guia pratico tratamento malaria brasil 2602

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MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Epidemiológica Brasília – DF 2010 Série A. Normas e Manuais Técnicos Guia prático de tratamento da malária no Brasil

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  • MINISTRIO DA SADESecretaria de Vigilncia em Sade

    Departamento de Vigilncia Epidemiolgica

    Braslia DF 2010

    Srie A. Normas e Manuais Tcnicos

    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

  • 2010 Ministrio da Sade.Todos os direitos reservados. permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citadaa fonte e que no seja para venda ou qualquer fim comercial.A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra da rea tcnica.A coleo institucional do Ministrio da Sade pode ser acessada na ntegra na Biblioteca Virtual em Sade do Ministrio da Sade: http://www.saude.gov.br/bvs

    Srie A. Normas e Manuais Tcnicos

    Tiragem: 1 edio 2010 5.000 exemplares

    Elaborao, distribuio e informaes:MINISTRIO DA SADESecretaria de Vigilncia em SadeDepartamento de Vigilncia EpidemiolgicaCoordenao-Geral do Programa Nacional de Controle da MalriaNcleo de Comunicao Esplanada dos Ministrios, Bloco G, Edifcio Sede, 1 andar, Sala 134 CEP: 70058-900, Braslia/DF Tel.: (61) 3315 3277E-mail: [email protected] Home page: www.saude.gov.br/svs

    Elaborao: Cor Jesus Fernandes Fontes Ncleo de Estudos de Doenas Infecciosas e Tropicais de Mato Grosso. UFMTAna Carolina Faria e Silva Santelli Organizao Pan-americana da Sade/Organizao Mundial da SadeCarlos Jos Mangabeira da Silva Programa Nacional de Controle da Malria, Ministrio da SadePedro Luiz Tauil Universidade de BrasliaJos Lzaro de Brito Ladislau Programa Nacional de Controle da Malria, Ministrio da Sade

    Colaborao:Antnio Rafael da Silva UFMA Melissa Mascheretti FMUSPFlor Ernestina Martinez Espinosa, FMTAM e FIOCRUZ-AM Oscar Martin Messones Lapouble PNCM/SVS/MSJos Maria de Souza IEC/SVS/MS Paola Marchesini PNCM/SVS/MSMarcos Boulos USP Roberto Arajo Montoya OPAS/OMSMaria das Graas Costa Alecrim FMTAM e UFAM Rui Moreira Braz PNCM/SVS/MSMaria da Paz Luna Pereira- PNCM/SVS/MS Tnia Chaves FMUSP e IIERMauro Shugiro Tada CEPEM Wilson Duarte Alecrim FMTAM e UFAM

    Produo editorial:Coordenao: Fabiano CamiloCapa, projeto grfico, diagramao e reviso: All Type Assessoria Editorial Ltda

    Apoio:Organizao Pan-Americana da Sade OPAS Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    Ficha Catalogrfica

    Brasil. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Departamento de Vigilncia Epidemiolgica.Guia prtico de tratamento da malria no Brasil / Ministrio da Sade, Secretaria de Vigilncia em Sade,

    Departamento de Vigilncia Epidemiolgica. Braslia : Ministrio da Sade, 2010.36 p. : il. color. (Srie A. Normas e Manuais Tcnicos)

    ISBN

    1. Malria. 2. Vigilncia epidemiolgica. 3. Profilaxia. I. Ttulo. II. Srie.CDU 616.9

    Catalogao na fonte Coordenao-Geral de Documentao e Informao Editora MS Editora MS OS 2010/0064

    Ttulos para indexao:Em ingls: Malarias treatment in Brazil practical guide Em espanhol: Gua prctico de tratamiento de la malaria en Brasil

  • SumrioApresentao 5

    1 Situao atual da malria no Brasil 7

    2 Noes gerais sobre a malria 92.1 Ciclo biolgico do Plasmodium . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92.2 Manifestaes clnicas da malria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    2.2.1 Malria no complicada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112.2.2 Malria grave e complicada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

    2.3 Diagnstico laboratorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122.3.1 Diagnstico microscpico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122.3.2 Testes rpidos imunocromatogrficos . . . . . . . . . . . . 13

    3 Tratamento da malria 153.1 Poltica nacional de tratamento da malria . . . . . . . . . . . . . . 153.2 Objetivos do tratamento da malria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    4 Orientaes para o tratamento da malria no Brasil 164.1 A prescrio e a dispensao dos antimalricos . . . . . . . . . . 164.2 Esquemas recomendados para a malria no

    complicada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184.3 Tratamento das infeces mistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234.4 Tratamento da malria na gravidez e na criana

    menor de 6 meses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234.5 Tratamento da malria grave e complicada, causada

    pelo P. falciparum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    5 Preveno e profilaxia da malria no Brasil 275.1 Medidas de preveno para reduzir o risco de adquirir

    malria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275.2 Diagnstico e tratamento precoces . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285.3 Quimioprofilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285.4 Comentrios importantes sobre a preveno de

    malria em viajantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    6 Vigilncia epidemiolgica da malria 316.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 316.2 Objetivos da realizao de LVC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

    Referncias 35

  • 5Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    Apresentao

    Os principais objetivos do Programa Nacional de Controle da Ma-lria (PNCM) do Ministrio da Sade so reduzir a letalidade e a gravi-dade dos casos, reduzir a incidncia da doena, eliminar a transmisso em reas urbanas e manter a ausncia da doena em locais onde a trans-misso j foi interrompida. O programa utiliza vrias estratgias para atingir os seus objetivos, sendo as mais importantes o diagnstico pre-coce e o tratamento oportuno e adequado dos casos, alm de medidas especficas de controle do mosquito transmissor.

    O Ministrio da Sade, por meio de uma poltica nacional de trata-mento da malria, orienta a teraputica e disponibiliza os medicamentos antimalricos utilizados em todo o territrio nacional, em unidades do Sistema nico de Sade (SUS). Para cumprir essa poltica, o PNCM pre-ocupa-se em revisar o conhecimento vigente sobre o arsenal teraputico da malria e sua aplicabilidade para o tratamento dos indivduos que dela padecem em nosso pas. O PNCM assessorado, na determinao da poltica nacional de tratamento da doena, pela Cmara Tcnica de Teraputica da Malria, oficialmente nomeada pelo Ministrio da Sade e constituda por pesquisadores, professores e profissionais de sade de renomadas instituies brasileiras de ensino, pesquisa e assistncia.

    Para facilitar o trabalho dos profissionais de sade das reas end-micas e garantir a padronizao dos procedimentos necessrios para o tratamento da malria, o presente Guia Prtico apresenta, nas tabelas e quadros, todas as orientaes relevantes sobre a indicao e uso dos antimalricos preconizados no Brasil, de acordo com o grupo etrio dos pacientes.

    da maior importncia que todos os profissionais de sade envol-vidos no tratamento da malria, desde o agente comunitrio de sade at o mdico, orientem adequadamente, com uma linguagem compre-ensvel, os pacientes e seus acompanhantes, para que o tratamento seja completado adequadamente.

    O presente Manual constitui-se num guia de orientao geral aos profissionais de sade para o tratamento da malria e fundamenta-se numa reviso das melhores e atuais evidncias sobre a eficcia e segu-rana das drogas antimalricas.

    Gerson PennaSecretrio da SVS

  • 7Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    1 Situao atual da malria no Brasil

    O quadro epidemiolgico da malria no Brasil preocupante nos dias atuais. Embora em declnio, o nmero absoluto de casos no ano de 2008 ainda foi superior a 300.000 pacientes em todo o pas. Desses, 99,9% foram transmitidos nos Estados da Amaznia Le-gal, sendo o Plasmodium vivax a espcie causadora de quase 90% dos casos. No entanto, a transmisso do P. falciparum, sabidamente responsvel pela forma grave e letal da doena, tem apresentado reduo importante nos ltimos anos. Alm disso, a frequncia de internaes por malria no Brasil tambm vem mostrando decl-nio, ficando em 1,3% no ano de 2008, enquanto em 2003 era de 2,6%. A distribuio espacial do risco de transmisso da doena no Brasil apresentada na Figura 1.

    Risco IPARegio Amaznica

    Sem transmisso

    Baixo risco (n=323)

    Mdio risco (n=80)

    Alto risco (n=67)

    Figura 1 Mapa do Brasil destacando as reas de risco para malria pelos diferen-tes nveis de incidncia parasitria anual.

    Os principais objetivos do PNCM do Ministrio da Sade so reduzir a letalidade e a gravidade dos casos, reduzir a incidn-cia da doena, eliminar a transmisso em reas urbanas e manter a ausncia da doena em locais onde a transmisso j foi inter-rompida. O programa utiliza vrias estratgias para atingir seus

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    objetivos, sendo as mais importantes o diagnstico precoce e o tratamento oportuno e adequado dos casos, alm de medidas es-pecficas de controle do mosquito transmissor.

    O presente Manual constitui-se num guia de orientao geral aos profissionais de sade para o tratamento da malria e fundamen-ta-se numa reviso das melhores e atuais evidncias sobre a efic-cia e segurana das drogas antimalricas.

  • 9Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    2 Noes gerais sobre a malria

    2.1 CiclobiolgicodoPlasmodium

    A malria uma doena infecciosa cujo agente etiolgico um parasito do gnero Plasmodium. As espcies associadas malria humana so: Plasmodium falciparum, P. vivax P. malariae e P. ovale. No Brasil, nunca foi registrada trans-misso autctone de P. ovale, que restrita a determinadas regies da frica. A transmisso natural da malria ocorre por meio da picada de fmeas infectadas de mosquitos do gnero Anopheles, sendo mais importante a espcie Ano-pheles darlingi, cujos criadouros preferenciais so colees de gua limpa, quente, sombreada e de baixo fluxo, muito frequentes na Amaznia brasileira.

    A infeco inicia-se quando os parasitos (esporozotos) so inoculados na pele pela picada do vetor, os quais iro invadir as clulas do fgado, os hepatcitos. Nessas clulas multiplicam-se e do origem a milhares de novos parasitos (merozotos), que rompem os hepatcitos e, caindo na cir-culao sangunea, vo invadir as hemcias, dando incio segunda fase do ciclo, chamada de esquizogonia sangu-nea. nessa fase sangunea que aparecem os sintomas da malria.

    O desenvolvimento do parasito nas clulas do fgado re-quer aproximadamente uma semana para o P. falciparum e P. vivax e cerca de duas semanas para o P. malariae. Nas infeces por P. vivax e P. ovale, alguns parasitos se de-senvolvem rapidamente, enquanto outros ficam em esta-do de latncia no hepatcito. So, por isso, denominados hipnozotos (do grego hipnos, sono). Esses hipnozotos so responsveis pelas recadas da doena, que ocorrem aps perodos variveis de incubao (geralmente dentro de seis meses).

    Na fase sangunea do ciclo, os merozotos formados rom-pem a hemcia e invadem outras, dando incio a ciclos repetitivos de multiplicao eritrocitria. Os ciclos eritro-citrios repetem-se a cada 48 horas nas infeces por P. vi-vax e P. falciparum e a cada 72 horas nas infeces por P.

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    Ministrio da Sade

    malariae. Depois de algumas geraes de merozotos nas hemcias, alguns se diferenciam em formas sexuadas: os macrogametas (feminino) e microgametas (masculino). Esses gametas no interior das hemcias (gametcitos) no se dividem e, quando ingeridos pelos insetos vetores, iro fecundar-se para dar origem ao ciclo sexuado do parasito.

    Figura 2 Representao esquemtica do ciclo evolutivo do Plasmodium vivax e do P. ovale no homem.

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    2.2 Manifestaesclnicasdamalria

    2.2.1 Malrianocomplicada

    O perodo de incubao da malria varia de 7 a 14 dias, podendo, contudo, chegar a vrios meses em condies especiais, no caso de P. vivax e P. mala-riae.

    A crise aguda da malria caracteriza-se por epi-sdios de calafrios, febre e sudorese. Tm durao varivel de 6 a 12 horas e pode cursar com tempe-ratura igual ou superior a 40C. Em geral, esses pa-roxismos so acompanhados por cefalia, mialgia, nuseas e vmitos. Aps os primeiros paroxismos, a febre pode passar a ser intermitente.

    O quadro clnico da malria pode ser leve, modera-do ou grave, na dependncia da espcie do parasito, da quantidade de parasitos circulantes, do tempo de doena e do nvel de imunidade adquirida pelo paciente. As gestantes, as crianas e os primoinfec-tados esto sujeitos a maior gravidade, principal-mente por infeces pelo P. falciparum, que podem ser letais. O diagnstico precoce e o tratamento correto e oportuno so os meios mais adequados para reduzir a gravidade e a letalidade por ma-lria.

    Pela inespecificidade dos sinais e sintomas provo-cados pelo Plasmodium, o diagnstico clnico da malria no preciso, pois outras doenas febris agudas podem apresentar sinais e sintomas se-melhantes, tais como a dengue, a febre amarela, a leptospirose, a febre tifide e muitas outras. Dessa forma, a tomada de deciso de tratar um pacien-te por malria deve ser baseada na confirmao laboratorial da doena, pela microscopia da gota espessa de sangue ou por testes rpidos imunocro-matogrficos.

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    Ministrio da Sade

    2.2.2 Malriagraveecomplicada

    Para o diagnstico de malria grave, algumas ca-ractersticas clnicas e laboratoriais devem ser ob-servadas atentamente (Quadro 1). Se presentes, conduzir o paciente de acordo com as orientaes para tratamento da malria grave.

    Quadro 1 Manifestaes clnicas e laboratoriais da malria grave e complicada, causada pela infeco por P. falciparum

    Sintomas e sinais ProstraoAlterao da conscinciaDispnia ou hiperventilaoConvulsesHipotenso arterial ou choqueEdema pulmonar ao Rx de traxHemorragiasIcterciaHemoglobinriaHiperpirexia (>41C)Oligria

    Alteraes laboratoriais Anemia graveHipoglicemiaAcidose metablicaInsuficincia renalHiperlactatemiaHiperparasitemia

    2.3 Diagnsticolaboratorial

    2.3.1 Diagnsticomicroscpico

    Baseia-se no encontro de parasitos no sangue. O mtodo mais utilizado o da microscopia da gota espessa de sangue, colhida por puno digital e corada pelo mtodo de Walker. O exame cuidado-so da lmina considerado o padro-ouro para a deteco e identificao dos parasitos da malria. possvel detectar densidades baixas de parasitos (5-10 parasitos por l de sangue), quando o exame feito por profissional experiente. Contudo, nas condies de campo, a capacidade de deteco de 100 parasitos/l de sangue.

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    O exame da gota espessa permite diferenciao das espcies de Plasmodium e do estgio de evoluo do parasito circulante. Pode-se ainda calcular a densidade da parasitemia em relao aos campos microscpicos examinados (Quadro 2). Um aspec-to importante que a lmina corada pode ser arma-zenada por tempo indeterminado, possibilitando o futuro controle de qualidade do exame. A tcnica demanda cerca de 60 minutos, entre a coleta do sangue e o fornecimento do resultado. Sua eficcia diagnstica depende da qualidade dos reagentes, de pessoal bem treinado e experiente na leitura das lminas e de permanente superviso.

    Quadro 2 Avaliao semiquantitativa da densidade parasitria de Plasmodium pela microscopia da gota espessa de sangue

    Nmerodeparasitoscontados/campo Parasitemiaqualitativa

    Parasitemiaquantitativa(pormm3)

    40 a 60 po 100 campos +/2 200-3001 por campo + 301-5002-20 por campo ++ 501-10.00021-200 por campo +++ 10.001-100.000200 ou mais por campo ++++ > 100.000

    2.3.2 Testesrpidosimunocromatogrficos

    Baseiam-se na deteco de antgenos dos parasitos por anticorpos monoclonais, que so revelados por mtodo imunocromatogrfico. Comercialmente esto disponveis em kits que permitem diag-nsticos rpidos, em cerca de 15 a 20 minutos. A sensibilidade para P. falciparum maior que 90%, comparando-se com a gota espessa, para densida-des maiores que 100 parasitos por l de sangue. So de fcil execuo e interpretao de resultados, dispensam o uso de microscpio e de treinamen-to prolongado de pessoal. Entre suas desvantagens esto: (i) no distinguem P. vivax, P. malariae e P. ovale; (ii) no medem o nvel de parasitemia; (iii) no detectam infeces mistas que incluem o P. falciparum. Alm disso, seus custos so ainda mais

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    Ministrio da Sade

    elevados que o da gota espessa e pode apresentar perda de qualidade quando armazenado por mui-tos meses em condies de campo.

    No Brasil, as indicaes para o uso dos testes rpi-dos vm sendo definidas pelo PNCM, que prioriza localidades onde o acesso ao diagnstico microsc-pico dificultado por distncia geogrfica ou inca-pacidade local do servio de sade.

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    3 Tratamento da malria

    3.1 Polticanacionaldetratamentodamalria

    O Ministrio da Sade, por meio de uma poltica nacio-nal de tratamento da malria, orienta a teraputica e dis-ponibiliza gratuitamente os medicamentos antimalricos utilizados em todo o territrio nacional, em unidades do Sistema nico de Sade (SUS). Para o cumprimento dessa poltica, o PNCM preocupa-se, constantemente, em revi-sar o conhecimento vigente sobre o arsenal teraputico da malria e sua aplicabilidade para o tratamento dos indiv-duos que dela padecem em nosso pas. Pesquisadores, pro-fessores e profissionais de sade de renomadas instituies brasileiras de ensino, pesquisa e assistncia compem uma Cmara Tcnica de Teraputica da Malria, oficialmente nomeada pelo Ministrio da Sade, com o objetivo de as-sessorar o PNCM na determinao da poltica nacional de tratamento da doena.

    3.2 Objetivosdotratamentodamalria

    O tratamento da malria visa atingir o parasito em pontos-chave de seu ciclo evolutivo, os quais podem ser didatica-mente resumidos em:

    a) interrupo da esquizogonia sangunea, responsvel pela patogenia e manifestaes clnicas da infeco;

    b) destruio de formas latentes do parasito no ciclo teci-dual (hipnozotos) das espcies P .vivax e P. ovale, evi-tando assim as recadas tardias;

    c) interrupo da transmisso do parasito, pelo uso de drogas que impedem o desenvolvimento de formas se-xuadas dos parasitos (gametcitos).

    Para atingir esses objetivos, diversas drogas so utilizadas, cada uma delas agindo de forma especfica, tentando im-pedir o desenvolvimento do parasito no hospedeiro.

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    Ministrio da Sade

    4 Orientaes para o tratamento da malria no Brasil

    4.1 Aprescrioeadispensaodosantimalricos

    Para facilitar o trabalho dos profissionais de sade das re-as endmicas e garantir a padronizao dos procedimentos necessrios para o tratamento da malria, o presente Guia Prtico apresenta, nas tabelas e quadros a seguir, todas as orientaes relevantes sobre a indicao e uso dos antima-lricos preconizados no Brasil, de acordo com o grupo et-rio dos pacientes.

    Embora as dosagens constantes nas tabelas levem em con-siderao o grupo etrio do paciente, recomendvel que, sempre que possvel e para garantir boa eficcia e baixa toxicidade no tratamento da malria, as doses dos medi-camentos sejam fundamentalmente ajustadas ao peso do paciente. Quando uma balana para verificao do peso no estiver disponvel, recomenda-se a utilizao da rela-o peso/idade apresentada nas tabelas. Chama-se a aten-o para a necessidade de, sempre que surgirem dvidas, recorrer-se ao texto do Manual de Tratamento da Malria no Brasil e de outras fontes de consulta (vide tpico Refe-rncias Bibliogrficas) para melhor esclarecimento.

    Adecisodecomotrataropacientecommalriadeveserprecedidadeinformaessobreosseguintesaspectos:

    a) espcie de plasmdio infectante, pela especificidade dos esquemas teraputicos a serem utilizados;

    b) idade do paciente, pela maior toxicidade para crianas e idosos;

    c) histria de exposio anterior infeco uma vez que indivduos primoinfectados tendem a apresentar formas mais graves da doena;

    d) condies associadas, tais como gravidez e outros problemas de sade;

    e) gravidade da doena, pela necessidade de hospitalizao e de tratamento com esquemas especiais de antimalricos.

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    Condiesqueindicamgravidadedadoenaenecessidadedehospitalizaodopacientecommalria Crianas menores de 1 ano Idosos com mais de 70 anos Todas as gestantes Pacientes imunodeprimidos Pacientes com qualquer um dos sinais de perigo para malria grave

    Hiperpirexia (temperatura > 41C) Convulso Hiperparasitemia ( > 200.000/mm3) Vmitos repetidos Oligria Dispnia Anemia intensa Ictercia Hemorragias Hipotenso arterial

    Observaes:

    da maior importncia que todos os profissionais de sade envolvidos no tratamento da malria, desde o auxiliar de sade da comunidade at o mdico, orientem adequadamente, com uma linguagem compreensvel, os pacientes quanto: ao tipo de medicamento que est sendo oferecido; a forma de ingeri-lo e os respectivos horrios.

    Muitas vezes, os pacientes so pessoas humildes que no dispem nem mesmo de relgio para verificar as horas. O uso de expresses locais para a indicao do momento da ingesto do remdio recomendvel. A expresso de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas muitas vezes no ajuda o paciente a saber quando deve ingerir os medicamentos. Sempre que possvel deve-se orientar os acompanhantes ou responsveis, alm dos prprios pacientes, pois geralmente estes, alm de humildes, encontram-se desatentos, devido a febre, dor e mal-estar causados pela doena.

    Em vrios lugares, as pessoas que distribuem os remdios e orientam o seu uso utilizam envelopes de cores diferentes para cada medicamento. O importante que se evite ingesto incorreta dos remdios, pois as consequncias podem ser graves. Portanto, uma prescrio legvel, clara e compreensvel deve ser feita, para que a adeso do paciente ao tratamento seja garantida.

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    Ministrio da Sade

    4.2 Esquemasrecomendadosparaamalrianocomplicada

    Tabela 1 Tratamento das infeces pelo P. vivax ou P. ovale com cloroquina em 3 dias e primaquina em 7 dias (esquema curto)

    Idade/Peso

    Nmerodecomprimidospormedicamentopordia

    1dia 2dia 3dia 4ao7dias

    Cloroquina PrimaquinaINFANTIL CloroquinaPrimaquinaINFANTIL Cloroquina

    PrimaquinaINFANTIL

    PrimaquinaINFANTIL

    6-11 meses5-9 kg

    1/2 1 1/4 1 1/4 1 1/2

    1-3 anos10-14 kg

    1 2 1/2 1 1/2 1 1

    4-8 anos15-24 kg

    1 2 1 2 1 2 2

    Idade/Peso Cloroquina

    PrimaquinaADULTO Cloroquina

    PrimaquinaADULTO Cloroquina

    PrimaquinaADULTO

    PrimaquinaADULTO

    9-11 anos25-34 kg

    2 1 2 1 2 1 1

    12-14 anos35-49 kg

    3 2 2 2 2 2 1

    15 anos 50 kg

    4 2 3 2 3 2 2

    - Cloroquina: comprimidos de 150 mg, Primaquina infantil: comprimidos de 5 mg e Primaquina adulto: comprimidos de 15 mg.

    - Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.- Todos os medicamentos devem ser administrados em dose nica diria.- Administrar os medicamentos preferencialmente s refeies.- No administrar primaquina para gestantes ou crianas menores de 6 meses (nesses casos usar a Tabela 3). - Se surgir ictercia, suspender a primaquina.- Se o paciente tiver mais de 70 kg, ajustar a dose de primaquina (Quadro 3).

    Nota importante: Como hipnozoiticida do P. vivax e do P. ovale, a primaquina eficaz na dose total de 3,0 a 3,5 mg/kg de peso, que deve ser atingida em perodo longo de tempo (geralmente superior a uma semana). Para tanto, calcula-se uma dose diria de 0,25 mg de base/kg de peso, diariamen-te por 14 dias (esquema longo, Tabela 2) ou, alternativa-mente, a dose de 0,50 mg de base/kg de peso durante sete dias (Tabela 1). O esquema curto, em 7 dias com a dose dobrada, foi proposto para minimizar a baixa adeso ao tratamento, geralmente ocorrendo com o tempo mais pro-longado de uso da droga. Em caso de pacientes com mais de 70 kg de peso, a dose de primaquina pode ser ajustada, calculando-se a dose total de 3,2 mg/kg de peso, que pode ser atingida num perodo maior de dias (Quadro 3). Em

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    caso de segunda recada, usar o esquema profiltico com cloroquina semanal (Tabela 4), tendo-se o cuidado de cer-tificar se houve adeso correta do paciente ao tratamento convencional com cloroquina + primaquina (Tabela 1 ou 2). Gestantes e crianas com menos de 6 meses no po-dem usar primaquina. Nesses casos, tratar de acordo com a Tabela 3.

    Tabela 2 Tratamento das infeces pelo P. vivax, ou P. ovale com cloroquina em 3 dias e primaquina em 14 dias (esquema longo)

    Idade/Peso

    Nmerodecomprimidospormedicamentopordia

    1dia 2dia 3dia 4ao14dias

    Cloroquina PrimaquinaINFANTIL CloroquinaPrimaquinaINFANTIL Cloroquina

    PrimaquinaINFANTIL

    PrimaquinaINFANTIL

    6-11 meses5-9 kg

    1/2 1/2 1/4 1/2 1/4 1/2 1/4

    1-3 anos10-14 kg

    1 1 1/2 1/2 1/2 1/2 1/2

    4-8 anos15-24 kg

    1 1 1 1 1 1 1

    Idade/Peso Cloroquina

    PrimaquinaADULTO Cloroquina

    PrimaquinaADULTO Cloroquina

    PrimaquinaADULTO

    PrimaquinaADULTO

    9-11 anos25-34 kg

    2 1/2 2 1/2 2 1/2 1/2

    12-14 anos35-49 kg

    3 1 2 1 2 1 1/2

    15 anos 50 kg

    4 1 3 1 3 1 1

    - Cloroquina: comprimidos de 150 mg, Primaquina infantil: comprimidos de 5 mg e Primaquina adulto: comprimidos de 15 mg.

    - Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.- Todos os medicamentos devem ser administrados em dose nica diria.- Administrar os medicamentos preferencialmente s refeies.- No administrar primaquina para gestantes ou crianas menores de 6 meses (nesses casos usar a Tabela 3).- Se surgir ictercia, suspender a primaquina.- Se o paciente tiver mais de 70 kg, ajustar a dose de primaquina (Quadro 3).

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    Ministrio da Sade

    Quadro 3 Ajuste da dose e tempo de administrao da primaquina para pacientes com peso igual ou superior a 70 kg.

    Faixadepeso(kg) Dosetotaldeprimaquina(mg)

    Tempodeadministrao(dias)

    Esquemalongo(15mg/dia)

    Esquemacurto(30mg/dia)

    70-79 240 16 8

    80-89 272 18 9

    90-99 304 20 10

    100-109 336 22 11

    110-120 368 24 12

    Tabela 3 Tratamento das infeces pelo P. malariae para todas as idades e das infeces por P. vivax ou P. ovale em gestantes e crianas com menos de 6 meses, com cloroquina em 3 dias

    Idade/Peso

    Nmerodecomprimidospordia

    Cloroquina

    1dia 2dia 3dia

    < 6 meses1-4 kg

    1/4 1/4 1/4

    6-11 meses5-9 kg

    1/2 1/4 1/4

    1-3 anos10-14 kg

    1 1/2 1/2

    4-8 anos15-24 kg

    1 1 1

    9-11 anos25-34 kg

    2 2 2

    12-14 anos35-49 kg

    3 2 2

    15 anos 50 kg

    4 3 3

    - Cloroquina: comprimidos de 150 mg.- Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.- Todos os medicamentos devem ser administrados em dose nica diria.- Administrar os medicamentos preferencialmente s refeies.- No administrar primaquina para gestantes ou crianas menores de 6 meses.

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    Tabela 4 Esquema recomendado para preveno das recadas frequentes por Plasmodium vivax ou P. ovale com cloroquina semanal em 12 semanas

    Idade/Peso

    Nmerodecomprimidosporsemana

    Cloroquina

    < 6 meses1-4 kg

    1/4

    6-11 meses5-9 kg

    1/4

    1-3 anos10-14 kg

    1/2

    4-8 anos15-24 kg

    3/4

    9-11 anos25-34 kg

    1

    12-14 anos35-49 kg

    1 e 1/2

    15 anos 50 kg

    2

    - Cloroquina: comprimidos de 150 mg.- Para utilizar esse esquema deve-se ter certeza que o paciente aderiu corretamente ao tratamento convencional.

    - Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.- Recomendar ao paciente no se esquecer de tomar todas as doses.

    Tabela 5 Tratamento das infeces por Plasmodium falciparum com a combina-o fixa de artemeter+lumefantrina em 3 dias

    Idade/Peso

    Nmerodecomprimidos

    1dia 2dia 3dia

    Manh Noite Manh Noite Manh Noite

    6m-2 anos5-14 kg

    1 1 1 1 1 1

    3-8 anos15-24 kg

    2 2 2 2 2 2

    9-14 anos25-34 kg

    3 3 3 3 3 3

    15 anos 35 kg

    4 4 4 4 4 4

    - Comprimido: 20 mg de artemeter e 120 mg de lumefantrina.- Cada tratamento vem em uma cartela individual, em quatro tipos de embalagem, de acordo com o peso ou idade das pessoas.

    - Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.- No primeiro dia, a segunda dose pode ser administrada em intervalo de 8 a 12 horas. - Para crianas pequenas, esmagar o comprimido para facilitar a administrao, podendo ingerir o comprimido com gua ou leite.

    - Recomenda-se administrar o comprimido junto com alimentos. - No administrar a gestantes durante o primeiro trimestre de gravidez, nem crianas menores de 6 meses (nesses casos, usar a Tabela 9).

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    Ministrio da Sade

    Tabela 6 Tratamento das infeces por Plasmodium falciparum com a combina-o fixa de artesunato+mefloquina em 3 dias

    Idade/Peso

    Nmerodecomprimidospordia

    1dia 2dia 3dia

    Infantil Infantil Infantil

    6-11 meses5-8 kg

    1 1 1

    1-5 anos9-17 kg

    2 2 2

    Idade/Peso

    1dia 2dia 3dia

    Adulto Adulto Adulto

    6-11 anos18-29 kg

    1 1 1

    12 anos 30 kg

    2 2 2

    - Comprimido infantil: 25 mg de artesunato e 50 mg de mefloquina; adulto: 100 mg de artesunato e 200 mg de mefloquina.

    - Cada tratamento vem em uma cartela individual, em quatro tipos de embalagem, de acordo com o peso ou idade das pessoas.

    - Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.- Para crianas pequenas, esmagar o comprimido para facilitar a administrao, podendo ingerir o comprimido com gua ou leite.

    - Recomenda-se administrar o comprimido junto com alimentos. - No administrar a gestantes durante o primeiro trimestre de gravidez, nem crianas menores de 6 meses (nesses casos, usar a Tabela 9).

    Tabela 7 Esquema de segunda escolha, recomendado para o tratamento das in-feces por Plasmodium falciparum com quinina em 3 dias, doxiciclina em 5 dias e primaquina no 6 dia.

    Idade/Peso

    Nmerodecomprimidospormedicamentopordia

    1,2e3dias 4e5dias 6dia

    Quinina Doxiciclina Doxiciclina Primaquina

    8-10 anos22-29 kg

    1 e 1/2 1 1 1

    11-14 anos30-49 kg

    2 e 1/2 1 e 1/2 1 e 1/2 2

    15 anos 50 kg

    4 2 2 3

    - Sulfato de quinina: comprimidos de 500 mg do sal, Doxiciclina: comprimidos de 100 mg do sal e Primaquina: comprimidos de 15 mg.

    - A dose diria de quinina e da doxiciclina devem ser divididas em duas tomadas de 12/12 horas. - Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.- A doxiciclina no deve ser dada a gestantes ou crianas menores de 8 anos.- A primaquina no deve ser dada a gestantes ou crianas menores de 6 meses.- No administrar a gestantes, nem crianas menores de 6 meses (nesses casos, usar a Tabela 9).

  • 23

    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    4.3 Tratamentodasinfecesmistas

    Para pacientes com infeco mista por P. falciparum e P. vivax (ou P. ovale), o tratamento deve incluir droga esqui-zonticida sangunea eficaz para o P. falciparum, associada primaquina (esquizonticida tecidual). Se a infeco mista for pelo P. falciparum e P. malariae, o tratamento deve ser dirigido apenas para o P. falciparum.

    Tabela 8 Tratamento das infeces mistas por Plasmodium falciparum e Plasmo-dium vivax ou Plasmodium ovale

    Idade/Peso

    EsquemaparaP. falciparum

    Nmerodecomprimidospordia

    Primaquina

    1ao3dias4dia 5dia 6dia 7ao10dias

    Infantil Infantil Infantil Infantil

    6-11 meses5-9 kg

    Artemeter + Lumefantrina (Tabela 5)

    ou

    Artesunato + Mefloquina(Tabela 6)

    1 1 1 1/2

    1-3 anos10-14 kg

    2 1 1 1

    4-8 anos15-24 kg

    2 2 2 2

    Idade/Peso

    4dia 5dia 6dia 7ao10dias

    Adulto Adulto Adulto Adulto

    9-11 anos25-34 kg

    1 1 1 1

    12-14 anos35-49 kg

    2 2 2 1

    15 anos 50 kg

    2 2 2 2

    * Se infeco mista com P. malariae, administrar apenas o esquema de P. falciparum.- Primaquina infantil: comprimidos de 5 mg, Primaquina adulto: comprimidos de 15 mg.- Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.- Para crianas menores de 6 meses e gestantes no 1 trimestre tratar apenas malria por P. falciparum segundo a Tabela 9.

    - No administrar primaquina para gestantes. - Administrar os medicamentos preferencialmente s refeies.- Se surgir ictercia, suspender a primaquina.- Se o paciente tiver mais de 70 kg, ajustar a dose de primaquina (Quadro 3).

    4.4 Tratamentodamalrianagravidezenacrianamenorde6meses

    No caso de malria por P. falciparum durante o primeiro trimestre de gravidez e em crianas menores de 6 meses apenas a quinina associada clindamicina deve ser utiliza-da. No segundo e terceiro trimestres da gestao a combina-

  • 24

    Ministrio da Sade

    o de artemeter+lumefantrina ou artesunato+mefloquina podem ser utilizadas com segurana (Tabelas 5 e 6); a do-xiciclina contra-indicada, enquanto a clindamicina pode ser usada com segurana em associao com quinina. Os derivados da artemisinina podem ser usados no primeiro trimestre de gestao em casos de malria grave, caso seja iminente o risco de vida da me.

    Gestantes e crianas menores de 6 meses com malria pelo P. vivax ou P. ovale devem receber apenas cloroquina (Ta-bela 3) para o seu tratamento, uma vez que a primaquina contra-indicada nessas situaes pelo alto risco de hemli-se. Aps um segundo episdio de malria por P. vivax ou P. ovale (recada), toda gestante dever receber o tratamento convencional com cloroquina (Tabela 3) e, em seguida, ini-ciar o esquema de cloroquina semanal profiltica (Tabela 4), durante 12 semanas, para preveno de novas recadas. O mesmo se aplica para crianas menores de 6 meses.

    Gestantes e crianas menores de 6 meses com malria pelo P. malariae devem receber tratamento com cloroquina normalmente (Tabela 3).

    Tabela 9 Esquema recomendado para tratamento das infeces no complica-das por Plasmodium falciparum no primeiro trimestre da gestao e crianas com menos de 6 meses, com quinina em 3 dias e clindamicina em 5 dias

    Idade/Peso

    Nmerodecomprimidosoudosepordia

    1,2e3dias 4e5dias

    Quinina Clindamicina Clindamicina

    < 6 meses*1-4 kg

    1/4 (manh)1/4 (noite)

    1/4 (manh)1/4 (noite)

    1/4 (manh)1/4 (noite)

    Gestantes12-14 anos(30-49 kg)

    1 e 1/2 (manh)1 (noite)

    1/2 (6 em 6 horas)

    1/2 (6 em 6 horas)

    Gestantes 15 anos( 50 kg)

    2 (manh)2 (noite)

    1 (6 em 6 horas)

    1 (6 em 6 horas)

    * A clindamicina no deve ser usada para crianas com menos de um ms. Nesse caso, administrar quinina na dose de 10mg de sal/kg a cada 8 horas, at completar um tratamento de 7 dias.

    - Sulfato de quinina: comprimidos de 500 mg do sal, Clindamicina: comprimidos de 300 mg.- Sempre dar preferncia ao peso para a escolha da dose.

  • 25

    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    4.5 Tratamentodamalriagraveecomplicada,causadapeloP. falciparum

    Qualquer paciente portador de exame positivo para mal-ria falciparum, que apresente um dos sinais e/ou sintomas relacionados no Quadro 1, deve ser considerado portador de malria grave e complicada e para a qual o tratamento deve ser orientado, de preferncia em unidade hospitalar.

    Nesses casos, o principal objetivo do tratamento evitar que o paciente morra. Para isso, antimalricos potentes e de ao rpida devem ser administrados (Tabela 10), junta-mente com todas as medidas de suporte vida do paciente. Secundariamente, aps evidncia de melhora das compli-caes da malria grave, deve-se preocupar com a preven-o de recrudescncia, da transmisso ou da emergncia de resistncia.

    A malria grave deve ser considerada uma emergncia mdica. Portanto, a permeabilidade das vias areas deve estar garantida e os parmetros da respirao e circulao avaliados. Se possvel, o peso do paciente deve ser aferido ou estimado, para facilitar os clculos dos medicamentos a serem administrados. Um acesso venoso adequado deve ser providenciado e as seguintes determinaes laborato-riais solicitadas: glicemia, hemograma, determinao da parasitemia, gasometria arterial e parmetros de funo renal e heptica. Exame clnico-neurolgico minucioso deve ser realizado, com especial ateno para o estado de conscincia do paciente, registrando-se o escore da escala de coma (por exemplo, a escala de Glasgow).

  • 26

    Ministrio da Sade

    Tabela 10 Esquemas recomendados para o tratamento da malria grave e compli-cada pelo Plasmodium falciparum em todas as faixas etrias

    Artesunato1: 2,4 mg/kg (dose de ataque) por via endovenosa, seguida de 1,2 mg/kg administrados aps 12 e 24 horas da dose de ataque. Em seguida, manter uma dose diria de 1,2 mg/kg durante 6 dias. Se o paciente estiver em condies de deglutir, a dose diria pode ser administrada em comprimidos, por via oral.

    Clindamicina: 20 mg/kg/dia, endovenosa, diluda em soluo glicosada a 5% (1,5 ml/kg de peso), infundida gota a gota em 1 hora, dividida em 3 doses ao dia, durante 7 dias. Se o paciente estiver em condies de deglutir, a dose diria pode ser administrada em comprimidos, por via oral, de acordo com a Tabela 9.

    Noindicadoparagestantesno1trimestre

    OU

    Artemether: 3,2 mg/kg (dose de ataque) por via intramuscular. Aps 24 horas aplicar 1,6 mg/kg por dia, durante mais 4 dias (totalizando 5 dias de tratamento). Se o paciente estiver em condies de deglutir, a dose diria pode ser administrada em comprimidos, por via oral.

    Clindamicina: 20 mg/kg/dia, endovenosa, diluda em soluo glicosada a 5% (1,5 ml/kg de peso), infundida gota a gota em 1 hora, durante 7 dias. Se o paciente estiver em condies de deglutir, a dose diria pode ser administrada em comprimidos, por via oral, de acordo com a Tabela 9.

    Noindicadoparagestantesno1trimestre

    OU

    Quinina: administrar quinina endovenosa, na dose de 20 mg/kg de dicloridrato de quinina (dose de ataque)2, diluda em 10ml/kg de soluo glicosada a 5% (mximo de 500 ml de SG 5%), por infuso endovenosa durante 4 horas. Aps 8 horas do incio da administrao da dose de ataque, administrar uma dose de manuteno de quinina de 10mg de sal/kg, diludos em 10 ml de SG 5%/ kg, por infuso endovenosa (mximo de 500 ml de SG 5%), durante 4 horas. Essa dose de manuteno deve ser repetida a cada 8 horas, contadas a partir do incio da infuso anterior, at que o paciente possa deglutir; a partir desse momento, deve-se administrar comprimidos de quinina na dose de 10mg de sal/kg a cada 8 horas, at completar um tratamento de 7 dias.

    Clindamicina: 20 mg/kg/dia, endovenosa, diluda em soluo glicosada a 5% (1,5 ml/kg de peso), infundida gota a gota em 1 hora, durante 7 dias. Se o paciente estiver em condies de deglutir, a dose diria pode ser administrada em comprimidos, por via oral, de acordo com a Tabela 9.

    ESTE ESQUEMA INDICADO PARA GESTANTES DE 1 TRIMESTRE E CRIANAS MENORES DE 6 MESES3

    1 Dissolver o p de artesunato (60 mg por ampola) em diluente prprio ou em uma soluo de 0,6 ml de bicarbonato de sdio 5%. Esta soluo deve ser diluda em 50 ml de SG 5% e administrada por via endovenosa, em uma hora.

    2 Outra possibilidade administrar quinina em infuso endovenosa (ou bomba de infuso) numa dose de ataque de 7mg do sal/kg durante 30 minutos, seguida imediatamente de 10mg do sal/kg diludos em 10 ml/kg de soluo glicosada a 5% (mximo de 500 ml), em infuso endovenosa durante 4 horas.

    3 A clindamicina no deve ser usada para crianas com menos de um ms. Nesse caso, administrar apenas quinina.

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    5 Preveno e profilaxia da malria no Brasil

    5.1 Medidasdeprevenoparareduziroriscodeadquirirmalria

    Para determinar o risco individual de adquirir malria necessrio que o profissional obtenha informaes deta-lhadas sobre a viagem. Roteiros que incluam as caracters-ticas descritas abaixo so aqueles que oferecem risco eleva-do de transmisso e, consequentemente, de manifestao de malria grave no viajante.

    SITUAESDERISCOELEVADODETRANSMISSODEMALRIA Itinerrio da viagem: destino que inclua local com nveis elevados de transmisso

    de malria e/ou transmisso em permetro urbano. Objetivo da viagem: viajantes que realizam atividades do pr-do-sol ao amanhecer. Condies de acomodao: dormir ao ar livre, em acampamentos, barcos, ou

    habitaes precrias sem proteo contra mosquitos. Durao da viagem: perodo da viagem maior que o perodo de incubao da

    doena, ou seja, permanecer no local tempo maior que o perodo mnimo de incubao da doena (sete dias).

    poca do ano: viagem prxima ao incio ou trmino da estao chuvosa. Altitude do destino: destinos at 1.000 m de altitude. Acesso ao sistema de sade no destino distante em mais de 24 horas.

    APRESENTAMRISCOELEVADODEDOENAGRAVE Indivduos de reas onde a malria no endmica. Crianas menores de cinco anos de idade. Gestantes. Idosos. Esplenectomizados. Pessoas vivendo com HIV/SIDA. Neoplasias em tratamento. Transplantados.

    Independentemente do risco de exposio malria, o via-jante deve ser informado sobre as principais manifestaes da doena e orientado a procurar assistncia mdica ime-diatamente ao apresentar qualquer sinal ou sintoma.

    As medidas de proteo contra picadas de mosquitos de-vem ser enfaticamente recomendadas a todos os viajantes com destino a reas de risco de malria.

  • 28

    Ministrio da Sade

    PROTEOCONTRAPICADASDEINSETOS Informao sobre o horrio de maior atividade de mosquitos vetores de malria, do

    pr-do-sol ao amanhecer. Uso de roupas claras e com manga longa, durante atividades de exposio elevada. Uso de medidas de barreira, tais como telas nas portas e janelas, ar condicionado e

    uso de mosquiteiro impregnado com piretrides. Uso de repelente base de DEET (N-N-dietilmetatoluamida) que deve ser

    aplicado nas reas expostas da pele seguindo a orientao do fabricante. Em crianas menores de 2 anos de idade no recomendado o uso de repelente sem orientao mdica. Para crianas entre 2 e 12 anos usar concentraes at 10% de DEET, no mximo trs vezes ao dia, evitando-se o uso prolongado.

    5.2 Diagnsticoetratamentoprecoces

    O acesso precoce ao diagnstico e tratamento tambm estratgia importante para a preveno de doena grave e da morte de malria por P. falciparum. Portanto, funda-mental reconhecer, previamente, se no destino a ser visi-tado, o viajante ter acesso ao servio de sade em menos de 24 horas.

    No Brasil, a rede de diagnstico e tratamento de malria encontra-se distribuda nos principais destinos da Amaz-nia Legal, permitindo o acesso do viajante ao diagnstico e tratamento precoces.

    Nas regies em que a malria no endmica, tem-se ob-servado manifestaes graves da doena, possivelmente pelo retardo da suspeita clnica, do diagnstico e do trata-mento. Portanto, o viajante deve ser conscientizado de que na ocorrncia de febre at seis meses aps a sada da rea de transmisso de malria, o mesmo deve procurar servio mdico especializado.

    5.3 Quimioprofilaxia

    Outra medida de preveno da malria a quimioprofi-laxia (QPX), que consiste no uso de drogas antimalricas em doses subteraputicas, a fim de reduzir formas clnicas graves e o bito devido infeco por P. falciparum.

    Atualmente existem cinco drogas recomendadas para a QPX: doxiciclina, mefloquina, a combinao atovaquona/

  • 29

    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    proguanil e cloroquina. As duas primeiras apresentam ao esquizonticida sangunea e a combinao atovaquona/pro-guanil possui ao esquizonticida sangunea e tecidual.

    Vale ressaltar, entretanto, que nenhuma dessas drogas apresenta ao contra esporozotos (formas infectantes) ou hipnozotos (formas latentes hepticas), no prevenindo, portanto infeco pelo Plasmodium sp ou recadas por P. vivax ou P. ovale.

    A QPX deve ser indicada quando o risco de doena grave e/ou morte por malria P. falciparum for superior ao risco de eventos adversos graves relacionados s drogas utilizadas. O mdico, antes de decidir pela indicao da QPX, deve es-tar ciente do perfil de resistncia do P. falciparum aos anti-malricos disponveis, na regio para onde o cliente estar viajando. Maiores informaes esto disponveis no Guia para profissionais de sade sobre preveno da malria em viajantes, disponvel em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/guia_prevencao_malaria_viajantes.pdf.

    Viajantes em uso de quimioprofilaxia (QPX) devem reali-zar pesquisa de hematozorio em sangue perifrico (gota espessa) ao trmino da profilaxia, mesmo que estejam as-sintomticos e, a qualquer tempo, caso apresentem quais-quer sintomas de doena.

    5.4 Comentriosimportantessobreaprevenodemalriaemviajantes

    Diante da complexidade que envolve as medidas de preven-o da malria em viajantes, recomenda-se uma avaliao criteriosa do risco de transmisso da malria nas reas a se-rem visitadas, para a adoo de medidas preventivas contra picadas de insetos, bem como procurar conhecer o acesso rede de servios de diagnstico e tratamento da malria na rea visitada. Nos grandes centros urbanos do Brasil, esse trabalho de avaliao e orientao do viajante est sendo feito em Centros de Referncia cadastrados pelo Minis-trio da Sade (disponveis em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/visualizar_texto.cfm?idtxt=27452).

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    Ministrio da Sade

    A QPX deve ser reservada para situaes especficas, na qual o risco de adoecer de malria grave por P. falciparum for superior ao risco de eventos adversos graves relaciona-dos ao uso das drogas quimioprofilticas.

    No Brasil, onde a malria tem baixa incidncia e h predomnio de P. vivax em toda a rea endmica, deve-se lembrar que a eficcia da profilaxia para essa espcie de Plasmodium baixa. Assim, pela ampla distribuio da rede de diagnstico e tratamento para malria, no se indica a QPX para viajantes em territrio nacional.

    Entretanto, a QPX poder ser, excepcionalmente, reco-mendada para viajantes que visitaro regies de alto risco de transmisso de P. falciparum na Amaznia Legal, que permanecero na regio por tempo maior que o perodo de incubao da doena (e com durao inferior a seis me-ses) e em locais cujo acesso ao diagnstico e tratamento de malria estejam a mais de 24 horas.

    importante frisar que o viajante que se desloca para re-as de transmisso de malria deve procurar orientao de preveno antes da viagem e acessar o servio de sade caso apresente sintomas de malria dentro de seis meses aps retornar de uma rea de risco de transmisso da do-ena, mesmo que tenha realizado quimioprofilaxia.

  • 31

    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    6 Vigilncia epidemiolgica da malria

    6.1 Objetivos

    Estimar a magnitude da morbidade e mortalidade da malria.

    Identificar tendncias temporais, grupos e fatores de risco.

    Detectar surtos e epidemias. Recomendar as medidas necessrias para prevenir ou

    controlar a ocorrncia da doena. Avaliar o impacto das medidas de controle.

    A seguir so apresentadas informaes teis para a notifi-cao e investigao de casos de malria, de acordo com o Guia de Vigilncia Epidemiolgica da Secretaria de Vigi-lncia em Sade do Ministrio da Sade (SVS/MS).

    Definio de caso suspeito na rea endmica toda pes-soa que apresente febre seja residente ou tenha se desloca-do para rea onde haja transmisso de malria, no perodo de 8 a 30 dias anterior data dos primeiros sintomas; ou toda pessoa testada para malria durante investigao epi-demiolgica.

    Definio de caso suspeito na rea no-endmica toda pessoa que seja residente ou tenha se deslocado para rea onde haja transmisso de malria, no perodo de 8 a 30 dias anterior data dos primeiros sintomas, e que apresen-te febre com um dos seguintes sintomas: calafrios, tremo-res generalizados, cansao, mialgia; ou toda pessoa testada para malria durante investigao epidemiolgica.

    Definio de caso confirmado toda pessoa cuja presen-a de parasito no sangue, sua espcie e parasitemia tenham sido identificadas por meio de exame laboratorial.

    Definio de caso descartado Caso suspeito com diag-nstico laboratorial negativo para malria.

    Lmina de Verificao de Cura (LVC) classifica-se como LVC o exame de microscopia (gota espessa e esfre-

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    Ministrio da Sade

    gao) realizado durante e aps tratamento recente, em pa-ciente previamente diagnosticado para malria, por busca ativa ou passiva.

    6.2 ObjetivosdarealizaodeLVC

    No que diz respeito ateno clnica (individual) acompanhar o paciente para verificar se o tratamento foi eficaz.

    No que diz respeito vigilncia epidemiolgica (co-letivo) a LVC constitui importante indicador para a deteco de deficincias dos servios de sade na vigi-lncia de fontes de infeco, ateno e tratamento do doente com malria. Alm disso, til para diferenciar uma nova infeco (caso novo) de uma recidiva (recru-descncia ou recada).

    Critrios para a aplicao de LVC

    Para a Amaznia Legal no h obrigatoriedade na realizao dos controles peridicos pela LVC durante o tratamento. Desta forma, todo paciente que demandar o diagnstico de malria dever ser assim classificado: Resultado do exame atual = P. vivax. Se o pacien-

    te realizou tratamento para P. vivax dentro dos lti-mos 60 dias do diagnstico atual, dever ser classi-ficado como LVC.

    Resultado do exame atual = P. falciparum Se o pa-ciente realizou tratamento para P. falciparum den-tro dos ltimos 40 dias do diagnstico atual, dever ser classificado como LVC.

    Para a Regio no-Amaznica a realizao dos con-troles peridicos pela LVC durante os primeiros 40 (P. falciparum) e 60 dias (P. vivax) aps o incio do trata-mento deve constituir-se na conduta regular na aten-o a todos os pacientes malricos nessa regio. Dessa forma, a LVC dever ser realizada: nos dias 2, 4, 7, 14, 21, 28, 40 e 60 aps o incio do tratamento de pacientes com malria pelo P. vivax; nos dias 2, 4, 7, 14, 21, 28 e 40 aps o incio do tratamento de pacientes com mal-ria pelo P. falciparum. Em caso de lmina positiva aps os limites mximos acima especificados, o paciente de-

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    ver ser classificado como caso novo e deve-se consi-derar a investigao epidemiolgica para confirmar ou afastar autoctonia. Caso seja afastada a possibilidade de autoctonia, classificar o exame como LVC.

    Notificao todo caso de malria deve ser notificado s autoridades de sade, tanto na rea endmica quanto na rea no-endmica. A notificao dever ser feita por meio da ficha de notificao de caso de malria (SIVEP-Malaria) para os casos ocorridos na Regio Amaznica e na ficha de notificao SINAN, para os casos ocorridos fora da Amaznia.

    Confirmao diagnstica Coletar material para diagnstico laboratorial, de acordo com as orientaes tcnicas.

    Proteo da populao Como medidas utilizadas para o controle da malria na populao, pode-se des-tacar: tratamento imediato dos casos diagnosticados; deteco e tratamento de novos casos junto aos co-municantes; orientao populao quanto doena, uso de repelentes, mosquiteiros impregnados, roupas protetoras, telas em portas e janelas; investigao dos casos e avaliao entomolgica para orientar as medi-das de controle disponveis

    Investigao Aps a notificao de um ou mais casos de malria, deve-se iniciar a investigao epidemiol-gica para permitir que as medidas de controle possam ser adotadas. O instrumento de coleta de dados a fi-cha de notificao de caso de malria do Sivep-Mal-ria, ou a ficha de investigao de malria do Sinan, que contm os elementos essenciais a serem coletados em uma investigao de rotina. Todos os seus campos de-vem ser criteriosamente preenchidos. As informaes sobre dados preliminares da notificao, dados do paciente e os campos, sintomas, data dos primeiros sintomas e paciente gestante? devem ser preenchi-dos no primeiro atendimento ao paciente.

    Controle vetorial Deve-se analisar a capacidade ope-racional instalada no municpio para as atividades de controle vetorial que se pretende realizar e, baseado nela, definir em quantas localidades prioritrias pos-svel fazer controle vetorial, seguindo todos os critrios de periodicidade, qualidade e cobertura: borrifao

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    Ministrio da Sade

    residual o mtodo atual para controle de mosquitos adultos, deve respeitar a residualidade do inseticida (de trs meses no caso de piretrides) e ter cobertura m-nima de 80% das residncias atendidas; mosquiteiros impregnados de longa durao devem ser distribudos gratuitamente e instalados pelos agentes de sade, e com acompanhamento em relao ao correto uso di-rio e limitao no nmero de lavagens; termone-bulizao no deve ser utilizada na rotina, somente em situaes de alta transmisso (surtos e epidemias) nos aglomerados de residncias em ciclos de trs dias con-secutivos no horrio de pico de atividade hematofgica das fmeas e repetidos a cada cinco a sete dias; apli-cao de larvicidas em criadouros do vetor; e pequenas obras de saneamento, para eliminao destes criadou-ros.

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    Guia prtico de tratamento da malria no Brasil

    Referncias

    BRASIL. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Manual de teraputica da malria. Braslia, 2001. 104 p.

    ______. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Guia de vigilncia epidemiolgica. 6. ed. Braslia, 2005. 816 p.

    ______. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Guia para profissionais de sade sobre preveno da malria em viajantes. Braslia, 2008. 24 p.

    ______. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Manual de diagnstico laboratorial da malria. Braslia, 2005. 112 p.

    ______. Ministrio da Sade. Situao epidemiolgica da malria no Brasil, 2008. Braslia, 2008.

    GILLES, H. M.; WARREL, D. A. Bruce-Chwatts Essential Malariology. 3. ed. London: Edward Arnold, 1993.

    ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE. Tratamento da malria grave e complicada: guia de condutas prticas. 2. ed. Braslia: Grfica e Editora Brasil, 2000. 60 p. Verso adaptada para a lngua portuguesa.

    WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for the treatment of malaria. Geneva, 2006. 256 p. (WHO/HTM/MAL/ 2006.1108).