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ESPECIALIZAÇÃO: GEOLOGIA DE MINAS E TÉCNICAS DE LAVRA A CÉU ABERTO
MÓDULO III: CONHECIMENTOS
COMPLEMENTARES
ECONOMIA MINERAL
PEGEO 2015
PLANO DE CURSO
Ementa: Aplicação da teoria econômica à indústria mineral, enfocando
aspectos sobre escassez, demanda e oferta de recursos minerais nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Trata ainda dos custos de produção da indústria mineral e da formação de preços dos produtos.
PROGRAMA :
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4
1.1 A ECONOMIA MINERAL E SEUS CAMPOS DE ATUAÇÃO ................................................................................................ 4 1.2 POR QUE É IMPORTANTE ESTUDAR ECONOMIA MINERAL?............................................................... 5
2. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA ................................................................................ 6
2.1. O SISTEMA ECONÔMICO......................................................................................................................................................... 6
2.2. OS AGREGADOS MACROECONÔMICOS: CONSUMO, PIB, POUPANÇA, INVESTIMENTO, SETOR PÚBLICO,
TRIBUTOS ............................................................................................................................................................................................. 8
2.3 UMA ABORDAGEM CRÍTICA DA ECONOMIA ECOLÓGICA ........................................................................................ 10
2.4 OS AGREGADOS MACROECONÔMICOS E OS INDICADORES DA ECONOMIA MINERAL BRASILEIRA .......... 12
3. ABORDAGEM MICROECONÔMICA - CONSUMO DE RECURSOS MINERAIS.............. 13
2.1 DEMANDA. FUNÇÃO DEMANDA POR BENS FINAIS. UTILIDADE E CURVAS DE INDIFERENÇA .................... 13
3.1.1 A utilidade do consumidor ............................................................................................... 14
3.2 DEMANDA AGREGADA. ELASTICIDADE. BENS COMPLEMENTARES E SUBSTITUTOS .................................... 16
3.2.1 Tipos e conceito de elasticidade (_) ................................................................................ 17
3.2.2 Bens Substitutos e Complementares ............................................................................. 20 3.3 A DEMANDA POR MINERAIS ................................................................................................................................................. 21
4. OFERTA DE RECURSOS MINERAIS ................................................................................ 23
4.1 OFERTA. FUNÇÃO DE PRODUÇÃO. PRODUTOS MÉDIO, TOTAL E MARGINAL. ESTÁGIOS DA PRODUÇÃO.
CURVAS DE ISOPRODUTO ............................................................................................................................................................ 23
4.1.1 A Função de Produção de curto prazo com um insumo variável .................................. 23
4.1.2 A Função de produção ....................................................................................................24
4.1.3 Produtos médio e marginal ............................................................................................. 25 4.1.4 Os estágios da produção ................................................................................................ 26
4.1.5 Função de Produção com dois insumos variáveis ........................................................ 27
4.1.6 Oferta de Recursos Minerais no Brasil .......................................................................... 29
ENRÍQUEZ, M. Amélia R.da S. Economia Mineral - I PEM – UFPA. 2
4.2 CUSTOS DE PRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 30 4.2.1 Conceito de custos .......................................................................................................... 31 4.2.2 Custos Totais de Produção (CT) ..................................................................................... 32
4.2.3 O Curto e Longo Prazos .................................................................................................. 34
4.2.4 Diferenças entre a visão econômica e a visão contábil-financeira dos custos de
produção na indústria Mineral ................................................................................................. 34
4.2.5 Custos Fixos e Custos Variáveis na Indústria Mineral ................................................. 37
5. ESTRUTURA DE MERCADO E FORMAÇÃO DE PREÇO................................................. 39
5.1 ESTRUTURAS DE MERCADO DA INDÚSTRIA MINERAL .............................................................................................. 41
5.2 CONCORRÊNCIA PERFEITA ..................................................................................................41
5.2.1 Características do mercado de concorrência perfeita .................................................. 41
5.2.2 Condição de equilíbrio no mercado de concorrência perfeita .......................................42
5.2.3 Equilíbrio de curto prazo .................................................................................................43 5.2.4 Método de maximização do lucro no curto prazo – abordagem marginal ................... 44 5.2 MONOPÓLIO .......................................................................................................................... 47
5.3.1 Características do monopólio .......................................................................................... 47
5.3.2 Fatores que explicam a existência de um monopólio ................................................... 48
5.3.3 Condição de equilíbrio de curto prazo em monopólio puro .......................................... 49
5.3.4 Comparações entre Monopólio e Concorrência Perfeita .............................................. 50
5.3 CONCORRÊNCIA MONOPOLISTA .........................................................................................51
5.4.2 Condição de equilíbrio do mercado de concorrência monopolista ............................... 52
5.4.3 Estratégias competitivas no modelo de concorrência monopolista .............................. 52
5.5 OLIGOPÓLIO .......................................................................................................................... 54
5.5.1 Tipos de oligopólio .......................................................................................................... 54 5.5.2 Características de um mercado oligopolista ................................................................. 55
5.5.3 Equilíbrio no Oligopólio ................................................................................................... 56
5.5.4 Algumas soluções de mercado para o oligopólio.......................................................... 56
5.5.5 Tamanho do oligopólio e os ganhos de mercado ......................................................... 57 5.5.6 Concorrência nos mercados de oligopólio .................................................................... 58 5.5.7 Teoria dos Jogos e as estratégias de cooperação em oligopólio ................................ 58
5.5.8 Formação de Preços em Oligopólio .............................................................................. 60
5.6 FORMAÇÃO DE PREÇOS DOS MINERAIS ............................................................................ 61
5.6.1 Fatores que controlam a estabilidade dos preços ......................................................... 62
5.6.2 Influência das bolsas de valores .................................................................................... 63
6. RECURSOS MINERAIS E ESCASSEZ ............................................................................... 64
6.1 RESERVAS, RECURSOS E BASE DE RECURSO ................................................................................................................ 64
6.2 RESERVAS BRASILEIRAS DE BENS MINERAIS ................................................................................................................ 68
6.3 ESTRATÉGIA PARA GESTÃO DE RECURSOS EXAURÍVEIS.........................................................................................70
7. BENS MINERAIS E DESENVOLVIMENTO........................................................................ 70 7.1. OS EFEITOS E CONSEQÜÊNCIAS DO BOOM MINERAL, A TESE DA MALDIÇÃO DOS RECURSOS E A
DOENÇA HOLANDESA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS.................................................................................................................. 70
7.2 USO DAS RENDAS MINEIRAS ............................................................................................................................................... 74
7.3. O TIMING DA EXPLORAÇÃO E OS CUSTOS DE OPORTUNIDADE ............................................................................. 76
8. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA .............................................................................................. 78
Lista de Gráficos, Figuras, Quadros e Tabelas
Gráfico 1: Demanda Agregada ................................................................................................ 8
Gráfico 2: Espaço orçamentário do consumidor ...................................................................... 14
Gráfico 3: Função utilidade ..................................................................................................... 15
Gráfico 4: As curvas de Indiferença ........................................................................................ 15
Gráfico 5: A taxa marginal de substituição entre os bens Y e X ................................................ 16
Gráfico 6: Curva de Engels A ................................................................................................. 17
Gráfico 7: Curva de Engels B ................................................................................................. 17
Gráfico 8: Curva de demanda em função dos preços .............................................................. 18
Gráfico 9: Elasticidade-preço da demanda unitária ................................................................. 19
Gráfico 10: Elevada elasticidade-preço da demanda (elástica) ................................................ 19
Gráfico 11: Baixa elasticidade-preço da demanda (inelástica) ................................................ 19
Gráfico 12: Bem complementar .............................................................................................. 20
Gráfico 13: Bem substituto ..................................................................................................... 20
Gráfico 14: Função de produção ............................................................................................ 25 Gráfico 15: Curvas do produto médio e do produto marginal .................................................... 26
Gráfico 16: Os Estágios da Produção ......................................................................................27
Gráfico 17: Conjunto típico de Isoquantas ou Isoproduto ......................................................... 28
Gráfico 18: Exportações brasileiras de bens primários, 2006 ................................................... 30
Gráfico 19: As curvas de custo fixo, custo variável e custo total ............................................... 33
Gráfico 20: Representação da oferta e demanda em equilíbrio de mercado ............................ 39
Gráfico 21: Equilíbrio no período de mercado ......................................................................... 42
Gráfico 22: Concorrência perfeita: maximização do lucro pela abordagem receita total - custo total ...................................................................................................................................... 44
Gráfico 23: Concorrência perfeita: maximização do lucro pela abordagem receita total –custo total ...................................................................................................................................... 45
Gráfico 24: Concorrência perfeita: maximização do lucro no curto prazo - ponto onde o custo marginal iguala-se ao preço ................................................................................................... 46
Gráfico 25: Concorrência perfeita: maximização do lucro no curto prazo - ponto onde o custo marginal iguala-se ao preço ................................................................................................... 50
Gráfico 26: Curva de Demanda esperada em um mercado de concorrência monopolista ......... 53
Gráfico 27: Maximização de lucro no cartel ............................................................................ 56
Gráfico 28: Índice de preços dos metais- 1990-2000 ...............................................................62
Gráfico 29: Evolução dos títulos minerários no Brasil - 1995 a 2006 ....................................... 69
Figura 1: Fluxo circular da renda em um sistema econômico .................................................... 7
Figura 2: Economia convencional, enquanto subsistema do sistema ambiental ...................... 10 Figura 3: Participação dos Minerais nos indicadores macroeconômicos do Brasil ................... 12
Figura 4: Estrutura de custos da mineração ............................................................................ 35
Figura 5: Critérios para determinação da Base de Recurso, Recurso e Reserva ..................... 65
Figura 6: Caixa de MacKelvey – critério para delimitação de reservas minerais ....................... 66
Quadro 1: Endereços eletrônicos recomendados para a área da Economia Mineral................. 22
Quadro 2: Produção Mineral do Brasil 2006 ........................................................................... 29
Quadro 3: Posição das reservas de minerais brasileiros no ranking global ...............................69
Tabela 1: Produção de minério de ferro, número de minas e de trabalhadores ........................24
Tabela 2: Produção de minério de ferro, número de minas e de trabalhadores ........................25
Tabela 3: Custos fixo, variável, total, fixo médio, variável médio, médio e marginal (em R$ milhões) ................................................................................................................................ 32
Tabela 4: Receita, custo e lucro de uma companhia mineradora hipotética (em US$mil) .......... 43
Tabela 5: Receita marginal (RMg), custo marginal (CMg) e lucro de uma companhia mineradora hipotética (valores em US$mil) ............................................................................................... 44
Tabela 6: Monopolista – maximização do lucro pela abordagem da receita total – preço, receita total, custo total e lucro de uma companhia mineradora hipotética (valores em US$mil)...........49
Tabela 7: Reserva mundial de cobre e produção anual das minas – 1950-2005 ...................... 67
4
1. INTRODUÇÃO
1.1 A economia mineral e seus campos de atuação
Enquanto campo de conhecimento específico, a economia mineral surgiu após
a II Grande-Guerra, primeiramente no âmbito dos Estados Unidos, como
conseqüência das preocupações daquele país com o abastecimento de recursos
minerais no longo prazo, além da ameaça de interrupções de alguns minerais
considerados críticos e estratégicos, cuja procedência era da então União Soviética
(TILTON, 2007).
Nos seus primórdios, a economia mineral estava voltada para interesses bem
tradicionais, tais como análise de mercados das commodities minerais
(particularmente, de preço e previsão de demanda), avaliação econômica de
empreendimentos mineiros e questões relativas à estrutura monopolista ou oligopolista
do mercado de bens mineiras. Esses temas ainda fazem parte do escopo da disciplina
e serão tratados nesse curso, todavia, o campo de interesse da economia mineral tem
crescido significativamente com a própria dinâmica da sociedade.
A partir desse início, a economia mineral já se disseminou por todo o mundo e
ampliou o seu leque de interesses. Temas como mineração e desenvolvimento
sustentável, a tese da “maldição de recursos”, a natureza das rendas mineiras, a
riqueza mineral e corrupção, a ascensão da Índia e da China como importantes
consumidores globais, mineração em terras indígenas, impactos das atividades
mineiras em comunidades, mineração e tributação, bem como questões relativas à
regulação, à produção e ao uso de commodities minerais agora fazem parte do foco
de interesse da disciplina economia mineral hoje em dia.
É vasto o campo da economia mineral. Temas como quantificação de reservas,
de produção, estimativas de comercialização e de consumo de bens minerais são, da
mesma forma, tratados na disciplina. Além disso, cabe à economia mineral discutir
questões relativas à participação do setor mineral, em todas as suas classificações
(metálicos, não-metálicos e energéticos), nas dimensões macroeconômicas, como
PIB, Renda Nacional, exportações, importações e saldo da balança comercial, entre
outras.
Nesse sentido, este curso de economia mineral objetiva oferecer aos alunos
uma visão ampla e geral da teoria econômica com foco nos recursos minerais.
Inicialmente será feita uma breve introdução da teoria macroeconômica, discutindo
5
questões como consumo, PIB, oferta agregada, conceitos de crescimento e
desenvolvimento econômicos. O curso também oferecerá uma visão ampla da teoria
microeconômica, apresentando os fundamentos da oferta, da demanda, dos tipos de
mercado e dos custos de produção, além dos critérios para maximização do lucro e da
utilidade. Aspectos relacionados à definição de reservas e à gestão de recursos
exauríveis serão tratados também, bem como uma discussão introdutória sobre o
tema da mineração e do desenvolvimento.
1.2 Por que é importante estudar Economia Mineral?
Energia e minerais são de fundamental importância para a dinâmica da
economia mundial. Neste início de milênio, a indústria responde por aproximadamente
2% do total da produção global e ao redor 10% de comércio internacional. Além disso,
quando os preços das commodities sobem, estas porcentagens são ainda mais
significantes.
A estrutura empresarial e econômica no qual o setor de recursos minerais
opera requer um conhecimento satisfatório de economia, finanças, administração,
ambientes legais, marcos regulatórios, políticos, sociais e ambientais. Portanto, bons
gerentes do setor de recursos minerais têm que combinar tudo isso com conhecimento
técnico de exploração, extração e processamento.
Isto faz da economia mineral um campo especial e excitante de estudo. Além
disso, sua natureza interdisciplinar requer que grande parte dos estudos ocorra em
nível pós-graduação.
Atualmente as escolas internacionais de referência desse campo estão nos
EUA, Austrália, África do Sul, Chile, Canadá. Vale à pena visitar os sites dessas
instituições de ensino, tais como: Escola Australiana Ocidental de Minas (Austrália),
Escola de Minas do Colorado (EUA), Michigan Tech (EUA), a Universidade do
Witwatersrand (África do Sul) e a Universidade Católica em Santiago (Chile).
Atividade 1 Visite o web-site dessas instituições de ensino e veja qual o conceito de economia mineral que
elas adotam.
6
2. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
A teoria econômica convencional se subdivide em dois grandes ramos: a
microeconomia e a macroeconomia. A teoria microeconômica analisa os
comportamentos dos agentes econômicos individuais (consumidores, empresários e
proprietários de fatores). Questões como maximização do lucro empresarial, restrição
de renda do consumidor, estratégia de mercado, entre outras, são especialmente
tratadas pela microeconomia.
A teoria macroeconômica, por sua vez, analisa o “comportamento agregado” de
uma economia. Esse comportamento agregado é entendido como a soma de milhões
de ações dos agentes individuais. Assim, a macroeconomia analisa os efeitos desses
comportamentos em termos do PIB, da renda nacional, da demanda agregada etc.
Importante ressaltar que muitos dos fundamentos da economia convencional têm sido
criticados e/ou complementados pela economia ecológica1. Assim, na medida do
possível, apresentaremos também essa visão crítica oferecida pela economia
ecológica. Vale ressaltar que tanto a microeconomia quanto a macroeconomia fazem
parte do campo de interesse da economia mineral.
2.1. O Sistema econômico
A teoria econômica convencional apresenta o sistema econômico como um
“fluxo circular” da renda em que, de um lado, estão as empresas que demandam e
transformam “fatores de produção” 2 e, de outro, os consumidores que compram bens
e serviços fornecidos pelas empresas e vendem a elas os fatores de produção. O
Estado aparece no centro desse sistema, como ente regulador que altera esse fluxo
cobrando impostos e realizando transferências às famílias e às empresas (Figura 1).
1 Para saber mais sobre Economia Ecológica visite o site www.ecoeco.org. 2 Os fatores de produção “clássicos” são três: 1) mão-de-obra (ou força de trabalho), 2) capital (máquinas,
equipamentos, instalações, tecnologia, dinheiro) e 3) recursos naturais (terra).
7
Figura 1: Fluxo circular da renda em um sistema econômico
Quando uma empresa vende parte de sua produção para um consumidor, o
valor dessa compra é igual à receita da empresa. Essa receita, por sua vez, é
distribuída de quatro formas:
1) pagar insumos adquiridos de outras empresas;
2) pagar os funcionários,
3) pagar juros de empréstimos e aluguéis e
4) guardar ou reinvestir o lucro (essas duas últimas categorias podem ser
consideradas como a receita obtida pelos proprietários de capital que a
empresa atua).
Assim, temos uma primeira relação macroeconômica importante, em que a produção
agregada é igual à renda agregada. Assim:
No caso de a economia realizar atividades de compra e venda com o exterior
essa relação pode ser alterada, porém isso não muda o fundamento básico de que o
produto é igual à renda, uma vez que o valor daquilo que é importado equivale ao que
é exportado e/ou disponibilizado por intermédio do sistema financeiro.
Assim, não é ilógica a noção de que a renda flui em círculos através dos
mercados de bens e serviços e dos fatores de produção. Portanto, os gastos das
famílias são iguais ao valor agregado pelas empresas que, por sua vez, são iguais à
receita das famílias, que possuem o capital e mão-de-obra usada pelas empresas.
Total de compras dos consumidores (produção) = Receita total da empresas
(salários + lucro + compras inter-empresas)
MERCADO DOS FATORES
DE PRODUÇÃO
EMPRESAS FAMÍLIAS
MERCADO DE
BENS E SERVIÇOS
ESTADO
trasnferên
cias
imp
osto
s
8
O que importa destacar é que a partir desse sistema simples a macroeconomia
fornece uma teoria do circuito econômico, pondo em destaque os grupos de agentes
econômicos, ou setores institucionais (empresas, famílias, Estado, sistema financeiro
etc.) e as funções econômicas (produção, consumo, investimento) relevantes.
2.2. Os agregados macroeconômicos: consumo, PIB, poupança, investimento, setor público, tributos
Dos agregados macroeconômicos há vários conceitos que interessam
diretamente à economia mineral, uma vez que a produção mineral de um estado,
região ou país é parte constitutiva desses grandes agregados. Além disso, os
indicadores da mineração, via de regra, são referenciados em relação a eles. Tais
conceitos são:
Consumo Agregado ou Demanda Agregada – o consumo agregado da
economia é o somatório de todos os consumos individuais. O Gráfico 1, a
seguir, apresenta a curva de demanda agregada da economia (DD’).
Observe que curva é negativamente inclinada porque mostra a relação
inversa entre a disposição de comprar e o nível dos preços. Portanto, na
medida em que os preços caem de p para p1, a quantidade consumida
aumenta de q para q1, ou vice-versa. Assim, os pontos A e B mostram as
diferentes combinações entre preço e quantidade do sistema econômico.
p
p
Preço
p1
0 q q1 q
Quantidade
Gráfico 1: Demanda Agregada
Produto interno Bruto (PIB) - é o valor total da produção de todos os bens
e serviços finais produzidos internamente pelo sistema econômico. O que
equivale à soma do valor agregado de todas as empresas da economia. Ou
D
A
B
D’
9
Y = C + S
Y = C + I
também a soma de todas as receitas da economia ou ainda do valor
adicionado em todos os setores da economia.
O PIB tem diferentes categorizações, conforme a seguir:
Produto Nacional Bruto (PNB) ou Renda Nacional = é tudo o que se
produz dentro do país, acrescido da produção realizada no exterior por
firmas nacionais, subtraído a produção interna realizadas por firmas
estrangeiras, que enviam recurso para o exterior. O resultado do que entra
e do que sai do país é denominada receita líquida recebida do exterior
(RLRE). Assim,
PIB a preços correntes ou PIB nominal = é o somatório de bens e
serviços finais produzidos pelo sistema econômico aos preços vigentes no
mercado.
PIB/PNB a preços constantes ou PIB/PNB real = é uma medida da
produção real da economia, ou seja, sem os efeitos da inflação de preços.
É igual ao PIB/PNB nominal corrigido pelo índice de preços (deflator).
Poupança Nacional: em um modelo abstrato de economia fechada (sem
relação com exterior) e sem Governo3, o Produto Nacional (Y) é o
somatório daquilo que se produz para o consumo (C) e do que é investido
(I).
o Assim, (1).
o Pela ótica da Renda Nacional (Y), as rendas ou são gastas em
consumo (C) ou são poupadas (P),
▪ logo, (2).
o Como o Produto Nacional é igual a Renda Nacional, temos
que:
simplificando,
temos a identidade:
3 Essas simplificações são necessárias para se realçar as relações fundamentais. Em modelos mais
completos e sofisticados essas relações essenciais são as mesmas.
PNB/Renda Nacional = PIB – RLRE
I = C
Y = C + I (1) = Y = C + S (2)
Y = C + I (1) = Y = C + S (2)
10
Isso demonstra que investimento é apenas a outra face da renda que não é
consumida, ou seja, daquilo que é poupado.
2.3 Uma abordagem crítica da Economia Ecológica
Para a economia ecológica a noção de fluxo circular, que é a base para a
explicação dos agregados macroeconômicos da economia convencional, é parcial e
incompleta, pois não considera relações importantes que acontecem entre o sistema
econômico e o sistema ambiental mais amplo que o envolve. Essas relações não
podem ser desprezadas, uma vez que afetam tanto os agentes econômicos como os
fatores de produção.
De acordo com a economia ecológica, o sistema econômico é um subsistema
do sistema ambiental mais amplo, conforme mostra a Figura 2.
Sistema Ambiental
Matéria-
prima
Resíduos
materiais
ENERGIA SOLAR
Reciclagem
Energia
residual
CALOR
DISSIPADO
Energia útil
Figura 2: Economia convencional, enquanto subsistema do sistema ambiental
O sistema ambiental4 que envolve o sub-sistema econômico tem a energia
solar como fonte primária de geração de energia útil que, por sua vez, é um dos
componentes essenciais para a produção dos recursos naturais e ambientais que são
a base das diversas matérias-primas a serem transformadas pelo sistema econômico.
Assim, observa-se que o sub-sistema econômico é totalmente dependente do sistema
ambiental para a geração dos fatores produtivos. Sua integridade e continuidade
dependerão do equilíbrio entre a taxa de geração e de uso desses fatores produtivos,
4 Entende-se por ambiente o conjunto de recursos e de serviços da natureza que nem sempre fazem parte
do sistema de mercado. Assim, os bens e serviços do ambiente são de natureza biofísica – tais como:
capacidade de regeneração do capital natural e de assimilação dos resíduos e emissões que são gerados
pelo processo produtivo.
ECONOMIA
CONVENCIONAL
11
ou seja, de sua “resiliência”5 .O subsistema econômico também afeta o ambiente ao
produzir resíduos e transformar energia útil em energia não utilizável, ou seja, ao gerar
poluição e elevar o nível de “entropia”6 do sistema mais amplo.
Nesse sentido a economia ecológica estabelece importante críticas,
principalmente, quanto aos limites do PIB em relação ao ambiente. Alguns desses
limites destacados por Pillet (1993) são:
No PIB apenas as atividades mercantis são contabilizáveis. O cálculo do
PIB omite uma parte muito grande das atividades socioeconômicas como
os serviços que a natureza faz gratuitamente, o trabalho voluntário, o
trabalho doméstico e outros;
Não são contabilizados no PIB nem os custos, nem os produtos ecológicos.
Os custos ecológicos resultantes da excessiva utilização dos recursos e
serviços ambientais e/ou destruição de uma função ambiental. Da mesma
forma, os produtos ecológicos (água potável, ar puro)7, utilizados ou
consumidos fora do mercado, o trabalho dos ecossistemas
(microorganismos do solo, autodepuração de cursos d’água, capacidade de
assimiladora do ambiente) não fazem parte do PIB. Assim, o produto
econômico de um país pode crescer enquanto o seu produto ecológico
baixa.
O PIB não permite comparar a economia de um país desenvolvido com a
de um país em desenvolvimento. Em geral, a economia dos países pobres,
contrariamente à dos ricos, é altamente assentada nos usos de recursos
naturais, ou seja, depende muito mais do ambiente local. Como esse uso é
feito, na maior parte do tempo, fora do mercado, não são contabilizados no
PIB. Um exemplo disso é balanço importação-exportação ambiente, no
caso do Equador, ele exporta quatro vezes mais do importa, o contrário do
que ocorre na Suíça, que importa 3,5 vezes do que exporta.
5 A resiliência é um termo oriundo da física. Trata-se da capacidade dos materiais de resistirem aos
choques e retornarem à sua condição natural. 6
É um conceito termodinâmico geralmente associado ao grau de desordem. Ela mede a parte da energia
que não pode ser transformada em trabalho. É uma função de estado cujo valor cresce durante um
processo natural em um sistema fechado. 7 Para acessar informações interessantes sobre o uso dos serviços ambientais consultar o site
http://www.onthecommons.org
12
2.4 Os agregados macroeconômicos e os indicadores da economia mineral brasileira
A Figura 3, a seguir, apresenta os indicadores do setor mineral em relação aos
principais agregados macroeconômicos. Observa que ela já inclui informações sobre o
valor da reciclagem dos recursos minerais no Brasil. Todavia, os cálculos do PIB ainda
estão longe de incorporar as críticas feitas pela economia ecológica.
Figura 3: Participação dos Minerais nos indicadores macroeconômicos do Brasil Fonte: http://www.dnpm.gov.br/assets/galeriadocumento/sumariomineral2004/Sumário%202004%20Parte%201%20FINAL.pdf
13
2 ABORDAGEM MICROECONÔMICA - CONSUMO DE RECURSOS MINERAIS
Nesta sessão iremos discutir alguns conceitos voltados especialmente para a
perspectiva do consumidor, a partir do ponto de vista da teoria microeconômica. Serão
analisadas questões como: quais os elementos que afetam a decisão de consumir,
como o consumidor aloca a sua renda e como decide na hora de adquirir os produtos,
entre outras. Esses conceitos são importantes para estudos de mercado e para o
planejamento de ações empresariais e de políticas públicas voltados para a demanda
por bens minerais.
2.1 Demanda. Função demanda por bens finais. Utilidade e curvas de indiferença
Na sessão anterior foi apresentada a curva de demanda agregada do sistema
econômico como um todo, que nada mais é do que o somatório das curvas de
demanda individuais. Nesta sessão veremos algumas propriedades da demanda
individual.
A demanda individual é função de diversas variáveis tais como preços, renda,
preço do produto substituto, preço do produto complementar, gosto ou preferência etc.
No entanto, para saber qual o efeito isolado de cada uma dessas variáveis sobre o
consumo, a teoria econômica usa o recurso “coeteris paribus”, isto é, verifica-se o
efeito de apenas uma variável e as demais consideram-se constantes. Assim, a
demanda tem uma relação inversa com os preços (ou seja, quando os preços sobem o
consumo cai), direta com a renda (a renda aumenta, a demanda também aumenta),
direta em relação ao gosto ou preferência, direta em relação ao preço do produto
substituto, inversa em relação ao produto complementar etc.
Atividade 2
Os indicadores da Figura 3 são muito usados. Nesse sentido, verifique qual a participação do setor mineral no PIB e nas exportações brasileiras para o ano de 2006. Para isso,
consulte os sites do IBGE (www.ibge.gov.br), para verificar o valor do PIB; do DNPM
(www.dnpm.gov.br) para o valor da produção mineral e do MDIC- Sistema Alice
(http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/) para informações sobre importação e
14
A relação entre a demanda e os preços já foi vista na sessão anterior. No caso
da relação da demanda com a renda, a principal hipótese da teoria da demanda é de
que o consumidor procura alocar a sua renda monetária, que sempre será limitada9,
entre bens e serviços disponíveis de tal forma a “maximizar a sua satisfação”. Assim o
problema do consumidor é gastar sua renda monetária da melhor forma no sentido de
obter a máxima satisfação. O Gráfico 2, a seguir, ilustra essa situação.
Ye
Ye’
Quantidade de X
Gráfico 2: Espaço orçamentário do consumidor
A “reta orçamento” representa a combinação de bens que podem ser
adquiridos se toda a renda monetária for gasta. Sua inclinação representa o valor
negativo dos preços. Assim, dada a sua restrição orçamentária, o consumidor tem
diferentes opções de gastar a sua renda: pode gastá-la integralmente com o bem X, e
não comprar nada do bem Y. Ou, ao contrário, pode gastá-la toda em Y, e não
comprar nada de X. Ou também pode realizar parte dos gastos em X e em Y,
conforme ilustrado no ponto A. Todavia, sua atual reta orçamentária não permite que
ele alcance o ponto B, por exemplo.
3.1.1 A utilidade do consumidor
Um aspecto importante da demanda do consumidor é a noção de utilidade.
Para a teoria microeconômica, o termo “utilidade” é uma qualidade que torna desejável
uma determina mercadoria. Isso é um aspecto bastante subjetivo, uma vez que cada
pessoa tem uma constituição fisiológica e psicológica própria. Porém, qualquer bem ou
8 Lê-se: a demanda (D), variável dependente, é função (f) das diversas variáveis independentes, preços,
gostos etc 9 A economia “é a ciência que estuda a alocação dos recursos escassos entre as necessidades ilimitadas”.
(D) Demanda8 = f ($preços, ‡renda monetária, ‡gosto ou preferência, ‡preço do produto substituto, $preço do produto complementar etc.)
B
A Reta Orçamento ou
Curva de restrição
Orçamentária
Qe’ Xe
Qu
an
tid
ade
de
Y
15
serviço consumido proporciona deliberadamente utilidade. Como regra geral, quanto
maior a taxa de consumo, maior a utilidade total associada a este (Gráfico 3).
Quantidade de X
Gráfico 3: Função utilidade
A forma mais usual de medir o grau de satisfação do consumo (utilidade) de
uma determinada mercadoria é realizando a comparação entre dois bens, por
intermédio da “curvas de indiferença”.
Uma curva de indiferença (Gráfico 4) é o lugar geométrico dos pontos – ou
orçamentos particulares ou combinação da quantidade consumidas de bens - que
proporciona o mesmo nível de utilidade total, para o qual o consumidor é indiferente.
Assim, desde que cada combinação dos bens X e Y forneça o mesmo nível de
utilidade, seria indiferente ao consumidor a combinação particular consumida.
Y
Y1
X X1 Quantidade de X
Gráfico 4: As curvas de Indiferença
O gráfico acima mostra que um consumidor considera equivalentes os
orçamentos que produzem o mesmo nível de utilidade. Assim, no caso da curva I, o
consumidor é indiferente às combinações de X e Y nos pontos A e B, uma vez que
Ux
A
III
II
B I
Uti
lid
ad
e
Qu
an
tid
ade
de
Y
16
esses pontos estão na mesma curva de indiferença I. Na curva 2, da mesma forma,
qualquer combinação de pontos é também indiferente ao consumidor; e assim
sucessivamente. Importante observar que quanto mais elevada, ou melhor, quanto
mais à direita estiver uma curva de indiferença, tanto maior será o nível de utilidade.
Além disso, quanto mais elevada uma curva de indiferença, mais preferível será cada
orçamento situado nessa curva.
Um aspecto relevante que as curvas de indiferença mostram é a “taxa marginal
de substituição de X por Y” (Gráfico 5). Essa taxa mede o número de unidade de Y
que devem ser sacrificadas por unidade ganha de X, de forma a se manter constante o
nível de satisfação do consumidor. Analiticamente a taxa marginal de substituição é
dada pela inclinação negativa de uma curva de indiferença em um ponto (pontos P, Q e
R). Ela é importante porque permite que se saiba o custo do sacrifício daquilo que se
deixa de consumir para que se aumente o consumo de outro produto.
Quantidade de X
Gráfico 5: A taxa marginal de substituição entre os bens Y e X
Uma discussão recente que pode ilustrar o exposto acima é a relacionada à
expansão da área cultivada para os biocombustíveis. Essa expansão pode representar
o sacrifício da área destinada à produção de alimentos.
3.2 Demanda agregada. Elasticidade. Bens complementares e substitutos
Outra forma de expressar a demanda agregada (além de ser uma função dos
preços e da renda, como visto anteriormente) é por intermédio das curvas de Engels
(Gráfico 6 e 7). Essas curvas relacionam a quantidade de equilíbrio de uma
mercadoria para um dado nível de renda monetária.
P
Q
R
Qu
an
tid
ade
de
Y
17
x x
x1
x1
x2
x2
M1 M2 Renda M
M1 M2
Renda M
Gráfico 6: Curva de Engels A Gráfico 7: Curva de Engels B
Os diferentes formatos das curvas A e B mostram as mudanças na renda
monetária (de M1 para M2) e seus efeitos sobre o consumo. No Gráfico 6 esses
efeitos são menos acentuados do que no Gráfico 7. Ou seja, uma mesma alteração na
renda (de M1 para M2) provocou uma variação bem maior na quantidade do bem X. A
essa sensibilidade do consumo quando a renda se altera denomina-se “elasticidade”.
3.2.1 Tipos e conceito de elasticidade (Ç)
Elasticidade renda da demanda (Çrenda) – é a variação proporcional na
quantidade demandada de uma mercadoria, dividida pela variação proporcional na
renda. A elasticidade pode se unitária, maior ou menor que a unidade.
Portanto, conforme verificado nos Gráficos 6 e 7, é a inclinação na curvatura da
“curva de Engels” que define a elasticidade e permite classificar as mercadorias como
“superiores, normais ou inferiores”. Assim,
Bem normal e bem superior = é aquela em que ocorre aumento na quantidade
demandada quando a renda sobe e vice-versa.
Bem inferior = é o oposto, ou seja, há uma diminuição na demanda quando a
renda sobe, e vice-versa.
Ç renda= variação na quantidade da mercadoria/variação na renda = 1; >1 ou <1
Qu
an
tid
ade
de
X
Qu
an
tid
ade
de
X
18
Elasticidade quando há variações no preço da mercadoria
Além da elasticidade provocada por variações na renda há também casos de
elasticidade quando são os preços os que variam. Considerando-se agora a renda
monetária e outras variáveis que afetam o consumo na condição coeteris paribus (isto
é, constante), o Gráfico 8, abaixo, demonstra que a quantidade demandada varia
inversamente com o preço. Assim, quando o preço é p1, a quantidade que os
consumidores querem demandar é apenas x1, mas se o preço cai para p3, por
exemplo, a quantidade consumida aumenta bastante para x3.
Px
p1
p2
p3
x1 x2 x3 x
Quantidade de X
Gráfico 8: Curva de demanda em função dos preços
Uma exceção a essa regra é o denominado “paradoxo de Giffen” que ocorre
quando há um aumento do consumo quando os preços sobem. Esse é o caso de
alguns bens de luxo.
Da mesma forma que no caso da renda, será a inclinação da curva da
demanda que definirá a dimensão da elasticidade provocada pela variação nos
preços.
Elasticidade preço da demanda (Çpreço) – é a variação proporcional na
quantidade demandada de uma mercadoria, dividida pela variação proporcional nos
preços. Ou, em outras palavras, é a resposta relativa da quantidade demandada às
variações no preço de uma mercadoria. Da mesma forma, a elasticidade-preço da
demanda pode se unitária, maior que um ou menor que um.
Os Gráficos 9 a 11 ilustram diferentes tipos de elasticidade-preço da demanda.
Çpreço = variação na quantidade da mercadoria/variação nos preços = 1; >1 ou <1
Demanda
Pre
ço d
e X
19
Çpreço = 1 = elasticidade unitária => ocorre quando a variação na quantidade
demandada é a mesma que a variação no preço.
Px
P1
P2
x1 x2 x
Quantidade de X
Gráfico 9: Elasticidade-preço da demanda unitária
Ç preço > 1 = demanda elástica => ocorre quando a variação na quantidade
demandada é maior que a variação no preço
Px
P1
P2
x1 x2 x
Quantidade de X
Gráfico 10: Elevada elasticidade-preço da demanda (elástica)
Ç preço = 1 = demanda inelástica => ocorre quando a variação na quantidade
demandada é inferior a variação no preço
Px
P1
P2
x1 x2
x
Quantidade de X
Gráfico 11: Baixa elasticidade-preço da demanda (inelástica)
Pre
ço d
e X
P
reço
de
X
Pre
ço d
e X
20
Pre
ços
do
bem
X
3.2.2 Bens Substitutos e Complementares
Além de normal, superior e inferior os bens consumidos podem se classificar
também como complementares e substitutos. Essa divisão é de grande importância
para teoria da organização dos mercados, conforme veremos no Capítulo 5.
Conforme vimos anteriormente, uma escala de demanda mostra a relação
entre o preço nominal de uma mercadoria e a quantidade demandada, todos os
demais fatores que influenciam a demanda permanecendo constantes (ou mantida a
suposição coeteris paribus). Afrouxando-se a hipótese coeteris paribus e permitindo
que os preços das mercadorias relacionadas variem, ocorrerão alguns efeitos
conhecidos sobre a quantidade demandada de cada bem em questão. De acordo com
esses efeitos, os bens podem ser classificados como substitutos e complementares:
Os Gráficos 12 e 13, abaixo, ilustram a relação entre bens complementares e
substitutos. Assim, se é permitido variar todos os preços, a quantidade demandada do
bem X depende não somente de seu próprio preço, mas também dos preços dos
outros bens que estão relacionados a eles. Em lugar de uma “curva de demanda”
existe uma “superfície de demanda” que mostra a relação entre os bens X e Y
Px2
Px
Px1
Qy2 Qy1
Quantidade de Y
Qy1 Qy2
Gráfico 12: Bem complementar Gráfico 13: Bem substituto
Bem substituto – o aumento dos preços do bem X, de Px1 para Px2 provoca
um aumento da quantidade consumida do bem Y, de Qy1 para Qy2. Como exemplo
disso podemos citar o aumento do consumo de álcool, quando sobem os preços da
gasolina.
Bem complementar – o aumento dos preços do bem X, de Px1 para Px2
provoca uma diminuição na quantidade consumida do o bem Y, de Qy1 para Qy2.
B
A B
Quantidade de Y
x
Px2 A
B 1
Pre
ços
do
bem
X
21
Como exemplo disso podemos citar a redução do consumo de tijolo quando os preços
do cimento para construção civil sobem.
Os conceitos de elasticidade da demanda e do tipo de bem (se substituto ou
complementar) são de grande importância para a determinação da política dos
mercados.
Outro aspecto importante é que quanto mais e melhores são os substitutos
para um dado bem, tanto maior tenderá ser a sua elesticidade-preço. As mercadorias
com poucos e fracos substitutos – petróleo e aço especiais, por exemplo – tenderão
sempre a ter elasticidades-preço baixas. Bens com muitos substitutos – argilas, por
sua vez, terão elasticidades-preços elevadas.
Da mesma forma, quanto maior o número de possibilidades de usos de uma
mercadoria, tanto maior será a sua elasticidade. Então um bem mineral como as
argilas tenderá a ter uma elasticidade-preço mais alta que uma mercadoria com
somente um ou poucos usos, como o níquel, por exemplo.
3.3 A demanda por minerais.
A demanda por minerais é considerada uma “demanda derivada”, isto é, é uma
demanda resultante da procura por outros produtos ao qual o bem mineral em questão
está associado. Podemos citar as seguintes situações (para conhecer os casos
concretos consulte o “Brasil Mineral On Line”):
A demanda por aço aquece a demanda por minério de ferro.
A demanda da construção civil aquece a demanda de cimento.
A demanda por produtos agrícolas aquece o mercado de fertilizantes.
Há também estudos sobre a demanda de commodities minerais na linha dos
indicadores de consumo e sua comparação com outros países, a fim de demonstrar as
possibilidades e limitações do mercado. Por exemplo, em seminário recente o Instituto
Brasileiro de Mineração (IBRAM)10 ressaltou o paradoxo entre a boa colocação do
Brasil frente à produção mundial de bauxita e o baixo consumo interno brasileiro de
alumínio, que ainda é pequeno se comparado a países como Estados Unidos e Japão.
Atualmente, o Brasil consome 4 kg por habitante, enquanto nos Estados Unidos esse
número chega a 37 kg por habitante e, no Japão, chega a 31 kg por habitante.
10 Para saber mais sobre o órgão visite o site: http://www.ibram.org.br/
22
Para uma visão panorâmica do mercado das principais commodities minerais
recomendo visitar os endereços eletrônicos do Quadro 1, a seguir:
órgãos
internacionais endereço eletrônico tipos de informações
ABS – Australian Bureau of Statistics
http://www.abs.gov.au/Ausstats/[email protected]/2. 6.4?OpenView
Australian Petroleum Statistics Extractive Industries (Construction Materials) Production, New South Wales Gas Statistics Australia Mineral and Petroleum Production Collection, Northern Territory Mineral Production and Coal Industry Statistics, Queensland Mineral Production, Tasmania Mineral Royalties, New South Wales Mining and Extractive Collection, Victoria Petroleum Production Data, South Australia Petroleum Production Statistics Quantity and Value of Minerals and Petroleum, Western Australia Quarterly and Six Monthly Mining Returns, South Australia Quarterly Coal Mining Return
DOIR - Department of Industry and Resources Australia Ocidental
http://www.doir.wa.gov.au/mineralsandpetrol eum/17427ED5A5F74A2DA6199EFAC63BB A02.asp
Anuários Minerais e outras informações do setor mineral australiano (DoIR Annual Report 2006-07)
NRCan – Natural Resources Canada
http://www.nrcan- rncan.gc.ca/com/subsuj/minmin-eng.php
Política e Economia Mineral do Canadá (The Minerals and Metals Policy of the Government of Canada)
London Metal Exchande -LME
http://www.lme.co.uk/ preços dos metais
USGS – US Geological Survey
http://minerals.usgs.gov/minerals/ Minerals and Materials in the 20th Century — A Review
órgãos nacionais
endereço eletrônico tipos de informações
DNPM: Departamento Nacional de Produção Mineral
http://www.dnpm.gov.br Anuário Mineral Brasileiro Informe Mineral Indicador da Produção Mineral - 2006 MineralNegócios | Mineral Business Indicador da Produção Mineral - 2005 Indicador da Produção Mineral - 2004 Preços dos Metais Sumário Mineral Balanço Mineral Brasileiro Tributação da Mineração no Brasil Posições Comparativas da Taxação na Mineração na América do Sul Plano Plurianual para Desenvolvimento do Setor Mineral Universo da Mineração Brasileira Economia Mineral do Estado de Goiás - 37 Anos Desempenho do Setor Mineral - GO e DF Geodiversidade do Brasil III Seminário Nacional sobre Política e Economia Mineral - 2005
CETEM – Centro de Tecnologia Mineral
http://www.cetem.gov.br Livros e artigos relacionados à temática da Economia Mineral, disponíveis pra download
Boletim dos Royalties do Petróleo
http://www.royaltiesdopetroleo.ucam- campos.br/
Informações atuais sobre legislação e uso das rendas do petróleo
Instituto Brasileiro de Mineração - IBRAM
http://www.ibram.org.br/ Informações sobre empresas e instituições que atuam na indústria
da mineração
Revista “Brasil Minera
http://www.brasilmineral.com.br/BM/ publica matérias atuais sobre a demanda das principais commodities minerais. A Revista n.267 (outubro de 2007) é toda dedicada ao mercado de minério de ferro.
Revista “Minérios & Minerales”
http://www.minerios.com.br/ trás notícias sintéticas e atualizadas sobre o mercado de commodities minerais
Quadro 1: Endereços eletrônicos recomendados para a área da Economia Mineral
Atividade 3 Com base nos conceitos apresentados sobre a demanda, analise o consumo nacional de uma
commody minerais, à sua escolha. Atente para a questão das elasticidades renda e preço da
demanda, da substituibilidade entre os bens, do nível de consumo per capita e das tendências
dos setores que estão consumindo essa commodity.
23
4. OFERTA DE RECURSOS MINERAIS
Para a realização de estudos de mercado, formulações de política empresariais
e públicas e planejamento de ações estratégicas, entre outros, além das condições de
demanda, é de fundamental importância conhecer as condições da oferta, seus
conceitos, indicadores e teorias, conforme será feito a seguir.
4.1 Oferta. Função de Produção. Produtos médio, total e marginal. Estágios da Produção. Curvas de Isoproduto
Produção ou oferta, em sentido amplo significa criação de qualquer bem ou
serviço com vistas a vendê-los aos consumidores. O ato de produzir requer insumos,
mão-de-obra, equipamentos de capital, matérias-primas naturais ou beneficiadas,
enfim, diversos fatores de produção. Nesse sentido, a teoria da produção consiste em
analisar como o empresário – dado o estágio da tecnologia – combina esses vários
fatores para obter um volume de produção “economicamente eficiente”, ou seja, obter
a produção máxima com o custo mínimo.
4.1.1 A Função de Produção de curto prazo com um insumo variável
Vamos começar nossa análise da função de produção com um modelo
elementar, mas que permite entender conceitos relevantes da teoria da produção. Ele
adota as seguintes hipóteses simplificadoras:
1) existe apenas um insumo variável
2) existe apenas um insumo fixo
3) os insumos podem se combinar em várias proporções
Dessa forma,
Insumo fixo é aquele cuja quantidade não pode ser alterada imediatamente,
mesmo que as condições de mercado requeiram isso.
Insumo variável é aquele cuja quantidade pode se alterar quase que
instantaneamente, em resposta aos sinais do mercado.
As noções de curto ou longo prazos na teoria da produção estão relacionadas
à possibilidade de alteração desses insumos como respostas aos sinais de mercado –
24
se aumentar ou reduzir as quantidades produzidas. Dessa forma, o curto prazo é o
período de tempo no qual o insumo de um ou mais agentes produtivos é fixo, portanto,
a variação na produção somente é possível pela alteração dos insumos variáveis. O
longo prazo, por vez, é o período de tempo onde é possível planejar e, assim, todos os
insumos são variáveis.
Isso significa que, no curto prazo, só é possível expandir a produção operando
com a capacidade instalada existente, isto é, trabalhando mais horas por dia. Já, no
longo prazo, pode ser mais econômico ampliar a capacidade produtiva, por intermédio
da aquisição de novas plantas e equipamentos. Assim, no curto prazo, edifícios e
equipamentos de capital são insumos fixos e a maior parte da mão-de-obra
(operacional) é recurso variável. A expansão da capacidade requer tempo, enquanto
que o aumento de uso da atual capacidade é imediato (Procure exemplos disso nos
sites da Brasil Mineral On Line e na Revista Minérios).
4.1.2 A Função de produção
Uma função de produção pode ser expressa em um gráfico, tabela ou equação
matemática. Ela mostra o montante máximo que pode ser produzido, a partir de um
conjunto de insumos, dada a tecnologia existente. A Tabela 1, a seguir, mostra as
quantidades hipotéticas produzidas de minério de ferro por minas, a partir do emprego
de um determinado número de trabalho.
Tabela 1: Produção de minério de ferro, número de minas e de trabalhadores
minas n. de 1.000
trabalhadores produção total (milhões de t)
1 1 10
2 2 24
3 3 39
4 4 52
5 5 61
6 6 64
7 7 65
8 8 64
O Gráfico 14 é a representação da tabela acima e mostra a curva do produto
total. É importante notar que o formato da curva não é aleatório. Primeiro ela se eleva
lentamente, depois mais rapidamente, em seguida de novo lentamente, até alcançar
um máximo, começando depois a decrescer. Essa curvatura revela o princípio
econômico dos “rendimentos físicos marginais decrescentes”, que será visto mais
adiante.
25
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8
número de trabalhadores
Gráfico 14: Função de produção
4.1.3 Produtos médio e marginal
A Tabela 2, a seguir, é a mesma tabela anterior levemente modificada com a
alteração de colunas que mostram as relações da produção, como o produto médio e
o produto marginal.
Tabela 2: Produção de minério de ferro, número de minas e de trabalhadores
mina n. de 1000
trabalhadores relação
mina/trabalho
produção total
(M de t)
produto médio (Mt)por 1000 trabalhador
produto marginal (Mt) por
1.000trabalhador
1 1 10,00 10 10,0 -
2 2 5,00 24 12,0 14,0
3 3 3,33 39 13,0 15,0
4 4 2,50 52 13,0 13,0
5 5 2,00 61 12,2 9,0
6 6 1,67 66 11,0 5,0
7 7 1,43 66 9,4 0,0
8 8 1,25 64 8,0 -2,0
Produto médio - é o produto total dividido pelo montante dos insumos
utilizados. Portanto, ele revela a proporção insumo-produto para cada nível de
produção e o correspondente volume de insumo.
Produto marginal - é o acréscimo do produto total atribuível ao aumento de
uma unidade do insumo variável, mantendo-se constantes os demais insumos.
O Gráfico 15, a seguir, ilustra as curvas do produto médio e marginal, bem
como a relação mina-trabalho.
pro
du
çã
o d
e f
err
o (
M d
e t
)
26
15
10
5
-
(5)
Gráfico 15: Curvas do produto médio e do produto marginal
1) ambos os produtos médio e marginal inicialmente crescem, atingem
um máximo e em seguida declinam;
2) no limite, o produto médio pode cair a zero, porque o produto total
poderia, teoricamente, atingir esse ponto;
3) o produto marginal pode tornar-se negativo, se um insumo variável
(trabalhadores, por exemplo) for usado de forma intensiva em relação
ao insumo fixo (mina, por exemplo).
Definidas essas relações, podemos voltar ao princípio da “lei dos rendimentos
físicos marginais decrescentes”. Esse princípio mostra que com aumento da
quantidade de um insumo variável, mantendo-se constante a quantidade de outro
insumo (fixo), obtém-se um ponto, para além do qual o produto marginal cai. Essa “lei”
determina os três estágios da produção, conforme a seguir.
4.1.4 Os estágios da produção
O Gráfico 16 combina as três curvas anteriormente apresentadas: do produto
total (PT), do produto médio (Pme) e do produto marginal (Pmg). Essas curvas
definem os três estágios da produção, a partir de suas configurações, como segue:
1
10
2
5
3 4 5
3,33 NÚMERO DE TRABALHADORES
2,50 2
6
1,67
7
1,43
8
1,25
RELAÇÃO MINA- TRABALHO
PRODUTO MARGINAL
PRODUTO MÉDIO
PR
OD
UT
OS
MÉ
DIO
E M
AR
GIN
AL
27
Estágio I Estágio II Estágio III
PT
Pme
UNIDADES DE INSUMO VARIÁVEL
Pmg
Gráfico 16: Os Estágios da Produção
Estágio I – corresponde aos rendimentos médios crescentes do insumo
variável. Todavia eles estão associados aos rendimentos marginais negativos do
insumo fixo que está combinado em uma proporção não-econômica neste estágio.
Estágio III – é definido como o conjunto de valores do produto marginal
negativo, ou de declínio do produto total. Assim, unidades adicionais de insumo
variável durante este estágio causam um declínio do produto total. Dessa forma, um
produtor racional não empregaria mais unidades desse insumo. Se as condições de
mercado exigirem uma expansão do produto, isso deve ser feito via expansão do
insumo fixo (o que elevaria para cima o conjunto das curvas).
Estágio II – é onde a produção ocorre de forma econômica, entre os limites do
extensivo e intensivo, ou no domínio de variação do insumo variável entre o ponto de
máximo do produto médio até ao ponto de produto marginal nulo.
Assim, a delimitação desses três estágios mostra os limites e as possibilidades
da expansão da oferta de forma eficiente como ganho máximo.
4.1.5 Função de Produção com dois insumos variáveis
Adotando a hipótese simplificadora da existência de apenas um insumo
variável foi possível verificar as relações físicas fundamentais da produção11.
Passaremos agora para a análise de um caso mais geral em que dois insumos são
variáveis.
11 Lembre-se dos conceitos já vistos: produção total, produção média produção marginal, lei dos
rendimentos decrescente e as características dos três estágios da produção.
PR
OD
UT
O
28
A hipótese da variação de dois insumos permite que um fator produtivo seja
substituído por outro no processo de produção. Assim, a tarefa do empresário é
selecionar uma combinação particular de insumos que minimize o seu custo de
produção. No entanto, isso requer o conhecimento das possibilidades de substituição
e dos preços relativos dos insumos.
As curvas do Gráfico 17 denominam-se isoquantas ou isoproduto. Elas
representam as diferentes combinações dos insumos ou proporções que podem ser
usados para produzir determinado nível de produto.
k2
k1
k t t1 t2
TRABALHO
Gráfico 17: Conjunto típico de Isoquantas ou Isoproduto
No caso da primeira isoquanta, é possível produzir 100 unidades de produto
final a partir de diferentes combinações entre os fatores produtivos, no caso,
representados pelo capital e pelo trabalho (k2t, k1t1, kt2 ...). Assim, o movimento ao
longo de uma mesma isoquanta representa pontos de diferentes proporções entre
capital e trabalho em que o produto total permanece constante. O mesmo raciocínio é
válido para as outras isoquantas de 200, 300 e 400 unidades de produto. A mudança
de uma isoquanta para outra mais elevada requer, logicamente, um aumento
simultâneo em todos os fatores de produção.
Essa propriedade das isoquantas – que diferentes combinações de insumos
possam produzir um mesmo nível de produto - só é possível a partir da aceitação da
hipótese de que o capital e o trabalho, como no exemplo acima, são perfeitamente
substituíveis.
A 400
B
300
200
C 100
CA
PIT
AL
29
Para a teoria microeconômica é de grande importância teórica e prática
conhecer a taxa à qual um insumo deve ser substituído por outro. Essa taxa é
denominada de “taxa marginal de substituição técnica”.
A taxa marginal de substituição técnica mede a redução em um insumo (X)
por unidade de acréscimo no outro (Y), de modo a manter a produção em um nível
constante. Ela é igual à razão entre o produto marginal de X e o de Y. Essa taxa
representa a “margem de manobra” que o produtor tem para realizar diferentes
combinações de insumos, conforme sua conveniente de preço e quantidade, forma a
manter constante o seu nível de produção.
4.1.6 Oferta de Recursos Minerais no Brasil
O Quadro 2 é uma síntese feita pelo DNPM dos principais bens minerais
produzidos pelo Brasil nos anos de 2005 e 2006.
Quadro 2: Produção Mineral do Brasil 2006
30
Uma das grandes críticas à produção nacional é que, não obstante à riqueza
da geodiversidade brasileira, nossa produção é extremamente concentrada em torno
de poucas substâncias minerais, com predomínio absoluto do minério de ferro. Essa
excessiva concentração é ainda mais evidente no perfil das exportações nacionais de
bens minerais, conforme consta no Gráfico 18 abaixo.
Gráfico 18: Exportações brasileiras de bens primários, 2006 Fonte: http://www.dnpm.gov.br/mostra_arquivo.asp?IDBancoArquivoArquivo=1782
Observe que 50% das exportações minerais são provenientes do minério de
ferro e um percentual muito expressivo de, surpreendentemente, petróleo. Dos 12%
restantes, 10% estão concentrados em cinco substâncias e tão somente 2% para
todas as demais.
4.2 Custos de Produção
Para que uma empresa seja viável é imperativo que ela maximize seus
resultados econômicos. Ela deve obter a máxima produção, a partir da combinação
mais econômica dos fatores produtivos que utiliza. Dessa forma, há duas
possibilidades para que a empresa alcance a condição de ótimo econômico (otimize
ou maximize os seus resultados), também denominada de “equilíbrio da firma”:
1) maximizar a produção para um dado custo total;
Atividade 4
Com base nos conceitos apresentados sobre a teoria da produção, analise a oferta de uma
commodity mineral – pode ser uma substância metálica, uma substância não-metálica ou uma substância energética. Atente para a questão evolução da produção no tempo e das
possibilidades de substituição dos insumos produtivos para obter o mesmo nível de
produto. Consulte os sites já indicados.
31
2) minimizar o custo total para um dado nível de produção
Nesse sentido, é condição básica conhecer os tipos e a estrutura dos custos de
produção quea empresa está sujeita. Um aspecto relevante a considerar é que além
dos custos contábeis, que são custos explícitos e geram desembolso monetário, as
decisões de produção geram “custos de oportunidade”, também conhecidos como
“custos implícitos”, que embora não gerem desembolso monetário, podem
comprometer o equilíbrio da firma se desconsiderados.
4.2.1 Conceito de custos
Os custos de produção são determinados pelas condições físicas da produção
e pelos preços dos recursos. Um comportamento empresarial eficiente significa que a
produção, a qualquer nível, deve ser resultante de uma combinação de insumos em
que a taxa marginal de substituição técnica se iguala à relação dos preços desses
insumos.
1) custos de oportunidades e custos contábeis
custos contábeis (CC) – são custos explícitos, como expressos na
contabilidade privada, e sempre geram dispêndio monetário. É o gasto que a empresa
realiza, de fato, ao comprar matérias-primas, insumos, máquinas e equipamentos.
custos de oportunidade (CO) – são custos implícitos, que não envolvem
desembolso monetário, mas afetam este, uma vez que representam os valores que
poderiam ser ganhos no melhor uso alternativo dos fatores produtivos empregados
pela empresa. Estes custos não contabilizados no balanço das empresas e podemos
citar como exemplos: a) o capital que permanece parado no caixa da empresa: o CO é
o que a empresa poderia estar ganhando se aplicasse esse capital no mercado
financeiro; b)quando a empresa tem um prédio próprio, ela deve imputar um CO
correspondente ao que pagaria se tivesse que alugar um prédio.
Em uma primeira aproximação, o lucro contábil do empresário é calculado
pela diferença entre a receita total obtida pela venda dos produtos e o seu custo de
produção. Vimos que o produtor de X está sujeito a custos explícitos, resultante da
aquisição dos recursos, mas incorre também a alguns custos implícitos. Estes são
medidos pela diferença entre o seu lucro contábil menos o lucro potencial que ele
poderia ter se adotasse a melhor alternativa de seu tempo e dinheiro.
32
4.2.2 Custos Totais de Produção (CT)
Com base no conhecimento prévio dos preços dos fatores de produção, é
possível determinar o custo total de produção “ótimo” para cada nível de produção.
Nesse sentido, o custo total de produção é definido como o total das despesas
realizadas pela firma com a utilização da combinação mais econômica dos fatores, por
meio da qual é obtida uma determinada quantidade de produto.
A Tabela 3 apresenta os diferentes tipos de custos, considerando-se que as
quantidades produzidas variam de 1 a 20 (toneladas de minério, por exemplo).
Tabela 3: Custos fixo, variável, total, fixo médio, variável médio, médio e marginal (em R$ milhões)
quantidade produzida
(Q)
Custo fixo (CF)
Custo variável
(CV)
Custo total (CT=
CF+CV)
Custo fixo médio
(CFMe=CF/Q)
Custo variável médio
(CVMe=CV/Q)
Custo médio
(CM=CT/Q)
Custo marginal
(CMg=[CT2- Ct1/Q)
1 100 10,00 110,00 100,00 10,00 110,00 - 2 100 16,00 116,00 50,00 8,00 58,00 6,00 3 100 21,00 121,00 33,33 7,00 40,33 5,00
4 100 26,00 126,00 25,00 6,50 31,50 5,00 5 100 30,00 130,00 20,00 6,00 26,00 4,00 6 100 36,00 136,00 16,67 6,00 22,67 6,00 7 100 45,00 145,50 14,29 6,50 20,78 9,50 8 100 56,00 156,00 12,50 7,00 19,50 10,50 9 100 72,00 172,00 11,11 8,00 19,10 16,00
10 100 90,00 190,00 10,00 9,00 19,00 18,00 11 100 109,00 209,00 9,09 9,90 19,00 19,00 12 100 130,40 230,40 8,33 10,87 19,20 21,40 13 100 160,00 260,00 7,69 12,30 20,00 29,60 14 100 198,20 298,20 7,14 14,16 21,30 38,20
15 100 249,50 348,50 6,67 16,63 23,30 51,30 16 100 324,00 424,00 6,25 20,25 26,50 74,50 17 100 418,50 518,50 5,88 24,38 30,50 94,50 18 100 539,00 639,00 5,55 29,94 35,50 120,50 19 100 698,00 798,00 5,26 36,74 42,00 159,00
20 100 900,00 1.000,00 5,00 45,00 50,00 202,00
Fonte: Ferguson (1985)
O Gráfico 19 reproduz as curvas de custo fixo, médio e total. Observe que a
“curva” de custo fixo é paralela ao eixo dos x, uma vez que os custos fixos não se
alteram quando a produção aumenta; o contrário do que ocorre com o custo variável
que, por sua vez, define o formato da curva de custo total.
33
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
quantidade produzida
Gráfico 19: As curvas de custo fixo, custo variável e custo total
Os custos totais são definidos conforme a seguir.
Os custos totais de produção (CT) são divididos em custos variáveis totais
(CVT) e custos Fixos Totais (CFT)
Custos Fixos Totais (CF) = São os desembolsos com os fatores “fixos” de
produção, isto é, fatores que independem da quantidade a ser produzida. Exemplos de
custos fixos são: aluguéis e equipamentos. Na contabilidade empresarial esses custos
são denominados “indiretos”.
Custos Variáveis Totais (CV) = São os desembolsos com os fatores que
dependem da quantidade a ser produzida, ou seja, que mudam com a variação do
volume produzido. Exemplos de custos variáveis são: gastos com matérias-primas e
folha de pagamento de operários. Na contabilidade empresarial esses custos são
denominados “diretos”.
Custos Médios - são custos totais (fixo e /ou variável) dividido pela quantidade
produzida.
Custo Marginal – é o acréscimo de custo total atribuível ao acréscimo de uma
unidade de produção
CT = CV + CF
CT CV
CF
Atividade 5 Com base na tabela apresentada construir as curvas dos custos médios e analisar qual a
tendência das diferentes categorias de custos (subir, baixar, permanecer estável etc), ao
longo do tempo.
cu
sto
(R
$m
ilh
õe
s)
34
4.2.3 O Curto e Longo Prazos
Para uma avaliação consistente das condições de oferta é preciso considerar a
produção no tempo ou o curto e o longo prazos. Conforme já verificamos (rever
sessão 4.1.1) o curto prazo é o período de tempo no qual os insumos fixos não
podem ser aumentados ou reduzidos, independentemente do nível do produto. Assim,
no curto prazo a empresa tem que lidar com custos fixos e variáveis. No longo prazo,
por sua vez, a quantidade de todos os insumos podem ser modificadas de tal forma a
obter a combinação mais eficiente e, em tese, a empresa pode planejar melhor o seu
horizonte. A título de exemplo, consideremos apenas um fator fixo, o tamanho da firma
(ou capacidade produtiva), e um fator variável: a mão-de-obra. Assim, essa firma só
poderá aumentar ou diminuir sua produção por meio da utilização do fator mão-de-
obra uma vez que o seu tamanho é constante, só podendo ser aumentado ou
diminuído em curto prazo.
4.2.4 Diferenças entre a visão econômica e a visão contábil-financeira dos
custos de produção na indústria Mineral
As principais diferenças estão nos conceitos de: 1) custos de oportunidades e
custos contábeis, conforme já analisamos e 2) custos e despesas
Custos e despesas
De acordo com uma definição contábil os custos são os gastos associados ao
processo de fabricação de produtos, enquanto que as despesas são associadas aos
exercícios sociais e alocadas para o resultado geral do período (como despesas
financeiras, comerciais e administrativas).
Os custos são normalmente divididos em diretos (que correspondem aos
custos variáveis) e indiretos (que se referem aos custos fixos). Exemplos de custos
diretos são: salários da mão-de-obra, custos das matérias-primas e componentes,
gastos correntes com estoque de capital, tais como energia, manutenção e reparação.
Os custos indiretos referem-se aos salários da administração, aluguel do prédio,
depreciação dos equipamentos e das instalações, retorno sobre o capital fixo e
provisão de risco.
Souza (2001) apresenta a estrutura de custos da indústria mineral (Figura 4).
Ele alerta que para a contabilização geral desses custos é necessário a realização de
memória de cálculo individualizada para categoria isoladamente.
35
“As memórias de custos devem ser individualizadas por tipo de produto obtido (por exemplo, minério lavrado, produzido, ou vendido, concentrado obtido ou vendido, etc.). Dessa forma, se, para produzir 1.000 kg de concentrado é necessário lavrar 80 t de minério, deve-se elaborar as memórias de cálculo de custos correspondentes aos 1.000 kg de concentrado e às 80 t de minério, respectivamente. Como tais despesas correspondem a um período (dia, mês, etc.) tem-se além dos custos médios (unitários), os custos por período considerado (custo diário, custo mensal, etc.)”. (SOUZA, 2001, p. 70).
Abreviaturas utilizadas: CML – custo do minério lavrado II – inventário inicial CMT – custo do minério transferido LB – lucro bruto (=LL+DVA) CMV – custo do minério vendido LL – Lucro Líquido DIB – despesas indiretas de beneficiamento MOD – mão-de-obra direta DIL – despesas indiretas de lavra TMM – transporte mina-mercado DVA – despesas de vendas e administrativas TMU transporte mina-usina I.F – Inventário Final TUM – transporte usina- mercado
Figura 4: Estrutura de custos da mineração Fonte: Souza, 1980 apud Souza, 2001, p. 69
O detalhamento desse custos são descritos por Souza (2001, p. 71 e 72) como:
a- Custo Direto de Lavra (ou de Beneficiamento), CL (ou CB): são as despesas
com material e mão-de-obra diretamente incidentes sobre a produção da mina (ou
usina), quais sejam:
Quando não há beneficiamento CMT = CML
+ DIB
+ MOD
+MD = II MD + compras de MD -IF de MD -
- IF minero na Usina
+ II minério na usina
+ TMU
-I.F minério na mina
+II minério na mina
+ DIL
+ MOD -IFMD
+compras
Custo de
Beneficiamento (CB)
Custo de
Alimentação da Usina
(CA)
Custo de Minério
Transferido (CMT)
Custo de
Lavra (CL)
Material
Direto (MD)
II MD
+ LL
LB +DVA
+II minério
depósito vendas
+II minério depósito vendas
+TMM
Receita Total (RT)
Custo Total (CT)
Custo do Minério Vendido (CVM)
CML
Custo do
concentrado vendido (CCV)
Receita Total (RT)
+ LL
Lucro Bruto (LB)
+ DVA
+ IF de
concentrado no mercado
+ II de concentrado no mercado
+TUM
- IF concentrado na usina
+II concentrado na usina
Custo total
(CT)
Custo do concentrado
obtido (CCO)
36
a.1 –material direto (MD): são os materiais que se incorporam na
produção. No caso da indústria de transformação mineral12, exemplo disso
são as matérias-primas de origem mineral (calcário, gipso etc.) que entram na
produção de cimento. Na indústria extrativa mineral13 um exemplo disso é o
do aglomerante usado na pelotização. É importante observar que o minério
lavrado não é considerado como um custo direto, apesar de ser o principal
insumo na produção de, por exemplo, um concentrado metálico ou produto
industrial, tendo em conta que pelas convenções contábeis não se atribui ao
minério lavrado um valor como componente de custo. A redução das reservas
minerais disponíveis é considerada como exaustão que não faz parte do custo
econômico.
a.2 – mão-de-obra direta (MOD): compreende toda remuneração paga a
titulo de salários aos operários, cujo o tempo de ocupação pode ser identificado
com a produção. Na mina têm-se os operadores de perfuratrizes nas frentes de
lavra, o pessoal responsável pelo explosivo, os carregadores de vagões, os
guincheiros, etc. Na usina os operários dos equipamentos de classificação
(jigues, mesas vibratórias, etc.) e flotação, os controladores da alimentação dos
equipamentos, etc. Aos custos da mão-de-obra devem ser acrescentados os
encargos sociais (taxas de leis sociais e riscos do trabalho: previdência, Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), férias, décimo-terceiro salário,
salário família, salário-educação, seguro contra acidentes do trabalho, etc.).
b – Despesas indiretas de lavra (DIL), ou beneficiamento (DIB): correspondem
ao restante das despesas (com material e mão-de-obra) relacionadas à produção e
que não podem ser identificadas, individualizadas ou incorporadas às unidades
produzidas. Uma característica dessas despesas é que podem ocorrer sem
simultaneidade obrigatória com a realização da produção. A forma de apropriação das
despesas indiretas é feita por um dos seguintes métodos de custeio: Integral por Taxa
(Overhead Method); por Absorção; Variável; e, por Atividade (Activity Based Costing –
ABC) (Costa, 1996). Por exemplo, as despesas com energia elétrica de um
empreendimento constituído de quatro setores (mina, usina, serviços auxiliares e
comunidade) têm apropriação indireta pelo rateio do consumo mensal pelos setores
com base em uma taxa de rateio (potência instalada por setor, horas trabalhadas,
12 A transformação mineral implica em modificação nas propriedades físicas e/ou químicas dos bens
minerais. 13 Na indústria extrativa mineral as propriedades físicas e químicas dos minerais não são alteradas, muito
embora essa fase possa comportar concentrações e algum beneficiamento primário dos bens minerais.
37
etc.). Também fica evidenciado que a energia, apesar de indireta no exemplo, é
imprescindível para o empreendimento. Algumas rubricas das despesas indiretas de
produção são: material indireto (explosivos e acessórios, peças de reposição, material
elétrico, energia, combustíveis e lubrificantes, etc.); mão-de-obra indireta (gerentes,
capatazes, supervisores, vigias, etc.); conservação de estradas; disposição de estéreis
e rejeitos; trabalhos de preparação e desenvolvimento (galerias, poços, travessas,
topografia, geologia, sondagens, amostragens e análises de laboratórios e demais
trabalhos relacionados à produção); seguros, aluguéis e royalities; tributos sobre a
propriedade (IPTU, ITR, etc.) e sobre a produção (ICMS/IOF, PIS, COFINS, CFEM,
etc.); despesas com oficinas de manutenção; desaguamento, ventilação, iluminação,
escoramento, limpeza, etc.); abastecimento d’água, comunicação, escritório (material
e pessoal); etc.
Os encargos de capital, do ponto de vista contábil, são despesas indiretas.
Contudo, do ponto de vista da avaliação econômica não devem ser incluídos nos
custos para evitar dupla contagem dos investimentos a que se referem.
Para a apropriação dos materiais efetivamente consumidos em dado período,
tem-se a relação:
4.2.5 Custos Fixos e Custos Variáveis na Indústria Mineral
Para separação das parcelas fixas e variáveis de cada custo (custo do material
direto, custo da mão-de-obra direta e despesas indiretas de produção) nos vários
setores do empreendimento (mina, usina, serviços auxiliares, etc.) os seguintes
comentários são válidos:
Os custos fixos são controlados pelo nível hierárquico mais elevado da
empresa, enquanto os variáveis estão sob controle do setor que os realiza;
Os custos fixos estão ligados às decisões administrativas; os variáveis,
embora influenciados por tais decisões, estão mais relacionados à
produção;
Os custos fixos estão relacionados ao período de sua apropriação (mês,
ano, etc.), enquanto as variáveis à unidade produzida (t, kg, etc.);
Consumo (Saída) de material = Inventário Inicial (do período) + Compras (Entradas) –
Inventário Final (do período)
38
Quando a função custo total tem comportamento linear ou dele se
aproxima, os custos fixos médios (ou seja, por unidade produzida) são
variáveis e os custos variáveis médios tendem a ser fixos.
Com base no exposto, tem-se a seguinte decomposição para os principais
componentes do custo total:
a - material direto: é substancialmente um custo variável;
b – peças de reposição: o consumo de peças de reposição depende do regime
de trabalho da máquina que, se estiver relacionada diretamente à produção,
caracteriza um custo variável;
c – material de escritório, impressos, aluguéis e material de limpeza: são
considerados custos fixos;
d – mão-de-obra direta: depende da estrutura de produção. A mão-de-obra fixa
é um custo fixo. A mão-de-obra variável, para atender sazonalidades ou
oscilações de mercado, é um custo essencialmente variável;
e – mão-de-obra indireta: em geral é custo fixo. Quando operários recebem
prêmios de produção, tais custos são variáveis;
f – energia elétrica: a demanda de potência (kw) é um custo fixo e o consumo
(kwh) é um custo variável;
g – seguros: do ativo imobilizado (edifícios e máquinas) são custos fixos; dos
estoques (quando dimensionados em função da escala de produção) são
variáveis;
h – impostos e taxas: fixos quando incidem sobre a propriedade e variáveis
quando incidem sobre a produção;
i – manutenção: é um custo que cresce, não necessariamente de forma
proporcional, com o aumento da produção. Quando for muito alto, tais custos
devem ser analisados em separado. O custo de manutenção dos imóveis é
essencialmente fixo. O empreendimento pode dispor de oficina, seção ou
mesmo departamento dedicado à manutenção, como uma função de serviço
39
centralizada dentro da organização, podendo também optar pela terceirização
dos serviços através de contratos de manutenção;
j – despesas de administração: exceto os prêmios de produção, são custos
fixos;
k – despesas de vendas: na forma de ordenados, são custos fixos; e, na forma
de comissões, variáveis;
l – despesas financeiras: juros a longo prazo, oriundos do financiamento do
investimento fixo do empreendimento, são custos fixos; e, juros de curto prazo,
para financiamento do capital de giro, são variáveis.
5. ESTRUTURA DE MERCADO E FORMAÇÃO DE PREÇO
O que normalmente considera-se “mercado” é o espaço de convergência de
duas forças opostas: os compradores desejosos em adquirir maiores quantidades a
menores preços (DD’) e os vendedores que só desejam oferecer maiores quantidades
se houver preços compensadores (SS’). Essas duas forças opostas estão
balanceadas no ponto “E”, que é o ponto de equilíbrio onde tanto os compradores
quanto os vendedores estão satisfeitos. Assim, a noção de “equilíbrio” de mercado é
entendido como o balanceamento das forças da oferta e da demanda (Gráfico 20).
P1
P
P2
Gráfico 20: Representação da oferta e demanda em equilíbrio de mercado
Atividade 6 Com base nos conceitos descritos nessa sessão descreva a estrutura de custos de um
empreendimento mineiro hipotético, você pode usar como exemplo a indústria extrativa
mineral de cobre.
D S'
E
D'
QD S
1 Q 2 Q
QUANTIDADE Q
D
2 Q
S
1
S
PR
EÇ
O
40
Onde:
DD’ = é a curva da demanda (ou procura, ou ainda consumo). Ela tem inclinação negativa que indica que consumidores estão dispostos a comprar mais quando os preços caem e vice-versa.
SS’ = é a curva da oferta (ou produção). Ela tem inclinação positiva que indica que as empresas estão dispostas a ofertar mais quando os preços sobem e vice-versa.
Ponto “E” = como o preço “0P” e a quantidade “0Q” é o ponto onde as duas forças opostas estão balanceadas, pois em qualquer preço, exceto “0P”, existirão forças que empurrarão o preço em direção a esse ponto.
Assim:
se o preço estiver em 0P1, acima do ponto de equilíbrio. Neste ponto os
vendedores e desejam vender 0Qs1, mas a esse preço os compradores querem comprar somente 0Qd1. Disso resulta que os vendedores acumulam estoques e têm prejuízos. Logo, os vendedores têm um claro incentivo para reduzir o preço a fim de liquidarem os estoques indesejados;
se o preço estiver em 0P2, abaixo do ponto de equilíbrio. Neste ponto os compradores querem comprar 0Qd2, mas a esse preço os vendedores e desejam vender apenas 0Qss. Disso resulta que todos que desejam comprar ao preço 0P2 não poderão fazê-lo. Assim, alguns compradores, insatisfeitos, oferecem um pouco mais, na esperança em obter a mercadoria em lugar de outros. Esse comportamento faz com que os preços subam até atingir 0P.
É a partir desse raciocínio simples, baseado no equilíbrio estático de mercado,
e que pode parecer pouco realista, que serão apresentadas as diferentes estruturas e
estratégias de mercados.
Os modelos de mercados que serão apresentados nesta sessão são casos
“puros” ou extremos, dificilmente encontrados no mundo real. No entanto, a teoria
requer abstrações e generalizações. Assim, a discussão teórica desses modelos serve
como “atalhos” para a melhor compreensão da realidade.
Além de apresentar as características desses mercados, o objetivo desta
sessão é discutir as condições teóricas de eficiência da alocação de recursos nesses
mercados, bem como o princípio da maximização de lucro, que é base da teoria geral
da firma.14
14 De acordo com Ferguson (1985, p.275), “Se a maximização do lucro constitui uma hipótese razoável, é
uma questão há muito debatida na economia e onde muitas críticas importantes foram feitas. Entretanto,
41
5.1 Estruturas de mercado da indústria mineral
Estruturas de mercado são modelos que refletem a forma de organização
desses mercados. Cada estrutura de mercado destaca aspectos essenciais da
interação entre oferta e demanda, baseando-se em características observadas em
mercados existentes. Em todas as estruturas clássicas os agentes são maximizadores
de lucro.
As estruturas de mercado clássicas mais conhecidas na teoria econômica são
a concorrência perfeita e o monopólio, além dessas há outras estruturas híbridas como
a concorrência monopolista e o oligopólio. Na indústria mineral podemos perceber
nuances de quase todas essas estruturas, com o predomínio do oligopólio.
5.2 CONCORRÊNCIA PERFEITA
O mercado de concorrência perfeita é definido como inteiramente impessoal,
em que não há rivalidade entre vendedores e os compradores não reconhecem vis-à-
vis a sua competitividade. A estrutura da concorrência perfeita tem por objetivo
descrever o funcionamento equilibrado, ou ideal, servindo com base para o estudo de
outras estruturas. Embora teórico, o estudo da concorrência perfeita é importante
pelas conseqüências derivadas de suas hipóteses que acabaram por condicionar o
comportamento dos agentes econômicos em diferentes mercados.
5.2.1 Características do mercado de concorrência perfeita
Quatro condições determinam a concorrência perfeita:
1) Grande número de pequenas empresas – cada produtor é tão pequeno que
não afeta o preço de mercado por variações na sua produção
2) Produto homogêneo – o produto de qualquer outro vendedor deve ser
idêntico, o que significa que os compradores são indiferentes quanto à
empresa da qual eles adquirem os produtos.
3) Livre mobilidade dos recursos – cada recurso pode imediatamente entrar e
sair do mercado como resposta aos incentivos monetários ou a quaisquer
outros incentivos, incluindo livre e fácil entrada e saída das empresas.
tais críticas não superam o fato extremamente importante que a hipótese de maximização do lucro é a
única que produz uma teoria geral da firma, mercado e alocação de recursos que é bem sucedida, tanto em
explicar quanto predizer o comportamento das atividades econômicas”
42
4) Perfeito conhecimento – os consumidores, os produtores e os proprietários
de recursos tem perfeito conhecimento. Se os consumidores não estão
plenamente conscientes dos preços, eles podem comprar a preços altos
quando outros menos estão disponíveis, pois nem sempre existirá um preço
uniforme no mercado. os produtores devem conhecer muito bem os seus
custos e seus preços, a fim de atingir a sua taxa máxima de lucros.
5.2.2 Condição de equilíbrio no mercado de concorrência perfeita
Para a determinação da condição de equilíbrio é preciso considerar o tempo
econômico de curto prazo e de longo prazos. No curto prazo vimos que alguns
insumos são fixos. Isso acontece porque decisões de ampliar o tamanho de uma
fábrica e/ou de modernizar e ampliar equipamentos requer um maior período de
planejamento. Assim, no curto prazo, a variação na quantidade só pode ser feita por
intermédio da alteração dos insumos variáveis. Já no longo prazo, o volume de
produção pode ser alterado por variações nas quantidades de quaisquer insumos.
Todavia, há casos, em um curto período de tempo, em que a oferta é totalmente fixa
(safra agrícola, escala mínima da produção de minerais etc.), este é chamado de
“período de mercado”.
No período de mercado, por definição, a produção não pode variar. Portanto,
cada empresa tem uma oferta fixa que é vendida ao preço do equilíbrio do mercado.
O Gráfico 21, a seguir, ilustra o equilíbrio no “período de mercado”.
p
Pu
p
Preço
Pe
0 q q
Quantidade
Gráfico 21: Equilíbrio no período de mercado
S
Du
D
De
43
A oferta de cada empresa é fixa; ela é ilustrada pela reta vertical Sq que mostra
que a oferta é a mesma para quaisquer níveis de preços. Dessa forma, dada a
quantidade fixa disponível para venda 0q, o equilíbrio é atingido ao preço do livre
mercado que é determinado pela variação da demanda. Ou seja, serão os
consumidores - variação na demanda (D) - que definirão qual o preço que equilibrará o
mercado e não os produtores. Assim se:
D sobre para Du, o preço também sobre de p para Pu;
D desce para De, o preço também desce de p para Pe
Esse resultado, todavia, difere dos correspondentes curto e longo prazos, nos
quais a demanda e oferta conjuntamente determinam ambas, preço e quantidade de
equilíbrio.
5.2.3 Equilíbrio de curto prazo
No curto prazo, o nível de produção pode ser aumentado ou diminuído,
aumentando ou diminuindo o uso dos insumos variáveis (uma vez que os custos fixos
são constantes). A empresa individual pode ajustar seu nível de produção num amplo
domínio sujeito somente às limitações impostas por seus insumos fixos, geralmente
instalações e equipamentos. Assim, a condição de equilíbrio se dará em um ponto
onde é máxima a diferença entre a receita e o custo de produção. A Tabela 4 e o
Gráfico 22 ilustram esse caso.
Tabela 4: Receita, custo e lucro de uma companhia mineradora hipotética (em US$mil)
preço de mercado
nível de produção e de vendas
renda total
custo fixo custo
variável
custo total
lucro(prejuízo)
5,00 1,00 5,00 15,00 2,00 17,00 (12,00)
5,00 2,00 10,00 15,00 3,50 18,50 (8,50)
5,00 3,00 15,00 15,00 4,50 19,50 (4,50)
5,00 4,00 20,00 15,00 5,75 20,75 (0,75)
5,00 5,00 25,00 15,00 7,25 22,25 2,75
5,00 6,00 30,00 15,00 9,25 24,25 5,75
5,00 7,00 35,00 15,00 12,50 27,50 7,50
5,00 8,00 40,00 15,00 17,50 32,50 7,50
5,00 9,00 45,00 15,00 25,50 40,50 4,50
5,00 10,00 50,00 15,00 37,50 52,50 (2,50)
Observe que para as quatro primeiras unidades vendidas o lucro é negativo,
pois para esse nível de produção os custos superam a receita. A partir da quinta
unidade vendida o empresário começa a ter lucro, até alcançar o lucro máximo que
corresponde a sete ou oito unidades de produção. O lucro unitário é máximo para sete
44
unidades, mas isso não é muito relevante, já que, do ponto de vista do empresário, o
quê importa é o lucro total. A partir da décima unidade, a empresa começa a ter
prejuízo novamente. Isso ocorre por causa da hipótese de custo crescente.
O Gráfico 22 ilustra as curvas de custo total e de receita total e os pontos de
lucro e de prejuízo.
60
Área de prejuízo
50
40
Área de lucro
30
Área de prejuízo 20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Quantidade
renda total custo total
Gráfico 22: Concorrência perfeita: maximização do lucro pela abordagem receita total - custo total
O enfoque renda total /custo total é útil, mas não condiz a uma interpretação
analítica do comportamento do empresário. Essa interpretação é obtida pela adoção
da usual abordagem marginal, conforme será vista adiante.
5.2.4 Método de maximização do lucro no curto prazo – abordagem marginal
A Tabela 5 apresenta informações adicionais para o cálculo do lucro pela
abordagem marginal.
Tabela 5: Receita marginal (RMg), custo marginal (CMg) e lucro de uma companhia mineradora hipotética (valores em US$mil)
produção e vendas
receita marginal ou preço (RMg)
custo marginal (CMg)
custo médio (CMe)
lucro unitário lucro
1 5,00 2,00 17,00 (12,00) (12,00)
2 5,00 1,50 9,25 (4,25) (8,50)
3 5,00 1,00 6,50 (1,50) (4,50)
4 5,00 1,25 5,19 (0,19) (0,75)
5 5,00 1,50 4,45 0,55 2,75
6 5,00 2,00 4,04 0,96 5,75
7 5,00 3,25 3,93 1,07 7,50
8 5,00 5,00 4,06 0,94 7,50
9 5,00 8,00 4,50 0,50 4,50
10 5,00 12,00 5,25 (0,25) (2,50)
Re
ceit
a e
Cu
sto
(U
S$
mil
hão
)
45
Pre
ço
e C
usto
(U
S$
milh
ões)
As duas primeiras colunas mostram a demanda, ou a curva da receita
marginal, que é idêntica para todas as firmas num mercado de concorrência perfeita. A
3ª coluna contém os valores dos custos marginais. Na 4ª coluna estão os valores do
custo total médio, que foi calculado dividindo-se a 6ª pela 2ª coluna da tabela anterior.
Na 5ª coluna encontra o lucro unitário que foi encontrado a partir da diferença entre o
preço e o custo total médio e, finalmente, na 6ª coluna encontra-se o lucro total que foi
obtido a partir da diferença entre a receita total e custo total.
Da mesma forma que na Tabela 4, o lucro máximo corresponde a sete ou oito
unidades de produção vendidas num período de tempo. O lucro unitário é máximo
para sete unidades de produção.
O Gráfico 23 foi elaborado a partir dos elementos da Tabela 5. Ele mostra que
a empresa atinge o equilíbrio de curto prazo no ponto “E”, onde a curva do custo
marginal (CMg) se iguala à curva da receita marginal (RMg).
12,00
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
-
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
custo marginal custo médio Quantidade
Gráfico 23: Concorrência perfeita: maximização do lucro pela abordagem receita total – custo total
Da mesma forma que na teoria da produção já explorada, aqui a receita
marginal é o acréscimo de receita total, devido ao aumento de uma unidade nas
vendas, enquanto o custo marginal é o acréscimo de custo total resultante do aumento
de uma unidade de produção. Assim, é evidente que o lucro cresce quando a receita
marginal excede o custo marginal e diminui quando o custo marginal excede a receita
marginal. Portanto, o lucro deve atingir seu máximo quando são iguais a receita
marginal e o custo marginal. O Gráfico 24 sintetiza a condição de equilíbrio no curto
prazo, a partir do critério da receita/custo marginal.
CMg
E D = RMg
CMe
46
F
B E C
A
CMg
p D = RMg
0
Quantidade
qe q qu
Gráfico 24: Concorrência perfeita: maximização do lucro no curto prazo - ponto onde o custo marginal iguala-se ao preço
Ao preço de mercado “0p” a empresa atinge um equilíbrio de lucro máximo no
ponto “E”, correspondente a “0q” quantidades produzidas. Se o nível de produção
fosse “0qe” (que é menor que “0q”), a receita marginal “qeB” seria maior que o custo
marginal “qeA”. Assim, o acréscimo de uma unidade à produção vendida aumentaria a
receita total mais que o custo total. O lucro, portanto, cresceria, e continuaria crescer,
enquanto a receita marginal fosse maior que o custo marginal.
Por outra perspectiva, se o nível de produção fosse maior que “0q”, como por
exemplo, “0qu”, o custo marginal “quF” seria maior que a receita marginal “quC”. Esta
unidade de produção obrigaria o custo total a crescer mais do que a receita total, em
conseqüência reduziria o lucro (ou aumentaria a prejuízo). Como fica bem claro no
Gráfico 24, o lucro deve-se reduzir pelo acréscimo de uma unidade de produção
vendida.
Dessa forma, desde que o lucro cresça quando a receita marginal seja maior
do que o custo marginal e caia quando a receita marginal seja menor do que o custo
marginal, este deve ser máximo quando os dois se igualam.
Assim:
Pre
ço
e C
usto
(U
S$
milh
õe
s)
47
Quando consideramos o longo prazo para as empresas que estão em um
mercado de concorrência perfeita, o equilíbrio ocorre no ponto onde o preço se iguala
ao mínimo custo médio a longo prazo. Isso significa que cada unidade de produção é
feita ao mais baixo custo possível. A posição de equilíbrio a longo prazo é
caracterizada também pela situação de “lucro zero”, em que as firmas não possuem
lucro puro, nem um prejuízo puro, somente lucro contábil igual à taxa de retorno
passível de ser obtida em quaisquer outros setores da economia.
5.2 MONOPÓLIO
Da mesma forma que o modelo de concorrência perfeita, o modelo do
monopólio puro raramente existirá no mundo real. Todavia, ele oferece uma
ferramenta analítica muito útil para analisar situações concretas.
5.3.1 Características do monopólio
Um monopólio puro existe se houver apenas um produtor em um mercado bem
definido. Não existem concorrentes ou rivais diretos. Ou seja, a entrada nesse
mercado é praticamente impossível, pois a firma produz um produto para o qual não
existe substituto próximo. Além disso, há ostensiva presença de barreiras à entrada de
novas firmas, ou seja, obstáculos para manter os concorrentes em potencial
afastados. Estes obstáculos podem ser administrados pelo monopolista por intermédio
de: a) controle sobre o fornecimento da matéria-prima; b) barreiras legais como
registros de patentes e c) licenças e concessões governamentais e outros.
uma empresa em concorrência perfeita atinge seu equilíbrio, o lucro
máximo no curo prazo, produzindo o nível de produção em que o custo
marginal se iguala ao preço de mercado.
uma empresa em concorrência perfeita é meramente um ajustador de
quantidade. O preço é dado pelo mercado; a firma produz o nível de
produção que maximiza o lucro ou minimiza o prejuízo, dada a sua
instalação, pois no curto prazo não há outra alternativa disponível.
Atividade 7 Conhecendo as características da estrutura de mercado do tipo “concorrência perfeita” você
pode verificar se há alguma commodity mineral que se identifica com esse mercado e em
quais circunstâncias?
48
5.3.2 Fatores que explicam a existência de um monopólio
1) Controle da oferta de matérias-primas. Essa situação não é rara na
indústria mineral. Um exemplo bastante emblemático foi o caso da
bauxita nos EUA. Por muitos anos a Companhia de Alumínio da
América (ALCOA) possuiu quase todas as fontes de bauxita dos
EUA. O controle da oferta de recursos, complementado com certos
direitos de patente, permitiu à ALCOA um monopólio absoluto sobre
a produção do Alumínio por muitas décadas.
2) Controle de patentes. Permite a uma empresa ter direitos exclusivos
de produzir determinado bem ou utilizar um processo de produção
específico. No entanto, uma patente não pode impedir o
aparecimento de bens substitutos estreitamente relacionados ou
processos de produção semelhantes.
3) Custo do estabelecimento de uma fábrica eficiente. Isso é
particularmente válido quando se trata do tamanho de um mercado,
como no caso do “monopólio natural” que se justifica em função da
escala mínima de produção. O monopólio natural existe quando o
custo médio mínimo de produção ocorre a uma taxa de produção
suficiente, ou mais que suficiente, para abastecer todo o mercado a
um preço que cobre todos os custos. Como exemplos podem ser
citados todos os serviços públicos (abastecimento de água, de
energia elétrica, disposição de esgoto etc.).
4) Franquia de um mercado público. Entendida como um contrato entre
um órgão governamental ou empresa e outra empresa. O órgão
governamental dá a uma firma o direito exclusivo de comerciar um
bem ou serviço público.
Essas práticas monopolistas podem ser amortizadas por outras formas de
concorrência. Há dois tipos de concorrência indireta e uma concorrência potencial que
tendem a conter as políticas de preço-produto de monopólios puros ou quase puros.
São elas:
a) fontes de concorrência indireta:
1) luta generalizada pelos consumidores (elevação da receita), uma vez
que o monopólio não garante que o monopolista possa obter o máximo de
quaisquer condições de demanda existentes; e
49
2) existência de bens substituto, embora não haja um substituto perfeito,
pode haver substitutos imperfeitos para produtos em condição de monopólio.
Por exemplo, petróleo e gás natural são fortes concorrentes no mercado de
energia residencial; o aquecimento a carvão, além do óleo e do gás, são
concorrentes no mercado comercial. Assim, a posição de monopólio das
companhias de energia elétrica é muito débil nesses mercados.
b) fontes de concorrência potencial: é a ameaça de outro concorrente potencial
entrar no mercado, atraído pela expectativa de lucros excepcionais.
5.3.3 Condição de equilíbrio de curto prazo em monopólio puro
O monopolista, juntamente com o concorrente perfeito, atinge o lucro máximo
produzindo e vendendo aquela quantidade de produto para o qual a diferença positiva
entre a receita total e o custo total é maior (ou ele minimiza a perda quando a
diferença negativa é mínima), conforme se pode perceber pela Tabela 6 e Gráfico 25,
a seguir. Importante notar, na 2ª coluna da Tabela 6 que na medida em que os
volumes de produção e de venda aumentam o preço cai, ou seja, o aumento da escala
de produção induz à redução dos preços.
Tabela 6: Monopolista – maximização do lucro pela abordagem da receita total – preço, receita total, custo total e lucro de uma companhia mineradora hipotética (valores em US$mil) produção e
vendas preço receita total custo total lucro
5 2,00 10,00 12,25 (2,25)
13 1,10 14,30 15,00 (0,70)
23 0,85 19,55 18,25 1,30
38 0,69 26,22 22,00 4,22
50 0,62 30,75 26,25 4,50
60 0,55 33,00 31,00 2,00
68 0,50 34,00 36,25 (2,25)
75 0,45 33,75 42,00 (8,25)
81 0,40 32,40 48,25 (15,85)
86 0,35 30,10 55,00 (24,90)
O Gráfico 25 ilustra que o lucro máximo ($4,50) é obtido com a venda de 50
unidades de produto, mas essa quantidade de produto é menor do que aquela
associada ao custo médio mínimo. Da mesma forma, é menor do que o produto que
maximiza a receita, e também menor que a quantidade de produto (um pouco maior
que 60) para a qual o preço iguala o custo marginal.
50
Custo Total
Receita Total
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
- 50 68
Produção e Vendas
Gráfico 25: Concorrência perfeita: maximização do lucro no curto prazo - ponto onde o custo marginal iguala-se ao preço
Da mesma forma que no modelo de concorrência perfeita, sob o monopólio, o
produtor maximizará o lucro, ou minimizará a perda, produzindo e comercializando
aquele produto até o ponto em que o custo marginal se igualar à receita marginal. A
existência do lucro ou prejuízo dependerá da relação entre o preço e o custo médio.
Essa relação normalmente é alta, uma vez que o monopolista adota a prática do mark-
up, ou seja, ele fixa um percentual que mantém o preço do produto bem acima do seu
custo de produção e distribuição.
Um caso extremo de monopólio é o chamado “monopólio bilateral”. Ele ocorre
quando um produtor tiver o monopólio de um produto e houver apenas um comprador
para o produto (um monopólio na compra = monopsônio). Um exemplo hipotético seria
a existência de apenas um produtor de cobre no mundo e apenas uma fábrica de latão
(supondo-se esse o único fim do cobre). Nesse caso, o preço e a quantidade são
indeterminados, uma vez que a informação da economia não é suficiente para
determinar a solução do mercado. Nesse mercado outras variáveis entram em jogo
tais como a capacidade de barganhar, entre outras.
5.3.4 Comparações entre Monopólio e Concorrência Perfeita:
Posições de equilíbrio no longo prazo. Sob concorrência perfeita ela ocorre
no ponto do custo médio mínimo a longo e curto prazos. Enquanto o
monopolista produz ao menor custo unitário.
Re
ce
ita
e C
usto
s (U
S$
mil
hõ
es)
51
Lucro no longo prazo. Na concorrência perfeita é grande o número de
empresas numa atividade, enquanto que no monopólio é uma única. Na
concorrência perfeita, a característica central do equilíbrio a longo prazo é o
“lucro econômico zero” por firma. Em contraste, o monopólio assegura à
firma única um “lucro puro”15à longo prazo, maior do que poderia ganhar
sob qualquer outra organização de mercado, ou seja, maior do que se
houvesse uma ou mais firmas rivais no mercado.
Bem-estar social. Os recursos limitados da sociedade são usados, em
termos relativos, mais eficientemente nos mercados em concorrência
perfeita do que em mercados de monopólio.
É importante ressaltar que a legislação da maioria dos países proíbe o
monopólio, com exceção dos monopólios naturais que são exercidos pelo Estado,
geralmente em produtos e serviços estratégicos.
5.3 CONCORRÊNCIA MONOPOLISTA
Os exemplos de mercados anteriores são casos “puros” e, portanto, limitados
para a análise dos fatos da realidade. A constatação disso é que há muito poucos
monopolistas, porque há poucos bens para os quais não existem substitutos próximos;
semelhantemente, há muitos poucos bens inteiramente homogêneos entre os
produtores. Em lugar disso, há uma série de bens, alguns dos quais possuem poucos
substitutos e outros, muitos substitutos, porém não perfeitos. Assim, na tentativa de
aprimorar esses modelos outros foram desenvolvidos, como o da concorrência
monopolista que apresentaremos a seguir.
5.4.1 Característica do mercado da concorrência monopolista
A principal característica do mercado de concorrência monopolista é a
diferenciação do produto. Os produtos são mais heterogêneos que homogêneos e
levemente diferenciados, cada um deles é um substituto para o outro, daí haver a
15
O lucro econômico puro representa o retorno de um investimento superior ao obtido em qualquer outra
atividade. O aparecimento de tais lucros atrai novas firmas para o setor, o que provoca a expansão da
oferta e conseqüente redução do preço de mercado. Quando isso ocorre, todas as firmas, tanto as velhas
como as novas devem ajustar-se, e o processo de ajustamento deve continuar até que uma posição de
equilíbrio no longo prazo seja atingida, com lucros menores.
Atividade 8
Conhecendo as características da estrutura de mercado do tipo “monopólio” você pode verificar se há alguma commodity mineral que se identifica com esse mercado e em quais
circunstâncias?
52
concorrência, sendo, porém pessoal entre rivais que estão bem informados
mutuamente.
Assim, cada produtor tenta diferenciar o seu produto de maneira a torná-lo
único. Todavia, para estar no mercado, seu produto particular deve estar
proximamente relacionado ao produto geral em questão. Importante ressaltar que há
muitos meios de diferenciar produtos, alguns reais e outros muito ilegítimos.
No caso da diferenciação real do produto, pode-se usualmente catalogar as
diferenças em termos de composição química, de serviços oferecidos por vendedores,
do custo dos insumos etc. Em outros casos –considerados ilegítimos – a diferenciação
do produto é assentada em despesas de propaganda, diferenças de embalagem do
material do desenho, nome da marca e outros. Por exemplo, a Novelis e a Alcoa
produzem chapas de alumínio, mas cada uma agrega sua marca e algum diferencial
qualitativo ao produto. Em todo o caso, quando os produtos são diferenciados, cada
produto é único e seu produtor tem certo “poder de monopólio” que ele pode explorar.
Porém, normalmente, é muito pouco porque outros produtores podem vender um
substituto próximo. Assim, não é casual que o preço de venda desses produtos
estejam muito próximos.
5.4.2 Condição de equilíbrio do mercado de concorrência monopolista
A teoria da concorrência monopolista é essencialmente de longo prazo. No
curto prazo não há, virtualmente, diferença entre a análise do monopólio e da
concorrência monopolista. Cada produtor de um produto diferenciado se comporta de
maneira a maximizar o lucro.
No curto prazo há muito pouca competição. Todavia, no longo prazo entrarão
outros produtores no mercado da concorrência monopolista, já que a entrada não é
fechada. Se uma ou algumas firmas gozarem de uma situação altamente próspera,
outras firmas iniciarão a produção de um produto proximamente relacionado. Isso
estimulará a vinda de outras firmas que produzirão o produto levemente diferenciado e
continuarão a entrar no mercado até que se elimine o lucro puro ou se atinja a solução
da concorrência.
5.4.3 Estratégias competitivas no modelo de concorrência monopolista
Para análise da concorrência perfeita duas curvas de demanda foram
utilizadas: 1) curva da demanda negativamente inclinada e 2) curva da demanda
53
horizontal referente a cada vendedor que tem esse formato porque cada produtor do
produto homogêneo deve aceitar o preço corrente ou nada vender; se ele aumentar
seu preço, perderá todas as vendas e se baixar, pode perder alguma receita,
inutilmente.
No caso do mercado de concorrência monopolista, parte-se da possibilidade de
entrada de um grande número de concorrentes que produzem bens proximamente
relacionados e substituíveis. Assim, se um empresário promove uma redução de
preços na expectativa de obter uma expansão substancial em suas vendas, primeiro
as vendas para sua clientela existente aumentarão, segundo, se outros empresários
não reduzirem os seus preços ele capturará boa parte do mercado e do lucro. Por
outro lado, se ele aumentar seus preços terá perda grande, pois tanto as vendas para
os fregueses já existentes declinarão como muitos destes procurarão outros
produtores que não aumentaram seus preços. Consequentemente, admitindo um
grande número de vendedores no mercado, cada qual esperando que suas ações
passem despercebidas dos rivais, todos os empresários esperarão que sua curva de
demanda seja muito elástica16. A curva de demanda esperada, ou antecipada pelo
empresário é a mais elástica dd’, conforme o Gráfico 26, a seguir.
Preço
0 q q1 q2 q Quantidade
Gráfico 26: Curva de Demanda esperada em um mercado de concorrência monopolista
Todavia, todos os empresários têm incentivos para reduzir o preço, mas se
todos fazem isso ao mesmo tempo, cada empresário lucrará bem menos (venderão q1
ao invés de q2), o equivalente apenas ao incremento de suas vendas devido à redução
geral de preço. Portanto, a curva demanda gerada por esse comportamento coletivo é
bem menos elástica DD’, que mostra a quantidade demandada a um vendedor a
16 Uma pequena variação de preço provoca grande alteração na demanda,
p
D
d P1
P0 E
d’
D’
54
preços variados sob a hipótese de que os preços de seus concorrentes sempre serão
idênticos aos seus.
A curva dd’ mostra as vendas crescentes que um empresário pode esperar ter
com a baixa dos seus preços, estimulando todos os outros a manterem seu preço
inicial. DD’, por outro lado, mostra que as vendas reais a serem ganhas ou perdidas
quando todas as firmas mudarem o preço simultaneamente.
5.5 OLIGOPÓLIO
Oligopólio se origina do grego oligos, poucos + polens, vender. Essa estrutura
de mercado é uma forma evoluída de monopólio, no qual um grupo de empresas
promove o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. A mineração é
um setor tipicamente oligopolizado, em especial os ramos do petróleo, alumínio, aço,
cimentos e outros.
Há oligopólio quando mais de um vendedor estiver no mercado, porém quando
o número não for tão grande a ponto de se poder negligenciar a contribuição de cada
um. Se existir apenas dois vendedores no mercado trata-se de um caso limite, o
duopólio.
5.5.1 Tipos de oligopólio
Existem três formas básicas de oligopólio: cartel , truste e holding.
O Cartel é uma forma de oligopólio em que empresas legalmente
independentes, geralmente atuantes do mesmo setor, realizam acordos entre
si para ter o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Uma
forma muito conhecida de cartel é combinação de preços, o que minimiza as
chances da concorrência leal.
Truste é adaptação da expressão em inglês confiança (trust). As empresas
envolvidas abrem mão de sua independência legal para constituir uma única
organização, com o intuito de dominar determinada oferta de produtos e/ou
serviços. Os trustes podem ser de dois tipos: 1) trustes verticais são aqueles
que visam controlar de forma seqüencial a produção de determinado gênero
Atividade 9 Com base nas características da estrutura de mercado do tipo “concorrência monopolista” você pode verificar se há alguma commodity mineral que se identifica com esse mercado e em
quais circunstâncias?
55
industrial, sendo que as empresas podem ser de diversos ramos e 2) trustes
horizontais que são constituídos por empresas do mesmo ramo
Holding é o nome em inglês dado a uma sociedade gestora de participações
sociais. É uma forma de sociedade criada com o objetivo de administrar um
grupo delas (conglomerado). Na holding, a empresa administradora tem a
maioria das ações ou quotas das empresas componentes de determinado
grupo. Existem duas modalidades de Holding: 1) pura, quando seu objetivo
social conste somente a participação no capital de outras sociedades e
2)mista, quando além da participação, ela serve a exploração de alguma
atividade empresarial.
5.5.2 Características de um mercado oligopolista
Poucos vendedores. Pode ter duas, três, doze ou mais firmas, dependendo
da natureza do mercado. Entretanto, o número deve ser pequeno, de tal
forma que as firmas levem em consideração e reajam em suas decisões
quanto ao preço e produção da outras.
Empresas interdependentes. Isso significa que decisões sobre preço e
produção de equilíbrio se afetam mutuamente, porque a decisão de um
vendedor influi no comportamento econômico dos outros vendedores e
vice-versa.
Produto homogêneo ou diferenciado. Quando o oligopólio oferece produtos
homogêneos (substitutos perfeitos entre si) ele é considerado “oligopólio
puro” (indústria do cimento, aço etc.), caso contrário é “oligopólio
diferenciado” (indústria automobilística e de fumo).
Consideráveis obstáculos à entrada de novas firmas (barreiras à entrada).
Da mesma forma que no monopólio há no oligopólio presença de barreira à
entrada é exercida com o controle de matérias-primas, registro de patentes
etc.
Concorrência extra-preço, tais como propaganda, diferenciação do produto,
serviços especiais etc.
Empresas atuando como monopolista e cobrando um preço acima do custo
marginal. As empresas podem sustentar preços mais altos usando seus
excessos de capacidade produtiva para dissuadir, umas às outras, da
possibilidade de se desviarem de um preço acordado. O desvio de uma
empresa levaria as outras a retaliar com aumentos de produção.
56
5.5.3 Equilíbrio no Oligopólio
Quando firmas em um oligopólio individualmente determinam a quantidade a
ser produzida para maximizar os seus lucros, eles produzem uma quantidade de
produtos maior que a produzida por monopolistas, mas menor que a produzida por
intermédio da competição. Portanto, o preço do oligopólio é menor que o preço do
monopolista, porém maior que o preço competitivo (que é igual ao custo marginal)
5.5.4 Algumas soluções de mercado para o oligopólio
As soluções apresentadas baseiam na hipótese de que os empresários agem
independentemente, mesmo que sejam interdependentes no mercado.
1) Cartel como estratégia de maximização do lucro17. Por intermédio de
uma coalizão aberta, com as firmas-membro estabelecendo um
contrato referente ao preço e outras variáveis de mercado. Para
determinação do lucro, o grupo administrativo determina o custo
marginal (CMg) do cartel. O problema é estabelecer o preço que
maximiza o lucro. O Gráfico 27 mostra que o custo (CMg) e a receita
marginais (RMg) se cruzam no nível 0A; mas o preço estabelecido
pela administração do cartel será 0P. Dada a curva de demanda DD’,
Ap será o lucro adicional do oligopolista, considerando que os
compradores adquirirão 0q quantidades.
p
p
Preço
0 q q
Quantidade
Gráfico 27: Maximização de lucro no cartel
17 Embora os oligopolistas almejem formar cartéis e obter lucros monopolistas, muitas vezes isso não é
possível, pois há leis antitruste que proíbem explicitamente os acordos entre oligopolistas.
D CMg
E
A
D’
RMg
57
2) Os cartéis e a divisão dos mercados. Há dois métodos: a
concorrência extra-preço e as quotas. Na primeira, se fixa um preço
uniforme e a empresa pode vender à vontade, com a exigência de
que as firmas não reduzam o preço abaixo do estabelecido pelo
cartel. Para isso, a propaganda, as políticas de crédito para o
freguês, os serviços de reparo e manutenção, a qualidade na
distribuição etc. fazem o diferencial. No caso do sistema de quotas
(por região geográfica, por quantidade etc.), em geral, a emprese
que tem a mais hábil barganha se sairá melhor.
3) A vulnerabilidade dos cartéis – os cartéis estão sempre vulneráveis,
principalmente por pressões internas, ou por pressões externas dos
órgãos reguladores da concorrência. A nota, a seguir, ilustra a força
e a vulnerabilidade dos cartéis:
“O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) deve assinar, no próximo dia 28 de novembro, acordo com as empresas de cimento para encerrar os casos sobre formação de cartel no setor. A Lafarge apresentou proposta para por fim ao processo de investigação. A Lafarge, Votorantim, Camargo Corrêa, Holcim, Cimpor, Cimento Nassau, Soeicom e Itambé –que juntas detêm 90% do mercado nacional de cimento – são acusadas de combinar preços e condições de pagamentos a clientes. As empresas negam a prática de cartel. Com o acordo, as empresas de cimento podem reduzir eventuais multas e encerrar o processo em que são investigadas pelo governo. As multas poderiam chegar a R$ 3 bilhões. Caso haja o acordo, as companhias pagam, de imediato, “contribuição pecuniária”, que garante o fim da prática do cartel, além de realizarem programas internos em que não descumpram leis de concorrência. O acordo também visa que as empresas recorram à Justiça”.(Brasil Mineral OnLine n°329 - 22/11/2007)
4) Liderança-preço de uma ou mais firmas do oligopólio. Essa solução
requer uma coalizão aberta, porém as firmas devem concordar
tacitamente com a solução. Um exemplo disso é Companhia Vale do
Rio Doce com os acordos para a definição dos preços do minério de
ferro. A firma dominante, possivelmente, poderia eliminar todos os
seus rivais por intermédio de uma guerra de preço. Porém, isso
estabeleceria um monopólio com todos os seus problemas legas. Um
curso mais desejável de ação para afirma dominante é estabelecer o
preço de mercado e deixar as firmas menores venderem tudo o que
puderem àquele preço.
5.5.5 Tamanho do oligopólio e os ganhos de mercado
58
O aumento do número de empresas em um oligopólio afeta a determinação
dos preços e das quantidades do produto em questão, por intermédio de dois
importantes efeitos:
1. Efeito-quantidade: uma vez que o preço é maior que o custo marginal,
vender uma unidade adicional do produto sempre aumenta o lucro.
2. Efeito-preço: o aumento da produção aumentará o total das vendas, o que
reduzirá o preço e o lucro das vendas.
Assim, o resultado final para o oligopolista dependerá do balanço entre esses
dois efeitos. Interessante observar que, na medida em que aumenta o número de
empresas em um oligopólio, mais ele se parecerá com um mercado competitivo.
Nesse sentido, o preço tende a se aproximar do custo marginal e a quantidade
produzida do nível socialmente eficiente. Todavia, os mercados oligopolistas sempre
têm sistemas de proteção que impedem a entrada de novos concorrentes – as
famosas barreiras à entrada, conforme já foi apresentado.
5.5.6 Concorrência nos mercados de oligopólio
A concorrência preço-ativa é raramente observada nos mercados
oligopolísticos, embora as guerras de preços aconteçam ocasionalmente. No entanto,
uma guerra de preços indica apenas que os canais de comunicação (provavelmente
implícitos) entre as firmas no mercado estão temporariamente obstruídos. No curso
normal dos acontecimentos, a situação anterior à guerra de preços é rapidamente
instaurada. Nesse sentido, as principais estratégias usadas para competição entre as
firmas oligopolistas são extra-preço tais como a propaganda, os diferenciais de
qualidade e de desenho, além de outros já apresentados.
5.5.7 Teoria dos Jogos e as estratégias de cooperação em oligopólio
A teoria dos jogos estuda como os indivíduos se comportam em situações
estratégicas. Decisões estratégicas para uma empresa são aquelas que, precisando
tomar uma decisão, ela tem que considerar como as outras empresas irão reagir à sua
ação. Como em um oligopólio o número de vendedores é relativamente pequeno, cada
firma deve agir estrategicamente. Assim, cada firma sabe que o seu lucro depende
não apenas de quanto ele produz, mas de quanto todas as outras firmas produzem.
59
A teoria dos jogos e, em especial, o “dilema do prisioneiro” é uma ferramenta
muito útil para entender a racionalidade que dá suporte às ações empresariais em
uma estrutura de mercado oligopólica.
O dilema do prisioneiro
O dilema do prisioneiro revela como é difícil manter a cooperação, ainda que
isso deixasse as empresas em uma situação melhor do que se elas adotassem uma
apenas uma ação individual. É difícil de manter a cooperação porque ela não é
percebida como o melhor interesse para o jogador individual. Assim, a melhor
estratégia que se apresenta para as firmas é seguir a estratégia dominante. O caso
hipotéticos, a seguir ilustra, esse dilema.
CASO – Irã e Iraque tomam decisões quanto ao aumento na produção de petróleo
Decisão do Iraque
alta produção baixa produção
Decisão do
Irã
alta produção
Iraque ganha $40 bilhões
Irã ganha $40 bilhões
Iraque ganha $30 bilhões
Irã ganha $60 bilhões
baixa
produção
Iraque ganha $60 bilhões
Irã ganha $30 bilhões
Iraque ganha $50 bilhões
Irã ganha $50 bilhões
Se tanto o Irã quanto o Iraque optassem por baixar a produção de petróleo,
ambos ganhariam $50 bilhões. Todavia, se o Irã baixasse as suas cotas e o Iraque
aumentasse, o Iraque ganharia $60 e o Irã apenas $30, e vice-versa. Porém, o
interesse próprio faz com que seja difícil para um oligopólio manter a cooperação. No
caso em questão, uma produção baixa, com preços altos e lucros monopolistas.
Atuando individualmente, ambos resolvem elevar as suas cotas o que dá um ganho de
$40 bilhões para os dois, que é menor do que se eles optassem por cooperar.
Dessa forma, se oligopolistas tomarem decisões individualizadas, o resultado
será uma produção maior e um preço menor que o efetuado por um monopólio. O
dilema do prisioneiro mostra que agindo por interesse próprio, os indivíduos não
percebem as vantagens da cooperação, ainda que essa cooperação seja do interesse
de cada um. A lógica do dilema do prisioneiro aplica-se em muitas situações, incluindo
oligopólios. É por saber disso que os governos adotam leis antitrustes, visando
prevenir que oligopólios tomem atitudes que reduzam a competição entre as firmas
oligopolistas.
60
Considerando a grande dificuldade de cooperar, podemos indagar por que
pessoas e empresas cooperam algumas vezes? A teoria dos jogos diz que em jogos
seguidos e repetidos, as firmas que se importam com lucro futuro vão cooperar, ao
invés de “roubar” e lucrar apenas uma vez.
5.5.8 Formação de Preços em Oligopólio
Conforme já foi apresentado, a diferenciação é o principal meio de competição
em uma estrutura de mercado oligopolizada. Ela tanto pode ser via produto, quanto
por intermédio de propaganda maciça.
A competição de preço normalmente não faz parte da estratégia de mercado
de uma empresa oligopolística. Isso ocorre porque a firma pode não estar segura da
localização ou do nível da sua curva de demanda e, dessa forma, não ter certeza da
intensidade da reação das firmas competitivas a uma mudança de preços. Se uma
firma estava produzindo a quantidade X, a qual vinha sendo vendida ao preço Y
durante algum tempo, a firma pode geralmente esperar as seguintes reações a uma
mudança de preço:
Se ela aumentar o preço de seu produto e as concorrentes não elevarem
seus preços, possivelmente sua receita cairá. A parte da curva de
demanda para preços acima de Y será elástica, o que significa um
decréscimo percentual na quantidade maior do que o aumento relativo em
preço e, portanto, uma redução na receita total. Entretanto, o decréscimo
na quantidade vendida devido ao preço majorado será uma função do grau
de diferenciação do seu produto. A manutenção de sua parcela de mercado
ocorre apenas se as estratégias para a diferenciação de seu produto
tenham tido um grande sucesso
Se a firma baixar o preço do seu produto, as firmas concorrentes tenderão
também a reduzir os seus preços. Isto fará com que não haja um aumento
expressivo na quantidade vendida desta firma devido ao decréscimo de
preço, tornando a porção da curva de demanda, abaixo de Y, inelástica, o
que significa uma redução na receita total, se o preço cair.
Por causa desta interdependência, os preços, em uma estrutura oligopolista,
tendem a ser estáveis, ou seja, uma vez estabelecido o preço Y, este tende a ser
61
mantido. A diferença de preços entre as firmas é muito mais uma função do sucesso
da diferenciação do produto.
Dessa forma, dada a posição dentro da qual a firma oligopolista opera,
há uma forte tendência para a liderança de preço, caso haja uma firma
dominante no mercado. Uma firma é dominante por causa de sua grande
participação no mercado e/ou porque goza das vantagens de custos de
produção menores. A firma dominante determina seu lucro produzindo
determinada quantidade de produto e as outras firmas vendem o restante para
completar o mercado. A líder permite às seguidoras vender tudo o que elas
desejam pelo preço por ela estabelecido, e isto não representa um problema
para ela, porque o nível de produção das firmas seguidoras é limitado por suas
respectivas curvas de custo marginal.
Atividade 10 A) Analise as mudanças do mercado do minério de ferro, nos últimos seis anos e
justifique a estrutura de mercado desta commodity.
B) De acordo com a teoria dos mercados, em qual estrutura de mercado você alocaria
as commodities a seguir: cobre, bauxita metalúrgica, agregados para construção civil, petróleo, gás natural, carvão mineral, urânio. Justifique a sua escolha
tipo de mercado concorrência
perfeita monopólio
concorrência monopolista
oligopólio
grupos de commodities
justificativa
5.6 FORMAÇÃO DE PREÇOS DOS MINERAIS
O preço de uma mercadoria pode desempenhar vários papéis. Ele pode ser um
indicador para os produtores expandirem ou contraírem sua produção. Ele pode refletir
o “valor marginal social” da mercadoria. E, sobretudo, ser um “mecanismo de
racionamento”, ou seja, um indicador para restringir a oferta ou a demanda.
No caso do “período do mercado”, isto é, no curtíssimo prazo quando a oferta é
totalmente fixa, o preço é um fenômeno exclusivo de demanda, não refletindo o custo
de produção. Quando o preço do equilíbrio de mercado é estabelecido, restringe-se a
oferta fixa de bens entre aqueles indivíduos que desejam e estejam aptos a pagar.
62
Conforme é possível perceber pelo Gráfico 28, abaixo, os preços dos bens
minerais são de natureza cíclica por excelência, ou seja, passam por períodos de
crescimento, auge e declínio de forma seqüenciada ao longo do tempo.
Gráfico 28: Índice de preços dos metais- 1990-2000
O gráfico acima mostra o índice dos preços dos metais, no período de 1900 a
2000, em dólar constante de 1997. Observa-se um movimento ondulatório típico dos
ciclos econômicos. Esse comportamento resulta, de um lado, das características da
demanda mineral (demanda derivada) e, de outro, das peculiaridades da oferta
(rigidez locacional das jazidas, incerteza na fase da exploração, longo prazo de
maturação entre o investimento inicial e a produção efetivamente comercializável,
entre outros). Muito raramente esses dois movimentos do mercado convergem. Assim,
quando a demanda está aquecida a produção não responde de imediato (oferta fixa),
o que força às altas de preços. Em oposição, quando a demanda de mercado está em
baixa, não há como reduzir imediatamente o tamanho das plantas (capital fixo), o que
gera uma sobre oferta e, consequentemente, baixa de preços.
5.6.1 Fatores que controlam a estabilidade dos preços
a) fundamentos econômicos da indústria mineral – reflete, de um lado, os
custos de produção, e, de outro, o balanço entre oferta e demanda. Na atual
conjuntura, esses fundamentos sinalizam para um claro desbalanço entre oferta e
demanda, o que se reflete nos níveis dos preços das principais commodities minerais
(Para maior aprofundamento consulte o site do LME e artigo da Brasil Mineral).
Pelo lado da demanda – o dinamismo dos países asiáticos, em especial, China
e Índia, e a onda expansiva de crescimento do PIB da economia global como um todo
pressionam por maiores quantidades no mercado. Como isso não pode ocorrer, de
63
imediato, a tendência no curto e médio prazo é de alta dos preços, mas no longo prazo
esses preços certamente voltarão a cair.
Pelo lado da oferta – não está ocorrendo um aumento na produção no ritmo
desejável pelo consumo. As empresas mais fortes estão realizando fusões e
aquisições de mercado. Há gargalos em termos de disponibilidade energética, de mão
de obra, entre outros.
c) custos de produção – é importante observar esgotamento dos depósitos
em países tradicionalmente produtores; a migração da atividade mineradora para
áreas remotas e as incertezas crescentes quanto à obtenção das licenças sociais e
ambientais, além das próprias restrições ambientais resultantes, por exemplo, dos
acordos para redução de gases que provocam aquecimento global, entre outros.
d) papel da tecnologia - os preços dos bens minerais também resultam do
confronto de duas forças: escassez18 (que força alta de preço) e progresso tecnológico
(que reduz o custo e cria backstops19). Na medida em que cria alternativas mais
baratas, o progresso tecnológico gera muitas possibilidades em termos de custos de
produção e de preços. Pode contribuir para a redução do custo de produção e
conseqüente aumento da extração dos minérios ou para o uso mais comedido
(conservação dos estoques) e para a redução dos preços, em favor do maior consumo
de produtos substitutos. Daí conclui-se que a trajetória dos preços dos bens minerais é
incerta. Todavia, a dinâmica do mercado fará com que os preços tendam para um
ponto de equilíbrio, na medida em que a própria elevação dos preços acionar as forças
que fazem mover a tecnologia.
5.6.2 Influência das bolsas de valores
Nos últimos anos, como conseqüência da grande liquidez nos mercados
globais, observa-se uma crescente participação de investidores atuando no mercado
de commodities minerais. Essa presença é normalmente de natureza e especulativa,
visando à obtenção de ganhos de curto prazo, por intermédio da compra e venda de
ações. Assim, os preços nem sempre refletem os fundamentos da indústria mineral,
mas isso promove bruscas oscilações nas cotações das ações das empresas. No
primeiro semestre de 2007, a Bovespa registrou altas expressivas para as empresas
de mineração no Brasil, conforme a seguir
18 Esse ponto será aprofundado na sessão 6.3. 19 Backstop technologies – ou tecnologia de fundo, que é o substituto a um custo mais baixo.
64
Fonte: http://www.dnpm.gov.br/mostra_arquivo.asp?IDBancoArquivoArquivo=2099
Com as recentes mudanças na economia dos Estados Unidos que tem
resultado em baixas taxas de juros, os investidores internacionais com grande
disponibilidade de liquidez e ávidos por novos tipos de ativos para investir têm
procurado o mercado de commodities minerais das economias emergentes. Esse
movimento tem contribuído significativamente para elevar as ações das companhias
mineradoras.
6. RECURSOS MINERAIS E ESCASSEZ
6.1 Reservas, recursos e base de recurso
A relação entre o tempo que os processos naturais concentram os minerais em
jazidas20 comercializáveis e o tempo em que estes são extraídos (explotados) é que
leva a considerá-los como recursos exauríveis, ou não-renováveis. Parece
contraditório, no entanto, que, pelo menos em uma fração minúscula, todos os metais
estão presentes em qualquer rocha.
Para diferenciar os recursos economicamente aproveitáveis dos que estão
apenas dispersos utiliza-se os conceitos: recursos hipotéticos ou base de recursos,
recursos e reservas.
20 Corpo mineral definido geometricamente e que apresenta valor econômico.
Atividade 11 A) Acompanhe a evolução dos preços internacionais de dois metais não- ferrosos
(LME) nos últimos 10 anos.
B) Considerando-se as tendências atuais e as perspectivas do mercado desses metais,
você arriscaria fazer um prognóstico para os próximos 10 anos?
65
Cresc
en
te v
iab
ilid
ad
e e
co
nô
mic
a
Reservas representam a quantificação do mineral contido nos depósitos já
conhecidos (isto é, descobertos) e que podem ser extraídos lucrativamente,
dado os preços atuais, a tecnologia e outras condições tais como a
viabilidade ambiental e social (requisitos atualmente indispensáveis para a
efetiva extração mineral). Assim, a reserva mineral requer algum tipo de
medição física sobre o teor e quantidade de concentração mineral in situ,
além disso, é necessário que sua extração seja viável do ponto de vista
tecnológico, hoje e num futuro próximo, e que possa ser realizada com
lucro.
Recursos incluem as reservas mais: a) o mineral contido em depósitos
ainda não descobertos que são economicamente viáveis aos preços atuais
b) o mineral nos depósitos existentes, mas que não são economicamente
viáveis no momento atual. Nesse sentido, a definição de recurso não requer
o mesmo nível de detalhamento de reserva, muito embora sua existência
seja conhecida.
recursos hipotéticos ou base de recursos incluem todo o mineral existente
na crosta terrestre, já conhecido ou por conhecer. Isso inclui os recursos e
as reservas. Assim, os recursos hipotéticos são todos os recursos
conhecidos e não conhecidos, mas possíveis de existir numa determinada
porção da crosta terrestre, e capazes de serem utilizados no futuro21.
A Figura 5 ilustra os conceitos de reserva, recurso e base de recursos. A
diferenciação entre eles está relacionada ao nível de conhecimento geológico e à
viabilidade econômica da extração.
Crescente certeza geológica
Figura 5: Critérios para determinação da Base de Recurso, Recurso e Reserva Fonte: baseado em Tilton e Lagos (2007)
21 Machado (1989).
Recurso
Base de Recurso
Reserva
66
Gra
us
de
par
tica
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e ec
onôm
ica
de
recu
per
ação
cre
scen
te
(med
ida
pel
o p
reço
/cust
o)
Assim, ao longo do tempo os minerais tendem a se mover da base de recursos
para recursos e destes para reservas, das reservas para o estoque em uso e,
finalmente, do estoque em uso para o descarte e reciclagem. A fronteira que os divide
é o conhecimento geológico e a viabilidade econômica.
Uma apresentação um pouco mais sofisticada é a da caixa de MacKelvey
(Figura 6) que, da mesma forma, possibilita que se visualize a delimitação entre
reserva, recurso e recursos hipotéticos (base de recursos), a partir de critérios
tecnológicos e econômicos.
conhecidos desconhecidos
Recursos totais
Grau de certeza de existência crescente
Figura 6: Caixa de MacKelvey – critério para delimitação de reservas minerais
Na base e no topo da caixa a separação é técnica, determinada pelo nível de
conhecimento do subsolo, as setas para a direita indicam certeza de existência e nível
de conhecimento crescente. Nas laterais a separação é feita a partir de critério
econômico, que é dado pela relação preço/custo. Assim, na base esquerda
encontram-se os recursos condicionais, ainda subeconômicos, refletindo que os
custos são superiores aos preços vigentes; no topo esquerdo encontram-se as
reservas propriamente ditas. Essa delimitação, no entanto, é dinâmica e pode ser
alterada por diferentes estratégias técnicas e condições econômicas, daí a área das
reservas estar pontilhada.
Segundo Tilton e Lagos (2007), a metodologia adotada para a mensuração das
reservas de um bem mineral pode fazer muita diferença. Tilton (2003) afirma que há
duas perspectivas metodológicas para avaliação de reserva: o “paradigma do estoque
fixo” e o “paradigma do custo de oportunidade”.
a) Paradigma do estoque fixo – esse caminho mostra que a quantidade de
recurso mineral utilizável existente na crosta terrestre é dada. Assim, desde
recursos
recursos
condicionais
reservas
rela
ção
pre
ço/c
ust
o
(<1
) (>
1)
sub
eco
nô
mic
o e
conôm
ico
recu
rso
s hip
oté
tico
s
67
que os recursos da terra são finitos, a quantidade de mineral que contém é,
da mesma forma, finita.
b) Paradigma do custo de oportunidade – essa via utiliza o sistema de preços
e de outras medidas, as quais a sociedade adotada para abrir mão de
produzir uma determinada quantidade adicional de um bem mineral,
considerando sua escassez futura.
Com base nesses dois paradigmas e nas Figuras 5 e 6 é fácil perceber que
eles conduzem a distintas mensurações daquilo que é reserva e recurso. Para Tilton,
apenas a base de recursos pode ser considerada como um estoque fixo. Assim sendo
há uma margem muito ampla entre o que pode ser considerado como estoque fixo e o
custo de oportunidade para transformar recursos em reservas.
Analisando a evolução das reservas mundiais de cobre (Tabela 7), Tilton e
Lagos (2007) afirmam que a imensa quantidade de cobre contida na base de recursos
indica que a disponibilidade física não é um problema. Além do mais, “muito antes da
extração global do último átomo de cobre existente na crosta terrestre, os custos e os
preços subirão tanto que eliminará qualquer demanda ainda existente”. Esse é mais
um motivo para desconsiderar o paradigma do estoque fixo.
Tabela 7: Reserva mundial de cobre e produção anual das minas – 1950-2005
Ano Reservas (1) milhões de t
Produção das
minas (2) milhões de t
Razão entre (1)
e (2)
1950 91 2,38 38
1955 146 2,90 50
1960 154 3,94 39
1965 195 4,66 42
1970 280 5,90 47
1975 408 6,74 61
1980 350 7,20 49
1985 340 7,99 43
1990 326 9,20 35
1995 348 10,00 35
2000 340 13,20 26
2005 470 14,90 32
Fonte: Tilton e Lagos (2007, p.21)
Para os autores, é mais útil mensurar o sacrifício que a sociedade está sujeita -
ou o seu custo de oportunidade – para obter uma tonelada adicional de cobre, um
barril de petróleo, ou uma unidade de qualquer outra commodity. Entre essas medidas,
os preços reais das commodities são os mais largamente usados, tanto por questões
práticas quanto conceituais.
68
Nesse sentido, a tendência dos preços dos metais no longo prazo, de acordo
com os autores, dependerá do balanço entre os incrementos de custos, provocados
pelo esgotamento dos depósitos (necessidade de extrair minerais de baixos teores,
em lugares mais remotos e as maiores dificuldades em processar e concentrar esses
minérios), de um lado, e a redução de custos, possibilitada pelas novas tecnologias e
inovações, de outro.
Tilton & Lagos (2007) reconhecem que para as empresas é mais barato
adicionar reservas via tecnologia do que via exploração e novas descobertas. É
importante também levar em consideração a motivações econômicas, tais como o
valor do dinheiro no tempo, o valor do capital da companhia mineradora e
compensações executáveis.
BOX 1 – Fórmula para avaliação de reservas
6.2 Reservas brasileiras de bens minerais
De acordo com o Ministério da Minas e Energia (MME) e o Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), o Brasil possui um rica “geodiversidade” que
associada a extensão territorial do país (8,5 km²) - onde se inserem os Crátons
Amazônico e Brasil Central, destacando-se a Grande Sinéclise do Amazonas -
favorece a existência de jazidas de “classe internacional”22, sendo fator determinante
do destaque do país no ranking internacional (2006) nas reservas e na produção
globais das substâncias descritas no Quadro 3.
22 São depósitos minerários devidamente quantificados e de comprovada viabilidade econômica e
ambiental que representam parcela significativa das reservas globais.
Miller e Upton (1985 a e 1985b), baseados em Hotelling (1931) (o princípio de avaliação em Hotelling) apresentam uma fórmula razoavelmente simples para a avaliação das reservas de petróleo e de minerais em geral. As variáveis que os autores consideram relevantes para a avaliação do Vt = valor da reserva mineral, são:
t = tempo Rt = reserva atual pt = preço atual ct = custos unitários Considerando-se que o preço líquido, Lt , é dado por Lt = pt – ct Tem-se que, Vt = Lt Rt Ou seja, o valor total de uma reserva é o produto da quantidade de minério (reserva)
multiplicado pela diferença dos preços atuais menos os custos atuais de produção. Essa expressão tem a vantagem da simplicidade, mas a desvantagem de sobreavaliar sistematicamente as reservas, segundo Tilton (2007).
69
substância posição das reservas globais participação na produção global
Nióbio 1º 97%
Tântalo 1º 46%
Grafita 2º 27%
Alumínio 3º 8,3%
Vermiculita 3º 5,7%
Estanho 4º 12%
Magnesita 4º 9%
Ferro 5º 7,2%
Manganês 5º 2,5%
Quadro 3: Posição das reservas de minerais brasileiros no ranking global Fonte: DNPM/DIDEM
É longo e incerto o processo de geração de uma reserva mineral – desde a
pesquisa mineral (APM) até a efetiva concessão de lavra (CLO). O Gráfico 29, a seguir
mostra a evolução desses títulos de direitos minerários no Brasil, no período de 1995 a
2006.
APM – Alvarás de Pesquisa Mineral
RFPM – Relatórios Finais de Pesquisa Mineral CLO – Concessões de Lavra Outorgadas (inclusive PLGs)
Gráfico 29: Evolução dos títulos minerários no Brasil - 1995 a 2006 Fonte: http://www.dnpm.gov.br/mostra_arquivo.asp?IDBancoArquivoArquivo=1782
De acordo com o DNPM, apesar do descompasso entre as emissões de APM e
aprovações de RFPM, em 2006, houve um novo recorde histórico de 427 Portarias de
Lavras publicadas no Diário Oficial da União (DOU), representando um crescimento de
16% em relação 2005, o que significa perspectivas otimistas de ampliação e geração
de mais emprego e renda no setor mineral. Todavia não se pode deixar de perceber a
diferença abissal entre a procura por exploração mineral e a produção efetiva (CLO).
Atividade 12
A) Acompanhe a evolução das reservas de duas commodities minerais (DNPM).
Elabore uma série histórica o mais longa possível. Observe as tendências dessas commodities: estão crescendo ou decrescendo? Quais fatores (econômicos, tecnológicos, ambientais) estão
provocando essas oscilações B) Essa sua análise se identifica mais com o paradigma do “estoque fixo” ou do
“custo de oportunidade”?
70
6.3 Estratégia para Gestão de Recursos Exauríveis
Obs: Este tópico faz parte dos estudos complementares. Os alunos que
estiverem interessados, por favor acessar o texto em anexo.
7. BENS MINERAIS E DESENVOLVIMENTO
A literatura sobre a relação entre mineração e desenvolvimento econômico é
ampla e tem gerado bastante polêmica. Nesta sessão faremos uma breve síntese
sobre a visão que considera que a extração dos bens minerais provoca muito mais
problemas que soluções, tais como a “tese da maldição dos recursos” e a “doença
holandesa” e a visão que percebe no setor mineral uma oportunidade para alavancar o
desenvolvimento econômico23.
Observa-se, todavia, que nos últimos anos parece estar se formando certo
consenso em torno da idéia de que não é a existência do recurso, em si, o elemento
perturbador, mas sim a forma a sua de governança (marcos regulatórios, gestão, uso
das rendas etc). Esta é uma área promissora que permite muitas explorações e um
campo fértil para a pesquisa.
7.1. Os efeitos e conseqüências do boom mineral, a tese da maldição dos recursos e a doença holandesa e suas conseqüências
A literatura internacional tem mostrado que nem sempre a abundância de
recursos minerais significa desenvolvimento, e tamouco sustentável, para a região
onde esta riqueza está concentrada (Lewis, 1984, 1989 apud Davis,1995; Auty,1993;
Gleb,1988; Nankani, 1979). Lewis apud Davis (1995b) destaca que países ricos em
recursos minerais não possuem “vantagens”, mas sim “problemas” para se alcançar o
desenvolvimento econômico, uma vez que a robustez da mineração acaba inibindo o
desempenho de outras atividades que não conseguem competir com a força
econômica que a mineração impõe.
A mineração gera um mercado de trabalho monopsônico, ou seja, apenas
uma grande indústria absorve a força de trabalho pulverizada, e exerce um importante,
porém subserviente papel de captador de divisas para financiar o desenvolvimento
industrial em outras regiões. Essas formas de abordar a mineração são típicas da
23 Aos interessados nesta excitante temática convido a acessarem minha tese de doutorado, defendida no
Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS- http://www.unbcds.pro.br/) da Universidade de Brasília
(UnB) , cujo título é “Maldição ou Dádiva – os dilemas do desenvolvimento sustentável a partir de uma
base mineira”.
71
Resource curse thesis (tese da maldição dos recursos) e Ducth disease (Doença
Holandesa) que serão mais bem analisadas ao longo do texto.
Resource curse thesis é uma expressão difundida por Richard Auty (1993), a
partir de diversos trabalhos pioneiros que associaram o setor mineral com atraso
socioeconômico, em especial de Lewis (1984). A expressão Ducth disease surgiu nos
anos 1980, é uma metáfora do ajustamento estrutural da Holanda, nos anos 1970,
durante o boom mineral quando o país passou a extrair as ricas reservas de gás
natural no Mar do Norte. A doença holandesa é identificada como uma simbiose
negativa entre o setor mineral e os demais setores não-mineiros da economia, tais
como a agricultura e a manufatura, inibindo a competitividade destes e retardando o
processo de crescimento econômico e de geração de investimentos (Auty & Warhurst,
1993). Essas duas análises nem sempre estão separadas, embora autores como
Davis (1995a) tenham procurado distingui-las e demonstrar que seus argumentos não
apresentam fundamento nos fatos empíricos.
Lewis (1984) destaca que, de acordo com a teoria econômica convencional, a
falta de capitais, ou de poupança interna, é um dos principais pontos de
estrangulamento para que os países subdesenvolvidos alcancem o tão sonhado
desenvolvimento econômico e que uma forma de superação dessa dificuldade é o
socorro ao auxílio externo. Para uma economia mineira a renda proveniente das
exportações de bens minerais equivaleria a essa ajuda, entretanto, o autor ressalta
que ela não é capaz de impulsionar o desenvolvimento econômico e, em muitos
casos, até piora. Lewis (1984) reforça que os indicadores desses países refletem má
distribuição da renda, pouca diversificação da economia, ganhos das exportações
concentrados nos produtos primários, taxa de crescimento dos setores não-mineiros
menor do que em outras economias não-mineiras.
Lewis (1984) sugere também que, as causas da resource curse thesis estão
associadas às características específicas da mineração, tais como: 1) a existência de
renda diferencial que decorre da qualidade das jazidas; 2) ao peso relativamente
pequeno dos salários na composição global dos custos, uma vez que a oferta mineral
é relativamente inelástica à variação salarial, além disso os salários têm baixa
participação no valor adicionado e 3) grande parte do valor adicionado na mineração
ou vai para o governo ou para as empresas multinacionais, gerando problemas de
intermediação financeira e de alocação de poupança. Ressalte-se que essa visão tem
sido compartilhada por vários autores que se dedicaram ao estudo da Amazônia, tais
como Bunker (1988).
72
Outra importante característica é a instabilidade da receita mineral provocada
por flutuações do mercado internacional, devido à inelasticidade da oferta mineral no
curto prazo. Isso faz com que muitas vezes as empresas trabalhem “no vermelho”
(com prejuízo). Dessa forma, os problemas provocados pelas rendas da mineração
passam por dois níveis – nacional e regional:
1) Na escala da economia nacional provoca:
saldos excessivos no balanço de pagamentos que geram expansão dos
meios de pagamentos e inflacionam os preços internos;
tendência à valorização da moeda doméstica, o que torno os produtos
nacionais pouco competitivos no mercado internacional;
necessidade de uma definição clara, por parte do governo nacional, de
alocação dessa renda entre consumo corrente ou investimentos, o que não
ocorre facilmente;
dilemas entre a distribuição dos benefícios entre governo e empresas;
problemas sobre a intermediação financeira desses recursos;
necessidade de uma clara política de encorajamento para que as rendas
diversifiquem a economia.
2) Na escala da economia regional implica:
não-ingerência sobre as divisas geradas;
problemas de desenvolvimento regional. O incremento da renda local não
gera, necessariamente, desenvolvimento local, pois salários há
escoamento da renda quando os salários, as compras e os tributos têm
reservas para mais de uma centena de anos. É a marginalização do setor
mineiro a ameaça mais beneficiam os não residentes.
Auty & Warhust (1993) consideram a mineração como um vetor do
desenvolvimento econômico-social, mas apenas se duas condições forem atendidas.
A primeira é a promoção de investimentos que gerem riqueza alternativa para
substituir o patrimônio mineral consumido e a segunda é que danos ambientais
provocados pela atividade de mineração e de beneficiamento sejam minimizados.
Esses autores apontam que a questão da sustentabilidade na mineração tem sido
enfocada erroneamente sobre a compensação do esgotamento das reservas minerais.
Para eles, o problema do esgotamento não é a questão-chave, uma vez que muitos
exportadores de minerais imediata, dada a volatilidade dos preços, que não pode ser
73
compensada por políticas macroeconômicas. Todavia, a mineração gera vantagens às
economias mineiras nos países subdesenvolvidos, tais como: 1) divisas e aumento
das receitas governamentais e 2) rota adicional para industrialização de base mineira
(processamento do mineral, metal e produtos finais - RBI24).
Lewis (1984) argumenta que o ponto forte da mineração é a tributação. Mas
isso requer dos governantes competência e qualificação para administrar essa renda
adicional. Para autores como Gleb (1988), o uso prudente da renda mineral é muito
mais exceção que regra. Outro ponto fraco é que os altos salários pagos aos
trabalhadores do setor mineral inflacionam os salários de outros setores, o que lhes
retira competitividade. Essa situação é particularmente preocupante quando há queda
dos preços. Todavia, para esses autores o principal problema é o desperdício da
renda mineira nos períodos do boom mineral.
Nitsch (1995) defende a idéia de que a mineração é, por definição,
insustentável, por ser um recurso exaurível que se acabará mais cedo ou mais tarde.
Assim, não faz sentido falar em “sustentabilidade em mineração”.
Davis (1995) fez uma profunda revisão da Dutch disease e da resource curse
thesis, confrontando-as com indicadores de desenvolvimento de economias mineiras e
não-mineiras. El e concluiu que estas abordagens não têm fundamento nos fatos.
Dutch disease é a coexistência, na economia, de um setor que está em plena
expansão (mineral) e de outros não dinâmicos (agricultura e manufatura). O
crescimento nos ganhos de exportação do setor dinâmico provoca, necessariamente,
queda na taxa de crescimento dos outros setores não dinâmicos, por causa da
valorização cambial e da inflação dos preços que o saldo excessivo de divisas
provoca, prejudicando todos os fundamentos dos outros setores produtivos.
A resource curse thesis adota o argumento de que o desempenho de países
bem dotados em recursos minerais é pior que o de países que não apresentam essa
característica. Assim, os benefícios advindos da extração das riquezas minerais são
inferiores aos custos que a extração mineral provoca, isto é, os efeitos positivos são
inferiores aos efeitos negativos. Essa afirmação, todavia, é contestável a partir da
escolha dos paises, dos indicadores e do período de análise, entre outros.
24 Resource Base Industry (Indústria de Base Mineira).
74
Davis (1995) afirma que a resource curse thesis é muito mais exceção que
regra, não sendo uma lei de ferro, mas uma tendência que pode ser evitada com uma
cuidadosa política mineral. Para ele, a produção mineral é muito mais um reflexo do
desenvolvimento do que sua causa.
Davis (1995a) aponta que os seguintes fatores têm contribuído para que a
mineração seja encarada como uma “atividade maldita”:
elevada flexibilidade dos preços dos produtos minerais dada a instabilidade
da demanda implicando em instabilidade das receitas públicas;
a natureza “colonial” da mineração, devido o mercado mineral ser
controlado por multinacionais;
devido à sua pujança, a mineração gera um mercado de trabalho
monopsônico;
relação tipo centro/periferia quebrada, devido a exaustão das minas, com
nenhuma alternativa senão degenerar para uma situação de ultra-
subdesenvolvimento das antigas regiões produtoras;
Para Davis & Tilton (2002), há um claro desbalanço na distribuição dos custos
e benefícios que são provocados pelo setor mineral. Os custos ambientais e sociais
são bem mais percebidos nas comunidades locais, enquanto que os benefícios
principais são apropriados pelo Governo Central. Assim, não está descartada a
possibilidade de a mineração se transformar em um enclave25, na medida em que as
necessidades de suprimentos sejam importadas e muito pouco valor agregado seja,
de fato, fixado localmente. Na medida também em que a mineração demande pouco
emprego e que os empregos qualificados sejam provenientes de fora a região. Assim,
a economia produtora de bens minerais, afora alguma participação nas rendas
mineiras, recebe muito pouco.
7.2 Uso das rendas mineiras
Devido à natureza geográfica concentrada (rigidez locacional), a mineração
tende a reforçar também as disparidades de renda que já existem no interior da
economia dos países em desenvolvimento. Mas há grupos que se beneficiam dessa
concentração de renda (os chamados rent seeking26) e essa ação é negativa, uma
25 Atividade ou setor sem nenhuma, ou com poucas, ligações de compra e venda de fatores produtivos
com o restante da economia. 26 Grupos que competem por apropriação das rendas que, por sua vez, assumem várias formas: benesses
governamentais, corrupção, propina, mercado negro etc.
75
vez que aumenta a parcela da renda improdutiva sem criar, em contrapartida, novas
oportunidades de geração e de diversificação da renda. Essa renda concentrada pode
induzir à corrupção, conflitos e até guerra civil em alguns países (Quênia, Chade,
Nigéria, entre outros). Mesmo quando a renda não é desperdiçada, o resultado é
frustrante por incompetência dos gestores públicos ou pela falta de planejamento.
Considerando-se essa associação negativa entre mineração e
desenvolvimento econômico, alguns críticos sugerem que seria mais prudente que os
organismos internacionais de financiamento apoiassem atividades não-mineradoras
nos países em desenvolvimento e contribuir para conservar os minerais no subsolo.
Essa visão é, em grande parte, apoiada nos estudos de Jeffrey Sachs e
Andrew Warner que mostraram evidências de que muitos países exportadores de
bens minerais não apresentaram significativas melhorias em seus indicadores de
desenvolvimento. Todavia, há consensos e questões mal resolvidas que precisam ser
adequadamente abordadas para que se ter uma visão mais realista sobre as
possibilidades e os desafios de uma economia de base mineradora. Abaixo estão
relacionadas alguns desses consensos e questões, segundo Davis& Tilton (2002).
Há consenso de que,
a. os depósitos minerais são ativos cujas rendas, se convertidas em capital
social ou humano, podem contribuir para o desenvolvimento econômico. Se
convertidas em consumo podem reduzir a pobreza corrente. Assim, os
recursos minerais representam uma oportunidade que, de outra forma,
essas economias não poderiam usufruir;
b. alguns países souberam tirar proveito dessa vantagem. Inglaterra, Estados
Unidos e Alemanha são exemplos históricos. Na atualidade destacam-se:
Austrália, Botsuwana, Canadá, Chile, Malásia, Países Baixos e Noruega;
c. Nos casos de Zâmbia e de Serra Leoa, já é reconhecido que a expansão
da atividade mineradora agravou o problema da pobreza já existente
nesses países;
d. a principal pergunta do atual debate é conhecer se a mineração promove
ou impede o desenvolvimento econômico de países em desenvolvimento;
Quanto aos argumentos de que a mineração provoca um limitado ou fraco
desenvolvimento econômico, destacam-se:
76
a. declínio dos termos de intercâmbio – depende dos custos de produção dos
bens minerais e da média dos custos de produção da economia. Esse
assunto não é uma questão fechada.
b. volatilidade do mercado de bens minerais – economias que são
dependentes de um único bem mineral estão sujeitas a constantes
movimentos em suas receitas. Por outro lado, a depressão de preços
estimula o incremento de produtividade da indústria mineral. Algumas
economias mineiras têm criado um fundo de estabilização para fazer face
ao período de queda de preços. Se o fundo será bem ou mal utilizado
depende muito mais de boa governança e de um forte arranjo institucional,
do que do instrumento em si.
c. Dutch disease não é um problema em si e o nome é inapropriado, porque
não é nem doença e nem específico da Holanda. O processo permite
canalizar os recursos provenientes da mineração para outros setores da
economia.
d. a natureza da mineração – a mineração causa danos sociais e ambientais
nas comunidades e os principais benefícios são usufruídos pelo governo
central. Portanto, grande parte das vantagens da mineração está sendo
revertida em prol das comunidades locais, que, nos últimos anos tem
imposto sua força ao decidir sobre a implantação, ou não, de
empreendimentos mineradores. Não há consenso quanto à idéia de que a
mineração é um enclave, pois há diversos estudos que demonstram que as
rendas dos salários e as compras que as mineradoras realizam geram
significativo efeito multiplicador nas regiões mineradoras.
e. uso das rendas mineiras – o uso das rendas é largamente reconhecido,
como uma variável crítica para que a mineração promova, ou não o
desenvolvimento econômico.
Está havendo uma convergência em torno da idéia de que uma boa
governança pode prevenir a corrupção e minimizar as fricções internas que produzem
guerra e violência. A boa governança pode também se opor ao comportamento rent-
seeking e assegurar que as rendas minerais sejam reinvestidas em capital humano e
outros ativos que promovam o desenvolvimento econômico.
7.3. O timing da exploração e os custos de oportunidade
77
De acordo com Radetzki (1992) economias pobres, mas bem dotadas de
recursos minerais devem extrair as suas jazidas o quanto antes, pois a mineração
pode exercer um papel crucial no progresso econômico.
A argumentação de que é necessário conservar os recursos minerais para as
futuras gerações é refutada veementemente pelo autor, pelas seguintes razões:
1) As reservas minerais, quando extraídas, podem ser ampliadas facilmente,
como decorrência do maior conhecimento do subsolo;
2) Depósitos minerais altamente valiosos podem perder o valor em função das
mudanças tecnológicas. Esse foi o caso do nitrato do Chile;
3) A regra de Hotteling27 é uma falácia e não se aplica ao mundo real;
4) Quanto mais tardiamente se iniciar a extração, maiores serão os custos para
dotar de instituições e de capital humanos adequados para monitorar e gerenciar a
atividade mineradora. Sem essa rede de infra-estrutura a renda gerada pela extração
mineral provavelmente é dissipada no mercado internacional ou desperdiçada de outra
forma. A inexistência dessa infra-estrutura não oferece racionalidade para o
adiamento;
5) Adiar a explotação, no curto prazo, para evitar um colapso de preços pode
ter justificativa.
Radetzky (1992) contesta a regra de Hotelling nos seguintes aspectos:
1) no mundo real a qualidade das jazidas minerais varia largamente, e cada
categoria tem o seu próprio royalty;
2) descobertas de novos depósitos durante a explotação acabam complicando
a regra de Hotelling, uma vez que novas descobertas acabam ampliando os estoques;
3) a introdução do progresso tecnológico, tanto na exploração como na
explotação, também complica a validade da regra, uma vez que ela permite a
ampliação das reservas e a redução dos custos unitários de produção. Ou seja, acaba
invalidando a hipótese de royalty crescente ao longo do tempo.
Radetzky (1992), todavia, não deixa de reconhecer que há exemplos históricos
de economias mineiras que proibiram a exportação de bens minerais para assegurar a
demanda doméstica. Esses foram os seguintes casos:
Austrália, para o minério de ferro, nos anos 1940;
Canadá, para urânio, nos anos 1970, e para gás natural, nos anos 1980;
27 A regra de Hotteling (1931) é um princípio da teoria dos recursos exauríveis que afirma que “o valor de
uma unidade inexplotada (renda mineral) sobe de acordo com a variação da taxa de juros”, ou seja, que as
jazidas minerais do subsolo se valorizam como outro ativo qualquer, cujos preços se elevam na medida
em que há uma queda nas taxas de juros, e vice-versa. Essa visão dá amparo às decisões de manter
intocadas as jazidas na espera de uma queda na taxa de juros e, consequentemente, uma alta dos preços
dos ativos.
78
Holanda, para gás natural, nos anos 1970;
Venezuela, para minério de ferro, nos anos 1970.
Obs: verificar os textos complementares nos anexos.
8. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
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Atividade 14
Apresente os argumentos favoráveis e contrários à tese da maldição dos recursos e da
doença holandesa. Faça pesquisas adicionais sobre o tema.
79
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