histÓria da filosofia antiga · 1.1.1.monistas para estes a matéria primordial é toda homogênea...
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1. Introdução
O termo filosofia deriva das philo e sophia, duas palavras gregas que em
separado significam de maneira bem geral, respectivamente, amizade e
sabedoria. No entanto, nesta palavra esta amizade é tida como um profundo amor
por algo que se deseja avidamente, ou seja, algo que deve ser buscado. Tal
desejo de busca de busca é desencadeado pela necessidade. Por isso, para os
filósofos, a filosofia consiste em uma busca pela sabedoria, pois se compreende
que ela existe e é indispensável aos homens, por isso deve ser buscar as
primeiras causas, chegar ao âmago das questões. A sabedoria consiste no
conhecimento fundamentado exclusivamente pela razão. Daí a definição de
filosofia como conhecimento fundamentado exclusivamente pela razão até as
primeiras causas.
A filosofia tem como objetivo a totalidade das coisas, e utiliza-se assim do
método racional para alcançar a verdade. A filosofia possui um conteúdo (a
totalidade das coisas), um método (uso da razão) e um objetivo (alcançar a
verdade das coisas).
A filosofia se difere das ciências, pois apesar de ambas buscarem as
causas, a ciência se preocupa com as comprovações, já a filosofia quer
demonstrar racionalmente. A filosofia quer explicar a totalidade das coisas, pela
razão. Já a ciência quer explicar aquela parte que lhe cabe e de maneira
empírica.
A filosofia consiste em um saber por saber, ou conhecer por conhecer, sem
interesse, como já bem dividia os saberes Aristóteles. Essa divisão se dava em
três tipos: prático, produtivo e teorético. Os dois primeiros visam pela prática ou
produção de algo melhorar, ou seja, tem finalidade, já o último não visa nenhum
interesse.
No mundo da época as decisões eram tomadas baseadas em métodos
racionais, pois a partir de um problema que surgia construíam-se hipóteses ou
argumentos que pudessem de maneira racional tornar a todos claras as intenções
ou objetivos a alcançar. Daí surge os discursos retóricos, analítico/argumentativo
e dialético. O primeiro é muito mais do que ampliar as possibilidades visava
mover as vontades e os desejos da massa para um fim. Envolvia conhecimentos
técnicos, específicos, conhecimento psicológico das pessoas. Utiliza-se de
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argumentos ambíguos, de autoridade e apelativos, sobretudo a piedade popular
com ênfase na manipulação dos sentimentos. Os discursos analíticos se
preocupavam muito mais com a formalidade lógica do que com a verdade. Sendo
um discurso válido pela formalidade lógica, no entanto muitas vezes não era
verdadeiro.
Ex: Todo ser que tem 6 pernas é ser que tem asas
Todas as aranhas são seres de 6 pernas
Logo, Todas as aranhas são seres com asas
Logicamente a estrutura está correta, no entanto, não se encontra verdade
nas premissas nem na conclusão.
O terceiro tipo que é o discurso dialético consiste em investigar a verdade
das premissas. Este método testa todas as proposições. Apresenta-se uma
premissa, esta precisa ser criticada, com isso ela deve ser melhorada surgindo
uma nova premissa, que deve ser criticada e assim sucessivamente até que se
esgote os argumentos contrários chegando a evidência incontestável.
1. As Escolas do período clássico
1.1. Pré-Socráticos A filosofia surge do espanto dos homens que olham ao seu redor e
percebem a necessidade, pelo questionamento, de entender e explicar o mundo
que está ao seu redor: qual sua origem? Como chegou ao que é hoje?
Os pré-socráticos queriam responder de maneira racional as perguntas de
seu tempo, pois o que se tinha até então eram apenas os mitos.
Os primeiros pré-socráticos surgiram na cidade de Mileto e ali se
desenvolveram, mas tudo isso foi facilitado por quatro condições locais bastante
favoráveis:
a) Uma cidade comercial, o que favorecia que as pessoas fossem mais
tolerantes a opiniões diversas e menos preconceituosas.
b) O que importava na cidade era cumprir as obrigações coletivas. Logo
o que era feito em particular pouco importava, por isso era fácil para
estes reunir-se em casas para discutir.
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c) Ausência de fiscalizações religiosas e presença de muitas religiões
alternativas, como o Orphismo.
d) Ausência de dogmas, pois o que existia antes eram os mitos, mas por
estes não serem tidos como dogmas podiam ser facilmente
contestados.
Toda a filosofia pré-socrática se baseava em uma mesma hipótese que
partia do princípio de buscar a origem das coisas exclusivamente pela razão. Daí
a hipótese principal:
Se todas as coisas são complexas estas devem ter origem em coisas
simples. Dessa forma, descobrindo o mais simples é possível remontar o
complexo. O limite é o mais simples que a razão alcançar. O chamado eterno,
que após ele só se tem o nada, não tem causa.
A base dos pré-socráticos consiste em uma matéria primordial em estado
primordial, ou seja, seu estado mais simples. Essa matéria primordial é submetida
a uma lei imanente que é deus, um deus imanente, que não se distingue da
matéria, mas está nele e é parte integrante dela.
1.1.1. Monistas
Para estes a matéria primordial é toda homogênea e passa por um processo
inicial de transformação. A matéria que é simples e homogênea sofre uma
transformação e passa a ser heterogênea e assume qualquer outra forma das
coisas que possuem o universo.
I. Tales de Mileto (640-548 a.C.) A matéria primordial no estado primordial
(MPEP) consistia na água. Este termo primordial se deve ao fato da água estar
presente e tudo. Apesar dela ser um composto, o que acarretaria estar fora Ca
classificação de simples, mas ele a considerou meramente pelo termo para
denominar o simples.
II. Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) Aprofundando o conceito de Tales ele
chamou a MPEP de áperon, que provém do termo grego “indeterminado”,
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“ilimitado”, “que não tem fim”. Isso evita as confusões que poderiam existir da
palavra anterior. Ele trata assim, pois entende que quando se determina algo
se atribui uma qualidade, e a qualidade é própria de algo formado e não início,
origem.
III. Anaxímenes de Mileto (588 – 524 a.C.) O indeterminado não pode ser a
MPEP, pois o “nada” não pode ser origem das coisas, por isso coloca a origem
no sopro. O pneuma que é o “ar” ou “sopro”. Este é incorpóreo e ilimitado e o
processo de rarefação e condensação são o princípio e movimento que dá a
vida a todas as coisas, e de onde tudo surge.
IV. Heráclito (séc. VI- V a.C.) É conhecido como o filósofo do devir, da
mudança. De acordo com Heráclito, o logos (razão/inteligência /discurso /
pensamento) governa todas as coisas, e está associado ao fogo, gerador do
processo cósmico. Tudo está em incessante transformação: “panta rei” (tudo
flui). As coisas estão, pois, em constante movimento, nada permanece o
mesmo (“não nos banhamos duas vezes no mesmo rio”). Todavia, não se deve
deduzir dessa afirmação que Heráclito defendeu uma teoria da mudança
contínua desregrada. Ao contrário, ele entendia que havia uma lógica - o logos
governando tal mudança contínua.
V. Heráclito compreendeu que seus antecessores utilizavam sempre a lógica do
movimento e da lei. Com isso, ele levou a outro extremo a partir da razão estes
dois princípios. Se Anaxímenes entendia que tudo se baseava em dois
princípios rarefação e condensação, Heráclito postulou que, a existência do
mundo dependeria sempre de dois opostos, que surgem juntos, no qual um
apenas prevalece, como o exemplo do calor, pois na verdade não se sente
calor absoluto, já que esta hipótese seria absurda, mas na verdade prevalece o
calor, mas existe ali o frio, pois não se pode conceber o sentir o frio absoluto.
Estes dois opostos surgem simultaneamente, não existe o absoluto, mas
sempre os opostos. Dessa forma, tudo nasce da tensão de seu oposto. Assim,
a partir da MPEP surgem os opostos em pares, e a imagem do fogo se dá
porque transforma todas as coisas.
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VI. Parmênides de Eléia (544-524 a.C.) Em sua teoria fundamentou o ser como
eterno, imóvel, imutável e uno. Com isso postulou que o ser é. E dessa
maneira quando este sofria o processo de transformação passaria a não-ser.
Se pensarmos que o ser é o não-ser só pode não ser, sendo o não-ser o nada.
Como explicar o processo de transformação que deveria originar o diverso
gerar o nada? Com isso Parmênides instaura uma crise na história da filosofia
da época, pois concorda com a origem em um único princípio, no entanto, o
processo não poderia ser de transformação.
1.1.2. Pluralistas
A partir deste questionamento de Parmênides surge os pluralistas, que
defendiam que a matéria primordial em seu estado primordial deveria ser múltipla
(mais de um composto) e que o processo de formação de múltiplo seria por
combinação, ou seja, pela ligação ou interação entre esses compostos dando
origem a diversidade. Essa combinação não muda a qualidade do ser, mas
apenas os combina.
I. Empédocles definia que a origem de todas as coisas se deu a partir dos
quatro principais elementos que compõem o universo: água, terra, fogo e ar. E
após a união ao acaso desses elementos o “logos” ou “inteligência ordenadora”
promove a seleção natural dos viáveis. Dessa forma, tudo se origina da
cominação e descombinação dos elementos por uma relação de amor e ódio.
O amor, que gera aproximação entre os elementos e o ódio, que promove o
afastamento dão o equilíbrio ao processo de criação das coisas nas
combinações.
II. Anaxágoras Explica que a origem de todas as coisas se dá a partir de várias
partículas que englobam todas as coisas criadas. Dessa forma, na matéria
primordial em seu estado primordial estão contidas as partículas de todas as
coisas que existem. Sendo assim, existem partículas de madeira, ouro, ferro,
homem. Para que estes sejam criados somente é necessário que se agrupem
as formas iguais. Esse agrupamento se dá pelo “nous” a inteligência
ordenadora. Por isso, na teoria de Anaxágoras diz-se que “tudo está em tudo”.
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III. Atomistas Na concepção destes autores a matéria primordial em seu estado
primordial era composta por pequenas partículas indivisíveis, chamadas
átomos que variam em tamanho e forma e posição. A organização deles para a
formação das diversas coisas se dava pela ação do acaso, ou seja, não existe
um inteligência ordenadora.
IV. Pitagóricos a matéria primordial em seu estado primordial era entendida por
eles como o número. No entanto, este número não como os números arábicos,
mas como representação das formas geométricas e aritméticas. Esta era
considerada uma escola mística e ascética que percebeu que em tudo estavam
presentes os números: na música, nos ciclos dos anos, meses e dias. E assim
equivaleram às formas aos números, pela forma das estruturas geométricas.
Sendo assim, uma partícula homogênea (aparentemente) sendo submetida ao
vazio ou introdução de espaços formam-se figuras geométricas e estas darão
origem a diversidade.
1.2. Sofistas
Eram homens que falavam muito bem e tidos como importantes para a
democracia. Eram de fato instrumentos políticas.
Utilizavam-se da retórica e a partir dela ensinavam a seus alunos, e neste
ensino sempre levavam em conta a virtude prévia dos discentes. Eles entendiam
que o logos (capacidade racional) podia muitas coisas, por isso utilizavam como
instrumento para persuadir. No entanto, afirmavam que apesar disso, o logos não
era capaz de chegar a verdade das coisas. Ou seja, eram de certa forma céticos
quanto a verdade e foram os fundadores do relativismo moderno. e descrever
(conhecimento dos sentimentos e psicologia das pessoas para falarem o que as
pessoas queriam ouvir em cada situação). Por serem grandes estudiosos
contribuíram para o desenvolvimento da gramática.
Os sofistas afirmavam que não se podia chegar à verdade, pois afirmavam
que por não existir um critério para a verdade, ela não pode ser alcançada.
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Características dos sofistas:
Declaravam abertamente que ensinavam o conhecimento em troca de
dinheiro;
Defendiam que poderiam ensinar a virtude política. Esta não era advinda
de berço com pensava os aristocratas, mas era ensinada pelas aulas dos
sofistas;
Eram itinerantes;
Relativistas;
Céticos em relação a verdade (pela ausência de um critério);
Pregavam uma elevada contraposição entre Nómos e Physis (entendiam
que a lei coloca limites na natureza);
Davam “aulas públicas” como atrativo, pois quem gostasse de suas aulas
e quisesse se aprofundar precisaria pagar para continuar tendo aqueles
conhecimentos;
Para eles o conhecimento é uma atividade prática;
São extremamente utilitaristas;
Divisão dos sofistas:
1° geração Os primeiros sofistas possuíam todas as características
ditas anteriormente, no entanto, eram menos corrompidos. Ex:
Protágoras, Górgeas, Pródigo e Hípias.
2° geração também chamados de Eristas, pois se utilizavam de
discursos dialéticos cheios de falacias e palavras com sentido distorcido.
Utilizavam o método sofistico somente com a intenção de vencer
discussões, mesmo que com “golpes baixos”. Exploravam o método
sofistico sem preocupação com o conteúdo, mas apenas querendo vencer
o debate pelo aspecto formal, até mesmo lançando mão de “má fé”. Ex:
Eutídemo.
3° geração Sofistas políticos. Estes usavam as técnicas políticas para
teorizar o imoralismo ou desprezar a justiça. Para este grupo, o que
interessava era justamente defender seu poder, mesmo que fosse
necessário oprimir os fracos. Para eles a justiça consiste nos fracos
(maioria) que querem moralizar e lutar contra os fortes (minoria). A justiça
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consistia simplesmente em repressão dos desejos. Ex: Trasímaco e
Cáricles.
O relativismo sofista chega a tal ponto de afirma que “o homem é a
medida de cada coisa”, ou seja, os indivíduos são a medida, pois no
contexto político não faz diferença cada um ser sua própria medida.
Caracterizando profundo relativismo. Nisso usavam o método da antilogia,
que consistia em formar seu discípulo para sair das situações adversas
mudando de opinião de forma a agradar a platéia. Pois todas as coisas
possuem dois raciocínios que se contrapõem entre si, ou seja, a
possibilidade de dizer e se contra dizer, e dessa forma prepara-se para
mudar de opinião conforme a convenção.
1.3. Platão
Foi o primeiro a sistematizar a história da filosofia a partir de uma
metafísica, psicologia, antropologia e ética.
Toda a obra de Platão foi expressa a partir dos diálogos. Estes se
dividem em:
Juventude diálogos mais curtos que tratam principalmente dos
temas morais e éticos.
Maturidade Aprofunda os temas da juventude, melhorando sua
teoria política e apresenta novos temas como metafísica,
psicologia e teoria do conhecimento.
Velhice Seus últimos diálogos. Aprofunda sua metafísica e a
teoria do conhecimento. Nesse momento comenta a problemática
de suas teorias e temas mais complexos e profundos. Seu último
diálogo e mais longo foi a obra, as leis.
“A alma não tinha mácula antes de estar aprisionada ao corpo, ao qual se
une como a ostra a sua concha.” Diante dessa frase impactante de Platão,
percebe-se a pureza que a alma, anteriormente ao contato com a matéria; logo,
essa alma necessitaria de uma volta para seu estado inicial mais perfeito. Tal
perfeição é conferida à alma humana, pela sua própria natureza, por já ter
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contemplado, um dia, o Ser verdadeiro, assim pode-se dizer que e a alma é
muitíssimo superior ao corpo.
A alma é “o movimento capaz de mover a si mesmo”, segundo Teixeira a
alma do mundo é responsável por todo movimento, considerada imortal. No
Timeu, Platão explica que esta alma não é mais nova que o corpo, mas anterior a
este e é responsável por seu governo e domínio.
A alma do mundo foi criada pura, localiza-se, ao mesmo tempo, em seu
centro e envolve-o. E a alma humana, também, foi criada pelo Demiurgo, a partir
da alma do mundo. Mesmo sendo inferior a esta, a ela foi dado todo
conhecimento das leis e das verdades. Visto que, a alma humana comunga da
mesma natureza da alma do mundo, sendo entendida como imortal e, também,
ser chamada divina. O Demiurgo, deste modo, constitui a alma do mundo de
acordo com seu intelecto, e a partir disso fabricou tudo que é corpóreo e os uniu:
essa alma (do mundo) dá início ao começo divino de uma vida inextinguível e
racional para todo sempre. O corpo do céu é gerado (visível) e a alma, invisível,
participa da razão.
A alma, por sua excelência e existência anterior ao corpo, deve comandá-lo.
Desta forma, quando unidos no mesmo ser, cabe ao último obedecer e sujeitar-
se. A harmonia se faz plenamente estabelecida quando a alma exerce sua
natureza de comando e senhorio, enquanto o corpo se limita a servidão e
obediência. Isso se justifica pelo fato de a alma assemelhar-se à realidade divina
e o corpo àquilo que é mortal. A mesma alma tende a liberta-se do que é terreno
e perecível buscando o que lhe é semelhante. No entanto, o corpo é seu abrigo,
pois somente a partir dele ela pode purificar-se e voltar a sua origem. Isto explica
a permanência e unidade do composto no mundo sensível, pois apesar da
inquietação pela liberdade, é necessário o laço de união entre as partes.
A alma humana é de natureza boa, essa bondade se deve ao fato da sua
criação pelo próprio Demiurgo, o mesmo que gerou a alma do mundo e a de
todos os deuses. Este fato também confere a ela certo potencial de ser chamada
“divina”. Uma vez criada, à alma humana foi apresentada a natureza do universo
e ainda, foi-lhe dado conhecer as leis e as verdades, as quais estava destinada a
saber. Outro fato que lhe pode ser acrescentado é a capacidade de praticar
sempre a justiça.
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Em contrapartida, o ser vivente é composto de corpo e alma; enquanto esta
permanecer misturada a tão grande mal, jamais poderá alcançar a verdade que
deseja. Essa limitação se deve ao fato de o corpo ser repleto de necessidades de
sustento, susceptibilidade às doenças, desejos sensuais, apetites temores e toda
infinidade de ilusões e tolices. Não é possível conceber que o impuro possa
atingir o puro, por isso, se torna inviável pensar que, estando aprisionada ao
corpo, a alma possa ir de encontro à verdade, que alguns já comungam. Aqueles
que se encontram atados neste cárcere, só podendo ser libertos pelo Deus, pela
experiência da morte. Somente desse modo libertando se da insanidade do corpo
poder-se-á alcançar a almejada contemplação da verdade, e assim poderão
desfrutar da verdadeira felicidade.
As almas que buscam manter-se na retidão, conservando sua pureza são
mais predispostas ao reencontro com a verdade. Por isso a necessidade do
cuidado desta, pois de nada vale o cuidado somente com o corpo sem querer
curar a alma. Seria um grande erro voltar-se exclusivamente para os cuidados do
corpo – onde se encontram todas as coisas inferiores e que afastam a alma
daquilo para o qual ela foi criada – e não atentar-se para o princípio que o
movimenta. Quando se busca aperfeiçoar a alma, esta se torna boa, e assim
consegue a plenitude, que consiste na libertação do cárcere e contemplação
novamente das verdades eternas, conforme pode ser visto no Fédon.
Pensando nesta necessidade da alma, surge assim a exigência de: ter um
autocontrole sobre as paixões; buscar uma boa conduta; e educar as ações para
que possa um dia alcançar a plenitude que consiste na vida junto aos deuses e
contemplação das perfeições. Como em Platão, a alma é concebida como imortal,
é preciso que ela não seja dominada por vícios que a corrompam e ocasione os
males como: injustiça, insensatez, impiedade e outros males próprios do corpo
fazendo com que ela permaneça mais tempo longe das verdades.
Quanto à imortalidade, Platão diz no Ménon que a alma do homem mesmo,
ora na experiência que se chama morte, ora nascendo de novo, jamais será
aniquilada, demostrando que a alma do homem é imortal. Para Casoretti, a
imortalidade pode-se explicar através da imaterialidade. Se entendermos que a
alma tem acesso e conhecimento das ideias que são imateriais, essa por
conseguinte também tende a ser imaterial. Se a imaterialidade pressupõe
imortalidade, logo a alma é imortal.
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A partir disso, o autor entende, de forma mais refinada, que o que pode torna
o corpo quente não é a quentura, mas sim o calor. Bem como o que o torna
enfermo, não é a enfermidade, mas sim a febre. Analogamente, o que pode ao
corpo torná-lo vivo não pode ser descrito tão somente como a vida mas a sua
alma. Consequentemente, entende que as coisas nas quais a alma habita a elas
transmite vida, não podendo aceitar o seu oposto, que é a morte. Como se
entende que tudo aquilo que não admite a morte é chamado imortal, logo a alma
será chamada imortal. Considerando que o imortal também é indestrutível, não
seria a alma, já que é imortal também indestrutível? Assim, quando a morte atinge
um ser humano, sua parte mortal, pelo que parece, morre, porém a parte imortal
segue incólume e não destruída para alguma região do Hades, furtando-se da
morte.
Na tradição platônica, a alma humana é entendida como tripartida, ou seja,
dividida em três partes a saber: apetitiva, racional e irascível. O elemento apetitivo
irracional é “aquele com a qual a alma experimenta desejo sexual, fome, sede e
fica excitada por outros apetites, é o companheiro de certas concessões (aos
apetites) e prazeres.”. O elemento racional é o que governa a favor da alma
inteira já que é, distintamente, o que possui a sabedoria. O elemento irascível,
também chamado de animosidade, parece confundir-se com o que tratamos
anteriormente, a parte apetecível. No entanto “está longe de o ser, pois, no
conflito de facções no interior da alma, esta se alinha muito mais com o elemento
racional” A guerra civil que ocorre no interior do homem entre o elemento racional
e o apetecível gera certo conflito. Para tentar manter uma ordem, entra em ação o
papel do elemento irascível, o qual trará equilíbrio na alma dominando o apetitivo
sob o governo da razão. Por isso, é considerado de fato o terceiro elemento da
alma, que por natureza deve auxiliar o elemento racional, devido à educação,
excluindo qualquer tipo de corrupção.
A defesa da alma tripartida, segundo Platão, pode ser sustentada por pelo
menos três argumentos. O primeiro teria a necessidade de certo entrosamento
entre as virtudes do Estado e da alma de cada indivíduo, que são: a justiça, a
sabedoria, a coragem e a temperança. Encontram-se precisamente na obra A
República, na sua quarta parte, sendo essas características necessárias tanto à
alma do indivíduo como ao Estado. O segundo argumento advém dos diferentes
modos e características que as cidades podem ter, de acordo com os atributos
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psicológicos de cada indivíduo. O terceiro, por sua vez, está de acordo com o
princípio de não-contradição pelo qual não se pode ser e não ser ao mesmo
tempo em relação à mesma coisa. Ou ainda, não é pertinente afirmar que uma
parte do indivíduo está em movimento enquanto outra parte está em repouso. Se
nesse caso entende-se que o indivíduo como um todo está em movimento, da
mesma forma a alma age por inteiro.
A alma trilha um caminho de libertação para voltar-se para as verdades, que
lhe foram apresentadas pelo demiurgo através da dialética, que proporciona a ela
a capacidade de realizar a maiêutica. Esse processo de recordar, ou trazer para
luz aquilo que já estava em seu interior dá nome a teoria da reminiscência
platônica.
A teoria da reminiscência é explicada a partir da experiência da linha dividida
e do mito da caverna. Em ambos, Platão conduz ao entendimento que todo
conhecimento tem início nas realidades sensíveis e precisa ascender às
realidades inteligíveis. Dessa forma, a partir da experiência com as sobras ou
reflexos da realidade (cópias das cópias) o homem inicia seu processo de
conhecimento, mas este nível ainda é tido como um nível da ignorância. O nível
seguinte é a experiência com os objetos sensíveis (cópias), que nos fazem ter a
convicção das sombras. Sendo assim, toda experiência sensível é somente
experiência com cópias da realidade (visto que esta se encontra na perfeição, no
mundo das formas). Adentrando no nível intelectivo experimenta-se dos números,
que ajudam a desenvolver o raciocínio, e preparam para o nível seguinte que é o
da intuição, no qual se inicia o processo dialético. Esse trajeto consiste na
caminhada do homem para sair das trevas e da prisão da caverna e enxergar as
realidades ou verdades, que não se encontram no mundo a qual ele está, mas se
encontram fora daquele, no transcendente.
Platão entende que virtude é a excelência na função própria. Já que cada
coisa, ou seja, cada objeto assim como cada ser vivo tem uma ou mais funções, a
virtude consiste no fato de exercer perfeitamente essa função. Sendo assim, a
virtude da faca é cortar, do olho enxergar, e em relação ao homem, este deve
saber, ser corajoso e conseguir dominar seus desejos. Dessa maneira, todo
objeto técnico tem uma virtude, assim como todo ser vivo. Com isso, vê-se que
para definir a virtude de cada coisa ou objeto faz-se necessário conhecer a
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natureza da mesma. Portanto, por virtude além da excelência do caráter, pode-se
entender a perfeição de uma atividade, seja ela qual for.
A virtude como excelência deve ser entendida por um caminho que passa
pela posse de um saber que proporcionará a ela seu status. Sendo assim, a
excelência encontra-se na dimensão cognitiva, ou seja, ser excelente nada mais é
do que saber como sê-lo. Dessa forma, o homem de posse de um saber prévio de
suas próprias aptidões irá desenvolvê-las até alcançar a excelência, a virtude.
Em Platão, a justiça tem um caráter objetivo e é o eixo que sustenta sua
ética e sua política. A polis surge do princípio que o homem sozinho não
conseguirá dar conta das diversas atividades que necessita para viver bem, e daí
emergem as necessidades de organização desta relação, e assim surgem das
relações, que estão em mudança, às cidades.
As principais virtudes destacadas por Platão são: sabedoria, coragem,
justiça e temperança são responsáveis por promover a harmonia dos diversos
elementos que compõem o homem, ou seja, as três partes que constituem sua
alma. No entanto, Platão entende que a justiça, dentre todas é a virtude mais
importante, pois esta permite que os homens se assemelhem ao que é invisível,
divino, imortal e sábio, e por meio dela o homem alcança a felicidade.
A educação em Platão é instrumento que garante a formação do homem
virtuoso esta se baseia em duas etapas.
0 a 7 anos educação pelas amas de leite, na qual as crianças são
nutridas pelos mitos e poesias. No entanto, aqui faz-se importante o papel
do governante de forma assegurar a qualidade dos mitos e poesias
ensinados. Pois somente podem ensinar àqueles que favorecem a virtude
e não os que promovam os vícios e provoquem medo nas crianças.
De 7 a 30 anos educação de responsabilidade do Estado que visa a
garantir a educação pela música (para a alma pela harmonia e ritmo da
música formando assim esta alma para a virtude) e ginástica (para o corpo
para ensiná-lo que é possível vencer os próprios limites).
Essa educação visa formar para a virtude e desenvolver no cidadão a
capacidade de perceber qual virtude predomina em sua alma, e com o
acompanhamento do governante discernir qual função este desempenhará na
cidade, de forma a garantir que ele a exerça com excelência, para que pelo
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exercício com excelência da função própria de cada um se alcance a virtude na
cidade.
1.4. Aristóteles
Nasceu em Histagira (por isso é chamado histagirita) na Macedônia filho de
um médico. Era um “homem da realeza”, pois naquela época não se tinha uma
monarquia forte, mas uma linha de pares de sucessão. Aos 17 anos conhece
Platão em sua Academia, onde aprendeu muita coisa durante seus 20 anos de
permanência. E após um período passou de aluno ao principal representante da
academia em debates. Após a morte de Platão ele se afasta da academia e
alguns anos depois (em 335 aproximadamente) funda o Liceu, aos moldes da
academia platônica.
A metafísica aristotélica consiste no estudo do ser enquanto ser. Este
enquanto restringe a amplitude do estudo. Quanto mais restrito mais composto é
o objeto estudado. Aristóteles parte do estudo de seres corpóreos e começa a
fazer a caminhada ascendente para estudas os seres não corpóreos. Toda
explicação se inicia pela teoria hilemórfica, ou seja, na matéria e na forma.
Mas antes de tratar propriamente da matéria e da forma é preciso entender a
teoria das quatro causas de Aristóteles:
Causa material todas as coisas que existem (sensível) são feitas
de algo, ou seja, possuem matéria, um substrato.
Causa formal é o que imprime características na matéria, nas
coisas. Faz com que algo seja o que é (definição de essência). Neste
caso refere-se a matéria-prima (imaterial sem determinações) que ao
receber a forma pode se tornar qualquer coisa que existe. É uma
matéria extremamente potencial para se tornar, ou ser atualizada a
qualquer coisa.
Causa eficiente É o agente ou motor que orienta a forma a ser
impressa em determinada matéria. Responsável pela impressão da
forma.
Causa final finalidade, leva as coisas serem o que são, ou seja,
atrai as coisas para a sua realização a partir de uma forma.
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1.4.1. Metafísica
Hilemorfismo - hilé (matéria) e morfé (forma)
Sendo assim a matéria é o que gera a diversidade e a forma é o princípio de
unidade. A matéria é sempre potencial para receber qualquer forma. No entanto,
após receber uma forma aquela passa a ser a sua forma determinada. Dessa
forma, pode-se inferir que a forma limita a matéria, pois após a atualização da
potencia, não se pode adquirir outro ato.
A coisa em ato pode possuir outras potencias, mas estas são limitadas pelo
mesmo ato, pois não serão mais aceitas potencias para tudo.
Assim temos que deter-nos em mais dois conceitos:
Potencia capacidade ou possibilidade de realização
Ato potencial realizada
Matéria + forma = Essência = Substância
Substância + acidente =
Ente corpóreo
Modo de ser ou categorias (substância mais 9 acidentes)
Substância - aquilo que é em si
Qualidade - os demais existem no outro e não existem por si mesmos.
Quantidade
Relação
Posse
Tempo
Lugar
Ação
Paixão
1.4.2. Psicologia
Aristóteles percebeu a existência de seres vivos e não vivos, ou seja,
animados e inanimados. Sendo anima o principio da vida, ele define que os seres
vivos possuem alma e esta deve, obrigatoriamente, possuir níveis. Diante disso
ele definiu que quem possui o mais tem o menos, logo aquele que possui o
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segundo nível inclui em si o primeiro, bem como o terceiro inclui o primeiro e o
segundo.
Alma Função (desempenhos) OBS:
Alma vegetativa
Nutrição, crescimento e
reprodução
Alma sensitiva
Sentidos internos e
sentidos externos
Sentidos externos são os cinco
sentidos (paladar, olfato, visão,
audição e tato) e os sentidos
internos (sentido comum,
memória, imaginação e estimativa.
Esta última recebe o nome de
cogitativa nos homens.
Alma racional
Intelecto
As três atividades do intelecto são
conceito (verbo mental que
permite armazenar a informação
do que a coisa é e permite ao
voltar a realidade reconhecer a
coisa), juízo (união de dois
conceitos por uma cópula – verbo
ser) e raciocínio (composição
formada a partir de juízos).
O conceito universal então pode ser entendido como produto do intelecto,
que pelo processo de abstração se faz a partir da essência da coisa em si que se
encontra na realidade.
O intelecto está sempre em ato para reconhecer ou abstrair uma essência
de qualquer objeto na realidade.
Dessa psicologia faz-se entender a dinâmica de quem é o homem, este é
um animal racional, mas também um ser político, pois vive em uma cidade (polis)
e é capaz de estabelecer relações coerentes e virtuosas de forma a garantir o
bem comum.
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1.4.3. Ética
A psicologia fundamenta a ética por fornecer a definição de homem como
animal racional, pois dá a entender que este possui uma alma racional capaz de
realizar operações do intelecto. A partir disso, para este homem a ética
questionar-se-á qual a melhor vida para este homem?
A melhor vida para o homem está fundada em viver da melhor maneira de
forma a alcançar a felicidade. Pois a realização plena gera realização e felicidade
no homem. Por isso a ética busca entender o que proporciona a felicidade ao
homem para em seguida propor o caminho que este deve fazer para alcançar seu
objetivo.
A felicidade é um fim em si mesma, segundo Aristóteles. Dessa forma
enquanto os outros bens são buscados em vista de outro, ela é buscada pelo fim
que possui em si mesma. No homem essa felicidade consiste na plenitude da
razão, ou seja, em exercer sua razão com excelência (areté), no mais elevado ato
de sua capacidade racional.
Diante disso, ao entender que a felicidade é atividade da alma em
consonância com a arte, Aristóteles define que existem duas maneiras de ser
feliz: atingido a plenitude da atividade racional (pela areté – plenitude da virtude,
que em Aristóteles é a sabedoria) ou possuindo a virtude moral que, pois ela vai
ajudar a viver bem, ter uma vida boa, que acaba sendo o principal, visto que a
sabedoria na plenitude não é para todos. Daí neste caso existe a phrónesis, que
está próxima das virtudes morais e ajuda a encontrar meios para se alcançar a
felicidade, mesmo que seja pela imitação da vida daquele que é sábio.
1.5. Período Helenístico
É um período de expansão da língua e da cultura, e um momento de
profunda crise moral para os gregos. A tão discutida polis encontra-se em crise e
surgem nesse período escolas que apontam que a felicidade de forma
independente da polis, ou seja, cai a política e surge uma ética individual. São as
principais escolas: cinismo, epicurismo, estoicismo e ceticismo. Eles seguem um
caminho oposto ao traçado por Platão e Aristóteles, pois partiam do entendimento
do que é melhor para o homem, e daí buscavam a melhor explicação para chegar
até ela, ou seja, sua metafísica se baseava na que melhor atendida tal interesse.
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A partir da ética fundavam uma proposta metafísica que geralmente partia de uma
física, pois eram extremamente materialistas, tudo estava reduzido a matéria. Não
se preocupavam propriamente com metafísica, mas sim com virtude e viver bem.
1.5.1. Características gerais deste período
Ideal de autarquia total independência em relação aquilo que não
depende de mim. Não se depende de nada que não se a si próprio. Não se
deve criar necessidades que não dependam de si próprio. Isso não significa
que não se dependa de algumas coisas básicas, necessidades básicas, mas
somente as essenciais, que são vestir e comer.
Ideal de atarquia ausência de qualquer tipo de perturbação na alma.
Viver a vida sem necessidade, pois estas são passageiras e quando forem
necessárias se não estiverem presentes causarão problemas, por isso não
devem ser cultivadas.
1.5.2. Escolas do período helenístico
1.5.2.1. Cinismo
Levaram os ideias de ataraxia e autarquia ao extremo. Seguiam o modelo da
vida dos animas, que não dependem de nada e são totalmente livres. A liberdade
total consiste em nenhuma dependência de nada, nem de palavras (sem
totalmente livre em suas palavras) nem de ações (levavam ao limite do respeito
ou abuso, que chegavam a inflingir a norma da decência. As ações deveriam ser
segundo as necessidades naturais, independente do respeito às leis.
1.5.2.2. Epicurismo
Esta era conhecida com a “Escola do Jardim”. Fundada por Epicuro.
Escola profundamente materialista, pois a origem está fundada nas
sensações. Todas as coisas que existem emitem partículas, que são chamados
eflúvios e estes ao nos atingir permitem que as coisas sejam percebidas. As
sensações são sempre passivas e eles entendem que onde há passividade não
há falsidade, logo estas sensações são sempre verdadeiras. Os eflúvios geram
impressões na alma e dessa forma se dá o conhecimento das coisas, de acordo
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com essas impressões na alma. Existem ainda as prolepses, que são o produto
das imagens formadas pelas sensações. E assim, essas prolepses e as
sensações fazem parte de processo do conhecimento, que é totalmente natural.
Para os epicuristas o mundo é composto por átomos e pelo vazio, ou seja,
retomam a filosofia atomista. Estes átomos possuem pesos, formas, movimento e
velocidade diferentes. Eles possuem declinações, o que permite as declinações
ao acaso e assim formar todas as coisas. Isso dá sentido a liberdade na ética. No
entanto, existem coisas pré-determinadas como a queda que se dá pela ação da
gravidade.
A ética epicurista trata de um hedonismo moderado, pois o prazer é um fim e
não meio, que promovem ausência de dor e de perturbações à alma. Eles prezam
pela uso do prazer de forma moderada. Daí surge a noção de 3 tipos de prazeres:
Naturais e necessários comer, beber e dormir
Naturais e não necessários dormir com lençóis de seda
Não naturais e não necessários prazer, honra e dinheiro. Devem ser
evitados, pois sempre causam dor.
1.5.2.3. Estoicismo
Fundada por Zenão de Cécio. Filosofia do pórtico ou do estoá.
Retomam a proposição heraclítica de que tudo se dá pelo fogo. Esta MPEP
possui dois aspectos que são: um aspecto passivo, que é indissociado do ativo e
passível de ser modelado pelo ativo; e o ativo que é indissociado do passivo, mas
o dirige. Existe o logos que rege tudo, é responsável por tudo, pois da forma e
direção além de conter todas as razões seminais.
Eles propõem que a forma é imanente a matéria, pois não existe esta noção
do imaterial interferir no material. Até o próprio logos é imanente, como parte do
logos universal, que também é imanente. E este logos particular deve estar em
consonância com o logos universal e isso se dá quanto mais de mantém o
afastamento das coisas que aprisionam, pois assim mais se conecta
conscientemente ao logos universal, pois inconscientemente se é regido por ele.
Todas as coisas possuem razões seminais, que são sementes que contém
as possibilidades. São as formas específicas, imateriais. Estas são capazes de
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fertilizar a matéria e gerar as coisas que possuem capacidade de receber forma,
pois possuem potencia germinativa.
Em relação a sua ética, esta preza pela tendência de todas as coisas a sua
conservação, e a felicidade está na conservação. E o bem é aquilo que promove
o logos, tudo que foge a isso é indiferente. Logo o principal é promover o logos. E
isso se dá pelo afastamento dos perturbações que promovem afinamento com o
logos universal.
1.5.2.4. Ceticismo
Representam a oposição ao projeto da filosofia defendendo três premissas
básicas:
As coisas são igualmente indiferentes, imensuráveis, indiscriminadas e por
isso, nem as nossas opiniões nem nossas sensações podem ser
verdadeiras ou falsas As coisas possuem representações, mas não se
pode afirmar a essência delas, pois pode estar em mim, ou ainda numa
mistura entre eu e a coisa, visto que sou o sujeito que experimenta sempre
colocará suas impressões. Não é possível conhecer a “coisa em si” seja
pela incapacidade dos sentidos de alcançarem a essência se considerar
que ela existe, ou seja, pela não existência de uma essência nas coisas.
Não se tem nenhuma fé nos sentidos nem na razão, com isso, deve abster-
se de qualquer julgamento como a essência das coisas não existe e o
que eu experimento são apenas os fenômenos como se pode inferir juízo
sobre isso? Logo a melhor opção é suspender o juízo, visto que aquilo que
aparece é fruto das impressões particulares, ou no mínimo uma mistura.
Defendem a afasia e a ataraxia não se deve falar de nada com pretensão
de verdade e evitar todo tipo de perturbação na alma.
1.6. Neoplatonismo
Surgimento nos séculos primeiro e segundo da era cristã e a principal
motivação era voltar a afirmação do transcendente e do supra sensível.
Justamente era esse o ponto do estudo destes pensadores.
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Características deste período
Recuperação do supra-sensível
Hierarquia do supra-sensível
Além das duas hipóteses anteriores propõem que a matéria é causada pelo
supra-sensível, não é eterna, é criada e é um efeito do inteligível.
Os principais pensadores deste período foram Plotino, Porfírio e Iambecus.
Eles defendiam a existência de três hipóstases: o uno, o nous (realidade
inteligente que gera outra inteligente, também é potencia criadora) e a alma
(realidade inteligente que gera outra realidade é potencia criadora, mas muito
menos). A partir da alma a matéria é gerada por sucessões.
A base da geração se dá por emanação. No qual, a partir do Uno todas as
coisas foram geradas por emanação, que consiste em gerar outro idêntico ao
primeiro, porém com menos número de potencias. Nesse processo o infinito e
absoluto gera um celestial e divino que gera um intermediário ou psicológico, e
este por sua vez, por gerações sucessivas origina o terrestre e físico.
A ideia de uno surge a partir da observação de que os conceitos são unos,
bem como o princípio de identidade. A unidade não está no sentido, mas também
nas coisas, pois estas são unas e diferentes de outras. O uno é capaz de
conhecer a si mesmo.
O Nous é formado por duas gerações na primeira procede do uno, na
segunda volta-se para o uno e o conhece. O nous não conhece a si mesmo, mas
é capaz de conhecer o uno.
A alma é o cosmo inteligível, menos que o nous, mas que se realiza
plasmando relações com a matéria, ou seja, dando forma a esta. A alma é o
elemento unificador, ou seja, responsável por dar unidade a matéria. Além disso,
a alma tem capacidade plasmadora, pois ela ordena a matéria além de gerar.