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Dados Internacionais dc Catalogação na Publicação (CIP) 

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gomide, Paula Inez Cunha.

Pais presentes, pais ausentes : regras e limites/

Paula Incz Cun ha Gom ide. - Petrópolis, RJ : Vozes, 2004.

ISBN 85.326.2947-4

1. Educação de crianças 2. Família - Aspectos morais

e éticos 3. Pais e filhos I. Título.

03-6077 CDD-649.1--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ------------— ------------------------------------------------------------------ *

índices para catálogo sistemático:

1. Educação de crianças : Vida familiar 649.1

INDEX BOOKS GROUPS

Este manual foi disponibilizado em sua versão digital a fim deproporcionar acesso à pessoas com deficiência visual, possibilitando a

leitura por meio de aplicativos TTS (Text to Speech), que convertemtexto em voz humana. Para dispositivos móveis recomendamosVoxdox (www.voxdox.net).LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.(Legislação deDireitos Autorais)Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:

I – a reprodução:d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo dedeficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais,seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento emqualquer suporte para esses destinatários;http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1998/lei-9610-19-fevereiro-1998-365399-normaatualizada-pl.html

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^ 'aula/ c(íimAu' céjGfnidey

^ a l s / p a e & e n te s / , p a i s / a u s e n t e a

e/ ÍLmites/ 

3a Edição

A EDITORA 

VOZES

Petrópolis2004

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© 2004, Editora Vozes Ltda.

Rua Frei Luís, 100

25689-900 Petrópolis, RJ

Internet: http://www.vozes.com.br  

Brasil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta

obra poderá ser reproduzida ou transmitida porqualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou

mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou

arquivada em qualquer sistema ou banco de

dados sem permissão escrita da Editora.

 Editoração e org. literária: Ana Kronemberger

 Ilustrações: Ademir V. da Paixão

ISBN 85.326.2947-4

Este livro foi co m po sto e im presso pela E dito ra Vozes Ltda.

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 fÁgmAecimeii tas- 

éAas' meus' pÃJva& crVinícúiS' & 3(ámwpar- taitumenia' matcmidtido/ w melAai' d& indas* as minima 

expvuüticùts.

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S u m Á / u o /  

 Introdução,  9

1. A importância das regras, 13

2. O humor instável, 26

3. A punição física, 33

4. A supervrisão estrcssante, 41

5. A monitoria positiva, 50

6. A negligência, 67

7. O modelo moral, 76

Conclusão,  85

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 In trodução

A famíl ia ainda é o lugar privilegiado para a pro

moção da educação infantil. Embora a cscola, os clu bes, os companheiros e a televisão exerçam grande

influencia na formação da criança, os valores morais

e os padrões d e conduta são adquiridos essencial

mente através do convívio familiar. Quando a família

deixa d e transmitir estes valores adequadamente, osdemais veículos formativos ocupam seu papel. Nes

tes casos, a função educativa, que deveria ser apenas

secundária, muitas vezes passa a ser a principal na

formação dos valores da criança.

Este livro se propõe a auxiliar pais e educadoresna difícil tarefa de educar crianças. Até meados do sé-

culo passado, as regras estabelecidas por nossos ante

 passados para a cducação de filhos eram inquestioná

veis. Os pais puniam e castigavam como um direito

legítimo de educador. Era dever dos educadores corrigir, mesm o que com rigor físico, as rebeldias infan

tis. Aqueles que não corrigissem seus rebentos seriam

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questionados pela sociedade e até culpabilizados pe

las desordens por eles cometidas.

A revolução de costumes dos anos 50 trouxe con

sigo uma série de questionamentos quanto à maneira

de educar crianças. A severidade habitual de costu

mes foi confrontada inicialmente através da liberda

de sexual e em seguida pela flexibilização das regras

na educação das crianças. Os novos pais, pós-revolu-ção sexual, também se rebelaram quanto às regras rí

gidas de educação de filhos. Passaram a conceder

mais, repudiaram a punição física, quiseram se tor

nar mais amigos dos filhos. Começaram a utilizar o

diálogo como fonte de educação.

Porém, essa nova maneira de educar trouxe conse

qüências inesperadas. Os filhos ficaram desobedien

tes, não respeitando seus pais e professores, muitas ve

zes deixando de estudar, não querendo assumir com

 promissos profissionais, tornando-se rebeldes c, por

via de conseqüência, alvo fácil de grupos desviantes.

Qual seria o problema com essa forma de educar?

As regras punitivas e rígidas utilizadas pelas gerações passadas eram mais aversivas que as atuais? Conver

sar é a melhor maneira de se resolver situações de

conflito? Ser amigo do filho é melhor do que ser um

 pai autoritário e distante?

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É verdade que os métodos utilizados pela geração

 passada para educar eram mais rigorosos. É igual

mente verdade que o diálogo é a melhor maneira dese resolver conflitos e também é preferível um pai

amigo do que um pai distante e autoritário. No en

tanto, os pais modernos, para conquistar este novo

tipo de relacionamento, abriram mão, muitas vezes,

do seu papel de educadores. Deixaram de estabelecerregras, esqueceram que os pais são o modelo moral

 para seus filhos, passaram a usar a conversa de forma

 punitiva (horas de sermão e de ameaças) e não como

um a forma de reflexão. Romperam com a punição e

se tornaram permissivos.

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 Neste livro discutiremos os principais pontos

que devem ser enfrentados pelos pais, se quiserem

levar a cabo uma educação promissora. Quais os

 principais erros e como eles podem ser corrigidos.

Com o estabelecer um relacionamento amoroso com

o filho sem perder a autoridade. E, por fim, como

inibir o desenvolvimento de comportamentos an

ti-sociais a partir da maneira de educar.

Esperamos que ao final da leitura deste livro você

esteja se sentindo mais seguro a respeito das decisões

que tiver de tomar. O contato com alternativas ade

quadas para educar, sem punição física, pode deixá-lo mais confiante na escolha da sua maneira de li

dar com o relacionamento infantil e educar.

 Pais presentes, pais ausentes e um livro que pretende

apenas contribuir com algumas ideias para a educação de crianças e adolescentes, sem ser uma proposta

literária. Se pudermos colher bons frutos por esta se

mente plantada, estaremos plenamente satisfeitas

como psicóloga e pesquisadora que somos.

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 A im portância das regras

O s pais e educadores estão sempre se questionando

sobre as regras. Devemos fazer regras em nossa casa,

nas salas de nula ou em outros ambientes? Quais re

gras precisam ser estabelecidas? Como elas devem

üe! feilns? Quais os castigos que podem ser usados? E

os qiu- não devem ser aplicados? O que acontece se

não fizermos regras? O que acontece quando não

cumprimos as regras por nós estabelecidas? Adiantaameaçar? Podemos premiar o bom comportamento?

Enfim, são muitas as questões que nos preocupam

como educadores.

Em primeiro lugar, devemos considerar a importância de estabelecer regras em nossa relação com

nossos filhos ou alunos. Sim,  devemos estabelecer

regras. Elas devem ser criadas para permitir um rela

cionamento adequado entre os membros da família,respeitoso em relação aos valores e hábitos daqueles

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em linhas gerais, buscar o estabelecimento de pou

cas regras, que sejam flexíveis e realmente possam ser

cumpridas.

Os pais não devem estabelecer regras excessivas, rí

gidas e difíceis de serem cumpridas. Quando os pais

ou professores criam muitas regras, os filhos ou alu

nos, por saturação, deixam de prestar atenção a gran

de parte delas, ignorando-as e burlando-as. Quando

as regras são difíceis de serem cumpridas, porque são

muito rígidas, a chance de que sejam desrespeitadas

aumenta, e a possibilidade de os pais ou professores

 permitirem seu descumprimento é grande. Raramente uma criança atinge os critérios rígidos estabe

lecidos pelos pais ou professores nas primeiras tenta

tivas. Portanto, a chance de fracasso e muito grande,

gerando desapontamento para ambas as partes. Emais vantajoso para todos que se inicie gradualmente

a implantação de uma regra nova.

Vejamos. Se uma mãe deseja que o filho junte os

 brinquedos da sala, ela poderá iniciar o treinamentoda seguinte forma: no princípio ela irá ajudá-lo mos

trando como fazer, elogiando o seu desempenho e in-

centivando-o a colocar os brinquedos 110 lugar certo.

Estes primeiros passos devem ser dados muito cedo,

quando a criança ainda é pequena, entre dois ou tres

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locá-la sobre o brinquedo apreendendo-o. N está mo

mento a mãe deve dizer, sorrindo, que está contente,

que ele (a) está indo muito bem. Gradualmente, a mãe

deve deixar de ajudar a guardar os brinquedos, apenasorientando e elogiando o filho ao final da tarefa, até

que o comportamento esteja bem estabelecido. Desta

forma a criança aprende a regra, passo a passo, e se

sente capaz de executar o pedido da mãe.

Por outro lado, se a mãe diz “arrume seu quarto,

 junte os brinquedos, faça a tarefa, penteie os cabelos,

corte as unhas” etc., para uma criança que não executa

nenhuma destas atividades, a chance de fracasso é

enorme. Diante de muitas tarefas para as quais não foi preparado convenientemente o filho procura se es

quivar de todas ou tenta manipular a mãe emocional

mente. Esta manipulação tem o objetivo de provocar

 pena no educador, facilitando o desrespeito à regra es

tabelecida. Em geral, para se livrar da “chorominga-

ção” os pais descumprem as regras, “esquecem” que

deram uma ordem e deixam a criança “em paz”.

Tomem os o exemplo contrário às cenas âos quadri-

nhos. A mãe estabelece uma regra - “chegar às 10 ho

ras” mas o filho resiste em cumpri-la. Ela, então,

estabelece um castigo: “não ver tevê por uma sema

na”. O filho por sua vez não cumpre o castigo e con

tinua assistindo à tevê. A mãe “tenta” fazê-lo cumprir 

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o castigo, mandando desligar a tevê, porém, na se

gunda tentativa, desiste. Inicialmente, e preciso ava

liar se a regra estava adequada. Se for um dia de se

mana, parece adequado que os pais dete rminem que

o filho esteja em casa às 10 horas, porém, se essa situ

ação ocorrer aos sábados e o filho for adolescente,

esse horário se mostrará irreal. Logo, esta e uma regra

rígida e que dificilmente será cumprida. Nos finaisde semana os pais devem ser mais flexíveis e, caso fi

quem preocupados, o que é natural, podem organi

zar formas para ir buscar os filhos nas festas (fazer ro

dízio entre pais, por exemplo).

O segundo ponto a ser analisado no exemplo aci

ma diz respeito ao castigo estabelecido. Quando a

mãe fixou o castigo, não pensou se teria condições de

“fazer cumprir” o que determinara, ou seja, ela con

seguiria manter a tevê desligada? Ela teria persistên

cia para desligar o aparelho tantas vezes quantas ele o

ligasse? Ela estaria em casa para controlar o cumpri

mento do castigo? Ela ficaria com pena da criança e

resolveria encerrar o castigo? Caso os pais não tenham meios de controlar o cumprimento do castigo,

ele não deve ser estabelecido. Deve-se escolher um casti

go possível de ser cumprido e, principalmente, que

os pais consigam controlar. Se os pais estabelecemi ã it ( ã i j fé i d fi

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nal de ano, ficar sem ir aa playground   por um mês,

nunca mais falar com o namoradinho etc.), este cas

tigo acaba se tornando uma ameaça, que dificilmente

será executada, A ameaça se dá quando sinalizamosum castigo que tanto os pais como os filhos sabem

que não será cumprido. A ameaça não controla o

comportamento, ou seja, ela não é capaz de mudar

ou de enfraqueccro comportamento indesejado. ElaApenas torna a relação entre pais e filhos aversiva, de-

a gradável, irritante e desgastante.

| Quando os pais descumprem, sucessivamente, as

regras por eles estabelecidas, ensinam aos filhos três atitudes indesejáveis: (í) que as regras não são para

serem cumpridas; (2) que a autoridade (pais ou pro

fessores) pode ser desrespeitada; alem de (3) ensinar

a manipulação emocional. Esta aprendizagem terá

sérias conseqüências para as atitudes futuras da cri

ança ou do adolescente. Aprender que as regras po

dem ser descumpridas leva os jovens a não aceitarem

normas sociais. Placas, avisos ou informações pre

sentes em rodovias, escolas ou instituições podemser desconsiderados, pois não têm significado algum.

As autoridades que formulam as regras - pais, pro

fessores, dirigentes etc, - não merecem respeito visto

que não foram capazes de fazer valer o cumprimentodas regras Por fim eles aprendem a manipular emo

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cionalmente os educadores: fazem chantagem, cho

ram, mostram “caras arrependidas” ou, ainda pior,

ficam agressivos e, com esta atitude, conseguem in

terromper o castigo, gerando culpa nos educadores.

Ainda se, sistematicamente, os pais relaxam no

cumprimento das regras ao mesmo tempo em que

ensinam aos filhos o desrespeito às regras e à autori

dade, desenvolvem nas crianças e adolescentes insegurança sobre o que é certo ou errado, sobre valores

morais ou éticos, sobre respeito aos direitos huma

nos e às pessoas, Estas crianças não aprendem, com

seus pais, a respeitar as instituições e as pessoas, porisso, são “malcriadas” com as professoras, instrutoras

ou colegas. Elas não aprendem que as regras devem

ser estabelecidas com justiça e, logo, não sabem ava

liar se uma determinada regra está adequada a uma

dada situação devendo, portanto, ser cumprida.

Esse tipo de prática tem efeitos desastrosos. Infe

lizmente, são encontrados muitos jovens com com

 portamento anti-social, cujos pais criam regras para

dcscumpri-las sistematicamente e que usam a ameaça 

como prática educativa. Os pais e professores amea

çam, mesmo que estejam conscientes de que a amea

ça não funciona. Talvez acreditem que falando, amea

çando, estejam cumprindo, ao menos cm parte, seul d d d i l d

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Mas é importante que observem como a ameaça é

ineficaz. Os filhos e alunos não obedecem por causa

da ameaça; eles só vão obedecer se souberem que a

ameaça será seguida pelo castigo prometido. Só as

sim eles irão relacionar o “comportamento inade

quado” com o “castigo”, e então, para se livrar da pu

nição, mudam o comportamento indesejável.

O castigo nunca deve produzir privação de necessi

dades básicas (alimento, sono, carinho) ou produzir

dor. É recomendável, por exemplo, que este determi

ne a retirada de “algum tipo de lazer” por um período

curto de tempo, como ficar sem ver tevê ou jogar vi-deogame por um ou dois dias, ficar sem comer doces

etc. Privar a criança de carinho é um grave erro. A cri

ança deve ter segurança do amor paterno ou materno

 sempre,  mesmo quando está sendo castigada. Os paisdevem estabelecer o castigo (retirada de um privile

gio) sem demonstrar raiva ou ódio. O comportamen

to indesejado deve ser punido e não a criança. Quan

do mostramos ódio, estamos informando à criança

que a  reprovamos como ser - a totalidade de sua es

sência - e não ao seu comportamento. Este fato é ex

tremamente importante, pois perturba a criança de

modo que ela não sabe o que fazer para atender ao que

os pais desejam dela. se ela é  errada, como mudar? A

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que os pais esperam dela. Dar informações dúbias,

confusas, gera atitudes instáveis nas crianças. Se ao

aplicarmos um castigo usamos frases como “você vai

ficar no quarto porque não quero ver sua cara, odeio

você, você só faz coisas erradas, preferia que não tives

se nascido”, os pais não estão tentando corrigir o com

 portamento indesejado e sim estão despejando seu

ódio sobre o filho. O filho recebe o ódio e não sabe oque fazer para atender às expectativas dos pais. Todo

çie está errado. Como mudar?

( )utra questão importante é sobre o tem po entre

a ocorrência do comportamento indesejado e a apli-( ação do castigo. O castigo não deve ser aplicado após

ter passado muito tempo; é importante que seja apli-

<ado em seguida ao comportamento indesejável ter

ocorrido. Não funciona dizer que a criança não vaiganhar a bicicleta no Natal, quando ela tirou uma

nota baixa em abril. Mesmo porque, provavelmente,

no Natal, também os pais já se esqueceram do castigo

ou nãp desejam estragar a festa de todos fazendo

cumprir uma determinação tão inadequada.

Quando uma situação como essa ocorre - filhos

com notas baixas os pais devem tomar as provi

dências desde o início do ano. Estabelecer horários

de estudo, contratar professores particulares, acom

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um ambiente favorável para que todos da família fa

çam suas tarefas é uma excelente alternativa. O pai

 pode sentar-se perto do filho para ler seu jornal ou

fazer sua contabilidade, a mãe para ler sua revista, fa

zer tricô ou corrigir provas da escola e as crianças

 para fazerem suas tarefas, Este momento, de uma ou

duas horas após o jantar, por exemplo, cria hábitos de

estudos duradouros nas crianças e desenvolve habilidades de estudo eficientes. As crianças aprendem

que estudar é uma tarefa de todos e agradável.

Em algumas ocasiões, os pais tentam “corrigir” o

comportamento dos filhos impondo-lhes um castigoou obrigando-os a cumprir um a tarefa estabelecida e

sc surpreendem quando estes respondem de manei-/

ra agressiva. E possível que certas mães recuem dian

te da agressividade do filho, preferindo não enfrentar

aquela situação desagradável, por medo ou por não

saberem que atitude tomar. Este recuo fortalece o

comportamento agressivo do filho e leva-o a pensar

que agir agressivamente poderá ser uma forma de

obter o que deseja. Os pais e professores devem evitar  mostrar medo ou insegurança diante do comporta

mento agressivo de uma criança ou adolescente po r

que esta é a principal forma de aprendizagem de

comportamento violento. Caso as mães ou professo

ras sintam que são mais fracas que seus filhos ou alu

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fronto. Devem procurar identificar formas criativas

 para dar as instruções e aplicar as regras.

O comportamento aprendido nesse confrontocom os pais é facilmente generalizado para outras si

tuações. A criança passa a agredir verbal ou fisica

mente colegas, inspetores, professores. Nestas cir

cunstâncias rotula-se a criança de mau-elemento,

delinqüente, marginal, violento etc. Ao ser rotuladana escola e no bairro, a criança passa a se sentir des

confortável naqueles ambientes e procura se integrar

cm grupos ou “gangues”, onde recebem aprovação

 pelos seus comportamentos violentos e pela sua ousadia, coragem, inteligência, criatividade. Desta for

ma a criança deixa a escola, afasta-se do convívio fa

miliar e passa a pertencer ao grupo da “rua”.

Alguns pais acreditam que todas as regras devem

ser conversadas e discutidas com as crianças e, por

assim pensarem, transformam suas casas em cons

tantes assembléias. No entanto, mesmo concordan

do que muitas situações devam ser discutidas com os

filhos para que democraticamente as decisões sejamtomadas, os pais devem saber distinguir entre o que

deve ser colocado em discussão democrática e o que

deve ser resolvido pelo adulto responsável pelo bem-

estar da criança. Escovar os dentes após as refeições e

antes de dormir, por exemplo, não é uma atividade

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negociável e que possa ficar na dependência de uma

decisão da criança. A mãe, no entanto, não precisa

impor a regra de forma agressiva, poderá dizer para a

criança: “escove seus dentes e dcite-sc que contarei

uma historinha para voce”. Desta forma ela estará in

centivando-a a escovar os dentes e tornando uma ta

refa “possivelmente aborrecida” em uma tarefa com

um final feliz. Elogiar os dentes limpos, sem cáries, o bom hálito etc. fazem parte da aprendizagem da tarefa

de escovar os dentes e, com o passar do tempo, a pró

 pria criança passa a ter orgulho de seus bons dentes e

compreende a importância de manter sua higiene.Se os pais dão salgadinhos, sorvetes, chocolates

ou mamadeira para as crianças a qualquer hora, de

vem estar cientes de que não estão desenvolvendo

 bons hábitos alimentares em seus filhos. Se os pediatras aconselham uma criança a comer frutas, legu

mes, verduras e proteínas para seu pleno desenvolvi

mento, os pais devem verificar o que estão fazendo

 para incentivar seus filhos a adquirirem o hábito de

ingerir estes alimentos. A melhor maneira é oferecero alimento desde cedo - como sopinhas de verduras

com caldo de carne e papinhas de frutas - para que as

crianças se habituem com os diversos sabores. Se a

criança rejeita um sabor, deve-sc oferecer outro similar na próxima refeição junto com um alimento

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roso para a criança e não uma hora de estresse para

ambos, mãe e filho. O modelo representado pelos

 pais, geralmente, é um bom incentivo para as crianças. Elas procuram imitar seus pais em tudo o que fa

zem, inclusive naquilo que comem.

Em resumo, os pais devem sim estabelecer regras.

Estas devem ser poucas, progressivas e possíveis de se

rem cumpridas. Precisam ser aplicadas logo após ocomportamento inadequado ter ocorrido. O castigo

nunca deve provocar dor ou privação de necessidades

 básicas. Jamais  usar a retirada do carinho, do afeto

como castigo. A ameaça é ineficaz e gera um relacio

namento irritadiço. As crianças que são “educadas”

com regras frouxas tornam-se adolescentes que não

respeitam as regras na escola e demais instituições,

não respeitam os professores e demais autoridades e

aprendem que a manipulação emocional e a agressivi

dade são “boas” formas para se resolver problemas e

enfrentar tentativas de estabelecimento de regras. Finalmente, quando se sentem rejeitadas, estas crianças

- ou adolescentes - afastam-se, gradualmente, da es

cola e da família sendo atraídos para grupos marginais,

onde encontram reforço para seus comportamentos

desviantes e valorização de sua agressividade.

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O humor instável

Ohumor dos pais ou professores pode ter efeitos

sobre a educação dos filhos ou alunos? Analisaremos

neste capítulo com o isto ocorre; quais as conseqüên

cias desta maneira de educar; e, ainda, o que os filhos

aprendem quando recebem castigos em função dohum or dos pais, seja ele positivo (alegria), seja nega

tivo (raiva).

Evidentemente, devemos reconhecer, inicialmen

te, que nosso hum or altera nossa disposição para agir,

 Não é fácil corrigir um filho quando estamos alegres,

rindo, nos divertindo. C orrigir, fazer cumprir regras,

dar limites, enfim educar pode, em certas ocasiões,

 perturbar nosso estado emocional positivo. O que

dizer então das influências dos estados emocionaisnegativos? C om o ficam as mães e professoras duran

te o período de tensão pré-m enstrual? E os pais, após

uma discussão no trabalho ou no trânsito? Enfim,

são muitas as situações que alteram o nosso humor,

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 para melhor ou para pior. Como este estado de h u

mor afeta nossa tarefa educativa? Como afeta nos

sos filhos?

g u a n d o aplicamos ou não uma punição em fun

ção de nosso estado de humor e não em função de

um mau comportamento, estamos ensinando a dis

criminar nosso humor  e não a reconhecer o mau com

 portamento executado/À criança aprende que quando

o pai está bravo, mal-humorado, o castigo será seve

ro. Nestas circunstâncias, se puder, foge de casa, se

esconde, esperando que o humor melhore. Por ou

tro lado, ela percebe que, quando o pai está alegre, elenão irá castigá-la, tenha feito o que for. Possivelmen

te, ele irá até brincar a respeito do mal feito.

Discriminar o estado de hum or dos pais não aju

da a criança a aprender valores e nem o que é certo ouerrado. Crianças e adolescentes que vivem sob esse

tipo de prática educativa não sabem reconhecer quais

os comportamentos desejados pelos pais. Sabem ape

nas que o hum or de seus pais varia e que precisam selivrar dos momentos ruins.

Quando os pais castigam sob efeito de forte em o

ção, muita raiva, por exemplo, em geral, se arrepen

dem assim que a raiva passa. Nesses casos, é comumpedirem desculpas ao filho sentindo pena da criança

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neste mom ento, chantagear emocionalmente os pais

é vantajoso. A aprendizagem se dá cm virtude das

emoções envolvidas e não dos maus ou bons com

 portamentos que desejamos ensinar.

Quando um dos pais perceber que tem se des

controlado seguidas vezes ao tentar educar seu filho,

deve procurar um serviço de Aconselhamento de

Pais. Um profissional poderá ajudá-lo a melhor per

ceber suas dificuldades e orientá-lo nesses aspectos.

Muitas vezes uma orientação não e suficiente para

resolver este tipo de dificuldade e, então, o profissio

nal poderá aconselhar o cliente a fazer terapia. Seo pai ou a mãe é violento com o filho porque perde o

controle, e depois se arrepende, é sinal que alguma

situação emocional importante está provocando esta

reação. Uma terapia poderá ajudar esses pais a resolverem tais problemas e trazer harmonia para a famí

lia, principalmente evitar que o filho sofra com o de

sequilíbrio dos pais.

Duran te o processo educativo é fundamental quea criança saiba exatamente o que desejamos dela.

Aqueles comportamentos julgados pelo casal que

devem ser incentivados, apoiados, elogiados, preci

sam receber esta conseqüência  sempre; assim como

aqueles que devem ser recriminados, evitados, extin

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Os pais não devem m udar de idéia sobre o que é cer

to ou errado durante o processo educativo; isto con

funde a criança e a deixa desobediente. Se ela não

sabe se aquele comportam ento e errado ou certo,

 porque ora lhe e dito que pode, ora que não pode, ela

deixa de obedecer. Com o já foi dito no capítulo ante

rior, poucas regras devem ser selecionadas durante as

várias etapas educativas. O que desejamos que nossosfilhos aprendam? T cr horários para estudar? Estudar e

obter boas notas? Ter horário para ver teve? Alimen

tar-se de forma saudável? Tomar banho todos os

dias? Escovar os dentes após as refeições? Enfim, resolvido o que é importante, naquela etapa do de

senvolvimento infantil, devem-se deixar as demais

questões de lado, ou seja, os outros assuntos podem

ser tratados de forma flexível. Da mesma maneira

devemos selecionar aquilo que realmente ó  impor

tante que os nossos filhos não façam. Gazear aulas,

agredir o irmão, mentir, comer salgadinhos antes das

refeições etc. No decorrer do desenvolvimento da

criança, novas regras surgirão em função das variadasnecessidades infantis e juvenis. As regras já in terna

lizadas deverão ser substituídas por novas regras,

apropriadas ã nova situação.

Estamos habituados a pensar e acreditar que apei d d i l i i d

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responsáveis pelo desenvolvimento de comporta

mento anti-social nos filhos. Mas o modelo agressi

vo em qualquer caso certamente tem influência no

comportamento dos filhos. O ditado filho de peixe, pei-

 xinho é   tem sua verdade. Se o pai reage de forma

agressiva, violenta, diante dos problemas familiares,

e sua reação tem o efeito desejado (impede que a es

 posa cobre algo dele, afasta os filhos que solicitamsua atenção, intimida etc.) a criança aprende a se com

 portar desta maneira, por imitação. N o futuro, quan

do estiver em uma situação-problema, poderá usar a

agressividade como forma de enfrentar a questão.Por outro lado, se o modelo dado pelos pais for o de

conversar sobre as dificuldades ou problemas familia

res, incluindo aí as desobediências das crianças, a

imitação será a de usar o diálogo como maneira de

solucionar dificuldades. Os castigos podem e devem

ser apresentados às crianças de uma forma pacífica.

O alerta que se pretende neste capítulo refere-se

ao fato de que o humor , ou melhor, a variação de hu

mor, durante as interações educativas, tem prejuízos

relevantes para a educação das crianças e adolescen

tes. Sem aprender valores, pois estes são passados de

forma confusa e instável, os filhos crescem tateando

o ambiente para descobrir o certo e o errado. Este

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nal nas crianças deixando-as ansiosas e agressivas, em

função das frustrações decorrentes de não saber o

que fazer para agradar aos pais.Essa instabilidade emocional tem também como

conseqüência a perda da autoridade paterna. Os fi

lhos percebem a instabilidade e aprendem que os

 pais não tem segurança em seus valores e propósitos

educativos. Passam a rejeitar orientações vindas dos

 pais e não os reconhecem como modelos morais

adequados.

Esse modo de educar é nocivo ao desenvolvi

mento saudável da criança, mas pode ser corrigido.

Identificar que se está educando em função das va

riações do hu m or e não em benefício dos comporta

mentos adequadosjá e um primeiro passo. Se for ne

cessário, os pais devem procurar ajuda para modifi

car estas atitudes e as mudanças virão cm favor de

toda a família. As crianças agradecerão para sempre.

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3

 A p u n iç ã o fís ic a

B ater ou não bater, eis a questão. Qual o limite en

tre dar palmadas, bater e espancar? Esta pergunta

vem sendo feita pelos pais. A prática da palmada e

milenar mas, atualmente, os estudiosos vêm condenando com veemência o seu uso. Existem conse

qüências negativas para crianças que apanham? Bater

é sempre prejudicial? Até que ponto?

Bater e um comportamento agressivo dos pais para com os filhos ou é um procedimento educativo,

disciplinar? Na grande maioria das vezes os pais ba

tem com raiva c, naquele momento, o que menos

importa e o caráter educativo do meio disciplinar utilizado. Se, ao bater, o pai ou mãe demonstra raiva, diz

 palavrões, agride verbalmente o filho, humilhando-o,

a criança irá aprender que ela  é errada e não o seu

comportamento. Esta prática atinge o ser  da criança e

não o comportamento que estamos querendo m od i

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com portamento errado pode ser modificado, porem

“a criança errada”, como pode ser modificada? Dizer

à criança, quando está sendo castigada com raiva, queela e burra, idiota, uma peste, capeta etc. gera a intro-

 jeção, a assimilação, a incorporação destes valores.

Isso diminui sua auto-estima e a torna insegura.

Os pesquisadores tem demonstrado que crianças

e adolescentes com baixa auto-estima procuram as

drogas e grupos delinqüentes, onde, mediante atos

anti-sociais, infratores, proibidos, conseguem me

lhorar sua auto-estima. Isso acontece porque este tipo

de atitude, de alguma forma, necessita de coragem,

valentia, criatividade ou inteligência para seu desem

 penho. Todos estes valores são reforçados pelo grupo.

Os pais, sem saber desta séria conseqüência negativa,

em contraposição, continuam a diminuir a auto-estima de seus filhos pela humilhação ou agressão.

A maioria das pessoas reconhece que crianças es

 pancadas serão adultos problemáticos. As pesquisas

mostram que 95% dos adolescentes infratores foramespancados na infância. Seus pais ou padrastos usa

ram ferramentas ou objetos para bater, provocando

sérias lesões em seu corpo, além de usarem o espan

camento como meio mais freqüente para “corrigir”

os maus comportamentos.

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Os pais pensam que ensinaram à criança, por

meio da surra, pois, naquele momento, apenas na

quele mom ento, o comportamento cessa. N o entanto, os estudiosos da punição já demonstraram, a partir

de pesquisas, que o comportamento reprimido reapa

rece assim que a criança estiver fora do alcance dos

 pais ou daquele que a puniu. A punição, geralmente,

só é capaz de controlar o mau comportamento diante

daquele que pune. A criança não aprende que não é

 para fazer alguma coisa; aprende que não e para fazer

tal coisa diante dos pais. Longe deles ela continuará

fazendo. E quando não mais tiver medo dos pais, iráenfrentá-los ou fugir de casa.

H tis pais ficnm confusos, decepcionados, pois,

aíinal, fizeram tudo para educar, foram enérgicos,

surraram. E assim mesmo “aqueles ingratos” nãoaprenderam. Muitos atribuem esta ineficácia educa

cional aos genes dos antepassados “do outro cônju

ge”, naturalmente. A mãe diz: “ele não aprende por

que sofre dos nervos, igualzinho ao avô do meu marido”; o pai rebate dizendo: *ele e assim nervoso, não

obedece, porque puxou o irmão de minha mulher,

que vive internado”.

Crianças que apanham com muita freqüência oucom violência podem se tornar apáticas medrosas

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do” em seu comportamento, porque a surra atinge o

seu ser  e não o seu mau comportamento. Ela procura

estar parada, quieta, sem ação, assim, talvez, tenha al

guma chance de evitar a surra. Seus pais provocam

medo e não respeito. Os professores devem suspeitar

que uma criança é espancada quando observarem

alunos com baixa responsividade. Alunos que não se

interessam por atividades agradáveis, que sorriem pouco, que não mantêm contato visual, podem ser

crianças espancadas. Nestes casos, é preciso investi

gar e denunciar aos Conselhos Tutelares. A criança

não pode se defender da agressão, e preciso ajudá-la.U m bebê não pode apanhar, em hipótese alguma.

se uma mãe se descontrola e bate em seu bebê deve

imediatamente ser encaminhada a um serviço psico

lógico especializado. Os bebês choram porque têmfome, sono, estão sujos, precisando carinho, estão

desconfortáveis ou têm dor. São necessidades bioló

gicas básicas do ser humano, que, ao serem atendi

das, farão cessar o choro. Os pais precisam conhecer

o bebê para atender suas necessidades o mais rapida

mente possível. Observar o bebê, investigar, compa

rar suas reações, apalpá-lo, pode ajudar a descobrir o

que aflige o bebê.

E as palmadas? Um a palmada na mão ou no b um

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uma e não for acompanhada de raiva, nem de pala

vrões. Deve ser acompanhada da palavra “não” mais a

informação clara do que está sendo proibido. Porexemplo, “não coloque a mão no fogo”, “não ponha

o dedo na tomada”, “não faça birra” (quando a crian

ça se atirou no chão do supermercado porque queria

o chocolate que a mãe não comprou). É fundamental

que os pais estejam prontos para reafirmar seu afeto e

amor aos filhos nessas circunstâncias.

A maioria das vezes basta segurar com “mais

energia” no braço da criança impedindo-a do movi

mento, ou levantando-a do chão. Isto é suficiente

 para que ela perceba a autoridade dos pais e obedeça.

 Neste momento os pais devem repetir apenas a ins

trução sem longos discursos e longas explicações,

que podem atrapalhar a aprendizagem. Aqueles paisque falam muito e agem pouco não obtêm bons re

sultados no controle de birras e desobediências. É

fundamental lembrar aos pais que o seu comporta

mento educativo deve ser coerente, consistente. Atitudes vacilantes como num dia dizer não, 110  outro

“deixar pra Já” pro duzem a criança desobediente. Ela

fica sempre 11a expectativa de ser o dia do “sim”.

 Jamais se bate no rosto de um filho. Bater no rostoé humilhante não é educativo Os modelos veicula

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tem na cara dos filhos quando estão discutindo re

 presentam um péssimo exemplo.

 N o reino animal, entre os primatas, observa-seuma fêmea de macaco-aranha, por exemplo, dan

do uns tapas ou empurrões em seu filhote macho,

quando este tenta mamar. Isto ocorre quando ela está

ensinando o filhote a se alimentar de frutas e que o

leite não está mais disponível. O filhote macho é

mais resistente que a fêmea a esta aprendizagem e in

siste. Muitas vezes se observa uma reação “mais rigo

rosa” da mãe às investidas do filhote. Porém, essas

ações maternas não são mediadas pela raiva. As mãesnão apresentam faces e posturas típicas de raiva ao

educ ar seu filhote. Não se observa na natureza mães

espancando seus filhotes para ensinar-lhes o que quer

que seja.Esse poderia ser o grande segredo da educação. O

equilíbrio entre aplicar as regras e manter-se afetivo.

Mostrar ao filho que sempre está disponível para o

afeto. Jamais  dizer a um filho que “não o ama mais”ou “que preferia que ele não tivesse nascido”. São

frases capazes de gerar sérios problemas para a crian

ça, problemas cjiie vão desde a depressão ou apatia até

o uso de drogas e delinqüência. Quando a criança re

cebe, daqueles que deveriam protegê-la, rejeição ou

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tativas de futuro ficam comprometidas, prejudica

das. N ão tem motivação para executar tarefas um pou

co mais complexas.Sem auto-segurança a criança não consegue fazer

 boas escolhas, perde oportunidades de receber elo

gios, incentivos. Fica à margem dos benefícios que

 podem ser oferecidos pelo grupo social a que pertence. Sem estímulo para estudar, por exemplo, irá tirar

notas baixas, não será elogiada pela professora, recebe

rá críticas na escola e em casa. Seu desempenho sofrí

vel irá combinar com os valores que lhe foram atribuí

dos: “burro”, “idiota” etc. Sua auto-irnagem passa a

ser a de um “ser inferior”, “ser mau”. Esta auto-ima-

gem leva o adolescente a buscar a rua, apoiar-se cm

grupos marginais, a usar drogas, a cometer atos infra-

cionais. Todos estes comportamentos são selecionados pelo adolescente porque estão de acordo com sua au-

to-imagem negativa. Pessoas más fazem coisas ruins.

O cuidado na seleção dos procedimentos puniti

vos na educação de nossos filhos faz a grande diferença entre crianças saudáveis, seguras, criativas e

crianças amedrontadas, inseguras, indisciplinadas.

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è Á s u p e w í s ã u e s t i v s x a n t e y

 s 4  supervisão estressante se caracteriza pela exage

rada vigilância ou fiscalização dos pais em relação aos

filhos e pela alta freqüência de instruções repetitivas.

Telefonar a cada hora para o filho para verificar se ele

está mesmo na casa do amigo ou no shopping,  ir até o

quarto para ouvir a conversa dele com os amigos, es

cutar telefonemas, ler o diário, repetir insistentemen

te para que ele arrume o quarto ou guarde os brinque

dos, dizer todos os dias que não estudou e que não irá

 passar de ano, falar várias vezes ao dia para ele parar de

abrir a geladeira, reclamar sobre como ele a enlou

quece, deixando você exausta de tanto arrumar ouconsertar as “porcarias” que ele faz etc. são situações

que revelam a supervisão estressante.

Inicialmente, esse tipo de procedimento educati

vo demonstra quão ineficaz está sendo a educaçãoli d l i El ã fi filh d i

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fiscalizar porque, caso contrário, ele fará algo errado.

E preciso evitar problemas. Os filhos percebem a

desconfiança dos pais e passam a tentar burlar a fiscalização: mentem, desligam o telefone celular, fingem

que não ouviram a ordem, ocultam seus objetos pes

soais, conversam baixinho, se escondem etc. Os pais

 por sua vez ficam cada vez mais fiscalizadores, bra

vos, irados com as dificuldades criadas pelos filhos

que os impedem de atingir plenamente seus objeti

vos. Este tipo de relacionamento gera muitas discus

sões e agressões verbais. Os filhos ficam irritados e

agressivos, pois querem ter liberdade e privacidade ese sentem prejudicados pela falta de confiança dos

 pais; e os pais raivosos e im potentes diante das d i

ficuldades encontradas para evitar que problemas

maiores ocorram, por não fiscalizarem e controlarem seus filhos.

Os pais acreditam que repetindo várias vezes as

ordens “arrume a cama”, “estude”, “chegue cedo”,

 por um passe de mágica o filho irá obedecer, ou então, apesar de reconhecerem que não serão obedeci

dos, mantêm este comportamento porque sentem

que, ao menos, estão cumprindo a sua obrigação. Os

 pais tambem acreditam que o filho não obedece por

que é desobediente —a mãe está cansada de orientar e

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tação para pais reccbem inúmeros casais que chegam

com a seguinte queixa: “já fiz de tudo, ele não obede

ce mesmo. Não sei mais o que fazer”. Os pais, principalmente as mães, que fazem a supervisão estres-

sante, geralmente, são pessoas ansiosas e mostram

extremo cansaço e frustração com a tarefa educativa.

Sentem que se esforçam e não obtêm bons resulta

dos. “Cuidam muito” e os “ingratos” continuam tra

zendo problemas. Eles não correspondem a toda

atenção a eles dispensada. As mães dizem: “me sacri

fico por ele, e nem ao menos reconhece”.

E importante salientar que pais que se utilizam

desse tipo de supervisão para educar os filhos pen

sam que são dedicados e que estão fazendo o melhor

 possível. Q ue se sacrificam pelos filhos, que mere

cem retribuição, que estão perdendo o melhor de suaVvida para educá-los. Infelizmente, na opinião destes

 pais, os filhos não valorizam seus esforços.

Os filhos, por sua vez, não sentem que estão sen

do cuidados, amados. Sentem que os pais não confiam neles, que os fiscalizam, que invadem a sua pri

vacidade e que precisam fazer de tudo para garantir

sua independência, sua singularidade. Desenvolvem

extrema criatividade buscando proteger seus segredos Tornam-se agressivos porque em algumas situa

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mãe, para evitar que o “clima” de tensão entre a famí-

lfa seja exacerbado interrompe a reclamação, o filho

fica feliz e percebe que, quando fica agressivo, se “li

vra” da reclamação.

Repetir as ordens muitas vezes cria uma saturação

de informações que faz com que a criança passe a se

lecionar aquilo que realmente a interessa. Em verda

de, ela não ouve a instrução como algo que deva ser

cumprido; ela ouve como uma ladainha que é dita

todos os dias, que não tem conseqüência alguma. Os

 pais que fazem a supervisão estressante não estabele

cem as regras, apenas repetem ordens. De maneiraque os filhos não obedecem porque não há conse

qüência para a desobediência, como já foi explicado

110  capítulo sobre “a importância das regras”.

Muitas vezes, os pais perdem o controle emocional - j á falaram, falaram e nada aconteceu e acabam

 batendo ou dando um castigo severo. Aí, logo que a

raiva passa, se arrependem e liberam a criança do cas

tigo. Como também já foi explicado no capítulo so bre “o hum or”; este procedimento cria apenas inse

gurança e não estabelece o certo e o errado.

Em outros casos de supervisão estressante, os pais

 perguntam exaustivamente para os filhos com quemestavam o que falavam cheiram suas roupas revis

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dos filhos. Na realidade, estes pais não estão se inte

ressando, de veraade, pelos filhos. Estão fiscalizan

do, investigando, mas não estão educando. A desconfiança é um mau mediador para a educação. Já o

afeto é um excelente mediador para a aprendizagem.

As pesquisas mostram que as crianças aprendem

muito m elhor quando há afeto entre elas e os educa

dores, já não retêm a aprendizagem quando os en

volvidos são hostis ou indiferentes.

A relação entre os pais e os filhos e extremamente

irritadiça e hostil quando o cotidiano familiar é media

do pela supervisão estressante. Os pais cobram e os fi

lhos se justificam. O tom, na comunicação verbal, e

sempre agressivo. O sentimento de ambos é o de frus

tração. Os filhos sentem que jamais serão compreen

didos e os pais que jamais serão obedecidos.

 Não e fácil alterar essa situação, pois os sentimen

tos negativos de raiva, rancor, frustração estão medi

ando as relações desta tamília. O primeiro passo é re

conhecer e identificar cm que situação se está u tilizando a supervisão estressante. Depois, entender

que este tipo de disciplina não é capaz de obter resul

tados positivos, ao contrário, gera estresse na relação

familiar e não ensina as regras que estão sendo constantemente verbalizadas Em seguida os pais devem

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algumas regras e estabelecer conseqüências para o

seu não cumprimento, como foi explicado no capí

tulo 1. Por exemplo, se não arrumar os brinquedos

espalhados não recebe a semanada. Estas regras de

vem ser discutidas com as crianças antes, e o casal

 precisa estar de acordo entre si. As regras devem ser

introduzidas pouco a pouco, para que os filhos pos

sam cumpri-las e entendê-las. Simultaneamente, é preciso parar de fazer a supervisão estressante. Esta é

a parte mais difícil. Controlar-se e acreditar que os fi

lhos irão cumprir as regras é a parte mais difícil desta

mudança de atitude.É importante que os pais estejam de acordo sobre

a regra e suas conseqüências. Nada pior para a educa

ção infantil que a mãe estabelecer o castigo e o' pai

não cumprir, ou vice-versa. O casal deve conversarsobre estas regras antes. Caso não cheguem a um

acordo, procurem ajuda de alguém de confiança e

credibilidade. Às vezes, a opinião de uma tercèira

 pessoa, não envolvida com as questões familiares,

 pode ser de muita ajuda. Porém, cuidado para não fa

zer de um amijjo um consultório psicológico. se os

 pais perceberem que a procura por ajuda se tornou

muito freqüente é melhor buscar um profissional,

que certamente poderá ajudar sem se sentir explora

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Os pais precisam confiar, abandonar as ameaças:

“olhe bem, estou confiando em você, caso não cum

 pra o combinado vocc vai ver so”. Este tipo de verbalização interfere negativamente no cumprimen to da

nova regra estabelecida. É preciso mostrar confiança,

acreditar verdadeiramente no outro, mostrar afeto,

mostrar que está esperando o melhor do filho. Estasmudanças surpreendem o filho e o fazem experi

mentar uma nova maneira de agir. Quando o filho

agir de acordo com as novas regras, os pais devem

elogiar, mostrar que ficaram satisfeitos. N unca dizer:

“isto é sua obrigação, não pense que fez algo extraor

dinário”. Em verdade, se o filho cumpriu a regra, ele

fez sim algo extraordinário, fez algo que nunca havia

feito antes.

Os pais também fizeram algo extraordinário, es

tabeleceram uma regra, suas conseqüências, e confi

aram que o filho seria capaz de cumpri-la. A família

está de parabéns. Todos foram capazes de mudar de

atitude e devem reconhecer que serão mais felizescom este novo procedimento.

Alguns pais que acreditam que, quando os filhos

tiram boas notas, arrumam os quartos, levam o ca

chorrinho para passear, “não fizeram mais que a obri

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tn ui to bom. Todos gostam. Por que privar seu filho

deste benefício? Sejamos generosos na utilização de

elogios, de agrados, de carinhos e sejamos econômicos quanto a críticas, condutas implicantes, reclama

ções, xingamentos.

Imaginar que estamos “comprando” nossos filhos

com elogios e um ledo engano. Quando a mãe fazuma comida gostosa e recebe um elogio da família,

certamente ela pensa que mereceu aquele elogio e a

tarefa (ficar na cozinha toda a manhã) ficou mais

“leve”. Se a família disser para a mãe “você não fez

mais que a sua obrigação” certamente isto a deixará

magoada ou furiosa. O mesmo acontece com o filho

que tirou um a boa tuna na escola; se receber um elo

gio ficará feliz, se sentirá amado e terá mais chance de

repetir a “proeza” no futuro.

Essa forma de agir pode ser experimentada por

todos os educadores que terão a oportunidade de ob

servar seus rápidos e eficientes efeitos. Os pais serão

mais felizes e os filhos também.

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1.

 s 4 m&mfcydw ptx&itÀAjLã/ 

r r l esmo as pessoas mais carrancudas e mal-humo

radas são sensíveis ao sorriso de um bebê. Nosso co

ração se enternece, nossas pupilas se dilatam e senti

mos imediata vontade de sorrir, de acariciar ou de

 brincar. Sentimentos positivos são despertados pelo

sorriso e gracinhas que um bebê é capaz de fazer.

Estas reações são naturais e biológicas na espécie hu

mana. Isto significa dizer que todos nós nascemoscom a capacidade de nos enternecer diante de um

 bebê, e conseqüentemente, de cuidar dele. Quando

esta tendência natural deixa de ocorrer é porque algo

de ruim, de anormal, aconteceu na vida desta pessoa,impedindo-a de demonstrar seus afetos genuínos.

Se estivermos prontos biologicamente para reagir

 positivamente ao sorriso do bebê é porque necessita

mos desta interação prazerosa para o nosso desenvolvimento saudável. Quando sorrimos para uma cri

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criança percebe nossa comunicação e reage a ela. T o

dos os bebês sabem distinguir expressões de raiva, de

medo, de tristeza, de alegria, de nojo, de espanto e de

desprezo. São chamadas as emoções básicas. Os be

 bês aprendem com nossas expressões e são capazes

de imitá-las1.

Da mesma forma que nos aproximamos do sorri

so, nos afastamos do rosto raivoso. A criança aprende

a sentir medo de objetos ou animais pela observação

das expressões de medo da mãe; as crianças, filhas de

mies medrosas, são muito mais medrosas que as fi

lhas de mães que expressam pouco medo. Evidentemente, existem situações naturais que provocam o

medo, estas situações sequer precisam ser ensinadas.

U m ruído estridente produz o choro instantâneo no

 bebê, produz uma aceleração dos batimentos cardíacos do adulto, colocando-o em estado de alerta. São

estímulos capazes de produzir medo pela sua nature

za aversiva. Quando uma situação similar a esta ocor

rer, a mãe deve segurar o bebê no colo, abraçá-lo e

tentar acalmá-lo com palavras tranquilizadoras, asse

gurando sua presença, dizendo “tudo bem, mamãe

está aqui, já vai passar” etc. Isto é, normalmente, sufi

ciente para acalmar a criança.

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Os contatos de pele, abraçar, fazer carinho, ficar de

mãos dadas, dar beijinhos são fortes inibidores do de

senvolvimento do comportamento agressivo2. Estasrelações afetivas permitem o estabelecimento de uma

relação agradável entre os membros da família, facili

tando, inclusive, a superação das divergências, Toda

família tem suas divergências. São raras aquelas que

vivem em perfeita harmonia. O que se busca são for

mas apropriadas de lidar com elas e, sobretudo, supe

rá-las. As relações afetivas positivas fornecem um ex

celente caminho para este difícil desafio.

Os pais são os principais mediadores entre a cri

ança e o mundo. A criança aprende sobre o mundo

 pelos olhos dos pais, de suas reações, de suas expe

riências. São os pais que ensinam as crianças a serem

seguras, a terem boa auto-estima, a resolverem pro blemas. Ensinar a criança, desde tenra idade, a solu

cionar problemas é um excelente caminho para de

senvolver a sua segurança, in ib in do, conseqüente

mente, o aparecimento de distúrbios sérios como adepressão infantil. Quando uma criança ou adoles

cente acredita que nada do que possa fazer alterará

seu mundo, pode entrar em depressão. A depressão é

a representação deste fracasso imaginado e sentido,

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dc que não é capaz de mudar o meio, de que não con

segue se fazer com preender, de não se sentir amada.

Dc forma que dem on strar para seu filho que ele

é im portante, amado, capaz, faz parte das obrigações

daqueles pais que desejam criar e cuidar de crianças

felizes e bem adaptadas. Com o se revela real interes

se pela criança? Existem diversas formas para se de

monstrar este interesse. Os pais devem escolher oseu próprio modo de agir, aquele que mais se adapta

ao seu estilo. Se a família tem o hábito de fazer ao

menos uma refeição conjunta diariamente, este pode

ser o melhor m om ento para se perguntar como foi o

dia das crianças, para se colocar disponível para resolver alguma dificuldade de relacionamento ou para

valorizar as conquistas obtidas pelos integrantes da

família. Este é o mom ento de elogiar “efusivam ente”

as boas notas, de aceitar reclamações sobre professo

res etc. O s pais devem dem onstrar que o dia das cri

anças é tão importante quanto o seu próprio. Não

devem usar estes horários, quando a família está reu

nida, para dar bronca, fazer queixas e “vomitar” suas

desavenças. As broncas  devem  sempre^acontecer em particular e os elogios publicamente. A vantagem de se

dar broncas particularmente é que são evitados os

constrangimentos naturais provocados pela presença

de outros, como irmãos que aproveitam a situação

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 para “tirar um sarro”, prejudicando o entendimento,

a reflexão e o posterior arrependimento do ato.

O entendimento, reflexão e a autocrítica são os principais passos para a reparação de um mau com

 portamento. Os pais devem expor seu pensamento e,

em seguida, dar um tempo para que o filho fale sobre

o assunto. Juntos podem encontrar a maneira de re parar o dano ou de acertar os termos do castigo, caso

este seja necessário. Quando a reflexão e o arrepen

dimento são sinceros, normalmente, não é necessá

ria a administração de qualquer tipo de castigo. Os

 pais devem estar seguros de que não estão sendo ma

nipulados emocionalmente. Suspeita-se de m anipu

lação quando existe reincidência do fato. O real arre

 pendimento deve ser suficiente para que o filho evi

te comportar-se de maneira inadequada no futuro.Quando ele está manipulando, mostra arrependi

mento, faz “ar” de tristeza, inibe a bronca dos pais e

consegue se livrar da punição; no entanto, em segui

da repete o mesmo ato.'Um adolescente que se excedeu na bebida em

uma festa, entrou em “coma alcoólica” e foi parar no

hospital deve ser atendido pelos pais, na primeira vez

cm que isto acontece, com preocupação e seriedade.Uma conversa sincera deve ocorrer em que os peri

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dos; em seguida, os pais devem ouvir o filho, incenti

vando-o a fazer a autocrítica, ou seja, como ele pode

rá evitar isto no futuro, com o ele se sentiu nesta situ

ação (vergonha, culpa, pena de si mesmo, tristeza, noinício euforia, depois sentiu-se mal, enjoado etc.).

Fazer o filho reconhecer o erro é a melhor maneira

de promover a aprendizagem de bons comporta

mentos. Nestas situações os pais devem falar “um

 pouco” sobre os valores morais da família e da socie

dade. D ar a bronca sem perm itir a reflexão e a auto

crítica não produz mudança de comportamento. Se

este fato (embebedar-se) se repetir várias vezes os

 pais devem procurar a ajuda de um profissional. Nãoé normal um adolescente beber exageradamente duas

ou três vezes po r semana. E preciso tomar providên

cias urgentes. Investigar o possível “alcoolismo” do

filho. Todas as medidas terapêuticas devem ser to

madas o mais rapidamente possível para que os melhores resultados sejam obtidos.

Muitas vezes os pais não procuram os profissio

nais especializados esperando que o problema “por si

só” se resolva. Sentem vergonha, culpa, imaginam-seresponsáveis e não querem se expor, e evitam discu

tir, fora da família, o problema. Este é um grave erro.

Os problemas devem ser resolvidos quando ainda

são pequenos. Lembrem -se do dito popular “é de pe-

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queno que se torcc o pepino”. Identificar os proble

mas, reconhecer que não sabe resolvê-los, procurar

ajuda especializada é sinal de maturidade e responsa

 bilidade, e não de fraqueza ou de fracasso.A vida moderna, que profissionalizou a mulher,

trouxe algumas questões importantes para a educa

ção dos filhos. 0 'cuidad o com os filhos é responsabi

lidade do casal. Certos casais, por força de suas pro

fissões, passam o dia no trabalho, justificando assim asua ausência no acompanhamento dos filhos. Mui

tos delegam esta importante função às babás ou avós.

Seria possível mostrar interesse, afeto, atenção pelos

filhos a distância? O telefone está aí à disposição de

 pais ocupados para exercer esta função conciliatória.Conversas rápidas ou longas podem ser feitas du ra n

te o dia ou à noite (no caso de uma viagem) para que

este contato positivo se instale na relação familiar.

“Tudo bem com você? Como foi seu dia na escola?

Já saiu a nota de português? Acertou aquele ‘problc-

minha’ com o colega da escola? E a festa estava boa?”

etc. - são formas de se iniciar uma conversa telefôni

ca. Demonstram interesse e permitem o acompa

nhamento positivo.

Os pais precisam saber perfeitamente a distinção

entre mostrar interesse e fiscalizar. A supervisão es-

tressante foi discutida no capítulo 4. Interrogar o filho

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sobre seu dia na escola ou sobre a fcstinha da noite an

terior não é mostrar interesse. Revelar interesse é estar

disponível para ouvir aquilo que o filho gostaria de re

latar, vibrando com suas conquistas e colocando-se àdisposição para resolver os problemas que surgirem.

As principais pesquisas da área de educação infan

til têm demonstrado que em famílias nas quais os

 pais acompanham de forma positiva as atividades das

crianças e adolescentes não são encontrados usuáriosde drogas e indivíduos com comportamentos an

ti-sociais. Os pesquisadores estão apontando para este

tipo de educação como o mais eficaz na prevenção

dos mais freqüentes problemas que surgem na ado

lescência, como o uso de álcool ou drogas, baixo desempenho escolar, abandono da escola ou com porta

mentos agressivos cm geral.

Por que este estilo de educar é tão determinante

 para se evitar problemas? Primeiramente, o acompa

nhamento e interesse positivo informam à criançaque ela é amada. Este é o passo inicial para a constru

ção de uma pessoa segura e feliz. Em segundo lugar,

a atenção dos pais voltada para aspectos positivos do

comportamento da criança inibe o desenvolvimento

dos aspectos negativos, pois a criança sabe o que fazer

 para atender às expectativas dos pais; não precisa fa

zer “coisas erradas” para receber “atenção suficien-

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te”, para se sentir feliz. Em terceiro lugar, a relação

estabelecida entre pais e filhos é de confiança. Os fi

lhos podem errar sem provocar um desapontamento

nos pais; sabem que terão oportunidade para refletir

e fazer a autocrítica, sem que isto represente um fra

casso. Descobrem tambcm que quando acertam são

elogiados. Em quarto lugar, aprendem a elogiar e re

conhecer o esforço dos outros, pois seus esforços fo

ram reconhecidos. A empatia é uma das característi

cas mais importantes e evoluídas do comportamento

humano. Os homens que têm empatia são capazes

de se colocar no lugar do outro, evitando precon

ceitos, segregações, discriminações e injustiças. Emqu into lugar, com este estilo parental, podemos per

mitir o amadurecimento apropriado das emoções.

Ao ouvir os relatos de nossos filhos, percebemos suas

tristezas, alegrias, mágoas, raivas etc. Nestas situa

ções, juntos, podemos encontrar formas de lidarcom as emoções negativas e compartilhar as emoções

 positivas. Nada mais desagradável do que pessoas

que não sabem compartilhar sentimentos, não vi

 bram com o sucesso de amigos ou não sabem dar

aquele “ombro amigo” nas horas de tristeza. Nada há de errado em se dar pequenos presentes

ou até mesmo presentes significativos para os filhos

mediante a conquista de objetivos. Os pais devem sa-

 j

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 ber diferenciar este procedimento de uma chantagem

emocional. Neste caso dão presentes por culpa, por se

acharem responsáveis pela infelicidade ou insucesso

do filho e tentam compensar este desequilíbrio lhesdando tudo o que pedem. Isto é chantagem e deve ser

seriamente evitado. Quando um filho se esforça, estu

dando 12 a 14 horas por dia, para passar no vestibular e

 passa, nada há de errado em se presentear o novo ca

louro. Este adolescente fez um real esforço para atingir um objetivo e não devemos encarar o fato como

“sua obrigação”. Devemos vibrar e presentear, caso os

 pais tenham condição. As crianças pequenas também

 podem ser presenteadas, e principalmente elogiadas,

 pela realização de tarefas que representem conquistas.Por exemplo, para levar ao dentista uma criança que

tem pavor do consultório odontológico, os pais, por

uma “negociação”, podem combinar que irão, após o

tratamento, ao “parquinho da Mônica”. Este procedi

mento pode ser considerado perfeitamente educativo

e apropriado, desde que acompanhado de uma expli

cação simples da necessidade do atendimento odon

tológico. Crianças que não comem verduras ou frutas

 podem ter assegurado pelos pais que receberão “seu

doce preferido” após a^ingestão destes alimentos. Fa

zendo deste modo garantimos a ingestão dos alimentos necessários à boa nutrição infantil. Lembrem-se

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de que os doces seriam ingeridos de qualquer forma.

Os educadores estão apenas utilizando o gosto por es

tas guloseimas para obter bons resultados na alimentação de suas crianças.

As reações contrárias a esses procedimentos ad-

v vêm de maus usos dos presentes nas relações familia

res. Justamente o mau uso é freqüente porque o pro

cedimento é muito eficaz. É totalmente condenável

que um pai prometa um presente para um filho

mentir para a mãe tornando-o cúmplice de um adul

tério; ou que uma mãe prometa aumento de mesada

 para o filho se ele ficar em casa fazendo companhia aela. São chantagens que nada têm de educativas e não

representam evolução na vida da criança, apenas es

tão servindo para beneficiar pais manipuladores.

Mães e pais modernos têm confun dido interes

se e acompanhamento positivo quando procuram se

tornar os únicos amigos íntimos de seus filhos. Os fi

lhos precisam criar repertórios sociais apropriados

mediante o convívio com outros de sua idade. Q uan

do os pais ocupam este papel estão inibindo o estabelecimento destas novas e positivas relações. Por meio

destes contatos fora da família eles poderão checar e

discutir seus valores, reafirmar suas convicções e tra

zer suas dúvidas para conversar com os pais. O s pais

devefti estar disponíveis para atender às questões rc-

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lativas à sexualidade dos filhos, mas não precisam en

trar em detalhes íntimos da vida amorosa ou sexual

dos adolescentes. Os amigos adolescentes podem o u

vir sem julgar, já os pais não. De maneira que, pen

sando que estão favorecendo o desenvolvimento da

 personalidade do filho, por estar sempre junto dele,

estas experiências podem estar sendo totalmente di

rigidas pelos pais, inibindo o desenvolvimento da pró pria identidade do adolescente. Com o na maioria das

vezes os temperamentos e as habilidades dos filhos

não são iguais aos dos pais, essa identificação exa

gerada tem altas chances de criar problemas para a

identidade-do filho. A criança, por imitação ou porestar sendo constantemente estimulada a agir como

os pais, deseja fortemente corresponder a esta expec

tativa, porém, em geral, não tem as habilidades ne

cessárias para tal, pois ainda está se desenvolvendo.

Permitam que seus filhos tenham suas próprias ex

 periências e confiem que o investimento que vocês

fizeram, lhes dando amor e atenção, os tornarão pes

soas sadias e capazes de escolher corretamente.

 Não basta dizer simplesmente que se importa,que ama, que cuida; é preciso que se demonstrem,

simultaneamente, estes afetos. Demonstrar o inte

resse significa acompanhar a criança ou adolescentes

em atividades significativas para^eles. Perguntem se

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cies gostariam que vocês os acompanhassem. Ir ao

 shopping  com o filho no sábado à tarde não parece ser

uma boa idéia para demonstrar acompanhamento,

 porém, assistir à apresentação de balé da filha iniciante configura-se um ato de interesse e amor.

Muitas vezes os pais acham aborrecido ir a certos

compromissos estabelecidos pela escola. Porém, na

maioria d^s vezes a sua presença é fundamental. Cer

ta vez, a escola de meu filho convocou os pais para

uma reunião às três da tarde, sem dizer o assunto. Eu

estava com uma série de compromissos considera

dos inadiáveis na universidade. Porém, dez minu tos

antes da reunião tive um ímpeto e larguei o que esta

va fazendo e fui correndo para a escola. Lá chegando,

fiquei estarrecida com o trauma que eu poderia ter

causado a meu filho de seis anos de idade. Todas as

crianças tinham uma rosa na mão para entregar às

suas mães e eu “quase” faltei por não saber do que se

tratava. Teria deixado meu filho com uma rosa na

mão sem ter a mãe para entregar. A escola queria fa

zer um a surpresa: era véspera do dia das mães. Quase

fomos todos negativamente surpreendidos.

A educação moderna mudou muito em relação àantiga. Os pais conversam cm lugar de dar castigos.

Os pais conversam em lugar de dar limites. Os pais

convçrsam em lugar de bater. Hoje em dia os pais

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conversam. Mas o que será que tanto pais como filhos

estão entendendo por conversar? Infelizmente, parte

deste “conversar” está sendo entendida como “dar

 broncas”. Quando uma criança ouve “vamos conversar”, ela imediatamente sabe que vai ouvir “um belo

sermão”. Na escola a mesma coisa está ocorrendo. A

 professora diz para o aluno que se não se comportar

irá “conversar com a diretora ou orientadora”. O alu

no se prepara para receber uma bronca ou uma advertência. De forma que, nos dias de hoje, conversar é si

nônimo de reprimenda, de bronca, de sermão. Os

 pais acreditam que não se deve bater ou castigar e,

 portanto, “conversam”. Acabam não estabelecendo li

mites e regras de boa convivência. Perdem o controle

na educação de seus filhos. E o pior, o conversar adequado, aquele conversar em que existe uma troca de

idéias, em que há interação, em que se compartilham *

sentimentos, não tem espaço na relação familiar. Todo

o espaço está ocupado pela supervisão estressante e

 pela conversa “tipo bronca”. Os pais pensam que estãocumprindo sua tarefa educativa e, no entanto, sen-

tem-se extremamente frustrados com os resultados

obtidos. Os filhos são desobediente, mal-educados,

indisciplinados, tem baixo desempenho escolar. De

que está adiantando tanta conversa?

Alguns terapeutas relatam que seus pequenos cli

entes quando convidados a conversar se recusam fe-

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( liando bem a boca. Nada de conversar, demonstram

eles. Conversar é ruim. Os pais e educadores podem

reagir e se apropriar da forma correta de conversar. O

conversar que estamos defendendo neste texto é aque

le em que se estabelece uma troca, uma interação de

idéias e sentimentos, em todos os momentos. Como

dizem os padres nas cerimônias de casamento: na ale

gria e na tristeza. Conversar de forma descontraída,

interessando-se pelo assunto do filho, oferecendo sua

opinião, ouvindo a dele.

 N em sempre os assuntos entre pais e filhos po

dem ser discutidos e a decisão tomada por consenso.

Os pais não devem ter medo de tomar decisões quecontrariem a opinião dos filhos. O que é preciso ser

descoberto são quais assuntos podem ser liberados

 para que os filhos aprendam com suas próprias expe

riências e quais deles são da obrigação de somente os

 pais tomarem a decisão. Por exemplo, fazer ou nãotatuagem pode ser um assunto que traga divergências

na família. Os pais podem e devem dar sua opinião,

caso não mudem a idéia do filho podem permitir a

experiência. Já se o filho quiser abandonar a escola

 para “curtir”, certamente os pais não podetn concordar exdevem procurar toda a ajuda necessária para

evitar este desfecho. Os prejuízos para a criança serão

grandes e, neste caso, somente os pais têm a visão

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completa das conseqüências futuras e cabe a eles a

dccisão, mesmo contra a opinião da criança ou do

adolescente.

Em síntese, acompanhar de forma positiva o crescimento e desenvolvimento de uma criança ou ado

lescente e lhes mostrar real interesse, tanto por suas

atividades, como por seus sentimentos. Significa,

 por meio do elogio e de atitudes, demonstrar para o

filho que ele é amado e e importante. Conversar significa falar e ouvir. Conversar significa compartilhar

sentimentos e idéias. A verdadeira essência do diálo

go, para Sponville3, está cm construir sobre o argu

mento do outro e não em desvalorizá-lo.

à

3. Cf. Pequeno tratado das grandes virtudes,  de André Comte-Sponvil le, publicado pe la M artin s Fonte s, 1997.

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 A n e g l i g ê n c i a

 N o início do século XX os cientistas ainda discu

tiam sobre o que era mais importante para o desen

volvimento do bebê: o alimento materno ou o calor

materno. Alguns argumentavam que o bebê se ligava

à sua mãe porque era esta que o amamentava e, portanto, supria sua necessidade básica - a fome. Outros

defendiam a tese de que o vínculo com a mãe ocorria

 porque ela mantinha o bebê em seus braços e o aque

cia. Um pesquisador chamado Harlow realizou um

famoso experimento com macacos que é bastante

ilustrativo desta questão. Ele criou um filhote ór

fão em uma sala onde existiam duas “mães”, uma de

 pano e outra de arame. Eram bonecas que imitavam

as formas de uma fêmea, sendo que urna era revesti

da de um tecido aveludado e fofo e a outra era toda de

arame. Na mãe de arame o pesquisador pendurou

uma mamadeira com leite morno. O cientista obser

vou que o filhote passava a maior parte do tempo

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abraçado à mãe de pano. Em algumas ocasiões, pro

vavelmente quando sentia fome, dirigia-se à mãe de

arame bebia o conteúdo da mamadeira e voltava para

a mãe de pano. Ocasionalmente I Iarlow produzia

 barulhos estridentes na sala para observar o compor

tamento do filhote. O orfaozinho corria e se abraçava

à mãe de pano. Em outra ocasião o pesquisador levou

o filhote para uma sala onde se encontravam outros

filhotes, não órfãos, brincando. Nesta sala havia fru

tas, cordas penduradas, escadas etc. O órfao não se

aproximou dos demais, não explorou o ambiente e

quando “provocado” pelos outros para brincar iniciou

uma luta, que precisou ser interrompida pelos pes

quisadores. O filhote órfao constantemente apresen

tava comportamentos autodestrutivos, batendo a ca beça na parede e mordendo as mãos.

Quando vemos este relato imediatamente nos

vêm à memória cenas de documentários ou de^ re

 portagens em que se viam denúncias sobre os “rrial-

tratos” sofridos por crianças institucionalizadas. Har-low conseguiu mostrar que o “calor” materno é tanto

ou mais importante que o “alimento” materno. Po

rém, mostrou também que é preciso muito mais que

“calor” materno. Esta mãe de pano, que não reagia,

nao acariciava, não mantinha contato visual, nãoemitia sons, não mostrava o certo e o errado, era uma

mãe negligente.

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A negligência é caracterizada pela desatenção, pela

ausência, pelo descaso, pela omissão ou, simplesmen

te, pela falta de amor. Estamos dedicando um capítu

lo especialmente a este tópico porque a negligênciade pais ou daqueles que deveriam cuidar, como ba

 bás ou atendentes de crcche ou abrigos, e extrema

mente prejudicial à criança. A negligência é conside

rada um dos principais fatores, senão o principal, a

desencadear comportamentos anti-sociais nas crianças, ç está muito associada à história de vida de usuá

rios de álcool e outras drogas e de adolescentes com

comportamento infrator.

 N o experimento d e Harlow acima descrito fica

fácil identificar a negligência; porém, na maioria das

vezes, ela ocorre de uma forma mais sutil. Sequer os

envolvidos percebem que estão negligenciando seus

filhos. Via de regra, a negligência ocorre em famílias

com pais muito ocupados, executivos que viajam

muito, chegam cm casa tarde, cansados, sem disposi

ção para manter um bom contato com seus filhos.

Ou, então, ocorrcm com mães que têm problemas

conjugais, são depressivas, vivem em seu próprio m un

do, não conseguem estabelece^ um diálogo ou prestar atenção às necessidades do filho.

Em famílias de baixa renda, cujas mães trabalham

o d^a todo e voltam à noite para casa cansadas, irrita

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das, doentes, famintas ou com frio e encontram seus

filhos, que foram cuidados pela vizinha ou filha mais

velha, chorando, reclamando, pedindo, encontramos,

com freqüência, um ambiente negligente. Essas mães,normalmente sem companheiros, esgotaram, ao lon

go do dia, sua energia e não conseguem atender às

necessidades de seus filhos. Os filhos crescem sem

que as mães saibam o que eles pensam, sentem ou

gostam. A falta de interação, de vínculo afetivo positivo, de demonstração de interesse gera a situação

de negligência.

Uma cena clássica no cinema americano é explo

rada tradicionalmente pelos diretores para demonstrar

negligência, abandono ou desinteresse de pais executivos ou muito ocupados. A cena apresenta o filho insis

tindo com o pai para que ele assista ao final do jogo de

futebol; na seqüência, 6 visto o pai envolvido com ati

vidades intransferíveis, e, cm seguida, o filho, triste,

olhando para um lugar vazio na arquibancada. Em filmes nos quais o diretor quer apresentar um final feliz,

o pai chega “atrasado e esbaforido”, e o filho abre um

largo sorriso de felicidade. Certa feita, perguntaram a

várias crianças sua definição de amor e uma delas res

 pondeu: “amor é quando estamos apresentando umrecital de piano e olhamos na plateia e nosso pai está

sorrindo; só ele está sorrindo”.

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A negligência pode se dar em vários níveis, desde

os mais graves, como descritos acima, até os mais le

ves. Os psicólogos ou pedagogos têm dificuldade em

identificar uma situação de negligência familiar, poisos vestígios não são muito evidentes cm curto prazo.

Às vezes a família presenteia demais a criança, fala

dela com preocupação, coloca muitas pessoas a seu

serviço, como babá, motorista, cozinheira, professo

ra particular, professor de música etc., e o profissio

nal não consegue visualizar o descncadeador do pro

 blema. Todos estes cuidados podem ser totalmente

adequados; no entanto, podem ser, também, insufi

cientes, caso venham  sem  a atenção, o afeto, o olharcarinhoso, o abraço, o real interesse de que tanto fa

lamos no capítulo anterior. Se os cuidados citados

acima forem feitos por pais desatentos, distantes e

desinteressados, estaremos caracterizando uma situa

ção de negligência.

Vejam como é difícil identificar a negligência.

Certa vez, fui visitar uma instituição e a responsável

 pelo berçário, de maneira orgulhosa, disse-me: “veja,

 professora, como nossas crianças são boazinhas”. Eramcerca de vinte crianças em seus berços, que não bal

 buciavam, não sorriam e não ergueram seus braci-

nhos para mim quando entrei na sala. Fiquei sem

fôlego e me controlei pedindo para ver o banho. A

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atendente dava banho em uma delas, sem falar, sem

cantar, sem sorrir, sem olhar nos olhos. Parecia um

 pacotinho que estava sendo lavado, embrulhado e

guardado. O motivo de minha visita era a existênciade um a denúncia de um nú m ero excessivo de cri

anças com “retardamento mental” nessa instituição.

 Não era de admirar. Tudo era feito para se obter este

resultado. Ausência total de estimulação e de afeto.

 Negligência. Os responsáveis acreditavam que esta

vam fazendo um bom trabalho. O melhor possível.

E muito maior do que se imagina o número de

 bebês que vivem em famílias negligentes. Poucos sa

 bem que os efeitos causados pela negligência são tãoseveros quanto aqueles gerados pelo espancamen

to. Crianças negligenciadas e espancadas tornam-se

adolescentes e adultos infratores, usuários de drogas,

agressivos, enfim, com uma série de condutas an

ti-sociais que inviabilizam a sua adaptação à socieda

de. A negligência impede o desenvolvimento da au-

to-estima, que é o principal antídoto ao aparecimen

to do comportamento anti-social. A criança negli

genciada é insegura, seu olhar não tem brilho. Pornão ter recebido o afeto que alimentaria seu  ser, ela é

frágil. Pesquisadores encontram crianças negligen

ciadas se comportando áe forma apática ou agressiva,

mas nunca de forma equilibrada.

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Mães depressivas, que demonstram desinteresse

 pelo que está ocorrendo a sua volta, nem apoiam e

nem punem seus filhos. Em virtude de suas limita

ções desconsideram as necessidades dos filhos deixando-os buscar no seu círculo familiar estendido

ou nas relações de amizade as respostas para suas in

quietações. Infelizmente, pesquisas recentes demons

traram que os pais não suprem as falhas educativas

apresentadas por mães depressivas: eles atuam da

mesma forma que elas, ou seja, de forma negligente.

A criança desamparada pelo pai e pela mãe procura

 parentes, empregados, vizinhos e amigos para intera

gir. Algumas vezes consegue compartilhar sua vida

cm outra esfera social, mas, muitas vezes, vítima da

negligência dos pais, crcsce sem amparo e sem atenção. O uso de drogas ou álcool, o comportamento vio

lento ou a prostituição são formas encontradas pelos

adolescentes negligenciados para reagir ao sofrimen

to causado por esta rejeição.

A criança negligenciada cresce acreditando que emá, por isso ninguém gosta dela. Seus comporta

mentos agressivos são desenvolvidos a partir desta

crença. “Sou má, então faço o mal.” Cxrta vez, aten

dendo a um garoto muito agressivo que estava inter

no por furto no Educandário São Francisco, ouvidele a seguinte história: “Minha mãe me jogou em

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um tanque de lavar roupa porque eu sou o capeta.

Mae é boa. Se ela me jogou fora é porque sou mau.

Por isso, bato nos outros”.

Muitos casos foram relatados pela literatura e pormeio de filmes de crianças que viveram em isola

mento. Foram trancadas em quartos, porões ou amar

radas em árvores. Esses casos extremos de negligência

são os responsáveis pelo desenvolvimento de psico-

 patas e  serial killers  (matadores em série). Evidentemente que, em casos como estes, cm que se encon

tram crianças sendo torturadas, uma avaliação espe

cializada da sanidade psicológica dos pais deve ur

gentemente ser feita, e a criança encaminhada a um

serviço de proteção à infância. São casos que incluemos requisitos juríd icos necessários para a cassação do

 pátrio poder. O Art. 395 do Código Civil determina

que “Perderá por ato judicial o pátrio poder o pai ou

mãe que: 1) Castigar imoderadamente o filho; 2) O

deixar em abandono; e 3) Praticar atos contrários àmoral e aos bons costumes”.

Como foi dito no capítulo anterior, cuidar de seu

 bebê, alimentá-lo, brincar corri ele, acarinhá-lo são

atos naturais na espécie humana. Somos feitos para

isto. s e não cu idarm os de nossos bebês de formacai/inhosa é porque sérios problemas psicológicos

ocorreram em nossas vidas. E preciso tratá-los ur

gentemente.

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Q uando se aprende com o erro, errar deixa dc ser

uma experiência ruim e passa a ser uma situação a

mais que nos ajuda a crescer. As situações que podem,

num primeiro momento, parecer desesperadoras, seolhadas do ponto de vista educativo senão capazes de

fornecer vários elementos que permitirão aos pais e fi

lhos refletirem sobre valores morais. Diante de falhas

consideradas graves pela família, como bater ou furtar

o carro do pai, gazear aulas ou ainda reprovar o ano escolar, muitas vezes os educadores passam direto para a

 punição ou permanecem dando as famosas “broncas”

sem ajudar a criança 011 adolescente a refletir sobre o

ato cometido. A autocrítica é essencial para a mudan

ça comportamental. Permitir que o filho enxergue as

conseqüências negativas do seu ato, que reflita sobre

elas e perceba como evitá-las no futuro são proce

dimentos indispensáveis no processo de amadureci

mento desejado. Sempre que possível, os pais devem

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encontrar formas para a recuperação do dano causado

 pelo ato inadequado: pagar o prejuízo com a mesada,

fazer tarefas extras na casa, pedir desculpas etc. Estes

 procedimentos permitem a introjcção de valores m orais e desenvolvem a empatia. As crianças precisam

experienciar situações em que os atos inadequados

são apontados e suas conseqüências. Quando os maus

comportamentos são seguidos por longas broncas ecaras feias, o adolescente aprende que deve apenas

“deixar passar” aquele mau momento, pois logo tudo

voltará ao normal.

Dizer com clareza quais os perigos do uso de dro

gas e de comportamentos sexuais de risco e mostrar

os exemplos desastrosos que ocorrem diariamente à

sua volta são formas apropriadas de incutir valores.

Os pais devem fornecer leituras, filmes ou outro tipo

de material educativo sobre comportamentos de risco; precisam conversar francamente sobre o assunto.

Porem, e fundamental que os exemplos sejam com

 patíveis com os ensinamentos. A famosa frase “faça o

que eu digo, mas não faça o que eu faço” não repre

senta a conduta de um bom educador, aliás, funcionaexatamente ao contrário. O filho, provavelmente, se

guirá o modelo do pai e não as suas palavras. Não

funcionará como exemplo educativo “puxar aquele

íiiminho com os amigos no sábado à noite” e depois

talar contra as drogas.

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Quando dizemos “tal pai tal filho”, estamos nos

referindo a uma forma de aprendizagem, a de apren

der segundo o modelo. Os filhos copiam o modelo

fornecido por seus pais porque gostam deles e os ad

miram. Este processo acontece mediante a observação. As crianças podem observar o pai resolvendo

um conflito com o vizinho. Por exemplo, o vizinho

 jogou lixo no quintal da sua casa. O pai vai à casa do

vizinho e explica o transtorno que esta sua atitude

está causando visto que o vizinho poderia colocar olixo em um latão na porta da casa e evitar problemas

 para todos. Caso o vizinho diga que foi a empregada

ou suas crianças que fizeram isto, o pai pede que ele

oriente sua família para que todos possam viver cm

harmonia. Geralmente esta conduta pode ser sufici

ente, pois o vizinho perceberá na atitude do pai que asua disposição é a de resolver de forma harmoniosa o

 problema. N o entanto, se a atitude for a de xingar o

vizinho ou jogar lixo também na sua casa, certamen

te o conflito se estenderá por muitos meses, até de

sembocar em um possível fmal violento. O filho aprenderá a se comportar de acordo com o modelo e os

valores fornecidos pelos seus pais, ou ele aprende

que a “negociação” é uma forma para resolver pro

 blemas ou ele aprende que o certo é “olho por olho,

dente por den te”.

S

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A aprendizagem das condutas no trânsito e um

excelente exemplo da imitação do modelo. Pais que

gritam, esbravejam, fazem sinais obscenos para os

outros motoristas estão ensinando às crianças como

se comportar em situações semelhantes no futuro,

ou seja, de forma agressiva. É importante lembrar

que a literatura sobre agressão é vasta e esclarecedora

sobre este ponto. Violência gera violência. O ciclo daviolência é comprovado cientificamente. As brigas

no trânsito são causadas por pessoas desequilibradas

cm situação de estresse que aprenderam a reagir de

forma violenta a provocações intencionais ou não.

Muitas vezes o outro e apenas um “barbeiro” e não

um mau elemento que está intencionalmente que

rendo prejudicá-lo.

Lembre-se que são valores morais que estão sen

do passados aos seus filhos. Agir corri senso de justiça, respeitando o direito dos outros, colocando-se no

lugar do outro para tentar entender suas razões, é

uma excelente forma de evitar conflitos.

A empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro para entender os sentimentos ou as razões dele, é um

dos atributos mais importantes do cidadão civilizado.

H preciso sriar situações para que os filhos aprendam

e desenvolvam a empatia. Quando a criança quer to

dos os brinquedos para si, deixando seu irmãozinho

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sem brincar, deve-se conversar com cia no sentido

de fazê-la se colocar no lugar do outro: “Você gosta

ria que ele pegasse todos os brinquedos e deixasse

você sem nenhum?”; ou então: “Vamos dividir os

 brinquedos para que os dois possam brincar, além do

mais, brincar jun tos pode ser muito legal”. O mesmo

 procedimento pode ser adotado em relação aos senti

mentos. Se a criança cm um acesso de raiva joga os

 pratos da mãe no chão quebrando-os, a mãe deve di

zer-lhe: “Você gostaria que eu jogasse seus br inque dos preferidos no chão e os quebrasse?” Em seguida,

a mãe deve fazê-la reparar o dano: “Agora junte estes

cacos com cuidado para não se cortar e coloque-os

no lixo e perceba como você me deixou triste por fi

car sem os meus pratos”. A mãe pode fazer a criança

 pedir desculpas, para completar a autocrítica.

As famílias desconhecem os efeitos nocivos que

filmes e programas violentos podem causar para o

desenvolvimento de seus filhos. Pesquisas4dos últi

mos trinta anos são contundentes em demonstrar

que as crianças e os adolescentes que vêem muitosfilmes violentos apresentam mais comportamentos

agressivos que aqueles que vêem poucos ou não as-

4. O s adol escent es e a mídi a: impa cto psi cológico , de Victor Strasburger, pu

 blicação da Artm ed, 1999; e/1 cri ança ca ri ol ênci a na mídi a,  d e Ulia Cnrlsson

e Cecília von Feilitsen (orgs.), da Cortez, 1999.

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sistetn a programas violentos. Esse efeito da violência

na tevê é muito mais acentuado em crianças que são

negligenciadas e deixadas aos cuidados da “babá tele

visão”. Isto ocorre porque as mães permitem que o u

tros personagens ocupem o seu lugar fornecendo m odelos e valores a seus filhos, muitos deles, contrários

aos seus desejos. Se personagens famosos da tele

visão valorizam a maternidade independente, as fãs

 podem acreditar que esta é uma conduta aceitável

 pela sociedade e copiar o modelo. Se os pais deixa

ram um espaço vazio, para este valor ser introjetado

 pela adolescente, provavelmente, as conseqüências

serão negativas, como, por exemplo, a vinda de neti-

nhos independentes. O que causaria um sério pro

 blema para as famílias que não escolheram esta for

ma de geração de descendentes.Os programas veiculados pelas emissoras de tevê,

cm grande parte, são violentos ou de apelo sexual.

 Nestes casos, cabe aos pais fazerem junto com os fi

lhos a reflexão sobre tais programas salientando os

maus exemplos e formas alternativas para resolução

de problemas. Em geral, os filmes e as novelas apre

sentam soluções violentas para resolução de conflitos,

 pais e filhos que se desentendem acabam se esbofete

ando, patrões e empregados acabam em àocos e faca

das após uma discussão, vizinhos se matam por causa

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de uma divisa. Os educadores devem mostrar solu

ções civilizadas para resolver os embates, tais como

negociação, intermediação por amigos, ou ate mesmo

o uso do sistema judiciário quando for o caso.

A apreciação do trabalho é um valor moral que

cabe à família desenvolver. Os filhos aprendem a va

lorizar a atividade profissional a partir da relação que

seus pais têm com o seu trabalho. Eles observam amaneira como os pais se referem ao patrão, à empre

sa, aos colegas, enfim a toda rede de relações que en

volvem esta atividade. Se na maioria das vezes o pai

está xingando o patrão, desvalorizando a atividadeque faz e criticando os colegas, o modelo passado é

de desrespeito e certamente a imagem formada é ne

gativa. Por que desenvolver interesse por uma ativi

dade tão aversiva, pensa o filho, melhor procurar ou

tra maneira para viver. Quando cobrado a trabalhar,está despreparado psicologicamente para enfrentar

os desafios da nova situação, pois para ele trabalhar e

muito ruim e deve ser evitado a qualquer custo.

Respeitar a sua profissão mostrando-se orgulhoso dela é o melhor caminho para desenvolver o inte

resse e a vocação futura dos filhos. Eles se espelham

nos pais e buscam seu próprio caminho sabendo quei

serão apt>iados em suas iniciativas, pois observaram

em casa este mesmo trajeto.

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Valores como honestidade, senso de justiça, solida

riedade, amizade, respeito ao próximo, respeito às leis,

empatia, enfim, todos aqueles que formam um cidadão

devem ser foco da educação. As crianças precisam ter

oportunidade para expcrienciar estes valores. Ler livrosque contenham “a moral da estória”, como “devagar se

vai ao longe” - estória que se refere a uma corrida entre

uma tartaruga e uma lebre, em que a tartaruga vence

 porque anda o percurso todo sem parar, enquanto a le

 bre corre, corre e acaba dormindo metros antes de al

cançar a linha de chegada - ajuda os pais a apresentarem

valores morais a seus filhos.

As conseqüências de se estar atento ao desenvolvi

mento de valores morais são que se observa claramen

te um aumento da auto-estima, dos comportamentos

 pró-sociais (aqueles relativos à colaboração, ao apoio,à solidariedade etc.), do autoconccito em crianças e

adolescentes que convivem com pais com esta condu

ta; além disso, os filhos admiram valores dos pais e

aprendem a fazer julgamentos morais apropriados e,

finalmente, segundo as pesquisas recentes sobre ori

entação de pais e filhos, a valorização de padrões mo

rais de conduta é, junto com a monitoria positiva, a

melhor maneira de se evitar o desenvolvimento de

comportamentos infratores, anti-sociais, delinqüen

tes e, principalmente, o uso de drogas.

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Conclusão

T odas as formas de relacionamento com os filhosmostradas aqui podem ajudar pais e educadores a con

seguirem melhores resultados diante do desafio de

educar.

A importância das regras, a monitoria adequada eo modelo moral são as formas positivas de se relacio

nar com os filhos. Procurando desenvolver estas ha

 bilidades certamente a família irá conseguir um esti

lo mais harmonioso de convivência, de forma que os

comportamentos inadequados e anti-sociais e o uso

de drogas serão evitados. O humor instável e a super

visão estressante não educam, mas sim promovem

interações familiares hostis. Já a punição física e a ne

gligência representam falhas educativas sérias, quetêm conseqüências desastrosas pira o desenvolvimen

to do ser humano. se um dos pais, por algum motivo

alcoolismo ou depressão - está agindo assim, os de

mais integrantes da família devem procurar auxílioespecializado para seu tratamento. Soluções casei

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ras não são suficientemente boas para produzir mu

danças em situações como estas.

Ser mãe é padecer no paraíso,  diz o ditado popular.Hoje em dia pais e mães padecem juntos “no paraí

so”. Ver os filhos crescendo, tornando-se adultos in

teressados, responsáveis, cursando a faculdade, tra

 balhando, permanecendo amigos da família é o so

nho de cada um de nós. Quando este sonho se con-j

cretiza conquistamos a glória suprema.

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Pais presentes, pais ausentes 

procura mostrar as

conseqüências negativas de

determinadas práticas

educativas. Salienta as formasapropriadas de relacionamento

entre pais e filhos que permitem

que crianças e jovens cresçam

saudáveis, bem como traz

algumas alternativas e reflexõespara tornar esta tarefa mais fácil

e agradável.

Contribuir com a tarefa

educativa é o objetivo

fundamental deste livro. Educar

passou a ser um instrumento

poderoso nas mãos de cidadãos,

que poderão se tornar capazes

de alterar o rumo da civilização

moderna, reorientando-a para

uma convivência pacífica e

construtiva. Devemos enfrentar o

desafio de transformar o mundo

em um lugar agradável onde a

confiança no se r humano tenha

id t b l id

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 Adolescência da ÜFPR e estuda 

os determinantes do 

comportamento anti-social. Sua 

tese de doutorado defendida no 

Departamento de Psicologia 

Experimental da USP, sob 

orientação do Dr. César Ades, 

em 1990, analisou um programa 

de inserção do adolescente 

infrator ao meio social. Este 

trabalho acadêmico transformou- 

se em um livro publicado pela 

Editora Juruá, em Curitiba, 

denominado Menor infrator a 

caminho de um novo tempo, que 

está na segunda edição.

 A autora coordena um projeto 

de extensão universitária onde 

oferece treinamento a 

educadores sociais de 

instituições que cuidam de 

crianças e adolescentes de risco. 

O projeto também prepara 

alunos de psicologia para darem palestras em comunidades 

carentes e escolas sobre práticas 

disciplinares que aumentam ou 

diminuem o desenvolvimento de 

comportamentos anti-sociais.

 Atualmente Paula Gomide 

desenvolve pesquisas que buscam investigara relação 

entre os estilos parentais e o 

desenvolvimento de 

comportamentos anti-sociais em 

crianças e adolescentes. O livro 

Pais presentes, pais ausentes é 

fruto deste trabalho.

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Este livro procura responder a várias perguntas, tais como: Devemos estabe lecer regras em nossa casa, nas salas de aula ou em outros ambientes? O

humor dos pais ou professores pode ter efeitos sobre a educação dos filhos

ou alunos? Bater nos filhos é um comportamento agressivo dos pais ou um

procedimento disciplinar? A vigilância exagerada é benéfica ou denota falta

de confiança? A negligência combina com auto-estima? Respondendo a es

tas e outras perguntas mais, a autora privilegia o' convívio familiar como fonte

dos valores morais e dos padrões de conduta.

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