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HISTORIA DO RN F a s c í c u l o 1 - O A l v o r e c e r Antes dos Europeus As Origens do Homem Americano O Homem, quando chegou ao continente americano, já havia passado por uma longa evolução, desde o aparecimento do Homo Erectus, que viveu há 1,7 milhão de anos até 200 mil anos atrás. Pertencia ao grupo do Homo Sapiens. Não há, até o presente momento, unanimidade sobre a origem dos primeiros povos que colonizaram a América, mostrando ser assim um problema complexo. Diversas teorias abordam a questão, sendo a mais aceita aquela que defende terem os primeiros homens vindos da Ásia, através do Estreito de Bering, atingindo a América do Norte durante a última Era Glacial. Um grande volume de águas retidas nas geleiras provocou o abaixamento do nível das águas do mar, fazendo surgir uma ligação terrestre entre a Ásia e América. Segundo a pesquisadora Betty J. Meggers, "a mais antiga ponte terrestre existiu entre cerca de 50.000 e 40.000 anos atrás e foi usada por várias espécies de mamíferos do Velho Mundo (...) Após um intervalo de submergência que durou uns 12.000 anos, a ponte reapareceu entre cerca de 28.000 e 10.000 anos atrás". Nesse período, contudo, uma camada de gelo surgiu como obstáculo à passagem humana durante alguns milhares de anos. Acontece que, como esclareceu Meggers, "no decorrer de alguns milênios, antes que os segmentos de Leste e Oeste se fundissem e um corredor se abrisse novamente a ponte terrestre foi transitável." Permitindo, assim, a caminhada humana. Foi aproveitando essa oportunidade que os asiáticos teriam penetrado no continente americano.

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Para Ensino Médio - A Europa, no final do século XV, se encontrava presa em seus limites, sentindo a necessidade de se expandir. O comércio das especiais, monopolizado pelas cidades italianas e desenvolvidas do Mediterrâneo, prejudicava o restante dos países do continente. A razão era muito simples: os produtos eram vendidos por um preço muito alto.

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HISTORIA DO RN

HISTORIA DO RN

F a s c c u l o 1 - O A l v o r e c e rAntes dos Europeus As Origens do Homem AmericanoO Homem, quando chegou ao continente americano, j havia passado por uma longa evoluo, desde o aparecimento do Homo Erectus, que viveu h 1,7 milho de anos at 200 mil anos atrs. Pertencia ao grupo do Homo Sapiens. No h, at o presente momento, unanimidade sobre a origem dos primeiros povos que colonizaram a Amrica, mostrando ser assim um problema complexo. Diversas teorias abordam a questo, sendo a mais aceita aquela que defende terem os primeiros homens vindos da sia, atravs do Estreito de Bering, atingindo a Amrica do Norte durante a ltima Era Glacial. Um grande volume de guas retidas nas geleiras provocou o abaixamento do nvel das guas do mar, fazendo surgir uma ligao terrestre entre a sia e Amrica. Segundo a pesquisadora Betty J. Meggers, "a mais antiga ponte terrestre existiu entre cerca de 50.000 e 40.000 anos atrs e foi usada por vrias espcies de mamferos do Velho Mundo (...) Aps um intervalo de submergncia que durou uns 12.000 anos, a ponte reapareceu entre cerca de 28.000 e 10.000 anos atrs". Nesse perodo, contudo, uma camada de gelo surgiu como obstculo passagem humana durante alguns milhares de anos. Acontece que, como esclareceu Meggers, "no decorrer de alguns milnios, antes que os segmentos de Leste e Oeste se fundissem e um corredor se abrisse novamente a ponte terrestre foi transitvel." Permitindo, assim, a caminhada humana. Foi aproveitando essa oportunidade que os asiticos teriam penetrado no continente americano.Existem provas de carter antropolgico, etnogrfico e lingstico a favor da teoria asitica, mas Paul Rivet acreditou que essa no foi a nica via de acesso do homem ao continente americano. Essas provas se restringiram a uma regio, a parte setentrional da Amrica do Norte, segundo Rivet. justamente por essa razo que ele defende uma origem mltipla: os australianos teriam invadido a regio mais meridional da Amrica do Sul. Para Rivet, portanto, uma das influncias tnicas que podem destacar-se na Amrica de origem australiana. Sua ao, por discreta e limitada que tenha sido, loga impor-se pela antropologia, pela lingstica e pela etnografia". Acredita ainda esse cientista que uma parte da Amrica foi povoada pelos polinsios, apresentado provas lingsticas, culturais e tradicionais.Paul Rivet de opinio que o Atlntico funcionou como uma barreira intransponvel para que o homem chegasse at ao continente americano e que, "ao contrrio, o litoral do ocidente da Amrica foi permevel a migraes mltiplas, em toda a sua extenso. O Pacfico no se tornou de forma alguma um obstculo. Foi, sim, um trao de unio entre o mundo asitico, a Oceania e o Novo Mundo".A teoria da origem mltipla de Raul Rivet foi defendida por alguns, porm combatida pelos seus adversrios. A verdade que, apesar do avano nessa discusso, a questo ainda no foi totalmente solucionada.A controvrsia no atinge apenas a via de acesso, mas igualmente a poca em que os primeiros colonos povoaram a Amrica. Para Betty Meggers, "as discordncias surgem das informaes espordicas inconclusivas, da presena do homem do Novo Mundo entre 40.000 e 12.000 anos passados, datao que alguns autoridades aceitam e outras no."O certo que o "homem entrou no Novo Mundo enquanto estava ainda subsistindo base de plantas e animais selvagens", nas palavras da mesma autora. Esse homem, ao migrar para outras regies, caminhou a p. Teria ocorrido, desse modo, vrias migraes.As primeiras comunidades agrcolas surgiram no Mxico, na Amrica Central, Equador e Bolvia. Viviam em pequenos bandos. Eram caadores e coletores. medida em que avanavam para o sul, segundo os que acreditam na origem nica, asitica, as comunidades foram passando por mudanas, com o objetivo de se adaptarem ao novo ambiente. Essas adaptaes foram importantes para o desenvolvimento dos diversos grupos.A agricultura promoveu uma verdadeira revoluo. Posteriormente, surgiram grandes civilizaes: Astecas, Maias e Incas.Migrao para as terras BrasileirasCom relao presena dos primeiros homens no Brasil, existe tambm uma grande controvrsia. A ocupao de terras brasileiras pelo homem ocorreu entre 9.000 e 11.300 anos, segundo alguns pesquisadores. Outros defendem uma data bem mais remota. Aos poucos que o quadra vai se delineando. Constataram-se, pelo menos, duas reas de influncia - a Bacia Amaznica e outra compreendendo o Planalto Central do Brasil - que foram ocupadas atravs de vagas sucessivas, at chegar ao Rio Grande do Norte" por um processo de migrao que permitiu culturas estabelecidas em determinadas reas fossem substitudas por outras, no decorrer de milnios e at sculos", de acordo com Tarcsio Medeiros.Em sntese, o homem primitivo teria seguido o seguinte roteiro: Andes, Planalto do Brasil, Nordeste e, finalmente, o Rio Grande do Norte.O centro de disperso dos tupis, segundo o mesmo autor, aconteceu no "istmo do Panam. Desse ponto, um ramo alcanou a foz do Amazonas; do outro rumou para o Nordeste brasileiro; e um terceiro desceu o Tapajs, o Madeira e iniciou uma migrao pelo Xingu acima".Os Primitivos habitantes do RNO Rio Grande do Norte foi habitado pelos animais da megafuna na era Cenozica e, dos estudos realizados sobre o assunto, possvel chegar a duas concluses, como disse Tarcsio Medeiros:"a) A extino dos grandes mamferos processou-se mais recentemente do que se supe em partes dessa regio.""b) Que a presena do homem, em comum com esses animais da megafauna no mesmo territrio, mais antiga do que se considera habitualmente".Exemplo dessa presena humana no Nordeste: Ch do Caboclo (Pernambuco).Os primitivos habitantes eram formados pelos grupos de caadores e coletores. Os homens contemporneos da megafauna deixaram vestgios que se encontram nos stios Angicos e Mutamba II. Diversos estudos arqueolgicos foram feitos pelo Museu Cmara Cascudo, tendo frente o pesquisador A. F. G. Laroche que, com suas investigaes, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, forneceu importantes subsdios para a pr-histria nordestina. Nssaro Souza Nasser e Elizabeth Mafra Cabral analisaram as inscries rupestres do Estado, publicando posteriormente um estudo sobre o assunto. A arqueloga Gabriela Martn, da Universidade Federal de Pernambuco, pesquisou intensamente as inscries rupestres do Rio Grande do Norte, resultando em estudos como o intitulado "Amor, Violncia e Solidariedade no Testemunho da Arte Rupestre Brasileira". Participou tambm do "Projeto Vila Flor", financiado pelo SPAN/Pr-Memria, cujo objetivo era o "estudo arqueolgico e levantamento da documentao histrica da Antiga Misso Carmelita de Gramaci". A mesma pesquisadora recentemente publicou um livro sobre a pr-histria do Nordeste.Na fase Megaltica, os homens se tornaram sedentrios. O pesquisador Nssaro Nasser descobriu as "Tradies Cermicas", chamadas de Papeba e Curimata. O professor Laroche, por sua vez, encontrou vestgios de diversas culturas pr-histricas, sendo a mais antiga do stio "Mangueira", em Macaba.O professor Paulo Tadeu de Souza Albuquerque, coordenador do Laboratrio de Arqueologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Larq/UFRN), realizou uma srie de pesquisas, trazendo novas luzes sobre o longnquo passado potiguar. Participou de escavaes realizadas na Fortaleza dos Reis Magos e na antiga catedral, onde encontrou o tmulo de Andr de Albuquerque Maranho.Alberto Pinheiro de Medeiros, coordenando investigaes de alunos da UFRN, enveredou por outras vertente sobre o tema pesquisado, chegando a sistematizar uma alternativa - descrita no item sobre as inscries rupestres, mostrado a seguir que poderia ser acrescida s concluses j apresentadas sobre os primeiros habitantes do Rio Grande do Norte.Os Significados das Inscries RupestresOs primeiros habitantes do Rio Grande do Norte deixaram nas rochas e nas paredes das cavernas sinais incisos ou pintados. Em alguns stios, existem apenas inscries rupestres incisas (Fazenda Umburana, regio do Abernal, municpio de Serra Negra-RN) e em outros locais encontram-se, no mesmo painel, inscries incisas e pinturas (Fazenda Soledade, Apodi-RN).Na atualidade praticamente impossvel saber quais foram os autores de tais legados. Mesmo assim, diante desse contexto, ainda se pode tirar algumas concluses. Em primeiro lugar, provvel que tenham ocorrido dois estgios culturais. O mais primitivo estaria representado, pelos desenhos incisos. O outro estgio, mais desenvolvido, estaria caracterizado pelas pinturas que requeriam uma tcnica mais complexa a elaborao de tintas. Para comprovar tal afirmao suficiente apontar como exemplo o stio que existe na Fazenda Flores, no municpio de Apodi-RN), onde os traos incisos eram feitos no cho e numa rocha, larga na base e que vai se estreitando medida que sobe. Na rocha tambm h pinturas representando pares de mos. Outro detalhe: os incisos esto quase apagados e grosseiramente desenhados. As mos pintadas, porm, so muito bem feitas e apresentam grande nitidez Esse stio poderia ser o testemunho de uma evoluo cultural.Outra questo que se discute - e esta universal - seria o significado, ou seja, o que representariam ser de fato as inscries rupestres: arte, escrita ou smbolos religiosos.Existe, em princpio, uma dificuldade: como interpretar o pensamento do homem primitivo pelas pessoas que vivem no sculo XX? possvel ao homem contemporneo penetrar na mentalidade de um ser nascidos sculos e sculos atrs? Por essa razo torna-se necessrio fazer um esforo para recuar no tempo e se despir da cultura na qual o pesquisador nasceu e vive. Seria isso possvel?Esse um problema de difcil soluo, que exige muita competncia e humildade por parte do pesquisador. Uma sada, provavelmente, pesquisar os caracteres daqueles povos que tiveram sua escrita decifrada. Estudar, por exemplo, os Astecas (Mxico) que possuam uma escrita "pintada" e uma fontica. A escrita estava ligada aos sacerdotes, como na Sumria. O significado, no dizer de Crdova Ituburu, era determinado pela deformao de certas partes e das cores. Os sacerdotes daquele povo lidavam com caracteres simblicos secretos. O contedo religioso de determinados smbolos no invadia a tese da escrita Richard E. Leakey estava certo quando disse que "as amostras de ocre que parecem em diversos stios da Europa de 200 mil anos ou mais de idade, certamente, sugerem ornamentao ritual das pessoas e dos artefatos. Ritual e simbolismo aludem francamente competncia lingstica".Tudo leva a crer que as inscries rupestres que existem no Rio Grande do Norte constituem de fato uma escrita. Diferente, naturalmente, de que se usa na atualidade. Mas com certeza era um instrumento de comunicao. Os autores das inscries possivelmente desenhavam ou pintavam para transmitir uma mensagem. O seu significado se perdeu no tempo, mas no pode ser considerado arte, porque tais caracteres no eram produzidos para deleite espiritual, nem para expressar o belo. A razo disso muito simples: o homem primitivo, pelas dificuldades que enfrentava para sobreviver, era prtico e rude. Quando sentia fome procurava resolver de imediato o seu problema. No tinha condies de praticar uma atividade voltada para o embevecimento espiritual. Havia sim, grande necessidade de se comunicar.A reproduo de um objeto atravs de um desenho uma tentativa de fazer referncia a algo que impressiona, de mostrar a outro ou a uma comunidade o valor daquele objeto. Traos em formas de barras ou ento crculos ou pontos podem significar elementos de contagem. Mas na mente do homem primitivo poderiam tambm ter outra significao qualquer. Uma concluso pode ser considerada como certa: eles desenhavam ou pintavam para transmitir uma mensagem. E naqueles tempos difceis para a humanidade, a comunicao, certamente, era fundamental para a sobrevivncia de um grupo, de todo o gnero humano...Etnias Mais Recentes e reas OcupadasO litoral norte-rio-grandense, na poca da descoberta do Brasil, era habitado pelos tupis, originrios do Paraguai e do Paran. Falavam o abanheenga que, segundo Varnhagen, era uma lngua aglutinativa, porm, com reflexes verbais. Receberam o nome local de potiguares.Tarcsio Medeiros descreve o tipo fsico dos potiguares: "tinham o porte mediano, acima de 1,65 cm, reforados e bem feitos no fsico, olhos pequenos, negros, encavados e erguidos, amendoados (...), eram mais ou menos baos, claros. Pintavam o corpo com desenhos coloridos (...), furavam os beios".Os tapuias, que moravam no interior, foram descritos da seguinte maneira, por Olavo de Medeiros Filho: "as mulheres eram, indistintamente, pequenas e mais baixas de estatura que os homens. Possuam a mesma cor atrigueirada, sendo muito bonitas de cara, obedecendo cegamente aos maridos em tudo que fosse razovel".E, mais adiante, acrescenta: "os tapuias andavam inteiramente nus. No usavam barbas e depilavam sistematicamente todos os plos surgidos no corpo, inclusive as sobrancelhas (...) Os tapuais pintavam hediondamente o corpo com tinta extrada do fruto de jenipapo, a fim de adquirirem um aspecto terrvel nos combates".Tarcsio Medeiros apresenta a seguinte classificao da populao nativa, formada por diversas naes, na poca da descoberta do Brasil:Litoral: potiguares.Serdo: arius, cariris, panatis, curemas, pebas e caicsChapada do Apodi: paiacus, cariris, pajus, pegos, moxois e caninds.Zona Serrana: pacajus, panatis, ics e parins.Os EuropeusExpanso Europia Pela Via MartimaA Europa, no final do sculo XV, se encontrava presa em seus limites, sentindo a necessidade de se expandir. O comrcio das especiais, monopolizado pelas cidades italianas e desenvolvidas do Mediterrneo, prejudicava o restante dos pases do continente. A razo era muito simples: os produtos eram vendidos por um preo muito alto. A necessidade de quebrar esse monoplio passou a ser uma questo de sobrevivncia para uma economia monetria, como narrou Rolando Mausmier: "o numerrio totalmente insuficiente para as monarquias e para um comrcio em plena expanso". Era preciso, com urgncia , encontrar ouro. Como diversas lendas colocassem grandes tesouros na frica e na sia, os europeus sonhavam em se apossar dessas fortunas. Era preciso, tambm, acabar com os intermedirios, e o pas que realizasse tal feito obteria lucros fabulosos.Alm da necessidade de conseguir ouro, a Europa se encontrava apertada entre o mar e seus inimigos. Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos, o caminho para o oriente se fechava para os europeus. A situao ficava crtica. Havia uma soluo apenas: atingir o Oriente pela via martima/Portugal, por sua posio geogrfica, se lanou ao mar mais cedo. Adquirindo experincia nessas viagens, saa na frente em busca de um caminho martimo para o Oriente. Seria a salvao do imprio lusitano. Havia outro motivo: as condies eram precrias para as atividades agrcolas em Portugal, razo pela qual a sua populao tinha que tirar o alimento do mar. Pescando, os lusitanos foram se afastando do litoral, atingindo a Terra Nova, rica em bacalhau, salmo etc. Aos poucos, e como conseqncia dessas empreitadas, os portugueses foram aperfeioando os seus navios. No sculo XV, as galeotas e as gals de dois mastros haviam sido ultrapassadas, surgindo as barcas, barins e as caravelas, que se imortalizaram durante as grandes descobertas.A expanso martima, organizada de maneira sistemtica pelos lusos, comeou com a conquista de Ceuta, em 1415. Toda viagem atravs do Oceano Atlntico, naquela poca, era uma perigosa aventura, porque ningum garantia o retorno. Aps a conquista da Ceuta, os navegantes passaram a receber estmulos, sobretudo do infante D. Henrique que, por essa razo, foi chamado de "O Navegador". Acontece que a vida desse personagem foi envolvida por uma srie de lendas. Como resultado, a sua personalidade foi exaltada, at ao exagero, por alguns historiadores, quer portugueses, quer brasileiros.Pedro Calmon um deles: "deu-se perdidamente s cincias, casto e austero (...) de fulguraes de lenda, leitor insacivel, colecionador de tudo o que se escrevera sobre cosmografia e navegao, transferiu para Vila de Tera Naval, junto de Sagres e do Cabo de So Vicente, o squito de matemticos judeus, cartgrafos catales, pilotos de vrias origens, e outros que para isto educava e com eles criou um seminrio de estudos nuticos chamando-lhe, sem rigor verbal, Escola de Sagres. Foi na verdade uma escola, mas de obstinado trabalho, em que era aluno e mestre aquele prncipe letrado".Tudo porm no passa de uma lenda. O infante D. Henrique no possua um vasto sobre a Escola de Sagres jamais existiu, seja qual for o sentido que se queira dar a ela. Nem como uma escola no significado clssico da palavra, nem como um grupo de especialistas que discutissem problemas nuticos. Os avanos tcnicos ocorridos com os navios portugueses foram conseqncia da experincia adquirida atravs de suas inmeras viagens pelo Atlntico, o que, certamente, no diminuiu o mrito daqueles viajantes e das conquistas feitas pelo imprio lusitano. preciso tambm deixar bem clara a causa principal da expanso martima de Portugal. Para justificar sua expanso, os portugueses alegaram a defesa do cristianismo. Tinham como divisa "A propaganda da Igreja de Cristo e a converso dos infiis", dando a impresso de que se tratava de uma nova cruzada. Acontece que o objetivo era real outro bem diferente: a busca desesperada pelo ouro.A conquista da Ceuta demonstrou tal fato. O escritor Georg Friederici narrou com muito realismo o ataque portugus contra Ceuta: "entregaram-se, de sbito, a tremenda chacina, no respeitando a idade, nem sexo, no poupando mulheres nem crianas. Seguiram o saque e a devastao vandlica: os assaltantes devassavam, remexiam e escavavam. Depredavam os magnficos prdios preciosos e jias. Os lusitanos semi-brbaros arrebentavam as jias das mulheres e das moas, arrancado-lhes e cortando-lhes as orelhas e os dedos".A finalidade da expanso europia era, to somente, a busca de riquezas. E mais: durante o processo de colonizao no continente americano, portugueses, espanhis, franceses, holandeses e ingleses se igualaram no vandalismo. Contrariando, assim, os princpios cristos que diziam defender... A evangelizao dos gentios se resumia apenas ao trabalho dos missionrios. Os colonos, contudo, procuravam explorar os nativos, realizando s vezes, verdadeiros massacres.Frei Bartolomeu de Las Casas, considerado o "Apstolo dos ndios", denunciou as crueldades dos espanhis durante a conquista: "faziam apostas sobre quem, de um s golpe de espada, fenderia um homem pela metade, ou quem, mas habilmente e mais destramente, de um s golpe lhe cortaria a cabea, ou ainda sobre quem abriria melhor as entranhas de um s golpe".Cristvo Colombo Descobre a AmricaAntes da unificao da Espanha, o Reino de Arago, desde o sculo XII, estava voltado para o Mediterrneo: "Mesmo aps a criao do Estado Nacional, a coroa espanhola seguiu dupla orientao: europia e mediterrnea, segundo interesses aragoneses, americana e atlntica, atendendo s aspiraes castelhanas", como registra o livro "Histria das Sociedades - das sociedades modernas s sociedades atuais", de Rubim Santos de Aquino e outros autores. Mais tarde, quando se criou o Estado Nacional, com a expulso dos muulmanos, a Espanha no se preocupou em navegar pelo Ocidente para atingir o Oriente.Essa poltica tinha uma srie resistncia. O seu grande defensor era um estrangeiro, filho de Gnova, chamado Cristvo Colombo. E a viagem s se efetivou graas ao apoio de dois grupos poderosos: o catlico, liderado por Lus de Santangel. Colombo, na realidade, no pensava em descobrir um continente e no entanto foi o que aconteceu. A partir desse momento (1492), a Espanha teve que valorizar uma poltica Atlntica, principalmente aps as descobertas de minas de prata e de ouro no continente americano.As conseqncias do descobrimento ultrapassaram os limites das fronteiras do imprio hispnico e se tornaram universais: "a Europa tambm se transforma graas, sobretudo, ao ouro e prata, vindos do novo continente. A explorao das colnias, na Amrica, promove a formao de grandes riquezas, cujo capital foi aplicado na indstria. Surge, assim, o regime capitalista", como comentou Alberto Pinheiro de Medeiros, no trabalho "A descoberta da Amrica e as Mudanas", publicado no seminrio "Dois Pontos", em outubro de 1992.Ambies Ibricas e a Descoberta do BrasilAs ambies expansionistas da Espanha e Portugal entravam em conflito. Portugal consegue, com D. Joo (1418) do Papa Martinho V. a bula Sane Charissimus. Seguem outras bulas: Eti Suscepti (1442), Romanus Pontifex (1454), Inter Coetera (1456).Aps a descoberta da Amrica por Cristvo Colombo, a Espanha entra na briga, procurando obter benefcios da Igreja, graas ao prestgio que desfrutava na Cria Romana. As bulas iam saindo, refletindo a maior ou menor influncia de uma das duas potncias ibricas, em dado momento provocando, inclusive, o protesto do telogo Francisco Vitria.Finalmente, Espanha e Portugal chegaram a um acordo. Com o Tratado de Tordesilhas (7 de junho de 1494), o mundo ficaria dividido entre as duas potncias ibricas.Descoberto o caminho martimo para as ndias por Vasco da Gama, D. Manuel prepara uma grande esquadra que parte rumo ao Oriente. O comando da armada entregue Pedro lvares Cabral, alcaidemor de Asurara que, segundo Pedro Calmon, "pertencia melhor gente da beija, cujo grande feito foi, justamente, a descoberta do Brasil".Como diz ainda o mesmo autor, a armada "ia defrontar o ignoto, nas paragens do ndico: a paz ou a guerra. Devia ser forte. Foi preparada com magnificncia: no mais para descobrir \, como a de Vasco da Gama, mas para aliciar ou intimidar o "samorin" de Calecute, nos Estados opulentos".Participavam da armada nomes ilustres: Nicolau Coelho, Sancho de Tovar, Pro Escobar, Pedro de Atade, Vasco de Atade, o bacharel mestre Joo etc.No dia 9 de maro de 1500, aps missa solene no dia anterior, Cabral e seus companheiros iniciavam a viagem. Roteiro: ilhas Canrias, So Nicolau. No dia 23, a nau de Vasco de Atade desapareceu. No ms seguinte, no dia 22, os expedicionrios avistam um monte que recebeu o nome de Monte Pascoal.Nicolau Coelho manteve os primeiros contatos com os nativos. Fotam celebradas duas missas, ambas por Henrique Coimbra. A primeira, num domingo, dia 26 de abril de 1500, e a segunda, no dia 1 de maio.No dia seguinte, a esquadra partia rumo ao Oriente. Estava, oficialmente, descoberto o Brasil. O acontecimento foi narrado de maneira brilhante na carta de Pero Vaz de Caminha.A Carta de Pero Vaz de CaminhaA carta de Pero Vaz de Caminha narrando a descoberta do Brasil, j muito estudada, foi reproduzida na ntegra em alguns livros de Histria do Brasil. A quase totalidade desses estudos se caracteriza pela erudio. A Dominus lanou uma edio pioneira para o grande pblico, sem se perder em vulgaridade, contando com uma introduo que um pequeno estudo sobre aquele documento, escrito por Leonardo Arajo.A carta foi redigida por uma testemunha ocular do fato, mais do que isso, um eminente humanista. No apenas um relatrio narrando as peripcias dos navegantes lusitanos numa viagem martima. Fornece subsdios para uma melhor compreenso daquele acontecimento.A descrio, pela primeira vez, da terra descoberta , talvez, a parte do texto mais conhecida: "as saber, primeiramente, de um grande monte, muito alto e redondo: e de outras serras mais ao sul dele, e de terra ch, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capito ps o nome de o Monte Pascoal e terra a Terra de Vera Cruz!Grande observador, descreve os homens da terra com riqueza de detalhes: "A feio deles serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem coberta alguma (...) Ambos traziam o beio de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mo, e da grossura de um fuso de algodo, agudo na ponta como furador (...). Os cabelos so corredios".Narra tambm o contato de homens que possuam culturas diferentes e que nativos e portugueses procuravam se entender atravs de festos, na falta de conhecimento do idioma do interlocutor. Surgindo, naturalmente, alguns desentendidos: "acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do capito (que era de ouro) como se dariam por aquilo"."Isto tomvamos ns nesse sentido, por assim o desejamos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto no queramos ns entender, porque lhe havamos de dar!" E mais adiante: "Ali por no houve fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles ser tamanha que se no entenderia nem ouvia ningum". Lana, portanto, a culpa do no entendimento na barbaria em que se encontravam os nativos. Essa observao no passam de uma prova a mais do etnocentrismo europeu. Os brancos eram os "civilizados", os seres superiores; e os donos da terra, ao contrrio, pobres coitados ...Mas no se pode dizer que o referido documento seja a primeira pgina da Histria do Brasil por uma razo muito simples: a Histria do Brasil comea quando chegaram nesta terra os primeiros homens, numa poca bem anterior vinda dos europeus.A carta de Pero Vaz de Caminha , no entanto, um relato longo, minucioso, com dados importantes, fornecendo subsdios no somente para a Histria do Brasil, mas ao mesmo tempo para outras cincias, como, por exemplo, a antropologia.Com ela se encerra a fase pr-histrica do Pas, comeando um novo perodo: o da histria escrita, entrando a terra descoberta para o clube do mundo dos "civilizados" ... E os portugueses, certamente, no estavam sozinhos. Portugal teria que enfrentar uma grande concorrncia e teve que lutar muito para ficar de posse definitiva do Brasil.Tese Ousada: Cabral no Litoral PotiguarLenine Pinto, pesquisador norte-rio-grandense, afirma que a expedio de Pedro lvares Cabral, que descobriu o Brasil, ao contrrio do que se tem dito at hoje, teria pela primeira vez atingido o Brasil provavelmente na praia de Touros, em abril de 1500.Klcius Henrique, reprter da TRIBUNA DO NORTE que entrevistou o escritor, escreveu o seguinte: "Lenine Pinto argumenta que Cabral em sua viagem rumo ndia teria seguido a volta do mar numa manobra a partir do Cabo Verde, a oeste, coroneando a corrente subequatorial do Atlntico que se bifurcava no Cabo de So Roque, numa aproximao dramtica do litoral potiguar, onde teria aportado em 22 de abril de 1500".Lenine Pinto desenvolveu, entre outros, o seguinte argumento: "Joo da Nova, em 1501, quando saiu procura de Cabral, de Cabo Verde, levou trinta dias para chegar ao cabo de So Roque. Como Cabral, no mesmo tempo, chegaria ao sul da Bahia?"A durao da viagem de Cabral, Portugal-Brasil, muito importante. preciso, portanto, saber o tempo que se gastaria para realizar a viagem Portugal-Touros e a viagem Portugal-sul da Bahia, naquela poca.Lenine diz ainda o seguinte: "H muitos locais no RN semelhantes aos narrados por Caminha na carta ao rei D. Manuel". Acontece que fica difcil acreditar que os historiadores no tenham percebido antes o erro, afirmando que o lugar atingido por Cabral foi o sul da Bahia. A distncia muito grande. Como explicar tal equvoco?A tese foi lanada. A dvida poder ser dissipada quando Lenine Pinto publicar o seu livro "Reinveno do Descobrimento do Brasil".

F a s c c u l o 2 - I n c i o d a C o l o n i z a oPrioridade EuropiaControvrsias Sobre a Presena EspanholaA prioridade da descoberta do Brasil continua sendo uma questo polmica. Para alguns estudiosos, os espanhis chegaram primeiro. Varnhagen, por exemplo, defende que Alonso de Ojeda teria atingido o delta do Au no Rio Grande do Norte. Outros autores concordam que o navegador espanhol visitou o Brasil, divergindo apenas do local. "Vinguand discorda e aponta como sendo o local correto as proximidades do Cabo de So Roque". Capistrano de Abreu e outros autores negam que Ojeda tivesse passado pelo Brasil.A viagem de outro navegante espanhol tambm alvo de discusses. Parece que Vicente Yaez Pinzon teria realmente vindo ao Brasil. Robert Southey chegou a afirmar o seguinte. "A primeira pessoa que descobriu a costas do Brasil foi Vicente Yaez Pinzon".Segundo os cronistas, no dia 26 de janeiro de 1500, Pinzon chegou a um lugar que denominou de Santa Maria de la Consolacin. A controvrsia que existe sobre onde ficaria essa Santa Maria de La Consolacin. Para uns, seria o cabo de Santo Agostinho. Varnhagen indica a Ponta de Mucuripe. Guanino Alves, que pesquisou a viagem de Vicente Pinzon, discorda e indica a ponta de Itapaj, no litoral norte do Cear, como o local certo. O fato que o navegante hispnico tomou posse da terra em nome da Espanha. E deu regio visitada o nome de Rostro Hermoso. Depois, Pinzon se dirigiu para o Norte, chegando at a foz do rio Amazonas, que denominou de Santa Maria de la Mar Dulce.Outro navegador espanhol que provavelmente passou pelo Rio Grande do Norte foi Diego de Lepe e, segundo alguns pesquisadores, teria atingido a enseada do Au.Apesar das controvrsias, no se pode negar que os espanhis antecederam aos portugueses na descoberta do Brasil, considerando que estiveram no Pas antes de abril de 1500.Os Franceses no Rio Grande do NorteQuando os franceses foram expulsos do Sul do Pas seguiram rumo ao Norte, mantendo um ativo comrcio com os nativos. No conseguiram no entanto instalar uma colnia. Chegaram a contar com um intrprete: "Um castelhano tornado potiguar, beio furado, tatuado, pintado de jenipapo e urucu, falando o nheengatu em servio dos franceses com os quais se foi embora", narrou Cmara Cascudo. A base deles era o Rio Grande do Norte.Os franceses passaram a fazer investidas contra a Paraba, com o apoio dos potiguares. O ataque mais audacioso se realizou entre 15 a 18 de agosto de 1597. Portanto treze navios, o embate se deu com a fortaleza de Santa Catarina de Cabedelo, sob o comando do aventureiro Jacques Riffaul, que desembarcou trezentos e cinqenta homens. E mais: "Vinte outras naus reforaram a investida, esperando a ordem no rio Potengi". No foi um simples assalto de corsrios, mas se constituiu uma verdadeira batalha. A fortaleza foi defendida por apenas vinte soldados. A artilharia contava com cinco peas. Os portugueses resistiram ao ataque, forando os franceses a baterem em retirada.Vilma Monteiro analisa a importncia dessa vitria: "Determina os novos rumos da conquista da regio Norte. Permite a posse efetiva da Capitania do Rio Grande, seu povoamento e colonizao, com isso abrindo as portas para a expanso civilizadora sobre novos territrios".Os franceses, diante desse quadro, ameaavam a Paraba; aps a cada desta, a prxima conquista seria Pernambuco ...Foram eles que iniciaram o processo de miscigenao entre europeus e americanos na regio. Dois aventureiros se destacaram: Charles de Voux e Jacques Riffault. Ainda hoje um local guarda no nome a lembrana de Riffault, no bairro do Alecrim em Natal, onde se ergueu a Base Naval (Refoles).A Era Lusitana e o Marco de PosseA primeira expedio que alcanou terras potiguares foi a de 1501. Essa viagem, iniciada no dia 10 de maio de 1501, se encontra envolvida em controvrsias. A comear sobre quem a teria comandado. Alguns nomes so apresentados: D. Nuno Manoel, Andr Gonalves, Fernando de Noronha, Gonalo Coelho e Gaspar de Lemos - o nome mais aceito. Quem participou tambm dessa expedio foi Amrico Vespcio.Aps sessenta e sete dias de viagem, foi alcanado o Rio Grande altura do Cabo de So Roque e, segundo Cmara Cascudo, ali foi plantado o marco de posse mais antigo do Pas, registrando-se, na ocasio, contatos entre portugueses e potiguares.O povo, por causa dos desenhos em forma de cruz no Marco de Posse, acreditou ser ele milagroso, surgindo assim, um culto. Oswaldo Cmara de Souza disse o seguinte: "O culto popular chegava s raias do fetichismo, havendo a crena absurda do que um ch preparado com fragmentos da pedra tinha poderes milagrosos, trazendo alvio e cura s mazelas do corpo e do esprito".Nesse perodo, o governo lusitano, verificando que o litoral brasileiro estava sendo visitado por corsrios, entre eles aventureiros franceses, resolveu enviar expedies militares para defender sua colnia. Foram as chamadas expedies guarda-costas, sendo consideradas as mais marcantes aqueles que vieram sob o comando de Cristvo Jacques, entre 1516 a 1519 e 1526 a 1528. Uma iniciativa ingnua, considerando a imensa extenso do litoral. o prprio Cristvo Jacques que sugere o incio do povoamento como soluo para resolver o problema. Eminentes portugueses aprovaram e defenderam a idia. D. Joo III, ento envia uma expedio colonizadora chefiada por Martim Afonso de Souza.A base estava lanada e em 1532 fundava-se So Vicente, no Sudeste do Pas, o que era muito pouco pois o Brasil possua dimenses continentais. Cristvo Jacques, entre outras coisas, sugere que se aplicasse no Brasil um sistema que j vinha sendo feito nas ilhas do Atlntico: o das Capitanias Hereditrias. Uma, na realidade, j havia sido criada em 1504 por D. Manuel, a de Fernando de Noronha. D. Joo III adota oficialmente o sistema no Brasil, criando quatorze capitanias no perodo compreendido entre 1934 e 1936. Entre elas, a de Joo de Barros, no futuro Rio Grande, como lembra Cmara Cascudo, "comeando da Baa da Traio (Acejutibir, onde h cajus azedos, segundo Teodoro Sampaio), limite norte da Donatria Itamarac, pertencente a Pero Lopes de Souza, at a extrema indefinida".A capitania possua cem lguas de extenso. Em 1535, Joo de Barros, Aires da Cunha e Ferno lvares prepararam a maior esquadra particular que havia sado do Tejo at aquele momento:" Com cinco naus e cinco caravelas, novecentos homens e mais de cem cavalos". O comando coube a Aires da Cunha. O governo investiu tambm nessa expedio: "D. Joo III emprestara artilharia, munies e armas retiradas do prprio Arsenal Rgio", informa Cmara Cascudo. Por essa razo, muitos eram de opinio que Aires da Cunha pretendia, alm de fundar colnias no Norte do Brasil, atingir o Peru pelo interior... Formando mais uma controvrsia ...Varnhagen fala de um conflito entre nativos e portugueses altura do rio Cear-Mirim, Cmara Cascudo nega o incidente, afirmando que Varnhagen "arquitetou tal viagem". taxativo: "Aires da Cunha nunca esteve no Rio Grande do Norte". Passando pelo litoral potiguar, o navegante seguiu viagem rumo ao Norte.A expedio foi um fracasso total com a morte de Aires da Cunha. Os portugueses conseguiram fundar, ao Norte, o povoado de Nazar, onde permaneceram trs anos. Morreram setecentos homens. Os expedicionrios partiram em busca de melhor sorte. Os resultados, porm, foram pssimos. Alguns foram jogados nas Antilhas; outros atingiram Porto Rico. E um grupo formado por So Domingos e Joo de Barros conseguiu reaver seus filhos que, quando regressavam de Nazar, numa tentativa infrutfera, procuravam colonizar o Rio Grande. Foi nessa oportunidade que teria ocorrido o conflito entre potiguares e lusitanos, mencionado por Varnhagen. Mesmo fracassando, essa foi, na opinio de Cmara Cascudo, "a primeira tentativa de colonizao no Rio Grande do Norte".A Fundao de NatalDisputa Acaba em Unio PeninsularO cardeal D. Henrique assumiu o governo portugus em 1578. O prelado contava sessenta e seis anos e, como no tinha filhos, criava um problema para a sucesso do trono portugus. No dia 31 de janeiro de 1580, o governante morreu.Entre os diversos pretendentes ao trono, trs netos de D. Manuel se apresentavam com maiores possibilidades: D. Antnio, prior do Crato, D. Catarina e Felipe II, rei da Espanha renunciou a favor de Felipe II. A disputa se reduziu entre D. Antnio, que era filho bastardo do infante D. Lus, e o monarca espanhol, que era o mais poderoso pois contava com o apoio de importantes figuras da nobreza e do clero lusitano. Os dois rivais partiram para a disputa armada. D. Antnio enfrentou as tropas fiis a Felipe II, chefiados pelo duque de Alba, sendo posteriormente derrotado.A crise abalou profundamente Portugal e no dia 28 de junho, como narra Jnio Quadros, "iniciou-se a tomada de Portugal pelos duque de Alba, enquanto setenta e duas gals sob o comando do marqus de Santa Cruz, acompanhadas de setenta naus, chalupas e caravelas, encetavam as operaes navais. As cidades, vilas, lugares e povoaes caram uma a uma em poder dos invasores, a despeito, aqui e ali, dos esforos dos partidrios de D. Antnio em cont-los".D. Felipe no agiu somente pela fora das armas, fez praticamente, tudo. Propostas tentadoras aos membros da nobreza, alm do apoio da Companhia de Jesus. Em sntese, ele comprou o apoio recebido de seus adversrios com ouro e tambm atravs de seu poderio militar.Tudo isso porque Felipe II tinha grandes interesses na anexao de Portugal ao reino espanhol: "O grande palco dos efeitos polticos espanhis na era filipina havia sido, at aquela data, o Mediterrneo, seria atravs desta unificao que a Espanha passaria a tomar parte na grande era atlntica inaugurada por Portugal", segundo a "Histria Geral da Civilizao Brasileira", Vol. I. Por outro lado, os portugueses j participavam das atividades comerciais espanholas. Era importante para a Espanha a anexao do reino lusitano, justificando assim todo o empenho do monarca hispnico. No foi difcil ocupar Portugal. Venceu Felipe II e, em 1581, as cortes de Tomar aclamaram-se rei de Portugal. Estava efetivada a "Unio Peninsular", que terminaria apenas no ano de 1640.Para o Brasil, esse perodo foi uma fase altamente positiva. Exemplo: a conquista do Norte e Nordeste do Pas.O Interesse de Filipe II Pelo Rio GrandeOs franceses se fixaram no litoral potiguar sem necessidade de dominar o nativo e, justamente por essa razo, tiveram a populao local como aliada. Escondiam suas naus no rio Potengi e, de sua base, se lanavam contra os colonos portugueses que se encontravam na Paraba. O Rio Grande era, de fato, uma rea estratgica. Da regio, os franceses podiam se deslocar para o norte e igualmente para o sul.Filipe II, ao anexar Portugal e suas colnias, sentiu a situao de abandono em que estava parte do Nordeste e todo o Norte do Brasil. E o que era pior: a constante ameaa que representava a permanncia dos franceses no Rio Grande. Tendo em vista essa situao, o monarca no perdeu tempo. Atravs de duas Cartas Rgis (9 - 11 - 1596 e 15 - 03 - 1597), determinou a expulso do inimigo e que fosse construda uma fortaleza e ainda, fundada uma cidade. Em sntese: conquistar o Rio Grande, consolidando tal feito atravs da colonizao. Por essa razo, um fato deve ficar bem claro: a expulso dos franceses do Rio Grande foi uma iniciativa de Filipe II, o que significa dizer, hispnica.A Expedio de Manuel Mascarenhas HomemA conquista do Rio Grande no se apresentava como sendo uma tarefa fcil. E foi por assim compreender que D. Francisco de Souza, governador-geral do Brasil, determinou que o capito-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem, tomasse todas as providncias para que se organizasse uma grande expedio militar com o objetivo de que as ordens de Filipe II fosse executadas. Assim foi feito. Uma poderosa expedio foi organizada. Desta, uma parte iria por mar com uma esquadra formada por sete navios e cinco caraveles, sob o comando de Francisco de Barros; e outra seguiria caminhando por terra, liderada por Feliciano Coelho, capito-mor da Paraba.Manuel Mascarenhas Homem assumiu o comando geral, agindo com o mximo de empenho para que nada faltasse a fim de que os objetivos fossem alcanados: expulsar os franceses, construir uma fortaleza e fundar uma cidade. Participaram da jornada um grupo de religiosos: os jesutas Gaspar de Samperes (autor da planta da futura fortaleza) e Francisco Lemos, e mais dois franciscanos - Bernadino das Neves, que funcionava como intrprete, e Joo de So Miguel.Narra Cmara Cascudo: "Feliciano Coelho partiu por terra com as quatro companhias pernambucanas e uma paraibana capitaneada por Miguel lvares Lobo, num total de 178 homens e 90 indgenas guerreiros de Pernambuco e 730 da Paraba, com seus tuixauas prestigiosos e bravos: Pedra Verde (Itaobi), Mangue, Cardo-Grande etc. a 17 de dezembro de 1597 o exrcito marchou. Mascarenhas viera com as naus".Acontece que as foras terrestres foram atingidas pela varola, sendo obrigadas a retroceder, com exceo de Jernimo de Albuquerque que se uniu expedio martima. Havia uma justificativa: Jernimo desfrutava de grande prestgio entre os nativos.A viagem pelo mar continuou e, no caminho, sete naus franceses fugiram para evitar um confronto com a esquadra lusitana.No dia 25 de dezembro, a frota luso-espanhola atingia o rio Potengi. No final do ano de 1997 esse fato completa exatos quatrocentos anos.A primeira providncia dos invasores foi fazer um entricheiramento com varas de mangue para que pudessem se defender das investidas dos potiguares. Medida acertada, porque no demorou muito os nativos atacaram com toda violncia. Era a guerra que comeava. Com o passar dos dias, os luso-espanhis comearam a perder terreno no conflito armado. A situao se agravou a tal ponto que ficou crtica, como narrou Vicente Salvador: "Depois de continuar os assaltos que puseram os nossos em tanto aperto que esacassamente podiam ir buscar gua para beber a uns poozinhos que tinham perto da cerca".O quadro era muito triste: mortos, feridos e doentes. O clima ficava, a cada momento, mais insustentvel. Foi quando, providencialmente, chegou Francisco Dias com reforo, evitando uma humilhante derrota. Servindo para que os luso-espanhis pudessem manter a posio onde se encontravam. No fosse a chegada de Feliciano Coelho, que partiu da Paraba com mais soldados, armas e munices, tudo estaria perdido. A situao, ainda assim, continuava delicada. Era preciso negociar a paz com urgncia.A Imponente Fortaleza dos Reis MagosA fortaleza de madeira no foi construda, como pensava Cmara Cascudo, em um "arrecife a setecentos e cinqenta metros da barra do Potengi". A razo muito simples: naquele local, a construo no suportaria o impacto das guas. O edifcio, esclarece Hlio Galvo, foi erguido na praia.A planta da fortaleza, apesar de ser contestada por alguns autores, foi feita pelo padre Gaspar de Samperes. Segundo a arquiteta Jeanne Fonseca Leite, "a concepo 'antropomorfa' dos italianos encontrou acolhida por parte do padre Samperes que a introduziu no seu projeto destinado construo da Fortaleza dos Reis Magos".Fortaleza e no forte, Hlio Galvo esclarece a dvida: "Forte uma pequena edificao sem guarda permanente. Fortaleza, ao contrrio, um grande edifcio com um contingente de soldados permanente. A fortaleza, localizada na barra do Potengi, se destaca pela sua beleza e pela sua imponncia. No poderia ser de maneira alguma um forte'.Para Hlio Galvo, que pesquisou exaustivamente sobre a Fortaleza, o nome correto seria Fortaleza da Barra do Rio Grande. O problema no to simples. Naquela poca se usava de maneira indiferente mais de um nome para indicar um prdio pblico. Aquele edifcio pode ser chamado tambm de Fortaleza dos Reis Magos, o que no pode, certamente design-lo por "Forte dos Reis Magos", que por sinal a verso popular usada de maneira errada pelos cronistas tradicionais.Os trabalhos de construo da fortaleza comearam no dia 6 de janeiro de 1598. Hlio Galvo explica o seguinte: "O trabalho se desenvolvia entre dificuldades e imprevistos, a ameaa constante de ndios e franceses, a ateno dos homens voltada para a vigilncia do acampamento. Diramos que Mascarenhas Homem lanou a pedra fundamental e a partir da ningum parou. O material foi chegando, as pedras que vinham de Lisboa lastrando os navios eram guardadas, acumulava-se cal e os implementos imprescindveis eram providenciados".A primeira fortaleza, a de madeira, foi concluda no dia 24 de junho de 1598. E tinha, como descreveu Cmara Cascudo, "a forma clssica do forte martimo, afetando o modelo do polgono estrelado".Em 1614, o engenheiro-mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita, realizou trabalhos na fortaleza, fazendo pequenas modificaes sem alterar a planta original. A obra foi concluda somente em 1628.Paz Firmada e Posse Definitiva da TerraA capitania se chamava, no incio, do Rio Grande, passando a incluir "do Norte" quando surgiu outra de igual nome, no Sul do Pas.No houve, no Rio Grande, uma conquista. A expedio de Manuel Mascarenhas Homem estava praticamente derrotada. Os missionrios saram da fortaleza para se transformarem em embaixadores da paz. Um passo significativo nesse sentido foi dado quando os nativos conseguiram distinguir os militares e colonos dos sacerdotes. O padre Francisco Pinto foi, na realidade, o grande e incansvel apstolo. Percorreu o serto, enfrentou mltiplas vicissitudes. Nos momentos mais difceis conseguia reunir novas foras graas sua f, operando verdadeiros milagres na obra de persuaso.Primeiro, a catequese e, atravs dela, o padre Francisco Pinto e seus companheiros missionrios procuravam levar os silvcolas para o lado dos portugueses. O padre Pero Rodrigues, numa carta, transcrita por Hlio Galvo, registra o trabalho rduo e difcil dos religiosos. Os padres ajudavam ao exrcito com os acostumados exerccios da Companhia, que eram "a edificao de todos, pregando, confessando, fazendo amizades e no se negando a nenhum trabalho, de dia e de noite, como no acudir aos ndios nossos amigos, que nos ajudavam na guerra, por adoecerem gravemente de bexigas e, quando era possvel, acudiam a curar e consolar na morte".No processo de pacificao, os missionrios no agiram sozinhos. Contaram com o apoio de alguns chefes nativos: Mar Grande e Pau Seco, entre outros. Os lderes potiguares foram negociar a paz com os brancos porque as suas mulheres exigiram o fim das hostilidades. Contriburam tambm com o processo de cristrianizao de seus irmos ao lado dos missionrios.No se pode esquecer, igualmente, o desempenho de Jernimo de Albuquerque que foi de suma importncia. Filho de Jernimo Santo Arco Verde (Ubir - Ubi) que, por sua vez, era filha do chefe nativo Arco Verde. Mestio, possua sangue tupi em sua veia; corajoso e hbil, falando o idioma nativo, desfrutava de grande influncia entre os habitantes de todo o Nordeste.A paz era o anseio das duas faces em luta e as negociaes obtiveram xito. Terminadas as hostilidades, Manuel Mascarenhas Homem partiu para a Bahia, com o objetivo de relatar os acontecimentos ao governador, D. Francisco de Souza que, sem demora, determinou que fossem solenemente celebradas as pazes. Isso aconteceu no dia 11 de junho de 1599, na Paraba, na presena de muitas autoridades - Mascarenhas Homem; Feliciano Coelho de Carvalho, ouvidor-mor geral, e Brs de Almeida; de diversos chefes nativos; do intrprete frei Bernadino das Neves e do apstolo dos potiguares, padre Francisco Pinto. As pazes foram finalmente ratificadas e estava assim assegurada a posse definitiva da terra, ou mais precisamente da Capitania do Rio Grande.Um presente dado por Felipe II ao imprio lusitano ...Dvidas Histricas: A Cidade do NatalExpulso o francs, construda uma fortaleza, faltava apenas fundar uma cidade. E esse era, dos trs objetivos, provavelmente o mais fcil de ser executado. Acontece que, graas destruio de documentos pelos holandeses, a histria da fundao da capital potiguar se perdeu, talvez, para sempre. A luta dos historiadores norte-rio-grandenses para reconstruir tal acontecimento tem gerado uma grande controvrsia atravs dos tempos. As pesquisas comearam a dar bons frutos e a questo comea agora a ficar mais clara, com alguns problemas solucionados.Ainda hoje se discute quem teria sido o fundador da Cidade do Natal. Os primeiros cronistas indicavam o nome de Jernimo de Albuquerque, alegando que, por sua participao no processo de pacificao, com sua garra e valentia, teria sido o primeiro capito-mor do Rio Grande e logo depois fundado Natal. A informao se baseava muito mais na intuio do que em qualquer base documental. , portanto, compreensvel que os primeiros historiadores se confundissem. Frei Vicente Salvador, por exemplo, narra o seguinte: "Feitas as pazes com os potiguares, como fica dito se comeou logo a fazer uma povoao no Rio Grande a uma lgua do forte, a que chamam a Cidade dos Reis, a qual governa tambm o capito do forte que El Rei costuma mandar cada trs anos".Outro historiador, Francisco Adolfo Varnhagen, avana mais nas explicaes se valendo de detalhes: "Feitas as pazes com os ndios, passou Jernimo de Albuquerque a fundar no prprio Rio Grande uma povoao. E como era para isso imprpria a poro do arrecife ilhada (em preamar) onde estava o forte, segundo ainda hoje se pode ver, escolheu para isso o primeiro cho elevado e firme, que se apresenta s margens direitas do rio, obra de meia lgua acima de sua perigosa barra (...). A dita povoao, depois vila e cidade, de cujo nome no conseguiu fazer - se digna por seu correspondente crescimento, se chamou de Natal em virtude, sem dvida, de se haver inaugurado o seu pelourinho ou a igreja matriz a 25 de dezembro desse ano da fundao (1599)".Vicente de Salvador confundiu a "povoao dos Reis" com a futura capital do Rio Grande do Norte. Na realidade, durante a construo da fortaleza, Manuel Mascarenhas Homem mandou erguer algumas casas para abrigar os oficiais que participaram da tentativa de conquista. Com isso, surgiu uma povoao que se chamou de Santos Reis. Natal seria fundada, posteriormente, e no tinha nenhuma relao com a povoao que nasceu prxima daquele edifcio militar...Varnhagen vai mais alm, descreve a evoluo daquele ncleo urbano: "A dita povoao, depois vila e cidade". Essa afirmao, porm, no sustentvel. Natal como disse Cmara Cascudo, "nasceu cidade". No h, desse modo, nenhuma relao com a primitiva povoao que floresceu nas proximidades da fortaleza. A razo clara: Felipe III mandou que se fundasse uma cidade e no uma povoao... Natal surgiu no local onde floresceu a povoao. Natal nasceu cidade, porm, sem casas e sem ruas, aumentando a controvrsia.A Capitania do Rio Grande possua dois ncleos: uma povoao em decadncia e uma cidade que, na prtica, no existia... Mas aos poucos, com o passar do tempo, comeava a surgir. Essa situao provocou muita confuso entre os autores, como demonstram as diversas denominaes que Natal recebeu: "Natal los Reys", "Cidade dos Reis", "Cidade do Natal do Rio Grande" e at o nome muito estranho de "Cidade de Santiago"...Afinal, quem fundou Natal?A primeira verso que contou no incio com a quase unanimidade dos historiadores, inclusive dos pesquisadores da terra, era a que apontava Jernimo de Albuquerque como fundador da Cidade do Natal. Essa teoria, que tem entre seus defensores ilustres nomes, como Vicente Lemos, Tavares de Lyra e Tarcsio Medeiros, em sntese seria a seguinte: Mascarenhas Homem nomeou Jernimo de Albuquerque comandante da fortaleza e depois seguiu para a Bahia com a finalidade de prestar contas da misso que desempenhara, por determinao do governador-geral do Brasil. Veio a seguir a pacificao dos nativos e, em seguida, a fundao da cidade. Como Jernimo se destacou no processo e era o capito-mor da Capitania do Rio Grande, logo fora ele o fundador de Natal. Tavares de Lyra chega at a afirmar que " de presumir". Portanto, no se tratava de fato e, sim, de uma possibilidade.Com o avano das pesquisas, ficou provado que Mascarenhas Homem no designou Jernimo de Albuquerque para exercer a funo de capito-mor do Rio Grande e, o que mais importante, Jernimo no se encontrava presente na data da fundao da cidade e portanto no pode ser considerado como sendo seu fundador ...Lus Fernandes (1932) defendeu ter sido Manuel Mascarenhas Homem o fundador da Cidade do Natal. Alegava que, construindo o primeiro edifcio (a fortaleza) e ainda as casas que deram origem povoao que se formou prxima fortaleza, seria o verdadeiro padrinho da cidade. Argumentao falha, considerando que o novo centro urbano no possua nenhuma relao com tudo o que existia anterior data da sua fundao.Jos Moreira Brando Castelo Branco publicou em 1950, na revista Bando, o texto "Quem fundou Natal", onde defendia a tese de ser Joo Rodrigues Colao o provvel fundador da capital potiguar. Posteriormente, esse estudo foi publicado na revista do Instituto Histrico e Geogrfico do Rio Grande do Norte, em 1960, provocando uma polmica. Cmara Cascudo chegou inclusive a apoiar a teoria defendida por Castelo Branco (1955). Pouco tempo depois mudou de opinio, acreditando que o fundador da cidade teria sido outro: "Para mim, o padrinho da Cidade do Natal foi Mamuel de Mascarenhas Homem, capito-mor de Pernambuco, comandante da expedio colonizadora:. E argumenta: "Continuava to interessado no cumprimento das reais determinaes que fora Paraba, em juno desse 1599, assistiu solenidade do contrato das pazes com os potiguares, ato possibilitador da criao da Cidade seis meses depois. Acontece que, nessa poca, Mascarenhas Homem estava em Natal onde concedeu, a 9 de janeiro de 1600, data nesta fortaleza dos REIS MAGOS (...), a primeira sesmaria, margem esquerda do rio, numa gua a que chamam da Papuna, justamente ao capito Joo Rodrigues Colao, seu subalterno. No abandonaria funes de governaa se no tivesse deveres de suma importncia, como satisfazer a ltima parte das instrues do rei, participando da fundao da cidade. No outra explicao para a sua presena em Natal. Tinha sido encarregado da misso e deveria cumpri-la at o final".Essa teoria se fundamenta nos seguintes pontos:1 - A presena de Manuel Mascarenha em dois eventos:a) Solenidade da ratificao da paz com os nativos.b) Data da fundao da cidade.2 - E, ainda, os seguintes argumentos:a) Doou a primeira sesmaria no Rio Grande do Norte a Joo Rodrigues Colao, ato administrativo que provaria que estava frente do governo da capitania.b) Mascarenhas Homem tinha como misso expulsar os franceses, construir uma fortaleza e fundar uma cidade. Deveria executar objetivos e, assim, teria para cumprir a ltima misso: a fundao de Natal.Manuel Mascarenhas Homem prestigiou os eventos citados como representante do governador-geral do Brasil e foi representando D. Francisco de Souza que doou a sesmaria a colao. bom lembrar que, como comandante de uma expedio militar, ele no poderia doar sesmaria ...Mascarenhas Homem construiu a fortaleza de madeira, lanando os fundamentos da fortaleza definitiva. Expulsou os franceses, mas no fundou a cidade do Natal porque em dezembro de 1599 j existia um governante, o capito-mor Joo Rodrigues Colao, habilitado legalmente para fundar a cidade e iniciar o processo de colonizao...No se pode esquecer, tambm, que no documento da doao de capito da fortaleza, D. Manuel Mascarenhas Homem disse claramente que "por mandato do dito Senhor vim conquistar este Rio Grande e fazer nele a fortaleza dos Reis Magos". No afirma que veio fundar uma cidade e, no entanto, Natal j estava fundada! Chega-se a uma concluso: Manuel Mascarenhas no fundou a Cidade do Natal. Falta examinar apenas a teoria que defender ter sido Joo Rodrigues Colao o verdadeiro fundador.Vicente Lemos foi o primeiro historiador a afirmar que Joo Rodrigues Colao teria sido o homem que exerceu, pela primeira vez, a funo de capito-mor do Rio Grande, numa nota publicada na revista do Instituto Histrico e Geogrfico do Rio Grande do Norte, Vol. 6, pgina 138: A conquista iniciada em princpios de 1598, e na qual tanto distinguiu-se Jernimo de Albuquerque, remete no ano seguinte, e, ciente D. Francisco de Souza, governador-geral do Brasil, de bom xito da empresa, nomeou capito-mor do forte a Joo Rodrigues Colao, o primeiro que realmente governou a capitania".Depois, entretanto, Vicente de Lemos muda de opinio. No seu livro "Capites Mores e Governadores do Rio Grande do Norte", declarou que Jernimo de Albuquerque foi o fundador da Cidade do Natal.

F a s c c u l o 3 - R e g i o E s t r a t g i c aCapitania do Rio GrandeNovas Luzes Sobre a Fundao de NatalFoi o escritor Jos Moreira Castelo Branco quem procurou solucionar, de maneira definitiva, o problema da fundao de Natal. Com base numa exaustiva pesquisa, publicou um estudo intitulado "Quem Fundou Natal", onde provou que Joo Rodrigues Colao foi de fato o primeiro capito-mor do Rio Grande. Apresentou dois documentos, encontrados por Serafim Leite. Um deles uma carta do provincial Pero Rodrigues, que registrava o trabalho de catequese realizado no Rio Grande pelos padres Francisco Pinto e Gaspar de Samperes, e diz ainda que "a tudo isso se achava presente o capito da fortaleza, Joo Rodrigues Colao".Em seguida, Castelo Branco faz o seguinte comentrio: "isto ocorria em maro ou abril de 1599, porque a 19 deste ltimo ms, j os ditos padres, a fim de satisfazerem uma exigncia do prncipe Pau Seco, para melhor garantia e tornar a pacificao mais firme, partiam do forte do Rio Grande, em vista s aldeias dos potiguares, at chegar s de Capaoba, donde seguiram com destino Paraba".O segundo documento, atribudo a Gaspar de Samperes, afirma o seguinte: "Joo Rodrigues Colao, o primeiro capito que foi daquela capitania".Castelo Branco, apresentando essas provas, constatou ter sido Rodrigues Colao o primeiro capito-mor do Rio Grande e, ainda, atravs do documento em que dom Manuel Mascarenhas Homem deu sesmaria a Joo Rodrigues Colao, se comprova que esse senhor governava a capitania em janeiro de 1600. Aps examinar tudo isso, Castelo Branco conclui dizendo que "o primeiro capito-mor do Rio Grande foi Joo Rodrigues Colao, que governava no ano de 1599, devendo, por isso, ter sido o fundador da Cidade do Natal".Como Castelo Branco no se posicionou de maneira categrica, usando, inclusive, a expresso "devendo, por isso, ter sido o fundador", no fechava a questo, deixando o problema em aberto. que o autor no dispunha de nenhum documento oficial que confirmasse a sua teoria.A importncia do estudo de Castelo Branco, contudo, muito grande. Elaborou uma tese, hoje vitoriosa. Abriu novas perspectivas, trazendo uma contribuio significativa e despertando a curiosidade de outros historiadores. A sua teoria, portanto, ficou no terreno das possibilidades, ou seja, uma abordagem perfeitamente vlida.Permitiu, por outro lado, que a verso que defendia sem dom Manuel Mascarenhas Homem o fundador da Cidade do Natal ganhasse novos adeptos: Hlio Galvo e Lus da Cmara Cascudo.Tarcsio Medeiros divulgou, pela primeira vez, em fevereiro de 1973, o Alvar de Nomeao de Joo Rodrigues Colao, em seu livro "Aspectos Geopolticos e Antorpolgicos da Histria do Rio Grande do Norte". Atravs desse alvar se constata o seguinte:1 - Joo Rodrigues Colao foi nomeado capito da Fortaleza, pelo governador geral do Brasil, dom Francisco de Souza, confirmado, posteriormente, pela metrpole.2 - No houve, portanto, interrupo, desde a data de nomeao, pelo governador geral do Brasil, dom Francisco de Souza, at a designao real, atravs do alvar de 18 de janeiro de 1600.Esse alvar era, justamente, o documento oficial que Castelo Branco reclamava e que, infelizmente, no chegou a conhecer.O historiador Olavo de Medeiros Filho, em seu livro "Terra Natalense", afirmou o seguinte: "Quando transmisso do comando da fortaleza a Jernimo de Albuquerque, referida por frei Vicente, no h respaldo documental. Conforme se verifica, atravs da leitura da Relao de Ambrsio de Siqueira, de 24 de junho de 1598 at 5 de julho de 1603, houve a presena de um capito-mor da fortaleza e da Capitania do Rio Grande, de Joo Rodrigues Colao, o qual foi provido pelo governador geral do Brasil, dom Francisco de Souza".Essa informao importante porque deixa claro que Joo Rodrigues Colao recebeu o comando da fortaleza aps a sua concluso e no posteriormente, como se dizia no passado.Jernimo de Albuquerque, portanto, no foi designado capito da fortaleza por Mascarenhas Homem no dia 24 de junho de 1598. possvel tambm concluir que Joo Rodrigues Colao foi, inicialmente, designado para responder pelo comando da fortaleza, por Mascarenhas Homem, e somente depois foi nomeado capito-mor da Capitania do Rio Grande, pelo governador geral do Brasil, e, finalmente, confirmado nessa funo, pelo governo metropolitano.Examinando os documentos encontrados pelo padre Serafim Leite e publicados no livro "Histria da Companhia de Jesus no Brasil"; a "Carta de Doaco de Sesmarias a Joo Rodrigues Colao", publicada pela revista do Instituto Histrico e Geogrfico no Rio Grande do Norte; a "Relao de Ambrsio de Siqueira", transcrita em parte - um pequeno trecho - por Olavo de Medeiros Filho, em "Terra Natalenses"; o Alvar de Nomeao de Joo Rodrigues Colao, divulgado por Tarcsio Medeiros em "Aspectos Geopolticos e Antropolgicos da Histria do Rio Grande do Norte" e, ainda, "Quem Fundou Natal", de Castelo Branco, fica claro o seguinte" Joo Rodrigues Colao foi nomeado capito da fortaleza por dom Francisco de Souza, sendo o primeiro a exercer tal funo no Rio Grande, e como continuava governando a capitania, em janeiro de 1600, foi ele, JOO RODRIGUES COLAO QUEM FUNDOU A CIDADE DO NATAL, NO DIA 25 DE DEZEMBRO DE 1599.A Nobre Sobriedade de Joo Rodrigues ColaoEra militar. Casado com dona Beatriz de Menezes, filha de Henrique Muniz Teles.Falando sobre o carter e a personalidade de Colao, disse Hlio Galvo: "a nobre sobriedade de suas respostas sobre alguns temas, revela um homem de carter marcado, de personalidade alheia a condicionamentos eventuais".Olavo de Medeiros Filho informa que "no perodo de 15 de agosto de 1595 a 15 de maro de 1596, era capito de uma companhia transferida do Recife para a Bahia. A referida companhia, quela data, retornou a Pernambuco.Um fato que ningum pode negar que Joo Rodrigues Colao pode ser considerado um dos primeiros provoadores do Rio Grande, nascido na Europa. Por essa razo que requereu ao representante do governador geral do Brasil, Manuel Mascarenhas Homem, uma sesmaria, com 2.600 braas, onde possua inclusive roados. Tinha, tambm, escravos da Guin.Colao assumiu o cargo de capito da fortaleza no dia 24 de junho de 1598, como comprova a "Relao de Ambrsio Siqueira".Olavo de Medeiros Filho afirma que no "perodo de 26 de novembro de 1601 a 6 de maro de 1602, nenhuma data e sesmaria foi concedida pelo governo de Rodrigues Colao". Segundo esse autor, provavelmente, nessa poca, teria acontecido um conflito entre portugueses e nativos, descrito por Anthony Knivet. O episdio teria acontecido da seguinte maneira: os potiguares, em grande nmero, cercaram a Cidade do Natal. Aprisionaram e mataram muitos homens. Mascarenhas Homem, ao tomar conhecimento do fato, partiu de Pernambuco e surpreendeu o inimigo que se encontrava, naquele instante, devorando os prisioneiros mortos. Estavam brios. E sem a menor condio para reagir. Foram, ento, massacrados. Muitos morreram, sendo assassinados a pancadas! O saldo da chacina: cinco mil mortos! O chefe Pirajuva (Barnatana de um Peixe) solicitou e obteve de Manuel Mascarenhas Homem, a paz.Joo Rodrigues Colao, possivelmente, se encontrava ausente da capitania. No h registro de nenhum envolvimento de Colao no acontecimento, antes ou depois do ocorrido.Frei Vicente do Salvador narra, na sua Histria do Brasil, um fato interessante, que teria se passado durante o governo de Joo Rodrigues Colao: o bispo de Leiria condenou um homem a passar trs anos no Brasil, "onde tornar rico e honrado". O degredado se casou com uma mulher portuguesa e reuniu uma pequena fortuna. E, ainda, desfrutava da amizade de Colao e de sua esposa.No se sabe, at o momento, de outro feito de Joo Rodrigues Colao, a no ser a fundao da Cidade do Natal. Depois de ter concludo o seu governo, voltou para Portugal. No se tem outras notcias da sua presena no Brasil. No se sabe, tambm, onde e quando morreu. Mas a falta de maiores dados sobre a vida de Colao no justifica, de maneira alguma, a retirada do nico momento de glria que ele viveu: ser o verdadeiro fundador da Cidade do Natal.No momento em que Natal se prepara para comemorar os quatrocentos anos de sua existncia, ningum pode deixar de fazer justia ao seu humilde, desconhecido, porm, verdadeiro fundador.Uma Cidade sem Pressa de CrescerNo incio no houve uma preocupao voltada para a construo de prdios pblicos. A fortaleza era suficiente. Outro edifcio, cuja construo foi iniciada na poca da fundao da cidade, foi o da matriz.Durante o processo de conquista e de pacificao, a capitania conheceu apenas duas atividades: a dos soldados, construindo a fortaleza e lutando contra os nativos; e a segunda, marcada pela atuao dos missionrios, ajudando enfermos e buscando a conciliao com os potiguares.Entre outros, se destacaram os seguintes religiosos: Francisco das Neves Pinto. Os primeiros atos missionrios foram realizados dentro da prpria fortaleza.Pedro Moura registra a construo de uma igreja, por Martim Soares Moreno, sob a proteo de Nossa Senhora do Patrocnio. Colheu tal informao em Miliet, por sinal, o nico cronista a falar sobre aquele edifcio.Em 1598, Natal j era freguesia e o seu primeiro vigrio, padre Gaspar Gonalves da Rocha. Olavo de Medeiros Filho transcreveu, em "Terra Natalense", o seguinte texto de frei Agostinho de Santa Maria: "foi levantada uma parquia que se dedicou Rainha dos Anjos, Maria Santssima, com o ttulo de Apresentao, quando seus santssimos pais, Joaquim e Ana, a foram oferecer no Templo, sendo de idade de trs anos. Na capela-mor se colocou, depois, um grande e formoso quadro de pintura, em que se v o mesmo mistrio da Senhora historiada".O primeiro documento que registra a matriz, em Natal, data de 1614, quando diz que a igreja no tinha portas. A igreja matriz teria sido concluda em 1619. Foi, entretanto, destruda pelos holandeses.As datas concedidas no Rio Grande, como disse Olavo de Medeiros Filho, "no perodo de 1600 a 1614, acham-se discriminadas no "Traslado do Auto da Repartio das Terras da Capitania".A cidade no crescia, "andava", ou seja, se arrastava lentamente, rumo ao futuro. Conta Lus da Cmara Cascudo que "os trinta e quatro anos de cidade, 1599 - 1633, foram lentos, difceis e pauprrimos. Interessava ao rei o forte, a situao territorial. Rarssimas mulheres brancas. Cidade apenas no nome".Havia, entretanto, uma coisa positiva. A pescaria que, segundo as testemunhas da poca, era da melhor qualidade. Abastecia a populao local e exportava para os Estados vizinhos, Paraba e Pernambuco.A maneira de viver da populao, naquela poca, foi descrita por Cmara Cascudo: "os moradores viviam espalhados nos stios ao redor, plantando roas, caando, colhendo frutos nos tabuleiros, pouca criao de gado que se desenvolveria vertiginosamente a ponto de ter 20.000 cabeas em 1633, e as pescarias, de anzol, rede e curral. Havia o sal, colhido nas marinhas do outro lado do rio, Igap, Aldeia Velha, antigas malocas dos potiguares. O peixe salgado e seco foi um dos produtos mais rapidamente divulgado, com mercados abundantes e fceis".Era, de fato, um lento caminhar. A cidade no tinha pressa em crescer. Para complicar, dentro em breve deveria de passar por sua fase mais difcil: o perodo de invaso holandesa, quando teve prdios e documentos destrudos, retardando, mais ainda, o seu desenvolvimento.Domnio HolandsDe Joo R. Colao Invaso HolandesaEsta uma fase das mais obscuras da Histria do Rio Grande do Norte, por uma razo muito simples: "nos arquivos do Estado no se encontrava nenhum documento anterior conquista holandesa. Nesse perodo, que se estende 1633 a 1654, foram todos destrudos", como narra Tavares de Lyra.Fica difcil inclusive de se estabelecer a data da posse de alguns governantes. Atualmente foi desfeita a dvida sobre quem teria sido o primeiro capito-mor do Rio Grande do Norte: Joo Rodrigues Colao, fundador da Cidade do Natal.A primeira casa que serviu de sede da administrao da capitania foi a Fortaleza da Barra do Rio Grande ou, como mais conhecida, Fortaleza dos Reis Magos. Falando sobre esse fato, disse Lus da Cmara Cascudo: "era a residncia do capito-mor, sendo administrativa, comando militar, quartel e refgio dos raros moradores. Os soldados moravam dentro do forte e qualquer comoo geral levava os colonos, s carreiras, para as muralhas imponentes que garantiam o avano no setentrio do Brasil".Foi nessa fortaleza que moraram e governaram a Capitania do Rio Grande, os capites-mores, at a invaso holandesa.Alguns historiadores elaboram listas, procurando estabelecer, por ordem cronolgica, os sucessores de Joo Rodrigues Colao.Vicente Lemos escreveu um clssico sobre o assunto: "Capites-Mores e Governadores do Rio Grande do Norte". Acontece, entretanto, que permaneceram algumas dvidas.Varnhagen, Tavares de Lyra, Vicente Lemos e Cmara Cascudo classificam como sendo os primeiros governantes da Capitania do Rio Grande: Manuel Mascarenhas Homem (comandante da expedio que tentaria a conquista), Jernimo de Albuquerque, Joo Rodrigues Colao e novamente Jernimo de Albuquerque. Equvoco que, felizmente, j foi devidamente esclarecido: o primeiro capito-mor do Rio Grande do Norte foi Colao. Manuel Mascarenhas Homem no governou o Rio Grande, apenas foi o capito da conquista que, por sinal, no houve, porque a posse foi efetivada atravs de um processo de pacificao...A lista dos governantes do Rio Grande do Norte comea, portanto, com Joo Rodrigues Colao, sendo que Jernimo de Albuquerque governou apenas uma s vez!Os sucessores desses dois foram os seguintes: Loureno Peixoto Cirne, Francisco Caldeira de Castelo Branco, Estevo Soares de Albergaria, Ambrsio Machado de Carvalho. Como sucessor desse ltimo, era apontado, por alguns, Bernardo da Mota. Hoje, o equvoco foi corrigido: o sucessor de Ambrsio Machado de Carvalho foi, na realidade, Andr Pereira Temudo, que foi nomeado a 18 de maro de 1621.Tavares de Lyra pergunta: "Quem substituiu Francisco Gomes de Melo?", para depois, com base no que escreveu Domingos da Veira, ele mesmo responder: "a ordem de sucesso foi esta: Francisco Gomes de Melo, Bernardo da Mota, Porto Carreiro".Cmara Cascudo, escrevendo em 1961, confirma Tavares de Lyra. Depois de Francisco Gomes de Melo, os sucessores foram: Bernardo da Mota e Cipriano Porto Carreiro.Quando os holandeses atacaram o Rio Grande, Pero Mendes de Gouveia governa a capitania.Os Holandeses no Brasil: A BahiaA primeira tentativa de implantar uma colnia no Brasil, pelos neerlandeses, foi na Bahia. Os armadores holandeses conheciam o Brasil, mantendo relaes amistosas com os portugueses, durante os reinados de Joo III, D. Sebastio e o cardeal D. Henrique. Com a anexao de Portugal e suas colnias pela Espanha, a situao mudou. Felipe IV, inimigo dos Pases Baixos, determinou "o confisco dos navios flamengos que estivessem nos portos de seus novos domnios, europeus, africanos, asiticos e americanos".Fugitivos da Bahia contaram na Holanda como seria fcil conquistar Salvador, devido precariedade do sistema montado para defender a colnia. Um deles, Francisco Duchs, chegou a participar do ataque que resultou na capitulao da Bahia, em 1625. Guilherme Usselinex, porm, foi quem "props e defendeu a idia da formao de uma nova companhia, semelhante Oriental, que na ndia havia adquirido tantos lucros e vantagens", como disse Varnhagen.O sonho de dominar o Brasil era antigo, porm, como desfrutavam de lucros com a participao no comrcio, durante o governo portugus deixaram de lado tal idia. Agora, a situao era diferente. Os espanhis se apresentavam como inimigos. Deviam, portanto, aproveitar a oportunidade para se apossarem do Brasil foi a criao da Companhia Privilegiada das ndias Ocidentais, pela Carta Patente de 3 de junho de 1621.A companhia decidiu atacar a Bahia, mas precisamente Salvador, capital da colnia, que, segundo eles, arrecadava 8.000 florins anuais....E, como narra Varnhagen, "equipou-se uma grande armada de que foi nomeado almirante Jacob Willekens, vice-almirante o bravo e venturoso Pieter Pieterzoon Heyn, e comandante das tropas e governador das futuras conquistas Johan Van Dorth. Consatava a expedio de vinte e trs iates, armados com quinhentos e nove bocas de fogo, tripulados de mil e seiscentos marinheiros e guarnecidos de mil e setecentos homens de desembarque".A notcia de que a Holanda iria atacar a Bahia chegou ao Brasil. O governador geral, Diogo de Mendona Furtado, procurou tomar todas as providncias, porm, encontrou dificuldades, at mesmo m vontade, como era o caso do bispo D. Marcos Teixeira.A 8 de maio de 1624 os holandeses chegaram a Salvador e, aps dois dias de luta, dominavam a cidade. Preso Diogo de Mendona Furtado, Johan Van Dorth passou a governar. Os batavos, contudo, no foram felizes. O povo que havia abandonado a cidade, passado o susto, procurou reagir, crescendo a figura de D. Marcos Teixeira, apesar de sua idade bastante avanada. Esgotado, no suportou as vicissitudes e veio a falecer.Os holandeses, entretanto, tiveram tambm suas baixas. Cedo perderam o cel. Van Dorth. O seu substituto, Albert Schenteu, tambm morreu, sendo sucessor Wielen Schauten. Matias de Albuquerque, em Pernambuco, assumiu o governo da colnia e enviou para a Bahia um reforo, sob o comando de Francisco Nunes Marinho.A metrpole mandou uma esquadra, chefiada por D. Francisco de Moura. A armada, depois de passar por Pernambuco, foi para a Bahia, onde realizou o cerco de Salvador. Era preciso, contudo, muito mais.Filipe II, diante da repercusso negativa pela grande derrota, cuja conseqncia foi a perda da Bahia, resolveu tomar uma deciso mais firme e, ento, enviou ao Brasil a maior expedio militar que atingiu o continente americano at aquele momento, com mais de 12.000 homens e 70 navios, ficando conhecida na Histria como "Jornada dos Vassalos". D. Fadrique de Toledo Osrio assumiu o comando. Da expedio participaram no somente militares das duas nacionalidades, Espanha e Portugal, como figurar ilustres.No dia 22 de maro de 1625, a armada atingiu a Bahia e a 01 de maio Salvador estava libertada.Os holandeses, contudo, no desistiram de se apossar definitivamente do Brasil...Os Holandeses no Brasil: O NordesteA Companhia Privilegiada das ndias Ocidentais resolveu fazer nova investida contra a colnia luso-espanhola. O alvo, agora, seria Pernambuco, com mais de 130 engenhos, cuja safra ultrapassava as mil toneladas, fazendo de Pernambuco "a principal e mais rica regio produtora de acar do mundo". No aspecto militar, o Nordeste brasileiro estava desguarnecido e, assim, no tinha condies de resistir a um ataque de uma grande esquadra.A notcia sobre uma nova invaso holandesa ao Brasil se espalhava, rpida, pela Europa. Matias de Albuquerque, que se encontrava em Madri, foi nomeado "Governador e Comandante Supremo do Nordeste". O governador geral Diogo Lus de Oliveira recebeu instrues da metrpole para reforar e melhorar o sistema de defesa da Bahia e Pernambuco.Matias de Albuquerque partiu para o Nordeste brasileiro com poucos soldados, um reforo verdadeiramente ridculo diante da grande ameaa. Ao chegar em Pernambuco constatou que, para fazer frente aos holandeses, contava apenas com tropas que, na sua maioria, eram integradas por homens inexperientes... No precisava, portanto, ser vidente ou estrategista militar para prever que, em caso de uma invaso em grande escala, haveria de se repetir exatamente o que aconteceu em Salvador.No dia 15 de fevereiro de 1630, uma poderosa esquadra holandesa, com mais de 50 navios e 7.000 homens, sob a chefia de Hendrick Cornelizon Loncg, atacou Recife com toda sua fora. Resistncia herica, porm, ineficaz e, assim, a 3 de maro, caram Olinda e Recife. Mas Matias de Albuquerque no desistiu e, adotando a ttica de guerrilha, concentrou suas foras no Arraial do Bom Jesus. Os colonos levaram uma grande vantagem: conheciam a terra e atiravam desse fator o mximo que podiam, impedindo, ou melhor, retardando a vitria dos flamengos.A 20 de abril de 1632 ocorre um fato que vai mudar o destino da guerra: a desero, para o lado dos invasores, de Domingo Fernandes Calabar. Profundo conhecedor da regio, passou a fornecer as informaes que os neerlandeses precisavam e, dentro em breve, ampliaram o seu domnio, destruindo inclusive o Arraial do Bom Jesus.A guerra trazia enormes prejuzos. A Companhia das ndias Ocidentais resolveu enviar o conde Jos'r Maurcio de Nassau Siegen, com amplos poderes para pacificar a populao e promover o desenvolvimento da colnia, para enfim adquirir os to sonhados lucros. Comeava outra fase da dominao holandesa.O conde de Nassau veio com o ttulo de "Governador Capito General e Almirante de Terra e Mar". Vinha, portanto, para administrar e consolidar a conquista. Chegou no dia 23 de janeiro de 1637 no Recife. E se apaixonou pelo Pas dos mais belos do mundo.O conde de Nassau era, no dizer de Jnio Quadros, uma "figura do renascimento, amigo e protetor de letrados e artistas e comprazendo-se na sua companhia, seria ainda um administrador capaz, culto, enrgico e generoso".Nassau, apesar de ter feito uma grande administrao, contudo, no se encontra isento de crticas. Hlio Viana apresentou, de maneira objetiva, o outro lado da personalidade do governante holands: "interesseiramente protegeu os judeus, que para isso pagavam-lhe uma contribuio, a ponto de suscitar reclamaes. E teve motivos inconfessveis para amparar os calvinistas, pois uma de suas amantes no Brasil foi exatamente a filha do respectivo pastor. Quanto aos catlicos, se por interesse poltico durante algum tempo permitiu seu culto, no tardou a persegui-los, expulsando do territrio ocupado".Trouxe consigo artistas, (Frans Jasz Post) e cientistas (Jorge Marograv e Wielen Piso), ganhando fama de mecenas.Entre seus feitos podem ser citados os seguintes: apoio os senhores de engenho, tomando medidas que asseguravam uma melhor produo de acar; reformulou a administrao pblica; procurou acalmar os nimos dos portugueses; proibiu que se cobrasse juros de 18% ao ano, alm de promover diverso para o povo.Na rea militar, realizou algumas conquistas (Alagoas, Cear, Sergipe), porm sofreu um grande revs na Bahia. O governo espanhol, satisfeito com essa grande vitria, resolveu premiar os que nela se destacaram; Bagnuolo foi feito prncipe de Npoles, a D. Antnio Felipe Camaro foi entregue uma comenda, a dos Moinhos de Soure etc.A derrota de Nassau despertou Madri que organizou uma grande esquadra, sob o comando do Conde da Torre, D. Fernando Mascarenhas, para socorrer a colnia.No dia 12 de janeiro de 1640, ocorreu o primeiro combate entre a esquadra do Conde da Torre e a holandesa, comandada pelo almirante Corweliszoon Loos e, aps alguns combates - sem que houvesse uma batalha decisiva -, o Conde da Torre desembarcou em Touros, Rio Grande do Norte, mais de mil homens "sob comando do Mestre de Campo Lus Barbalho Bezerra, destemido cabo de guerra que iria agora - numa travessia de centenas de lguas, em busca da Bahia, por trilhas desconhecidas, em territrio ocupado por conquistadores desalmados e brbaras gentes, sem recurso de qualquer natureza, forado pela necessidade e estimulado pelo patriotismo a escrever uma das pginas mais gloriosas da histria da luta com os invasores", segundo conta Tavares de Lyra.Na altura do Potengi, Gartsmanm combate os comandados de Lus Barbalho Bezerra. derrotado e preso sendo levado como prisioneiro para a Bahia.Informa Tavares de Lyra: "A 15 de fevereiro de 1641, chega a notcia da restaurao de Portugal". Com D. Joo IV assumindo o trono de Portugal, estava desfeita a "Unio Peninsular"...Em 1642, Portugal assinou uma trgua com a Holanda. A 18 de abril desse ano, Nassau foi notificado que deveria voltar Europa em 1643. Recebeu muitas homenagens, partindo somente em 1644.A Insurreio PernambucanaAlguns colonos estava descontentes com o domnio holands, ainda na administrao de Nassau. Devido ao regime, muito duro, imposto pela Companhia das ndias Ocidentais. Por outro lado, aps a trgua com a Holanda, Portugal almejava a devoluo de suas colnias, porm, a Holanda no concordava. Gerando, assim, um clima de hostilidade entre os dois imprios. Diante do impasse, o governo portugus comeou, secretamente, a fomentar a revolta nas terras ocupadas.Em 1642, Andr Vidal de Negreiros e Joo Fernandes Vieira j confabulavam, animados com a restaurao do Maranho. No estavam sozinhos. O governador geral Antnio Teles da Silva enviou em 1644, experientes militares, liderados por Antnio Dias Cardoso, para Pernambuco, para que atuassem como instrutores. Ainda nesse ano, Andr Negreiros e Joo Fernandes, juntos elaboravam um plano para iniciar a reao contra os holandeses, tudo feito secretamente porque a trgua entre Holanda e Portugal no permitia se agisse s claras. Dentro desse contexto, em 1644, Henrique Dias e seu batalho negro seguiam da Bahia para Pernambuco, como se estivessem fugindo. E, logo depois, D. Antnio Felipe Camaro, com seus nativos, segue o mesmo rumo, oficialmente perseguindo os fugitivos ...Em 15 de maio de 1645, Joo Fernandes Vieira e Antnio Cavalcanti, na vrzea de Capibaribe. Assumiam um compromisso para lutar "em nome da liberdade divina". Pouco dias depois, ou seja, 23 de maio, os dois juntamente com outras personalidade (16), assinavam um documento onde demonstravam sua disposio de lutar pela "restaurao de nossa ptria".A insurreio comeou no dia 3 de junho de 1645, na vrzea do Capibaribe. Em agosto, os comandados de Joo Fernandes Vieira ultrapassavam mil homens!Entre as batalhas que obtiveram maior significao podem ser apontadas: a de Tabocas, em 1645, quando os revoltosos venceram os batavos do coronel Hans e do capito Blauer. E as duas batalhas de Guararapes. A primeira, em 19 de abril de 1648, com os revoltosos sendo chefiados pelo mestre-de-campo general Francisco Barreto e, ainda, as tropas de Andr Vidal, de Henrique Dias, de Antnio Felipe Camaro e de Vieira. Os holandeses tinham no tenente-general Sigismundo von Schoppe seu principal lder. A vitria sorriu para os coloniais. A segunda, que se realizou em 18 de fevereiro de 1649, foi mais uma derrota dos neerlandes. Era, praticamente, o fim do domnio holands no Brasil.A Holanda passava por uma crise, estando envolvida na "Guerra de Navegao" contra os ingleses, forando desviar a ateno e recursos que seriam destinados ao Brasil. A Inglaterra, interessada na destruio de sua rival, passou a ajudar a colnia portuguesa em sua luta contra os batavos. Atravs do "Ato de Navegao", de Cromwell, ficaram os holandeses sem liberdade de ao no mar, onde at a haviam gozado de inegvel supremacia', como disse Hlio Vianna.A expulso dos holandeses foi, sobretudo, uma grande vitria dos portugueses, mestios e, tambm, uma bela participao de negros e nativos. Fez nascer, ou pelo menos reforou, o sentimento nativista, nacionalista. Demonstrou toda a fora de um novo tipo que estava nascendo: o brasileiro, e lanava as bases de uma futura nao independente: o Brasil.A Preparao Para Conquistar o RNA Fortaleza da Barra do Rio Grande, pela sua beleza, impunha respeito. Os holandeses sabiam da importncia de cunho estratgico daquele edifcio militar. Possuam, ao mesmo tempo, um certo temor. Comear, ento, a recolher o maior nmero de informaes para elaborar um plano eficaz para captur-la.A 19 de julho de 1625, o capito Uzel Johannes de Laet fez um reconhecimento, encontrando no Rio Grande um engenho e muito gado.Em 1630, Adriano Verbo vinha com a "misso especial de ver, ouvir e cantar", como resumiu Cmara Cascudo. Mesmo com essas informaes, os flamengos no se arriscaram a armar uma esquadra e tentar se apossar da fortaleza.No outro ano, o nativo Marcial, fugitivo dos portugueses, se apresentou ao Conselho Poltico do Brasil Holands. Objetivo: realizar uma aliana com os batavos. Fornecendo, naturalmente, preciosos dados aos flamengos. O Conselho Poltico, contudo, foi prudente... Enviou Elbert Simient e Joost Closte ao Rio Grande, em 1631, para adquirir maior conhecimento da regio.Foi nessa expedio que os batavos conseguiram, por sua sorte, importante dados que se encontravam em poder dos portugueses e que facilitaram, posteriormente, a conquista do Cear. Os documentos se encontravam com um portugus chamado Joo Pereira, que foi morto.

F a s c c u l o 4 - M a s s a c r e s n o R i o G r a n d eTentativas de ConquistaO Fracasso do Primeiro AssaltoAps tantos estudos, os holandeses decidiram, finalmente, realizar a conquista do Rio Grande.Narra Cmara Cascudo: "A 21 de dezembro de 1631 partiram do Recife quatorze navios, com dez companhias de soldados veteranos. Dois conselheiros da Companhia assumiram a direo suprema, Servaes Carpenter e Van Der Haghen. As tropas eram comandadas pelo Tenente-Coronel Hartman Godefrid Van Steyn-Gallefels. Combinaram desembarcar em Ponta Negra, trs lguas ao sul de Natal, marchando sobre a cidade".O capito-mor Cipriano Pita Carneiro reagiu, ordenando que seus liderados abrissem fogo contra os invasores. Os holandeses, contudo, desistiram de realizar a conquista. Depois, passaram por Genipabu, agindo como verdadeiros salteadores, legando duzentas cabeas de gado...Fracassou, assim, a primeira tentativa dos flamengos para dominar o Rio Grande.A Rendio e a Tomada da FortalezaAo que parece, os holandeses temiam encontrar uma fonte resistncia por parte dos defensores da fortaleza. Precisavam conquistar o Rio Grande, sobretudo porque a captura desta capitania significava a soluo para o abastecimento de carne bovina para os batavos. Richshoffer, quando esteve em Genipabu, no escondeu o seu entusiasmo: "consumimos mais carne fresca do que no decurso de todo o ano anterior"...Em 1632, no se realizou nenhum ataque.Por que a tomada da fortaleza foi to fcil?A Fortaleza da Barra do Rio Grande estava apenas com um efetivo de oitenta homens, sendo seu capito-mor Pero Mendes de Gouveia, que lutou como um bravo, mas cometeu um erro que lhe seria fatal: abandonou as dunas prximas da fortaleza. Essas dunas deveriam ser defendidas. Caso contrrio, se os inimigos colocassem ali sua artilharia, transformariam aquele edifcio num alvo fcil de ser atingido. Foi exatamente o que aconteceu.O capito-mor Pero Mendes Gouveia agiu como se acreditasse que as muralhas da fortaleza fossem inexpugnveis... Erro ttico, que o levou para uma derrota inglria...Os holandeses, ao contrrio dos lusitanos, agiram como verdadeiros profissionais da guerra, segundo interpretao de Hlio Galvo: "A operao foi pr-traada, dentro do quadro militar rgido: uma operao combinada".No dia 5 de dezembro de 1633, partiu do Recife a esquadra sob o comando do almirante Jean Cornelis Sem Lichtard. Comandava as tropas o tenente-coronel Baltazar Bijma.Afirma Cmara Cascudo: "Todo o dia 9 de artilharia. Os holandeses montam as peas de 12 libras e os morteiros lana-granadas erguem trincheiras com cestes e sobem os canhes para os morros, a cavaleiro do forte. De l atiram, quase de pontaria, desmontando as peas portuguesas. Assim 10, com trocas de descargas, gritos, toque de cornetas e granadas. Dia 11 foi a mesma tarefa".Tenente-coronel Bijma intimou o capito-mor Pero Mendes Gouveia para que se rendesse, atravs de uma carta. Resposta de Gouveia: "V. Excia. deve saber que este forte foi confinado minha guarda por S.M. Catlica e s a ela ou algum de sua ordem o posso entregar". Atitude herica, porm intil. A artilharia flamega, montada nas dunas prximas da fortaleza falava mais alto...Segunda-feira, dia 12 hasteada a bandeira branca pelos sitiados. O capito-mor Gouveia estava gravemente ferido. Por essa razo, no participou das negociaes para a entrega da fortaleza ao inimigo. Enfermo, no possua mais o comando. Fala-se, inclusive, em traio... Na realidade, as negociaes da rendio foram realizadas por pessoas estranhas, como registra Hlio Galvo: 'Sargento Pinheiro Coelho, foragido de uma priso na Bahia; Simo Pita Ortigueira, preso na fortaleza, condenado morte; Domingos Fernandes Calabar, que viera na expedio".Caa a Fortaleza da Barra do Rio Grande. Comeava, a partir daquela data, o domnio holands no Rio Grande do Norte.Os MassacresA Destruio na Capela de CunhaSegundo Cmara Cascudo, "o engenho Cunha foi construdo na sesmaria dada por Jernimo de Albuquerque em 2 de maio de 1604 aos seus filhos Antnio e Matias. Constava de 500 quadradas na vrzea de Cunha e mais duas lguas em Canguaretama".No incio do sculo, o engenho exportava acar para Recife. Possua um fortim, sob o comando do capito lvaro Fragoso de Albuquerque. Foi construdo por marinheiros de Dunquerque.Esse fortim foi atacado, vencido e destrudo pelo coronel Artichofski, em outubro de 1634.A Companhia confiscou o engenho de Antnio Albuquerque Maranho.Depois, o engenho passou por vrias mos.No dia 15 de julho de 1645, sbado, Jacob Rabbi apareceu em companhia dos jandus, liderados por Jererera, no engenho de Cunha. A simples presena dos tapuias e de potiguares causou pnico na populao.Jacob Rabbi trazia instrues de Paul Linge. Publicou um documento, convidando a populao para, no domingo, comparecer capela para participar de uma reunio, quando seriam transmitidas determinaes do Conselho Supremo.A capelinha tinha como padroeira Nossa Senhora das Candeias.A maioria do povo atendeu ao convite, lotando o templo. Tiveram, entretanto, que deixar suas armas do lado de fora.O padre Andr de Soveral, paulista de So Vicente, missionrio e tupinlogo, comeou a celebrar a missa, considerando que a reunio seria realizada aps o ato religioso. Possua entre 70 e 90 anos. Era muito querido pelos seus paroquianos.Os nativos se aproximaram da capela. Fecharam as portas. Os fiis compreenderam o que iria acontecer. Tarde demais. Quando o padre Andr Soveral elevou a hstia, era o sinal combinado, comeou o massacre. As vtimas mal tiveram tempo de pedir perdo de seus pecados. Gritos, splicas, gemidos.Alguns tapuias procuraram atingir o sacerdote, Andr Soveral, ento, disse:- "Aquele que tocar no padre ou nas imagens do altar ter os braos e as pernas paralisados!"Os tapuias recuaram, porm Jererera acertou um golpe violento no sacerdote, que caiu. Ainda conseguiu se erguer, mas por pouco tempo, tombando sem vida. Morreram, ao todo sessenta e nove pessoas.A notcia se espalhou, provocando revolta. Iniciando, pouco depois, a fase das represlias. Em outubro de 1645, apareceu o capito Joo Barbosa Pinto, matando holands, com fria selvagem. Em janeiro de 1646, Felipe Camaro e o capito Paulo da Cunha s no fizeram o mesmo porque no encontraram inimigo para matar.Aps a expulso dos holandeses, em 1645, a capela foi reconstruda pela famlia Albuquerque Maranho, conforme registrou Fernando Tvora.Ataque a um Arraial FortificadoAps o massacre de Cunha, os colonos, receosos de um novo ato de violncia, procuraram se refugiar na casa-forte de Joo Losto Navarro, casado com Luzia da Mota, cuja filha Beatria Losto se casou com Joris Gardtzman (governante holands no Rio Gran