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Dezembro de 2012 Janeiro de 2013

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Bônus e ônus.............................18Em que situações usar rotação, sucessão com espé-cies não hospedeiras e alqueive mecânico é eficiente para manejar nematoides das lesões radiculares

Destaques

Índice

Diretas 04

Como manejar doenças em algodão 06

Potencialidades do café sombreado no Brasil 10

Parasitóides contra lagartas Spodopteras 12

Eventos - Clube da Cana FMC 14

Os primeiros focos da ferrugem asiática 16

Como enfrentar os nematoides das lesões radiculares 18

Nutrição para prevenir retenção foliar e haste verde 22

Efeitos da época de semeadura em cultivares RR 26

Saiba como controlar o arroz-vermelho 30

Controle de pragas em armazenagem de arroz 32

Informe empresarial - BR3 35

Coluna ANPII 36

Coluna Agronegócios 37

Mercado Agrícola 38

Relação nutricional..............................22Saiba como a melhora na oferta de nutrientes pode auxiliar os produtoresde soja a reduzir problemas com retenção foliar e haste verde

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIV • Nº 163 • Dezembro 12 / Janeiro 13 2012 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossas capas

Como controlar..........................30Alternativas para manejar a resistência do arroz-vermelho à aplicação de herbicidas do grupo químico das imidazolinonas em áreas de cultivo irrigado

Auxílio natural...........................12Como o uso de parasitoides como Telenomus remus pode ajudar no combate à lagarta-do-cartucho e a outras Spodopteras causadoras de danos severos

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Carolina S. SilveiraJuliana Leitzke

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer

• VendasSedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assinaturas

Natália RodriguesFrancine MartinsClarissa Cardoso

• ExpediçãoEdson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

Fernando Fávero

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Diretas

04 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

AplicativoUm aplicativo pensado para produtores de arroz acaba de ser desenvol-vido pelo Instituto Phytus. Quem possui smartphone ou tablet - com plataforma Android, iPhone ou iPad já pode baixar as versões digitais do livro Doenças na Cultura do Arroz Irrigado. A versão completa aborda 17 doenças (tombamento, brusone, mancha parda, mancha estreita, escaldadura, mancha das bainhas, mancha circular, podridão do colmo, podridão da bainha, mal do colmo, mal do pé, mancha das glumas, cárie, falso carvão, vírus do enrolamento do arroz, ponta branca e nematoide de galhas) com explicação detalhada sobre sintomas e desenvolvimento, bem como as orientações para um manejo adequado. Os pesquisadores

ParticipaçãoO diretor geral da Syngenta, Daniel Bachner, palestrou durante a 12ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol, em outubro, em São Paulo. A apresentação do executivo, sobre “Sistemas integrados de gestão agrícola: como capturar o valor gerado pela cana” fez parte

Academia BayerEstabelecer uma plataforma de relacionamento para a troca de informações estratégicas sobre ciências agrícolas para o desenvolvimento de soluções que contribuam com o desenvolvimento sustentável da agricultura. Este

PrêmioNo mês em que completou 17 anos de existência o Programa Agrinho premiou os vencedores de cinco categorias da edição 2012. A inciativa educacional é promovida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Administração Regional do Paraná (Senar-PR) em parceria com a Dow AgroSciences e outras instituições. A empresa, que apoia a iniciativa desde a primeira edição, foi homenageada. “A Premiação do Agrinho é a consoli-dação dos resultados de mais um ano de trabalho e do comprometimento com o crescimento baseado nos pilares da sustentabilidade econômica, social e ambiental”, explica a especialista em Product Stewardship para Proteção de Cultivos da Dow, Valeska De Laquila.

é o papel da Academia Bayer de Inovação, criada para reunir os profissionais de P&D da empresa e os principais pesquisadores brasileiros das áreas de fitopatologia, nematologia, entomologia e herbolo-gia. Para o diretor de Desenvolvimento Agronômico da Bayer CropScience para a América Latina, Ber-nard Jacqmin, a união de diversos elos da cadeia de pesquisa é essencial para o desenvolvimento da agricultura brasileira. "Procuramos oferecer aos participantes experiências e informações relevantes que agreguem e contribuam para a condução de trabalhos científicos que favoreçam o atendimento de demandas nacional e internacional”, explicou.

do painel Novas Tecnologias. “O cultivo da cana tem apresentado desafios que se agravaram nos últimos anos. Enquanto a produção diminui, os gastos crescem. Entre as causas estão a baixa taxa de re-novação da cultura, as falhas no plantio mecanizado, fatores climáticos e a maior incidência de pragas e doenças. Somente com o uso integrado de tecnologias essa situação poderá ser enfrentada e revertida”, avaliou Bachner. Daniel Bachner

ComemoraçãoA Basf realizou em outubro, no Complexo Químico de Guara-tinguetá, São Paulo, comemoração aos cinco anos do Laboratório Global de Estudos Ambientais e Segurança Alimentar (Gencs), que integra a unidade de proteção de cultivos da empresa. Foram anunciados investimentos de R$ 5 milhões no Gencs ao longo dos últimos cinco anos, especialmente em melhorias de infraestrutu-ra de processos e aquisição de equipamentos de alta tecnologia. “Nosso objetivo com os investimentos nesse laboratório é dar mais segurança aos agricultores para que possam exportar seus cultivos cumprindo com os requerimentos internacionais de comércio de alimentos, consolidando assim o Brasil como um dos maiores produtores de alimentos do mundo”, afirma Eduardo Leduc, vice-presidente sênior da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina, Fundação Espaço ECO e Sustentabilidade para a América do Sul.

BeneficiamentoA DuPont Pioneer inaugurou no município de Catalão, Goiás, uma unida-de de beneficiamento de sementes de soja com capacidade para processar dois milhões de sacas de 40 quilos de sementes ao ano.“A iniciativa faz parte da nossa estratégia global de ampliar a produção e a oferta de alimentos para atender ao crescimento da população mundial. Nesse cenário, o Brasil tem papel estratégico devido ao elevado potencial de produção”, declarou o diretor da Dupont Pioneer no Brasil, Roberto de Rissi. O executivo ressalta que a escolha de Catalão deve-se às facilidades logísticas oferecidas pelo município e condições climáticas que favorecem a produção de sementes de alta qualidade. A empresa investiu 62 milhões de dólares na instalação, com o objetivo de duplicar a capacidade atual de produção, que é de 88 mil toneladas ao ano (ou 2,2 milhões de sacas de 40 quilos) e que estava concentrada na unidade de Planaltina (Distrito Federal). A nova unidade entrará em operação a partir do início do próximo ano.

Bernard Jacqmin

responsáveis pelo traba-lho são Ricardo Silveiro Balardin, Marcelo Gripa Madalosso, Gerson Dalla Corte, Diego Dalla Favera e Nédio Rodrigo Tormen. Mais informações através do site www.iphytus.com/publicacoes .

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Algodão

06 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Atualmente, a cultura do algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é uma das mais importantes atividades agrí-

colas do País, não só pela produção de fibras empregadas na indústria têxtil, mas também pela utilização de sua semente na fabricação de óleo e do farelo do algodão na alimentação animal. Este fato tem sido constatado pela expansão da área cultivada desde o início da década de 90, quando a produção de algodão no Brasil concentrava-se nas regiões Sul, Su-deste e Nordeste. Após esse período, houve um aumento significativo das áreas destinadas à produção de algodão no Cerrado, basicamente na região Centro-Oeste que atualmente lidera com 62,8% a área plantada do País, segundo le-vantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab/2012). Esta região apresenta boas condições climáticas, com altos índices pluviométricos, temperaturas diurnas elevadas e noturnas amenas. Entretanto, estes fatores também favorecem a ocorrência de doenças que afetam o algodoeiro.

Um complexo de fatores determina a introdução e a dinâmica dos patógenos em um dado meio: proximidade e intercâmbio com outras regiões produtoras, medidas cul-turais, sistemas de manejo adotados, taxa de utilização de sementes e grau de resistência das cultivares utilizadas. Aspectos que irão influenciar nas práticas de um controle in-tegrado de doenças para a redução de dano causado por doenças.

Existem vários patógenos que podem causar danos na cultura do algodoeiro, dentre os quais estão os que provocam as doenças de tombamento de plântulas (Rhizoctonia solani Kuhn), a ramulose (Colletotrichum gossipii var. cephalosporioides), a mancha de ramulária (Ramularia areola), a murcha-de-fusarium (Fusarium oxysporum f sp. vasinfectum), a mancha-angular (Xanthomonas axonopodi spv. malvacearum), a mancha de mirotécio (Myrothecium roridum), o mofo branco (Scle-rotinia sclerotiorum), a alternaria (Alternaria sp), além de viroses e nematoses. Cada doença possui características diferentes de infecção e controle, justificando assim o uso do manejo

Contra-ataqueO aumento do cultivo de algodão no Cerrado tem sido acompanhado do proporcional crescimento de doenças como tombamento de plântulas, ramulose, ramulária, murcha-de-fusarium, mancha-

angular, mancha de mirotécio, mofo branco, alternaria, viroses e nematoses. Para combater de forma eficiente esses patógenos é preciso planejar e integrar estratégias como tratamento de sementes com fungicidas, uso de cultivares resistentes, práticas culturais e adoção de um

programa adequado de aplicação de defensivos

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nando menor inóculo inicial.O controle químico é uma das ações mais

utilizadas para garantir o desenvolvimento da cultura. Nesse sistema é necessário que se observe alguns itens para a obtenção de um resultado satisfatório, como por exemplo, histórico da ocorrência de doenças na região, conhecimento da etiologia dos agentes causais destas doenças foco (disseminação, trans-missão etc) e a realização das aplicações no momento adequado.

No momento da escolha de um programa de aplicação de defensivos para controle de doenças deve-se levar em consideração antes de tudo a eficácia comprovada do fungicida, usar produtos registrados com mistura de diferentes ingredientes ativos e buscar alternar produtos com diversos modos de ação. No sistema Agrofit, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está dispo-nível a listagem de vários produtos químicos registrados e recomendados para a cultura do algodoeiro, com informações detalhadas sobre princípio ativo e dosagens. Assim, o controle químico deve ser usado dentro do controle integrado de doenças, ou seja, integrar estra-tégias para manejar ou prevenir as doenças de plantas com o controle genético, regulatório, biológico, físico e cultural.

integrado de doenças, por meio do controle genético, biológico, cultural, físico e químico.

A eficiência e a utilização de cada método de controle são dependentes do acompanha-mento e conhecimento das doenças, sendo este o primeiro fator a ser considerado quando se pensa no controle integrado de doenças, para que a partir daí se determine as práticas adequadas.

O início das ações a serem empregadas para o controle das doenças começa com a escolha de sementes sadias e em seu trata-mento com fungicidas. Por meio de pesquisas realizadas, verificou-se que as sementes de algodoeiro utilizadas na região dos Chapadões (Chapadão do Sul e Costa Rica – Mato Grosso do Sul, Chapadão do Céu, Goiás) são relativa-mente sadias, provavelmente pelos cuidados adequados com os campos de produção de sementes (Theodoro et al, 2009; Correia et al, 2010). Recomenda-se o tratamento das sementes com dois grupos químicos de fungicidas para eliminar possíveis patógenos aderidos às sementes, assim como para pro-teger os estádios iniciais do desenvolvimento das plantas (Chumpati et al, 2010).

A utilização de cultivares resistentes a doenças no sistema produtivo do algodoeiro também é uma prática muito recomendada. Essa forma de controle é considerada muito eficiente, embora não exista nenhuma culti-var resistente a todas as doenças da cultura. Por outro lado, cultivares que apresentam resistência a doenças podem não se adaptar a determinada região e, por esses motivos,

faz-se necessário associar todos os métodos de controle existentes.

O controle cultural tem por objetivo manipular as condições da cultura antes, durante e após o seu início, de modo a des-favorecer o desenvolvimento de patógenos e proporcionar o pleno crescimento das plantas. Como exemplo pode-se citar o uso de espaçamento reduzido e alta densidade de plantas, como é o caso de algodoeiro cul-tivado em sistema adensado, pois tais fatores formam um microclima favorável ao desen-volvimento de patógenos como Sclerotinia sclerotiorum e Ramularia areola.

Com o advento de tecnologias, o cultivo na região dos Chapadões ocorre em períodos de primeira safra (verão) e segunda safra (outono/inverno). Para a safra de verão o início da semeadura ocorre na primeira quinzena de dezembro e, para a de outono/inverno, no período entre 5 de janeiro e 5 de fevereiro. Assim, essa grande janela de semeadura possibilita maior tempo de exposição da cultura à ação das doenças no ano, proporcionando fonte de inóculo inicial maior para as próximas safras. No entanto, concentrar a época de semeadura e plantio mais cedo pode favorecer um escape maior a algumas doenças como, por exemplo, a mancha de ramulária.

A rotação de culturas pode eliminar par-cialmente ou completamente os patógenos devido à supressão de substratos apropriados ao desenvolvimento das doenças, proporcio-

Alfredo Riciere Dias,Fundação Chapadão e UFMSGustavo de Faria Theodoro,UFMS

A deterioração e o apodrecimento da maçã do algodoeiro são alguns dos fatores limitantes à cultura, especialmente no Cerrado

CC

Fotos Alfredo Riciere Dias

A mancha de ramulária está entre os principais patógenos que afetam as áreas de cultivo de algodão

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Nos últimos anos a produção de café mundial tem sido superior a 130 milhões de sacas de 60 qui-

los, tendo grande movimentação financeira. Existem diversas espécies do gênero Coffea, portanto, duas se destacam, o café arábica (C. arabica) e o café conilon (C. canephora). Conforme dados da Organização Internacio-nal do Café, nos últimos anos (entre 2006 e 2011) a Costa Rica produziu entre 1,3 milhão a 1,8 milhão de sacas de café arábica. A produtividade média gira em torno de 20 sacas por hectare por ano. O país possui 51 mil km2 e uma população de 4,6 milhões de habitantes.

O café chegou na Costa Rica no final do século 18. É uma das principais atividades no país, emprega diretamente 50 mil famílias na atividade, sendo 92% da produção provenien-te de pequenas propriedades com áreas de café inferiores a cinco hectares. A Costa Rica ex-porta 90% do café produzido, o que representa 15% do total das exportações do país.

O clima apresenta duas grandes estações, uma com chuva moderada durante a floração e abundante no período de crescimento e formação dos frutos. Outra estação é caracte-rizada pela diminuição da temperatura e início da seca, que coincide com a colheita do café, que junto a outros fatores climáticos favorece a produção de café de qualidade. Mais de 80% dos cafezais estão cultivados em altitudes de 1.000m a 1.700m, em solos geralmente de alta fertilidade (vulcânicos), tendo a região temperatura média entre 17oC e 23oC.

A Costa Rica possui oito regiões

Café

10 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

À sombraTradicional na Costa Rica, o plantio sombreado de café

apresenta potencial para cultivo com seringueira, mamão, cedro australiano, entre outros, no Brasil. Contudo, limitações por conta de déficit hídrico precisam ser

consideradas ao adotar esse tipo de estratégiaprodutoras de café: Três Ríos, Turrialba, Brunca, Guanacaste, Tarrazú, Orosi, Central Valley e West Valley, cada uma com sua par-ticularidade climática, fertilidade e manejo. De modo geral, a temperatura média anual é de 18oC (Tarrazú) a 26oC (Guanacaste), umidade relativa geralmente superior a 80% e a precipitação média de 2.100mm/ano (Guanacaste) a 3.500mm/ano (Brunca). Em função dessas características há possibilidade dos plantios sombreados, com plantas como Erythrina spp, Inga spp (leguminosas que correspondem a mais de 60% do café som-breado no país), Eucalyptus spp, outros tipos de árvores, bananeira (diversas variedades) e outras menos representativas. Vale destacar que os plantios utilizando eucalipto estão diminuindo devido à dificuldade de poda. Segundo trabalhos de pesquisa e conversas com profissionais envolvidos no segmento, o café sombreado representa em torno de 60% a 80% da cafeicultura do país.

Dois trabalhos recentes e científicos desen-volvidos na Costa Rica, um por Hergoualc’h e colaboradores, publicado na Agriculture, Ecosystems and Environment, em 2012, e de Siles e colaboradores na Agroforest Syst, em 2010, e outras diversas pesquisas indicam que o café sombreado na Costa Rica (em torno de 30% de sombreamento) apresenta vantagens comparadas ao sistema de monocultivo, dentre elas maior estabilidade da produtivi-dade (menor bienalidade), maior vida útil da lavoura, maior facilidade de certificação como café sustentável, diversidade de atividade no

campo, economia de adubo nitrogenado (quando consorciado com leguminosa),

menor estresse por alta temperatura, maior se-questro de carbono, dentre outras vantagens. Contudo, a produtividade geralmente é 10% inferior ao sistema a pleno sol.

Na Costa Rica o café é colhido somente maduro (catado a dedo), para isso são rea-lizadas de quatro a cinco coletas (colheitas) numa mesma lavoura. Segundo informações locais uma pessoa colhe entre 120 a 220 litros por dia e recebe por produção, o equivalente a dez centavos de dólar por litro de café co-letado. Grande parte da colheita é realizada por imigrantes nicaraguenses (imigrantes do país vizinho).

Em função das condições climáticas e solos vulcânicos, associados à colheita apenas de frutos maduros e processo eficiente de pós-colheita, a grande maioria (mais de 90%) dos cafés apresenta alta qualidade com sabores característicos, como sabores de chocolate, frutado, odores de mel de abelha, aroma delicado, dentre outras particularidades que acrescentam um café diferenciado.

Os principais genótipos cultivados na Costa Rica são o Caturra e o Catuaí, com aproximadamente 90% dos plantios, segui-dos por outros genótipos como o Sarchimor. Geralmente o Caturra é cultivado em áreas superiores a 1.200 metros e o Catuaí abaixo de 1.200 metros de altitude. A maioria das culti-vares foi levada do Brasil, contudo, passou por avaliações e melhorias regionais. Atualmente diversos genótipos são avaliados em diversas localidades do país, por órgãos governamen-tais, em fazendas experimentais.

A maioria das lavouras é plantada de maneira adensada, sendo utilizados em maior proporção espaçamentos entre 1,7m a 2m entre linhas e entre 0,85m e 1m entre plantas,

Na Costa Rica a colheita ocorre com o café maduro, através de coleta manual

Fotos Fábio Partelli

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com uma planta por cova (cinco mil a sete mil plantas por hectare) e, em muitos casos, com duas plantas por cova (dez mil a 15 mil plantas por hectare).

A principal doença é a olho de galo (Myce-na citricolor), a qual não foi encontrada no Bra-sil. A doença produz uma grave desfolha nas plantas, com perdas de até 100% das folhas. Ocorrem também problemas com ferrugem do cafeeiro, antracnose e cercosporiose.

Em 1933 foi estabelecido por lei o Icafe (Instituto do Café da Costa Rica) e em 1977 cria-se o Cicafe (Centro de Investigação em Café), instituições voltadas para o desenvolvi-

mento da cafeicultura na Costa Rica (pesquisa e extensão).

O Brasil apresenta potencial para plantios de café sombreado com diversas culturas, den-tre elas (seringueira, mamão, cedro australiano e outras), porém, temos limitação em muitas regiões associado ao déficit hídrico. Além disso, há poucas pesquisas sobre o assunto. Também vale destacar que nossa nação produz cafés de altíssima qualidade, tendo cafés únicos e regionais como café das matas de Minas, café dos Cerrados, Conilon, Capixaba e outros.

Cultivo com eucalipto na Costa Rica (esquerda)e com cedro australiano no Brasil (direita)

Partelli aborda a potencialidade do café sombreado no Brasil

Fábio Luiz Partelli,Univ. Federal do Espírito Santo

CC

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12 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Auxílio naturalO ataque de insetos, como a lagarta-do-cartucho, tem ocorrido com cada vez mais

frequência e intensidade nas lavouras brasileiras. O que remete à necessidade de novas estratégias de manejo dessas pragas. O controle biológico com o uso do parasitoide Telenomus remus tem demonstrado resultados animadores e pode se transformar em

ferramenta importante para auxiliar os produtores de soja e de milho

Telenomus remus é um parasitoide de ovos de lepidópteros (mariposas), que foi introduzido no Brasil por

F.D. Benett (Commonwealth Institute of Biolo-gical Control), por meio do Departamento de Entomologia da Escola Superior de Agrono-mia “Luiz de Queiroz”, para desenvolvimento de pesquisas com o objetivo de controlar a lagarta-do-cartucho no milho. Este inseto ataca, principalmente, ovos de pragas per-tencentes ao gênero Spodoptera, entre outros da família Noctuidae, onde se encontram pragas-chave de diferentes culturas como: Spodoptera frugiperda - lagarta-do-cartucho, no milho, S. eridania e S. cosmioides (lagarta-preta ou lagarta-das-vagens) na soja e algodão, entre outras. A ampla gama de hospedeiros considerados pragas de importância agrícola, aliada ao controle efetivo realizado por este parasitoide, nas pesquisas efetuadas até o momento, norteia para seu enorme potencial de utilização em campo.

Entretanto, é importante salientar que, anteriormente ao uso de um inimigo natural na prática, há necessidade de se conhecer vários aspectos, tanto biológicos quanto com-portamentais desse inimigo natural (controle biológico) a ser empregado, e da sua interação com o hospedeiro (praga a ser combatida). Estudos relacionados às características bio-lógicas, exigências térmicas e capacidade de parasitismo de T. remus em ovos de diferentes espécies do gênero Spodoptera (pragas de

milho, soja e algodão) têm mostrado que a fêmea do parasitoide age efetivamente sobre ovos depositados em camadas sobrepostas de S. frugiperda e S. cosmioides, por exemplo, parasitando inclusive aqueles das camadas mais internas, o que não ocorre com outros parasitoides de ovos de utilização mais tradi-cional como o Trichogramma spp. Devido à grande capacidade de controle, esse inimigo natural tem sido utilizado em larga escala, em programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Venezuela, por meio de liberações inundativas, em áreas de milho, obtendo-se índices de parasitismo de até 90%. Este parasitoide tem sido utilizado para controle, principalmente, da lagarta-do-cartucho no milho, em diversos países da América do Sul e Central. Embora tenha sido introduzido há

mais de 20 anos no Brasil, atualmente novos estudos vêm sendo financiados pela Fapesp (Projeto 2011/50338-2) e Embrapa Soja (Pro-jeto 03.12.01.013.00.00), para nortear a sua utilização em programas de controle biológico nas condições brasileiras, principalmente para as culturas do milho e da soja.

Dentre os diferentes estudos realizados com este parasitoide em laboratório foi pos-sível verificar que T. remus age efetivamente sobre ovos de quatro espécies do gênero Spodoptera, sendo elas: S. frugiperda (lagarta-

Lagarta encontrada em amendoim, Spodoptera albula

Fêmea de Telenomus remus parasitando ovos de Corcyra cephalonica

Foto

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Pom

ari

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do-cartucho e, atualmente, praga-chave do algodão), S. cosmioides e S. eridania (lagartas que atacam vagens de soja) e S. albula (praga do amendoim e possivelmente de ocorrência mista com S. eridania na cultura da soja). Neste estudo se observou que apenas uma fêmea do parasitoide é capaz de parasitar aproximadamente 140 ovos de qualquer um destes hospedeiros, ao longo de sua vida. Além dessa enorme capacidade de parasitismo, T. remus, por ser um parasitoide de ovos, controla a praga no início do ciclo, antes mesmo que cause qualquer dano à cultura.

Avaliações sobre a efetividade de controle deste parasitoide em três diferentes culturas (milho, soja e algodão) foram realizadas em casa de vegetação e indicaram que um peque-no número de parasitoides é necessário para que exista controle efetivo de Spodoptera spp. nessas culturas. Por exemplo, no milho, apenas 0,17 fêmea/ovo da praga é necessária para um controle efetivo dos ovos da lagarta-do-cartu-cho. Os resultados também foram satisfatórios para a soja (0,30 fêmea/ovo) e para o algodão (0,27 fêmea/ovo). Estimando-se o número de parasitoides para a cultura do milho, por exemplo, para 10% de plantas infestadas, seria necessária a liberação de aproximadamente 20 mil parasitoides/hectare.

O próximo questionamento a ser res-pondido para que esse parasitoide possa ser utilizado efetivamente no campo é qual a sua capacidade de dispersão e consequentemen-te quantos pontos de liberação por área se fazem necessários. Esses estudos vêm sendo realizados em condições de campo. Dados preliminares indicam que este parasitoide é capaz de se dispersar nas culturas de milho e soja e que seria necessário em torno de um ponto de liberação para aproximadamente cada 400m2. Estes mesmos estudos serão ainda realizados em milho e soja (2012/13) para determinar, com maior rigor, o número de pontos/ha necessários para liberação do parasitoide.

O passo seguinte das pesquisas e um dos principais gargalos da utilização desse para-sitoide em larga escala no campo é diminuir

13www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2012 / Janeiro 2013

os custos de produção massal desse inimigo natural. A criação massal deste parasitoide depende hoje diretamente da criação de seu hospedeiro natural (a espécie S. frugiperda é a mais utilizada). Como a criação de S. frugi-perda é muito trabalhosa, a utilização de um hospedeiro alternativo, de mais fácil criação, diminuiria o seu custo de produção. Neste sentido, estão sendo realizados diferentes estudos a fim de avaliar a qualidade de T. remus criado em ovos de Corcyra cephalonica (traça-do-arroz). Resultados recentes indicam que esta espécie é potencial para utilização em criações massais de T. remus. Contudo, mais avaliações ainda serão realizadas a fim de determinar a melhor metodologia de criação do parasitoide em ovos deste hospedeiro, que parece ser muito dependente da umidade relativa do ambiente de criação.

Assim, com os resultados obtidos ao longo de alguns anos de pesquisa, aliados aos expe-

rimentos em andamento, é possível concluir que, no Brasil, a utilização deste parasitoide é promissora para a cultura do milho e da soja e outras onde lagartas do gênero Spodoptera fo-rem pragas de importância econômica. Alguns países já fazem uso de programas de controle biológico com esse parasitoide, mesmo que em áreas cultivadas em menor escala do que as do Brasil, o que remete à necessidade de pesquisas nas condições agrícolas brasileiras. Assim, o que ainda distancia o País deste contexto é a falta de informações e resultados que per-mitam adaptar a utilização desse parasitoide para as condições específicas e características das lavouras do Brasil.

Lagarta preta ou lagarta-das-vagens, Spodoptera eridania (esquerda) e lagarta preta ou lagarta-das-vagens, Spodoptera cosmioides (direita)

Aline Farhat Pomari,Universidade de São PauloAdeney de Freitas Bueno,Embrapa Soja Sergio Antonio De Bortoli,Unesp/FCAVJ

CC

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Como vamos olhar o mercado da cana-de-açúcar até 2020?” Esta foi a principal questão levantada

pelo presidente da FMC Corporation América Latina, Antônio Carlos Zem, durante o 17º Clube da Cana FMC. O evento, realizado em outubro, em Guarujá, São Paulo, reuniu mais de 500 participantes entre especialistas, agrônomos e principais gestores envolvidos com a cultura país.

Os diversos cenários que envolvem a cana-de-açúcar foram destacados. O diretor execu-tivo da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Eduardo Leão de Sousa, abordou os desafios e oportunidades do setor sucroener-gético. “O País precisará dobrar a oferta de combustíveis (etanol e gasolina) para atender à demanda em 2020”, afirmou. Já o especialista em temas globais do agronegócio e bioenergia Marcos Jank falou sobre o papel do Brasil nas cadeias agrícolas mundiais. “Nesses 50 anos, teremos de gerar um volume de alimentos semelhante ao que produzimos nos últimos oito mil anos”, estimou. Jank alertou ainda que o século 21 é o começo de uma nova era energética e citou os principais desafios, como diversificar as fontes de energia, produzir mais utilizando menos recursos naturais e reduzir emissões de CO2.

Os desafios da cana foi o tema do ge-rente de Produtos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Luiz Antônio Dias Paes. “Em função de sua complexidade genética e pequena escala, a cana-de-açúcar tem perdido competitividade para inúmeras outras cultu-

ras sucroalcooleiras. O potencial de ganho de produtividade da cultura é excepcional, mas exige investimentos expressivos para elevar a taxa de inovação aportada à indústria, seja no desenvolvimento de variedades ou nas tecnologias de segunda geração. Há oferta de áreas para cana no Brasil, exigindo adequação de tecnologias.” Para completar, o diretor do Itaú BBA, Alexandre Enrico Fiogliolino, fez uma avaliação setorial. “O setor tem imensos desafios pela frente que implicam em atraves-sar um curto prazo ainda difícil”, projetou. “Porém, as perspectivas são imensas para o futuro”, acrescentou.

O especialista da Terraplan Agronômica, José Luiz Loriatti Demattê, falou sobre o cres-cimento horizontal do setor sucroenergético e a expansão, irrigação, distribuição de recursos hídricos, fatores de redução da produtividade, como impacto das alterações climáticas, pragas e doenças, efeitos da colheita mecanizada, a

questão varietal e estagio médio de corte, além de enfocar a necessidade de variedade para solos de baixa fertilidade.

Doutor AgroCom uma reflexão sobre os 20 anos do

envolvimento do professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Departamento de Administração (FEA-RP/USP) Marcos Fava Neves, no agronegócio, foi lançado, durante o evento, o livro Doutor Agro. A obra mostra, de maneira simples e direta, o desenvolvimento do setor, com propostas para ampliar este desenvolvimento e a liderança.

SuStentAbiliDADe e tecnologiATecnologia, produtividade e sustenta-

bilidade. Estas foram as palavras-chave que nortearam as novidades apresentadas pela FMC no evento. A empresa ampliou sua linha de embalagens de bioplástico, que integram a chamada Família Green. Agora, todas as bambonas da marca são Green Jug, ou seja, constituídas de bioplástico de cana-de-açúcar e se comparadas à embalagem normal, reduzem em 25% o CO² emitido durante a fabricação. Outra novidade é que, além da bombona de 20 litros, a de dez litros também é autoempilhável e não necessita de pallets e de caixas para o transporte. A novidade alcança, num primeiro momento, o herbicida Boral 500 SC e os inseticidas Furadan 350SC e Rocks. “Em 2013, 80% das embalagens dos produtos FMC serão produzidas com fonte 100% renovável a favor do equilíbrio do meio ambiente”, projeta o diretor de Supply Chain da FMC, André Cordeiro.

Futuro da cana17º Clube da Cana, promovido pela FMC, reúne especialistas

para discutir estratégias e projetar os rumos da cultura

Eventos

14 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

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André Cordeiro, Antônio Carlos Zem e Ronaldo Pereira participaram dos debates sobre as perspectivas da cultura da cana

Carolina Silveira

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16 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Primeiros focosConsórcio Antiferrugem detecta as primeiras ocorrências de ferrugem asiática após o começo do plantio da nova safra. Mato Grosso e Santa Catarina registraram a doença em soja guaxa, remanescente da safra anterior. Produtores precisam estar atentos ao

monitoramento e a medidas preventivas

Os primeiros quatro focos de fer-rugem asiática identificados pelo Consórcio Antiferrugem após o

início da semeadura da safra 2012/13 estão localizados nos estados de Santa Catarina e Mato Grosso. A constatação ocorreu entre os meses de outubro e novembro, em soja guaxa, com estádios entre R2 e R6. Na safra anterior foram totalizadas 265 ocorrências em todo o País. O clima favorável e um grande número de plantas tigueras registrados durante o vazio sanitário aumentam a necessidade de monitoramento e adoção de medidas pre-ventivas contra a doença, causada pelo fungo

Phakopsora pachyrhizi.O Consórcio Antiferrugem detectou focos

de ferrugem nos municípios de Sapezal, Lucas do Rio Verde, Alto Araguaia e São Carlos. Todos em soja guaxa, remanescente da safra anterior, em margem de rodovia. Na safra 2011/12 o estado de Goiás liderou o número de ocorrências, com 108 detecções. Mato Grosso teve registro de 88 focos. No Paraná foram 20, em Mato Grosso do Sul 15, Rio Grande do Sul 11 e São Paulo, nove. Rorai-ma teve cinco ocorrências, Bahia três, Minas Gerais duas, Santa Catariana duas e o Distrito Federal e o Pará com uma cada.

“Ainda não foi registrada a ocorrência de ferrugem em lavouras comerciais nessa safra, mas a presença de soja guaxa com ferrugem é um alerta importante para os produtores. É um indicativo de que a ferrugem logo poderá estar presente nas lavouras”, explica o pesquisador Rafael Moreira Soares, da

Embrapa Soja.O pesquisador alerta que para que o

produtor intensifique o monitoramento. “A inspeção frequente da lavoura é de suma importância e, caso a doença seja encontrada ainda no estádio vegetativo, a primeira aplica-ção de fungicida deve ser feita”, observa.

A Embrapa lembra que, apesar do atraso no início das chuvas em algumas regiões, o clima deverá ser favorável à doença nessa safra. Outro fato preocupante foi o aumento do número de autuações decorrentes de pre-sença de soja guaxa durante o período de vazio sanitário, quando essas plantas deveriam ter sido eliminadas.

“A maior presença dessas plantas pode ter contribuído para manter vivo o fungo durante a entressafra e, consequentemente, pode ampliar a pressão da doença na safra atual”, explica Claudine Seixas, pesquisadora da Embrapa Soja.

gráfico 1 - ocorrências safra 2011/2012

Fonte: consórcio Antiferrugem

A ferrugem da soja é uma doença com alto potencial de dano às

lavouras e que requer muita atenção no processo de monitoramento. A primeira constatação da ferrugem asiática, cau-sada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, em lavouras no Brasil ocorreu em 2001 e rapidamente espalhou-se pelas principais regiões produtoras, em função da eficiente disseminação dos esporos do fungo pelo

PeSADelo DoS ProDutoreSvento. O principal dano ocasionado por essa doença é a desfolha precoce, que impede a completa formação dos grãos, com conse-quente redução da produtividade.

O nível de dano que a doença pode ocasionar depende do momento em que ela incide na cultura, das condições climáticas favoráveis à sua multiplicação após a cons-tatação dos sintomas iniciais, da resistência/tolerância e do ciclo da cultivar utilizada.

Fonte: Embrapa Soja

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gráfico 2 - Primeiros focos da safra 2012/2013

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18 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Bônus e ônusA expansão da área de produção em solos arenosos, com cultivares suscetíveis e cultivos com milho ou algodão na entressafra, tem agravado a importância econômica de nematoides das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) em lavouras de soja do Brasil. Rotação, sucessão com espécies não hospedeiras e alqueive mecânico estão entre as alternativas de manejo, contudo, nem todas as situações permitem que o produtor lance mão dessas ferramentas

A importância econômica do ne-matoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) para a

soja brasileira tem aumentado nos últimos anos, devido à expansão da área de produção da cultura em solos arenosos, à utilização de cultivares muito suscetíveis ao nematoide e à semeadura de milho ou algodão na entres-safra. Tendo em vista que, até o momento, não existem cultivares de soja resistentes ao nematoide e que os resultados com a utiliza-ção de nematicidas têm sido inconsistentes, a rotação e a sucessão com culturas não hos-pedeiras são os métodos mais promissores de manejo de P. brachyurus. Outra prática com potencial para o controle deste nematoide é o alqueive, que consiste em manter o solo por certo período sem qualquer vegetação,

de preferência também com revolvimento por meio de aração e/ou gradagem. Porém, o alqueive pode ter implicações negativas em termos de conservação da qualidade do solo e infestação de plantas daninhas no sistema plantio direto (SPD).

Com o objetivo de avaliar o potencial de diferentes práticas culturais adotadas na en-tressafra da soja para a redução da população e dos danos de P. brachyurus, a Embrapa Soja, em parceria com a Embrapa Cerrados, a Em-brapa Agrossilvipastoril, a Aprosoja/MT e o Fundo de Apoio à Cultura da Soja (Facs/MT), vem conduzindo desde fevereiro de 2010 um experimento na Fazenda Dacar, localizada no município de Vera, região médio-norte do Mato Grosso. O solo da área foi identificado como latossolo vermelho amarelo distrófico,

textura arenosa (130g, 20g e 850g de argila, silte e areia, respectivamente). A área foi des-matada em 2004, sendo cultivada com arroz nos dois primeiros anos e com a sucessão soja/milheto nas demais safras.

Os dados apresentados neste artigo se referem à segunda safra de condução do experimento (2011/2012). Os tratamentos (parcelas de 6m x 10m) foram os seguintes: T1) alqueive mecânico, com controle de plan-tas daninhas por meio de gradagem leve (0,1m de profundidade) seguida de duas aplicações de herbicida (glifosato); T2) Crotalaria ochro-leuca; T3) C. juncea; T4) C. spectabilis; T5) C. spectabilis + milheto ‘ADR 300’; T6) pousio; T7) milheto ‘ADR 300’; T8) alqueive químico, com controle de plantas daninhas mediante três aplicações de herbicida (glifosato); T9)

Bônus e ônus

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Brachiaria ruziziensis; T10) milho ‘GNZ 2005’ + B. ruziziensis; T11) milho ‘GNZ 2005’; e T12) B. brizantha ‘Marandu’. À exceção do alqueive mecânico, todos os tratamentos fo-ram conduzidos sob SPD. As espécies vegetais foram semeadas em linhas espaçadas de 0,9m (milho e milho + B. ruziziensis) ou 0,225m (demais culturas). Apenas o milho (solteiro e consorciado à B. ruziziensis) foi adubado (250 kg/ha de NPK 05-20-20 na linha de semeadu-ra). No consórcio, a semeadura das culturas foi simultânea, com uma linha de B. ruziziensis em cada entre linha do milho. No T5, as quantidades utilizadas de sementes puras e viáveis foram de 10kg/ha para o milheto e de 20kg/ha para a C. spectabilis. As sementes das duas espécies foram misturadas e distribuídas em todas as linhas de semeadura.

A vegetação foi dessecada sequencialmen-te, aos 60 e aos sete dias antes da semeadura da soja (glifosato, 1,08kg e.a. ha). A semeadura da soja, cultivar M-Soy 9144RR, foi realizada em 20/10/11, com uma população de 260 mil plantas por hectare e espaçamento entre linhas de 0,5m. Foram aplicados 130kg/ha e NPK 09-45-00 a lanço antes da semeadura, e 170kg/ha de cloreto de potássio, 21 dias após a emergência. Os demais tratos culturais foram realizados de acordo com as indicações técnicas para a soja na região.

A população de P. brachyurus nas raízes da soja foi determinada aos 45 e 90 dias após a semeadura (DAS) da cultura, analisando os sistemas radiculares de dez plantas de soja coletadas em cada parcela. A produtividade de grãos da soja na parcela foi avaliada em uma área útil de 4,5m x 4,5m, corrigindo-se os valo-res obtidos para a umidade de 13%. Os dados foram submetidos à análise da variância (p < 0,05), utilizando o delineamento experimental de blocos casualizados com quatro repetições. A comparação entre as médias foi realizada pelo teste de Scott-Knott (p < 0,05).

Os diferentes manejos aplicados durante a entressafra influenciaram significativamente a população de P. brachyurus nas raízes de soja aos 45 e aos 90 DAS (Figura 1). Aos 45 DAS, as menores populações foram observadas nos tratamentos alqueive mecânico, C. ochroleca, C. spectabilis, C. juncea e C. spectabilis + mi-lheto ‘ADR 300’. As populações mais elevadas ocorreram nos tratamentos milho + B. ruzi-ziensis, milho solteiro e B. brizantha ‘Marandu’. Já os tratamentos pousio, milheto ‘ADR 300’, alqueive químico e B. ruziziensis resultaram em populações intermediárias.

Os resultados obtidos confirmam que C. spectabilis, C. ochroleucae C. juncea são as es-pécies vegetais mais resistentes a P. brachyurus. Apesar de trabalhos realizados em condições

controladas de casa de vegetação demonstra-rem fator de reprodução (FR) para C. juncea li-geiramente superior a 1, os dados obtidos neste trabalho mostraram que esta espécie resultou em populações de P. brachyurus similares a C. spectabilis e C. ochroleuca. Possivelmente, a C. juncea, por apresentar um crescimento mais rápido do que as outras duas crotalárias, resulta em maior produção de fitomassa e, consequentemente, de substâncias orgânicas supressivas aos nematoides em condições de segunda safra, o que pode ter compensado o maior FR inerente a esta espécie.

O alqueive mecânico também se mostrou

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Figura 1 - número de nematoides (Pratylenchus brachyurus) por grama de raízes de soja, determinado aos 45 e 90 dias após a semeadura (DAS), em função dos diferentes manejos aplicados na entressafra. Médias seguidas pela mesma letra maiúscula (45 DAS) ou minús-cula (90 DAS), não diferem significativamente pelo teste de Scott-Knott (p < 0,05)

Figura 3 - Produtividade da soja (safra 2011/2012), em função dos diferentes manejos aplicados na entressafra para o controle de Pratylenchus brachyurus. Médias seguidas pela mesma letra maiúscula não diferem significativamente pelo teste de Scott-Knott (p < 0,05)

Figura 2 - relação entre a produtividade da soja (safra 2011/2012) e a população de Pratylenchus brachyurus nas raízes aos 45 e aos 90 dias após a semeadura (DAS) da cultura. ** equação significativa (p < 0,05); n.s equação não significativa (p<0,01)

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20 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

eficiente em diminuir a população de P. bra-chyurus aos 45 DAS (Figura 1). A redução na densidade populacional do nematoide pelo preparo do solo pode ser atribuída ao aumento da velocidade de degradação das raízes, em que o nematoide encontra abrigo, além da mortalidade por dessecação ou exposição di-reta ao sol. No entanto, a gradagem aumenta a taxa de mineralização da matéria orgânica e a suscetibilidade do solo à erosão, contribuindo para a degradação da qualidade do solo ao lon-go do tempo, além de aumentar a infestação de plantas daninhas. Já o alqueive químico não foi eficiente em reduzir a população de P. brachyurus. Isso mostra que, mesmo na ausência de hospedeiro vivo, esse nematoide é capaz de sobreviver no solo, talvez na forma de ovos, por um período de, no mínimo, 30 semanas durante a entressafra da soja.

Aos 90 DAS, o consórcio milho + B. ruzi-ziensis e B. ruziziensis resultou em densidades populacionais do nematoide maiores do que as observadas nos demais tratamentos, que não diferiram entre si (Figura 1). Observa-se, ainda, que as diferenças nas populações de P. brachyurus entre os tratamentos diminuíram ao longo do ciclo da soja. Isso indica que o aumento no número de nematoides, dos 45 aos 90 DAS, foi maior nos tratamentos com menor população inicial de P. brachyurus. Possivelmente, os tratamentos com menor população inicial de P. brachyurus resultaram em maior crescimento radicular da soja e, portanto, em aumento da oferta de alimento para o parasita.

A produtividade da soja diminuiu com o aumento da população de P. brachyurus avaliada aos 45 DAS (Figura 2). Porém, aos 90 DAS, não houve correlação significativa entre a produtividade da soja e a população do nematoide. Esses resultados revelam a im-portância da infestação inicial na magnitude dos danos de P. brachyurus em soja. Assim,

O uso de Crotalaria spectabilis (esquerda) ou de Crotalaria ochroleuca (direita)na entressafra da soja reduz a população do nematoide das lesões radiculares

práticas de manejo que reduzam a população inicial de P. brachyurus, como o cultivo de crotalárias (Figura 1), são importantes para diminuir os danos à soja.

Apesar de, aos 45 DAS, ter sido constatada correlação significativa entre a população do nematoide e a produtividade da soja, esta última variável não foi influenciada pelos tratamentos (Figura 3). Tal fato pode ser atri-buído ao alto coeficiente de variação (20,7%), consequência da alta variabilidade espacial do nematoide no solo.

De modo geral, os resultados indicam que as crotalárias, solteiras ou associadas ao milhe-to, foram as melhores opções de entressafra para reduzir a população de P. brachyurus. Entretanto, em áreas arenosas e altamente infestadas, o cultivo das crotalárias na entres-safra não é suficiente para “zerar” a população do nematoide, que volta a aumentar durante o ciclo da soja cultivada em sequência. Nessa

Henrique Debiasi, Julio Cezar Franchini e Waldir Pereira Dias, Embrapa SojaFrederico Luz Mendes,Unopar Simoni Freiria Antonio, UELAlexandre Moura C. Goulart,Embrapa CerradosEdisson Ulisses Ramos Junior eJoão Flávio Veloso Silva,Embrapa Agrossilvipastoril

Henrique Debiasi

situação, o cultivo das crotalárias teria que ser repetido em toda entressafra. O alqueive mecânico também foi eficiente em reduzir a população de P. brachyurus, porém, os efeitos negativos da gradagem sobre a conservação do solo (perda de matéria orgânica e aumento dos riscos de erosão) impedem a indicação generalizada dessa prática. CC

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22 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Relação nutricionalPerdas severas provocadas por retenção foliar e haste verde têm sido observadas com frequência

na cultura da soja. Ataque de percevejos, estresse hídrico e desequilíbrio na nutrição das plantas estão entre as principais causas. A melhor oferta do N, seja pela adição do Co e do Mo

no tratamento de sementes ou pela eficiente inoculação, ajuda a reduzir o problema

A retenção foliar em soja, Glycine max (L.) Merril, pode ser atribuída a vários fatores que influenciam

diretamente a relação fonte e dreno da planta, associado à ausência de vagens e grãos. Alguns distúrbios fisiológicos interferem na formação ou no enchimento dos grãos, como os danos por percevejos, o estresse hídrico (falta ou excesso) e o desequilíbrio nutricional das plantas.

Algumas causas de desordens nutricionais foram observadas em lavouras e experimentos no passado. Baixos níveis de potássio (K) no solo e/ou valores (acima de 50) da relação ((Ca+Mg)/K) podem causar baixo “pega-

mento” de vagens, vagens vazias e formação de frutos partenocárpicos, como é descrito por Mascarenhas et al (O agronômico, 55: p. 20-21, 2003).

A principal causa conhecida de aborta-mento de vagens que ocasiona retenção foliar é a presença de percevejos (An. Soc. Entomol. 24: p. 401-404, 1995). Porém, vários relatos de problemas com maturação desuniforme na cultura da soja têm sido descritos não correlacionados a esses insetos e/ou teor de K, ocasionado perdas significativas nas últi-mas safras. Esta anomalia é popularmente chamada de “soja louca II” e tem causado perdas intensas na cultura da soja em função

da redução do rendimento e do aumento de impureza e umidade na colheita. Várias hi-póteses já foram sugeridas para a causa deste problema, porém, nada foi confirmado ainda, sendo que na XXXI Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil em Brasília, Distrito Federal, foi destacada a importância de os pesquisadores brasileiros intensificarem os estudos nesta área.

A partir da safra 2009/2010 o Paraná também foi alvo deste problema, antes restrito às regiões Norte e Central do Brasil. Várias áreas cultivadas no oeste do estado do Paraná apresentaram o problema. Casualmente o pro-blema foi identificado na região de atuação da

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Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copa-col). Conduzia-se um experimento com o pro-pósito de avaliar as diferentes combinações de produtos usados no tratamento de sementes de soja, onde observaram-se tratamentos que apresentaram redução do problema (Revista Plantio Direto, 118: 2010). Naquela safra, 30 mil hectares da região da Copacol foram afetados e houve necessidade de dessecação da soja para colheita.

As plantas anormais visualizadas no Pa-raná apresentavam menor número de grãos por legume e menor quantidade de legumes por planta, além de grande retenção foliar e dificuldade de entrar em maturação.

No experimento conduzido na safra 2009/2010, observou-se que as parcelas que continham inoculação de sementes e/ou uti-lização de cobalto (Co) e molibdênio (Mo) no tratamento de sementes apresentavam frequência menor de plantas anormais, refle-tindo diretamente no rendimento de grãos. Estas observações (Tabela 1) geraram dúvidas e instigaram a equipe da Copacol a estudar mais o problema.

Várias hipóteses foram geradas e alguns experimentos conduzidos na safra seguinte

(2010/2011). Dentre as hipóteses, buscou-se comprovar que a haste verde é ocasionada por uma deficiência de dreno dos fotoas-similados produzidos nas folhas, em razão da presença de um menor número vagens e grãos na planta. Para isso realizou-se um experimento retirando-se as vagens de soja a fim de visualizar o efeito sobre a presença de plantas anormais.

As parcelas onde o abortamento manual foi realizado em fase mais adiantada (R3 e R5), apresentaram maior frequência de plantas anormais. Este fato deve-se à dificuldade de reconstituição dos órgãos de armazenamento da produção e a estas plantas acumularem os fotoassimilados nas hastes e folhas, não entrando em senescência.

Um experimento paralelo a este foi insta-lado, a fim de comprovar o efeito de Co, Mo e a inoculação, na redução da retenção foliar e haste verde. Foram avaliados os efeitos da apli-cação do inseticida/fungicida fipronil (pirazol) + piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol), isoladamente e em mistura com Co e Mo e inoculante Bradyrhizo-bium japonicum. O delineamento experimen-tal adotado foi em blocos ao acaso com oito tratamentos e três repetições. Determinou-se

o teor de N foliar no estádio R1 e na ocasião da colheita, avaliaram-se o percentual de plantas anormais (com haste verde e retenção foliar), o número de legumes por planta e os grãos por legume. Os grãos por legume foram contados a partir das vagens com zero, um, dois, três e quatro grãos. O rendimento de grãos foi calculado corrigindo a umidade para 13% e descontando-se as impurezas.

Os tratamentos sem Co e Mo e/ou inocu-lante, apresentaram, por ocasião da colheita, um número elevado de plantas anormais. O maior número de plantas anormais resultou na redução da qualidade física dos grãos (im-pureza e umidade)/ e diminuiu o rendimento de grãos.

A adição de Co e Mo e/ou de inoculante, incrementou o rendimento de grãos. No tratamento com inseticida/fungicida mais inoculante sem Co e Mo, o rendimento de grãos foi menor. Essa redução ocorreu em função da ação dos componentes da fórmula do inseticida/fungicida, sobre a mortalidade de B. japonicum. O uso de fungicidas no tratamento de sementes pode reduzir a fixa-ção biológica por B. japonicum por ocasionar a morte das bactérias (Embrapa, Circular Técnica, 26, 2000). Quanto ao teor de N na

Sintomas de clorose observados a campo durante a fase vegetativa em áreas onde não é feita a inoculação e/ou a aplicação de cobalto e molibdênio

23www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2012 / Janeiro 2013

tabela 1 - rendimento de grãos da soja e frequência de plantas anormais na parcela em razão de diferentes combinações de tratamento de sementes, cafelândia (Pr), safra 2009/2010

tratamentosinseticida 3 + Fungicida 1 + coMo 1

inseticida 3 + Fungicida 1 + inoculação inseticida 3 + Fungicida1 + coMo 2

inseticida 3 + Fungicida 1 + enraizadorinseticida 3 + Fungicida 1 + Fungicida 2

testemunha (Sem tS)inseticida 1 + Fungicida 1inseticida 3 + Fungicida 1

inseticida 1 + inseticida 2 + Fungicida 1inseticida 4 + Fungicida 1inseticida 2 + Fungicida 1

MédiacV(%)

Frequência de plantas anormais (%)1,14 b2,20 b3,03 b35,99 a31,42 a35,78 a43,33 a35,62 a42,94 a43,71 a39,63 a28,6222,72

rendimento (kg ha-1)3683,36 a3628,33 a3473,73 a2610,78 b2595,89 b2587,59 b2485,78 b2449,09 b2373,40 b2371,75 b2366,68 b2784,22

9,28

* Inseticida 3 – imidacloprido + tiodicarbe (600, 400ml/ha); Inseticida 1 – fipronil (250, 125ml/ha); Inseticida 2 – tiametoxam (350, 125ml/ha); Inseticida 4 – imidacloprido (600, 100ml/ha1); Inseticida 1 + Inseticida 2 – fipronil + tiametoxan (Standak 250 + tiametoxan 350, 80 + 80ml/ha); Co + Mo 1 (CoMo 15% + 1,5%, 200ml/ha); Co + Mo 2 – (10% + 1%, 300ml/ha); Fungicida 2 – fluquinconazol (167, 250ml/ha); Fungicida 1 – fludioxonil + metalaxil (35, 100ml/ha); Enraizador (200ml/ha¬); Inoculação (100, 200ml/ha). Tukey (p<0,05).

Retenção foliar e haste verde, sintomas causadospelos distúrbios fisiológicos, em Cafelândia, no Paraná

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24 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

folha, observou-se uma resposta significativa, como os maiores teores nos tratamentos com Co e Mo e/ou inoculação. Quanto maior o teor de N foliar, menor foi o número de plantas anormais e maior foi o rendimento.

Durante a fase vegetativa, observou-se clorose nas parcelas onde não se utilizou Co e Mo e/ou inoculante. Essa clorose refletiu diretamente no teor de N foliar, avaliado no início da fase reprodutiva. O conteúdo foliar de clorofila está associado ao teor de N (Remo-te Sens. Environ, 53: p. 199-211, 1995).

O Mo é um componente essencial na

atividade das duas principais enzimas no processo de assimilação de N (nitrogenase e redutase do nitrato), influindo decisivamente no metabolismo do nitrogênio na planta. A resposta observada para o Mo neste trabalho pode estar relacionada ao baixo valor de pH do solo (4,7) onde foi instalado o experimento. Lantmann et al (R. Bras. Ciência do Solo, 13, p. 45-49, 1989) observaram que a resposta da soja à adição de molibdênio esteve intima-mente relacionada com o pH do solo, sendo as maiores respostas obtidas em solos com pH baixo. A elevação do pH pela adição de

calcário, pode ofertar o Mo para a soja.A deficiência de Co pode, também, ter

inibido a formação da leg-hemoglobina no nódulo, reduzindo a fixação biológica do nitro-gênio atmosférico (FBN). Assim, aumentando a assimilação de nitrogênio nas plantas que foram tratadas com Co e incrementando o rendimento de grãos.

Quando não se utilizaram Co e Mo e/ou inoculante a proporção de frutos partenocárpi-cos e com apenas um grão formado aumentou e reduziu a proporção de vagens com três grãos formados. A mistura do inseticida/fungicida

CC

Figura 2 - Percentual de plantas anormais na fase de colheita da soja em função de diferentes fases e intensidades de abortamento manual de legumes, cafelândia-Pr, safra 2010/2011. (tukey, p<0,05). cV (%), 75,72

Figura 3 - umidade e impurezas e porcentagem de plantas anormais em função de diferentes tratamentos de sementes. cafelândia-Pr, Safra 2010/11. tukey (p<0,05)

Figura 4 - rendimento de grãos de soja, teor de n foliar e % de plantas anormais em função de diferentes tratamentos de sementes. cafelândia-Pr, Safra 2010/11. tukey (p<0,05)

Figura 1 - Experimento de comprovação da deficiência de dreno, causando retenção foliar e haste verde, cafelândia-Pr, safra 2010/2011

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com o inoculante isolado aumentou a propor-ção do número de legumes com apenas um grão formado. Porém, quando o inseticida/fungicida foi adicionado em mistura com o Co e Mo, não houve este efeito, sendo que o Co e o Mo proporcionaram melhor oferta de N pelas bactérias presentes ao solo e ou inoculadas.

Este trabalho na safra 2010/2011 permitiu concluir que a utilização de Co e Mo e/ou inoculação de sementes promove aumento no teor de N foliar. A redução na oferta de N aumenta a proporção de legumes com apenas um grão, promove maior frequência de plantas anormais e redução no rendimento de grãos.

A prática de utilização de grande quanti-dade de produtos no tratamento de sementes (inseticidas, fungicidas, micronutrientes e

inoculantes) pode elevar demais o volume de calda e, consequentemente, comprometer o vigor das sementes. Diante deste fato, na safra 2011/2012, estudou-se o efeito da aplicação aérea de Co e Mo, com objetivo de melhorar a eficiência da FBN e reduzir o número de plantas anormais. Comprovou-se que a aplicação pode minimizar os efeitos sobre as plantas anormais, porém, a eficiência não é tão elevada quanto a aplicação em tratamento de sementes. Quando se aplicou o molibdênio na parte aérea (V4), houve redução do número de plantas anormais comparado ao controle, porém, inferior a aplicação via tratamento de sementes, refeletindo no rendimento de grãos.

Altas produtividades de soja, com ciclo cada vez mais curto, é o anseio de todos os

produtores, no entanto, para obter esses índices é necessário fornecer as condições ideais para o desenvolvimento da cultura. Os dados gerados nas últimas três safras comprovam que a melhor oferta do N, seja pela adição do Co e do Mo no tratamento de sementes ou pela eficiente inoculação de sementes, reduz os problemas com haste ver-de e retenção foliar da soja. Estas práticas já são recomendadas pelos órgãos de pesquisa, porém, muitas vezes são deixadas de lado pelos produtores em razão de um ganho de eficiência operacional.Fernando Fávero eTiago Madalosso,Copacol Maria do Carmo Lana, Unioeste

Figura 5 - Proporcionalidade de legumes de soja com 0, 1, 2, 3 e 4 grãos formados em função de diferente combinação de tratamentos de sementes. cafelândia-Pr, Safra 2010/2011. tukey (p<0,05

Figura 6 - Percentagem de plantas anormais na parcela e rendimento da soja em razão de diferentes formas de aplicação do cobalto e molibdênio. cafelândia-Pr, safra 2011/2012

Figura 8 - Experimento em lavoura de soja, em Cafelândia, Paraná, na safra 2011/2012, plan-tas controle (esquerda) e aplicação de inseticidia/fungicida + coMo+inoculação (direita)

Figura 9 - Plantas controle à esquerda, com maturação bastante irregular, e à direita com aplicação de tratamento, prontas para a colheita

Figura 7 - Vista do campo demonstrativo, com TS completo (à esquerda) e sem inoculantee Co e Mo (à direita), no momento de colheita da soja. Cafelândia-PR, safra 2011/2012

Fávero, Madalosso e Maria do Carmo recomendam cuidados nutricionais para minimizar o problema

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Soja

Quando semearAltura e produtividade de grãos estão entre os principais aspectos impactados por diferentes

épocas de semeadura em cultivares de soja RR. Conhecer os aspectos relacionados a essa influência auxilia técnicos e produtores na tomada de decisão quanto ao melhor momento de

colocar a semente na terra e explorar o potencial produtivo de cada cultivar

A cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill) ocupa posição de desta-que na economia brasileira, com

produção anual de aproximadamente 70 milhões de toneladas. No entanto, quando se analisa a produtividade média nacional, como a observada no ano agrícola 2011/12 que foi de 2.617kg/ha (43,6sc/ha), verifica-se que o potencial genético das cultivares existentes no mercado não está sendo devidamente explorado. Vários são os fatores que podem limitar o desempenho produtivo das cultivares de soja, porém, ressalta-se a importância da época de semeadura, isso porque, tal aspec-to exerce influência na exposição a fatores ambientais como temperatura, fotoperíodo e oferta hídrica, todos com grande impacto sobre o desenvolvimento da soja.

As cultivares de soja são agrupadas de acordo com a maturação e com as regiões edafoclimáticas indicadas para seu cultivo. De acordo com estas características, cada cultivar apresenta uma época preferencial de semeadura (janela de semeadura), com menores riscos ao seu desenvolvimento. Como exemplo, na Tabela 1 constam as indicações

para o cultivo da soja no município de Boa Vista das Missões, Rio Grande do Sul, com período de semeadura de 60 dias para culti-vares com ciclo menor que 115 dias, 70 dias para cultivares com ciclo de 115 a 135 dias e 60 a 80 dias para cultivares com mais de 135 dias de ciclo, de acordo com o tipo de solo do local. Porém, a semeadura dentro da janela indicada pode não significar retorno esperado, pelo fato de sua grande amplitude e ampla variabilidade dos fatores ambientais, sendo que a época preferencial de semeadura de cada cultivar abrange um número menor de dias, e que deve ser observada com maior critério pelo produtor, principalmente com relação ao posicionamento de materiais na abertura e fechamento da janela de semeadura.

Em função da competitividade do setor agrícola, cada vez mais produtores rurais têm optado pela semeadura de cultivares de ciclo curto (precoces) e no início da época indica-da, com objetivo de aumentar o número de cultivos por ano, além de reduzir o número de aplicações de fungicida. Alguns produtores também procuram fazer o escalonamento da semeadura, para melhor utilização operacio-

nal, bem como atender seu planejamento de rotação de culturas, podendo, assim, a seme-adura ser realizada fora da época preferencial para a cultivar. Desta forma, o presente estudo teve por objetivo avaliar a influência de dife-rentes épocas de semeadura no fechamento da janela recomendada pelo zoneamento agrícola, para algumas das principais cultivares de soja RR da região, levando-se em consideração os principais parâmetros avaliados pelo produtor rural, como a altura de plantas de soja e a produtividade de grãos.

CaraCTErIzação do TrabalhoO experimento foi desenvolvido no ano

agrícola 2010/2011, na Fazenda Vila Morena, no município de Boa Vista das Missões (RS). O solo do local é classificado como latossolo vermelho distrófico típico. O delineamento experimental foi de Blocos Inteiramente Casualizados, com três repetições. Foram implantadas cinco cultivares de soja RR: ‘BMX Apolo’ (GMF 5.5/superprecoce); ‘BMX Impacto’ (GMF 5.8/precoce); ‘BMX Urano’ (GMF 6.2/precoce); ‘A6411’ (GMF 6,4/precoce); e ‘NA5909’ (GMF 5.9/super-

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precoce), sendo a semeadura realizada em três épocas dentro do terço final do zone-amento agrícola: 27/11, 09/12 e 18/12/10. O espaçamento utilizado foi de 55cm entre linhas e uma densidade de 12,5 sementes/metro linear, perfazendo uma população final de 214.285 plantas/ha. Todo o manejo na cultura da soja referente ao controle de plantas daninhas, pragas e doenças, seguiu as recomendações para a cultura da soja no Rio Grande do Sul. Na colheita, foram avaliadas a altura de plantas, em dez plantas fora da área útil de colheita, e a produtividade de grãos com colheita manual de 5,4m². A trilha foi realizada mecanicamente com auxílio de um batedor tratorizado e a produtividade final corrigida para 13% de umidade.

reSultADoS obtiDoSA análise estatística revelou interação entre

época de semeadura e cultivares, cujos efeitos simples estão representados nas Figuras 1 e 2. Com relação à altura de planta, observando a Figura 1A, todas as cultivares tiveram redução significativa de altura em função do atraso da semeadura, com efeito mais pronunciado sobre as cultivares ‘FPS Urano’ e ‘A6411’ cujo hábito de crescimento é do tipo determinado. Apesar da ‘BMX Impacto’ ser também de há-

bito de crescimento determinado, a redução da altura foi observada apenas na terceira época de semeadura. Esta variabilidade encontrada pode estar relacionada à resposta da soja ao fo-

toperíodo, que induz o início do florescimento e interfere no seu crescimento.

Para a variável produtividade de grãos, observa-se que as cultivares ‘BMX Apolo’,

Fotos Claudir Basso

As cultivares de soja são agrupadas de acordo com a maturação e com as regiões edafoclimáticas indicadas para o seu cultivo

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28 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

‘A6411’ e ‘NA5909’ não tiveram a produtivi-dade afetada pela época de semeadura (Figura 2A). No entanto, as cultivares ‘BMX Impacto’ e ‘FPS Urano’ tiveram suas produtividades re-duzidas em 6sc/ha e 6,5sc/ha nas semeaduras de 27/11 e 18/12, respectivamente, em relação à semeadura de 09/12. Embora os resultados sejam de apenas um ano agrícola, essas infor-mações mostram a grande variabilidade da produtividade mesmo no fechamento da épo-ca de semeadura, ressaltando-se ao produtor a possibilidade de obtenção de melhor rendi-mento com a ‘BMX Impacto’ em semeadura até a primeira quinzena de dezembro.

Considerando que as três épocas de seme-aduras neste estudo contemplam o terço final

do período do zoneamento da semeadura da soja para a região, observa-se na Figura 2B que na semeadura de 27/11 as cultivares ‘BMX Apolo’, ‘FPS Urano’ e ‘NA5909’ se destaca-ram como as mais produtivas com média de 3.887kg/ha (64,7 sc/ha) seguidas da cultivar ‘A6411, com 3.700kg/ha (61,6 sc/ha) e por último a ‘BMX Impacto’, com pouco mais de 3.200kg/ha (53,3 sc/ha). Na segunda época de semeadura da soja (09/12), semelhantemente ao observado na primeira época, a cultivar ‘BMX Impacto’ foi a menos produtiva, porém, não diferindo significativamente das cultivares ‘FPS Urano’, ‘A6411’ e ‘NA5909’. Já na ter-

ceira época de semeadura (18/12), a cultivar ‘BMX Apolo’, semelhantemente às épocas anteriores, foi a mais produtiva, mostrando ser esta, juntamente com ‘A6411’ e ‘NA5909’ as mais adaptadas e com maior estabilidade produtiva para o terço final de semeadura dentro do zoneamento recomendado para a cultura da soja.

ConSIdEraçõES FInaISO produtor deve ficar atento à época de

semeadura ideal principalmente para as culti-vares de hábito de crescimento determinado, já que cessam seu crescimento assim que entram no estádio reprodutivo. Tão mais importante do que altura de planta é a capacidade de ra-mificação, característica marcante na cultivar ‘BMX Apolo’ que somada ao seu hábito de crescimento indeterminado, se destacou em produtividade mesmo não tendo a maior altura de planta. Com base nas informações acima, se pode concluir que cada cultivar tem um melhor momento de semeadura dentro da janela recomendada pelo zoneamento, e traba-lhos dessa natureza precisam ser conduzidos e implementados com repetições ao longo dos anos, com objetivo de auxiliar a tomada de decisão por parte de técnicos e produtores quanto ao posicionamento da melhor época de semeadura, buscando melhor explorar o potencial produtivo de cada cultivar.

Cada cultivar apresenta um melhor momento para a semeadura dentro da janela de zoneamento

tabela 1 - Épocas de semeadura de cultivares de soja in-dicadas para o munícipio de boa Vista das Missões, rS

Solo tipo 321/10 a 21/1211/10 a 21/121/10 a 21/12

ciclo cultivares(dias)< 115

115 a 135> 135

Solo tipo 221/10 a 21/1211/10 a 21/121/10 a 1/12

Período de semeadura*

* Solos indicados para semeadura no rS, com capacidade de armazena-mento de água de 50mm (solo tipo 2) e 75mm (solo tipo 3).

Figura 1 - Épocas de semeadura sobre a altura de plantas de cinco cultivares de soja rr (A) e o comparativo da altura de plantas de cinco cultivares de soja em três épocas de semeadura (b). Fazenda Vila Morena, boa Vista das Missões (rS)

Figura 2 - Épocas de semeadura sobre a produtividade de cinco cultivares de soja rr (A) e a resposta em produtividade das cinco cultivares de soja nas três diferentes épocas de semeadura (b). Fazenda Vila Morena, boa Vista das Missões, rio grande do Sul

Cristiano Fabbris,Lucindo Somavilla,Claudir José Basso,Antonio Luis Santi,Fabiane Pinto Lamego,Rodrigo Ferreira da Silva eNatan H. F. Pagliarini,Univ. Federal de Santa Maria

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Fabris, Somavilla e Basso participaram do experimento que avaliou desempenho de cultivares

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30 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Arroz

O arroz-vermelho é a planta dani-nha que causa os maiores pre-juízos à lavoura orizícola gaúcha

pela redução de produtividade, dificuldade de controle e alto grau de infestação das áreas cul-tivadas (Santos et al, 2007). O desenvolvimen-to do sistema de produção Clearfield (Basf, 2004) em arroz cultivado (Oryza sativa L.) proporcionou uma estratégia de manejo eficaz no controle seletivo dessa planta daninha, pelo uso de genótipos tolerantes/resistentes aos herbicidas do grupo químico das imidazoli-

nonas. No entanto, o uso contínuo e isolado da tecnologia, sem a adoção concomitante de práticas alternativas de controle do arroz-vermelho, provocou a seleção de populações resistentes aos herbicidas utilizados no sistema (Menezes et al, 2009).

Nesse contexto, a soja tornou-se uma alternativa de rotação de culturas em áreas de várzea, visto que se pode fazer uso de herbi-cidas com mecanismos de ação diferenciados para controle do arroz-vermelho, como, por exemplo, o S-metolachlor. Esse herbicida é um

composto não ionizável com atividade residual pertencente ao grupo químico das cloroaceta-midas, que controla sementes em germinação e plântulas já emergidas de Liliopsidas anuais e algumas Magnoliopsidas. Os sintomas, de acordo com Rodrigues & Almeida (2005) caracterizam-se pela morte das plântulas antes da emergência, sendo que as que emergem ficam retorcidas e com folhas encarquilhadas. Em vista do exposto, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a eficácia do S-metolachlor no con-trole de biótipos de arroz-vermelho resistentes às imidazolinonas.

O experimento foi conduzido em casa de vegetação na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), município de Capão do Leão, no Rio Grande do Sul, durante o ano de 2011. O solo utilizado no experimento foi coletado em área de várzea, no Centro Agropecuário da Palma (CAP-UFPel), sendo classificado como planossolo hidromórfico eutrófico solódico, de textura franco-arenosa, pertencente à unidade de mapeamento Pelotas (Embrapa, 2006). As unidades experimentais foram copos plásticos com capacidade de 700ml preenchidos com solo de várzea previamente peneirado. O ex-perimento foi arranjado em esquema fatorial (2x4x10) em blocos ao acaso com três repeti-ções. O fator A foi composto pelas épocas de aplicação do herbicida S-metolachlor, sendo pré e pós-emergência. O fator B foi composto por quatro biótipos de arroz-vermelho, dois resistentes aos herbicidas pertencentes ao grupo químico das imidazolinonas (AV75 e AV109) e dois suscetíveis (AV01 e SC608). Os biótipos AV75 e AV109 tiveram sua resis-tência às imidazolinonas comprovada através de bioensaios e de estudos de caracterização molecular, identificando mutações no gene ALS (Roso, 2009). O fator C foi composto por nove doses de S-metolachlor (1/1.000; 1/100; 1/10, 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 5 e 10 vezes a dose recomendada), além de um tratamento testemunha sem a aplicação do herbicida.

A semeadura dos biótipos foi realizada no dia 3 de outubro de 2011. A aplicação de S-metolachlor em pré-emergência foi realizada três dias após a semeadura dos biótipos de arroz-vermelho. Já para os tratamentos de pós-

O arroz-vermelho é a pior planta daninha enfrentada pelos produtores nas áreas de cultivo de arroz irrigado, no Rio Grande do Sul. Agravado por problemas de tolerância e resistência a herbicidas, por conta do uso contínuo e isolado do sistema Clearfield, seu manejo tem sido

complicado nas últimas safras. O emprego do princípio ativo S-Metolachlor em pré-emergência pode ser uma alternativa contra os biótipos resistentes ao grupo químico das imidazolinonas

Como controlarC

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emergência, a aplicação foi efetuada quando as plantas de arroz-vermelho atingiram o estádio de três folhas. Para aplicação dos tratamentos utilizou-se pulverizador costal pressurizado com CO2, calibrado para uma vazão de 150L/ha e pressão de trabalho de 22lb.pol-2, com barra de aplicação dotada de quatro pontas de pulverização XR 11002 (jato plano de uso ampliado TeeJet), espaçadas em 50cm.

O controle de arroz-vermelho foi determi-nado aos 28 dias após aplicação dos tratamen-tos (DAT), caracterizado por avaliações visuais atribuindo-se notas em escala percentual, onde a nota zero significou nenhuma ação de controle e a nota 100 representou controle total da planta daninha, adotando-se como referência a testemunha sem aplicação herbi-cida. A determinação da massa de matéria seca da parte aérea foi realizada aos 28 DAT com a coleta das plantas, sendo posteriormente, acondicionadas em estufa com circulação forçada de ar a 60°C por três dias.

Os dados obtidos foram analisados quanto à homocedasticidade e normalidade dos erros, sendo transformados quando necessário e posteriormente, submetidos à análise de variância. As curvas de dose-resposta foram confeccionadas de acordo com análise de regressão, utilizando-se o modelo não linear

do tipo log-logístico de três parâmetros [Y= a/1+(x-x0/b)] e comparadas por meio dos intervalos de confiança a 95%.

Não houve efeito significativo (p≤0,05) de biótipos para as variáveis avaliadas no expe-rimento, demonstrando que ambos, resistentes e suscetíveis às imidazolinonas, apresentaram suscetibilidade ao herbicida S-metolachlor. Dessa forma, os dados referentes aos biótipos foram combinados para a confecção das curvas de dose-resposta. Entre as curvas, os maiores níveis de controle de arroz-vermelho foram observados quando a aplicação de S-metolachor ocorreu em pré-emergência da planta daninha (Figura 1). Além disso, a dose de S-metolachlor necessária para atingir 50% de controle de arroz-vermelho foi menor em pré-emergência quando comparada à dose de pós-emergência, evidenciando maior sus-cetibilidade das plantas de arroz-vermelho ao herbicida nessa época de aplicação.

Houve redução da massa de matéria seca da parte aérea (MMSPA) com o incremento das doses de S-metolachlor para ambas as cur-vas (Figura 2). De modo similar aos resultados de controle, a maior eficiência na redução da MMSPA de arroz-vermelho foi observada na aplicação de pré-emergência, apesar da dose necessária para reduzir 50% ter sido maior

Figura 1 - controle de biótipos de arroz-vermelho em função da época de aplicação e doses de S-metolachlor. barras de erros correspondem ao intervalo de confiança em 95% de probabilidade da dose que causa 50% de controle no arroz-vermelho. capão do leão, 2012

Figura 2: Massa de matériaseca da parte aérea de arroz-vermelho em função da época de aplicação e doses de S-metolachlor. barras de erros correspondem ao intervalo de confiança em 95% de probabilidade da dose que causa 50% de redução de matéria seca do arroz-vermelho capão do leão, 2012

nessa modalidade de aplicação. Os resultados obtidos no experimento

podem ser explicados pelo mecanismo de ação do S-metolachlor, que é absorvido pre-ferencialmente pelo coleóptilo de sementes de Liliopsidas em processo de germinação, inibindo a biossíntese de ácidos graxos, lipí-deos, proteínas, isoprenoides e flavonóides (Senseman, 2007). Dessa forma, ao absorver o herbicida do solo as plântulas têm sua atividade metabólica reduzida, paralisando o processo de emergência, e as que emergem ficam encarquilhadas, acarretando no controle de plantas daninhas.

Diante dos resultados, pode-se concluir que biótipos de arroz-vermelho resistentes às imidazolinonas apresentam suscetibilidade ao herbicida S-metolachlor. O herbicida deve ser empregado preferencialmente em aplicações de pré-emergência para maximização do con-trole de arroz-vermelho em áreas de rotação soja/arroz irrigado.

Carla Rejane Zemolin,Guilherme Vestena Cassol, Luciano Cassol,Rodrigo Pestana e Luis Antonio de Avila,UFPel

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A presença de insetos em grãos arma-zenados constitui uma condição indesejável que leva a perdas qua-

litativas e quantitativas do produto armazena-do, como diminuição da qualidade e redução de valor de mercado. O uso de micro-ondas para matar os insetos em grãos armazenados pode ser uma alternativa aos métodos quí-micos, por ser uma energia bem controlada, que atinge níveis de temperatura letais, rapi-damente, de forma eficiente e através de toda a massa de grãos com modificações físicas e químicas mínimas (LAGUNAS-SOLAR, 2007; FRANCO, 2001).

A espécie Sitophilus oryzae, comumente chamada de gorgulho, é muito semelhante morfologicamente à Sitophilus zeamais, poden-do ser separadas somente pela observação da genitália. Podem ocorrer juntas em massa de grãos e sementes, sendo a densidade popula-cional variável, dependendo da região em que ocorre. Tanto os adultos como as larvas têm ca-pacidade para atacar sementes e grãos inteiros. Os danos causam redução do peso, diminuição da qualidade do produto, da pureza física e da qualidade fisiológica. Os insetos do gênero Si-tophilus estão entre as pragas mais destrutivas no armazenamento. Sendo pragas primárias,

são capazes de infestar todos os tipos de grãos de cereais, mas têm preferência por milho, arroz e trigo (CHRISTENSEN, 1982; LORI-NI; KRZYZANOWSKI; FRANçA-NETO; HENNING, 2009).

Oliveira et al. (1990) apud Arcari et al. (2007) verificaram que o Sitophilus oryzae é o segundo inseto mais abundante e frequente em todos os locais avaliados de arroz armaze-nado no Rio Grande do Sul, sendo superado apenas pela Rhizopertha dominica.

De acordo com Arcari et al. (2007), as sementes atacadas por insetos apresentam, normalmente, menor vigor, causado pelo consumo de materiais de reserva e da intensa respiração, que pode desencadear outros processos, como o da fermentação e o desen-volvimento de fungos.

Centurion (1999) verificou o efeito de altas temperaturas (70ºC - 80°C) para a eliminação de 100% dos insetos adultos do gorgulho do milho (S. zeamais, Mots.).

Franco (2001) ao pesquisar um método

de controle de S. oryzae durante o armazena-mento de sementes alternativo ao químico, estudou os tempos de resistência desses insetos às micro-ondas, utilizando 250g de arroz e forno de micro-ondas com baixa potência (240W). Verificou que as formas de larva e pupa, presentes dentro do arroz, são mais sensíveis, necessitando de apenas 100s para se obter controle de 100%; enquanto a fase de ovo necessita de um tempo de exposição maior (130s). Com relação à fase adulta, o tempo de exposição necessário para atingir a dose letal foi de 160s. O autor recomenda como uma forma prática utilizar tempo de exposição de 180s.

Marzal et al. (2004, 2005) pesquisaram o uso de micro-ondas como alternativa para a desinfestação de arroz branco polido com brometo de metila (cujo uso foi proibido em 2005 em alguns países). Mostraram que para obter 100% de mortalidade de insetos houve mínimas modificações de qualidade, uma vez que a energia de micro-ondas é mais limpa do que as aplicações de brometo de metila. Os autores relatam que nenhum inseto foi en-contrado durante um ano quando aplicada a energia de 170J.g-1 de arroz polido, mostrando

Pragas como gorgulho são comuns em sistemas de armazenagem de grãos e exigem a adoção de medidas de controle sob pena de resultarem em prejuízos graves. Na cultura do arroz, Sitophilus spp. está entre os principais desafios. O uso de radiação por micro-ondas tem apresentado resultados promissores no combate a esses insetos, com consequente

aumento no rendimento de engenho

Eliminação por micro-ondas

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Figura 1 – relação de grãos quebrados e sobrevivência dos insetos com relação ao tempo de exposição às micro-ondas

33www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2012 / Janeiro 2013

que este método é eficiente e mais limpo do que a desinfestação química, que não afeta seriamente a qualidade do arroz e que os tra-tamentos não deixaram resíduos indesejáveis no produto.

Barbosa (2010) usou radiação de micro-ondas para controle de caruncho (Callosobru-chus maculatus) em feijão, nas diferentes fases do ciclo evolutivo do inseto. A irradiação foi feita em forno micro-ondas comercial, com frequência de 2.450MHz, rendimento de potência de 800W, sendo utilizado em baixa potência (30%). Os tempos de exposição utilizados foram: zero (testemunha), 60, 90, 120 e 150 segundos para todas as fases do ciclo evolutivo. O autor concluiu que o tempo de exposição necessário para o controle da fase pupal foi de 90 segundos, para a fase larval e insetos adultos de 120 segundos e para a fase de ovo 150 segundos. Portanto, a fase pupal foi a mais sensível e a fase de ovo menos sus-cetível, podendo-se recomendar o tempo de exposição de 150 segundos para o controle de todas as fases do ciclo evolutivo do inseto.

Ferrari Filho et al. (2011) avaliaram a mortalidade de insetos adultos de gorgulho-do-milho - Sitophilus zeamays Mots. (Cole-optera: Curculionidae) - em grãos de milho submetidos a baixas e altas temperaturas. Utilizaram 500g de milho, infestados com 30 insetos e utilizaram temperaturas de 3ºC, 6ºC, 9ºC, 60ºC, 70ºC e 80ºC. As avaliações de mortalidade nos tratamentos de 3ºC, 6ºC e 9ºC foram realizadas aos cinco, dez, 15, 20, 25 e 30 dias após a infestação e, para os tratamentos de 60ºC, 70ºC e 80ºC, de 30 em 30 minutos, até atingir 100% de mortalidade. Foram determinadas a temperatura da massa de grãos, nos tratamentos de frio, e tempera-tura da massa e as perdas de peso e umidade nos tratamentos de calor. Concluíram que o tratamento térmico de grãos armazenados é uma interessante alternativa para o controle de pragas durante o armazenamento. Em temperatura de 3ºC, consegue-se atingir a mortalidade de 100% dos insetos em tempo inferior a 30 dias de exposição. Em altas temperaturas, os 100% podem ser atingidos

rapidamente em minutos. Quanto maior a temperatura de aquecimento e menor o tempo de exposição dos grãos ao calor, menores foram as perdas de peso e umidade desses grãos.

Vassanacharoen et al. (2007) relataram que uma temperatura maior do que 52ºC aplicada por um minuto pode eliminar 100% de Sitophi-lus oryzae (L.) em uma massa de arroz.

Cheenkachorn (2007), usando potências de micro-ondas de 170W a 500W por 30s a 120s, observou que a umidade do arroz em casca diminuiu à medida que a potência das micro-ondas aumentou. O aumento da potência causou crescimento do percentual de grãos quebrados.

o exPeriMentoO presente trabalho teve o objetivo de

avaliar o tempo de mortalidade dos insetos da espécie Sitophilus spp. em amostras de arroz e o rendimento de engenho em amostras sub-metidas à radiação de micro-ondas.

Os dados foram coletados a partir de amos-tras de arroz com casca, de 10g e 20g, colocadas em placas de Petri tampadas e submetidas às micro-ondas de um forno LG, de 1150W de potência, regulado para se obter 10% da potên-cia. As amostras foram centralizadas no forno de micro-ondas e colocadas uma de cada vez. Nas amostras de 10g foram postos três insetos adultos e nas de 20g, seis insetos adultos de Sitophilus spp. distribuídos uniformemente na massa de grãos.

As amostras de 10g de arroz foram testa-das em tempos de exposição às micro-ondas a partir de 20s, com incrementos de 10s, até obter 100% de mortalidade dos insetos. Para as amostras de 20g de arroz foram testados tempos a partir de 60s com incrementos de 10s até obter 100% de mortalidade dos insetos.

A temperatura das amostras foi medida com um termômetro ao removê-las do forno micro-ondas.

Os insetos eram contados imediatamente após o teste no forno e, meia hora depois, re-contados para estabelecer o número de mortos

Sitophilus oryzae é o segundo inseto mais abundante e frequente no armazenamento de arroz

O uso de micro-ondas é um método alternativo para o controle de gorgulho na armazenagem de arroz

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34 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

A Figura 1 mostra que houve uma ten-dência de aumento da mortalidade dos insetos com o tempo de exposição às micro-ondas, sendo que em 30s de exposição nenhum inseto sobreviveu.

ConClUSãoAmostras de 10g submetidas às radiações

de micro-ondas com 115W de potência com três Sitophilus spp adultos atingiram 100% da mortalidade em 80s de exposição.

Amostras de 20g submetidas às radiações de micro-ondas com 115W de potência com seis Sitophilus spp. adultos atingiram 100% da mortalidade em 120s de exposição.

A temperatura das amostras de grãos teve a tendência de aumentar com o tempo de exposição às micro-ondas.

A exposição às micro-ondas com 800W de potência por 30s, em amostras de 100g, causou 100% de letalidade aos insetos Sito-philus spp.

O rendimento de engenho aumentou com o tempo de exposição às micro-ondas, sendo 30s significativamente diferente da testemunha.

O uso de micro-ondas é um método alter-nativo ao método químico para eliminação de Sitophilus spp. adultos que infestam o arroz.

Não houve aumento dos grãos quebrados com a exposição às micro-ondas nos tempos estudados.

e de sobreviventes.

A MortAliDADe e AInFlUênCIa no rEndIMEnTo Amostras de arroz de 100g, em seis repeti-

ções, foram colocadas em uma fôrma redonda com tampa, ambas de vidro, com dimensões de 200mm de diâmetro e 100mm de altura. A camada de grãos ficou em torno de 15mm de espessura. Em cada amostra foram colocados seis insetos adultos de Sitophilus spp.

As amostras foram colocadas em forno micro-ondas, de 800W de potência, regulado para se obter a potência máxima.

Foram testados os tempos de 20 e 30 se-gundos de exposição das amostras com insetos às micro-ondas para estabelecer os tempos necessários para que houvesse 100% de mor-talidade dos insetos. Amostras não submetidas às micro-ondas serviram de testemunha.

A temperatura dos grãos foi medida com um termômetro ao remover as amostras do forno micro-ondas.

Os grãos de arroz foram, então, subme-tidos ao beneficiamento em um engenho de provas, marca Suzuki, segundo as normas (BRASIL, 2009).

As médias foram submetidas a uma análise de variância, cujas variáveis foram os tempos de exposição do arroz às micro-ondas e o rendimento de engenho a um nível de significância de 5%, pelo teste de Tukey. A mortalidade dos insetos nas amostras foi avaliada por contagem.

rESUlTadoS E dISCUSSãoA Tabela 1 apresenta os resultados dos

testes de sobrevivência de insetos quando submetidos às micro-ondas. A temperatura ambiente era de 22oC. Nota-se que houve uma tendência de aumento da temperatura das amostras de grãos com o aumento do tem-po de exposição. Observou-se que esse cresci-mento da temperatura não se deu linearmente e atribui-se a isso, o tipo de funcionamento do forno de micro-ondas que pode não manter a emissão de forma constante e sim por pulsos, conforme relatado por Lenz (2010), quando usado em baixa potência.

De acordo com Barbosa (2010), as dife-rentes idades dos insetos (carunchos) inter-ferem na sua sobrevivência às micro-ondas. Como neste estudo não foi possível estabelecer a idade dos Sitophilus spp., atribui-se a isso as diferenças que ocorreram no resultado do tratamento de 20g de amostra submetida por 70s às micro-ondas.

Observou-se também que as amostras com o dobro da massa necessitaram de 1,5 vez mais tempo para atingir a mortalidade de 100%.

Os resultados verificados na Tabela 1 estão próximos aos relatados por Ferrari Filho et al.

(2011), Franco (2001) e Vassanacharoen et al. (2007). Portanto, o uso de micro-ondas pode ser considerado um método eficiente para desinfestação de Sitophilus spp.

De acordo com a Tabela 2, que mostra os resultados dos testes para estabelecer a mortalidade e a influência sobre o rendimento de engenho, as medidas das temperaturas das amostras de grãos foram 20oC para a teste-munha (temperatura ambiente), a amostra exposta às micro-ondas por 20s apresentou 48oC e a amostra exposta por 30s apresentou 64oC.

Pode-se observar que não houve diferença significativa, a um nível de 5% de probabili-dade pelo teste de Tukey, entre a testemunha e o tratamento de 20s de exposição do arroz às micro-ondas, com relação à quantidade de grãos inteiros e polidos. Porém, o tratamento de 30s de exposição diferiu da testemunha, mas não diferiu do tratamento de 20s.

As amostras submetidas aos tratamentos de micro-ondas tiveram sua massa diminuída em média em 1%, mostrando que o tratamen-to afetou o conteúdo de umidade, conforme relatado por Cheenkachorn (2007), de modo que quanto maior o tempo de exposição, mais energia é absorvida pelos grãos. Esta diminui-ção de massa foi considerada nos cálculos do rendimento de engenho deste trabalho.

O rendimento de engenho foi afetado pelos tratamentos uma vez que as amostras expostas durante 30s diferiram significativa-mente da testemunha, o que está de acordo com experimentos realizados por Rocha (2002), que mostrou que o tempo de expo-sição às micro-ondas aumenta o rendimento de engenho.

Edson Pereira Júnior, Carlos Alberto Luz, Maria Laura Luz, Giovani Fuentes e Miguel Borges,UFPel

CC

Tabela 1 – Quantidade de Sitophilus spp. adultos sobreviventes em amostras de arroz com casca submetidas à radiação de micro-ondas

no de insetos testados33333336666666

temperatura da amostra (oc)25333140

39,5494739

45,543,545,545

45,554

Massa da amostra10g10g10g10g10g10g10g20g20g20g20g20g20g20g

tempo20s30s40s50s60s70s80s60s70s80s90s100s110s120s

no de insetos sobreviventes33321103533210

Tabela 2 – relação do percentual de grãos quebrados com o tempo de exposição às micro-ondas em amostras de 100g

rendimento de engenho (%)63,2 b63,7 ab64,4 a

grãos quebrados (%)3,2 a3,2 a3,2 a

tempo (s)02030

temperatura (oc)204864

no insetos vivos610

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35www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2012 / Janeiro 2013

Informe Empresarial

novo grUPo QUíMICoA BR3 registrou uma nova molécula para

o controle de esporos da ferrugem asiática da soja e traz ao produtor um novo conceito no controle da ferrugem da soja, colocando em prática os conceitos da fitopatologia, o uso de um fungicida erradicante de contato. O pro-duto comercializado é o Fegatex (cloretos de etilbenzalcônio), o único produto fungicida, es-poricida e bactericida registrado para a cultura da soja que age diretamente sobre os esporos da doença inviabilizando sua germinação devido à ação do princípio ativo diferenciado.

Para a ferrugem da soja, o produto apresen-ta a vantagem de manter o inóculo da doença baixo e realizar uma quebra na germinação dos esporos que chegam à lavoura devido ao fluxo contínuo vindo de outras áreas. Assim, os demais fungicidas sistêmicos terão uma excelente alternativa como aliada no controle da ferrugem asiática e, consequentemente, o produtor que pode contar com três classes de ativos deferentes, o que é importantíssimo para se evitar a ocorrência de resistência da doença.

O diferencial do produto deve-se à pos-sibilidade de incluir o manejo fitossanitário integrado, visando o controle de esporos e bactérias e seu uso poderá estar associado ao correto emprego de fungicidas sistêmicos ou curativos, por atuar em uma fase específica do ciclo da doença e nenhum outro defensivo atua (esporos dormentes).

As aplicações devem ser realizadas preven-tivamente ainda no estádio V3 a V6 (materiais determinados) ou entre os 30 a 40 dias após a semeadura da cultura para materiais com crescimento indeterminado.

O Fegatex é registrado também para o controle de mofo branco da soja e crestamento bacteriano, além de outras oito culturas (ba-tata, café, cenoura, citros, feijão, maçã, milho e tomate), assim oferece novos programas de controle e novas possibilidades de rotações de ingredientes ativos e ainda para a cultura do milho é o único fungicida registrado no con-trole do Complexo Mancha Branca, doença que causa sérios prejuízos aos produtores. O Fegatex já é utilizado por diversos produtores e foi estudado por renomadas instituições de pesquisa, gerando resultados expressivos que trazem confiança ao novo produto, registrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Nova ferramentaProduto à base de cloretos de etilbenzalcônio auxilia no combate à ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi

A ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é uma das doenças mais severas

que incidem na cultura. Plantas severamente infectadas apresentam desfolha precoce, que compromete a formação, o enchimento de vagens e o peso final do grão. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tama-nho do grão e, consequentemente, maior a perda de rendimento e de qualidade (Yang et al, 1991).

Para reduzir o risco de danos à cultura, as estratégias de manejo recomendadas no Brasil para essa doença são: a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada, a eliminação de plantas voluntárias de soja e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário, o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura, a utilização de fungicidas no aparecimento dos sintomas ou preventivamente e a utilização de cultivares resistentes, quando disponíveis (Godoy et al, 2011).

Deve-se ressaltar que o clima (ambiente) é considerado o fator-chave na epidemiologia da ferrugem asiática da soja. Variáveis ambientais são influenciadas pelo macro, meso ou micro-clima, as quais afetam diferentes processos do ciclo da doença e também influenciam na taxa de progresso e a severidade das epidemias.

O inóculo inicial do fungo é fator deter-minante no desenvolvimento de epidemias da doença. A importância dessa variável pode ser vista nas estratégias de manejo atualmente recomendadas, que são:

1) vazio sanitário (período de 60 dias a 90 dias sem plantas de soja na entressafra);

2) utilização de cultivares de ciclo precoce ou superprecoce, semeandas no início da

época indicada (escape), fazendo os plantios em uma janela mais concentrada;

3) eliminação de plantas tigueras na entressafra;

4) melhoria na qualidade de aplicação;5) uso de variedade resistentes ou tole-

rantes.Estas estratégias se somam ao controle

químico, que é, ainda, o principal meio de controle desta doença.

Os produtos recomendados hoje se limi-tam às combinações de produtos sistêmicos triazóis e estrobilurinas. Para o caso dos tria-zóis a sua eficiência já está reduzida, devido à redução da sensibilidade do patógeno ao princípio ativo. A recomendação é a utilização de fungicidas do grupo das estrobilurinas combinada com fungicidas triazóis, devido à preocupação que o fungo se torne mais resis-tente ainda aos trizóis e, é claro, para que seja possível atingir níveis de controle satisfatórios e produtividade adequada.

Com relação à escolha do fungicida, dois fatores devem ser observados. O primeiro deles é a composição química: recomenda-se optar por fungicidas formulados com misturas de princípios ativos de grupos químicos diferen-tes, como triazol e estrobilurina, porque cada um tem um modo de ação diferente sobre a doença, o que faz aumentar a chance de suces-so no controle. O segundo fator a ser observa-do na escolha do fungicida é a exposição dos princípios ativos citados ao fungo. Devemos evitar o uso repetitivo de um mesmo fungicida ou seu uso em áreas muito extensas.

No mercado existem algumas misturas disponíveis para o tratamento de ferrugem da soja, mas, a maioria delas oferece combinações parecidas de ingredientes ativos, desfavorecen-do a rotação de produtos. CC

Dir

ceu

Gas

sen

Page 36: Grandes Culturas - Cultivar 163

36 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANPII

linha do tempo

A descoberta de Hellriegel e Wilfarth, em 1888, de que os nódulos das leguminosas

eram responsáveis pela transformação do nitrogênio molecular em amônia, em conjunto com a identificação de que estes nódulos eram provocados por bactérias, por Beijerinck, no mesmo ano, abriu o caminho para o estudo deste fenômeno natural, colocando-o como uma ferramenta a ser utilizada agronomicamente para o aumento da produtividade.

Mas foi a partir do final da primeira metade do século XX, com a necessidade premente de maiores produtividades da agricultura, para alimentar uma popu-lação mundial em franco crescimento, que as pesquisas com a fixação biológica do nitrogênio (FBN) passaram a ter um enfoque agronômico, visando desenvolver esta ferramenta de modo que pudesse ser melhorada sua eficiência e sua utilização

ária. Com o crescimento das áreas de soja nessa região, na década de 60, iniciou-se a seleção de estirpes para aquela que viria a ser o maior cultivo no Brasil.

Em 1956 foi fundada a primeira fábrica de inoculantes no Brasil, em Pelotas, Rio Grande do Sul, com tecnologia desenvol-vida pela Secretaria da Agricultura, com assistência técnica do pesquisador João Rui Jardim Freire.

A partir da década de 1970, com o cres-cimento da cultura da soja, que iniciava a sua marcha para o Brasil Central, abriram-se novas fábricas de inoculante para suprir o mercado deste insumo que já se mostrava altamente eficaz no aumento da produtivi-dade da soja. Novos desafios apareceram: a soja no Cerrado não nodulava com as estirpes até então utilizadas no Sul do Brasil. Novos processos de seleção foram necessários até que se chegasse a materiais genéticos que provocassem os nódulos e

Solon de AraujoConsultor da ANPII

O quadro-resumo abaixo mostra a linha do tempo da trajetória da produção de inoculantes no Brasil.

Dois grandes marcos, assinalados no quadro em vermelho, mostram eventos decisivos, que alteraram os rumos da pro-dução de uso de inoculantes:

O primeiro foi a legislação. Até 1980 os inoculantes eram produzidos sem ne-nhuma regulamentação ou fiscalização, dando margem a produtos nem sempre eficazes, trazendo prejuízos ao agricultor. A partir de 1980 o Ministério da Agricultura publicou a primeira legislação, elaborada com a contribuição das indústrias de ino-culantes, iniciando, também, um processo de fiscalização das empresas que, para ob-terem registro, necessitavam ter instalações mínimas para propiciar a produção de um bom inoculante, bem como credenciarem um responsável técnico para a atividade. Esta legislação vem sendo constantemente

Desde a década de 1950, com o começo da seleção de estirpes, a produção de inoculantes tem passado por constante evolução e aprimoramento no Brasil

Novos processos de seleção foram necessários até que se chegasse a materiais genéticos que provocassem os nódulos e fixassem nitrogênio na cultura

por parte do agricultor. No Brasil, os primeiros estudos se rea-

lizaram no Instituto Agronômico de Cam-pinas, mas tiveram seu maior enfoque no Rio Grande do Sul, na Secretaria de Agri-cultura daquele estado, com uma primeira seleção de estirpes de Rhizobium para uso em leguminosas de clima temperado, em especial trevos e alfafa, predominantes em um estado até então voltado para a pecu-

fixassem nitrogênio na cultura. Neste meio-tempo muitas coisas

foram acontecendo, como a entrada dos inoculantes líquidos, a importação de ino-culantes argentinos no mercado brasileiro, naquela época com maior concentração, fazendo com que a indústrias nacionais buscassem tecnologias mais avançadas para poder competir em qualidade com os importados.

aperfeiçoada e atualizada de acordo com a evolução da agricultura no Brasil.

Um segundo marco, também um “divisor de águas” na atividade, foi a criação da Rede de Laboratórios para a Recomendação,

Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola (Relare). Esta fundação ocorreu em 1985, sob inspiração de Jardim Frei-re, sendo a primeira reunião realizada em Curitiba, na sede da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná. A fundação da Relare, com sua posterior personalidade jurídica, traçou as políticas fundamentais para a FBN, tanto em seus aspectos científicos, na elaboração de pro-tocolos de pesquisa e ensaios em rede, como nas sugestões técnicas para a legislação de inoculantes no Brasil.

No artigo do próximo mês iremos analisar os aspectos atuais da indústria de inoculantes, as mudanças que estão ocor-rendo no mercado e o crescimento do uso deste insumo no País. CC

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Coluna Agronegócios

37www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2012 / Janeiro 2013

o futuro de pequenos e médios produtoresfala de um pequeno produtor: “... E, no final do ano, tirava pra comprar o quê: um par de calças e um tênis e mais nada, não sobrava pra nada, né?”.

Este fenômeno não é novo. Já nos anos 60 do século passado, a excessiva minifundização no Rio Grande do Sul promoveu uma diáspora, que levou hor-das de gaúchos a desbravarem o oeste do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Maranhão, para não falar do Paraguai, Bolívia e outros países. Dotados de agudo senso empreendedor e negocial, de muita capacidade de trabalho e resistência a frustrações, os gaúchos ex-pulsos das propriedades familiares do Sul, transmutaram-se nos exemplos decantados do sucesso do agronegócio brasileiro, donos de patrimônios que montam a milhares de hectares e milhões de reais. Via de regra, os atuais grandes proprietários rurais do Centro-Oeste brasileiro, nada mais são do que os pequenos proprietários familiares do século passado, que venceram por seus próprios méritos!

DeSAFioSEm novembro passado participei do

Simpósio Gaúcho de Agroenergia, em Porto Alegre. Lá ouvi verdades sobre uma realidade que já conhecia, legitimadas ao serem proferidas por lideranças de agri-cultores familiares. O pequeno produtor somente tem chance de sobreviver se explorar produtos de alto valor intrínseco (suínos, aves, flores, frutas, hortaliças). A exploração de grãos é quase sinônimo de falência. É um mito afirmar que existe mão de obra disponível na propriedade familiar – ela é tão escassa e cara quanto em qualquer propriedade, e a severa legislação trabalhista elimina postos de trabalho no campo. Não há máquinas e implementos adequados para pequenas propriedades. E, mesmo que houvesse, o produtor não disporia de capital para adquiri-las.

Ainda em novembro, participei de um evento no Instituto Biológico (SP), onde ouvi do pesquisador da Embrapa, Evaristo Miranda, uma brilhante análise do novo Código Florestal. Particularmen-

te, chamou-me a atenção o seu enorme impacto sobre as médias propriedades rurais. Os pequenos agricultores foram preservados no Código porque, se assim não fosse, o seu desaparecimento do ce-nário agrícola seria antecipado. Porém, quando a propriedade ultrapassa um hectare além de quatro módulos fiscais, a dureza da lei se manifesta aos médios produtores.

creScer ou DeSAPArecerAo contrário do rotineiramente veicu-

lado por desinformados, o déficit de reserva legal não está nas grandes propriedades: ele aumenta conforme diminui o tamanho da propriedade. Posto não haver uma parcela a deduzir quando muda a classe de agricultor (por exemplo, de pequeno para médio), como ocorre nas faixas de imposto de renda, o custo de adequação dos médios agricultores pode inviabilizá-los.

A Tabela 1 mostra o quanto seria neces-sário recuperar de reserva legal, em proprie-dades grupadas conforme o seu tamanho. Em geral, os médios produtores possuem entre 50ha e 400ha de terra, dependendo do estado.

Miranda concluiu que, após cumprir as determinações do novo Código, os médios agricultores se tornarão pequenos, pela diminuição da área útil que disporão para exploração. A afirmativa é válida para todos os estados, embora seja mais intensa em alguns. No Norte e Nordeste do Brasil, onde a agricultura é praticada na beira dos rios, o drama social será intenso, na avaliação do pesquisador, pois, sem água, os agricultores terão pouca opção além de vender a terra – que, concentrada em grandes propriedades, poderá atender as exigências legais – e migrar para a cidade.

Quanto mais reflito sobre o tema, mais me convenço que, olhando exclusivamente do ponto de vista dos pequenos agricultores, especialmente familiares, a Europa, o Japão, os EUA e outros países ricos não têm opção: precisam pagar, e pagar caro, para fixar os agricultores na terra, caso contrário dela seriam expulsos por sua inviabilidade econô-mica. Acontece que os países ricos dispõem de recursos para tanto. E nós, no Brasil, que solução encontraremos para os pequenos agricultores, cuja capacidade competitiva, que lhes permitiria permanecer na atividade, parece diminuir a cada ano?

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

www.gazzoni.eng.br

Há quase 30 anos, quando co-nheci a realidade da agricultura japonesa, alguns pontos me

chamaram a atenção, pois, à época, muito contrastavam com o Brasil: o módulo rural inferior a cinco hectares; a agricultura de tempo parcial, praticada após o expediente comercial e nos finais de semana; a idade avançada dos agricultores; máquinas adap-tadas a micropropriedades; e os subsídios e outros apoios do Governo.

Nos últimos 20 anos tenho viajado pela Europa ao menos uma vez ao ano. E noto que a agricultura europeia emula as característi-cas que observei no Japão. Exceção feita aos EUA, a agricultura dos países ricos é centrada em micropropriedades; os agricultores têm idade avançada; e, na ausência de pesados subsídios governamentais, desaparece.

Mesmo nos EUA – maior produtor agrí-cola mundial – percebi uma reforma agrária ao inverso, ou seja, médios agricultores (na faixa de 100ha) arrendam milhares de hectares de proprietários que não querem se desfazer da terra, mas não têm interesse em cultivá-la. Lá, também, o governo despeja pesados subsídios à agricultura. Em recente visita ao meio-este americano, reparei na idade avançada dos agricultores. Quando indagava pelos filhos, a resposta era: foram buscar melhores oportunidades na cidade. Um dia, conversando com o filho de um produtor, senti que seu coração balançava entre a vocação de agricultor e as forças que o empurravam para a cidade. E arrematou a conversa com um argumento definitivo: “... Nenhuma moça quer casar com jovens agricultores. A vida na fazenda é muito dura e pouco remuneradora. Elas preferem quem investe em carreiras urbanas”. Isto na maior potência agrícola do mundo!

e no brASil?Em 1/11/12, o Jornal Nacional apresen-

tou reportagem sobre Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul, uma região de agricul-tura familiar, com dificuldades para manter os jovens no campo. “Sem modernização, as famílias produtoras perderam mercado e já não sabem o que fazer para não perder os filhos”, comentou o repórter Rodrigo Al-varez. O momento que mais me tocou foi a

CC

tabela 1 - Porcentagem faltante para recompor os 20% de reserva legal

5-201210131517

20-10089111314

estadoScPrMgrJbA

<5ha1614171819

100-5007981212

500-100045699

>1000-0,81353

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Coluna Mercado Agrícola

trigo deverá ser divisor de águas em 2013

TRIGO - O mercado do trigo está de olho nos novos dados do Departamento dos Estados Unidos (USDA), que apontam safra com aproximadamente 650 milhões de toneladas e consumo acima dos 675 milhões de toneladas. Há aperto no abastecimento mundial e fôlego para manter as cotações em alta em 2013. Como outro fator de apoio às cotações, o inverno está chegando forte e cedo ao hemisfério norte, o que normalmente prejudica a safra e aumenta o consumo do grão, tanto humano como também para ração animal. Bons números são esperados à frente.

algodão - O mercado segue calmo. O novo relatório do USDA aponta que os estoques continuam em crescimento e isso traz tranquilidade aos grandes importa-dores. A China mantém indicativo de queda forte nas importações, estimadas em 11 milhões de fardos neste ano frente aos mais de 24 milhões de fardos importados no ano passado. O USDA indica que a safra total 2012/13 será de 116,8 milhões de fardos e o consumo de 106,3 milhões de fardos. Com isso, os estoques saltam para pouco mais de 80 milhões de fardos e deixam pouco espaço para grandes avanços. Uma particularidade reside no fato de que o produto existente no mercado é de baixa qualidade e por conta disso o algodão de melhor qualidade tende a ser bem valorizado em 2013. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a safra brasileira em 1,5 milhão de toneladas da pluma contra mais de 1,8 milhão de toneladas da safra passada. Os produtores acreditam que a queda será ainda maior que a apontada pela Conab.

eua - A safra está fechada, com pouco mais de 80 milhões de toneladas de soja, frente ao potencial inicial que era de 90 milhões de toneladas. Os primeiros indicativos apontam que o novo plantio poderá crescer acima de um milhão de hectares. No milho, a safra apontada pelo USDA é de pouco mais de 272 milhões

MIlhoCom clima favorável e área menor A primeira safra do milho brasileiro está nos cam-

pos, com indicativos de que a área de cultivo ficou na faixa dos seis milhões de hectares, com queda próxima de meio milhão de hectares em relação ao ano passado. A expectativa é de colheita entre 30 milhões de tonela-das a 35 milhões de toneladas, níveis próximos dos 34,5 milhões de toneladas auferidas no ano passado devido à seca. Desta forma o quadro brasileiro muda pouco nos próximos meses, porque boa parte deste milho que chegará entre fevereiro e março irá direto para os portos, para exportação. O suporte nas cotações internas continua se dando nos valores de liquidação do milho brasileiro no mercado internacional (que em novembro se encontrava na faixa dos R$ 34,00 a R$ 35,00, trazen-do pressão altista para o mercado interno).

SoJASafra americana menos mau que expectativas Os números finais da safra americana da soja estão

chegando e tudo aponta que fecharão acima das 80 milhões de toneladas, contra 77 milhões de toneladas estimadas em outubro. Os novos números vieram com o relatório do USDA em novembro. Desta forma o mercado da soja, que chegou ao recorde histórico em

setembro, teve forte queda entre outubro e novembro, descendo de 17,71 dólares para pouco mais de 14,00 dólares neste final de novembro. Desta forma houve queda no ritmo dos negócios com a safra nova no Brasil e os indicativos que ultrapassaram R$ 75,00 nos melhores momentos do ano caíram para patamares de R$ 64,00, praticados neste último mês. Mesmo assim, são boas as cotações e que trazem lucros aos produtores brasileiros. A safra nacional conta com mais de 50% dos mais de 80 milhões de toneladas previstas negociadas e com esse resultado os produtores já têm cobertura sobre os custos. Podem, inclusive, esperar para negociar o que lhe resta e aproveitar os momentos favoráveis que aparecerão à frente.

FEIjãoSafra menor que demanda seguirá firme O mercado do feijão está com lavouras da primeira

safra 2012/13 chegando à colheita em São Paulo e em pontos do norte do Paraná. Tudo aponta que o mercado terá pouca mudança de rumo, porque a terceira safra do Brasil Central já está com comercialização bastante adiantada. Tudo leva a crer que os indicativos não deverão recuar, porque o País ingressa em uma safra que tende a ser menor que o consumo, o que sinaliza, novamente, para um quadro apertado e com cotações

favoráveis aos produtores. Os indicativos variam dos R$ 130,00 a R$ 180,00 para o feijão Carioca e de R$ 110,00 a R$ 140,00 para o feijão Preto (com o grão importado chegando nestes patamares).

ArrozFinal de ano chegou e pouco mudará O mercado do arroz registrou bons avanços nos

indicativos neste ano, com safra menor que o consumo e produtor acompanhando melhor o desempenho do mercado. As cotações cresceram cima dos R$ 40,00 no Sul e acima dos R$ 50,00 nos estados centrais. Desta forma, o apelo alista fez com que a comercialização fosse escalonada e trouxesses apoio para chegar ao final do ano com indicativos firmes e com pouco es-paço para alterações. Os meses de dezembro e janeiro normalmente são de demanda lenta e fraca presença dos varejistas nas reposições. Com isso, as indústrias aproveitam para realizar manutenção de equipamentos e limpeza de silos e armazéns, entre o final da primeira quinzena de dezembro e o início da segunda quinzena de janeiro. Nesse período, pouco arroz é negociado. Com esse cenário, de agora em diante o mercado seguirá em ritmo de calmaria, com pouco movimento e poucas alterações nas cotações do arroz em Casca (com espaço para alguma correção positiva nos valores do fardo).

CURTAS E BOASde toneladas contra a expectativa de 380 milhões de toneladas. No plantio da safra 2013/14, que começará entre abril e maio de 2013, haverá crescimento próximo de 1,5 milhão de hectares e estimativa inicial de colher 400 milhões de toneladas. Os produtores norte-americanos tendem a reduzir outros cultivos como trigo, algodão e sorgo em favor da soja e do milho, na busca por atender o quadro local de oferta e demanda que mostra forte queda nos estoques e produção menor que o consumo e exportações.

chIna - A demanda chinesa segue aquecida e a boa notícia deste segundo semestre chegou em novembro, quando as exportações de produtos industriali-zados contabilizaram aumento de 11%, acima das expectativas. O crescimento alcançou o maior nível em cinco meses, quebrando uma fase de desaceleração econômica que o País vinha enfrentando há sete trimestres. Desta forma há expectativas para um bom ano de compras de commodities agrícolas em 2013, para dar suporte à boa produção esperada na safra brasileira, que tem a China como principal comprador.

meRcOsul - O quadro climático pode ser negativo para a Argentina, porque o país começa a safra com atraso no plantio devido ao excesso de umidade. Justa-mente o contrário do que ocorreu no último ano, quando a seca ceifou boa parte da produção. Agora, as chuvas em excesso deixaram os campos inundados e já se aponta que novas precipitações podem colocar em risco o crescimento da produção que o país espera. A colheita de soja está estimada entre 55 milhões de toneladas e 58 milhões de toneladas contra 41 milhões de toneladas deste ano. O milho tem expectativa de 28 milhões de toneladas, contra 21 milhões de toneladas da safra atual e já há indícios de que estes números estariam comprometidos, antes do final do plantio.

38 Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

A safra do hemisfério Norte chega ao final, com a colheita dos principais grãos já definida nos EUA e também avançando forte na Europa e Ásia, onde todos, de uma maneira ou de outra, sofreram com o clima e acumularam perdas na produtividade e na produção. Desta vez o principal produto em destaque não é o milho (apesar de perdas de mais de 100 milhões de toneladas nos EUA), mas o trigo, que segundo os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) contabiliza queda de mais de 50 milhões de toneladas na produção mundial, o que vai impactar as cotações do cereal, em 2013, em todos os cantos do planeta. Altas já são percebidas em boa parte das regiões. No momento ainda se observa o mercado trabalhando com estoques e com a entrada da safra que está no mercado. Mas movimento maior tende a ocorrer quando grandes compradores começarem a ir em busca do produto, o que ocorre geralmente de fevereiro a junho, período em que o Brasil também entra no mercado internacional e neste novo ano terá de importar mais de sete milhões de toneladas. O País enfrentará um mercado aquecido, justamente em um ano em que terá de aumentar as compras em mais de um milhão de toneladas frente ao ano que se encerra. A China também aponta que irá às compras do trigo neste novo ano e desta forma haverá grandes compradores atuando em um mercado de pouca oferta. É bom lembrar que o trigo normalmente serve de apelo altista para a maior parte dos demais grãos. Em 2008, a quebra da safra do Leste europeu fez com que a soja disparasse a níveis históricos, quebrados somente em 2012, quando os recordes foram superados várias vezes (a última em 4 de setembro, quando a soja fechou a 17,71 dólares em Chicago). Desta forma, de agora em diante haverá apelo na linha de cima com o fechamento da colheita do hemisfério norte, perdas consolidadas na produção da região e o trigo que irá forçar aumento nas cotações dos alimentos. Este será o grande divisor de águas nestes próximos meses. Convém lembrar, ainda, que a Argentina tem a colheita do trigo em andamento e vem sofrendo com chuvas e excesso de inundações, com perdas na qualidade e produtividade do grão. Esse país é o principal fornecedor para o mercado brasileiro.

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