hermeneutica biblica

66
     E   l     e     r     a     m    n    o    l   i    v     r     o   ,  n    a    l     e   i       d     e        D     e     u     s   ;      e        d     e     c   l     a     r     a     n      d     o   ,      e      e     x     p   l   i    c     a     n      d     o      o      s     e     n  t   i      d     o   ,        f    a     z  i    a     m    q     u     e   ,    l     e     n      d     o   ,      s     e      e     n  t     e     n      d     e     s     s     e   .       N     e  8   .      8  Hermenêutica Preservando a Sã Doutrina APOSTILA DE ESTUDO TEOLÓGICO  A Serviço do Mestre!

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    HermenuticaPreservando a S Doutrina

    APOSTILA DE ESTUDO TEOLGICO

    A Servio do Mestre!

  • APOSTILA DE ESTUDO TEOLGICO

    A SERVIO DO MESTRE!

    GILVAN NASCIMENTO

    PROFESSOR

    BACHAREL EM TEOLOGIA

    LICENCIANDO EM GREGO

    HERMENUTICA

    PRESERVANDO A S DOUTRINA

    Salvador

    2009

  • APRESENTAO

    HERMENUTICA

    PRESERVANDO A S DOUTRINA

    Esta apostila foi extrada do site http://www.tione.h-br.com/, do telogo,

    professor e escritor Tione Echkardt. Alm desse material fiz alguns pequenos acrscimos

    com base em outros livros. Ao final, nas fontes bibliogrficas cito as obras que foram

    utilizadas nesta compilao. Minha contribuio fora esses pequenos acrscimos foi

    basicamente formatar e sintetizar alguns textos.

    Meu objetivo contribuir com a capacitao dos cristos, no uso das diversas

    ferramentas hermenuticas, para interpretar a Bblia de forma correta e

    consequentemente favorecer aplicao dos conhecimentos adquiridos com vista a

    aprimorar seu servio para o Reino de Deus.

    E leram no livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o sentido,

    faziam que, lendo, se entendesse.

    Ne 8.8

    E correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaas, e disse: Entendes tu o que

    ls? E ele disse: Como poderei entender, se algum no me ensinar?

    At 8.30.31

    Salvador

    2009

  • Sumrio

    Apresentao .......................................................................................... 04

    Introduo ............................................................................................. 05 08

    A Interpretao na Histria

    Interpretao Judaica ............................................................................... 09 - 12

    Interpretao Patrstica ............................................................................ 13

    Interpretao dos Pais Alexandrinos ........................................................... 14

    Interpretao dos Pais Antioquinos ............................................................ 15

    Influncia Ocidental ................................................................................. 16 19

    Interpretao na Idade Mdia .................................................................... 19 22

    A Interpretao na Reforma ...................................................................... 22 25

    A Interpretao na Ps-Reforma ................................................................ 26 31

    A Interpretao nos Sculos XIX e XX ........................................................ 31 34

    As Ferramentas da Hermenutica

    As Interpretaes de Hoje ........................................................................ 35

    Princpios Hermenuticos .......................................................................... 36 45

    Mtodos Literrios Especiais ...................................................................... 46 54

    As Teorias Crticas ................................................................................... 54 - 63

    Concluso .............................................................................................. 64

    Bibliografia ............................................................................................. 65

  • 4

    Apresentao

    O estudo da hermenutica imprescindvel ao cristo em todas as eras, pois

    a sua falta nos plpitos e nos devocionais tem gerado uma infinidade de interpretaes,

    heresias e confuso no seio da igreja. Soa em nossos ouvidos a mesma exortao feita

    aos escribas pelo Senhor: Errais por no conhecer as Escrituras... (Mt 22.29). Podemos

    ler a Bblia, porm no conhecer a mente de Deus Expressa na Bblia.

    O estudo da Hermenutica fundamental para o cristo que deseja se

    tornar um obreiro aprovado (2Tm 2.15), pois a interpretao bblica essencial para a

    compreenso e para o ensino correto da Bblia. Certas pessoas "adulteram a palavra de

    Deus" intencionalmente. Por isso necessrio observar e entender o significado,

    compreender o sentido para a poca, depois entender o que a mensagem bblica quer

    dizer para os dias de hoje e aplic-la.

    Algumas igrejas defendem o livre exame e interpretao das Escrituras,

    porque cada indivduo criado por Deus tem o direito de examinar a Bblia e chegar s

    suas prprias concluses sobre a mensagem. Entretanto, esta forma perigosa, pois se

    esta interpretao for feita de qualquer forma, sem o uso das ferramentas

    hermenuticas, pode-se chegar s mais incrveis e absurdas concluses. Se todos derem

    a sua opinio sobre determinado assunto sem estud-la corretamente, no chegaro a

    uma concluso plausvel, porque cada um ter uma opinio e assim poder trazer srias

    conseqncias para suas vidas.

    Por isso que saber observar, interpretar, correlacionar e aplicar faz parte de

    um processo para chegar a uma boa interpretao Bblica. A interpretao Bblica um

    meio que visa um fim, diz o Dr. Roy B. Zuck. Mas, estudar a Bblia no apenas ver o

    que ela diz e conhecer o seu significado. preciso aplic-la vida, tornando assim, um

    processo completo.

    Aprender a interpretar a Bblia muito importante, porque a interpretao

    afeta no modo de agir e de viver de quem a faz e a ouve.

    Estudar a Bblia, por estudar, no o suficiente, preciso utilizar a

    hermenutica. Esta essencial para a interpretao.

  • 5

    Introduo

    A palavra hermenutica tem a sua origem no nome de Hermes, um deus da

    mitologia grega, que servia de mensageiro dos deuses transmitindo e interpretando suas

    comunicaes aos afortunados ou desafortunados destinatrios.

    Entretanto a palavra hermenutica derivada do termo grego hermeneuo,

    ermneuw (que significa interpreto), traduzo. Plato foi o primeiro a empregar a palavra

    hermenutica como termo tcnico.

    Hermenutica a arte de hermeneia, ermneia (interpretao), ou melhor,

    designa a teoria dessa arte.

    Berkhof define a hermenutica como a cincia que ensina os princpios, as

    leis e os mtodos de interpretao; enquanto Virkler, a define tecnicamente, como a

    cincia e a arte da interpretao bblica. Ela considerada cincia porque tem normas,

    regras e estas podem ser classificadas num sistema ordenado. Tambm considerada

    como arte porque a comunicao flexvel e, portanto, uma aplicao mecnica e rgida

    apenas, pode distorcer o verdadeiro sentido de uma comunicao. Por isso h

    necessidade de aprender as regras da hermenutica, assim como, a arte de aplic-las.

    O estudo da hermenutica tem o propsito de interpretar as produes

    literrias do passado. Sua tarefa especial indicar o meio pelo qual possam ser

    removidas as diferenas entre o autor e os seus leitores, em qualquer poca.

    Ao utilizar a hermenutica na interpretao da Bblia, preciso conhecer

    alguns problemas que sero enfrentados. Isso ocorre porque ela se relaciona

    diretamente com outras reas do estudo Bblico, entre esses esto: o cnon, as crticas

    textual e histrica, a exegese, as teologias sistemtica e Bblica.

    Tambm h alguns problemas:

    a) Cronolgico: est relacionado ao fato da Bblia ter sido escrita h muito

    tempo atrs. O primeiro livro foi escrito aproximadamente h 3.400 anos e o ltimo em

    torno de 2.000 anos;

    b) Geogrfico: influencia pelo fato que a maioria dos leitores est longe

    demais de onde os fatos ocorreram. Sem contar que quase tudo mudou ou tudo

    realmente mudou;

  • 6

    c) Cultural: a maior parte da cultura mudou, alm de ser muito diferente a

    forma de pensar e agir hoje em dia;

    d) Lingstico: como j se sabe, a Bblia foi escrita nas lnguas: hebraica,

    aramaica (Ed 4.8; 6.18; 7.12-26; Jr 10.11; e Dn 2.4 7.28) e grega. Estas contm

    muitos detalhes importantes e ricos para um conhecimento mais detalhado em relao

    Bblia. Entretanto, foi por causa dessas lnguas e das mudanas naturais, que surgiram

    os problemas em relao as interpretaes textuais, conforme consta nos melhores

    manuscritos encontrados;

    e) Literrio: as diferenas contidas nos estilos de escritos utilizados nos

    tempos bblicos com os de hoje so enormes. Um bom exemplo o fato do NT utilizar

    muitas parbolas, enquanto que no AT utiliza muitos provrbios e salmos, entre outros

    estilos.

    O importante que o estudante da Bblia saiba que para estud-la preciso

    ter bom senso, pacincia, disposio e dedicao ao analisar os textos.

    Antes de comear a estudar a hermenutica e suas tcnicas preciso

    lembrar que o livro a ser estudado a Bblia. Esta por sua vez fruto da revelao de

    Deus ao homem. Ento necessrio que haja uma compreenso do que significa

    revelao e quais os tipos que existem.

    Revelao

    As palavras galah do AT e apokalpsis do NT significam revelar, descobrir.

    Esta palavra no grego expressa o ato de puxar a cortina para que o auditrio possa ver a

    atuao dos artistas na representao teatral. como se Deus puxasse a cortina para

    que se veja o que est escondido, oculto. Portanto a revelao a atividade divina

    atravs da qual Deus se torna conhecido.

    Duas frases enfatizam a natureza verbal da revelao na Bblia "Assim diz o

    Senhor" e "a Palavra de Deus".

    Em I Samuel 2.27 encontra-se:

    Veio um homem de Deus a Eli, e lhe disse: Assim diz o Senhor: No me

    revelei, na verdade, casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, sujeitos

    casa de Fara?

  • 7

    E no livro de I Crnicas 17.3 encontra-se:

    Mas sucedeu, na mesma noite, que a palavra de Deus veio Nat, dizendo:

    Vai e dize a Davi, meu servo: Assim diz o Senhor: Tu no me edificars casa

    para eu habitar...

    Deus esprito e no pode ser visto, por isso ele tomou a iniciativa de se

    revelar aos homens, tanto no passado, como ainda hoje. A revelao pode ser definida

    como a atividade de Deus em tornar-se conhecido pelo homem e uma conquista do

    homem em descobrir Deus.

    Inspirao

    Inspirao o mtodo de receber e interpretar a verdade revelada por Deus,

    por isso ela est intimamente ligada revelao.

    Weldon E. Viertel diz que a revelao pode ser transmitida oralmente ou

    relatada em forma de documentos. A atividade divina inspira e guia o homem em seu

    trabalho de interpretar e preservar a revelao.

    A concluso mais exata para a inspirao que ela a atividade divina em

    que o Esprito Santo guia as mentes dos homens selecionados e os tornam instrumentos

    de Deus a fim de comunicarem a revelao. Entretanto no ocorre de forma insensata.

    Revelao e Inspirao

    Tanto a revelao como a inspirao so frutos do Esprito Santo de Deus na

    vida do homem. Deus se revelou ao homem e a cada dia se revela. Esta revelao feita

    pela forma natural, isto , atravs da criao feita por Deus. Mas tambm pode ser

    especial, a saber, atravs da teofania, que significa a manifestao de Deus ao homem.

    Sendo que a teofania, perfeita e mais completa, que a Bblia relata atravs

    de Jesus Cristo. Esta manifestao to completa que considerada como sendo a

    prpria perfeio.

    A Bblia tambm uma forma de Deus se revelar ao homem ou pode-se

    afirmar que uma das formas. Entretanto, o que o estudante da Bblia precisa saber

    que Deus alm de se manifestar ao homem pela forma natural ou especial, tambm

    utiliza o Esprito Santo para que haja uma boa compreenso. Pois s o Esprito Santo

    pode revelar Deus ao homem.

  • 8

    Da mesma forma, o Esprito Santo inspirou os homens para escreverem as

    Escrituras, conforme consta em II Timteo 3.16:

    Toda a Escritura divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para

    redarguir, para corrigir, para instruir em justia;

    Ele tambm os capacitou para interpret-la e compreend-la, conforme

    consta em I Corntios 2.14,15:

    Ora, o homem natural no aceita as coisas do Esprito de Deus, porque para

    ele so loucura; e no pode entend-las, porque elas se discernem

    espiritualmente. Mas o que espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por

    ningum discernido.

    Uma coisa precisa ser muito bem esclarecida. O estudante de teologia no

    o nico que est tentando interpretar a Bblia, isto vem ocorrendo h muito tempo. Por

    isso necessrio ter uma viso panormica da histria da interpretao bblica ocorrida

    no decorrer dos anos. Atravs deste ponto de vista o estudante entender melhor os

    mtodos e os princpios de interpretao. Tambm no cometer os mesmos erros,

    podendo partir de um ponto j visto ou, at mesmo, pular um erro e procurar uma

    melhor forma de interpretar. O adgio de Santayana diz que "aquele que no aprende a

    lio da histria est fadado a repeti-la". Ento, para uma melhor compreenso do

    panorama histrico, preciso ver alguns tipos de interpretao ao decorrer dos anos.

  • 9

    Interpretao na Histria

    Interpretao judaica

    Apesar do povo de Israel estar sempre ouvindo as leis de Deus (Torah),

    continuava tendo a necessidade de interpret-las para que a compreendesse.

    Pode-se afirmar que a histria da interpretao bblica comeou com Esdras

    quando o povo voltou do cativeiro babilnio, por volta de 536 a.C., para a reconstruo

    do Templo de Jerusalm, conforme consta no livro de Neemias 8.1-12.

    O povo pediu a Esdras que lesse a Torah, porque no perodo do exlio a

    compreenso do hebraico havia sido perdida e se falava o aramaico. Por isso era

    necessrio que algum pudesse traduzir o texto para a lngua, ou melhor, para a cultura

    do povo judeu, conforme consta no versculo 8, o qual fala a respeito da leitura da

    Palavra de Deus e como os levitas fizeram para que o povo a entendesse atravs da

    interpretao.

    Apesar de todo esse cuidado, que foi muito importante, surgiram alguns

    problemas. Com o passar dos anos os rabinos acharam que podiam interpretar as

    Escrituras atravs de outros meios existentes na poca, os quais eram diferentes aos j

    existentes. Vejamos a seguir:

    Letrismo

    Era o tipo de interpretao na qual as letras na mente do autor criavam

    interpretaes fantsticas.

    O rabino Akiba (50? - 132 d.C.), lder de uma escola para rabinos em Jaffa,

    na Palestina, afirmava que toda repetio, figura, paralelismo, sinonmia, palavra,

    partcula, pleonasmo e, ainda mais, a prpria forma de uma letra possua um significado

    oculto. Da mesma forma que cada fibra da asa de uma mosca ou da perna de uma

    formiga tem sua importncia curiosa. Tambm dizia que, assim como o martelo que

    trabalha ao fogo provoca muitas fagulhas, cada versculo das Escrituras possui muitas

    explicaes. Para ele cada consoante do texto bblico tinha vrios significados.

  • 10

    Midrshica

    O rabino Hillel (70? a.C. - 10 d.C.), nascido na Babilnia e fundador de uma

    escola em Jerusalm, considerado o fundador das normas bsicas da exegese rabnica.

    Essas regras foram divididas em seis (6) tpicos, os quais se subdividiram

    nos 613 mandamentos da lei mosaica. Mesmo assim, continuou com uma exposio

    fantasiosa em vez de conservadora.

    Sua exegese dava vrios significados aos textos, palavras e frases sem levar

    em conta o contexto; combinava textos que tinham palavras ou frases semelhantes sem

    se preocupar com as idias expostas em cada um e interpretava aspectos incidentais de

    gramtica. Ex.:

    A "formao de uma famlia" no texto, isto , quando um grupo de

    passagens possui contedos semelhantes, considera-se que tal grupo tenha a mesma

    natureza, oriunda do sentido da passagem principal do grupo. Assim sendo, pode-se

    interpretar o que est difcil nas passagens levando-se em considerao o trecho

    principal;

    Outro exemplo seria a deduo a partir do contexto.

    Pelo simples fato de dar interpretao a identificao de significados ocultos

    em incidentes gramaticais e a expresses numricas arquitetadas, a midrshica perdeu a

    viso do verdadeiro sentido do texto.

    Pesher

    Este mtodo de interpretao existia, particularmente, entre as comunidades

    de Qumran e dava nfase s coisas escatolgicas. A comunidade de Qumran acreditava

    que tudo quanto os antigos profetas escreviam tinha um significado proftico. Esta

    interpretao apocalptica era comum entre eles, pois acreditavam que o "Mestre da

    Justia" (Deus) tinha revelado o significado das profecias, que sempre foi um mistrio.

    Mas o que mais os agradava era a idia de pensarem que eles eram o remanescente das

    profecias.

  • 11

    Alegrica

    Alegorizar procurar um sentido oculto ou obscuro que se acha escondido

    no texto. Entretanto este sentido dado de acordo com a interpretao do intrprete.

    A interpretao alegrica baseia-se, principalmente, no sentido literal que

    tido como base. Dentro desta tica, a interpretao literal um cdigo que precisa ser

    decifrado e a alegorizao traz o seu verdadeiro significado e d sentido ao texto.

    Virkler diz que a exegese alegrica baseava-se na idia de que o verdadeiro

    sentido jaz sob o significado literal da Escritura.

    Alguns escritores afirmam que a interpretao alegrica j existia. Mas foi a

    partir da admirao, que os filsofos gregos tinham pela mitologia, que a alegorizao se

    tornou mais conhecida e tambm muito influenciada. Os filsofos utilizavam este mtodo

    porque a mitologia grega era muito imoral, talvez seja melhor dizer amoral, e tambm

    continha muito antropomorfismo. Com a interpretao alegrica os mitos perderam o

    sentido literal e passaram a ter um sentido oculto e mais profundo, isto , sempre havia

    uma aplicao para a vida pessoal.

    Os judeus alexandrinos, no Egito, foram alcanados pela filosofia grega e

    tiveram srios problemas quando comearam a ser influenciados pela mesma. Pois como

    eles poderiam aceitar o AT e a filosofia grega? Alguns achavam a resposta alegorizando a

    Torah (Lei Mosaica). Duas pessoas se destacaram neste perodo, Aristbulo (100 a.C.) e

    Filo (20 a.C. - 54 d.C.).

    Aristbulo acreditava que o AT era a base da filosofia grega, por isso os

    ensinamentos s seriam compreendidos mediante a alegorizao.

    Filo ou Filo considerado o alegorista judeu-alexandrino mais famoso.

    Apesar de sofrer a influncia da filosofia grega, tentou defender o AT contra todos. Sua

    vontade de defend-lo era to grande que achava que o sentido literal era para os

    imaturos e o alegrico para os maduros, isto , para a alma.

    Seu medo era que Deus fosse visto como algum terrvel ou como um

    monstro da mitologia grega e por isso preferia aplicar algumas passagens vida normal

    atravs da alegorizao. Alguns exemplos onde ele utilizava a alegoria:

    Quando o significado literal dizia algo indigno de Deus; a declarao parecia

    ser contraditria outra da Escritura; havia expresses ambguas ou palavras

  • 12

    suprfluas; havia repetio de algo j reconhecido; era possvel um jogo de palavras;

    havia presena de smbolos.

    Exemplo citado por Zuck: Se o texto bblico diz que Ado 'se escondeu de

    Deus', essa expresso uma desonra a Deus, que v todas as coisas - portanto, s se

    pode tratar de alegoria.

    A interpretao alegrica influenciou a tantos, que os essnios se tornaram

    numa comunidade fechada e asctica. Eles viviam em cavernas prximas ao Mar Morto,

    copiavam as Escrituras e escreviam alguns comentrios sobre o AT.

    Com a vinda de Jesus e do Esprito Santo, assim como, com a obedincia

    dos apstolos em ensinarem os mandamentos de Cristo, a interpretao comeou a

    tomar outro rumo.

    O NT constitudo de quase 15% de citaes diretas, de parfrases ou de

    aluses ao AT. Dos trinta e nove (39) livros do AT, apenas nove no so expressamente

    mencionados no NT.

    Jesus a fonte para a veracidade do AT, pois ele citou muitos textos do AT

    dando autoridade a tais. muito importante observar que Jesus nunca entrou em

    contradio com nenhum texto, muito menos com os escribas. Todas as interpretaes

    feitas por ele eram aceitas pelos que as ouviam. Os escribas e os fariseus nunca o

    acusaram de usar a Escritura de uma forma antinatural ou ilegtima.

    No texto de Mateus 5.21-48, Jesus repudia os acrscimos e as

    interpretaes errneas do AT. Em Mateus 22.23-33 encontra-se novamente um relato

    de Jesus corrigindo os saduceus. No versculo 29 Jesus os corrige ao dizer:

    Errais, no conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.

    e ainda, no versculo 33 demonstrado como Jesus era visto por todos:

    E as multides, ouvindo isso, se maravilhavam da sua doutrina.

    Mesmo assim, as interpretaes continuavam ocorrendo de forma incorreta.

    Na poca dos apstolos ocorreram alguns problemas relacionados com elas. Mas a

    maioria das interpretaes feita no NT em relao ao AT era literal, isto , histria como

    histria; poesia como poesia.

  • 13

    Interpretao Patrstica

    A respeito dos pais da igreja no 1 sculo d.C., sabe-se que em seus escritos

    proliferavam algumas citaes do AT e entendiam que estas convergiam para Jesus

    Cristo.

    Juntamente com os apstolos, uma escola de interpretao alegrica

    dominou a igreja nos sculos seguintes. Mas esta alegorizao tinha um propsito

    considerado digno, que era o desejo de entender o AT como um documento cristo.

    Clemente de Roma (de 30 a 95 d.C.) fez muitas citaes detalhadas do AT e

    tambm citou o NT com muita freqncia, com o intuito de reforar as suas prprias

    exortaes. Incio de Antioquia, da Sria, escreveu sete cartas endereadas Roma

    citando constantemente o AT e falando de Cristo; Policarpo de Esmirna, em sua Epstola

    aos Filipenses, tambm citou o AT. A Epstola de Barnab tambm contm as suas

    citaes e nela que se encontra a gematria, a saber, a prtica de atribuir significados

    aos nmeros.

    Entretanto, o mais importante de tudo isto que todos os pais da igreja

    primitiva escreveram sobre Jesus utilizando o AT como referncia, mesmo sendo

    influenciados pela alegorizao.

    Um exemplo desses textos que mostravam que o AT prenunciava a Jesus

    Cristo o de Justino Mrtir (100-164 d.C.). Apesar de alegorizar todos os textos que

    escrevia, ele afirmava que o AT fora escrito para os cristos. Todavia estes s poderiam

    entend-lo atravs da alegorizao.

    Quem permaneceu quase intocvel, quanto a alegorizao, foi Irineu (130-

    202 d.C.). Suas obras mais conhecidas so: Contra as Heresias e A refutao da falsa

    gnose. Ele ressaltou que o melhor mtodo de interpretao era o da f.

    Outro que seguiu os mesmos caminhos de Irineu, foi Tertuliano de Cartago

    (160-220 d.C.). Dizia que a soluo para as heresias era a regra da f, que era mais

    conhecida como os ensinamentos ortodoxos sustentados pela igreja. Mesmo acreditando

    que as Escrituras tinham de ser interpretadas de forma literal, comeou a ser

    influenciado pela alegorizao.

  • 14

    Os Pais Alexandrinos

    Foi na cidade de Alexandria que a religio judaica e a filosofia grega se

    encontraram e comearam a ter um processo de unio. A filosofia platnica era tida

    como popular e era utilizada na interpretao das Escrituras.

    No incio do 3 sculo d.C. a interpretao das Escrituras sofreu forte

    influncia da escola catequtica de Alexandria, a qual tinha como mestre, Panteno. Este

    faleceu em 190 d.C. e o mais antigo mestre citado desta escola do Egito. Ele foi

    professor de Clemente de Alexandria (155-216 d.C.), o qual provavelmente foi

    influenciado por Filo.

    Clemente de Alexandria ensinava que as Escrituras possuam uma linguagem

    simblica para despertar a curiosidade das pessoas e isto ocorria porque nem todos

    deveriam entend-la. Para ele o mtodo literal desenvolvia uma f muito elementar. Foi

    o primeiro a aplicar o mtodo alegrico na interpretao do AT e a propor o princpio de

    que toda Escritura deve ser entendida alegoricamente.

    Desenvolveu uma teoria onde afirma que as Escrituras estavam cheias de

    riquezas e so muito profundos. Orgenes (185-254 d.C.), foi seu discpulo e esse cria

    que cada detalhe contido na Escritura algo simblico e tinha como base para esta

    afirmao o texto de I Corntios 2.6-7

    Na verdade, entre os perfeitos falamos sabedoria, no porm a sabedoria

    deste mundo, nem dos prncipes deste mundo, que esto sendo reduzidos a

    nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistrio, que esteve oculta, a

    qual Deus preordenou antes dos sculos para nossa glria.

    Orgenes era tricotomista (Doutrina que admite que so trs os princpios

    que se integram no homem; o corpo, a alma e o esprito) como Plato e achava que as

    Escrituras tambm possuam trs partes, afinal foram reveladas para os homens. Para

    ele o corpo era o sentido literal, o qual desprezava; a alma, o sentido moral; e o esprito,

    o sentido alegrico ou mstico.

    Uma das suas obras mais conhecidas Os Hexapla, que era composta por

    seis colunas paralelas e que continham o texto em hebraico e mais cinco verses gregas

    diferentes. Esta obra durou vinte e oito anos para ser concluda. Entretanto, o trabalho

    que mais defendia a sua tese era o De principiis. Apesar de toda sua alegoria foi

    considerado o maior telogo de todos os tempos.

  • 15

    Os Pais Antioquinos

    No meio de toda essa confuso, surgiu um grupo de eruditos em Antioquia,

    da Sria, que tentou acabar com o letrismo dos judeus e com o alegorismo dos

    alexandrinos. Doroteu e Lcio faziam parte deste grupo e, segundo dizem, foram eles

    que fundaram a escola de Antioquia no final do terceiro sculo.

    Os pais da igreja, em Antioquia, incentivaram o estudo das lnguas originais

    das Escrituras (hebraico e grego) e tambm comearam a redigir comentrios sobre as

    Escrituras. Para os antioquenses o significado espiritual de um acontecimento histrico

    estava implcito no prprio acontecimento. Um exemplo: para eles a partida de Abrao

    de Har (Gn 12.1-9) para a terra prometida por Deus, nada mais , que um sinal de f,

    confiana em Deus.

    Diodoro, um dos antioquenses, escreveu um tratado sobre os princpios de

    interpretao. Entretanto, o seu feito maior, demonstrado atravs da vida de seus dois

    discpulos Teodoro de Mopsustia e Joo Crisstomo.

    Teodoro de Mopsustia foi considerado o maior intrprete e crtico da escola

    de Antioquia. Defendia com muito zelo o princpio da interpretao histrico-gramatical,

    isto significa que o texto tinha que ser interpretado conforme as regras gramaticais e os

    fatos da histria. Foi considerado o exegeta da poca e a sua exegese era intelectual e

    dogmtica.

    Joo Crisstomo, outro discpulo de Diodoro, se destacou mais por causa da

    sua eloqncia. Por isso o nome Crisstomo, que significa boca de ouro. Foi considerado

    o arcebispo de Constantinopla. Sua exegese era "espiritual" e prtica. Escreveu mais de

    600 homilias (Pregao em estilo familiar e quase coloquial sobre o Evangelho. Discurso

    que afeta moral exagerada); suas obras contm cerca de 7.000 citaes do AT e 11.000

    do NT. Por isso alguns o consideram o maior comentarista entre os primeiros pais da

    igreja.

    A escola de Antioquia criticava os alexandrinos por colocarem a historicidade

    do AT em dvida constantemente. Todavia teve alguns problemas que a levou a entrar

    em contradio. Entre eles deve-se ressaltar que Teodoro, apesar de aceitar o sentido

    literal das Escrituras, no aceitou a inspirao divina de alguns livros. Tambm no se

    pode deixar de falar em Nestrio, discpulo de Teodoro, o qual se envolveu numa grande

    heresia concernente pessoa de Cristo e tambm deixou se influenciar com outras

    circunstncias histricas.

  • 16

    Influncia Ocidental

    Entre os sculos V e VI surgiu, no Ocidente, um tipo intermedirio de

    exegese. Alm de acolher alguns elementos da escola alegrica de Alexandria, acolheu

    tambm os princpios da escola da Sria. Mas teve uma influncia importante porque

    acrescentou um elemento, at ento sem importncia, que era a autoridade da igreja e

    da tradio na interpretao da Bblia. Desta forma o ensino, no mbito da igreja, passou

    a ter valor e virou regra. Essa exegese foi representada por Hilrio, Ambrsio, Jernimo

    e Agostinho. Mas estes dois ltimos foram os que mais influenciaram no mtodo de

    interpretao entre todos os setes que se destacaram.

    Jernimo, 347-419 d.C., adotou, no princpio, a alegorizao de Orgenes.

    Mas depois se tornou mais literal graas influncia da escola de Antioquia e dos

    membros judeus. Acreditava que o mtodo literal desvendava o sentido mais profundo

    das Escrituras, caso contrrio, ignorava-o. O comentrio que fez sobre Jeremias tinha o

    mtodo literal, mas ao compar-lo com o comentrio sobre Obadias, nota-se a diferena

    entre os mtodos literal e alegrico.

    Era um profundo conhecedor do grego e do hebraico, embora tenha utilizado

    na sua exegese muitas notas lingsticas, histricas e arqueolgicas.

    Jernimo viajou muito, mas por volta de 386 d.C. morou em Belm. Onde

    em clausura, escreveu vrios comentrios sobre os diversos livros da Bblia e a traduziu

    para o latim. Esta foi a maior de todas as suas obras, A Vulgata.

    Outro que se destacou dos demais foi Agostinho, cuja diferena em relao a

    Jernimo estava em no conhecer as lnguas originais das Escrituras. Mas em termo de

    originalidade e inteligncia, foi o maior de sua poca (354-430 d.C.) e tambm exerceu

    grande influncia na igreja.

    No incio, seguia a linha do maniquesmo: movimento que comeou no incio

    do sculo III d.C., desvalorizava o NT e ressaltava os antropomorfismos absurdos do AT.

    Os maniquestas eram seguidores de Manes e tinham dois princpios bsicos: que havia

    um Deus bom e um mau; afirmavam que o casamento e a procriao eram um ato

    pecaminoso.

    Ao ouvir Ambrsio citar na Catedral de Milo, na Itlia, o texto de II

    Corntios 3.6 que diz:

  • 17

    ... o qual tambm nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, no

    da letra, mas do esprito; porque a letra mata, mas o esprito vivifica.

    Agostinho atentou apenas para a parte que diz que a letra mata, mas o

    esprito vivifica e a utilizou como base para a sua metodologia alegrica na interpretao.

    Ele afirmava que a interpretao literal das Escrituras mata, mas a alegrica ou espiritual

    vivifica. Com este mtodo de interpretao, Agostinho, tornou-se um alegorista na

    prtica e por isso, os seus escritos apresentados no trabalho De Doctrina Christiana, tm

    mais valor do que seus comentrios exegticos. Nesta obra, escrita em 397 d.C., afirmou

    que a maneira de descobrir o sentido alegrico de uma passagem consultar a regula

    fidei (regra da f), que era para ele o ensinamento da igreja e da prpria Escritura.

    Apesar de considerar o sentido literal usou livremente o alegrico e tambm defendeu

    que um intrprete deve estar sempre pronto para sua tarefa, seja filosfica, crtica ou

    histrica, mas que acima de tudo tem que ter amor ao autor.

    No terceiro volume da obra De Doctrina Christiana, so apresentadas sete

    regras de interpretao que eram tidas como base racional para a alegorizao. So

    elas:

    1-O Senhor e seu corpo: as referncias a Cristo quase sempre tambm se

    aplicam a seu corpo, a igreja; 2-A diviso em dois, feita pelo Senhor ou a mistura que

    existe na igreja: a igreja pode conter tanto hipcritas quanto cristos genunos,

    representados pelos peixes bons e maus apanhados na rede (Mt 13.47,48); 3-Promessas

    e a lei; algumas passagens esto relacionadas com a graa e outras com a lei; algumas

    ao Esprito, outras letra; algumas s obras, outras f; 4-Espcie e gnero: certas

    passagens dizem respeito s partes (espcie), enquanto outras se referem ao todo

    (gnero). Os cristos israelitas, por exemplo, so uma espcie (uma parte) dentro de um

    gnero, a igreja, que o Israel espiritual; 5-Tempos: discrepncias aparentes podem ser

    resolvidas inserindo uma afirmao em outra. Por exemplo: a verso dos evangelhos de

    que a transfigurao ocorreu seis dias aps o episdio em Cesaria de Filipe insere-se

    dentro da verso de outro evangelho, que registra oito dias. E o significado dos nmeros

    quase nunca o matemtico exato, mas sim o de ordem de grandeza; 6-Recapitulao:

    algumas passagens difceis podem ser explicadas quando vistas como se referindo a um

    relato anterior. O segundo relato sobre a Criao, em Gnesis 2, entendido como uma

    recapitulao do primeiro relato, em Gnesis 1, no como uma contradio a ele; 7-O

    diabo e seu corpo: algumas passagens que falam do diabo, como Isaas 14, esto mais

    relacionadas a seu corpo, isto , a seus seguidores.

  • 18

    Agostinho tambm disse que a Escritura tem um sentido qudruplo:

    histrico, etiolgico (estudo de coisas acerca da origem), analgico, e alegrico. Para ele

    o texto bblico possui mais de um sentido, justificando assim o mtodo alegrico. Com

    base neste mtodo qudruplo de interpretao, Agostinho dizia que: nos textos de

    Gnesis 2.10-14 os quatro rios eram quatro virtudes fundamentais; em Gnesis 3.7,21

    as folhas da figueira eram a hipocrisia e o cobrir da carne, a mortalidade; em Gnesis

    9.20-23 a embriaguez de No, simbolizava o sofrimento e a morte de Cristo.

    Apesar dele ter influenciado no desenvolvimento da exegese cientfica na

    parte terica, no a praticou em seus estudos bblicos e ainda teve a sua opinio como

    um fator predominante na Idade Mdia.

    Muitos foram influenciados por esse mtodo de Agostinho. Entre eles est

    Joo Cassiano, monge da Ctia (atual Romnia), 360-435 d.C., tambm pregou o sentido

    qudruplo da Bblia, s que tinha dois itens diferentes: histrico, alegrico, tropolgico e

    anaggico. O sentido tropolgico, se referia ao sentido moral j que o significado da

    palavra no grego desvio, indicando conduta, comportamento, isto , um sentido moral;

    o anaggico, se refere a algo oculto, celestial que no grego traduzido por fazer subir.

    De acordo com este mtodo os quatro significados de Jerusalm so: historicamente: a

    cidade dos judeus; alegoricamente: a igreja de Cristo; tropologicamente (ou

    moralmente): a alma humana; anagogicamente: a cidade celestial.

    Euqurio de Lio (? - 450 d.C.), em seu livro As regras da Interpretao

    Alegrica, tentou provar que as Escrituras contm linguagem simblica. Dizia que da

    mesma forma que no se joga prolas aos porcos, as verdades bblicas so vedadas s

    pessoas no espirituais. Mas tambm percebia um sentido literal nas Escrituras.

    Adriano de Antioquia, por volta de 425 d.C. elaborou um manual de

    interpretao chamado Introduo s Sagradas Escrituras, onde afirmou que os

    antropomorfismos no devem ser interpretados ao "p da letra". Disse que para

    compreender os significados mais profundos era preciso transcender o entendimento

    literal.

    Junlio, em 550 d.C, redigiu o manual de interpretao As Regras da Lei

    Divina, e afirmou que a f e a razo no so plos opostos. Apoiou Adriano ao dizer que

    a interpretao da Bblia deveria partir da anlise gramatical, mas nunca se limitar s a

    ela.

    Vicente, 450 d.C. em seu Commonitorium disse que "a linha de

    interpretao dos profetas e apstolos precisa seguir a norma dos sentidos eclesisticos

  • 19

    e catlicos". Para verificar o sentido do texto ele se baseava na universalidade, na idade

    e no bom senso do mesmo.

    De acordo com tudo o que foi visto, nota-se que Jernimo, Agostinho e

    Vicente abriram espao para a alegorizao e para a autoridade da igreja.

    Interpretao na Idade Mdia

    Na Idade Mdia, a ignorncia em relao a Bblia predominou. Muitos

    clrigos (Indivduo que tem todas as ordens sacras, ou algumas delas; aquele que

    pertence classe eclesistica; sacerdote cristo; aquele que j se iniciou nas ordens

    sacras pela tonsura dos cabelos) conheciam apenas a Vulgata e os escritos dos pais da

    igreja e era atravs destes que eles estudavam a Bblia, pois achavam-na muito cheia de

    mistrios e que s poderiam entend-la misticamente.

    Por isso, que a tradio da igreja ocupou lugar de relevo, assim como a

    alegorizao e o sentido qudruplo da Escritura de Agostinho e Joo Cassiano. Para eles

    fazerem uma boa interpretao bblica, o texto tinha que ter quatro nveis de

    significao:

    1-A letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram (histrico); 2-A

    alegoria mostra-nos onde est oculta a nossa f (alegrico); 3-O significado moral d-

    nos as regras ocultas da vida diria (tropolgico); e 4-A anagogia mostra-nos aonde

    termina a nossa luta (anaggico).

    O princpio aceito para a interpretao era o que se adaptava tradio e a

    doutrina da igreja. Toda a teologia estava condicionada a este princpio quando se referia

    a Bblia. O clrigo que reconduzisse os ensinos patrolgicos e descobrisse os ensinos da

    igreja nas Escrituras Sagradas era tido como o erudito da poca.

    Nos mosteiros foi adotada a regra de So Benedito que dava nfase leitura

    da Bblia sendo a explicao final conforme a exposio patrolgica. Hugo de S. Victor

    disse que primeiro aprendia o que deveria crer e depois encontrava a afirmao na

    Bblia. Os estudantes que surgiam tambm utilizavam a alegoria para interpretarem as

    Escrituras.

    Alguns associam o incio da Idade Mdia a Gregrio o Grande (540-604

    d.C.), o qual foi o primeiro Papa da Igreja Catlica Romana. Este tambm utilizava e

    defendia o mtodo alegrico. Como exemplo de sua alegorizao pode-se citar o livro de

    J: onde os trs amigos so os hereges, os sete filhos so os doze apstolos, as sete mil

  • 20

    ovelhas so os pensamentos inocentes, os trs mil camelos so as concepes vs, as

    quinhentas juntas de bois so as virtudes e os quinhentos camelos so as tendncias

    lascivas.

    Alegorizar a Bblia como se v acima, pode levar a um extremo e at mesmo

    a heresia. Entretanto, muitos seguiram o mesmo caminho. Entre eles esto:

    a) Beda, o Venervel (673-734) telogo anglo-saxo: para ele na parbola

    do filho prdigo o filho era a filosofia mundana, o pai era Cristo e a casa a igreja;

    b) Alcuno (735-504), de Iorque, na Inglaterra;

    c) Rabano Mauro, que foi aluno de Alcuno. Escreveu que as quatro rodas da

    viso de Ezequiel representavam a lei, os profetas, os evangelhos e os apstolos. No

    qudruplo sentido, a Bblia tinha como significado histrico, o leite; alegrico, o po;

    anaggico, o alimento saboroso; tropolgico, o vinho que alegra;

    d) Bernardo de Claraval (1090-1153) era um monge que alm de vrios

    trabalhos fez 86 sermes, apenas sobre os dois primeiros captulos de Cantares. Era um

    exagerado no misticismo e na alegorizao;

    e) Joaquim Flora (1132-1202), monge beneditino, disse que existem trs

    eras: 1) da criao a Cristo - de Deus; 2) de Cristo at o ano de 1260 - de Cristo; 3) a

    que comeou em 1260 - do Esprito Santo;

    f) Stephan Langton (1155-1228), arcebispo de Canturia, disse que no livro

    de Rute o campo simbolizava a Bblia, Rute os estudiosos e os ceifeiros so os mestres.

    Foi ele quem dividiu a Vulgata em dois captulos.

    Apesar da alegorizao e do mtodo qudruplo de interpretao predominar

    no perodo medieval, outros mtodos estavam sendo desenvolvidos. Entre eles estava o

    dos cabalistas, um grupo que se desenvolveu neste perodo, eram pessoas que se

    dedicavam s cincias ocultas e que tinham em comum o objetivo de interpretar a Bblia

    de forma mstica e misteriosa.

    No ltimo perodo medieval, os cabalistas na Europa e na Palestina, deram

    nfase tradio do misticismo judaico e fizeram com que a prtica do letrismo se

    tornasse ridcula. Para eles tudo tinha um significado mstico, sobrenatural,

    principalmente quando se tratava das letras da Bblia.

  • 21

    Entre alguns grupos existentes, havia um que estava crescendo e este

    utilizava um mtodo de interpretao mais cientfico. Tambm havia os judeus espanhis

    dos sculos XII a XV que incentivavam a volta ao mtodo histrico-gramatical para a

    interpretao.

    O telogo mais famoso da Igreja Catlica Romana, no Perodo Medieval, foi

    Toms de Aquino (1225-1274), que apoiava o mtodo do sentido qudruplo, mas chegou

    a observar uma certa incompatibilidade no mesmo. Na prtica alegorizou bastante, mas

    na teoria cria que o sentido literal era fundamental para qualquer exposio dos escritos

    da Bblia. Para ele, da mesma forma que a Bblia tem um autor divino e vrios autores

    humanos, ela tem que ser interpretada com o sentido literal e com o espiritual. Mas o

    literal continuava sendo a base de tudo. Esta teoria est expressa em sua Summa

    Theolgica.

    No mesmo perodo surgiu um homem que influenciou muito para o retorno

    interpretao literal, Nicolau de Lyra (1270-1340), que chegou a ser considerado a luz no

    meio das trevas na poca da Reforma. Acusou o sentido qudruplo de sufocar o literal.

    Embora admitisse dois sentidos, o literal e o mstico, a sua base era o literal e tambm

    via da mesma forma em relao a doutrina. Com esta viso mostrou que apoiava e era

    influenciado pelo Rabino Shilomo Bar Isaque.

    Rashi (1040-1105) foi um literalista judeu que influenciou muito nas

    interpretaes judaica e crist, atravs da nfase que dava a gramtica e a sintaxe do

    hebraico.

    Com a mesma viso, Nicolau de Lyra, rejeitou a Vulgata e se voltou para o

    hebraico. Um ponto importante que ele no conhecia o grego. Mas ele influenciou

    fortemente Lutero e, segundo alguns, foi quem deu incio a Reforma.

    Ainda h um telogo, extraordinrio, que precisa ser citado, Joo Wycliffe

    (1330-1384), afirmava que as doutrinas e a vida crist tinham como fonte a Bblia.

    Contestando a posio tradicional da Igreja Catlica. Foi o primeiro a traduzir a Bblia

    para o ingls e disse que tudo o que necessrio na Bblia est contido nos sentidos

    literal e histrico.

    Utilizava como regras para a interpretao bblica um texto confivel e

    entendia a lgica do mesmo. Comparava os textos bblicos entre si e se colocava sob a

    orientao do Esprito Santo de Deus.

  • 22

    Mesmo existindo alguns telogos que se esforavam para estudar e tornar

    as interpretaes mais coerentes, havia uma grande mistura em relao as

    interpretaes. A ignorncia do povo e, principalmente, dos telogos comeou a

    predominar. Comeando ento, a surgir um conflito que mais tarde tornou-se conhecido

    como a Reforma.

    A Interpretao na Reforma

    A Renascena foi muito importante para o desenvolvimento de princpios

    hermenuticos sadios. Nos sculos XIV e XV havia muita ignorncia em relao ao

    contedo da Bblia. Muitos doutores em divindade nunca haviam lido a bblia toda. A

    nica forma pela qual a Bblia era conhecida era atravs da traduo de Jernimo.

    A Reforma foi uma poca de distrbios sociais e eclesisticos, mas foi

    essencialmente, uma reforma hermenutica, isto , uma reforma quanto a forma de ver

    e interpretar a Bblia. Durante a Reforma a Bblia passou a ser a nica fonte legtima para

    nortear a f e a prtica. Os reformadores utilizavam como base o mtodo literal que a

    escola de Antioquia e dos vitorinos utilizava.

    A Renascena que teve incio na Itlia reavivou o interesse pela literatura

    clssica, incluindo o hebraico e o grego. Desidrio Erasmo, humanista proeminente da

    poca, revisou e publicou, em 1516, a primeira edio crtica do Novo Testamento Grego,

    facilitando desta forma o estudo da Bblia. Johannes Reuchlin escreveu diversos livros

    sobre a gramtica hebraica e um lxico tambm. Estes dois eram conhecidos como os

    dois olhos da Europa e mostraram aos intrpretes da Bblia que, para estud-la, era

    preciso conhecer as lnguas em que fora escrita.

    Nota-se que o sentido qudruplo foi deixado e o novo pensamento que a

    Bblia s tem um sentido. Para os reformadores a Bblia era a Inspirada Palavra de Deus

    e mesmo que a idia a respeito da inspirao fosse estrita, eles a tinham mais como

    orgnica do que mecnica. Tambm viam a Bblia como a maior autoridade e como a

    fonte final de apelao em todas as questes teolgicas. Tudo que antigamente era

    confiado e posto para a igreja passou a dar lugar para a Bblia.

    Afirmavam que no era a igreja que determinava o que as Escrituras

    ensinavam, mas tinha que acontecer ao contrrio, isto , as Escrituras que

    determinavam o que a igreja deveria ensinar. Surgiram dois princpios fundamentais: 1)

    Scriptura scripturae interpres (Escritura intrprete da Escritura); 2) Omnis intellectus

    ac expositio Scripturae sit analogia fidei (toda compreenso e exposio da escritura seja

    de acordo com a analogia da f).

  • 23

    Martinho Lutero (1483-1546)

    Aps passar por uma experincia pessoal com Cristo atravs da leitura da

    Bblia, Lutero deixou de alegorizar os textos e criticou esse mtodo de forma veemente.

    Ele disse que:

    "quando monge, eu era perito em alegorias. Eu alegorizava tudo. Mas, depois

    de fazer prelees sobre a Epstola aos Romanos, passei a conhecer a Cristo.

    Foi assim que percebi que ele no nenhuma alegoria e aprendi a saber o

    que Cristo realmente ".

    Por causa desta experincia, Lutero acreditava que a f e a iluminao do

    Esprito Santo eram requisitos indispensveis para o intrprete da Bblia. Para ele, a

    Bblia deveria ser vista com olhos diferentes dos que olham para qualquer outra

    literatura. Rejeitou o sentido qudruplo de interpretao, o qual predominou no perodo

    medieval e ressaltou o sentido literal (sensus literalis).

    Chegou a agredir com veemncia o sentido alegrico ao compar-lo com a

    escria da Bblia e a coloc-lo como mais baixo que a imundcia. Defendeu que as

    Escrituras deveriam ser mantidas em seu significado mais simples e compreendidas

    atravs do seu sentido gramatical e literal, salvo haja um impedimento por parte do

    contexto. Em sua exegese considerou as condies histricas, gramaticais e o contexto.

    Com este pensamento ressaltou a importncia do estudo das lnguas das Escrituras.

    Lutero acreditava que todo cristo devoto podia entender a Bblia.

    Contrariava a opinio da Igreja Catlica Romana que tinha essas pessoas como suas

    dependentes. Porque a Igreja Catlica determinava o que as Escrituras ensinavam,

    quando isto deveria acontecer ao contrrio, como j foi dito antes.

    Pelo fato de no concordar e abandonar o sentido alegrico, Lutero, precisou

    arrumar um meio de explicar como o AT se unia ao NT e a melhor forma foi achar nos

    textos do AT referncias que apontavam para Cristo. Apesar desta forma no ser muito

    aceita hoje, foi ela que o ajudou a mostrar uma unidade entre o AT e o NT.

    Mesmo sendo contra a alegorizao, muitas vezes alegorizou, como quando

    disse que a arca de No era uma alegoria da igreja. Mesmo assim, no foi um alegorista

    exagerado, talvez porque se preocupou mais com a cristologia em toda Bblia. O livro

    onde encontrou mais facilidades para ver Cristo foi o de Salmos.

  • 24

    Seus princpios hermenuticos eram melhores do que as suas exegeses. Um

    de seus princpios dizia que era necessrio fazer uma cuidadosa distino entre a Lei e o

    Evangelho, porque a Lei se refere a Deus em sua ira para com o pecado e o Evangelho se

    refere a Deus em sua graa para com o pecador. Mas Lutero no incentivou o repdio

    Lei porque, segundo ele, isso levaria imoralidade. Entretanto no conseguia ver a Lei e

    o Evangelho se unindo, para ele era como se fosse unir as obras f.

    Alm de ter ajudado muito e por ter acabado com a alegoria, Lutero prestou

    um grande servio nao alem ao traduzir a Bblia para o alemo vernculo.

    Philip Melanchthon (1497-1560)

    Melanchthon, companheiro de Lutero em exegeses, continuou a aplicao

    dos princpios hermenuticos de Lutero em suas exposies bblicas, sustentando e

    aumentando, desta forma, o impulso do trabalho de Lutero. Chegando a ser chamado de

    a mo direita de Lutero.

    Era um profundo conhecedor do hebraico e do grego, por isso era um

    intrprete admirvel e prudente. Mesmo tendo umas pequenas recadas para a

    alegorizao, seguia, no geral, o mtodo gramatical e histrico.

    Tinha como princpios para a sua exegese que as Escrituras deviam ser

    entendidas gramaticalmente antes de serem teologicamente e que as mesmas tm um

    simples e determinado sentido.

    Joo Calvino (1509-1564)

    considerado um dos maiores intrpretes da Bblia e concordava com os

    princpios hermenuticos de Lutero. Tambm acreditava na necessidade da iluminao do

    Esprito Santo de Deus e considerava a interpretao alegrica uma artimanha de

    Satans para obscurecer o sentido das Escrituras. Suas exposies abrangem quase

    todos os livros da Bblia, dando-lhes o devido valor.

    Superou a Lutero ao manter coerncia entre a sua exegese com a sua teoria.

    Discordava de Lutero no carter cristolgico de toda a Escritura, pois no aceitava que

    Cristo deveria ser visto em todas as partes. Mas acreditava muito na significao

    tipolgica de muitas coisas do AT.

    Para ele os profetas deveriam ser interpretados luz das circunstncias

    histricas e no via tantos Salmos messinicos como Lutero. Acreditava que a virtude do

  • 25

    intrprete era "permitir que o autor diga o que realmente diz, ao invs de lhe atribuirmos

    o que pensamos que devia dizer". Sua frase predileta era A Escritura interpreta a

    Escritura, por isso se apegou exegese gramatical e ao contexto de cada passagem.

    mais conhecido por causa da sua teologia expressa na obra, Institutas da

    Religio Crist, onde fez 1.755 citaes do AT e 3.098 do NT. Tambm por seus

    comentrios sobre vrios livros da Bblia. Os nicos livros que no comentou foram:

    Juzes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crnicas, Esdras, Neemias, Ester,

    Provrbios, Eclesiastes, Cantares, II e III Joo, e Apocalipse.

    Ulrich Zwnglio (1484-1531)

    Enquanto Calvino era o principal da Reforma em Genebra, Zwnglio era em

    Zurique. Ele cortou as relaes com a Igreja Catlica Romana e passou a pregar sermes

    expositivos. Para ele, interpretar um texto sem conhecer o seu contexto era como

    separar uma flor da sua raiz.

    Outro que se destacou foi William Tyndale (1494-1536), que defendia o

    sentido literal. Traduziu o NT para o ingls em 1525, o Pentateuco e o Livro de Jonas.

    Por causa destes e outros que se desligaram da Igreja Catlica Romana,

    comeou a surgir alguns problemas, porque a Igreja Catlica Romana no aceitava

    perder a sua posio autoritria e suprema na vida das pessoas. Afinal, agora as pessoas

    podiam ler a Bblia e entend-la atravs dos seus prprios estudos.

    Alm de perder o controle total sobre tudo o que se referia as Escrituras, a

    Igreja Catlica Romana, comeou a perder a credibilidade em relao aos seus

    intrpretes (doutores) das Escrituras. Porque eles no conheciam a Bblia to

    profundamente e nem se preocupavam porque estavam acostumados a interpret-la de

    acordo com o que pensavam, pois utilizavam o mtodo alegrico.

    A Reforma foi realmente uma revoluo que mexeu com muita gente e teve

    grandes repercusses. Todavia o maior problema no foi a Reforma em si, mas os

    seguidores de Lutero, Calvino, Zwnglio e etc; porque se preocuparam em atacar a Igreja

    Catlica Romana, ao invs de continuarem a seguir a nfase dada f e a revelao para

    a interpretao.

    Neste movimento surgiram muitos grupos e foram realizados conclios entre

    outros fatos. Este perodo mais conhecido como ps-reforma.

  • 26

    A Interpretao na Ps-Reforma

    Do sculo XVII ao XVIII alguns movimentos se tornaram marcantes. Entre

    eles pode-se citar a divulgao e a disseminao do calvinismo, assim como, as reaes

    ao mesmo, os estudos textuais e lingsticos e o racionalismo.

    Todos estes so frutos do que ocorreu durante o conflito existente entre os

    perodos medieval e da Reforma. Pois este ltimo teve muita fora nos seus adeptos e

    seguidores contra a Igreja Catlica Romana. Mas a Reforma Protestante serviu para

    esclarecer algumas dvidas referentes interpretao da Bblia.

    No decorrer dos sculos XVII e XVIII, houve um grande desenvolvimento no

    sentido de descobrir o texto original da Bblia e muitas pessoas se destacaram como

    sendo grandes crticos das Escrituras.

    Louis Cappell considerado o primeiro crtico textual do AT, conforme pode-

    se notar em sua obra Crtica Sacra de 1650. Johann A. Bengel conhecido como o pai da

    crtica textual moderna, pois foi o primeiro a identificar famlias ou grupos de

    manuscritos, com base em caractersticas comuns. Em 1734, publicou uma edio crtica

    do NT grego e um comentrio crtico. Em 1742, escreveu um comentrio crtico, de

    versculo por versculo, sobre o NT. Johann J. Wettstein corrigiu muitos manuscritos do

    NT e publicou o NT grego em dois volumes com um comentrio em 1751.

    Aps o Conclio de Trento os protestantes comearam a criar as suas

    prprias doutrinas para poderem defender os seus ensinamentos. Por isso a ps-reforma

    foi considerada uma poca de dogmatismos teolgicos, que era uma espcie de caa s

    heresias e de um rigoroso protestantismo doutrinrio.

    Como em todo movimento que surge, a Reforma tambm gerou alguns

    problemas, estes podem ser vistos ao observar os grupos que surgiram e o que

    pregavam.

    Com a liberdade de interpretao dos telogos, muitos comearam a seguir

    linhas de pensamentos diferentes ao invs de se reunirem e chegarem a um acordo.

  • 27

    Os Anabatistas

    Este movimento comeou em 1525, em Zurique na Sua, com os seguidores

    de Zwnglio. Eles achavam que Zwnglio no cortara os laos com a Igreja Catlica

    Romana nas questes referentes ao controle da igreja por parte do Estado e no batismo

    de crianas. Os fundadores deste movimento foram: Conrad Grebel, Felix Mantz e Georg

    Blaurock.

    Os anabatistas achavam que se uma pessoa tivesse sido batizada quando

    criana, de acordo com a linha reformada Zwingliana, aps tornar-se adulta, se aceitasse

    a Cristo, deveria ser rebatizada. Da o nome anabatista (que batiza de novo).

    A Contra-Reforma

    Todas as reformas empreendidas pela Igreja Catlica Romana contra os

    protestantes, ficaram conhecidas como Contra-Reforma.

    Em resposta a Reforma Protestante a Igreja Catlica Romana, convocou o

    Conclio de Trento, o qual se reuniu vrias vezes entre o perodo de 1545 e 1563. Este

    conclio declarou que a Bblia no a autoridade suprema, mas que a verdade encontra-

    se em livros escritos e em tradies no escritas. Estas incluem os pais da igreja da

    antigidade e os atuais lderes.

    Por se considerar a guardi das Escrituras, a Igreja Catlica Romana foi

    apontada como sendo a nica forma possvel de fazer uma interpretao precisa.

    O Confessionalismo

    Como j foi visto, os protestantes estavam divididos, isto , havia muitas

    faces e cada uma procurava uma forma de defender a sua opinio apelando para as

    Escrituras.

    Quase todas as cidades importantes tinham o seu credo predileto,

    juntamente com as controvrsias teolgicas. Os mtodos hermenuticos neste perodo

    estavam se tornando escravos da dogmtica.

    Enquanto os protestantes se recusavam a ficar sob o domnio hermenutico

    da Igreja Catlica Romana, conforme havia sido formulado pelos conclios e pelos papas,

    comeavam a surgir as confisses como forma de inibir as revoltas.

  • 28

    Entre outras, a Confisso de Westminster que foi aprovada pelo parlamento

    ingls de 1647 e pelo escocs de 1649, apresentou teses e doutrinas que eram contra o

    calvinismo na Inglaterra.

    A posio que esta Confisso tomou em relao s Escrituras foi:

    A regra infalvel da interpretao bblica est nas prprias Escrituras;

    portanto, quando houver dvida sobre o significado verdadeiro e completo de qualquer

    passagem (que apenas um e no muitos), deve ser pesquisado e conhecido em outros

    trechos que sejam mais claros.

    Com esta linha de pensamento as Escrituras comearam a ser utilizadas

    como pretextos para apoiar as verdades incorporadas nas Confisses.

    Em toda a histria da exegese do sculo XVIII, Johann Ernesti (1707-1781)

    foi o nome mais notvel. Seu trabalho sobre Institutio Interpretis Nove Testamenti

    (Princpios de Interpretao do Novo Testamento) foi um manual de hermenutica

    durante uns 100 anos.

    O Arminianismo (1506-1609)

    O telogo holands Jacobus Arminius rejeitou muitos ensinamentos de Joo

    Calvino e pregava que o homem possui o livre-arbtrio. Aps a sua morte, em 1610,

    alguns dos seus seguidores expuseram suas pesquisas num tratado chamado

    Contestao.

    O Pietismo (1635-1705)

    Atravs da teoria de Jacob Boehme, sobre o misticismo (crena ou doutrina

    religiosa dos msticos; o elemento mstico de qualquer doutrina; tendncia a considerar a

    ao de supostas foras espirituais ocultas na natureza, que se manifestam por vias

    outras que no as da experincia comum ou as da razo; disposio para crer no

    sobrenatural) na ps-reforma, foi aberto um espao para o pietismo e sua nfase na

    espiritualidade interior.

    O misticismo de Boehme defendia que o homem podia adquirir

    conhecimentos diretos sobre Deus e ter comunho com ele por meio de uma experincia

    subjetiva, parte das Escrituras.

  • 29

    Surge ento o pietismo que uma reao contra o dogmatismo doutrinrio.

    Mas esta reao era sadia porque estavam cansados das lutas entre os protestantes.

    Tinham como princpio viver uma vida piedosa.

    Philipp Jakob Spener, considerado o fundador do pietismo (movimento de

    intensificao da f, nascido na Igreja Luterana alem no sculo XVII; ato de afirmar a

    superioridade das verdades da f sobre as verdades da razo) e como todo luterano,

    rejeitava o formalismo morto e a teologia apenas de palavras e credos. No folheto

    Anseios Piedosos pedia o fim da controvrsia, pois achava intil. Tambm pedia para os

    cristos voltarem a ter interesses pelas boas obras, um melhor conhecimento da Bblia e

    que os ministros tivessem um melhor preparo espiritual. Para ele o cristo deveria viver

    uma vida consagrada, santa, uma vida de estudo e orao.

    Dois dos seus seguidores se destacaram no decorrer da histria, Ramback e

    Francke. Estes foram os primeiros que falaram a respeito da interpretao psicolgica, no

    sentido que o sentimento do intrprete deveria estar em sintonia com os do autor que

    deseja compreender. Apesar de Bengel ter sido o melhor intrprete que essa escola

    produziu, foi August H. Francke (1663-1727) quem mais se destacou e utilizou muitas

    caractersticas que o folheto de Spener continha.

    Francke era um erudito, lingista e exegeta. Participou na formao de

    muitas instituies destinadas ao cuidado dos desamparados e dos enfermos, e ainda se

    envolveu na organizao de um trabalho missionrio na ndia. Insistia que a Bblia

    deveria ser lida por inteiro com freqncia, que os comentrios no poderiam tomar o

    lugar do estudo das Escrituras e que s os salvos por Cristo poderiam compreend-la.

    O pietismo contribuiu muito para o estudo das Escrituras. Eles tinham tanta

    vontade de entender e de se apropriar delas que, em alguns momentos, apreciaram a

    interpretao histrico-gramatical. Os mais recentes a descartaram e passaram a

    depender de uma luz interior ou uma uno do Santo. O problema dessas manifestaes

    subjetivas e de suas reflexes piedosas provocaram muitas interpretaes contraditrias

    at mesmo com a vida do autor.

    Este fato de terem a edificao como alvo to desejado os levou a desprezar

    a cincia. Dentro de sua tica o estudo gramatical, histrico e analtico da Palavra de

    Deus produzia apenas o conhecimento externo e superficial do pensamento divino,

    enquanto que o que tirava concluses para a repreenso e o que consistia em orao e

    lamentao penetrava no mago da verdade.

  • 30

    O movimento do pietismo influenciou os morvios, que influenciaram John

    Wesley (1703-1791) o qual tambm desacreditava o racionalismo humano.

    O Racionalismo

    Surgiu como importante modo de pensar, com o intuito de criar um profundo

    efeito sobre a teologia e a hermenutica, porque era uma posio filosfica que aceitava

    a razo como nica autoridade que determinava as aes de algum. Como movimento

    durou cerca de 100 anos.

    Este movimento afirmava que o intelecto humano sabia distinguir o que

    verdadeiro e falso. Isto tambm servia para a interpretao da Bblia. Lutero fez questo

    de estabelecer uma certa distino entre o uso ministerial e o magisterial por causa

    disto. Ele se referia ao uso ministerial da razo quando esta ajudava a compreender e a

    obedecer as Escrituras; o magisterial da razo quando ela era superior ou at mesmo,

    juza das Escrituras. lgico que Lutero apoiou a primeira!

    Mas com as discusses que surgiram em torno da autoridade e da

    interpretao das Escrituras, alguns filsofos comearam a afirmar que s era possvel

    compreender a Bblia atravs da razo humana. Na verdade, utilizavam a Bblia como um

    pretexto.

    Thomas Hobbes (1588-1679), filsofo ingls, pregou o racionalismo voltado

    para a poltica, pois utilizava a Bblia como um livro que continha regras e princpios para

    a repblica inglesa.

    O judeu Baruch Spinoza (1632-1677), filsofo holands, ensinava que a

    razo humana estava desvinculada da teologia. Para ele a teologia era a revelao e a

    filosofia era a razo e ambas eram distintas. Por ser judeu tinha facilidade para

    interpretar o AT, principalmente Provrbios, livro que os judeus tinham como base para

    culpar a Deus por tudo que acontecia. Spinoza aproveitou e mostrou que no havia nada

    nas Escrituras que o homem no pudesse compreender intelectualmente.

    Sua teoria apelava s emoes religiosas do homem e movia a obedincia,

    mas no a verdade. Chegou a contestar os milagres bblicos, porque tinha a razo como

    nico critrio para interpretar as Escrituras.

    Tambm existiram outros filsofos que deram a razo autoridade para

    interpretar a Bblia. Entre eles pode-se citar Joo Colet; Mateus Hamond que declarou

    que o NT e os Evangelhos de Cristo so meras tolices, histrias de homens ou fbulas;

  • 31

    Mackintosh; Reimarus que acusou os discpulos de terem deturpado os ensinamentos de

    Cristo e falou que a f irreconcilivel com a razo; Joo Ernesti que foi o fundador da

    escola gramatical de interpretao; Joo Semler que foi o fundador da escola histrica de

    interpretao bblica e considerado o pai do racionalismo.

    Interpretao nos sculos XIX e XX

    A posio filosfica que defendia o racionalismo predominou at o sculo XX.

    Nos sculos anteriores a revelao determinava o que a razo deveria pensar, agora a

    razo determinava que partes da revelao deveriam ser aceitas como verdadeiras. A

    autoria divina, que foi muito defendida nos sculos passados, perdeu o lugar para a

    autoria humana.

    A razo humana tomou uma parte to grande na revelao divina que

    estava difcil de compreender e acreditar nas Escrituras. Surgiram ento, vrios grupos

    com pensamentos diferentes e alguns que concordavam com o racionalismo.

    O Liberalismo

    O sculo XX abrigou muitas correntes de interpretao bblica, entre elas

    havia a escola liberal que apresentava Jesus como um grande mestre de tica, ao invs

    de Salvador. Neste perodo surgiram alguns estudiosos que chegaram a negar totalmente

    o carter sobrenatural da inspirao; outros no a mencionavam como sendo uma

    iluminao de Deus sobre os seus autores. Para alguns a inspirao estava ligada

    capacidade da Bblia em inspirar uma experincia religiosa, sendo que a Bblia fora

    produzida por humanos.

    A Bblia deixou de ser vista como a revelao de Deus ao homem para

    tornar-se em qualquer coisa que os estudiosos necessitassem, como um livro feito por

    qualquer homem. Darwin a utilizou para afirmar a sua teoria evolucionista. Os milagres e

    qualquer interveno divina eram aceitos atravs de explicaes de pensamentos pr-

    crticos. Nota-se que a Bblia teve um naturalismo forado.

    Se alguma coisa no estivesse de acordo com as idias do racionalismo era

    rejeitada. Essa idia servia para as doutrinas tambm, as quais explicavam a depravao

    humana, o inferno, o nascimento virginal e, conseqentemente, a morte vicria de

    Cristo. Schleiermacher foi um dos escritores que pensava assim.

    Mas o fundamentalismo reagiu fortemente ao liberalismo e abordou para que

    se tivesse uma viso da Bblia como um livro sobrenatural.

  • 32

    Os Neo-ortodoxos e os Ortodoxos

    A neo-ortodoxia teve alguns aspectos intermedirios entre o liberalismo e a

    ortodoxia e foi um fenmeno do sculo XX. Ela acabou com a idia de que a Bblia era

    fruto da mente religiosa humana, mas tambm no concordava que as Escrituras fossem

    um fruto somente divino. Para eles as Escrituras registram o testemunho do homem a

    respeito da revelao que Deus faz de si mesmo.

    A Bblia vista como um compndio de sistemas teolgicos as vezes

    conflitantes, acompanhados por diversos erros ftuos. Desta forma h uma negao por

    parte deles s questes relacionadas a infalibilidade e a inerrncia. Todos os fatos

    histricos referentes ao sobrenatural e ao natural so vistos como mitos, a saber, no

    ensinam a histria literalmente. J os mitos bblicos (criao, ressurreio) mostram as

    verdades teolgicas na forma de incidentes histricos.

    Karl Barth (1886-1986), diz que a Bblia registra e d testemunho da

    revelao; em si mesma, no a revelao. Outros lderes neo-ortodoxos so: Emil

    Brunner e Reinhold Neibuhr.

    Rudolf Bultmann (1884-1976) ensinava que o NT deveria ser compreendido

    em termos existencialistas pela demitizao (separar o essencial das narrativas bblicas

    de sua forma literria mtica; limpar de mitos a mensagem crist), porque em seu

    entender os milagres (mitos) representavam uma realidade para as pessoas daquela

    poca, mas no momento atual no tinham nenhum significado literal. Entre esses

    milagres que ele questionava estava a ressurreio de Cristo.

    A teologia bultmanniana era totalmente influenciada pelo existencialismo do

    filsofo alemo Martin Heidegger (1886-1976), a qual era fruto da Segunda Guerra

    Mundial. Para eles a hermenutica no era uma cincia que formula princpios atravs

    dos quais os textos podem ser entendidos, mas era uma investigao da funo

    hermenutica da fala como tal, tendo um raio de ao muito mais amplo e mais

    profundo.

    Esses eruditos utilizaram a linha do subjetivismo para afirmarem o seu

    pensamento sobre a Nova Hermenutica. Pois assim o texto bblico poderia ter o sentido

    que o leitor desejasse. A verdade existente era uma experincia e no um escrito.

    De acordo com o que pensavam, a hermenutica era o processo de entender

    a si mesmo e nunca o de desvendar a Bblia, porque esta fora escrita h sculos e o

    homem no consegue entrar naquele mundo.

  • 33

    Os ortodoxos, que acreditavam que a Bblia representava a revelao que

    Deus fez de si mesmo atravs de seus prprios atos humanidade, atribuem como

    tarefa principal do intrprete compreender, o melhor possvel, o significado intencional

    dos autores das Escrituras. Por isso empreenderam nos estudos da histria, da cultura,

    da lngua e outros para entenderem o que significava a revelao. Muitos telogos

    conhecidos fazem parte deste movimento, entre os quais pode-se citar: H. A. W. Meyer,

    John A. Broadus; tambm existiram outros como: Louis Berkhof, A. Berkeley Mickelsen e

    Bernard Ramm, que serviram de manuais de hermenutica para a tradio.

    Em seu livro, Roy B. Zuck faz um tipo de mapa para dar uma noo de quem

    fez parte de cada perodo. Num formato mais simples este mapa cronolgico fica assim:

    Pais da Igreja:

    a) Literal: Clemente de Roma, Incio e Policarpo;

    b) Alegrico: Barnab;

    Apologistas:

    a) Literal: Justino Mrtir, Irineu e Tertuliano;

    Pais Alexandrinos e Antioquinos:

    a) Literal: Doroteu, Luciano, Diodoro, Teodoro, Joo Crisstomo e

    Teodoreto;

    b) Alegrico: Panteno, Clemente e Orgenes;

    Pais da Igreja dos Sculos V e VI:

    a) Alegrico: Cassiano, Euqurio, Adriano, Junlio, Jernimo e Agostinho; b)

    Tradio: Vicente;

    Idade Mdia:

    a) Literal: Rashi, Hugo de S. Vtor, Ricardo de S. Vtor e Andr de S. Vtor;

    b) Alegrico: Bernardo, Joaquim, Langton, Gregrio, o Grande, Beda, o

    Venervel, Rabano Mauro e Alcuno; e tambm Aquino, Nicolau e Wycliffe;

  • 34

    Reforma:

    a) Literal: Lutero, Melanchton, Calvino, Zwnglio, Tyndale e os anabatistas;

    b) Tradio: Conclio de Trento;

    Ps-Reforma:

    a) Literal: Confisso de Westminster, F. Turrentin, John Wesley, J. A.

    Turretin, Cappell, Ernesti, Bengel e Wettstein;

    b) Racionalismo: Hobbes e Spinoza;

    c) Subjetivismo: Boehme, Spener e Francke;

    Era Moderna:

    a) Literal: comentaristas exegticos e eruditos evanglicos;

    b) Racionalismo: Jowett, Baur, Strauss, Welhausen, Harnack, Per, Fosdick e

    DeWolf;

    c) Subjetivismo: Schleiermacher, Barth, Kierkegaard e Bultmann.

  • 35

    As Interpretaes de Hoje

    Conforme se v, a interpretao passou por srias mudanas quanto aos

    mtodos a serem empregados. A princpio passou a ser utilizado o mtodo literal; depois

    o mtodo totalmente alegrico, que deixou o literal de lado; depois veio o mtodo das

    tradies no qual a igreja predominou e no aceitou a opinio individual; surgiu ento, o

    mtodo racional que no aceitava nenhum tipo de idia sobrenatural e tambm o

    subjetivo que descartava o objetivo.

    O estudante de teologia que no entender e nem procurar saber como

    interpretar e quais os mtodos existentes para a interpretao, ficar limitado a pegar

    um pouco de cada um desses mtodos j utilizados no passado. O resultado que obter,

    mostrar que a sua interpretao ser uma "salada" ou uma forma de "resto de feira" de

    interpretao.

    Em qualquer igreja de hoje, sculo XXI, encontra-se um tipo de

    interpretao que foi citado anteriormente. Da mesma forma h os que misturam as

    interpretaes e fazem uma s. Mas o que mais triste que a maioria dos estudantes

    de teologia aceitam essas coisas e pregam-nas em suas igrejas como sendo o melhor

    mtodo de interpretao existente.

    Alm de existir, hoje em dia, todo o tipo possvel de interpretao que j foi

    visto, uma idia tida como ponto em comum. Esta a platnica, pois todos crem que

    h uma alma que se desprende do corpo e se une a alma de forma incorruptvel no cu.

    Entretanto, apenas este ponto em comum no o suficiente para ser aceito como o

    certo. necessrio que o estudante de teologia saiba como fazer uma interpretao de

    um texto, da melhor forma possvel. Para isso preciso utilizar os fatores histricos,

    culturais, gramaticais, textuais e outros que o texto apresente.

  • 36

    Princpios Hermenuticos

    A Hermenutica est dividida em duas subcategorias:

    Hermenutica geral

    o estudo das regras que regem a interpretao do texto bblico inteiro.

    Hermenutica especial

    o estudo das regras que se aplicam a gneros especficos como: parbolas,

    alegorias, tipos e profecias.

    A Relao da Hermenutica com outros Campos de Estudo Bblico.

    Estudo do Cnon: Diferenciao entre os livros que trazem o selo da

    inspirao divina e os que no trazem.

    Crtica Textual: Tenta averiguar o fraseado primitivo de um texto. Torna-se

    necessrio, pois no temos os originais dos manuscritos, temos apenas cpias e essas

    variam entre si.

    Crtica Histrica: Estuda a autoria de um livro, a data da composio, as

    circunstncias histricas que cercam sua composio, a autenticidade do seu contedo e

    sua unidade literria.

    Exegese: a aplicao dos princpios da hermenutica para chegar-se a um

    entendimento correto do texto.

    Teologia Bblica: o estudo da revelao divina no AT, e no NT. Ela indaga

    como essa revelao especifica contribuiu para o conhecimento que os crentes j

    possuam naquele tempo. Tenta mostrar o conhecimento Teolgico atravs dos tempos.

    Teologia Sistemtica: Organiza os dados bblicos de uma maneira lgica,

    tenta reunir todas informaes sobre determinados tpico. Ex.: (Deus, Jesus, Igreja).

  • 37

    Anlise Histrico-Cultural e Contextual

    Analisa, como o prprio nome j diz, o ambiente histrico-cultural do autor,

    com a finalidade de compreender as suas aluses, referncias e propsitos. O Dr. Roy B.

    Zuck, em seu livro A Interpretao Bblica, utiliza o termo abismo para cada tipo de

    anlise a ser feita num texto. Na verdade, o que ocorre um verdadeiro abismo, porque

    se o estudante de teologia no compreender o que o autor escreveu para o seu povo no

    passado, no poder fazer uma aplicao para os dias de hoje e ter uma interpretao

    deficiente, ou at mesmo, muito distante do que o autor imaginou dizer para o seu povo.

    Ao analisar um texto bblico, o estudante de teologia tem o costume de

    perguntar o que o texto significa para ele ou para o seu tempo. Entretanto a pergunta

    mais correta a ser feita : o que o autor queria dizer para o povo do seu tempo ou para

    ele prprio?

    Para compreender melhor esse ambiente no qual o autor vive preciso

    conhecer o ambiente histrico, isto , o contexto histrico-cultural no qual o povo bblico

    vivia. Para tanto necessrio fazer as seguintes perguntas: Quem escreveu o livro? Em

    que poca? Por que o escreveu? Isto , falar dos possveis problemas ou vitrias que

    ocorreram na poca. Para quem foi escrito? E outras, no mesmo sentido.

    Ao tomar o contexto histrico vivido pelo autor do livro, o estudante de

    teologia ter uma maior compreenso do que o livro quer dizer. bom lembrar que o

    estudante faz uma verdadeira "viagem ao tempo" para compreender esse sentido.

    Para que isto ocorra o estudante de teologia, agora intrprete da Bblia,

    precisa conhecer o ambiente cultural e histrico em que autores humanos da Bblia

    trabalharam. Como se sabe, em qualquer cultura ou poca, tanto os autores como os

    leitores sofrem muita influncia do contexto social vivido.

    Por isso h necessidade de conhecer a cultura da poca e isto nem sempre

    pode ser visto apenas atravs da Bblia. Tambm preciso pesquisar em outros livros

    (paralelos), pois estes tratam de questes especficas, isto , questes culturais e

    sociais.

    Mas o que cultura? Segundo o Dicionrio Escolar da Lngua Portuguesa,

    cultura sistema de atitudes e modo de agir; costumes e instrues de um povo;

    conhecimento geral. A cultura envolve tudo o que uma pessoa faz, diz, produz, cr e

    pensa. Isto envolve hbitos, costumes, formas de comunicao e etc.

  • 38

    Da mesma forma que um missionrio ao ir para outro pas precisa conhecer

    a cultura do povo, o intrprete tambm precisa conhecer a cultura do livro bblico a ser

    lido. Ningum consegue compreender como o povo de Israel era to infiel a Deus aps

    ter sado do Egito, pois o povo viu muitos milagres. Mas ao estudar o contexto histrico e

    cultural vivido pelo povo na poca entende-se que sofria influncia de outros povos.

    bom lembrar que a Bblia foi escrita para os judeus, o povo de Israel e hoje utilizada

    por causa da salvao que alcana a todos atravs da graa de Jesus. Ento eles no

    tinham nenhuma preocupao de ensinar a outros povos a sua cultura, j que todos

    sabiam como era. Tambm no tinham a inteno de falar dos outros povos, mas apenas

    do povo judeu, que foi escolhido por Deus para habitar a terra prometida.

    Para que haja uma melhor compreenso do contexto histrico-cultural sero

    analisados alguns pontos importantes para a interpretao.

    O autor

    Aqui necessrio abranger todas as caractersticas que envolvem o autor.

    Para que isto seja feito preciso saber quem o autor, pois nem todos os livros da Bblia

    trazem o nome do autor e nem sempre ele o elemento principal, principalmente nos

    livros contidos no NT.

    preciso compreender o carter e o temperamento, tudo mais ntimo

    possvel. Tambm importante descobrir qual a sua profisso, porque esta influencia

    muito na vida de uma pessoa. O Dr. Elliott diz que suficiente falar-se no marinheiro, no

    soldado, no comerciante, no operrio, no clrigo e no advogado para se reconhecer quo

    diferentes tipos de homens eles so, tendo cada um o seu modo habitual, suas

    expresses familiares, suas imagens familiares, seu modo favorito de ver as coisas e sua

    natureza especial.

    Por isso ao ler qualquer livro da Bblia bom procurar particularidades do

    autor, isto , escritos, palavras, coisas que so peculiares ao autor e fceis de se notar

    no texto. Para tanto preciso ler toda a vida do autor e no s apenas uma parte. Se

    no for feita uma anlise biogrfica da vida de Paulo, Pedro, Joo, Moiss, Jeremias,

    Daniel e outros, no ficar bem claro o que quiseram passar, porque muitos autores e

    personagens bblicos, num dado momento, tinham uma determinada personalidade ou

    temperamento e aps algum tempo, devido as suas experincias, este temperamento

    mudou e muito.

    Outro fato importante a ser destacado que nem sempre o autor quem

    fala no texto, por isso indispensvel ter ateno no texto a ser lido ou estudado. Ao

  • 39

    prestar ateno ao texto o intrprete descobre muitas coisas, uma delas a inteno do

    autor ao escrev-lo (exortativo, doutrinrio, de f, fidelidade, etc).

    Outro fator importante a ser destacado no texto se o autor est narrando

    um fato ou participando deste. Tambm possvel notar se o autor est sendo o porta-

    voz direto de Deus ou apenas registrando a sua viso tica da situao vivida, igual a um

    jornalista. Um bom exemplo para isso est em Gnesis 6-9, onde narrado o fato do

    dilvio. A maior questo que se tem at o momento se o dilvio aconteceu em todo o

    mundo ou apenas no mundo que o autor conhecia e via no momento do fato, ou ainda,

    se realmente aconteceu.

    O Contexto Social

    Tudo o que acontece em volta do mundo vivido pelo autor tem que ser

    levado em considerao, por isso o contexto social algo muito importante a ser

    estudado para compreender um texto. Ao se falar em contexto social preciso saber se

    todas as coisas fazem parte do contexto. Tudo o que acontecia em volta ou prximo ao

    autor importante para a compreenso do texto.

    A questo poltica uma das que mais influenciam a vida do autor, no s a

    poltica regional como a mundial, porque naquela poca a forma de governo era

    monrquica, mas no igual da Idade Mdia. Ento os pases mais fortes dominavam e

    influenciavam os demais. No se pode entender o NT sem compreender a influncia do

    domnio de Alexandre o Grande por toda a terra e o Imprio Romano. Da mesma forma,

    fica mais fcil compreender as profecias dos livros de Daniel e de Zacarias entendendo a

    histria poltica. Se o intrprete no conhecer a histria de Jos e de seus pais no

    entender porque o povo de Israel tornou-se escravo no Egito. Isso no ocorre apenas

    no AT, mas no NT tambm.

    Como compreender os partidos existentes na poca de Jesus se no

    conhecer a histria e a poltica da poca? Os evangelhos relatam vrios grupos

    existentes na poca de Jesus, entre eles pode-se citar os fariseus, saduceus, sicrios,

    zelotes, publicanos, herodianos, essnios, etc. Tambm existia o sindrio e outros mais,

    sem contar que sempre que algum tentava acusar a Jesus jogava-o contra o imprio

    romano. Por isso, em toda a Bblia, de suma importncia conhecer as questes

    polticas, pois assim a compreenso do texto e do que o autor queria passar fica mais

    ntida. Junto com a questo poltica existente na poca encontra-se a religio dos povos

    e a forma de governo.

  • 40

    No se pode interpretar o significado de um texto com certa preciso sem

    esse tipo de analise, pois o nosso objetivo compreender o que o autor escreveu para o

    seu povo no passado, e somente aps isso ele poder fazer uma aplicao para os dias

    de hoje.

    Para isso podemos ento fazer trs perguntas bsicas:

    I- Determinar o ambiente Histrico-Cultural geral.

    a. Qual o ambiente histrico geral em que o escritor fala?

    b. Quais os costumes cujo conhecimento esclarecer o significado de

    determinadas aes.

    c. Qual o nvel de comprometimento espiritual da audincia?

    II- Determinar o contexto Histrico-Cultural especfico e a finalidade

    do autor ao escrever um livro.

    a. Quem foi o autor?

    b. Qual o seu ambiente?

    c. Quais as suas experincias espirituais?

    d. Para quem ele estava escrevendo? (crentes, descrentes, apstatas,

    crentes que corriam perigo de tornar-se apstatas, etc.)

    e- Qual a finalidade do autor ao escrever esse livro em especial?

    III- Desenvolver uma compreenso do Contexto Imediato

    Como mtodo de estudo bblico, tomar textos para efeito de prova

    relegado a plano secundrio porque erra neste passo importante; interpreta os versculos

    sem dar a devida ateno ao seu contexto.

    Fazem-se algumas perguntas para entender um texto em seu contexto

    imediato.

    a. Quais os principais blocos de material e de que forma se encaixam no

    todo?

  • 41

    b. Como essa passagem contribui para a corrente da argumentao do

    autor?

    c. Qual a perspectiva do autor?

    d. Essa passagem declara uma verdade descritiva ou prescritiva?

    Descritiva - relatam o que foi dito ou que aconteceu em determinado

    tempo. O que Deus diz verdadeiro; o que o diabo diz geralmente uma mistura de

    verdade e erro, o que o homem diz pode ser verdade ou no.

    Quando a Bblia descreve uma ao de Deus com respeito a seres humanos

    numa passagem descritiva no se deve supor que seja este o modo dEle operar na vida

    dos crentes em todos os tempos da histria.

    Prescritiva - as escrituras so tidas como articuladoras de princpios

    normativos. As epistolas so antes de tudo prescritivas, mas de quando em quando elas

    contm casos de prescries individuais em vez de universais.

    e. O que constitui o ncleo do assunto, e o que representa detalhes

    incidentais?

    f. A quem se destina essa passagem? (judeus, igreja, algum em especial?)

    Analise Lexico-Sinttico

    Analise Lexico-Sinttico o estudo do significado de palavras tomadas

    isoladamente (lexicologia) e o modo como essas palavras se combinam (sintaxe) a fim

    de determinar com maior preciso o significado que o autor pretendia lhes dar. A analise

    Lexico-Sinttica reconhece quando um autor tenciona que suas palavras sejam

    compreendidas de modo literal, figurativa ou simblica; e ento as interpretam

    concordemente. Quando Jesus disse "Eu sou a porta", "Eu sou a videira" etc. Esta analise

    ajuda a interpretar a variedade de significados de uma palavra ou e um grupo de

    palavras.

    Sua Necessidade

    a. Quando no temos certeza vlida de que nossa interpretao das

    escrituras o que Deus tencionava comunicar.

  • 42

    b. Quando no temos base para dizer que nossa interpretao das Escrituras

    so mais validas que a dos grupos e herticos

    Passos Para a Anlise Lexico-Sinttica

    1. Apontar a forma literria geral do texto. A forma literria que o autor usa

    (poesia, prosa, parbola outras), influncia o modo que ele pretende que suas palavras

    sejam entendidas.

    2. lnvestigar o desenvolvimento do texto, e mostrar como a passagem em

    considerao se encaixa no contexto.

    3. Apontar as divises naturais do texto. As principais unidades conceptuais

    e as declaraes transicionais revelam o processo de pensamento do autor e, portanto,

    tornam mais claro o significado que ele quis dar.

    4. Identificar os conectivos dentro de pargrafos e sentenas. Observar os

    versculos, pargrafos e sentenas (conjunes, preposies, pronomes relativos),

    mostram a relao que existe entre dois ou mais pensamentos.

    5. Determinar o significado isolado das palavras. Qualquer palavra que

    sobrevive por muito tempo numa lngua comea a assumir uma variedade de

    significados. Por isso necessrio procurar os diversos possveis significados de palavras

    antigas, e ento determinar qual desses possveis significados o que o autor tencionava

    transmitir num contexto especfico.

    6. Analisar a sintaxe. A relao das palavras entre si expressa-se por meio

    de suas formas e disposies gramaticais.

    7. Colocar os resultados de sua anlise lxico-sinttica em palavras que no

    tenham contedo tcnico, fceis de ser entendidas, que transmitam claramente o

    significado que o autor tinha em mente.

    Mtodo para Descobrir as Denotaes de Palavras Antigas

    Observando a traduo grega do Antigo Testamento feita antes de Jesus.

    Estudar os sinnimos procurando pontos de comparao ou contraste.

    Determinao dos significados pele etimologia.

  • 43

    Paralelismo

    O paralelismo so palavras, passagens ou textos com o mesmo assunto ou

    significado.

    Passagens paralelas so aquelas que:

    Fazem referncia uma a outra.

    Tenham entre si alguma relao

    Tratam de um modo ou de outro do mesmo assunto.

    Necessidade de Usar Paralelismo.

    Clarear passagens obscuras. Adquirir conhecimentos bblicos exatos, quanto

    a doutrina e prtica crists.

    Existem Paralelos de:

    Palavras

    Usa-se quando o conjunto de frases ou o contexto no bastam para explicar

    uma palavra duvidosa. Ex.: trago em meu corpo as marcas de Cristo. Marcas; 1Co.4-10

    (cicatriz); 2Co. 11.23-25 (sofrimento