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Gestão de Turismo | Direito e Legislação Turística | Aula n° 02
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ESTATUTO JURÍDICO DO ESTRANGEIRO
O Estatuto do Estrangeiro rege a situação jurídica do estrangeiro no Brasil,
nos termos da Lei nº 6815/1980.
Crtérios para Concessão de Visto
De acordo com a legislação, ao estrangeiro que pretenda entrar no
território nacional poderá ser concedido visto de trânsito, de turista, temporário,
permanente, de cortesia, oficial e diplomático.
Não será concedido visto ao estrangeiro: menor de dezoito anos,
desacompanhado do responsável legal ou sem a sua autorização expressa;
considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais; anteriormente
expulso do país, salvo se a expulsão tiver sido revogada; condenado ou
processado em outro país por crime doloso, passível de extradição segundo a lei
brasileira; ou que não satisfaça às condições de saúde estabelecidas pelo
Ministério da Saúde.
O visto de turista poderá ser concedido ao estrangeiro que venha ao Brasil
em caráter recreativo ou de visita, contanto que não tenha finalidade imigratória,
nem intuito de exercício de atividade remunerada no país.
Princípio da Reciprocidade
Quando o turista estrangeiro tiver nacionalidade de país que dispense a
exigência de visto aos brasileiros, também poderá ser dispensada a exigência de
visto a ele.
Trata-se de reciprocidade que, para ser concedida, deve ser previamente
estabelecida mediante acordo internacional entre o Brasil e o outro país.
Prazos de Validade e Prorrogação do Visto
O prazo de validade do visto de turista será de até cinco anos, fixado pelo
Ministério das Relações Exteriores, dentro de critérios de reciprocidade, e
proporcionará múltiplas entradas no país, com estadas não excedentes a noventa
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dias, prorrogáveis por igual período, totalizando o máximo de cento e oitenta dias
por ano.
O fato de o estrangeiro ter a posse ou a propriedade de bens no Brasil não
confere, automaticamente, ao estrangeiro o direito de obter visto de qualquer
natureza, ou autorização de permanência no território nacional.
O estrangeiro com visto já concedido poderá voltar ao país dentro do
quinquénio de validade do visto, sem necessidade de prévia autorização.
A prorrogação do visto concedido não é automática, tendo o estrangeiro
que comparecer, pessoalmente, à unidade da Polícia Federal mais próxima, onde
deverá apresentar os documentos solicitados, bem como o comprovante de
pagamento da taxa correspondente.
A solicitação da prorrogação do prazo de estada tem que ser realizada,
obrigatoriamente, em até trinta dias antes do fim do prazo concedido, e a
concessão ou não da prorrogação é ato discricionário do agente público que
analisar a situação migratória do estrangeiro.
Estrangeiro com Documentação Irregular
A empresa que transportar o estrangeiro para o Brasil deverá verificar, por
ocasião do embarque, no exterior, a documentação exigida para ingresso no país.
No caso de irregularidade nos documentos ou visto, apurada no momento
da entrada no Brasil, a empresa de transporte será responsável pela saída do
estrangeiro, pelo pagamento de multa de dez vezes o maior valor de referência,
por estrangeiro, além das despesas com a retirada deste do território nacional.
Entrada do Estrangeiro em Território Nacional
A entrada de estrangeiro no território nacional somente poderá ser
realizada pelos locais onde houver fiscalização dos órgãos competentes dos
Ministérios da Saúde, da Justiça e da Fazenda.
A empresa de transporte ou seu agente responderá, a qualquer tempo,
pela manutenção e demais despesas do passageiro em viagem contínua ou do
tripulante que não estiver presente por ocasião da saída do meio de transporte,
bem como pela retirada dos mesmos do território nacional.
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O visto concedido pela autoridade consular configura mera expectativa de
direito, podendo a entrada, a estada ou o registro do estrangeiro ser obstado,
ocorrendo qualquer inconveniência de sua presença no território nacional, a
critério do Ministério da Justiça.
Deportação do Estrangeiro
Nos casos de entrada ou estada irregular de estrangeiro em território
nacional, se este não se retirar voluntariamente do território nacional, será
promovida sua deportação.
A deportação consistirá na saída compulsória do estrangeiro e será
realizada para o país da nacionalidade ou de procedência do estrangeiro, ou para
outro que consinta em recebê-lo.
De acordo com o artigo 98, do Decreto nº 86715/1981, o estrangeiro que
entrou ou se encontra em situação irregular no país, será notificado pela Polícia
Federal, que lhe concederá um prazo variável entre um mínimo de três e máximo
de 8 dias, conforme o caso, para retirar-se do território nacional. Se descumprido
o prazo, o Departamento de Polícia Federal promoverá a imediata deportação.
O estrangeiro, enquanto não se efetivar a deportação, poderá ser recolhido
à prisão, por ordem do Ministro da Justiça, pelo prazo de sessenta dias.
Sempre que não for possível, dentro do prazo da prisão decretada,
determinar-se a identidade do deportando ou obter-se documento de viagem para
promover a sua retirada, a prisão poderá ser prorrogada por igual período, findo o
qual será ele posto em liberdade.
O estrangeiro, cuja prisão não se torne necessária ou que tenha o prazo
vencido, permanecerá em liberdade vigiada, em lugar designado pelo Ministério
da Justiça, e guardará as normas de comportamento que lhe forem estabelecidas,
sendo que o Ministro da Justiça, a qualquer tempo, poderá determinar a prisão
administrativa - em caso de necessidade -, cujo prazo não excederá a noventa
dias.
O deportado só poderá reingressar no território nacional se ressarcir, ao
Tesouro Nacional, com correção monetária, as despesas com a sua deportação e
efetuar, se for o caso, o pagamento da multa devida à época, também corrigida.
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Expulsão do Estrangeiro
Não sendo exequível a deportação ou quando existirem indícios sérios de
periculosidade ou indesejabilidade do estrangeiro, será realizada a sua expulsão;
cabendo, exclusivamente, ao Presidente da República resolver sobre a
conveniência e a oportunidade da expulsão ou de sua revogação, mediante
decreto.
É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar
contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou
moralidade pública e a economia popular.
Também é passível de expulsão, o estrangeiro que:
a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no
Brasil;
b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se
retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo
aconselhável a deportação;
c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância;
d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para
estrangeiros.
Compete ao ministro da justiça, de ofício ou acolhendo solicitação
fundamentada, determinar a instauração de inquérito para a expulsão do
estrangeiro.
O ministro da justiça, a qualquer tempo, poderá determinar a prisão, por
noventa dias, do estrangeiro submetido a processo de expulsão e, para concluir o
inquérito ou assegurar a execução da medida, prorrogá-la por igual prazo.
Em caso de medida interposta junto ao Poder Judiciário que suspenda,
provisoriamente, a efetivação do ato expulsório, o prazo de prisão ficará
interrompido até a decisão definitiva do Tribunal a que estiver submetido o feito.
Não se procederá à expulsão se implicar extradição inadmitida pela lei
brasileira ou quando o estrangeiro tiver:
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a) cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato
ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há
mais de cinco anos;
b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele
dependa economicamente.
Não constituem impedimento a adoção ou o reconhecimento de filho
brasileiro após ao fato que motivar a expulsão ou ainda se verificados o abandono
do filho, o divórcio ou a separação, de fato ou de direito.
Extradição do Estrangeiro
A extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se
fundamentar em tratado ou quando prometer ao Brasil a reciprocidade.
Não se concederá a extradição quando: se tratar de brasileiro, salvo se a
aquisição dessa nacionalidade verificar-se após o fato que motivar o pedido; o
fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado
requerente; o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime
imputado ao extraditando; a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual
ou inferior a um ano; extraditando estiver a responder a processo ou já houver
sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o
pedido; estiver extinta a punibilidade pela prescrição segundo a lei brasileira ou a
do Estado requerente; o fato constituir crime político; e o extraditando houver de
responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou Juízo de exceção.
Caberá, exclusivamente, ao Supremo Tribunal Federal, a apreciação do
caráter da infração.
O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crimes políticos
os atentados contra os chefes de Estado ou quaisquer autoridades, bem como os
atos de anarquismo, terrorismo, sabotagem, sequestro de pessoa, ou que
importem propaganda de guerra ou de processos violentos para subverter a
ordem política ou social.
São condições para concessão da extradição: ter sido o crime cometido no
território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais
desse Estado; existir sentença final de privação de liberdade, ou estar a prisão do
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extraditando autorizada por juiz, Tribunal ou autoridade competente do Estado
requerente.
O Estado interessado na extradição poderá, em caso de urgência e antes
da formalização do pedido de extradição, ou conjuntamente com este, requerer a
prisão cautelar do extraditando por via diplomática ou, quando previsto em
tratado, ao Ministério da Justiça, que, após exame da presença dos pressupostos
formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, representará ao
Supremo Tribunal Federal.
Alterações no Estatuto do Estrangeiro
Está em análise, na Câmara dos Deputados, o Projeto Legislativo PL
5655/2009 que altera o atual Estatuto do Estrangeiro e dispõe sobre situações
como ingresso, permanência e saída de estrangeiros no território nacional,
acolhimento de imigrantes e naturalização.
Uma das principais inovações do projeto é a concessão de permissão para
que os estrangeiros participem de administração de sindicatos, de associações
profissionais e de entidades fiscalizadoras do exercício de profissões
regulamentadas, e também a extinção da exigência de boa saúde para entrada e
permanência no Brasil.
O projeto pretende acabar com o visto de trânsito e unir os vistos de
turismo e negócios, que na lei atual é temporário e vale por apenas noventa dias.
No projeto, o visto de negócio terá duração de cinco anos - mesmo prazo de
validade que o de turistas.
O texto inova, ao permitir a estudantes exercer atividade remunerada,
condicionada apenas à autorização do Ministério do Trabalho, exigindo
autorização prévia para a atuação de imigrantes em regiões consideradas
estratégicas, como a Amazônia Legal, e áreas ocupadas por índios, quilombolas
ou outras comunidades tradicionais.
De acordo com o novo texto, o estrangeiro está proibido de possuir terras
em regiões de fronteira e, também, de possuir empresas de vigilância. Mantidas
as proibições da lei atual quanto a propriedade de empresa jornalística e de
explorar recursos minerais, inclusive os potenciais hidráulicos.
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Transportes Alternativos no Turismo Contemporâneo
O transporte está diretamente ligado ao turismo. No início da
regulamentação da atividade turística - em 1940 -, o transporte marítimo
dominava, enquanto o transporte aéreo era o segundo mais utilizado e o
transporte rodoviário sequer existia.
A atividade de pessoas viajando é parte do conceito de turismo, porém
nem toda viagem pode ser considerada um meio de deslocamento turístico, pois o
trânsito de pessoas em transportes públicos dentro de seus espaços habituais ou
não (trabalho, escola, compras etc.) não é considerado turismo.
De forma básica, um sistema de transporte é constituído de quatro
elementos físicos (também conhecidos por componentes ou essenciais). São eles
(FAULKS, 1965; BONIFACE; COOPER, 2001):
• Via: meio pelo qual o transporte se desenvolve. Pode ser de três tipos:
natural, natural artificialmente melhorado e artificial. Vias naturais, como o
ar ou o mar, costumam estar dispo- níveis para serem usadas sem nenhum
custo. Por fim, vias puramente artificiais são aquelas totalmente
construídas pelo homem, como ferrovias e rodovias, que exigem custo
tanto para a construção quanto para a manutenção. O tipo de via escolhido
para determinado sistema de transportes caracterizará o veículo
empregado, assim como o terminal utilizado.
• Veículo: os diversos veículos de transporte são construídos para operarem
em determinada via e influenciarão muito na escolha do modo de
transporte pelo viajante. Sua tecnologia poderá apresentar maior
flexibilidade e privacidade, como no caso do automóvel, ou maiores
velocidades e alcance, como no caso dos aviões. Alguns veículos são ditos
como confinados na via, como os trens.
• Força motriz: inicialmente, o transporte confiava nas forças naturais para a
propulsão dos veículos – transporte hidroviário na energia eólica e
transporte rodoviário na tração animal. O advento das máquinas a vapor e,
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posteriormente, do motor de combustão interna revolucionou as formas de
propulsão de forma que, atualmente, não existe mais espaço no transporte
comercial para forças motrizes não artificiais. Assim, o desenvolvimento da
força motriz está fortemente relacionado com a tecnologia dos veículos e
das vias. Além disso, a própria expansão dos transportes e,
consequentemente, do turismo, ocorreu graças a ela.
• Terminal: lugar no qual se tem acesso aos meios de transporte. Pode
funcionar como forma de transferência de um modo de transporte para
outro ou entre veículos do mesmo modo (passageiros em trânsito). Quanto
mais interligado for determinado terminal, maior possibilidade de escolha
seus usuários encontrarão para chegar ou partir de suas viagens
(aeroportos e rodoviárias interligadas a metrôs, estações ferroviárias com
acesso a ônibus etc.). (PALHARES, 2001)
A tabela a seguir apresenta as principais características dos meios de
transporte1:
1 Fonte: Palhares (2002) a partir de Boniface e Cooper (2001).
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Faz parte do conceito de turismo a condição de que determinado viajante
saia de seu lugar usual de convívio e trabalho, e se dirija a um destino turístico.
Para tanto, utilizará algum meio de transporte que é o meio de ligação entre o
local usual e o local turístico de destino.
O viajante pode ser qualificado como qualquer pessoa que se desloca de
um ponto A para um ponto B, sendo o deslocamento temporário ou permanente.
Existe, dentro destes viajantes, o subgrupo de visitantes, que podem ser
turistas (dormem no local visitado) ou excursionistas (não dormem no local
visitado).
Evidente que a possibilidade de acesso e a facilidade de acesso ao destino
são uma parte importante para atrair ou não os turistas, sendo diretamente
relacionada com a existência de infraestrutura e transportes, fator essencial e
determinante do turismo.
As figuras a seguir ilustram as visões tradicional e contemporânea de
competição e integração entre os modos de transportes.
Complementaridade entre os meios de transporte: visão tradicional2
Complementaridade entre os meios de transporte: visão contemporânea3
2 Fonte: Palhares ( 2002) a partir de Stubbs e Jegede (1998)
3 Fonte: Palhares (2002) a partir de Stubbs e Jegede (1998)
Gestão de Turismo | Direito e Legislação Turística | Aula n° 03 11
A aviação é o transporte mais estudado com relação ao turismo. Isso pode
ser atribuído ao fato de que o desenvolvimento do turismo internacional nas
últimas décadas tem sido propiciado graças ao crescimento das malhas aéreas e
da infraestrutura aeroportuária, a diminuição real dos custos do transporte aéreo e
o aumento da capacidade e velocidade através da introdução de novas
tecnologias aeronáuticas (PALHARES, 2002; SYPHER, 1990).
Os meios de transporte usualmente explorados são: marítimo, aéreo,
rodoviário e ferroviário.
No entanto, estes estão direcionados, basicamente, ao deslocamento do
viajante entre origem e destino; devendo, ainda, ser considerado os transportes
utilizados pelo turista dentro de seu destino turístico e ainda, formas de
transportes alternativos, como bicicletas, viagens a pé e turismo espacial, que
ainda carecem de maior estrutura e exploração.
REFERÊNCIAS
BRANCHIER, A. S.; TESOLIN, A. D. D. Direito e Legislação Aplicada. Curitiba:
Intersaberes, 2012.
CAHALI, Y. S. Estatuto do Estrangeiro. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2010.
Gestão de Turismo | Direito e Legislação Turística | Aula n° 02
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PALHARES, G. L. Transportes para turistas: conceitos, estado da arte e tópicos
atuais. Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo: Roca,
2005, p. 641-669.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para melhor compreender o conteúdo deste tema, leia o conteúdo do blog
“Sebenta de Turismo – apontamentos sobre hotelaria e turismo para todos
aqueles que gostem de adquirir conhecimentos nestas áreas: Operações em
transportes.” Disponível em:
<http://sebentadeturismo.blogspot.com.br/p/operacoes-em-transportes.html>.
VÍDEOS DE INTERESSE
Assista ao vídeo que é um Trabalho do curso de Turismo sobre a relação
existente entre o avanço nas tecnologias do transporte e a atividade turística.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=uAmss0bBrUQ>.
Assista a entrevista concedida pelos autores Carla Fraga e Guilherme
Lohmann Palhares para a Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
Entrevista gravada no dia 22 de julho de 2013. O livro Transportes e Destinos
Turísticos: planejamento e gestão foi publicado em 2013 pela editora
Campus/Elsevier. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=OHzbOciaRy8>.