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HISTÓRIA E INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 2 WWW.fadtefi.com.br

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PhD.NILSON CARLOS DA CRUZ

HISTÓRIA E INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

Edição 13 / 2013 FADTEFIFADTEFIFADTEFIFADTEFI

Editora

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A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL SÓ É PERMITIDA MEDIANTE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO AUTOR. Critérios: Capa: Nilson Carlos da Cruz Revisão Ortográfica:Pelo Autor Copyright c Nilson Carlos da Cruz Ficha Catalográfica: _______________________________________________________________ Cruz,Nilson Carlos da. História e Introdução à Filosofia / Nilson Carlos da Cruz- Itu (SP):Editora Fadtefi,2010. 360 p. ; 21,5 cm. ISBN 978-85-62620-33-1 1.Filosofia (comentários). I .Título. _________________________________________________________________ Ficha Catalográfica elaborada pela Faculdade de Teologia Filadélfia – DCF 0002 Editora Fadtefi LTDA Rua Alcidia Castanha dos Santos,145-Potiguara-Itu-São Paulo-CEP 13.312-794 Fone:(11) 4022 3947 / www.editorafadtefi.com.br

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Sumário 1 Conceitos Básicos de Filosofia 7 Lição 1 23 2 A Filosofia e História da Religião 29 3 Filosofia Grega e Oriental 36 Lição 2 45 4 A Base de Diversas Filosofias 50 5 Pré-Socráticos 62 Lição 3 67 6 Os Socráticos 84 Lição 4 87 Lição 5 108 7 De Cícero à Tomás de Aquino 121 Lição 6 132 8 De Thomas More a Martin Heidegger 137 Lição 7 155 9 De Garfo de Hume a Henri Bergson 162 Lição 8 182 Bibligrafia 187

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Prefácio A todos os leitores desta obra, ofereço-a com todo prazer,dedicação e respeito,pois é fruto de uma árdua pesquisa,tenho certeza de que ao ler este livro,o caro leitor não vai desperdiçar seu tempo. Dediquei um tempo da minha vida para trazer ao público brasileiro este trabalho;e agradeço ao Eterno Deus que me ajudou nessa empreitada.

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Introdução Este livro está dividido em 8 partes que subentende-se 8 lições, com um total de 50 exercícios cada lição. E suas respostas estão em negrito e itálico no decorrer de cada lição;e os exercícios contém duas alternativas; uma certa e uma errada;para quem esta estudando com o E-book, poderá observar que suas lições estão disponíveis;é só preencher e enviar.

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1 Conceitos Básicos de Filosofia LIÇÃO 1 A Filosofia e a Fé Religiosa A palavra filosofia deriva-se de duas palavras gregas, philein, “amar”, e sophia, “sabedoria”. Ao que sabemos, o primeiro homem a usar essa palavra foi Pitágoras, em cerca de 600 A.C. Ele referiu-se a pessoas chamadas sábias, embora negando que qualquer ser humano fosse realmente sábio, ao dizer: Nenhum homem é sábio, mas somente Deus. E as pessoas que têm interesse pelas coisas divinas são buscadoras da sabedoria., isto é, são os filósofos. De maneira similar, Platão declarou:“Fedo, o nome sábio me parece demasiado grande, adequado somente para a divindade. Mas o amigo da sabedoria (o filósofo), ou outro parecido, ir-lhes-ia melhor, e não detestaria tanto. Sócrates empregava a ideia de buscadores da sabedoria (amigos da sabedoria), em contraposição aqueles que pretendem possuir a sabedoria, mas que, na realidade, não são sábios, como os sofistas (segundo a sua estimativa). Na antiguidade, o vocábulo filosofia referia-se tanto à atividade do filósofo como também aos sistemas segundo os quais essa atividade tinha lugar. O apego à sabedoria leva o homem a buscá-la, e é, então, que aflora o conhecimento sobre os princípios fundamentais em qualquer campo do conhecimento humano. Portanto, há uma filosofia específica para cada ramo do conhecimento, embora a filosofia tradicional encerre seis sistemas. A Definição da Filosofia É decidida dentro da filosofia somente através de seus conceitos e meios. Ela é, por assim dizer, o primeiro dos seus próprios problemas. Cada sistema fornece uma definição tentativa para explicar a filosofia, através de olhos restritivos e especializados. Assim surgiram os sistemas da gnosiologia, da ética, da estética, etc., cada qual caiu uma definição especializada. A filosofia é o saber a respeito das coisas, a direção ou orientação para o mundo e para a vida e, finalmente, consiste em especulações acerca da forma ideal de vida. Platão concebia a filosofia como aquela atividade que leva ao descobrimento da realidade, ou verdade absoluta, obtida através da dialética. Aristóteles acreditava que a filosofia começa com um senso de admiração e respeito, diante da vastidão e grandiosidade das coisas. E a atividade filosófica sonda o conhecimento em geral. Portanto, a totalidade do conhecimento humano, bem como os modos de se chegar a esse conhecimento, é que constituem a filosofia. Mas isso envolve apenas a filosofia geral. Para ele, a filosofia fundamental seria a teologia, que aborda os princípios e as causas últimas, o que inclui a ideia da divindade, que é o principal de todos os princípios, a Causa de todas as causas.

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As definições restritas e clássicas ocorrem em pensadores de menor envergadura, como Heresias, os quais pensam que a filosofia é aquela atividade mental que nos ensina como buscar os prazeres e evitar a dor. Para o neoplatonismo, a filosofia, na realidade, seria uma religião, mediante a qual o indivíduo aprende como buscar e obter a união com o divino. Durante a Idade Média, para a maioria dos filósofos, a filosofia seria a grande serva da teologia, uma disciplina utilizada pela Igreja, mediante a qual os dogmas e as crenças religiosas são examinados, compreendidos e melhor defendidos. Para outros, porém, a filosofia é uma intrusa, que somente ameaça a fé biblicamente alicerçada. Para Tomás de Aquino, a filosofia teria sido uma provisão racional de Deus, para que pudéssemos compreender melhor as realidades religiosas, capaz de abordar todas as coisas, exceto a explicação dos verdadeiros e mais profundos mistérios. Onde o raciocínio filosófico cessa, a fé completa o curso a ser percorrido. Pensava-se que a filosofia é aquele processo de raciocínio que examina o universo e obtém, acerca do mesmo, uma interpretação abrangente e plena. Para Descartes, a filosofia é a elucidação da verdade final, através do método da dúvida e do conseqüente reexame. Só poderiam ser aceitas como verdadeiras aquelas coisas sobre as quais não restam mais dúvidas; e, mediante a teoria da coerência da verdade, outras proposições são então estabelecidas. Saint Simon acreditava que a filosofia é aquele meio através do qual podemos pôr em harmonia, em nossa mentalidade, os elementos do mundo, que parecem desligados uns dos outros. Hegel pensava que a função da filosofia é deduzir categorias, isto é, os conceitos básicos necessários para a interpretação de qualquer realidade ou ato, ou natureza mesma das coisas. Todas as coisas, operando individual e coletivamente, expressariam o Espírito Absoluto, que atua através da tríada da tese, anti-tese e síntese. Cousin opinava que a filosofia é aquela atividade que classifica e interpreta a experiência humana. Spencer ensinava que a filosofia é uma disciplina sintética, que incorpora muitos campos de inquirição, unificando-os através de princípios universais. Ele acreditava que a evolução é básica, unificando as idéias de todos os campos do conhecimento, da experiência e do ser. Bergson asseverava que a filosofia é, essencialmente, uma função intuitiva, que nos brinda com a compreensão sobre a realidade básica. Segundo ele pensava, a razão engendra muitas falácias. Os filósofos lingüísticos, como Schilick, acreditam que a tarefa da filosofia consiste em explorar a lógica da ciência, produzindo a purificação da linguagem filosófica. C.D. Broad distinguia entre a filosofia especulativa e a filosofia crítica. É tarefa da filosofia elaborar muitas explicações alternativas no tocante a qualquer assunto, e então, mediante a análise critica, selecionar entre as melhores alternativas. Heidegger pensava que a atividade dos filósofos tem por intuito redescobrir o significado do Ser, uma herança antigamente possuída (segundo ele pensava) pela filosofia grega. Bonhoeffer distinguia entre o que ele chamava de filosofias da ação (que enfatizam o ser humano) e filosofias do ser (que enfatizam alguma divindade histórica). William James descrevia a filosofia como a tentativa para pensar de maneira clara e metódica acerca de certas noções ou conceitos que sempre estão girando em nossos pensamentos, e que parecem necessários para nosso processo de pensamento, mas sobre os quais as ciências especiais nada nos dizem. G. T. W. Patrick definia a filosofia como a tentativa para combinar as experiências comuns da vida, por um lado, com os resultados das ciências especiais, por outro lado, formando uma teoria mundial coerente e harmônica.

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Os positivistas concebem a filosofia como aquela atividade que procura definir um sentido prático e fornecer uma devida ordem ao método científico, e não aquela fútil tentativa de chegar à verdade final e a um conhecimento certo. Os pragmatistas pensam na filosofia como aquela atividade que descobre, dentro da experiência humana, aquilo que é prático, benéfico e útil, e não apenas o que é teoricamente certo, verdadeiro e perfeito. A Filosofia e a História das Idéias Sistemas tradicionais Todos os campos de pensamento e de atividades têm suas respectivas filosofias. Há uma filosofia da biologia, da educação, da religião, da sociologia, da medicina, da história, da ciência, etc.; mas os seis Sistemas tradicionais, que entraram na filosofia por meio de Sócrates, de Platão e de Aristóteles, são os seguintes: 1-Política. 2-Estética. 3-Lógica. 4-Ética. 5-Metafísica. 6-Gnosiologia (ou Epistemologia). Política O vocábulo política vem do grego, polis, “cidade”. A política, pois, procura determinar a conduta ideal do Estado, pelo que seria uma ética social. Ela procura definir quais são o caráter, a natureza e os alvos do governo. Trata-se do estudo do governo ideal. Estética Esse vocábulo vem do grego aisthesis, “sensível”, a palavra é empregada para designar a filosofia das belas artes: a música, a escultura e a pintura. Esse sistema procura definir qual seja o propósito ou ideal orientador das artes (a definição da beleza), apresentando descrições da atividade que apontam para certos alvos. Alguns dizem que arte consiste, essencialmente, em: a-adultos brincando com novos brinquedos. b-transmissão das emoções. c-discernimentos intuitivos quanto à natureza das coisas. d-uma maneira de experimentar o prazer. Lógica Esse sistema aborda os princípios do raciocínio, suas capacidades, seus limites, seus métodos, seus erros e suas maneiras exatas de expressão. Trata-se de uma ciência normativa, que investiga os princípios do raciocínio válido e das inferências corretas, ou partindo do geral para o particular (lógica dedutiva), ou partindo do particular para o geral (lógica indutiva).A lógica formal é a arte do raciocínio dedutivo, aquele ramo da lógica que estuda somente a estrutura formal das proposições, bem como as operações mediante as quais deduzimos conclusões. A lógica simbólica ou matemática é um desenvolvimento da lógica formal, em que a ambigüidade das proposições verbais e das operações que se fazem com base nas mesmas, chega a ser reduzida a um mínimo mediante o uso rigoroso de símbolos, cada um dos quais tem apenas um ponto de referência, dentro de um dado contexto.

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Comentários e Descrições: a-A lógica dedutiva foi formulada por Aristóteles. Ali empregam-se os silogismos, conforme o exemplo abaixo: Todos os homens são mortais;Sócrates é um homem;Logo, Sócrates é mortal. Acima temos um silogismo legitimo. Mas também há silogismos que não são legítimos, como este outro: Todos os gatos são animais;Todos os cães são animais;Logo, todos os gatos são cães.Há dezenove formas legitimas de silogismo, além de um outro número, ainda maior, de silogismos ilegítimos. Um silogismo contém três proposições. As duas primeiras proposições (representadas pelas duas primeiras linhas), são as premissas; e a terceira proposição é a conclusão. A primeira premissa é chamada maior (todos os homens são mortais a segunda premissa é chamada menor (Sócrates é um homem). O termo principal, nesse caso, é mortal; o termo menor é Sócrates; e o termo médio é homens. A lógica dedutiva ensina-nos quais formas e manipulações dos silogismos são válidas, e quais não o são, de acordo com leis específicas. b-A lógica indutiva parte do particular para o geral. Emprega partículas de raciocínio e, com base nas mesmas, tira uma inferência, que é a sua conclusão. Para exemplificar: a bensetacil tem sido submetida a muitos testes; cada teste contribui com sua informação acerca das circunstâncias, e em que extensão, esse medicamento pode curar certas enfermidades. Seus limites e efeitos colaterais foram determinados; quanto ao fator tempo, por quanto tempo pode ser usado, no caso de cada doença. Com base nesse grande número de particularidades, pode-se formular uma declaração acerca da capacidade de cura desse medicamento, que é a conclusão da questão. c-A lógica experimental é o nome aplicado ao sistema filosófico de John Dewey . A verdade que há em qualquer dada situação, ou o valor das ideias só pode ser determinado através de uma contínua experimentação, onde cada conclusão torna-se uma nova premissa, de tal modo que a experimentação nunca chega ao fim, e nem são descobertas verdades absolutas e finais.Cada verdade descoberta serve de motivo para novas investigações. d-A lógica simbólica ou matemática é definida sob o primeiro ponto, Lógica, no começo deste artigo. e-A lógica metafísica, como no sistema de Hegel, pressupõe que há forças naturais que atuam através da tríade composta por tese, antítese e síntese, que fazem parte da dialética. O Espírito Absoluto manifesta-se em todos os seres, circunstâncias e instituições, mediante esse modo de operação ilustração: 1-As religiões orientais salientam a comunidade, ou aquilo que é universal. 2-A religião grega enfatizava o indivíduo. 3-O cristianismo resultaria da tensão entre esses dois pontos de vista religiosos (que seriam a tese e a antítese), e torna-se uma síntese do individual com o universal, enfatizando ambos os elementos como uma unidade e uma qualidade resultante. Ética Essa é a investigação no campo da conduta Ideal, bem como sobre as regras e teorias que a governam. Apesar da própria palavra grega, ethos, referir-se a costumes e disposições, a ética formal assevera que existem regras pernianentes que são impostas ao homem, supondo-se que o homem não é o originador das normas da ética. Por outra parte, existem aqueles filósofos que insistem em que o sentido básico da palavra indica a natureza essencial

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dessa atividade, e que as regras éticas são produtos da experiência humana, que opera através de tentativa e erro. Alguns pensam que o senso de dever é o guia da conduta ideal, enquanto que outros opinam que o prazer é esse princípio.A ética religiosa faz Deus ser o alvo de toda a conduta ideal.Mas também há aqueles que apontam para a utilidade e para os resultados práticos e benéficos como esse alvo.O vocábulo português “moral” vem do latim, mos, moris, que significa “costume”, “hábito”, “voluntariedade”, “capricho”. E esse vocábulo, tal como o termo grego, ethos, aponta para o fator humano como o elemento mais importante na produção dos costumes éticos. Porém, alguns filósofos pensam que a nossa moral é divinamente ordenada. A Metafísica No grego temos as palavras meti, “após”, e phlalca, “física”. Essa palavra teve origem nas obras de Aristóteles, referindo-se simplesmente àquela seção de seus escritos que vinham após o seu tratamento sobre a física. Mas, visto que essa seção abordava assuntos que atualmente denominamos de metafísica, tal palavra veio a indicar o estudo das coisas que ultrapassam às entidades físicas. Basicamente, o termo refere-se à investigação quanto à verdadeira natureza de qualquer coisa. Popularmente, refere-se a considerações e especulações concernentes a entidades, agências e causas não materiais.A metafísica aborda assuntos como Deus, a alma, as causas, o propósito, o destino, a liberdade, o determinismo, o livre arbítrio, o monismo, o dualismo, o materialismo, o idealismo, a antropologia, a ontologia, a cosmologia, a imortalidade, a teleologia, o problema do mal, etc. A Gnosiologia (Epistemologia) Essa é a disciplina que estuda o conhecimento em sua natureza, origem, limites, possibilidades, métodos, objetos e objetivos. A palavra “gnosiologia” vem do grego gnosis, “conhecimento”, e logia, “estudo”, “consideração”. E a palavra “epistemologia” vem do grego episteme, “conhecimento”, e logia, “estudo”. O uso dessas duas palavras é levemente diferente em inglês e em português.Em inglês, o termo epistemologia fala sobre a teoria geral da verdade, um sentido que, em português, é dado à palavra gnosiologia.Em nosso idioma, a epistemologia refere-se à filosofia do conhecimento científico. Os Principais Períodos da História da Filosofia Filosofia Pré-Socrática (séculos VII a V A.C.). As principais investigações dessa filosofia diziam respeito ao desejo de distinguir os elementos básicos do Universo.Essa investigação poderia ter sido totalmente materialista, ou poderia ter sido pampsíquica.É provável que, nas mãos de outros filósofos, poderia ter sido uma coisa ou outra, ou ambas. Quando Tales afirmou que tudo estava cheio de deuses, ele pode ter querido dizer que nada existe que não tenha alguma força controladora divina ou psíquica, como elemento motivador. Ou apenas poderia ter usado um modo poético de exprimir poderes inerentes, naturais e materiais que atuam sobre as coisas. Xenófantes voltou sua atenção para a investigação de Deus e da ética social.E, na parte final desse período, os sofistas abandonaram a metafísica, fazendo da ética o alvo de suas investigações. O Período Clássico, é o período áureo da filosofia grega; Sócrates, Platão e Aristóteles (470 — 322 A.C.).

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Durante esse período desenvolveram-se os seis sistemas tradicionais da filosofia, pelo que a investigação filosófica cobria todas as possibilidades tradicionais de investigação. Sócrates foi, antes de tudo, um filósofo ético; Platão também o foi, mas adicionou a metafísica, a gnosiologia, a política e a estética, e antecipou a lógica em sua dialética e nos elementos de sua gnosiologia. Aristóteles deu continuação a essas investigações, tendo adicionado a lógica formal dedutiva. As Escolas Éticas, o Ceticismo, o Ecleticismo, o Helenismo (de 350 A.C. até à era cristã). Com Aristóteles terminaram os grandes sistemas especulativos da filosofia grega clássica. A vida política e social dos gregos começou a ruir. Então a filosofia voltou-se da busca pelos grandes mistérios para as preocupações humanitárias, para o homem em sua conduta; ideais e problemas. Alguns voltaram-se para as religiões orientais, em busca da definição do homem e de seu mundo; outros frisaram os sistemas e inquirições éticas. A filosofia salientava a ética acima de tudo o mais, e várias escolas surgiram em cena. Porém, o ceticismo também mostrava-se forte, tendo havido uma espécie de degeneração nas filosofias de Platão e Aristóteles. A própria filosofia deixou de ser uma disciplina separada e refugiou-se na religião, no neoplatonismo, nas religiões orientais e no cristianismo. Exemplo: a-Escolas Éticas. Epicureanismo e estoicismo. b-Ceticismo. Quando as Academias de Platão e Aristóteles degeneraram, assumiram uma postura um tanto cética. c-O Ecleticismo.O ecleticismo é uma filosofia do bom senso, onde os bons elementos são escolhidos dentre vários sistemas e combinados para formarem uma síntese. O pensamento eclético debilitou o dogmatismo e encorajou o intelectualismo e o livre pensamento. Quando a Macedônia foi militarmente conquistada pelos romanos, a Grécia foi reduzida a uma província romana. Os romanos eram grandes pensadores ecléticos, e não pensadores originais. A Filosofia Refugia-se na religião(de 350 A.C. até o começo da era cristã). Esse período justapõe-se ao período anterior. Enfatizou-se aqui como, gradualmente, a filosofia deixou de ser uma disciplina distinta, tendo-se tornado serva de sistemas religiosos. À medida que foi declinando a cultura clássica, a filosofia foi-se transformando em um misticismo religioso. As especulações gregas vieram fundir-se às fés egípcia, caldaica, judaica e cristã.O principal sistema resultante dessa mistura foi o gnosticismo. No Judaísmo as filosofias de Aristóteles e Platão (sobretudo deste último), influenciaram o judaísmo.Filo (30 A.C. a 50 D.C.) tem sido comparado com Moisés a falar o grego, ou com Platão a falar o hebraico. Uma filosofia judaica grega floresceu em Alexandria. O Neopitagoreanismo foi a tentativa para criar uma religião mundial com base na doutrina de Pitágoras. Após a sua morte, a sua escola continuou propagando as suas idéias, embora, finalmente, ela tenha desaparecido de cena, ou se tenha ligado ao neoplatonismo. As sociedades secretas de Pitágoras, com seus mistérios, foram mantidas e encorajadas no mundo romano. Era um sistema que frisava o conhecimento divinamente revelado e a filosofia eclética. O Neoplatonismo teve três representações principais: 1-A Escola de Plotino. 2-A Escola Síria. 3-A Escola Ateniense.

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O neoplatonismo ensinava que Deus é a fonte originária de todas as coisas: Deus é corpo, mente, matéria e forma; a causa sem causa.Ele é o Único, excluindo toda pluralidade e diversidade.Ele contém todas as coisas e está acima do ser, acima de qualquer explicação. Dele emanam-se todas as coisas, em três estágios: Primeiro lugar, o pensamento, a mente, a inteligência. Segundo lugar, a alma, inferior à mente, uma cópia do pensamento puro. Volve-se para o pensamento puro, por um lado, mas para a matéria, por outro lado. Essa é a alma do mundo, da qual as almas humanas individuais são uma parte. Terceiro lugar, a mais inferior de todas as emanações é o corpo físico. Apesar de residir na pluralidade, tem o selo do Absoluto. Confrontação com o Cristianismo Durante esse período, teve prosseguimento a filosofia eclética romana. Encontramos ali Cícero, o eclético, e também Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio, que enfatizavam o estoicismo de maneira eclética modificada. O neoplatonismo prosseguiu durante esse período como um grande movimento.Os pais latinos da Igreja, Tertuliano, Arnóbio, Lactâncio e outros, rejeitavam a filosofia como puro produto do paganismo. Os pais gregos da Igreja, Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Orígenes, e vários níveis de cristãos neoplatônicos, pensavam que os melhores aspectos da filosofia grega agiam como um mestre escola, conduzindo os gentios a Cristo, tal como a lei mosaica fizera com os judeus. Esses usavam a filosofia grega como uma maneira de explicar as doutrinas cristãs. Platão parecia-lhes especialmente útil com essa finalidade.Qualquer pessoa que estude as ideias de Platão haverá de entender o porquê. Ele tem excelentes coisas a dizer, capazes de aclarar a maneira em que concebemos a religião. Alguns dos primeiros pais da Igreja supunham que o próprio Platão sofrera a influência de idéias do Antigo Testamento. A Filosofia Pré-Idade Média, Pré-Escolástica (350 — 900 D.C.). Agostinho foi a linha de separação entre a especulação patrística e a especulação escolástica. Agostinho foi o maior de todos os pais latinos da Igreja. Não houve igual a Agostinho, como filósofo teólogo, desde Paulo até Tomás de Aquino. Além dele temos Boethius, como um dos principais filósofos desse período. John Scotus Erigena foi o precursor do escolasticismo. Suas datas foram 800-877 D.C. O Escolasticismo Alguns datam os primórdios desse movimento já no século VII D.C., fazendo-o prolongar-se até o século XV D.C. Seja como for, chegou ao seu ponto culminante nos séculos XII e XIII.Esse nome alude aos homens de escola, os mestres universitários, filhos da Igreja Católica Romana, que controlavam o sistema educacional da Europa, durante a Idade Média. O sistema estava alicerçado sobre o manuseio filosófico da fé cristã, destacando-se as ideias filosóficas de Platão e Aristóteles, mas, especialmente, a lógica e a metafísica do último deles. O maior filósofo desse período foi Tomás de Aquino. A filosofia dele continua sendo uma poderosa força tanto no seio da Igreja Católica Romana quanto no mundo filosófico.Os principais filósofos teólogos desse período foram: Anselmo (1033-1109), Roscelino (1050-1122), Guilherme de Cjampeaux (1070-1121), Pedro Abelardo (1079-1142), Pedro Lombardo (cerca de 1164), Bernardo de Clairvaux (1091-1153), João de Salisbury (1115-1180), Alexandre de Hales (falecido em 1245), Alberto Magno (1193-1280), Tomás de Aquino (1225-1274), Boaventura (1121-1274), Rogério Bacon (1214-1294), João Duns Scotus (1226-1308).

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Prelúdio para a Filosofia Moderna (1400-1500). O trabalho e o espírito das filosofias de Rogério Bacon, Duns Scotus e Guilherme de Occam possibilitaram o surgimento da filosofia moderna. Eles afirmavam que a filosofia deveria ser uma inquirição livre e independente, e não uma mera serva da teologia. Finalmente, isso chegou à plena fruição quando a filosofia foi capaz de repelir a reivindicação de autoridade da Igreja Católica Romana, tornando-se um campo independente de conhecimento e pesquisas.Tanto a filosofia quanto a política têm-se mostrado subservientes à teologia e à Igreja Católica Romana. Porém, com o tempo, o papado foi declinando em seu poder, e muitos escritores católicos romanos começaram a mostrar certa independência em seus pensamentos. A Renascença e a Reforma Protestante lançaram os alicerces para um novo pensamento e para novas teorias e atividades políticas. Nicolau Maquiavel (1469-1527), um diplomata italiano e a principal figura política da Itália, lutou por uma Itália independente, livre da dominação exercida pela Igreja Católica Romana nos campos da política, da ciência e da religião. Começaram a surgir novas teorias políticas. Assim, Hugo Grotius (1583-1645) promoveu a doutrina do absolutismo dos governantes, com base no direito divino dos reis, expressando isso mediante uma lei natural. Rousseau reagiu contra tal noção, algum tempo depois, tendo promovido os ideais da democracia. Jean Bodin (1530-1596) advogava a teoria que diz que o Estado repousa sobre a razão e a natureza humanas, dando grande importância à opinião popular. O absolutismo persistiu até o século XVIII. Porém, Althusius (1556-1638) exerceu influência sobre o mundo político ao lançar os alicerces para as monarquias e democracias constitucionais. A Renascença, dos séculos XIV a XVI, foi um período de reavivamento das letras e das artes na Europa, tendo atuado como um período de transição entre a Idade Média e a História Moderna. Um novo interesse pelos clássicos foi uma das questões predominantes durante esse período, e assim foi lançada a base para a ciência moderna. A Reforma Protestante (século XVI), foi um rude golpe contra o monopólio da Igreja Católica Romana. Lutero e Calvino retrocederam à teologia e ao misticismo de Agostinho; Zwínglio foi marcantemente influenciado pelo neoplatonismo. Jacó Boehme (1575-1642) enfatizava o misticismo. Herberto de Cherbury (1583-1648) construiu uma filosofia da religião sobre a metafísica natural, e não sobre a metafísica sobrenatural. O humanismo ganhou terreno, o ceticismo e o empirismo foram ganhando poder. As filosofias naturais apareceram pela primeira vez na Itália (o berço da erudição, durante esse período), com Cadan e Telesio. A ciência obteve notável progresso diante dos estudos de homens como Leonardo da Vinci (1452-1519), Copérnico (1472- 1543), Galileu (1564-1641), Kepler (1571-1630) e Newton (1642-1727). O tomismo tornou-se a posição filosófica oficial da Igreja Católica Romana, por determinação do papa Leão XIII, em parte a fim de fazer oposição ao naturalismo e ao ceticismo, que se impunham gradativamente. A Filosofia Moderna Giordano Bruno (1548-1600), um monge dominicano que nasceu perto de Nápoles, é considerado o pai da filosofia moderna.Ele fundamentou a sua filosofia sobre o neoplatonismo, mas levou em consideração as novas teorias cientificas de Copérnico.

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Sua principal realização foi separar, finalmente, a filosofia da teologia.Visto que ele advogava uma espécie de panteísmo, identificando Deus com a natureza, foi acusado de heresia e queimado na fogueira, o que sucedeu em Roma, em 1600, Porém, seu pensamento influenciou Leibniz e Hegel, refletindo certos aspectos da cosmologia dos estóicos. Tomás Campanella(1568-1639) foi um importante filósofo desse período. Passou vinte e sete anos na prisão, por causa de suas ideias políticas. Ele advogava uma educação universal compulsória, com base na ciência e na matemática. Períodos da Filosofia Moderna Empirismo inglês primitivo. Francis Bacon(1561-1626). Abandonou as especulações a priori e promoveu o empirismo e o método científico.Também fez oposição às antigas autoridades, como Aristóteles e os escolásticos, referindo-se aos ídolos da mente, que aprisionam homens. Racionalismo continental. Descartes (1596-1650) tem sido chamado por alguns de fundador da filosofia moderna.Foi um racionalista, um epistemologista e um metafísico dualista. Desenvolveu o método cartesiano, que consiste em deduções matemáticas generalizadas, com ênfase sobre a auto-observação. Benedito Spinoza foi um importante filósofo desse período. Ele combinava o neoplatonismo com os princípios da Renascença e do cartesianismo. Maiores desenvolvimentos, no empirismo inglês, ocorreram em face da obra de John Locke (1632-1704). A sua ideia da tabula rasa (a mente humana é limpa como uma folha em branco, ao nascer) pôs a sua filosofia sobre o alicerce do empirismo e do método científico. Ele denunciava o conceito das idéias inatas, tendo desenvolvido uma complexa gnosiologia empírica. George Barkeley, (1685-1753), o idealista, desenvolveu novas teorias do conhecimento. David Hume sacudiu o mundo da filosofia com o seu ardente ceticismo. O racionalismo alemão. Destaquei para Leibniz. Ele foi matemático, filósofo, historiador e diplomata. A filosofia do iluminismo.O movimento chamado Iluminação ou iluminismo glorificava o conhecimento, a ciência, as artes, a civilização, o progresso e o humanismo. Tomás Paine, Guilherme Godwin, Leibniz, Wolff, Jean Jacques Rousseau, foram importantes figuras desse movimento, do ponto de vista da filosofia. Porém, Kant, Herder, Lessing e Schiiler atacaram o racionalismo do movimento. Emanuel Kant (1724-1804) exerceu uma imensa influência sobre o mundo da filosofia. Procurando acomodar-se ao ceticismo de Hume, ele o ultrapassou e desenvolveu o seu sistema das proposições (do conhecimento) e dos postulados (quanto à ética, à metafísica e à religião). Sua filosofia é complexa e muito abrangente em sua aplicação universal. Os sucessores de Kant foram Fiehte, Schelling, Schleiermacher e Hegel e, neles, encontramos novos desenvolvimentos do idealismo alemão.Schleiermacher foi o maior de todos os idealistas religiosos de sua época. Hegel, por sua vez, foi o maior expositor do idealismo absoluto. Por sua vez, Schopenhauer deu ao mundo uma forma clássica do pessimismo, em sua filosofia da vontade. O positivismo foi um resultado natural do empirismo. A metafísica foi completamente abandonada, e desenvolveu-se uma filosofia do método cientifico. Augusto Comte (1798-1857) estava interessado em reformar a sociedade e, por essa razão, trabalhou no tocante a uma ciência social positiva, tendo rejeitado o pensamento da Idade Média como primitivo. Seu sistema de conhecimento estava alicerçado sobre o conceito de que o conhecimento do homem ocorre em estágios, a começar pelo estágio teológico, ou estágio antropomórfico primitivo (infantil ), passando daí para o estágio

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metafísico, de acordo com o qual os poderes ou entidades metafísicas substituem os seres humanos (tempo da adolescência) e terminando no estágio positivo, que abandona o caminho da teologia e enfatiza o como da lei da natureza. Dominam então a ciência natural e o método empírico. O utilitarismo. De acordo com esse sistema, a verdade é definida em termos de utilidade, e o prazer torna-se o alvo principal da atividade humana, sem importar qual o tipo de atividade. O utilitarismo esteve envolvido em muitas e variegadas reformas da sociedade, incluindo alterações fundamentais na lei. A filosofia da evolução foi promovida por Charles Darwin (1809-1882). Herbert Sencer (1820-1903) trabalhou em quatro áreas das ciencias: a biologia, a psicologia, a sociologia e a ética, e tem sido chamado de evolucionista cósmico. Ele promovia uma forma de agnosticismo que fazia o Absoluto tornar-se incapaz de ser conhecido. O novo idealismo era o mesmo idealismo alemão transferido e adaptado para outros países. Na Inglaterra, importantes filósofos dessa escola foram Thomas Hill Green (1836-1882), Francis Herbert Bradley (1846-1924), Bernard Bosanque (1848-1923). Nos Estados Unidos da América do Norte, Josiah Royce (1855-1916) e Bordan Parker Bowne (1847-1910) mostraram-se proeminentes. Na Itália houve Rosmini-Sebati (1797-1855), Gilberti (1881.1952), Benedectto Croce (1866-1952), e Giovanni Gentile(1875-1944). O novo positivismo foi desenvolvido por Ernesto Mach(1838-1916). Nele encontramos a equação entre a mente e o corpo.O método científico foi ainda mais desenvolvido. Richard Avenarius (1853-1896) seguia as ideias de Mach. Todas as categorias do intelecto humano eram concebidas como baseadas sobre a experimentação. O único método para obtenção do conhecimento estaria baseado sobre descrições por meio de proposições exatas, cientificamente determinadas.A metafísica foi por ele rejeitada,como se não tivesse significado para nós, simplesmente por não dispormos de meios para investigar tais assuntos. O pragmatismo. De acordo com esse sistema, a verdade é definida em termos daquilo que funciona, que é prático, dependendo dos resultados das ações.Qualquer conceito de verdade absoluta, perfeita e imutável é abandonado. Charles S. Peirce (1839-1914) foi o formulador dos princípios do pragmatismo moderno. Uma definição de qualquer conceito reside na totalidade das ocorrências experimentais aplicadas à mesma. Wihiam James opunha-se ao racionalismo clássico e ao empirismo inglês tradicional. Ele incluía a fé religiosa em seu sistema, embora com base na praticalidade e utilidade dos seus conceitos. Seria prático e psicologicamente útil acreditar na existência de Deus e da alma. James foi um psicólogo que veio a crer no dualismo (a mente separada do corpo), em face de suas experimentações. Nos escritos de John Dewey (1859-1952) temos o pragmatismo como um instrumentalismo. O instrumentalismo é a ideia que diz que a cognição consiste em forjar os instrumentos ideais, que nos permitem equacionar qualquer situação dada. Não haveria finalidades, porquanto cada fim torna-se um novo começo, e a experimentação prossegue. As ideias seriam armas teleológieas da mente humana. As ideias são plásticas e devem a sua estabilidade às funções vitais a que servem. Outros filósofos pragmatistas de nomeada foram F.C.S. Schiller, A.W. Moore, .LE. Boodin e Hans Vúhinger. Reavivamento do realismo. O realismo defende a ideia de que o mundo exterior é real, mesmo que nenhum agente o esteja percebendo. O idealismo supõe ou que o mundo é

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criação das nossas ideias, ou que aquilo que podemos saber a seu respeito (mesmo que seja uma entidade distinta) vem apenas através das nossas idéias. O neotomismo é um realismo católico romano. Na Alemanha, Granz Brentano (1838-1917), Alexius Meinong (1853-1920) e Edmund Husseri (1859-1938) foram importantes figuras do realismo. Husseri deu ao século XX uma de suas mais importantes doutrinas filosóficas, a fenomenologia. A fenomenologia é a ciência de todos os fenômenos, os reais e os apenas aparentes. Na Inglaterra, os principais vultos do realismo foram G.E. Moore, Bertrand Russeil, S. Alexander e Alfred North Whitehead. Nos Estados Unidos da América do Norte, também houve muitos neo-realistas como E.B. Holt, W.T. Marvin, W.P. Montague, R.B. Perry, W.B. Pitkin e E.G. Spauldíng; e também houve realistas críticos, como D. Rake, A.O. Lovejoy, J.B. Pratte, A.K. Rogers, George Santayana, R.W. Seilars e C.A. Strong. A Filosofia e a Fé Religiosa As religiões, de modo geral, estão alicerçadas sobre a experiência mística. Um profeta recebe uma visão; discípulos reúnem-se em torno dele, como uma importante figura religiosa; seus discípulos registram suas visões e ensinamentos; livros sagrados desenvolvem-se a partir desses registros; forma-se uma organização (Igreja), a fim de preservar e promover aqueles ensinos.Tudo começa nas visões e no discernimento ou intuição do profeta. Por outro lado, a filosofia é basicamente uma inquirição racional e empírica, embora também possa incluir elementos místicos. Muitas pessoas religiosas opõem-se a filosofia e outras chegam mesmo a desprezá-la abertamente.Tal atitude é difícil de compreender. Deus é o criador do intelecto (razão) e é difícil imaginar que alguém seria um antiintelectual, ainda que não anele por enfatizar a intelectualidade humana. Apesar de ser verdade que a revelação, uma subcategoria do misticismo é a fonte principal da verdade religiosa, outros modos de conhecimento, como a razão, a intuição e o empirismo são úteis, produzindo algo que deveríamos conhecer, mas que a revelação não esclarece. Antes de tudo, temos de interpretar a revelação, e isso requer o uso da razão.Nosso entendimento da revelação deve-se,em parte, à nossa intuição e discernimento.O terreno inteiro da ciência foi desenvolvido por meio do empirismo. Ali encontramos discernimentos quanto a questões de verdade de que precisamos, a fim de chegar a uma gnosiologia adequada. O conhecimento bíblico tem sido muito fomentado pelo avanço nos estudos da geologia, da arqueologia, da astronomia, da biologia e de outras ciências. A ignorância não tem qualquer valor, embora, em alguns círculos religiosos, ela tenha sido valorizada como se fosse uma virtude.O próprio Deus é o Grande Intelecto, sabendo tudo sobre todos os campos do conhecimento.Todas as ciências estão apenas descobrindo quais são os pensamentos de Deus, e a ciência é uma busca legitima. Nem todas as pessoas têm uma missão religiosa.Quando um cientista desempenha bem o seu papel e cumpre a sua missão, está servindo a Deus. A ciência tem aclarado certas idéias religiosas, forçando os religiosos a modificarem as suas idéias metafísicas. Certas noções teológicas têm sido abandonadas, por causa do avanço da ciência. Não mais cremos que a terra seja o centro do universo, e que ela esteja parada no espaço.Não mais seguimos a antiga cosmogonia dos hebreus, segundo a qual a terra seria chata, boiando sobre a água, e sobre colunas, com um firmamento (ou taça invertida) por cima, separando águas de águas, interpretações modernas têm fixado no papel essas idias primitivas, mas é simplesmente melhor admitirmos que a ciência nos

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tem feito avançar além de algumas crenças teológicas existentes na antiga cultura dos hebreus, que transparecem na Bíblia em alguns lugares. A ciência tem demonstrado a grande antiguidade da terra, especialmente através da astronomia, e não mais falamos sobre um jovem globo terrestre, com não mais de seis mil anos de idade. Muito pelo contrário, sabemos que o sistema solar tem, pelo menos, dezesseis bilhões de anos de antiguidade, e que a terra tem entre quatro e cinco bilhões de anos. A Própria Revelação não é Perfeita Nenhum método para se conhecer as coisas, que o homem conhece, está destituído de erros.Os homens, através dos seus dogmas, dizem-nos que a revelação é perfeita e completa. Porém, nem as próprias revelações bíblicas dizem tal coisa a seu respeito. Os homens têm um profundo desejo de conhecer os assuntos religiosos em termos absolutos.O que buscam é o conforto mental, valorizando o mesmo mais do que a busca autêntica pelo conhecimento. Consideremos o seguinte fator: quanto mais elevada for uma experiência mística, mais inefável será ela. Se quisermos entender certas revelações místicas teremos de reduzi-la a uma forma compatível com a mente humana. Isso significa que, desde o começo, aquilo que conhecemos deve ser adaptado segundo termos antropomórficos. Somente Deus realmente conhece a teologia. A teologia humana é limitada pela nossa pequenez humana, e falar em outro tom é tornar-se ridículo. Isso posto, não devemos exibir em demasia a nossa ignorância, afirmando que a revelação é completa e perfeita. Tudo quanto passa pela mente do homem e é adaptado à fraca intelectualidade humana, torna-se necessariamente incompleto e imperfeito. Sendo esse ocaso, faríamos bem em deixar a luz brilhar de outras maneiras, procurando destacar o como e o quê dos nossos conhecimentos.A verdade é uma inquirição eterna, e não um acontecimento que nos vem de um golpe só. Isso não significa, entretanto, que não contamos com algumas verdades importantes. De fato, dispomos de verdades que formam o alicerce das nossas vidas, verdades pelas quais bem podemos viver e morrer. Filosofia serva da Teologia Apesar de ter sido bom que Giordano Bruno tenha dado nascimento à filosofia moderna, e que, por isso, tornou-se novamente uma disciplina distinta, a filosofia continua servindo para aclarar o pensamento e as crenças religiosas.É óbvio que o teólogo que também é treinado na filosofia é um teólogo melhor do que se não tivesse recebido tal treinamento. Em primeiro lugar, tal teólogo entende as implicações da teologia bem melhor. De fato, posso afirmar com segurança que a melhor coisa que um teólogo pode fazer, a fim de ampliar os seus conhecimentos e a sua maneira de pensar, é estudar a filosofia. Quase todas as escolas teológicas reconhecem isso, requerendo alguma base filosófica para seus alunos de teologia. Além disso, por seus próprios direitos, inteiramente à parte de ser uma ajuda para a teologia, a filosofia tem-nos provido conhecimentos muito úteis.Consideremos os campos da ética, da metafísica e da gnosiologia. Quando a teologia não tem o respaldo da filosofia, mostra-se bastante fraca nesses campos. Não foi por mero acidente que, até o século XX (quando o empirismo assumiu tanta importância, através do surgimento da atitude científica), a maioria dos filósofos ou tem sido ministros ou filhos de ministros. É verdade que a filosofia tem suas corrupções e idéias más; mas outro tanto acontece no campo da teologia.Nada obtemos com a ignorância.A alma iluminada age melhor quando sabe quais opções pode tomar, e não sofre tanto quando se equivoca na busca do conhecimento.

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A Atitude e a Filosofia do Novo Testamento É verdade que Paulo, o rabino judeu, com sua mente repleta de visões e de elevadas buscas espirituais, não encontrou muito uso teórico para a filosofia, conforme se vê em 1 Cor. 1:18 ss. Por outro lado, os eruditos reconhecem o quanto ele dependia do estoicismo romano, em suas ideias éticas. Tarso era um centro dessa escola de pensamento e Paulo estava familiarizado com as suas máximas, muitas das quais ele usou direta ou indiretamente em suas epístolas.De certa feita, Paulo tentou atuar como filósofo e não obteve muito sucesso (ver Atos 17). Por outro lado, Justino Mártir conduziu muitos intelectuais a Cristo, usando uma abordagem filosófica da fé religiosa, pois supunha que a melhor porção da filosofia grega atuava como mestre-escola para conduzir os pagãos a Cristo, tal como a lei assim fazia no caso dos judeus. Os pais gregos da Igreja concordavam com essa atitude e sempre encontraram muito uso para a filosofia.O único lugar no Novo Testamento onde a palavra filosofia é usada é em Colossenses 2:8, e onde Paulo mostra-se Contrário em termos enfáticos. Porém, ali o apóstolo opunha-se às inúteis especulações do gnosticismo, e não à filosofia como um todo.O apóstolo dos gentios empregava o método filosófico quando procurava descortinar os princípios amplos e universais, em sua cosmologia, no primeiro capítulo da epístola aos Efésios, em sua ética no sétimo capítulo de Romanos, e em sua filosofia da história, nos capítulos nono a décimo primeiro de Romanos. Essas passagens certamente vão além daquilo que se poderia esperar da parte de um rabino judeu, demonstrando que ele tinha uma ampla educação que, embora não fosse principalmente filosófica, incluía esse aspecto. Filosifia Analítica Sob esse título, vários e diferentes programas filosóficos têm sido designados, notavelmente os de Bertrand Russeil, G.E. Moore, os positivistas lógicos, Ludwig Wittgenstein e outros. O que eles têm em comum é que nenhum deles procura erigir um sistema metafísico que (como o de Bradley ou o de Leibniz) descreva o mundo diário apenas como aparências, localizando a Realidade em outro modo de ser, totalmente diferente. Isso não equivale a dizer que nenhum filósofo analítico entra na questão da metafísica. A análise de Russell foi projetada para revelar as estruturas lógicas que a linguagem normalmente oculta. GE. Moore usou a palavra para indicar o esclarecimento sistemático de qualquer proposição. Tenho um corpo, o tempo é real, etc., mas não posso dizer como e por quê. A tarefa da análise consiste em explicar e em evitar tais declarações como o tempo não é real, o mundo é ilusório. No positivismo lógico, a análise tornou-se científica.A sua linguagem é empregada em descrições científicas e empíricas, agressivamente hostis à metafísica, intitulando tais proposições de destituídas de sentido.Wittgenstein, em seus primeiros estágios, usou um tanto os métodos de Russell, promovendo uma análise reducionista, referindo-se à linguagem como uma “pinturas de fatos”. Posteriormente, ele veio a crer que a linguagem não tem a única e simples função de descrever o mundo dos fatos. Antes, há muitas e irredutíveis funções da linguagem, servindo a uma multidão de diferentes propósitos humanos. A tarefa do analista consiste em identificar e discriminar essas funções. Muitos problemas filosóficos surgem do uso descuidado da linguagem, e ao analista cabe demonstrar isso.Uma importante tarefa da filosofia analítica é descobrir o sentido de alguma

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pergunta. E então, mediante a análise, tentar provar a resposta, ou respostas. Determinadas perguntas não têm sentido, e não merecem ser filosoficamente investigadas.Outra de suas tarefas é a iluminação lógica dos pensamentos, a fim de evitar o que é fato e o que é desarrazoado. Filosofia da Biologia De acordo com isso, a biologia é concebida segundo termos filosóficos. A doutrina platônica dos universais tem aplicações à filosofia da biologia. Platão supunha que existem entidades eternas, imutáveis e espirituais que obrigam as formas biológicas a serem o que são, visto que essas formas seriam cópias das realidades universais.O conceptualismo supõe que todas as coisas que existem emergem das idéias divinas. Filosofia da Ciência Trata-se do estudo filosófico da ciência,por meio do qual seus métodos,alvos e limitações são estabelecidos.A pesquisa científica organizada, através do método empírico, tem desenvolvido a maior parte de nossos campos do conhecimento; e para algumas pessoas, essa parece ter sido a única maneira autêntica de buscar conhecimentos. A filosofia da ciência, pois, procura mostrar o que há de significativo e distintivo nas asserções feitas pelos cientistas; o que distingue as meras opiniões do conhecimento sólido; como distinguir a verdadeira ciência da pseudociência; quais são os verdadeiros métodos científicos; e até que ponto a ciência pode reivindicar possuir um conhecimento genuíno. Aristóteles tinha uma ingênua filosofia da ciência. Ele supunha que um juízo, juntamente com uma completa descrição, seria o conhecimento. Para exemplificar, suponhamos que eu fosse um zoólogo.Eis que capturo uma ave na floresta. Então chamo o pássaro por seu nome correto. Assim fazendo, terei emitido um juízo. Em seguida, passo a descrever a ave de todas as maneiras possíveis, incluindo a sua estrutura atômica, se é que tenho acesso a esse tipo de conhecimento (Aristóteles não tinha tal acesso).Quando minha descrição tornar-se absolutamente completa, segundo pensava Aristóteles, então terei atingido o pleno conhecimento sobre aquela ave. Platão, por sua vez, negava que um mero juízo e uma completa descrição possam produzir o conhecimento. Ele salientava que esse processo depende da percepção dos sentidos, que será algo sempre parcial. Para ele, o conhecimento sempre deveria ser do real, do universal, e não acerca dos particulares, dos objetos terrenos, meras cópias da realidade. Esse tipo de realismo, naturalmente, era rejeitado por Aristóteles, que sempre via o universal nos particulares, e não distinto dos mesmos.Os sofistas, além de outros céticos, abandonaram a busca do conhecimento através da percepção dos sentidos, ou qualquer outro método. Os primeiros cientistas da era moderna assumiam a posição aristotélica sobre o conhecimento, supondo que as suas descobertas logo solucionariam os mistérios do Universo.Foi então que o conhecimento da complexa natureza do átomo começou a aflorar e esses muitos e profundos mistérios derrubaram por terra todas as teorias do conhecimento.Os cientistas, então, retrocederam para o ponto de vista do ceticismo e começaram a asseverar que devemos chamar de conhecimento aquilo que funciona, que é prático, que dá resultados, sem importar quantas teorias não resolvidas restem acerca da natureza da matéria ou do próprio universo. Kant afirmava que até mesmo aquilo que dizemos sobre algo já foi determinado pelas categorias da mente, pelo que poderia ser reflexo ou não da verdade objetiva. O resultado disso foi que o positivismo lógico (que é nossa atual filosofia da ciência), permanece cético acerca de um conhecimento completo e perfeito, rejeitando a metafísica

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como destituída de sentido, e considerando como conhecimento somente aquilo que tem utilidade imediata. Debilidades da Filosofia da Ciência 1-A ciência moderna tem sido reduzida ao método empírico, tachando de sem sentidos às conclusões obtidas mediante outros métodos, como o racionalismo, a intuição e o misticismo. No entanto, o conhecimento sobre as verdades mais profundas, como aquelas que dizem respeito à alma, à ética, à cosmologia e a Deus, só pode ser obtido com maior proveito através desses outros métodos, embora não sejam exatos como a matemática. Ao depender somente do empirismo, a ciência moderna tornou-se provincialista, parcial. Quando se lê os escritos dos filósofos científicos, vêem-se óbvios hiatos em seu conhecimento acerca do que está sucedendo em outros campos. 2-A filosofia da ciência não demonstra o devido respeito por outros modos de se tomar conhecimento, como a razão (mesmo sem a experimentação), a intuição e o misticismo. O conhecimento também nos pode ser dado através desses métodos, atingindo informes que estão além da abordagem empírica. 3-Apesar da ciência poder adotar legitimamente uma metodologia atéia, isto é, sem envolver Deus no quadro, a fim de tentar solucionar mistérios que, provavelmente poderão ser finalmente solucionados do ponto de vista natural, por via do empirismo, deve-se reconhecer a hostilidade de muitos cientistas a qualquer abordagem que não seja empírica, por causa de seu pronunciado ateísmo. Mas, algum dia, os cientistas terão de incluir fatores como Deus e a espiritualidade, em seus laboratórios. E assim, quando ultrapassarem o que para eles constitui uma grande barreira, terão obtido um significativo avanço. 4-Os cientistas, seguindo as idéias de seus próprios pioneiros, deveriam considerar com seriedade o conceito que a matéria é apenas secundária, de tal modo que, mesmo que seja plenamente descrita, não pode servir de base da existência. Ê provável que, por detrás da matéria, esteja a mente, e que, por detrás da mente, esteja a Mente Absoluta (Deus). Na verdade, conforme dizia Max Planck, o Universo é muito mais como uma idéia do que como uma grande máquina. 5-As tendências exibidas pelos cientistas por desencorajarem os juízos de valor mostram uma degradação, e não um avanço. A primeira de todas as ciências é precisamente a ética, que eles desprezam em suas investigações científicas. 6-Os positivistas lógicos apressam-se a classificar de sem sentido (se verdadeiro ou se falso, não sabemos dizer) a tudo aquilo que não é sondado pelos métodos científicos e empíricos.Isso não passa de um esnobismo no campo da gnosiologia; é não estudar as coisas com rigor filosófico.A maioria dos cientistas mantém-se inteiramente inconsciente do que está sendo descoberto em outros campos de investigação, especialmente nos campos da parapsicologia e do misticismo. 7-A fim de existir, a ciência precisa depender da invariabilidade, visto que a menos que as experiências possam ser repetidas, de acordo com leis constantes, nada resultaria disso senão o caos.No entanto, a teleologia é uma importante proposição metafísica, pelo que deveria não ter sentido para os filósofos da ciência.Mas cabe-nos perguntar como é que existem leis invariáveis na natureza, a menos que alguma Força Mental tenha estabelecido tais leis. Porventura a teleologia seria resultado do mero acaso? Não são esses termos opostos, contraditórios? A fim de pensar ou especular de modo inteligente acerca da natureza (mesmo que não chegue a questões mais profundas, como a alma ou como Deus) o indivíduo precisa romper as cadeias do empirismo.

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Contribuições da Filosofia da Ciência Se os cientistas não tivessem seguido tão teimosamente o seu empirismo, e sua fanática aplicação à técnicas de laboratório, não poderiam ter chegado aos fantásticos resultados que vemos atualmente. Todos os fanáticos tendem por mostrar-se unilaterais naquilo que pensam e fazem; mas, nessa intensidade, com freqüência obtêm melhores resultados do que outras pessoas. Muitos mistérios anteriores cederam diante dos métodos e da metodologia empíricos (mesmo que não da teoria empírica).O ateísmo, pois, tem servido de útil instrumento nas mãos dos cientistas. Porém, precisamos lembrar que nem toda luz está concentrada nos feixes de raio laser.Uma das maiores realizações da ciência tem sido tornar obsoletas várias teorias teológicas, o que tem forçado os teólogos a fazerem as adaptações necessárias. Esboço da História da Filosofia da Ciência Os primeiros cientistas da era moderna tendiam por aceitar um certo ponto de vista aristotélico ingênuo. Francis Bacon insistia quanto ao método indutivo nas pesquisas científicas. Equivocadamente, ele chamou Aristóteles de racionalista a priori; mas na realidade, ultrapassou a Aristóteles quanto à indução radical, que era o seu método preferido. Descartes e Leibniz expressaram grandes reservas acerca do empirismo, porquanto sentiam que Wittgenstein e apresentou o seu atomismo lógico. Para ele, o mundo constituir-se-ia de fatos atômicos, que podem ser representados por proposições elementares. O positivismo lógico resulta do empirismo extremo.A assertiva básica é que somente experiências comprovadas em laboratório nos fornecem conhecimentos verdadeiros, mas que até mesmo esse tipo de conhecimento consiste apenas em taxas de probabilidade, que se tornam úteis na prática. Esse sistema é uma espécie de ceticismo cientifico.

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História e Introdução à Filosofia L 1 1- A palavra filosofia deriva-se de duas palavras gregas.Quais são? A-Philein (“mamar”) e Sophia (“sabedoria”) B-Antropologia 2- Qual foi o primeiro homem a usar a palavra filosofia? A-Pitágoras, em cerca de 600 a.C. B-Sócrates 3- Platão concebia a filosofia como aquela atividade que leva ao descobrimento da realidade, ou: A-Verdade absoluta, obtida através da dialética B-Verdade totalista 4- Aristóteles acreditava que a filosofia fundamental: A-Seria a Política B-Seria a Teologia 5- O que seria a realidade da filosofia para o neoplatonismo? A-Seria o conhecimento B-Seria uma religião 6- Quem opinava que a filosofia é aquela atividade que classifica e interpreta a experiência humana? A-Cousin B-Platão 7- Quem pensava que a atividade dos filósofos tem por intuito redescobrir o significado do Ser , uma herança antigamente possuída? A-Canti B-Heidegger 8- Quem distinguia ente o que ele chamava de filosofias da ação(que enfatiza o ser humano) e filosofia do ser(que enfatiza alguma divindade histórica)? A-Bonhoeffer B-Pascal 9- Qual é a definição básica da filosofia? A-Filosofia é a história das idéias B-Filosofia é a busca pelo conhecimento 10- Que sistema a lógica aborda? A-O princípio do saber B-Os princípios do raciocínio 11- Por quem foi formulada a lógica dedutiva? A-Aristóteles B-Sócrates

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12- Qual é o vocábulo que vem do grego aisthes,“Sensível”? A-A Ética B-A Estética 13- Qual o nome dado a investigação no campo da conduta Ideal, bem como sobre as regras e teorias que a governam? A-A Ética B-A Lógica 14- De o significado do vocábulo político que vem do grego: A-Poli estado B-Poli cidade 15- Que disciplina estuda o conhecimento em sua natureza, origem, limites, possibilidade, métodos,objetos e objetivos? A-A política B-A gnosiologia 16- A que palavra refere-se a investigação quanto a verdadeira natureza de qualquer coisa? A-Metafísica B-Lógica 17- Qual o nome dado ao período áureo da filosofia grega; Sócrates, Platão e Aristóteles de 470 a 322 a.C? A-Período Clássico B-Período de Ouro 18- Que nome era dado as escolas Epicureanismo e estoicismo? A-Escolas Éticas B-Escolas Políticas 19- Qual o nome dado a filosofia do bom senso? A-Ética B-Ecleticismo 20- Os romanos eram grandes pensadores ecléticos: A-E não pensadores lógicos B-E não pensadores originais 21- Os pais da igreja latina, Terlutino, Arnobio,Lactancio; e outros, rejeitavam a filosofia como: A-Puro produto do paganismo B-Por ser heresia 22- Os pais gregos da igreja, Tertuliano, Justino Mártir,Clemente de Alexandria, Orígenes e vários níveis de cristãos neoplatonicos, pensavam que os melhores aspectos da filosofia grega: A-Agiam como um mestre escola B-Agiam como pedagogo

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23- Quem foi a linha de separação entre a especulação patrística e a especulação escolástica? A-Tomas de Aquino B-Agostinho 24- Quem lançou alicerces para um novo pensamento e para novas teorias e atividades políticas? A-O Iluminismo B-A Renascença e a Reforma Protestante 25- Qual foi a pessoa que lutou por um Itália independente, livre da dominação exercida pela Igreja? A-Nicolau Maquiavel B-Canti 26- Quem construiu uma filosofia da religião sobre a metafísica natural, e não sobre a metafísica sobrenatural? A-Pedro Abelardo B-Herberto de Cherbury, 1583 à 1648 27- Quem tem sido chamados por alguns de fundador da filosofia moderna? A-Descartes, 1596 à 1650 B-Plotino 28- Qual o filósofo que combinava o neoplatonismo com os princípios da Renascença e do cartesianismo? A-Benedito Espinosa B-Darwin 29- Qual foi o resultado natural do empirismo? A-O Positivismo B-O Iluminismo 30- A filosofia da evolução foi promovida por: A-Parmênides B-Darwin, 1809 à 1882 31- O novo positivismo foi desenvolvido por: A-Ernesto Mach, 1838 à 1916 B-João Damasceno 32- Em qual sistema, a verdade é definida em termos daquilo que funciona, que é prático dependendo dos resultados das ações? A-O socialismo B-O pragmatismo

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33- A fenomenologia é a ciência de todos os fenômenos: A-Os reais e os apenas aparentes B-Os apenas aparentes 34- O conhecimento bíblico tem sido muito fomentado pelo avanço nos estudos da: A-Física, Química, Matemática, Astrologia e outras ciências B-Geologia, Arqueologia, Astronomia, Biologia e outras ciências 35- Certas noções teológicas tem sido abandonadas, A-Por causa do avanço da ciência B-Por causa do avanço da descrença 36- De fato, posso afirmar com segurança que a melhor coisa que um teólogo pode fazer, a fim de ampliar os seus conhecimentos e a sua maneira de pensar, A-Estudar filosofia B-Estudar antropologia 37- A alma iluminada age melhor quando sabe quais opções pode tomar, A-E não sofre tanto quando se equivoca na busca da religião B-E não sofre tanto quando se equivoca na busca do conhecimento 38- Qual o único lugar do Novo Testamento onde a palavra filosofia é usada? A-Lucas, 2:9 B-Colossenses, 2:8 39- A análise de Russell foi projetada para revelar as estruturas lógicas que a: A-Linguagem normalmente oculta B-Linguagem normalmente explícita 40- A tarefa da análise consiste em explicar e em evitar declarações como: A-O tempo não é real, o mundo é ilusório B-O temo é real 41- Muitos problemas filosóficos surgem do uso descuidado da linguagem, A-E ao analista cabe demonstrar isso B-E ao analista cabe a descrença 42- A doutrina platônica dos universais tem aplicações a: A-Filosofia da Biologia B-Filosofia da Política 43- A filosofia da ciência, pois, procura mostrar o que há de significativo e distintivos nas: A-Asserções feitas pelos teólogos B-Asserções feitas pelos cientistas 44- Kant afirmava que até mesmo aquilo que dizemos sobre algo: A-Já foi determinado pelas categorias da mente B-Já foi determinado pelo entendimento

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45- Quando se lê os escritos dos filósofos científicos,vemos óbvios hiatos em seu conhecimento acerca do que esta: A-Sucedendo em otros campos B-Acontecendo atualmente 46- Quem disse que o Universo é muito mais como uma idéia do que como uma grande máquina? A-Carl Marx B-Max Planck 47- O que é uma importante proposição metafísica? A-A Teologia B-A Mecânica 48- Qual é a tendência de todos os fanáticos? A-Crença absurda B-Mostrar-se unilaterais naquilo que pensam e fazem 49- Quem insistia quanto ao método indutivo nas pesquisas cientificas? A-Francis Bacon B-Locke 50- O que resulta do empirismo externo? A-O positivismo lógico B-O positivismo

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LIÇÃO 2 O operacionalismo tomou por empréstimo elementos tanto do pragmatismo quanto do positivismo lógico. P.W. Bridgeman interpretava os significados ou as definições em termos de operações. Karl Popper invocava a verificação como um modo eficaz de fazer investigações científicas. Ele enfatizava ainda mais o elemento da falsibilidade As modernas filosofias da ciência incorporam as idéias da indução, do ceticismo, do positivismo lógico, do pragmatismo, do operacionalismo e da falsibilidade. Mário Bunge advertiu-nos contra o mito da simplicidade. Ainda há muita coisa a ser dita acerca de todas as filosofias e de toda a ciência. Paul K. Feyerabend tem argumentado em favor da ênfase e da novidade, na produção de teorias e tem feito avisos contrários à uniformidade. Todos os campos de conhecimento conduzem-nos a coisas novas, e jamais as portas deveriam ser fechadas para novos desenvolvimentos.

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2 A Filosofia e História da Religião Filosofia da História Essa expressão não deve ser confundida com História da Filosofia. A Filosofia da História é o exame filosófico da história, na tentativa de verificar se é possível chegar-se a uma descrição filosófica da própria história. Por outra parte, a História da Filosofia acompanha as ideias filosóficas de maneira cronológica através da história. As definições filosóficas da história não apresentam, necessariamente, qualquer teoria sistemática quanto ao que está envolvido no processo histórico, pelo que aquele assunto deve ser distinguido do que apresentamos aqui. Há uma boa diferença entre a história e a filosofia da história. A primeira estuda a história, sem tentar descobrir ali quaisquer padrões repetitivos ou qualquer desígnio ou lei normativa de qualquer espécie. Mas, sempre que alguém encontra alguma força orientadora, ou coisas que têm significado e se repetem, formando ciclos, então já estaremos tratando com a filosofia da história. Ou então, talvez a filosofia da história de alguém é que não existe tal coisa como esses padrões, mas a história seria destituída de desígnio por ser caótica. E, visto que aquele que assim faz já estará filosofando sobre a história, fazendo a respeito dela alguma forma de declaração filosófica, então estará, ao mesmo tempo, criando uma filosofia da história. A cultura judaica tinha uma filosofia da história bem definida. Eles acreditavam que a história começou por um ato divino, tendo sido dirigida, teologicamente, pelo próprio Deus. Contudo, a concepção da história deles era linear,tivera um começo bem definido, uma força orientadora que se movia para um alvo específico, um alvo final predito por homens santos. Quanto a isso, Israel haveria de ser guia e mestra das nações, até atingir, finalmente, a sua futura era áurea, guiada segundo moldes teístas, quando surgir em cena o Messias, na glória de sua segunda vinda. Naturalmente, a teocracia de Israel misturava a Igreja com o Estado, em uma unidade indivisível. As religiões orientais e os estóicos promoviam uma teoria da história diferente, a saber, uma idéia circular. Os estóicos acreditavam que o Logos manifestara-se através de grandes ciclos de tempo. Então uma grande conflagração teria assinalado o recolhimento do Logos ao seu estado original, depois que o Logos se cansara de suas emanações. Após certo tempo, indeterminado, o Logos haveria de emanar-se novamente, e isso iniciaria um novo ciclo. Entretanto, esses ciclos significariam que todas as coisas que estão acontecendo, já aconteceram e haverão de acontecer novamente. Isso posto, uma interminável repetição seria a grande característica da história. Uma versão religiosa do ponto de vista cíclico da história é aquela que afirma que o universo nasceu de Deus e está destinado à reabsorção final, a partir do que haverá a repetição do mesmo processo. A ideia platônica dos universais, que se manifestariam por

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meio dos particulares, que, por sua vez, são reabsorvidos pelos universais, após muitos milhares de anos de reencarnações (no caso do homem) é uma variante dessa noção. Heráclito concebia a história do homem como se passasse por ciclos de progresso e declínio. Nos tempos modernos, Nietzsche propôs um ponto de vista cíclico da história, em sua doutrina da recorrência eterna. Sua ideia, portanto, é bastante parecida com o conceito dos estóicos, que falavam sobre a reabsorção de todas as coisas pela fonte emanadora original. O cristianismo tornou a expressar a idéia que os hebreus faziam da história, excetuando que fazia tudo depender, para sua realização, do Messias, em seu primeiro evento, sem seu segundo evento, no milênio e no estado eterno, condições essas na direção das quais todas as coisas se estão movendo. A espiritualidade é injetada nessa filosofia da história, estando envolvida uma evolução espiritual. O homem físico, mortal, haverá de ser revestido da imortalidade. Sua alma irá sendo gradualmente espiritualizada (ver II Cor. 3:18), de tal maneira que, finalmente, haverá de participar da própria natureza do Filho (ver Rom. 8:29) e, em conseqüência, da natureza divina (ver Col, 2:10 e II Ped. 1:4). Essa filosofia da história é linear, mas segue uma direção que leva a um tipo de vida inteiramente diferente, na eternidade futura, com objetivos ainda bastante indefinidos, por enquanto, mas que se concretizarão quando os processos de redenção e de restauração se tiverem completado. A humanidade inteira é concebida como a dirigir-se a uma grande restauração, que haverá de reverter completamente os efeitos da queda no pecado, o que constitui o mistério da vontade de Deus (Efé. 1:9,10). A ideia é similar à dos estóicos e de Platão, embora sem os grandes ciclos repetidos. Não obstante, o trecho de Efésios 1:9 mostra-nos que há ciclos envolvidos, embora cada um, uma unidade em si mesma, seja uma força que contribui para produzir a restauração final. A história inteira seria teisticamente guiada e determinada por esse alvo final. Nada estaria fora do plano ou da vontade de Deus. Agostinho é reconhecido como um importantíssimo filósofo da história. Ele retinha os aspectos essenciais da visão do cristianismo; mas em seu livro, A Cidade de Deus, ele fez da Igreja a força impulsionadora da história presente, em suas tentativas por converter o mundo pagão, o Estado. Visto tratar-se de um poder espiritual, a Igreja seria maior do que o Estado, e deveria dominá-lo. Isso posto, não haveria separação entre a Igreja e o Estado, e este último deveria ser dirigido pela primeira. Essa ideia, posto que não combine com a exposição de ideias da Bíblia Sagrada, exerceu tremenda influência durante a Idade Média, quando a Igreja e o Estado estiveram em constante conflito. Os ideais de Agostinho eram freqüentemente reiterados, e a Igreja procurava impor-se aos governos civis, até mesmo quando, na Europa fragmentada, houve a tentativa de reunificação naquilo que se chamou de Santo Império Romano. Uma parte das realizações da reforma consistiu em produzir condições de modo a separar a Igreja do Estado, apesar de João Calvino, na prática real, ter dado continuação ao sonho de Agostinho, em sua experiência teocrática em Genebra. Os pontos de vista de Agostinho não anteciparam a restauração referida em Efésios 1:9,10 e assim a Igreja Ocidental, como um todo, não promoveu esse aspecto da teologia. A sua visão beatifica, como o alvo da história do povo remido, preservava e explicava o ideal cristão da transformação do homem à imagem de Cristo, e a participação desse homem na natureza divina, que é o alvo da história no caso dos salvos. O chamado Santo Império Romano, foi fundado com base nos princípios da obra de Agostinho, A Cidade de Deus, tendo dominado a cena política da Europa pelo espaço de

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mil anos. Visto que Agostinho escreveu com cuidado e boa exposição, sobre o assunto, com freqüência, ele é chamado de pai ou fundador da filosofia da história. Os filósofos franceses criaram um ideal elaborado de utopia, na direção do qual, presumivelmente, a humanidade estaria marchando. O processo histórico teria começado na animalidade e, a partir dali, mediante estágios graduais, estaria avançando na direção do estado ideal, utópico. Condorcet pensava em dez estágios através dos quais a história estaria passando; e a nossa era presente seria a final! Vico propôs uma espécie de filosofia da história em dois andares, onde as sociedades humanas passam por três estágios: o dos deuses, o dos heróis e o dos homens. Por detrás dos bastidores, um outro drama se vai desenrolando, onde a providência divina cuida para promover um ideal da história. Augusto Comte supunha que três estágios de pensamento têm governado as ideias e os atos humanos: 1-O pensamento teológico, no estado primitivo da humanidade. 2-O pensamento metafísico, onde forças naturais dirigem os homens. 3-O pensamento científico, dominado pelo positivismo lógico e pelo método científico, libertando o homem de suas anteriores superstições. Hegel via na história a força de uma tríade em operação, que controlaria todas as coisas, todos os movimentos da história, todos os campos de empreendimento, absolutamente tudo. Em primeiro lugar haveria a tese, então a antítese (a força contrária) e, então, haveria a síntese, um misto das duas condições anteriores. O Espírito Absoluto seria a força que existe por detrás de tudo. Esse Espírito teria o costume de pensar dessa maneira tríplice, fazendo todas as coisas acompanharem a sua maneira de pensar. Marx e Engels secularizaram a tríade hegeliana e fizeram dela o poder que estaria por detrás da força mais poderosa neste mundo, a economia. Eles reduziram o espírito de Hegel ao dinheiro. Tal desenvolvimento tem o nome de materialismo dialético. O ideal concebido ali operaria sobretudo no campo da luta de classes. O ideal a ser atingido é uma sociedade sem classes, e esse alvo seria absolutamente inevitável (determinismo). Os homens não poderiam fazer cessar o processo, mas apenas ajudá-lo ou tentar impedí-lo, em sua inexorável marcha. Por outra parte, a tradição profética revela-nos que o comunismo internacional encaminha-se para o fim, tendo, no máximo, cerca de cinqüenta anos de vida restantes. Forças superiores haverão de reduzi-lo a nada e, então, ver-se-á que o Espírito, na verdade, governa a matéria. Spengler negava que se possa construir uma filosofia da história global. Cada sociedade teria de ser considerada segundo as suas próprias condições.Isso significaria que há pequenas filosofias da história em operação, aplicável somente a cada caso em particular.Todavia, haveria certos pontos de semelhança. Assim, cada sociedade passaria por um processo de nascimento, crescimento, maturidade, velhice e, finalmente, morte. Toynbee seguia, em linhas gerais, a análise de Spengler, embora tenha modificado a sua teoria de declínio inevitável. Dentro das operações da história, ele descobriu vários elementos atuantes, como desafio e resposta, retirada e retorno, e uma minoria criativa que atuaria tendo em vista o bem da totalidade da humanidade. O dispensacionalismo é uma filosofia cristã da história. Deus é visto como Alguém que atua através de sete distintas dispensações, em cada uma das quais experimenta uma nova ideia. Cada dispensação terminaria em fracasso, com exceção da última. Uma vez que a missão de Cristo terá então atingido os seus plenos propósitos, o resultado final será a salvação da alma humana. Esse estágio final seria eterno.

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O que terá lugar então dependerá dos pontos de vista teológicos de cada indivíduo. Filosofia da Religião A filosofia, tal como a religião, como um sistema, começou como uma defesa das crenças religiosas, através do raciocínio filosófico. Assim, temos as provas racionais da existência da alma e de Deus, como exemplos desse tipo de atividade. Porém, uma verdadeira filosofia da religião não é especificamente defensiva, e nem especificamente negativa. Antes, é a consideração de assuntos religiosos mediante a crítica analítica e a avaliação feitas pela filosofia. O propósito disso não é, em primeiro lugar, aceitar ou rejeitar as crenças religiosas e, sim, compreender e descrever as mesmas de forma mais exata e abrangente. “A filosofia da religião é o estudo lógico dos conceitos religiosos e dos conceitos, argumentos e expressões teológicos: o escrutínio de várias interpretações da experiência e das atividades religiosas. O filósofo que pratica a mesma não precisa dedicar-se à religião que estiver estudando. A filosofia da religião deve ser distinguida da apologética. Novamente, não é idêntica à teologia natural, visto que o filósofo da religião também pode ocupar-se na avaliação de alegadas revelações”. Diversos temas da filosofia da religião A natureza, a função e os valores da religião. A validade das reivindicações religiosas e dos métodos de investigação. O problema da verificação das crenças religiosas. A relação entre a ética e a religião. O problema do mal. A religião natural versus a religião sobrenatural. O problema da revelação, os seus modos e a sua validade. A alma, sua existência, sua sobrevivência diante da morte biológica e o seu destino. A natureza e a existência de Deus. A liberdade e o determinismo. O misticismo. Os valores humanos; o humanismo. Os credos, as organizações e os ritos religiosos, como também a atividade missionária. A função religiosa como parte da sociedade. A religião é uma das instituições da sociedade. A tradição profética: suas reivindicações, suas debilidades, sua validade, etc. A natureza e a validade dos livros sagrados. As funções dos profetas. A autoridade da Igreja, que preserva a mensagem dos profetas. A natureza da linguagem religiosa, suas fraquezas e sua validade. Valor Apologético Apesar da filosofia da religião não ser uma apologia, obviamente tem uma certa função apologética, perfeitamente legítima. Isso empresta razão e poder às crenças do indivíduo, mostrando que ser religioso é estar ocupado em uma atividade útil. A Filosofia da Fé Religiosa Vários dos pais gregos da igreja, pensavam que filosofias mais nobres, como a de Platão, haviam servido como presentes de Deus aos povos gentílicos, tal como a lei fora

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uma dádiva divina aos israelitas, para guiá-los até Cristo. Essa atitude era compartilhada por muitos dos pais posteriores da igreja, gregos latinos igualmente. O próprio Paulo tentou a “abordagem filosófica” em Atenas, embora sem sucesso (ver Atos 17). Justino Mártir e outros obtiveram maior êxito com esse método, entre os intelectuais. A maioria dos comentadores concorda em que Paulo não atacava indiscriminadamente toda e qualquer filosofia, mas tão-somente aquela modalidade proeminente na Ásia Menor, que passara a fazer parte do sistema gnóstico. Os cultos misteriosos mesclavam a filosofia com as artes mágicas, chamando-as de nutrimentos gêmeos da alma. A filosofia, tal como qualquer outro campo do conhecimento humano, envolve algum bem, que nos pode tornar melhores pessoas e melhores ministros cristãos, contanto que sejamos criteriosos que aceitar e no que repelir. A cidade de Tarso foi um centro do estoicismo romano. E apesar das epístolas apócrifas de Paulo a Seneca, e de Seneca a Paulo, não serem autênticas, elas refletem a antiga observação sobre a similaridade dos autores, em seus princípios morais e seus modos de expressão. Conclusão A filosofia, por definição básica, é a história das Ideias. Há seiscentos anos de filosofia por detrás da doutrina do “Logos”, até (João 1:1). É importante conhecermos a filosofia, até mesmo aquela que se opõe ao pensamento cristão. Pois podemos resistir mais facilmente o inimigo, quando sabemos quais são os seus ataques e estratagemas. Referência Bíblica Filosofia No grego é philosophia, palavra usada exclusivamente em todo o N.T. em (Gal. 2:8). Esse vocábulo significa amor à sabedoria. Nos nossos dias, entretanto, é usado para designar estudos sistemáticos e racionais, como a ética, a estética, metafísica, a política, a lógica, a epistemologia (gnosiologia) e outros de tempos mais modernos, como a filosofia da ciência, a religião, a educação, a matemática, etc. Essa palavra foi usada pela primeira vez por Pitágoras, em 600 A.C., a fim de designar aqueles que buscam a sabedoria., em vez dos interesses usuais, como os esportes, os prazeres e as vantagens financeiras. Sócrates se utilizava de tal palavra para indicar os pesquisadores da sabedoria.. Platão afirmava que o termo sábio pode ser atribuído somente a Deus, mas que um homem pode ser um .pesquisador da sabedoria, ou um filósofo, um .amigo da sabedoria., o que é o sentido implícito no vocábulo. A influência estóica é evidente nas Escrituras de Paulo. Portanto, a filosofia tinha uma parte na sua formação e no seu pensamento. O que é de algum valor não jogamos fora meramente porque existem maiores valores. Uso e Abuso da Filosofia O próprio Paulo tomou por empréstimo certo número de ilustrações e lições morais derivadas do estoicismo romano, e em razão disso há paralelos entre seus escritos e aqueles de Sêneca, o famoso filósofo estóico romano, contemporâneo do apóstolo dos gentios. Com base nessa circunstância é que surgiram as epístolas apócrifas de Paulo a Sêneca, e deste para aquele. Apesar de serem obras apócrifas, sua própria existência implica na similaridade de expressão (e pensamento moral) entre os dois homens.

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A filosofia, entretanto, não conta com qualquer doutrina de redenção que possa ser substituta da salvação em Jesus Cristo, embora Platão tivesse antecipado certo número de doutrinas de elevado cunho espiritual que fazem parte do sistema cristão. As objeções de Paulo às idéias dos filósofos, tão evidentes no primeiro capítulo de I. Coríntios, estavam alicerçadas sobre o fato de que a porção intelectual da igreja de Corinto (provavelmente seguidores de Apolo) havia virtualmente abandonado a fé cristã (Com sua mensagem central da cruz), substituindo-a por um mero sistema de sabedoria humana. O relacionamento que porventura existia entre o cristianismo e a filosofia, e aquilo que os comentários bíblicos declaram a respeito, aparecem nos comentários sobre (Col. 2:8) .Paulo também queria que compreendêssemos que não pode haver substituto para a mensagem simples da cruz; porquanto é através da mesma que o homem é levado de volta a Deus, através da reconciliação que há em Cristo,mui provavelmente ele levantava objeção contra as especulações filosóficas, que tendem por detratar da importância de Cristo, e não meramente contra as ‘apresentações de tipo filosófico, da mensagem cristã. A eloqüência e a erudição humanas com freqüência têm sido usadas com êxito na defesa dos pontos secundários do cristianismo; mas a simplicidade e a verdade são as que lhe têm preservado a cidadela. Visto que o poder procede de Deus, e não do homem, isso pode ser percebido mais claramente quando o instrumento usado por Deus não é produto polido da sabedoria humana. Porém, para que isso realmente se verifique, é mister que se faça presente o poder real de Deus, A mera substituição de uma pregação erudita pela prédica inculta e ignorante não manifesta por si só, o poder de Deus; mas isso é tão-somente substituir a sabedoria humana pela ignorância humana. E tal medida faria das igrejas evangélicas ainda mais enfadonhas, e não mais poderosas. Por outro lado, quando o poder de Deus realmente se faz presente, não há necessidade alguma de revestir a pregação com a habilidade retórica. Mas, quando esse poder se ausenta, nem o discurso simples e ignorante (o que, para muitos parece ser um ponto de orgulho e ufania) e nem o discurso brilhante e retórico pode ter grande valia. Assim sendo, se o poder de Deus estiver presente, a maneira erudita de apresentar o evangelho não lhe servirá de empecilho; antes, tal como se vê nas próprias epístolas de Paulo, onde há passagens supremamente eloqüentes, esse brilhantismo pode ser usado para atingir certos níveis de pessoas, onde uma apresentação ignorante e inculta os repulsaria. Evidentemente Apolo aplicava tais habilidades, posto que não era falso para com a mensagem do Senhor. Por isso mesmo, Apolo não é atingido aqui pelas criticas do apóstolo dos gentios, embora alguns daqueles que faziam de Apolo o seu modelo merecessem tais críticas. Com a passagem geral que encontramos aqui no primeiro capítulo de I Cor., podemos confrontar a atitude declarada por Justino Mártir (150 D.C.), um dos primeiros dos chamados pais da igreja, e que foi o principal apologista cristão de sua época. Ele fora um filósofo neoplatônico, bem como um mestre ambulante de algum prestígio. Justino Mártir afirmava que a filosofia o levara aos pés de Cristo, como se ele tivesse sido um aio, mais ou menos como a lei mosaica o fora para alguns judeus. (Ver Gál. 3:24,25). Aqueles que conhecem a filosofia platônica sabem que existem pontos de grande similaridade entre seus conceitos básicos e as idéias básicas do cristianismo, e que uma coisa pode realmente conduzir à outra. E interessante que Justino Mártir nunca se despiu inteiramente de sua capa de filósofo, tendo andado ao redor, procurando convencer as classes intelectuais a virem a Cristo, utilizando-se de seu método filosófico. No entanto, ao mesmo tempo, foi um dos maiores

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defensores do cristianismo. O valor de seu exemplo não deveria ser completamente olvidado por nós. Essa atitude de Justino Mártir foi compartilhada pelos pais alexandrinos da igreja, como Clemente e Orígenes, os quais pensavam que a filosofia grega os tinha preparado para o evangelho, sobretudo a filosofia platônica e estóica, tal como a lei mosaica preparara o caminho para tantos judeus. Justino Mártir foi um cristão supremamente dedicado a Cristo, que usou as habilidades inerentes à sua personalidade, bem como as capacidades que lhe foram conferidas por obra e graça do Espírito de Deus, a fim de fomentar a causa do reino de Deus. Não é provável que Paulo tivesse encontrado motivos para condená-lo por isso.

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3 Filosofia Grega e Oriental A filosofia ocidental teve inicio entre os gregos. A filosofia grega cabe entre 600 A.C. a 600 D.C., mas sobrevive de maneira muito ativa na maioria das culturas modernas. Quando alguém disse que Platão é a filosofia, em certo sentido exagerou; mas a declaração encerra uma força que não pode ser negada. Durante o período grego da filosofia, quase todas as alternativas filosóficas foram manuseadas, conforme se faz atualmente, no mundo ocidental. Além disso, muitas teorias científicas, que obtiveram larga aceitação em tempos posteriores, foram propostas pela primeira vez pelos gregos. Entre elas devemos incluir a teoria atômica, a visão heliocêntrica do sistema solar e certa evolução orgânica. Talvez possamos dizer que o que os hebreus foram para o pensamento religioso, os gregos foram para o pensamento filosófico. Filosofias Milesiana e Jônica (Século VI A.C.). Nesse ponto os filósofos procuravam entender a natureza básica da composição do Universo especificamente da matéria, sugerindo algum dos quatro elementos, como a água (Tales), o ar (Anaximenes) ou o apeiron, ou elemento indeterminado (Anaximandro). Essa atividade pode ter assumido certa forma de pampsiquismo e não de materialismo, se é que a declaração de Tales, de que tudo está cheio de deuses deve ser entendida literalmente.(referindo-se a alguma força psíquica em todas as coisas)e não poeticamente, para indicar alguma força natural que permeie a todas as coisas. Os Pitagoreanos As datas dessa escala de pensamento ficam entre 550 e 430 A.C. Todavia, as ideias ali ensinadas sobreviveram por vários séculos depois que essa escola terminou. Tal escola tinha características de uma seita religiosa, fazendo certos elementos das religiões orientais entrarem no sistema. Pitágoras tornou-se conhecido como uma figura santa e, aparentemente era dotado do Rode; de bi-locação, mediante a projeção da psique. Essa escola tornou-se melhor conhecida por manusear a questão dos números. A cada coisa atribuía um número correspondente, que foi uma espécie de antigo discernimento atômico. A matemática, em certo sentido, tem a chave capaz de abrir a explicação da realidade. Platão incorporou essa ideia em seu próprio sistema de ideias. Pitágoras foi homem dotado do poder da palavra. Os seus discípulos costumavam dizer: Ele mesmo disse isso, o que bastava para comprovar alguma questão. Heráclito (fim do século VI a.C.) Ele acreditava que tudo se acha em estado de fluxo, pois toda a existência estaria em uma espécie de processo interminável, sempre se modificando. Dizia ele: Penta rei, tudo flui. Muitos dizem que foi ele quem iniciou a doutrina do Logos, aquela sabedoria que controla o fluxo de todas às coisas. Ele pensava que o Jogo era o elemento básico. Os Filósofos Eleáticos

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Parmênides, Zeno de Eléia e talvez Xenófanes negavam o fluxo postulado por Heráclito, vendo apenas unia natureza sem mudanças; onde as mudanças são ilusórias. Isso eles faziam com bases racionais, pensando que a razão ocupa posição suprema, e não a percepção dos sentidos. Essa escola floresceu na primeira metade do século V. A.C. A Discussão Sobre a Mudança e a Constância Foram feitas tentativas para definir o pluralismo e o atomismo. Empédocles pensava que a terra, o ar, o fogo e a água eram as raízes elementares que se combinam em diversas proporções para compor todas as substâncias. Anaxágoras falava sobre as sementes ou partículas que constituiriam as coisas, e introduziu o conceito da nous, ou mente, como a força controladora da natureza. Leucipo e Demócrito introduziram a teoria atômica, afirmando que a natureza compõe-se de átomos e espaços vazios. Os átomos foram por eles definidos como de número infinito, impenetráveis e imutáveis, embora suas combinações pudessem explicar todas as modificações. Os Sofistas abandonaram as especulações metafísicas e introduziram a gnosiologia e a ética relativas, fazendo do homem o padrão de todas as coisas. O Período Clássico Todos os seis sistemas tradicionais da filosofia foram formulados pelos esforços combinados de Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates foi, antes de tudo, um filósofo ético, que tinha certas qualidades próprias dos místicos religiosos, mas que não se interessava pela metafísica. Ele deixou suas marcas imortais sobre a ética. Platão, embora seu discípulo, ultrapassou ao seu mestre quanto ao escopo de interesses e criou um elaborado sistema de gnosiologia, metafísica, estética e política. Era homem de grande piedade pessoal, a ponto de ter sido chamado de Isaias grego, Em alguns de seus estudos antecipou a lógica. Mas foi Aristóteles, quem adicionou a lógica dedutiva. O período clássico data de 450 a 32 A.C. Platão foi o maior cientista da era clássica. Nos escritos de Platão há forte influência de Sócrates. Mas ele também foi o pai da ética, de tal modo que várias escolas foram criadas por seus discípulos, cada um afirmando-se o melhor intérprete do grande mestre. Daí surgiram as escolas do cinismo, do hedonismo, do epicurismo e do estoicismo. Pode-se dizer que esse período ocupou o tempo de 350 A.C. até o começo da era cristã. Todas essas escolas propunham diferentes alvos para a vida humana, com diferentes tipos de conduta ideal. O período das especulações filosóficas terminou com Aristóteles, e então tornaram-se proeminentes a ética e o ceticismo. Naturalmente, esse período foi assinalado pela desintegração, tanto do poder militar grego (após Alexandre, o Grande) como do pensamento grego original. As Academias de Platão e Aristóteles A academia de Platão foi a primeira universidade européia. Continuou existindo até os dias de Antíoco, em 67 A.C., embora muito se tenha afastado da filosofia de Platão, tendo-se tornado, essencialmente, em uma agência de expressão

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do ceticismo . Por outro lado, os pensamentos religiosos de Platão encontraram guarida no neoplatonismo. A escola de Aristóteles, o Liceu, também continuou funcionando até muito depois de sua morte. Continuou operando até os fins do primeiro século A.C., sob a direção de Andrônico de Rodes. A principio foi organizada para promover a filosofia de Aristóteles e as ciências. Assumiu um colorido cético, tal como sucedera à academia de Platão, embora tivesse feito muitas contribuições à erudição quanto aos ideais da educação liberal. O Ceticismo No campo da filosofia, esse sistema foi organizado inicialmente por Pirro , já na segunda metade do século IV A.C. A influência desse modo de pensar foi grande, exercendo efeitos sobre outras escolas. A base da moderna ciência filosófica é o ceticismo, a noção de que não há tal coisa como um conhecimento perfeito, final e sem erros. David Hume foi o cético mais proeminente do começo da era moderna, e a sua filosofia teve vasta influência sobre toda a filosofia que veio em seguida. O Ecletismo Helenista e Romano Após o declínio dos grandes sistemas especulativos do período clássico, ficou faltando originalidade na filosofia, na esteira de um período de desintegração geral da sociedade grega. A principal tendência era os filósofos selecionarem itens que os agradavam, combinando-os em sistemas mistos. Os romanos não criaram qualquer nova filosofia. De fato, desde Aristóteles até Agostinho, nada de original apareceu na filosofia. Diferentes combinações foram efetuadas, produzindo novos sistemas; mas esses sistemas estavam apenas recombinando e reordenando idéias anteriores. O estudo de Agostinho quanto ao tempo antecipou a teoria da relatividade. Porém, já existia em forma germinar nas discussões de Platão sobre o mundo universal, em comparação com o mundo dos particulares (este mundo físico).Na prática, os interesses dos romanos, em contraste com a teoria, levou à tendência geral ao ecletismo, perceptível desde o século III A.C. em diante. O Noeplatonismo O Neoplatonismo foi o esforço especulativo final da filosofia grega, entre os séculos III e VI D.C. Embora essas sejam as datas de um sistema formalizado, o neoplatonismo já havia sido antecipado pela academia de Platão, quando Xenócrates, que sucedeu ao sobrinho de Platão, Speusipo, como o líder da academia, identificou Deus com a unidade primária. E, naturalmente, Filo preparou o caminho para o sistema, tendo apresentado, por assim dizer, uma antiga afirmação do neoplatonismo. Foi uma tentativa para combinar todas as doutrinas filosóficas e religiosas em um único sistema, interpretando tudo do ponto de vista platônico. Quem fundou essa escola foi Plotino. Exerceu tremenda influência sobre vários dos primeiros pais da Igreja, principalmente do lado grego, e continuou exercendo considerável poder sobre a Igreja da Idade Média. Influência do Neoplatonismo Sobre o Cristianismo O cristianismo, pois, não se originou somente com base no Antigo Testamento.

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De fato, as doutrinas sobre a alma, sobre o mundo em dois níveis (conforme é enfatizado em Hebreus 8:5 e 9:23), etc., tiveram sua origem na filosofia grega, especialmente de Platão. A epístola aos Hebreus foi influenciada por Platão, através de Filo. Todos os estudiosos de filosofia e religião têm consciência da grande similaridade entre a ética dos estóicos romanos e os escritos de Paulo, quanto a muitos particulares. Mas também temos o conspícuo exemplo da doutrina do Logos, iniciada por Heráclito que passou pelo estoicismo e pelo neoplatonismo (mormente nos escritos de Filo), e terminou aparecendo em João 1:1 como um dos nomes do Filho encarnado de Deus. Ademais, não há que duvidar que a doutrina de hades, tanto no judaísmo quanto no cristianismo, deveu-se, pelo menos em parte à sua formulação pelos gregos. Os primeiros pais da Igreja, especialmente aqueles do lado grego da Igreja, interpretavam a sua teologia do ponto de vista platônico. Essa atividade prosseguiu pela Idade Média, quando Aristóteles (o Filósofo) tornou-se a principal força interpretativa da teologia, especialmente dentro do tomismo. A Filosofia Grega como um Mestre-Escola Os pais gregos da Igreja davam muita importância aos estudos dos filósofos gregos, mormente Platão. De fato, alguns desses filósofos eram tidos em tão alta conta que vários teólogos especularam que o hades não poderia ser o lugar onde suas almas residiam. Mas, supondo que pelo fato de não terem sido cristãos também não poderiam estar ao céu, suas especulações teológicas criaram um outro lugar, de glória secundária. Essa seria a glória dos filósofos gregos dotados de bons pensamentos, embora não fosse a glória dos remidos. É possível que o segundo capítulo da epístola aos Romanos tenha sido usado como base da ideia. Certamente que a doutrina da restauração antecipa níveis de glória secundária, a serem distinguidas da glória dos eleitos, que chegarão a participar da própria natureza divina (II Ped. 1:4). O trecho de Efé. 1:9,10, que fala sobre o mistério da vontade de Deus, antecipa a aplicação da missão de Cristo, em um nível secundário, no caso de todos os homens. Seja como for, os primeiros pais gregos da Igreja acreditavam que a melhor porção da filosofia grega atuou como um mestre-escola para conduzir os pagãos aos pés de Cristo (preparando o caminho para a sua mensagem), tal como a lei mosaica tivera essa função no caso dos judeus. O Logos implanta as Suas sementes por toda a parte. A vontade de Deus é poderosa e ele encontra muitos meios para levar a mensagem espiritual até os homens. A melhor parte da filosofia grega, incluindo os escritos de Platão, embora não somente dele, enriquece a teologia. Acompanhar a doutrina de Platão sobre a alma, em seus diálogos, e ver como os argumentos racionais podem afirmar tanto a existência da alma como a sua sobrevivência ante a morte física, é uma aventura jubilosa. Não encontramos coisa semelhante nem no Antigo; e, nem no Novo Testamentos, que se equipara aos escritos de Platão, quanto a esse particular. Filosofia Helenista Era usada para designar o período durante o qual a cultura greco-macedônia propagou-se dos Bálcãs para as terras que margeiam a bacia do mar Mediterrâneo, após a morte de Alexandre, o Grande, em 323 A.C., e terminando com a ocupação final romana do último grande reinado grego, em cerca de 30 A.C.

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Entretanto, a filosofia helenista prosseguiu por um longo tempo após a sua morte política. Somente em 529 DC., quando o imperador Justiníano tornou ilegitimas as antigas religiões e as antigas filosofias. Portanto, esse período perdurou por cerca de setecentos anos, do ponto de vista da filosofia. Durante esse período, até cerca de 30 A.C., era grega a liderança política, além de muitas instituições na Ásia Menor, na Síria, na Mesopotâmia e no Egito, com bases na civilização macedônica. Naturalmente, isso incluía a filosofia. Como fim do período clássico, dominado por Sócrates, Platão e Aristóteles, desenvolveram-se os tradicionais seis ramos da filosofia, e assim chegou ao fim a originalidade. Filósofos de menor envergadura (embora alguns deles importantes), continuaram salientando ideias que os três gigantes haviam proposto, embora o ecletismo fosse a tendência principal. A Academia de Platão continuou; mas, sob a liderança de Carnéades de Cirene (cerca de 214-128 A.C.), tal academia tornou-se pronunciadamente cética, o que forçou o apodo academia dos céticos. Carnéades, pois, atacou a gnosiologia dos estóicos, asseverando que não há como o homem conhecer o mundo dos fenômenos, exceto através dos sentidos. E, visto que os sentidos físicos são imperfeitos, e facilmente podem enganar-se, não haveria tal coisa como um conhecimento seguro. Até a existência dos fenômenos, segundo ele, seria admitida somente com base na teoria das probabilidades. O Liceu de Aristóteles devotava-se às ciências e ao naturalismo, e seus melhores representantes finalmente, partiram para o museu de Alexandria, no Egito, famoso centro da erudição antiga. Zeno de Cftium, um os principais filósofos da época. Epicuro tomou por empréstimo o atomismo dos mais antigos filósofos, a fim de prover seu sistema moral com alguns elementos naturalistas e com uma metafísica anti-determinista. Ele tomava uma posição deísta, no tocante à teologia, porquanto não queria aceitar a idéia de deuses caprichosos e destrutivos a influenciarem os homens em sua busca da liberdade de expressão. Fazia do prazer mental (hedonismo) o alvo da conduta ideal. Entrementes, os estóicos tinham um sistema inteiramente determinista, com base no controle universal exercido pelo Logos. Para eles, a liberdade consistia em fazer o que o Logos requer, e sentir-se feliz com isso. Apatia era a sua palavra chave, porquanto a única maneira de manusear a dor seria ignorá-la. O estoicismo romano modificou isso para a moderação. Os estóicos apreciavam a metáfora do palco, onde a Nous.(mente, Logos) determinaria a peça teatral, e onde cada indivíduo teria um papel a desempenhar. O homem seria forçado a aparecer neste mundo na capacidade determinada pela Nous, e teria a responsabilidade de desempenhar bem o seu papel, e não a de determinar o resultado do espetáculo. Plutarco (433-350 A.C.) foi um importante filósofo desse período, tendo sido o primeiro líder da Escola de Atenas. Ele detestava o epicurismo e não apreciava o estoicismo. No entanto, sentia-se atraído pelas idéias de Platão, Aristóteles e Pitágoras. A Escola de Atenas era a Academia de Platão que se tornou neoplatônica. Plutarco acreditava firmemente na liberdade da vontade e pensava que a comunhão com Deus pode ser obtida mediante ritos litúrgicos. Filo Judeu tentou ligar Platão ao judaísmo, tendo sido um dos precursores do sistema neoplatônico formal, que só surgiu mais tarde. Suas ideias exerceram alguma

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influência sobre o Novo Testamento, sobretudo quanto à doutrina do Logos e da visão mundial da epístola aos Hebreus . Hermes Trimegisto foi uma importante figura no campo da filosofia e da literatura, nos séculos III e IV D.C. Seu nome significa Hermes Três Vezes Grandioso, como exaltação ao deus Hermes. Seus escritos contêm um conglomerado de idéias de várias religiões e filosofias da época, principalmente de origem grega, fortemente influenciados por idéias platônicas. Plotino (205-270 D.C.) foi um importante filósofo neoplatônico, que representa o período final da filosofia helenista, antes que o triunfo da Igreja cristã tivesse posto fim àquele período. Ele foi um filósofo egípcio romano, natural de Licópolis, no Egito. Em 245 D.C., fundou sua própria escola de filosofia, na cidade de Roma. Em certo sentido, os deuses pagãos teriam morrido com a ascensão de Constantino ao trono e sua conversão ao cristianismo. Mas seus funerais só terminaram na primeira porção do século VI DC. Portanto, poderíamos datar o fim do período helenista da filosofia nesse tempo, ainda que, politicamente falando, isso tenha acontecido por ocasião do advento do domínio romano. Alguns têm dito que aquele foi um período de decadência da filosofia (300 A.C. a 529 D.C.). Mas talvez seja melhor falarmos nesse período como período de prata, em contraste com a era áurea da glória filosófica da Grécia, desde Homero até Aristóteles. O neoplatonismo e as fés mais antigas tinham-se tornado estéreis e incapazes de produzir resultado, pelo que acabaram entrando em estado de coma. Em 527 D.C., Justiniano tornou-se imperador do Império Romano do Oriente e, pouco depois, determinou que ser seguidor das fés antigas era uma ofensa criminal. Em 529 D.C., foram fechadas as chamadas escolas de Atenas, por decreto imperial. Os últimos filósofos neoplatônicos, entre os quais Damásio e Simplicio, fugiram para a Pérsia, em busca de segurança. Porém, também não foram bem-acolhidos ali, pelo que acabaram voltando. Justiniano permitiu-lhes a residir nas terras do império, mas não permitiu que promovessem suas ideias. Ao falecerem, a religião e a filosofia gregas morreram juntamente com eles. Coisa alguma era capaz de fazer cessar o avanço do cristianismo. O Homem da Galiléia havia triunfado em todas as frentes. Filosofia Hindu Assim como é impossível separar o antigo judaísmo da religião, e ali encontrar um nicho separado para a filosofia, assim também a filosofia, tão viva no hinduísmo, estava intimamente ligada à fé religiosa da Índia. A própria tradição indiana classifica as suas escolas de acordo com critérios religiosos, o que tende por obscurecer seus verdadeiros elementos filosóficos. Acresça-se a isso que, excetuando sua expressão moderna, que é mais científica, a filosofia hindu é irmã gêmea da fé religiosa hindu. Não obstante, os filósofos, ao tentarem estabelecer uma espécie de classificação filosófica do hinduísmo, distinguem quatro períodos históricos no mesmo: Período Formativo A esse período pertencem os antigos hinos religiosos, compostos entre 1000 e 800 A.C., sendo mais textos ritualistas, que falam sobre os poderes que governam o universo, de mistura com uma mágica arcaica. Porém, na noção do Brahman, essas muitas forças aparecem unidas, como expressões de um único princípio.

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Nos mais antigos Upanisadas, de 800 A.C. em diante, encontramos os estudos sobre os estados da consciência e sobre certas formas de misticismo. Encontra-se nesse ponto uma diferença fundamental entre a matéria e o espírito, além do que é asseverada a natureza espiritual (atman) eterna, do ser humano. Ali o homem aparece preso à matéria, sujeito a experimentar uma longa série de renascimento, na tentativa de libertar-se. Essa série de renascimentos recebe o nome de sainsara. A liberação (moksa) é buscada mediante um desprendimento gradual, de tal modo que a atman finalmente pode fundir-se com o brahman. O pensamento budista é a forma mais difícil de definir da filosofia hindu. O próprio Buda era, essencialmente, um filósofo moral, que não especulou nem sobre Deus e nem sobre a existência da alma. Entretanto, algumas escolas desse sistema vieram, finalmente, a desenvolver uma metafísica genuína, incluindo na mesma a idéia da divindade e da alma humana. Filosofia Realista ou da Natureza Temos ali uma análise filosófica do mundo exterior, que inclui a análise da linguagem e do pensamento. No seu estado primitivo, essa filosofia é representada nos ensinos de Vaisesika, Nyaya e dos jainos. Data de nada menos de 1000 A.C., e a sua atividade básica consistia na tentativa de reduzir as multiformes formas da natureza a alguns poucos fatores básicos. Categorias básicas, como substância e atributos, foram propostas, e também apareceram teorias atômicas. Desenvolveu-se uma espécie de lógica em Nyaya, como também hermenêutica e exegese na Mimansa, de onde emergiram visões semicientíficas do mundo. A ideia das almas humanas como se fossem substâncias foi elaborada e foram propostos átomos eternos. Todavia, os budistas originais rejeitavam ambos esses conceitos. Em vez disso, foi proposto o karma, que seria, a grosso modo, o estado ou reino inteiro da matéria, das emoções, dos pensamentos, etc., como que residindo em uma pessoa, mas não como uma entidade viva que continue a existir na encarnação seguinte. Outro sentido disso seria a ordem cósmica e divina e seus elementos. Seja como for, o dharma seria um fator fundamental da existência, pertencente às categorias das substâncias, dos atributos e das ações, indiscriminadamente, cobrindo assim a extensão inteira da matéria, das emoções, etc. Nas mãos de alguns filósofos hindus, as explicações sobre a natureza assumiram uma natureza mecanicista, atéia e materialista; e eles têm usado ideias mecanicistas com propósitos anti-religiosos. Porém, a tendência do hinduísmo sempre foi buscar alguma explicação mística e religiosa da natureza. A lei, ou karma tornou-se, nesse sistema, mais importante que as supostas leis naturais de cunho mecanicista. Filosofias Monísticas, Místicas e Ilusionísticas No budismo, alguns filósofos têm-se referido a todos os fenômenos como ilusórios. A consciência tem sido reputada por eles como algo absoluto, ao passo que o mundo material seria somente uma projeção ilusória daquela consciência. Em outras palavras, eles postulam uma espécie de idealismo absoluto. Na Vedanta, encontramos a síntese entre a atman e o Brahman, que teria produzido uma unidade ou monismo, como o alvo final de toda a existência. Os hindus descobrem textos de prova para tais noções nos hinos Upanisadas. Há uma espécie de filosofia da linguagem no conceito que diz que a pluralidade das palavras deriva-se da única palavra transcendental, Brahman.

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As idéias estéticas são definidas como experiências com a beleza, relacionadas à concretização do Brahman, quando a atman mescla-se com aquela realidade superior. Isso tem paralelo na Visão Beatifica do cristianismo. Idéias Teísticas A crença em uma divindade absoluta e pessoal pode ser datada já desde o século IV A.C. E essa crença reaparece no Bhagavad Gita, dos séculos III e II A.C. O período mais antigo foi caracterizado por declarações um tanto vagas sobre a relação entre um Ser Supremo, a alma humana e a matéria primeira. Após o estabelecimento da Vedanta monística, o teísmo hindu reagiu ao formular, sob o mesmo título, uma outra obra do mesmo título, Vedanta, que foi uma expressão sistemática e realmente filosófica do pensamento teista. A primeira pessoa a fazer assim foi Ramanuma, já no século XII D.C. Essa tendência prosseguiu, paralelamente a outras ideias, mais antigas. Nos escritos de pensadores hindus como Aurobindo (1872-1950) e Vivekananda (1863-1902), o teísmo foi vigorosamente promovido. Filosofia Islâmica No islamismo, a filosofia tem merecido a mesma posição e caráter que tem recebido no seio da Igreja Católica Romana. Em contraste com a antiga filosofia judaica, e com a filosofia hindu, tem havido uma genuína filosofia islâmica, ainda que, no caso da Igreja Católica Romana, a filosofia sirva, principalmente, para auxiliar à teologia. Durante muitos séculos, a filosofia islâmica dependeu das ideias e da cultura gregas. É interessante observar que, com o declínio da Grécia, até o surgimento do escolasticismo , os avanços nas ciências, na medicina, na matemática, na literatura e na filosofia devem ser creditados ao mundo árabe, embora eles se inspirassem inteiramente na antiga atividade dos gregos. Uma Fonte Originária Principal A cidade de Alexandria tornou-se o centro da atividade científica e filosófica do mundo helenista. Ali havia uma biblioteca que, a certa altura, atingiu um milhão de volumes, representando, virtualmente, toda a literatura conhecida do mundo antigo. Traduções árabes de parte desse grande acúmulo de material, tornaram-se a base da ciência e da filosofia islâmicas. Crescimento Á medida que cresceu o interesse dos árabes pelas ciências e pela filosofia, manuscritos gregos foram sendo traduzidos para o árabe. Uma das principais tarefas dos eruditos alexandrinos consistiu em fornecer ao mundo árabe esses documentos antigos. Foi assim que, conforme alguns têm dito, Platão e Aristóteles começaram a falar o árabe. Floresceram nos países árabes escolas platônicas, neoplatônicas e aristotélicas. Os maiores filósofos islamitas surgiram entre os séculos IX e XII D.C., incluindo-se, entre eles, figuras como Alkindi, Al-Farabi, Avicena, Avanpace e Averróis. Al-Ghazzali procurou conservar a ortodoxia islâmica, bem como o misticismo não-filosófico e, assim fazendo, criticou vigorosamente a atividade filosófica do islamismo.

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A Europa dos séculos XII e XIII Muito se beneficiou com as atividades da filosofia islâmica, porquanto muito material registrado em árabe foi traduzido para o latim, ficando assim à disposição de filósofos que não falavam o árabe. Aristóteles tornou-se conhecido dessa maneira, por Alberto Magno e por Tomás de Aquino. E todos sabemos que foi com base nisso que se desenvolveu o escolasticismo. Os Conflitos As especulações neoplatônicas criaram grande conflito com as ideias ortodoxas sobre Allah. Alguns islamitas rejeitavam a abordagem filosófica, enquanto que outros tentavam explicar Allah através dos conceitos de Platão, da mesma maneira que, no mundo cristão, os escritos de Platão tinham sido úteis para formar a teologia, sobretudo dos pais alexandrinos da Igreja. A introdução do pensamento grego no islamismo separou os tradicionalistas dos progressistas, e ambos os lados tiveram de apelarpara a dialética grega a fim de defenderem seus pontos de vista. Como sempre, disso resultaram perseguições, e até mesmo execuções. A escola de Mutazilah, que explicava as doutrinas do islamismo através de termos e idéias gregas, foi capaz de permanecer dentro do islamismo, embora tivesse sofrido períodos de perseguição. Alguns romperam com a organização religiosa, como Al-Razi (falecido em 923 D.C.), rejeitando as profecias e promovendo as ideias de Platão e o neoplatonismo. Ele foi anatematizado pela maioria dos islamitas ortodoxos. M Klndl (falecido após 866 D.C) tentou harmonizar a filosofia com a religião, como se fosse uma espécie de Tomás de Aquino muçulmano. Seu sistema era eclético, tendo-se valido das idéias de Platão e de Aristóteles. Al-Farabi foi um verdadeiro neoplatonista islâmico, tendo identificado o Allah do islamismo com o Um de Plotino. Al-Ahsari foi outra figura similar a Tomás de Aquino dentro do islamismo. Avicena incluiu elementos de Platão, de Aristóteles e do misticismo, tendo sido atacado mediante vinte proposições diferentes pelo fundamentalista Al-Ghazzali, que exortou os fiéis a permanecerem em guarda. Foi dessa maneira que se densenvolveu o misticismo islâmico, chamado sufismo. Os Ishraqi produziram uma escola iluminista, cujo expositor mais bem conhecido foi Al-Surawardi (1155-1591). Sua mistura de ideias era, essencialmente, uma forma de neoplatonismo com outros conceitos místicos. Em certo sentido, o sufismo foi uma reação e um protesto contra o crescente poder do aristotelianismo dentro do islamismo. Averróis foi o maior dos filósofos aristoteianos do islamismo (1126-1198). Acusou Al-Ghazzali de não compreender o que a sua escola estava procurando dizer, o que explicaria as suas inúmeras objeções. Porém, a influência de Averróis foi maior fora do islamismo do que dentro do mesmo, quando quinze de seus trinta e oito comentários sobre os escritos de Aristóteles foram traduzidos para o latim, permitindo que as ideias de Aristóteles fossem examinadas pelos filósofos cristãos. A invasão do Egito pelas tropas de Napoleão, em 1798, e os ideais da Revolução Francesa, produziram enormes choques culturais dentro do mundo islâmico e, como conseqüência, o declínio da atividade filosófica, embora não da atividade religiosa. Os modernos filósofos árabes que têm promovido o positivismo lógico, o existencialismo, etc., dificilmente podem ser tidos como bons representantes da filosofia islâmica.

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HISTÓRIA E INTRODUÇÃO À FILOSOFIA L2 1- O operacionalismo tomou por empréstimo elementos tanto do pragmatismo quanto do: A-Positivismo Lógico B-Positivismo Inlógico 2- Karl Popper invocava a verificação como um modo eficaz de fazer: A-Investigações Cientícia B-Investigações Teológicas 3- Filosofia da história não deve ser confundida com: A-História da Filosofia B-História da Sociologia 4- A cultura judaica tinha uma filosofia da história: A-Bem indefinida B-Bem definida 5- No que os estóicos acreditavam? A-Que o Logos não se manifestará através de grandes ciclos de tempo B-Que o Logos se manifestará através de grandes ciclos de tempo 6- Como Heráclito concebia a história do homem? A-Como se passasse por ciclos de processo de declínio B-Como se desenvolvia no decorrer da história 7- Quem foi reconhecido como um importantíssimo filósofo da história? A-Anselmo B-Agostinho 8- Apesar de João Calvino, na prática real, ter dado continuação ao sonho de Agostinho, em sua experiência: A-Teocracia em Genebra B-Teocracia na Espanha 9- Que filósofos criaram um ideal elaborado de utopia, na direção do qual presumivelmente, a humanidade estaria marchando? A-Os filósofos franceses B-Os filósofos ingleses 10- Quem propôs uma espécie de filosofia da história em dois andares, onde as sociedades humanas passam por três estágios? A-Freud B-Vico 11- Qual filósofo via na história a força de uma tríade em operação, que controlaria todas as coisas? A-Hegel B-Marx

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12- O que é o estudo lógico dos conceitos religiosos e dos conceitos, argumentos e expressões teológicas? A-A ciência da religião B-A filosofia da religião 13- A filosofia da religião deve ser distinguida da: A-A Apologética B-Homilética 14- Apesar da filosofia da religião não ser uma apologia,obviamente tem uma certa função: A-Homilética perfeitamente legítima B-Apologética perfeitamente legítima 15- Os cultos misteriosos mesclavam a filosofia com as artes mágicas, chamando-as de: A-Nutrimentos do corpo B-Nutrimentos gêmeos da alma 16- A cidade de Tarso foi um centro do: A-Estoicismo Romano B-Pregação do cristianos 17- E apesar das epístolas apócrifas de Paulo e Sêneca, e de Sêneca e Paulo, não serem autênticas,elas refletem a antiga observação sobre a similaridade dos autores, A-Em seus princípios morais e seus modos de expressão B-Em seus modos de expressão 18- Qual é a definição básica da filosofia? A-É a história das idéias B-É a história da Teologia 19- Quantos anos há de filosofia por detrás da doutrina Logos? A-500 anos B-600 anos 20- Qual o significado no grego da palavra filosofia? A-Amor a história B-Amor a sabedoria 21- A influência estóica é evidente nas Escrituras de: A-Paulo B-Pedro 22- Qual o nome de um dos pais da Igreja e que era filósofo cerca de 150 d.C? A-Justino Martir B-Tertuliano 23- Justino Mártir afirmava que a filosofia o levara aos: A-Pés de Pedro B-Pés de Cristo

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24- È interessante que Justino Mártir nunca se despiu inteiramente de sua capa de filósofo, tendo andado ao redor, procurando convencer as classes intelectuais a: A-Virem a João B-Virem a Cristo 25- Essa atitude de Justino Mártir foi compartilhada pelos pais da igreja, como: A-Clemente e Origenes B-Irineu e Apolo 26- A filosofia grega cabe entre: A-500 a.C. a 1500 d.C. B-600 a.C. a 600 d.C. 27- Qual a data da escola Pitagoreana? A-550 a 430 a.C. B-500 a 600 a.C. 28- Cite a data que Heráclito viveu: A-Fim do século VI a.C. B-Fim do século X a.C. 29- Todos os seus sistemas tradicionais da filosofia foram formulados pelos esforços combinados de: A-Sócrates, Platão e Aristóteles B-Demétrio, Platão e Aristóteles 30- Sócrates foi, antes de tudo, um filósofo ético, que tinha certas qualidades próprias dos místicos religiosos, mas que não se interessava pela: A-Lógica B-Metafísica 31- Que filósofo adicionou a lógica dedutiva? A-Aristóteles B-Platão 32- Qual foi a primeira universidade européia? A-Academia de Sócrates B-Academia de Platão 33- Qual era o nome da escola de Aristóteles? A-Liceu B-Lidomeu 34- Quem organizou o ceticismo no campo da filosofia? A-Demócrito B-Pirro 35-) O Neoplatonismo foi o esforço especulativo final da filosofia grega, entre os séculos: A-III e VI d.C. B-IV e X a.C.

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36- Todos os estudiosos de filosofia e religião têm consciência da grande similaridade entre a: A-Ética dos estóicos, romanos e os escritos de Paulo B-Ética dos estóicos, romanos e os escritos de Pedro 37- Carnéades, pois, atacou a gnosiologia dos estóicos,asseverando que não há como o homem conhecer o mundo dos fenômenos: A-Exceto através da ética B-Exceto através dos sentidos 38- O Liceu de Aristóteles devotava-se às: A-A política B-Ciência e ao naturalismo 39- Filo Judeu tentou ligar Platão ao judaísmo, tendo sido um dos precursores do sistema: A-Neoplatônico formal, que só surgiu mais tarde B-Neoplatônico informal 40- Qual era o nome do filósofo neoplatônico que representa o período final da filosofia helenista, de 205 a 270 d.C? A-Plotino B-Sócrates 41- Que ano sedeu o período formativo? A-1000 e 800 a.C. B-800 e 900 a.C. 42- Nas mãos de alguns filósofos hindus, as explicações sobre a natureza assumiram uma: A-Natureza filosófica B-Natureza mecanista, atéia e materilista 43- A tendência do hinduísmo sempre foi buscar alguma explicação: A-Filosófica B-Mística e religiosa da natureza 44- A crença em uma divindade absoluta e pessoal pode ser datada já desde o: A-Século IV a.C. B-Século X a.C. 45- Vedanta, que foi uma expressão sistemática e realmente filosófica do: A-Pensamento teísta B-Pensamento ateísta 46- Os maiores filósofos islamitas surgiram entre os: A-Século X a.C. B-Século IX e XIII d.C. 47- As especulações neoplatônicas criaram grande conflito com as idéias ortodoxas: A-Sobre Allah B-Sobre Judas

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48- A escola de Mutazilah, que explicava as doutrinas do islamismo através de termos e idéias gregas, foi capaz de permanecer dentro do islamismo, embora: A-Não tivesse sofrido períodos de perseguição B-Tivesse sofrido períodos de perseguição 49- Foi dessa maneira que se desenvolveu o misticismo islâmico: A-Chamado sofismo B-Chamados platonismo 50-) Que ano Napoleão invadiu o Egito com suas tropas? A-1798 B-1738

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4 A Base de Diversas Filosofias LIÇÃO 3 Filosofia Judaica Talvez Israel tenha sido a única nação da história que tem sido essencialmente religiosa, acima de qualquer outra consideração, e cuja literatura, legislação e formas de governo têm sido inspiradas por Deus. Seja como for, sempre foi uma característica dos hebreus preocupar-se com questões finais. Mesmo que o pensamento dos hebreus tenha começado no monoteísmo (há muitos deuses, mas nós reconhecemos somente um Deus), não demorou para que eles adotassem o monoteísmo. A doutrina da imortalidade, porém, só entrou no judaísmo bem posteriormente. No Pentateuco não há referências ou ensinos claros sobre a alma. Embora as leis mosaicas fossem complexas e obrigatórias, não há ali qualquer promessa de recompensa ou de punição eternas, circunstância essa que seria quase impossível de imaginar se ali houvesse qualquer doutrina da alma. A Filosofia da História Judaica O Antigo Testamento representa uma filosofia da história. Desde o começo aparece Deus, como o criador de todas as coisas. O homem é criado, e, dentre a humanidade, é escolhida uma nação que passa a servir de veículo da mensagem espiritual.Toda a sua história é teisticamente controlada.Sua história é linear, tendo tido um começo no tempo, e passando de um evento para outro, até chegar a um clímax, na exaltação dessa nação acima de todas as demais, mediante o cumprimento do reino messiânico prometido nas Escrituras Sagradas. O ponto final dessa história será uma espécie de era áurea, onde o conhecimento do Senhor propagar-se-á por todo o orbe, e uma utopia geral é concretizada. A Filosofia do Livro Vários povos antigos tinham livros sagrados, pelo que, quanto a esse particular, Israel não foi um caso isolado. A possessão de livros sagrados indica uma atitude filosófica. Isso significa que ali há fé no teísmo, que há um Deus que revela a si mesmo e à sua vontade, e que ele está perto do profeta que é escolhido para guiar o povo. A própria Bíblia não apresenta nenhum sistema filosófico, embora contenha certo número de conceitos filosóficos básicos. Conforme acabamos de afirmar, temos na Bíblia reflexos claros do teísmo e de uma filosofia da história. Além disso, no livro de Jó, encontramos um tratamento sobre o problema do mal, além de uma sabedoria popular filosófica nos livros de Provérbios e Eclesiastes, este último tendo sofrido alguma influência da cultura grega.

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O Problema do Mal O problema do mal, visto que se trata de um dos mais espinhosos problemas da Filosofia e da Teologia. A grande questão é como pode haver tanto sofrimento aparentemente sem sentido, em face do fato de que há um Deus todo poderoso, todo bondoso e que tudo sabe. O livro de Jó aborda diretamente esse problema. Trata-se de uma abordagem profunda e altamente artística, mas muitos teólogos sentem-se perturbados ante algumas de suas conclusões. Nesse caso, o sofrimento ocorreu por causa de uma espécie de aposta entre Deus e Satanás. Deus queria provar que a perseverança de Jó derivava-se de seu amor a ele e de motivos apropriados e não somente por causa de sua prosperidade material. Os supostos consoladores de Jó, que então se apresentaram a ele, na realidade eram seus adversários, e salientaram o problema do pecado como a causa de seus sofrimentos. Jó negou isso peremptoriamente e, mui provavelmente, não erramos quando dizemos que ele estava correto em sua avaliação, ainda que, no fim do livro, quando Deus lhe exibiu a sua glória, Jó reconheceu seu próprio estado pecaminoso e miserável termina arrependendo-se disso, embora isso não signifique que os seus consoladores molestos tivessem vencido na argumentação. Ele era um miserável pecador, o que se tornou evidente quando a glória de Deus foi revelada; mas, não fora por causa disso que Jó fora testado tão severamente. Antes, o teste serviu para que ficasse demonstrada a genuinidade de sua espiritualidade. Talvez a história da intromissão de Satanás, com que o livro começa, tenha servido somente de introdução literária, não devendo ser levada por demais a sério no tocante ao problema do mal. Mas, talvez, também explique muita coisa que, de outra maneira não teria explicação. No fim, ele é grandemente abençoado, tendo recebido muito mais do que havia perdido. Ora, muitos teólogos sentem-se infelizes justamente com esse final feliz, porquanto isso dificilmente caracteriza o problema do mal. Para eles, parece que as tragédias gregas são muito mais realistas quanto a esse aspecto. Na vida real, um homem é esmagado diversas vezes, é triturado, e, então, é pulverizado, para nunca mais soerguer-se. O resto da história fica por conta do destino da alma, porquanto é inútil esperar o triunfo deste lado da existência. Geralmente, precisamos ter uma fé que não espere por reversões neste lado da vida. No entanto, às vezes é aqui mesmo que Deus nos abençoa. Pelo que agradecemos ao Senhor por essas bênçãos menores, mas muito apreciadas, que nos reivindicam a retidão que temos em Cristo.O livro de Jó, pois, termina com uma direta intervenção divina, para mostrar que Deus não esquece da causa de seus servos fiéis, termina com uma reversão após as mais negras condições. Há um estranho detalhe no livro de Jó, notado por todos os estudiosos, que é o fato de que o mesmo nunca apela para a lei. Seria isso motivado pelo fato de que foi escrito antes da outorga da lei, sendo assim o mais antigo dos livros do Antigo Testamento? Ou teria sido porque foi escrito já no período helenista, sendo uma espécie de estudo filosófico, embora refletindo uma posição judaica ortodoxa? Os Tempos Helenistas As conquistas militares de Alexandre, o Grande, levaram a cultura grega a entrar em contato direto com o judaísmo. As primeiras referências dos gregos aos judeus julgam-nos uma raça de filósofos, provavelmente, porque preocupavam-se com as questões últimas da vida, tal como o faziam os gregos. Mas, quando as idéias do helenismo entravam em choque com as idéias judaicas, isso produzia duas reações opostas.

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A ortodoxia estreita rejeitava todas as influências pagãs, e muitos chegaram mesmo a lamentar que a Bíblia hebraica tivesse sido traduzida para o grego, na Septuaginta. Porém, outros judeus tentavam acomodar-se adaptando a religião hebraica à filosofia grega. Havia muitos elementos comuns, de tal modo que se podia chegar até a uma espécie de harmonia. O principal filósofo judeu, que procurou obter tal harmonização, foi Filo, um filósofo neoplatônico voltado para o Antigo Testamento. Além disso, o livro canônico de Eclesiastes e certos livros apócrifos, como Sabedoria de Salomão e IV Macabeus demonstram interesses filosóficos nítidos. Começo da Era Cristã Do século III D.C. em diante, houve centros do pensamento judaico que continuaram ensinando por vários séculos, nos países do Oriente de fala aramaica. A literatura do período, especialmente o Talmude, apresenta bem pouca filosofia sistemática; mas vários aspectos de sua teologia eram obviamente influenciados por idéias gregas e persas. Com o surgimento do corão islâmico (filosofia empregada para justificar as crenças religiosas), houve o ressurgimento da atividade filosófica. Entre os judeus, os caraftas revoltaram-se tanto contra a filosofia quanto contra as interpretações rabínicas. Eles datam dos séculos IX a XII DC. e formavam uma espécie de movimento de retorno à Bíblia. Isso não fez cessar nem as interpretações rabínicas e nem as especulações filosóficas, mas levou os rabinos e os filósofos a buscarem melhores maneiras de defender seus pontos de vista e suas atividades. A Cabala As datas para o desenvolvimento dessa tradição judaica são 500 a 1000 D.C. Isso consistia essencialmente no desenvolvimento das tradições místicas judaicas, com muita dose de especulação filosófica, que não fazia parte do judaísmo primitivo. Importantes cabalistas foram Moses Naimônides, Um Gabirol e Yehudah Haflevi Do Século X V em diante O corão dos islamitas, o neoplatonismo e o aristotelismo exerceram grande influência sobre os pensadores judaicos da Idade Média. As reivindicações e metodologias conflitantes da razão e da revelação foram discutidas, como também as provas da existência de Deus e os seus atributos, o determinismo divino em contraste com a livre-arbítrio humano, e as questões sobre a lei e a ética. O mais destacado filósofo judeu desse período foi Mosés Maimônides. A Cabala foi uma atividade paralela a essa, onde florescia certa tradição mística. Hasdai Crescas e Isaac Abarbanel (1437-1508) pensavam que os filósofos judeus tinham ido longe demais na tentativa de identificarem Aristóteles com Moisés e expuseram o seu protesto. Quase toda essa atividade teve lugar em países islâmicos, ou então na Espanha. Nas terras cristãs, os judeus eram oprimidos, e não tinham liberdade para fazer funcionar suas escolas de investigação. Porém, na Itália da época da Renascença, houve alguma expressão nesse sentido, quando então surgiu Baruque Spinoza, na Holanda, no século XVII. Na Alemanha, o primeiro filósofo judeu de nota foi Mosés Mendelssohn (1629-1786). Após a sua época, filósofos judeus continuaram a participar, e mais livremente, da vida cultural européia.

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O Iluminismo O judaísmo ortodoxo lutava para manter sua tradição e, por isso mesmo, com freqüência opôs-se aos desenvolvimentos do Iluminismo, sobretudo a sua tendência para enfatizar demasiadamente a ciência, rejeitando reivindicações religiosas. Por outra parte, alguns judeus abandonaram totalmente a sua fé, tendo sido arrebatados pela febre provocada pelo Iluminismo. Entre esses dois extremos, havia aqueles que faziam tentativas para harmonizar os mesmos, com alguma fragmentação no tocante ao judaísmo tradicional. Essa grande diversidade impossibilita-nos agora identificar certos aspectos da filosofia judaica da época. Simplesmente houve vários filósofos judeus, que promoviam sistemas diferentes. O Século XIX O idealismo alemão, dentro das teorias, de Schelling e de Hegbel influenciou os pensadores judeus. Nachman Krochmal (1785.1840), Salomão Formstecher (1808-1889), Samuel Hirsch (1815-1889) e Mortiz Lazarus (1824-1903) podem ser contados entre os tais. Krochmal foi pioneiro no estudo critico das fontes históricas, com vistas a definir a essência do judaísmo. Isso preparou o caminho para a ciência do judaísmo), promovida por Leopoldo Zuns (1794-1886) e Abraão Geiger (1810-1874). Como sempre, alguns se opuseram à invasão da filosofia, conclamando os judeus a voltarem ao judaísmo, conforme o mesmo aparece na revelação do Antigo Testamento. S.L. Steinheim e S.D. Luzatto são contados entre esses homens. O sionismo, uma nova filosofia política, surgiu no século XIX. Filósofos judeus ativos nesse campo foram A.H. Ginsberg (1856-1927), A.D. Gordon (1856.1922). Por sua vez, A.I. Kook (1865.1935) e Martin Buber (1879.1965) misturaram o misticismo com essa filosofia. O Século XX Hermann Cohen (1842-1918) desenvolveu um sistema de idealismo e exerceu profunda influência sobre o pensamento judaico. Leo Baeck (1873.1956), Buber e Franz Rosenzweig (1886-1929) desenvolveram alguns de seus pensamentos e o sionismo continuou sendo uma das principais forças entre os filósofos judeus. Buber e Rosenzweig também incorporaram em seu sistema certos elementos do existencialismo. O nazismo de Hitler destruiu grande parte da vida cultural judaica na Europa, assinalando o fim de uma época, incluindo todos os esforços para harmonizar o judaísmo com o idealismo alemão. Depois disso, a linguagem filosófica do judaísmo tornou-se predominantemente inglesa, e os Estados Unidos da América do Norte o lugar mais importante de expressão do judaísmo. Entrementes, os ideais preliminares do sionismo tiveram cumprimento, posto que parcial, no reavivamento da nação judaica, após a Segunda Guerra Mundial, a partir de 1948. Um filósofo judeu de nomeada foi M.M. Kaplan, que combinou uma forma extremada de naturalismo com a manutenção das formas tradicionais da observância religiosa dos judeus. O existencialismo, porém, continuou exercendo alguma influência, como nos escritos de A.J. Heschel (1907-1972).

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A Grande Contribuição da Filosofia Judaíca –A ética Embora o Antigo Testamento não seja um manual de princípios éticos, em qualquer sentido formal, nenhuma outra obra escrita, excetuando talvez o Novo Testamento, tem exercido tão vasta influência sobre o pensamento ético do mundo. Essa influência tem envolvido tanto a ética individual quanto a ética social. O Antigo e o Novo Testamentos, juntamente com os códigos legais romanos, têm sido os mais decisivos fatores na formação das leis civis dos países da Europa e da América. A Filosofia Lingüística Esse é o estudo que assevera que o estudo cuidadoso e como a linguagem é usada, ensinada e aplicada aos discursos da vida diária pode iluminar e mesmo transformar ou dissolver problemas filosóficos de longa data. A base dessa suposição é que os próprios problemas originaram-se no uso frouxo da linguagem, mediante o que a ambigüidade, e mesmo a falsidade, peneiraram, secretamente, na filosofia. Por esse motivo, pois, alguns filósofos têm dado muita atenção ao uso que fazemos da linguagem, em sua sintaxe, significado das palavras, ambigüidades, etc. Pelo seu lado positivo, podemos dizer que visto que a linguagem é e grande veículo da comunicação e o instrumento do conhecimento científico, por isso mamo tal estudo produz, naturalmente, os seus frutos. Quanto a seu lado negativo, devemos afirmar que é uma ingenuidade supor que as grandes verdades, que com freqüência transcendem, parcial ou completamente, a linguagem do homem, possam ser descritas, de qualquer modo mais apto, simplesmente porque são expressas mediante uma linguagem aprimorada. O misticismo deixa claro que quanto mais profunda for uma verdade, mais inefável ela se torna. O que perscruta essas verdades é a iluminação espiritual, e não apenas a análise lingüística. Os mais importantes expositores da filosofia lingüística têm sido Wittgenstein, J.L. Austin e Ryle. A Filosofia Perene A expressão, no latim, é piloshophia perennis, uma expressão cunhada por Steuchen, em 1540, para referir-se às características comuns da filosofia de sua época, a saber, o escolasticismo medieval. Tal expressão tem sido usada como sinônimo de tomismo. Ainda há outros usos, a saber: 1-o que é comum na filosofia grega. 2-elementos válidos da história inteira da filosofia (Leibniz), que supunha que a sua própria filosofia seria uma continuação dessa tradição. 3-qualquer filosofia dotada de base adequada (Urban), referindo-se, especificamente, aos sistemas de Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino. A Filosofia Política A política é um dos seis ramos tradicionais da filosofia. Platão pode ser caracterizado como o pai da política, porquanto em sua filosofia, sobretudo em seu diálogo intitulado República, ele desenvolveu uma extensa teoria política. A filosofia política ocupa-se com a conduta ideal do Estado, como a ética das sociedades organizadas, Naturalmente, esse aspecto da filosofia estuda questões como formas de

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governo, seus ideais e alvos, as instituições que envolvem a propriedade, a família, os sistemas legais, a educação pública, as relações internacionais, a estrutura das classes, a religião, os direitos individuais e coletivos, os deveres individuais e coletivos, etc. E, quando alguém começa a filosofar sobre problemas assim, já está tratando da filosofia da política. Origem Dentro do período da filosofia clássica, de Sócrates, Platão e Aristóteles, encontramos o desenvolvimento dos tradicionais seis ramos da filosofia. A República, de Platão, foi a primeira tentativa, até onde somos capazes de sondar, a tratar dos problemas dos ideais e da conduta do Estado. Quais leis e conceitos deveriam governar um estado justo, onde cada indivíduo tem uma tarefa apropriada a cumprir? Idéias e Sistemas Específicos Platão. Ele idealizava um Estado em que o sistema educacional haveria de ir separando gradualmente as classes em seus setores apropriados, cada um com a sua própria função e importância. Uma sociedade justa teria a mesma estrutura de uma alma justa. Os filósofos (encabeçados pelo rei-filósofo) seriam os governantes, correspondendo à razão, no homem. Todas as coisas seriam de propriedade comum, o que significa que o Estado ideal seria comunista. Haveria também os guerreiros, a classe dos corajosos (correspondentes à vontade, no homem), que formariam a segunda classe, oferecendo proteção e boa ordem, elementos necessários da sociedade. Seguir-se-ia a classe dos artesãos, negociantes, agricultores, etc., os produtores da sociedade, correspondentes aos apetites inferiores, no homem. Cada indivíduo teria a sua ocupação, que contribuiria para o bem-estar total. O rei-filósofo seria produzido após um longo tempo de treinamento, separado de homens de menor envergadura, sendo não somente o mais poderoso, mas também o mais inteligente e justo dos homens. Suas idéias são encontradas, essencialmente, em seus diálogos, República e Leis. Este último trabalho modificou algumas idéias, expondo mais um ideal democrático, por meio da liberdade, impelido pela vontade morai. Aristóteles fazia da família a unidade central do Estado, e não o indivíduo (conforme Platão fizera), e criticou o comunismo de Platão como um sistema prejudicial à família. Sua obra, Política, é uma análise de várias formas de governo. Ele opinava que nenhuma forma de governo é melhor que as demais, e que um governo misto, com uma constituição apropriada, seria o melhor que os homens são capazes de fazer neste mundo. Ele pensava que a monarquia, a aristocracia e a politéia (uma espécie de democracia), são as melhores variedades de governo. As suas respectivas deformações seriam a tirania, a oligarquia e a democracia popular. Ele parecia preferir a politéia como o melhor dentre esses três sistemas. O Estoicismo. Esse sistema enfatizava a fraternidade universal dos homens. Cada individuo seria membro da cosmópolis, responsável diante da lei da razão, conforme ditada pelo todo-poderoso Logos. O governo e a lei dos romanos foram influenciados pelo ideal estóico do homem como um cidadão do mundo. Os governos que toleram leis que limitam os estrangeiros são contrários a esse ideal.

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Agostinho. Para ele, a política envolvia o conflito entre o Estado pagão e a Igreja remida, o primeiro uma força temporal e falível, a outra uma força transcendental e eterna. A Igreja seria a mestra e a orientadora do Estado. A filosofia de Agostinho concebia uma espécie de semi-teocracia. A Idade Média. As idéias de Agostinho dominaram as relações entre a Igreja e o Estado por cerca de mil anos. Surgiu a doutrina das duas espadas: uma, a da Igreja, e a outra, a do Estado. Em outras palavras, haveria duas autoridades, lado a lado, embora a Igreja dominasse o Estado. Importante, durante esse período, foi a doutrina do direito divino dos reis. Marsílio de Pádua assinalou um importante ponto na filosofia política, asseverando que o Estado é supremo quanto a questões seculares e que tanto a autoridade do Estado quanto a autoridade da Igreja repousam sobre o povo. Esses conceitos já apontavam na direção da separação entre a Igreja e o Estado e na direção da democracia. Maquiavel proclamou a supremacia do Estado. O poder do Estado precisa ser preservado, por quaisquer meios necessários para tanto. Grótio referia-se às leis naturais como a principal força governante no mundo, supondo que os homens reconhecem intuitivamente essas leis. As leis civis deveriam ser o reflexo das leis naturais. Existem princípios auto-evidentes que a razão reconhece e aprova. Hobbes descreveu como os governos podem ser estruturados segundo linhas aristotélicas, expressando a monarquia, a aristocracia ou a democracia. Mas, uma vez instituídos, a tendência seria a eliminação dos direitos individuais, à medida que o Estado for-se tornando supremo. Ele enfatizava a existência e a prioridade das leis naturais. Ele acreditava que a monarquia é a melhor forma de governo, enquanto não se corrompe. Se ela vier a corromper-se, então os homens deveriam buscar um novo contrato com as autoridades. Locke pensava que qualquer contrato social, resultando em alguma forma de governo, deveria promover os direitos individuais, objetando até mesmo às monarquias benévolas, sempre que os direitos individuais forem limitados ou destruídos. Rousseau misturava Idéias de Hobbes e de Locke. Ele enfatizava o governo da vontade geral, que deveria ordenar a sociedade, e assim encorajava a democracia como a forma ideal de governo. Kant enfatizava quão desejável é o império da lei universal, isto é, um governo mundial. Hegel pensava que o Espírito Absoluto cria todos os movimentos e instituições políticas. A tese seria a família; a antítese seria a sociedade civil; e a síntese seria o Estado. Idealmente, esse Estado deveria ser constitucional, fiel às leis internacionais, que põem em vigor a marcha ideal da história do mundo. Passaríamos da monarquia para as funções executivas e legislativas do governo. O Estado seria a verdadeira finalidade do homem social. Tal tipo de governo estribar-se-ia sobre sua submissão aos interesses públicos, enfatizando os valores nacionais e internacionais e as tradições morais. A vontade social seria um reflexo da Vontade Universal. A forma mais elevada de governo seria a monarquia constitucional. Marx construiu a sua teoria política sobre a tríade de Hegel, embora fizesse do dinheiro o fator preponderante, em vez do espírito. Mediante uma série de choques de classes, e de tríades secundárias, chegaríamos à tríade do capitalismo-socialismo-comunismo, onde este último emergiria triunfante, afinal de contas. Ele concebia um período de controle ditatorial como algo necessário para a produção de uma sociedade final destituída de classes.

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Maritain argumentava em favor da democracia como a maneira mais provável de produzir um Estado ordeiro e feliz. E, paralelamente, enfatizava a visão política da Igreja, dizendo que o destino real do homem reside no espírito, nos mundos celestiais, e não neste mundo. O cristianismo, como sistema, não apresenta qualquer filosofia política. Transfere todo o idealismo, nesse particular, para o futuro governo de Cristo, durante o milênio, embora existam cristãos verdadeiros que negam a realidade do governo milenar de Cristo. O judaísmo tinha a sua teocracia; e a fé cristã retém certos aspectos do mesmo, embora transferindo o Reino de Deus para os mundos celestiais. De fato, Jesus declarou: “O meu reino não é deste mundo... mas agora o meu reino não é daqui” (João 18:36). Visto que o cristianismo não tem qualquer reino terreno, segundo a nossa opinião, deve haver separação entre a Igreja e o Estado. Não obstante, reconhecemos que a Igreja oferece muitas diretrizes para a atividade política, segundo se vê nos pontos abaixo: a-Em primeiro lugar, o homem é um ser espiritual, devendo ser tratado como tal. As teorias que deixam de lado essa dimensão e perseguem à Igreja, fechando suas escolas e outras instituições, são sistemas malignos, sem importar os pontos positivos que possam apresentar. As atividades espirituais dever-se-ia permitir larga margem de ação, sendo encorajadas pelo Estado, embora não diretamente promovidas pelo Estado. b-A liberdade religiosa deveria ser garantida na constituição dos Estados, incluindo a liberdade de crença, no tocante àquilo que alguém pensa ser correto, sem qualquer temor de retaliação, sem falarmos na liberdade de propagar a própria fé em particular e publicamente. c-Obrar de caridade, como também aquelas que promovem a segurança e o bem estar dos cidadãos são principias aprovados pela Bíblia. Tais coisas deveriam ser encorajadas pelo Estado. d-Escolas religiosas de todos os tipos deveriam ter permissão para funcionar e propagar suas idéias. A educação encabeçada pelo Estado não deveria ser imposta sobre aqueles que querem receber uma educação religiosa. Por outro lado, as escolas dirigidas pela Igreja deveriam mostrar-se fiéis aos padrões mínimos de educação ditados pelo Estado, O direito de apelo e de mudanças deveria ser garantido. A Filosofia Radical Fichte tornou-se conhecido como um filósofo que raciocinava intensamente, ou seja, com o propósito de impor modificações. A filosofia radical foi um movimento iniciado na década de 1970, promovido por um jornal do mesmo nome. Esse periódico procurava transmitir a mensagem de que a filosofia deveria ser relevante, e não trivial. Os filósofos não deveriam ser meros intérpretes do mundo. Antes, deveriam ser fatores que impõem mudanças. Idêntica atitude deveria ser aplicada à teologia. Acima de tudo, a prática da lei do amor deveria ser a maneira de tornarmos eficaz e operante a nossa teologia. Acrescente-se a isso que deveríamos reconhecer que uma boa teoria (dogma) não é suficiente. Deve haver experiências místicas que levem os homens a aquecer as mãos nas chamas da realidade última; deve haver a aplicação prática das nossas crenças; deve haver em nós uma vida transformada.

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A Filosofia Russa Nenhuma filosofia original tem sido produzida na Rússia. Portanto, a chamada filosofia russa é apenas a filosofia européia. tomada por empréstimo e adaptada. Até mesmo o marxismo, que atuou na União Soviética, não foi uma criação russa. Alguns Filósofos Russos Notáveis: G.S. Skovoroda (1722-1794). Ele é conhecido como o primeiro filósofo russo; sintetizou o cristianismo, o platonismo, o misticismo e o panteísmo. A,N. Radischev (1749-1802). Foi o mais importante filósofo russo da iluminação, influenciado por Voltaire e por Rousseau. Era essencialmente um filósofo político, que criticava os males sociais da servidão, da censura e da aristocracia. M. Balcunin. Foi o primeira promotor da filosofia hegeliana, mas terminou sendo um anarquista. V. Soloviev .Misturava ideias de Hegel, o pampsiquismo e o panteísmo. Através dessa síntese, referia-se à história da humanidade, como se a mesma estivesse se movendo na direção de uma espécie de humanidade divina. G.V. Plekhanov. Foi um filósofo marxista, embora explicasse a matéria segundo termos fenomenológicos. Lenin classificou-o como um idealista, por causa dessa abordagem e, desse modo, criticou-o severamente. N. O. Lossky falava sobre liberdade e sobre o Deus vivo, tendo desenvolvido uma certa filosofia alicerçada sobre esses conceitos. V.I. Lenin foi um marxista ortodoxo, materialista e ateu; defendia a teoria da cópia exata da percepção. Engels já havia ensinado que o mundo pode ser copiado com exatidão, no consciente. O processo dialética era por ele considerado como absolutamente determinante, pelo que a economia, e não Deus, é que controlaria este mundo, de acordo com a opinião de Leniu. A.A. Bogdanov não aceitava as idéias nem de Lenin e nem de Plekhanov, referindo-se à matéria como uma experiência coletiva, além de interpretar a dialética segundo esses termos. N. Berdyaev, visto estar no exílio, sentiu-se livre para dizer o que pensava. Ele frisava a liberdade e a criatividade e promovia um relacionamento místico com o divino.A corrente filosofia russa é apenas o marxismo, visto que nenhum filósofo seria ali contratado para ensinar em uma universidade soviética, a menos que fosse um marxista. Alguns afirmam que na Rússia há uma crescente apreciação das alternativas, especialmente no caso daqueles que têm participado da cultura russa através dos séculos. Os Filósofos Novos Era um grupo de filósofos sociais franceses, contrários ao estabelecimento, ao marxismo e às ideologias. Esse movimento veio à existência durante a década de 1970, como fruto das rebeldias e protestos de estudantes e operários. Esses filósofos e seus livros foram: André Glucksrnann (Strategy and Revolution in France); Jean-Mane Benoist (Marx is Dead); Philippe Nemo (lhe Souctural Mas,) e Bernard-Henry Lévy (Barbarity With a Human Fice).

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A Lei na Filosofia A Origem das Leis. As leis humanas dependem das leis naturais, da lei divina, ou da evolução na sociedade humana (lei experimental)? Pode haver tal coisa como uma verdadeira lei, ou todas as leis são apenas experimentais? A antiga máxima que diz: Lex injusta noa est lex, uma lei injusta não é lei., pressupõe que toda lei verdadeira será justa. Por outro lado, se aquilo que é justiça não emerge de alguma exigência divina ou cósmica e da mera experiência humana, então o conceito da lei em geral, como também de qualquer lei em particular, é um conceito em perene fluxo. O Poder é o Direito? Se um soberano qualquer baixa uma lei e tem autoridade para pô-la em vigor, a sua lei é automaticamente correta? Alguns pensadores têm achado que aí reside a verdadeira substância da lei. É conforme disse Mao Tzé Tung, premier chinês do século passada: “O poder sai do cano de um fuzil”. Senso de Responsabilidade. Aqueles que são estudiosos de filosofia sabem quão difícil é tentar definir qualquer termo de sentido muito amplo. Como é óbvio, a responsabilidade é um conceito vital à lei. Não obstante, encontramos grande dificuldade para definir esse termo. De acordo com a doutrina do direito divino dos reis, a responsabilidade de cada homem é obedecer sem questionar, sem importar a evidente injustiça de algumas leis. Os religiosos supõem que os livros sagrados definem claramente a responsabilidade, mas o problema é que esses livros sagrados nem sempre são interpretados da mesma maneira, e poucos acreditam que sejamos capazes de resolver o problema da responsabilidade meramente apresentando textos de prova (juntamente com analogias e aplicações) extraídos dos Livros Sagrados. Além disso, devemos pensar nas chamadas circunstâncias atenuantes. Por exemplo, um homem fez o que era errado, no entanto, ele está insano. Outro homem cometeu um erro, mas, tê-lo na inocência, Ainda um outro errou, no entanto, suas intenções eram boas. Como se poderia pesar as responsabilidades nesses casos? Aristóteles acreditava que a voluntariedade está por detrás de toda culpa, louvor e responsabilidade. Se um homem estiver obedecendo ordens que ele não pode ignorar, ou, então, se o fizer sobre uma pressão incomum da parte de outras pessoas, não poderá ser considerado responsável por algum ato errado, e, mesmo que possa ser considerado como tal, sê-lo-á até que ponto? A vontade do indivíduo, afinal, muito tem a ver com a aquilatação das responsabilidades. A mesma coisa deve ser dita no tocante a pressões e ameaças externas, por causa tias quais um indivíduo se vê forçado a agir de modo contrário à sua vontade. Finalmente, devemos enfrentar o problema da negligência. Imaginemos um homem que ultrapasse um semáforo e mate a alguém. Esse terá feito alguma coisa que não queria fazer; mas, mostrou-se negligente. Talvez não seja sentenciado à prisão por longos anos, mas poderá ser condenado a um ano de prisão, ou terá de ficar sob custódia, dependendo da severidade do juiz. As Intenções. Alguns pensadores opinam que não existe bondade exceto na vontade. Aquilo que tencionamos fazer direito, é bom, e aquilo que tencionamos fazer errado, é verdadeiramente errado. Ora, a intenção está intimamente vinculada à responsabilidade. Empecilhos. Todos nós somos, algumas vezes, impedidos de fazer o bem que gostaríamos de fazer, ou somos impedidos por defeitos morais e mentais, que nos levam

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a fazer o que é errado, por assim dizer, contra a nossa própria vontade. Paulo referiu-se a essa questão no sétimo capítulo da epístola aos Romanos. Os mentalmente insanos são internados em hospitais psiquiátricos, e não em prisões, quando fazem algo de errado. No entanto, em muitos casos, pode ser demonstrado que os insanos podem fazer coisas que criam ou mesmo agravam a sua insanidade. Por conseguinte, essa condição pode ser o primeiro erro de um indivíduo, como se dá no caso daqueles que se viciam com o álcool ou com as drogas e alucinógenos. Os homens devem ser responsabiliza por aquilo que fizerem de si mesmos. Retribuição. Como devem ser aplicadas as sanções da lei? Quão severas devem ser essas sanções? De que tipos elas deveriam ser? Os filósofos continuam debatendo sobre essas questões. A punição capital está certa? Até que ponto deveríamos tentai recuperar aos criminosos empedernidos que matam, são aprisionados, mas matam novamente, se forem libertados? A retribuição deveria visar somente a propósitos de reabilitação, ou pode e deve haver algo como uma justa vingança, inteiramente à parte de qualquer desejo de reabilitar? Direitos e Obrigações. A lei garante a todos certos direitos básicos. Mas, quais devem ser esses direitos? E esses direitos implicam em que obrigações? Conflitos de Grupos de Interesses. O governo não é a Igreja, mas o governo é influenciado pela igreja. Até que ponto as leis de um país refletem as crenças religiosas e as convicções do seu povo? Os lapsos religiosos deveriam ser castigados pela lei? As crenças religiosas deveriam ser ensinadas nas escolas públicas, com o apoio das leis civis? Podem existir escolas religiosas, se, por acaso, não cumprirem os requisitos educacionais do Estado? As uniões trabalhistas podem forçar seus membros a unirem-se às suas respectivas organizações? Se os trabalhadores não se unirem a essas uniões e sindicatos, deveriam eles participar dos benefícios obtidos da parte dessas uniões e sindicatos? Os Sentidos Descritivos Esse título é usado para falarmos sobre a lei como leis da natureza. Presumivelmente, os fenômenos que ocorrem na sociedade humana, e que podem ser examinados pelos cientistas sociais, dependem das funções naturais de nosso mundo e de nosso universo. Alguns estudiosos têm ensinado a correspondência entre as leis naturais e a experiência humana, ou, então, que a experiência humana deveria coincidir com as leis naturais. Nesse caso, as leis deveriam ser formuladas de acordo com aquilo que a natureza parece requerer. E a filosofia e a teologia existiriam a fim de definir o que significa esse parece. Peirce, entretanto, não eliminava o elemento do acaso, no tocante a essa questão. Isso posto, a evolução estaria envolvida nos erros dos homens quanto às leis, da mesma maneira que a própria natureza pode errar. Augusto Comte referia-se à lei da evolução cultural. Ele aludia a três estágios, nessa evolução, a saber: a-A evolução teológica: todas as dúvidas seriam solucionadas pelos clérigos, em seus livros e em suas declarações. Nesse caso, os deuses é que resolvem tudo.

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b-A evolução metafísica: ai os homens começam a pensar em termos mais abstratos. A religião continua sendo um fator importante; mas agora já se deve pensar em forças cósmicos, e não meramente em deuses.A ética contém abstrações e discussões morais que transcendem àquilo que os eclesiásticos afirmam. c-A evolução científica: nesse ponto, os homens deixam de tentar resolver os seus problemas pelo apelo a salgo existente lá fora, e começam a definir a conduta deles em termos de suas próprias experiências, e essas experiências são examinadas e modificadas cientificamente. Os Sentidos Prescritivos As leis do pensamento, conforme são vistas na lógica tradicional, com os seus conceitos de identidade, contradição e meio-termo excluído, são prescritivas. A ética teísta conta com uma lei prescritiva. Deus faz as leis. Ele também as prescreve. Sobre essa base é que concebemos Deus como o grande legislador, como o originador das leis naturais, visto que Deus é o criador da própria natureza. Platão, com os seus universais perfeitos e imutáveis, supunha que a ética ideal e a lei seguem esses padrões absolutos, que prescrevem aquilo que devemos e que não devemos fazer. Tomás de Aquino. Ele falava sobre quatro tipos de leis prescritivas, a saber: a. as leis das nações; b. as leis naturais; c. as leis positivas; d. as leis eternas. Todavia, esses tipos de leis prescritivas não teriam o mesmo peso e autoridade. Se as leis naturais existem e são corretas, então podem ser prescritas para o homem, para que saiba o que deve fazer e o que não deve fazer. A Filosofia da Lei A filosofia da lei é uma disciplina moderna que analisa conceitos prescritivos relacionados à jurisprudência. O positivismo insiste sobre a experiência humana como o fator determinante de toda lei, e a experiência humana é uma situação de tentativa e erro. O pragmatismo insiste sobre o princípio que bons resultados devem advir da lei, e não meramente alguma boa teoria. Há regras primárias que impõem deveres; e há regras secundárias que se preocupam com o reconhecimento e a aquilatação das regras primárias. A religião continua exercendo poderosa influência sobre as leis e a legislação de muitos países; e as crenças religiosas, naturalmente, influenciam a filosofia da lei.

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5 Pré-Socráticos Homero Todos concordam que a literatura homérica, a Ilíada e a Odisséia, é uma grandiosa composição literária. Porém, nem todos concordam que seu autor, Homero, foi uma única pessoa. Talvez tivesse havido, realmente, um único autor, mas ampliado por algum editor ou editores. Seja como for, Homero é o nome dado ao autor dos dois grandes poemas gregos épicos, mencionados, e que abordam, respectivamente a querela entre os gregos e os troianos, durante a guerra de Tróia, e então, depois da guerra de Tróia, o retorno de Odisseu à sua rainha, Penélope, quando ele tornou a ocupar o trono de seu reino, na ilha de Ítaca. Esses poemas épicos são a literatura mais notável da Grécia antiga, servindo de uma espécie de Bíblia, para os gregos. As tradições antigas afirmam que Homero foi autor de ambos aqueles poemas. Segundo elas, ele teria vivido no século IX A.C., na Jônia, que atualmente faz parte das costas ocidentais da Turquia. Porém nada de definitivo se sabe acerca desse homem e de suas datas. A s antigas Vidas, escritas por vários autores, não nos prestam ajuda alguma quanto a estas questões, com os seus mitos. A única fonte informativa real é aquela que se deriva dos próprios épicos, os quais, na opinião da maioria dos eruditos, pertencem à última metade do século VIII A.C. Outras obras também são atribuídas a Homero, que, de algum modo, estão ligadas à guerra de Tróia, como os poemas intitulados Margitas, A Batalha das Rãs e dos Camundongos e vários hinos homéricos. Os estudiosos modernos rejeitam, entretanto, a autoria homérica dessas obras. E até mesmo a divisão da Ilíada e da Odisséia, em vinte e quatro livros, seguindo as letras do alfabeto grego, muito provavelmente, foi obra de editores helenistas. As enciclopédias clássicas abordam os problemas homéricos com abundância de detalhes. Nesta enciclopédia, a questão se reveste de interesse porque essas obras antigas nos permitem dar uma boa olhada para a religião grega primitiva. Os poemas em apreço provêem tinia visão abrangente do panteão dos deuses gregos, cujos principais membros eram Zeus, Apoio, Poseidon, Ares, Hera, A tona, Afrodite, Hélio e Hermes. Essas divindades manter-se-iam distantes e indiferentes, em sua majestade, no Olimpo; usas, ocasionalmente, resolviam descer e intervir nas atividades humanas. Eram temidos e amados ao mesmo tempo, e orações e sacrifícios eram feitos a esses deuses, por grande variedade de razões. O conceito de moira ou destino é muito destacado nos escritos de Homero, onde há uma versão primitiva do determinismo. Algumas vezes, o destino ou sorte opera segundo a vontade dos deuses, nos escritos homéricos; fluas, ocasionalmente, seu poder é tão grande que até os deuses estão sujeitos ao mesmo.

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Em Homero, de maneira informal, temos um sistema ético, algumas vezes muito corrupto, que Heráclito e Xenófanes criticaram acerbamente. Como é óbvio, Homero foi muito citado por escritores gregos posteriores, incluindo os filósofos. Suas obras eram uma espécie de Bíblia popular dos gregos, embora nem sempre aceitas como tal pelos intelectuais. Hesíodo Poeta grego do século VIII A.C. Nasceu em Ascra, na Boelia, porção leste central da Grécia, capital da Levadia, onde houve uma antiga república. Aparentemente, ele trabalhou como pastor e sua poesia falava sobre o seu trabalho. Posteriormente, ele resolveu falar sobre os deuses. Geralmente, pensa-se que ele viveu na geração seguinte à de Homero. As obras de Homem representavam um ponto culminante na técnica rias composições orais dos cantores, com uma excelente poesia, acompanhada pela música da harpa. Hesíodo, porém, já representa uma época em que os cantores estavam sendo substituídos, pouco a pouco, por meros recitadores. Registros escritos também estavam tomando o lugar da preservação oral ria recitação. O trabalho de Hesíodo era, artificialmente, inferior ao de Homero; mas Hesíodo introduziu novos estilos de composição escrita. Suas duas obras principais são a Teogonia (Origem dos Deuses) Obras e Dias. Também é bem possível que O catálogo das Heroínas tenha sido de sua autoria. A Filosofia de Hesíodo: Hesíodo fazia o contraste entre a Ordem e o Caos, dizendo que a Ordem procedera do Caos mediante o poder do deus Eros. Nisso achamos uma espécie de controle teísta das coisas, com o predomínio do princípio do amor, de modo geral, o que resultaria, afinal, na boa ordem de todas as coisas. O passado era glorificado por glorificado, como se tivesse sido a era áurea. Depois disso, segundo ele pensava, teria havido a deterioração da cultura. fazendo a era áurea ceder lugar à era argentina (de prata), dai para a era do bronze, e, finalmente, para a era do ferro. Naturalmente, o presente (que coincidia com os seria próprios dias) seria a pior de todas as épocas. Em sua Teogonia, Hesíodo traçou uma antiga teologia, que incluía inúmeras lendas, mitos e especulações. Essa obra consta de cerca de mil linhas em versos de estilo hesâmetro dactílico. Esse poema teria sido dado por inspiração divina (uma visita das musas teria provido tal inspiração). Essa obra procura sincretizar os muitos cultos e tubos gregos conflitantes. os muitos elementos que fazem parte das culturas micena, anatôra e mesopotâmica. A conclusão do poema celebra o triunfo dos deuses do Olimpo, encabeçados por Zeus, que é ali descrito como o supremo deus da justiça. Ele se tornara o deus principal ao triunfar sobre tirano e Cronos, seus injustos antecessores. Ao derrotar as terríveis forças dos titãs e de Títom, que aliteaçavam a ordem universal, Zeus tornou-se um governante supremo universal e justo. Nisso lemos um esforço para purificar a fé religiosa, retirando dela as coisas horríveis que o povo atribuía às divindades. A despeito disso, coisas horríveis continuaram sendo ditas acerca de Zeus, de tal maneira que os leitores das obras clássicas não podem descobrir em que sentido ele era superior aos seus antecessores, exceto, talvez, que teria mais poder do que eles. Portanto, a força era o direito. Hesíodo, porém, abordou o problema do mal.Isso transparece cm seu mito Prometeu- Pandora.

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Muitos teólogos cristãos vêem, no Novo Testamento, uma purificação do conceito de Deus em comparação com o Antigo Testamento. A necessidade de tal purificação foi uma das forças que atuaram por detrás do desenvolvimento da chamada interpretação alegórica. Tales de Mileto Um dos primeiros filósofos ocidentais foi Tales de Mileto, que viveu por volta do ano 640 a.C a 546 a.C. Foi considerado até como um dos sete sábios mais célebres da Grécia e pai da filosofia ocidental. Em seus estudos científicos, teve a capacidade de prever o eclipse solar no ano 585 a.C. Desenvolveu um projeto que desviou as águas de um rio, para o benefício do rei Croeso. Ele promoveu a unidade de algumas cidades-estado da Grécia. Elaborou um projeto, o qual conscientizava os gregos de uma necessidade de uma capital. Cientista teórico como era, lutou para determinar como elemento básico a água na base em várias razões. Tem sido considerado por muitos o primeiro filósofo que inquiriu sobre natureza subjacente de todas as coisas. Muitos acreditam que as especulações sobre água como base de todas as coisas foram tomadas como empréstimo em parte dos mitos cosmológicos do Egito ou da Babilônia. Muitos seguiram-no quanto a essa atividade, tendo sugerido certos elementos, como, o fogo, o ar e a terra, e o elemento subjacente não determinado como base de tudo. Quando Tales declarou “Todas as coisas estão repletas de deuses” possivelmente ele expressa que a crença da base real da natureza é psíquica, e não material. Muitos, no entanto, assumem pontos de vistas materialistas da sua teoria, supondo que ele usava uma linguagem um tanto poética ao mencionar sobre certas divindades em tudo presente. A Filosofia de Tales; cinco idéias: 1. Ele é considerado o autor e criador de um conceito que diz: “Conhece-te a ti mesmo”, muito usado nas idéias filosóficas de Sócrates. Neste caso podemos dizer que para que pratique o bem, o indivíduo deve ter consciência da natureza de seu próprio ser, de suas potencialidades e de seu destino. 2. Ensinou certo princípio: “Nada em excesso”, a famosa moderação dos gregos (“Equilíbrio”) que se tornou um marco importante no princípio normativo de grande parte da ética na Grécia. 3. Tornou-se melhor conhecido por suas especulações a cerca da natureza básica das coisas. Em sua crença, talvez sobre as influências das cosmogonias babilônicas e egípcias, a qual dizia que a água é a base de todas as coisas. Aristóteles dava um certo crédito a Tales de Mileto, pois ele originou a busca por princípios de explicações. 4. A alma humana tem o poder de auto-motivação, sendo ela capaz de dar início a movimentos em outras coisas. 5. Em seu conceito filosófico, a Terra é um disco que flutua em um vasto oceano, como se ela fosse um pedaço de madeira; mas nunca consegui apresentar qualquer informação sobre o que contêm esse oceano.

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Anaximandro Filósofo grego que nasceu em Mileto e viveu de 610 a.C a 547 a.C, cuja família era nobre. Formou uma colônia de imigrantes milecianos . Alguns dizem que inventou o mapeamento geográfico e o relógio solar. A Filosofia de Anaximandro;cinco idéias: 1. Apeíron. Uma substância indefinida e ilimitada, a qual proveria explicações para variedade como para as transformações das coisas. Seria algo eterno. Ele lança base para o vácuo infinito dos atomistas, a de idade cósmica de Xenófanes, Aristóteles e os estóicos. 2. A desintegração da substância, o retorno à Apeíron, que é descrita poeticamente como uma forma de justiça cósmica, portanto, todas as coisas de certa maneira são injustas e merecem ser extintas. 3. O espaço, que em alguns pontos pode ser indefinido com o ilimitado, estende-se indefinidamente para cima, pelo que haveria possibilidade de muitos mundos. 4. O sol, a lua, e as estrelas vieram a existência mediante a fragmentação de uma esfera em chamas, que a princípio envolvia a Terra. Os eclipses eram por ele explicados mediante a suposição de que vemos os corpos celestes através de respirações ou respiradouros, que algumas vezes são bloqueados. A Terra teria a forma de um cilindro, com comprimento um terço maior que a sua largura. Flutuaria livremente, e ficaria eqüidistante de todas as coisas que existem no sistema cósmicos. 5. Evolução.A vida teria tido origem na umidade do oceano, e todos os animais teriam evoluído de outras espécies. Os antepassados do homem seriam peixes. Anaximandro sentia que os seres humanos sobreviveriam como infantes e que nada poderiam fazer por si mesmos; mas “devem ter nascidos de outros seres vivos, visto como os outros animais, podem procurar rapidamente o seu próprio alimento, mas somente o homem requer cuidados matérias prolongados” Anaxímenes de Mileto Nascido na mesma cidade de Mileto, sendo um dos discípulos de Anaximandro, viveu de 588 a.C a 524 a.C. A Filosofia de Anaximenes;cinco idéias: 1. A substância básica de tudo é o ar. O filósofo a identificava como o sopro da vida. Essa terminologia tem levado alguns filósofos a suposição de que a sua idéia era psíquica e não física. Para Anaxímenes o ar é que manteria todas as coisas em seu lugar, neste mundo, sendo uma certa espécie de princípio divino, origem de todas as coisas, combinação, modificação, e desintegração. 2. Ocorrem modificações através da condensação e rarefação. Tal processo envolveria as pedras, a terra, as nuvens, o vento e o fogo, que seriam modificações atenuadas da mesma substância básica, o ar. 3. A terra, o sol, a lua e as estrelas são substâncias em ignição, repousando sobre o ar. Os astros estariam girando em torno da Terra. Ele explicava a noite supondo que o Sol se ocultaria por detrás de pontos mais elevados da Terra, como se o Sol se movesse ao redor dos cumes da Terra. O arco-íris seria produzido pelos raios do sol incidindo sobre o ar condensado mais espesso. Os terremotos seriam produzidos pela sequidão ou pela umidade da terra, o que criaria condições caóticas. 4. O ar é a origem de tudo, animado, inanimado, terreno, os deuses e as realidades divinas. O movimento do ar que é incessante origina a causa e efeito e também todas as modificações. O ar rarefeito gera o fogo, o ar condensado produz as nuvens. As nuvens

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condensadas produzem a água. A água condensada produz a terra, que por sua vez, produz a rocha. O calor e o frio seriam os fatores modificadores utilizados pelo ar. 5. O ar é a causa de tudo, o ar divino que envolve a Terra, regula com êxito todas as coisas. Observação: Tales, Anaximandro e Anaxímenes formaram a Escola Mileciana da Filosofia. Buda Viveu entre os anos de 560 a.C - 477 a.C. É considerado o fundador da fé budista. Nasceu no sul do Nepal, na Índia, nas vertentes da cadeia do Himalaia. Sua grande renúncia de todas as coisas materiais, parece ter sido resolvida após o nascimento de seu primeiro filho. A partir de então, ele começou a sua busca pela iluminação, mediante a meditação e certas práticas ascéticas. Por algum tempo ele viveu como um “mendigo”. Certa vez ele sentou-se debaixo de uma árvore, de frente para o oriente, e resolveu não se movimentar enquanto não recebesse a iluminação buscada. Diz-se que ele ficou sentado em uma só posição, meditando, durante sete semanas. Veio, afinal, a iluminação que ele buscava, e ele tornou-se um Buda, isto é, um iluminado. Segundo fontes, as palavras finais de Buda foram: “Agora, irmãos, despeço-me de vocês. Todos os componentes do ser são transitórios; operai vossa salvação com diligência” Confúcio Confúcio viveu de 551 a.C a 479 a.C., foi um filósofo e líder religioso chinês. Nasceu no estado de Lu na aldeia de Tsou, na porção sudoeste da província de Xantungue;tornou-se o primeiro mestre profissional da história chinesa. Seus primeiros estudantes, que se tornaram discípulos em seu movimento religioso, segundo os registros antigos, foram vinte e quatro. Confúcio recebeu educação liberal em estudos de humanidades como poesia e literatura, havendo transmitido essa cultura aos seus discípulos. Muitos deles vieram a ocupar posições importantes no governo e na sociedade chinesas.O próprio Confúcio serviu em postos governamentais, mas ele, acima de tudo, era um mestre. Embora tenha exercido alguma influência, durante seus dias de vida, o triunfo do confucionismo não ocorreu senão já no século II A.C. Um dos segredos de Confúcio era a ligação entre professor e estudantes, que ele cultivava, algo que veio a tornar-se um ideal chinês, muito imitado por outros. Quando foi instituído um dia do professor, na China, em nosso século XX, foi escolhida a data lendária do nascimento de Confúcio, 28 de setembro.

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HISTÓRIA E INTRODUÇÃO À FILOSOFIA L3 1- O que representa o Antigo Testamento? A-Uma filosofia da história B-Uma filosofia da Teologia 2- A possessão de livros sagrados indica uma: A-Atitude filosófica B Atitude científica 3- A própria Bíblia não apresenta: A-Nenhum sistema filosófico B- Nenhum sistema científico 4- Conforme acabamos de afirmar, temos na Bíblia reflexos claros do teísmo e de uma: A-Filosofia da Educação B- Filosofia da História 5- Visto que se trata de um dos mais espinhosos problemas da: A-Ciência e da Teologia B- Filosofia e da Teologia 6- As conquistas militares de Alexandre, O Grande,levaram a cultura a entrar em contato: A-Direto com o judaísmo B- Direto com o romanismo 7- Que tipo de leitura apresenta bem pouca filosofia sistemática? A-O Corão B-O Talmude 8- Quem entre os judeus revoltaram-se tanto contra a filosofia quanto contra as interpretações rabínicas? A-Os caráftas B-Os esenios 9- Em que data a Cabala se desenvolveu? A-500 a 1000 d.C. B-400 a 1000 d.C. 10- Por outra parte, alguns judeus abandonaram totalmente a sua fé, tendo sido arrebatados pela febre: A-Provocada pelo judaísmo B-Provacada pelo islamismo 11- Quem que em 1842, desenvolveu um sistema de idealismo e exerceu profunda influência sobre o pensamento judaíco? A-Hermann Cohen B-Hermann Brawn

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12- Buber e Rosenzweig também incorporaram em seu sistema: A-Certos elementos do Iluminismo B-Certo elementos do existencialismo 13- Qual é o estudo que assevera o estudo cuidadoso e como a linguagem é usada? A-Filofosia linguistica B-Filosofia sociologica 14- O que deixa claro que quanto mais profundo for uma verdade, mais inefável ela se torna? A-O estudo científico B-O misticismo 15- Quais foram os mais importantes expositores da filosofia lingüística? A-Canti e Maquiavel B-Wittgenstein, J.L. Austin e Ryle 16- Platão pode ser caracterizado como a pai da: A-Política B-Estética 17- Qual foi a primeira tentativa, até onde somos capazes de sondar, a tratar dos problemas dos ideais da conduta do Estado? A-República de Platão B-República de Sócrates 18- Quem idealizava um Estado em que o sistema educacional haveria de ir separando gradualmente as classes em seus setores apropriados? A-Platão B-Sócrates 19- O que é estoicismo? A-Esse sistema não enfatiza a fraternidade universal dos homens B-Esse sistema enfatizava a fraternidade universal dos homens 20- O que concebia a filosofia de Agostinho? A-Uma espécie de teocracia B-Um espécie de semi-teocracia 21- As idéias de Agostinho dominavam as reações entre a: A-A igreja e o estado por cerca de 1000 anos B-A igreja e o estado por cerca de 500 anos 22- Quem misturou idéias de Hobbes e de Locke? A-Rousseau B-Marx 23- Quem enfatizava quão desejável é o império da lei universal, isto é, um governo mundial? A-Fichte B-Kant

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24- Quem pensava que o Espírito Absoluto cria todos os movimentos e instruções políticas? A-Marx B-Hegel 25- Quem construiu a sua teoria política sobre a tríade de Hegel, embora fizesse do dinheiro o fator preponderante, em vez do espírito? A-Marx B-Kant 26- Quem argumentava em favor da democracia como a maneira mais provável de produzir um Estado ordeiro e feliz? A-Hegel B-Maritain 27- O cristianismo, como sistema, não apresenta qualquer: A-Fiolosofia política B-Filosofia da religião 28- Quem tornou-se conhecido com um filósofo que raciocinava intensamente, ou seja, com o propósito de modificações? A-Fichte B-Hegel 29- Que década iniciou o movimento da filosofia radical? A-1970 B-1980 30- Nenhuma filosofia original tem sido produzida na: A-Alemanha B-Rússia 31- O que garante a todos certos direitos básicos? A-A lei B-A ordem 32- Que título é usado para falarmos sobre a lei como leis da natureza? A-Sentidos correto B-Sentidos descritivos 33- Alguns estudiosos têm ensinado a correspondência entre as: A-Leis naturais e a experiência humana B-Experiências humanas 34- Quais os três estágios da lei da evolução cultural de Augusto Comte? A-A evolução teológia, a evolução metafísica, a evolução científica e a evolução histórica B-A evolução teológia, a evolução metafísica e a evolução científica

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35- A filosofia da lei é uma disciplina moderna que analisa: A-Conceitos prescritivos relacionados a jurisprudência B-A filosofia analítica 36- Cite a literatura homérica: A-A Ilíada e a Odisséia B-Cabala 37- Que século viveu Hesíodo? A-Século III a.C. B-Século VIII a.C. 38- Hesíodo fazia o contraste entre a Ordem e o Caos, dizendo que a: A-Ordem procedera do caos mediante o poder do Deus Apolo B-Ordem procedera do caos mediante o poder do Deus Eros 39- Em sua Teogonia, Hesíodo traçou uma antiga teologia A-Que incluia inúmeras lendas, mitos e expeculações B-Que incluia inúmeras histórias 40- Que ano viveu Tales de Mileto? A-Por volta do ano 640 a 546 a.C. B-Por volta do ano 650 a 556 a.C. 41- Que ano Tales de Mileto preveu o eclipse Solar? A-Ano 585 a.C. B-Ano 500 a.C. 42- Tales de Mileto é considerado o autor e criador de um conceito que diz: A-Conhece-te a ti mesmo B-Você vencerá com facilidade 43- Quem ensinou certo princípio: “Nada em excesso”? A-Platão B-Tales de Mileto 44- Que ano viveu Anaximandro, filósofo grego que nasceu em Mileto? A-De 610 a 547 a.C. B-De 609 a 547 a.C. 45- Que filósofo alguns dizem que inventou o mapeamento geográfico e o relógio solar? A-Anaximandro B-Apolo 46- Que ano viveu Anaxímendes de Mileto? A-Viveu de 588 a.C a 414 a.C. B-Viveu de 588 a.C a 424 a.C. 47- Que ano viveu Buda? A-Viveu entre os anos de 560 a.C. a 477 a.C. B-Viveu entre os anos de 560 a.C. a 475 a.C.

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48- Onde Buda nasceu? A-Nasceu no sul do Nepal, na Índia, nas vertentes da cadeia do Himalaia B-Nasceu na China 49- Que ano viveu Confúcio? A-Viveu de 551 a 479 a.C. B-Viveu de 581 a 459 a.C. 50- Que filósofo nasceu do estado de Lu na aldeia deTsou, na porção sudoeste da província de Xantungue? A-Confúcio B-Buda

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LIÇÃO 4 A Filosofia de Confúcio;idéias: Confúcio não se afirmava pensador original, mas somente transmissor de idéias que ele tomara emprestadas da antiguidade. Na realidade, porém, ele foi um pensador muito original. Alvos. A filosofia de Confúcio centraliza-se em torno do homem e seu bem-estar, na vida presente. Ele queria instituir uma boa sociedade, caracterizada por relações sociais harmônicas. As relações sociais harmônicas dependeriam do que Confúcio chamava deli, ou seja, caminho do bom gosto, a conduta de um cavalheiro. Se isso envolve a pessoa na realização de ritos apropriados, religiosos e outros, consiste muito mais em cumprir as próprias funções. Isso deve ser feito dentro das cinco relações cardeais: 1. pai e filho; 2. irmão mais velho e irmão mais novo; 3. marido e mulher; 4. amigo e amigo; e, 5. soberano e súdito. A piedade filial é uma das importantes bases do sistema. O senso de propriedade é um meio do desenvolvimento do caráter. Assim como uma casa dotada de alicerce sólido também precisa ter um aspecto agradável, ou um formato arquitetônico harmonioso, assim também o homem bom deve caracterizar-se por boas maneiras, mostrando-se cheio de consideração, no trato com o próximo. Isso é fomentado pelo estudo da música e da poesia. Nisso, Confúcio mesclava a ética com a estética, as qualidades humanas, segundo ele, seriam estimuladas pelas artes. A mente é despertada pela poesia para a prática do bem. Regra Áurea do Confucionismo. O que não quiseres que te seja feito, não o faças a, outros. E, naturalmente, temos nisso uma aplicação da lei do amor. de Confúcio. Primeiramente o homem deve estabelecer seu próprio bom caráter, e então deve transmitir os seus princípios a seus semelhantes, O Princípio do Jen. O .”jen” indica aquilo que é próprio e justo, mas, acima de tudo, o amor. Deste último fluem a retidão, o respeito, a sinceridade, a lealdade, a liberalidade, a veracidade, a diligência, a generosidade, que são virtudes cardeais. O amor é o solo onde são cultivadas todas as demais virtudes cristãs. O Tao, ou “Caminho”. A correta aplicação dos princípios leva o indivíduo a seguir o Tao, ou ‘.Caminho’., Isso torna o individuo superior em seu caráter e em suas ações. E também conduz o seu próprio ser à dimensão cósmica. O T’ien ou “Céu”. Esse termo parece indicar um padrão impessoal de justiça, o qual permite que um homem, mesmo solitário, ou como parte de uma minoria, esteja correto em seus pontos de vista e em sua vida diária. O T’ien é uma espécie de providência ética, à qual a pessoa pode correlacionar a sua vida, e assim triunfar em espírito, mesmo que não materialmente falando. Esse T’ien parece ser o equivalente aproximado do Espírito de Deus da concepção cristã, sem quaisquer subcategorias metafísicas. Política. Não haveria tal coisa como reforma do estado, ou realização de um elevado ideal, sem a espiritualização do individuo e da família. Um monarca deveria ser selecionado, por causa de seus méritos morais, e não com base no poder pessoal. Esse conceito é um paralelo do ideal platônico do filósofo-rei. Para Confúcio, pois, poder não é direito. O direito depende do caráter moral, e o poder real não se origina no poder militar. Ou então, dizendo a mesma coisa em termos mais modernos: “0 poder não vem do cano de um fuzil”, no dizer de uma outra famosa figura chinesa. Religião. Confúcio não foi fundador de uma religião, no sentido usual. Ele acreditava na força moral universal, tendo usado as expressões “céu” e “vontade do céu” para referir-se a essa força moral. Tal como Buda, ele foi, essencialmente, um filósofo moral, e não um filósofo metafísico.

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Quando um de seus alunos indagou dele algo sobre a adoração aos espíritos, ele retrucou: ‘.Ainda não sabemos como servir aos homens; e como poderemos saber como servir aos espíritos?’. Quando indagado sobre a vida além-túmulo, sua resposta foi: “Ainda não sabemos muito sobre a vida. Como podemos saber muito sobre a morte?”. Confúcio jamais se apresentou como profeta de Deus; mas dedicou-se ao que ele pensava ser uma missão celestial. Ele não conferenciava sobre Deus, como um ser descrito mediante proposições teológicas. Mas a história mostra-nos que ele foi homem voltado para as questões espirituais. Em períodos de tribulação, de tristeza e de busca, ele invocava o céu. Era dono de uma espiritualidade particular que não gostava de exibir diante dos homens. Na qualidade de homem piedoso, ele esperava poder desenvolver essa mesma atitude em outras pessoas. O Confucionismo Os ensinamentos de Confúcio não se tornaram o ideal dominante na China, senão já no século II A.C. Finalmente, ele passou a ser considerado o mais importante entre tantas centenas de grandes filósofos da era clássica chinesa. Porém, uma vez firmado, o confucionismo teve uma longa história. Durante dois mil anos tem sido considerado como o credo ou religião oficial da China. Como fé religiosa, o confucionismo pode ser descrito como um humanismo idealista. Apesar de que vários aspectos de seu sonho de paz e harmonia universal nunca chegaram a concretizar-se, a China tem desfrutado de considerável unidade cultural e continuidade, até o estabelecimento do comunismo. Países circunvizinhos, como a Coréia, o Japão, o Vietnã e as ilhas Riu-Quiu também resolveram adotar Confúcio como seu principal líder e sábio religioso. Tradições Preservadas Um dos aspectos incomuns do confucionismo é que a linhagem de sua família pode ser acompanhada por mais de dois mil anos, até aos nossos próprios dias. Um descendente conhecido de Confúcio, da septuagésima sétima geração, estava residindo na ilha de Formosa, nos fins da década de 1960. A casa onde Confúcio viveu e ensinou continua existindo na cidade de Ch’ufu. Durante o reinado de Shih Huang, quando os tetos confucianos estavam sendo destruídos (270-221 A.C.), um descendente de Confúcio ocultou seus vários livros dentro das paredes duplas da casa. Esses livros foram recuperados durante a dinastia ocidental Han (202 A.C.), e assim prosseguiu a tradição confuciana. Essa casa recebeu o nome de Lu-pi, que significa “parede de Lu”. Confúcio foi sepultado por cem; discípulos no subúrbio nortista de Ch’ufu, perto do rio Su. O terreno inteiro do sepulcro, incluindo o túmulo mesmo de Confúcio, tem sido preservado. Heráclito Suas datas foram de 540 a.C a 475 a.C. Foi um filósofo grego nascido em Éfeso, pertencente a uma família distinta. Foi um dos mais brilhantes filósofos pré-socráticos. Recebeu muitas alcunhas, como o filósofo chorão, o filósofo obscuro, etc. Opunha-se à religião popular de seus dias;ridicularizava as pretenções da democracia e chegou a criticar a Homero e a Hesíodo que o povo tinha em alta estima. Aquilo que se

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conhece sobre o seu pensamento chegou até nós sob a forma de urna boa quantidade de fragmentos de seus escritos ou de citações feitas por outros filósofos. Suas idéias influenciaram diretamente, mais por aversão, a Sócrates. Platão e Aristóteles. Os cento e trinta e cinco fragmentos existentes de seus escritos mostram-se enigmáticos e oraculares quanto ao estilo. Para exemplificar: O deus de Delfos nem revela e nem oculta, mas deixa entendido. Essa serve de boa observação sobre a natureza de nosso conhecimento que nos vem do alto. A Filosofia de Heráclito;idéias: Panta Rei. Tudo está em estado de fluxo. Ninguém pisa no mesmo rio por duas vezes. Esse conceito tornou-se fundamental para alguns sistemas, ferido provocado muitas disputas. Platão atribuía esse princípio ao inundo dos particulares (o nosso mundo físico), como parte de sua natureza transitória; mas preservava a imutabilidade no mundo das idéias. Na mente filosófica, o fluxo acabou associado à degradação e à decadência. As mudanças ocorrem por causa de tensões entre pontos apostos, de conformidade corri a idéia de tese, antítese, síntese, de Hegel, embora Heráclito não tivesse empregado essas palavras. Grandes alterações na vida também têm essa natureza, como, por exemplo, o bem e o mal, o nascimento e a morte, bem como todos os padrões na vida que envolvem ciclos e modificações. O único princípio imutável é que as coisas estão em constante fluxo. Quarto, à Reencarnação. Os vivos são os mortos e os mortos são os vivos. E a mesma coisa em nós que está viva e está morta, que está desperta e que está dormindo, que é jovem e que é velha. Pois quem é jovens fica velho, e quero é velho torna-se novamente jovem.. O Logos. Esse é o princípio divino que controlaria o fluxo em fadas as coisas. Haveria uma sabedoria atuante em todas as coisas, que causa e controla todas as modificações e tudo guarita essas modificações produzem. A doutrina do Logos, tanto dos estóicos quanto do Novo Testamento, teve suas origens ali. O Logos garante uma unidade subjacente de todas as coisas. As diferenças são apenas aparentes e circunstanciais. O caminho para cima e o caminho para baixo são uma mesma coisa. O Logos é o principio que permite a conduta de todas as coisas. O fogo é a unidade básica ou aquilo de que é feito o nosso inundo físico; e, através de várias transformações transforma-se cru todas as coisas. Contudo, ao que se presumia, o fogo seria apenas uma maneira de agir do Logos, corno sua manifestação básica neste mundo físico. O valor seria gerado por meio do conflito. A terra é a mãe de todas as coisas. Os Elementos Básicos. A terra se liquefaria, transformando-se no mar; o mar se transformaria nas nuvens tempestuosas, em vapor e com fogo. Idéias Astronômicas. O sol seria uma taça, no céu, que dirigiria a sua superfície côncava na direção da terra. Os eclipses seriam causados por alguma inclinação dessa taça do sul. Heráclito explicava da mesma maneira as fases da lua. O mundo, ao mover-se para cima, chegaria ao verão; ao mover-se para baixo, chegaria ao inverno. Heráclito atacava a religião popular, sobretudo em seu aspecto idólatra. Orar diante de um ídolo, para ele, era como conversar com a casa de um homem, estando ele ausente, Ele pensava que deuses que podem morrer e ser lamentados, não são deuses coisa alguma. Os Grandes Ciclos. As modificações ocorridas na terra fazem parte de vastos ciclos, os quais, em si mesmos, são modificações de ordem cósmica. Cada ciclo consistiria em trezentas e sessenta gerações, ao que ele chamava de “ano do mundo”. Se calcularmos cada geração como trinta arras, isto daria dez mil e oitocentos ativo. Passado esse

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período, todas as coisas voltariam ao seu estado original, e então começaria um novo ano do mundo. A Razão Universal. Essa razão foi posta à disposição do homem, o que lhe confere um imenso tesouro de conhecimentos. Sócrates aceitava esse conceito e buscava respostas para as questões éticas na Mente Cósmica. Esse é um dos aspectos da doutrina do Logos. Os estóicos, os neoplatônicos e a teologia cristã desenvolveram ainda mais a doutrina do Logos. Parmênedes Este filósofo viveu por volta do ano 515 a.C a 450 a.C e foi um dos mais importantes pré-socráticos. Como nasceu em Eléia sofreu uma certa influência pelos filósofos pitagorianos. Discordava muito da doutrina ensinada por Heráclito, a qual dizia: “Tudo se acha em estado de fluxo”. Ele defendia o monismo e a imutabilidade, por isso é considerado o fundador da filosofia eleatíca. A Filosofia de Parmenedes;idéias: Racionalismo extremo. Para o filósofo, o ser e o raciocínio do mesmo são idênticos, sendo assim, a verdade sobre o ser pode ser conhecida através de um raciocínio disciplinado e não através da percepção dos sentidos. Certas experiências adquiridas pela percepção dos sentidos são contraditórias. Esta é a razão pela qual são ilusórias, pois o mundo físico não passa de mera aparência. O raciocínio busca aquilo que de uma certa forma seja constante, ou invariável e comum nas coisas. O ser existe, o não ser não existe; não existe isso de tornar-se ou de estar vindo a existência. Em seu conceito, a criação é impossível, no entanto, nada pode ser trazido a existência a partir do nada. O ser é eterno e imutável. O resto é ilusão. Mudanças são impossíveis, pois elas significariam que algo veio a existir de onde antes nada existia; a não existência não existe e nem qualquer mudança. Quando qualquer coisa se move, esta coisa tende a ocupar um espaço onde antes essa coisa não estava; e visto que o espaço vazio não existe e nem é ser, o movimento é algo impossível. As coisas parecem estar separadas pelo espaço, mas se isso fosse verdade, então o espaço vazio teria de ser alguma coisa. Mas, visto que o espaço vazio não existe, então também não existe tal coisa como separação entre o espaço e essas coisas. O ser é homogêneo em todas as suas dimensões, como a massa de uma esfera, que é perfeita em todos os seus lados. Todas as coisas estão a igual distância do seu centro Deve-se observar que as descrições do Ser, por parte de Parmênides, são idênticas às descrições cristãs acerca de Deus: eterno, imutável, perfeito, etc. Esse é o único Real, e todas as demais coisas são ilusórias. Eurito de Crótona Ele foi discípulo de Pitágoras, no século VI A.C. Tornou-se conhecida somente por causa de sua prática peculiar de dar número às criaturas. Ele usava pedregulhos para esboçar o formato dos animais e então contava os pedregulhos. Os pitagoreanos supunham que todas as coisas têm seus números apropriados (uma antiga forma de numerologia). Eurito, pois, usava esse método singelo para tentar determinar esse número. Pitágoras pensava que, de alguma forma, a compreensão da natureza jaz na matemática.

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Lao Tzu Ele viveu no século VI AC. Ao que se presume, ele foi o fundador da filosofia chinesa do taoísmo. Ele foi o autor da obra Lao Tzu, também chamada Tao-Te Ching (Clássico do Caminho e sua Virtude). Essa é uma obra poética que dá substância ao taoísmo. Praticamente nada se sabe sobre a vida de Lao Tzu, mas Su-ma Ch’ien, em seu livro, Registros do Historiador, apresenta-o como um líder religioso que se impacientava diante dos princípios do confucionismo, e buscava alguma verdade adicional. Lao Tzu é por ele apresentado como guardião dos arquivos reais. Pensa-se que Confúcio o visitou, pedindo-lhe conselhos sobre várias questões. Quando Lao Tzu estava prestes a aposentar-se, o porteiro dos arquivos reais pediu-lhe para preparar um tratado de cinco mil palavras sobre a sua filosofia, e esse documento, uma vez produzido, tornou-se a famosa obra Tao-Te Ching. Alguns eruditos aceitam essa tradição como essencialmente autêntica, mas outros não a aceitam, Alguns situam Lao Tzu nos fins do século III A.C, o que anula data anterior e suas tradições. Seja como for, suas idéias levaram ao estabelecimento de uma das grandes religiões do mundo, o taoísmo. Anaxagoras de Clazomenas Nascido na Jônia em 499 a.C. se tornou famoso como os homens notáveis do círculo de Péricles. Através de Platão, somos informados que Anaxágoras tinha vários discípulos, entre eles Arquelau e Eurípedes. Ele defendia a abordagem da verdade sobre vários anglos, pois reconhecia que ela, ensinada nas escolas de pensamento, era limitada. A natureza foi tema de seu principal escrito, que ora só existe sobre formas de citações feitas por alguns autores. A Filosofia de Clazomenas;idéias: Ele afirmava que a lua se compunha de terra e rochas, e que o sol era uma massa incandescente. Mas quase todos os atenienses julgavam que esses astros eram deuses, pelo que a idéia de Anaxágoras pareceu altamente herética. Era ele quem dizia: “Há uma porção de tudo em tudo”, com o que propunha que a teoria de um mundo composto de “partículas” ou “sementes”, conforme ele as chamava. A mistura dessas partículas produziria os objetos grosseiros que ferem os nossos sentidos. Geração e destruição, como também alteração, ocorrem através do rearranjo espacial dessas partículas. Ele não fez qualquer tentativa de explicar a origem das partículas, que a princípio existiriam apenas em um estado caótico. Nous: termo grego que significa “mente”, era uma de suas doutrinas distintivas. A “mente também se comporia de partículas(as menores e mais puras entre elas). Não haveria misturas com outras coisas, provendo o impulso inicial de movimento para a massa caótica. Portanto, as partículas mentais ativariam as outras partículas, de onde se derivaria o tipo de mundo que vemos ao nosso redor. A “mente” estaria presente em tudo. Ela seria simples, sem mistura, conheceria tudo, governaria tudo, seria infinita e se autogovernaria. Todos os mundos evoluem partindo de causas naturais, tal como se dá com todas as formas de vida. Percepção. Percebemos as coisas através do contraste. Visto que há uma porção de tudo em tudo, só podemos ver algo como distinto quando nossos órgãos dos sentidos detectam qualidades contrastantes.

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A Terra seria chata; o Sol e Lua seriam corpos naturais, e não divinos; a Lua refletiria a luz do Sol. Os terremotos, o relâmpago e o trovão teriam causas naturais. Os gregos inclinavam-se para ver algo divino em todo esses fenômenos. A Terra seria chata e flutuaria no espaço. Os corpos celestes se incandesceriam devido a um movimento de revolução. Anaxágoras tentou determinar as dimensões do Sol, e determinou as fases da Lua. Procurou explicar a produção da vida e seu desenvolvimento em formas de muitas espécies. A “mente” põe em ordem tudo quanto era, é, e será, embora não seja a criadora de tudo. Alguns filósofos falam em prol de uma “mente” não-material na filosofia de Anaxágoras , mas outros concebem ela como matéria, posto que de substância mais fina. Zeno de Iléia Filósofo grego discípulo de Parmênides, Zeno viveu por volta dos anos 490 a.C a 530 a.C. Proveu uma defesa racional habilidosa das idéias de seu mestre , incluindo vários paradoxos que obtiveram fama entre os filósofos. De modo geral ele defendia o mesmo ponto de vista de Parmênides acerca de um ser imutável, bem como acerca da natureza ilusória do espaço, do tempo, do movimento e das mudanças. Alguns de seus paradoxos são facilmente solucionados com bom senso e raciocínio, mas outros não cedem facilmente diante de nossos esforços. A Filosofia de Zeno;idéias: O paradoxo do grão de painço. Se deixarmos cair um desses grãos no chão, isso não produzirá ruído. Alguns poucos grãos também não farão ruído algum. Mas, se deixarmos cair no chão uns dez quilos desses grãos, isso produzirá algum ruído. Como é que muitos grãos que não fazem ruído podem terminar fazendo ruído? Esse paradoxo ignora os ruídos inaudíveis que um ou algum outros grãos fazem, e que adicionados aos ruídos inaudíveis de muitos outros grãos, quando isolados, podem ser ouvidos. O paradoxo do espaço. O espaço não é uma realidade. É apenas uma ilusão, conforme vários paradoxos de Zeno tentam provar. O espaço é indivisível, mas através da razão podemos dividir o espaço em um número infinito de pequenos espaços. A matemática fornece-nos os meios para tanto; e, no entanto, um número infinito de espaços é uma noção contraditória. Assim sendo, o próprio espaço não passaria de uma ilusão. Poderíamos dizer que o espaço é finito; mas se podemos dividi-lo de maneira infinita, então o espaço já não é finito. Não sendo nem finito e nem infinito, simplesmente não existe. E o que Zeno afirmava sobre o espaço, afirmava sobre a realidade material em geral. O paradoxo da linha. Uma linha é um conceito espacial que liga imaginariamente dois pontos. Porém, essa conexão é ilusória. Uma linha pode ser divisível ou indivisível. Se é divisível, pode dividir-se em um número finito ou em um número infinito de sublinhas e espaços. Se uma linha for dividida em um número finito, vai lhe faltar magnitude, o que significa que não existe. Se for dividida em um número infinito, por meio da matemática, então será uma entidade infinita, o que é claramente impossível. Linhas infinitas são nada. O paradoxo do movimento. Se um homem atira uma flecha, ela parece cruzar o espaço de um ponto para outro. Mas isso é claramente ilusório. Podemos dividir o suposto espaço cruzado em um infinito número de espaços, e é evidente que é impossível uma flecha atravessar o infinito. Portanto, seu alegado movimento é ilusório. Não pode estar movendo-se no lugar onde está, pois, nesse caso, não estaria lá. Não pode estar se movendo no lugar onde não está, visto que não está ali.

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Portanto, tal flecha não pode mesmo estar em movimento. O paradoxo de Aquiles e da tartaruga. Poderíamos pensar que o veloz Aquiles era mais rápido na carreira do que uma tartaruga. Em uma corrida dos dois, Aquiles ganharia. Mas o fato é que a própria corrida, que envolve as questões de espaço e de tempo, é uma ilusão. Imaginemos que, para sermos justos, demos à tartaruga uma vantagem. Visto estarmos arquitetando um paradoxo, podemos, podemos imaginar a situação que quisermos. Portanto, suponhamos que à tartaruga seja dada uma vantagem de vinte metros. Ora, Aquiles deveria ser capaz alcançar a tartaruga com facilidade e até passar adiante dela. Porém, para ele poder alcançar a tartaruga, ele deveria de atravessar um número infinito de espaços, visto termos resolvido aqueles vinte metros em um número infinito de espaços. E é patente que Aquiles não pode atravessar um número infinito de espaços. Por essa razão, nunca houve qualquer corrida, e o próprio movimento imaginado é um absurdo. Ademais, mesmo que ele pudesse percorrer aqueles vinte metros, ao chegar no lugar onde a tartaruga estava, descobriria que o quelônio já teria alcançado algum espaço, o que haveria de prosseguir ad infinitum. Ora, qualquer conceito ad infinitum é um absurdo, pelo que não pode haver tal corrida, e nem qualquer movimento. Isso mostra que o mundo do bom senso está repleta de contradições. Portanto, este mundo é ilusório, e somente o Um, que é infinito, imutável e perfeito, que é real. O paradoxo dos corpos sólidos em estado de repouso ou em movimento. Imaginemos um corpo sólido em estado de repouso, mas posto no meio de dois corpos sólidos em movimento, mas que passem pelo corpo inerte vindo de direções diferentes. Esses corpos em movimento deslocam-se na mesma velocidade. Presumivelmente, esses corpos passam pelo corpo em repouso em uma mínima e específica unidade de tempo. Mas os corpos que passam um pelo outro (aqueles no lado oposto ao corpo em repouso) passam – em menos tempo – do que aquele período mínimo de tempo. Portanto, esse corpos estão a deslocar-se em duas velocidades diferentes ao mesmo tempo, o que é uma impossibilidade. Empédocles Um filósofo grego que nasceu e viveu em Agrigentum, na ilha da Sicília. Ele era muito respeitado por outras pessoas, algumas das quais chegaram a honrá-lo como se ele fosse uma divindade. Há lendas que foram criadas em torno de sua pessoa, dizendo que ele chegou a realizar muitos milagres. Isso significa que devemos estar tratando com uma pessoa incomum. Além de ser um filósofo, ele trabalhava como médico e imiscuía-se cm assuntos políticos. Foi essa última questão que o levou à sua queda. Ele ajudou a derrubar uma oligarquia e a estabelecer a democracia. Porém, o poder político mudou de mãos (como sempre costuma acontecer) e isso o deixou em uma posição de desfavor; novo regime mandou-o para o exílio, onde acabou morrendo. Viveu entre 490 a.C e 430 a.C. A Filosofia de Empédocles;idéias: Não existiria tal coisa como vir absolutamente à existência ou sair da existência. Começos e fins são apenas processos dentro de um contínuo eterno, o que produz misturas e separações.

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Na natureza, o processo da mistura envolve os elementos básicos da terra, do ar, do fogo e da água e todas as coisas seriam formadas pelas distinções quantitativas, produzidas por essas misturas. Todavia, não haveria tal coisa que tenha surgido do nada. Há um princípio cósmico de atração e repulsão, que opera nas misturas. Falamos sobre essas coisas, metaforicamente, como amor e esforço. Há um processo envolvido: a-As coisas começam dentro da harmonia do amor. b-As coisas são separadas quando começam as contendas. c-As contendas chegam a dominar e isso produz separações absolutas. d-O amor reaparece e restaura a anterior unidade e harmonia. A vida vem à tona no segundo e no terceiro estágios desse processo. A vida fica resultaria de um processo evolutivo. A evolução, por causa da contenda atuante, produz todas as formas de má combinação e de aparentes equívocos. Mas as coisas que são misturadas de modo ordeiro são capazes de sobreviver. Os mitos falam sobre animais estranhos, monstros, centauros, górgonas, tudo o que consiste em más misturas temporárias, dentro do processo evolutivo, mas que não são capazes de sobreviver. Quanto ao pensamento metafísico, Empédocles cria na transmigração das almas, na doutrina da queda da alma e na necessidade de sua restauração, através da roda do renascimento, por meio da purificação. As suas crenças religiosas podem ser explicadas como influenciadas pelas idéias de Pitágoras e pelos mistérios de Orfeu. Ele opinava que o homem é um daemon decaído (uma divindade secundária), cujas vagueações por este mundo teriam sido a causa de sua queda. Declarou ele: “Um homem deve vaguear por trinta mil vezes, desde onde habitam os bem-aventurados, nascendo no tempo e em todas as variedades de forma mortal, mudando de uma vereda cansativa para outra”. Ele descrevia a si mesmo como um desses exilados, um “vagabundo que se afastou dos deuses”. E afirmava que era capaz de lembrar sua vereda de inúmeras vicissitudes, desde o reino animal até o estado de ser humano; e que, uma vez tendo chegado a ser homem, foi vários seres humanos. Descrevia a morte como uma separação entre o elemento fogo e os demais elementos, o que deixaria fria a mistura. No frio, todas as coisas morreriam. Em seguida, os elementos passariam por transformações, até emergirem novamente como coisas vivas. Demócrito Filósofo grego nascido em Abdera, viveu entre os anos 460 a.C a 370 a.C.Foi discípulo de Leucipo, e preservou a doutrina de seu mestre. Em sua época foi tão famoso quanto Platão ou Aristóteles, e através de sua teoria atômica consegui influenciar a muitos. A Filosofia de Demócrito; merecem destaque onze de suas idéias: O elemento físico e indivisível , o átomo, é o constituinte final da natureza. Os átomos seriam sólidos, simples e homogêneos, sem espaços vazios. As divisões podem ocorrem através de espaços existentes na matéria, mas onde não houver espaços, não poderá ouvir divisões. Um átomo, pois, seria infinitamente duro. Os princípios da natureza seriam três: o átomo, o vazio e o movimento dos átomos, inerente à sua natureza. O vazio consiste em espaço sem átomo, e as coisas que existem através desses vazios.

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As diferenças nos átomos incluem dimensões, formato e velocidade, e todas as diferenças qualitativas derivam-se desses três fatores. Quando os átomos se movimentam, entram em colisão e assumem formatos que encorajam novos elos. Demócrito chegou a propor a idéia de que os átomos têm ganchos e ilhoses que facilitam as ligações. Haveria necessidade causais que governam os arranjos e as mudanças nos átomos. Por meio de colisões, são criados vórtices que resultam na geração de mundos, e essas colisões explicam também as inevitáveis dissoluções. Portanto, os mundos estão sempre sendo criados e desintegrados. Sombras e sinais lunares resultam as sombras lançadas pelos montes e elevações existentes na Lua. A vida desenvolveu-se da argila primeva, relacionada ao calor e ao fogo. Há átomos do fogo e da alma, similares em natureza, porém, menores e mais esféricos do que os outros tipos. Encontramos nisso o começo de uma teoria evolutiva, com base da mecânica do átomo. O pensamento também é um tipo de movimento e criatividade na natureza, que causa movimento em outras coisas. Consciência é uma função dos átomos da alma, difundidos no corpo todo. Inalamos e exalamos esses átomos. Uma leve perda de seu número provoca o sono. Uma perda aplicável pode provocar a perda da consciência e finalmente a mote física. A percepção é criada pelo impacto dos átomos sobre nossos aparelhos dos sentidos físicos. Ao átomos que assim causam impactos aparecem sob a forma de eídola, ou imagens. No sistema de Demócrito não há sobrevivência pessoal e nem imortal. O hedonismo é a busca pelo prazer, servindo de guia para todos os atos e decisões. A moderação é algo necessário, afim de adquirirmos um equilíbrio apropriado. A tarefa ética consiste em moderar os elementos do prazer e da dor. Buscamos um prazer imperturbado. Leucipo de Mileto Suas datas foram 450 a.C a 420 a. C. Parece que ele foi o primeiro filósofo grego a produzir uma cosmologia atomista claramente enunciada. Seu contemporâneo mais jovem, Demócrito, desenvolveu a idéia. E outros, como Epicuro, aceitaram-na por suas próprias razões especificas. Outro atomista bem conhecido, foi Lucrécio. Filolau Um filósofo grego, discípulo de Pitágoras, nascido em meados do século V. A.C. Vinte fragmentos lhe são atribuídos, embora pareçam ser obras forjadas pós-aristotélicas. Ele sobreviveu ao incêndio provocado na escola pitagoreana em Crótona e levou a filosofia grega ao continente europeu. Sistematizou a doutrina pitagoreana, julgando que o fogo seria o elemento básico em todas as coisas. Ele supunha que a natureza é controlada e harmonizada pela oposição entre os princípios das coisas limitadas e das coisas ilimitadas. A alma humana seria uma prisioneira do corpo, uma entidade espiritual capturada pelo pecado, neste mundo material. Trabalhava manuseando números, como: 1 = ponto; 2 = linha; 3 = superfície; 4 = sólido. E pensava que os números eram a base de todas as coisas, o que representa um passo na direção da teoria atômica.

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Aos quatro elementos básicos tradicionais, a terra, o ar, o fogo e a água, ele acrescentava um quinto elemento, o éter. Ele pensava que a terra estava em movimento, reconhecia o sistema solar, e opinava que dentro do mesmo há um fogo central e uma terra secundária. Daquele fogo central teriam emergido a contraterra, a terra, a lua, o sol, os vários planetas e as estrelas fixas. Todos esses corpos celestes, incluindo o sol, rebrilhariam mediante luz refletida do fogo central. Diógenes de Apoloma Um filósofo grego jônico do século V A. C. Foi discípulo de Anaxímenes e Anaxágoras. Ele pensava que o ar seria o elemento básico que, mediante condensação e rarefação, torna-se em tudo o mais. Ele opinava que o ar tem consciência e é capaz de uma função diretiva. Desse modo, ele desenvolveu uma teleologia, supondo que todas as coisas demonstram desígnio. O seu principal livro intitula-se Sobre a Natureza. Melisso de Samos Ele foi um filósofo grego do século V A.C., natural de Samos. Também foi o almirante grego que comandou a frota grega que combateu a frota ateniense, em cerca de 440 A.C. Plutarco informa-nos que ele se saiu vitorioso na refrega. Melisso de Samos foi um filósofo eleático que criou argumentos como aqueles de Parmênides e de Zeno. Ele argumentava em favor da infinitude espacial e temporal do mundo, daí deduzindo a imutabilidade de todas as coisas. A mudança nas coisas é ilusória e pertenceria às vicissitudes da percepção dos sentidos. que nunca nos dão um verdadeiro conhecimento das coisas, um argumento muito fraco, que a ninguém convence. De acordo com esse ensino, o Um deve ser infinito, sem começo, sem fim, sem mutações, incorpóreo, não constituído de partes. Afirmava ele:“Se houvesse pluralidade, cada um dos muitos teria de dizer, tal como eu, eu sou o um que existe. Assim, ele procurava refutar a idéia de pluralidade, mostrando o absurdo da idéia”. Alcmêon de Crótona Filósofo grego que viveu no século V a.C e era um dos discípulos de Pitágoras. Enfatizou a Lei da Harmonia Universal, a qual se aplicava aos mundos natural e social. Demonstrava certo interesse pela medicina, pois em seu pensamento dizia que a saúde requer o equilíbrio de fatores opostos no organismo. Embora julgasse o cérebro essencial em todos os sentidos, acreditava na imortalidade da alma. Com isso, identificava a alma com o movimento circular perfeito, sugerindo tal movimento no homem e nas estrelas. Pitágoras de Samos Foi um filósofo grego, místico notório em sua época. Fugiu de sua ilha nativa, Samos, a fim de escapar da tirania de Polícrates. Estabeleceu-se então em Crótona, uma colônia grega do sul da bota italiana. Quando Platão era jovem, Pitágoras já era uma figura legendária e misteriosa.

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Ao que parece, foi o fundador de uma seita religiosa. Assim, poderíamos considerá-lo um guru, embora também pai da moderna ciência natural. Ensinava a doutrina da transmigração das almas, bem como o parentesco de todas as coisas entre si. É dito que, de certa feita, ele foi visto em duas cidades ao mesmo tempo, pelo que ele foi um antigo projetor da psique. A fé religiosa ensinada por Pitágoras incluía iniciação e cerimônias secretas, votos estritos e grande senso de responsabilidade, vegetarianismo (embora fosse proibida a ingestão de feijão!), a subida através de vários graus na escala da espiritualidade e na prática da fé, a comunhão de bens por toda a comunidade. Essa escola foi destruída por indignados cidadãos, quando surgiram os sentimentos democráticos, no século V A.C. Os pitagoreanos, entretanto, espalharam-se por muitos lugares diferentes, fundando colônias. A natureza secreta da matemática. Pitágoras percebia valores numéricos em todas as coisas, a começar pela música aplicada. Talvez ele tenha descoberto o teorema geométrico que ainda traz o seu nome, bem como seu corolário, a incomensurabilidade dos lados e a diagonal do quadrado. Porém, é menos provável que ele tenha inventado os ensinos da música das esferas. A Filosofia de Pitágoras;idéias: A alma humana é eterna, insensível ao tempo, auto-existente, imutável, embora sujeita, a intervalos, a reencarnações. O corpo físico atua como prisão, por algum tempo, quando então são aprendidas certas lições necessárias. A plena memória das experiências de reencarnações passadas é retida pela alma, embora isso não envolva, necessariamente, a consciência da alma, uma vez novamente aprisionada em um corpo físico, embora tudo fique registrado em seu inconsciente. O propósito da vida é obter um relacionamento com o Ser divino. A crença em Deus é necessária em todos os aspectos da sociedade humana, desde o político até o ético, e deve servir de base de todas as constituições legais e direitos humanos. Os homens podem ser classificados, em termos gerais, em três tipos: os amantes da sabedoria; os amantes do sucesso; os amantes dos prazeres. A primeira dessas categorias é formada por indivíduos superiores, que se encaminham para a salvação da alma. A purificação ética deveria ser buscada como meio para a alma escapar do ciclo das reencarnações, a fim de que possa vir a unir-se com o Ser divino. A terra é um globo, localizado no centro do universo. A grande descoberta científica de Pitágoras foi como a matemática relaciona-se com o mundo físico, e como os números explicam tudo. Ele ilustrava isso com a matemática e com a música. Ele acreditava que, de alguma maneira, a matemática pode explicar a natureza, e ensinava misticamente que os números, de alguma forma, são a própria essência da realidade. Ele alistava muitos pontos opostos, que servem de meios para explicarmos as coisas, como par e ímpar; o um e os muitos; o calor e o frio; o macho e a fêmea; a direita e a esquerda; o reto e o curvo: a luz e as trevas; o bem e o mal; o quadrado e o oblongo. Ele pensava que esses opostos podem explicar muitas coisas na natureza, como se isso fosse uma espécie de princípio fundamental que tem aplicação a inúmeras coisas. Há pontos limitados e não-limitados nos opostos. Assim, o espaço seria ilimitado, mas a unidade seria limitada. O limitado seria um ponto; o um é um ponto; o dois é uma linha; o três é um plano; o quatro é um sólido. Os números explicariam tudo. A súmula dos números críticos é o dez. Esse, pois, é o número perfeito.

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O não-limitado, quando limitado no cosmos, é o fogo central, em redor do qual giram todas as coisas. Haveria dez esferas girando no universo, visto que a perfeição celeste requer o número perfeito, dez. Afastando-nos desse fogo central, encontraríamos os planeta, as estrelas fixas, o nosso sol, etc., e todos esses corpos celestes refletindo a luz do fogo central. Os intervalos entre os planetas assemelhar-se-iam aos intervalos das composições musicais. Daí se derivaria a Música das Esferas; mas essa música é por demais sutil para ser ouvida pelos ouvidos humanos, excetuando em ocasiões especiais e por pessoas especiais. Pitágoras aplicava os números até mesmo aos valores éticos. Assim, o número oito representaria o amor; o sete, a saúde. É difícil entender como ele chegou a vários dos símbolos de seus números. Talvez ele pensasse que a intuição, ou alguma forma de iluminação mística, estivesse envolvida. Essa figura tornou-se objeto de contemplação e veneração religiosas, contendo o número dez em um triângulo com cinco pontos em cada lado. Isso fazia parte de um juramento obrigatório dos pitagoreanos:por ele que deu à nossa geração a tétrade que contém a fonte e a raiz da natureza eterna. Naturalmente, foram coisas assim que inspiraram a Numerologia, como também outras especulações acerca da importância dos números. O conceito de número de Pitágoras muito influenciou a Platão. Como é óbvio, dessa maneira de pensar foi que surgiu a teoria atômica, uma ciência moderna que tem comprovado a importância do conceito básico pitagoreano, apesar de haver ali erros e excessos. Pitagoreanismo Sua principal característica era a aplicação dos números a todas as coisas, supremamente ilustrada na astronomia. Porém, o termo também aplica-se à escola filosófica por ele fundada, como escola religiosa e ética, com todo o seu misticismo e seus rituais. Isso posto, Pitágoras exerceu uma dupla influência: uma influência religiosa e uma influência científica. Isso pode ser percebido no diálogo de Platão chamado República. Teve prosseguimento na numerologia de Nostradamus e nos diálogos científicos de Galileu. Este último deixou escrito: “O livro da natureza foi escrito em linguagem matemática”. A influência exercida por Pitágoras passou para Platão, e dai para o neoplatonismo. Deus aparece ali como o divino Um. Naturalmente, a astrologia também alicerçou-se sobre idéias de Pitágoras. Nicômaco de Gerasa escreveu um tratado sobre os números, o que foi usado nas escolas durante mais de dez séculos. Ele ensinava que os números existem na Mente de Deus desde toda a eternidade. Numênio e Plotino também muito devem a Pítágoras.

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6 Os Socráticos Xenofonte Suas datas aproximadas foram 430 a.C a 355 a.C. Nasceu em Atenas, e foi um escritor e moralista grego, muito ativo na vida civil. Foi contemporâneo mais jovem e amigo de Sórates, e foi uma das nossas fontes informativas sobre ele em sua obra Memorabilia, também intitulada Reflexões de Sócrates. Xenofonte não foi filósofo, mas assumiu a tarefa de transmitir informações a respeito de Sócrates, tendo negado a validade das acusações alinhadas contra ele. Esse material aparece em seu livro, Memorabilia. Xenofonte descreveu Sócrates como mestre de virtudes, que exercia uma influência benéfica sobre todos quantos chegavam a conhecê-lo, mas que despertava inveja devido à sua superioridade e ao seu hábito de atacar a falsa sabedoria. Todavia, não foi tão bom intérprete das idéias de Sócrates quanto o foi Platão, porquanto não estava filosoficamente preparado para a tarefa. Xenofonte também foi o autor da famosa obra Anábasis, que os estudantes do grego clássico usualmente são forçados a ler, uma vez que tenham dominado a gramática de maneira funcional. O grego em que esse antigo livro foi escrito é um grego ático relativamente simples. A grande contribuição de Xenofonte deu-se no terreno da história, e não do da filosofia. Escritos: Anábasis; Apologia; Memorabilia (Reflexões) de Sócrates; Administração Doméstica; Simpósio; A Educação de Ciro; Helênica. Diógenes de Sinope Suas datas aproximadas foram 412 a.C a 323 a C. Foi um filósofo grego, o mais famoso e colorido dos cínicos. Nasceu em Sinoe, na Ásia Menor, que atualmente faz parte da Turquia. Diógenes tornou-se precursor do estoicismo. Para os estóicos ele o paradigma da virtude, incorporando as idéias estóicas da virtude (independência), da autoconfiança da indiferença diante de todas as coisas materiais. Ele começou sua carreira como discípulo do cínico Antístenes, que ensinava que somente a virtude pode trazer-nos a felicidade, e que essa virtude consiste, principalmente, na atitude de indiferença para com os valores deste mundo, de combinação com autoconfiança e a independência. Ele supunha que a verdadeira moralidade deve incorporar o retorno à simplicidade natural, visto que a sociedade tornou-se artificial e luxuosa. Outrossim, a virtude requer que o homem evite os prazeres físicos, que formam um dos valores pervertidos da sociedade. Tanto a dor quanto a fome, por outra parte, são ajudas positivas para que a pessoa atinja a virtude, visto que são o exato oposto que as pessoas crassas procuram. Com base em várias lendas e estórias, (incluindo as Vidas e Filósofos Eminentes, de Diógenes Laércio), aprendemos algumas coisas interessantes, embora não saibamos dizer quantas são verdadeiras. Alguns dizem que ele viveu em uma banheira, no templo de Cibele.

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Ele reduziu sua vida à mais total simplicidade, única coisa que ele possuía era um copo, no qual bebia. Um dia, viu um escravo beber água nas mãos de forma de concha. Ao ver isso, Diógenes quebrou o copo, porquanto percebeu que podia viver sem o mesmo. Um outro episódio sobre ele nos quer fazer crer que Alexandre o Grande o visitou, oferecendo-se para fazer por ele o que mais lhe agradasse. Diógenes disse-lhe que a única coisa que queria era que Alexandre se afastasse para um lado, porquanto estava fazendo sombra sobre ele, e ele queria apanhar sol. A tradição também diz que Alexandre proclamou um dia: Se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes. Diógenes foi quem saiu com uma candeia acesa, em pleno meio-dia, procurando por um homem verdadeiramente bom. Sua maneira de falar era sarcástica, e suas maneiras animalescas e simples ganharam para ele o seu apelido, “o Cão”. Heráclides do Ponto Suas datas aproximadas foram 388 a.C a 315 a.C. Foi um filósofo e astrônomo grego. Nasceu em Heracléia, no Ponto, atualmente Eregli, na Turquia. Estudou em Atenas, com Platão e com Eseusipo. Ele declarou sua crença de que a terra gira diariamente sobre seu eixo, o que explica o aparecimento e desaparecimento do sol, no horizonte, o que também sucede à lua e às estrelas. Também ensinou que os planetas Mercúrio e Vênus giram em torno do sol. Copérnico, exprimiu a sua divida para com Heráclides, em várias questões que envolvem idéias astronômicas. No campo da filosofia, ele defendia a doutrina do atomismo, e também promoveu certas idéias de Pitágoras. Sua ontologia girava em torno dos conceitos de átomos em movimento, no espaço vazio. Para ele, os átomos diferiam tanto qualitativa quanto quantitativamente. Pensava que a terra ficava no centro do Universo, parada no espaço, embora ele não soubesse dizer de que maneira. Sócrates Foi um filósofo grego. Foi mestre de Platão; e este, por sua vez, foi mestre de Aristóteles. Juntos, esses três representam aquilo que os historiadores da filosofia chamam de “filosofia grega clássica”. Antes deles, a filosofia grega é classificada como pré-socrática. Com Aristóteles, chegaram ao fim os grandes sistemas especulativos da filosofia clássica. E, a partir deles, encontramos as várias escolas e filósofos que trabalharam sobre as idéias daqueles três, criando sistemas ecléticos, embora não sendo pensadores originais. Sócrates nasceu em Atenas. Suas datas aproximadas foram: 469 - 399 A.C. Seu pai era escultor, e sua mãe, parteira. Essa última circunstância deu-lhe a metáfora de ser ele um parteiro que dava à luz novas idéias. Ao dar início às suas atividades filosóficas, parece que começou aliado dos sofistas, para depois fazer-lhes oposição. Um importante fator em tudo isso foi a mensagem que ele teria recebido do oráculo de Delfos, que lhe dissera para “compor música”, o que ele interpretou metaforicamente como “ser filósofo”, visto que, para ele, a filosofia era a “mais bela música de todas”. Uma outra característica incomum de sua carreira era o deus daemon, o que, no grego clássico, significava um espírito ou divindade secundária,ou talvez, em nosso vocabulário,

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um anjo guardião. Essa influência, segundo ele mesmo esclareceu, nunca lhe dava conselhos positivos, mas sempre o advertia a não fazer certas coisas. É um exagero dizer-se que ele foi um médium espírita, embora pudesse entrar em estado de transe por longos períodos, quando buscava solução para algum problema ético. Seria melhor tachá-lo de filósofo-místico, visto que essas duas palavras descrevem as principais características de Sócrates. Somos informados que, fisicamente, Sócrates era um homem bastante feio, com feições leoninas e nariz muito curto. Vestia-se desmazeladamente e era muito frugal em seus costumes. Mas, como todos sabem, tinha uma mente inquiridora, gostava de debater, no que se mostrava um especialista. Se cultivava um ceticismo suave quanto às realidades metafísicas, tinha fé nas grandes realidades espirituais, embora não as afirmasse de maneira dogmática. Era homem tolerante, indulgente, genial, muito espirituoso e de bom humor constante. Sabia dominar-se, e vivia conforme ensinava os outros. Conforme disse Platão a respeito dele: “..o melhor dentre os que até então conhecêramos, e, mais ainda, o mais sábio e o mais justo”. É com as palavras assim citadas que termina o diálogo Fédon.

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HISTÓRIA E INTRODUÇÃO À FILOSOFIA L4 1- Quem não se afirmava pensador original, mas somente transmissor de idéias que ele tomara emprestado da antiguidade? A-Confúcio B-Orígenes 2- A filosofia de Confúcio centraliza-se em torno do: A-Homem e seu bem estar B-Homem 3- Cite as cinco relações cardeais de Confúcio. A-1) Pai e filho, 2) Irmão mais velho e irmão mais novo,3) Marido e mulher, 4) Amigo e amiga, 5) Soberano esúdito B-1) Terra, 2) Fogo, 3) Ar, 4) Água, 5) Raio 4- Quem tinha como regra áurea: “O que não quiseres que te seja feito, não o faça aos outros”? A-Platonismo B-Confucionismo 5- Em que século os ensinamentos de Confúcio não se tornaram o ideal dominante na China? A-Século I a.C. B-Século II a.C. 6- Que ano Heráclito viveu? A-540 a 475 a.C. B-541 a 500 a.C. 7- Que cidade nasceu Heráclito? A-Atenas B-Éfeso 8- Quem dizia que os vivos são os mortos e os mortos são os vivos? A-Heráclito B-Platão 9- Logos é o princípio que permite a: A-Conduta de todas as coisas B-Conduta do pensamento 10- Quem pensava que deuses podem morrer e serem lamentados, não são deuses coisa alguma? A-Sócrates B-Heráclito

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11- Que razão foi posta à disposição do homem, o que lhe confere um imenso tesouro de conhecimentos? A-A razão universal B-A razão empírica 12- Que filósofo viveu por volta do ano de 515 a.C a 450 a.C e foi um dos mais importantes pré-socráticos? A-Xenofante B-Parmênides 13- Quem foi discípulo de Pitágoras e viveu no século VI a.C? A-Eurito de Crótona B-Tales de Mileto 14- Lao Tzu viveu em que século? A-Século V a.C. B-Século VI a.C. 15- Ao que se presume, quem foi o fundador da filosofia chinesa do taoísmo? A-Buda B-Lao Tzu 16- Quem nasceu na Jônia em 499 a.C e se tornou famoso como homem notável do círculo de Péricles? A-Anaxágoras de Clazomenas B-Lau Tzu 17- Quem dizia que todos os mundos evoluem partindo de causas naturais, tal como se dá como todas as formas de vida? A-Anaxágoras de Clazomenas B-Lao Tzu 18- Zeno de Iléia, filósofo grego discípulo de: A-Parmênides B-Sócrates 19- Que ano viveu Zeno? A-480 a 430 a.C. B-490 a 430 a.C. 20- Que época Empédocles viveu? A-478 a 431 a.C. B-490 a 430 a.C. 21- Qual foi o filósofo grego que nasceu em Agrigontum,na ilha da Sicília? A-Empédocles B-Platão

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22- Que filósofo disse que começos e fins são apenas processos dentro de um contínuo eterno, o que produz misturas e separações? A-Empédocles B-Parmênides 23- Quanto ao pensamento metafísico, Empédocles cria na transmigração das almas, na doutrina daquela da alma e na necessidade de sua restauração, através da roda do: A-Nascimento, por meio da transfiguração B-Renascimento, por meio da purificação 24- Demócrito nasceu em que cidade? A-Em Atenas B-Em Abdera 25- Que ano Demócrito viveu? A-460 a 370 a.C. B-461 a 371 a.C. 26- Qual o número de idéias de Demócrito que merecem destaque? A-15 B-11 27- Que ano viveu Leucipo de Mileto? A-450 a 420 a.C. B-451 a 419 a.C. 28- Quem foi o primeiro filósofo grego a produzir uma cosmologia atomista e claramente conhecida? A-Leucipo de Mileto B-Parmênides 29- Qual filósofo grego, discípulo de Pitágoras, nascido em meados do século V a.C? A-Filolau B-Pitágoras de Samos 30- Quem pensava que os números eram a base de todas as coisas, o que representa um passo na direção da teoria atômica: A-Parmênides B-Filolau 31- Qual foi o filósofo grego jônico do século V a.C que foi discípulo de Anaxímenes e Anaxágoras? A-Diógenes de Apoloma B-Pitágoras de Samos 32- Quem pensava que o ar seria o elemento básico que, mediante a condensações e rarefação, torna-se em tudo o mais? A-Platão B-Diógenes de Apoloma

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33- Quem foi filósofo e almirante grego que comandou a frota grega que combateu a frota ateniense, em cerca de 440 a.C? A-Melisso de Samos B-Aristóteles 34- Que século viveu o filósofo Alcmêon de Crótona? A-Século IV a.C. B-Século V a.C. 35- Que filósofo enfatizou a lei da harmonia universal,a qual se aplicava aos mundos natural e social? A-Akmêon de Crótona B-Aristóteles 36- Qual o nome do filósofo grego, o místico notório em sua época, que fugiu de sua ilha nativa, Samos, a fim de escapar da tirania de Polícrates? A-Pitágoras de Samos B-Sócrates 37- Quando Platão era jovem, Pitágoras já era uma figura: A-Ousada e carismática B-Legendária e misteriosa 38- De quem é a idéia de que a Terra é um globo,localizado no centro do universo? A-Platão B-Pitágoras de Samos 39- Pitágoras aplicava os números até mesmo aos: A-Valores éticos B-Métodos de construção 40- O conceito de número de Pitágoras: A-Muito influenciou a Platão B-Muito influenciou a Sócrates 41- Qual era a principal característica do Pitagoreanismo? A-Aplicação de números a todas as coisas B-Aplicação do Teorema de Pitágoras em todas as coisas 42- A influência exercida por Pitágoras passou para Platão: A-E dai para o Neoplatonismo B-E dai para o Platonismo 43- Nicômaco de Gerasa escreveu um tratado sobre os números, o que foi usado nas escolas durante mais de dez séculos. A-Ele ensinava que os números eram a essência das coisas B-Ele ensinava que os números existem na mente de Deus desde toda eternidade 44- Que época Xenofante viveu? A-430 a 355 a.C. B-431 a 355 a.C.

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45- Onde Xenofante nasceu? A-Em Atenas B-Em Roma 46- Que época Diógenes de Sinope viveu? A-411 a 325 a.C. B-412 a 323 a.C. 47- Que época Heráclide do Ponto viveu? A-388 a 315 a.C. B-389 a 314 a.C. 48- Onde nasceu Heráclide? A-Nasceu em Atenas B-Nasceu em Heracleia, no Porto, atualmente Eregli, na Turquia 49- Onde Sócrates nasceu? A-Em Atenas B-Em Alexandria 50- Em que época Sócrates viveu? A-469 a 399 a.C. B-469 a 398 a.C.

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LIÇÃO 5 Sócrates viveu durante o período de Péricles e da guerra do Peloponeso. Esse evento deu-lhe um senso de missão, acerca da salvação de Atenas. Sócrates era dotado de poderoso senso de dedicação ao que fazia, e era incansável em sua “pregação” filosófica. Não podemos olvidar que a melhor parte da filosofia grega era, de fato, ao mesmo tempo, a melhor expressão religiosa do período clássico da Grécia, e que os filósofos antigos promoviam suas idéias mais ou menos como hoje fazem os evangelistas quanto à sua fé religiosa. Sócrates foi um filósofo sério, intensamente interessado na solução de problemas éticos, em contraste com os sofistas, que eram totalmente pragmáticos. Para dizer a verdade, ele fez de si mesmo um indivíduo inconveniente, indo de pessoa cm pessoa com suas incansáveis perguntas e exames, para ver se haveria alguma pessoa sábia em Atenas. Porém, nunca foi culpado das acusações de que o acusaram, como de ateu e corrompedor da juventude. Não obstante, foi condenado pela assembléia ateniense, e fizeram-no beber cicuta. Isso posto, Sócrates tornou- se um dos maiores e mais inesquecíveis mártires da história. Na ocasião, Sócrates já tinha mais de setenta anos de idade,e sua missão estava terminada, pelo que o destino tomou conta dele, Fédon, um dos diálogos de Platão, é uma das mais dramáticas peças da literatura mundial a ver com a Grécia, registrando as últimas horas do grande filósofo, e como ele enfrentou corajosamente a morte, sondando o que a sorte teria em reserva para ele e para todos os homens, com suas penetrantes perguntas. Separando Sócrates de Platão Sócrates nada escreveu mas os seus biógrafos, Platão e Xenofonte sem dúvida, forneceram-nos os fatos essenciais. É provável que os primeiros diálogos platônicos tenham apresentado razoavelmente bem as idéias de Sócrates, enquanto que os diálogos posteriores de Platão, por terem explorado a pesada metafísica de Sócrates (como a doutrina das Formas ou Idéias), sem dúvida representam o pensamento mais amadurecido de Platão. Os diálogos que se pensa representarem o melhor pensamento socrático são Apologia, Crito e Fédon; mas, no campo da ética, não há razão para duvidarmos de que aquilo em que Sócrates acreditava foi bem exposto (com adornos) em outras obras platônicas. Essencialmente, Sócrates foi um filósofo moral, que não nutria um interesse maior pela metafísica. Suas idéias éticas, com diferentes aplicações, exerceram grande influência sobre Platão, sobre os filósofos cínicos, estóicos, cirenaicos e epicureus. E moralistas renascentistas, como Erasmo de Roterdã, valeram-se de subsídios fornecidos por quanto a algumas de suas idéias A Filosofia de Sócrates;idéias: A Apologia de Platão informa-nos que o oráculo de Delfos asseverara que Sócrates era o homem mais sábio da Grécia. Mas Sócrates não acreditou nisso e lançou-se à investigação. Suas inquirições intermináveis examinaram pessoas de várias classes, e ele teve grande dificuldade para encontrar muita sabedoria entre os homens. E Sócrates foi forçado a admitir, no fim, que verdadeiramente, ele era o homem mais sábio da Grécia. Ele não podia afirmar qualquer coisa de fora daquele país, visto que suas investigações não tinham extrapolado para além de suas fronteiras. No entanto, Sócrates reconhecia que nada sabia; porém, ele tinha um talento especial de procurar a verdade, mediante os seus profundos diálogos. Seu lema tornou-se: “Conhece-te a ti mesmo”.

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Ele acreditava que ser sábio é ser virtuoso. Segundo ele, se alguém soubesse realmente alguma coisa, agiria em harmonia com tal conhecimento. Além disso, para ele o ser humano é dotado de considerável capacidade, e, presumivelmente, dotado de natureza metafísica. E assim, se chegasse a conhecer-se a si mesmo, naturalmente tornar-se-ia mais justo, visto que reagiria diante de sua própria grandeza. As respostas jazem em nosso interior, e a inquirição e os estados místicos podem fazê-las vir a tona. Um outro importante conceito que ele defendia foi expresso através do lema: “A vida não-examinada não é digna de ser vivida.” E foi assim que Sócrates lançou-se ao fanático exame de qualquer indivíduo que se atravessasse em seu caminho. As sessões formais de exame deram origem aos diálogos de Platão. Talvez Platão não fosse um simples transmissor daquilo que ouvia, visto ser provável que ele conseguia injetar seus próprios pensamentos nas idéias emitidas por Sócrates. Mas também, conforme dissemos acima, a essência dos primeiros diálogos platônicos consistia nos conceitos socráticos. O Moscardo. Esse inseto é uma espécie de mosca que gosta de ferrar cavalos e outros animais. Quando Terroa a um homem, a dor é intensa. É uma mosca grande da família Tabanidae, e gosta de atormentar cavalos e vacas. Ora, Sócrates era como um moscardo entre os homens, e suas ferroadas tornaram-se famosas por toda a cidade de Atenas. Os homens de mais idade queixavam-se, e até gritavam algumas vezes em altos brados, enquanto os jovens sentiam-se deliciados. Mas, além de ser um moscardo, ele era um parteiro espiritual e intelectual da maiêutica. O Método Socrático. Temos aí o método dialético de exame e ensino, gloriosamente ilustrado nos diálogos platônicos. Aquele que nunca os leu, quando o faz pela primeira vez, recebe a agradável surpresa de ver o quão habilidosamente esse método faz aflorar à superfície importantes idéias. Esses diálogos São prenhes de sagacidade, contendo excelentes inquirições filosóficas. Naturalmente, os lógicos profissionais têm sido capazes de perceber falácia nos mesmos, mas isso não macula sua beleza e graça em geral. Elementos do Método Socrático.l. O mestre deve demonstrar grande paciência com seus estudantes, quando os questiona, procurando alguma conclusão decente para os problemas que virem à tona. Sócrates evitava dizer aos alunos o que ele pensava sobre essa conclusão. 1-Em alguns poucos diálogos platônicos, não se chega a qualquer conclusão, pelo que podemos supor que Sócrates (ou Platão, conforme o caso) ainda não tinha qualquer conclusão fixas sobre a matéria em discussão. 2-O aluno era gradualmente levado a entender qual era a resposta, e era o próprio aluno quem, finalmente, a proferia. 3-Podemos supor que a doutrina da reminiscência era uma idéia socrática, e não meramente uma idéia platônica. Isso significa que a alma já sabe quais são as respostas; elas estão armazenadas no próprio homem. Segundo os termos platônicos, esse conhecimento mana do fato de que a alma já esteve no mundo das Idéias ou Formas, sendo dotada de grande ou mesmo ilimitado conhecimento, que pode ser extraído por meio dos diálogos. Naturalmente, Platão acrescentou a intuição e as experiências místicas como instrumentos úteis para extração desse conhecimento. Não sabemos se Sócrates também acreditava nesses outros meios, embora, em seu próprio caso, o fator místico participasse dessa busca por respostas para os problemas morais. Seja como for, sem importar o método de extração o que se sabe acaba aflorando na mente consciente. 4-A ironia de Sócrates. O mestre fingia ignorância, ao conduzir seus alunos para que dissessem aquilo que ele queria ouvir.

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5-O senso de cumprimento de missão. Sócrates dizia-se cônscio da orientação divina, pelo que suas indagações não eram superficiais. O Problema Socrático. Esse é o nome dado à inquirição sobre quanto das idéias de Sócrates está embutido nos diálogos platônicos, e quanto pertence ao próprio Platão. Aristóteles reconheceu que Sócrates contribuíra para a filosofia quanto a duas coisas importantes: os argumentos indutivos e as definições universais. O método dos diálogos é indutivo, e nesses diálogos Sócrates buscava prover definições universais quanto a importantes questões éticas, como: a-no que consiste a piedade? (que se vê no diálogo Eutifro). b-no que consiste o controle próprio? (que se-vê no diálogo Carmides). c-no que consiste a amizade? (o que se vê no diálogo Lásis). A Ética. Esse era o enfoque principal das investigações de Sócrates, conforme Aristóteles afirmou. Um importante aspecto era a sua doutrina de que conhecimento é virtude, o que significa que se um homem verdadeiramente chegar a conhecer a verdade, ele a seguirá, pois, alegadamente, ninguém faria alguma coisa que sabia ser prejudicial a si mesmo. Mas, apesar dessa regra ter um valor óbvio, muitas pessoas, em sua perversidade, mesmo quando sabem o que é certo, mostram-se autodestrutivas. Portanto, essa crença de Sócrates era ingênua. O bem sobre o qual Sócrates falava é aquilo que conduz um individuo à verdadeira felicidade, e, sem a bondade e a justiça não há tal coisa como a felicidade. Há um prazer na prática do bem, mas a justiça é mais importante que o prazer. Nos diálogos Crito e Fédon é nos ensinado o importante princípio que sempre é melhor sofrer do que praticar o mal. Essa doutrina distingue claramente Sócrates dos filósofos sofistas, que eram pragmáticos. Naturalmente, Sócrates acreditava que, no outro lado da existência, prevalece a justiça, e que recompensas ou castigos apropriados garantem a vitória final do bem sobre o mal. No entanto, ele mostrou-se dogmático: mesmo que não exista um outro lado da existência, e mesmo que nesse outro lado da existência as injustiças não sejam corrigidas, ainda assim é melhor praticar o bem do que o mal, embora isso faça o individuo padecer. Aquele que age de acordo com essa regra, fortalece-se espiritualmente e torna-se um homem melhor. Mas aquele que se acovarda e pratica o mal, a fim de evitar a dor, debilita-se espiritualmente e mostra-se prejudicial para si mesmo, em última análise. Sócrates argumentava contra o suicídio, e não há que duvidar que sua linha de raciocínio de que é melhor sofrer do que praticar o mal, era uma consideração dentro desse argumento. A Alma Imortal. Homero concebia a alma como uma espécie de fantasma que adeja por sobre o indivíduo, mas não dotada de raciocínio, pelo que não possuiria vida real, conforme poderíamos definir o termo vida. Porém, Platão, Xenofonte e Isócrates expuseram sólidas doutrinas da alma, sendo razoável pensarmos que Sócrates também assim pensava. Naturalmente, é verdade que ele mantinha um ceticismo brando acerca das realidades metafísicas. No entanto, ele afirmava a existência da alma de forma cautelosa, não-dogmática. O diálogo Fédon apresenta excelentes argumentos racionais em favor da existência da alma, que nunca serão ultrapassados, embora a filosofia posterior tenha acrescentado muitos subsídios. Mas, não sabemos quanto desse diálogo pertence a Sócrates e quanto pertence a Platão. Seja como for, porém, podemos supor que certa essência do mesmo pertencia a Sócrates, embora talvez não os raciocínios fantasiosos, que já pertenceriam a Platão. Mas, de qualquer maneira, essa doutrina está definidamente ligada aos motivos pelos quais o homem deve praticar o bem.

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A vida presente não é a única consideração na ética. Outrossim, o fortalecimento da alma deve ser nossa principal preocupação, e a prática do bem promove esse fortalecimento, ao passo que a prática do mal é a grande inimiga de todo homem, tanto agora quanto no outro lado da existência. Um dos resultados dessa maneira de pensar é que assim damos valor ao sofrimento, uma idéia que os filósofos sofistas repudiavam. A idéia da imortalidade da alma como a noção das Idéias ou Formas aparecem ambas no diálogo Fédon. Mas a maioria dos filósofos duvida que a segunda dessas doutrinas pertencesse, realmente, a Sócrates. Quanto à questão dos Universais , Sócrates parece ter defendido o conceito conceptualista, ao passo que Paulo desenvolveu isso até chegar ao realismo. O Homem Como Objeto da Ciência. Sócrates promoveu uma forma de humanismo, entendido em bom sentido. Os sistemas éticos variam de indivíduo para individuo, porém, em um nível subjacente há o homem imutável, que é forçado a conhecer-se a si mesmo, daí tirando proveito. A Alma Boa. A alma, uma vez expurgada de excesso, — de tal modo a poder agir apropriado e virtuosamente, era o grande ideal de Sócrates. A mente humana, devidamente educada, buscaria a virtude, de acordo com a crença de Sócrates. A sabedoria é o grande alvo desses ideais. Os ideais devem dominar os atos; e esses ideais atuam mediante a atração, e não pela força. As idéias existem fora do tempo, no mundo dos conceitos, bem como na Mente Universal. Influência de Sócrates. Platão, Aristóteles e as diversas escolas socráticas sentiram fortemente a influência de Sócrates. Aristóteles pensava em Sócrates como o fundador da ciência da ética. Sócrates pavimentou o caminho para certos conceitos fundamentais do estoicismo, e o cristianismo veio a proclamar os princípios da universalidade, da providencia divina e da fraternidade dos homens. Platão No grego, Platão parece estar relacionado a pistas, “largo”. Não se sabe por qual motivo ele era assim chamado, embora muitos opinem que isso se devia a alguma característica física dele, talvez um rosto largo, um nariz achatado, ou coisa parecida. Suas datas aproximadas são 428 a.C-347 a.C. Platão nasceu em Atenas. Platão foi um dos mais brilhantes filósofos e autores de todos os tempos, cuja influência tem sido enorme, na filosofia e na teologia. Era filho de Áriston e Perictione, e ambos pertenciam a famílias atenienses tradicionais. Platão descendia de Sólon. Seu pai faleceu quando ele ainda era jovem, e seu padrasto, Pirilampo, era elemento ativo na política e na vida social de Atenas. Ele recebeu uma boa e completa educação. Foi contemporâneo de Górgias e de Protágoras (ao qual ouviu conferenciando). Seu primeiro mestre foi Crátilo. Platão foi o maior estudante de Sócrates e, por sua vez, foi o mestre de Aristóteles. Isócrates e Xenócrates também foram contemporâneos seus. Com a idade de vinte anos, Platão tomou-se um ardoroso discípulo de Sócrates. Este último, porém, foi executado em 399 A.C. Platão iniciou a sua própria academia quando atingiu os quarenta anos de idade. Aristóteles estava com trinta e sete anos de idade quando Platão morreu, tendo pertencido à academia deste pelo espaço de vinte anos. Naqueles dias, as universidades não tinham cursos rápidos, como hoje em dia têm, e um estudante geralmente era também um discípulo, pelo que a relação mestre-aluno prolongava-se por muitos e muitos anos, na maioria dos casos. Não havia formatura formal, e a erudição era uma ocupação

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pessoal, e não apenas algo que alguém seguia a fim de tomar-se um profissional para poder ganhar a vida, segundo se verifica em nossos próprios dias. O interesse primário de Platão era a política. Após a morte de Sócrates (o que desiludiu para sempre a fé de Platão na democracia ateniense), Platão deixou Atenas, passou algum tempo viajando e, ao que parece, tencionava usar Siracusa como uma espécie de centro de uma experiência na qual ele buscaria fundar um sistema político em um estado perfeito. Há uma história (que pode ser apenas lendária) de que a sua visita a Siracusa terminou sendo ele aprisionado, vendido à escravidão, até que, finalmente, foi libertado por um amigo. Seja como for, ele retornou a Atenas em 388 A.C., e foi então que ele fundou a sua famosa academia (que teve longa duração). De Volta a Siracusa. A primeira visita de Platão a Siracusa fora em visita a Dion, o cunhado do tirano Dionísio. Quando este último morreu, Platão foi convidado a voltar, a fim de supervisionar a educação de Dionísio II. Isso Platão fez, mas não permaneceu por longo tempo. Voltou a Siracusa, porém, pela terceira vez (em 361 AC.), aparentemente na esperança de obter aprovação para a formação de uma federação de cidades-estado gregas para opor-se a Cartago, mas não obteve bom êxito na tentativa. Platão ficou desapontado em suas aventuras no campo da política e em seu relacionamento com os políticos. Ele continuou a filosofar sobre esse campo, mas sua academia ocupou-se em uma larga variedade de atividades e interesses. Influência de Platão. Alguém já disse: “Platão é filosofia”, e isso não é um exagero muito grande. Até certo ponto, ele desenvolveu as seis disciplinas fundamentais da filosofia, a saber: a gnosiologia, a metafísica, a política, a lógica, a estética e a ética. Naturalmente, a filosofia moderna é estudada em suas três divisões principais: a lógica, a ética e a metafísica. Mas também devemos pensar sobre a influência de Platão sobre a religião em geral, no neoplatonismo e na Igreja Cristã, por meio de vários dos mais antigos dos pais da Igreja, como Justino Mártir, Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes e Agostinho. Não é exagero referirmo-nos a Sócrates, Platão e Aristóteles como os Três Grandes da filosofia antiga. A Fé de Platão. Disse ele: “Que deveríamos ser melhores e mais corajosos e menos incapazes, se pensarmos que devemos inquirir algo, em vez de nos darmos licença de fantasiar que não há como saber das coisas e nem utilidade em procurar saber aquilo que não sabemos; esse é um tema acerca do qual estou preparado a lutar, em palavra e em ações, até onde vão as minhas forças”. A Morte de Platão. Platão viveu uma vida longa. Somos informados de que ele estava em companhia de seus amigos, a fim de discutir e desenvolver um outro diálogo. Subitamente ele se foi, aparentemente sem qualquer sofrimento. Platão faleceu com a idade de oitenta anos. E seu sobrinho, Espeusipo (um biólogo), tomou-se o proprietário e o diretor da academia de Platão. Mas essa academia prosseguiu funcionando até 529 D.C. A Aventura de Platão. Platão não encetou grandes viagens, e nem houve muitos acontecimentos chocantes em sua vida. Porém, a mente de bem poucos homens tem feito viagens mentais e espirituais como a mente dele. Além de sua intelectualidade, podemos reconhecer sua profunda piedade. A riqueza de seus ensinos e de suas expressões só pode ser devidamente apreciada por aqueles que dedicam tempo à leitura dos seus diálogos. Nenhuma descrição, como aquela que damos abaixo, pode substituir a leitura dos diálogos de Platão. Em certo sentido, Platão foi o Moisés da antiga cultura grega.

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Teoria do Conhecimento A Ênfase de Platão. Ele estava convencido de que a percepção dos sentidos afasta-nos do verdadeiro conhecimento, longe de levar-nos ao mesmo. Ele cria que a percepção física é apenas a percepção de um mundo de imitações (o mundo dos particulares, que corresponde ao nosso mundo físico). A verdadeira realidade consiste no mundo das Idéias ou Formas (o que descrevo sob a terceira seção, abaixo). Subindo pela escadaria epistemológica, Platão chegava em seguida à razão, a qual, segundo ele pensava, é capaz de dar-nos algum conhecimento válido, como no campo da ética. Porém, acima da razão encontramos a intuição, capaz de captar algum conhecimento que nem a percepção dos sentidos e nem a razão são capazes de fazê-lo. Porém, o modo mais elevado de conhecimento é o misticismo , segundo o qual poderíamos contemplar diretamente as Idéias. Naturalmente, segundo Platão, somente a morte pode livrar a alma de sua prisão, o corpo material, permitindo que a mente venha a tomar conhecimento das verdades realmente profundas. A mente, sendo similar e derivada das Idéias (ou Universais), é a verdadeira realidade e a fonte real do conhecimento, e não os cinco sentidos físicos, que apenas distorcem a realidade. A alma humana faz parte da razão pura, a Nous. O conhecimento depende de uma inquirição muita ampla, mas tudo está envolvido na inquirição espiritual do homem e na ética. A coisa mais elevada a ser buscada é a bondade, o Universal que a tudo governa. O mundo verdadeiro é imutável, conforme Parmênides ensinava. Esse mundo verdadeiro (dos Universais) não está sujeito aos sentidos físicos, devendo ser buscado por meio da razão, da intuição e das experiências místicas. A percepção dos sentidos é o meio da imaginação, a qual é a forma mais básica e menos digna de confiança de conhecimento. A imaginação sofisticada chega a tornar-se opinião; mas mesmo nesse nível, são obtidas apenas imitações das idéias. A percepção dos sentidos continua a ser o manancial dessa área do conhecimento. A razão e a sua manipulação participam do conhecimento no outro lado da principal linha divisória (linha dupla). Esse é o terceiro passo ascendente. Encontramos aí o conhecimento matemático, lógico e cientifico. O método dialético é empregado como auxiliar, nessa inquirição. O Quarto Passo Ascendente. Acima da razão e da intuição acham-se as experiências místicas, incluindo a própria contemplação das Idéias (Universais). Nesse ponto, cessam as imitações e a alma passa a conhecer diretamente as Idéias. A alma, eterna e derivada dos Universais, tem esse conhecimento embutido em si mesma; mas, mediante exercícios, a dialética e a contemplação, ela pode “relembrar” aquilo de que já tem conhecimento subconsciente. A reminiscência, pois, é uma importante doutrina platônica no tocante à teoria do conhecimento. O conhecimento completo só pode chegar até à alma quando esta deixa o nosso mundo dos particulares (o mundo físico), porquanto aqui as percepções físicas servem de obstáculo ao conhecimento. Ademais, o tipo de realidade em que aqui vivemos é uma realidade secundária, que apenas imita a verdadeira realidade. Somente o espírito puro pode conhecer o espírito puro. Observação sobre o Terceiro Passo. Esse terceiro passo, que provavelmente é onde se registram os processos matemáticos, Platão tomou por empréstimo dos ensinos de Pitágoras. Ali a realidade seria dotada das propriedades próprias dos números. A ciência tem demonstrado a validade desse conceito, embora sem o envolvimento na metafísica. Os números concebidos por Platão não eram meros átomos.

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Antes, envolviam realidades metafísicas de onde os particulares obtêm seus números mediante a imitação. Platão fazia do estudo da matemática um importante empreendimento em sua academia, e não apenas por amor à própria matemática, e, sim, porque esse estudo disciplina a mente, em face de suas implicações metafísicas. É nesse passo que também devemos situar a lógica. Novamente, a lógica não deve ser estudada somente por causa de seus próprios méritos, mas por ser uma grande ajuda na obtenção do conhecimento, conforme se vê no processo dialético empregado por Sócrates em seus diálogos, um estilo que também foi adotado por Platão. Em sua estética (como em seu diálogo Simpósio), Platão postulou que o processo ascendente do conhecimento é energizado por eros (amor), mediante o qual passamos de um grau de beleza para o próximo e, finalmente, encontramos Deus, a Idéia do Belo, onde estão contidas todas as idéias de beleza. Em sua ética (como na maioria de seus diálogos), a Bondade é o principal universal, pelo que toda busca pelo conhecimento de algum modo está envolvido em princípios éticos. Não sabemos das coisas meramente pelo prazer de sabê-las. Sabemos das coisas a fim de nos aprimorarmos: sabemos a fim de conhecer o Bem. Os diálogos de Platão, República e Filebo, dão-nos um quadro sobre a ascensão do conhecimento, mediante o impulso emprestado pelo Bem. A verdade absoluta, em Platão, talvez deva ser vista como a interpenetração do Um, da Beleza e da Bondade, que seriam aspectos do Absoluto e que são tratados em diferentes diálogos platônicos. Seja como for, em seu diálogo intitulado Leis, a palavra grega theós, “Deus”, substitui as Idéias, e Deus torna-se ali o universal todo abrangente. Temos ali uma espécie de monoteísmo, embora, provavelmente, Platão não estivesse pensando em termos de um Deus pessoal, segundo se vê na tradição hebreu-cristã. Deus, por conseguinte, é o alvo de todo o conhecimento, bem como o depósito absoluto do conhecimento. Todo conhecimento resume-se na busca por Deus. Presumivelmente, a obtenção do conhecimento é uma realização espiritual, visto envolver questões básicas como o Um, a Bondade e a Beleza. As experiências perto da morte concordam em fazer-se do Amor e do Conhecimento as grandes pedras fundamentais da existência humana, como as principais coisas que deveríamos cultivar. Não está em foco o conhecimento simplesmente para conhecermos as coisas, mas devemos procurar saber a fim de nos tornarmos melhores. O Um de Parmênides é o Absoluto de Platão. E esse Absoluto incorpora todos os universais, especialmente aqueles três maiores: a Bondade, a Verdade e a Beleza. As idéias são inatas, porquanto a alma já tinha conhecimento das Idéias e havia contemplado as mesmas, tendo todo o conhecimento armazenado na mente. Todo conhecimento, portanto, seria uma reminiscência. O choque do nascimento apaga o conhecimento inato possuído pelos homens. Um homem reencarna- se “como se” estivesse nascendo pela primeira vez. Nenhum ser humano pode levar sobre seus ombros, para a eternidade, todo o conhecimento; e assim, por um ato de misericórdia, o nascimento envolve o olvido daquilo que a alma aprendeu em suas viagens celestiais e em suas muitas reencarnações. As almas que renascem neste mundo têm que atravessar as correntezas do esquecimento. Portanto, elas voltam “como se” aquele fosse o seu primeiro nascimento. No entanto, usando expressões de Jung, todo esse conhecimento permanece na mente inconsciente, podendo ser parcialmente recuperado através da dialética (raciocínio), da intuição e das experiências místicas. Platão condenava os sofistas, em face do fato de que dependiam da percepção dos sentidos, com seu resultante ceticismo . Platão tinha a certeza de que podemos saber das

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coisas, e que o esforço nesse sentido pode produzir os efeitos desejados. O mundo percebido pelos sentidos encontra-se em um fluxo segundo as idéias de Heráclíto. Todavia, este mundo físico não é o mundo verdadeiro. O mundo verdadeiro imutável, absoluto, perfeito e eterno. Metafísica a-Platão concordava com os sofistas de que o conhecimento da natureza verdadeira das coisas é impossível através dos sentidos físicos. b-Contra os sofistas, a despeito disso, o conhecimento metafísico é possível por meio da razão, da intuição e do misticismo. c-Há uma afinidade da mente humana com a natureza espiritual do universo (conforme Sócrates havia dito). d-O real é imutável e eterno (segundo Parmênides declarou), e-A verdadeira natureza é pluralista (conforme os atomistas insistiram). f-O dualismo: existem tanto a mente quanto a matéria (conforme Anaxágoras ensinava). g-Os Universais (ou Idéias) formam uma hierarquia de entidades e valores. São perfeitos e absolutos, mas irradiam-se da Bondade, o Universal supremo. h-Entre o mundo das Idéias e o mundo dos particulares (o nosso mundo físico) há uma barreira de mortalidade. O mundo dos particulares é apenas uma imitação do mundo das Ideias. Os particulares são cópias da realidade e possuem uma realidade verdadeira, posto que inferior. Defendendo esse ponto de vista, pois, Platão era um dualista, e não um idealista absoluto. Características das Idéias (ou Universais). As Idéias são divinas, absolutas, perfeitas, infensas à passagem do tempo, infensas ao espaço, imutáveis, eternas, racionais, imateriais. Podem ser conhecidas através da razão, da intuição e das experiências místicas, como na contemplação. Esses seriam os arquétipos que foram usados pelo Demiurgo, quando este criou o mundo dos particulares. As próprias idéias seriam as Noúmena, coisas relacionadas à Nous, “a mente”. As idéias são imateriais. Características dos Particulares. Estes são limitados, imperfeitos, temporais, espaciais, materiais e mutáveis. Podem ser conhecidos através da percepção dos sentidos. São reais, embora em menor grau que as Formas (Idéias ou Universais). São constituídos de acordo com o padrão provido pelas Ideias. O mundo dos particulares é o nosso mundo físico, um lugar de ilusão e imitação, e não o mundo da realidade e da verdade que procuramos. Os particulares estão vinculados aos fenômenos, coisas relacionadas à percepção dos sentidos, ou seja, coisas materiais. O Dualismo. Visto que Platão não ensinava que somente a mente é real, segue-se que ele era um dualista, apesar do fato de que ele atribuía ao mundo físico uma realidade secundária. O Um do Hilozoísmo e de Parmênides pode ser equiparado à Bondade de Platão (a Forma mais elevada) ou à Beleza (a forma superior no seu diálogo Simpósio). O Deus Único. No diálogo platônico, Leis, o termo grego theós (Deus) substitui o vocábulo Idéias. Encontramos aí certa forma de monoteísmo. As Idéias, em face disso, tornam-se atributos de Deus, em vez de entidades distintas, embora ainda não devamos pensar em termos de um Deus pessoal, dentro do contexto dos escritos de Platão. O Homem Como um Ser Bidimensional, isto é, participante do mundo das Idéias e do mundo dos particulares. A alma do homem é imaterial, embora o seu corpo seja material. O corpo físico seria o sepulcro ou prisão da alma.

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O conhecimento e o amor libertam o indivíduo do mundo dos particulares, fazendo-o começar a retornar aos mundos eternos. Porém, seriam necessárias muitas reencarnações para que o indivíduo aprenda as lições necessárias e obtenha o progresso moral e espiritual necessário a fim de recuperar os mundos eternos. Contudo, o homem que tiver posto seriamente o seu pé na vereda espiritual, não haverá de falhar, finalmente. A Alma do Homem origina-se no mundo das Idéias, pelo que ela é uma fagulha de Deus. A alma é eterna, embora a individualização tenha tomado lugar dentro do tempo. A alma, tal como as formas, é auto-existente, ou seja, é dotada de uma vida necessária e independente. O mundo universal é a pátria da alma, sendo também o mundo na direção do qual a alma esforça-se por avançar. A alma caiu em degradação, aparentemente porque alguma corrupção interna desenvolveu-se, e também por ter tido curiosidade acerca deste mundo de materialidade, resolvida a experimentá-lo. E a experiência foi desastrosa. A alma ficou cativa neste mundo, e somente através da purificação e do progresso espiritual e moral ela é capaz de livrar-se deste mundo material. A unidade com Deus é o alvo buscado pelo homem. O Demiurgo. De acordo com a filosofia de Platão, esse foi o poder que criou o mundo dos particulares, em consonância com o modelo do mundo das Ideias. O Demiurgo ocupa, a grosso modo, a posição do Logos, no cristianismo. A Mente. Essa seria a verdadeira realidade, e tudo deve sua forma e essência a esse princípio permanente das coisas. A alma humana faz parte da razão pura (Nous). Em parte seria espiritual, em suas porções mais nobres, mas seria parcialmente material, devido aos seus apetites e paixões inferiores, derivados do corpo físico. A alma racional veio residir no corpo físico. Nas reencarnações, a alma vai e volta, que atinge libertação, por meio do desenvolvimento espiritual e moral. O Mundo em fluxo de Heráclito, no mundo dos particulares. Parmênides, em sua ideia do Um, combinava poderes e entidades do mundo das Ideias. A Essência das Coisas consistiria em suas formas necessárias (as categorias de Aristóteles), a forma geral por meio da qual concebemos as coisas. A Realidade como Idéia. As Ideias, ou arquétipos, são inumeráveis e constituem o cosmos racional, o mundo bem organizado e eterno. O universo é um sistema lógico de idéias, uma unidade orgânica e espiritual, governada por propósitos ideais, tudo derivado da Idéia do Bem. Portanto, o universo é um todo racional e moral, uma unidade que combina inúmeros elementos. A percepção dos sentidos não consegue apreender esse mundo; mas essa apreensão vem pela razão, pela intuição e pelas experiências místicas, conforme se verifica na contemplação, ainda que isso se faça de maneira apenas parcial, por enquanto. E somente quando a alma vê-se liberta do corpo físico é que a grandiosidade do mundo superior pode ser devidamente apreciada. Realismo Radical. Visto que Platão vinculava a realidade ao seu mundo das Idéias, o seu conceito é chamado realismo radical. Os universais realmente existiriam como entidades espirituais. Política Platão iniciou a sua carreira filosófica intensamente interessado pela política. Passou por várias experiências adversas, que o desiludiram; mas ele conservou pelo menos um interesse acadêmico sobre a questão, até o fim da vida.

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As noções políticas de Platão são permeadas por um elevado senso moral. A política, para ele, é a conduta ideal do Estado, tal como a ética é a conduta ideal do individuo. Muitas das idéias políticas de Platão derivavam-se de suas idéias sobre a ética. A política busca o bem maior da sociedade humana. As virtudes obrigatórias em qualquer bom Estado são: a virtude, a coragem, o autocontrole e a justiça. A vida social existe a fim de aperfeiçoar os indivíduos. As leis são necessárias, porquanto os homens não são racionais e nem virtuosos. As leis devem ter em vista o verdadeiro bem do ser humano, e não a satisfação de seus desejos desenfreados. Classes da Sociedade Os filósofos deveriam ser a classe governante, e deveriam receber treinamento político durante um longo período de tempo. Dessa classe emergiria o homem mais sábio e mais justo de todos, o Rei-Filósofo. Ele seria o homem mais justo e direito, e não meramente o mais poderoso. Destacar-se-ia dentre a massa, após certo período de tempo, mediante vários testes que o distinguiriam dos demais homens. Os filósofos deveriam ser a classe racional, e deveriam ser aptos governantes, que tivessem por alvo verdadeira justiça. Dentro dessa porção mais elevada da sociedade, imperaria uma forma pura de comunismo. Platão concebia um comunismo elitista que abarcasse um pequeno e seleto grupo de pessoas. Ele não pensava que esse princípio pudesse ser aplicado às massas, que são irracionais, e continuam cativas das vicissitudes dos sentidos e das paixões vis. Ademais, ele não pensava que o princípio democrático pudesse jamais ser atingido em um estado ideal. Ele chamava a democracia de “caos feliz, durante algum tempo”. No homem individua, essa classe corresponde à razão humana. O princípio racional é que deve governar ao indivíduo e à sociedade. A sabedoria seria a principal virtude dessa classe. Os guerreiros. Uma coletividade precisa contar com soldados e policiais, para sua proteção, por mais indesejável que seja essa questão. Essa segunda classe corresponderia ao “elemento espiritual” do indivíduo. Essa parte espiritualizada ‘corresponde à vontade, nos indivíduos. A vontade sairia em defesa da boa ordem, e a manteria. Essa parte espiritualizada seria aliada da razão, tal como sucede no caso do indivíduo, onde a vontade auxilia a razão em seus empreendimentos. O comportamento corajoso seria a principal virtude dessa segunda classe. Os trabalhadores (cidadãos comuns). Entre esses poderíamos alistar os agricultores, os artesãos, os comerciantes e os produtores de toda variedade. Cada indivíduo teria uma tarefa que contribuiria para o bem da totalidade. Essa terceira classe representaria os apetites inferiores do indivíduo. A principal virtude dessa classe deveria ser a obediência, porquanto tais homens raramente são sábios e racionais. E também não se mostram muito corajosos em relação à honestidade e à ‘justiça. A obediência precisa manifestar-se sob a forma de autocontrole e temperança. Quando cada classe estivesse preenchendo as suas funções, e exibindo suas principais virtudes necessárias, então a coletividade operaria suavemente, como uma unidade. Nela haveria equilíbrio. Da mesma maneira que cada indivíduo precisa possuir as virtudes acima mencionadas, assim também a sociedade, como um todo, deve possuí-las. Assim sendo, a ética estaria à base da política. Quando assim não sucede, instala-se o caos, pois tal sociedade estará enferma.Platão, em seu diálogo República, apresenta esse ponto de vista do Estado e de sua conduta ideal.O diálogo Leis, escrito mais tarde, modificou algumas dessas idéias, enfatizando mais o principio da liberdade da vontade, ou seja, a noção da liberdade na sociedade, impulsionada pela vontade moral.

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A legislação, pois, apresentaria uma segunda melhor alternativa, e não o Estado ideal. A lei deve governar suprema, e a obediência deve ser prestada por todos. Aqueles que governam devem ter subido aos postos de mando mediante uma série de testes e distinções, e não totalmente por algum movimento das massas ou através do astucioso jogo político. As leis importantes (conforme aquelas descritas no diálogo Leis), deveriam ser tidas como supremas, e a obediência precisaria ser imposta. Todas as leis devem visar ao bem dos cidadãos. Os governantes devem ser homens treinados, justos e sábios. A riqueza material deve ser moderada; a propriedade privada precisa ser respeitada; deveria haver ministros da justiça, da legislação e da educação. A educação reveste-se, para Platão, de notável importância, e às mulheres deveriam ser dados direitos e oportunidades iguais, sendo elas educadas da mesma maneira que os homens. (Esse conceito era revolucionário, nos dias de Platão). As principais disciplinas da educação deveriam ser: a música, a ginástica, a matemática e a filosofia. A política, como uma ciência, deveria ser salientada. A censura tornar-se-ia necessária, e o ateísmo deveria ser punido como um crime. A escravidão seria aceitável; o nacionalismo deveria ser desencorajado; as viagens para fora do Estado de cada um deveriam ser restringidas. Alguns intérpretes têm comentado sobre a natureza inconveniente de algumas dessas idéias de Platão. É possível que, com a passagem dos anos, Platão tenha sofrido da rigidez comum ao envelhecimento do cérebro. Seja como for, algumas de suas ideias são excelentes, mas outras não se ajustam bem à grandeza da mente dele. Naturalmente, todos os homens, pelo menos em parte, são produtos de sua própria época, embora também possam transcendê-la. Estética As Idéias. Entre as noções de Platão a respeito da estética, estão aquelas que abordam as questões das belas-artes. A estética de Platão tem por base essa teoria. Todos os particulares apenas imitam os universais. Isso posto, qualquer obra de arte imita um ou mais universais. O universal que permeio a estética é a beleza. No seu diálogo, Simpósio, Platão dá posição suprema a esse universal, pelo que Deus seria a Beleza Suprema, e toda obra de arte, em algum sentido, deve esforçar-se por atingir esse ideal. A arte não consegue, porém, chegar muito perto da Beleza, porquanto, na realidade, é apenas uma imitação de uma imitação, Um homem pinta o retrato de uma linda mulher; mas, como é óbvio, seu trabalho de arte, sem importar quão artístico, não será tão belo quanto o modelo vivo. Todavia, a beleza da mulher é apenas um minúsculo reflexo da beleza da Idéia Suprema do belo. Assim sendo, uma obra de arte fica bastante distante do Ideal. Podemos conhecer o sentido de uma obra de arte mais através do intelecto, da intuição ou da contemplação, do que através da produção real da mesma. Sócrates queixava-se de que quase qualquer pessoa pode apresentar uma melhor interpretação da poesia do que os próprios poetas, visto que as pessoas falam intuitivamente. O Rei-Filósofo concebido por Platão, dotado de toda a sua sabedoria, seria supremo intérprete das artes, porquanto ele estaria mais próximo da Realidade. Assim sendo, ele poderia promover uma censura que livrasse as pessoas de uma arte má. Um poeta, ao escrever sobre a imortalidade, estaria produzindo uma espécie de imitação que unia idéia sua, que ele possuiria através da razão, da intuição ou da contemplação;

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mas seu poema poderia somente dar indícios da grandiosidade desse assunto. Não obstante, não estaria ausente o discernimento do poeta, porquanto existe uma Realidade que o poeta é capaz de sentir. As artes imitam, essencialmente, a natureza, a qual está sujeita à nossa percepção; mas a própria natureza é apenas uma imitação da Supernatureza, o mundo das Idéias. As artes estimulam o intelecto e a intuição humanos, levando os homens a receber vislumbres da Realidade superior. A música, a dança, a declamação, a poesia, a escultura, a pintura, etc., expressam a apreciação natural do homem pela harmonia, pelo ritmo e pela beleza; mas essas coisas são apenas imitações da beleza, da harmonia de proporções e do ritmo das Esferas Celestes. A arte uma espécie de adivinhação daquilo que o mundo universal e eterno, refletido em nosso mundo dos particulares, embora não possa, realmente, incorporá-lo. A arte é uma espécie de eco da eternidade. A arte pode ensinar lições espirituais e morais em sua obra imitativa. Mas coube a Aristóteles fazer a arte descer novamente à terra, ao ensinar que a arte consiste, essencialmente, em prazer, embora essa definição não fosse aceitável para Platão. Ciência Natural Embora a academia de Platão estivesse pesadamente envolvida nas ciências naturais (seu sobrinho, Espeusipo, vide, que era biólogo, tomou o lugar do tio, por ocasião do falecimento deste), o próprio Platão não se interessava muito pela ciência, por si mesma. Ele chamava suas idéias sobre a questão de “opiniões prováveis”. A ciência de Platão estava entremeada com noções metafísicas. Quase tudo quanto ele tinha a dizer sobre o assunto está encerrado em seu diálogo Timeu, A categoria do Ser é representado pelo Deus eterno, que está em comunhão com as formas universais. Podemos pressupor, com base nisso, que ele não estava falando em termos de um Deus pessoal. A categoria do Tornar-se é representada pela Alma do Mundo, um iniciador automovido de todas as transformações. Ele chamava isso de “imagem impulsionadora da eternidade”, uma bela definição que aparece no escrito Timeu. Com o tempo, todas as coisas exibem sua contraparte na eternidade, recebendo vida por meio dessas contrapartes. A Alma do Mundo, por si só, não transpõe o grande abismo entre os particulares e os universais. Para tanto, Platão sentiu necessidade de postular o Demiurgo, uma espécie de conceito do Logos, que aparece no Novo Testamento. Os Números. Platão entendia a realidade dos números em todas as coisas, o que tem sido amplamente ilustrado pela teoria atômica. Esse conceito ele tomou por empréstimo dos pitagoreanos, para então dar-lhe sua própria torção. As Idéias estariam envolvidas em números, e os próprios números refletiriam os Números celestes. O Receptáculo. O mundo material seria uma espécie de receptáculo das funções e da realidade das Idéias, uma matriz dentro do espaço-tempo, que as recebe e é moldada por elas. Os Processos na Natureza. Deus teria criado o mundo material a partir de elementos já existentes no mundo das Idéias, ou seja, de elementos preexistentes, utilizando as Idéias como base de operação, ou como modelos. O espaço, pois, foi definido por Platão como “o receptáculo comum do tornar-se”, o lugar onde as coisas estão sujeitas a alteração e desenvolvimento, o que se localiza, como é óbvio, no mundo dos particulares. A ciência de Platão fala em três níveis de estudos: a-A astronomia, que é a ciência que explica o plano cósmico total. Nossa ignorância, quanto a isso, é profunda, e falamos somente em termos de probabilidades.

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b-A física, a biologia, etc., estudam os objetos físicos individuais. c-A medicina e a psicologia estudam os organismos vivos, especialmente o organismo humano. O Problema do Mal. Naturalmente, esse assunto faz parte da ética. Mas, visto que a própria criação está tão densamente envolvida nisso, é legitima aqui uma palavra a respeito. O Deus concebido por Platão não era onipotente, ou, pelo menos, não impunha a sua vontade de modo absoluto. O mal é uma realidade presente. Partículas elementares comportam-se mecanicamente, e as coisas podem sair erradas. A vontade humana pode perverter-se, e, com freqüência, perverte-se. Os elementos do mundo dos particulares conduzem-se de forma egoísta, sem considerar os propósitos mais amplos e mais nobres das Idéias éticas. A liberdade é uma realidade, e isso com freqüência contribui para as pessoas desviarem- se da linha reta. Aristóteles. Ele foi um dos maiores cientistas de todos os tempos. Durante vinte anos, foi estudante de Platão. Isso demonstra que a academia de Platão dava grande valor às ciências naturais. Mas os próprios escritos de Platão demonstram que, pessoalmente, ele não se interessava muito por assuntos científicos. Platonismo Platonismo é o nome que se dá à filosofia geral de Platão, especialmente em sua doutrina das Idéias, como o mais distintivo elemento dessa filosofia, embora também inclua qualquer elemento específico de sua filosofia, ou sua filosofia emprestada a outrem, utilizada e incorporada nos escritos de filósofos e teólogos posteriores. A filosofia de Platão e os sistemas posteriores, influenciados por ele. O platonismo alicerça-se sobre a dialética de Sócrates, como método de inquirição; sua principal característica é que os objetos do pensamento (idéias, formas, noumena) são eternamente reais, em oposição aos objetos transitórios e relativamente irreais da percepção dos sentidos (phenómena). O homem pode obter conhecimento (epistemê) das Idéias, mas só pode atingir opiniões (doxa) acerca dos fenômenos... O alvo da vida é o conhecimento da verdade e o controle dos indivíduos e da sociedade pela razão, embora Platão também manifestasse pendores místicos. O platonismo tem exercido grande influência sobre o pensamento cristão. Estágios da Filosofia de Platão Período Socrático. Platão foi poderosamente influenciado por seu mestre, Sócrates, pelo que abordava principalmente questões éticas. Cabem dentro desse período vários diálogos: Apologia; Hipias Menor; Carmides; Laques; Lisis; Eutifro; Crito e Protágoras. Durante esse período, além das questões éticas, Platão produziu severas críticas contra as idéias e os métodos dos sofistas; também desenvolveu a dialética, ou o uso do diálogo; e foi emergindo a sua crença nos Universais. A posição de Sócrates parece ter sido o conceitualismo, ao passo que a opinião final de Platão veio a ser o realismo radical. Antes disso, achamos em Platão a ênfase religiosa. Platão sofria a influência do orfismo, para não dizer que Sócrates era homem de oração, que acreditava na orientação divina e algumas vezes entrava em transe, buscando soluções para os seus problemas éticos. E também somos informados de que Platão era pessoa devota. A Independência de Platão. Sócrates havia feito algumas afirmações sobre questões metafísicas, embora não fosse, ele mesmo, um metafísico. Mas Platão tornou-se um porta-voz importantíssimo de certas crenças metafísicas.

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Contudo, coube a seu estudante, Aristóteles, desenvolver a lógica dedutiva de maneira formal. A esse período expansivo pertencem os seguintes diálogos: Fedro; Górgias: Meno; Entidemo; Teocteto; Sofista; Político; Parmênides; Crátilo. Conclusão finais da vida de Platão foram dedicados à preparação dos diálogos seguintes: Simpósio; Fedo; Filebo; Repu’blica; Timeu; Críticas e Leis. Certas idéias avançadas dele diziam respeito à natureza da beleza; provas da existência da alma e sua sobrevivência diante da morte; teorias políticas. A Filosofia de Platão;idéias: Ante um pensador universal como foi Platão, é difícil distinguir-se algumas poucas idéias e então dizer: Isto exprime Platão. Platão usou de vários mitos a fim de ilustrar o seu pensamento. A Metáfora da Caverna de Platão, pode-se comparar esse método de ensino com as parábolas de Jesus. No campo da psicologia, Platão desenvolveu um significativo pronunciamento racional em favor da imortalidade da alma (no diálogo Fedo), que nunca foi ultrapassado. Em Fedo, a alma humana aparece com duas porções distintas: a razão e os apetites, o que explica a sua luta moral, vacilando entre o bem e o mal. No terreno da política, Platão desenvolveu o importante conceito de que a piedade faz parte da justiça, e que o principal governante de qualquer lugar também deve ser o mais justo, e não apenas o mais poderoso. Somente um indivíduo realmente espiritual pode ser um bom governante. Após o Rei-Filósofo, aparecem os nobres, os quais devem ser espiritualmente nobres, e não apenas dotados da falsa nobreza das riquezas materiais. Platão promovia certa forma de aristocracia, o governo dos melhores. Mas isso ele definia em termos de verdadeira nobreza e sabedoria, e não em termos de poder, através do dinheiro ou da força militar, o que usualmente caracteriza a aristocracia das nações. Ele fornece-nos detalhes em seus diálogos República e Leis. Para a elite governante, Platão concebia um comunismo puro, em que seus membros compartilhassem de todas as coisas entre si, em amor e harmonia. Mas ele não pensava que as massas populares, com seus apetites desenfreados e sua irracionalidade, pudessem ser capazes dessa forma de governo. No âmbito da gnosiologia, Platão desconsiderava a percepção dos sentidos. Por outra parte, falava em termos favoráveis sobre a razão, melhor ainda sobre a intuição, e exaltava supremamente a contemplação, nas experiências místicas, como a melhor maneira de obtermos conhecimento das coisas. As Idéias (Formas, Universais). A mais distintiva doutrina platônica era a das Idéias, as entidades eternas e espirituais do Mundo celeste, de acordo com as quais o mundo dos particulares (o nosso mundo físico) foi moldado. Essas Idéias estão organizadas segundo certa hierarquia, dentro da qual o Bem é o elemento superior, que controla a todos os demais. As coisas físicas, por sua vez, são meras imitações desses arquétipos. A Filosofia da Religião. Platão sofreu a influência do Orfismo; ele era homem devoto. Criticava as divindades imorais do politeísmo grego, e nem ao menos poupou aos escritos de Homero, que os gregos tinham como a sua Bíblia, o seu Livro Sagrado. Seu diálogo, Eutifro, foi o primeiro livro a ser composto a apresentar, especificamente, uma filosofia da religião. A alma ocupava posição central na filosofia de Platão, e ele reconhecia a necessidade que a alma tem de purificação e salvação. O Bem platônico era o Deus de Platão, ainda que no seu diálogo, Simpósio, a Beleza seja o principal universal. No diálogo Leis, Platão chegou bem perto do monoteísmo, tendo chamado genericamente as Idéias de Deus (no grego, theós). Porém, não podemos ter certeza de que ele falava em termos de um Deus pessoal, à maneira judaico-cristã. Platão chegou ao conceito de um Deus pessoal, nesse caso, as Idéias já aparecem em certos artigos como atributos de

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Deus. Deus é referido como Pai, Construtor, Criador, Planejador e Arquiteto, embora não tivesse criado as coisas do nada, conforme se tornou comum pensar na tradição cristã. Antes, Deus teria organizado tudo a partir do caos. O mundo físico teria sido feito pelo Demiurgo, equivalente platônico do Logos da antiga filosofia grega, e então do cristianismo (ver João 1:1-14). O marcante dualismo de Platão parece fazer de Deus um Ser finito. O tipo de dualismo platônico exerceu um profundo efeito sobre o pensamento cristão. A filosofia de Platão proveu um modo de expressão da teologia cristã que foi muito utilizado pelos primeiros pais da Igreja. Hegel observou que a filosofia de Platão ensinou-nos quão próxima de Deus está a razão humana, e quão verdadeiramente está unida à Razão divina. Isso provê um ponto de vista filosófico acerca de como o homem pode ter comunhão com Deus e com a realidade transcendental. A descrição platônica do drama sagrado da alma tem inspirado a muitas mentes, antigas e modernas. A Reunião com o Ser Divino. Na imortalidade platônica há mais do que uma interminável repetição de mortes e renascimentos. Para Platão, o correto destino consiste em recuperar seu direito de primogenitura de reunião com o eterno do qual é parente, e do qual, de alguma maneira, ela se separara. Esse destino ela poderá cumprir renunciando repetidamente ao mundo dos sentidos e refugiando-se no inteligível e perene, até que, finalmente, se tenha purificado suficientemente da escória desta terra. E então, chegado o momento de sua liberação, a alma escapa a roda da reencarnação, saindo inteiramente do círculo do tempo, deixando de ser duradoura e unindo-se ao eterno. Em sua discussão sobre o amor no Simpósio, ele nos fez familiarizar com essa imortalidade mística, incessante, separada do tempo, sobrepessoal. Estágios do Desenvolvimento Histórico do Platonismo 1-A época do próprio Platão (até 347 A.C.). 2-A Antiga Academia (347-247 A.C.). Espeusipo substituiu a Platão e enfatizou os elementos pitagoreanos e éticos do platonismo. Apesar de Aristóteles ter sido o maior dos estudantes de Platão, suas idéias eram por demais diferentes das de Platão para ele ser considerado um platônico. 3-A Academia Média (247-129 A.C.) inacreditável, mas a academia fundada por Platão caiu no ceticismo. Arcesilau (315-241 A.C.) recomendava a suspensão de todo julgamento; e Carnéades (213-129 A.C.) fazia das probabilidades seu guia na vida. Esses líderes não produziram qualquer literatura conhecida. 4. A Terceira e a Quarta Academias, até 529 D.C. 5. O Neoplatonismo. Pode-se dizer que o tempo da predominância do platonismo foi entre 250 e 529 D.C., embora nem por isso tais idéias tenham deixado de exercer poderosa influência desde então. Amônio Saccas (175-242 D.C.) é considerado o fundador desse sistema. Plotino foi um significativo aplicador do platonismo. Suas datas foram 203-279 D.C. O neoplatonismo era uma espécie de adaptação religiosa de idéias platônicas, enfatizando o misticismo, o dualismo, as emanações, o drama sagrado da alma, a purificação, o retorno da alma à união com Deus. O pecado original, em termos gerais, consiste na união da alma com a materialidade; e a redenção da alma consiste em sua separação final da matéria. Pode-se dizer que Orígenes incorporou em sua teologia elementos do neoplatonismo; e Agostinho fez outro tanto, mesmo porque, durante algum tempo, foi um filósofo neoplatônico. Os pais gregos da Igreja foram muito influenciados pelas idéias platônicas, tendo usado a filosofia de Platão como veículo de expressão da teologia cristã. Para eles, a alma obtém

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sua redenção ao encontrar união com Deus, e não meramente quando abandona este mundo físico e fixa residência nas dimensões celestiais. 6. O Platonismo Alexandrino. Filo de Alexandria foi um destacado filósofo-teólogo judeu neoplatônico. Ele explicava Moisés através dos olhos de Platão. Os pais gregos de Alexandria, isto é, Clemente (falecido em 220 D.C.) e Orígenes (cerca de 185-253 D.C.), estiveram muito envolvidos no pensamento platônico, tornando-o um veículo de expressão de sua teologia. Outro tanto se deu com Boethius, de Roma (470-525 D.C.). 7. O Platonismo Durante a Idade Média. A influência de Platão continuou crescendo, até cerca de 1200 D.C., quando, através de Tomás de Aquino, começou a influência de Aristóteles sobre a teologia cristã, de maneira marcante. João Scotus foi uma importante personagem quanto a esse desenvolvimento. Também podemos mencionar Erigena, que viveu aproximadamente de 800 a 877 e Anselmo, que viveu entre 1033 e 1109 D.C. A Escola de Chartres era de orientação platônica. Os intelectuais da Idade Média andaram muito ocupados na discussão sobre os Universais, e o realismo radical de Platão, como é apenas natural, ocupou um papel proeminente nessa discussão. Os frades franciscanos perpetuaram as idéias de Platão e de Agostinho. 8-A filosofia islâmica foi significativamente influenciada tanto por Platão quanto por Aristóteles, onde o neoplatonismo desempenha uso importantíssimo papel. 9-Durante a Renascença, — Nicolau de Cusa e Petrarca, como também a Academia de Florença procuraram transferir a academia de Platão para a Itália. Esse reavivamento foi ajudado pelas filosofias de Pleto, Ficino e Pico Della Mirandola.

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HISTÓRIA E INTRODUÇÃO À FILOSOFIA L 5 1- Quais foram os biógrafos de Sócrates? A-Platão e Xenofonte B-Aristóteles 2- As idéias éticas de Sócrates exerceram grande influência sobre quem? A-Platão, sobre os filósofos cínicos, estóicos, cirenaicos e epicureus B-Aristóteles e Xenofonte 3- A Apologia de Platão informa-nos que o oráculo de Delfos asseverara que: A-Sócrates era o homem mais sábio da Grécia B-Sócrates era o homem mais culto da Grécia 4- Esses diálogos são exemplos de sagacidade,contendo: A-Excelentes inquisições teológicas B-Excelentes inquisições filosóficas 5- O aluno era gradualmente levado a entender qual era a resposta, A-Mesmo entendendo pouco de filosofia B-E era o próprio aluno quem finalmente a proferia 6- Qual era o enfoque principal das investigações de Sócrates conforme Aristóteles afirmou? A-A Ética B-A Estética 7- Nos diálogos Crito e Fédon é nos ensinado o importante princípio que sempre é melhor: A-Sofrer do que praticar o bem B-Sofrer do que praticar o mal 8- Naturalmente, Sócrates acreditava que, no outro lado da existência, prevalece a justiça, e que recompensas ou castigos apropriados garantem a vitória: A-Final do bem sobre o mal B-Final do mal sobre o bem 9- Quem concebia a alma como uma espécie de fantasma que adeja por sobre o indivíduo? A-Homero B-Isócrates 10- Quais os três filósofos que expuseram sólidas doutrinas da alma? A-Sócrates e Homero B-Platão, Xenofonte e Isócrates 11- Quem ensinava que a alma, uma vez expurada de excesso, de tal modo a poder agir apropriado e virtualmente? A-Sócrates B-Aristóteles

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12- Os ideais devem dominar os atos; e esses ideais atuam mediante a atração, A-E não pela lógica B-E não pela força 13- Quem pavimentou o caminho para certos conceitos fundamentais do estoicismo? A-Sócrates B-Homero 14- Que época Platão viveu? A-429 a 345 a.C. B-428 a 347 a.C. 15- Que cidade Platão nasceu? A-Roma B-Atenas 16- Com quantos anos de idade Platão iniciou a sua própria academia? A-Quando atingiu os 40 anos de idade B-Quando atingiu os 50 anos de idade 17- Quem era o mais brilhante estudante de Platão,que entrou em sua academia em 367 a.C? A-Aristóteles B-Sócrates 18- Com que idade Platão morreu? A-Com a idade de 80 anos B-Com a idade de 70 anos 19- Após a morte de Platão quem tornou-se o proprietário e o diretor da academia de Platão? A-Xenofonte B-Seu sobrinho Espeusipo 20- Em certo sentido, Platão foi o Moisés da: A-Antiga religião grega B-Antiga cultura grega 21- Quem estava convencido de que a percepção dos sentidos afasta-nos do verdadeiro conhecimento? A-Platão B-Sócrates 22- Quem ensinava que o mundo verdadeiro é imutável? A-Parmênides B-Xenofonte 23- Acima da razão e da intuição, acham-se as: A-Experiências ocultas B-Experiências místicas

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24- Não sabemos das coisas meramente pelo prazer de sabê-las: A-Sabemos das coisas a fim de nos aprimorarmos:sabemos a fim de conhecer a essência de todas as coisas B-Sabemos das coisas a fim de nos aprimorarmos:sabemos a fim de conhecer o bem 25- Deus, por conseguinte, é o alvo de todo o conhecimento, bem como o depósito: A-Absoluto conhecimento B-Conhecimento pleno 26- O choque do nascimento apaga o conhecimento inato: A-Possuído pelos deuses B-Possuído pelos homens 27- Quem condenava os sofistas, em face do fato de que dependiam da percepção dos sentidos, com seu resultante ceticismo? A-Platão B-Sócrates 28- No diálogo platônico, Leis, O termo grego theós(Deus) A-Substitui o vocábulo Idéias B-Substitui o vocábulo Pai 29- O homem como um Ser Bidimensional, isto é,participante do mundo das idéias e: A-E do mundo e os particulares B-E do mundo que o cerca 30- A alma do homem origina-se no mundo das idéias,pelo que ela é uma: A-Labareda de Deus B-Fagulha de Deus 31- A alma é eterna, embora a individualização tenha tomado: A-Lugar dentro do templo B-Lugar fora do templo 32- A unidade com Deus é o alvo: A-Buscado pelas sociedades B-Buscado pelo homem 33- Quem vinculava a realidade ao seu mundo das idéias, e o seu conhecimento é chamado de realismo radical? A-Platão B-Aristóteles 34- Quem iniciou a sua carreira filosófica intensamente interessado pela política? A-Sócrates B-Platão

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35- Quem deveriam ser a classe governante, e deveriam receber treinamento político durante um longo período de tempo? A-Os filósofos B-Os plebeus 36- Qual a pessoa concebida por Platão, dotado de toda a sua sabedoria, serio supremo intérprete das artes,porquanto ele estaria mais próximo da realidade? A-O Rei-Filósofo B-O Filósofo-Rei 37- As artes imitam, essencialmente, a natureza, a qual está sujeita à nossa percepção; mas a própria natureza é apenas uma imitação da Supernatureza, A-O mundo das emoções B-O mundo das idéias 38- O que pode ensinar lições espirituais e morais em sua obra imitativa? A-A Lógica B-A Arte 39- A ciência de Platão estava entremeada com noções: A-Metafísicas B-Lógicas 40- O Deus concebido por Platão não era onipotente,ou, pelo menos, A-Não impunha a sua vontade de modo absoluto B-Não impunha sua vontade de modo notável 41- Quais foram os diálogos de Platão? A-Fedo, Filebo, República, Timeu, Críticas e Leis B-Fedo, Filebo, República, Timeu 42- Cite um dos vários mitos que Platão usou para ilustrar o seu pensamento. A-A metáfora da Caverna de Platão B-A metáfora da Gruta de Platão 43- No âmbito da gnosiologia, Platão desconsiderava a: A-Percepção das emoções B-Percepção dos sentidos 44- No diálogo Leis, Platão chegou bem perto do: A-Monoteísmo B-Politeísmo 45- O mercante dualismo de Platão parece fazer de: A-Deus um ser infinito B-Deus é um ser glorioso 46- A descrição platônica do drama sagrado da alma tem: A-Inspirado pessoas de todo mundo B-Inspirado a muitas mentes, antigas e modernas

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47- Na imortalidade platônica há mais do que uma interminável A-Repetição de mortes e renascimentos B-Busca pela sabedoria 48- Qual a data que o platonismo predominou? A-240 a 260 d.C. B-250 a 259 d.C. 49- Até quando a influência de Platão continuou crescendo? A-Até cerca de 1200 d.C. B-Até cerca de 1100 d.C. 50- Quais as idéias que os frades franciscanos perpetuaram? A-Platão e Agostinho B-Sócrates

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LIÇÃO 6 10. O platonismo de Cambridge foi uma importante versão britânica dessa filosofia. Nomes associados à mesma são Ralph Cuclworth (1617-1688), Henry More (1614-1687) e Benjamim Whichcote (1609-1683). 11. A filosofia moderna continua sentindo a influência de Platão. Apesar do Tomismo estar filosoficamente baseado principalmente em Aristóteles, ainda assim há forte e óbvia influência platônica sobre os ensinos dessa escola. Ademais, podemos citar R.B. Perry, O. Santayana e Whitehead, que adotaram várias idéias platônicas. W.R. Inge foi um dos principais líderes modernos neoplatônicos. Whitehead achava que a influência de Platão é tão grande que chegou a dizer, em essência: “A filosofia ocidental é uma série de notas-de-rodapé aposta a Platão”. Sua doutrina dos “objetos eternos”, era uma variante das Idéias de Platão. Ferrier, porém, exagerou, ao dizer que “...toda verdade filosófica é Platão corretamente interpretado; e todo erro filosófico é Platão mal avaliações, devemos observar que certas teorias científicas, que reconhecem a dualidade da realidade, são bastante platônicas em sua perspectiva. Um conspicuo exemplo disso é aquele que emerge da chamada fotografia Kirliana, com seu estudo da aurea humana e dos campos de energia que circundam o corpo humano e todos os objetos vivos da natureza. Esses campos de vida aparentemente controlam o código genético e fazem os organismos físicos serem o que são. Temos aí uma adaptação do conceito platônico das Idéias, e de como elas são duplicadas no nosso mundo físico. O conceito das religiões orientais, que dizem que o homem é um complexo de energias vitais, corpo físico, vitalidade, alma e superego—é similar à noção platônica do complexo humano. O superego aparece ali como uma espécie de Idéia platônica. Os tradicionais atributos de Deus, segundo o cristianismo, são virtualmente idênticos às Idéias superiores, dentro do sistema platônico das Formas. Apesar de ser um exagero dizer, conforme disse Cícero: “Eu prefiro estar errado, ao lado de Platão, do que certo”, deve-se admitir que a influência de Platão tem sido muito profunda, e que deverá continuar a sê-lo ainda por muito tempo. Por certo, ele tinha mais a dizer sobre a alma do que o antigo judaísmo. Assim sendo, quanto a essa importante questão, ele nos forneceu maior verdade do que o Antigo Testamento com relação alma. A atitude de Platão acerca da teoria do conhecimento, onde ele nos fornece a hierarquia formada pela percepção dos sentidos, razão, intuição e experiências místicas, é crescentemente válida, pelo que o cristianismo e as religiões em geral apegam-se a essa idéia. Platão apresentou um ponto de vista sobre conhecimento que, devido à sua habilidade e à defesa que ele ali faz do conhecimento, tem sido útil para os filósofos e os teólogos através dos séculos. No campo da ética, a insistência de Platão de que o prazer não é o alvo da vida mas que as grandes virtudes que refletem a justiça, a bondade e a verdade são as coisas que deveriam governar a nossa inquirição espiritual; tem sido uma constante da fé religiosa. O fato de que ele fazia da inquirição filosófica uma busca pelo Eterno mui naturalmente tem inspirado as mentes religiosas. Sua doutrina da reunião da alma humana com o Ser divino, como ó alvo da existência humana, é o grande tema do misticismo, tanto oriental quanto ocidental, aparecendo até mesmo em importantes passagens neotestamentérias que ensinam que haveremos de compartilha da natureza e da imagem de Cristo ( Rom. 8:29:11 Cor. 3:18 e Côl. 2:10), e, por conseguinte, da própria natureza divina ( II Ped. 1:4). A metafísica que transparece na epístola aos Hebreus é definidamente platônica.

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Aristóteles Filósofo grego (384 a.C-322 a.C). Nasceu em Estagira, Macedônia, filho de Nicmaco, médico do rei. Com dezoito anos ingressou na Academia de Platão e estudou durante cerca de vinte anos. Foi o mais brilhante aluno de Platão, tendo sido por ele apelidado de “o intelecto”. Por ocasião da morte de Platão, um parente deste, e rival de Aristóteles, foi nomeado para chefiar a Academia e Aristóteles abandonou Atenas. Tornou-se então tutor de Alexandre o Grande, filho do rei da Macedônia. Alexandre tinha treze anos na ocasião. Em cerca de 335 A.C., Aristóteles regressou a Atenas e fundou o seu Liceu, a Escola Peripatética. Quando Alexandre tornou-se rei, Aristóteles recebeu apoio financeiro e moral. Porém, quando Alexandre morreu, em 323 A.C., houve uma onda de antimacedonismo, e Aristóteles exilou-se voluntariamente, para que um outro mártir, como Sócrates, não viesse a pesar sobre a consciência dos atenienses. Morreu pouco depois disso, em 32 A.C. Escritos. No campo da lógica, o Organon e as Categorias; Sobre Refutações Sofistas; Física; Sobre os Céus; Geração e Corrupção; História dos Animais; Sobre as Partes dos Animais; Sobre o Movimento dos Animais; Sobre a Progressão dos Animais; Sobre a Alma; Parra Naturalia; Metafísica; Ética Nicomaqueana; Magna Moralis; Constituição de Atenas; Retórica e Poética. A filosofia e as ciências. Ele aceitava os principias teleológicos e idealistas de Platão. O Universo é um mundo ideal, um todo orgânico inter-relacionado, um sistema de idéias (formas) eternas e imutáveis. As ideias (formas) dão ao mundo dos sentidos (o mundo físico) sua forma e sua vida. O conhecimento genuíno inclui o conhecimento das bases dos fatos: a filosofia inclui todo o conhecimento raciocinado, e as diferentes ciências interessam-se por porções ou fases do ser. Tipos de ciência. a-Teóricas: Matemática, física e metafísica. b-Práticas: Ética e política. c-Criativas: Mecânica e produção artística. As duas principais divisões da filosofia seriam: Metafísica, ou primeira filosofia, que se interessa pelo ser e estuda a causa primária ou causa última das coisas;e a segunda filosofia, que englobaria as ciências parciais, que abrangem porções ou fases do ser. Conhecimento, epistemologia. Aristóteles percebia o escopo do conhecimento, mais do que outros antes dele, sendo capaz de discernir o papel da definição da indução e da dedução, no desenvolvimento das ciências. Sua classificação das diversas ciências (práticas e teóricas) foi útil para a filosofia. Ele advogava o que atualmente é chamado de teoria correspondente da verdade. Não antecipou a teoria atômica, segundo a qual a matéria permanece essencialmente misteriosa, a despeito da crescente ciência das partículas atômicas, mesmo em sua época. Ele considerava que o conhecimento é possível, contrastando nisso com o ceticismo. O processo. a-O conhecimento é possível. b-O homem tem capacidades intuitivas, podendo receber lampejos de compreensão. c-Mas o conhecimento consiste, essencialmente, em juízo com uma descrição, se essa descrição for completa, teremos chegado à verdade. d-Como cientista que era, em contraste com Platão, ele ressaltava essencialmente o conhecimento cientifico, o qual examina os objetos do mundo físico.

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e-As faculdades dos sentidos são nossos instrumentos para chegarmos ao conhecimento, embora não exclusivamente, pois também atuam a razão e a intuição. f-Por meio de nossas descrições, atingimos o universal. Ele defendia o que agora se conhece por realismo moderado: o universal é real, mas só pode ser encontrado no particular (algum objeto físico). g-A descrição do universal é o propósito mesmo do conhecimento. Lógica. Aristóteles foi o fundador da lógica científica. Sua função foi descrever o método pelo qual se obtém o conhecimento. Sua lógica centraliza-se em torno de dois fatores essenciais: a-Definição. b-Silogismo, os processos da prova. Silogismo: A ciência é um autêntico conhecimento, um pensar correto. a-Passa do particular para o universal,mediante o raciocínio dedutivo. O universal reside no particular. b-0 alvo do conhecimento é a demonstração completa, através de uma série de silogismos, onde as conclusões dependem das premissas.Esse processo continua até que se atinja um princípio que não possa ser provado pela indução, por ser inerente à razão, e por precisar ser averiguada mediante a dedução. O conhecimento começa pela percepção dos sentidos, que prossegue em suas descrições do particular para o universal. O conhecimento esforça-se por entender o universal. As dez categorias ou propriedades universais das coisas. Essas são as formas dos predicados com que costumamos descrever as coisas. a-O que é (ilustração: um homem; trata-se da substancia a ser considerada). b-Como ela se constitui (branco; uma qualidade) c-Quão grande é (dois metros: quantidade) d-Como está relacionada (maior, dobro: retação) e-Onde está (lugar: espaço) f-Quando é (ontem: tempo) g-Postura assumida: (sentado: posição,) h-Seu estado (vestido: provisão) i-O que faz (queima: atividade) j-O que sofre (é queimado: passividade) Processo de raciocínio, a. Passa do universal para o particular. b. Forma juízos. c. Com base nos juízos, tira inferências. Essas inferências ‘são chamadas proposições. d.- Os juízos compõem-se de conceitos expressos por meio de termos. Metafísica Para Platão, a realidade é espiritual (as idéias, formas, universais), ao passo que os objetos terrenos particulares) são apenas cópias inferiores do que é “reais”. A forma é a substância real de alguma coisa. Idéia e forma são termos intercambiáveis. Essa realidade é mais real que a realidade física. Na filosofia, esse conceito chama-se realismo radical. Para Aristóteles, as coisas particulares (objetos terrenos) são substâncias reais. A forma ou o universal sempre se encontra no particular. A forma é real, mas não independente do particular. Na filosofia, essa posição chama-se realismo moderado. A matéria assume diferentes formas, mas persiste a idéia ou forma. A matéria é o principio da probabilidade. A forma é o principio da realidade (atualidade).

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A substância de uma coisa é a sua totalidade. Essa, a primeira categoria aristotélica. Sócrates é um homem; mas ele é mais do que seu corpo material, Ele também inclui um, principio não-material, juntamente com muitas alterações em série, que se dirigem a algum alvo. Cresceu e foi educado em Atenas, e terminou sendo um grande filósofo. Tudo isso tem a ver com a sua substância. A substância de qualquer coisa inclui sua forma e sua matéria. A matéria une-se à forma. Para que ela se torne no que deve, de conformidade com um desígnio (o princípio da teleologia), deve haver várias causas. As quatro causas: 1-Causa-material. Matéria mais potencialidade, tendo em mira o desenvolvimento, conforme foi explicado acima. 2-Causa formal. Para que algo venha a ser como deve, deve haver um padrão, desígnio ou plano. 3-Causa eficiente. Para que o desígnio se concretize, deve haver um agente, uma força que efetiva o propósito. 4-Causa final. É o alvo na direção do que algo se move; o desígnio em seu cumprimento. Ilustração: Construção de muro. Para que se construa um muro, deve haver a matéria e sua potencialidade (a argila-que será cozida: a causa material). Em seguida, deve haver um plano para a edificação do muro. Isso determinará quem fará a obra e como esta deverá ser feita (causa formal). Então, deve haver um agente, o pedreiro que construirá o muro (causa eficiente). Quando o muro tiver sido construído, seu desígnio estará cumprido (causa final). Para que qualquer coisa suceda, ou seja levada a bom termo, deve haver movimento. Se existe o movimento, deve haver um Movedor Primário (a Causa Primária do movimento). Essa entidade chama-se Movedor Primário ou Movedor inabalável. Trata-se de uma torça cosmológica, na realidade, Deus da concepção aristotélica, que seria uma força impessoal, e não uma pessoa. Esse Movedor Primário movimenta todas as outras coisas «sendo amado., o que é um evidente termo poético para indicar uma força de atração. Esse Movedor não tem consciência das outras coisas, por ser puro pensamento, capaz de pensar por si mesmo. Deus é a forma pura, a idéia da realidade Deus (o Movedor Inabalável), como forma pura, existe independentemente da matéria, havendo outras formas celestiais que não são materiais. Em todos os demais casos, forma e matéria compõem as substâncias individuais, e são os acidentes da matéria que constituem um objeto particular, como uma cadeira. Por exemplo, a cor é um acidente de alguma coisa, mas não, necessariamente, o seu ser. Os quatro movimentos (excluído o Movedor Inabalável) a-Movimento substancial (origem e decadência). b-Movimento quantitativo (alterações no volume de um corpo). c. Movimento qualitativo (transformação de uma coisa em outra). d-Movimento local (mudança de posição no espaço, ou mudança de lugar). Devido aos fatores de causa, desígnio e movimento, a natureza não é apenas mecânica. Antes, é dinâmica, teleológica, ativa e eivada de propósito. A filosofia medieval, árabe ou cristã, utilizava-se de muitos dos conceitos de Aristóteles em suas expressões teológicas e científicas. Biologia. Aristóteles é o fundador da zoologia sistemática e comparada. Ele se opunha aos conceitos puramente quantitativos-mecanicos-casuais. Em todos os animais, a alma é a forma do corpo. O corpo é apenas um instrumento, mas a alma é o princípio normativo. Onde houver vida, haverá alma, o poder por detrás do desígnio, o princípio teleológico. A alma humana é a enteléquia do corpo.

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Não obstante, Aristóteles aparentemente não cria (ou, pelo menos, mostrava-se agnóstico a esse respeito) na sobrevivência da alma. Todavia, o ponto é disputado. Psicologia. 1-O homem é o alvo final da natureza, diferindo ele dos animais inferiores devido à sua capacidade de raciocinar. 2-Os órgãos dos sentidos informam a alma sobre as qualidades das coisas. 3-A. alma humana é capaz de raciocínio conceitualizante, isto é, de capacidade de discernir o que é universal, assim descobrindo a essência necessária das coisas. 4-A razão passiva é a matéria a partir da qual atua a razão criativa e ativa. Está vinculada ao corpo, e juntamente com este, perece, tal como sucedem à imaginação e à memória. 5-A razão ativa ou criativa é pura realidade, mediante a qual chegamos aos conceitos. Existe antes mesmo do corpo. Essa alma é imaterial, imperecível e imortal. Contudo, não é: claro se Aristóteles aplicava esses atributos, às almas individuais, ou somente ao princípio da alma, ou alma do mundo. Averróis interpretava Aristóteles como se ele tivesse querido dizer que somente uma forma pura, ou alma, existe para a humanidade inteira, e que tal pensamento não do apoio à idéia da sobrevivência da alma. Três tipos de alma. 1-Nutritiva-vegetativa: tem as potencialidades de assimilação e reprodução. 2-Sensível: como nos animais, com capacidade de movimento e de desejos. 3-Humana: além das capacidades acima, tem a capacidade de raciocinar, de rebuscar pela verdade. Ética. 1-O principal bem é a felicidade eudemonia). 2-A felicidade vem através da auto-realização. 3-A virtude é o cumprimento da auto-realização da melhor maneira possível. Ê a função cheia de propósito de alguma coisa especifica. Visto que o homem tem uma razão —que busca a verdade é desejável que ele use essa capacidade como sua principal virtude. 4-A. descoberta da verdade é a mais alta felicidade do homem. 5-O alvo da vida humana não é o prazer, mas virtude, que deve tornar-se um hábito. 6-A virtude habitual vem através do disciplinamento da razão, a faculdade especial do homem. Uma alma virtuosa é uma razão ordeira e disciplinada, que evita extremismos. Observa o meio-termo áureo (a moderação). Exemplo: A coragem é o meio-termo entre a impetuosidade e a covardia. A temperança ou controle próprio é o meio-termo entre a inapetência:e a glutonaria. A justiça á o meio-termo áureo entre deixar-se abusar por outros e o ato de espezinhar os direitos alheios. 7-As virtudes intelectuais buscam a verdade e os meios usados para isso são as artes, as ciências, a prudência, a sabedoria, a iniciativa e a razão. A sabedoria consiste na razão que aborda o que é Invariável. A razão ao agir em relação ao que é variável, constitui a prudência. 8.A vida contemplativa é a mais elevada e feliz. Somos mais parecidos com Deus quando nos pomos a contemplar. Política. 1-O estado existe visando ao bem do homem. 2-A vida social é o alvo da existência humana. 3-O estado deve produzir e nutrir bons cidadãos. 4-A constituição do estado deve ser adaptada ao caráter e aos requisitos do povo, pelo que pode variar de um lugar para outro, sem a necessidade de estruturas rígidas.

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5-Visto que os indivíduos diferem em suas habilidades, a justiça requer que sejam tratados de acordo com essas diferenças. 6-Cada cidadão deve exercer a sua virtude, ou função especifica em favor da comunidade, ou estado. 7-A família é a unidade básica do estado. O homem, se isolar-se, não será auto-suficiente. 8-Há três formas aceitáveis de governo: a-monarquia. b-aristocracia. c-política;algo aparentado com a democracia constitucional. Ele preferia essa terceira opção. 9-Há três formas inaceitáveis de governo: a-tirania. b-oligarquia. c-democracia popular. Essas são deformações das formas aceitáveis. Estética. Essa é desenvolvida na obra de Aristóteles, Poética. 1-A arte é a imitação do possível do provável na natureza, e não somente do que é real. 2-A poesia trata do universal. 3-A beleza é a unidade na verdade, sem quaisquer características não-essenciais. 4-A tragédia provê a catarse das emoções do terror e da compaixão. 5-A participação nas artes enobrece e enriquece o homem. Aristóteles foi um dos maiores filósofos do mundo, o qual exerceu duradoura influência sobre a teologia e sobre as ciências. A Igreja ocidental, por meio de filósofos como Tomás de Aquino, incorporou a filosofia aristotélica como uma característica permanente, bem como meio de expressar certo número de conceitos cristãos. Uma das fontes fundamentais do escolasticismo foi a filosofia de Aristóteles. Realizações. Platão chamou Aristóteles de o intelecto, sendo ele o mais brilhante de seus alunos;e suas realizações justificaram o título. Ele foi o maior cientista de seu tempo, cuja influência, neste campo, perdurou muitos séculos.Foi pai da biologia, embora seu método, por falta de instrumentos, tenha sido essencialmente descritivo. Também foi o fundador da lógica cientifica, e com esta realização, tornou-se o primeiro filósofo a incorporar todos os seis ramos tradicionais da filosofia em seu sistema. Sua importância se manifesta no ditado que declara: Todos os homens são platônicos ou aristotélicos nas suas, aproximações com relação ao problema do conhecimento: a aproximação empírica-científica = Aristóteles; a aproximação racional-intuitiva-mística A Filosofia de Aristóteles A filosofia de Aristóteles é importante para a teologia e para a fé cristã devido ao fato de que Tomás de Aquino (e os filósofos tomistas) a têm usado como meio de expressar sua fé, e vastas multidões de cristãos têm sido influenciadas por essa atividade. Um dos mais importantes e extraordinários desenvolvimentos na história das idéias européias foi a adaptação da filosofia de Aristóteles para consumo cristão. Tomás de Aquino encontrou em suas ideias um meio apropriado para exprimir sua teologia. Os filósofos árabes foram os primeiros a usar suas obras, embora interpretando materialisticamente o seu pensamento.

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O pensamento judaico medieval, em Maimônides também foi influenciado pelo filósofo Aristóteles. Após séculos de dominação platônica entre os filósofos cristãos (por exemplo, os pais alexandrinos e a escola de Agostinho), a nova lógica aristotélica) tomou conta das universidades da cristandade, notavelmente Paris e Oxford. Tomás de Aquino mostrou que a razão humana, conforme Aristóteles sugerira, não é adversária da fé cristã; antes, pode ser usada para compor uma teologia natural capaz de ajudar a fé. As verdades da revelação recebem assim um alicerce racional. Afinal de contas, tudo isso faz parte do nosso conhecimento de Deus e das realidades espirituais, pois Ele é o supremo Intelecto, do qual fomos derivados, como intelectos. Pode-se supor a existência de uma afinidade entre os intelectos e o Intelecto, e que a razão humana pode descobrir a verdade, disciplinando sua busca. Aspectos históricos. Platão e Aristóteles, embora fossem mestre e aluno, defendiam idéias bem diversas. Platão era o racionalista místico influenciado pelas religiões orientais,e Aristóteles era o cientista, que enfatizava o método empírico. Suas ideias filosóficas também se chocaram após a morte de ambos mas, nos círculos religiosos, os homens usavam as idéias de Platão com mais facilidade. Assim, o neoplatonismo era uma expressão religiosa de Platão, que exerceu vasta influência no mundo religioso por muitos séculos, incluindo a Igreja cristã, através dos pais alexandrinos. Plotino (204-270 D.C.), o neoplatonista, encontrou alguns subsidios em Aristóteles, como a teoria do Intelecto separado e o contraste entre a matéria e a forma; mas, em tudo o mais, conflitava com ele. Porfírio de Tiro (234-cerca de 305 D,C.), discípulo de Plotino, escreveu uma introdução (Isagoge) a cinco conceitos: espécie, gênero, diferenças, propriedade e acidente, demonstrando nela grande influência aristotélica. Essa obra foi incorporada em seu Organon. tendo sido canonizada para as gerações futuras como obra de inspiração aristotélica. Foi usada por Boethius, cuja intenção era reconciliar o neoplatonismo e o aristotelianismo. Ele produziu um comentário sobre a Isagoge, que originou a grande controvérsia sobre os universais e que teve muita importância para o pensamento teológico da Idade Média e depois. As obras de Aristóteles sobre a lógica atraíram mais atenção na Idade Média, e os teólogos cristãos começaram a desenvolver contrastes aristotélicos como substância e acidente. Porém, no século XIII, aumentou imensamente o interesse por Aristóteles — sobretudo através de Tomás de Aquino, embora não com exclusividade. Comentários árabes sobre suas obras proviram a força que espalhou as idéias de Aristóteles por toda a parte. Eles abordavam materialisticamente as idéias dele, embora de modo atrativo para a mente religiosa. Averróis (1126-1198) era mais respeitado no ocidente latino do que em sua pátria, tendo atraido a atenção de Alberto Magno (cerca de 1200-1280), mestre de Tomás de Aquino. Foi na Universidade de Paris que Alberto Magno tomou conhecimento dos escritos de Averróis. Tomás de Aquino (1225-1274) entrou em contato com esse material quando estudava em Nápoles. Averróis emprestou um mau nome ao aristotelianismo; mas não demorou que uma nova maneira de encará-lo e manuseá-lo, em favor da fé religiosa, se tivesse desenvolvido, por meio de Tomás de Aquino. Muitos teólogos sentiam-se inquietos ante os acontecimentos. Tal fato resultou na proscrição do aristotelíanisnio, por diversas vezes durante o século XIII, a começar pelo ano de 1210. Esse desenvolvimento culminou na condenação do bispo de Paris.

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Estêvão Tempier, a 7 de março de 1277. O grande teólogo Duns Scoto (cerca de 1266-1308), como também William de Ockham (cerca de 1285-1347), foram influenciados por essa forma de teologia-filosofia. Os séculos XVI-XVIII testemunharam uma outra reação, parcialmente porque Copérnico (1473-1543) mostrou que algumas das idéias científicas básicas de Aristóteles estavam equivocadas. O papa Leão XIII (1880) decretou que essa filosofia era a posição oficial da Igreja de Roma, como meio filosófico de contemplar a religião. Apesar de que alguns evangélicos abordam sua fé filosoficamente, nenhuma das denominações protestantes ou evangélicas têm desenvolvido um estudo sistemático e filosófico da religião. Os protestantes, sob a influência de Kant, que situava a fé e seus sujeitos dentro do mundo ocidental, dependente da intuição e do misticismo, têm subestimado a abordagem racional-filosófica da fé. Alguns deles chegam francamente a ser hostis, julgando que a filosofia é contrária à revelação e à fé. Conheço pessoalmente o caso de um pregador-filósofo, um ministro do evangelho, mas estudioso da filosofia, que foi severamente criticado por ter apresentado as provas tradicionais e racionais da existência de Deus.

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7 De Cícero à Tomas de Aquino Marcus Tullius Cícero Suas datas foram 106 a.C - 43 a.C. Foi um filósofo eclético e estadista romano. Mediante as traduções que fez e suas exposições da filosofia grega, ele nos concedeu muitos discernimentos quanto a Platão, Aristóteles e as principais escolas filosóficas, como a dos céticos, a dos estóicos e a dos epicúreos. Seu gracioso estilo literário empresta um certo encanto aos seus comentários. Além de suas realizações no campo da filosofia, Cícero tornou-se conhecido como orador eloqüente e estadista poderoso. Ele pertencia à classe eqüestre, um nível abaixo da classe senatorial. Era estudioso ávido e incansável, tendo-se tornado um erudito em muitos ramos do saber. Seus talentos na oratória conferiram-lhe rápida ascensão na política romana. Suas muitas vicissitudes políticas, com momentos de vitória e de derrota, levaram-no até os tempos da guerra civil romana, quando César e Pompeu tomaram lados opostos. Isso levou Cícero a um dilema. Ele não simpatizava com a causa de César, embora contasse com amigos íntimos que apoiavam a César. Turbulências políticas, e a perda de uma filha, que sempre lhe fora querida, fizeram-no passar tempos difíceis, durante a ditadura de César. Cícero não teve qualquer participação no assassinato de César; mas regozijou-se com a morte do ditador. Posteriormente, Cícero colaborou com os assassinos de César, Bruto e Cássio, a fim de restaurar a república romana. Isso fê-lo entrar em choque com Marco Antônio, contra quem fez catorze escaldantes discursos, chamados de as Filípicas, e por causa dos quais obteve grande apoio da parte do senado. Porém, as inevitáveis mudanças de poder terminaram entregando a Antônio as rédeas do poder e o nome de Cícero apareceu na lista daqueles que precisavam ser mortos. Os homens de Antonio puseram-se a caçá-lo, e a 7 de dezembro de 43 A.C., tiraram-lhe a vida. Sua cabeça e suas mãos foram decepadas e expostas na entrada do Fórum de Roma. A Filosofia de Cícero;idéias: O princípio ético e tipicamente estóico da moderação é importante na filosofia de Cícero. Essa ideia ele aplicou tanto em sua ética quanto em sua epistemologia (gnosiologia). Ele advogava o ceticismo moderado, rejeitando tanto o dogmatismo quanto o ceticismo extremo. No campo da ética ele opunha-se ao ascetismo e ao hedonismo. Ele defendia as tradições, mas também promovia as mudanças. No terreno da política, pelo menos teoricamente, ele promovia a modificação pacífica, sem violências. O princípio estóico da moderação veio a tornar-se um dos grandes princípios cristãos, por meio de Paulo, cujos escritos éticos demonstram que ele conhecia e aprovava várias idéias daquela escola filosófica.

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A palavra grega aqui traduzida por moderação, sophrosúne, tornou-se um lema importante na Igreja Oriental. No campo da metafísica, Cícero concebia uma divindade racional, cujos princípios foram incorporados no universo, sob a forma de leis naturais. Essas leis transcendem às leis e tradições dos homens, e os homens são considerados responsáveis diante delas. Essas leis naturais são, igualmente, os padrões segundos quais os homens devem estabelecer as suas leis. Cícero ensinava que a retórica tanto é a arte de falar bem quanto é a arte de expor os pensamentos de uma forma organizada e eficaz, estando necessariamente relacionada a todas as ciências, e, sobretudo, à filosofia, onde seu emprego é tão importante. Todavia, ele também ensinava que um bom orador também deve ser um homem bom, pois, do contrário, a sua habilidade será aplicada de maneira errada. Agostinho Era descendente de cartagineses. Sua vida e carreira coincidiram com a desintegração do Império Romano do Ocidente .Aurélio Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354 D.C, em Tagaste, Norte da África, atualmente Souk-Ahras, na Argélia. Era filho de Patrício, oficial romano, que continuou pagão até pouco antes de sua morte, e de Mônica, uma cristã devota. Tinha um irmão chamado Navígio, e uma irmã, Perpétua, que se tornou freira. Sua educação inicial envolveu gramática e aritmética. Odiava o idioma grego, e nunca adquiriu qualquer conhecimento completo do mesmo, Porém, conhecia profundamente a, literatura latina. Sua formação e meio ambiente pagãos influenciaram adversamente a sua formação. Em cerca de 370, a leitura da obra de Cícero, Hortensius, causou-lhe profunda impressão e a partir de então voltou-se para a filosofia, Continuou seus estudos em Cartago, onde vivia com uma amante, que lhe deu um filho, Adeodato, em 371. Tornou-se maniqueu, e foi muito ativo como membro da seita. Em 373-374, ensinou gramática em Tagaste; e então, durante nove anos, dirigiu uma escola de retórica, em Cartago.Mudou-se para Roma, onde estabeleceu uma escola similar. Então abandonou o maniqueismo e tornou-se um cético. Um ano mais tarde, fundou uma escola em Milão. Conversão ao cristianismo A filosofia, platônica libertou sua mente do paganismo crasso, dando-lhe razão para ter, esperanças em Deus e na alma. Um amigo, Simpliciano, e a sua própria mãe, influenciaram-no profundamente no tocante à fé cristão Finalmente, recebeu uma experiência mística, na qual lhe foi dito: “Toile, lega”. (Toma, lê), quando ele estava diante de um manuscrito do Novo Testamento, em Rom. 13:13,14. Isso lhe conferiu convicção moral, e a sua conversão foi completa. Retornando a Tagaste, ele vendeu seu patrimônio e distribuiu o dinheiro entre os pobres, conservando consigo apenas uma casa, que, transformou em uma comunidade monástica. Ele e seus amigos viviam como monges.Entre os primeiros membros do grupo estava, Adeodato, seu filho, jovem de brilhante intelecto. Mas o jovem logo faleceu, com dezenove anos. Agostinho não tencionava tornar-se padre, mas, as circunstâncias e a sua própria Convicção levaram-no exatamente nessa direção. Assim, em 391, foi ordenado na cidade próxima,de Hipona (moderna Anaba, na Argélia). Em 395-396 foi ordenado bispo auxiliar de Hipona, e, pouco depois, já era o bispo da diocese. Mostrou ser um hábil administrador, pregador, polemista, correspondente, e

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acima de tudo, autor, cujos escritos exerceram vasta influência em sua época, como até hoje o fazem. Os últimos anos de sua vida foram assinalados por desastres e guerras, quando se esboroou o império romano. Em agosto de 420 (serviu como bispo pelo espaço de quarenta anos), os vnda1os, que marchavam para o oeste, após terem-se apossado de Cartago, lançaram cerco a Hipona. Em meio ao assalto, a 28 de agosto de 430, morreu Agostinho, na santidade e na pobreza em que vivera por tantos anos. Os vândalos destruíram quase toda a cidade de Hipona, excetuando a catedral e a biblioteca de Agostinho, que foram deixadas intactas. De acordo com uma tradição, seu corpo repousa em Pávia, na Itália. Agostianismo Nome dado aos ensinos gerais filosófico-religiosos de Agostinho. Os escritos onde se acham essas doutrinas são os seguintes: Sobre o Livre-Arbítrio; Concernente ao Mestre; Confissões; Sobre a Doutrina Cristã; Inquirições da Fé, da Esperança e do Amor; Sobre a Trindade; e A Cidade de Deus. Em seus escritos e ensinos, Agostinho é o elo de ligação entre o pensamento grego e as especulações dos escolásticos. Foi o maior dos pais latinos da Igreja, não tendo rivais na Igreja Cristã, desde o Apóstolo Paulo, na opinião de alguns,deu à Igreja oriental suas definições cristológicas, e à Igreja ocidental a sua vida. Nele convergem os ideais católicos e as convicções protestantes posteriores. O Santo Império Romano foi fundado sobre os seus conceitos, contidos na obra A Cidade de Deus, que por mil anos dominou os desenvolvimentos políticos da Idade Média. As combinações de Agostinho. Talvez seja por demais simplista asseverar que Agostinho era um teólogo e filósofo cristão-platônico. Não há que duvidar que estava pesadamente endividado a Platão, e boa parte de sua teologia cristã foi expressa através das idéias e das terminologias platônicas. Naturalmente, ele estava fortemente escudado na Bíblia, mas Platão, corretamente manuseado, não é anti-bíblico. Seu pensamento era controlado por dois pólos: Deus e a alma. Escreveu ele: Desejo conhecer Deus e a alma. Nada mais? Nada mais. E também: Ô Deus, Tu és sempre o mesmo. Oxalá eu conhecesse a mim mesmo e conhecesse a Ti.. (Confissões) Elementos do agostianismo: A vereda da felicidade e da salvação. É a senda do autoconhecimento, em que o indivíduo vem a conhecer a alma e suas exigências, divinamente outorgadas, mediante a razão e as Escrituras. Essa vereda caracteriza-se pela formosura, pela verdade e pela bondade. Quando conhecemos a nós mesmos, chegamos a conhecer o criador do nosso “eu” — Deus. Nossos corações não têm descanso enquanto não encontram descanso nele. Teísmo. A única posição intelectualmente válida para o cristão é o teísmo.Usando idéias platônicas, Agostinho, definiu como obtemos esse conhecimento. Há uma base racional e filosófica para crermos na existência de entidades imateriais, as idéias eternas ou rationes aeternas. Essas existem na mente de Deus. Naturalmente, para tanto, Agostinho também empregava conceitos bíblicos. Importância da defensibilidade filosófica. Ele tinha fé, crendo na revelação. — Mas buscava intensa e incansavelmente uma base racional para a fé, tendo-a encontrado em Platão, em contraste com os céticos.

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Refutação do ceticismo. A verdade só floresce onde se acha a fé, e o ceticismo é trevas. O ceticismo é contrário ao autoconhecimento, uma das grandes colunas-mestras de Agostinho. Ele não podia evitar a idéia da verdade. “Se duvido, estou certo da verdade que duvido. Se estou equivocado, então ao menos devo existir, para que possa ter-me equivocado”. (Si falior, sum). Isso, naturalmente, antecipou a famosa declaração de Descartes: “Penso. Portanto, existo”. Pode ter sido a inspiração da mesma. Formosura e bondade. Essas idéias também são inatas ao homem, não podendo ser evitadas, tal como se dá com a verdade, de modo geral. A consciência da verdade, da beleza e da bondade são juízos do homem interior, da alma. Temos consciência natural dessas coisas. Nos juízos que formamos, estão implícitas certas normas. A tomada de consciência dessas normas nos faz tomar consciência de Deus, pois Deus é o verdadeiro Bem, a verdadeira Beleza, a própria Verdade. Temos aí as idéias platônicas cristianizadas. A descoberta de Deus. Há uma vereda interior que conduz a Deus, e os elementos de verdade, beleza e bondade são nossos grandes guias. O décimo capítulo das Confissões de Agostinho traça essa vereda, partindo de visões e ruídos, de impressões e percepções, partindo dai para ideias destituídas de imagem. Estão envolvidas a razão e a intuição, mas o Ser que buscamos é “luz inextinguível” e “luz inteligente”. Toda outra luz, toda outra inteligência derivam-se dEle. E somente através das experiências místicas, relativas a agora, e absolutas no mundo futuro da luz, realmente chegaremos a conhecer a Deus. A luz do intelecto do individuo encontra-se dentro da Luz, não da própria, mas daquela que tem afinidade com a dele. Essa é a vereda que conduz a Deus. Naturalmente, Agostinho também se alicerçava sobre conceitos bíblicos, e essa vereda passa pela missão de Cristo. Evidências de Deus. Há “vestígios” de Deus na natureza Agostinho usava o argumento teleológico sobre a existência de Deus. A existência de desígnio requer a existência de um Planejador O mal. O mal é a privação do bem, e não uma entidade em si mesma, já que não é positivo. Assim, a cegueira é a privação de luz O mal também se assemelha às sombras escuras de uma pintura, que não são atrativas, mas que, consideradas como um todo, contribuem para a beleza. Portanto, o mal consiste em: 1-privação. 2-falta de percepção. Essa atitude para com o mal, sem dúvida deficiente, surgiu na tentativa de explicar como o mal pode existir em um mundo governado por um Deus todo bom e todo-poderoso. Fé no cristianismo. Agostinho reconhecia as doutrinas cristãs, aceitando a autoridade do Novo Testamento. Onde não se podia explicar ou descrever a razão, assim ele se contentava com a simples fé no dogma. A natureza de Deus. Agostinho declarava sua crença nos atributos tradicionais de Deus como a perfeição, a eternidade, a infinitude, a simplicidade, a unidade. Deus, em Sua essência, desconhece acidentes, tendo criado o mundo do nada, conhecendo tudo, passado e futuro. Com Sua presciência, Deus vê que o homem agirá livremente, sendo isso uma garantia da liberdade humana, longe de ser um fator predestinador. Deus é a causa inabalável de tudo, o sustentador de todas as coisas. O conceito agostiniano de Deus como um ser infinito foi o padrão durante mais de mil anos, após os seus dias.

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Sobre as obras de Deus. Agostinho repelia a posição de Plotino, de que o Universo é uma emanação de Deus. Embora Deus houvesse planejado sua criação desde a eternidade (um conceito de Sua mente), Ele o criou dentro do tempo, do nada. As coisas materiais pertenceriam ao nível mais baixo da criação. Dentro delas, porém, Deus plantou as Suas rationes seminales, ou sementes da razão. Por causa dessa implantação, novas formas de vida podem continuar a surgir, uma espécie de conceito de lei natural, que governaria a esfera inferior, sem a intervenção direta da parte de Deus. Sobre o tempo. Há uma esfera destituída do fator tempo. A esfera eterna pertence a uma outra qualidade. A abordagem agostiniana do tempo antecipou a teoria da relatividade, embora a idéia já estivesse contida nos particulares de Platão (objetos deste mundo) e nas formas (realidades espirituais que dão origem aos particulares. Seu estudo sobre o tempo é considerado a única filosofia original vazada em língua latina, embora os gregos já tivessem dito coisas semelhantes. Ele confessava a sua ignorância sobre a natureza real do tempo, embora frisasse seus aspectos psicológicos, considerando o tempo como uma distensão da alma. Sobre o conhecimento. “Credo ut inteiligam” (creio, a fim de compreender). Não há conhecimento sem fé. O ceticismo nos faz mergulhar nas trevas. Há percepção, mas esta envolve apenas verdades triviais, mundanas. Há a razão, que ultrapassa aos sentidos; e há a intuição, inerente ao homem, a qual pode definir muitas verdades. Além disso, são contato direto com a Inteligência, Deus, por meio das experiências místicas, culminando na visão beatifica, que é o ponto culminante do conhecimento. O conhecimento não consiste em mero entendimento teórico sobre algum assunto. Mas é, o que sucede à alma em sua busca pelo conhecimento de Deus. Agostinho usava a Bíblia para definir artigos de fé; mas não hesitava em alegorizar trechos, quando pensava que isso era necessária para a obtenção da verdade que ultrapassava a mera letra inadequada. Deus e a alma são os verdadeiros alvos do conhecimento, mas todo conhecimento reflete a mente de Deus, pelo que faz parte da teologia. A ciência conduz a Deus quando corretamente manuseada. Temos nisso a doutrina da unidade da verdade, um útil conceito. Sobre o homem. O mal moral deve-se ao livre-arbítrio humano. O homem poderia desejar ser feliz, seguindo a vereda necessária para tanto (eudemonismo). Mas falta ao homem a visão do mundo eterno, e cada pecado é a rejeição desse mundo. Os problemas morais específicos ventilados por Agostinho foram: veracidade, autopreservação; castidade, paz e guerra. Para que haja uma guerra justa, deve haver: a-uma autoridade legitima. b-uma causa justa. c-uma correta intenção. d-todos os outros meios devem ter sido exauridos. A vontade divina, por si mesma, não é oposta à guerra, se essas condições forem satisfeitas. Contudo, a guerra só pode ser justificada. após terem falhado todas as tentativas para conservar a paz. Se os bons soldados merecem ser elogiados, muito mais o merecem aqueles que procuram eliminar a guerra. O homem está tão profundamente inoculado pelo pecado original, transmitido de geração em geração, que não merece ser salvo. Em Sua graça, Deus predestina alguns para a salvação, mas-deixa outros receberem o que merecem.

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A temporalidade humana contrasta com a eternidade divina, e o próprio tempo é aquilatado pela alma do homem; mas Deus está acima do tempo. O homem, união de uma alma eterna com um corpo físico temporal, não tem sentido apenas na esfera terrena, mesmo que a preexistência não lhe possa ser postulada. A dupla atração. A encruzilhada de todas as questões morais é o amor. O homem tem dois amores: o amor a Deus e o amor ao próprio “eu”. Todos os problemas morais têm começo no amor-próprio. Mediante o amor a Deus poda ser atingida a felicidade, porquanto nisso o homem avizinha-se do Deus eterno e chega a participar de Sua natureza, mediante a visão beatífica. Política. Em sua obra, A Cidade de Deus, Agostinho produziu a primeira e maior filosofia da história. A motivação foi a captura e o saque da cidade de Roma pelos, bárbaros, em 410 D.C. Visto que isso poderia provocar acusações contra os cristãos (alguns disseram que o ‘surgimento do cristianismo correspondeu à queda de Roma), a primeira preocupação de Agostinho foi apologética; mas, à medida que escrevia, ampliava seu tema, transformando-a em uma filosofia da história. Ali ele concebe duas cidades: Jerusalém, a cidade de Deus, que é a Igreja Católica, e Babilônia, a cidade terrena, o estado, aliás, o estado pagão. Tal como no homem há dois amores em choque, assim também se dá na sociedade dos homens. As sociedades humanas aproximam-se mais do amor a este mundo, ou do amor a Deus, segundo a vontade das massas. A cidade do homem está sempre sujeita à ruína, estando ali presentes todos os riscos da contingência. Mas a cidade de Deus está acima de tudo, e pode influenciar e aprimorara cidade do homem. A cidade de Deus é superior à cidade do homem, e deveria exercer autoridade sobre ela. Daí a mescla de Igreja e estado, criando a base filosófica para muitos séculos de conflito. O estado moldado pela cidade de Deus é denominado Roma, e isso apresenta uma terceira alternativa. Visto que a cidade de Deus em seus ideais, é superior à cidade do homem. Conseqüentemente, a voz da Igreja sempre deveria ser ouvida pelas autoridades civis. Os quatro períodos da história. 1-Paraíso, antes da queda. 2-O mundo após a queda. 3-O período da lei. 4-O período da graça, desde a vinda de Cristo, à época em que vivemos. Algumas vezes, Agostinho preferia uma divisão em sete períodos, para corresponder aos sete dias da semana. Um filho da Igreja. O conhecimento e o uso da Bíblia por parte de Agostinho foi crescendo após sua conversão, e ele fez significativas contribuições para a teologia. Foi chamado de ao doutor da graça. Opôs-se à heresia de Pelágio. A vontade de Deus depende de Deus, e somente por meio da graça divina o homem pôde chegar à salvação e à perfeição. Devido ao livre-arbítrio, o homem é responsável por seus atos. Deus oferece Sua raça eficaz, mas o homem pode rejeitá-la. Deus prevê que o homem agira livremente, pelo que a previsão divina não pode determinar as escolhas humanas. Entre outros assuntos, Agostinho abordou o da encarnação, o da redenção, e o da Igreja como corpo místico de Cristo, fazendo-o com profundeza. Escreveu sobre os sacramentos e demorou-se especialmente sobre a doutrina do amor. Muito fez para mostrar a relação entre a fé e a razão, embora. sempre salientando, o

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lugar primacial da fé. Sua influência. Agostinho tem sido chamado de ao maior doutor da Igreja.. Ele influenciou, em termos decisivos, a fé e a teologia da Igreja ocidental. Através da Idade Média mestres representativos apelavam para a sua autoridade. Pode-se ver sua influência nasobras de Anselmo, Tomás de Aquino, Alberto Magno, Pedro. Lombardo, os membros das escolas franciscana e vitorina, e outros. Agostinho é estimado como um dos grandes pensadores da humanidade,dentro ou fora da Igreja. Tomás de Aquino(Tomismo) Viveu entre 1225 e 1274. Teólogo, filósofo e monge dominicano. Nasceu na Itália, filho do conde de Aquino(dai o seu nome) e da condessa de Teatre. Em criança, foi educado pelos beneditinos , no monte Cassino, em Nápoles.Aos vinte anos, uniu-se à ordem dominicana , e por muitos anos estudou em Paris e em Colônia, sob Alberto o Grande. Aos trinta e dois anos, obteve permissão para ensinar cru Paris e desde então foi professor ali e na Cúria Papal em Roma e em Nápoles. Suas obras escritas são volumosas, embora as principais sejam estas: 1-Um comentário sobre as Sentenças de Pedro Lombardo. 2-Summa contra Gentiles, um ataque contra os erros dos incrédulos, principalmente islamitas, mas que contém muitos elementos filosóficos e teológicos, à parte da controvérsia. 3-Suma Theologiae, sua obra-prima, sendo um compêndio de exposições breves, sistemáticas, abrangentes e bem pensadas das principais verdades da fé cristã. Desenvolveu-se a partir dos livros de sentenças do último período patristico e do começo do período medieval, que a princípio eram coletâneas impessoais dos escritos dos pais da Igreja. As Sententiae de Pedro Lombardo, sobre as quais Aquino comentou, era um desses esforços. A Suma Teológica foi escrita entre 1267 e 1273, estando dividida em três partes. A primeira parte trata de Deus, a segunda do homem e suas relações com Deus, e a terceira trata de Cristo, Sua encarnação e Sua continuação por meio da Igreja e seus sacramentos. 4. Questiones Dispuratae, discussões sobre temas como verdade, poder de Deus, o mal, etc. Influências sofridas por Aquino, e sua influência sobre outros. A princípio ele foi influenciado principalmente por Agostinho, e até certo ponto, sua filosofia-teologia sempre permaneceu atrelada à daquele. Platão sempre havia dominado a cena teológica, pelo menos até onde os teólogos usavam a filosofia para exprimir os seus dogmas. Porém, Tomás de Aquino introduziu Aristóteles como filósofo cujas obras podiam ser usadas para emprestar apoio racional à teologia. Em Aquino, Aristóteles é chamado de o filósofo. Até a época de Aquino, a maioria dos teólogos ou ignoravam ou se opunham a Aristóteles, e os islamitas usavam-no para expor um ponto de vista do mundo de sabor materialista. Aquino, ao usar as idéias de Aristóteles, levou seus discípulos, outros mestres e as universidades, a se familiarizarem com essas idéias. E elas vieram a tornar-se um permanente veículo para exprimir idéias cristãs. Com adaptações, Aristóteles torna-se um teólogo cristão. Tomás de Aquino usava, adaptava e modificava as idéias de Aristóteles, e assim tornou-se muito endividado para com o filósofo.

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Em sua abordagem ética geral, na Suma Teológica, ele aborda a felicidade, a virtude, as ações e emoções humanas fortíssima a influência aristoteliana. Na metafísica, Aquino aplicava a distinção aristoteliana entre a realidade e a potencialidade a uma larga gama de tópicos e problemas. A madeira, como uma substância, é o que ela é (em sua realidade), mas pode sofrer modificações como quando se aquece e se queima. Essas modificações são chamadas potencialidade. As realidades envolvidas nas alterações chamam-se formas. Há dois tipos: 1-Formas acidentais, que envolvem mudanças acidentais. 2-Formas substanciais, que envolvem alterações na própria substância. A palavra matéria foi usada para designar aquilo que tem a capacidade de sofre modificações substanciais. Todos os objetos terrestres constituem em matéria e forma. Mas, além das entidades compostas, também há formas puras, como se dá com os anjos, que não têm vinculo com a matéria, e que, por isso mesmo, são todos membros de uma mesma espécie. As coisas e os seres terrestres, por possuírem matéria, podem, e de fato, devem ser de diferentes tipos. Para que haja diferenças entre os anjos, é necessário que pertençam a mais de uma espécie, cada qual com sua forma individual. A existência de todas as coisas, com a única exceção de Deus, é uma questão de atualização de potencialidade, Todas as criaturas são essências em potencial.Mas Deus combina essência e existência em Um só, pois a Sua existência é necessária em sentido ímpar, pelo que Ele é distinto de todas as criaturas, não tendo resultado de qualquer processo, conforme se dá com elas. Provas da existência de Deus. Neste ponto, Tomás de Aquino também deve muito a Aristóteles. Assim, em sua maneira de pensar sobre Deus, através de “cinco vias” vemos que ele usou idéias filosóficas aristotélicas: a-Precisamos postular Deus, a fim de explicar os movimentos no mundo. Tais movimentos não consistem apenas na mudança de lugar dos objetos, mas também em todos os desenvolvimentos, como se dá com as criaturas vivas, ao que chamamos de crescimento. Se Tomás de Aquino tivesse tido conhecimento dos movimentos dos átomos, sem dúvida teria incluído a idéia. Para explicar os movimentos, temos a idéia aristoteliana de Movedor Inamovível, aquela força cósmica que todas as coisas se movimentarem, por serem amadas. E esse Movedor primário é Deus. b-Argumento etiológica. Esse é necessário para postularmos uma causa. Existem causas intermediárias, mas finalmente precisamos admitir uma causa primária, como também o princípio de causa, que faz todas as coisas continuarem ocorrendo. O coração pulsa, mas deve haver muitos fatores contribuintes, incluindo o de natureza cósmica (as condições favoráveis da Terra, dentro do sistema solar), para que essas pulsações continuem. Deus também é esse tipo de causa (sustentadora), e não apenas a Causa primária. Sem a causa não poderia haver o efeito, e portanto, nem a vida e nem a existência de qualquer tipo. c-Argumento baseado na contingência e na necessidade. Sem um Ser necessário, outros seres, por serem contingentes, necessariamente desapareceriam da existência. O conceito do ser, por si mesmo, conduz-nos ao seu corolário, o conceito do Ser Necessário. Esse ser é Deus. Esse argumento pode haver

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sido sugerido pela abordagem aristoteliana da realidade e da substância eterna, o Movedor Inamovível. d-Argumento axiológico. Há graus de bondade, verdade, nobreza e valores morais. Para que nossos juízos sobre essas coisas façam sentido, precisamos postular a Bondade Absoluta, a Verdade Absoluta ou um Ser Supremo em quem estão incorporados todos os valores, o qual é, ao mesmo tempo, o alvo de toda a verdade e ação morais, bem como o inspirador das mesmas. e-Argumento teleológico. Todas as coisas têm um alvo, bem como um propósito demonstrável. O estudo das ciências, um importante sentido, é o estudo do desígnio que há na natureza, completo com suas invariabilidades. Sem esse fator, não poderia haver ciência. Se há desígnio, então deve haver um supremo Planejador, cuja inteligência garante a teleologia (no grego telos, “fim”, “finalidade”). A filosofia de Aristóteles repisa o conceito de desígnio, e Tomás de Aquino inspirava-se no filosófico ao formular esse conceito, embora não tivesse sido o primeiro a utilizar-se desses argumentos racionais. Abordagem Geral. Nos parágrafos acima vimos como Aquino aplicava as ideias de Aristóteles. Isso demonstra em parte a sua abordagem, que visava incluir a filosofia aristoteliana dentro do arcabouço da fé cristã. Aquino dizia que a filosofia e a religião se complementam uma à outra. A filosofia enfatiza o exercício da razão, que é saudável à fé, pois Deus, afinal, é o Intelecto Supremo, e as almas humanas são intelectuais, tendo afinidade com Deus (ídéia aristotélicas em essência). A fé pode aceitar muitas das doutrinas aceitas pela razão, mas também pode ultrapassar a razão, porquanto a fé religiosa também obtém informações por meio da intuição e das experiências místicas (por meio da revelação e de outras formas). Assim, a fé vai além da razão, embora não a contradiga. Algumas doutrinas repousam sobre a fé e a razão; e outras sobre a fé somente, por meio da revelação cristã, segundo se dá com a doutrina da trindade e da encarnação, com seus mistérios e implicações. Essas doutrinas dependem da sabedoria de Deus, podendo ser conhecidas apenas imperfeitamente por meio da razão humana. Teoria Moral. Tomás de Aquino deu ao catolicismo romano sua teoria,ética básica, pode ele também dependeu em muito de Aristóteles. Aquino mostrou sua capacidade de razão e analogia, dando à sua ética uma maciça estrutura, grande gama de ideias, análises completas, e rica interpretação, filosófica e teologicamente falando. Esses desenvolvimentos podem ser encontrados em sua Suma Teológica. Sumário: O homem foi criado como ser moralmente responsável, uma criatura racional cuja própria racionalidade é uma afinidade com o divino, outorgada por Deus. O homem está a meio caminho entre os animais e os anjos, dentro da escala do ser. À semelhança dos anjos, ele possui alma racional; à semelhança dos animais, tem um corpo físico. Seus impulsos e desejos físicos são derivados de suas faculdades apetitivas, sendo essencialmente animais em sua natureza. Mas sua racionalidade lhe fornece os meios para combater as prisões e desenvolver as virtudes. O homem busca o bem segundo sua razão preceitua. Sua razão deveria ser grande e boa, por ter sido criada e inspirada por Deus. Alvos retos são selecionados por Deus, e o homem, se seu aspecto racional for desenvolvido, naturalmente seguirá esses alvos. A queda no pecado não diminuiu essa qualidade em grande escala, embora tenha debilitado moralmente o homem. Não obstante, retém uma digna maneira de pensar.

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Com base em Aristóteles, Aquino acrescenta aqui o fator teleológico. Há finalidades apropriadas a serem obtidas na ética, e o homem foi programado para isso. O homem possui livre-arbítrio, podendo fazer escolhas genuínas, pelas quais também torna-se responsável. A vontade de Deus é ativa quanto ao homem, e ajuda-o a fazer as escolhas certas. Sem isso, o homem nada poderia fazer. Contudo, há um esforço cooperativo envolvido em toda a ética. O homem não é um autômato. Os alvos podem ser alcançados. As quatro virtudes cardeais são a prudência, a retidão, o controle-próprio e a força de caráter (influências aristotélicas). Todos os homens, como seres racionais que são, compreendem essas virtudes e podem buscá-las mediante o ato do livre-arbítrio. A razão deve governar essas escolhas. A prudência, que é a virtude intelectual, mostra-se proeminente como força diretriz em toda a ação moral. Bons hábitos morais resultam da prática diária, de continuas boas escolhas. Seu alvo é a felicidade (filosofia eudemonísfica, como em Aristóteles). Porém, esse bem-estar não equivale ao prazer (filosofia hedonista), embora tenha seus aprazimentos. Ás quatro virtudes aristotélicas, Aquino adicionava as virtudes cristãs básicas: a fé, a esperança e o amor. A origem destas seria a revelação divina. Há necessidade da graça sobrenatural para que essas virtudes sejam constantes no indivíduo. Mas a fé opera em união com a razão, e a razão fortalece a fé. A esperança é criada pela vontade, que assinala o alvo como algo exeqüível. A fé, ajudada pelo intelecto, apossa-se dos princípios transcendentais que precisam ser cridos. O amor fala sobre a união espiritual mediante a qual a vontade é transformada em um esforço sobrenatural. O amor é a mais excelente das virtudes, derivado do amor de Deus. Ajuda divina. O homem não pode atingir a busca moral e sua mais alta realização sem a ajuda de Deus. Há diversas ajudas: 1-A lei eterna, na mente de Deus, transmitida à mente humana. 2-a lei natural que prevalece no mundo, e que aponta para os mesmos alvos. 3-leis humanas e decretadas, baixadas pelos governos humanos, que precisam ser obedecidas. 4-a lei divina, conforme é encontrada na Bíblia. Esta última concorda com a lei natural, embora vá além da mesma. O Espírito Santo grava essa lei no coração humano, conferindo ao homem as corretas disposições internas. Influência de Tomás de Aquino. Sua influência foi grande, em sua época. Ele fez com que as universidades européias estudassem e aplicassem a filosofia aristotélica. Proveu uma síntese de filosofia e fé, na verdade, uma síntese de tudo quanto se conhecia na época. Destarte, ele figura como um dos grandes pensadores universais, um dos principais teólogos e filósofos, havendo poucos que se rivalizassem a ele. Sua influência continuou poderosa, mesmo após a sua morte. Foi declarado santo pelo papa João XXII, a 18 de julho de 1323, e doutor da Igreja universal pelo papa Pio V, em 1567; e patrono de todas as escolas católicas pelo papa Leão XIII, em 1880, fazendo com que a sua filosofia se tornasse a filosofia universal de Igreja de Roma. Em 1918, o Códex Juris Canonici (Código da Lei Canônica) determinou que essa filosofia fosse ensinada nos seminários eclesiásticos.

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Controvérsias e para além das controvérsias. Vários teólogos, principalmente protestantes, têm objetado à idéia da inteira abordagem filosófica da fé religiosa. Muitas doutrinas tipicamente tomistas têm sido atacadas, mormente aquilo que parece ser uma mui débil ênfase sobre a fé evangélica, a graça e a conversão sobrenatural, e ênfase demasiada sobre a razão e suas realizações. Porém, no caso de um homem como Tomás de Aquino, temos de ir além das controvérsias. Em primeiro lugar, porque ele foi homem de grande piedade pessoal, o que a história inteira confirma. Em segundo lugar, porque ele foi homem de raciocínio profundo, de grande poder de análise; e suas maciças obras contêm tanto bem que se duvida que possam ser rejeitadas sem grande perda. Diz-se que poucos meses antes de sua morte, ao entrar na capela, recebeu poderosa iluminação em uma visão extática. Dali por diante nada mais escreveu, afirmando que seus escritos eram apenas pausa, tão grande foi a iluminação que ele recebeu naquela experiência. Assim, a palha de Tomás de Aquino foi maior que o ouro de muitos homens, e sua iluminação foi tão divina que os outros homens só podiam esperar que a graça divina lhes proviesse igual iluminação, quando estivessem preparados para isso, por meio do desenvolvimento da alma.

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HISTÓRIA E INTRODUÇÃOÀ FILOSOFIA L6 1- O que foi uma importante versão britânica da filosofia? A-O Platonismo de Cambridge B-O Platonismo Grego 2- A filosofia moderna continua sentindo a influência de: A-Platão B-Sócrates 3- O conceito das religiões orientais, que dizem que o homem é um complexo de energias vitais, corpo físico,vitalidade, alma e superego, é similar à noção: A-Platônica do completo humano B-Agostiniana do completo humano 4- Platão apresentou um ponto de vista sobre conhecimento que, devido à sua habilidade e à defesa que ali faz do conhecimento, A-Tem sido inútil para todos os filósofos B-Tem sido útil para os filósofos e teólogos através dos séculos 5- Onde Aristóteles nasceu? A-Em Atenas, na Grécia B-Em Estagira, Macedônia 6- Que época Aristóteles viveu? A-385 a 310 a.C B-384 a 322 a.C. 7- Aristóteles percebia o escopo do conhecimento, mais do que os outros antes dele, sendo capaz de discernir o papel da definição da: A-Indução para desenvolver B-Indução e dedução, no desenvolvimento das ciências 8- Ele considerava que o conhecimento é possível, A-Contrastando nisso com o ceticismo B-Contrastando o ceticismo 9- Quem foi o fundador da lógica científica? A-Aristóteles B-Sócrates 10- Para quem as coisas particulares(objetos terrenos) são substancias reais? A-Para Xenofonte B-Para Aristóteles 11- A forma é real, mas não independente do particular,na filosofia, A-Essa posição chama-se realismo moderado B-Essa posição chama-se realismo radical

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12- Cite as quatro causas da matéria apresentada por Aristóteles? A-1) Causa informal, 2) Causa material, 3) Causa explícita,4) Causa inicial B-1)Causa material, 2) Causa formal, 3) Causa eficiente,4) Causa final 13- A cor é um acidente de alguma coisa, mas não,necessariamente, A-O seu ser B-A própria coisa 14- Quem é o fundador da zoologia sistemática e comparada? A-Sócrates B-Aristóteles 15- Cite três tipos de alma. A-1) Boa, 2) Má, 3) Neutra B-1) Nutritiva-vegetativa, 2) Sensível, 3) Humana 16- A descoberta da verdade é a mais alta: A-Felicidade do Homem B-Tristeza do homem 17- A virtude habitual vem através do disciplinamento da razão A-A faculdade especial do homem B-A faculdade dos filósofos 18- Quem chamou Aristóteles de o intelecto por ele ser o mais brilhante de seus alunos? A-Platão B-Sócrates 19- Um dos mais importantes e extraordinários desenvolvimentos na história das idéias européias foi a adaptação da filosofia de Aristóteles: A-Para consumo muçulmano B-Para consumo cristão 20- Platão e Aristóteles, embora fossem mestre e aluno, A-Defendiam idéias próximas B-Defendiam idéias bem diversas 21- Platão era o racionalista místico influenciado pelas religiões orientais, e Aristóteles era o cientista, A-Que enfatizava o método empírico B-Que enfatizava o método filosófico 22- O que era uma expressão religiosa de Platão, que exerceu vasta influência no mundo religioso por muitos séculos, incluindo a Igreja critã? A-O neoplatonismo B-O platonismo 23- Que época Cícero viveu? A-105 a 40 a.C. B-104 a 43 a.C.

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24- Quem não teve qualquer participação no assassinato de César; mas regozijou-se com a morte do ditador? A-Orígenes B-Cícero 25- O que era importante na filosofia de Cícero? A-O princípio ético e principalmente estóico da moderação B-O princípio filosófico das idéias 26- Quem ensinava que a retórica tanto é a arte de falar bem quanto é a arte de expor os pensamentos de uma forma organizada e eficaz? A-Orígenes B-Cícero 27- Cite a data de nascimento de Aurélio Agostinho. A-13 de novembro de 354 d.C. B-15 de dezembro de 400 d.C. 28- Que época Agostinho foi ordenado bispo auxiliar de Hipona? A-395-396 B-390-397 29- Que nomes se dá ao ensino geral filosófico-religioso de Agostinho? A-Agostianismo B-Platonismo 30- A inspiração e o pensamento de Agostinho era controlado por dois pólos. Quais? A-Fé e razão B-Deus e a alma 31- A única posição intelectualmente válida para o cristão é o: A-Teísmo B-Politeísmo 32- Quem disse: “Se duvido, estou certo da verdade que duvido”? A-Sócrates B-Agostinho 33- Há uma vereda interior que conduz a Deus, e os elementos de verdade, A-Beleza e bondade são nossos grandes guias B-Beleza e bondade são duas qualidades distintas 34- O que antecipou a teoria da relatividade, embora a idéia já estivesse contida nos particulares de Platão? A-A abordagem platoniana do tempo B-A abordagem agostiniana do tempo 35- A encruzilhada de todos as questões morais é o: A-Amor B-Governo político

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36- Em sua obra, A Cidade de Deus, Agostinho produziu a primeira e maior: A-Filosofia da história B-Filosofia da Teologia 37- Que época Tomás de Aquino viveu? A-1220-1275 B-1225-1274 38- Onde Tomás de Aquino nasceu? A-França B-Itália 39- A princípio, Tomás de Aquino foi influenciado principalmente por quem? A-Agostinho B-Irineu 40- Tomás de Aquino usava, adaptava e modificava as idéias de Aristóteles e assim tornou-se A-Muito endividado para com o filósofo B-Muito dependende do filósofo 41- Provas de existência de Deus. Neste ponto, Tomás de Aquino também: A-Deve muito a Aristóteles B-Deve muito a Platão 42- Sem um ser necessário, outros seres, por serem contingentes, A-Necessariamente desapareceriam da existência B-Viveriam independentemente 43- Assim, a fé vai além da razão, A-E a apóia B-Embora não a contradiga 44- Tomás de Aquino deu ao catolicismo romano sua teoria, ética básica, porém ele também: A-Dependeu muito de Aristóteles B-Dependeu muito de Sócrates 45- O homem foi criado como ser moralmente responsável, uma criatura racional cuja própria racionalidade é uma afinidade com o divino A-Outorgada por Deus B-Outorgada pelos homens 46- O homem está a meio caminho entre os animais e os anjos, A-Dentro da escolha de cada indivíduo B-Dentro da escolha do ser 47- A queda no pecado não diminui essa qualidade em grande escala, A-Embora tenha debilitado totalmente o homem B-Embora tenha arruinado a vida do homem

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48- O homem possuí livre-arbítrio, podendo fazer escolhas genuínas: A-Pelo resto de sua vida B-Pelas quais também se tornará responsável 49- O homem não pode atingir a busca moral e sua mais alta realização: A-Sem a ajuda de Deus B-Com a ajuda de Deus 50- Quem fez com que as universidades européias estudassem e aplicassem a filosofia aristotélica? A-Tomás de Aquino B-Origenes

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8 De Thomas More a Martin Heidegger LIÇÃO 7 Thomas More Suas datas foram 1478-1535. Ele foi um estadista e ensaísta inglês. Nasceu em Londres e chegou a tornar-se membro do parlamento britânico. Foi Lord Chancellor da Inglaterra. Morreu martirizado, por ter-se recusado a reconhecer a Henrique VIII como cabeça da Igreja da Inglaterra. As Ideias de Thomas More: Sua mais famosa obra, Utopia, foi moldada superficialmente segundo a obra de Platão, República, embora seguindo uma filosofia bastante diferente. Nesse livro, o prazer aparece como um apanágio humano, que deve concretizar-se dentro do contexto de um comunismo platônico, embora com a preservação da família. Homens e mulheres são absolutamente iguais. Ele criticava amargamente a perfídia da diplomacia, a moralidade das comunidades tradicionais, uma sociedade interesseira e inquisitiva e o ávido mundo dos negócios. Ele tomava por empréstimo idéias do epicurismo cristão, de Erasmo de Roterdã e certos elementos de obras de Platão, como República e Leis; e dessa mistura toda, ele formava o que chamava de um novo humanismo. No campo da ética, o summum bonum(supremo bem) seria o prazer, individualmente orientado, embora compartilhado por toda a comunidade dos homens. Cada pessoa deveria buscar os prazeres naturais, em uma vida caracterizada pela simplicidade de, ficando rejeitados os falsos valores, cujo grande alvo são as riquezas materiais, o poder e as extravagâncias. Além disso, deveríamos pensar nos prazeres eternos, residentes na providência divina, e na prometida vida vindoura, após a morte biológica. More tentava defender a racionalidade e a franqueza de uma verdadeira forma de humanismo, não-distorcida, que não deixa de lado a dimensão eterna. Michel de Montaigne Suas datas foram 1533-1592. Ele foi um filósofo e ensaísta francês. Nasceu na Périgord. O latim foi a sua primeira língua. Seu tutor falava com ele e lhe ensinava exclusivamente o latim. Estudou em Bordeaux e em Toilouse. Serviu como membro do parlamento. Tornou-se prefeito de Bordeaux. Mostrou-se ativo na tentativa de encontrar solução para as divergências entre os católicos romanos e protestantes. Desenvolveu uma filosofia cética; criticou acerbamente a Igreja Católica Romana(embora, noutras oportunidades, a tenha elogiado). Mas, embora tivesse criticado tanto o catolicismo romano, nunca abandonou essa igreja, e faleceu quando a missa estava sendo celebrada em seu quarto de enfermidade. Seus escritos foram criticados pelos eclesiásticos católicos romanos devido ao seu ceticismo, e, ocasionalmente, por sua lascívia. No entanto, seus escritos são considerados atualmente como clássicos de uma graça encantadora, de uma vitalidade inebriante, de um brilho fascinante. Esses escritos influenciaram Pascal, Descartes, Malebranche, William Shakespeare e Francis Bacon.

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As Ideias de Montaigne: A muito louvada racionalidade do homem e não passa de uma forma de comportamento animal. Embora exalte a si mesmo, com freqüência o homem é moralmente inferior aos animais, e não vive tão feliz quanto o reino animal. O homem, em todas as eras, tem falhado em entrar em harmonia com a verdade e o conhecimento, e até mesmo com as ciências. Isso posto, a revelação divina é a única fonte segura de conhecimento. O homem, em seu presente estado de humilhação, nem dá à verdadeira bondade, e nem ao verdadeiro conhecimento. Ceticismo. Ele aceitava o ceticismo radical de Pirro, contra a expressão moderada das Academias Segunda e Terceira de Platão. Aquelas academias ensinavam que apesar de não podermos ter certeza quanto ao conhecimento, pelo menos podemos ter uma probabilidade. Porém, a visão de Pirro é que nem mesmo isso é possível. Por isso mesmo, suspendiam o juízo quanto a todas as questões. Visto que o homem encontra-se nessa deplorável situação, o que ele deveria fazer era retornar à natureza, reduzir sua vida às formas mais simples, controlar a sua arrogância e deixar de fingir que é tão grande e sabe tanta coisa. O Pirronismo Leva ao Cristianismo. Estando reduzido a praticamente nada, através da abordagem cética e da humilhação que isso lhe provê, o homem está pronto a aceitar a graça divina e a revelação como fonte de conhecimento. O ceticismo leva à fé, ou àquilo que os filósofos chamam de fideísmo, isto é, aquela fé que precede à razão e não depende da mesma. Galileu Galilei Um astrônomo e filósofo natural nascido em Pisa,Itália (suas datas foram 1564 — 1642). Educou-se quase inteiramente no mosteiro de Valombrosa, em Florença. Entre 1581 e 1585 estudou na Universidade de Florença e então ensinou em certa academia florentina, fazendo preleções sobre a matemática. Ele aderiu à nova astronomia, que tinha por base várias teorias de Copérnico. Foi censurado pelos teólogos do Santo Ofício, em 1616, tendo sido proibido de ensinar as novas ideias. Galileu concordou, mas então publicou um diálogo, confrontando as antigas e as novas ideias. Porém, era fácil verificar de que lado ficavam suas simpatias; e Galileu entrou novamente em dificuldades. Seus críticos sabiam que Aristóteles não poderia ter-se enganado, que a terra tinha de ser o centro do Universo e que não poderia estar em movimento. Galileu foi convocado para ir a Roma, pelas autoridades da Inquisição. A 21 de junho de 1634 foi acusado de haver rompido o acordo de não ensinar as novas doutrinas astronômicas, por ter publicado aquela farsa de um diálogo onde acabava ensinando, novamente, aquilo de que fora proibido. Temendo perder a vida, Galileu leu sua retratação no dia seguinte. O que estava em jogo, em toda a questão, era a noção aristotélica de que todo movimento implica em imperfeição, e todos sabiam que a criação de Deus não podia ser imperfeita. Se isso fosse verdade, então só a terra seria perfeita, e todo o Universo, girando ao redor da terra fixa, seria imperfeito! No entanto, a teologia havia adotado Aristóteles como guia de seu pensamento científico, embora a Bíblia jamais o tivesse elegido para a posição. Galileu teve permissão de voltar para sua vila, em Florença, mas sob prisão doméstica.

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Passou os oito anos restantes de sua vida fazendo pesquisas e estudos científicos; mas a sua voz fora silenciada. Questões Envolvidas. As melhorias de Galileu quanto ao telescópio permitiam-lhe ver a natureza refletida da lua, das luas do planeta Júpiter, das fases de Vênus, dos anéis de Saturno, da ocorrência das manchas solares e da rotação do sol sobre seu próprio eixo, além de evidências das órbitas dos planetas, em redor do sol. A heresia de que ele foi acusado era a sua crença de que a terra órbita em redor do sol, o que fazia com que a terra não fosse mais o centro do Universo. Ambas as idéias eram consideradas, pelas autoridades eclesiásticas, como contrárias à suposta ordem divina das coisas. Os teólogos recusavam-se, terminantemente, a olhar os corpos celestes pelo seu telescópio. E Galileu precisou retratar-se de joelhos. Reconheceu o seu “erro”, para satisfação de seus perseguidores. No entanto, diz-se que, quando se levantou, após ter feito sua solene retratação, Galileu foi ouvido a murmurar: E pur si muove, “No entanto, ela (a terra) se movimentas”. Algumas de suas Descobertas Científicas Além daquelas mencionadas no penúltimo parágrafo, acima, ele descobriu isocronismo do pêndulo e seu uso em relógios; os princípios básicos da dinâmica; o compasso proporcional e o termômetro; fez muitas melhorias no telescópio; descobriu que a Via Láctea é uma constelação de estrelas; descobriu a interdependência de movimentos e forças, ou seja, a invariabilidade de relações de causa e efeito, dando isso origem a uma nova maneira de pensar sobre o Universo e suas forças; que todas as entidades têm peso, e que o peso consiste em uma continua força de atração sobre os objetos, para o centro da terra; e que, no vácuo, todos os corpos caem com igual velocidade. Este último ponto foi testado pelos astronautas norte-americanos na lua, e foi confirmado. Uma pena de ave cai sobre o solo com a mesma velocidade que um bloco de chumbo, no vácuo, visto que, ali, não há resistência do ar à passagem de objetos; as estrelas e os planetas não são menos capazes de corrupção do que a terra. No campo da filosofia, Galileu aceitava o atomismo, em consonância com a teoria lógica. Ele fazia a distinção entre, as qualidades primárias e secundárias das coisas, uma distinção, usualmente, associada ao nome de Locke. A ideia de que aquilo que é mensurável é uma questão objetiva, ao passo que as coisas não mensuráveis ficam no campo da subjetividade, são princípios que têm guiado as pesquisas científicas durante séculos. Escritos: O Analisador: Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas Mundiais; Diálogos Concernentes a Duas Novas Ciências. Contribuições As contribuições científicas e filosóficas de Galileu são por demais óbvias para termos de descrevê-las. Além dessas contribuições, devemo-nos lembrar que ele também nos proveu um exemplo de trabalho pioneiro, de alguém que teve a coragem para propor e investigar novas ideias. Nesse exame, certas idéias mostram-se falsas, mas outras mostram-se corretas, afinal. Em ambos os casos, deveria haver tolerância suficiente, a fim de que as idéias possam ser submetidas a teste por parte de pessoas competentes, que se disponham a olhar através do telescópio, e não que se recusem terminantemente a averiguar as provas de que suas teorias estão equivocadas.

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Uma curiosa nota histórica acerca de Galileu, em nossos próprios dias, é que o papa João Paulo II pronunciou-se em favor do “perdão” a Galileu, removendo, assim, o estigma que se prendera ao seu nome, por haver sido julgado pelos inquisidores e ter sido forçado a retratar-se, embora estivesse, o tempo todo, com a razão. “Não devemos ter medo de estar dizendo asneiras. As gerações futuras provavelmente ficarão perplexas, não porque nossas ousadas teorias sejam bizarras, mas por serem conservadoras e terem uma natureza tímida”. Renê Descartes Suas datas foram 1596-1650. Foi um filósofo francês. Nasceu em La Haye, na Rouraine, de família nobre. Foi educado na Escola de La Fleche, dos jesuítas,mas rebelou-se contra a educação tradicional. Viajou largamente a fim de aprender no livro do mundo, Seguiu a carreira militar por alguns anos. Retornou à escolaridade, primeiramente em Paris e então na Holanda, onde preparou a maioria de seus escritos Inventou a geometria analítica. Alguns o têm chamado de fundador da filosofia moderna. Abordava o conhecimento pela via racionalista, e não pela via empírica. Foi convidado pela rainha Cristiana da Suécia para viver em Estocolmo e tornou-se o mestre dessa rainha quanto à filosofia. Porém, o clima da Suécia era frio demais para ele. Assim, Descartes contraiu uma enfermidade dos pulmões, do que faleceu. As Ideias de Renê Descartes: Ele acreditava que se pode obter certa dose de conhecimentos, mas sentia que, para tanto, é mister o estudioso ultrapassar os limites do ceticismo. Seu alvo era desenvolver uma filosofia que conferisse um perfeito conhecimento e uma conduta ideal, servindo de meio para ajudar no progresso das ciências. Ele procurava criar um sistema que possuísse a certeza da matemática, e não dependesse dos sistemas escolástico e dogmático. Desconfiava do método empírico de obter conhecimentos, no que dizia respeito à obtenção da certeza no conhecimento, e preferia aplicar o racionalismo. Alicerçado sobre o modo matemático de resolver problemas, Descartes supunha que podia desenvolver um conjunto de máximas que agiriam como guias válidos para o desenvolvimento do seu sistema. Isso lhe permitiu estabelecer os seguintes princípios gerais: a-Ele nada aceitaria como verdadeiro que não fosse claro e certo. b-Ele analisaria um problema, dividindo-o em partes, então discutiria a questão parte por parte, em uma espécie de atomismo epistemológico. c-Ele prosseguiria do simples para o complexo, e suas enumerações seriam as mais completas possíveis. d-Ele duvidaria de tudo quando admitisse dúvidas, levando o ceticismo ao seu limite extremo. Somente as proposições que se mantivessem de pé diante desse exame crítico e cético seriam retidas como fundamentais, dentro do seu sistema. Por meio da coerência, ele arquitetaria outras proposições, com base naquelas proposições básicas, mas que também não admitissem dúvidas. Estabelecimento dos Princípios Básicos. Se há um processo de dúvida, deve haver alguém que duvida. Com base nessa premissa fundamental ele chegou à sua famosa máxima: Cogito ergo sum. “Penso, portanto existo”. Se há um processo de raciocínio, deve haver uma pessoa que pensa. Isso pode parecer uma tolice para aqueles que não têm treinamento filosófico; porém, devemos nos lembrar que os céticos duvidavam da própria existência do ser, supondo que a única coisa que pode ser afirmada é que há uma série de fenômenos.

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Mediante a fé animal, supomos que uma pessoa deve ser identificada com aquela série das percepções dos sentidos. Além disso, a filosofia analítica ensina-nos que não se pode predicar a existência. Em outras palavras, se alguém arma uma sentença e diz: “Isto existe” (no predicado, isso afirma algo sobre um sujeito), tendo afirmado isso, terá apenas construído uma sentença que afirma a existência, mas nem por isso se fez qualquer coisa vir à existência. Portanto, filósofos posteriores criticaram Descartes por ser culpado de predicar a existência quando dizia “Cogito ergo sum”. No entanto, sem importar o que os lógicos possam fazer por meio de suas análises, a suposição de que para haver o processo de pensamento deve haver um pensador, reveste-se de considerável força como declaração; e, sem importar se predica existência ou não, essa afirmativa diz uma verdade. Seja como for, Descartes pensava que sua posição era inatacável, que podia resistir a todos os assédios do ceticismo. Em conseqüência, ele havia estabelecido uma proposição que não podia ser posta em dúvida. A Descoberta de Deus. Tendo estabelecido uma proposição inatacável, Descartes passou a buscar outras proposições. Ele raciocinou que não podia encontrar explicação para as suas próprias idéias. A inteligência reveste-se de um certo mistério. Ela inspira-nos o respeito. Parece ultrapassar a si mesma. Uma pessoa tem idéias inatas que surgem de seu interior, idéias com as quais ela já nasce, que não precisa desenvolver. Uma dessas idéias é a idéia divina, isto é, Deus, o qual é a fonte última das idéias, e com a qual a mente humana encontra uma afinidade natural. Há em nós a idéia inata de um Ser Perfeito. O próprio conceito de Deus requer que ele seja perfeito; e a sua perfeição, por sua vez, requer que ele verdadeiramente exista, porquanto se um ser existisse somente como um conceito, e não como uma realidade, então não poderia ser um ente perfeito. Quanto a esse ponto, Descartes não se mostrava original. Estava tomando por empréstimo o argumento ontológico de Anselmo. Mediante outras idéias inatas, pois, podemos descrever Deus como um Ser infinito, eterno, imutável, independente, todo poderoso, onisciente, criador de todas as coisas. Em outras palavras, Descartes propôs o Deus do cristianismo ortodoxo, partindo do pressuposto que a mente divina usufruí certas ideias na mente humana mediante as quais, sem a ajuda de qualquer investigação empírica, o indivíduo pode saber que Deus existe, e como ele deve ser, Descartes também aplicava o Argumento Cosmológico, para dar respaldo à sua idéia divina. A Descoberta do Mundo Exterior. Agora, Descartes já possuía duas proposições inatacáveis: Deus e o próprio eu. Dessas duas podemos deduzir uma terceira, a saber, a do mundo material, exterior. Temos a Idéia de que o mundo não é nossa imaginação ou sonho. Cremos que Deus não nos deixaria ficar enganados quanto a essa questão, pelo que o mundo externo realmente existe. O Dualismo. A nossa razão segreda-nos que Deus é uma substância infinita e mental. A alma do homem deriva-se dessa substância, sendo ela uma substância que pensa. Ela é imaterial, ou res cogitans, uma “entidade pensante”, O mundo material, em contraste, é res extensa, a matéria que se amplia pelo espaço e é governada pelo tempo. A matéria é uma extensão no espaço, sendo corpuscular em sua natureza (atomismo). A matéria é inteiramente distinta da mente, podendo ser definida sem se fazer qualquer alusão à mente (negação do idealismo). A mente pode ser definida com alusão à matéria, pois é absolutamente imaterial (ideia). Isso significa que temos um dualismo , que constitui a realidade. Isso posto, Descartes negava tanto o materialismo simplesmente quanto o idealismo como teorias absolutas,

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mutuamente exclusivas, mas aceitava ambas como verdadeiras, se fossem consideradas como descrições parciais da realidade. O Problema Corpo-Mente. Descartes havia criado um dualismo radical. Tão radical, de fato, que afirmou que a mente não pode exercer efeitos sobre a matéria, e nem a matéria pode exercer efeitos sobre a mente. Como, então, uma poderia interagir com a outra? Descartes ensinava certa forma de interacionismo entre a mente e o corpo, através da glândula pineal; mas as suas explicações mostram-se vagas; e ele criou com isso mais problemas do que os resolveu. A maioria dos seus seguidores, entretanto, tornou-se ocasionalistas. A doutrina do ocasionalismo surgiu, fazendo de Deus um intermediário. Haveria uma espécie de sistema telefônico celeste, mediante o qual o corpo enviaria mensagens a Deus, e Ele as reenviaria à mente; e a mente enviaria mensagens a Deus, que as reenviaria ao corpo físico. O problema do corpo-mente é uma das principais dificuldades enfrentadas pela filosofia. Como se Comete um Erro no Campo da Gnosiologia. Se todos contam com idéias inatas que se originam em Deus, como um homem pode errar naquilo que pensa? Descartes descobriu a resposta para essa pergunta em seu estudo sobre a vontade. A vontade do homem é livre, e, em seu entusiasmo, pode correr mais do que a razão. As Paixões da Alma. De conformidade com Descartes, as paixões são modos de expressão da substância pensante. Haveria seis paixões básicas que constituiriam a porção emotiva do homem: 1-admiração. 2-amor. 3-ódio. 4-desejo ou apetite. 5-felicidade. 6-tristeza. Essas paixões dão seu colorido ao processo racional. O Problema do Mal. Se existe um Deus todo-poderoso, perfeito em seu conhecimento, ilimitado em seu poder, como o mal conseguiu penetrar no mundo? As respostas dadas por Descartes são bastante convencionais, o mal teria entrado no mundo através da vontade pervertida do homem. Faz parte da natureza das coisas finitas errarem, e errar implica em sofrimento. Essa explicação poderia justificar o mal moral, os sofrimentos que os homens atraem contra si mesmos com seus atos maus. Sobre o mal natural (desastres, doenças, morte, etc.) John Locke Suas datas foram 1632-1704. Ele nasceu em Wrington, em Somersetshfre, na Grã-Bretanha. Estudou em Christ Church, Oxford, tendo-se formado como bacharel e mestre. Tornou-se professor particular em Oxford, ensinando grego, retórica e filosofia Era praticante de medicina, embora não tivesse terminado seu curso de medicina. Foi secretário do conde de Shaftesbury. Mudou-se, então, para Londres, onde se tomou membro da Real Sociedade e serviu em seu conselho. Escreveu durante vinte anos sobre o entendimento humano, e o augusto resultado desses esforços foi sua publicação Essay Concerning Human Understanding, publicado pela primeira vez em 1690.

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Locke se meteu em dificuldades políticas e mudou-se para um lugar perto de Paris, na França, a fim de se proteger de inimigos. Em Paris, ele entrou em contato com muitas personagens bem conhecidas dos campos da ciência e da filosofia. Seu protetor, o conde de Shaftesbury, esteve em grande perigo de vida, devido a questões políticas, Em vista disso, Locke mudou-se para a Holanda, onde se ocultou sob o nome falso de Van der Linden. Visto que perdeu sua posição de professor em Oxford, passou a escrever e a ensinar na Holanda. Tinha, na época, cinqüenta e quatro anos de idade. Mas, quando James II, rei da Inglaterra, foi deposto, Locke pôde retornar à Inglaterra, em 1688. Tornou a brilhar na política e foi-lhe oferecida a posição de embaixador, em Brandenburgo, mas ele não aceitou o oferecimento. Então, foi nomeado comissário de apelos. Foi por essa época que ele publicou certo número de livros. Locke estabeleceu residência permanente com um seu amigo, de nome Masham, que vivia em Oates, em Essex, na Inglaterra. A sra. Masham era filha de Cudworth, que era um dos platonistas de Cambridge. Locke foi ainda nomeado comissário do Comércio e da Agricultura, tendo mantido o cargo por quatro anos. Mas sua saúde, que sempre fora periclitante, acabou piorando de vez, e ele faleceu em Oates, em 1704, com a idade de setenta e dois anos. As Ideias de John Locke: Ataque Contra as Idéias Inatas. A mais bem conhecida obra de Locke, intitulada em inglês Essay on Human Understanding, a princípio foi severamente criticada em Oxford. Mas tornou-o famoso no continente europeu. Essa obra tornou-se um clássico no campo da teoria do conhecimento, abordando a questão por um ângulo rigorosamente empírico. Ali ele atacou todas as noções sobre idéias inatas, ou seja, a noção de que o homem pode ter conhecimentos que transcendem aos cinco sentidos, com base na intuição inata ou na razão. Ele levou o seu empirismo a um ponto tão extremado que, virtualmente, negou o próprio conhecimento, terminando em uma posição de quase ceticismo. Naturalmente, o positivismo lógico tomou essa posição filosófica, baseando a ciência humana sobre a mesma. Tabula Rasa. No latim, ardósia limpa. O homem, de acordo com Locke, começa a viver neste mundo com a mente completamente vazia, Ela não traz nenhuma marca e nem impressão escrita sobre a mesma. Por meio da experiência é que o homem começaria a escrever sobre essa ardósia. Todas as ideias teriam fundamento nas experiências. Com base nas experiências, pois, os homens formulariam idiomas. Com base nos idiomas, os homens formulariam ideias. Com base nas ideias é que os homens construiriam o seu conhecimento. Mas tudo pode retroceder até à percepção dos sentidos. Discernimento e Distinção. O homem combinaria idéias, produzindo idéias complexas, a partir de idéias mais simples. As idéias simples originam-se na percepção dos sentidos. Os homens descobrem relações entre idéias simples mediante analogias, através da razão. A própria razão, porém, é algo aprendido, e não uma qualidade Inata ao homem. O homem ocupa-se em abstrações, e assim é capaz de perceber o que é comum a várias situações e realidades. Dessa maneira é que o homem chega às idéias gerais, chamadas universais. Os Universais. Para Locke os homens apenas revestem suas idéias com termos de significado geral. Na filosofia, isso se chama nominalismo. As essências reais das substâncias permanecem misteriosas, entretanto. Essas essências são desconhecidas para nós. No entanto, de uma maneira prática, um conhecimento real pode ser possuído pelos homens, no tocante às leis morais e à ciência, da mesma maneira que eles são

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donos de um conhecimento real matemático.Proposições frutíferas, são aquelas às quais nos apegamos como expressões da verdade. Tipos de Idéias Complexas. Podemos pensar em três tipos: a-Modos. Essas são idéias cujos objetos não podem existir por si mesmos, mas que devem fazer parte de alguma outra coisa. Assim, a beleza é um modo misto. Pois pertence a muitas coisas diferentes. A beleza é mista porque chegamos a compreender o significado desse vocábulo mediante associações e adições. Porém, a ideia de dois, por exemplo, é simples. Sabemos do que se trata, sem ter necessidade de fazer qualquer associação. b-Substâncias. Essas são as idéias de coisas que existem por si mesmas. Uma substância é algo acima de suas meras qualidades. Pode ter qualidades primárias e secundárias, além de poderes, mas envolve mais do que isso. No entanto, quando falamos a respeito de uma substância, pensamos na combinação do que essa substância é, juntamente com as suas qualidades. c-Relações. Essas são as idéias que resultam de comparações. As idéias simples são comparadas entre si, por meio de analogias. Conceitos como Deus, infinitude, tempo, duração, substância—todos resultariam de nossas comparações. Nosso mundo conceptual é resultado de inferências e construções. Substância. Quando nos pomos a examinar algum objeto a que chamamos de substância, tomamos consciência de suas qualidades primárias e secundárias, e também de seus poderes. Porém, além disso, supomos que deve haver algo, e dizemos: “Não sei o que deve haver além e por detrás dessa coisa”. “A ideia de substância como algo além de suas qualidades, tal como a idéia de infinitude, é algo negativo, e não positivo”. Por meio de inferências, chegamos a supor a existência de substâncias, mas o que sabemos a respeito dessas substâncias são apenas suas qualidades e poderes. A ideia da essência de alguma substância parece existir sem a percepção de nossos sentidos. É uma espécie de inferência indagadora, criada pela nossa experiência com as qualidades e os poderes das coisas. Podemos supor que as qualidades são inerentes às substâncias. Assim, a substância é a realidade por detrás das aparências, aquela realidade que sentimos que existe, mas que o nosso conhecimento não consegue apreender e nem descrever. Os objetos são substâncias, mas suas essências nos são desconhecidas, e essas essências é que são as verdadeiras substâncias. As qualidades dessas substâncias são por nós conhecidas através da percepção dos sentidos. Qualidades e Poderes. Antes de tudo, existem qualidades primárias. Essas são questões como solidez, extensão, número, formato, inércia de repouso, inércia de movimento qualidades essas inseparáveis dos objetos, imprescindíveis para a existência deles. As qualidades secundárias consistem nas várias maneiras como um objeto afeta nossa sensibilidade. As qualidades secundárias, pois, são as nossas avaliações mentais sobre alguma coisa, e não as qualidades que pertencem, necessariamente, às coisas. Coisas como cor, som, paladar, olfato, qualidades tácteis são todas qualidades secundárias. Apesar de serem avaliações mentais, não são somente isso. Derivam-se de qualidades primárias, e são percebidas como poderes. Ouro não é a mesma coisa que amarelo; não obstante, a cor amarela é associada ao ouro como uma qualidade secundária. No ouro existe algo de primário que nos faz vê-lo como amarelo.

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O ouro tem um poder que nos leva a perceber sua cor amarela, ou qualquer outra qualidade secundária possuída por esse metal. Locke deixou entendido que se nossos sentidos físicos fossem ultramicroscópicos em sua agudeza, desapareceriam qualidades secundárias, e, em vez delas, percebe. riamos a admirável textura de partes de um certo tamanho e figura. E, com base nessa circunstância, então, compreenderíamos por que as qualidades primárias irradiam as qualidades secundárias. As qualidades terciárias. Na filosofia posterior, surgiu outro desdobramento dessa questão das qualidades das substâncias. As qualidades terciárias seriam os valores que atribuímos às coisas. Uma antiga fotografia tem a essência do que ela é (qualidades primárias); tem também textura e cor (qualidades secundárias); mas também tem valor, de modo que uma pessoa guardará aquela fotografia em seu álbum de fotografias prezadas, e não alguma outra. Essa é uma qualidade terciária. O valor que os homens dão ao ouro é, essencialmente, uma qualidade terciária, visto que muitos outros metais são muito mais úteis, quanto ao seu emprego; mas são menos valiosos quanto à avaliação mental dos homens. O Conhecimento Intuitivo. Embora Locke rejeitasse as chamadas ideias inatas (que, usualmente, são importantes no campo da intuição), ele referiu-se a certo tipo de intuição. Porém, ele compreendia isso de maneira toda pessoal. Para ele, esse tipo de conhecimento é a base de todo conhecimento, embora funcione por meio de uma espécie de comparação de idéias, onde seus pontos de semelhança, de diferença e de relações são percebidos. Essa percepção nos chega de imediato, através de alguma forma de poder de raciocínio arguto, possuída por todos os homens, e que não perdem tempo em arranjar as idéias mais simples para dali extrair idéias mais complexas, e nem as idéias mais complexas para dai extrair o conhecimento. Conhecimento Demonstrativo. Esse conhecimento repousa sobre a variedade intuitiva. Nesse caso, a concordância ou não de ideias emerge quando passamos de um degrau para outro em nossas investigações, como se dá dentro do método científico, nada havendo de imediato nesse processo. Conhecimento Sensível. Esse conhecimento aponta para a tentativa de se obter a conexão entre as nossas idéias e o mundo exterior, para averiguarmos até que ponto as nossas idéias refletem os objetos e as realidades externas. Ilustrações de Tipos de Conhecimentos: a-Temos um conhecimento intuitivo de Deus. Não precisamos esforçar-nos a fim de obter esse tipo de conhecimento. Esse conhecimento é imediato, embora a Idéia divina não seja uma idéia inata ao homem. b-Possuímos um conhecimento demonstrativo da existência de Deus, mediante nossos processos de raciocínio. c-Temos um conhecimento sensível da existência de tudo o mais que cai dentro do alcance da percepção ‘de nossos sentidos. A Idéia Divina. Essa é a demonstração de que Deus existe. Podemos saber com certeza que Deus existe. O argumento de Locke, quanto a isso, partia do homem para Deus. Sabemos que existimos. É óbvio que não podemos ter vindo do nada. A razão mostra-nos que viemos de um ser eterno. Meus poderes derivam-se desse eterno poder. É repugnante a suposição de que o meu ser, o meu pensamento e o meu poder vieram da matéria morta e insensível. Obtemos ao menos algumas idéias porque elas são causadas por coisas externas a nós mesmos. Uma dessas ideias é a Ideia Divina.

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Causalidade e Identidade. Locke não negava as causas das coisas, conforme fazia David Hume. Ele acreditava que a origem de algumas de nossas idéias reside no poder que os objetos exteriores exercem sobre nós. Quanto à causa original, não podemos ter certeza se a criação veio à existência como algo inteiramente inédito, ou se através da feitura de algo, mediante uma causa externa, segundo se dá no caso das manufaturas, ou se foi através da modificação de algo que já existia. Para chegarmos à causa final, teremos de abordar o que é negativo. Nossas observações só podem nos levar até esse ponto. A partir dai, temos de postular alguma outra coisa; e não sabemos como isso poderia solucionar aquilo que para nós, agora é um mistério. A ideia de causa envolve-nos no conceito de substâncias e seus modos, conforme já foi descrito anteriormente então, passamos para o campo das relações. Dentro desse contexto acha-se a ideia da identidade. Cada objeto é uma auto-identidade; havendo certo inter-relacionamento entre esses objetos, que opera através de causa e efeito. Locke disse que a identidade pessoal repousa sobre a consciência individual de cada pessoa, e a consciência requer a existência da memória. Assim, se a reencarnação for uma realidade, então uma pessoa não é a mesma pessoa, visto que ela se reencarnaria, mas não se lembra de sua vida anterior. Para mim, entretanto, esse argumento de Locke é destituído de sentido. Pois não nos lembramos de grande parte de nossa vida, sobretudo de nossos primeiros anos de vida, e, comparativamente falando, lembramo-nos muito pouco do que nos sucedeu no passado. Mas isso não significa que fomos diversas pessoa ao longo do trajeto da vida, cada qual com sua própria memória sobre um período específico de tempo. Foi quanto a esse particular que Locke nos brindou com uma noção bem genuína. O individuo que não pode lembrar seu passado é o mesmo individuo, embora não a mesma pessoa. Isso posto, Locke estabelecia distinção entre a essência de algo, e como esse algo é experimentado por nós. Diferentes experiências produziriam diferentes pessoas, dentro de uma mesma substância. Ele acreditava que a consciência pessoal é anexada a uma substância imaterial individual e pessoal (a alma), embora não acreditasse que possamos saber isso com certeza absoluta. Algumas Ideias Religiosas de Locke: a-Pode-se saber que Deus existe como a grande causa original. b-O homem é a alma imaterial, embora não possamos saber com certeza de que maneira isso se relaciona à pessoa. Somente podemos saber sobre nós mesmos e sobre Deus sem qualquer disputa. Ambas essas ideias são tão óbvias que não requerem qualquer prova. Podemos demonstrar a Idéia Divina, uma atividade que ultrapassa a simples tomada de conhecimento, conforme temos descrito sob o décimo primeiro ponto. c-O verdadeiro homem é tão imaterial quanto Deus o é. Isso vai além de nosso poder de compreensão e descrição, a despeito do que é uma realidade. Como é óbvio, o empirismo puro de Locke, nesse ponto cedia diante da fé, da intuição e da razão. Ele aceitava a realidade da imortalidade da alma com base em um ato de fé, e não à base de seus vários tipos e métodos de conhecimento. d-Em seu livro, Reasonableness of Christianity, ele asseverou que não podemos inferir a imortalidade das idéias de identidade e de personalidade, como também não podemos tirar essa inferência empiricamente. Ele também acreditava que tanto o fato de nossa imortalidade quanto a consciência que temos dela eram dons de Deus. Atualmente, entretanto, dispomos de vários modos de subentender (se não mesmo de demonstrar) cientificamente a imortalidade.

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e-Revelação. Locke acreditava que existe tal coisa como a verdade revelada, embora também cresse que a mesma está sempre sujeita à razão humana; e também que essa verdade revelada pode ser dúbia, visto não estar ligada à experiência direta, por meio da qual obtemos nossas verdades demonstráveis. Isso posto, as reivindicações do misticismo (incluindo a revelação) precisariam ser levadas a sério. Porém, esse método de obtenção de conhecimento estaria longe de ser perfeito, ao contrário do que muitas pessoas religiosas acreditam. A revelação pode militar contra as probabilidades; contudo, poderíamos testar essa improbabilidade por meio da razão e da experiência. Simplesmente deveríamos aceitar, pela fé pura, aquilo que não pode ser conhecido por outros meios que repousam sobre a experiência. As coisas que aceitamos pela fé, segundo Locke, dependeriam das taxas de probabilidade, e não da absoluta certeza, excetuando dai apenas os conceitos básicos sobre Deus e a alma. Todavia, mesmo no tocante a Deus e a alma não temos muitas descrições satisfatórias. Fé Naquilo que se Aceita como Verdade. Até os próprios profetas podiam dar-se ao luxo de crer naquilo que eles aceitavam como verdade. De fato, muitas pessoas anelam por crer a qualquer custo, como uma medida de consolo mental. Essas pessoas estão seguras de que elas têm a certeza e, no entanto, a verdade é bem outra do que elas acreditam. Há muitas revelações que não passam de fé naquilo que os homens acreditam. Também pode ocorrer que uma fé seja parcialmente dessa natureza, e parcialmente seja crença na verdade. Os sistemas que afirmam possuir mais do que essa dose de verdade, podem ser apenas exercidos de fé naquilo que as pessoas aceitam como verdade. Locke aceitava que Deus é a grande Razão por detrás de tudo, e que qualquer verdade que nos seja dada por Deus, ele a torna razoável. Nesse caso, a razão seria o grande juiz e o guia final em todos os conceitos, inclusive no tocante às noções religiosas. f-O Livre-Arbítrio. Locke estabelecia uma delicada distinção quanto a essa particularidade, que não é fácil de ser seguida. Ele afirmava que os homens são livres, mas não a vontade deles. Os homens teriam liberdade para agir em conformidade com suas respectivas escolhas. Um homem poderia deixar de fazer isto ou aquilo—e nisso consistiria toda a liberdade que ele tem. As escolhas seriam feitas após exame, juízo e raciocínio; e, nesse processo, a pessoa verificaria que resultado bom, ou mau adviria daí. Contudo, a verdadeira liberdade seria quando um homem é compelido por suas escolhas a seguir o bem superior. Deus não pode escolher o que não é bom, e o homem acaba aprendendo a escolher conforme Deus escolhe. A vontade humana é auto-determinada, tal como a vontade divina. g-Ética. A liberdade humana importa em sua responsabilidade moral. A vontade humana seguiria o bem, pois no bem está a felicidade. Deus tem a imperiosa necessidade de sentir-se feliz, visto que a bondade leva à felicidade. Quanto mais feliz for um indivíduo, tanto mais próximo estaria ele da infinita perfeição e da razão de sua própria existência. Locke, pois, demonstrava grande confiança na boa tendência natural da vontade humana, crendo que o cultivo da vontade, no ambiente da liberdade, assegura a bondade e a felicidade, em última análise. Francis Hutcheson Suas datas foram 1694—1746.

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Ele foi um filósofo irlandês escocês. Nasceu em Ulster. Estudou em Glasgow. Tornou-se chefe da Academia Presbiteriana de Dublin. Sistematizou, mais do que quaisquer outros antes dele, a teoria do senso moral, na ética, postando-se a meio caminho entre as idéias de Locke e a filosofia escocesa do bom senso. Foi um filósofo moral e estético, da tradição empírica. As Ideias de Francis Hutcheson: A base da teoria moral deveria ser empírica, mas repousa sobre uma percepção natural interior sobre o que é bom e belo. Essa virtude é prazeirosa por si mesma. Tanto os valores éticos quanto os valores estáticos são percebidos dessa maneira. Apesar de que os costumes, a educação, etc., podem refinar os sentidos naturais interiores, deverá haver um poder natural e básico para que, subseqüente- mente, haja um refinamento desses sentidos naturais. A beleza é conservada nas coisas, nas idéias, nos princípios morais, nos atos morais, etc. A natureza humana dispõe de mais de cinco sentidos físicos. Ela também dispõe do senso moral. Há um senso moral e também um senso público. Ficamos satisfeitos diante da felicidade de outras pessoas, mesmo quando isso não nos beneficia, e sentimo-nos infelizes diante da miséria alheia, mesmo quando essa não nos afeta. Em outras palavras, o homem, por sua natureza, é possuidor de qualidades altruístas. Não é um ser meramente egocêntrico. A percepção moral é mais forte do que a razão. O verdadeiro prazer depende da benevolência, e não do egoísmo. Atos verdadeiramente virtuosos são aqueles que se originam na benevolência. Os atos virtuosos baseados sobre o amor-próprio são moralmente indiferentes, não merecendo nem elogio e nem censura. O prazer é importante, como prova da bondade e da virtude, mas não é a única prova. A prova de um ato correto é a felicidade que infunde sobre outras pessoas. A principal obra de Hutcheson foi uma inquirição que ele intitulou de, Origem de Nossas Idéias da Beleza e da Virtude. Karl Marx (Marxismo) Suas datas foram 1818 - 1883. Nasceu em Trier, na Prússia. Sua família era judaica. Seu pai era advogado. Todos os membros da família foram batizados na Igreja Luterana. Karl Marx estudou história, filosofia e advocacia nas Universidades de Bona e Berlim, tendo obtido o grau de doutor pela Universidade de lena. Em Berlim, ele se deixou absorver pelos estudos dos problemas sociais e políticos, e ficou sob a influência da ala esquerdista do movimento Jovem liegeliano. A dialética de Hegel (com suas tríades) foi modificada por Marx a fim de obter dali uma filosofia para suas teorias políticas. O corpo doutrinário originalmente proposto por Marx e Engels dependia pesadamente da filosofia de Hegel, mas, se Hegel aludia a um princípio espiritual através do qual o Espírito Absoluto opera, Marx e Engels modificaram isso para uma teoria materialista, onde as lutas de classes e os fatores econômicos determinariam o alegado curso da história. Hegel dizia que o Espírito Absoluto, por necessidade e essência de sua natureza, manifesta-se através de suas tríades. Mas Marx preferia pensar que este mundo é guiado por fatores econômicos. Assim, as forças espirituais foram substituídas por um materialismo mecânico. E essa mecânica envolveria uma tríade.

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Temos ilustrado a questão, de modo completo. Assim como Marx reduziu um princípio espiritual a tríades materialistas, assim também a chamada Teologia da Libertação reduz a teologia cristã a uma sociologia materialista, tipo marxista. Marx alicerçou-se sobre Hegel, embora nunca tivesse aceitado, realmente, a metafísica deste, e assim foi transformando gradualmente as suas idéias, até serem o oposto do que eram. Marx acreditava ser ele o mensageiro de um novo evangelho social, para cuja propagação ele escreveu todos os seus livros e panfletos. Portanto, ele não foi tanto um filósofo quanto foi um reformador político. Esse fato fica velado por sua teoria peculiar, derivada da filosofia da história de Hegel, acerca da necessidade de desenvolvimento histórico. À semelhança de Hegel, Marx afirmava que esse desenvolvimento é governado por um princípio que pode ser conhecido. Mas, enquanto, na filosofia de Hegel, o princípio é espiritual, Marx opinava que esse princípio é material: as condições econômicas regulamentariam e determinariam o curso da história. Essa é a oposição do chamado “materialismo histórico”. É óbvia a influência de Marx e do marxismo, nos séculos XIX e XX, embora tenha diminuído em muito a crença na exatidão dessa teoria e suas predições. Os filósofos suspeitam de todos aqueles casos em que as coisas são explicadas com grande ordem, como as inevitáveis e inexoráveis tríades de Hegel. Quando alguém diz que Deus opera um-dois-três, e então, novamente, um-dois-três (mediante tese, antítese e síntese), e quando presume dizer exatamente como e sobre o que essas tríades atuam, está presumindo demais, está inventando uma mitologia que força a história, sem importar se a história tem operado e continua operando dessa maneira. E, então, quando esse alguém atribui o mesmo tipo de ação inevitável sobre a matéria morta e sobre os variáveis do sistema econômico, este apenas criando outra mitologia. Ainda recentemente, os lideres chineses afirmavam ao mundo que as teorias de Marx não solucionaram os problemas da China, e agora estão procurando lançar mão da tecnologia ocidental, a fim de recuperarem o tempo perdido. Assim, quando alguém passa dali a aplicar toda aquela teoria do princípio do determinismo, dizendo que as coisas devem operar daquela maneira, o que esse alguém está fazendo é apenas revelar o que determinou, em sua própria mente, o que deve acontecer, e não aquilo que, realmente, acontece. Quando fazemos o deve equivaler ao é, isso já envolve uma falácia lógica. Bem diante das sombrias predições de Marx sobre a morte do capitalismo, que, segundo ele supunha, morreria devido ao seu próprio peso, encontramos o soerguimento de milagres econômicos como o do Japão capitalista, embora o Japão seja constituído de algumas pequenas ilhas, praticamente destituídas de recursos naturais, o que não tem impedido que esse pais oriental se tornasse um dos principais poderes econômicos do mundo. Entrementes, países socialistas muito maiores e mais populosos, vão ficando para trás, tanto em tecnologia quanto em desenvolvimento econômico. Ademais, são os países capitalistas que gozam de maior escalada de salários e de melhoria de vida. Aqueles que viajam à Alemanha dividida, e comparam a Alemanha Ocidental com a Alemanha Oriental, recebem uma profunda lição objetiva sobre a superioridade do sistema capitalista, diante do sistema comunista. Além disso, até mesmo povos oprimidos, que têm sofrido os abusos do capitalismo, mostram-se intensamente interessados pelas realidades espirituais, porque, na verdade, o homem não pode viver somente de pão, nem mesmo do abundante pão da propaganda comunista.

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O Manifesto Comunista conclamava os trabalhadores do mundo inteiro a unirem-se. Esse documento contém a filosofia central de Marx, a de que as mudanças sociais são controladas pela luta de classes. Outrossim, ele argumentava que as idéias filosóficas, religiosas e éticas são reflexos de condições materiais. Porém, a redução da filosofia, da religião e da ética a fatores econômicos é um erro tão crasso que chega a ser inacreditável. Isso mostra que Marx não compreendeu as lições da história, apesar de ter-se arvorado em seu intérprete. O livro, Das Kapital, prestou o serviço de apontar como e até que ponto os ricos enriquecem explorando o proletariado. Quanto a isso, Marx prestou um esclarecimento. O comunismo não tem obtido seus avanços em face de sua superioridade inerente, e, sim, por causa dos abusos do capitalismo. O capitalismo bem regulado continua a produzir ricos, mas também tem produzido países, como os Estados Unidos da América do Norte, onde há uma classe média numerosa e afluente. Mas o comunismo tem produzido uma classe média uniformemente empobrecida, onde os salários são baixos, e um professor universitário ganha pouco mais do que o zelador que trabalha no prédio, isto na época da Alemanha Oriental. A Questão da Liberdade. Todos os governos totalitários abafam as liberdades pessoais e limitam os direitos do individuo. Todos os governos totalitários, de esquerda ou de direita, são prejudiciais, mesmo quando parecem benévolos. mais importante o individuo ser livre, podendo exercer seus direitos e suas liberdades básicas, do que ter um pouco mais de dinheiro. A liberdade religiosa não deveria ser sacrificada diante de qualquer ismo. A alma humana é mais importante do que a economia de qualquer dia da semana. Qualquer sistema que se manifeste aberta e ativamente contra a crença em Deus e na alma, com a correspondente redução do homem ao nível meramente animal, em meio às suas lutas de classe, dificilmente é um sistema que mereça a nossa devoção. Estabelecendo Distinções. Apesar de Marx ter desenvolvido um sistema elaborado, o marxismo posterior absorveu elementos que não faziam parte originária de suas idéias, embora ele tenha recebido crédito como seu originador. Assim, para exemplificar, Marx jamais usou a expressão materialismo dialético, embora tivesse expressado idéias que envolvem essa expressão. Quem introduziu essa expressão foi Engels. Marx não se desviou de sua rota a fim de exprimir o materialismo que se apegava às suas teorias políticas; mas outros, como Engels, ansiavam por garantir que aquela filosofia fosse inteiramente dominada por essa noção. Mata mencionou a diminuição gradual da importância do Estado à medida que as coisas, presumivelmente, fossem melhorando, tornando desnecessária a existência de uma força totalitária que forçasse as coisas. Não foi ele, porém, quem desenvolveu esse conceito, que, na prática, tem mostrado não passar de outro dos mitos do comunismo, onde o governo vai-se tornando cada vez mais forte e totalitário. Antes, Marx afirmou que a maneira correta de alguém abordar a filosofia comunista era a de guiar-se pelos conceitos de Hegel. Thomas Henry Huxley Suas datas foram 1825—1895, Foi um biólogo e filósofo inglês. Nasceu em Ealing. Era autodidata.

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Tornou-se conhecido, principalmente, em face de sua hábil defesa e aplicação da evolução aos moldes de Darwin. Ele promovia o sistema mecânico aplicado à vida, de mistura com o epífenomenalismo. Ele acreditava que nosso conhecimento é limitado às nossas experiências físicas, e que a verdadeira natureza do Universo está acima de nossa maneira de tomar conhecimento das coisas Foi ele quem cunhou o termo agnóstico a fim de aludir à crença suspensa, em face da falta de evidência. O agnosticismo era a sua posição teológica. Friedrich Nietzsche Nietzche era o filósofo que mais enfatizou a vontade para exercer poder. Embora criado como um luterano tradicional, ele foi longe de suas bases e perpetuou um sistema sem valores metafísicos. Ele inventou o super-homem, o ponto mais alto se seu sistema ateísta. A força deve triunfar sobre toda a fraqueza, humildade e misericórdia. A ética para ele era simplesmente um estudo como o super-homem poder melhor exercer seus poderes loucos. Auto-afirmação toma o lugar de amor pelos outros. O cristianismo, estupidamente, glorifica as qualidades dos fracos, como humildade, sacrifício pelos outros, e pobreza, literal e metafórica. O homem ideal é aquele que domina os outros, é arrogante e orgulhoso e que procura com todas as suas forças a dominância. Todos os sistemas políticos, como socialismo, comunismo e democracia, que enfatizam os direitos e bem-estar das massas, são inúteis. O principio da igualdade é a maior mentira de todas. Suas datas foram 1844-1900. Nasceu em Rocken, na Prússia. Foi estudante brilhante em Leipzig. Tornou-se professor da Universidade de Basíléia, na Suíça. Porém, sua saúde periclitante forçou-o a abandonar o ensino. Vagava entre a Itália e a Suíça. vivendo solitário. Perdeu os sentidos em uma das ruas de Turim; e faleceu em 1900, após onze anos de insanidade. Mui curiosamente, foi apelidado de Profeta de uma religião não-religiosa e de uma filosofia não-filosófica. As Ideias de Francis Hutcheson: Ele rebelava-se contra todas as pretensões filosóficas e teológicas de se chegar à verdade. Por esse motivo, grande parte de seus escritos veio a ser uma série de ataques e negações de idéias, em vez de uma tentativa de chegar à verdade. Ele afirmava que o indivíduo não deve aceitar passivamente idéias e situações que vêm ao seu encontro; antes, deve forçar sua vontade contra elas, de modo a conseguir modificações em consonância com os seus desejos. Revoltava-se contra o cristianismo por causa da ênfase deste sobre virtudes suaves como a misericórdia, o amor, etc. No entanto, ele também era revoltado contra o nacionalismo, o comercialismo, a democracia, o espírito científico e os ideais do século XIX em geral. Influenciada por Schopenhauer, ele desenvolveu a doutrina do poder da vontade, mediante o qual o indivíduo nutre uma revolta apropriada e consegue impor as mudanças necessárias. Ele argumentava em favor do imoralismo, que levaria o homem a endurecer seu ânimo, a viver perigosamente, a tentar o impossível, a adotar uma moralidade-dominante, a do super-homem que faz o que quer, impondo sua vontade aos seus semelhantes. O homem haverá de ser ultrapassado pelo super- homem.

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Ele opunha-se à metafísica, embora tenha promovido traços da mesma em sua doutrina de recorrência eterna, que teria até mesmo ciclos intermináveis de reencarnação. Schopenhauer dissera algo similar, fazendo a existência inteira parecer pessimista, sem qualquer propósito bom ou razoável. Nietzsche admitiu sua própria incoerência ao adotar essas idéias metafísicas, ao mesmo tempo em que dizia que elas demonstram que, verdadeiramente, há um conflito em todas as coisas, incluindo em seu próprio sistema filosófico. Os mestres estóicos haviam falado sobre grandes ciclos que, inevitavelmente, trazem de volta tudo quanto já existiu. Seu livro, Beyond Good and Evil,declara as suas idéias essenciais sobre questões éticas. Ele reduziu os sistemas morais a dois tipos: aquele que produz uma moralidade e uma mentalidade próprias de escravo; e aquele que produz uma atitude e uma moralidade de senhor. O senhor é aquele que se impõe e faz os outros aceitarem a sua vontade. Os escravos são os que se submetem aos padrões de todas as variedades de sistemas, e não se impõem. As regras desses sistemas alicerçam-se sobre o ressentimento, o desejo pelas recompensas, o temor e o desejo de vingança. No entanto, ambos os sistemas são parciais, requerendo a existência um do outro. O impulso fundamental do homem é o poder da vontade. Isso é bom, porque faz o potencial humano chegar à plena fruição. Os escravos nunca chegam a lugar nenhum. A moralidade própria de escravo transforma fraquezas em virtudes. Desse modo é morta a inquirição pela excelência, e o homem permanece em sua mediocridade. A moralidade própria de escravo enfernou a Europa, como enferma a qualquer indivíduo. A moralidade de rebanho agrada às massas, mas nenhuma grandeza emerge dai. A excelência perde-se com a democratização. A democracia é um sistema doente; o cristianismo também é um sistema doente, pois ambos promovem uma moralidade de rebanho e o poder dos fracos. Outrossim, o cristianismo faz o sexo tornar-se sujo, e assim deprecia erroneamente os valores do corpo e do único prazer decente do ser humano. Os valores de um mundo fictício são exaltados, ao passo que os valores reais deste mundo são anulados pelo cristianismo. Deus está morto. Os homens inventaram um deus ridículo e fictício. Mas, à medida que aumenta o conhecimento do homem, mais ele nota que esse deus não passa de uma invenção. Os homens investem em seus deuses (ou seu Deus) as suas próprias qualidades humanas. O homem tem uma consciência má, e isso leva-o a querer ser punido. O homem chega mesmo a querer ser torturado. E assim, o homem concebe um Deus que anda por torturar aos pecadores. Visto que Deus não existe, e que nosso conceito de Deus está morto, precisamos voltar nos para outras preocupações, para outras alternativas filosóficas. A maça filosófica. Nietzsche sentia que fazia bem em usar a sua maça para despedaçar antigos sistemas, para destruir antigas idéias ultrapassadas. Achamo-nos em um estado de transição do mau para melhor maçã ajuda-nos a libertar-nos do que é ruim. O super-homem. Substituímos Deus por um super-homem. O super-homem é aquele que, mediante seu poder da vontade, atinge a excelência e abandona a estupidez do seu passado. O super- homem é o único homem autêntico. Ele é o homem dotado de elevada integridade, sem preconceitos, sem orgulho, espiritual, dotado de grande alma, que tem consideração por seus inferiores, mas que se impacienta quando vê fraquezas transmutadas em virtudes. Apesar de Nietzsche não ter inventado um sistema ou ideal utópico, ele usou o conceito de super-homem como o ideal na direção do qual devemos esforçar-nos.

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Os historiadores têm observado o evidente fato de que Hitler pareceu incorporar, em alguns pontos essenciais, o ideal do super-homem de Nietzsche. Mas esse super-homem mostrou ser apenas um monstro. Martin Heidegger Suas datas foram 1889—1976. Ele foi um filósofo alemão, um dos principais expoentes do existencialismo, embora não se considerasse um existencialista. Nasceu em Messkirch, Baden; estudou com Husserl e tornou-se reitor da Universidade de Freiburgo em 1933. Sua obra principal O Ser filósofo e o Tempo. Sua exposição sobre a condição como um meio de revelação da relação entre o homem e o Ser, atraiu para ele muitos seguidores pelo mundo inteiro. Quando o nazismo dominou a Alemanha, ele rompeu o seu relacionamento com Husseri, que era judeu. Em Freiburgo, ele fez um discurso que vinculava intimamente a vida acadêmica ao movimento nazista. Entretanto, posteriormente ficou desiludido com o nazismo, e resignou de seu posto de reitor da Universidade de Freiburgo, em 1934. Não obstante, ele continuou escrevendo, e também ensinava ocasionalmente, até que se retirou definitivamente da vida ativa, em 1957. Quando ainda cooperava com Husserl, era considerado um fenomenologista .Seus últimos anos de vida ele os passou em quase total solidão. Vivia nas colinas perto de reiburgo, e somente em raras ocasiões descia para lecionar em alguma universidade. As Ideias de Martin Heidegger: O ser humano e o seu lugar dentro do tempo. Em seu livro, O Ser e o Tempo, Heidegger exorta os homens a refletirem sobre o seu próprio ser. Ele acreditava que o homem é aquele ser que é capaz de fazer indagações sobre o sentido da sua própria existência, em contraste com os animais irracionais. O homem deseja saber por que razão está ali (dai o termo que ele usava, Daseill, “estar ali”)- Essa palavra indica, ao mesmo tempo, o onde e o é da condição humana, levantando perguntas acerca do mistério e aparente arbitrariedade da existência humana. Seu método de inquirição. Como pode alguém elevar-se acima da superficialidade da existência diária e aprender algo de significativo sobre os mistérios da vida? Heidegger empregava três artifícios nessa busca: a-O homem não deve continuar aplicando a atitude não-crítica, mediante a qual ele supõe que a natureza e a sociedade são apenas instrumentos de sua existência. Mas deve chegar a entender que há uma interdependência em toda a vida e natureza. Quando ocorre um desastre natural, por exemplo, o homem percebe que não controla a sua sorte. b-O emprego das artes pode ser uma ajuda na compreensão da situação universal do homem, o que o afasta de sua existência egocêntrica, dentro da qual supõe que as outras coisas são meros instrumentos do seu bem-estar. c-Ele cria que a capacidade analítica do homem, quando devidamente utilizada, pode livrá-lo do que “alguém diz”, para que possa pensar com independência, o que pode levá-lo para além das tradições e permitir-lhe atingir a verdade. Nesse ponto, ele modificou a filosofia pessimista de Kierkegaard sobre como o homem enfrenta a morte, em todo o seu desespero e temor, a fim de verificar qual o valor de tais avaliações. Heídegger chegou à conclusão de que o homem só pode apreender o sentido do Ser através de seu medo constante e da morte iminente.

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Na direção de um conceito do ser. Heidegger atirou-se à tarefa de reexaminar a metafísica. Para tanto, ele apelou para a filosofia grega, analisando o que Sócrates queria dizer com termos como natureza, sorte, logos e arte. Foi então que ele escreveu o livro A Doutrina Platônica da Verdade. Além de examinar os escritos clássicos, ele descobriu que influências como os poemas Holderlin, as idéias de Kant sobre coisa e juízo, o conceito hegeliano da experiência e aspectos da doutrina de Nietzche de que Deus está morto, lhe eram úteis. Em seus estudos, ele tratou o homem como guardião e intérprete do Ser, e definiu a função do pensamento como um “deixar o Ser , para que nos diga o que tem a dizer”. Ele exaltava a linguagem como se fosse um tesouro onde podemos encontrar os segredos do ser. Quanto a isso, parece que ele reverteu sua anterior convicção de que o tempo esconde o ser. Não obstante, a sua filosofia, quanto a esse particular, é um tanto vaga, não podendo ser usada com precisão para que determinemos os valores humanos.

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HISTÓRIA E INTRODUÇÃO À FILOSOFIA L7 1- Que época viveu Tomas More? A-1478-1535 B-1478-1533 2- Tomas More nasceu em que cidade? A-Londres B-Paris 3- Qual o motivo da morte martirizada? A-Ter se recusado a reconhecer a Henrique VIII como cabeça da igreja da Inglaterra B-Ter se recusado a reconhecer a Henrique VIII como pricipal governante da Inglaterra 4- Qual foi a obra mais famosa de Tomas More? A-Conhecimento através dos tempos B-Utopia 5- Que época viveu Michel de Montaigne? A-1533-1598 B-1533-1592 6- Michel de Montaigne nasceu em que cidade? A-Périgard B-Paris 7- O homem, em todas as eras, tem falhado em entrar em harmonia com a verdade e o conhecimento: A-E até mesmo com B-E até mesmo com as ciências 8- Que época viveu Galileu Galilei? A-1564-1642 B-1566-1641 9- Galileu Galilei nasceu em que cidade? A-Em Pisa, Itália B-Em Padova, Itália 10- Quem foi censurado pelos teólogos do Santo Ofício, em 1616, tendo sido proibido de ensinar as novas idéias? A-Nicolau Copérnico B-Galileu Galilei 11- A heresia de que ele foi acusado era a sua crença de que a Terra órbita em redor do sol, o que fazia com que a terra: A-Não fosse mais o centro do universo B-Fosse o único planeta do universo

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12- Quem foi ouvido a murmurar: “E pur si moure, mo entanto ela(Terra) se movimentas”? A-Isaac Newton B-Galileu 13- Que época viveu René Descartes? A-1596-1650 B-1569-1612 14- Em que cidade René Descartes nasceu? A-Pisa B-La Haye 15- A que pessoa alguns o têm chamado de fundador da filosofia moderna? A-Galileu Galilei B-René Descartes 16- Ele nada aceitaria como verdadeiro: A-Que não fosse claro e certo B-Que não fosse estranho e incerto 17- Uma pessoa tem idéias inatas que surgem de seu interior, idéias com as quais ela já nasce, A-Que não precisa desenvolver B-E precisa desenvolver com o passar dos anos 18- Há em nós a idéia inata de um: A-Ser perfeito B-Ser harmônico 19- Que época viveu John Locke? A-1631-1705 B-1632-1704 20- Em que cidade John Locke nasceu? A-Em Londres, na Inglaterra B-Em Wrigton, em Somersetshfre, na Grã Bretanha 21- Ele levou o seu empirismo a um ponto tão extremo que, virtualmente, negou o próprio conhecimento,terminando em uma: A-Posição de quase ceticismo B-Posição de total ceticismo 22- Quem disse que o homem começa a viver neste mundo com a mente completamente vazia, ela não traz nenhuma marca e nem impressão escrita sobre a mesma. Por meio da experiência é que o homem começaria a escrever sobre essa ardósia? A-Locke B-Marx

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23- Nosso mundo conceptual é resultado de: A-Construções e demolições B-Inferência e construções 24- A idéia de substância como algo além de suas qualidades, tal como idéia de infinitude, A-É algo positivo, e não negativo B-É algo negativo, e não positivo 25- Embora Locke rejeitasse as chamadas idéias inatas(que usualmente são importantes no campo da intuição), A-Ele referiu-se a certo tipo de intuição B-Ele dedicou todo seu estudo a essas idéias 26- Que tipo de conhecimento repousa sobre a unidade intuitiva? A-Conhecimento absoluto B-Conhecimento demonstrativo 27- Que tipo de conhecimento aponta para a tentativa de se obter a conexão entre as nossas idéias e o mundo exterior? A-Conhecimento sensível B-Conhecimento demonstrativo 28- Que tipo de idéia é a demonstração que Deus existe? A-A Idéia Divina B-A Idéia Sobrenatural 29- Quem disse que a identidade pessoal repousa sobre a consciência individual de cada pessoa, e a consciência requer a existência da memória? A-Locke B-Karl Marx 30- Quem disse que os homens livres, mas não a vontade deles? A-Karl Marx B-Locke 31- Que época Francis Hutcheson viveu? A-1694-1746 B-1695-1745 32- Que cidade Francis Hutcheson nasceu? A-Berlin B-Ulster 33- Que época Karl Marx viveu? A-1818-1883 B-1800-1871 34- Que cidade Karl Marx nasceu? A-Nasceu em Rocken, na Prússia B-Nasceu em Trier, na Prússia

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35- Cite duas universidades que Karl Marx estudou? A-Universidade de Bone e Berlin B-Universidade de Harvard e Oxford 36- Quem ainda recentemente afirmavam ao mundo que as teorias de Marx não solucionariam os problemas da China? A-Os lideres chineses B-Os trabalhadores chineses 37- O capitalismo bem regulado: A-Está 100% garantido B-Continua a produzir riscos 38- Mas o comumismo tem produzido uma classe: A-Média alta, isenta de qualquer tipo de miséria B-Média uniformemente empobrecida 39- Que época Thomas Henry Huxley viveu? A-1825-1895 B-1800-1890 40- Que cidade Thomas Henry Huxley nasceu? A-Nasceu em Ealing B-Nasceu em Stuttgart 41- Quem tornou-se conhecido, principalmente, em face de sua hábil defesa e aplicação da evolução aos moldes de Darwin? A-Thomas Henry Huxley B-Tomas Hobbes 42- Que época Friedrich Nitzsche viveu? A-1844-1900 B-1840-1901 43- Que cidade Friedrich Nitzsche nasceu? A-Nasceu em Berlin, na Alemanha B-Nasceu em Rocken, na Prússia 44- Quem afirmava que o indivíduo não deve aceitar passivamente idéias e situações que vêm ao seu encontro, antes, deve forçar sua vontade contra elas, de modo a conseguir modificações em consonância com os seus desejos? A-Nietzsche B-Martin Heidegger 45- O senhor é aquele que se impõe e faz: A-Os outros aceitarem a sua vontade B-Os outros a serem completamente submisss 46- Os escravos são os que submetem aos padrões de todas as variedades de sistema, A-E se impõem B-E não se impõem

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47- Os historiadores têm observado o evidente fato de que Hitler pareceu incorporar, em alguns pontos essenciais, A-O ideal do super-homem de Nietzsche B-O ideal de divindade de Nietzsche 48- Que época Martin Heidegger viveu? A-1880-1976 B-1889-1976 49- Que cidade Martin Heidegger nasceu? A-Nasceu em Messkirch, Baden B-Nasceu em Londres, Inglaterra 50- Quem disse: que o ser humano e o seu lugar dentro do tempo? A-Martin Heidegger B-Nietzsche

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LIÇÃO 8 Uma vide diária autêntico. Viver com autenticidade é descobrir como o próprio ser se relaciona às coisas que existem. Isso requer uma compreensão genuína e um pensamento original, com a rejeição das pressões das tradições humanas falsas, parciais e enganadoras. Parte dessa vida diária autêntica consiste em perceber que a primeira responsabilidade de um homem é consigo mesmo, e não diante das pressões de outras pessoas sobre ele, como indivíduos ou como instituições. Uma outra parte consistiria naquilo que ele chamava de atitude de “interesse”. Uma pessoa aprende, realmente, a interessar-se, quando lança o seu ser no abismo da angústia. E na angústia que o homem descobre sua precária situação na existência, bem como sua nulidade essencial. Então é que aprende que é um ser que se encaminha para a morte. Assim, o homem aprende a interessar-se, desenvolvendo uma autêntica consciência, independente de influências superficiais. Um outro elemento seria o que ele chamava de ek-sistenz, isto é, aprender e refletir a natureza da própria finitude essencial. Para que o homem viva de modo autêntico, é mister que apreenda o sentido do tempo e de todas as precariedades da existência. O indivíduo aprende a arbitrariedade de haver sido lançado em um mundo caracterizado pela culpa, pela vergonha, pela incerteza e por obrigações de toda a espécie. O indivíduo torna-se cônscio de soa nulidade, inicialmente, por seu temor de deixar de existir (o não-ser). Ao nada é emprestada uma espécie de posição ontológica. Por que existe alguma coisa, em vez do nada? Essa é uma das principais questões indagadas pela filosofia, O homem projeta-se no nada, e ali descobre o Ser. A constante necessidade de fazer escolhas, e o exercício disso, faz parte do viver diário autêntico. A tarefa da ontologia. Essa tarefa consiste em descobrir a natureza real da existência, ou seja, sua finitude e sua dependência do Ser, o qual também está envolvido no abraço do nada. A palavra (logos) opera através do uso disciplinar da linguagem, por parte do homem. Apalavra, pois, é reveladora. A linguagem é poética, e não calculadora. O pensador manifesta-se sobre o ser; o. poeta fala sobre o que é santo. As duas ações estão vinculadas uma à outra e são interdependentes. O existencialismo frisa o que é negativo, pessimista, a absoluta liberdade humana, que faz o indivíduo ser o que é, a ansiedade humana sobre o não-ser. O pensamento teísta aponta para a depravação humana, bem como para a sua dependência, mas oferece uma salvação final, por parte de uma Força Superior. Algumas formas de existencialismo deixam o homem em meio à tempestade. Sabemos, com base em estudos psicológicos, que o homem conta com esses motivos básicos incrustados em sua própria alma, razão pela qual os filósofos são capazes de descobri-los, e até mesmo descrevê-los, mesmo que parcialmente. O homem tem, como parte de sua estrutura básica, as noções do não-ser e do temor. Porém, para além da tempestade, resplandece um Novo Dia, quando o homem haverá de emergir do não-ser para uma nova vida. As experiências perto da morte algumas vezes fazem um homem passar pelo temor do não-ser, mas também levam-no até perto da vida do novo dia futuro.

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Alguns existencialistas não têm podido ver que parte dos arquétipos da psique humana básica inclui essas questões, preferindo demorar-se interminavelmente nos aspectos negativos do ser humano. Um desses existencialistas pessimistas foi Sartre Desafortunadamente, alguns sistemas teológicos também preferem salientar os arquétipos negativos da psique humana. Com base nisso, têm criado uma doutrina do julgamento que não acena com a mínima esperança, o que é a mais profunda causa de medo que os homens têm podido inventar. Há versículos no Novo Testamento que infundem o medo nos homens, por falar em terror e em nulidade, isto é, na total destruição. No entanto, outras porções do mesmo Novo Testamento ultrapassam essa idéia, mostrando-nos que a vontade de Deus, finalmente, fará todos os seres humanos livrarem-se disso.

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9 De Garfo de Hume a Henri Bergson Garfo de Hume Em sua obra, Inquiry Concerning Human Understanding. Hume deixou clara a distinção entre as declarações analíticas, a priori, conforme se vê na matemática e na lógica, e as declarações sintéticas, baseadas sobre fatos que surgem de nosso contato com as coisas. As primeiras dizem respeito “à relação entre as idéias.; e as segundas referem-se às questões de fato e da existência real”. Leibniz falou mais ou menos da mesma maneira, tendo-se referido às verdades da razão pura e às verdades de fato, que se originam em nossa percepção. Contra Hume, Kant propôs proposições a priori, embora sintéticas, que a nossa mente operaria em categorias e forças, de tal modo que, na realidade, essas proposições seriam lógicas e a priori. Contudo, poderíamos investigar essas coisas por meio da experiência, pelo que elas tornar-se-iam sintéticas. O emprego feito por Hume, quanto a essa distinção, pode ser visto claramente na seguinte citação:Quando percorremos as bibliotecas, persuadidos quanto a esses princípios, que confusão devemos lançar? Se tomarmos nas mãos qualquer volume de divindade ou de metafísica escolar, por exemplo, perguntemos: Este volume contém qualquer raciocínio abstrato acerca de quantidade ou número? Não. Contém qualquer raciocínio experimental acerca de questões de fato e da existência? Não. Então joguemo-lo no fogo, pois nada mais contém senão sofismas e ilusões. É aí que encontramos o garfo em operação; seus dentes separam claramente os campos do conhecimento real do suposto conhecimento. O garfo de Hume precisa ser criticado, entretanto, com base no fato óbvio de que o conhecimento pode ser adquirido genuinamente através da razão, da intuição e do misticismo (que inclui a revelação). Portanto, o conhecimento pode existir sem qualquer experimento científico ou pessoal, sem nenhuma base na percepção dos sentidos. Alguns sociólogos, entretanto, preferem depender pesadamente dessa falácia de Hume. Lei de Hume Hume declarou que a falada naturalista não passa, realmente, de uma falácia. Não poderíamos equiparar o que foi, o que é, o que será ou o que deveria ser. E aquilo que deveria ser nem sempre existe, necessariamente. Alguns sociólogos e antropólogos dependem muito dessa falácia. Esses tendem por defender, como boas ou aceitáveis, condições que existiam ou continuam existindo nas culturas, meramente porque elas, de fato, existem ou existiram. Se uma cultura abandona os seus idosos e mata os elementos mais débeis, porque tais pessoas são cargas para a sociedade, isso não significa que tais atos sejam morais, ou que sejam tão bons como seus opostos, entre outras sociedades. Simplesmente porque sempre houve guerras, e que, periodicamente, um país envia homens armados contra outros, com o propósito específico de matar, não significa que isso seja bom, ou que seja algo tão bom quanto viver em paz, com a promoção de causas humanitárias.

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O que nem sempre pode ser equiparado ao que deveria ser. Mikauil Bakunin Filósofo russo que nasceu em 1814 e faleceu em 1876. Estudou na Alemanha e envolveu-se no levante de Dresden, em 1849, tendo sido aprisionado por oito anos na Rússia e exilado para a Sibéria. Escapou para a Europa e estabeleceu residência na Suíça As Ideias de Mikauil Bakunin: Qualquer pessoa privilegiada é depravada em seu intelecto e em seu coração. Portanto, deve ser aniquilado qualquer privilégio, político ou econômico, cultivando esse aniquilamento como uma arte. Os revolucionários não deveriam deixar-se moderar pela religião, pelo patriotismo ou por qualquer outra espécie de restrição. Um homem teria necessidade de obedecer somente às leis da natureza, que ele encontra dentro de si mesmo. Isso importa em total subjetivismo, sem qualquer restrição por parte da sociedade. Se os homens obedecessem à sua própria natureza, desapareceria a necessidade das organizações políticas, o que não passa de uma utopia e ilusão. Francis Bacon Nasceu em 1561 e faleceu em 1626, em Londres. Foi o precursor do empirismo britânico, descendia de uma família que já havia prestado relevantes serviços. Tendo entrado na carreira política e na advocacia, foi feito lorde por Tiago 1, e posteriormente recebeu o título de visconde de São Albano. Mas, em 1621, ele foi acusado de corrupção, foi multado e banido da corte. Alexandre Pope tinha Bacon na mente quando escreveu:“...mais brilhante, o mais sábio e o pior elemento da humanidade”. Como filósofo, Bacon exerceu imensa influência, tendo iniciado e influenciado a linha de pensadores que inclui Locke, Hume, Mill e Bertrand Russeli. Seu ponto de vista era concreto, prático e utilitarista. Dizia-se defensor da fé cristã; mas às vezes expressava-se com tal ironia que deixava dúvidas quanto à sua real posição. Manifestou-se contra o escolasticismo, distinguindo claramente entre a razão e a revelação. Seu alvo era facilitar as investigações da ciência, por meio do método matemático, sem misturar a religião na questão. Ele equiparava o conhecimento ao poder, e antecipava um domínio tecnológico em grande escala, que resultaria em uma utopia econômica e social. Empirismo.Bacon rejeitava a simples indução com seus valores numéricos. Antes, salientava a necessidade de averiguar as generalizações, bem como a necessidade de pesquisar instâncias negativas que contradiziam as conclusões. Talvez a sua maior debilidade consistisse no fato de que ele não entendia que um cientista, vez por outra, precisa por de lado o empirismo rígido, confiando na sua intuição acerca da verdade ou quanto a descobertas que somente mais tarde seriam comprovadas experimentalmente. Algumas vezes, um cientista tem de expor alguma hipótese bem imaginada. Quanto a essa fraqueza, Bacon foi criticado por Kant. Em seu livro, Novum Organum, Bacon expôs os interesses e os motivos humanos que jazem por detrás da atitude filosófica e das conclusões de um homem. Ele chamava esses preconceitos de ídolos mentais. Esses preconceitos são os seguintes:

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1-Os ídolos da tribo, que são os erros humanos que existem porque pertencemos à raça humana, e imaginamos que essa espécie pode ser a medida de todas as coisas. De fato, há muitas idéias falsas à solta. 2-Os ídolos da caverna são os erros que surgem devido aos preconceitos individuais. Esses erros são tão numerosos quanto as idéias que circulam nas mentes das pessoas. 3-Os ídolos do mercado, que são os erros que se originam da influência das palavras na mente, com base na idéia que a existência de uma palavra indica que deve haver uma realidade que corresponda àquela palavra. Mas a verdade é que as palavras são ambíguas e confusas, e disso resulta que a verdade tem de transpor o obstáculo formado pelos próprios idiomas. 4-Os ídolos do teatro, que são erros gerados pela influência da filosofia tradicional, devido ao exagero; do respeito a heróis filósofos como Aristóteles, cuja ciência, embora boa para sua época, tornou-se obsoleta há muito tempo, embora muitos tenham deixado de perceber isso por inúmeras gerações. Hume e outros pensadores deram continuidade à campanha de Bacon contra tais ídolos. O grande alvo de Bacon era a Grande Restauração, que devolveria ao homem o domínio sobre o mundo natural. Em seu livro, The New Atlantis, ele falou sobre a sociedade ideal, governada por princípios científicos. Essa sociedade teria um colégio intitulado Casa de Salomão, dirigido por um grupo de sábios, científica e experimentalmente orientados e motivados. Alguns supõem que essa foi a idéia que gerou a Real Sociedade Inglesa. Roger Bacon Nasceu em 1214 e faleceu em 1294. Foi filósofo inglês e monge franciscano. Estudou em Oxford e na Universidade de Paris. Mais tarde fez conferências em ambas essas universidades, concentrando a atenção sobre a ciência transmitida pelos escritores árabes. Foi suspeito de falta de ortodoxia, pelo que Boaventura, em 1257, proibiu suas conferencias em Oxford, fazendo-o cessar as suas publicações. O papa Clemente IV liberou-o da proibição, e ele pediu para escrever um tratado sobre as ciências. Disso resultaram os seus livros Opus Majus, Opus Minus e Opus Tertium. Retornou a Oxford em 1268. Mas o infortúnio, motivado pelas perseguições religiosas, prevaleceu novamente. Suas obras foram condenadas pelo superior dos franciscanos, e Bacon foi aprisionado por catorze longos anos. Princípios básicos Para Bacon havia quatro grandes fontes do erro: Em primeiro lugar as autoridades, os costumes, a opinião da maioria destreinada e o ocultamento da ignorância sob a máscara de sabedoria. Em segundo lugar, ele pensava que as ciências fundamentam-se na matemática, dizendo que o empirismo e a especulação Jamais são suficientes para estabelecer a verdade. A ciência, portanto, precisa perscrutar tudo, jamais dependendo dos dogmas. Em terceiro lugar, as experiências devem repousar sobre a percepção dos sentidos externos. Todavia, também há a percepção interna, quando a iluminação divina faz incidir sua luz sobre algo; mas então deixamos de lado o campo das ciências e nos envolvemos na teologia. Em quando lugar isso sucede, deixamos para trás o conhecimento imperfeito e passamos a buscar ao Criador. Bacon combinava a filosofia platônico agostiniana com as especulações árabes e a ciência empírica.

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Blaise Pascal Suas datas foram 1623 a 1662. Matemático e cientista natural, nascido na França em Clermont-Ferrand.Mudou-se com a família para Paris. Mostrou ser um gênio matemático. Reconstituiu as provas da Geometrhi euclidiana até à Proposição 32. Isso ele fez com a idade de onze anos, sem nunca ter sido antes Euclides! Quando ainda adolescente, escreveu obras originais sobre matemática, tendo feito contribuições originais à mesma. Também escreveu sobre a física;porém, as ideias religiosas atraíam-no poderosamente. Foi influenciado pelas idéias do estoicismo e do jansenismo. Sua mente lutava com contradições e problemas de toda sorte, envolvendo questões espirituais. Em 1654, ele passou por uma profunda experiência mística, das 22:30 de certa noite, durante duas horas. Experimentou o fogo espiritual, alegria, paz e o senso de união com Cristo. Com base nessa experiência, veio a perceber o transcendental valor do cristianismo, e que essa é a principal avenida para quem quer aproximar-se da verdade. Um ponto curioso é que a essência dessa compreensão foi reduzida à forma escrita por ele, tornando-se então uma espécie de amuleto que ele costurou ao seu paletó, e que permaneceu com ele pelo resto de sua vida. A irmã dele, Jacqueline, entrou no convento da abadia de Port Royal, que era um dos centros do jansenismo. O próprio Pascal uniu-se ao grupo, como leigo. Mas, finalmente, o jansenismo acabou sendo condenado como uma heresia. (Era simplesmente o calvinismo dentro do catolicismo romano). Pascal defendeu o jansenismo em uma série de ensaios e cartas que são chamados Cartas Provinciais. Ele continuou a escrever sobre assuntos científicos, mas também preparava material que servia de apologias da fé cristã. Sua tendência geral consistia em rejeitar o racionalismo como o meio de encontrar Deus, e que ele substituia pela vereda mística, onde o coração e a vontade humanos são agências importantes. Seus escritos são reconhecidos em face de sua elevada qualidade literária. As Ideias de Blaise Pascal: O dilema humano. O homem sofre neste mundo. Ele não pode vindicar verdadeiramente suas crenças e aspirações religiosas, e nem pode ceder diante do inútil ceticismo. Tem certeza apenas da incerteza, O homem é apenas uma cana esmagada. Um ser humano é um anjo e uma fera, misturados em um só ser. É capaz de atos de grandeza e de muitas desgraças. O homem é um paradoxo para si mesmo. A filosofia oferece racionalismo e dogma, mas também ceticismo. Nenhuma dessas coisas ajuda o homem a encontrar solução para os seus paradoxos. A razão é limitada e o ceticismo é inútil, servindo somente para nos levar ao desespero. Pascal via sentido nos princípios calvinistas (jansenistas), que deixam tudo aos cuidados de Deus, encontrando resposta para tudo na graça divina. Porém, essa posição deixa sem solução a grande agonia do sofrimento humano. A vontade divina (de acordo com o calvinismo) deixa a grande maioria dos homens em um eterno terror. Essa idéia dificilmente oferece solução para qualquer problema humano. Os métodos humanos consistem, essencialmente, naquilo que ele chamou de espírito da geometria, ou seja, um procedimento sistemático para resolver problemas (o método científico), ou então, espírito de sutileza, Temos ali, essencialmente, a Intuição, que obtém conhecimentos imediatos. Além disso, esse conhecimento pode ser muito mais completo do que o entendimento obtido através do método racional. O coração tem razões próprias que ultrapassam ao processo do raciocínio. Deus é muito mais sentido pelo coração do que conhecido através da razão.

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Porém, essa intuição não é completa e nem totalmente suficiente. Provas da Existência de Deus. Apesar das provas racionais terem algum valor, parecem convencer somente por alguns momentos, e então perdem a força. A razão fracassa por tratar-se de um poder finito que procura descrever uma Entidade infinita. Contudo, as provas racionais da existência de Deus não devem ser abandonadas. Elas são de alguma ajuda para algumas pessoas. Dessa atitude foi que emergiu a famosa Aposta de Pascal. A Aposta de Pascal. Os amigos de Pascal eram livres pensadores, e muitos deles apreciavam o jogo. Foi dentro desse contexto que Pascal inventou uma prova da existência de Deus, ou talvez seja melhor dizer, um método de abordar o problema, e não tanto uma prova séria. Ele já havia assumido a posição que afirma que as provas racionais da existência de Deus têm algum valor, embora não grande. E Pascal pensou que seria útil se seus amigos jogassem acerca da idéia divina, visto que estavam interessados pela matemática e pela taxa de probabilidades. Crer ou não na existência de Deus pode ser uma espécie de jogo. E assim, apostemos que ele, de fato, existe. Se vier a ser provado, finalmente (na nossa experiência futura), que ele realmente existe, então teremos obtido a felicidade eterna. E, se Deus, afinal, não existe, então nada teremos perdido. Por outro lado, se ignorarmos a Deus e à sua existência, no que nos diz respeito, então terminaremos na condenação eterna. Os jogadores e os matemáticos precisam reconhecer que isso envolve um jogo razoável. Quem se arriscar pode ganhar muito, sem ter nada a perder. Isso posto, que todos apostemos. Um aspecto da aposta de Pascal é que aquele que fizer a aposta terá de ser sério no jogo. Não poderá simplesmente crer que Deus existe, como uma proposição intelectual. Antes, terá de moldar sua vida a essa crença. Terá de conformar sua vida aos princípios da graça divina. O Deus da graça é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e não o Deus dos filósofos. É de presumir que, se fizermos essa aposta, levando nossas vidas a conformarem-se ao principio divino, então o Deus da graça haverá de abençoar-nos, justificando-nos em nossa fé e aposta. Filósofos e teólogos têm criticado severamente a essa aposta de Pascal. Eles frisam que se Deus existe e é dotado dos poderes de razão que lhe atribuímos, então não se deixará impressionar em nada com os homens que meramente apostam em sua existência. Isso posto, Deus não se sentirá forçado a abençoar aos indivíduos que fizerem tal aposta. Não há que duvidar que o próprio Pascal não ficou muito impressionado com o seu esquema. Ele dependia de experiências místicas para encontrar-se com Deus, e não de meras apostas. Por outra parte, a sua insistência que tal aposta deve incluir a outorga de nossa vida aos cuidados de Deus, serve de fator favorável às experiências místicas. Para certas pessoas, a Aposta de Pascal pode ser um elemento valioso. Certamente Deus leva em conta a fraqueza humana, e bem pode abençoar ao indivíduo que tenha apostado a sério em sua existência. Afinal, a aposta de Pascal inclui a outorga da vida a Deus, e não um mero assentimento mental quanto à sua existência. Esse é o aspecto que levaria muitas pessoas a pensar duas vezes, antes de apostar de maneira superficial. Isaac Newton Suas datas foram 1642 a 1727. Newton foi um físico e filósofo natural inglês. Ele combinava com a sua ciência e filosofia importantes idéias teológicas. Nasceu em Woolsthorpe. Estudou e ensinou em Cambridge.Foi membro da Real Sociedade Britânica.

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Serviu como parlamentar. Recebeu muitas honrarias em virtude de seu trabalho e de suas idéias. Assim, foi admitido à Academia Francesa de Ciências, como membro; foi presidente da Real Sociedade Britânica;e foi nomeado cavaleiro em 1705. Era amigo chegado de John Locke; mas rivalizava com Leibnitz. Newton e Leibnitz inventaram o cálculo diferencial independentemente. Voltaire defendeu e popularizou a obra de Newton. Foi Voltaire quem contou, pela primeira vez, a história da maçã calda, o que sugeriu a Newton a idéia da lei universal da gravidade. As Ideias de Isaac Newton: Em sua obra, Principia, ele estudou a mecânica do movimento, tanto celeste quanto terrestre, e também elaborou sobre a lei da gravidade. Essas idéias vieram a tornar-se a base da física clássica. A nova astronomia também surgiu em resultado desses esforços. Ele postulou as três leis do movimento, as quais têm sido consideravelmente revisadas desde então, mas que, em sua época, eram noções avançadas, que também se tornaram parte integrante da física clássica. Ele ensinava a doutrina do espaço e do tempo absolutos, como o arcabouço do movimento dos corpos. Quanto a seu método, ele foi essencialmente um positivista. Suas quatro regras eram as seguintes: a-Não admitir mais causas, para as coisas naturais, do que aquelas que são verdadeiras e suficientes para explicar seu aparecimento e seus fenômenos. b-Para os mesmos efeitos atribuir as mesmas causas, tanto quanto possível. c-As qualidades dos corpos ao alcance de nossa experiência devem ser consideradas as qualidades universais de todos os corpos. d-As proposições estabelecidas por meio da indução geral devem ser tidas como verdadeiras, ou aproximadamente verdadeiras, até que essas proposições sejam corrigidas por evidências indutivas adicionais. Ele não provia explicação para causas, quando não havia evidências em favor das mesmas. E respondia às críticas acerca desse particular: Hypotheses non fingo., que significa Não invento hipóteses.. Em outras palavras, Newton não ia alem das evidências possíveis, e não entrava em especulações. Ele dava à sua mecânica um caráter teísta. Atribuía a Deus três funções na natureza: a-A ideia divina é necessária para explicar a criação, em seu começo e em sua manutenção. b-A manutenção apropriada da natureza, conforme se vê no caso da posição relativa mantida pelas estrelas (elas não se juntam, formando uma única massa), requer a ideia divina. c-O sistema solar é perturbado, mas a boa ordem sempre prevalece; e precisamos postular Deus para explicar como essa ordem é preservada. Newton também escreveu tratados teológicos, e não meramente científicos. Entretanto, suas obras teológicas são maculadas por um pronunciado caráter ariano. G.E. Moore Suas datas foram 1873 a 1958. Nasceu em Londres e educou-se em Cambridge, onde também ensinou. Foi eleito para ser membro da Academia Britânica e nomeado a receber a Ordem do Mérito.

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Progrediu através de uma série de posições filosóficas; e, finalmente, deixou sua contribuição distintiva como porta-voz do chamado Realismo do Bom Senso, que diz que o mundo é como parece ser, e que nossos sentidos são suficientes e adequados para conhecê-lo. Mas nunca se sentia satisfeito com a maneira como abordava os problemas filosóficos, e sempre voltava a atacá-los. Tornou-se conhecido por sua honestidade e labor incansável. As Ideias de G.E. Moore: Quanto à Epistemologia. Moore negava os esforços dos céticos que tanto rebaixam o poder dos sentidos, em sua filosofia, que chegam a anular o conhecimento. Também atacava todos os idealistas, que pensam que todas as realidades são mentais. Ele defendia o realismo. As coisas que vemos são coisas reais, independentemente de nossas mentes, que delas tomam conhecimento. Nesse realismo, Moore era simples e ingênuo. Os objetos que vemos são exatamente aquilo que parecem ser e a percepção de nossos sentidos é adequada para tomarmos conhecimento deles. Ele ilustrava sua posição simples levantando uma das mãos e dizendo: Aqui está uma mão. E então, levantando a outra, dizia: “Aqui está outra mão”. Para ele, coisas assim não precisam de muita análise. Mas se falarmos com um físico teórico, veremos se sua abordagem ao conhecimento é adequada, para nada dizermos sobre os místicos. Quanto à distinção entre esse e principio, ou seja, entre “ser” e “percepção”. Um idealista dirá: o ser está na percepção mental. Moore respondia que ser e ser percebido são coisas distintas, e que a percepção, sem importar se a mesma ocorre ou não, nada tem a ver com a realidade do ser. Além disso, o ato de perceber é poderoso o bastante para fornecer-nos uma boa descrição daquilo que “existe”. Realismo Representativo. Se separarmos o ser da percepção, então poderemos cair no ardil de dizer que percepção é representação, e não a apresentação do conhecimento sobre alguma coisa. Porém, parece que o próprio Moore caiu nessa armadilha, em alguns de seus escritos. Porém, uma vez que se fala em representação, já se terá debilitado o poder da percepção dos sentidos. Pois o que é uma representação senão uma avaliação mental? Outrossim, nossa ciência ensina-nos que nossos sentidos realmente não nos apresentam conhecimento. Para ilustrar o ponto: nem o mais poderoso dos microscópios conseguiu ainda apresentar-nos com o que se parece o átomo. Verdades que estão Acima de Análise. Moore afirmava conhecer muitas verdades para as quais ainda não achara uma análise. E nem pretendia definir no que consiste a análise correta, e como ela deve ser efetuada. Os Universais. Moore acreditava nos universais , compreendendo-os como ou relações (propriedades relacionais) ou propriedades não-naturais, como números e cores. Ele defendia a teoria da correspondência da verdade. No campo da ética, ele dava prosseguimento à sua abordagem simplista, e terminou defendendo uma forma de intuicionismo ético. Ele cria que o homem é capaz de saber o que é certo e o que é errado, mediante seus poderes intuitivos. Mas não acreditava que o que é bom possa ser crassamente identificado com qualquer qualidade natural, como o prazer, por exemplo. Sua obra, Principia Ethica, expressava crença na qualidade não-natural da bondade. A bondade seria um conceito ético fundamental, que não pode ser definido ou analisado. Coisas como conceitos de dever, de correto, etc., podem ser definidas em termos de produzirem e preservarem, até onde possível, a qualidade da bondade.

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Isso poderia ser melhor exemplificado por meio de atos de amizade (amor) ou por meio do aprazimento estético: Qualquer tentativa para definir a ética, de forma naturalista, leva-nos a cair na falácia naturalista. Por outro lado, ele não alicerçava suas idéias éticas em Deus ou em causas naturais. Preferia ficar com uma espécie de fonte não-natural, nebulosa, para o conhecimento da bondade, sem chegar nunca a tentar analisar ou definir essa fonte. De fato, ele pensava que tal definição é impossível, e assim abandonou sua forte abordagem empírica, que usava quanto a outras questões. O bem não poderia ser analisado, embora cheguemos a intuir no que o mesmo consiste, sendo impelidos por uma orientação interior, quando queremos fazer o bem. Não obstante, o homem seria capaz de identificar vários bens, embora não o princípio mesmo do bem, conforme já foi dito. Georg Wilhelm Friedrich Hegel Georg Wilhelin Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart, na Alemanha, em 1770, e faleceu em 1831, vítima da cólera. Antes de se tornar filósofo, interessou-se profundamente pela fé cristã, e estudou formalmente a teologia, na Universidade de Tubingen, em companhia de outros vultos que se tornariam ilustres, como Schelling e Flolderlin. Também esteve associado a Schelling na Universidade de Jena, onde, juntos, publicaram um jornal filosófico. Foi reitor do ginásio de Heidelberg e então da Universidade de Berlim. As principais influências filosóficas que moldaram o seu pensamento foram o racionalismo de Spinoza e de Emanuel Kant, bem como o idealismo de Fichte e de Schelling. Não devemos nos olvidar de que seu apaixonado interesse pela fé cristã foi um dos fatores mais fundamentais em suas formulações. Contudo, ele sentia que a teologia cristã de sua época (uma espécie de escolasticismo protestante) era árida, e, por isso, procurava uma experiência espiritual mais profunda. Alguns intérpretes acreditam que a vida e a filosofia de Hegel demonstram que o desenvolvimento de sua filosofia estava firmemente alicerçado sobre suas próprias experiências religiosas, e não meramente sobre noções que ele aprendera na escola. Essa teoria também afiança que ele passou por uma poderosa experiência mística acerca da realidade das coisas. Em vez de procurar expressar isso em termos teológicos, conforme faz a maioria dos místicos, ele procurou exprimir a sua experiência em termos filosóficos, mediante suas descrições sobre o Espírito Absoluto. Como é óbvio, isso só pode ser verdadeiro em parte; porquanto não é difícil delinear suas idéias básicas, de acordo com as influências filosóficas que ele sofreu, conforme dissemos acima. Seja como for, os eruditos têm salientado, com toda a razão, a natureza mística de seu pensamento básico, onde a diversidade é, finalmente, reduzida à unidade no Espírito Absoluto. Na verdade, os místicos falam nesses termos. Hegel recebeu seu doutorado em teologia em Tubingen, em 1791; e, em 1801, ele aliou-se a Scheling na Universidade de Jena, onde começou a lecionar sobre filosofia. Sua posição filosófica, a principio, era uma espécie de refutação a certos aspectos das idéias de Kant. Se o seu método dialético pode ser traçado de volta à dialética transcendental de Kant (em sua obra Crítica da Razão Pura), contudo, sua filosofia final opunha-se a todos os aspectos importantes do pensamento kantiano. Hegel negava completamente a limitação da razão conforme fazia Kant, e pensava que a razão é a base das operações do Absoluto, em todas as coisas. Ele não deixava margem

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para mistérios insondáveis, em algum mundo mental, que só pudesse ser perscrutado por postulados racionais intuitivos, conforme Kant fazia. Para ele, a Razão permeia a tudo e delineia todas as coisas, em todos os lugares, o que é um exagero, segundo os gostos da maioria dos filósofos. Enquanto residiu em Heidelberg, Hegel publicou a sua Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817), um esboço sistematizado de seus conceitos. Posteriormente, ensinou em Berlim, com grande sucesso e popularidade, embora impressionasse mais do que cativasse. A última obra por ele publicada foi sua Filosofia do Direito e da Lei (1820). Faleceu em Berlim, a 14 de novembro de 1831, de uma praga de cólera, tendo sofrido apenas por um dia. Tal como os filósofos realmente grandes, ele tinha interesses bem amplos, no campo da filosofia e fora dele. E seu sistema procurava tratar de forma geral e harmônica todo o conhecimento e toda a realização humanos e sua influência foi enorme. Após sua morte, suas obras e preleções foram publicadas por um grupo de alunos seus, que alguns têm chamado de “amigos do imortalizado”. Assim, algumas de suas obras mais influentes foram publicadas postumamente, com base nas anotações feitas por alunos seus, em sala de aula. As Ideias de Georg Wilhelm Friedrich Hegel: O Propósito da Filosofia. A filosofia deveria procurar conhecer a natureza, o real, o mundo inteiro da experiência e do ser. Deveria tentar compreender a essência eterna, a harmonia e as leis do conhecimento e da realidade. A Fé Básica. A existência, para ele, é uma ordem racional, imbuída com significado. Essa racionalidade pode ser reconhecida através do pensamento, a função racional inerente ao homem. A função da filosofia consiste em entender as leis mediante as quais a razão opera. A tríade dialética básica de tese, antítese e Síntese seria a maneira do Espírito Absoluto operar; a compreensão de tal fato, pois, é a chave para a investigação em que a filosofia nos encaminha, fazendo-nos sondar a natureza de todas as coisas. O Espírito Absoluto. O espírito era visto por Hegel como uma força real e concreta. Essa força personificada em certo número de suas manifestações, como o espírito do mundo. Opera mediante o espírito coletivo, nas nações, embora também opere nos indivíduos. Hegel criou uma anedota que ilustra esse ponto. Ele falava como se tivesse visto Napoleão (talvez o tenha visto, realmente), em seu cavalo branco, após a batalha de Jena (1806). Então ele declarava: “Vi o Weltgeist sobre um cavalo branco”. Ele também se referia a certas figuras mundiais como a alma do mundo. Seja como for, temos aí o conceito de uma alma do mundo manifestar-se em espíritos individuais, operando para cumprir os mesmos desígnios, em consonância com os ditames da Mente Absoluta. Tudo seria mente ou idéia. A Ideia Absoluta (Espírito) seria a consciência toda inclusiva, completamente coerente e eterna, de cada estágio da dialética. A Ideia Absoluta é o Universal final e todo inclusivo que garante a unidade de todas as coisas, e onde residem todas as coisas. Também é divino, o que significa que temos aí uma espécie de panteísmo. A Espiritualidade da Existência. A filosofia de Hegel nega, de forma absoluta, que a matéria seja o componente básico do ser. Antes, a própria experiência seria aquele aspecto na vida do espírito mediante o qual o espírito torna.se cônscio de si mesmo. A essência de todo ser é Deus, o Espírito Absoluto, e a revelação de Deus é a ordem mundial. Deus é o alvo de todo o conhecimento. E Deus revela-se a si mesmo em três estágios: razão, espírito e religião. O Deus de Hegel é panteísta; e, aos olhos da doutrina cristã, isso é uma forma de heresia. Porém, dizermos só isso seria nos mostrar superficiais. Em muitas passagens, o

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Antigo Testamento reflete um crasso antropomorfismo; e sabemos que o antropomorfismo representa mui imperfeitamente a espiritualidade de Deus. Não dispomos mesmo de meios bons para descrever a pessoa de Deus, embora saibamos descrever melhor as suas obras. Assim sendo, quando estamos abordando o caso de um filósofo como Hegel, fazemos bem em notar quais são os discernimentos dele, não rejeitando a sua filosofia com títulos negativos. A filosofia de Hegel é um idealismo absoluto. A ideia, para ele, é a base de toda a realidade, isto é, uma realidade não-material. E a matéria é um epifenômeno do espírito. O Princípio da Unidade. A unidade, naturalmente, é uma das categorias místicas fundamentais. Os místicos do Ocidente e do Oriente testificam a esse respeito. Esse também é um conceito básico do mistério da vontade de Deus, Todas as coisas, finalmente, terão de encontrar o seu centro no Logos. Todas as coisas procedem Dele, e todas as coisas terão de voltar a ele. Escreveu Hegel: O nexo interior de todas as diferentes configurações do espírito: deve-se afirmar que somente um espírito, um princípio expressa-se no estado político, tanto quanto na religião, na arte, na ética, nas maneiras, no comércio e na indústria. Essas coisas são meros ramos de um tronco principal.., o espírito que é um só. O Processo Dialético. O conceito básico por detrás desse processo é: ser, não-ser, tornar-se. Aquilo que existe opõe-se àquilo que ainda não existe, embora esteja em processo de vir à existência. A tensão entre as duas coisas produz o seu oposto. Então a tensão entre os dois opostos, finalmente, produz tinia síntese. Dai resulta o processo dialético de Hegel, que consistia em TESE, ANTÍTESE e SÍNTESE. Cada síntese, por sua vez, torna-se uma nova tese. Sem importar quão perfeita ou poderosa seja uma tese, é impossível evitar que ela se torne uma negação de si mesma (chamada não-ser). Esse é um constante poder de negação, que existe em todas as entidades, instituições e conceitos. Esse princípio é o gerador de novos pensamentos e de novas entidades, operando interminavelmente. Nenhuma síntese pode manter a si mesma meramente como uma nova tese. O não-ser e o poder da negação, não demora a criar uma nova antítese. Emerge daí uma nova síntese, em um processo que prossegue indefinidamente. Uma síntese é ímpar somente por algum tempo. Pois é engolida no Contínuo processo de mutações, o fluxo de Heráclito, um princípio básico do próprio ser. A dialética de Hegel surgiu, pelo menos em parte, devido à influência de Kant. A sua tendência era classificar as coisas em tríades. Suas categorias servem de demonstração disso. Fichte também tinha trabalhado sobre esse princípio (influenciado por Kant), quando se referiu a como o ego postula o mundo (oposto do ego). Antes desse postulado, temos o Ego Absoluto, a fonte de todo ser. Portanto, foi Fichte, e não Hegel, quem primeiro apresentou o processo dialético, consistente em tese, antítese e síntese. A atividade da razão humana requer a postulação, a contra-postulação e a síntese. Arthuh Schopenhauer Suas datas foram 1788 a 1860. Ele foi um filósofo alemão cujo nome tornou-se um sinônimo virtual de pessimismo. Ele nasceu em Danzig. Estudou nas Universidades de Gottíngen e Berlim. Teve mestres famosos, como Wolff, Fichte e Schleiermacher. Foi influenciado pelas idéias de Goethe. Ensinou na Universidade de Berlim.

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Schopenhauer era homem de estranha personalidade. A fim de exibir sua animosidade contra Hegel (a quem ele chamava de fanfarrão da filosofia), marcou suas aulas para o mesmo horário que as dele; mas com isso ele apenas prejudicou a si mesmo. Foi despedido de seu posto; mas uma herança, deixada por seu pai, tornou-se seu sustento adequado. E tirou proveito de seu lazer para viajar, tendo vivido em vários lugares da Europa. O pai de Schopenhauer era um rico negociante que amava muito à liberdade. Quando sua cidade nativa, Danzig, perdeu a independência, tornando-se parte do império da Prússia, ele mudou-se para Hamburgo. Sua mãe foi uma novelista popular de alguma notabilidade. Seu pai tentou forçá-lo a abraçar o mundo dos negócios, mas isso só funcionou durante breve período. Sua inspiração era a filosofia e o estudo. E obteve o grau de doutor em filosofia, na Universidade de Jena. Após muitas mudanças e percalços, ele voltou a Berlim; mas a cidade foi atingida por uma epidemia de cólera. Hegel morreu de cólera, e Schopenhauer mudou-se para Frankfurt. Ali obteve sucesso e popularidade, tendo permanecido naquela cidade até que a morte o colheu. Assim, sua idade avançada foi o período mais satisfatório de sua vida, embora ele nunca tivesse ficado satisfeito com as suas realizações. Para ele, Platão e Emanuel Kant foram os maiores filósofos. Também deixou-se influenciar pelo budismo, tendo sido o primeiro filósofo ocidental a dar suficiente atenção àquela filosofia oriental. Sua personalidade era marcada por estranhos subterfúgios, alimentando o profundo pessimismo que o caracterizava em sua visão da vida. Ao que parece, sua mãe foi envolvida em costumes sexuais duvidosos, encorajada pelo círculo literário em que ela se movimentava. Schopenhauer nunca conseguiu manter relacionamento duradouro com qualquer mulher, e sua obra, Ensaio sobre as Mulheres, reflete a sua inimizade por todo o sexo feminino. Ele rompeu relações com sua mãe, e não teve contato algum com ela, durante quarenta e seis anos. Mostrava-se extremamente sensível diante de todas as formas de sofrimento, incluindo o dos animais, que o deixava revoltado. Ele chegou a acreditar que a própria existência é um mal (essa é a definição primária do pessimísmo), não podendo aceitar qualquer teoria que afirmasse a existência de um Deus justo e benévolo. As Ideias de Arthuh Schopenhauer: A filosofia não é uma ciência, mas alicerça-te sobre processos lógicos. Mas as culminâncias da filosofia formam uma arte, uma revelação que opera mediante o discernimento intuitivo. Através da razão obtém-se apenas uma filosofia elementar. Em seu livro, The Fourfold Root of the Principie of Sufficient Reason, ele lançou dúvidas sobre a eficácia da razão. A experiência imediata, não-racionalizada, que envolve a vontade, tornou-se a sua principal maneira de tomar conhecimento das coisas. A introspecção (discernimento intuitivo) ensina- nos que a vontade é primária, sendo a base real de todas as coisas, O próprio corpo do individuo é a concretização da vontade. Há uma Vontade Absoluta, à qual denominamos Deus. Todas as demais vontades são derivadas desse poder. Todas as demais coisas são concretizações da Vontade suprema. As vontades, pois, são microcosmos da Vontade macro-cósmica. O mundo é uma idéia ou representação da Vontade cósmica. As ações humanas, por um lado, são ideacionais e fenomenais; mas, por outro lado, são volicionais e reais. Daí segue-se que a vontade do homem é cega, quando considerada isoladamente. A vontade expressa na natureza também é cega, um esforço inconsciente. Esse esforço é a vontade de viver, mas, na realidade, é destituído de propósito.

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O mundo é a representação de coisas individuais, que são feitas como elas são pela Vontade irracional. As grandes características dessa Vontade e das coisas que ela impõe em sua extensão, que é o mundo, são a dor e o sofrimento. Não há nenhum desígnio que se esforce em prol do bem; há somente uma precipitação enlouquecida para continuar a existir a qualquer custo e sob qualquer condição. O espaço e o tempo são individualizações da Vontade cósmica. Assim sendo, nos escritos de Schopenhauer topamos com um total idealismo. Porém, para ele, a razão não é a essência da Idéia divina. Essa essência é uma Vontade insana. Deus seria insano, se quiséssemos chamar a Vontade cósmica ou Vontade Absoluta de Deus, A vontade é a atividade primária, fora do tempo, fora do espaço, sem causa, que se exprime no homem como impulso, instinto, esforço, anelo, desejo, desapontamento e tragédia. A vontade é o verdadeiro eu do homem; o seu corpo é apenas uma auto-representação. O mundo consiste em vontade e idéia. A vontade expressa-se por toda parte. Guia a tudo, arruína tudo, azeda tudo. A vontade de existir, de viver, de lutar, de prosseguir, somente produz a tristeza e fomenta todos os males que vemos no mundo, com seus imensos e insensatos sofrimentos. Ávida é má por ser egoísta e vil. A vontade torna os homens cobiçosos, intrigantes e ruins, e, no entanto essa vontade é que é a essência de todas as coisas. Portanto, a própria existência é um mal. Livramento. Podemos obter um livramento parcial da loucura que caracteriza a nossa vida em uma desprendida contemplação das Idéias, concebidas em termos platônicos. Além disso, na estética podemos obter certa espécie de resignação budista ou passividade, que tende por amortecer as nossas tristezas. Assim como uma pessoa contempla uma obra de arte, assim também ela pode desligar-se de sua individualidade, onde a Vontade operou sua obra nefanda. E assim podemos tornar-nos um puro sujeito cognoscente. Há uma hierarquia de formas de arte. Em seu ponto mais baixo, a arte toma a forma de arquitetura, subindo dai para a escultura, para a pintura, para a poesia lírica e trágica, e atingindo o seu ponto mais alto na música. Esse passo final é o supra-sumo da arte, aquele passo no qual a Vontade expressa-se de modo mais belo. A dor e a alegria são representadas nas artes em uma forma abstrata. Mas, embora obtenhamos assim um livramento temporário, vemo-nos envolvidos na estética, pelo que essa vitória é temporária. Não demora muito a Vontade apossar-se novamente de nós, fazendo-nos sentir uns miseráveis. A Ética da Compaixão Essa é a única coisa valiosa à face da terra. Uma nova tentativa. Em nossa busca pela liberação, obtemos outra vitória parcial ao aceitarmos a ética do pessimismo. Temos de reconhecer que todas as coisas são inúteis, com exceção de uma coisa: a simpatia, ou seja, a compaixão. Ter compaixão pelo próximo pode quebrar as cadeias do ego. Podemos ter compaixão (isto é, amor) pelo próximo quando compreendemos a unidade de todas as coisas. Todos os seres vivem na mesma miséria que nós. Somos um. Quando alguém sente a dor de outrem, com a mesma intensidade com que sente a sua própria dor, então tal pessoa conquistou a dor, mediante a própria dor; mas temos ai uma dor altruísta, pelo que isso é algo de valor. As maneiras certas de agir são a renúncia (esperar pouco da vida e negar seus valores); a resignação (aceitar os truques sujos da Vontade suprema); e ascetismo (reduzir os próprios desejos, e juntamente com os mesmos, os desapontamentos). Neste vasto mundo não há atos bondosos senão aqueles inspirados pela simpatia. Somente ao exercer a compaixão é que um homem se vê livre de seu ego insano. Salvação. Apesar das religiões falarem sobre a vida eterna, o que deveríamos desejar é a morte eterna. Aí encontraremos o sossego. Já vimos como a Vontade cósmica (o deus de Schopenhauer) é insana; portanto, dessa Vontade só podemos esperar mais loucura

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ainda. Porém, algum dia, talvez Deus resolva cessar em sua louca luta pela vida, preferindo a morte. E então todas as coisas deixariam subitamente de existir, visto que tudo é apenas a projeção da vontade divina. E, nesse caso, finalmente obteríamos a paz que tanto almejamos. Reencarnação e Futilidade. Se as coisas fossem, de fato, tão ruins como Schopenhauer dizia, então a solução final não seria cometermos suicídio? Ele, porém, respondia com um enfático não! O suicídio é inútil, visto que a alma realmente existe e prossegue em seu insano desejo de viver. Não somente isso, mas a alma sempre volta, em outra reencarnação. Assim, a vida nada resolve; e a morte também nada resolve; e a reencarnação somente aumenta a insanidade. Isso posto, resta-nos esperar pela decisão da Vontade cósmica para deixar de querer viver. Nisso consistiria a salvação. Todavia, não há sinais de que Deus chegue, algum dia, a tomar tão bela decisão! Alberto Schweitzer Suas datas foram 1875 a 1965. Ele foi um filósofo, teólogo, médico, missionário e humanitarista alemão. Educou-se em Strasbourg. Foi missionário-médico de fama internacional. Construiu e trabalhou em um hospital, em Lambarene, África Equatorial Francesa. Os historiadores consideram-no um renascentista que obteve grandeza espiritual. Áreas de Influência e Atividades. Schweitzer foi uma figura universal, que brilhou em várias áreas. 1-Como crítico de música e autor sobre o padrão de vida de Bach, como editor das obras de Bach para órgão (o que ele fez em parceria com C.M. Widor), e como organista concertista, cujas interpretações de Bach foram gravadas, ele exerceu influência sobre a música sacra. 2-Ele foi um teólogo e erudito neotestamentário de nota, cujas interpretações sobre Jesus tiveram alguma influência sobre os círculos teológicos. 3-Como filósofo, ele salientou a reverência à vida e à vontade de amar, em lugar do poder da vontade, que é labor de almas espiritualmente pobres. 4-Como missionário - médico, ele punha em prática a sua filosofia e teologia, de uma maneira evidente. Seus esforços nesse campo têm levado os historiadores a classificá-lo como um dos mais notáveis humanitários da primeira metade do século XX. Idéias Filosóficas: a-A cultura é uma entidade frágil, que depende da vontade dos homens. O homem é moralmente obrigado a levar avante essa entidade, tendo em vista seu melhor desenvolvimento. b-O homem pode ter experiências com Deus através da vontade ética que opera nele. Isso pode transformá-lo para melhor, tornando-o um instrumento benfazejo ao próximo, se ele cultivar essas coisas, em vez de alvos e ambições egoístas. A vontade ética é uma força na natureza inteira, e também reside no homem. Essa vontade é a grande característica que define Deus. c-Jesus foi o maior revelador da vontade ética entre os homens, apesar do fato de que, na opinião de Schweitzer, Jesus tenha sido um sonhador apocalíptico que tentou grandes reformas, mas que estava equivocado em sua fé na iminência do reino de Deus. d-A base de toda ética, como também o fator mais importante, é a reverência à vida. Esse principio, que já havia governado a sua vida, subiu-lhe à mente, de maneira verbal, quando viajava pela África e observava as muitas maravilhas da natureza, tão plena de vida e movimento. Para ele, a reverência à vida tornou-se uma espécie de padrão

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definitivo da bondade. Ao que parece, ele formava uma visão panteísta da natureza, o que o inspirou em seu modo de pensar. Algumas Idéias Teológicas: a-O que foi dito acima tem aplicações à teologia de Schweitzer. Restam alguns pontos a serem destacados, segundo se vê abaixo. b-Em sua obra, Quest of the Historical Jesus, ele tomou a posição de que os autores do Novo Testamento não nos deram um guia seguro para compreendermos a Jesus. Antes, eles criaram uma espécie de Jesus teológico, que obscureceu sua historicidade. Ele via em Jesus um reformador e ativista que acabou desiludido em suas tentativas para estabelecer na terra o reino messiânico de Deus. Ele concedia a Jesus uma visão muito estreita, em suas tentativas para fazer todas as coisas ajustarem-se às suas interpretações apocalípticas. c-O amor é inspirado pela reverência que o individuo tem pela vida. Encontramos aí uma autêntica espiritualidade, que anula o insano desejo dos homens pelo poder. d-A ênfase sobre o misticismo. Schweitzer escreveu um livro cujo título é The Mysticism of Paul the Apostle, e que demonstrou certo discernimento quanto ao fato de que a verdadeira base da inspiração e do pensamento religiosos são as experiências místicas. Um outro livro seu que exerceu grande influência foi Paul and His Interpreters. Thomas Hobbes Suas datas foram 1588 a 1679. Foi um filósofo inglês. Nasceu em Westport, filho de um clérigo. Educou-se em Oxford;serviu como tutor na família Cavendish, uma posição que ocupou durante toda a sua vida adulta, Ben Johnson, Francisco Bacon e Herbert de Cherbury eram seus amigos pessoais. Conheceu Galileu em Florença, na Itália, e entrou em contato com muitos outros cientistas e filósofos, que estavam interessados na promoção do método científico. Mantinha idéias políticas contrárias às da coroa da Inglaterra, pelo que passou onze anos exilado espontaneamente em Paris, como medida de segurança. Nesse tempo, escreveu objeções às Meditações, de Descartes, ao mesmo tempo em que ia aperfeiçoando sua filosofia materialista. Tornou-se o tutor do exilado príncipe Charles de Gales (1646 a 1648). Foi então que escreveu a obra Leviatã. Esse livro caracteriza-se por um secularismo bem pronunciado que o deixou em posição desfavorável diante da realeza francesa e inglesa. Retornou à Inglaterra e foi aceito como cidadão, pelo governo revolucionário que ali obtivera o controle. Consolidou sua amizade com o rei Charles; de quem fora tutor em Paris, quando esse monarca ainda era príncipe, e dele recebeu uma pensão vitalícia. Após o grande incêndio de Londres, de 1666, a Casa dos Comuns passou uma lei contra o ateísmo, mencionando Hobbes por nome. Desde então, seus escritos não mais foram publicados na Inglaterra. Em seus últimos anos de vida, ele se mostrou menos tendente às controvérsias. Escreveu uma autobiografia em latim e traduziu a luada e a Odisséia em versos rimados, em inglês. Deixou Londres e passou o resto de sua vida em Chatsworth e em Hardwick. Faleceu em Hardwick, a 4 de dezembro de 1679, com a idade de noventa e um anos e foi sepultado em uma igreja paroquial daquela cidade. Hobbes era homem polêmico, promovendo idéias que outros sentiam ser detestáveis. Ele geralmente exagerava as questões que defendia, mas fez boas contribuições para a filosofia da ciência. Ele tem a duvidosa distinção de ser o pai do moderno materialismo metafísico.

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Seus amigos deixaram-nos notícias de que era um homem vigoroso, alto e simpático, geralmente bem equilibrado, embora se deixasse alcoolizar uma vez por ano. Nunca se casou, mas deixou provisões materiais suficientes para uma filha natural que tivera. Era homem enérgico, espirituoso, honesto, um bom amigo, absolutamente dedicado à causa da evolução da ciência, além de mostrar-se muito metódico em seu trabalho. Atribuía a sua boa saúde e a sua longa vida ao fato de que era um esportista, bem como ao seu costume de cantar na cama. As Ideias de Thomas Hobbes: Ele defendia um estrito materialismo, afirmando que todos os corpos são corpóreos e controlados por leis rígidas. A causalidade seria a transmissão de movimento de um corpo para outro, O mais tênue de todos os corpos seria o éter. Ele acreditava que qualquer idéia de espírito é absurda. Se nos limitarmos a esse conceito, então isso seria uma declaração lógica, porquanto falar em espírito nos leva a falar em matéria imaterial. Quanto ao método científico, ele pensava que devemos reduzir qualquer todo às suas partes componentes; e, através do exame dessas partes, chegamos a entender o todo. Ele dava um relógio como ilustração. Ninguém pode saber muito acerca de um relógio, se somente ficar olhando para o produto terminado. É mister desmantelar um relógio, para ser compreendida cada parte e sua função. Somente então poderíamos falar, de modo inteligente, sobre um relógio. O determinismo. Ele tinha grande fé nas causas e seus efeitos, e pensava que todas as coisas estão envolvidas nisso, desde a mais minúscula partícula, até o próprio homem. As pessoas deixar-se-iam governar por seus apetites, paixões, imaginações e emoções, havendo causas físicas para todas essas coisas, mesmo quando elas são pouco entendidas. O homem tem uma liberdade aparente. Para ilustrar isso, ele usava a circunstância de como toda a água, de muitas maneiras, flui até os oceanos. A água corre livremente (segundo as aparências), mas o seu destino é seguro e previamente determinado. O homem aparentemente vive em liberdade, mas suas ações são previamente determinadas. Declarações como essa, que deixam de lado a possibilidade da criatividade humana, esquecem-se de que, através da mesma, as coisas podem ser modificadas. A percepção. Essa seria a base de todo o conhecimento que temos. A percepção nos é dada através da observação dos movimentos, A matéria em movimento torna-se visível para o homem. Esse movimento torna-se luz, figura, cor, som, odor, sabor, calor, frio, dureza, suavidade enfim, todas as coisas que conhecemos e descrevemos. Depois que um objeto observado o removido, o cérebro retém imagens sobre o mesmo. A memória e a imaginação trazem de volta o objeto que nos foi posto dentro do alcance de nossa percepção; mas essas coisas tornam-se apenas sensações decadentes, fantasmas que dançam em torno do cérebro e, gradualmente, vão desaparecendo. Nossos pensamentos são formados por estofo dessa ordem. A linguagem nos provê a possibilidade de associar e organizar as nossas percepções, para que se tornem em conhecimento. A qualidade disso varia, pois, algumas vezes, os fantasmas são controlados e, outras vezes, não. O ser no presente. O passado é apenas um fantasma contido na memória, e o futuro ainda nem existe. O nominalismo. A verdade consiste na correta ordenação das palavras ou dos nomes que usamos para fazer afirmações sobre os objetos físicos. Os pensamentos só podem surgir dos objetos que são percebidos. Não há universais além das nossas palavras, que

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existem por si mesmas, em algum tipo de nebuloso mundo imaterial (conforme Platão imaginava). Quando os pensamentos estão arraigados na ciência, então os chamamos de sapientia. Quando eles estão arraigados somente na experiência, sem a disciplina emprestada pela ciência, então nós os chamamos de prudentia. Daí é que se originam os atos individuais. A Ética. Nada mais importa, para os homens, do que o auto-interesse. Do fato, a vida é uma espécie de guerra de cada homem contra cada homem. Há somente uma lei universal: o auto-interesse. A vida humana é apenas uma longa e demorada exibição de auto-amor. Quase todos os homens medem o seu sucesso mediante o auto-interesse que estão conseguindo, através da quantidade de prazer que estão obtendo no processo, ao mesmo tempo em que evitam a dor. A real motivação dos homens é o desejo, e esse é sempre egocêntrico. Todos os atos aparentemente altruístas podem ser explicados como uma demonstração de egoísmo, após a devida investigação. As principais características dos homens são o orgulho, a avareza, a ambição e o temor da morte. Portanto, os homens levam vidas solitárias, pobres, maldosas, brutais e breves. Essas descrições são transferidas para as atividades políticas. A Religião. Não existe a alma, mas talvez haja a ressurreição. O soberano de um Estado tem o direito de estabelecer e pôr em vigor uma religião oficial. O impulso religioso é baseado no temor humano pelo desconhecido. Hobbes concordava, com Epicuro e Lucrécio, de que o homem deriva as suas religiões do terror e da superstição. Ele se opunha vigorosamente às pretensões das autoridades religiosas, como as do papado, quando pensava que uma fé cega e desarrazoada lançara raízes. Ele atacava as crenças religiosas, não com base se as Escrituras contêm ou não essas crenças (como é costumeiro dizerem as pessoas religiosas), mas mediante o exame direto de alguma idéia, para ver se a mesma continha ou não alguma verdade. Para ele, a religião não era nem a teologia e nem a filosofia, mas antes, a lei. Se um soberano chegar a pôr uma religião em vigor, então essa deve ser obedecida, como no caso de qualquer outra lei. Embora fosse um materialista, Hobbes tinha uma espécie de conceito de Deus em que ele era visto como uma força cósmica que controla o Universo, como fonte de todos os movimentos existentes na matéria. A Política. Hobbes viveu no tempo dos conflitos entre os Tudors e os Stuarts, na Inglaterra, o que acabou provocando uma guerra Civil. Ele tinha um ponto de vista pessimista sobre a sociedade, transferindo para ela tudo de mal que ela costumava dizer sobre o homem individual, o modelo do egoísmo. Ele argumentava que somente um Estado forte, como uma monarquia, pode controlar uma criatura maligna como o homem. Também argumentava que o Estado existe para benefício do homem, e que, tal como a natureza, faz aquilo que é direito, provendo uma base natural para a monarquia absoluta. A vontade do Estado seria suprema: poder é direito. O que o Estado ordena, precisa ser obedecido. Um Estado tem o direito de fazer guerra, a fim de preservar os seus interesses. O homem acha intolerável a falta de lei, por essa razão entra em acordos dos quais resultam os governos. Isso elimina a falta de lei. Um Estado forte é necessário para impedir a perturbada heterogeneidade que há na sociedade, que é a fonte do desregramento e dos conflitos. Por essa razão, a monarquia é a forma preferível de governo. O monarca baixa as leis e os seus súditos obedecem, e isso institui certa medida de paz, Todas as virtudes morais derivam-se do desejo humano pela paz. Há uma lei natural que é absorvida nos contratos sociais dos governos. Esses contratos requerem a subordinação dos direitos individuais aos direitos comunitários. E desejável estabelecer um contrato com um monarca absoluto. As leis devem ser reputadas supremas, e não Podem ser desconhecidas.

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O único direito natural do homem é o direito de viver. Portanto, o homem tem o direito de defender sua própria vida, mesmo que para isso tenha de recorrer à força. O bem, na política, é determinado por aquilo que o Estado requer. Isso é um voluntarismo político. Escritos. Suas principais obras foram: Elemento philosophica de cive; De corpore; De homine; Leviathan (discussão sobre a matéria, a forma, o poder da comunidade), que é considerada a sua obra- prima. Essa obra contém suas principais idéias religiosas, morais e políticas. Os capítulos finais dessa obra são fortemente anti-católicos. Ele ataca ali certas doutrinas, não como sem fundamento bíblico, mas procurou mostrar que o pecado implica tanto em conhecimento como um intuito de fazer o mal, pelo que reside na vontade. Sua abordagem forçou ajustes na doutrina do pecado original. Friedrich Von Schlegel Suas datas foram 1772 a 1829. Ele foi autor e filósofo alemão. Foi um dos líderes do movimento romântico na Alemanha. Nasceu em Hanover. Estudou em Gottingen e Leipzig. Ensinou em Jena. Foi influenciado pelas idéias de Schleiermacher, Spinoza, Leibnitz e Friedrich Schiler. As Ideias de Friedrich Von Schlegel: Schlegel falou sobre o espírito de objetividade segundo o qual a personalidade de um indivíduo é dominado pelo que é material; e também sobre o espírito subjetivo que é a principal característica da livre expressão da personalidade. O primeiro espírito ele identificava com o Iluminismo, pois esse seria a sua essência básica; e o segundo espírito ele vinculava ao romantismo no romantismo que rebrilha o gênio humano. Ele adotou o conceito da dialética de Friedrich Schiller, que envolve o finito e o infinito, e que leva à síntese das duas coisas.A ciência, como uma disciplina abstrata, produz a decadência. mister pô-la a operar em conjunção com a vida diária. A cultura só permanece vital quando a vida e a ciência são soldadas uma à outra. A transfiguração espiritual é o alvo das belas-artes. A arte também representa idéias e isso é uma função importante da mesma. Até na tragédia, mais vexatório dos problemas humanos, pode-se ver o eterno surgir dentre a catástrofe temporal, quando o herói é transfigurado por seus sofrimentos. Sobre a Tragédia. Haveria três tipos de tragédia: a. representação, que é mera descrição; b. caracterização do quadro total; e c. transfiguração espiritual. O terceiro tipo é a tragédia mais profunda, o objetivo mesmo da adversidade. Friedrich Schleiermacher Nascido em 1768 e falecido em 1834, ele foi um filósofo e teólogo alemão que exerceu grande influência. Nasceu em Breslau. Educou-se em Haile;foi pregador em Berlim, foi professor de teologia e filosofia em Halie. Foi ministro da Igreja da Trindade, em Berlim.Traduziu as obras de Platão para o alemão. Foi autor de muitos livros, além de ter sido renomado conferencista. Fez progredir a teoria do conhecimento, o raciocínio teológico, a erudição platônica e a teologia sistemática. Sofreu a influência de Kant e Fichte, mas sem tornar-se um idealista subjetivo, infinito. As Ideias de Friedrich Schleiermacher: Ele evitava definir a religião em termos de razão e de moralidade, e preferia apresentar suas idéias sobre os sentimentos.

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O finito faz parte do infinito e depende do mesmo de modo absoluto, O Infinito é a totalidade de todas as coisas, aos moldes de Spinoza. Schleiermacher identificava Deus com o mundo, considerado como um todo. Apesar desse panteísmo, em seus escritos teológicos posteriores, ele se identificou com Agostinho e com Calvino. Proprium. Cada indivíduo deve encontrar e desenvolver sua diferenciação interior, seu lugar particular na natureza e na história, ou seja, a sua finitude especial dentro do infinito. A isso ele chamava de proprium, algo similar à função, nos escritos de Aristóteles, ou seja, o ideal que cada indivíduo, mediante a educação e a evolução, torne-se uma pessoa sem igual, com uma função ímpar, para bem da coletividade. O desenvolvimento do proprium provê ao individuo a sua identidade e a sua unidade de vida. Os indivíduos assim evoluídos e cultivados seriam aqueles que desenvolvem a ética, a sociedade e a religião. Sobre os milagres, ele asseverava que todas as causas são naturais, mas que Deus pode trazer à tona conjuntos incomuns de causas, produzindo os eventos extraordinários que chamamos de milagres. A religião seria uma espécie de atividade natural do homem, o qual, por meio da intuição, apreende algo da essência da existência. O lado prático da religião incluiria uma reação emocional (dos sentimentos) a seus discernimentos. Ele dava grande valor a essa reação emocional. Seus sentimentos incluíam o princípio do amor. Nos sentimentos tomamos conhecimento da realidade de Deus; nos sentimentos simpatizamos com nossos semelhantes. As doutrinas sempre dependem da experiência religiosa, e nunca a experiência da crença. Isso posto, a teologia torna-se, em um importante sentido, uma aventura empírica e uma ciência especialíssima. Apesar das declarações bíblicas e filosóficas terem o seu devido lugar a religião, como uma ciência experimental, dispõe de seus próprios informes para efeito de elaboração, não podendo assim ser restringida aos raciocínios filosóficos, e nem ao emprego de textos de prova extraídos das Escrituras como ponto de partida, mas tão-somente como confirmação e orientação. Dessa maneira, não precisamos limitar-nos a rígidas ortodoxias, com suas formulações exatas e suas limitações, que só servem para aprisionar os homens. A experiência religiosa é uma atividade mental impar e autônoma, que mana desde o fundo de nosso ser. Sobre a Autoridade. A autoridade final, na religião, não são as Escrituras (conforme diz o protestantismo ortodoxo); também não é a razão natural (segundo preceituam algumas filosofias); e nem é alguma combinação das duas coisas paralelamente às tradições (conforme diz o catolicismo romano). Antes, é o sentimento religioso intuitivo, combinado com a experiência religiosa dali derivada. As doutrinas cristãs são exposições dos afetos religiosos cristãos, transmitidas em forma de declarações. Naturalmente, os estudiosos liberais protestantes tiraram proveito desse tipo de pensamento. Por essa razão, Schleiermacher veio a ser conhecido como “pai da teologia moderna”. Henri Bergson Suas datas são 1859 a 1941. Foi judeu francês;um dos mais notáveis, brilhantes e influentes filósofos de nossa época. Ele não percebia ou não expressava as implicações religiosas de sua filosofia, senão quando da publicação de sua última obra. Bergson chegara a uma posição que se poderia classificar de posição teísta, não escolástica, modificada, tendo abandonado a ideia de um Deus estático, de acordo com a perfeição concebida pela.teologia escolástica, para um Deus que se manifesta através de eventos concretos e na história de indivíduos e organismos vivos.

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Rejeitava a deidade absoluta de Aristóteles, preferindo um Deus pessoal e dinâmico, que atua pelo amor. As Ideias de Henri Bergson: A filosofia deve formar-se de acordo com a experiência pessoal. Somos possuidores de razão e de intuição, e podemos julgar as nossas experiências. A razão tende a fornecer-nos uma visão estática das coisas; mas a intuição tende à flexibilidade e à mudança, o que é mais harmônico com a realidade. A razão falsifica as experiências, conforme vemos nos paradoxos de Zeno, onde encontramos as categorias da razão a interpretar a fluidez do tempo. Aprendemos a entender o significado de um objeto mediante a consciência intuitiva, por meio da qual de algum modo identificamos o próprio objeto. A razão produz um conceito. Mas a intuição produz uma metáfora, que se aproxima mais da verdade das coisas. A realidade encontra-se em estado de fluxo, ou seja, está evoluindo. Deus opera nesse processo, e é a força por detrás do mesmo. Ele é o elo vital, que faz o processo ser o que é. Esse elo vital é o impulso primário que atua no mundo, como poder evolucionário ativo que opera e guia toda a existência. A evolução é dotada de propósito, e é aventurosa. A verdade, portanto, não fica estagnada em forma de conceitos. Os conceitos geralmente obscurecem e distorcem a verdade. Antes, nosso conhecimento da verdade está sempre em estado de fluxo, expressando-se por meio de parábolas. A liberdade é uma das principais características da verdade, sendo, igualmente, a essência do ser. O homem e Deus criam as alternativas que possibilitam o futuro, e isso assegura a expressão da liberdade. Matéria e espírito. O espírito mantém-se em estado de fluxo. A matéria, ao contrário, é estagnação. As duas coisas podem ser comparadas a uma fonte de água. A água mana (espírito); mas então entra em repouso (matéria). Isso também assemelha-se à razão (força estagnadora) e à intuição(o surgimento de uma idéia). Falamos em termos similares a respeito do tempo. O passado continua a existir, fazendo parte do presente, e sendo aquilo que chamamos de memória. A questão toda parece-se com uma bola-de-neve que contém em si mesma o que ela era no começo, ao mesmo tempo em que vai adquirindo novas camadas. As mesmas espécies de metáforas aplicam-se às variedades de religião. A religião institucionalizada é estagnada em seus conceitos. A religião mística (extática) sempre se renova, como um manancial que nunca cessa, mas antes, evolui, muda sempre e transmite vida a tudo quanto por ele é banhado. A religião mística pode ser ameaçada pela letra, a qual mata quando as pessoas insistem em obter conceitos credais, que limitam e estagnam a vida e o pensamento. As ideias religiosas são melhor expressas sob a forma de parábolas, o que lhes concede fluidez. Sobre conceitos áticos. Há duas fontes originadoras da ética e da religião. Uma dessas fontes é fechada, consistindo em instintos sociais limitados por leis. Nesse caso, a verdadeira moralidade é impossível, porquanto falta-lhe a liberdade, estando estagnada como conceitos racionais. Baseia-se no auto-interesse (ou egoísmo), adquirindo importância devido aos interesses grupais ou ao egoísmo coletivo. A moralidade aberta, em contraste, alicerça-se sobre a compreensão intuitiva do próprio “eu”, com base nos afetos, e não na fria razão. A moralidade aberta está arraigada no “eu” supra-racional. Ali é possível o altruísmo genuíno, a verdadeira moralidade. Bergson concebia os evangelhos e o cristianismo como alicerçados sobre conceitos de moralidade aberta, em contraste com o pano de fundo veterotestamentário, fechado, legalista.

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Quero que o caro leitor se conscientize que procurei ser o mais imparcial, nas opiniões dos filósofos apresentados. Me portei como um narrador imparcial procurando expor na íntegra suas opiniões. Mas com isto não quer dizer que concordo com a maioria de suas opiniões.

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HISTÓRIA E INTRODUÇÃO À FILOSOFIA L8 1- Que tarefa consiste em descobrir a natureza real da existência? A-A tarefa da ontologia B-A tarefa do criacionismo 2- Quem deixou clara a distinção entre as declarações analíticas,aprior,conforme se vê na matemática e na lógica? A-Hume B-Hegel 3- Que época Mikavil Bakuni viveu? A-1814 - 1876 B-1815-1875 4- Que época Francis Bacon viveu? A-1560-1625 B-1561 - 1626 5- Bacon rejeitava a simples indução com A-Seus valores éticos B-Seus valores numéricos 6- Que época Roger Becon viveu? A-1814-1876 B-1815-1876 7- Que época Blaise Pascal viveu? A-1632-1662 B-1623-1662 8- Que épocaA Isaac Newton viveu? A-1642-1727 B-1641-1727 9- Quem combinava com a sua ciência e filosofia importantes idéias teológicas? A-Isaac Newton B-Copérnivo 10- Que época G.E Moore viveu? A-1877-1950 B-1873-1958 11- Que cidade G.E Moore nasceu? A-Londres B-Paris

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12- Quem negava os esforços dos céticos que tanto rebaixam o poder dos sentidos,em sua filosofia,que chegam a anular o conhecimento? A-Isaac Newton B-Moore 13- Quem afirmava conhecer muitas verdades para as quais ainda não achava uma análise? A-Moore B-Hegel 14- Que cidade Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu? A-Berlin, na Alemanha B-Stuttgart, na Alemanha 15- Que época Georg Wilhelm Friedrich Hegel viveu? A-1789-1832 B-1770-1831 16- As principais influência filosóficas que moldaram o seu pensamento foram o racionalismo de Spinoza e de Emanuel Kant, bem como o idealismo de A-Fichte e de Schelling B-Isaac Newton e Kant 17- Tal como os filósofos realmente grandes,ele tinha interesses bem amplos, A-No campo da filosofia e fora dele B-No campo da teologia e fora dele 18- A filosofia deveria procurar conhecer a natureza,o real A-O mundo inteiro da experência do ser B-O mundo inteiro da vivência do ser 19- A função da filosofia consiste em entender as leis mediantes as A-Transformações da sociedade B-Quais razão opera 20- Que filosofia nega,de forma absoluta,que a matéria seja o componente básico do ser? A-Filosofia de Hobbes B-Filosofia de Hegel 21- E Deus revela-se a si mesmo em três estágios? A-Razão, Espírito e Religião B-Lógica, Metafísica e Razão 22- Qual era o Deus de Hegel? A-Panteísta B-Iaweh 23- A dialética de Hegel surgiu,pelo menos em parte, A-Devido a influência de Maquiavel B-Devido a influência de Kant

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24- Que época Arthur Scuopeniiaver viveu? A-1780-1850 B-1788-1860 25- Que cidade Arthur Scuopeniiaver nasceu? A-Berlin B-Danzig 26- As vontades pois, são microcosmo da A-Vontade cósmica B-Vontade macrocósmica 27- O mundo é uma idéia ou representação da A-Vontade cósmica B-Vontade macrocósmica 28- O espaço e o tempo são individualizações da A-Vontade cósmica B-Vontade microcósmica 29- Que época Alberto Schweitzer viveu? A-1875-1965 B-1870-1965 30- Cite três título universitários de Alberto Schweitzer? A-Teólogo, B-Filósofo, teólogo e médico 31- Quem construiu e trabalhou em um hospital,emlambarene ,África Equatorial Francesa? A-Alberto Schweitzer B-Albert 32- A cultura é uma entidade frágil,que depende da A-Vontade de Deus B-Vontade dos homens 33- Que época Thomas Hobbes viveu? A-1588-1679 B-1580-1679 34- Que cidade Thomas Hobbes nasceu? A-Manchester B-Westport 35- Quem era homem polêmico,promovendo idéias que outras sentiam ser detestáveis? A-Hobbes B-Newton

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36- Ele acreditava que qualquer idéia de espírito é A-Absurda B-Inacreditável 37- Ele tinha fé nas causas e seus efeitos,e pensava que todas as coisas estão envolvidas nisso,desde a mas minúscula partícula, até A-A própria fé B-O próprio homem 38- O que é o base de todo o conhecimento que temos? A-A razão B-A percepção 39- O que nos provê a possibilidade de associar e organizar as nossas percepções,para que nos tornem em conhecimento? A-A linguagem B-A sabedoria 40- A real motivação dos homens é o desejo,e esse é A-Sempre egocêntrico B-Sempre teocêntrico 41- Que época Friedrich Von Schlegel viveu? A-1772-1829 B-1770-1820 42- Que cidade Friedrich Von Schlegel nasceu? A-Hanover B-Londres 43- Quem foi influenciado pelas idéias de Schleier macher,Spinoza,Leibnitz e Friedrich Schiler? A-Henri Bergson B-Friedrich Von Schlegel 44- Que época Friedrich Schleier macher viveu? A-1788-1834 B-1789-1835 45- Que cidade Friedrich Schleier macher nasceu? A-Breslau B-Stuttgart 46- A religião seria uma espécie de atividade natural do homem,o qual por meio da intuição, A-Aprende algo para preenchimento da alma B-Aprende algo da essência da existência

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47- A experiência religiosa é uma atividade mental impar e autônoma A-Que mana desde o fundo de nosso ser B-Que mana desde o fundo da alma 48- Que época Henri Bérgson viveu? A-1800-1880 B-1859-1941 49- Quem não percebia ou não expressava as aplicações religiosas de sua filosofia, se não quando na publicação de sua última hora? A-Henri Bergson B-Tomas Hobbes 50- Quem disse que o homem e Deus criam as alternativas que possibilitam o futuro e isso assegura a expressão da liberdade? A-Henri Bergson B-Tomas Hobbes

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Bibliografia Cruz, Nilson Carlos da, Arqueologia Bíblica, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10 Cruz, Nilson Carlos da, Antropologia Cultural, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10 Cruz, Nilson Carlos da, Antropologia e o Conceito Religioso, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 1 Cruz, Nilson Carlos da, As Epístolas Apócrifas, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 3 Cruz, Nilson Carlos da, Apócrifos Proibido, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 3

Cruz, Nilson Carlos da, Atos e Apocalipse Apócrifos , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5

Cruz, Nilson Carlos da, Os Livros Apócrifos, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Bibliologia, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Bibliologia Aplica, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 6 Cruz, Nilson Carlos da, Ciência Antiga e Ciência Moderna, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 6 Cruz, Nilson Carlos da, Ciência e Teologia, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 3

Cruz, Nilson Carlos da, Comunicação e Expressão, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4

Cruz, Nilson Carlos da, Cristianismo não é Judaísmo!, , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, O Direito Civil e a Cidadania, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5

Cruz, Nilson Carlos da, Didática, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10

Cruz, Nilson Carlos da, Doutrina da Salvação, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 12

Cruz, Nilson Carlos da, Exorcismo Libertação e Cura, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5

Cruz, Nilson Carlos da, Os Evangelhos e as Epístolas Apócrifos, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 3

Cruz, Nilson Carlos da, Evangelho Epístola Atos e Apocalipse Apócrifos 2 V., Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4

Cruz, Nilson Carlos da, Os Evangelhos Apócrifos, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 3

Cruz, Nilson Carlos da, Os Evangelhos Unificado, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10

Cruz, Nilson Carlos da, Evangelhos e as Epístolas, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5

Cruz, Nilson Carlos da, As Epístolas, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10

Cruz, Nilson Carlos da, As Epístolas II, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10

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Cruz, Nilson Carlos da, Evangelhos Atos e Apocalipse, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13

Cruz, Nilson Carlos da,Escatologia, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10

Cruz, Nilson Carlos da, Filosofia da Ciência , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 11

Cruz, Nilson Carlos da, Filosofia da Religião, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 11

Cruz, Nilson Carlos da, A Filosofia da Teologia Cristã 3 V., Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 1 Cruz, Nilson Carlos da, Filosofia Geral, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13

Cruz, Nilson Carlos da, Filosofia da Educação, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 12

Cruz, Nilson Carlos da, Os Seis Períodos e os Seis Conceitos da Filosofia , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 7

Cruz, Nilson Carlos da, Geografia do Velho Testamento, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 11

Cruz, Nilson Carlos da, Geografia do Novo Testamento, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 11

Cruz, Nilson Carlos da, Guia de Estudos FADTEFI, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4

Cruz, Nilson Carlos da, Gestão Educacional, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5

Cruz, Nilson Carlos da, Guerra Espiritual, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 2 Cruz, Nilson Carlos da, História da Filosofia e da Religião, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 7

Cruz, Nilson Carlos da, História da Igreja,História do Judaísmo, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 11

Cruz, Nilson Carlos da, História do Judaísmo, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 11

Cruz, Nilson Carlos da, História do Judaísmo e os Impérios, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 7

Cruz, Nilson Carlos da, História da Igreja e os Impérios , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 7

Cruz, Nilson Carlos da, História da Educação, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5

Cruz, Nilson Carlos da, História da Teologia Cristã, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, Hermenêutica, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10 Cruz, Nilson Carlos da, Homilética, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10 Cruz, Nilson Carlos da, História do Real Cristianismo Em 4 Séculos 3 V, , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 2 Cruz, Nilson Carlos da, Os Impérios, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Literatura Apócrifa do Novo Testamento , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4

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Cruz, Nilson Carlos da, Literatura Apócrifa do Velho Testamento, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, Literatura Judaica- Cristã , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, Metodologia do Trabalho Científico, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10 Cruz, Nilson Carlos da, Manual de Trabalho da FADTEFI, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10 Cruz, Nilson Carlos da, Manual de Conclusão de Graduação FADTEFI, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 10 Cruz, Nilson Carlos da, Psicologia Geral, Psicologia da Educação , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Psicologia da Educação, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Psicologia Geral e da Educação, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5 Cruz, Nilson Carlos da, Pedagogia, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Os Livros Proféticos da Bíblia, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 9 Cruz, Nilson Carlos da, Pentateuco e os Profetas , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 7 Cruz, Nilson Carlos da, Política da Religião , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, Política dos Concílios da Igreja, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, Pentateuco e os Evangelhos, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5 Cruz, Nilson Carlos da, Pentateuco, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Os Profetas, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5 Cruz, Nilson Carlos da, Retórica e Hermenêutica Bíblica, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5 Cruz, Nilson Carlos da, Religião Seitas e Heresias, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, Reis e Profetas, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, Síntese dos Livros do Velho e Novo Testamento, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Sociologia Geral , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13 Cruz, Nilson Carlos da, Sociologia e Filosofia da Ciência, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 7 Cruz, Nilson Carlos da, Sociologia e Religião, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 2 Cruz, Nilson Carlos da, Sociologia e Antropologia, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 2 Cruz, Nilson Carlos da, Teologia Geral, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 13

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Cruz, Nilson Carlos da, Os Grandes Teólogos do Cristianismo, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 5 Cruz, Nilson Carlos da, Teologia Sistemática I, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 11 Cruz, Nilson Carlos da, Teologia Sistemática II, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 9 Cruz, Nilson Carlos da, Teologia Sistemática III, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 8 Cruz, Nilson Carlos da, Teologia e Filosofia, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 7 Cruz, Nilson Carlos da, Teologia e Ética Pastoral, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 9 Cruz, Nilson Carlos da, Teologia Bíblica, Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 4 Cruz, Nilson Carlos da, Teologia Filosófica , Itu / SP- Editora Fadtefi- 2013 – Edição 7

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