Rom 8. Ele que havia sido fariseu, era profundo conhecedor da Lei. Na Epístola aos Romanos ele fala exaustivamente que a Lei (Torá) não tem poder de salvar, pois é "letra morta", isto é, não tem poder como mera palavra, de salvar o homem, pois ignora a salvação de Jesus, que é o que dá sentido e poder a toda a Lei e os Evangelhos. O

13 Sto. Agostinho, De Spir. litt. 16, 28; CSEL 60, 182.

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Poder da Palavra de Deus vem da morte e ressurreição de Cristo que dá a vida e sentido à Lei. Assim, os judeus que não reconheceram Cristo viviam desta "letra morta" ou "lei do pecado e da morte", não no sentido de que esta lei mate, mas no sentido de que ela não tem o poder de dar a vida, uma vez que a vida vem pela morte e ressurreição de Jesus, que enviou o Seu Espírito para explicar a Lei, dar a vida à Lei, testemunhar a Lei em Jesus (cf. Jo 14 e 16).

o Rom 8,2-5 - a lei do Espírito de Vida - a mentalidade nova do Evangelho, com o poder salvífico

da morte de Jesus e o testemunho do Espírito Santo. o - A lei do pecado e da morte - a Torá, cujo fundamento está embasado em exigências legais e

morais boas, mas não tem por fundamento a única coisa que pode salvar do pecado: a morte de Jesus. A lei exterior, só confere o conhecimento do pecado (cf. Rom 3,20), mas não o elimina, não dá a vida, não modifica a situação interior, não influi no coração (cf. Gal 3,21).

o Daí podemos concluir que mesmo hoje podemos viver a religião como "letra morta" se

resumirmos nossa prática `a obediência de leis morais sem um encontro pessoal com Jesus, sem uma vivência amorosa da Palavra com base na ação do Espírito de Deus. O pecado fundamental, que é o egoísmo, "o amor de si mesmo levado até ao ódio de Deus" 14não pode ser apagado apenas pela observância da lei, mas somente com a redenção feita por Cristo.

o - A salvação era impossível à Lei (v. 3), pois a carne a tornava impotente. Embora a Lei tenha

sido inspirada por Deus, ela não contém em si a salvação, pois a Lei não testemunha a salvação. Somente o Espírito Santo testemunha a salvação, que é impossível à carne e é possível somente ao próprio Deus, que a imprime em nossos corações pelo Espírito Santo.

o - Deus condenou o pecado na carne (v. 3) ao enviar Seu próprio Filho numa carne

SEMELHANTE à do pecado, isto é, semelhante à nossa. Jesus tem duas naturezas (humana e divina), mas é uma só Pessoa (divina). Daí somente a Ele ser possível vencer o pecado na carne (por sua natureza e pessoa divinas) e pagar com sua morte o resgate por todo homem.

o - Com a morte e ressurreição de Jesus e o envio do Espírito Santo, a santidade (justiça) que a

Lei de Moisés prescrevia (mas não tinha poder de realizar) foi realizada nos que conhecem e aceitam Jesus e a sua salvação. É o Espírito que imprime a Lei no coração do homem segundo a profecia de Ezequiel (Ez 11,19-20 + 36,26s) e o faz viver não mais segundo a mentalidade da carne, mas segundo o poder do Espírito que o santifica. Jesus arrancou na cruz todo rancor, toda a inimizade e ressentimento contra Deus. Libertou-nos da morte e nos concedeu a "vida", isto é, o seu amor pelo Pai, a sua obediência, o seu novo relacionamento com Deus e o seu "espírito de filho" 15

o Rom 8,5-8 - a chave para o entendimento destes versículos é o versículo 8, que significa:

somente podem agradar a Deus os que vivem segundo o Espírito de Deus, que revela a vontade de Deus, a verdade, que explica as Escrituras, que revela o que é a justiça e o julgamento (Jo 16), que habita em nós e nos impulsiona à santidade. A santidade não é o resultado de nosso esforço moral nem de qualquer esforço de boa vontade ou de força de vontade humana. A santidade é a docilidade e a correspondência ao trabalho de Deus em nossas almas através do Seu Santo Espírito. A carne não se submete à lei de Deus, sua aspiração é a morte, enquanto que o Espírito Santo faz nosso espírito submeter-se à lei do amor a Deus, ama o que é espiritual e aspira à vida.

o Rom 8,9-11 - Analise versículo por versículo deste texto com seus alunos. Eis o tema principal

de cada versículo: o - Versículo 9 - só pertence a Jesus quem tem o Seu Espírito Santo, que nos é dado no

Batismo. Assim, os batizados deveriam viver segundo o Espírito (em obediência a Deus, em amor a Deus acima de todas as coisas) e não segundo a carne, como infelizmente constatamos. É o fato de sermos batizados mas optarmos por viver segundo a carne que faz com que não nos diferenciemos dos pagãos, mas vivamos muitas vezes como "ateus práticos". Se o Espírito Santo habita em nós e nós damos espaço para que Ele haja e faça a Sua obra de santificação, vivemos segundo o Espírito e pertencemos a Jesus.

14 Sto. Agostinho - De civ. Dei, XIV, 28 15 cf. CANTALAMESSA Raniero, A vida sob o senhorio de Cristo, pág. 139.

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o - Versículo 10 - mesmo vivendo ainda "neste mundo" - na carne - podemos viver como filhos de Deus, no poder do Espírito Santo, na santidade e obediência amorosa a Deus, pois o Espírito Santo habita em nós e vive em virtude da salvação de Jesus.

o - Versículo 11 - o Espírito Santo que ressuscitou Jesus dos mortos nos ressuscitará dos mortos

um dia e HOJE nos dá vida de ressuscitado, de renascidos no Espírito (Jo 3).

• Conseqüências:

• Agora o homem conhece a Deus por Ele;

• Agora o homem sabe que Sua vontade é a melhor;

• Agora o homem sabe que por si mesmo é fraco e necessita de Deus;

• Agora o homem ama a lei de Deus e anseia por ela. o Romanos 8,12-17 - nada devemos à carne para vivermos segundo a carne (ver Gal. 5,16-25).

Ao Espírito, porém, devemos a vida de Cristo impressa em nossos corações. Assim, devemos viver segundo o Espírito Santo de Deus, produzindo os "frutos do Espírito" (cf. Gal. 5). Assim vivem os filhos de Deus: no Espírito e por Ele é isto que os diferencia do restante do mundo, que tende a viver segundo a carne e seus apetites.

o Versículos 15-17 - espírito de escravidão - o espírito que regia a Lei, pois tratava-se de uma

série de prescrições morais (mais de 600) que, no entanto, não tinha apoio na salvação, como já dissemos. Assim, a Lei de Moisés torna-se, segundo o próprio Jesus (Mt 11,28), um "fardo", pois escraviza à letra morta.

o Viver no temor - viver no temor da lei e das punições que ela trazia implícitas para os

que não a cumprisse (cf. Lv 26,3-25) e não na obediência amorosa pelo poder do Espírito Santo.

o Espírito de adoção - pela morte e ressurreição de Jesus, e pelo nosso batismo (que

nos mergulha nesta morte e ressurreição) nos tornamos, de fato, filhos de Deus. Assim, somente por ação do Espírito Santo poderemos clamar "Abba! Pai!" como Jesus clamou tantas vezes. E o Espírito Santo que nos convence (dá testemunho) de que, na verdade, somos filhos e herdeiros de Deus, com todos os direitos que um filho de Deus pode ter.

o Co-herdeiros de Cristo - com Cristo, por Cristo e em Cristo, herdamos o Reino dos

Céus. Porém, esta herança vem de nos fazermos um com Cristo, como hóstias vivas oferecidas a Deus, vivendo por Cristo e em Cristo, mortificando as obras da carne (vivendo pelo Espírito e não pela carne), fazendo com que o sentido de nossa vida seja viver tudo em Cristo pelo Espírito Santo de Deus. O sentido da palavra "soframos" aqui não é o de buscar o sofrimento, mas o de unir a própria vida à de Cristo, ou melhor, de voluntariamente aderir à vida de Cristo que, por nosso batismo, já é inerente à nossa.

o Deus é nosso Pai, e não somos obrigados a viver segundo a mentalidade do mundo, mas

segundo a mentalidade do nosso Pai. Pelo poder do Espírito Santo, devemos perder cada dia mais a afinidade com as más obras e adquirir cada dia mais a afinidade com o modo de ser de Jesus, pois somos filhos do mesmo Pai.

o Romanos 8,18-25 - o versículo de sentido mais difícil é o 23, onde "adoção e redenção do

nosso corpo" significa a ressurreição da carne, uma vez que, em espírito fomos adotados já nesta vida com Jesus, pelo poder do Espírito Santo.

o Romanos 8,26-30 - devemos estar firmes na esperança de que Aquele que começou em nós

esta obra há de concluí-la, desde que tenha a nossa adesão e colaboração. Para isto mesmo o Espírito Santo vem em nosso socorro, na oração e na ação, a fim de nos conduzir ao verdadeiro e Sumo bem que é Deus.

o Romanos 8,31-39: O Espírito Santo faz esta obra de troca de valores e de esperança nAquele

que verdadeiramente pode salvar.

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• O ESPÍRITO SANTO E NÓS:

o "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão

dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos aqueles que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus" (Atos 2,38s).

o A intenção de Deus é conceder o Seu Espírito não só sobre algumas pessoas escolhidas, mas

sobre todos os homens, para continuar "no Espírito" a obra de Jesus. É o Espírito que nos assiste, nos conforta, nos fortalece, interioriza nossa fé, defende-nos e nos sustenta nas perseguições, converte-nos em arautos valorosos e fiéis. É o Espírito Santo que nos santifica, purifica-nos, e nos faz novas criaturas.

o “No Antigo Testamento, fala-se do Espírito Santo como sendo o sopro de Deus que cria e dá

vida, que pousa sobre certas pessoas, investindo-as da sua força e dotando-as de poderes extraordinários para combater, governar ou profetizar”16, tudo em vista do bem comum do povo de Deus. Mas é especialmente através dos profetas, principalmente Jeremias e Ezequiel, que deixamos de observar esta ação pública e exterior do Espírito Santo, para receber a promessa de uma ação interior deste no coração de cada homem.

o Sabemos que desde o pecado original todo homem nasce culpado diante de Deus, e separado

dEle pela falta daquela graça primeira, capaz de unir o homem a Deus, mas que o primeiro homem perdeu, e por isto não pôde transmitir. Mas sabemos também que Deus, na Sua infinita Misericórdia prepara para nós a vinda de Seu Filho, para assumir a natureza humana e nossa culpa, obedecendo a Deus até Sua morte de Cruz, e retornando ao Pai, para nos enviar o Espírito Santo.

o Antes que tudo isto acontecesse, Deus já vinha preparando o mundo para receber o Espírito

Santo, que depois da Morte e Ressurreição de Jesus viria gravar Sua vontade no coração do homem e ao mesmo tempo capacitar o homem a cumpri-la, e assim alcançar a Salvação e a Santificação, a Graça nesta vida, e a Glória na vida futura (alguns passos desta preparação: preparação de um povo: Gen 12,1-3; promessa de Aliança: Gen 17,1-8).

o A raça humana, que um dia conhecera o bem para a qual foi criada, se desviara, e agora

precisava reconhecer a Lei divina que rege seu caminho para o Pai. Por isto Deus começou por escrever, pelo Espírito, aqui intitulado "dedo de Deus", a lei nas tábuas de Pedra (ver Ex 31 todo, especialmente o versículo 18), para que este mesmo Espírito, após o Sacrifício de Jesus, viria para "escrever" a lei no coração do homem.

o Deus promete isto através dos Profetas, especialmente Jeremias 31,33 e Ezequiel 36,26-27. O

Espírito Santo viria colocar a Lei divina dentro do coração do homem e capacitá-lo a vivê-la. E foi o que aconteceu em Pentecostes. É o que acontece com cada um de nós que recebe o Espírito Santo no Batismo.

o “O Espírito Santo que, no Pentecostes, foi efundido sobre a Igreja, provém da Páscoa de

Cristo, é um Espírito pascal. . É o sopro do Ressuscitado"(...). Jesus, sobre a Cruz, "soprou" (cf. Jo 19,30) e isto, na linguagem de João, tem dois significados:

o Um natural = deu o último suspiro, morreu;

o Um místico = emitiu o Espírito.

o Para João, o último suspiro de Jesus foi o primeiro respiro da Igreja; a Igreja simbolizada pelos

sacramentos do batismo e da Eucaristia (a água e o sangue), nasce da morte de Cristo. Este significado místico é confirmado pouco depois quando, na tarde da Páscoa, no cenáculo, o Ressuscitado "sopra" sobre os discípulos e diz: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20,22). 17

o O Espírito Santo vem então ao nosso coração e começa a realizar no nosso íntimo toda a obra

de nossa Salvação, e vai progressivamente nos santificando:

16 CANTALAMESSA Raniero, A vida sob o senhorio de Cristo, pág. 138 17 idem

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o Através da Sua presença, que é Trina (quando nos vem o Espírito Santo, vem-nos o Pai e o Filho, já que os três são inseparáveis).

o Através das virtudes, dons e frutos que O acompanham.

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Sexta Aula

Os Dons e carismas do Espírito Santo

ROTEIRO DO CONTEÚDO:

1. Papel dos dons do Espírito Santo na vida espiritual 2. Dom do temor do Senhor 3. Dom da Piedade 4. Dom da Fortaleza ou Espírito de Fortaleza; 5. Dom da Prudência ou Espírito de Conselho; 6. Dom de Ciência ou Espírito de Ciência; 7. Dom do Entendimento ou Espírito de Inteligência; 8. Dom da Sabedoria ou Espírito de Sabedoria; 9. O Espírito Santo unge os batizados com a mesma unção espiritual de Jesus; 10. Os carismas são dados para o bem comum; 11. Dom de Ciência ou Palavra de Ciência 12. Dom de Sabedoria ou Palavra de Sabedoria 13. Dom de Ciência ou Palavra de Ciência 14. Dom de Sabedoria ou Palavra de Sabedoria 15. Dom de línguas; 16. Dom de interpretação das línguas; 17. Dom de Profecia ou Palavra de Profecia 18. Dom Carismático da Fé 19. Dom dos Milagres 20. Dom das Curas 21. Dom do Discernimento dos Espíritos

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DESENVOLVIMENTO DO TEMA

OS DONS INFUSOS DO ESPÍRITO SANTO

• PAPEL DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA ESPIRITUAL E CRISTÃ. o Toda pessoa humana ao ser batizada recebe além da habitação de Deus na sua alma, virtudes

(Cf. I Cor 13,3; Sb 8,7), dons infusos ou de santificação (Is 11,1-2) e dons efusos ou carismáticos (I Cor 12,4-11). Com o batismo, o cristão nasce para a vida em Cristo, que pela intervenção do Espírito Santo o justifica e o renova em todo o seu ser, formando nele um filho de Deus. Os dons infusos ou de santificação são instrumentos poderosos de Deus para a construção da santidade em nossas vidas e os dons efusos ou carismáticos são instrumentos poderosos que nos capacitam a ser servos competentes e eficientes. Mas, para que isto aconteça, precisamos nos abrir à sua atividade, e à sua ação, tanto num caso como no outro.

o Os dons infusos estão profundamente ligados às mais elevadas operações da vida espiritual,

isto é, eles realizam no homem uma atividade deiforme que consiste em revestir as almas dos "hábitos da Trindade", com o desaparecimento do "eu" para que só Deus tome as iniciativas.

o Os dons infusos ou de santificação são o Temor de Deus, dom da Piedade, dom de Fortaleza

ou Espírito de Fortaleza ou ainda Coragem, dom da Prudência ou Espírito de Conselho, dom de Ciência ou Espírito de ciência, dom do Entendimento ou Espírito de inteligência e dom de sabedoria ou Espírito de Sabedoria. 18

• DOM DO TEMOR DO SENHOR o A Sagrada Escritura nos diz que o temor de Deus é o princípio da Sabedoria (Prov. 1,7), pois

só poderemos possuir a sabedoria divina se estivermos unidos tão estreitamente a Deus que nada possa nos separar dEle. Este dom consiste em um temor filial da alma que receia, rejeita, tem horror de causar uma ofensa ao Pai infinitamente bom, digno de toda fidelidade, quer dizer, consiste num horror ao pecado, que modera os ímpetos desordenados da nossa concupiscência, e nos impede de desgostar a Deus, afastando, com todas as forças, tudo quanto poderia desagradar a Deus. Portanto, este dom difere totalmente do temor mundano, que é o medo de desgostar os homens; do temor de pena, que é o medo de um mal terreno; do temor servil, que é o medo do castigo (este, muito embora impeça de pecar, não provém do amor).

o O Espírito de Temor conserva a alma na humildade que guarda a caridade, perfeita, e na

temperança, que modera os prazeres sensíveis, pois a este dom está unida a Bem-Aventurança dos "pobres de espírito", que concede à alma uma perfeita docilidade ao Espírito Santo. "Os pobres de espírito" são aqueles que, desprendidos de tudo, só consideram a Santíssima Trindade como a única riqueza e só a ela ambicionam. Fora da Santíssima Trindade consideram tudo nada: nada nas criaturas, nada na memória e nos sentidos, nada nos bens espirituais e materiais, nada na inteligência, na vontade, no íntimo da alma, a não ser a presença da Trindade santa.

o Sob a ação deste Espírito de Temor a alma, livre de todo apego, de todo amor estranho a

Deus, mergulha no seu nada, na sua miséria, reconhece que é pó, esvazia-se de si mesma, teme o menor pecado, a menor mancha, a menor imperfeição, o menor apoio na criatura. Experimenta a liberdade proporcionada pela pobreza, deseja apenas caminhar "só com o Só". O Espírito Santo impulsiona a alma a desapegar-se de tudo e a refugiar-se somente em Deus, longe de todas as coisas criadas.19

o Alguns dos frutos alcançados através do dom do Temor do Senhor são:

� O reconhecimento do próprio nada e o vivo reconhecimento da grandeza, da

majestade de Deus, o que leva ao horror a tudo o que ofenda sua infinita majestade;

� Uma viva e profunda contrição das menores faltas cometidas, porque reconhece-se a suma gravidade por terem ofendido a um Deus que é infinito e infinitamente bom, o

18 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 192-193 19 cf. idem, 201-202

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que faz brotar um desejo ardente e sincero de reparar estas faltas, através de atos de penitência e de amor.

� Um profundo empenho e um cuidado incansável de evitar as ocasiões de pecado.

• DOM DA PIEDADE

o O dom da Piedade produz em nós um amor filial para com Deus, adorando-O com amor

sobrenatural e santo fervor, e um amor verdadeiro para com os irmãos, seja quem for, e para com as coisas divinas.20

o O Espírito de Deus torna a alma mais consciente da paternidade divina e da graça de adoção,

o que vivifica todo o seu culto para com Deus, toda a sua oração é cheia de confiança, de intimidade, vai para Deus sem constrangimento, sem se deixar manipular por métodos rígidos e complicados, que poderiam paralisar os impulsos do coração de filho. Todos os seus movimentos são dirigidos a Deus como a um pai ternamente amado. A sua oração é um diálogo aberto, sincero, confiante de um filho para seu pai, longe de todo comércio interesseiro que embaraça tantas vidas de oração, cujo primeiro objetivo, ao se dirigirem a Deus, parece ser exclusivamente para mendigar socorros, graças. Este dom faz com que a Trindade seja para nós uma morada, lar, casa paterna, donde não queremos mais sair. Sentimos uma atmosfera familiar, como se estivéssemos inteiramente em casa.

o O dom da piedade conduz a nossa oração em primeiro lugar para o silêncio e a adoração, e

faz-nos pairar acima de toda consideração interesseira, acima de toda necessidade ou benefícios, faz-nos olhar em primeiro lugar para o autor das graças, dos benefícios, das consolações. Isto não quer dizer que não façamos orações de súplica, de perdão, de intercessão, mas em nossa oração está em primeiro lugar o louvor e a adoração. É o puro Espírito de Jesus, que veio ao mundo, antes de tudo, para congregar em torno de si os verdadeiros adoradores, tais como o Pai procura (Jo 4,26).

o O dom da Piedade nos eleva acima de todos os motivos da bondade divina para com o

homem, nos faz só considerar Deus em Si mesmo e o mistério insondável das infinitas perfeições da essência divina no seio da Trindade. Este dom nos leva a penetrar nas mais íntimas profundezas da Divindade; perscrutar as riquezas mais ocultas da Natureza incriada. O motivo do dom da Piedade é a própria Santíssima Trindade, por isto leva a alma a adorar Deus por Ele mesmo e porque é Deus, não mais pelos seus benefícios, mas pela sua majestade, exclusivamente pela grandeza de Deus, pela própria Excelência Incriada, infinitamente superior a todos os dons. É sob a moção especial do dom da Piedade que a Igreja da terra canta o glória, todos os dias na Missa e impulsiona o seu olhar contemplativo às perfeições divinas. É a adoração de um amor admirado diante da beleza, da força, da grandeza imensa de Deus. Consegue perceber que Ele possui em Si toda a felicidade, toda a glória, e assim, esquece-se de si mesmo, perde-se de vista e só consegue olhar para Ele.

o Este dom também nos leva a olhar os outros como irmãos e produz em nós um desejo

profundo de servi-los, de nos dar generosamente a eles. Precisamos crescer em todos os dons e aprofundar-nos na vivência concreta. Num primeiro momento, a pessoa se comunica com Deus e com os irmãos, em seguida essa comunicação passa a ser mais generosa, dando-lhes tudo o que é necessário, para depois ir além de lhes dar o necessário, dá-se a si mesma, para finalmente entregar-se sem reservas, em dar tudo e em dar-se a si mesmo.21

o Alguns dos frutos alcançados pelo dom da piedade são:

� Confiança ilimitada em Deus e abandono nas suas mãos; � Fraternidade; � Capacidade de se santificar alegremente dando-se a si mesmo sem limites ( II Cor

12,15).

• DOM DA FORTALEZA OU ESPÍRITO DE FORTALEZA

20 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, p. 45 21 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 207-209

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o O dom da Fortaleza é um dom de santificação que imprime na alma um impulso, uma força que lhe permite suportar com paciência e alegria, sem murmuração, por amor a Deus, as maiores dificuldades e tribulações, todas as crucifixões da vida e se necessário empreender ações extraordinárias ou atos sobrenaturais heróicos: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fil 4,13); "Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força" (II Cor 12,9).

o Todos nós passamos por momentos de tribulações, de sofrimentos, como doenças, perda de

familiares queridos, desemprego, fracassos em empreendimentos. Precisamos do dom da fortaleza para podermos suportar e superar algo que humanamente é impossível de superarmos. É pelo Senhor em nós que conseguimos vencer toda e qualquer adversidade e desafios do dia a dia, não só as grandes e mais difíceis adversidades, mas também os pequenos desentendimentos, as alfinetadas da vida comum.

o O dom da fortaleza nos faz cumprir nosso dever, praticar mortificações voluntárias, não nos

esquivar das provações, sem nos queixar, sem pedir ao Senhor que nos tire a cruz, mas nos dê forças para carregá-la. O Senhor nos concede através deste dom a força divina para se viver o calvário, a cruz; dá-nos a consciência do verdadeiro sentido da vida no meio da dor; nos faz reconhecer que Deus está em nós e que somos possuídos por Seu amor ao recebermos não só com paciência, mas com gratidão, o que nos fere e faz sofrer. Dá-nos a honra de partilhar os sofrimentos de nosso Esposo crucificado e ir à paixão com Ele, para com Ele sermos redentores.22 Ir. Elizabete da Trindade assim nos diz: "Há um Ser chamado Amor, que deseja viver em sociedade conosco. Ele está ao meu lado, fazendo-me companhia, ajudando-me a sofrer, ensinando-me a sobrepujar a dor para repousar nele... Como isto transforma tudo!" 23

o Alguns dos frutos alcançados pelo dom da Fortaleza são:

� Uma superação constante de nós mesmos em meio aos desafios, às tentações, às provações e os acontecimentos difíceis;

� Uma paz inalterável, sobrenatural; � A disposição firme para colaborar com o que é necessário para a salvação de nossa

alma;

• DOM DA PRUDÊNCIA OU ESPÍRITO DE CONSELHO: o O Espírito de Conselho é um dom de santificação que nos faz viver sob o a orientação do

Espírito. O que falar? O que fazer? É tempo de calar ou de falar? É tempo de plantar ou arrancar? A resposta certa para estas perguntas com que muitas vezes nos deparamos nos é dada pelo dom de Conselho, que é o dom das luzes que nos orientam certamente. Desta forma é por excelência o dom de governar, pois é muito importante para aqueles que são constituídos em autoridade, concedendo-lhes um governo prudente e sobrenatural, que se preocupa antes de tudo com o bem espiritual das almas e da glória de Deus (Pai, Educadores, Coordenadores, Diretores espirituais, formadores...). No entanto não deixa de ser necessário a todas as almas para a perfeita orientação da vida de acordo com os planos de Deus. A esses ele dá uma docilidade vigilante em se submeterem a todos os desejos do Senhor manifestados por seus representantes legítimos.

o Pelo dom do Conselho, o Espírito Santo nos fala ao coração e nos faz compreender o que

devemos falar e agir sem timidez ou incerteza, mas com toda a confiança, com a audácia dos santos. É através deste dom que são ordenadas as ações que provém dos demais dons de santificação. Ele nos faz ter a palavra decisiva que nos deve orientar para a verdadeira união com Deus, e para a vida daqueles a quem nós aconselhamos. Porém, retira de nós algum vestígio do pedantismo de quem pretendesse dar lições de moral; ao contrário, nos concede grande espírito de discrição, tato particular, verdadeira compreensão das situações e discernimentos dos meios mais rápidos para se chegar ao ápice da união divina.24

o Alguns dos frutos alcançados pelo dom de Conselho:

� Conhecer com segurança o que é da vontade de Deus para sua vida e dos seus

irmãos;

22 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, pp. 38-39 23 C 327, in. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 206 24 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 211

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� Conhecer os meios de agradar a Deus, ultrapassando o que é obrigatório;

� Deixar-se guiar pela mão de Deus, sem resistência, para o caminho de perfeição a que

Deus o chamou.25

• DOM DE CIÊNCIA OU ESPÍRITO DE CIÊNCIA o Os dons de Ciência, Inteligência e Sabedoria nos fornecem a chave da vida espiritual, da vida

de intimidade com Deus, de união com Deus. Através do dom de Ciência que não é um conhecimento intelectual, nós conhecemos as coisas criadas nas suas relações com o Criador.

o Explicando melhor, o dom de Ciência nos faz reconhecer que as coisas criadas são vãs em si

mesmas. Descobrimos o "nada" da criatura e o "Tudo" de Deus, experimentamos o vazio da criatura, do seu nada, porque nenhuma pode preencher o nosso coração, e ao mesmo tempo, descobrimos os vestígios de Deus na criação, reconhecemos que nas coisas criadas há uma centelha de Deus. "A ciência nos arranca a tudo e a nós mesmos para lançar-nos em Deus e vivermos dEle".26 O dom da Ciência nos leva a contemplar a glória de Deus em cada coisa criada. Não contemplamos as criaturas e as coisas criadas por si mesmas, mas porque nelas vemos a glória de Deus. Tudo canta a glória de Deus: o homem, as flores, a relva, as árvores, as montanhas, os vales, os animais, os rios, o mar, as cachoeiras, o vento, as nuvens, o sol, a lua, o dia, e a noite. Vemos de maneira nova as criaturas, percebendo nelas a manifestação da glória de Deus.

o Este dom nos faz perder o fascínio pelas coisas materiais, pela honra, glória, prazer, poder, o

amor das pessoas... porque percebemos que tudo é nada diante do tudo que é Deus. Neste sentido passamos a ver o sofrimento e a humilhação de maneira nova, eles não ocorrem em vão, mas nos assemelham a Jesus Cristo.27

o Alguns dos frutos alcançados pelo dom de Ciência:

� O conhecimento profundo e perfeito das coisas que nos cercam, sabemos distinguir o

que é vão do que realmente tem valor;

� A santa liberdade dos filhos de Deus, que desprezam de maneira definitiva tudo que é próprio do mundo;

� Ver as criaturas como obras do Criador;

� A Verdadeira humildade, pois nos conscientiza de que o sofrimento e a humilhação

nos assemelham a Jesus Cristo.28

• DOM DO ENTENDIMENTO OU ESPÍRITO DE INTELIGÊNCIA: o “O dom do entendimento é um dom de santificação que nos dá uma compreensão profunda

das verdades reveladas, sem contudo nos revelar o seu mistério”.29 O seu efeito essencial “é fazer-nos penetrar o mais possível no íntimo das verdades sobrenaturais, às quais a fé se contenta em aderir só pelo testemunho exterior”.30

o O plano de Deus, Sua vontade, ou mesmo uma realidade divina podem estar escondidos por

trás de acidentes, palavras, figuras, coisas sensíveis, nos vestígios imperceptíveis, nos menores acontecimentos da vida. Porém a alma atenta ao Espírito Santo, descobre de relance, sem o trabalho da inteligência humana, todo o plano da providência a seu respeito e a respeito de seus irmãos.

o Este dom produz em nós efeitos maravilhosos, pela penetração das verdades reveladas. Por

exemplo, crer em Jesus vivo e real nas espécies eucarísticas.

25 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, pp. 52-53 26 Ir. Elizabete da Trindade, C184 27 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, pp. 212-214 28 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, pp. 56-58 29 idem, p.61 30 PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, p. 215

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o É importante saber que as manifestações do Espírito são diversas, de acordo com a pessoas e

as circunstâncias. A uns, ele pode dar a compreensão da ação divina nas almas; a outros o sentido da Redenção, da providência; e a outros o conhecimento do mistério de Maria, da unidade da Trindade, etc..

o Através deste dom também se compreende o sentido das Escrituras. Basta às vezes uma

palavra da Sagrada Escritura para nos dar "a luz da vida"(Jo 8,12). Por esse dom descobre-se o sentido das comparações: "Fomos, pois sepultados com ele (Jesus) na sua morte pelo batismo, para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova" (Rm 6,4); passamos a ver nos irmãos a pessoa de Jesus Cristo; constatamos a graça de Deus nos Sacramentos; passamos a nos conhecer profundamente e a reconhecer a profundidade de nossa miséria.31

o Alguns dos frutos alcançados pelo dom do entendimento são:

� A vida de contemplação, que é o olhar profundo a Deus, e às coisas divinas;

� Descoberta da providência divina nos acontecimentos humanos;

� Um conhecimento profundo de nós mesmos.32

• O DOM DA SABEDORIA OU ESPÍRITO DE SABEDORIA o O dom da Sabedoria é um dom de santificação que nos faz ter um conhecimento experimental

de Deus, das suas criaturas, das relações entre Deus e as criaturas, das relações das criaturas entre elas. Não é só ter o conhecimento de tudo isto, que nos é permitido pelo dom de Inteligência, mas é nos fazer experimentar este conhecimento e saboreá-lo. Nós podemos assim "gozar de Deus"33. Pelo dom da sabedoria, apreciamos, saboreamos, gostamos de tudo o que Deus fez, faz e fará por nós e, ao mesmo tempo, fazemos o que é bom, ou seja, amamos a Deus e ao próximo.

o Como experimentamos as verdades reveladas e a presença amorosa de Deus através do dom

da Sabedoria, é fortalecida em nós a fé, a esperança e a caridade, as virtudes infusas e as virtudes cardeais são praticadas com deleite. Este conhecimento nasce da experiência íntima com Deus.34

o Alguns dos frutos alcançados pelo dom da Sabedoria são:

� Um juízo reto para julgar as coisas e regular as nossas ações;

� Um gosto sobrenatural por tudo que se refere a Deus;

� O conhecimento de experimentar paz e alegrias no sofrimento, que não é mais

rejeitado, mas até desejado, conforme colabore para a união com Deus;

� Uma vida celestial onde se olha de forma nova para as coisas da terra e se vê tudo relacionado a Deus.

• Concebemos a Trindade como família ou comunhão originária que realiza e goza eternamente o mistério do amor. Nessa família existe apenas uma substância, um só coração e uma só alma, como se dizia dos primeiros membros da Igreja (At 4,32): cada Pessoa dá aos demais tudo o que possui. Dessa forma em mistério de unidade, as três realizam o encontro de amor originário: Deus é processo de generosidade ou geração que brota do Pai: Deus é acolhida ou filiação que descobrimos no Filho; finalmente, Deus é unidade e comunhão no Espírito Santo.

31 cf. idem, p. 216-217 32 cf. AMARAL, Luciano do, Os dons de santificação do Espírito, pp. 61-63 33 Sto Tomás, I, q. 43, a. 3,1 34 cf. PHILIPON, M. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade, p. 220-222

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• A caridade deve ser a raiz e o fundamento de tudo. Não adianta exercitar os dons de serviço (carismáticos) se for não for por amor, pois estas obras não terão valor de vida eterna, pois tudo passará, somente a caridade ficará. Todas as nossas obras passarão, mas o amor que nos impulsionou a fazer cada uma delas, ficará eternamente, como já foi dito: “A caridade jamais passará” (I Cor 13,8).

• OS CARISMAS SÃO DADOS PARA O BEM COMUM o Tudo e todas as riquezas derramadas tem como finalidade o bem comum. Assim nos exorta o

Catecismo da Igreja Católica; "Tudo tenham em comum" (At 4,32). Tudo o que possui o verdadeiro cristão deve considerá-lo como um bem em comum e deve estar disposto a ser diligente para socorrer o necessitado e a miséria do próximo. O cristão é um administrador dos bens do Senhor (Lc. 16,1-3). Na comunhão da Igreja o Espírito Santo "reparte graças especiais entre os fiéis" para a edificação da Igreja. Pois bem, "a cada um é dado a manifestação do Espírito para proveito comum" (I Cor 12,7), e ajudar o povo de Deus ao alcançar a santidade.35

o Os carismas do Espírito Santo, concedidos a todos por ocasião do Batismo e intensificados na

Crisma, também são chamados de dons carismáticos ou de dons de serviço. O Espírito Santo nos capacita com estes dons para servirmos à Igreja de Cristo, através dos irmãos. Os carismas são portanto, dons de poder para o serviço da comunidade cristã.

o Os carismas manifestam que Jesus está presente e age através do seu Espírito por meio de

nós ( Jo 14,18-19) e que nos capacita a cumprir o grande mandamento de Jesus: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura" (Mc 16,15). Os carismas são os sinais que acompanham e confirmam a nossa pregação. São sinais visíveis de poder e do amor de Deus.

o Sabemos que o Espírito "sopra onde quer" e "como quer", e que jamais poderemos limitar sua

ação. Somos plenamente conscientes que Ele pode ultrapassar os dons relacionados na própria palavra de Deus, pois Ele é uma fonte inesgotável de graças. Ele está sempre atento às necessidades de seu povo, para supri-las da forma mais plena, com intenção de aproximar cada vez mais o homem do seu Criador. No entanto, iremos restringir nossos estudos sobre os dons àqueles que São Paulo relaciona em sua primeira carta aos Coríntios: "Há diversidade de dons, mas um só é o Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos:. A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum. A um é dado pelo espírito uma palavra de sabedoria, a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo espírito; a outro a fé, pelo mesmo espírito; a outro, a graça de curar as doenças, no mesmo espírito; a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, por fim, a interpretação das línguas. mas um e o mesmo espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como lhe apraz (I Cor 12,4-11).

• DOM DE CIÊNCIA OU PALAVRA DE CIÊNCIA o A palavra de ciência é o dom através do qual o Senhor faz com que o homem entenda as

coisas da maneira como Ele as entende. Faz com que o homem penetre na raiz de cada acontecimento, fato, sentimento, situação, estado de espírito.

o O dom de ciência é um diagnóstico dado por Deus. Quando estamos com febre, nos dirigimo-

nos a um médico para saber a causa, uma vez que a febre não é doença propriamente dita, mas um sinal de que algo não vai bem. Através deste dom, Deus dá o diagnóstico de um fato, de uma situação, de um estado de espírito ... e do que Ele quiser revelar.36

o A palavra de ciência, assim como todos os outros dons espirituais, está sempre a serviço da

edificação do Reino de Deus, levando as pessoas à conversão, à consciência da cura que Deus realizou nelas, ao crescimento no amor e gratidão a Deus. Temos exemplo disto em Jo 4,7-26 - A Samaritana experimentou a misericórdia de Deus que a levou a arrepender-se e a converter-se, reconhecendo Jesus como Messias, além de levar muitos habitantes da Samaria conhecer Jesus pelo seu testemunho.

35 cf. Catecismo da Igreja Católica, 951ss 36 cf. FALVO. S. ,O despertar dos carismas, p. 202

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o Também a palavra de ciência denuncia e arrasa as obras do mal (cf. At 5,1-11), como também é canal para o ensino doutrinal. Neste caso esta revelação fez com que toda a comunidade compreendesse que o salário do pecado é a morte, e que cabia a Pedro a autoridade e o dever de zelar pela verdade e pela vivência da fé. Lc 7,36-47 - A palavra de ciência revela a Jesus o pensamento íntimo do fariseu, o que lhe trouxe assim a oportunidade de ensinar-lhe sobre a mentalidade do Reino dos Céus.

o A palavra de ciência é sinal de amor e salvação tanto para aquele que é instrumento de Deus

para os irmãos, como para aquele que é o objeto da revelação. o A palavra de ciência se manifesta através de um sentimento ou percepção da ação curativa de

Deus, de uma frase (Jo 4,50), de uma visão, de um sonho (Mt 1,18-25). o O dom da palavra de ciência revela uma ação que Deus já está fazendo (a cura), uma obra

que Deus acaba de fazer ou uma obra que Deus quer fazer, mas precisa da colaboração da pessoa ou uma situação ou através do poder e da misericórdia de Deus que cura o corpo e o coração.

o Esta revelação se manifesta a uma pessoa para sua vida pessoal, para a vida de outro irmão,

para vida de um grupo e está sempre a serviço de um outro dom: cura, palavra de sabedoria, profecia.

• O DOM DA SABEDORIA OU PALAVRA DE SABEDORIA o "A um é dada pelo Espírito uma palavra de Sabedoria" (I Cor 12,8).

o A palavra de sabedoria é um dom carismático do Espírito Santo, o dom gratuito de Deus, que

dá a graça ao homem, inspira o homem a saber como deve ser o seu comportamento em cada situação, em cada vez em que tem que resolver um fato ou um problema. Inspira o homem como agir e falar inteligentemente em situações concretas da sua vida ou de sua comunidade, levando-o a decidir acertadamente e de acordo com a vontade de Deus no dia a dia, no matrimônio, no trabalho, na educação dos filhos, nos relacionamentos com os irmãos e na sua vida cristã. É uma orientação de Deus sobre como se viver cristãmente (cf. Lc 18,18-30).

o A palavra de sabedoria é uma palavra, atitude ou ação que faz com que os acontecimentos

passem a decorrer segundo a vontade de Deus, ou ainda, que as pessoas percebam a verdade que antes não conheciam.

o Diante das situações desconcertantes:

� Como agir (I Rs 3,16-28);

� Como falar (Mt 22,21; Lc 12,11-12; Jo 8,7);

� Prepara o nosso coração para receber o ensinamento divino (Lc 12,13-21);

� Como fonte de ensinamento segundo a sabedoria de Deus (Mt 6,1-21);

� Nos faz testemunhar com sabedoria (At 26,28): Paulo diante do rei Agripa. o A palavra de sabedoria deve ser amplamente exercitada na oração pessoal e comunitária para

que transborde o poder de Deus em nossas vidas. o A palavra de sabedoria se manifesta também através de palavras da própria Escritura, por uma

palavra escrita, por uma visão, por um sentimento, por um sonho.

Os Carismas do Espírito Santo

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• DOM DE LÍNGUAS

o "Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos pedir, nem orar

com convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis (Rm 8,26). o O dom de línguas é um dom de oração. Este dom vem socorrer a nossa dificuldade de orar:

nós não sabemos "o que" nem "como" pedir a Deus ou o que dizer a Deus. Ele vem suprir nossa oração fraca e débil, vem nos fazer orar, mas orar segundo a vontade de Deus. O próprio Espírito Santo que habita em nós, ora em nós e por nós. Vem nos capacitar a orar de forma divina.

o Ainda que nós não entendamos os gemidos inefáveis com que o Espírito ora, canta e fala em

nós e através de nós, sentimos que algo nos toca profundamente, sentimos que o nosso coração e o nosso espírito estão em oração, o mais profundo do nosso ser comunga de maneira especial com Aquele que nos criou e ao qual pertencemos. No entanto, não deixamos de estar conscientes, sabemos perfeitamente o que estamos fazendo, pois oramos com a nossa língua e com a nossa vontade, por isso somos livres para começar e terminar quando queremos. Oramos naturalmente, da mesma forma que fazemos nossas orações mentais e vocais. A única diferença é que, quem realiza todo o trabalho é o Espírito Santo.

o - O dom de línguas nos coloca submissos e unidos a Deus em qualquer situação que

estejamos enfrentando, por isso nos faz vencer os momentos de sofrimento, nos faz orar como filhos, nos dá experiências de adoração a Deus, nos faz ultrapassar os momentos em que nada sentimos e nos leva a descansar nas mãos da divina providência.

� O dom de línguas é a porta para todos os outros dons carismáticos, porque abre todo o

ser do homem para a ação do Espírito Santo e para o crescimento da vida no Espírito.

� O dom de línguas é a primeira manifestação sensível e visível da presença do Espírito Santo (Atos 2,1-4; 10,46s; 19,6s).

� O dom de línguas nos une em torno de Cristo. É dom que promove a unidade entre os

cristãos, atraindo-os a Jesus Cristo e à Igreja (At 2,5-6). o O Espírito Santo de Deus, plenamente rico de graças, concede aos fiéis o dom de "cantar" em

línguas: "Cantarei com o Espírito" (I Cor 14,15), que significa que o Espírito Santo através do dom de línguas, utiliza-nos para elevarmos um canto ao nosso Deus, levando-nos a expressar-Lhe um louvor no Espírito a Deus. O Espírito nos capacita a glorificar o Senhor de maneira profunda, sincera e perfeita. O Senhor merece todo o nosso louvor e deseja que nós O louvemos, não porque Ele necessita do nosso louvor, mas porque necessitamos louvá-lO. Vem o Espírito em nosso auxílio, vem louvar em nós e por nós através de um hino de louvor. Nesse louvor no Espírito, unimo-nos aos anjos e santos que não cessam de no céu louvar o Senhor.

• DOM DE INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS

o "Maior é quem profetiza do que quem fala em línguas, a não ser que este as interprete, para

que a assembléia receba edificação" (I Cor 14,13)..."Por isso, quem fala em línguas, peça na oração o dom de as interpretar". (I Cor 14,13).

o O dom de línguas também se expressa através de "falar" em línguas, que significa proclamar

uma mensagem de Deus, numa linguagem desconhecida, e em Seu nome para uma assembléia através de línguas estranhas. Ao falarmos em línguas para os nossos irmãos, é necessário suplicarmos o dom de as interpretar, pois toda mensagem de Deus para o seu povo tem o objetivo de edificá-lo, e ao proferirmos palavras ininteligíveis, como se compreenderá o que dizemos? Seremos como quem fala ao vento. (cf. I Cor 14,9).

o "...a outros, por fim, a interpretação das línguas". ( I Cor 12,10). Algumas vezes, para o bem

dos que estão participando da oração e porque Deus deseja que eles compreendam o que se está orando ou proclamando em nome do Senhor, o Espírito concede que se compreenda o que está sendo dito. Esta compreensão se dá com "o coração", e não através de uma tradução

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conceitual e gramatical das palavras. Este carisma chama-se "carisma de interpretação das línguas". Notemos que não se chama de "tradução" das línguas!

o Este carisma pode ser dado à pessoa que está orando ou falando uma mensagem vinda de

Deus, a uma outra pessoa na assembléia ou a todas as pessoas que estão ouvindo como aconteceu em Pentecostes (Atos 2,5-11).

o Ele não se manifesta concomitantemente com as mensagens em línguas proferidas na

assembléia; ao término desta mensagem, silenciamos para que o Espírito conceda o dom da interpretação, sempre sendo vivido na ordem e no respeito e se não houver quem interprete, deve-se guardar silêncio, falando somente consigo e com Deus (I Cor 14,27-28). O dom de línguas e a interpretação das línguas são dons que se complementam reciprocamente: aquele que tem o dom de falar em línguas reze para ter o dom de interpretá-las (I Cor 14,13).

o O Senhor também pode nos revelar através do dom da interpretação das línguas o que o

Espírito está orando em nós, quando isto serve para nossa edificação.

• DOM DE PROFECIA OU PALAVRA DE PROFECIA o Deus se manifesta aos homens também através do dom da profecia na nossa oração pessoal

(Ex.: Abraão, Moisés, Davi), através da Igreja (documentos e pronunciamentos oficiais do Papa e daqueles a quem Ele delega poderes), através dos membros do grupo, nas nossas orações comunitárias e através de um irmão que ora por nós ou que nos esteja orientando espiritualmente.

o O dom da profecia pode se manifestar através de uma palavra, de um sentimento, em línguas,

que requer uma interpretação, de um canto, de uma visão (At 10,9-48), com o entendimento espiritual de um sonho (Num 12,6).

o Deus fala com os homens para que este cumpram a Sua vontade. Não adianta sermos apenas

ouvintes da palavra de Profecia, mas ao escutar a voz de Deus ter esmero em cumpri-la (At 18,5-11).

o São Paulo considera o dom da profecia superior a todos os outros dons, pois reconhece que

através deste dom, Deus fala claramente e de forma simples mas direta com o homem (I Cor 14,5).

� O dom da profecia é para todos os homens de boa vontade e de fé que querem

recebê-lo (I Cor 14,31).

� Apesar de não devermos desprezar as profecias, devemos passá-las pelo "crivo" do discernimento dos espíritos. É importante que as examinemos se são divinas, humanas, ou diabólicas (I Tel 5,21; Mt 7,15).

� Geralmente as profecias são ditas na primeira ou na segunda pessoa, pois o Senhor é

um Deus pessoal e nos falará diretamente: "Não temas", tu és o meu povo", "Eu sou o teu Deus".

� Também é importante que nos abramos para a confirmação da profecia através de

moções dadas a outros membros da comunidade. Deus pode se utilizar da própria Palavra, de visões, sentimentos ou palavras para confirmar a veracidade da profecia.

� O centro de toda a profecia é Jesus Cristo e o seu Evangelho, portanto as palavras

proféticas têm que estar de acordo com a palavra de Deus, com a palavra da Igreja e dirigida a glória de Deus e a salvação dos homens (Dt 13,2-4).

� Deus fala aos homens para edificar, exortar e consolar (I Cor 14,3), portanto as

profecias são de edificação, exortação e consolação.

• DOM CARISMÁTICO DA FÉ:

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o "A outro é dado pelo Espírito, a fé" (I Cor 12,9). o A fé deve ser vivida pelo cristão sob três aspectos fundamentais: a fé teologal ou doutrinal, a fé

virtude ou fruto do Espírito Santo e o dom carismático da fé. o Aqui iremos aprofundar o terceiro aspecto da fé, isto é, o dom carismático da fé.

o O dom carismático da fé acrescenta um dado novo e importante ao qual o homem vivência

através da fé teologal e da fé virtude: "O dom da fé (carismática) é o poder de Deus que nos move a uma confiança íntima de que Deus agirá. Essa confiança leva a uma oração convicta, a uma decisão, a uma firmeza ou algum outro ato que liberta a bênção de Deus”. 37

o Através da fé carismática o Espírito Santo nos dá a certeza de que Deus agirá, de que o poder

de Deus irá intervir em alguma situação da vida do homem. Pela fé carismática cremos que Deus opera hoje maravilhas em favor do seu povo. A fé move a manifestação do poder de Deus através do Espírito Santo.

o Em toda a Palavra de Deus encontramos vários episódios que descrevem a ação poderosa de

Deus movida pela fé: o Jesus derramou esta mesma fé carismática, especial certeza interior de que Ele age

poderosamente sobre os Apóstolos e consequentemente sobre todos os batizados. o Os Apóstolos realizaram grandes e inúmeros milagres porque foram dóceis à ação do Espírito

Santo através do dom da fé carismática (At 3,1-11; At 28,3-6). o O carisma da fé, portanto, é uma graça especial de Deus que nos faz agir em nome de Jesus

com toda a certeza de que Ele já confirma nossa ação e oração com o sinal que Lhe pedimos. É uma graça à qual devemos nos abrir e que devemos pedir a Deus.

• DOM DOS MILAGRES o "A um é dado pelo Espírito o dom de milagres" (I Cor 12,10).

o O dom de milagres é a ação do Espírito Santo que, para o bem de alguém, modifica o curso

normal da natureza: O milagre é uma intervenção clara, sensível e visível de Deus no decurso "ordinário" ou "normal" dos acontecimentos: curas instantâneas de doenças incuráveis, ressurreição dos mortos, fenômenos extraordinários da natureza. (Cf. At 3,4-11;At 4,30-31; At 5,12-15; At 5,16; At 6,8; At 8,13; At 9,31; At 9,33-35; At 9,40-42; At 13,9-12; At 14,10; At 19,11-12).

o É o poder de Deus interferindo em determinada situação em relação à natureza, à saúde e à

vida. São fenômenos sobrenaturais realizados por Deus, com a finalidade de que os homens conheçam o seu amor efetivos por eles, conheçam sua glória, o seu poder e se convertam. Através dos milagres, o homem tem uma experiência concreta do amor de Deus por ele, da sua presença concreta na sua vida, na vida dos seus irmãos e no mundo.

o Deus manifesta através da realização de um milagre que não está indiferente à vida do homem

e de todo o seu povo, que é um Deus que se inclina para o homem no momento oportuno e necessário para salvá-lo. É uma das maneiras de Deus manifestar a ação de sua divina providência, que está sempre pronta para resgatar o homem.

o O mundo atual necessita do exercício do dom de milagres, que não é algo do passado, pois

Deus deseja e continua a realizar suas obras extraordinárias no meio do seu povo, hoje. Se afirmarmos que milagres não acontecem, afirmamos que Jesus é alguém ultrapassado. Jesus é o mesmo de ontem, hoje e sempre, está vivo e ressuscitado! Precisamos estar abertos e disponíveis para prolongarmos as obras que Jesus deseja operar hoje.

37 VALLE, Pe. Isaac Isaías, Manifestação da presença do Espírito Santo

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o Devemos fazer distinção entre milagre e curas: O primeiro quando se relaciona com uma cura acontece quando se trata de uma cura que nenhuma ciência médica poderia conseguir, e que Deus realiza; o segundo caso acontece quando o Senhor acelera o processo de cura que se poderia conseguir através de um medicamento, de uma cirurgia, de repouso.

• DOM DAS CURAS o "A outro, a graça de curar as doenças no mesmo Espírito" (I Cor 12,9b).

o Jesus mostrou através da cura dos enfermos um sinal visível de que Ele é o salvador do

mundo. Mais que isso, desejou que fossem sinais da salvação e de reconhecimento da autoridade espiritual de seus discípulos. Jesus reúne seus discípulos e lhes confere o poder de curar as enfermidades, expulsar os espíritos do mal (Lc 9,1-2) e por fim, confere a Igreja, continuadora de Sua missão salvífica, poder e autoridade para pregar o Evangelho e batizar os que cressem. A todos os batizados que cressem, prometeu a salvação e a confirmação da fé através de sinais (Mc 16,17-18).

o O dom das curas se manifesta de três formas. Tomando-se por base as três dimensões do

homem: corpo, alma e espírito (I Tes 5,23), compreendemos que este mesmo homem pode ser atingido por enfermidades em suas três dimensões. Existem os males físicos, os males da alma ou males interiores, e existem os males espirituais. Se somos atingidos em qualquer área da nossa alma necessitamos de uma prece para cura interior. Se somos atingidos em nosso espírito, contaminando-nos com falsas doutrinas e apartando-nos da sã doutrina da salvação, precisamos de uma oração para cura espiritual, ou oração de libertação.

• DOM DO DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS o "A outro é dado pelo Espírito o discernimento dos espíritos" (I Cor 12,10).

o O dom do discernimento dos espíritos é uma graça que provém da presença do Espírito Santo

em nós. Este dom espiritual nos permite discernir, examinar, perceber e identificar em nós mesmos, nas outras pessoas, nas comunidades, nos ambientes e nos objetos o que é de Deus, o que é da natureza humana ou o que é do maligno.

o São João da Cruz nos ensina que nossa alma tem três grandes inimigos: o mundo, o demônio

e a nossa carne. Inimigos a fazer guerra e dificultar o caminho que a nossa alma deseja trilhar até Deus. É necessário, portanto, o exercício do dom do discernimento dos espíritos, que nos ajuda a vencer esses grandes inimigos, que tentam nos confundir na busca de vencer e viver a vontade de Deus. Este dom nos permite identificar qual espírito está impulsionando ou está influenciando uma ação, uma situação, algum desejo nosso, alguma decisão a tomar, algo que nos digam, ponham ou oferecem. Veja Mt 16,13-23.

o O dom do discernimento dos espíritos é muito importante na nossa vida cristã, pois nos levará

a distinguir a voz de Deus das outras vozes que tentam nos confundir. O próprio Jesus nos diz que as suas ovelhas conhecem a voz dos estranhos (Jo 10,4-5). As ovelhas de Jesus receberem uma iluminação divina que lhes revelam a verdadeira intenção dos sentimentos, palavras, desejos, planos, atitudes. Protege-nos da falsidade que há no mundo, orientando nossas vidas, nossas decisões para a verdade que vem do Senhor.

o Segundo as Escrituras, Davi que não entrava em nenhuma batalha sem antes perguntar ao

Senhor o que deveria fazer, deixa-se enganar e seduzir por sua própria carne e pela tentação do inimigo, cometendo não só adultério, como mentira e assassinato (II Sm 11). E São Paulo nos diz: "Quem está de pé, cuide para não cair" (I Cor 10,12). Santa Teresa D’Ávila nos diz que, quando oramos nos tornamos tão sensíveis ao discernimento dos espíritos que qualquer alfinetada, por menor que seja, é percebida e discernida por nós. Quando estamos em estado de pecado e sem oração tornamo-nos insensíveis ao discernimento dos espíritos e nos deixamos enganar facilmente por nossos desejos, ou pelo inimigo.

o É imprescindível termos uma vida sacramental, de oração, de louvor, uma vida de intimidade

com Deus e com sua Palavra, a fim de que o Espírito Santo possa agir em nós livremente,

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fazendo-nos discernir a origem de nossas intenções e ações. São Paulo nos exorta que "não nos conformemos com este mundo, mas transformemo-nos pela renovação do nosso espírito, para que possamos discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito" (Rm 12,2). Precisamos nos abrir, então, ao dom do discernimento dos espíritos para não nos deixamos arrastar pelas nossas paixões e pelas tentações do inimigo e assim livremente fazermos a vontade do Pai. Talvez, momentaneamente, uma atitude ou palavra nossa nos traga realização, alegria, mais logo percebemos quão vazia ficou a nossa alma ou a alma dos nossos irmãos, pois só a vontade de Deus pode nos levar à verdadeira alegria e realização de nossas vidas.

o Por isso é muito precioso ter discernimento com relação a todas as coisas que às vezes com

boa intenção e com desejo de nos agradarmos são apresentadas, e que no entanto podem não ser da vontade de Deus para nós. Este dom é precioso para todas as atividades da vida do homem. Ao orar por algum irmão é preciso discernir não só se seu problema vem de sua fraqueza ou do inimigo, mas também, de que tipo de problema emocional ou de que tipo de tentação ou opressão.

o O dom do discernimento dos espíritos resguarda nossas vidas pessoais e o nosso serviço aos

irmãos de toda influência do inimigo, “para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus artífices enganadores. Mas pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo (...) não persistindo em viver como pagãos, que andam à mercê de suas idéias frívolas, com o entendimento obscurecido e por sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantém-se afastado da obra de Deus. (Ef 4,11-18).

o Veja At 16,16-18. “O discernimento dos espíritos também protege o uso dos dons carismáticos.

Por ele os cristãos reconhecem os dons do Espírito Santo e não são enganados por falsos dons provindos do maligno ou da imaginação do homem”.38

o São João também nos adverte quanto à necessidade de examinarmos se os espíritos são de

Deus e nos ensina como conhecê-lo "todo espírito proclama Jesus Cristo que se encarnou, é de Deus e que os espíritos do mundo falam segundo o mundo, e quem conhece a Deus, ouve a Deus". (I Jo 4,1-6). É isto que nos dá a graça de distinguir o espírito da verdade e o espírito de erro.

38 AMARAL, Luciano, Dons Espirituais de Serviço - Edições Loyola, São Paulo, 1993 - p. 41

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Oitava Aula Relatório de Avaliação

Caro (a) aluno Esta avaliação tem como objetivo colher o seu testemunho das bênçãos que Deus tem derramado em sua vida através das aulas ministradas e dos exercícios de oração que você tem praticado neste semestre. Não se trata portanto de uma avaliação intelectual, mas espiritual, ou seja, uma avaliação de sua caminhada com Deus nestas últimas sete semanas. Por esta razão, as questões devem ser respondidas em oração e escuta do Senhor sobre a sua vida. Trata-se de um momento muito importante, em que Deus pode realizar maravilhas no seu coração, e através de sua partilha, também no coração de todos os que conhecerem seu testemunho. Que Nossa Senhora Rainha da Paz, seja sua mestra e companheira nesta tarefa! 1.Tome João 3,1-9 depois de orar com esta Palavra, escreva o que você entende hoje pela expressão “experiência pessoal com Jesus”.

2.Depois de ler o texto abaixo, escute o Senhor sobre o que mudou em sua vida de oração com o mistério da Santíssima Trindade:

“É a prática do amor que abre o verdadeiro acesso ao mistério da Trindade. Se Deus é amor, caminha tu até ele, pelo caminho do amor fraterno. Abraça a Deus-Amor, e abraçarás a Deus com amor. Não me digas que em Deus não descobres a Trindade. Se vês o Amor, vês a Deus. Sonda tua alma e se amas, aparecerás no amor uma Trindade que requer exame atento: o Amante (Pai), o que é Amado (Filho) e o Amor (Espírito Santo)”. 39

3.Ainda em oração leia Lc 15,11-24 e faça uma breve partilha da experiência que você vive hoje com a Pessoa de Deus Pai.

4. “Vós rejeitastes o Santo e Justo, e reclamastes para vós o agraciamento de um assassino! Mas o Príncipe da Vida que vós havíeis matado, Deus o ressuscitou dos mortos – disso nós somos testemunhas. (...) Convertei-vos portanto, e voltai a Deus, a fim de que os vossos pecados sejam apagados: assim virão os tempos de refrigério concedidos pelo Senhor, quando ele enviar o Cristo que vos é destinado, Jesus, que o céu deve acolher até os tempos do restabelecimento de tudo aquilo de que Deus falou pela boca dos seus santos profetas de outrora. (...) É para vós que Deus primeiro suscitou, depois enviou o seu Servo, para vos abençoar, desviando cada um de suas más ações.” (Atos 3,14-15.19.26).

Coloque-se como o evangelizador que todos nós fomos feitos pelo Batismo, e faça um breve anúncio da Salvação em Jesus Cristo aqui, por escrito. Faça de um modo bem simples, como quem está conversando com alguém que tem pouco tempo, mas você não pode perder esta oportunidade de anunciar a grande graça que recebeu.

“Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida; que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Foi Ele que nos falou por meio dos profetas; Ele nos enviado por Jesus Cristo após sua ressurreição e Sua Ascensão ao Pai. Ele ilumina vivifica, protege e conduz a Igreja, cujos membros purifica se eles não se furtam à oração da Graça, que penetra no mais íntimo da alma, e torna o homem capaz de responder ao apelo de Jesus: Sede perfeito como o Pai celestial é perfeito” (Paulo VI, Credo do Povo de Deus). Comece sua avaliação partilhando sobre seu relacionamento com o Espírito Santo como Pessoa. Se julgar necessário. Se julgar necessário, partilhe situações de sua vida ou algum acontecimento.

Os dons infusos, ou de santificação são instrumentos poderosos de Deus para a construção da

santidade em nossas vidas. Sabendo que a santidade é união com Deus em seu Filho Jesus e pelo poder do Espírito, partilhe aqui como a vivência dos dons de santificação lhe tem unido a Deus mais especificamente, como fruto de suas orações neste semestre. Se encontrar dificuldades, ore, que o próprio Espírito sondará seu coração e lhe recordará.

“Em verdade, em verdade eu vos digo: aquele que crer em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda

maiores do que estas, porque vou par junto Pai” (Jo 14, 12). Partilhe aqui como tem sido, neste semestre, a sua vivência do dons carismáticos.

1. Este espaço é para a sua partilha pessoal sobre o curso. Não deixe de fazê-la, pois isto é

importante para nós e para você também.

39 Sto. Agostinho – A Trindade, Ed. Paulus, 1995

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BIBLIOGRAFIA

DOCUMENTOS DA IGREJA:

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (Cat)

Constituição Dogmática Lumen Gentium: Compêndio do Vaticano II, Constituições, Decretos e Declarações, 22° ed. Petrópolis: Vozes, 1991.

Exortação Apostólica pós-sinodal Christifideles Lai ci : Do Sumo Pontífice João Paulo II, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, 5ª ed. São Paulo: Paulinas, 1990

LIVROS CONSULTADOS: FLORES, José Prado. Ide e Evangelizai os batizados . 2° ed. São Paulo: Loyola, 1981

Imitação de Cristo . Paulinas

MESCHLER, Maurício, SJ. O Dom do Pentecostes . Vozes

AMARAL, Luciano do. Os dons de santificação do Espírito Santo . São Paulo: Loyola, 1991

CANTALAMESSA, Raniero. A Vida sob o Senhorio de Cristo . São Paulo: Loyola, 1993

FALVO, Serafino, O Despertar dos Carismas . 8ª ed. São Paulo: Paulinas, 1987.

MADALENA, Gabriel de Santa Maria, OCD. Intimidade Divina . 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1990.

PHILIPON, M. Michel OP. Doutrina Espiritual de Elizabete da Trindade . São Paulo: Paulinas, 1988.

RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. CONSELHO NACIONAL. Carismas : Coleção Paulo Apóstolo. Aparecida, SP: Santuário, 1994.

SCIADINI, Patrício OCD. Eu te Amo, não Tenhas Medo! 3ª ed. Loyola

SCIADINI, Patrício OCD. Mística e Compromisso : Pistas para dias de Deserto. 2ª ed. Coleção: Temas de Espiritualidade. Loyola.

INDICAÇÀO DE LIVROS PARA FB I

“NÓS SOMOS UM” D. Valfredo Tepe “O DESPETAR DOS CARISMAS” Serafino Falvo