haline falc

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FACULDADE DA ALDEIA DE CARAPICUÍBA PÓS-GRADUAÇÃO EM LATO SENSU EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ÊNFASE EM GESTÃO AMBIENTAL HALINE ALVES MELO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: DA FONTE GERADORA AO DESTINO FINAL EM CRATEÚS-CE

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Monografia

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Page 1: Haline Falc

FACULDADE DA ALDEIA DE CARAPICUÍBA

PÓS-GRADUAÇÃO EM LATO SENSU EM EDUCAÇÃO

AMBIENTAL COM ÊNFASE EM GESTÃO AMBIENTAL

HALINE ALVES MELO

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: DA

FONTE GERADORA AO DESTINO FINAL EM CRATEÚS-CE

MARACANAÚ – CEARÁ

2014

Page 2: Haline Falc

FACULDADE DA ALDEIA DE CARAPICUÍBA

PÓS-GRADUAÇÃO EM LATO SENSU EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

COM ÊNFASE EM GESTÃO AMBIENTAL

HALINE ALVES MELO

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: DA

FONTE GERADORA AO DESTINO FINAL EM CRATEÚS-CE

Monografia apresentada como exigência do curso de Pós-Graduação Lato Sensu para obtenção do titulo de Especialista em Educação Ambiental com Ênfase em Gestão Ambiental, sob orientação do Professor Ms. Niepson de Sousa Arruda.

MARACANAÚ – CEARÁ

2014

Page 3: Haline Falc

FICHA CATALOGRÁFICA

MELO, Haline Alves.

Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbano: Da fonte geradora ao destino final em Crateús-CE. Maracanaú-CE. FALC – Faculdade da Aldeia de Carapicuíba.

Orientação: Ms. Niepson de Sousa Arruda. Maracanaú. 2014.

Páginas: 49

Monografia apresentada como exigência do curso de Pós-Graduação Lato Sensu para obtenção do titulo de Especialista em Educação Ambiental com Ênfase em Gestão Ambiental.

1 – Resíduos Sólidos; 2 – Gerenciamento de Resíduos Sólidos; 3 – Produção de Resíduos.

Page 4: Haline Falc

HALINE ALVES MELO

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: DA FONTE GERADORA

AO DESTINO FINAL EM CRATEÚS-CE

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação Ambiental com Ênfase em Gestão Ambiental pela seguinte banca examinadora:

Prof. Ms. Niepson de Sousa Arruda.

Faculdade da Aldeia de Carapicuíba

Maracanaú - CE

2014

Page 5: Haline Falc

À Júlia Melo Albuquerque, razão da minha vida, incentivo de toda minha batalha, filha amada.

Dedico

Page 6: Haline Falc

AGRADECIMENTOS

A Deus, por seu amor incondicional, pela minha vida.

À minha família, pela companhia constante, pelas manhãs regadas de sorrisos e confusões, pelo valioso apoio. A minha avó, Maria de Melo, pessoa mais que especial na minha vida, por me apresentar a simplicidade e o gosto pela vida.

À Aurea Arielly, mulher que adentrou em minha vida e me fez enxergar um mundo novo. Espero tê-la sempre perto de mim. A você, o meu muito obrigado.

Ao pai da minha filha, Eduardo Aragão, que sempre me incentivou a estudar, pesquisar, ler, enfim, buscar novos conhecimentos e sempre esteve do meu lado, por se fazer presente em minha vida, por estar sempre disposto a me ajudar.

A todos os amigos que fiz na pós-graduação, especialmente o Senhor Tárcisio, pela troca de experiência.

Ao Professor Ms. Niepson de Sousa Arruda, meu orientador, que contribuiu significativamente para a concretização deste feito.

A todos os professores da Falc, pela grande contribuição em meu crescimento intelectual, cultural e político.

Page 7: Haline Falc

“Para o homem de grande visão, recolher

o lixo das ruas não incomoda, pois ele

sabe que isso faz parte da tarefa de tornar

o planeta mais belo. Enquanto para o

homem de pouca visão tornar o planeta

mais belo não fascina, pois ele sabe que

esse desejo traz consigo o trabalho de

recolher o lixo dos caminhos. Para criar

um mundo onde as realizações sejam

obras do coração, existe um caminho de

desafios. A única maneira de ele ser

superado com tranquilidade é olharmos

para o objetivo, e não para os

obstáculos”.

Roberto Shinyashihi

Page 8: Haline Falc

RESUMO

A procura pela mitigação dos problemas socioambientais provocados pelo amontoamento, destino e falta de tratamento adequado dos resíduos sólidos tem acordado discussões, mobilizações e intensa procura de alternativas que visem o equilíbrio sustentável do meio ambiente. A operação inadequada das áreas para disposição dos resíduos sólidos domiciliares gera impactos ao ambiente e a sociedade. Tratar e destinar adequadamente a grande quantidade de resíduos sólidos no Brasil é responsabilidade dos municípios. Este trabalho teve como objetivo investigar como se caracteriza e como funcionam os processos de tratamento e técnicas de disposição final dos resíduos sólidos urbanos no município de Crateús-Ce, bem como avaliar se estão de acordo com as orientações descritas na Norma Técnica Brasileira (NBR 10.004). Para tanto, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com funcionários do poder público, catadores e recicladores, registros visual e fotográfico. Verificou-se que a grande maioria dos resíduos sólidos recolhidos são apenas despejados a céu aberto, sem que os cuidados de minimização de impacto ou monitoramento sejam tomados. Desta forma o problema dos resíduos gerados no meio urbano são apenas transferidos para um local afastado, no meio rural. Contudo, a recente aquisição de uma usina de triagem no município, pode trazer grandes benefícios ao município, possibilitando a redução significativa da quantidade de lixo a ser descartada diariamente, alem da geração de empregos e redução dos impactos causados pela atual forma de disposição final do lixo. A reciclagem é a melhor solução para o tratamento e destinação final do lixo, pois reduz a utilização de aterros, prolongando a vida útil dos mesmos. Além disso, a reciclagem está diretamente ligada à redução da poluição e do desperdício de recursos naturais.

Palavras – chave: Resíduos sólidos. Gerenciamento de resíduos sólidos. Produção de Resíduos.

Page 9: Haline Falc

ABSTRACT

The demand for mitigation of environmental problems caused by overcrowding, destination and lack of adequate treatment of solid waste has agreed discussions, demonstrations and intense search for alternatives aimed at sustainable environmental balance. Improper operation of areas for disposal of solid waste generated impacts to the environment and society. Treat and properly allocate a large amount of solid waste in Brazil is the responsibility of municipalities. This study aimed to investigate how features and how treatment processes and techniques for the final disposal of municipal solid waste in the city of Crateús Ce-work, and assess whether they are in accordance with the guidelines outlined in the Brazilian Technical Standard (NBR 10.004). To this end, semi-structured interviews with government officials, collectors and recyclers, visual and photographic records were made. It was found that the vast majority of the collected refuse is dumped in the open only without the care or monitoring minimize impact to be taken. Thus the problem of waste generated in urban areas are only transferred to a remote location in rural areas. However, the recent acquisition of a sorting plant in the city, can bring great benefits to the municipality, enabling significant reduction in the amount of trash being discarded daily, besides creating jobs and reducing the impacts caused by the current form of final disposition of trash. Recycling is the best solution for the treatment and disposal of waste, it reduces landfill use, prolonging the life span. Furthermore, recycling is directly linked to the reduction of pollution and wasteful consumption of natural resources.

Keywords: solid waste. Solid waste management. Waste production.

Page 10: Haline Falc

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.

ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública.

CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear.

ECO-92 – Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de

Janeiro.

NBR – Norma Brasileira.

PEVs- Postos de entrega voluntária.

RS – Resíduo Sólido.

RSU – Resíduo Sólido Urbano.

Page 11: Haline Falc

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Lixo em vários pontos do caminho que leva ao aterro

controlado...............................................................................................................

FIGURA 2 - Grande quantidade de lixo á céu aberto e presença de vetores no

aterro......................................................................................................................

FIGURA 3- Vista parcial do aterro em fev 2014.....................................................

FIGURA 4- Vista parcial do aterro em mar............................................................

FIGURA 5 – Resíduos de saúde jogados juntos com os resíduos domiciliares

FIGURA 6 – Resíduos de saúde jogados juntos com os resíduos domiciliares

FIGURA 7- Poças de água nas valas....................................................................

FIGURA 8 - Presença de catadores no aterro.......................................................

FIGURA 9 – Galpão parte externa.........................................................................

FIGURA 10 – Galpão de Triagem..........................................................................

FIGURA 11 – Triagem do material.........................................................................

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS...................................................................

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................

2 ASPECTOS REFERENTES AOS RESÍDUOS SÓLIDOS.....................................

2.1 A excessiva produção de resíduos contextualizada historicamente...........

2.2 Resíduos Sólidos: definição e classificação..................................................

2.3 Os problemas associados à falta de tratamento adequado aos RSU..........

2.4 Tratamento e destinação final dos RSU..........................................................

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.................................................

3.1 Caracterização da área de estudo....................................................................

3.2 Aspectos metodológicos: o desenvolvimento da pesquisa..........................

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................

4.1 O Programa de Coleta Seletiva em Crateús-CE..............................................

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................

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REFERÊNCIAS...................................................................................................................

APÊNDICE..........................................................................................................................

APÊNCICE A - Roteiro de entrevistas semi-estruturadas....................................................

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INTRODUÇÃO

O recrudescimento impulsivo do consumo, incontestavelmente é uma

particularidade marcante da sociedade pós-moderna. Firmemente, este consumismo

desvairado vem associado ao conceito de felicidade, isto é, vincula-se ao

contentamento pessoal dos indivíduos, à satisfação de desejos materiais, “como um

ato eminentemente social, permeado por fatores de ordem cultural e econômica”

(LEMOS, 2011, p.22).

O avanço tecnológico, as mudanças ocorridas no padrão de consumo

impostos pelo capitalismo, provocam o aumento substancial da produção e do

consumo de bens que impera no mundo, onde cada pessoa busca energicamente

satisfazer seus desejos e necessidades. E nesse processo geramos de forma direta

e indireta volumes insustentáveis de lixo, criamos uma situação, que se não

adotarmos medidas que visem mudanças no consumo, minimizando a produção de

resíduos, e aumentando as práticas de reutilização e reciclagem, em pouco tempo

não teremos mais recursos naturais necessários à produção de novos bens de

consumo, assim, transformaremos o mundo em um verdadeiro lixão (OLIVEIRA,

2008).

No Brasil, a geração de resíduos sólidos urbanos – RSU, nos últimos

anos, vem sendo superior à taxa de crescimento populacional, sendo produzidas em

média 201.058 toneladas por dia. Os sistemas de limpeza urbana coletam em torno

de 181.288 toneladas de RSU por dia, o que representa 90,17% do total gerado. No

entanto, a destinação imprópria cresceu 0,55% de 2011 para 2012, o que representa

23,7 milhões de toneladas de RSU dispostos em lixões e aterros controlados

(ABRELPE, 2012).

A geração de resíduos sólidos (RS) domiciliares no Brasil é de cerca de

0,6 kg / hab. / dia. Grande parte dos resíduos gerados no país não é regularmente

coletado, ficando junto às habitações ou sendo vazado em logradouros públicos,

terrenos baldios, encostas e cursos d'água (MONTEIRO et al., 2001).

Os resíduos devem seguir para a destinação final, somente depois que

passarem pela fase de tratamento, onde se pode citar: incineração, compostagem,

Page 14: Haline Falc

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coleta seletiva e reciclagem, para que se reduza o potencial de agressão ao

ambiente (MÓL, 2007).

Vale resaltar que todo sistema de Gestão de RSU prescinde de um aterro

sanitário. Contudo, apesar da Constituição Federal, prescrever que todos têm direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e incumbir ao poder público

assegurar a ação desse direito, os RS continuam sendo dispostos inadequadamente

(BRASIL, 1988).

Os RS devem ser gerenciados de forma integrada, desde sua origem até

a disposição final, com abordagens que incluem a redução da quantidade gerada, a

reciclagem e a reutilização de materiais. Essas ações devem passar pela

conscientização dos indivíduos, dos quais se espera consciência desde a hora da

aquisição de produtos que contenham RS ou que se transformem em RS em

consequente problema para a comunidade quando do seu descarte (MARIGA,

2005).

Os consequências adversas dos RS municipais no meio ambiente, na

saúde coletiva e do indivíduo são reconhecidos por Coelho (1994), Lima (1995),

Pereira Neto (2007), Montagna et al. (2012) assinalando deficiências nos sistemas

de coleta e disposição final e a ausência de uma política de proteção à saúde

pública, como os principais fatores geradores desses efeitos. Desse modo, fica

confirmado a importância de uma apropriada gestão e prestação de serviços de

limpeza urbana e manejo de RS.

No Brasil, a gestão dos RSU é de responsabilidade das Prefeituras

Municipais, compreendendo a coleta, o transporte, o tratamento e o destino final.

(MONTEIRO et al, 2001).

Nesse contexto, o Gerenciamento de RSU assume papel relevante, em

virtude da relação existente entre a disposição de RSU com a saúde pública e a

degradação ambiental. Dessa relação, surge a necessidade da adoção de um

sistema de gerenciamento que possa apresentar procedimentos capazes de

minimizar os impactos negativos da geração dos resíduos e possa também fazer

desses resíduos uma alternativa econômica de geração de renda. Partindo desse

pressuposto, surge a importância da elaboração desse estudo, no qual tenta

Page 15: Haline Falc

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levantar um aparato bibliográfico demonstrando a importância do Gerenciamento e

disposição adequada dos RS, pois a cada ano que passa a produção de lixo cresce

em um ritmo acelerado, tornando-se um problema social.

A escolha do tema surge em vista à importância socioeconômica e

ambiental que os RS assumem diante das históricas desigualdades de acesso aos

serviços públicos que marcam profundamente a sociedade no Brasil, bem como do

grande interesse que tenho pela temática.

Reforçando os enunciados, o presente trabalho objetiva avaliar se os

processos de tratamento e técnicas de disposição final dos resíduos sólidos urbanos

no município de Crateús-Ce estão de acordo com as orientações descritas na

Norma Técnica Brasileira (NBR 10.004). Buscou-se ainda caracterizar a situação

atual dos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos do município de

Crateús-CE.

A partir de relatos dos catadores, recicladores, funcionários públicos, dos

entes que participam direta ou indiretamente da produção e gerenciamento dos RSU

pôde-se ter uma visão da realidade do gerenciamento dos RSU no município.

Com o intuito de atender aos objetivos delineados, o presente estudo está

organizado em cinco partes. Além desta introdução, o segundo capítulo deste

trabalho traz o referencial teórico que, a princípio traz considerações sobre RSU,

apresenta a excessiva produção de resíduos contextualizada historicamente, em

seguida a definição e classificação dos RS, os problemas associados à falta de

tratamento adequado aos RSU e prossegue-se discorrendo sobre os Tratamentos e

destinação final dos RSU.

No terceiro capítulo é apresentada a metodologia utilizada para o

desenvolvimento deste estudo de caso. O quarto capítulo traz os resultados e

discussão sobre o Gerenciamento dos RSU no município de Crateús-CE. Por último,

no quinto capítulo, são apresentadas as considerações finais.

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1 ASPECTOS REFERENTES AOS RESÍDUOS SÓLIDOS

1.1 A excessiva produção de resíduos contextualizada historicamente

A produção de resíduos surge a partir do momento que os homens

passaram a viver em grupos. Na pré-história o homem depositava seus resíduos em

locais pré-determinados, constatados pelos depósitos denominados de sambaquis.

Na idade média o lixo era jogado de forma aleatória, no solo ou na água, enterrados

ou queimados (GUIZARD et al., 2006).

Os RS gerados pelos seres humanos primitivos sofriam uma degradação

natural. O meio natural agredido em pequena escala, tinha como responder a essas

ações através dos ciclos naturais característicos do equilíbrio ecológico, cumprindo o

ciclo da matéria e da energia. Quando a população do planeta começou a crescer de

forma acelerada, à medida que a humanidade teve necessidades e aspirações não

naturais, no sentido de poder artificializar o meio para produzir, melhorar e explorar

as espécies vegetais e animais aparece entre os homens e a natureza, elementos

especiais chamados bens econômicos. Os primeiros resíduos não biodegradáveis,

produzidos pela humanidade, são os fragmentos deixados quando o homem das

cavernas cozinhava sobre o fogo, e os cacos de utensílios de cerâmica utilizados

para guardar os excedentes da agricultura (DIAS, 2003).

Leite (2006) comenta que, a geração de RS se torna algo notável, com

expansão do capitalismo no mundo ocidental, no século XVI. Ao longo do tempo

este sistema veio a ter características intensas no modo de produção.

Os resíduos produzidos pela sociedade sofreram alterações qualitativas e

quantitativas, visto que, verificou-se uma grande mudança nos tipos de materiais

usados para acondicionar as mercadorias. Os resíduos domésticos passaram a ter

além de resíduos orgânicos, embalagens de papel, papelão, vidro, metal e, mais

tarde o plástico utilizado para armazenar utilidades domésticas. Também surge uma

variedade de resíduos industriais com características físicas e químicas que o

ambiente não pode mais absorver (DIAS, 2003).

Page 17: Haline Falc

16

As ações avançadas e predatórias do homem no ambiente natural

correspondem a modos de vida espelhados na sociedade da descartabilidade. A

reprodução da vida social é criada através de práticas de processos materiais,

tendo, obviamente, repercussão no ambiente social (LEITE; ARAÚJO, 2005).

Os indivíduos são obrigados a consumir bens que se tornam obsoletos

antes do tempo [...]. A vida útil dos produtos torna-se cada vez mais curta, e

nem poderia ser diferente, pois há uma união entre a obsolescência

planejada e a criação de demandas artificiais no capitalismo. É a

obsolescência planejada simbólica, que induz a ilusão de que a vida útil do

produto esgotou-se, mesmo que ele esteja em perfeitas condições de uso.

Hoje, mesmo que um determinado produto ainda esteja dentro do prazo de

sua vida útil, do ponto de vista funcional, simbolicamente está ultrapassado

(LAYRARGUES, 2002, p. 7).

A Revolução Industrial, e o desenvolvimento tecnológico, promoveram o

crescimento econômico, trazendo complexidade às formas de produção em

sociedade e beneficiando o homem e os grupos sociais com os saberes oriundos

destas mudanças. Porém, o crescimento da população e os comportamentos de

consumo que surgem na sociedade trouxeram efeitos negativos de ordem

econômica, social e ambiental, onde se destacam neste caso problemas ambientais,

especificamente a geração de RS, um dos principais agentes de degradação do

meio ambiente e de redução da qualidade de vida do homem (SANTOS; RAMOS;

PINHEIRO, 2002).

Gonçalves (2004) considera que um novo padrão de hábitos de consumo

e desperdício altamente instigados na população, contribuiu para a geração

ampliada e variada de resíduos industriais. Neste contexto, cada vez mais se

produz, resultando em mais e mais resíduos e sendo agravado com a utilização

crescente de embalagens descartáveis de alumínio, de ferro, de vidro, de plástico e

de papel.

Em 2008, a geração de RSU no Brasil foi de 52.933.296 milhões de

toneladas; e intensificaram-se no ano de 2009, aproximadamente 57 milhões de

toneladas (ABRELPE, 2009).

Page 18: Haline Falc

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Em virtude da necessidade de mudanças para reduzir fatores como o dos

RS que estão relacionados diretamente à degradação do ambiente, a gestão

adequada desses resíduos e um procedimento que constitui um desafio a ser

enfrentado decorrente da grande produção de lixo, procedimentos ambientalmente

aceitos surgem nas cidades brasileiras idealizando estratégias de gerenciamento

que atinjam toda a cadeia desde a geração até a disposição final dos resíduos

(SANTOS; RAMOS; PINHEIRO, 2002).

A excessiva produção de RS tornou-se uma problemática ambiental da

cultura contemporânea que requer uma resposta sobre o que fazer com todos os

detritos gerados. A gestão adequada desses resíduos constitui um dos grandes

desafios a ser enfrentado (SALOMÃO; TREVIZAN; GÜNTHER, 2004).

1.2 Resíduos Sólidos: definição e classificação

Quando se fala em lixo a lembrança que se forma na memória é de coisas

inúteis, sem valor, tendo uma interpretação sempre negativa,suja. Conforme o

dicionário Michaelis (1998) “lixo” é aquilo que se varre do meio em que vive, para

torná-lo limpo; é imundície.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), norma Brasileira

(NBR) 10004, defini RS como:

Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviável em face à melhor tecnologia disponível (ABNT, NBR 10004, 2004, p.1).

Para que o RS seja tratado e disposto adequadamente, faz-se necessário

uma classificação, visando fornecer subsídios para que estes recebam um destino

final correto, que não cause impacto à saúde e ao meio ambiente (ABNT, NBR

10004, 2004).

Page 19: Haline Falc

18

Segundo a Constituição Federal de 1988, capítulo Vl, artigo 225, todos

têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e, por isso, o poder

público e a coletividade têm o dever de preservá-lo para o presente e futuras

gerações. Nesta perspectiva, as políticas públicas são imprescindíveis, para uma

efetiva tutela ambiental, visto que os RS causam impactos negativos no meio

ambiente e na qualidade de vida da coletividade (LEITE; ARAÚJO, 2005).

Para fazer a classificação de um RS é necessário primeiramente fazer

uma identificação do processo ou atividade que deu origem ao resíduo, bem como

analisar os constituintes e as características desse resíduo (ABNT, NBR 1004,2004).

A ABNT, NBR 10004(2004), classifica os resíduos de acordo com o risco

que oferecem:

a) Resíduos classe I - Perigosos; aqueles que apresentam periculosidade

podendo apresentar risco à saúde pública e riscos ao meio ambiente caso sejam

gerenciados de forma inadequada. Possuem características de inflamabilidade,

corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade.

b) Resíduos classe II – Não perigosos; que não oferecem perigo,desde

que não sejam contaminados por substâncias que conferem periculosidade aos

resíduos. Alguns dos resíduos classificados como não perigosos são: resíduo de

restaurante (restos de alimentos), sucata de metais ferrosos, sucata de metais não

ferrosos (latão etc.), resíduo de papel e papelão, resíduos de plástico polimerizado,

resíduos de borracha, resíduo de madeira, resíduo de materiais têxteis, resíduos de

metais não metálicos, areia de fundição, bagaço de cana e outros resíduos.

- Resíduos classe II A - Não inertes; aqueles que não se enquadram nas

classificações de resíduos classe I - Perigosos ou de resíduos classe II B- Inertes.

Podem ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou

solubilidade em água.

- Resíduos classe II B – Inertes; são os resíduos que não são facilmente

modificados por ação química. Qualquer resíduo que,quando submetidos a um

contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura

ambiente, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações

Page 20: Haline Falc

19

superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor,

turbidez, dureza e sabor (ABNT, NBR 1004, 2004).

Mesquita Junior (2007) alerta que existem algumas lacunas e

ambiguidades na elaboração e aplicação das leis, devido à falta de diretrizes claras,

de sincronismo entre as fases que compõe o sistema e gerenciamento e de

integração dos diversos órgãos envolvidos, dificultando o cumprimento da

legislação.

Os resíduos podem ainda ser caracterizados segundo a origem, sendo

agrupados em cinco classes de acordo com Monteiro et al. ( 2001), a saber:

a) Lixo doméstico ou residencial: Produzidos nas atividades diárias nas

residências, como restos de alimentos, papel, embalagens, vidros e metais etc.

b) Lixo comercial: Resíduos gerados em escritórios, empresas, ou seja,

estabelecimentos comerciais, cujas características dependem da atividade ali

desenvolvida.

c) Lixo público: São os resíduos recolhidos nos logradouros públicos,

presentes na rua, nas feiras livres, em geral resultantes da natureza tais como,

folhas, poeira, terra, areia e também aqueles resíduos descartados irregular e

indevidamente pela população, como entulho, bens considerados inservíveis,

papéis, restos de alimentos e embalagens.

d) Lixo domiciliar especial: Grupo que compreende os entulhos de obra,

pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes e pneus.

- Entulho de obras - Os resíduos da construção civil são uma mistura de

materiais inertes, tais como concreto, argamassa, madeira, plásticos, papelão,

vidros, metais, cerâmica e terra.

- Pilhas e baterias - Apresentando-se sob várias formas (cilíndricas,

retangulares, botões), podem conter um ou mais dos seguintes metais: Chumbo

(PB), cádmio (Cd), mercúrio (Hg), níquel (Ni), prata (Ag), lítio (Li), zinco (Zn),

manganês (Mn) e seus compostos. As substâncias das pilhas que contêm esses

metais possuem características de corrosividade, reatividade e toxicidade e são

classificadas como "Resíduos Perigosos – Classe I".

Page 21: Haline Falc

20

- Lâmpadas fluorescentes - Liberam mercúrio quando são quebradas,

queimadas ou enterradas em aterros sanitários, transformando-se em resíduos

perigosos Classe I, uma vez que o mercúrio é tóxico para o sistema nervoso

humano e, quando inalado ou ingerido, pode causar uma enorme variedade de

problemas fisiológicos.

- Pneus - São muitos os problemas ambientais gerados pela destinação

inadequada dos pneus. Se deixados em ambiente aberto, sujeito a chuvas, os pneus

acumulam água, servindo como local para a proliferação de mosquitos. Se

encaminhados para aterros de lixo convencionais, provocam "ocos" na massa de

resíduos, causando a instabilidade do aterro. Se destinados em unidades de

incineração, a queima da borracha gera enormes quantidades de material

particulado e gases tóxicos, necessitando de um sistema de tratamento dos gases

extremamente eficiente e caro.

e) Fontes especiais: São gerados em processos de transformação; em

virtude do fato de possuírem características peculiares, necessitam de cuidados

mais específicos quanto à coleta, acondicionamento, transporte, manipulação e

disposição final.

- Industrial - São os resíduos gerados pelas atividades industriais (sobras

de processo), são muito variados esses resíduos e apresentam características

diversificadas, pois estas dependem do tipo de produto manufaturado.

- Radioativo - Os resíduos que emitem radiações acima dos limites

permitidos pelas normas ambientais. No Brasil, o manuseio, acondicionamento e

disposição final do lixo radioativo estão a cargo da Comissão Nacional de Energia

Nuclear – CNEN.

- Lixo de portos, aeroportos, rodoviários e ferroviários – Resíduos gerados

nos terminais, decorrentes do consumo de passageiros. A periculosidade está no

risco de transmissão de doenças e pelas cargas transportadas, eventualmente

contaminadas.

- Agrícola- Principalmente vasilhame, restos de embalagens impregnados

com pesticidas e fertilizantes químicos, utilizados na agricultura, que são perigosos.

Page 22: Haline Falc

21

A falta de fiscalização e de penalidades mais rigorosas para o manuseio inadequado

destes resíduos faz com que sejam misturados aos resíduos comuns e dispostos

nos vazadouros das municipalidades, ou – o que é pior – sejam queimados nas

fazendas e sítios mais afastados, gerando gases tóxicos.

- Serviços de saúde - Compreendendo todos os resíduos gerados nas

instituições destinadas à preservação da saúde da população. Segundo a NBR

12.808 da ABNT, estes resíduos subdividem-se em: Classe A – Resíduos

infectantes; Classe B – Resíduos especiais-rejeitos radioativos, farmacêuticos e

químicos perigosos; Classe C – Resíduo comum (MONTEIRO et al., 2001).

No Brasil, a gestão dos RSU é de responsabilidade das Prefeituras

Municipais, compreendendo a coleta, o transporte, o tratamento e o destino final. Os

incisos I e V, do art. 30, através da Constituição Federal estabelecem como

atribuição municipal legislar sobre assuntos de interesse local, especialmente quanto

à organização dos seus serviços públicos, como é o caso da limpeza urbana

(MONTEIRO et al., 2001). Ainda segundo os autores os serviços podem ser objeto

de terceirização junto à iniciativa privada. As terceirizações podem ser globais ou

parciais, envolvendo um ou mais segmentos das operações de limpeza urbana.

Uma das dificuldades existentes no trato do problema RS está no fato de

que estes percorrem um longo caminho – geração, descarte, coleta, tratamento e

disposição final – e envolvem diversos atores. Aprimorar a gestão dos resíduos

sólidos envolve integrar os diversos atores, englobando todas as condicionantes

envolvidas no processo e possibilitando um desenvolvimento uniforme e harmônico

entre todos os interessados, de forma a atingir os objetivos propostos, adequados às

necessidades e características de cada comunidade (MESQUITA JÚNIOR, 2007).

1.3 Os problemas associados à falta de tratamento adequado aos RSU

Nos centros urbanos, pelo hábito de jogar lixo nas vias públicas, observa-

se, em períodos de chuva, grande quantidade de lixo sendo carregado para o

interior dos sistemas de drenagem urbana (esgotos), contribuindo para os casos de

enchentes e causando danos à saúde da população e prejuízos econômicos (DIAS,

2003).

Page 23: Haline Falc

22

Sendo a gestão de resíduos uma atividade essencialmente municipal, as

atividades que a compõe se restringem ao território do Município, assim uma opção

para a disposição final dos RSU seria uma ação conjunta e coordenada entre

municípios. A contratação de consórcios públicos intermunicipais; municípios com

áreas mais adequadas para a instalação dessas unidades operacionais, se

consorciando com cidades vizinhas para receber os seus resíduos, negociando

algumas vantagens por serem os hospedeiros, tais como isenção do custo de

vazamento ou alguma compensação urbanística, custeada pelos outros

consorciados (MONTEIRO et al., 2001).

A destinação final dos RSU em aterros sanitários regionais, ou seja, a

ação conjunta e coordenada entre municípios viabiliza ganhos ambientais e

econômicos; otimização do uso de máquinas e equipamentos, reduz o número de

áreas utilizadas, e a redução de focos de contaminação ambiental (SUZUKI;

GOMES, 2009).

Os impactos gerados pela falta de manejo do lixo urbano são inúmeros, e

envolvem aspectos sanitários como as chamadas doenças de saúde pública, danos

ambientais como a poluição dos solos e corpos hídricos, impactos econômicos

oriundos da falta de tratamento adequado de lixo urbano e impactos sociais. A

prática condenável da catação de resíduos em ruas, e nos próprios lixões, realizada

por homens, mulheres e crianças em contato com materiais contaminados e

perigosos. A própria crise econômica do país tem contribuído para que um

contingente cada vez maior de pessoas seja obrigado a viver da prática de catação

do lixo (PEREIRA, 1999).

O resultado de uma ação negativa sobre o meio ambiente é denominado

impacto ambiental, caracterizado por um choque na operação do sistema e que, em

função do tempo de duração, da intensidade das influências e da abrangência com

que afeta os elementos, põe em risco a vida do sistema como um todo e, portanto, a

sua perpetuação (SANTOS; RAMOS; PINHEIRO, 2002).

A composição dos RS gerados nas residências e resultantes das

atividades humanas é variada. Contém, não só elementos como diversas

embalagens de vidro, metal, plástico e papel, como, também, elementos

Page 24: Haline Falc

23

considerado perigosos, que podem afetar a saúde do homem, através de contato

direto ou indireto, por meio dos vetores, assim como causar impactos extremamente

negativos ao meio ambiente (FELIX, 2007). A situação se agrava pelo fato dos RS

serem dispostos no solo, de forma inadequada, em vazadouros a céu aberto (lixões)

ou aterros controlados (ABRELPE, 2009).

Considerando os efeitos na saúde humana, os agentes biológicos

presentes nos resíduos sólidos constituem sérios riscos para a população, pois

podem ser responsáveis pela transmissão direta e indireta de doenças. A

transmissão indireta se dá pelos vetores que encontram nos resíduos condições

adequadas de sobrevivência e proliferação (FERREIRA; ANJOS, 2001).

O lixo atrai vetores como baratas, moscas, mosquitos, ratos e outros

animais silvestres, ou domésticos, transmissores de inúmeras doenças que dada

sua elevada taxa de reprodução, propagam rapidamente bactérias patogênicas (tais

como estreptococos, estafilococos, bacilos do tétano, salmonelas etc.). Os urubus

também podem trazer problemas, pois abrigam o vírus da toxoplasmose, e os cães

que frequentam os lixões podem transmitir a sarna. O lixo é um meio propício, ainda

para a ocorrência da hepatite A, transmitida através das fezes humanas (MÓL,

2007).

Ressaltando alguns agentes responsáveis por doenças, temos Ascaris

lumbricoides; Entamoeba coli; Schistosoma mansoni, que causam doenças no trato

intestinal; o vírus causador da hepatite (principalmente do tipo B), pela sua

capacidade de resistir em meio adverso, e as dermatites que também podem surgir

(FERREIRA; ANJOS, 2001).

Pelas implicações ambientais e de saúde que o manejo inadequado dos

resíduos sólidos promove, a resolução desse problema deve ser uma preocupação

de toda a sociedade e do governo, sendo imprescindível a adoção de políticas

pública que possibilitem a minimização dos impactos negativos dos RS no meio

ambiente (LEITE; ARAÚJO, 2005).

A participação da comunidade é imprescindível no gerenciamento do lixo urbano, pois, diferentemente da utilização dos serviços de água e esgoto na qual o transporte se dá por gravidade ou por pressão, o lixo depende, na maioria de suas fases, das mãos do homem (DIAS, 2003, p.56).

Page 25: Haline Falc

24

Diante do risco de esgotamento dos recursos naturais, da crescente

desestruturação das condições de vida biológica do planeta, as últimas décadas do

século XX foram marcadas por mudanças significativas no contexto socioambiental.

Inseridas no amplo conceito de “desenvolvimento sustentável”, as questões

socioambientais passaram a ser discutidas com maior intensidade, mas não

meramente em razão de mudança espontânea de comportamento das autoridades

públicas mundiais e sim de um conjunto de efeitos que passaram a serem sentidos

devido ao descaso, as agressões ao meio ambiente, que se tornaram tão graves

que comprometem qualquer perspectiva de equilíbrio no convívio social (FARIAS;

FONTES, 2003).

As preocupações com o meio ambiente passaram a assumir uma

importância cada vez maior. A Agenda 21 global, documento elaborado no encontro

denominado de Rio Eco- 92, durante a realização da Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, expressa preocupação, levanta

uma série de questões, entre elas a do desenvolvimento sustentável e suas

implicações ao desenvolvimento econômico dos países (ROSA; TURETA; BRITO

2006).

1.4 Tratamentos e destinação final dos RSU

Segundo Cunha e Caixeta Filho (2002), a primeira etapa do processo de

remoção dos RS corresponde à atividade de acondicionamento do lixo, podendo ser

utilizados diversos tipos de vasilhames (tambores, sacos plásticos, sacos de papel,

etc.), o acondicionamento interfere na qualidade da operação de coleta e transporte

do lixo, sendo assim quando mal acondicionado traz risco à segurança da

população. Ainda segundo Cunha e Caixeta Filho (2002), a coleta engloba desde a

partida do veículo de sua garagem, compreendendo todo o percurso gasto na

viagem para remoção dos resíduos dos locais onde foram acondicionados aos locais

onde serão encaminhados mediante transporte adequado, a uma possível estação

de transferência, para locais de processamento e recuperação (incineração ou

Page 26: Haline Falc

25

usinas de triagem e compostagem) ou para seu destino final (aterros e lixões) até o

retorno ou ponto de partida.

Os resíduos, após serem coletados, poderão ser processados. A

regularidade da coleta é um dos importantes atributos do serviço, e deve ser

efetuada sempre nos mesmos dias e horários, assim os cidadãos habituar-se-ão e

serão condicionados a colocar os recipientes ou embalagens do lixo nas calçadas,

sempre nos dias e horários em que o veículo coletor passar (MONTEIRO et al;

2001).

Basicamente, as formas de tratamento para a maioria dos resíduos são:

reciclagem, compostagem e a incineração. A reciclagem é a separação de materiais

do lixo domiciliar, com a finalidade de trazê-los de volta à indústria. Os materiais

retornam ao ciclo produtivo, evitando a retirada de matérias-primas da natureza,

tornando-se produtos novamente comercializáveis, propiciando economia de

transporte (pela redução de material encaminhado ao aterro), economia de energia,

conscientização da população para as questões ambientais, entre outros fatores

positivos como criação de usinas de reciclagem, que apresenta como uma das fases

de operação a triagem dos materiais recicláveis (MONTEIRO et al., 2001).

A compostagem é um método de decomposição do material orgânico

putrescível (restos de alimentos, aparas e podas de jardins, folhas etc.) existente no

lixo, pela ação de microrganismos, de forma a obter um composto orgânico (húmus)

para uso na agricultura, apesar de ser considerado um método de tratamento, a

compostagem também pode ser entendida como um processo de reciclagem do

material orgânico presente no lixo (CUNHA; CAIXETA FILHO, 2002).

A compostagem pode ser aeróbia ou anaeróbia, em função da presença

ou não de oxigênio no processo. Na compostagem anaeróbia a decomposição é

realizada por microrganismos que podem viver em ambientes sem a presença de

oxigênio, ocorre em baixa temperatura, com exalação de fortes odores, e leva mais

tempo até que a matéria orgânica se estabilize. Já a compostagem aeróbia, a

decomposição é realizada por microrganismos que só vivem na presença de

oxigênio, onde a temperatura pode chegar a até 70ºC, os odores emanados não são

agressivos e a decomposição é mais veloz (MONTEIRO et al., 2001).

Page 27: Haline Falc

26

A incineração é um exemplo de processamento térmico de resíduos, que

apresenta vantagens em reduzir o volume dos resíduos, devendo ocorrer em

instalações bem projetadas e corretamente operadas, realizada em fornos especiais

onde é garantido ar para a combustão, turbulência, tempos de detenção e

temperatura adequada (DIAS, 2003).

Os RS que não puderem ser utilizados, reciclados, e os refugos

resultantes dos processos biológico ou térmico, devem ter disposição final sanitária

e ambientalmente adequada, o processo recomendado para a disposição adequada

do lixo domiciliar é o aterro, existindo dois tipos: os aterros sanitários e os aterros

controlados (DIAS, 2003).

O aterro controlado é uma forma de se confinar tecnicamente o lixo

coletado sem poluir o ambiente externo, é menos prejudicial que os lixões (forma

inadequada de descarte final dos RSU) pelo fato dos resíduos dispostos no solo

serem posteriormente recobertos com terra, porém, sem promover a coleta e o

tratamento do chorume e a coleta e a queima do biogás (MONTEIRO et al., 2001).

A ABNT, NBR 8419 (1992), define aterro sanitário como sendo uma

técnica de disposição de RSU no solo, sem causar danos à saúde pública e

minimizando os impactos ambientais, método que utiliza os princípios de Engenharia

para confinar o lixo à menor área possível e reduzi-lo ao menor volume permissível.

Através do seu confinamento em camadas cobertas com material inerte, geralmente

solo, sendo previstos os sistemas de drenagem superficial das águas da chuva, de

drenagem de gás, e sub- superficial do líquido percolado, bem como seu tratamento.

Segundo Castilhos Júnior (2003), o gerenciamento dos RSU deve ser

implementado de forma integrada, desde a geração até sua disposição final, e

compatível com os demais sistemas de saneamento ambiental, sendo essencial a

participação do governo, iniciativa privada e da sociedade em geral.

Page 28: Haline Falc

27

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

2.1 Caracterizações da área de estudo

A pesquisa foi realizada em Crateús-Ce, distante 354Km da capital

cearense. Tendo como municípios limítrofes, Independência, Ipaporanga, Novo

Oriente, Poranga, Tamboril e estado do Piauí. Nas coordenadas 5º 10’ 42” latitude S

e 40º 40’39” longitude W (ANUÁRIO DO CEARÁ, 2008-2009).

O município possui uma área de 2.985,41Km2, e uma população de

aproximadamente 72.386 habitantes. Sendo que 47.549 habitam em zona urbana e

23.349 em zona rural. Tem clima tropical quente semiárido brando e tropical quente

semiárido com chuvas de janeiro a abril, com precipitação pluviométrica de 731,2

mm. O relevo é caracterizado por maciços residuais, depressões sertanejas e

planalto da Ibiapaba (ANUÁRIO DO CEARÁ, 2008-2009).

2.2 Aspectos metodológicos: o desenvolvimento da pesquisa

O procedimento empregado neste trabalho utilizou-se, basicamente de

analise de levantamento bibliográfico pertinente ao assunto (livros, artigos,

dissertações e teses), as quais motivaram a problemática a ser diagnosticada neste

estudo, optando-se assim, pela investigação qualitativa realizando os seguintes

passos que conforme Deslandes e Minayo (2011) pode ser dividido em três etapas:

(1) fase exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e tratamento do material

empírico e documental.

A fim de dar confirmação aos argumentos teóricos bem como

complementar as informações obtidas na fase anterior e coletar informações que

não foram possíveis obter pela revisão bibliográfica, devido à escassez de

publicações, fonte de dados secundários sobre o gerenciamento do RSU,

especificamente no município em questão e/ou sobre a recente implantação de uma

usina de triagem na cidade, procedeu-se, em uma segunda etapa, uma investigação

empírica junto às pessoas-chaves envolvidas com a gestão do programa de coleta

Page 29: Haline Falc

28

seletiva. Desse modo, combinando o uso das técnicas de pesquisa bibliográfica com

a realização de entrevistas semi-estruturadas.

Com o propósito de verificar e relatar, esta pesquisa numa abordagem

qualitativa, foram utilizados os seguintes instrumentos: entrevistas, registro visual e

fotográfico. As entrevistas foram realizadas (APÊNDICE A), com os participantes

sociais, vinculados ao processo de gerenciamento dos RSU e identificados no poder

público, local. O trabalho de campo, as entrevistas, ocorreram no período de

fevereiro a março de 2014.

O poder público é representado pela prefeitura, instituição responsável

pelos RSU municipais, pois a gestão de resíduos é uma atividade essencialmente

municipal e as atividades que a compõem se restringe ao território do Município

(MONTEIRO et al., 2001). Ainda representando o poder público, uma empresa

terceirizada, que consolida o conceito próprio da administração pública, qual seja, de

exercer as funções prioritárias de planejamento, coordenação e fiscalização,

podendo deixar às empresas privadas a operação propriamente dita.

As entrevistas possibilitaram um maior aprofundamento das informações.

Na Prefeitura Municipal de Crateús com o secretário do meio ambiente e com um

funcionário da secretaria de infraestrutura, a entrevista teve o objetivo de colher

informações sobre a gestão dos RSU no município. Na empresa terceirizada,

responsável pela operação desde a coleta ao destino final dos RSU, a entrevista foi

realizada com a secretária da empresa, e com um dos responsáveis administrativo.

Assim foi possível ter acesso a informações essências de todo o percurso dos RSU,

dentre outras informações de muita importância e necessidade.

Assim sendo, neste trabalho os instrumentos utilizados foi uma

associação dos dados coletados na pesquisa de campo, por meio de entrevistas

junto aos atores chave do Programa e documentos escritos comprobatórios

disponibilizados pela base de dados da Prefeitura Municipal de Crateús-Ce, através

da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Crateús (SEMAM), e da Associação

de Catadores da Coleta Seletiva do Município (RECICRATIÚ).

Page 30: Haline Falc

29

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os serviços de coleta do município são prestados atualmente por uma

empresa terceirizada. De acordo com Monteiro et al. (2001), o sistema de limpeza

urbana da cidade pode ser administrado por terceirização de serviços, consolidando

o conceito próprio da administração pública, qual seja, de exercer as funções

prioritárias de planejamento, coordenação e fiscalização, podendo deixar às

empresas privadas a operação propriamente dita. O município tem um contrato de

prestação de serviços com a empresa relativa à coleta domiciliar de RSU, que

corresponde ao lixo produzido em varrição de ruas, podação de árvores e retirada

de entulhos da sede do município. De acordo com o calendário anual de coleta de

RSU da prefeitura municipal de Crateús, vinte e dois bairros são atendidos.

A coleta pública dos RSU atinge somente a zona urbana da cidade, onde

são coletados resíduos residencial, comercial, hospitalar, entulho da construção civil

e resíduo vegetal volumoso (poda, capinação). Os resíduos são coletados conforme

o calendário de lixo e de poda, elaborado pela Secretaria de infraestrutura do

município. Todo o serviço de limpeza urbana é subordinado a Secretaria de

Infraestrutura da Prefeitura, que possui departamento especifica de limpeza urbana.

Conforme informações colhidas, com o funcionário da empresa

responsável pela coleta de RSU na cidade, em 2011 foi recolhida uma quantidade

de resíduos domiciliar e comercial, em torno de 108 toneladas/dia, e

aproximadamente 18.806 toneladas/mês de RSU no município. As coletas são feitas

nos turnos da manhã e tarde podendo ocorrer no período da noite nas segundas-

feiras e dias festivos, pois o volume geralmente duplica.

A coleta dos resíduos na cidade é realizada geralmente por cinco

funcionários em cada veículo sendo: o motorista mais dois pares de funcionários que

se revezam, ora caminhando, ora dentro do compartimento de carga para ajeitá-la.

Atualmente, a frota é composta por dois caminhões compactadores, três caminhões

com carroceria (aberto), um caminhão fechado e uma caçamba.

Quando o veículo utilizado na coleta é um caminhão com carroceria, é

comum parte do lixo cair durante o trajeto, devido ao mal acondicionamento da

Page 31: Haline Falc

30

carga e por se tratar de uma veículo aberto. A situação agrava-se quando o veículo

deixa o perímetro urbano com destino ao aterro, pois com a velocidade aumentada,

pedaços de papel, plástico, trapos, ou qualquer espécie de resíduo mais leve podem

se soltar e cair. Isto foi constatado durante o trajeto das visitas de campo, pois em

vários pontos do caminho que leva até o aterro, pode-se observar a presença de lixo

(Figura 1).

FIGURA 1- Lixo em vários pontos do caminho que leva ao aterro controlado.

Fonte: Elaborada pela autora.

Depois de coletados na fonte geradora, os resíduos são despejados em

um aterro controlado, situado na zona rural, a 16 km da sede do município em área

particular, denominada “Riacho dos Cavalos”, cuja parte do acesso é feito através de

estrada de terra. Não existem residências muito próximas ao local. A área destinada

ao aterro equivale a quatro hectares e corresponde a parte de uma propriedade

privada, alugada ao município. Segundo informações da Prefeitura o local é alugado

com contratos anuais ou semestrais que vão sendo realizados de acordo com a

necessidade.

A área é cercada, porém não existe guarita, funcionário ou sinalização,

com a função de alertar alguém que por ventura queira adentrar no lixão.

Page 32: Haline Falc

31

Segundo alguns catadores entrevistados, os resíduos não são cobertos

diariamente. São despejados no aterro controlado e ficam a céu aberto sem

qualquer tratamento prévio. O recobrimento dos resíduos muitas vezes leva em

torno de 3 a 4 dias, ou mais de uma semana, até que esse procedimento ocorra. Isto

atrai vetores, como urubus, e uma quantidade insuportável de moscas, como foram

presenciados nas visitas de campo (Figura 2). Quando é feita a cobertura e a

compactação dos resíduos, o serviço de recobrimento é realizado por um trator de

esteira, cobrindo os resíduos com terra.

FIGURA 2- Grande quantidade de lixo á céu aberto e presença de vetores no aterro.

Fonte: Elaborada pela autora.

Como se trata de um aterro controlado não possui sistema de drenagem

ou tratamento de gases ou chorume.

De acordo com Pereira Neto (2007), o chorume tem um grande potencial

poluidor e somado às águas das chuvas, percolam pelo solo com mais facilidade,

podendo atingir o lençol freático e os cursos de água, além de grande parte deste

poluente ficar retido no solo e assim poder impactar a vegetação. Não existe

Page 33: Haline Falc

32

drenagem pluvial e isto contribui para que a massa de resíduos seja lavada pela

água da chuva.

Perguntado sobre a capacidade e o que será feito no local quando este

estiver saturado, o administrador da empresa que coleta os resíduos no município,

disse que este local será usado por no máximo até quando saturar, então o local

será completamente aterrado.

No intervalo de tempo das visitas de campo ao aterro, compreendido

entre fevereiro a março de 2014, pode-se observar que a área utilizada para a

disposição final dos RSU estava saturada. Levando em conta que a produção de

resíduos comercial e residencial é cerca de 18.806 toneladas/mês, estima-se que no

intervalo das visitas, foram depositadas cerca de 75.224 toneladas desses resíduos.

Quantidade de massa de resíduos suficiente para invadir parte da estrada de acesso

às valas destinadas aos resíduos. As figuras 3 e 4 mostram o quanto aumentou o

volume de lixo depositado nas diferentes datas de visita de campo.

FIGURA 3- Vista parcial do aterro em fev 2014.

Fonte: Elaborada pela autora.

Page 34: Haline Falc

33

FIGURA 4- Vista parcial do aterro em mar. 2014

Fonte: Elaborada pela autora.

Os diversos tipos de RSU coletados são dispostos no local. Assim, os

resíduos provenientes de serviços de saúde que são coletados pela prefeitura

utilizam-se do mesmo serviço de coleta domiciliar para tratamento e destinação final.

De acordo com a prefeitura municipal de Crateús, o lixo hospitalar é

depositado no mesmo aterro, em uma vala exclusiva para esta destinação. O lixo

comercial e residencial vão para outra vala.

Porém não foi isso que foi constatado nesta pesquisa. Como se pode

observar nas figuras 5 e 6 os resíduos de saúde (produzidos em hospitais, clínicas

médicas, farmácias, etc.) estão juntos com os resíduos domiciliares.

Page 35: Haline Falc

34

FIGURA 5 – Resíduos de saúde jogados juntos com os resíduos domiciliares.

Fonte: Elaborada pela autora.

FIGURA 6 – Resíduos de saúde jogados juntos com os resíduos domiciliares.

Fonte: Elaborada pela autora.

São vários os impactos ambientais causados pela forma incorreta de

disposição destes resíduos. Em períodos de chuva, formam-se poças de água na

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35

base das valas (Figura 7), que, por conseguinte, poderão atrair vetores

transmissores de doenças.

FIGURA 7- Poças de água nas valas.

Fonte: Elaborada pela autora.

Segundo Mól (2007), os vetores encontram nos resíduos condições

adequadas de sobrevivência e proliferação. Os urubus também podem trazer

problemas, pois abrigam o vírus da toxoplasmose, e os cães que frequentam os

lixões podem transmitir a sarna.

Em termos de localização, o aterro está situado em um local que possui

via de fácil acesso para o transporte dos resíduos. As residências estão distantes do

local, mas estudos deviam ser levados em conta na escolha da área, como

permeabilidade do solo e profundidade. Além disto, poços de monitoramento ou

algum outro tipo de ação deviam ser implementados para um possível

acompanhamento dos impactos.

No geral, a situação do espaço destinado aos RSU, encontra-se em

condições precárias. O lixo recolhido na cidade é apenas despejado a céu aberto

sem que os cuidados de minimização de impacto ou monitoramento sejam tomados.

Page 37: Haline Falc

36

Desta forma o problema dos resíduos gerados no meio urbano são

apenas transferidos para um local afastado, no meio rural.

Os resíduos de entulho da construção civil recolhido pelo serviço de

limpeza pública são depositados em um terreno da Prefeitura para posterior

utilização e regularização de terrenos. A poda e a capinação são desidratados e

queimados em um terreno da prefeitura.

Existe a presença de catadores no local (Figura 8), que retiram os

resíduos recicláveis (papéis, plásticos, metais e vidros) e vendem para uma empresa

de reciclagem (COBAP), que se localiza a Rua José Maria Leitão, no Bairro Cidade

2000. O comprador de recicláveis vem ao local da catação, faz a pesagem dos

materiais e o pagamento aos catadores. Os catadores do aterro fazem seu trabalho

sem nenhuma preocupação com a proteção ao manusear os RS, eles trabalham

sem luvas e sem máscaras. Estes catadores, afirmaram que dependem diretamente

da separação dos materiais recicláveis como fonte de renda.

FIGURA 8 - Presença de catadores no aterro.

Fonte: Elaborada pela autora.

Existem alguns catadores de materiais recicláveis que recolhem na

cidade, suas presenças são mais evidentes em festas. Geralmente eles passam as

Page 38: Haline Falc

37

noites nestes eventos em busca de latinhas de alumínio que tem um valor comercial

mais elevado em relação aos outros recicláveis.

A coleta de dados foi muito importante para verificar como se dar a coleta

de RSU na cidade e em relação à disposição final dos resíduos.

Quando perguntados aos garis como eles encontram os RSU

acondicionados nas calçadas para a coleta, eles responderam que os resíduos no

domicílio, em sua grande maioria e acondicionado em sacos plásticos, também em

tambores, sendo depositado em frente às casas para serem recolhidos. Infelizmente

os cães, ratos, dentre outros animais costumam rasgar os sacos plásticos para

terem acesso aos restos de alimentos, assim à população deve ser instruída a

colocar as embalagens em locais que esses animais não tenham acesso.

O saco plástico de polietileno é composto por carbono, hidrogênio e

oxigênio, não é biodegradável, mas não polui a atmosfera quando corretamente

incinerado. Não há maiores objeções ao uso de sacos plásticos de polietileno como

acondicionamento para lixo domiciliar. A coleta dos resíduos domiciliares deve ser

efetuada em cada imóvel, sempre nos mesmos dias e horários, regularmente. A

população deve ser condicionada a colocar os recipientes ou embalagens dos

resíduos nas calçadas, em frente aos imóveis, sempre nos dias e horários em que o

veículo coletor irá passar. Assim os resíduos ficam expostos apenas pelo tempo

necessário à execução da coleta (MONTEIRO et al., 2001).

3.1 O Programa de Coleta Seletiva em Crateús-CE

Conforme a Secretaria de Meio Ambiente (SEMAM) do município de

Crateús-CE, o Programa de Coleta Seletiva do município teve início em 03 de

fevereiro de 2012, no bairro Cidade Nova e no Centro Comercial, sendo ampliado

gradativamente para os demais bairros da cidade. Tendo como agentes, a Prefeitura

Municipal de Crateús, por meio de sua Secretaria de Meio Ambiente – SEMAM, e a

Associação de Catadores de Materiais Recicláveis, Recicratiú, com o apoio do

Governo do Estado do Ceará, do Banco Mundial, do Projeto Mata Branca e do

Instituto Brasil Solidário- IBS/Casas Bahia, que juntos já disponibilizaram ao

Page 39: Haline Falc

38

município um galpão de triagem, prensa hidráulica, balança, caminhão de

transporte, ecopontos e material de educação ambiental ( cartazes, panfletos, folder

e banner).

O município foi mobilizado, por meio de campanhas de rádio, panfletos,

cartazes, palestras e oficinas de reciclagem para iniciar o Programa de Coleta

Seletiva.

De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, atualmente a

coleta seletiva é realizada em 9 bairros dos 18 bairros da zona urbana e 03 distritos

da zona rural do município, em dias alternados à coleta convencional, com apoio de

caminhão alugado pela Prefeitura. Antes da criação do Programa, os catadores

filiados trabalhavam diretamente no lixão, ou em catação na zona urbana, de

maneira insalubre.

A Associação de Catadores de Materiais Recicláveis (Recicratiú), fundada

em julho de 2009 é um dos principais agentes do Programa. Tem 12 associados,

divididos entre as atividades de triagem, feita no galpão da Associação, e de coleta

nos bairros participantes.

A SEMAN do município afirmar que no período de fevereiro a dezembro

de 2012 foram coletados e triados 135 toneladas de resíduos sólidos, com média de

14t/mês. As maiores quantidades de materiais triados na coleta seletiva foram o

papelão e o papel, que juntos representam cerca de 61% do total do material

coletado. Esta quantidade de resíduos coletados é referente à extensão atual de

coleta seletiva do Programa, equivalente a cerca 30% da população.

A metodologia utilizada é a separação do lixo em seco e úmido. Todo

material seco ou reciclável (plástico, vidro, papéis e metais) coletado é levado para a

central de triagem da Associação de Catadores RECICRATIÚ, situada na localidade

de Lagoa da Porta, próximo ao açude do Governo. O lixo úmido vai para a coleta

convencional que já é feita normalmente em cada área da cidade. A Associação

conta hoje com onze catadores, dos quais seis viviam do lixão.

A coleta acontece uma vez por semana no sistema “porta a porta”. O

veículo (caminhão) “possui um sistema de som que faz o anúncio do serviço. A

Page 40: Haline Falc

39

população ouve a música e já sabe que a coleta está passando na rua. Existe ainda

ecopontos espalhados em locais públicos”, relatou o secretário de meio ambiente do

município.

A infraestrutura do galpão de triagem da Associação conta com os

seguintes equipamentos: Prensa Enfardadeira (01), Balança (01), Carrinho

Plataforma (01), Carrinho manual (02), Bag’s (68), Carroça (06), Computador (01),

mesa (01), cadeira (05).

As figuras de 9 a 0o mostram o galpão de triagem da Associação de

Catadores.

FIGURA 9 – Galpão parte externa.

Fonte:Cedida pela SEMAN

FIGURA 10 – Galpão de Triagem

Page 41: Haline Falc

40

Fonte:Cedida pela SEMAN

FIGURA 11 – Triagem do material

Fonte:Cedida pela SEMAN

A SEMAN relata que está contatando com as empresas e as instituições

para aderirem ao programa de coleta seletiva, formalizando isso com termo de

parceria entre prefeitura, Associação de Catadores (Recicratiú) e empresas e

instituições interessadas, que devem procurar a Secretaria.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 42: Haline Falc

41

A partir dessa pesquisa foi possível identificar como os RSU estão sendo

dispostos no município de Crateús-Ce, podendo afirmar que a sua gestão é

realizada de forma precária e se enquadra dentro das preocupações das

administrações públicas. O serviço de coleta do lixo nos domicílios é realizado

satisfatoriamente. Este procedimento é diário e assim as principais ruas da cidade

estão quase sempre limpas. Porém, mesmo com a implantação da coleta seletiva,

não existe tratamento do lixo doméstico e nem o mínimo de cuidado com o seu

destino final. O que existe é apenas uma pequena parte da população que separa

RSU recicláveis para a coleta seletiva. Contudo grande parte do RSU recicláveis

ainda está indo para o aterro do município.

O descaso com a destinação final dos resíduos é uma realidade. O

recobrimento do lixo com materiais inertes e um procedimento simples e diminuiria o

mau cheiro e vetores. O cuidado com a capacidade transportada nos veículos

abertos deveria ser tomado para que a descarga de resíduos não ficasse no

caminho da via de acesso ao aterro. A descarga de RSU apresenta um grande

volume quando não compactado, fator que contribui para a aceleração da saturação

da área.

A construção de um aterro sanitário na cidade é uma necessidade

urgente. Mas devido à realidade existente, uma simples ação ou um discurso político

e pouco. É necessário trabalho intenso e contínuo, no âmbito da conscientização,

educação ambiental e adequação da gestão do serviço de limpeza urbana. Devido a

interesses políticos, e talvez até financeiros de benefício próprio a gestão dos RSU

está sendo entregue a iniciativa privada.

Existe uma nítida transferência de problemas no caso dos RSU, do meio

urbano para um local do meio rural. Esta prática de esconder os problemas, em

geral é realizada em vários setores da administração pública. Para garantir a

qualidade ambiental de uma maioria, depositam-se os mesmos problemas no

ambiente de uma minoria. O planejamento é a melhor ferramenta para a gestão dos

RSU. É preciso planejar o espaço para melhor geri-lo. Não é coerente apenas

“transportar” um problema urbano para um local no campo. O envolvimento da

comunidade é fundamental para o funcionamento de uma Gestão de RSU que

atenda com sucesso a proposta de tratamento total do lixo. A colaboração de todos

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42

é necessária desde a geração dos resíduos, até o descarte seletivo de seus rejeitos

que facilita a triagem e aproveitamento dos recicláveis.

O programa de coleta seletiva, desenvolvido em parceira com os poderes

público e privado, tem gerado ocupação e renda por meio da inclusão de catadores

de materiais recicláveis na gestão dos resíduos sólidos do município, além de buscar

a sustentabilidade ambiental. A coleta seletiva além de diminuir a quantidade de

RSU que saíam para o aterro, trás benefícios econômicos para o município.

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47

APÊNDICE

APÊNDICE A - Roteiro de entrevistas semi-estruturadas.

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA O PODER PÚBLICO

Tipos de resíduos que são coletados no município, bairros que prefeitura

coleta os resíduos sólidos.

Para onde vão os resíduos coletados na cidade, local destinado para a poda

e entulhos da construção civil, para onde vai o lixo hospitalar.

Dificuldades encontradas na coleta dos resíduos.

Coleta seletiva: bairros atendidos e o calendário da coleta

Quantidade de resíduos recicláveis coletados por mês

Condições que chegam os resíduos, na usina de triagem, quais os resíduos

são comprados para posterior reciclagem.

Comparação entre os resíduos que vem das ruas coletados pelos catadores

(resíduos que não foram para o destino final), e os resíduos que vem do

aterro (controlado, sanitário, lixão).