guias unifesp:epm - eletrocardiografia

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ECG

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  • Guia de Eletrocardiografia com Exerccios Comentados

    Coordenao deste guia

    ANTNIO CARLOS DE CARVALHO Professor Titular e Chefe da Disciplina de Cardiologia da Escola Paulista

    de Medicina (EPM) da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp)

    FELIPE AUGUSTO DE OLIVEIRA SOUZA Graduado em Medicina pela Universidade Federal

    de Uberlndia (UFU). Residncia Mdica em Clnica Mdica e Cardiologia pela EPM-Unifesp

    CLUDIO CIRENZA Assistente do Setor de Eletrofisiologia Invasiva Disciplina

    de Cardiologia da EPM-Unifesp

    SILVIO ROBERTO BORGES ALESSIEspecialista em Eletrofisiologia Invasiva pela

    EPM-Unifesp

    Editor da srie

    Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar

    NESTOR SCHORProfessor Titular da Disciplina de Nefrologia do Departamento

    de Medicina da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp).

    Titular da Academia Brasileira de Cincias (ABC) e da Academia Nacional de Medicina (ANM)

  • Copyright 2012 Editora Manole Ltda., por meio de contrato com a Fundao de Apoio Unifesp (FAP).

    Logotipos: Copyright Escola Paulista de Medicina (EPM) Copyright Universidade Federal de So Paulo (Unifesp) Copyright Fundao de Apoio Unifesp (FAP)

    Projeto grfico e capa: Nelson Mielnik e Sylvia MielnikEditorao eletrnica: Viso Editorial MEImagens do miolo: gentilmente cedidas pelos autoresIlustraes: Sirio Braz Canado

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poder ser reproduzida,por qualquer processo, sem a permisso expressa dos editores. proibida a reproduo por xerox.A Editora Manole filiada ABDR Associao Brasileira de Direitos Reprogrficos.

    1a edio 2012

    Direitos adquiridos pela:Editora Manole Ltda.Avenida Ceci, 672 Tambor06460-120 Barueri SP BrasilTel.: (11) 4196-6000 Fax: (11) [email protected]

    Impresso no BrasilPrinted in Brazil

    Este livro contempla as regras do Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    So de responsabilidade dos autores e coordenadores as informaes contidas nesta obra.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Guia de eletrocardiografia com exerccios comentados [livro eletrnico] / coorde-nao deste guia Antnio Carlos de Carvalho...[et. al]. -- Barueri, SP : Manole, 2012. (Guias de medicina ambulatorial e hospitalar / editor da srie Nestor Schor)

    Flash Vrios autores. Outros coordenadores: Felipe Augusto de Oliveira Souza, Cludio Cirenza,

    Silvio Roberto Borges Alessi. Bibliografia. ISBN 978-85-204-3503-8

    1. Cardiologia 2. Corao - Doenas - Diagnstico 3. Eletrocardiografia - Atlas I. Carvalho, Antnio Carlos de. II. Souza, Felipe Augusto de Oliveira. III. Cirenza, Cludio. IV. Alessi, Silvio Roberto Borges. V. Schor, Nestor. VI. Srie.

    CDD-616.120754712-04330 NLM-WG 140

    ndices para catlogo sistemtico:1. Eletrocardiografia : Guias : Atlas

    616.1207547

  • mFABRCIO NOGUEIRA FURTADOGraduado em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Residn-cia Mdica em Clnica Mdica pela UEL. Residncia Mdica em Cardiologia e em Ecocardiografia Adulto pela EPM-Unifesp. Ttulo de Especialista em Cardiologia e Certificado de Atuao na rea de Eletrocardiografia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia/Associao Mdica Brasileira (SBC/AMB). Certificado de atuao na rea de Ecocardiografia pela SBC/AMB.

    FELIPE AUGUSTO DE OLIVEIRA SOUZAGraduado em Medicina pela UFU. Residncia Mdica em Clnica Mdica e Cardio-logia pela EPM-Unifesp.

    FERNANDO BIANCHINI CARDOSOGraduado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas (PUC-Campinas). Residncia Mdica em Medicina do Esporte e do Exerccio pela EPM-Unifesp.

    Autores

    DIMAS ELIAS DEMOCH JUNIORGraduado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlndia (UFU). Residncia Mdica em Medicina do Esporte e do Exerccio pela Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp).

    ELIANE REIKO ALVESGraduada em Medicina pela PUC-SP. Residncia Mdica em Clnica Mdica e Car-diologia Clnica pela EPM-Unifesp.

    ERALDO RIBEIRO FERREIRA LEO DE MORAESGraduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valena. Ps-graduado em Cardiologia e em Arritmia Clnica e Eletrofisiologia Invasiva pela EPM-Unifesp.

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    OS GABRIEL PELEGRINETI TARGUETA

    Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Esprito Santo (Ufes). Residn-cia Mdica em Clnica Mdica pela EPM-Unifesp.

    LUIZ CARLOS PAULGraduado em Medicina pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Residn-cia Mdica em Clnica Mdica e em Cardiologia pelo Hospital de Clnicas de Porto Alegre (HCPA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mdico Ps--graduando do Servio de Eletrofisiologia Clnica e Invasiva do Hospital So Paulo (HSP) da EPM-Unifesp.

    MRCIO GIANOTTOGraduado em Medicina pela Universidade Federal do Paran (UFPR). Residncia Mdica em Clnica Mdica, em Cardiologia e em Arritmia e Eletrofisiologia pela EPM-Unifesp.

    RAFAEL DE BIASE ABTGraduado em Medicina pela Faculdade de Cincias Mdicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Residncia Mdica em Medicina Interna e em Cardiologia pela FCM da Unicamp. Especialista em Eletrofisiologia Clnica pela EPM-Unifesp.

    SILVIO ROBERTO BORGES ALESSIEspecialista em Eletrofisiologia Invasiva pela EPM-Unifesp.

    Visite nosso website: O eletrocardiograma Unifesp/EPM www.ecgepm.com.

  • vii

    Agradecimentos especiais

    PATRICIA LOPES BARBOSATcnica de Radiologia do Servio de Hemodinmica do Hospital So Paulo.

    EPEOPLE SOLUES TECNOLGICAS

    ITMS DO BRASIL

    Homenagens especiais

    Aos Mestres da EPM, de ontem e de hoje, na interpretao de ECG: Jose Bocanegra Arroyo, Abraham Pfeferman, Silvio Borges, Dirceu V. Santos Filho, Brulio Luna Filho, Rui Pvoa.

    Homenagem especial da Disciplina de Cardiologia a Moises Queiroz Moreira, Arthur Pagliara, Amaury Amaral, Antnio Celio Moreno, Jos Maria Orlando, ao SAMU na pessoa do Ten. Cel. Luiz Carlos Wilke, e ao sistema de Telecardio (ECG a distncia), implantado com o auxlio da Secretaria Municipal de Sade da Prefeitura de So Paulo em 2008, e que foi a origem da maioria dos ECG utilizados neste guia. O sis-tema da ITMS do Brasil, implantado em Uberlndia pelo prof. Dr. Roberto Botelho e Dr. Silvio Roberto Borges Alessi e coordenado no Hospital So Paulo (EPM-Unifesp) pela Epeople (Dr. Euclides M. Barros), levou o sculo XXI a inmeras localidades, propiciando laudos corretos, imediatos, a distncia e contribuindo para salvar muitas vidas.

    Finalmente, nossa homenagem especial ao Dr. Januario Montone, Secretrio Munici-pal de Sade, que tornou realidade o funcionamento efetivo do Telecardio em AMAS da Prefeitura do Municpio de So Paulo.

    Prof. Dr. Antonio Carlos CarvalhoProfessor Titular e Chefe da Disciplina de Cardiologia da EPM-Unifesp

  • A Medicina uma rea do conhecimento em constante evoluo e transformao. As informaes

    contidas neste livro devem ser consideradas resultado do conhecimento atual. Contudo, de acordo com

    as novas pesquisas e experincias clnicas, algumas alteraes no tratamento e na terapia medicamentosa

    tornam-se necessrias ou adequadas. Os leitores so aconselhados a conferir as informaes fornecidas pelo

    fabricante de cada medicamento a ser administrado, verificando a dose recomendada, o modo e o perodo

    da administrao, as contraindicaes e os efeitos adversos, bem como as observaes e atualizaes sobre

    o produto posteriores a esta publicao. de responsabilidade do mdico, com base em sua experincia e

    seu conhecimento do paciente, determinar as dosagens e o melhor tratamento para cada situao, em par-

    ticular. Os editores, os autores e a Editora Manole no assumem responsabilidade por quaisquer prejuzos

    ou leses a pessoas ou propriedades.

  • `o

    ECG peditrico 10. ................................................................................. 89 ECG no atleta 11. ................................................................................... 95

    0ARTEs!TLASDEELETROCARDIOGRAMASBradiarritmias e bloqueios atrioventriculares 1. ........................103Bloqueios de ramo e hemidivisionais 2. ........................................ 117Sndromes coronarianas agudas (SCA) 3. .....................................125Taquiarritmias 4. ......................................................................................137Pr-excitao ventricular 5. ................................................................159Sobrecargas de cmaras cardacas 6. .............................................169Marca-passo artificial 7. .......................................................................179Outros distrbios do ritmo cardaco 8. ..........................................191Situaes especiais em eletrocardiografia 9. ...............................197

    0REFCIO ..........................................................................................XI!PRESENTAO ............................................................................. XIII

    0ARTEs4EORIAO ECG normal 1. ............................................................................................3Bradiarritmias e bloqueios atrioventriculares 2. .......................... 13Bloqueios de ramo e hemidivisionais 3. .......................................... 25Sndromes coronarianas agudas (SCA) 4. ....................................... 33Taquiarritmias 5. .........................................................................................41Pr-excitao ventricular (Wolff-Parkinson-White) 6. .............. 57Sobrecargas de cmaras cardacas 7. ................................................61Marca-passo artificial8. .......................................................................... 69Miscelnea 9. ............................................................................................... 77

    Sumrio

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    OS 0ARTEs#OMENTRIOSDOSELETROCARDIOGRAMAS

    Bradiarritmias e bloqueios atrioventriculares 1. . . . . . . . . . 207Bloqueios de ramo e hemidivisionais 2. . . . . . . . . . . . . . . . . 217Sndromes coronarianas agudas (SCA)3. . . . . . . . . . . . . . . . 223Taquiarritmias 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233Pr-excitao ventricular 5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247Sobrecargas de cmaras cardacas 6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253Marca-passo artificial 7. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261

    Outros distrbios do ritmo cardaco 8. . . . . . . . . . . . . . . . . . 267Situaes especiais em eletrocardiografia 9. . . . . . . . . . . . . 271

    0ARTEs%XERCCIOS ................................................................277

    0ARTEs2ESPOSTASDOSEXERCCIOS ....................................329

    NDICEREMISSIVO .......................................................................335

  • xi

    Prefcio

    Em nosso meio, bastante frequente a utilizao de guias ou

    manuais procedentes de instituies universitrias internacionais para a

    consulta rpida e objetiva de jovens estudantes de medicina, residentes

    e profissionais da rea de sade.

    Entretanto, apesar de a procedncia dessa literatura ter um inques-

    tionvel valor cientfico, raramente est adaptada realidade mdica de

    nosso pas, por no apresentar as diferenas relacionadas disponibilidade

    dos meios de diagnstico e de medicamentos, e, em especial, incidncia

    e importncia de determinadas doenas. Sem dvida, a continentalidade

    do Brasil um fator relevante, que deve ser considerado no desenvolvi-

    mento de estudos e pesquisas mdicas de estudantes e profissionais.

    Por essas razes e com o objetivo de nos aproximarmos da realidade

    brasileira, criamos a srie Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar

    da Unifesp-EPM, a qual se fundamenta no conhecimento e na prtica

    cotidiana de diversos servios da Universidade Federal de So Paulo

    (Unifesp) e tambm na orientao das disciplinas em esfera ambula-

    torial (Hospital So Paulo e Centros de Sade Afiliados) e hospitalar

    (Hospital So Paulo, Hospital da Vila Maria, Hospital Pirajussara, Hos-

    pital de Diadema, Hospital de Transplante do Estado de So Paulo/Bri-

    gadeiro, Municipal Pimentas/Guarulhos, entre outros), onde exercemos

    uma medicina pblica de excelente qualidade intelectual.

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    OS A rede ambulatorial e hospitalar utilizada por nossa Universidade

    renomada no s por propiciar um ensino e uma prtica mdica de

    qualidade, mas tambm por elevar os padres e as exigncias necess-

    rias para um atendimento digno a que nossa populao tem direito.

    Visando a manter uma educao continuada vinculada prtica

    mdica atual, mais de quarenta guias, que so constantemente atuali-

    zados, esto disposio de graduandos, residentes, ps-graduandos e

    profissionais de diferentes reas da medicina.

    A maturidade e o elevado padro mdico dos servios ofereci-

    dos comunidade pela EPM-Unifesp refletem-se nas obras da srie,

    engrandecidas por oferecerem os proventos auferidos a seus respectivos

    centros de estudo, o que amplia a possibilidade de aprimoramento

    cientfico das disciplinas.

    O presente volume de responsabilidade dos Professores Antnio

    Carlos Carvalho, Felipe Augusto de Oliveira Souza, Cludio Cirenza e

    Silvio Roberto Borges Alessi da Disciplina de Cardiologia do Departa-

    mento de Medicina da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.

    Este Guia foi estruturado para oferecer quatro grupos de contedo,

    a saber: formao terica, atlas dos eletrocardiogramas mais representa-

    tivos das alteraes frequentemente observadas na clnica mdica, exer-

    ccios para consolidar o aprendizado ou para reavivar os conhecimentos

    adquiridos anteriormente pelo mdico clnico ou pelo cardiologista

    prtico, bem como respostas comentadas dos exerccios, que ressaltam

    os pontos de maior importncia no diagnstico eletrocardiogrfico.

    A Parte 1, terica, inicia com o ECG normal, seguido das principais

    alteraes clnicas, como as bradiarritmias, os bloqueios de ramo, as

    sndromes coronarianas agudas, as taquiarritmias, as sobrecargas de

    cmaras, o marca-passo, o ECG peditrico e no atleta.

    Para exemplificar graficamente, a Parte 2 disponibiliza os ECGs das

    alteraes apresentadas na seo terica. O formato do ECG, como uma

    ferramenta grfica, adequadamente mostrado neste guia prtico. Na

    Parte 2, tambm so fornecidos ECGs em situaes especiais, possibili-

    tando o diagnstico em momentos mais complexos da leitura grfica.

    As sees seguintes (Partes 3, 4 e 5) apresentam exerccios, comen-

    trios e respostas aos ECGs fornecidos como exemplos.

    Raramente, em um livro dessa natureza, temas de importncia pr-

    tica como esses so abordados para a consulta da comunidade mdica.

    O Guia de Eletrocardiografia, por outro lado, constitui um modelo de

    guia mdico prtico para a consulta beira do leito ou na atividade

    ambulatorial do residente, do clnico geral ou do cardiologista no

    especialista em ECG.

    Uma coleo mdica como a dos Guias ficaria incompleta sem a inclu-

    so desta rea do saber, a eletrocardiografia. O emprego dessa ferramenta

    ainda muito valioso na avaliao cardaca e no cardaca. Nitidamente,

    este Guia preenche uma lacuna na literatura mdica contempornea com

    uma viso da prtica dessa complexa atividade profissional, que tem expe-

    rimentado um impacto notvel das recentes descobertas mdicas.

    A atividade acadmica, entre outras funes, engloba a produo de

    material educacional, e nossos Guias cumprem tal proposta. Enfatiza-

    mos que essa atividade tem sido pouco valorizada pelos atuais critrios

    de avaliao da produo cientfica dos docentes e, por isso, conside-

    ramos que os autores desses volumes possuem o mais elevado esprito

    acadmico e cientfico. Para a realizao desta srie, no poderia faltar a

    participao da Editora Manole, com seu excelente padro editorial.

    Nestor Schor

    Editor da Srie

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    O estudo e o tratamento das doenas cardiovasculares apresen-

    taram expressiva evoluo nos ltimos 50 anos. A propedutica em

    cardiologia, a busca de procedimentos minimamente invasivos e a pre-

    veno primria dessas doenas so fatores que norteiam as melhores

    condutas, atualmente.

    Os novos mtodos e os exames complementares, com a progressiva

    incorporao de novas tecnologias, no diminuem ou descartam o uso

    do eletrocardiograma, que apesar de todo o progresso da propeduti-

    ca cardiolgica, continua sendo um mtodo indispensvel e de suma

    importncia para qualquer mdico com especializao clnica, sobre-

    tudo o cardiologista.

    A interpretao correta do eletrocardiograma e a sua correlao

    clnica beira do leito trazem informaes adicionais e de grande valor

    para o diagnstico e orientao teraputica. Ainda hoje, continua sendo

    Apresentao

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    OS uma importante ferramenta no diagnstico de arritmias, sndromes

    coronarianas agudas, miocardiopatias e inmeras doenas no cardio-

    vasculares.

    A confeco deste livro no formato de um atlas comentado foi

    baseada nas dificuldades de se padronizar um material de fcil enten-

    dimento, com uma base terica simples e acessvel a todo o pblico

    da rea da sade. Nesta obra, os eletrocardiogramas foram analisa-

    dos de forma objetiva e sistematizada, reforando o aprendizado e a

    padronizao do contedo disposto anteriormente. A diversidade dos

    eletrocardiogramas dentre as mais variadas doenas em cardiologia faz

    deste atlas um livro de cabeceira para qualquer clnico, emergencista

    e cardiologista.

    Dr. Felipe Augusto de Oliveira Souza

  • Teoria

    1PARTE

  • 3O eletrocardiograma (ECG) um exame complementar, no inva-

    sivo, que fornece ao mdico informaes essenciais para a interpretao

    de doenas cardacas e no cardacas.

    Conhecer o ECG normal o primeiro passo para quem deseja se

    aprofundar no conhecimento de sua interpretao.

    Distrbios do ritmo, distrbios de conduo, sndromes corona-

    rianas agudas, alteraes hidroeletrolticas, pericardite, entre outras

    doenas, podem ser rapidamente diagnosticadas com o ECG.

    IMPORTNCIA DO ECG

    Em 1903, Willem Einthoven utilizou o eletrocardiograma pela

    primeira vez na prtica clnica. Seus estudos na rea lhe renderam o

    Prmio Nobel de Medicina, em 1924, e impulsionaram uma rea do

    conhecimento, hoje, indispensvel na Medicina. Enxergar a atividade

    eltrica do corao continua to atual e, talvez, ainda mais til do que

    foi no incio do sculo XX.

    F E L I P E A U G U S T O D E O L I V E I R A S O U Z A

    G A B R I E L P E L E G R I N E T I T A R G U E T A

    O ECG normal

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    ECG DE 12 DERIVAES POSICIONAMENTO DOS ELETRODOS

    As 12 derivaes do ECG tradicional incluem:

    1. Seis derivaes que representam o plano frontal, ou viso frontal

    do corao: DI, DII e DIII so derivaes bipolares, enquanto aVR,

    aVL e aVF so derivaes unipolares. Elas so obtidas por meio dos

    eletrodos perifricos (membros). DI, DII e DIII obtm registros

    por meio da diferena de potencial entre os membros, enquanto

    aVR, aVL e aVF inscrevem traados por meio de um conjunto

    de resistncias, cujo potencial considerado zero, se comparado

    aos membros. Essa combinao de derivaes d origem a 6 eixos

    (separados por 30), essenciais para o entendimento da atividade

    eltrica cardaca no plano frontal. A Figura 1 representa os eixos e a

    relao entre cada um deles.

    2. Seis derivaes precordiais que representam o plano horizontal. Os

    eletrodos (plo positivo) so posicionados no trax do paciente,

    como esquematizado na Figura 2. A referncia negativa do sistema

    formada por um eletrodo composto conhecido como terminal

    central de Wilson, que formado pela combinao do sinal dos

    membros por meio de resistncias de 5.000 ohms (Figura 2).

    A Tabela 1 relaciona 12 derivaes e as posies dos eletrodos.

    BD BE

    PEPD

    DI

    DIDII

    DII

    DIII

    DIII

    aVF

    aVF

    aVRaVR

    aVLaVL

    ++

    + +

    +

    +

    V1 V2V3

    V4 V5 V6

    Linha hemiclavicular anteriorLinha axilar anterior

    Linha axilar mdia

    FIGURA 1 Representao esquemtica das derivaes do plano frontal.BD: brao direito; PD: perna direita; PE: perna esquerda; BE: brao esquerdo.

    FIGURA 2 Representao esquemtica das derivaes do plano horizontal.

  • 5O

    ECG

    NO

    RM

    AL

    1SISTEMATIZAO DA INTERPRETAO DO ECG fundamental respeitar uma ordem na anlise do ECG, para que

    todas as informaes disponveis no exame sejam aproveitadas. O

    padro eletrocardiogrfico normal exposto a seguir, conforme a sequ-

    ncia de interpretao dos traados. A ordem sugerida :

    s passo 1: calibrao;s passo 2: frequncia cardaca;s passo 3: ritmo;

    s passo 4: eixo eltrico do complexo QRS;s passo 5: ondas e intervalos normais.

    Calibrao A velocidade normal de inscrio do traado eletrocardiogrfico

    no papel de 25 mm/s. Cada quadrado pequeno (1 mm) corresponde

    portanto a 40 ms. Cada quadrado grande (5 mm) corresponde a 200 ms.

    Cada 10 mm de amplitude vertical do traado eletrocardiogrfico corres-

    ponde a 1 mV na calibrao padro (N). Em traados de baixa amplitude,

    existe a opo de dobrar o ganho do aparelho para melhor interpretao,

    correspondendo, assim, 1 mV a 20 mm de amplitude (2 N). direita do

    papel, h uma inscrio para documentar a boa calibrao do aparelho. A

    altura desse traado deve ser de 10 quadrados pequenos (Figura 3).

    TABELA 1 DERIVAES E POSIO DE ELETRODOS

    Derivao Posio do eletrodo Viso do corao (parede)

    V1 Quarto espao intercostal direita do esterno Septo

    V2 Quarto espao intercostal esquerda do esterno

    Septo

    V3 Ponto mdio entre V2 e V4 Anterior

    V4 Quinto espao intercostal esquerda sobre a linha hemiclavicular anterior

    Anterior

    V5 No mesmo nvel de V4, sobre a linha axilar anterior

    Lateral

    V6 No mesmo nvel de V5, sobre a linha axilar mdia

    Lateral

    V3R Posio anloga ao V3, no hemitrax direito Ventrculo direito

    V4R Posio anloga ao V4, no hemitrax direito Ventrculo direito

    V7 Linha escapular esquerda Dorsal

    V8 Linha paravertebral esquerda Dorsal

    Esta onda possui 3 mm = 120 ms1 mm = 40 ms

    Esta altura deve ser de 10 mm

    FIGURA 3 Traado eletrocardiogrfico e suas medidas.

    Frequncia cardaca

    Neste livro, o quadrado maior visualizado tem o valor de 200 ms, ou

    seja, 5 quadradinhos de 0,04 s ou 40 ms (tamanho padro). Para calcu-

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    1. Passo 1: tente identificar a onda P e analisar a sua morfologia onda

    P sinusal ou ectpica?

    2. Passo 2: estabelea a relao entre a onda P e o complexo QRS

    toda onda P seguida de um complexo QRS?

    3. Passo 3: faa a anlise do QRS (estreito ou largo).

    4. Passo 4: estabelea a regularidade do ritmo (regular ou irregular)

    os intervalos RR so constantes? Sendo irregulares, mantm um

    padro de irregularidade (regularmente irregular) ou no (irregu-

    larmente irregular)?

    5. Passo 5: defina o ritmo e estabelea uma correlao clnica com o

    paciente em questo.

    No ECG normal, o ritmo sinusal identificado por onda P positiva

    nas derivaes DI, DII, aVF, V4 e V6, negativa em aVR e negativa ou

    bifsica nas derivaes DIII e V1. Cada onda P seguida de um com-

    plexo QRS, gerando um intervalo RR regular (Figura 6).

    Os padres anormais do ritmo cardaco sero discutidos nos cap-

    tulos seguintes.

    lar a frequncia cardaca (FC), divide-se 300 pelo nmero de quadrados

    grandes entre o intervalo RR (Figura 4).

    FC = 300 nmero de quadrados grandes

    FC = 300/2 quadrados = 150 bpm

    Observao: no caso de ECG com ritmo irregular (intervalo RR

    irregular), a melhor forma de obter a FC contando o nmero de com-

    plexos QRS em um intervalo de 6 segundos, multiplicando o resultado

    por 10, como na Figura 5.

    1 sII

    10 complexos QRS em 6 segundos >> FC = 10 x 10 = 100 bpm

    1 s 1 s 1 s 1 s 1 s

    Ritmo

    A principal e talvez mais importante funo do ECG a anlise do

    ritmo cardaco. Para o identificar, siga os passos a seguir, a fim de faci-

    litar e organizar o seu raciocnio:

    FIGURA 4 Clculo prtico da FC com ritmo regular.

    FIGURA 5 Clculo prtico da FC com ritmo irregular.

    I II

    FIGURA 6 Ritmo sinusal: a onda P normal apresenta-se com discreto entalhe, uma vez que a ativao atrial direita precede a ativao atrial esquerda. Tem polaridade positiva em derivaes DI e DII e negativa em aVR. Sua morfologia uniforme; pre-cedendo todos os complexos QRS. O intervalo de ciclo uniforme entre as ondas P, e todas as ondas P apresentam a mesma morfologia.

  • 7O

    ECG

    NO

    RM

    AL

    1

    s morfologia: a corrente eltrica atrial gerada no n sinusal (trio direito (AD), seguindo inferiormente para o prprio AD e lateral-

    mente para o trio esquerdo (AE), com um vetor resultante com

    eixo de aproximadamente 60. Inscreve-se, portanto, como onda

    positiva nas derivaes DI, DII, aVF, V4 e V6, negativa ou bifsica

    nas derivaes DIII e V1. O aspecto bifsico em V1 deve-se aos

    dois componentes da onda vistos separados (ativao de AD e AE,

    sequencialmente);

    s durao normal: 120 ms;s a amplitude normal da onda P nas derivaes perifricas menor

    que 0,25 mV. A defl exo negativa em V1 deve ter, no mximo, 0,1

    mV de profundidade.

    2. Intervalo PR: representa o tempo de conduo eltrica do trio ao

    ventrculo:

    s morfologia: intervalo medido entre o incio da onda P at o incio do complexo QRS;

    s durao normal: 120 a 200 ms.3. Complexo QRS: corresponde despolarizao ventricular:

    Eixo eltrico do complexo QRS

    A anlise do eixo cardaco torna-se importante na identifi cao de

    sobrecargas de cmaras cardacas, bloqueios hemifasciculares, entre

    outros. A Figura 6 esquematiza uma forma simplifi cada e rpida de

    anlise do eixo cardaco. Uma estimativa mais detalhada pode ser feita

    inscrevendo a polaridade de cada eixo do plano frontal no esquema

    de sobreposio das derivaes, mostrado no incio deste captulo.

    Calcula-se, ento, a resultante dos vetores, admitindo uma estimativa

    do eixo cardaco com erro menor que 30 (Figura 7).

    Ondas e intervalos normais (Figura 8)

    1. Onda P: representa a despolarizao atrial:

    FIGURA 7 Representao esquemtica do eixo cardaco.

    Ponto J IntervaloPR

    Intervalo QTTP QRS

    SegmentoST

    FIGURA 8 Intervalos e composio do traado eletrocardiogrfico.

  • 8G

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    OS

    1

    QTc = QT

    !"# (em s)

    O valor normal do QTc 440 ms.7. Onda U: pode estar presente como uma pequena deflexo separada

    e posterior onda T, principalmente nas derivaes V1 e V2. Sua

    causa no bem definida, mas pode corresponder repolarizao

    do sistema de conduo eltrica (fibras de Purkinje). mais vista

    em casos de bradicardia.

    RR

    s morfologia: a deflexo negativa inicial a onda Q. Representa a despolarizao septal. Normalmente, pode ser vista nas deriva-

    es dos membros e entre V4 e V6. A primeira deflexo positiva

    a onda R. Representa a despolarizao do ventrculo esquerdo

    (VE), exceto em V1, onde uma pequena onda R representa a des-

    polarizao septal. A deflexo negativa aps a onda R chamada

    onda S. Representa a despolarizao da parede lateral alta. Nas

    derivaes V1 e V2, a onda S tambm significa a despolarizao

    do VE;

    s quando de pequena amplitude, as ondas do complexo QRS devem ser representadas por letras minsculas (q, r, s);

    s durao normal: 80 a 100 ms.4. Segmento ST: corresponde ao perodo entre a despolarizao e

    repolarizao ventricular. Seu ponto inicial denominado ponto J:

    s morfologia: medido do ponto J ao incio da onda T. geralmen-te isoeltrico, podendo ter uma pequena concavidade superior.

    5. Onda T: representa a repolarizao ventricular:

    s morfologia: normalmente assimtrica, larga, de amplitude varivel. Sua polaridade costuma ser a mesma da maior onda do

    complexo QRS, numa mesma derivao.

    6. Intervalo QT: compreende todo intervalo em que existe algum

    fenmeno de repolarizao de membrana celular:

    s morfologia: medido do incio do complexo QRS at o final da onda T.

    s durao normal: o tempo total de repolarizao varia inversa-mente com a frequncia cardaca. A medida do intervalo QT deve

    ser corrigida, portanto, utilizando a frmula de Bazett:

    FIGURA 9 Derivaes precordiais (V1, V2, V3, V4, V5, V6): observe a progresso de onda R e regresso de onda S na sequncia de V1 a V6 (padro normal).

    V1

    V2

    V3

    V4

    V5

    V6

  • 9O

    ECG

    NO

    RM

    AL

    1

    ECG da Figura 11. a chamada repolarizao precoce, que est relaciona-

    da a um aumento do tnus vagal em indivduos saudveis. Nessa situao,

    a elevao de ST inicia-se no ponto J e apresenta formato cncavo.

    POSICIONAMENTO INCORRETO DE ELETRODOS

    O erro no preparo para o ECG envolvendo troca de posio de

    eletrodos implica alteraes do padro eletrocardiogrfico normal, que

    podem facilmente passar por alteraes patolgicas, levando a diagns-

    ticos equivocados e condutas inadequadas.

    Em se tratando das derivaes precordiais, por exemplo, a m coloca-

    o leva a diferentes morfologias do complexo QRS, que no correspon-

    de esperada progresso de R e regresso de S nessas derivaes. O erro

    mais comum o posicionamento de V1 e V2 acima do 4 espao inter-

    costal, o que leva reduo da amplitude da onda R como pode acontecer

    no infarto agudo do miocrdio (IAM) de parede anterior (comentado no

    captulo Sndromes coronarianas agudas).

    A inverso das derivaes perifricas dos membros tambm comum,

    e leva aos padres anormais detalhados na Tabela 2 (BD = brao direito;

    BE = brao esquerdo; PD = perna direita; PE = perna esquerda).

    Variaes do normal

    Algumas situaes podem criar variaes do traado eletrocardiogr-

    fico normal sem possuir significado patolgico. Manobras que alteram o

    tnus autonmico como, por exemplo, hiperventilao, beber gua gela-

    da e manobra de Valsalva, podem produzir depresso do segmento ST.

    Inverses de onda T nas derivaes precordiais podem tambm

    ocorrer em pessoas normais. Cerca de 1 a 3% dos adultos tm ondas T

    invertidas de V1 a V3, refletindo a persistncia de um padro observado

    normalmente at os 10 anos de idade.

    Elevao do segmento ST em derivaes como V2 e V3 corresponde

    a uma outra possibilidade de achado sugestivo de doena em uma pessoa

    sem cardiopatias ou outras condies patolgicas. Em um estudo reali-

    zado com 6.914 homens saudveis nos EUA, uma elevao de ST de 1 a

    3 mm foi observada em 91% dos participantes, sendo mais comum em

    V2. Observe o ECG da Figura 10. O segmento ST apresenta elevao de

    quase 3 mm em V2 e 2 mm em V3. Foi obtido de um paciente saudvel e

    assintomtico representando, portanto, uma variante da normalidade.

    Especialmente em homens negros, pode-se tambm encontrar ele-

    vao do segmento ST de at 4 mm em derivaes precordiais, como no

    V1 V2 V3 V4 V5 V6

    FIGURA 10 Elevao discreta do segmento ST em V2 e V3 em paciente assin-tomtico.

    V1 V2 V3 V4 V5 V6

    FIGURA 11 Padro de repolarizao ventricular precoce.

  • 10G

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    OS

    1

    A seguir, o ECG da Figura 13a foi obtido com cabos do BD e BE

    invertidos. Note a diferena com o ECG da Figura 13b, obtido de um

    I

    II

    III

    aVR

    aVL

    aVF

    paciente com dextrocardia, situao em que as polaridades de DI e aVR

    tambm esto invertidas. Na dextrocardia, entretanto, os complexos

    QRS nas derivaes precordiais so progressivamente menores no sen-

    tido V1-V6, sem aparecimento e aumento caracterstico da onda R.

    FIGURA 12 ECG normal: derivaes perifricas bipolares (DI, DII, DIII) e unipolares (aVR, aVL, aVF).

    FIGURA 13 (A) ECG com troca dos eletrodos (BD e BE invertidos). (B) ECG de um paciente com dextroposio cardaca.

    I

    II

    III

    aVR

    aVL

    aVF

    V1

    V2

    V3

    V4

    V5

    V6

    I

    II

    III

    aVR

    aVL

    aVF

    V1

    V2

    V3

    V4

    V5

    V6

    TABELA 2 DIAGNSTICO DO POSICIONAMENTO INCORRETO DE ELETRODOS

    Inverso BD-BE Inverso BD-PD Inverso BE-PE

    DI Invertido DIII invertido DII

    DII DIII Assistolia DI

    DIII II Normal Invertido

    aVR aVF Igual a aVF Normal

    aVL aVR Normal aVF

    aVF Normal Igual a aVR aVL

    A

    B

  • 11O

    ECG

    NO

    RM

    AL

    1

    BIBLIOGRAFIA1. Green JM, Chiaramida AJ. 12-lead EKG confidence: A step-by-step guide.

    2.ed. New York: Springer, 2010. 2. Libby P, Bonow RO, Mann DL, Zipes DP (eds.). Libby: Braunwalds heart

    disease: a textbook of cardiovascular medicine. 8.ed. Philadelphia: Saun-ders Elsevier, 2007.

    3. Podrid PJ. ECG tutorial: Basic principles of ECG analysis. Uptodate online 1.8. Disponvel em www.uptodate.com.

    4. Wang K, Asinger RW, Marriott HJL. ST. Segment elevation in conditions other than acute myocardial infarction. N Engl J Med 2003; 349:2128-35.

  • 13

    CLASSIFICAO

    De modo didtico, pode-se dividir as bradicardias conforme as

    alteraes no automatismo do n sinusal, na conduo sinoatrial e na

    conduo atrioventricular (AV).

    N SINUSAL

    O n sinusal o marca-passo dominante cardaco. Sua funo de

    marca-passo determinada por seu baixo potencial mximo de mem-

    DEFINIO

    Historicamente, a frequncia cardaca (FC) dita normal varia

    entre 60 e 100 bpm, definindo-se bradicardia quando a FC inferior a

    60 a 55 batimentos por minuto (bpm). No entanto, em um estudo de

    Spodick et al.1, verificou-se que a FC mdia foi de 70 bpm, com desvio--

    -padro entre 46 e 93 bpm para mulheres e 51 a 95 bpm para homens,

    sem alterao de tais valores conforme a idade.

    Bradicardia pode ser causada por alteraes em diversos stios do

    sistema de conduo cardaco.

    R A F A E L D E B I A S E A B T

    Bradiarritimias e bloqueios atrioventriculares

    2CAPTULO

  • 14G

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    2

    brana durante a distole e despolarizao de membrana espontnea

    ngreme de fase 4 (Figura 1).

    Acreditava-se que o n sinusal se localizava na regio epicrdica do

    sulco terminal de trio direito, medindo de 10 a 20 mm de comprimen-

    to, com espessura e largura de cerca de 2 a 3 mm (Figura 2).

    Em verdade, o n sinusal uma regio funcionalmente maior e

    menos bem definida. Composta de ninhos das principais clulas de

    marca-passo (clulas P), que espontaneamente se despolarizam. Em

    adio aos ninhos principais, existem ainda outros locais contendo

    clulas de reserva, com frequncia de despolarizao menos intensas,

    sendo estas uma verdadeira reserva para condies fisiolgicas e pato-

    lgicas.

    DISFUNO DE N SINUSAL

    Pode-se classificar a disfuno de n sinusal em intrnseca (secun-

    dria a condies patolgicas afetando o prprio n) ou extrnseca

    (depresso do n provocada por fatores externos, como drogas ou

    tnus autonmico) (Tabelas 1 e 2).

    APRESENTAES CLNICAS

    1. Bradicardia sinusal: considerada anormal quando persistente, inex-

    plicada e inapropriada para as circunstncias fisiolgicas. Frequn-

    cias inferiores a 40 bpm (no associadas a sono ou condicionamen-

    to fsico) so consideradas anormais.

    2. Pausa sinusal: os termos pausa ou parada sinusal so intercambi-

    veis, resultando de cessao total de formao de impulsos pelo n

    sinusal. Pausas no so um mltiplo exato do intervalo PP pregres-

    so. Apesar de pausas de 2 a 3 segundos serem observadas em at

    N sinoatrial

    Incio

    ik

    if if

    iCa (L)iCa (T)

    0

    +30

    0

    30

    60

    3

    44

    mV

    +50

    0

    50

    100

    +50

    0

    50

    100+50

    0

    50

    100

    +50

    0

    50

    100+50

    0

    50

    100

    +50

    0

    50

    100

    N sinoatrial

    N AV

    Purkinje

    trio

    Feixe de His

    Ventrculo

    Mem

    bran

    a po

    tenc

    ial (

    mV)

    Tempo 300 ms

    FIGURA 1 (A) Representao esquemtica de potencial de membrana de n sinusal, mostrando as diversas fases de potencial de membrana. (B) Comparao esquemtica entre diversos potenciais de membrana de clulas cardacas.

    FIGURA 2 Representao anatmica do n sinusal.

    A B

  • 15B

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    RR

    ITIMIA

    S E B

    LOQ

    UEIO

    S A

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    VEN

    TRIC

    ULA

    RES

    2

    11% dos indivduos e em 1/3 de atletas treinados, pausas maiores

    que 3 segundos so raras, geralmente tendo como etiologia disfun-

    o do n sinusal (Figura 3).

    3. Sndrome bradicardia-taquicardia: manifestao comum de disfun-

    o de n sinusal, ocorrendo na presena de bradicardia sinusal ou

    juncional intermitente, alternando com perodos de taquiarritmia

    atrial (sendo a mais comum a fibrilao atrial FA) (Figuras 4 e 5).

    4. Incompetncia cronotrpica: definida como uma FC anormalmen-

    te baixa em resposta ao esforo, com FC mxima atingida em um

    teste de esforo 70 a 75% da FC mxima predita para idade (220 idade). Quando a FC no ultrapassa 120 bpm em pico de esforo,

    a incompetncia cronotrpica melhor definida.

    BLOQUEIOS SINOATRIAIS

    Bloqueios sinoatriais so mais comumente decorrentes de mudanas

    nas caractersticas eletrofisiolgicas no tecido ao redor do n sinusal, resul-

    tando em inabilidade de resposta ou conduo de estmulo nodal ao trio.

    Pode ter como etiologia drogas, doena primria ou atividade vagal

    exacerbada.

    TABELA 1 CAUSAS DA DISFUNO INTRNSECA DE N SINUSAL

    Doena degenerativa idioptica: a causa mais comum

    Infarto do miocrdio: geralmente de parede inferior secundrio isquemia, aps 6 horas do incio do quadro

    Cardiomiopatia

    Hipertenso arterial de longa data

    Doenas infiltrativas: amiloidose ou sarcoidose

    Doenas do colgeno

    Trauma cirrgico: principal causa na populao peditrica, geralmente correlacionada correo cirrgica de cardiopatias congnitas

    Transplante cardaco

    Doenas musculoesquelticas

    Doenas congnitas cardacas

    TABELA 2 CAUSAS DE DISFUNO EXTRNSECA DE N SINUSAL

    Drogas: ocorre por efeito direto nas clulas nodais ou por meio de tnus autonmico; incluem betabloqueadores, bloqueadores de canal de clcio (verapamil e diltiazm), digoxina, agentes anti-hipertensivos simpatolticos (clonidina), antiarrtmicos de classes IA, IC, e III

    Tnus autonmico

    Infarto do miocrdio: relacionado parede inferior nas primeiras 6 horas

    700 780 760690

    II

    MCL

    1860

    FIGURA 3 Pausa sinusal sendo demonstrada em duas derivaes: a despeito de uma discreta irregularidade na frequncia sinusal, a pausa excede de modo significativo qualquer intervalo PP (o bloqueio sinoatrial do 3 grau no pode ser excludo como diagnstico neste exemplo).

  • 16G

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    2

    Bloqueio sinoatrial do 2 grau1. Tipo I (Wenckebach): caracterizado por progressivo decrscimo dos

    intervalos PP antes de uma pausa causada pela ausncia de uma

    onda P. A pausa tem durao inferior do ciclo PP basal (Figura 6).

    2. Tipo II: caracterizado quando o intervalo PP um mltiplo do

    intervalo presumido do marca-passo sinusal (2:1, 3:1, 4:1). Assim,

    o ciclo PP ao redor da pausa um mltiplo do intervalo PP normal

    (Figura 7).

    Bloqueio sinoatrial do 3 grau Bloqueios sinoatriais do 3 grau refletem uma total perda de con-

    duo dos impulsos gerados pelo marca-passo sinusal ao trio, gerando

    uma aparncia de pausa sinusal (na verdade, h atividade eltrica sendo

    deflagrada pelo n sinusal, porm, esta acaba completamente bloquea-

    Bloqueio sinoatrial do 1 grauBloqueios sinoatriais do 1 grau refletem uma lentificao da sada

    do impulso do n sinusal para o trio, mas ainda h conduo 1:1. Tal

    anormalidade no pode ser reconhecida no ECG de superfcie.

    IIMCL

    4,1 segundos de pausa

    FIGURA 4 Sndrome bradicardia-taquicardia: duas derivaes do ECG de superfcie demonstram uma taquicardia atrial com trmino sbito, seguida de pausa sinusal de 4,1 segundos.

    FA

    SJ

    FIGURA 5 Sndrome bradicardia-taquicardia: os trs primeiros complexos QRS advm de fibrilao atrial (FA), com trmino abrupto. Aps longa pausa, verifica-se batimento juncional (J), seguido por ritmo sinusal (S).

    III

    2 x P P < 2 x P P

    P P 2 x P P

    FIGURA 7 Bloqueio sinoatrial 2:1.

    FIGURA 6 Bloqueio sinoatrial do 2 grau tipo I: o PP de intervalo bloqueado inferior a duas vezes o intervalo PP de ciclo basal.

  • 17B

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    RR

    ITIMIA

    S E B

    LOQ

    UEIO

    S A

    TRIO

    VEN

    TRIC

    ULA

    RES

    2

    Bloqueio da conduo AV pode ser congnito ou adquirido. A inci-

    dncia de bloqueio AV congnito varia entre 1 para cada 15 a 22 mil

    nascidos vivos. Bloqueios congnitos completos (3 grau) geralmente

    tm melhor prognstico do que bloqueios completos adquiridos, quan-

    do no associados a cardiopatias subjacentes (Tabela 3).

    Bloqueios da conduo AV adquiridos possuem uma ampla gama

    de etiologias, com diferentes prognsticos conforme cada condio

    associada (Tabela 4).

    Alm de condio clnica, o stio do bloqueio e o ritmo de escape

    resultante tambm contribuem para o prognstico.

    Bloqueio atrioventricular do 1 grau Bloqueio AV do 1 grau definido por intervalo PR superior a 200

    ms seguido de ondas P no prematuras. Todas as ondas P so conduzi-

    das, sendo o intervalo PR constante (Figura 9).

    O local de bloqueio AV do 1 grau pode ser definido por uma srie

    de fatores. Grau de prolongamento do intervalo PR pode predizer

    stio de bloqueio. Intervalos PR superiores a 300 ms ou intervalos PR

    altamente variveis e durao normal do QRS tambm sugerem envol-

    vimento do n AV (Tabela 5).

    da ao chegar aos trios). Na prtica, so indistinguveis de paradas

    sinusais no ECG de superfcie.

    SISTEMA DE CONDUO ATRIOVENTRICULAR (FIGURA 8)

    BLOQUEIOS ATRIOVENTRICULARES

    Bloqueio da conduo AV pode ser definido como atraso ou ausn-

    cia de conduo do impulso eltrico originado nos trios aos ventr-

    culos, podendo ser causado por alterao anatmica ou funcional no

    sistema de conduo, sendo transitrio ou permanente.

    Bloqueio ou atraso na conduo do estmulo cardaco pode ocorrer

    em qualquer ponto do sistema de conduo.

    Sistema eltrico cardaco

    Fascculo de Bachmann

    Feixe esquerdo

    Vias de conduo

    N sinoatrial

    Trato anterior internodal

    Trato mdio internodal

    Trato posterior internodal

    N atrioventricular Feixe direito

    FIGURA 8 Representao do sistema de conduo cardaco.

    TABELA 3 CAUSAS DO BLOQUEIO DA CONDUO AV CONGNITO

    Lpus neonatal: corresponde a 60 a 90% dos bloqueios AV congnitos, sendo causado por anticorpos que lesam o RNA intracelular dos micitos fetais

    Cardiopatia congnita: pode ocorrer em at 50% dos pacientes portadores de bloqueio AV congnito (transposio corrigida dos grandes vasos, discordncia AV, defeitos de septo ventricular, defeitos do canal AV e anomalia de Ebstein)

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    2

    TABELA 4 CAUSAS DO BLOQUEIO DA CONDUO AV ADQUIRIDOS

    Drogas: uma grande variedade de drogas pode afetar a conduo AV. Digoxina e betabloqueadores agem indiretamente no n AV por seus efeitos no sistema nervoso autonmico. Bloqueadores de clcio e amiodarona agem diretamente no n AV. Antiarrtmicos dos tipos I e III afetam tambm a conduo no sistema His-Purkinje, resultando em bloqueio infranodal

    Infarto do miocrdio: bloqueio AV ocorre em 12 a 25% de pacientes ps-IAM, sendo os bloqueios AV do 1 grau com frequncia de 2 a 12%, bloqueios de 2 grau com frequncia de 3 a 10% e bloqueios do 3 grau com frequncia de 3 a 7%. O prognstico e a durao do bloqueio esto intrinsecamente relacionados regio acometida pelo infarto

    Isquemia miocrdica crnica: doena isqumica crnica pode resultar em bloqueio AV permanente. Bloqueios transitrios podem ocorrer durante a angina pectoris e a angina de Prinzmetal

    Fibrose e esclerose de sistema de conduo: so as causas mais comuns de bloqueios AV adquiridos, com cerca de 50% dos casos, podendo ser induzidas por uma srie de condies clinicamente indistinguveis. Doena de Lev resultado da calcificao ou da fibrose da poro proximal dos feixes dos ramos do His-Purkinje. Doena de Lengre um processo esclerodegenerativo que envolve a poro distal dos feixes desses ramos. Calcificao dos nulos das vlvulas artica e mitral podem envolver o sistema de conduo

    Doenas reumatolgicas: esclerodermia, artrite reumatoide, sndrome de Reiter, lpus eritematoso sistmico, espondilite anquilosante e polimiosite

    Cardiomiopatias infiltrativas: amiloidose, sarcoidose, hemocromatose e tumores

    Neuromiopatias: distrofia muscular de Becker, distrofia muscular peroneal, sndrome de Kearns-Sayre, distrofia de Erb e distrofia muscular miotnica

    Doenas infecciosas: endocardite (especialmente artica) e miocardites, com as diversas etiologias (incluindo doena de Lyme, febre reumtica, doena de Chagas, tuberculose, sarampo e parotidite)

    (continua)

    (continuao)

    Iatrognica: cirurgia cardaca causando trauma e isquemia no sistema de conduo. Bloqueio AV mais frequentemente associado troca valvar artica e menos associado a cirurgias de revascularizao miocrdica. Reparo de cardiopatias congnitas pode levar a bloqueio AV persistente ou transitrio nesse caso ocorrendo por inflamao local ps-operatria. Manipulao intracardaca de cateteres pode tambm ser causa de bloqueios AV, de diversos graus, sendo usualmente transitrios. Bloqueio AV total (3 grau) pode ocorrer em manipulaes de cmaras direitas em pacientes com bloqueios de ramo esquerdo, e em pacientes com bloqueio de ramo direito ao manipular as cavidades esquerdas. Por fim, bloqueio AV pode ser complicao (pouco frequente) de procedimentos de ablao por radiofrequncia

    Mediado por atividade vagal: bloqueio AV induzido por atividade vagal pode ocorrer em pacientes hgidos, naqueles com tosse e soluos e durante deglutio ou mico. Bloqueio AV por exacerbao de tnus vagal ocorre no n AV, estando associado QRS estreito e lentificao sinusal prvia ao bloqueio. Massagem de seio carotdeo pode ocasionar a mesma situao. Em atletas, a presena de bloqueio AV do 1 grau frequente, associado a um estado de hipervagotonia

    Sndrome do QT longo: o prolongamento excessivo (LQT2, LQT3, LQT8, e LQT9) da repolarizao ventricular provoca bloqueio funcional entre o feixe de His e o miocrdio, podendo causar bloqueio AV 2:1 e bradicardia acentuada

    II V1

    FIGURA 9 Bloqueio AV do 1 grau: prolongamento na conduo pelo n AV, defini-do como intervalo PR superior a 200 ms; o intervalo corresponde a aproximadamente 220 ms.

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    imediatamente aps a onda P no conduzida retorna ao valor basal, e

    o ciclo inicia-se novamente.

    O comportamento de Wenckebach pode ser simplificado como um

    perodo refratrio anormalmente longo do n AV. Com um perodo

    refratrio longo, a taxa de conduo do n AV depende do tempo no

    qual os impulsos atriais atingem o n AV. Quanto mais precocemente

    tais estmulos chegarem ao n AV, maior o seu tempo de propagao

    por este (maior PR); e, quanto mais tardiamente tais estmulos chega-

    rem ao n AV, menor o seu tempo de propagao por este (menor PR).

    Assim, a periodiocidade de Wenckebach se desenvolve, pois cada impul-

    so atrial sucessivo chega cada vez mais precocemente ao n AV, at o

    momento em que um desses impulsos atriais atinge o n AV em perodo

    refratrio absoluto, sendo bloqueado (Tabela 6 e Figuras 10 e 11).

    O local de bloqueio pode ser predito pelo grau de prolongamento

    do complexo QRS. Quando o QRS tem durao normal, sugere for-

    temente que o distrbio de conduo se localiza no n AV; quando

    associado a um bloqueio de ramo, o local mais comum do bloqueio

    ainda o n AV, mas h maior possibilidade de bloqueio intra ou infra--

    -hissiano (Tabela 7).

    Bloqueios AV do 1 grau so geralmente assintomticos, porm, em

    casos de intervalo PR muito prolongado acima de 300 ms , podem

    ocasionar sintomas similares aos da sndrome do marca-passo.

    Bloqueio atrioventricular do 2 grauO bloqueio AV do 2 grau definido quando h bloqueio inter-

    mitente na conduo AV. Engloba diversos padres de distrbios de

    conduo AV. Designao em tipo I ou II refere-se ao padro eletrocar-

    diogrfico e no ao local de bloqueio.

    Bloqueio atrioventricular do 2 grau do tipo I (Wenckebach) ou Mobitz I

    O bloqueio AV do 2 grau do tipo I manifesta-se no ECG de super-

    fcie como prolongamento progressivo do intervalo PR, antes que

    um impulso atrial falhe em conduzir aos ventrculos. O intervalo PR

    TABELA 5 LOCAIS DE BLOQUEIO DA CONDUO AV NOS BLOQUEIOS AV DO 1 GRAU

    N AV: local mais comum de bloqueio, com 87% dos complexos QRS estreitos

    HisPurkinje: atraso da conduo intra-hissiana pode causar bloqueios AV do 1 grau. Presena de bloqueios de ramo concomitante corresponde a atraso de conduo infra-nodal em 75% dos casos. Pode haver combinao de atraso da conduo no n AV e no sistema His-Purkinje

    trios: bloqueios AV do 1 grau de origem atrial no so incomuns. Padro de aumento atrial esquerdo no ECG reflete um atraso na conduo interatrial. Aumento de trio direito pode prolongar o intervalo PR em certas patologias congnitas, como anomalia de Ebstein ou defeitos do coxim endocrdico

    TABELA 6 CARACTERSTICAS DO BLOQUEIO AV DO 2 GRAU DO TIPO I

    Aumento progressivo do intervalo PR

    Durao do intervalo PR ocorrendo a incrementos cada vez menores, resultando em intervalos RR decrescentes

    Pausas entre complexos QRS, dando nfase onda P no conduzida, que menor que a soma dos intervalos RR em qualquer um de dois batimentos conduzidos

    Decrscimo de intervalo PR ps-bloqueio, comparado ao intervalo PR imediatamente antes de bloqueio

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    Bloqueio atrioventricular do 2 grau do tipo II ou Mobitz II

    Bloqueio AV do 2 grau do tipo II definido quando o intervalo PR

    constante (normal ou prolongado) em todas as ondas P conduzidas.

    Assim, o intervalo PR seguindo um longo intervalo RP (imediatamente

    aps a pausa) idntico ao que segue um intervalo RP curto (imedia-

    tamente precedendo a onda P no conduzida) (Figura 12).

    Os locais de bloqueio da conduo AV esto listados na Tabela 8.

    I

    II

    III

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    V1

    V2

    V3

    V4

    V5

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    II

    Onda P

    FIGURA 10 Caractersticas do fenmeno de Wenckebach: o intervalo PR no segundo batimento maior que o intervalo PR que o precede, e a terceira onda P encontra-se bloqueada; intervalo PP constante, mas intervalo RR que engloba a onda P bloqueada nitidamente maior que o anterior; a quarta onda P tem intervalo de acoplamento PR normal.

    FIGURA 11 Wenckebach tpico: bloqueio AV do 2 grau do tipo I caracterizado por prolongamento progressivo de intervalos PR precedendo onda P no conduzida e batimento de grupo. Apesar de haver doena do sistema His-Purkinje (indicado pelo bloqueio de ramo direito), o local deste bloqueio AV mais comumente o n AV.

    TABELA 7 LOCAIS DE BLOQUEIO DA CONDUO AV NOS BLOQUEIOS AV DO 2

    GRAU DO TIPO I

    N atrioventricular: quando complexo QRS estreito, quase sempre o local de bloqueio ser o n AV (e raramente intra-hissiano)

    His-Purkinje: quando um bloqueio do tipo Wenckebach associado a bloqueio de ramo, o local mais comum do bloqueio ainda o n AV, mas h maior possibilidade de bloqueio intra ou infra-hissiano

    II

    Ondas P

    FIGURA 12 Bloqueio AV do 2 grau do tipo II (conduo 3:2, sendo essa nomen-clatura denominada para expressar a razo P:QRS 3 ondas P com 2 complexos QRS): terceira e sexta ondas P no so associadas a nenhum complexo QRS, sendo, portanto, atividade atrial no conduzida ao ventrculo. Intervalo PR constante em ciclos no bloqueados.

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    Bloqueio atrioventricular 2:1 caracterizado quando batimentos alternados so conduzidos,

    resultando numa razo AV de 2:1 e o intervalo PR constante para os

    batimentos conduzidos, contanto que o ritmo atrial seja regular. Um

    bloqueio 2:1 no pode ser classificado como tipo I ou tipo II. Definio

    de bloqueios em tipo I ou tipo II estritamente eletrocardiogrfica. Pode-

    se estar diante de um caso extremo de fenmeno de Wenckebach (o PR

    tem um aumento to intenso que acaba entrando no perodo refratrio

    absoluto do n AV). Quando associado a complexos QRS largos, quase

    certamente est localizado no sistema His-Purkinje; sendo, portanto,

    classificado como bloqueio AV do 2 grau do tipo II (Figura 13).

    Bloqueio atrioventricular avanado caracterizado quando h falha na conduo de duas ou mais

    ondas P consecutivas. Como norma, caso no haja atividade sinusal,

    deve-se denominar tal condio como distrbio de conduo AV avan-

    ado e no bloqueio AV avanado (Figura 14). Os locais de bloqueio

    esto na Tabela 10.

    TABELA 8 LOCAIS DE BLOQUEIO DA CONDUO AV NOS BLOQUEIOS AV DO 2 GRAU

    DO TIPO II

    N atrioventricular: bloqueio AV do 2 grau do tipo II ainda no foi demonstrado no corpo ou na regio do n AV de modo convincente

    His-Purkinje: bloqueios AV do 2 grau do tipo II so quase exclusivamente abaixo do n AV, ocorrendo no feixe de His em cerca de 30% dos casos e nos feixes de ramos nos restantes. De modo infrequente, pode ser associado a complexos QRS estreitos, sendo causado por bloqueios intra-hissianos

    FIGURA 13 Bloqueio atrioventricular do 2 grau 2:1, complexos QRS largos com morfologia de BRD sugerindo doena no nvel do sistema His-Purkinje.

    II

    FIGURA 14 Flutter atrial comumente associado conduo AV varivel ( prefe-rvel em situaes de ritmo no sinusal; no usar o termo bloqueio e sim distrbio de conduo): a conduo AV varia entre 2:1 e 3:1.

    TABELA 10 LOCAIS DE BLOQUEIO DA CONDUO AV NOS BLOQUEIOS AVANADOS

    N atrioventricular: quando um bloqueio AV avanado causado no nvel do n AV, complexos QRS conduzidos em geral so estreitos. Bloqueio do tipo Wenckebach pode ser observado. Administrao de atropina pode diminuir grau de bloqueio

    His-Purkinje: batimentos conduzidos com complexos QRS aberrantes e no resposta atropina so indicativos de bloqueio no nvel do sistema His-Purkinje

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    Bloqueio atrioventricular total ou do 3 grauO bloqueio AV total ou do 3 grau caracterizado quando todas as

    ondas P falham na conduo aos ventrculos. No ECG de superfcie,

    visto como ondas P e complexos QRS totalmente dissociados, cada um

    conforme sua frequncia de marca-passo. A frequncia atrial sempre

    superior frequncia ventricular (Figuras 15 a 18).

    Os locais de bloqueio do 3o grau esto na Tabela 11.

    IIOnda P

    P P P P P P

    FIGURA 15 Ondas P completamente dissociadas dos complexos QRS, os quais so estreitos, denotando ritmo de escape juncional basal: ciclo PP mais rpido que o ciclo RR.

    FIGURA 16 Ondas P dissociadas dos complexos QRS, frequncia atrial (PP) em cerca de 75 bpm, ao passo que a frequncia ventricular (RR) de cerca de 30 bpm: complexos QRS aberrantes denotam escape ventricular.

    I

    II

    III

    aVR

    aVL

    aVF

    FIGURA 17 Bloqueio AV completo congnito: ritmo sinusal com bloqueio AV com-pleto e escape juncional. Complexos QRS estreitos so observados, consistente com bloqueio intranodal.

    FIGURA 18 Bloqueio AV completo infranodal: dissociao AV pode ser observada e todas as ondas P falham em conduzir. Notar a frequncia ventricular mais baixa e complexos QRS largos, consistente com bloqueio no sistema His-Purkinje.

    I

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    REFERNCIA BIBLIOGRFICA1. Spodick DH, Raju P, Bishop RL, Rifkin RD. Operational definition of nor-

    mal sinus heart rate. Am J Cardiol 1992; 69:1245.

    BIBLIOGRAFIA1. Alpert MA, Flaker GC. Arrhythmias associated with sinus node dysfunction.

    JAMA 1983; 250:2160.2. Epstein AE, DiMarco JP, Ellenbogen KA, Estes NA 3rd, Freedman RA,

    Gettes LS et al. ACC/AHA/HRS 2008 Guidelines for device-based therapy of cardiac rhythm abnormalities: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on practice guidelines. Circulation 2008; 117 e 350.

    3. Issa Z. Clinical arrhythmology and electrophysiology: a companion to Braunwalds heart disease. Philadelphia: Saunders Elsevier, 2009.

    4. Libby P, Bonow RO, Mann DL, Zipes DP (eds.). Libby: Braunwalds heart disease: a textbook of cardiovascular medicine. 8.ed. Philadelphia: Saun-ders Elsevier, 2007.

    5. Spodick DH. Normal sinus heart rate: Sinus tachycardia and sinus brady-cardia redefined. Am Heart J 1992; 124:1119.

    TABELA 11 LOCAIS DE BLOQUEIO DA CONDUO AV NOS BLOQUEIOS AV DO 3

    GRAU

    N atrioventricular: bloqueio completo do n AV caracterizado por ritmo juncional, com complexo QRS estreito e FC de 40 a 60 bpm, com tendncia a aumento com atividade fsica e atropina

    HisPurkinje: bloqueios completos nessa regio resultam em escape ventricular, com complexos QRS largos e FC entre 20 e 40 bpm

  • 25

    As alteraes da repolarizao ventricular (segmento ST e onda T)

    so caracteristicamente secundrias aos bloqueios de ramo. As ondas

    T tipicamente tm polaridade oposta ltima deflexo do complexo

    QRS. Tal discordncia resultado, em ltima anlise, da mudana de

    despolarizao ventricular causada pelo bloqueio de ramo.

    A sua incidncia aumenta conforme a idade. No associado a

    maior risco de doena isqumica do miocrdio, infarto miocrdico ou

    morte cardiovascular, sugerindo ser apenas marcador de degenerao

    do sistema de conduo cardaco.

    BLOQUEIOS DE RAMO DIREITO (BRD)

    Introduo O bloqueio de ramo (BRD) tende a prolongar a durao do com-

    plexo QRS e eventualmente provocar alteraes no vetor de ativao,

    em ltima anlise modificando o eixo do complexo QRS. O grau de

    prolongamento depende da gravidade da alterao. Bloqueios comple-

    tos de ramo (BRD) tm complexos QRS superiores a 120 ms, ao passo

    que bloqueios incompletos de ramo direito (BIRD) tm durao entre

    100 e 120 ms. A orientao do eixo depende da regio miocrdica que

    despolarizada por ltimo em decorrncia do atraso da ativao eltrica.

    R A F A E L D E B I A S E A B T

    Bloqueios de ramo e hemidivisionais

    3CAPTULO

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    Eletrocardiograma (ECG)O bloqueio de ramo direito (BRD) altera a sequncia de ativao do

    ventrculo direito, mas no do ventrculo esquerdo.

    A ativao inicial septal, que feita pelo ventrculo esquerdo,

    mantida nos primeiros 30 ms com ativao da esquerda direita, o que

    resulta em ondas q nas derivaes DI, aVL e V6 e ondas r em V1, V2

    e aVR. Seguindo-se ativao septal, acontece ativao do ventrculo

    esquerdo nos prximos 40 a 60 ms, resultando em ondas R em DI, aVL

    e V6, bem como ondas S em V1 e V2. At esse ponto, a ativao similar

    a indivduos normais. A alterao manifesta-se na poro terminal do

    complexo QRS aps 80 ms, quando h uma lentificao da ativao

    pelo ventrculo direito, j que a conduo fibra a fibra e no por tecido

    especializado. Foras geradas pela ativao da parede livre do ventrculo

    direito resultam em positividade direita e anterior, com ondas S em

    DI, aVL e V6; e as geradas pela segunda deflexo positiva, com onda r

    ou R conforme sua menor ou maior amplitude, resutam em derivaes

    V1 e V2. O eixo no plano frontal do complexo QRS no afetado; se

    houver desvios, pense em bloqueios fasciculares associados. Por fim,

    alteraes na despolarizao ventricular direita so evidenciadas, mas

    costumam ser discretas (Tabela 1 e Figuras 1 e 2).

    TABELA 1 DIAGNSTICO DE BLOQUEIO COMPLETO DE RAMO DIREITO (BRD)

    Durao do complexo QRS > 120 ms

    Onda R secundria (R) larga: padro pode ser rsr, rsRou rSR, em derivaes V1 e V2

    Onda S profunda, ampla e empastada nas derivaes precordiais esquerdas V5 e V6: padro de qRS

    Deflexo intrinsecoide retardada: o incio do complexo QRS at o pico da onda R tem durao > 50 ms nas derivaes precordiais direitas V1 e V2

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    BIRD BRD BRD + BDAS

    FIGURA 1 ECG de bloqueio de ramo direito incompleto (BIRD), completo (BRD) e completo associado a bloqueio do fascculo anterossuperior (BDAS).

    FIGURA 2 ECG demonstrando BRD tpico: assincronia entre os ventrculos gera prolongamento do QRS; foras terminais orientadas para a direita e anteriormente, como resultado do atraso da conduo no ventrculo direito; padro do complexo QRS resultante rsR em V1 e onda S larga e negativa em V6 e em DI aqui no representada.

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    BLOQUEIO DE RAMO ESQUERDO (BRE)

    IntroduoA incidncia do bloqueio de ramo esquerdo (BRE) aumenta com

    a idade, tendo prognstico benigno em indivduos jovens; no entanto,

    est frequentemente associado doena cardaca estrutural na popu-

    lao idosa. O BRE associado com ativao ventricular assncrona, o

    que reduz a eficincia da contrao ventricular esquerda resultando em

    queda da frao de ejeo, principalmente quando existe cardiopatia

    subjacente.

    Em pacientes com insuficincia cardaca, o BRE preditor inde-

    pendente de mortalidade. A presena de BRE em vigncia de infarto do

    miocrdio aumenta a mortalidade de modo considervel.

    A presena de BRE dificulta a anlise do segmento ST e onda T em

    pacientes com sndrome coronariana aguda e no permite a realizao

    do diagnstico de isquemia no teste ergomtrico.

    Eletrocardiograma (ECG)A sequncia de ativao ventricular muda drasticamente na presen-

    a de BRE. Existe um atraso da ativao por conta da lenta difuso do

    impulso eltrico pelo ventrculo esquerdo. A despolarizao ventricular

    inicia-se pelo ventrculo direito por meio do sistema His-Purkinje, e o

    ventrculo esquerdo se despolariza por contiguidade e no pelo sistema

    de conduo.

    De fato, o BRE acarreta a inverso da ativao septal inicial os

    primeiros 30 ms. A ativao trafega da direita para a esquerda, do pice

    para a base do ventrculo direito atravs da parede livre. Como resulta-

    do, h a perda de onda Q normal em DI, aVL e V6, em adio a padro

    rS ou QS visto em V1.

    Aps a ativao septal e do ventrculo direito, ocorre a ativao do

    ventrculo esquerdo a partir de 30 a 50 ms, de modo lento, por conduo

    fibra a fibra. O complexo QRS apresenta amplitude aumentada por no

    haver foras contrrias, uma vez que o ventrculo direito j se encontra

    completamente despolarizado. O vetor de ativao terminal resulta da

    despolarizao da parede anterolateral do ventrculo esquerdo.

    O segmento ST e a onda T tm vetores discordantes do complexo

    QRS (Tabela 2 e Figuras 3 e 4).

    TABELA 2 DIAGNSTICO DE BLOQUEIO COMPLETO DE RAMO ESQUERDO (BRE)

    Durao do complexo QRS > 120 ms

    Onda R monofsica, ampla e entalhada nas derivaes precordiais esquerdas V5 e V6 e usualmente em DI e aVL (aspecto em torre)

    Onda R de baixa amplitude ou ausente nas derivaes V1 e V2, seguidas por ondas S profundas (padro rS ou QS)

    Onda Q septal ausente nas derivaes esquerdas (DI, V5 e V6)

    Deflexo intrinsecoide retardada: durao superior a 60 ms nas derivaes precordiais esquerdas V5 e V6

    Segmento ST e ondas T discordante da polaridade predominante do complexo QRS

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    BLOQUEIO FASCICULARES

    O ramo esquerdo usualmente subdividido em trs sub-ramos;

    o atraso ou bloqueio na conduo do estmulo eltrico em um destes

    acarreta alteraes eletrocardiogrficas. Esses sub-ramos so denomi-

    nados: fascculo anterossuperior; fascculo posteroinferior; e fascculo

    mdio.

    Bloqueio de fascculo anterossuperior esquerdo (BDAS)O fascculo anterossuperior normalmente inicia a ativao do

    ventrculo esquerdo na poro superior do septo interventricular, por-

    o anterolateral da parede livre e msculo papilar anterior. Assim, o

    bloqueio desse fascculo causa uma ativao que no tem oposio de

    tais regies do ventrculo esquerdo; a ativao gerada pelos fascculos

    mdio e posteroinferior no contrabalanceada.

    O vetor inicial do complexo QRS nos primeiros 20 ms apresenta

    uma mudana no plano frontal em direo inferior e direita, ao passo

    que as foras predominantes do complexo QRS esto alteradas supe-

    riormente e esquerda. Todas as alteraes, no entanto, no alargam o

    QRS em mais de 20 ms.

    O vetor inicial de ativao normal em tempo, porm, anormal na

    sua direo. Em vez de se orientar superiormente e esquerda, o vetor

    de ativao dirige-se para a direita e inferiormente (55%) pequena

    onda r em DII, DIII e aVF e pequena onda q em DI, aVL, V5 e V6, ou

    esquerda (45%) ondas q em derivaes V2 e V3.

    Na poro mdia do QRS, as foras de ativao de ventrculo

    esquerdo so orientadas superiormente e esquerda. Como resultado,

    o eixo bastante desviado para a esquerda (acima de -30), acarretando

    I

    II

    III

    V2

    V3 V6

    V1aVR

    aVL

    aVF

    V4

    V5

    FIGURA 4 ECG de um BRE tpico: assincronia entre os ventrculos, que acarreta aumento da durao do QRS; vetor anormal resultando na perda de foras septais e perda de ondas q em DI, aVL e V6; ativao tardia do ventrculo esquerdo resultando em ondas R positivas e amplas em derivaes laterais; e segmento ST e a onda T em direo oposta ao vetor do complexo QRS.

    I

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    BIRE BRE BRE

    FIGURA 3 ECG de BRE com suas diferentes variaes. BIRE: bloqueio incompleto do ramo esquerdo.

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    Bloqueio de fascculo mdio esquerdo

    Padres eletrocardiogrficos so determinados pelos diferentes

    locais de insero dos fascculos mdio, anterior e posterior. Bloqueio

    funcional de fascculo mdio pode levar a uma aparente perda de foras

    anteriores, com ondas q transitrias em V1 e V2, que normalmente

    tm deflexo inicial positiva. Tais alteraes so similares s encontra-

    das em infartos septais. Por outro lado, ondas R predominantes so

    notadas nas precordiais direitas quando o bloqueio de fascculo mdio

    leva a um ganho de foras anteriores, sendo tais alteraes similares s

    de infarto posterior. O predomnio das ondas R pode ser exacerbado

    quando associado ao BRD (Tabela 5).

    ondas S em derivaes inferiores rS em DII, DIII e aVF, bem como

    ondas R em derivaes esquerdas, resultando em padro qR ou R em

    DI, aVL, V5 e V6. Em decorrncia do desvio superior e para a esquerda

    no plano frontal, o complexo QRS termina em onda R em aVR e aVL e

    ondas S em V5 e V6 (Tabela 3).

    O padro eletrocardiogrfico do bloqueio do fascculo anteros-

    superior simula hipertrofia ventricular esquerda em derivaes DI e

    aVL, mas pode, concomitantemente, mascarar sinais de hipertrofia em

    derivaes precordiais, podendo tambm simular rea eletricamente

    inativa nas derivaes inferiores.

    Bloqueio de fascculo posteroinferior esquerdo

    A ativao inicial pelos fascculos anterossuperior e mdio no

    contraposta pelo fascculo inferoposterior que est bloqueado, resultan-

    do em foras orientadas superiormente e esquerda, manifestando-se

    eletrocardiograficamente com ondas r pequenas iniciais em DI, aVL, V1

    e V6, e pequenas ondas q em DII, DIII e aVF.

    A parede inferoposterior ativada tardiamente, em decorrncia

    do bloqueio desse fascculo, acarretando um desvio da ativao para

    a direita, posterior e inferiormente. Isso gera um desvio caracterstico

    do eixo eltrico no plano frontal para a direita entre +120 e +180 e

    morfologia qR em DII, DIII e aVF e rS em DI e aVL.

    Bloqueio fascicular com esse padro quase exclusivamente encon-

    trado concomitantemente a BRD, ocorrendo muito raramente de

    modo isolado (Tabela 4).

    TABELA 3 DIAGNSTICO DE BLOQUEIO DE FASCCULO ANTEROSSUPERIOR

    Durao do complexo QRS < 120 ms

    Eixo do complexo QRS (> -30) no plano frontal

    Padro rS em derivaes DII, DIII e aVF: onda S em derivao DIII mais profunda que em DII e padro qR em derivao aVL

    Deflexo intrinsecoide retardada na derivao aVL

    TABELA 4 DIAGNSTICO DE BLOQUEIO DE FASCCULO POSTEROINFERIOR

    Durao do complexo QRS < 110 ms

    Eixo do complexo QRS superior a +120 no plano frontal

    Padro rS nas derivaes DI e aVLPadro qR nas derivaes DII, DIII e aVF (padro S1-Q3)

    Excluir outros fatores que possam causar desvios do eixo direita

    Deflexo intrinsecoide retardada na derivao aVF

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    s BRD fixo, com bloqueios fasciculares alternantes: combinao de BRD com bloqueios fasciculares alternantes ou BRE com

    bloqueio AV; este ltimo no pode ser denominado bloqueio

    trifascicular.

    4. Bloqueio de ramo intermitente: seja direito ou esquerdo, diagnos-

    ticado quando h complexos aberrantes interpostos com complexos

    QRS de morfologia normal. Na maioria das vezes, o bloqueio de

    ramo frequncia dependente (frequncias elevadas).

    SITUAES ESPECIAIS

    1. Bloqueios da conduo intraventricular inespecficos: tal situao

    resulta de uma lentificao difusa da conduo pelo sistema His-

    Purkinje. Caracteristicamente, o QRS tem uma durao > 120 ms,

    mas com padro totalmente diverso dos BRD ou BRE. De fato, o

    complexo QRS pode assumir uma caracterstica muito semelhante

    ao QRS normal.

    2. Bloqueios bifasciculares: refere-se a diferentes combinaes de

    bloqueios fasciculares e de ramo (por exemplo, bloqueio fascicular

    anterossuperior e BRD).

    3. Bloqueios trifasciculares: envolvem atraso de conduo no ramo

    direito e no ramo esquerdo e sub-ramos. O padro eletrocardiogr-

    fico varia conforme o atraso de conduo nos fascculos afetados. A

    ativao ventricular tem incio na regio de insero do fascculo

    com conduo mais rpida. As manifestaes so:

    s bloqueio atrioventricular (AV) total: ritmo de escape lento, sendo o complexo QRS aberrante;

    s bloqueio alternante de ramos direito e esquerdo: indcio de doena difusa e avanada do sistema de conduo, com altssima

    chance de evoluo para bloqueio AV total. Pode ocorrer bati-

    mento a batimento (mais frequente) ou ao longo de diferentes

    dias (infrequente) (Figura 5);

    V1

    V2

    V3

    V4

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    00:00

    25.0 mm/s 10.0 mm/mV [0.5-35] Hz ^50 Hz

    FIGURA 5 ECG com bloqueio de ramo alternante: complexos QRS com padro de BRE so visveis em momentos com ciclo mais longo, ao passo que complexos QRS com BRD so observados quando o ciclo mais curto.

    TABELA 5 CARACTERSTICAS DO BLOQUEIO DE FASCCULO MDIO

    Se houver perda de fora anterior: ondas q em V1 e V2

    Se houver ganho de fora anterior: ondas R predominantes em precordiais direitas

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    BIBLIOGRAFIA1. Eriksson, P, Hansson, PO, Eriksson, H, Dellborg, M. Bundle-branch block

    in a general male population: the study of men born in 1913. Circulation 1998; 98:2494.

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    8. Zipes DP, Jalife J (eds.). Cardiac electrophysiology: from cell to bedside. 5.ed. Philadelphia: Saunders Elsevier, 2009.

  • 33

    4. Cerca de 50% dos infartos agudos do miocrdio (IAM) apresentam

    ECG inicial que no definem o diagnstico com acurcia.

    Podem-se dividir as SCAs em trs grupos:

    s IAM com supradesnivelamento do segmento ST;s IAM sem supradesnivelamento do segmento ST; s angina instvel (alto, mdio e baixo risco).

    O ELETROCARDIOGRAMA (ECG) NAS SCA

    1. Exame essencial na avaliao da dor torcica anginosa.

    2. Precisa ser realizado em at 10 minutos da chegada ao setor de

    emergncia.

    3. Quando alterado, pode definir o grau de ocluso coronariana:

    (supradesnivelamento do segmento ST = ocluso total da artria

    coronria) ou alteraes do segmento ST compatveis com isque-

    mia (no supradesnivelamento = subocluso de artria coronria).

    F E L I P E A U G U S T O D E O L I V E I R A S O U Z A

    Sndromes coronarianas agudas (SCA)

    4CAPTULO

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    IAM COM SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST

    1. Elevao do segmento ST: segmento ST com elevao do ponto J

    (concavidade para baixo) em duas ou mais derivaes contguas

    com pelo menos 2 mm nas derivaes precordiais ou > 1 mm nas

    outras derivaes.

    2. Leso subepicrdica (transmural) com ocluso da artria coronria

    acometida.

    3. Presena de onda Q: depende da fase evolutiva e da durao da

    leso do tecido miocrdico.

    4. O IAM com supradesnivelamento do segmento ST pode ser locali-

    zado topograficamente de acordo com as derivaes nas quais existe

    a elevao do segmento ST (Tabela 2).

    5. Padro de bloqueio de leso: quando h o alentecimento persisten-

    te do processo de ativao da rea lesada, cria-se uma imagem de

    distoro da poro terminal do QRS associado a uma onda R de

    baixa amplitude em comparao ao ponto J. tambm chamado de

    tombstone, assemelhando-se a uma pedra de lpide. O significado

    para tal alterao a injria aguda, rpida e extensa ao micito com

    ocluso total e proximal de uma importante coronria (Figura 2).

    6. O diagnstico diferencial das SCAs com supradesnivelamento do

    segmento ST imperativo, j que outras condies podem ser um

    fator de confuso.

    Outras causas no isqumicas de supradesnivelamento do segmen-

    to ST no ECG esto na Tabela 3.

    SUBOCLUSO (LESO SUBENDOCRDICA) VERSUS OCLUSO (LESO SUBEPICRDICA)

    A Figura 1A ilustra a subocluso (leso subendocrdica) versus

    ocluso Figura 1B (leso subepicrdica) e a Tabela 1 cita as alteraes

    do ECG compatveis com isquemia/necrose miocrdica.

    FIGURA 1 (A) O infradesnivelamento do segmento ST (leso subendocrdica) mantm o vetor da onda T com a mesma direo e o mesmo sentido do complexo QRS. (B) Isquemia transmural resulta em uma onda T contrria ao sentido do vetor de ativao ventricular na regio que sofreu isquemia; a onda T ser simtrica e oposta ao complexo QRS (supradesnivelamento do segmento ST)

    TABELA 1 ALTERAES NO ECG COMPATVEIS COM ISQUEMIA/NECROSE MIOCR-

    DICA

    Supradesnivelamento do segmento ST com elevao do ponto J (concavidade para baixo) em duas ou mais derivaes contguas, com pelo menos 2 mm nas derivaes precordiais ou > 1 mm nas outras derivaes

    Onda T simtrica e oposta polaridade do QRS em duas ou mais derivaes contguas

    Segmento ST retificado em duas ou mais derivaes contguas

    Onda T simtrica com a mesma polaridade do complexo QRS em duas ou mais derivaes contguas

    Infradesnivelamento do segmento ST de padro descendente > 1 mm

    STST

    ST

    ST

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    TABELA 2 TOPOGRAFIA DO IAM E AS DERIVAES DO ECG

    Parede acometida Derivaes

    Anterior V1 a V4

    Anterior extensa V1 a V6 , DI e aVL

    Anterosseptal V1 a V3

    Lateral DI, aVL, V5 e V6

    Lateral alta DI e aVL

    Anterolateral DI, aVL e V3 a V6

    Diagonal V1 a V4, DI e aVL

    Inferior DII, DIII e aVF

    Posterior (dorsal) V7, V8, V9, ondas R amplas em V1 e V2

    Ventrculo direito V3R, V4R e derivao abdominal direita

    FIGURA 2 Supradesnivelamento do segmento ST com aspecto de bloqueio de leso: distoro da poro terminal do QRS associada ao grande supradesnivelamento do segmento ST.

    TABELA 3 OUTRAS CAUSAS DE SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST NO ECG

    Causas Comentrios

    Pericardite aguda Supradesnivelamento do segmento ST difuso, no delimitando paredes, associado a infradesnivelamento do segmento PR em todas as derivaes e infradesnivelamento do segmento ST em aVR. Na evoluo do ECG, h o desaparecimento do supradesnivelamento do segmento ST com inverso da onda T nas derivaes acometidas

    Hipercalemia Supradesnivelamento do segmento ST pode estar associado a ondas T pontiagudas e alargamento dos complexos QRS

    Padro de repolarizao precoce

    Elevao do ponto J com concavidade para cima geralmente nas derivaes precordiais. Ocorre comumente em pacientes jovens, magros e do sexo masculino

    Aneurisma septal Onda Q na parede septal (V1-V2) com persistncia de segmento ST elevado, mantendo o mesmo padro com os ECGs seriados

    Sndrome de Takotsubo(cardiomiopatia estresse-induzida)

    Acomete geralmente mulheres de meia-idade, na ps- -menopausa, com dor torcica aps estresse emocional. O ECG mostra supradesnivelamento do segmento ST e a cineangiocoronariografia est isenta de leses. Na ventriculografia, h o balonamento da regio apical do ventrculo esquerdo com aspecto de corao partido. Na evoluo aguda da necrose pode desaparecer

    Bloqueio de ramo esquerdo

    As alteraes secundrias da repolarizao ventricular no BRE esto associadas a supradesnivelamento do segmento ST associado ao QRS largo e onda S profunda de V1-V3. Consultar os critrios de Sgarbossa, a seguir

    Sndrome de Brugada

    Canalopatia espordica e gentica por mutao, principalmente do gene SCN5A, autossmica dominante. Na forma tipo 1, apresenta supradesnivelamento inicial 2 mm e o perfil do segmento ST de convexidade superior seguido de onda T negativa em V1 e V2 ou de V1 a V3 (vide captulo ECG miscelnea)

    Angina de Prinzmetal

    Indivduos jovens com dor torcica em repouso, por vezes de madrugada, caracterizada por vasoespasmo coronariano, elevao do segmento ST e marcadores de necrose geralmente normais. A angiografia coronariana demostra o vasoespasmo ps-infuso de acetilcolina ou ergonovina

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    IAM e artria acometidaNos IAMs com supra de ST, tem-se a ocluso da artria coronria.

    Desse modo, de acordo com o ECG, pode-se inferir qual foi a artria

    ocluda.

    A especificidade do ECG no IAM limitada por grandes variaes

    individuais na anatomia coronariana, bem como pela presena de

    doena coronariana preexistente, particularmente em pacientes com

    IAM prvio, circulao colateral ou revascularizao cirrgica.

    O ECG tambm limitado pela sua representao inadequada das

    paredes posterior, lateral e apical da parede do ventrculo esquerdo

    (Tabela 5).2

    IAM COM BLOQUEIO DE RAMO ESQUERDO (BRE) OU MARCA-PASSO ARTIFICIAL

    Critrios de SgarbossaA interpretao eletrocardiogrfica do ECG de um paciente com

    BRE e dor torcica um desafio, j que as alteraes da repolarizao

    ventricular secundrias ao bloqueio so empecilhos na anlise do seg-

    IAM com formao de onda QA Tabela 4 mostra outras causas no isqumicas de ondas Q no

    ECG.

    TABELA 4 OUTRAS CAUSAS NO ISQUMICAS DE ONDAS Q NO ECG

    Causas Comentrios

    Tcnica incorreta Na realizao do ECG, os eletrodos precordiais esto em posio superior (prximos das clavculas)

    Padro normal Alguns pacientes apresentam padro de ondas Q em V1, V2, aVL, III e aVF, sem evidncias de doena estrutural

    Indivduos brevilneos e/ou obesos

    Por conta da elevao do diafragma, percebe-se onda Q nas derivaes inferiores (DIII e aVF)

    Doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC)

    Diminuio da amplitude das ondas R simulando ondas Q nas precordiais pela excessiva expanso do parnquima pulmonar, rebaixamento do diafragma e rotao do corao para baixo

    Deformidades torcicas

    Impedem o posicionamento correto dos eletrodos corao, por conta das alteraes anatmicas

    Pr-excitao ventricular

    Dependendo da localizao da via acessria, comum o aparecimento das ondas Q

    Bloqueio de ramo esquerdo

    Onda Q na parede anterosseptal associada ao QRS largo

    Pneumotrax O desvio do corao para o mediastino contralateral produz onda Q na parede anterior pela nova posio adotada no interior do trax

    Distrofia muscular de Duchenne

    Ondas Q nas precordiais esquerdas simulando rea inativa posterobasal e lateral

    (continua)

    (continuao)

    Tromboembolismo pulmonar (TEP)

    Padro de onda Q na derivao DIII, tambm chamado de S1Q3T3

    Miocardiopatia dilatada

    Ondas Q no ECG decorrente de fibrose miocrdica

    Miocardiopatia hipertrfica

    Dependendo do padro de hipertrofia, pode-se ter ondas Q nas paredes anterior, lateral ou inferior

    Outros Esclerodermia, amiloidose, cisto de equinococos, tumores cardacos

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    local em que o QRS negativo: V1, V2, V3 (3 pontos); e/ou suprades-

    nivelamento do segmento ST rea em que o QRS negativo: V1 a V3.

    O ltimo critrio o que menos importa; ele sozinho nunca fecha o

    diagnstico, pois se sabe que no BRE h o segmento ST elevado natu-

    ralmente nas derivaes precordiais de V1 a V3.

    A sensibilidade dos critrios de Sgarbossa baixa com uma especifi-

    cidade alta, ou seja, caso o ECG no feche critrios, no quer dizer que

    o paciente no apresente um evento isqumico agudo; contudo, se este

    contempla os critrios, provavelmente s