francisco brasil 2013

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  • 8/22/2019 Francisco Brasil 2013

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    VISITA APOSTLICA DO PAPA FRANCISCO AO BRASIL

    22-29 de julho de 2013

    XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

    DISCURSOS E HOMILIAS

    EDIO ESPECIAL

    Inclui a verso integral do dilogo do Papa

    com os jornalistas a bordo do avio

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    Director: Paulo Rocha.Chefe de Redaco: Octvio Carmo.

    Paginao e grasmo: Manuel Costa.

    Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/

    travels/2013/papa-francesco-gmg-rio-de-janei-

    ro-2013_po.htm

    AGNCIA ECCLESIA

    Propriedade: Conferncia Episcopal Portuguesa - Sec-

    retariado Nacional das Comunicaes Sociais da Igreja,

    pessoa Colectiva n 500966575.

    Redaco e Administrao:

    Quinta do Cabeo, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE

    Tel.: 218855472; Fax: 218855473

    [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt

    cha tcnica

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    ENCONTRO COM OS JORNALISTAS DURANTE O VO PAPALSegunda-feira, 22 de Julho de 2013

    CERIMNIA DE BOAS-VINDAS - DISCURSO DO PAPA FRANCISCOPalcio da Guanabara, Rio de Janeiro, Segunda-feira, 22 de Julho de 2013

    MISSA NA BASLICA DO SANTURIO NACIONAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA - HOMILIAQuarta-feira, 24 de Julho de 2013

    PALAVRAS DE IMPROVISO DO PAPA DEPOIS DA SANTA MISSA NA BASLICA DO SANTURIODE NOSSA SENHORA APARECIDASacada do Santurio, 24 de Julho de 2013

    VISITA AO HOSPITAL SO FRANCISCO DE ASSIS NA PROVIDNCIA DE DEUS - DISCURSORio de Janeiro, Quarta-feira, 24 de Julho de 2013

    PALAVRAS DO PAPA AOS JOVENS ITALIANOS NO FINAL DA VISITA AO HOSPITAL SO FRANCISCORio de Janeiro, Quarta-feira, 24 de julho de 2013

    CERIMNIA DE BNO DAS BANDEIRAS OLMPICAS - PALAVRAS PAPAPalcio da Cidade, Rio de Janeiro, 25 de julho de 2013

    VISITA COMUNIDADE DE VARGINHA (MANGUINHOS) - DISCURSORio de Janeiro Varginha, Quinta-feira, 25 de Julho de 2013

    FESTA DE ACOLHIDA DOS JOVENS - SAUDAO E HOMILIAPraia de Copacabana, Rio de Janeiro, Quinta-feira, 25 de Julho de 2013

    ALOCUO DO PAPA, ANGELUSBalco do Arcebispado, Rio de Janeiro, Sexta-feira, 26 de Julho de 2013

    VIA-SACRA COM OS JOVENS - PALAVRAS DO PAPACopacabana, Rio de Janeiro, Sexta-feira, 26 de Julho de 2013

    MISSA COM OS BISPOS DA JMJ, SACERDOTES, RELIGIOSOS E SEMINARISTAS - HOMILIACatedral de So Sebastio, Rio de Janeiro, Sbado, 27 de Julho de 2013

    ENCONTRO COM A CLASSE DIRIGENTE DO BRASIL - DISCURSOTeatro Municipal, Rio de Janeiro, Sbado, 27 de Julho de 2013

    ENCONTRO COM O EPISCOPADO BRASILEIRO - DISCURSOArcebispado do Rio de Janeiro, Sbado, 27 de Julho de 2013

    VIGLIA DE ORAO COM OS JOVENS - DISCURSOCopacabana, Rio de Janeiro, Sbado, 27 de Julho de 2013

    MISSA PARA A XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE - HOMILIACopacabana, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013

    ALOCUO DO SANTO PADRE, ANGELUSCopacabana, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013

    ENCONTRO COM OS VOLUNTRIOS DA XXVIII JMJ - DISCURSOPavilho 5 do Rio Centro, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013

    CERIMNIA DE DESPEDIDA - DISCURSOAeroporto Internacional do Galeo/ Antnio Carlos Jobim, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013

    ndice

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    PADRE LOMBARDI

    Santo Padre Francisco, bem-vindo ao meio desta comunidade

    voadora de jornalistas, operadores das comunicaes. Sen-

    mos grande emoo pela possibilidade de acompanh-lo em

    sua primeira viagem interconnental, internacional, depoisda comovedora deslocao a Lampedusa! Alm do mais,

    a primeira viagem ao seu Connente, ao m do mundo.

    uma viagem na companhia dos jovens; por isso, suscita um

    grande interesse. Como pode ver, ocupamos todos os lugares

    disponveis para os jornalistas neste vo. Somos mais de 70 pes-

    soas, obedecendo a composio do grupo a critrios de grande

    variedade, ou seja, temos representantes das televises tanto

    reprteres como operadores de cmara , os representantes da

    imprensa escrita, das agncias de nocias, da rdio, operadores

    de internet... Pracamente esto representados, e de forma

    qualicada, todos os mass-media. E esto representadas tam-

    bm as culturas, as diferentes lnguas. Temos, neste vo, um

    bom grupo de italianos, em seguida aparecem naturalmente

    os brasileiros que vieram inclusive do Brasil para voar junto

    com o Santo Padre: h dez brasileiros que vieram de propsito

    para isso. Depois temos dez dos Estados Unidos da Amrica,

    nove da Frana, seis da Espanha; depois h ingleses, mexica -

    nos, alemes; tambm o Japo, a Argenna naturalmente

    , a Polnia, Portugal e a Rssia esto representados. Trata-se,

    portanto, de uma comunidade muito diversicada. Muitos dos

    que aqui esto acompanham, freqentemente, as viagens

    do Papa fora da Itlia, ou seja, j no esto em sua primeira

    ENCONTRO COM OS JORNALISTASDURANTE O VOO PAPAL

    Segunda-eira, 22 de Julho de 2013

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    experincia, antes, alguns so muito navegados, conhecem

    essas viagens muito melhor do que o Santo Padre. Diversa-

    mente, outros esto aqui pela primeira vez, porque como

    os brasileiros, por exemplo acompanham especicamente

    esta viagem. Assim, decidimos dar-lhe as boas-vindas a este

    grupo pela voz tambm de um de ns, ou melhor, uma de ns,que foi escolhida acho que sem problemas parculares de

    concorrncia porque , certamente, a pessoa que fez mais

    viagens ao estrangeiro com o Santo Padre: est em disputa

    com o Doutor Gasbarri inclusive pelo nmero das viagens re-

    alizadas. Alm disso uma pessoa que vem do seu Connente

    e, por conseguinte, pode falar-lhe em espanhol, na sua lngua;

    e para alm do mais uma pessoa mulher, sendo justo

    que lhe demos a palavra. Ento dou imediatamente a palavra

    a Valenna Alazraki, que a correspondente de Televisa, h

    muitos anos mas permanece sempre juvenil, como o Santo

    Padre v , senndo-nos contentes por a termos conoscomais no fosse porque algumas semanas atrs paru um p

    e por isso temamos que no pudesse vir. Mas no, ajustou-o

    a tempo, rou o gesso h dois ou trs dias e agora j est no

    avio. Portanto ser ela que interpreta os senmentos desta

    comunidade voadora para com o Santo Padre.

    VALENTINA ALAzRAkI:

    Papa Francisco, bom dia! O nico mrito que possuo para ter

    o privilgio de dar-lhe as boas-vindas o elevado nmero de

    horas de vo. Parcipei no primeiro vo de Joo Paulo II ao

    Mxico, o meu pas. Ento era a mascote; agora, 34 anos e meio

    depois, sou a decana! Por isso tenho o privilgio de dar-lhe as

    boas-vindas. Sabemos, pelos seus amigos e colaboradores na

    Argenna, que os jornalistas no so propriamente santos

    da sua devoo. Talvez tenha pensado que o Padre Lombardi

    o trouxe cova dos lees... A verdade, porm, que no so-

    mos assim to ferozes, e temos um grande prazer em poder

    ser seus companheiros de viagem. Gostaramos que o Santo

    Padre nos visse assim, como companheiros de viagem, nesta

    e em muitas outras ainda. Obviamente somos jornalistas, ese hoje, amanh ou nos dias seguintes quiser responder a

    perguntas, no vamos dizer que no, porque somos jornalis-

    tas. Vimos que conou esta sua viagem a Maria, tendo ido a

    Santa Maria Maior e vai ir a Aparecida; pensei oferecer-lhe

    um pequeno presente, uma pequenssima Virgem peregrina

    para que O acompanhe nesta peregrinao e muitas mais. Por

    coincidncia, trata-se da Virgem de Guadalupe; ofereo-a no

    pelo fato de ser a Rainha do Mxico mas porque a Padroeira

    da Amrica, pelo que nenhum Virgem Maria se ressenr: nem

    a da Argenna, nem a de Aparecida, nem qualquer outra. Eu

    lha ofereo com imenso carinho da parte de todos ns e com

    a esperana de que proteja o Santo Padre nesta viagem e em

    muitas outras ainda.

    PADRE LOMBARDI:

    E agora demos a palavra ao Santo Padre, naturalmente para

    que nos diga pelo menos algumas palavras introdutrias a

    esta viagem.

    PAPA FRANCISCO:

    Bom dia! Bom dia a vocs todos! Disseram eu ouvi coisas

    um bocado estranhas: Que vocs no so santos da minha

    devoo, que aqui eu estou no meio dos lees..., ainda bem

    que no so muito ferozes! Obrigado! Verdadeiramente eu

    no dou entrevistas, mas porque no sei, no consigo. Sou

    assim! Sinto um pouco de diculdade em faz-lo, mas agradeo

    a companhia. Esta primeira viagem tem em vista encontrar os

    jovens, mas no isolados da sua vida; eu quereria encontr-los

    precisamente no tecido social, em sociedade. Porque, quando

    isolamos os jovens, pracamos uma injusa: despojamo-los

    da sua pertena. Os jovens tm uma pertena: pertena a uma

    famlia, a uma ptria, a uma cultura, a uma f Eles tm uma

    pertena, e no devemos isol-los! Sobretudo no devemos

    isol-los inteiramente da sociedade! Eles so verdadeiramente

    o futuro de um povo! Isto verdade; mas no o so somente

    eles: eles so o futuro, porque tm a fora, so jovens, con-

    nuaro para diante. Mas tambm, no outro extremo da vida,

    os idosos so o futuro de um povo. Um povo tem futuro se vai

    em frente com ambos os pontos: com os jovens, com a fora,

    porque o levam para diante; e com os idosos, porque so eles

    que oferecem a sabedoria da vida. E muitas vezes penso que

    fazemos uma injusa aos idosos, pondo-os de lado como se

    eles no vessem nada para nos dar; eles tm a sabedoria,

    a sabedoria da vida, a sabedoria da histria, a sabedoria da

    ptria, a sabedoria da famlia. E ns precisamos disto! Por

    isso, digo que vou encontrar os jovens, mas no seu tecido

    social, principalmente com os idosos. verdade que a crise

    mundial no gera coisas boas para os jovens. Li, na semana

    passada, a percentagem dos jovens desempregados; pensem

    que corremos o risco de ter uma gerao que no encontroutrabalho, e o trabalho que confere pessoa a dignidade de

    ganhar o seu po. Os jovens, neste momento, sofrem a crise.

    Aos poucos fomo-nos acostumando a esta cultura do descarte:

    com os idosos, sucede demasiadas vezes; mas agora acontece

    tambm com inmeros jovens sem trabalho. Tambm a eles

    chega a cultura do descarte. Temos de acabar com esse hbito

    de descartar. Ao contrrio, cultura da incluso, cultura do en-

    contro, fazer um esforo para integrar a todos na sociedade.

    Isto de certo modo o sendo que eu quero dar a esta visita

    aos jovens, aos jovens na sociedade.

    Agradeo-vos imenso, carssimos, santos de no devoo

    e lees no muito ferozes. Muito obrigado, muito obrigado

    mesmo! E eu gostava de lhes saudar a cada um. Obrigado!

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    PADRE LOMBARDI:

    Muito obrigado, Santo Padre, por esta introduo to expres-

    siva. E agora vem todos saud-lo: passam por aqui, desse modo

    podem vir e cada um pode conhec-lo, Sandade, apresentar-

    se; cada um diga de que mdia , de que televiso ou jornalvem. Assim o Papa o sada e conhece

    PAPA FRANCISCO:

    Temos dez horas...

    [Um a um, os jornalistas encontram o Santo Padre]

    PADRE LOMBARDI:

    Acabaram realmente de vir todos? Sim? mo! Agradecemos

    verdadeiramente de corao ao Papa Francisco porque foi

    julgo eu para todos ns um momento inesquecvel e penso

    que constuiu uma bela introduo a esta viagem. Acho queo Santo Padre conquistou pelo menos um pouco do corao

    destes lees, de modo que, durante a viagem, possam ser

    seus colaboradores, isto , compreendam a sua mensagem e

    a difundam com grande eccia. Obrigado, Sandade!

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    PAPA FRANCISCO:

    Agradeo-lhes de verdade e peo-lhes para ajudar-me e

    colaborar, nesta viagem, para o bem, para o bem; o bem da

    sociedade: o bem dos jovens e o bem dos idosos; ambos juntos,

    no o esqueam! E eu co um pouco como o profeta Daniel:um pouco triste, porque vi que os lees no eram muito fero-

    zes! Obrigado, muito obrigado! Um abrao a todos! Obrigado!

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    Senhora Presidenta,

    Ilustres Autoridades,

    Irmos e amigos!

    Quis Deus na sua amorosa providncia que a primeira viagem

    internacional do meu Poncado me consensse voltar

    amada Amrica Lana, precisamente ao Brasil, nao que se

    gloria de seus slidos laos com a S Apostlica e dos pro-

    fundos senmentos de f e amizade que sempre a uniram de

    modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graas a Deus pela

    sua benignidade.

    Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, preciso ingres-

    sar pelo portal do seu imenso corao; por isso permitam-me

    que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peo

    licena para entrar e transcorrer esta semana com vocs. No

    tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me

    foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar achama de amor fraterno que arde em cada corao; e desejo

    que chegue a todos e a cada um a minha saudao: A paz de

    Cristo esteja com vocs!

    Sado com deferncia a Senhora Presidenta e os ilustres mem-

    bros do seu Governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento

    e por suas palavras que externaram a alegria dos brasileiros

    pela minha presena em sua Ptria. Cumprimento tambm o

    Senhor Governador deste Estado, que amavelmente nos recebe

    na Sede do Governo, e o Senhor Prefeito do Rio de Janeiro,

    bem como os Membros do Corpo Diplomco acreditado

    junto ao Governo Brasileiro, as demais Autoridades presentes

    e todos quantos se prodigalizaram para tornar realidade esta

    minha visita.

    Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus irmos no Episco-

    pado, sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus

    neste imenso Pas, e s suas amadas Igrejas Parculares. Esta

    minha visita outra coisa no quer seno connuar a misso

    pastoral prpria do Bispo de Roma de conrmar os seus irmos

    na F em Cristo, de anim-los a testemunhar as razes da

    Esperana que dEle vem e de incenv-los a oferecer a todos

    as inesgotveis riquezas do seu Amor.O movo principal da minha presena no Brasil, como sabido,

    transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da

    Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo

    o mundo, atrados pelos braos abertos do Cristo Redentor.

    Eles querem agasalhar-se no seu abrao para, junto de seu

    Corao, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: Ide

    e fazei discpulos entre todas as naes.

    Estes jovens provm dos diversos connentes, falam lnguas

    diferentes, so portadores de variegadas culturas e, todavia,

    em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e co-

    CERIMNIA DE BOAS-VINDASDISCURSO DO PAPA FRANCISCO

    Palcio da Guanabara, Rio de JaneiroSegunda-eira, 22 de Julho de 2013

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    muns aspiraes e podem saciar a fome de verdade lmpida

    e de amor autntico que os irmanem para alm de toda

    diversidade.

    Cristo abre espao para eles, pois sabe que energia alguma

    pode ser mais potente que aquela que se desprende do cora-

    o dos jovens quando conquistados pela experincia da suaamizade. Cristo bota f nos jovens e cona-lhes o futuro de

    sua prpria causa: Ide, fazei discpulos. Ide para alm das

    fronteiras do que humanamente possvel e criem um mundo

    de irmos. Tambm os jovens botam f em Cristo. Eles no

    tm medo de arriscar a nica vida que possuem porque sabem

    que no sero desiludidos.

    Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho conscincia de

    que, ao dirigir-me aos jovens, falarei s suas famlias, s suas

    comunidades eclesiais e nacionais de origem, s sociedades

    nas quais esto inseridos, aos homens e s mulheres dos quais,

    em grande medida, depende o futuro destas novas geraes.Os pais usam dizer por aqui: os lhos so a menina dos nossos

    olhos. Que bela expresso da sabedoria brasileira que aplica

    aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra

    a luz regalando-nos o milagre da viso! O que vai ser de ns, se

    no tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de

    seguir em frente? O meu auspcio que, nesta semana, cada

    um de ns se deixe interpelar por esta desaadora pergunta.E ateno! A juventude a janela pela qual o futuro entra no

    mundo. a janela e, por isso, nos impe grandes desaos. A

    nossa gerao se demonstrar altura da promessa conda

    em cada jovem quando souber abrir-lhe espao. Isso signica:

    tutelar as condies materiais e imateriais para o seu pleno

    desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos slidos, sobre os

    quais construir a vida; garanr-lhe segurana e educao para

    que se torne aquilo que ele pode ser; transmir-lhe valores

    duradouros pelos quais a vida merea ser vivida, assegurar-lhe

    um horizonte transcendente que responda sede de felicidade

    autnca, suscitando nele a criavidade do bem; entregar-lhea herana de um mundo que corresponda medida da vida

    humana; despertar nele as melhores potencialidades para que

    seja sujeito do prprio amanh e corresponsvel do desno

    de todos. Com essas atudes precedemos hoje o futuro que

    entra pela janela dos jovens.

    Concluindo, peo a todos a delicadeza da ateno e, se possvel,

    a necessria empaa para estabelecer um dilogo de amigos.

    Nesta hora, os braos do Papa se alargam para abraar a inteira

    nao brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e

    religiosa. Desde a Amaznia at os pampas, dos sertes at

    o Pantanal, dos vilarejos at as metrpoles, ningum se sinta

    excludo do afeto do Papa. Depois de amanh, se Deus quiser,

    tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Apare-

    cida, invocando sua proteo materna sobre seus lares e fam-

    lias. Desde j a todos abeno. Obrigado pelo acolhimento!

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    Eminenssimo Senhor Cardeal,

    Venerados irmos no episcopado e no sacerdcio,

    Queridos irmos e irms!

    Quanta alegria me d vir casa da Me de cada brasileiro,

    o Santurio de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte

    minha eleio como Bispo de Roma fui visitar a Baslica de Santa

    Maria Maior, para conar a Nossa Senhora o meu ministrio.

    Hoje, eu quis vir aqui para suplicar Maria, nossa Me, o bom

    xito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus ps

    a vida do povo lano-americano.

    Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santurio,

    seis anos atrs, quando aqui se realizou a V Conferncia Geral

    do Episcopado da Amrica Lana e do Caribe, pude dar-me

    conta pessoalmente de um fato belssimo: ver como os Bis-

    pos que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo,

    discipulado e misso eram animados, acompanhados e, em

    certo sendo, inspirados pelos milhares de peregrinos quevinham diariamente conar a sua vida a Nossa Senhora: aquela

    Conferncia foi um grande momento de vida de Igreja. E, de

    fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu

    justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e

    a f simples dos romeiros, sob a proteo maternal de Maria.

    A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre casa da Me e

    pede: Mostrai-nos Jesus. de Maria que se aprende o ver-

    dadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em misso sempre

    na esteira de Maria.

    Assim, de cara Jornada Mundial da Juventude que me trouxe

    at o Brasil, tambm eu venho hoje bater porta da casa de

    Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos

    ns, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores,

    a transmir aos nossos jovens os valores que faro deles

    construtores de um Pas e de um mundo mais justo, solidrio

    e fraterno. Para tal, gostaria de chamar ateno para trs

    simples posturas, trs simples posturas: Conservar a esperana;

    deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.

    1. Conservar a esperana. A segunda leitura da Missa apre-

    senta uma cena dramca: uma mulher gura de Maria eda Igreja sendo perseguida por um Drago o diabo - que

    quer lhe devorar o lho. A cena, porm, no de morte, mas

    de vida, porque Deus intervm e coloca o lho a salvo (cfr. Ap

    12,13a.15-16a). Quantas diculdades na vida de cada um, no

    nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que

    possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos.

    Frente ao desnimo que poderia aparecer na vida, em quem

    trabalha na evangelizao ou em quem se esfora por viver a

    f como pai e me de famlia, quero dizer com fora: Tenham

    sempre no corao esta certeza! Deus caminha a seu lado,

    nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperana!

    Nunca deixemos que ela se apague nos nossos coraes! O

    drago, o mal, faz-se presente na nossa histria, mas ele no

    o mais forte. Deus o mais forte, e Deus a nossa esperana!

    verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e tambm

    os nossos jovens, experimentam o fascnio de tantos dolos

    que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperana: o

    dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma

    sensao de solido e de vazio entra no corao de muitos e

    conduz busca de compensaes, destes dolos passageiros.Queridos irmos e irms, sejamos luzeiros de esperana!

    Tenhamos uma viso posiva sobre a realidade. Encorajemos

    a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes

    no processo de se tornarem protagonistas da construo de

    um mundo melhor: eles so um motor potente para a Igreja

    e para a sociedade. Eles no precisam s de coisas, precisam

    sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais

    que so o corao espiritual de um povo, a memria de um

    povo. Neste Santurio, que faz parte da memria do Brasil,

    podemos quase que apalp-los: espiritualidade, generosidade,

    solidariedade, perseverana, fraternidade, alegria; trata-se de

    valores que encontram a sua raiz mais profunda na f crist.

    2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem

    homem e mulher de esperana a grande esperana que a f

    nos d sabe que, mesmo em meio s diculdades, Deus atua

    e nos surpreende. A histria deste Santurio serve de exemplo:

    trs pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar

    peixes, nas guas do Rio Parnaba, encontram algo inesperado:

    uma imagem de Nossa Senhora da Conceio. Quem poderia

    imaginar que o lugar de uma pesca infrufera, tornar-se-ia olugar onde todos os brasileiros podem se senr lhos de uma

    mesma Me? Deus sempre surpreende, como o vinho novo,

    no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o mel-

    MISSA NA BASLICA DO SANTURIO NACIONALDE NOSSA SENHORA APARECIDA

    HOMILIA

    Quarta-eira, 24 de Julho de 2013

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    hor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor,

    que acolhamos as suas surpresas. Conemos em Deus! Longe

    dEle, o vinho da alegria, o vinho da esperana, se esgota. Se

    nos aproximamos dEle, se permanecemos com Ele, aquilo que

    parece gua fria, aquilo que diculdade, aquilo que pecado,

    se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

    3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se

    caminhamos na esperana, deixando-nos surpreender pelo

    vinho novo que Jesus nos oferece, h alegria no nosso cora-

    o e no podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria.

    O cristo alegre, nunca est triste. Deus nos acompanha.

    Temos uma Me que sempre intercede pela vida dos seus

    lhos, por ns, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est

    5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus a de um Pai que

    nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristo no

    pode ser pessimista! No pode ter uma cara de quem parece

    num constante estado de luto. Se esvermos verdadeiramente

    enamorados de Cristo e senrmos o quanto Ele nos ama, o

    nosso corao se incendiar de tal alegria que contagiar

    quem esver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui neste

    Santurio: O discpulo sabe que sem Cristo no h luz, no hesperana, no h amor, no h futuro (Discurso inaugural da

    Conferncia de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamen

    III/1 [2007], 861).

    Queridos amigos, viemos bater porta da casa de Maria. Ela

    abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela

    nos pede: Fazei o que Ele vos disser (Jo 2,5). Sim, Me, nos

    comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos

    com esperana, conantes nas surpresas de Deus e cheios de

    alegria. Assim seja.

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    PALAVRAS DE IMPROVISO DO PAPADEPOIS DA MISSA NA BASLICA DO SANTURIO

    DE NOSSA SENHORA APARECIDA

    Sacada do Santurio, 24 de Julho de 2013

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    Irmos e irms Irmos e irms, eu no falo brasileiro. Perdo-

    em-me! Vou falar em espanhol. Desculpem! Muito obrigado!

    Obrigado por estarem aqui. De corao, muito obrigado. E, com

    todo o meu corao, peo Virgem Nossa Senhora Aparecida

    que lhes abenoe, abenoe suas famlias, abenoe seus lhos,

    abenoe seu pais, abenoe a Ptria inteira.

    Vejamos agora vou cercar-me se me entendem. Fao-lhes

    uma pergunta: Uma me se esquece de seus lhos? [No]

    13

    Ela no se esquece de ns, Ela nos ama e cuida de ns. Agora

    vamos lhe pedir a Bno. A Bno de Deus Todo-Poderoso

    Pai, Filho e Esprito Santo desa sobre vocs e permanea

    para sempre.

    Quero pedir-lhes um favor, um jeinho Rezem por mim;rezem por mim, preciso! Que Deus lhes abenoe. Que Nossa

    Senhora Aparecida lhes proteja. Adeus at quando eu voltar,

    em 2017!

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    Senhor Arcebispo do Rio de Janeiro,

    Amados Irmos no Episcopado

    Disntas Autoridades,

    Queridos membros da Venervel Ordem Terceira de So Fran-

    cisco da Penitncia,

    Prezados mdicos, enfermeiros e demais prossionais de

    sade,

    Amados jovens e familiares, boa noite!

    Quis Deus que meus passos, depois do Santurio de Nossa

    Senhora Aparecida, se dirigissem para um parcular santurio

    do sofrimento humano, que o Hospital So Francisco de Assis.

    bem conhecida a converso do Santo Patrono de vocs: o

    jovem Francisco abandona riquezas e comodidades para fazer-

    se pobre no meio dos pobres, entende que no so as coisas,o ter, os dolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes no

    do a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos

    demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que

    tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraou

    um leproso. Aquele irmo sofredor foi mediador de luz ()

    para So Francisco de Assis (Carta Enc. Lumen dei, 57),

    porque, em cada irmo e irm em diculdade, ns abraamos

    a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a

    dependncia qumica, quero abraar a cada um e cada uma de

    vocs - vocs que so a carne de Cristo e pedir a Deus que

    encha de sendo e de esperana segura o caminho de vocse tambm o meu.

    Abraar, abraar. Precisamos todos de aprender a abraar quem

    passa necessidade, como fez So Francisco. H tantas situaes

    no Brasil e no mundo que reclamam ateno, cuidado, amor,

    como a luta contra a dependncia qumica. Frequentemente,

    porm, nas nossas sociedades, o que prevalece o egosmo.

    So tantos os mercadores de morte que seguem a lgica

    do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do trco

    de drogas, que favorece a violncia e que semeia a dor e a

    morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. No

    deixando livre o uso das drogas, como se discute em vrias

    partes da Amrica Lana, que se conseguir reduzir a difuso

    e a inuncia da dependncia qumica. necessrio enfrentar

    VISITA AO HOSPITAL SO FRANCISCO DE ASSISNA PROVIDNCIA DE DEUS

    DISCURSO

    Rio de Janeiro, Quarta-eira, 24 de Julho de 2013

    os problemas que esto na raiz do uso das drogas, promov-

    endo uma maior jusa, educando os jovens para os valores

    que constroem a vida comum, acompanhando quem est em

    diculdade e dando esperana no futuro. Precisamos todos

    de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a

    abraar quem passa necessidade, para expressar solidariedade,

    afeto e amor.

    Mas abraar no suciente. Estendamos a mo a quem vive

    em diculdade, a quem caiu na escurido da dependncia,

    talvez sem saber como, e digamos-lhe: Voc pode se levantar,

    pode subir; exigente, mas possvel se voc o quiser. Queri-

    dos amigos, queria dizer a cada um de vocs, mas sobretudo

    a tantas outras pessoas que ainda no veram a coragem de

    empreender o mesmo caminho de vocs: Voc o protagonista

    da subida; esta a condio imprescindvel! Voc encontrara mo estendida de quem quer lhe ajudar, mas ningum pode

    fazer a subida no seu lugar. Mas vocs nunca esto sozinhos!

    A Igreja e muitas pessoas esto solidrias com vocs. Olhem

    para frente com conana; a travessia longa e cansava, mas

    olhem para frente, existe um futuro certo, que se coloca numa

    perspecva diferente relavamente s propostas ilusrias dos

    dolos do mundo, mas que d novo impulso e nova fora vida

    de todos os dias (Carta Enccl. Lumen dei, 57). A vocs todos

    quero reper: No deixem que lhes roubem a esperana! No

    deixem que lhes roubem a esperana! Mas digo tambm: No

    roubemos a esperana, pelo contrrio, tornemo-nos todos

    portadores de esperana!

    No Evangelho, lemos a parbola do Bom Samaritano, que

    fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase

    morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas no

    param; indiferentes seguem o seu caminho: no problema

    delas! Quantas vezes ns dizemos: no um meu problema!

    Quantas vezes olhamos para o outro lado e ngimos que no

    vemos. Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para,

    levanta-o, estende-lhe a mo e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35).

    Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concreza

    a parbola do Bom Samaritano. Aqui no h indiferena, mas

    solicitude. No h desinteresse, mas amor. A Associao So

    Francisco e a Rede de Tratamento da Dependncia Qumica

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    ensinam a se debruar sobre quem passa por diculdades

    porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas

    est a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do

    servio mdico e auxiliar aqui empenhado! O servio de vocs

    precioso! Realizem-no sempre com amor; um servio feito

    a Cristo presente nos irmos: Todas as vezes que zestes issoa um destes mais pequenos, que so meus irmos, foi a mim

    que o zestes (Mt 25, 40), diz-nos Jesus.

    E quero reper a todos vocs que lutam contra a dependn-

    cia qumica, a vocs familiares que tm uma tarefa que nem

    sempre fcil: a Igreja no est longe dos esforos que vocs

    fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor est ao

    lado de vocs e lhes conduz pela mo. Olhem para Ele nos

    momentos mais duros e Ele lhes dar consolao e esperana.

    E conem tambm no amor materno de Maria, sua Me. Esta

    manh, no Santurio da Aparecida, conei cada um de vocsao seu corao. Onde vermos uma cruz para carregar, ao

    nosso lado sempre est Ela, nossa Me. Deixo-lhes em suas

    mos, enquanto, afetuosamente, a todos abeno. Obrigado!

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    A minha saudao para vocs, jovens italianos, que esto nos

    acompanhando em direto do Maracanzinho. Sei que se re-

    uniram juntamente com muitos brasileiros de origem italiana

    e com seus Bispos para celebrar a pessoa de Jesus e reer

    sobre as respostas que somente Ele sabe dar s suas questes

    PALAVRAS DO PAPA AOS JOVENS ITALIANOSNO FINAL DA VISITA AO HOSPITAL SO FRANCISCO

    Rio de JaneiroQuarta-eira, 24 de julho de 2013

    de f e de vida. Conem em Cristo, ouam-no, sigam os seus

    passos. Ele nunca nos abandona, nem mesmo nos momentos

    mais escuros da vida. Ele a nossa esperana. Amanh, em

    Copacabana, teremos oportunidade para aprofundar esta

    verdade, para tornar luminosa a vida. At amanh!

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    Acabamos de benzer as bandeiras e as imagens religiosas. Bom

    dia a todos! Muito obrigado por estarem aqui neste momento

    e agora, de corao, vou lhes dar a Bno a vocs todos, s

    CERIMNIA DE BNO DAS BANDEIRAS OLMPICAS

    PALAVRAS PAPA

    Palcio da Cidade, Rio de Janeiro, 25 de julho de 2013

    suas famlias, aos seus amigos, ao bairro, a todos.

    [d a Bno]

    E rezem por mim!

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    Queridos irmos e irms, bom dia!

    Que bom poder estar com vocs aqui! Que bom! Desde o incio,

    quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo erapoder visitar todos os bairros deste Pas. Queria bater em cada

    porta, dizer bom dia, pedir um copo de gua fresca, beber um

    "cafezinho" - no um copo de cachaa! - falar como a amigos

    de casa, ouvir o corao de cada um, dos pais, dos lhos, dos

    avs... Mas o Brasil to grande! No possvel bater em

    todas as portas! Ento escolhi vir aqui, visitar a Comunidade

    de vocs; esta comunidade, que hoje representa todos os

    bairros do Brasil. Como bom ser bem acolhido, com amor,

    generosidade, alegria! Basta ver como vocs decoraram as ruas

    da Comunidade; isso tambm um sinal do carinho que nasce

    do corao de vocs, do corao dos brasileiros, que est em

    festa! Muito obrigado a cada um de vocs pela linda acolhida!

    Agradeo ao casal Rangler e Joanapelas suas belas palavras.

    1. Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras

    e tambm aqui junto de vocs, me sinto acolhido. E impor-

    tante saber acolher; algo mais bonito que qualquer enfeite

    ou decorao. Isso assim porque quando somos generosos

    acolhendo uma pessoa e parlhamos algo com ela um pouco

    de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo - no -

    camos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando

    algum que precisa comer bate na sua porta, vocs sempre doum jeito de comparlhar a comida: como diz o ditado, sempre

    se pode colocar mais gua no feijo! Se pode colocar mais

    gua no feijo? Sempre? ... E vocs fazem isto com amor,

    mostrando que a verdadeira riqueza no est nas coisas, mas

    no corao!

    E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode

    dar para o mundo uma grande lio de solidariedade, que

    uma palavra esta palavra solidariedade uma palavra

    frequentemente esquecida ou silenciada, porque incmoda.

    Quase parece um palavro solidariedade! Queria lanar umapelo a todos os que possuem mais recursos, s autoridades

    pblicas e a todas as pessoas de boa vontade compromedas

    com a jusa social: No se cansem de trabalhar por um mundo

    mais justo e mais solidrio! Ningum pode permanecer insen-

    svel s desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um,

    na medida das prprias possibilidades e responsabilidades,

    saiba dar a sua contribuio para acabar com tantas injusassociais! No , no a cultura do egosmo, do individualismo,

    que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que

    constri e conduz a um mundo mais habitvel; no ela, mas

    sim a cultura da solidariedade; a cultura da solidariedade ver

    no outro no um concorrente ou um nmero, mas um irmo.

    E todos ns somos irmos!

    Quero encorajar os esforos que a sociedade brasileira tem

    feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as

    mais sofridas e necessitadas, atravs do combate fome e

    misria. Nenhum esforo de pacicao ser duradouro, no

    haver harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora,

    que deixa margem, que abandona na periferia parte de si

    mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si

    mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. No

    deixemos, no deixemos entrar no nosso corao a cultura do

    descartvel! No deixemos entrar no nosso corao a cultura

    do descartvel, porque ns somos irmos. Ningum descar-

    tvel! Lembremo-nos sempre: somente quando se capaz de

    comparlhar que se enriquece de verdade; tudo aquilo que

    se comparlha se mulplica! Pensemos na mulplicao dos

    pes de Jesus! A medida da grandeza de uma sociedade dadapelo modo como esta trata os mais necessitados, quem no

    tem outra coisa seno a sua pobreza!

    2. Queria dizer-lhes tambm que a Igreja, advogada da jusa

    e defensora dos pobres diante das intolerveis desigualdades

    sociais e econmicas, que clamam ao cu (Documento de

    Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaborao em todas

    as iniciavas que signiquem um autnco desenvolvimento

    do homem todo e de todo o homem. Queridos amigos, certa-

    mente necessrio dar o po a quem tem fome; um ato de

    jusa. Mas existe tambm uma fome mais profunda, a fomede uma felicidade que s Deus pode saciar. Fome de digni-

    dade. No existe verdadeira promoo do bem-comum, nem

    verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram

    VISITA COMUNIDADE DE VARGINHA (MANGUINHOS)

    DISCURSO

    Rio de Janeiro - VarginhaQuinta-eira, 25 de Julho de 2013

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    os pilares fundamentais que sustentam uma nao, os seus

    bens imateriais: a vida, que dom de Deus, um valor que deve

    ser sempre tutelado e promovido; a famlia, fundamento da

    convivncia e remdio contra a desagregao social; a educa-

    o integral, que no se reduz a uma simples transmisso de

    informaes com o m de gerar lucro; a sade, que deve buscaro bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimenso espiritual,

    que essencial para o equilbrio humano e uma convivncia

    saudvel; a segurana, na convico de que a violncia s pode

    ser vencida a parr da mudana do corao humano.

    3. Queria dizer uma lma coisa, uma lma coisa. Aqui,

    como em todo o Brasil, h muitos jovens. Hein, jovens! Vocs,

    queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente

    s injusas, mas muitas vezes se desiludem com nocias que

    falam de corrupo, com pessoas que, em vez de buscar o

    bem comum, procuram o seu prprio benecio. Tambm para

    vocs e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, no

    percam a conana, no deixem que se apague a esperana.

    A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser

    vocs os primeiros a pracar o bem, a no se acostumarem

    ao mal, mas a venc-lo com o bem. A Igreja est ao lado de

    vocs, trazendo-lhes o bem precioso da f, de Jesus Cristo, que

    veio para que todos tenham vida, e vida em abundncia

    (Jo 10,10).

    Hoje a todos vocs, especialmente aos moradores dessa Comu-

    nidade de Varginha, quero dizer: Vocs no esto sozinhos, a

    Igreja est com vocs, o Papa est com vocs. Levo a cada um

    no meu corao e fao minhas as intenes que vocs carregam

    no seu nmo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de

    ajuda nas diculdades, o desejo de consolao nos momentos

    de tristeza e sofrimento. Tudo isso cono intercesso de

    Nossa Senhora Aparecida, Me de todos os pobres do Brasil, e

    com grande carinho lhes concedo a minha Bno. Obrigado!

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    Queridos jovens,

    Boa tarde!

    Vejo em vocs a beleza do rosto jovem de Cristo e meu corao

    se enche de alegria! Lembro-me da primeira Jornada Mundial

    da Juventude a nvel internacional. Foi celebrada em 1987 na

    Argenna, na minha cidade de Buenos Aires. Guardo vivas na

    memria estas palavras do Bem-aventurado Joo Paulo II aos

    jovens: Tenho muita esperana em vocs! Espero, sobretudo,

    que renovem a delidade de vocs a Jesus Cristo e sua cruz

    redentora (Discurso aos jovens (11 de abril de 1987): Inseg-

    namen, X/1 (1987), 1261).

    Antes de connuar, queria lembrar o trgico acidente na Guiana

    francesa, no qual a jovem Sophie Morinire perdeu a vida, e

    que deixou outros jovens feridos.

    Convido-lhes a fazer um minuto de silncio e dirigir ao Senhora nossa orao por Sophie, pelos feridos e pelos familiares.

    Este ano, a Jornada volta, pela segunda vez, Amrica Lana.

    E vocs, jovens, responderam numerosos ao convite do Papa

    Bento XVI, que lhes convocou para celebr-la. Agradecemos-

    lhe de todo corao! O meu olhar se estende por esta grande

    muldo: vocs so muissimos! Vocs vm de todos os con-

    nentes! Normalmente vocs esto distantes no somente

    do ponto de vista geogrco, mas tambm do ponto de vista

    existencial, cultural, social, humano. Mas hoje vocs esto aqui,

    ou melhor, hoje estamos aqui, juntos, unidos para parlhar a

    f e a alegria do encontro com Cristo, de ser seus discpulos.

    FESTA DE ACOLHIDA DOS JOVENS

    Praia de Copacabana, Rio de Janeiro

    Quinta-eira, 25 de Julho de 2013

    SAUDAO

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    Nesta semana, o Rio se torna o centro da Igreja, o seu corao

    vivo e jovem, pois vocs responderam com generosidade e

    coragem ao convite que Jesus lhes fez de permanecerem com

    Ele, de serem seus amigos.

    O trem desta Jornada Mundial da Juventude, veio de longe e

    atravessou toda a Nao brasileira seguindo as etapas do pro-jeto Bote F. Hoje chegou ao Rio de Janeiro. Do Corcovado, o

    Cristo Redentor nos abraa e abenoa. Olhando para este mar,

    para a praia e todos vocs, me vem ao pensamento o momento

    em que Jesus chamou os primeiros discpulos a segui-lo nas

    margens do lago de Tiberades. Hoje Jesus ainda pergunta: Voc

    quer ser meu discpulo? Voc quer ser meu amigo? Voc quer

    ser testemunha do meu Evangelho? No corao do Ano da F,

    estas perguntas nos convidam a renovar o nosso compromisso

    de cristos. Suas famlias e comunidades locais transmiram

    a vocs o grande dom da f; Cristo cresceu em vocs. Hoje,

    vim para lhes conrmar nesta f, a f no Cristo Vivo que moradentro de vocs; mas vim tambm para ser conrmado pelo

    entusiasmo da f de vocs!

    Sado a todos com muito carinho. A vocs, aqui congregados

    dos cinco Connentes e, por meio de vocs, a todos os jovens

    do mundo, parcularmente aqueles que no puderam vir ao

    Rio de Janeiro, mas esto em ligao conosco atravs do rdio,

    televiso e internet, digo: Bem-vindos a esta grande festa da f!

    Em vrias partes do mundo, neste mesmo instante, muitos jo-

    vens esto reunidos para viver juntos este momento: sintamo-

    nos unidos uns com os outros, na alegria, na amizade, na f.

    E tenham a certeza: o meu corao de Pastor abraa a todos

    com afeto universal. O Cristo Redentor, do alto da montanhado Corcovado, lhes acolhe na Cidade Maravilhosa.

    Quero saudar o Presidente do Poncio Conselho para os

    Leigos, esmado Cardeal Estanislau Ryko, e todos aqueles

    que com ele trabalham. Agradeo a Dom Orani Joo Tempesta,

    Arcebispo de So Sebaso do Rio de Janeiro, pela cordialidade

    com que me recebeu e pelo grande trabalho realizado para pre-

    parar esta Jornada Mundial da Juventude, junto com as diversas

    dioceses desse imenso Brasil. Agradeo a todas autoridades

    nacionais, estaduais e locais, alm de outros envolvidos, para

    concrezar esse momento nico de celebrao da unidade,

    da f e da fraternidade. Obrigado aos Irmos no Episcopado,aos sacerdotes, seminaristas, pessoas consagradas e eis que

    acompanham os jovens de diferentes partes do nosso planeta,

    na sua peregrinao rumo a Jesus. A todos e a cada um meu

    abrao afetuoso no Senhor.

    Irmos e amigos, bem-vindos vigsima oitava Jornada Mun-

    dial da Juventude, nesta cidade maravilhosa do Rio de Janeiro!

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    Jovens amigos,

    bom estarmos aqui!: exclamou Pedro, depois de ter visto

    o Senhor Jesus transgurado, revesdo de glria. Queremos

    tambm ns reper estas palavras? Penso que sim, porque

    para todos ns, hoje, bom estar aqui juntos unidos em torno

    de Jesus! Ele que nos acolhe e se faz presente em meio a

    ns, aqui no Rio. Mas, no Evangelho, escutamos tambm as

    palavras de Deus Pai: Este o meu Filho, o Eleito. Escutai-O!

    (Lc 9, 35). Ento, se por um lado Jesus quem nos acolhe, por

    outro tambm ns devemos acolh-lo, car escuta da sua

    palavra, pois justamente acolhendo a Jesus Cristo, Palavra

    encarnada, que o Esprito Santo nos transforma, ilumina o

    caminho do futuro e faz crescer em ns as asas da esperana

    para caminharmos com alegria (cf. Carta enc. Lumen dei, 7).

    Mas o que podemos fazer? Bote f. A cruz da Jornada Mun-

    dial da Juventude peregrinou atravs do Brasil inteiro com

    este apelo. Bote f: o que signica? Quando se prepara um

    bom prato e v que falta o sal, voc ento bota o sal; falta

    o azeite, ento bota o azeite... Botar, ou seja, colocar,

    derramar. assim tambm na nossa vida, queridos jovens: se

    queremos que ela tenha realmente sendo e plenitude, como

    vocs mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada

    uma de vocs: bote f e a vida ter um sabor novo, ter

    uma bssola que indica a direo; bote esperana e todos

    os seus dias sero iluminados e o seu horizonte j no ser

    escuro, mas luminoso; bote amor e a sua existncia ser

    como uma casa construda sobre a rocha, o seu caminho ser

    alegre, porque encontrar muitos amigos que caminham com

    voc. Bote f, bote esperana, bote amor!

    Mas quem pode nos dar tudo isso? No Evangelho, escutamos

    a resposta: Cristo. Este o meu Filho, o Eleito. Escutai-O!

    HOMILIA

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    Jesus Aquele que nos traz a Deus e que nos leva a Deus; com

    Ele toda a nossa vida se transforma, se renova e ns podemos

    olhar a realidade com novos olhos, a parr da perspecva de

    Jesus e com os seus olhos (Carta enc. Lumen dei, 18). Por

    isso, hoje, lhes digo com fora: Bote Cristo na sua vida, e voc

    encontrar um amigo em quem sempre conar; bote Cristo,e voc ver crescer as asas da esperana para percorrer com

    alegria o caminho do futuro; bote Cristo e a sua vida car

    cheia do seu amor, ser uma vida fecunda.

    Hoje, queria que nos perguntssemos com sinceridade: em

    quem depositamos a nossa conana? Em ns mesmos, nas

    coisas, ou em Jesus? Senmo-nos tentados a colocar a ns

    mesmos no centro, a crer que somos somente ns que con-

    strumos a nossa vida, ou que ela se encha de felicidade com

    o possuir, com o dinheiro, com o poder. Mas no assim!

    verdade, o ter, o dinheiro, o poder podem gerar um momento

    de embriaguez, a iluso de ser feliz, mas, no m de contas, so

    eles que nos possuem e nos levam a querer ter sempre mais,

    a nunca estar saciados. Bote Cristo na sua vida, deposite

    nEle a sua conana e voc nunca se decepcionar! Vejam,

    queridos amigos, a f realiza na nossa vida uma revoluo que

    podamos chamar copernicana, porque nos ra do centro e o

    restui a Deus; a f nos imerge no seu amor que nos d segu-

    rana, fora, esperana. Aparentemente no muda nada, mas,

    no mais nmo de ns mesmos, tudo muda. No nosso corao,

    habita a paz, a mansido, a ternura, a coragem, a serenidade

    e a alegria, que so os frutos do Esprito Santo (cf. Gl 5, 22) e

    a nossa existncia se transforma, o nosso modo de pensar e

    agir se renova, torna-se o modo de pensar e de agir de Jesus,

    de Deus. No Ano da F, esta Jornada Mundial da Juventude

    justamente um dom que nos oferecido para carmos ainda

    mais perto de Jesus, para ser seus discpulos e seus mission-

    rios, para deixar que Ele renove a nossa vida.

    Querido jovem: bote Cristo na sua vida. Nestes dias, Ele lheespera na Palavra; escute-O com ateno e o seu corao ser

    inamado pela sua presena; Bote Cristo: Ele lhe acolhe no

    Sacramento do perdo, para curar, com a sua misericrdia,

    as feridas do pecado. No tenham medo de pedir perdo a

    Deus. Ele nunca se cansa de nos perdoar, como um pai que

    nos ama. Deus pura misericrdia! Bote Cristo: Ele lhe espera

    no encontro com a sua Carne na Eucarisa, Sacramento da

    sua presena, do seu sacricio de amor, e na humanidade de

    tantos jovens que vo lhe enriquecer com a sua amizade, lhe

    encorajar com o seu testemunho de f, lhe ensinar a linguagem

    da caridade, da bondade, do servio. Voc tambm, querido

    jovem, pode ser uma testemunha jubilosa do seu amor, uma

    testemunha corajosa do seu Evangelho para levar a este nosso

    mundo um pouco de luz.

    bom estarmos aqui, botando Cristo na nossa vida, botando

    a f, a esperana, o amor que Ele nos d. Queridos amigos,

    nesta celebrao acolhemos a imagem de Nossa Senhora

    Aparecida. Com Maria, queremos ser discpulos e missionrios.

    Como Ela, queremos dizer sim a Deus. Peamos ao seu cora-

    o de me que interceda por ns, para que os nossos coraes

    estejam disponveis para amar a Jesus e faz-lo amar. Ele est

    esperando por ns e conta conosco! Amm.

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    Carssimos irmos e amigos, bom dia!

    Dou graas divina Providncia por ter guiado meus pas-

    sos at aqui, na cidade de So Sebaso do Rio de Janeiro.

    Agradeo de corao sincero a Dom Orani e tambm a vocs

    pelo acolhimento caloroso, com que manifestam seu carinho

    pelo Sucessor de Pedro. Desejaria que a minha passagem por

    esta cidade do Rio renovasse em todos o amor a Cristo e

    Igreja, a alegria de estar unidos a Ele e de pertencer a Igreja e

    o compromisso de viver e testemunhar a f.

    Uma belssima expresso da f do povo a Hora da Ave

    Maria. uma orao simples que se reza nos trs momen-

    tos caracterscos da jornada que marcam o ritmo da nossa

    avidade quodiana: de manh, ao meio-dia e ao anoitecer.

    ALOCUO DO PAPA

    ANGELUS

    Balco do Arcebispado, Rio de JaneiroSexta-eira, 26 de Julho de 2013

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    , porm, uma orao importante; convido a todos a rez-la

    com a Ave Maria. Lembra-nos de um acontecimento luminoso

    que transformou a histria: a Encarnao, o Filho de Deus se

    fez homem em Jesus de Nazar.

    Hoje a Igreja celebra os pais da Virgem Maria, os avs de Jesus:

    So Joaquim e SantAna. Na casa deles, veio ao mundo Maria,trazendo consigo aquele mistrio extraordinrio da Imaculada

    Conceio; na casa deles, cresceu, acompanhada pelo seu amor

    e pela sua f; na casa deles, aprendeu a escutar o Senhor e

    seguir a sua vontade. So Joaquim e SantAna fazem parte de

    uma longa corrente que transmiu a f e o amor a Deus, no

    calor da famlia, at Maria, que acolheu em seu seio o Filho de

    Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a ns. Vemos aqui o

    valor precioso da famlia como lugar privilegiado para transmir

    a f! Olhando para o ambiente familiar, queria destacar uma

    coisa: hoje, na festa de So Joaquim e SantAna, no Brasil como

    em outros pases, se celebra a festa dos avs. Como os avs soimportantes na vida da famlia, para comunicar o patrimnio

    de humanidade e de f que essencial para qualquer socie -

    dade! E como importante o encontro e o dilogo entre as

    geraes, principalmente dentro da famlia. O Documento de

    Aparecida nos recorda: Crianas e ancios constroem o futuro

    dos povos; as crianas porque levaro por adiante a histria,

    os ancios porque transmitem a experincia e a sabedoria desuas vidas (Documento de Aparecida, 447). Esta relao, este

    dilogo entre as geraes um tesouro que deve ser conser-

    vado e alimentado! Nesta Jornada Mundial da Juventude, os

    jovens querem saudar os avs. Eles sadam os seus avs com

    muito carinho. Aos avs. Saudamos os avs. Eles, os jovens,

    sadam os seus avs com muito carinho e lhes agradecem pelo

    testemunho de sabedoria que nos oferecem connuamente.

    E agora, nesta praa, nas ruas adjacentes, nas casas que

    acompanham conosco este momento de orao, sintamo-nos

    como uma nica grande famlia e nos dirijamos a Maria para

    que guarde as nossas famlias, faa delas lares de f e de amor,onde se sinta a presena do seu Filho Jesus [reza do ngelus].

    25

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    Queridos jovens,

    Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de

    amor, o caminho da Cruz, que um dos momentos fortes

    da Jornada Mundial da Juventude. No nal do Ano Santo daRedeno, o Bem-aventurado Joo Paulo II quis con-la a

    vocs, jovens, dizendo-lhes: Levai-a pelo mundo, como sinal

    do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que

    s em Cristo morto e ressuscitado h salvao e redeno

    (Palavras aos jovens [22 de abril de 1984]: Insegnamen VII,1

    (1984), 1105). A parr de ento a Cruz percorreu todos os

    connentes e atravessou os mais variados mundos da existn-

    cia humana, cando quase que impregnada com as situaes

    de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ningum

    pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela

    e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua prpria vida. Nesta

    tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem trs

    perguntas nos seus coraes: O que vocs tero deixado na

    Cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela

    atravessou seu imenso Pas? E o que ter deixado a Cruz de

    Jesus em cada um de vocs? E, nalmente, o que esta Cruz

    ensina para a nossa vida?

    1. Uma anga tradio da Igreja de Roma conta que o Apstolo

    Pedro, saindo da cidade para fugir da perseguio do Imperador

    Nero, viu que Jesus caminhava na direo oposta e, admirado,

    lhe perguntou: Para onde vais, Senhor?. E a resposta de Je-

    sus foi: Vou a Roma para ser crucicado outra vez. Naquele

    momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com

    coragem at o m, mas entendeu sobretudo que nunca estava

    sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que

    o amara at o ponto de morrer na Cruz. Pois bem, Jesus com a

    sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos

    medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo

    os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se une ao silncio das

    vmas da violncia, que j no podem clamar, sobretudo os

    inocentes e indefesos; nela Jesus se une s famlias que passampor diculdades, que choram a perda de seus lhos, ou que

    sofrem vendo-os presas de parasos arciais como a droga;

    nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num

    mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela

    Jesus se une a quem perseguido pela religio, pelas ideias,

    ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos

    jovens que perderam a conana nas instuies polcas,

    por verem egosmo e corrupo, ou que perderam a f naIgreja, e at mesmo em Deus, pela incoerncia de cristos e de

    ministros do Evangelho. Na Cruz de Cristo, est o sofrimento,

    o pecado do homem, o nosso tambm, e Ele acolhe tudo com

    seus braos abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes

    e nos diz: Coragem! Voc no est sozinho a lev-la! Eu a levo

    com voc. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperana, dar-

    lhe vida (cf. Jo 3,16).

    2. E assim podemos responder segunda pregunta: o que

    foi que a Cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a

    tocaram? O que deixa em cada um de ns? Deixa um bem queningum mais pode nos dar: a certeza do amor inabalvel de

    Deus por ns. Um amor to grande que entra no nosso pe-

    cado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos d a fora

    para poder lev-lo, entra tambm na morte para derrot-la

    e nos salvar. Na Cruz de Cristo, est todo o amor de Deus, a

    sua imensa misericrdia. E este um amor em que podemos

    conar, em que podemos crer. Queridos jovens, conemos em

    Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele (cf. Carta enc. Lumen

    dei, 16)! S em Cristo morto e ressuscitado encontramos

    salvao e redeno. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte

    no tm a lma palavra, porque Ele nos d a esperana e a

    vida: transformou a Cruz, de instrumento de dio, de derrota,

    de morte, em sinal de amor, de vitria e de vida.

    O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de Terra de

    Santa Cruz. A Cruz de Cristo foi plantada no s na praia, h

    mais de cinco sculos, mas tambm na histria, no corao e na

    vida do povo brasileiro e no s: o Cristo sofredor, senmo-lo

    prximo, como um de ns que comparlha o nosso caminho

    at o nal. No h cruz, pequena ou grande, da nossa vida que

    o Senhor no venha comparlhar conosco.

    3. Mas a Cruz de Cristo tambm nos convida a deixar-nos con-

    tagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o

    VIA-SACRA COM OS JOVENS

    PALAVRAS DO PAPA

    Copacabana, Rio de JaneiroSexta-eira, 26 de Julho de 2013

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    outro com misericrdia e amor, sobretudo quem sofre, quem

    tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um ges-

    to; ensina-nos a sair de ns mesmos para ir ao encontro destas

    pessoas e lhes estender a mo. Tantos rostos acompanharam

    Jesus no seu caminho at a Cruz: Pilatos, o Cireneu, Maria, as

    mulheres... Tambm ns diante dos demais podemos ser comoPilatos que no teve a coragem de ir contra a corrente para

    salvar a vida de Jesus, lavando-se as mos. Queridos amigos,

    a Cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cireneu, que ajuda

    Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras

    mulheres, que no veram medo de acompanhar Jesus at o

    nal, com amor, com ternura. E voc como ? Como Pilatos,

    como o Cireneu, como Maria?

    Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofri-

    mentos, os nossos fracassos para a Cruz de Cristo; encontra-remos um Corao aberto que nos compreende, perdoa, ama

    e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para

    amar cada irmo e irm com este mesmo amor. Assim seja!

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    MISSA COM OS BISPOS DA JMJ,SACERDOTES, RELIGIOSOS E SEMINARISTAS

    HOMILIA

    Catedral de So Sebaso, Rio de JaneiroSbado, 27 de Julho de 2013

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    Amados Irmos em Cristo,

    Vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminar-

    istas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso

    nas palavras do Salmo da Missa de hoje: Que as naes vos

    gloriquem, Senhor (Sl 66). Sim, estamos aqui reunidos paragloricar o Senhor; e o fazemos rearmando a nossa vontade

    de sermos seus instrumentos, para que no somente algumas

    naes mas todas gloriquem o Senhor. Com a mesma par-

    resia coragem, ousadia - de Paulo e Barnab, anunciemos o

    Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo, luz

    para o caminho, e se tornem construtores de um mundo mais

    fraterno. Neste sendo, queria reer com vocs sobre trs

    aspectos da nossa vocao: chamados por Deus; chamados

    para anunciar o Evangelho; chamados a promover a cultura

    do encontro.

    1. Chamados por Deus. importante reavivar em ns esta

    realidade que, frequentemente, damos por descontada emmeio a tantas avidades do dia-a-dia: No fostes vs que

    me escolhestes, mas eu que vos escolhi, diz-nos Jesus (Jo

    15,16). Signica retornar fonte da nossa chamada. No incio

    de nosso caminho vocacional, h uma eleio divina. Fomos

    chamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus

    (cf. Mc 3, 14), unidos a Ele de um modo to profundo que nos

    permite dizer com So Paulo: Eu vivo, mas no eu, Cristo

    que vive em mim (Gal 2, 20). Este viver em Cristo congura

    realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta vida em

    Cristo justamente o que garante a nossa eccia apostlica,

    a fecundidade do nosso servio: Eu vos designei para irdese para que produzais fruto e o vosso fruto permanea (Jo

    15,16). No a criavidade pastoral, no so as reunies ou

    planejamentos que garantem os frutos, mas ser el a Jesus,

    que nos diz com insistncia: Permanecei em mim, e eu per-

    manecerei em vs (Jo 15, 4). E ns sabemos bem o que isso

    signica: Contempl-lo, ador-lo e abra-lo, parcularmente

    atravs da nossa delidade vida de orao, do nosso encon-

    tro dirio com Ele presente na Eucarisa e nas pessoas mais

    necessitadas. O permanecer com Cristo no se isolar, mas

    um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me

    cabea umas palavras da Bem-aventurada Madre Teresa de

    Calcut: Devemos estar muito orgulhosas da nossa vocao,

    que nos d a oportunidade de servir Cristo nos pobres. nas

    favelas, nos cantegriles nas Villas miseria, que ns devemos ir

    procurar e servir a Cristo. Devemos ir at eles como o sacerdote

    se aproxima do altar, cheio de alegria (Mother Instrucons,

    I, p.80). Jesus, Bom Pastor, o nosso verdadeiro tesouro; pro-

    curemos xar sempre mais nEle o nosso corao (cf. Lc 12, 34).

    2. Chamados para anunciar o Evangelho. Queridos bispos e

    sacerdotes, muitos de vocs, seno todos, vieram acompanharseus jovens Jornada Mundial. Eles tambm ouviram as pala-

    vras do mandato de Jesus: Ide e fazei discpulos entre todas

    as naes (cf. Mt 28,19). nosso compromisso ajud-los a

    fazer arder, no seu corao, o desejo de serem discpulos mis-

    sionrios de Jesus. Certamente muitos, diante desse convite,

    poderiam senr-se um pouco atemorizados, imaginando que

    ser missionrio signica deixar necessariamente o Pas, a famlia

    e os amigos. Recordo o meu sonho da juventude: parr mission-

    rio para o longnquo Japo. Mas Deus me mostrou que o meu

    territrio de misso estava muito mais perto: na minha ptria.

    Ajudemos os jovens a perceberem que ser discpulo missionrio

    uma consequncia de ser bazado, parte essencial do ser

    cristo, e que o primeiro lugar onde evangelizar a prpria casa,

    o ambiente de estudo ou de trabalho, a famlia e os amigos.

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    No poupemos foras na formao da juventude! So Paulo

    usa uma bela expresso, que se tornou realidade na sua vida,

    dirigindo-se aos seus cristos: Meus lhos, por vs sinto de

    novo as dores do parto at Cristo ser formado em vs (Gal 4,

    19). Tambm ns faamos que isso se torne realidade no nosso

    ministrio! Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem ea alegria da f, a alegria de ser pessoalmente amados por Deus,

    que deu o seu Filho Jesus para nossa salvao. Eduquemo-los

    para a misso, para sair, para parr. Jesus fez assim com os seus

    discpulos: no os manteve colados a si, como uma galinha com

    os seus pinnhos; Ele os enviou! No podemos car encerrados

    na parquia, nas nossas comunidades, quando h tanta gente

    esperando o Evangelho! No se trata simplesmente de abrir a

    porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar

    e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a parr da

    periferia, daqueles que esto mais afastados, daqueles que

    habitualmente no freqentam a parquia. Tambm eles soconvidados para a Mesa do Senhor.

    3. Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos

    ambientes, infelizmente, ganhou espao a cultura da excluso,

    a cultura do descartvel. No h lugar para o idoso, nem para

    o lho indesejado; no h tempo para se deter com o pobre

    cado margem da estrada. s vezes parece que, para alguns,

    30

    as relaes humanas sejam regidas por dois dogmas mod-

    ernos: ecincia e pragmasmo. Queridos Bispos, sacerdotes,

    religiosos e tambm vocs, seminaristas, que se preparam

    para o ministrio, tenham a coragem de ir contra a corrente.

    No renunciemos a este dom de Deus: a nica famlia dos seus

    lhos. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade ea fraternidade so os elementos que tornam a nossa civilizao

    verdadeiramente humana.

    Temos de ser servidores da comunho e da cultura do encon-

    tro. Permitam-me dizer: deveramos ser quase obsessivos neste

    aspecto! No queremos ser presunosos, impondo as nossas

    verdades. O que nos guia a certeza humilde e feliz de quem

    foi encontrado, alcanado e transformado pela Verdade que

    Cristo, e no pode deixar de anunci-la (cf. Lc 24, 13-35).

    Queridos irmos e irms, fomos chamados por Deus, chamadospara anunciar o Evangelho e promover corajosamente a cultura

    do encontro. A Virgem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida,

    Ela deu exemplo daquele afeto maternal de que devem estar

    animados todos quantos cooperam na misso apostlica que

    a Igreja, tem de regenerar os homens (Conc. Ecum. Vat. II,

    Cost. dogm. Lumen genum, 65). Seja Ela a Estrela que guia

    com segurana nossos passos ao encontro do Senhor. Amm.

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    Excelncias,

    Senhoras e Senhores, bom dia!

    Agradeo a Deus pela possibilidade de me encontrar com

    to respeitvel representao dos responsveis polcos ediplomcos, culturais e religiosos, acadmicos e empresariais

    deste Brasil imenso.

    Queria lhes falar usando a bela lngua portuguesa de vocs

    mas, para poder me expressar melhor manifestando o que

    trago no corao, prero falar em castelhano. Peo-lhes a

    cortesia de me perdoar!

    Sado cordialmente a todos e lhes expresso o meu reconhe-

    cimento. Agradeo a Dom Orani e ao senhor Walmyr Jnior

    as amveis palavras de boas vindas, de apresentao e tes-

    temunho. Nas senhoras e nos senhores, vejo a memria e a

    esperana: a memria do caminho e da conscincia da sua

    Ptria e a esperana que esta Ptria, sempre aberta luz que

    irradia do Evangelho, possa connuar a desenvolver-se no

    pleno respeito dos princpios cos fundados na dignidade

    transcendente da pessoa.

    Memria do passado e utopia na perspecva do futuro se

    encontram no presente, que no uma conjuntura sem

    histria e sem promessa, mas um momento no tempo, um

    desao a recolher sabedoria e sab-la projetar. Todos aqueles

    que possuem um papel de responsabilidade, em uma Nao,

    so chamados a enfrentar o futuro "com os olhos calmos dequem sabe ver a verdade", como dizia o pensador brasileiro

    Alceu Amoroso Lima [Nosso tempo, in: A vida sobrenatu-

    ral e o mundo moderno (Rio de Janeiro 1956), 106]. Queria

    comparlhar com os senhores e senhoras trs aspectos deste

    olhar calmo, sereno e sbio: primeiro, a originalidade de uma

    tradio cultural; segundo, a responsabilidade solidria para

    construir o futuro; e terceiro, o dilogo construvo para en-

    carar o presente.

    1. Antes de mais nada, justo valorizar a originalidade dinmica

    que caracteriza a cultura brasileira, com a sua extraordinria

    capacidade para integrar elementos diversos. O senr comum

    de um povo, as bases do seu pensamento e da sua criavidade,

    os princpios fundamentais da sua vida, os critrios de juzo

    sobre as prioridades, sobre as normas de ao, assentam,

    fundem-se e crescem numa viso integral da pessoa humana.

    Esta viso do homem e da vida, tal como a fez prpria o povo

    brasileiro, recebeu tambm a seiva do Evangelho, a f em Je-

    sus Cristo, no amor de Deus e a fraternidade com o prximo.

    A riqueza desta seiva pode fecundar um processo cultural

    el idendade brasileira e, ao mesmo tempo, um processo

    construtor de um futuro melhor para todos. Um processo que

    faz crescer a humanizao integral e a cultura do encontro e

    do relacionamento; este o modo cristo de promover o bem

    comum, a alegria de viver. E aqui convergem a f e a razo, a

    dimenso religiosa com os diversos aspectos da cultura hu-

    mana: arte, cincia, trabalho, literatura... O crisanismo une

    transcendncia e encarnao; tem a capacidade de revitalizar

    sempre o pensamento e a vida, frente ameaa da frustrao

    e do desencanto que podem invadir os coraes e saltam para

    a rua.

    2. O segundo elemento que queria tocar a responsabilidade

    social. Esta exige um certo po de paradigma cultural e, conse-

    quentemente, de polca. Somos responsveis pela formao

    de novas geraes, por ajud-las a ser hbeis na economia e

    na polca, e rmes nos valores cos. O futuro exige hoje o

    trabalho de reabilitar a polca; reabilitar a polca, que uma

    das formas mais altas da caridade. O futuro exige tambmuma viso humanista da economia e uma polca que realize

    cada vez mais e melhor a parcipao das pessoas, evitando

    elismos e erradicando a pobreza. Que ningum que privado

    do necessrio, e que a todos sejam asseguradas dignidade,

    fraternidade e solidariedade: esta a estrada proposta. J no

    tempo do profeta Ams era muito frequente a advertncia

    de Deus: Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por

    um par de sandlias; esmagam a cabea dos fracos no p da

    terra e tornam a vida dos oprimidos impossvel (Am 2, 6-7).

    Os gritos por jusa connuam ainda hoje.

    Quem detm uma funo de guia permitam-me dizer quem

    a vida ungiu como guia deve ter objevos concretos e buscar

    os meios especcos para alcan-los, mas tambm pode haver

    ENCONTRO COM A CLASSE DIRIGENTE DO BRASIL

    DISCURSO

    Teatro Municipal, Rio de JaneiroSbado, 27 de Julho de 2013

    31

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    o perigo da desiluso, da amargura, da indiferena, quando

    as aspiraes no se realizam. Aqui fao apelo dinmica da

    esperana, que nos impele a ir sempre mais longe, a empregar

    todas as energias e capacidades a favor das pessoas para quem

    se trabalha, aceitando os resultados e criando condies para

    descobrir novos caminhos, dando-se mesmo sem ver resulta-dos, mas mantendo viva a esperana, com aquela constncia

    e coragem que nascem da aceitao da prpria vocao de

    guia e de dirigente.

    prprio da liderana escolher a mais justa entre as opes,

    aps t-las considerado, parndo da prpria responsabilidade

    e do interesse pelo bem comum; por esta estrada, chega-se ao

    centro dos males da sociedade, para venc-los com a ousadia

    de aes corajosas e livres. nossa responsabilidade, embora

    sempre limitada, esta compreenso global da realidade, ob-

    servando, medindo, avaliando, para tomar decises na hora

    presente, mas estendendo o olhar para o futuro, reendo

    sobre as consequncias de tais decises. Quem atua respon-

    savelmente, submete a prpria ao aos direitos dos outros

    e ao juzo de Deus. Este sendo co aparece, nos nossos

    dias, como um desao histrico sem precedentes; devemos

    procur-lo, devemos inseri-lo na prpria sociedade. Alm da

    racionalidade cienca e tcnica, na atual situao, impe-se

    o vnculo moral com uma responsabilidade social e profunda-

    mente solidria.

    3. Para completar esta reexo, alm do humanismo integral,

    que respeite a cultura original, e da responsabilidade solidria,

    considero fundamental para enfrentar o presente: o dilogo

    construvo. Entre a indiferena egosta e o protesto violento,

    h uma opo sempre possvel: o dilogo. O dilogo entre as

    geraes, o dilogo no povo, porque todos somos povo, a ca-

    pacidade de dar e receber, permanecendo abertos verdade.

    Um pas cresce, quando dialogam de modo construvo as

    suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura

    universitria, a cultura juvenil, a cultura arsca e a cultura

    tecnolgica, a cultura econmica e a cultura da famlia, e acultura da mdia. Quando dialogam impossvel imaginar

    um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuio

    das energias morais numa democracia que permanea fechada

    na pura lgica ou no mero equilbrio de representao de in-

    teresses constudos. Considero tambm fundamental neste

    dilogo a contribuio das grandes tradies religiosas, que

    desempenham um papel fecundo de fermento da vida social

    e de animao da democracia. Favorvel pacca convivncia

    entre religies diversas a laicidade do Estado que, sem as-

    sumir como prpria qualquer posio confessional, respeita

    e valoriza a presena da dimenso religiosa na sociedade,

    favorecendo as suas expresses mais concretas.

    Quando os lderes dos diferentes setores me pedem um con-

    selho, a minha resposta sempre a mesma: dilogo, dilogo,

    dilogo. A nica maneira para uma pessoa, uma famlia, uma

    sociedade crescer, a nica maneira para fazer avanar a vida

    dos povos a cultura do encontro; uma cultura segundo a

    qual todos tm algo de bom para dar, e todos podem receber

    em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar,desde que saibamos nos aproximar dele com uma atude

    aberta e disponvel, sem preconceitos. Esta atude aberta,

    disponvel e sem preconceitos, eu a deniria como humildade

    social que o que favorece o dilogo. S assim pode crescer

    o bom entendimento entre as culturas e as religies, a esma

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    de umas pelas outras livre de suposies gratuitas e num clima

    de respeito pelos direitos de cada uma. Hoje, ou se aposta no

    dilogo, na cultura do encontro, ou todos perdemos. Todos

    perdemos Passa por aqui o caminho fecundo.

    Excelncias,Senhoras e Senhores!

    Agradeo-lhes pela ateno. Acolham estas palavras como

    expresso da minha solicitude de Pastor de Igreja e do respeito

    e afeto que nutro pelo povo brasileiro. A fraternidade entre os

    homens e a colaborao para construir uma sociedade mais

    justa no so um sonho fantasioso, mas o resultado de um

    esforo harmnico de todos em favor do bem comum. Encorajo

    os senhores neste seu empenho em favor do bem comum, que

    exige da parte de todos sabedoria, prudncia e generosidade.

    Cono-lhes ao Pai do Cu, pedindo-lhe, por intercesso deNossa Senhora Aparecida, que cumule de seus dons a cada

    um dos presentes, suas respecvas famlias e comunidades

    humanas e de trabalho e, de corao, peo a Deus que lhes

    abenoe. Muito obrigado!

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    Queridos Irmos!

    Como bom e agradvel encontrar-me aqui com vocs, Bispos

    do Brasil!

    Obrigado por terem vindo, e permitam que lhes fale como

    amigos, pelo que prero usar o castelhano, para poder ex-

    pressar melhor aquilo que levo no corao. Peo-lhes que me

    perdoem!

    Reramo-nos um pouco, neste lugar preparado por nosso

    irmo Dom Orani, para estar sozinhos e poder falar de co-

    rao a corao como Pastores a quem Deus conou o seu

    Rebanho. Nas ruas do Rio, jovens de todo o mundo e muitas

    outras muldes esto esperando por ns, necessitados de

    serem envolvidos pelo olhar misericordioso de Cristo BomPastor, que ns somos chamados a tornar presente. Por isso,

    gozemos deste momento de descanso, de parlha, de verda-

    deira fraternidade.

    Comeando pela Presidncia da Conferncia Episcopal e do

    Arcebispo do Rio de Janeiro, quero abraar a todos e cada um,

    especialmente aos Bispos emritos.

    Mais do que um discurso formal, quero comparlhar algumas

    reexes com vocs.

    A primeira veio minha mente, quando da outra vez visitei

    o Santurio de Aparecida. L, ao p da imagem da Imacu-

    lada Conceio, eu rezei por vocs, por suas Igrejas, por seus

    presbteros, religiosos e religiosas, por seus seminaristas,

    pelos leigos e as suas famlias, em parcular pelos jovens e os

    idosos, j que ambos constuem a esperana de um povo: os

    jovens, porque eles carregam a fora, o sonho, a esperana do

    futuro, e os idosos, porque eles so a memria, a sabedoria

    de um povo.[1]

    1. APARECIDA: CHAVE DE LEITURA PARA AMISSO DA IGREJA

    Em Aparecida, Deus ofereceu ao Brasil a sua prpria Me. Mas,

    em Aparecida, Deus deu tambm uma lio sobre Si mesmo,

    sobre o seu modo de ser e agir. Uma lio sobre a humildade

    que pertence a Deus como trao essencial e que est no DNA

    de Deus. H algo de perene para aprender sobre Deus e sobre

    a Igreja, em Aparecida; um ensinamento, que nem a Igreja no

    Brasil nem o prprio Brasil devem esquecer.

    No incio do evento que Aparecida, est a busca dos pes-

    cadores pobres. Tanta fome e poucos recursos. As pessoas

    sempre precisam de po. Os homens partem sempre das suas

    carncias, mesmo hoje.

    Possuem um barco frgil, inadequado; tm redes decadentes,

    talvez mesmo danicadas, insucientes.

    Primeiro, h a labuta, talvez o cansao, pela pesca, mas o

    resultado escasso: um falimento, um insucesso. Apesar dos

    esforos, as redes esto vazias.

    Depois, quando foi da vontade de Deus, comparece Ele mesmono seu Mistrio. As guas so profundas e, todavia, encerram

    sempre a possibilidade de Deus; e Ele chegou de surpresa,

    quem sabe quando j no o espervamos. A pacincia dos que

    esperam por Ele sempre posta prova. E Deus chegou de uma

    maneira nova, porque Deus surpresa: uma imagem de barro

    frgil, escurecida pelas guas do rio, envelhecida tambm pelo

    tempo. Deus entra sempre nas vestes da pequenez.

    Veem ento a imagem da Imaculada Conceio. Primeiro o

    corpo, depois a cabea, em seguida a unicao de corpo e

    cabea: a unidade. Aquilo que estava quebrado retoma a uni-

    dade. O Brasil colonial estava dividido pelo muro vergonhoso

    da escravatura. Nossa Senhora Aparecida se apresenta com

    a face negra, primeiro dividida mas depois unida, nas mos

    dos pescadores.

    H aqui um ensinamento que Deus quer nos oferecer. Sua bele-

    za reeda na Me, concebida sem pecado original, emerge

    da obscuridade do rio. Em Aparecida, logo desde o incio, Deus

    d uma mensagem de recomposio do que est fraturado, de

    compactao do que est dividido. Muros, abismos, distncias

    ainda hoje existentes esto desnados a desaparecer. A Igreja

    no pode descurar esta lio: ser instrumento de reconciliao.

    Os pescadores no desprezam o mistrio encontrado no rio,

    embora seja um mistrio que aparece incompleto. No jogam

    fora os pedaos do mistrio. Esperam a plenitude. E esta no

    ENCONTRO COM O EPISCOPADO BRASILEIRO

    DISCURSO

    Arcebispado do Rio de JaneiroSbado, 27 de Julho de 2013

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    demora a chegar. H aqui algo de sabedoria que devemos

    aprender. H pedaos de um mistrio, como partes de um

    mosaico, que vamos encontrando. Ns queremos ver muito

    rpido a totalidade; e Deus, pelo contrrio, Se faz ver pouco

    a pouco. Tambm a Igreja deve aprender esta expectava.

    Depois, os pescadores trazem para casa o mistrio. O povosimples tem sempre espao para albergar o mistrio. Talvez

    ns tenhamos reduzido a nossa exposio do mistrio a uma

    explicao racional; no povo, pelo contrrio, o mistrio entra

    pelo corao. Na casa dos pobres, Deus encontra sempre lugar.

    Os pescadores agasalham: revestem o mistrio da Virgem

    pescada, como se Ela vesse frio e precisasse ser aquecida.

    Deus pede para car abrigado na parte mais quente de ns

    mesmos: o corao. Depois Deus que irradia o calor de que

    precisamos, mas primeiro entra com o subterfgio de quem

    mendiga. Os pescadores cobrem o mistrio da Virgem com

    o manto pobre da sua f. Chamam os vizinhos para verem abeleza encontrada; eles se renem volta dela; contam as suas

    penas em sua presena e lhe conam as suas causas. Permitem

    assim que possam implementar-se as intenes de Deus: uma

    graa, depois a outra; uma graa que abre para outra; uma

    graa que prepara outra. Gradualmente Deus vai desdobrando

    a humildade misteriosa de sua fora.

    H muito para aprender nessa atude dos pescadores. Uma

    Igreja que d espao ao mistrio de Deus; uma Igreja que al-

    berga de tal modo em si mesma esse mistrio, que ele possa

    encantar as pessoas, atra-las. Somente a beleza de Deus pode

    atrair. O caminho de Deus o encanto que atrai. Deus faz-se

    levar para casa. Ele desperta no homem o desejo de guard-

    lo em sua prpria vida, na prpria casa, em seu corao. Ele

    desperta em ns o desejo de chamar os vizinhos, para dar-lhes

    a conhecer a sua beleza. A misso nasce precisamente dessa

    fascinao divina, dessa maravilha do encontro. Falamos demisso, de Igreja missionria. Penso nos pescadores que

    chamam seus vizinhos para verem o mistrio da Virgem. Sem

    a simplicidade do seu comportamento, a nossa misso est

    fadada ao fracasso.

    A Igreja tem sempre a necessidade urgente de no desaprender

    a lio de Aparecida; no a pode esquecer. As redes da Igreja

    so frgeis, talvez remendadas; a barca da Igreja no tem a

    fora dos grandes transatlncos que cruzam os oceanos. E,

    contudo, Deus quer se manifestar justamente atravs dos nos-

    sos meios, meios pobres, porque sempre Ele que est agindo.

    Queridos irmos, o resultado do trabalho pastoral no as -senta na riqueza dos recursos, mas na criavidade do amor.

    Fazem falta certamente a tenacidade, a fadiga, o trabalho, o

    planejamento, a organizao, mas, antes de tudo, voc deve

    saber que a fora da Igreja no reside nela prpria, mas se es-

    conde nas guas profundas de Deus, nas quais ela chamada

    a lanar as redes.

    Outra lio que a Igreja deve sempre lembrar que no

    pode afastar-se da simplicidade; caso contrrio, desaprende

    a linguagem do Mistrio. E no s ela ca fora da porta do

    Mistrio, mas, obviamente, no consegue entrar naqueles

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    que pretendem da Igreja aquilo que no podem dar-se por

    si mesmos: Deus. s vezes, perdemos aqueles que no nos

    entendem, porque desaprendemos a simplicidade, inclusive

    importando de fora uma racionalidade alheia ao nosso povo.

    Sem a gramca da simplicidade, a Igreja se priva das condies

    que tornam possvel pescar Deus nas guas profundas doseu Mistrio.

    Uma lma lembrana: Aparecida surgiu em um lugar de cru-

    zamento. A estrada que ligava Rio, a capital, com So Paulo,

    a provncia empreendedora que estava nascendo, e Minas

    Gerais, as minas muito cobiadas pelas cortes europeias: uma

    encruzilhada do Brasil colonial. Deus aparece nos cruzamentos.

    A Igreja no Brasil no pode esquecer esta vocao inscrita em

    si mesma desde a sua primeira respirao: ser capaz de sstole

    e distole, de recolher e divulgar.

    2. APREO PELO PERCURSO DA IGREJA NOBRASIL

    Os Bispos de Roma veram sempre o Brasil e sua Igreja em

    seu corao. Um maravilhoso percurso foi realizado. Passou-se

    das 12 dioceses durante o Conclio Vacano I para as atuais

    275 circunscries. No teve incio a expanso de um aparato

    governamental ou de uma empresa, mas sim o dinamismo dos

    cinco pes e dois peixes de que fala o Evangelho que,

    entrando em contato com a bondade do Pai, em mos cale-

    jadas, tornaram-se fecundos.

    Hoje, queria agradecer o trabalho sem parcimnia de vocs,

    Pastores, em suas Igrejas. Penso nos Bispos nas orestas, sub-

    indo e descendo os rios, nas regies semiridas, no Pantanal,

    na pampa, nas selvas urbanas das megalpoles. Amem sempre,

    com total dedicao, o seu rebanho! Mas penso tambm em

    tantos nomes e tantas faces, que deixaram marcas indelveis

    no caminho da Igreja no Brasil, fazendo palpar com a mo a

    grande bondade de Deus por esta Igreja[2].

    Os Bispos de Roma nunca lhes deixaram ss; seguiram de

    perto, encorajaram, acompanharam. Nas lmas dcadas, o

    Beato Joo XXIII convidou com insistncia os Bispos brasileirosa prepararem o seu primeiro plano pastoral e, daquele incio,

    cresceu uma verdadeira tradio pastoral no Brasil, que fez

    com que a Igreja no fosse um transatlnco deriva, mas

    vesse sempre uma bssola. O Servo de Deus Paulo VI, para

    alm de encorajar a recepo do Conclio Vacano II, com deli-

    dade mas tambm com traos originais (veja-se a Assembleia

    Geral do CELAM, em Medelln), inuiu decisivamente sobre a

    autoconscincia da Igreja no Brasil atravs do Snodo sobre a

    evangelizao e de um texto fundamental de referncia que

    connua atual: a Evangelii nunandi. O Beato Joo Paulo II

    visitou o Brasil trs vezes, percorrendo-o de cabo a rabo, de

    norte a sul, insisndo sobre a misso pastoral da Igreja, a co-

    munho e parcipao, a preparao do Grande Jubileu, a nova

    evangelizao. Bento XVI escolheu Aparecida para realizar a V

    Assembleia Geral do CELAM e isso deixou uma grande marca

    na Igreja de todo o Connente.

    A Igreja no Brasil recebeu e aplicou com originalidade o Con-

    clio Vacano II e o percurso realizado, embora tenha do de

    superar determinadas doenas infans, levou a uma Igreja

    gradualmente mais madura, aberta, generosa, missionria.Hoje estamos em um novo momento. Segundo a feliz expresso

    do Documento de Aparecida, no uma poca de mudana,

    mas uma mudana de poca. Sendo assim, hoje cada vez mais

    urgente nos perguntarmos: O que Deus pede a ns? A esta

    pergunta, queria tentar oferecer qualquer linha de resposta.

    3. O CONE DE EMAS COMO CHAVE DE LEITURA DO PRESENTE E DO FUTURO

    Antes de mais nada, no devemos ceder ao medo, de que

    falava o Beato John Henry Newman: O mundo cristo estgradualmente se tornando estril, e esgota-se como uma

    terra profundamente explorada que se torna areia.[3] No

    devemos ceder ao desencanto, ao desnimo, s lamentaes.

    Ns trabalhamos duro e, s vezes, nos parece acabar derrota-

    dos: apodera-se de ns o senmento de quem tem de fazer o

    balano de uma estao j perdida, olhando para aqueles que

    nos deixam ou j no nos consideram credveis, relevantes.

    Vamos ler a esta luz, mais uma vez, o episdio de Emas (cf.

    Lc 24, 13-15). Os dois discpulos escapam de Jerusalm. Eles

    se afastam da nudez de Deus. Esto escandalizados com o

    falimento do Messias, em quem haviam esperado e que agora

    aparece irremediavelmente derrotado, humilhado, mesmo

    aps o terceiro dia (cf. vv. 17-21). O mistrio dicil das pessoas

    que abandonam a Igreja; de pessoas que, aps deixar-se iludir

    por outras propostas, consideram que a Igreja a sua Jerusalm

    nada mais possa lhes oferecer de signicavo e importante.

    E assim seguem pelo caminho sozinhos, com a sua desiluso.

    Talvez a Igreja lhes aparea demasiado frgil, talvez demasiado

    longe das suas necessidades, talvez demasiado pobre para dar

    resposta s suas inquietaes, talvez demasiado fria para comelas, talvez demasiado auto-referencial, talvez prisioneira da

    prpria linguagem rgida, talvez lhes parea que o mundo fez

    da Igreja uma relquia do passado, insuciente para as novas

    questes; talvez a Igreja tenha respostas para a infncia do

    homem, mas no para a sua idade adulta.[4] O fato que hoje

    h muitos que so como os dois discpulos de Emas; e no

    apenas aqueles que buscam respostas nos novos e difusos

    grupos religiosos, mas tambm aqueles que parecem j viver

    sem Deus tanto em teoria como na prca.

    PERANTE ESTA SITU