fundação nacional do Índio · 2016. 2. 12. · ministério da justiça comissão nacional de...
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Ministério da Justiça Comissão Nacional de Política Indigenista
2ª Reunião Extraordinária Baía da Traição - Paraíba, 13 e 14 de março de 2008
Ata da 2ª Reunião Extraordinária da
Comissão Nacional de Política Indigenista
Nos dias 13 e 14 do mês de março do ano de dois mil e oito, na Pousada das Ocas,
Baía da Traição, Paraíba, realizou-se a 2ª Reunião Extraordinária da Comissão Nacional de
Política Indigenista, com a participação dos seguintes representantes indígenas: Ak'jabor
Kayapó, Antonio Pessoa Potiguara, Brasílio Priprá, Danilo Terena, Deoclides de Paula, Francisca
Pareci, Heliton Gavião, José Ciríaco Sobrinho, Kohalue Karajá, Lindomar Xocó, Luiz Titiah
Pataxó Hã Hã Hãe, Marcos Xucuru, Pierlângela Wapichana, Ricardo Weibe, Sandro Tuxá,
Wilson Matos; representantes de governo: Celso Correa – Casa Civil, Cel. José Caixeta
Ribeiro, Carlos Nogueira da Costa Junior – Ministério de Minas e Energia; Edgard Magalhães –
Funasa, Armênio Belo Schimdt – Ministério da Educação; Lylia Galetti, Ministério do Meio
Ambiente; Aderval Costa Filho – Ministério do Desenvolvimento Social; Kleber Gesteira Matos
– Casa Civil; Cel. Marinho Pereira Filho – Ministério da Defesa; Olga Cristina Novion –
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Jorge Luiz Quadros – Ministério da Justiça;
Terezinha Maglia, Ministério da Justiça; Márcio Augusto Freitas de Meira – Funai; convidados:
Alda Freire de Carvalho – Advocacia Geral da União; Carlos Eduardo da Cunha – MRE; Silvia
Maria Pratini – MME; Ricardo Fernandes – MME; Márcia Camargo – MME; Paulo Nascimento
– Ministério de Minas e Energia; Leilá Fernandes – Secretaria de Defesa dos Direitos Humanos;
Antonio Salmeirão – PGE – Funai; Yara Vasques – CGPIMA - Funai; Aldayr Brasil – Projeto
Rondon.
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Consiste o presente documento da transcrição, ipsis verbis, em sua maior parte,
das falas dos membros da Comissão Nacional de Política Indigenista e dos demais participantes
de sua 2ª Reunião Extraordinária, conforme a seguir.
Manhã do dia 13 de maio
Presidente Márcio Meira: Diante da dificuldade ontem de chegada de alguns componentes da
Comissão, podemos justificar esse pequeno atraso no início dos nossos trabalhos. [Intervenção
fora do microfone]. Eu tenho informação de que há uma apresentação para a qual somos
convidados e faço a consulta, acho importante ouvir os nossos anfitriões, agradecer ao Capitão e
ao Caboquinho e deixar que informem sobre essa apresentação.
Caboquinho Potiguara: Bom dia para todos. Eu queria fazer um convite a todos porque
convidamos a comunidade para apresentar o Toré na abertura desse trabalho hoje. Eu queria que
fosse aceita essa proposta por toda a comissão.
Presidente Márcio Meira – [Após consultar a plenária] Está aceita por unanimidade. Vamos
para lá? Então vamos. [Intervenção fora do microfone]. A gente segue a orientação do
Caboquinho e do Capitão, então vamos lá.
Retornando da apresentação do Toré, o presidente encaminhou os trabalhos no
sentido de se seguir a pauta, e na qual constava como primeiro item o relato das subcomissões,
iniciando-se pela Subcomissão de Educação Escolar Indígena. A relatora, Francisca Pareci,
informou que a reunião da Subcomissão contara com a presença dos membros indígenas da
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CNPI, de Maria Helena Sousa Fialho, Coordenadora Geral de Educação da Funai, Eduardo
Barnes e o representante do Ministério da Educação, Armênio Schmidt, com o qual discutiram
sobre os seguintes temas: realização da Conferência Nacional de Educação; PAR indígena, no
âmbito do que discutiram especialmente a situação dos projetos encaminhados pelas secretarias
estaduais, analisando, em detalhes, as planilhas apresentadas pelo MEC; aparelhamento das
escolas indígenas; convocação do Conselho Nacional de Educação; retrospectiva sobre
documentos anteriores, ações junto às secretarias estaduais e a Lei de Diretrizes e Bases. Foi
informado que os trabalhos serão aprofundados a partir da análise da documentação relativa aos
assuntos tratados, a qual o MEC se comprometeu a fornecer. Destacou-se, ainda, a importância
da participação da Coordenadora Geral de Educação da Funai, Maria Helena Fialho, na reunião
da Subcomissão, tendo em vista que a mesma conhece muito bem a situação vivenciada em todo
o país. Como encaminhamento da reunião, definiram que será feita consulta no Abril Indígena
com vistas à aprovação de propostas da Subcomissão, ao que não se opôs a plenária.
Passando à Subcomissão de Etnodesenvolvimento, o relator, Aderval Costa Filho,
informou os demais de que que inicialmente fora aberta a palavra para a apresentação de
informes diversos. Num segundo momento, trataram sobre o Seminário Nacional de
Etnodesenvolvimento Indígena/Agendas Bilaterais, que não pôde ser realizado em dezembro,
mas tem previsão para acontecer em 2008. Diante disso, concluíram que, antes de sua realização,
faz-se necessário desenvolver, no âmbito da subcomissão, as seguintes ações: levantamento de
programas e ações governamentais estratégicas relacionadas ao etnodesenvolvimento,
desenvolvidas pelos diversos órgãos de governo, que deverá estar disponível antes do seminário,
para subsidiá-lo; construção de agendas bilaterais com os gestores dos programas e ações
elencados, a partir dos eixos temáticos: gestão ambiental e territorial, proteção e revitalização de
conhecimentos e práticas tradicionais, educação e sustentabilidade ambiental, fomento à
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produção e geração de renda, fortalecimento institucional, controle social, etnodesenvolvimento e
impacto de obras e empreendimentos, políticas sociais, integração de ações nas terras indígenas.
Tendo em vista a dar andamento aos trabalhos da Subcomissão, esta apresentou as
seguintes recomendações à plenária: 1) Que sejam convidados os responsáveis pela proposição
do PAE - Programa de Aquisição de Produtos Extrativistas do Eixo Povos e Comunidades
Tradicionais da Agenda Social do governo federal, para apresentação da proposta e discussão
sobre formas de se viabilizar a participação indígena; 2) Que sejam convidados os responsáveis
pela Pesquisa Nacional sobre Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil para apresentação do
desenho, metodologia e participação indígena no processo. Prosseguindo na condução dos
trabalhos, o presidente deu continuidade à reunião, conforme se segue.
Presidente Márcio Meira: Eu queria saber, seguindo aquela regra, se a gente tem alguma coisa
contrária, porque senão a gente aprova o encaminhamento da subcomissão, quer dizer, a idéia
aqui é que a gente diga se tem alguma divergência e se levanta a divergência, se não a gente
aprova o encaminhamento da subcomissão. Chiquinha, Titiah.
Francisca Pareci: Presidente, evidentemente a gente não tem, até porque a gente achou muito
interessante essa proposição que ele acabou de colocar. Eu gostaria na verdade de fazer uma
proposta futura: que colocasse na pauta uma apresentação sobre essa questão do extrativismo,
porque a gente está fazendo uma análise em relação aos projetos que o governo tem, por
exemplo, projetos especiais, como é o caso de alguns projetos especiais e a gente está percebendo
que às vezes ele não é muito incentivado, agora, projetos grandes, implementos não sei do que
isso tem dinheiro, e muito. E a gente está analisando também esse material que recebemos do
INESC, toda uma planilha mostrando que os recursos que incentivam a política indigenista têm
diminuído e vem acontecendo o contrário para os empreendimentos maiores. Então os interesses
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dos índios estão diminuindo, os interesses macros estão aumentando, e a gente quer, na verdade,
eu por exemplo, gostaria de propor como pauta futura a apresentação desse projeto que ele
colocou, dos dois, tanto da Pesquisa Nacional como do extrativismo, porque para nós interessa.
No meu estado especificamente a gente tem discutido, eu estive lá discutindo a questão da
Carteira Indígena e os nossos patrícios apresentaram interesse nesses projetos, então para nós eu
vejo como uma oportunidade.
Presidente Márcio Meira: Certo. Só reafirmou a proposta da subcomissão. Titiah.
Luiz Titiah: Bom dia, sou Titiah do sul da Bahia, Pataxó Hã Hã Hãe. Senhor presidente e
demais membros, é o seguinte: eu faço parte dessa subcomissão e eu queria deixar aqui registrado
para a plenária sobre a comissão de Etnodesenvolvimento que agora nós vamos para a prática,
até para o grande futuro dos povos indígenas do Brasil, porque no programa do governo tem
vários projetos, vários desenvolvimentos, e a participação dos representantes indígenas é muito
pouca. Eu sugiro que daqui para o Abril Indígena já tenha alguma novidade desse seminário
sobre Etnodesenvolvimento para as lideranças indígenas, os representantes de organizações de
base estejam já participando e sendo capacitados dentro desses programas do governo, dentro do
projeto.
Presidente Márcio Meira: Eu acredito que, com a aprovação do orçamento, que foi feito ontem,
vocês devem ter acompanhado, não sei se acompanharam, mas ontem o Congresso aprovou o
orçamento da União, finalmente foi aprovado. Antes à tardinha do que de noitinha. Com a
aprovação do orçamento a gente tem condição realmente de poder planejar. Então eu acho que o
encaminhamento dado pela subcomissão tem que ser executado, para que a gente possa realizar
tudo que foi combinado e tivemos dificuldades por causa da questão orçamentária.
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Interlocutor não identificado: Já que não temos óbices orçamentários, feitos esses
levantamentos a gente já vai propor uma data para a realização do seminário nacional, porque a
deliberação da comissão é nesse sentido. Esse levantamento era até que não se aprovasse o
orçamento e também para a gente instruir melhor a oficina.
Presidente Márcio Meira: Eu queria aproveitar para dar um informe que é importante nesse
tema do etnodesenvolvimento. Vocês devem ter sabido que eu estive semana passada fazendo
uma viagem à Alemanha, durante uma semana, acompanhado do Almir Suruí, membro da nossa
comissão e que hoje não pôde estar aqui, tinha uma outra agenda importante que ele não podia
faltar e pediu para que eu inclusive transmitisse a justificativa da ausência dele. Essa viagem à
Alemanha foi feita por convite do governo alemão, por quê? Porque o governo brasileiro tem um
convênio de cooperação com o governo alemão que conclui esse ano, que é conhecido de todos
os povos do Brasil, que é o PPTAL - Programa de Proteção das Terras e Povos Indígenas da
Amazônia Legal. Essa cooperação conclui esse ano e nós fizemos uma proposta, desde o ano
passado estamos negociando, tanto a Funai quanto o governo como também o movimento
indígena, através da COIAB, a continuidade desse programa, dessa cooperação. A proposta que
nós fizemos para eles era que a nova operação fosse focada mais na questão do
etnodesenvolvimento porque as terras indígenas, digamos assim, não completamos ainda todo o
processo de marcação, mas avançamos muito, então agora não é só a questão da terra indígena
demarcada, mas como dar sustentabilidade sócio-ambiental para essas terras indígenas. Então foi
acordado, foi aprovado lá na Alemanha, foi uma conquista importante eu diria do movimento
indígena e do governo em conjunto de que a gente utilize inclusive alguns recursos
remanescentes do PPTAL deste ano para elaboração desse novo programa. Esse é um dado
importante. Com relação aos povos indígenas que não são da Amazônia Legal, é nisso que eu
queria chegar, porque eu estou olhando aqui para o Marquinhos e para o Titiah, eu tenho
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colocado para os parceiros nossos que a gente não pode ficar só pensando na Amazônia Legal,
nós temos que pensar no Brasil como um todo. Então nós fomos também nesse sentido, já numa
perspectiva de construção de um plano mais amplo com outro parceiro, que é o Banco Mundial.
No caso dele é diferente do caso da cooperação alemã, porque o Banco não doa dinheiro, ele
empresta dinheiro. Mas como o Brasil tem empréstimos com o Banco Mundial ele mostrou
interesse de trabalhar também na mesma linha, na mesma compreensão conceitual do
etnodesenvolvimento. Isso que foi relatado é verdade, a Funai, os outros órgãos de governo estão
no caminho de integração dessa concepção, para fazer um projeto mais integrado, conseguir
recursos também do Banco Mundial, mas para investimentos fora da Amazônia Legal, ou seja,
investir nas terras indígenas do bioma Mata Atlântica, do bioma Cerrado, semi-árido e da região
Sul do Brasil também. Eu acho que se a gente conseguir avançar aí tem uma perspectiva boa, o
diálogo com o Banco Mundial tem sido muito positivo. Eu queria propor até que a Subcomissão
de Etnodesenvolvimento, num próximo momento que a gente for ter uma conversa com o Banco
Mundial, possa também estar junto, principalmente os povos de fora da Amazônia Legal também
participando. Eu tenho trabalhado muito essa idéia. Fui eu que levei essa mensagem para o Banco
Mundial de que tem que ampliar para fora da Amazônia Legal. Esse é um informe que eu trouxe
porque eu acho que ele acrescenta a esse informe da subcomissão. Marquinhos.
Marcos Xucuru: Eu acho importantíssima essa notícia, porque nós temos hoje e tratando-se do
Nordeste várias terras indígenas já demarcadas, homologadas, em fase de desintrusão, outras não
têm mais nenhum tipo de posseiro ou fazendeiro dentro dos territórios, e muitas vezes a gente não
tem condições de poder ter uma administração melhor no sentido de melhorar a qualidade de vida
dessas populações. Uma coisa que eu acho interessante, Aderval, eu não sei de que maneira a
gente poderia estar trabalhando isso. Por exemplo, nós corremos atrás de alguns projetos lá nos
Xucuru e estamos fazendo um levantamento agroecológico do território Xucuru para saber as
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potencialidades, saber a preservação, onde tem de preservar as matas ciliares dos rios, porque a
gente pegou o território meio degradado por conta do capim, essas coisas todas; então saber de
fato como trabalhar nesse território e saber a potencialidade e do uso correto, ecologicamente
correto do território. Então eu não sei se como sugestão dentro desse projeto macro dessa
discussão trabalhar isso nos territórios indígenas com as lideranças e incentivar essa questão do
levantamento agroecológico, um trabalho nesse sentido para a gente saber a potencialidade,
lâmina de água, matas, enfim, como é que pode se trabalhar a partir daí.
Presidente Márcio Meira: Para você ver como nós estamos bem afinados, porque a proposta
que nós estamos levantando tanto com a cooperação alemã quanto com o Banco Mundial é nessa
linha. Ou seja, a proposta é que o primeiro passo a ser feito nesse plano novo é o que nós estamos
chamando de diagnóstico etnoambiental, que é mais ou menos a mesma coisa, só a palavra é que
muda: agroecológico. Quer dizer, o que nós estamos chamando de diagnóstico etnoambiental
inclui também esse diagnóstico agroecológico, então por isso eu acho que as perspectivas estão aí
se aproximando. Eu acho que isso é fundamental para a gente poder saber os potenciais que cada
terra indígena tem, econômico, sociais, culturais para poder fazer um investimento no
desenvolvimento dessas terras. Eu queria concluir então essa parte e chamar uma próxima
subcomissão. Nós temos 45 minutos ainda. Qual seria a próxima subcomissão? Caboquinho.
Caboquinho: Subcomissão de Assuntos Legislativos, presidente. Caboquinho, da região Leste
Nordeste, APOINME. Na Subcomissão de Assuntos Legislativos nós tivemos a presença de 2
índios, eu e o Wilson, do Coronel Caixeta e do Coronel Marinho e também do Weber e do Jorge
Luís. Nós começamos a fazer essa reunião fazendo um tipo de retrospectiva das reuniões
anteriores, até porque nós ficamos no enfoque da discussão do próprio Estatuto do Índio. Foi
levantado dentro do grupo que nós tínhamos uma agenda, na última reunião, que havia uma
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agenda para fazer a reunião nacional, seria um seminário e as reuniões regionais, mas acabamos
recebendo um documento frisando que o orçamento não tinha sido aprovado...
Presidente Márcio Meira: É a mesma situação do seminário.
Caboquinho: Então nós tentamos fazer, pegando aquele gancho de toda a estrutura que foi
montada até pelo Saulo e a comissão e nós fizemos algumas propostas para que essa comissão
trabalhasse a partir de agora. Uma das propostas seria fazer todo o levantamento, todas as
consultas no caso e também o seminário nacional e trabalharíamos a partir de agora para ser
apresentado o novo modelo de Estatuto do Índio em 2009. Nós teríamos esse tempo todo,
teremos um prazo de oito meses para trabalhar e ficariam quatro meses para se fazer todos os
arranjos e fazer a questão mais técnica. Esse foi o primeiro ponto que nós vimos. E os outros foi
justamente buscando toda essa somatória, como eu falei anteriormente, que seria o seminário
nacional para capacitar os moderadores, viabilizar esses cinco seminários, seria a realização das
oficinas e a apresentação do Estatuto do Índio no Abril Indígena de 2009. Seria também
constituída uma comissão indicada no Abril Indígena deste ano agora para proceder a todas as
consultas locais, em conjunto com os representantes de povos e organizações indígenas de todo o
país. Então nós tivemos também algumas considerações e ressalvas. Uma é que uma vez que nós
estamos dando esse tempo, de 2008 para 2009, como é que ficaria a questão dos projetos que
estão correndo por trás, principalmente os projetos de mineração. Então nós colocamos aqui a
necessidade e o compromisso do próprio governo em viabilizar a realização desses processos.
Outra coisa seria fazer um pleito, junto com o Presidente da CNPI, para ver se suspende a
tramitação desses projetos que estão hoje dentro do Congresso Nacional. Foi basicamente essa a
temática da discussão da Comissão de Assuntos Legislativos. O Coronel Caixeta está aqui, o
Coronel Marinho está aqui, se quiserem falar também...
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Presidente Márcio Meira: Se algum membro da comissão quiser complementar se não a gente
abre para algum comentário, acréscimo, sugestão. Sandro.
Sandro Tuxá: Sandro, região Nordeste. Eu não ouvi muito todo o relato da subcomissão, mas
nós, na reunião preparatória, trouxemos uma proposta para a subcomissão. Se muitos aqui
recordarem, ficou acordado que no mês de dezembro nós iríamos promover uma reunião nacional
para elaborar um texto balizador, digamos assim, que serviria de subsídio para os encontros
regionais em todas as regiões para redefinir o Estatuto dos Povos Indígenas, uma vez que ele está
há 12 anos ou mais parado no Congresso. Alguns conceitos já foram alterados, coisas assim,
também com a aprovação da Declaração [dos Povos Indígenas da ONU]. Nós viemos propor que
a gente possa trabalhar com a possibilidade de essa nacional estar acontecendo no início de maio,
isso é proposta para a CNPI. Por quê? Nós acreditamos que nós estamos atrasando muito essa
discussão do Estatuto, na pasta já está se discutindo um anteprojeto também sobre a questão de
hidrelétrica, mais um projeto com impacto nas áreas das comunidades indígenas, o anteprojeto de
lei de mineração em terras indígenas já está em ampla discussão, inclusive tivemos até problemas
na ida de alguns representantes dessa comissão lá nos Yanomami, lá nos parentes em Roraima,
que inclusive nós tivemos que emitir uma nota porque têm que respeitar a organização social da
comunidade, tem que estar junto com a Funai nesse sentido, e o general, eu não sei por que, foi lá
e disse que podia ir e podia entrar, então uma violação dos parentes lá. O que nós estamos
querendo com isso? Nós queremos chamar essa discussão para o Estatuto dos Povos Indígenas
agora em maio, por conta do Abril Indígena, que a gente sabe que dificilmente a gente vai
conseguir levar lideranças em outro momento, mas em maio sim; com a perspectiva de no Abril
Indígena nós trabalharmos e debruçarmos também sobre o Estatuto, para que essas lideranças
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saiam com mais subsídios para essa nacional. É uma proposta que a gente vem trazendo, que foi
trabalhada na preparatória.
Presidente Márcio Meira: Coronel Caixeta e depois o Caboquinho.
Cel. José Caixeta Ribeiro: Apenas um esclarecimento. Ele citou a questão da ida aos
Yanomami. Eu conversei com o General Monteiro, inclusive tenho a fita; a comissão dos
parlamentares estava visitando várias terras indígenas, fazendo consultas, conversando sobre esse
anteprojeto de mineração, e no caso específico de Roraima, normalmente quando se vai naquelas
áreas se pede apoio do Exército. Então você citou o General como se ele fosse o principal
membro da comitiva, quando na verdade nem era, mas de certa forma foi utilizada a estrutura do
nosso pelotão de fronteira no local, onde foi conversado com o pessoal. Eu assisti à fita do
diálogo e realmente se reclamou, o [inaudível] se queixou de que não tinha sido avisado com
antecedência e etc. Aí o general explicou para ele que no caso ele também não tinha sido avisado
com muita antecedência, mas ele estava ali acompanhando a comitiva e naquele lugar específico
que tem o pelotão não tem que pedir autorização e às vezes nem avisar, dependendo do tipo de
missão, se for uma coisa sigilosa, vai precisar entrar. É claro que na maioria das vezes sempre
que possível vai avisar a Funai, mas naquele caso ele estava apoiando essa comitiva que foi lá.
Era o nosso pelotão, inclusive houve entrevista com várias pessoas, e vocês precisam ver também
o apoio do Exército para algumas comunidades ali, porque normalmente o que eu tenho ouvido
nessa comissão são queixas da presença do Exército em terras indígenas, mas tem outro lado
também. Um dia desse eu participei, no Ministério da Defesa, juntamente com o pessoal da
Funasa, e houve pedido de apoio das Forças Armadas para o pessoal da Terra Indígena do Vale
do Javari. É muito dinheiro. É um apoio grande que as Forças Armadas prestam a vocês.
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Então num caso desses muitas vezes uma informação que chega truncada ou a
falta de informação vira um problema desnecessário, parece que se tenta ferir a imagem do
Exército brasileiro. Isso não é o caso. Sobre a questão da entrada nas terras indígenas vocês bem
conhecem o decreto que possibilita ao Exército brasileiro, as Forças Armadas, entrar em terras
indígenas. Terra indígena é Brasil também, o Exército brasileiro é o exercito dos índios e dos não
índios e sempre há uma preocupação grande do Exército brasileiro de que toda vez que vai entrar
em terra indígena, seja para fazer exercício, seja para apoiar, é de preservar o tratamento cordial.
Eu só queria fazer esse registro porque ficou parecendo que era uma interferência do General
Monteiro.
Presidente Márcio M eira: Obrigado, Coronel. O Caboquinho tinha se inscrito. Eu estou vendo
a inscrição agora do Sandro, Pierlângela, Wilson.
Caboquinho: Representante da Região Leste e Nordeste, APOINME. O que eu vejo é que nesses
detalhes a gente vai começar a construir de fato e ter um andamento a partir do momento que nós
levantamos toda essa temática. O que nós estamos propondo aqui, que a comissão está propondo,
é justamente esse seminário para, junto com as organizações indígenas, junto até mesmo com o
próprio governo, nós trabalharmos na questão da aprovação do Estatuto do Índio. Eu acho que
essa é a temática. Como eu falei, detalhes a gente vai começar a construir a partir do momento
que nós nos dermos as mãos. Agora quanto à carência, a dificuldade é em nós podermos barrar
principalmente esses projetos que estão hoje em tramitação dentro do Congresso Nacional. Eu
acho essa dificuldade maior. Para isso a gente está apelando para o pleito principalmente do
presidente da CNPI, o pleito também do próprio Presidente da República, para que isso se acalme
e que nós trabalhemos a partir de 2008 para esse projeto de lei em 2009.
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Presidente Márcio Meira: Tem a Pierlângela, o Sandro e o Wilson. Lembrando que o ponto
aqui é a questão da Subcomissão de Assuntos Legislativos e o encaminhamento que foi trazido
pela subcomissão e se temos ou não algum comentário ou acréscimo a fazer, senão a gente vai
encaminhar o que foi deliberado lá na subcomissão.
Pierlângela Wapichana: Eu queria colocar aqui que o encaminhamento, essa primeira
necessidade de que exista o efetivo compromisso do governo federal em viabilizar a realização
do processo acima descrito. A nossa preocupação é justamente essa, porque se protela e desde o
ano passado que a gente vem discutindo isso. E eu até queria saber se houve alguma resposta por
parte do Presidente da Câmara em relação a esse assunto o qual foi colocado, porque nós tivemos
uma reunião com ele, essa comissão, onde estavam presentes indígenas e não indígenas e
pergunto se teve alguma resposta oficial do Presidente da Câmara em relação ao que foi debatido
sobre o Estatuto. Eu acho que tudo que se está pleiteado aqui a gente tem que dar efetivamente
um encaminhamento, que é até uma questão posta na pauta. Quanto às demais questões que
foram colocadas, que o Sandro colocou, eu acho que isso merece até um debate maior, e aqui
colocando para o Coronel Caixeta, a gente poderia discutir isso. Eu acho que falta por parte do
Exército, do próprio Ministério da Defesa, ter um diálogo maior com os indígenas nesse sentido,
porque realmente em muitos casos tem ajudado, mas em muitos casos também tem atrapalhado,
por falta desse diálogo. Eu acho que um diálogo maior entre indígenas e Ministério da Defesa
contribuiria para que a gente pudesse sanar algumas arestas, porque tem muita coisa nesse sentido
que precisa ser conversado; então se essa é uma instância eu acho que depois pode se abrir um
diálogo maior. Se essa é uma instância, eu não quero entrar no mérito de questões pontuais; eu
quero entrar aqui, enquanto movimento indígena e enquanto Ministério da Defesa, o que a gente
pode colocar como conversa, porque esse não é o ponto de pauta, mas que a gente também possa
abrir um diálogo futuro sobre essa questão da atuação do Exército, dessas questões mais
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pertinentes que a gente sofre na pele. Agora a gente vai abrir nessa pauta sobre a Polícia Federal.
É muito importante a Polícia Federal vir aqui se colocar e a gente colocar. É só uma sugestão
para não polemizar e não entrar muito nesse assunto.
Presidente Márcio Meira: Obrigado, Pierlângela. Coronel. Depois o Sandro.
Cel. José Caixeta: Eu gostaria de saber de algum caso em que realmente o Exército atrapalhou,
até porque ele normalmente está ali apoiando algum pedido de alguém, de um Ministério ou do
Ibama, no caso era da comissão, não foi iniciativa dele. No caso do pelotão, ele estava numa terra
do Exército, na terra eu não digo, mas numa instalação do Exército, mas estou à disposição para
quando quiser questionar alguma coisa sobre a atuação do Exército.
Presidente Márcio Meira: Eu queria sugerir, como esse tema entrou aqui paralelo, eu queria
sugerir, Coronel e Pierlângela também, que eu acho que esse é um tema que pode ser pautado no
futuro pela comissão, para que tanto o Ministério da Defesa quanto também o GSI possam se
posicionar. O Coronel Caixeta está falando, até porque conhece, é oriundo do Ministério da
Defesa, mas a sugestão que a Pierlângela fez é interessante porque ela oportuniza. Então talvez
essa pauta possa ser colocada no futuro como uma pauta interessante, até porque nós sabemos
que a instituição do Estado mais antiga que tem contato com os povos indígenas é exatamente o
que hoje é o Ministério da Defesa, então eu acho importante ter essa discussão. Fica como
sugestão interessante.
Cel. José Caixeta: Eu acho que o histórico de colaboração é mil vezes maior do que algum
eventual problema.
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Presidente Márcio Meira: Eu acho que o maior exemplo é o Marechal Rondon, que era membro
das Forças Armadas e foi quem criou o Serviço de Proteção ao Índio, mas eu acho que esse é um
outro debate, não é o debate daqui, é um debate importante a ser feito. Eu queria então passar
para o Sandro que estava inscrito.
Sandro Tuxá: Sandro, região Leste e Nordeste. Eu não vou entrar mais nesse assunto porque o
Coronel já clarificou algumas coisas e a Pierlângela também. Eu volto a dizer que merece uma
apreciação melhor, esse entendimento de poder entrar nas comunidades indígenas porque é
Exército e tal, é o entendimento que não é compartilhado com os indígenas, os indígenas querem
ser consultados quando tem qualquer ação de qualquer natureza e é um direito que nos assiste. Eu
queria fazer uma proposta e não sei se em relação a isso, porque a Pierlângela lembrou muito
bem e era isso que eu ia falar. Nós tivemos, no ano passado, um momento com o Presidente da
Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia. O deputado e presidente da Casa se comprometeu a
botar a matéria em votação, de re-estudar a questão do Estatuto, de criar uma comissão, uma série
de coisas que nós abordamos com ele dada a temática indígena e dada centenas ou dezenas de
projetos de lei que tramitam no Congresso que precisavam, mais do que nunca, e precisa
normatizar a política indigenista através do nosso Estatuto. Eu queria saber: aqui nós temos poder
de solicitar ao presidente Chinaglia a resposta em relação aos andamentos da questão do
Estatuto? Porque deveríamos estar fazendo isso, até porque nós queremos ir no Congresso agora
no Abril Indígena e daria tempo para o presidente nos dar uma resposta do trabalho que está
sendo feito através dele, através dos parlamentares. É uma proposta.
Caboquinho Potiguara: Só como fechamento da proposta da subcomissão legislativa. No Abril
agora nós iremos agendar todas essas reuniões a partir do seminário nacional e partiremos com
toda a agenda nas cinco regiões do Brasil. Somente isso.
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Presidente Márcio Meira: Eu entendi... Mais algum inscrito? Wilson.
Wilson Matos: Bom dia a todos. Wilson Matos, da região Centro-Oeste. Me parece que nós
tivemos algumas dificuldades ontem na comissão, de ordem que alguns membros, o Coronel veio
substituindo, me parece que o outro rapaz que participou foi pela primeira vez, e o nosso
coordenador, que é o Saulo, não veio, então por conta disso nós tivemos que manter algum
contato via telefone porque essa agenda já estava discutida, já estava certa e por ordem do
orçamento é que não pôde ser executada. Então nós pensamos, a subcomissão que se reuniu
ontem, obtivemos algumas informações se era possível realizar essa primeira reunião antes da
reunião do Abril Indígena, que me parece que vai ser de 15 a 17, então seria 12 e 13 ou coisa
parecida. E a partir daí então traçar uma pauta. Nós sugerimos e foi até o Herbert que sugeriu que
fosse discutido num prazo de oito meses e aí finalizaria no Abril de 2009. É apenas uma proposta,
porque na realidade nós vamos ter que correr com isso. Como a gente não sabe ainda, por isso foi
proposto que se faça essa reunião no Abril Indígena com esse seminário para a formação dos
multiplicadores que vão fazer as reuniões nos estados e daí então pode se fazer uma pauta no
Abril Indígena de como será, se de mês em mês ou a cada dois meses. Essa proposta é que saiu
ontem da subcomissão, senhor Presidente.
Presidente Márcio Meira: Só para deixar bem claro se eu entendi. Eu entendi que na verdade a
gente aproveitou a proposta que já tinha sido aprovada na reunião passada para a agenda deste
ano, por conta da questão orçamentária. Foi isso que eu entendi. Adaptando a agenda deste ano,
então eu não tive dúvida com relação a isso, não ouvi nenhum comentário divergente, apenas
complementações, eu vejo que tem aprovação em relação à construção dessa agenda. Agora que
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nós temos orçamento aprovado a coisa pode ganhar o curso natural, respeitando as regras
obviamente de licitação etc. Sandro.
Sandro Tuxá: É encaminhamento. Como nós estamos acordando sempre falando do Abril
Indígena, também nós queríamos pedir, em nome da bancada indígena, que através da CNPI
pudesse arrumar as condições de deslocamento para que todos os membros da bancada indígena
pudessem se fazer presentes no Abril Indígena, até porque as expectativas que foram criadas
diante do movimento indígena como um todo são imensas, então lá também nós vamos ser
avaliados, lá nós vamos ser cobrados, então nós temos que divulgar o trabalho da CNPI lá e ao
mesmo tempo em dado momento nós também podermos contar com a presença da bancada não
indígena lá no acampamento para que os mesmos possam conhecer um pouco mais da temática
indígena, possam compreender um pouco mais o universo, a diversidade de problemas, digamos
assim, e de conquistas que nós já temos. Então a gente queria pedir ao Presidente da CNPI que
possa pôr em votação, não sei, se a CNPI pode dar as condições para que toda a representação
possa se fazer presente em Brasília.
Presidente Márcio Meira: São várias coisas. Vamos por partes. A primeira parte eu vejo que foi
convergente a proposta da subcomissão para encaminhamento, então isso, portanto fica
encaminhado da forma como a subcomissão sugere e claro dependendo agora das regras do
orçamento. O orçamento foi aprovado, mas nós temos licitações, tem processos que têm que ser
seguidos para que as coisas evoluam assim, como é o caso do seminário do etnodesenvolvimento.
É o mesmo procedimento. Antes de entrar nesse ponto eu queria dar um informe, porque eu tenho
aproveitado para dar uns informes no meio do processo porque têm a ver com o tema. No mês de
abril, o governo também está com uma proposta que eu queria trazer para vocês aqui em termos
de informe. O Ministério da Justiça, a Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da
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Justiça, onde são avaliados os projetos de lei, inclusive o nosso projeto de lei do Conselho está lá
agora para fechar a proposta para a gente poder acertar com a CNPI para encaminhar o projeto de
lei para o Congresso. Esse é um outro tema no qual a gente vai entrar depois, mas eu só estou
falando que a Secretaria de Assuntos Legislativos, eu tive contato com a Secretaria agora antes
dessa reunião, no mês de fevereiro, e o Secretário de Assuntos Legislativos, Dr. Pedro
Abramovay, eu até o convidei para vir aqui, mas ele não pôde por questão de agenda. Ele tem um
programa da Secretaria que é um programa de editais para universidades e organizações da
sociedade civil que tenham pesquisa na área de Direito, para elaboração de estudos,
levantamentos e estudos, sobre projetos de lei, e ele então tem recursos de R$70.000, cada edital
desse tem valor de R$70.000 para financiar esses estudos. Então a proposta que ele apresentou
para a Funai e eu disse que ia trazer essa proposta porque eu acho boa porque ela complementa
essa questão da discussão do Estatuto é de que, dentre os oito editais que serão lançados esse ano,
tem outros temas legislativos que ele faz edital, uma proposta de que um desses oito temas seja
sobre o Estatuto dos povos indígenas, ou seja, que a gente lance agora no final de março, início
de abril, que é o momento em que ele lança os editais, que a gente lance entre esses oito editais
um deles para estudos, levantamentos, pesquisas sobre o Estatuto dos Povos Indígenas para que a
gente possa reunir todas as informações etc..
Eu acho que complementa essa agenda que a subcomissão propôs, inclusive traz
novos recursos também, que são recursos além daqueles que nós já temos previstos no
orçamento, um recurso do orçamento do edital de R$70.000. Eu falei para o Secretário que eu ia
consultar, trazer como informe, mas consultar a CNPI, sobretudo a bancada indígena, se aprova
essa proposta de abrir esse edital, porque aí a gente incluiria isso também como um momento
importante para complementar essa agenda da subcomissão. Outro ponto que o Sandro colocou
nessa sugestão e eu queria submeter à CNPI, já seria um outro tema, mas para a gente pensar,
poderia pensar até hoje ao longo do dia, que em algum momento da semana do índio, da famosa
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semana do índio, Abril Indígena, que a gente possa ter uma reunião da CNPI, em Brasília, para
como diz o regimento, uma reunião extraordinária, não precisa ser uma reunião de dois dias como
as nossas reuniões, mas uma reunião de um dia em que a CNPI se reúna na semana, para que não
só os representantes da bancada indígena estejam presentes e a gente possa mostrar para os povos
indígenas que virão que a CNPI está ali naquele momento, participando e reforçando essa
integração do movimento indígena com a CNPI. Eu acho que aí sim a gente poderia fazer, porque
aí você traz para dentro do regimento, ou seja, realiza uma reunião extraordinária da CNPI e aí
sim a gente tem condições de fazer. Então a idéia eu acho boa, mas tem que ser feita dessa forma.
Eu queria consultar, com relação a esses dois pontos, se temos concordância, porque aí já
encaminha e aprova. [Intervenção fora do microfone]. Nenhuma posição contrária. Ficam
aprovados não só o encaminhamento da subcomissão como também duas propostas que surgiram.
Uma com relação à realização de um edital para estudos do Estatuto dos Povos Indígenas pela
Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, em parceria com a Funai e também
a realização de uma reunião extraordinária de um dia em Brasília ao longo da semana do Abril
Indígena, em abril, para que a CNPI possa também participar desta agenda importante do
movimento indígena que é o Abril Indígena. Eu acho que esse fica um bom encaminhamento
com relação à subcomissão.
Vocês receberam a proposta de pauta que foi discutida. Como faltam 15 minutos
para uma, que é o limite que nós demos e aqui pelo que entendi a parte da manhã seriam os
informes das subcomissões, que estão sendo feitos, exceto saúde; os informes que estão saindo
também no meio; vários informes; os informes do governo que também estão saindo no meio
dessa agenda e a partir da tarde, às 14h30min, continuaríamos nos informes se necessário; depois
entraria na criação do conselho, informes e encaminhamentos; Estatuto dos Povos Indígenas,
informes e encaminhamento; apresentação e debate da proposta do Projeto de lei que regulamenta
o aproveitamento de recursos hídricos nas terras indígenas; aí concluiríamos os trabalhos da
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tarde. Amanhã, a partir das 8h30min, iniciaríamos com o Planejamento Energético - Estudos de
Inventário, em seguida Atuação da Polícia Federal; depois o informe da Subcomissão de Saúde,
que fica para amanhã na parte da manhã; à tarde Planejamento Estratégico da Funai; o Projeto
Piloto de Registro Civil e a proposta de pauta da próxima reunião da CNPI. Foi esse o acordo que
foi feito pela nossa equipe. Eu submeto ao plenário se aprovamos essa proposta de pauta.
Lindomar Xocó: Lembrar que anteriormente também ficou acordado que no início da manhã de
amanhã nós começaremos aprovando a ata da reunião anterior.
Presidente Márcio Meira: Sem dúvida. Obrigado Lindomar pela lembrança.
Caboquinho Potiguara: Também só como informe, senhor presidente. No sábado a
companheirada aqui, nós vamos visitar a área que foi recentemente assinada a portaria
declaratória pelo Ministério da Justiça, que é a área indígena Monte Mor, e os índios irão fazer
uma recepção para receber toda essa Comissão, até pelo trabalho e pela boa vontade que teve no
apoio pelo processo da declaração daquela terra. Depois iremos almoçar em uma aldeia aqui bem
próxima também, onde iremos comer a verdadeira comida típica aqui da nossa região. Então só
um informe para que fique frisado isso aí.
Presidente Márcio Meira: Lylia.
Lylia Galetti: A gente fez essa proposta de pauta considerando a pauta apresentada pela
representação indígena e a pré-pauta apresentada pelo presidente da Comissão e se tentou nesse
pequeno espaço de tempo atender tanto a proposta de governo quanto a proposta da representação
indígena. Nós viajamos um pouco achando que agora de manhã se encerraria ou quase se
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encerraria esse primeiro item das subcomissões e demais informes. Eu estou recebendo um
informe de que está faltando, sem contar saúde, que já está na pauta no dia de amanhã, está
faltando Terras, PAC e Justiça. É isso? E Gênero, Infância e Adolescência. Então tem mais uma.
Então faltam quatro subcomissões. E aí a gente teria que ver, porque nós não vamos ter esse
tempo, provavelmente teria que rearranjar um pouco essa pauta. Eu não sei como é que a gente
poderia fazer. Além disso, teria que incluir, na manhã de amanhã, do dia 14, a questão da ata
como primeiro ponto da pauta de amanhã. Então a gente teria que ter talvez um rearranjo disso
por conta das subcomissões que não estão contempladas. Uma possibilidade e também, não sei se
seria interessante, é porque a gente calculou mais ou menos uma hora, uma hora e vinte minutos,
até no caso do último dia, até duas horas de debate sobre alguns temas. Por exemplo,
Planejamento Estratégico Funai, a Atuação da Polícia Federal também tem um tempo maior, se a
gente teria condição ou de agregar, por exemplo, na discussão com relação à Atuação da Polícia
Federal, começar esse item com a questão da Comissão de Justiça. Não sei. Mas o fato é que o
problema está colocado. Nós teríamos que ter mais tempo para ouvir...
Presidente Márcio Meira: Isso é o recorrente das nossas reuniões, muito mais pauta para
discutir do que tempo. Então eu queria sugerir o seguinte: são dez para a uma, a gente marcou
almoço para 13h e marcamos aqui às 2h30min para retorno. Como nós estamos já faltando só dez
minutos, que a gente agora nesses dez minutos se tiver algum informe que a gente já possa
avançar, que se dêem esses informes e a gente no início logo da tarde complete o mais
rapidamente possível essas quatro subcomissões, aí sendo bem objetivos mesmo...
Lylia Galetti: Nas propostas, porque provavelmente algumas delas, por exemplo, PAC vão
coincidir com alguns outros temas.
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Presidente Márcio Meira: Então eu queria propor que agora nesses dez minutos a gente possa
avançar nos informes. Certo? Então quem tiver informes que se inscreva. O Aderval já se
inscreveu para dar informe. Dez minutos agora para informe tanto da bancada indígena quanto da
bancada governamental. O Aderval, depois Edgard, Pierlângela, Marquinhos, Lylia. Aderval.
Aderval Costa Filho: Aderval. MDS. Nós já mencionamos os informes no relato breve que a
gente fez da subcomissão, mas eu gostaria de entrar mais detidamente na questão do eixo Povos e
Comunidades Tradicionais da Agenda Social do governo. Todos sabem que a agenda específica
de povos indígenas foi lançada em São Gabriel da Cachoeira em setembro do ano passado. A de
quilombolas foi lançada em novembro e agora nós estamos na eminência de uma agenda para
demais segmentos sociais tradicionais, que também inclui povos indígenas e quilombolas, porque
eles são, em termos de sua vocação extrativista, inclusos nessa problemática, mas isso precisa ser
melhor negociado, acordado, inclusive entre a Funai e o Ministério do Meio Ambiente que vai
coordenar essa agenda, essa relação. Tem um programa especificamente, que é o Programa de
Aquisição de Produtos Extrativistas, que é um programa focal dessa agenda e como os programas
já citados, PDPI e também a Carteira Indígena apóiam a produção extrativista, é preciso estreitar
um pouco essa relação entre os órgãos envolvidos para poder fazer com que essa agenda também
alcance os povos indígenas. Ela é muito interessante, tem um montante de recursos considerável
e as ações vão desde assessoramento técnico e social, fomento e crédito apropriado, capacitação
informação a escoamento de produção. A lógica é de que a CONAB, na perspectiva do Programa
de Aquisição de Alimentos, muito próximo a isso, operacionalize também o escoamento de
fibras, de óleos, enfim, de produtos extrativistas advindos de povos e comunidades tradicionais,
inclusive com compra direta, com compra antecipada, nos mesmos moldes do programa de
aquisição de alimentos, garantindo preços, garantindo condições de estoque comunitário.
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Então a proposta é muito interessante e por isso eu acho que a subcomissão
recomendou ou sugeriu que aqui na plenária a gente deliberasse por chamar o responsável do
Ministério do Meio Ambiente para que pudesse dizer um pouco de como é essa agenda e qual
seria a participação dos povos indígenas nela. Este é um informe. O outro é da pesquisa que eu já
mencionei. Participam dela o IBGE, o MDS e o MMA que estão à frente da Comissão Nacional
de Povos e Comunidades Tradicionais, o projeto Nova Cartografia Social da Amazônia,
coordenado pelo Professor Alfredo Wagner de Almeida com toda a rede de pesquisadores em
todos os estados brasileiros que integram a rede da nova cartografia e os movimentos sociais. A
gente dividiu a pesquisa em dois momentos. O primeiro momento é de levantamento preliminar
de dados. Esse levantamento preliminar pressupõe georeferenciamento, localização e uma série
de questões mais prementes, e ele vai ser feito todo pela sociedade civil. A gente está prevendo
recursos não só para capacitação em uso do GPS, disponibilizar um GPS para cada pesquisador,
agente local de pesquisa, dentre os quais também os indígenas, quanto também à capacitação em
direitos constitucionais e infra-constitucionais com a equipe do Alfredo; e também capacitação e
uso do PDA que é aquele palmtop que o IBGE utiliza quando dos levantamentos censitários. Essa
primeira etapa vai ser toda realizada pela sociedade civil com a assessoria da academia e
validação do IBGE. Então eu gostaria também de reiterar a sugestão que foi trazida, que já foi
acatada pela plenária de que a gente chamasse os responsáveis pela pesquisa para poder mostrar o
desenho, dizer de que forma os povos indígenas vão participar nesse processo.
A outra notícia é muito mais quente do que essas outras duas. Diz respeito a um
convênio que foi firmado ontem entre o MDS, o Ibama e o Instituto Chico Mendes, que é de
disponibilizar toda madeira apreendida em todo território nacional e também os bens apreendidos
em situações ilegais de exploração ilegal para projetos de geração de trabalho e renda para povos
e comunidades tradicionais. Havia um óbice jurídico, eles foram vencidos com a utilização do
CNPJ do Programa Fome Zero, então a lógica é de que a CONAB opera via bolsa de mercadorias
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e futuro a comercialização desses bens e madeiras, disponibiliza os recursos no Fundo de
Erradicação da Pobreza, mas já carimbados para povos e comunidades tradicionais e aí para
apoiar projetos de geração de trabalho e renda...
Presidente Márcio Meira: É sempre bom lembrar que é para povos indígenas e comunidades
tradicionais.
Aderval Costa: Povos indígenas e comunidades tradicionais, mas aí a denominação de povos
está sendo requerida também pelos povos ciganos, que são Rom ou os Kalon, e por alguns grupos
de povos de terreiro que têm língua própria e são etnias, mas povos indígenas eles têm assento na
comissão, está lá a COIAB e a APOINME, eu acho pertinente reiterar, ou seja, esses recursos,
Márcio e vocês todos, eles somam mais de um bilhão e quinhentos milhões de reais
estimativamente, eu posso estar subestimando o valor, para atender povos indígenas,
quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, pescadores artesanais, caiçaras, pantaneiros e os demais
segmentos sociais tradicionais. Eu gostaria de reiterar a necessidade de que o movimento
indígena, via COIAB e APOINME, mas também os demais, a partir de uma apresentação que a
gente pode fazer aqui de como é o desenho...
Presidente Márcio Meira: Já foram cinco minutos dos dez minutos.
Aderval Costa: É porque é muita coisa mesmo. Então que vocês se apropriassem desse processo
e se inserissem nele porque senão a gente perde o tempo, daqui a pouco a gente vai gastar o
recurso e os povos indígenas não se inseriram e a Funai não se inseriu nesse processo de
negociação.
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Presidente Márcio Meira: A proposta que eu faço é que, nesse ponto dos projetos, que se traga
para a CNPI para apresentar sobre como fazer isso e como será...
Aderval Costa: É uma proposta interessante. Vão ser formados três GTs. Um operacional-
técnico, de como é esse desenho, de como isso vai ser operado na prática. O outro de avaliação de
projetos e naturalmente nesse se inclui a avaliação de projetos; a gente gostaria que a CNPI
solicitasse assento nesse GT, que a FUNAI se manifestasse que é importante para garantir que os
povos indígenas vão ser contemplados. A idéia é que essas madeiras apreendidas retornem em
forma de benefício, de fomento de produção sustentável para esses povos que foram lesados.
Presidente Márcio Meira: Só para objetivar. Em cima do seu informe tem dois complementos,
solicitados pela Casa Civil e pela AGU. Em cima do informe que o Aderval fez. Eu queria que
vocês fossem bem objetivos para a gente passar para os próximos informes, porque são muitos
informes.
Alda Carvalho: Esse trabalho que você está acabando de relatar é um grupo trabalho que foi
formado, um grupo grande e um subgrupo que vai tratar dessa questão de como fazer para
apreender estas madeiras e os bens apreendidos, geralmente é a madeira, e reverter isso para o
projeto Fome Zero. É isso? Via Fome Zero. Então eu quero dizer que a AGU, eu tenho assento,
eu estou representando a AGU nesse grupo de trabalho que está construindo esse trabalho todo e
realmente é muito importante. Agora isso não é de hoje para amanhã porque, veja bem, a nossa
preocupação é com a instrução desse processo, porque isso vai se dar da seguinte forma:
apreendeu, faz todo o procedimento administrativo dessa apreensão, que tem que ser muito bem
feita, contando prazo de contraditório inclusive para o infrator, e em seguida, depois de tudo isso
pronto, se coloca isso em leilão; vai se licitar e esse recurso é que então vai ser destinado. Quer
dizer, é um processo um pouco lento, não fiquem na expectativa, é muito importante realmente
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que a Funai, que a representação, inclusive indígena, esteja firme nesse processo. Obviamente
que eu quero me colocar, eu não sou membro da Comissão, apenas convidada para essa CNPI,
mas eu tenho o maior interesse de estar prestando informações sempre a vocês aqui de todo esse
andamento desses trabalhos que nós estamos fazendo.
Presidente Márcio Meira: Celso.
Celso Correa: Casa Civil. Senhor Presidente, eu só queria levantar uma polêmica, porque eu não
sei se é besteira o que eu vou falar em relação à possibilidade, mas em muitos casos alguns povos
têm dificuldade de conseguir madeira para artesanato. Talvez, se fosse juridicamente possível,
parte dessa madeira poderia ser destinada a esses povos. Eu sei que vender madeira, madeira de
boa qualidade, é uma madeira cara, mas valor agregado é muito melhor ainda. Eu não sei se
juridicamente haveria ou não...
Presidente Márcio Meira: Mas eu entendi que exatamente o projeto era para isso, discutir com
eles exatamente esse tipo de projeto de uso da madeira...
Celso Correa: Mas você está partindo do princípio que você vai aplicar o recurso depois de
leilão. Eu estou imaginando o seguinte: que parte disso poderia ser destinado diretamente. Eu não
sei se há possibilidade jurídica, mas é bom levantar essa questão para as pessoas pensarem e ver
se tem. Se não tiver paciência, mas se tiver eu acho que seria razoável. .
Presidente Márcio Meira: Carlão também tem um comentário em cima desse informe?
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Carlos Nogueira: É. Carlos Nogueira, do Ministério de Minas e Energia. Eu tenho uma
preocupação. Está muito bonita a lógica, mas nós estamos falando de um bilhão e meio. Eu não
sei... [Intervenção fora do microfone] ... Potencial. Eu sei que vai depender da demanda, da
apreensão, mas até um limite de estoque, mas eu fico preocupado com a questão orçamentária,
vai cair dentro do MDS via Fome Zero e nós temos um problema de limite orçamentário pelo
PPA. Eu estou preocupado que esse dinheiro entre no MDS... [Intervenção fora do microfone]. É
só um esclarecimento que eu acho que tem que ser pensado. [Intervenção fora do microfone].
Porque se vai via Ministério eu tenho medo disso cair e esse dinheiro ser contingenciado. É só
uma pergunta que eu acho que tem que ser respondida.
Presidente Márcio Meira: Nós não podemos transformar um informe em um debate. Informe é
informe e está informado. Quem tem dúvidas depois a gente vai procurar a subcomissão ou o
segmento para tratar desse tema...
Aderval Costa: Ou chamar o tema como ponto de pauta na próxima reunião....
Presidente Márcio Meira: É. Já são 13h05min e já passamos até 5 minutos do nosso horário e
só foram os informes do Aderval; os outros informes que foram inscritos a gente deixa para o
início da tarde, logo no início da tarde. Eu queria apenas, eu esqueci hoje de manhã de registrar
aqui a presença do representante do Ministério das Relações Exteriores, o nosso diplomata que
está aqui, Carlos Eduardo. Foi uma solicitação do próprio Itamaraty, que solicitou à presidência
do CNPI que pudesse participar como ouvinte, porque o Itamaraty está muito interessado em
participar da CNPI. Como nós inclusive discutimos que o Conselho terá também a presença do
Itamaraty, então eu achei que seria muito bom não só aceitar a proposta deles como acolher aqui
e ele poder participar como ouvinte. Se eventualmente tiver algum tema que o representante do
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Itamaraty queira se pronunciar, se a plenária pelo Regimento estiver de acordo, nós poderemos
ouvi-lo também. Mas aqui é só para registrar a presença do Itamaraty, além dos outros órgãos de
governo que estão aqui, cada um vai se apresentar no momento da sua fala. Tem aqui a Secretaria
de Direitos Humanos, Ministério de Minas e Energia também, e outros.
Celso Correa: Casa Civil. Aproveitando a oportunidade, algumas falas estão previstas para
pessoas representantes de outros órgãos não integrantes da CNPI, mas a gente tem uma nova
representante titular do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e que é a antropóloga
Olga, que agora faz parte da CNPI em substituição ao Frederico Barbosa do IPEA que foi
desligado.
Presidente Márcio Meira: Boa lembrança. A Olga que está aqui é a nova representante do
Ministério do Planejamento e tem também o fato de que ela é antropóloga e já trabalhou na Funai
inclusive, então uma pessoa que tem contato, tem conhecimento sobre a questão indígena
também. Quer dizer, é muito importante a presença da Olga aqui entre nós na comissão. Seja bem
vinda Olga. Então, pessoal, intervalo do almoço agora, e retorno às 2h30min. E não está
autorizado banho de mar. A Alda eu acho que ela é representante indígena, porque vocês estão
vendo que ela está toda com a indumentária....
Alda Carvalho: Isso aqui é em homenagem aos Kayapó, que aqui tem representante, o grande
líder Akiaboro.
[Intervalo para o almoço]
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Tarde do 13 de março de 2003
Presidente Márcio Meira: Agora, a partir das 14h30min, nós continuamos com os informes.
Os informes incluem também a questão da criação do Conselho e também do Estatuto e em
seguida temos a questão dos recursos hídricos. Essa é a seqüência agora da tarde. Então eu me
lembro que pela manhã havia a inscrição para informes. Acho que a Lylia tinha se inscrito, o
Edgard tinha se inscrito, a Pierlângela também. Eu também tenho informes que também vou
aproveitar para apresentar. Então a Lylia está com a palavra.
Lylia Galetti: Boa tarde. Márcio, só uma correção: se eu bem entendi, você colocou a criação do
Conselho, que é ponto de pauta. O informe que eu vou dar é muito rápido. Eu acho que pelo
menos alguns dos representantes indígenas já conhecem essa história, mas, para socializar: nós
encerramos agora - de 20 a 22 de fevereiro - a última reunião, o último encontro de intercâmbio
regional, que foi com os povos da Amazônia, em Brasília, nesse processo que a gente está
fazendo de aprimoramento da Carteira Indígena. Contando todos os encontros, região Nordeste,
região Sudeste, Sul, Amazônia Legal e Mato Grosso do Sul, em que a gente adotou uma
metodologia diferenciada, fez reuniões com os Guarani, todos os Guarani Kaiowá, todos os
projetos nas próprias aldeias, nas próprias terras, e Terena. Faltou a participação apenas de um
projeto Guató, pela dificuldade que eles tiveram de participar, eles participariam da oficina
Terena. A gente ouviu perto de 600 índios, juntando tudo, e em todas as reuniões a representação
da CNPI foi convidada a participar, esteve na do Nordeste, de cada região. Eu acho que só no Sul
o pessoal da [inaudível] estava com outras agendas, então a gente está caminhando agora para a
oficina nacional, que deve ser no final de maio, início de junho, e vamos enviar os relatórios a
partir da semana que vem para todo mundo tomar conhecimento de como se encaminhou esse
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processo, enfim, em cada lugar como foi etc. Era isso sobre a Carteira que eu queria colocar
como informe.
Presidente Márcio Meira: Edgard.
Edgard Magalhães: Edgard, Ministério da Saúde. Eu gostaria de dar um informe sobre o
inquérito nutricional que a Funasa, em dezembro, assinou com a Associação Brasileira de Saúde
Coletiva – ABRASCO, um contrato para a realização do Inquérito Nutricional Nacional nas
Comunidades Indígenas. É a primeira vez que a gente vai ter um inquérito de cobertura nacional
com amostragem de estatística importante do ponto de vista estatístico e com critérios científicos
padronizados para todo o país, então a gente vai ter pela primeira vez a possibilidade de fazer
uma avaliação comparativa entre todos os povos indígenas do país do aspecto nutricional. Esse
inquérito está começando. Começou com a assinatura do contrato dezembro e ele vai durar um
ano até a produção do relatório final e vai ter cinco meses de coleta de dados em campo,
começando a partir de abril ou maio dependendo da evolução da fase de preparação do inquérito.
Eu considero como um dos principais esforços de produção de dados, de conhecimento mesmo
da situação nutricional dos povos indígenas que a gente já fez. Eu acho que vai produzir
informações para planejamento de políticas públicas durante muito tempo. É só esse informe que
eu estou colocando.
Presidente Márcio Meira: Pierlângela.
Pierlângela Wapichana: Pierlângela. Roraima. Eu queria entregar e levar ao conhecimento dos
membros da CNPI um manifesto feito por nós, membros indígenas, contra a demora da
desintrusão da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Eu quero ler o documento e fazer a entrega
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ao Presidente da Funai. “Excelentíssimos senhores: os membros indígenas da Comissão Nacional
de Política Indigenista – CNPI, vêm por meio deste documento manifestar-se contra a demora da
desintrusão da Terra Indígena Raposa Serra do Sol que perdura por quase três anos. Solicitamos
providências imediatas com vistas à retirada de todos os ocupantes não índios do interior da área
Raposa Serra do Sol. A medida enfoca principalmente os rizicultores, já que suas presenças e
atividades representam danos ambientais à reserva e ameaçam a integridade física e moral das
comunidades e seus membros. A demora na retirada está causando uma grave situação de
violência, como a ocorrida no dia 8 de março do corrente ano, onde foram queimadas 8 casas de
indígenas na comunidade Mutum, Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Na ocasião estava sendo
realizada a 37ª Assembléia dos Tuxáuas do Conselho Indígena de Roraima – CIR, onde as
comunidades indígenas e seus membros solicitaram a imediata retirada dos não índios e que não
aceitam qualquer prorrogação no prazo para a retirada dos mesmos. Diante disso apoiamos essa
decisão e nos manifestamos contra qualquer negociação que o Presidente Lula e o Ministro da
Justiça façam para prorrogar o prazo de retirada dos invasores da Terra Indígena Raposa Serra do
Sol”.
Isso aqui é um documento em virtude de a gente ter tido uma visita do Ministro
Mangabeira Unger dentro da assembléia, de ter tido várias oposições porque militares e os
deputados queriam fazer a visita junto com o ministro. As lideranças disseram que não, que
queriam conversar com o ministro e com as outras autoridades em outro momento, que naquele
momento seria conversar com o ministro. Mediante a não ida de parlamentares na reunião, eles se
sentiram ofendidos e aí estão vindo negociar. As notícias que a gente têm e que estão afligindo
todos da Terra Indígena Raposa Serra do Sol é essa negociação de mais um prazo para serem
retirados os não indígenas e a violência está sendo constante lá. Esse último episódio foram oito
casas queimadas e está muito preocupante essa situação. A gente coloca isso ao presidente, que
esse documento seja entregue e essa preocupação apresentada, porque os parentes estão me
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ligando de lá e perguntando o que tem oficialmente, porque a situação está complicada. E já tem
um prazo da Operação Upatakon III e a gente tem muita expectativa e muita negociação por trás.
Então é isso que eu queria registrar.
Presidente Márcio Meira: Certo. Eu aproveito até para informar, já que estamos no nível de
informe, e eu era o próximo inscrito, que a decisão tanto do Presidente quanto do Ministro da
Justiça é pela desintrusão e retirada dos arrozeiros. Sempre foi essa decisão, tivemos dificuldades
de logística para realizar no ano passado, e a decisão é de que a Operação Upatakon III, está em
curso e ela tem estado dentro dos prazos de planejamento deste ano. Nós estávamos esperando
também o orçamento, que foi aprovado ontem, para que esse planejamento continuasse, mas você
que está vindo de Roraima sabe que tem gente lá, não só da Funai como da Polícia Federal, já
chegando. Eu conversei com o Jaci na Funai recentemente e a informação que você pode
inclusive levar como representante para as lideranças de lá é que a operação está no seu
planejamento normal de curso. Ela também tem essa dependência, como todas as outras, da
questão do orçamento, que foi aprovado ontem, isso é um ponto positivo e favorável para que
esse planejamento continue, para que a desintrusão seja cumprida e a lei seja cumprida. Então
não há nenhuma negociação que eu saiba e sim há a decisão e o cumprimento do planejamento
dessa operação. Claro que essa operação é uma operação que tem muitos elementos que são de
caráter sigiloso, mais tarde estaremos aqui com o Delegado Segóvia, que vai estar aqui falando
com a gente. Eu não sei se é hoje ou amanhã. Amanhã. E ele próprio pode também em algum
momento hoje, ou hoje à noite, prestar alguns esclarecimentos também se for necessário porque
ele, pela Polícia Federal, tem mais detalhes até sobre a operação.
Eu queria também, além disso, dar uma informação que eu achei muito
interessante. Que foi aprovada, saiu no Diário Oficial do dia 10 de março agora, uma lei, a Lei n.º
11465, que altera a Lei n.º 9394, de dezembro de 1996, depois modificada pela Lei n.º 10639, de
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2003 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da
rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-brasileira e indígena”. Esse
é um informe que eu queria trazer. É uma revisão na lei e aqui eu vou ler, é curto. O artigo 1º diz:
artigo 26 - “A da Lei n.º 9394, de 20 de dezembro 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:
Artigo 26: nos estabelecimentos de ensino fundamental de ensino médio públicos e privados
torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Parágrafo 1º: O
conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira a partir desses dois grupos étnicos,
tais como o estudo da história da África e dos africanos e a luta dos negros e dos povos indígenas
no Brasil; a cultura negra e indígena brasileira; e o negro e o índio na formação da sociedade
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
história do Brasil. Parágrafo 2º: os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar em especial
nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileira. Artigo 2º: esta lei entra em
vigor na data da sua publicação. Brasília 10 de março de 2008. Luiz Inácio lula da Silva e
Fernando Haddad”. Esse material didático que a gente apresentou, ele já é subsídio nesse sentido.
Eu achei importante trazer essa informação que é quente, saiu do forno, é do dia 10 de março
deste ano [intervenções fora do microfone].
Francisca Pareci: De fato, nós do movimento dos professores já estávamos, de certa forma,
aguardando alguma coisa nesse sentido. Agora depois dessa legislação há necessidade da
regulamentação nos sistemas de ensino para que ela tenha de fato validade nas regionais. Nisso
poderia, por exemplo, nós da Subcomissão [de Educação], fazermos uma recomendação ao MEC,
ao Conselho Nacional de Educação, porque eu participei da regulamentação e das diretrizes no
caso dos afro-descendentes, afro-brasileiras, a gente participou de toda a discussão e da comissão
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que a regulamentou no âmbito do Conselho Nacional de Educação. Agora com a inclusão
indígena certamente seguirá os mesmos procedimentos. Eu estou pensando em se a nossa
subcomissão poderia fazer uma recomendação em relação a essa questão, presidente.
Presidente Márcio Meira: Com base na lei, eu acho que sim, a subcomissão pode sim
recomendar às instâncias. Eu acho que aí pode até estender às secretarias de educação, enfim, as
universidades, as escolas. Eu acho que é até mais ampla essa recomendação de que se siga a lei.
Capitão.
Capitão Potiguara: Eu ia fazer um questionamento com relação aos cursos das universidades,
principalmente Direito, História, Pedagogia e Antropologia, porque a gente vê nessas
universidades o pouco conhecimento que esse povo tem quando chega lá dentro. Eles não têm
conhecimento da questão indígena, da história indígena no Brasil, então era bom colocar também
para as universidades.
Presidente Márcio Meira: Foi exatamente essa linha. Eu acho que é esse o encaminhamento.
Outro informe que eu queria trazer também para a Comissão é o informe da publicação no Diário
Oficial da União no dia 19 de fevereiro de 2008 da Portaria n.º 315 do Ministro de Estado da
Justiça. “No uso de suas atribuições e tendo em vista o contido no artigo 1º da Resolução n.º 3 de
17 de setembro de 2007, acolhendo a recomendação contida no memorando n.º 11 da CNPI de
2007, a Comissão Nacional de Política Indigenista, resolve: artigo 1º - ficam revogadas as
portarias n.º 2.711 de 23 setembro de 2004, publicada no Diário Oficial da União, seção 2, de 24
subseqüente, e a portaria n.º 1409, de 19 de julho de 2005, publicada no Diário Oficial da União,
seção 2, de 20 subseqüente, que versam sobre a constituição de comissão especial com a
finalidade de proceder a estudos e ofertar sugestões à solução das questões indígenas no estado de
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Santa Catarina. Artigo 2º: esta portaria entra em vigor na data de sua publicação”. Isso aqui,
vocês estão lembrados, esse aqui é o processo, eu estou com um processo na mão, que resultou
nessa portaria, ou seja, aquela comissão foi definitivamente revogada por essa Portaria do
Ministro da Justiça. Esse é um informe também que eu queria trazer, que era uma questão que
estava pendente da reunião do ano passado.
Um outro informe que eu queria trazer é sobre... eu sei que isso não é só um
informe é até um ponto de pauta. É sobre o Conselho. Na última reunião do ano passado nós
acordamos a proposta de criação do Conselho Nacional de Política Indigenista. Coube ao
Ministério da Justiça, a CNPI encaminhou ao Ministério da Justiça para fazer os ajustes, à
Secretaria de Assuntos Legislativos, para que a gente possa ver juridicamente tudo arrumado para
poder analisar de novo, ver se é isso mesmo e encaminhar para o Congresso Nacional. Sempre
esse encaminhamento é feito através da Casa Civil, manda para a Casa Civil e esta encaminha
como projeto de lei para o Congresso Nacional. O informe que eu tenho sobre isso é que eu tive
uma conversa com o nosso Ministro Tarso Genro. A decisão que nós tomamos foi que agora no
mês de abril, até em função das celebrações do Dia do Índio, se conclua os trabalhos que
precisam ser feitos para que a gente encaminhe o projeto de lei, dê o encaminhamento para o
projeto de lei para o Congresso Nacional, Casa Civil e Congresso Nacional. O informe é no
sentido do encaminhamento agora em abril já ao Congresso Nacional. É óbvio que até lá... Esse
aqui é o parecer já da Secretaria de Assuntos Legislativos, eles têm a leitura jurídica, técnica; a
subcomissão - eu acho que não é uma questão para a gente tratar aqui nessa nossa reunião da
CNPI, mas a subcomissão específica precisa se reunir rapidamente em Brasília para que a gente
possa dar celeridade a esse processo; para que a gente tenha tempo de encaminhar para a Casa
Civil e a Casa Civil encaminhar isso para o Congresso Nacional. Então o informe é nesse sentido:
informe de que a decisão tomada pelo governo, pelo Ministro Justiça é de encaminhamento célere
para que agora no mês de abril a gente possa encaminhar o projeto de lei do conselho para o
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Congresso Nacional. Aí nós vamos ter um novo momento, que vai ser a negociação no
Congresso, a CNPI ir lá e conversar com as bancadas para que a gente dê celeridade na
aprovação dessa lei. Esse era um informe que eu também queria trazer, porque tem a ver com o
ponto de pauta, mas ele é um informe que eu considero importante até para a gente poder fazer
essa avaliação.
Tinha mais um outro informe. Na verdade não é propriamente um informe, mas é a
leitura do telegrama que o Ministro da Justiça Tarso Genro mandou para a CNPI dizendo o
seguinte: “Impossibilitado de comparecer à abertura ou ao encerramento da segunda reunião
extraordinária da CNPI a realizar-se na Baía da Traição nos dias 13, 14 e 15 do corrente por estar
com compromissos agendados neste Ministério. Agradeço o convite desejando pleno êxito aos
trabalhos da CNPI. Cordialmente Tarso Genro, Ministro de Estado da Justiça”. Eu trouxe isso
pessoalmente para vocês e ele pediu que eu trouxesse a mensagem, ele realmente não pôde vir,
agradeceu o convite dos Potiguara, sobretudo, pela celebração, e ele disse: você, como Presidente
da Funai, estará lá também me representando, mas também amanhã deverá estar chegando o
Consultor Jurídico do Ministério da Justiça, o Dr. Favete, que a pedido do Ministro vem também
representando ele nessa celebração. Ele vem exclusivamente para o sábado, para o momento de
celebração da Terra Indígena Potiguara em Monte Mor. Estes eram os informes que eu tinha. Não
sei se ainda tem mais algum. Eu não vi ninguém se inscrevendo para informes. O próximo ponto
de pauta aqui é exatamente a questão da criação do Conselho, do estatuto, que a gente até já
discutiu hoje pela manhã, e ainda concluir as quatro subcomissões. Marquinhos.
Marcos Xucuru: Marquinho Xucuru. Não é informe, mas é ponto de pauta que foi colocado
agora no período da tarde, da questão da criação do Conselho. Eu acho que é um assunto que já
foi agora esgotado, da forma que o Presidente coloca os trâmites que estão se dando. E a questão
do Estatuto, no meu ponto de vista também, antes do almoço o nobre Presidente também falou
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dos trâmites, inclusive recebendo orientação da subcomissão de Assuntos Legislativos; também
já deu os informes e também o encaminhamento. Então eu acho que agora à tarde nós já teríamos
matado esses dois pontos de pauta. Então é nesse sentido.
Presidente Márcio Meira: Eu queria consultar a plenária se a plenária está de acordo com essa
posição do Marquinhos? Eu acho que com essa avaliação positiva nós podemos dar o
encaminhamento. Com isso eu queria sugerir que a gente já entrasse no relato da próxima
subcomissão para a gente concluir as quatro subcomissões que faltam e entrar depois no último
ponto da tarde que é a questão dos recursos hídricos. A próxima subcomissão qual é? Só não
pode Saúde, porque é amanhã. Pode ser Justiça, Cidadania.
Wilson Matos: Wilson Matos. Centro-Oeste. A Subcomissão de Justiça Segurança e
Cidadania reuniu-se ontem e nós fizemos uma leitura da ata dos trabalhos anteriores, destacando
algumas solicitações, pedidos de informação, alguns que já foram atendidos. Os senhores, cada
um recebeu uma cópia, e ontem estiveram conosco o Jorge Luís Quadros, comigo, José Caixeta
Ribeiro, Sandro Tuxá, Alda Freire de Carvalho, o Dr. Carlos Eduardo da Cunha Oliveira, do
Ministério das Relações Exteriores. Nós fizemos uma retrospectiva da ata anterior, falando dos
pedidos. O primeiro ponto é o pedido de informação sobre a situação dos índios Enawenê Nawê,
de Juína, no Mato Grosso, onde todos os senhores se lembram, nós passamos um vídeo e todos
ficaram inclusive bastante emocionados com a situação em que eles estavam vivendo. O segundo
ponto, o pedido à AGU de informações sobre disputas judiciais envolvendo territórios indígenas.
Já está atendido, inclusive já está aqui na ata. O terceiro ponto pedido à Funai de mapa detalhado
de áreas indígenas em que ocorram conflitos territoriais, também já está atendido. Pedido à
DEPEN de informações sobre indígenas presos. A subcomissão só dispõe de dados recolhidos no
site do DEPEN, são necessárias melhores informações, então nós necessitamos ainda de algumas
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informações mais detalhadas. No outro ponto: Pedido à Funai e à Polícia Federal para que
apurem quanto aos indígenas que estão sendo investigados ou indiciados em inquéritos policiais.
Ainda não foi respondido. O próximo ponto: Pedido à Polícia Federal para que esclareça como
opera em áreas indígenas. Será objeto de apresentação a ser feita pelo Delegado da PF que vai
falar mais tarde ou amanhã aqui na CNPI. Pedido de informações sobre o PRONASE. As
informações poderão se disponibilizadas pelo representante do Ministério da Justiça. Foi uma
sugestão que a comissão está trazendo. Pedido de informações sobre regularização fundiária no
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o tratamento da questão Kaiowá: foi pedido pela
subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania que os Guarani-Kaiowá de Mato Grosso do Sul
tivessem uma atenção especial por parte do Governo Federal e me parece que tem um comitê
gestor já montado, já está instalado em Dourados. Não temos ainda informação de a quantas, o
que fazem e como fazem e por isso na seqüência nós estamos pedindo essa informação. Então na
ata. Foi manifestada preocupação com relação à situação dos presos que estão sem
acompanhamento jurídico, já foi objeto de vários debates; inclusive na CNPI, na nossa
subcomissão, tem alguns trabalhos muito esporádicos, alguns levantamentos que inclusive eu
realizei para o CGDI, mas ainda é muito superficial, muito pouco o que nós temos. Há uma
preocupação também com relação à morte de lideranças indígenas e a criminalização dessas
lideranças. Notadamente no Mato Grosso do Sul ocorrem essas mortes e sempre em conflito, ou
em conflito com o fazendeiro ou em conflito com a polícia, e observa-se que sempre o índio está
desarmado. Eu não sei como alguém desarmado pode entrar em conflito com alguém que está
bem armado. Então nós estivemos agora no último dia 2... Eu me desloquei de Dourados para
Naviraí, de Dourados a Naviraí são 130 quilômetros, para acompanhar a morte de um indígena
que estaria em confronto com a polícia. Cheguei trinta minutos depois, não foi tão rápido assim,
as outras mortes que acompanhei, no caso do Ortiz eu estava aqui em Brasília, mas no caso da
[[inaudível] eu ainda cheguei no levantamento do corpo, designado pela Ordem dos Advogados
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do Brasil, seccional de Mato Grosso do Sul, pela portaria 004, e que vem desempenhando essas
funções. Só não sabia que no último dia 2 iria fazer, como Presidente da Comissão de Assuntos
Indígenas, o levantamento do corpo do meu próprio irmão, que serviu como cacique nosso há
mais de trinta anos. Em 1970, Marçal de Souza Guarani passa a capitania para [inaudível]
Machado e ele vem sendo capitão até os anos de 97, 98. Neste período ele passa a trabalhar lá
aonde foi agora barbaramente assassinado por policiais, que segundo relatam no boletim de
ocorrência estaria em confronto com a polícia. Então eu sugeriria, senhor presidente, também
dentro disso, que a CNPI fizesse uma nota de repúdio a essas mortes que acontecem por policiais
e por fazendeiros, notadamente dizendo-se em conflito; para que a gente enviasse ao Governo do
estado do Mato Grosso do Sul, para os órgãos como a OAB do estado do Mato Grosso do Sul,
dizendo do repúdio que nós temos com relação a essas mortes de indígenas que acontecem no
Mato Grosso do Sul. Mas falamos também sobre a questão porque a comissão é de Justiça,
Segurança e Cidadania, eu coloquei também a preocupação que nós temos com relação a alguns
índios que estão sendo criminalizados. Eu trouxe aqui um exemplo. O exemplo do indígena
Sérgio da Silva, ele foi inocentado em primeira instância, acusado de estupro, não se comprovou
o estupro, caiu para 214, que é atentado violento ao pudor e o juiz o inocentou. Como as vítimas
ou as propensas vítimas seriam menores, então esse recurso sobe para o tribunal. No tribunal,
algum desembargador, eu não sei onde, encontrou subsídios e o condenou a 17 anos e seis meses.
Ele se encontra na Penitenciária Harry Amorim Costa em Dourados e é só um dos casos que eu
tenho como exemplo. Eu citei inclusive que um cliente meu da cidade, ao fazer uma audiência
com um juiz, ele disse que já tinha transigido e não precisava mais e que o meu cliente teria que
sair de casa, era um caso de família. Essa semana eu encontrei com ele e disse: daí como é que
ficou? Eu só acompanhei pela Câmara Municipal só aquele ato. Ele disse: - foi só trocar de
advogado. - Só trocar de advogado? Sim, porque o juiz tinha combinado com o outro que o
senhor era defensor do pessoal que matou os policiais no Passo Piraju. Então isso é uma
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preocupação; é só um exemplo, é uma preocupação, esse estigma que criou e que está cada vez
mais crescendo, é como se fosse uma avalanche. Esse negócio está crescendo. Os nossos pedidos
de liberdade provisória, senhor presidente, nenhum é atendido. Todos os pedidos que eu tenho em
que é solto, o preso está sendo solto pelo Tribunal e assim mesmo tem que esperar 30, 60 dias. Eu
acabei de soltar um indígena, agora esses dias, com 60 dias ele ficou, apenas vias de fato da
Maria da Penha, que é afiançável, ele pode sair no próprio ato. Então essa questão nós ficamos
preocupados com relação à justiça. Nós temos no Mato Grosso do Sul muitos juízes que estão
ligados à questão agrária e isso nos preocupa bastante. Não ficamos só também na questão da
Justiça, tem também a questão da cidadania. Eu trouxe, de outra vez, nós temos funcionários,
empregados com carteira assinada que foram receber o FGTS na Caixa Econômica e não pôde
receber o FGTS, mesmo de posse da CTPS assinada, com foto e tudo, porque havia uma
resolução da Caixa dizendo que se não tivesse identidade que não pagasse aquele devido ao
trabalhador, no caso a identidade indígena é desconsiderada. Então nós trouxemos essa
preocupação também com relação às identidades, já que o artigo 12 e 13 prevê o assento de
nascimento, casamento e óbito de índio, mas não prevê a identidade e esse registro de nascimento
não serve ou eles não aceitam para se fazer a identidade civil. E assim os índios ficam à mercê de
documentos para exercer a sua cidadania. Então temos cidadania, temos direito, mas não temos
como exercer, porque não tem esses documentos. Eu tenho colegas que estiveram comigo que
podem complementar. O colega Sandro....
Presidente Márcio Meira: O restante do grupo da subcomissão...
Sr. Jorge Quadros: Jorge Quadros. Ministério da Justiça. Não é uma complementação, é uma
sugestão que eu quero trazer. O Ministério da Justiça está tão envolvido nessa questão que deixa
descoberta a subcomissão, até porque até aqui as pessoas que têm participado da comissão não
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tinham afinidade com essa área, a questão da segurança. A pauta da subcomissão ontem foi,
através do Sandro e através do Wilson, permanentemente essa questão e essa preocupação. Então
eu entendo e gostaria de fazer uma sugestão, Márcio: que você me acompanhasse numa hora lá
com o futuro novo Secretário Nacional de Segurança Pública, Dr. Biscaia saiu, para que a gente
tratasse disso pontualmente, criando fóruns, instâncias, uma área específica que trabalhe isso,
desenvolvendo seminários, desenvolvendo algumas alternativas de sugestão para a formação de
policiais e para essa questão pontual; tem muito a questão do negro, mas não tem nada trabalhado
na SENASP na questão indígena, que normalmente envolve a polícia. Então a gente pode propor
uma alternativa que vai constar nos currículos, na matriz curricular de formação dos policiais.
Nessa questão também de julgamento eu acho que seria importante se nós pudéssemos propor, eu
não sei para que período, junto com a SENASP, um fórum específico que tratasse tanto dessa
questão de julgamento, dessa questão de acompanhamento de defesa, mas principalmente
também essa questão das polícias, que não têm nenhuma orientação. A polícia ela é ruim para
atender às pessoas que não têm nenhuma diferenciação, ainda mais essas minorias, então ela
precisa, e a SENASP faz isso, mas ela não está atenta neste momento a essa questão indígena.
Então a contribuição que eu poderia trazer a partir dessa nossa participação nessa comissão é de
desenvolver em parceria com a SENASP, e aí eu precisaria de uma ida com você, uma agenda
para ver isso.
Presidente Márcio Meira: Está acatado. Eu acho que a gente pode combinar de fazer essa
agenda proximamente, na semana que vem ou na outra. Eu queria sugerir também que a gente
pudesse propor uma agenda para uma próxima reunião da CNPI, que alguém do Ministério da
Justiça, o Coordenador do PRONASCI, por exemplo, pudesse fazer uma apresentação aqui na
CNPI. Inclusive é importante isso porque o Ministro Tarso já me pediu que a gente apresentasse
para o PRONASCI, quer dizer, que a Funai apresente uma proposta de inserção do órgão, da
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questão indígena; que ele atenda, atue também com os povos indígenas. Para isso eu acho que é
importante a gente apresentar para a comissão o PRONASCI como um todo, qual é a idéia dele.
O PRONASCI é Programa Nacional de Segurança com Cidadania, então é um programa novo,
prioritário do governo que envolve essa questão da segurança, mas não só do ponto de vista
repressivo, mas também do ponto de vista da formação de policiais, de combater a causa,
digamos assim, da violência e etc. Então eu acho que a gente pode combinar essas duas coisas,
essa conversa lá e a apresentação do PRONASCI e daqui a gente colher sugestões. Eu já até
conversei com o Professor Nado sobre isso, então eu acho que tem um bom encaminhamento.
Dra. Alda quer fazer um comentário?
Alda Carvalho - Advocacia Geral da União: Eu só queria complementar o seguinte: nesse
ponto que foi discutido ontem nessa subcomissão, além dessa questão do PRONASCI, que eu
acho uma sugestão extremamente benéfica para os índios, me preocupa muito também a questão
dos índios que estão encarcerados em delegacias, em penitenciárias etc., sem assistência jurídica.
A Funai, nós sabemos que Procuradoria da Funai tem lá as restrições para tratar dessa questão
especificamente dos índios nesses casos de crimes que eles consideram comuns, mas quase
sempre esses crimes que são apontados como comuns originam-se de uma disputa da terra
logicamente, a terra é o principal objetivo, e que é desconfigurado ou é levado a cometer alguns
delitos e desconfiguram para colocá-los em situação de normalidade como se não fosse crime de
disputa de coletividade e eles estão lá entregues. O que eu quero dizer é o seguinte: nem são
atendidos pela sociedade, pela Defensora Pública, que muitas vezes não tem nenhum tempo e
membro suficiente para recorrer a isso, então eles ficam entregues à sorte, nem são atendidos pela
Funai, porque também tem suas restrições. Eu queria pedir, Presidente, eu pedi como observadora
apenas, que registrasse isso na ata da subcomissão, mas que fosse pensado para uma situação
geral dos índios. Agora me veio à lembrança que poderíamos, nessa oportunidade que o senhor
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terá de fazer esse trabalho junto ao Ministério da Justiça, no PRONASCI, também fazer junto à
Defensoria Pública, para abrir um entendimento, um canal específico, não sei de que forma, para
atender esses índios que estão jogados nas cadeias públicas e nas penitenciárias sem assistência
jurídica alguma. É só isso que o gostaria de colocar.
Presidente Márcio Meira: Obrigado, Dra. Alda. Eu queria pedir, se for de bom entendimento do
plenário, que a gente pudesse ouvir um pouco o nosso Procurador Federal especializado da Funai,
Dr. Salmeirão, porque nós temos algumas novidades da AGU na Procuradoria Federal
Especializada da Funai, e eu gostaria que do Dr. Salmeirão trouxesse a questão dos procuradores.
Está autorizado? Pelo silêncio da plenária eu considero que está autorizado.
Antonio Guerreiro Salmeirão – Procurador-Geral da Funai: Boa tarde a todos. Só para
informá-los que recentemente se realizou um concurso público para novos procuradores federais
e nós tínhamos duas vagas em Dourados. Eu acho que o maior problema nosso, aqui, quanto à
situação carcerária dos índios e inquéritos policiais, é ali, concentra-se no sul do Mato Grosso do
Sul, e até estive há umas duas semanas e já fiz um levantamento prévio, mas como eu estava
falando, agora nós conseguimos preencher essas duas vagas que nós tínhamos lá em Dourados.
São dois procuradores federais e nós vamos concentrar esforços na justiça criminal, então
também temos os casos das adoções, que eu acho que vocês já tomaram conhecimento. Além
disso, eu já conversei com a Procuradoria Geral Federal, inclusive o edital está pronto, edital de
convocação de uma força-tarefa, a fim de levar um grupo de Procuradores Federais para lá, para
realizar esse esforço concentrado na justiça criminal principalmente. Nós só estamos aguardando,
talvez seja do conhecimento de vocês, que toda a Advocacia Geral da União, as três carreiras,
Procuradoria da Fazenda Nacional, os Advogados da União e os Procuradores Federais, eles
estão num movimento grevista. Por conta disso, a Procuradoria Geral Federal ainda não publicou
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esse edital de convocação da força-tarefa, mas aguarda-se até o final do mês por uma solução
para essa questão do movimento grevista e em seguida, tão logo se encerre a greve, a
Procuradoria-Geral Federal vai publicar o edital de convocação dessa força-tarefa. Eu acho que
não vai ser a solução ainda do problema, uma força-tarefa vai ficar por um tempo determinado lá,
mas a gente espera dar uma solução aos casos mais graves e mais urgentes. Nós conseguimos
esses dois procuradores, eu acho que no outro concurso a gente consegue reforçar esse quadro de
procuradores permanentes. O ideal é ter um quadro com o maior número possível de
procuradores, para ter uma atuação permanente. São esses os informes que eu gostaria de dar.
[Intervenção fora do microfone]. Sim. Nós conseguimos preencher as vagas em Manaus, em Rio
Branco, Cacoal, Jiparana, Porto Velho agora, e em vários locais onde não havia procuradores
federais e agora nós conseguimos aumentar, graças à gestão do Dr. Márcio junto ao Ministro
Toffoli, em 50% o quadro de procuradores na Funai. Eu acho que no próximo concurso a gente
consegue mais 50% e aí sim dobrar o quadro de procuradores federais. Eu sei que o serviço
jurídico hoje da Funai deixa muito a desejar, mas existe todo um empenho da Advocacia Geral da
União de reforçar esse quadro de procuradores. Mais algum esclarecimento?
Presidente Márcio Meira: Eu pedi que o Dr. Salmeirão viesse trazer essas notícias porque eu
acho que é importante também o plenário da CNPI ter essa informação a partir do nosso
Procurador Federal chefe da Funai. Esse foi um esforço conjunto nosso da Presidência da Funai
com o Ministro Toffoli da Advocacia Geral da União no sentido de que a gente ampliasse. Eu
acho que já foi um passo. Não é ainda o ideal, mas foi um passo importante, sobretudo em
regiões em que não havia procuradores federais, como é o caso que foi citado, principalmente na
Amazônia e em lugares em que não havia procuradores, como Rondônia, Mato Grosso do Sul e
que agora a gente tem procuradores, e permanentes.
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Alda Carvalho: Presidente, tem um outro dado importante também que eu considero - é que,
embora haja essa força-tarefa que a Procuradoria Federal vai fazer, eu não sei se me fiz
compreender bem, mas o ponto central dessa minha colocação nessa subcomissão e a minha
preocupação é também com relação àqueles índios que estão presos não pela questão da terra;
porque quando é tipificado que eles estão ali por uma disputa qualquer da terra obviamente que a
Procuradoria Federal e a AGU estariam na obrigação de defendê-los, mas com relação àqueles
casos que não estão tipificados como disputa de terra e nem por interesse da comunidade, de toda
a coletividade. Então há que se ter, de qualquer forma esse índio precisa de uma assistência, ele
não pode contratar advogado particular para advogar para poder liberá-lo, então há que se ter uma
Defensoria Pública voltada para esses casos específicos.
Presidente Márcio Meira: Dra. Alda, está entendido. Eu entendi que as duas coisas não são
excludentes. Tanto o trabalho com a Defensora Pública é importante e necessário quanto também
o reforço da Procuradoria Federal Especializada. São duas ações complementares e necessárias,
não excludentes, então é nesse sentido que eu queria dar o esclarecimento para subcomissão. Eu
queria saber se tem mais algum outro... Sandro.
Sandro Tuxá: Leste/Nordeste. Eu não sei se estou equivocado, eu estava até aqui consultando
Dr. Wilson, mas da nossa subcomissão saiu como um encaminhamento uma proposta para o
[inaudível]. Nós já vínhamos há algum tempo pedindo dados do sistema carcerário da população
indígena que está no sistema carcerário e aí saiu como proposta para o Departamento
Penitenciário informar qual era o tratamento que vinha sendo dado às populações indígenas e se
realmente estava sendo exercido algum tipo de diferença no tratamento com os mesmos. Foi
levantado dentro do nosso grupo que há vários casos de indígenas que não têm nem contato com
a língua oficial do nosso país, ou seja, só falam a língua materna; ele fica dependendo dos
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demais, de vários outros alheios à sua realidade, e foi colocado como proposta de resolução para
nós enviarmos algo formal para o Departamento do Sistema Penitenciário para ver se há um
tratamento específico e diferenciado para esses casos. Eu não ouvi o parente falar na leitura da
nossa ata.
Jorge Quadros – Ministério da Justiça: Consta aqui na ata, mas eu tinha me colocado
independente do ofício que deve sair pelo Presidente da CNPI para a DEPEN, eu gostaria de
buscar esses dados no DEPEN, diretamente, porque não há uma política específica para isso. Eu
também expliquei na subcomissão que o DEPEN há quatro ou cinco anos começou a assumir o
controle efetivo dos presídios no Brasil. Até então era um conglomerado de cadeias de controle
dos estados e ele não intervinha, e a partir da existência dos presídios federais o DEPEN então
começa a organizar, a sistematizar os presídios no Brasil, então possivelmente eles tenham
alguma dificuldade com esses dados porque são alimentados pelos estados. Mas
independentemente do ofício da Funai, da CNPI, eu me comprometo em fazer esse trabalho em
conjunto, nós estamos trabalhando no PRONASCI em conjunto e apurando esses dados aí.
Presidente Márcio Meira: Só para complementar isso, porque eu acho que ajuda. Um dos
objetivos do PRONASCI, quando for feita a apresentação isso vai aparecer melhor, mas um dos
objetivos do programa também é essa questão do tratamento digno em relação à questão dos
direitos humanos etc., no sistema prisional, mas isso, quando a gente for discutir o PRONASCI,
nós vamos ter a oportunidade de debater mais profundamente. Eu queria saber se tem mais algum
questionamento? Eu acho que as questões foram esclarecidas e encaminhadas, senão a gente
passa para a próxima subcomissão. Então passamos para a próxima subcomissão. Qual seria a
próxima subcomissão? Terras Indígenas. Quem é da Subcomissão de Terras Indígenas? Danilo.
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Danilo Terena: Região Centro-Oeste. Subcomissão de Terras Indígenas. A gente fez alguns
encaminhamentos e em síntese, para ser mais objetivo, na última reunião que nós tivemos com a
subcomissão foram solicitados alguns encaminhamentos para a Funai, só que nesse momento,
nessa nossa reunião de ontem, a Funai não estava e nem o Incra, então a gente fez esses
encaminhamentos e se continuou com os três encaminhamento sobre os quais ainda não temos
nenhuma situação definida, concreta, com relação ao que nós solicitamos. Então o que nós
fizemos foi isso. Primeiro, com relação a essa questão da Portaria que o presidente da Funai
mencionou, foi uma das nossas atuações na subcomissão, que foi a questão da portaria de Santa
Catarina que nós solicitamos e foi revogada através da Portaria n.º 315, assinada pelo Ministro da
Justiça. Diante dessa situação, nós solicitamos, estamos pedindo para a plenária que seja emitido
um expediente da CNPI parabenizando o excelentíssimo Ministro da Justiça, Sr. Tarso Genro,
pela revogação da referida portaria. Segundo, que seja feita a imediata desintrusão, registro e que
sejam asseguradas as condições de sustentação da população de todas as terras indígenas já
homologadas. Primeiro porque hoje na parte da manhã o Presidente da Funai, que é o nosso
Presidente da Comissão, recebeu dois expedientes aqui também da Pierlângela por conta dessa
questão da desintrusão e isso tem acontecido em várias partes do nosso país. Então nós
gostaríamos que fosse feita a imediata desintrusão e também essa questão dos registros, que é a
questão aqui dos Potiguara; parece que segundo o Capitão relatou para a gente ontem, tem uma
situação devido a qual ainda não foi feito o registro dessas terras. E os outros três, que foram os
nossos encaminhamentos da última reunião, que é: solicitar à CGID, conforme já apontado na
reunião anterior dessa subcomissão, informação sobre o andamento da articulação com o Incra
acerca do mecanismo de consulta recíproca para criação de assentamentos em terras indígenas e
para o aprofundamento do convênio de cooperação técnica já existente no que se refere à
participação do Incra no processo de regularização fundiária de terras indígenas. A quarta é
reiterar também a sugestão à CNPI para aprovação de recomendação ao Ministro da Justiça no
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sentido de que seja determinado à Funai que se abstenha de emitir qualquer certidão ou atestado
negativo de ocupação de terra por índios, uma vez que a informação de que a terra é ou não
indígena somente poderá ser certificada após os procedimentos administrativos para demarcação
de terras indígenas. A quinta: recomendar à Funai/CGID, que consolide a lista balanço das terras
indígenas e que apresente impreterivelmente até a próxima reunião, para que a subcomissão de
terras possa discutir critérios e prioridades para a seqüência do processo de regularização
fundiária considerando-se os recursos humanos e financeiros escassos. Esse objetivo é um foco
da subcomissão, porque até agora a gente não conseguiu apontar nenhum critério, aliás, sugerir
critérios aqui em plenário, justamente porque nós não temos ainda a unificação dessas listas que a
Funai, através da CGID, ficou de apresentar para a gente. A sexta recomendação é recomendar
enfaticamente à Funai que envie representante do CGID às reuniões da subcomissão, a fim de
que traga informações relativas aos encaminhamentos anteriores. Essa é uma das preocupações
nossas. Porque o trabalho não avança. A gente cometeu um lapso também porque deveria constar
aqui o Incra, porque o Incra também é um parceiro importante nesse processo e o Incra também
não está se fazendo presente nesse momento.
Presidente Márcio Meira: Eu não sei se mais algum membro da subcomissão quer fazer algum
comentário... Francisca.
Francisca Pareci: Francisca. Mato Grosso. Senhor presidente eu perguntaria à subcomissão se
dentro dessa listagem de tudo que eles estão pedindo estão incluídas também as áreas indígenas...
as terras de fronteira; porque como o senhor sabe, presidente, nós temos um caso lá em Mato
Grosso que é o caso do povo Chiquitano, que até o momento não temos nada ainda definido
sobre a demarcação dessas terras e eles estão à mercê inclusive de tráfico de drogas. Eles estão
muito preocupados com isso. A área é uma linha seca, extremamente perigosa na região e como
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agora está demorando muito essa demarcação está criando uma situação muito de apreensão, por
parte da comunidade, em relação à demora da demarcação. Eles entendem que com a demarcação
minimizaria um pouco a situação. Então eu gostaria até de saber, eu não sei quem poderia nos dar
essa informação, porque para mim interessa muito pois se trata de uma região do meu estado.
Presidente Márcio Meira: Caboquinho.
Caboquinho Potiguara: Eu só queria solicitar dessa subcomissão, quando eles falam aqui dessa
consulta recíproca de assentamento em terras indígenas, eu queria um melhor esclarecimento. E
quando eles falam aqui na cooperação técnica existente com o próprio Incra, porque o que me
parece, exemplificando aqui pela terra Potiguara, o Incra foi que fez o mega-projeto no restante
da nossa área. Nós temos um projeto que é executado pelo Incra desde 90, 93, se não me engano
83, 93 eu não sei, é por aí. Então eu queria saber dessa subcomissão principalmente essa questão
da consulta recíproca e dessa cooperação técnica do referido Incra.
Presidente Márcio Meira: Eu estou entendendo que o Caboquinho está fazendo uma pergunta
aos membros da subcomissão sobre o esclarecimento. Eu não sei se o Danilo tem esse
esclarecimento ou algum outro membro da subcomissão. Brasílio.
Brasílio Priprá - Brasílio Priprá, representante da região Sudeste. Boa tarde. Pelo menos as
informações que vêm chegando a nós da subcomissão de Terras é que se encontram 615 terras
indígenas no Brasil para serem demarcadas. Agora, como o Dr. Paulo Santilli tem esse
acompanhamento dentro da Funai ele ficou de trazer agora nessa primeira reunião de 2008, para
que a gente verificasse se é realmente isso ou é mais ou menos, então ele ficou de trazer, na
verdade ele não veio a essa reunião por motivo de doença, então nós ficamos sem esse material,
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sem poder dizer se realmente estão essas terras [sobre as quais foi perguntado] ou não. Ele queria
separar em que pé estaria uma ou outra que estava no Ministério da Justiça, na Funai ou para
homologação, todos esses dados ele ia trazer para a gente passar para a comissão da CNPI, mas
na verdade ele não veio, então a gente ficou sem esse material.
Presidente Márcio Meira: Eu vou dar um esclarecimento sobre isso logo mais. Danilo.
Danilo Terena: Danilo, Centro-Oeste. Com relação ao que a Francisca perguntou sobre essa
questão das terras de fronteira é... justamente, Chiquinha, que nós solicitamos à Funai, porque são
três listas diferentes, são três listagens. Nós temos a listagem do FDDI, nós temos a listagem do
CIMI e temos a listagem da Funai. Então o que nós queríamos? Nós solicitamos para que a Funai
fosse incumbida de poder fazer a junção disso e nos fornecer uma única lista contendo todos os
territórios indígenas, em que situação está e como elas estão; porque têm situações de terras hoje
que elas estão paradas porque não foram apresentados relatórios finais, relatório ambiental; então
são várias coisas que nós precisamos saber para a gente começar a definir estratégias e criar
prioridades para isso. Como você disse que a questão de fronteira é uma questão importantíssima
nós temos que correr realmente por conta dessa questão de contrabando e de outras coisas mais,
mas diante dessa situação a gente precisa ter essas listagens, uma única listagem disso, confiável,
para que a gente possa começar a trabalhar.
Com relação à questão do Caboquinho sobre cooperação técnica, na penúltima
reunião, não nessa última que nós tivemos, mas na penúltima reunião, o Incra disse, através do
seu representante, que existia já, desde 2002, uma coisa assim eu não me lembro a data, um
convênio de cooperação técnica entre a Funai e o Incra. Por que nós pedimos essa informação?
Justamente primeiro porque nós queremos entender essa situação. Segundo, se existe essa
questão da cooperação técnica há uma possibilidade tremenda da gente dar uma alavancada nessa
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questão do estudo, mesmo porque hoje na Funai, segundo relato do próprio Paulo Santilli, na
Funai hoje só tem três antropólogos e a demanda é muito grande, são 615 terras indígenas no
país. Como é que se faz uma demanda com três antropólogos? Então o que acontece? Para se
tornar um GT completo nós teríamos a possibilidade de trazer esses antropólogos do Incra para
que se pudesse estar atuando junto com a Funai através desse convênio, mas precisa se conhecer
o convênio, precisamos entender o convênio, e aí de certa forma até mesmo sugerir para a
comissão, para a CNPI, verificar se haveria a necessidade de poder fazer alguma alteração no
dispositivo.
Presidente Márcio Meira: Eu queria aproveitar para dar um esclarecimento. É um
esclarecimento pelo fato de que o representante da Funai na subcomissão não pôde vir por
questões pessoais, e realmente era impossível ele ter vindo. O Dr. Paulo Santilli é uma pessoa que
está acompanhando tudo e que está cumprindo, ele está trabalhando em todos esses itens aqui. A
orientação que eu tenho dado e acompanhado é no sentido da gente ter realmente esse banco de
dados único, disponível para a CNPI, e mais ainda, ele vai estar disponível na internet. Nós
estamos preparando todo um novo sistema de internet na Funai, um novo portal para
disponibilizar inclusive na internet. O Dr. Paulo não pode vir, infelizmente, nessa reunião por
razões pessoais, por isso teve essa falha realmente. Esse é o tipo de subcomissão que sem a Funai
fica difícil. Então o que eu gostaria de propor é que, na reunião extraordinária de abril que nós
decidimos, que a subcomissão de terras poderá na véspera sentar na Funai com o Paulo Santilli e
a gente poder ver como está andando esse procedimento todo com relação à questão do banco de
terras e a questão do Incra como está encaminhada. Essas informações que o Danilo trouxe nós
estamos resolvendo com convênios com universidades, vários grupos de estudos estão sendo
criados porque nós temos antropólogos que estão colaborando de uma forma voluntária,
recebendo diária e passagem, mas sem receber o pagamento muitas vezes, através de convênios
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com universidades. Por exemplo, o caso dos Guarani-Kaiowá, só para dar um informe, nós
vamos criar cinco ou seis grupos de estudo Guarani-Kaiowá, agora até o final de março, graças a
antropólogos que estão se disponibilizando de forma voluntária e nós estamos só entrando com as
despesas de transporte, diárias etc. Então nós estamos conseguindo driblar a dificuldade de
antropólogos dentro da Funai com esses convênios que nós estamos celebrando e esperamos que
isso melhore ainda mais com a possibilidade deste ano ter a questão do concurso público na
Funai. Para este ano ou na perspectiva do ano que vem. Eu queria só dar esse esclarecimento e
com essa proposta a gente poder, na reunião de abril, dar continuidade aí ao trabalho. Era só para
deixar claro que realmente não há empecilho político, é só uma questão pontual da
impossibilidade de deslocamento pessoal do Dr. Paulo Santilli hoje nessa reunião. A Dra. Alda
quer fazer um comentário.
Alda Carvalho: É o seguinte, eu lamento informar, salvo engano, que este pedido de vocês de
que a Funai se abstenha de emitir qualquer certidão ou atestado negativo de ocupação da terra por
índios, essa certidão, infelizmente esse pedido é inconstitucional, porque a própria Constituição,
no artigo 5º, inciso 23, ele determina e diz o seguinte, eu vou ler para vocês rapidamente: “Todos
têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestados no prazo da lei, sob pena de responsabilidade ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. Ainda diz o
seguinte: “[...] são a todos assegurados, independente do pagamento de taxas, a obtenção de
certidões em repartições públicas para defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal”. Então tem aí inclusive este artigo que eu acho que fica prejudicado, eu creio,
salvo melhores estudos. Artigo 5º da Constituição, 23 e 24 B. Só um esclarecimento, porque
talvez vocês não tivessem ninguém na comissão, se o Dr. Paulo estivesse presente eu creio que
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ele teria alertado para esta situação. Podemos estudar outra forma, substituir essa solicitação, eu
não sei o que poderia ser, mas da forma como está colocada a Funai não pode se negar.
Presidente Márcio Meira: Eu posso acrescentar aqui um comentário à forma como nós estamos
conduzindo essa questão hoje na Funai. Porque quando eu cheguei na Funai há um ano atrás não
havia um procedimento claro com relação a isso, essa questão das certidões. Então como não
havia um procedimento claro a gente corria o risco, já estava até correndo esse risco naquela
época, o risco já estava correndo, não estava correndo risco, o risco já estava correndo, de a
CGID virar um órgão emissor de certidão negativa e não o órgão que faz o serviço dele, que é de
identificar terra indígena, quer dizer, a coisa estava virando do avesso. Por isso eu baixei uma
normatização. Como disse a Dra. Alda, nós somos obrigados enquanto repartição pública a dar
uma certidão para quem solicita. Agora, nós não somos obrigados a dar qualquer certidão de
qualquer jeito, então nós fizemos uma normatização para isso. Essa normatização está sendo
cumprida à risca e isso inclui que, por exemplo, quando alguém solicita uma certidão negativa em
uma terra indígena ou próximo a uma terra indígena ainda em estudo, por exemplo, a gente não
emite porque a informação que nós damos é que nós não podemos emitir porque ainda tem uma
terra em estudo. Eu não me lembro aqui de todas as regras de procedimentos que nós definimos,
eu estou me lembrando dessa, e as certidões, quando são emitidas, sempre são emitidas em
relação àquele momento preciso da história. Então nós dizemos assim: na data do dia tanto de
tanto, conforme o processo número tal, a certidão não interfere em terra indígena. O que significa
o seguinte: se daqui a dez anos ou amanhã for reconhecida uma terra indígena lá, como a
Constituição diz, torna nulo todos os atos anteriores. A constituição diz o seguinte: terra indígena
torna nulo todos os atos anteriores. Então a certidão negativa com esses procedimentos que nós
definimos, a Funai cumpre com a sua obrigação e de emitir, mas sempre com o cuidado para que
essa certidão não crie, não fira os direitos dos povos indígenas também. Era só um esclarecimento
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que eu estou dando, eu não tenho o detalhe aqui, mas certamente o Paulo Santilli e o pessoal da
CGID poderá esclarecer vocês nessa próxima reunião.
Danilo Terena: Quando nós pensamos em colocar esse item, que fala especificamente da
questão da certidão negativa, é justamente por conta dessas questões que estão acontecendo hoje
no país. Então a nossa preocupação é como isso acontece e quando nós conversamos com o Paulo
Santilli a respeito disso na subcomissão, como é que anda esse procedimento, ele disse que
chegam inúmeros pedidos, mas ele nos informou com relação à normativa que o Presidente tinha
baixado. Mas nós gostaríamos assim: já que agora não tem condições, isso por conta da
Constituição, mas fomos contemplados aí, presidente, com a sua fala no sentido de nos acalmar,
porque na realidade nós temos essa grande preocupação. No estado do Mato Grosso do Sul fiquei
sabendo na semana passada que foi feita uma negociação de uma terra que foi homologada,
homologada não, foi declarada e houve uma negociata do fazendeiro, do produtor rural com uma
pessoa que é aqui do Rio Grande do Sul que foi lá e comprou; quer dizer, ele usou de má-fé, sabe
disso, não sei como ele conseguiu, se ele tem uma certidão, inclusive a pessoa já está saindo, está
de mudança, mas nós sabemos que aquela terra lá já está com um processo iniciado. Então é
complicado. Essa é a nossa preocupação.
Presidente Márcio Meira: É preocupação nossa também. O Caboquinho tinha se inscrito, mas a
Dra. Alda quer falar.
Alda Carvalho: Só uma coisa que o Presidente colocou muito bem. Vocês não podem esquecer
que os direitos de vocês são garantidos sempre, não pode esquecer isso. Pelo artigo 231 da
Constituição: tornar-se-á nulo de pleno direito todo e qualquer título que venha a se inserir
naquela terra reconhecida. Então a partir do momento que ela for reconhecida, não importa se o
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sujeito, o proprietário tenha ou não certidão dizendo que aquilo ali... que a Funai deu sei lá
quando, escritura pública, então se um registro é nulo imagina uma certidão concedida pela Funai
à época. O que só caracterizaria a benfeitoria, o pagamento de boa-fé. Certo? É a única coisa que
poderia caracterizar, o que também não se foge porque ele tem outros meios para caracterizar
aquela ocupação de boa fé, então isso não prejudica em hipótese nenhuma o direito indígena hoje
da forma que a Funai está trabalhando.
Presidente Márcio Meira: Obrigado Dra. Alda. O Caboquinho está inscrito a Francisca e a
Lylia. Então eu só queria, antes de passar a palavra, dizer que não podemos entrar no debate
agora sobre a questão fundiária. Nós temos uma subcomissão que tem um encaminhamento, já
esclarecido, não houve nenhum questionamento em relação ao que foi que proposto até agora,
portanto, eu pediria a quem se inscreveu que se atenha ao tema da subcomissão para a gente
poder passar para a próxima, senão a gente vai entrar num debate que não é para agora.
Caboquinho Potiguara: Era justamente isso, eu estava tentando entrar no debate, mas eu queria
somente endossar as palavras da Dra. Alda que na Constituição, artigo 231, parágrafo 6º, já diz
isso: são nulos e extintos... Não produzindo efeitos jurídicos as pessoas que têm por ocupação,
salvo aquele de boa-fé. A minha preocupação maior quando ele coloca essa proposta aqui é
principalmente aqui no Nordeste, porque no Nordeste hoje estão surgindo vários grupos,
ressurgindo vários grupos e todos esses grupos que ressurgem têm uma tradicionalidade e isso
aqui está indo contra justamente isso, se a gente for observar está indo contra. Somente isso.
Presidente Márcio Meira: Obrigado. Francisca e Lylia.
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Francisca Pareci: Eu queria só fazer uma questão de registro. Porque eu não poderia discutir
terra e não lembrar desses povos, depois eu seria cobrada, mas é em relação, por exemplo, ao
caso Jarudóri. Eu acho que o Presidente tem conhecimento da situação nesse caso, por exemplo, é
muito complicado, muito difícil qualquer tipo de atividade ali mediante uma cidade que está
encravada na terra demarcada com tudo e ninguém consegue resolver esse impasse. Os índios
ameaçados de morte constantemente. Outra questão mesmo é que as secretarias estaduais de
educação quando há necessidade de atendimento de escolas em terras indígenas que não foram
demarcadas agora eles estão exigindo que se manifeste a Funai em relação a essa questão daquele
território que vai ser demarcada, quer dizer, para nós indígenas temos o entendimento de que há
um compromisso na questão da demarcação da terra. Por que tem que emitir um documento para
encaminhar para a secretaria para se construiu a escola? Se não tiver esse documento não se
constrói escola, não há atendimento, tem esse lado também da questão do prejuízo.
Presidente Márcio Meira: Certo. Lylia.
Lylia Galetti: Era só uma sugestão para divulgar a instrução normativa, porque eu acho que
afinal de contas é uma ação, uma atitude da Funai que é bastante interessante do ponto de vista
histórico, do que já ocorreu antes de intensa corrupção na emissão de certidão negativa, quer
dizer, eu estou falando de uma coisa que eu acho que é notória no passado e que a instrução
normativa certamente vem também no sentido de evitar isso. Aí eu acho que tornar público,
divulgar, deve ter no site da Funai, na internet, mas colocar na mão especialmente da
representação indígena, isso para que eles tomem conhecimento e habitualmente façam uso disso
para barrar processos escusos de emissão desse tipo de certidão. Lembrando que, pelo artigo que
a Dra. Alda colocou, a Funai não é obrigada a dar a certidão negativa, ela é obrigada a tornar
público qualquer documento que por definição é público para qualquer cidadão ter acesso. Até
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porque se o fato de ter no 231 que depois, quando for declarada morre tudo que já passou, a gente
sabe que o processo é muito complicado quando essa certidão já existe e já deu motivo para um
processo, quando na hora da homologação da terra a gente tem todo uma dificuldade para tirar
invasores, o estado gasta milhões para indenizar de boa-fé e etc. Então era mais nesse sentido da
gente ter conhecimento da instrução normativa nova que tenta regulamentar e tornar mais claro e
mais transparente esse processo.
[Problemas na gravação]
Pierlângela Wapichana: [...] Cuiabá e desse evento saiu um consolidado. Eu acho que foi
enviado aos membros da CNPI, eu não sei se todos receberam, mas foi enviado junto com um CD
e o consolidado das propostas dos jovens e das mulheres indígenas, fruto de 63 oficinas que
foram realizadas durante quatro anos, dos jovens e mais das mulheres indígenas, em um trabalho
articulado entre a Coordenação Geral de Educação e a Coordenação de Mulheres Indígenas da
Funai. O segundo evento que teve participação ativa da subcomissão foi a Consulta Nacional dos
Povos e Comunidades Tradicionais, onde esses jovens que vieram do encontro já participaram e
vão participar da Conferência Nacional da Juventude. Então o esforço da subcomissão em tratar,
em fazer uma articulação com os jovens têm sido constante, porque é uma coisa nova, recente no
movimento indígena no Brasil e essa articulação está sendo feita por nós.
O nosso encaminhamento aqui e que estamos com um documento que será
entregue ao presidente da CNPI, com o consolidado de todas essas consultas, de todas as
propostas que jovens e mulheres indígenas estão propondo de políticas públicas para eles, no
nível de Brasil. Nós vamos encaminhar e entregar ao presidente, solicitando que encaminhe às
demais instituições e aos ministérios aqui presentes, para que vocês possam ver onde é que vocês
atuam e quais são as ações efetivas em que os ministérios podem atuar dentro desse consolidado
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para jovens e mulheres indígenas. Será entregue ao presidente e a gente está encaminhando junto
com esse ofício para ver o que os ministérios têm de ação e de orçamento para os jovens e que
possam complementar, que possam atuar nessas propostas levantadas em nível de Brasil. Aqui
quero registrar, senhor presidente, a importância do trabalho conjunto de educação e da
Coordenação das Mulheres Indígenas que deu suporte a essa subcomissão. E nós temos, junto
com outras secretarias, através dessas duas coordenações, aberto o diálogo com outras secretarias
em ministérios que têm nos apoiado nessas ações que a subcomissão tem realizado. Nós temos
outros pontos e vamos esperar a resposta dos ministérios para encaminhar as nossas próximas
ações. Obrigada.
Presidente Márcio Meira: Eu não sei se tem algum outro representante da subcomissão que
queira falar? Eu quero dizer também que tem aqui presente entre nós a Léia, que é a nossa
Coordenadora da Funai de Mulheres Indígenas e que participou ativamente desse processo
também, desse encontro. Foi o primeiro encontro promovido por uma subcomissão da CNPI,
então daqueles que a gente planejou no ano passado pelo menos um saiu: o das mulheres e dos
jovens. Então eu acho que é muito importante a gente parabenizar a subcomissão porque não foi
fácil. Foi um esforço muito grande, no último minuto, para conseguir liberar recursos, porque foi
naqueles minutos finais de liberação de orçamento do ano passado ainda, então foi um duro
trabalho feito pela subcomissão, com a ajuda e o apoio da Funai, também da Secretaria Especial
das Mulheres, a Funasa e outros parceiros. Eu acho que a gente tem que parabenizar todo mundo
que trabalhou e acho que esse foi um primeiro passo. Este ano vamos fazer outros encontros, mas
esse foi o primeiro, foi o que inaugurou. Inclusive eu recomendo, tem um vídeo que foi feito,
muito bonito. Eu recomendo a quem recebeu veja o vídeo porque é um bom resumo do que
aconteceu lá. Eu queria ouvir se tem alguém que queira falar...
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Jorge Quadros: Ministério da Justiça. Como na outra reunião possivelmente a gente apresente o
PRONASCI, eu também sugiro que façamos convite ao Coordenador da Juventude das ações
desse programa para que ele se reúna com a subcomissão, porque já tem ações definidas e o que
eles precisam é fazer uma aproximação para agregar isso aí.
Presidente Márcio Meira: Concordo. Está acatada pela subcomissão essa proposta. Eu queria
saber... Sandro.
Sandro Tuxá: Leste/Nordeste. Eu tenho que registrar que nesse encontro que houve em Cuiabá
foi eleita a representação de duas lideranças jovens que era para se fazer presente aqui.
Infelizmente, por questões maiores, não puderam vir, mas pelo que eu conversei com a Léa na
próxima reunião eles estarão vindo. Eu não sei como nós poderemos ajudar, senhor presidente,
mas eu estou um pouco preocupado por conta da data que está por chegar da Conferência
Nacional dos Jovens, da Juventude, que vai ser no final do mês de abril, salvo engano, já está
havendo todas as estaduais. Eu esperaria que o Alex pudesse estar aqui, ele ficou de vir, não sei
se houve algum problema, Alex da Secretaria...
Presidente Márcio Meira: A Léia está perguntando... se a plenária concorda em que ela dê
algumas informações porque ela tem acompanhado essa questão mais de perto? Está autorizada.
Léia Vale – integrante da Subcomissão de Gênero, Infância e Juventude: Sobre essa questão
das conferências, nós como subcomissão temos acompanhado, junto com a Secretaria Nacional
da Juventude, todo esse processo das conferências, que são livres, conferências municipais e
estaduais, que vão culminar na conferência nacional. O que a gente vem fazendo como
subcomissão? A gente está tentando acompanhar as estaduais, já que as municipais já
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aconteceram e a gente não pôde acompanhar. Eu participei de uma em Cuiabá para tentar ajudar
os jovens indígenas, mas para minha surpresa não havia jovens indígenas participando da
estadual. O que a gente fez? Conversou com setor de educação da Funai para articular no nível
das administrações regionais, encaminhando informes para que eles pudessem estar contatando as
comunidades indígenas e os jovens indígenas para participar das estaduais. A gente então
conversou com os parentes para que eles também fizessem essa articulação em suas regiões, para
que jovens pudessem participar das estaduais. Eu também fiz um calendário, uma agenda prévia e
apresentei para o presidente para que eu pudesse participar. Esse documento está na Funai e ele
me autorizou a ir para Cuiabá, tem mais duas conferências que eu vou poder estar acompanhando
como subcomissão, como as datas se chocam, não vai dar para participar de todas, mas em duas
pelo menos sim, uma do Sul e a outra de Manaus. Eu vou, talvez com autorização do presidente,
participar pela subcomissão. A Pierlângela também vai fazer esforço para participar de algumas,
para estar ajudando os jovens a ir. Com relação aos dois jovens que vêm para a próxima reunião,
eles não puderam vir porque a gente teve alguns problemas de última hora, mas para a próxima
com certeza nós vamos ver como é que faz para trazer.
Eu vou ainda, bem rápido, falar sobre a Secretaria Especial de Política para as
Mulheres, um fruto muito importante que já deu desse nosso encontro de Cuiabá, que foi a nossa
participação na elaboração do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. No primeiro plano
da secretaria não tinha absolutamente nenhuma ação que contemplasse as mulheres indígenas e a
partir de agora, desse segundo plano, as mulheres indígenas vão poder olhar para o plano e
enxergar algumas ações em que elas vão estar contempladas, a partir da nossa ajuda, da Funai,
pois contribuímos na elaboração do plano. A Secretaria Nacional da Juventude já nos procurou
também e a gente está trabalhando com eles, vendo a possibilidade da secretaria estar incluindo
também demandas dos jovens dentro das suas ações; porque a secretaria não tem um recurso
específico para trabalhar com a questão dos jovens, mas articula junto com outros ministérios
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para que as demandas dos povos indígenas também estejam incluídas dentro do plano deles. A
gente está acompanhando todo esse processo. Obrigada.
Presidente Márcio Meira: Obrigado, Léia. A Léia, além de estar fazendo tudo isso que ela está
dizendo aí, ela ainda ajuda a CNPI, ou seja, em toda reunião da CNPI ela está aqui com a gente,
então é outra guerreira da Funai. O Sandro se inscreveu, o Titiah se inscreveu e o Capitão, e
também o Aderval. Aderval foi o primeiro inclusive, mas tudo bem. Primeiro Sandro depois
Aderval.
Sandro Tuxá: Sandro, região Nordeste. Nós estamos conseguindo fazer um acordo com a
secretaria, através do Alex, e aqui em especial no estado de Pernambuco, onde a Apoinme junto
com o estado de Pernambuco vão tentar levar para a estadual da juventude algo em torno de 33
representações jovens, lideranças tradicionais do estado de Pernambuco, e agora Alagoas, mas
em sua maioria os estados não vão conseguir ser contemplados com representação indígena. Eu
propus para o Alex que pudesse ser feito como foi feito com o Consea, que foi na Conferência
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, onde se pleiteou a participação como convidados
de um número de representações indígenas, e aí nós conseguimos levar algo em torno de 50
representações. Eu pergunto, na verdade não é nem uma proposta, na verdade é uma pergunta.
Será que a CNPI não poderia aconselhar ou fazer uma resolução para a secretaria para que eles
pudessem criar outras alternativas da participação indígena? Porque não é só esse caso pontual
que a Lea falou, mas na grande maioria dos estados os índios não foram consultados e eles não
vão se fazer presentes porque é experiência que nós viemos tendo.
Francisca Pareci: Eu quero não só concordar com o que o nosso parente está falando. Mas
quando a Léia disse que não houve participação indígena, por exemplo, no caso de Mato Grosso
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eu acredito que é muito complicado e muito difícil, por exemplo, a gente sabe que a disputa, a
competição nos estados e nos municípios para assegurar vagas para os não índios é muito grande,
os índios vão para a competição com os não índios. Você acha que nessa competição os índios
seriam escolhidos? Não ser . Isso acontece na educação, então eu penso que a ausência dos
indígenas nas conferências regionais que acontecem, por exemplo, no meu estado, eu estou
falando pelo meu estado... é devido a essa situação, a disputa é cerrada e os jovens não indígenas
são muito mais organizados nesse sentido e quem os organiza geralmente são os municípios, as
instâncias que eles têm são deliberativas, a educação também às vezes participa nos processos,
então eu penso que a dificuldade começa por aí e até chegar nas bases, chegar para os indígenas é
complicado e os índios se sentem inclusive muito tímidos nessa situação para chegar e discutir
com não índios. Ele sabe que ele vai perder porque as vagas são poucas e são por delegados, por
região, por representatividade, é muito grande.
Presidente Márcio Meira: Aderval.
Aderval Costa: Eu sei que o assunto do momento é a Conferência Nacional e assim no Consea,
o que a gente conseguiu fazer? Na Conferência Nacional de Segurança Alimentar, a gente
conseguiu estabelecer cotas para indígenas, quilombolas, comunidades negras, enfim, e daí essas
cotas foram separadas na instância federal, independente das representações estaduais, e aí se
houvesse nas delegações... A gente sugeriu também que as delegações estaduais integrassem
representantes de povos indígenas e demais comunidades tradicionais, mas as cotas mínimas
estavam garantidas, então seria bom fazer uma gestão junto à secretaria executiva da conferência,
organizadora da conferência, para assegurar cotas mínimas que contemplem os estados. Eu
pensei que esse assunto já tinha até se esgotado e eu ia só dar uma notícia de que na última
reunião da comissão de povos e comunidades tradicionais houve uma apresentação da
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Organização Internacional do Trabalho com relação ao trabalho infantil. É um tema que diz
respeito a essa subcomissão e tem a ver com a questão da sustentabilidade econômica de povos
indígenas e demais comunidades. Porque quando essas comunidades se inserem um pouco mais
economicamente elas esbarram no impeditivo legal de que jovens não podem trabalhar, quer
dizer, se você for falar que para tirar um açaí você tem que ter mais de 18 anos porque é acima de
3 metros de altura, imagina...
Presidente Márcio Meira: Não tem produção de açaí porque, quem conhece, eu sou da terra do
açaí, sabe que a pessoa com mais de 30 kg não pode subir num pé de açaí.
Aderval Costa: Quebra o pé de açaí e quebra o pescoço porque cai, mas enfim, está tendo uma
discussão entre o Supremo Tribunal do Trabalho, a Organização Internacional do Trabalho e as
quebradeiras de coco babaçu que foram as que primeiro problematizaram essa questão do
trabalho infantil; e no encalço das quebradeiras, porque a situação é a mesma, quer dizer: o
trabalho infantil que não é forçado, que não é escravo, ele é um elemento identitário, quer dizer, é
constitutivo do processo de socialização e não um trabalho no sentido de se imprimir um ritmo,
uma lógica e uma produção. Você não obriga uma criança a trabalhar, mas ela acompanha os
adultos, enfim, ela está inserida no contexto de trabalho, quer na roça, no extrativismo, na coleta,
isso é próprio dos povos indígenas. E aí a gente podia aproveitar essa discussão que está
acontecendo com relação às quebradeiras de coco e ver como é que faz com relação ao trabalho
infantil e infanto-juvenil dos povos indígenas, porque vai chegar um momento de, numa inserção
um pouco mais econômica, em que vai haver impedimentos muito graves e sanções em
decorrência do trabalho infantil,, porque a lei é muito clara, explícita, ela proíbe qualquer
trabalho infantil. Você tem que ter acima de 16 anos e, dependendo da periculosidade da altura,
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acima de 18, e como aprendiz só depois dos 14, quer dizer, então esses limites da legislação são
problemas para os povos indígenas e demais comunidades tradicionais.
Presidente Márcio Meira: Capitão está inscrito.
Capitão Potiguara: Capitão Potiguara, da região Leste/ Nordeste. Eu queria dizer que na Paraíba
começa amanhã a conferência estadual, onde fui procurado pelo representante da Secretaria da
Juventude e ele disponibilizou dez vagas. Como nós temos uma organização de jovens indígenas
Potiguara, então eu repassei as fichas para o coordenador e eles vão escolher e estão levando dez
jovens indígenas Potiguara para participar dessa conferência que começa amanhã e vai até
domingo.
Presidente Márcio Meira: Muito bem. Tinha mais alguém inscrito não? Titiah.
Luis Titiah: Senhor presidente, é o seguinte - na questão do jovem o que a gente vê é que o
jovem hoje, principalmente indígena, eu acho que no país inteiro está se organizando nas suas
bases para também pegar os seus espaços; e para nós, comunidade, nós indígenas, é o futuro de
amanhã, e os espaços eles estão tomando em todos os setores, educação, saúde, todo movimento,
e a gente vê que com essas conferências que vai ter nos estados nós estamos preocupados pela
participação de pouco número de jovens a participar no seu espaço dentro dessa ação do governo.
Então eu queria ver o que foi colocado aqui da possibilidade dessa secretaria ver mais espaço
para os jovens indígenas ou senão a própria Funai mesmo, perante as suas áreas nas regiões, ver a
possibilidade de ver mais participação do jovem. Um exemplo é o estado da Bahia mesmo, que
tem muitos povos em que a juventude está se organizando com assembléias, com encontros
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regionais e que quer tomar o seu espaço também na sociedade brasileira para discutir uma
política em conjunto.
Presidente Márcio Meira: Tinha mais algum inscrito? Caboquinho e depois a Lylia.
Caboquinho Potiguara: Às vezes eu fico pensando - nós vivemos num país praticamente
discriminatório e quando se fala nessa questão de cotas eu me sinto cada vez mais inferior. Sou
totalmente contra essa questão de cotas tanto para educação como para a saúde ou qualquer tipo
de cota. Recentemente eu participei de um encontro onde tinha uma vaga e meia para
participação de índio. Para você ver. A cota era de uma vaga e meia, isso é pior que uma
discriminação, se fosse pelo menos duas vagas ou uma vaga, mas era uma vaga e meia...
Presidente Márcio Meira: Isso é um corte.
Caboquinho Potiguara: Exatamente. Já que nós somos inferiores eu acho que a gente ficou
inferior do inferior. Eu queria informar também que está sendo realizada, está terminando hoje a
Conferência Regional do Meio Ambiente aqui também e que tem vários índios participando,
onde também nós vamos ter uma cota, uma cota também de participação, eu não sei quanto.
Capitão se referiu agora sobre a questão de jovens e deve ser uma cota também. Então o que eu
queria alertar aqui era que a gente mudasse pelo menos esse nome de cota, se buscasse um outro
nome. Vagas. Pode ser vagas, mas esse nome de cota eu acho uma coisa tão mesquinha, uma
coisa tão vulgar. Eu acho que é muito vulgar. Era só isso.
Presidente Márcio Meira: A Lylia queria falar. É a última inscrita.
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Lylia Galetti: Eu acho que por um lado a CNPI ou através da CGDI e por outro o movimento
indígena teria também que fazer uma atração grande sobre todos esses conselhos e órgãos
federais responsáveis pelas grandes conferências temáticas no Brasil. Independente de gostar ou
não, Caboquinho, o fato é que onde há um número “x” de vagas determinadas pelo menos se
garante uma participação, em outros, como o movimento indígena... é sério, é isso ou é nada, seja
por preconceito, seja por uma questão do grau de organização dos indígenas em cada lugar, tem
estado que consegue colocar em uma ou outra conferência, têm outros que não conseguem.
Depende muito da questão temática, por exemplo, tem uma tradição de participação indígena nas
conferências do meio ambiente, nem sempre dá certo também. Tem preconceito no nível
municipal, estadual, por isso que eu acho que esse sistema de reservar um número “x” de vagas é
ainda o que garante, embora não seja a melhor coisa do mundo, também não concordo que seja,
mas pelo menos você tem um espaço para estar dentro da conferência brigando para acabar com
as cotas; e levando inclusive propostas no sentido de como ela deve se organizar para permitir a
participação da diferença. E aí se junta com afro-descendente, com tudo que são as outras
minorias que acabam ficando na base da cota para ter esse espaço. Não estou querendo dar lição
de política para ninguém, mas eu acho que é um caminho. Por outro lado eu acho que essa
participação deveria ser qualificada também, nesse sentido a Conferência Nacional de Segurança
Alimentar teve uma coisa interessante, que foi um seminário prévio organizado pela Câmara
Técnica do Consea, MDS, MMA, enfim outros órgãos que participaram; a Funai, o Ministério da
Justiça, a Teresinha era uma das pessoas que estavam lá ajudando a organizar onde a gente fez
dois dias de seminário antes da conferência para que os representantes indígenas se preparassem,
lessem junto o material, definissem as propostas pelas quais eles iriam brigar ou para incluir, tirar
ou modificar e o resultado foi muito interessante. Tudo que foi decidido, com exceção de uma ou
duas propostas, foi aprovado no plenário da conferência. Inclusive essa história de que título dar
para esse o segmento das minorias. Foi uma briga federal e eu acho que ninguém usa porque
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ficou muito extenso... Mas basta pegar o documento da conferência: povos indígenas, outros
povos quilombolas e comunidades tradicionais, um trem imenso, mas é a briga pela visibilidade
da sua diferença, que é justa. No caso do Ministério do Meio Ambiente eu pedi para a
organização da conferência a lista dos delegados indígenas, não está pronta, porque ainda estão
acontecendo as conferências, para ver se a gente consegue pelo menos um dia antes fazer uma
reunião preparatória. Certamente com o apoio da Funai, que já está apoiando, tem estados que já
pediram recursos para mandar os delegados e essa coisa toda.
Presidente Márcio Meira: Eu considero que de tudo que foi dito... Ainda tem a Pierlângela?
Pierlângela Wapichana: Como eu sempre digo, é um movimento novo e é a primeira
Conferência Nacional da Juventude, está sendo um aprendizado, tanto para os jovens nas bases
como para o próprio movimento indígena, que está começando a organizar os jovens. E a gente
vê em alguns lugares que tem participação, e o nosso esforço foi justamente a consulta nacional,
da qual participaram 14 jovens, que são delegados natos da conferência, qualificando esses
jovens desde o encontro de jovens e mulheres indígenas. O que foi solicitado para nós, até para a
subcomissão, está no documento e já está previsto, é um seminário nacional dos jovens indígenas
no Brasil, que seria o primeiro também. Então é justamente isso, são conferências, eu costumo
dizer que a gente já participou de tanta conferência, tem tanta conferência que às vezes dessas
conferências não sai nada; então a gente optou, claro, tem o esforço do movimento indígena dos
seus estados e tudo mais, mas a gente optou por qualificar essa participação e inclusão das
propostas que foram discutidas no encontro do seminário e a realização, conforme foi solicitado
pelos jovens, de um seminário específico inclusive com a participação da Secretaria Nacional de
Juventude. Só a título de encaminhar melhor essas discussões para as próximas conferências e ver
se dá mais um fôlego nessas próximas participações.
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Presidente Márcio Meira: Eu entendi que o encaminhamento prático que a gente faria da CNPI
seria um documento sugerindo à Secretaria Nacional de Juventude que ela considere a
possibilidade de ter uma bancada de jovens indígenas participando da conferência nacional,
seguindo o exemplo da Conferência de Segurança Alimentar Nutricional, enfim. Eu queria
sugerir que a subcomissão elaborasse um texto para que a presidência da comissão pudesse
encaminhar para a Secretaria Nacional da Juventude. Certamente ajudaria se tivéssemos aqui hoje
a presença da representante da Secretaria Geral da Presidência, a Quennes - há uma justificativa
de porque não pôde vir, estava com uma agenda de passagem já estabelecida para esses dias aqui,
mas não pôde vir e ela pede desculpas pela ausência hoje. Mas certamente encaminhar esse
documento será bom, eu também como presidente posso pessoalmente falar com a Secretaria
Geral da Presidência e com o Secretário Nacional de Juventude nesse sentido de reforçar a
importância de termos os representantes de uma bancada, não estou usando a palavra cota, uma
bancada de jovens indígenas na conferência, independente das delegações estaduais etc. Esse é
um encaminhamento. Terezinha quer dar um informe.
Terezinha Maglia – Secretária Executiva da CNPI: Eu só gostaria de retificar uma coisinha.
O bilhete que eu lhe passei informa que a Quennes estava com a passagem comprada para este
evento, já estava confirmada a presença dela, mas houve um imprevisto de última hora na
Secretaria Geral da Presidência da República e ela não pode se fazer presente, então ela ligou
pedindo desculpas. Da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres também, da mesma
forma, estava confirmada a presença da Secretária Especial aqui e de última hora também houve
um imprevisto em Brasília e a convidada não pôde se fazer presente. Obrigada.
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Presidente Márcio Meira: Está esclarecido. Eu é que entendi mal. A próxima subcomissão.
Tem duas subcomissões ainda. A subcomissão de Políticas Públicas, Orçamento e Gestão.
Celso Correa: Está em processo de elaboração a memória detalhada. Eu queria colocar se a
gente faz uma explanação agora e amanhã entrega o documento ou faz tudo amanhã? Na verdade,
o que acontece é o seguinte: a gente teve um problema na subcomissão, inclusive na última
reunião não houve reunião da subcomissão, então sem o coordenador governamental. Houve um
problema com a representação do Ministério do Planejamento, que era do IPEA, esse órgão saiu
do Ministério do Planejamento e aí ficou sem representante. Essa é a primeira reunião que a gente
tem com a nova representação do Ministério do Planejamento, que é a Dra. Olga. Nessa reunião a
gente fez atualização das informações e vimos tudo que tinha sido feito nas reuniões anteriores,
aprovação do planejamento para a nova coordenadora governamental e adiantou alguns pontos da
pauta em termos de encaminhamento, mas dentro daquilo que já havia sido decidido. São
estratégias de avançar aquilo que já foi aprovado em planejamento anterior. A gente tem
condições de apresentar amanhã uma memória detalhada, será bem detalhada disso e por escrito.
Eu acho até que a gente podia, para economizar tempo amanhã, apresentar esse documento e em
cima dele, se tiver alguma dúvida ou alguma colocação, que ela seja feita para a gente avançar.
Presidente Márcio Meira: Na minha avaliação eu acho que é melhor essa proposta. Eu acho
que amanhã nós temos a Subcomissão de Saúde e nós teríamos também o detalhamento dessa
subcomissão, já que ela própria está reivindicando concluir e é melhor para a gente receber por
escrito o detalhamento. A gente poderia passar para amanhã, junto com a Subcomissão de Saúde.
Certo? Tem mais uma subcomissão. Subcomissão de Acompanhamento de Empreendimentos
com Impacto em Terras Indígenas. Brasílio. É a última subcomissão. Logo após a conclusão
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dessa subcomissão nós temos um pequeno intervalo para um café. E depois a gente retorna para
seguir com a próxima pauta.
Brasílio Priprá: representante da região Sudoeste. Eu primeiro quero agradecer ao senhor
presidente, agradecer ao ministro através do presidente, pela revogação da portaria n. 2711 do
meu estado de Santa Catarina, a qual vinha se envolvendo em demarcações de terras indígenas.
Aqui é a primeira reunião da Subcomissão para Acompanhamento dos Empreendimentos com
impactos em Terras Indígenas. Essa primeira reunião teve presentes, como membros efetivos,
Marcos Xucuru, Maria Celeste Martins, assessora do Gabinete da Casa Civil, Brasílio Priprá,
Fábio Vaz Ribeiro de Almeida e Cássio Noronha de Souza do Ministério do Meio Ambiente. Não
ficou ainda definido o nome do seu representante na subcomissão. Então como encaminhamento
desta que foi a primeira reunião, nós não temos muitos dados ainda sobre esses
empreendimentos, onde se localizam, qual o nível do impacto que vai haver em comunidades
indígenas. Então, como encaminhamento, a gente colocou assim: recomendação pela
participação da Funai/CGPIMA como membro permanente e efetivo da subcomissão; solicitação
das listas organizadas dos empreendimentos relacionados ao PAC, destacando aqueles com
impacto sobre terras indígenas, indicando quais os povos indígenas que serão afetados na fase do
empreendimento e os tipos de impactos previstos; solicitação para que a Casa Civil disponibilize
documentos explicativos sobre como o PAC tem sido gerenciado e encaminhado pelas instâncias
governamentais; solicitação para que seja disponibilizado um documento explicativo sobre todo o
processo de licenciamento dos empreendimentos, fases, atores, instrutores, legislação etc.,
destacando as principais especificidades da incidência sobre terras indígenas; solicitação à
Secretaria Executiva da CNPI para que seja providenciada a cada reunião a atualização do
documento que sistematiza as ações processuais em andamento no jurídico referente às obras do
PAC, produzido pela AGU. A gente chegou nesse final.
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Eu acho que o pessoal que está acompanhando vai ter algum comentário. Mas o
que a gente viu também, presidente, com esses grandes empreendimentos em áreas indígenas, nós
gostaríamos que ficasse assegurado para as comunidades indígenas, como o é para os municípios,
que têm direito a royalties, as comunidades também deveriam receber royalties sobre essas áreas
indígenas por ter um impacto, por exemplo causado por barragem, hidrelétrica. Seria interessante
que isso ficasse já amarrado para que, quando acontecesse um projeto desses, as comunidades
indígenas tivessem essa garantia. É isso que nós comentamos, eu creio que os colegas vão ter
mais alguma coisa o que dizer ainda. Obrigado.
Presidente Márcio Meira: A Dra. Alda pediu para fazer um comentário. Marquinhos. Aderval.
Alda Carvalho: Alda, AGU. Só para dar uma explicação melhor sobre esse relatório que eu
sistematizei e já fiz a entrega à subcomissão, que trata das ações processuais em andamento no
judiciário referentes às obras do PAC, produzido por nós, da AGU. A AGU tem um membro
participando do grupo de trabalho do CGPAC, onde de dois em dois meses é elaborado um
relatório onde a gente recebe de todas as unidades, das regionais, dos estados, as ações que
envolvem obras do PAC que estão tramitando no judiciário. Com certeza várias dessas ações,
elas não estão separadas especificamente em impactos em terras indígenas, mas com certeza na
sua maioria elas de certa forma vêm atingir terras indígenas; então já facilita o trabalho que a
Funai precisa fazer, eu creio que vai fornecer a relação da listagem que vocês têm sobre esses
impactos dessas obras do PAC. Isso a CGI, a Funai deve ter. Eu me comprometo, de dois em dois
meses, eu sempre atualizarei e prestarei informações a vocês, à subcomissão para
acompanhamento do andamento dessas ações no judiciário. Eu acho que essa é a única
colaboração que a AGU pode fornecer nesse caso.
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Marcos Xucuru: Eu também fiz parte dessa subcomissão. Nós no momento nos sentimos um
pouco prejudicados nessa subcomissão, porque não, tínhamos digamos documentos que nós
pudéssemos analisar e dar melhor detalhamento e alguns encaminhamentos efetivos em relação a
essa questão dos impactos dentro das terras indígenas, essa questão do PAC. Uma das
preocupações e por isso se coloca nesses encaminhamentos que foram solicitados pela
subcomissão, e uma coisa interessante para a gente ter detalhamento de fato como é que se
organizam essas etapas do PAC e a companheira da Casa Civil, Celeste, falou uma coisa muito
importante que sobre as salas de situação, que para mim é uma coisa nova que não tinha a
compreensão de como se dava isso. Eu acho interessante nós, enquanto membros indígenas dessa
comissão, termos conhecimento de como é que funciona isso e até que ponto nós, enquanto
CNPI, enquanto movimento indígena, nós podemos atuar, porque não adianta a gente falar de
algo que nós não temos conhecimento de causa. Então é preciso, e eu acho que o mais breve
possível, nós termos essa documentação, para que nós possamos analisar e a partir daí podermos
trabalhar em cima dessa questão dos empreendimentos que vão impactar os territórios indígenas
de tal forma. Era um pouco isso.
Aderval Costa: Nós solicitamos à Casa Civil ou o georeferenciamento ou pelo menos a
localização aproximada das obras de empreendimentos que impactariam territórios tradicionais,
mas nem tudo está pronto, está em processo, ainda não tem o relatório, pelo menos não foi
encaminhado até hoje para o Ministério do Desenvolvimento Social, o Ministro Patrus inclusive
solicitou, para ter documentos e uma dimensão dos impactos de forma mais concreta. De
qualquer forma, a sugestão que eu daria é que a subcomissão solicitasse uma reunião com o
comitê gestor do PAC da Casa Civil, porque ele reúne os órgãos da Administração Pública
Federal que estão mais diretamente envolvidos, para poder conhecer, saber melhor, colocar
posição com relação às medidas mitigatórias, compensatórias e de envolvimento dos povos
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indígenas nesse processo. Porque daí já é um início de diálogo. O diálogo se faz necessário nesse
caso. Então a sugestão que a gente daria é que se procurasse agendar uma reunião com o comitê
gestor do PAC da Casa Civil e a subcomissão, naquela linha de que a subcomissão deveria
participar mais das agendas políticas para acompanhar os processos que lhe dizem respeito em
cada subtema.
Presidente Márcio Meira: Francisca. Eu queria, após a Francisca, solicitar autorização da
plenária para a gente ouvir a Yara, a Coordenadora da CGPIMA da Funai e não só essa
coordenação vai participar como foi colocada a reivindicação de acompanhar, mas ela já tem
acompanhado esse processo, então ela pode dar algum esclarecimento do que já avançou no
diálogo da Funai com a Casa Civil e a gente pode dar esses informes para vocês também. Logo
em seguida nós vamos ter o nosso intervalo. Francisca.
Francisca Pareci: Senhor presidente, eu tenho uma preocupação muito grande em relação a essa
questão, porque o senhor sabe da situação da nossa área, no caso os Pareci da região de Mato
Grosso é um dos povos que vão sofrer maiores impactos de vários empreendimentos. O que me
preocupa é o seguinte: enquanto nós aqui estamos tentando se apropriar, se apoderar, dentro de
um ordenamento, de fazer o acompanhamento com as instituições afins, as coisas vão
acontecendo lá nas bases. Os índios vão começando a receber empreendedores, aquela visitinha
básica, cooptação de determinadas lideranças para conversas e aquela situação que eu coloquei
para o senhor. Então me preocupa muito isso, porque parece que o tempo é muito mais contra nós
do que a favor. Porque dá a impressão de que o PAC é uma coisa irrevogável, vai acontecer
acabou, e aí não temos alternativas. Por outro lado, o que a gente percebe é que, enquanto os
empreendimentos têm muito vastos recursos financeiros, por outro lado os projetos específicos
que dizem respeito à valorização da cultura indígena, na questão da sustentabilidade econômica e
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outras coisas mais, os recursos vão diminuindo. É isso que me preocupa muito. E o tempo
mesmo, por exemplo, enquanto está aí a Yara desesperada tentando acompanhar, abrir o diálogo
com a Casa Civil, abrir o diálogo eu não sei com quem, as coisas vão indo para uma outra
direção, me preocupa muito, porque eu precisava até ouvir da sua pessoa, como presidente da
Funai, que o senhor sabe, nas comunidades indígenas a posição da Funai é muito importante
nesses momentos. Sem contar que nós temos servidores também que às vezes estão engajados
para que aconteça o PAC, mesmo porque vão tirar proveito dessa situação. De que forma a Funai
poderia, nessa situação, porque agora é um caso de emergência mesmo de ela poder tomar uma
posição frente às comunidades indígenas de uma orientação em relação às ações gerais da Funai
dentro daquilo que eu coloquei para o senhor hoje na hora do almoço, que é uma preocupação
muito grande.
Presidente Márcio Meira: Antes de passar a palavra para a Yara. Eu não vi nenhuma
manifestação contra a ela dar aqui as explicações, em cima até do que a Francisca colocou. Eu
acho que aqui no documento da subcomissão apareceu muito o PAC. A subcomissão trata dos
empreendimentos que atingem terras indígenas. Subcomissão para Acompanhamento de
Empreendimentos com Impactos em Terras Indígenas. E o resultado da subcomissão dá a
impressão que os empreendimentos estão todos no PAC. Esse é o primeiro ponto que eu queria
chamar a atenção porque, por exemplo, essa questão que a Francisca levantou em relação ao
Mato Grosso, em relação aos Pareci, que diz respeito ao rio Juruena principalmente, que não
atinge só os Pareci, mas os Enawanê-Nawê, e outros povos, Rikbaktsa do rio Juruena,
praticamente a totalidade dos empreendimentos que estão previstos lá não estão no PAC. São
empreendimentos inclusive da iniciativa privada do Mato Grosso em grande parte ou do estado
do Mato Grosso. Existem inúmeros outros casos desse tipo, então eu acho que é importante a
gente considerar esse aspecto de que os empreendimentos que estão em curso no país e que têm
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impactos em terras indígenas, não são somente os empreendimentos do PAC. Aliás, a maior parte
dos processos que nós temos na Funai, a Yara vai falar sobre isso, não são do PAC, por isso que é
importante a gente ter esse acompanhamento. Eu só estou chamando a atenção porque senão a
gente vai ficar botando foco só no PAC quando o conjunto maior é coisa muito maior. Dito isso
eu queria que a Iara pudesse colocar um pouco para vocês como evoluiu esse processo nos
últimos meses em relação à questão do PAC especificamente, mas não só em relação aos
empreendimentos do PAC.
Yara Vasques – Coordenadora da Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio
Ambiente – CGPIMA, da Funai: Boa tarde a todos e a todas. Primeiro queria manifestar a
satisfação e o contentamento desse encaminhamento da subcomissão de que de fato a Funai, por
meio da CGPIMA, possa estar participando efetivamente dessa subcomissão que já era uma
angústia minha querer estar e não poder regimentalmente. E aí pegando o gancho da fala do
Márcio, hoje, depois de sete meses à frente da CGPIMA, ao ter noção da situação atual dos
processos que estão tramitando na coordenação, vê-se que uma situação que é muito mais grave
do que os processos que estão em tramitação de empreendimentos do PAC é a de passivos
ambientais. Na última reunião eu entreguei para vocês uma listagem que vocês próprios
corrigiram e aperfeiçoaram. Alguns empreendimentos inclusive estavam faltando, mas porque os
processos ainda não haviam chegado na Funai, isso acontece também porque o procedimento é o
órgão licenciador encaminhar para a Funai, então isso acontece, tem um lapso de tempo e por
isso essa listagem é atualizada permanentemente. O que a gente tem hoje de universo, e eu vou
passar só a informação para vocês do que nós temos e o que nós estamos fazendo rapidamente
para que a gente possa estar trabalhando na subcomissão na próxima oportunidade. O
levantamento que nós fizemos é de 226 processos na CGPIMA. Isso eu tinha apresentado para
vocês na última reunião ordinária da CNPI e na verdade a listagem que eu deixei com vocês é de
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55 processos de empreendimentos que hoje tramitam na CGPIMA; então significa que a gente
tem um universo de 171 processos de empreendimentos que impactam direta e indiretamente as
terras dos povos indígenas e que eles constituem hoje um dos maiores passivos em termos de
impacto. Processos de empreendimentos que não estão licenciados e que não têm seu
licenciamento regularizado, cujas negociações são feitas direto pelo empreendedor com as
comunidades indígenas, gerando situações de conflitos e vícios no processo que trazem
conseqüências extremamente complicadas para as comunidades indígenas e isso tudo a gente tem
na verdade levantado e começado a trabalhar. Porque o PAC, sobretudo por toda visibilidade que
ele tem, por ser um programa do governo, o que acontece é que se tem hoje todos os órgãos de
controladoria e toda a sociedade de olho no PAC e, no caso da Funai, dentro da sua competência,
na sua atribuição, a gente está desenvolvendo um programa de prevenção e controle de impactos
etnoambientais. E o que mais está nos assustando são exatamente esses passivos porque o PAC
tem todos os empreendimentos, tem que ser licenciado, então eles têm que passar por todo esse
processo e aí paralelamente a esse trabalho de levantamento e encaminhamento desse processo a
gente está trabalhando também para submeter aqui à CNPI uma proposta de regulamentação do
componente indígena no processo de licenciamento ambiental. Por quê? Existem muitos aspectos
que hoje são na verdade conduzidos de forma bastante subjetiva, porque não existe a definição de
referenciais, de parâmetros e procedimentos que orientem os órgãos licenciadores, que não é só o
Ibama. Porque, pela legislação do licenciamento, o licenciamento só é federal quando o
empreendimento é de significativo impacto ambiental ou, no caso de afetar terra indígena, só se
ele for um empreendimento dentro, que perpasse ou que afete diretamente a terra indígena. O
licenciamento que não afeta diretamente terra indígena, ele é estadual e aí se torna cada vez mais
complexo, porque a relação da Funai com os estados não é a mesma relação, e precisa ser
construída, que é diferente da relação que a gente tem com o Ibama, muito mais próxima. Por
isso a gente está trabalhando em uma proposta de regulamentação do componente indígena no
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licenciamento ambiental que deverá resultar numa resolução do Conama - Conselho Nacional do
Meio Ambiente, exatamente para criar essas obrigações de um rito processual que deverá ser
seguido pelos órgãos licenciadores do Sistema Nacional de Meio Ambiente, que aí é Ibama, no
caso federal, estados e municípios. Isso é fundamental não só para obras do PAC, porque aquelas
obras que não são de significativo impacto ambiental que não são licenciadas pelo Ibama elas
estão sendo licenciadas por órgãos estaduais e muitas vezes municipais, mas que a Funai
simplesmente só toma conhecimento quando o conflito foi gerado com a comunidade, quando a
comunidade foi afetada pelo empreendimento...
Presidente Márcio Meira: A gente só toma conhecimento quando seqüestro já aconteceu...
Yara Vasques: Enfim, em situações graves. Então o que hoje efetivamente está preocupando a
Funai é a gente de fato desenvolver as condições, os mecanismos e instrumentos necessários para
a gente poder fazer a gestão dessa situação, para de fato a gente cumprir aquilo que é
competência da Funai, que é prevenir e controlar esses impactos na defesa dos direitos dos povos
indígenas. Então a relação dentro do governo e, nesse processo, com a própria Casa Civil e com
os outros órgãos de governo, tem evoluído nesse sentido, num embate muito grande de a Funai na
verdade se posicionar no sentido de cumprir e fazer cumprir os direitos dos povos indígenas. Isso
hoje, particularmente eu falo isso porque a gente tem se sentido inclusive mais confortável e se
sentindo numa parceria mais estreita com o governo e que é exatamente de estar dizendo o
seguinte: a Funai não está querendo empatar o PAC; agora, a Funai tem o dever e obrigação
exatamente de zelar para que todos os procedimentos sejam cumpridos e que essa consulta aos
povos indígenas e que qualquer consentimento seja de fato livre, prévio e informado. Com
relação a isso, além da regulamentação do componente indígena, a gente também está
começando, com a própria Coordenação Geral de Educação, a trabalhar um programa de
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formação de capacitação continuada com produção de material; aí não só para essa agenda do
PAC ou para essa agenda, para que vocês entendam o que é o licenciamento ambiental, que é um
instrumento fundamental da Política Nacional de Meio Ambiente para orientar o
desenvolvimento sustentável do país. Então por que existe licenciamento ambiental, e a gente tem
na verdade que conhecer e aí é um papel da Funai, uma obrigação em que ela está trabalhando
internamente, e abrir isso com os parceiros para que a gente possa tanto se capacitar
internamente, capacitando o movimento indígena e parceiros governamentais e não-
governamentais para atuar de forma adequada nesse processo. Esse é o grande desafio inclusive
com a produção de material informativo. Tudo isso é o que está sendo gestado na CGPIMA. Nós
estamos trabalhando intensamente, recebemos o apoio, o fortalecimento da Casa Civil, do
Ministério do Planejamento, agora, existe um grande gargalo, que é muito importante deixar
claro: a gente fortaleceu a equipe da CGPIMA para qualificar as análises desses processos,
exatamente para que a gente possa estar assegurando, identificando claramente esses impactos e
procurando construir com as comunidades indígenas, quando é o caso daquelas medidas
compensatórias e mitigatórias. Mitigatórias aquelas que podem evitar e as compensatórias
aquelas que, quando você não pode evitar, você tenta na verdade compensar, e é essa construção
que nós estamos procurando avançar com vocês e que é um grande desafio.
Então basicamente é isso. A gente está com essa agenda, eu só queria dizer que há
duas reuniões ordinárias atrás da CNPI a gente tinha pautado a apresentação do Sistema
Integrado de Gestão Ambiental de Terras Indígenas para dizer para vocês o seguinte: hoje existe
um foco muito grande no PAC, é preciso que vocês tenham muita clareza e consciência de que
hoje a principal ameaça, a vulnerabilidade das terras indígenas não é o PAC. Eu estou dizendo
isso porque, depois de conhecer o que a gente tem na CGPIMA, o que a gente tem de passivo é
muito mais assustador, e também a gente não tem essa capacidade toda operativa nas contas. A
gente tem uma fragilidade muito grande da Funai sede para essa relação que a gente precisa ter
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diretamente com as comunidades indígenas, porque a CGPIMA, por mais que tenha sido
fortalecida e qualificada com alguns quadros, eles são insuficientes para atender 615 terras
indígenas, que hoje em quase toda sua totalidade está afetada de alguma forma. Eu acho que esse
é o processo, é a luta que o Márcio Meira vem encabeçando aqui na Funai, de procurar
efetivamente fortalecer o órgão, a sua estrutura para que ela seja capaz de dar as respostas que os
povos indígenas precisam. É isso. E o Sistema Integrado de Gestão de Terras Indígenas é esse
mecanismo que a gente espera comece a dar respostas para a gestão ambiental das terras
indígenas, porque não adianta a gente ficar trabalhando no varejo e só apagando incêndio. A
gente precisa efetivamente adotar os mecanismos e desenvolver as ações para que a gente possa
estar construindo com vocês a forma como efetivamente a gente vai proteger o território de
vocês, que é fazendo um manejo sustentável, que é desenvolvendo a capacidade, e essa relação
que hoje é cada vez mais próxima. Cada vez mais as terras indígenas são obrigadas a ter contatos
com processos e dinâmicas que são estranhas à sua cultura e que a gente precisa estar fortalecida
para isso. Então a gente continua trabalhando nessa agenda e espero que em breve a gente possa
estar apresentando o SIGAT aqui na CNPI.
Presidente Márcio Meira: A Yara pôde dar um informe geral sobre o que nesses últimos meses
a gente andou fazendo. Eu acho que o principal que ela colocou é que, quando a gente faz o
diagnóstico, percebe-se que o que se achava que era o mais complicado na verdade não era. O
mais complicado eram os passivos que não estão dentro do âmbito do PAC. Vocês viram dois
exemplos desse passivo nos últimos meses. Vocês viram porque todo mundo viu. O primeiro
passivo é a questão de Roosevelt, que em dezembro e janeiro eu tive que ir duas vezes lá. Uma
para libertar um refém do Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, um espanhol, e
agora recentemente no Xingu, quando uma equipe de pesquisadores também estava lá na aldeia
Ikpeng e foi presa também, porque a informação que chegou para os Ikpeng é que eles estariam
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lá a mando dos empreendedores da Paranatinga, que é a empresa que construiu uma hidrelétrica,
que não estava no PAC, que foi construída no rio Kuluene, por iniciativa privada, sem
autorização da Funai, porque o licenciador não foi o Ibama, foi a Secretaria de Meio Ambiente do
Mato Grosso. Essa hidrelétrica está pronta e fomos nós da Funai que agora, já no passivo,
exigimos do empreendedor que ele contratasse pessoas indicadas pela Funai para fazer o estudo
de impacto, para que a gente pudesse ter o mínimo de compensação para que os povos indígenas
não ficassem prejudicados; e a conversa virou de cabeça para baixo e lá na área acabou virando
um seqüestro, porque os índios achavam que eles estavam lá a mando dos empresários para fazer
mais hidrelétricas. Então até explicar que focinho de porco não é tomada... Nós estamos
percebendo que o passivo que nós temos de empreendimentos, que não são inclusive do PAC,
são, como eu disse, de iniciativa privada e de governos estaduais e até municipais que incidem
em terras indígenas. Esse é o grande desafio que a gente tem. O que não quer dizer que as obras
do PAC não tenham um peso importante, mas essas a gente está trabalhando na institucionalidade
total, porque tem os órgãos federais de controle. Nós estamos tendo os procedimentos sendo
feitos pelo Conama etc., então o quadro geral esse. Eu acho que a partir do momento que a
subcomissão tiver a CGPIMA participando permanentemente vão avançar. Eu queria acolher a
sugestão do Aderval de que a subcomissão proponha ao Comitê Gestor do PAC uma reunião para
que ele apresente para nós todas as informações que tem em relação aos empreendimentos do
PAC. E que assim a subcomissão possa ter um monitoramento e um acompanhamento
permanente desse procedimento de licenciamento com os procedimentos que nós estamos
construindo agora e não existiam e geraram esse passivo todo de que eu estava falando. O Titiah
se inscreveu e o Marquinho também. Francisca e Pierlângela.
Luiz Titiah: Senhor presidente e demais autoridades, é o seguinte: o que eu vejo é que a Funai
tem de ter mais controle nesse trabalho, porque agora mesmo a gente - Pataxó Hã Hã Hãe -
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estamos enfrentando isso. Agora dia 28 vai ter uma reunião com os representantes da empresa
junto com administrador da Funai e tudo. O que eu estava sugerindo para o administrador de
Ilhéus é que a Funai tenha uma forma de ir antes; ter um seminário, eu não sei, para conversar, ter
um diálogo com a comunidade para explicar mais como é essa questão do PAC, porque já vai
junto com as empresas e é por isso que dá esses problemas e vai dar daqui para frente, porque
muitas comunidades não estão por dentro nem entendendo como está esse processo sendo
encaminhado. Estou muito preocupado com isso e quando algum parente aqui colocou que tem
algum investimento das empresas por lideranças para ficar lá defendendo esses projetos é muito
complicado. Nós mesmos agora vamos enfrentar uma batalha dia 28 que é complicada, porque já
está indo a Funai junto com a empresa para sentar junto com a comunidade para saber se aceita
ou não aceita. Eu coloquei: porque a Funai não banca uma reunião primeiro com a comunidade
para preparar a comunidade para depois sentar com a empresa? Isso é até desrespeitoso, já chegar
com a empresa para dizer se a comunidade aceita ou não aceita esse projeto. Era isso que eu
queria por aqui.
Presidente Márcio Meira: Só para comentar. Esse é exatamente o gargalo, a dificuldade que nós
temos. Agora nós temos um reforço muito importante da Casa Civil para a CGPIMA, para
elaborar esses procedimentos do licenciamento etc., só que o gargalo está na ponta, quer dizer, a
gente não tem ainda na ponta, nas administrações essa qualificação suficiente para fazer esse tipo
de trabalho. É nesse sentido que a gente tem que trabalhar, de consulta prévia, livre para que
vocês possam ter todas as informações dos empreendimentos. Eu acho que a Francisca depois a
Pierlângela.
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Francisca Pareci: Presidente, eu penso um pouco como o Titiah falou, mas na verdade, por
exemplo, na base eles têm o entendimento de que é o PAC, eles não têm essa coisa de diferenciar.
É passivo que fala? Passivo?
Presidente Márcio Meira: Nós estamos chamando de passivo porque foram todos os
empreendimentos feitos antes, às vezes até antes do Governo Lula, antes do lançamento do PAC,
que não foram e não são parte do PAC e que, portanto, não respeitaram nenhum procedimento...
Francisca Pareci: Então, presidente, é essa que eu vejo como o senhor mesmo falou da questão
do gargalo, mas, por exemplo, na visão do pessoal, com a alta propaganda que tem feito em
relação ao PAC, eles não conseguem separar isso. Para eles tudo é o PAC. É o PAC que está
chegando. E tem mais, no caso do Mato Grosso tem mais um agravante, de vez em quando o
governo de lá utiliza disso aí quando ele quer meio que dar uma espetadinha no PT, ele pega e
fala: é o PAC, nós temos que fazer, é desenvolvimento do estado, investimento. Isso é muito
complicado...
Presidente Márcio Meira: Sabe o que é Francisca? Embora o presidente tenha dito que a
Ministra Dilma é a mãe do PAC, tem muita gente que está querendo ser pai do PAC e mãe do
PAC por fora e fica jogando a responsabilidade também no Governo Federal.
Francisca Pareci: E aí presidente... [Intervenção fora do microfone]. Nós temos um agravante aí
da situação, por exemplo, que o senhor sabe da turma do mal, o senhor sabe de quem eu estou
falando, não vou citar nomes, mas que não só incentiva como motiva mais ainda essa situação.
Agora, eu penso que aqui da CNPI nós poderíamos tomar uma posição de certa forma ou a gente
fazer uma campanha ou alguma coisa vindo da própria Funai, porque aí é a Funai que está pondo,
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colocando os pontinhos nos seus devidos lugares. Primeiro concordo com o Titiah quando ele
coloca essa divulgação, essa informação e orientação às comunidades indígenas, mas que saia
uma campanha de lá de dentro, porque antes da Yara era alguém que estava lá que promovia
essas coisas, depois da Yara a conversa é outra. Isso tem que ser mostrado para as comunidades.
Para nós não está claro isso. Até eu fico tem hora perturbada, imagine a turma lá, que não
consegue ter acesso às informações. Levando em consideração também que os empreendedores
têm acesso direto; e aí é que eu não consigo compreender mais ainda porque, por exemplo,
mesmo que seja uma proposta dos governos estaduais, em que ele tem inserção, onde é que fica
Funai nessa história daí na hora do veredicto? É só a SEMA, a Secretaria Estadual que dá o
veredicto, por exemplo...
Presidente Márcio Meira: Por isso que nós estamos fazendo essa regulamentação, porque aí ela
vai valer para o SISNAMA, para municípios, estados e União.
Francisca Pareci: Eu concordo. A minha posição é essa, porque vocês sabem a nossa situação
lá e depois vem a cobrança em cima da gente, porque que uns podem e outros não podem.
Presidente Márcio Meira: Pierlângela, depois Marquinhos. O Carlão também.
Pierlângela Wapichana: Essa subcomissão, que foi criada mediante a necessidade, pois dentro
da CNPI a gente vem discutindo isso desde a primeira reunião e para a gente os
encaminhamentos não estão claros, não se tem muita clareza, a gente está patinando. Eu digo
assim: a sensação que eu tenho é que em relação tanto aos empreendimentos quanto ao PAC nós
na CNPI continuamos patinando e as coisas acontecendo. E aí a gente chega aqui e cada vez nos
nossos estados as questões estão avançando, no Congresso Nacional a gente vê as aprovações
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indo de comissão em comissão e aqui a gente não tem aquilo que foi acordado. Eu lembro numa
reunião que a gente tratou sobre essa questão que vinha representante do Ministério do
Planejamento e qual o outro Ministério que está tratando? A Casa Civil. Que era para ter feito, foi
colocada em ata isso, que deveria ser feito um esclarecimento melhor de como é isso, até porque
não é só a Funai, já repeti isso aqui algumas vezes: não é só Funai, a gente tem cobrado a questão
da defesa mesmo, como a Funai vai se posicionar. E lembro aqui que ficou acordada essa
solicitação para a Casa Civil que disponibilizasse documentos explicativos; antes disso já tinha
sido solicitada a própria presença das pessoas aqui para fazer um esclarecimento melhor sobre o
PAC. E aí, claro, entram outros empreendimentos, mas assim, qual é o encaminhamento que se
tem? Por que senão vamos levar para quanto tempo mais esse levantamento? A Yara já
apresentou para a gente uma prévia do levantamento que a Funai conseguiu fazer, mas essa
dificuldade eu não sei qual é a relação com a Casa Civil; o que está acontecendo, mas nós povos
indígenas acabamos que já passam mais de sete meses essa mesma conversa dentro da nossa
comissão. E aí a gente fica aqui com a sensação de que não está havendo resposta, vai se
preparar, está se preparando. Aí a Yara esteve agora lá em Roraima e a gente falou sobre a
questão da mineração, que lá tinha diretamente a questão da mineração e construção da
hidrelétrica no Cotingo. A hidrelétrica já passou, vai para a terceira comissão, não está no PAC, é
um empreendimento que não está no PAC. Já está na terceira comissão, já passou no Senado, está
na Câmara já na terceira comissão. E aí eu pergunto: qual a resposta para a gente de tudo isso?
Nós queremos uma resposta, porque não é só a Funai dizer que vai levantar. Nós temos aqui e
isso vai impactar, mas qual é o próximo passo? Se a própria doutora Yara se comprometeu na
frente de mais de 1000 lideranças que estavam na reunião que não é uma intenção do Governo
Federal construir a hidrelétrica do Cotingo. Isso foi colocado.
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Presidente Márcio Meira: É verdade isso. Essa hidrelétrica é uma iniciativa absolutamente
local, não faz parte de nenhum plano, nem do PAC, nem do plano energético brasileiro até 2030,
que é um plano oficial.
Pierlângela Wapichana: Então a minha reivindicação aqui não para a subcomissão, mas para os
órgãos que tratam sobre essa questão - que a gente possa tratar disso com mais clareza e com
encaminhamentos mais concretos, porque senão a gente vai esperar quanto tempo para ser
apresentados esses dados? Eu acho que a Casa Civil está aqui, o Ministério do Planejamento está
aqui, aquele encaminhamento já deveria ter sido feito. Essa proposta já foi de reuniões bem
anteriores e não foi colocada em pauta, a gente vai ver a questão de recursos hídricos, mas essa
questão já foi colocada bem anterior nessa pauta. Então assim: uma resposta mais concreta para
nós. É isso que eu solicito e encaminhamentos mais concretos para que a gente não fique
esperando novamente o levantamento só para depois... Mas uma questão não só da Funai, mas
também da Casa Civil e do Ministério do Planejamento.
Marcos Xucuru: A Pierlângela está com uma ansiedade e nós todos também com relação a isso
que já foi solicitado algumas vezes, mas vale salientar que essa subcomissão foi criada
recentemente. Agora de fato é que temos um grupo trabalho para poder se debruçar diante disso,
como tem outras subcomissões. É claro e evidente que isso não inviabiliza, não seria inviável, por
exemplo, a discussão anterior que foi solicitada da Casa Civil e vice-versa. Agora, não adiantava,
dentro da subcomissão, sem ter nenhum tipo de documentação, de algo que nós pudéssemos
debruçar para ter propriedade de que informe e encaminhamento a gente iria dar, até porque essa
informação, por exemplo, desses empreendimentos nós não tínhamos. Eu particularmente
pensava que era tudo no bojo do PAC, eu não sabia dessa situação, então para mim é uma
questão nova e para os outros que estavam na subcomissão dizer, e aí eu fico me perguntando que
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cada estado tem a sua autonomia, então que mecanismos essa subcomissão e essa comissão
poderia estar agindo para lidar com esses empreendimentos?
[...]
Carlos Nogueira: O PAC tem o comitê gestor, que é formado pela Casa Civil, Planejamento e
Fazenda. Nós somos simplesmente membros, através das obras e das salas de situação, para
enviar informações para o GT-PAC, para que eles tomem as devidas providências e decisões. Foi
colocado isso aqui e resultou de bom grado nessa subcomissão, porque nós estávamos discutindo
os temas de que ela trata como assuntos gerais; e foi feliz inclusive o nome da comissão, porque
ela não está falando de empreendimentos do PAC, está falando de empreendimentos que possam
impactar áreas indígenas. Quer dizer, pode ser do PAC, como o presidente falou, ou pode não
ser, como outras que têm aí em áreas, que estão em execução, e que não são do PAC. Mas a coisa
mais importante que a Iara falou foi sobre a normatização dos procedimentos de licenciamento,
de tomada de decisão pelos órgãos ambientais, seja municipal, estadual ou federal. Porque os
[empreendimentos] do PAC, quando se diz respeito à questão das obras do PAC, está se tratando
no âmbito do Ibama, do Ministério do Meio Ambiente, de Minas e Energia, os ministérios
envolvidos, e a Casa Civil da Presidência da República. Mas quando se trata de outras obras é
outra história. Um ano e meio atrás, a oposição e todo mundo, eu estou falando de uma questão
de governo, ninguém acreditava que o PAC era uma realidade, aí tinha a mãe, que levava toda a
carga, mas não tinha pai. Agora como o filho nasceu e parece que vai dar resultado tem um
monte de gente querendo ser pai. Então temos que separar essa história aí. É só para colocar, para
não ficar repetitivo, mas o que eu queria falar foi o que o Marcos falou, eu sei que vocês têm um
problema de ansiedade, mas essa comissão tem competência para trazer as questões e pelo que eu
entendi a Iara está muito bem situada dentro da questão GT PAC para pegar essas informações.
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Presidente Márcio Meira: A Lylia é a última inscrita. Em seguida a gente vai ter um intervalo,
mas antes vamos dar o encaminhamento final em relação a esse ponto.
Lylia Galetti - MMA: eu gostaria de reiterar a proposta de que a gente agilize essa decisão, que
nós mesmos já tomamos, de fazer essa reunião com a Casa Civil, Fazenda e Planejamento, para
que eles se coloquem, eu acho que até mesmo apresentem a idéia mesmo do PAC, o que isso tem
a ver com o projeto de governo, com o projeto nacional do governo Lula. E essas obras, que
como a Iara estava falando, são mais de sessenta.... [pede a Yara que confirme] Não é isso mais
ou menos?
Yara Vasques: Hoje, do universo que há em tramitação na Funai, são 226, sendo 55
empreendimentos do PAC e 171 que não são do PAC.
Lylia Galetti: Certo. Eu acho que reforçar essa questão dos procedimentos licitatórios, de ter
uma norma, de ter uma legislação mais clara para isso, mais abrangente, que não seja federal
apenas, porque hoje está nesse nível. Essa questão de Paranatinga é bem óbvia nesse sentido, não
está agora, nem se sabe, por que tem outro problema Xavante, mas Paranatinga II foi licenciada
pelo governo, pela Secretaria de Meio Ambiente do Blairo Maggi, do Governo do estado de Mato
Grosso, porque está fora territorialmente de área indígena. Isso não significa que ela não
impactaria essa área, tanto é que teve todo esse caminho via justiça, Ministério Público Federal,
de sentar e dizer: não está no território indígena, mas vai impactar, portanto, o licenciamento tem
que ser federal, ou seja, do IBAMA. Então é importante deixar claro esse tipo de coisa numa
legislação e em procedimentos que são votados, para após virar uma resolução do CONAMA, a
qual os atores envolvidos com tais empreendimentos têm que seguir. E aí eu acho que é
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fundamental que o movimento indígena participe da própria elaboração desses procedimentos. A
gente tem confiança na Yara, na Funai, por uma questão até de transparência, de controle social,
de ajudar a construir, Yara, e de respeitar um pouco mais, em termos de Estado brasileiro, nas
nossas várias esferas, uma legislação que para nós é relativamente nova, mas que tem
desdobramento no momento em que o Lula assinou; eu estou falando da Convenção n.169, estou
falando do consentimento prévio, livre e informado, e no decreto que o Lula faz sobre a
Convenção 169 eu acho que é assim: buscar mecanismos de aplicação disso, se antecipar um
pouco com procedimentos claros do que está se exigindo. Porque de fato leite derramado a gente
já tem aí vários empreendimentos. Esse fato sobre o qual a Yara está se referindo quer dizer que
há empreendimentos em áreas indígenas que já impactaram, já trouxeram situações terríveis para
os índios e nem sequer compensação houve até agora. Eu acho que são realmente dois temas, os
impactos daqui para frente e a regulamentação; e esse dado que a Funai está trazendo, acho que
tem que ser conhecido como um avanço, do que é que nós temos de passivo dentro de área
indígena, de empreendimentos de qualquer jeito que não tiveram nenhum procedimento
obedecido e até que ponto, eu não sei o que a legislação diz, se o processo está com problemas,
ainda que a obra esteja lá, que se imploda, que se penalize esses donos desses empreendimentos.
Algo por aí, mas eu acho que a gente não pode perder de vista e nesse sentido eu acho que é um
grande avanço de governo, da Funai, essa percepção de que você tem que ter norma para
licenciamento que não seja só ambiental, porque é uma balela também hoje, a legislação não
ajuda muito, porque ela está pensando no ambiental, e o etno, impactos culturais muito mais
fortes às vezes do que alagar tantos hectares, e impacto sobre a sobrevivência, quer dizer, olhar
tanto o ambiental e talvez até num nível maior, destacar mais o lado etno dos impactos, dos
outros impactos sobre as populações indígenas, não só sobre o meio ambiente da terra indígena,
que, claro, vai impactar os índios, mas tem mil outras coisas em jogo.
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Presidente Márcio Meira: Bom. Essa foi a última inscrição. Eu queria propor que déssemos os
encaminhamentos da subcomissão, inclusive com a proposta da reunião da subcomissão com o
comitê gestor do PAC, e agora nós entramos no intervalo. Eu peço que esse intervalo seja de no
máximo 10 minutos e logo após o intervalo nós teremos a apresentação feita pela Márcia
Camargo, do Ministério de Minas e Energia sobre a questão dos recursos hídricos.
[A seguir foi feita apresentação sobre a proposta de projeto de lei que regulamenta o
aproveitamento de recursos hídricos em terras indígenas, relativamente ao artigo 231 da
Constituição Federal de 1988, o qual não se encontra transcrito tendo em vista problemas no
decorrer de sua gravação. Concluída a apresentação, foram feitas perguntas por parte da plenária
da CNPI, conforme a seguir.]
[...]
Sandro Tuxá: Leste/Nordeste. Eu queria, na verdade é mais uma pergunta. Quando a Márcia
fala que tem por necessidade hoje explorar os recursos energéticos hídricos na Amazônia porque
outros estados já não têm mais o que ser explorado, de certa forma, como ficou aclarado. É uma
pergunta. E também falou um trocadilho, um negócio interessante quando você falou de tirar de
onde não tem os recursos fósseis, o petróleo. Eu pergunto: é do nosso entendimento... primeiro eu
vou aclarar uma coisa, eu sou fruto de uma experiência do progresso do governo, porque há vinte
anos atrás nós fomos forçados a sair do nosso aldeamento onde nós vivíamos em 36 ilhas no sul
médio do São Francisco. Construíram uma hidrelétrica de Itaparica e depois batizaram de Luiz
Gonzaga, não vou nem contar a experiência que nós tivemos, enquanto povo, com uma
hidrelétrica, então é algo muito ruim, algo que deveria ser cogitado nas piores das hipóteses
mesmo, não como primeira hipótese. Mas enfim, além das 45 hidrelétricas que foram construídas,
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além desse projeto faraônico do governo da transposição, tirar água do São Francisco, agora o
governo teve peito e coragem de dizer que é realmente para o desenvolvimento, que é para
monocultura, para criação de camarão e outras coisas mais, enfim, para o progresso; como é
também pensado progresso para Amazônia. Agora nós somos informados que tem previsão de
três hidrelétricas mais no São Francisco. Eu queria saber se isso é verdade. E também dizer que
esse anteprojeto de lei de duas hidrelétricas, uma acima da terra do Lindomar, Pão de Açúcar, do
Xocó, da ilha de São Pedro, outra perto dos Tumbalalá, e aí nós estamos com dois projetos em
discussão. Um já tem uma subcomissão, depois você me responda a pergunta, por favor. Um é a
comissão que já foi instalada há algum tempo, que sempre o movimento indígena vem pleiteando
que precisava aglutinar todas as políticas indígenas. Como ela falou muito bem, tem que ter um
documento que dê segmento à questão indígena, ou seja, dê encaminhamento para a política
indígena. A Constituição garante os direitos e tem que ter os instrumentos, esses documentos, que
é aí o tão sonhado Estatuto dos Povos Indígenas. Nós, enquanto lideranças indígenas, quando a
gente fala da necessidade de discutir o estatuto, nós tememos também porque todo o Congresso
tem interesse sobre a questão indígena e nós vamos brigar com um gigante. Que aí não é o
governo, é o Congresso em peso, deputados cada um com pensamento, com interesses
particulares, que defendem seus iguais lá dos seus estados, então nós vamos para um embate
muito forte, mas a gente vê que é necessário quando a gente vê a necessidade desse projeto aqui
também. Então sobre isso, sobre esse projeto de lei na última reunião dos outros fóruns que nós
tivemos com movimento indígena, com as lideranças tradicionais e disseram: nós temos que
encarar essa luta, essa briga. Nós tivemos coragem de encarar a Constituinte em 88 e
conseguimos fazer valer alguns direitos que hoje nós utilizamos deles, estão resguardados, muitas
vezes não são cumpridos, mas estão lá. E também temos que fazer o nosso papel de encarar essa
briga que é a questão do estatuto. Então o Ministério de Minas e Energia como tem esses dois
anteprojetos que tramitam seria um dos mais interessados a cobrar do Congresso que possa dar os
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devidos encaminhamentos para discussão do estatuto, que esse anteprojeto aqui possa estar
imbuído dentro dele porque lá no estatuto já se fala muito da regulamentação da questão dos
recursos hídricos também. E aí dizer assim sobre essa questão desse projeto a discussão que nós
tivemos com os parentes, até porque nós vamos para um fórum nacional, que é o Abril Indígena,
e lá nós vamos levar pancada dos nossos parentes: o que vocês fizeram na CNPI? O que vocês
trabalharam na CNPI? Cadê o que vocês disseram que ia defender do estatuto? Tudo isso é
responsabilidade nossa, então a gente vai levar isso para o Abril Indígena, vai ser discutido no
Abril Indígena, nós pedimos ao Ministério de Minas e Energia que possa nos ajudar nesse sentido
de agilizar os trâmites necessários para a questão do estatuto. Nós pedimos à Presidência da
Funai também, ao presidente da CNPI e nosso presidente que ajude nesse sentido também, a
todos que compõem aqui essa casa. Se possível no Abril Indígena tentar junto da CNPI propiciar
alguns momentos. Nós estamos agora com o intuito de tentar ter uma audiência sim com o nosso
Presidente da República, Lula. A gente aproveita e pede que a CNPI possa nos ajudar nesse
sentido. Está vindo lideranças internacionais que participam de fóruns e que veio com uma
discussão muito aprofundada sobre a recentemente aprovada Declaração dos Direitos Indígenas
no âmbito das Nações Unidas, que é o presidente do Conclave Indígena dentro da OEA e o
embaixador da Guatemala no Equador, Juan Leon, que está convidado para vir ajudar nessa
discussão também. Enfim, nós sabemos que nós temos que encarar isso e que temos que estar
preparados para isso, mas dessa forma, porque nós precisamos de tempo também. Nós
precisamos de tempo também assim como o governo precisa de tempo para apresentar o PAC,
que a gente vê e a subcomissão e vai discutir também a questão do PAC. É isso, esses
informativos de que eu quero apoio da CNPI para ter essas reuniões lá e saber sobre a questão do
São Francisco, se a além desse empreendimento da transposição, que vai afetar 5, 6 povos
indígenas, se há a perspectiva de mais hidrelétrica, porque o nosso rio não agüenta mais, é tirar
sangue do doente; já está doente tira mais sangue vai matar. É isso.
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Presidente Márcio Meira: Márcia você prefere agora que eu passe? Tem uma inscrita que é a
Pierlângela. Então Pierlângela e Francisca e a gente encerra, porque já são 7h15min, encerra as
inscrições e aí a Márcia faz o fechamento no final.
Pierlângela Wapichana: Eu queria dizer a Márcia e aos presentes que a apresentação do
anteprojeto, já está como anteprojeto, apresentado aqui é para nós indígenas mais um desafio a
ser encarado. E aí eu concordo com o que o Sandro colocou, que agora também o governo
brasileiro vai ter que encarar o estatuto junto com a gente, porque se nós temos dentro desta
CNPI condições e temos encarado questão de mineração, questão de hidrelétrica, então agora o
Governo brasileiro também vai ter que encarar o estatuto junto com a gente. Porque nós povos
indígenas estamos aqui recebendo as demandas, vocês têm colocado e justificado toda essa
questão e nós que vivemos na Amazônia e vocês que já foram lá passam por cima e vêem aquela
imensidão, muita gente não se lembra que lá embaixo tem povos. Povos que somos nós.
Precisamos sim de energia, ninguém está dizendo que a gente não precisa de energia, que a gente
não precisa de várias coisas que nós temos direito, mas o que nós queremos dizer é que da mesma
forma que nós encaramos tudo isso e temos que retirar das nossas áreas e temos que nos abster de
várias questões dos nossos territórios e o governo brasileiro também tem que encarar a gente mais
de uma forma respeitosa. Como o Sandro falou, isso aqui tem que ir para o estatuto sim, junto
com a questão da mineração, e temos que encarar isso juntos. Se não for desta forma não
chegaremos a lugar nenhum, porque aqui as falas e a preocupação que a gente tem colocado não
vão ser para agora, é para trinta anos, mas a gente sabe que daqui a pouco o governo muda de
novo. Então o que nós podemos fazer agora enquanto vocês estão no governo e nós aqui nessa
comissão? O que nós podemos fazer? Tem que ficar claro se isso aqui dá para discutir junto com
o Estatuto, então vamos encarar isso. Se daqui para o Governo Lula sair com regulamentado com
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esse trabalho com o que quer implantar também, como nós vamos ficar para o próximo governo?
Vamos ficar sem o estatuto novamente e os empreendimentos todos regulamentados e o governo
passar para o outro governo tudo regulamentado e a gente continuar sendo olhado de cima só
vêem a floresta e não nos vêem lá embaixo. Então eu queria colocar isso dentro dessa comissão
que é a que representa o Governo brasileiro aqui e o movimento indígena, que isso seja feito de
uma forma em que a gente busque a questão do Estatuto e coloque isso. Sem isso a gente já disse
que não vamos discutir.
Eu queria também perguntar: dentro da Amazônia, quais são as outras
possibilidades fora das terras indígenas, se tem outras possibilidade? Porque nos preocupa muito
saber também o que tem dentro e o que tem fora das terras indígenas, porque nós temos impactos,
mas também nós queremos saber onde há outros potenciais que não sejam em terras indígenas,
que a gente pode ter esse conhecimento, que vocês possam mostrar para a gente. Aí outra
pergunta que eu queria fazer é sobre a articulação entre as ações, nos preocupa muito, por um
lado, eu estou falando em termos de Amazônia, porque agora o Ministro vai lançar o Plano de
Desenvolvimento da Amazônia, nos preocupa muito saber o que é esse plano. Eu até queria
colocar para o presidente que pudesse depois passar as informações, depois que for lançado, para
essa comissão, porque a gente já viu isso na história do Brasil. Já ouvimos muito Plano de
Desenvolvimento da Amazônia, já ouvimos muito, e para os povos indígenas, para aqueles povos
que estão abaixo daquela floresta, sempre foi desastroso. Agora a pergunta é: o que está
articulado entre essa conversa? Porque nos preocupa essa articulação, o que o Ministério do Meio
Ambiente diz sobre isso: impactos ambientais, junto com o Ministério de Minas e Energia, o que
é o empreendimento em si e junto com outros ministérios que tratam de outras ações ligadas a
isso? É isso que eu queria colocar. Obrigada.
Presidente Márcio Meira: Francisca, concluindo. A última inscrita.
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Francisca Pareci: O que eu queria colocar é em relação primeiro à questão da Usina
Paranatinga. Quando você coloca... Eu não entendi direito isso que eu queria uma saber uma
resposta tua. Para nós ela é um território de vários povos ali. Eu acho que o presidente colocou
isso. Eu queria saber o que você disse aí de que ela será revista. Eu entendi assim que será revisto
isso aí, o ministério vai rever junto com os demais envolvidos essa questão. Isso que eu queria ter
um entendimento melhor. Essa é uma coisa. Em relação à questão mesmo dos projetos de
impacto de uma maneira geral, não só esse aqui, é unificar mesmo o Estatuto dos Povos
Indígenas não tem outra alternativa. O terceiro que eu queria colocar, propor, eu penso que
alguns colegas já propuseram, mas eu gostaria de fortalecer a questão de discussões de
seminários, ou seja, formar parcerias entre os ministérios presentes nessa CNPI para realizar
seminário nas regiões onde acontecerão esses impactos, para poder esclarecer e dar
principalmente uma satisfação às comunidades indígenas, inclusive fazendo as diferenças, o que
é coisa do PAC, o que é empreendimento disso e daquilo. Isso precisa estar esclarecido. Não é só
para nós. Eu acho que se os ministérios fizerem uma parceria há uma possibilidade,
principalmente financeiramente, porque você fazer um seminário não é fácil, juntar vários povos.
Mas eu estou querendo colocar isso porque, por exemplo, no nosso caso na nossa região, é muito
importante isso para esclarecer as comunidades indígenas dos diferentes empreendimentos que
vão ser realizados. Tanto que irão afetar direta ou indiretamente e isso inclui também a questão
dos projetos que estão sendo propostos pelos ministérios. Tudo em relação a essa questão, através
de seminários locais com as comunidades indígenas, até para a gente que fica com uma série de
dúvidas, imagine para quem está lá na ponta e está sofrendo com todo esse impacto. Então a
minha proposição é essa: de realizar seminários regionais, juntam-se os recursos financeiro entre
os ministérios, Minas e Energia tem grana para isso, junta com a Funai, que já não tem muita
grana, porque a gente sabe as condições... quer dizer, eu não sei, depois do que o Ricardo Verdun
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e a pesquisa dele mostrou, desmontou essa idéia para a gente. Então eu penso que junte os
ministérios, vão lá na área discutir. Agora, não dá só para nós aqui da CNPI tomar decisões.
Então é nesse sentido que eu vejo. Os ministérios se unem, unificam as suas ações no sentido de
dar esclarecimentos devidos às comunidades indígenas afetadas direta ou indiretamente. É isso.
Presidente Márcio Meira: A Francisca era a última inscrita, se a gente abrir para um tem que
abrir para todo mundo. Apareceram várias pessoas querendo falar só um pouquinho e se eu abrir
para todo mundo... Então eu queria propor que a gente continue amanhã porque é muito
interessante. Amanhã nós temos a apresentação da EPE que continua esse debate. De certa forma
ele é continuidade deste também, tem a ver com esse debate também. Então eu queria propor que
a gente encerrasse agora com as respostas da Márcia e amanhã a gente continua e vamos ter esse
tempo ainda para o debate. Márcia.
Márcia Camargo – Ministério de Minas e Energia: Eu queria dizer que eu fico feliz porque
quem perguntou respondeu. Três pessoas perguntaram e responderam sobre a estratégia. Isso
gente, primeiro vocês, segundo vocês, terceiro vocês e nós atrás. Mas eu acho que a idéia é essa,
andar juntos os projetos e conduzidos com informação, com discussão e com posicionamento
firme do governo, porque os riscos são muito grandes quando vai para o Congresso Nacional.
Isso me preocupa, foi você que colocou, ele também colocou e a Francisca também colocou.
Então eu acho que isso é uma coisa que nós vamos ter que ver muito de perto, mas ainda bem que
vocês responderam, eu fiquei mais aliviada. Eu acho que concordo com a resposta de vocês.
Agora, sobre Pedra Branca e Riacho Seco. Pedra Branca, Tumbalalá, nós fizemos consulta à
Funai para saber como é que é a ampliação e demarcação. É para qual lado? É para o lado do rio?
É. É a resposta suficiente para mim. Se já era um projeto com alto impacto global e eu queria
aproveitar para dizer aqui um entendimento nosso. Quando a gente lê a Constituição e vê quais
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são as restrições do artigo 231, nós não podemos esquecer que existem outros artigos que
garantem ainda outras prerrogativas na questão do uso dos recursos e hídricos ou do não uso na
verdade. Não é motivo, por exemplo, para como já foi feito, afastar grupos indígenas, povos das
suas terras. Isso só tem dois aspectos constitucionais. Eu não sou advogada, mas sou cidadã e
essas coisas a gente tem que entender e tem que valorizar, então em absoluto, Pedra Branca, na
atual situação, que ainda não é uma resposta formal da Funai, no ministério eu entendo que é um
projeto que não têm viabilidade, com aquela magnitude, com aquele reservatório, com aquele
alagamento. Riacho Seco tem outra complicação ainda, Sandro, que é o fato da água que ia ser
usada no barramento provavelmente ela concorre com a água para abastecimento da população e
não pode. Tem uma hierarquia para uso do recurso hídrico e a energia elétrica não pode
prejudicar esses outros usos, que são valores da saúde, do bem-estar e da sobrevivência das
populações. Eu acho que a gente vai se encontrar muito mais vezes.
Paranatinga está na seguinte situação: a II está construída, existe a I. O acordo
atual está parado e não se recomenda nesse momento que seja retomado. O que eu falei? Aqui a
situação é muito complicada, precisamos de um ofício da Funai nos provocando para discutir
isso, duríssimo, são empreendimentos do Mato Grosso.
Presidente Márcio Meira: Eu vou aproveitar para fechar agradecer muito a Márcia, agradecer a
todo mundo que participou do debate aqui e dizer o seguinte: primeiro, a Funai já está fazendo
esse ofício para o Ministério de Minas e Energia consultando sobre essa questão dessas PCHs nos
formadores do Xingu. Eu quero dizer que, na CNPI, com toda tranqüilidade, como presidente da
Funai, presidente da CNPI e representante do Governo Federal aqui, nós não vamos aceitar essas
hidrelétricas PCHs nos formadores do rio Xingu, pelo impacto que elas têm dentro do Parque
Nacional do Xingu, que é um dos patrimônios mais importantes não só dos povos indígenas, mas
do Brasil e da humanidade. Então esse é um ponto que a gente está encaminhando e essa é a
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nossa posição. Se nós vamos ganhar ou perder essa briga é uma outra história, mas essa é uma
briga que nós temos lado, nós temos lado nessa briga, e o lado que nós temos nessa briga é o lado
de não permitir que empreendimentos dessa natureza sejam feitos com prejuízos e respeitando os
direitos dos povos indígenas. Então esse é um ponto que eu queria deixar claro. O segundo ponto.
Eu sei que tem gente querendo falar. O Carlão já está querendo, mas a combinação é a seguinte:
amanhã nós vamos continuar. Eu estou encerrando aqui, até porque tem a noite aí e nós temos
muita conversa pela beira do mar. Eu ia dizer beira do rio, pessoal da Amazônia, mas é beira do
mar.
A outra questão é a seguinte: eu queria destacar aqui a fala, o pronunciamento da
representação, da bancada indígena agora nesse momento aqui. Eu acho que só demonstra a
importância dessa instância política que foi criada por este governo, mas que é fruto da conquista
do movimento indígena. A Comissão Nacional de Política Indigenista é uma conquista do
movimento indígena e uma conquista desse governo também, que é um governo que respeita e
respeitou e está fazendo com que ela funcione. Quem trabalha aqui nessa comissão desde o
início, todos nós que estamos aqui, sabemos como têm sido os debates que nós temos feito aqui
desde o início. Então eu queria parabenizar, porque eu acho que esse é um momento histórico. Eu
acho que aqui nós que somos do governo e vocês que são da bancada indígena eu acho que essa
questão central da regulamentação do Artigo 231 da Constituição Federal, está clara para nós
aqui. Todos nós, o movimento indígena e o governo, que cada vez mais a gente tenha consciência
clara que tem que ser tratada essa questão de uma forma unida e integrada, enfrentando o embate
que nós vamos enfrentar que, como o Sandro disse, é um embate muito difícil no Congresso
Nacional. É muito difícil mesmo porque eu tenho conversado no Congresso sobre isso e tenho
conversado com muitos de vocês sobre esse tema. Vocês sabem disso, das minhas preocupações
como presidente da Funai sobre esse embate, mas eu acho que esse é um momento histórico que
nós temos que decidir o que nós vamos fazer. Eu acho que vocês deram uma sinalização agora e
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essa sinalização é uma sinalização muito importante para que a bancada governamental também
faça uma reflexão sobre ela e que todos nós possamos ter também, da nossa parte do governo,
uma reflexão com as instâncias superiores nossas sobre essa questão. Eu queria dar esse destaque.
Eu acho que isso reflete um amadurecimento político e eu me orgulho de ser presidente da CNPI,
presidente da Funai nesse momento e de poder aqui participar dessa reunião, porque é graças a
isso que eu tenho energia suficiente, digamos assim, para continuar enfrentando todas as
dificuldades que nós enfrentamos naquela instituição. Eu queria agradecer mesmo porque eu acho
que nós estamos aqui dando uma lição para muitos países por aí que gostam de ficar cobrando do
Brasil muita coisa, mas que não sabem como nós estamos aqui construindo e aprendendo,
governo e a sociedade civil, da forma como estamos fazendo. Eu acho que nós todos estamos de
parabéns e eu não poderia deixar de registrar isso aqui, em nome do governo do Presidente Lula,
como presidente da CNPI. Agradecendo mais uma vez à bancada indígena. Vamos ao jantar, ao
banho de mar.
Manhã do dia 14 de março
Presidente da Funai: Eu já vou perguntando para os membros da CNPI: o primeiro ponto da
nossa pauta é aprovar a nossa ata, se por um acaso a gente tem condições de aprovar a nossa ata
agora. Se não for possível, pelo que eu estou sentindo pelo semblante dos nossos componentes,
de certa dúvida, a gente pode estender para o final da manhã ou à tarde para aprovar a ata; mas eu
quero consultar se a gente tem condições de votar a ata agora ou se alguém acha que não e que a
gente pode começar os nossos trabalhos e ata ficar para o final da manhã ou para o início da
tarde. Alguém quer propor? O encaminhamento está bom? Então a gente vai fazer a aprovação da
nossa ata ao longo do dia, no final da manhã ou no início da tarde, dependendo do segmento dos
nossos trabalhos aqui. O próximo ponto da nossa pauta então trata do seguinte tema:
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Planejamento Energético e Estudos de Inventário em Bacias Hidrográficas. Esse é um tema
que de certa forma continua o debate de ontem no final do dia. Quem está aqui conosco hoje
convidado pela CNPI, não só convidado, mas a própria empresa tomou a iniciativa e eu quero
registrar isso. Não foi só um convite da CNPI. A própria Empresa de Pesquisa Energética tomou
a iniciativa de procurar a CNPI no sentido de que pudesse vir aqui para apresentar as suas
propostas, o seu trabalho, explicar o que é o trabalho da empresa, que complementa em muito a
apresentação que a Dra. Márcia Camargo fez ontem em relação à questão energética. Eu queria
convidar o Dr. Paulo Nascimento para fazer a sua apresentação agora nesse momento. Hoje de
manhã nós temos ainda logo em seguida o tema Atuação da Polícia Federal e as operações em
terras indígenas que o Dr. Fernando Segóvia, Delegado da Polícia Federal, vai estar conosco e
teremos em seguida o informe da subcomissão de saúde. A outra subcomissão também que ficou
para hoje, a de planejamento. Vamos seguindo. Dr. Paulo, a palavra é sua.
Sr. Paulo Nascimento – representante do Ministério de Minas e Energia: Bom dia a todos.
Antes de tudo eu gostaria de agradecer em nome da EPE a oportunidade que nos foi dada pela
Comissão Nacional de Política Indigenista e me apresentar porque inicialmente quem deveria
fazer essa apresentação era a antropóloga Mirian Nutti que trabalha há mais de vinte anos no
setor elétrico. Trabalhamos juntos nesse tempo todo e ela infelizmente não pôde estar presente,
então eu quase que tive que improvisar porque a minha convocação foi anteontem. Entretanto
ontem depois daquela belíssima apresentação da Márcia Camargo onde ela situou a questão
energética no âmbito das políticas governamentais, no âmbito do desenvolvimento sócio-
econômico do país e fez uma proposta muito objetiva para regulamentação do artigo 231 que fala
dos recursos hídricos, mas que também trata da questão indígena, das unidades de conservação e
etc.. Ela fez essa apresentação e essa apresentação possibilitou uma visão bastante ampla e
estratégica da questão energética no país. Hoje eu vou reduzir a minha apresentação a um ponto
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específico que são os estudos de inventário no âmbito do planejamento energético e focando
especificamente às questões dos levantamentos em terras indígenas. De qualquer maneira eu não
posso deixar também de apresentar uma situação do planejamento da expansão da oferta de
energia elétrica no âmbito do planejamento energético. Então entrarei nos estudos de inventário e
depois na avaliação ambiental integrada que seria uma abordagem complementar, mas hoje ela
está sendo incorporada aos estudos de inventário e que é mais um esforço para o aperfeiçoamento
de critérios e procedimentos que o setor elétrico e a EPE vem tentando incorporar ao
planejamento do setor. Eu não tenho nem o brilho e nem o dom da palavra como a Márcia tem,
de qualquer maneira eu vou tentar complementar a apresentação que ela iniciou ontem.
Eu vou dizer primeiro quem é a Empresa de Pesquisa Energética. É uma empresa
vinculada ao Ministério de Minas e Energia instituída pela Lei 10.847 de março de 2004,
entretanto a empresa só começou efetivamente a trabalhar e funcionar a partir de março de 2005.
A finalidade principal dela é elaborar estudos para subsidiar as decisões do Ministério de Minas e
Energia e também do Conselho Nacional de Política Energética no planejamento do setor
energético brasileiro. Ela trata, portanto, de energia elétrica, de petróleo e gás natural, de carvão
mineral, petróleo e gás natural e carvão mineral são as fontes fósseis, os combustíveis fósseis e as
fontes energéticas renováveis que nesse momento são uma das principais preocupações do setor
elétrico. As estratégias de atuação da EPE. Ela tem diversas estratégias associadas aos diferentes
setores, as diferentes fontes de geração de energia, mas no caso do setor elétrico e da geração de
energia elétrica ela tem grande objetivo de integrar efetivamente os aspectos e custos sócio-
ambientais nos estudos desenvolvidos ao longo do processo de planejamento. Eu vou traduzir
rapidamente o que significa isso. O setor elétrico de vinte anos para cá vem tentando incorporar a
dimensão ambiental em seus custos, em sua cultura em todos os seus aspectos no planejamento,
na implantação e na operação dos seus empreendimentos que são basicamente as usinas
hidrelétricas e as linhas de transmissão. Esse esforço foi muito grande no início quando as
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lideranças do setor elétrico tiveram essa preocupação não só originadas de pressões dos órgãos
financeiros internacionais, de organizações não-governamentais como, por exemplo, a Comissão
Nacional dos Atingidos por Barragens; as próprias representações dos grupos indígenas e outros
setores da comunidade que mostraram ao setor elétrico que se o setor não cuidasse das questões
ambientais essas questões apareceriam mais tarde e o equacionamento delas teria um custo muito
maior, seja do ponto de vista financeiro, seja do ponto de vista político e poderia inclusive
inviabilizar seus empreendimentos. Essa questão começou a ser tratada de uma forma gradual,
incremental, foi dada atenção prioritária a determinados temas e dentro desses temas a questão
indígena foi uma das prioritárias. Tanto é que se publicou em 1992 um livro resultado de uma
pesquisa promovida pela Eletrobrás, não foi um livro, mas um artigo quase livro intitulado O que
é o índio. Eu não sei se vocês conhecem essa publicação. Nós gostaríamos inclusive de oferecer a
Comissão Nacional de Política Indigenista esse documento. Integrar efetivamente os aspectos e
recursos sócio-ambientais nos estudos, elaborar estudos sócio-ambientais com a qualidade
necessária e articuladamente com as demais áreas de planejamento. Isso é um ponto importante
porque tradicionalmente o que se tem encontrado são estudos sociais e ambientais pouco
qualificados. A preocupação hoje da EPE é exatamente melhorar a qualidade desses estudos,
oferecer maior confiabilidade e melhores informações, informações mais claras de forma que
esses estudos além de serem mais consistentes eles possam ser acessados por qualquer
representante da sociedade e não só se tornar um documento para o licenciamento ambiental, um
documento burocrático. Interagir com o MMA, ANEEL, ANA, Ibama, Funai, Fundação
Palmares, órgãos ambientais e outros agentes do setor de energia elétrica e com representantes da
sociedade. Essa figura que aí está...
O planejamento eletro energético é efetivado em três grandes linhas de atuação
que eu chamaria de instrumentos de planejamento. Primeiro a matriz energética sobre a qual a
Márcia Camargo comentou ontem e apresentou alguns números da matriz e eu gostaria de
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completar essa informação esclarecendo o seguinte: a matriz energética é a expressão de todo o
consumo de energia no Brasil e de toda a oferta de energia. A oferta é feita por fontes: energia
elétrica, petróleo e gás, aquelas ditadas ali. O consumo ele é mostrado por setor de atividades
humanas: consumo industrial, consumo residencial, o consumo de serviços e, sobretudo, a parte
de transportes que é uma parte fundamental na infra-estrutura nacional. Transporte é uma
atividade que gera através do consumo de energia um grande fator de poluição. A matriz
energética ela mostra o momento atual do consumo e da oferta de energia. O plano de longo
prazo o que é? São diretrizes estabelecidas pelo setor energético para o futuro num horizonte de
cerca de 30 anos. Aí são estabelecidas as opções pelas fontes de energia, pela espacialização ou
pela localização das fontes de energia e etc. O plano de longo prazo se reflete na matriz. Se a
sociedade não aceita efetivamente o que está sendo oferecido essa matriz começa a ser mostrada,
começam a ser mostrados os pontos duvidosos da matriz em que ela tem que ser revista. Essa
revisão é feita através do plano decenal. O que é o plano decenal? É o planejamento de médio
prazo de dez anos onde são colocados aqueles empreendimentos, sejam empreendimentos
hidrelétricos, termoelétricos e mesmo a oferta de energia primária que é de petróleo e gás,
petróleo e derivados, fontes alternativas, empreendimentos esses que poderão vir a ser
implantados e entrar em operação no horizonte de dez anos. Esse plano decenal é revisto
anualmente.
Dentro dessa grande abordagem do planejamento eu vou pegar um ponto só que é
o ciclo de um projeto hidrelétrico. Esse ciclo de projeto hidrelétrico está dividido em duas
grandes abordagens. Os estudos de inventário e a avaliação ambiental integrada que alimentam o
plano decenal de energia elétrica. Existe a etapa dos estudos de inventário e avaliação ambiental
integrada e dos estudos de viabilidade aqui sim onde começa o processo de licenciamento
ambiental. Essa parte aqui, essa etapa dos estudos de inventário é uma etapa exclusivamente
setorial onde só o setor elétrico trabalha. Essa outra figura é para mostrar rapidamente a vida de
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um empreendimento, ou seja, o ciclo de vida de um empreendimento desde o seu nascedouro que
começa nos estudos de inventário até sua entrada em operação. Como vocês podem ver as etapas
do planejamento são os estudos de inventário e os estudos de viabilidade que têm uma duração
média de 4 anos. Depois entra o processo de licitação e depois então começa já com o
empreendedor, o concessionário de energia elétrica ele já começa a desenvolver o projeto básico,
em seguida constrói o empreendimento e depois entra no processo de operação cuja vida útil de
um empreendimento hidrelétrico é de aproximadamente 50 anos. Uma coisa importante a
destacar é a seguinte: a etapa de planejamento ela se reduz a essas duas fases e é de
responsabilidade do governo. A partir daqui a responsabilidade é do concessionário, ou seja, o
governo continua sendo responsável, mas ele transfere a concessão para a construção e para a
operação de um empreendedor, operação de um empreendimento por um empreendedor, esse
empreendedor é obrigado a operar a usina a partir de toda a regulamentação estabelecida pela
ANEEL quando do contrato de concessão. Esse contrato de concessão tem uma duração média de
30 anos. Aqui é todo o processo de licenciamento que não é o caso de mostrar aqui.
Eu quero entrar agora diretamente na questão dos estudos de inventário
hidrelétrico. O objetivo do estudo de inventário é determinar o potencial hidrelétrico da bacia
mediante a identificação de um conjunto de aproveitamentos que proporcionem o máximo de
energia ao menor custo e aliado a um mínimo de efeitos negativos sobre o meio ambiente. Essa é
uma concepção nova porque até dez anos atrás o que se falava era em aproveitamento ótimo.
Aproveitamento ótimo do ponto de vista energético e econômico, então a questão ambiental não
era considerada, nem a social nem ambiental, era considerada devidamente no planejamento do
setor elétrico, sobretudo, nos estudos de inventário. A partir de 1997, quando foi feita a revisão
do manual de inventário, que é exatamente um manual que estabelece todos os procedimentos,
todos os critérios para a elaboração de um estudo de inventário, foram incorporados os critérios e
procedimentos ambientais e então o conceito de aproveitamento ótimo hoje é um conceito
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econômico, energético e ambiental. Para o desenvolvimento dos estudos são considerados os
fatores técnico-econômico e sócio ambiental. Essa figura é para mostrar que é uma visão
integrada onde você tem os custos, você tem o meio ambiente e a tecnologia e os aspectos
sociais. Hoje a EPE está desenvolvendo os seguintes estudos de inventário: estudos de inventário
do rio Branco; do rio Trombetas; do rio Jarí; do rio Sucunduri; do rio Aripuanã; do rio Juruena,
da Bacia do Juruena e do Araguaia. O inventário trata do rio principal e seus principais afluentes.
Os estudos de inventário estudam toda a bacia, não um local especial. É uma visão de conjunto da
bacia, avalia todas as possibilidades de geração de energia elétrica considerando toda a bacia
independentemente se é unidade de conservação, se é terra indígena, é a visão integral da bacia. É
um estudo de planejamento isso que é importante frisar, é um estudo de planejamento e o
resultado desse estudo não significa que a melhor alternativa de combinação de aproveitamentos
naquela bacia seja a que vá ser construída. Não é uma decisão de construção de hidrelétrica.
Outra coisa importante é que é um estudo que está na primeira fase do
planejamento do ciclo de vida de um empreendimento, então esse estudo se realiza nos dois
primeiros anos. Entre a realização desse estudo e o início de operação de um empreendimento são
percorridos 8, 10 anos dependendo do porte da usina hidrelétrica. As etapas de estudo de
inventário. Dentro dos estudos de inventário nós temos o planejamento dos estudos que é uma
atividade feita em escritório com base em informações secundárias, não tem levantamento de
campo, não tem nada. Em seguida são realizados os estudos preliminares. Nós podemos dizer que
é aí que reside o coração de um estudo de inventário, porque é nessa etapa que são realizados os
levantamentos de todos os estudos. Esses estudos são baseados em dados secundários, mas
também dados primários daí a necessidade de você ir a campo fazer levantamentos, medições. Os
estudos finais o que significam? Depois dos estudos preliminares quando são estudadas todas as
possibilidades de aproveitamento no rio principal e nos seus afluentes, quando são combinadas as
melhores alternativas que se diz de partição da queda do rio porque os rios vão descendo de
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montante para jusante e vários pontos de aproveitamento são identificados, mas nem todos
podem ser aproveitados. Existem determinadas condições como, por exemplo, a altura da queda
d'água, o volume e a existência de ombreiras. Ombreiras é o nome técnico, onde você vai apoiar
o barramento, seja barramento para a formação de reservatório, seja o barramento para colocação
de turbinas que vão operar a nível da água. Então a combinação desses aproveitamentos vai
depender do estabelecimento de uma comparação entre os índices econômicos energéticos e os
índices ambientais. Eu vou explicar isso. Depois que é feito um diagnóstico da área de estudo do
ponto de vista dos ecossistemas aquáticos, dos recursos hídricos, dos ecossistemas terrestres e do
meio físico, dos aspectos sociais, são montados índices ambientais e índices sociais. Esses índices
são associados aos índices de custo-benefício de cada aproveitamento. Eu estou chamando de
índices porque são números que têm que entrar num modelo, numa modelagem que é uma
modelagem que considera todos os critérios estabelecidos previamente pela metodologia dos
estudos de inventário. Esses critérios recebem pesos e quem dá os presos é a equipe que está
realizando esse estudo. Então, por exemplo, você tem os índices de engenharia, são índices muito
frios, mas os índices sociais e ambientais são índices que têm que ser muito discutidos porque no
momento que você estabelece um valor para ele e joga no modelo, o modelo vai responder
segundo o número que está lá. Então você tem uma hierarquia de aproveitamentos, uma ordem de
aproveitamentos do melhor para o pior em que se você não dá o devido valor ao índice,
principalmente aos índices sociais e ambientais esse empreendimento pode ter uma visão
distorcida. Distorcida por quê? Porque pela engenharia ele pode ser um ótimo empreendimento,
mas pelos impactos que ele poderá causar ele pode ser um péssimo empreendimento, então isso
tem que ser refletido no índice do aproveitamento, no índice final do aproveitamento.
Estabelecida essa ordem de interesse por melhor ou pior aproveitamento, esses aproveitamentos
são combinados e é montada o que se chama de uma alternativa de partição de queda melhor do
ponto de vista econômico, energético, social e ambiental.
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Essa é a etapa dos estudos preliminares quando se tem então uma versão
preliminar de qual será a melhor alternativa para o aproveitamento de potencial hidrelétrico dessa
bacia, em seguida vêm os estudos finais. O que são os estudos finais? Todas as coletas de dado,
todos os estudos, os diagnósticos feitos nessa etapa tem que ser consolidados porque você tem
que voltar a campo, conferir, tirar dúvidas a respeito de muita coisa que foi avaliada, então ter
maior segurança e essa segurança é obtida nos estudos finais no momento que se chama
consolidação dos estudos preliminares. Confirmada a melhor alternativa de partição de queda da
bacia é feita a avaliação ambiental integrada. Antes de falar da avaliação ambiental integrada eu
gostaria de falar sobre o serviço de campo. De um modo geral até como disse a Márcia ontem
todo o potencial hidrelétrico ou quase todo o potencial hidrelétrico brasileiro já está esgotado nas
regiões Sul, Sudeste e parcialmente na região Centro-Oeste. O conhecimento dessas grandes
regiões no setor elétrico é bastante grande, mas o conhecimento da região Norte e da região
Centro-Oeste ainda é bastante precário, embora hoje já se tenha tecnologia a mais avançada
possível é necessário que se aprofunde muito mais o conhecimento, especialmente no caso dos
estudos de inventário. É uma coisa muito importante porque o relevo da região Norte é um relevo
mais suave e um erro de cálculo, por exemplo, nas curvas de nível, sobretudo, quando essas
curvas de nível são identificadas tendo a cobertura vegetal, uma floresta densa ou uma floresta
aberta na Amazônia. Esse tipo de informação precisa ser muito precisa porque as calhas dos rios
amazônicos são muito abertas. Se você barra e tenta fazer um reservatório esse reservatório vai
ser gigantesco haja vista os exemplos de Balbina, Tucuruí que são reservatórios imensos, então é
muito importante que se tenha uma precisão, a melhor precisão possível nesses levantamentos de
campo. Os levantamentos de campo dizem respeito à forma do terreno numa faixa ao longo das
margens dos rios, dos principais rios da bacia, as características geológicas do terreno das áreas
com potencial para implantação de uma usina hidrelétrica, dos locais para obtenção de materiais
para construção e finalmente as características dos rios no que se refere ao seu fluxo: as vazões,
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os sedimentos, os níveis da água e etc. Para tanto são feitos basicamente três grandes
levantamentos. Os levantamentos cartográficos que é a questão do mapeamento da bacia e para
isso é preciso à instalação de marcos de concreto para o levantamento dos pontos de apoio; o
levantamento dos perfis do rio, ou seja, os perfis com as quedas d'água e etc.; os levantamentos
da forma de relevo e da profundidade dos rios. Os levantamentos hidrométricos que são a parte
toda da hidrologia para a instalação de réguas para medição da altura da água, sensores para
medição desses níveis, leitura dos níveis da água que são feitas por réguas e os levantamentos
geológicos, ou seja, o reconhecimento de acesso e locais para apoio; mapeamento geológico de
superfície dos sítios e das áreas potenciais de empréstimos para solo e etc.. E ainda uma
preocupação muito grande quando da formação do reservatório o peso que isso significa e o
impacto desse peso na estabilidade dos terrenos.
Eu estou mencionando todos esses levantamentos para dizer o seguinte: os
equipamentos utilizados são equipamentos de pequeno porte, eles não ocasionam qualquer
impacto nessas áreas onde eles vão ser realizados os levantamentos, então nos estudos de
inventário não há qualquer tipo de impacto ambiental nas áreas estudadas. Com todos esses
levantamentos existe também o levantamento sócio-ambiental; os estudos sócio-ambientais que
vão gerar o diagnóstico sócio-ambiental que tem por objetivo produzir um conhecimento
sistematizado sobre os processos ecológicos e socioeconômicos de uma determinada bacia de
modo a possibilitar a análise sócio-ambiental dos impactos potenciais das diferentes alternativas
de divisão de queda. Ou seja, ainda nessa escala que é uma escala muito ampla a gente já sabe
quais são os impactos causados por um empreendimento hidrelétrico, nós já conhecemos
exatamente quais são. Não conhecemos a intensidade desse impacto, a duração desses impactos,
então essa avaliação só pode ser feita no momento em que você conhece a região, conhece as
condições de suporte dessa região para receber os empreendimentos. Se essa região for uma
região muito frágil esses impactos serão tão mais intensos, profundos e duradouros quanto maior
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a sensibilidade ambiental dessa área de estudo. Nesse diagnóstico agora eu vou focar os
processos sociais e econômicos e entrar mais um pouco nas populações indígenas e populações
tradicionais. Numa análise num diagnóstico ambiental nós tratamos de conhecer, sistematizar o
conhecimento sobre os modos de vida da população, a organização do território que é dada pela
circulação das mercadorias, pela localização das áreas de produção que é a base econômica.
Esses são os elementos principais que nós consideramos no diagnóstico para conhecer a realidade
sócio-econômica da área de estudo. No caso das populações indígenas e das minorias étnicas de
um modo geral o que temos? Nós fazemos um estudo específico. É muito importante que esse
estudo seja bastante específico porque ele vai ter um peso muito significativo na hora da
montagem dos índices que vão participar da ponderação da importância deste ou daquele
aproveitamento identificado como possível aproveitamento na bacia.
Os elementos que nós estabelecemos no Manual de Estudos de Inventário para
caracterização das populações indígenas e tradicionais são: condições materiais de sobrevivência
com as variáveis, por exemplo, relações sócio-econômicas da região inter-étnica; as relações de
integração com as atividades econômicas na região; as condições legais do território, em que
estágio eles estão, se estão demarcados ou se ainda estão passando por todo o processo de
regularização; e as condições ambientais do território. O outro elemento é a organização social,
cultural e política onde nós vamos procurar conhecer com maior profundidade as formas
religiosas e as suas relações com a sociedade envolvente, as formas de relação com outros
grupos, filiação lingüística, eixos de solidariedade recíproca, eixos de rivalidade, formas e
natureza do contato com a sociedade envolvente. Os aspectos étnico-históricos, conhecimento
arqueológico da região, a trajetória histórica do grupo, os aspectos demográficos, que é o
tamanho dessa população, a densidade demográfica e a evolução. A densidade não tanto porque
ela pesa muito pouco na análise das condições de vida dos grupos indígenas. Avaliação dos
índices de perdas demográficas e os aspectos étnico-ecológicos que são os valores de crenças; os
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ciclos sagrados; os valores que orientam a relação índio-natureza; o tamanho, a natureza e a
construção histórica do território; avaliação dos índices de perda do território; as formas de
apropriação dos recursos naturais, minerais, hídricos e florestais e o potencial de sustentabilidade
do território para reprodução do grupo social. São esses elementos, sobretudo definidos por
antropólogos consultores do setor elétrico e nesses estudos étnicos, qualquer estudo relativo às
questões indígenas eles são aprovados pré-aprovados pela Funai. De modo geral eles abrangem
muito mais do que seria necessário para o trabalho do setor elétrico, mas é uma forma do setor
elétrico também contribuir e aprofundar o conhecimento sobre a realidade das comunidades
indígenas do Brasil como uma forma de oferecer instrumentos para apoio às comunidades
indígenas.
Finalmente essa inovação metodológica que foi incluída no inventário que é a
avaliação ambiental integrada. É um esforço de aperfeiçoamento dos critérios e procedimentos do
planejamento da oferta de expansão da energia elétrica e ele tem duas origens. A primeira é uma
demanda da própria área ambiental, sobretudo, do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama que
de algum tempo para cá começaram a perceber a necessidade para a elaboração dos temas de
referência para EIA RIMA e etc., e para o próprio conhecimento dos órgãos de licenciamento
ambiental em conhecerem integralmente uma bacia. O licenciamento ambiental é feito por
empreendimento. É um estudo isolado de cada empreendimento. De modo geral o estudo é
incompleto e a análise é incompleta e acaba sendo a licença prévia uma licença incompleta
porque ela não permite a visão integrada do conjunto de empreendimentos numa bacia
hidrelétrica, aqueles empreendimentos que poderão ser construídos ao longo do tempo e que já
estão previstos dentro do plano decenal. O próprio setor elétrico percebeu que algumas avaliações
como, por exemplo, os efeitos sinérgicos e cumulativos... O que significa? Os efeitos gerados por
um empreendimento podem incidir sobre outro empreendimento, então essas relações de sinergia
e cumulatividade dos impactos que poderão ser muito maior se analisados isoladamente, poderão
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ser maiores do ponto de vista da intensidade, do ponto de vista da duração, então esses impactos
eles têm que ser estudados olhando o conjunto do empreendimento e não o empreendimento
isoladamente. O objetivo da avaliação integrada, integrada significa isso: uma avaliação
ambiental do conjunto dos empreendimentos da melhor alternativa de partição de quedas de uma
bacia, que é a etapa final dos estudos de inventário. Uma coisa importante é a observação que eu
coloquei ali que é um procedimento opcional do setor elétrico. O setor elétrico optou em ampliar
mais esse estudo porque tem consciência de que sem isso o inventário fica incompleto.
Entretanto, esses estudos não fazem parte de qualquer dispositivo legal ou normativo relacionado
ao licenciamento ambiental. O licenciamento continua sendo feito para cada empreendimento,
mas o resultado da avaliação ambiental integrada pode orientar a elaboração dos termos de
referência para os EIA RIMA e ele pode oferecer informações que não seriam obtidas quando da
elaboração de um EIA RIMA porque ele não abrange toda a bacia. Os objetivos de uma avaliação
ambiental integrada são: avaliar as condições de suporte dos meios naturais e antrópicos do ponto
de vista da sua capacidade para receber o conjunto de aproveitamentos hidrelétricos que
compõem a alternativa da divisão de queda selecionada; procura identificar e avaliar os efeitos
sinérgicos e cumulativos resultantes dos impactos ambientais ocasionados pelo conjunto de
aproveitamento hidrelétricos da bacia hidrográfica. Quais são os resultados principais de uma
avaliação ambiental integrada? Desenvolver indicadores de sustentabilidade para a bacia. Por
quê? Com base no diagnóstico, com base no conhecimento dessa realidade e com base nos
cenários que os estudos de inventário têm que montar para saber como será a configuração social,
econômica e ambiental da bacia daqui a 15 anos, daqui a 20 anos porque nesse período as
atividades econômicas vão se intensificar e se ampliar. Essas atividades vão incidir sobre o meio
ambiente e sobre as condições sociais da população, sobre o modo de vida da população. Então
como ficará a região daqui a 10 anos, 15 anos, 20 anos? É importante a gente ter esse cenário
futuro e sobre ele projetar os empreendimentos que serão construídos ao longo do tempo. Assim
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nós saberemos que o impacto que seria gerado se o empreendimento fosse construído hoje será
um impacto diferente quando essa área estiver alterada, tiver uma ocupação mais densa, tiver
atividades econômicas maiores, as condições ambientais serão mais sensíveis e os impactos sobre
uma sensibilidade maior serão os impactos muito piores.
Então, toda essa simulação é feita na avaliação ambiental integrada. Dessa
avaliação nós podemos tirar em primeiro lugar os indicadores de sustentabilidade, ou seja, nós
temos que identificar o que gostaríamos que essa área de estudo fosse nos termos das condições
sociais e do meio natural; como gostaríamos que ela fosse apesar de todos esses investimentos
que ocorreram nessa área. Então esses índices de sustentabilidade eles são obtidos em primeiro
lugar pelas relações e por auscultar a comunidade que vive diretamente na área. Quais são as
aspirações dessa comunidade? Eu quero fazer um esclarecimento. Esse processo está começando
agora. Nunca foi feito isso e inclusive as reuniões com as comunidades vão começar a existir
nesses estudos porque até então os estudos de inventário não consideravam opinião de ninguém.
Era um estudo puramente tecnocrático, como eu disse inicialmente, se avaliava a possibilidade do
aproveitamento ótimo sem escutar as comunidades, sem escutar a sociedade verificando só as
possibilidades de oferta de energia. Hoje essa avaliação, esse estudo não pode mais ser realizado
desta forma. A preocupação do setor elétrico, especialmente da EPE que está coordenando e
contratando esses estudos é exatamente apresentar os resultados desses estudos a comunidade e
não é em uma reunião, em várias reuniões com as suas várias etapas, desde os estudos
preliminares até os estudos finais e finalmente na avaliação ambiental integrada. Escutar a
comunidade, verificar quais são as expectativas e aspirações, isso tudo numa etapa ainda do
conjunto de empreendimento. Não estamos falando de empreendimentos individualizados porque
esses elementos é que vão nos possibilitar a formulação dos indicadores e esses indicadores vão
ser condicionantes para os estudos de viabilidade dos empreendimentos. Se os estudos de
viabilidade não considerarem como parâmetros esses indicadores, esses estudos não serão
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considerados viáveis, não poderão ser considerados viáveis; então o empreendimento, embora
presente na melhor alternativa de partição de queda da bacia, ele, quando for estudada sua
viabilidade, ou seja, com dados mais precisos, mais concretos e mais consistentes possivelmente
não será considerado viável e não sendo considerado viável do ponto de vista sócio ambiental não
receberá a licença prévia. Não recebendo a licença prévia ele tem que ser descartado. A outra
coisa importante é delimitar as áreas de fragilidade ambiental, as áreas de conflito bem como as
potencialidades relacionadas aos aproveitamentos. Essa é uma questão que gera muita
controvérsia não só no setor elétrico, mas, sobretudo, na área de meio ambiente porque o
aproveitamento hidrelétrico é sempre visto como um investimento predador, quando na realidade
não é; porque se de um lado o benefício principal dele é a geração de energia elétrica, se nós
considerarmos os estudos e a implantação de um aproveitamento hidrelétrico no âmbito das
políticas públicas, esse aproveitamento poderá trazer benefícios a uma região.
Eu explico. Desde o início do anúncio da construção de um empreendimento você
já começa a perceber um movimento migratório em direção ao local onde ele vai ser construído;
você começa a ver uma mobilização na região identificando cidadãos que vão para lá para montar
seu pequeno negócio, e esse fluxo de população começa a gerar inquietação na região, começa a
gerar desconfiança da população local. Tudo isso se não for feito de uma forma programada, de
uma forma consertada com toda a comunidade provavelmente os conflitos vão surgir. Se você
trabalha articuladamente com o Ministério do Desenvolvimento Social, com o Ministério do
Trabalho, com outras agências governamentais na área que vão preparar a região para receber
esses empreendimentos, treinar mão-de-obra, pesquisar material que possa ser usado, material
local. Tudo isso traz benefícios, e mais, capacitar àqueles futuros empregados que vão trabalhar
nas obras para que eles tenham conhecimento suficiente e treinamento suficiente para permanecer
na região e continuar sua vida lá, mas isso tudo é objeto de um estudo que está começando a ser
feito efetivamente no setor elétrico que é um estudo de inserção regional do empreendimento.
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Essa expressão inserção regional é uma expressão antiga muito falada, sobretudo em Belo Monte,
mas a experiência sobre inserção regional de empreendimentos do setor elétrico é uma
experiência muito limitada a alguns empreendimentos no Sul do Brasil como a Hidrelétrica de
Ita, a Hidrelétrica de Machadinho, de Segredo no rio Iguaçu e algumas poucas outras. A inserção
regional de um empreendimento, por exemplo, na região amazônica é uma coisa complexa pelas
grandes distâncias, por como conceber essa inserção, e a primeira é experiência nesse sentido vai
ser em Belo Monte. Então delimitar as áreas de fragilidade, conflitos e etc., e formular diretrizes
ambientais para concepção dos projetos de geração de energia elétrica. O que significa isso? Ao
final dos estudos de avaliação ambiental integrada você vai ter um conjunto de diretrizes que
deverão refletir e estar congruentes com os indicadores de sustentabilidade estabelecidos para a
reunião. Essas diretrizes elas deverão orientar não só os termos de referência para elaboração do
EIA RIMA para cada empreendimento e essas diretrizes vão orientar que tipo de estudo, que
profundidade de estudo deve ser feita, que temas devem ser privilegiados nesse ou naquele
empreendimento. O que eu gostaria de apresentar no momento seria isso. Eu peço desculpas por
ter sido uma apresentação um pouco precipitada, eu não tive muito tempo para prepará-la, mas
estou aberto para discussão e para esclarecimentos que forem necessários. Muito obrigado.
Presidente Márcio Meira: Muito obrigado, Dr. Paulo Nascimento. Eu queria registrar a
presença do Procurador da República Dr. Duciran que está aqui conosco, representando a Dra.
Débora Duprat que foi convidada e que como se sabe ela é membro - convidado permanente da
CNPI - e como ela não podia estar presente aqui nos encaminhou a informação de que estaria
aqui representada pelo Dr. Duciran. Eu queria agradecer a sua presença aqui. O senhor quer fazer
algum comentário, alguma saudação? Eu queria propor o seguinte: nós temos uma programação
um pouco apertada e eu queria combinar isso agora. Às 11 horas da manhã a bancada indígena
terá que se ausentar por uma questão formal em relação à questão bancária. Aqui o banco fecha
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ao meio-dia e eles terão que ir ao banco agora pela manhã; então como agora faltam 15 minutos
para as 10 horas eu queria propor que a gente tivesse agora 15 minutos, 20 minutos para
perguntas sobre o que foi apresentado. Logo em seguida a gente abriria espaço para o Dr.
Segóvia para ele poder fazer a apresentação dele e às 11 horas encerrar a nossa atividade da
manhã, de tal forma que a gente também possa almoçar mais cedo e voltar mais cedo. Ontem nós
voltamos às 2h30min e hoje nós poderíamos tentar almoçar mais cedo, com volta às 14h, por
exemplo. Já que vamos ter essa questão da saída, então eu queria propor este encaminhamento.
Vou passar ao Dr. Duciran para ele fazer uma saudação e em seguida nós abrimos 15 minutos
para as perguntas sobre a questão da apresentação da EPE.
Sr. Duciran Farena – representante do Ministério Público Federal: Bom dia a todos. Meu
nome é Duciran Farena, eu sou Procurador da República na Paraíba, Procurador dos Direitos do
Cidadão e também representante da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público
Federal de Minorias Indígenas, como vocês sabem. Eu recebi o honroso convite para participar
dessa reunião de hoje transmitido pela Dra. Débora que infelizmente não pôde comparecer
devido a compromissos em Brasília. Quero saudar aqui o Conselho por ter tomado essa iniciativa
tão feliz de realizar essa reunião aqui na Paraíba, aqui na Baía da Traição, nesse momento que é
um momento também de celebração para a comunidade já que tivemos recentemente depois de
uma luta de mais de vinte anos o reconhecimento da posse indígena na comunidade Monte Mor.
Certamente a comunidade mais sofrida que nós tínhamos aqui por falta de terra e de espaço para
suas atividades, mas também um momento de reflexão e preocupação porque nós sabemos que
essa luta indígena não se encerra somente com esse reconhecimento. Nós esperamos ainda uma
resistência bastante intensa por parte daqueles que ilegitimamente se julgam donos da terra e
ainda temos também todo um trabalho a desenvolver com a comunidade para que essa terra
realmente possa dar os frutos merecidos à comunidade indígena. Com esse registro eu faço aqui a
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minha saudação mais uma vez parabenizando pela escolha do local na certeza de que as
conclusões e as deliberações desse importante evento vão trazer frutos e benefícios para a
comunidade indígena em todo o Brasil. Obrigado.
Presidente Márcio Meira: Muito obrigado Dr. Duciran. Eu queria então imediatamente abrir
para o plenário da CNPI para fazer perguntas para o Dr. Paulo. Está aberta a temporada de
perguntas, temos quinze minutos para perguntas. A Pierlângela está inscrita, o Kohalue, o
Heliton. A Pierlângela pode iniciar.
Pierlângela Wapichana: Bom dia. Dr. Paulo, eu vou começar pela sua própria fala. Quando se
faz um estudo e um levantamento desse processo migratório para as áreas não indígenas isso é
considerado desenvolvimento, para nós, povos indígenas isso é considerado invasão,
possibilidade de entrada na terra e quando se vai fazer um processo desse, não só o levantamento,
mas os próximos passos, essa é que é a nossa preocupação... A gente sabe que todo o processo de
construção de uma hidrelétrica dentro de uma terra indígena vai gerar uma série de conseqüências
que para os não índios é considerado progresso; uma nova cidade próxima da hidrelétrica porque
os trabalhadores vão para lá, vão ter têm atendimento e aí a gente sabe que em todos esses
processos de várias usinas hidrelétricas no Brasil se construíram novas cidades próximas às
usinas justamente pelos trabalhadores. Como é que vocês vêem isso dentro das terras indígenas
com as construções? Como seria esse processo, eu só estou colocando uma suposição, de uma
usina hidrelétrica dentro de uma terra indígena onde não índios vão ter que trabalhar e vão
precisar de atendimento e vão precisar de uma série de questões que vai... Não é só construção
em si, vai gerar tudo isso aí. Como é que vocês vêem isso aí? Outra pergunta...
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Sr. Paulo Nascimento - Ministério de Minas e Energia: A experiência do setor elétrico na
construção de hidrelétricas que atingiram terras indígenas não é uma experiência boa nem para o
setor elétrico que viu os resultados dessa interferência, avaliou os resultados dessa interferência.
A única experiência que foi um desastre ecológico, mas que hoje é considerada, eu não sei se por
todas as comunidades indígenas é a experiência de Balbina com o grupo Waimiri-Atroari, que foi
uma experiência que os próprios índios consideram boa; mas foi uma dedicação integral do setor
elétrico que trabalhou ali. Inclusive um dos profissionais que não é antropólogo, mas é
indigenista e dedicou sua vida lá, o Procópio, da Eletronorte conseguiu resultados fantásticos e
hoje a população vive eu acho que em boas condições de vida. As outras experiências não são
boas. É por isso que ontem a Márcia foi muito objetiva ao fazer aquela proposta porque o nosso
sonho é poder regulamentar o artigo 231 da Constituição e a partir dali os índios terão muito
melhores condições para decidir sobre o que eles querem dentro de suas terras. Então a nossa
expectativa é essa. A experiência que nós temos com relação à interferência em terra indígena
não é uma experiência boa, sobretudo porque os grupos indígenas não ficaram satisfeitos e
sofreram muito com isso.
Pierlângela Wapichana: A segunda pergunta é sobre o beneficiário. Falando de região
amazônica, falando de um contexto geral e do que a gente vive o dia-a-dia lá e de todo o acesso
que eu posso dizer, todo acesso que o governo tem, os programas, o atendimento à saúde, a
educação, uma série de questões que não chegam na Amazônia, a nossa preocupação também é
quanto à questão dos beneficiários. Nós temos experiências em que o próprio empreendimento é
feito, passa-se dentro da terra, mas os próprios indígenas não são beneficiados. Qual é a
perspectiva desse levantamento? A nossa preocupação é essa, porque se faz um levantamento e
acontece igual à mineração, chove de empresa para querer fazer a exploração e isso aí a gente
sabe que na sua própria fala o senhor falou sobre o inventário, que justamente vai dar essa
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perspectiva, vai abrir todo esse conhecimento de potencial na região amazônica. E aí, ontem eu
perguntei e a Márcia não respondeu, fora disso, porque lá, as distâncias, os locais, a própria
realidade indígena hoje não é beneficiada, nem com saúde e educação, como vai ser atendido
porque inclusive a gente até já trouxe nessa plenária a questão do Luz para Todos, pois existe o
programa, mas a luz para todos não existe, não foi implantado para várias comunidades indígenas
devido a uma série de problemas entre a própria concessionária local e o governo.
Então tem esse caso e, por exemplo, foi citada lá em Roraima a questão do Leão
de Guri que passa na minha terra indígena e que a gente recebe o benefício lá, mas as populações
de lá não são atendidas. Tem o quê? Passa energia dentro da nossa terra indígena, mas nós em
nenhum momento somos beneficiados no sentido de ter a energia, por isso que a gente coloca
essa preocupação. Então a gente queria saber a partir desse levantamento a geração de energia vai
ser para beneficiar quem: São Paulo, Rio de Janeiro afora? Como é que fica a população local,
porque a densidade democrática de lá é pequena em relação ao país, se o estudo a utilização
desses recursos vai ser para beneficiar as grandes capitais, o setores maiores, os grandes centros.
Sr. Paulo Nascimento: É o seguinte - o início da preocupação da questão social e ambiental no
setor elétrico foi justamente a última questão que você colocou. Você gera energia num local e
aquele local que está contornado por comunidades, sejam elas comunidades normais ou
indígenas, todas elas não são beneficiadas, e era uma verdade, porque no sistema interligado
nacional uma usina pode oferecer energia no Sul e essa energia ser entregue no Nordeste, então
realmente era uma questão muito séria, mas você tem que ver o seguinte: o sistema é interligado
então onde existe linha de transmissão, onde existe linha de distribuição essa energia é fornecida
não importa se no Norte, no Sul ou no Nordeste. A segunda parte é a seguinte. Quais são os
beneficiários? Hoje você tem os beneficiários eu diria institucionais que são aqueles que já tem as
regras estabelecidas da compensação financeira. Existem duas outras possibilidades de você
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ampliar os benefícios e dirigir melhor os benefícios. Em primeiro lugar através das políticas
públicas, porque no momento em que você capacita a população regional, não só para trabalhar
na usina, mas para organizar a produção, ter novos ofícios, novos cultivos de alimentos etc., isso
pode trazer um benefício para a região, se for muito bem orientado e com apoio das políticas
públicas. Em segundo lugar, qualquer usina hidrelétrica hoje, se não tiver um acordo coletivo, o
que significa esse acordo coletivo? São compromissos exigidos a um empreendedor pela
comunidade atingida direta ou indiretamente, que estabelece determinados compromissos que
esse empreendedor tem que fazer, tem que cumprir para oferecer as compensações e as
mitigações dos impactos causados na região. E isso já existe, por exemplo, nas usinas do rio
Uruguai que estão sendo construídas agora. Não sai uma licença prévia, uma licença de
instalação da usina se esse acordo coletivo não estiver assinado antes do início das obras. Foz do
Chapecó é um exemplo típico, é uma usina que estava praticamente pronta para ser iniciada e
atrasou muito exatamente porque o empreendedor ainda estava negociando com a comunidade
quais seriam os benefícios que ele deveria assumir além daqueles existentes no EIA RIMA,
programas que deveriam ser programas de compensação ou mitigação para atender expectativas
da comunidade.
Então, com relação à comunidade indígena, a regulamentação do artigo 231 vai
permitir que haja uma formalização, regras estabelecidas para que as comunidades indígenas
atingidas se autorizarem a construção de empreendimentos dentro de suas terras elas exijam
condições para isso. Essas condições são assinadas em um termo de compromisso e esse termo de
compromisso vai fazer parte do processo de licenciamento ambiental.
Presidente Márcio Meira: Queria colocar uma questão: já passamos dez minutos e tem ainda
três inscritos.
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Pierlângela Wapichana: A outra pergunta vai para a própria Funai. Pela apresentação os estudos
de inventário são de responsabilidade da EPE. Qual a participação da Funai nesse processo desses
estudos.
Presidente Márcio Meira: A única participação da Funai nos estudos é de emitir a autorização
para ingresso da equipe que faz os estudos no campo, dentro de terra indígena. Esse ingresso em
terra indígena é feito segundo procedimentos que são já estabelecidos na Funai, ou seja, nós
consultamos a comunidade e a comunidade emite a sua autorização ou não para ingresso de
equipes dentro da terra indígena para fazer os estudos de campo. Então nós temos feito junto com
a EPE. A EPE solicitou, a Funai fez a consulta a várias comunidades e a maioria concordou com
a ida da equipe, mas algumas comunidades não têm concordado com a ida das equipes lá. Por
quê? Muita desinformação também, quer dizer, eles pensam que a equipe está indo já para... na
maioria dos casos a comunidade tem a visão de que aquela equipe da EPE vai lá para fazer uma
hidrelétrica, construir uma hidrelétrica. Não é. Como disse o Dr. Paulo, é um estudo de
viabilidade, não significa que o empreendimento vai ser feito dentro da terra indígena porque
precisa ser uma análise da bacia como um todo. O que nós temos feito é tentado dialogar com a
comunidade nesse sentido, explicando o que é o estudo, que é um estudo de planejamento, mas
nós temos respeitado até agora os procedimentos. Quando a comunidade não autoriza, a gente
informa a EPE que não houve autorização ainda daquela comunidade e que precisa então fazer os
esclarecimentos necessários.
Então, o que a Funai está apontando é para que uma equipe possa entrar numa
terra indígena para fazer esses estudos, e é necessário, será necessário sempre o diálogo e sempre
a consulta, explicação prévia do que significam esses estudos; que eles não têm relação direta
com o empreendimento; que são estudos de bacia como um todo, para aí sim se pensar no futuro
em qualquer tipo de empreendimento naquela bacia não necessariamente dentro daquela terra
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indígena. Até porque a legislação hoje ainda nem autoriza construção de empreendimento
hidrelétrico dentro de terra indígena. Nós ainda estamos discutindo a própria regulamentação.
Essa é a parte que cabe a Funai nesse processo. Próximo inscrito.
Kohalue Karajá: Dr. Paulo, a minha preocupação é com relação a levar energia para a área
indígena, sendo que exemplo disso está acontecendo lá em Tocantins, com a Hidrelétrica
Lajeado. Já está funcionando, inclusive o povo Xerente foi recompensado em aproximadamente,
se não me engano, 100 milhões, um tempo atrás, e com esse efeito, aliás, as conseqüências já
atingem os índios de lá. Não está tendo mais peixe, caça. Ano que vem vai terminar esse recurso
e o que vai ser? E também em relação àquele povo que está mais isolado, até o cacique falou que
na região dele provavelmente os parentes não vão deixar chegar lá. A mesma coisa acontece em
Tocantins em relação ao povo Krahô, algumas aldeias, algumas comunidades não aceitam. Eu
queria saber de que forma, quais os procedimentos que serão tomados referentes a esses povos
que não aceitam. Como é que vai se trabalhar em cima disso aí? A segunda pergunta seria
regulamentação. Se existem procedimentos legais para que possa estar levando essa energia para
comunidades indígenas?
Sr. Paulo Nascimento: Eu vou tentar responder bastante rapidamente, mas é o seguinte: eu não
estou informado a respeito da situação da usina de Lajeado, mas como eu apresentei aqui nos
slides, você tem uma parte que é responsabilidade direta do governo. Depois há o processo de
licitação, em que o governo concede a construção e operação da usina ao empreendedor privado,
não que a responsabilidade seja exclusiva do empreendedor, inclusive o governo pode dar o apoio
à comunidade indígena se ela não estiver satisfeita. Mas o primeiro movimento tem que ser o
movimento de procurar o empreendedor, o concessionário, apresentar os problemas que estão
acontecendo e discutir soluções para o encaminhamento. Se houver alguma resistência nesse
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sentido eu acho que aí teria que ser procurada a ANEEL, o órgão que licenciou, no caso o Ibama,
para poder ter uma ação mais efetiva para equacionar o problema. O caminho é esse. Agora, com
a regulamentação do artigo 231, essas condições poderão ficar muito mais claras, as regras, os
procedimentos para que mesmo ações corretivas sejam feitas no momento correto, não só as
preventivas.
Presidente Márcio Meira: O Heliton, depois o Caboquinho, depois o Titiá. O Titiá é o último
inscrito. Nós já até passamos do tempo.
Heliton Gavião: Eu queria só perguntar uma coisa doutor, quando você fala sobre levantamento.
Já tem quantas experiências que vocês já fizeram dentro das terras indígenas? Até porque quando
você cita sobre a Hidrelétrica de Machadinho onde faz parte, vamos dizer assim, nossa reserva
fica perto do Machadinho....
Paulo Nascimento: Do sul? Do rio Uruguai?
Heliton Gavião: Não. Rondônia. Machadinho do Oeste. Eu queria saber se ainda vai sentar com
as comunidades indígenas e explicar como você estava fazendo, o levantamento do histórico e
demais coisas dentro da terra indígena, porque até agora nós não fomos consultados se vai atingir
as terras indígenas e se a gente vai ter alguma compensação se por caso chegar a atingir a nossa
terra.
Paulo Nascimento: Deixa dar uma explicação rápida. Tudo que eu falei aqui diz respeito aos
estudos de inventário. Os estudos de inventário não tratam de uma usina só, eles tratam do
conjunto das usinas e num grau mais superficial, onde a gente conhece o conjunto da região.
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Agora, para se tratar de usina específica, é na etapa seguinte, que é o estudo de viabilidade, aí sim
você vai conhecer com muito mais informações aquela região onde vai ter o reservatório ou não
da usina; o que as comunidades ali querem como compensação de mitigação dos impactos. Então
eu não posso, hoje, nesse momento, te falar o que está acontecendo no sítio onde se pretende
construir Machadinho, inclusive eu nem sei em que estágio está. É PCH?
Heliton: É no município de Alta Floresta. Eu estou falando do rio Machado, que é um rio grande,
maior, que está prevista a construção da barragem também.
Paulo Nascimento: Eu trouxe algumas informações comigo e vou procurar saber, depois eu te
explico especificamente sobre isso se eu tiver condições nesse momento.
Presidente Márcio Meira: Ficou então acertado isso: depois ele pode dar explicações mais
detalhadas sobre esse empreendimento específico. O próximo é o Caboquinho e por último o
Titiá.
Caboquinho: Dr. Paulo, eu costumo dizer que o povo indígena não é contra o desenvolvimento.
Nós queremos participar junto com vocês e eu acho que está chegando essa hora, essa
oportunidade, porque são vários projetos e nós vamos ter que encarar de fato. Então eu acho que
antes de tudo nós temos que ser parceiros aqui. Eu acho que essa junção é que vai prevalecer no
futuro. Agora o que eu fico um pouco em dúvida é que existem vários projetos desse nível,
principalmente quando se fala em desenvolvimento. Enquanto que a comunidade indígena,
quando procura um projeto para se fazer um desenvolvimento, nós somos barrados numa
burocracia total. Essa é a nossa preocupação. Eu digo isso, mas frisando aqui a minha área, área
Potiguara, pela criação de camarão. O doutor vai ter o prazer hoje de conhecer a questão da
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cassinocultura nossa. Erramos? Erramos porque não sabíamos como era todo o processo da
questão ambiental. Esse foi um dos erros nossos, mas ao longo dos anos, eu diria que ao longo de
quase dez anos que a gente vem lutando para ver se a gente consegue legalizar isso aqui,
principalmente porque nós somos... Nós já temos o nome de Potiguara porque potiguara significa
comedor de camarão. Isso está sendo uma das barreiras nossas aqui para o desenvolvimento
Potiguara, porque o Ibama agora está exigindo o EIA RIMA. Tem que ter o EIA RIMA. Eu sou
favorável que tem que ter o EIA RIMA para fazer esse levantamento do impacto ambiental. Mas
a minha preocupação é essa: é que quando o governo quer fazer ele faz, quando a classe social
quer fazer é barrada por várias burocracias que existem. Só isso.
Paulo Nascimento: Eu não posso falar nada. Eu acho que a burocracia deveria de ser vista pelo
lado positivo, ou seja, a burocracia para facilitar as coisas. Mas a burocracia aqui no Brasil não é
assim, de um modo geral, a grande maioria dos casos não é assim, é uma mentalidade
cartorialista, ou seja, tudo tem que passar pelo cartório, tudo tem que ser com firma reconhecida,
mesmo que a lei diga que não precisa mais. Então tem toda essa burocracia que dificulta muito.
No caso específico, essa é uma questão mais estadual do licenciamento do Ibama. É nacional
então [...]
[Problemas na gravação]
Luis Titiah: [...] uma reunião agora dia 28, está previsto três dias, e vai ter a presença da Funai
também. Eu queria saber da Funai e do Ministério Público também o que a gente vamos ter de
resposta em respeito àquela comunidade que não aceita.
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Presidente Márcio Meira: Em primeiro lugar, eu acho que é importante a gente lembrar que do
ponto de vista da legislação ambiental e da legislação indigenista nós temos aí no Brasil uma das
legislações mais avançadas, tanto a legislação ambiental quanto a legislação indigenista, só que
ela tem algumas lacunas ainda. No caso dos recursos hídricos ainda é uma lacuna. Não temos a
regulamentação ainda, então como não tem a regulamentação nós temos que seguir o que diz a
Constituição. O que a Constituição diz é o seguinte: que exploração de recursos hídricos dentro
de terra indígena não pode enquanto não tiver uma regulamentação. Então a posição da Funai é
seguir a regra constitucional e as regras infra-constitucionais, que é a posição não só da Funai, é a
posição que tem que ser seguida por todos os membros da nossa sociedade. Aquela comunidade
que se sente vulnerável e ameaçada, e muitas vezes a nossa experiência diz que a comunidade
não quer exatamente porque ela não tem nem elementos para fazer um juízo se realmente ela
pode ou não querer aquele empreendimento ou aceitar ou não aquele empreendimento. Então a
nossa posição é no sentido de que a comunidade seja plenamente informada previamente sobre
todas essas iniciativas e por isso que eu acho que a CNPI está cumprindo um papel importante
porque nós estamos vendo aqui o Ministério de Minas e Energia, por exemplo, trazendo todas as
informações. Eu acho que ainda tem muita discussão que precisa ser feita. Não é uma discussão
ainda completa, eu acho que ainda precisa... Nós estamos iniciando um processo digamos assim
de conhecimento, de avaliação clara, mais clara sobre esses empreendimentos. Eu mesmo teria
várias perguntas a fazer para o Dr. Paulo e que o nosso tempo está dificultando, mas, por
exemplo, eu queria perguntar para o Dr. Paulo se dentro dessa perspectiva geral que ele coloca, a
gente vê que a Amazônia é a principal reserva energética e nós estamos vendo, ontem nós vimos
isso, que a maior parte dos empreendimentos estão fora do PAC inclusive muitas pequenas
centrais hidrelétricas, eu ia perguntar para ele: é realmente necessário a gente ter essas inúmeras
centrais hidrelétricas se a gente poderia ter fontes mais racionais de energia? Essa é uma pergunta
que eu queria fazer. Inclusive fora da Amazônia, ampliando a nossa matriz energética na região
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Sudeste? A pergunta que eu ia fazer, uma pergunta meio comentário aproveitando essa pergunta
do Titiah é: eu sou da Amazônia então eu me sinto também como amazônida, se o país fizer uma
opção de que essa reserva, que é a que nos resta ser explorada, da mesma maneira como ela foi
explorada no século 17, no século 18, no século 19 e no século 20, o que nós vamos ver é a
quarta geração do colonialismo na nossa região. Na primeira era o colonialismo português depois
o americano e depois o colonialismo interno brasileiro. Então quer dizer, a matriz energética não
pode ser só hidrelétrica, claro que a hidrelétrica é importante e necessária, agora e as outras
fontes de energia? Elas não podem ser também aplicadas na região Sudeste e Sul que é onde há
um maior consumo de energia no Brasil? Por exemplo, só para concluir a pergunta. Aquilo que a
Pierlângela falou e eu acho que também o Hellinton falou. Na Amazônia, a população não só
população indígena, não tem acesso muitas vezes à energia que é produzida lá. Aí, por exemplo,
uma pequena central hidrelétrica lá em São Gabriel da Cachoeira que é necessária porque a
própria população indígena que é majoritária quer que seja construída, essa não foi construída.
Quando nós estivemos lá com o Presidente Lula no ano passado a população indígena em massa
da cidade cobrava do governo do presidente a construção da pequena central hidrelétrica de São
Gabriel da Cachoeira, porque lá o diesel é queimado para produzir energia para a população local
ameaçando inclusive a segurança... A balsa que leva o diesel pelo rio Negro pode causar um
acidente, poluir o rio Negro que é um tesouro da natureza, então quer dizer, a gente vê essas
coisas. Essas perguntas que eu faço são perguntas que a gente vê algumas questões que parecem
contraditórias. Por exemplo, lá uma PCH é necessária e importante, agora aquelas PCHs na bacia
dos formadores do Xingu que ontem a gente viu, até que ponto são necessárias se a gente pode ter
uma ampliação da matriz energética? Então são perguntas não de um caboclo perguntador como
tem lá o caboclo perguntador, não é o Caboquinho não, mas perguntas da Funai, da instituição
Funai, porque nós temos preocupação com essa questão, quer dizer, como disse o Caboquinho, a
nossa perspectiva é desenvolvimento sim, mas vamos ter inteligência para fazer um
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desenvolvimento que não seja predatório e neo-colonialista também. Essas perguntas todas eu
queria fazer. O procurador também pediu para que ele faça comentários, então eu gostaria que o
procurador pudesse fazer esses comentários em seguida a gente passa para as respostas... Ou o
senhor queria responder logo?
Paulo Nascimento – Ministério de Minas e Energia: Eu queria terminar a minha participação
me desculpando por uma impropriedade que eu cometi aqui. Eu percebi logo depois e fiquei com
o mico na mão, mas eu queria pedir desculpas a todos os representantes aqui presentes da
comunidade indígena que eu chamei a comunidade indígena e as comunidades normais e não
existe isso, são as não indígenas. Vocês me desculpem, mas eu não estou acostumado com a
terminologia e por isso eu falei sim. Vocês me desculpem.
Presidente Márcio Meira: Se o senhor puder colocar o microfone na horizontal porque senão
não conseguimos ouvir direito. Assim como está.
Paulo Nascimento: Eu queria agradecer a oportunidade da participação. Essas perguntas, essas
questões colocadas por você agora são questões que o próprio setor já tem uma preocupação
enorme, até porque sobre todos os temas que eu falei as PCHs não são consideradas, no
inventário PCH está fora, é um processo de licenciamento por parte da ANEEL que nem chama
licenciamento é autorização e é uma autorização pontual. Então, o que a gente estava falando
ontem, a construção de PCH é muito semelhante a um processo de especulação imobiliária que
existiu nesse país durante muito tempo, ainda existe, mas não tão intenso quanto existiu há dez
anos. Mas é especulação pura, é uma ação predatória e isso no setor elétrico já é quase um
consenso, pelo menos do pessoal de meio ambiente esse consenso é total. Muito obrigado.
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Presidente Márcio Meira: Eu gostaria então de fazer uma pergunta final. Eu estou falando aqui
porque eu também estou considerando as perguntas que foram colocadas pela bancada indígena e
eu me sinto responsável também. Até que ponto a ANEEL e o setor elétrico podem, em que
medida a ANEEL e o setor elétrico podem fazer, por exemplo, para combater essa especulação
imobiliária de PCHs, porque senão fica o famoso empurra. Não podemos deixar isso, eu acho que
ser for possível para o setor energético, a partir dessa reunião aqui, refletir sobre essa questão das
PCHs, sobretudo, essas que estão aí soltas, digamos assim, seria muito positivo. Eu acho que já
seria uma medida muito positiva e que tenho certeza que é racional do ponto de vista de garantia
também das necessidades nossas de energia.
Paulo Nascimento: Essa iniciativa já está sendo tomada. É considerada não só importante como
prioritária e acho que o movimento em torno dela está recrudescendo. Eu espero que em breve a
gente já comece a ter resultados a respeito disso.
Presidente Márcio Meira: Obrigado Dr. Paulo. Procurador.
Procurador Duciran Farena: Eu só vou fazer um pequeno comentário a respeito da observação
do Caboquinho - nesse caso do viveiro de camarão nós fizemos o seguinte: requisitamos à Funai
que faça o estudo de impacto ambiental desses viveiros, porque antes a Funai estava discutindo
com a Universidade Federal que tem profissionais capazes de fazer o estudo e tinha uma questão
de pagamento e ficava naquela coisa e o estudo não saía. Então para cortar logo essa conversa eu
fiz uma requisição para que a Funai faça o estudo que vai permitir a regularização desses viveiros
de camarão. Agora é preciso também ter certa cautela porque o viveiro de camarão é uma
atividade considerada uma das atividades mais predatórias que existem sobre o mangue; até
porque ele de um modo geral implica a supressão daquilo que era a vegetação natural. Então
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claro, o ideal, falando em termos ideais, seria que o Potiguara voltasse a encontrar o camarão no
mangue e não tivesse que fazer um viveiro, que na verdade vai servir de consumo para
restaurantes de João Pessoa e Natal.
Capitão Potigura: Eu marquei uma audiência agora de manhã com o reitor para o administrador
regional e alguns criadores de camarão e o cacique geral participar no dia 25, às 17 horas para
discutir esse problema.
Presidente Márcio Meira: Só complementando, procurador, a Funai instruiu, eu falei
pessoalmente com o reitor da universidade instruindo já uma solicitação à universidade e tivemos
o apoio da Procuradoria no sentido de que a universidade, junto com a Funai, façamos um estudo
de impacto ambiental para que essa questão seja resolvida. Eu queria passar adiante a nossa pauta
informando que o horário que eu falei há pouco de 11 horas, que o pessoal teria que ir ao banco, a
gente conseguiu com o gerente do banco para estender um pouco mais o prazo hoje,
especialmente por causa da nossa reunião aqui. Então o horário de saída passou para as
11h30min. Então nós temos uma hora e cinco minutos ainda para que a gente tenha a
apresentação do Delegado Fernando Segóvia da Polícia Federal. [Intervenção fora do microfone].
É que tem questões da bancada. Então o que está combinado é o seguinte pessoal: às onze e meia
da manhã nós vamos fazer a paralisação dos trabalhos e vamos retornar às 2 horas da tarde em
ponto. Eu vou passar agora a palavra para o Delegado Fernando Segóvia, que vai trazer para nós
o próximo tema, que é a atuação da Polícia Federal nas operações em terras indígenas, que
foi solicitada pela Subcomissão de Justiça Segurança e Cidadania. Eu passo a palavra para o Dr.
Fernando Segóvia.
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Fernando Queiroz Segóvia - Polícia Federal: Bom dia a todos. Agradeço primeira a
oportunidade, presidente, de comparecer nesse fórum no qual a Polícia Federal muito se honra de
vir aqui neste momento. Eu acho até, senhor presidente, que tudo tem seu momento certo na vida,
chega na hora certa. Com muita felicidade no ano passado eu comecei a me envolver com a
questão dos crimes contra as comunidades indígenas. Até o início do ano passado eu era só o
Chefe do Serviço Nacional de Armas, controlava todas as armas do Brasil, importação e
exportação de armas, e fui convidado na realidade a assumir um cargo maior dentro da Polícia
Federal e comecei a ver a questão dos crimes contra as comunidades indígenas. A grata surpresa
foi a assunção do senhor logo em seguida como presidente da Funai, o que até pela própria
empatia que o senhor tem vem agradando e melhorando a visão, e aí sim a gente tem que
começar lá atrás e até coloco isso dentro da Polícia Federal na corporação, deixar bem claro que a
visão que a gente tinha - e que a gente tem e que a gente vai precisar ter para combater bem os
crimes contra as comunidades indígenas no Brasil. Há muito tempo atrás, porque na realidade
quando estudei na minha escola os livros - e todos você sabem muito bem qual era a História do
Brasil que a gente estudou - a grande maioria de nós estudou na História do Brasil um
colonialismo, na realidade a questão indígena você nem vê, você não sabe nada dela, você passa
na realidade a questão dos índios sendo colonizados sendo integrados e aquela política toda que
foi ensinada para todo mundo na escola. Hoje eu fico até feliz porque a minha filha que tem dez
anos de idade está estudando e um dos livros dela, o livro de História, você vê uma das perguntas
do dever de casa que estava no livro era: qual a visão da população indígena frente àquele
colonialismo naquela época? Começando a suscitar dentro da cabeça das crianças qual a visão
que você teria se você fosse o colonizado... E aí eu ensinei a minha filha, imagine você estando
num país, você está aqui, vive bem, você tem o seu modo de viver, tem a sua vida daquela
maneira, aquele meio social e de repente vem alguém para te conquistar, para te matar, para
tomar o que é seu. Então a visão que você vê nas pessoas, e na própria polícia, a integração
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nacional tão prolatada só que tão pouco utilizada, a gente vê o agravamento dessas tensões
sociais e dessa conjuntura social chegar à polícia. A polícia é o último esteio, na hora que chega
na polícia é porque tem um problema social, então quando eclode o problema da sociedade
normalmente chama-se a polícia. Então a gente até brinca na Academia Nacional de Polícia que
nós somos realmente o último momento, quando está tudo em crise, já tem morte ou já tem
conflito é que você chama a polícia e a gente tem que resolver normalmente questões sociais que
poderiam ter sido resolvidas anteriormente.
Então a visão que eu tenho hoje dos policiais federais, isso a gente colocou e eu já
expliquei até o meu ponto de vista para o presidente da Funai, Dr. Márcio, uma visão de quem
estudou sobre aquele tipo de matéria, que aprendeu junto com a sociedade aquela visão quanto à
questão indígena que a gente vai ter que mudar. Com isso até essa questão dentro da Polícia
Federal a gente vê que ela é muito difícil porque normalmente as pessoas, os outros delegados, os
policiais que a gente têm dentro da corporação, eles já vêem até com certo preconceito essa
questão de encarar a atividade policial quando é relacionada à questão indígena. Por quê? Porque
no nosso passado nós tivemos conflitos com várias populações indígenas, a visão dos policiais e
na visão errada da maneira de gestão policial e a gente tem que achar como gerir essa situação.
Na realidade o que a gente tem? A gente tem até que ir para o campo internacional, onde graças a
Deus a gente conseguiu participar de alguns fóruns onde você estuda a atuação policial frente às
minorias, sejam elas as mais variadas minorias. Um dos exemplos da atuação policial em
minorias que eu acabei estudando foi a questão, por exemplo, da Irlanda, da Irlanda do Norte,
onde a minoria são brancos católicos. Então o que acontecia? A polícia de lá normalmente
agredia muito os brancos católicos, ela era mais agressiva. Quando a questão era dos protestantes
não, a polícia era feita só de protestantes. O que acontecia? A polícia, nessa visão, quando eram
brancos católicos chegava descendo o porrete e aí é que via a questão que era uma minoria. Você
tinha que saber como integrar essa questão da polícia na atuação dessa minoria que era branco
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católico. Como fazer isso? A mudança dessa perspectiva toda vem de uma conscientização muito
maior e essa conscientização dentro da corporação policial ela passa desde a sua formação dentro
da corporação, tanto que eu já inicialmente... até comunico ao senhor presidente que já está
confirmada a sua palestra. Tem uma nova turma de delegados da Polícia Federal, são quatro
turmas, aproximadamente 150 delegados da Polícia Federal que estão em curso de formação em
Brasília e só falta marcar a data da palestra que o senhor vai dar lá na Academia Nacional de
Polícia e estamos muito honrados com a sua participação lá. Esse é um dos nossos projetos,
inclusive um deles é que nós temos uma matéria dentro da Academia Nacional de Polícia que é
dada em 4 horas/aula, para você ver o tamanho do nosso currículo, que é justamente a questão
dos crimes contra as comunidades indígenas. Só que aí você pega uma pessoa que normalmente...
Eu cheguei até para dar aula lá, imagine eu que não conheço quase nada da questão indígena
chegar para dar aula para os policiais, quer dizer, você pega alguém que não tem a visão do
problema e ainda vai ensinar como combater algo se você não tem a visão sobre o problema.
Então na realidade você vem no eixo de falta de aprendizado e como enfrentar isso. Também faz
parte desta perspectiva até a assinatura de um convênio, não sei qual será a melhor maneira de
fazer porque a minha idéia é convidar professores ou quem sabe até qualquer um professor que
conheça da questão indígena nesse país, pode ser qualquer um que for indicado pela Funai que
possa ir na Academia Nacional de Polícia explicar para os nossos novos policiais como é a visão
das comunidades indígenas, uma das minorias nacionais, tem várias minorias, são os
homossexuais, tem a questão do negro, então tem várias minorias que a gente tem que aprender a
trabalhar, a polícia tem que aprender a trabalhar com minorias nesse país. Como uma das
minorias, os índios, são uma minoria nesse país, a gente tem que aprender a trabalhar. Nessa
perspectiva a gente vai fazer tanto esse curso de formação com a participação de professores que
vão ser indicados pela Funai através desse convênio, uma segunda perspectiva que eu estou
tentando fazer junto a Funai é um acordo, fazer seminários regionais, seminários em cada um dos
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estados do país aonde a gente vai conhecer cada uma das comunidades indígenas, de preferência
vou pedir que as comunidades indiquem representantes para participar desses fóruns que levem
essas questões num fórum que de repente a gente pode marcar que o melhor lugar para fazer esse
fórum, Polícia Federal, comunidade Wapixana, nós podemos fazer na tribo de repente, um fórum,
uma palestra, quem vai palestrar vocês vão escolher. A idéia é que a gente mude essa perspectiva
de como trabalhar porque a melhor maneira de você trabalhar, falando policialmente com uma
comunidade, é quando você está integrado à comunidade, ao tão prolatado e tão falado
policiamento participativo, policiamento comunitário, onde você trabalha junto com a
comunidade. Você conhece a comunidade, a realidade daquela comunidade e aí você vai aí sim
aplicar as leis do Estado. Nós temos um problema até da cultura, como um policial ele tem uma
visão sobre a nossa legislação nacional e que não conhece muito a questão de relacionamento.
Ontem eu estava lendo um dos livros que o presidente estava aqui mostrando que estava
discutindo a questão de regras sociais, onde eu li uma das decisões que tinha sido do STF, da
Justiça Federal, onde a pena de um índio que tinha matado outro indígena tinha sido o banimento
da tribo e teria sido aquela aplicação. Lógico que na nossa visão enquanto legalistas, enquanto
nacionais do Direito brasileiro, Direito brasileiro único nesse território nacional, a gente não vai
poder aplicar as regras sociais que vocês querem em determinados fatos que para a comunhão
nacional é crime. Então a gente não pode, e é até bom que a gente tenha essa discussão para que a
gente possa deixar claramente que a polícia não pode simplesmente em determinada situação
social fechar os olhos. E aí é que vem as questões de enfrentamento. Até para a gente conhecer a
realidade daquela comunidade, conhecer as regras sociais daquela comunidade, para que a gente
possa melhor aplicar as leis brasileiras junto com a comunidade, porque sem a comunidade
também não existe segurança, a tão prolatada segurança pública que todo mundo é conhecedor.
Segurança na realidade é um estado. Um estado o quê? Um estado psico-mental do sujeito que
ele se sente seguro, então se você só se sente seguro você pode estar no meio de uma guerra só
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que você pode se sentir seguro. Agora, você pode estar aqui neste local e estar morrendo de
medo, com uma insegurança danada, porque você, na sua percepção como ser humano, se sente
inseguro. Então a segurança é uma coisa muito complicada de você gerir e dar segurança para
outra pessoa. A gestão da segurança é uma coisa muito difícil, mas no nosso trabalho da Polícia
Federal a idéia é a gente tentar construir todo um novo trabalho em cima dessa nova visão, aí sim
policial, na questão da minoria, que seria minoria indígena nesse país, para que a gente construa
uma polícia participativa, uma polícia como se diz comunitária. A idéia já foi até colocada na
Roosevelt, a gente vai tentar agora implementar com o João Batista, que é o coordenador da
Funai, o início de um trabalho com a polícia participativa, onde a gente espera que a própria
comunidade coloque até alguns indígenas para participar com a gente na fiscalização da
exploração ilegal de minérios na área indígena, e talvez até de madeira também. Então a idéia que
a gente tem é a consciência da unificação para que a gente possa junto fazer essa segurança em
todas as áreas indígenas do país.
Essa é a percepção do futuro. Isso é o que eu estou prometendo, é o que a gente
está colocando. O novo Diretor da Polícia Federal já concordou comigo. A gente está planejando
essa mudança toda porque se a gente for puxar para o passado a gente tem vários erros. A gente
tem que assumir os erros que cometeu, até para que a gente possa crescer e progredir e mudar
através daqueles erros. Nesses erros agora, vamos dizer assim, nós temos que começar a acertar, e
um dos acertos que a gente tem com a Funai é começar a questão da Raposa Serra do Sol que foi
perguntado ontem pela Pierlângela. A operação Upatakon III que estamos gerindo, ela já
começou, pode falar que já começou porque já começou mesmo. Tem alguns fatores que nos
atrapalharam ao longo do ano passado, e o maior problema até hoje foi político para você
começar a operação. Dentro da política ontem foi resolvido o orçamento da União e que é um dos
fatores, pois sem dinheiro realmente não se faz nada nesse país, principalmente polícia, sem
dinheiro não tem como fazer polícia e segurança pública nesse país. Então a gente vai colocar o
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mais rápido possível um plano em ação. Tem uma série de providências que já estão sendo
tomadas, tanto que vocês já sabem, foi falado pelos cantos lá, tinha a perspectiva e realmente
chegou até a notícia de que haveria um acordo entre o Presidente da República e o governador, só
que isso não acontece. Nós vamos fazer a operação, que já está em curso, então pode ser passado
para toda a comunidade que o mais rápido possível nós estaremos tirando todos os não índios da
reserva indígena; e isso se Deus quiser com apoio de vocês, porque aí a gente começa uma nova
participação, até dos índios, da área que possam trabalhar conosco. A idéia é fazer uma reunião
bem ampla lá em Roraima para que a gente possa discutir até como a gente vai fazer esse
planejamento, para que vocês tenham a ciência e a consciência de como vai ser feita à operação.
Numa área indígena daquele tamanho não tem como a polícia em dois dias tirar todo mundo. A
gente vai ter que programar e planejar como sair de um lado ou do outro, começa pela fazenda
dos arrozeiros ou não, isso é questão de estratégia policial, até de como fazer a coisa para que não
haja conflito. Uma das missões também da polícia é que não haja conflito, tanto que a Polícia
Federal muito se orgulha dos planejamentos, que na realidade a gente passa quase um ano sem
dar um tiro, porque quando a gente vai atirar realmente a gente tem dentro da visão da Polícia
Federal que os nossos homens não podem morrer. Ninguém quer morrer, então quando um
policial federal vai sacar a arma e atirar é para matar, então por isso que a gente não atira. A
Polícia Federal normalmente não atira e se atirou é porque teve alguma coisa errada ou foi
alguma coisa mal planejada. Então a gente planeja tudo para que não haja uma agressão, para que
não haja morte porque a morte é o pior dos momentos numa operação. Ou vocês acham que para
um policial é muito bom você ver alguém morto porque você deu um tiro? É lógico que não é.
Todo mundo tem família, todo mundo tem filhos e amigos e ninguém quer ver ninguém morto.
Então a gente tem que planejar de tal modo e está sendo feito nesse sentido para que não haja
conflito. Eu ouvi as palavras de uma alta autoridade que estaria até tentando intermediar essa
negociação da saída dos arrozeiros; ele sabia que de repente um dos arrozeiros lá, o mais
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prolatado deles, no dia que for feita a operação ele nem vai estar lá, mas tem medo que alguém
que ele contrate vai acabar tomando um tiro, porque aí realmente o policial não vai morrer. Ele
vai dar um tiro para matar se alguém vier para cima dele. Então a idéia... Isso a gente coloca em
todas as reuniões, quando você coloca uma operação policial você põe uma força policial no
meio de um embate, de um enfrentamento forte, você pode ter certeza que vai ter alguma coisa
ruim. Quando chega ao momento de haver conflito pode sair morte e lógico a gente tem que
colocar isso e eu coloco isso claramente quando a gente faz operação ou planeja uma operação.
Você tem que por a consciência inclusive nos diretores, nos dirigentes neste país e nos políticos
que quando você usa uma força policial letal você tem que perceber que o evento morte pode
acontecer. Essa pessoa tem que saber. Então o nosso planejamento na Raposa Serra do Sol é para
que não haja nada, é para que no último dia da operação a gente feche com um laço de ouro em
volta e entregue a terra indígena para os legítimos donos que são os índios da região. A idéia é
essa: que todo mundo saia no último dia e fique lá o pessoal para plantar, fazer um projeto junto
com a Funai de desenvolvimento sustentável para a região e aí todo mundo viva feliz para
sempre. A idéia é essa. Só que não vai ser bem assim, lógico, a gente sabe que tem os conflitos
sociais e a Polícia Federal vai voltar a atuar lá dentro no futuro, seja para alguém vendendo
bebida, seja para alguém explorando ilegalmente a terra indígena. Tudo vai acontecer e a gente
quer a partir daí mudar essa visão da polícia frente às questões indígenas. Acho que é muito
melhor depois de dar esse recado do que a gente projeta para o futuro e da resposta da Raposa
Serra do Sol, senhor presidente. Eu vou abrir então a palavra, deve ter várias questões, várias
perguntas e aí eu acho melhor começar a respondê-las. Muito obrigado.
Presidente Márcio Meira: Obrigado, delegado Segóvia. O primeiro que eu vi foi o Marquinhos,
depois a Francisca, o Caboquinho, o Titiah. Na seqüência para perguntas. Da bancada
governamental por enquanto não vi nenhuma manifestação.
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Marcos Xucuru: Bom dia. Marcos Xucuru. Eu quero desde já, enquanto membro dessa
comissão, parabenizar o Delegado Segóvia e a subcomissão por fazer o convite para participar
nesse momento dessa Comissão Nacional, que é extremamente importante que de fato nós
tenhamos a Polícia Federal como nossa aliada no sentido de solucionar diversos problemas que
acontecem nos territórios indígenas, tanto internamente quanto externamente. A iniciativa que o
nobre delegado coloca a sua visão, sua perspectiva para a construção de, digamos assim, do
processo de formação dos profissionais, dos policiais que vão atuar nas áreas indígenas. Eu acho
que isso é importante e diria que inédito porque até hoje a situação que nós temos enfrentado e
falando especificamente da minha situação é muito complexa. No estado de Pernambuco nós
temos sofrido bastante em relação à questão da atuação de membros, não vou generalizar, mas de
membros da Polícia Federal que têm agido de forma imparcial dentro da comunidade. De
maneira que a gente tem colocado isso na questão da criminalização de lideranças. Quero dizer
por conta dessas atuações ocorridas no território Xucuru, onde já houve vários assassinatos. O
cacique Chicão, filho do pajé, ou seja, até 2003 foram 6 assassinatos ocorridos no território
Xucuru. Inclusive o atentado que sofri e os dois jovens que estavam comigo foram assassinados.
Estranhamente e aí só colocando um pouco, eu já conversei com o senhor lá no Ministério, eu
quero registrar nos anais dessa reunião as preocupações que nós temos ainda futuramente. É de
conhecimento a questão ocorrida em Xucuru. A influência de agentes externos com interesses
políticos e econômicos dentro do território, na questão que se diz respeito do turismo religioso
dentro do território Xucuru, com isso causou uma situação de alguns membros da comunidade
onde foram cooptados por membros externos que causou uma suposta divisão e a partir daí houve
todo um confronto. Não confronto de embate, mas confronto de diálogo de tentar resolver a
situação. Houve a conivência na época inclusive da Funai, algumas pessoas contribuíram com
isso e foi muito complicado, resultando no atentado que sofri e a morte de dois companheiros.
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Resultou que nessa situação específica de vítima eu passei a ser réu no inquérito policial, só não
fui preso no dia seguinte porque foi um caso que repercutiu. Foi logo no momento que o
Presidente Lula tinha assumido e mandou uma comitiva a Pesqueira e graças a Dra. Raquel e
outros membros do Ministério da Justiça que estiveram lá na ocasião eu não fui preso. Mas quero
dizer que a visão que alguns membros da Polícia Federal naquele estado têm em relação ao povo
Xucuru é uma relação de desconfiança e eu quero deixar isso muito bem claro. Eu
particularmente não tenho confiança na ação da Polícia Federal naquele estado, porque é uma
visão que eles têm diferente, por isso essa iniciativa de fazer seminários, conversar com eles e
inclusive saber a legislação. Como vocês, na sua capacitação, no seu processo de formação vocês
têm contato com a legislação, sabem como é que funciona; então seria bom se no currículo desses
profissionais pudesse estar um tema específico da questão da legislação indígena como um todo e
saber dos direitos garantidos, inclusive conhecer as formas de organização sócio-político de cada
povo, a diversidade que existe no nosso país. Então eu acho importantíssimo poder avançar nesse
sentido.
Só para registrar que houve um assassinato ano passado, que foi um desses
membros, dessas pessoas. Houve um banimento quando houve o atentado, houve uma reação por
parte da comunidade e expulsaram essas pessoas que estavam ligadas a esse grupo, foram
expulsas da comunidade, resultando recentemente em um membro desse grupo que está lá
embaixo na cidade hoje e a Funai estava tentando realocar em outros espaços e ele foi
assassinado. Tinha outros envolvimentos, foi preso em Recife por questão de aliciamento de
menores, estava com menores na rua e essa questão toda; e o cara terminou sendo assassinado na
entrada da aldeia no território Xucuru. Com isso as primeiras investigações que foram feitas foi
em cima das lideranças, minha e do Agnaldo, que é uma liderança e vereador do nosso povo,
dizendo que nós seríamos os mandantes do assassinato desse camarada. Quem acusava? Aqueles
índios que estavam embaixo que saíram. Em momento algum a Polícia Federal chegou para ouvir
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a versão nossa lá em cima. Em momento algum. Quando de repente foi uma surpresa com a
prisão de uma liderança nossa que inclusive nós tivemos que contratar, estamos gastando
dinheiro por conta disso, só para o advogado acompanhar o inquérito policial foi R$30.000 que
ele cobrou. Nós estamos arrecadando esse dinheiro na comunidade e aí o que acontece? A gente
consegue uma liminar e retira ele. Quando foi antes de ontem eu recebi a notícia do Ministério
Público Federal de que foi concluído o inquérito e o Ministério Público Federal novamente pediu
a prisão preventiva dos três. Um já está preso, o Agnaldo, que é a outra liderança, segunda-feira
tem uma audiência que a juíza pediu. Então a gente tem uma situação específica no estado de
Pernambuco e Dra. Débora já sabe disso e boa parte do Ministério Público. A relação também
com o Ministério Público Federal naquele estado é complicadíssima para a questão indígena, a
gente não tem diálogo com o pessoal porque tem essa visão. Eu não sei o que acontece. E hoje
inclusive membros da Justiça, como juízes, também têm essa visão. Entrou num barco todo
mundo e agora a gente fica nessa sinuca de bico o tempo todo tendo que se defender em vez de
estar tentando defender os nossos interesses, trabalhando em projetos na melhoria da qualidade
de vida para a comunidade, tem que estar se defendendo o tempo todo por conta dessa situação.
Eu só queria registrar isso e quero parabenizar a iniciativa e o que a gente puder ajudar nesse
sentido nós estamos aqui dispostos. Quero dizer que se tiver algum índio que de fato cometeu
alguma ação nesse sentido de tirar vidas ele claro tem que ser punido, agora uma coisa que eu
jamais vou deixar de falar e cobrar é colocar pessoas inocentes na cadeia. Isso eu jamais vou
admitir.
Fernando Segóvia: Não há nenhuma resposta porque não houve nenhuma pergunta, mas eu
gostaria de fazer um comentário a respeito da sua fala. Hoje a visão da maioria dos policiais
frente à questão indígena no país é muito preconceituosa, ela é carregada dessa carga toda de
preconceitos e de ações que a gente só vai conseguir quebrar através de uma mudança de
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paradigma, onde hoje eu tenho, de um lado, isso a gente colocou claramente na reserva
Roosevelt, que estava pintado o quadro, você via de um lado os índios com medo da polícia e do
outro lado os policiais com medo dos índios. Isso acontece hoje em quase todos os locais. Esse
medo, esse receio do trato da questão é tencionado cada vez mais porque toda vez que a gente
chega para fazer uma operação numa área indígena você leva o policial e a maioria dos policiais
está carregada por esse medo. Não é um medo de morrer, não é nada disso, é o medo até do
enfrentamento dessa questão, do mesmo modo que os índios hoje também têm medo do
enfrentamento quando se fala de Polícia Federal, dependendo da comunidade, porque tem
comunidade que a gente se relaciona bem, têm outras que nem tanto. Então na realidade a gente
tem que quebrar esse paradigma do medo e começar... eu digo que através até desses seminários
nós vamos chegar num ponto, como eu disse na reserva Roosevelt: nós temos que apagar, desse
momento em diante, nós temos que começar um relacionamento novo, o relacionamento só se
consegue com confiança, então nós temos que começar a montar novos elos de confiança e
confiabilidade entre a comunidade e a polícia. A função da polícia é proteger a comunidade. No
momento que a polícia está afastada da comunidade não tem como ela proteger, aí ela começa a
agredir a comunidade. Então a gente tem que voltar a ter esse elo de ligação.
Em Pernambuco a gente vai ter que refazer, reconstruir essa confiabilidade através
de seminários, através de encontros, através de conhecimento da questão indígena. Então nós
vamos ter que reconstruir isso tudo. É a proposta que a gente está levando não só para
Pernambuco, mas para vários estados do país, por isso que a gente quer o mais rápido possível
começar esses seminários e é por isso que eu trouxe aqui a questão. O presidente da Funai, Dr.
Márcio, me pediu que viesse aqui hoje justamente até para propor isso na comissão, de a gente
criar essa nova parceria entre a minoria indígena e a Polícia Federal.
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Presidente Márcio Meira: Só para fazer um comentário também. Eu comentei com o delegado
Segóvia ontem que ele colocasse essa proposta aqui publicamente, porque a gente já tem
conversado sobre isso e seria interessante que a CNPI, que o plenário da CNPI avalizasse, quer
dizer, que a gente pudesse ter essa legitimidade também da CNPI para a gente firmar esse
convênio. A idéia é que a gente tenha um convênio entre a Funai e a Polícia Federal, um
convênio amplo que inclui uma série de possibilidades, e o gesto inicial é essa ida minha para dar
uma aula sobre a questão indígena no Brasil lá. Mas a idéia é que inclusive indígenas possam ir
dar aulas, palestras, também para os policiais nesses seminários regionais. Então eu só estou
complementando porque é uma decisão, e isso é uma coisa interessante também. A Polícia
Federal e a Funai são órgãos do mesmo ministério, que é o Ministério da Justiça, não é outro
ministério qualquer é o Ministério da Justiça. Eu e ele nos perguntamos como a Polícia Federal e
a Funai, que são dois órgãos do mesmo ministério, nunca fizeram convênio para se aproximar,
dialogar, então é por isso que eu estou reiterando isso. Eu acho que é importante, a gente gostaria
muito de ouvir da plenária da CNPI também essa posição de apoio de legitimar esse convênio e
esse trabalho que a gente pretende começar agora a desenvolver.
Fernando Segóvia: Inclusive, Marquinhos, esse convênio seria até como você mesmo propôs,
quem vai dar aula sobre a questão dos direitos indígenas, questão indígena no país, seria, por
exemplo, qualquer um de vocês. Até mesmo você pode ir lá dar essas aulas para nós e aí sim
mostrar a questão dos direitos indígenas, como ela é encarada pela comunidade. O que a gente
quer é justamente isso, o que foi proposto dentro da Academia Nacional de Polícia e nesses
seminários todos. Nessa parceria quem vai apontar quem vão ser os professores que vão dar aula
na Polícia Federal vai ser a Funai, porque tem que ter esse elo governamental, mas nada impede
que o presidente da Funai coloque qualquer um de vocês para dar aula lá na Academia Nacional
de Polícia. Para nós vai honrar porque aí sim a gente vai poder conhecer a situação, conhecer a
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realidade através de quem conhece e não através de um outro policial que de repente tem essa
percepção errada do problema e passa isso para frente.
Marcos Xucuru: Só para registrar uma questão que eu esqueci e peço permissão à companheira.
Nesse caso específico, o sobrinho, esse rapaz cujos tios foram assassinados e estão fora também
da comunidade. Hoje vivem numa região próxima a uma cidade vizinha. O que aconteceu? Um
deles se envolveu, estupraram uma criança de 16, 15 anos lá nesse local onde eles estão vivendo.
A família, que é dessa cidade Poção, que fica próxima da aldeia, não registraram queixa, nós
tivemos informação, e tem quatro pessoas da família andando atrás deles que querem conversar
com eles. Que tipo de conversa são essas? De repente esses caras são assassinados e aí vão dizer
que fomos nós novamente que mandamos matar o cara. Então eu só quero registrar isso para
salvaguardar essa situação e que possa vir a ocorrer. Inclusive nós tivemos uma reunião de
lideranças sábado e vamos conversar com os advogados, vamos registrar isso e ver de que
maneira nós podemos encaminhar isso para que a Polícia Federal ou a Justiça Federal tenham
conhecimento desse caso, para depois que houver uma situação como essa não recair novamente
a culpa em cima das nossas lideranças.
Presidente Márcio Meira: A próxima inscrita é a Francisca.
Francisca Pareci: Bom dia a todos e a todas. Francisca Pareci. Mato Grosso. Bom, Dr.
Fernando, o que eu vou perguntar para o senhor um pouquinho o senhor já colocou, mas eu
queria assim dizer, por exemplo, no caso do meu estado, o Mato Grosso. Eu sou de um estado em
que as relações entre o poder e os povos indígenas nunca foram amigáveis. Elas são toleradas,
mas não amigáveis, mas o lema lá que nós temos que corre nas comunidades indígenas em
relação à Polícia Federal é de que primeiro a Polícia Federal mata e aí vai perguntar quem é o
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cidadão. E isso não é só com os povos indígenas. Eu já vi cidades pequenas em que primeiro se
dá porrada, bate no camarada, esfola o cara e aí vai perguntar quem é você. Então isso aí nós já
colocamos inclusive em vários momentos para o Ministério Público, eu já conversei com o Dr.
Mário Lúcio uma vez sobre essa questão e ele ficou assim impressionado, mas essa é a visão que
se tem. Por outro lado nós temos situações onde os índios questionam, por exemplo, as
sociedades indígenas cada uma têm a sua própria lei e como, por exemplo, tem sua lei nativa,
interna da cultura. Eu vou ilustrar isso com um caso que aconteceu lá em Mato Grosso onde
houve toda uma mobilização da Polícia Federal no caso para se descobrir que matou esse índio.
Um índio, um professor que eu conheço, foi meu aluno no projeto Tucum, foi meu aluno no
terceiro grau, infelizmente por questões de envolvimento de cachaça, de bebedeira ele pegou e
numa briga com outro colega também professor acabou tirando a vida do outro e dentro da cidade
que eles estavam, eles tinham acabado de receber pagamento. Nisso aí a culpa foi para cima do
povo da cidade, os não-índios, foram acusadas várias pessoas que tiveram com eles numa
noitada, essas coisas. Mas aí o que é que aconteceu? É lógico que a comunidade se mobilizou, a
Funai foi lá e envolveu a Polícia Federal para ver, porque tem uma coisa também lá que é o
seguinte: os índios não permitem que entre a Polícia Militar, não tem vez lá, é PF, com todo esse
negócio eles preferem a PF mesmo. A gente chama assim: PF. Não é prato feito não. Mas é a
Polícia Federal. Aqui só entra Polícia Federal, que nós temos entendimento que o nosso território
é federal então não entra policinha qualquer não, essa policinha, com o perdão da palavra, não é
muito tratada lá por conta de que é pior que a PF. Nesse caso aí, o que aconteceu? Depois que a
polícia fez toda a mobilização e que foi investigar e descobriu que não foi cidadãos da cidade, do
município, mas sim o próprio indígena, um outro índio fez isso. Quando a comunidade tomou
conhecimento disso o que ela fez? Decidiu pela lei deles, pela lei da cultura deles a sentença que
caberia a essa pessoa, e a sentença foi a pior possível, que é a morte mesmo. Não tem jeito, no
caso deles pela cultura é a morte, mas aí a Polícia Federal teve que negociar para entregar o
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cidadão indígena para a comunidade e aí ficou aquele impasse: entrega ou não entrega, vai
entregar e ele vai morrer e tal, e teve uma negociação com a comunidade indígena de que a
pessoa não morreria, mas eles poderiam adotar outra sentença, que no caso desse é morte, não
tinha outra sentença conforme a cultura. E assim foi feito. Essa pessoa foi alijada de todo o
processo. Hoje é isolado, discriminado, qualquer coisa que ele fizer ele vai morrer, ele já sabe
disso. Nesse sentido eu gostaria de perguntar ao senhor como é que vocês pensam... Eu achei
interessante, muito importante o avanço que o senhor colocou aí em relação a essa nova visão da
atuação da Polícia Federal. Penso que é por aí mesmo e a presença indígena, a presença de
antropólogos também, que ajudam a clarear e esclarecer melhor como é uma sociedade indígena
vai contribuir muito nas ações da PF. Mas eu gostaria de perguntar para o senhor como é que
vocês vêem isso, nessa nova visão que vocês estão propondo de uma nova pedagogia de
formação para os futuros policiais federais, como é que vocês vêem essa questão das normas, das
formas de sentenças tradicionais que cada povo tem na sua comunidade? Tirando fora a questão,
lógico, de crimes oriundos da sociedade de brancos com indígenas ou vice-versa, mas eu digo
dentro da própria comunidade, porque aí eu acho que é uma situação em que de certa forma até
fica um impasse, porque como é que você vai prender o cidadão na própria comunidade e a
comunidade quer aplicar uma sentença... Foi isso que aconteceu lá, houve toda uma negociação e
o cara foi alijado, mas ele sabe que o dia que ele sair dali ele é morto. Aí eu acho que é uma vida
pior. Eu penso que é uma vida pior, mas ele sabe disso. Isso eu queria perguntar ao senhor,
obrigado.
Fernando Segóvia: Obrigado pela pergunta. Na realidade são duas. Primeiro: a nossa atuação e a
notícia que a senhora dá em relação a métodos que não deveriam ser utilizados pela polícia,
espancamentos, dar um couro no sujeito para que ele fale a verdade, aquela indução ao
depoimento, isso daí na realidade a gente abomina. Eu vou dizer a senhora eu já até denunciei
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colega por conta disso. O colega está na mesma sala que você, você está ouvindo o preso e o
colega está do seu lado ele passa e dá um tapa na orelha do sujeito. Na mesma hora peguei o
suposto colega, não posso chamar de colega, e levei para a corregedoria na mesma hora. Na
realidade isso é uma questão de postura policial e que não pode ser admitida, ela não pode ser
admitida, ela tem que ser coibida, ela ter que ser expurgada. Eu acho que o policial que faz esse
tipo de coisa não é polícia. Isso é polícia de 1500. Naquela época eles achavam que a
investigação criminal tinha que ser na base da porrada, o que não condiz hoje com a realidade
nacional que a gente quer propor. Até mesmo para você mudar a consciência da Polícia Militar se
chegar um dia na Polícia Militar você tem aquele paradigma e a gente sabe que o paradigma hoje
das polícias é o Polícia Federal; então desde o momento que você dá o exemplo você dá um
exemplo errado, você começa em cadeia todo um processo que as outras polícias vão fazer a
mesma coisa. Para a senhora ter uma idéia, nós compramos uma pistola importada para trabalhar
na Polícia Federal em razão de vários processos, inclusive proteção da indústria nacional bélica,
só de a gente ter comprado essa arma importada todas as Polícias Militares e a Polícia Civil estão
querendo comprar a mesma arma que a gente. Então a nossa postura em relação às várias
polícias, as polícias do país inteiro, ela tem sido o quê? De espelho. Todo mundo quer ser policial
federal. Quem é policial, quem nasceu policial e tem vontade de ser policial, se você perguntar
para uma criança ele quer ser policial federal, dificilmente ele diz: quero ser PM. Só se o pai é
policial militar ele tem idéia de ser policial militar. Então no momento que o policial federal tem
esse tipo de atitude na realidade ele está influenciando várias outras polícias ou outros policiais a
ter essa postura policial que realmente a gente abomina e tenta expurgar. O difícil, aí sim, é o que
a gente tem na falta de relacionamento, por exemplo, no Mato Grosso fica difícil da gente até
investigar, ou até fazer um inquérito dependendo do local e da comunidade, porque não há
confiança entre a comunidade e a polícia. Esse é o problema desse elo que você vai ter que um
dia voltar a uma polícia comunitária. Você só consegue voltar a ter segurança pública em
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determinado local se aquela comunidade confia na polícia que tem. Sem confiança na polícia
você nunca vai conseguir investigar nada. Isso você vê em máfias em vários países, onde a
polícia chega, todo mundo viu o cara morto no meio da rua, todo mundo viu quem atirou. Se
você chegar lá no Rio de Janeiro na maioria dos morros todo mundo viu quem matou, só que
nunca a comunidade vai chegar e vai falar: eu vi, pode botar meu nome aí. Eu vi que quem matou
foi o fulano de tal que é o dono do morro aqui. Nunca você vai ver isso, porque o cara vai morrer
amanhã a não ser que ele entre no programa de proteção à testemunha e a gente tire o cara de lá.
É o que acontece hoje no Brasil, que está começando a tomar essa consciência. Nós temos um
programa de proteção à testemunha onde a gente troca inclusive a identidade da pessoa, da
família inteira, a gente tira eles do local, recoloca em outro local, muda até o trabalho do sujeito,
dá um programa de qualificação profissional para ele. Hoje a Polícia Federal faz isso junto com a
rede PROVITA no Brasil inteiro. Então é com esse tipo de atitude, esse tipo de ação que a gente
vai conseguindo ter mais confiabilidade das populações. A idéia é que a gente crie a confiança a
tal ponto, e espero que o nosso superintendente hoje no Mato Grosso, eu quero apresentar ele à
senhora, ele é uma pessoa boníssima que foi colocada lá agora, Dr. Oslain, ele é sensacional. Ele
até esteve naquele dia que eu estive no Mato Grosso com você, ele estava do meu lado. Ele foi e
estava feliz da vida querendo conhecer a questão indígena e querendo apoiar, querendo trabalhar
a questão. Eu acho que a gente tem que marcar esse seminário o mais rápido possível. Pode até
ser no Mato Grosso o primeiro, para que a gente aproxime, comece essa reaproximação nacional,
para que a gente volte a ter a confiança da comunidade, possa trabalhar junto. Sem esse trabalho
conjunto a gente não vai ter nada nunca, muito menos segurança dentro das comunidades
indígenas no Brasil.
Presidente Márcio Meira: Caboquinho, depois do Titiah estão inscritos a Lylia, o Carlão, o
companheiro do Ministério da Justiça, o Dr. Duciran já tinha se inscrito faz tempo, e mais o
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Wilson Matos e o Danilo. Lembrando o seguinte, são 11h10min, daqui a vinte minutos a bancada
indígena vai ter que sair, então nós temos que ser rápidos... Pode ser assim? Então vamos fazer
agora um bloco de 3 perguntas e em seguida a gente passa para resposta.
Caboquinho Potiguara: Delegado Segóvia, eu vou mais na linha de quando vocês recebem a
tarefa de fazer determinada ação, principalmente na questão de reintegração de posse, quais são
as medidas que vocês tomam sabendo da diversidade, principalmente diversidade cultural? Essa
seria a primeira pergunta. Na segunda pergunta eu vou mais me direcionar a essa questão que eu
falei da diversidade, principalmente com os índios que ficam na parte do litoral, onde existe uma
prostituição muito grande, onde existe o tráfico de drogas muito grande e principalmente assaltos.
Eu me refiro aqui principalmente à minha área, que é uma área onde está existindo isso quase que
todo dia. Eu queria saber do senhor quais são as medidas. É claro que o senhor não vai dizer
como é que se faz o trabalho, mas pelo menos que a gente fique sabendo um pouco porque às
vezes eu me deparo aqui na minha área com policiais e às vezes eu como cacique não conheço o
trabalho que ele vem fazer. Qual essa relação entre a PF e a liderança da aldeia já que aqui na
Paraíba é diferente do estado do Pernambuco. Aqui nós temos uma relação muito boa,
aparentemente muito boa com a Polícia Federal, até através do próprio procurador, que tem
mostrado um trabalho muito bom também que vem se mostrando ser aliado nosso, até por conta
que nós tivemos uma reintegração de posse aqui e tivemos dez reuniões. Ele estava com um
mandato de reintegração de posse na mão e nós tivemos que negociar e renegociar e terminou
sendo ultrapassada e não teve a reintegração de posse.
Luiz Titiah: Bom dia. Luiz Titiah. Senhor Fernando, é o seguinte: de tudo que foi colocado aí
com a situação do companheiro Marquinhos, eu sou do sul da Bahia, lá da cidade de Ilhéus, o
senhor deixou bem claro na fala do senhor que o policial é preparado na ação só para atirar na
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hora necessária que for para matar. Eu desde criança que acompanho retomada e ocupação de
terra para a gente conquistar o nosso território e eu queria assim fazer uma pergunta - se quando
um policial federal vai para área e que ele dispara tiros pra cima da comunidade, ele será
disciplinado? Quando o policial também tem interesse, os latifundiários, ele pode ficar naquela
região atuando para dar proteção à comunidade indígena? Era essa pergunta que eu queria fazer e
a esperança que nós temos dentro dessa política do governo, eu notei aqui e eu vou passar para a
minha comunidade essa questão do seminário, mas eu queria, doutor, que o senhor fizesse,
mapeasse as regiões que estão mais com esses problemas específicos, igual na questão de
Pernambuco, nossa questão da Bahia, a questão que a outra companheira colocou e que junto
com a Funai, senhor presidente, comece já a trabalhar nessas regiões para ver se houve uma
mudança nessas questões do que o parente Marquinhos está passando aqui e outras comunidades.
Porque nós também na Bahia estamos enfrentando isso. A maioria dos policiais federais da
Comarca de Ilhéus eles são parentes dos latifundiários que têm terra lá no nosso território ainda e
quando vai para alguma ação... agora mesmo eu quero deixar registrado aqui que está lá a irmã de
Galdino naquela liminar que foi suspendida no final do ano passado, estão lá 40 pistoleiros
armados de um lado e está a família do Galdino do outro, com a comunidade, e a Polícia Federal
esteve lá junto com o administrador, o administrador quase ficava preso lá sem poder sair junto
com o chefe do posto e até agora providência nenhuma foi tomada. O fazendeiro, chamado Jaime
do Amor, está lá fazendo grandes barbaridades, pega pistoleiros que já têm processo na polícia,
bandidos perigosos e fica lá. Botaram as nossas índias para correr com todo desrespeito, tem cara
lá que já têm ordem de prisão e está lá na fazenda dele protegendo o lado do fazendeiro e
querendo acabar com o nosso povo. Eu queria ver que pé a Polícia Federal pudesse tomar para
resolver, porque até conversando com o administrador, ele chegou há pouco tempo, ele já sentiu
assim uma diferença quando ele passou lá em 83. Ele falou: Luiz Titiah, isso aí não é a polícia
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que atuava antes quando eu trabalhei aqui, então isso é muito problemático e eu queria ver assim
um caminho de resposta para essa situação.
Presidente Márcio Meira: O próximo é a Lylia.
Lylia Galetti: Bom dia. Eu imagino que o Wilson vá colocar a questão do Mato Grosso do Sul,
sobretudo Dourados, e até não sei como é que anda lá, porque no âmbito do comitê gestor das
ações havia lá uma proposta de se fazer uma força-tarefa junto com a Polícia Federal para ver a
situação de violência interna e contra os índios. De fora para dentro também. O que eu queria
colocar aqui primeiro é a iniciativa de dentro desse mesmo Ministério da Justiça que está
buscando um acordo de cooperação técnica para enfrentar essa questão da relação entre Polícia
Federal e as populações indígenas. Do ponto de vista legal, a Polícia Federal estaria muito mais
voltada para intervir de uma maneira que protegesse esses direitos e não se aliar com atores locais
principalmente, onde a Polícia Federal acaba sendo cooptada por essas pessoas e fazendo
exatamente o contrário do que deveria. Tem “n” casos. Mas eu acho que é muito promissor isso.
Acho que a questão da capacitação é chave, esse é um movimento que está acontecendo no Brasil
todo. A Polícia Federal, mesmo as Polícias Militares e Civis em alguns lugares, Rio Grande do
Sul, por exemplo, têm uma experiência muito interessante envolvendo a academia, universidade e
a Polícia Federal. O próprio Mato Grosso tem um núcleo de violência na UFMT que poderia ser
um ponto de referência para trabalhar isso. Mas eu penso que para além eu não sei se isso cabe ou
não no acordo de cooperação, no convênio ou o que seja o instrumento legal, que é identificar as
situações mais graves, exatamente essas onde a Polícia Federal faz o que não deve fazer pela sua
longa tradição, pela sua história. As forças repressivas historicamente já foram criadas para isso
mesmo. É o braço de repressão do Estado brasileiro e em função da nossa história sempre atuou
com raras exceções na repressão indiscriminada, sobretudo contra as populações pobres e aí
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entram todas as chamadas minorias, e o negro não é uma minoria, muito pelo contrário, é uma
população muito expressiva do ponto de vista numérico na sociedade brasileira. Eu acho que uma
coisa concreta que a gente poderia estar propondo, e aí juntando Polícia Federal, Funai e o
movimento indígena e a sua representação aqui, é a identificação de prioridades, porque o
problema é geral, amplo geral e irrestrito; quer dizer, em todos os estados brasileiros onde tem
área indígena tem algum tipo de problema, mas alguns são mais graves, mais urgentes, mais
imediatos. Caso de Roraima, caso Mato Grosso do Sul, provavelmente o caso de Pernambuco,
identificar isso para ter uma atuação mais concreta, porque só a capacitação ela é uma questão de
futuro, é básica, tem que vir mesmo, mas tem algumas questões que são muito urgentes,
emergenciais, que eu acho que deveriam ser tratadas no âmbito dessa nova relação que está se
estabelecendo entre a Funai e a Polícia Federal, a Polícia Federal e povos indígenas e Funai e
povos indígenas inclusive. É isso
Presidente Márcio Meira: Eu queria pedir que a gente objetivasse porque nós só temos dez
minutos, menos de dez minutos.
Carlos Nogueira: Eu não vou fazer uma pergunta só queria fazer um comentário e um
depoimento aqui. Primeiro parabenizar a Funai e a CNPI porque isso historicamente nem
acontecia, quer dizer, a presença do Superintendente da Polícia Federal vir falar, historicamente
no país não se tinha essa facilidade, mostrando a mudança de paradigma quando se tem confiança
entre as instituições. Eu costumo dizer que quando cheguei na Esplanada em 2003, o meu
ministério, que é o de Minas e Energia, e Minas não conversava com Energia e não participava
nem de reunião conjunta, o mesmo caso de vocês Funai e Polícia Federal e hoje no café da manhã
eu estava falando exatamente nos interlocutores que a gente tem hoje dentro do governo em
outros ministérios, da gente saber quem é quem dentro do ministério. Eu acho que isso aqui é
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mais uma prova da maturidade da CNPI, que é a comissão, na sua transformação para conselho,
está agregando valores a cada dia. Eu gostaria agora de dar o depoimento. O senhor sabe que eu
faço parte do GO que é o Grupo Operacional de desintrusão da Reserva Roosevelt, lá o artigo
231 está regulamentado e de 2004 tem um decreto presidencial para fazer a desintrusão. O que
implica isso? Entrar lá dentro e tirar tudo mundo. Se for para cumprir a lei, estritamente na lei, é
entrar e tirar todo mundo. E a evolução da discussão dentro desse grupo, em que a Yara esteve
presente em duas reuniões com a gente lá, inclusive com sugestão da gente de criar o GT que é o
Grupo Tarefa, na época nós discutíamos isso, de que só a operação policial ela não resolveria o
problema. Nós tínhamos que ter os outros entes que fazem parte desse trabalho dando suporte, oi
seja MDS, MDA, FUNASA, seja Ministério da Saúde seja o próprio Ministério de Minas e
Energia, com o Luz para Todos, para reverter todos esses problemas sociais que as comunidades
indígenas têm. E aí o meu depoimento é que a evolução de 2004 para cá no trato dessa questão,
com a entrada inclusive do Delegado Fernando Segóvia, a mudança da discussão. O senhor
esteve na última reunião ontem em Brasília, nessa discussão dos dois grupos se reunindo,
mostrando exatamente como é que está sendo tratada não simplesmente uma questão só de
repressão, mas sim uma questão de mudar realmente, de fato, uma atitude que vem sendo
praticada na ilegalidade. Eu gostaria de dar esse depoimento porque a gente sente. Depois eu tive
o prazer de viajar junto com o Delegado de Brasília para cá aí e a gente veio discutindo
exatamente essa coisa. A mudança da atitude simplesmente policialesca de chegar e executar e a
postura hoje da negociação, da discussão e qual o melhor momento e qual a melhor tática de se
fazer essa intervenção. Então é um depoimento que eu gostaria de deixar claro.
Presidente Márcio Meira: Aí já foram quatro. Então passamos para o delegado e em seguida
temos o procurador.
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Fernando Segóvia: Eu vou ser rápido nas respostas e ser o mais objetivo possível. Começando
com o que a Lylia falou. Na realidade eu acho que a Polícia Federal e essa parceria nossa, essa
operação entre Funai e Polícia Federal vai ser muito importante. Eu até peço, presidente, que seja
repassada a todas as comunidades que agora a partir deste fórum que levantem realmente esses
problemas e encaminhem o mais rápido possível à Funai e esta repasse isso para mim na Polícia
Federal; porque eu já marquei, em abril agora, no final de abril, provavelmente na última semana
de abril, eu vou ter uma reunião com todos os chefes de delegacia do Brasil inteiro em Brasília,
onde eu vou colocar a nova política em operação. Por quê? Eu vou mandar que todos eles agora,
e aí é ordem mesmo, modifiquem os erros que estão sendo apontados. Aí no dia que vocês
tiverem confiabilidade suficiente e que efetivamente haja essa confiança entre nós que vocês
possam inclusive se reportar direto à Presidência da Funai e esta me repassar casos como
cooptação de policiais, trabalho a favor de fazendeiros na reintegração de posse ou qualquer outra
atitude suspeita a gente ponha na corregedoria para investigar e se possível pôr para fora. É o
nosso trabalho de corregedoria que é muito forte. O policial sabe que a corregedoria da Polícia
Federal é forte, então uma das coisas que eu vejo até boas dentro da Polícia Federal é uma
corregedoria forte e autônoma. O nosso corregedor tem mandato, três anos, ninguém o tira. Então
o que acontece? Ele pode ser contra o diretor-geral não tem problema nenhum, ele investiga
qualquer um, inclusive o diretor-geral se for o caso. Então a gente tem denúncias diversas contra
vários policiais e se efetivamente... para você ter uma idéia, dentro do estatuto da Polícia Federal,
se o cara contrair dívida e não pagar ele é punido. Você não pode ter dívida que você não pague
porque você é punido como policial federal. Você é punido. Não tem quem possa ter dívida. Se o
cara comunicar hoje para a Polícia Federal que o cara está devendo, isso a gente recebe lá, o cara
alugou um apartamento e não paga, ele vai para a corregedoria, é punido, suspenso, se ele for
reiteradamente fazendo isso ele é expulso do quadro, ele sai da Polícia Federal. Só para vocês
terem uma idéia do nosso estatuto, de como é rígida e tem que ser a nossa conduta dentro da
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Polícia Federal. Para isso, já respondendo a vários dos anseios e questionamentos, eu quero
efetivamente que vocês apontem, haja essa confiança. presidente Márcio, que vocês encaminhem
suas reclamações e os problemas que estão aconteceu no país para que eu possa aí sim, de
Brasília, fazer uma reunião com todos lá ou chamar até individualmente um a um se o problema
for tão grande eu vou chegar individualmente e até propor dentro da corregedoria que seja
investigado aquele sujeito que está efetivamente sendo cooptado por uma ação ilegal. É difícil
essa questão, por exemplo, de Ilhéus, estamos trocando o chefe de lá, para vocês terem uma idéia,
vai ser trocado, está sendo convidado a escolher outro lugar para sair de lá, então a gente sabe
porque as pessoas relatam os problemas e a gente só descobre e tenta modificar o erro quando a
gente conhece o problema, então quanto mais cedo a gente puder mapear e a Funai conseguir
reunir isso e me mandar, se possível até o início de abril, para que eu possa traçar um
planejamento. Eu vou ter uma reunião nacional para tentar brigar por todos eles numa mesa como
essa onde eu ponho todos eles e aí vou pegar um por um e falar: vamos corrigir isso aqui. A idéia
é essa. Então se vocês puderem fazer eu agradeço e vamos tomar a primeira medida.
Reintegração de posse, o que a gente faz em reintegração de posse? Eu digo o seguinte:
até por mudança de paradigma, vocês viram a última ação de reintegração de posse nossa numa
terra indígena, que foi justamente a dos Pataxó Hã Hã Hãe no sul da Bahia, onde não houve.
Houve a reintegração dos fazendeiros que tinha lá? Na realidade hoje a nossa discussão a gente
tenta entrar em contato direto com a Funai, explica a situação, até para descobrir qual é a situação
porque, por exemplo, o juiz pode ter dado, o juiz que é amigo, parente, ter dado uma liminar em
primeira instância para tirar o pessoal da terra, só que o caso já está sendo julgado no STJ ou no
Supremo Tribunal Federal e aí ele chega para o delegado: - Por favor, dava para reintegrar a
posse aí? E o delegado: - Dá sim. Aí tem um pequeno problema, normalmente a delegacia tem
pouca gente, 20, 30 agentes, então ele não consegue fazer uma reintegração de posse. Ele tem que
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entrar em contato comigo que sou coordenador nacional e eu tenho que arregimentar gente do
Brasil inteiro para fazer essa ação, só que aí eu já entre em contato, já verifico a situação...
Presidente Márcio Meira: E foi exatamente a situação. No caso aí no passado essas
reintegrações não aconteceram porque nós fizemos um plantão, literalmente falando, plantão, a
Funai e a Polícia Federal e nós, às 2 horas da manhã, conseguimos no plantão da Justiça Federal a
liminar para suspender a ação.
Fernando Segóvia: Porque a gente sabia da situação da terra, já tinha feito contato com a Funai
para verificar a situação, o nosso pessoal já estava em deslocamento para lá...
Presidente Márcio Meira: Dr. Salmeirão, que está aqui, aliás, o Dr. Salmeirão foi quem ficou
até as 2 horas da manhã na Justiça para conseguir a liminar.
Fernando Segóvia: Outra coisa, vocês estão vendo que a nossa maneira agora de fazer uma
reintegração de posse está sendo um pouco diferente. Até mesmo a questão dos arrozeiros lá na
Raposa Serra do Sol, ela tem que ser planejada, tem que ser estudada milimetricamente, porque
os atores que estão envolvidos dos dois lados eles têm as mais diversas atividades de inserções
políticas no cenário; então dependendo de uma ação desastrada que você fizer, como foi na
Aracruz Celulose, no Espírito Santo, no ano retrasado, e um monte de tiro de bala de borracha, na
realidade o pessoal saiu machucado e poderia ter furado um olho e alguém poderia ter ficado
cego. Então o que acontece? Você pode evitar esse tipo de ação. Agora, você tem que saber como
fazer uma reintegração de posse, porque ela é uma ação social quase, então o que a gente discute
muito, por exemplo, o pessoal chega nas aulas da Academia Nacional de Policia e eu coloco isso
para todos alunos lá: aqui a única polícia que a gente está discutindo agora e você não sabe quem
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está do lado certo e quem está do lado errado, porque normalmente são ações muito mais ligadas
ao cunho social, então você não tem bandido. Você tem bandido, por exemplo, quando eu falo
em DRE, eu vou dar aula sobre drogas, na lei quem trafica drogas é bandido, mas aqui nessa
questão é muito mais uma questão social, onde você vai ter que ter uma decisão judicial, quando
acabou ali a sentença final, se não tiver mais para onde apelar efetivamente, a gente vai ter que
fazer uma ação. Então a gente vai ter que estudar melhor a maneira de fazer uma ação, para que
ninguém saia ferido, morto ou quebre um braço. Essa é a maneira normalmente que a gente vai
adotar nas questões de reintegração de posse. Crimes de prostituição, tráfico de drogas, extração
ilegal de madeira, tudo que você imaginar de crime que aconteça no Brasil inteiro principalmente
nas áreas indígenas, Operação Araribóia e várias outras operações que a gente tem feito, a gente
tem sentido que elas têm que ser o mais contidas possível. A Polícia Federal não tem efetivo
suficiente no Brasil para fazer operação em crime de prostituição, que seria uma atribuição da
Polícia Militar, mesmo assim de vez em quando a gente faz uma operação de exploração infantil
junto com a Vara da Infância e Adolescência. Então quando a gente tem a capacidade operacional
para fazer determinadas operações que não são efetivamente da Polícia Federal a gente está até
ajudando, fazendo até apreensão de carro de vez em quando; então quando a gente tem fôlego
porque várias são as atribuições da Polícia Federal, a gente consegue até fazer esse tipo de ação,
mas o que a gente vai precisar? Participação, confiabilidade entre a comunidade e a Policia
Federal no momento que você for indicar que tais pessoas estão prostituindo as nossas índias
aqui. Você confirma? Confirmo, eu já vi. A gente nem que não pegue o depoimento daquele
indígena [...].
[Problemas na gravação]
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A seguir se passou aos informes da Subcomissão de Saúde, cujo relator, Edgard
Magalhães/Funasa, informou que foram avaliados os encaminhamentos da última reunião,
aprovando-se proposta no sentido de que seja criada a Comissão de Regulamentação do
Subsistema de Saúde Indígena, com o objetivo de propor a reformulação ou o aperfeiçoamento
da política de saúde indígena. Em termos de abrangência e finalidade, deverá propor mecanismos
de regulemantação do subsistema de saúde indígena e reconhecimento de seu caráter especial,
incluindo temas como: autonomia administrativa e gestora dos DSEI; autoridade sanitária;
relacionamento com os demais gestores públicos, com as prefeituras; financiamento do
subsistema de saúde indígena (fundo distrital de saúde indígena); forma de execução da atenção à
saúde indígena (convênios, recursos humanos); impactos, formas de operacionalização e
andamento da portaria n. 2656/2006. Conforme explicou o relator, o grupo de trabalho consiste
na subcomissão de saúde, ampliada pela participação de um representante do Fórum dos
Presidentes de Condisi, um representante da CISI/CNS, de Caboquinho Potiguara e do
antropólogo do MPF de Alagoas, Ivan Soares. Foi definido como indicativo de data da primeira
reunião os dias 24 e 25 de abril, sendo a proposta que se realize em Alagoas, local oportuno
devido ao número de participantes do Nordeste que fazem parte da Comissão e para estarem
perto de realidade específica do estado de Alagoas. Edgard Magalhães informou ainda que houve
decisão judicial do TRT - 10ª Região (DF) que condenou a Funasa pela terceirização de recursos
humanos na saúde indígena efetuada por meio de convênios; esclareceu que a decisão obrigava a
Funasa a não prorrogar convênios e a não assinar novos convênios, permitindo que concluísse
aqueles que se encontrassem em andamento. No entanto, em acordo com o MPF, a decisão
judicial foi suspensa por 90 dias, cabendo à Funasa, no decorrer desse período, formular acordo
como MPF e MPOG com vistas à solução relativa à contratação de recursos humanos para atuar
na atenção à saúde indígena. O acordo, segundo informou, deverá ser composto por um
cronograma de concursos públicos para admissão de pessoal por parte da Funasa, sendo o relator
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favorável à contratação de formas distintas para o perfil de gestão do subsistema, via Lei 8.112, e
para o perfil de atenção à saúde indígena, via processo seletivo simplificado e vínculo pela CLT.
Ainda de acordo com o relator, não há detalhes sobre o acordo, pois virão a ser construídos ao
longo do prazo que se iniciou agora; avalia que provavelmente o acordo vai contemplar vários
momentos de seleção ao longo de 3 anos, selecionando funções na gestão e atendimento e
provavelmente, ao fim do período, ocorrendo a gradual substituição dos atuais convênios em
saúde indígena.
Ao final do relato, o membro da CNPI, Lindomar Xocó, manifestou-se, em
síntese, contrariamente à municipalização da atenção à saúde indígena, no que foi apoiado pelo
representante indígena Marcos Xucuru. Francisca Pareci perguntou aos membros da subcomissão
se haviam se lembrado de questões ligadas ao direcionamento de política e se haviam cogitado o
aproveitamento dos estudantes indígenas da área de saúde no que se refere às contratações.
Wilson Matos, por sua vez, questionou em que instância está a decisão, afirmando que uma
decisão judicial não pode revogar lei; Ak'Jaboro Kayapó solicitou que o presidente ou diretor da
Funasa faça visita à sua área para explicar sobre a portaria n. 2656 e a suspensão de convênios de
saúde, afirmando ainda que está com problemas, pois em sua região está sendo dito que a CNPI
está autorizando acabar com a Funai, construir hidrelétricas, passar recursos da Funasa para os
municípios; Hellington Gavião ratificou a fala de Ak'jaboro e propôs que o Ministério da Saúde
convoque seminário para esclarecer melhor a regulamentação do sistema, para discutir sobre a
portaria 2656, entre outros temas, afirmando que a CNPI não foi consultada antes de a mesma ser
publicada. Dirigindo-se a Edgard, questionou se os municípios são obrigados a assumir a saúde
indígena, afirmando que poucos são os que aceitam; José Ciríaco afirmou estar contemplado com
a fala de Chiquinha, questionando por que a categoria agentes de saúde indígena não foi
regulamentada, enquanto outras foram; Luis Vieira Titiah questionou a falta de ações para lidar
com problemas como HIV nas aldeias; Brasilio Priprá sugeriu que a Funasa disponibilize
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melhores informações sobre essas doenças nas comunidades; Pierlângela solicitou que na
próxima reunião contem com a participação de um membro da Subcomissão de Saúde na reunião
da Subcomissão de Gênero, Infância e Juventude, a fim de tratar de questões como o alcoolismo
e outros assuntos.
O presidente Márcio Meira afirmou entender que todos os comentários trouxeram
acréscimos às propostas da Subcomissão e não posições contrárias às mesmas, e nesse sentido
considerava que foram aprovadas; informou que o Planejamento Estratégico da FUNAI trará a
criação de um novo setor, chamado Coordenação de Promoção Social, que incluirá saúde,
assistência, entre outros temas, já tendo assumido a pessoa que será responsável pelo setor, a sra.
Irânia Marques. A seguir, passou a palavra para o relator, que se manifestou conforme a seguir.
Edgard Magalhães: Não são informes, são comentários em relação às várias perguntas que eu
acho que não poderia não comentar porque interessa a todos. Em relação ao Wilson, o
fundamento do processo não é a relação convenial, não é o convênio; não questiona o formato
jurídico convênio, questiona a finalidade e entendeu o juiz que a gente faz terceirização de
recursos humanos em vez de contratar diretamente pela Funasa e que a atividade desempenhada
por eles não é complementar e sim a Funasa está burlando a lei não fazendo concurso público e
usando convênios para contratar pessoal. Então esse é o fundamento da decisão judicial. A
instância foi o Tribunal Superior do Trabalho da 10ª região do DF. Que instância é essa? Em
relação à discussão da Portaria 2656, na realidade na quarta reunião ordinária da CNPI esse
assunto foi discutido, a subcomissão de saúde compareceu em reunião da CISI, juntamente com a
reunião da CISI, para discutir esse assunto. A CISI esteve em duas reuniões nacionais para
discutir esse assunto com a Funasa, então eu me oponho à visão de que não houve informação à
CISI em relação à portaria 2656. Agora, se isso foi suficiente para esgotar e para satisfazer a
necessidade de discussão do assunto, aí sim a gente pode concordar, mas o assunto foi trazido
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oportunamente aqui, na CISI, no Conselho Nacional de Saúde, nas várias instâncias que a gente
tem de acompanhamento. Agora, a necessidade de seminários estaduais regionais para discutir
mais isso, eu concordo, e o Ministério da Saúde, o Departamento de Atenção Básica juntamente
com o DESAI da Funasa está formando comissões para tratar disso regionalmente, porque as
dúvidas também estão ocorrendo por parte dos prefeitos. E uma coisa que a gente tem que deixar
claro é que a Portaria 2656 não é uma portaria de municipalização da saúde indígena, não
transfere responsabilidade sobre a saúde indígena para as prefeituras. A gente mantém a
responsabilidade sanitária da Funasa e faz, na Portaria 2656, a regulamentação de um recurso que
a gente já passa, tem cinco anos, para as prefeituras sem nenhum instrumento formal de
compromisso das prefeituras para esses recursos. Os 120 milhões que a gente repassa em
incentivos de saúde indígena, hoje de atenção básica, mais 40 milhões de atenção hospitalar, não
tem nenhum instrumento de pactuação com quem recebe esses recursos. A portaria 2656 vem
disciplinar esse recurso que já é repassado desde o ano 2000. Então não é recurso novo. A Funasa
se coloca ainda na condição de gestor da Política Nacional de Saúde Indígena, de responsável
pela execução nas terras indígenas; mas regulamenta esse dinheiro que já é repassado às
prefeituras e cria critérios para distribuição desse dinheiro, que é o critério populacional. E aí a
gente entra e encontra vários problemas, bastante acentuados, na forma de implementar esse
critério, que é a distribuição por população nos critérios que a portaria define. Aí sim a gente
precisa aprofundar essa discussão e ter as comissões estaduais. Eu concordo.
Tinha mais um assunto importante em relação à questão de HIV - Aids. A gente
tem, no nosso plano operacional, as ações desenhadas e um acompanhamento de todos os
soropositivos indígenas hoje detectados pelo serviço, por todo o serviço, inclusive o SUS quando
identifica que é indígena ele entra em contato com a Funasa para fazer o acompanhamento desse
paciente. Temos que ver caso a caso o que está acontecendo, a capacidade de operacionalização
em cada um dos distritos nessa questão que é bastante complicada. Mas eu proponho que na
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próxima reunião a gente envie para a comissão um informe com relação a isso, dando o estado da
arte dessa questão e aí a gente pode definir algum desenrolar em relação a essa ação. Obrigado.
Só mais uma coisa que é importante e que a Francisca perguntou, em relação à
contratação, o fomento da contratação do profissional indígena, a inclusão desse profissional no
subsistema de saúde indígena. E aí atendo também à pergunta do Capitão em relação a por que o
agente indígena não foi incluído na emenda constitucional 39 que criou a categoria dos agentes
comunitários de saúde. Do Programa de Saúde da Família. Não foi incluído na emenda
constitucional porque a gente não se mobilizou por isso, a discussão aconteceu por conta dos
militantes do PACS do Programa de Saúde da Família, e a gente perdeu o bonde. Agora, a
decisão judicial de colocar concurso público para a Funasa coloca para a gente a necessidade de
discutir a categoria profissional de agente indígena de saúde, porque a gente vai ter que criar
vagas para esses profissionais em processos seletivos, em concurso público e hoje a gente não
teria condições de colocar essas vagas porque não é uma categoria reconhecida. Eu acho inerente
a esse processo de discussão de um concurso público para a Funasa ou de vários concursos
públicos para o órgão, é inerente a isso o reconhecimento da categoria profissional de agente
indígena de saúde ou a sua inclusão como subcategoria do PACS ou qualquer alternativa que seja
viável juridicamente, mas que a gente tem que discutir. Essa discussão vai ser intensificada agora
por conta da decisão judicial do TRT-DF.
Presidente Márcio Meira: Eu passo a palavra para a equipe da Subcomissão de Planejamento,
Orçamento e Gestão.
Olga Novion: Boa tarde a todos. A nossa Subcomissão de Políticas Públicas, Orçamento e
Gestão se reuniu na terça-feira à tarde e foi constituída por Deoclides de Paula, Heliton Gavião,
eu Olga Novion, do Ministério do Planejamento, Celso Corrêa, da Casa Civil, José Maria da
Funai e como observadora Alda Carvalho, da AGU. A gente fez uma retomada da agenda interior
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e fez uma reorganização da agenda para dar consecução aos trabalhos. Ficou decidido que a gente
faria um levantamento sobre as ações que o Governo Federal tem dirigido aos povos indígenas
dentro dos programas do Plano Plurianual. Como a gente sabe o Ministério da Justiça e a Funai
têm um programa próprio da Funai e que teria todas as ações que incluem as atividades e projetos
da Funai nesse programa, mas não existem somente programas do Ministério da Justiça nesse
programa de povos indígenas, então nós fizemos um levantamento por alto de quais seriam os
outros ministérios e dividimos as tarefas entre nós para procurar quais são as ações, além do
MEC e do Ministério da Saúde, que outros ministérios teriam de ações de interesse da Funai. A
gente sabe que o Ministério da Cultura tem, porque tem uma Secretaria de Identidade e
Diversidade Cultural, que teria uma forma de apoiar ou de ter um diálogo com eles para
conseguir apoio para um monte de projetos eventuais; a Secretaria da Mulher, Gênero, Infância, o
próprio Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento, talvez o próprio Ministério das
Relações Exteriores, com artesanato, então nós vamos fazer um pente fino disso tudo para ver
aonde tem outras ações que cabem ou que seriam dirigidas aos povos indígenas ou a outros
grupos étnicos e a gente vai fazer esse levantamento e provavelmente na próxima reunião
traríamos para discutir e já mostrar para vocês. Por que nós vamos fazer isso manualmente?
Porque o Plano Plurianual de governo, a gente acompanhou no Ministério do Planejamento por
um sistema chamado SIGPLAN, mas esse sistema é só para ver as ações consolidadas. Cada
ministério tem um INFRASIG, o MEC, por exemplo, tem um que chama SISMEC, que cada
coordenador de ação vai colocando o que está fazendo e o que não está fazendo e como está
gastando e tudo mais, mas nem todos os ministérios têm esse sistema. A Funai, pelo que o José
Maria, comentou com a gente, estaria pensando em ter esse subsistema eletrônico para ser mais
rápido em tempo real, para a gente acompanhar, mas parece que esse sistema para a Funai ainda
vai demorar uns três anos para ser implantado. Outra idéia também é ir falar com Arthur e com o
pessoal da informática para ver se a gente cria, mas para essas ações que a gente detecte um
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sistema, alguma coisa para se fazer um acompanhamento. Quer dizer, eu estou entrando agora
aqui na comissão e estou querendo organizar e juntar isso tudo; porque se vocês vão ver os
programas de governo às vezes têm o dinheiro, mas o dinheiro está pulverizado em várias ações.
Os grupos ou as etnias ou as pessoas a quem seria dirigido não sabem e se sabem não sabem o
que se está fazendo com esses recursos aí colocados.
Outra coisa: a gente vai fazer um inventário de ações e vamos tentar acompanhar
através do sistema até que a gente mais na frente consiga ver como resolver esse problema.
Assim que eu acho que na próxima reunião a gente já deve ter algum resumo, alguma coisa para
mostrar para vocês. O segundo ponto da agenda, da extensa agenda que tinha e que a gente
levantou como de imediato, foi a ampliação das estruturas de participação dos povos indígenas na
definição dos projetos a serem implementados pelas unidades regionais da Funai. Isso aqui já
vem de antes, eu vou tentar ler porque eu me inteirei na reunião do outro dia. A subcomissão vai
documentar duas experiências apontadas por alguns dos seus membros como sucesso nesse
sentido, no sentido de definição de que projetos seriam implementados nas unidades regionais da
Funai. Seria na Paraíba, onde já ocorre a definição de aplicação de recursos do orçamento com
participação da comunidade, e no Rio Grande do Sul, com a experiência positiva de atuação entre
a coordenação da Funai e a Funasa com participação indígena. A partir dessa documentação a
subcomissão vai apresentar uma proposta de que essas experiências sejam levadas a outras
unidades regionais da Funai, lembrando que o sucesso desse processo de participação depende
também da capacidade das representações indígenas regionais de definirem propostas de
consenso para aplicação dos recursos e do controle social sobre a distribuição dos recursos. A
grande demanda de vocês eu acho que é uma espécie do que seria o orçamento participativo.
Tentar, pelo que eu entendi e conversei com o Celso, que as próprias organizações comecem a
interferir e onde querem que se coloque dinheiro e que priorizem quais são os projetos. Eu acho
que as entidades aqui teriam condições de fazer isso pelo que eu estou vendo aqui.
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O terceiro ponto: melhorar as condições de acesso às comunidades e organizações
indígenas aos recursos de editais e seleção de projetos que são lançados pelos órgãos públicos e
empresas do Governo Federal. Há muitas coisas que os ministérios lançam por edital que tem um
tempo para a gente apresentar interesse e há muitas coisas, por exemplo, os pontos de cultura são
lançados por edital. Essa seria uma coisa. Também teriam outras ações de interesse dos povos
indígenas que são lançadas por edital. Uma idéia que a Carmem deu é que às vezes esses editais
seriam um pouco não permissivos, porque pedem muitos documentos, porque pedem muitos
carimbos de cartório etc. Mas a gente combinou que poderíamos eventualmente ver uma forma,
por se tratar de grupos indígenas ou de comunidades indígenas, que tenham um tratamento
especial através de um acordo de cooperação entre o ministério que tenha um edital de interesse e
a Funai. Alguma coisa assim para que essa coisa também... Tem muito edital na área de cultura e
arte, muito edital de música, arte, inclusive tem o prêmio Culturas Indígenas que vocês já
participaram, então ver como essas coisas estão funcionando nos ministérios e trazer isso para
vocês e a gente acordar como vai manejar isso daqui para frente. Essa é a proposta que estamos
trazendo hoje para vocês aqui.
Presidente Márcio Meira: Francisca inscrita e Caboquinho.
Francisca Pareci: Dra. Olga, eu gostaria de perguntar à senhora e à subcomissão de uma
maneira geral em relação, por exemplo, a uma preocupação que nós temos com relação a alguns
programas que têm orçamentos específicos para as comunidades indígenas. Eu até comecei a
comentar com o Celso sobre isso. É uma preocupação da gente porque achamos muito importante
os programas, porque são específicos, apesar de ter algumas dificuldades, e precisavam melhorar
na formulação para as comunidades terem acesso e facilidade na elaboração dos projetos etc. Está
melhorando porque a gente está tendo diálogo com as instituições para isso, mas é uma
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preocupação que a gente tem porque temos percebido que o orçamento para esses projetos
específicos está diminuindo. E aí a nota técnica que o nosso companheiro Ricardo Verdun nos
mandou mostrou que em alguns setores, não todos, que houve essa diminuição, ou seja, pelo que
ele colocou o orçamento para a política indigenista diminuiu, em relação a 2008, comparando
com 2007 houve uma diminuição em algumas áreas. Eu queria que a senhora pudesse explicar
para nós o que está acontecendo... O companheiro está falando que seria de 16% mais ou
menos...
Presidente Márcio Meira: Seria interessante a gente pudesse ter acesso a essa nota técnica.
Francisca Pareci: Está aqui. A gente pode tirar cópia para entregar para vocês e vocês podem ter
um estudo melhor, mas o que eu queria colocar é assim: alguns programas, por exemplo, eu
participei da Carteira Indígena pela primeira vez como CNPI e para nós o programa é
extremamente interessante. Não só esse programa do MMA, mas o que a gente se preocupa é
com o seguinte: são programas, projetos, eu não sei como vocês chamam, mas assim: o que a
gente percebeu, eu posso até estar equivocada e gostaria de pedir a quem pode se manifestar para
me esclarecer melhor, é assim - a gente entendeu que são programas muito importantes para nós,
porque chamam a atenção das comunidades indígenas e dão possibilidade delas acessarem e
montarem seus projetinhos nas aldeias, atendem de uma certa forma geral. Por outro lado o
recurso é pequeno. E tem uma outra questão mais importante que a gente entende que no caso,
por exemplo, do MMA, do Ministério do Meio Ambiente, que há uma necessidade muito grande
que esses programas se transformem de fato em políticas permanentes; porque o nosso receio é
assim, é claro que tem a ver com recurso financeiro, mas o governo pode bancar agora e depois
não incentivou nada, não criou um dispositivo para que isso vire de fato uma política permanente
e o próximo governo que entrar pode decidir acabar. Então a nossa preocupação é isso: que
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projetos específicos que atendem à demanda da realidade indígena são poucos, mas projetos
maiores, empreendimentos etc, são muitos. Essa é a diferença. Eu estou dizendo isso porque já
teve liderança que veio questionar isso para mim e eu fiquei de calça curta, porque eu vou
responder o quê? Vou perguntar para a turma do orçamento. É uma preocupação que a gente tem
e eu gostaria de ver isso do ponto de vista do orçamento da subcomissão de vocês do
planejamento, de como isso é feito. Porque o que a gente quer é que, para o caso do MMA, por
exemplo, vire uma política permanente, que vai ser duradoura; entrou agora, sai esse governo,
entra o governo e permanece, e que aumente o recurso também para esse tipo de financiamento
ou então ela seja equiparada com outros empreendimentos que são feitos e que os índios têm
maior dificuldade inclusive para acessar. Obrigado.
Caboquinho Potiguara: Eu queria me referir principalmente a essas questões hoje desses
programas do PRONAF que vêm, no caso, trazendo vantagens e desvantagens. Qual a primeira
desvantagem? É um programa que não é designado, não tem a direção específica para os índios.
É um programa que qualquer um pode acessar. Dentro do PRONAF aqui mesmo na Paraíba a
gente tem um exemplo muito forte isso, foram 4 milhões de reais no ano passado para compra de
gado, no caso, e se fosse comprar 4 milhões de gado eu acho que a gente ia fazer um primeiro
andar para criar boi. E na realidade o que a gente vê são os bois de duas rodas. É dentro dessa
linha, porque não existe um acompanhamento, não existe uma coisa direcionada para a questão
indígena? A segunda coisa que eu levanto aqui é quanto à questão da política participativa. Nós
adotamos aqui durante esse tempo que Petrônio está aqui, há 9 anos que ele está aqui no estado
da Paraíba, e nós trabalhamos essa política participativa e foi daí de onde nós tiramos, não
querendo desprezar os nossos demais parentes, mas tiramos a chamada cooptação de lideranças.
Eu lembro muito bem que antes de adotar essa política quem levava mais dinheiro era aquele que
dava tapa maior. Hoje não, hoje nós trazemos para comunidade e nós criamos uma comissão de
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gestão, nós temos o conselho de liderança, dentro do conselho tiramos uma comissão de gestão e
essa comissão de gestão é quem delibera as prioridades das comunidades. Então se isso, pelo
menos 50% da população indígena funcionasse com orçamento participativo nós tínhamos um
ganho muito grande, presidente. Eu digo para todos vocês: a coisa aqui não funciona 100%,
porque a gente sabe que aqui e ali tem seus desvios, mas eu diria que 80% a gente superou e
muito disso daí.
Presidente Márcio Meira: A próxima é a Pierlângela, o Sandro, o Brasílio também, o Edgard e
a Lylia e aí a gente encerra.
Pierlângela Wapichana: Primeiramente eu quero parabenizar, pois agora aparece que a
subcomissão dá uma coisa mais clara para a gente. Eu acho que está um encaminhamento mais
claro, o que era uma angústia nossa, particularmente minha, de ver um encaminhamento mais
claro e eu acho que aqui a subcomissão está conseguindo dar um norte, um rumo para aquilo que
a gente estava solicitando. Então quero parabenizar pelo trabalho e esperamos na próxima
reunião estar com esses dados, principalmente porque foi aprovado o orçamento e nos preocupa
muito; e a gente tem discutido um pouco isso, a questão mesmo social, então um ponto que pouco
a gente tem discutido aqui dentro da CNPI é a questão social no que se refere ao que os povos
indígenas estão sendo atendidos na área social. Eu concordo com o que a Chiquinha coloca. Aí a
gente está preocupado também com a questão da Bolsa Família, dos programas sociais, do que
vai ter de recurso, essa divisão, como está sendo atendido, nós queremos acompanhar realmente
isso de perto, mais próximo dentro do orçamento, porque a questão, por exemplo, da Bolsa
Família tem um impacto direto dentro das comunidades indígenas e nós queremos saber quanto
vai ter de recurso, quais as famílias atendidas, um pouco essa questão mais relacionada isso. A
outra nossa preocupação que eu quero colocar e que também a Francisca colocou, mas no âmbito
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de todos os ministérios a questão do financiamento dos programas que têm para apoio aos
pequenos projetos das comunidades indígenas. E aí eu me refiro à Carteira Indígena e outras que
a gente tem acompanhado que a gente está fazendo uma avaliação em conjunto. Teve uma oficina
agora e a gente viu os resultados. Inclusive ontem nós comemos o beijú da casa de farinha que foi
apoiada aqui pelo projeto da Carteira Indígena, que é um recurso pequeno, mas que está dando
resultado só que está faltando; por exemplo, a gente viu que está faltando recurso para assistência
técnica e que deve ter em outro ministério, mas não se cruzam os dois projetos e acaba dando
problema nesse pouco recurso que está indo da Carteira Indígena, que é pouquinho, mas está
tendo resultado. Então a gente gostaria que cruzassem essas informações porque é justamente
isso. O que tem, por exemplo, na ATER, no MDA junto com a carteira indígena e o PDPI. São
esses cruzamentos de informação a que a gente quer ter mais acesso, até para a gente discutir essa
questão da área social e desse pouco que vai, mas que está tendo resultado porque isso também é
interessante para a gente discutir aqui na CNPI, resultados também. Muitas vezes a gente vê só os
mega empreendimentos, só PAC, mas aquilo que está no social não e a gente quer dar um pouco
de visibilidade também ao social e a esse atendimento porque nos preocupa muito,
principalmente na região Amazônica, que é distante, distante das questões, para chegar lá é muito
distante, e nos preocupa muito a forma que os prefeitos utilizam, por exemplo, do Bolsa Família,
tira porcentagem, tira uma série de coisas, os indígenas são os últimos a serem atendidos. Discutir
um pouco a forma também. A preocupação de ser uma política mesmo que a gente implante
nestes ministérios políticas na área social, realmente uma política discutida, que a gente possa
rever esses programas que estão sendo implantados aí. Era um pouco isso eu queria colocar.
Sandro Tuxá: Eu ia falar um pouco o que a Pierlângela já falou. Eu acho que tem que ser dado
um aporte maior de recursos para a Carteira Indígena, que chegou em lugares onde outros
projetos de governo não chegaram, a gente vê a atuação presente na Carteira Indígena nas
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comunidades, mas na verdade eu queria era fazer uma pergunta, um encaminhamento para você
me responder. Como a gente pode fazer com a questão do prêmio de cultura, que também seja
uma política adotada mesmo, não do jeito que está sendo, porque agora nós estamos para perder o
apoio da Petrobrás. A Petrobrás anunciou que não vai poder dar o apoio para 2008/2009, que é a
única, eu acho até que não entra no orçamento porque é um aporte...
Presidente Márcio Meira: É pela lei Rouanet.
Sandro Tuxá: Inclusive as organizações indígenas estão pleiteando fazer uma visita até a sede da
Petrobrás para cobrar e pedir o empenho deles para que eles não deixem de colocar os recursos e
a gente vê outras formas do programa continuar porque a gente não quer que ele não continue. Eu
acho que é uma iniciativa muito bacana, apareceram obras muito bonitas dos nossos parentes pelo
ministério, e outra coisa era essa, a questão de maior aporte para a Carteira Indígena e eu não sei
como daqui da CNPI a gente pode orientar o MDA. É o MDA que tem técnicos para trabalhar e
está fazendo esse trabalho junto com a Carteira Indígena e junto com o MDS, porque o dinheiro
da carteira indígena vem do ministério do Aderval. É isso.
Presidente Márcio Meira: O próximo inscrito é o Brasílio, depois a Lylia, depois o Edgard,
depois o Aderval. Vamos tentar objetivar porque são 4h15min da tarde.
Brasílio Priprá: . Eu já fui contemplado no que eu ia dizer, mas eu só gostaria aqui, Presidente,
foi um esquecimento na Subcomissão de Acompanhamento de Empreendimentos com Impactos
em Terras Indígenas. Eu gostaria só de deixar registrada aqui a necessidade do Ibama
acompanhar, talvez como ouvinte ou participante, também essa subcomissão, porque ele também
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pode ajudar a verificar isso, e a gente acabou esquecendo, mas eu queria deixar registrado aqui.
Obrigado.
Lylia Galetti: Eu acho essa subcomissão da maior importância, também estou feliz porque ela
agora, com a indicação da nova representante do Planejamento e com a vinda ainda do Fred,
como convidado permanente. Eu queria sugerir primeiro - a Funai tem uma comissão de
acompanhamento do PPA indígena que talvez devesse dialogar com a subcomissão de
Orçamento porque tem acompanhamento, embora seja precário, tem reuniões periódicas. Eu não
sei como está agora, como a ação da Carteira é recurso do PPA do MDS, nós não estávamos
participando dessa comissão, agora a gente vai pleitear essa participação, já deveria ocorrer,
porque tem duas ações no programa de etnodesenvolvimento, duas ações de gestão ambiental.
Uma de Gestão Ambiental Nacional que a partir do ano passado, final do ano passado, os
recursos passaram a vir para a Carteira Indígena; cerca de um milhão que vem mesmo para
fomento a projetos de gestão ambiental, cerca de 700 mil, e a Gestão Ambiental para Terras
Indígenas na Amazônia que é com dinheiro da cooperação técnica alemã, do KFW e da GTZ, na
cooperação técnica, em que a contrapartida do Ministério do Meio Ambiente também é muito
pequena frente ao que seria necessária. Mas uma das propostas, eu não sei se realmente é isso,
mas talvez seja interessante, já na primeira reunião dessa comissão da Funai, eu não sei realmente
quem está agora, quem coordena, porque ela reúne a Funai inteira, todos os programas do PPA e
quase todos os programas do PPA da Funai têm ações fora, em outros ministérios. A segunda
questão...
Presidente Márcio Meira: É um programa só agora...
Lylia Galetti: É? Que ótimo. Fica mais fácil.
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Presidente Márcio Meira: Você se lembra, em uma das de reuniões da CNPI eu trouxe e
apresentei o novo PPA, com aquele caderno...
Lylia Galetti: Foi uma reunião em que eu não estava. Eu não recebi.
Presidente Márcio Meira: É um programa, só que foi modificado.
Lylia Galetti: Uma proposta de encaminhamento é que de fato, e mais ainda agora que a Funai
tem uma nova estrutura, que cria uma Coordenação de Promoção Social, talvez seja um bom
momento para, nas próximas reuniões da CNPI, de convidar o Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, não só o seu representante aqui, para expor os seus programas e para
haver esse debate sobre a questão do Bolsa Família, das cestas, da própria Carteira Indígena, qual
é o futuro disso. Tem uma série de ações dentro do MDS, nessa linha de promoção social, que
talvez seja interessante que vocês, principalmente os índios, conheçam melhor os mecanismos,
como funciona etc. Por exemplo, no ano passado parte dos recursos da Carteira Indígena, mais
precisamente um milhão e meio que já estavam acordados com o MDS, foi solicitado pela
Secretaria Nacional de Segurança Alimentar para um edital dirigido às prefeituras, para projetos
indígenas, mas trabalho com as prefeituras e as associações indígenas participariam como
intervenientes. Algo assim. Estão presentes, acompanham, mas o recurso é a prefeitura quem faz
todo o projeto e gere isso. Pede-se que os projetos sejam elaborados desde o início com as
prefeituras, tem toda essa recomendação do Ministério, mas tem alguns problemas aí. Eu acho
que são 40 projetos no último edital e esse ano eles já não vão fazer o edital com prefeituras. Na
segunda Conferência de Segurança Alimentar foi votada e aprovada em plenário uma moção para
que a ação criada, que seria a primeira ação dentro do MDS, especificamente dentro do PPA do
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MDS, especificamente para povos indígenas, que era a promoção da segurança alimentar
indígena, um recurso que viria uma parte dele para a Carteira Indígena. Essa moção era para que
se mantivesse a ação do PPA como uma ação específica para a segurança alimentar indígena,
tendo em vista os índices de desnutrição e mortalidade infantil. Tinha toda uma justificativa para
isso: que a Carteira, junto com a CESAN, elaborou, fez a proposta - a CESAN, junto com o
grupo gestor da Carteira Indígena - mas logo em seguida, possivelmente por entender essa
questão dentro do quadro mais amplo de povos e comunidades, a ação, que era de 6 milhões por
ano, passou a ser de povos e comunidades tradicionais; não mais específica para a segurança
alimentar indígena, mas os 6 milhões permaneceram os mesmos, quer dizer, não houve alteração
de valor, embora o público a ser atendido seja muito mais amplo. Enfim, essas são as questões
sobre as quais eu acho que seria interessante um diálogo com o MDS, porque muitas vezes as
populações indígenas, principalmente na ponta, não entendem muito essa questão da cesta, como
é a distribuição. Eu acho que ficaria mais interessante e mais transparente.
Também talvez falar um pouco sobre a Comissão Nacional de Povos e
Comunidades, ter uma agenda social. O Aderval falou ontem aqui, ela não inclui os povos
indígenas porque tem uma agenda específica, mas é um recurso grande, um recurso alto e com
ações que diretamente poderiam beneficiar os índios, porque tem extrativismo e um bando de
coisa, mas ainda faltam algumas coisinhas. A questão do MDA, novamente, infelizmente não está
aqui hoje. Há um esforço do Ministério do Desenvolvimento Agrário, através do PPIGRE, que
parece que numa nova estrutura que está sendo elaborada para o MDA; vai acabar Programa de
Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia, na verdade é um programa ligado diretamente
ao Ministro e não é uma ação no PPA. Todo o dinheiro investido pelo PPIGRE para as
comunidades indígenas tradicionais vem da Secretaria de Agricultura Familiar que não tem
nenhum, nada específico para povo indígena; mas a gente agora conseguiu um único convênio
grande, que é aqui para Pernambuco, de 500 mil de apoio à assistência técnica para as
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comunidades já apoiadas pela Carteira Indígena, para tentar dar uma sustentabilidade para esses
projetos. E aí eu acho que é uma questão também que deveria se conversar com o MDA, no
âmbito da CNPI, de uma Comissão de Política Indigenista, como é que fica essa questão da
assistência técnica para povos dos indígenas dentro do MDA. Por fim concordar com o
companheiro Brasílio sobre a participação do Ibama na nova Subcomissão de Acompanhamento
de Empreendimentos.
Presidente Márcio Meira: Eu queria, antes de passar a palavra, a gente está com problema de
tempo, são 4h25min. O que está acontecendo? A gente entra no debate do tema da subcomissão
quando aqui o momento é: a gente concorda com o que foi encaminhado, se concorda ok, se não
há acréscimo, se não... Então eu queria reiterar que a gente objetive em relação ao relato e o
encaminhamento do relato da subcomissão. O Edgard e o Aderval. Depois, para finalizar, o
Celso.
Edgard Magalhães: Concordo com os encaminhamentos da comissão. Só gostaria de fazer uma
ressalva em relação à informação que a Francisca colocou sobre a nota técnica do INESC com o
nome “Orçamento 2008: governo reduz recursos de política indigenista”. Essa nota técnica me
parece que ela precisaria ser mais estendida e englobar o efetivamente aprovado e o gasto no ano
passado. Ela trata de quanto foi a proposta orçamentária do governo, de quanto o governo disse
que proporia para o Congresso aprovar como orçamento em outubro de 2008 e quanto o governo
efetivamente propôs ao Congresso esse ano. Tratam-se de duas versões de proposta orçamentária.
Não se trata de redução orçamentária, trata-se de alteração de proposta orçamentária. Quem
aprova orçamento para o governo executar é o Congresso Nacional, então não é o governo que
reduz os recursos da política indigenista. O governo alterou a proposta orçamentária porque,
todos sabem, a gente enfrentou no ano a não aprovação da CPMF, a prorrogação da CPMF e
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tivemos que reduzir 40 bilhões da nossa proposta orçamentária. Agora, quero fazer constar que
me parece, não conheço os números que foram aprovados anteontem no orçamento da União, na
próxima reunião a gente vai ter condições de averiguar isso, mas me parece que o Ministério da
Saúde não perdeu recursos nesse orçamento aprovado para 2008. A Funasa parece que não
perdeu, e parece que a Funai também não perdeu recursos. Não ganhou tanto quanto queria, mas
o título aqui da nota é inadequado e perdido no tempo, porque não representa um momento atual.
Presidente Márcio Meira: Aderval e depois o Celso.
Aderval Costa: Eu só gostaria de reiterar a importância do que a Pierlângela coloca sobre os
programas sociais, sobretudo sobre o setor criado na Funai de promoção social, e lembrar que o
Ministério do Desenvolvimento Social, que está no foco dessas ações, tem cinco secretarias. Uma
é de Renda e Cidadania, que trata do Bolsa-Família e também do BPC, que é o Benefício de
Prestação Continuada. A preocupação inclusive de que essa agenda comece pelo Bolsa-Família é
muito oportuna. Nós já sugerimos à Secretaria Nacional de Renda e Cidadania que a CNPI é a
instância para poder apresentar as estratégias de inclusão indígena, ou se vai ter consulta se não
vai ter consulta, como é que vai ser feito o trabalho de inclusão, se vai utilizar só as equipes dos
gestores públicos municipais para fazer o cadastramento ou se vai ter alguma outra estratégia
complementar de apoio. Porque normalmente é a prefeitura, os gestores públicos municipais que
operacionalizam o programa sob o ponto de vista de inclusão no CADUNICO, que é o Cadastro
Único dos programas sociais do governo e também de encaminhamento à Caixa Econômica
Federal para geração do Bolsa-Família no caso de atender às condicionalidades do programa.
Então eu acho muito oportuno. Além disso, tem a Secretaria Nacional de Assistência Social que
envolve todos os programas sócio-assistenciais relacionados à erradicação do trabalho infantil.
Naturalmente o trabalho aqui ao qual eu me refiro é ao trabalho escravo, forçado, o trabalho
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compulsório, não o trabalho [inaudível] e endógeno. Os centros de referência de assistência
social, que são centros multiusos de serviço sócio-assistenciais de orientação às famílias, que são
muito úteis, mas que não foram devidamente apropriados pelos povos indígenas, porque também
foram pensados e instituídos para contextos mais urbanos. Então um diálogo da comissão e da
Funai desse setor específico com os gestores dos programas poderia nos ajudar, a nós que
estamos no ministério, na construção de recortes diferenciados nos programas para atender mais
convenientemente aos povos indígenas. A Secretaria Nacional de Segurança Alimentar
Nutricional a que a Lylia já fez referência tem um atendimento às populações vulneráveis sob o
ponto de vista de segurança alimentar e nutricional, mas há outros programas e ações que
também são passíveis de serem acessadas e que não são nem do conhecimento de vocês. Então
seria muito oportuno que entrasse na pauta da Comissão, cada um por vez, porque é muito
extenso. São 27 programas que existem no ministério e são programas universais, se a gente vai
universalizar o direito a gente tem também que assegurar recortes diferenciados para populações
diferenciadas, no caso os povos indígenas.
Presidente Márcio Meira: A Olga e o Celso, primeiro o Celso depois a Olga, vão fazer os
comentários finais em relação a esses pontos.
Celso Correa: Eu só vou fazer um comentário de um minuto. Não vou gastar mais que um
minuto. Eu queria lembrar para a gente não perder o foco da Subcomissão cujo objetivo não é
resolver os problemas que existem na aplicação desses recursos ou aumentar recursos. O objetivo
da subcomissão é conseguir informações que permitam à gente detectar os problemas que
existem na aplicação do recurso e na dificuldade de acessar esse recurso, basicamente isso. É
produzir instrumentos de acompanhamento para que aí a CNPI, não a subcomissão, possa
reivindicar e atuar junto aos órgãos e fazer esse trabalho. O nosso papel é tirar essas coisas do
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armário escuro e colocar transparente em cima da mesa para a gente entender o que acontece e
poder atuar, mas aí atuar como CNPI.
Olga Novion: Indo nessa linha de raciocínio do Celso, eu quero informar a vocês que o Plano
Plurianual de governo tem mais ou menos 350 programas e vinte e tantas mil ações e projetos.
Portanto, para fazer uma garimpagem disso tudo como a gente está se propondo e que a gente vai
começar, vai ser devagar e artesanalmente, porque não temos instrumentos para fazer isso. Vai
ser um trabalho do Celso e meu, porque a gente dividiu um pouco os ministérios para fazer isso,
quando a gente tem tempo também, porque a gente também faz outras coisas além de trabalhar
para a Comissão. Agora, por outro lado, eu queria também pedir aos membros da comissão que
de alguma forma já que estamos todos no mesmo barco, a Lylia falou aqui de programas do
MDS, do MMA, de Carteira Indígena do MMA, que eu não conheço se é um programa ou uma
ação. Eu também tenho que me inteirar disso porque eu não mexo com todos os programas do
governo. Também se falou aqui que a Funai tem uma comissão indígena de acompanhamento do
PPA, eu também não estava sabendo disso, mas também seria uma coisa de grande valor
provavelmente para trabalhar com a gente. O que eu quero dizer é o seguinte: aqui eu acho que
está todo mundo trabalhando por uma causa só, então eu acho que todo mundo tem que colaborar
com o outro de alguma maneira, se nós estamos colaborando com as demandas dos
representantes indígenas eles também têm que me dizer: eu estou sabendo que tem uma ação
assim em tal programa. Aí a gente corre atrás e procura, mas precisamos também que vocês
ajudem a gente. Não só vocês como também o resto dos companheiros aqui que são do MDS,
MMA, e de todos os outros ministérios, além da Saúde e da Educação, que esses já estão mais do
que trabalhados. Eu acho que esses a gente não precisa nem entrar. Nós estamos procurando
outros ministérios e por isso eu falei MDIC, MRE e por aí vai. É só isso.
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Presidente Márcio Meira: Eu quero só, antes de passar adiante, aproveitei este momento aqui e
chamei aqui a Carmem. Vocês já viram a Carmem aqui desde ontem, então todo mundo já a
conheceu, mas eu quis trazê-la aqui agora porque eu acho que é o momento melhor para
apresentá-la. Eu falei há pouco que nós criamos na Funai a Coordenação Geral de Promoção
Social e que assumiu uma pessoa, que é a Irânia, que vocês conhecem etc., mas também, além
disso, eu chamei a Carmem, que está trabalhando na Funai também, ela trabalha em uma das
assessorias da Presidência, e a função dela, e por isso eu pedi para ela vir aqui, é exatamente a de
fazer a interlocução da Funai com os demais ministérios que têm algum tipo de ação no PPA
voltada para a questão indígena, sobretudo em relação à Agenda Social. Vocês lembram que o
Presidente Lula lançou uma Agenda Social, que deve ser cumprida até 2010, tem que ser
realizada. Por isso que eu chamei a Carmem aqui, para dizer para vocês que temos uma pessoa,
que é ela que tem essa função e, portanto, tem essa função também de fazer esse elo. Ela vai
participar sempre das reuniões da CNPI para ajudar nesse elo que vem desde o ano passado, esse
esforço que nós estamos fazendo. Quando nós fizemos o PPA juntamos um programa só, várias
ações do Governo Federal estão ligadas a esse programa do Ministério da Saúde, Meio Ambiente
e alguns outros, mas ainda temos que avançar nesse ponto. Eu queria aproveitar para poder
apresentar a Carmem oficialmente para os membros da CNPI.
Encerrados os relatos das subcomissões, eu queria propor o seguinte: pela nossa
pauta estaria previsto que o próximo ponto seria uma apresentação, que seria feita por mim, do
Planejamento Estratégico da Funai, mas eu queria propor que a gente invertesse isso. Que a gente
pudesse entrar agora logo na apresentação do Projeto Piloto de Registro Civil, porque eu acho
que esse é um ponto que vai requerer uma apresentação mais longa, se a gente deixar para depois
a gente vai estar mais cansado. Eu acho melhor que a gente ouça o pessoal da Secretaria Especial
de Direitos Humanos que nós convidamos e eles possam apresentar, elas possam apresentar, tanto
a Leilá quanto a Aldair, para a CNPI a proposta do debate, e aí em seguida a gente tem a questão
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do Planejamento Estratégico que eu vou apresentar. É uma apresentação muito rápida, na verdade
é um informe muito rápido. Temos que aprovar a nossa ata da reunião passada. Temos que
encaminhar um tema que não tratamos ainda aqui, que diz respeito à substituição do membro
indígena na Comissão do estado do Amapá, teve uma questão que foi reivindicada. Temos
também a questão que foi levantada em relação aos representantes do Mato Grosso do Sul que
nós temos que dar um encaminhamento. Então por isso pedi que a gente invertesse para depois
tratar desses assuntos que são assuntos pontuais, para que a gente possa dar encaminhamento a
eles. Então, diante do silêncio, eu acho que está aprovada essa proposta, que a Leilá e a Aldair
possam apresentar o trabalho da Secretaria Especial de Direitos Humanos, o Projeto-piloto de
registro civil de nascimento dos povos indígenas. Eu quero só informar a vocês que essa
proposta foi aprovada também dentro da Agenda Social, que o Presidente Lula priorizou e eu
conversei com o Ministro Paulo Vanucci, da Secretaria de Direitos Humanos, e ela já está sendo
considerada também por nós como uma parte importante dessa Agenda dos Povos Indígenas
também. Ela foi integrada, digamos assim, nessa agenda nossa dos povos indígenas, mas a Leilá
vai explicar melhor do que eu essa questão.
Leilá Leonardos, representante da Secretaria Especial de Direitos Humanos: Antes de
começarmos, aproveitando que está entrando no ar, eu já contextualizaria que a mobilização
nacional por registro civil de nascimento começou em 2003, entendendo que cidadania começa
com o registro civil. É aquele ato que outorga à pessoa nascida no território brasileiro um nome,
sobrenome e a nacionalidade. No caso dos povos indígenas, não queria que entendesse, quando
nós falamos registro civil de nascimento dos povos indígenas, que seja um registro diferente do
registro civil de nascimento de qualquer brasileiro. É o registro civil, é apenas uma estratégia de
ampliar o acesso dos povos indígenas ao registro civil em condições de dignidade. A Secretaria
Especial de Direitos Humanos não tem qualquer governabilidade sobre o Sistema Nacional de
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Registro Civil de Nascimento. Esse é um sistema delegado constitucionalmente, o poder público
delegou ao poder privado a atribuição de fazer registro civil no Brasil, com exceção de dois
estados que anteriormente já era o Poder Judiciário que o fazia, que era o Acre e a Bahia. No
momento o Acre já privatizou o seu sistema de registro civil, então o sistema de registro civil no
país é um sistema privado. Nós estamos articulados com a Corregedoria Nacional de Justiça e o
Poder Judiciário é quem fiscaliza o sistema.
É preciso que a gente olhe esse trabalho primeiro no enfoque dos direitos
humanos. Nós estamos trabalhando registro civil de nascimento no enfoque dos direitos
humanos, o direito ao nome e à nacionalidade, porque é onde começa a cidadania. Temos uma
legislação e eu queria destacar dela que o trabalho que fazemos de mobilização para o registro
civil dos povos indígenas está em consonância com o que dispõe a Convenção n. 169 da OIT
sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes. Essa é a curva do sub-registro no país.
Em 1999 nós tivemos uma campanha da saúde muito bem sucedida que fez cair o sub-registro de
nascimento, mas como as atividades posteriores à campanha não ocorreram, as ações intensivas
permanentes, as ações estruturantes não ocorreram, a curva subiu e depois veio decrescendo
progressivamente; mas estamos num patamar que é um patamar em que precisamos superá-lo e
trabalhar especificidades de público. Vocês vão ver isso. Esse é um mapa do sub-registro de
2005. Em 2005 nós vimos que a parte da Amazônia e do semi-árido brasileiro estavam com os
brancos de cidadania, esse é o mapa do sub-registro no país. No ano de 2006 nós estamos com
um indicador de 12,7% de crianças brasileiras nascidas vivas que não estão sendo registradas no
ano em que nasceram; e é o único dado sobre documentação civil que existe em termos de
estatísticas formais. Nós não sabemos o número de brasileiros não registrados e não
documentados no país. Nós não temos noção de qual a população brasileira que se relaciona com
o Estado brasileiro enquanto nós não tivermos incluída uma pergunta no censo demográfico sobre
a situação documental dos brasileiros; mas nós temos um estudo anual do IBGE apenas na faixa
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de nascido vivo/ano não registrado no ano que nasceu, dentro de todos esses estão também as
crianças indígenas. Mas as taxas de sub-registro, elas são muito altas em alguns estados, em
outros não. Percebam que Santa Catarina está com um sub-registro negativo, tem mais gente
registrada do que aquelas que nasceram. Aqui nós temos muitas municipalidades com indicador
acima de 75%, ou seja, ¾ da população deixando de ser registrada. Muito rapidamente esse é o
quadro de sub-registro, o último divulgado pelo IBGE. Nós vamos ver... Esse quadro é de 2006,
eles ainda não me prepararam o mapa de 2006, mas eu já pedi e eles estão fazendo. Vejam que
nós temos um indicador muito alto em alguns estados amazônicos. Se eu olho esses indicadores
comparando os anos, eu botei esse ano de 2006 em azul porque eles mudaram a base para fazer o
estudo do sub-registro. Aqui [referindo-se à apresentação em datashow] eles usavam a PNAD e
aqui eles não estão usando a PNAD, estão usando outra contagem, outra forma e outro tipo de
cálculo. Aqui você vê que parece que alguns estados subiram, mas não, o sub-registro Brasil de
2005 era 11.5, na série histórica agora ele passou a ser 12.9, e o de 2006 12.7, então nós estamos
usando agora esses dados aqui, mas Roraima apresenta indicadores de sub-registro extremamente
altos.
Quando nós olhamos esse dado por município, e foi o último dado que o SINASC
forneceu, em que pese que eu caia de joelhos, me arraste e faça promessa, mas o IBGE não
disponibilizou a base de dados para o SINASC produzir o estudo desagregado por município; nós
vamos ver que tem no estado do Amazonas - o nosso projeto piloto é no Amazonas - indicadores
de sub-registros altíssimos e isto significava que estratégias chegaram para registrar essas
crianças, estratégias do próprio Estado. É com relação a isso que nós estamos com a preocupação
com o registro civil dos povos indígenas. A minha missão é de erradicar o sub-registro no país.
Levar até 2010 o sub-registro de cada estado a um patamar de 5%. Preocupava-nos demais a
questão dos povos indígenas porque se essas estratégias fossem feitas de forma desenfreada e
padronizada nós estaríamos prestando um imenso desserviço a esses povos. No caso das
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dificuldades da documentação e eu posso até passar muito mais rapidamente porque nós sabemos
que a Política Nacional de Documentação Civil ela precisa ser inclusive revista. São múltiplos
documentos, múltiplos órgãos, múltiplos requisitos, múltiplas taxas para um mesmo documento.
A população fica completamente desnorteada com relação à documentação civil e isso sempre
tem um impacto de ônus muito grande. Tem os deslocamentos, a perda de jornada de trabalho, o
difícil acesso aos órgãos de documentação e isso tudo impossibilita a população com menos
recursos a ter acesso à documentação civil, além do que o sistema de registro civil não está
adequado na uniformidade, padronização, mobilização. Nós temos várias dificuldades. O
presidente Márcio Meira acaba de falar do PAC Social para os povos indígenas e nós temos um,
que é o compromisso nacional...
Presidente Márcio Meira: Leilá, só me permita. Não é PAC Social, Agenda Social dos Povos
Indígenas porque esse negócio do PAC confunde muito.
Leilá Leonardos: Para nós aparecia como se fosse um Plano de Aceleração da Cidadania. Não
era do crescimento, era da cidadania, mas eu acho que a Agenda Social, na questão do registro
civil. Você pode ver aqui [continuando a se referir ao datashow]: investir no registro da
documentação civil é investir no país de todos, então nós também temos que cumprir com o
mesmo rigor a Agenda Social, que está organizada na questão da documentação civil com dois
objetivos: erradicar o sub-registro, ampliar o acesso à documentação. Ela se refere, quando eu
falo de documentação básica para efeito dessa Agenda Social, é carteira de trabalho, CPF e RG,
além do Registro Civil de Nascimento, não falo de outros documentos. Só envolve esses três
documentos básicos, e na questão do registro nós temos uma meta de chegar a 5%. Rápido
porque tem muita coisa. No caso nós temos um grupo prioritário para essa Agenda Social, que
são os povos indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, ciganos, ribeirinhos, entre
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outros, trabalhadores e trabalhadoras rurais, população de baixa renda e uma série de outros
públicos específicos que também temos que ter prioridade. A Amazônia Legal é uma região
prioritária e também os municípios e localidades das demais regiões com indicador acima de
25%, ou seja, ¼ da população deixando de ser registrado. Aqui só reproduz que a nossa estratégia
é, além das campanhas, é o que devia estar escrito aqui em cima, os comitês descentralizados e a
capacitação de gestão estratégica e uma série de ações sistemáticas que atinjam esses povos, que
levem o registro civil a esses grupos. Então nós temos campanhas para a grande mídia,
campanhas para gestores estratégicos, para que cheguem a eles as informações, temos a
capacitação desses gestores e temos mutirões locais e ações intensivas. Busca ativa, capacitação
de lideranças e tudo mais que os comitês gestores dos estados conseguirem organizar. Na
realidade a missão dos comitês é definir uma agenda para que possa articular prefeituras, elaborar
seus planos estratégicos e no mínimo ele tem que produzir o seu plano estadual, identificar a
população não registrada e organizar essas ações que sejam intensivas, permanentes, com ênfase
nos públicos prioritários.
Eu peço encarecidamente, é um apelo mesmo, que a Funai e a Funasa possam estar
presentes nesse contexto, como também as organizações, pelo menos a representação das
organizações indígenas, porque esses comitês, são os comitês no estado e nos municípios, e aí é
importante que esse diálogo permaneça para a organização dos trabalhos de ampliar o acesso.
Temos a questão de ampliação das redes, temos 422 municípios sem cartório, há povos da
Amazônia que precisam andar 3, 4 dias na mata e depois 17 dias de barco para ter acesso à
primeira sede de cartório. Não é possível a cidadania estar acessível dessa forma aos povos
indígenas. Os serviços têm que ser levados até eles como estratégias que sejam de serviços
itinerantes, uma série de outras propostas. Essa á a proposta do Brasil como um todo, não é a
proposta específica. E também a informatização do sistema de registro civil, a modernização dos
cartórios, padronização e a gratuidade. Na Amazônia continuam cobrando pelo documento
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gratuito. Como nós começamos com o projeto do registro civil dos povos indígenas? Começamos
com um colóquio em 2006 porque nós estávamos intensificando a mobilização no Amazonas e os
índios não estavam tendo acesso ao nome clânico, ao nome étnico, compondo nome; havia uma
discriminação muito grande, em que se obrigava os grupos a terem um sobrenome que eles não
tinham e a não registrar os nomes que a lei permite que eles sejam registrados, então nós
começamos. Alguns confundiam e diziam que os povos indígenas não tinham acesso ao registro
civil, que era só o RANI, o documento do indígena, outros diziam que não, outros diziam que era
obrigado apresentar o RANI antes de fazer o registro civil, como hoje ainda dizem no Amazonas.
Então nós tivemos que começar a puxar o fio dessa meada com esse colóquio que nós fizemos,
com essa organização - e foram essas as lideranças que começaram a clarear essa questão para
nós. Agora a Secretaria Especial dos Direitos Humanos e o Projeto Rondon estão já
desenvolvendo uma ação integrada piloto no estado do Amazonas que permita proporcionar aos
povos indígenas orientação quanto ao seu direito, conhecer as práticas que existem e promover
fóruns de discussão, porque na realidade esse projeto piloto é um projeto de diálogo. Como ele se
fez? Nós tivemos o colóquio. O colóquio nos deu os principais pontos, dizia: na prática das
políticas públicas nós ainda não temos esses princípios de relações interétnicas num Estado que é
plural. Nós temos práticas hegemônicas num Estado que se vê homogêneo e não é assim, há o
diverso. Nós apresentamos o projeto em Brasília, a Funai esteve presente, a Funasa, o Ministério
das Relações Exteriores e aí nós discutimos o projeto e o levamos para discussão no estado do
Amazonas com as organizações indígenas de lá e eles definiram a estratégia geral do projeto. Em
seguida nós organizamos com as lideranças que seriam as próprias lideranças indígenas a
indicarem os pesquisadores indígenas que iam fazer a consulta nas aldeias quanto ao direito do
registro civil; se eles tinham o desejo de ter o registro civil, como se organizavam os nomes
daqueles grupos, como se organizavam, as formas de organização deles e eles levaram o
questionário. Os próprios índios foram os pesquisadores e eles levaram todo o instrumental,
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fizeram uma testagem antes nas aldeias e no entorno de Manaus e eles foram os próprios
pesquisadores que traziam conhecimento da prática do registro civil. O que é o projeto? Eu
conheço o direito, eu tenho uma prática e eu tenho uma norma, então nós fizemos todo um estudo
da norma, um estudo da prática para que a gente possa reorientar a prática do registro civil a
partir do que diz o Direito e com base na Convenção 169. O levantamento de dados foi feito e já
foi feita a consolidação de todos esses dados. Nós cobrimos essas regiões do Amazonas. Foram
43 etnias amazônicas - foram 47 etnias, mas eram parentes do Mato Grosso visitando os parentes
da Amazônia, tinha Xerém, Xavante e acho que teve um Terena. Nós temos a relação. Então nós
fizemos essa pesquisa com essa abrangência.
Aqui eu queria dizer muito sobre essa reunião em que a gente consolidou os dados,
porque como o projeto é inteiro de diálogo, nas nossas reuniões em que vinham as lideranças
indígenas representadas, eram 17 ou 18, para dialogar com o governo do estado e com os órgãos
governamentais federais, nós não tivemos a presença da Funai nem da Funasa, que para nós era
extremamente importante. Por mais que nós pedíssemos, apelássemos porque era importante essa
interlocução, as organizações indígenas pediram muito, nós não tivemos a presença da Funai, não
tivemos a presença também da educação indígena, não tivemos a presença da Funasa naquele
diálogo, uma vez que eles diagnosticaram a prática nós tínhamos que ter tido, no diálogo,
apontado estratégias para nós retornarmos a essas localidades de uma forma responsável e digna,
levando o serviço de registro civil a eles, porque eles já se manifestaram. As lideranças
tradicionais todas foram consultadas, e eles se posicionaram com relação a isso. Nós fizemos essa
etapa intermediária e agradeço muito, Dr. Márcio, porque a Irânia foi uma participação
fundamental para nós de estar nos orientando e a apresentação daqui, onde nós queríamos
discutir, porque nesse projeto de uma ação integrada ou nós estamos juntos e podemos
potencializar uma ação maior ou nós vamos ficar capengas.
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Vamos passar a terceira etapa: será oficinas com universitários e professores para
discutir o diagnóstico das práticas do registro civil que nós não pudemos... Isso teria sido da
segunda etapa, mas pela não representatividade nós não pudemos fazer dos povos indígenas e dos
novos paradigmas de relações na formação de profissionais de Direito etc., que são também essas
relações interétnicas que também têm que estar na prática do registro civil. Nós vamos discutir
ali, afinar o conhecimento e passar essa discussão para um seminário com o sistema de garantia
dos direitos do indígena envolvendo o Judiciário, o Ministério Público, Defensoria, órgãos
registradores etc., com vistas a reorientar essa prática no estado para que eles tenham um registro
civil que seja orientado de uma forma de dignidade. Depois o relatório final. Uma vez que a gente
avalie esse projeto, nós vamos poder reproduzi-lo em outras instâncias e gostaria de dizer aqui,
aos representantes dos povos de Mato Grosso do Sul... Tem alguém de Tocantins aqui? Que nós
estamos pensando em ir para Mato Grosso do Sul por solicitação e também para Tocantins e
Roraima antes de irmos para os demais estados da Amazônia Legal, mas devemos estar fazendo
todos os estados da Amazônia Legal neste ano e mais Mato Grosso do Sul, porque foi uma
demanda de lá. Essa é a primeira parte. Essa pesquisa, os órgãos governamentais todos já
receberam na reunião intermediária, mas eu tenho aqui um CD, eu tenho 13 e posso mandar para
quem não tem. Eu tenho pendrive aqui também com esses documentos, que são os relatórios
preliminares que têm todo o estudo legislativo que permita à gente fazer as afirmativas que a Dra.
Aldair vai fazer.
Aldayr Brasil Barthy – antropóloga do Projeto Rondon responsável pelo projeto: Boa tarde.
É um prazer enorme estar aqui para conversar com vocês sobre essa experiência maravilhosa que
a gente realizou enquanto coordenação técnica do projeto Rondon no convênio com a Secretaria
de Especial de Direitos Humanos no Amazonas. Primeiro eu gostaria de retomar alguns pontos
que a Leilá já colocou para evidenciar, eu acho que uma questão fundamental que foi a
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metodologia do trabalho desenvolvido durante o projeto piloto do Amazonas. Todo o trabalho
com os índios em Manaus, mesmo como pré-testes, foram analisados para testes, eles mudaram o
que acharam que precisava ser mudado. Depois na segunda etapa então 17 lideranças indígenas
das etnias Munduruku, Tuyúca, Marubo, Tukúna, Tukano, Apurinã, Yanomami, Kambeba,
Sataré-Mawé, Mura, Desana e Arapáso. A nossa proposta inicial com essas lideranças, discutida
com elas, era de que a gente deveria alcançar 60 questionários por pesquisador nas regiões em
que elas escolheram e determinaram e que seria prioritário para o trabalho em todo Amazonas
como vocês viram no mapa que a Leilá apresentou. Eles foram para os 40 dias de pesquisa nas
suas aldeias. Nesses 40 dias de pesquisa, quando eles terminaram, voltaram e nós encontramos,
quer dizer, nós tivemos a surpresa feliz de que eles tinham aplicado 150 questionários em vez dos
60 propostos. Eles diziam: não dava para excluir, tinha que chegar até um parente. Importante é
que dos 1421 questionários respondidos não significava 1421 pessoas porque eles chegavam às
aldeias, eles reuniam as aldeias e discutiam com todo mundo, eles explicavam o projeto, tiravam
dúvidas sobre isso, consultavam se eles aceitavam responder a questionamentos e depois então é
que aplicavam o questionário; então era sempre um grande grupo reunido, do qual eles tiravam 2,
3 pessoas para responder às questões. Então na verdade atingiu muito mais pessoas do que a
gente esperava. Quando nós começamos a discutir o assunto havia pessoas de instituições que
diziam: isso é uma loucura, como é que vocês vão fazer pesquisa com os índios? Não vai
aparecer nenhum de volta. Não faltou nenhum. Surpreendeu o compromisso, a seriedade com que
eles assumiram a representação das suas organizações indígenas junto aos povos indígenas. Então
foi um negócio de uma aprendizagem riquíssima e de uma construção de parceria e diálogo
permanente entre a coordenação técnica, um consultor de antropologia que é da Universidade
Federal do Amazonas, e um consultor de Direito que eles indicaram. Eles disseram qual seria o
consultor de antropologia que eles queriam e que era um professor que vinha acompanhando a
discussão da luta indígena no Amazonas. Então essa metodologia ela realmente mostra a
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qualidade do resultado obtido. Nos 1421 questionários nós atingimos 326 comunidades indígenas
de 43 etnias. O que a gente descobriu com relação ao registro civil de nascimento? 6% dos povos
indígenas consultados queriam fazer seu registro civil de nascimento com a seguinte
argumentação: nós não tivemos escolha com relação ao nome que já nos registraram, nós fomos
obrigados a aceitar nomes que pessoas escolheram para nós. Nós não nos reconhecíamos com
esses nomes. Foram muitas vezes nomes que o registrador do cartório impôs como condição para
tirar o registro. Nós queremos um registro agora que nos dê garantias do direito que a gente tem
de incluir no nosso novo registro a nossa etnia e o nosso nome clânico. Uns querem o nome
clânico e a etnia, outros querem manter o nome que eles dizem que é o nome de branco mais o
nome clânico e a etnia. Apenas os Yanomami não aceitam colocar o nome sagrado no registro
civil e pediram que, mesmo não aceitando, pelo menos por enquanto, porque eles ainda estavam
discutindo, mas que eles queriam incluir a etnia no seu registro. Então foi quase 100% de
resposta positiva com relação ao registro civil.
Outra coisa que eles colocaram como importante... Tem fatos belíssimos que se a
gente tivesse tempo para contar seria muito interessante, porque tem alguns pesquisadores que
conseguiram, com esse livrinho verde que os senhores receberam aqui, que eles chamaram,
batizaram de livrinho verde, eles enfrentaram juízes, enfrentaram cartórios, enfrentaram
autoridades para aprovar seus direitos, baseados no que o livrinho verde trazia como lei, como
direito ao registro civil. Eles conseguiram em muitos lugares vencer a resistência e o preconceito
mesmo que eles se defrontavam no dia-a-dia. Nós tivemos situações em que se discutiu em toda a
comunidade indígena, em toda a aldeia a questão da perda do nome clânico e os mais velhos
então reconstituíram no seu mito esses nomes importantes para eles; e a partir do registro civil de
nascimento foi decidido nessas aldeias que as crianças não mais seriam registradas com outros
nomes que não aqueles do seu mito, da sua história. Que a partir desta data todas as crianças
seriam registradas com seus nomes clânicos. E foi por aí, uma série de outras experiências que
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nós aprendemos. Alguns resultados que eu consegui trazer para vocês que eu vou apresentar aqui.
A idéia que a pesquisa trouxe para nós é de que o projeto-piloto vai poder levar às autoridades
constituídas os anseios, o desejo dos indígenas; e fica muito evidente nas falas porque eles
acreditam que custou muito acontecer esse estudo e esta possibilidade de mobilização em torno
do registro civil de nascimento, mas que chegou e que isso agora é histórico, porque é um novo
momento e se eles vão conseguir isso eles vão conseguir todo o restante das suas lutas políticas
também. Eles acreditam que o registro civil de nascimento vai melhorar a vida do índio no
tocante à posse dos documentos civis pelos indígenas; porque têm histórias dramáticas de
humilhações e de desrespeito passados pelos índios por conta do desejo de ter seu registro civil
de nascimento, por conta do jogo político local, por conta das autoridades que discriminam
realmente o acesso do indígena aos cartórios. A pesquisa revelou, que era um dos objetivos da
pesquisa, a proposta de fazer uma lista de nomes para um glossário. Uma lista de nomes
indígenas por etnia que facilitaria o acesso ao cartório para os registros, mas eles trouxeram uma
resposta maior. Eles diziam que a lista de nomes... Muita gente resistiu no início e achava que
eles não iriam aceitar, por conta de toda a cultura e o sagrado que é o nome para o indígena, para
toda pessoa, mas para eles também e que a gente não conseguiria autorização para fazer essa lista
de nomes das etnias. Nós tivemos total apoio para que se realize essa lista de nomes. Eles
querem, eles dizem: eu quero um dicionário dos nomes indígenas, nós queremos mostrar que nós
temos o dicionário por etnia com os nomes indígenas.
Com relação ao conhecimento de documentos, a pesquisa mostrou que a maioria
dos indígenas contatados desconhece no Estatuto do Índio aquilo que consta sobre o registro civil
de nascimento. Que das 1421 pessoas consultadas apenas 681 afirmaram possuir o RANI. O alto
rio Negro é a região com menor número de emissão de RANI, das 1421 pessoas, apenas 230
possuem o nome indígena no seu registro civil de nascimento. O alto rio Negro é ainda a região
onde essa prática é raríssima. A pesquisa consultou as pessoas sobre as possibilidades de incluir o
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seu nome indígena e da sua etnia no registro civil de nascimento e 1303 indígenas responderam
de forma positiva a essa demanda. As regiões do baixo Amazonas, Juruá, Purus, Vale do Javari
são aquelas onde há maior incidência de pessoas que possuem o registro civil de nascimento. A
pesquisa constatou ainda que do total de 1421 pessoas apenas 113 não concordaram com a
possibilidade de que os filhos de casais de pai ou mãe não indígena tenham direito étnicos. Isso
foi uma grande discussão na montagem do questionário e depois se voltava constantemente a essa
questão e foi uma surpresa o resultado. Foi uma surpresa para os próprios pesquisadores, eles não
tinham certeza da aceitação ou não dessa questão. Quanto a outros documentos, CPF, título de
eleitor e carteira de identidade a pesquisa apontou que nas regiões do Vale do Javari e Juruá são
localidades em que é maior o número de pessoas que não possuem tais documentos. Do total de
entrevistados, 1380 são favoráveis a que se organize uma lista de nomes indígenas por etnia.
Segundo eles a lista servirá para valorizar os seus valores culturais e deve promover maior
diálogo entre os serventuários dos cartórios e os indígenas no momento da emissão do registro
civil de nascimento. Fica evidente que o exercício da cidadania passa pelo reconhecimento dos
indígenas como sujeitos de direito em várias esferas. Destaca-se o desejo dos indígenas
possuírem seus nomes étnicos na forma que melhor convém a cada povo no serviço no registro
civil de nascimento, cabendo ao Estado garantir esse direito. É necessário constituir espaço de
debates e discussões que reúnam indígenas, indigenistas e instituições parceiras para elaborar
metodologia que melhor atenda a realidade indígena para chegarmos ao acesso do registro civil
de nascimento na forma como está sendo pleiteada. A Leilá destacou a dificuldade de acesso às
distâncias enormes no Amazonas. O estado que é regido pelas águas e que é dificílimo se chegar
aos locais mais distantes, mas eles confiavam; e esse é o recado que eu tenho que dar aqui: de que
os parceiros governamentais e os representantes do movimento indígena vão possibilitar a grande
mobilização que vai ser a realização da concretude do seu registro civil conforme pleiteado na
pesquisa. Então é um compromisso que eles querem que os parceiros governamentais, indígenas
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e não-governamentais realizem com a proposta e o resultado da pesquisa. Eles querem o registro
civil, eles precisam alcançar o registro civil e aqueles que moram muito distante precisam então
encontrar formas de que o cartório chegue até eles para que esse registro seja garantido. Não dá
mais para pensar em colocar uma família numa canoa para andar 3, 4, 5, 8 dias para chegar num
centro porque lá tem um cartório. O cartório tem que ir até eles porque isso é um direito de
cidadania e eles fazem questão que isso seja cumprido. A importância da terceira etapa que
continua esse diálogo. Primeiro, um diálogo do Executivo com as organizações indígenas para
propor um projeto; o diálogo dos próprios indígenas com outros povos para fazer a consulta
formal a esses povos e saber deles a posição de liderança por liderança tradicional, como eles se
colocavam com relação a essa questão, e agora o diálogo é para construirmos estratégias de
levarmos o serviço de registro civil; que sejam estratégias que não sejam aviltantes e nem sejam
estratégias que não garantam a esses povos as conquistas que a legislação brasileira já fez e prevê
esses direitos. Essa última etapa além de fechar essas estratégias com as academias que são
estudantes e professores indígenas que vão dialogar com esses pesquisadores indígenas, também
essas lideranças que estão credenciadas e que fizeram a pesquisa vão dialogar com o sistema de
garantias para ver se a gente consegue que a legislação seja cumprida porque a legislação é antiga
e ela tem todos os espaços e garantias. Ela garante o direito de registro civil dentro do padrão de
dignidade, mas ela não está sendo aplicada na prática, então esse é o último diálogo a partir do
que a gente passa a desencadear as estratégias de levar o registro civil a esses povos, acelerando o
processo de erradicação para aqueles grupos que querem o registro civil e que vão recebê-los da
melhor forma possível. Mas agora há uma nova demanda, que é a demanda da revisão dos
registros civis daqueles que foram registrados com os nomes que foram nomes impostos. Um dos
pesquisadores, que é o João Kennedy, ele é um índio Tukano, eu não sei quem conhece ele?
Conhece? O pai foi ao registro civil, não conseguiu registrar o nome dele e escolheu um nome
que ele achou bonito. Hoje em dia é o nome dele, já está marcado com esse nome. Eu não sei
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pessoalmente e individualmente se ele quer mudar, mas existe uma série de pessoas indígenas
que querem mudar o seu nome para incluir o nome que seria o nome de escolha. Uma das
participantes do colóquio, que foi a Darlene Taukane, alguém conhece? Foi o Fórum de Defesa
dos Direitos Indígenas que nos indicou as lideranças. A Darlene quando começamos o colóquio
ela chorou porque ela tinha um nome, o nome clânico dela era um nome que era de uma ancestral
que estava no momento do batismo dela no seu grupo, na sua tribo, que se apresenta e que seria
quase uma mentora do plano espiritual da vida delas. Era uma tia falecida, e ela tinha aquele
nome da tia e ela tinha que se apresentar na sociedade não índia como Darlene que era um nome
que não tinha significado para ela; que no fundo foi escolhido e ela não sabia nem dizer como,
provavelmente pelo registrador. É nesse sentido que eles também disseram que o registro civil
como fala do nome e representa uma subjetividade, é a sua identidade subjetiva pelo seu nome;
eles precisavam ser visto de outra forma para que se garanta o direito aos povos indígenas ao seu
nome e a nacionalidade daqueles que assim o quiserem porque eles não são obrigados ao registro
civil.
Leilá Leonardos: Eu queria trazer para vocês o pedido de que no amazonas a Funai convoque
todos os seus representantes para a terceira etapa para que a gente possa ter não só Manaus, a
Funai de Manaus, mas das outras jurisdições, para que a gente possa caminhar junto; assim como
a Funasa e outros órgãos nessa terceira etapa, senão a gente não tem como chegar lá.
Presidente Márcio Meira: A Irânia é a nossa representante da Funai que já está acompanhando,
já vai cuidar dessa convocatória, porque às vezes lá na ponta o pessoal não dá conta das
demandas e provavelmente foi isso que deve ter acontecido. Eu estou preocupado com o tempo.
São 5h25min. Eu até estava com vontade de falar aqui porque eu trabalhei no alto rio Negro por
muitos anos, mas eu nem vou falar muito disso daí porque senão a gente vai levar muito tempo,
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porque eu testemunhei muita coisa, depois no intervalo eu vou contar sobre esse negócio de
nomes. Eu queria perguntar para vocês o seguinte: a gente pode ter duas opções: fazer um
intervalo agora, está todo mundo um pouco cansado, tem um café, a gente pode fazer intervalo
agora e volta do intervalo e aí a gente abrir para as perguntas para as duas e aí concluir a nossa
pauta. Está certo? Eu quero pedir que a gente tenha um intervalo de dez minutos. São 5h30min,
daqui a dez minutos a gente retorna do intervalo.
[Intervalo]
Presidente Márcio Meira: Muito obrigado Leilá e Aldair pela apresentação. Obrigado por
terem vindo. Esse trabalho continua, é um processo que vai chegar aqui no Nordeste também. É
um processo nacional de registro civil de cidadania.
Bom, nós temos agora a nossa meia hora final, nós temos alguns pontos. O
primeiro ponto que eu queria tratar é com relação à questão dos membros indígenas do Mato
Grosso do Sul e do Amapá. Até porque esse assunto eu já tinha sido anunciado na última
reunião e o encaminhamento que nós demos foi que nessa reunião agora nós teríamos que dar um
encaminhamento sobre esse assunto. Nós fizemos uma consulta. Eu vou recuperar o assunto. A
Presidência da CNPI recebeu, tanto dos Guarani do Mato Grosso do Sul quanto dos Terena e
outros povos do Mato Grosso do Sul, documentos questionando que tanto o Danilo quanto o
Wilson não teriam sido escolhidos pelas regras que o decreto da CNPI definiu. Então nós aqui
recebemos essa documentação por obrigação da nossa posição como presidente da CNPI, nós
tivemos que trazer para o plenário para dar encaminhamento a essa questão e consultamos a
Consultoria Jurídica do Ministério da Justiça sobre esse assunto para saber qual o procedimento
jurídico que nós temos que dar a ele. E também recebi aqui da própria bancada indígena, no
início da nossa reunião da CNPI, um posicionamento que está naquele documento... Eu não estou
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com ele agora, mas é o documento que a bancada indígena apresentou à CNPI que trata desse
assunto, sugerindo que seja encaminhado conforme o Regimento. O que estou trazendo como
informação é o seguinte: a Consultoria Jurídica do Ministério da Justiça deu o mesmo
encaminhamento, ou seja, ela disse que nós tínhamos que aqui encaminhar conforme o
Regimento e conforme o decreto da CNPI. Então eu queria colocar essa questão aqui para ouvir
inclusive o Wilson e o Danilo que são as pessoas que foram envolvidas, ou colocadas nessa
questão. Esse é o primeiro ponto. O segundo ponto só para concluir aqui os dois pontos, o
segundo ponto é em relação à bancada do Amapá. O Cleber que é o titular, não pode mais, por
alguma razão, ser titular e o suplente também tem alguma dificuldade. Não é isso? Chegou uma
correspondência de lá informando isso e a Terezinha vai explicar então essa questão do Amapá,
mas antes disso eu passo a palavra tanto para o Wilson quanto para o Danilo para que eles
possam colocar a posição deles aqui e gente poder dar um encaminhamento a esse tema. Wilson.
Wilson Matos: Wilson Matos. Região Centro-Oeste. Senhor presidente, me dirijo a Vossa
Excelência, neste momento estritamente a Vossa Excelência. Nós tivemos, além do trabalho que
cada um de nós nos aplicamos no estado do Mato Grosso do Sul, reconhecido por todos,
inclusive por Vossa Excelência que tem a Presidência da Funai hoje e sabe do relevante trabalho
que presto no Mato Grosso do Sul como advogado. Muitos trabalhos eu fiz em conjunto com
CGDDI e quando fui convidado para compor essa comissão eu me senti muito honrado e me
sinto muito honrado porque aqui está a esperança do povo indígena. Esperança de um povo onde
eu nasci, cresci e tenho 47 anos lá de convivência voltados e dedicados todos ao meu povo. Tanto
é que estudei e permaneço lá no meio deles. Lá estão meus primos, meus tios, meus pais e meus
avós. É inconcebível que alguém pense poder ajudar mais ao meu povo do que eu mesmo. Eu
admito que possa ter alguém que queira tanto quanto eu ajudar o meu povo, mas não posso
admitir que antropólogos direcionem essa questão, porque nós seguimos um trâmite legal e isso
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enseja mandado segurança. Por quê? Porque nós acompanhamos uma trajetória. Foi editado um
decreto, não se pode esquecer disso, não precisa ser advogado atuante para entender da
processualística. Nós seguimos o que pedia o decreto, fizemos uma reunião e nessa reunião saiu o
nome do Danilo, saiu o nome de Wilson, de Maria Regina e da outra menina, a Evanise, que é de
outra região. Fizemos todo o processo como pedia o decreto, enviamos isso Funai, não fomos nós
da Associação de Direitos Indígenas que escolhemos o nosso próprio nome, mas sim a Funai
referendou isso e mandou para o Ministério da Justiça, que por sua vez referendou o nosso nome
numa portaria. Agora, é estranho que depois de tanto tempo uma outra organização venha e diga:
aquilo lá não é legítimo. Ora, então ela simplesmente vai ter que esperar a vez dela, sairá um
edital, esse edital vai abrir as mesmas oportunidades agora na criação do Conselho. Eu peço
desculpas a Vossa Excelência e aos nobres colegas porque daquela vez eu não entendi. Eu achei
que eles se referiam apenas à minha pessoa e eu disse para o senhor hoje eu ainda estava
enganado com relação a isso, eu disse: Não, tranqüilo. Eu tenho muitos afazeres lá, eu sou
Presidente da Comissão de Assuntos Indígenas da OAB do estado, viajo constantemente, tenho
reuniões, eu tenho as audiências para fazer, trabalho como advogado, eu estou em todos esses
cantos no estado. Então eu não fiz questão naquele dia porque eu achava que se referia à minha
pessoa somente. Eu simplesmente ia me retirar, mas não posso admitir, como membro da
Comissão Nacional de Política Indigenista e não sei se os colegas podem admitir isso porque
agora depois de um ano alguém venha aqui alegar que o processo de escolha do nosso estado foi
ilegítimo, porque daqui a pouquinho vai ser de qualquer um dos membros aqui. Ninguém é
unanimidade. Agora, o que se tem que prestar atenção é que a Comissão Nacional de Política
Indígena tem que se dar o respeito, de pelo menos dizer: acompanhou o decreto. O decreto pedia
que se reunissem e que se fizesse uma ata. Isso foi feito, foi enviado para a Funai no tempo hábil
cumprindo o decreto. E isso foi homologada pelo Ministro da Justiça que saiu os nossos nomes
todos juntos. Agora depois de passado tanto tempo, induzidos por antropólogos que estão lá na
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minha área que não se dão comigo e não vão se dar mesmo porque eu vou atrapalhar eles muito
mais do que aqui na CNPI, eles não viram nada ainda. Por quê? Porque eles acham que querem e
sabem o melhor para o meu povo do que eu mesmo. Eu vou mostrar para eles o quanto um
advogado incomoda alguém quando quer incomodar. O dia que eles disserem: Wilson vamos
sentar na mesa, nós estamos trabalhando na mesma direção, vamos trabalhar juntos. Nós vamos
trabalhar juntos porque eu quero o melhor para o meu povo, mas eles não venham invadir a
minha aldeia, invadir a minha casa e dizer que querem o melhor para os meus parentes do que eu
mesmo. Desculpe senhor presidente. Desculpem os nobres colegas pelo desabafo.
Presidente Márcio Meira: Danilo, depois o Sandro também se inscreveu. O Ak’jabor, Heliton,
Caboquinho também, o Kohalue. Vamos seguir. Danilo.
Danilo Terena: Como o Wilson disse, presidente, membros da CNPI, o que eu estou entendendo
aqui no momento é que algumas pessoas, algumas lideranças, e bem sei eu que nem todas as
pessoas que estiveram com o presidente são caciques, são membros de comunidade; mas como o
presidente disse, tem que se dar uma resposta. Só que infelizmente eu não concordo da maneira
como está acontecendo. Primeiro, porque este processo está ilegitimando o que a Funai pediu
para que a organização fizesse, a organização fez a consulta, encaminhou para a Funai e
posteriormente foi encaminhado para o Ministério da Justiça. Pois bem, foi feito o processo.
Como o Dr. Wilson disse, depois de um ano é que se levantam algumas lideranças dizendo que
não estão contempladas por nossas pessoas. Por que não se fez isso no ato imediato? Segundo
ponto. O que se percebe, se o presidente da Comissão Nacional de Política Indígena encaminha
dessa maneira, está tornando, está ilegitimando o ato de uma organização que tem seus direitos e
tem suas obrigações. A organização, que tem a sua diretoria, que tem seus membros reconhecidos
e que infelizmente passa por um processo de dificuldade política no estado e como dirigentes de
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outras organizações e o dirigente da própria Funai se acham no direito de colocar para fora,
tentando atrapalhar o trabalho que está construído. Então eu acho que realmente é um absurdo
estarmos discutindo isso porque existem muitas coisas mais importantes, que aqui nós estamos
protagonizando a política indígena nacional e nós estamos discutindo uma coisa que já foi feita
da forma legítima. Eu acho que se esses caciques entenderam, ou essas lideranças, vou assim
chamar, entenderam que não aceitam a maneira que foi, ou não se sentem representados, ora, tem
que se reportar a quem? À organização que fez para posteriormente sim, se não tiver uma
manifestação da organização, encaminhar ao Ministério Público ou à Comissão Nacional de
Política Indígena. Eu acho que esse seria o trâmite legal. Não chegarmos aqui à presidência dessa
comissão e dizer: Não, nós vamos fazer isso. Penso eu. Então nós tivemos uma conversa com a
comissão aqui, a comissão entendeu no primeiro momento com relação a essa questão do
Regimento que existe e esse Regimento foi levado na íntegra desde o seu início, agora não pode
se tornar dúbia uma ação de uma entidade. Deve ser questionado sim no Ministério Público, deve
sim ser acompanhado pela própria Funai, mas primeiro deve se reportar à organização que fez.
Eu entendo dessa maneira, porque senão é a mesma coisa de alguma organização estar discutindo
a indicação da APOINME, indicação da COIAB, chegar aqui cinco líderes e o presidente vai
encaminhar: vocês precisam fazer isso. Quer dizer, ora, é uma minoria. Lá são 72 aldeias no
estado, então não se admite de vir 10, 13 ou 17 pessoas que se dizem lideranças juntamente com
o administrador regional, porque há um embate político e o presidente conhece muito bem esse
embate. Agora, nós temos um trabalho prestado e se nós estamos hoje aqui dentro da Comissão
Nacional de Política Indígena não foi por acaso. Tanto é que agora no dia 18, eu queria informar,
até falei para a Comissão Nacional aqui que eu gostaria de estar apresentando um projeto que foi
aprovado pelo Governo do estado e que nós vamos assinar o convênio agora dia 18, de 25
milhões, e o projeto chama: “Mudando a minha história”, onde pela primeira vez na história
desse país o índio, as comunidades indígenas de um estado são ouvidas pelo governo e
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praticamente aceita a proposta e nós vamos começar a execução a partir de agosto. Eu acho que é
um trabalho democrático, um trabalho de consulta, não é feito de cima para baixo, foi feito em
consulta. O projeto começa por Dourados, na Jaguapiru e Bororó, então eu acho que são atuações
dessa natureza que realmente incomodam, mas nós não estamos nos importando para quem
incomoda; o que nós importamos é levar dignidade para as nossas bases porque eu também sou
de uma aldeia lá da minha região. Nós temos muito problema, nós estamos com problemas na
questão da retomada da terra, nós estamos com outros problemas muito piores e ficamos tratando
de picuinhas políticas que no meu entendimento não deveria estar aqui sendo discutido nessa
comissão. É isso. Muito obrigado.
Presidente Márcio Meira: Antes de passar a palavra para o restante dos inscritos, eu vou pedir
para Terezinha porque quando eu recebi... Eu quero esclarecer. A Presidência da CNPI recebeu
documentos que vêm da base, os documentos estão aqui, então eu, como Presidente da CNPI, sou
obrigado a receber um documento que vem de qualquer organização indígena ou qualquer
entidade. Eu sou obrigado a dar um encaminhamento. O que esses documentos estão
argumentando é o seguinte, eu vou repetir, estão argumentando que o decreto presidencial que
estabeleceu as regras para a escolha dos representantes indígenas na CNPI, nestes dois casos, eu
não estou dizendo que eles estão com razão, eu estou dizendo qual foi o argumento deles: que
nestes dois casos os critérios estabelecidos, as regras estabelecidas no decreto não teriam sido
cumpridas. Vocês lembram muito bem que quando cheguei na Funai isso já tinha sido realizado
na gestão anterior. Eu, inclusive vocês sabem e testemunharam a luta que eu tive para que a gente
instalasse essa comissão num curto espaço de tempo, foi menos de um mês. Nós estamos nessa
comissão, portanto, eu não posso me omitir de tratar isso aqui de uma forma bem transparente.
Eu considero que esse é um tema que, se ele é levantado, é importante sim que seja discutido aqui
na CNPI para a Comissão deliberar sobre qualquer dúvida que paire sobre esse tema; até para que
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vocês mesmos, no caso de terem a defesa garantida, tenham a justificativa e as provas que vocês
estão argumentando sejam consideradas. Então é nesse sentido que eu estou esclarecendo aqui e
vou pedir para a Terezinha se pronunciar, porque eu pedi para a Secretaria Executiva levantar
informações sobre o que foi colocado. Eu quero que ela relate o que foi levantado, inclusive a
orientação que a Consultoria Jurídica do Ministério da Justiça nos deu.
Terezinha Maglia – Secretária Executiva da CNPI: Tendo em vista o presidente Márcio ter
me designado, eu fiz todo um levantamento documental na CNPI, na CGDDI e no Ministério da
Justiça, visto que a correspondência que chegou das comunidades não é agora deste mês, ela é de
novembro de 2007 e a gente protelou até agora em virtude de o Dr. Márcio ter pedido para a
gente levantar essa documentação. Feito todo o levantamento na CGDDI, nós precisávamos da
ata, porque o decreto presidencial diz que as reuniões para indicação dos representantes indígenas
deverão ser acompanhadas pelo menos por um órgão federal participante da CNPI, sendo
obrigatório o convite para participação de membros do Ministério Público Federal. Feito isso eu
tentei de todas as formas, vasculhamos todos os arquivos e nós não tínhamos, olhem o detalhe,
não tínhamos encontrado ata nenhuma que tivesse a indicação do Danilo e do Wilson. Como isso
não tinha acontecido, nós pedimos inclusive uma informação à Consultoria Jurídica do Ministério
da Justiça. Uma correspondência encaminhada do Ministério, eu relato a seguir, porque como nós
vasculhamos ponto por ponto de todo o arquivo a gente encontrou uma correspondência que foi
um parecer da Procuradoria Federal Especializada da Funai, que dava parecer sobre a
composição da CNPI. Ela contém várias folhas, mas eu me detive na questão do Centro-Oeste,
porque eles colocam ponto por ponto, de todas as cinco regiões, como foi a escolha, visto nós não
termos achado até aquele momento a ata deles.
Sobre a região Centro-Oeste há os seguintes pontos: apresentou indicação através
de ata da reunião de um órgão estadual do governo do Mato Grosso do Sul, documento este que
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falta uma página. Segundo ponto: o documento foi encaminhado oficialmente ao MJ dentro do
prazo. Terceiro: não há comprovação de ampla divulgação. Quarto: comprovou a participação de
órgão federal na reunião. Funai. Quinto: não há convite ao Ministério Público Federal. Feito isso,
levantado isso, eu solicitei, como Secretaria Executiva, à Consultoria Jurídica do Ministério que
desse um parecer, conforme previsto no decreto presidencial. Não vou levantar tudo para não me
estender demais, mas o decreto presidencial diz isso que eu acabei de ler, o Regimento Interno
nosso também trata sobre a indicação ou substituição. Eu vou pegar o final do ofício: a escolha
dos representantes indígenas para a Comissão aconteceu de forma indecisa por parte das
organizações indígenas e foi apresentada à Funai uma listagem de 46 nomes, demorando a se
chegar a um acordo”; por isso a demora. No início de 2007, a Funai encaminhou ao senhor
Ministro a listagem com os nomes de titulares e suplentes que comporiam a CNPI, que tiveram a
posse no dia 19 de abril, quando da instalação da Comissão Nacional de Política Indigenista. Na
documentação enviada ao senhor Ministro não consta como foi a escolha dos representantes da
região Centro-Oeste. Na Coordenação Geral de Defesa dos Direitos Indígenas da Funai, a
responsável pela organização do documentação encaminhada pelas organizações indígenas, não
foi localizada nenhuma ata ou comprovação da assembléia em dita região para a escolha dos
nomes. Desde a instalação da Comissão participam pela região Centro-Oeste os seguintes
representantes titulares e suplentes: Wilson Matos e Maria Regina de Souza Guarani, Danilo Luiz
Oliveira e Evanisa Terena. Ocorre que no final de 2007 as etnias Guarani, Kaiwá, Nhandéwa,
Terena, Kadiwéu e Ofaié remeteram correspondências anexas para o senhor presidente da
comissão e presidente da Funai informando que tais representantes não são reconhecidos e não
têm o consentimento das comunidades para representá-las. Por fim, as comunidades indicam os
novos representantes, como segue: etnias indígenas Guarani, Kaiowá e Nhandéwa - indicam
Tonico Benites Kaiwá e Getúlio Juca de Oliveira Kaiowá. As etnias Terena, Kadiwéu e Ofaié
indicam Arilson Cândido Terena e Luiz Fernando [inaudível], que seria Kadiwéu. Finalizando
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agora. Em vista da nova indicação, solicitamos dessa Consultoria Jrídica parecer para orientação
de procedimentos dessa comissão na reunião extraordinária dos dias 13 e 14 de março próximo
no sentido de manter ou substituir os representantes do Centro-Oeste conforme solicitado nas
correspondências das comunidades em anexo. Atenciosamente Márcio Meira. Eu só queria
clarear o seguinte: depois que isso foi encaminhado ao Ministério da Justiça um funcionário da
Funai, da CGDDI, me passou a cópia da ata da escolha que não estava da Funai, estava na casa
de um funcionário da Funai, mas não constava da documentação, por isso é que eu coloco que
aqui nós não achamos. Eu quero que fique bem claro isso.
Presidente Márcio Meira: Depois que foi mandada é que apareceu essa ata.
Terezinha Maglia: Posteriormente é apareceu a ata que está aqui. Então eu gostaria de ler o
parecer do consultor jurídico que é o mesmo consultor que estará aqui amanhã, que é o chefe da
Consultoria Jurídica do Ministério da Justiça: “Tendo em vista que os atuais representantes
carecem de legitimidade, seja por falta de documentação ou pela manifestação assinada pela
comunidade, que não reconhece os atuais representantes e necessária legitimidade, assim opino
no sentido de: (a) substituição dos representantes do Centro-Oeste; (b) que deva ser feita de
acordo com a Portaria 1396/97. 22 de fevereiro de 2008. Rogério Favetti, Consultor Jurídico do
Ministério da Justiça”. Ele próprio deu o parecer. Senhor presidente, seria isso que eu teria para
colocar.
Presidente Márcio Meira: Eu queria acrescentar mais uma informação sobre todo esse processo
porque nós estamos dando transparência total. Aqui nós não estamos fazendo juízo de valor. Eu
quero deixar bem claro. Nós não estamos aqui, eu como presidente da Comissão e nem a
Terezinha, fazendo juízo de valor pessoal sobre a figura do Danilo nem sobre a figura do Wilson
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Matos. Isso aqui é uma questão política que tem que obedecer às regras tanto do Decreto quanto
do Regimento. Mas eu quero acrescentar mais uma informação também que é importante. No
caso do Wilson Matos, eu estive visitando o Mato Grosso do Sul no ano passado, não me lembro
exatamente o mês. Foi quela reunião ampla que eu tive perto de Dourados, o Wilson estava lá.
Lembra Wilson? Eu não me lembro que mês foi. [Intervenção fora do microfone]. Eu acho que
foi no meio do ano passado mais ou menos, e o Wilson esteve lá e depois ele teve que sair no
segundo dia se eu não engano. No segundo dia você teve que sair e no final da assembléia os
índios em assembléia disseram para mim, eles falaram oralmente aquilo que eles colocaram aqui
nesse papel. Eu respondi na hora lá que eu tinha seguido todas as regras estabelecidas e que eu
tinha tido conhecimento quando cheguei na Funai e que aquilo para mim era uma novidade
naquele dia. Até aquele dia eu não sabia de nenhum questionamento e disse a eles que se eles
tinham qualquer tipo de questionamento que eles tinham que fazer por escrito e encaminhar à
Presidência da CNPI, porque eu não ia ficar tratando aquilo ali numa assembléia de uma forma
informal. Eu estou dando essa informação aqui também porque eu acho que a gente tem que ter
transparência nessa discussão. Repito, não é uma questão de estar fazendo juízo de valor. Eu
quero dizer de público que tanto o Danilo quanto o Wilson Matos têm desempenhado as funções
aqui na CNPI de uma forma presente, participativa, portanto, não é um juízo de valor nosso, mas
de encaminhar uma questão de Regimento que prevê o Decreto presidencial. Só isso, em função
de um questionamento que foi feito pelas comunidades lá. Tendo dado esses esclarecimentos.
Tem mais um ponto? [Intervenção fora do microfone]. Então explica.
Terezinha Maglia: Esqueci um pequeno detalhe. As cartas que vieram das comunidades, de
onde tiraram os nomes, também não respeitam o Decreto presidencial e o Regimento Interno,
visto não ter sido acompanhado por nenhum membro do governo, ou seja, um membro federal da
CNPI, nem o Ministério Público. Foi alegado que havia participação do Procurador da República
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numa assembléia, só que na carta infelizmente não tem assinatura, portanto, para nós, pela carta
ele não estava presente, se estivesse presente teria a assinatura dele...
Presidente Márcio Meira: Ou seja, porque é importante isso? O que nós estamos dizendo
também é o seguinte: que essa indicação que veio de lá com esse documento de nomes não tem
nenhuma validade jurídica, porque ela teria que ser intempestiva e também não seguiu regra
nenhuma, portanto eu quero deixar bem claro todos dados aqui colocados.
Interlocutor não identificado: Presidente, uma questão de ordem. Por que o consultor jurídico
do Ministério da Justiça deu um parecer se esses atributos não se configuram?
Presidente Márcio Meira: Porque ele não tinha ainda quando nós mandamos os documentos
para o Consultor Jurídico, foi antes de ter sabido da ata que não estava na Funai, não estava na
CGDDI, nós mandamos o documento dizendo que não tinha ata, portanto, com a ausência da ata,
o parecer dele foi muito firme. Depois é que nos chegou a informação dessa ata por um servidor
da CGDDI.
Wilson Matos: Senhor presidente, eu só queria lembrar que após a ata ter saído e ser recebida
pela Funai já não é mais responsabilidade nossa, da nossa associação. É responsabilidade da
Funai, e se errou aí foi a Funai de ter recebido incompleto e ter encaminhado incompleto isso.
Danilo Terena: Só mais uma pronunciamento aqui, presidente. Com relação a essas questões de
encaminhamento, de que todo esse procedimento não foi feito, não foi porque nós fizemos uma
articulação no sentido de apontar nomes, porque foi essa a orientação da Funai. A Funai nós
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orientou. A Funai disse: - Vocês fazem uma reunião. Em nenhum momento foi citado para nós a
questão da presença do Ministério Público. Até mesmo a gente poderia ter pensado nisso...
Presidente Márcio Meira: Porque isso está no Decreto presidencial...
Danilo Terena: Sim, mas é isso que eu estou dizendo. Como a Funai nos encaminhou isso para
nossas bases nós não fomos atrás do Decreto. É isso que eu estou dizendo.
Presidente Márcio Meira: A Dra. Alda também queria falar alguma coisa? Em seguida eu vou
abrir as inscrições. Sandro e todos os outros que estão inscritos. São elementos para vocês
decidirem...
Alda Carvalho: Pelo que está relatado, eu não quero fazer uma defesa aqui do Consultor
Jurídico, mas vou ter que fazer, até porque a Consultoria Jurídica dos ministérios é um órgão da
AGU ligado diretamente a onde eu trabalho, a Consultoria Geral da União. Embora seja nomeada
por indicação dos seus ministros, ela pertence à Advocacia Geral da União e faz parte das nossas
unidades da Consultoria Geral da União. Acontece o seguinte: pelo que eu pude compreender,
sem analisar mais, mas apenas ouvindo esse relato, eu vejo que ambos os processos, se for querer
cumprir rigorosamente o que manda o Decreto, ambas as indicações estão impedidas, quer dizer,
elas não poderiam estar na indicação. Então, a análise do Consultor, obviamente ele analisou em
cima do que foi colocado, acreditando que a Funai encaminhou a documentação com tudo e ele
se baseou e achou que era só aquilo. Futuramente, mais tarde, foi encontrado outro documento
que veio desfazer tudo aquilo... [Intervenção fora do microfone]. Então veja bem, para mim, no
meu ponto de vista, tanto um quanto o outro está prejudicado. E aí é apenas uma opinião sem
análise, mas eu vejo que estão prejudicadas as duas coisas. Não tem legitimidade nem um nem o
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outro. Se o presidente da CNPI quiser legitimar, realmente fazer cumprir o Decreto, tem que se
fazer um novo instrumento. Esquecer o que já foi feito e fazer uma indicação.
Presidente Márcio Meira: Só para ler, para conhecimento do plenário. Eu vou ler aqui o que diz
o Regimento a respeito e o Decreto para depois a gente abrir para discussão. O que o decreto diz,
aliás, o que o Regimento Interno da CNPI diz é que, quando há esse tipo de situação, no artigo 6º
diz que: deverão ser feitas, deveriam ser feitas, no caso, reuniões para indicação ou alteração dos
representantes indígenas, o que deverá ser acompanhado por pelo menos um dos órgãos federais
participantes da CNPI, sendo obrigatório o convite para participação de membro do Ministério
Público Federal. Isso é o que diz o nosso Regimento quando há que se fazer alguma substituição
ou alteração dos representantes indígenas. Sandro e em seguida os vários que se inscreveram.
Sandro Tuxá: Boa noite. Sandro Tuxá. Leste/Nordeste. É lamentável a gente estar no finalzinho
das nossas atividades e cansados e com um monte de trabalho e ter que descascar esse abacaxi.
Nós da bancada indígena, quando nós vimos isso na pauta, nós não estávamos entendendo a
complexidade do problema e nem tão pouco essas questões. Tanto é que nós pedimos para retirar
da pauta porque a gente achava que já tinha tantas coisas que precisaríamos estar discutindo
agora e diante desse tempo sem reuniões que não seria interessante esse ponto na pauta. O
presidente colocou agora para nós, membros da bancada, que realmente se faz necessário discutir.
Eu quero dizer que esse problema que está acontecendo com o parente Terena e Guarani, o
Wilson e Danilo, pode se estender a todos os membros da CNPI, uma vez que a gente ainda não
definiu como vai ser a nossa articulação nas nossas bases. No caso nós, enquanto membros, que
temos a APOINME, a nossa articulação, a gente vai utilizar os nossos espaços, nossos
seminários, nossos fóruns. Agora mesmo teve uma reunião no estado da Bahia, eu não pude
participar, mas a gente já foi cobrado. Já recebemos aviso, a gente já foi cobrado pelos nossos
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parentes. Eu não tive condições de ir e a gente sabe que mesmo que eu venha a solicitar para a
nossa secretária ela vai dizer que não tem grana. Porque não tem garantido. Já foi explicado isso.
O presidente já nos colocou a par de que enquanto não for Conselho, enquanto não tiver imbuído
no plano plurianual o orçamento próprio do Conselho, nós vamos ficar nessa sinuca de bico,
porque vamos ser cobrados para estar nos principais fóruns, mas não dá, sendo que, enquanto
bancada do Nordeste e do Leste, temos que estar no fórum de Minas, temos que estar no fórum
do Espírito Santo, temos que estar no fórum de Pernambuco, Ceará, Paraíba, Alagoas, Sergipe,
enfim, é muito complicado. Mas eu chego lá. Isso já serve de reflexão para o que vem pela frente,
tanto é que estávamos aqui debatendo como nós vamos articular para no Abril Indígena nós
estarmos mostrando nosso trabalho e mostrando nossas coisas. Por outro lado também, ainda
seguindo essa visão, eu recentemente passei por uma situação também não tão agradável. Da
minha região do norte/oeste da Bahia, recentemente parentes meus, os Kiriri, os Kaimbé, os
Pankararé e os Tuxá de Rodelas, ocuparam a Funai e pediram o afastamento do administrador.
Adivinha quem foi mirado? Quem fez toda a articulação com o presidente foi Sandro Tuxá, eu
está lá na CNPI. De modo que os parentes já vêm me indicando para vários fóruns na Bahia,
inclusive recente para eu assumir a coordenação de política indigenista no estado da Bahia. Eu
fiquei como suplente, apoiando o Jerry Matalawé no meu estado. Mas quando houve esse
processo o administrador habilmente convenceu as lideranças a fazer um documento contra mim.
Eu fui lá na minha comunidade, eu sou liderança da minha aldeia, fui lá e chamei os parentes e
disse bem assim: como é que você está aqui fazendo documento e sendo induzido por documento
e tal. Apresentei meu trabalho e disse eu estava aqui representando a APOINME, mas como
liderança política do movimento indígena que ninguém poderia representar qualquer comunidade
que seja a não ser os membros que foram eleitos para se representarem. Eu posso falar como
liderança Tuxá do meu povo, ninguém vai tirar isso, porque eu fui nomeado, eleito na assembléia
do meu povo, e que jamais eu ia fazer esse tipo de articulação. Graças a Deus o caso foi
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resolvido, não se estendeu muito mais, mas assim: a gente nota como é fácil de ser manobrado. A
gente descobre que é facilmente manobrado e aí levei essa preocupação para os parentes aqui, e a
gente vem compartilhando, fica até 11, 12 horas da noite, na maioria das vezes não é em farra, e
sim debatendo, discutido, fazendo articulação para conversar com vocês aqui. Então a gente vê o
empenho dos parentes e o compromisso deles. De modo que para nós, eu acho que vou falar pela
grande maioria da bancada, porque já conversamos sobre esse assunto. É necessário sim que se
aplique o que está no Decreto, no Regimento Interno, que foi divulgado no Diário Oficial da
União, como o Presidente falou muito bem. Eu acho que é a forma mais democrática que eu estou
vendo para resolver esse problema agora no momento. Eu acredito que seria até interessante que
dentro dessa reunião os nossos parentes pudessem chamar os membros aqui da CNPI da bancada
indígena para mostrar o trabalho e as atividades que eles vêm desenvolvendo aqui e lá resolver, é
o movimento do estado que vai resolver. Então eu acho que, como encaminhamento, a minha
sugestão, e vai para os outros parentes, é de adotarem aqui o que está realmente no decreto. Nós
não podemos tomar outra decisão se não essa que é a mais acertada possível.
Presidente Márcio Meira: O próximo inscrito é o Caboquinho
Caboquinho Potiguara: Eu só queria um pouco endossar as palavras do Sandro. Presidente, a
gente sabe que é uma questão de base no caso, e se é questão de base quem tem que decidir isso é
a base; mas venhamos e convenhamos, o Conselho está para ser formado, ninguém sabe também
em quanto tempo vai ser formado, mas as bases poderiam sentar e referendar essas pessoas para a
criação do Conselho, como membros do Conselho. Eu estou jogando um pouco uma idéia. Eu
não sei. A proposta do Sandro é muito boa: a comunidade senta e decide e quem sabe se não vai
ser Danilo e Wilson para fazer parte do Conselho? Eu acho que tem que tentar.
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Lindomar Xocó: Lindomar, do povo Xocó, Sergipe. Eu vejo que nessa situação nós estamos que
nem naquela história, se correr o bicho pega se ficar o bicho come. A situação está aí e eu só vejo
uma saída, vou ser bem objetivo. Temos que respeitar o Regimento, a publicação no Diário
Oficial. Wilson e Danilo são meus amigos, temos um laço de amizade muito forte, mas temos que
respeitar os nossos direitos e os direitos dos outros. É a minha opinião qual é: sabemos do
trabalho de vocês, é um trabalho muito bem feito, têm participado, não têm falado só do estado
deles, têm falado de todo o contexto nacional, mas eu só vejo uma situação; Wilson e Danilo, eu
sou sincero de dizer a vocês e a todos que estão aqui presentes: eu não sei há possibilidade de
vocês juntarem, é uma proposta, eu não sei como é o estado de vocês lá, mas tirar uma comissão
de três ou quatro; mas que vocês tivessem a possibilidade de formar uma reunião nas bases e
mostrar de cara quem são vocês para a sociedade, porque dessa forma o Márcio, presidente
Márcio, confirmou há poucos instantes que na assembléia o pessoal diz que vocês não foram
legitimados, chegou documento dizendo que vocês não foram legitimados. Então essa é a minha
proposta, que se faça uma assembléia que vocês vejam uma maneira e que seja acompanhado por
essa comissão. Obrigado.
Wilson Matos: Só falar no que ele citou. Eu agradeço pela preocupação do colega e quando ele
diz mostrar quem nós somos. Realmente a gente já tem uma folha de serviço prestado na
comunidade. Fico profundamente triste primeiro porque a associação, embora a gente faça parte,
não fui eu o encarregado de enviar esses documentos. Mas eu questiono, enquanto advogado,
porque os meus colegas aqui não pensam juridicamente como eu penso. Veja bem, eu tenho um
processo, abre-se um edital, uma instituição, um órgão público federal está encarregado disso, ele
recebe um documento e, mais do que receber, isso é impossível juridicamente, mais do que
receber, encaminha para frente e não tem nenhum consultor e nem alguém que olhe e diga: - esse
documento está inválido. E deixa dar seguimento. O que acontece na área jurídica com isso,
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presidente? É aceito, presume-se aceito. Nós encaminhamos a ata. Não fui eu que encaminhei,
teve falha no encaminhamento, eu reconheço. O decreto tem que ser cumprido. Decreto não é lei.
Decreto faz parte do regramento normativo, mas ele não é lei. A lei é votada no Congresso
Nacional, um decreto é apenas um dispositivo administrativo, e o decreto foi burlado. Burlado
por quem? Pela própria Funai. Porque a Funai encaminhou os nossos documentos, então a Funai
é culpada. A quem eu vou impetrar um mandado de segurança agora? Contra a CNPI? Contra a
Funai? Contra quem não encaminhou os documentos direito? Porque no meu pensamento eu sou
um membro legítimo. Foi assim que a gente se reuniu e os documentos vieram para cá. Isso está
me causando constrangimento inclusive, isso é suscetível de dano moral, porque está me
causando constrangimento.
Presidente Márcio Meira: Eu vou continuar com os inscritos. O Ak’jabor tinha se inscrito, o
Heliton também.
Ak'jabor Kayapó: Senhor presidente, essa coisa que nós estamos discutindo não é para discutir
esse problema que nós estamos com as coisas tristes que nós estamos sentindo agora. Eu estava
aqui na reunião passada com CNPI. Primeiro tentaram tirar eu, tentaram o cacique, que veio
viajando com mais ou menos 4 ou 5 lideranças jovens, lideranças fracos que vieram para cá e
voltando para lá já começaram a fazer, em Brasília, já começaram a fazer os encaminhamentos da
minha saída na minha base. Começou a chegar lá. Eu pedi para o senhor para viajar lá para
Belém para resolver o problema com o procurador com o negócio de arma, eu fui. De lá eu recebi
o telefone: Ak’jabor você não sabe que aconteceu isso, isso e isso. Vai acontecer isso na aldeia do
cacique [inaudível]. Eu falei: tudo bem. Quem está fazendo isso? Eu não sei se Salete já falou pra
você já. Eu passei para ela. O próprio presidente quer tirar você do CNPI, foi o que me falaram.
Eu falei: tudo bem, pode me tirar, eu saio, eu quero sair. Aí eu liguei para outra liderança e falei:
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você está perto do rádio de comunicação? Ele falou: estou. Então fala logo. Eu vou falar ao vivo
para a comunidade onde estão todas as lideranças ouvindo a minha conversa. Ele colocou e eu
falei diretamente com todas as lideranças. Ele falou: tudo bem, todo mundo está ouvido, pode
falar. Aí eu comecei a falar: liderança, vocês estão querendo tirar eu da CNPI, indica outra
pessoa, pode indicar outra pessoa, pode indicar. Tudo bem quem quer me tirar da CNPI? Eu
quero saber direito. Eles disseram: não, porque os caciques foi lá em Brasília e voltou. Mas não é
o presidente que está fazendo isso, eu estou sabendo que está fazendo isso. Usar o nome do
presidente. Aí eu falei: tudo bem se o presidente quer me tirar tudo bem, me tira, mas ele cai
também na minha força. Eu falo. Eu não posso falar coisa por trás, eu tenho que falar na cara
mesmo. Eu falei: ele cai também, mas só quando ele me matar, igualmente o Mércio quase matou
o cacique Raoni. Aí sim eu morro e acabou o problema. É isso que eu quero. Aí ele falou: o
presidente Mércio quase matou o cacique Raoni. Então eu falo logo para eles. Eles falaram:
cacique, é o seguinte, outra liderança entrou: cacique, preocupa não, essa é a conversa, fica
tranqüilo, resolva o problema da comunidade, luta por nós e a única pessoa que nós estamos
escolhendo é você. Você já pediu três vezes para entregar seu cargo para alguém e todas as
pesquisas não encontrou nenhuma, então todas as lideranças estão aqui e não querem que você
saia não. Tudo bem. Então eu resolvi o problema. Essa é a história que foi comentada lá, mas não
é o presidente que está falando isso, eram os funcionários da Funai, então talvez igualmente está
fazendo com os meus parentes aí. É triste. É muito triste. Se fosse eu falava logo na cara deles, de
cada um, cacique você, você, fala logo, fala. E tem que falar, mas tudo bem, eu fico muito triste,
a questão disso aí poderia nós índios mesmo faz o documento, nós membro daqui faz o
documento e encaminha para lá também. Porque eu nunca vi o Danilo fazer alguma coisa aqui
com a gente e nem o Wilson. Melhor nós fazer o documento e encaminhar lá para ser prova.
Mandar alguma liderança mesmo vem aqui, e prova. Isso que nós quer saber. Era isso presidente.
É conversa que já foi passada, mas eu levantei hoje porque eu não vou falar mal de ninguém por
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traz, qualquer coisa que eu falo eu falo na frente mesmo. Isso que eu quero. Está passando muito
a hora, todo mundo está com fome, eu vou terminar essa minha conversa.
Presidente Márcio Meira: Heliton, depois o Titiah.
Heliton Gavião: Eu queria reforçar a fala dos companheiros, senhor presidente. Eu acho que a
gente não deveria decidir uma coisa que é tão complicada agora nesse momento. Eu queria
sugerir, a minha opinião, antes de afastar companheiros eu acho que a gente deveria convocar
uma reunião nas bases, ouvir a comunidade que indicou os dois que são membros do CNPI e
antes de acontecer uma decisão precipitada. Eu acho que o nosso papel é esse. Eu acho que nós
estamos aqui para construir uma política em conjunto, mas decidir uma coisa de uma vez a gente
está fugindo da nossa obrigação talvez. Então era isso que eu queria sugerir: ir na aldeia dos dois
companheiros e ouvir a comunidade e ouvir a diretoria das organizações que indicaram eles.
Talvez tem alguém influenciando os parentes, que não se dá bem com eles, então eu acho que é
isso que a gente tem que avaliar bem esse documento, ouvir a opinião de cada um da comunidade
que indicaram ele. Companheiro Danilo também e o Wilson, eu acho que têm que começar a
fazer articulação assim que vocês chegarem na aldeia de vocês, para convocar uma assembléia
extraordinária para discutir sobre essa questão aí. Essa é a minha sugestão.
Luiz Titiah: Boa noite. Titiah. Leste/Nordeste. É o seguinte pessoal, eu quero dizer para os
companheiros que é muito preocupante a situação que estão enfrentando, mas queria dizer para o
presidente e demais representantes que a gente indígena nós vamos enfrentar isso. Nós vamos
enfrentar isso por motivo de algumas notícias que correram dentro da CNPI. Uma coisa que nós
estamos aparando dentro da base é a notícia que deu da nova estruturação da Funai, que algum
funcionário da Funai está fazendo as suas políticas e suas políticas porca que pega índios, fica
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dando alguns agrados para querer jogar contra a gente, sabe senhor presidente? Isso nós também
enfrentamos nas nossas regiões. E aqueles índios que tinham aqueles vícios ruins de outros
governos que hoje as nossas organizações nos escolheram para ter um diálogo aberto com esse
novo governo Lula, para tentar resolver a situação dos povos indígenas, nós estamos enfrentando
isso. E pela situação que os parentes estão enfrentando eu acho que o caminho é se a bancada da
CNPI, do colegiado indígena fosse lá na base visitar, olhar de perto, porque o exemplo que eu
vou dar dentro da minha região já teve algumas comunidades da igreja que arrecadam um bocado
de assinatura com CPF e RG e depois essa assinatura ser usada para muita coisa de má-fé. Isso
está difícil para a gente. Eu queria dizer em alguns órgãos é a Funai, dizer para o Edgard também
que dentro da Funasa também está sendo usado isso; porque a gente que hoje estamos
representando na CNPI muitas lideranças, muitas comunidades estão procurando a gente para
registrar alguns fatos e a gente que está reclamando, cobrando, reivindicando e nisso alguns
funcionários, com medo de perder o cargo, com medo de algumas denúncias, começam a jogar
alguns parentes de cabeça fraca contra as nossas pessoas. Então isso nós estamos enfrentando e
vamos enfrentar, até que na minha região mesmo, começou no extremo sul, já começou a querer
com essa questão da nova estruturação da Funai. Até que eu fiz um pedido, não sei se chegou ao
conhecimento do presidente um pedido que eu fiz assinando como membro da CNPI para mim
visitar as comunidades e começar a dialogar com as lideranças sobre essa questão da nova
estruturação, porque tem índio que não está entendendo e está dizendo que nós da bancada
indígena estamos negociando com o governo a nova estruturação da Funai e isso ainda não existe
nessa reunião. Foi coisa que vazou de outras reuniões onde o presidente informou a questão como
estava a nova estruturação da Funai, mas nós não negociamos nada e ainda ficou para dialogar e
consultar as bases. E isso eu culpo até alguns representantes de órgãos do governo que estão
fazendo esse papel. Eu queria, senhor presidente, pedir aqui em nome da bancada indígena que a
Funai e a Funasa e outros órgãos comecem a fiscalizar isso, porque pode ter um conflito nas
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regiões por motivo disso aí. Isso é um problema muito grave e para encaminhamento eu acho,
para resolver o problema dos dois parentes que estão com essa situação grave, que a bancada
indígena devia ir lá visitar e também até dizer o papel do comportamento dos companheiros aqui
na reunião da CNPI, já que às vezes tem meia dúzia que está botando na comunidade que eles só
vêm aqui receber diárias, tem ciúme; vocês sabem que é normal na comunidade o ciúme das
diárias, o pessoal diz que a gente está ganhando milhões de dinheiro, que nós estamos numa boa,
que a gente só vem para curtir. São os comentários de avião de ida e vinda, mas não sabe o
trabalho. Outra coisa eu acharia também que dentro da CNPI a gente podia ver uma forma de dar
condições, nós lideranças das regiões e começar dentro das AERs da Funai e da Funasa a dar
condições da gente começar a fazer as articulações de base, senhor presidente, porque é muito
gasto, é difícil o acesso às comunidades e eu mesmo sinceramente na região estou aproveitando
assim encontro da Funasa, encontro de jovens é que eu estou tendo um espaço de passar alguns
trabalhos aqui da CNPI, mas eu acho que nós temos que se empenhar nesse lado aí.
Presidente Márcio Meira: Marquinhos, depois o Celso, a Lylia e depois o Brasílio e o Edgar.
Marcos Xucuru: Eu acho que nós já ouvimos bastante, nos estendemos bastante nessa discussão
e eu vejo que aqui nós não temos competência para resolver essa situação. Eu vejo dessa maneira:
uma vez que tem uma legislação, que tem um Decreto presidencial, que tem um Regimento
Interno que foi criado por todos nós, nós não temos como aqui modificar isso. Certo? O processo
que tem que ser encaminhado que eu acho mais correto é isso que foi apresentado: precisa se
fazer, diante do repasse que foi feito aqui das documentações que não chegaram de forma correta
como manda o decreto, vamos ter preocupação, por mais que nós enfrentamos situações na base
isso sempre vai ocorrer, como o próprio Wilson disse que ninguém é unânime. Agora, se nós
cumprirmos o nosso papel, nossas organizações cumprir o papel, como manda o Regimento, para
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que nós estar se preocupando aqui e de repente de chegar 2, 3, 4 pessoas de uma região e chegar
aqui e mandar um documento para a Presidência, ele vai analisar, mas consta nos anais do
Ministério que nós, as nossas organizações percorreram todos os trâmites que era para correr.
Então nós não devemos estar nos preocupando com essa situação não. Agora se não houve e aí
por A mais B a gente está vendo que houve uma falha, como foi dito, teve interferência de A, B e
C nesse processo lá na região, então eu acho que o mais correto é que aconteça de fato essa
situação posta lá pelo próprio povo da região, que a organização que indicou o Wilson e o Danilo
para se sentar, construir um diálogo e a partir daí quem sabe posteriormente sentando e
conversando, vendo a atuação deles aqui dentro eles possam ser re-indicados novamente, ser
referendado novamente. Então eu acho que seria mais prudente a gente partir para esse tipo de
encaminhamento. Inclusive fica difícil para a gente da bancada chegar lá no estado referendando
ou vice-versa porque termina a gente interferindo numa organização social do povo, enfim, fica
difícil para a gente isso. Agora, essa questão da interferência da forma deturpada que as pessoas
falam da atuação da bancada indígena isso vai acontecer enquanto não tiver uma ampla
divulgação do trabalho que está sendo feito na CNPI e os encaminhamentos que estão sendo
dados ao longo da formação da CNPI. Os passos, os avanços que nós já conseguimos dar ao
longo desses anos, do ano que se passou e agora que se inicia em 2008. Era só isso e muito
obrigado.
Presidente Márcio Meira: Celso. Eu estou encerrando as inscrições agora, ainda tem o Celso, a
Lylia, o Brasílio e o Edgard. Encerrando as inscrições, depois a gente vai ter que dar o
encaminhamento.
Celso Correa: Celso. Casa Civil. O Marquinhos abreviou a minha fala. Eu só queria fazer uma
consideração rápida em relação à questão em si, o problema que a gente tem na mão. O problema
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leva a gente ao risco de questionar a legitimidade de representação e esse questionamento leva até
a questionar a própria CNPI. No caso jurídico em si, se houve uma falha e o administrador
identifica que houve alguma ilegalidade no processo, ele tem a prerrogativa e é exigido a rever o
seu ato. Isso não tem problema, agora isso não indica que vai haver uma alteração na
representação. É uma correção do ato que formalmente contém um erro, nada impede que a
representação da CNPI permaneça se corrigido esse processo. As perspectivas de corrigir esse
processo já foram colocadas algumas alternativas de refazer o processo de escolha, ou ir ainda
uma comissão para verificar a dimensão do problema. Agora, uma coisa que eu queria colocar é
uma questão para representação governamental. Ao longo da construção da CNPI, desde as
primeiras discussões do grupo de trabalho, a gente sempre teve tirando a dimensão que a
representação indígena queria para a CNPI e que a gente via que era difícil de viabilizar, se a
gente tivesse atendido as demandas originais a representação indígena teria mais de 100
representações aqui. Tirando isso que a gente não teve como ir para o embate, vocês sabem do
que eu estou falando, tirando isso a gente sempre deixou muito essas decisões que se refere à
representação indígena por conta do próprio movimento indígena. Então eu acho assim, que no
caso da representação governamental, a votação, eu me proponho e vou fazer isso no meu voto:
em qualquer votação que seja feita aqui, vou seguir a votação da maioria da representação
indígena. Então o meu voto aqui já está declarado. O que a maioria da representação indígena
votar eu estou acompanhando e estou colocando isso para a representação governamental como
um caminho para manter a independência da representação indígena. Só isso.
Presidente Márcio Meira: Lylia.
Lylia Galetti: Eu nem vou me estender. Eu estou com a posição do Marquinhos Xucuru. Eu acho
que foi quem se expressou melhor agora porque ele lembrou que essa legalidade, embora ela seja
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complicada, é uma engenharia um pouco complicada principalmente para regiões ou estados que
não têm organizações mais amplas, que é o caso típico do Mato Grosso do Sul; não tem
nenhuma... Você tem COIAB, você tem APOINME com problemas de representação como
qualquer entidade representativa. O nosso Congresso Nacional... [Intervenção fora do microfone].
Não, não por ser indígena, pelo contrário, porque essa não é a organização deles, eles acolheram
isso porque precisam participar da sociedade nacional, porque participando já está ruim, imagina
se não estivesse. Então o nosso Congresso a gente pode dizer não é representativo. Tem uma
legalidade, tem uma Constituição, tem uma lei eleitoral, nós fizemos a nossa lei aqui e ela tem
que ser respeitada. Isso não quer dizer, Wilson, que a sua indicação não seja representativa ou
tenha sido feita de má-fé e etc., agora, o fato é que ela não está dentro da nossa legalidade, como
também não está essa outra representação que foi encaminhada. É muito difícil também a
situação, porque se fazer uma reunião para indicar membros da CNPI confiando simplesmente no
que o administrador da Funai está falando, sem ter na mão a lei que diz como é que a reunião tem
que ser organizada, nos dois casos é muito complicado. Então de fato se é para honrar a
legalidade que nós mesmos construímos a gente teria que partir para esse processo de escolha de
uma nova representação, com tudo que o Regimento pede. Agora, a permanência dos
representantes aqui até que esse processo se resolva, porque ele vai ter que ser um pouco longo,
como é que vai ser construída essa reunião, a gente fala em reunião, assembléia, para ter uma
ampla representação. Porque eu acho assim: a gente só garante legitimidade quanto maior for a
representatividade e às vezes é muito difícil para uma organização indígena regional ou mesmo
local garantir essa participação massiva e ter regra na própria assembléia, 50% mais um que seja,
mas tem que ter uma maioria, porque é a regra do jogo democrático. Embora não seja uma norma
para as comunidades indígenas, no momento que elas estão dentro de um aparelho do Estado,
num conselho, numa comissão, vão ter que encarar. Talvez essa seja a única coisa que não dá
para diferenciar, para honrar a diferença, porque senão a gente chegaria talvez na democracia
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grega, que é a representação direta, que é a que acontece na aldeia. Todo mundo vai, tem um
conselho, mas aqui não é o caso. Então eu acho que, até para garantir a legitimidade, a legalidade
precisa ser respeitada.
Wilson Matos: Presidente eu poderia me inserir na fala dela?
Presidente Márcio Meira: Só para terminar...
Wilson Matos: Até para esclarecer. Por exemplo, o que eu aleguei foi exatamente o que o Celso
pôs, não é porque ele é meu colega não, mas ele fez a leitura jurídica do que é. Quando o ato está
imperfeito se refaz o ato. É aquilo que ele propôs, podem permanecer os membros e se refaz o
ato. Por quê? Porque quem aceitou esse documento, que recebeu esse documento e deu
encaminhamento para que nós fôssemos relacionados lá é que errou. O documento deveria ter
sido barrado lá na hora de receber. Se eu faço uma petição mal o juiz não recebe, ele manda
emendar, ele dá um prazo para mim emendar a inicial. Por quê? Porque eu não tinha os requisitos
do 282, então esse é o procedimento. Proponho inclusive... Eu entendo que nesse processo todo o
visado sou eu. Eu proponho inclusive que a indicação da Associação da Defesa dos Direitos
Indígenas do Mato Grosso do Sul possa indicar outro membro. Eu saio fora, mas o que eu quero é
que essa indicação permaneça deles, porque não é uma questão de legalidade, o que nós fizemos
aqui foi trabalhar em cima do que se pressupôs legal, se pressupôs por quê? Porque havia um
processo de recebimento dessas atas e se essa ata foi recebida de forma ilegal e foi dado
encaminhamento nós não temos culpa.
Presidente Márcio Meira: Certo, Wilson. Eu vou fazer o seguinte, encaminhamento agora. Vou
ouvir o Brasílio que é o último inscrito. Após o Brasílio o Edgard. Depois do Edgard eu vou, até
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porque é uma questão jurídica, nós estamos aqui com a Advogada da Advocacia Geral da União,
ela é membro da Advocacia Geral da União, porque eu quero também escutar a opinião dela
sobre essa questão jurídica e o Celso quer um esclarecimento. [Intervenção fora do microfone].
Alda faz. Então Brasílio.
Brasílio Priprá: Boa noite. O que eu queria dizer é uma coisa que preocupa a todo membro da
CNPI, mas ele falou muito bem, se houve um erro não foi dele, não foi dos dois meninos, então
eu acredito que há necessidade e tem como haver essa reparação. Eu acho que fica bem claro aí
que todos os trâmites legais pedidos eles responderam, se não chegou até o Ministério da Justiça
não cabe a eles. Então essa é a minha colocação. Obrigado.
Edgard Magalhães: Eu estou contemplado na fala do Caboquinho, do Titiah, do Marcos, do
Lindomar, e na fala do Celso. O único aspecto que eu queria chamar a atenção é que eu acho que,
se o Danilo e o Wilson têm como trazer à Comissão os elementos faltantes nas exigências do
Decreto, por exemplo, provar que houve uma convocatória prévia do Ministério Público para a
assembléia de eleição, se eles têm condição de trazer esses elementos e aí completar todas as
exigências do Decreto, aí eu acho que seria, embora, fora do tempo, embora tardio, mas a gente
vê que é confesso que houve extravio de documentos, documento deveria estar em pasta e estava
na casa de pessoas da Funai. Então acho que seria admissível a Comissão aceitar neste momento
esses documentos, se existem, se não existem permanece um vício que não tem como ser sanado
e eu tenho a mesma opinião - o mais lógico é refazer o processo lá, eles participam, quem está
requerendo que ainda não fez os ritos que devem ser feitos faz isso no mesmo momento. Eles
competem junto com os outros, apresentam-se como candidatos e a gente sai com uma eleição
legítima. Agora, se existe um vício nos procedimentos e não há elementos novos que entendam
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que foi erro de procedimento nosso, da Secretaria da Comissão, esse tipo de coisa, aí não tem
como manter a representação. A gente coloca a própria comissão em risco. Obrigado.
Alda Carvalho: Meu colega Wilson, agora nós estamos falando como colegas, você é meu
colega. Muito bem. O Celso não é, mas entende muito, até mais ou tanto quanto eu; o nosso
colega, que não é meu colega, mas explanou muito bem, que é o Marquinhos, ele foi, sem falar
nos termos jurídicos, mas ele foi no ponto exato, perfeito. E agora completou com o colega
também, que não é um colega de profissão, mas colega de CNPI, que também acabou de dar um
esclarecimento. Eu só tenho uma dúvida com relação a essa colocação do Edgard. Eu entendo o
seguinte: com certeza isso já está claro, esse processo da sua indicação está totalmente nulo. Por
quê? Porque houve um vício de procedimento. Qual foi? A falta do Ministério Público, porque o
documento apareceu depois. Outra coisa. Será que você teria condição de vir com este mesmo
documento, mas com a certificação de que o Ministério Público participou? Não sei. É uma
dúvida. E assim mesmo ainda tem uma dúvida: ela é intempestiva. Já foi fora de prazo, então se
estamos aqui querendo uma legalidade, cumprir rigorosamente o que manda o Regimento desta
Comissão e o Decreto, nós não podemos permitir que haja um conserto, então o processo está
viciado, está nulo. Tanto a sua indicação primeira quanto essa segunda também é nula. Isso,
Wilson, independente, voltando ao que já disse o Celso e já disse o Edgard, basta fazer uma nova,
se você tem tanta certeza de que o Ministério Público participou é fácil fazer uma nova
assembléia e fazer essa nova indicação e continua. E aí sim, eu só entendo que você permaneça
aqui até que esse processo, enquanto esse processo está em julgamento, seria vamos dizer um
procedimento novo, aí sim eu acho que você poderá continuar na comissão, eu entendo assim, a
menos que os conselheiros tanto da parte indígena quanto governamental não entendam dessa
forma. É só isso. Não tem muito o quê discutir.
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Presidente Márcio Meira: O Jorge do Ministério da Justiça quer fazer um comentário, e a Lylia
também quer fazer um comentário rapidamente.
Jorge Quadros: O meu comentário é bastante simples. Eu acho que estamos tentando entrar num
terreno muito ruim, muito pantanoso, mas parece que já tem uma posição do Ministério da
Justiça, da Assessoria Jurídica, parece que é muito claro o fato, claríssimo, eu acho que não nos
permite enquanto Comissão nós começarmos a achar isso e aquilo. O fato é claríssimo. Está
incorreto, e qualquer outro tipo de decisão que a Comissão tomar ela pode sim perder a
legitimidade, porque pode ser o primeiro caso e pode ser casos que vão começar a acontecer a
partir de agora. Quer dizer, qualquer dificuldade que vier a acontecer, qualquer tipo de problema
que vier a acontecer se traz para a plenária da Comissão e ela faz exatamente aquilo que vocês
querem que ela não faça: comece a decidir pelas comunidades, o que ela não tem competência e
ela não deve fazer. Então eu acho que principalmente nós que somos indicados pelo governo, que
também só temos legitimidade quando indicados pelo governo, enquanto indicados pelos nossos
ministérios, não temos essa liberalidade e também não podemos fazer aqui um tratamento menor
de um entendimento simples. Um entendimento simples de um procedimento que foi criado por
todos que participaram naquele momento do que deveria haver essa condição, ponto, acabou. A
qualquer momento que você perceba que houve um erro esse erro tem que ser corrigido, porque
senão todos nós seremos coniventes com esse erro; e a Comissão acaba, perante o governo e
perante as comunidades, mostrando que ela não tem capacidade de enfrentar problemas que
surgem. Não é uma questão de não gostar desse ou não gostar daquele. É uma questão que se nós
não respeitarmos minimamente aquilo que ordena, orienta e que regra isso aqui então nós
estamos perdendo tempo. Eu queria fazer um apelo no sentido de que não se proponham
alternativas que nós não temos condições administrativas e muito menos jurídicas para sustentar.
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Alda Carvalho: Só complementando. Eu queria sugerir à Secretaria e à Presidência dessa
Comissão a possibilidade de rever, verificar os documentos das demais indicações para ver se não
houve alguma falha com relação a esse ato, porque se nós estamos aqui por uma questão de
denúncia, de rever porque a Comissão não viu, mas houve uma denúncia e então foi por isso que
o caso dele agora está sendo apreciado. Eu não vou falar em julgamento porque isso aqui não é
fórum de julgamento, mas apreciado, então seria interessante também que se veja antes que isso
se torne, como disse o colega, uma continuidade, daqui a pouco toda hora está chegando alguma
coisa alegando isso o outro alegando aquilo, e o processo dessa indicação seja mantido. É só uma
sugestão.
Lylia Galetti: A minha intervenção é na linha do colega do Ministério da Justiça, inclusive
porque os próprios companheiros indígenas cuja representação está sendo questionada admitiram
que o Ministério Público Federal não estava presente, porque a Funai os orientou erroneamente
de como seria o processo. Eles foram, estou repetindo o que o próprio Wilson colocou, induzidos
a fazer a coisa errada. Houve essa interferência, a Funai não orientou direito. Foi essa a frase que
o Wilson usou. Então o que está em jogo, Wilson, não é você nem o Danilo. Isso eu concordo
com você, se realmente você não conhecia o Decreto e fez todo o processo, o processo todo foi
feito em cima de uma orientação errônea, está bom, então o problema não é de vocês. Agora, o
fato permanece e eu acho e aí Alda, eu acho que jamais se deveria buscar fora do tempo uma
outra ata que provasse. Para mim...
Alda Carvalho: Eu disse isso porque ele disse: eu posso. Eu acho o seguinte: o processo está
totalmente nulo, eu concordo com você, está totalmente nulo...
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[Problemas na gravação. Nesse ínterim, procedeu-se à votação do encaminhamento à questão
sendo a primeira proposta, de Wilson Matos e Danilo Terena, no sentido de que sanassem os
erros presentes no processo de escolha e permanecessem como representantes na CNPI, e a
segunda, para que se procedesse conforme consta no Regimento Interno da Comissão]
[...]
Presidente Márcio Meira: Primeiro a proposta do Wilson e do Danilo de fazer uma correção
formal e que possam continuar como representantes na Comissão...
Wilson Matos: Presidente, questão de ordem. Estamos vencidos, presidente. Já basta. Já
estamos vencidos. Está aprovado pela maioria. Eu também voto pelo regimento.
Presidente Márcio Meira: Permita-me, Wilson. É que eu tenho que respeitar o voto de todos os
membros da CNPI. Eu não percebi, como presidente, claramente o voto do Ak’jabor e do
Heliton. Por isso é que eu tenho que insistir para saber qual o voto deles para a gente fazer a
contagem e registrar em ata. A Pierlângela não estava na hora da votação? Então eu vou
perguntar para a Pierlângela, para o Ak’Jabor e para o Heliton. Fazer a mesma pergunta: vocês.
votam na primeira proposta do Wilson e do Danilo? Quem apóia essa proposta levante a mão.
Ak’Jabor e Heliton. Quem vota na proposta de seguir o Regimento e o Decreto? A Pierlângela.
Então um voto a mais para a proposta de seguir o Regimento da Pierlânegla. Ak’Jabor e Heliton
votaram com o Danilo, e o Wilson e a Pierlângela votou com a proposta de seguir o Decreto e o
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Regimento. Abstenções? Brasílio. Só o Brasílio. Uma abstenção. Também uma outra abstenção.
Então duas abstenções. O resultado.
Terezinha Maglia: Ficou: 4 pela primeira proposta, 18 pela segunda e 2 abstenções.
Presidente Márcio Meira: Só que a bancada indígena tem a paridade dos votos. Essa
matemática vai ter que ser feita e se ver depois para registrar em ata, mas o resultado foi
majoritariamente no sentido de seguir o Decreto e o Regimento. Certo? Eu sei que essa foi uma
decisão, como eu disse, difícil e quero repetir aqui que da parte da Presidência da CNPI não
houve e nem há nenhum julgamento de valor em relação aos dois representantes, mas sim uma
decisão, digamos assim, de mérito da legalidade da CNPI.
Danilo Terena: Presidente, a situação já foi votada e aprovada, então nós sabemos que nós
estamos retornando para o Mato Grosso do Sul sabendo que haverá um novo processo. Agora,
esse novo processo vai ser quando, como e onde?
Presidente Márcio Meira: Essa já é uma questão de encaminhamento do processo, então eu vou
propor o seguinte: que a bancada indígena aqui na CNPI possa, para a próxima reunião, trazer
uma proposta e que a gente possa, talvez a subcomissão, uma das subcomissões, encaminhar
conforme o decreto a realização e comunicar a data, os prazos para a realização dessa escolha.
[Intervenção fora do microfone no sentido de que se estaria jogando a responsabilidade para as
subcomissões]. Não é jogar a responsabilidade. É apenas para que a gente possa cumprir com o
Decreto presidencial e ver como cumpri-lo com representatividade e acompanhamento desse
processo.
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Interlocutor não identificado: Posso fazer uma fala? A gente na verdade tem que seguir as
coisas que estão no Regimento. Desde o início foi colocado que a representação indígena faria a
escolha de seus representantes. O que a gente tem que fazer é dar apoio a esse processo, na
medida em que o Regimento exige a participação de um representante governamental. Eu acho
que pelo menos um. Então a gente está aqui na condição de tirar uma comissão para
acompanhamento onde já tem representantes governamentais e representantes indígenas e o que a
gente vai fazer? A gente não vai interferir no processo. A gente só vai acompanhar o processo. E
aí garantir que tenha aqueles quesitos que estão do Regimento: a presença do Ministério Público,
o convite ao Ministério Público e o representante de pelo menos um membro governamental e
que tenha as associações indígenas da região. Eu acho que se houvesse a possibilidade a gente
poderia tentar fazer esse processo entre as reuniões, para que na próxima reunião o Wilson e o
Danilo já estejam aqui de volta ou, se houver uma reversão na votação para outros representantes,
que a gente já possa contar com esses representantes. Essa é a proposta, para não perder tempo na
próxima reunião e não ter o Centro-Oeste representado.
Terezinha Maglia: Presidente, eu posso dar um informe também? Nesta semana que antecedeu a
CNPI as lideranças que encaminharam essa correspondência ligaram ao Ministério da Justiça
questionando porque os novos representantes não estavam vindo e sim estavam vindo os mesmos
dois. Eu expliquei para eles que isso seria discutido nesta reunião, eles colocaram que não e que
deveriam ser respeitadas as correspondências mandadas pela base. Eu tomei a liberdade de
colocar que a correspondência delee estava sem a participação do Ministro Público e sem o
representante e que o Decreto dizia isso, isso e aquilo. Para ser bem rápida. Eles colocaram o
seguinte: que eles já iniciariam um processo de divulgação de uma nova assembléia visto que a
deles também estava fora, claro que o Wilson e o Danilo também farão isso, mas que seria feita
uma nova assembléia e iriam pedir o apoio da Funai para divulgação, para que fossem escolhidos
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os novos representantes, que a base iria escolher, ou manter ou substituir, conforme a
correspondência. Essa foi a informação que recebi.
Danilo Terena: Só para esclarecer um pouquinho. Perdão, Terezinha, mas eu acho que essa
postura não é a postura correta porque vai ser tendenciosa. A CNPI tem que assumir, a
presidência da CNPI tem que assumir. Agora, informar o pessoal, dizer: “vamos fazer”, isso vai
ser tendencioso.
Presidente Márcio Meira: Mas isso que ela está falando não é o que nós vamos fazer. Ela está
falando aqui que as lideranças ligaram e falaram essas coisas. Agora, o que nós vamos cumprir
aqui é o Regimento e o que está previsto no Decreto. O prazo para fazer isso nós vamos ver o
mais rapidamente possível, com orçamento, para que sejam providenciadas todas as medidas. O
ideal é que até a próxima reunião ordinária a gente possa já ter feito isso. Vamos fazer tudo para
que aconteça, e se for necessário, a gente pode contar com testemunhas do movimento indígena
para contribuir com o debate etc.. Mas nós vamos cumprir com o que está estabelecido no
Decreto. Até a próxima reunião ordinária eu espero que a gente possa fazer isso, se for possível
do ponto de vista de prazo, orçamento etc. Nós temos ainda, eu sei que está todo mundo cansado,
mas essas questões têm que ser resolvidas ainda. Nós temos ainda uma questão relativa ao
representante do Amapá. Qual é a questão Terezinha?
Terezinha Maglia: Não vai haver muita disputa porque eles não estão aqui. Vou ler os
documentos que recebemos: “Saudações indígenas. Caros companheiros da Secretaria Executiva
da CNPI, encaminhamos em anexo o ofício 23, para conhecimento e providências quanto à
mudança do membro da CNPI. Solicitamos que o referido ofício seja lido e discutido na plenária
da reunião extraordinária da Comissão e que sejam dados os devidos encaminhamentos. Abraços,
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Fernando Forte”. “Ofício n.º 023/2008. Oiapoque 12 de março. Excelentíssimo senhor Márcio
Augusto Freitas de Meira. Digníssimo Presidente da CNPI - Comissão Nacional de Política
Indigenista. Substituição de membro titular da CNPI. Prezado Senhor Presidente,
cumprimentando cordialmente vimos através deste informar a Vossa Senhoria que, por ocasião
das deliberações da 15ª Assembléia dos Povos Indígenas do Oiapoque, ocorrida no período de 22
a 24 de fevereiro passado, na terra indígena de Uaçá, município de Oiapoque, estado do Amapá,
foi escolhido como o novo representante titular dos povos indígenas do Amapá na Comissão
Nacional de Política Indigenista a senhora Simone Vidal da Silva, índia do povo Karipuna.
Solicitamos à CNPI que proceda ao processo de troca do referido membro titular dessa comissão,
respeitando as deliberações do movimento indígena. Sendo o que temos para momento e no
aguardo vossas considerações, desde já relevamos nossos sinceros votos de estima e
agradecimento do povo indígena no Oiapoque. Saudações indígenas. Fernando Forte, Presidente
do Oiapoque”. Não vem acompanhado de ata, não vem acompanhado de algum documento
dizendo se houve a presença do Ministério Público e não foi acompanhado por membro da CNPI.
Alda Carvalho: Presidente, uma questão de ordem que precede a discussão. Este representante
do Amapá, houve parecer jurídico do Ministério da Justiça em relação à validade jurídica do
processo de eleição dele?
Presidente Márcio Meira: Esse documento...
Alda Carvalho: Não é de agora. É da original. Os representantes que estão hoje?
Terezinha Maglia: Eles estão pedindo...
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Presidente Márcio Meira: Sim, mas isso é um processo político interno lá, então nesse caso
aqui a minha avaliação é que se trata de uma situação diferente e o encaminhamento aqui em
minha opinião é simples. Nós temos que devolver para eles, a Presidência da CNPI devolve para
eles um documento dizendo que eles não cumpriram com o que está estabelecido no Regimento.
A gente diz o que está dito para substituição no regimento Para que eles cumpram. Aqui é uma
questão simples. Eles têm que cumprir com o que está no regimento. É só o titular.
Terezinha Maglia: É só o titular. É só o Cleber que saiu para assumir uma coordenação na
COIAB, então ele está saindo e eles então estão pedindo a substituição do titular e não do
suplente.
Presidente Márcio Meira: Eles querem trocar o titular, então se eles querem trocar o titular eles
têm que cumprir o Regimento. Então nós temos que devolver para eles dizendo que eles têm que
cumprir o Regimento e dizer o que está escrito nele: acompanhado do Ministério Público Federal,
acompanhado de um membro da CNPI ... Aí o documento vem com o processo, com ata, com
tudo e aí a CNPI delibera.
Carlos Nogueira: Só uma questão de ordem. Eu acho que aí tem dois fatos. Primeiro, quando
você tem titular e suplente, na ausência do titular o suplente assume. Isso é um fato. Se a suplente
quiser, eu acho que pelo nome é mulher, se ela quiser ser titular, na ausência foi delegado ao
suplente esse direito. No caso aí parece que está havendo uma concordância de entrar outra
pessoa, e aí tem o processo, é substituição e vai entrar naquele parágrafo do estatuto e eles têm
que cumprir os trâmites legais, senão vai acontecer dessa pessoa assumir aqui e daqui a três ou
quatro meses eles não terem representatividade e legitimidade.
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Presidente Márcio Meira: É nesse sentido. Talvez eu não tenha me explicitado claramente, mas
é exatamente nesse sentido que eu dei o encaminhamento, ou seja, como eles estão dizendo que
eles querem trocar tanto o titular quanto a suplente, então isso significa que eles têm que seguir o
que está estabelecido...
Carlos Nogueira: Não foi isso que eu entendi. A suplente não está sendo trocada. É só o titular.
É isso que eu estou dizendo.
Presidente Márcio Meira: O que eu estou dizendo é o seguinte: eles estão dizendo que querem
trocar só o titular. Só que quando troca o titular o suplente assume e não é isso que eles estão
dizendo. Por isso que eu estou dizendo que têm que cumprir com o Regimento. Ou eles vão
escolher um novo suplente...
Carlos Nogueira: Eu acho o seguinte: a gente tem que orientá-los a fazer o processo, onde eles
vão definir essas coisas, explicando que o processo que eles fizeram não atende os requisitos
legais. Esse processo eles podem manter como suplente a Aikyri Waiãpi e eleger a Simone como
titular. Eles podem fazer isso na assembléia, se eles quiserem inverter ou alguma coisa, eles
podem fazer, eu acho que a gente tem que falar: vocês têm que fazer o processo...
Presidente Márcio Meira: Mas é exatamente isso. Eu acho que é porque estamos todos
cansados, mas foi exatamente isso que eu disse.
Carlos Nogueira: Não, Márcio. O que eu estou querendo dizer, eu entendi perfeitamente isso. Eu
fiz só uma colocação, porque como o documento não veio embasado é como se qualquer cidadão
escrevesse para a CNPI e dissesse isso, quer dizer, o documento que chegou aí não vem
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respaldado por nada, nem ata, nem nada. É isso que eu estou dizendo. Eu fiz esse
questionamento em função da legalidade do documento que veio pedindo a substituição. É isso
que eu estou dizendo.
Presidente Márcio Meira: Está correto. O que eu disse foi exatamente isso. O encaminhamento
que eu dei foi: que a gente dê ao Oiapoque a chance de fazer novamente o procedimento
seguindo as regras do regimento. É isso.
Carlos Nogueira: Se eles não conseguirem fazer esse processo até a próxima reunião tem um
representante que é o suplente.
Aderval Costa: É isso que eu queria falar.
Presidente Márcio Meira: É claro isso. É simples. Nós encerramos aí a nossa pauta em relação
a essa questão que foi levantada em relação ao Amapá e Mato Grosso do Sul. Sandro você quer
falar alguma coisa?
Sandro Tuxá: Senhor presidente, eu queria que fosse levada em consideração a fala do Luiz
Titiah que eu até abordei logo no começo, no sentido de que membros aqui da bancada indígena
pudessem se fazer presente nesse ato. Para nós é muito importante divulgar os trabalhos que se
seguiram até aqui com a participação dos nossos parentes. Dizer para os parentes que nós
entendemos, até porque na preparatória nós entendemos que talvez o melhor encaminhamento era
o que estava no Regimento. Como liderança do estado da Bahia eu não quero que lideranças de
outros estados possam decidir um processo pelo meu estado como o Marquinhos Xucuru falou
muito bem. E dizer que nós estamos solidários a vocês nessa luta e que vamos estar lá junto com
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vocês nesse processo. E que vocês tenham boa sorte na atividade que vocês vão desenvolver. Era
isso. Era aqui me retratar diante dos parentes porque afinal de contas eu tive que votar e o lado da
amizade eu tive que seguir na legalidade e está sendo muito duro para a gente aqui..
Presidente Márcio Meira: Só para aproveitar essa fala do Sandro. Foi nesse sentido, Sandro,
que quando eu fui perguntado qual era o encaminhamento eu falei que a bancada indígena
pudesse também trazer uma proposta, porque eu entendi da fala do Titiah e da sua que a bancada
indígena gostaria de estar acompanhando. Foi nesse sentido. Eu acho que talvez aí a Pierlângela
entendeu que eu estava querendo jogar a responsabilidade formal, mas não é isso. O que eu
estava querendo era atender uma reivindicação que foi colocada pelo Titiah, sobretudo, e pelo
Sandro também, que os demais da bancada pudessem também participar do processo.
Esclarecido. Ak’Jabor.
Ak'jabor Kayapó: Presidente, antes de encerrar essa reunião a única coisa que você não está
esclarecendo ainda, porque nós estamos esperando, e vou perguntar ao senhor Presidente: a
reestruturação da Funai e o plano de carreira. Isso que eu quero saber, como é que está andando?
Presidente Márcio Meira: Esse é o próximo ponto que eu ia entrar agora. Planejamento
Estratégico da Funai, que é o último ponto que eu ia trazer como informe.
Ak'jabor Kayapó: Era isso que eu quero saber também.
Presidente Márcio Meira: E aprovação da ata que a gente não fez. Então o último ponto da
pauta é um informe que eu ia trazer sobre o planejamento estratégico da Funai, que também
inclui aí os informes sobre a questão da reestruturação, sobre a questão do plano de carreira e etc.
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Da última reunião do ano passado para cá, quais são as informações que se tem? Está tendo muita
conversa paralela e fica difícil. Nós estamos cansados, é um momento difícil e a gente tem que ter
concentração agora para a gente chegar ao final da nossa reunião. Em dezembro, quando nós
fizemos a última reunião, logo após aquela nossa reunião, vocês estão lembrados que houve, pelo
Congresso Nacional, a aprovação do fim da CPMF. Com o impacto que teve a questão da CPMF,
o nosso Plano de Carreira Indigenista, que estava pronto para sair na virada do ano, junto com
outros planos de carreira do Governo Federal como um todo, foi anunciado pelo Ministro do
Planejamento que, por causa do corte da CPMF, ele tinha que ser adiado até que o governo
pudesse avaliar a questão da arrecadação, do orçamento etc. Tanto o Plano de Carreira
Indigenista quanto a reestruturação sofreram com o corte da CPMF e ficaram atrasados por causa
disso. Por isso que a gente não entrou o ano com a aprovação tanto da reestruturação quanto do
plano de carreira. Agora foi anunciado também, já no mês de março, fevereiro, por aí, pelo
próprio Ministério do Planejamento, que seriam honradas as negociações com aqueles órgãos do
Governo Federal com os quais tinham sido fechadas negociações no ano passado. Inclusive isso
foi comunicado ao CONDSEF, o Sindicato dos Servidores, ou seja, de que todos os órgãos em
que tinha sido negociado no ano passado iam ser honrados esses acordos neste ano de 2008. Não
foi dito pelo Ministério do Planejamento quando isso seria feito porque ainda precisava saber da
aprovação do orçamento que aconteceu ontem e do nível de arrecadação do governo para poder
saber quando é que é possível fazer essa medida. Com relação tanto ao plano quanto à
reestruturação nós estamos na Funai dependendo dessa decisão do Ministério do Planejamento
para que a gente possa anunciar quando que vai ser feito isso. Não depende da Funai. Toda a
parte que a Funai tinha que fazer ela já fez, então tanto o plano de reestruturação quanto o Plano
de Carreira nós discutimos ano passado, apresentamos publicamente, eu fui nas várias
administrações da Funai, mandei por computador, debatemos com os servidores etc., a parte que
cabia à Funai nós fizemos tudo, agora depende do Ministério do Planejamento e da Casa Civil,
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porque isso depois deve ir para a Casa Civil, aí é o Celso que vai ter que resolver isso para que a
gente possa ter o nosso Plano de Carreira e a nossa reestruturação. Eu continuo insistindo,
batalhando tanto com o Ministério do Planejamento quanto com a Casa Civil no sentido da
importância, da necessidade de a Funai de ter esses planos aprovados. Essa é a situação em
relação ao Pano de Carreira e em relação à reestruturação. Agora, independente disso, nós não
estamos parados, nós estamos continuando a fazer o trabalho daquilo que só depende da Funai.
Tudo que só depende da Funai nós estamos fazendo, que foi, ainda no ano passado, o Plano
Plurianual novo, agora esse Plano Plurianual já está valendo para 2008/2011 e inclusive a gente
já tratou dele aqui, ele dá um avanço importante. O orçamento, que nós mandamos para o
Congresso, também, que foi aquela proposta maior, eu ainda não consegui ter os valores do
orçamento da Funai, que foi aprovado ontem. Eu tentei conseguir, mas ainda não consegui
oficialmente os números desse orçamento, mas o trabalho foi feito para que esse orçamento fosse
aprovado inclusive com emendas e teve o apoio inclusive da bancada indígena, que muitos
companheiros do movimento batalharam com os deputados dos seus estados para fazerem
emendas para Funai. Espero que essas emendas tenham sido aprovadas, o Abicalil fez e outros
deputados fizeram. Além disso, nós fizemos uma coisa muito importante, que foi o ponto que eu
justamente coloquei aqui como informe. Nós realizamos, em janeiro, no primeiro mês do ano, o
Planejamento Estratégico da Funai 2008/2010 que é esse [material entregue aos membros]. Eu
trouxe aqui para vocês o relatório analítico da oficina do planejamento que foi feita, vocês estão
recebendo aí. Por isso eu não vou precisar detalhar aqui, vocês vão poder ler. Esse é o resultado
da Oficina de Planejamento que foi feita em janeiro, no final de janeiro, e que é um planejamento
2008/2010. Esse planejamento definiu uma série de ações, uma série de prioridades, a partir
justamente daquilo que tem sido discutido na política indigenista aqui na CNPI, as agendas
sociais, as prioridades em relação à questão fundiária, o novo papel que a Funai tem que assumir
no cenário nacional e nesse momento histórico que nós estamos vivendo até o ano 2010. A Léia
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que está aqui foi uma das que participou do planejamento estratégico, nós tivemos umas 25
pessoas da direção da Funai que participaram desse planejamento e agora esse planejamento
continuará porque ele tem uma seqüência, uma continuidade com os grupos dentro da Funai. Esse
é um procedimento que nós fizemos para dar uma direcionalidade estratégica para a Funai,
porque ela se ressente muito de ter um planejamento organizado, com direcionalidade estratégica,
com foco, então é esse o trabalho que foi feito em janeiro para dar continuidade ao longo desses
próximos meses, inclusive com a definição de responsáveis, prazos, uma série de conseqüências
práticas no planejamento. Certo?
Eu fiz questão de trazer esse informe do planejamento para vocês. Inclusive vocês
estão vendo que tem as operações, os resultados, as metas. Quer dizer, foi um esforço que nós
fizemos para dar foco; organizar a instituição para que a gente possa saber que até 2010 dar
conta, dentro do cenário que temos, daquilo que nos propusemos a fazer. É claro que esse
planejamento precisa ainda avançar mais dentro da instituição e nós estamos agora já numa fase
de complementação do planejamento. Eu não vou me detalhar agora aqui por causa do tempo em
relação ao planejamento, mas trouxe para vocês e vocês vão poder levar. Aqui tem o texto do
planejamento e também o encaminhamento do planejamento estratégico. Vocês vão perceber
uma coisa importante. Vocês vão perceber claramente no planejamento que ele está relacionado
muito com a nova concepção que nós definimos para a Funai desde o ano passado, de parceria, de
articulação com o movimento indígena inclusive. Uma das estratégias de articulação é o
fortalecimento do movimento, enfim ele está todo enquadrado dentro desta concepção
participativa. O fortalecimento da CNPI. A Léia está me lembrando que um dos pontos do nosso
planejamento é o fortalecimento da CNPI, que foi uma coisa que foi unânime no grupo. Enfim,
vocês vão ter possibilidade de conhecer; como esse planejamento é um planejamento dinâmico,
ele não é uma coisa acabada, ele é um procedimento dinâmico, nós vamos estar sempre se
necessário fazendo as correções de rumo para que a gente possa atingir todos os objetivos que
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nós queremos. Eu estou torcendo muito, eu não sei, mas que a gente tenha conseguido uma
aprovação razoável para o nosso orçamento, sempre tem corte, com certeza, eu vou logo avisando
para vocês... Chegou aqui agora a análise preliminar do comportamento orçamentário 2007/2008.
Eu posso ler para vocês porque chegou agora aqui a notícia do orçamento. O histórico do
exercício 2007. No exercício 2007 houve crédito suplementar no valor de 11 milhões e 900 mil
reais na ação Administração das Unidades e logo após foi aprovado crédito extraordinário no
valor de 5 milhões e meio; nas ações de Administração das Unidades, 3 milhões; Fiscalização de
Terras Indígenas, um milhão e trezentos; atendimento social, um milhão; Localização
Etnoambiental duzentos mil. A LOA – Lei Orçamentária, 2007 foi sancionada no valor de 273
milhões 759 mil e 216 reais, houve um incremento na folha de pessoal no valor de 6 milhões 803
mil 655 reais, portanto após os créditos adicionais houve um acréscimo no valor original,
totalizando 297 milhões 962 mil 881 reais. Isso em 2007. O que aconteceu em 2007? Nós
conseguimos na verdade aumentar o orçamento que tinha sido aprovado em 2006, com créditos
extraordinários de 5 milhões e meio. Pela primeira vez na Funai, na história da Funai, ela teve
crédito extraordinário. A Olga que é do Planejamento sabe o que é isso, ela pode explicar para
vocês depois o que é um crédito extraordinário. Após a aprovação da Lei Orçamentária 2008, no
Congresso Nacional, podemos observar o seguinte comportamento orçamentário: eu estou lendo
pela primeira vez, agora que eu estou sabendo disso aqui: O projeto de Lei Orçamentária 2008 foi
encaminhado com o valor total de 308 milhões 472 mil 895 reais. Após os ajustes foi aprovado
valor de 287 milhões com cortes orçamentários totalizando um valor de 23 milhões, ou seja,
representando 7,54% da proposta original. Ou seja, foram menos 7,54%. Comparado com a LOA
2007, sem os créditos adicionais houve aumento em 2008 na ordem de 13 milhões de reais,
representando um aumento de 4,86%. Comparando com a LOA 2007, com os créditos adicionais,
houve redução na LOA 2008 na ordem de 10 milhões, representando 3,66%. Eu estou lendo pela
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primeira vez, então vocês estão vendo, se a gente não considera os créditos adicionais que a gente
conseguiu no ano passado, nós tivemos um aumento, porque houve um corte de 7%...
Carlos Nogueira: Presidente, eu posso fazer um esclarecimento? Os créditos adicionais são
feitos exatamente no final do ano. Sobra dinheiro dos outros ministérios e o Planejamento
[MPOG] repassa para quem necessita; então o que está acontecendo aí... Eu fiquei meio
indignado com aquele documento [do Inesc, comentado anteriormente] porque as pessoas... a
pessoa que escreveu sabe o que está escrevendo, então aparentemente parece que a Funai teve
perdas quando na realidade houve um incremento comparado a 2007, houve avanço. Sendo que
no final do ano, deste ano..., até porque este ano é um ano eleitoral, muitos ministérios não vão
ter cumprido seu orçamento e eu digo isso porque nós temos um órgão muito parecido com a
Funai, que é o DNPM, que tem muita fiscalização, muitas coisas, e a gente executa noventa,
noventa e poucos por cento, porque é inerente à atividade, não tem como realizar. A grande
probabilidade é que esses 18% que estão faltando aí venham como crédito suplementar no final
do ano, quer dizer, então de fato, na minha cabeça eu acredito que a Funai está contemplada
dentro da LOA de 2008, o meu ponto de vista.
Presidente Márcio Meira: O que eu ia dizer, tentando traduzir um pouco, porque essa questão
do orçamento às vezes é um pouco complicada para entender, mas o que eu ia dizer para vocês é
o seguinte: se no ano passado, que nós tínhamos um orçamento menor, nós conseguimos crédito
extraordinário, então a probabilidade esse ano, em que nós estamos com orçamento maior, é
também maior de a gente ter um crédito orçamentário, desde que a gente saiba executar. Ou seja,
saber executar é gastar o dinheiro bem. Ano passado nós conseguimos crédito porque, antes do
final do ano, a gente já tinha executado bem, então aí nós conseguimos convencer de trazer mais
recursos. Concretamente, para concluir a nossa reunião aqui, a informação oficial é que nós
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temos um orçamento aprovado para 2008 de 287 milhões de reais aproximadamente; o que
representa 4,86% a mais do que o orçamento aprovado para 2007. O que é importante aqui é
dizer que a gente cresceu 4,86%, o importante aqui é que a gente cresceu. A gente não tem nem
como comparar com 2006, porque eu não estou com os dados aqui, mas se a gente comparar com
2006 certamente é maior ainda, porque em 2006 o orçamento foi menor. [Intervenção fora do
microfone]. O Celso está lembrando uma questão importante aqui. Se for aprovado o plano, a
nova tabela salarial, significa que esse orçamento vai crescer mais ainda, porque aqui está
incluído o pagamento de pessoal, então significa que vai crescer mais ainda... [Intervenções fora
do microfone]. Capitão.
Capitão Potiguara: O presidente deu um aumento ontem para servidores públicos... dia 11... a
100% parece, até 2011...
Presidente Márcio Meira: Mas são as categorias que estão... Porque no nosso caso aqui é o caso
de vários outros órgãos do Governo Federal que estão lutando por uma tabela salarial
diferenciada. Se isso sair e for aprovado, porque a gente está na expectativa, agora com a
aprovação do orçamento, que o governo reconsidere e a gente possa conseguir, porque foi o que o
Planejamento disse: que ia respeitar os órgãos que tinham fechado acordo ano passado. A Funai
foi uma delas. Nesse caso o orçamento vai ter que aumentar também. Caboquinho.
Caboquinho Potiguara: Eu gostaria de saber se está inserida também a questão de novas
contratações, de novos funcionários por concurso público? Está incluído?
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Presidente Márcio Meira: Questão de concurso público. Se for aprovada a C e for autorizado
pelo Ministério do Planejamento o concurso público, vai ter que colocar o orçamento respectivo
para os novos também. Francisca.
Francisca Pareci: Presidente, em relação à planilha que o senhor apresentou [no documento
“Planejamento Estratégico da Funai”], eu queria perguntar, no foco de ação dois, quando se trata
da agenda prioritária do governo, e ali quando está: “Criar condições para o cumprimento do
cronograma do PAC”, eu pergunto: essa parte aqui que fala sobre a questão da definição de
prazos, responsabilidade em relação ao licenciamento ambiental etc., isso aí é mais ou menos
dentro daquela possibilidade que nós propusemos aqui, de se fazer seminários etc., onde a Funai
vai estar participando? E quando o senhor coloca aqui também sobre a participação indígena, isso
tem a ver um pouquinho com aquilo que foi colocado aqui ontem e hoje também?
Presidente Márcio Meira: Com relação à participação indígena, nós temos uma estratégia
específica de fortalecimento do movimento indígena que está aqui em algum lugar [no
documento]. Vamos ver. Tem um que fala disso. Agora com relação à questão do PAC aqui:
“Criar condições para o cumprimento do cronograma do PAC”, é claro que é dentro de toda
aquela discussão que a gente fez aqui, ou seja, como a Funai tem que participar do processo de
licenciamento - o Ibama é o órgão responsável e a Funai tem que participar do processo de
licenciamento -, então nós queremos criar condições suficientes na Funai para garantir a
participação, garantir tudo aquilo que nós discutimos aqui em termos dos regulamentos que têm
que ser seguidos, em relação à participação indígena para os projetos que os afetam...
Francisca Pareci: Nisso estão inseridos os seminários regionais também, não é? De certa forma?
Todo e qualquer tipo de evento que for direcionado para essa finalidade?
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Presidente Márcio Meira: Sempre que houver a necessidade nós teremos que entrar com isso.
Às vezes a Funai diretamente não, às vezes o empreendedor tem que pagar, às vezes é um outro
ministério que tem que pagar essa atividade; mas o que é importante aqui é a qualificação
institucional para essa função.
Pierlângela Wapichana: Eu gostaria só de sugerir, já que recebemos esse material agora sobre o
Planejamento Estratégico da Funai, então eu sugiro que seja um ponto para a próxima pauta,
porque só dando uma rápida analisada aqui a gente já vê a questão da pesquisa de inventário do
potencial hidrelétrico das bacias onde as terras indígenas estão inseridas... Então contradiz
algumas coisas que a gente conversou de ontem para hoje. Eu sugiro que seja um ponto de pauta
[da próxima reunião], até para que a gente possa analisar isso tudo aqui e confrontar com tudo
que já foi dito sobre essa questão aqui, e pelo que eu me lembro também a Iara ficou de
apresentar a proposta. Aí os encaminhamentos não ficaram claros, porque havia anteriormente
uma portaria sobre essa questão dos inventários e apareceu aqui hoje uma discussão, já que a EPE
faz e a Funai, conforme foi colocado, só dá a autorização para entrada em terras indígenas e faz o
acompanhamento. Aqui a gente já vê alguma coisa além disso. Então eu sugiro que seja colocado
como ponto de pauta para a próxima reunião e que se faça uma apresentação mais rápida sobre
essa questão do licenciamento, porque foi apresentado na reunião anterior, mas ficou de ser
apresentada uma proposta para ser discutida sobre essa questão do licenciamento ambiental. Eu
não sei se é o SIGAT... Que é um pouco só para destacar, porque aqui a gente não vai poder
discutir esse assunto já que foi apresentado agora. Então é a minha proposta.
Presidente Márcio Meira: Estamos nos referindo à próxima reunião ordinária. As questões
contidas no Plano Estratégico estão todas dentro da discussão que nós temos feito aqui na CNPI,
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quer dizer, os procedimentos terão que ser sempre seguidos conforme as discussões que nós
temos feito aqui na CNPI. Agora, a Funai tem que estar se planejando do ponto de vista da sua
estrutura, inclusive para dar conta de acompanhar esses procedimentos. Lembrando que esse
planejamento é relativo ao período de 2008 até 2010, nem tudo aqui é para 2008, tem coisa que é
para 2009, tem coisa que para 2010. Bom, nós extrapolamos o nosso tempo em 2 horas e ainda
temos a aprovação da ata da reunião passada e a pauta da próxima reunião. Eu queria consultar se
vocês conseguiram ler a ata da reunião passada. A síntese pelo menos. [Intervenções fora do
microfone]. A ata é difícil de ler, pois é muito extensa, mas a síntese, que é onde estão os pontos
centrais, não. Então eu quero consultar o plenário se tem alguma objeção à síntese da ata da
reunião passada? Não havendo nenhuma objeção está provada a síntese da ata da reunião
passada. Nós temos que definir. [Intervenção fora do microfone]. Abstenção? Eu estou
perguntando há alguma abstenção? Duas abstenções. Temos uma reunião marcada para abril,
durante o Abril Indígena, e nós precisamos definir o dia e a pauta dessa reunião.
Francisca Pareci: Presidente, uma questão de lembrança. Tem algumas recomendações que
foram feitas. Eu não sei se nós faríamos agora ou se deixaríamos...
Presidente Márcio Meira: Ao longo de ontem e de hoje, você está falando?
Francisca Pareci: É. Exatamente.
Presidente Márcio Meira: O que eu ia sugerir - mas isso já entra na pauta da reunião ordinária -
é que para a Reunião Extraordinária de abril, que vai ser de um dia só, a pauta seja a do próprio
Abril Indígena. A gente poder socializar e também até ter momento de assinatura de documentos,
por exemplo, com a Polícia Federal, e outros que a gente possa até lá ter condições de fazer.
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Agora, com relação à pauta da Reunião Ordinária, que vai ser só em maio, a proposta que eu faço
é que a Secretaria Executiva da Comissão elenque os itens que foram sugeridos ao longo dessa
reunião para encaminhar para todos os membros da Comissão e consultar por e-mail, porque nós
aprovamos muitos itens aqui de pauta. Talvez não dê para discutir todos numa reunião só, então é
preciso ver quais os que a vamos poder ou não discutir na próxima reunião.
Carlos Nogueira: Uma questão de ordem. Vai ter uma reunião extraordinária em abril, que é
uma reunião atemporal em função do evento Abril Indígena, de um dia. Eu acho que a Secretaria
Executiva deveria enviar, dentro das considerações e dos encaminhamentos que foram feitos
aqui, a pauta para a Reunião Ordinária de maio, uma pré-pauta, e na pior das hipóteses nesse dia
de abril a gente aprova a pauta da reunião.
Presidente Márcio Meira: Isso. Correto? Mais alguma coisa Terezinha? A data da
extraordinária de abril...
Terezinha Maglia: Isso e a respeito da Reunião Ordinária de maio, porque eu preciso prever
local, estrutura...
Presidente Márcio Meira: O Abril Indígena acontece nos dia 15, 16 e 17. Eu não sei qual data
seria melhor, talvez o dia 15 que é o primeiro dia. Eu não sei. Ou dia 14, que é antes, segunda-
feira. Titiah.
Luiz Titiah: Senhor presidente, é o seguinte: eu acho que a nossa reunião podia ser no dia 14,
porque o colegiado indígena já tomou o encaminhamento de participar do acampamento do Abril
Indígena. Agora para encaminhamento aqui na CNPI, também nós queríamos colocar para a
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CNPI buscar nessa data do mês de abril uma agenda com o governo Lula, onde tenha a
possibilidade de ouvir não só o colegiado da CNPI como a CNPI, também articular algumas
lideranças do Fórum de Presidentes para estar participando nesse dia e levando as demandas
junto com o Presidente da República.
Presidente Márcio Meira: Sandro também tinha se inscrito?
Sandro Tuxá: Primeiro, antes de mais nada, não ficou claro para mim e eu queria que senhor
presidente pudesse aclarar para a bancada indígena se a reunião vai ser no Abril Indígena, no
acampamento, porque a gente também tem uma demanda de atividades que vão ser
desenvolvidas no Abril Indígena que requerem atenção de todos os índios que lá vão estar. Já tem
uma pauta. Talvez, eu não sei, a gente poderia consultar a coordenação do FDDI – Fórum de
Defesa dos Direitos Indígenas, logo na segunda-feira sem falta, para ver a possibilidade porque
era interessante para o Abril Indígena que a coisa acontecesse e algumas das organizações que
vão estar lá pudessem minimamente participar da nossa reunião da CNPI; já que vão estar as
principais organizações indígenas, algumas lideranças poderiam estar participando, ouvindo
como nós estamos trabalhando. Isso seria bom para nós também. Então eu queria que a gente
pudesse sinalizar entre esses dias de 14 a 17 e a gente entraria em contato com o FDDI. Eu me
comprometo frente ao presidente e a nossa secretaria da CNPI em estar fazendo isso no mais
tardar segunda-feira, uma vez que vai ter um encontro da APIB - Articulação de Povos Indígenas
do Brasil na segunda. Vai ser um encontro para avaliar a conjuntura política do movimento
indígena, do governo e tudo mais e aí eu poderia estar referendando com eles, porque é
extremamente estratégico para nós e eu acho que para o governo também que as nossas
lideranças mais expressivas pudessem participar. Um número que fosse acordado com a bancada
do governo. Não ia ser muita gente não.
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Presidente Márcio Meira: Eu tinha entendido que a idéia era fazer uma reunião durante o
período, naquela semana do Abril Indígena. Não tinha assim ficado claro como, quando e aonde.
Então eu acho que aí é uma questão legítima, tem que discutir melhor como fazer talvez na
semana que vem. A data, quando, aonde, comunicando com a Terezinha. Caboquinho.
Caboquinho Potiguara: Presidente, tem que lembrar também que nós temos que mostrar uma
proposta para ser apresentada sobre o Estatuto do Indio na plenária do Abril Indígena. Então isso
quer dizer que nós temos que ir com tempo antes para aprontar essa minuta de proposta para ser
apresentada.
Presidente Márcio Meira: Isso você está falando em relação à Subcomissão do Estatuto,
apresentar a proposta da agenda? Certo. Isso é importante que a subcomissão prepare e defina a
data mesmo. Eu acho que definir agora aqui talvez seja difícil para nós, tanto para vocês quanto
para nós, então que a gente possa definir isso na semana que vem ficando em contato com a
Terezinha.
Terezinha Maglia: Eu queria só uma informação. Como ela vai ser uma reunião de um dia, o
nosso Regimento Interno diz que sempre haverá um dia de reunião da bancada na data que a
antecede. Nesse dia não haverá uma reunião da bancada indígena? Só haverá um dia, que vai ser
a reunião da CNPI sem a reunião prévia.
Sandro Tuxá: O que eu queria falar é que houve uma reivindicação por parte da bancada
indígena da necessidade dessa representação poder ir para uma prévia, porque se entende também
que os nossos parentes aqui vão ajudar no acampamento e vão fazer alguns encaminhamentos
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para o acampamento e estar contribuindo; então se a reunião for marcada um dia antes essa
bancada indígena tem que se fazer presente obrigatoriamente no dia 14, ou antes.
Presidente Márcio Meira: Só para rememorar a proposta que veio de vocês: que a Comissão
pudesse ajudar que a bancada indígena pudesse participar no Abril Indígena, pagando a passagem
e etc.. A partir daí eu fiz uma proposta de que então a gente fizesse uma reunião extraordinária de
um dia, é claro que isso significa que vocês têm que chegar de véspera ou na antevéspera, porque
vocês vão participar da programação. Certo? O que é importante é que a gente na semana que
vem confirme qual é o dia, o local certo para Terezinha. Certo? A pauta da reunião são as
atividades do Abril Indígena e poder mostrar para os outros que estarão aí como a CNPI
funciona. É isso.
Marcos Xucuru: Eu acho, senhor presidente, que o Sandro foi muito feliz quando colocou que
nós vamos estar reunidos em Brasília na próxima semana e definir, até porque o local onde
acontece o Abril Indígena é na Esplanada dos Ministérios, então que estrutura a gente vai ter?
Inclusive isso nós vamos ter que pensar. Lá onde vai acontecer a reunião da CNPI? Então a gente
precisa discutir melhor sobre isso, o local; e a gente precisa ter essa articulação maior,
principalmente com o pessoal em Brasília que está à frente dessa organização.
Presidente Márcio Meira: É exatamente isso que eu estou sugerindo. Com relação à proposta do
Titiah, eu queria sugerir o seguinte como encaminhamento: a Presidência da CNPI, se for de
comum acordo aqui de toda a plenária, encaminha uma solicitação de audiência da CNPI ao
Presidente Lula e essa solicitação encaminha à Secretaria-Geral da Presidência, que é o órgão da
presidência que dialoga com os movimentos sociais, para que o secretário-geral da Presidência
solicite junto ao presidente essa audiência. Eu queria sugerir esse encaminhamento e que essa
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audiência seja também ampliada para pelo menos alguns outros representantes convidados da
bancada indígena para essa audiência. A gente tem que ver quantas pessoas, porque lá na
presidência não dá para a gente ter uma quantidade muito grande de representantes.
Sandro Tuxá: Isso a gente tem clareza já que de outras vezes que a gente pediu audiência viu
que é complicadíssimo. Inclusive eu quero deixar registrado que conseguindo essa audiência com
o Presidente Lula a gente deixaria a cargo de poder fazer a indicação dos nomes para a audiência
a Secretária da CNPI, com indicação do movimento indígena. O que acontece muitas vezes? A
gente marca uma audiência com o Presidente Lula e quando a gente chega na sala já está repleto
de pessoas que a gente não sabe nem quem foi que a gente convidou e se foi convidado por
quem. Muitas pessoas que trabalham na Funai que não sabem de nada e para a gente entrar é uma
briga. Foi uma confusão naquele dia que a gente foi convidado para tomar posse na Comissão, na
CNPI. Então chegou lá foi aquela confusão entra, não entra, porque tem uma lista aqui e foi
aquela confusão toda. Então eu gostaria só de registrar e garantir que seria, uma vez solicitada
pela Presidência da CNPI, responsabilidade da Secretária Executiva mediante a bancada indígena
apresentar os nomes das pessoas que poderiam ter essa audiência com o presidente.
Presidente Márcio Meira: Está certo. E a gente vai fazer essa solicitação, então eu vejo que foi
aprovado, não teve manifestação contrária, à Secretaria Geral da Presidência solicitando e depois
a gente manda quantas pessoas são formalmente, quem são e quantas são. É claro que a bancada
indígena vai ter a liberdade de ver como essa representatividade acontecer.
Lindomar Xocó: Senhor presidente, eu não sei como é que está se dando os trabalhos do pessoal
que está organizando o Abril Indígena. Eu queria saber se a Funai vai compartilhar, porque a
gente precisa de lona, de material, essas coisas assim. Eu não sei como é que está, mas para a
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reunião extraordinária que vai acontecer fica em cima para arrumar essas coisas. Eu estou só
alertando para saber se realmente tem...
Presidente Márcio Meira: Eu vou comentar sobre isso aí. Eu acho que uma coisa é uma coisa e
outra coisa é outra coisa. Uma coisa é a CNPI, que é uma instituição do Estado, que vamos ter
que cumprir tudo para que a CNPI aconteça no lugar adequado, com condições adequadas. Outra
coisa é o Abril Indígena, que é uma instituição da sociedade civil e que a sociedade civil tem que
ter a sua autonomia para fazer. Claro que nós vamos, como no ano passado, estar juntos, como eu
estive lá no Abril Indígena do ano passado e este ano vou estar novamente, então eu acho que a
gente tem que esclarecer bem isso.
Edgard Magalhães: Márcio, só lembrando que na Subcomissão de Saúde, o Ministério da Saúde
solicitou à representação indígena que fizesse o requerimento, a solicitação de apoio da Funasa,
do Serviço de Saúde, para o Abril Indígena, com antecedência. Façam logo. Sempre se faz muito
em cima da hora e depois quer que aconteça redondo. Era só isso. A gente apóia, mas, por favor,
nos digam qual é a necessidade antes.
Sandro Tuxá: Muito bem lembrado Edgard. No ano passado nós tivemos uma dificuldade muito
grande de conseguir aquele toldo, a lona para montar a nossa sala de atendimento ali; mas eu já
avisei para Valéria que agora está na representação da coordenação para que essa semana esteja
dando esse encaminhamento. Assim que eu chegar lá eu vou lembrar a ela também. Eu e
Marquinho que vamos estar lá na verdade.
Márcio Meira: Nós estamos dando por encerrada a nossa reunião, às 9h15min da noite. A
Terezinha não me deixa terminar a reunião...
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Terezinha Maglia: Eu preciso já prevenir.
Presidente Márcio Meira: Mês de Maio.
Terezinha Maglia: Maio é a ordinária. Somente data, eu não quero pauta.
Márcio Meira: Mês de maio. Segunda quinzena de maio, como nós vamos ter essa reunião
extraordinária, vamos marcar para o final de maio ou na última quinzena, na última semana. A
última semana de maio porque a penúltima tem feriado.
Sandro Tuxá: Senhor presidente, eu não sei se foi acatado o pedido da bancada indígena para o
governo onde nós propusemos que após o Abril Indígena, no mês de maio, primeira quinzena de
maio, que foi a data que nós colocamos para a gente ter o seminário nacional sobre o Estatuto dos
Povos Indígenas. Eu não ouvi a resposta, se através da Secretaria vai dar encaminhamento para
que isso aconteça...
Presidente Márcio Meira: Não faz parte da agenda que foi apresentada pela subcomissão? Nós
não aprovamos aqui a agenda? Eu entendi que nós tínhamos aprovado aqui a agenda apresentada
pela subcomissão. A proposta é que a reunião aconteça na última semana de maio. A última
semana de maio é dia 29 e 30, a plenária.
Terezinha Maglia: Plenária 29 e 30. Dia 27 a reunião da bancada indígena, dia 28 subcomissões,
29 e 30 a plenária. Então a reunião fica de 27 a 30.
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Presidente Márcio Meira: Muito bem, então terminamos a nossa reunião. Caboquinho.
Caboquinho Potiguara: Presidente, eu não poderia deixar passar essa oportunidade. A primeira
coisa é eu queria saudar de peito aberto por essa realização de mais uma mais um ato de
compromisso nosso e dizer também que nós estamos de portas abertas a qualquer um de vocês
que queiram conhecer a nossa região, especialmente a minha área Potiguara. Mas eu queria
também registrar o esforço que essa nobre guerreira branca fez, desde domingo que ela está aqui,
desde domingo que ela vem com essa batalha toda. É um agradecimento de coração Terezinha, eu
diria que você é mais do que uma guerreira, eu vou chamar você de guerreira branca porque você
realmente cumpriu o seu trabalho. A outra coisa, bem lembrado Sandro, é a equipe de apoio aqui
da secretaria, a Graci, todo mundo aqui. Eu também queria agradecer a hospitalidade dada pelo
dono da pousada. Eu não sei se ele está aqui. Desde o primeiro dia que nós chegamos aqui o
sorriso está até hoje, são pessoas que sempre estiveram aqui junto com a gente, prestando seu
serviço e eu agradeço muito. Eu acho que se a gente teve algum erro, se erramos aqui, isso faz
parte também até do próprio dia-a-dia nosso. Como eu falei, estamos de portas abertas a todos
vocês, o presidente sabe aqui a realidade. Agora eu queria fazer um convite para o senhor. Eu
falei aqui que nós acabamos de receber um terreno muito grande aqui e eu queria que o senhor
fosse amanhã comigo de manhã, um compromisso de nós irmos amanhã, porque eu quero
elaborar esse projeto o mais rápido possível. Nós já temos todo o pessoal para elaborar o projeto,
o que falta na realidade é alocação de recursos para que seja realizado. Por fim, quero agradecer o
apoio da administração da Funai, através do nosso amigo Petrônio, que também tem dado um
apoio muito grande. O pessoal da Funasa deu seu apoio também, contribuiu, e a todo mundo que
esteve aqui também dando sua contribuição. E o gerente que está aqui com a gente desde
domingo também. O capitão quer também se manifestar.
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Presidente Márcio Meira: O Ak’jabor queria também se manifestar. Para encerrar.
Capitão Potiguara: Eu acho que todos que vieram aqui gostaram e o Delegado Fernando já
conversava comigo dizendo que a primeira reunião que ele vai fazer para treinamento de
profissionais vai ser aqui na Baía da Traição.
Presidente Márcio Meira: A gente vai fazer o encerramento agora não é? Você que vai fazer?
Então antes de passar para você eu queria agradecer mais uma vez a hospitalidade do povo
Potiguara, na pessoa do Capitão, na pessoa do Caboquinho que abriu a sua casa para nós para
estarmos aqui, então eu queria agradecer muito. Mais do que agradecer por terem aberto a casa de
vocês para nós, porque eu acho que foi graças a vocês também, esse convite, que a gente acabou
tendo uma experiência diferente, que é fazer uma reunião da CNPI em terra indígena. Eu acho
que isso foi um aprendizado novo para nós. Eu acho muito positivo que a gente possa outras
vezes também fazer reuniões da CNPI em outras terras indígenas. Porque demonstrou na prática
que o pessoal da bancada do governo fica na reunião, porque não tem que ficar indo pegar
criança no colégio, a esposa não está chamando etc., então a bancada do governo permanece
integralmente e também a bancada indígena não tem que ir ao ministério não sei de onde, na
Funai. Então eu acho que essa experiência demonstrou que ela é muito boa porque também à
noite nós estamos juntos, a gente conversa, continua o diálogo, eu acho que permite uma
integração maior, um diálogo maior, os intervalos são tão importantes quanto o momento formal
da reunião. Então eu queria parabenizar os Potiguara, porque eu acho que esse convite foi talvez
uma coisa assim premonitória, por isso que eu acho que a gente pode tentar ver ao longo de 2008
pelo menos mais uma, quem sabe até mais reuniões em alguma outra terra indígena. Vamos ver,
vamos analisar isso com calma, mas muito obrigado aos Potiguara. Parabéns para nós e o nosso
companheiro vai concluir a nossa reunião. Capitão.
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2ª Reunião Extraordinária Baía da Traição - Paraíba, 13 e 14 de março de 2008
Capitão Potiguara: Na verdade é uma canção que geralmente se canta no final da guerra,
geralmente são cantadas na festa de iniciação de jovens, pelo povo Karajá da Ilha do Bananal,
Tocantins; e como a gente está vivendo e praticamente criamos uma família na CNPI, juntamente
com governo e indígenas, por isso que eu quero homenagear nossos parentes também Potiguara,
que realmente fomos bem recebidos aqui.
Concluídos os trabalhos, às 21:45, foi então encerrada a 2ª Reunião Extraordinária
da Comissão Nacional de Política Indigenista, da qual foi lavrada a presente ata, a ser aprovada
por seus membros na próxima reunião ordinária.
Brasília, 14 de março de 2008.
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