guia de comunicação e mobilização social em convivência e segurança cidadã

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Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa Comunicação e Mobilização Social em Convivência e Segurança Cidadã Empoderando vidas. Fortalecendo nações.

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Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa

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Coletânea Convivência e Segurança Cidadã:Guias de Gestão Territorial Participativa

Comunicação e Mobilização Social em Convivência e Segurança Cidadã

Empoderando vidas.Fortalecendo nações.

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Guia de Comunicação e Mobilização Social em

Convivência e Segurança Cidadã

Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa

1ª Edição

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Programa das Nações UNidas Para o deseNvolvimeNto - Brasil

Jorge CHedieKRepresentante Residente

arNaUd PeralRepresentante Residente Adjunto

maristela marQUes BaioNiRepresentante Residente Assistente

É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

Para elaboração dos textos desta Coletânea, optou-se pelo uso de linguagem não discriminatória em relação a gênero, raça, etnia ou classe social. Em muitos casos, foi necessário o uso genérico do masculino, a exemplo do termo “ator social”, ou de termos neutros como “crianças, adolescentes e jovens”. Mesmo nesses casos, entende-se que o genérico do masculino refere-se a homem e mulher e que os termos neutros reúnem as especificidades e direitos adquiridos de cada cidadão e cidadã aqui representados.

Coordenação | Érica Mássimo Machado – PNUD Brasil

equipe técnica | Alline Pedra, Bruna Pegna Hercog, Cíntia Yoshihara, Cristiano Pereira da Silva, Joselita Frutuoso de Araujo Macêdo Filha, Juliana Mattedi Dalvi, Marialina Côgo Antolini, Paulo Ricardo de Souza e Paiva, Ricardo de Lacerda Ferreira e Rita de Cássia Lima Andrea

textos | Bruna Pegna Hercog, Cíntia Yoshihara, Joselita Frutuoso de Araujo Macêdo Filha, Juliana Mattedi Dalvi e Marialina Côgo Antolini

edição | Bruna Pegna Hercog e Marialina Côgo Antolini

Colaboradores | Claudia Ocelli, Daniel de Castro, Daniel Luz, Débora Sol, Eugenia Piza-Lopez, Fernanda dos Anjos, Gabriela Dutra, Gerardo Berthin, Hugo Acero, Jairo Matallana, João José Barbosa Sana, José Carlos Arruti Rey, Lina Salazar, Maristela Marques Baioni, Moema Freire, Nicolas Garrigue, Norma Peña

Projeto gráfico e editoração | Valentina Garcia

Publicado pelo Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD).

© PNUD 2013Projeto Gráfico: Valentina GarciaPrimeira edição: dezembro de 2013Tiragem: 800 exemplaresImpressão: Estação Gráfica Ltda

Guia de comunicação e mobilização social em convivência e segurança cidadã. – Brasília : PNUD, 2013. 48 p. – (Coletânea convivência e segurança cidadã : guias de gestão territorial participativa).

Incl. bibl. ISBN: 978-85-88201-14-9

1. Segurança Cidadã 2. Direitos civis e políticos 3. Direitos humanos 4. Tolerância 5. Cultura de paz 6. Segurança humana 7. Participação social 8. Participação comunitária 9. Administração pública 10. Diagnóstico 11. Política de desenvolvimento 12. Desenvolvimento humano 13. Brasil 14. Guias I. PNUD

Impresso no Brasil

PREFÁCIO

A Redução da Vulnerabilidade e a Promoção da Segurança Cidadã formam um dos pilares da atuação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil. São claras as evidências de que os altos índices de criminalidade e de insegurança nos países da América Latina e Caribe têm imposto entraves significativos para o pleno desenvolvimento econômico e social da região, mesmo face às recentes melhorias na governança e na qualidade de vida das populações mais vulneráveis. Neste sentido, o PNUD Brasil compartilha da prioridade brasileira de promover melhorias na segurança pública como caminho necessário ao que chamamos de desenvolvimento humano sustentável.

A contribuição a esta área vem da atuação de nossas equipes a partir da perspectiva conceitual da Convivência e Segurança Cidadã, que envolve a adoção de um enfoque integral, local e participativo no tratamento da segurança pública. Isto nos permitiu acumular, nos últimos anos, experiência corporativa relevante na área de Segurança, tanto em âmbito nacional quanto local, como resultado de várias atividades de prevenção do conflito, reforma institucional e construção de capacidades para a governabilidade democrática.

Por meio de práticas efetivas em gestão da Segurança Cidadã, o PNUD vem desenvolvendo um conjunto de metodologias, instrumentos e ferramentas que visam apoiar e fortalecer os municípios no âmbito das políticas de prevenção à violência. São instrumentos que recuperam experiências de sucesso da região

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sUmÁrio

aPreseNtaçÃo 6

o QUe É e Por QUe imPlemeNtar diretriZes 8 de ComUNiCaçÃo e moBiliZaçÃo soCial de CoNvivÊNCia e segUraNça CidadÃ?

Como imPlemeNtar diretriZes 11 de ComUNiCaçÃo e moBiliZaçÃo soCial de CoNvivÊNCia e segUraNça CidadÃ?

Partilhando a gestão: comissão 12 de comunicação e mobilização social

Pegue Visão Cidadão, Pegue Visão Cidadã! 17

Comissão de Comunicação e Mobilização Social Puxaí 18

Entendendoâmbitosefluxosdacomunicação 19

Policial militar escuta notícia no rádio e muda de rumo 22

Definindoatoressociaisestratégicos 24

Definindoferramentas 25

Roda de Diálogo: jovens se expressam 27 e constroem conceitos coletivos

Site do Programa Conjunto dinamiza acesso a informações 32

relacionando-se com a imprensa 37

Na contramão dos fatos: o papel da assessoria de imprensa 38

Dia Internacional da Paz: um exemplo de mobilização da imprensa 43

monitorando e avaliando os resultados 44

o QUe a PrÁtiCa eNsiNa 45

referÊNCias BiBliogrÁfiCas 46

em segurança cidadã e também colocam à disposição dos governos suas redes de especialistas certificados, com experiências concretas e exitosas em diversos países.

Um dos frutos desta experiência é esta Coletânea: Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa. As metodologias aqui apresentadas resultam do crescente compartilhamento de responsabilidades na prevenção e no enfrentamento da violência, do âmbito nacional ao local, revelando o quanto a participação das comunidades é fundamental para o sucesso de projetos e programas na área da segurança.

A Coletânea foi elaborada a partir da experiência de execução do Programa Conjunto Interagencial da Organização das Nações Unidas (ONU) Segurança com Cidadania: prevenindo a violência e fortalecendo a cidadania, com foco em crianças, adolescentes e jovens em condições vulneráveis nas comunidades brasileiras. Essa experiência de cooperação técnica foi desenvolvida entre os anos de 2010 e 2013, em três unidades territoriais das cidades brasileiras de Contagem (MG), Lauro de Freitas (BA) e Vitória (ES). A Coletânea apresenta não só as metodologias utilizadas, como também fatos e histórias marcantes, que ocorreram ao longo da implementação do Programa nos três municípios e que ilustram a riqueza e a diversidade de experiências bem-sucedidas e o impacto gerado nessas localidades.

Dessa forma, nosso objetivo é oferecer a governos, organizações, movimentos sociais, entre outros, materiais de referência para uma atuação local, integral e participativa na construção de uma cultura de prevenção à violência.

Desejamos uma excelente leitura a todas e todos bem como nossos votos de que este material encontre uso efetivo na promoção da Convivência e da Segurança Cidadã neste país.

Jorge ChediekCoordenador-Residente do Sistema das Nações Unidas no Brasil e Representante-Residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil

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APRESENTAÇÃO

O Guia de Comunicação e Mobilização Social em Convivência e Segurança Cidadã faz parte da Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), composta por um encarte conceitual e sete Guias: Preparação, Curso de Convivência e Segurança Cidadã, Diagnóstico Integral e Participativo, Plano Integral e Participativo, Intercâmbio de Experiências, Monitoramento e Avaliação e Comunicação e Mobilização Social e o Jogo Fica Seguro, que convida – de forma lúdica e dinâmica – para a vivência de todas as etapas da implementação de um projeto de Convivência e Segurança Cidadã. O objetivo do PNUD é oferecer a

governos, organizações e movimentos sociais, entre outros, materiais de referência para a atuação local na construção de uma cultura de prevenção da violência.

Este Guia apresenta uma metodologia para o desenvolvimento de Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social em planos, programas ou projetos de Convivência e Segurança Cidadã. Aborda a importância de se planejar, executar, avaliar e monitorar estas diretrizes, com foco na participação comunitária e na democratização da informação. Neste sentido, são apresentados alguns caminhos, ações, estratégias e ferramentas, além de relatos de experiências, dicas e sugestões para contribuir com o desenvolvimento de uma boa prática em Comunicação e Mobilização Social.

Desenho sobre foto de ação do Programa Conjunto da ONU ”Segurança com Cidadania”

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Este exercício de cidadania, que contribui para a garantia do direito fundamental à Comunicação, pode ser proporcionado por uma prática de comunicação e mobilização social baseada nos princípios da Comunicação para o Desenvolvimento e da Educomunicação. É por meio dele, também, que se criam canais diretos com os formadores de opinião da imprensa que se encontram espalhados pelas mais diversas mídias. Por sua vez, a mídia exerce um papel fundamental na formação das pessoas em relação aos seus direitos e deveres enquanto cidadãos.

Grande parte dos meios de comunicação no Brasil reforça estereótipos sociais, construindo um senso comum baseado no medo, com interpretações sensacionalistas e equivocadas, que nada contribuem para a promoção da Cidadania e dos

Direitos Humanos. Neste contexto, a grande mídia tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais cidadã que busque a garantia desses direitos, embora não seja assim que ela atue na maior parte do tempo.

A divulgação de pautas sobre crimes e violência associando negativamente comunidades periféricas reforça a imagem negativa de diversos bairros. A falta de voz diante da sociedade contribui para que estas comunidades se sintam isoladas e pouco empoderadas na construção de um ambiente que promova a Convivência e a Segurança Cidadã. Assim, é preciso gerar pautas, ideias e debates que abordem temas sociais sob a ótica da diversidade, do desenvolvimento local e dos direitos humanos em todas as suas dimensões, gerando reflexões críticas sobre os assuntos divulgados.

“O papel da imprensa na discussão sobre os dilemas da violência é de fundamental importância para o aprimoramento das políticas públicas nessa área. Apesar das eventuais limitações, observamos que muitos profissionais da mídia têm se esforçado numa cobertura responsável da temática, o que contribui, inclusive, para a difusão de programas, metodologias e projetos de prevenção da violência, implementação da cultura da paz, soluções mediadas de conflitos, criação de redes comunitárias solidárias, etc. Ou seja, a cobertura do fenômeno da violência pode oferecer aos cidadãos soluções que suplantam o medo, a sensação de impotência e de descrédito das instituições, quando o problema é tratado com responsabilidade e

sem sensacionalismo.” (Observatório da Imprensa, Robson Sávio Reis, 2009).

MOBilizaçãO SOCialÉ uma reunião de sujeitos que definem objetivos e compartilham sentimentos, conhecimentos e responsabilidades para a transformação de uma dada realidade, movidos por um acordo em relação a determinada causa de interesse público”. (BRAGA; HENRIQUES; MAFRA, 2004, p. 36)

PaUtaSão temas que podem se tornar notícia. Os repórteres recebem pautas que vão guiar o seu trabalho. Elas apresentam sugestões de como o assunto pode ser abordado e de fontes de entrevistas indicadas para falar sobre o assunto.

O QUE É E POR QUE IMPLEMENTAR DIRETRIZES DE COMUNICAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL DE CONVIVÊNCIA E SEGURANÇA CIDADÃ?

Quando falamos em comunicação, estamos falando, necessariamente, de troca. Comunicar-se é dialogar, escutar, pensar, sentir, falar, organizar e transmitir ideias. Como a própria palavra sugere, comunicação é uma ação comum, é partilhar.

Para se comunicar é preciso mobilização: mobilização de ideias, sentidos, diferenças, pessoas, lugares, interesses, processos. Mobilizar é movimentar, articular, envolver para multiplicar, ou, nas palavras do jovem capixaba Ernauro Feijó: “mobilizar é despertar o olhar de possibilidade no outro”.

Comunicação e Mobilização Social, portanto, são indissociáveis e complementares. É preciso mobilização para garantir uma comunicação efetiva e é necessária a comunicação para que a mobilização aconteça de forma estratégica e eficaz. Neste sentido, pode-se afirmar que as políticas e práticas de Comunicação e Mobilização Social desempenham papel fundamental no processo de

fortalecimento da identidade social, à medida que contribuem para estimular atores sociais a exercerem o controle democrático e o desempenho de novos papéis nas comunidades onde vivem e atuam. Principalmente, quando aplicadas em projetos de Convivência e Segurança Cidadã, que pressupõem o fortalecimento de pessoas, relações, instituições e governos para o desenvolvimento de um ambiente seguro que incentive a convivência dos diferentes atores sociais e a resolução pacífica dos conflitos.

É preciso, portanto, que estes fatores sejam levados em consideração ao se elaborar Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social. Pois é na construção dessas diretrizes que se definem missão, princípios, estratégias e públicos, para, que, em seguida, possa ser traçado um plano de ação. O que exige, portanto, o estímulo à formação de redes, para que os fluxos de comunicação sejam constantes e horizontais, bem como o estímulo à participação efetiva dos atores sociais envolvidos no processo.

atOr SOCialUm determinado

indivíduo é um ator social quando

representa algo para a sociedade,

encarna uma ideia, uma reivindicação,

um projeto, uma promessa, uma denúncia. Uma

classe social, uma categoria social ou

um grupo podem ser atores sociais, assim

como instituições: partidos políticos,

jornais, igrejas etc. (SOUZA, 1991). Os atores sociais, são

portanto, todos aqueles que tenham interesse na questão

da Convivência e Segurança Cidadã.

São, prioritariamente, aquelas que

integram o território trabalhado, podendo se estender a todos

que atuam com a temática. (Souza,

1991) e (RGCI, 2007)

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COMO IMPLEMENTAR DIRETRIZES DE COMUNICAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL DE CONVIVÊNCIA E SEGURANÇA CIDADÃ?O ato de comunicar é um processo constante e diário, que se dá em diversos níveis e de diferentes maneiras. Para se comunicar de forma institucional, no entanto, é preciso planejamento. Para isso é fundamental conhecer o território de atuação (onde?), definir os públicos (para quem?), construir metodologias, estratégias e ações (como?) e definir os conteúdos que serão comunicados (o quê?). As respostas a estas

perguntas dão início ao processo de Planejamento Estratégico de Comunicação, fundamental para garantir a eficiência e a qualidade das ações. Esse planejamento, no entanto, precisa ser norteado por objetivos bem definidos, bem como por princípios e valores centrais. A este conjunto de elementos que irão orientar a ação chamamos de Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social.

aDvOCaCyO termo, ainda

sem uma tradução consolidada para o

português, se refere à defesa de interesses relacionados a uma

causa ou ideia. Com o intuito de

estimular mudança de comportamentos

e provocar transformações,

a advocacy busca suporte para a

promoção ou defesa de direitos.

Dessa forma, ações de advocacy buscam influenciar

a formulação, a execução, a

transformação e a implementação de políticas sobre

determinada ideia ou causa (CEBDS, 2012; e

AMUCC, 2012).

eDUCOMUNiCaçãOCompreende-se a Educomunicação na perspectiva da interrelação entre os campos da comunicação e educação, materializada em quatro áreas de intervenção social: educação para a comunicação; mediação tecnológica na educação; gestão comunicativa; e reflexão epistemológica. (SOARES, 1999). Pode-se definir, também, a educomunicação como um processo de comunicação com intencionalidade educacional expressa e que envolve a democratização da produção e de gestão da informação nos meios de comunicação em seus diversos formatos, ou na comunicação presencial (TASSARA, 2008).

Passo a Passo Para elaBorar Um PlaNeJameNto estratÉgiCo de ComUNiCaçÃo

1. Realize um Mapeamento Estratégico/Diagnóstico/Análise de Situação

2. Identifique e formule o problema de comunicação e mobilização social (o quê?)

3. Defina: Os objetivos (para que comunicar?) Os participantes (quem comunica?) Os públicos (para quem comunicar?) A rede de produção dos sentidos e fluxos de comunicação (como comunicar?)

As responsabilidades institucionais (quem faz o quê?/quem responde pelo quê?)

4. Trace as principais ações e os instrumentos (como e com que ferramentas comunicar? que atividades desenvolver? onde buscar parcerias? qual o orçamento necessário?)

5. Defina estratégias de avaliação e monitoramento (indicadores/como medir?)

Com base nisso, os alicerces escolhidos para guiar as atividades de Comunicação e Mobilização Social dentro dos princípios da Convivência e Segurança Cidadã são:

A Comunicação para o Desenvolvimento, que foi definida pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1996, como “uma comunicação multidirecional que possibilite o diálogo e permita às comunidades manifestar-se, expressar as suas aspirações e preocupações e participar das decisões relacionadas com o seu desenvolvimento”. Assim, a Comunicação para o Desenvolvimento encoraja a mobilização social através da promoção do diálogo entre a comunidade e diversos atores responsáveis pelas tomadas de decisão nos diferentes níveis: local, regional e nacional, buscando, dessa forma, a execução de políticas e programas que tragam benefícios e melhore a qualidade de vida de todos (Nações Unidas Cabo Verde, 2012)

Comunicação para mudança de comportamento (social e individual)

Comunicação para mudança social (indivíduos encontram soluções e são capazes de quebrar paradigmas e promover mudanças sociais e o diálogo entre o público, o privado e a comunidade em geral)

Advocacy (mudança de políticas, regras, normas e comportamentos)

Criação de um ambiente de comunicação adequado (inclusão

digital, acesso à informação, transparência e responsabilidade social dos indivíduos e instituições)

A Educomunicação, que pode ser aplicada tanto em espaços de educação formal (escolas) quanto em espaços não formais (ONGs, movimentos sociais, etc.). É apontada como um caminho para envolver crianças, adolescentes, jovens e adultos e estimulá-los a se posicionar criticamente e desenvolver um olhar aprofundado para o contexto social onde estão inseridos. Deste modo, a Educomunicação contribui para a democratização da comunicação e, consequentemente, para a prevenção da violência por meio da reconfiguração de espaços simbólicos. As Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social propostas, portanto, têm em vista a ampliação do entendimento com o projeto, bem como a capilaridade das ações, buscando a ampla promoção de uma cultura de paz. O uso educativo da comunicação, neste sentido, é apontado como uma das estratégias possíveis de prevenção da violência e de reconfiguração de espaços simbólicos, tendo em vista que os meios de comunicação estão entre as instituições de socialização da população.

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Em um projeto de Convivência e Segurança Cidadã, as Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social devem estar alinhadas com a política de gestão institucional do projeto. Para isso é importante que se estabeleçam instâncias formais de suporte ao processo de comunicação e mobilização social, construídas de forma coletiva por todos os atores sociais diretamente envolvidos com a ação, sob a coordenação da Equipe Técnica, garantindo, assim,

intervenções que sejam de fato participativas. A Equipe Técnica será responsável por fazer a ponte entre as diferentes instâncias de gestão do projeto. Assim, com a prática percebeu-se a necessidade de que se componha dentro da instância gestora do programa no território - o Comitê Gestor Local - um grupo que irá cuidar especificamente das questões de comunicação e mobilização social. A este grupo, chamamos de Comissão de Comunicação e Mobilização Social.

eqUiPe téCNiCaProfissionais responsáveis

por implementar as iniciativas no

território. Exercem uma função

técnica que requer conhecimentos

específicos na temática de

Convivência e Segurança Cidadã,

bem como experiência em mobilização

comunitária, trabalho com grupos, mediação

de conflitos, análise de dados e da

realidade local.

COMitê GeStOr lOCal

Instância consultiva e deliberativa de

acompanhamento das atividades, formada por representantes

do governo local, incluindo o Ponto

Focal, do poder legislativo e da

comunidade local.

PARTILhANDO A GESTÃO: COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL

O que é?

A Comissão de Comunicação e Mobilização Social é um grupo de trabalho do Comitê Gestor Local, formado para acompanhar as atividades do projeto, contribuindo na difusão, mobilização e divulgação de informações e conceitos. É composta por representantes da comunidade local e outros atores sociais, tais como representantes de diferentes setores do poder público (educação, saúde, cultura, segurança pública, etc.), da sociedade civil organizada (ONGs, movimentos sociais, lideranças juvenis, líderes religiosos, grupos culturais), entre outros. Como em todos os processos participativos de

gestão, é importante que a Comissão tenha equilíbrio na composição de modo a incluir representação paritária dos diferentes grupos, garantindo a sustentabilidade do processo.

Por que é necessária?

Diversos são os fatores e contextos que podem suscitar a criação de um grupo articulado para pensar estrategicamente as ações de comunicação e mobilização social com a perspectiva de garantir os processos participativos. É preciso, portanto, ter clareza quanto às problemáticas em questão e estar ciente que, sem um mapeamento e planejamento estratégico em comunicação e

mobilização social, não será possível enfrentá-las, pois é este planejamento que apontará as estratégias e os instrumentos necessários para garantir o fortalecimento das capacidades locais.

A seguir, apontamos algumas possíveis demandas que poderão ser trabalhadas por uma Comissão de Comunicação e Mobilização Social:

Dificuldade de comunicação interna e mobilização entre os integrantes do Comitê Gestor Local

Dificuldade de sensibilização e mobilização de liderançasjovens para participação no Comitê Gestor e em atividades do projeto

Insuficiência de espaços e atividades lúdicas de convivência comunitária ou de convivência nas comunidades

Insuficiência de informações públicas sobre cultura de paz e segurança cidadã

Dificuldade de articulação entre atores do Sistema de Garantia de Direitos e os segmentos comunitários

Frágil mobilização popular no enfrentamento das diversas formas de violência

Processo de estigmatização do território e, consequente, criação de estereótipos de seus moradores, reforçado pelo discurso midiático local e regional

Contexto eleitoral, que exige a implementação criteriosa de diretrizes de comunicação e mobilização social, que garantam a sustentabilidade das ações desatrelada de interesses político-partidários

Qual o seu papel?

A Comissão de Comunicação e Mobilização Social tem como papel central facilitar o diálogo entre os integrantes do Comitê Gestor Local e a sociedade em geral, mediar conflitos e interesses, mobilizar e valorizar desejos, bem como organizar ideias e propostas e garantir visibilidade a elas. Exerce papel fundamental no que se refere à garantia da pluralidade de vozes e da consequente descentralização da informação.

Compartilhar informação é descentralizar o poder, é democratizar os fluxos de comunicação. E descentralizar o poder é permitir que ecoem discursos diversos e, muitas vezes, contraditórios, para dar a possibilidade de voz às diversas opiniões sobre determinada questão.

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A Comissão tem um papel importante, também, no que se refere à garantia da sustentabilidade das ações traçadas de forma participativa durante a elaboração do Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã, por meio do fortalecimento e da capacitação da sociedade civil organizada. A grande força do Plano está na própria comunidade que participou da sua construção e tem o maior interesse e necessidade de ver as ações propostas sendo executadas. Pensando assim, a apropriação do Plano pela comunidade como um todo, e o empoderamento dela para acompanhar, cobrar e ajudar na sua implementação, tornam-se

fundamentais. Desta forma, os atores sociais cumprem seu papel de sujeito político, exercendo o controle social.

Diferente do controle social exercido pelo Estado sobre indivíduos e grupos, o controle social, aqui discutido, refere-se à participação da sociedade e grupos organizados na elaboração de fiscalização de políticas públicas em espaços democráticos. Estes espaços de participação, bem como conselhos setoriais, conferências, dentre outros, são legitimados pela Constituição Brasileira de 1988 que assegura juridicamente a participação e o controle social como mecanismos de democratização dos direitos civis e políticos.

“A expressão ‘controle social’ tem origem na sociologia. De forma geral é empregada para designar os mecanismos que estabelecem a ordem social disciplinando a sociedade e submetendo os indivíduos a determinados padrões sociais e princípios morais. Assim sendo, assegura a conformidade de comportamento dos indivíduos a um conjunto de regras e princípios prescritos e sancionados. (...) No período de democratização do país, em uma conjuntura de mobilização política principalmente na segunda metade da década de 1980, o debate sobre a participação social voltou à tona, com uma dimensão de controle de setores organizados na sociedade civil sobre o Estado. A participação social nas políticas públicas foi concebida na perspectiva do ‘controle social’ no sentido de os setores organizados da sociedade participarem desde as suas formulações – planos, programas e projetos –, acompanhamento de suas execuções até a definição da alocação de recursos para que estas atendam aos interesses da coletividade.”

(CORREIA, 2003 )

O monitoramento e o acompanhamento das políticas públicas são estratégias contínuas de controle social que visam garantir a transparência na definição das prioridades das políticas e aplicação de recursos públicos. A qualidade e efetividade da participação social estão diretamente relacionadas às diretrizes de comunicação e mobilização social traçadas para lhes dar sustento.

Afinal, para participar é preciso definir estratégias e instrumentos adequados, que garantam o estabelecimento de fluxos de comunicação e também a circulação e visibilidade das informações. Assim, na elaboração de um instrumento de participação

política, a exemplo do Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã, é imprescindível que as ações de comunicação e mobilização social estejam contidas no documento, seja por meio de projetos específicos, seja por meio de ações transversais a todos os eixos e projetos previstos.

A criação da Comissão de Comunicação e Mobilização Social desde o início do processo de implantação do projeto facilita e consolida as ações e discussões em torno da Convivência e Segurança Cidadã, além de incentivar uma mudança de cultura acerca do papel e das contribuições de todos no nível local para a construção de uma cultura de paz.

Passo a Passo Para Criar Uma ComissÃo de ComUNiCaçÃo e moBiliZaçÃo soCial

1. Identifique no Comitê Gestor Local e na comunidade pessoas que tenham vínculos com o território de atuação e interesse/desejo de aprender/executar ações de comunicação e mobilização social

2. Realize um encontro de sensibilização para falar sobre comunicação e mobilização social, apresentar a proposta da Comissão e definir seus integrantes

3. Defina um cronograma para as reuniões da Comissão

4. Realize uma Oficina de Mapeamento Estratégico de Comunicação e Mobilização Social para elaboração do Plano de Ação de Comunicação e Mobilização Social do território.

5. Busque parcerias para garantir uma infraestrutura básica para o funcionamento da Comissão: espaço físico para as reuniões, acesso à internet e telefone

Leia mais no Guia do Plano integral e Participativo.

Leia mais sobre o conceito de Convivência e Segurança Cidadã no Guia de apresentação.

Leia mais no Guia de Monitoramento e avaliação.

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Para quem comunicar e quem deve ser mobilizado?

Estas são perguntas centrais. Sem a definição do “para quem”, ou seja, do público alvo das ações de comunicação e mobilização social (o stakeholder), é impossível traçar as estratégias adequadas e definir os instrumentos mais apropriados para executá-las.

São princípios orientadores da prática:

Reconhecimento e respeito à diversidade, considerando as diferentes especificidades dos públicos com os quais a Comissão irá se comunicar

Realização das ações nos espaços (comunidade), com e para as pessoas

No caso de um projeto de Convivência e Segurança Cidadã, é importante que a Comissão dialogue com:

O Comitê Gestor Local

Os líderes comunitários de diversas áreas de atuação (movimentos de mulheres; movimentos religiosos; movimento de jovens, etc.)

As associações, ONGs e os sindicatos

A comunidade escolar (gestores, professores e alunos)

Todas as pessoas inseridas ou não no processo, considerando suas especificidades: geracionais (jovens, crianças, adolescentes, idosos), étnicas, raciais, de gênero (mulheres e homens), de orientação sexual (LGBT) e pessoas com deficiência, entre outros

StakehOlDerSignifica público

estratégico. É uma palavra muito

utilizada nas áreas de comunicação,

administração e tecnologia da

informação, cujo objetivo é designar

as pessoas e os grupos mais

importantes para um planejamento

estratégico ou plano de negócios, ou seja, as partes

interessadas.

Como se organiza?

Para garantir o funcionamento da Comissão de Comunicação e Mobilização Social, é preciso definir sua forma de atuação, estabelecendo quem coordena e quem é o responsável pela gestão do processo, além de se estabelecerem responsabilidades, tanto das representações do poder público quanto da sociedade civil, e elaborar um Plano de Ação Estratégico de Comunicação e Mobilização Social. Este instrumento reúne concepções, estratégias e instrumentos de funcionamento da Comissão.

Sua atuação, desta forma, está organizada em três níveis de comunicação: interno, externo e institucional. É, portanto, imprescindível ter clareza para quem a Comissão irá comunicar, ou seja, quais são os seus públicos, seja no nível interno (restrito), ou no nível externo (ampliado).

Para que a articulação, o planejamento e a execução das ações da Comissão sejam possíveis, é imprescindível que o projeto disponibilize capacitações para os seus integrantes. As temáticas das formações podem ser definidas juntamente com a Comissão, a partir da identificação da demanda e da escolha das ferramentas que serão utilizadas.

comissão

No bairro de Itinga, Lauro de Freitas (BA) - território integrante do Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania”, no contexto das discussões e dos encontros realizados para a elaboração do Plano Integral e Participativo, começou a despontar nas falas de líderes comunitários e representantes do poder público local a necessidade de se incrementar a comunicação como ferramenta de dinamização do processo participativo e mobilização comunitária para o enfrentamento das diversas formas de violência: “Chega de ficarmos falando uns para os outros, precisamos ecoar as nossas vozes”; “Comunicar é mobilizar o outro, é passar adiante a informação”; “Precisamos gritar para todo o mundo ouvir”. Essas foram algumas das falas que demonstraram o desejo do grupo de utilizar a comunicação para transformar suas realidades. A partir desse desejo, foi formada a Comissão de Comunicação e Mobilização Social de Lauro de Freitas. O oxigênio dessa comissão foram as mulheres, a maioria delas ligadas a ONGs e movimentos sociais, outras ligadas a setores governamentais. Mulheres cansadas de verem seus filhos, irmãos, vizinhos perderem a vida, muitas vezes, de forma brutal. Mulheres cansadas de verem outras mulheres sendo violentadas diariamente por seus companheiros. Mulheres cansadas da violência cometida por policiais. Mulheres cansadas de verem seus queridos e queridas morrerem na fila de um hospital, sem atendimento médico. Mulheres cansadas de não terem creches para colocar os seus filhos. Mulheres

cansadas da impunidade. Mas, acima de tudo, mulheres com esperança. E, mais ainda, mulheres de atitude. Não é a toa que o lema escolhido pela Comissão foi “Pegue visão, cidadão. Pegue visão, cidadã”, uma expressão muito usada pelos moradores de Itinga para dizer: preste atenção! A expressão remete à sua missão: facilitar o diálogo no Comitê Gestor e na comunidade, mediar conflitos, animar e entusiasmar; mobilizar e valorizar desejos; e organizar ideias e propostas. E foi exatamente o que a Comissão fez. Entre as suas ações, vale destacar o fortalecimento de uma rede interna de comunicação com o Comitê Local, a partir de uma lista de e-mails, além de envio de torpedos no celular e mensagens no Facebook, para convidar os atores sociais a participarem de reuniões e demais atividades do Programa. A realização de Rodas de Diálogo sobre a temática da Convivência e Segurança Cidadã também foi uma ação de grande impacto realizada pela Comissão. Importante destacar, ainda, que foi a criação da Comissão de Comunicação e Mobilização que impulsionou mudanças nas diretrizes de comunicação do Programa Conjunto como um todo. As premissas, estratégias e metodologias definidas na Comissão passaram a ser incorporadas pelo Programa e a metodologia foi reaplicada nos outros municípios participantes. Este Guia de Comunicação e Mobilização Social, por exemplo, é fruto desse processo, uma vez que representa a sistematização das diretrizes de comunicação e mobilização social criadas e implementadas.

Pegue Visão Cidadão, Pegue Visão Cidadã!

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comunidade

Em São Pedro, Vitória (ES), a Comissão de Comunicação e Mobilização Social surge com um objetivo definido: dar sustentabilidade ao Plano Local de Convivência e Segurança Cidadã, especialmente após a mudança da gestão municipal. O pontapé inicial para a Comissão foi a realização da Oficina de Comunicação e Mobilização Social, que reuniu jovens lideranças da região, moradores, técnicos da prefeitura que atuam em São Pedro, policiais militares, entre outros. Esses atores locais tiveram a oportunidade de trocar experiências com uma moradora de Lauro de Freitas (BA), integrante da Comissão de Comunicação e Mobilização Social baiana, que veio à Vitória para integrar a oficina. Os participantes puderam discutir ainda questões diversas ligadas à comunicação, à segurança e à cidadania. A partir desse encontro, a Comissão Puxaí foi formada por membros voluntários, composta por moradores da região, policiais

militares e integrantes da gestão municipal. A primeira ação foi estudar o Plano Local, para conhecê-lo a fundo, tirar dúvidas e entender as ações propostas. A partir de então, a Comissão deu início ao processo de planejamento de atividades e à construção de objetivos para ações. Uma das atividades já executadas aconteceu durante a festa de fim de ano do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Santo André, bairro da Grande São Pedro. Na ocasião, mais de 300 moradores atendidos pelo CRAS estavam presentes, principalmente mulheres e crianças. A comissão propôs uma troca aos participantes: um sonho de padaria para saber o sonho daquelas pessoas. A atividade foi toda filmada, para gerar um vídeo. O momento foi importante para a troca de conhecimento e informações com a comunidade e entre os membros da comissão que, pela primeira vez, organizaram e produziram juntos uma ação.

Comissão de Comunicação e Mobilização Social Puxaí

ENTENDENDO âMBITOS E FLUxOS DA COMUNICAÇÃOPara se compreender os fluxos da comunicação, sugere-se, como estratégia didática, que a comunicação seja compreendida a partir de três dimensões: institucional, interna e externa.

ComUNiCaçÃo iNstitUCioNal

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A Comunicação Institucional | é aquela que define a identidade e imagem do projeto. É o núcleo a partir do qual a comunicação global pode ser realizada em sua plenitude. Como os diversos públicos enxergam e entendem esse projeto? Essa pergunta deve ser respondida pela Comunicação Institucional. Diferentes aspectos comunicacionais estão inseridos nela. Tanto a Comunicação

Interna quanto a Comunicação Externa precisam estar alinhadas com a Comunicação Institucional já que têm nela os seus elementos de origem e de inspiração. Esta dimensão da comunicação tem como foco o fortalecimento da imagem institucional do projeto. A programação visual, por exemplo, é um deles. É importante ter cuidado com a apresentação visual do

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projeto, já que ela se configura em um fator de identificação. Numa comunidade, por exemplo, quando está havendo uma oficina ou palestra, a logomarca do projeto deve estar visível. Dessa forma, os presentes identificarão aquela atividade como integrante de uma ação maior e não como um evento isolado. Assim, a logomarca e uma unidade visual padrão devem estar presentes nas diversas peças comunicacionais: site, e-mails, newsletter e folderes, entre outros. O conceito que está sendo trabalhado também deve ser unificado e amplamente difundido e praticado. Assim, a descrição do projeto, seus parceiros e atividades devem ser os mesmos no site, nos releases enviados para a imprensa e nos folderes entregues à comunidade, entre outros.

A Comunicação Interna | diz respeito aos fluxos e estratégias de comunicação e mobilização voltados para o público que lida diretamente com o projeto – principalmente o Comitê Gestor Local. Assim, esse público está, em alguma medida, familiarizado com o cotidiano do projeto, mas muitas vezes não consegue ter a visão de todo o processo, por ter acesso apenas a

informações setorizadas. Um dos pontos chaves de uma comunicação interna eficiente é a transformação dos integrantes da ação em agentes divulgadores do processo. Quando as pessoas que estão inseridas em um determinado projeto começam a entender a importância do que está sendo desenvolvido, passam de participantes a difusores, ajudando na divulgação das atividades e dos conceitos.

As estratégias de comunicação interna também visam o fortalecimento dos laços de coesão e motivação da equipe, criando espaços e instrumentos de partilha e alinhamento de propostas, assim como a facilitação dos fluxos de comunicação entre todos os atores institucionais envolvidos na iniciativa. Uma boa comunicação interna permite que seja difundido entre os diferentes envolvidos no projeto as informações gerais, atividades, agenda de encontros e eventos e informações sobre iniciativas semelhantes que estão acontecendo na região, entre outras. As ferramentas da comunicação interna são diversas e podem se constituir, por exemplo, de murais em pontos estratégicos, boletim eletrônico, áreas específicas dentro de um website exclusivas para esse público, entre outras.

lOGOMarCaÉ um conjunto de elementos

visuais (gráficos, letras, figuras,

etc) que conferem uma identidade a determinada

instituição ou projeto.

releaSe É um texto para

divulgação de determinado

assunto e/ou evento, distribuído para os

diversos veículos de comunicação.

NewSletter OU BOletiM eletrôNiCO

Informativo periódico enviado eletronicamente (geralmente por

e-mail) para pessoas previamente

cadastradas no mailing do projeto.

Seu objetivo é divulgar as ações

desenvolvidas, a partir de textos jornalísticos

com depoimentos e fotografias.

A Comunicação Externa | refere-se aos processos e às dinâmicas de comunicação para a mobilização comunitária em torno de uma cultura de Convivência e Segurança Cidadã. É aquela que lida com o público que não está diretamente envolvido na execução do projeto. Esse público é formado pelos mais diversos atores sociais, como moradores da região de abrangência das ações, pesquisadores da área e cidadãos que tenham interesse em temas de algumas ações executadas pelo projeto, entre outros. Como o público externo é amplo, este âmbito da comunicação utiliza diversas

ferramentas – cada qual com uma função e buscando atingir a todos. Aqui, estão inseridas, por exemplo, ações de assessoria de imprensa, divulgação de atividades com carro ou bicicleta de som, folders e site, entre outras.

É importante destacar que diversas ferramentas atingem ambos os públicos. Um site ou um blog, por exemplo, pode ser acessado tanto por integrantes do público interno quanto do externo, assim como uma matéria publicada em um jornal impresso ou uma matéria veiculada em uma rádio poderá ser lida ou escutada por ambos os públicos.

Ao se planejar e implementar as diretrizes de Comunicação e Mobilização Social em um projeto de Convivência e Segurança Cidadã é importante, também, atentar para os processos de sistematização das experiências e monitoramento e avaliação das estratégias utilizadas e ações realizadas. A sistematização é o encontro da teoria com a prática que promove a organização do conhecimento

produzido coletivamente durante o processo de vivência.

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mediação

Um exemplo de como uma ação voltada para o público externo pode atingir (em cheio!) o público interno foi o que aconteceu em Lauro de Freitas (BA). O Soldado Raianderson Neri conta que estava começando um dia normal da sua rotina: vestiu a farda, entrou no seu carro e enquanto dirigia a caminho da Base Comunitária de Segurança de Itinga, resolveu ligar o som. “Geralmente eu escuto CD, mas nesse dia deixei na rádio”, conta Neri. Bom para ele! Porque foi em um programa de rádio que ele escutou que em algumas horas começaria um Encontro de Mediação para

Líderes Religiosos - uma ação do Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania”. Imediatamente, Neri ligou para o seu superior que autorizou a sua participação no evento. Ele já era integrante do Comitê Gestor Local e havia participado de outras capacitações do Programa. Essa, no entanto, foi especial, pois além de soldado, é universitário e estudioso de questões religiosas. “Foi um aprendizado incrível. Pastores, representantes de religiões de matrizes africanas, testemunhas de Jeová, todos juntos e dialogando. Fiquei muito feliz de participar”, conta.

Policial militar escuta notícia no rádio e muda de rumo

O que são fluxos de comunicação?São os caminhos de diálogo entre os diferentes atores sociais envolvidos no projeto, que se dão nos diferentes âmbitos da comunicação. É o processo de difusão das informações. Para cada contexto será preciso identificar quais são os fluxos mais adequados. Compreendendo os fluxos, compreende-se as relações de poder e os diferentes lugares de fala.

Para traçar as estratégias é preciso identificar os fluxos comunicativos. Nesse sentido, é fundamental um Mapa de Comunicação capaz de apontar quais são os diferentes

discursos, de que maneira eles estão organizados e quais são as relações hierárquicas que estabelecem entre si. Em um projeto dessa natureza, diversos discursos podem estar presentes: do financiador, dos organismos institucionais que executam a ação, do poder público e dos representantes locais. Portanto, para sugerir a democratização da informação e, consequentemente, a pluralidade de vozes, é preciso propor uma configuração de fluxos de comunicação, como exemplifica a figura abaixo:

âmbito da gestão institucional

departamento de comunicação do órgão governamental

comitê gestor local

comissão de comunicação

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Pontos Focais

equipe técnica

agentes de segurança (guardas municipais, policiais civis, policiais militares, bombeiros)

Órgãos de segurança e justiça

educadores e gestores (escolas e universidades)

Crianças, adolescentes e jovens

lideranças religiosas

representantes de movimentos sociais/culturais e organizações da sociedade civil

Chefes do Poder Público

representantes de secretarias diversas (educação, desenvolvimento, saúde, cultura, esporte, segurança pública, assistência social, gestão estratégica, entre outras)

representantes do Sistema de Garantia de Direitos (conselheiros de direitos, conselheiros tutelares, promotores de justiça, etc.)

Conselhos de direitos (segurança, educação, cultura, etc.)

DEFININDO ATORES SOCIAIS ESTRATÉGICOSQuando falamos em Convivência e Segurança Cidadã e compreendemos a violência como um fator multicausal, necessariamente temos que levar essa dimensão em consideração no momento

da elaboração de Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social do projeto. Ou seja, os atores sociais estratégicos precisam estar ligados às mais diversas áreas de atuação, como ilustra o quadro a seguir.

ATORES SOCIAIS ESTRATÉGICOS

DEFININDO FERRAMENTASPara fazer chegar uma informação até o público alvo, existem diversas formas e ferramentas de Comunicação e Mobilização Social possíveis. Cada uma delas tem resultados, custos e alcances variados. Para escolher qual delas utilizar, é preciso avaliar uma série de fatores. O primeiro deles é o público. A quem essa informação se destina e que formas de comunicação esse público utiliza de maneira mais frequente? Outra questão é o custo. Quanto há disponível no orçamento do projeto para a comunicação e de que maneira esse recurso deve ser investido ao longo de todo o período de execução? Quais as possíveis parcerias que podem ser firmadas para garantir a realização das atividades? Outro fator determinante é a seleção de qual informação deve ser divulgada e em qual momento.

Todas essas questões devem estar contidas no planejamento de comunicação do projeto, com orçamento e calendário previamente estipulados. É importante, no entanto, trabalhar com a possibilidade de imprevistos. Por isso, o planejamento deve conter folgas de prazos e orçamento que permitam a

readequação das ferramentas de comunicação caso seja necessário. Uma dica importante é atentar sempre para os instrumentos e as maneiras de comunicação que já existem e que são utilizadas nas comunidades onde o projeto irá atuar. Por isso, a etapa da realização do Diagnóstico Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã é fundamental. É neste momento que se irá identificar se a comunidade costuma utilizar carros de som para divulgar eventos locais, se são os folhetos impressos que têm maior impacto, ou ainda se o maior comunicador da região é o vendedor de botijão de gás ou a vendedora de frutas na barraca da esquina.

Para definir as ferramentas, é preciso estar atento e apostar nas especificidades do local, valorizando os recursos que já existem, bem como a criatividade e vivência dos moradores do território onde o projeto vai atuar.

A seguir, sugerimos algumas opções de ferramentas de Comunicação e Mobilização Social, umas mais específicas, experimentadas em iniciativas de Convivência e Segurança Cidadã, e outras mais usuais.

Leia mais no Guia do Diagnóstico integral e Participativo.

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As ferramentas são algumas das possibilidades existentes de executar as Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social.

Inspire-se nelas para criar caminhos e maneiras de comunicar e mobilizar que mais se identifiquem com o território.

Rodas de Diálogo sobre Convivência e Segurança CidadãSão espaços de escuta direcionada, promovidos para diferentes públicos (agentes de segurança, mulheres, adolescentes, líderes religiosos) que têm como objetivo central sensibilizar os participantes sobre a temática da Convivência e Segurança Cidadã, bem como construir conceitos coletivos sobre o tema. A atividade tem uma duração média de duas horas. São exibidas imagens que estimulam a percepção da segurança para além das forças policiais. Uma dica importante é priorizar – quando possível – fotografias referentes à realidade da comunidade onde será realizada a Roda de Diálogo (ex: foto de um grupo de capoeira local, de uma rua sem asfalto, etc.).

É importante que todas as falas sejam respeitadas, pois é um momento em que os participantes se sentem seguros para falar o que pensam e sentem. O facilitador, portanto, deve ter sensibilidade para saber mediar possíveis confrontos de ideias entre os participantes e, também, para saber o momento certo de “cortar” uma fala, permitindo, assim, que todos participem. A criação do conceito coletivo é a última etapa e tem como objetivo sistematizar as falas, de forma que todos se sintam contemplados pela definição de Convivência e Segurança Cidadã construída pelo grupo. É importante, também, que as Rodas de Diálogo sejam planejadas e executadas pela Comissão de Comunicação e Mobilização Social do projeto.

cidadania

Uma das Rodas de Diálogo sobre Convivência e Segurança Cidadã aconteceu na sede do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), em Itinga, Lauro de Freitas (BA). Adolescentes do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem) participaram da atividade, promovida pela Comissão de Comunicação e Mobilização Social. O bate-papo começou e os “motores” foram se aquecendo. No início, os meninos e meninas estavam tímidos. Mas, quando começaram a ver as imagens selecionadas para a atividade, soltaram o verbo! Principalmente, quando a rua de um deles apareceu na tela. “Oxe! Aí é perto da minha casa. E esse lixo todo espalhado aí? É assim mesmo, todo dia!”, disse um dos adolescentes referindo-se a uma foto que mostrava uma localidade de Itinga sem coleta de lixo. Fotografias em que apareciam policiais militares fazendo a segurança de um bairro nobre foram o estopim para que várias falas sobre abordagens agressivas e

preconceituosas aos jovens negros e moradores de comunidades populares fossem disparadas. “Já fui abordado de uniforme, voltando da escola. Não tava fazendo nada de errado e o policial já veio logo me chamando de vagabundo”, disse um dos participantes. Sobre a pergunta: o que é segurança para você, as respostas foram as mais variadas: autoliberdade, se sentir seguro, não correr risco, se sentir bem, ausência de medo, confiança em Deus, policiamento e saber que as pessoas que fazem o mal não estão por perto foram algumas delas. Sobre cidadania, foram certeiros: é todo mundo junto, fazendo a sua parte; são cidadãos cumprindo seus direitos e deveres na sociedade. Ao final da atividade, construíram coletivamente o conceito: “Segurança com cidadania é cada um dar as mãos e se conscientizar de que somos irmãos, independente de raça, cor, sexualidade, se é pobre ou rico. É ter respeito e ajudar uns aos outros a olhar para o nosso próximo com olhar de esperança para um mundo melhor”.

Roda de Diálogo: jovens se expressam e constroem conceitos coletivos

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Cartilha do Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã

O Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã foi criado, de forma participativa, com o envolvimento da comunidade. No entanto, para que ele se torne de fato uma ferramenta de controle social, é preciso que seja amplamente divulgado e conhecido pelos diversos setores e grupos da comunidade. Assim, a Cartilha foi pensada para difundir o Plano, como instrumento de apropriação do conteúdo e de subsídio para o acompanhamento de sua execução.

A Cartilha apresenta os projetos, metas e indicadores do Plano com

uma linguagem simples e diagramação atrativa, de forma a atingir os diferentes atores sociais que compõem a comunidade local. O livreto traz dados da região, informações sobre o conceito de segurança cidadã, dicas sobre controle social e formas de atuação e cobrança pela sociedade civil, além do próprio Plano.

Seu principal objetivo é contribuir com o empoderamento do Plano, por parte da comunidade, estimulando os atores sociais locais a conhecer o documento, para que possam assumir o compromisso de acompanhar a sua execução.

1. Identifique, na Comissão de Comunicação e Mobilização Social, uma equipe para apoiar em todas as etapas da produção da Cartilha e do Caderno do Território: planejamento, produção e distribuição e definam coletivamente as tarefas de cada pessoa

2. Realize oficinas de educomunicação com diferentes linguagens (fotografia, impresso, história em quadrinho,

design) para envolver a equipe na produção dos textos e da programação visual (diagramação, ilustrações, gráficos,etc.) da Cartilha e do Caderno

3. Planeje e execute a edição final dos produtos

4. Planeje e execute a distribuição da Cartilha e do Caderno do Território em locais e para pessoas consideradas estratégicas

Passo a Passo Para elaBorar a CartilHa do PlaNo e o CaderNo do territÓrio

Caderno do Território

O Caderno do Território conta a história do projeto desenvolvido na comunidade, com uma linguagem lúdica, e com a participação dos atores locais. A ideia é mostrar todos que fizeram parte das atividades e como aquelas ações desenvolvidas fizeram diferença na vida das pessoas, apresentando a identidade do lugar e dando rostos e nomes às informações técnicas.

Para a produção de um caderno bonito, criativo e que expresse de fato a identidade do local onde as ações foram desenvolvidas, é fundamental um banco de dados bem completo e organizado. Se esse banco existir, a diagramação desses dados pode certamente render um bom caderno. É importante que ele contenha fotos, depoimentos, vídeos, registros de pessoas, datas, locais e atividades, entre outras informações consideradas relevantes para identificar melhor a comunidade.

O ideal, no entanto, é que as informações para o caderno sejam coletadas em um trabalho em parceria com a Comissão de Comunicação e Mobilização Social. Ao longo do desenvolvimento do projeto, e nas

ações da Comissão, é importante registrar tudo que o foi executado. As Rodas de Diálogo, por exemplo, geram diversos depoimentos e a construção de conceitos coletivos. Todo esse material pode compor, de alguma forma, o Caderno do Território. Diversas outras atividades dentro da comunidade podem ser executadas para gerar material para o caderno, tais como: caminhadas fotográficas, concurso de redação e festival de desenho com crianças, entre outros.

O Caderno é uma ferramenta importante, ainda, para reconhecer o trabalho dos membros do Comitê Local, assim como o de outras pessoas da comunidade que se destacam por sua atuação e participação nas atividades do projeto. Outros projetos que desenvolvem trabalhos interessantes na comunidade e que são parceiros também podem ter destaque.

É importante que o Caderno do Território tenha uma diagramação limpa, clara e criativa. Ele é uma ferramenta, tanto de divulgação do que foi realizado quando de memória do projeto, voltada para a comunidade. Assim, é preciso que ela se enxergue

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nas páginas do caderno e perceba a diferença que o trabalho realizado fez na vida daquela comunidade. Por isso, a diagramação, os textos e as fotos precisam refletir esse sentimento.

CoNteúdos QUe o CaderNo Pode traZer

Explicação simples sobre o que o governo local pode fazer em termos de políticas de segurança, dando uma dimensão sobre o papel e o limite de atuação possível, no âmbito local, por parte do poder público e da sociedade civil

Entrevistas com membros do comitê local e pessoas de destaque na comunidade

Fotos tiradas ao longo da execução do projeto

Depoimentos colhidos nas diversas atividades

Artigos e/ou textos dos integrantes do projeto sobre aspectos diversos das ações

Conceitos coletivos criados a partir de Rodas de Diálogo

Fotografias, redações e/ou desenhos reunidos a partir de gincanas ou concursos com membros da comunidade (em escolas, projetos, entre outros)

Site e Blog

A internet, na maioria dos casos, é o primeiro lugar ao qual recorremos na busca de informações. Dessa forma, um site sobre o projeto que está sendo executado é uma ferramenta importante para atingir públicos diversos: a comunidade onde as atividades estão acontecendo, os parceiros institucionais, a imprensa, os estudiosos do tema e o público em geral.

Pela velocidade e quantidade das informações diárias, o site precisa ser constantemente atualizado e ter informações completas. É importante que a ferramenta tenha a identidade do projeto, para que a comunidade se enxergue nela, percebendo-se como parte atuante do processo. Para isso, é preciso encontrar um equilíbrio entre informações puramente institucionais e aquelas que representam, de fato, o território onde as ações estão sendo executadas: seus moradores, tradições, paisagens, desafios e sucessos.

O custo de produção de um site varia muito, de acordo com suas especificidades, podendo inclusive ser produzido gratuitamente usando formatos e Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo (CMS)

gratuitos e abertos ao público. Independente do formato escolhido, é preciso planejar bem a ferramenta e suas formas de utilização. Como diversos públicos terão acesso ao portal, ele deve apresentar linguagem simples e ser de fácil navegação. A disponibilização de fotos e vídeos da comunidade ajuda no processo de identificação. O blog também pode ser produzido de maneira gratuita, por meio de diversas ferramentas oferecidas online.

Dentre as páginas ou links sugeridos para a composição de um portal, destacamos alguns:

Página principal Descrição do projeto Notícias Galeria de fotos Galeria de vídeos Calendário de eventos Contato

Durante o processo de planejamento da ferramenta, é importante destacar quem será a pessoa responsável pela atualização das informações e por novas postagens. É importante, a partir da Comissão de Comunicação e Mobilização Social, envolver membros da comunidade na produção de conteúdos para que não seja um espaço totalmente institucional, o que pode ser feito mais facilmente com conteúdos como fotos, vídeos e “posts” em formato “blog” de opinião. Porém, é preciso ter em mente que a quantidade de moderadores/administradores com acesso a área de gerenciamento deve ser reduzida para diminuir a possibilidade de erros.

Atualmente, Wordpress, Drupal, Liferay e Joomla! estão entre os Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo (GSC) mais populares. Para construção de um blog podem ser usadas ferramentas como o Wordpress, Blogspot e Blogger, entre outras disponíveis na

internet.

PáGiNa/liNk É a ligação entre arquivos digitais publicados online. Pode ser de um texto para uma fotografia ou um vídeo, por exemplo. Ao clicar em um link, automaticamente é aberta uma nova página de navegação da internet com o arquivo citado.

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FONte Fonte pode ser o local de onde a informação foi extraída ou a pessoa (fonte de informação) que forneceu os dados e/ou foi entrevistada para construção a de uma notícia.

Redes Sociais

As redes sociais são uma ferramenta poderosa na difusão rápida de informações. As redes se difundiram e alçaram um público diverso e plural. Existem diversas redes sociais com públicos específicos: redes para relacionamento profissional, amoroso ou pessoal, para pessoas que gostam de leitura, para troca de informações sobre assuntos variados e para compartilhamento de arquivos de música, entre outras. Assim, é preciso buscar aquela que atenda melhor o público alvo. Para muitos, inclusive, essas ferramentas se configuram na principal fonte de informação e forma de compartilhamento. Muitos jovens nem chegam mais a acessar e-mails, comunicando-se online por meio das redes sociais.

Assim, para divulgar um projeto ou evento em uma rede, é preciso compartilhar informações direcionadas, buscando e/ou criando grupos de interesse comum, desenvolvendo páginas internas nas redes e diversificando sempre a maneira de compartilhar a informação: imagens, arquivos de áudio, textos e links para outras páginas da internet são alguns exemplos.

Dentre as Redes Sociais online mais populares atualmente estão: Facebook, Twitter, Instagram, Linkdin, entre outras. A plataforma Ning também merece destaque, já que permite a criação de redes sociais individualizadas, com o compartilhamento de conteúdos

específicos.

Newsletter ou Boletim Eletrônico

Informativo periódico, enviado eletronicamente (geralmente via e-mail), para pessoas previamente cadastradas na mala direta do projeto. Seu objetivo é divulgar as ações desenvolvidas, a partir de textos jornalísticos, com depoimentos e fotografias, podendo trazer conteúdo inédito – de preferência – ou um apanhado de notícias e histórias recentes publicadas no site e nas plataformas sociais.

Mosquitinho ou Flyer

O mosquitinho ou flyer é umas das ferramentas de comunicação com menor custo de produção. Muito utilizado para divulgar informações curtas, ele é uma espécie de folder com tamanho reduzido. Geralmente é impresso em preto e branco, com quatro ou seis dele em uma folha de papel tamanho A4. Dessa forma, pode ser copiado e recortado para ser distribuído em locais e para pessoas estratégicas. Em geral, o flyer é um material publicitário pequeno, sem dobras no papel.

divulgação

O site do Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania” (www.segurancacomcidadania.org) é um importante espaço de divulgação. Nele, são publicadas as matérias relativas às ações realizadas nos três municípios participantes, bem como fotografias de todas as atividades. A ansiedade para se ver nas fotos levou os participantes das oficinas, cursos e outros eventos a acessar o site e a divulgá-lo para a sua rede de contatos. Os jovens muitas vezes utilizam essa ferramenta de forma instantânea. Um exemplo foi uma adolescente que participava de uma Roda de Diálogo sobre Convivência e Segurança Cidadã, ao saber do

site, acessou-o imediatamente do seu celular e partilhou com o grupo depoimentos de outros jovens que estavam publicados on-line. Outro destaque do site é o Espaço Cidadão, localizado em sua página principal (home page), que periodicamente homenageia um ator local com sua foto e história. Foi a partir do site, também, que o programa passou a ganhar maior visibilidade na mídia e na sociedade em geral, e os comunicadores passaram a ser acionados com frequência por e-mail e telefone para oferecer mais informações sobre as ações executadas.

Site do Programa Conjunto dinamiza acesso a informações

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Convite

Convites podem ser impressos ou eletrônicos. De formato simples, podem ou não ter dobras no papel. É criado para divulgação dirigida de um evento específico, com informações claras e diretas, tais como: nome do evento, a quem ele é destinado, data, local, hora e como se inscrever (se for o caso). É importante que a diagramação seja feita de acordo com a identidade visual do projeto e que seja atrativa.

Podcast

Podcast é a distribuição de arquivos digitais pela internet. Mais popular para arquivos de áudio, o podcast permite a atualização a cada nova versão publicada.

Folder

Assim como o convite, pode ser eletrônico ou impresso. Pode ser criado para divulgação dirigida de um evento específico, com informações claras e diretas, tais como: nome do evento, a quem ele é dirigido, data, local, hora, como se inscrever (se for o caso). Pode também ter conteúdos atemporais como folderes institucionais ou educativos, com um tema específico. É importante que a diagramação seja feita de acordo com a identidade

visual do projeto. O folder geralmente tem um custo de produção mais alto, pois apresenta uma ou mais dobras e possui uma capa. Para divulgar eventos específicos no folder é possível colocar um conteúdo maior, como a programação completa do evento, mini currículo de palestrantes, texto institucional do projeto, etc.

Bicicleta ou Carro de Som

Muito utilizados em bairros e em cidades do interior, a bicicleta ou o carro de som têm grande alcance, e normalmente, são utilizados para a divulgação de um evento específico. Para isso, é preciso uma gravação em áudio, que traga informações claras e diretas, já que a pessoa que escutar provavelmente não terá como anotar o que está sendo dito. É importante repetir, pelo menos uma vez, as informações chaves, como o nome do evento, data, local e horário. O arquivo de áudio pode ser difundido ainda pela internet, por meio das redes sociais, sites e blogs.

Mailing

O mailing é uma ferramenta fundamental no processo de mobilização e articulação dos diversos atores sociais envolvidos no projeto. Ele reúne contatos das pessoas que,

de alguma forma, possam ter interesse nas atividades executadas. É a agenda de contatos do projeto.

Essa é uma ferramenta que deve ser bem organizada e constantemente atualizada. O mailing pode ser dividido por grupos. Por exemplo: uma pasta para líderes comunitários, uma para professores da região, outra para parceiros institucionais, outra para os principais contatos na imprensa, etc. Sempre que houver uma atividade, é importante que os diferentes grupos de interesse sejam notificados, por meio de e-mail, convite eletrônico contato telefônico e mensagem de celular, entre outros. Diferentes grupos respondem melhor a diferentes formas de contato. Por exemplo: para grupos de jovens, a melhor forma de comunicação podem ser as redes sociais, enquanto alguns membros da comunidade só recebem a mensagem por meio de uma visita pessoal ou de contato por telefone.

Registros de áudio, vídeo e fotos

Os registros audiovisuais – fotografias, vídeos e depoimentos gravados em áudio – são ferramentas comunicacionais versáteis e de fácil assimilação e aceitação. Para apresentação de um conceito para a comunidade, por exemplo, discuti-lo por meio da apresentação de imagens

que promovam o debate pode ser mais produtivo do que a utilização de textos e palestras no modelo tradicional. O registro fotográfico deve estar pautado em todas as atividades executadas, com uma pessoa responsável por isso. É, importante, também para a construção do banco de imagens do projeto, o registro do cotidiano da comunidade na qual as atividades estão acontecendo, com fotos que mostrem as diversas faces da realidade local. Outro tipo de imagem bastante útil é aquela que ilustra as questões abordadas. Por exemplo: se está acontecendo uma atividade sobre separação do lixo para reciclagem, uma boa imagem mostra as pessoas com o lixo separado ou alguém utilizando coletores para resíduos recicláveis.

Para o registro em vídeo é importante uma pauta previamente pensada. Que imagens serão capturadas? Serão realizadas entrevistas? Com quem? Que perguntas serão feitas? As respostas dependem do objetivo do vídeo. De forma geral, é sempre útil ter imagens gerais dos eventos e entrevistas com os participantes e executores da atividade. Vídeos curtos, com depoimentos, podem ser postados rapidamente em sites e redes sociais. Vídeos mais elaborados dependem de um processo de edição.

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Mantenha cópias de segurança dos arquivos para evitar perdas

Organize fotos e vídeos em pastas nomeadas, com referência ao evento, data e nome de quem tirou a foto. A organização de pastas temáticas garante mais agilidade ao trabalho, por exemplo: fotos de lideranças locais, fotos de reuniões, fotos de paisagens da comunidade

Registre sempre imagens em alta qualidade, para o caso de precisar imprimi-las, enviá-las para um jornal impresso ou programa de TV

Ao final de um evento, selecione fotos e vídeos e já elimine imagens repetidas, distorcidas, fora de foco ou mal enquadradas

Mantenha sempre um back-up desses arquivos em locais diferentes (pendrive, HD externo, etc.)

diCas Para a orgaNiZaçÃo dos registros aUdiovisUais

Pense sempre em garantir, acima de tudo, boa qualidade de áudio e imagens do contexto em discussão, para serem usadas como ilustrações das mensagens que serão transmitidas. Elas ajudam, por exemplo, a cobrir eventuais problemas (câmara tremida, iluminação ruim, problema de foco, etc.).

Atualmente, boa parte das câmeras fotográficas também captura vídeos. Até mesmo celulares e outros dispositivos, como tablets, fazem vídeos com qualidade razoável, que podem automaticamente ser postados online. Assim, o processo se torna ágil e interativo. No entanto, é preciso estar atento ao conteúdo do que é publicado, principalmente quando a divulgação se dá por meios oficiais. É preciso ter em mente que a qualidade é mais importante que a velocidade.

Vídeos e fotografias também podem ser usados como elementos pedagógicos. É possível a partir de uma oficina com jovens da comunidade, realizar um vídeo que poderá ser utilizado para divulgação, ou ainda, organizar uma “caminhada” fotográfica e utilizar as fotos depois para uma exposição ou em publicações diversas.

Sempre que possível, é importante a assinatura de um termo de autorização de uso de imagem. Quando as imagens envolvem crianças e adolescentes é fundamental que os responsáveis autorizem o uso da imagem. Arquivos de áudio também se configuram numa ferramenta comunicacional versátil. Podem ser disponibilizados online, com entrevistas, ou serem editados em podcasts sobre assuntos relativos ao projeto.

RELACIONANDO-SE COM A IMPRENSA

Para garantir a visibilidade do projeto e, consequentemente, da temática da Convivência e Segurança Cidadã, planejar e definir estratégias de relacionamento com a imprensa é fundamental. Com o planejamento, aumentam-se as chances de se conseguir contribuir para a qualificação da cobertura da imprensa sobre temas relativos à violência, numa perspectiva de estimular os meios de comunicação a promover uma cultura de paz e de convivência cidadã.

É importante, portanto, que o projeto conte, desde sua implementação a sua finalização, com um trabalho de assessoria de comunicação - serviço prestado em instituições diversas, que engloba todos os aspectos da comunicação, tais como: jornalismo, relações públicas, publicidade e marketing. Já a assessoria de imprensa é um dos setores da assessoria de comunicação que lida diretamente com as redações, enviando sugestões de pautas e fornecendo fontes de pesquisa e de entrevistas, entre outras atividades.

O planejamento da comunicação envolve a assessoria de imprensa e, dessa forma, desde o início do projeto é possível montar um cronograma de intervenções com os veículos de comunicação. Para isso, é preciso analisar as atividades previstas e perceber quais delas têm apelo midiático, que datas comemorativas podem ser utilizadas como ganchos para matérias, que especialistas estão envolvidos e sobre que assuntos eles podem dar entrevistas, entre outras questões.

Dessa forma, o jornalista responsável pelo projeto deve sempre responder algumas questões antes de planejar a divulgação das atividades, tais como: o que devo e o que não devo divulgar? Como farei e pra quem? Quando devo divulgar? É preciso atenção e parcimônia na seleção do que será divulgado. Como as redações recebem centenas de sugestões de pauta diariamente, assessorias de imprensa que enviam releases a todo o momento perdem credibilidade com repórteres e editores.

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mídia

A mídia pode ser tanto uma aliada, como trabalhar na contramão dos processos que estão sendo desenvolvidos. Em Vitória (ES), duas matérias divulgadas sobre o trabalho desenvolvido pelo Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania” na região de São Pedro mostram como o relacionamento é delicado e precisa ser constantemente trabalhado. No dia 27 de agosto de 2012, um dos mais importantes jornais de circulação estadual trouxe na capa da editoria de Cidades uma matéria com o seguinte título: São Pedro, Lugar onde mora a Violência. A reportagem continha dados do Diagnóstico Integral e Participativo da região. No entanto, o documento trazia dados relativos aos anos anteriores (2006 a 2010) e o repórter não foi em busca de dados atualizados – que apontavam para uma redução significativa do número de homicídios na região. Assim, uma matéria de cunho extremamente negativo, e fora de contexto, foi publicada, causando reclamações de diversos setores locais envolvidos nas atividades do Programa, especialmente do Governo Estadual, da Prefeitura e da Polícia Militar. A assessoria de comunicação do Programa deu início, então, a um trabalho de entendimento

entre os diversos atores envolvidos. Foram passados, em parceria com a PM, os dados atualizados da situação de homicídios na região, explicando, novamente, o contexto do diagnóstico e sua metodologia, as ações que estavam sendo tomadas no decorrer dos últimos anos para combater a situação e, ainda, as atividades do Programa da ONU e o Plano Local de Convivência e Segurança Cidadã que acabara de ser lançado. Nos dias que se seguiram a publicação da matéria, o jornal não publicou nenhuma informação complementar sobre a reportagem. Para o Dia Mundial da Paz, celebrado em 21 de setembro, foi realizada uma grande ação com a imprensa para o lançamento do site do Programa. Assim, diversas redações foram visitadas e diferentes pautas sugeridas. Uma delas foi a redução do número de homicídio na região. Então, neste dia – menos de um mês depois da publicação da primeira reportagem – o mesmo jornal divulgou uma matéria de página inteira com o seguinte título “São Pedro: Homicídios caem pela metade”. A matéria, com tom positivo, trazia moradores da comunidade como personagens, destacava a atuação da PM e abordava a atuação da ONU na região.

Na contramão dos fatos: o papel da assessoria de imprensa

O planejamento da comunicação deve incluir uma apresentação inicial do projeto para os veículos de comunicação, que pode ser feita através de uma coletiva de imprensa ou de uma visita às redações. Esse é o momento de repórteres e editores conhecerem o projeto e saberem que tipo de matéria eles poderão realizar a partir dele. A entrega de um

presskit contendo informações gerais do projeto e de suas atividades é recomendada nesse primeiro contato. O relacionamento com os jornalistas deve se manter ao longo de toda a execução do projeto, mesmo durante períodos sem execução de atividades com peso para divulgação, processo que é conhecido como follow up.

a COletiva De iMPreNSa

É uma entrevista, geralmente agendada pela assessoria de imprensa, que reúne diversos veículos em um único momento para a divulgação de informações sobre um determinado assunto.

PreSS kitÉ um material preparado para repórteres e/ou editores que apresenta diferentes informações sobre determinado assunto. Normalmente constitui-se de uma pasta com release, outros textos sobre o tema, dados, tabelas, gráficos, sugestões de fontes, dicas de pautas, arquivo digital com fotos e/ou vídeos.

FOllOw UP

É o processo de acompanhamento do envio de um release ou press kit. Consiste em fazer contato com os repórteres e/ou editores para os quais o material foi enviado, checando o recebimento correto e a necessidade de agendamento de entrevistas ou de complementação dos dados.

O relacionamento profissional com repórteres e editores deve ser constante – e não se dar apenas em momentos de divulgação de atividades

O jornalista responsável pelo projeto deve se tornar uma fonte sobre a temática da Convivência e Segurança Cidadã

Quanto mais completo for o release, menos trabalho o repórter terá, as chances de erro serão reduzidas e a probabilidade de a matéria seguir por um caminho fora do esperado será reduzida

“Enxurrada” de releases nas caixas de entrada de repórteres e editores diminui a credibilidade da assessoria. É mais produtivo enviar menos releses, porém mais completos e com pautas realmente interessantes para divulgação

Datas comemorativas que tenham relação com o projeto são bons momentos para uma divulgação mais ampla, com pautas bem produzidas. No entanto, o trabalho tem que ser planejado e feito com antecedência

É preciso estar atento aos prazos dos diferentes veículos. Em média, um release deve ser enviado com três a cinco dias de antecedência da data de publicação. Revistas, no entanto,

geralmente precisam de um prazo maior, assim como programas televisivos semanais. Importante, também, ter em mente os horários de encerramento de cada veículo, evitando contato com jornalistas/editores na hora do “fechamento”

Um banco de fotos e vídeos com temática correlata ao projeto auxilia no processo de divulgação. Uma boa imagem pode garantir uma matéria de capa

Um banco de dados completo e atualizado também é importante. A análise e o cruzamento de dados, por si só, pode gerar pautas interessantes

As informações devem ser transmitidas de forma precisa e direta, com honestidade e transparência, para a geração de um relacionamento profissional baseado no respeito e na confiança entre assessoria de imprensa e redações

Recomenda-se a criação de oportunidades para debates com os jornalistas sobre a cobertura de determinados assuntos, para garantir um maior embasamento na geração de notícias

diCas Para maNter Um Bom relaCioNameNto Com a imPreNsa

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Dentro do planejamento de comunicação deve haver um levantamento dos veículos de comunicação locais (os comunitários que atuam somente no território de execução do projeto), veículos de maior circulação (meios de comunicação de alcance estadual e nacional) e veículos e programas específicos do tema do projeto (em um projeto sobre segurança pública executado num território específico, por exemplo, deve-se procurar por revistas, programas de rádio e TV e portais de internet, entre outros, que trabalhem temas como segurança ou comunidades).

Um mapeamento da imprensa pode reunir todos estes dados e auxiliar na leitura dos veículos mais adequados para a mensagem que se quer passar.

Outra atividade que deve estar no planejamento da assessoria de imprensa é a criação do mailing do projeto. Esse mailing deve ser atualizado constantemente, com atenção para novos veículos e mudanças nas redações (algo que acontece com bastante frequência).

Para acompanhar o que vem sendo noticiado na mídia, tanto no que se refere às temáticas ligadas a violência e segurança pública, quanto

ao que se refere diretamente ao projeto em execução no território, um instrumento importante de ser criado e alimentado continuamente é o clipping. Ele contribui, também, com a sistematização da experiência, pois traz a memória das ações realizadas ao longo da execução do projeto. O clipping também é um indicador importante no processo de monitoramento e avaliação das Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social implementadas.

O clipping é um arquivo digital ou impresso que reúne as notícias publicadas nos diversos meios de comunicação (TV, rádio, revistas, jornais, internet) sobre um determinado assunto – que pode ser um tema específico, uma empresa, uma pessoa, uma orga nização, etc. É importante que ele apresente a data, o nome do veículo, a seção e/ou editoria na qual a matéria foi publicada e o link para acesso - caso a notícia esteja disponível online. Pode ser facilmente criado por meio de alertas em sites de busca como o serviço Google Alerts ou Alertas Google.

Vale ressaltar, ainda, no que tange à comunicação externa, a importância de se desenvolver ações de advocacy com o intuito de estimular, por parte

MailiNG É uma lista de

contatos de veículos de comunicação.

Contém os contatos (telefone, site,

e-mail, endereço) dos veículos (jornais,

revistas, emissoras de rádio e de TV) e

dos profissionais (radialistas,

repórteres, editores). É interessante que o mailing seja dividido

por tipo de mídias (rádio, impresso, TV,

revistas) e subdivido por editorias (cultura,

segurança, política, esportes, etc.). Desta forma, fica mais fácil direcionar o envio de

releases e pautas.

da imprensa, uma cobertura mais qualificada e propositiva acerca da temática da violência e de inserir a temática da Convivência e Segurança Cidadã na pauta dos candidatos às eleições municipais. Como advocacy implica em influência para a mudança de políticas e práticas, com ajuda da imprensa é possível constituir um dossiê temático – com dados e fatos

convincentes – e, também, com seu poder de influência, atuar diretamente na mudança do posicionamento de políticos e autoridades governamentais. A realização de uma capacitação de Convivência e Segurança Cidadã para os profissionais da imprensa é uma das ações apontadas com este propósito.

Passo-a-Passo Para realiZar Uma CaPaCitaçÃo de CoNvivÊNCia e segUraNça Cidadà Para a imPreNsa

1. Defina uma pré-proposta: quais os possíveis especialistas que podem conduzi-la; qual o formato ideal; quais os objetivos; quais os possíveis produtos; qual o perfil ideal dos profissionais a serem capacitados

2. Mapeie os veículos de comunicação locais e organize uma relação de contatos (mailing) dos seus dirigentes. É importante neste momento priorizar os veículos cuja abordagem de fatos ligados à questão da violência seja considerada inapropriada por reforçar estereótipos, utilizar sempre as mesmas fontes de informação e exibir imagens explícitas de atos violentos, desrespeitar a legislação a exemplo do que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outras questões

3. Entre em contato com os dirigentes dos veículos para apresentar uma proposta inicial. É muito importante consultá-los sobre o melhor formato da oficina, para garantir a presença dos jornalistas, radialistas e demais profissionais da imprensa, pois, como as redações costumam ter números reduzidos de profissionais e uma rotina de produção intensa, é bastante difícil conseguir reuni-los em capacitações. Mini-oficinas de duas a três horas de duração dentro da própria redação costuma ser a melhor opção

4. Obtenha um perfil detalhado do veículo de comunicação e, se possível, dos profissionais que irão participar da oficina; esta é uma boa estratégia para garantir a qualidade da formação, tendo em vista o curto tempo que se tem para realizá-la.

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Indica-se, também, que o conteúdo de Convivência e Segurança Cidadã seja transmitido de forma objetiva, para além do âmbito estritamente acadêmico, pois é interessante que os profissionais compreendam como podem cobrir fatos violentos, por exemplo, de uma forma mais aprofundada, propositiva, indo além da simples denúncia ou da reprodução do Boletim de Ocorrência enviado pela polícia

5. Produza um material de suporte para ser entregue aos profissionais durante a capacitação que contenha

indicação de fontes para entrevista, dados estatísticos sobre o tema, orientação de fontes de pesquisa para aprofundar a temática e de personagens (histórias de vida marcantes que contribuam para “humanizar” a cobertura jornalística)

6. Elenque dicas sobre estereótipos e expressões a serem evitadas, bem como dicas de como a imprensa pode, de forma pragmática, ajudar a mudar para melhor a realidade das comunidades. Sensibilizar os jornalistas sobre o papel que exercem é fundamental

Jovens na tv

Em Lauro de Freitas (BA), a Divulgação do Dia Internacional da Paz e o lançamento do site do Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania” foi uma ação articulada que envolveu diferentes públicos e teve grande repercussão. Radialistas de veículos comunitários e comerciais participaram de um café da manhã. Além de conhecerem mais sobre o Programa e sua temática, os profissionais de mídia foram convidados a refletir sobre o seu papel na disseminação de uma cultura de paz no município. Convite que foi feito com um recurso aparentemente simples, porém bastante eficaz: a exibição do vídeo documentário da Peace One Day, organização não-governamental da Grã-Bretanha. Em menos de 4 minutos, o documentarista independente Jeremy Gilley conta como transformou sua angústia em ver tantos atos violentos espalhados pelo mundo em uma ação concreta, que se tornou crucial para estimular a criação do Dia Internacional da Paz, decretado pela ONU em 21 de setembro de 2001, como um momento de cessar-fogo e interrupção de conflitos armados e atos violentos em todo o mundo. “Incrível como a atitude de uma pessoa pôde trazer tanto impacto. Quero pensar formas de fazer isso aqui na comunidade”, destacou o radialista Paulo Sérgio, da Rádio Panorama FM. A ação também envolveu visita a alguns dos principais veículos da grande mídia baiana para falar pessoalmente com os seus dirigentes. Durante a conversa, foi possível estimulá-los a noticiar a violência sobre outros ângulos, a “olhar” e “divulgar” os jovens moradores de Itinga não como números estatísticos frios e impessoais,

geralmente relacionados à realização de atos violentos, mas como meninos e meninas com nome, idade, história, raiz. Isso foi feito a partir de exemplos práticos: as chamadas “pautas jornalísticas”. Uma delas divulga projetos educacionais voltados para adolescentes e jovens de Itinga. Um dos resultados desta ação foi a veiculação pela TV Bahia (filial da Rede Globo de Televisão) no programa Bahia Meio Dia, de uma matéria na qual meninos e meninas de Itinga, e de outros bairros de Lauro de Freitas, tiveram a oportunidade de falar. Sim, de falar – mesmo que em poucos segundos – o nome deles e a mensagem que traziam para um mundo melhor, com menos violência. Uma mensagem de paz. Foram falas como a de Michelly Matos, 12 anos: “Talvez algumas pessoas não reconheçam a importância deste momento, mas a paz é essa construção nos pequenos instantes da nossa vida. É viver bem consigo mesmo, com o meio, com os outros e deve ser cultivada todos os dias”, que ecoaram para milhares de telespectadores. Apesar de não ser possível aferir quantos dos 90 mil habitantes de Itinga escutaram essas vozes, é possível ter uma ideia do impacto que causaram estes poucos segundos. As palavras do coordenador do Gabinete de Gestão Integrada do Município de Lauro de Freitas e Ponto Focal do Programa Conjunto no período de 2010 a 2012, José Carlos Arruti, comprovam: “Só quem caminha pelas ruas de Itinga, que conhece esse lugar, sabe o quanto foi importante para a comunidade ver os seus jovens falando na televisão, na Rede Globo, falando de paz, pedindo paz”.

Dia Internacional da Paz: um exemplo de mobilização da imprensa

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MONITORANDO E AVALIANDO OS RESULTADOS

As ações de monitoramento e avaliação são fundamentais num processo de implementação de Diretrizes de Comunicação e Mobilização Social e devem ser realizadas ao longo de todo o processo e sistematizadas ao final. É importante lembrar que, no momento de elaboração do Plano de Ação de Comunicação e Mobilização Social, deve-se estabelecer metas e indicadores de avaliação para cada resultado esperado, tanto em termos quantitativos, quanto qualitativos.

Abaixo, apontamos alguns possíveis instrumentos e indicadores que podem ser utilizados para aferir o impacto das ações e estratégias utilizadas.

Realização de reuniões periódicas da equipe para planejamento, reflexão e ajustes

Elaboração e envio de questionários de avaliação, do formato e conteúdo dos produtos de comunicação

Implementação de ferramentas de interatividade no site para avaliar as ações de comunicação do projeto (Ex.: enquetes)

Aferição do nível de recepção dos produtos por meio de depoimentos

Número de acessos registrados no site do projeto

Número de inserções na mídia das temáticas relativas ao projeto

Número de inserções na mídia de matérias sobre o projeto e seus realizadores

Número de inserções de mídia espontânea (contatos feitos por profissionais da imprensa sem contato prévio feito pela assessoria)

Demandas da imprensa atendidas pelo jornalista responsável pelo projeto

O QUE A PRÁTICA ENSINA?Assim como as demais competências desenvolvidas localmente no âmbito da Convivência e Segurança Cidadã, a Comissão de Comunicação e Mobilização Social constitui-se em uma instância que manterá sempre em evidência a necessidade de ação permanente para o fortalecimento e a ampliação das conquistas realizadas em prol da construção de uma cultura de paz. A Comissão, quando formada de modo participativo, possibilita a busca de alternativas coletivas para a continuidade da promoção do diálogo entre setor público e comunidade.

Neste Guia, foi apresentada uma metodologia para o desenvolvimento de Diretrizes locais de Comunicação e Mobilização Social de Convivência e Segurança Cidadã que garanta que a prática de comunicação e mobilização social seja transversal ao projeto, desde a elaboração até sua implantação. A Comissão de Comunicação e Mobilização Social, enquanto instância animadora deste processo, tem um papel fundamental para garantir a governança desta política local que, ao ser apropriada pelo poder público e pela sociedade civil e compreendida como responsabilidade de todos, garante a sustentabilidade do projeto.

PROGRAMA CONJUNTO INDICA

Experiências em Comunicação e Mobilização Social• A Voz das Comunidades (www.vozdascomunidades.com.br)• Nordeste eu Sou (www.nordesteeusou.com.br)• Agência de Comunicadores para o Desenvolvimento do Subúrbio Ferroviário de Salvador• Viva Favela (www.vivafavela.com.br)

Vídeos Interessantes• Intervozes – Levante sua voz. www.youtube.com/watch?v=gf3Votr52QQ• Anima Mundi – Media. www.youtube.com/watch?v=EFNndi3122M

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BRAGA, Clara S.; HENRIQUES, Márcio S.; MAFRA, Rennan L. M. O Planejamento da comunicação para mobilização social: em busca da corresponsabilidade. In: HENRIQUES, Márcio S. (org.). Comunicação e Estratégias de Mobilização Social. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELL (CEBDS). Guia de Comunicação e Sustentabilidade. Rio de Janeiro, 2012.

CORREIA, MARIA VALÉRIA COSTA. Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.isp.rj.gov.br/revista/download/Rev20120302.pdf. Acesso em: 18 de dezembro de 2012.

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REIS, Sávio Robson. Observatório da Imprensa. Caderno da Cidadania, ano 17, nº 728. Em 08/12/2009, edição 567. Segurança Pública – Mídia, violência e direitos humanos.

SOARES, Ismar de Oliveira. Comunicação/Educação, a emergência de um novo campo e o perfil de seus profissionais, in Contato, Revista Brasileira de Comunicação, Arte e Educação, Brasília, ano 1, n.2, jan/mar. 1999, p. 5-75.

SOUZA, H. J. Como se faz análise de conjuntura. 11a ed. Petrópolis: Vozes, 1991. 54p.

TASSARA, Eda. Dicionário Socioambiental: idéias, definições e conceitos. São Paulo: FAART, 2008.

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Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoCasa das Nações Unidas no Brasil

Complexo Sergio Vieira de Mello - Módulo ISetor de Embaixadas Norte, Quadra 802 - Conjunto C, Lote 17

Brasília – DF CEP: 70800-400Telefone: + 55 (61) 3038-9300

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