geografia em multiplas escalas – o singular, o … · 2009-05-22 · singular, o particular e o...
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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
RENATA MARTINS SALAMANCA GODOY
GEOGRAFIA EM MULTIPLAS ESCALAS – O SINGULAR, O PARTICULAR
E O GERAL NO ESTUDO DOS MUNICÍPIOS: Geografia em Escala Local –
Um Estudo de Caso do Município de Uraí
URAÍ - PARANÁ
2008
RENATA MARTINS SALAMANCA GODOY
GEOGRAFIA EM MULTIPLAS ESCALAS – O SINGULAR, O PARTICULAR
E O GERAL NO ESTUDO DOS MUNICÍPIOS: Geografia em Escala Local –
Um Estudo de Caso do Município de Uraí
Artigo científico apresentado à Universidade
Estadual de Londrina, como requisito para aprovação no
Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria
de Estado da Educação – Paraná, sob a orientação da
Professora Ângela Massumi Katuta.
URAÍ - PARANÁ
2008
GEOGRAFIA EM MULTIPLAS ESCALAS – O SINGULAR, O PARTICULAR
E O GERAL NO ESTUDO DOS MUNICÍPIOS: Geografia em Escala Local –
Um Estudo de Caso do Município de Uraí
Renata Martins Salamanca Godoy
Professora de Geografia da Escola Estadual Prof. Paulo Mozart Machado – EF, Professora PDE –
2007, Graduada em Geografia pela UEL e Pedagogia pela FAFICOP; Pós-graduada em Educação Especial –
DM pelo CESULON.
RESUMO
O presente artigo visa auxiliar o trabalho docente em sala de aula por meio do
uso de material didático específico por nós elaborado e desenvolvido no contexto do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Este material resultou de um
trabalho coletivo entre professores da Rede Estadual de Ensino do Paraná e
professores orientadores da Universidade Estadual de Londrina do curso de
Geografia. O título que atribuímos ao mesmo foi Geografia em Múltiplas Escalas – o
singular, o particular e o geral no estudo dos municípios. Este material foi elaborado
tendo como base os conteúdos estruturantes das Diretrizes Curriculares do Paraná,
contemplando três eixos: Limites, Arranjos Territoriais e Dinâmica Populacional. Seu
objetivo é auxiliar na construção de uma Geografia que dialogue com os saberes
discentes sobre o espaço, para tanto é fundamental que o estudante compreenda a
Geografia em escala local, ou seja, a que se realiza no âmbito do município a partir
da análise de seus diferentes arranjos territoriais. O pensamento que norteia este
trabalho fundamenta-se no entendimento de que a construção do conhecimento
parta da singularidade, passando pela particularidade chegando à generalidade,
para então, em movimentos dialéticos sucessivos, retornar novamente às instância
anteriores do conhecimento. Assim, a construção do conhecimento é aqui concebida
como um movimento infinito do pensamento.
Palavras - Chave: Geografia em Múltiplas Escalas. Singular.Limites. Dinâmica
Populacional. Arranjos Territoriais.
ABSTRACT
The present article aims to help the teaching work in classroom through the use of
educational specific material prepared and developed in the context of the Program
of Educational Development - PDE. This material resulted from a collective work
among teachers belonging to the Paraná State Board of Teaching and teachers
advisors of the Londrina State University of the course of Geography. The title what
we attributed to it was Geography in Multiple Scales – the singular, the individual
and the general aspects in the study of the municipalities. This material was prepared
based on the structural contents of the Diretrizes Curriculares’ text of the state of
Paraná, contemplating three axes: Limits, Territorial Arrangements and Population
Dynamics. Its objective is to help in the construction of a Geography to enter into
dialogue with the student’s knowledge about the space, so it is essential to
understand the Geography in local scale, in other words, which happens in the
context of the municipality from the analysis of its different territorial arrangements.
The thought that orientates this work is based on the understanding of which the
construction of the knowledge leaves from the peculiarity, passing by the peculiarity
reaching the generality, so that, in dialectic successive movements, to return again to
the starting point of the knowledge. So, the construction of the knowledge is
conceived here like an infinite movement of the thought.
Key words: Geography in Multiple Scales. Singular.Limits. Population Dynamics. Territorial arrangements.
INTRODUÇÃO
Ensinar Geografia aos educandos da Educação Básica têm sido um grande
desafio para os educadores, face a inúmeras dificuldades. Além dos alunos
mostrarem-se desmotivados, temos um grande desafio que é a falta de material
didático sobre o local vivenciado pelos mesmos pois, para que ocorra uma
aprendizagem significativa, é preciso estabelecer um diálogo entre os conteúdos
escolares e o cotidiano do aluno.
Cavalcante (1998) afirma que, para avançar no entendimento dos problemas
de ensino da geografia, deve-se levar em consideração os elementos presentes nas
representações de alunos e professores, juntamente com a análise científica.
Tendo em vista esta preocupação, o artigo apresenta o processo de
elaboração de um material pedagógico que procurou privilegiar o enfoque local,
mostrando sua grande relevância para o ensino da Geografia, no momento de nossa
intervenção pedagógica, pois nos foi útil para subsidiar e modificar metodologias e
trabalhos desenvolvidos, por nós docentes no dia-a-dia da sala de aula.
Moreira (2006) considera a Geografia uma ciência que estuda as
geograficidades, as formas de organização espacial dos seres humanos e que,
portanto, encontra na paisagem um privilegiado instrumento de leitura. Assim, criar
condições de realização de leitura das paisagens locais por meio dos raciocínios
geográficos remeterá os educandos ao entendimento dos significados de seu
espaço de vivência e, consequentemente, auxiliará os mesmos a compreenderem e
atuarem na realidade de maneira a construir espaços mais democráticos.
Experiências vivenciadas por pesquisadores como SCHIMDT e GARCIA
(2006, p. 82-85) também apontam como possibilidade de superação das dificuldades
no processo de ensino e aprendizagem a “aproximação da realidade”, cujo
significado é educar a partir da realidade local.
A produção do material teve como objetivo geral a compreensão da Geografia
em escala local, ou seja, do município de Uraí, a partir da análise de seus diferentes
arranjos territoriais, pois é de fundamental importância entender a lógica dessa
ordenação territorial vivenciada pelos estudantes. A partir do mesmo,
compreendemos que é possível o estabelecimento de articulações da escala local
com aquelas em nível regional e global abordadas nos livros didáticos de geografia.
Assim, não se trata de substituir o livro didático mas de elaborar materiais que
possam ser aliados no trabalho com o mesmo.
A escala de abordagem local é imprescindível para que os educandos possam
estabelecer relações que os levem ao desvendamento dos arranjos territoriais. Isso
porque a abstração exigida para a construção dos conceitos que auxiliam a
compreender o espaço geográfico, torna-se um empecilho na aprendizagem, caso o
professor tenha tais constructos como ponto de partida, não acionando os
conhecimentos do senso comum (conceitos cotidianos) que os alunos já trazem
sobre a geografia que vivenciam cotidianamente. Por isso, é necessário ter como
ponto de partida os saberes e conceitos cotidianos para a transformação destes em
conhecimentos científicos por meio do processo de escolarização.
No contexto do trabalho que elaboramos fomos convidados a uma redefinição
quanto às ações ligadas à nossa prática pedagógica, buscando encaminhamentos
alternativos e possíveis, voltados para uma ação de integração que permita ao
educando a apropriação dos conceitos fundamentais da Geografia, levando-o a
compreensão do processo de produção e transformação do espaço geográfico em
que vive, sendo os conteúdos trabalhados de forma crítica e dinâmica, interligados
com sua realidade.
Segundo Cavalcanti (1998), citada nas Diretrizes Curriculares do Paraná
(2008, p. 31) “[...] o processo de apropriação e construção dos conceitos
fundamentais do conhecimento geográfico, se dá a partir da interação intencional
própria do ato docente”, cabendo a nós professores, ensinar o conhecimento
científico, levando o aluno a transformar o conhecimento do senso comum,
ampliando sua condição de análise e interpretação da realidade sócio-espacial.
O material pedagógico problematizado nesse artigo foi elaborado com a
intenção de tornar o ensino mais eficaz, moderno, atrativo, auxiliando ao educando a
compreender o seu mundo, proporcionando maior interesse e garantindo condições
reais de obtenção de sucesso no processo de ensino e aprendizagem.
POR QUE ENSINAR A GEOGRAFIA EM MÚLTIPLAS ESCALAS?
A necessidade de redirecionar o ensino da geografia é notória e urgente no
cotidiano das escolas, uma vez que os fracassos decorrentes da aprendizagem
escolar e as atitudes que evidenciam a desmotivação aumentam a cada dia.
Pensando nisso, houve uma preocupação em vencer esse desafio e as dificuldades
de se ensinar Geografia ao educandos.
Ao elaborar o material didático, buscou-se criar condições para que os
educandos pudessem entender o significado da geografia em suas vidas,
fornecendo dados suficientes e necessários para entenderem os arranjos espaciais
vivenciados por eles, partindo do singular (local), procurando viabilizar a construção
de conceitos geográficos de maneira contextualizada e dialogada com os saberes
dos educandos. Isso porque, em geral, os conhecimentos geográficos são
abordados em escala global e regional, ficando a escala do cotidiano dos educandos
relegada a segundo plano e, não raro sendo desconsiderada. Desse modo,
praticamente inexiste um trabalho pedagógico na disciplina que auxilie aos
estudantes construírem sua identidade com os locais a partir da compreensão dos
arranjos espaciais neles existentes.
Citando Vygotsky, Katuta (2004) nos fala da importância da linguagem no
processo de construção dos conceitos. Explica que a ação antecede a construção
lingüística, portanto, o aluno terá sua aprendizagem potencializada se a mesma
dialogar com as suas experiências. Nesse sentido, nada mais eficaz no ensino de
geografia do que ter como ponto de partida a dimensão local que dialoga com os
arranjos espaciais presentes na própria vivência do estudante.
Nos processos de formação de conceitos, o pensamento oscila entre duas
direções: do particular para o geral e deste para o particular. Em função disso, se faz
necessário a produção de materiais didáticos que auxiliem no trabalho com a
compreensão dos arranjos espaciais locais.
Considerando-se o exposto, elaboramos por meio do Programa PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional), um material que auxilie no trabalho
com a geografia local. Procurou-se através desse material, possibilitar ao aluno, por
meio da prática reflexiva dos arranjos espaciais locais, compreender os espaços que
vivencia no cotidiano, valorizando-os e buscando alternativas viáveis à construção
de um saber que, ao ser apreendido e socializado, irá auxiliá-lo para o efetivo papel
de cidadão, o que supõe sua intervenção na realidade, e isso não se faz sem a
devida compreensão dos arranjos espaciais a partir de uma análise que articule as
escalas local, regional e global, dependendo do fenômeno que está sendo alvo de
estudo.
Sabemos que a articulação entre essas três escalas no processo de estudo
da espacialidade dos fenômenos permitirá ao educando compreender a realidade,
permitindo que possa intervir na construção dos espaços.
Nesta perspectiva, partindo dos elementos locais da paisagem, usando-se
inúmeras linguagens, é possível que se elaborem ressignificações a fim de construir
os conhecimentos e atitudes imprescindíveis à construção da cidadania.
Dessa maneira, na produção do material didático nos preocupamos com a
utilização de diversas linguagens, além da escrita. Utilizamo-nos de imagens
fotográficas e cartográficas pois muitas informações são melhor comunicadas por
meio da linguagem visual.
Procurou-se através das imagens/linguagens desse trabalho, estabelecer uma
relação com os arranjos espaciais a serem estudados, tendo a preocupação com a
contextualização do fenômeno, situando-o no espaço-tempo. Se o aluno não
compreende a forma como o espaço ao seu redor está organizado não conseguirá
agir nele e muito menos conseguirá construir sua identidade com o local. É
importante destacar que não se trata de abordar apenas a escala local, dependendo
da abrangência geográfica do fenômeno e do objetivo pedagógico do professor, faz-
se necessário ampliar as escalas de análise, elemento fundamental para o
entendimento da espacialidade dos fenômenos. É neste sentido que se percebe a
importância do estudo do “local” como ponto de partida para a construção dos
conceitos geográficos e o necessário movimento do pensamento em outras escalas
a fim de que se possa compreender a espacialidade dos fenômenos, sobretudo em
um mundo globalizado. Bertanini (1985, p. 118), escreve: “Estudar o espaço vivido
significa superar a dimensão do espaço extensão, ou espaço suporte das atividades,
para acolher a noção de representação do espaço, como espaço construído através
do olhar das pessoas que o vivem-habitam.” É neste contexto que entendemos que
o ensino de geografia pode auxiliar a contribuir com a produção de espaços mais
democráticos.
Segundo Katuta (2007. s.p.) “[...] as imagens podem ser compreendidas como
testemunhas oculares, indícios e modos de registros de geograficidades.” Assim,
podemos verificar a importância das mesmas, sobretudo em um contexto onde há
falta de um registro escrito. As imagens constituem-se em documentos e registros
fundamentais que auxiliam na compreensão das geograficidades.
Segundo Vygotsky, “[...] o desenvolvimento do pensamento é determinado
pela linguagem, isto é, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento e pela
experiência sociocultural da criança.” (1993, p. 44). Desse modo, podemos perceber
a importância da linguagem e da palavra na formação de conceitos. Conforme
Vygotsky (1993), a formação de conceitos é o resultado de uma atividade complexa
em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte.
Para Pankow (1988) apud Katuta (p. 168):
[…] a linguagem atua como instrumento de orientação das ações humanas, e defende a idéia de que a mesma, somente adquire significações quando se refere à dimensão vivida pelo sujeito, à sua territorialidade, tornando-se, nesse caso, instrumento de conhecimento do mundo e de si. Quando essa conexão não é estabelecida, a linguagem serve, predominantemente, como instrumento de dominação e alienação.
É neste contexto que se pode afirmar que:
“Todo saber está de uma maneira ou de outra, ordenado por meio de
linguagens. As linguagens amplificam nossa capacidade de ver, apreender e
compreender as geograficidades, pois, cada uma delas, nos apresenta as formas
espaciais dos entes no mundo a partir de suas especificidades.” (KATUTA, 2005, p.
1).
É importante destacar que o trabalho Geografia em Múltiplas Escalas, teve a
preocupação de seguir os princípios das Diretrizes Curriculares do Estado do
Paraná, visto que um dos conteúdos estruturantes diz respeito à oportunização da
compreensão do espaço em que vivem os próprios educandos, por meio do
desvendamento dos arranjos espaciais em suas múltiplas escalas, fundamentais na
compreensão dos territórios.
Considerando o exposto, é importante salientar que este material deve ser
entendido como um recurso pedagógico imprescindível ao professor, contudo, como
qualquer outro instrumento didático, deve ser adequado à realidade de cada nível de
ensino. Além disso, trata-se de um recurso auxiliar no trabalho com o livro didático
que não tem a pretensão de substituí-lo.
O mesmo foi elaborado a partir de três eixos estruturantes:
• Limites, por meio deste eixo nos preocupamos com a compreensão do
fato de que todos os fenômenos possuem localização espacial e uma
determinada orientação. Assim, a partir deste entendimento
procuramos estabelecer as correlações entre as geograficidades dos
fenômenos em diferentes lugares e em múltiplas escalas.
• Arranjos Territoriais: com este eixo pretendemos reconhecer e
identificar as características inerentes à estrutura urbana e rural,
analisando por meio de conceitos o uso e ocupação do solo a partir da
distinção de ambas as áreas. Objetivamos também analisar e
compreender conceitualmente a distribuição espacial das zonas de
ocorrência de serviços públicos essenciais, como água, esgoto, lixo,
rede elétrica, asfalto, entre outros, elementos fundamentais na
compreensão do espaço geográfico.
• Dinâmica populacional: neste eixo pretendemos compreender as suas
expressões espaciais. Além disso, visamos compreender a
geograficidade da segurança pública no município, entender como as
suas expressões espaciais articulam-se com os arranjos espaciais
pretéritos e presentes, analisar a estrutura populacional do município a
partir de vários indicadores (IDH, taxas de natalidade e mortalidade,
mortalidade infantil, estrutura etária, taxa de desemprego, população
economicamente ativa e escolaridade, entre outros).
Mostra-se claro neste material a necessidade de buscarmos informações
locais com fundamentação científica, a fim de organizá-las de forma satisfatória para
serem utilizadas como material pedagógico e de pesquisa, facilitando assim o
trabalho do professor de geografia. Parte daí a necessidade de uma sistematização
e organização dessas informações em materiais didáticos, contribuindo para uma
maior compreensão da organização do espaço local como ponto de partida, no
trabalho com os conhecimentos e conceitos da geografia.
Segundo Cavalcanti (1988, p. 128) a função da Geografia é formar uma
consciência espacial, um raciocínio geográfico, levando a compreensão da
espacialidade das práticas sociais para poder intervir no seu cotidiano de uma forma
mais autônoma. A compreensão de como a realidade local relaciona-se com o
contexto global é um trabalho a ser desenvolvido durante toda a escolaridade, de
modo cada vez mais abrangente, com o cuidado de não cair numa análise simplista
do lugar até chegar ao global de forma linear, pois as relações entre as escalas são
complexas.
Aprender de forma contextualizada, integrada e relacionada a outros
conhecimentos permite o desenvolvimento educacional que garantirá ao aluno a
compreensão da realidade de uma maneira menos caótica e sincrética.
Katuta (2004) em sua tese nos mostra que o ensino da Geografia hoje está
transformando o aluno em um 'Estrangeiro em seu próprio mundo', devido à
realização de descrições descontextualizadas sobre o clima, relevo, vegetação,
embasamento rochoso, população, urbanização, industrialização, entre outros. Ao
negar o processo de contextualização do conteúdo nega-se a possibilidade de
compreensão dos arranjos espaciais em suas múltiplas escalas, não permitindo que
os estudantes compreendam os lugares que conhecem, transformando-os em
estrangeiros no mundo em que vivem.
A autora esclarece ainda que este termo “O Estrangeiro no mundo da
geografia”, foi utilizado pelo fato de que lhe pareceu útil para expressar o que ocorre,
em geral, com o aluno nas aulas de geografia, tanto no ensino básico como no
superior:
Via de regra, o discente se vê obrigado a reproduzir os hábitos discursivos, comportamentais, de pensamento e conhecimento considerados apropriados aos discentes da referida disciplina. Nela, não raro, as espacialidades são abordadas por meio da abstração […] (KATUTA, p. 30).
Tendo a preocupação de elaborar um material didático que contemple de
forma contextualizada os conteúdos de geografia, o trabalho apresentado neste
artigo, tem como objetivo geral a compreensão das espacialidades em escala local,
ou seja, do município de Uraí, a partir da análise de diferentes arranjos territoriais.
Compreendemos que, a partir do mesmo, será possível o estabelecimento de
articulações dessa escala com aquelas em nível regional e global abordadas nos
livros didáticos de Geografia e em outros materiais.
A hipótese que norteia este trabalho está fundamentada no entendimento de
que a construção do conhecimento supõe o movimento do pensamento que se
estrutura partindo da singularidade, passando pela particularidade chegando à
generalidade, para então, em movimentos dialéticos sucessivos, retornar novamente
às instâncias anteriores de conhecimentos, contudo, em nível intelectivo mais
elevado. É por isso que o ponto de partida da construção de conhecimentos está
situado no plano da singularidade ou do cotidiano, dimensão imprescindível para a
construção dos conceitos em geografia que estão no plano da abstração ou da
generalidade, ponto de chegada do processo ensino-aprendizagem.
Ao estruturar este material, contemplou-se três eixos fundamentais (eixos
estruturantes) e de grande amplitude, sempre tendo em vista o objetivo pedagógico
do ensino de Geografia, que é “[...] o entendimento dos arranjos espaciais por meio
da dialética entre os conhecimentos geográficos não formais e os
científicos.”(Katuta, 2007). É importante destacar que entende-se por conteúdos
estruturantes os conhecimentos de grande amplitude que identificam e organizam os
campos de estudo de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para a
compreensão de seu objeto de estudo e ensino. (Diretrizes Curriculares, 2008, p.
25).
No item que segue abordaremos cada eixo estruturante. No processo de
produção e construção do conhecimento é necessário a utilização de instrumentos
que auxiliem tal processo. Daí a importância da produção de recursos didáticos e
materiais que propiciem melhorar o desenvolvimento do processo educacional.
Produzir um material que revele ao educando a compreensão de seu mundo é de
grande relevância para educadores e educandos.
Cabe destacar que a confecção deste material didático permitiu ampliar
conhecimentos sobre a geografia do município, desde o início de sua ocupação e
inserção no modo capitalista de produção no Brasil e no mundo.
LIMITES
Procurou-se trabalhar a construção de conceitos de divisas, fronteiras,
iniciando com a extensão do município, abordando as sua caracterização física
(clima, relevo, hidrografia, vegetação), o objetivo foi focalizar a relação Homem X
Meio, fundamental nos processos de organização territorial.
Dessa maneira, juntamente com o primeiro tema foi trabalhado os seguintes
conceitos e noções: perímetro urbano, vegetação, relevo, solo, hidrografia e clima do
município. Esses elementos foram abordados sob o ponto de vista local-global para
dar sentido à realidade pois, como afirma Pereira (2003, p. 15): “O papel
fundamental da Geografia no Ensino Básico é o de proporcionar aos alunos os
códigos que os permitam decifrar a realidade por meio da espacialidade dos
fenômenos, ou seja, alfabetizar geograficamente.”
Para o desenvolvimentos dos conteúdos, considerou-se que no espaço criado
pela nossa sociedade sempre se estabelecem limites que representam controles e
usos diferenciados do mesmo, estabelecidos por determinações históricas,
econômicas, sociais, políticas, geográficas e culturais.
Considerou-se também que buscar a compreensão do espaço vivenciado
implica entender os arranjos que nos rodeiam e também aos outros, o que nos
auxilia a perceber quem somos e o papel que efetivamente temos em nossa
realidade.
Dessa maneira, compreender as fronteiras e limites requer um exercício de
compreensão dos hábitos, das necessidades e das relações sociais que os Homens
estabelecem entre si, com o meio em que vivem e com os povos de cultura e etnias
diferentes. A isso, deve ser somada a influência do fenômeno da globalização e suas
implicações nos arranjos espaciais produzidos em múltiplas escalas.
Para CALLAI e ZARTH (1988, p. 11):
[...] estudar o município é importante e necessário para o aluno, na medida em que ele está vivendo. Ali estão o espaço e o tempo delimitados, permitindo que se faça a análise de todos os aspectos da complexidade do lugar. [...] É uma escala de análise que permite que tenhamos próximo de nós todos aqueles elementos que expressam as condições sociais, econômicas, políticas do nosso mundo. É uma totalidade considerando seu conjunto, de todos os elementos ali existentes, mas que como tal, não pode perder de vista a dimensão de outras escalas de análises.
Como primeiro passo, elaborou-se o conceito de limite para o lugar-território,
explorando as visões globais, nacionais, estaduais até chegar ao singular. Somado a
isso, preocupou-se com o processo histórico-espacial constitutivo dos arranjos
espaciais locais por grupos sociais que estiveram e que chegaram no momento de
formação inicial do município. Dessa maneira, procurou-se explicitar como se deu a
organização espacial do município, sua lógica e os elementos que nela
influenciaram. O entendimento destas questões auxiliou a criar uma identidade,
inclusive quando se percebeu que cada um teve uma trajetória própria, única,
contudo, muito parecida com a do outro e de muitas famílias que habitavam no
mesmo município. Assim, tratou-se de verificar a dimensão social e singular dos
processos que influenciaram na produção dos arranjos espaciais do município, não
raro, orquestrados por políticas estaduais, regionais, nacionais e até mesmo
internacionais, como foi o caso do incentivo, no século XIX, ao processo de
imigração encetado, sobretudo, por países europeus e asiáticos.
O educador Paulo Freire (1995, p.26-27), afirma:
“[...] minha terra é a coexistência dramática de tempos díspares confundindo-
se no mesmo espaço geográfico. Toda 'terra' é o resultado de um espaço histórico,
contraditório, que me exige como a qualquer outro decisão, tomada de posições,
ruptura, opção.”
Neste contexto, o papel básico do ensino de Geografia é proporcionar várias
ferramentas para alfabetizar o aluno espacialmente em suas diversas escalas, a fim
de auxiliar o mesmo no entendimento das noções de espaço, paisagem, natureza,
Estado e sociedade, conceitos fundamentais para o entendimento dos arranjos
espaciais.
Para MORAES (1998, p. 166) “[...] formar o indivíduo crítico implica em
estimular o aluno questionador dando-lhe, não uma explicação pronta do mundo,
mas elementos para o próprio questionamento das várias explicações”. Neste
sentido, busca-se trabalhar, como diz Souza Neto (2000), com um ensino de
geografia que aborde, inicialmente, o contexto mais próximo do aluno para, na
seqüência, remeter a outros níveis escalares. É dessa maneira que entendemos que
os conteúdos deixarão de ser percebidos como algo alheio à vivência dos
estudantes.
A não compreensão científica e sistematizada do espaço vivido leva a um
processo de estranhamento do sujeito, isso porque sua identidade é construída a
partir das relações que o mesmo estabelece com o meio em que vive. (KATUTA,
2004). Essa necessidade de compreender os arranjos espaciais produzidos pelos
seres humanos no mundo, se não orientada, conduz a entendimentos equivocados
da realidade, chegando até a produzir um sentimento de desalento, inconformidade
e desterritorialização, fruto do não entendimento do espaço em que vive.
A Escola e, especificamente o ensino da geografia, tem o papel de
proporcionar essa construção de significados em torno dos arranjos espaciais. É
neste contexto que os alunos podem compreender as paisagens produzidas pelas
sociedades atuais.
ARRANJOS TERRITORIAIS
A proposta de trabalhar com o tema arranjos territoriais se pretende
diferenciada, na medida em que a explicação dos processos parte do local
vivenciado e incorporado no imaginário do educando. Esse recorte levou em
consideração a estrutura fundiária, as relações de trabalho no campo, a relação
campo-cidade, o uso do solo urbano e a estrutura urbana do município. Esperou-se,
com isso, desenvolver no educando o gosto pela observação detalhada, pelo
estabelecimento de relações que o permitam compreender o que acontece no seu
município para, a partir daí, transcender da escala das particularidades para aquela
das generalidades, que se insinuam nas escalas regionais, nacionais e mesmo
globais.
Para tanto, foi elaborado um conjunto de indagações prévias a serem
socializadas com os alunos, a fim de auxiliarem na reflexão sobre os vários aspectos
da problemática estudada. Essa foi a opção metodológica na busca pela construção
de conceitos e conhecimentos necessários para o entendimento da realidade, a
partir dos conteúdos trabalhados em geografia, de modo que a explicação teórica
não é ponto de partida, mas sim uma construção, onde o professor atua como
mediador para que, ao final do processo, o aluno tenha assimilado a lógica dos
arranjos territoriais.
Foram utilizadas um conjunto de linguagens como mapas, gráficos, tabelas,
fotos, imagens, poesias e músicas pois, conforme, Katuta (2004, p. 2), “[...] apesar
da riqueza da linguagem escrita, existem aspectos da geograficidade dos entes que
somente podem ser capturados e apresentados por imagens”. Assim, é de grande
importância a utilização de várias linguagens na produção de material didático, já
que “[...] a linguagem é um pressuposto que norteia todo o processo de construção
do conhecimento que construímos ao longo de nossas vidas.” (KATUTA, 2004, p. 1).
Ao desenvolver o tema por meio de questionamentos, imagens, mapas e
textos, preocupou-se em problematizar as características da agricultura no
município, transcendendo as escalas de modo a permitir que se compreenda sua
importância na economia do país, fato explícito por sua participação privilegiada no
equilíbrio da balança comercial. Como essa escala envolve um grau de abstração
nem sempre compatível com o estágio de cognição dos educandos, optou-se por
focalizar os arranjos agrícolas do município, os quais certamente dizem respeito às
experiências desses sujeitos, mesmo que a título de desafio para observação
posterior. Desse modo, o destaque foi dado aos produtos agrícolas produzidos no
local, seu destino, os indicadores do uso do solo como área ocupada com lavouras
permanentes, temporárias, pastagens, matas e reflorestamento.
Essa análise complementa-se com as considerações acerca da inserção do
município no contexto da industrialização e da introdução de equipamentos
modernos no campo, cujas conseqüências são as novas condições de produção e
de trabalho. Como decorrência, as famílias foram obrigadas a mudar seus hábitos e
costumes, e entrar no ritmo destas atividades ditas modernas, e que implicaram em
redução nas ocupações agrícolas de cunho familiar, bem como de empregos
temporários e permanentes no campo.
Isso permite explicar a mudança no padrão de distribuição entre população
rural e urbana, mas não só, já que aliada à diminuição da população residente no
campo, houve perda populacional dos núcleos urbanos da maior parte dos
municípios de base econômica agrícola. No caso do Norte do Paraná, isso se
tornou mais evidente a partir da década de 1980, momento em que a cultura do café
já havia entrado em declínio e a migração foi a saída encontrada pelos camponeses,
tanto para as cidades maiores ou para novas áreas agrícolas. Cabe salientar que
além desse movimento migratório de enormes proporções, impactos ambientais
foram se avolumando, em particular no que diz respeito à degradação da flora,
destruição da fauna, dos recursos hídricos, isso por causa das técnicas de cultivo
baseadas em intensa mecanização e utilização intensiva de agrotóxicos.
A elaboração desse eixo estruturante propõe uma reflexão sobre a relação
entre cidade e campo, já que essa tem se tornado extremamente complexa, na
medida em que a tecnologia e a redução dos custos de produção têm criado, no
campo, estruturas que antes eram típicas do meio urbano, a exemplo das
agroindústrias. Pode-se afirmar que essas duas formas de organizar o espaço se
integram no processo de produção industrial.
Uma espécie de fim de divisão de trabalho, técnica e territorial, que recria as relações entre setores econômicos até então estrutural e territorialmente separados, e uma certa homogeneização de valores que expressam um mundo e um modo de vida até então tidos como próprios e privilégio da cidade toma em comum cidade e campo, tornando-os, de novo, um mundo único, desta vez configurado na cultura urbana, que se propaga pelos campos, aí eliminando o que era ainda remanescente da cultura rural do passado. (MOREIRA, p. 3, 2005).
A utilização de alguns recursos, sobretudo mapas, pode levar o aluno a
perceber a cidade como uma fração diferenciada do território, em oposição ao
campo, e mesmo com diferenças internas pronunciadas, dada a diversidade dos
usos e apropriações. Em linhas gerais, verifica-se um zoneamento da cidade, que
divide-se em área central, áreas industriais, residenciais, sempre determinadas pelo
poder aquisitivo da população e pela articulação entre poder de regulamentação e
força dos grupos privados dedicados à especulação imobiliária.
É isso que explica a dinâmica interna das cidades e seus vazios urbanos,
sabendo-se que as interações com os fluxos de capitais decorre de fatores
históricos, políticos e econômicos. Com esta proposta analítica, é possível se deter e
compreender como se dá a participação de cada setor econômico do município, bem
como os fatores que interferem na distribuição espacial das atividades econômicas.
Após atentar a estas questões, é possível ainda ao aluno perceber que a
cidade é, ao mesmo tempo, reflexo e produto concreto da realidade social e
econômica do sistema capitalista. Para Callabi e Indovina (1973) “[...] a cidade,
deste ponto de vista, é um produto total. Ela tem valor de uso e tal valor depende de
necessidades historicamente determinadas, diante de tal valor de uso ela é produto
para a troca, ou seja, ela própria é mercadoria”.
Partindo desta compreensão de cidade, os alunos puderam compreender o
quão fundamentais são os serviços urbanos. Um desdobramento desse trabalho foi
o mapeamento dos mesmos, por meio do levantamento de dados sobre educação,
saúde, lazer, segurança, fornecimento de energia, água, esgoto, meios e vias de
transporte, coleta de lixo, creches, pontos turísticos, centros de convivência, etc.
Tudo isto dentro de uma orientação metodológica que permitiu questionar o quanto
esta estrutura espacial, na maioria pública, oferece oportunidades ou agrava os
fatores de exclusão. Não obstante, o fato de a proposta contemplar as dimensões:
acesso aos serviços públicos, direitos de cidadania e qualidade de vida como
elementos indissociáveis e inter-relacionado, o que permitiu ao aluno perceber as
diversas esferas de ações e responsabilidades dos atores sociais, incluindo as suas.
DINÂMICA POPULACIONAL
A dinâmica populacional é um dos fatores fundamentais para a compreensão
do nosso objeto de estudo, ou seja, a distribuição territorial dos fenômenos e seus
significados na organização e formação dos espaços geográficos. O intuito do
trabalho com esse tema foi entender como a dinâmica populacional interfere na
formação espacial da sociedade e reportar essa compreensão para o contexto do
município, pois, é a partir dela que o modo de produção, a estrutura de classes e os
arranjos territoriais se estabelecem e nos permitem reconhecer as diferentes formas
e agentes que determinam a incorporação da terra, de seus frutos, seus recursos
naturais e humanos, das pessoas e sua capacidade de trabalho e de consumo à
engrenagem universal do capitalismo.
Foi dado grande ênfase às características do povoamento, às migrações e à
estrutura populacional que imprimiram marca no município produzindo novas
territorialidades, o objetivo é que se relacione as mudanças políticas e econômicas
ocorridas em escala nacional e mundial.
A dinâmica da população no espaço, no contexto das sociedades atuais, foi
analisada além da sua essência, a busca por sobrevivência, mas como uma
exigência de adaptação às necessidades de reprodução e acumulação do capital.
Assim, os grupos se deslocam motivados por diversos fatores, mas são
principalmente, aqueles ligados ao desenvolvimento econômico dos lugares os que
desenham as trajetórias de deslocamento da população no espaço na sociedade
moderna.
A dinâmica populacional em suas expressões espaciais contribui para a
compreensão da formação de diferentes geograficidades, sendo um dos aspectos
da mesma, qualquer que seja o ponto de entrada ou de saída dos grupos humanos,
obedecerá a lógica sobre a qual se apóia o raciocínio geográfico “[...] de que todo
fenômeno obedece ao princípio de organizar-se no espaço.”(Moreira, 2006, p.174,
apud KATUTA, 2005, p. 3).
Materializam-se no espaço as transformações dos lugares, as diferentes
formas de viver e se organizar, decorrentes do modelo econômico atual, do
desenvolvimento das forças produtivas e do avanço tecnológico. “A geograficidade
é, assim, o ser-estar espacial do ente. É o estado do ser no tempo-espaço. Um
princípio válido e atribuível a qualquer ente – pode ser o homem, um objeto natural
ou o próprio espaço […].” (MOREIRA, 2004, p. 34).
O diagnóstico da dinâmica populacional do município, das suas
características, do seu povoamento, das migrações e da sua estrutura populacional,
as mesmas que imprimiram marcas no município produzindo novas territorialidades,
permite a elaboração de uma leitura das espacialidades, das formas em que os
grupos sociais se organizam no espaço-tempo, dadas suas relações com as
mudanças políticas, econômicas e culturais ocorridas em escala nacional e mundial
e pressupõe o entendimento das geograficidades engendradas pela dinâmica
populacional em escala local.
Esse conhecimento sobre a dinâmica populacional e formação das diferentes
geograficidades contribui, em larga medida, para o entendimento dos problemas,
tais como: déficit de moradia, carência de infra-estrutura em determinados locais da
cidade, ocupações irregulares (assentamentos e favelas), crescimento do setor
informal, entre outros, com os quais nos defrontamos atualmente e que requerem
políticas públicas voltadas para necessidades de rearrumação dos arranjos
geográficos do município. A geografia utilizando e interpretando diversas linguagens,
mapas, gráficos, tabelas e imagens conduz a uma leitura da paisagem,
representação no espaço das geograficidades. “Isso ocorre quando a paisagem se
revela em sua essência ao corpo que a experiência como espaço-tempo-mundo, o
espaço aparecendo como a forma de existência do homem-no-mundo.” (MOREIRA,
2004, p. 194).
Para a apresentação dos conteúdos que se referem à dinâmica populacional,
em escala local, procuramos organizar informações e dados relevantes do município
que permitissem a compreensão dos movimentos e deslocamentos populacionais
nessa escala, principalmente aqueles cujos resultados foram fundamentais na
organização do espaço e da geograficidade de cada um dos referidos municípios.
O material didático produzido sobre o município tem por finalidade apresentar
e permitir a análise da evolução demográfica da população na escala nacional,
estadual e municipal, ou seja, partindo de informações sobre o geral chegando ao
particular e singular que constitui a realidade populacional dos respectivos
municípios. Destaca-se que o material confeccionado dispõe de dados,
principalmente do período de 1970 a 2000, que enfocam as transformações
capitalistas no campo (modernização, mecanização e mudança de culturas),
intensificadas a partir da década de 1970, aliadas ao movimento combinado de
expulsão do campo e atração ideológica exercida pelas cidades, provocando um
grande fluxo migratório em direção aos centros urbanos. Salienta-se que são
apresentadas orientações pedagógicas para a discussão dos fatores e
conseqüências desencadeadas pelos referidos processos na organização da
paisagem e dos arranjos territoriais nos diferentes municípios.
Para desenvolver o trabalho foi necessário coletar dados que permitissem a
verificação dos diversos aspectos relacionados à dinâmica populacional, entre eles,
o povoamento, a migração, a evolução da população urbana, a questão da
segurança pública, a qualidade de vida, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
em diversas escalas geográficas e a composição etária da população dos
municípios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação é uma ação inerente a toda e qualquer sociedade, indispensável
no mundo em que estamos inseridos. Portanto, fazem-se necessários profissionais
competentes, dinâmicos, inovadores, comprometidos, além de políticas
educacionais que favoreçam a constituição de ações significativas à construção do
conhecimento. Neste contexto, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná, em
cooperação do a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior,
institui o PDE como uma política educacional inovadora de Formação Continuada
dos professores da Rede Pública Estadual, o PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional).
Segundo a SEED (2007, p. 2) “[...] a parceria com as Instituições Públicas de
Ensino do Paraná decorre da percepção de que a essência do Programa encontra
ressonância na reflexão pedagógica crítica nelas produzidas”.
No ano de 2007 ocorreu a implementação do PDE e as Instituições de Ensino
Superior propuseram-se a um trabalho conjunto, entre professores orientadores e os
PDE da rede pública estadual. O objetivo primordial do programa realizado no
Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina foi auxiliar na
construção de uma política pública de formação continuada, onde o foco era a
autonomia intelectual e profissional dos educadores em geografia. Dessa maneira,
foi proposta a realização de uma formação continuada fundada na construção
coletiva que teve como objetivo geral ampliar a capacidade de reflexão e
investigação dos professores de geografia do ensino básico do estado do Paraná,
por meio do desenvolvimento de um Projeto de Educação Continuada que enfatizou
a elaboração de reflexões ligadas ao seu trabalho cotidiano em sala de aula (cursos)
e a elaboração de um material didático-pedagógico (projeto).
Estas reflexões e propostas de intervenção, bem como o material didático foi
confeccionado e elaborado por um grupo de treze professores da rede estadual de
ensino do estado do Paraná e de cinco professores da Universidade Estadual de
Londrina, na qual faziam as orientações necessárias para a produção do material
didático. Todo o processo de confecção e pesquisa foi feito de forma coletiva,
discutindo-se tópico por tópico, até chegar a um roteiro definitivo que contemplasse
determinados temas no material didático. O fato de o trabalho ser coletivo
enriqueceu as reflexões dos temas geográficos, bem como evidenciou o papel da
geografia na escola e sua tarefa no âmbito da produção e socialização dos
conhecimentos.
É importante salientar a riqueza de produzir conjuntamente um material
focado no singular sem distanciar-se do regional e do global, dada a possibilidade de
ser adaptado a outras localidades, sem perder o enfoque e a metodologia utilizada.
A confecção deste material didático nos permitiu ampliar conhecimentos
sobre a geografia dos municípios, desde o início de suas ocupações e inserção no
modo capitalista de produção, principal responsável pela configuração das
características sociais, políticas, geográficas e culturais específicas de cada
município.
Nesse ano de 2008 as expectativas foram muitas, sobretudo no que se refere
à implementação do projeto durante as aulas. O material superou as expectativas, e
foi de grande importância fornecendo dados e direcionamentos suficientes e
necessários para entender os arranjos espaciais vivenciados pelos alunos. O
material produzido partindo do singular para o particular ajudou muito na construção
dos conceitos geográficos, pois facilitou os alunos fazerem a ligação entre o local, o
regional e o mundial no contexto escolar. Podemos perceber as reações dos alunos
frentes aos problemas encontrados no seu município e a sua capacidade de refletir,
pensar estratégias e soluções de interferências nos arranjos espaciais produzidos
pela sociedade em que vive.
Ademais, este material pode oferecer aos professores e alunos dados e
análises sistematizados do município que dificilmente são encontrados na literatura
oficial.
REFERÊNCIAS
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