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Universidade Candido Mendes - UCAM Pós – Graduação LATO SENSU
A Vez do Mestre Kátia Santos de Carvalho
GESTÃO ESTRATÉGICA NO TERCEIRO SETOR E O
SEU EFEITO NO ATUAL PAPEL DO GESTOR
Rio de Janeiro 2004
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KÁTIA SANTOS DE CARVALHO
GESTÃO ESTRATÉGICA NO TERCEITO SETOR E O
SEU EFEITO NO ATUAL PAPEL DO GESTOR.
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes Para obtenção parcial do Curso de pós-graduação Latu Sensu em Gestão Estratégica e Qualidade
Orientador: Prof. Celso Sanchez
RIO DE JANEIRO 2004
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais pelo apoio e incentivo, carinho e afeto, a minha irmã, a minha sobrinha
Karolina,. Ao professor Celso Sanchez pelo apoio dado nesta monografia. Aos professores,
pelos conhecimentos transmitidos pelos conhecimentos durante esta jornada e aos meus
colegas por estes momentos de fraterna convivência e troca de informações.
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RESUMO
Uma Gestão estratégica vem sendo necessário em todos os ramos das atividades, e não
seria por menos no terceiro setor. Como o terceiro setor surgiu com a falência do Estado, o
setor privado começou a ajudar em questões sociais, por meio de instituições que passaram
a compôr o Terceiro Setor. Numa sociedade atual em que é relevante a Responsabilidade
Social, o trabalho voluntário sempre visando sem fins lucrativos. Obter uma gestão eficaz e
eficiente é sem dúvida o desafio para qualquer gestor que deseje estar atuando numa
instituição sem fins lucrativos e sem receitas próprias e com uma difusão em larga escala.
Obter um diferencial num meio em que tantas outras organizações executem a mesma
atividade se perpetuar é um desafio constante.
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SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6
II GESTÃO ESTRATÉGICA NO TERCEIRO SETOR .............................................10
III.QUADRO TÉORICO ...................................................................................................12
3.1 CENÁRIO DO MERCADO DE TRABALHO .............................................................12
3.2 ANÁLISES QUE EXPLICAM ESSE CENÁRIO .........................................................13
3.4 NOVOS DESAFIOS .....................................................................................................17
3.5 EMPRESA SOCIAL E/OU EMPRESA SOLIDÁRIA .............................................. .20
3.6 TERCEIRO SETOR MOVIMENTA R$ 12 BILHÕES POR ANO NO PAÍS ...........21
3.7 TERCEIRO SETOR É ALIADO NO DESENVOLVIMENTO CT& I .......................24
IV METODOLOGIA .........................................................................................................26
4.1 TIPO DE PESQUISA ....................................................................................................26
4.2 COLETA DE DADOS ...................................................................................................26
4.3 TRATAMENTO DE DADOS .......................................................................................27
4.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ......................................................................................27
V ANÁLISE ........................................................................................................................29
VI CONCLUSÃO ..............................................................................................................33
REFERÊNCIAS..................................................................................................................35
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I. INTRODUÇÃO
O tema do presente estudo é a gestão estratégica no terceiro Setor e o crescimento
do terceiro setor e seu efeito no papel do gestor.
O primeiro setor é o governo, que é responsável pelas questões sociais. O segundo
setor é o privado, responsável pelas questões individuais. Com a falência do Estado, o setor
privado começou a ajudar nas questões sociais, através das inúmeras instituições que
compõem o chamado terceiro setor. Ou seja, o terceiro setor é constituído por organizações
sem fins lucrativos e não governamentais, que tem como objetivo gerar serviços de caráter
público.
O importante é diferenciar uma associação de bairro ou um clube que ajuda os
próprios associados de uma entidade beneficente, que ajuda os carentes do bairro.
Nem toda entidade beneficente ajuda prestando serviços a pessoas diretamente. Por
exemplo: uma ONG que defenda os direitos da mulher, fazendo pressão sobre nossos
deputados, está ajudando indiretamente todas as mulheres.
Nesse contexto situa-se o papel do gestor, que será tratado nesse estudo sob o ponto
de vista de dois âmbitos: o administrador de empresas públicas e privadas que acaba por ser
responsável pelos projetos sociais da empresa e precisa conciliar a competitividade imposta
pelo capitalismo selvagem e a solidariedade através de projetos beneficentes, de forma
estratégica utilizando com base em informações sem prejudicar a ambos; e o gestor de
organizações não-governamentais que precisa vencer o desafio de reger uma empresa que
não possui receita própria e depende da caridade e boa vontade alheia para realizar seus
projetos.
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No Brasil de hoje, a voz dos mais variados grupos sociais se faz ouvir no espaço
público. Mesmo sendo organizações sem fins lucrativos estão sujeitas também a
concorrências de outras entidades que desenvolvem atividades similares. e mesmo estas
precisam garantir que seus produtos satisfaçam as necessidades do público a que se
destinam, de modo a assegurar sua perpetuidade e crescimento. e também para cobrar ações
do Estado e tomar iniciativas por si mesmos. Este protagonismo dos cidadãos determina
uma nova experiência de democracia no quotidiano, um novo padrão de atuação aos
governos e novas formas de parceria entre Sociedade Civil, Estado e Mercado.
. O surgimento de um Terceiro Setor - não governamental e não lucrativo - redefine
o Estado e o Mercado. Por outro lado, o Terceiro Setor também se vê, ele próprio,
confrontado ao desafio de qualificar e expandir suas ações de promoção de uma
solidariedade eficiente
A John Hopkins University e o Instituto Superior de Estudos da Religião revelam
que, no Brasil, foram registradas, recentemente, 220 mil instituições que, sem fins
lucrativos, dedicam-se à beneficência.
São 12 milhões de voluntários atendendo 9 milhões de pessoas diretamente, ou 8%
da nossa população. Esta é uma realidade insuspeita, capaz de medir uma parte enorme da
nossa sociedade civil. Uma realidade que detém um impressionante potencial de decisão no
país. E que traz a marca de duas características.
Primeira, e essencial: é a única portadora da bandeira do cumprimento de deveres,
num Brasil em que a exigência de direitos sem contrapartida há muito tempo depaupera o
processo social.
Segunda - circunstancial, mas fatal: ela não está organizada. Ou melhor: não estava.
Uma lei do governo federal precipitou um processo de reformulação. A lei, n° 9732/98, de
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01/04/98, eliminou as isenções fiscais de todas as instituições de assistência social, por
suspeita de fraudes. E assim o governo legislou para uma minoria fraudulenta. Mas
produziu o efeito de organizar a atividade beneficente no país. Esta organização tornou-se
parte substancial do Terceiro Setor.
O objetivo deste estudo é proporcionar informações relacionadas ao terceiro setor
(ONG's - Organizações Não Governamentais )e atividades de Marketing Social e Societal.
No decorrer do trabalho, serão estudados; as estratégias com base na informação, o
conceito, o surgimento, as metas e os desafios do terceiro setor; o perfil do profissional do
terceiro setor e o empreendedor social; o voluntariado empresarial e a gestão de pessoal; a
importância do terceiro setor para a sociedade, o surgimento das entidades não-
governamentais e os princípios da responsabilidade social.
A escolha do tema justifica como obter uma gestão eficaz e eficiente e estratégica e
ser uma das ferramentas mais importantes para a melhoria da qualidade de vida de nosso
país.
Além da união de nossos ideais e de solidariedade, é preciso buscarmos soluções
técnicas e organizacionais para sustentarmos e desenvolvermos nosso trabalho de forma
efetiva.
Considerando uma jornada de oito horas diárias, temos, de forma aproximada,
(descontando uma média de oito horas de sono) que um trabalhador com essa rotina passa
cerca 50% do seu tempo de vigília em seu ambiente de trabalho. Num cenário caracterizado
cada vez mais pelo ‘enxugamento’ de mão-de-obra, um mercado que favorece o
desdobramento daqueles que permanecem empregados, passando a assumir cada vez mais
funções (downsizing) imagina-se que essa média de tempo de convivência na empresa seja
ainda maior. Podemos traçar o seguinte raciocínio: ‘se um indivíduo trabalha numa
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corporação em desacordo com os valores éticos, ele passa cerca de 50% de sua vida agindo
de forma antiética, mesmo que movido por força das circunstâncias. Essa prática pode
acabar influindo na sua atuação fora do contexto de trabalho, refletindo-se na sua atuação
como cidadão. Desta forma, a conhecida cultura do ‘jeitinho’, da instituída ‘Lei de Gerson’,
popularizada num antigo comercial de cigarros, acaba se propagando e marcando
negativamente a sociedade brasileira.
A prática socialmente responsável, tanto em instituições públicas, quanto privadas,
consiste numa grande ferramenta para a consolidação de uma sociedade mais digna e
socialmente justa. Quadro que seria muito mais favorável, seja para o Estado, para o
Mercado ou para a Sociedade, ninguém mais se beneficia da miséria social. Numa
sociedade que não produz, que não gera renda, reduz-se o consumo e aumenta-se a
violência.
Nesse contexto, a hipótese formulada para o estudo é a seguinte: usar a gestão
como um diferencial estratégico, para alcançar a realidade do desenvolvimento sustentável
é preciso conceber as atuais crises sociais, econômicas e produtivas como oportunidade de
desconstrução e redesenho. E somente através da ética este desafio pode ser superado.
Assim como a mudança percebida pela postura atual dos profissionais de
comunicação em relação ao uso de drogas, especialmente do ‘cigarro’, noutros tempos tão
explorado pela mídia, fica o apelo da conscientização quanto ao emprego das práticas de
cidadania empresarial e à extinção da tão ultrapassada ‘Lei de Gerson’.
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II GESTÃO ESTRATÉGICA NO TERCEIRO SETOR
Gestão tem sido a base para estratégias, metas e novos desafios que diversos setores
têm vivido. A Globalização foi determinante para empresas de ramos diversos terem se
adaptado, as novas formas de gestões e o terceiro setor também sentiu o seu efeito neste
novo papel .
Conceituar estratégia não seria nada difícil, porém, o foco é saber onde o gestor
encontra a forma ideal e assertiva para implementar uma gestão adequada, num setor onde
não se visa os lucros mas não significa que se deixa de oferecer serviço com qualidade.
Mesmo tendo surgido e aplicada no meio militar, a estratégia não se limitou ao meio mas
se expandiu para diversas áreas corporativas ou não.
Michael Porter (1996), uma das grandes autoridades em estratégia competitiva e
define estratégia como:
“Realizar um conjunto de atividades, distinto dos competidores, que
signifique maior valor para os clientes e ou crie um valor comprável a um
custo mais baixo.”
Independente da estratégia o importante é saber que podem ser dirigidas a novos
produtos ou mercados, à redução de custos, ao crescimento das receitas ou à realização de
alianças e parcerias proveitosas e a superação e também ao alcance da missão das
instituições e com certeza no Terceiro Setor que precisa decidir de forma organizada que
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resposta pretendem ter para determinado período, definindo quais as metas e o que fazer
para atingi-las.
Segundo Mintzberg (2003,p 24.25)
“ A estratégia pode ser vista como uma força mediadora entre a
organização e seu ambiente. Por essa razão, a formulação da
estratégia envolve a interpretação do ambiente e o desenvolvimento
de padrões consistentes em uma série de decisões organizacionais
(estratégias) para lidar com essa estratégia principal.”
Outro fator importante principalmente se aplicado ao Terceiro Setor é aliar a
informação que é um elemento essencial para a criação, implementação e avaliação de
qualquer estratégia . Baseando as informações coletadas sobre diversas partes dos
ambientes que envolvem qualquer corporação são ambientes internos. E externos que após
coletadas as informações também deve ser objeto de um planejamento estratégico, e em
função das características da estratégia corporativa, Administração Pública ou Terceiro
Setor, os esforços podem ser concentrados na obtenção, tratamento e disseminação da
informação mais útil para apoiar e basear a execução da estratégia e as novas exigências
dos ambientes interno e externo.
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III QUADRO TEÓRICO
3.1 Cenário do Mercado de Trabalho
Neste momento de graves transformações sociais, econômicas e políticas, é difícil
analisar o processo. Só podemos apontar é para algumas tendências que devemos observar.
Segundo a economista Dra. Rosa Marques, em debate promovido no Núcleo de
Trabalho da PUC/SP em 05/05/98, tecemos alguns considerações da problemática do
Trabalho:
Qual o papel do trabalho no momento atual?
- Taxas de desemprego elevadas que não tem correspondente na história a não ser
na recessão.
- Desemprego de grande duração. Implica que os desempregados hoje raramente
voltarão a ser empregados.
- Perfil dos desempregados mais afetados:
- Maiores de 45 anos,
- Maioria de mulheres desempregadas do que homens,
- Jovens, que saem das escolas e não chegam a se integrar no trabalho.
Dentro do perfil dos desempregados a maioria é de menos qualificados. Cresce o
trabalho parcial e temporário - havendo rompimento das garantias do trabalho
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Seriam produzidas por novas tecnologias poupadoras de mão de obra? Novas técnicas de
produção? Outras formas de organização do trabalho e produção? Qualificações elevadas
justificariam os não qualificados? Se isto for verdade a taxa de desemprego é natural, associada ao
novo mundo, porém, estatísticas mostram que não é só o desqualificado que está desempregado. Se
o desemprego é natural, como conseqüência disso, tem sentido eliminar categorias, direitos e
conquistas adquiridos do trabalho.
Os argumentos dos economistas estão no campo do micro e do macro. Na lógica do
micro há tendências de desmobilizar os trabalhadores. Eliminar os encargos sociais
significa tirar a proteção e diminuir as rendas familiares. No Brasil a média destes
benefícios é de 2,5% enquanto que na França isto significa 30%.
Barbosa e Oliveira (2001) propõe que, ao invés da leitura corrente acima apontada
pode-se pensar:
Emprego não é apenas função de tecnologia, é função de investimentos. Mudou a relação
capital trabalho. O capitalismo está em crise e ela está aberta desde a crise de 70. O PIB na
maioria dos países é ridículo. O capitalismo em crise é que produz a crise do desemprego. Nestas
épocas o capital introduz tecnologias pois são mais produtivas. São nas situações de arrefecimento
do capital que há novas tecnologias.
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Na crise do investimento - o capital é volátil - o produtivo fica em segundo plano ao
chamado capital financeiro. O capital produtivo migra para o financeiro que se reproduz sem base
material. O especulativo tem grande primazia.
Segundo Barbosa e Oliveira (2001), a globalização não traz nada de novo no
cenário capitalista, mas há diferenças no plano financeiro. A velocidade de informações
fortalece e fragiliza o capital que migra e parece virtual.
O trabalhador qualificado não está sequer protegido. Trabalhar a empregabilidade,
sob o prisma da educação é falso. Ela garante apenas os primeiros passos para o exercício
da cidadania.
No brasil da década de 70 o mercado de trabalho crescia com o assalariamento e
introdução no mercado formal. O Estado contratava e pagava bem.
Hoje o mercado de trabalho informal cresce enquanto o mercado formal se retrai
assustadoramente. Cai o salário e o trabalhador não tem empregos com direitos.
Coelho (2000) cita duas mudanças qualitativas na década de 90:
Em 1991 o salto de desemprego que não desce quando a economia cresce.
Em 1994 a relação de trabalho alterando-se de tal forma e o Governo não defende,
incentiva o trabalho temporário e há aumento de horas extras.
Na verdade não se tem dados reais sobre o mercado de trabalho e precisamos
construir novos indicadores para o Brasil.
Assim é preciso entender qual é o significado do trabalhador autônomo: Seria a
negação de outras categorias? Seriam profissionais liberais?
Quando há essa precariedade do trabalho e ela não é pequena, aumenta a busca só
de atividade. A juventude não idealiza uma profissão. Porém, Coelho (2000) reconhece a
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humanidade através do capitalismo sempre defendeu tecnologias capazes de poupar
trabalho.
Neste momento, com esta resultante - o nível de desemprego – Coelho (2000) pensa
que não se pode vê-la apenas como estrutural ou conjuntural - o nível de emprego é antes
de tudo social e não de emprego. Qual é a partilha do trabalho no conjunto da Nação? Qual
o reconhecimento social desse trabalho? É socialmente reconhecido o trabalho que gera
valor?
Nossa base é de exclusão! Se formos nos adaptar a este mercado posto não
formaremos para o mercado; pois no capitalismo sempre aparecem e desaparecem funções.
Em sendo a crise do capitalismo conjuntural e se mudou a relação capital trabalho,
onde faremos nossa ancoragem?
3.3 As Novas Demandas
Elas parecem decorrer de segmentos que também não são novos e nos introduzimos
na reemergência do chamado Terceiro Setor e das políticas focalistas.
BoaVentura de Souza Santos no Seminário Internacional: Sociedad y La Reforma
del Estado - La Reinvención Solidária del Estado - abril 1998), assim define o Terceiro
Setor:
" é una designação residual e vaga con que se pretende dar conta de um vastíssimo conjunto de organizações sociais que não são nem estatais ni mercantis, o seja, organizações sociais que por un lado, sendo privadas não visam fins lucrativos, e por outro lado, sendo animadas por objectivos sociais, públicos ou colectivos, não são estatais..."
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Hudson (1999) define o terceiro setor em três faces:
a) 3º setor como idéia, conceito e ideal que encarna valores sociais como altruísmo,
iniciativa, respeito à capacidade dos indivíduos de agirem por autoridade própria
a fim de melhorarem suas vidas e a de outros, solidariedade etc... valores difíceis
de serem executados entre nós por paradigmas culturais e educacionais,
b) 3º setor como realidade - porém pouco organizado e capacitado. Sobrepõe-se o
capital financeiro ao capital humano pelas mesmas dificultantes apontadas acima,
c) 3º setor como ideologia e com os seus distintos mitos: insignificância ou
incompetência e voluntarismo (e o da pura virtude ou imaculada conceição).
Hudson (1999) considera interessante para reflexão:
1 - o desafio da legitimidade do 3º setor para o estado e/ou país, e aqui é de
fundamental importância o marco legal,
2 - o desafio da eficiência - treinar gestores nas habilidades exigidas pelo setor:
capacitar gestores que vão capacitar organizações que vão capacitar comunidades, e pensar
a infra-estrutura,
3 - o desafio da sustentabilidade - a sustentabilidade financeira não é o único
problema, quase da mesma importância é o capital humano do setor. ressalto que o autor
refere-se que mesmo nos EUA a renda auferida através da filantropia mal chega aos 18% e,
diz ainda que 10% já seria um objetivo razoável. outras abordagens se impõe, por exemplo
o 3º setor como carreira e não como volta ao serviço governamental.
4 - o desafio da colaboração - colaboração com o estado, com o setor empresarial e
entre suas próprias fileiras.
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Uma pesquisa realizada em sete países e publicada na obra de Merege e Barbosa
(1998), evidencia que o 3º setor é uma grande força econômica. no entanto as doações
caritativas estão longe de representar a fonte principal de apoio, não é sequer a segunda. a
principal fonte são taxas e encargos sobre serviços, que representam 47% e a segunda
maior fonte é o governo 43%. as doações de particulares não passam de 10%.
Propõe ainda que mesmo na diversidade cumpre-nos buscar visão comum dos
graves problemas partilhados por todas as Organizações do 3º Setor: marco legal do direito
de montar organizações do 3º setor com amplo leque de finalidades; pleitear incentivos
fiscais para organizações e contribuintes e oferecer serviços essenciais ao setor: contábil,
treinamento, formação de grupos especializados, etc...
3.4 Novos Desafios
Além dos já pontuados por Hudson (1999), Nanus e Dobbs (2000) ressaltam:
- Relação entre mercado e instituições reguladoras do mesmo. Poderíamos
contribuir para criar novas formas de regulação deste mercado? Tenho claro que
nos confrontaremos com este mercado real?
- Relação com a administração pública legislativa e executiva para assegurar o
nosso marco legal. Procurar ajuda de legisladores e não apenas dos
"fiscalizadores" das leis.
- Relacionaremos este marco legal com o "Balanço Social" das empresas?
- Devemos ter um sistema de contabilidade diferenciada?
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- Políticas Sociais e Políticas Subsidiárias para este 3º setor - entremeando entre o
crescimento econômico e bem estar social, entre política econômica e política
social, entre produção e assistência ?
- Devemos criar instrumentais democráticos, de controle efetivo deste chamado 3º
setor, para que não seja de novo, beneficiário apenas do Grande Capital?
- Precisamos de ampliar as bases sociais da democracia com garantias normativas
e condições materiais para seu exercício e portanto buscar uma maneira
complementar no mercado, ampliação e complexização do mercado. Sentido de
pertencer da comunidade - ética pública, comunicação e discussão pública sobre
os fundamentos morais da sociedade, participação na produção da esfera
pública?
Segundo Nanus e Dobbs (2000), algumas experiências dos trabalhos que vêm sendo
desenvolvidos neste setor:
- Desenvolvimento de projetos com Metodologia de Planejamento Participativo
Orientado por Objetivos,
- Capacitação de Recursos Humanos,
- Avaliações de Programas,
- Diagnoses Sociais, propostas de encaminhamentos, avaliações e monitoramento.
- Assessoria Técnica Científica para montagem de Seminários,
- Articulações entre distintos parceiros, quer seja na implantação de Projetos e
Seminários ou na implementação e Execução dos mesmos,
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- Organização de Grupos Informais em Grupos Formais,
- Articulação de Grupos Comunitários,
- Pesquisas: para elaboração de pareceres técnicos, para moderação e coordenação
de mesas redondas, debates, conferências, etc.
Algumas exigências:
- Conhecer dos mais variados segmentos pertencentes à sociedade e suas
demandas.
- Conhecer o que ocorre no seio das Entidades sem Fins Lucrativos e do Terceiro
Setor
- Ter domínio técnico científico nas áreas administrativas, técnicas,
organizacionais, etc...
- Ter competência para elaboração de projetos diversificados nos moldes das
exigências colocadas pelo mercado, inclusive o Internacional bem como
monitorá-los.
- Informar-se quotidianamente (através de todos os meios possíveis)
- Conhecer tecnologias inclusive as sociais, embora neste capitalismo novas
tecnologias já não exigem trabalhadores tão especializados.
- Conhecer línguas.
- Ter bom raciocínio, capacidade de decisão, lealdade e compromisso.
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3.5 Empresa Social e/ou Empresa Solidária
Há quem pense que na "empresa social" a identidade do grupo se produz gerando
justiça social, e que não se trata apenas de cumprir princípios de justiça prefixados segundo
os procedimentos, desenvolvendo honestamente a tarefa redistributiva, delimitada e
compartimentada. Se trata de elaborar e transformar os princípios de justiça. Sobretudo,
construir, ampliar e socializar os procedimentos sociais nos que tem lugar esta elaboração e
transformação.
Segundo Neder (1998), a empresa social busca e produz sinergias entre o mundo da
assistência e o mundo da produção. A idéia das sinergias se concentram em um ponto muito
simbólico e ao mesmo tempo muito concreto. Neder (1998, p. 6) salienta que:
"empresa social é uma empresa para todos os fins, só que seus benefícios se medem pela sua capacidade de produzir um valor agregado de natureza social, um valor do qual pode desfrutar toda a comunidade civil."
Devem passar entre o público, o privado e o mercado, inclusive no caso da
"assistência ao trabalho" das populações empobrecidas, envolvendo recursos materiais e
humanos, procedimentos de diversas fontes; trabalhando, para tornar cada lugar de
assistência em um laboratório produtivo de bem estar econômico e social. Podem ser
espaços de riscos e redes de segurança para os participantes.
Neder (1998, p. 7) cita um exemplo:
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“As Cooperativas de Assistência da Itália - graças a transformação cultural e institucional que atravessou a administração pública e envolveu administradores, funcionários, operadores e cidadãos em geral que liberaram de suas cabeças a idéia da necessidade de recorrer a cárceres de jovens.”
Em vários países do mundo se interrelacionam com empresas privadas e órgãos
públicos a nível local e nacional.
Muitos defensores dos direitos da cidadania, tais como Silva (1992), Souza (1998) e
Szazi (2001) acreditam que a empresa social (empresa solidária, associações, cooperativas
e ONGs) deve nascer da passagem da liberação dos que estão privados destes direitos, para
aquilo que está no território como direito de todos, pelo menos do ponto de vista da
Constituição Federal, no caso brasileiro. É evidente que o objetivo de empresas deste tipo é
conquistar os direitos da cidadania.
3.6 Terceiro Setor movimenta R$ 12 bilhões por ano no país
É possível fazer negócios de maneira responsável, ética e cidadã. A premissa,
adotada por número limitado de empresas no País, é regra básica da fabricante de
cosméticos e complementos nutricionais Natura, "desde a ponta do fornecedor de matérias-
primas até o relacionamento com o consumidor, passando pelo processo de transformação,
manufatura e logística de distribuição", afirma Rodolfo Guttilla, diretor de assuntos
corporativos.
A imagem da marca Natura como empresa comprometida com a preservação e
conservação dos recursos naturais e com o desenvolvimento sustentável e socialmente justo
foi comprovada em pesquisa realizada junto a seus consumidores: para 75% das mulheres e
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63% dos homens ouvidos o atributo "socialmente responsável" é tão importante quanto a
tecnologia e a confiança nos produtos.
Essa percepção do consumidor de priorizar compras de produtos de fabricantes que
desenvolvem programas sociais e de atuação responsável é ainda iniciante no País, mas
representa uma tendência sólida e irreversível. Segundo estudo realizado pelo Instituto
Ethos e pela Indicator Pesquisa de Mercado, a renda baixa ainda faz com que o brasileiro
defina a compra pelo preço, o que coloca o consumidor brasileiro muito distante de países
de Primeiro Mundo e até de outros em desenvolvimento. Apenas 16% considera esse tipo
de ação para definir a marca de um determinado produto que levará para casa. Na Austrália,
o índice é de 60%, nos Estados Unidos, de 53% e na Argentina, 24%.
O levantamento "Responsabilidade Social das Empresas - Percepção do
Consumidor Brasileiro" faz parte de um estudo global, o Corporate Social Responsability,
desenvolvido pelo instituto canadense Environics International, que reúne parceiros em 20
países. O Brasil o País ficou na décima-quarta posição.
O prestígio da marca Natura junto a consumidores e à sociedade foi construído
através de ações como o manejo adequado das reservas de andiroba, no Amazonas, e de
cupuaçu, em Rondônia, pelas comunidades locais dentro de padrões definidos pelo Forest
Stewardship Council e o Conservation Agriculture Networ, através do Programa de
Certificação de Ativos. O compromisso da marca também envolve o controle de emissão de
poluentes tanto das frotas de caminhões de empresas terceizadas que fazem a distribuição
de seus produtos, até o uso de gás R134a, inofensivo à camada de ozônio, nos aparelhos de
ar condicionado. Para evitar a emissão de substâncias nocivas, a Natura nunca utilizou o
gás CFC em seus produtos. Ela opta pelo butano-propano como propelente nos
desodorantes aerosóis.
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A fabricante de cosméticos também é reconhecida por seu trabalho social em
diversas frentes: no Programa Escola, no Projeto Jequitinhonha, na Cooperativa de
Costureiras, nos Barracões Culturais da Cidadania, no Programa de Promoção do
Voluntariado, além de estar associada a outras iniciativas e organizações do Terceiro Setor
e apoiar diversas instituições beneficentes.
Como parte de seu projeto de internacionalização, a Natura publica, desde o ano
passado, um relatório anual de responsabilidade corporativa no modelo proposto pela
Global Reporting Initiative (GRI), instituição mundial apoiada por uma grande rede de
organizações multilaterais e da sociedade civil. No mundo, apenas 110 empresas publicam
seus relatórios dentro deste molde, sendo a Natura a pioneira no Brasil, ao lado de grandes
grupos como Basf (alemã), Ford Motor e Procter & Gamble (norte-americanas).
Com participação de 1,5% no PIB nacional, o Terceiro Setor - constituído por
organizações privadas sem fins lucrativos que geram bens, serviços públicos e privados
com o objetivo de obter desenvolvimento político, econô-mico, social e cultural no meio
em que atuam - movimenta anualmente cerca de R$ 12 bilhões, emprega 1,2 milhão de
pessoas e atrai ao redor de 1,5 milhão de voluntários.
O Brasil registra hoje mais de 250 mil instituições, formadas por organizações não-
governamentais (ONGs), sem fins lucrativos, e que receberam, em 1995, doações da ordem
de R$ 1,1 bilhão provenientes de quase 15 milhões de brasileiros, segundo dados do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento.
Estima-se que o número de doadores já havia triplicado em 1998, chegando a 44,2
milhões de pessoas, ou 50% da população adulta brasileira, segundo dados da Comunidade
Solidária, entidade de promoção social do governo federal em parceria com lideranças da
sociedade civil. Para expandir e fortalecer sua atuação, o Terceiro Setor enfrenta quatro
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grandes desafios: legitimar-se junto à sociedade, tornar-se mais profissional na sua gestão,
buscar novas e criativas formas de financiamento e fazer parcerias com o Estado e o setor
privado, segundo palestra de Lester Salamon, catedrático da Universidade John Hopkins
que participou, no final de setembro, do Seminário Internacional sobre Perspectivas para o
Terceiro Setor no Século XXI, realizado pela área de Educação Comunitária do Senac São
Paulo e o Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo.
A vinda de Salamon faz parte da estratégia do Senac São Paulo de fortalecer sua
atuação por meio de ações sócio-educativas que mobilizem, integrem e desenvolvam
pessoas e organizações. Entre as iniciativas estão a criação da Universidade Aberta do
Terceiro Setor e a formação de uma Rede Social, que visa integrar as organizações que
compõem o Terceiro Setor.
3.7 Terceiro setor é aliado no desenvolvimento de CT&I
Segundo Vieira (2001), a Ciência e Tecnologia pode contar com o terceiro setor
como um aliado de peso que se mostra cada vez mais engajado no processo de
desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro. Hoje, na abertura do Workshop O
papel e inserção do terceiro setor no processo de construção e do desenvolvimento da
CT&I, o ministro Ronaldo Sardenberg ressaltou a importância deste aliado na difusão de
novas tecnologias e no revigoramento do debate público sobre a importância da C&T para
o País.
Durante dois dias, mais de 40 representantes de instituições do Terceiro Setor, que
atuam em CT&I de diversas áreas e regiões do País estarão reunidos no Instituto Israel
Pinheiro, em Brasília, para discutir novas formas de articulação e parcerias capazes de
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alavancar a participação da sociedade civil organizada na definição de políticas e
elaboração de projetos.
Segundo o ministro, o workshop é fruto do processo de integração iniciado no ano
passado com a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação que
institucionalizou o diálogo entre o governo e todos os segmentos da sociedade cientes do
papel estratégico da C&T.
- As instituições que compõem o chamado terceiro setor não são concorrentes do
Estado e tampouco se sobrepõem ao papel deste. Ao contrário, elas são nossas
parceiras -, afirmou Sardenberg.
De acordo com Sardenebrg, além da participação efetiva no processo de concepção
e execução das atividades de C&T, as organizações do terceiro setor desempenham
importante papel de mobilização, conscientização e difusão de novas tecnologias que
contribuam para elevar o bem-estar da sociedade.
O Brasil é um país repleto de boas idéias, mas é preciso que essas boas idéias
cheguem ao mercado gerando bem-estar, riquezas e maior competitividade -, afirmou o
ministro, ressaltando que esta tarefa deve ser conduzida de forma compartilhada e com a
contribuição substantiva do terceiro setor.
Segundo Ronaldo Sardenberg, a transformação de autarquias em organizações
sociais reflete esta nova esfera de ação social que também é pública, mas não
necessariamente estatal.
Como exemplo, ele citou o contrato de gestão firmado entre o MCT e o Centro de
Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) que aportou mais inteligência e transparência nas
políticas e programas científicos e tecnológicos e criou um espaço de interlocução
permanente junto à sociedade.
26
IV METODOLOGIA
4.1 Tipo de Pesquisa
Quanto aos meios, a pesquisa realizada para este trabalho foi de cunho bibliográfico
porque para a fundamentação teórico-metodológica do trabalho foi realizada uma
investigação sobre os seguintes assuntos: o conceito, o surgimento, as metas e os desafios
do terceiro setor; o perfil do profissional do terceiro setor e o empreendedor social; o
voluntariado empresarial e a gestão de pessoal; a importância do terceiro setor para a
sociedade, o surgimento das entidades não-governamentais e os princípios da
responsabilidade social. O conteúdo da pesquisa foi levantado através da leitura da
bibliografia existente sobre o terceiro setor no âmbito administrativo. Para isso, foram
consultados livros, revistas especializadas ou não, jornais e consultas a bibliotecas de
universidades.
4.2 Coleta de Dados
Os dados necessários para a realização do estudo foram coletados por meio de
pesquisa bibliográfica em livros, dicionários, revistas, jornais e artigos com dados
pertinentes ao assunto, que trazem muitas informações atuais de escritores conceituados
sobre o tema. Para fazer este levantamento, buscou-se informações a respeito do terceiro
setor na literatura administrativa.
27
4.3 Tratamento dos Dados
Os dados coletados são, essencialmente, levantados por terceiros e trazem reflexões,
argumentações, interpretações, análises e conclusões desses autores. O tratamento dos
dados exigiu um método de considerável complexidade, de modo que posso trabalhar com
alguma segurança no terreno ideologizado em que se transforma, freqüentemente, a
literatura das ciências sociais. Exigiu um método que compreenda os problemas e suas
formulações, como delimitados pelas condições de existência. Portanto, permeados por
interesses, representações da realidade e ambigüidade, que correspondem ao perene
movimento da sociedade, suas lutas e seus acordos. Em outras palavras, o tratamento dos
dados exigiu um método que permita ao pesquisador ir além do fenômeno da comunicação
e da linguagem, distinguindo aparência de essência; que nos chame a atenção para o caráter
contraditório das coisas e das afirmações do pensamento, e que leve o pesquisador a olhar
para os objetos e as produções humanas como coisas que se relacionam e constituem um
processo totalizante. O método escolhido é, pois, o dialético.
4.4 Limitações do Método
O tratamento dos dados pelo método dialético tem dificuldade e riscos. Entre as
dificuldades está a própria complexidade que lhe dá consistência, mas que também exige do
pesquisador maior rigor. Entre os riscos, conta-se a tendência a simplificações,
28
principalmente ao desvio mecanicista, que às vezes confunde dialética com abordagens
positivistas. Entretanto, não há o melhor sem ousadia. Tampouco existe ousadia sem risco.
Sendo assim, foram grandes as dificuldades encontradas para, através da pesquisa
bibliográfica, desenvolver e elucidar um tema como o gestão estratégica no terceiro setor e
o seu efeito no atual papel do gestor.
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V ANÁLISE
Através deste estudo, esta pesquisadora pôde constatar que a situação do serviço
social é como a de qualquer outra profissão. Os profissionais do terceiro setor estão dentre
aquelas profissões previstas para o Século XXI tais como as de tecnologias avançadas; dada
a gravidade das relações humanas, interpessoais e o alto índice de exclusão social que se
observa em todo o mundo. As relações humanas encontram-se muito deterioradas,
principalmente em uma sociedade onde se prioriza o valor econômico em detrimento do
valor humano. E se considerarmos que a profissão do Assistente Social, em qualquer
segmento de sua atuação, agrega valores - valores humanos - não econômicos, haveremos
de entender, que desde que tenhamos alta capacidade técnica e formação cotidiana, teremos
papel fundamental nesta transição.
A pesquisadora entende que a prática da atividade beneficente está dentro do que é
específico do Serviço Social; mas também que como em todas as profissões sobretudo as
das áreas humanas e sociais, devemos buscar uma postura mais transdisciplinar, mais
integradora contribuindo com os nossos conhecimentos e somando-os a outros para a
construção de novas relações sociais mais humanizadas. As formas são bastante
diversificadas e dependem sempre dos serviços contratados, eles requerem-me
conhecimentos os mais diversos e nem sempre estes são específicos do serviço social
apenas. É preciso que tenhamos competências, mas também humildade para aprendermos e
buscarmos aquilo que não sabemos. Na área de consultoria, de planejamento participativo,
30
nesta busca de tecnologias sociais, é preciso entendermos que o trabalho em redes é
fundamental.
A pesquisadora acredita que em qualquer sistema político e econômico, e, sobretudo
no sistema capitalista tenhamos que trabalhar valores. Hoje, mesmo nos países de primeiro
mundo, os chamados valores humanos estão subjulgados e certamente por isto temos visto
barbáries inclusive neles. Sinal de que a questão dos valores humanos não diz respeito
somente à pobres e excluídos - embora seja evidente que eles são a absoluta maioria -
porque a maioria da população é pobre. Todavia, há outras questões que nos levam a
refletir sobre isso, e elas nos dizem daquilo que chamo de a insustentabilidade social posta
no mundo. Estamos num mundo que não agrada mais a ninguém, nem aos ricos, nem aos
pobres. Embora tenhamos um estado de direito ele não nos tem livrado da barbárie. O que
vemos por hora é: uma imensidão de excluídos e uma minoria enclausurada. As crianças e
adolescentes das classes altas também estão vitimizadas. Também são vítimas de violência,
também tem suas vidas organizadas em agendas e tudo indica que também não estão
felizes. Apenas o valor material não nos torna felizes, muito menos seguros. Parece-me
evidente que se as pessoas, os seres humanos, tiverem atitudes e posturas mais
humanitárias, a tendência é de que o sistema político e econômico também se altere. O
sistema não é alheio às pessoas. São pessoas que operam neste ou naquele sistema e é
destas pessoas, inclusive de nós, que estamos falando.
Todos os seres humanos precisam de uma identificação, de um significado social, e
isto muitas vezes está ligado ao fato de fazerem parte de uma empresa. Quantos de nós não
observamos nos ônibus, no metrô, nos trens e até mesmo nas ruas, pessoas com crachás,
com uniformes e que ostentam estes símbolos como formas de identificação social? Penso
que isto também contribui para maior lucratividade das empresas. Penso ainda que o fato
31
das empresas investirem no social acaba reforçando esta imagem. Qualquer um de nós nos
identificaríamos com uma empresa comprometida com o social. E quando nos
identificamos com uma empresa, quando nos sentimos fazendo parte dela é claro que isto
reflete-se em produtividade. Não penso que há algo de errado nisso, afinal, todas as
empresas tem um papel social que vai além de gerar empregos e tratar bem seus
empregados, com salários diretos e indiretos - que são adquiridos pelos chamados
benefícios sociais.
Nós é que as vezes interpretamos isto equivocadamente. Senão vejamos: porque é
que chamamos a "assistência social" - aquela que dá a cesta básica, que dá o medicamento,
que dá a assistência médica, que dá o leite, etc ..., de mal necessário - mas, ao mesmo
tempo chamamos estes mesmos ítens de "benefícios sociais", adquiridos pelo trabalhador
quando são mantidos pelas empresas? Penso ser preconceituosa essa nossa forma de
vermos e nos relacionarmos. Eu pessoalmente, vejo de maneira muito interessante esta
postura de algumas empresas. Elas não deixaram de ser capitalistas, elas não deixaram de
buscar os lucros, elas apenas investem nos seus entornos sociais de forma que tenham
maiores retornos, sobretudo lucrativos.
É interessante ler um artigo publicado na Folha de São Paulo, que aborda a mesma
questão, com relação à um grande produtor de softwares para jogos computadorizados. Este
empresário criou e mantém um programa de recuperação de viciados compulsivos em jogos
computadorizados. Quando eu comecei a ler esta reportagem, confesso que procovou-me
no mínimo uma curiosidade: Porque é que ele investe no que pode lhe gerar mais lucro? Ao
final da reportagem a resposta estava clara. Não interessava à este empresário os viciados
compulsivos em jogos, vez que estes eram também os maiores devedores. Então era óbvio
que ele criasse tal programa e com ele estivesse interessado em "tratar dos viciados
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compulsivos em jogos" e com isso aumentasse seus lucros. Esta é a lógica do sistema
capitalista.
Conjunto de organizações da sociedade civil de direito privado e sem fins lucrativos
que realiza atividades em prol do bem comum. Integram o terceiro setor instituições como
as organizações não-governamentais (ONGs) e as organizações da sociedade civil de
interesse público (OSCIPs) em geral. Organizações a serviço de interesses corporativas, a
exemplo de sindicatos e clubes, não compõem o terceiro setor.
33
VI. CONCLUSÃO
O tema do presente estudo foi a gestão estratégica no terceiro setor e seu efeito no
atual papel do gestor.
O objetivo deste estudo foi o de proporcionar informações relacionadas ao terceiro
setor (ONG's - Organizações Não Governamentais )e atividades de Marketing Social e
Societal.
No decorrer do trabalho, foram estudados: o conceito, o surgimento, as metas e os
desafios do terceiro setor; o perfil do profissional do terceiro setor e o empreendedor social;
o voluntariado empresarial e a gestão de pessoal; a importância do terceiro setor para a
sociedade, o surgimento das entidades não-governamentais e os princípios da
responsabilidade social.
Acredito ser de fundamental importância contribuirmos para que o 3º setor no Brasil
seja mais emergente e saia da "invisibilidade" e até do "limbo" no qual se encontra.
Propiciarmos melhor desenvolvimento ao Terceiro Setor do Mercado, com as chamadas
empresas sociais, solidárias, associativas, micro-associativas destinadas a geração de
emprego e renda para os excluídos me parece um dever ético.
Desenvolver e poder desenvolver com as populações empobrecidas esta proposta de
formas diferenciadas de empresas que se interseccionam na assistência e na produção pois
tenho a clareza que mais do que nunca, faz-se necessária uma interface humana entre o frio
mundo globalizado e a calorosa expressão dos problemas sociais além da imensa ausência
de cidadania.
34
Acredito no 3º setor sintonizado com o novo paradigma de uma nova realidade, que
traz no seu bojo um novo desafio: a verdadeira democratização das relações na sociedade.
O enfrentamento da pobreza só será possível com um sistema de garantia de direitos,
portanto favorecendo instrumentais concretos de erradicação da pobreza. Quero frisar: não
só a miséria econômica e social, mas também a cultura da subalternidade existente nos
países subdesenvolvidos.
Alias, o sociólogo e professor José Pastore renomado especialista brasileiro em
questões do trabalho diz que: "O trabalho do futuro vai se realizar numa atmosfera que
poderíamos chamar de "escolar" onde todos deverão estar aprendendo o tempo todo. Os
trabalhadores do futuro terão que ser polivalentes e cuidar da sua capacidade de aprender
muito mais do que preservar especializações. O conceito de emprego, na verdade, será em
muitos casos substituídos pelo conceito de tarefas, projetos, missões a cumprir, atividades a
desempenhar". Diz ainda este mesmo autor que dentre as profissões do Século XXI o
Serviço Social estará no mesmo patamar das profissões tecnológicas, dado a gravidade da
degradação das relações interpessoais e humanas. Então, convido-os a serem
permanentemente estudantes.
35
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