historia do direito

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1 8. Impacto que o surgimento da escrita trouxe para o direito Surgiu na região da Mesopotâmia, região entre os rios tigre e o Eufrates, onde hoje seria próximo ao Iraque, uma técnica de gravação em argila úmida ou pedra, chamada de cuneiforme (utilizadas cunhas para as gravações), que transmitiam ideias. Foi a primeira forma de escrita conhecida. Com o advento da escrita, normas comportamentais, costumeiras e religiosas, puderam ser consolidadas e documentos. Surge uma nova forma de direito e uma nova forma de transmissão das normas produzidas. Surgem as primeiras leis escritas. 8.1. Mesopotâmia: região do Oriente Médio, atualmente os territórios do Iraque e adjacencias. Compreende os vales e planícies entre os rios Tigres e Eufrates, que deságuam no Golfo Pérsico. Etimologicamente a palavra vem do grego e quer dizer “terra entre rios”(meso - pótamos). Criação de um direito abstrato, via códigos (parte do concreto para o abstrato, como por exemplo "olho por olho"): 8.2. Código de Ur-Nammu (+- 2040 a.c., na mesopotâmia). Foi descoberto em 1952 na região do Iraque. Previa o instituto do dano moral.

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Page 1: Historia do Direito

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8. Impacto que o surgimento da escrita trouxe para o

direito

Surgiu na região da Mesopotâmia, região entre os

rios tigre e o Eufrates, onde hoje seria próximo ao Iraque,

uma técnica de gravação em argila úmida ou pedra,

chamada de cuneiforme (utilizadas cunhas para as

gravações), que transmitiam ideias. Foi a primeira forma

de escrita conhecida.

Com o advento da escrita, normas

comportamentais, costumeiras e religiosas, puderam ser

consolidadas e documentos. Surge uma nova forma de

direito e uma nova forma de transmissão das normas

produzidas. Surgem as primeiras leis escritas.

8.1. Mesopotâmia: região do Oriente Médio, atualmente

os territórios do Iraque e adjacencias. Compreende os

vales e planícies entre os rios Tigres e Eufrates, que

deságuam no Golfo Pérsico. Etimologicamente a palavra

vem do grego e quer dizer “terra entre rios”(meso -

pótamos). Criação de um direito abstrato, via códigos

(parte do concreto para o abstrato, como por exemplo

"olho por olho"):

8.2. Código de Ur-Nammu (+- 2040 a.c., na

mesopotâmia). Foi descoberto em 1952 na região do

Iraque. Previa o instituto do dano moral.

Page 2: Historia do Direito

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A primeira lei escrita foi o código Ur Nammu, faz

referência ao rei Nammu, na cidade de Ur. Cidade natal de

Abrão. Foi escrito em tabletes de argila e possui normas

religiosas dessas sociedades, transcrições de atas de

julgamentos, etc.

Surge a possibilidade da conversão de penas

físicas em penas pecuniárias. Foi uma grande revolução,

diminuindo a crueldade das penas 2000 anos aC. (Juizados

Especiais hoje – importância do estudo da história do

direito. Institutos que vêm evoluindo através dos séculos).

Ex: se um homem, com um soco, arranca um dente de

outro, deverá pagar cinco moedas de prata. Ex2: se um

homem sequestrar alguém, deverá pagar 15 moedas de

ouro.

Apesar de haverem indícios de outros códigos,

comprovadamente, o código de Ur Nammu foi o primeiro.

O que hoje são tipos penais, tais como roubo,

homicídio, sequestro, entre outros, já existiam no código

de Ur Nammu. Os tipos penais que pareciam ser algo

recente ou não tão antigo assim, na realidade, já estava

previsto há mais ou menos 4 mil anos.

A crueldade não foi abandonada por completo. As

penas cruéis ainda existiam. Ex: o crime de roubo era

punido com a morte.

Não houve o abandono da violência, mas a

crueldade foi diminuindo gradativamente. As penas eram

proporcionais a cada delito, de acordo com a época.

Page 3: Historia do Direito

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8.3. Código de Esnunna: outro código importante, era o

código de Esnunna, 1930 aC. Durante esse período, a

Babilônia foi dividida em várias cidades-estados. Possuía

aproximadamente 60 artigos, os quais mesclavam o direito

penal e o direito civil.

Obs: uma contribuição importante diz respeito ao direito

civil, quanto a responsabilidade civil (ex. o barqueiro se

responsabilizava por tudo que estava no barco, caso este

afundasse).

8.4. Código de Hamurabi (+- 1690 aC., também da

mesopotâmia). Um dos mais famosos artefatos jurídicos

da antiga Mesopotâmia, encontrado em 1901, no Irã.

Considerado o documento jurídico de maior

importância do mundo antigo. Foi confeccionado pela

técnica cuneiforme, foi gravado num bloco monolítico de

cerca de 2,5 metros de altura, com cerca de 3600 linhas

escritas. Encontrado por arqueólogos no início do século

passado. Atualmente, encontra-se no museu do Louvre,

em Paris.

Além de ser uma norma escrita, havia grande

publicidade destas normas.

A sociedade da Babilónia parece ter sido

constituída por três classes de indivíduos: as pessoas livres

da classe alta (awilu), os escravos recrutados entre os

Page 4: Historia do Direito

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prisioneiros de guerra (wardu) e os indivíduos livres de

estatuto inferior (mushkenu).

Podemos ver reflexos deste código até no nosso

ordenamento jurídico, pois serviu de base para as futuras

codificações.

Alguns princípios importantes deste código: a

publicidade das normas – o bloco de pedra era acessível a

todos, garantindo o conhecimento amplo destas normas. A

publicidade é adotada até hoje; responsabilidade civil; erro

médico; entre outros. Ex: erro médico – se um médico fez

uma operação difícil e causou a morte, ele poderia ser

punido com o corte de sua mão. Ex: responsabilidade civil

dos pedreiros – se o pedreiro constrói uma casa e casa

ameaça cair, este pedreiro deverá consertar a casa as suas

custas.

Em relação ao direito de família, o código de

Hamurabi já tratava da adoção. Ex: se uma criança fosse

adotada logo após o seu nascimento, esta criança não

poderá mais ser reclamada – este instituto é muito

parecido com a ideia que temos hoje sobre a adoção. Ex:

se a criança viesse a reclamar com sua família, ela poderia

ser devolvida a família de origem. Ex: o divórcio já era

tratado neste código. O homem poderia repudiar a mulher.

Ex: o adultério também era previsto. Somente a mulher

poderia cometer adultério. O homem que se envolvia com

uma mulher casada, ele seria cúmplice. Se mulher solteira

se relacionar com um homem casado, não haveria

adultério.

Page 5: Historia do Direito

5

Com relação aos aspectos penais, merece destaque

a Lei Talião – lex talionis (estabelece a equivalência da

punição em relação ao crime). Na verdade, não era uma lei

propriamente dita, mas sim uma ideia a ser aplicada em

cada caso. A pena era idêntica ao mal causado – olho por

olho e dente por dente. A retributividade desta lei era

integral. Ex: se um awilu destrói o olho de outro awilu,

terá seu olho destruído. Ex: se o construtor fizer uma casa

e a casa cair matando um homem livre, o construtor será

também morto. Ex: o falso testemunho era muito

importante, pois era um meio de prova essencial. Se

alguém falseasse a verdade num processo capital

envolvendo um awilu, o falseador seria morto.

9. A sociedade grega

A Grécia não era um país como conhecemos hoje.

A Grécia era uma região. A compreensão da Grécia antiga

passa pela compreensão das cidades-estados. As regras

eram ditadas por condições geográficas e econômicas.

Os gregos não foram grandes juristas. Eles se

preocuparam apenas em difundir uma noção jurídica em

toda comunidade. Entendiam que o direito deveria ser

conhecido e entendido por todos e não apenas por juízes e

promotores. O direito deveria ser uma consequência

natural da noção de justiça que deveria estar presente na

consciência coletiva. Deveria ser quase um arquétipo. Por

Page 6: Historia do Direito

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conta disso não houve uma preocupação pelos gregos no

desenvolvimento da ciência do direito.

Os gregos já dominavam a escrita. Às vezes, a

literatura jurídica era recitada por meio de poemas. A

fonte principal do direito grego eram os denominados

nomos, que eram leis derivadas dos costumes. As normas

escritas não representavam codificações.

As figuras importantes eram os magistrados e os

árbitros.

Os magistrados não eram juízes, mas sim eram

sorteados para exercer a justiça pelo período de um ano.

Esse período servia para evitar a perpetuação de poder,

uma continuidade política, pois o vitaliciamento dos

magistrados ou figuras públicas atrapalharia os interesses

da sociedade.

Os árbitros eram espécies de julgadores privados,

escolhidos pelas partes para solucionarem os seus

conflitos. Atuavam como o mediador que conhecemos

atualmente.

Um dos maiores legados dos gregos é a chamada

Lei de Dracon – 620 aC. Um grande marco foi a

publicidade, pois pela primeira vez na Grécia, todas as leis

deveriam ser públicas. As leis de Dracon eram essenciais

quando haviam conflitos entre clãs e não apenas entre

pessoas. Assegurava uma justiça mais aperfeiçoada para a

solução deste litígio. Constitui um marco sobre o duplo

grau de jurisdição.

Page 7: Historia do Direito

7

Apesar da contribuição no campo civil, as leis de

Dracon são lembradas pela tipificação penal – referência à

lei draconiana.

Dracon se preocupava com a conduta e com as

penas impostas. Por serem muito severas, não havia uma

paz social, mas sim uma instabilidade social.

Por conta disso, foi convocado Sólon. Sólon,

possuía origem nobre, faliu e conseguiu se reerguer.

Possuía uma habilidade comercial apurada e tinha outro

pensamento sobre os devedores, pois ele já tinha

vivenciado tais situações.

Sólon flexibilizou algumas normas, instaurou a

igualdade civil, supriu a propriedade coletiva, proibiu a

hipoteca de terras e a escravidão por endividamento.

No período de Sólon a justiça estava nas mãos do

cidadão.

Na Grécia antiga, as regras ainda se prendiam a

preceitos religiosos. A vontade dos deuses deveria ser

respeitada. Havia a possibilidade de se perdoar o réu, a fim

de que não se prejudicasse os seus herdeiros.

10. A Sociedade Romana

A cidade de Roma, em sua origem, não tinha

contornos urbanos. Era ainda primitiva e pouco complexa.

Page 8: Historia do Direito

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Em termos gerais, a história do direito romano

abarca mais de mil anos, desde a Lei das Doze

Tábuas (Lex Duodecim Tabularum; 449 a.C.) até o Corpo

de Direito Civil por Justiniano I (c. 530 d.C.).

Os historiadores do direito costumam dividir o

direito romano em fases. Um dos critérios empregados

para tanto é o da evolução das instituições jurídicas

romanas, segundo o qual o direito romano apresentaria

quatro grandes épocas:

Época Arcaica (753 a.C. a 130 a.C.)

Época Clássica (130 a.C. a 230 d.C.)

Época Pós-Clássica (230 d.C. a 530 d.C.)

Época Justiniana (530 d.C. a 565 d.C.)

A história romana é dividida em três períodos:

1. Direito Romano na Realeza (753 a.C. a 510

a.C.) Os reis eram eleitos por assembleias. Esses

comandantes escolhidos eram vitalícios, mas não

hereditário. O rei é o juiz supremo, soberano. Controlava

aspectos religiosos, administrativos e a justiça. De suas

decisões não se admitia qualquer recurso. Neste períodos

existia a figura do Senado (Senatus – senes, sênior, ancião,

idoso). O Senado não tinha um poder específico. Servia

apenas para aconselhar o rei (conselho da republica hoje).

O conselho poderia ser seguido ou não.

Page 9: Historia do Direito

9

2. Direito Romano no Alto Império (27 a.C. a

284 d.C.) Esse período durou pouco mais de 200 anos, até

o advento da república (res – coisa, publica – publico,

coisa do povo). Parcela do poder foi transferida aos

senadores. Não queriam deixar tanto poder nas mãos de

uma única pessoa. Os senadores mais antigos tinham uma

parcela de poder que durava muitos anos. Haviam os

magistrados ordinários e extraordinários, eleitos

anualmente.

3. Direito Romano no período Bizantino (565

d.C. a 1453 d.C.) Esse período durou 500 anos. Ate a

chegada do Império.

O direito romano é fincado em três pilares: viver

honestamente; não lesar a outrem; dar a cada um o que é

seu. A partir destes pilares, várias normas foram extraídas,

formando o alicerce do direito romano. A família era o

centro de tudo. Os recém-nascidos só eram recebidos na

sociedade mediante a decisão do chefe familiar. Logo, o

infanticídio de filhos de escravos, aborto, rejeição de

filhos, eram praticas comuns e legais.

O legado mais importante do direito romano é a

chamada Lei das XII Tábuas. Parcialmente inspirada nas

leis de Sólon. Tinha o objetivo de alcançar a paz social.

Foi gravada em 12 tábuas e permaneceu no fórum romano.

Havia uma igualdade jurídica. A terra se tornou alienável e

havia o reconhecimento dos direitos de vizinhança (ex.

colher os frutos que venham a cair da árvore de um

vizinho no seu quintal).

Page 10: Historia do Direito

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O período clássico, o direito romano alcançou o

seu auge. Houve uma divisão entre o direito publico e

privado. O direito privado passou a ter caráter laico.

Passou a ter uma produção numerosa de regras. As

regras costumeiras passaram a ser normas positivadas.

Começou a ganhar relevância a função dos pretores e dos

jurisconsultos. Os pretores exerciam a função de

administração da justiça, ex. magistrados. Consolidaram

normas procedimentais. Os jurisconsultos eram

responsáveis por aplicar as normas procedimentais, como

os atos processuais seriam evoluídos. Esta forma de

trabalho passou a ser chamada de jurisprudência, mas com

uma visão diferente de hoje.

O período pós-clássico, iniciando com o clesiano e

se estende ate o império de Justiniano I. Justiniano

possibilitou a compilação de normas, o corpus juris

civiles, há mais de 1500 anos. Traz reflexos em nosso

ordenamento atual.

Aspectos relevantes: a litispendência; o conceito

de casa e domicílio; boa-fé e cobrança indevida de dívida;

testamento; curatela; tutela, entre outros, todos institutos

presentes até hoje em nosso ordenamento vigente.

No direito penal, já eram compreendidos os

princípios do in dubio pro reu e da transcendência (a

pena não pode passar da pessoa do acusado).

Houve uma separação entre o direito público

e o direito privado.

Page 11: Historia do Direito

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Legislação Importante do início do Império Romano: A

Lei das XII Tábuas

Alguns juristas Romanos:

Cícero (106 - 43 ac): "nascemos para a justiça, e a lei

não se funda na opinião, mas na própria natureza do

homem" (características estoicas).

Veja a influência dos Gregos nas palavras de Cícero: "... a

lei não é invenção do engenho humano nem vontade dos

povos, mas algo de eterno que deve reger o mundo inteiro

pela sabedoria dos seus mandatos e proibições". Percebe-

se claramente uma criação da ciência jurídica com

vocação UNIVERSAL. Como Cícero era estoico, a

ciência jurídica torna-se ideal a todos os povos: ius

gentium (direito dos povos).

Ulpiano (150 - 228): Direito e Justiça são as mesmas

coisas? Para Ulpiano IUS (Direito em latim) vem da

palavra IUSTITIA (justiça), ou seja, o Direito provêm e

vincula a Justiça, mas não são as mesmas coisas.

"Tais são os preceitos do direito: viver honestamente, não

ofender ninguém, dar a cada um o que lhe pertence".

Portanto, a Justiça é, para Ulpiano, "a vontade constante

de dar a cada um o que é seu".

Assim, segundo os romanos, a Iustitia personifica a

Justiça.

- Os Romanos fazem a distinção entre: Direito Civil

(direito das cidades); Direito das gentes (Ius Gentius, de

caráter universal: Direito Público).

Page 12: Historia do Direito

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- Assim, os romanos fazem a transição do Direito

Empírico, casuistico, concreto, a posteriri para um direito

ciêntífico, genérico, abstrato, apriorístico.

- Justiniano (483-565), Imperador Romano, elaborou

o Corpus Iuris Civilis, que consta de quatro partes:

Institutas (manual escolar),

Digesto ou Pandectas (compilação dos iura),

Códex (compilação das leges) e Novelas (reunião das

constituições promulgadas depois de 535 por Justiniano).

- Romanos: podiam legislar; os escravos e a plebe podiam

comercializar e fazer negócios. O Plebiscito (plebiscitu -

decreto da plebe): concepção que os romanos deram para

que a plebe pudesse elaborar leis...

11. Idade Média

Historicamente, compreende-se a Idade Média pelo

período entre a queda do Império Romano no Ocidente

(476 d.c) até a queda de Constantinopla, atual Istambul,

em 1453, com o fim do Império Romano do Oriente. Ou

seja, praticamente 1000 anos de história...

Uma das principais características da Idade Média foi a

influencia de temas religiosos no contexto de todas as

áreas do conhecimento: filosofia, arte, direito.

Assim, o pensamento Cristão-judaico marco

profundamente o mundo medieval. Temas como Deus (ser

Uno, Perfeito, Universal, Criado a partir do nada), Fé,

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Salvação, Providência e Revelação Divina passaram a

fazer parte de temáticas filosóficas.

A consolidação do cristianismo foi um dos fatores

que contribuíram para a queda do império romano. Os

grandes imperadores eram tidos como deuses, no entanto

para o cristianismo, o reino de Deus era imensamente

superior ao reino dos homens. Quem detinha o meio de

comunicação direto com Deus eram os bispos. Desta

forma, o imperador detinha menos poderes que os bispos.

Houve uma inversão dos valores.

A sociedade romana ficou vulnerável aos ataques

bárbaros, cuja economia era baseada na guerra. Os

bárbaros não tinham normas escritas. Suas normas

derivavam de regras consuetudinárias. A junção dos

bárbaros com os romanos, os quais possuíam normas

escritas, constituíram um novo sistema, o bárbaro romano,

vigentes nesta nova sociedade.

Os pensadores da Idade Média tentaram criar uma

filosofia que estivesse em harmonia com a Religião. Dessa

forma, Fé e Razão deveriam se complementar. A essa

escola, deu-se o nome de Escolástica.

Foi um período de domínio do conhecimento pela Igreja

Católica Romana, principalmente com a criação das

Universidades Europeias e com o "monopólio da escrita"

pela Igreja. Percebe-se, facilmente, que o mundo medieval

se divide em religioso e laico.

Page 14: Historia do Direito

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O Império Romano acaba perdendo a força e a Igreja

Católica domina o cenário europeu.

Os principais Filósofos medievais foram:

11.1. Santo Agostinho (Aurelius Augustinus)

Nasceu no norte da África, em 354 e morreu em 430.

Uma das principais obras foram: “Confissões” e “Cidade

de Deus”

Agostinho retorna aos ensinamentos de Platão

(neoplatonismo): o mundo perfeito, paralelo ao mundo

físico, seria o Reino de Deus. Afirmava que a Razão

deveria estar a serviço da Fé. Por isso, haveria duas

razões:

Razão superior: com a razão superior, o homem obtém a

Fé, o mais próximo de Deus que se pode chegar. As vezes,

a razão inferior não pode explicar todos os desígnios de

Deus, tais como a “virgindade de Maria”, “a Santíssima

Trindade”, etc.

Razão Inferior: conhecimento da realidade, do mundo

sensível.

Para Santo Agostinho, o Estado não pode ser

completamente justo, afinal é feito e governado pelos

Homens, que são imperfeitos. Somente a Igreja, que é a

representante na Terra de Deus, é que pode ser justo em

seus julgamentos.

11.2. São Tomaz de Aquino

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Italiano, nasceu em 1225 e morreu em 1274

Principais obras: "Summa Theologiae" e "Summa Contra

Gentiles".

Para São Tomaz de Aquino não há contradição entre fé

(teologia: revelação) e razão (filosofia). A razão é um

caminho para se chegar até a Fé.

Enquanto Santo Agostinho buscava em Platão a base de

sua filosofia-cristã, São Tomaz de Aquino busca em

Aristóteles a base de sua filosofia: Aristóteles afirmava

que existia um ser UNO-PERFEITO-INICIAL-

UNIVERSAL e ATEMPORAL. São Tomaz afirmava que

esse Ser era justamente DEUS, com uma inteligência

divina, pois ordenou todo o universo.

Para São Tomaz de Aquino, as leis seriam divididas em:

1. Lei Eterna: a ordem existente em todo o Universo.

Impossível de compreensão em sua totalidade pelo

Homem.

2. Lei Natural: Deus revela ao homem, através da

concessão de sua inteligência, o que deve e o que não se

deve fazer. Tem, como principal fonte as palavras

(oficiais) de Deus: os Dez Mandamentos (antigo

testamento); novo testamento; as interpretações da Bíblia

(monopólio da Igreja) bem como as Leis oriundas da

Igreja (Direito Canônico).

3. Lei Positiva: a lei feita pelos homens

Como, conclui São Tomaz de Aquino, a Lei Positiva nem

sempre é justa (afinal, o homem nem sempre é justo!);

assim, o homem deve seguir a Lei Natural que

Page 16: Historia do Direito

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necessariamente é justa. A Igreja Católica Apostólica

Romana, guardiã natural dos ensinamentos e interpretação

da vontade de Deus deve se sobrepor aos Estados-Feudos.

11.3. Consequências do “Mundo Medieval” para o

Direito

Com o crescimento do Direito Canônico, isto é, o

direito originário da Igreja Católica Apostólico, fez-se

oposição ao Direito Feudal, praticado pelos Senhores

Feudais dentro do limite de seus feudos (jurisdição).

Contudo, alguns fatores foram determinantes para a

ascensão e predomínio do Direito Canônico perante o

Direito Feudal:

• Se a Igreja Católica Apostólica Romana era a “palavra de

Deus” dever-se-ia abranger a todos as suas decisões;

afinal, o homem erra (leia-se, os Senhores Feudais), Deus

nunca (ou seja, a Igreja Católica)

• Monopólio da escrita pela Igreja: com isso, os senhores

feudais praticavam o direito consuetudinário – costumeiro

– e a Igreja “registrava” seus julgamentos através da

escrita.

• Sendo Deus justo e poderoso, não deixa nenhum justo e

honesto padecer nenhum tipo de injustiça. Assim, ao final,

Deus sempre Salva: com isso, acontece julgamentos sem o

menor critério de racionalidade, como por exemplo, “jogar

uma pessoa com uma pedra amarrada no pescoço em um

Page 17: Historia do Direito

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rio ou lago. Se essa pessoa fosse inocente, Deus, com todo

o seu poder e bondade – a salvaria”.

• O Tribunal da Santa Inquisição foi oficialmente aberto

em 1231 para julgar os “hereges”. Assim, a Santa

Inquisição Medieval persegue aqueles que não eram

católicos:

Bruxas

Judeus

Muçulmanos

• Geralmente, as provas eram obtidas através de torturas

(roda, “pêra”, afogamentos, quebra de ossos, gaiolas, etc).

Top dez: 10ª. Dama de Ferro ou Donzela de Ferro (rosto

da virgem Maria); 9ª. Esmagamento Pessoal (pedra,

elefante); 8ª. Empalamento; 7ª. Roda de Despedaçamento;

6ª. Serrote; 5ª. Ling Chi (morte por mil cortes); 4ª. Touro

de Bronze; 3ª. Crucifixão; 2ª. Berço de Judas (banco de

Judas ou cadeira de Juras – sentado na pirâmide); 1ª.

Enforcamento composto (puxado pelas ruas; arrancavam-

se as entranhas e colocavam fogo, arrancavam os olhos e

órgãos genitais; picavam e jogavam os pedaços no chão –

utilizado apenas em homem).

Após a confissão, dependendo do crime, a pena de morte

era instituída de acordo com o crime. Os nobres eram

decapitados (forma rápida e sem sofrimento), os menos

nobres eram mortos lenta e de forma a causar o máximo

sofrimento possível.

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A Igreja Católica, através do Direito Canônico

proibia, dentre outras coisas:

• Os judeus de possuírem terras (Domínio Econômico da

Igreja). Como consequência, os judeus foram

comercializar;

• A Usura (cobrança de juros em empréstimo de dinheiro)

Dessa forma, como os comerciantes judeus não eram

abrangidos pelo direito Canônico e nem pelo Direito

Feudal, afinal, habitavam os burgos (cidades) começaram

a “construir” um Direito Comercial próprio e autónomo:

o Com o comércio se solidificando cada vez mais

através das rotas comerciais para as Índias em busca de

especiarias (condimentos e tecidos) a necessidade de se

criar um sistema de proteção do dinheiro - o roubo das

"caravanas" era frequente - o sistema bancário e de títulos

de crédito também foi desenvolvido e aprimorado.

o Porém, com as dificuldades crescentes do

"caminho terrestre" impostos pelos mulçumanos que

venceram as Cruzadas, um novo caminho tinha que ser

desbravado pelos europeus para chegar às Índias. Assim,

inicia-se o "ciclo marítimo" das grandes navegações.

o Contudo, as grandes navegações eram caras e

exigiam uma nova modalidade de "financiamento" para

fomentá-las:

Assim, desenvolveu-se o direito das empresas (pessoas

jurídicas):

Empresas por cotas;

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19

Ltda. para limitar as dívidas em caso de

perdas;

S.A. para a Igreja e os judeus poderem

investir sem que se soubessem quem eram os sócios...

Dentre as várias características desse "novo" direito pode-

se destacar:

autonomia em relação a Igreja e aos

Feudos;

direito baseado na confiança (principal

característica dos títulos de crédito);

estipulado (criado) pelos comerciantes para

proteger seus interesses.

Essa separação entre o Direito Feudal (civil) e o

Direito Comercial influenciou o Direito Brasileiro, que

teve dois Códigos distintos: O Código Comercial (1850) e

o Código Civil (1916).

12. A Construção dos Estados Modernos (Absolutistas)

Crise do Antigo Sistema Feudal

- O Sistema Feudal e o domínio da Igreja Católica estava

em crise. A peste negra bem como a fragmentação da

Igreja Católica com o surgimento do Protestantismo e

Calvinismo quebraram o monopólio da Igreja Católica.

- Cada Igreja (Católicos, Protestantes e Calvinos)

postulava ser o detentor do Único Deus (Verdade-Una-

Universal). Essa afirmação é encontrada em várias

passagens da Bíblia:

Page 20: Historia do Direito

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"Não adore outros deuses; adore somente a mim": 10

Mandamentos (Êxodo, 20)

"o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR":

Deuteronômio 6:4.

"Eu sou o SENHOR e não há outro." Isaías 37:20 e

45:18, etc.

- Dessa forma, os povos tentavam impor a sua religião ao

outro, inclusive como medida de auto-salvação. A própria

Bíblia prega (dentre tantas outras passagens):

"Eu lhes darei poder para dominarem os povos daquelas

terras, e vocês irão avançando e os expulsando. Não façam

nenhum acordo com eles nem com os seus deuses. Não

deixem que esses povos vivam na terra de vocês. Se

deixarem, eles farão que vocês pequem contra mim. Se

vocês adorarem os deuses deles, isso será uma armadilha

mortal para vocês" (Êxodo, 23:27).

"Não se ajoelhe diante de ídolos nem os adore, pois eu, o

Eterno, sou o seu Deus e não tolero outros deuses. Eu

castigo aqueles que me odeiam e castigo também os seus

descendentes, até os netos e bisnetos" (Deuteronômio 4, 5)

"Temam o Eterno, o seu Deus, sirvam somente a ele e

jurem só pelo nome dele. Não adorem outros deuses, os

deuses dos povos vizinhos. Pois o Eterno, o nosso Deus,

está com vocês e ele não tolera outros deuses. Se vocês os

adorarem, o Eterno ficará irado com vocês e destruirá

vocês completamente". (Deuteronômio 6, 10)

- Deve-se observar que todas as Igrejas europeias

utilizavam a bíblia como suporte doutrinário e, portanto,

Page 21: Historia do Direito

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cada uma achava que o seu Deus era o único e verdadeiro

no qual para a salvação e benção, deveriam combater e

destruir a outra Igreja. Não havia outra saída senão uma

guerra entre as religiões.

- Assim, a guerra religiosa acabou instalando-se na

Europa: foi a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) Uma

das guerras mais violentas e sangrentas da história

europeia.

- Um novo Sistema deveria ser construído na Europa. A

ideia de Construção de Estados eclodia no pensamento do

homem ocidental como forma de combater o antigo

sistema.

13. Novos pensadores que defendiam o Estado Nação

(Absolutista)

Maquiavel (Niccolò Machiavelli 1469-1527)

- Principal obra: O Princípe, escrito em 1513 e publicado

em 1532.

- o governante visa a estabilidade interna e independência

externa; em sua obra, pela primeira vez, utiliza-se a

palavra Estado.

- ao monarca tudo é permitido (construção teorética do

absolutismo): "os meios justificam os fins": Real

Politicks. Por isso, é considerado como um dos criadores

da ciência política moderna;

- ceticismo humano quando a bondade natural;

- o governante deve ser amado e temido, mas se não puder

ser os dois ao mesmo tempo, deve preferir ser temido.

Page 22: Historia do Direito

22

- Questão: Maquiavel foi realmente maquiavélico? Será

que escreveu a sua obra para agradar - e ensinar - a

nobreza ou para alertar o povo das práticas dos (maus)

governantes.

Jean Bodin (1529- 1596)

- Como Bodin era Calvinista, combatia a Igreja Católica.

Desejava que a Igreja Católica perdesse o seu poder

político.

- Foi defensor do Estado Absolutista: o Rei deveria ter

todo o poder para poder governar. Afinal, o Rei era Rei

por vontade divina (teoria do "direito divino do rei"). Se

Deus escolheu o rei através da hereditariedade, é porque

assim queria. E não competia ao homem desobedecê-lo.

Hugo Grotius (1583- 1645)

- Principais obras: De Iure belli ac Pacis : O direito da

Guerra e da Paz, publicado em 1625 e Mare liberum: Os

Mares são livres (1606)

- Defende a ideia que os Estado deveriam ser Laicos, isto

é, não vinculados a nenhuma religião. Entende que

religião é uma coisa individual e pessoal, não sendo do

interesse do Governante-Estado.

- Defende a Soberania: os Estados deveriam ter autonomia

para se auto governarem.

- Postula a Igualdade Internacional dos Estados: na ordem

internacional, todos os Estados devem se respeitar

igualitariamente, mesmo que um Estado seja menor ou

tenha um exercito mais fraco, ou ainda que seja mais

desfavorecido econômicamente.

Page 23: Historia do Direito

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Thomas Hobbes (1586-1679)

- Principais obras: Leviatã (1651) e Do Cidadão (1651)

- Para Hobbes, todo Ser Humano, no estado natural, é

dominador e egoísta. Aliás, o Homem têm, para Hobbes,

três impulsos básicos: rivalidade, mútua desconfinaça e

paixão pela glória (O Homem é o lobo do homem: Homo

homini lupus).

- Dessa forma, uns sempre tentarão dominar os outros o

que leva a guerra (Bellum omnia omnes).

- Como o eterno estado de Guerra não é interessante para

o homem, porque produz muita destruição, os Homens

estabelecem entre si um acordo, ou contrato, no qual uns

respeitam o outro, impondo-se limites através de normas

(mínimas) de conduta: é a teoria do CONTRATO

SOCIAL.

- Pelo Contrato Social cada Homem cede um pouco da

liberdade pessoal para poder viver em uma sociedade.

- Contudo, necessitam de um soberano com poderes

absolutos e centralizado (Leviatã) para fazer valer o

contrato social com a punição rigorosa daqueles que não o

cumpram. Nesse tópico, Hobbes combate o poder da

Igreja e tenta fortalecer o Estado.

- Hobbes, portanto, defende Estados Absolutistas (Leviatã)

como forma de controle social e estabelecer a supremacia

do soberano em questões de fé e doutrina.

14. A Construção do Racionalismo

- Com a percepção que o mundo não era explicado (pelos

menos in totum) pela religião - leia-se dogmas e fé - e que

Page 24: Historia do Direito

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as Igrejas também erravam surgiram novas tentativas na

busca da verdade.

- Nesta concepção surge um dos maiores filósofos da

modernidade:

Descartes (1596 - 1650)

- Principal obra: O Discurso sobre o Método (Discours de

la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la

verité dans les sciences), publicado pela primeira vez na

França em 1637.

- É considerado um dos fundadores da filosofia moderna,

no qual fomentou a Revolução Científica.

- Cria um método científico para a busca da

verdade: ceticismo racionalista, que, segundo suas

próprias palavras seria “a ideia de um método universal

para encontrar a verdade.”

A ideia de Descartes consiste

na Autoridade da Razão, ao invés da Autoridade

Eclesiástica. Assim, devemos explicar as coisas pela razão

e não porque a Igreja (ou Deus) diz.

Como todo o pensamento anterior era

baseado na crendice religiosa, Descartes propõe a Dúvida

Universal: deve-se duvidar de tudo, e somente o que pode

ser comprovado é que deve ser aceito como verdadeiro

(traz uma ideia de ciência). Em suma capita, o seu método

para se chegar a uma verdade consiste em:

1- Obter a informação daquilo que se quer ter como

verdadeiro. Não aceitar a priori a verdade, ou seja, partir

do pressuposto que não é verdadeiro: cepticismo.

2 - Análise: dividir o assunto em tantas partes quanto

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possível e necessário. Assim, a verdade fica mais fácil de

ser obtida.

3 - Síntese: após a divisão dos assuntos, começar a provar

os mais fáceis e, a partir daí, elaborar as conclusões

progressivamente de forma abrangente e ordenada. Ou

seja, parte-se de objetos mais simples e fáceis até os mais

complexos e difíceis.

Dessa forma, Descartes desvenda como o

cérebro humano processa a sua inteligência:

1. A indução: consiste em captar

realidades mínimas

2. A dedução: agrupar observações e

inferir resultados

3. A enumeração: acompanhada da

revisão e reelaboração de conceitos

Para Descartes, tudo tem que ser provado:

não basta ser alegado. Ao elevar a ultima instância essa

sua linha de pensamento, ele chega a dúvida máxima do

seu método: se tudo tem que ser provado, como faço para

provar a própria existência (prova ontológica)?

A prova da própria existência se dá pelo

próprio raciocínio cético, afinal, se alguma coisa questiona

(existo ou não existo) é porque essa coisa existe! A frase é

famosa: Cogito ergo sum ou Penso, logo existo.

Finalizando: para Descartes, toda a ciência deveria ser

estruturada no seu método cético. Uma tese só pode ser

considerada como válida se for comprovada.

15. Estados Absolutistas

Page 26: Historia do Direito

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- Obviamente que o processo de formação dos Estados

(europeus) modernos não se deu do dia para a noite. Foi

um processo não só de transição política, mas também

cultural, religiosa, científica e também econômica.

- Na questão cultural e político, o Estado Nação, apesar de

se tornar cada vez mais laico, o Clero (Igreja) ainda fazia

parte do Poder. Quem garantia a sustentabilidade política

do governante (Rei) era o Clero com a teoria do Rei-

Divino. Deus escolhe uma pessoa para nascer na família

real e tornar-se rei.

- Porém, as ciências foram-se distanciando da Igreja:

Copérnico, Descartes, Newton & Cia produziram uma

verdadeira revolução do campo das ciências: o método

cético cartesiano é a base estrutural da nova ciência;

- Para finalizar o processo de "descrença" e conflito entre

ciência x Igreja, o naturalista Darwing publica a obra A

Origem das Espécies no qual afirma a teoria da evolução

das espécies - inclusive do Ser Humano - em completo

afronto com os preceitos criacionistas da Igreja (Deus fez

o homem a sua imagem e semelhança do barro em apenas

um dia, bem como a mulher da costela de Adão).

- No campo econômico o mundo europeu também sofria

enormes mudanças: o sistema feudal, no qual é estruturada

na agricultura quase de subsistência, transforma-se

gradualmente para o capitalismo, passando pelo

mercantilismo: comércio.

- Os Estados Nação (Absolutistas), no qual o Rei era

coroado pelo Papa, fortaleceu e incrementou os

sentimentos de patriotismo, cidadania; mas também

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fomentou os sentimentos de disputa entre países,

intolerância com o estrangeiro (o outro).

Um dos Principais Estados Nação do Período

Moderno foi a França:

o O período áureo do Absolutismo-

Capitalista(mercantilismo)-Frances ocorreu com o Rei

Luís XIV, o Rei Sol, que reinou de 1643 a 1715, no qual

dizem que proferiu a famosa frase: "L´État c´est moi", ou

seja, "O Estado sou eu"

o Luís XIV foi um político habilidoso: fortaleceu

a França com um exercito bem equipado; desenvolveu um

sistema tributário eficiente; fomentou o comércio e fez

grandes obras. Com isso, a França se tornou um dos países

mais ricos da Europa.

16. Crise do Absolutismo

- Contudo, nem todos os Reis foram iguais a Luís XIV: o

absolutismo, como já previra Maquiavel (cuidado com a

concentração de Poder!) criou duas classe que não

trabalhava mas que consumia: o Clero e a Nobreza.

A (nova) classe que detinha o poder econômico

sempre era aliada do poder político: a burguesia. O

descontentamento dos novos ricos burgueses (aqueles que

começaram a comercializar no regime feudal e acabaram

por se tornar a classe mais rica) tornou-se evidente.

O Estado Nação, por não produzir nada, juntamente

com o Clero, que também não produz nada, desestruturou

o antigo sistema tributário de Luís XIV, e cada vez mais

exigia impostos dos trabalhadores.

Page 28: Historia do Direito

28

Com o passar do tempo, sempre com a ideia de poder

tributar, o Estado começou a se tornar burocrático e com

excesso de normas para comercializar.

O descontentamento da classe burguesa, que

financiava todo o Estado, foi muito grande.

Inversamente, o Rei, sempre com o intuito de cobrir

os gastos do Estado, cobrava tributos desordenadamente.

Importante observar que a Inglaterra já tinha um controle

do Rei:

O Rei João, após perder suas terras no território

francês, começou a cobrar tributos de forma desordenada

da nobreza inglesa,

se não bastasse, começou a desapropriar as terras dos

nobres e quem não concordava com ele era preso.

com isso, em 1215, a nobreza se insurgiu

contra João-Sem-Terra e o obrigou a assinar a Carta

Magna, que ficou conhecida como a primeira constituição.

Por isso, muitas vezes, ao se referir ao texto

constitucional, utiliza-se a expressão Carta Magna.

A importância histórica da Carta Magna é enorme. É

considerado o primeiro documento (moderno) no qual o

Rei - João-Sem-Terra, se autolimitou.

17. Pensadores Iluministas

Início da Revolução Francesa e Independência das

Colônias

1. John Locke (1632-1704):

Principal Obra: Dois Tratados Sobre o Governo

(1689), no qual combatia o governo divino. Observar que

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John Locke era Calvino e com isso questionava os poderes

de Igreja Católica de "nomear os Reis".

para o filósofo inglês as pessoas nasciam sem saber

de nada, desvinculadas com qualquer estado pré-

nascimento (teoria da tábula rasa). Com os erros e acertos

(empirismo) as pessoas iam se associando uma nas outras,

por acordos mútuos (contrato social).

Para Locke a tolerância, bem como a liberdade e

igualdade, era um direito natural fundamental. Importante

observar que apesar de ser liberal, defendia a escravidão.

Defendia o Direito Natural de vida, propriedade e

liberdade. Qualquer governante que não respeitasse esses

direitos poderia ser deposto.

2. Montesquieu (1689-1755)

Nasceu na nobreza (barão). Combatia a monarquia

absolutista e as intervenções da Igreja no Estado.

Principais obras: L'Esprit des lois. O Espírito das leis

(1748) e contribuiu para a Enciclopédia.

Principal teórico da divisão do Poder Público em três

(teoria da tripartição dos Poderes): Poder Executivo (órgão

responsável pela administração do território e concentrado

nas mãos do monarca ou regente), Poder Legislativo

(órgão responsável pela elaboração das leis e representado

pelas câmaras de parlamentares) e Poder Judiciário (órgão

responsável pela fiscalização do cumprimento das leis e

exercido por juízes e magistrados).

Foi um dos principais teóricos dos Estados

Democráticos.

Page 30: Historia do Direito

30

Seus pensamentos influenciaram as Revoluções

Francesas, a Independência das 13 Colônias (EUA) e a

Constituição Brasileira de 1988.

3. Rousseau (1712-1778)

Principais obras: "O Contrato Social" (1762);

"Discurso sobre a origem da desigualdade" e o "Discurso

sobre a economia política", (ambos de 1755)

Para Rousseau o "O homem é bom por natureza. É a

sociedade que o corrompe."

Defende que "a única instituição que ainda se

constitui natural é a Família" e chega a combater a

propriedade: "O verdadeiro fundador da sociedade civil foi

o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de

dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente

simples para acreditá-lo.

Também defende a liberdade e igualdade.

4. Voltaire (1694-1778)

Proveniente da classe burguesa. Poeta, dramaturgo,

literato. Enfim, um pensador iluminista.

Fervoroso defensor das liberdades, principalmente de

opinião

Combatia a intolerância religiosa e política

As ideias de Voltaire contribuíram para a liberdade

de imprensa, bem como um sistema imparcial de justiça

criminal na França

Page 31: Historia do Direito

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Outras contribuições de Voltaire para o Estado

Frances: tributação proporcional e redução dos privilégios

da nobreza e do clero.

5. Beccaria (1738-1794)

Principal obra: Dos delitos e das penas (Dei Delitti e

Delle Pene, 1766).

Em seu livro Beccaria repudia os julgamentos

secretos, as torturas empregadas como meio de se obter a

prova do crime, a prática de confiscar bens do condenado.

Defende a igualdade perante a lei dos criminosos que

cometem o mesmo delito.

O seu livro é considerado como o berço do Direito

Penal Moderno.

18. O Início da Codificação Moderna: Civil Law

- A Revolução Francesa é considerada uma revolução

burguesa porque a monarquia fora deposta e a nova classe

- burguesia - toma o poder.

- O objetivo principal da nova classe é enriquecer. Para

isso, dever-se-ia criar o melhor sistema jurídico que

contribuísse para a acumulação de capital. O "novo

regime" deveria ser construído com a

PROPRIEDADE sendo o foco central do mundo jurídico.

- Um dos entraves comerciais do antigo regime na França

era justamente o excesso de normas jurídicas praticados no

território francês.

Page 32: Historia do Direito

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Antes da Revolução, havia na França mais de 366

ordenamentos jurídicos civis. Importante observar que não

era do interesse da nobreza regular as normas de

transmissão de propriedade, afinal, quando desejavam

alguma propriedade simplesmente expropriavam.

Assim, a França dividia-se em:

o No Norte prevalecia o Direito costumeiro, mais

próximo do sistema germânico;

o ao Sul, o Direito derivado do Direito romano e

do Direito canônico.

Percebendo a insegurança jurídica causado do

excesso - e muitas vezes contraditórias - de normas civis

(o iluminista Voltaire criticava o Estado Frances,

afirmando que, ao se cruzar a França, ele trocava mais

vezes de leis que de cavalos...) Napoleão constitui uma

junta de juristas para elaborar um Código Civil, nos

anseios da burguesia.

- Assim, em 21 de março de 1804, Napoleão promulga

o Code Civil.

na visão de Napoleão o Código Civil, por ser uma

obra endereçada aos burgueses, deveria conter todos os

"passos" da vida de um burguês

- Para Napoleão, o Código deveria prever: sobre a

força da lei; o surgimento da pessoa; dos bens e como

serem apropriados pelas pessoas; e como se adquirir a

propriedade. Dessa forma, descrevia a trajetória da vida

comum de um burguês comum.

Page 33: Historia do Direito

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Os cinco grandes princípios jurídicos que presidiram

sua redação foram:

1- unicidade ao direito - aplica-se em todo o território

francês apenas um direito, não havendo mais o excesso de

legislação civil;

2- monopólio e unidade da fonte jurídica - somente o

Estado tem competência de elaborar as leis e os decretos:

Poder Legislativo;

3- caráter universal do direito - todos os litígios são

abrangido por um só direito (Código Civil);

4- evolução do direito - O Poder Legislativo deve

sempre acompanhar e adaptar-se às modificações sociais.

O Código Civil francês teve enorme influência no mundo

jurídico ocidental. É considerado o "berço" do Sistema

Civil Law tal como o conhecemos. O Código Civil

Brasileiro de 1916 é quase uma cópia fiel traduzida do

Código Francês.

19. História do Direito no Brasil

- como já visto, a "cultura" brasileira atual é originaria da

Europa e dos EUA - que também é originária da Europa! -

: falamos uma língua europeia (português, vindo do latim);

vestimos roupas europeias; temos os hábitos europeus;

festejamos as datas europeias (réveillon, natal, carnaval,

etc) e, obviamente, temos um Direito fortemente

influenciado pelo direito Europeu.

- Assim, a história do direito brasileiro (jus filosófica) é

basicamente uma linha paralela em relação à europeia.

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- Vejamos:

Os portugueses chegaram oficialmente no Brasil em

1500. Até então pouco se sabe sobre os sistemas jurídicos

dos "índios": imagina-se que tinham uma sociedade não

complexa, com a solução dos litígios feita pelos caciques e

chefes tribais, tais como acontecia nos povos sem escrita.

Após a tomada do território brasileiro, Portugal

impôs aqui o seu ordenamento jurídico:

1. vigorava em Portugal no ano de 1500 as Ordenações

Afonsinas:

- Trabalho de compilação das principais normas jurídicas,

feitas no reinado de D. Afonso em 1446

- As Ordenações Afonsinas encontram-se divididas em

cinco livros:

- No livro I narra a história da compilação;

- No Livro II os bens e privilégios da igreja, dos direitos

régios e sua cobrança, da jurisdição dos donatários, das

prerrogativas da nobreza e legislação "especial" para

judeus e mouros;

- No livro III discorre sobre a justiça (processo civil);

- O livro IV trata do direito civil

- O livro V versa sobre direito penal (observar o crime dos

hereges)

2. Ordenações Manuelinas;

- Promulgado em 1521 por D. Manuel I

- É praticamente uma atualização das Ordenações

Afonsinas, sendo o texto mais conciso.

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- Também é divido em 4 livros

3. Ordenações Filipinas

- Entraram em vigor definitivamente no reinado de Filipe

II, em 1603

- Por causa das guerras napoleônicas, a família Real de

Portugal mudou-se para o Brasil em 1808, transferindo a

sede do Poder - Corte - para a Colônia. A família real

permaneceu por aqui até 1821.

- Em 7 de Setembro de 1822 o príncipe regente que ficara

no Brasil D. Pedro promulga a Independência do Brasil.

- No dia 11 de Agosto de 1827 são inauguradas as

primeiras faculdades de direito no Brasil em São Paulo e

em Olinda. Hoje, comemora-se nesta data o "dia do

pendura".

- Em 1824 é promulgada a primeira Constituição: previsão

do Poder Moderador.

- Em 1916 é promulgado o Código Civil que teve vigência

até 2002.

- Principais juristas da época:

Augusto TEIXEIRA DE FREITAS (1816-1883)

o Autor do 1º projeto de Código Civil. Acabou

influenciando o Código Civil argentino;

o obra: consolidação das leis civis (1855)

o morreu antes de terminar o Código Civil.

o

CLÓVIS BEVILÁQUA (1859-1944)

o Autor intelectual do Código Civil de 1916.

o concluiu o projeto em 6 meses

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o publicou a obra: Código Civil dos Estados

Unidos do Brasil em 6 vol.

o foi um dos fundadores da Academia Brasileira

de Letras

o

RUI BARBOSA

o Conferencista de Haia, 1907.

o considerado o maior advogado que o Brasil já

teve

20. AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS:

- 1824: Monarquia. 4º Poder: Moderador

- 1891: Federalismo. Estado laico

- 1934: Era Vargas. Apesar de ser uma Constituição

liberal, houve uma proteção trabalhista; jornada de

trabalho de 8 hs e proibição do trabalho infantil;

- 1937 : Centralização do Poder no Executivo: Presidente

indicava os governadores e interferia no Judiciário.

- 1946: Retorno das liberdades políticas e civis de 1934.

Previsão da Função Social da propriedade (desapropriação

e indenização)

- 1967: Golpe ou Revolução? Com o discurso da

Segurança Nacional para se evitar a "tomada do poder

pelos comunistas" os Militares promulgaram o AI5

modificando a Constituição de 1946. Previsão de eleições

indireta para presidente.

- 1988: Redemocratização do Brasil. Baseado na

Constituição Portuguesa de 1976 (JJ Gomes Canotilho)

que prevê normas programáticas. Defende os direitos

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individuais, sociais e coletivos. Proteção ao idoso, família,

meio ambiente, índio, etc.