gerson freire
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Análise de Municípios Mineiros em Relação à situação de seus lixõesTRANSCRIPT
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UNIVERSIDADEFEDERALDEMINASGERAISINSTITUTODEGEOCINCIAS
ProgramadePsGraduaoemAnliseeModelagemdeSistemasAmbientais
AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes
BeloHorizonteMarode2009
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AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes
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GersonJosdeMattosFreire
AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes
Dissertao apresentada ao Programa de Psgraduao emAnlise e Modelagem de Sistemas Ambientais doDepartamento de Cartografia e Centro de SensoriamentoRemotodoInstitutodeGeocinciasdaUniversidadeFederaldeMinasGerais, como requisitoobtenodo ttulodeMestreemAnliseeModelagemdeSistemasAmbientais.readeconcentrao:AnlisederecursosambientaisLinha de pesquisa: reas de Disposio de Resduos SlidosUrbanosOrientadora:Profa.Dra.IlkaSoaresCintraCoorientador:Prof.Dr.FriederichEwaldRenger
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Freire,GersonJosdeMattos
2009 AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes/GersonJosdeMattosFreire2009
104p.:Il.
Orientadora:IlkaSoaresCintra
Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais InstitutodeGeocinciasDepartamentodeCartografia1.AnliseAmbiental.2.ResduosSlidos.3.Geoprocessamento.4.Ttulo.
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Agradecimentos A Deus, por andar sempre comigo e pelas oportunidades que me d;
A Minha Me, Maria Izabel, que com sua fora me tirou do fundo do abismo, pelo seu
exemplo de tenacidade e vontade;
A Meu Pai, Gerson Crisstomo, onde estiver, com a certeza de que vamos nos reencontrar;
A Meu Filho, Joo Victor, amigo e companheiro de todas as horas, por seu amor
desinteressado, que me lembra a todo momento que tudo possvel;
minha Orientadora, Professora Dra. Ilka Soares Cintra, pela pacincia e boa vontade em
todas as horas;
Professora Dra. Ana Clara Mouro Moura, por sua acolhida e companheirismo. Contar com
sua amizade uma honra e um privilgio;
Ao Professor Dr. Friederich Ewald Renger, que com seu humor nico e dedicao para mim
um exemplo de docncia;
A todos os professores e funcionrios do IGC, especialmente ao funcionrio Paulo Gonalves
de Lima, do Laboratrio de Topografia;
Aos companheiros alunos dos programas de Ps-Graduao em Anlise e Modelagem de
Sistemas Ambientais e de Geografia, pela harmonia na convivncia e apoio nas disciplinas
que cursamos juntos;
s Colegas Sheyla Aguilar Santana, Renata Hungari, Ana Maria Coimbra, pela orientao e
apoio nas mais diversas dvidas;
Gegrafa Letcia Oliveira Freitas, pelo companheirismo e apoio na confeco de mapas
temticos;
Graduanda em Geografia Clarissa Malard, pela pacincia e empenho no levantamento de
dados;
Ao Engenheiro Marclio Felcio Pereira, MSc. Eng. Amrica Maria Eleuthrio Soares,
MSc.Geloga Luciana Felcio Pereira e demais companheiros de trabalho na Aluvial
Engenharia e Meio Ambiente Ltda., pelo apoio na execuo deste trabalho;
Finalmente o meu agradecimento especial ao Professor Emrito Dr. Jorge Xavier-da-Silva e
ao Tcnico Matemtico Osvaldo Elias Abdo, pela especial acolhida no LAGEOP- UFRJ, uma
oportunidade nica que tornou possvel a execuo deste trabalho;
A todos os meus amigos e companheiros de jornada, os meus sinceros agradecimentos.
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EonomedaestrelaeraAbsinto,
eaterapartedasguastornouseemabsinto,emuitoshomensmorreramdasguas,
porquesetornaramamargas.
Apocalipse8:11
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ndice 1 Introduo...........................................................................................................................1 2 Objetivos.............................................................................................................................2 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................2 2.2 Objetivos Especficos .................................................................................................2 3 Reviso da Literatura..........................................................................................................3 3.1 Os Resduos Slidos Urbanos ....................................................................................3 3.1.1 Conceituao de resduos ...................................................................................3 3.1.2 Classificao de Resduos Slidos Urbanos.......................................................4 3.1.3 Composio dos Resduos Slidos Urbanos ......................................................9 3.1.4 Gerao Per Capita ...........................................................................................12 3.1.5 Os Resduos como fonte de poluio ...............................................................13 3.2 Os RSU aps sua disposio ....................................................................................14 3.2.1.1 Fase Slida....................................................................................................15 3.2.1.2 Fase Lquida Chorume ..............................................................................16 3.2.1.3 Fase Gasosa ..................................................................................................21 3.3 Formas de disposio adotadas para os RSU ...........................................................22 3.3.1 Lixo.................................................................................................................22 3.3.2 Aterro Controlado.............................................................................................22 3.3.3 Aterro Sanitrio ................................................................................................23 3.3.3.1 Tratamento de chorume nos aterros sanitrios .............................................24 3.3.4 Usinas de Triagem e Compostagem .................................................................24 3.4 Riscos sanitrios e ambientais da disposio inadequada de RSU para os municpios 25 3.5 Legislao referente disposio de Resduos Slidos Urbanos em Minas Gerais.26 3.5.1 Marcos regulatrios iniciais..............................................................................26 3.5.2 Deliberao Normativa COPAM 07/1994 .......................................................27 3.5.3 Deliberao Normativa COPAM 52/2001 .......................................................28 3.5.4 O Programa Minas Sem Lixes........................................................................29 3.5.5 Desenvolvimento do Programa ........................................................................29 3.5.5.1 Deliberao Normativa COPAM n. 074/2004, de 02/12/2004 ...................29 3.5.5.2 Deliberao Normativa COPAM n. 75/2004 ..............................................29 3.5.5.3 Deliberao Normativa COPAM n. 81/2005 ..............................................29 3.5.5.4 Deliberao Normativa COPAM n. 105/2006 ............................................30 3.5.5.5 Deliberao Normativa COPAM n118/2008 ..............................................30 3.5.6 Legislao prevista ...........................................................................................31 3.5.7 Aes em curso poca da elaborao do presente trabalho ...........................32 3.6 Ferramentas de Geoprocessamento e Anlises Espaciais.........................................36 3.6.1 Definies.........................................................................................................36 3.6.2 Sistemas de Informao Geogrficos ...............................................................36 3.6.3 Vetor .................................................................................................................37 3.6.4 Raster................................................................................................................38 3.6.5 Comparao entre sistemas raster e Vetoriais .................................................38 3.6.6 Histrico de SIG ...............................................................................................39 3.6.7 Modelagem cartogrfica ou lgebra de mapas .................................................42 3.6.8 Operaes Locais..............................................................................................43 3.6.8.1 Reclassificao .............................................................................................43 3.6.8.2 Sobreposio.................................................................................................43 3.6.9 Operaes de vizinhana local .........................................................................44 3.6.9.1 Filtragem.......................................................................................................44
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3.6.9.2 Declividade...................................................................................................44 3.6.10 Operaes de vizinhana geral .........................................................................45 3.6.10.1 Distncia, Proximidade e Conectividade..................................................45 3.6.10.2 Criao de Buffers (Buffering).................................................................45 3.6.11 Anlise da paisagem .........................................................................................45 3.6.12 Operaes em regies.......................................................................................46 3.6.12.1 rea e permetro .......................................................................................46 3.6.13 Anlise Ambiental ............................................................................................46 3.6.13.1 Anlise de multicritrios...........................................................................47 4 Metodologia de trabalho...................................................................................................49 4.1 Metodologia de anlise dos dados de lixes desativados no Estado de Minas Gerais 50 4.2 Metodologia de Anlise de dados de Lixes em atividade no Estado de Minas Gerais 52 4.3 Metodologia de definio dos planos de informao ...............................................54 4.4 Metodologia de Sntese dos Planos de Informao ..................................................55 4.5 Definio de Fatores naturais ...................................................................................55 4.5.1 Declividade dos Locais.....................................................................................56 4.5.2 Distncia de Cursos Dgua .............................................................................57 4.5.3 Permeabilidade de solos e tipologia de aqferos.............................................58 4.5.4 Vazes crticas devido s precipitaes nos locais...........................................60 4.6 Definio de Fatores antrpicos ...............................................................................62 4.6.1 Dependncia de guas subterrneas .................................................................62 4.6.2 Gerao diria de resduos................................................................................64 4.6.3 Distncia de Ncleos Populacionais.................................................................64 4.6.4 Unidades de Conservao.................................................................................64 5 Resultados preliminares....................................................................................................65 5.1 Declividade nos lixes..............................................................................................65 5.2 Distncia de Cursos Dgua .....................................................................................66 5.3 Permeabilidade e Tipologia de Aqferos ................................................................68 5.4 Vazes crticas devido s precipitaes nos locais...................................................71 5.5 Distncia de Ncleos Populacionais.........................................................................72 5.6 Unidades de Conservao.........................................................................................74 5.7 Gerao diria de resduos........................................................................................75 5.8 Usos de recursos hdricos subterrneos ....................................................................76 5.9 Integrao dos Planos de Informao.......................................................................80 5.9.1 Pr-Processamento ...........................................................................................82 5.9.2 rvore de Deciso ............................................................................................82 6 Resultados Finais da pesquisa ..........................................................................................89 7 Discusso de resultados obtidos .......................................................................................91 7.1 Aplicao dos resultados ..........................................................................................91 7.2 Validao..................................................................................................................91 7.3 Categorizao dos municpios conforme a situao de seus lixes..........................94 8 Concluso .........................................................................................................................95 9 Referncias Bibliogrficas................................................................................................97
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Lista de Ilustraes Figura 1. Fases da formao de chorume em reas de disposio de RSU (adaptado de Qasim e Chiang, 1994) .............................................................................................................19 Figura 2. Tipologias de disposio de RSU Minas Gerais 2007 ...................................34 Figura 3. Tipologias de disposio de RSU.........................................................................35 Figura 4. Distribuio populacional de disposio de RSU ................................................35 Figura 5. Mapa do estado americano de Connecticut, produzido pelo SYMAP. ................40 Figura 6. Municpios com Lixes no Estado de Minas Gerais ............................................54 Figura 7. Diagrama explicativo da metodologia GOD. Fonte: Foster (1993)..................59 Figura 8. Declividade nos locais de disposio de resduos, por municpio........................66 Figura 9. Distncia de lixes a cursos dgua, por municpio .............................................67 Figura 10. Permeabilidade de solos em Minas Gerais .......................................................69 Figura 11. Sistemas aqferos de Minas Gerais.................................................................70 Figura 12. Precipitaes mximas em municpios com lixes em MG.............................72 Figura 13. Criao de Buffer para aferio de distncia de ncleos urbanos a reas de disposio de RSU....................................................................................................................73 Figura 14. Distncia de ncleos urbanos a reas de disposio em RSU ..........................74 Figura 15. Municpios cujos lixes interferem com unidades de conservao..................75 Figura 16. Classificao de porte de Municpios conforme a gerao diria de RSU.......76 Figura 17. Outorgas subterrneas no estado de Minas Gerais (IGAM, 2008)...................77 Figura 18. Classificao de municpios conforme consumo de gua subterrnea usos urbanos 79 Figura 19. Classificao de municpios conforme consumo de gua subterrnea usos no urbanos 80 Figura 20. rvore de decises adotada ..............................................................................83 Figura 21. Fatores Topogrficos e geolgicos ...................................................................84 Figura 22. Fatores Hidrolgicos ........................................................................................85 Figura 23. Fatores Locacionais ..........................................................................................86 Figura 24. Fatores Dinmicos ............................................................................................87 Figura 25. Fatores Naturais................................................................................................88 Figura 26. Fatores antrpicos.............................................................................................89 Figura 27. Resultados finais...............................................................................................90
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Lista de Tabelas Tabela 1. Composio de RSU.............................................................................................10 Tabela 2. Composio mdia dos resduos slidos urbanos ................................................11 Tabela 3. Composio mdia dos RSU x Renda per capita .................................................11 Tabela 4. Gerao de resduos por regio geogrfica e per capita .......................................13 Tabela 5. Gerao de RSU x populaes .............................................................................13 Tabela 6. Evoluo da composio do chorume ao longo do tempo ...................................20 Tabela 7. Processos e tipos de tratamento de chorume em Aterros Sanitrios ....................24 Tabela 8. Porte de unidades de tratamento e/ou disposio de RSU DN 07/94................27 Tabela 9. Municpios de Minas Gerais e forma de disposio de RSU adotada..................33 Tabela 10. Sntese de resultados da pesquisa em processos de licenciamento ambiental da FEAM 51 Tabela 11. Lixes em operao - Dados do Inventrio de Resduos Slidos Estaduais ....53 Tabela 12. Classes de vulnerabilidade de aqferos...........................................................59 Tabela 13. Tipologia de solos e permeabilidade ................................................................69 Tabela 14. Aqferos e caractersticas gerais .....................................................................71 Tabela 15. Classificao e atribuio de pesos e notas aos planos de informao ............81 Tabela 16. Municpios com pior classificao e suas populaes......................................91 Tabela 17. Eixos classificatrios, pesos e probabilidades de obteno aleatria de notas.93 Tabela 18. Piores notas na classificao obtida..................................................................94
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Lista de Abreviaturas e Siglas AAF Autorizao Ambiental de Funcionamento
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ALMG Assemblia Legislativa de Minas Gerais
CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem
CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental So Paulo
CMRR Centro Mineiro de Referncia em Resduos
CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
COPAM - Conselho de Poltica Ambiental COPAM Minas Gerais
COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais
DBO - Demanda Bioqumica de Oxignio
DN Deliberao Normativa
DQO - Demanda Qumica de Oxignio
EIA Estudo de Impacto Ambiental
EMATER Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural Minas Gerais
FEAM Fundao Estadual do Meio Ambiente - Minas Gerais
GEOMINAS - Programa de Uso Integrado de Geoprocessamento pelo Governo de Minas
Gerais
IBAM - IBAM - Instituto Brasileiro de Administrao Municipal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
ICMS Imposto sobre a Circulao de Mercadorias e Servios
IEF Instituto Estadual de Florestas
IGAM Instituto Mineiro de Gesto de guas
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo
LAGEOP - Laboratrio de Geoprocessamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro
LI Licena de Instalao
LO Licena de Operao
LP Licena Prvia
NARC - Ncleo de Apoio as Regionais do COPAM Minas Gerais
NBR Norma Brasileira
OMS Organizao Mundial da Sade
PCA Plano de Controle Ambiental
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PET - Politereftalato de etila
PGIRS Plano de Gesto Integrada de Resduos Slidos
PL Projeto de Lei
PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico
PVC - Policloreto de Vinila
RCA Relatrio de Controle Ambiental
RIMA Relatrio de Impacto Ambiental
RSU Resduos Slidos Urbanos
SAGA - Sistema de Anlise Geo-Ambiental
SDT Slidos Dissolvidos Totais
SGBD Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados
SIG(s) - Sistema(s) de Informao Geogrfico(s)
SLU Superintendncia de Limpeza Urbana Belo Horizonte
SST Slidos em Suspenso Totais
SUPRAM - Superintendncia Regional de Minas Gerais
UC Unidade de Conservao
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
URC Unidades Regionais Colegiadas
UTC Usinas de Triagem e Compostagem
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Resumo Desde 2001, a legislao ambiental no Estado de Minas Gerais Brasil prev que cada municpio ou consrcio de municpios deve apresentar o Projeto de Aterro Sanitrio, contemplando sistemas apropriados de drenagem pluvial, coleta dos efluentes lquidos e drenagem de gases. O processo de licenciamento exige a identificao de todas as reas no municpio que j foram, em algum momento, utilizadas para a disposio de resduos, bem como a descrio das medidas a serem adotadas para recuperao da rea do antigo lixo, caso se preveja a mudana de local de disposio. O emprego destas medidas, apesar de necessrias, vem sendo negligenciado na maior parte dos locais, gerando passivos ambientais de difcil controle e quantificao. A pulverizao dos locais gera dificuldades aos gestores municipais, tanto na fiscalizao dos locais em operao quanto na verificao da eficincia das medidas necessrias para recuperao de locais abandonados; Anlises de processos de reas de lixes que tiveram suas atividades encerradas indicam um baixo ndice de implementao destas medidas. Os custos envolvidos na total recuperao de qualquer uma destas reas indicam a necessidade de priorizao e sistematizao de aes. Este trabalho tem o objetivo de discutir a temtica de recuperao de reas j degradadas por Resduos slidos urbanos. Vrias tcnicas vm sendo utilizadas como contribuio questo de recuperao de reas degradadas, entre elas as tcnicas de geoprocessamento que, aplicadas aos dados disponveis, permitem a anlise e a obteno de diversos planos de informao homogneos para locais distintos. Palavras Chave: geoprocessamento, lixes, anlise multicritrios Abstract Since 2001, the environmental legislation in State of Minas Gerais, Brazil, foresees that every county or consortium of counties must present a Sanitary Landfill Project, contemplating the appropriate systems of pluvial drainage, liquid effluent collection and gas drainage. The licensing process requires the identification of all areas in the county that were, at some point, used for the disposition of wastes, as well as the description of the measures to be adopted for the recovery of the former landfill area, if the change of the disposal area is foreseen. The use of these measures, although necessary, has been neglected in most of the areas, generating environmental liabilities that are difficult to control and to quantify. Dispersion of the areas raises difficulties to the municipal managers, both to the inspection of the areas in operation and to the checking the efficiency of the required measures to recover the abandoned areas. Analyses of landfill areas processes, which had their activities closed, indicate a low index of implementation of these measures. The costs involved in the total recovery of any of these areas indicate the need of prioritization and systematization of actions. This paper aims at discussing the subject matter of the recovery of areas already degraded. Several techniques have been used as a contribution to the subject matter of recovery of degraded areas, among them, the geoprocessing techniques which, applied to the data available, allows the analysis and obtainment of several homogenous information plans for different areas. Key-words: geoprocessing, landfill, multi-criteria analysis
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1 Introduo Os municpios do Estado de Minas Gerais foram convocados a efetuarem o licenciamento
ambiental dos seus sistemas de disposio de resduos slidos urbanos - RSU. Desde 2001, a
legislao ambiental no estado prev que cada municpio ou consrcio de municpios deve
apresentar o Projeto de Aterro Sanitrio, contemplando sistemas apropriados de drenagem
pluvial, coleta dos efluentes lquidos e drenagem de gases. A Fundao Estadual do Meio
Ambiente (FEAM) a entidade executora do programa denominado de Minas sem Lixes e
vem exercendo aes de capacitao e fiscalizao visando a adeso das prefeituras
municipais legislao atual. O processo de licenciamento exige a identificao de todas as
reas no municpio que j foram, em algum momento, utilizadas para a disposio de
resduos. Normalmente, estas reas so denominadas lixes. Ainda, exige-se a descrio das
medidas a serem adotadas para recuperao da rea do antigo lixo, caso se preveja a
mudana de local de disposio. Estas medidas incluem cercamento, cobertura, identificao
e sistema de drenagem pluvial, dentre outras, necessrias reabilitao da rea. O emprego
destas medidas, apesar de necessrias, vem sendo negligenciado na maior parte dos locais,
gerando passivos ambientais de difcil controle e quantificao. O poder pblico municipal
tem a atribuio constitucional de gerir e dispor corretamente os resduos gerados em seu
territrio, sendo estimulado pelo Estado, para adeso ao programa Minas Sem Lixes, com o
aumento da participao destas na receita do ICMS Ecolgico. Este mecanismo, entretanto,
vem demonstrando baixa eficincia em sua capacidade de mobilizao, em especial nos
municpios de menor porte. A pulverizao dos locais gera dificuldades aos gestores do
programa, tanto na fiscalizao dos locais em operao quanto na verificao da eficincia
das medidas necessrias para recuperao de locais abandonados. Anlises de processos de
reas de lixes que tiveram suas atividades encerradas indicam um baixo ndice de
implementao destas medidas. Os custos envolvidos na total recuperao de qualquer uma
destas reas indicam necessidade de priorizao e sistematizao de aes. Alm disso, os
estudos existentes sobre o tema concentram-se na anlise de reas propcias instalao de
aterros sanitrios para disposio de Resduos Slidos Urbanos, abrindo-se a perspectiva da
discusso da temtica de recuperao de reas j degradadas.
A meta do programa Minas Sem Lixes erradicar, at o ano de 2011, 70 % dos locais de
disposio inadequada de RSU. Considerando-se somente sobre o estoque atual de 559 lixes
em operao, sero cerca de 380 locais nos quais devero ser adotadas medidas mnimas de
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controle, para evitar que os resduos se constituam em risco para a sade de populaes
vizinhas e para o meio ambiente.
Vrias tcnicas vm sendo utilizadas como contribuio questo de recuperao de reas
degradadas, entre elas as tcnicas de geoprocessamento que, aplicadas aos dados disponveis,
estes embasados em experincias anteriores e na observao da realidade, permitem a anlise
e a obteno de diversos planos de informao homogneos para locais distintos. Torna-se
oportuno o desenvolvimento de uma ferramenta de anlise que permita a categorizao dos
locais, com a proposio de medidas globais para categorias semelhantes, que unifiquem o
dilogo e facilitem a tarefa dos administradores.
Assim, com este trabalho pretende-se desenvolver uma formatao metodolgica e uma
anlise dos dados disponveis como contribuio para o entendimento da situao dos
municpios mineiros em relao aos seus lixes, categorizando-os em nveis de situao de
risco que permitam a tomada de decises em favor da recuperao de reas mais crticas.
2 Objetivos 2.1 Objetivo Geral
Desenvolver uma proposta de anlise ambiental para a rea de influncia de lixes,
utilizando as ferramentas do geoprocessamento de maneira integrada s informaes de
conformidade legal, fsica e de operao nestes locais.
2.2 Objetivos Especficos Como objetivos especficos, pretende-se:
Aplicar a ferramenta de anlise ambiental por geoprocessamento do SAGA/UFRJ,
integrando-a s condies previstas pela legislao que rege a destinao de RSU no estado
de Minas Gerais;
Prover uma ferramenta de deciso para orientar as aes futuras e/ou definir o tipo de
interveno para mxima eficincia na reabilitao ambiental da rea de influncia de lixes a
serem desativados no estado de Minas Gerais.
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3 Reviso da Literatura 3.1 Os Resduos Slidos Urbanos 3.1.1 Conceituao de resduos A conceituao legal para a temtica de resduos slidos adotada atualmente no Brasil a
prescrita pela ABNT 10.004/2004 Resduos Slidos Classificao. Esta norma foi
elaborada em 1987, passando por um processo de reviso em 2004. Essa reviso foi baseada
no Regulamento Tcnico Federal Norte-americano denominado Code of Federal Regulation
(CFR) Title 40 Protection of environment Part 260-265 Hazardous Waste
Management. O objetivo da NBR 10.004 o de classificar os resduos slidos quanto aos seus
riscos potenciais ao meio ambiente e sade pblica, para que possam ser gerenciados
adequadamente.
A NBR 10.004 define os resduos slidos como:
Resduos nos estados slidos e semi-slidos, que resultam de atividade
da comunidade de origem: industrial, domstica, hospitalar, comercial,
agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os
lodos provenientes de sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados
em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como
determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu
lanamento na rede de esgotos ou corpos de gua, ou exijam para isto
solues tcnica e economicamente inviveis, devido a uma melhor
tecnologia disponvel no Pas.
J o Projeto de Lei 1991/2007, que institui a Poltica Nacional de Resduos Slidos, em
tramitao no Congresso nacional poca da elaborao deste trabalho, apresenta em seu
Art.7, inciso XIII, a definio de Resduos Slidos como
aqueles resduos no estado slido e semi-slido, que resultam de
atividades de origem urbana, industrial, de servios de sade, rural,
especial ou diferenciada.
O PL em questo apresenta tambm as seguintes definies, em seu Art. 11.
. Resduos Slidos Urbanos: Resduos slidos gerados por residncias, domiclios,
estabelecimentos comerciais, prestadores de servios e os oriundos dos servios
pblicos de limpeza urbana e manejo de resduos slidos, que por sua natureza ou
composio, tenham as mesmas caractersticas dos gerados nos domiclios.
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. Resduos slidos especiais ou diferenciados: Aqueles que por seu volume, grau de
periculosidade, de degradabilidade ou outras especificidades, requeiram
procedimentos especiais ou diferenciados para o manejo e a disposio final dos
rejeitos, considerando os impactos negativos e os riscos sade e ao meio ambiente
. Rejeitos: resduos slidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de
tratamento e recuperao por processos tecnolgicos acessveis e disponveis, no
apresentem outra possibilidade que no a disposio final ambientalmente adequada.
Ressalte-se aqui o entendimento popular corrente de que a palavra lixo em Portugus, do latim
lix (que significa cinzas), o que os tcnicos denominam resduos slidos. Esta expresso,
resduos slidos, traz certa uniformidade de nomenclatura, pois outros graves problemas
ambientais esto relacionados com resduos lquidos e resduos gasosos (Cintra, 2003).
Considerando-se a definio de resduos como todo aquele material inservvel e no
aproveitvel, neste trabalho adotar-se- a nomenclatura Resduos Slidos, consagrada na
bibliografia.
3.1.2 Classificao de Resduos Slidos Urbanos Um resduo pode ser enquadrado em mais de uma forma de classificao. O tipo de
tratamento adotado depende da classificao dos resduos slidos. Estes so classificados de
diferentes formas, a saber: periculosidade, origem, natureza fsica e outras. Quanto
periculosidade, conforme a norma ABNT 10.004/2004 os resduos slidos podem ser
classificados como:
Classe I Perigosos: So aqueles que, em funo de suas propriedades fsicas,
qumicas ou infecto-contagiosas, podem apresentar riscos sade pblica ou ao meio
ambiente, ou ainda os inflamveis, corrosivos, reativos, txicos ou patognicos.
Classe II A No inertes: Aqueles que no se enquadram na classificao de
resduos Classe I ou resduos Classe II B.
Classe II B Inertes: - Quando amostrados de forma representativa, conforme
NBR 10.007, e submetidos aos procedimentos da NBR 10.006, no tiverem nenhum
de seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de
potabilidade da gua, excetuando-se aspecto, turbidez, dureza e sabor.
A periculosidade de um determinado resduo definida em funo do grau de inflamabilidade
(ex. plvora suja, frascos pressurizados de inseticidas, etc.), corrosividade (ex. resduos de
processos industriais contendo cidos e bases fortes), reatividade (ex. resduos industriais
contendo substncias altamente reativas com gua), toxicidade (ex. lodo de processos
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contendo altas concentraes de metais pesados) e finalmente, pela sua patogeneicidade (ex.
materiais com presena de vrus e bactrias).
Quanto a sua origem, os resduos podem ser divididos em
a) Resduos domiciliares: so os gerados nas atividades dirias em residncias,
constitudos geralmente por restos de alimentos, jornais e revistas, embalagens em geral,
papel higinico e diversos outros itens como at alguns resduos txicos;
b) Resduos comerciais: so gerados em estabelecimentos comerciais variando de
acordo com a atividade desenvolvida. So, normalmente, constitudos dos mesmos itens
encontrados no lixo domstico, porm em maior proporo;
c) Resduos urbanos: so gerados pela limpeza pblica (ruas, praas, praias,
terrenos, entre outros) e constitudos por restos vegetais diversos, corpos de animais,
embalagens;
d) Resduos de servios de sade: so gerados por hospitais, farmcias, clnicas e
outros servios de sade. Merecem cuidados especiais em seu manuseio, transporte ou
disposio final. Geralmente, o tratamento mais indicado a incinerao. Subdividem-se,
conforme a Resoluo CONAMA 358/05, em:
GRUPO A: Resduos com a possvel presena de agentes biolgicos que, por suas
caractersticas de maior virulncia ou concentrao, podem apresentar risco de
infeco. Estes subdividem-se conforme se segue.
Subgrupo A1:
1. Culturas e estoques de microrganismos; resduos de fabricao de produtos
biolgicos, exceto os hemoderivados; descarte de vacinas de microrganismos
vivos ou atenuados; meios de cultura e instrumentais utilizados para
transferncia, inoculao ou mistura de culturas; resduos de laboratrios de
manipulao gentica;
2. Resduos resultantes da ateno sade de indivduos ou animais, com
suspeita ou certeza de contaminao biolgica por agentes classe de risco 4,
microrganismos com relevncia epidemiolgica e risco de disseminao ou
causador de doena emergente que se torne epidemiologicamente importante
ou cujo mecanismo de transmisso seja desconhecido;
3. Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeitadas por
contaminao ou por m conservao, ou com prazo de validade vencido, e
aquelas oriundas de coleta incompleta;
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4. Sobras de amostras de laboratrio contendo sangue ou lquidos corpreos,
recipientes e materiais resultantes do processo de assistncia sade, contendo
sangue ou lquidos corpreos na forma livre;
Subgrupo A2:
1. Carcaas, peas anatmicas, vsceras e outros resduos provenientes de
animais submetidos a processos de experimentao com inoculao de
microorganismos, bem como suas forraes, e os cadveres de animais
suspeitos de serem portadores de microrganismos de relevncia epidemiolgica
e com risco de disseminao, que foram submetidos ou no a estudo
anatomopatolgico ou confirmao diagnstica;
Subgrupo A3:
1. Peas anatmicas (membros) do ser humano; produto de fecundao sem
sinais vitais, com peso menor que 500 gramas ou estatura menor que 25
centmetros ou idade gestacional menor que 20 semanas, que no tenham valor
cientfico ou legal e no tenha havido requisio pelo paciente ou familiares;
Subgrupo A4:
1. Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores, quando descartados;
2. Filtros de ar e gases aspirados de rea contaminada; membrana filtrante de
equipamento mdico-hospitalar e de pesquisa, entre outros similares;
3. Sobras de amostras de laboratrio e seus recipientes contendo fezes, urina e
secrees, provenientes de pacientes que no contenham e nem sejam suspeitos
de conter agentes Classe de Risco 4, e nem apresentem relevncia
epidemiolgica e risco de disseminao, ou microrganismo causador de doena
emergente que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo
de transmisso seja desconhecido ou com suspeita de contaminao com
prons.
4. Resduos de tecido adiposo proveniente de lipoaspirao, lipoescultura ou
outro procedimento de cirurgia plstica que gere este tipo de resduo;
5. Recipientes e materiais resultantes do processo de assistncia sade, que
no contenha sangue ou lquidos corpreos na forma livre;
6. Peas anatmicas (rgos e tecidos) e outros resduos provenientes de
procedimentos cirrgicos ou de estudos anatomopatolgicos ou de confirmao
diagnstica;
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7. Carcaas, peas anatmicas, vsceras e outros resduos provenientes de
animais no submetidos a processos de experimentao com inoculao de
microorganismos, bem como suas forraes; e
8. Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual ps-transfuso.
Subgrupo A5:
1. rgos, tecidos, fluidos orgnicos, materiais perfuro cortantes ou
escarificantes e demais materiais resultantes da ateno sade de indivduos
ou animais, com suspeita ou certeza de contaminao com prons.
GRUPO B: Resduos contendo substncias qumicas que podem apresentar risco
sade pblica ou ao meio ambiente, dependendo de suas caractersticas de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.
a) produtos hormonais e produtos antimicrobianos; citostticos;
antineoplsicos; imunossupressores; digitlicos; imunomoduladores; anti-
retrovirais, quando descartados por servios de sade, farmcias, drogarias e
distribuidores de medicamentos ou apreendidos e os resduos e insumos
farmacuticos dos medicamentos controlados pela Portaria MS 344/98 e suas
atualizaes;
b) resduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; resduos contendo
metais pesados; reagentes para laboratrio, inclusive os recipientes
contaminados por estes;
c) efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores);
d) efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em anlises clnicas; e
e) demais produtos considerados perigosos, conforme classificao da NBR
10.004 da ABNT (txicos, corrosivos, inflamveis e reativos).
GRUPO C: Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham
radionucldeos em quantidades superiores aos limites de eliminao especificados nas
normas da Comisso Nacional de Energia Nuclear - CNEN e para os quais a
reutilizao imprpria ou no prevista.
a) enquadram-se neste grupo quaisquer materiais resultantes de laboratrios de
pesquisa e ensino na rea de sade, laboratrios de anlises clnicas e servios
de medicina nuclear e radioterapia que contenham radionucldeos em
quantidade superior aos limites de eliminao.
GRUPO D: Resduos que no apresentem risco biolgico, qumico ou radiolgico
sade ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resduos domiciliares.
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a) papel de uso sanitrio e fralda, absorventes higinicos, peas descartveis de
vesturio, resto alimentar de paciente, material utilizado em anti-sepsia e
hemostasia de venclises, equipo de soro e outros similares no classificados
como A1;
b) sobras de alimentos e do preparo de alimentos;
c) resto alimentar de refeitrio;
d) resduos provenientes das reas administrativas;
e) resduos de varrio, flores, podas e jardins; e
f) resduos de gesso provenientes de assistncia sade.
GRUPO E: Materiais perfuro cortantes ou escarificantes, tais como: lminas de
barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodnticas, pontas
diamantadas, lminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; micropipetas; lminas e
lamnulas; esptulas; e todos os utenslios de vidro quebrados no laboratrio (pipetas,
tubos de coleta sangunea e placas de Petri) e outros similares.
e) Resduos de Portos, Aeroportos, Terminais Rodovirios e Ferrovirios: possuem
legislao prpria e no se encaixam nos urbanos e nos comerciais, pois podem hospedar
doenas provenientes de outras cidades, estados ou pases. So constitudos por restos de
alimentos e material de higiene pessoal;
f) Resduos industriais: so gerados pelas atividades industriais apresentando
caractersticas diversificadas, pois dependem do tipo do produto manufaturado, podendo ser
exemplificados por leos, plsticos, papel, madeira, borracha, metal, vidros, fibras, resduos
alcalinos e cidos;
g) Resduos radioativos: so provenientes das atividades nucleares (resduos de
atividades com urnio, csio, trio, radnio e cobalto) devendo ser manuseados apenas com
equipamentos e tcnicas adequadas;
h) Resduos agrcolas: gerados nas atividades pecurias e agrcolas como embalagens de
rao, adubos, etc. O lixo proveniente de fertilizantes qumicos e pesticidas so tidos como
txicos e necessitam de tratamento especial;
i) Resduos da Construo Civil Aqueles oriundos de atividades especficas de
edificaes. Conforme a Resoluo CONAMA n. 307, de julho de 2002, classificam-se em:
Classe A: so os resduos reutilizveis ou reciclveis como agregados, tais
como os oriundos de:
Pavimentao e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos
provenientes de terraplanagem;
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Edificaes: componentes cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de
revestimento), argamassa e concreto;
Processo de fabricao e/ou demolio de peas pr-moldadas em
concreto (blocos, tubos, meios-fios) produzidas nos canteiros de obras.
Classe B: so os resduos reciclveis para outras destinaes, tais como:
plsticos, papel/papelo, metais, vidros, madeiras e outros.
Classe C: so os resduos para os quais no foram desenvolvidas tecnologias
ou aplicaes economicamente viveis que permitam a sua
reciclagem/recuperao, tais como os produtos fabricados com gesso.
Classe D: so os resduos perigosos oriundos do processo de construo, tais
como: tintas, solventes, leos, amianto e outros, ou aqueles contaminados
oriundos de demolies, reformas e reparos de clnicas radiolgicas,
instalaes industriais e outros.
3.1.3 Composio dos Resduos Slidos Urbanos A composio dos resduos slidos variada, podendo apresentar os materiais indicados na
Tabela 1.
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Tabela 1. Composio de RSU Categoria Exemplos
Matria orgnica
putrescvel
Restos alimentares, flores, podas de rvores.
Plstico
Sacos, sacolas, embalagens de refrigerantes, gua e leite, recipientes de produtos de
limpeza, beleza e alimentcios, esponjas, isopor, utenslios de cozinha, ltex, sacos de
rfia.
Papel e papelo Caixas, revistas, jornais, cartes, papel, pratos, cadernos, livros, pastas.
Vidro Copos, garrafas de bebidas, pratos, espelhos, embalagens de produtos de limpeza, beleza
e alimentcios.
Metal ferroso Palha de ao, alfinetes, agulhas, embalagens de produtos alimentcios.
Metal no- ferroso Latas de bebidas, restos de cobre e chumbo, fiao eltrica
Madeira Caixas, tbuas, palitos de picol e de fsforos, tampas, mveis, lenha.
Panos, trapos, couro
e borracha
Roupas, panos de limpeza, pedaos de tecido, bolsas, mochilas, sapatos, tapetes, luvas,
cintos, bales.
Contaminante
qumico
Pilhas, medicamentos, lmpadas, inseticidas, raticidas, colas em geral, cosmticos, vidro
de esmaltes, embalagens pressurizadas, canetas com carga, papel carbono, filme
fotogrfico.
Contaminantes
biolgicos
Papel higinico, cotonetes, algodo, curativos, gazes e panos com sangue, fraldas
descartveis, absorventes higinicos, seringas, lminas de barbear, cabelos, plos,
embalagens de anestsicos, luvas.
Pedra, terra e
cermica
Vasos de flores, pratos, restos de construo, terra, tijolos, cascalho, pedras decorativas.
Diversos Velas de cera, restos de sabo e sabonete, carvo giz, pontas de cigarro, rolhas, cartes de
crdito, lpis de cera, embalagens longa-vida, embalagens metalizadas, sacos de
aspiradores de p, lixas e outros materiais de difcil identificao.
Fonte: Manejo de Resduos Slidos Urbanos Aterros Sanitrios PUC - Rio http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/rsudoutrina_01.pdf - acessado em 03/02/2009
A Tabela 2 apresenta a composio gravimtrica dos resduos slidos urbanos em Belo
Horizonte e no Brasil.
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Tabela 2. Composio mdia dos resduos slidos urbanos
Tipos de materiais presentes nos resduos slidos urbanos Brasil
% em peso
Belo Horizonte
% em Peso
Borracha 0,3 0,4
Couro 0,1 0,2
Madeira 0,1 0,6
Matria orgnica 52,5 64,4
Metais ferrosos 1,4 2,5
Metais no ferrosos 0,9 0,2
Papel e papelo 24,5 13,5
Plsticos 2,9 6,5
Trapos 0,2 1,5
Vidros 1,6 2,2
Outros 15,5 8,0
TOTAL 100 100
Fonte: Modificado de Cintra, 2003; Pereira Neto, 1992 / SLU
J a Tabela 3 relaciona os percentuais de materiais encontrados nos RSU, e sua variao em
funo da renda per capita em diversos pases.
Tabela 3. Composio mdia dos RSU x Renda per capita
Tipos de materiais
presentes nos RSU
Pases de baixa renda
per capita
Pases de mdia renda
per capita
Pases de elevada renda
per capita
Orgnicos
Restos de alimento 40-85 20-65 6-30
Papel a e papelob 1-10 (a+b) 8-30 (a+b) 20-45 e 5-15
Plsticos 1-5 2-6 2-8
Txteis 1-5 2-10 2-6
Borracha e couro 1-5 2-10 0-2
Podasc e madeirad 1-5 (c+d) 1-10 (c+d) 10-20 e 1-4
Inorgnicos
Vidro 1-10 1-10 4-12
Metais em geral 1-5 1-5 3-12
Terra, p, cinzas 1-40 1-30 0-10
Fonte: HAMADA, J. - Caracterizao de Resduos Slidos UNESP Bauru, 2007
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3.1.4 Gerao Per Capita A gerao de resduos slidos vem merecendo a ateno de diversos analistas ao longo dos
anos. Desde os estudos clssicos de McBean et al, que definiam o padro de gerao em
funo da populao das comunidades variando de 0,91 a 1,63 kg/habitante/dia, os valores
vm sendo aprimorados e adaptados realidade dos locais envolvidos. A evoluo envolve
no s a metodologia para o levantamento dos dados com tambm a natureza dos resduos
gerados. Esta vem sofrendo alteraes com o tempo, com a introduo, no padro de consumo
das famlias, de novos materiais antes inexistentes, como os plsticos, PET (Politereftalato de
etila) e PVC (Policloreto de Vinila) em suas diversas formas, alm do desenvolvimento de
novas formas de embalagem e acondicionamento de produtos alimentcios e de higiene. Alm
disso, bens semidurveis como os produtos da indstria eletro-eletrnica tiveram seu uso
disseminado ao longo dos ltimos vinte anos e seu descarte necessita ser levado em
considerao nas estimativas mais recentes.
Em todas as anlises efetuadas, os avanos do consumo e da industrializao adicionados
integrao de pequenas comunidades aos mercados indicam que vem aumentando a gerao
de RSU em todo o mundo. Nos pases ditos desenvolvidos, os ndices atingem nos dias de
hoje cerca de 1,77 kg/hab./dia (ROSA et al., 2001) Dados da Organizao Pan-Americana da
Sade - OPAS (1999) indicam uma produo de 0,92 kg/hab./dia; Para as grandes cidades
brasileiras, os dados mais recentes indicam que a gerao de resduos slidos domiciliares no
Brasil de cerca de 0,6kg/hab./dia e mais 0,3kg/hab./dia de resduos de varrio, limpeza de
logradouros e entulhos (IPT/CEMPRE, 2000). No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional
de Saneamento Bsico (PNSB, 2000), coletam-se coleta cerca de 228.413 toneladas de
resduos slidos diariamente, sendo 125.258 toneladas referentes aos resduos domiciliares. A
Tabela 4 apresenta a populao brasileira e sua distribuio regional, a quantidade de resduos
slidos gerados diariamente e a gerao por pessoa e por regio.
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Tabela 4. Gerao de resduos por regio geogrfica e per capita Populao total Gerao de Resduos (tonelada/dia)
Valor Percentual
(%) Valor
Percentual
(%)
Gerao per capita
(kg/hab./dia)
Brasil 169.799.170 228.413 100,0 1,35
Norte 12.900.704 7,6 11.067 4,8 0,86
Nordeste 47.741.711 28,1 41.558 18,2 0,87
Sudeste 72.412.411 42,6 141.617 62,0 1,96
Sul 25.107.616 14,8 19.875 8,7 0,79
Centro-Oeste 11.636.728 6,9 14.297 6,3 1,23
Fonte: PNSB (IBGE, 2000)
De uma forma geral, os valores apresentados na Tabela 4 so compatveis com o
levantamento realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da
Repblica, em 1998, quando foram obtidos os seguintes valores: 0,58 Kg/hab./dia para a
Regio Norte; 1,08 Kg/hab./dia para a Regio Nordeste; 1,3 Kg/hab./dia para a Regio
Sudeste; 0,95 Kg/hab./dia para a Regio Centro-Oeste; e 0,89 Kg/hab./dia para a Regio Sul.
Em relao gerao de resduos domiciliares, a PNSB indica um valor mdio nacional de
0,74 kg por habitante por dia; J a Tabela 5 sintetiza os dados da CETESB/IBGE (2000).
Tabela 5. Gerao de RSU x populaes Classificao Populao Kg/habitante/dia Toneladas/dia %
At 100 mil hab. 84.433.133 0,4 33.773 39
100 e 200 mil hab. 16.615.355 0,5 8.308 10
200 e 500 mil hab. 22.040.778 0,6 13.224 15
Acima de 500 mil
hab.
45.777.000 0,7 32.044 37
Total 169.544.443 0,52 87.349 100
Fonte: Modificado de CETESB (2001) e Censo IBGE (2001)
3.1.5 Os Resduos como fonte de poluio A disposio inadequada de resduos slidos urbanos constitui-se numa considervel fonte de
propagao de poluentes. Estes poluentes podem alcanar as guas superficiais ou
subterrneas atravs do lanamento direto, precipitao, escoamento pela superfcie do solo
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ou infiltrao. As fontes de poluio da gua podem ser caracterizadas como localizadas ou
pontuais, quando o lanamento da carga poluidora feito de forma concentrada, em
determinado local, e no-localizadas ou difusas, quando os poluentes alcanam um manancial
de modo disperso, no se determinando um ponto especfico de introduo. O chorume,
resduo gerado nos processos de degradao dos resduos slidos urbanos em locais de
disposio de resduos slidos urbanos (Santos, 2004) um lquido que apresenta
caractersticas de altas cargas de contaminantes orgnicos e inorgnicos e sendo assim,
representam uma fonte de poluio significativa, seja em grandes centros ou pequenos
aglomerados urbanos. A percolao do chorume resultante de depsitos de resduos no solo
caracterizada como difusa, no se podendo determinar com exatido o grau de contaminao
gerado. Ressalte-se que as guas superficiais e subterrneas se encontram interligadas na
maioria dos casos; Em algumas situaes, os mananciais de superfcie proporcionam a recarga
dos reservatrios subterrneos, enquanto, em outras, as guas do subsolo descarregam em
recursos hdricos superficiais. Assim, um manancial de superfcie, poludo, pode causar a
poluio de um aqfero subterrneo e vice-versa, conforme ser abordado em outra seo
deste trabalho; Alm disso, a disposio de RSU associa, poluio da gua, alteraes
provocadas no solo ou no ar. O carreamento de resduos pelas chuvas e a precipitao de
impurezas do ar constituem tambm mecanismos de poluio da gua.
A disposio inadequada dos resduos slidos constitui um grande problema para o mundo
moderno. O aumento gradual do consumo, conseqentemente da gerao e descarte de
resduos, contribui para o agravamento da situao de reas que funcionavam como depsito
de lixo e que hoje se encontram contaminada com os diferentes tipos de materiais l
depositados. Em sua maioria, tratam-se de substncias txicas que tiveram seu uso
disseminado durante a vida til do lixo.
Assim, as reas ocupadas pelos chamados lixes destacam-se por seu potencial de danos
ambientais, sanitrios e sociais, necessitando de especial ateno por parte da sociedade. Este
trabalho tem seu enfoque nestas reas.
3.2 Os RSU aps sua disposio
Aps a disposio dos RSU no solo, inicia-se o processo de decomposio e transformao.
Estes processos sero analisados no presente trabalho dando enfoque separadamente a cada
um das fases nas quais os RSU se transformam: Fase slida, fase lquida e fase gasosa.
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Entretanto a fase lquida denominada chorume ou lquido lixiviado requer maior detalhamento
por se constituir em elemento contaminante dos corpos hdricos.
3.2.1.1 Fase Slida Conforme se viu, a fase slida composta principalmente por restos de alimentos, papel e
papelo, plsticos, txteis, borracha e couro, podas e madeira, alm dos inorgnicos vidro,
metais em geral, terra, p e cinzas. A composio bastante variada, utilizando-se para a sua
caracterizao os seguintes parmetros e propriedades fsicas:
Peso Especfico
Trata-se do resultado da diviso da massa dos resduos pelo seu volume. O peso especfico do
lixo varia em funo de sua composio, e aumenta proporcionalmente com a profundidade,
como resultado do peso da pilha de lixo e a compactao diria aplicada ao aterro, sendo
aceitos valores entre 3 a 18 KN/m3 (Carvalho, 2008).
Umidade
O teor de umidade em aterros de resduos slidos dependente de vrios fatores incluindo:
composio e condies iniciais do lixo, condies climticas do local, procedimento de
operao do aterro, presena de lixiviao, cobrimento e quantidade de umidade gerada pelo
processo biolgico de degradao dos resduos. O teor de umidade do lixo slido pode ser
expresso de acordo com o peso mido ou peso seco. Conforme Carvalho (op.cit.) so aceitos
valores entre 15 e 40 % (Carvalho, 2008).
Tamanho das partculas e sua distribuio
analisada com peneiras previamente calibradas. De um modo geral, ocorre uma tendncia
de aumento da quantidade de material granular fino com a idade do lixo, servindo este
parmetro para indicar sua idade.
Capacidade de campo
definida como a quantidade mxima de gua retida na massa de RSU em oposio fora
da gravidade. Seus valores reportados na literatura apresentam uma faixa muito ampla. Isto
pode ser explicado pela influncia de diferentes fatores, tais como a composio, peso
especfico, porosidade e idade dos RSU (YUEN et al., 2001).
Porosidade
a caracterstica de um meio poroso, permitir um lquido fluir entre suas partculas com
maior ou menor velocidade. Representa o tempo necessrio para que um lquido percorra os
vazios de uma massa de solo, ou de resduos (YUEN, op.cit.).
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A fase slida dos Resduos Slidos Urbanos deve ser analisada pelos seus principais aspectos
causadores de impactos negativos no meio ambiente, a saber: a queima, a transmisso de
vetores e a coleta irregular de materiais. Nos lixes, devido forma irregular de disposio e
s reaes fsico-qumicas presentes, ocorre um aumento de temperatura no macio de
resduos que favorece a combusto, espontnea ou induzida por agentes. A queima destes
conduz gases txicos para a atmosfera bem como metais pesados e outros elementos, que se
constituem em risco ao meio ambiente e sade das populaes vizinhas. Estas tambm so
afetadas diretamente pelos vetores de doenas e pela atividade de catadores.
3.2.1.2 Fase Lquida Chorume Conforme discutido anteriormente, um dos parmetros importantes na caracterizao dos
resduos slidos urbanos o teor de umidade, que representa a quantidade de gua na massa
de resduos. Est gua tender a solubilizar substncias presentes nos resduos slidos,
principalmente as de composio orgnica, dando origem a uma mistura lquida complexa
com composio qumica varivel (qualitativa e quantitativa) denominada chorume.
Chorume pode ser definido como a fase lquida da massa de lixo aterrada, que percola atravs
desta removendo materiais dissolvidos ou suspensos e tornando-se assim um lquido
lixiviado. Na maioria dos aterros sanitrios, o chorume composto basicamente pelo lquido
que entra na massa aterrada de lixo, advindo de fontes externas, tais como sistemas de
drenagem superficial, chuva, lenol fretico, nascentes e aqueles resultantes da decomposio
dos resduos slidos urbanos.
SegundoYUEN et al (2001) a gerao de chorume pode ser influenciada pelos seguintes
fatores:
Climatolgicos e correlatos;
Regime de chuva e precipitao pluviomtrica anual;
Escoamento superficial;
Infiltrao;
Evapotranspirao e temperatura;
Caractersticas do resduo slido;
Composio;
Densidade;
Teor de umidade inicial;
Tipo de disposio:
Caractersticas de permeabilidade do aterro ou lixo;
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Idade do aterro ou lixo;
Profundidade do aterro ou lixo.
A quantidade de matria orgnica presente no resduo de Belo Horizonte de 64,4% e no
Brasil superior a 50%, conforme apresentado na Tabela 2 (composio mdia dos resduos
slidos urbanos), citado de Pereira Neto (2002). A presena da matria orgnica nos resduos
slidos urbanos a principal responsvel pela gerao do chorume, que possui elevada carga
orgnica capaz de contaminar o lenol fretico e cursos dgua localizados nas proximidades.
A qualidade do chorume principalmente o resultado das caractersticas fsicas, qumicas e
processos biolgicos assim como de outras variveis entre as quais a circulao da gua, os
nutrientes e a presena de substncias txicas ou de compostos ou elementos inibidores. O
processo gradual decomposio de RSU foi dividido em vrias fases (Qasim e Chiang, 1994;
McBean et al., 1995; Oweis e Khera, 1998; McBean e Rovers, 1999). Apesar da grande
variabilidade de composio gravimtrica presente nos aterros e lixes, o processo de
decomposio da matria orgnica basicamente o mesmo, caracterizando-se inicialmente
por uma fase aerbia, de pequena durao, e vrias fases anaerbias.
Na fase inicial (descrita como "Fase I", por McBean e Rovers, 1999) h o predomnio de uma
decomposio aerbia. Esse processo relativamente rpido, se comparado decomposio
anaerbia. Durante essa fase uma grande quantidade de calor produzida e a temperatura do
aterro sobe consideravelmente acima da temperatura ambiente. Picos de temperatura de at
71o C podem ocorrer de poucos dias a poucas semanas aps a aplicao de cobertura (Oweis e
Khera, 1998). Nessa fase no produzida uma quantidade muito grande de chorume, uma vez
que se espera que a gua resultante no processo esteja reagindo com sais altamente solveis,
tais como Nacl e outros (Qasim e Chiang, 1994). Esta fase normalmente muito curta,
durando menos de um ms, devido quantidade limitada de oxignio no aterro e alta
demanda de oxignio dos RSU.
Quando o oxignio se esgota, predomina a decomposio anaerbica por microrganismos.
Nesta fase, denominada Fase II" (McBean e Rovers, op.cit.), grande quantidade de cidos
graxos, como o cido actico (CH3COOH), e dixido de carbono so produzidos. Esses
cidos reduzem o pH para valores entre 4 e 5. A condio de baixo pH contribui para
mobilizar materiais inorgnicos como os metais pesados. Chorume produzido durante esta
etapa geralmente caracterizado por elevados valores de DBO (geralmente superiores a
10.000 mg/L) e elevadas propores de DBO/DQO (geralmente superiores a 0,7), o que
indica que altas propores de materiais orgnicos solveis so facilmente biodegradveis.
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A decomposio anaerbia muito favorecida quando a populao de metanobactrias
aumenta. O metano , depois do CO2, o gs que mais contribui para o efeito estufa de origem
antropognica, tornando-se um dos gases importantes no estudo das alteraes climticas
induzidas pelo homem. A produo de gs metano na natureza ocorre pela degradao de
material orgnico por bactrias em meios livres de oxignio (meios anaerbicos), tais como
sedimentos aquticos, trato gastrointestinal de alguns animais e nos esgotos. Vrios fatores
qumicos e biolgicos influenciam a produo de metano em determinado meio, destacando-
se a temperatura, o pH e a disponibilidade de alimento. As bactrias produtoras de metano,
denominadas metanobactrias, podem processar apenas um pequeno nmero de compostos
para o seu crescimento.
cidos volteis e outros materiais orgnicos so, portanto, convertidos em metano e dixido
de carbono. Assim, a concentrao de cidos volteis reduzida a nveis mais baixos, e a
composio gasosa torna-se uma mistura de dixido de carbono e metano. O pH comea a
subir, o que favorece a produo de metano ("Fase III-IV, McBean e Rovers, op.cit.).
Prximo ao patamar de pH neutro, a condutividade cai porque uma menor quantidade de
materiais inorgnicos solubilizada. O potencial redox deve ser menor do que durante as
fases precedentes da decomposio anaerbia, refletindo o aumento da produo de metano e
aumento no pH (Qasim e Chiang, 1994). Esta etapa dura anos, ou mesmo dcadas.
A matria orgnica nos aterros varia desde compostos de cidos volteis com baixo peso
molecular at compostos de intermedirio e alto peso molecular. A biodegradabilidade da
matria orgnica em chorume geralmente inversamente proporcional ao peso molecular dos
diversos componentes da matria orgnica, ou seja, um peso molecular mais baixo indica um
maior grau de biodegradabilidade. No estgio seguinte, a taxa de decomposio bacteriana
pode diminuir devido ao esgotamento do substrato ("Fase V", McBean e Rovers, op. cit.).
Lentamente, pores de aterro podem restabelecer condies aerbicas enquanto guas com
altos teores de oxignio continuarem a percolar atravs do aterro (Qasim e Chiang, 1994).
O resultado que o chorume geralmente composto de centenas de contaminantes orgnicos
e inorgnicos classificados em quatro grupos como se segue.
1. Compostos orgnicos antropognicos, provenientes diretamente de produtos qumicos
de uso domstico ou industrial;
2. Matria orgnica, que consiste principalmente do produto de degradao de matria
orgnica slida nos resduos, que tipicamente tm concentraes inferiores a 1 mg/L;
3. Substncias inorgnicas incluindo clcio, magnsio, sdio, potssio, amnia, ferro,
mangans, cloretos, sulfatos e bicarbonatos;
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4. Metais pesados, incluindo o cdmio, cromo, cobre, chumbo, nquel e zinco.
Figura 1. Fases da formao de chorume em reas de disposio de RSU (adaptado de Qasim e Chiang, 1994)
O alto grau de diferenciao interna e os diversos processos, ocorrendo simultaneamente em
cada ponto da massa de resduos, levam os autores a propor outros modelos para a
decomposio; Assim, o processo gradual decomposio de RSU foi dividido em vrias fases
(Qasim e Chiang, 1994; McBean et al., 1995; Oweis e Khera, 1998; McBean e Rovers, 1999).
Apesar da grande variabilidade de composio gravimtrica presente nos aterros e lixes, o
processo de decomposio da matria orgnica basicamente o mesmo, caracterizando-se
inicialmente por uma fase aerbia, de pequena durao, e vrias fases anaerbias. Alguns dos
autores citados dividem o processo em duas fases somente (aerbica e anaerbica), outros em
trs ou quatro fases, com diferentes divises do processo anaerbico, conforme discutido por
CINTRA (2003). O chorume recolhido a partir de um nico local dentro de um aterro
sanitrio bastante varivel ao longo do tempo. Alm disso, a heterogeneidade espacial na
qualidade do chorume tambm pode ser observada, por exemplo, alguns locais dentro de um
aterro sanitrio ou lixo podem estar em uma dada fase de decomposio, enquanto outros
locais se encontram em diferentes estgios de decomposio.
A Tabela 6 apresenta a evoluo da composio fsico-qumica do chorume ao longo do
tempo.
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Tabela 6. Evoluo da composio do chorume ao longo do tempo Idade do aterro
Parmetros Unidade de anlise 1 ano 5 anos 16 anos
Alcalinidade (CaCO3) mg/l CaCO3 800-4.000 5.810 2.250
Cdmio mg / l -
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chorume contm matria orgnica tanto dissolvida como em suspenso coloidal. A
caracterstica mais marcante que a matria orgnica do chorume aps percolao em mais
de 30 metros de camada de aterros apresenta-se com baixa biodegradabilidade. A DQO do
chorume velho tem variado na faixa de 1200 a 2200 mg O2/l. O chorume contm sais,
principalmente cloretos e bicarbonatos de sdio e potssio, e em menores concentraes
bicarbonato de clcio e magnsio. As concentraes de slidos totais dissolvidos variam de
10.000 a 20.000 mg/L, com e sem recirculao do chorume pelo aterro respectivamente. A
presena de nitrognio amoniacal relevante introduzindo um carter txico ao chorume
(principalmente para a biota aqutica). A amnia, por sua solubilidade e altas concentraes
um importante traador da contaminao do chorume nos corpos hdricos. Alm disso,
anlises que permitam detectar a presena de metais pesados no devem ser negligenciadas.
A composio qumica do chorume varia muito, dependendo da idade do aterro e dos eventos
que ocorreram antes da amostragem do mesmo. Conforme HAMADA (1997), se o chorume
coletado durante a fase cida, o pH ser baixo, porm parmetros como DBO, Coliformes
Totais, DQO, nutrientes e metais pesados devero ser altos. Contudo durante a fase
metanognica o pH varia entre 6,5 e 7,5 e os valores dos parmetros citados previamente
sero bastante menores.
3.2.1.3 Fase Gasosa J se viu como as reaes qumicas presentes no macio de resduos geram gases,
principalmente metano e outros compostos volteis. Enquanto que nos aterros estes gases so
drenados atravs de sistema de coleta especficos, nos lixes estes elementos so desprezados,
ocorrendo um contnuo processo de dissipao destes gases na atmosfera. Caractersticas
fsicas dos macios podem favorecer a formao de bolses de gs altamente inflamveis e
por vezes explosivos, com os conseqentes riscos s pessoas envolvidas no manuseio de
resduos. As taxas de gerao de gases so variveis em funo principalmente da composio
dos resduos e dos teores de matria orgnica presente; Entretanto, consideram-se aceitveis
para efeito de dimensionamento de sistemas de drenagem de gs os valores de 0,05 m3/kg/ano
(Oliveira, 2007). Os gases gerados em lixes e seu desperdcio traduzem-se em perdas
econmicas, uma vez que deixam de ser aproveitados para a gerao de energia. Os estudos
sobre a gerao de metano no aterro da Cachimba, que recebe o lixo de Curitiba, indicaram
um receita potencial de R$ 268,9 milhes ao longo de um perodo de 18 anos (Oliveira, op.
cit.). Outras municipalidades nas quais a coleta realizada corretamente reduzem gastos com
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energia, como o caso de Hong-Kong, na China, onde o gs proveniente dos aterros
responsvel por at 6 % da oferta energtica (LI, 2002).
3.3 Formas de disposio adotadas para os RSU Apesar da presena do tratamento em suas diferentes modalidades, no Brasil predominam
como forma de disposio adotadas para os RSU os Lixes, os Aterros Controlados e em
muito menor escala os Aterros Sanitrios. A situao no diferente para Minas Gerais,
embora algumas localidades tenham passado a adotar as Usinas de Triagem e Compostagem.
3.3.1 Lixo Conforme o Manual de Gerenciamento Integrado, IPT/2000, lixo uma forma inadequada
de disposio final inadequada de resduos slidos municipais, que se caracteriza pela simples
descarga de resduos em determinadas reas, sem medidas de proteo ambiental e sem
proteo a sade pblica. Est localizado em reas sem preparao anterior e que no tm
nenhum sistema de tratamento de efluentes lquidos; Estes percolam atravs do solo
conduzindo substncias txicas e contaminantes para o lenol fretico. A ausncia de
qualquer sistema de mitigao ou controle favorece a proliferao de moscas, aves necrfagas
como urubus, harpias e alguns tipos de gavio, alm de ratos e outros pequenos animais, que
se transformam em vetores de agentes patognicos; Ao dano ambiental dessas reas est
normalmente associado a presena de catadores de lixo, em busca de materiais reciclveis
com aproveitamento econmico. Entretanto, no se adotam procedimentos que evitem as
conseqncias sociais negativas, como o isolamento social dos catadores. Os lixes
apresentam tambm grande impacto sobre a paisagem e sua simples presena causa
desconforto e traz a desvalorizao das reas adjacentes. As conseqncias da operao de
lixes se estendem por vrios anos; Como estas reas se situam normalmente nas periferias
das cidades, a expanso urbana aumenta os riscos de contaminao das populaes e de
acidentes relacionados instabilidade geotcnica e s emisses de gases, mesmo muitos anos
aps o encerramento das atividades de disposio de resduos no local.
3.3.2 Aterro Controlado O aterro controlado uma forma de disposio criada para mitigar os efeitos adversos do
lanamento a cu aberto. Trata-se de uma instalao destinada disposio de resduos
slidos urbanos, na qual alguns ou diversos tipos e/ou modalidades objetivos de controle
so periodicamente exercidos, quer sobre o macio de resduos, quer sobre seus efluentes.
Normalmente trata-se de uma clula adjacente a um lixo no qual se adotaram tentativas de
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remediao. Esta clula adjacente preparada para receber resduos com sistema de
impermeabilizao adequado e operada de forma a reduzir os impactos negativos, com a
adoo de providncias como a cobertura diria da pilha de lixo com terra ou outro material
disponvel como forrao ou saibro. Admite-se que o aterro controlado se caracterize como
um estgio intermedirio entre o lixo e o aterro sanitrio; Para efeitos legais no estado de
Minas Gerais, definem-se os aterros controlados como aqueles onde as medidas do artigo 2
da Deliberao Normativa COPAM No. 52/2001 so observadas, como se ver adiante. Deve-
se ressaltar, entretanto, que todas as medidas adotadas nestes locais so ineficientes na
mitigao dos impactos ambientais relacionados contaminao de guas subterrneas;
opinio deste autor que a denominao Aterro Controlado inadequada, pois leva
percepo errnea que a disposio de RSU atingiu o status de aterro, com uma operao sob
controle: Uma forma mais apropriada de denominao seria lixo controlado.
3.3.3 Aterro Sanitrio O aterro sanitrio a forma de disposio considerada adequada para a disposio de RSU.
Em seu projeto, prevista a preparao do terreno com providncias para sua
impermeabilizao, como o nivelamento e o selamento da base com argila ou mantas de PVC
ou PEAD (Polietileno de Alta Densidade), para garantir que o lenol fretico no seja
contaminado. So implantados tambm sistemas de drenagem de gases e tratamento de
chorume. A coleta de chorume se d atravs de sistemas de drenagem especficos; Este
ento dirigido a um sistema de tratamento adequado. Na operao do aterro sanitrio
prevista a cobertura diria dos resduos, para que se evite a proliferao de vetores, mau
cheiro e poluio visual. Este confinamento se d com material inerte, geralmente solo,
segundo normas operacionais especficas, de modo a evitar danos ou riscos sade pblica e
ao meio ambiente. Alm disso, nos aterros sanitrios proibida a atividade de catadores e a
quantidade de resduos que entra controlada. So implantados tambm sistemas de captao
e armazenamento ou queima do gs metano, resultante da decomposio da matria orgnica.
Ao final da vida til a empresa que opera responsvel por efetuar um plano de recuperao
do terreno que em muitos casos deve incluir a recomposio da paisagem. A decomposio, a
estabilizao e a remoo de poluentes provenientes de um aterro so dependentes de diversos
fatores; da composio dos resduos, do grau de compactao, da presena de materiais
inibidores, da quantidade de umidade presente, da entrada e sada de gua, da taxa de
circulao da gua, das propriedades hidrolgicas do local e da temperatura.
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3.3.3.1 Tratamento de chorume nos aterros sanitrios Devido cadeia de constituintes existentes no chorume, e s variaes quantitativas sazonais
e ao longo da escala temporal, no se deve considerar uma soluo nica de processo para seu
tratamento (Hamada & Matsunaga, 2000). Os autores citam o critrio de Forgie (1988) que
permite a deciso na seleo de processos. Quando o chorume apresentar DQO elevada
(acima de 10.000 mg/l), baixa concentrao de nitrognio amoniacal e uma relao
DBO/DQO entre 0,4 e 0,8, associado a uma concentrao significativa de cidos graxos
volteis de baixo peso molecular, o tratamento pode ser efetuado por ambos os processos, ou
seja, anaerbio e aerbio.
Assim, diversos tipos de tratamento e disposio final podem ser adotados para o chorume,
ocorrendo grande divergncia entre os autores quanto ao modelo a ser adotado. No Brasil, os
tratamentos abaixo listados j se encontram em uso, singularmente ou associados a outros
processos.
Tabela 7. Processos e tipos de tratamento de chorume em Aterros Sanitrios PROCESSO TIPO DE TRATAMENTO DE CHORUME
Drenagem de chorume - Recirculao sobre a massa de resduos
- Tratamento conjunto com guas residurias;
- Tratamento aerbio; Processos biolgicos
- Tratamento anaerbio
- Precipitao qumica; - Oxidao qumica - Adsoro com
carbono ativo
- Filtrao;
- Osmose inversa;
Processos fsico-qumicos
- Charcos artificiais
- Aplicao no terreno Tratamento natural
- Jardinagem com aplicao no terreno
Tratamentos Mistos - Diferentes combinaes de vrios tratamentos
Fonte: Adaptado de JUC, J.F.T - Destinao Final dos Resduos Slidos no Brasil: Situao
Atual e Perspectivas UFPE 2007
3.3.4 Usinas de Triagem e Compostagem As Usinas de Triagem e Compostagem (UTCs) so locais onde os resduos so submetidos a
um processo de separao sistemtica, no qual os resduos inorgnicos so destinados
atividade de reciclagem e os orgnicos so conduzidos compostagem, definida como o
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processo natural de decomposio biolgica de materiais orgnicos, de origem animal e
vegetal, pela ao de microorganismos (IBAM, 2001). Atravs de disposio adequada,
controle de temperatura e umidade, produzido um composto orgnico rico em nutrientes que
pode ser armazenado e aproveitado como fertilizante. AS UTC tm eficincia comprovada em
locais onde so implantados programas de coleta seletiva de RSU, em que j ocorra a
separao entre o chamado resduo seco (papel, papelo, latas, sacos plsticos e embalagens
PET, etc.) e o resduo mido (restos de alimentos e outros dejetos orgnicos); Nestes locais, o
processo de separao de resduos muito simplificado. Entretanto, o processo gera resduos
orgnicos e inorgnicos que no podem ser adicionados s pilhas de composto, tais como
carvo mineral e vegetal, papel colorido, plantas doentes, materiais biodegradveis, fezes de
animais de estimao, lodos oriundos de sistemas de tratamento de esgoto, produtos qumicos
txicos e outros, que devem ter outra forma de disposio em aterros. Assim, a operao de
UTCs normalmente est associada a um aterro sanitrio, ocorrendo tambm em conjunto
com aterros controlados.
3.4 Riscos sanitrios e ambientais da disposio inadequada de RSU para os municpios
Os gestores pblicos procuram em maior ou menor grau voltar sua ateno para a temtica da
disposio de RSU, de acordo com as caractersticas e peculiaridades de cada comunidade. A
distribuio da populao no espao municipal pode acarretar problemas logsticos na coleta
de resduos; A predominncia de determinada atividade econmica pode acrescentar
dificuldades, como a gesto de determinados tipos de resduos txicos, como nos plos
produtores de tecidos ou curtumes. Entretanto, a operao de lixes sempre acarretar, em
maior ou menor grau, em conseqncias danosas.
A primeira conseqncia detectvel a poluio do solo. Com a alterao de suas
caractersticas fsico-qumicas, os lixes representaro uma sria ameaa sade pblica,
tornando-se tambm um ambiente propcio ao desenvolvimento de transmissores de doenas,
alm do visual degradante associado ao local.
De maior gravidade, pelos seus efeitos difusos, a poluio da gua ocorre com a alterao de
caractersticas do ambiente aqutico, atravs da percolao do lquido gerado pela
decomposio da matria orgnica presente nos resduos, associado com as guas pluviais e
nascentes existentes nos locais de descarga dos mesmos.
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No deve ser esquecida a poluio do ar, devido formao de gases naturais na massa de
resduos pela decomposio destes com e sem a presena de oxignio, originando riscos de
migrao de gs, exploses e at de doenas respiratrias populao de entorno.
Alm da poluio do solo, do ar e dos mananciais, os principais riscos associados disposio
inadequada de RSU so:
Proliferao de vetores e de doenas relacionadas poluio gerada;
Fogo, deslizamentos e exploses devido aos gases gerados na decomposio de
matria orgnica e queima clandestina dos resduos slidos; Emisso de partculas slidas em
funo do trnsito de veculos e gerao de odores desagradveis oriundos dos processos de
decomposio;
Atividade de catadores, com a degradao, reduo da auto-estima e custos sociais
decorrentes;
Espalhamento dos resduos pelo vento, animais e guas superficiais provenientes das
chuvas.
Acrescentam-se, no caso de Minas Gerais, os danos econmicos. Ao manter seus lixes em
operao, as municipalidades so consideradas inaptas para o recebimento de parcela do
ICMS Ecolgico, com conseqente comprometimento de receita municipal.
3.5 Legislao referente disposio de Resduos Slidos Urbanos em Minas Gerais 3.5.1 Marcos regulatrios iniciais A legislao ambiental em Minas Gerais sempre pioneira no trato das questes que
envolvem o meio ambiente, desde a criao do COPAM, nos anos 80. Comisso de Poltica
Ambiental - COPAM, criada pela Lei Estadual 7.772 de 8 de setembro de 1980, cabia atuar na
proteo, conservao e melhoria do meio ambiente. Logo aps sua criao, emitiu a
Deliberao Normativa COPAM n 07, de 29 de setembro de 1981, que j procurava
disciplinar a disposio de resduos slidos urbanos, estabelecendo que a disposio de
resduos no solo fosse feita de forma adequada, estabelecida em projetos especficos de
transporte e destino final, ficando vedada a simples descarga ou depsito em propriedade
pblica ou particular. Alm disso, previa procedimentos especficos para a disposio de
resduos perigosos; Mas pecava na proteo ao ambiente ao somente exigir proteo para as
guas subterrneas ou superficiais quando a disposio final exigisse a execuo de aterros
sanitrios, no citando as outras formas de disposio, em especial os lixes.
A Lei Estadual n 9.514, de 29 de dezembro de 1987 transformou a Comisso de Poltica
Ambiental em Conselho Estadual de Poltica Ambiental. O COPAM, por intermdio das
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Cmaras Especializadas, das Unidades Regionais Colegiadas (URCs), das Superintendncias
Regionais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel (Suprams), da Feam e do
Instituto Estadual de Florestas (IEF), exerce as atribuies de licenciamento ambiental e de
Autorizao Ambiental de Funcionamento (AAF).
A Constituio Federal de 1988 estabeleceu como competncia comum da Unio, dos
Estados, do Distrito Federal e Municpios a proteo do meio ambiente, o combate poluio
em qualquer de suas formas e a preservao das florestas, da fauna e da flora. Alm disso,
incumbiu, em seu art. 12, o Distrito Federal os Municpios pela gesto dos resduos slidos
gerados em seus respectivos territrios.
3.5.2 Deliberao Normativa COPAM 07/1994 Em 1994, o COPAM estabeleceu critrios de porte, normas e etapas para enquadramento no
licenciamento ambiental para a atividade de tratamento e/ou disposio final de resduos
slidos urbanos, dispondo etapas para a concesso de licena ambiental, conforme se segue:
- Licena Prvia (LP): fase preliminar de planejamento da atividade em que se avalia a
concepo e localizao do empreendimento. Na maioria dos casos, nessa etapa so
analisados o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatrio de Impacto Ambiental
(RIMA) ou, conforme o caso, o Relatrio de Controle Ambiental (RCA).
- Licena de Instalao (LI): autoriza a implantao do empreendimento. Nessa etapa
analisado o Plano de Controle Ambiental (PCA), que contm projetos dos sistemas de
tratamento e/ou disposio de efluentes lquidos, atmosfricos e de resduos slidos etc.
- Licena de Operao (LO): autoriza a operao do empreendimento aps a verificao do
cumprimento das medidas determinadas nas fases de LP e LI
Posteriormente, a Deliberao Normativa n 36, de 07 de julho de 1999 (Publicao - Dirio
do Executivo - "Minas Gerais" - 08/07/1999) alterou os critrios de porte, como se segue.
Tabela 8. Porte de unidades de tratamento e/ou disposio de RSU DN 07/94 Porte Pequeno Mdio Grande
Gerao de resduos por dia 3t/dia< QO< 15 t/dia 15t/dia< QO< 100 t/dia QO> 100 t/dia
Fonte: FEAM (1994)
Somente em 1997 a legislao federal, atravs da Resoluo CONAMA n. 237, determinou
que a disposio de RSU constitusse uma atividade sujeita ao licenciamento ambiental,
atravs de procedimentos de obteno de Autorizao Ambiental de Funcionamento ou
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Licenciamento ambiental, em suas etapas: Licena Prvia, Licena de Instalao e Licena de
Operao.
3.5.3 Deliberao Normativa COPAM 52/2001 A principal diretriz da poltica de disposio adequada de resduos slidos urbanos a
Deliberao Normativa (DN) Copam 52/2001. A DN 52/01 determina que todos os
municpios, independente do porte, programem as seguintes medidas para dar fim aos lixes:
Dispor os resduos slidos urbanos em local com solo e/ou rocha de baixa
permeabilidade, com declividade inferior a 30%, boas condies de acesso, a uma distncia
mnima de 300m de cursos dgua ou qualquer coleo hdrica e de 500m de ncleos
populacionais, fora de margens de estradas, de eroses e de reas de preservao permanente;
Implantar sistema de drenagem pluvial em todo o terreno para reduzir o ingresso das
guas de chuva na massa de lixo aterrado;
Compactar e recobrir os resduos slidos urbanos com terra ou entulho, no mnimo,
trs vezes por semana;
Isolar com cerca complementada por arbustos ou rvores que contribuam para
dificultar o acesso de pessoas e animais;
Proibir a permanncia de pessoas no local de disposio final de lixo para fins de
catao. Esta determinao teve sua redao alterada pela DN COPAM N 67/2003, que
imps aos Municpios a obrigao adicional de criar (...) alternativas tcnica, sanitria e
ambientalmente adequadas para a realizao das atividades de triagem de reciclveis, de
forma a propiciar a manuteno de renda para as pessoas que sobrevivem dessa atividade,
prioritariamente, pela implantao de programa de coleta seletiva em parceria com os
catadores.
Alm disso, a DN 52/2001 estabelece que os municpios devem dar prioridade
implementao dos Sistemas de Disposio Final de Resduos Slidos Urbanos por meio de
consrcios intermunicipais; e veda (...) a instalao de sistemas de destinao final de lixo
em bacias cujas guas sejam classificadas na Classe Especial e na Classe I da Resoluo
CONAMA n 20, de 18 de junho de 1986 e na Deliberao Normativa COPA