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Governança de Recursos Pesqueiros na Bacia do Rio Acre com Ênfase
na Tríplice Fronteira (Brasil, Peru e Bolívia)
Rodrigo Rodrigues de Freitas (UNICAMP)
Biólogo, Mestre em Geografia e Doutorando em Ambiente e Sociedade
Vera Lucia Reis – Iniciativa MAP (Madre de Dios-PE, Acre-BR e Pando-BO)
Doutora em Gestão de Recursos Hídricos
Marcelo Apel
Filósofo e Educador Popular
Resumo
O co-manejo adaptativo vem sendo considerado como uma estratégia apropriada para garantir a
governança de recursos naturais no longo prazo. Durante o ano de 2009 foi realizado um
diagnóstico dos recursos pesqueiros da Bacia do Rio Acre através de entrevistas semi-
estruturadas, história oral e oficinas envolvendo representantes de organizações do Brasil, Peru e
Bolívia. O recente conflito pelo comércio de uma espécie de peixe pouco apreciada no Brasil
(Piranambu - Pinirampus pirinampu) é analisado do ponto de vista das macro-instituições que
regulam a gestão dos recursos pesqueiros na Bacia Amazônica. As Colônias de Pesca
demonstraram ser instituições pouco resilientes para responder às rápidas mudanças geradas pela
construção da Rodovia do Pacífico que possibilitou a abertura de mercado com a cidade peruana
de Puerto Maldonado. O sistema sócio-ecológico da pesca apresenta evidências de crise, a qual é
condicionada pelo período duvidoso em que a política de seguro-defeso é concedida aos
pescadores. Apesar do seguro-defeso corresponder ao período de desova da maior parte das
espécies de peixes, este não é o período em que as presas estão mais vulneráveis. Por tratar-se de
um afluente dos grandes rios amazônicos, o Rio Acre possui um regime fluviométrico caracterizado
pelos extremos de variação de altura. Na estação seca o rio torna-se com profundidade tão rasa
que as espécies de peixes grandes conseguem subi-lo para completar seu ciclo reprodutivo e,
entretanto, esta é a época de maior atividade de pesca. Sugerem-se medidas urgentes e ações em
longo prazo visando estabelecer sistema de co-manejo adaptativo.
Palavras-chave
Participação, Co-manejo adaptativo, Sistemas Sócio-Ecológicos, Instituições, etnoconhecimentos
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Introdução
Estratégias de manejo de recursos naturais baseadas em sistemas de comando-e-controle
vêm sendo questionadas desde a década de 80 (WALTERS, 1986) em função da complexidade
envolvida nas relações entre ambiente e sociedade (FOLKE et al. 1998). A governança de
recursos pesqueiros no contexto amazônico necessita de enfoques que privilegiem a
complexidade envolvida em lidar com elevada diversidade biológica e cultural, em um contexto de
rápidas (ARMITAGE et al., 2009) e recentes transformações sócio-culturais, sócio-econômicas e
nos ecossistemas. O co-manejo adaptativo tem recebido considerável atenção como uma
estratégia de governança inovativa para lidar com a complexidade dos sistemas-sócio ecológicos
(FOLKE et al. 2005; PLUMMER 2009). O co-manejo adaptativo (ARMITAGE et al. 2009) surge da
unificação dos enfoques de co-manejo (PINKERTON, 1989), que apregoa o compartilhamento de
poder e responsabilidade entre os usuários do recurso e o Estado ou outros grupos de interesse
(ARMITAGE et al. 2007), com a abordagem do manejo adaptativo dos recursos naturais
(HOLLING, 1973; WALTERS, 1986) que trata os sistemas de manejo como experimentos e as
políticas como hipóteses em face a inerente incerteza presente nos sistemas sócio-ecológicos
(SSE). A noção de SSE abandona as idéias de determinismo ambiental ou social e da
interdependência homem/natureza a favor de uma visão co-evolutiva (FOLKE et al. 1998) de um
sistema complexo adaptativo (OLSSON et al. 2004). SSE vem sendo tratados com enfoques
centrados na sua dinâmica, nas surpresas e nas incertezas (PLUMMER, 2009, FOLKE et al.
2007). A governança deste tipo de sistema requer tanto conhecimento científico, como o
conhecimento local (CASH et al., 2006), o qual sempre foi utilizado como medida conservativa por
populações locais, como pescadores artesanais (JOHANNES, 1998; BERKES et al. 1995).
ARMITAGE et al. (2009) oferece um modelo de análise para o co-manejo adaptativo que é
baseado em temas-chave situados entre dois conjuntos de variáveis: I. Pensamento de sistemas
complexos, capacidade adaptativa e resiliência e aprendizado, conhecimento e capital social e; II.
Design institucional, parcerias e divisão de poder, implicações nas políticas e condições de
sucesso e falha. Esta abordagem será utilizada para a análise da pesca artesanal na Bacia do Rio
Acre (Estado do Acre, Brasil), com ênfase nos conflitos presentes na tríplice fronteira (Brasil, Peru
e Bolívia).
Situações de conflito no uso dos recursos pesqueiros na região da tríplice fronteira entre o
Estado do Acre (Brasil) e os Departamentos de Pando (Bolívia) e Madre de Dios (Peru) foram
relatadas pelo governo brasileiro (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade –
ICMBIO), imprensa e pescadores desde 2008. Nos últimos quatro anos, uma espécie de peixe
pouco apreciada no Brasil, o Piranambu (Pinirampus pirinampu), foi descoberto como ideal na
preparação de um prato tradicional no Peru, o ceviche, em função de possuir poucos espinhos e
de “pegar” o tempero. A relativa abundância da espécie no Rio Acre, aliado a facilidade de
captura e a abertura de mercado em Puerto Maldonado, induzida pela conclusão do asfaltamento
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do trecho Iñapari-Puerto Maldonado da Rodovia do Pacífico, seduziu os peruanos, a partir do final
de 2008, a praticarem a pesca desta espécie durante o Inverno Amazônico (Estação chuvosa).
Este período coincide com a época em que ocorre a maior quantidade de Piranambus e com a
suspensão da pesca no Brasil, pelo período de quatro meses (15 novembro a 15 de março), em
que é fornecido o seguro-defeso (IN 205/07 para o Rio Acre). Este contexto conduziu ao presente
estudo que evidenciou um agravamento na crise pela qual o sistema de gestão da pesca na Bacia
do Rio Acre está passando. São apresentadas características da dinâmica dos recursos e do
ecossistema, as percepções que os usuários possuem da situação do recurso, o perfil sócio-
econômico dos pescadores, os arranjos institucionais existentes e discutidos alternativas para a
crise no SSE baseado na análise histórica das mudanças na paisagem e nas percepções dos
usuários dos recursos pesqueiros.
Metodologia
A pesquisa foi baseada em entrevistas semi-estruturadas e oficinas tri-nacionais realizadas
no município de Iñapari (Peru). Utilizou-se a metodologia “bola de neve” e das oficinas tri-
nacionais para identificação de informantes em cada uma das comunidades e nos municípios
(BERNARD, 1995). Foram realizadas entrevistas informais e semi-estruturadas sem gravação e
com roteiros adaptados aos diferentes atores sociais da que atuam na pesca, sendo eles:
pescadores, comerciantes, consumidores, atravessadores e compradores. Dentre os
entrevistados presentes na Tabela I, os pescadores velhos foram os únicos que tiveram as
entrevistas gravadas, juntamente com os presidentes das Colônias de Pescadores de Boca do
Acre, Brasiléia, Porto Acre, Assis Brasil e Iñapari. Foram entrevistados seis atravessadores de
pescado. As entrevistas descritas como sendo realizadas em Assis Brasil foram, subindo o Rio
Acre a partir da cidade até a última aldeia do povo Jaminawa (Patos). No percurso foram
abordados pescadores brasileiros e peruanos, havendo dois casos em que foram realizados
“Grupos Focais” com o Povo Jaminawa na Aldeia Três Cachoeiras (Peru e Brasil) e na
Comunidad Nativa Bélgica (Peru).
Entre outubro e dezembro de 2009 foram realizadas 26 entrevistas semi-estruturadas
gravadas com pescadores velhos, através da metodologia da História Oral (BOSI, 1983;
THOMPSON, 1992) nas seguintes localidades: São Miguel, Colônia São Pedro, Bolpebra,
Colocação São Sebastião, Aldeia situada abaixo de Bolpebra, Aldeia Três Cachoeiras, Aldeia dos
Patos, Aldeia Ananá, Aldeia Apuí, Xapuri, Rio Branco e Brasiléia. Outras entrevistas semi-
estruturadas não gravadas foram realizadas no mesmo período, sendo para ambos aplicados pré-
testes para adequação do roteiro de entrevistas e posteriormente descartados. No geral foram
realizadas 49 entrevistas com pescadores do Rio Acre, sendo 55% pertencentes à região do
município de Assis Brasil.
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Os dados do trecho transfronteiriço (Alto Acre) foram analisados pela triangulação: (i) das
anotações de campo; (ii) das transcrições das entrevistas semi-estruturadas com as classes de
atores sociais estabelecidas; (iii) dos resultados do diagnóstico rápido participativo (grupo focal),
junto a Iniciativa MAP1 (Mini-MAP Bacias Hidrográficas); (iv) da análise estatística das entrevistas;
(v) de dados externos (documentos e literatura) e; (vi) visitas aos órgãos governamentais do
Brasil, Peru e Bolívia relacionados à pesca.
Tabela I – Amostragem das entrevistas por localidade.Instrumento amostral/Localidade
B. do Acre Rio Branco P. Acre Xapuri Brasiléia Assis Brasil Total
Entrevistas semi-estruturadas com pescadores
08 07 02 03 07 26 53
Entrevistas semi-estruturadas com consumidores
02 03 05 03 03 16
Entrevistas semi-estruturadas com comerciantes
03 01 04
Total 08 12 05 09 10 29 73
A Iniciativa MAP trata-se de um espaço interinstitucional com encontros regulares visando
estabelecer políticas públicas temáticas (Educação, Agrofloresta, Bacias Hidrográficas, Direitos
Humanos, etc.) na região de fronteira do Brasil (Acre), Bolívia (Pando) e Peru (Madre de Dios). As
oficinas tri-nacionais realizadas em Iñapari ocorreram no contexto no Mini-MAP Bacias
Hidrográficas. Participaram destas oficinas representantes governamentais do Peru e do Brasil
envolvidos com a gestão da pesca, representantes dos povos Jaminawas e Manchineris, da
Comunidad Nativa Bélgica (Peru), pesquisadores brasileiros e peruanos, representantes da
Colônia de Pescadores de Assis Brasil e da Associação de Pescadores de Iñapari e membros da
sociedade civil organizada da Bolívia. A metodologia destas oficinas consistiu em palestras de
representantes governamentais, trabalho em grupo para construção de mapas participativos e
levantamento dos principais problemas relativos a pesca na Bacia do Rio Acre.
Resultados
Características Geográficas, das dinâmicas ecossistêmicas e das técnicas de pesca
O Estado do Acre possui importantes afluentes da Bacia Amazônica, como os rios Juruá,
Tarauacá, Envira, Iaco, Purus e Acre, estando neste último concentrada a maior densidade
populacional, constituindo uma importante via de transporte de mercadorias para populações
ribeirinhas. A Bacia do Rio Acre situa-se na Amazônia sul-ocidental, compartilhada pelo
departamento peruano de Madre de Dios, os estados brasileiros do Acre e Amazonas e o
departamento boliviano de Pando (Figura 01) caracterizado por uma grande diversidade étnico-
1 Iniciativa MAP (Madre de Dios-PE, Acre-BR e Pando-BO) – processo de articulação de representantes de Governo, Instituições de
Ensino e pesquisa e Movimento social na fronteira Brasil, Bolívia e Peru, cujo movimento existe desde 1999.
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cultural e uma das áreas de maior biodiversidade do Planeta (SOUZA et al., 2003). Uma parte do
Acre forma o Corredor Biológico Oeste da Amazônia, considerado o de maior prioridade para a
conservação da biodiversidade e manutenção de serviços ambientais, havendo possibilidade de
integração com o Corredor Norte através do fortalecimento do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SOUZA et al., 2003).
Em território acreano, a Bacia do Rio Acre é formada por 11 municípios, além do município
de Boca do Acre, no Estado do Amazonas. O Rio Acre nasce em território peruano, em cotas da
ordem de 400 m e corre na direção Oeste-Leste, deixando-o na altura do município de lñapari, e
segue fazendo fronteira com Brasil e Bolívia (ACRE, 2000, 2007). Percorre mais de 1.190 km
desde suas nascentes até a sua desembocadura, na margem direita do Rio Purus2. A topografia
da Bacia do Rio Acre caracteriza-se por apresentar valores de elevação entre 300 a 430 m,
próximo às cabeceiras e entre 150 a 300 m, a partir daí para a jusante (Acre, 2000; 2007). A rede
de drenagem da bacia hidrográfica do Rio Acre é caracterizada por Rios sinuosos e volumosos,
escoando suas águas no sentido Sudoeste a Nordeste, e, por estreitas planícies fluviais de
deposição de sedimentos retirados pela erosibilidade das águas sobre as margens (ACRE, 2000).
O período de “águas altas”, correspondente a estação chuvosa, ocorre entre Janeiro e
Maio e o de “águas baixas”, correspondente a estação seca, Junho a Dezembro. O trecho de
Boca do Acre a Rio Branco é navegável, tem 311 km de extensão e uma profundidade mínima de
0,80 m em 90% do percurso. O regime fluviométrico possui elevação máxima anual durante o
período das cheias, ocasião em que as águas ocupam toda faixa da planície fluvial. Essa
movimentação de descida e subida das águas obedece ao regime pluviométrico na bacia
hidrográfica (ACRE, 2000), cuja altura média da margem é de 12,90 m na Estação chuvosa e 1,90
m na Estação seca. O Rio Acre tem experimentado eventos extremos alternados com secas
severas e grandes inundações, provocando danos sociais e econômicos importantes na região.
Em 1997 as inundações chegaram a atingir o nível de 17,60 m. Em setembro de 2005 o nível
mínimo do rio Acre em Rio Branco foi 1,64 m e o máximo foi de 14,42 m em fevereiro, sendo estes
valores respectivamente, 1,95 m e 16,72 m no ano seguinte, dificultando a coleta de água para
tratamento e distribuição para a população de Rio Branco e gerando inundações responsáveis por
desabrigar milhares de famílias (ACRE, 2000.2007).
A bacia hidrográfica do Rio Acre apresenta diferentes usos e ocupação do solo, havendo
intensificação dos processos de desmatamento e queimadas, para implantação da pecuária e
agricultura. Esta bacia tem sido alvo de intensas transformações, com destaque para a construção
da Estrada Interoceânica, destinada ao escoamento dos produtos brasileiros para os mercados
internacionais, através dos portos peruanos, no Pacífico (BROWN et al., 2002). Até início da
2 Ministério dos Transportes ( http://www.transportes.gov.br/bit/hidro/detrioacre.htm)
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década de 80, os recursos pesqueiros em toda a Bacia do Rio Acre eram utilizados por uma
comunidade identificável de usuários que podiam excluir outros e regular o seu uso, ou seja,
tratava-se de um regime de apropriação de propriedade comum (BERKES, 1996). O crescimento
urbano do Vale do Acre iniciado a partir da década de 80 ocorreu de forma desordenada, que é
caracterizado pela falta de saneamento básico nas cidades, ocupação de Fundos de Vale e Áreas
de Proteção Permanente. As consequências para a pesca são desastrosas, uma vez que o Rio
Acre passa a receber a carga de poluição das cidades, o aumento da pesca comercial e as
margens de rios e igarapés passam por uma significativa erosão decorrente do desmatamento
que vem transformando a Floresta em pastagem para o gado. Associado a esse quadro, ocorre
um aumento na atividade de piscicultura, que contribui para a degradação dos sistemas aquáticos
pela formação de açudes para dessedentação animal, os quais muitas vezes são formados pela
barragem de igarapés e sobre olhos d´água.
Figura 01 – Bacia do Rio Acre. Fonte: Agência Nacional de Águas (ANA), 2009.
Com relação à dinâmica dos recursos pesqueiros, o fenômeno da piracema constitui a
principal oportunidade para a pesca. O período de piracemas está associado a estação seca
variando conforme o trecho do Rio Acre: de agosto a dezembro no Alto da Bacia do Rio Acre; de
julho a outubro em Porto Acre, que fica mais a jusante e; de junho a setembro em Boca do Acre.
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O mês considerado o melhor para a pesca no Rio Acre considerado por 17% dos pescadores foi
junho, porém a partir de abril até outubro, são meses propícios dependendo da altura do rio e da
espécie. As piracemas eram mais frequentes e mais sazonais para certas espécies no passado,
quando eram observadas espécies maiores, sendo atualmente o Mandim e o Curimatã mais
freqüentemente relatados.
Para os pescadores, os peixes não estão ovados na piracema, mas a realizam para
reproduzir a montante do rio, o que deve estar associado a necessidade de realizar o esforço
natatório contra a corrente para que ocorra a maturação das gônadas. A informação de que o
peixe capturado na migração está mais gordo pode estar associado ao processo de maturação
gonadal. A piracema é considerada pelos pescadores como uma migração, sendo a desova
denominada de arrojo. A desova ocorre no início da Estação chuvosa, a partir de Novembro até
Fevereiro, havendo relatos deste padrão ser alterado para certas espécies, como o Piranambu
que já foi encontrado ovado desde agosto até outubro.
A dinâmica do rio é acompanhada pelos pescadores que vivem em sua margem, uma vez
que 63% das residências ficam até 100 m da beira do Rio e 19% entre 100 e 200 m. Os
pescadores entendem a reprodução dos peixes como associado ao Lago, Rio, Igarapés e áreas
alagáveis da Floresta (denominadas localmente de Igapós) de acordo com a fase da vida em que
se encontram. Desta forma, regulam suas práticas de pesca e criam suas instituições em função
desta dinâmica. A Figura 02 ilustra a pesca em Boca do Acre, a qual não responde para todas as
espécies e ecossistemas associados a Bacia do Rio Acre. Durante os meses de Novembro até
Fevereiro, quando o Rio Purus tem pouco peixe e coincide com o período de defeso, o mercado
local de Boca do Acre é abastecido com a pesca no Lago Novo, um meandro abandonado do Rio
Purus, formado a cerca de 40 anos.
O ciclo reprodutivo da Curimatã e da Branquinha é relatado por um pescador: “ (...)
reproduz em água represada (...), quando o rio tá cheio que a água do Rio fica nivelada com a do
Lago, ele sai praquela represa, pros baixo e fica lá desovando. (...) O importante para essas
espécies se reproduzirem é aquele capim que tem no lago e a tranquilidade. Ele solta a ova e ela
fica grudada no capim (...) Alguns guardam os filhotes dentro da escama”. Segundo BARTHEM &
GOULDING (1997) “Muitas espécies comercialmente importantes têm complexos ciclos
migratórios e usam uma variedade de ambientes ao longo de suas vidas”.
Na maior parte dos casos (42%), a pescaria ocorre durante três ou mais dias de duração,
dois dias em 39% dos casos e apenas um dia em 19% (n=31). Em 33% dos casos, são realizadas
mais de 16 pescarias por mês, enquanto que 30% dos entrevistados pescam de um a três dias ao
mês. No Rio, o melhor local para pescar peixe grande são os poços e baixos, dependendo da
presa. Mais de 90% dos Pescadores utilizam tarrafa e linhada (Figura 03), que são característicos
da pesca de subsistência.
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Figura 02 – Dinâmica reprodutiva dos peixes em Boca do Acre segundo pescadores.
O Piranambu é um bagre e carnívoro, considerados topo de cadeia. “É especialmente
voraz, atacando peixes presos em malhadeiras. É oportunista e inclui diversos itens em sua dieta”
(FERREIRA, 1988). Segundo Eusébio Carpio Chavés (DIPRODUCE) o piranambu pode ser a
piracatinga (Calophysus macropterus) ou ambos tem sido vendidos como piranambu no Peru.
FERREIRA (op. cit.) descreve: “Do ponto de vista da dieta é uma espécie considerada oportunista,
ingerindo alimentos de origem animal e vegetal, além de carcaças de animais mortos. Causa
prejuízos à pesca comercial ao atacar peixes presos em malhadeiras, em cardumes mistos com
candirus. Em função dos hábitos alimentares, não é muito apreciado como alimento em muitas
áreas da Amazônia”. A técnica de pesca do Piranambu é realizada com o ubre da vaca (parte do
peito viscosa e dura), o qual é colocado na água por alguns minutos e em seguida retirado, onde
os peixes ficam aderidos, sendo colocados com a mão para dentro da canoa Também é
confeccionada uma armadilha com vísceras amarradas em um pedaço de pau.
A pesca com Tingui era praticada no passado pelos indígenas do alto rio Acre, sendo
referida como específica para duas espécies, o Bodó e a Piaba: “Tinha lugar que não podia botar,
para não morrer todos os peixes”. Outras duas artes de pesca associadas ao passado por estes
povos era a flecha (“Pegava Curimatã (...) Tambaqui, Surubim e Caparari na flechada”) e o
fisgador (arpão pequeno com um anzol na ponta) utilizado no mergulho em poços.
Apenas uma pequena fração da pesca no município de Boca do Acre (AM) ocorre no Rio
Acre, pois o Rio Purus é muito mais piscoso. A pesca no Rio Purus ocorre em embarcações
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maiores do que as do rio Acre, denominadas Baleieras, que ficam até 20 dias pescando, comporta
até 7 toneladas de peixe e leva sempre a “equipe” (canoas com motor de rabeta a reboque).
0 5 10 15 20 25
Tarrafa
Malhadeira
Espinhel
Anzol
Linhada
Figura 03 – Técnicas de pesca mais utilizadas pelos pescadores do Rio Acre (n = 45).
Percepção Ambiental dos Pescadores do Rio Acre
Apesar da carência de estudos para a Bacia do Rio Acre, SOUZA et al. (2003) indicam
haver pouco mais de uma centena de espécies de peixes. Os pescadores do Rio Acre entendem
que existe uma situação de crise na pesca (Tabela II) e de acordo com as entrevistas realizadas,
78% das espécies consumidas mudaram nos últimos 10 anos. Espécies de peixes grandes são
relatadas como inexistentes ou muito raras atualmente, sendo elas: Dourada, Jundiá, Jundiá-
Preto, Jundiá-Amarelo, Mapará, Surubim, Caparari, Caparari, Jaú (Jundiá de Escama), Filhote,
Peixe-lenha, Peixe-Coati, Pescada, Tambaqui, Pirapitinga e Matrinchã.
Tabela II – Opinião dos pescadores sobre a condição do Rio Acre em suprir a população de peixes (n amostral e porcentagem).
Condição Atual do Rio Acre Como era há 10 anos? Como estará daqui a 5 anos?
Péssima 11 26% 1 2% 13 32%
Ruim 10 23% 7 17% 11 27%
Regular 14 33% 3 7% 5 12%
Boa 7 16% 16 39% 10 24%
Ótima 1 2% 14 34% 2 5%
Total 43 100% 41 100% 41 100%
Para os pescadores, os peixes grandes não sobem mais o Rio para realizar a piracema
porque atualmente o Rio possui menos água e encontra-se mais raso. No passado, mesmo na
estação seca, segundo os entrevistados, haviam canais escavados pelos próprios peixes, jacarés,
tracajás e arraias para a migração (piracema) e passagem de canoas. Estas espécies também
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escavavam poços que eram utilizados para abrigo e reprodução. A falta da água no Rio está
diretamente relacionado a escassez das espécies citadas, ao desmatamento, a colocação de
Malhadeiras na foz do Rio Acre, a proliferação de açudes, a elevada quantidade de pescadores
no Rio e ao uso de artes de pesca ilegais. Este contexto de ausência de direitos de propriedade
bem definidos, evidencia que o regime de apropriação (OSTROM, 1990; BROMLEY, 1992;
FEENY et al.1990) dos recursos pesqueiros realizado no Rio Acre encontra-se na situação de livre
acesso.
Nas oficinas tri-nacionais realizadas em Iñapari as espécies de peixes presentes no Alto
Rio Acre foram nomeadas em português, espanhol e sua taxonomia foi aplicada por especialistas
brasileiros e peruanos com auxílio de manuais (FERREIRA, 1988 e SANTOS, 2006), seguido da
situação da pesca (Muito Pouco, Pouco ou Muito) na percepção dos Povos Manchineri e
Jaminawa, dos Pescadores Brasileiros e dos Pescadores Peruanos e Bolivianos (Tabela III).
Tabela III – Situação da pesca segundo pescadores Manchineris, Jaminawa, Brasileiros, Peruanos e Bolivianos.
Situação da pesca Pescadores Espécies“pouco” ou “muito pouco” Todos Cachorra (Parauchenipterus galeatus), Cará (Geophagus
proximus e Acarichthys heckellii), Mandi mole (Pimelodus sp. –ocorre mais nos igarapés), Pescada (Pachypops spp. e Plagiooscion spp e Cynoscion), Peixe elétrico, Poraquê ou Enguia (Electrophorus electricus), Peixe-sabão (Crenicichlaspp.), Peixe moela, Piaba (Astyanax spp. pouco nos igarapés), Sarapó (Gymnotus carapo), Sardinha (Triportheus ssp. –ocorre mais nos igarapés), Tamuatá (só existe nos lagos) e Traíra (Hoplias gr. Malabaricus – ocorre mais nos lagos)
“pouco” ou “muito pouco” Manchineris, Jaminawas e Pescadores Peruanos e Bolivianos
Bodó-cavalo (Hypostomus emarginatus, Liposarcus pardallis), Cangati, Caparari (Pseudoplatystoma tigrinum), Curimatã (Prochilodus nigricans), Mapará (Hypophthalmus ssp.), Matrinchã (Brycon cephalus), Peixe-lenha (Sorubimichthys planiceps), Pirapitinga (Piaractus brachypomus), Piaba-pinta-do-cão, sem-sangue ou Mojara, Branquinha (Cyphocharax abramoides, Potamorhina ssp.,Steindachnerina cf. bimaculata e Curimata inornata), Mandi-Braço-de-Moça, Mandi-mandubé e Mandi-boca-aberta.
“pouco” ou “muito pouco” para dois grupos e “muito” para um
Pacu (Mylossoma spp, Myleus ssp., Metynnis ssp. e Catoprion mento), Cascudo (Psectrogaster ssp.), Jundiá-preto (Rhandia sp.), Mané-besta e Piau (Leporinus sp.). Algumas espécies como Cascudo, o Jundiá (Jaú - Rhandia sp.), Jundiá-bandeira (Camisa-de-meia - Rhandia sp.), Jundiá-preto, Jutubarana, Mandi (Clarias sp.), Mandi-olho-de-boi (Pimelodus sp.) e Piranambu (Pinirampus pirinampu)
“muito” Todos Cuiú (Oxydoras niger), Dourada (Brachyplathystoma flavicans – em janeiro), Piranha-preta (Pygocentrus natterei, Serrasalmus sp. – nos lagos), Piranha-vermelha (Pygocentrus natterei, Serrasalmus sp.), Surubim (Pseudoplatystoma ssp., Brachyplatystoma juruense – entre setembro e novembro), Cachimbo, Candirú, Mandi-chaú, Bico-de-pato e Arraia (Potamotrygon ssp.)
Sem informações Todos Piracatinga (Calophysus macropterus), Cubio, Cujuba, Jandiá (Leiarius marmoratus), Braço-de-moça e Acaratinga.
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A espécie considerada mais abundante no Rio Acre é o Mandim com 46%, seguido do
Piranambu com 39% (Figura 04). Relatos de aumento na quantidade de peixes pequenos e de
Piranambu nos últimos 8 anos estão possivelmente associados tanto a abertura de mercado para
pesca de peixes pequenos, como a alteração nas redes tróficas do rio Acre. Na medida em que as
espécies de maior porte e os predadores (com exceção da espécie humana) que ocupam o topo
da pirâmide trófica têm suas populações suprimidas ou mantidas a níveis irrisórios, espera-se que
haja uma explosão demográfica das populações de pequenos peixes que estão na base.
0
5
10
15
20
25
Mandim Curimatã Piranambu Cachorra
Figura 04 – Espécies de peixes mais abundantes no Rio Acre segundo pescadores entrevistados (n = 46).
O Perfil do Pescador do Rio Acre
Pelo menos uma parte da vida dos entrevistados foi dedicada ao extrativismo da castanha
e da seringa, cujo modo de vida em colocações (ALMEIDA, 1990) é caracterizado pelo árduo
trabalho, em regime de escravidão. Quarenta e dois por cento dos pescadores entrevistados
recebem até R$ 300,00 (Figura 05) e em 7% entrevistas a água foi considerada péssima (n = 46).
As histórias de vida refletiram um elevado padrão de migração (100% deles nasceram em um
lugar diferente do que mora), relacionada ao extrativismo e à cultura de Povos Amazônicos.
Apenas 8% dos pescadores residem a mais de 30 anos no mesmo local, apesar de 91%
possuírem casa própria (n = 47). A média de filhos no Alto Rio Acre é maior do que na sede do
município, ficando em torno de 7 para os Pescadores Velhos e entre 1 a 3 filhos para 45% dos
demais. A maioria dos pescadores possui de 3 a 5 residentes por casa e cerca de 74% dos
entrevistados possuíam mais de um membro da família fora de casa. Com relação ao estado civil,
54% dos pescadores são casados e 27% amigados, sendo que 61% das esposas não declararam
renda nas entrevistas.
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A maioria dos pescadores velhos nunca frequentou a escola em função da distância e/ou
da inexistência nos Seringais e entre os pescadores ativos, 67% possuem o fundamental
incompleto. A iniciação na pesca era aprendido pelos pais ou por outro adulto próximo a partir de
9 anos ou mais cedo no caso dos indígenas (6 anos), sendo realizado por observação, como a
agricultura e a caça. As pescarias são praticadas de forma acompanhada [46% (n = 37) são
realizadas com 3 a 4 pessoas] ou solitária. No passado, quando não havia motor, havia maior
exigência da pesca acompanhada com divisão de tarefas: o remador, o varejeiro e os pescadores.
Essa divisão de trabalho com os parceiros de pescaria nem sempre foi evidente, porém a divisão
dos peixes, normalmente, era igualitária. Cerca de 90% dos pescadores entrevistados possuem
canoa própria, sendo que 29% possuem mais de uma. As canoas de 9 m foram as mais
destacadas, chegando a 29%, seguido das canoas de 11 m (25%).
Não possui
até 300 reais
300 a 500 reais
500 a 700 reais
700 a 900 reais
900 a 1100 reais
1100 a 1300 reais
1300 a 1500 reais
acima de 1500 reais
Figura 05 – Distribuição de renda entre os pescadores do Rio Acre (n = 40).
A Comercialização do Pescado na Bacia do Rio Acre
Apesar da fartura da pesca no passado, não havia um mercado para o peixe. O papel da
pesca sempre esteve associado a uma atividade secundária, voltada para a subsistência e, em
certa medida, para a diversão. A impossibilidade de comercialização esteve associada tanto a
ausência de mercados, quanto a impossibilidade de o seringueiro lidar com o dinheiro. A maioria
(75%) dos fornecedores de peixe para o comércio de Rio Branco é de Boca do Acre. O
armazenamento do pescado é realizado em Balcão frigorífico (63%) e em isopor com gelo (38%),
sendo o gelo fundamental em 78% dos transportes de peixe realizados. O método de salga para a
conservação do pescado permanece relevante, correspondendo a 40% dos casos em
13
contraposição ao gelo que representa 60% (n = 42). Dos comerciantes visitados, 88% declaram
receber inspeção frequentemente, na maioria dos casos (86%) da Vigilância Sanitária.
A maior parte do peixe é vendido para o atravessador (67%), sendo somente 29%
comercializado diretamente com o consumidor final (n=24). Mesmo assim, 42% dos pescadores
consideram “razoável”, 25% consideram “bom” e somente 21% consideram “pouco” o valor
recebido pelo pescado (n=24). Algumas espécies, como o Tambaqui e Curimatã diminuíram seu
preço nos últimos dois a três anos em função da concorrência gerada pelo aumento de açudes
produtivos. O consumidor de pescado é um público em geral de baixa renda, sendo que 53%
declararam receber até R$ 300,00. O Tambaqui lidera com 53% da preferência do consumo de
peixe, seguido pelo Curimatã, Jundiá e Mandim com 13%. Em 69% dos casos o peixe é
eviscerado em casa. Houve um presidente da Colônia de Pescadores e 31% (n = 39) dos
pescadores entrevistados alegam ter havido mudança no sabor do peixe.
O Piranambu pescado em Brasiléia e Xapuri é levado para venda em Assis Brasil. A
Associação de Pescadores de Iñapari, composta por nove Pescadores, foi fundada a dois anos
em função da oportunidade de mercado de Piranambu com Puerto Maldonado. Este comércio
movimenta até 20 toneladas/mês o que corresponde a um ingresso de R$ 76.000,00 para a
economia local dos setores populares onde estão envolvidas cerca de 20 famílias. São vendidas
cerca de 20 toneladas por mês, as quais são divididas entre o Atravessador e o dono de açude no
Peru que compra Piranambu no Brasil. A cada quilo de Piranambu vendido (R$ 3,80) fica R$ 0,50
para a Associação de Pescadores de Iñapari, a qual se relaciona com o DIRPRODUCE (Ministério
da Produção), com Sede em Puerto Maldonado. O Piranambu é comprado o ano todo, sendo
cerca de 90% consumido em Puerto Maldonado, enquanto os outros 10% são exportados para
uma fábrica boliviana de enlatado de La Paz. Estima-se que 95% do peixe comprado pelo
Atravessador seja Piranambu, sendo pagos R$ 3,80/Kg (há dois anos era vendido a R$ 5,00/Kg).
Uma vez que o Piranambu não existe mercado no Brasil, o atravessador sempre
encomenda o pescado para garantir a compra com um Agenciador. O Agenciador do
Atravessador realiza a compra direta do peixe com o pescador e recebe R$ 0,12/Kg. Alguns
pescadores de Assis Brasil chegam a comprar e pescar Piranambu em Rio Branco para vender ao
Agenciador. O Piranambu que o Atravessador negocia ao longo da viagem para Puerto
Maldonado é vendido para revendedores entre R$ 5,50/Kg a R$ 6,00/Kg, sendo vendido a R$
8,00/Kg em Restaurantes de Puerto Maldonado. A Vigilância Sanitária não está presente no Peru
e no Brasil e existem relatos de espécimes que apresentam uma mancha, sendo descartada certa
quantidade de peixe quando são encontradas. No período de estudo não foi verificada fiscalização
sanitária ou tributária.
14
Arranjos Institucionais
O conceito de instituição é derivado de NORTH (1990), que compreende as restrições
humanamente inventadas que moldam as interações humanas e a maneira como as sociedades
evoluem ao longo do tempo. As instituições são formadas por restrições formais (normas, leis,
constituições), restrições informais (normas de comportamento, convenções e códigos de conduta
auto-impostos) e as características de seus mecanismos de cumprimento. Desta forma, as
instituições formam incentivos para troca humana, seja ela política, social ou econômica.
Instituições, assim como direitos de propriedade (a estrutura de direitos para recursos e as regras
sobre as quais esses direitos são exercidos) são mecanismos usados para controlar o uso do
ambiente e o comportamento em relação ao outro (BROMLEY, 1991). As normas formais relativas
a pesca nos três países (Tabela IV) passavam por um momento de instabilidade durante a
realização da pesquisa. No Brasil, a nova lei de pesca entrou em vigor em junho de 2009, dando
maior reconhecimento para o pescador artesanal. Após a aprovação da nova Constituição, a lei de
pesca na Bolívia está em fase de tramitação. Algumas normas informais foram espontaneamente
manifestas pelos pescadores, sendo que para a maioria dos pescadores de subsistência não
existem normas formais que limitem a pesca.
Tabela IV – Normas formais relativas à pesca na Bacia do Rio Acre no Peru, Brasil e Bolívia.Peru Brasil Bolívia
Lei Geral de Pesca 25977 e seu Regulamento DS. 012-2001; Lei Orgânica 26821; DS 016 – 2007 PRODUCE; Lei Orgânica dos Governos Regionais 26867; Lei 29338; Decreto Lei 27460; RM 219-2001 – PE
Portaria IBAMA nº 7 02/02/96; Portaria IBAMA nº 08/96; IN IBAMA nº 43, 26/06/04; Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; Decreto nº 6.514, de 22 DE Julho de 2008; IN IBAMA nº 156, 14/03/07; Portaria IBAMA nº 48, 05/11/07; IN IBAMA nº 205, 24/10/08; Lei nº 9433; Lei nº 11.959, 29/06/09; Portaria Interministerial MPA/MMA nº 2,13/11/09, Decreto nº 6.514, de 22/07/08
Constituição Política do Estado; Código Civil; Nº 1333 27-Abr-1992; Nº 1700 12-Jul-1996; Nº 1715 18-Out-1996; Nº 1777 17-Mar-1997; No. 2028 28 - Outubro – 1999; No. 2066 11-Abril-2000; Lei No. 2878 de 08-out-2004
Segundo a Lei 11.699/08 que dispõe sobre as Colônias de Pescadores, estas instituições,
assim como as Federações e Confederações, são consideradas como órgãos de classe dos
trabalhadores do setor artesanal da pesca, com forma e natureza jurídica própria, obedecendo ao
princípio da livre organização. Apesar de interagirem com diversas organizações em múltiplos
níveis, a noção de livre organização não é clara entre os presidentes de Colônia, ficando
extremamente vinculados a Federação e ao MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura), e, em
alguns casos, considerando o IBAMA (Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis) como um problema. Muitas Colônias estão vinculadas a associações de piscicultura
e reclamam da burocracia dos órgãos ambientais para construção de açudes. Apesar de esta
atividade comprometer os afluentes, muitos presidentes consideram a solução para a crise da
pesca no rio Acre. Desta forma, as Colônias de Pesca parecem não apresentar atributos como
flexibilidade e adaptação para processos de co-manejo adaptativo (BERKES e FOLKE, 1998),
tendo o foco das suas ações voltadas para a garantia do seguro-defeso ao pescador.
15
Cerca de 81% dos entrevistados praticam pesca de subsistência e não recebem seguro-
defeso (n = 22), sendo que cada Colônia de Pescadores possui uma organização própria para
garantir o seguro-defeso ao pescador (Tabela V). Este seguro equivale a 04 salários-mínimos ao
ano (R$ 1.800,00). Todo o ano existe uma relação diferente dos peixes que são proibidos de
pescar durante o defeso, sendo desconhecida por parte das Colônias de Pescadores e dos
próprios pescadores.
Tabela V – Exigências das Colônias de Pescadores para retirada do seguro-defeso.Município Qtd. Mínima de
Notas Fiscais/mêsTotal ao ano
Valor por Nota Fiscal (R$) Total ao ano (R$)
Boca do Acre 01 08 15,00 120,00Rio Branco 07 56 10,00 560,00Porto Acre Não existe 04 10 40Brasiléia/Epitaciolândia 05 40 Cobra mensalidade de R$
15,00180,00
Assis Brasil 03 24 Cobra 5% por Nota Fiscal1. Variável1 Consta na Nota Fiscal o valor que o pescador recebe pelo peixe.
A pesca praticada pelos moradores localizados a montante da Tríplice Fronteira, na
Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, nas Terras Indígenas e na Comunidad Nativa
Bélgica (Peru) visa somente a subsistência e possui diferentes normas de uso de acordo com o
marco legal das Áreas Protegidas. Existe um conflito entre estes com os pescadores profissionais
(com carteira da Colônia de Pescadores) da sede do município de Assis Brasil e, em parte de
Iñapari, que visam a pesca comercial e são responsabilizados pela diminuição na quantidade de
peixe. Essa característica da subsistência dominou o discurso de alguns entrevistados, os quais
reivindicam de maior direito que o pescador comercial. Todas as vezes que uma Unidade de
Conservação restringe a pesca para os usuários externos principia-se um conflito envolvendo os
pescadores profissionais que reivindicam o direito de pescar em toda extensão do Rio. Este tipo
de conflito também foi verificado entre os Pescadores de Boca do Acre e moradores da RESEX
Arapixi (Rio Purus).
O conflito entre pescadores da sede do município, extrativistas e indígenas levou o
ICMBIO a intermediar uma negociação com os diferentes usuários ao longo dos anos de 2006 e
2007. Após diversas oficinas realizadas com cada ator específico e com todos os atores reunidos,
o processo resultou na Instrução Normativa (IN) 156/07. Ela estabelece exclusividade sobre a
pesca aos indígenas na área da Terra Indígena (TI) e aos extrativistas na área da RESEX,
restando aos pescadores profissionais o trecho do Rio Acre a jusante da RESEX. Os pescadores
profissionais, porém, não reconhecem o Acordo de Pesca existente na área da RESEX e nas TI´s,
pois alegam que: “os índios e extrativistas vem pescar aqui e nós não podemos pescar lá?”.
O Piranambu é pescado durante 4 meses do ano (Novembro a Março), os quais coincidem
ao período do defeso no Brasil, sendo que a partir de abril “o rio começa a descer e os peixes
voltam”. Os pescadores peruanos de Piranambu consideram impossível fazer um acordo visando
instituir o defeso (veda) em seu país no mesmo período do Brasil, pois este corresponde ao único
16
período do ano em que eles pescam. Assim, do ponto de vista dos pescadores de Piranambu
peruanos, a situação deve permanecer como está, ou seja, os peruanos pescando entre
Novembro e Março e brasileiros pescando o resto do ano. Em 2009 a ação do ICMBIO na
fiscalização da pesca foi acompanhada pela Polícia Federal e atualmente a problemática encontra
alternativas de resolução pela via diplomática. O conflito pela pesca comercial do Piranambu é
percebido pelos pescadores de Iñapari como abuso de autoridade dos órgãos de fiscalização
brasileira e assimetria nas relações de tributárias de fronteira. Uma vez que o rio é compartilhado
entre brasileiros e peruanos, e a legislação peruana não os proíbe de pescar durante o período do
defeso brasileiro e os pescadores peruanos não estão sujeitos a fiscalização brasileira. Os
pescadores peruanos também reclamam dos controles aos quais estão submetidos pela aduana e
Polícia peruana em relação aos documentos e a quantidade de peixe, não existindo igualdade de
tratamento pelo governo brasileiro aos seus pescadores.
Do ponto de vista dos pescadores brasileiros, o Piranambu representa garantia de venda,
enquanto que o peixe capturado o restante do ano é obtido através de um esforço que muitas
vezes não paga a despesa da pescaria. Além disso, os pescadores brasileiros se consideram
melhores do que os peruanos por ficarem mais tempo no rio pescando. Esta situação de crise
para o enfoque do co-manejo adaptativo representa uma oportunidade de responder com
estratégias apropriadas aos feedbacks do SSE (GUNDERSON e HOLLING, 2002). A
manutenção do modelo convencional do paradigma de comando-e-controle traduzido em normas
regionais generalizantes executadas por instituições locais comprometidas com o seguro-defeso
conduziu o sistema a um estado indesejável pelos usuários dos recursos pesqueiros. O conflito da
pesca do Piranambu pode ser compreendido como a evidência do sintoma que encontra suas
causas e as alternativas para seu enfrentamento em um problema estrutural do sistema “top
down” de manejo que estabelece um período único do seguro-defeso para toda a Bacia
Amazônica.
Segundo muitos pescadores, o principal responsável pela eliminação dos peixes grandes,
da arraia, do jacaré e do tracajá no Rio, foi a época do defeso no período errado. O defeso na
Estação chuvosa foi estabelecido em virtude de corresponder ao período de desova da maioria
das espécies de peixes da Bacia Amazônica, inclusive do Rio Acre. Na Estação seca o acesso
aos poços e pausadas, para captura através do uso do cerco com malhadeiras, é extremamente
predatória pelo fato das presas encontrarem-se mais vulneráveis e compromete as raras espécies
de maior porte: “Quando a gente pisa na pausada, a gente sabe se tem peixe no meio”. Assim,
visando conduzir o SSE para um estágio desejável de conservação dos recursos pesqueiros,
cabem os seguintes questionamentos: Qual o melhor período do ano para haver uma interrupção
da atividade de pesca? A época em que os peixes são mais facilmente capturados ou a época em
que eles estão desovando? Um processo auto-organizativo que promova o desenvolvimento do
co-manejo adaptativo deve ser facilitado por regras e incentivos de altos níveis que tenham o
17
potencial para expandir domínios de estabilidade desejáveis a uma região e tornem os SSE mais
robustos para mudança (OLSSON et. al. 2004). A pesquisa indicou que deveria haver um ajuste
na escala (FOLKE et al. 2008) do critério utilizado para o defeso no Rio Acre. Além do período
reprodutivo das espécies (estação chuvosa), onde a pesca é menos seletiva e as espécies estão
desovando, deveria ser considerado o período em que o peixe é mais facilmente capturado e em
que existe o maior número de piracemas (estação seca). Segundo RUFFINO (2005): “A criação
de regras para o uso dos recursos pesqueiros não depende apenas dos conhecimentos científicos
obtidos. Trata-se, sobretudo, da mediação de interesses econômicos, políticos e culturais”.
Considerações Finais
Estudos de caso indicam que o co-manejo adaptativo deve ser tratado como um processo
que envolve diversos grupos de interesse em uma construção que normalmente dura mais de dez
anos. Porém, a evidente crise indicada deve ser encarada com urgência para que sejam criadas
estratégias multi-institucionais visando adaptar-se e responder às mudanças no SSE. A excessiva
ênfase no seguro-defeso e na piscicultura conduziu a pesca artesanal no Rio Acre ao colapso de
seus estoques. É imprescindível que haja uma inversão no foco das ações, para que elas estejam
voltadas às questões-chave que garantam a resiliência das instituições e do ecossistema.
Como desdobramentos da pesquisa colaborativa, durante as duas oficinas foi construída
uma matriz contendo os principais problemas da pesca, as potencialidades, as soluções e as
ações necessárias. Os principais problemas levantados foram a escassez de peixes, o deterioro
do ecossistema, as políticas públicas, a organização social e a comercialização. A partir desta
matriz foi elaborada uma Proposta de Gestão Integrada da Pesca na Bacia do Rio Acre, a qual foi
apresentado ao Convênio de Cooperação Internacional para a Região MAP e entregue para o
Comitê de Fronteiras Assis Brasil (Brasil), Iñapari (Peru) e San Pedro de Bolpebra (Bolívia). Este
Comitê é composto pela representação das Prefeituras dos três municípios dos três países e com
interlocução direta junto ao Ministério das Relações Exteriores. Suas recomendações foram: (i)
Fazer um estudo sobre o critério para o defeso no Acre; (ii) fiscalização mais efetiva pela Marinha
do Brasil em Boca de Acre, para que não coloquem malhadeiras na desembocadura do Rio Acre;
(iii) Inspeção sanitária do pescado (peruano e/o brasileiro) que se comercializam no Peru; (iv)
Criação de uma estação de pesquisa e reprodução de Piranambu em sistemas controlados
(aqüicultura); (v) Efetividade da fiscalização através de auto-controle das organizações de
pescadores, aplicando multas aos sócios pelo não cumprimento das normas, e ação do IBAMA e
da Polícia Federal, e Instituições pertinentes, para infratores reconhecidos pelos usuários e; (vi)
Promover a implementação de normas sobre sanidade alimentar.
18
Agradecimentos
Somos gratos a Carla Guaitanele e Luis Felipe do ICMBIO pelo trabalho anterior com os
pescadores que resultou no Acordo de Pesca, ao atual gestor da ESEC Rio Acre, Lincoln
Schwarzbach pelo apoio prestado durante a execução do trabalho de campo, aos participantes
das oficinas, em especial a Evandro Câmara e Maira (IBAMA), Pepe (Herencia Bolívia), Jorge
Barras (Iñapari – Peru), Verônica e Eusébio (DIRPRODUCE – Peru), Manoel Araújo e Jairo (Assis
Brasil) e ao WWF-Brasil, pela colaboração financeira a Iniciativa MAP. Também somos gratos a
Francisco Alexandre Almeida (Xandão) e Machael Lima pelo apoio na coleta e digitalização dos
dados. Estendemos nosso agradecimento ao Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), o qual financiou esta pesquisa.
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