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HISTÓRIAS DE SUCESSO

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HISTÓRIAS DE SUCESSO

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Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE/NA

Diretor-PresidentePaulo Tarciso Okamoto

Diretor de Administração e FinançasCésar Rech

Diretor TécnicoLuiz Carlos Barboza

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE

Conselho Deliberativo do SEBRAE/CESecretaria de Desenvlvimento Econômico do Estado do Ceará – SDEServiço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE/NAFederação das Indústrias do Estado do Ceará – FIECAssociação Comercial do Ceará – ACCAgência de Desenvolvimento do Nordeste – ADENEFederação das Associações das Microempresas e Empresa de Pequeno Porte do Estado do Ceará – FECEMPEUniversidade Federal do Ceará – UFCFederação do Comércio do Estado do Ceará – FECOMÉRCIOFederação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará – FAECFederação das Associações do Comércio, Indústria, Serviços e Agropecuária do Ceará – FACICBanco do Nordeste do Brasil S/A – BNBCaixa Econômica Federal – CEFInstituto Euvaldo Lodi – IELServiço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR – AR/CEBanco do Brasil S/A – BB

Presidente do Conselho DeliberativoFrancisco Régis Cavalcante Dias

Conselho FiscalTitularesFederação das Indústrias do Estado do Ceará – FIECFederação do Comércio do Estado do Ceará – FECOMÉRCIOBanco do Nordeste do Brasil S/A – BNB

SuplentesCaixa Econômica Federal – CEFFederação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará – FAECUniversidade Federal do Ceará – UFC

Diretoria do SEBRAE/CE

Diretor SuperintendenteAlci Porto Gurgel Júnior

Diretor TécnicoSérgio de Sousa Alcântara

Diretor Administrativo-FinanceiroJosé de Ribamar Félix Beleza

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HISTÓRIAS DE SUCESSOExperiências Empreendedoras

Fortaleza/CE – 2006

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COPYRIGHT © Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma oupor qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE/NA

Gerente da Unidade de Estratégias e DiretrizesGustavo Henrique de Faria Morelli

Coordenação do Projeto Desenvolvendo Casos de SucessoRenata Barbosa de Araújo Duarte

Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de SucessoCezar Kirszenblatt – SEBRAE/RJ; Daniela Almeida Teixeira – SEBRAE/MG; Mara Regina Veilt – SEBRAE/MG; Renata Maurício Macedo Cabral – SEBRAE/RJ; Rosana Carla de Figueiredo Lima – SEBRAE/NA

Orientação MetodológicaDaniela Abrantes Serpa – M. Sc., Sanda Regina H. Mariano – D. Sc., Verônica Feder Mayer – M. Sc.

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE

Unidade de Orientação EmpresarialCosma Nadir Olimpio Juniar Ellyan – ArticuladoraTereza Kátia Acioly Canamary – Coordenação Estadual do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Coordenação EditorialDaniel Kaúla Santos Machado

Revisão Texto-GramaticalAna Mônica Sabino Adriano, Carla Aguiar Falcão

DiagramaçãoFemag Empreendimentos Editoriais LtdaRua Fotógrafo Ribeiro, 232 – Dionísio TorresCEP 60.170-170 – Fortaleza/CEFone: (85) 3257 - [email protected]

ImpressãoExpressão Gráfica

Histórias de Sucesso: experiências empreendedoras./Organizado por Teresa Kátia Acioli Canamary. – Fortaleza:Sebrae/Ce, 2006.

p.: il. – (Casos de Sucesso).ISBN:1. Empreendedorismo. 2. Artesanato. 3. Cooperativismo.

4. Estudo de Caso. I. Canamary, Teresa Kátia Acioli.CDU: 65.016:001.87

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Agradecemos aos técnicos, consultores e gerentes doSistema SEBRAE, que escreveram os estudos de caso e setornaram autores das novas histórias empreendedoras.

Merecem reconhecimento também os coordenadores estaduaisdo projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso em 2005, queacompanharam com dedicação e empenho todo o processo

de desenvolvimento dos casos que compõem esta obra.

Agradecemos ainda ao Comitê Gestor, que se envolveu intensamentena produção desta coletânia, e à equipe de apoio, que atuou

para garantir a qualidade final dos livros.

Cabe destacar igualmente os professores orientadores,parceiros importantes nesta jornada.

Agradecemos à Diretoria que, acreditando que o aprendizado étambém construído por meio da disseminação de vivências reais

empreendedoras, disponibilizou os meios e o ambienteadequados para a realização deste projeto.

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ................................................................................................................. 1

BAIXO JAGUARIBEFLORES DO SERTÃO ................................................................................................ 3Maria Alice de Mesquita Carneiro e Herbart dos Santos Melo

CAMOCIMMOVIMENTO CULTURAL CAMOCIM AMO SIM –O EMPREENDEDORISMO CULTURAL FAZENDO A DIFERENÇA ...................... 11Hugo Macário de Brito Pinheiro

FORTALEZAUM SURFISTA EM PAUSA VOLTA A SONHAR ..................................................... 25Maria Christine Diniz Sátiro

FORTALEZAJOSÉ WALTER – DESCOBRINDO A FORÇA DO TRABALHO COLETIVO .......... 33Maria Helena Silva Oliveira

FORTALEZASEMEANDO O EMPREENDEDORISMO NA ESCOLA ............................................ 45Maria Christine Diniz Sátiro

FRECHEIRINHAFRECHEIRINHA – “SANGUE EMPREENDEDOR”NAS VEIAS DOS CONFECCIONISTAS .................................................................... 55Maria Lédio Vieira

IGUATUCOOPERAR PARA COMPETIR – UMA PRÁTICA POSSÍVELPARA MERCADINHOS ........................................................................................... 73Maria Lenilde Bezerra Chaves

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JAGUARIBARASANGUE AZUL DO CEARÁ – DESENVOLVENDO A PISCICULTURANO CASTANHÃO ................................................................................................... 83Lucidio Nunes de Souza

JUAZEIRO DO NORTEO DESAFIO DA COOPERAÇÃO NO ARTESANATO –O CASO MÃE DAS DORES .................................................................................... 101Tania Mary Porto de Carvalho

QUIXADÁOFICINAS MECÂNICAS NA DIREÇÃO CERTA ................................................... 111Raimundo Lima da Silva Filho

QUIXERAMOBIMPINGO D’ÁGUA – O DESERTO VIRA SERRA ..................................................... 121Francisca Wilma de Ferreira de Almeida

SOBRALCABRA NOSSA DE CADA DIA – A SOCIEDADE QUE ENFRENTAA MISÉRIA NO SERTÃO ....................................................................................... 137Luiza Lúcia da Silva Barreto

SOBRALTEM PEIXE NA REDE – A CONSTRUÇÃO DE UMA REDE DEPARCEIROS PARA PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL .................................... 151Paulo Tibério Moura da Cruz

VIÇOSA DO CEARÁCACHAÇA DA SERRA .......................................................................................... 167Sílvio Moreira Barbosa

PALAVRAS-CHAVE .............................................................................................. 179

ABORDAGEM METODOLÓGICA ........................................................................ 185

SISTEMA SEBRAE ................................................................................................. 191

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PREFÁCIO

Em cumprimento de sua missão ante a sociedade no que concerne aoincentivo ao empreendedorismo, através do qual as pessoas são responsáveis

pelo próprio desenvolvimento, o Sistema SEBRAE instituiu o projetoDesenvolvendo Casos de Sucesso.

Experiências exitosas, que propagam os valores da cooperação e doassociativismo, devem ser compartilhadas como uma constatação de que, cominiciativa e esforço, é possível concretizar ideais, beneficiando e transformandoa realidade de muitas pessoas em todo o país.

O Estado do Ceará, a exemplo da região Nordeste, surge, neste contexto,como uma fortaleza singular capaz de superar várias adversidades, sejam estaso preconceito ou as condições climáticas. Isso faz com que seja possível exportarflores cultivadas em pleno sertão cearrense ou desenvolver a fruticultura atravésda irrigação na região.

O SEBRAE/CE, ao publicar estes estudos de caso, frutos de trabalhodesenvolvido no seu dia-a-dia, valoriza a sua equipe de colaboradores e acreditaque, como estes, muitos outros surgirão, evidenciando que o cearense temmuita história pra contar. E histórias de sucesso.

Alci Porto Gurgel JúniorDiretor Superintendente

SEBRAE/CE

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INTRODUÇÃO

Situado no polígono das secas, região carente do Brasil, o Estado do Cearátem calor o ano inteiro, apresentando um ecossistema diversificado, formado

por regiões de caatinga, mata atlântica, cerrado e manguezais. Estas característicasdesfavorecem alguns tipos de culturas, o que leva o Estado a adotar a práticada criação de pequenos animais, caprinos e ovinos, ou a utilizar o método dairrigação, favorecendo, principalmente, o cultivo de frutas, hortaliças e flores,entre outros produtos.

Desde 1999, o Estado do Ceará vem investindo na produção e em pesquisassobre o setor de floricultura, tendo seus esforços direcionados para regiõesserranas, como a de Ibiapaba, por possuir solo, luminosidade e condiçõesclimáticas favoráveis ao cultivo de flores tropicais. O desdobramento destainiciativa permitiu ao Ceará tornar-se, em 2003, o segundo exportadorbrasileiro de flores, detendo amplo conhecimento sobre o seu processo deexportação e de comercialização.

Estes incentivos têm levado donos de sítios e fazendas a procurar oaproveitamento de suas terras para o cultivo de flores, com predominância dasflores tropicais. No entanto, para o cultivo dessas espécies, há a necessidade deinvestimentos na capacitação de mão-de-obra e no preparo do solo, fato quenão está ao alcance de todos os produtores do Estado.

Ainda em 2003, Francisco Djalma, morador da região do Baixo Jaguaribe,dentre outros produtores cearenses, encontrou, como uma opção de utilizaçãodo solo para as regiões mais secas do Estado, o cultivo de plantas da família dascactáceas que, mesmo atravessando longos períodos sem chuvas, conseguempermanecer verdes e vigorosas.

Maria Alice de Mesquita Carneiro e Herbart dos Santos Melo, analistas do SEBRAE/CE, elaboraramo estudo de caso, sob a orientação do professor Rafael Lobato de Mattos e Boulhosa, do Centro Universitáriodo Pará – CESUPA, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.

MUNICÍPIO: BAIXO JAGUARIBE

FLORES DO SERTÃO

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CACTOS REGIONAIS PRODUZIDOS PELA ASSOCIAÇÃO DOSFLORICULTORES DO BAIXO JAGUARIBE, NO ESTADO DO CEARÁ

CACTOS ORNAMENTAIS PRODUZIDOS PELA ASSOCIAÇÃO DOSFLORICULTORES DO BAIXO JAGUARIBE, NO ESTADO DO CEARÁ

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FLORES DO SERTÃO

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Considerando o fato de que a maior parte do território cearense não é propíciaao cultivo de flores tropicais e de que o Estado desenvolveu um amplo know-how no cultivo de plantas, Francisco Djalma passou então a pensar de que maneiraele e os outros produtores do Estado poderiam transformar o cultivo de cactosnuma nova e rentável fonte de desenvolvimento sustentável para a região.

PLANTANDO UMA SEMENTE

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior – SECEX, a participação do Cearánas exportações brasileiras de flores passou de 0,2% em 1996 para 15% em

2002, atrás apenas do Estado de São Paulo, de onde saíram 81,2% dasexportações de flores do país.

Tal crescimento foi resultado da presença da empresa Comércio, Exportaçãoe Importação e Produção de Flores LTDA – CEAROSA na região de Ibiapaba,onde se instalou como grande produtora e exportadora de rosas, e do trabalhodesenvolvido pela Associação Cearense de Floristas – ACEFLOR e pelaCooperativa dos Engenheiros Agrônomos do Estado do Ceará – UNIAGROque, em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas doEstado do Ceará – SEBRAE/CE, coordenaram, a partir de 2001, a FeiraInternacional da Floricultura no Nordeste – FESTFLORA, em Fortaleza.

O evento reuniu produtores das mais diversas espécies de flores e tambémempreendedores e curiosos que procuravam buscar informações e meios paramelhorar a produção de flores e/ou iniciar uma produção baseada napossibilidade de atingir um mercado em expansão no Estado.

Em 2003, produtores rurais da região do Baixo Jaguaribe, localizadosnas cidades de Russas e Limoeiro do Norte, foram até Fortaleza com o in-tuito de participar e de descobrir na FESTFLORA uma forma de aproveitaros conhecimentos ali disponíveis, que permitisse a eles se tornar floricultores.Com esses conhecimentos, estariam compartilhando os benefícios sociais eeconômicos alcançados por outros produtores, propiciando a eles uma fontede renda pessoal.

Entre as palestras por eles assistidas na FESTFLORA 2003, a do consul-tor Roberto Takane, da Universidade de Cantareira/SP, chamou-lhes aatenção, tendo sido a técnica de cultivo de cactos e suculentas o temaabordado por este.

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BAIXO JAGUARIBE

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Os cactos são conhecidos como plantas cheias de espinhos que mantêmágua dentro da sua estrutura e costumam ser associados à imagem do deserto.São adaptados a situações de extrema seca, em geral solos formados por cascalhoe areia, onde a água escoa muito rapidamente.

Todavia, nem todas as plantas que mantêm água dentro da sua estrutura sãocactos. Os cactos fazem parte das suculentas. As plantas suculentas compreendemuma variedade mais ampla de espécies adaptadas à escassez de água. A diferençaé que os cactos têm apenas caule e espinhos e as suculentas também possuemfolhas e nem sempre espinhos. No Brasil, por exemplo, o mandacaru (Cereusperuvianus), espécie de cactos mais conhecida, é abundante na região nordeste.

Durante a FESTFLORA 2003, em conversa com Sérgio Ricardo, técnicoda UNIAGRO, o grupo de produtores rurais procurou conhecer as novastecnologias para cultivo de flores por achar ser este o melhor caminho para odesenvolvimento da floricultura na região do Baixo Jaguaribe e umaoportunidade de geração de renda.

Os produtores, segundo Sérgio, estavam tentando plantar flores tropicais.Entretanto, estavam encontrando muitas dificuldades, principalmente devidoao clima semi-árido e à má qualidade da água da região, fatos que inviabilizavamo cultivo das mesmas.

O cultivo de cactos e suculentas para esses produtores passou a representarum caminho viável, por tratar-se de uma cultura adaptável à região seca. Noentanto, esses produtores não estavam capacitados para cultivá-los de formaprofissional, sendo, até então, os cactos conhecidos popularmente comomandacaru, tratados como plantas "do mato".

O "MATO" VIRA DECORAÇÃO

ARegião do Baixo Jaguaribe apresenta temperatura média de 27°C,caracterizando-se como de clima muito quente e semi-árido, de acordo

com a classificação de Köppen (1923), e tropical quente e de seca acentuada,de acordo com Gaussen (1954). Essa característica torna inviável a produção deflores tropicais, de acordo com o consultor Roberto Takane. Um outro fator quedificulta o cultivo de flores tropicais é a má qualidade da água.

Marta Dantas, Kátia Araújo e Francisco Djalma, da cidade de Russas, e AnaniasSilva, Lílian Serejo, Maria Rosângela e Raquel Freitas, moradores da cidade de

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FLORES DO SERTÃO

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Limoeiro do Norte, procuraram o SEBRAE/CE com o intuito de encontrar umaalternativa para o início do cultivo de flores. Ao encontro deles foram enviadosos consultores Sérgio Ricardo e Roberto Takane para que pudessem desenvolvero trabalho. Os consultores propuseram ao grupo iniciar o trabalho com aidentificação das famílias de cactos e suculentas nativas da região e a viabilizaçãodo cultivo e comércio das mesmas como plantas ornamentais.

Nesta fase, apareceram as primeiras dificuldades para o cultivo de cactose suculentas: como acelerar o processo de multiplicação, haja vista o fato deo processo natural ser muito lento? Como manter a adubação correta parafavorecer a germinação de sementes de cactos e suculentas? Como controlara qualidade da água?

A MULTIPLICAÇÃO DAS MUDAS

Antes do projeto, os produtores possuíam pouca ou nenhuma técnica deprodução de cactos e suculentas. Não possuíam informações sobre a

qualidade da água (acidez e salinidade limitantes) e substratos para a produçãode mudas. O material mais usado como substrato era a bagana, mistura obtidaa partir de folhas de carnaubeiras.

Aparentemente, essa bagana se mostrava como um material interessantepara a produção, mas com um levantamento técnico feito pelo consultor RobertoTakane, a mesma mostrou ter um altíssimo índice salino, inviabilizando o seuuso como substrato agrícola.

Com a inviabilização da bagana, o consultor e os produtores passaram afazer um levantamento para identificar outros possíveis materiais existentesna região, com os quais pudesse ser feito um substrato alternativo. Como aregião é produtora de arroz, essa foi a alternativa encontrada. Porém, como acasca de arroz sofre o processo de fermentação por conter amido, foi necessáriaa utilização do processo de carbonização da mesma para que fosse, então,utilizada no substrato.

Outro fator importante no processo de desenvolvimento da cultura de cactosfoi a análise da água utilizada. O Sr. Francisco Djalma e Sr. Ananias Silva possuíamágua muito salina em suas propriedades, o que fez necessária a obtenção de outrafonte de água, tendo em vista que o tratamento da água com dessalinizadorinviabilizaria o processo devido ao alto custo do equipamento.

Tendo em vista a aproximação do período chuvoso, o consultor propôs acaptação da água fluvial com armazenamento em cisterna. Logo de imediato,

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BAIXO JAGUARIBE

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a Sra. Marta Dantas construiu, com recursos próprios, uma cisterna comcapacidade para 16m³ de água, exclusiva para a sua produção, seguindo asorientações do consultor. Antes a água era armazenada em baldes e barris,comprometendo a sua qualidade.

Resolvido o problema da água, veio a questão da fertilização do solo. Foi avez de se dar início ao curso Produção e Confecção de Fertilizantes Orgânicos.Os produtores iniciaram, então, a produção do biofertilizante, fertilizanteorgânico à base de carboidratos, como farelo de arroz e trigo, e a utilização dosistema de fermentação anaeróbica denominada Bokashi. No início, osprodutores tinham um certo descrédito com relação à produção dobiofertilizante. Mas, por fim, todos passaram a produzir corretamente o Bokashi,a partir de produtos locais, possuindo ação de nutrição por tempo prolongado.

Nesta fase, veio a preocupação com a preservação das espécies nativas,principalmente com a ameaça das queimadas freqüentes na região e pelainundação de boa parte das terras, formado pelo lago do Açude Castanhão,que atingiu, em 2004, uma área de 48km de extensão, fazendo desapareceralgumas espécies existentes no Baixo Jaguaribe.

Foi então criado um banco de plantas utilizando-se amostras coletadas naregião. As amostras coletadas foram testadas em laboratório para verificação dapresença de dormência nas sementes e indução da germinação para acelerar oseu crescimento. A pesquisa serviu também para que os produtores conhecessema variedade de espécies existentes na região. Com os conhecimentos adquiridos,os produtores confeccionaram sementeiras utilizando materiais recicláveis, comoo PET, para o fornecimento de mudas e sementes como forma de preservar asespécies nativas e de disseminar a cultura do cultivo de cactos e suculentas.

Utilizando o projeto SEBRAETEC, foi possível capacitar os produtores nastécnicas de confecção de substrato, produção e confecção de fertilizantesorgânicos e uso de hormônio vegetal para a aceleração da germinação desementes. Foram ensinadas as técnicas de controle da qualidade e quantidadeda água, métodos alternativos de irrigação e, o mais importante do processo, atécnica de produção de mudas pelo sistema de clonagem vegetal e o estudofisiológico das sementes das principais espécies de cactos e suculentas da regiãodo Baixo Jaguaribe. Todo esse processo fez com que os produtores adquirissemnovos conhecimento e novos desafios e, mais ainda, uma preocupação com apreservação do ecossistema.

Em fevereiro de 2004, Marta Dantas, Francisco Djalma, Maria Rosângela,Lílian Serejo e Raquel Freitas, além de produzir e comercializar os cactos esuculentas, estavam agregando valor à sua produção, passando a produzir

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FLORES DO SERTÃO

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também mini jardineiras feitas a partir das espécies cultivadas. A Casa Cor2004, em Fortaleza, teve parte de sua decoração feita a partir da produçãodesenvolvida pelos produtores participantes do projeto. Esse foi o passo iniciale necessário para a inserção da cultura de cactos na região jaguaribana e umaforma prática e prazerosa de incentivar o desenvolvimento sustentável doBaixo Jaguaribe.

Os produtores da cidade de Russas montaram uma loja, onde passaram acomercializar seus produtos de forma consorciada. Plantas como macambiras(Bromeliáceas), palma, coroa de frade, mandacaru e xiquexique, antes vistas comosem utilidade, agora estão entre as plantas ornamentais presentes no banco deplantas e comercializadas na Região do Baixo Jaguaribe.

CONCLUSÃO

No mundo, existem mais de 2.000 espécies de cactos catalogadas. Só noBrasil são mais de 300 tipos, segundo a União Mundial para a Conservação

da Natureza – IUCN. A cultura de cactos e suculentas, por ser uma espécie deplanta que exige um volume reduzido de água na sua irrigação, é propícia para asregiões secas do país. Porém, por ser uma cultura ainda pouco difundida no meioda floricultura, apresenta algumas restrições para os produtores. No entanto, quandose conhece suas espécies, surgem os "amantes da cultura de cactos e suculentas".

No Baixo Jaguaribe, o cultivo teve início com 06 produtores que acreditaramnessa nova cultura e puderam aproveitar os conhecimentos transmitidos atravésdo SEBRAE/CE, o que serviu como indutor para o crescimento da cultura decactos e suculentas na região.

A partir desta experiência, os outros integrantes da Associação dosFloricultores da Região do Baixo Jaguaribe passaram a ter um tratamentotodo especial para com os cactos e suculentas, passando a cultivá-los de formaprofissional e voltada para o mercado de plantas ornamentais.

Neste enfoque, surgem novos desafios como o aumento da produção decactos e suculentas. A identificação dos mercados consumidores potenciais quepossam garantir a sustentabilidade da produção surge como novo dilema paraa população do Baixo Jaguaribe.

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BAIXO JAGUARIBE

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QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Que outras estratégias poderiam ser utilizadas junto ao grupo de produtoresrurais da Região do Baixo Jaguaribe com o objetivo de favorecer o crescimentosustentável?

• Como poderíamos multiplicar a experiência e conhecimentos adquiridospara outras regiões de clima semi-árido?

• Que desafios a Associação dos Floricultores da Região do Baixo Jaguaribepoderá enfrentar com relação ao cultivo de cactos e suculentas?

• Que estratégias poderão ser desenvolvidas pelos produtores da associaçãopara uma maior penetração de seu produto no mercado?

BIBLIOGRAFIA

1. Projeto SEBRAETEC 56062. http://www.fazendeiro.com.br

3. http://www.cactos.com.br4. http://www.sur.iucn.org

AGRADECIMENTOS

Colaboração: Roberto Jun Takane e Sérgio Ricardo Tavares, consultores responsáveis pelo suporte tecnológico do projeto; Wandrey Pires DantasVilar de Freitas, articuladora do Escritório Regional de Limoeiro do Norte do SEBRAE/CE.

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MUNICÍPIO: CAMOCIM

MOVIMENTO CULTURAL CAMOCIM AMO SIM:O EMPREENDEDORISMO CULTURAL

FAZENDO A DIFERENÇA

INTRODUÇÃO

A PEQUENA ARTESÃ"... a pequena menina fazia suas bruxinhas de pano enquanto ouvia as estórias da

querida engomadeira...".

Oque parece um texto extraído de algum livro da literatura infantil, narealidade, são cenas da infância de Ana Maria Beviláqua Veras, artesã,

artista plástica, empresária e empreendedora cultural de Camocim,município localizado a 350 km de Fortaleza, no litoral oeste do Ceará. AnaMaria iniciou seus trabalhos artísticos ainda na infância, quando produziasuas "bruxinhas de pano" (pequenas bonecas de pano vestidas de chita),utilizadas em suas brincadeiras.

A querida engomadeira era Amélia Carlota, uma típica negra, descendentede escravos, que viveu em Camocim, na década de 40. Carlota era muitopopular e querida em todo o município, inicialmente pelas estórias queimaginava e que contava, como se verdades fossem, nas praças públicas domunicípio, bem como pelos seus trajes típicos, vestidos de chitas coloridoscombinados com pulseiras, brincos, muito batom e rouge.

Na década de 80, ao assumir a direção do Centro Social Urbano de Camocim– CSU, Ana Maria ficou sensibilizada pelas dificuldades enfrentadas pelos artistase artesãos do município:

"... lá no CSU eu encontrei muitos talentos. Estes talentos se perdiam e eu via aquilocom muita angustia...".Ana Maria, artesã e diretora do CSU em 1980.

Hugo Macário de Brito Pinheiro, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora AnaCarênina de Albuquerque, da Faculdade 7 de Setembro – FA7, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casosde Sucesso do SEBRAE.

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FACHADA DA LOJA AMÉLIA CARLOTA

PEÇAS COMERCIALIZADAS NA LOJA AMÉLIA CARLOTA

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MOVIMENTO CULTURAL CAMOCIM AMO SIM: O EMPREENDEDORISMO CULTURAL FAZENDO A DIFERENÇA

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Estas pessoas, pela sua condição financeira precária, não encontravamnas artes possibilidades de geração de renda e muitos talentos artísticoseram perdidos na busca de outras alternativas de trabalho. Para revertereste quadro, Ana Maria iniciou várias parcerias para possibilitar acapacitação, a elaboração e a comercialização de produções culturais,viabilizando a inclusão social através da disseminação da arte e da culturana sociedade local. Estas iniciativas empreendedoras originaram, em 1997,o Movimento Cultural Camocim Amo Sim.

NASCE UMA LIDERANÇA

Aquela pequena menina cresceu, mas nunca esqueceu sua infância emCamocim. Em 1974, já adulta, Ana Maria buscou aprender técnicas de

trabalhos manuais e artesanais, que fazia por passatempo, já que tinha umaboa condição financeira. Neste período, a artesã começou a despertar para otrabalho de mobilização e estimulação de grupos culturais locais. Ela acreditavaque os eventos seriam a saída para o desenvolvimento das produções culturais.

Em 1980, Ana Maria foi convidada para dirigir o CSU e começou a conviverdiariamente com pessoas de baixa renda que buscavam, no refúgio do centro,lazer, cultura e ocupação. Neste período, Ana Maria observou que pessoas talentosasnão tinham oportunidades de trabalhar com produções culturais pela condição depobreza, falta de capacitação, dificuldade de produção e comercialização de produtosartísticos e culturais. Surgiu, então, a idéia de organizar uma cooperativa de artesãoscomo uma estratégia de viabilização da atividade artesanal.

"... Na época eu era diretora do centro social urbano e nunca tinha ouvido falar noCentro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – CEAG1. Mas,houve uma grande necessidade de organizar os artesãos de Camocim numa espécie decooperativa ou associação. Eu procurei a Primeira-Dama do Estado, dona Luiza Távora,aí ela indicou o CEAG, que me capacitou em gerenciamento e organizou o nosso grupo,dando origem a uma cooperativa de artesãos...".Ana Maria, artesã e diretora do CSU em 1980.

1Instituição que antecedeu o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE

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CAMOCIM

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Em 1981, Ana Maria afastou-se da diretoria do CSU para candidatar-se àprefeita do município, sendo eleita para o mandato 1982/1988. Mesmoassumindo este importante cargo de liderança, nunca abandonou os trabalhosde mobilização social de grupos artísticos e culturais, sendo a maiorincentivadora da constituição da cooperativa.

A Cooperativa dos Artesãos de Camocim cresceu rapidamente, chegando,em 1985, a contar com cerca de 540 cooperados, a maioria trabalhando combordados. A entidade associativa tornava viável a comercialização dos produtosatravés da participação em feiras, com o apoio do Governo do Estado.

No entanto, nesta época houve um extravio de mercadoria, causando umgrande prejuízo para o grupo. Os cooperados perderam a confiança necessáriapara a existência da entidade associativa.

"... Nós enviamos um caminhão de mercadoria pra esta feira. Tudo foi vendido, amaioria pra São Paulo. Nós tínhamos muitos artesãos cooperados, mas não éramos grandese sim pequenos, e aí o caminhão foi pra feira e nunca mais voltou... Tudo o que a gentetinha tava dentro daquele caminhão...".Ana Maria Vera, artesã e então prefeita municipal.

Em decorrência de toda esta problemática, a promissora cooperativa veio ase dissolver em 1986. Embora isso representasse um retrocesso da organizaçãodo setor, algumas pessoas persistiram e continuaram produzindo artesanato,motivados pela potencialidade turística do município.

Segundo o censo do IBGE, em 2000 Camocim possuía 55.448 habitantese apresentava, conforme o Perfil Básico Municipal 2000, um baixo Índice deDesenvolvimento Humano – IDH, de 0,629, sendo o 98° colocado no rankingestadual, em meio ao total dos 184 municípios cearenses.

Ficou evidente a pobreza da sua população, que carecia de oportunidadesde ocupação e renda. Diante desta realidade, o artesanato, as artes e a culturaaportavam uma possibilidade de complemento de renda familiar e agregavavalores ao turismo, que, nos últimos dez anos, foi considerado o grande vetorde desenvolvimento do município.

"Um dos primeiros povoamentos do Ceará, Camocim é conhecida pela variedade equalidade do pescado. O estuário do rio Coreaú criou uma paisagem rica em vida animal evegetal, com manguezais e ilhas, que se estendem por cerca de 20 quilômetros. Nos manguezais

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são capturados os caranguejos que abastecem Fortaleza. A Ilha da Testa Branca, tambémconhecida como Ilha do Amor, localizada em frente à cidade, é muito visitada por turistasque cruzam o rio Coreaú de barco para desfrutar de agradável banho de mar,...".Texto extraído do site: www.setur.ce.gov.br

Com a instalação do Boa Vista Resort, empresa do grupo CaciqueEmpreendimentos Turísticos LTDA, em 2001 o município passou a ser destinoturístico para os centros emissores do sudeste e sul do Brasil, além de recebergrupos internacionais oriundos principalmente de países pertencentes à UniãoEuropéia, abrindo novas perspectivas de mercado para a arte e a cultura locais.

UM MOVIMENTO POPULAR

"Na virada do ano de 1998, por fim de dezembro, surgiu, espontaneamente, como asemente de silvestre que germina em solo agreste, um envolvimento da nossa sociedade emtodos os níveis e segmentos, buscando o resgate das nossas raízes, o aperfeiçoamento dasnossas artes e a especialização da nossa mão-de-obra. Tudo isso visando a melhoria daqualidade de vida do nosso povo, garantindo, assim, trabalho e renda para todos. A esteacontecimento, que foi como o despertar de um longo sono para movimento da arte da vida,deu-se o nome de MOVIMENTO CAMOCIM AMO SIM!...".Valdete Bevilaqua, Secretária Municipal de Cultura e Desporto.

OMovimento Camocim Amo Sim, na realidade, foi uma denominação quepassou a ser utilizada em 1998 pela rede de parceiros articulados pela

líder Ana Maria. Porém, as primeiras articulações e ações permeiam a décadade 70. Este movimento sempre trabalhou utilizando 04 estratégias. A primeirafoi a formação de redes de parceiros, nas quais o papel de cada um eradefinido de forma participativa. A segunda foi a busca da formação do capi-tal social, através da organização de artesãos e artistas. A terceira buscava acapacitação de mão-de-obra para a consolidação de tipologias existentes,bem como para implementação de novas técnicas de trabalhos manufaturados.A última foi a promoção comercial dos produtos culturais, que possibilitoua sustentabilidade de todo o processo, garantindo a perpetuação das atividades.

"Antes do movimento era muito difícil, aí com o surgimento do movimento apareceramcursos e feiras. Tudo isso foi um incentivo pra gente produzir e vender mais...".

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CAMOCIM

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"A Ana Maria trabalha com artesanato e é sócia da associação, sempre que a genteprecisa dela ela está sempre ajudando...".Maria Hercília, primeira presidente da Associação dos Artesãos de Camocim.

O nome Camocim Amo Sim deu personalidade e visibilidade ao que vinhasendo feito há vários anos de forma anônima pela liderança e pela sua rede deparceiros locais, tais como grupos artísticos e culturais, a então Secretaria de Trabalhoe Ação Social do Município, clubes de serviços (Lions, Rotary, e Maçonaria), empresasde pesca do município, comerciantes, artistas, artesãos; e por parceiros exógenos:Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE, a então Secretaria de Trabalho e Ação Social do Estado do Ceará – SETAS2,Central de Artesanatos – CEART (instituição de âmbito estadual vinculada àSETAS), Grupo Marilha Tour e Secretaria de Turismo do Estado do Ceará – SETUR.A rede de parceiros firmava parcerias e viabilizava as ações estratégicas.

O nome do movimento evocou ainda uma forte sensibilização para oengajamento entre os que foram chamados para a ação, inicialmente pelo sentimentode amor à terra natal, envolvendo munícipes e parceiros de forma positiva e sinérgica.

"... a dona Luiza Távora foi a primeira pessoa que acreditou na gente. Ela falavaque um dia o mundo explodiria numa grande favela, ela vivia falando isso pra gente. Oque ela queria era evitar o desemprego incluindo as pessoas na sociedade. Essa era a suamaior preocupação, ela foi a pessoa de maior visão que eu conheci na vida...".Ana Maria, grande incentivadora do movimento.

A rede de parceiros estabelecida através da articulação do movimentoviabilizou muitas produções culturais. Foram beneficiados inicialmente osartistas e artesãos, mas a disseminação da arte e da cultura na sociedadecamocinense possibilitou a construção de visões mais críticas da realidade, acriação de consumidores de arte e cultura locais, bem como a estimulação dacriatividade dos participantes dos eventos culturais.

"Graças ao movimento Camocim Amo Sim, ampliamos o nosso artesanato, quepraticamente inexistia, dotando-o de grande variedade e modernas técnicas, como, porexemplo, o trabalho em mosaico, até então desconhecido dos nossos artesãos, que nos

2Esta secretaria passou a ser denominada Secretaria de Ação Social – SAS (www.setas.ce.gov.br)

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rendeu três bolsas de especialização desta técnica na Itália. Tem também a pintura emtecido, trabalhos de pintura em porcelana, madeira, vidro etc".Valdete Bevilaqua, Secretária Municipal de Cultura e Desporto.

Ana Maria sempre se preocupou com a qualidade das peças produzidasem seu ateliê, que fica localizado nos fundos de sua casa. Ele serviu de sedepara o movimento desde sua criação. Há muitos anos o seu ateliê é aberto àvisitação turística. Nele, os visitantes assistem aos ensaios do coral e da pequenaorquestra, observam obras de artes e artesanatos sendo criados, podendo,inclusive, protagonizar alguma fase da produção.

PROMOVER PARA VENDER

Adivulgação e a propagação dos produtos e serviços são essenciais para amanutenção de um negócio. Este talvez seja o maior mérito do movimento

cultural, que formatou e apoiou eventos culturais, conseguindo viabilizar asustentabilidade de artistas a partir da arte e da cultura.

No ano de 1976, Ana Maria teve a idéia de criar uma festa âncora para omunicípio. Foi então realizada a primeira Festa da Lagosta, tradicional crustáceoencontrado no litoral camocinense. Desde sua criação, a festa é realizadaanualmente e tem o caráter beneficente, pois angaria fundos para que o LionsClube de Camocim possa manter a Escola Monsenhor Inácio Nogueira. Afesta já está na 28ª edição.

Em 1983, o então prefeito José Maria Veras criou, a pedido da Primeira-Damado município, Ana Maria, a banda Nível do Mar. O objetivo da criação da bandaera abrilhantar os eventos culturais e artísticos do município. Esta ação beneficioudiretamente 14 músicos que foram empregados pela prefeitura municipal.

"... foi muito importante a criação da banda. Na época, dona Ana trouxe o maestroMarcílio Homem pra ensinar a gente a desenvolver através da música uma nova profissão(..) hoje em dia esta é minha profissão e é muito bom!"Sr. Caetano, músico da banda Nível do Mar.

As artes plásticas foram apoiadas a partir da criação do Salão das ArtesPlásticas de Camocim, evento anual idealizado por Ana Maria. Teve a sua

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CAMOCIM

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primeira edição em 1985 e contou com a participação de vários artistas plásticosde renome nacional, como José Estélio, Mano Alencar e Edmar Gonçalves,além de diversos artistas da região norte do Estado.

Com a continuidade do salão, surgiu a necessidade de tornar mais acessível acomercialização das obras artísticas. A solução veio através de uma idéia inovadora:os consórcios de obras de arte. Através de um benchmarking dos consórcios deveículos automotores, foram constituídos grupos de interessados na aquisiçãodas obras, cujo valor era rateado em prestações mensais, contemplando umparticipante por mês. Esta idéia ampliou o mercado consumidor de arte e permitiuuma maior regularidade de renda para os artistas participantes.

Além do salão de artes plásticas, várias exposições e mostras individuaisforam realizadas nos últimos dez anos. Dentre elas citamos "A Longa Viagem",exposição comemorativa pelos 18 anos de arte do artista plástico Mauro Viana.

"... o movimento foi de grande valia para a cultura municipal, valorizando os artistasem todos os aspectos e descobrindo os nossos valores artísticos, levando Camocim para topoda cultura, gerando emprego e melhorando a auto-estima de todos os artistas! (...) a suaidealizadora (Ana Maria) é uma pessoa muito capaz e, acima de tudo, que acredita nopotencial das pessoas da terra (...) através disso fomos descobertos em nível nacional einternacional".Mauro Viana, artista plástico de Camocim.

O Festival de Música de Camocim foi outro evento que incentivou amusicalidade dos camocinenses. Idealizado por Ana Maria, teve sua primeiraedição em 1986, no Serviço Social da Indústria – SESI, onde aproximadamente5.000 visitantes participaram das eliminatórias. Atualmente, o evento é realizadona Praia das Barreiras, onde cerca de 10.000 pessoas prestigiam as apresentações.

"... o Festival de Camocim tem resgatado os valores culturais com movimentos emanifestações à musicalidade brasileira, ao talento, à arte e à criação, que é o motivomaior da expressão artística...".Valdete Bevilaqua, Secretária Municipal de Cultura e Deporto.

Em reconhecimento ao repente como importante manifestação popular, foiidealizado pelo radialista Hernandes Pereira, em 1988, o primeiro Festival deRepentistas de Camocim. O evento contou com o apoio da prefeita da época,Ana Maria, que mobilizou parceiros para viabilizar o evento. Em maio de 2004,

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aconteceu a 16ª edição do evento, que recebe um grande público atraído pelapoesia de improviso, própria deste tipo de arte.

Ainda em 1988, Aderaldo Lima e Ana Maria idealizaram o primeiro Festi-val de Quadrilha de Camocim. O evento cresceu e se profissionalizou, tornando-se um dos maiores festivais de quadrilha do interior do Estado.

Nas artes literárias foram articuladas parcerias para a publicação e lançamentodos livros de poesia "Poesia Alguma" (1993) e "Tapera" (1995), de RaimundoBento Sotero, como também do livro em prosa "O Terra e Mar" (1998), deCarlos Cardeal.

"... o movimento foi muito válido por unir as pessoas numa só direção. Foi através delee do SEBRAE/CE que eu consegui lançar os meus livros (...) considero a Ana Maria amãe da cultura de Camocim, como já dizia Chico Bil (cantor de Camocim) e agora eudigo (...) espero que o movimento receba mais apoio dos parceiros e que nunca acabe...".Raimundo Bento Sotero, poeta de Camocim.

Através de uma parceria do movimento com o Grêmio Literário Ivan Pereirade Carvalho, foi fundado o jornal "O Literário" (1998), no qual os costumes, ojeito de ser camocinense e a cultura local foram difundidos para toda a sociedade.Posteriormente, estas ações deram origem à Academia Camocinense de Letras,congregando a elite literária do município.

Ainda foram incentivados diversos eventos artísticos e culturais pela redede parceiros do movimento, tais como oficinas e cursos culturais, missões evisitas técnicas, peças teatrais, festivais gastronômicos, feiras de artes e artesanatose desfiles de moda.

Em 1998, o movimento passou a manter um projeto cultural de cunhosocial. Este projeto é composto por uma pequena orquestra com violão,teclado e percussão que propicia aos adolescentes noções de música instru-mental, um coral chamado "Canto do Mar", formado por crianças eadolescentes com idade entre 06 e 17 anos e um pequeno coral denominado"Os Marisquinhos", com crianças de 02 a 05 anos. Desde o início, foiexigido que todas as crianças participantes dos projetos estivessem na escolae fossem de baixa renda familiar. A maioria é composta por filhos ou netosde pequenos pescadores que encontraram na música ocupação, educação eperspectivas de um futuro melhor. Os ensaios são diários e acontecem nasede do movimento.

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CAMOCIM

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"Inicialmente eu mantinha 100% dos corais e da pequena orquestra. Depois, aprefeitura, empresas de pesca e beneficiamento de peixe e camarão, turistas, comerciantes etcpassaram a me ajudar a manter o projeto...".Ana Maria, idealizadora de diversos projetos que compõem o movimento.

Nas crianças que passaram pelo projeto, duas coisas em comum sãoobservadas: elas sentem saudades da época em que participavam das atividadese demonstram sensibilidades artísticas explícitas.

"Foi muito bom, aprendi a cantar e a tocar teclado. Atualmente eu penso em fazer umcurso superior de dança em Fortaleza".Diana Ferreira, 18 anos, professora de dança de salão numa academia da cidade.

A QUERIDA ENGOMADEIRA

Amélia Carlota

E vinha Amélia Carlota,Descendo lá do jiló,Só ruge, batom e pó,Princesa vestindo chita!Para pegar no batente,Engomadeira da gente,Que das mulheres do mundo,Julgava-se a mais bonita!

Jurava Amélia CarlotaFora dada em casamento,Porem no certo momento,O noivo lá nunca ia!Ficava, pois para o ano,Que ele era americano,Quisme, quisme, oh! mi love!Ou ele ou ela mentia!

R.B. Sotero, poeta de Camocim.

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Ana Maria observou que faltava um canal permanente para comercializaçãodas peças artesanais produzidas pelos grupos engajados no movimento.

Para vender, eles participavam das rodadas de negócios e feiras realizadas peloSEBRAE/CE. Estes eventos eram sazonais, enquanto que a produção era diária.Finalmente, em 2001, surgiu a idéia de aproveitar o potencial turístico domunicípio, implantando-se uma loja de artesanato.

"… quando fui buscar um nome para a loja, imediatamente lembrei de uma bruxa depano que fiz quando criança, inspirada numa lavadeira e engomadeira da nossa família.O seu nome era Amélia Carlota. Ela era uma bruxinha, andava pelas ruas extremamentelimpa e sempre vestida de chita com muito ruge e batom. Ela tinha a idéia fixa de que iriacasar com um norte-americano que ninguém nunca tinha visto. Era uma pessoaextremamente popular e feliz, vivia cantarolando e contando suas ilusões como se fossemverdades. Toda vez que ela ia lavar roupa na minha casa eu ficava olhando-a o diatodo. No meu mundo de criança, ela era uma boneca que falava. Era conhecida de todos,pois onde chegava declamava poesias e contava suas histórias(…) eu estou tentandoconseguir uma foto dela para colocar na loja, mas ela é igual a nossa logomarca umaverdadeira bruxinha de pano!...".Ana Maria, criadora da loja Amélia Carlota.

A abertura da primeira loja, em 2001, foi um sucesso. Após apenas doisanos, foi inaugurada a segunda unidade, em Fortaleza. Em julho de 2004, asduas lojas passaram a aportar cerca de 20% do lucro nos projetos sociais mantidospelo movimento.

"Com a nossa primeira loja passamos a vender cerca de 400 peças de artesanato pormês. Em 28 de dezembro de 2003 abrimos a segunda unidade em Fortaleza. Atualmente,as lojas empregam diretamente 16 artesãos que mantém suas famílias com as mercadoriasvendidas, além de ajudar na manutenção de 04 professores, sendo um de música, um depercussão, um de canto e um de teclado. Com isso, são beneficiadas diretamente cerca de 50crianças carentes".Ana Maria, figura importante no movimento.

Com a implantação das lojas Amélia Carlota, foram demandados maisprodutos artesanais, permitindo uma profissionalização dos artesãos, quepassaram a contar com um rendimento estável.

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CAMOCIM

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Ana Maria tem recebido propostas para franquear o seu negócio. No entanto,ainda está estudando esta possibilidade de expansão.

"… principalmente em Fortaleza, diversas pessoas visitam nossa loja e nos perguntamsobre a possibilidade da abertura de uma lojinha Amélia Carlota. Nós estamos estudandoa possibilidade de desenvolver uma franquia para poder viabilizar esta demanda".Ana Maria, articuladora de novos rumos para o movimento.

Com a criação da Amélia Carlota e o empenho dos parceiros, o MovimentoCamocim Amo Sim certamente terá uma continuidade no processo demelhoria da arte e da cultura local, beneficiando artistas, turistas e toda asociedade do município.

CONCLUSÃO

"Ação sem planejamento é um mero passatempo. Planejamento sem ação é só um sonho,mas planejamento com ação pode mudar o mundo...".Joel F. Baker, consultor empresarial.

Aexperiência do Movimento Camocim Amo Sim demonstra que uma liderançaempreendedora, articulada com parcerias estratégicas, pode mudar a realidade

ao seu redor, transformando pessoas carentes em artistas e artesãos.O sucesso do movimento deve-se inicialmente à capacidade da líder Ana

Maria Veras, que idealiza as ações e projetos, mas a cumplicidade com seusparceiros é fundamental. São entidades governamentais e não governamentais,empresas privadas, clubes de serviços, artistas, artesãos e sociedade civil que,de braços dados, conseguem viabilizar a implementação das ações.

O principal objetivo do movimento é a inclusão social pela melhoria derenda e de qualidade de vida para os artistas e artesãos, muitas vezesmarginalizados pela falta de possibilidades de comercialização de seus produtos.

Inicialmente, inexistiam pontos de venda para o artesanato produzido emCamocim. Com a evolução e organização do setor, a prefeitura municipalinvestiu em um centro de artesanato administrado pela Associação dos Artesãosde Camocim, além da loja Amélia Carlota, beneficiando um total de 100 artesãose artistas plásticos.

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No futuro, o movimento poderá ampliar as unidades de venda, utilizandopara isso o sistema de franquias da marca ou a abertura de novas unidades emoutros municípios turísticos.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• A venda dos artesanatos deve ficar a cargo dos próprios artesãos ou estesdeveriam constituir forças de vendas?

• Quais são os fatores positivos e negativos de cada uma das opções citadas noquesito acima?

• O artesanato tradicional deve ser comercializado separadamente de trabalhosmanufaturados? Por quê?

• Na sua opinião, qual seria o melhor futuro para o Movimento CamocimAmo Sim: formalizar-se, tornando uma Organização de Interesse Público –OSIP, ou continuar na informalidade?

• Que impactos sofreria qualidade do artesanato produzido com a aberturade novas lojas ocasionada pelo aumento da demanda?

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MUNICÍPIO: FORTALEZA

UM SURFISTA EM PAUSA VOLTA A SONHAR

INTRODUÇÃO

Osurfista Francisco José da Silva Atanásio corria todo o circuito Norte eNordeste de surf quando, em 1999, um acidente mudou toda a sua vida,

deixando-o tetraplégico e impossibilitando-o de continuar surfando.A nova realidade precisava ser enfrentada. Além do mais, era necessário

pensar em uma atividade produtiva e remunerada, pois a aposentadoriaque receberia seria insuficiente para arcar com as despesas que surgiramcom o acidente.

Para Francisco Atanásio, as alternativas não eram muitas. Restava-lhe,considerando suas habilidades e limitações, fazer a locução de campeonatos desurf, ministrar palestras ou montar uma loja de produtos para surfistas.

"O que vou fazer agora?". Era a pergunta que precisava ser respondida.

Maria Christine Diniz Sátiro, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora AdrianaTeixeira Bastos, da Universidade Estadual do Ceará - UECE, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casosde Sucesso do SEBRAE.

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INTERIOR DA LOJA BICHINHO SURF SHOP

FRANCISCO JOSÉ, APRESENTANDO A LOJA BICHINHO SURF SHOP

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UM SURFISTA EM PAUSA VOLTA A SONHAR

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DEFICIÊNCIA NÃO SIGNIFICA INCAPACIDADE

Estima-se que 10% da população mundial tenham algum tipo de deficiência:motora, auditiva, visual, mental ou múltipla. No Brasil, segundo censo do

IBGE de 2000, 14,5% da população possuem algum tipo de deficiência. Deacordo com informações da Secretaria de Trabalho e Empreendedorismo doEstado do Ceará - SETE, o número de pessoas portadoras de deficiência noCeará é elevado, sendo o Estado que apresenta o maior percentual de pessoascom deficiência no Brasil, 1,28 milhão de pessoas, representando 16,8% desua população total.

Com relação ao mercado de trabalho, a situação no Ceará ainda é bastantepreocupante. De acordo com o Ministério do Trabalho, existem em torno de9,5 mil pessoas com deficiência registradas em carteira de trabalho para umapopulação em idade ativa de 450.000 pessoas.

Segundo a SETE, outro fator que funciona como barreira para o acesso aomercado de trabalho é o número de crianças e adolescentes deficientes quefreqüentam a escola - que não chega a 10% do total - e o fato de apenas 5% dasescolas de nível fundamental estarem disponíveis.

As dificuldades para o deficiente vão desde a participação no mercadode trabalho, transporte e escola até o preconceito da sociedade como umtodo e da própria família que, na maioria das vezes, o vê como doente.Existe ainda o preconceito do próprio portador da deficiência, que dificultaa sua inclusão social.

No Ceará, são várias as entidades, ONGs e associações que desenvolvemtrabalhos voltados para o deficiente, como é o caso do Movimento Vida. Deacordo com Daniel Melo de Cordeiro, deficiente participante deste projeto, omovimento propõe uma atitude de cidadania autônoma em que pessoas comdeficiência não mais precisem de representantes nem de porta-voz no Vida. Aproposta é que elas se representem e sejam a sua própria voz.

A legislação brasileira, através da lei 8.213/91, estabelece a obrigatoriedadede reserva de postos de trabalho para pessoas com deficiência nas empresasprivadas, que devem preencher de 2% a 5% dos seus cargos de acordo com onúmero de funcionários: até 200 empregados, 2%; de 201 a 500 empregados,3%; de 501 a 1000 empregados, 4%; e de 1001 empregados em diante, 5%.O decreto 3.298/99 impõe que a União reserve em seus concursos o percentualmínimo de 5% das vagas para portadores de deficiência.

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FORTALEZA

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Mesmo com esta legislação, a oferta de postos de trabalho para deficientesainda é insuficiente. Algumas pessoas buscam alternativas de trabalhoautônomo, outras buscam atividades empreendedoras. No Ceará, encontramosdeficientes realizando serviços de instalação de som, de conserto de aparelhoseletrônicos, de animação em computador, de massoterapia e atuando comoprofissionais autônomos: professor de línguas, saxofonista, modelo etc.

CONSTRUINDO UM NOVO PROJETO DE VIDA

"O Bichinho tá muito é vivo!", é o que diz o surfista Francisco Atanásio, queganhou este apelido ainda moleque. Antes do acidente, no período de 1992 a1995, ele participou de todos os campeonatos cearenses na categoria Open,subindo ao pódio em todas elas. Ganhou ainda o título de atleta revelação emuma das etapas do World Qualifying Series - WQS (segunda divisão do surfmundial) em 1998.

"Nada de tetra, hoje sou é penta", afirma ele, referindo-se à nova fase de suavida, sempre demonstrando otimismo, força e crença na sua recuperação. Foiassim que recuperou parte do movimento dos braços e do tronco, com a ajudados terapeutas Vasconcelos e André, que desenvolvem tratamentos com ex-surfistas de forma voluntária.

Passada a fase inicial do tratamento, em 2002, ele começou a repensar o seufuturo profissional. Uma das alternativas era ser locutor de campeonatos desurf, o que não conseguiu realizar até o momento. A outra alternativa era serpalestrante sobre prevenção de acidentes e outros assuntos ligados ao surf,atividade que realiza eventualmente. Foi, contudo, sua experiência anterior,adquirida no comércio de artigos para surfistas numa loja de um amigo, que olevou a optar por abrir uma loja de produtos surfwear.

SURF - UM MERCADO JOVEM E DINÂMICO

Com origem nas disputas entre nobres e reis das ilhas do Pacífico, o surfdaquela época guardava certas restrições quanto à sua prática. Ao homem

do povo era proibido equilibrar-se em pé sobre a prancha. Ele só tinha permissãopara deslizar sobre as ondas deitado em pranchas menores e completamente nu.

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UM SURFISTA EM PAUSA VOLTA A SONHAR

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Atualmente, o surf é um esporte praticado por todos. Escolinhas, clínicas,workshops, são diversos os meios que fazem do surf um esporte profissional. OCircuito Universitário é um exemplo de campeonato envolvendo surfistas detodo o país, bem como o Circuito Colegial com os surfistas mirins.

O surf já é também praticado por pessoas com deficiência, consistindo emum importante instrumento de socialização.

No que se refere ao surfwear, seja pelo clima tropical ou pela populaçãojovem, o Brasil tornou-se um dos mercados mais promissores para este setor,sendo o segundo país que mais consome artigos de surf no mundo. Do total deseus 160 milhões de habitantes, 70% vivem a menos de 100 quilômetros dolitoral. Anualmente, essa indústria movimenta cerca de R$ 2,5 bilhões.

Dentre os eventos que impulsionam as vendas neste setor, a Surf & BeachShow, ao longo dos seus doze anos, estabeleceu-se como o maior evento denegócios desse mercado e reúne profissionais da indústria de surfwear do Brasile do exterior.

O mercado de surfwear é semelhante ao mercado de moda, em termos dedinâmica. A diferença é que no primeiro o cliente é bastante específico: alguémque surfa ou alguém que se identifica com as roupas usadas pelos surfistas.

Por ser um estilo de roupas intimamente ligado ao litoral e às praias, amelhor época de movimento de uma loja surf é o verão.

O perfil do consumidor de surfwear no Brasil é formado na sua maioria porjovens - 40% estão na faixa etária entre 18 e 25 anos - do sexo masculino(86%). Desses, 68% são estudantes, dentre os quais 49% concluíram o EnsinoMédio. Nesse universo, 63% trabalham e 50% falam outro idioma.

E A VIDA CONTINUA...

Acomercialização de artigos para surfistas começou na residência de Francisco, o Bichinho, no bairro do Mucuripe, em Fortaleza, com a venda de

produtos em consignação. Em seguida, a ajuda de colegas do surf, quepromoveram campeonatos para arrecadar recursos, bem como a doação deprodutos por parte de fabricantes do setor, foram decisivas para a criação dalojinha, inicialmente chamada Byshow.

Para dar início às atividades da loja, foi realizada uma festa de inauguração,para a qual foram convidadas pessoas que exercem influência no mundo do

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FORTALEZA

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surfwear e profissionais de apoio a este segmento, tais como: terapeutas, médicos,fisioterapeutas e enfermeiros. Esta foi a divulgação da empresa para formadoresde opinião, que poderiam trazer clientes de outros bairros e/ou regiões, alémdo raio de atuação onde a mesma estava localizada. Nessa fase, a própria famíliaajudava no gerenciamento do negócio.

Em 2003, com o crescimento das vendas, o empresário optou por um pontocomercial, numa rua de maior fluxo de pessoas e com mais espaço para exporsuas mercadorias. Foi necessária a contratação de 02 funcionários para ajudarno atendimento aos clientes. Nesse momento, foi importante a troca do nomeda loja de Byshow para Bichinho, que é como o empresário é normalmentechamado no bairro. Esta mudança gerou uma maior identificação da empresacom os clientes.

Para estimular as vendas, a empresa utiliza, como estratégia de marketingvisita aos clientes, uso de carro de som no bairro, propaganda boca a boca evariedade de estoque. Segundo o empresário, o consumidor de produtos desurfwear gosta de produtos exclusivos, que fortaleçam sua imagem perante opúblico. É necessário "saber o que o cliente deseja". Utiliza também a estratégiade promoção de eventos com profissionais famosos do surf para divulgar evender seus produtos.

Há, aproximadamente, 08 lojas de produtos surfwear no Mucuripe. ABichinho, então, procura se diferenciar oferecendo, além de roupas, artigospara surfistas. Um outro aspecto bastante explorado é o conhecimento sobresurf que o empresário possui, pois isto incentiva as vendas na medida em queele orienta qual é o produto mais adequado para cada cliente.

Os clientes são provenientes não apenas da região onde está localizada aempresa, mas também de outros estados: Pernambuco, Maranhão e DistritoFederal e de municípios do interior do Estado do Ceará.

Bichinho também reconhece que o consumidor de produtos surfwear nãonecessariamente é o jovem que mora nas cidades litorâneas, mas qualquer pessoaque se identifica com o estilo surfwear.

Os seus fornecedores são, na maioria, fabricantes locais, mas há tambémcompras realizadas com alguns representantes de indústrias do Estado de SãoPaulo. Esta variedade de fornecedores garante um dos principais diferenciais daloja, que é a diversidade de produtos. De acordo com Ricardo Arruda, representanteda Natural Art - fornecedora de produtos de surfwear - no caso do Bichinho, "aspessoas o ajudam porque ele não tem preconceito consigo mesmo".

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UM SURFISTA EM PAUSA VOLTA A SONHAR

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CONCLUSÃO

O sucesso do empreendimento pode ser atribuído não somente a resultadosquantitativos, como volume de faturamento e empregos gerados, mas

principalmente aos ganhos qualitativos após o acidente, enumerados em seudepoimento: "fiquei com mais vontade de viver, cresceu muito o meu modo de pensar, deajudar as pessoas deficientes, fazer palestras e doações".

Diante de uma nova realidade de vida, o Bichinho conseguiu identificaruma atividade econômica - no caso, uma loja de produtos surfwear, que lheproporcionou realização pessoal e retorno financeiro.

No entanto, os desafios não param por aí, pois o empresário tem comoprojeto futuro montar outra loja de artigos para surfistas na praia da Caponga,no município de Cascavel, litoral do Ceará, onde já possui alguns clientes. Umoutro projeto é oferecer na sua loja produtos adaptados para os deficientes,uma lacuna no mercado local, bem como montar uma equipe e prepará-lapara os campeonatos, além dos 02 surfistas que já treina atualmente.

É dessa forma que Bichinho aos poucos vai vencendo o preconceito, primeirodo surf, depois da deficiência física, mas vai principalmente ensinando que"tem que ser perseverante, trabalhar com a realidade, fazer o que gosta, o queestá no sangue, ter humildade".

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Que medidas poderiam ser adotadas para facilitar a inserção do deficienteno mercado de trabalho?

• Quais os benefícios que os deficientes podem ter reintegrados através deuma atividade produtiva?

• Quais os ganhos qualitativos que a inclusão social do deficiente podeproporcionar à sociedade?

• Quais as dificuldades que precisam ser superadas para que oempreendedorismo venha a ser uma forma de inclusão social para os deficientes?

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MUNICÍPIO: FORTALEZA

JOSÉ WALTER – DESCOBRINDO A FORÇA DOTRABALHO COLETIVO

INTRODUÇÃO

Abusca por melhoria de vida e desenvolvimento sustentável nas cidadesbrasileiras é uma realidade que sensibiliza o poder público e entidades

civis de fomento ao desenvolvimento.Localizada em Fortaleza, no Ceará, a comunidade do bairro José Walter

percebeu a necessidade de se organizar e de promover o crescimento social eeconômico da região em que vivia, capturando o apoio governamental e deoutras instituições.

Seus moradores gostavam do lugar e sempre existiu um estreito laço deafetividade entre os habitantes, significando um esforço na evolução do conjuntohabitacional a fim de promovê-lo a bairro. Em 1999, suas lideranças perceberamque havia a necessidade de refletir juntos sobre seus problemas e organizarações que despertassem as vocações e o desenvolvimento de suas potencialidades,bem como minimizassem os problemas sociais lá existentes.

Os 30 anos de existência do conjunto significavam também umdesenvolvimento desordenado, sem planejamento, acumulando problemas deinfra-estrutura e expondo dificuldades ao crescimento das novas gerações. Afinal,com uma população girando em torno de 35.000 pessoas, o bairro era quaseuma cidade.

Esse era o desafio a vencer e é aí onde começa nossa história.

Maria Helena Silva Oliveira, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação do professor César SalimM. Sc, da PUC-RJ, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.

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FACHADA DA ASSOCIAÇÃO DOS MICRO E PEQUENOS EMPRESÁRIOSDO JOSÉ WALTER – AMPEJW

PEÇAS PRODUZIDAS PELOS MORADORES DO BAIRRO JOSÉ WALTER

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JOSÉ WALTER – DESCOBRINDO A FORÇA DO TRABALHO COLETIVO

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UM CONJUNTO HABITACIONAL E UMA HOMENAGEM

Obairro José Walter foi o primeiro núcleo habitacional construído no Ceará.A sua etapa inicial foi inaugurada em 1969, com o nome de Núcleo

Integrado do Mondubim. Passou a se chamar Conjunto Habitacional PrefeitoJosé Walter, em homenagem ao então prefeito de Fortaleza.

Ao longo dos anos, o bairro foi crescendo desordenadamente e os problemascomeçaram a surgir e a se agravar. Serviços como educação, saúde, lazer esegurança, entre outros, passaram a ser insuficientes ou insatisfatórios, além dafalta de perspectivas para a população jovem.

Em 30 anos, o bairro tomou proporções de cidade. Em 2000, a populaçãochegou a 34.930 habitantes (IBGE – Censo 1999/2000), o que significava umaconcentração maior do que a de muitos municípios do Estado.

CONHECENDO O LOCAL

Em comemoração aos 30 anos do bairro, em 1999, a Associação dosMoradores do José Walter enviou uma correspondência a vários órgãos do

Estado e do município, além de entidades civis, a fim de atrair a atenção paraos problemas do bairro e trazer soluções que melhorassem as condições devida local.

Era necessária a intervenção destas instituições para ajudar a detectar asdeficiências, bem como fomentar ações que dariam um passo firme emdireção às melhorias a partir de um trabalho consciente com todos ossegmentos da comunidade.

Quando o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado doCeará – SEBRAE/CE recebeu essa correspondência, fez contato com as liderançasque estavam buscando parcerias, ao todo 13 associados.

Vale destacar o empenho de pessoas como o Sr. Antônio Rodrigues Félix ea Sra. Lucimar Nunes Almeida, que convidavam e estimulavam todos aparticipar das reuniões, incutindo o hábito de discutir dificuldades comuns atodos os moradores. Havia a necessidade de buscar uma compreensão coletivados problemas e de encontrar soluções adequadas.

Dificuldades foram encontradas para introduzir, na cultura das liderançascomunitárias, a crença de que valia a pena sentar à mesa e discutir os problemas.

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FORTALEZA

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Com o passar do tempo, as pessoas passaram a participar mais das reuniões e osprogressos começaram a surgir. Os encontros anteriores serviram comosensibilização para o levantamento das necessidades que o bairro tinha e para areflexão sobre algumas alternativas quanto ao que poderia ser feito. Esse foi otrabalho de mobilização.

O retrato daquela época, 1999, mostrava que o bairro possuía 01 delegacia,34 escolas, sendo 19 de Ensino Fundamental, 14 de alunos do pré-escolar e 01de computação gráfica, além de 01 hospital e 01 posto do corpo de bombeiros.

O poder aquisitivo da população, de acordo com a Pesquisa de Análise deNegócios do SEBRAE/CE – 2000, era assim estratificado: 64% das pessoas ganhavamaté 03 salários mínimos, 22% de 03 a 06 salários mínimos, 10% entre 06 e 10salários mínimos e 4% ganhavam acima de 10 salários mínimos, numa média de3,5 salários mínimos por trabalhador. Esses números permitiam afirmar que, em2000, o bairro era formado por pessoas de classes média e média baixa.

Ainda com base na pesquisa, os moradores estavam distribuídos entreos seguintes segmentos: comércio (19%), profissional autônomo (18%),donas-de-casa (17%), pensionistas (11%), empregados da indústria (6%),professores (6%), funcionários públicos (5%), estudantes (3%), bancários(2%) e militares (2%).

Em 2000, o número de empresas era de 672, divididas em comércio,indústria e serviços.

UMA COMUNIDADE PERSEVERANTE

No ano de 2000, iniciou-se a elaboração de um diagnóstico para levantar ospontos fortes e fracos, as ameaças e as oportunidades em relação ao bairro.

Com base nesta análise, foram traçados projetos e ações a serem planejados e desenvolvidospor meio de parcerias com os poderes públicos, privados e outras lideranças.

Os trabalhos realizados permitiram identificar formas de desenvolveriniciativas voltadas para o fortalecimento, a expansão e a criação de oportunidadesde negócios e a geração de trabalho e renda, visando ao desenvolvimento localintegrado e sustentável. Essa ação, chamada SEBRAE nos Bairros, consistiuem um projeto piloto desenvolvido pelo SEBRAE/CE.

Para a viabilização e o acompanhamento dos programas e projetos, foi criadoum comitê gestor, formado por pessoas da própria comunidade, que definia,

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em reuniões, o que e como fazer, quem seriam os responsáveis e os prazos deexecução das atividades.

A partir de então, tudo começou a mudar no Conjunto José Walter.Os moradores eram pessoas perseverantes e não se cansavam de trabalhar e debuscar parcerias.

UM BAIRRO COM TALENTO PARA BONS NEGÓCIOS

Os empresários se organizaram e passaram a receber cursos deempreendedorismo e gerenciamento, como o Programa Brasil

Empreendedor, que visava capacitar pessoas com potencial para montar negócios,bem como orientar quem já era empresário e queria ampliar sua atividade.

Em novembro de 2000, foi criada a Associação dos Micro e Pequenos Empresáriosdo José Walter – AMPEJW, inicialmente com 150 associados. Em 2002, já contavacom 500 participantes, representando 62,3% do universo das empresas do bairro,que totalizaram 802 no mesmo ano, entre formais e informais, conforme Cadastroda Indústria, Comércio e Serviço do Bairro José Walter – 2002.

Percebeu-se claramente a vontade do povo de fazer acontecer no bairroquando da realização da I Feira de Pequenos Negócios do José Walter, emnovembro de 2000, com 90 expositores e cerca de 8.000 visitantes. Os setoresque mais se destacaram foram confecção, artesanato e gastronomia.

Este evento passou a ocorrer anualmente, já tendo sido realizadas três edições,inclusive com inovações, como os minicursos "Aprenda e Faça", que visavamensinar aos participantes atividades de baixo custo que pudessem ser praticadasposteriormente e gerar trabalho e renda, como por exemplo, doces e salgados,embalagens para presentes, entre outros. Essa ação contou também com oempenho da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado – SDE.

Nessa época, o SEBRAE/CE já havia instalado uma unidade do Balcão SEBRAEna sede da associação para o atendimento aos micro e pequenos empresários daregião, com 1.519 atendimentos desde a sua implantação, contando com o apoiode 02 estagiários de nível superior residentes no próprio bairro.

Ainda em 2000, foi firmada uma parceria com a então Secretaria do Trabalhoe Ação Social do Estado – SETAS1, por meio do Sistema Nacional de Emprego

1Esta secretaria passou a ser denominada Secretaria de Ação Social – SAS (www. setas. ce. gov. br).

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– SINE e o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho – IDT, que disponibilizouo Balcão Móvel de Empregos, 02 vezes por semana, na sede da AMPEJW, parao atendimento à população, gerando impacto na comunidade, com atendimentoa 5.870 pessoas, expedição de 399 carteiras do Ministério do Trabalho eencaminhamento de 315 profissionais para emprego, até 2002.

No ano de 2001, no José Walter, a comunidade iniciou seu trabalho combastante entusiasmo. Nessa época, foi elaborado o Plano Estratégico deDesenvolvimento, que contemplava os vários projetos:• Unidade Social, objetivando a integração das lideranças comunitárias;• Convivendo Melhor no Bairro, visando proporcionar meios de boa

convivência e bem-estar de todos;• Educar 2001, visando a melhor oferta de ensino;• Saúde é Nossa Vez, facilitando o acesso aos serviços de saúde;• Incentivando Novos Negócios, procurando proporcionar o fortalecimento

das empresas existentes;• Comunidade Cidadã, objetivando promover os valores de cidadania;• Cultura e Espaço para Todos, proporcionando um espaço para o

desenvolvimento das práticas de lazer.No final do mês de setembro, nas comemorações de um ano da ASPEJW,

houve um dia de muita movimentação no bairro, com o início da campanha BairroLimpo e ações dos projetos Arte na Rua e Programa de Atendimento Rápido.

O lançamento da Campanha Bairro Limpo, realizada pelo Projeto Reciclando,do SEBRAE/CE, em parceria com a SETAS e a Secretaria da Ouvidoria Geral edo Meio Ambiente do Estado do Ceará – SOMA, objetivou sensibilizar osmoradores para a responsabilidade social. Esta campanha mostrou à comunidadeas vantagens de se manter limpas as ruas por meio da coleta seletiva do lixo.

Os adolescentes foram treinados para a sensibilização quanto à campanha etrabalharam de forma voluntária. Eram 10 os agentes recicladores, escolhidosna própria comunidade, que receberam capacitação específica os carrinhos paracoleta doados pela SOMA.

Após a coleta seletiva do lixo em residências e no comércio, estes agentespassaram a transportá-lo até um galpão, onde o material era pesado. Às sextas-feiras, o Centro de Triagem de Resíduos Sólidos passava recolhendo o materiale efetuando o pagamento correspondente ao peso.

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Essa ação beneficiou diretamente 10 famílias que não possuíamperspectivas de renda e passaram a receber em torno de R$ 200,00 pormês, além de ajudar o bairro a manter-se limpo. Vale salientar que o trabalhode pesagem e de controle do material era realizado por um voluntário, Sr.José Orisvaldo de Almeida, morador do bairro, que disponibilizou suastardes a esse trabalho.

Arte na Rua foi uma ação complementar inserida na Campanha Bairro Limpo.A idéia era tornar o local mais atraente. Foi iniciado a partir "de uma reivindicaçãodos próprios adolescentes", disse Lucimar Nunes, presidente da ASPEJW, quequeriam uma opção a mais. O SEBRAE/CE, a SETAS e a ASPEJW realizaramcapacitação em grafitagem e noções de pintura com 50 adolescentes. O resultadochamou a atenção de todos. Os muros do bairro foram pintados, gerando umnovo visual, substituindo as pichações e propagandas por artes plásticas.

O projeto foi levado adiante. Foi criado um grupo chamado Planeta Arte eos adolescentes participaram expondo seus trabalhos em eventos como aII Feira de Pequenos Negócios do José Walter e o I Festival de Arte e Culturade Nova Jaguaribara. Este trabalho favoreceu o interesse por novaspossibilidades de aprendizado, de ação e de trabalho com a arte, além de fazercom que estes adolescentes não ficassem pichando muros.

O Programa de Atendimento Rápido congregou várias entidades, como oSEBRAE/CE, SETAS, SOMA, Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio– SENAC, SINE/IDT, Companhia de Abastecimento de Água e Esgoto doCeará – CAGECE, Secretaria de Saúde, Corpo de Bombeiros e Polícias Militare Civil, para o atendimento à população, oferecendo serviços de emissão decarteira de identidade, CPF, carteira profissional, vacinação, prevenção do câncer,orientações empresariais, entre outros.

Em continuidade às ações, realizou-se uma pesquisa com as empresasinstaladas no bairro e foi editado, pelo SEBRAE/CE, o I Cadastro da Indústria,Comércio e Serviço do Bairro José Walter.

UMA VISÃO DE FUTURO

Tendo por base o sucesso do ano de 2001 e contando com a participação de26 lideranças, foram elaboradas a segunda edição do Plano Estratégico de

Desenvolvimento e a definição da visão de futuro para o bairro:

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"Uma comunidade organizada e bem-sucedida, articulando suas ações por meio deum conselho comunitário representativo, promovendo o crescimento econômico e social dobairro, buscando a melhoria da qualidade de vida de toda a comunidade".

Em março de 2000, realizou-se um novo levantamento censitário dasempresas instaladas no bairro para a atualização do cadastro editado no anoanterior e detectou-se, entre outros dados, que 58,86% funcionavam há menosde 05 anos e 89,99% possuíam até 05 funcionários. Os setores econômicosmais representativos foram o serviço, com 47,68%, o comércio, com 47,37%,e a indústria, com 4,95%.

A SETAS, por meio do SINE/IDT, instalou definitivamente o balcão deempregos, que funciona na seda da ASPEJW de segunda à sexta-feira.

O destaque do ano foi a participação de 02 empresas na Feira Internacionalda Indústria Têxtil – FENIT, em São Paulo. As empresas Texugo Moda Praia eLumezia Artesanato tiveram seus produtos divulgados no Brasil e no exterior,favorecendo contratos de exportação para os Estados Unidos, Espanha e PortoRico, além dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Em virtudedo êxito obtido, aumentaram as possibilidades de geração de emprego no bairro.

Em uma parceria com o Centro de Documento e Informação – CDI doSEBRAE/CE, foram passadas orientações às escolas para a formação e aorganização de bibliotecas, além da doação de exemplares da publicaçãoOportunidade de Negócios, do SEBRAE/CE. Foi implementada também aBiblioteca Comunitária da ASPEJW.

A ASPEJW apoiou-se em um projeto da Universidade Estadual do Ceará –UECE para a alfabetização de adultos, que beneficiou cerca de 30 pessoas.

Parece que no conjunto José Walter o progresso não pára mais!

CONCLUSÃO

Aexperiência com o programa SEBRAE nos Bairros mostrou que é possíveldespertar em uma comunidade um grau de participação e de organização

capaz de promover seu desenvolvimento em parceria com entidades sem queesta perca seu valor como bairro.

Os resultados alcançados valorizaram o planejamento participativo, queresultou na formação de redes de parceiros com papéis bem definidos. O processo

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JOSÉ WALTER – DESCOBRINDO A FORÇA DO TRABALHO COLETIVO

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de envolvimento da comunidade foi indispensável para se conseguir os benefíciospara o bairro.

À medida que a comunidade passava a trabalhar em ações para revitalizaçãodo José Walter, aconteciam o resgate da cidadania e a inclusão de pessoas queantes não tinham perspectivas e o reforço da cultura do associativismo ia sedesenvolvendo.

Os desafios foram muitos e diante do tamanho da população será necessárioagregar cada vez mais pessoas para que estes sejam superados. Por intermédioda ASPEJW e da associação de moradores, novos caminhos têm sido traçados.Planos para o futuro são construídos, como o de uma casa de mediação, umadelegacia de mulheres e uma ilha digital, considerados prioritários.

Este processo não tem fim. As bases que viabilizaram se fortalecem à medidaque o exercício do trabalho em conjunto se faz e que os resultados são alcançados.

O Programa SEBRAE nos Bairros mostrou que pode, juntamente com aunião das pessoas, dar sustentabilidade às ações a partir do envolvimento e docomprometimento das lideranças. Este projeto passou a ter repercussão na capitale instigou as lideranças comunitárias do Conjunto Ceará a buscar essa parceria,ali implantada no final de 2001, que também rendeu muitos frutos.

Este tipo de resultado aponta para a possibilidade de se multiplicar aexperiência realizada no Conjunto José Walter, trazendo benefícios similares aoutras comunidades.

Agradecimentos

Coordenação Técnica do Projeto: Lúcia Maria Tabosa e Maria Francineide Cavalcante.

Colaboração: Maria Francineide Cavalcante, Kátia Luna Bento e equipe da Unidade de Desenvolvimento Local do SEBRAE/CE; Tânia MariaPorto de Carvalho, articuladora regional do SEBRAE/CE e Lucimar Nunes de Almeida, presidente da ASPEJW.

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QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Que estratégias poderiam ser utilizadas para aumentar o envolvimento dacomunidade com o projeto?

• Para dar continuidade aos projetos implantados, seria necessário buscar novosparceiros?

• Como se poderia manter e aumentar a rede de parceiros capazes de darsustentabilidade ao trabalho já realizado e implantar novos projetos similares?

• Quais seriam as estratégias utilizadas para divulgar e estimular a implantaçãodesse projeto em situações semelhantes?

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MUNICÍPIO: FORTALEZA

SEMEANDO O EMPREENDEDORISMO NA ESCOLA

INTRODUÇÃO

Ocomportamento do estudante da escola pública tem sido marcada pelaapatia, desinteresse e baixa auto-estima.

Segundo o Censo Escolar de 2001, realizado pela Secretaria da EducaçãoBásica do Estado do Ceará – SEDUC (INEP/MEC, 2002), a taxa de repetênciano Ensino Médio havia sido muito alta (13%). Além disso, o afastamento porabandono teve um valor maior que a concorrência de reprovação. No períodonoturno, a relação reprovação/abandono foi de 1/5.

Tornar o jovem da escola pública o arquiteto idealizador da sua própriahistória, capaz de descobrir oportunidades e mudar atitudes diante dasdificuldades impostas por uma realidade cada vez mais complexa e dinâmica:este era um dos grandes desafios enfrentados pela SEDUC, em 2001.

Maria Christine Diniz Sátiro, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora AdrianaTeixeira Barros, da Universidade Estadual do Ceará – UECE, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casosde Sucesso do SEBRAE.

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DRIELE, ESTUDANTE DO COLÉGIO JOSÉ VALDO RAMOS,EM SUA CONFECÇÃO

DIVULGAÇÃO DA I FEIRA DE EMPREENDEDORISMO DA ESCOLAVIRGÍLIO CORREIA LIMA

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SEMEANDO O EMPREENDEDORISMO NA ESCOLA

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COMO TUDO COMEÇOU

Em 1995, o diretor do Colégio Batista Santos Dumont, localizado emFortaleza, Sr. Isaac Coelho, contactou o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE. Desejava desenvolver umadisciplina que estivesse conectada às mudanças sócio-econômicas vigentes, taiscomo privatizações, desemprego e mudanças tecnológicas. Os alunos estavamdesmotivados com a disciplina que o colégio adotava, Técnicas Comerciais,em que eles aprendiam a preencher documentos fiscais e formulários diversos,que pouco contribuíam para sua formação profissional futura.

"A disciplina Técnicas Comerciais ensinava o jovem a ser empregado. Precisávamos deuma disciplina que o ensinasse a ser um empreendedor, gerenciar seu futuro. Foi decisivaa parceria com o SEBRAE/CE para instrumentalizar a disciplina".Sr. Isaac Coelho, diretor do Colégio Batista Santos Dumont.

Adaptar conteúdos do mundo dos negócios, como perfil empreendedor,tendências de mercado e plano de negócios para a linguagem dos adolescentesfoi o desafio proposto ao SEBRAE/CE.

Foi, então, constituído um grupo de estudo para desenvolver o cursoIniciação Empreendedora. O SEBRAE/CE treinou educadores para ministrar adisciplina, que foi incorporada à grade curricular do último ano do EnsinoFundamental do colégio Batista.

A DISSEMINAÇÃO DA IDÉIA

Aentão Secretaria de Trabalho e Ação Social do Estado do Ceará – SETAS1

procurou o SEBRAE/CE, em 2000, para levar a sua experiência deempreendedorismo para o Projeto Atleta, que trabalha com jovens de baixarenda da periferia de Fortaleza. No projeto Atleta, os alunos participam deoficinas profissionalizantes nas áreas de marcenaria, reciclagem, fabricação desandálias, de picolés, de doces e de salgados, além de serem envolvidos comatividades esportivas, artísticas e culturais. A disciplina Iniciação Empreendedora

1Esta secretaria passou a ser denominada Secretaria de Ação Social – SAS (www.setas.ce.gov.br)

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foi, então, sugerida como opção para introduzir os jovens do projeto no "mundodo empreendedorismo".

Ainda em 2000, foi criada uma turma do curso Iniciação Empreendedorapara as alunas da Escola de Dança e Integração Social para Crianças e Adolescentes– EDISCA, destinada a estudantes carentes da periferia de Fortaleza.

Em 2001, o desafio tornou-se ainda maior, uma vez que, atendendo àsolicitação da SEDUC, seria desenvolvido um projeto que mudasse ocomportamento do estudante da escola pública, marcado pela apatia, desinteressee baixa auto-estima.

A aprendizagem proporcionada pelas experiências anteriores facilitou a elaboraçãode uma proposta de trabalho adaptada à realidade da escola pública e viabilizadaatravés da parceria com o Governo do Estado, a Federação das Associações deJovens Empresários do Estado do Ceará – FAJECE e com o SEBRAE/CE, uma vezque se considerou a carência de recursos das escolas públicas para arcarem sozinhascom todos os custos do projeto.

FAZENDO O PROJETO ACONTECER

Em junho de 2001, a SEDUC e os parceiros se reuniram para definir asresponsabilidades de cada entidade no projeto.

Inicialmente, coube ao SEBRAE/CE a realização de seminários sobreempreendedorismo, bem como a capacitação de professores das escolas públicasde acordo com a metodologia do programa. A SEDUC ficou responsável peladefinição das escolas e coordenação das ações em parceria com o SEBRAE/CE.A FAJECE fez o intercâmbio escola/empresa, levando os alunos a conheceremin loco o dia-a-dia das empresas.

O projeto foi batizado com o nome de Empreendedorismo na Escola e seuobjetivo principal era plantar a semente da cultura empreendedora junto aosestudantes das escolas públicas cearenses. O formato idealizado compreendeuduas etapas: seminários de sensibilização sobre empreendedorismo para alunosda rede pública e curso de iniciação empreendedora.

2Um dos eventos de maior sucesso promovido pelo SEBRAE. Desde 1995, a feira é realizada nos diferentes estados e regiões do país, sempreoferecendo oportunidades para o surgimento de centenas de novos negócios a cada edição.

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SEMEANDO O EMPREENDEDORISMO NA ESCOLA

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Seminários de sensibilização sobre empreendedorismo.

Os seminários, com duração de 02 horas, foram desenvolvidos para abordartemas como o cenário mundial e a importância do empreendedorismo naformação dos jovens. Durante o seminário, um parceiro do SEBRAE/CE, depoisde empregar uma metodologia interativa, que compreende a utilização dedinâmicas, vídeos e depoimento de empresários da comunidade local, convidavaos alunos a participar do curso Iniciação Empreendedora. Concluído o seminário,os alunos preenchiam uma ficha de inscrição, cabendo à escola selecionar umgrupo destes para freqüentar o curso.

Curso de iniciação empreendedora – preparação dos educadores

O curso Iniciação Empreendedora foi desenvolvido para ser ministrado poreducadores da própria escola. Para tanto, as escolas procuraram identificarprofissionais que tinham um perfil empreendedor e foi desenvolvida umacapacitação especial para estes professores. A capacitação dos professorescompreendia 50 horas de sala de aula e o conteúdo programático envolveu temascomo perfil empreendedor, plano de negócios e cenário mundial.

As escolas também passaram a formar, todos os anos, novas turmas decapacitação para os professores das escolas que iam se engajando no projeto.Ao final de cada ano, também passaram a ser realizadas avaliações sobre o cursoministrado pelos educadores, que se constituíram como uma forma deaprendizagem continuada, onde eram apontados os problemas e as soluções.

Curso de iniciação empreendedora – o programa

O curso Iniciação Empreendedora foi pensado para ser uma atividade ex-tracurricular, com carga horária de 96 horas, dividido em três fases: A) 30horas em sala de aula; B) 36 horas de aula de campo e elaboração do plano denegócio; C) 30 horas para preparação e realização da Feira do Empreendedor.

A) Em sala de aulaEm sala, o professor aborda o seguinte conteúdo programático: o cenário

sócio-econômico mundial; a importância da escolaridade no mercado detrabalho; o perfil do empreendedor; os elementos da qualificação, os atributos

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FORTALEZA

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da empregabilidade, as atitudes; as megatendências; o plano de negócios; aatividade empreendedora como opção de carreira; os fatores que interferem naescolha da profissão; o nosso plano de negócios e a Feira do Empreendedor.

B) Em CampoQuanto à aula de campo, a AJE agenda para cada turma uma visita a uma

empresa. Os alunos vão acompanhados pelo professor e por um representanteda AJE que, auxiliados pelo empresário, procuram mostrar como funcionauma empresa. É também durante esta fase que os alunos, em equipe, elaboramos planos de negócios para a Feira do Empreendedor.

C) A Feira do Empreendedor.A Feira do Empreendedor foi desenvolvida para ser um espaço onde os

alunos possam "vestir a camisa" de empreendedores, transformando as suasidéias em oportunidades de negócios. A organização da feira é feita de acordocom a realidade de cada região. Em alguns municípios, as escolas se reúnem epromovem uma feira única. Em outros, é realizada uma feira por escola.No entanto, o comum em todas elas, é o fato de os alunos buscarem aproximara simulação de seus projetos da realidade.

É um momento de muita adrenalina e brilho nos olhos quando os alunostentam convencer os avaliadores de que o seu projeto é viável. Os critériosempregados para selecionar os melhores projetos são: apresentação econhecimento do empreendimento, criatividade e inovação, atendimento aocliente e marketing.

A premiação dos melhores planos de negócio tem mudado ao longo dotempo. Já foram distribuídos livros, participação em seminários e até prêmiosem dinheiro.

Em uma das avaliações periódicas realizadas pela coordenação do projetofoi detectada uma dificuldade comum a todas as escolas: a falta de recursospara os projetos apresentados na Feira do Empreendedor. A saída encontradafoi estimular os alunos a procurarem empresas locais para obtenção dos recursosnecessários.

A tabela 01 a seguir mostra o número de feiras realizadas, projetosapresentados e prêmios concedidos entre 2001 e 2003.

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SEMEANDO O EMPREENDEDORISMO NA ESCOLA

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VISIBILIDADE NACIONAL

Oprojeto Empreendedorismo na Escola passou a ter visibilidade nacionalem junho de 2002, quando foi selecionado pelo Instituto Ayrton Senna,

dentre 26 projetos inscritos pelas escolas de todo o Brasil, para participar, emBelo Horizonte, do programa Sua Escola a 2000 por Hora, que tinha comoobjetivo disseminar práticas e conhecimentos construídos pelas escolas. Aprofessora Amália Barreto e a estudante Maria de Cássia, representantes doLiceu Messejana, fizeram um relato sobre a implantação do projeto na escola.

Segundo a estudante Maria de Cássia, que hoje coordena oficinas de papelreciclado em sua comunidade, "muitas empresas não aceitam jovens, pois elesnão têm experiência em trabalho; e com este projeto já podemos nos apresentare ter um diferencial".

De acordo com a professora Amália Barreto, "o projeto é uma iniciaçãoprofissional, inovadora e gratificante; faz com que os jovens passem da desigualdadesocial para a igualdade... Só assim acredito no verdadeiro processo educativo".

OS FRUTOS COLHIDOS COM O PROJETO

Em 2003, em função da disseminação do projeto Empreendedorismo naEscola em todo o Estado do Ceará, procurou-se a parceria de outras secretarias

de governo, com o objetivo de contribuir para ações de coordenação,desenvolvimento e avaliação do mesmo.

Passaram a integrar a nova rede de parceiros: a Secretaria de DesenvolvimentoEconômico do Estado do Ceará – SDE, a Secretaria do Trabalho eEmpreendedorismo do Estado do Ceará – SETE e a Secretaria de Esportes eJuventude do Estado do Ceará – SEJUV.

TABELA 1: NÚMERO DE FEIRAS, PROJETOS E PRÊMIOS POR ANO.

(*) A premiação em 2003 foi realizada por região. Fonte: Relatórios de acompanhamento do projeto de 2001 a 2003 – SEBRAE/CE

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1002 51 911 22

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FORTALEZA

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TABELA 2: NÚMERO DE ALUNOS, MUNICÍPIOS E ESCOLAS ATENDIDASPOR SEMINÁRIOS E CURSOS REALIZADOS

Fonte: Relatórios de acompanhamento do projeto de 2001 a 2003 – SEBRAE/CE

Como resultado das ações iniciadas em 2001, o projeto capacitou, duranteeste período, 10.511 alunos de 115 escolas, envolvendo 70 municípios detodo o Estado. A tabela 2 apresenta esses dados.

Somados a estes números, outros resultados de cunho qualitativo foramidentificados através de uma pesquisa de impacto sobre o projeto em 2003,realizada pelo Instituto do Desenvolvimento do Trabalho – IDT. Foramentrevistados 408 alunos, de um universo de 5.636, distribuídos em 30escolas por todo o Estado do Ceará.

Inicialmente, uma análise dos dados levantados nesta pesquisa revelou que,do total de entrevistados, 64,95% consideraram o projeto excelente, 33,58%bom e 1,47% regular. O público-alvo do projeto Empreendedorismo na Escolaé constituído por jovens na faixa etária de 15 a 19 anos, com a predominânciado público feminino (64% do universo analisado).

Do total de alunos entrevistados, foram levantados os seguintes indicadoresde resultado:

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soipícinuM soipícinuM soipícinuM soipícinuM soipícinuMsodidneta sodidneta sodidneta sodidneta sodidneta

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Esses dados mostram uma mudança de atitudes nos jovens depois departiciparem do projeto, que contribuiu para reverter a situação anterior de apatia,desinteresse nas atividades escolares e baixa auto-estima.

De acordo com outra pesquisa realizada pelo Projeto Juventude/InstitutoCidadania, em parceria com o Instituto Hospitalidade e o SEBRAE/CE, osjovens brasileiros na faixa etária entre 15 e 24 anos, em sua maioria (68%),nunca pensaram em fazer algum trabalho social ou abrir empresas. O projetoEmpreendedorismo na Escola contribui para estimulá-los a pensar sobre o seufuturo profissional e incentiva a abertura de pequenas empresas, na medidaem que 84,07% dos alunos do universo pesquisado manifestaram interesse emabrir um negócio próprio e 85,29% já pensam num projeto para o futuro.

A semente foi plantada, a árvore cresceu e começou a gerar frutos, comomostram os dados abaixo, sobre os alunos que abriram pequenos negócios emsuas comunidades.

Fonte: Pesquisa de Impacto – IDT/2003

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orutufoarapotejorP 92,58

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TABELA 4: ATIVIDADES REALIZADAS POR ALUNOS QUE PARTICIPARAMDO PROJETO EMPREEDEDORISMO NA ESCOLA

(*)As atividades são informais e realizadas pelos estudantes, individualmente ou em grupo. Fonte: Relatórios de acompanhamento do projeto de 2001a 2003 – SEBRAE/CE

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CONCLUSÃO

Os resultados obtidos pelo projeto mostram como a mudança decomportamento dos jovens da escola pública pode proporcionar a

realização de seus sonhos e a descoberta de potencialidades, favorecendo a suainclusão como cidadãos na comunidade local.

A realização do projeto Empreendedorismo na Escola foi viabilizada pelaparceria entre escolas públicas, Governo do Estado, SEBRAE/CE e FAJECE.Como diz a Secretária de Educação Básica do Estado do Ceará, Sofia LercheVieira, "é uma iniciativa que conta com muitos parceiros, que tornaram essaexperiência possível e um exemplo para o Ceará e para o Brasil".

Plantar a semente do empreendedorismo nesse universo de alunos que,segundo o Plano de Educação Básica – Ceará 2003/2006, em 2001,correspondia a 4,561 milhões de pessoas (61,38% da população cearense),contribui para a construção de uma nova mentalidade na sociedade cearense,pois muitos desses jovens estarão exercendo funções de liderança em suascomunidades.

Este desafio exige o envolvimento de outros atores sociais. Neste sentido,em 2004, além de trabalhar com o núcleo professor/aluno, que busca incentivaros alunos a desenvolver projetos de iniciação empreendedora, o projetopretendeu trabalhar dois outros núcleos da comunidade escolar: o núcleo gestãoda escola, que tem como objetivo trabalhar com sua direção para odesenvolvimento de iniciativas empreendedoras da escola para a sua comunidadee o núcleo família/aluno, que também tem como objetivo despertar nos paisdos alunos que participam do projeto a cultura do empreendedorismo. Paratanto, estão sendo planejados cursos que visam sensibilizar e envolver estesnovos núcleos em ações empreendedoras.

Manter acesa a chama do empreendedorismo na escola pública é, portanto,um compromisso a ser compartilhado pela rede de parceiros envolvidos no projeto.

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QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• O empreendedorismo é algo que se ensina ou a pessoa já nasceempreendedora?

• A disciplina de empreendedorismo deveria ser obrigatória nas escolas?

• Quais as vantagens de se trabalhar o empreendedorismo com jovens?

• Que ações os parceiros devem empreender para garantir a continuidade doprojeto Empreendedorismo na Escola?

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MUNICÍPIO: FRECHEIRINHA

FRECHEIRINHA: "SANGUE EMPREENDEDOR" NASVEIAS DOS CONFECCIONISTAS

INTRODUÇÃO

Frecheirinha é um município do Ceará, de clima árido e quente, localizadoa 291 km da capital Fortaleza, ao sopé da Serra da Ibiapaba, com 11.108

habitantes, segundo o Censo 2000 do IBGE. Num ambiente onde as opçõesde trabalho se restringiam ao funcionalismo público municipal, à insalubreprodução da cal e à agricultura de subsistência, nasceu, na década de 90, apartir de iniciativas locais, um aglomerado de pequenas empresas que fabricavampeças da moda íntima.

Apesar da coragem, ousadia, vontade de empreender e de buscar alternativasde emprego e melhoria de renda, esses pioneiros empreendedores conviviamcom a falta de conhecimentos e informações necessárias para desenvolver essaatividade de forma competitiva. Conforme relata João Viana da HibiscoLingerie: "aqui, enfrentávamos problemas de toda natureza, como custos,produtividade, qualidade dos produtos e acesso ao mercado".

Destacando-se pelo fato de possuir uma concentração de pequenosempreendimentos formais e informais do mesmo segmento e com potencial decrescimento, o município foi selecionado para ser beneficiário do ProjetoCOMPETIR, projeto de cooperação técnica entre Brasil e Alemanha, executadoatravés da parceria entre o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas doEstado do Ceará – SEBRAE/CE, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial– SENAI e a Agência de Cooperação Técnica Alemã – GTZ, com atuação nonordeste, para o desenvolvimento das economias regionais, em 1999.

O desafio, então, era fazer da moda íntima de Frecheirinha um referencialde qualidade e produtividade que possibilitasse a inserção competitiva de seusprodutos no mercado.

Maria Lédio Vieira, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora Ana Carênina deAlbuquerque Ximenes, da Faculdade 7 de Setembro – FA7, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casos deSucesso do SEBRAE.

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EMPRESA DE CONFECÇÃO DE PEÇAS ÍNTIMAS EM FRECHEIRINHA

PEÇAS ÍNTIMAS PRODUZIDAS EM FRECHEIRINHA

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SE

BR

AE

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Arq

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FRECHEIRINHA: “SANGUE EMPREENDEDOR” NAS VEIAS DOS CONFECCIONISTAS

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COMEÇOU COM UMA EMPRESA EM 1987...

Aconfecção de peças íntimas no município começou com a iniciativa pioneirade uma empreendedora local, Maria da Conceição Furtado, na época com

20 anos. Diante da falta de perspectivas profissionais na sua cidade, e nãoquerendo repetir a história de muitos jovens da região que buscavam alternativasde trabalho em São Paulo, ela resolveu tentar a confecção de peças íntimas.

Embora não tendo qualificação em confecção, ela decidiu fazer uma tentativa,conforme relatou: "comprei um conjunto de calcinha e sutiã de marca boa emFortaleza, descosturei, utilizei como molde e produzi as primeiras peças com oapoio de uma costureira da cidade." A aceitação desses produtos, por parte desuas colegas do curso de enfermagem, foi boa e a partir de então ela resolveuinvestir. Não dispondo de recursos financeiros, recebeu ajuda de sua mãe, quedispunha de uma pequena poupança, e de sua irmã que mora na Europa paracomprar as duas primeiras máquinas de costura.

Casou-se com João Viana e a confecção que funcionava dentro da residênciacontinuou a prosperar, tanto que precisou comprar mais 02 máquinas e contratare treinar mais 02 costureiras. A irmã continuou apoiando, enviando regularmenterevistas especializadas com as tendências da moda íntima na Europa.

Animados pelo desenvolvimento do pequeno negócio, Conceição e Joãoresolveram investir em cursos nas áreas de corte, costura e modelagem noSENAI de Fortaleza. Ampliaram a produção através de um financiamentopara aquisição de máquinas de costura industrial e de capital de giro.E assim, em 1992, o casal registrou a primeira empresa de confecções deFrecheirinha, com o nome de fantasia Di Pérola Moda Íntima.

SURGIRAM VÁRIAS EMPRESAS DEPOIS...

"O sucesso dessa empresa (Di Pérola) fez com que o gerente do Banco do Estado doCeará – BEC no município estimulasse as pessoas a financiar máquinas e equipamentospara confecção" ···

Na década de 90, surgiram os novos empreendedores locais e,conseqüentemente, o fenômeno da disputa e da rotatividade de pessoal

habilitado entre as empresas. Com a dinâmica do processo, outros

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FRECHEIRINHA

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empreendedores foram se inserindo na atividade através da aquisição demáquinas novas e/ou usadas, em alguns casos costureiras que saíam das empresase montavam seu próprio negócio. Este foi o caso da Aurilene Sales: "eu sempregostei muito de costurar, depois que eu fui trabalhar numa das fábricas, aquida cidade, que aprendi a costurar na overlock fiquei querendo ter a minhaprópria produção. Então resolvi me preparar para isso, inclusive fazendo várioscursos como corte e modelagem. Hoje me sinto realizada".

Para um pequeno município como Frecheirinha, que, segundo o IBGE(1995), contava com uma população de 9.923 habitantes, sendo que dessetotal 5.243 residiam na zona urbana, o surgimento dessa atividade teve umagrande importância para a população. Especialmente para as mulheres, porquerepresentava uma nova perspectiva de trabalho local e de formação profissionalpara aquelas que decidiam ir buscar emprego nas grandes cidades.

Mesmo com o esforço para produzir e a motivação empreendedora dosempresários, até 1996 as dificuldades com a qualidade da produção e a gestãodo negócio ainda eram comuns a todos eles.

AINDA NO ANONIMATO, MUITO TRABALHO...

Aexistência da linha de crédito do Fundo Constitucional do Ceará – FCE,que incentivava a implantação e a ampliação de pequenas e médias empresas

industriais no Estado, com juros e prazos atrativos, na agência local do BEC,fez com que os empreendedores de Frecheirinha, interessados na atividade deconfeccionar moda íntima, procurassem o SEBRAE/CE. Eles buscaram ajudano Escritório Regional de Tianguá, cidade vizinha, para elaboração de suaspropostas de financiamento, bem como para orientação sobre a formalizaçãodas empresas e o registro de marcas.

A partir dessa demanda inicial, houve uma concentração de esforços, porparte dos técnicos do SEBRAE/CE, para a sensibilização dos empresários comvistas à capacitação gerencial e tecnológica e, principalmente, para a organizaçãodo setor. Como resultado desse trabalho, foi criada, em 1996, a Associação dosConfeccionistas de Frecheirinha – ASCOF, com 12 empresas associadas, queproduziam, em média, de 60 a 80 mil peças por mês.

Apesar do isolamento geográfico de Frecheirinha, a iniciativa dessesempresários locais de investir na atividade industrial de confecções, embora de

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pequeno porte, se destacou em comparação aos pequenos municípios cearensesque historicamente se concentram em pequenos comércios varejistas.

Esse traço forte de empreendedorismo local possibilitou a sua inserção noProjeto COMPETIR, que, em 1999, expandia suas atividades para cidades dointerior do Estado, para municípios que tivessem atuação no setor de confecções,através da parceria entre SEBRAE/CE, SENAI e GTZ. Visando o fortalecimentoda competitividade das pequenas indústrias do nordeste, o projeto tinha comoestratégia básica a melhoria da produtividade e da qualidade das empresas, nagestão e nos produtos, para uma inserção competitiva no mercado (Anexos 01,02 e 03).

Em 1999, foi realizado um seminário de lançamento do projeto, que contoucom uma palestra sobre produtividade e custos no setor de confecções e comum levantamento das necessidades das empresas locais. Em seguida, foi realizadoum curso sobre custos e formação de preço de venda com um perito do Paraná,contratado pela GTZ, que adaptou um sistema de custos específico com baseno tempo de produção das peças. Durante a sua estadia de uma semana emFrecheirinha, ele realizou, também, consultorias e implantou o sistema de cus-tos nas empresas para orientação prática dos treinandos.

Essa ação teve um forte impacto na visão gerencial dos empresários, quepassaram a compreender o sistema de produção de forma integrada, percebendoas fontes geradoras de desperdícios de tempo, de pessoal, de materiais e as suasconseqüências na redução da produtividade, da qualidade, do lucro e dacompetitividade do preço do seu produto.

Como falou o Sr. Airton Costa, na época presidente da ASCOF, "antes deconhecer o sistema de custos, eu sabia quando estava ganhando ou perdendopelo resultado financeiro, mas não conseguia identificar o quanto e onde estavao ganho ou a perda. Conhecendo o sistema eu posso negociar melhor e saberquanto eu posso ou não dar de desconto para o cliente".

Com a finalidade de promover a melhoria da produtividade, a redução dedesperdícios e a otimização de recursos, foram realizados cursos e consultoriastecnológicas, para todas as empresas, com destaque para a transferência datecnologia de produção através de grupos compactos – uma importanteinovação que proporcionou a mudança da produção em série para a implantaçãode células de produção.

Nas células, cada grupo de máquinas e costureiras se torna responsável porum determinado tipo de produto e por uma meta de produção diária. Isto mudou

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FRECHEIRINHA

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o perfil da produção das empresas, que passaram a produzir mais com o mesmonúmero de costureiras, de acordo com a empresária Kelviane Portela, da KSSCriações: "antes eu produzia 300 peças por dia e depois da reorganização da produçãoem células passei a produzir, com o mesmo pessoal, 400 peças por dia".

Ainda no ano de 1999, foram realizados os cursos de gestão empresarial ede associativismo e houve a implantação do Programa de DesenvolvimentoRegional – PRODER, com a realização de um seminário para elaboração doplanejamento estratégico da ASCOF e a edição do Perfil Sócio-Econômico doMunicípio de Frecheirinha.

No ano de 2000, com o objetivo de disseminar a cultura da qualidade, foiiniciada a implantação do programa "D'OLHO na Qualidade" nas empresaspara melhoria do ambiente de trabalho e do sistema de gestão empresarial. Oprograma foi seguido pelo curso de desenvolvimento de recursos humanos,para os empresários, e oficinas de integração e relações interpessoais para osfuncionários. Atendendo à demanda dos empresários, foram formadas, também,turmas para capacitação de supervisores de produção e cronometristas.

Segundo Conceição, da Di Pérola Lingerie, com essas ações de sensibilização,integração e treinamento, pôde-se perceber uma melhoria na satisfação pessoal,no desempenho profissional e no comprometimento com as metas e a qualidadeda produção: "após os treinamentos e consultorias, o pessoal passou a ter umaconsciência e uma competência profissional que trouxe resultados positivostanto para eles como profissionais como para a empresa, que passou a ter umdesempenho superior. E acho que esse aperfeiçoamento tem que ser constante,tanto para nós, empresários, como para os funcionários".

As empresas de Frecheirinha, em sua maioria, desde o início optaram porbuscar mercados fora do Estado, escoando sua produção para os estados doMaranhão, Piauí, Pará, Amazonas, Roraima, São Paulo, Rio de Janeiro, entreoutros. Entretanto, a falta de uma estrutura adequada de comercialização,principalmente de proteção ao crédito, gerou um sério problema deinadimplência em função do recebimento de cheques pré-datados sem coberturae sem um cadastro eficiente de seleção e aprovação de clientes.

Algumas empresas foram vítimas de caloteiros, como a D. Terezinha, daHardy Lingerie: "eu tive um prejuízo tão grande que precisei recomeçar dozero e guardo esse pacote de cheques devolvidos como prova de que eu, graçasa Deus, superei essa fase difícil e hoje estou novamente com a minha empresafuncionando e com uma produção de melhor qualidade".

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FRECHEIRINHA: “SANGUE EMPREENDEDOR” NAS VEIAS DOS CONFECCIONISTAS

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Para atender à área de mercado e comercialização das empresas, foramrealizadas ações de capacitação em marketing e de consultoria coletiva sobreconsórcios de comercialização e exportação. Além disso, foi viabilizado o acessoao evento FENATÊXTIL, em Fortaleza, para 03 empresas e ao V EncontroInternacional de Negócios Mercosul, também em Fortaleza, para 10 empresas.

FRECHEIRINHA COMEÇOU A CHAMAR A ATENÇÃO...

Em 2001, Frecheirinha recebeu a visita do então governador do Estado, Sr.Tasso Jereissati, e, posteriormente, de uma comitiva de consultores italianos

interessados em conhecer as empresas e a associação. O presidente da ASCOFna época, Sr. Airton Costa, da Ousenews Lingerie, foi convidado pelo SENAIde Pernambuco para relatar a experiência da ASCOF em um seminário realizadona cidade de Caruaru. Segundo ele, "a experiência foi muito positiva porquenão esperava que um município tão pequeno e escondido como Frecheirinhapudesse chamar a atenção das pessoas". Na época, ele participou também doWorkshop da Cadeia Produtiva de Confecções, promovido pelo ProjetoCOMPETIR, em Fortaleza.

No mesmo ano, as ações de mercado tiveram continuidade com a realização,no mês de abril, de uma missão ao Rio de Janeiro para conhecer a experiênciado pólo de moda íntima da cidade de Nova Friburgo. Em julho, 05 empresasparticiparam como expositores na Feira Nacional da Indústria Têxtil – FENIT,em São Paulo. Em agosto, 12 empresas realizaram um desfile de moda naSemana do Município e apresentaram um documentário em vídeo sobre aimportância do segmento de confecções para a economia local.

Na busca da melhoria da qualidade e aumento do valor dos produtos,foram realizados cursos de iniciação ao design, cronometragem e consultoriastecnológicas de modelagem de peças íntimas e balanceamento da produção.Ainda em 2001, o município de Frecheirinha foi incluído no Programa deDesenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS. No segundosemestre, iniciaram-se os debates entre lideranças locais, poder público eempresários sobre a agenda de compromissos com ações para odesenvolvimento do município.

No ano de 2002, acentuou-se a compreensão do contexto sócio-econômicoonde estavam inseridas as empresas de confecções, de uma forma mais sistêmica,

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FRECHEIRINHA

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com a realização de um seminário para validação da cadeia produtiva da modaíntima, em Fortaleza, promovido pelo Projeto COMPETIR. Em seguida, foirealizado um workshop em Frecheirinha, com os empresários, para priorização deestratégias, com a participação de vários atores, como Banco do Nordeste do Brasil-BNB, Banco do Brasil – BB, Prefeitura, além do SENAI, SEBRAE/CE e ASCOF.

Atendendo a estratégia de fortalecimento dos elos de apoio às empresas deconfecções, foi realizada uma capacitação local em mecânica de máquinas decostura, visando à formação de profissionais dentro e fora das empresas, deforma a reduzir os custos, a dependência de prestadores de serviços de outrascidades e a demora no atendimento das demandas.

Com o intuito de reduzir os problemas de inadimplência, foram realizadaspalestras de esclarecimentos sobre os serviços de proteção ao crédito, resultandona adesão das empresas a um serviço de consulta de cheques e à utilização docartão de crédito. Estas iniciativas, associadas a uma melhor seleção dos clientese ao compartilhamento de informações sobre o cadastro dos mesmos, reduziram,em média, 70%, da incidência de inadimplência, segundo estimativa dopresidente da ASCOF, Aníbal Bastos.

Através da ASCOF, os empresários também conseguiram negociar um acordode redução de tarifas de fretes com a VARIG, o que resultou numa açãobeneficente à logística de distribuição e de redução de custos para as empresas.Em 2002, o diretor dos Correios de Fortaleza visitou Frecheirinha, movidopela curiosidade de conhecer essa pequena cidade que figurava no 38o lugarem volume de negócios entre os 184 municípios cearenses que utilizam oserviço Sedex Vestuário Especial.

E A SOMAR OS RESULTADOS...

Em 2003, as discussões e reflexões nos vários setores e instituições do paíssobre a importância das aglomerações setoriais como geradoras de

desenvolvimento nos territórios se acentuavam. As experiências dos distritositalianos, dos aglomerados de empresas de um determinado setor, num território,tratados como clusters e arranjos produtivos locais – APL, deixaram de serapenas objetos de estudos para se tornar estratégias de abordagem de váriasinstituições, como o SEBRAE/CE, o Ministério do Desenvolvimento da Indústriae Comércio, bancos oficiais e governos estaduais.

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No caso do Ceará, o Centro de Estratégias de Desenvolvimento do Governodo Estado – CED já havia iniciado o trabalho de mapeamento dos APL eapoiou o SEBRAE/CE em sua prioridade de atuação com ações coletivas nessesterritórios identificados.

No mesmo período, o projeto COMPETIR já desenvolvia os trabalhos comfoco em cadeias produtivas e arranjos produtivos locais. O município deFrecheirinha, identificado então como APL de confecções, foi selecionado tantopelo projeto como pelo SEBRAE/CE para ser território a ser apoiado de formaestratégica e conjunta pelos parceiros.

No mês de maio, foi realizado o Workshop do Arranjo Produtivo – WAP,em Frecheirinha, com a participação de moderadores formados peloCOMPETIR. Na oportunidade, foi elaborado o plano de ação e definido ogrupo gestor, com a participação dos empresários locais.

Todas as ações programadas, a curto prazo, foram realizadas. Entre elas, ocontato com a prefeitura municipal, quando se conseguiu o apoio do Sr. AldeciAzevedo, prefeito do município, que atendeu a demanda dos empresários naquestão da qualificação de pessoal alugando uma casa e algumas máquinas decostura para montagem de um pequeno centro de aprendizagem paracapacitação de costureiras. Em seguida, duas instrutoras da comunidade foramcapacitadas no SENAI, em Fortaleza, através do COMPETIR, para viabilizar arealização do treinamento local.

Em paralelo, o prefeito participou de um seminário de políticas públicaspara gestores municipais, no APL de eletroeletrônicos de Santa Rita doSapucaí/MG, a convite da GTZ. Em seu retorno, ele decidiu analisar o pleitodo setor, que solicitava a doação de um terreno para a construção de galpõespelos empresários.

Esta demanda visava solucionar a falta de espaço físico das empresas, tendoem vista que muitas funcionam nas residências, em alguns casos, já semcondições de funcionar, como no caso da Hardy Lingerie, citado no JornalDiário do Nordeste, em matéria publicada em 09.05.04, com título "Boom dalingerie movimenta economia em Frecheirinha": "outro exemplo é a Hardy,com dez anos de vida, que ainda mantém o negócio dentro de casa. A diretorapretende, no entanto, iniciar a construção de um galpão ainda este ano. Hoje,no lugar do sofá da sala da dona da empresa, por exemplo, está uma mesa decorte das peças. No local das louças, as linhas que formam o conjunto decalcinhas e sutiãs".

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FRECHEIRINHA

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Para solucionar a questão, foram negociados apoios do Governo do Estado,através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico – SDE, para garantir ainfra-estrutura necessária ao terreno (elaboração do projeto com a planta baixa,energia trifásica, telefone e saneamento), do SENAI para administrar o centrode aprendizagem quando ele estivesse formalizado e instalado de forma definitivae do SEBRAE/CE para realização de projetos de apoio ao pólo.

No tocante às necessidades de capacitação, foram priorizados e realizados oscursos Saber Empreender, Gestão, Qualidade, Motivação, Estratégias deConvivências, Como Vender Mais e Melhor e Telemarketing. Os empresáriosforam em missão técnica à Fortaleza para conhecer a Escola de FormaçãoProfissional do SENAI do Ceará e o Centro de Design, este último equipadocom sistema de modelagem informatizado CAD Electra. Eles passaram a utilizaros serviços de consultoria, através do SEBRAETEC, para aperfeiçoamentotecnológico, modelagem e desenvolvimento de coleções.

Para impulsionar a inserção dos produtos de Frecheirinha no mercado, fo-ram realizadas ações de apoio, como acesso à Feira Internacional de Negóciosem Cabo Verde, às feiras de negócios em Sobral e em Tianguá, ao Encontro deNegócios Mercosul em Fortaleza, à FENIT, em São Paulo, e ao evento DragãoFashion, em Fortaleza. Foram realizados 04 desfiles de moda apresentando osnovos lançamentos das empresas: dois deles nas feiras de negócios, um porocasião da inauguração do Centro de Aprendizagem Tecnológica e outro emFortaleza, no Shopping Aldeota Open Mall, exclusivo para lojistas da capital.

Ainda em 2003, os empresários receberam a visita de representantes econsultores da GTZ, de uma missão empresarial do pólo de confecções TobiasBarreto/SE e de diretores do SEBRAE Nacional, SEBRAE/CE, SENAI/CE eCompanhia de Desenvolvimento do Ceará – CODECE (ligada à SDE).

Como resultado do empreendedorismo local, as empresas alcançaram umcrescimento notável, passando a produzir mais de 300 mil peças por mês e aempregar, direta e indiretamente, mais de 400 pessoas na cidade. Segundo oprefeito, "aqui, há alguns anos atrás, não tinha nem uma loja de móveis. Hojeexistem e se mantêm porque as pessoas têm as suas rendas. As jovens e osjovens, porque aqui em Frecheirinha os homens também trabalham nas fábricas,todos andam bem vestidos, possuem bicicleta ou moto para se deslocar. Tudoisso movimenta o comércio local. Sem falar naqueles que são donos e donas decasa que ajudam ou mantêm a renda familiar".

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FRECHEIRINHA: “SANGUE EMPREENDEDOR” NAS VEIAS DOS CONFECCIONISTAS

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Esses fatos começaram a virar notícia e a moda íntima de Frecheirinha ganhouespaço gratuito na mídia estadual, através de jornais como O Povo (30.08.03)e Diário do Nordeste (09.05.04), Revista Comércio (jun/04) e programas deTV. Na mídia nacional, com a Revista PEGN (set/03) e após visita a Frecheirinhade uma comitiva de representantes de agências de cooperação alemã e jornalistasda imprensa nacional, foram divulgadas matérias no Correio Brasiliense(15.05.04), na Agência Brasil – ABR (13.05.04) e no site da Radiobrás.

MAS, OS DESAFIOS CONTINUAM....

No primeiro semestre de 2004, o grupo gestor se reuniu e desenvolveuum plano de trabalho, priorizando as seguintes ações: apoio à seleção das

turmas para capacitação de costureiras; levantamento quantitativo dos dadosdas empresas para comparação com os resultados do ano anterior; novacapacitação em mecânica de máquinas para os funcionários das empresas; cursode desenvolvimento de equipes; acesso ao Encontro de Negócios Mercosul, emFortaleza, e às feiras de negócios em Sobral e Tianguá; workshop sobre designcom uma consultora do SENAI/CETIQT/RJ em Frecheirinha e participaçãode empresários no Workshop de Modelagem em Drapping, no SENAI, emFortaleza, também com uma consultora do CETIQT/RJ.

Como resultado da soma de esforços e do trabalho realizado ao longo devários anos, as empresas conquistaram novos mercados, ampliando seus canaisde comercialização.

Foram fechados contratos com novos representantes comerciais no país,iniciadas vendas diretas ao exterior, através de pequenos lotes para Portugal eCabo Verde, e vendas através de distribuidores na região norte. Foram abertasfranquias em outros estados e estabelecidos representantes em Portugal, comono caso da Di Pérola. Foram viabilizados contatos com cadeias de lojas como aC&A, Casas Pernambucanas e Grupo Emanuele, que resultaram, no mês dejulho, na entrega de dois pedidos de 9000 peças para São Paulo.

O crescimento observado no pólo de moda íntima de Frecheirinha foiregistrado em monografia acadêmica pela autora Antônia Suilany T. Barbosa,da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, na dissertação de mestradodo autor José Rafael Neto, da Universidade Federal do Ceará – UFC e noRelatório de Apuração de Resultados do COMPETIR, contratado pela

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coordenação regional do projeto, em Recife/PE, que destacou: "... aumentosignificativo da produção entre 70% a 100%; aumento do faturamento emmais de 50%; aumento do número de empregados em cada empresa em tornode 20%; expansão do mercado – atendem a diversos estados do norte, nordeste,sul e sudeste, inclusive com representantes instalados em vários pontos (...);uso dos recursos do marketing com a criação de sites, realização de promoçõese propaganda em revistas especializadas".

Este mesmo relatório cita uma frase que demonstra o estágio de percepçãodos empresários: "antes éramos um corpo sem visão. Hoje foi criado um olhopara sabermos aonde ir. A força e a garra são nossas e a tecnologia veio deles".

Entretanto, ainda existem muitos desafios a serem vencidos, tais como:

• Qualificação de pessoal de maneira suficiente e continuada para atender àsdemandas das empresas. Este desafio foi provisoriamente alcançado, mas oprédio e as máquinas são alugados pela prefeitura e o curso funcionainformalmente, com capacidade para apenas 08 costureiras por turma;

• Apoio tecnológico local, evitando o deslocamento de profissionais deFortaleza para Frecheirinha ou de empresários para o SENAI em Fortaleza;

• Modelagem computadorizada no local para utilização pelas empresas, como objetivo de aperfeiçoar e agilizar a produção;

• Espaço físico para a expansão das empresas, com a oficialização da doaçãodo terreno;

• Melhoria da infra-estrutura básica da cidade, precária em termos dehospedagem e alimentação para visitantes e clientes;

• Disseminação do design e do processo de criação de coleções por todas as empresas;• Desenvolvimento do marketing das empresas e do pólo como referência

territorial;• Ampliação dos nichos de mercado e atuação mais competitiva;• União dos empresários em torno de interesses coletivos, com maior

fortalecimento da ASCOF;• Estímulo aos empreendedores locais e regionais para implantação de novas

empresas do segmento na cidade, de maneira a fortalecer o pólo de modaíntima. Nos últimos anos, o número de empresas permaneceu estável,oscilando entre 12 e 15 formais e 08 e 10 informais, havendo apenascompensações entre o número de empresas que abriram e fecharam oumudaram de segmento e/ou atividade;

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• Fortalecimento da cadeia produtiva local e regional para dar suporte aocrescimento das empresas. Embora o dinamismo da atividade tenha atraídoalguns elos para a cidade como um fornecedor de matéria-prima, um deaviamentos, um representante de máquinas e uma loja de peças e serviçosde manutenção, há, ainda, necessidade de um maior número de fornecedoreslocais de insumos e de outros serviços.Faz-se necessário, principalmente, para fortalecer e favorecer esse macro

ambiente, a criação oficial de um pequeno centro de apoio tecnológico, ondese possibilite reunir o treinamento de pessoal, a prestação de serviços demodelagem informatizada e a criação de coleções, entre outros serviçosespecializados às empresas.

Este pequeno pólo de moda íntima se destaca, com certeza, pelo espíritoempreendedor de sua gente, que, desafiando as condições geográficas e sócio-econômicas locais, conseguiu superar todos os desafios e dificuldades que atrouxe à condição em que hoje se encontra.

O "sangue empreendedor" corre nas veias dos "confeccionistas" deFrecheirinha. A "linha que costura" este horizonte é promissora.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:

• Que políticas públicas poderiam ser implementadas para favorecer odesenvolvimento do pólo?

• Que ações coletivas poderiam ser desenvolvidas para fortalecer a cultura decooperação entre os empresários, trazendo ganhos, redução de custos e economiade escala?

• Que estratégias poderiam ser desenvolvidas pelos atores locais e estaduaispara fomentar o aumento do número de empresas de confecções no pólo e defornecedores de sua cadeia produtiva?

• Que estratégias de marketing poderiam ser viabilizadas para promover aconquista de novos mercados?

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ANEXOS

Anexo 01

GRÁFICO 01: INSTITUIÇÕES QUE ATUAM NO ARRANJO PRODUTIVO DEFRECHEIRINHA COMO FORMA DE INCENTIVAR O DESENVOLVIMENTO E O

FORTALECIMENTO DO PÓLO DE MODA ÍNTIMA.

6

5

4

3

2

1

0PrefeituraMunicipal

GTZ SENAI SINE

Fonte própria

Analisando o gráfico 01, constatamos que somente 05 instituições foramcitadas como atuantes no arranjo produtivo.

Isto implica a abertura e a prospecção de outras instituições e organismospúblicos para fortalecer e incrementar ações e políticas de apoio que favoreçame contribuam para o desenvolvimento e sustentabilidade do APL deFrecheirinha.

Destaque especial fazemos para as instituições SEBRAE/CE e SENAI, aquireconhecidas por todos os entrevistados como forças constantes de apoio paraas empresas.

Percebe-se, pelo gráfico 01, que o número de instituições descritas comoatuantes no arranjo produtivo em estudo é pouco expressivo para o potencialde instituições de apoio ao desenvolvimento existentes, como universidades,centros tecnológicos, Governo do Estado etc.

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Anexo 02

GRÁFICO 02: FORMAS DE ATUAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DENTRO DO APL

Fonte própria

6

5

4

3

2

1

0

Cursos/Treinamentos

Consultorias tecnológicas

Palestras

Participaçăo em feiras

Consultorias gerenciais

Doaçăo de terreno

Missőes técnicas

Realizaçăo de desfiles

Segundo o gráfico 02, as formas de atuações mais expressivas das entidadesreferidas no gráfico 01 são cursos/treinamentos, consultorias tecnológicas epalestras.

Observação importante está ligada à variedade de ações obtidas pela pesquisa,o que demonstra ações desenvolvidas na área de capacitação (cursos/treinamentose palestras), em canais de comercialização (feiras, missões, desfiles de moda etc)e em infra-estrutura (doação de terreno para implantação de um mini-distritoindustrial).

Nota-se, ainda, que todos os entrevistados são utilitários das ações detreinamentos e consultorias tecnológicas e que a maioria também se beneficiadas consultorias gerenciais que abordam aspectos administrativos das empresas.

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Anexo 03

TABELA 01: ÁREAS MAIS TRABALHADAS E INCENTIVADAS PELASINSTITUIÇÕES DE APOIO, EM ORDEM DE PRIORIDADES.

De acordo com a tabela 01, as ações mais mencionadas pelas empresas são,em primeiro lugar, as capacitações tecnológicas. Estas capacitações ocorreramsob a forma de cursos e treinamentos de modelagem industrial, corte, costura,conserto de máquinas, entre outros. Em levantamento feito através dos registrosdo SEBRAE/CE e do SENAI, foram realizadas cerca de 30 capacitaçõestecnológicas, de 2000 a 2003.

Em segundo lugar estão as consultorias gerenciais, que abordaram aspectosde custos, formação de preços, controle de estoques, técnicas de vendas etc.

E, em terceiro, as palestras e seminários, que levaram muitas informaçõessobre mercado, visão empreendedora, relações interpessoais, motivação eplanejamento estratégico.

sairátiroirPsaerÁ sairátiroirPsaerÁ sairátiroirPsaerÁ sairátiroirPsaerÁ sairátiroirPsaerÁaserpmE aserpmE aserpmE aserpmE aserpmE

AAAAAaserpmE aserpmE aserpmE aserpmE aserpmE

BBBBBaserpmE aserpmE aserpmE aserpmE aserpmE

CCCCCaserpmE aserpmE aserpmE aserpmE aserpmE

DDDDDaserpmE aserpmE aserpmE aserpmE aserpmE

EEEEElatoT latoT latoT latoT latoT

sacigóloncetseõçaticapaC 10 30 10 20 10 80

laicneregairotlusnoC 20 40 40 10 20 31

soiránimesesartselaP 30 10 30 30 40 41

sianoicavitomsotnemanierT 40 20 20 40 30 51

edsianacedarutrebAoãçazilaicremoc

50 50 50 60 60 72

sanavaraceseõssiM 60 60 60 50 50 82

otidércedsahniledatrefO 70 70 70 70 70 53

sortuO – – – – – –

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BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, Antônia Suilany T. O Papel das Políticas Públicas para a Promoçãode Arranjos Produtivos Locais – APL's. Caso: Pólo de moda íntima deFrecheirinha. Trabalho de conclusão do MBA em Gestão de Projetos e Negócios,Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, Sobral, 2003.

COMPETIR – Desenvolvimento de Economias Regionais do Nordeste do Brasil.Organizando o Diálogo: a experiência do Projeto COMPETIR no assessoramentoa Cadeias Produtivas e Arranjos Produtivos Locais no Nordeste do Brasil.Recife-PE: GCR – Grupo de Coordenação Regional, 2003.

IDENTIFICAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS – ARRANJOPRODUTIVO LOCAL DE CONFECÇÕES DE FRECHEIRINHA. IPECE –Instituto de Pesquisa do Estado do Ceará. www.ipece.ce.gov.br, 2004.

SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADODO CEARÁ – Sebrae/CE. Arranjo Produtivo de Confecções do Município deFrecheirinha. Fortaleza-CE, 2003.

_____. Perfil Sócio Econômico Frecheirinha. Série PRODER, Fortaleza-CE,Ed. Sebrae/CE, 1999.

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INTRODUÇÃO

Omunicípio de Iguatu tornou-se conhecido na região centro-sul do Estadodo Ceará como pólo comercial. Com o aumento da concorrência e o

surgimento de novos pontos de varejo, a capacidade competitiva dos pequenoscomerciantes ficou ainda menor, principalmente em relação a empresáriosmaiores que estavam ampliando seus negócios através de filiais nos bairros, apartir de 2002.

Essa era uma das preocupações do Sr. João Leite: "eu já tinha percebido quenão estava dando para competir com meus concorrentes maiores porque meupoder de compra era pequeno. Já tinha chamado meu vizinho Araújo paracomprar juntos, mas ele não aceitou. Já estava perdendo clientes".

Modificar este quadro, produzindo resultados competitivos, era o desafio aser vencido pelos pequenos proprietários de mercadinhos de Iguatu. No entanto,por onde começar?

UM OLHAR SOBRE IGUATU

Antes de receber o nome definitivo, a cidade de Iguatu ficou conhecidacomo Telha. A referência à telha se dava por conta da qualidade da argila

existente na região, usada para fabricação de telhas, tijolos e objetos de uso doméstico.Em 1681, Iguatu passou a fazer parte do município de Icó através da divisão

feita pela Igreja Católica e com a chegada da primeira imagem de Senhora Santana.Em 1851, a cidade foi desmembrada do município de Icó e em 25 de

janeiro de 1853 foi emancipada.

MUNICÍPIO: IGUATU

COOPERAR PARA COMPETIR – UMA PRÁTICAPOSSÍVEL PARA MERCADINHOS

Maria Lenilde Bezerra Chaves, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora AdrianaTeixeira Barros, da Universidade Estadual do Ceará – UECE, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casosde Sucesso do SEBRAE.

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POSSE DA PRIMEIRA DIRETORIA DA REDE AMIG

CAPACITAÇÃO DOS MEMBROS DA AMIG

Arq

uivo

SE

BR

AE

/CE

Arq

uivo

SE

BR

AE

/CE

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COOPERAR PARA COMPETIR – UMA PRÁTICA POSSÍVEL PARA MERCADINHOS

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O nome Iguatu é proveniente de uma lagoa homônima, a maior do Ceará,e significa "água grande, água farta, de boa qualidade", segundo a RevistaIguatu, nº 02, ano II – agosto/98.

No início do século XX, a cidade ganhou novo impulso com as ligaçõesferroviárias Iguatu – Fortaleza e Iguatu – Crato, criando possibilidades decomunicação e formando intercâmbio comercial também com as praças deCampina Grande/PB e Recife/PE.

Desta data em diante, o município atingiu grande desenvolvimento naagricultura, sendo considerado o "rei do ouro branco", já que foi um dos maioresprodutores de algodão do nordeste. Na pecuária, destacou-se pela criação decaprinos e bovinos e, na indústria, pelas agroindústrias e cerâmicas.

Atualmente, Iguatu conta com grande número de empresas comerciais ede prestação de serviços em desenvolvimento. Há ainda a pecuária e aagricultura, com seus negócios ampliados por meio da criação do gado leiteiroe do plantio de arroz e banana. O processo de industrialização recebeu novosinvestidores e, com estes, a difusão de novas tecnologias e profissionalizaçãopara melhoria da qualidade dos produtos oferecidos pelo município.

Nos aspectos culturais, a cidade, atualmente, apresenta festas populares,como carnaval, arraial, festa da padroeira, vaquejada e exposição agropecuáriae, como maior destaque, o forró.

Iguatu dispõe também de cursos de nível médio nas áreas científica, técnica(técnico comercial e agropecuário) e pedagógica. No nível superior, conta comos cursos de Letras, Pedagogia, Matemática, Física e Biologia pela UniversidadeEstadual do Ceará – UECE; Pedagogia, História e Ciências Contábeis pelaUniversidade Estadual Vale do Acaraú – UVA; Ciências da Teologia pelaFaculdade de Educação e Teologia do Nordeste – FAETEN e cursos de línguasespanhola e inglesa.

A cidade possui uma população de aproximadamente 85.615 habitantes(IBGE/IPECE 2000) e situa-se na região centro-sul cearense, a 386 km deFortaleza. Tem uma posição privilegiada tanto geograficamente quanto emtermos de infra-estrutura para ser pólo de desenvolvimento e, devido a essascondições, tem atraído investimentos de considerável porte.

Na última década, os investimentos estavam voltados para a reorganizaçãoda agricultura e da pecuária. Houve também aplicações de recursos nas áreascomercial e industrial, destacando-se a metalurgia e a movelaria.

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IGUATU

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O comércio varejista de Iguatu constituiu-se como pólo comercial do centro-sul do Estado, por este ser o município mais desenvolvido da região, gerarvários postos de trabalho e possuir localização privilegiada, pois se encontra nocentro, facilitando a convergência de todas as outras cidades para realização denegócios. Além disso, apresenta índices estatísticos identificados como osmaiores da região, conforme a tabela a seguir:

DADOS ESTATÍSTICOS DAS PRINCIPAIS CIDADESDA REGIÃO CENTRO-SUL

Fonte: IBGE 2000

Segundo IBGE/IPLANCE 2000, existem, em Iguatu, 1.548 comérciosvarejistas. Destes, 709 são do segmento de mercadinhos/mercantis (gênerosalimentícios).

oipícinuM oipícinuM oipícinuM oipícinuM oipícinuMBIP BIP BIP BIP BIP

)R-MHDI( )R-MHDI( )R-MHDI( )R-MHDI( )R-MHDI(repadneR repadneR repadneR repadneR repadneR

atpac atpac atpac atpac atpac

edecidnÍ edecidnÍ edecidnÍ edecidnÍ edecidnÍotnemivlovnesed otnemivlovnesed otnemivlovnesed otnemivlovnesed otnemivlovnesed)M-HDI(onamuh )M-HDI(onamuh )M-HDI(onamuh )M-HDI(onamuh )M-HDI(onamuh

edgniknaR edgniknaR edgniknaR edgniknaR edgniknaRotnemivlovnesed otnemivlovnesed otnemivlovnesed otnemivlovnesed otnemivlovnesed

laudatse laudatse laudatse laudatse laudatse

A araipoc 25.0 40.09 06.0 841

C súira 74.0 16.56 36.0 59

C anirata 44.0 36.55 85.0 961

C orde 35.0 95.59 36.0 38

I oriehniPnaupar 15.0 87.28 06.0 641

I óc 25.0 09.68 16.0 531

I utaug 16.0 31.151 96.0 21

J sácu 74.0 65.56 06.0 151

M açabmo 94.0 70.57 06.0 141

O sór 050 45.87 36.0 301

P orienraCteuqi 94.0 65.27 26.0 011

ôlexiuQ 74.0 17.66 65.0 971

S orieoba 44.0 17.55 65.0 081

V ergelAaezrá 15.0 88.08 36.0 88

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COOPERAR PARA COMPETIR – UMA PRÁTICA POSSÍVEL PARA MERCADINHOS

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ROMPENDO BARREIRAS

Mesmo diante destas condições favoráveis, os pequenos mercadinhos estavampassando por algumas dificuldades para competir no mercado, em função

de terem um poder de compra pequeno, com conseqüente redução do poderde barganha. Em razão disto, seus produtos ficavam com preços superioresaos dos mercantis maiores, sem contar também que o pequeno comerciantenão tinha condições de divulgar sua empresa e realizar campanhaspromocionais. Estavam a cada dia perdendo mais uma fatia do mercado ediminuindo seu faturamento.

Em julho de 2003, um grupo de microempresários do setor de mercadinhosiniciava os primeiros passos em busca da minimização de sua problemática.

O microempresário Róseo Bandeira relata: "eu estava muito sem estímulo,pensando até em fechar meu comércio porque um concorrente que já possuidois mercantis abriu um terceiro próximo ao meu, com preços mais baixos, oque me fez perder muitos clientes. Então, fui convidado a participar dessegrupo e foi aí que encontrei energia e garra para continuar no negócio".

A disseminação da idéia começou com uma reunião organizada pelo Serviçode Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CEpara discutir a cultura da cooperação para o setor de mercadinhos/mercantis.Foram convidados 100 empresários, tendo comparecido apenas 22.

Após esta reunião, alguns participantes demonstraram interesse em trabalharde forma associativa e foram marcados novos encontros, a cada quinta-feira.

Apesar do comércio ser tradição no município, houve muitas dificuldades,por este ser praticado de forma individualizada. Esta cultura é percebida atravésda seguinte expressão: "a outra empresa é concorrente e o segredo é a alma donegócio". Como conseqüência disso, não havia, no início, união e confiançasuficiente no grupo para acreditar que a empresa vizinha é parceira e colaborapara melhorar a competitividade e que a troca de informações é mais importantedo que o segredo.

O grupo inicialmente contava com 20 pessoas. No decorrer das reuniõeshouve desistências e novos ingressos, de forma que, ao final, permaneceram 16participantes. Passou, também, pela fase de desestímulo, quando iniciaram aexperiência das compras conjuntas, provocado por alguns fornecedores queforam veementes em afirmar que não daria certo.

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IGUATU

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COMPETITIVIDADE: UM DESAFIO A SER VENCIDO

Foi realizada uma pesquisa com os membros do grupo com o objetivo deconhecer a sua situação em relação a faturamento e empregos gerados,

tomando-se por base o primeiro semestre antes do trabalho associativo, para seobter parâmetros de avaliação de resultados futuros.

Com base nestas informações, o grupo iniciou seu trabalho, que visava,principalmente, a ampliação de sua clientela e o aumento do faturamento atravésdas compras em conjunto.

Em agosto de 2003, o grupo elegeu uma equipe de 05 membros pararealizar as compras. Foram escolhidas as pessoas que tinham mais habilidadespara negociar e mais acesso a fornecedores. Foram listados 10 produtos demaior rotatividade que só podiam ser comprados em grupo. Além disso, ficouacordado que se, por acaso, o produto de algum dos membros acabasse antesdos produtos dos demais, este seria emprestado pelos que tivessem mais estoque,até a realização da próxima compra. A cada semana era feito o levantamento dapossibilidade de compra de produtos, mas a preocupação comum a todos eracom a obtenção de melhores condições de negociação com fornecedores.

Segundo Antônio Carlos Gomes da Costa1, a grande novidade produzidano final do século XX foi o conceito de redes de empresas, ou seja, um grandenúmero de pequenas empresas, em sua maior parte familiares, coordenadasnão pela inteligência de uma grande organização, mas por uma grandeinteligência coletiva. Empresas movidas não apenas pela força da concorrência,mas, sobretudo, pela força da cooperação.

De acordo com a vivência do grupo de microempresários, pode-se confirmar oconceito mencionado anteriormente, demostrando-se, através do gráfico a seguir,o faturamento do grupo antes e depois da rede de empresas:

1COSTA, Antônio Carlos Gomes da – Por uma Cultura de Cooperação, pág. 11 – Edição SEBRAE, 2002.

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COOPERAR PARA COMPETIR – UMA PRÁTICA POSSÍVEL PARA MERCADINHOS

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No intuito de contribuir para o alcance deste crescimento, o grupo participoude várias palestras sobre motivação, cooperação e associativismo, quando fo-ram mostrados passos para se montar uma associação e informações sobregerenciamento, relações humanas e atendimento. Vale ressaltar que todo essetrabalho de capacitação era fruto da necessidade de amadurecimento do grupo.

No mês de outubro de 2003, o Sr. João Leite, membro do grupo, participoudo I Seminário sobre as Tendências e Perspectivas do Varejo, realizado emSalvador/BA, onde conheceu a experiência da Rede Dagente, da cidade dePatos/PB. Ao retornar a Iguatu, contou a experiência aos companheiros dogrupo, que sentiram a necessidade de realizar uma missão técnica a Patos/PBpara conhecer de perto esta história de sucesso.

No dia 28 de janeiro de 2004, com intermediação do SEBRAE/CE, foirealizada a missão técnica à Rede Dagente. Participaram do evento 09 pessoas,que voltaram muito empolgadas com os resultados que viram. A missão ajudoumuito na abertura de horizontes do grupo, que achava que não havia tempopara participar de capacitações em virtude de não poder se ausentar dos negócios.

Depois da visita, o grupo já quis marcar datas para capacitações, criar nome,logomarca e slogan para a associação, definir pagamentos de mensalidades econtratar uma pessoa para secretariá-la.

A missão técnica foi importante, pois os empresários começaram a percebero quanto era fundamental o preparo para enfrentar o mercado e, dessa forma,aumentar a chance de sucesso nos negócios.

300.000,00

250.000,00

200.000,00

150.000,00

100.000,00

50.000,00

0JAN FEV MAR ABR MAI JUN JAN

Meses

R$

FEV MAR ABR MAI JUN

FATURA DO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2003 E 2004 R$

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IGUATU

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Em fevereiro de 2004, o grupo participou das oficinas do Projeto RedesAssociativas – Despertando e Praticando o Associativismo e, em março domesmo ano, participou da oficina Planejando nosso Empreendimento Coletivo,quando foram discutidos a visão de futuro, os obstáculos e as soluções, bemcomo as direções estratégicas para o plano de ação.

No mês seguinte, definiu-se o nome Associação dos Mercantis Iguatuenses –AMIG, foram criados a logomarca e o slogan e elaborou-se um projeto paralançamento da Rede AMIG e posse da sua primeira diretoria.

Nesse mesmo período, alguns membros já se encontravam prestandodepoimentos sobre esta experiência de trabalho a outros grupos, também dosetor de mercadinhos em fase inicial, mas, desta vez, em Icó e Brejo Santo,outros municípios cearenses.

Nos meses de março e abril, o grupo participou do curso Gestão Empresarialpara o Varejo e também da oficina Legalizando o Empreendedorismo Coletivo,do qual originou-se o Estatuto Social da Associação dos Mercantis Iguatuenses.

Em maio, definiu-se a padronização do fardamento para funcionários eempresários, bem como das fachadas das lojas. Foi cedido, por um membro dogrupo, um ponto comercial para funcionar como a sede da associação e foi realizadauma seleção, através do Sistema Nacional de Emprego/Instituto do Desenvolvimentodo Trabalho – SINE/IDT, para contratação de uma pessoa para trabalhar ali.

No dia 24 de junho de 2004, foi eleita a primeira diretoria e constituída, de fato,a AMIG, que tem por finalidade promover o desenvolvimento das empresas associadasem seus aspectos tecnológicos, legais, gerenciais, humanos, econômicos e financeiros.

Quanto ao lançamento da Rede AMIG e à posse oficial da primeira diretoria,a associação se programou para realizar este evento de modo a gerar impactona comunidade. Para isso, sua primeira ação foi a transferência de sua sede, quefuncionava num bairro distante, para o centro comercial.

No dia 31 de julho de 2004, com o objetivo de anunciar a existência da RedeAMIG e de sua primeira campanha promocional através de encarte com 40 produtoscom preços abaixo dos de mercado, foi realizado um café da manhã, ofertado pelosfornecedores da rede, na praça da Igreja Matriz, a principal da cidade.

Em seguida, uma grande carreata desfilou pelas principais ruas da cidade, comtrio elétrico e animação de artistas da região que fizeram a divulgação da RedeAMIG e anunciaram os mercadinhos filiados por meio de emboladas, manifestaçãocultural da região caracterizada por versos e rimas acompanhados por sanfona,pandeiro e zabumba. Foram distribuídos também encartes para a população.

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COOPERAR PARA COMPETIR – UMA PRÁTICA POSSÍVEL PARA MERCADINHOS

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Durante a noite, realizou-se a posse oficial da diretoria, com a presença deautoridades e convidados, que participaram de um coquetel de confraternizaçãoapós a cerimônia.

UMA REDE DE BONS FRUTOS

Os resultados alcançados pela associação foram de extrema relevância parao desenvolvimento do setor de mercadinhos, visto que foi percebida a

importância de se trabalhar em conjunto e de se utilizar a força do grupo paraobtenção de melhores resultados, partindo de interesses coletivos e concorrendopara a prosperidade de interesses individuais.

Como resultado das negociações coletivas, pode-se observar alguns ganhospercentuais por produtos, conforme o quadro a seguir:

GANHOS OBTIDOS POR PRODUTOS

(*) Não houve ganho percentual, mas ganho quanto ao prazo para pagamentos.

sotudorP sotudorP sotudorP sotudorP sotudorP edaditnauQ edaditnauQ edaditnauQ edaditnauQ edaditnauQoçerpodemuloV oçerpodemuloV oçerpodemuloV oçerpodemuloV oçerpodemuloV

)$R(oãçaicogenad )$R(oãçaicogenad )$R(oãçaicogenad )$R(oãçaicogenad )$R(oãçaicogenadoçerpodemuloV oçerpodemuloV oçerpodemuloV oçerpodemuloV oçerpodemuloV)$R(odacremed )$R(odacremed )$R(odacremed )$R(odacremed )$R(odacremed

ohnaG ohnaG ohnaG ohnaG ohnaGlautnecrep lautnecrep lautnecrep lautnecrep lautnecrep

racúçA socas277.1 02,406.55 00,345.75 %3,3

aniragraM saxiac055 03,971.11 59,739.11 %3,6

éfaC sodraf380.1 00,264.92 00,220.23 %9,7

ohlimedassaM sodraf350.1 07,992.51 01,895.51 %9,1

oãbaS saxiac900.2 87,034.74 05,625.94 %2,4

oloB saxiac441 29,736 06,777 %9,71

zorrA sodraf135.2 02,728.131 02,768.331 %5,1

etnaregirfeR sodraf583.2 05,546.31 05,917.41 %3,7

etnaicamA saxiac033 00,620.4 02,138.4 %6,61

ocinêigihlepaP sodraf648 50,098.31 00,705.41 %2,4

acoidnamedalucéF sodraf67 08,797.2 08,797.2 )*(%0

oinímulaedrodiloP saxiac001 00,005.1 00,056.1 %9

otiocsiB saxiac032 00,082.8 00,846.8 %2,4

sorepmeT saxiac081 08,375.4 00,040.5 %2,9

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Observa-se que em alguns produtos o ganho percentual foi bem significativoem um período anterior ao do prazo de pagamento, enquanto que, em outros,o lucro ocorreu apenas no prazo.

Centrado numa lógica competitiva, constata-se, pelas falas dos membrosda AMIG, que a participação na rede os torna mais fortalecidos, competitivose, principalmente, mais motivados à expansão e ao crescimento profissional,empresarial e pessoal. Já a partir de uma lógica coletiva e cooperativa, percebe-se que os laços de amizade, a colaboração e a integração aumentam a cada açãodesenvolvida pelo grupo.

Entre os muitos resultados satisfatórios alcançados pela Rede AMIG, pode-se ressaltar que a possibilidade de se realizar ações de marketing constituiu-secomo um avanço dos negócios para os pequenos mercadinhos, assim como setornou um benefício para a comunidade local, que lucrou com a intensificaçãoda concorrência e passou a ter outras opções de compra.

Passos concretos rumo às metas foram dados e significaram a superação dosprimeiros desafios. Muitas barreiras ainda precisam ser transpostas para se atingira visão de futuro da associação.

O projeto não visa apenas o lançamento da rede e nem somente a realizaçãode campanhas promocionais, mas também a conquista de sua sede própria, ainformatização e a padronização de seus estabelecimentos, a capacitação de seupessoal, a realização de outras ações de marketing, enfim, tudo o que possa vira contribuir para o desenvolvimento de seus associados e para o bem estar deseus clientes. Isto porque o que se quer através destas ações é tornar a AMIGum marco revolucionário no setor de mercadinhos.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Partindo do princípio de que "a união faz a força", como você analisa o fatode muitos empresários terem desistido de se associar à rede?

• Em que aspectos as diferenças individuais contribuem para odesenvolvimento do grupo?

• Após o lançamento e divulgação da rede AMIG na comunidade, ficou visívela inquietação dos grandes e pequenos proprietários de mercantis. Qual deveria

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COOPERAR PARA COMPETIR – UMA PRÁTICA POSSÍVEL PARA MERCADINHOS

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Agradecimentos:

Colaboração: Jordanna Oliveira, estagiária do SEBRAE/CE; João Leite, vice-presidente da AMIG; Róseo Bandeira, diretor de marketing daAMIG.

ser o posicionamento da AMIG em relação à inserção de novos associados?Justifique sua resposta.

• Que fatores você identifica como facilitadores da mudança de uma culturaindividualista e competitiva para uma cultura cooperativa e competitiva?

• É possível aplicar o conceito de rede associativa em qualquer tipo de atividadee empreendimentos de qualquer tamanho?

• Que condições são necessárias para se estabelecer mudança decomportamento quanto à associação de empresas?

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MUNICÍPIO: JAGUARIBARA

SANGUE AZUL DO CEARÁ: DESENVOLVENDO APISCICULTURA NO CASTANHÃO

INTRODUÇÃO

"O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta por onde escorre e se perde o sangue do Ceará"."O mar não se tinge de vermelho porque o sangue do Ceará é azul...".Demócrito Rocha

No início da década de 1990, com a finalidade de estancar o "sangue azul"do Ceará, o governo anunciou aos quatros ventos a construção da barragem

Castanhão, que teria início em 16 de novembro de 1995 e seria a solução parao grave problema da seca no Vale do Jaguaribe e em todo Ceará.

Solução para alguns e problema para outros! O que aconteceria aosmunicípios do interior do Ceará que teriam parte de seus territórios inundadospelas águas da futura barragem? Quem pensou nas conseqüências econômicasda inundação para o povo de Jaguaribara?

A barragem foi construída. A "artéria" havia sido fechada e o "sangue" nãoseria mais desperdiçado. Restava encontrar os meios para fazer cessar as lágrimasderramadas diante do sofrimento dos jaguaribarenses.

Com a inauguração da barragem, o segmento pesqueiro da antiga cidadede Jaguaribara sofreu um forte impacto. Até então a pesca era feita de modoartesanal, nas águas rasas do leito do rio Jaguaribe A barragem possuíacapacidade para armazenar 6,7 bilhões de m³ d'água, com profundidadesuperior a 60m, quando em sua capacidade máxima, e um espelho d'água de325 km².

Quando a população de Jaguaribara foi transferida para a nova cidade, aquantidade de água acumulada na barragem era de 7% do total previsto e aprofundidade era de 10 a 12 m, aproximadamente.

Lucídio Nunes de Sousa, analista do SEBRAE/CE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora AdrianaTeixeira Bastos, da Universidade Estadual do Ceará – UECE, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casosde Sucesso do SEBRAE.

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BARRAGEM DO AÇUDE CASTANHÃO

MANEJO ALIMENTAR DE TILÁPIAS

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uivo

SE

BR

AE

/CE

Arq

uivo

SE

BR

AE

/CE

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SANGUE AZUL DO CEARÁ: DESENVOLVENDO A PISCICULTURA NO CASTANHÃO

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Este era o cenário enfrentado pela população em 2001, que exigia dosjararibarenses uma tomada uma decisão: abandonar a sua cidade em busca desustento em outras paragens ou encontrar caminhos para sobreviver explorandoeconomicamente o Castanhão.

INICIANDO A CAMINHADA

Omunicípio de Jaguaribara, em suas origens históricas, remonta ao séculoXVII, quando em terras de sesmaria, o capitão João da Fonseca Ferreira

fixou-se no sítio a que denominou Santa Rosa. Essas terras, transferidas paraManuel Cabral de Vasconcelos, genro do precedente, foram por estes vendidasao padre Domingos Ferreira da Silva, vigário do município de Icó, no Ceará.

A denominação atual de Jaguaribara oficializou-se com o decreto Lei deN° 1.113, de 30 de outubro de 1943, sendo uma referência à tribo tupi quehabitava a região. Jaguaribara foi distrito de Jaguaretama, até que a LeiN°. 3.550, de 09 de março de 1957, promoveu-o a município, segundo oCenso 2000 do IBGE.

Situa-se na região leste do Estado do Ceará, a 239 km de Fortaleza, e possuiuma população de 8.730 habitantes, conforme o mesmo censo. Era ummunicípio que possuía sua base econômica solidificada na agricultura de sequeiroe na pecuária de médio e grande portes, com destaque para a bovinocultura.

A piscicultura nunca foi uma atividade expressiva na economia local,apresentava-se apenas como meio de subsistência para um pequeno grupo depescadores que desenvolviam-na através do uso de técnicas artesanais.

A construção do Castanhão deveu-se à política hídrica do governo do Cearáiniciada na década de 1980, que preconizava a interligação de bacias em todoo Estado, como fator essencial à promoção do desenvolvimento do setor primário.Para tanto, fazia-se necessário que fosse construída uma estrutura capaz dearmazenar água suficiente que possibilitasse a regulagem das reservas hídricasdurante os períodos de estiagem, em todos os açudes interligados ao sistema.

Foi nesse clima de incerteza para com o futuro que os jaguaribarensesassistiram a construção da barragem e a edificação da nova cidade de Jaguaribara.

Antes e durante o processo da grande mudança relacionada com a obrahídrica e com a mudança da cidade, a atividade pesqueira desenvolvida deforma artesanal não passou por nenhum avanço tecnológico ou comercial, sendo

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JAGUARIBARA

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desenvolvida de forma empírica e individual. Para o sustento de suas famílias,os pescadores negociavam o produto no comércio local por valores, às vezes,inferiores aos praticados em outros mercados consumidores da região.

"Nunca fizemos nada na vida, pescando com rede ou anzol", lamentavam osintegrantes da futura Associação dos Pescadores da Barragem Castanhão.

Quando aconteceu a mudança da população para a cidade nova, no ano de2001, a situação tornou-se muito mais difícil. Os pescadores não possuíamexperiência nem equipamentos adequados para a pesca em águas profundas.

Os pescadores também não possuíam capital próprio ou crédito bancáriopara financiar a aquisição de equipamentos novos e modernos que permitissemo desenvolvimento da pesca em barragens de grande porte.

Era preciso encontrar caminhos para sobreviver e explorar economicamenteo Castanhão.

NINGUÉM CHEGA LÁ SOZINHO

Assim, um grupo de pescadores dirigiu-se ao Serviço de Apoio ás Micro ePequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE e solicitou que a

instituição os assessorasse na identificação de alternativas para o problema.Neste contexto, enfatizou Francisco Martins, um dos componentes do grupo:"queremos saber se o SEBRAE/CE arranja um meio de fazer com que a genteganhe mais dinheiro com o peixe, porque, até agora, só se tem visto miséria".

O sentimento do pescador refletia a dura realidade daqueles que sempreviveram da pesca artesanal, praticada individualmente e de forma desorganizada.

A partir de 2000, o SEBRAE/CE, a convite do poder público municipal,passou a se envolver intensamente com a causa. Foram realizadas várias reuniões,nas quais a problemática foi debatida entre os técnicos e os pescadores.

Uma das importantes iniciativas do grupo foi a criação da Associação dosPescadores da Barragem Castanhão, que teve sua diretoria empossada em 21de maio de 2001, sendo o Sr. Pedro Chaves seu primeiro presidente. O modelode gestão baseado no processo decisório compartilhado foi uma dascaracterísticas mais relevantes adotada pela associação de pescadores.

O processo teve continuidade através da capacitação dos pescadores pormeio de palestras e treinamento técnico-gerencial sobre a piscicultura emágua doce.

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Durante toda a fase de preparação para dar início ao empreendimentocoletivo, uma dúvida pairava entre os pescadores: qual seria o futuro deum projeto associativo cuja maioria de seus executores jamais haviavivenciado uma experiência de gestão coletiva, principalmente, visandoobter resultado econômico?

Produzir e reagir à mudança de forma positiva foi o caminho escolhido pelosegmento pesqueiro da cidade de Jaguaribara, que até então desenvolvia aatividade de forma artesanal nas águas rasas do Rio Jaguaribe.

AS PEDRAS NO CAMINHO...

Aprincipal dificuldade daqueles piscicultores foi a falta de experiênciacom a piscicultura profissional, pois jamais haviam recebido qualquer

capacitação ou trabalhado em algum empreendimento desta natureza.Por isso, foi imediatamente iniciado um treinamento técnico-gerencial

especial sobre a criação de tilápia do tipo tailandesa: Oreochromis niloticus.A escolha desta espécie deveu-se ao fato de os alevinos serem capazes de

sobreviver em quantidades baixas de oxigênio dissolvido na água, podendo,inclusive, permanecer sem oxigênio durante 06 horas. Além disso, a tilápiapossui boas características nutricionais, tais como carne saborosa, baixo teorde gordura e ausência de espinhos em forma de "Y". É um dos pescados deágua doce mais comercializados em todo o mundo e o seu consumo está emfranca expansão.

O grupo recebeu ainda informações sobre como identificar insumos dequalidade e conheceram a política de preços e prazos dos principais fornecedoresde rações e alevinos da região jaguaribana e do Estado do Ceará.

Em seguida, deu-se inicio à capacitação gerencial, que versava sobrenoções gerais de administração e aplicação de controles gerenciais.Os pescadores desejavam visitar projetos de piscicultura que estivessemem operação para que pudessem conhecer melhor as dificuldades enfrentadase as soluções adotadas.

Neste sentido, em novembro de 2002, em missão técnica, os piscicultoresvisitaram o açude Jaibaras, em Sobral, e puderam trocar experiências operacionaise gerenciais. O Jaibaras é administrado pelo Departamento Nacional de ObrasContra as Secas – DNOCS.

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A visita deixou-os mais confiantes quanto ao modelo de gestão que seriapor eles adotado na vindoura piscicultura do Castanhão. Observaram, durantea visita, que as condições ambientais, tanto de cultivo em águas represadasquanto de manejo com uso de gaiolas, eram muito similares.

Outra dificuldade superada pelo grupo foi a burocracia, tanto bancáriaquanto de órgãos ambientais. Todo o processo de legalização doempreendimento durou mais de 06 meses.

A própria instituição financeira não acreditava firmemente no sucesso doempreendimento, afetando a auto-estima dos envolvidos. O banco nãoconfiava na capacidade de gestão da associação, o que contribuiu para a demorano processo decisório sobre a concessão do financiamento. No entanto,"o sangue do Ceará é azul" e o dos jaguaribarenses não poderia ser de outracor! Com todas estas dificuldades, os pescadores não desanimaram.

A FESTA

Depois de muitas reuniões com o Banco do Nordeste do Brasil – BNB, foielaborado, no primeiro semestre de 2003, um projeto de financiamento

no valor de R$ 57.040,00, destinado a beneficiar 07 sócios da Associação dePescadores da Barragem Castanhão, do qual que coube, para cada tomador, aquantia de R$ 7.130,00, a ser quitada em 08 anos, sendo 03 de carência.O investimento constou dos seguintes itens:

PROJETO DE INVESTIMENTO

Fonte: projeto de investimento elaborado pelo SEBRAE/CE.

metI metI metI metI metI osU osU osU osU osU

sotnemapiuqeesaniuqáM.1

odazirotomoiopaedocraB oviteloc

adrogneapitaloiaG laudividni

somusnI.2

sonivelA oviteloc

oãçaR oviteloc

ocigóloncetetropuS.3 oviteloc

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O financiamento foi liberado em 11 de junho de 2003 e a primeira gaiolafoi posta na barragem em 05 de julho do mesmo ano.

O contentamento do grupo era generalizado. Enfim, o sonho começava a setornar realidade. Era este o sentimento de todos aqueles que há tanto tempolutavam por dias melhores. Mas os melhores dias ainda estavam por chegar.

Em julho teve início o cultivo da tilápia e em dezembro de 2003 os primeirosresultados financeiros foram contabilizados.

A primeira despesca gerou o faturamento bruto de R$ 12.479,46, pelavenda de 4.097 kg de peixe, comercializados em média por R$ 3,05/Kg.

Cada piscicultor recebeu a quantia de R$ 268,12, superior, portanto, aosalário da época, que era de R$ 240,00. Esta remuneração equivalia apenas a7,5 dias de 24h de trabalho por mês.

Deste primeiro faturamento, a associação, em cumprimento a umadeterminação do corpo de associados, depositou no banco a quantia deR$ 2.134,90, na forma de reserva estratégica, para quitar o financiamentoapós o período de carência. Este procedimento repetiu-se nos meses seguintes.

A implantação do projeto aconteceu de forma programada, de modo quetodo mês pudesse haver regularidade de oferta e, desta maneira, se consolidasseum empreendimento sustentável.

Uma medida tomada para dar apoio mercadológico e abrir novas fronteirasde consumo para a tilápia foi a realização, nos dias 12 e 13 de dezembro de2003, do I Festival do Peixe – I FESTPEIXE, na cidade de Jaguaribara.O evento culminou com a primeira despesca e atraiu significativo número deinteressados em conhecer e realizar negócios com os piscicultores.

Representantes da Secretaria da Agricultura Irrigada e Pecuária do Estadodo Ceará – SEAGRI, do DNOCS e do BNB compareceram ao festival.

É consenso entre os associados que o festival foi o marco publicitário para aatividade no Castanhão, pois, a partir dele, compradores de municípios vizinhospassaram a adquirir o produto diretamente na barragem. Mesmo em eventosposteriores, inclusive em Fortaleza, os piscicultores eram lembrados pelarealização do "festival do peixe".

O evento foi divulgado nas cidades jaguaribanas por meio de faixas e cartazese contou com a cobertura da imprensa radiofônica regional, tendo recebidoapoio da Prefeitura Municipal de Jaguaribara.

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JAGUARIBARA

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GESTÃO NO NEGÓCIO: O MAIOR DESAFIO

Ocompartilhamento de atividades é a característica central da gestão adotadapela associação de pescadores.

Na produção, foi elaborada uma escala de trabalho na qual a cada 24h umadupla de pescadores assume a tarefa de realizar todo o manejo da atividade.São responsáveis pelos trabalhos de alimentação que, dependendo da idadedos peixes, pode ser feita a cada 60 minutos, e pelos serviços de vigilância emtodo o projeto. As gaiolas são vigiadas ininterruptamente, desde o início dasatividades, por causa do risco de aproximação de predadores.

A escala de trabalho mostrou-se muito vantajosa, pois as duplas envolvidascom o processo produtivo trabalham 7,5 dias no mês e folgam os outros 22,5dias, podendo utilizá-los para outras atividades de seu interesse.

Este método de trabalho fortaleceu o espírito de grupo e possibilitou, naprática, o nivelamento e a sedimentação dos conhecimentos teóricos adquiridosdurante a capacitação.

Os piscicultores receberam suporte tecnológico durante os 06 primeirosmeses de operação. Parte das despesas com o suporte técnico foi paga pelossócios e o restante foi aportado pelo SEBRAE/CE. A parcela referente aospiscicultores foi financiada pelo banco e se constituiu como um dos itens doinvestimento, como pôde ser observado no quadro I.

O suporte tecnológico orientou o grupo nas atividades de compra de alevinos,peixamento de gaiolas, ou seja, colocação de alevinos nos tanques, controle decrescimento, seleção por tamanho, controle sanitário, acompanhamento da qualidadeda água, biometria, seleção e compra de rações e controle de estoque de ração.

Além destas ações, o suporte técnico estabeleceu algumas metas dedesempenho a ser atingidas. Foi definido que o tempo de engorda seria de 04a 06 meses, resultando numa conversão alimentar entre 1,3 e 1,6 kg.O indicador máximo de mortalidade seria 15%. A densidade máxima permitidaseria de: 250 peixes/m³.

Ressalte-se que todos os índices foram alcançados pelo grupo, com a ajudado engenheiro agrônomo Híder Fonteles, responsável pela condução dasatividades de suporte tecnológico durante os 06 meses.

Na área mercadológica, o Sr. Pedro Chaves, presidente da associação, ficouresponsável pelos trabalhos relacionados à política de compras e de vendas,negociando preços e prazos de insumos e do produto final: a tilápia in natura.

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Inicialmente, a associação adquiria as rações de um distribuidor regionallocalizado na cidade de Jaguaribe. Posteriormente, passou a comprá-lasdiretamente de um grande representante sediado em Recife, o que propiciouao negócio uma economia de aproximadamente 14%.

As vendas eram realizadas no mercado local, Baixo Jaguaribe, centro-sul doCeará e Fortaleza. O produto era comercializado à vista.

Na área financeira, o Sr. Pedro presta contas semanalmente de todas as despesase receitas existentes no período. Na contabilidade, a diretoria da associação eraassessorada pela agente de desenvolvimento local do SEBRAE/CE Reginalda Brito.

OS FRUTOS

No 12o mês de implantação e 7° de funcionamento, o Projeto Pioneiro,como é conhecido, incrementou a capacidade instalada de produção. Elevou

de 24 para 32 o número de gaiolas em operação e encomendou a fabricação deoutras 04 gaiolas. Este investimento representa um aumento de 12% na produção,considerando a primeira despesca de 4.097 kg e a última de 4.602 kg.Conseqüentemente, o faturamento bruto cresceu em 19,84% no mesmo período.

Os antigos pescadores artesanais que se tornaram profissionais estão muitoconfiantes nos resultados obtidos. A renda mensal das famílias dos piscicultores,que em média não atingia R$ 200,00, no mês de junho atingiu R$ 400,00em 07 meses de faturamento. Essa renda tende a se elevar à medida que acapacidade de produção for sendo ampliada.

Alguns piscicultores dizem que estão "ganhando mais que na firma". Estaexpressão originou-se quando, da construção da barragem e da cidade nova,grande parte da população empregou-se nas obras e recebiam em média 01salário mínimo.

Além de elevar a renda pessoal, saíram de um trabalho temporário parauma atividade permanente, passando de empregados a patrões.

O crédito comercial e bancário foi aberto. Todos os compromissos assumidospela associação têm sido cumpridos rigorosamente. Além do mais, osrevendedores de insumos insistem em fazer negócio com os piscicultores porqueeles pagam antecipadamente.

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JAGUARIBARA

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O QUE É BONITO É PARA SE MOSTRAR

Afama da experiência bem sucedida começou a cruzar fronteiras. O projetopassou a receber visitas de pessoas e instituições interessadas em conhecer

o empreendimento e realizar negócios.A associação recebeu, no dia 27 de abril de 2004, a visita de uma comitiva

de técnicos do SEBRAE/BA e da empresa Bahia Pesca, interessados em conhecera experiência. Os visitantes admiraram-se com a elevada compreensão técnicademonstrada pelos piscicultores sobre o cultivo da tilápia em gaiolas.

O Sr. Pedro Chaves apresentou planilhas diárias de acompanhamento domanejo e relatou informações sobre a política de compra e venda praticada.Vale lembrar que, antes da instalação deste projeto, esses piscicultores nãohaviam trabalhado de forma profissional na atividade pesqueira.

A equipe de produção do programa Pequenas Empresas & Grandes Negócios– PEGN também esteve no local durante os dias 24 e 25 de maio de 2004 efilmou um programa para a Rede Globo de Televisão.

A MULTIPLICAÇÃO DOS PEIXES

Animados com os resultados alcançados nos primeiros 07 meses defuncionamento do projeto Pioneiro, os parceiros – SEBRAE/CE, BNB e

Associação dos Pescadores da Barragem Castanhão – reuniram-se para delinearuma estratégia de ampliação da iniciativa, tendo em vista as muitas pessoasinteressadas em ingressar no ramo da piscicultura.

Após a negociação entre as entidades, foi programado um conjunto deações para incremento do projeto. Inicialmente seriam selecionados e cadastrados07 novos grupos. Estes grupos seriam organizados e estruturados conforme omodelo de gestão experimentado pelo grupo Pioneiro. A próxima fase seria aelaboração de um projeto de financiamento para os novos beneficiários.

Dando seqüência à ação, foram selecionadas 58 pessoas das comunidadesde Lages, Pedras, Jatobá, Bairro Mutirão, conjunto habitacional Habitat Brasilem Jaguaribara e a comunidade de Poço Comprido, no município vizinho deMorada Nova. Em seguida realizou-se um curso básico em piscicultura, comcarga horária de 40 h/a.

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Na área organizacional, os representantes dos grupos se reuniram duranteuma semana e delinearam um conjunto de procedimentos, que foramdenominados Regra. Esse se constituiu como o que comumente é conhecidopor regimento interno e visa estabelecer as normas para o bom funcionamentode cada grupo do projeto de piscicultura.

Cada um dos sete grupos possuía a sua Regra. Apresenta-se a seguir parteda Regra de uma deles: 1) Em caso de saída do sócio, por motivo de doença ououtra impossibilidade, este passará seu direito no projeto de piscicultura a umparente de primeiro grau, desde que este tenha a aceitação da maioria do grupo;2) Não será permitido aos sócios ou a pessoas externas o consumo de bebidasalcoólicas ou outros entorpecentes químicos no local de trabalho; 3) É proibidoaos sócios, parentes e pessoas externas todo e qualquer ato de prostituição evandalismo na área do projeto; 4) O sócio que vier a comprometer o sucesso doempreendimento estará passível de ser expulso do grupo, desde que hajaconcordância da maioria; 5) Ao finalizar a despesca do mês, o líder do grupoprovidenciará a prestação de contas, apresentando os recibos e notas fiscais,bem como a movimentação financeira comprovada por extratos bancários,demonstrando total transparência na aplicação dos recursos financeiros do grupo.

A criação de outra entidade, além da associação de pescadores existente,tornou-se desnecessária, tendo em vista que todos os piscicultores optaram poreleger um líder para cada grupo. Juntos, os 08 grupos, inclusive o Pioneiro,formaram um conselho de líderes para gerenciar o novo projeto.

Também houve consenso dos líderes dos 08 grupos sobre a necessidade deatuar de forma responsável e profissional, respeitando a comunidade e o meioambiente. Argumentou-se que a preocupação com a questão social e ambientalcontribuía favoravelmente para o sucesso do negócio. Assim, foi criado umconselho de ética para tratar de assuntos desta natureza.

UMA GESTÃO CONJUNTA RUMO À EXPANSÃO DO NEGÓCIO

Em continuidade às ações previstas para a ampliação do empreendimento,foi elaborada uma nova proposta de financiamento, destinada a financiar

os 58 novos piscicultores.Na primeira quinzena de julho de 2004, o BNB liberou a quantia de

R$ 827.000,00, para ser aplicada na aquisição de novos equipamentos.

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Cada tomador recebeu, em média, o valor de R$ 14.258,62, que deverá serreembolsado em 08 anos, sendo 03 de carência.

A composição dos investimentos para cada grupo era feita conformeapresentado na tabela a seguir:

PROJETO DE INVESTIMENTO

Fonte: projeto de investimento elaborado pelo SEBRAE/CE.

Com a ampliação da atividade, o fluxo de rações e do próprio pescadoaumentaria significativamente a quantidade de operações dentro do sistema.Assim, projetou-se a aquisição de outros equipamentos, como barco flutuante,ancoradouro flutuante, balança, baldes, coletes salva-vidas e oxímetro, comoforma de garantir o bom funcionamento da atividade pesqueira.

As instalações destinadas à armazenagem dos insumos estão sendo negociadascom o DNOCS em uma área próxima ao funcionamento do projeto.

metI metI metI metI metI osU osU osU osU osU

sotnemapiuqeesaniuqáM.1

etnautulfoiopaedasaC oviteloc

etnautulforuodarocnA oviteloc

arbifedocraB oviteloc

oiráçrebopitaloiaG laudividni

adrogneopitaloiaG laudividni

gk051–acigólanaépedaçnalaB oviteloc

acigólanaortemômanidaçnalaB oviteloc

sadiv-avlaseteloC oviteloc

obaceáçuP oviteloc

ocitsálpedlaB oviteloc

ortemíxO oviteloc

somusnI.2

sonivelA oviteloc

oãçaR oviteloc

ocigóloncetetropuS.3 oviteloc

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Ainda compondo o quadro de investimentos, seriam adquiridos umcomputador e um fax para ser usados na administração geral doempreendimento.

Outra modificação realizada na ampliação em relação ao projeto Pioneirofoi o aumento do prazo de suporte tecnológico prestado ao projeto, estendidopara 12 meses. Esta medida deve-se ao maior porte do investimento e àquantidade de pessoas beneficiadas.

Os novos piscicultores participarão com uma parcela dos recursos destinadosao referido suporte e o SEBRAE/CE participará com o restante.

O FUTURO É UM MAR DE ÁGUA DOCE, POVOADO DE TILÁPIAS

A seguir, é apresentada a previsão de resultado do projeto ampliado.

DADOS PROJETADOS PARA A AMPLIAÇÃO DO PROJETO DE PISCICULTURA

(*) Esta renda é superior a do projeto Pioneiro porque cada piscicultor receberá 6 gaiolas. No Pioneiro, cada piscicultor recebe a renda equivalente a produçãode 4,57 gaiolas.Fonte: projeto de investimento elaborado pelo SEBRAE/CE.

Grande parte desta produção será destinada ao mercado consumidor deFortaleza. O restante será destinado ao mercado jaguaribano e do centro-suldo Ceará, onde já são comercializadas pequenas quantidades, pela insuficiênciade maior oferta.

A ração será fornecida por empresas de São Paulo, que entregam o produtono local a um preço 13,9% inferior ao preço praticado pelo atual fornecedorsediado em Recife.

Após a implantação e consolidação da segunda fase deste projeto, é intençãodos grupos instalar uma estrutura de beneficiamento de pescado. Isto se traduziriana verticalização da produção e dos lucros, elevando significativamente a solidezdo negócio.

lasnemaidémoãçudorP t57,84

lasnemoidémoturbotnemarutaF 00,052.641$R

soteridniesoteridsodaicifeneB 302

otnemaicnanifodoãçazitromaadervilrotlucicsiproplasnemaidémadneR )*(00,814$R

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JAGUARIBARA

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CONCLUSÃO

As vidas das 65 famílias envolvidas no projeto estão em pleno processo detransformação, o que tem atraído outras pessoas a se engajar na piscicultura.

A entrada de novos sócios, ao mesmo tempo em que fortaleceu a iniciativa,trouxe outros desafios de gestão.

Aperfeiçoar os modelos de governabilidade será um importante fator críticode sucesso para o negócio. É necessário, ainda, promover um acompanhamentosistemático da evolução do projeto a fim de que seja possível corrigir eventuaisdesvios na condução do empreendimento.

O desenvolvimento da piscicultura em água doce tem refletido positivamenteem outros setores econômicos, atraindo novos investimentos comerciais e deserviços, e ainda em setores de suporte à atividade, como, por exemplo, obeneficiamento do pescado. O segmento de pousadas e restaurantes seráindiretamente beneficiado com a afluência de pessoas interessadas em realizarnegócios com os piscicultores. Também se espera um aquecimento nas vendasdo comércio local em função da massa de salários que circulará na economia.

Este conjunto de fatores, se bem conduzido e adequadamente articulado,permitirá a consolidação de mais uma atividade econômica no meio rural deJaguaribara, o que fortalece o município, assim como lança perspectivas paradisseminá-la em outras regiões cearenses.

O futuro da piscicultura no Castanhão parece promissor, porquanto osjaguaribarenses têm na piscicultura de água doce uma atividade econômicasustentável. Foi dada a largada, mas há uma longa estrada que, se bem trilhada,trará prosperidade e progresso econômico e social para aquele povo.

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Agradecimentos:

Coordenação Técnica do Projeto: Francisco Rogério de Moraes Silva

Colaboração: Cristiano Maia, prefeito de Jaguaribara; Antônio Elgma de Sousa Araújo, analista do SEBRAE/CE; Maria Elzileide de Sousa,analista do SEBRAE/CE Limoeiro do Norte; Carlos Viana Freire Júnior, analista do SEBRAE/CE; Wandrey Pires Dantas Vilar de Freitas,articuladora do Escritório Regional de Limoeiro do Norte; Reginalda de Sousa Brito, agente de desenvolvimento do SEBRAE/CE em Jaguaribara;Fernando Fernandes, gerente do BNB – agência de Jaguaribe; Francisco Híder C. Fonteles Júnior, engenheiro Agrônomo responsável pelo suportetecnológico do projeto e Pedro Chaves de Oliveira, presidente da Associação dos Pescadores da Barragem Castanhão.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Discuta a influência das instituições públicas e dos parceiros para o sucessoda piscicultura no Castanhão. Quais são os aspectos mais peculiares destainiciativa?

• Quais outras estratégias envolvendo o governo e os segmentos pesqueirosde Jaguaribara poderiam ser implementadas de forma a assegurar o sucessoda iniciativa?

• Discuta as vantagens e desvantagens da estratégia de associativismo adotadapelos jaguaribarenses.

BIBLIOGRAFIA

FILHO, Dorian Sampaio – História dos Municípios do Ceará.

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MUNICÍPIO: JUAZEIRO DO NORTE

O DESAFIO DA COOPERAÇÃO NO ARTESANATO:O CASO MÃE DAS DORES

INTRODUÇÃO

"No início, era apenas um frondoso juazeiro, sombra e abrigo dos viajantesem suas andanças em demanda do Crato". A pousada natural tornou-seconhecida de muitos (...) A capelinha de Nossa Senhora das Dores, construídanaquele distante ano de 1827, foi o ponto de partida para o surgimento daquelaque viria a ser, em curto espaço de tempo, uma das maiores, senão a maiorcidade do interior cearense: Juazeiro do Norte, nome dado em homenagem aopouso dos viajantes, que durante longos anos passaram por aqueles caminhos,entre Missão Velha e Crato"1.

Juazeiro do Norte, município situado a aproximadamente 500km deFortaleza, na região do Cariri, tem no comércio a principal fonte econômica,

seguido da indústria doméstica de confecções, prestação de serviços e artesanato. Esteé conhecido nacionalmente, apresentado formas de cerâmica, xilogravura e madeira.

Foi nessa cidade que localizamos a Associação dos Artesãos da Mãe dasDores e do Padre Cícero, que passou a existir informalmente a partir de 1983,incentivada pelo trabalho pastoral das irmãs Ana Teresa Guimarães, Maria doSocorro Rolim e Annette Dumoulin, pertencentes à Congregação de NossaSenhora Cônegas de Santo Agostinho, que tinham como missão realizar visitase reuniões domiciliares junto às famílias instaladas no "Caminho do Horto",via de acesso à estátua de Padre Cícero.

Essa equipe de evangelização ligada à Igreja Católica orientava as famílias atrabalharem de forma associativa, "pois o Evangelho pega a pessoa toda e nãoé só a parte espiritual, mas a parte humana. O aspecto integral", fala a IrmãAna Teresa Guimarães. Assim, foi dado início ao processo de realização dereuniões e capacitações, especialmente para o público jovem.

Tânia Mary Porto de Carvalho, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo, sob a orientação da professora Maria José BarbosaGomes, da Faculdade 7 de Setembro – FA7, integrando as atividades do projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.1Fonte: Revista Análises Municipais – Cariri – 2001 – Marcos Peixoto e Mariana Palhano.

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PEÇAS PRODUZIDAS PELOS ARTESÃOS DA ASSOCIAÇÃODA MÃE DAS DORES E DO PE. CÍCERO

PRODUTOS COMERCIALIZADOS PELOS ARTESÃOS DA ASSOCIAÇÃODA MÃE DAS DORES E DO PE. CÍCERO

Arq

uivo

SE

BR

AE

/CE

Arq

uivo

SE

BR

AE

/CE

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O DESAFIO DA COOPERAÇÃO NO ARTESANATO: O CASO MÃE DAS DORES

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Segundo o Monsenhor Murilo de Sá Barreto, "a associação é uma experiência dosonho que acalentou o Padre Cícero na constelação de Juazeiro do Norte... Desdeo começo fomos descobrindo espécie de digitais do Padre Cícero na fabricação deuma comunidade obreira baseada nos ensinamentos da Sagrada Escritura".

A parceria entre a Igreja e as irmãs missionárias para a orientação e preparaçãodas famílias em busca da auto-sustentação resultou na realização de capacitaçõesem Juazeiro do Norte e Crateús, município do interior do Ceará, para a produçãode cartões em palha de milho, carnaúba e bananeira. Inicialmente, eram 16artesãos. Ao final do trabalho, este número passou para 25, contando com acoordenação geral das irmãs.

Dificuldades de prospecção de mercado e formação da cultura associativalevaram um grupo de artesãos a buscar apoio do Serviço de Apoio às Micro ePequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE (à época Centro deApoio às Micro e Pequena Empresas do Estado do Ceará CEAG/CE), instituiçãoque mapeava e orientava pequenos negócios não agrícolas.

Com o tempo, a Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do PadreCícero cresceu, organizou-se e nos 02 últimos anos tem tido um avançosignificativo, tornando-se referência em termos de produção artesanal e resgateda cultura e tradições populares.

A NECESSIDADE DE FUGIR DOS ATRAVESSADORES

Otrabalho artesanal na Rua do Horto existia de forma incipiente, desde o inícioda década de 80, quando mulheres produziam, em suas residências, bolsas e

chapéus em palha de carnaúba. Os produtos eram repassados para os atravessadoresque realizavam a venda. Vale salientar que estes recebiam as peças em consignaçãoe as vendiam no mercado local dizendo que eram oriundas de Recife/PE.

Não havia por parte dessas mulheres nenhum conhecimento sobre formasassociativas e o trabalho era realizado individualmente. Dessa forma, os artesãosnão possuíam conhecimento nem acesso ao mercado consumidor. Com o início daconscientização para o trabalho em grupo, decidiram comercializar seus produtosnas calçadas das ruas do entorno da Matriz de Nossa Senhora das Dores e emalguns estabelecimentos comerciais da cidade que se dispunham a vender as peças.

O trabalho pastoral constou da conscientização das famílias (eram realizadasreuniões semanais nas casas). Percebeu um grande número de jovens

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JUAZEIRO DO NORTE

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desocupados, sem escola, bem como artesãos que desenvolviam trabalhos empalha e repassavam para os atravessadores. Foram encontradas algumasdificuldades, inicialmente, junto aos adultos que não queriam esperar muitopara ver o resultado do trabalho, ou seja, queriam ganhar o dinheiro no momentoem que o atravessador chegava, conforme ressalta Irmã Ana Teresa, visto queeram acostumados a trabalhar individualmente. Na época, eram cerca de 10pessoas a investir na idéia e que começaram a trabalhar com bastante garra.

Áquela época, havia em Recife a Associação de Artesãos – ASSOCIARTE,que ajudava artesãos de várias cidades pequenas do interior. O grupo se associoue passou a trabalhar e vender as peças nas épocas de romarias.

Com os jovens, em número de 16, o trabalho foi mais fácil, visto que houvemaior receptividade. Foi ensinada a arte de trabalhar com cartões postais,trabalho artístico e de baixo custo que utilizava como matéria-prima palha demilho e de bananeira e capim.

Não havia concorrência para os produtos, que, com o apoio das irmãs,passou a ser exportado pela simplicidade e singeleza que apresentavam.

Já em 1984, por intermédio do então Padre Murilo de Sá Barreto, foi cedidopela Paróquia Nossa Senhora das Dores um espaço vizinho à Igreja, parafuncionamento da sede da associação e a comercialização dos produtos, semdeterminação de prazo, ou seja, enquanto existisse a associação o espaço pertenceriaa ela. A partir de 20 de julho do referido ano, a associação passou a existirinformalmente, desta feita em local definido, com a produção de bolsas e chapéus.

Iniciou-se um processo de capacitação, pelas irmãs, objetivando adiversificação dos produtos e a geração de alternativas de ocupação para osjovens na faixa etária de 13 a 16 anos. Novas técnicas foram introduzidas, aexemplo da produção de flores e cartões natalinos e temáticos em palha debananeira e tecido.

Na época, instituições como o SEBRAE/CE, o Sistema Nacional deEmpregos – SINE e a Central de Artesanato do Estado do Ceará – CEARTapoiavam na capacitação tecnológica dos membros da associação, que tinhamcomo prioridade repassar os conhecimentos para os demais sócios.

Nesse ínterim, aconteciam reuniões para formalização da associação que era,em Juazeiro do Norte, a única legalizada: a Associação de Artesãos do Padre Cícero.

"Lembro-me bem do interesse do grupo em se organizar como tambémdo despertar para o seu papel na sociedade, onde a sociedade civil estava sereorganizando após o domínio dos militares que até então reprimia as diversas

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O DESAFIO DA COOPERAÇÃO NO ARTESANATO: O CASO MÃE DAS DORES

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formas de organização", diz Boanerges Lopes Custódio, técnico do EscritórioRegional do Cariri do SEBRAE/CE, que acompanhou a formação da associação.

Em 1988, a entidade legalizou-se, tendo como primeira presidente a Sra.Maria Bento dos Santos e contando à época com 40 associados, em sua grandemaioria (60%) composta por jovens.

"A dificuldade era que as pessoas tivessem espírito comunitário. Isso foidifícil; para que eles tivessem esse entendimento custou, mas nós conseguimoscom a grande parte das pessoas", é o que nos diz a Sra. Maria Bento dos Santos,primeira presidente da Associação.

As peças produzidas, naquele momento, eram bolsas, chapéus e arranjosem palha de carnaúba, milho e sisal, painéis de corda e cartões temáticos.Esses produtos eram escoados para Europa e sul do país por intermédio dereligiosos e de pessoas que se tornaram clientes por ocasião da vinda para romariasde Padre Cícero. Já não existia mais a intervenção dos atravessadores.

Superadas as deficiências iniciais, foram percebidas outras, como a pequenacarteira de clientes, o alto custo com o transporte para o envio de peças e a faltade divulgação da associação.

FIRMANDO O COMPROMISSO DE TRABALHAR DE FORMACOOPERADA

Odesafio de tornar-se uma das pioneiras no trabalho artesanal, com aprodução de peças de qualidade e diferenciadas, era um sonho e só o

início de uma série de desafios que o grupo passaria a viver a partir do ano de 1988.As maiores dificuldades sentidas antes da intervenção do SEBRAE/CE referiam-

se à pouca divulgação da associação, ao pequeno número de clientes, à forma deabordagem junto ao cliente (técnicas de vendas e negociação), à pouca variedadedas peças, às carências tecnológicas e à insuficiência de fornecedores de matéria-prima no município, sendo necessário o deslocamento para Crato, Brejo e Santoe Aurora, outros municípios cearenses, objetivando a aquisição de insumo.

As orientações prestadas abordaram, inicialmente, as questões gerenciais,tendo sido realizadas reuniões sistemáticas e um grande seminário que enfocouos principais elementos que compõem uma associação, culminando desta formacom o interesse do grupo em legalizar a entidade. A primeira reunião formalizadaocorreu em 15 de março de 1988.

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JUAZEIRO DO NORTE

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A partir de julho de 2002, iniciou-se uma nova fase na associação, com aimplantação do Programa Araripe, estratégia de intervenção do SEBRAE/CEnos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, que trata como uma de suasprioridades a cadeia do artesanato. A Associação Mãe das Dores foi contempladanesse programa, que delineava atividades de cunho gerencial, tecnológico e deacesso a mercados. A participação e o acesso a grandes eventos mercadológicos,a exemplo das feiras de artesanato e rodadas de negociações, propiciaram cadavez mais o conhecimento do mercado e a aquisição de novos clientes.

A associação teve também a oportunidade de ser escolhida como grupopiloto do programa de artesanato "Irmãos do Ceará", a partir de 2003, queuniu esforços para o desenvolvimento do grupo e atuou de forma decisiva coma aplicação de uma pesquisa localizada e a implementação de ações para aresolução de deficiências detectadas.

Podemos elencar, no período de julho de 2002 a maio de 2004, váriasatividades, que serviram como instrumento de crescimento da Associação dosArtesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero, descritas na tabela a seguir.

AÇÕES QUE IMPULSIONARAM O CRESCIMENTO DA ASSOCIAÇÃO DOSARTESÃOS DA MÃE DAS DORES E DO PADRE CÍCERO

onA onA onA onA onA sotnevE sotnevE sotnevE sotnevE sotnevE

2002

.soicógeNedadadoRaneiriraCodsoicógeNedarieFanoãçapicitraP.etroNodoriezauJmeiriraCodotanasetrAedarieFI.otanasetrAodsoicógeNsodoãçargetnIedoiránimeS.etsedroNodsoicógeNedlanoicanretnIortnocnEIIV

.otanasetrAodsoicógeNerboslanoigeRoiránimeS

3002

.NR/lataNotanasetrAedlanoicanretnIarieFIIIVanoãçapicitraP.otidércerbosavitelocairotlusnoC

.azelatroF-lartnecavitarepoocerbosoiránimeS.EP/adnilO-TRAENEF-otanasetrAodlanoicaNarieF

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.azelatroF-etsedroNCEParieFanoãçapicitraP.azelatroF-RUTOPXEarieFanoãçapicitraP

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4002/ohnuJétA

.otanasetrAedsotnevEesarieFedrapicitraPomoC–artselaP.NR/lataN–otanasetrAedlanoicanretnIarieFXIanoãçapicitraP

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O DESAFIO DA COOPERAÇÃO NO ARTESANATO: O CASO MÃE DAS DORES

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Como resultado positivo das ações desenvolvidas destacamos depoimento doatual presidente da Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero:

"Durante esses 02 anos posso dizer com segurança que a associação só vem crescendo, agente vem participando das feiras, dos eventos locais, estaduais e interestaduais. A associaçãovem se organizando, está havendo uma reciclagem dos artesãos. Então todos nós temosconsciência do compromisso, do nosso crescimento desde o gerenciamento até a parte dadivulgação da Associação Mãe das Dores. Hoje estamos bem mais estruturados com oscursos, as feiras e eventos. Durante estes 02 anos a gente vem conseguindo clientes com oseventos, com as rodadas de negociações...".Luciano Bezerra da Silva, presidente da associação.

"O próprio SEBRAE/CE fornece espaço para as exposições, para tanto, équase que um parceiro" ,diz Monsenhor Murilo de Sá Barreto.

A associação, ao longo dos seus 20 anos de existência, encontra-se consolidada,contando com 50 sócios, sendo 30 jovens (faixa etária de 14 a 22 anos) e 20 adultos,na qual se percebe um grau de maturidade no grupo, que realiza reuniõesquinzenais para avaliação das atividades, divisão de tarefas e acompanhamentodas encomendas.

A diretoria da associação reúne-se trimestralmente para avaliação das atividadese planejamento das ações. De todas as peças comercializadas, repassa-se para oartesão 85% do valor da venda e 15% são destinados para a manutenção doscustos da entidade. Há ainda o pagamento mensal de R$ 3,00 por cada associado.

A renda média mensal gira em torno de 01 salário mínimo para cadaassociado e o faturamento da associação está estimado em R$ 5.000,00 mensais.O capital de giro está estimado em R$ 4.500,00. É importante destacar que aassociação sempre se manteve com sua própria renda, não tendo contraído, atéo momento, empréstimos bancários para o seu bom funcionamento.

As peças são produzidas de forma manual, sendo utilizada a máquinaapenas para o corte e moldura. Atendem aos estados de Pernambuco, Piauí,Paraíba e São Paulo, além do Ceará. São exportados cartões para países comoHolanda, França e Bélgica. Em 2002, além dos cartões foram exportadasbolsas para a Holanda.

Foram encontradas alternativas para o envio das peças, antes tido comogrande entrave. Uma delas foi a aquisição de um em ônibus especial. Houveum aumento do número de clientes, decorrente da participação em feiras e

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JUAZEIRO DO NORTE

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eventos promovidos ou em parcerias com o SEBRAE/CE, onde os artesãos têma oportunidade de entabular negócios e manter contato junto aos potenciaiscompradores, aumentando dessa forma a sua carteira de clientes.

As conquistas obtidas referem-se ao conhecimento do mercado, àprofissionalização dos artesãos, ao aumento do número de jovens envolvidos eà conscientização do cumprimento das obrigações. Como indicadores deresultados, podemos destacar o aumento dos clientes nos estados e no própriomunicípio, a maior divulgação da associação e a média de permanência dosassociados na entidade, que gira em torno de 07 anos.

O trabalho despertou o interesse de entidades, que se uniram em uma redede parceiros, promovendo ações conjuntas, das quais destacamos Secretaria deTrabalho e Ação Social do Estado do Ceará – SETAS2, Secretaria deDesenvolvimento Econômico do Estado do Ceará – SDE, Diocese, ParóquiaNossa Senhora das Dores, Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, SINE/IDT, CEART, entre outras.

Nesse contexto, as ações do SEBRAE/CE têm interface com a criação de novosnegócios, o desenvolvimento do empreendedorismo, o protagonismo juvenil, amelhoria da qualidade de vida, a geração de ocupação e o aumento da renda.

CONCLUSÃO

E assim se passaram 20 anos...

O modelo de atuação e gestão associativa tem sido replicado por algunsassociados da entidade quando convidados pelo SEBRAE/CE e CEART, que sedisponibilizam a atuar como facilitadores de grupos no repasse da tecnologiado trabalho em trançado em palha de milho, nos municípios cearenses deJuazeiro do Norte, Brejo Santo, Santana do Cariri e Missão Velha. Esta atitudedemonstra o nível de maturidade do grupo, que foi habituado a trabalhar deforma associativa, sem interesses individualizados.

"O progresso associativo foi grande. Percebemos claramente o crescimentodas pessoas, da associação e da integração das associações de artesanato de todaa região", avalia Vicente Gregório Teixeira, técnico do Escritório Regional Carirido SEBRAE/CE, que atualmente acompanha o grupo.2Esta secretaria passou a ser denominada Secretaria de Ação Social – SAS (www.setas.ce.gov.br)

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O DESAFIO DA COOPERAÇÃO NO ARTESANATO: O CASO MÃE DAS DORES

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Hoje, a Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero éreconhecida pelo importante trabalho desenvolvido ao longo de seus 20 anosde existência e das conquistas obtidas, com o aumento crescente do número declientes, a divulgação permanente nos eventos promovidos e acessados e oaproveitamento da matéria-prima utilizada com a introdução de novos modelos.Como exemplos, podemos destacar as peças expostas na Casa Cor 2003 emFortaleza, os souvenirs distribuídos aos visitantes e as encomendas feitas porempresas para divulgação do artesanato local, a exemplo de pastas personalizadasem madeira, couro e palha de milho.

As inovações são implantadas hoje com facilidade, após o trabalho de de-sign desenvolvido junto à associação, por meio de orientação para a introduçãode matérias-primas diversificadas como couro, tecidos e aviamentos, além detingimentos feitos na palha.

"A gente vem com outra mente com relação à necessidade do artesão estar sempre criando,o artesão estar com modelos diferentes no mercado. Com relação à bolsa, a gente estácolocando couro... Há um aproveitamento porque a palha escura a gente não joga maisfora. A gente já aproveita com cores, então isso já é um aproveitamento de cem por cento dapalha propriamente dita, porque a gente faz uma seleção na roça e aqui à gente faz umaoutra seleção... Graças a Deus a gente já está tendo uma consciência de economia que énecessário se fazer aqui".Luciano Bezerra da Silva, presidente da associação.

Diariamente, interessados na arte ou artesãos sem muita especializaçãoprocuram a associação para passar por um processo de estágio e aprendizado.São acolhidos pela diretoria, participam de uma reunião de sensibilização e jáno dia seguinte iniciam a capacitação in loco. Esse é um trabalho de inclusãosocial feito pela entidade, que a diferencia. Durante esse processo, as pessoasaprendem não somente a arte, mas também como lidar em grupo, gerenciarconflitos, comercializar e viver de forma cooperada.

Iniciativa semelhante se dá com a associada Maria Lucislene Bezerra Silva,que treina jovens do Horto em sua própria residência, de forma voluntária.Muitos destes passam a integrar a associação, considerando a possibilidade decrescimento e venda de suas peças. No período de dois anos, (julho de 2002 ajunho de 2004) 16 pessoas passaram por esse processo. Destes, 11 permaneceram,tornando-se sócios, o que representa 69% do total de artesãos. Os que não se

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JUAZEIRO DO NORTE

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adaptam ao regulamento da associação, que prega um espírito coletivo e decooperação em grupo, saem com uma certa comodidade porque saemprofissionalizados.

Há, por parte da associação, uma preocupação com a educação escolar dosassociados. Dos atuais 50 sócios, 30 possuem Ensino Médio completo,representando 60% do total. Todos os novos associados são orientados a con-ciliar a atividade com o estudo, principalmente no caso dos jovens que hojecontam com um salário digno, não existindo uma obsessão pelo lucro. Aconfraternização cotidiana, as boas relações humanas, a religiosidade, o climade esperança e o crescimento artístico permanente são fatores que contribuempara o bom desempenho dos artesãos no seu cotidiano.

Os desafios atuais em benefício do crescimento desse grupo são localizarprofissionais que desenvolvam trabalhos com ferro, criar um catálogo dosprodutos, informatizar a associação e implantar um site para divulgação ecomercialização das peças.

Em termos de sustentabilidade, o fator que dificulta sua obtenção é ofinanceiro, visto que a associação não possui recursos disponíveis, por exemplo,para custear participação em feiras e eventos de forma integral. Quanto àsquestões gerenciais, o grupo encontra-se apto a enfrentar as novidades impostaspela concorrência e globalização, tendo sempre como meta a co-responsabilidade,pela qual todos usam e todos cuidam.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:

• Como se poderia replicar experiência exitosa para outros grupos organizados?

• Como orientar o grupo para uma total sustentabilidade considerando osparcos recursos hoje existentes na associação?

• Os artesãos incorporariam, de fato, o espírito de cooperação e associativo, aponto de permitir a continuidade da associação?

Agradecimentos:

Colaboração: Irmã Ana Teresa Guimarães, pertencente à Congregação de Nossa Senhora Cônegas de Santo Agostinho; Monsenhor Murilo de SáBarreto, da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte; Sra. Maria Bento dos Santos, primeira presidente da associação; LucianoBezerra da Silva, presidente da Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero; Boanerges Lopes Custódio e Maria Helena SilvaOliveira, analistas do SEBRAE/CE.

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MUNICÍPIO: QUIXADÁ

OFICINAS MECÂNICAS NA DIREÇÃO CERTA

INTRODUÇÃO

Diante da evolução tecnológica ocorrida no setor automotivo nos últimosanos, quando muitas empresas procuravam em vários aspectos se

adequar a novas informações específicas, em Quixadá, surgiu a necessidadede um grupo de empresários do setor de oficinas mecânicas se unirem parasuperar essas dificuldades.

Segundo o líder do grupo de automecânicas de Quixadá, Nonato Júnior,desde seu início, em 2002, o que dificultava a prestação de melhores serviçosera a falta de renovação dos conhecimentos técnicos, pois o acesso a eles erarestrito às concessionárias autorizadas.

Adquirir a confiança junto aos clientes era também uma meta a ser perseguidapelo grupo, haja vista que algumas oficinas não estavam prontas para prestarserviços de boa qualidade, bem como oferecer garantia aos mesmos.

Neste contexto, o desafio do grupo de empresários que extraíram doassociativismo a cultura da cooperação, fomentado pelo Projeto Empreender,passou a ser o crescimento empresarial e o desenvolvimento social, sem perdera noção de que, apesar de não se virem mais como inimigos, eram aindaconcorrentes, mas procurando crescer coletivamente.

Raimundo Lima da Silva Filho, consultor do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora AnaCarênina de Albuquerque Ximenes, da Faculdade 7 de Setembro – FA7, integrando as atividades do Projeto DesenvolvendoCasos de Sucesso do SEBRAE.

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MECÂNICOS QUE PARTICIPARAM DA PRIMEIRA INSPEÇÃOVEICULAR GRATUITA, EM QUIXADÁ

BLITZ REALIZADA EM QUIXADÁ PARA MANUTENÇÃOPREVENTIVA DE VEÍCULOS

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OFICINAS MECÂNICAS NA DIREÇÃO CERTA

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UM PASSEIO NA HISTÓRIA

Aárea que compreende o município de Quixadá foi originalmente habitadapelos índios Canindés e Genipapos, pertencentes ao grupo dos Tarariús.

Emancipado em 27 de outubro de 1870, o município é totalmente cercadopor afloramentos rochosos, denominados monólitos, e está localizado namesoregião do sertão central cearense, com uma área de 2.662km2, equivalentea 1,81% do território do Estado do Ceará.

A participação de cada setor da atividade econômica de Quixadá, no ano de2000, se dava como segue:

ESTRUTURA SETORIAL DO PIB DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁNO ANO DE 2000 (%)

Fonte: www.ipece.gov.br

A cidade destacava-se como pólo de comercialização, na região do sertãocentral, de veículos novos e usados, serviços mecânicos, de funilaria e pintura,através da existência das principais concessionárias de veículos como Chevrolet,Fiat, Ford e Volkswagen, onde todas empregavam considerável mão-de-obrade mecânicos do município.

O DIFÍCIL RECOMEÇO

"Ô que estrada mais cumprida, ô que légua tão tirana,Ah se eu tivesse asa, inda hoje eu via Ana..."Légua Tirana – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

Por volta do final da década de 90, mudanças administrativas, financeiras etecnológicas ocorridas na forma de condução dos negócios, decorrente das

inovações implantadas pelas fábricas do mercado automotivo, influenciaram

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QUIXADÁ

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no fechamento de 03 das 04 concessionárias de veículos, o que ocasionou odesemprego de muitos mecânicos.

Com o fechamento das concessionárias, mais de 30 mecânicos ficaramdesempregados. Para agravar a situação, as concessionárias tiveram dificuldadesfinanceiras para cumprir com as obrigações trabalhistas junto aos mecânicos.

"Fiquei 3 meses em casa com mulher e filhos vivendo de alguns biscates"João da Silva, mecânico, hoje sócio-proprietário da oficina Center Car.

Ainda no ano de 2001, sem perspectivas de novo emprego e somente como ofício de mecânico, 05 deles, oriundos da mesma concessionária, uniram-see iniciaram a oficina independente Serginho Oficina e Lubrificantes. Com osurgimento da mencionada sociedade, muitos mecânicos se estimularam e, aospoucos, em parceria de 02 ou 03, também implantaram seus negócios. Comoafirma o Sr. Wando, hoje proprietário da Oficina Auto Box: "iniciei minhaoficina independente sem possuir sequer um macaco jacaré".

OS DESAFIOS DO DIA-A-DIA

"Mandei meu Cadilac, pro mecânico outro dia,pois há muito tempo, um conserto ele pedia..."Cadilac – Roberto Carlos

Encarar a realidade de ser dono do próprio negócio era o grande desafio paraos mecânicos, que se encontravam há até bem pouco tempo na condição

de empregados. Assumir compromissos financeiros, como aluguel do ponto,pagamento de taxas de energia e água, além de gerar renda para seu sustentoe de sua família, foram desafios aos poucos sendo enfrentados no dia-a-dia.

"Negociei o aluguel do ponto por 18 meses em troca de serviços de manutenção aos carros darevenda do Sr. Washington, proprietário do terreno onde se instalou a oficina Center Box".Joelino, mecânico, sócio-proprietário da oficina Center Box.

Alternativas diversas foram buscadas por todos no sentido de viabilizar, apartir de então, a sustentabilidade do negócio, acreditando-se a cada dia nacoragem, determinação e persistência, características importantes que constituem

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OFICINAS MECÂNICAS NA DIREÇÃO CERTA

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o perfil comportamental dos empreendedores de sucesso.Com o respaldo de terem trabalhado nas concessionárias autorizadas, aos

poucos os mecânicos foram identificados nas suas oficinas independentes recém-implantadas e os proprietários de veículos começaram então a procurá-los,conforme suas necessidades.

Como muitos deles se especializaram em determinados sistemas ou marcas,aos poucos foi surgindo naturalmente uma seleção de demanda por parte dosconsumidores. Quem era bom em sistema elétrico Fiat começou a ser lembradopelos proprietários dos veículos de marca Fiat que necessitavam de algumamanutenção no referido sistema, bem como os demais de origem dasconcessionárias Volkswagen e Ford, o que serviu para criar um posicionamentode todos no mercado automotivo local.

PROJETO EMPREENDER – BOM EMPURRÃO

No mês de outubro de 2002, foi celebrado convênio entre a AssociaçãoComercial e Industrial de Quixadá e o Serviço de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE para implantação doProjeto Empreender no município.

Conforme as potencialidades locais, foram selecionados os setores de comércioe serviços para implantação de núcleos setoriais. Dentre as atividadesdemandadas, surgiram construção civil, confecções, gráficas e automecânicas.

Na época, junto ao segmento automotivo, foram visitadas mais de 30microempresas das atividades de oficinas mecânicas, funilaria, pintura, lojasde auto-peças e de tintas automotivas.

Às primeiras reuniões do Projeto Empreender para formação do núcleo,realizadas nos meses de novembro e dezembro de 2002, compareceram emmédia 05 empresários ligados ao segmento. Com o núcleo ora implantado,alguns ainda não acreditavam que poderiam juntar-se aos demais concorrentese juntos conseguirem importantes benefícios para categoria.

O ano de 2003 começou e no quadro de freqüência dos participantes nasreuniões do núcleo, realizadas a cada 15 dias, houve um pequeno aumento departicipação, porém, não suficiente para o fortalecimento do grupo.

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QUIXADÁ

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"Ficávamos sempre esperando que um ou outro dono de oficina também comparecesse eviesse se juntar a nós para fortalecer o grupo, mas isso não acontecia e acabou desmotivandouma maior participação no núcleo, fato que me afastou de algumas reuniões" .Zezinho, proprietário da oficina O Zezinho, um dos primeiros a participar do núcleo.

A EXPERIÊNCIA REAL – RECARREGANDO AS BATERIAS

O fato é que, ao perceber a necessidade de motivar o núcleo, a AssociaçãoComercial e Industrial de Quixadá e o SEBRAECE oportunizaram trazer

à Quixadá, no mês de outubro de 2003, o Sr. Elvis Ludwig, coordenador doNúcleo Estadual de Automecânicas de Santa Catarina/PR, para proferir palestrasobre a experiência exitosa acontecida naquele Estado.

Para o evento, foram realizadas novas visitas às oficinas participantes donúcleo, bem como a outras que ainda não estavam engajadas para comparecerà palestra. O palestrante também visitou algumas oficinas pessoalmente,conversou com empresários e conheceu a realidade das oficinas de Quixadá.Ao evento, compareceram mais de 100 profissionais ligados à cadeia automotiva.

O palestrante mostrou os benefícios adquiridos através do associativismo,acontecido em Santa Catarina, onde, na formação de núcleos setoriais pormunicípio, aos poucos, conseguiram formar um grande Núcleo Estadual deAutomecânicas, realizando ações importantes, como capacitação tecnológica,aquisição de equipamentos em conjunto e outras conquistas que transformarama vida de muitos mecânicos daquele Estado. Esse evento foi uma oportunidade,pois, a partir de então, os desafios foram colocados a todos, como prova de queeles também podiam realizar ações em conjunto.

Na primeira reunião após a palestra, ainda no mês de outubro de 2003, amotivação tomou conta dos integrantes do núcleo e aumentou para 32 o númerode particpantes, representando 15 oficinas mecânicas de Quixadá. O próximopasso seria, então, planejar a participação do núcleo, agora forte e revigorado,na XIV Feira de Negócios da Região Centro do Ceará – FENERCE , realizadano mês de novembro de 2003, em Quixadá, como expositores. Essaoportunidade possibilitou aos mecânicos apresentar-se à sociedade local, comoum núcleo setorial de automecânicas organizado e disponível na prestação deserviços automotivos a todos.

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OFICINAS MECÂNICAS NA DIREÇÃO CERTA

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A ESTRADA PERCORRIDA

Participação numa Grande Feira – XIV FENERCE

Motivadas, todas as 15 oficinas mecânicas se uniram para participar daXIV FENERCE, em novembro de 2003. Para a feira, foram criados alguns

instrumentos de divulgação, como camiseta padrão para todos integrantes do núcleo,doada por fornecedor de autopeças de Fortaleza, e panfleto promocional informandosobre o sistema de escapamento dos veículos, a importância do catalisador e os nomesde todas oficinas participantes do núcleo. As ações de marketing na feiraproporcionaram boa visibilidade ao grupo que iniciava, a partir de então, a realizaçãode ações coletivas com objetivo de gerar benefícios comuns a todos.

Cursos Gerenciais e Tecnológicos Específicos

Agora, juntos e conscientes das necessidades de renovação de conhecimentostécnicos, solicitaram ao SEBRAE/CE um plano de capacitação gerencial etecnológico para formação e desenvolvimento dos integrantes do núcleo. Fo-ram realizados, nos meses de dezembro de 2003, janeiro e fevereiro de 2004,cursos gerenciais de atendimento ao cliente, controles financeiros,gerenciamento básico da micro e pequena empresa, bem como cursostecnológicos de elétrica automotiva, injeção eletrônica e lubrificação automotiva.

O CAMINHO TORNANDO-SE VIÁVEL

Blitz – Manutenção Preventiva

Amaior manifestação de integração do grupo se deu com a realização da 1ªInspeção Técnica Veicular Gratuita no Estado do Ceará. O evento, realizado

em março de 2004, foi planejado e executado pelo SEBRAE/CE, com apoio daAssociação Comercial e Industrial de Quixadá e da Prefeitura Municipal. ONúcleo Setorial de Automecânicas, através de 34 integrantes, articulou-se pararealizar inspeção técnica de manutenção preventiva gratuita com checagem de30 itens dos veículos.

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Foi montada uma oficina, coberta com lona, em praça pública, compostade diversas ferramentas eletrônicas, mecânicas e 02 elevadores, oferecendo, emum dia, serviços para comunidade. Neste dia, foram inspecionados 71 veículos,sendo, após o exame, entregue ao proprietário do veículo um relatórioconstando os itens verificados e suas respectivas observações. Após o evento,cerca de 35% dos proprietários retornaram às oficinas integrantes do núcleopara efetuar os consertos dos defeitos apresentados em seus veículos.

A realização do evento proporcionou visibilidade para o setor automotivolocal, pois, além de inspecionar os veículos gratuitamente, o evento serviupara orientar os proprietários dos veículos sobre a importância de se realizar,periodicamente, manutenção preventiva em seus carros. Serviu ainda comoinstrumento para elevação no faturamento das oficinas na prestação de serviços,como por exemplo lavagem do sistema de arrefecimento, regulagem do sistemaeletrônico, lubrificação das rodas, ajustagem dos freios e direção.

"A realização da blitz era o elo que faltava entre as oficinas independentes e osproprietários dos veículos que realizavam manutenção somente na concessionária".Nonato Júnior, líder do Núcleo Setorial de Automecânicas.

Parceria com o Banco do Brasil

Com a realização de várias ações em conjunto, trazendo boa visibilidade aomunicípio, o Banco do Brasil – BB fechou uma parceria com o núcleo, gerandoa abertura de contas correntes com cheque especial para 18 integrantes, comas quais 05 deles adquiriram novos equipamentos como elevador, raster 2000e ferramentas utilizadas nas oficinas.

Missões Tecnológicas

Com o associativismo aflorado pelas ações realizadas em conjunto, o núcleoparticipou, em abril, de missão tecnológica à AUTOP 2004, uma das maioresfeiras automotivas da América Latina, realizada em Fortaleza. A missão geroucomo oportunidade o acesso às novas informações técnicas através das palestrasautomotivas realizadas, bem como o intercâmbio de experiências junto aoutros participantes da feira. Os 42 participantes da missão tiveram aindacontato direto com fornecedores de peças e serviços nacionais, presentes

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OFICINAS MECÂNICAS NA DIREÇÃO CERTA

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através dos mais de 200 estandes espalhados pelo Centro de Convenções,durante a realização da feira.

CONCLUSÃO

Buscou-se contar neste caso o caminho percorrido por um grupo de mecânicosque, em determinado momento de suas vidas, ficaram desempregados e,

com muito esforço e determinação, implantaram suas oficinas independentescom persistência e garra para vencer. As dificuldades na busca de conseguirespaço físico, ferramentas e novas tecnologias para montar seus negócios própriosem momento algum foram obstáculos que pudessem inibir o comprometimentodos mecânicos na busca de soluções para as mesmas.

A geração de renda própria por parte do mecânico, que acabou setransformando em empresário, era fruto do seu trabalho e demonstrava queideais podem ser concretizados.

Por fim, outro fator relevante foi a substituição da cultura do individualismopela cultura da cooperação, na qual, organizados através do núcleo setorial, puderamdiminuir suas dificuldades, mostrando o quanto são fortes quando unidos.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

Antes do Projeto Empreender, todos, de uma maneira ou de outra, existiame se viam como concorrentes, sem visualizar a oportunidade de se unir

por um objetivo em comum.

• Como a cultura do associativismo influenciou a formação do núcleo? Qualteria sido o impacto para o setor se os mecânicos continuassem a competirisoladamente?

• Que outras ações competitivas os mecânicos poderiam implementar paraobter um bom desempenho em seus negócios, além da iniciativa de se associar?

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• Quais seriam as conseqüências para o grupo de mecânicos se as entidadesparceiras do Projeto Empreender – SEBRAE/CE e Confederação das AssociaçõesComerciais do Brasil – CACB percebessem que o grupo não estavacomprometido em obter resultados comuns a todos?

• Que medidas o poder público local poderia implementar para fortalecer o núcleo?

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MUNICÍPIO: QUIXERAMOBIM

PINGO D'ÁGUA – O SERTÃO VIROU SERRA

INTRODUÇÃO

O nordeste teve muita chuva em 2002, com boa safra. Assim mesmo, oagricultor deve estar sempre preparado para o clima de seca, uma

característica normal do sertão nordestino. Nesta época, a água evapora dosreservatórios, dificultando o abastecimento humano, crescendo a necessidadee a dependência de carros-pipas.

A população do Vale da Forquilha, em Quixeramobim, a 250 km deFortaleza, formada por pequenos produtores distribuídos em povoados,tradicionalmente vivia da agricultura de subsistência, dependendo das variaçõesclimáticas. Sem renda, a população do vale imigrava para grandes centros, semesperanças de mudanças, como "retirantes". Havia a necessidade de mudar estequadro e buscar alternativas para fixar o homem no campo.

"Em 1998, a seca apertou. O povoado vivia das verbas de emergência e ospedidos de carro-pipa eram intensos. A pobreza imperava. Quebramos oparadigma de que no sertão não poderemos plantar frutos e, com investimentosde R$ 200.000,00, fizemos a água brotar com abundância na área, com boaqualidade, para consumo humano. O Projeto Pingo D'Água tem poço quepuxa até 92.000 litros de água por hora, com 12m de profundidade", explicouCarlos Simão, Secretário Municipal de Desenvolvimento e Recursos Hídricos ecoordenador do projeto.

Localizado no nordeste do Brasil, o Ceará tem, na diversidade dos ecossistemas,na riqueza de suas belezas naturais e no potencial empreendedor de seu povo,alguns de seus traços mais marcantes, que o tornaram um Estado diferenciado.

Francisca Wilma Ferreira de Almeida, analista do SEBRAR/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação do professorJosé Carlos de Assis Dornelas, do IBMEC/PUC-RJ, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucessodo SEBRAE.

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ÁREA DE PRODUÇÃO DO PROJETO PINGO D´ÁGUA

ÁREA IRRIGADA ATRAVÉS DO PROJETO PINGO D´ÁGUA

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PINGO D´ÁGUA – O SERTÃO VIROU SERRA

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UM POUCO DE HISTÓRIA

Ocupando uma área de 146.348,30 km2, o Estado tinha, no ano 2000,uma população de 7.430.661 habitantes, a maioria dos quais localizada

na zona urbana (71,50%), com uma parcela habitando a zona rural (28,50%),segundo o Instituto de Planejamento do Ceará – IPLANCE – 2000.

"Meu amor, que será de mim?QuixeramobimO que será de mimMeu amor que será"Quixeramobim – Fagner e Fausto Nilo

Quixeramobim, encravada no centro geográfico do Ceará, é uma cidadecom grande histórico de participação política no destino do país, tendoparticipado, inclusive, da Confederação do Equador. A cidade possuía umapopulação de aproximadamente 59.235 habitantes, sendo 51,82% na zonaurbana e 48,18% na zona rural, segundo censo do IBGE (2000). Sua populaçãosempre esteve em busca de alternativas para seu desenvolvimento econômico,social, político e cultural. A cidade nasceu no denominado ciclo do gado e suacolonização deveu-se ao português Antônio Dias Ferreira.

No final da década de 90, a economia de Quixeramobim encontrava-seestagnada, após os áureos tempos do binômio algodão-leite dos anos 70, peloqual passou todo o Estado. A renda per capita de seus habitantes decaiu. Estaqueda foi favorecida por longos períodos de estiagem, que assolaramprincipalmente o sertão.

A participação de cada setor da atividade econômica de Quixeramobim, noano de 1998, se dava como segue:

ESTRUTURA SETORIAL DO PIB DO MUNICÍPIO QUIXERAMOBIM – 1998

Fonte: Ceará em números – IPLANCE – 2000 – www.iplance.ce.gov.br

roteS roteS roteS roteS roteS lautnecreP lautnecreP lautnecreP lautnecreP lautnecreP

airáuceporgA 43,71

airtsúdnI 23,51

soçivreS 43,76

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QUIXERAMOBIM

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A cidade destacou-se por ser centro geográfico do Ceará e terra-mãe deAntônio Conselheiro, líder da Revolução de Canudos no sertão baiano. A grandeatração da cidade sempre foi o Memorial de Antônio Conselheiro, mas o cenárioainda era o mesmo de quando se retratou a epopéia que virou o filme "AGuerra de Canudos", no século passado, estrelado pelo ator global José Wilker:uma secura só!

Normalmente, em Quixeramobim, chove durante 02 meses no começo doano, época que o sertanejo chama de inverno.

"Que braseiro, que fornaia Nem um pé de prantaçãoPor farta d'água perdi meu gadoMorreu de sede, meu alazão"Asa Branca – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

No século passado, no polígono da seca, ocorreram baixos índicespluviométricos e chuvas irregulares, ocasionando as secas nos seguintes anos,como pode ser observado pela tabela a seguir:

PERÍODOS DE SECA – QUIXERAMOBIM

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Recursos Hídricos de Quixeramobim (2001)

)onA(oicínI )onA(oicínI )onA(oicínI )onA(oicínI )onA(oicínI )onA(laniF )onA(laniF )onA(laniF )onA(laniF )onA(laniF

0091 7091

5191 6191

9191 0291

7291 3391

2491 3491

1591 8591

0791 1791

9791 3891

0991 3991

8991 1002

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PINGO D´ÁGUA – O SERTÃO VIROU SERRA

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No semi-árido brasileiro, o abastecimento de água para a populaçãotem sido realizado por barragens, açudes, cacimbas em riachos temporários(seco durante mais de 10 meses no ano), cisternas, poços amazonas e poçostubulares profundos.

Em Quixeramobim, a precipitação média anual era de aproximadamente700 mm por ano e a evaporação média ficava aproximadamente em 2.500mm por ano. (FUNCEME/IPLANCE – 2000). Isto significa dizer que, nesteperíodo, houve um déficit de água armazenada em açudes e barragens, ondegrande parte da água armazenada é evaporada.

O Vale do Forquilha era habitado por pequenos produtores vítimas da secae constantemente submissos a uma assistência paternalista, que não lhes deixavaautonomia.

O vale, apesar de suas belezas e recursos naturais, possuía grandesdificuldades. "Uma grande prisão", segundo o Sr. Antônio Martins de França.

Em 1987, sob a liderança de Seu Antônio, moradores uniram-se e criarama Associação Comunitária de São Bento, com uma determinação: "Neste Vale,ninguém passará mais fome, nem será humilhado". A associação recebeu, em1989, a visita do antropólogo francês, Remy Riand, do prefeito deQuixeramobim Cirilo Pimenta, do hidrogeólogo Gerhard Otto Schrader, daUniversidade Estadual do Ceará – UECE e de outras entidades que deramapoio e dinâmica às aspirações do movimento.

Surgiu, assim, o Convênio de Cooperação com as universidade francesas e aPrefeitura Municipal de Quixeramobim que desenvolveu o projeto de parceriapara o desenvolvimento do Vale do Forquilha, mais tarde chamado Pingo D'Água.A prefeitura de Quixeramobim teve o importante papel de mobilização dos 50líderes das comunidades do Vale, apoiando-os com sua equipe técnica e promovendoa vinda do cooperante francês, o Engenheiro Agrônomo Julien Burte, por meio daparceria firmada entre a UECE, a Universidade François Rabelais – UFR e a EcoleNational d`Ingénieurs dês Techiniques de I' Horticulture et du Paysage – INH.

O PINGO DA CIDADANIA

"Seu dotô os nordestinoTêm muita gratidãoPelo auxílio dos sulista

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QUIXERAMOBIM

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Nessa seca do sertãoMas doto uma esmolaA um home que é sãoOu lhe mata de vergonhaOu vicia o cidadão"Vozes da Seca – Luiz Gonzaga e Zé Dantas

Areunião com produtores e entidades parceiras soltou as amarras e provocouum desbloqueio. Com a perda do medo de falar e pelo nascimento de

idéias inovadoras, compartilhadas pelos associados e entidades envolvidas, fo-ram marcados outros encontros nos anos seguintes, dos quais surgiram as idéiasda prospecção da água e da fruticultura irrigada. O ano de 1998 marcava oinício do Projeto Pingo D'Água, que trouxe água, renda e trabalho aosagricultores do Vale do Forquilha.

Para combater a seca, o projeto Pingo D'Água mostrou como foi possível,com cooperação, tecnologia, gestão participativa, crédito e articulação comuma rede de parceiros, vencer um problema secular como a falta d'água nosertão nordestino. Uma nova técnica de perfuração de poços mudou a vida dosertanejo em Quixeramobim.

O engenheiro francês Julien Burte ficou impressionado com a quantidadede água encontrada no subsolo, pois desde que chegou a Quixeramobim ouviudizer que no solo da caatinga havia pouca água.

"Com certeza existe muita água subterrânea, pelo menos nos vales, riachose rios secos. A água encontrada nem sempre é boa, mas em 80% dos casosserve para beber e para irrigação", enfatizou.

Por meio das fotos aéreas, foram marcados os lugares dos poços. Com atecnologia do poço tubular, chegou-se a mais de 10m em apenas uma semanae a vazão do poço variava entre 25 e 92.000 litros por hora. Quando a água erasalobra ou em pequena quantidade, os agricultores abandonavam os trabalhose dedicavam-se a tentar encontrar água de melhor qualidade em outros lugares.

A explicação para a abundância da água no subsolo dos rios secos era aseguinte: na época das chuvas, boa parte da água escorre para as calhas dosrios, nas quais o subsolo é formado por camadas de argila e areia grossa, osconhecidos "aluviões", que são permeáveis. Por isso, a água escoa ao subsolo,formando grandes lagos que são conhecidos pelos sertanejos como cacimbas,geralmente cavadas nos leitos dos rios secos.

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PINGO D´ÁGUA – O SERTÃO VIROU SERRA

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O problema era que o método utilizado pelos sertanejos muitas vezes nãodescobria o veio principal, daí a vazão pequena dos poços. Fora dos aluviões,a dificuldade era maior. Passavam meses a fio batendo na rocha e, ao final,ficavam frustrados.

"O SERTÃO VAI VIRAR MAR E O MAR VAI VIRAR SERTÃO"Antônio Conselheiro

Talvez soubesse o Conselheiro que, no sertão, produtos hortifrutigranjeiroscomo o mamão, a banana, o melão, o maracujá, o pimentão e o tomate

brotariam em solo árido e seco, com a adoção de uma inédita tecnologia deprospecção de água subterrânea, de baixo custo e fácil acesso, por meio daperfuração manual de poços tubulares artesianos rasos em terrenos de aluviões.

Corajosos, 27 pequenos produtores, distribuídos em 17 povoados,controlaram hortas domésticas, melhoraram a dieta da família e garantiramrenda e subsistência, tirando da terra o seu sustento.

Cenários diferentes explicaram bem o processo de mudança radical quepassou a comunidade de Vale do Forquilha. Em 1998, o convênio de cooperaçãotécnica entre prefeitura de Quixeramobim, UECE e universidades francesas foiassinado quando a comunidade ainda usava os carros-pipa.

Em 2002, quando o projeto Pingo D'Água se transformou em uma políticapública para todo o Estado, com a projeção de se perfurar até 5.000 poçossimilares, através do Programa Poços do Sertão, implementado pelo Governodo Estado, a comunidade "comeu o pão que o diabo amassou".

A fruticultura irrigada de Forquilha foi desenvolvida com o advento dospoços do projeto Pingo D'Água, uma parceria institucional que reuniu a UECE,a Escola Nacional de Engenharia em Horticultura da França, o Banco doNordeste do Brasil – BNB, a Secretaria da Agricultura Irrigada e Pecuária doEstado do Ceará – SEAGRI, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresasdo Estado do Ceará – SEBRAE/CE, o Governo do Estado e a Prefeitura deQuixeramobim.

A mão-de-obra utilizada na perfuração dos poços foram os própriosagricultores, orientados inicialmente pelo cooperante francês Julien Burte, pormeio do programa de cooperação técnica francesa, que permitiu que os jovensoptassem entre servir ao exército ou trabalhar em países em desenvolvimento,

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QUIXERAMOBIM

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e depois pelos técnicos da prefeitura de Quixeramobim, que acompanharamos agricultores.

O equipamento completo para cavar os poços era de fabricação caseira,simples, mas de aço, ao contrário das outras máquinas (tipo perfuratriz), maisestruturado tecnologicamente. Cada equipamento cavava centenas de poçosapenas com um pouco de manutenção. Eram formados por válvulas, brocas,trados e sondas desenvolvidas especialmente para perfurar os leitos de riossecos. As sondas eram mais sofisticadas porque eram as peças principais quepuxavam a água.

A prefeitura disponibilizava para as comunidades o equipamento deperfuração, juntamente com o acompanhamento técnico. A populaçãobeneficiada contribuía com a participação da mão-de-obra na perfuraçãodos poços, aquisição dos tubos PVC e telas, que somavam aproximadamenteR$ 200,00.

Além da utilização da tecnologia, os parceiros, como a prefeitura e asuniversidades francesas, garantiam o acompanhamento técnico. A SEAGRI eo SEBRAE/CE cuidaram da capacitação dos produtores e os orientaram sobre ogerenciamento. A produção era escoada para as indústrias de Quixeramobim,além dos mercados de abastecimento e da merenda escolar.

"Tudo em vorta é só belezaSol de Abril e a mata em frôMas Assum Preto, cego dos óioNum vendo a luz, ai, canta de dorTarvez por ignorançaOu mardade das pio"Assum Preto – Luiz Gonzaga e Zé Dantas

No Vale da Forquilha tudo ficou diferente, como um oásis no meio dacaatinga, apesar da chamada "indústria da seca" que persistia no nordeste,como nos casos da distribuição política da água por meio de carros-pipa e olobby das empresas de perfuração de poços profundos. Nestes oásis, os sertanejosplantaram milho, feijão, mamão, melão, maracujá, tomate e pimentão. Tudoirrigado, graças à água dos poços tubulares rasos, uma tecnologia utilizadapara perfurar poços no litoral nordestino, testada com sucesso na caatinga.

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OS PROJETOS DE FINANCIAMENTOS

"Dê serviço a nosso povoEncha os rio e barragesDê comida a preço bomNão esqueça a açudageLivre assim nóis da esmolaQue no fim dessa estiageLhe pagamo inté os jurosSem gastar nossa corage"Vozes da Seca – Luiz Gonzaga e Zé Dantas

Os pequenos produtores foram também beneficiados com empréstimos doPrograma Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF

e linha de crédito do BNB, recebendo o apoio logístico da prefeitura deQuixeramobim, que contratou 05 técnicos e 01 engenheiro-agrônomo para ainfra-estrutura do programa e assistência direta aos agricultores.

O financiamento atendeu às necessidades de insumo (sementes importadas,custos com energia, mão-de-obra). Cada produtor possuía em média 1,5 ha deterra e o plantio se dava por rotação de culturas, ou seja, na mesma área, tiravama safra de melão e depois replantavam tomate e pimentão.

O investimento na execução do projeto foi basicamente em pessoaltécnico, com gastos de R$ 10.000,00 mensais e cerca de R$ 20.000,00em equipamentos. Cada poço saiu pelo preço final de R$ 200,00 para opequeno produtor.

O SEBRAE/CE apoiou o projeto com ações como cursos tecnológicos egerenciais, consultoria tecnológica voltada para microaspersão e fertirrigação,missões técnicas a Petrolina, ampliação para área de assentamentos rurais eaté a implantação de uma Organização de Sociedade Civil de InteressePúblico – OSCIP.

As comunidades desenvolveram projetos auto-sustentados de irrigação pormeio do uso de gotejamento e microaspersão, daí a origem do nome PingoD'Água, com renda média de R$ 700,00/ha para cada família.

O Governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura Irrigada eAgropólo Sertão Central, deu apoio pelo Programa Caminhos de Israel, que

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beneficiou produtores que trabalhavam com agricultura irrigada com médiade 10 hectares.

Os sertanejos nem acreditaram no que viram com os "olhos que a terra háde comer", que, com aquelas gotinhas, foi possível ter irrigado as áreas deplantio, ainda tirando bons frutos. O fruticultor Helano Nogueira tirou váriassafras de melão, vendeu tudo, economizou bom dinheiro para sustentar a famíliae tocar os negócios.

"Antes era só fome e miséria, não prestava para nada", enfatizou."Estesprojetos geraram ocupação e renda no campo, evitaram o êxodo rural e geramosemprego e renda nas épocas de seca", frisou Carlos Simão.

ÁGUA GARANTIDA

Anovidade que correu no sertão atraiu atravessadores, que vieram compraros frutos vendidos em caminhões na comunidade.

Para os produtores que resistiam ao cultivo de frutos, a mudança trouxefacilidades e melhoria de renda. Alguns nem conheciam o que era melão. Parao Seu João Alves, que mudou de vida depois do plantio irrigado por aspersãoe de várias safras de melão e de maracujá, a fruticultura era novidade:

"Não conhecia melão, só de "vista"... antes nós só plantávamos para comer...nunca ganhei tanto dinheiro na vida".

A primeira safra de Seu João lhe rendeu um lucro líquido de R$ 1.700,00.Helano Nogueira furou um poço tubular, sendo um dos pioneiros a plantar

frutos. Uma parte da água subia o morro para abastecer sua casa. A fartura era tantaque dava para irrigar o pomar doméstico e a horticultura de sua genitora. Seus paisficaram admirados com a novidade. O poço do Helano tinha vazão acima de 28.000litros, tendo ele triplicado sua área de produção, incrementando novas culturas.

"Hoje longe muitas léguasNuma triste solidãoEspero a chuva cair de novoPra mim vortá pro meu sertão"Asa Branca – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

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Deusimar Cândido, presidente da Associação dos Produtores de Forquilha,ficou animado. Ele afirmou que a água estava garantida por pelo menos 02anos, já que as chuvas caíram durante o inverno e os aluviões dos riachosestavam recuperados. Ele conseguiu vender sua produção para o comércio lo-cal e para Fortaleza.

Deusimar foi um dos produtores que, tendo abandonado sua terra, morouem São Paulo e voltou, após 14 anos, à sua terra natal. Retornou ao Vale doForquilha, em 2000, para plantar frutas e mudar de vida, após a chegada doprojeto Pingo D'Água.

"Sempre sonhei em voltar. Quando surgiu o projeto, foi a luz. Eu vi queaquilo ia dar certo. Além de garantir a família, minha horta já empregou duaspessoas. Aqui não tem gente chegando, mas também não tem ninguém saindo",afirmou ele.

Deusimar gerou 02 empregos em sua horta de mamão, batata doce e tomate,tendo um lucro de R$ 1.000,00 por semana. "Com certeza, o lucro é bom.Colhemos, plantamos e vendemos. Antes era só feijão e milho. E se chovesse".

Em casa, Erivanda, sua esposa, comemorou a facilidade de "ter a águaprontinha, aqui, vinda da torneira, na nossa mão...".

"Quando o verde dos teus óio Se espaiá na prantação Eu te asseguro, num chore não, viuQue eu vortarei, viu, meu coração"Asa Branca – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

ÁGUA E VIDA

Os referidos poços, na sua grande maioria, possibilitaram a implantação deprojetos de abastecimento de água com ligações domiciliares, financiados

pelo Projeto São José, por meio de convênio entre o Banco Mundial, Governodo Estado do Ceará e as associações comunitárias das referidas localidades.

Em Quixeramobim, o programa já perfurou 300 poços manuais, realizou27 projetos de agricultura irrigada e mais 18 foram implantados até o final de2002 em 07 comunidades, com 500 famílias que ganharam abastecimento de

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água com ligações domiciliares a partir do excedente de captação dos poçosrasos. Foram gerados 150 empregos diretos.

A alegria percebia-se nas palavras de Seu Joaquim Nobre, o Quinô:"A primeira coisa que fiz foi encanar água para dentro de casa. Tomei banho dechuvisco, a mulher lavou roupa em casa, joguei os canecos fora e dispensei ojumento. Só dava torneira".

O sucesso do projeto Pingo D'Água fez com que o Governo do Cearáincorporasse a tecnologia no projeto Poços do Sertão, quando, até junho de2002, foram implantados 2.771 poços rasos em 87 municípios. A estimativaera, então, de que, em todo o Estado, fossem implantados 5.000 poços rasossimilares ao de Quixeramobim, até 2003.

"O projeto se transformou em política pública, e a comunidade de Forquilhaem um laboratório vivo, pois o projeto piloto já recebeu a visita de mais de5.000 pessoas de todo país, entre técnicos, agrônomos e geólogos, que forammultiplicadores do projeto. Pagamos um preço caro pelo pioneirismo, poiseles passaram pela experimentação", afirmou Carlos Simão.

O equipamento de perfuração, aperfeiçoado durante esses anos, custouR$ 2,5 mil, enquanto um sistema de abastecimento tradicional (perfuratrizesde tecnologia de ponta) girava em torno de R$ 50.000 a R$ 80.000, variandode acordo com o número de casas que fossem atendidas.

"Estamos abertos para disseminar esta tecnologia e capacitar os novosbeneficiados", disse Simão.

Essa experiência vivenciada pelos agricultores de Quixeramobim poderiaser implantada em outras regiões do nordeste, sendo necessário escolher bem olocal do poço. Ele deve ser perfurado em solos de aluvião, onde as oportunidadesde encontrar água são sempre maiores.

"Onde não há energia, o custo da irrigação sobe um pouco, porque o poçopassa a ser tocado com óleo diesel, mas vale a pena investir diante dos benefíciosproporcionados pela água", disse Raimundo José Rodrigues, técnico emagropecuária que acompanhou o projeto desde o início.

Para o ano de 2004, previu-se implantar 1.000 poços no município,beneficiando mais 1.000 famílias, retirando-as definitivamente da rota doscarros-pipa e gerando 3.000 empregos diretos, como mostram os dados dastabelas (Anexos).

A inadimplência continuou a ser o grande entrave. Dos 140 agricultoresque foram cadastrados para obter crédito bancário, apenas 18 foram liberados.

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"Foram 03 gerações prejudicadas. O avô fez o empréstimo, não teve condiçõesde pagar e o filho e o neto, que assumiram o núcleo familiar, herdaram a dívidae o banco não autorizou", reclamou Deusimar Cândido.

O prefeito Cirilo Pimenta foi um entusiasta do programa Pingo D'Água:"Nós nem acreditávamos, tendo em vista os sucessivos fracassos que tínhamosem cavar poços com máquinas com mais de 60m com vazão apenas de 2.000litros por hora e hoje o que acontece com esses poços é um milagre, é umacoisa inédita e que pode mudar completamente o perfil do nordeste!", frisou.

CONCLUSÃO – A ÁGUA E A FRUTA JÁ BROTARAM DO CHÃO

"O sertanejo é antes de tudo um forte", como afirmou Euclides da Cunha.Para sobreviver no seu "torrão", ele transforma as adversidades em força, apesardas intempéries, e só quer deixar sua terra no último pau-de-arara.

Como um resistente combatente à seca, o projeto Pingo D'Água completou48 meses, cheio de vitalidade e esperança, mas tendo de buscar caminhos

para superar suas próprias limitações. O projeto recuperou a auto-estima ea independência econômica dos participantes, ajudou a fixar o homem nocampo, fez desaparecer os carros-pipa, pelo menos nas comunidades doVale do Forquilha.

O maior desafio no horizonte do programa Pingo D'Água era criar ascondições para fazer aquilo que foi planejado.

Os parceiros, especialmente a prefeitura e o Governo do Estado, e as entidadesde classe poderiam negociar e barganhar com as instituições bancárias melhorescondições do acesso ao crédito, assegurando um ambiente mais favorável aocrescimento dos novos pequenos negócios de fruticultura.

Apesar de todos os desafios, não houve dúvida de que o programa PingoD'Água trouxe impactos positivos para o segmento de pequenos produtores,em face dos resultados alcançados em curto espaço de tempo.

A mais importante conquista foi a busca de alternativas de convivência nosemi-árido, por meio de água subterrânea e agricultura irrigada, quebrandoparadigmas, disponibilizando para a população tecnologias de fácilaplicabilidade. Esse ambiente não podia ser desperdiçado, tendo em vista queserviu de exemplo para todo o Estado do Ceará e vários estados do nordeste.

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Agradecimentos:

Colaboração: Carlos Antônio Chaves Simão, Secretário de Desenvolvimento Econômico e Recursos Hídricos de Quixeramobim; Raimundo JoséRodrigues, técnico em agropecuária da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Recursos Hídricos de Quixeramobim.

A experiência do Pingo D'Água foi reconhecida e premiada como projetoinovador: Honra ao Mérito da Fruticultura pelo Instituto FRUTAL do Ceará,pela Fundação Banco do Brasil e Fundação FORD, certificado de TecnologiaSocial e finalista do Programa de Gestão Pública e Cidadania pela FundaçãoGetúlio Vargas. Ficou entre os 50 primeiros dos 756 inscritos de todo o Brasil.Até o Brasil reconheceu!

Como se observou, os desafios são permanentes. Para o programa PingoD'Água, aproveitar a água do subsolo em renda e trabalho para as comunidadescarentes do Ceará, preservando o potencial empreendedor de seu povo, é umaaposta no futuro.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Como se articularia e se manteria uma rede de parceiros capazes de darsustentabilidade e continuidade aos projetos implantados e à inclusão de novosagricultores? Seria necessária a busca de novos parceiros?

• Alguns aspectos precisariam ser encarados com urgência. Como se resolveriaa ampliação do programa? Resolvendo o problema do acesso ao crédito? Comose melhoraria a relação com os bancos?

• Que alternativas poderiam ser adotadas para fortalecer a agricultura famil-iar e a busca de maiores incentivos à política agrícola?

• Que estratégias de divulgação ou incentivo poderiam ser utilizadas parasensibilizar os representantes municipais e os municípios em situação semelhanteou já capacitados para a participação no programa?

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ANEXOS

Anexo 1

EVOLUÇÃO DO PROJETO PINGO D'ÁGUA

Anexo 2Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Recursos Hídricos de Quixeramobim – 2002

DADOS DO PROJETO POÇOS DO SERTÃO NO CEARÁ

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Recursos Hídricos de Quixeramobim – 2002

Anexo 3

400

300

200

100

30

75

134

332

2715112

1999 2000 2001 20020

Poçosperfurados

Projetosfruticultores

EVOLUÇÃO DO PROJETO PINGO D´ÁGUA

sotnemelE sotnemelE sotnemelE sotnemelE sotnemelE )8991(setnA )8991(setnA )8991(setnA )8991(setnA )8991(setnA 2002 2002 2002 2002 2002 4002 4002 4002 4002 4002

odsetnaelaVonsailímaFotejorP

8601 002.1 000.2

arutluciturfedsotejorP 0 72 041

sosarseralubutsoçoPsodarufrep

0 233 000.1

rotudorpropadneR ominímoirálas½ 00,007$R –

sodaregsogerpmE rotudorprop10 rotudorprop30 000.3

odatsEonsodaniertsocincéT 831

oãçaticapacedsetnapicitrapsoipícinuM 001

2002edohnujétasodarufrepsoçoP 177.2

soçopmararufrepeuqsoipícinuM 78

)L(aidémoãzaV h/L000.11

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QUIXERAMOBIM

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ANEXO 4

Relação de entidades parceiras

• SEBRAE/CEParticipação do projeto Pingo D'Água quanto à capacitação tecnológica egerencial, além de ter proporcionado a ampliação do projeto para produtoresde assentamentos no ano de 2001.

• Secretaria de Agricultura Irrigada do Estado do Ceará – SEAGRIApoio na implantação da infra-estrutura, assistência técnica, capacitação ecomercialização.

• Centro Vocacional Tecnológico – CVT• Serviços Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR

Fornecimento de cursos de capacitação para os técnicos e agricultores nasáreas de irrigação, gestão da empresa rural, qualidade rural, beneficiamentode fruto etc.

• Prefeitura Municipal de QuixeramobimSecretaria de Desenvolvimento Econômico do Município – Promoção ecoordenação do Projeto Pingo D'Água.

• Governo FrancêsDisponibilização da vinda de técnicos franceses por meio do programacooperação internacional.

• Universidade Estadual do Ceará – UECEViabilização do convênio com a Universidade François Rabelais (UFR –Tours – França) para promover assessoria de técnicos franceses.Ecole Na-tional d'Ingénieurs dês Techiniques de I'Horticulture et du Paysage – I.N.H– Apoio técnico-científico nas pesquisas, no município, na análise deamostras de solos e água no laboratório do I.N.H. e na perfuração de poçosmanuais.

• Associações locaisMobilização dos pequenos produtores rurais para participarem dos projetosde agricultura irrigada.

• Secretaria de Infra-Estrutura do Estado do Ceará – SEINFRACoordenação da implantação do projeto.

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INTRODUÇÃO

"Prepare seu coração pras coisas que eu vou contar, eu venho lá do sertão, eu venho ládo sertão, eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar...".Disparada – Geraldo Vandré e Theo de Barros.

Oflagelo da seca há séculos assola o sertão nordestino, dificultando a vidade milhares de pessoas que residem na zona rural e nas periferias das

cidades na região. Em Sobral, município do sertão cearense situado na zonanorte do Estado, as famílias mais pobres sofriam com fome, desnutrição e amortalidade infantil agravada pela seca. Motivada pela necessidade de reverteresse quadro, a comunidade, por ocasião de um fórum de discussão, lideradopelo padre João Batista Frota, buscou alternativas de combate à fome e àdesnutrição infantil.

"A gente escutou o clamor do povo, das famílias. A situação era de fome.Eu me lembro muitos bem, eles diziam: nós estamos criados, vamos procurarsalvar nossos filhos. Aquilo me sensibilizou... O que fazer para salvar aquelascrianças?", perguntava-se o padre João.

Determinado a combater o flagelo da seca no município de Sobral, padreJoão convidou, em setembro de 1993, a sociedade organizada e suasinstituições a se engajar na formulação de alternativas sustentáveis paraamenizar a pobreza local. São Domingos foi uma das comunidades queprontamente respondeu ao chamado.

MUNICÍPIO: SOBRAL

CABRA NOSSA DE CADA DIA: A SOCIEDADE QUEENFRENTA A MISÉRIA NO SERTÃO

Luíza Lúcia da Silva Barreto, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora AdrianaTeixeira Bastos, da Universidade Estadual do Ceará – UECE, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casosde Sucesso do SEBRAE.

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APRISCO DE SÃO DOMINGOS, CONSTRUÍDO EM MULTIRÃO

POPULAÇÃO BENEFICIADA PELO PROJETOCABRA NOSSA DE CADA DIA

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CABRA NOSSA DE CADA DIA: A SOCIEDADE QUE ENFRENTA A MISÉRIA NO SERTÃO

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A DURA REALIDADE DA SECA

"Eu sou de uma terra que o povo padeceMas não esmorece e procura vencerDa terra querida, que a linda caboclaDe riso na boca zomba no sofrêNão nego meu sangue, não nego meu nomeOlho para fome e pergunto: o que há?Eu sou brasileiro, filho do nordeste,Sou cabra da peste, sou do Ceará."

Cabra da Peste – Patativa do Assaré.

Entre 1988 e 1993, anos de seca no nordeste, a pobreza e a miséria sealastraram na maioria das cidades do Ceará. Em São Domingos, povoado

do distrito de Jaibaras, localizado a 42 km de Sobral, a situação não era diferente.Proliferavam-se a fome, decorrente da estiagem e da escassez de alimentos, e asdoenças, especialmente a desnutrição infantil e o raquitismo de adultos.

"Teve a grande seca de 1988 a 1990, nos sertões de Sobral, principalmenteda serra do Jordão. Era miséria grande, ali quase toda semana tinha óbito decrianças", declarou Ismar Maciel, técnico da EMBRAPA Caprinos.

As médias pluviométricas em Sobral, nos anos 1992 e 1993, foram as maisbaixas da década, conforme se pode observar na figura 1(Anexos).

O Ministério da Saúde, em seu relatório de 1996, comprovou que a taxa demortalidade infantil no Brasil havia diminuído de 86/1.000 em 1986, para47/1.000 em 1995. Entretanto, esse avanço não ocorreu de maneira uniformeem todo o país. Segundo o IBGE, na região nordeste, a mortalidade infantil decrianças de 01 a 05 anos era de 75/1.000 nascidas, enquanto no sudeste oíndice alcançava 33/1.000.

No Ceará, em 1993, foram registrados, pela Secretaria de Saúde do Estado,5.106 óbitos de crianças entre o nascimento e os 09 anos de idade, enquantoem Sobral foram registrados 123 óbitos de crianças nessa mesma faixa deidade. Com isso, Sobral apresentou um índice de mortalidade, em 1993, de98/1.000 e uma curva decrescente nos anos seguintes, como pode serobservado na figura 2 (Anexos).

Em 12 de maio de 1996, a Folha de S.Paulo noticiou as diversas ações queestavam sendo implementadas em todo país e que objetivavam a redução da

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SOBRAL

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taxa de mortalidade infantil no Brasil. A matéria destacava o trabalho de apoiode organizações não-governamentais e as iniciativas pioneiras, como as da Pasto-ral da Criança. Essas organizações vinham utilizando métodos alternativos dealimentação, além do trabalho voluntário, que tem sido de extrema importânciae eficiência no combate à desnutrição e à mortalidade infantil e, em muitoscasos, com resultados mais eficientes do que os das medidas adotadas pelasinstâncias governamentais.

PARTICIPAÇÃO DA IGREJA E DA SOCIEDADE CIVIL

ADiocese de Sobral foi forte parceira nas ações que visavam à solução dosproblemas sociais e econômicos do município. Esse tema era debatido nas

reuniões das comunidades eclesiásticas de base. Nas missas, aos domingos,essas questões também eram discutidas pelo padre João.

Importantes ações e mobilizações sociais tiveram a participação da Igreja eda sociedade civil. O semanário local Correio da Semana noticiou, em 1990, arealização de um seminário sobre saúde infantil no auditório da UniversidadeEstadual Vale do Acaraú – UVA. Destacava-se a aliança entre a sociedade e osprefeitos da região com o objetivo de intensificar as ações com vistas a reduzira mortalidade infantil.

Outras notícias informavam sobre o engajamento da Igreja na discussão sobrea problemática da seca. O debate sobre o tema prosseguiu e em março de 1993 foinoticiado pelo mesmo jornal: "Lideranças políticas e técnicas discutem em umseminário, nos dias 26 e 27 de março de 1993, o desenvolvimento sustentável doVale do Acaraú. Estarão presentes o governador Ciro Gomes e seus secretários.Serão tratados, além de desenvolvimento sustentável, os temas da seca, recursoshídricos, e ordem fundiária". Neste mesmo ano, o deputado e padre José Linharesdiscursou em Brasília sobre a realidade da seca nos 50 anos anteriores. Nesta ocasião,foi constituída uma comissão parlamentar para analisar a problemática da seca.

Entretanto, as dimensões do problema exigiam, e continuam a exigir, oenvolvimento de toda a sociedade organizada. Dessa forma, a partir de 1990,Sobral passou por um processo de sensibilização e organização. A preocupaçãocrescia com a seca, com a situação de fome e de sofrimento em tantos lares, nosbairros e na zona rural. As notícias se alastravam, mas as medidas emergenciaisadotadas ao longo dos anos não resolviam os problemas dos mais necessitados.

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CABRA NOSSA DE CADA DIA: A SOCIEDADE QUE ENFRENTA A MISÉRIA NO SERTÃO

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Padre João Batista permanecia inquieto com a situação dos moradores dasua paróquia e não perdia de vista o seu objetivo de articular a sociedade e suasinstituições para se engajarem na formulação de alternativas sustentáveis paraamenizar a pobreza daquela região.

ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS PARA REDUÇÃO DAMORTALIDADE INFANTIL

Para combater a seca, padre João convidou a sociedade organizada e suasinstituições, por ocasião de um fórum de discussão, em setembro de 1993,

a se engajar em torno de um plano de ação criado para reduzir a miséria local.O plano consistia na doação de cabras leiteiras para as famílias mais pobres,

sugestão dos técnicos da EMBRAPA Caprinos Carlos Eugênio Vital e HeleniraEllery Marinho. Essa idéia foi amadurecida e deu origem ao Projeto CabraNossa, que pretendia ser uma alternativa sustentável para amenizar a pobrezadaquela região. "A idéia foi acatada e, neste mesmo ano (1993), foi feito umlevantamento pela pastoral da família nas comunidades rurais e bairros carentesde Sobral, para identificar pessoas de menor poder aquisitivo para participardo projeto", relata Ismar Maciel, técnico da EMBRAPA Caprinos.

A FELIZ ESCOLHA DA CABRA

Aparóquia local, em parceria com a EMBRAPA Caprinos, liderou aimplantação do projeto Cabra Nossa em Sobral, com o objetivo de

incentivar o desenvolvimento sócio-econômico nas comunidades carentes,melhorar a qualidade de vida das famílias de baixa renda e assegurar a oferta dealimentos de qualidade para crianças e idosos.

Buscava ainda contribuir para a formação de uma comunidade solidária,ajudando as famílias mais pobres a melhorar o seu relacionamento, estimular oespírito solidário entre as pessoas e criar perspectivas de novos projetos. PadreJoão tinha um lema: "não só a cabra pela cabra, mas levar as famílias a formaruma pequena comunidade solidária".

Muitos aspectos favoreciam a implantação do projeto, especialmente apresença da EMBRAPA Caprinos, que prestou assessoria desde o início. A cabra

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é um animal dócil, de pequeno porte e de fácil manejo, resistente à seca e quese adapta muito bem às condições climáticas, culturais e sociais do sertãonordestino, o que constitui uma alternativa viável de sustentação alimentar.Seu leite é recomendado por muitos médicos nos tratamentos de problemasnutricionais de crianças, gestantes e idosos. É um animal relativamente baratoe que, caso viesse a morrer, não causaria grandes prejuízos.

"A mística e a filosofia do projeto é que o pão [o leite] alimenta as criançase a família não só naquele dia, mas todos os dias. A cabra deve merecer ocarinho da família, ela cria uma vinculação e faz com que a família cuide dacabra e não queira perdê-la", comentou padre João.

Para a ampliação do projeto, a paróquia do Patrocínio articulou uma rede deparceiros, que contava com o apoio da Prefeitura de Sobral, por meio da Secretariade Agricultura do Município, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e daEMBRAPA Caprinos, responsável pela assessoria técnica. A UVA, a Empresa deAssistência Técnica e Extensão Rural do Ceará – EMATERCE, o Banco doNordeste do Brasil – BNB, o Banco do Brasil – BB, o Departamento Nacionalde Obras Contra a Seca – DNOCS e o Serviço de Apoio às Micro e PequenasEmpresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE engajaram-se posteriormente nestarede.

O projeto contou mais uma vez com a participação do padre João, que oviabilizou financeiramente: "eu alimento algumas amizades na Alemanha, sãofamílias de classe média sensíveis as nossas necessidades. Eu escrevi contando asituação e eles imediatamente se prontificaram, se cotizaram e enviaram umaboa ajuda, com a qual compramos as cabras".

COLOCANDO O PLANO EM AÇÃO

As primeiras cabras foram distribuídas entre 25 famílias, sendo uma cabrapara cada família das comunidades rurais de Santo Hilário, São Joaquim,

São Francisco e São Domingos e para dos bairros periféricos Sumaré, TerrenosNovos, Padre Palhano e Dom José.

A equipe de trabalho foi formada por voluntários e pessoas ligadas à paróquiado Patrocínio, entidades filantrópicas e instituições que utilizavam umametodologia de trabalho própria, que consistia em selecionar os participantes,fixar as cabras em cada local sob a responsabilidade de uma família e garantir a

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assistência técnica e o acompanhamento.Na escolha dos participantes, levava-se em conta a situação de carência da

família e o compromisso de zelar pelo animal e devolver ao projeto 02 cabritasnum período de 02 a 03 anos. A assistência se iniciou com o treinamento doscoordenadores locais sobre o manejo dos animais. Havia também assistênciatécnica semanal e visitas de veterinários quando necessárias. Trimestralmente,as famílias recebiam a visita periódica de rotina, quando ocorria o recebimentoda contraparte: cabritas fêmeas nascidas e repassadas às novas famílias queingressavam no projeto. A coordenação ainda realizava 02 encontros anuais,ocasiões de diálogo, conscientização e planejamento.

Todo esse cuidadoso processo de trabalho incorporou as experiências deprojetos semelhantes que já tinham sido implantados na região. Como ressaltao padre João: "(...) sentimos que seria interessante acompanhar melhor o projeto.Eles podiam não assumir a cabra, podiam vender. As experiências anterioresmostravam que era necessário maior acompanhamento, eles precisavam serpreparados e monitorados. Então, nas reuniões, combinamos que doaríamos ascabras para famílias com crianças pequenas (0 a 10 anos), que precisavam deleite, mas as cabras não eram totalmente doadas, as famílias assumiam ocompromisso de cuidar das cabras e restituir duas cabritas no período máximode 03 anos, ajudando assim outras famílias. Os cabritos machos (crias) seriamda família, para comer ou aumentar o rebanho".

SÃO DOMINGOS: UM SANTO EMPREENDEDOR

"São casas simples com cadeiras na calçadaE na fachada escrita em cima que é um lar,E na varanda flores tristes e baldiasComo a alegria que não tem onde encostar (...)".Gente Humilde – Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque

Oprojeto Cabra Nossa trouxe muitos frutos às comunidades de Santo Hilário,São Joaquim e Santo Francisco, "levando às famílias envolvidas com o

projeto a formar pequenas comunidades solidárias, de maneira que, quandouma família precisa de ajuda, a outra se prontifica a ajudar", como ressaltasempre o padre João. Porém, em São Domingos, o desenvolvimento ocorreu

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de maneira diferente das outras localidades, principalmente no tocante aofortalecimento da capacidade de organização da comunidade, como relataAntônia Paula, agente de desenvolvimento rural local: "com o Cabra Nossa foique veio a união. Não que antes as pessoas fossem desunidas, mas eram soltas,e com essa união as pessoas começaram a fazer mutirão e a partir disto eu vi aforça desta união".

Essa união em São Domingos foi determinante para o sucesso do projetoCabra Nossa, como iniciativa social empreendedora, pois, como ressalta Dorinha,secretária do projeto, "quando São Domingos iniciou, em 1990, eles não tinhamnem terra e hoje já possuem cerca de 51 ha. Com as várias conquistas, elesconseguiram água potável, energia elétrica, terra para plantar e colher. Com oCabra Nossa a conquista maior deles foi ter acreditado em seu potencial".

A ação se dá por iniciativa da própria comunidade de São Domingos, comoesclarece João Bispo, um de seus líderes: "quando a comunidade quer, aassociação procura fazer com que as coisas dêem certo, pois, nas dificuldades,primeiro tentamos resolver nós mesmos, só depois é que a gente chama osórgãos".

Em 2000, o SEBRAE/CE foi convidado para discutir com os produtores deSão Domingos e com os parceiros a viabilidade de um projeto econômico-financeiro para a ovinocaprinocultura.

"O Cabra Nossa era uma cabra para cada família, aí veio a ajuda do SEBRAE/CE,com cursos, e resolvemos fazer o financiamento no Banco do Nordeste.Inicialmente éramos 09 pessoas, agora são mais famílias fazendo o financiamentoporque só com 01 cabra não dá para avançar muito e as pessoas não queriamviver só do projeto com 01 animal. Com mais animais as pessoas têm maisdisposição pra trabalhar e hoje o projeto está crescendo muito e nós temos emtorno de 250 animais. Mais pessoas entraram no projeto, foi liberado maisrecurso para comprar mais animais (PRONAF B), e aí varia, uns criam para oleite, outros para corte, e a gente vai desenvolvendo", afirmou Zé de Lima,líder da comunidade de São Domingos.

O SURGIMENTO DE NOVOS PROJETOS

Em 2003, foi implantado em Sobral o Projeto Aprisco, resultado de umaparceria entre prefeituras, SEBRAE/CE, Federação da Agricultura e Pecuária

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do Estado do Ceará e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – FAEC/SENAR,produtores e governo estadual, que funcionava como uma estratégia dearticulação de políticas públicas que visavam contribuir com o desenvolvimentoda ovinocaprinocultura do Ceará, do nordeste e do Brasil.

A implantação deste projeto na comunidade de São Domingos favoreceu ofortalecimento e a continuidade das ações sociais do projeto Cabra Nossa, dandosuporte tecnológico e gerencial à ampliação dos empreendimentos nestalocalidade.

"Hoje (2004) já são 25 pessoas no núcleo de cabras que trabalham com o Bancodo Nordeste. No começo era só o pessoal que trabalhava com peixe (08), e osoutros da comunidade diziam: 'vocês são loucos, o banco vai é prender vocês, vocêsnão têm condição de pagar o banco!'. Graças a Deus, pagamos o primeiroempréstimo, estamos bem desenvolvidos. Aí o pessoal foi se conscientizando que amelhor saída era trabalhar com o banco, mas era preciso ter pé no chão, como faloua Ilana (consultora OCEC/SEBRAE/CE)", contou Zé de Lima.

Em São Domingos, todas as 72 famílias da comunidade são associadas, dasquais 25 recebem o apoio técnico do projeto Aprisco e possuem uma estruturafísica que acolhe o rebanho de 250 animais.

Esse grupo participou de um programa de capacitação gerencial e tecnológicadefinido e solicitado por eles mesmos. A comunidade de São Domingos trabalhapara que o interesse da coletividade esteja acima dos interesses individuais,exercita a prática de mutirão e da divisão de tarefas, toma decisões por si só epossui lideranças formadas por jovens e adultos. Os projetos são coordenadospor pessoas diferentes, permitindo assim que todos cresçam e decidam o rumoda sua história.

CONCLUSÃO

"Fé na vida, fé no homem, fé no que virá,Nós podemos tudo, nós podemos mais,Vamos lá fazer o que será".Semente do Amanhã – Gonzaguinha.

Oprojeto Cabra Nossa de Cada Dia foi premiado, em 1998, pelo ProgramaComunidade Solidária e pelo Comitê de Entidades no Combate à Fome e

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pela Vida – COEP em março de 1999, como exemplo de projeto de promoçãohumana que desenvolve atividades produtivas com base no espírito solidário ecooperativo, preparando as comunidades para uma ação empreendedora, quevaloriza a inclusão social. Participou do Congresso Internacional de Caprinos eOvinos, em João Pessoa/PB, em 2003, apresentando um caso de sucesso dacultura da cooperação.

O projeto Cabra Nossa assegurou durante 10 anos alimentos de qualidadepara crianças e idosos nas comunidades que participaram do projeto e influencioua melhoria da qualidade de vida das famílias beneficiadas.

Em 2004, o Cabra Nossa atendia a 298 famílias, com 490 crianças assistidasem 15 comunidades, das quais somente 01 é urbana, possuía um centro demanejo com rebanho coletivo, de até 810 animais, como em São Domingos.Muitas famílias já possuem o seu próprio rebanho e algumas já comercializamos produtos excedentes e vislumbram projetos com um enfoque empreendedor.

O projeto ainda se destaca pela continuidade e ampliação de suas ações epelos resultados qualitativos e quantitativos apresentados. Em 2004, não seregistrava mortalidade de crianças nas comunidades beneficiadas e constatava-se facilmente a redução da desnutrição em crianças e idosos.

"Antes nós encontrávamos crianças magérrimas, esqueléticas e desnutridas,hoje nas comunidades por onde ando encontramos meninos papudos, fortes,corados e gordinhos, parecidos com os anjinhos da basílica de São Pedro. Ele(Deus) e o milagre do leite, ajudando a combater a mortalidade e a reduzir adesnutrição, criando crianças felizes", revela padre João.

O Cabra Nossa também influenciou a implantação de projetos similares naregião nordeste e em outros estados do país, como Paraná, Piauí, Maranhão eBahia, recuperando assim o consumo de leite de cabra nas comunidades maiscarentes do Brasil.

E continua gerando frutos, como relata Dorinha, secretária do projeto CabraNossa: "existem muitos municípios que nos procuram, como Limoeiro do Norte,que enviou representante e nos informou que eles gastavam R$ 20.000,00 mensaiscom leite para o programa das escolas e queriam multiplicar a nossa experiência.Uma moça, zootecnista de Pernambuco, que nos pediu os procedimentos decomo atuar na comunidade (...) O bom disso é que estamos conseguindo passareste projeto para outras pessoas (...) essa é a multiplicação do pão".

Em São Domingos, a partir do projeto foram desenvolvidas açõesempreendedoras que muito contribuíram econômica e financeiramente para a

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melhoria da qualidade de vida das famílias da localidade. Antes moravam emcasas de taipa, agora a maioria habita casas de tijolos e o piso de todas elas foicoletivamente cimentado. Conseguiram banheiro, luz, água, estrada e passagemmolhada, escola e educação. A terra que costumava ser cedida pelo DNOCS aum proprietário deu lugar à posse coletiva de 50 ha onde se construíram casasde tijolos, um aprisco e uma igreja, que é o orgulho dos moradores.

"Primeiro veio o projeto de cabras, depois veio a luz, a água, a igreja, veio aescola, a passagem molhada, veio a união, a associação, vieram as instituições evários projetos e o sonho virou realidade (...)", comentou Joãozinho, lídercomunitário de São Domingos.

O grande desafio de ontem era combater a mortalidade infantil nascomunidades mais pobres. No presente e no futuro, o desafio é garantir aauto-sustentabilidade das comunidades, procurando manter a filosofia solidáriaem harmonia com uma visão empreendedora.

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QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Discuta o papel do capital social e do capital humano para a consecução deprojetos da mesma natureza do Cabra Nossa.

• É possível difundir a cultura da cooperação em uma sociedade competitiva?

• Como a cultura da cooperação pode contribuir para minimizar a pobreza?

• Que contribuição têm dado as organizações religiosas para programas sociaisde combate à pobreza?

• Como o projeto Cabra Nossa poderia ser replicado por outras organizações?

• Existem de fato empreendimentos sociais em outras regiões do Brasil?

• O Projeto Cabra Nossa pode se constituir como um meio de difundir culturade economia solidária?

• Discuta o papel da Igreja na articulação de movimentos de desenvolvimentosustentado.

Agradecimentos

Coordenação Técnica: Paulo Tibério Moreira.

Colaboração: Padre João Batista Frota, líder do projeto; José Armando Rocha Oliveira, coordenador; Maria das Dores Rodrigues Malheiro –Dorinha, secretária; Ismar Maciel, técnico da EMBRAPA Caprinos; Antônia Paula Eleotério de Assis, agente rural de São Domingos; PauloTibério Moreira Da Cruz, analista do SEBRAE/CE; Helenira Ellery Marinho, pesquisadora da EMBRAPA Caprinos; Antonio Mateus, agenterural; Pedro de Alcântara Pitombeira Maia, coordenador da Secretaria de Desenvolvimento Rural; Dr. Arlindo Luiz da Costa, pesquisador daEMBRAPA; Eugênio Paceli de Oliveira Lopes, técnico agrícola da EMBRAPA; João Bispo, produtor; Antonio de Lima, produtor; LourivalGonçalves de Assis, produtor; Raimundo Nonato Lima Silva, produtor; José Lima Pereira, produtor; João de Sousa Inácio, produtor; PauloMendonça de Sousa, produtor; Francisca Ferreira do Nascimento, produtora; Raimunda Ferreira Lima, produtora; Francisco Inácio, produtor;Carlos Gomes, diretor do jornal Correio da Semana; Aryana Lushesi Vasconcelos Lima Feitosa, estagiária da EMBRAPA Caprinos e Joseh SáfiloGomes Silva, estagiário do SEBRAE/CE.

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FIGURA 1: ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO DE SOBRAL (EM MM/ANO)

FIGURA 2: TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL EM SOBRAL-CE (1987-2002)DADOS DE CRIANÇAS DE 0 A 1 ANO DE IDADE

Fonte: Embrapa Caprinos – Sede, para 1992 e 1993. e Site do Instituto Nacional de Meterologia, disponível em: <http://reia.inmet.gov.br/climatologia>, para2000 a 2003

Fonte: Os dados de 1987 a 1993 são do MS/SVS/DASIS – Sistema de informações sobre Mortalidade (SIM).Os dados de 1996 a 2003 foram recolhidos no site da Secretaria de Saúde de Sobral, disponíveis em: <http:// www.sobral.ce.gov.br/sec/saude/sdss.htm>.Os dados de 1994 e 1995 não se encontraram disponíveis para acesso.

ANEXO

1.200

1.000

800

600

400

200

459513

1.029

567

813

933

01992 1993 2000 2001 2002 2003

100

90

80

70

60

50

30

40

20

10

087 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

75

5661

42

1

53

98

4339,3

35,5

24,8

33,329,2

22,618,7

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BIBLIOGRAFIA

ARQUIVO DO JORNAL CORREIO DA SEMANA. Acervo de 1990 a 1993.Sobral, CE.

CAMINHOS PARA MUDAR O BRASIL. Centro de Tecnologia, Trabalho eCidadania. Oficina Social. Rio de Janeiro: Editora Comitê de Entidades Públicasno Combate a Fome pela Vida (Coep)), 1998. 488p.

COSTA, A. C. G. da. Por uma cultura de cooperação: capital social e mobilizaçãoempresarial de base. Brasília: SEBRAE, 2002.

EMBRAPA CAPRINOS. Informativo do Centro Nacional de Pesquisa deCaprinos. Sobral: ano 03, n. 9. mar.-abr. 1999.

ESTAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DA EMBRAPA CAPRINOS – Sede. Sobral/CE. Dados de 1992 e 1993.

FRAGA, P.C.P. Mortalidade infantil e direito à saúde: seus aspectos na BaixadaFluminense. Cadernos do CEAS. Salvador: Edição Centro de Estudos e AçãoSocial, n. 169, p. 85-95, maio/jun. 1997.

HOLANDA, A. Educação para o trabalho. Fortaleza: Expressão Gráfica e EditoraLtda., 2002. 164p. (Edições UVA).

INSTITUTO NACIONAL DE METEREOLOGIA (INMET). Estação de Sobral/CE. Dados de 2000 a 2003. Disponível em: <http://reia.inmet.gov.br/climatologia/>. Acesso em: 23 jul. 2004.

MOBILIZAÇÃO SOCIAL. Boletim Informativo Quadrimestral do Comitê deEntidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep). Rio de Janeiro: ano 01, n.3, set. 2003.

MOSTRA DA AGRICULTURA FAMILIAR NORDESTINA. I FórumInternacional Território, Desenvolvimento Rural e Democracia. 16 a 19 nov.2003. Catálogo, 66p, Fortaleza: Gráfica Teixeira.

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MUNICÍPIO: SOBRAL

TEM PEIXE NA REDE – A CONSTRUÇÃO DEUMA REDE DE PARCEIROS PARA PROMOVER

A INCLUSÃO SOCIAL

INTRODUÇÃO

Apopulação ribeirinha de açudes tradicionalmente tinha uma renda geradaa partir da pesca artesanal. No entanto, a década de 90 foi marcada pela

queda da produção de peixes nos açudes públicos, provocando um agravamentoda situação na população de baixa renda. Havia a necessidade de se apontaralternativas.

Em 1992, o Governo do Estado do Ceará financiou a implantação de umaunidade de processamento de pescados na Associação de Pescadores de Jaibaras,localizada no município de Sobral, a 240 km de Fortaleza. A idéia era agregarvalor ao produto da pesca artesanal, gerando mais renda. No entanto, percebeu-se a falta de matéria-prima e a unidade foi logo desativada.

A vontade de melhorar de vida, a persistência daqueles pescadores e o apoiode uma rede de parceiros fizeram surgir, 08 anos depois, o projeto de pisciculturade Jaibaras. "Mais comida na mesa" era o que representava o projeto para o ex-pescador, o então piscicultor Seu Tarcísio.

Paulo Tibério Moreira da Cruz, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação do professor José CarlosAssis Dornelas, do IBMEC/PUC-RJ, integrandos as atividades do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.

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MANEJO ALIMENTAR DE TILÁPIAS

GAIOLAS E ABRIGOS FLUTUANTES

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TEM PEIXE NA REDE – A CONSTRUÇÃO DE UMA REDE DE PARCEIROS PARA PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL

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SOBRAL – A PRINCESA DO NORTE

Nascida de uma estirpe real que a fez Vila Distinta e, posteriormente,Fidelíssima Cidade de Januária de Acaraú, Sobral se enquadrou no

pensamento de Franz Kafka quando diz que "a cidade nada mais é do que oproduto da soma da ambição e do desejo inesgotável do poder dos homensque o habitam".

Fundada em 1841, Sobral formou seu patrimônio arquitetônico e, pela suaformosura, ficou conhecida como a Princesa do Norte.

Cidade localizada a 240 km de Fortaleza, possui uma extensão territorialde 2129 km2, possuindo como clima predominante o comum do sertãonordestino, quente e seco no verão e um pouco ameno durante o inverno.

O município pertence à bacia do Rio Acaraú e o seu sistema hidrográfico éformado pelos rios Aracatiaçu, Acaraú e Jaibaras (14 km de extensão), com aconfluência destes últimos na sede do município. O Rio Acaraú é um rio perenepor conta da perenização artificial dos açudes Araras, no município de Varjota,e Aires de Souza, no distrito de Jaibaras, em Sobral. Dispõe ainda dos seguintesaçudes públicos: Patos, Santa Maria do Aracatiaçú, Santo Antônio do Aracatiaçue Sobral.

A densidade demográfica era, em 2000, de 72,86 hab/km2, o equivalentea uma população de 155.120 habitantes. A migração intramunicipal existenteprovocou uma elevação na taxa de urbanização, que passou de 81,47%, em1991, para 84,43%, em 1998, com tendência ascendente.

A população em idade ativa – PIA no município de Sobral registrava, noano de 1991, um montante estimado em 62.404 pessoas, equivalendo a 48,9%da população residente e, em 2000, este contingente de população foi estimadoem 91.417 pessoas, representando 58,9% do número total de habitantes.

A população economicamente ativa – PEA, entendida como populaçãoocupada – PO mais desemprego aberto – DA apresentou, para os anos de1991 e 2000, um adicional de 9.078 pessoas, o que representou, em termosrelativos, uma elevação do percentual de 23,1% para 24,9% do total dapopulação residente, ou, ainda, uma taxa média anual de expansão de 3,03%.

Já a taxa de participação na força de trabalho, que reflete o nível deengajamento da população nas atividades produtivas, apresentou uma reduçãode 47,1%, em 1991, para 42,2%, em 2000, significando que o crescimento

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da PEA não foi suficiente para superar, ou mesmo igualar, o acréscimo ocorridona PIA no mesmo período.

A agricultura apoiava-se na exploração das culturas de mandioca, milho efeijão, apresentando baixos rendimentos por áreas colhidas. Por outro lado, apecuária, em 1997, expressava-se principalmente pela exploração de aves,bovinos, suínos, caprinos e ovinos.

Apesar do PIB per capita do município, em 1997, ser de R$2.351,00, oPIB agrícola correspondeu a 1,95% do PIB municipal. O reflexo desta situaçãonas populações ribeirinhas de açudes podia ser verificado pela renda per capitamensal dos pescadores, inferior a 01 salário mínimo.

"Nós que vivemos de bico às vezes ganhamos bem e outras vezes nãoaparece nada, o rendimento fica de R$50,00 a R$100,00 por mês", afirmavaSeu Manoel Oliveira, presidente da Associação Comunitária de Estiva.

Era necessário gerar ocupação e renda para a população do município,em especial a população rural, que estava migrando para a zona urbana, eas populações ribeirinhas que sofriam com a decrescente produtividade dapesca extrativista.

O PEIXE SUMIU

Apesca extrativa no Brasil teve aumento pouco expressivo no final dos anos90, passando de 606.000t para 644.000t entre 1995 e 1997, o que

envolvia cerca de 04 milhões de pessoas dependendo da atividade pesqueira,constituída por pesca artesanal, industrial e do cultivo de organismos aquáticos.

A realidade do Estado do Ceará era mais agravante, já que a produtividadereferente à pesca extrativa nos açudes, estimada em 120 kg/ha/ano, vinhadecaindo progressivamente. Os dados disponíveis indicavam produtividadede 60 kg/ha/ano em 2001. A redução da produtividade dos açudes, aliada àdependência que as comunidades ribeirinhas dos açudes possuem com relaçãoà atividade, contribuía para o empobrecimento contínuo desta população epara o abandono da atividade pesqueira.

"A pesca no açude de galão não estava mais dando..., Não dava para tirar o sustentoda família por meio da pesca do peixe".Alberto Fernandes, presidente da Associação dos Pescadores do Jaibaras.

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DA DIFICULDADE SURGE A OPORTUNIDADE

Por outro lado, as pesquisas mostravam que o cultivo de tilápia ocupava osegundo lugar no fish business mundial. A produção praticamente dobrou

entre 1984 e 1994, quando alcançou 620.000t, saltando para 800.800t, em 1996.Assim, o estímulo à produção intensiva, por meio da implantação de tanques-

rede (equipamento utilizado para a criação intensiva de peixes em reservatóriosde água doce), mostrava-se como uma alternativa que apresentava algumasvantagens, pois permitia a produção sistemática e padronizada, constituindo-se como um importante gerador de ocupação e renda. Sobral dispunha deaçudes públicos com potencial para a exploração de cultivo de peixes de formaintensiva. O potencial destes reservatórios de água não era usado a contento.

O crescente consumo de tilápia foi provocado pela oferta de peixes de melhorqualidade. A aceitação da tilápia no mercado mundial deveu-se, principalmente,ao sabor agradável com baixos índices de gordura (0,9g/100g de carne), decalorias (172 kcal/100g de carne) e ausência de espinhos em "Y" (miocéptos).Além disso, o excelente rendimento do filé da tilápia (em torno de 40%) revelariaseu potencial para industrialização.

O consumo médio per capita de pescados na zona urbana de Fortaleza foi4,287kg/ano, segundo estudo exploratório realizado no período de janeiro amarço de 2000. O total de consumo per capita de pescado de água doce era de1,536 kg/ano, o maior do nordeste. As pesquisas indicavam que 90% da origemdos pescados comercializados em Fortaleza eram procedentes de outros estados.A partir desses dados, via-se como o potencial para a produção de peixes erasignificativo, haja vista a demanda por pescados em Fortaleza não ser atendidapela produção do Estado, à época.

O mercado local também se mostrou promissor, pois o consumo per capitana zona rural foi de 3,812 kg/ano, segundo a mesma pesquisa. Os mercadosmais distantes exigiam, no entanto, uma logística eficaz para a entrega dopeixe in natura ou resfriado, o que representava 80% do pescado de água docecomercializado em Fortaleza.

No mercado externo, por sua vez, predominava a comercialização de tilápiasinteiras congeladas (60%). Os outros 20% da produção eram comercializadosna forma de filés. Atuar nesse mercado exigia um sistema de beneficiamentoque atendesse às exigências de segurança alimentar indicadas pelo Serviço deInspeção Federal – SIF.

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O FUTURO ESPERA POR NÓS

Em 1992, o governo do Estado, por intermédio da Secretaria de Indústria eComércio, construiu, às margens do Açude Aires de Sousa, uma unidade

de processamento de pescados. Na ocasião, o Serviço de Apoio às Micro ePequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE reuniu a comunidadelocal e constituiu a Associação dos Pescadores de Jaibaras.

O objetivo da unidade era processar o peixe produzido pelos pescadores daregião, agregando valor ao produto e elevando a renda da população local. OSEBRAE/CE, juntamente com o Núcleo de Tecnologia do Estado do Ceará –NUTEC, capacitou as mulheres dos pescadores para realizar a filetagem, ocongelamento e a embalagem do produto.

Os pescadores foram beneficiados com a aquisição de canoas, redes e outrosmateriais para pesca a fim de aumentar a quantidade de pescados e manter ofuncionamento da unidade.

A implantação da unidade de processamento de pescado era vista como meiopara interromper o processo de empobrecimento da comunidade ribeirinha. Logoapós a implantação e início do funcionamento da unidade, os produtos começarama ser comercializados e a demanda não era atendida, pois a quantidade de peixesproduzidos por meio da pesca no açude Aires de Sousa era insuficiente paramanter a unidade funcionando. Era necessário adquirir peixes em outraslocalidades, mas o custo elevado mostrou que essa estratégia era inviável.

A unidade de processamento foi desativada por falta de matéria-prima Asdiscussões envolvendo a reativação da unidade de processamento sempre passavampor aumento de produção, impossível de ser realizada por meio da pesca artesanal.Cogitava-se a criação de peixes em tanques-rede, mas a falta de domínio datecnologia, naquela ocasião, indicava riscos elevados e não obteve apoio suficiente.A população também não acreditava nesta possibilidade e não tinha muito inter-esse no assunto, o que impossibilitou a concretização do projeto.

"As pessoas não acreditavam que era possível criar peixe preso em tanques-rede dentro do açude, e eu também não acreditava", dizia o Sr. AlbertoFernandes, presidente da Associação dos Pescadores de Jaibaras.

O mercado era promissor, mas as barreiras para a implantação de um projetode piscicultura intensiva eram aparentemente intransponíveis para a populaçãoribeirinha. Alguns fatores contribuíam para que isto acontecesse. A dificuldadede autorização de uso do espelho d'água, o desconhecimento da tecnologia de

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produção de peixes de forma intensiva usando tanques-rede, a falta de apoio creditícioespecífico para essa atividade e a ausência de política governamental de incentivoacompanhavam a descrença com relação à sustentabilidade da atividade.

"As pessoas diziam que era difícil demais, não iria para frente e não iria darem nada", dizia o Sr. Alberto Fernandes, presidente da Associação dos Pescadoresdo Jaibaras.

As barreiras para a entrada das pequenas comunidades no negócio dapiscicultura eram agravadas principalmente pela falta de organização. Asopiniões eram diversas, não existia consenso entre os associados e muitosabandonaram a associação antes que o projeto fosse implementado. Apesar daoportunidade de negócios identificada, era necessário superar esses obstáculos.

Em dezembro de 1997, foi realizado, no município de Sobral, um semináriopara a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agropecuária deSobral. Na ocasião dos trabalhos desenvolvidos, que teve a assessoria de técnicos doSEBRAE/CE, foram selecionadas atividades setoriais consideradas economicamenteestratégicas para o município. Dentre essas, encontrava-se a piscicultura.

"Nós temos que aproveitar este espelho de água" afirmou o Secretário deDesenvolvimento Rural do Município de Sobral, Sr.Quintino Vieira.

No início do ano de 1998, o Programa das Nações Unidas/ Banco doNordeste do Brasil – PNUD/BNB realizou uma oficina de trabalho na Associaçãodos Pescadores de Jaibaras, fazendo ressurgir a idéia da piscicultura como umaoportunidade para a associação. Esta retomou as discussões a respeito do assunto.

Em março de 1998, surgiu a oportunidade da associação atender a umaencomenda de filés de peixe. A matéria-prima, no entanto, não estava disponível,foi necessário adquirir peixes fora da comunidade. A associação comunitáriado Apurinã foi indicada para a aquisição do peixe necessário. Esta associaçãocriava peixes em tanques-rede e localizava-se no município vizinho, distante70 km do açude Aires de Sousa.

"Era mês de março e havia chovido no dia anterior. O acesso à associação doApurinã estava difícil, um riacho estava interrompendo a passagem do carro etivemos que passar com água na altura da cintura", lembra o Sr. AlbertoFernandes, presidente da Associação dos Pescadores do Jaibaras.

Aquele dia foi marcado por uma mudança em seu comportamento, ao vera produção de peixes em tanques-rede da associação do Apurinã.

"Daquele dia em diante, acreditei que era possível criar peixes em tanques-rede"dizia o Sr. Alberto Fernandes, presidente da Associação dos Pescadores do Jaibaras.

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A partir de então, as lideranças da associação tiveram papel importantepara a concretização do sonho. Freqüentemente, o presidente da associaçãoencontrava-se com instituições parceiras, a fim de reivindicar ações de apoio elembrar os compromissos assumidos. O amadurecimento da associaçãoconquistou a confiança das instituições.

"Era muito trabalhoso, mas não desisti da batalha", não se cansava de falaro presidente da associação.

Em 1999, foi implantado um empreendimento relacionado com a pisciculturano açude Aires de Sousa, explorando o espelho d'água do açude por meio docultivo de peixes em tanques-rede. Geograficamente, o empreendimentolocalizava-se defronte à casa da maioria dos sócios, que não se conformavam coma utilização do espelho d'água por um empresário que não vivia na comunidade.Esse fato gerou um interesse mais intenso pela atividade.

A UNIÃO CONSTRÓI

Em 1999, com o apoio da Prefeitura Municipal de Sobral, o DepartamentoNacional de Obras Contra Secas – DNOCS autorizou a utilização do espelho

d'água para o uso da piscicultura em tanques-rede. Foi a primeira barreirasuperada. O presidente da associação, Sr. Alberto Fernandes, buscou o SEBRAE/CE solicitando apoio para a elaboração do projeto econômico-financeiro.

O projeto econômico-financeiro precisava da autorização do BNB para seraprovado. Vários projetos de piscicultura no Estado estavam em dificuldades ealguns inclusive inadimplentes. Assim, o risco do negócio era evidente. Era necessáriopropor uma forma inovadora, a fim de se ver concretizar o desejo de empreenderda associação.

As parcerias foram, então, sendo construídas a partir de reuniões com aassociação e com os parceiros, buscando-se uma solução para o caso. A definiçãodo projeto a ser implantado demandou reuniões extensas e acaloradas, comopiniões divergentes, mas, ao final, chegou-se a um consenso. O SEBRAE/CE,o BNB e a Prefeitura Municipal de Sobral, por meio da Secretaria deDesenvolvimento Rural, comprometeram-se com a associação por intermédiode um acordo estabelecido.

O SEBRAE/CE elaborou o projeto econômico-financeiro de produção depeixes em tanques-rede para a Associação dos Pescadores de Jaibaras. A falta

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de garantia, principal barreira para receber o apoio creditício, foi superada. APrefeitura Municipal de Sobral propôs avalizar o projeto, por meio do Fundode Aval, para o desenvolvimento sustentável do município.

Por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural, a prefeitura de Sobraldoou 10 tanques-rede e alevinos (peixes reproduzidos em cativeiro com 10 a30 dias de vida) para o primeiro ciclo de produção. O BNB apoiou o projetofinanciando o custeio para a ração no primeiro ano.

"A linha de crédito que nós usamos para eles foi o PRONAF (ProgramaNacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que é designado paraprodutores de baixa renda, porque as pessoas da piscicultura estavam abaixoda linha de pobreza. Com este projeto feito em parceria, está sendo realizadoum trabalho de cidadania, geração de emprego e renda e de inclusão social",disse a Sra. Jeânia Bezerra, agente de desenvolvimento do BNB.

APRENDER PARA FAZER ACONTECER

As reuniões mostraram a necessidade de harmonizar o grupo e fortalecer oespírito de cooperação dos associados. O SEBRAE/CE, na ocasião, ofereceu

um treinamento de associativismo, que possibilitou uma maior aproximaçãodos integrantes, fortalecendo valores e resgatando a história de persistência eluta, e o estabelecimento de uma linguagem comum com referência ao projetode piscicultura.

O desconhecimento da tecnologia de produção de pescados foi superadopor intermédio de um treinamento de cultivo de peixes em tanques-rede,ministrado por um consultor do SEBRAE/CE. Foi o primeiro contato com ateoria do cultivo de peixes de forma intensiva para aqueles pescadores. Otreinamento ainda incluiu uma visita à estação de reprodução de peixes emcativeiro do DNOCS, localizada no distrito de Jaibaras, município de Sobral.O domínio da tecnologia ainda não estava completo, mas os princípios básicoshaviam sido repassados.

Saber produzir não era suficiente, era necessário administrar o negócio deforma competente, controlando a produção e os gastos com insumos,administrar o capital de giro, negociar e comercializar a produção. O SEBRAE/CE contribuiu nesse momento, realizando um treinamento gerencial básico,direcionado especificamente para o projeto. Na oportunidade, foram discutidos

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as divisões de tarefas, os procedimentos diários obrigatórios, os controlesgerenciais básicos e a definição de papéis dos associados. Após este processo decapacitação, a associação sentia-se mais segura e confiante, acreditando queestava no caminho certo.

DO SONHO À REALIDADE

Em abril de 2000, 08 anos depois da inauguração da unidade deprocessamento de pescados, o sonho tornou-se realidade. Os alevinos fo-

ram transferidos para um tanque-rede. A alegria daqueles homens contagiava,era o recomeço.

O dia seguinte foi acompanhado de tristeza, pois quase todos os alevinoshaviam morrido. Apesar da recomendação técnica, os alevinos foramintroduzidos na gaiola, em horário impróprio, próximo ao meio-dia, e a diferençade temperatura d'água foi fatal, provocando uma alta mortalidade. Oaprendizado com o próprio erro começara. A mesma prática não se repetiu,mas outros problemas surgiram.

O SEBRAE/CE, através de consultorias tecnológicas, orientou a Associaçãodos Pescadores de Jaibaras quanto às principais práticas de manejo dos peixes.O aprendizado continuava. O domínio da tecnologia completou-se quando oprimeiro tanque-rede foi despescado (processo de retirada de peixes do tanque-rede com aproximadamente 500g, peso de comercialização).

"Hoje eu não vou mais pescar, eu vou só buscar" disse o Sr. RaimundoNonato, piscicultor.

Nove meses após o início do projeto, a associação pagava o financiamentofeito ao banco 03 meses antes da data prevista. Demonstrou a viabilidade doprojeto e a sua competência, provando estar preparada para crescer.

"O projeto mudou a vida da comunidade e nós aprendemos a trabalharcoletivamente", dizia mais uma vez o Sr. Alberto Fernandes, presidente da associação.

Houve, então, a iniciativa de ampliação do projeto e, na segunda etapa, oBNB financiou o investimento fixo em tanques-rede e o custeio de ração e dealevinos. Um projeto com valor mais elevado foi financiado para pagamentono prazo de 03 anos.

"No ano passado, nós tiramos 2.000kg de peixe na semana santa, hoje vaipara mais de 4.000kg", afirmou o presidente da associação, Sr. Alberto Fernandes.

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Dez pescadores tornaram-se piscicultores. A cultura assistencialista foisubstituída pela cultura empreendedora. Após o pagamento do financiamento,a renda mensal gerada pelo projeto para cada piscicultor era, em média,R$150,00. A divisão de tarefas permitia que os piscicultores trabalhassemuma vez por semana, mantendo as atividades desenvolvidas antes do projeto e,assim, atingindo uma renda média de R$200,00 a R$250,00.

"Eu não tinha sofá, não tinha televisão, agora eu tenho", disse João deSousa, piscicultor.

SEM LIMITES PARA CRESCER

Aavaliação positiva estimulou os parceiros a desenvolver a implantação daproposta em outras comunidades ribeirinhas. A seleção de grupos partiu

da premissa de respeito à preservação da cultura, utilizando potencialidades evocações locais. Os grupos foram formados principalmente por pescadores,com perfil sócio-econômico similar aos dos pescadores da associação de Jaibaras.A sensibilização dos grupos se deu por meio de reuniões realizadas com todosos parceiros que se mostrassem comprometidos, conforme atribuição definidano Termo de Parceria.

O termo de parceria estabelecido previa algumas mudanças nas contribuiçõesde cada parceiro. A Secretaria de Desenvolvimento Rural comprometeu-se coma assistência técnica, contratando um engenheiro de pesca com este intuito, e,ainda, com a doação de tanques-rede e de alevinos e com o uso do fundo deaval para avalizar o projeto.

O BNB, além dos financiamentos, contribuiu com o Seminário deCapacitação Para Organizações Associativas – SCOA. O SEBRAE/CEcomprometeu-se com os treinamentos gerencial e tecnológico e, quandonecessário, consultorias tecnológicas. A Empresa de Assistência Técnica eExtensão Rural do Ceará – EMATERCE comprometeu-se com a elaboração doprojeto. As articulações, as mobilizações, os eventos e as avaliações eram realizadospelos principais parceiros.

Na Associação Comunitária de São Domingos, localizada às margens doAçude Aires de Souza, com 52 famílias, as principais atividades eram a pescaartesanal e agropecuária de subsistência.

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"São Domingos era esquecido, só tinha uma entrada e uma saída, nem umaestrada decente tinha", afirmava o presidente da associação, João Bispo.

O esquecimento por parte das instituições, no entanto, promoveu a uniãodos integrantes da comunidade a fim de superar as dificuldades enfrentadasdiariamente. As decisões eram tomadas em conjunto. A primeira reunião desensibilização foi marcada em virtude do não interesse da comunidade peloprojeto, pois esta não acreditava na sustentabilidade do negócio.

"Doutor, a gente tem pouca coisa, nunca devemos a banco e temos medodisso", dizia o Sr. Antônio Inácio, morador da localidade. Esse posicionamentorefletia o pensamento da comunidade.

Com a apresentação da proposta e a visita do presidente da Associação dosPescadores de Jaibaras, na qual relatou o início do projeto, as dificuldades e osresultados obtidos, a Associação de São Domingos reavaliou o seuposicionamento e implantou um projeto similar, com algumas alterações, frutoda experiência obtida no primeiro projeto. Mais uma vez o projeto foi pagoantes do prazo previsto. Era hora de tomar uma decisão: ampliar ou não oprojeto? A associação reuniu-se e, naquela ocasião, resolveu enfrentar o desafio.

"Vamos com força total para melhorar na frente", disse o Sr. Oliveira.Outras associações passaram por um processo semelhante e foram

implantados ainda 07 projetos em comunidades ribeirinhas de açudes. Forambeneficiadas 81 famílias.

A divulgação realizada por meio de eventos nas próprias comunidades noinício do projeto e na realização da primeira despesca, com degustação dospratos à base de tilápia, foi importante como fator multiplicador de resultados.Surgiram outros empreendimentos de empresários individuais que, estimuladospelo aquecimento do mercado, se empreenderam no ramo da piscicultura.

Foram implantados, no município, uma estação de produção de alevinos,um ponto comercial específico para a comercialização de peixes vivos e 04empreendimentos de produção intensiva de peixes em tanques-rede sem usodos incentivos da prefeitura. As empresas que comercializavam rações de animaisincluíram entre seus produtos a ração para peixes. Em dezembro de 2001, foirealizado o I Seminário de Piscicultura de Sobral, estando presentes 114participantes, entre piscicultores, empresários e pessoas interessadas no assunto.

A proliferação de empreendimentos de produção de peixes em cativeiroprovocou uma demanda elevada por alevinos, não atendida pelosempreendimentos existentes na região, sendo necessária a aquisição em outras

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localidades, elevando o preço de insumos. Por outro lado, a dependência porrações industrializadas apresentava-se como um fator de ameaça, já que osinsumos de sua produção eram corrigidos pela variação cambial.

A força da parceria foi convocada para enfrentar os desafios. A prefeitura deSobral investiu na construção de uma estação de piscicultura para atender ademanda. Os piscicultores reuniram-se para comprar a ração em conjunto,reduzindo preços e baixando custos de produção.

CONCLUSÃO

Desde 1997, o Seminário para a Elaboração do Plano Estratégico deDesenvolvimento da Pecuária já indicava como estratégico o

desenvolvimento da piscicultura no município de Sobral. O apoio do poderpúblico estava em consonância com o plano elaborado de forma participativa,o que refletia o desejo da sociedade.

A construção da rede de parceiros com a definição clara de papéiscomplementares estabeleceu um ambiente favorável ao desenvolvimento dosnegócios. A rede de parceiros necessitava ser ampliada para enfrentar os desafiosque estavam surgindo.

A seleção dos grupos associativos partia de uma premissa de identificaçãosócio-cultural dos pescadores artesanais, habituados ao trato com os peixes. Osgrupos eram formados por, no máximo, 10 integrantes, o que facilitava orelacionamento interno.

Houve a inclusão social de pessoas que não tinham perspectivas, transformandosua forma de pensar e agir, partindo de uma cultura assistencialista para aconsolidação de uma cultura empreendedora coletiva. Os desafios que surgiramforam discutidos em grupo, buscando-se soluções conjuntas.

Surgiram outros 09 empreendimentos nas comunidades ribeirinhas deaçudes com o apoio da rede de parceiros. A geração de novos empreendimentosno município ocorreu independentemente do uso direto dos incentivos.

A produção de peixes na região havia aumentado, mas ainda não erasuficiente para reativar a unidade de processamento de pescados do Jaibaras.Além disso, a unidade não atendia aos pré-requisitos da legislação vigente.

A integração entre os vários grupos associativos necessitava deaperfeiçoamento a fim de enfrentar desafios comuns, como, por exemplo, a

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aquisição conjunta de ração, a melhoria de produtividade, a comercializaçãode produtos com valor agregado e outros.

A absorção de tecnologia de produção de peixes em tanques-rede, por meiodos treinamentos e consultorias tecnológicas, criou uma nova profissão na região,o piscicultor. Além disso, alguns piscicultores foram convidados para orientare gerenciar projetos de piscicultura de empresários da região. As comunidadesreceberam encomendas para a produção dos tanques-rede, criando outraalternativa de renda.

A estratégia de divulgação, com a realização de eventos na própriacomunidade, valorizou os integrantes das associações e foi importante fatormultiplicador de resultados na região. Além disso, passaram a ocorrer visitasde pessoas de outras localidades com o objetivo de conhecer a experiênciado município.

A construção das parcerias evoluiu com o surgimento dos desafios. A har-monia existente nesta rede contribuiu para os resultados obtidos. A inclusãosocial das comunidades ribeirinhas se deu com a superação das barreiras queeram aparentemente intransponíveis. No entanto, havia outras comunidadesque não conheciam esses caminhos e continuavam sem perspectivas de umavida melhor.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Que alternativas poderiam ser adotadas com vistas a fortalecer as redes deparcerias e a inclusão de novas comunidades no projeto? Seria necessária abusca de novos parceiros para atingir esse objetivo?

• Como se poderia criar uma franquia social partindo-se de um modelo denegócios direcionado para pessoas ou comunidades carentes?

• Como se poderia garantir a sustentabilidade sócio-econômica dos projetosimplantados, considerando-se os desafios identificados no texto?

• Quais seriam as estratégias de divulgação que poderiam ser utilizadas parasensibilizar outras pessoas e comunidades em situação similar e que ainda nãoconhecem tal iniciativa?

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Fonte: SEBRAE/CE, 2002.

VALORES DE FINANCIAMENTO DOS PROJETOSDAS ASSOCIAÇÕES DE JAIBARAS E SÃO DOMINGOS

ANEXOS

Agradecimentos:

Coordenação Técnica: Luiza Lúcia da Silva Barreto e Paulo Tibério Moreira da Cruz.

Colaboração: Sr. Cid Ferreira Gomes, prefeito de Sobral; Sr. Quintino Vieira Neto, Secretário de Desenvolvimento Rural de Sobral; Sr. PedroPitombeiras, Coordenador da Secretaria de Desenvolvimento Rural de Sobral; Aquiles Moreira, engenheiro de pesca da Secretaria de DesenvolvimentoRural de Sobral; Jeânia Bezerra, agente de desenvolvimento do BNB; Sr. José Valter Bento de Freitas, gerente do BNB; Sra. Inucência Linhares,coordenadora da EMATERCE – CEAC de Sobral; Associação dos Pescadores de Jaibaras, Associação Comunitária de São Domingos, AssociaçãoComunitária de Estiva, todas as associações envolvidas com o projeto.

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MUNICÍPIO: VIÇOSA DO CEARÁ

CACHAÇA DA SERRA

INTRODUÇÃO

"Se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não, cachaça vem do alambiquee água vem do ribeirão".Cachaça Não é Água Não – Mirabeau Pinheiro, L.de Castro e H.Lobato.

A cachaça, tema de uma das mais tradicionais marchinhas de carnaval denosso país, é um dos muitos produtos tipicamente brasileiros, assim como

o carnaval, o futebol e o próprio samba.A cultura da cana-de-açúcar sempre representou uma das principais

atividades agrícolas da microrregião cearense da Serra da Ibiapaba, responsávelno passado pela ocupação dos vales serranos através da produção de cachaça erapadura. Cultiva-se cana-de-açúcar em todos os municípios de abrangênciada Serra da Ibiapaba, principalmente em Viçosa do Ceará, situada a 344 km dacapital Fortaleza.

Apesar da tradição e da importância econômica da atividade, foi constatada,por meio de um estudo técnico realizado pelo Governo do Estado em 2002,uma série de fatores que comprometiam o desenvolvimento da produção decachaça naquele município. A forte concorrência do setor, o elevado nível deespecialização da produção e o baixo grau de empreendedorismo e de cooperaçãoentre os produtores colocavam em risco o futuro da atividade herdada porgerações de centenas de famílias que tinham em seus pequenos engenhos suamelhor ou única fonte de renda.

Silvio Moreira Barbosa, analista do SEBRAE/CE, elaborou o estudo de caso, sob a orientação da professora Ana Carêninade Albuquerque Ximenes, da Faculdade 7 de Setembro – FA7, integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casosde Sucesso do SEBRAE.

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CANA-DE-AÇÚCAR, MATÉRIA-PRIMA PARA PRODUÇÃO DA CACHAÇA

TONÉIS UTILIZADOS PARA PRODUÇÃO ARTESANAL DA CACHAÇA

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CACHAÇA DA SERRA

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A necessidade de organização do setor era maior que o histórico deexperiências cooperativistas desastrosas da região. O desafio foi lançado pelaprefeitura municipal e logo chamou a atenção de instituições parceiras, queviam na cultura associativa um elemento fundamental para o sucesso daatividade no município.

VIÇOSA DO CEARÁ – A SUÍÇA CEARENSE

"Vou comprar um tonel de cachaça e botar na praça para os biriteiros, não é por estarnuma boa, que vou esquecer dos meus companheiros".Tonel de Cachaça – Dicró

ASerra da Ibiapaba, microrregião cearense popularmente conhecida porSerra Grande, é composta por 08 municípios, distribuídos ao longo de

110 km de extensão, ao noroeste do Estado do Ceará.Entre esses 08 municípios, está Viçosa do Ceará, situado a 344 km de

Fortaleza, capital cearense. Fundada no ano de 1758, a cidade de Viçosado Ceará, inicialmente batizada de Vila Viçosa Real, possui uma área de1.296 km² e uma população de 45.427 habitantes, segundo o Censo de2000 do IBGE.

O verde de seus campos, a beleza de seus córregos e cascatas, seu climaagradável, sua neblina, seus doces e licores, seus engenhos de cachaça e rapadura,suas manifestações culturais, suas ruas sempre limpas e suas casas semprearrumadas, como se estivessem preparadas para receber o turista, fazem deViçosa do Ceará uma das mais charmosas cidades do Estado.

Quem já visitou o município, certamente se encantou com a paisagemobservada do alto da Igreja do Céu, se rendeu às formas do artesanatodesenvolvidas pelas ceramistas da comunidade do Tope e degustou a cachaçaartesanal produzida nos alambiques do Vale do Lambedouro.

Como a maioria dos municípios da região, tendo em vista suas condiçõesclimáticas e a tradição desde sua fundação, Viçosa do Ceará tem seu maiorpotencial econômico ligado à atividade agrícola. Entre os principais produtosdo município destacam-se a banana, o café, o feijão, a mandioca e a cana-de-açúcar.

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VIÇOSA DO CEARÁ

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COOPERAR É PRECISO

Acultura da cana-de-açúcar sempre foi uma das mais tradicionais atividadesagrícolas da Serra da Ibiapaba, onde é cultivada em todos os municípios

ao longo de sua extensão. Segundo pesquisa realizada pelo Serviço de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE, em 1999 existiamna região aproximadamente 150 pequenos engenhos, formais e informais, voltadospara a produção de cachaça e rapadura, gerando, em média, de 05 a 06 empregosdiretos por unidade de produção, dos quais 75 engenhos de cachaça e rapaduraidentificados localizavam-se no município de Viçosa do Ceará.

Apesar da importância e do potencial econômico da atividade, havia umasérie de dificuldades que emperravam o desenvolvimento do setor não só nomunicípio, mas em toda a região. A maioria ou quase a totalidade dos engenhosnão possuía registro na Delegacia Federal de Agricultura do Ceará – DFA/CEe a cachaça produzida nos alambiques do município não estava de acordo comos padrões mínimos exigidos pelo Ministério da Agricultura. Isso geralmenteocasionava o pagamento de multas pelos produtores locais, fato que os tornavacada vez mais desacreditados nas autoridades públicas.

Ainda no ano de 1999, o município foi beneficiado por ações do Programa deMelhoria Tecnológica e Padronização de Aguardente de Cana-de-Açúcar – PROPINGA,insuficiente para modificar a realidade dos produtores locais. No ano de 2001,o Instituto Agropólos, entidade de apoio técnico ligada à Secretaria daAgricultura Irrigada e Pecuária do Estado do Ceará – SEAGRI, juntamentecom o SEBRAE/CE, determinou os setores produtivos a serem trabalhados deforma prioritária na Serra da Ibiapaba, sob o foco da melhoria dos níveisqualitativo e quantitativo de geração de ocupação e renda.

Um diagnóstico da produção de cachaça na Serra da Ibiapaba, realizadopelo Governo do Estado em 2002, detectou uma série de problemas queemperravam o desenvolvimento desejado para o setor. De acordo com oRelatório Técnico da Produção de Cachaça na Região da Ibiapaba, a falta deconhecimento técnico e científico do processo de fabricação da cachaçacomprometia a qualidade do produto. Outro problema dizia respeito à matéria-prima, pois a cana-de-açúcar era cultivada muitas vezes sem acompanhamento,desprovida de mecanização e sem nenhuma análise. Foi constatado que oprocesso de produção era bastante rudimentar e empírico, no qual a tecnologiaempregada era considerada obsoleta e de baixa eficiência.

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CACHAÇA DA SERRA

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Não existia planejamento algum, nem a utilização de ferramentas de controlegerenciais, ou mesmo registros de dados sobre produção e produtividade. Tudoisso resultava em sérias dificuldades de comercialização daquela cachaça, vendidaapenas a granel, com preços geralmente considerados injustos, e extremamentedependente dos atravessadores. As informações obtidas pelo documento foramessenciais para a iniciação de um trabalho de sensibilização junto aos produtores.

Uma coisa era certa: os produtores precisavam se organizar, pois somentedesta forma poderia se pensar em soluções coletivas para o setor. O desafioestava lançado. E agora? Como seria possível convencer o pequeno proprietáriode engenho que seu concorrente, na verdade, poderia vir a ser seu melhorparceiro? Como reunir o grupo e definir objetivos comuns com as desastrosasexperiências passadas de cooperativismo encontradas na Serra da Ibiapaba?

CACHAÇA – UM PRODUTO GENUINAMENTE BRASILEIRO

De acordo com o Decreto nº 2.314, de 04 de setembro de 1997, o termoaguardente de cana refere-se à bebida com graduação alcoólica de 38 a

54°C, obtida do destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilaçãodo mosto fermentado de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcaresaté 6g por litro. O mesmo decreto define o termo cachaça como a denominaçãotípica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduaçãoalcoólica de 38 a 48%, a 20°C e com características sensoriais peculiares.

A cachaça, por sua vez, pode ser classificada, conforme o processo deprodução, em artesanal ou de alambique e industrial ou de coluna. O termoartesanal refere-se à produção abaixo de 1.000 litros por dia, ou 30.000litros por mês. Segundo a Federação Nacional das Associações dos Produtoresde Cachaça de Alambique – FENACA, os principais estados brasileirosprodutores de cachaça são: Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Bahia, Paraíbae Pernambuco.

São várias as diferenças de características entre as cachaças artesanal e indus-trial. A primeira possui os melhores preços, custando entre R$ 4,00 e R$ 10, 00,em média. Apesar de não possuir os melhores preços, variando entre R$ 2,00e R$ 3,00, a bebida industrial domina 80% do mercado interno e 99% doexterno, com destaque para a marca Ypióca, produzida no Ceará.

De acordo com o Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça –PBDAC, existem aproximadamente 40.000 produtores em atividade no país,gerando cerca de 450.000 empregos diretos e 01 milhão de empregos indiretos.

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VIÇOSA DO CEARÁ

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A cachaça é a segunda bebida mais consumida no país, atrás apenas da cerveja,com uma produção de 1,3 bilhão de litros em 2002, dos quais 300 milhõessão provenientes de alambiques, com um faturamento da ordem deR$ 500.000.000. Soma-se a todos esses números a chamada produção infor-mal, ou seja, originada de alambiques clandestinos, cujo volume é desconhecidopelos órgãos competentes.

Nos últimos anos, nota-se o esforço dos produtores brasileiros no tocanteao crescimento da qualidade da cachaça artesanal, cada vez mais apreciada eservida em bares e restaurantes de classes média e alta. Apesar do forte prestígioque o produto vem adquirindo ao longo dos anos, uma série de fatores im-pede o desenvolvimento esperado da cachaça, principalmente no exterior,tais como o preço proibitivo, a falta de escala, a inconstância na oferta e adeficiência na divulgação.

PRIMEIRO PASSO: A SENSIBILIZAÇÃO

No início de 2003, através da realização do I Workshop sobre a Organizaçãodo Arranjo Produtivo da Cachaça de Viçosa do Ceará, promovido pela

Prefeitura Municipal de Viçosa do Ceará e pelo Banco do Nordeste do Brasil – BNB,começou-se a construção de um projeto há muito tempo necessário a um dossetores mais tradicionais da Serra da Ibiapaba. Na ocasião, participaramprodutores locais e representantes de diversas instituições, entre elas o SEBRAE/CE, o Instituto Centro de Ensino Tecnológico – CENTEC e Governo do Estado,através da SEAGRI e da Secretaria do Desenvolvimento Local e Regional –SDLR, com destaque para o entusiasmo do anfitrião do evento, o produtor eentão Secretário de Agricultura do município, Jorge Maurício.

O evento motivou os produtores de cachaça de alambique daquelemunicípio, mesmo que ainda meio desacreditados e desconhecedores doverdadeiro potencial da atividade. Entre outras ações, foi sugerida uma missãotécnica de produtores e representantes de algumas instituições à Feira BrasilCachaça 2003, maior evento de divulgação e negócios do setor, realizada emSão Paulo. A missão técnica foi viabilizada através dos parceiros, no mês demarço do mesmo ano, levando a São Paulo 03 empreendedores que, aoretornar, iniciaram o processo de multiplicação das informações que obtiveramdurante a viagem.

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CACHAÇA DA SERRA

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Em julho de 2003, os parceiros envolvidos com o arranjo intensificaram oapoio aos produtores, inicialmente através do Seminário sobre Produção deCachaça de Alambique, realizado em Viçosa do Ceará e promovido pelaprefeitura municipal, tendo como diferencial a presença de um técnico daFENACA, convidado durante a visita a São Paulo. Assuntos como mercadonacional e internacional, associativismo, empreendedorismo, entre outros, fo-ram abordados durante o evento, que teve como principal compromisso dosprodutores a criação de uma associação, filiada à FENACA.

No mês seguinte, com a criação da Associação dos Produtores de Cachaçade Alambique do Ceará – APCAC, com sede no município de Viçosa do Ceará,a primeira associação do Estado filiada à FENACA, várias reuniões foramrealizadas na busca da identificação de ações de impacto e parceiros em potencialpara solucionar os problemas da recém-criada associação.

Em setembro de 2003, a APCAC foi apresentada a todo o setor produtivode cachaça no Estado, durante o FRUTAL 2003, maior evento da agroindústriacearense. A presença representativa do município foi possível por meio daformação de uma caravana com mais de 30 produtores, que foram à Fortaleza,cheios de esperança e orgulho de sua atividade.

A participação do grupo despertou a curiosidade dos meios decomunicação. Em entrevista ao Jornal Diário do Nordeste, o então presidenteda APCAC, Jorge Maurício colocou: "o engenho vai sendo aprimorado, masnão vai desaparecer".

As perspectivas de sucesso do setor eram grandes, mas ainda havianecessidade da construção de um projeto mais claro e consistente, concebidosomente no final de 2003, quando foi formatado o Projeto de Organização doArranjo Produtivo da Cachaça de Viçosa do Ceará.

A CONSTRUÇÃO DO PROJETO

OProjeto de Organização do Arranjo Produtivo da Cachaça de Viçosa doCeará foi o resultado de uma série de reuniões de uma rede de parceiros,

cada um com seu representante designado e sua parcela de contribuição,interessados no desenvolvimento da cachaça de alambique na Serra da Ibiapaba.

Com esse intuito, abraçaram o projeto as seguintes instituições: APCAC,Prefeitura Municipal de Viçosa do Ceará, SEBRAE/CE, CENTEC, DFA/CE e

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VIÇOSA DO CEARÁ

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Governo do Estado do Ceará, através da SEAGRI, da SDLR e da Secretaria doTrabalho e Empreendedorismo – SETE. A redação do projeto definia claramenteo papel de cada uma delas.

Os 03 primeiros meses de 2004 marcaram um período de negociaçãoentre a associação e os parceiros, com destaque para a participação dosprodutores no Irriga Ceará, uma das 03 maiores feiras de agricultura doEstado do Ceará. Foi cedido pelo Governo do Estado um estande para aAPCAC, que divulgou não só a cachaça, mas também diversos produtosoriginados do município de Viçosa do Ceará, como doces, licores e artesanatos.O estande do grupo obteve uma média de 500 visitantes nos 04 dias deevento, graças à contratação de um barman que oferecia drinques variadosao público.

Formou-se, então, um conselho gestor, com representantes de cadainstituição parceira. No mês de abril de 2004, foi realizada a primeira reuniãodo conselho gestor do projeto, na sede do Escritório Regional do SEBRAE/CEem Tianguá, município também pertencente à Serra da Ibiapaba.

Na oportunidade, foram discutidas e validadas entre os participantes aspropostas apresentadas, como também definida a coordenação do projeto, queficou a cargo da SDLR, responsável por criar um ambiente favorável entre osparceiros para a realização das ações previstas.

Foi dado, então, início aos trabalhos planejados no projeto, carinhosamenteapelidado pelo conselho gestor de Projeto Cachaça Viçosa, cujo maior objetivoera apoiar a reestruturação do arranjo produtivo da cachaça na Serra da Ibiapaba,inicialmente através do fortalecimento da Associação dos Produtores de Cachaçado Estado do Ceará.

DO PAPEL PARA A VIDA REAL

Apartir de abril de 2004, com a criação do conselho gestor, iniciou-se umanova fase da produção de cachaça de alambique de Viçosa do Ceará. Havia,

então, a oportunidade de desenvolver um trabalho sólido, por meio da definiçãoclara dos objetivos e da divisão de responsabilidades dos parceiros.

O primeiro passo havia sido dado pelos próprios produtores locais aoperceberem a necessidade de união em torno de uma associação que osrepresentasse legalmente. O Projeto Cachaça Viçosa era a chance de suas vidas,

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CACHAÇA DA SERRA

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de melhorar a renda, de ver seu produto valorizado nos mercados interno eexterno. Enfim, de deixar para as próximas gerações um futuro promissor.

Os 10 produtores de cachaça de alambique passaram a contar com oacompanhamento de um técnico exclusivamente contratado pela SEAGRI paraprestar serviços de assessoria técnica. O grupo foi contemplado também com aaquisição de equipamentos indispensáveis ao controle da produção comorefratômetro, peagâmetro, alcoômetros, entre outros, doados pela SDLR.

A capacitação do grupo foi possível através da SETE, por meio da realizaçãode um curso sobre técnicas de produção de cachaça artesanal, ocorrido emjulho de 2004, cujo conteúdo foi repassado em quase sua totalidade de formaprática, nas propriedades, com a presença de associados da APCAC e técnicosda prefeitura municipal.

Ficou sob a responsabilidade do CENTEC monitorar a produção antes eapós o curso, através de análises realizadas em seus laboratórios, para verificara evolução da qualidade da cachaça de cada produtor. As conclusões dasprimeiras análises após a capacitação já registravam uma melhoria considerávelda qualidade da cachaça produzida nos engenhos dos produtores integrantesdo projeto.

Para intensificar os conhecimentos adquiridos com a capacitação, ficou acargo do SEBRAE/CE viabilizar a consultoria tecnológica, através do ProgramaCeará Empreendedor Consultoria Empresarial Fase II. As consultorias foramconcluídas no final de agosto de 2004, totalizando 80 horas de visitas aos 10engenhos beneficiados pelo projeto, acompanhadas com muita atenção pelosproprietários e funcionários das propriedades.

A associação, aos poucos, estava caminhando para o objetivo maior do projeto:a construção de uma unidade engarrafadora, que seria viabilizada pelos parceirossob a condição de o grupo produzir uma cachaça com os padrões mínimosexigidos pelo Ministério da Agricultura. Outras estratégias vinham sendoarticuladas entre os parceiros, mas, como não poderia ser diferente, aresponsabilidade maior estava nas mãos dos produtores, principais interessadosno sucesso do projeto.

Aos poucos, a associação conseguia vencer seus problemas internos e pensarde forma coletiva. Viçosa do Ceará tinha a oportunidade de ser a vitrine dodesenvolvimento de uma atividade importante tanto do ponto de vistaeconômico quanto social, sendo modelo para todo o país.

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VIÇOSA DO CEARÁ

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CONCLUSÃO

"As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu passo a mão no saca-saca-saca-rolha e bebo até me afogar".Saca-rolha – Zé da Zilda e Zilda do Zé

Oprojeto Cachaça Viçosa, até o início de setembro de 2004, não haviasido concluído, mas, sem dúvida alguma, os resultados eram visíveis.

Os produtores de cachaça de alambique de Viçosa do Ceará, antes isolados econformados com a baixa produtividade e com um futuro sem muitasperspectivas, encontravam-se associados, dividindo experiências e problemasem comum, trabalhando juntos com o objetivo de produzir uma cachaça dequalidade, de um jeito que eles jamais imaginaram.

O sonho do produtor e líder local Jorge Maurício aos poucos estava sendoconcretizado. A iniciativa dos produtores de Viçosa do Ceará, ao fundar aAssociação de Produtores de Cachaça de Alambique do Ceará, primeira associaçãode produtores de cachaça de alambique do Estado, marcava o início daprofissionalização de uma das mais tradicionais atividades da Serra da Ibiapaba.Naquele momento, o projeto Cachaça Viçosa representava não apenas aesperança dos 10 produtores beneficiados, mas de todos os 28 associados e atémesmo de produtores de outros municípios vizinhos, que já começavam a searticular entre si e com as instituições da região, visando uma possível expansãode ações.

O trabalho, iniciado em Viçosa do Ceará, era a cada dia mais reconhecido.A APCAC foi novamente convidada a se fazer presente no FRUTAL 2004,dessa vez como expositora, ao lado de grandes empresas como a Ypióca, umadas maiores produtoras de cachaça industrial do país. Outro fato importantefoi o convite a proferir palestra durante o evento, direcionado ao presidente daassociação, Jorge Maurício, que teve a oportunidade de multiplicar a experiênciapioneira desenvolvida em seu município.

O esforço da rede de parceiros para a criação da campanha de divulgaçãoestava quase concluído. As idéias eram muitas e iam desde a criação de umamarca que representasse o município à confecção de fôlderes e banners paraserem apresentados em eventos, feiras e exposições de agronegócios. Osprodutores estavam mais conscientes sobre questões antes ignoradas, como

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CACHAÇA DA SERRA

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preservação do meio ambiente, condições exigidas pelo Ministério do Trabalho,preocupação com a manutenção da higiene dos engenhos, entre outras.

As parcerias também evoluíam proporcionalmente à motivação do grupo,não só qualitativa como quantitativamente, pois, à medida que os resultadosiam sendo alcançados, mais instituições interessavam-se em contribuir para osucesso do projeto Cachaça Viçosa. A força da união entre os 10 produtores eravisível e crescente, ao passo que os obstáculos iam sendo superados.

Os produtores sabiam que a unidade engarrafadora não era mais algoimpossível, mas que para obtê-la era necessário o esforço dos 10 beneficiados.As instituições parceiras também tinham a convicção de que a Serra da Ibiapabamerecia um projeto mais ousado e abrangente, mas era necessário alcançar osobjetivos previamente determinados e promover o desenvolvimento local para,em seguida, pensar em atuações em níveis mais amplos, ou seja, regionais ouaté mesmo estaduais.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Que parceiros poderiam ser importantes para o sucesso do projeto CachaçaViçosa?

• Que estratégias poderiam ser adotadas para manter a motivação daassociação?

• Para que tipos de mercados e de clientes deveria ser destinada a cachaçaproduzida em Viçosa do Ceará?

• De que forma poderia se pensar em uma adequada estratégia de marketingpara a cachaça da APCAC?

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PALAVRAS-CHAVE

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PALAVRAS-CHAVE

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BAIXO JAGUARIBEFLORES DO SERTÃOBaixo jaguaribe, Cactos e Suculentas, Capacitação, Comercialização, CondiçõesClimáticas, Cultivo, Desenvolvimento Sustentável, Exportação, FESTFLORA,Flores Tropicais, Floricultura, Irrigação, Preservação de Espécies, Sertão, Solo.

CAMOCIMMOVIMENTO CULTURAL CAMOCIM AMO SIM –O EMPREENDEDORISMO CULTURAL FAZENDO A DIFERENÇAArte, Artesanato, Camocim, Capacitação, Comercialização, Cooperativa,Exposições, Inclusão Social, Produção Associativa, Espírito Comunitário,Juazeiro do Norte, Matéria-Prima.

FORTALEZAUM SURFISTA EM PAUSA VOLTA A SONHARComércio, Deficiência, Desafio, Eficiência, Experiência, Fortaleza, Futuro,Inclusão social, Legislação, Limitações, Mercado, Potencial, Público jovem,Realidade, Surf

FORTALEZAJOSÉ WALTER – DESCOBRINDO A FORÇA DO TRABALHO COLETIVOAssociativismo, Bairro José Walter, Desenvolvimento Sustentável, Parcerias,Planejamento Participativo, Plano Estratégico, Rede de Parceiros, Revitalização,Sustentabilidade, SEBRAE nos Bairros, Trabalho Comunitário.

FORTALEZASEMEANDO O EMPREENDEDORISMO NA ESCOLAComportamento, Desafios, Disseminação de Idéias, Empreendedorismo, EscolaPública, Iniciação Empreendedora, Juventude, Motivação, Parcerias,Profissionalização, Seminários e Palestras.

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PALAVRAS-CHAVE

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FRECHEIRINHAFRECHEIRINHA – SANGUE EMPREENDEDOR NAS VEIAS DOSCONFECCIONISTASConfecção, Empreendedorismo, Escoamento de Produção, Financiamento,Frecheirinha, Iniciativas Locais, Inserção no Mercado, Linha de Crédito, Melhoriada Produtividade, Palestras, Projeto COMPETIR, Workshop

IGUATUCOOPERAR PARA COMPETIR – UMA PRÁTICA POSSÍVELAcesso a Fornecedores, Associativismo, Capacitação, Competição no Mercado,Cultura da Cooperação, Desafio, Iguatu, Mercadinho, Motivação, NegóciosAmpliados, Novas Tecnologias, Pólo Comercial, Profissionalização, Varejo.

JAGUARIBARASANGUE AZUL DO CEARÁ – DESENVOLVENDO A PISCICULTURANO CASTANHÃOAssociativismo, Capital Social, Castanhão, Ceará, Cooperativismo, Gestão daMudança, Jaguaribara, Nordeste, Piscicultura, Políticas Públicas.

JUAZEIRO DO NORTEO DESAFIO DA COOPERAÇÃO NO ARTESANATO – O CASO DA MÃEDAS DORESAcesso a Eventos, Arranjos em Palha, Associação de Artesãos, Capacitação,Comercialização, Conscientização, Cultura Associativa, Espírito Comunitário,Juazeiro do Norte, Matéria-Prima.

QUIXADÁOFICINAS MECÂNICAS NA DIREÇÃO CERTAAções em Conjunto, Associativismo, Capacitação, Desafio, Determinação,Empreendedores, Manutenção Preventiva, Núcleos Setoriais, OficinasMecânicas, Quixadá, Sustentabilidade do Negócio.

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PALAVRAS-CHAVE

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QUIXERAMOBIMPINGO D’ÁGUA – O SERTÃO VIROU SERRAAgricultores, Água, Associação, Carros-Pipa, Cidadania, Comunidade,Emprego, Frutas, Fruticulturas Irrigada, Irrigação, Perfuração, Pingo D’Água,Poços Tubulares Rasos, Produção, Quixeramobim, Rede de Parceiros, Renda,Seca, Sertão do Ceará, Tecnologia.

SOBRALCABRA NOSSA DE CADA DIA – A SOCIEDADE QUE ENFRENTA AMISÉRIA NO SERTÃOAlternativas Sustentáveis, Cabra, Cultura da Cooperação, DesenvolvimentoSustentável Local, Financiamento, Mortalidade Infantil, Ovinocaprinocultura,Rede de Parceiros, Seca, Sensibilização e Organização, Sobral, Suporte Técnicoe Gerencial, Zona Rural.

SOBRALTEM PEIXE NA REDE – A CONSTRUÇÃO DE UMA REDE DEPARCEIROS PARA PROMOVER A INCLUSÃO SOCIALAssociação de Pescadores, Crédito e Financiamento, Cultura Empreendedora,Disseminação de Experiências, Divulgação, Inclusão Social, Ocupação e Renda,Pesca Artesanal, Pesca Extrativista, Piscicultura, Plano Estratégico deDesenvolvimento, Rede de Parceiros, Sobral, Tanques-Rede, Tecnologia, Tilápia,Treinamento Gerencial e Tecnológico, Unidade de Processamento.

VIÇOSA DO CEARÁCACHAÇA DA SERRAAssociação, Atividade Agrícola, Cachaça, Capacitação, Concorrência, ConselhoGestor, Desafio, Desenvolvimento Local, Divisão de Experiências, PotencialEconômico, Produtores, Profissionalização, Serra de Ibiapaba, União, Viçosado Ceará.

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ABORDAGEM METODOLÓGICA

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ABORDAGEM METODOLÓGICA

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METODOLOGIA DO PROJETO DESENVOLVENDOCASOS DE SUCESSO

OBJETIVO DO ESTUDO DE CASO DO SEBRAE

Desde sua concepção, em 2002, e a partir do uso de uma metodologiaespecífica, o Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso vem promovendo

atividades e treinamentos a fim de garantir a qualidade do conteúdo das históriase sua aplicabilidade ao público de interesse. A metodologia do SEBRAE é umaadaptação do consagrado método de estudo de caso para ensino, que se baseiana apresentação de uma história real, com protagonista e dilema resolvido.Esse método estimula o aluno/empreendedor a vivenciar uma situação,convidando-o a assumir a perspectiva do protagonista.

Cabe destacar, a seguir, os procedimentos que estão contribuindo parafortalecer o processo de gestão do conhecimento no Sistema SEBRAE:

• Metodologia do estudo de caso. Para auxiliar no processo de descriçãodos estudos de caso pelos escritores localizados em todo o País e seusorientadores acadêmicos, foi criada uma Metodologia para Desenvolvimentodos Estudos de Casos do SEBRAE, entendida como um guia orienta dor doprocesso de descrição dos casos, aplicada nas coletâneas Histórias de Sucesso.

• Elaboração do estudo de caso. A fim de garantir a formação didática dogrupo de escritores dos casos, orientadores acadêmicos e equipe SEBRAE,foi elaborado um programa de capacitação técnica permanente, visandomanter a harmonia entre as atividades regionais e a ação nacional.

• Utilização do estudo de caso. Para orientar técnicos do SEBRAE,instrutores, professores e alunos que atuam em cursos universitários eempresariais na utilização dos estudos de caso produzidos pelo SEBRAE,foram elaborados procedimentos didáticos com o intuito de obter o melhorresultado na aplicação dos casos em sala de aula.

• Disseminação do estudo de caso. A fim de ampliar o processo de pesquisa,difusão e conhecimento dos estudos de caso, todos os casos estão disponíveisno site www.sebrae.com.br, onde o leitor tem acesso gratuito a informações,imagens, vídeos e metodologias dos casos e do projeto.

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ABORDAGEM METODOLÓGICA

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UTILIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO DO SEBRAEPARA FINS DIDÁTICOS

ORIENTAÇÃO PARA O PROFESSOR/INSTRUTOR

O estudo de caso possibilita ao professor/instrutor:• utilizar o estudo de caso como ferramenta de ensino e implementar um

método participativo, gerando mais interesse nos alunos;• analisar e criticar um caso real do mundo dos negócios, facada nas melhores

práticas adotadas nas pequenas empresas, e facilitar o aprendizado e orelacionamento entre os conceitos teóricos apresentados nas disciplinas coma prática empresarial;

• apresentar a sistemática de utilização de casos no processo ensinoaprendizagem com orientações para o professor e para o aluno.

Os 12 passos do ensino para utilizar os estudo de casos em sala-de-aula:

1 ° Passo – É fundamental que o professor/instrutor:a) tenha familiaridade com os materiais: conheça os casos dos livros, o site do SEBRAE e

os vídeos;b) após ter certeza de que compreendeu a metodologia, selecione o caso mais próximo ao

tema a ser estudado e leia exaustivamente o conteúdo;

c) seja professor e aluno ao mesmo tempo. Cada caso é uma experiência nova;d) siga o método, mas não abdique de sua experiência e criatividade.

2° Passo – Ao preparar-se para o estudo do caso, lembre-se de que:a) a técnica consiste em construir e trabalhar relacionamentos entre as diversas situações

do caso com os conceitos teóricos estudados;b) as situações podem ser encontradas em parágrafos, em uma frase ou, até, em um conjunto

de frases seqüenciais retiradas do caso.3° Passo – Distribuição dos materiais:

a) identifique, com um marca-texto, todas as situações relacionadas com os conceitos queserão estudados nas seções do syllabus da disciplina;

b) selecione um caso do vídeo no site, para motivar os alunos, que deve apresentar algumasituação comum com o caso que será estudado.

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ABORDAGEM METODOLÓGICA

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4° Passo – Como preparar os alunos para o estudo de caso:a) explique aos alunos toda a dinâmica a ser realizada, motivando-os para a utilização do

método;

b) oriente os alunos e explique-Ihes como deverão construir os relacionamentos entre osconceitos teóricos e as situações encontradas no caso

5° Passo – Como preparar a dinâmica em sala de aula:a) 1a parte: estudo em pequenos grupos de no máximo cinco pessoas;b) 2a parte: fórum de debates com toda a turma. Após o debate nos pequenos grupos, os

alunos retomam aos lugares para o fórum de debates com a turma.

6° Passo – Desenvolvimento da dinâmica em sala de aula:a) após a formação dos pequenos grupos, oriente-os para a escolha de um coordenador,

que deverá controlar o trabalho do grupo no tempo;

b) dê a palavra a cada um dos participantes, evitando que todos falem ao mesmo tempo.7° Passo – Orientação para a execução das tarefas pelos alunos:

a) leia as "Orientações para os Alunos", nos pequenos grupos para utilização do caso;

b) ao término dos dois primeiros tempos de aula, dissolva os grupos e peça-Ihes quevoltem a seus lugares originais para os dois últimos tempos.

8° Passo – Papel do orientador na dinâmica em sala de aula:a) enfatize na turma que um debate organizado é fundamental para aprender com o caso;b) como mediador, permita que os alunos confrontem seus diferentes pontos de vista

acerca do caso, corrigindo os relacionamentos inadequados entre os conceitos estudados

e as situações do caso.9° Passo – Explicações sobre o trabalho em grupo:

a) fale brevemente sobre a dinâmica dos pequenos grupos: formação dos grupos informais,

método de escolha dos coordenadores, lideranças, relacionamentos interpessoais;b) dê início aos debates com perguntas que associem conceitos estudados com situações

do caso. Esteja preparado para suscitar discussões interessantes e tenha a sua disposição

algumas questões relevantes sobre a situação do caso.10° Passo – Finalidade do debate:

a) motive os alunos ao debate, estimulando-os a comentar as opiniões dos colegas;

b) o debate tem por finalidade: identificar e reconstruir conceitos; identificar novosconceitos; analisar os fatos e os atores do caso, assim como as conseqüências de suas

decisões.

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ABORDAGEM METODOLÓGICA

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11 ° Passo – Participação do professor nos debates:a) é normal que os alunos peçam sua opinião. Você poderá fornecer, esclarecendo que não

se trata de uma "solução" do caso;b) o professor poderá discutir alternativas à solução proposta no caso;

c) não se preocupe em encontrar respostas definitivas – fundamente-as nos conceitosestudados – nem tente esgotar o assunto.

12° Passo – Para ensinar e aprenderO sucesso de uma aula com o estudo de caso depende da:

a) preparação dos alunos;b) preparação do professor/instrutor;c) seleção do caso.

Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

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SEBRAE/CE2006

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SEBRAE/CE – 2006

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FORTALEZASebrae - SEDEAv. Monsenhor Tabosa, 777 - MeirelesCEP 60.165-010

Central de NegóciosEdifício Palácio do ComércioRua General Bezerril, s/n - CentroCEP 60.055-100

Sebrae CanindéRua Raimundo Costa Ribeiro, 2194 - CentroCEP 62.700-000

BATURITÉSebrae BaturitéRua Sete de Setembro, 961 - CentroCEP 62.760-000

CARIRISebrae Juazeiro do NorteRua São Pedro, s/n. - MatrizCEP 63.050-270

Sebrae CratoRua Senador Pompeu, 341 - CentroCEP 63.100-000

Sebrae Brejo SantoRua Francisco Basílio, 146 - Sala 3 - CentroCEP 63.260-000

CRATEÚSSebrae CrateúsRua Padre Mororó, s/n. – Terminal RodoviárioCEP 63.700-000

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SEBRAE/CE – 2006

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Sebrae CrateúsRua Coronel Zezé, 1225CEP 63.700-000

Sebrae IndependênciaRua Alexandre Bonfim, s/n - CentroCEP 63.640-000

Sebrae Nova RussasRua General Sampaio, 1337 - CentroCEP 62.200-000

Sebrae TauáAv. Cel. Vicente Alexandrino de Sousa, 12TauazinhoCEP 63.660-000

IGUATUSebrae IguatuRua 21 de Abril, s/n - Palácio da Microempresa de IguatuCEP 63.500-000

LIMOEIRO DO NORTESebrae Limoeiro do NorteRua Camilo Brasiliense, 659 - CentroCEP 62.930-000

Sebrae AracatiRua Coronel Alexanzito, 629 - Centro Com. Marcelos Sl. 16CEP 62.800-000

Sebrae Nova JaguaribaraRua Paula Clotilde, 369 - Casa do Cidadão - CentroCEP 63.490-000

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SEBRAE/CE – 2006

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QUIXERAMOBIMSebrae QuixeramobimRua Monsenhor Salviano Pinto, 273 - CentroCEP 63.800-000

Sebrae QuixadáRua Francisco Enéas de Lima,1789 - CentroCEP 63.900-000

SOBRALSebrae SobralRua Dr. Guarani, 1059 - CentroCEP 62.010-300

Sebrae CamocimRua Dr. João Tomé, 111 - CentroCEP 62.400-000

Sebrae ItapipocaRua José Romero, 428 - Sala 5 - EstaçãoCEP 62.500-00

Sebrae ItapajéRua Quintino Cunha, 25 - CentroCEP 62.500-000

TIANGUÁSebrae TianguáRua Teófilo Ramos, 645 - CentroCEP 63.320-000