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GUIA-INTÉRPRETE E INSTRUTOR-MEDIADOR: PECULIARIDADES DO

TRABALHO COM ALUNOS SURDOCEGOS EM SALA DE AULA E NO

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

Autora: Shirley Alves Godoy1

Orientadora: Drª Célia Regina Vitaliano2

RESUMO:

O presente artigo resulta do aprofundamento de conhecimentos possibilitado pelo Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE e apresenta as ações que fundamentam e embasam teórico-metodologicamente a inclusão educacional de uma aluna com surdocegueira, relatando a elaboração e estruturação de um serviço de apoio que atende às necessidades da aluna. Focando junto aos envolvidos a clareza quanto às funções necessárias a serem desempenhadas pelos profissionais que atuam junto à aluna, seja como instrutor-mediador ou guia-intérprete, profissionais considerados importantes junto a esse público, objetivando um serviço adequado e o desenvolvimento do processo ensino aprendizagem.

Palavras Chaves: Surdocegueira; Instrutor-Mediador; Guia-Intérprete;

1. INTRODUÇÃO

"Sinto que uma vida intensa se desenvolve ao meu redor e anseio participar dela como

todos os seres humanos" (Olga Ivanova Skorokhodova 1914-1987),.

Minha trajetória na Educação Especial teve início há trinta anos como

voluntária em uma instituição, quando pelo período de um ano acompanhei uma

aluna com Síndrome de Rett3 e deficiência mental/intelectual associada. Na época,

1 Shirley Alves Godoy - Especialista em Educação Especial, Pedagoga, Professora PDE. Guia-intérprete,

Instrutora-Mediadora, Colégio Estadual Hugo Simas – Ens., Fund. e Médio. 2 Célia Regina Vitaliano - Doutora em Educação pela UNESP – Campus de Marília (2002). Mestre em

Educação Especial pela UFSCAR (1993). Graduada em Psicologia (1986) pela UEL. Docente do Departamento de Educação da UEL

3 Síndrome de Rett- Transtorno descrito até o momento unicamente em meninas, caracterizado por um

desenvolvimento inicial aparentemente normal, seguido de uma perda parcial ou completa de linguagem, da marcha e do uso das mãos, associado a um retardo do desenvolvimento craniano e ocorrendo habitualmente

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desenvolvi atividades referentes aos cuidados básicos de higiene e alimentação,

como também inibição da postura inadequada da aluna em colocar ambas as mãos

na boca.

A aluna não verbalizava palavras que apresentassem um sentido ou

coerência, e a comunicação estabelecida entre ela e mim consistia no contato visual;

percebia através de seu olhar quando sentia fome, medo, dor, satisfação e alegria.

Essa experiência foi para mim muito significativa, porquanto o nome da

aluna e aquele olhar tem me acompanhado até os dias atuais, mobilizando-me a

construir minha história profissional como professora de Educação Especial junto

aos alunos com necessidades educacionais especiais e induzindo-me a percorrer

caminhos jamais cogitados, principalmente na opção pelo magistério, como também

a aceitar o convite para trabalhar em uma escola especial - APAE. Atuei durante 14

anos na instituição, lidando com as áreas da deficiência mental/intelectual, visual e

auditiva/surdez.

Ao longo dos anos, como professora de alunos com necessidades

educacionais especiais (NEE), fui participando ativamente de capacitações que

pudessem solidificar minha experiência profissional. Sempre procurei estar

comprometida com a questão da deficiência, buscando respostas aos numerosos

desafios vividos ao longo da carreira.

No final de 2001, fui convidada a trabalhar no Setor de Educação Especial

do Núcleo Regional de Educação/NRE de Londrina. Passei a compor o quadro de

profissionais responsáveis pelas avaliações dos alunos da rede estadual que

apresentavam indícios de deficiência mental/intelectual e incumbida de coordenar a

área da deficiência visual, visto que era a única com formação; essa experiência

entre 7 e 24 meses. A perda dos movimentos propositais das mãos, a torção estereotipada das mãos e a hiperventilação são características deste transtorno. O desenvolvimento social e o desenvolvimento lúdico estão detidos enquanto o interesse social continua em geral conservado. A partir da idade de quatro anos manifesta-se uma ataxia do tronco e uma apraxia, seguidas frequentemente por movimentos coreoatetósicos. O transtorno leva quase sempre a um retardo mental grave.CID 10 F84.2

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possibilitou-me aprender a lidar melhor com a pessoa cega e a conhecer melhor seu

universo.

Em 2006, ao ser convocada a participar de um curso de capacitação

ofertado pela Secretaria de Estado da Educação/SEED pelo Departamento de

Educação Especial e Inclusão Educacional/DEEIN - Fundamentos Teórico-

Metodológicos para atendimento aos alunos surdocegos –, deparei-me com a

área da Surdocegueira, até então desconhecida para mim; impressionaram-me a

metodologia e os meios de comunicação utilizados.

Após aquele curso, decidi que também trabalharia com educandos com

surdocegueira e, com esse intuito, realizei um levantamento junto às escolas

especiais pertencentes aos municípios jurisdicionados ao NRE/Londrina, objetivando

a identificação desse alunado.

A partir desse trabalho, com o apoio e a sensibilidade da coordenadora da

área visual, que naquele momento respondia também pela Surdocegueira no

DEEIN, foi possível implantar em Londrina, em 2007, um Centro de Atendimento

Especializado na área da Surdocegueira/CAE-SC, visando oferecer apoio

especializado a uma população que, até aquele momento, não recebia atendimento

específico para as suas necessidades, iniciando-o com dois alunos. Para isso,

buscou-se como referencial o mesmo atendimento ofertado ao deficiente visual em

Centro de Atendimento Especializado na área visual/ CAE-DV.

Para maior compreensão do exposto acima, faz-se necessário mencionar o

significado de Centro de Atendimento Especializado/CAE, segundo a legislação do

Estado do Paraná, que consiste em:

Serviço de natureza pedagógica, desenvolvido por professor habilitado ou especializado em educação especial ofertado a alunos com necessidades educacionais especiais matriculados na educação básica. A finalidade desse serviço será a de oferecer apoio à escolarização formal do aluno e/ou possibilitar o acesso a línguas, linguagens e códigos aplicáveis, bem como a utilização de recursos técnicos, tecnológicos e materiais, equipamentos

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específicos, com vistas a sua maior inserção social. O atendimento nesse serviço tem início na faixa etária de zero a seis anos e realiza-se em escolas, em salas adequadas, podendo estender-se a alunos de escolas próximas, nas quais ainda não exista esse atendimento. Pode ser realizado individualmente ou em pequenos grupos, para alunos que apresentem necessidades educacionais especiais semelhantes, em turno contrário, caso frequentem a classe comum. (Del. 02/03, PORTARIA N.º 22/00-CEE).

A partir dessa ação, passei então a coordenar a área da surdocegueira no

NRE/Londrina.

No final do ano de 2008, uma família residente no município procurou-me

solicitando para o ano seguinte uma vaga de matrícula para a 5ª série/6º ano do

ensino fundamental em escola da rede estadual para a filha deficiente visual que

também utilizava aparelho auditivo.

Percebendo poder tratar- se de um caso de surdocegueira, solicitei aos pais

da aluna laudos médicos que pudessem confirmar ou descartar a hipótese que havia

levantado como também buscar subsídios que me ajudassem a construir o processo

de inclusão de uma aluna surdocega no ensino regular, sendo então a primeira

experiência no estado. Dessa forma, foi a partir do atendimento desse caso que se

organizaram os objetivos previstos no presente artigo que consistem no

esclarecimento dos papéis dos profissionais: instrutor- mediador e guia-intérprete.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 – Educação Inclusiva

A proposta de educação inclusiva tem como objetivo fundamental a

construção de uma sociedade mais humana, fraterna e solidária; para tanto, visa

minimizar qualquer tipo de preconceito e de exclusão que possam ocorrer durante o

processo educacional, maximizando a participação tanto individual quanto coletiva

de todos os atores do processo educativo, independente de condições de gênero,

raça, credos religiosos, socioeconômicas e características pessoais.

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Baseando-se nesses princípios:

As propostas inclusivas são revolucionárias, pois almejam, incondicionalmente, uma estrutura social menos hierarquizada e excludente, tendo como base o argumento de que todos temos o mesmo valor, pelo simples fato de sermos humanos. E que, por isso mesmo, todos precisamos ser considerados e respeitados em nossa maneira subjetiva e única de existir. (SANTOS; PAULINO, 2008, p.12).

Segundo Ferreira, (2005, p.40-46) o processo de inclusão na escola

representa:

Há um consenso que inclusão implica em celebrar a diversidade humana e as diferenças individuais como recursos existentes nas escolas e que devem servir ao currículo escolar para contribuir na formação da cidadania. Diversidade e diferenças constituem uma riqueza de recursos para a aprendizagem na sala de aula, na escola e na vida.

Com relação aos educandos que apresentam surdocegueira, quando os

sentidos da visão e da audição encontram-se seriamente comprometidos, as

dificuldades relacionadas à aprendizagem e à adaptação ao meio ambiente

multiplicam- se. A ausência desses sentidos limita a ação do indivíduo, resultando

na privação de sua motivação e na exploração ao meio. Faz-se necessário encorajá-

los a desenvolver procedimentos alternativos de aprendizagem, neutralizando suas

dificuldades e estabelecendo alguma comunicação com o outro.

2.2 - CARACTERIZAÇÃO DA SURDOCEGUEIRA

2.2 1- Terminologia e definição:

A terminologia “surdocegueira” é bastante discutida pelos profissionais que

atuam nessa área, sofrendo muitas alterações conforme relata Sierra, (2010, p. 22):

A definição da condição humana de surdocegueira é bastante recente. Anteriormente, mais precisamente até 1991, as pessoas com comprometimento de visão e de audição eram identificadas como deficientes multissensoriais, ou pessoas com dificuldades sensoriais duplas e até múltiplas. Não havia, até então, uma compreensão de que pessoas

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com tal comprometimento necessitavam de um atendimento diferenciado e que se tratava de uma deficiência única.

Temos ainda outras denominações:

A surdocegueira, com o passar dos anos, recebeu várias denominações como Dificuldade de Aprendizagem Profunda e Múltipla (DAPM), Múltipla Deficiência Severa, Cego com Deficiência Adicional, Múltipla Privação Sensorial (MPS), Dupla Deficiência Sensorial e, finalmente, surdocegueira (FREDERICO. 2006 p.20).

Alguns países adotam o termo hifenizado surdo-cegueira; todavia, o termo

hifenizado indica a soma das dificuldades da surdez e da cegueira, enquanto que a

nomenclatura surdocego e surdocegueira sem o hífen reconhece como deficiência

única, sugerida em 1991 por Salvatore Lagati, do Serviço da Consultoria Pedagógica

em Trento, Itália;

O termo surdocego e surdocegueira sem hífen, foi proposta por Salvatori Lagati em 1991, que defendeu na IX Conferencia Mundial em OREBRO- Suécia, a necessidade do reconhecimento da surdocegueira como deficiência única. Para (Lagati, 1995) a terminologia Surdocego sem hífen se deve a condição de que ser surdocego não é somente a somatória da deficiência visual e da deficiência auditiva e sim de uma condição única que leva a pessoa a ter necessidades específicas para desenvolver comunicação, orientação e mobilidade e de acessar informações sobre o mundo para conquistar a autonomia pessoal e inserir-se no mundo. Assim, ao aceitar esta terminologia temos que levar em consideração as necessidades reais da criança, jovem ou adulto com surdocegueira (MAIA, 2008, p. 11).

A terminologia surdocegueira sem o hífen passou então a ser adotada para

os idiomas espanhol, inglês e português.

Dentre as definições aceitas pelos especialistas que lidam com a área,

podemos citar a organizada pelo Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo

Sensorial, uma rede nacional criada por profissionais, pais e pessoas com

surdocegueira em 1997, como podemos observar a seguir.

É uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus, levando a pessoa surdocega a desenvolver diferentes formas de comunicação para entender e interagir

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com as pessoas e o meio ambiente, proporcionando-lhes o acesso a informações, uma vida social com qualidade, orientação, mobilidade, educação e trabalho. (GRUPO BRASIL, 2003, p.01).

Quanto à época do surgimento da Surdocegueira, podemos classificá-la

como Surdocegueira Pré-línguística ou congênita e Surdocegueira Pós-linguística ou

adquirida.

2.3 – CLASSIFICAÇÃO DA SURDOCEGUEIRA

2.3 1 - Surdocegueira Pré-linguística ou Congênita

Surdocegueira Pré-linguística ou congênita ocorre quando há perda visual e

auditiva antes da aquisição de uma língua, seja ela oralizada – Língua Portuguesa

ou visual espacial – Língua Brasileira de Sinais/LIBRAS. Maia (2008, p. 12) define

como:

Surdocegueira pré-linguística é a terminologia adotada para identificar pessoas que nascem surdocegas ou adquirem a surdocegueira na mais tenra idade, ou seja, antes da aquisição de uma língua (português ou Língua Brasileira de Sinais). Também conhecida como surdocegueira congênita, caracterizada pela perda da visão e audição durante a gestação. (MAIA, 2008, p. 12).

A criança surdocega pré-linguística ou congênita não adquire uma imagem

real do mundo em que vive, não aprende com as pessoas que convive, pois não

sabe o que tem o que se passa e nem sequer tem consciência que faz parte do

mundo, vivendo num eterno caos. Sem intervenção, seu mundo se resume ao seu

próprio corpo, nada existe fora de si mesmo, não há razão para explorar e

comunicar-se.

Ainda conforme as orientações da mesma autora poderíamos dizer que

essas pessoas têm como características movimentos estereotipados, principalmente

das mãos e dos dedos, apresentam balanceio corporal, isolam-se do mundo

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demonstrando desinteresse pelas pessoas, objetos e pelo ambiente, ao serem

tocadas reagem com agressividade, demonstrando defesas táteis, possuem

dificuldades na locomoção, apresentam distúrbios alimentares, utilizam os outros

sentidos, tato, olfato e paladar, levam objetos próximo aos olhos ou à boca, não

percebem e nem diferenciam sons.

2.3 2 - Surdocegueira Pós-linguística ou Adquirida

Segundo Maia (2008 p. 12), a Surdocegueira Pós-linguística ou adquirida

ocorre em indivíduos que apresentam uma deficiência sensorial primária (auditiva ou

visual) e no decorrer de sua existência adquire a outra, após a aquisição de uma

língua (Língua Portuguesa ou Língua de Sinais), como também ocorre a aquisição

da surdocegueira sem outros antecedentes. Segundo denominação: “Surdocegueira

pós-linguística é utilizada para designar pessoas, crianças, jovem ou adulto, que

adquirem a surdocegueira após a aquisição de uma língua (português ou LIBRAS)”.

Nesse caso, os surdocegos pós-linguísticos podem ser classificados nas

situações a seguir:

Cegos congênitos com surdez adquirida, como por exemplo:

pessoa com catarata congênita e diabetes em idade juvenil ou adulta.

Surdos congênitos com cegueira adquirida, como por exemplo:

pessoas com Síndrome de Usher4.

Surdocegueira adquirida, neste caso encontrado em pessoas que

sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC), choque anafilático por uso de

medicação ou acidente de trânsito.

4 A Síndrome de Usher é um grupo de doenças hereditárias (autossômicas recessivas) caracterizada por surdez

neurosensorial com ou sem disfunção vestibular e Retinose Pigmentar.

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Essas pessoas apresentam dificuldade em participar de conversação ou

jogos em grupos, não percebem pessoas e objetos ao seu redor, possuem

dificuldades em ver e se movimentar no escuro, derrubam objetos de mesas e não

percebem quando caem, apresentam fotofobia, isto é, as luzes intensas atrapalham,

não sentem quando pessoas e meios de transportes aproximam-se pelos lados

2.4.– CARACTERIZAÇÃO DO ATENDIMENTO AOS ALUNOS COM

SURDOCEGUEIRA

Para atender aos alunos surdocegos, as escolas necessitam desenvolver,

além do currículo formal baseado nas atividades tradicionais da escola (conceitos

básicos de matemática, leitura e escrita, etc.), um currículo com objetivos funcionais

adequados à faixa etária e às necessidades específicas desses educandos.

Segundo Frederico, (2006, p.12-13) com relação à surdocegueira:

Os métodos e técnicas para o aprendizado do surdocego são específicos, pois essa é uma deficiência única, que requer práticas próprias, metodologias e técnicas diferenciadas que atendam suas especificidades, diferentes das utilizadas para a cegueira e para a surdez. Assim, é indispensável que se utilize uma abordagem curricular apropriada para atender a criança com surdocegueira. O currículo funcional ou ecológico vem ao encontro do atendimento de suas demandas diferenciadas de aprendizagem e das necessidades de cada individuo no tocante à saúde, educação e comunicação, pois sua abordagem contempla, de forma abrangente, as prerrogativas mínimas indispensáveis à sobrevivência social do indivíduo surdocego.

Segundo Maia, nesse processo, os ambientes deverão ser adequados à

diversidade dos alunos, ou seja, isentos de barreiras arquitetônicas, adaptados em

termos visuais e sinalizados com referências indicativas do local. Para isso, faz-se

necessário utilizar materiais apropriados às necessidades do educando, tais como

cores contrastantes, texturas diferenciadas, objetos de referência que facilitem a

identificação dos locais pelos educandos e sua mobilidade nesses espaços.

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A proposta do trabalho é organizar a educação de maneira sistemática,

utilizando técnicas e recursos que ajudem o surdocego a formar a imagem mental do

mundo, simbolizar conceitos e estabelecer a comunicação.

O currículo modificado de acordo com suas necessidades específicas nem

sempre deverá seguir normas acadêmicas do currículo tradicional, mas sim adequar

atividades funcionais de acordo com o desenvolvimento do aluno.

A aprendizagem ocorre de maneira diferenciada para todos os indivíduos e

no caso do educando surdocego, as estratégias de ensino irão possibilitar vivências

significativas para a aquisição do conhecimento.

Registros históricos mencionam que várias pessoas surdocegas

conseguiram aprender a ler e escrever, bem como conseguiram terminar o ensino

superior. O caso mais conhecido foi o de Helen Keller, que havia sido educada pela

professora Anne Mansfield Sullivan desde os sete anos de idade, em 1887.

Outros casos de pessoas surdocegas que obtiveram êxito acadêmico podem

ser encontrados na literatura; entretanto, os registros não são precisos do que foi e

de como foi realizada a prática pedagógica, nem fazem referência ao método

utilizado na comunicação e no processo formal de aprendizagem dos surdocegos.

A interação entre o aluno surdocego e o profissional de apoio, mais

adequadamente o instrutor-mediador, influenciará de maneira positiva ou não o

desenvolvimento da aluna.

Tomemos o exemplo de Helen Keller ao enfatizar a importância de sua

professora ao longo de sua aprendizagem:

Foi o gênio de minha professora, sua inefável atração e inexcedível generosidade, que garantiram o êxito dos primeiros anos de minha

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educação. Porque ela sabia aproveitar as boas oportunidades para insuflar-me os conhecimentos do espírito. Tudo o que estudei com ela era motivo de prazer. Ela compreendia perfeitamente que o espírito da criança é como o regato que saltita pelas pedras do leito afora, refletindo ora bosques de espinheiro, ora flocos de belas nuvens (HELEN KELLER, 2001 p.41).

Dessa forma, cabe aos profissionais que interagem com o aluno surdocego

proporcionar contato com os diferentes ambientes e pessoas, respeitando sua

individualidade, seu tempo de elaboração, contribuindo para a construção de sua

identidade e capacidade em exprimir escolhas e decisões.

2.5 – ATENDIMENTO AOS ALUNOS COM SURDOCEGUEIRA SEGUNDO

ORIENTAÇÕES DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA

Orientações sobre as condições básicas necessárias para o atendimento

específico, individualizado e flexível exigido pelo aluno surdocego podem ser

encontradas detalhadamente no material didático de formação de docentes

produzido pelo MEC/SEESP (2006), junto a série Saberes e práticas da inclusão –

Educação Infantil o livro nº 5 “Dificuldades de Comunicação e Sinalização

Surdocegueira Múltipla Deficiência Sensorial”, elaborado por Cader-Nascimento e

Maia.

Segundo Cader-Nascimento e Maia (2006, p.53)

O processo educativo de crianças surdocegas exige alterações no currículo, nas estratégias e nos recursos que nem sempre são fáceis de concretizar em uma sala de aula tradicional. A atuação dos especialistas se torna significativa quando acontece no cotidiano das atividades escolares, como apoio à atuação do professor da classe regular. Incluir crianças surdocegas com necessidades educacionais específicas nas escolas de ensino regular exige atenção às suas respostas e ao seu progresso na escola. Assim, a oferta de serviços de apoio pedagógico especializado constituirá uma alternativa de qualidade, sobretudo se forem levadas em conta determinadas características dessa população e as especificidades do seu atendimento educacional.

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Com relação à oferta de atendimento, Cader-Nascimento e Maia (2006,

p.53) indicam os seguintes espaços: escola especial, ou seja, escola especializada

na área da surdocegueira, classe especial e sala de ensino regular com apoio

especializado da sala de recursos.

Em todo o processo, é fundamental assegurar que a criança surdocega matriculada e frequentando sala de aula no ensino regular tenha o direito a guia-intérprete; instrutor de língua de sinais;material adaptado no Sistema Braille ou ampliado em alto relevo; máquina Braille modelo Perkins; objetos e formas necessárias para sua comunicação; ampliação do tempo para realização das avaliações aplicadas pelo professor; frequentar a sala de apoio especializado e a sala de recursos; participar de ambientes comuns à comunidade surda, ampliando assim seu universo de contatos com pessoas e ambientes.

2.6 – ATENDIMENTO AOS ALUNOS COM SURDOCEGUEIRA NO PARANÁ

A oferta de serviços para o atendimento ao alunado com surdocegueira no

Paraná ocorre em Escolas Especiais e em situação de inclusão na Educação de

Jovens e Adultos/EJA e em classe comum do Ensino Regular com apoio do

profissional Guia-intérprete ou Instrutor-Mediador em sala de aula e no contraturno

com apoio pedagógico em Centro de Atendimento Especializado na Área da

Surdocegueira/CAE-SC. Pelo fato de não existir uma legislação específica para a

área, utiliza-se as orientações de atendimento contidas na Instrução Nº 020/2010 –

SEED/SUED, referente a área visual.

Segundo o documento “Educação Especial e Inclusão Educacional oito

anos de gestão, 2003/2010-DEEIN”, o Estado do Paraná conta com 10 CAEs-SC,

atendendo 34 alunos, com matrículas de 02 na Educação Infantil, 07 no Ensino

Fundamental, 01 na Educação de Jovens e Adultos e 24 pessoas da comunidade

desde os primeiros meses de vida até a idade adulta.

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2.7 – CARACTERIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS QUE ATENDEM ÀS PESSOAS

COM SURDOCEGUEIRA

Os serviços educacionais que visam promover a inclusão do educando com

surdocegueira no sistema regular de ensino, são pouco ofertados, visto que há

inúmeras dificuldades encontradas no processo educativo, principalmente no que

concerne ao estabelecimento da interação comunicativa com o outro.

Para van Dijk, (2004, p.12) essa interação comunicativa é um processo

através do qual os indivíduos influenciam mutuamente o comportamento do outro.

Portanto, há a necessidade de capacitar e qualificar profissionais para

atuarem na área, porém, alguns fatores são determinantes no perfil desses

profissionais - o comportamento ético, sério e o comprometimento com a profissão.

É fundamental conhecer as necessidades que o aluno com surdocegueira

apresenta para iniciar o trabalho com essa população visando à superação das

dificuldades.

Os profissionais que dispõem desses conhecimentos específicos são poucos na atual realidade brasileira, mas é grande o número de pessoas com surdocegueira e múltipla deficiência que necessitam de orientação específica básica para ter condições mínimas de qualidade de vida, ou seja: comunicação, independência nas atividades de vida diária (alimentação, higiene e vestimenta) e orientação e mobilidade visando autonomia para realização dessas ações (MAIA, 2004: p.2).

Muito importante também é o papel do profissional que atende ao aluno

surdocego, mostrando-lhe como o mundo realmente é, de forma objetiva e fidedigna,

preparando-o para lidar com a realidade à sua volta.

Segundo recomendações do Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e

“AHIMSA” Associação Educacional para Múltipla Deficiência, instituições

responsáveis pelas orientações dos profissionais da área, tanto o profissional guia-

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intérprete ou o instrutor- mediador, profissionais considerados importantes junto ao

alunado com surdocegueira, para atuar com esse público necessita ter

primeiramente a formação de especialista em Educação Especial e realizar cursos

mais específicos como: do profissional guia-intérprete e do profissional instrutor-

mediador, além de, dependendo da necessidade do aluno, ter conhecimentos do

Sistema Braille, soroban, orientação e mobilidade e LIBRAS.

No Estado do Paraná, a área da Surdocegueira recebe orientação dos

Centros de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual

– CAPs, ofertando cursos de capacitação com visão generalista da área.

Conforme a Instrução Nº 013/2011 – SEED/SUED, a finalidade dos CAPs

em seu item 2.

Contribuir na oferta de suportes teóricos e práticos aos profissionais que atuam no processo educacional das pessoas com deficiência visual e surdocegueira, visando seu processo acadêmico na educação inclusiva

por meio de formação continuada de professores, profissionais e outros que atuam com as pessoas com essas deficiências e ainda os que atendem a esses alunos no processo de inclusão, visando a melhoria e ampliação dos serviços e programas de atendimentos especializados bem como na Educação Básica, produção de materiais, atividades de convivência, acesso às novas tecnologias, trabalho com Atividade de Vida Autônoma - AVA e Orientação e Mobilidade – OM e atendimento às pessoas com deficiência que estão fora do processo acadêmico (educação básica) no que se refere a reabilitação e estimulação essencial. (grifo nosso)

Para esse caso específico, a professora selecionada precisou realizar cursos

emergenciais de orientação e mobilidade, soroban e Braille básicos, necessário ao

atendimento à aluna. Posteriormente, realizou cursos de complementação de

instrutor mediador e guia-intérprete, sendo que para este último cumpriu um estágio

de 100 horas, ofertado pelo Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e “AHIMSA”

Associação Educacional para Múltipla Deficiência.

Tomando como base a experiência vivenciada na área e as orientações

contidas na literatura especializada pertinente, consideramos que são necessários

atendimentos educacionais especializados para os casos de alunos surdocegos em

fase de escolarização por profissionais que desempenhem as funções de instrutor

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mediador e guia-intérprete; além disso, as responsabilidades de cada um deles

devem ser bem estabelecidas. A seguir, apresentaremos as especificidades da

atuação de cada um dos profissionais citados.

2.7 1 - O profissional – Instrutor- mediador

Ilustrando a prática do profissional instrutor-mediador, descreveremos a

metodologia e as etapas do trabalho desenvolvidas por Anne Sullivan com Helen

Keller, principalmente nos primeiros anos, quando a aluna apresentava maior

dependência da professora, caracterizando de forma clara a função de instrutor-

mediador. Devido a comportamentos de auto e hetero agressão, a professora

preferiu um ensino informal e individual ensinando na residência da aluna, utilizando

como metodologia a soletração de letras e palavras escritas na palma da mão de

Helen, relacionando ação à palavra ou vice/versa, de modo a ir alargando o

vocabulário da aluna, iniciando assim o processo de aquisição e desenvolvimento de

habilidades e conhecimentos básicos.

Na leitura, utilizou fichas com palavras no Sistema Braille e um quadro para

dispor as palavras para que formassem frases relacionando as fichas e os objetos

correspondentes, levando a aluna a desenvolver a formação de frases e associação

de ideias. Segundo relato de Helen Keller:

Recebia, por exemplo, cinco cartões, contendo cada qual uma palavra da frase “A boneca está no berço”. Devia então escolher os cartões correspondentes a “berço” e “boneca”, pondo-os depois sobre os respectivos objetos. Em seguida devia tomar a boneca, deitá-la no berço e pôr-lhe de um lado o cartão “a” e do outro os cartões “está” e “no”. Com este exercício agradável, desenvolvi o hábito de formar frases e associar ideias (KELLER, 2001, p. 40).

Com relação à matemática, utilizou pedrinhas e contas de enfiar em um

arame para que fosse possível ensinar à aluna os conceitos pertinentes às

operações fundamentais como adição e subtração. Helen Keller menciona que:

16

Parece-me que a aritmética foi o único estudo que não me despertou interesse algum. A Srtª Sullivan tentou ensinar-me soma e subtração por meio de pedrinhas e contas de enfiadas em arame. Nunca me sobrou paciência para mais de 4 ou 5 operações (KELLER 2001, p. 42).

Durante os três primeiros anos, Helen aprendeu esse alfabeto, obtendo êxito

em distinguir substantivos, adjetivos e verbos. A princípio, para Helen, as palavras

não continham qualquer ligação ou significado. Aos poucos, a aluna começou a

controlar seus ímpetos e a ser aceita socialmente, principiando a formular algumas

perguntas simples, desenvolvendo assim sua aprendizagem. Helen Keller relata seu

aprendizado:

Foi assim que estudei na escola da vida. Comecei pelo caminho da fantasia, que minha professora devia fazer chegar à realidade. Um dia passei a compreender a verdade da vida: senti o amor e a alegria em tudo que me cercava e achei o mundo cheio de imprevistos. Daí por diante, nunca mais a professora perdeu ocasião de fazer meu espírito impregnar-se da beleza das coisas. Por seus atos e pelos pensamentos que fazia surgir em meu cérebro, prosseguiu incansável na tarefa de tornar minha vida útil e feliz (KELLER 2001, p. 42).

As pessoas com surdocegueira pré-linguística ou congênita, para

interagirem com o mundo que as cerca, necessitam de comunicação e orientação e

mobilidade, requerendo dos profissionais que trabalham com esses indivíduos

constantes intervenções.

O professor instrutor-mediador tem uma contribuição importantíssima no

processo de ensino aprendizagem do aluno surdocego pré-linguístico ou congênito.

Ele atua como um elo de comunicação fazendo a mediação entre a pessoa com

surdocegueira e o mundo que a cerca, capacitando-a a se comunicar com o seu

ambiente e a receber informações fidedignas; portanto. o professor instrutor-

mediador é:

Um profissional que não pode substituir o professor e nem ser substituído por outros profissionais, pois ele tem conhecimento de um sistema alternativo de comunicação e formas individuais de comunicação com o aluno que abrangem a recepção e a expressão; oferece informações

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conceituais e adicionais sobre o que ocorre ao redor do aluno para sua total compreensão. Sua função é de estar sempre com o aluno em todos os lugares que ele frequenta e, se necessário, preparar e adaptar materiais para que ele possa entender e participar das atividades, principalmente as escolares (MAIA, 2008, p. 42).

A essência do papel do instrutor-mediador é de ser objetivo nas informações

dadas, ter o cuidado para que elas não sejam distorcidas, permitindo que a pessoa

surdocega pré-linguística ou congênita pratique e desenvolva condições para

assumir responsabilidades.

Esse profissional deverá:

Proporcionar o acesso à informação, ambientes e materiais, orientado pela equipe diretiva da escola e do professor, para que possa adequar e/ou adaptar os conteúdos educacionais de acordo com o programa individual do aluno e as necessidades do mesmo. As estratégias para isso envolvem primordialmente o estabelecimento da comunicação que poderá guiar o aluno através das atividades de exploração prática de materiais e ambiente, de acordo com seu estilo de aprendizagem (MAIA, 2008, p. 42).

Outro profissional que atua com pessoas surdocegas pós-linguística é o

Guia-intérprete.

2.7 2 - O profissional – Guia-intérprete

Para atuar como professor de apoio em sala de aula na função de guia-

intérprete ou instrutor-mediador, atendendo o aluno com surdocegueira, até o

presente momento não existe uma legislação no estado do Paraná que contemple

esse serviço específico, há, apenas um documento estadual que descreve a função

de professor de apoio, que é a INSTRUÇÃO Nº 004 /2012 - SEED/SUED, a qual

dispõe que o: Professor de Apoio Educacional Especializado é um profissional

especialista na educação especial que atua no contexto escolar, nos

estabelecimentos da Educação Básica e Educação de Jovens e Adultos. A lei

assegura o direito a atendimento aos alunos com Transtornos Globais do

18

Desenvolvimento. Tomando como base esse documento o adaptamos às

necessidades de atendimento para os alunos com surdocegueira.

Na referida Instrução constava as seguintes atribuições, que também

consideramos relevantes para o atendimento de alunos surdocego:

Atuar de forma colaborativa junto ao professor da classe comum, para a definição de estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso do aluno ao currículo e sua interação no grupo, desde a promoção de condições de acessibilidade no contexto escolar até às modificações mais significativas na organização da sala de aula, dos materiais e recursos pedagógicos utilizados pelo aluno e pelo professor.

Esclarecer e fornecer informações necessárias a respeito do aluno a todos os atores do processo educacional.

Trabalhar com toda a comunidade escolar a questão da inclusão do aluno.

Ser agente do processo de mediação entre aluno/conhecimento, aluno/aluno, aluno/professor, aluno/família, entre outros.

Participar do Projeto Político-Pedagógico da instituição de ensino assegurando ações e apoios necessários voltados para o atendimento, respeito e valorização da diferença enquanto condição humana e participar do conselho de classe.

Definir com os professores e equipe técnico-pedagógica, procedimentos de avaliação que atendam o aluno em suas características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem, acompanhando a evolução de suas potencialidades, com vistas ao progresso global: cognitivo, emocional e social do aluno.

Atuar como agente de mediação, sensibilização e mobilização pró-inclusão junto a: diretores, pedagogos, professores da classe comum e demais funcionários responsáveis pela dinâmica cotidiana das instituições de ensino.

Viabilizar a participação efetiva do aluno nas diferentes situações de aprendizagem e interação no contexto escolar e em atividades extraclasse.

Oportunizar autonomia, independência e valorizar as ideias dos alunos desafiando-os a empreenderem o planejamento de suas atividades.

19

Prever as ações e os acontecimentos, estruturar o uso do tempo, do espaço, dos materiais e da realização das atividades.

Seguindo as recomendações do Grupo Brasil, o profissional guia-intéprete

necessita apresentar formação complementar específica na área da surdocegueira,

com técnicas e habilidades nas diferentes formas de comunicação para que possa

transmitir as mensagens ao surdocego, facilitando a comunicação e a interação com

o meio em que vive, favorecendo o deslocamento e a mobilidade em todos os

ambientes, ou seja, desde o mais restrito até o mais amplo, realizando assim as

adaptações singulares requeridas pelo aluno surdocego.

Esse profissional atua com a pessoa com surdocegueira pós-línguistica ou

adquirida, ou seja, a pessoa que se tornou surdocega depois que já era usuária de

uma língua oral ou sinalizada, autônoma, responsável pelos seus atos, capaz de

tomar decisões e que apresente fluência em pelo menos uma língua, tanto na

recepção quanto na expressão.

Segundo as orientações do Grupo Brasil, o profissional guia-intérprete pode

ser comparado a um telefone que passa as informações para a pessoa com

surdocegueira pós-linguística ou adquirida de maneira fidedigna, sem interferir no

conteúdo da mensagem, mantendo absoluto sigilo das informações, obedecendo à

ética profissional. Esse profissional deve ter conhecimento e domínio das diversas

formas de comunicação utilizadas pelas pessoas com surdocegueira adquirida. Sua

função consiste basicamente em realizar a transmissão da mensagem,

contextualizando-a, e guiar o surdocego pós-linguístico ou adquirido.

Na transmissão da mensagem, o guia-intérprete pode realizar um trabalho de transliteração ou interpretação. No caso da transliteração, o guia-intérprete recebe a mensagem em determinada língua e transmite à pessoa com surdocegueira na mesma língua, porém usando a forma de comunicação acessível a essa pessoa, por exemplo, o guia-intérprete ouve a mensagem em língua portuguesa e a transmite em Braille tátil. Diferentemente da situação de interpretação, quando o guia-intérprete recebe a mensagem em uma língua e deve transmiti-la em outra língua, por exemplo, o guia-intérprete ouve a mensagem em língua portuguesa e a transmite em LIBRAS tátil.( Grupo Brasil, 2009, p.47).

20

Com relação à contextualização, o procedimento do profissional guia-

intérprete consiste em:

Na contextualização, o guia-intérprete descreve o que ocorre no ambiente, às pessoas e os fatos. Isso inclui toda a informação que seja relevante para a compreensão da situação em que a pessoa com surdocegueira está inserida, como por exemplo, quem está presente, sua localização, inclusive expressões faciais, corporais e flexões de voz, pois apenas a transmissão da mensagem falada não é suficiente para atender as necessidades comunicativas da pessoa com surdocegueira para que ela possa compreender e participar integralmente da situação comunicativa ( Grupo Brasil, 2009, p.47).

Na contextualização, segundo Grupo Brasil, evidencia-se a utilização por

parte do guia-intérprete da técnica da descrição visual utilizada para descrever

objetos, ambientes e pessoas. O profissional guia-intérprete deverá, ao fazer a

descrição visual, ficar atento a fatores como a finalidade dessa descrição e o tempo

disponível para realizá-la, tendo sempre como base informar o todo e posteriormente

os detalhes, exemplificando: se necessitar descrever uma árvore deve-se

inicialmente informar a pessoa surdocega que se trata de uma árvore; depois, se

houver tempo disponível, necessidade e interesse da pessoa com surdocegueira,

mencionar os detalhes da árvore.

Com relação à função de guia, o procedimento do profissional guia-intérprete

reside em proporcionar:

[...] que as pessoas com surdocegueira se locomovam com segurança nas diversas situações, como por exemplo, andar, subir escadas, caminhar em espaços estreitos, entrar e sair de carros ou transportes coletivos, usar portas e outros. Isso é feito utilizando as técnicas de orientação e mobilidade do guia vidente, que no caso e pessoas com surdocegueira passam por algumas adaptações. (Grupo Brasil, 2009, p.48).

O guia-intérprete deverá favorecer a pessoa com surdocegueira pós-

linguística ou adquirida o acesso a locais variados, intermediando o contato com

outras pessoas, atividades e ambientes.

21

O trabalho desse profissional é muito importante visto que é através dele

que o surdocego terá acesso a tudo o que o rodeia, podendo tomar decisões de

maneira autônoma e, assim, poder exercer sua cidadania.

Para Ohlson (2001, p.17), surdocego, presidente da World Federation of

Deafblind (WFDB):

O Guia-intérprete precisa compensar nossa perda de visão e audição. Isso é um trabalho muito difícil, não consiste somente em transmitir o que é falado nas diferentes formas de comunicação, mas também nos informar a respeito de tudo o que acontece ao nosso redor, quem nos rodeia, quem vem, quem vai, como reagem as pessoas com quem estamos conversando, para que tenhamos uma imagem correta do que está acontecendo e para que possamos agir de acordo com o meio. E, também necessitamos do guia-intérprete quando nos encontramos em um local desconhecido e novo.

Como exemplo de trabalho do profissional guia-intérprete tem o caso de

Anne Sullivan que acompanhou Helen Keller, quando esta apresentava maior

autonomia, durante sua vida acadêmica, inclusive na universidade. Helen

matriculou-se no Radcliffe College5 em 1900; ela foi à primeira surdocega a

frequentar uma universidade, formando-se em 1904.

2.8 - PROBLEMA/PROBLEMATIZAÇÃO

O primeiro caso de inclusão de uma aluna surdocega com matricula em

escola da rede estadual de ensino, no estado do Paraná, tornou possível a

elaboração e estruturação de um serviço ofertado tendo como objetivo o

atendimentos às necessidades educacionais da aluna.

A disponibilização de uma professora de apoio ao caso, cuja função, seja

como guia-intérprete ou como instrutora-mediadora, papéis apropriados junto a esse

público, favoreceu o presente estudo, sendo nossa contribuição fundamental ao

5 Faculdade na Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachussets.

22

estabelecer junto aos envolvidos mais clareza quanto às funções necessárias a

serem desempenhadas pela profissional.

Portanto, esse estudo, ao se desenvolver com tais preocupações, teve como

problema a seguinte questão:

O que diferencia a atuação dos profissionais: Guia-intérprete e instrutor-

mediador e qual a importância do trabalho de cada um deles para o

desenvolvimento da pessoa com surdocegueira que se encontra em fase de

escolarização?

2.9 - OBJETIVOS

2.9 1- Gerais

Analisar as características da atuação dos profissionais: guia-intérprete e

instrutor-mediador e as especificidades do trabalho de cada um deles.

Organizar as condições escolares para acolhimento e atendimento

pedagógico ao aluno com surdocegueira.

2.9 2- Específicos

Identificar as semelhanças e diferenças na atuação dos profissionais: Guia-

intérprete e instrutor-mediador e as especificidades do trabalho de cada um deles no

atendimento educacional especializado à pessoa com surdocegueira em classe

comum e no turno inverso.

23

Sensibilizar e preparar os alunos não deficientes a conviver com colegas que

apresentam surdocegueira.

2.10 – MÉTODO

2.10 1 - Caracterização da pesquisa:

Essa pesquisa constituiu- se em um estudo de caso, em que foram utilizados

como procedimentos para a coleta de dados a entrevista e a observação no contexto

de sala de aula.

2.10 2 - Procedimentos:

A coleta dos dados deu- se por meio de entrevista com a professora guia-

intérprete/intrutora-mediadora e com a aluna surdocega, tendo como local a sala

onde funciona o CAE-SC, um ambiente silencioso sem interrupções por parte de

outras pessoas. Após essa ação, realizamos observação em sala de aula.

Iniciamos nosso estudo entrevistando a professora de apoio que atuava

como guia-intérprete/instrutora-mediadora, tendo como intuito, identificar

primeiramente que percepção ela tinha a respeito do serviço de apoio.

Para a entrevista com a profissional guia-intérprete/instrutora-mediadora, foi

elaborado um roteiro semiestruturado, constituído de seis questões que versavam

sobre seu trabalho e sua percepção quanto às peculiaridades da atuação do

profissional guia-intérprete e do profissional instrutor-mediador, a saber: O que

diferencia o trabalho de ambos, a importância de cada um, o papel por ela

desempenhado e a frequência da função em sala de aula, tanto de guia-intérprete

quanto a de instrutor-mediador, os obstáculos dos professores, as dificuldade que

encontrava em sua atuação e os aspectos que julgava fundamentais na formação

para desenvolver suas funções.

24

Posteriormente, entrevistamos a aluna; nosso objetivo era identificar como a

educanda percebia seus professores e colegas, como também sua inclusão na

escola.

Para a entrevista com a aluna surdocega, foi elaborado um roteiro

semiestruturado constituído de oito questões que versavam sobre sua percepção da

escola,como se sentia na sala de aula, quais as disciplinas que eram mais fáceis e a

mais difícil, seu relacionamento com os professores e colegas, sua inclusão,

percepção do estabelecimento de ensino e dos profissionais da escola e em que

poderia ajudar os colegas e professores. A entrevista foi realizada por meio.

Solicitamos a aquiescência de ambas às participantes para a utilização de

um gravador, objetivando a maior precisão das informações.

Para análise da função de guia-intérprete ou instrutor-mediador, realizamos

observação “in loco”, isto é, em sala de aula, no período de agosto a dezembro de

2011, sendo de segunda-feira a sexta-feira, durante as cinco (05) aulas, período

vespertino.

Primeiramente foi realizada a observação dos procedimentos adotados pela

professora de apoio, objetivando a identificação função de guia-intérprete ou

instrutor-mediador, posteriormente percebendo a complexidade do trabalho

desenvolvido, o acúmulo das ações passamos a desenvolver uma participação

colaborativa, que ocorreram principalmente nos dias de terças-feiras e quintas-feiras

nesses dias havia maior concentração de disciplinas que necessitavam da oralidade

por parte da professora de apoio.

A coleta dos dados em sala de aula foi realizada por meio de observação

direta e a técnica escolhida foi o registro contínuo, para tanto, foram utilizados como

recursos materiais um caderno para as anotações do diário de campo, canetas

esferográficas e papel sulfite.

25

2.11 - LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO

O estudo foi realizado nas dependências do Colégio Estadual Hugo Simas-

Ensino Fundamental e Médio que se localiza no centro da cidade de Londrina,

jurisdicionado ao Núcleo Regional de Educação de Londrina, tendo como entidade

mantenedora a Secretaria Estadual de Educação.

2.12 - PÚBLICO ALVO

Os participantes desse estudo foram: uma professora de apoio do Quadro

próprio do Magistério/QPM, realizando a função de guia-intérprete com formação em

pedagogia, especialização em Educação Especial e formação especifica de guia-

intérprete e instrutora-mediadora, atuando na Rede Estadual de Ensino do estado do

Paraná há sete (07) anos.

Um grupo de oito docentes regentes de classe, responsáveis pelas

disciplinas do conhecimento atuando na 7ª série/8º ano, turma “A” Ensino

Fundamental, período vespertino, vinte e oito alunos, na faixa etária de 12 a 15

anos, frequentando a turma supracitada e uma aluna surdocega, que apresenta

limitações significativas como cegueira total, surdez profunda e sérias dificuldades

de verbalização, necessitando como apoio para comunicar de fala ampliada, isto é

fala do interlocutor próxima à orelha esquerda com maior resíduo auditivo.

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apresentaremos inicialmente os resultados obtidos por meio da entrevista e

observação em sala de aula e no Centro de Atendimento Especializado/CAE-Sc

realizadas junto a professora de apoio organizados por meio de categorias que

contemplam recortes de relatos considerados significativos. As categorias

analisadas foram: Primeiramente, ilustraremos com a descrição do papel

desempenhado pelo instrutor-mediador, guia-intérprete com suas respectivas

subcategorias: à importância das funções, às dificuldades dos professores, à

26

frequência das funções em sala de aula, os obstáculos enfrentados pela docente a

importância dos dois papéis e os aspectos fundamentais na formação da profissional

para desenvolver suas funções e, finalmente, nossa conclusão tendo como base

nossa prática cotidiana.

3 1- Análise de entrevista com a professora

3.1.1 Papel do instrutor-mediador segundo a participante

A professora de apoio da aluna surdocega apresenta a importância do

instrutor-mediador ao relatar que:

“primeiro sobre o instrutor-mediador: a importância dele é claro que ele faz parte do processo da inclusão principalmente em relação à aluna surdocega [...] ele estará adaptando materiais, fazendo a ponte entre professor e aluna, aluna professor no ambiente escolar, sic.”

A participante também relata várias situações que nos possibilita conhecer

em que situações se destacam o papel do instrutor-mediador, especialmente, nas

quais o aluno surdocego tem dúvidas em relação aos conteúdos, bem como nas

ocasiões em que os professores desejam se comunicar com seus alunos

surdocegos.

3.1.2 Às dificuldades dos professores segundo a participante:

“Às vezes ele (professor) não consegue, tem essa dificuldade de repassar o conteúdo para o aluno surdocego, então o instrutor-mediador nesse instante faz-se necessário, sic.”

“se o professor lá está lendo uma história, a aluna não conhece a palavra, o seu significado [...] aí não consegue compreender o restante, em primeiro lugar ela pergunta para o instrutor-mediador, se o instrutor-medidor não conseguir responder aí ele chama o professor e fala que a aluna está querendo saber o significado de tal palavra e o professor responde para a aluna, o instrutor-mediador faz parte do processo, né, sic.”

“mas as dificuldades sempre vão ter, a gente sempre encontra, um ou outro professor, tem professor que é mais assim e quer ter conhecimento em

27

relação à aluna, [...] aí tem aquele outro que tem interesse em preparar material adaptado, como também tem professor que não tem conhecimento em relação à deficiência da aluna né [...] e o surdocego quem não conhece à primeira vista vai assustar e vai né, sic.”

“ela ergue o braço ou eu ergo o braço, eu chamo o professor, oh a B. tem uma pergunta [...] aí a aluna pergunta e só que às vezes eles não entendem o que ela está falando, como a minha convivência é maior que a deles com ela, aí eu vou ter que fazer a fala, aí eu faço a fala dela [...] ela fala primeiro do jeito dela, aí eles olham pra mim assim e diz que não entenderam o que ela falou, eu pergunto pra ela e confirmo é isso aí, a aluna confirma, e eles respondem para aluna [...] nesse sentido de conteúdo mesmo é eles que vem explicar, sic.”

Os resultados obtidos, também evidenciaram algumas atividades que

caracterizam a função do instrutor-mediador, principalmente no ambiente do Centro

de Atendimento Especializado na área da Surdocegueira /CAE-SC, ocorrido no

contraturno.

Tanto a professora quanto a aluna consideraram esse ambiente mais

adequado à realização das tarefas escolares, à concentração para as leituras e à

realização das provas, por se tratar de um espaço mais tranquilo, longe do

burburinho da sala de aula. A professora relata que foi possível realizar nesse

ambiente as transcrições do conteúdo elaborado para a aluna ( de português para o

Sistema Braille) e, consequentemente, das respostas por ela fornecidas em tinta

para a correção dos professores; confeccionaram-se, igualmente, os materiais

adaptados, necessários aos processos de aprendizagem da aluna surdocega.

Apresentamos a seguir algumas atividades que caracterizam a função do

instrutor-mediador no contexto de sala de aula e, principalmente, no Centro de

Atendimento Especializado, na área da Surdocegueira.

3.1.2 1 -Atividades da sala de aula:

Anotar os conteúdos que os docentes escrevem na lousa.

28

Auxiliar a aluna na realização das atividades dadas em sala, durante o

período de aula.

Realizar a transcrição dos conteúdos para o Sistema Braille

desenvolvido em sala de aula (atividade para a aluna).

Realizar a transcrição das atividades realizadas pela aluna em tinta

para a avaliação dos professores.

Leitura de textos e descrição de imagens.

3.1.2 2 -Atividades no Centro de Atendimento Especializado/CAE:

Aplicar as avaliações, utilizando outro ambiente mais silencioso.

Realizar a descrição escrita de imagens contidas nas avaliações.

Confeccionar materiais em relevo, utilizando diferentes texturas.

Auxiliar a aluna na realização das atividades dadas em sala, que não

foi possível concluírem durante o período de aula.

Transcrição das atividades realizadas pela aluna em tinta para a

avaliação dos professores.

29

Confecção de materiais Leitura de textos e descrição de imagens

Fonte: A autora Fonte: A autora

Realização de atividade adaptada Atividade adaptada reconhecimento de texturas

Fonte: A autora Fonte: A autora

3.1.3 - Papel de guia-intérprete segundo a participante

A participante destaca como principal função da guia-intérprete em sala de

aula a comunicação das aulas para aluna:

“acontece ultimamente, [...] o guia-intérprete vai falar aquelas cinco aulas, os professores vão explicar o conteúdo e eles usam o livro então aquelas cinco aulas se eles forem explicar oralmente, o guia-intérprete vai falar as cinco aulas para a aluna, o guia-intérprete vai falando, falando, falando, e prestando atenção o máximo pra ser fidedigno, sic.”

30

“Se chegar alguém ou a pedagoga para dar um recado e está na porta, [...] tudo o que ocorre o guia-intérprete tem que falar para a aluna né, porque muitas vezes se você fica em silêncio, abre-se a porta [...] ela vai sentir e vai querer saber o que está acontecendo. Então, você tem que ter o cuidado de falar né. A pessoa entrou, eu falo o nome, explico o que está acontecendo, sic.”

A participante também descreve uma dificuldade que encontra em sua

atuação como guia-intérprete:

3.1.4 - Dificuldade que encontra segundo a participante:

“não teve noção de que teria que falar um pouco mais devagar para que o guia-intérprete consiga ouvir e passar em tempo real. A pessoa falava, falava e falava muito rápido também e ai a minha voz, aí eu cansei muito e perdi o fôlego [...] e daí e o direito da aluna de saber né, o que se passa, a gente tem que ser fidedigno. Então foi bem cansativo, sic.”

Constatamos que no atendimento de apoio pedagógico ocorrido no contexto

de sala de aula a função do profissional guia-intérprete ficou mais evidente –

principalmente durante as aulas de Geografia, História, Português e Ciências -,

disciplinas que contemplam várias temáticas e cujos conteúdos são ministrados na

forma oralizada pelos docentes e com apresentação de vídeos. Com relação às

outras disciplinas, como Inglês, Artes, Matemática e Educação Física, os conteúdos

também são ministrados oralmente, porém requerem atividades práticas, sendo

então mesclados momentos com exercícios práticos e orais.

Durante o período das cinco aulas diárias, em que cada aula tinha a duração

de 50 minutos a professora de apoio, então, na função de guia-intérprete, necessitou

passar a explicação dada pelos docentes, na maioria das vezes, por meio da fala

ampliada.

Apresentamos a seguir algumas atividades observadas no contexto

pesquisado que caracterizaram a função do guia-intérprete em sala de aula e na

comunidade.

31

3.1.4 1 -Atividades da sala de aula:

Realizar a comunicação da explicação dos conteúdos pertinentes às

disciplinas das diferentes áreas do conhecimento (matemática, português, história,

geografia e outras).

Realizar a comunicação da explicação das apresentações dos

trabalhos em grupo realizado pelos demais alunos.

Realizar a comunicação da explicação das apresentações dos

trabalhos realizados pela aluna.

Descrição oral de imagens e filmes.

Realizar a comunicação da explicação de recados dados aos alunos

pelos professores, profissionais do corpo administrativo da escola e outros.

Realizar a leitura de textos.

Realizar a leitura do conteúdo que os professores escrevem no quadro,

para que a aluna efetive a anotação utilizando o Sistema Braille.

Realizar a comunicação das orientações dos exercícios físicos –

movimentos – que são trabalhados na aula de Educação Física.

3.1.4 2 - Atividades na comunidade:

Visitas a exposições, museus e outros espaços, objetivando

contextualizar o conteúdo desenvolvido em sala de aula com situações concretas.

32

Fala ampliada de atividade escrita na lousa Descrição oral e apresentação de objetos

Fonte: A autora Fonte: A autora

Visita ao Corpo de Bombeiro Visita a Exposições

Fonte: A autora Fonte: A autora

Visita a Museus Visita a Exposições

Fonte: A autora Fonte: A autora

33

Ambos os papéis, de guia-intérprete e instrutor-mediador, segundo a

participante ocorrem em sala de aula em diferentes ocasiões e em alguns

momentos de forma simultânea e exigem muito do professor, como podemos

perceber nos relatos a seguir:

“no caso do guia-intérprete porque é assim ora às vezes quem está lá na sala de aula faz o papel de instrutor-mediador ora guia-intérprete [...] ora os dois ao mesmo tempo, ora você faz a fala ampliada e do outro lado está escrevendo no papel [...] então você tem que estar com o sentido de ouvir o professor falar e ser fidedigno nas palavras, sic.”

“muitas vezes o professor escreve no quadro, ele fala e aí eu tenho que fazer a fala ampliada pra a aluna e escrever com a outra mão, então eu fico com a cabeça virada um pouco no ouvido da aluna, me posiciono e viro um pouco, a coluna né [...] eu faço um alongamento de vez em quando senão a gente não aguenta, [...] e ao mesmo tempo escrever o olho está no quadro anotando para que a aluna não perca também o conteúdo então neste momento é o instrutor mediador e o guia-intérprete ao mesmo tempo em ação, eu tenho que estar atenta o que ele fala percebe, e a minha mão também está lá escrevendo o que ele está fazendo no quadro tem que ser um polvo (risos) para que a aluna não perca o conteúdo então tem alguns momento que o instrutor-mediador e o guia-intérprete como nesse caso eles se mesclam, sic.”

3.1.5 – A importância dos dois papéis segundo a participante:

Para a participante é muito importante os dois papeis, relata que:

“a importância dos dois, penso eu ah é muito importante no sentido da aprendizagem [...] em todo o sentido mesmo [...] a responsabilidade é muita então, o guia-intérprete e o instrutor- mediador faz o processo da aprendizagem com a aluna [...] ele tem a responsabilidade de buscar, de pesquisar, não só lá na sala de aula o mesmo conteúdo [...] ele tem que perceber, conhecer a aluna, perceber o que ela tem de conhecimento, a base dela [...] se ela tem ou não tem a noção do que o professor está explicando, se ela está realmente compreendendo porque se ela não estiver, ele vai ter que buscar além, pra que ela possa ter compreensão daquele conteúdo, conteúdo essencial que seja significativo pra ela, sic.”

Realizando uma análise geral da fala da professora de apoio, fica evidente

que a profissional percebe desempenhar as duas funções, tanto no contexto de sala

de aula, quanto no do Centro de Atendimento Especializado na área da

Surdocegueira/CAE-SC, sendo que, nesses ambientes, uma função sobrepõe-se à

34

outra, dependendo da necessidade da aluna. Tanto como guia-intérprete ou como

instrutor-mediador, constata-se a relevância de cada uma das funções para que o

processo ensino/aprendizagem ocorra, como também para sanar as dificuldades

encontradas pelos professores do ensino regular.

Percebe-se que o trabalho é muito complexo e, na maioria das vezes árduo,

necessitando que a profissional desempenhe as duas funções em momentos

alternados ou, em algumas situações, que execute ambas as funções, o que

acarreta grandes desgastes físicos.

3.1.6 - Aspectos importantes na formação de profissionais que atuam com

alunos surdocegos

Com relação aos aspectos que a professora de apoio julgava serem

fundamentais na formação para desenvolver suas funções, ela enfatiza a formação

pessoal e a competência técnica

“bom primeiro uma palavra só, paciência (risos). [...] se você não tiver paciência você não vai conseguir trabalhar com o surdocego, [...] coisas que eu já sabia e confirmou nos cursos que eu fiz: a paciência, a dedicação, o comprometimento, a responsabilidade né, ser profissional, é considerar o surdocego como pessoa, respeitá-lo como pessoa e possibilitar a ele né mudança na sua vida, no seu cotidiano, sic.”

“realizar cursos que eu fiz de instrutor-mediador e cuia-intérprete, que nós fizemos, sic.”

”Conhecer o Sistema Braille, um pouquinho de Libras este conhecimento também tem que ter. Além do compromisso ele tem que ter a ética principalmente quando atua no ensino regular. [...] O importante é acreditar no potencial do aluno e favorecer para que o professor regente também acredite. [...] Com relação ao Centro de Atendimento Especializado como no meu caso, realizar as adequações necessárias dentro do que os professores precisam e a aluna necessita. Contando com o que a gente tem aqui e se não tiver a gente busca também. [...] É realizar o trabalho de Atividade de Vida Autônoma e Social (AVAS). [...] Na medida do possível realizar o serviço itinerante com a família, auxiliando-os. [...] Desenvolver aquele papel de escutar a família [...] Você tem que ter paciência, porque se não tiver paciência, você não consegue, sic.”

35

Apresentaremos a seguir trechos significativos da entrevista concedida pela

aluna surdocega, mantendo a sequência das questões abordadas. Primeiramente,

ilustraremos com a descrição sobre sua percepção em relação a escola, como se

sentia na sala de aula, quais as disciplinas que eram mais fáceis e a mais difícil, seu

relacionamento com os professores e colegas, sua inclusão, percepção do

estabelecimento de ensino e dos profissionais da escola e em que ela poderia ajudar

os colegas e professores e, finalmente , nossa conclusão, tendo como base a

observação cotidiana.

3,2 - Análise da entrevista com a aluna:

3.2.1 Percepção da aluna sobre a escola

A aluna relata que:

“eu acho que ela (escola) é muito grande e é muito fácil se perder e acho ela bonita também, muito barulhenta, sic.”

“ah acho assim que eles devem pensar ou me ver de assim eles primeiro vão pensar assim que eu sou meio assim diferente só por que eu não enxergo porque só porque eu sou cega só porque eu sou surdocega eles vão pensar que eu sou diferente né até eles me conhecerem demora um pouco, eu acho, sic.”

3.2.2 Sentimentos da aluna surdocega em relação à sala de aula

A aluna relata que se sente:

“às vezes eu me sinto assim [...] eu não me relaciono com os alunos direito, às vezes eu sinto que ninguém me dá atenção [...] às vezes eu fico um pouco triste, irritada sei lá, sic.”

“eu fico irritada porque eu me sinto diferente das outras pessoas [...] eu não me sinto assim, uma pessoa normal, é isso, como eu gostaria que elas ficassem normal [...] não ficassem pensando ai [...] aquela pessoa ali é surdocega, ela é meio diferente pra mim, eu não queria que as pessoas ficassem pensando assim, sic.”

36

3.2.3 Avaliação da aluna surdocega sobre as disciplinas, quanto a sua

dificuldade ou facilidade para aprender:

Para a aluna algumas disciplinas eram mais fáceis, especialmente porque as

professoras traziam materiais adaptados que facilitavam sua aprendizagem.

“Ciências e Artes, a professora de Artes, por exemplo, ela tem vários tipos de material que ela ou a professora R. usam às vezes, elas trabalham juntas, elas tentam adaptar materiais [...] a de Ciências pra ela é mais fácil,às vezes ela compra material por exemplo: o Sistema Digestório, ela trouxe tipo negócio de montar, ela trouxe em textura e em alto relevo. Ela consegue fazer com mais facilidade, sic.”

Para aluna a disciplina matemática era mais difícil.

“Como a matemática é muito número principalmente a prova que é muito grande eu acho que poderia passar o conteúdo que mais repete passar o conteúdo mais vezes [...] a questão não é essa é a concentração eu tenho dificuldade de me concentrar, sic.”

3.2.4 Relacionamento com os colegas segundo a aluna surdocega:

A aluna surdocega relata que:

“eu não interajo com eles a única pessoa é com a “I.” eu não sei por que eu tenho dificuldade de interagir, alguns deles eu não conheço, sic.”.

“Eles devem me ensinar a ter confiança, uns andam muito depressa não andam devagar, sic.”

3.2.5 Avaliação da aluna surdocega sobre as dificuldades dos professores

para ensiná-la.

A aluna surdocega relata perceber que os professores sentem dificuldades

para explicar os conteúdos para ela:

“eu sinto que eles têm dificuldade sim, para me explicar. sic.”

37

3.2.6 -Aspectos que a aluno surdocega poderia ajudar os colegas e

professores

A aluna considera relatou que:

”Poderia falar pra eles assim chegar mais perto de mim para explicar melhor e utilizar uma linguagem mais simples, alguns deles precisam interagir mais comigo, sic.”

“Eu tenho interesse de estudar e eu gosto de estudar também, eu só fico nervosa ou irritada se eu não consigo fazer nada.”

Realizando uma análise geral dos dados obtidos na entrevista com a aluna,

fica evidente que a educanda tem consciência de suas limitações, demonstra muita

sensibilidade ao lidar com as dificuldades de interação que ocorrem entre ela,

professores e colegas. Apresenta disposição para auxiliar os professores quanto às

estratégias mais adequadas para ensiná-la, como a utilização de linguagem mais

simples e a repetição das explicações. Quantos aos colegas a aluna sugere que eles

lhe passem confiança.

A aluna é uma pessoa muito doce, pura de espírito e boa de coração,

estando sempre disposta a ajudar em nossas limitações com relação ao

atendimento ofertado e, em sua bondade, somente solicita que nos aproximemos.

Após a realização das duas entrevistas, uma com a professora de apoio e

outra com a aluna, para levantamento das necessidades de formação para atuação

com a aluna surdocega, foi elaborado um manual de orientações como Material

Didático, uma das tarefas do Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE,

turma 2010, disponível na página do Sacir, Secretaria de Estado da Educação do

Paraná.

Além disso, também enquanto atividade proposta no Programa PDE

desenvolvemos colaboração no atendimento as NEE da aluna junto a professora de

apoio que será descrita na próxima categoria de análise.

38

3.3. Análises sobre a Participação da professora PDE como colaboradora junto à

professora de apoio.

Realizamos também, como professora participante do PDE, um

acompanhamento das atividades realizadas em sala de aula, tendo como objetivo

colaborar com os professores regentes e a professora de apoio no atendimento às

necessidades da aluna. Nessas ocasiões, auxiliamos no registro das matérias,

fazíamos transcrição para o Sistema Braille e em tinta e, em momentos de cansaço

da professora de apoio, realizávamos a fala ampliada para aluna surdocega durante

as aulas.

Foi possível perceber algumas dificuldades, quais sejam: posição física

desconfortável, pois a professora precisa sentar-se ao lado da aluna e curvar o

corpo de modo a poder fazer a fala ampliada próximo à orelha esquerda (melhor

audição), ficando nessa posição durante as 05 aulas; fazer o registro do conteúdo

escrito no quadro, quando necessário; isso ocorre diariamente e a dificuldade torna-

se maior, pois a professora é destra e a posição em que deveria permanecer não

favorecia a ação.

Da mesma forma, realizamos também um trabalho de colaboração junto à

professora de apoio no CAE-SC frequentado no contraturno pela aluna para receber

o suporte pedagógico complementar. Nas terças, quartas e quintas-feiras

trabalhamos com apoio aos conteúdos escolares, transcrição para o Sistema Braille

e em tinta, confeccionava materiais adaptados em alto relevo (mapas, globo

terrestre, tabelas, entre outros) para a maior compreensão da aluna.

Nas sextas, fazíamos nossos passeios, sempre buscando contextualizar o

conteúdo apreendido em sala de aula. Aprendemos muito com os passeios,

visitamos exposições, Corpo de Bombeiros e fomos, é claro, ao shopping. Em cada

passeio aprendemos algo novo, tanto em relação ao atendimento à aluna quanto

aos conteúdos que se apresentavam. No espaço do Centro, observamos que o

trabalho individualizado ofertado como apoio pedagógico favoreceu muito a

aprendizagem da aluna, visto que em ambiente mais tranquilo, longe do burburinho

da sala de aula, ela conseguia maior concentração para a realização das atividades.

39

3.4 Atividades desenvolvidas para sensibilizar a turma para acolher a aluna

surdocega.

Em relação aos alunos, iniciamos nosso trabalho com um evento para

sensibilizar a turma, sendo nossa primeira ação a preparação dos alunos para

acolher a colega especial. Fizemos-lhes questionamentos sobre como viam a colega

especial e se sabiam o que era surdocegueira e fala ampliada, porque a aluna era

acompanhada por uma professora e se tinham vontade de interagir com ela.

Mostramos materiais adaptados, utilizamos o Sistema Braille para escrever o

nome dos alunos para que eles conhecessem essa forma de escrita utilizada pela

colega. Informamos sobre o acompanhamento de uma professora “guia-intérprete”

durante o ano letivo e por que a profissional tinha que falar ao ouvido da colega (fala

ampliada).

Também apresentamos um vídeo contando a história de um surdocego e,

posteriormente, levamos os alunos a fazer um passeio pela escola, utilizando

vendas e protetor auricular; dessa forma, os alunos puderam sentir um pouco a

realidade de uma pessoa surdocega.

Alguns alunos sentiram medo de utilizar a venda e o protetor auricular,

fazendo então o papel de guia do colega que se propunha a vivenciar a situação de

passear pela escola.

Verificamos que os alunos percebiam a colega, mas não sabiam ao certo o

que ela tinha e porque a professora necessitava falar em seu ouvido; sentiam

dificuldade em conversar com ela, porém foram unânimes em afirmar que

gostariam de serem amigos dela, mas não sabiam como agir; após o momento de

sensibilização, expressaram o desejo de interagir com ela.

Sugeriu-se que, durante o intervalo, uma dupla de colegas acompanhasse

a aluna surdocega, dando a todos, dessa forma, chances de interação com a

mesma.

40

Atualmente, a turma faz o revezamento para participar do recreio com a

colega, geralmente uma dupla; percebemos que alguns colegas solicitam para

acompanhá-la mais vezes, porém ainda existem aqueles que apresentam

dificuldades para realizar tal tarefa.

Os alunos assistiram a um vídeo. Passeio na escola com vendas e protetor auricular

Fonte: A autora Fonte: A autora

Por meio dos procedimentos desenvolvidos, verificou-se maior

sensibilização por parte da escola, contribuindo para que ocorresse o processo de

inclusão educacional da aluna.

Destacamos que a aluna, durante o processo acadêmico, demonstra muita

dedicação e interesse pelos estudos, sendo que nas atividades em grupo, os

colegas sempre pedem para participar de sua equipe, pois com seu empenho e o

auxílio da professora de apoio, os resultados são muito positivos. Ela é considerada

uma das melhores alunas da turma.

O apoio em sala de aula da profissional como guia-intérprete e no CAE-SC

como instrutora-mediadora é imprescindível, para que o processo de

ensino/aprendizagem da aluna se efetive.

Constatou-se ainda que, com a vinda da professora PDE, participando na

confecção de materiais adaptados, na anotação dos conteúdos das disciplinas em

tinta, bem como na transcrição das mesmas para o Sistema Braille, no auxílio na

fala ampliada e na resolução das atividades escolares, houve maior qualidade no

41

trabalho pedagógico desenvolvido, devido principalmente à parceria existente entre

ambas as profissionais, principalmente no que concerne ao revezamento das ações

que realizaram com a educanda surdocega.

4.- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a complexidade do atendimento ofertado à aluna surdocega

que requer várias ações da profissional guia-intérprete/ instrutora-mediadora, e a

experiência do auxílio da professora PDE durante o ano de 2011, constatou-se a

necessidade de contratação de mais um profissional, que teria a função de revezar

as funções desempenhadas pela profissional de apoio que atende continuamente a

aluna surdocega em sala de aula, visando o atendimento adequado às NEE

percebidas durante as aulas.

Portanto, nossa sugestão à Secretaria de Estado de Educação do Paraná é

a contratação de outro profissional para atuar em sala de aula, dividindo as tarefas,

revezando as funções de guia-intérprete e instrutor-mediador.

Destarte, objetivando um trabalho mais efetivo, as duas profissionais

acompanhariam a aluna, sendo que uma delas realizaria a fala ampliada durante as

aulas, enquanto que a outra faria as transcrições dos conteúdos para o Sistema

Braille destinado à aluna e em tinta aos docentes, como também as anotações das

explicações dos professores e vice-versa.

Assim sendo, respeitar-se-iam as condições de trabalho da profissional guia-

intérprete/instrutora-mediadora, já que se exige o uso contínuo da fala ampliada,

como também a manutenção de uma mesma posição corporal durante o longo

período de cinco horas/aula, fatores que provocam desgaste nas cordas vocais e na

coluna vertebral da profissional. A esses problemas somam-se cansaço mental e

emocional, como consequência da sobrecarga provocada pelas transcrições para o

Sistema Braille e para a tinta do conteúdo referente a oito disciplinas.

Consideramos ainda que esse estudo é apenas o começo de uma longa

caminhada. Ao introduzirmos nosso artigo com a frase inicial que dá título a este

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trabalho – Guia-intérprete e instrutor-mediador: peculiaridades do trabalho com

alunos surdocegos em sala de aula e no atendimento educacional especializado,

avaliamos que por meio desse estudo compreendemos a complexidade da função

de ambos os profissionais.

Nesse caso específico, a função do Guia-intérprete, principalmente em sala

de aula, ficou mais evidenciado, porém uma situação isolada e pontual mesmo

sendo muito significativa como à relatada nesse estudo, a nosso ver é o primeiro

passo para muitos trabalhos e reflexões a respeito das peculiaridades inerentes a

cada uma das funções no contexto escolar, pois a identificação das ações do

professor de apoio de sala de aula seja guia-intérprete ou instrutor-mediador muito

contribui para que o processo de inclusão do aluno com surdocegueira ocorra.

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