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Sub-Núcleo de Investigação Criminal______________________________ __MEDICINA LEGAL MEDICINA LEGAL INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ESCOLA PRÁTICA DA GUARDA Sub-Núcleo de Investigação Criminal

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Sub-Núcleo de Investigação Criminal______________________________ __MEDICINA LEGAL

MEDICINA LEGAL

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

ESCOLA PRÁTICA DA GUARDA Sub-Núcleo de Investigação Criminal

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MEDICINA LEGAL

A Medicina Legal, no seu todo, é uma actividade pluridisciplinar que colabora na elaboração, codificação e execução das leis. Mas, em particular, a Medicina Legal Forense ou abreviadamente como Medicina Forense é que em concreto trata das questões forenses, quer sejam do foro criminal quer do foro civil, sendo considerada como uma ciência auxiliar da Investigação Criminal.

Não esquecer que em torno da peritagem médica e mais concretamente das suas

conclusões, existem outros peritos relacionados com aspectos administrativos (segurança social, seguros, pensões diversas, etc.) que se subordinam também à disciplina médico-legal, no tocante aos processos que lhes dizem respeito.

Num sentido mais restrito, podemos considerar este ramo científico como sendo a

aplicação dos conhecimentos da Medicina na ocasião do procedimento penal. A Medicina Legal Forense encerra em si as seguintes divisões:

TANATOLOGIA FORENSE

No estudo de restos mortais, estando o cadáver inteiro ou em partes do mesmo, visando o esclarecimento das causas da morte, no fundo a autópsia.

TRAUMATOLOGIA

FORENSE No estudo das lesões traumáticas resultantes de

várias causas: agressões, acidentes, etc.

SEXOLOGIA FORENSE

No estudo dos crimes sexuais.

TOXICOLOGIA

FORENSE No estudo das questões relacionadas com

intoxicações.

PSIQUIATRIA FORENSE

No estudo do estado mental dos indivíduos para avaliação do seu grau de imputabilidade.

De referir que o exame feito à vítima centra-se inicialmente na Tanatologia só intervindo os outros campos da Medicina Forense se a situação o exigir.

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TIPOS DE MORTE Estatisticamente o fenómeno das causas da morte tem sido tratado ao longo dos anos e actualmente tem-se como dado adquirido que, em regra, os casos de morte apresentam-se tipificados da seguinte forma:

NATURAL

(80% dos casos)

MORTE

VIOLENTA

( 10% dos casos )

Homicídio Suicídio Acidente

SUSPEITA

(20% dos casos)

SÚBITA

( 10% dos casos )

Considera-se Morte Súbita:

A que ocorre num curto espaço de tempo de modo inesperado, em

indivíduo são ou aparentemente são;

A que sucede num indivíduo doente, no qual a natureza da doença ou a sua evolução não faziam prever a morte;

Nestas situações ao médico-legista interessa confirmar a não existência de indícios presumíveis de morte criminosa, tendo então o consequente procedimento investigatório de âmbito criminal.

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SINAIS PRECOCES DE MORTE

Na presença de um corpo a confirmação da morte deve ser feita pela pesquisa dos sinais precoces de morte que representam a cessação das funções vitais e consequentemente a morte. Saliente-se, que a morte é um fenómeno de difícil leitura, podendo a vítima estar, em determinadas situações, em morte aparente. Apesar desta breve abordagem, mesmo não sendo especialistas na área da Medicina, qualquer agente de autoridade deve saber procurar na vítima os sinais precoces de morte. É através da seguinte figura que exemplificamos:

NERVOSA

RESPIRATÓRIA

CIRCULATÓRIA

Reflexos oculares

Movimentos Torácicos

Pulso

FUNÇÕES VITAISFUNÇÕES VITAIS AUSÊNCIAAUSÊNCIA

CERTIFICADO DE ÓBITO O certificado de óbito é um documento onde ficam registadas as causas da morte após a observação do cadáver pelo médico competente, desde que não sejam encontrados motivos para presumir que as causas de morte tenham sido estranhas à doença. Considera-se como médico competente para assinar o certificado o médico assistente, ou seja, o habitual do falecido que o acompanhou na doença ou o médico que assistiu ao doente nos últimos 7 dias antes da morte. Nos casos de morte suspeita é da competência do perito médico a

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assinatura do certificado de óbito.

AUTÓPSIAS

A autópsia é um exame médico a um cadáver com o fim de determinar as causas da morte e classificam-se em:

CLÍNICAS Destinadas a estudos clínicos e investigações médicas.

BRANCAS - no caso das mortes súbitas em que não são encontradas lesões orgânicas que as justifiquem, presumindo-se como causas naturais.

MÉDICO-LEGAIS

REGULAMENTARES - nas mortes súbitas de origem aparentemente não criminosa, em que o objectivo é excluir a possível intervenção criminosa.

JUDICIAIS - quando se presume a existência de

acção criminosa, em que o objectivo é identificar a/s causa/s da morte.

Como se depreende do quadro são as autópsias Médico-legais Judiciais aquelas de maior interesse para a actividade policial no âmbito criminal, sendo realizadas a nível nacional nos três Institutos de Medicina Legal, consoante a área de circunscrição. Na figura apresentada na página seguinte descrimina-se as áreas de circunscrição médico-legais por círculos judiciais.

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PORTO

COIMBRA

LISBOA

IML PORTOBarcelos, Braga, Bragança, Guimarães, Lamego, Matosinhos, Oliveira de Azeméis,Penafiel, Santo Tirso,Viana do Castelo,Feira, Gaia e Vila Real

IML COIMBRAAveiro, Castelo Branco, Coimbra,Covilhã, Figueira da Foz, Guarda,Leiria, Tomar e Viseu

IML LISBOAAlmada, Amadora, Barreiro, Beja, Caldas da Raínha,Cascais, Évora, Faro, Funchal, Loures, Oeiras,Ponta Delgada, Portalegre, Portimão, Santarém, Setúbal,Sintra, Torres Vedras e Vila Franca de Xira

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A autópsia é da competência do/s médico-legista/s e é efectuada em duas fases, sendo a primeira o exame ao hábito externo e a segunda o exame ao hábito interno, elaborando no final um relatório.

Começando pelos dois últimos, já que os componentes do exame ao hábito externo vão ser depois objecto de estudo mais aprofundado, o exame ao hábito interno consta da dissecação do cadáver para exame das lesões das cavidades craniana, torácica e abdominal e vísceras nelas contidas.

Quanto ao relatório é essencialmente constituído por:

Informação inicial ( nomes dos peritos, data/local da autópsia, notícias ); Narração detalhada dos elementos observados nos exames dos hábitos

externo e interno;

Discussão do seu significado;

Conclusões.

O exame ao hábito externo consta da observação das coberturas ( roupa, outros vestígios que possam existir ) e do aspecto do próprio corpo, tendo por objectivos:

Colher dados que permitam a identificação do cadáver;

Registar os sinais tardios de morte com as respectivas características;

Proceder ao exame das lesões externas para verificação de vestígios que indiquem a existência, ou não, de:

Violência externa; Intenção.

Vejamos agora mais em detalhe cada um dos componentes do exame ao hábito externo do cadáver.

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IDENTIFICAÇÃO DO CADÁVER Dos elementos de identificação do cadáver fazem parte:

FÓRMULA DACTILOSCÓPICA - recolha das impressões digitais

durante a autópsia em impresso próprio. Refira-se que em cadáveres há muito tempo submersos procede-se ao enchimento das extremidades ( designadas por "dedeiras") ou quando inviável, à sua recolha para tratamento laboratorial (v. anexo, foto 1);

FÓRMULA DENTÁRIA - registada em impresso próprio, sendo a sua

análise, importante para determinação da identificação através da idade, tratamentos, etc., nomeadamente em casos de desastres em massa, cadáveres putrefactos, corpos carbonizados, casos de espostejamento (recuperação da cabeça), etc. (v. anexo, foto 2);

OUTROS ELEMENTOS - destes salientam-se os sinais congénitos e as

marcas adquiridas (cicatrizes, patológicas, tatuagens e profissionais) (v. anexo, foto 3, 4 e 5).

Saliente-se ainda no processo de identificação o seguinte:

* Registo do nome e morada do morto, quando conhecidos, e os

nomes das pessoas que encontraram e/ou identificaram o corpo e de outras testemunhas.

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SINAIS TARDIOS DE MORTE

Os sinais tardios de morte são modificações cadavéricas que permitem determinar o tempo aproximado da hora da morte, tornando-se tanto mais difícil quanto maior for o afastamento do momento desta. São considerados como sinais tardios os constantes do seguinte quadro:

TEMPERATURA - ALGOR MORTIS

RIGIDEZ CADAVÉRICA - RIGOR MORTIS

LIVORES CADAVÉRICOS - LIVOR MORTIS

AUTÓLISE

FENÓMENOS DE DESTRUIÇÃO PUTREFACÇÃO INSECTOS E OUTROS

ADIPOCERO

FENÓMENOS DE CONSERVAÇÃO MUMIFICAÇÃO

Passemos agora a abordar mais em pormenor cada um destes sinais tardios de morte.

TEMPERATURA Tal como todos os outros sinais pode dar uma indicação aproximada da hora da morte, através da determinação do arrefecimento do cadáver que acontece, aproximadamente, entre 1 a 8 horas. Contudo, deve ter-se em atenção, que a temperatura do cadáver pode sofrer variações importantes em função dos seguintes factores:

Do local da morte - residência, rua...

Das condições ambientais - frio, calor, imersão em água...

Do próprio cadáver - magro, gordo, agasalhado...

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A temperatura pode ser obtida através de dois processos:

Temperatura rectal - utilizada pelos peritos médicos através de termómetro especial;

Temperatura da pele - através do contacto do dorso da mão com determinadas partes do cadáver.

É este último processo, o da temperatura da pele, que é o indicado para os agentes de autoridade. A temperatura é obtida através do contacto do dorso da mão com a fronte, peito, abdómen e região inguinal do cadáver, sendo os resultados avaliados da seguinte forma:

MORTE

TEMPERATURA

Há menos de 1 hora

É idêntica à do observador

Há cerca de 4 horas

É moderadamente mais baixa

(o dorso da mão sente uma pele um pouco mais fria)

Há cerca de 8 horas

É sensivelmente fria (o dorso

da mão sente frio)

De notar que estes valores são indicativos para situações em que a vítima está completamente vestida, dentro de um quarto com uma temperatura confortável.

RIGIDEZ CADAVÉRICA

A rigidez cadavérica é a rigidez progressiva dos músculos voluntários e involuntários que aparece após a morte. Este processo forma-se a partir dos músculos da face e pescoço, passando aos do tórax e braços, abdómen, pernas e pés, por esta ordem, desaparecendo gradualmente pela mesma ordem, isto é, os músculos que primeiro são afectados, são os primeiros a perder o rigor. Em geral, o processo está completamente estabelecido entre 12 a 18 horas mas, diversos são os factores que podem alterar a velocidade deste

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desenvolvimento. Assim e por exemplo:

Varia com as condições ambientais;

Quando a temperatura é baixa a rigidez aparece mais precocemente e desaparece mais lentamente;

Faz-se mais rapidamente em pessoas magras e debilitadas;

É de início mais lenta em indivíduos musculosos. A rigidez cadavérica pode ser desfeita, motivo porque uma distribuição assimétrica no corpo permite suspeitar que foi movimentado depois de morto ( v. anexo, foto 6, 7 e 8 ). A rigidez não deve ser confundida com o Espasmo Cadavérico, em virtude do primeiro ser, como se disse, um processo e o espasmo ser uma contractura imediata de músculos em casos de morte violenta instantânea sob tensão nervosa. É característica do espasmo o seu aparecimento imediato e o facto de permanecer até à putrefacção. Os resultados da rigidez, de acordo com o esquema, são observáveis da seguinte forma:

MORTE

RIGIDEZ CADAVÉRICA

2 a 4 horas

Começa a manifestar-se:

* Primeiro nas pálpebras e músculos da face

* Músculos do pescoço, membros superiores, tronco e membros inferiores

12 a 18 horas Completa

Persiste por mais 12 a 18 horas

Desaparece gradualmente na mesma ordem

LIVORES CADAVÉRICOS

Com a morte há a paragem circulatória e a consequente acumulação de

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sangue nas zonas mais baixas do corpo por acção da gravidade. Nestas zonas, o corpo adquire uma coloração purpúrea ( v. anexo, foto 9 e 10 ). A este processo, que se inicia com a morte, mas que só é visível cerca de 2 horas após, chama-se livores cadavéricos.

Os livores apresentam as seguintes características:

Antes de se fixarem, o que pode acontecer nas 6 primeiras horas, desaparecem e aparecem nas zonas pressionadas pelos dedos;

Não aparecem nas zonas de compressão do corpo com um objecto;

Depois de fixos permitem verificar se o cadáver foi deslocado;

Em certas intoxicações a sua cor pode denunciar a causa da morte, por exemplo o monóxido de carbono produz um tom vermelho cereja ( v. anexo, foto 43 );

Em situações de morte precedida de grandes perdas de sangue, os livores podem não manifestar-se.

Exemplos: A localização dos livores varia consoante a posição do corpo.

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Exemplo: Cadáver em posição de decúbito ventral. As regiões a claro indicam possíveis

áreas de compressão provocadas pela pressão do peso do corpo e da estrutura óssea contra o solo.

Os sinais tardios de morte podem e devem ser utilizados, quando existam, para a determinação aproximada da hora da morte, bem como para verificar se as modificações que o cadáver apresenta, serão sinais suspeitos que indiciem crime.

A título de resumo apresenta-se um quadro exemplificativo dos sinais tardios já estudados:

HORA DA MORTE ALGOR MORTIS LIVOR MORTIS RIGOR MORTIS

0 Temperatura Normal

Começam a surgir

2 Pontos que vão confluindo

4

Pele Morna

Livores não fixados

Cabeça

6

Fixação de Livores

Pescoço

8

Pele Fria

Membros Superiores

12

Membros Inferiores

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Mais ou Menos

Completo

24

Persiste por cerca de 12 a 18 horas

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FENÓMENOS DESTRUIDORES

A decomposição de um cadáver é um fenómeno natural composto por factores externos e internos ao próprio corpo. São estes factores que vão afectar o ritmo de decomposição, sendo disto exemplo:

A decomposição é em geral mais rápida entre as temperaturas de 20ºC a 38ºC e retardada para as temperaturas abaixo e acima destes valores;

Na água a pele fica enrugada ou macerada e destaca-se em grandes

fragmentos ( v. anexo, foto 11 );

Nas águas dos portos de rios com grande tráfego, as lesões mecânicas produzidas pelos barcos, pontes, etc., contribuem para a destruição do corpo;

Nos campos, valas, etc., as mordeduras de animais ( ratos, peixes ... ) podem

destruir a maior parte da superfície externa do corpo ( v. anexo, foto 12 );

Uma causa infecciosa de morte ou obesidade, aceleram o processo de decomposição.

Os principais fenómenos destruidores são os seguintes:

AUTÓLISE

Consiste na morte das células que, devido às enzimas dos

próprios tecidos, se tornam incapazes de manter a sua estrutura.

PUTREFACÇÃO

Consiste na destruição por acção das bactérias existentes nas vias naturais do corpo, em especial nos intestinos, sendo os primeiros indícios uma coloração esverdeada na região da fossa ilíaca direita.

INSECTOS E OUTROS

Consiste na destruição pela acção dos insectos, desde a

deposição dos ovos até à formação de larvas e pela acção de outros animais ( v. anexo, foto 17 e 18 ).

Para um cadáver encontrado em "situações normais" a decomposição processa-se da seguinte forma ( v. anexo, foto 13, 14,15 e 16 ):

Inicia-se pela aparição de uma marca de coloração esverdeada na região da fossa ilíaca direita que se difunde depois sobre a superfície do corpo;

O corpo incha gradualmente com protusão dos olhos e língua, distorcendo assim os traços fisionómicos;

As veias superficiais tornam-se evidentes; Depois disto, dá-se também a decomposição progressiva dos órgãos

internos, a ruptura das cavidades internas e o destacamento das massas musculares dos ossos.

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FENÓMENOS CONSERVADORES

São considerados de excepcionais o aparecimento das circunstâncias de conservação dos cadáveres, pois, este tipo de situações são raras e pontuais. Os fenómenos conservadores são os seguintes:

ADIPOCERO

Substância semelhante ao sebo, devido à transformação do tecido adiposo por acção da humidade, atingindo normalmente, apenas partes do corpo, sendo a face e as nádegas as mais conservadas.

MUMIFICAÇÃO

Ocorre quando o corpo é deixado exposto ou inumado num local quente e seco, verifica-se uma rápida desidratação, o que impede a putrefacção (caso dos recém-nascidos abandonados) ( v. anexo, foto 19 ).

LESÕES As lesões encontradas no corpo podem ser internas ou externas e têm que ser explicadas quanto à maneira como foram produzidas, o seu tipo, distribuição pelo corpo e ainda, o possível mecanismo das causas. Este trabalho é feito pelos peritos médico-legistas que do exame efectuado concluem pela presunção, ou não, da intenção de matar. No exame das lesões externas da vítima devem ser considerados no seu conjunto os seguintes elementos:

Lesões ........................ Forma, extensão, direcção;

Localização ................ Com precisão;

Número ....................... Multiplicidade por armas;

Instrumento ................ Meios: objectos e/ou armas;

Circunstâncias ........... Ex: disparo a curta distância, violência...

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Através do exame das lesões determina-se a causa da morte:

TERMOS MÉDICO-LEGAIS

CAUSA PRINCIPAL

Constam dos certificados de óbito, aparecendo codificadas para avaliação das estatísticas.

CAUSAS ACESSÓRIAS

Os termos médico-legais não são sinónimos dos termos jurídicos.

CAUSA

NECESSÁRIA

Quando o ferimento produz invariável e constantemente a morte em quaisquer condições. Ex: ferimentos que lesam órgãos essenciais às funções vitais.

TERMOS

JURÍDICOS

CAUSA OCASIONAL ACIDENTAL

Quando o ferimento, só por si, não é suficiente para produzir a morte, existindo outras causas concorrentes que contribuem para a morte. Ex: ferimento conspurca-se, produz tétano e morre.

Como exemplo apresentam-se conclusões, possíveis de serem de uma Autópsia Judicial a uma mulher encontrada morta:

A morte resultou de ferimentos no útero; Os ferimentos foram causa necessária de morte; Não há lugar à causa ocasional visto existir a anterior; Os ferimentos denotam haver sido feitos por instrumento perfurante;

Os ferimentos foram feitos com a presumível intenção de interromper a

gestação.

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INSTRUMENTOS MECÂNICOS Quanto aos vestígios deixados pelos instrumentos em materiais não orgânicos, já foi feita referência em apontamentos anteriores. Abordemos então a sua tipologia recorrendo ao seguinte quadro:

TIPOLOGIA

CONTUNDENTES

- São aqueles que actuam por contacto sobre uma

superfície do corpo. Ex: martelo, garrafa, soco, bengala, veículo em movimento (atropelamento) ...

CORTANTES

- São aqueles que começam a actuar sobre uma linha

do corpo. Ex: lâminas de barba, facas, navalhas ...

PERFURANTES

- São aqueles que actuam em profundidade no corpo.

Ex: agulhas, estiletes ...

CORTO-CONTUNDUNTES

Ex: Machados, sabres, catanas, sachos ...

MISTOS

CORTO-PERFURANTES Ex: Punhais, faca de cozinha, canivetes .

reúnem em simultâneo as características dos dois

instrumentos

PERFURO-CONTUNDENTES

Ex: Ponteira de guarda-chuva, dentes de ancinho ...

DILACERANTES

- São aqueles que actuam por esfacelamento ou

esfarelamento dos tecidos. Ex: Verrumas, tenazes, rodas dentadas ...

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TIPOS DE LESÕES Na sua actividade quotidiana o homem vai sofrendo lesões que face à sua gravidade, assim têm, ou não, recuperação, podendo chegar ao ponto de ser irreversíveis e mesmo mortais. Enquanto vivo, as lesões de menor gravidade são recuperadas, apresentando, face ao seu tipo, processos de evolução. Para a actividade médico-legal e policial, têm interesse, porventura, as lesões sofridas ainda antes de um possível acto criminoso, mas principalmente aquelas que foram inerentes ao acto. Quanto ao seu tipo, vamos considerar as seguintes lesões:

ESCORIAÇÕES

- São lesões provocadas pela destruição das camadas

superficiais da pele, pela acção de um instrumento, não indo para além da epiderme ( v. anexo, foto 20 ).

EQUIMOSES

- Ou "nódoas negras", são lesões que resultam duma acção contusa sofrida em vida, provocando hemorragias subcutâneas. - São em geral mais frequentes nas crianças, nos velhos, mais nas mulheres e pessoas gordas que nos homens e magros. - As equimoses antes da morte tem as bordas menos nítidas, ao passo que depois da morte têm as bordas de limite nítidas e bem definidas ( v. anexo, foto 21 ).

Pode, numa determinada situação de uma queixa crime contra a integridade física, o investigador ter que, sumariamente, aquilatar da data da produção das lesões. É que a suposta vítima pode afirmar que o crime ocorreu em determinado dia e a coloração do ferimento apontar em sentido contrário. Relembra-se que a determinação e interpretação da lesão é da competência exclusiva do perito médico-legal. Contudo, para a análise e correlação dos factos, poderá ser importante para o militar da Guarda que proceda à investigação, ter capacidade para interpretar a coloração apresentada pela ferida com a sua antiguidade.

Assim, apresentamos um quadro, transposto de estudos médico-legais e de aplicação genérica, pois cada pessoa tem características próprias.

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ELEMENTOS CROMÁTICOS PARA AVALIAR A ANTIGUIDADE DE UMA EQUIMOSE

CRONOLOGIA ( DIAS ) TONALIDADE CROMÁTICA

1º Avermelhada

3º Violácea

4º Azul esverdeada

9º Amarelada

Entre o

12º e o 18º

Desaparecimento

HEMATOMAS

- É uma colecção de sangue numa cavidade neoformada (ex: "olho negro"), podendo não se manifestar à superfície da pele ou revelar-se mais tarde em locais diversos dos traumatizados ( v. anexo, foto 22 ).

CONTUSOS

FERIMENTOS

- São soluções de continuidade na pele que permitem presumir a natureza do instrumento que os produziu.

CORTANTES

PERFURANTES

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CONTUSÕES São ferimentos que consistem na dilaceração dos tecidos, com bordas irregulares, provocado pelo impacto duma superfície. As contusões são de diversos tipos, assim:

Escoriações cutâneas;

LESÕES EXTERNAS

Feridas contusas;

Arrancamento e laceração dos tecidos.

Equimoses e hematomas;

LESÕES INTERNAS

Fracturas ósseas;

Luxações de articulações; Rotura de órgãos internos.

As contusões podem surgir em diversas partes do corpo e consoante o local onde acontecem, provocar lesões irreversíveis que podem causar a morte da vítima, mesmo não sendo visíveis os seus sinais exteriores. Vejamos, sumariamente, os locais mais importantes do organismo em que as contusões podem provocar a morte.

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Na Cabeça

CRÂNEO

INTRA CRANIANAS

COURO CABELUDO

Fracturas - Manifestam-se por vezes com hemorragiasexternas ( canais auditivos,fossas nasais ... ), podendo ser: * Directas * Indirectas * Múltiplas

* Hematomas* Lesões Meningo-Encefálicas

* Ferimentos Contusos* Escalpe

No Corpo

PESCOÇO TÓRAX

ABDOMEN

MEMBROS

* Fractura da Laringe* Fractura/Luxação da Coluna

* Esmagamento de ossos compridos: Morte por Embolia Gorda Pulmonar

* Perfuração de órgãos vitais: Coração, Pulmões ...

* Rupturas, Hemorragias internas das vísceras: Fígado, Baço

FERIMENTOS CORTANTES - PERFURANTES - MISTOS

Este tipo de ferimentos apresentam, quase na sua totalidade, combinações de ferimentos que, face às suas características, assim podem indiciar homicídio, suicídio ou ainda acidente ( v. anexo, foto 23, 24 e 25 ).

Destes, salientam-se os Ferimentos de Defesa que podem surgir em mortos por homicídio e que permitem avaliar qual o grau de resistência que a vítima opôs ao criminoso. Face à forma de oposição da vítima em relação ao criminoso, assim os ferimentos são designados por:

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Defesa Activa - Indicam que a vítima ofereceu resistência ao homicida, lutando, localizando-se os ferimentos, sobretudo, nas pregas digitais e palma da mão ( v. anexo, foto 27 ).

Defesa Passiva - Indicam que a vítima tomou uma posição essencialmente de protecção, localizando-se os ferimentos, sobretudo, no dorso da mão e face externa do antebraço.

Nas situações de suicídio podem aparecer uns ferimentos característicos, que são designados por Golpes de Tentativa e que são pequenos golpes superficiais (1 a 2 cm) que indicam ter a vítima experimentado a lâmina do instrumento antes de se consumar o acto, e ainda, por vezes, cicatrizes de tentativas anteriores ( v. anexo, foto 26 ).

FERIMENTOS POR ARMAS DE FOGO

Um ferimento provocado por projéctil disparado por arma de fogo, apresenta em

regra, três elementos que o identificam:

Orifício de Entrada

As características do orifício de entrada são variáveis, pois, dependem ( v. anexo, foto 28, 29 e 30 ):

Do local do corpo perfurado; Da distância do disparo; Do tipo de arma e munição; De eventuais ricochetes; Da direcção (apresentando formas circulares ou ovais, consoante o

ângulo de incidência com o alvo).

O orifício de entrada pode apresentar:

- Orla de chamuscamento - devido à acção do cone de chama da arma;

- Orla de limpeza - devido às impurezas inerentes ao disparo (cano sujo, óleos...) que ficam retidas no ferimento;

- Orla de contusão - é devida ao impacto do projéctil e visível cerca de 6

horas após a morte;

- Tatuagem - é originada pela pólvora não queimada, negro fumo e pela chama, ficando gravada na pele;

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- Hemorragias - em regra, apresenta pequenas hemorragias.

Trajecto ou Canal de Penetração

O trajecto seguido por um projéctil pode ser único ou múltiplo. Neste último caso, devido à fragmentação do projéctil ou ao ricochete nos ossos. Recorde-se que, os trajectos múltiplos são também típicos no tiro de caçadeira.

Orifícios de Saída

O orifício de saída pode não existir, em virtude do projéctil ter ficado retido dentro do corpo numa estrutura dura que se opôs ao seu avanço, ou ainda, por perda de velocidade e poder de penetração ( v. anexo, foto 31 ). Quando existe, distingue-se do orifício de entrada pelas seguintes

características:

Maiores dimensões (regra geral); Contornos irregulares (normalmente); Hemorragias maiores; Saída de esquírolas ósseas, tecido adiposo; Inexistência de orlas.

DISTÂNCIA DOS DISPAROS A precisão da distância a que foi feito um determinado disparo com arma de fogo é de difícil determinação. No caso das caçadeiras, ainda que por comparação dos alvos, é possível por aproximação lá chegar, sendo, de qualquer forma uma distância média aquela a que os peritos determinam. No caso concreto da Medicina Legal, o conceito de distância do disparo, depende da interpretação das do orifício de entrada do ferimento. Neste nosso estudo vamos considerar os disparos como:

De contacto

( v. anexo, foto 32, 33, 34 e 35 )

À queima roupa Disparos A curta distância

A longa distância De caçadeira

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Disparo "de contacto"

É aquele que acontece com a boca do cano da arma encostada ao alvo (0 cm). O aspecto e os sinais característicos do ferimento de entrada são ( v. anexo,

foto 36 ):

Eventual Estampagem da boca do cano da arma na pele, sobretudo com armas automáticas e semi-automáticas; Orifício estrelado de contornos irregulares e lacerados, em regra maior que o de saída; Negro de fumo nas bordas do orifício; Queimadura ou chamuscamento das bordas da ferida, cabelo, pelos... Em "cavidade fechada", aos efeitos destrutivos do projéctil juntam-se os produzidos pela expansão dos gases provenientes do disparo.

Disparo "à queima roupa" É aquele que acontece com a boca da arma até 1 cm do alvo ( v. anexo, foto 37 ). Os sinais característicos do ferimento de entrada são:

Orifício de bordos regulares; Orla de chamuscamento devido ao cone de fogo da arma; Orla de negro fumo.

Disparo "a curta distância"

É aquele que acontece quando a boca do cano da arma se encontra a uma distância de 1 a 75 cm do alvo ( v. anexo, foto 38 ).

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Os sinais característicos do ferimento de entrada apresentam:

Orifício circular ou oval (consoante o ângulo de incidência do disparo da arma com o alvo) de bordas regulares;

Orla de limpeza , que nem sempre aparece ( pode o cano da arma estar

limpo e/ou a interposição do vestuário filtrar as sujidades ); Orla de contusão que se torna visível cerca de 6 horas após a morte; Tatuagem que é típica destes ferimentos, sendo formada por negro de

fumo ( lavável em disparos até 45 cm) e grãos de pólvora não queimada . O aspecto do ferimento de entrada é o seguinte:

TIRO PERPENDICULAR

TIRO OBLÍQUO

ORIFÍCIO CIRCULAR

ORLA DE LIMPEZA

ORLA DE CONTUSÃO

TATUAGEM ORLA DE CONTUSÃO

DIRECÇÃO DO DISPARO

ORLA DE LIMPEZA

ORIFÍCIO OVAL

Disparo a "longa distância"

É aquele que acontece a mais de 75 cm, distância considerada entre a boca do cano da arma e o alvo ( v. anexo, foto 39 ).

O ferimento de entrada apresenta os seguintes sinais característicos:

Orifício circular ou oval de bordas regulares; Orla de contusão semelhante aos disparos a curta distância, só que sem

tatuagem. O aspecto deste ferimento é o seguinte :

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TIRO PERPENDICULAR

TIRO OBLÍQUO

ORIFÍCIO CIRCULAR ORLA DE CONTUSÃO ORIFÍCIO OVAL DIRECÇÃO DO DISPARO

ORLA DE CONTUSÃO

Disparo "de caçadeira"

O aspecto característico do ferimento de entrada varia em função da distância do disparo, do tipo de projéctil usado e do comprimento do cano. Assim:

Em tiro muito próximo do corpo, o chumbo entra como marca única

originando um orifício de entrada grande, com queimaduras, lacerações e escurecimento da pele ( v. anexo, foto 41 );

As "buchas" do cartucho, no caso de não se terem desfeito, podem actuar

como projéctil e serem encontradas no interior do ferimento, incrustadas na pele perto do ferimento de entrada, ou como corpo em ignição e provocar queimaduras. Podem ainda estar mais ou menos perto da vítima, quando não a atinjam;

Em tiros mais distantes, os ferimentos de entrada apresentam trajectos

múltiplos devido à dispersão do chumbo ( v. anexo, foto 40 ).

Armas com canos mais curtos provocam uma maior dispersão.

Refira-se, que os ferimentos por armas de fogo podem ser confundidos com

aqueles que são produzidos por instrumentos mecânicos, sendo de extrema importância para a Investigação Criminal a definição de qual o meio que foi utilizado na produção destes. De entre os instrumentos que podem dar origem a ferimentos semelhantes aos produzidos por projécteis de armas de fogo salientam-se :

Os instrumentos perfurantes; Os instrumentos perfuro - contundentes (Ex: picadores de gelo ... )

Em determinadas situações os ferimentos provocados por estes

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instrumentos, podem apresentar também "Orla de contusão” (devido à força do impacto do instrumento com o corpo).