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HISTÓRIA E DANÇA: PERPECTIVA DE PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA
COM BASE NA MANIFESTAÇÃO ESTÉTICA DO ROCK ‘N’ ROLL, NOS
ANOS 50
Sônia Maria Flach de Almeida
Trabalho Final exigido para a conclusão do PDE sob a orientação da Prof. Drª.
Sarah Iurkiv Gomes Tibes Ribeiro.
Resumo
O Rock ‘n’ roll e a sua dança surgem após a Segunda Guerra Mundial como significado de rebeldia e contestação apresentadas pela juventude, isto é, como manifestação cultural no contexto histórico dos anos 50. Desta forma este artigo pretende apresentar uma abordagem considerada como objeto de análise ou fonte documental desta forma de manifestação estética, cultural e artística. As interpretações culturais desta década mereceram investigação histórica para perceber que a maneira de abordar a relação entre o Rock ‘n’ roll nos anos 50 e a História é mais do que uma ilustração, ou seja, ocorre uma transcendência da perspectiva lúdica. Implica em utilizar a dança enquanto uma prática da juventude estadunidense e brasileira, como sujeitos inseridos no contexto sócio-histórico da década de 50, ou seja, do Pós-Guerra. Pautada em referencial teórico denominado história social da cultura será adequada como instrumento de análise do contexto sócio-histórico do Rock ‘n’ roll e a Dança. É relevante compreender os significados da rebeldia e da contestação manifestadas pela juventude. A prática levada a efeito pelos jovens remete à relevância das conseqüências ou resultados involuntários que a influenciaram. A Indústria Cultural criou necessidades de consumo que revelaram o cotidiano, ações, atitudes, hábitos mentais que indicaram mudanças de novos padrões comportamentais que se sucederam a partir dos anos 50 e os significados que a prática do Rock ‘n’ roll assumiu para a juventude. Palavras Chave: Dança. Rock ‘n’ roll anos 50. Indústria Cultural.Juventude. Contestação.
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Abstract
The Rock’n’roll and your costumer dance appear after Second World War like rebelliousness and contestation significance by the youths, it means, cultural manifestation in historical context fifties. This article intends to approach to a topic or documental source for manifestation aesthetics, cultural and artistic. The interpretations cultural of fifties deserved historical investigation to realize the way to board the relation between Rock’n’roll in the History is most more than an illustration, occurs a transcendence of the ludicrous perspective. It implies in use of the dance while a youth's practice United States of America and Brazilian youth, as subjects inserted in decade context social-historical, in other words, of the Postwar. Rulered in reference denominated theoretical social history of the culture, will be adequate as context social-historical analysis instrument of the Rock’n’roll and your costumer dance. It is important to comprehend the rebelliousness meanings and of the contestation, manifested by the youth. The practice for effect by the young people, remits to the consequences relevance or involuntary results, that influenced then. The Cultural Industry created needs to consumption, that revealed the costume everyday, actions, attitudes, mental habits that indicated changes of new behavioral standards that were happened from fifties and the meanings that the Rock’n’roll practice took over for the youth.
Key words: Dance. Rock’n’roll years 50. Cultural Industry, Youths,
Rebelliousness, Contestation.
Introdução
O Rock ‘n’ roll estabelece uma aproximação com aspectos que lembram
autores como Friedlander, Muggiati, Coelho e alguns artigos de jornais e
revistas publicados desde aquela época. Contribuem com elementos
fundamentais para a compreensão da Dança e Rock ‘n’ roll. Entretanto, apesar
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disso, faz-se necessário que a investigação se fundamente por meio de
recolhimento de dados históricos pautados no sentido de compreender o
fenômeno, como manifestação estética, artística e cultural relacionado com o
contexto sócio-histórico do Pós-Guerra.
A verificação investigativa do Rock ‘n’ roll se faz sob o recorte dos anos
50, para não incorrer em superficialidades. Isso possibilita uma análise do
Rock ‘n’ roll e sua Dança enquanto uma prática dos jovens inseridos nos
contextos estadunidense e brasileiro, de modo a perceber e compreender os
significados que a prática do Rock ‘n’ roll assume para a juventude da década
de 50.
O Rock ‘n’ roll surge como feito coletivo, atividade em cuja realização da
juventude se funde com a ação, emoção, desejo, rebeldia e contestação de
moldes predeterminados de valores conservadores, patriarcais e religiosos,
Reflete a impressão da época utilizando-o como matéria-prima, como
testemunha deste fenômeno nos anos 50 nos EUA e absorvido pelo Brasil
como produto cultural. Torna-se símbolo de ruptura, contestação e irreverência
que atinge a juventude na década de 50. Entretanto, a análise da Indústria
Cultural, percebe estes jovens apenas como consumidores, público alvo de
mudanças comportamentais e ideológicas, que afetam também a sociedade
conservadora com novos valores produzidos pelo fenômeno do Rock ‘n’ roll.
A partir da realização de um breve recorte cronológico, se busca indicar
um panorama histórico que permita uma melhor compreensão desse fenômeno
conhecido como Rock ‘n’ roll nos anos 50, também utilizado como memória
para documentar ao revivê-lo. Entretanto o convite à dança do Rock ‘n’ roll se
vale da representação dos fatos ocorridos, onde a juventude rebelde de
diversas classes sociais lhe imprimem seu próprio caráter.
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Desenvolvimento
O Rock ‘n’ roll surge após a II Guerra Mundial e a sua proposta era
contestar os velhos costumes da época. É um ícone da contracultura, mistura
elementos da música negra como o Blues e o Rhythm´n´Blues com a música
da sociedade branca, o Country e o Folk. Gênero musical este, a princípio,
sempre ligado à transgressão, em um momento em que a sociedade
americana da década de 50, principalmente no sul dos Estados Unidos,
ocorria uma forte segregação racial. O Rock inspirado em ritmos africanos
estava destinado a ser marginalizado.
Possivelmente ele serviu para evidenciar as idéias contestatórias da
juventude insatisfeita com o sistema cultural, educacional e político dos
Estados Unidos nos anos 50. Assim, o Rock ‘n’ roll, usando a guitarra, a
bateria, o contrabaixo e convidando para a dança rompeu com outras formas
musicais, sugerindo ritmo, melodia e volume diferentes deflagrando a
transgressão. Identificou assim, as rupturas dos padrões sociais que se
apresentavam na sociedade da época: a moda se transformava em algo
colorido, extravagante, desafiando os padrões da época; a sexualidade
apresentava-se de modo quase obceno pelos artistas. Assim, vários padrões
foram formulados, contestados e rompidos.
O movimento musical denominado Rock ‘n’ roll surgiu nos Estados
Unidos, nos anos 50 como um grito do negro, vindo da África como escravo. As
origens desse ritmo já haviam surgido há muito tempo, mas foi somente após a
Segunda Guerra Mundial que a musicalidade negra foi abraçada pela geração
americana. O Blues, significa triste, melancólico, advindo dos hematomas que
surgiam nos escravos devido à depressão que sentiam. Assim esta música
“doce-amarga” causou uma revolução sonora da década de 50 e fundou as
suas estruturas. (MUGGIATI,1973).
O Blues surge do encontro de tradições africanas e européias no sul do
EUA. Ao final do século XIX fundindo o seu grito com as canções de trabalho,
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os acordes dos hinos religiosos e a estrutura das baladas, o negro chegou ao
Blues. O grito era uma espécie de reconhecimento do ambiente em meio às
plantações de algodão. Simbolizava a comunicação do escravo. A proibição do
uso de instrumentos explica parcialmente o fortalecimento da tradição oral. As
canções de trabalho (work songs) refletem uma concepção diferente de
música: para o negro da África Ocidental, “a música e a dança não são
manifestações isoladas de arte e sempre foram usadas como uma função
estritamente comunitária”. (CHACON,1992).
Havia canções de jovens para conquistar moças, de mães para acalmar
filhos, de chefes para impor ordem na comunidade, de guerreiros para criar
coragem, de sacerdotes para influenciar sobre a natureza, de trabalhadores
para cadenciar e suavizar suas tarefas. Destas tradições surgem work-songs
nas plantations de algodão do sul do EUA, algumas em forma de pergunta e
resposta, o que animaria mais tarde o Blues e o Rock.
Em sua adaptação no continente americano, os escravos se convertem
ao cristianismo. Surgiram as Gospel Songs, hinos costurados com trechos da
Bíblia e work-songs, reforçando a recriação musical negra que daria origem ao
Blues, que estabeleceu uma ponte entre as work-songs do século XIX e o Rock
‘n’ roll dos anos 50 do século XX, legando para a posteridade elementos da
cultura africana, remodelados pela convivência européia nos EUA, o que se
estenderia para todo o mundo ocidental, seja pela força das redes de produção
e comercialização, seja pela imediata identificação corporal e das atitudes com
a juventude.
Produzido originalmente em pequenos estúdios do sul dos EUA, o Rock
‘n’ roll alcança um sucesso rápido e inesperado, muito além da capacidade
americana absorver ou aceitar o seu impacto. Seu sucesso é explicado pela
imediata simpatia que o ritmo provoca numa geração de adolescentes, brancos
e negros. Mas também, é explicado pelo rápido golpe comercial dos grandes
estúdios do Leste e Oeste dos EUA (RCA, Capitol, Mercury).
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O puritanismo sexual e o conformismo do vestuário são atacados sob os
aplausos de jovens que já procuram manter distância dos rígidos valores
tradicionais dos pioneiros norte-americanos do século XVIII. Trabalho,
preparação para o casamento, acúmulo de capital, patriotismo são substituídos
pela descontração, sensualidade, irreverência e liberdade de se divertir.
O convívio racial em festas, salões de dança e shows foi sem dúvida
uma vitória moral do Rock ‘n’ roll nos anos 50, já que havia quase um século
que os adultos se recusavam a tal convívio na sociedade. Entretanto, a quebra
de tabus morais e raciais provocam nos setores conservadores uma reação:
escândalos criados encerram carreiras, já desgastadas pelo sucesso
relâmpago, e versões adocicadas do Rock ‘n’ roll (Platters) são
cuidadosamente promovidas para ocupar o espaço de figuras desafiantes
como Little Richard e Chuck Berry. Afinal, o mercado não podia parar.
Chuck Berry, Bill Haley e os Everly Brothers gravaram músicas que
falavam do próprio rock e das dificuldades da vida dos adolescentes. Estas
músicas eram as mais apreciadas, pois as letras transmitiam valores novos.
Berry cantava que a escola era cansativa. Bill Halley desafiava todo mundo a
dançar, dançar, dançar.... Nos anos 50 não havia ataque direto aos valores
conservadores dominantes. (FRIEDLANDER, pág.398, 2006).
Chuck Berry, com a música “Rock ‘n’ roll Music” (novembro de 1957),
celebrava a música e seus vários componentes e os impulsos cinestésicos
para dançar, derivados do backbeat. Em “Sweet Little Sixteen” descrevia uma
garota implorando à mãe que convencesse o pai de que não há problema em
se divertir com a dança. Ao mesmo tempo, indica as ciladas de dançar o Rock
‘n’ roll com vestidos apertados e usando batom (id, 429, 2006).
A batida backbeat, centrada na batida rítmica 2/4 foi constante entre as
variáveis musicais. Com as raízes do Gospel ao Rock Clássico, passando pelo
R&B (marcado geralmente pela bateria) fornecia o contraponto Roll para o
acelerado Rock do baixo e outros instrumentos. Este era o ritmo que
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estimulava os corpos dos adolescentes a se mexer incontrolavelmente na
dança e ameaçava os padrões morais de seus pais. (id, 396, 2006).
A reação moralista atinge a carreira de Chuck Berry, acusado de raptar
uma jovem fã que lhe acompanhava em seu carro (ela era branca); atinge Jerry
Lee Lewis, envolvido em um escândalo por ter se casado com sua prima
adolescente. Little Richard não resiste à vida de astro e se refugia numa fase
mística.
O corpo tem suas razões. Elvis foi um fenômeno da expressão corporal.
O primeiro a usar não só a voz, gestos, rosto enquanto cantava, mas sim o
corpo todo – e o rock fica devendo isso a ele. A coreografia de Elvis era
demoníaca. Ainda é. Não era só uma questão de requebros ou passes. Era
uma coisa animal, inevitavelmente charmosa. Elvis imitava movimentos dos
performers negros, girava o traseiro, agarrava o microfone, caía de joelhos e
levantava o lábio superior dando seu famoso sorriso. Gerou milhões de
imitadores com topetes, blusões com a gola levantada, queixos enterrados no
peito e olhares raspando pelas sobrancelhas invadiu os EUA. (DIGESTIVO
CULTURAL, 2006)
Elvis serve o exército na Alemanha, no auge da Guerra Fria e foi o
melhor garoto propaganda que o exército americano poderia ter sonhado. Foi
absorvido pelo sistema, virou bom moço e namoradinho da América. Utilizou
um estilo único e inconfundível, criando sua versão do swing negro, com o
Blues, mexendo freneticamente quadris e pernas. O jeito sensual de dançar
chocou, passou por censura, fascinou, fez as mulheres delirarem e lhe rendeu
o apelido de “Elvis the Pelvis” (id, 2006).
Elvis era desejado pelas garotas, imitado pelos garotos, e odiado pelos
pais da garotada. Elvis incendiava platéias por onde passava com sua bela
voz, seu carisma de galã e seu inconfundível estilo de dança, inédita até então,
considerado indecente para os padrões da conservadora sociedade americana.
Esse jeito de dançar rendeu a ele o apelido “The Pelvis”, uma referência ao
conjunto de ossos que formam a cintura, a qual Elvis balançava
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freneticamente. Aos 21 anos instintivamente Elvis colocou toda sua energia na
performance de “Hound Dog”, tocada no início de forma acelerada e dançante,
e no final de forma bem lenta , sexy e insinuante.(id 2006)
Vozes conservadoras vindas da Imprensa, de grupos religiosos e da
sociedade, já se manifestaram contra o Rock & roll. Elvis havia trazido a
música dos negros aos lares americanos. Acusavam-no de ser imoral, um mau
exemplo para a juventude e um perigo para as recatadas filhas de família do
“american way of life”. O movimento anti Elvis crescia na mesma proporção que
a fama do rapaz de topete e costeletas que se vestia e dançava de maneira
espalhafatosa, culminando com a censura imposta a ele em sua terceira
apresentação na televisão. A censura federal determinou que Elvis fosse
filmado apenas da cintura para cima, para proteger os olhares de milhares de
famílias americanas de seus rebolados indecentes. Isto serviu para aumentar a
sua popularidade, e aumentar de maneira astronômica a audiência. (id Elvis
serve o exercito na Alemanha, no auge da Guerra Fria, Elvis foi o melhor
garoto propaganda com o exército americano poderia ter sonhado (id,2006)
Elvis, conduzido pelos seus empresários, ensaia uma “recuperação,”
afasta-se temporariamente para cumprir o serviço militar e volta com a imagem
de patriota, devotado aos velhos valores puritanos. Abandona os requebros e
ataca de “It´s now or never” e de “Love me tender”! E para completar, acasos
do destino retiram de cena cantores originais como Eddie Cochran.
Paralelamente, as rádios divulgam versões amenas do Rock, como “Let´s Twist
Again” (Trini Lopez), “Only You” (Platters) e a música dos Everly Brothers.
Nesta época a tradicional sociedade americana começou a ser
contestada pelos jovens, que foram rotulados de rebeldes sem causa: Mais do
que o cinema, a música e a dança canalizaram as idéias contestatórias dos
jovens, frente à insatisfação com o sistema cultural, educacional e político. O
Rock ‘n’ roll era o ritmo que iria acompanhar esse comportamento”. O Rock ‘n’
roll estava do lado oposto à postura tradicional e à manutenção das instituições
vigentes na época.
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O ‘Rhythm and Blues’ é a vertente negra do Rock. São quase
exclusivamente daí as origens do Rock. Reprimidos pela sociedade branca,
anglo-saxônica e protestante, os operários negros se refugiavam na música (o
Blues), e na dança para dar vazão, pelo corpo, aos protestos, que não eram
permitidos.(CHACON 1922) Os estilos de dança popular tornam-se mais
desenvoltos. Os negros criam o Twist que fazia parte da mesma proposta,
chamando a atenção do mundo todo no final dos anos 50, por um aspecto
inovador: as duplas não precisavam se tocar enquanto dançavam. Os pares
dançam juntos e obedecem a uma seqüência marcada de passos. Quem
tornou o ritmo conhecido foi Chubby Checker, que subia ao palco para
requebrar com os joelhos dobrados, e deslizava os pés de um lado ao outro,
sem retirá-los do chão.
Quem deu nome ao novo ritmo que surgia foi um disc-jockey americano,
Alan Freed, que se inspirou em um velho Blues. Ele foi um dos personagens
importantes para os primeiros momentos do Rock ‘n’ roll, pois passou a
divulgar eventos de Rock ´n Roll após o programa de música clássica que
mantinha em uma rádio em Ohio. Tudo começou quando Freed foi convidado
por um amigo a visitar uma loja de discos em que viu vários jovens dançando
ao som de uma música que até então ele nunca havia parado para ouvir: o
Rhythm and Blues.
Na América Latina não foi diferente, a contestação e a rebeldia eram
representadas nessas músicas que fascinavam multidões: “Surgiu na América
Latina como um movimento da contracultura que utilizava muito a temática
sexual para manifestar sua rebeldia, figuravam convites à dança e ao amor
(não necessariamente ao casamento), descrições de carros e de garotas,
histórias de colégio e dramas da adolescência”. O Rock surge, então, como um
movimento da contracultura, já que as suas manifestações iam de encontro aos
valores da época.
O Rock chega ao Brasil em 1955, quando Nora Ney grava a versão
Rock Around the Clock. A primeira estrela nacional do gênero é Celly Campelo
(1942-) que lança no início dos anos 60, Banho de Lua e Estúpido Cupido. Na
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mesma época o Rock se populariza com outras versões de sucessos norte-
americanos, por Nick Savoia e Ronnie Cord (1943-). A partir de 1965 Roberto
Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia tornam-se os expoentes da Jovem
Guarda, variação do Rock. Em 1966, os Mutantes revelam Rita Lee. Embora
este período seja caracterizado por uma expressiva diversidade de gêneros
musicais, essa opção de recorte foi no intuito de evitar incorrer em
superficialidades.
Nos anos 50, o Brasil perdia a copa do mundo (1950), morte de Getúlio
Vargas (1954), morte de Carmem Miranda (1955), presidência de JK em 1956,
entretanto em 24 de outubro de 1955 algo mudou completamente a vida dos
jovens e todas as gerações seguintes... Nora Ney grava a versão de “Rock
around the clock”, surge o rock brasileiro, que será popularizado nos anos 60
como iê iê iê. Ela exerceu papel relevante no rock brasileiro na medida em que
despertou na juventude brasileira ainda não transviada a percepção para
jornais, revistas e programas de rádio que apresentavam os reis do rock Chuck
Berry, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Elvis Presley. Com o auxílio do cinema e
seus artistas perniciosos, Marlon Brando e James Dean bombardeavam e
moldavam toda uma geração.
Revistas como “O Cruzeiro”, “Revista do Rádio”, e as “Seleções do
Reader Digest” apresentavam o rock de modo nu e cru, isto é, guitarras
gritando, pianos enlouquecidos, voz e quadris dançando em sintonia com o
ritmo, teatros lotados por platéias dançantes. O Brasil surpreendido se divide
entre os pais repressores e a juventude insana, ansiosa pela igualdade e
excitação que o Rock ‘n’ roll proporciona. O Rock ‘n’ roll era a trilha sonora da
década.
Em 1956, ao assumir a presidência, JK prometia desenvolver o Brasil
“50 anos em 5”. Brasília se construiu em 3 anos, a indústria automobilística foi
implementada. No cinema estreou o filme “Rock Around the Clock”, que
apresentou também as músicas “Only You” e “See You Later Alligator" nas
paradas de sucesso. Igual sucesso se repetiu com “O Selvagem” (Marlon
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Brando) e “Juventude Transviada” (James Dean). Rapidamente a juventude
incorpora esses modelos de comportamento vindos dos EUA.
A década de 50 foi marcada por contrastes. Sonhos rebeldes de
gangues de motocicletas ou lambretas, tênis, camiseta branca e blusão de
couro. Os ternos, as saias rodadas, meias de seda, foram cedendo lugar às
costeletas, topetes, jeans apertados, tênis conga, rabo de cavalo, goma de
mascar ping pong. Este comportamento da juventude mostrava uma rebeldia
ingênua, imitada dos ídolos do cinema como James Dean e Marlon Brando,
que apresentava um clima de delinqüência juvenil. O visual , o ritmo alucinante
e a música de incendiar, mexia com os quadris, a cabeça e fascinavam a
juventude.
Não existiam roqueiros brasileiros legítimos no Brasil, nesta época. Tudo
era assimilado e reproduzido com o “jeitinho brasileiro” pelos músicos. Assim o
rock nacional começava a ganhar cantores brasileiros com nomes
“americanos”, roupas chamativas, espalhafatosas e produzidas. De modo
contrário, dos rebeldes sem causa que apavoravam os EUA, as gravadoras
brasileiras se concentraram na procura de rapazes de bem e moças de família
para iniciar o rock no Brasil.
Tonny e Celly Campelo lançam seu primeiro disco, com as versões de
“Perdoa-me” e “Belo Rapaz”. Estrearam na TV TUPI, em São Paulo, e por mais
dois anos apresentaram o programa Celly e Tonny. Em HiFi, também
conhecido por Crush HiFi na TV Record. Celly e Tonny foram considerados reis
do rock. Em 1958 se formaram os “Golden Boys”, cuja participação expressiva
se manifestou na Jovem Guarda. A Revolução Cubana inspirou o surgimento
de um drink, no mínimo original, a mistura de rum (Cuba) com coca-cola (EUA),
para concorrer com o HiFi (vodca com suco de laranja, e após, com crush).
Ao final da década de 50, programas de rádio invadiam o país
divulgando o som pop dos EUA. Muito mais que o cinema, a televisão divulgou
a cultura do rock no Brasil. Acessórios indispensáveis a este comportamento
eram a lambreta, óculos escuros, cuba livre, camisetas para impressionar os
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“brotos”, e outras modas na juventude brasileira. A mudança ocorreu porque a
TV, do mesmo modo que o carro, eram objetos de consumo inacessíveis a
todas as classes sociais. O acesso a esses bens era limitado às famílias mais
abastadas, porém a parafernália eletrônica para propiciar conforto e bem estar
já se encontravam no Brasil no fim dos anos 50, como ventiladores, batedeiras,
liquidificadores, refrigeradores, etc. Assim como os supermercados e os
enlatados. O que se pregava na época, o modelo era “se é bom para o EUA é
bom para o Brasil”. Desse modo, claro que o rock surgiria por aqui como
música popular dominante na década de 50.
Em 1957 em 16 de janeiro o então prefeito de São Paulo, Jânio
Quadros, proíbe o Rock ‘n’ roll nos bailes. Mandou prender quem se
manifestasse histericamente durante as exibições públicas do filme No Balanço
das Horas. A rapaziada pulava nas poltronas, rasgava as cortinas, batia os pés,
assoviava, ousava levantar as saias das garotas,enfrentar os seguranças e
desafiar a policia para dançar Rock ‘n’ roll nas ruas e calçadas.Jânio Quadros
proibiu a execução de músicas do estilo Rock ‘n’ roll nos bailes públicos do
estado. A razão era a reação descontrolada dos jovens esse tipo de música.
Proibidos de fazê-lo em público, os paulistas continuam a dançar o ritmo do
Rock ‘n’ roll, nas festas particulares e se comportar de acordo com os moldes
da juventude transviada, com seus casacos de couro e suas lambretas
.(FOLHA.BANCO DE DADOS).
Surge neste mesmo ano no Rio de Janeiro uma das primeiras bandas de
rock verdadeiramente nacional , denominada “Turma do Matoso”. Ouviam o
som de Elvis, Chuck Berry e Little Richard. O nome da banda muda para “The
Sputnicks”, cuja formação consistia em Tim Maia, China, Arlênio, Trindade,
Erasmo e Roberto Carlos. Entretanto, em 1958 houve a dissolução da The
Sputnicks. A Jovem Guarda surge no final dos anos 50. Roberto Carlos canta
“Tutti Frutti”, de Little Richard no programa Teletur da TV TUPI. Logo seria
contratado e trilhava como rei do iê iê iê.
Quando os anos 50 terminaram o Brasil tinha perdido a sua
característica inocente e ingênua, apesar de ter ingressado na sociedade de
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consumo, através do surto desenvolvimentista de JK, as desigualdades sociais
começavam a aumentar de maneira vertiginosa. Na música do final dos anos
50, isso ainda não era perceptível, entretanto no cinema, arte e literatura sim. A
mudança de valores, então passa a enfatizar temas diferentes àqueles do Rock
‘n’ roll dos anos 50.
Na década de 60 sentia-se uma mudança no ar e tudo se alterou com a
chegada em 1961 do “Let´s Twist Again”, de Chubby Checker. Reprovada
como uma dança imprópria, foi ganhando cada vez mais força. Fácil de
aprender, divertida de dançar no seu ritmo característico, jovens e velhos
dançavam o Twist toda noite. O Twist trouxe consigo uma nova idéia: os
dançarinos não precisavam ter parceiros, as meninas não tinham que esperar
quem as convidassem para dançar; toda a gente podia se juntar e dançar. No
início havia figuras facilmente reconhecíveis, mas à medida que se enraizou o
Twist, foram se desenvolvendo inúmeras variações até o estilo de cada um se
tornar pessoal e único. A influência do Twist espalhou-se: os vestidos eram
feitos com pequenas tiras que brilhavam quando os dançarinos se abanavam;
os modelos posavam em linhas Twist; Havia queixas de músculos doloridos e
dores nas costas, mas a sua popularidade era suprema.
Em fins de 1950, o Rock ‘n’ roll já podia se considerar como um
produto inserido no sistema cultural. A postura de diversos setores da
sociedade havia mudado em relação ao Rock: de maldito, condenado pelos
conservadores, agora era objeto de consumo de boa parte da população jovem
tanto do Brasil quanto dos EUA.
O rock foi chegando devagar no Brasil, para se estabelecer se fixar
como uma epidemia que atingiu o país inteiro. Todos pediam Bill Halley, Elvis
Presley, Little Richard, etc. As gravadoras lançaram discos rapidamente, para
aproveitar do modismo e faturar com a Indústria Cultural que o Rock ‘n’ roll
permitia. O incessante desenvolvimento da tecnologia, torna o Rock ‘n’ roll
cada vez mais sofisticado, principalmente nos meios de comunicação
(fotografia, fonografia, cinema, rádio, televisão, etc).Ele passou a atingir um
grande número de pessoas, dando origem a chamada cultura de massa,
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ditando comportamentos, a partir de modelos mìticos como representação
coletiva produzida e difundida maciçamente pela mídia.
Com a explosão demográfica e expansão econômica dos EUA, durante
e após a II Guerra Mundial, a população jovem estadunidense aumentou
consideravelmente. Apesar do progresso e da industrialização, a sociedade
norte-americana permaneceu com valores morais arcaicos e preconceituosos,
criando um vazio e uma insatisfação na juventude, principalmente da classe
média.É nesse contexto que surge na juventude ocidental uma nova cultura,
reflexo de tendências comportamentais de revolta, expressa principalmente
pela música e pela dança. A partir disso começa a se configurar a formação de
um mercado consumidor que fortaleceu a Indústria Cultural, constituído
basicamente por jovens de diferentes classes sociais.
Embora estivesse inicialmente fora dos padrões preconizados pela
sociedade estabelecida, caracterizada por ser patriarcal, conservadora e
moralista, a cultura jovem passou a ser devidamente assimilada e
comercializada pela Indústria Cultural, que a divulgou através dos meios de
comunicação, tornando-a universal. O Rock ‘n’ roll então se propagou
rompendo com os dogmas pregados pela família, escola, igreja e outras
instituições.
Apesar dessa comercialização, foi somente a partir dos anos 60 que a
juventude passou a apresentar críticas mais contundentes à sociedade
moderna, não só negando seus valores, mas tentando criar e vivenciar um
estilo de vida alternativo e coletivo, contra o consumismo, a industrialização
indiscriminada, o preconceito racial, as guerras, etc.
A Indústria Cultural tem uma característica específica do mundo
capitalista. Insere na produção de objetos de consumo, a arte em várias
modalidades, como produto a ser consumido, isto é, a arte é um produto
voltado para uma Indústria Cultural. (ADORNO, 1997).
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Adorno afirma que a cultura de massas é produto da Indústria Cultural. A
Indústria Cultural é uma produção direcionada para o consumo das massas
segundo um projeto pré-determinado e estabelecido, seja qual for a
modalidade, aqui, o Rock ‘n’ roll nos anos 50. Há uma estrita relação entre
produção e consumo. A produção determina o que deve ser consumido e vice-
versa.
A inter-relação, em termos culturais, faz com que o Rock ‘n’ roll
culturalmente produzido se pareça com qualquer produto industrializado. Existe
toda uma estratégia para que este produto alcance o público consumidor. Não
interessa à Indústria Cultural a que modalidade pertença, desde que se gere
nas massas a necessidade de consumo, chegue às massas, manipulando de
modo gigantesco os meios de comunicação pelos produtores, a fim de criar no
público-alvo principal, o jovem, novas necessidades de consumo e ainda de
novos produtos, como: mais músicas, mais discos, mais brilhantina, mais
jaquetas de couro, mais calças jeans, mais goma de mascar ping pong, mais
tênis conga, mais óculos de gatinhos, mais meias soquete, isto é, o
comportamento rebelde que identifique todos como sendo um só, sem
escolher, ouvir, vestir ou dançar algo diferente.
A intenção da Indústria Cultural, espalha uma névoa na percepção das
pessoas, isto é intencional principalmente por aqueles que formam opiniões.
Ela é a própria ideologia. Os valores passam a ser regidos por ela. Até a
intensidade da felicidade do jovem é influenciado e condicionado por esta
cultura. A Indústria Cultural alimenta nos jovens necessidades, não as básicas
(primárias ou secundárias), mas sim a necessidade de consumir
incessantemente. O jovem consumidor sempre estará insatisfeito, querendo
consumir constantemente. Assim o consumo se torna cada vez maior. O desejo
de posse é alimentado e renovado pelo progresso técnico e científico das
gravadoras, de modo que torna-se quase impossível se libertar desta realidade
uma vez que os apelos são inúmeros e convincentes.
O Rock ‘n’ roll feito em série industrialmente, para um grande número,
passa a ser visto não como instrumento de crítica e conhecimento, mas como
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produto trocável por dinheiro e que deve ser consumido como se consome
qualquer coisa... produto padronizado, como uma espécie de kit para montar,
feito para atender necessidades e gostos médios de um público que não tem
tempo de questionar o que consome. (COELHO, pág. 10, 1989). Porém, para
Adorno existe uma solução, observar a própria cultura do homem: a limitação
do sistema e a estética, ou seja, a arte. Segundo Adorno, a arte possibilita ao
homem se libertar e gozar de certa autonomia, e desse modo torna-se em ser
humano, com coração humano e não coração-máquina.(ADORNO, 2002)
Enquanto na Indústria Cultural o homem é mero objeto de trabalho e
consumo, quando faz Arte é um ser livre que pensa, sente e age. A Arte é algo
perfeito que solta as amarras da ideologia encontrando dentro dela uma
maneira de limitá-la, ou seja, a limitação e a arte na própria Indústria Cultural.
Os valores foram deixados de lado em troca do interesse econômico. O que
rege a sociedade é a lei do mercado. O jovem que não conseguisse
acompanhar este ritmo e essa ideologia de vida era considerado fora de seu
tempo, ou seja, à margem da sociedade. Isto é fruto da Indústria Cultural. (id
2002)
Adorno afirma que tudo na Indústria Cultural se torna negócio. Desse
modo, percebe-se de maneira programada, sistemática, orientada, para
explorar os bens culturais. O Rock ‘n’ roll, que antes manifestava rebeldia,
contestação e era um modo de lazer e divertimento, nutriu a percepção de que
era um meio extremamente eficaz de manipulação, exercendo uma função
específica, em que através da Indústria Cultural traduz-se em sentimento para
todo o sistema. O jovem, na Indústria Cultural, é um mero instrumento de
trabalho e consumo, isto é, um objeto. Ele é manipulado e ideologizado de tal
modo que até o seu lazer se torna uma extensão do trabalho. O consumidor
não precisava se dar ao trabalho de pensar, era só escolher qual artista,
música ou dança desde que fosse Rock ‘n’ roll. Aplicava-se assim ao fim a que
se destina, ou seja, nada escapa à voracidade da Indústria Cultural. (id 2002)
O Rock ‘n’ roll estava ligado a um grupo social específico, a juventude. Era
transmitido de maneira industrializada para um público generalizado, de
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diferentes camadas sócio-econômicas. Ocorria a formação de um enorme
mercado de consumidores em potencial, atraídos pelos produtos oferecidos
pelo Rock ‘n’ roll. Esse mercado caracterizava-se pela chamada sociedade de
consumo. Com a industrialização dos elementos da cultura popular, o
produto cultural se apresentava de uma forma esteticamente nova e diferente.
Para a difusão do Rock ‘n’ roll utilizou-se dos meios de comunicação para o
seu lançamento, isto é, produto em grande quantidade e, depois, induzia os
jovens a consumirem esse produto, apelando para outras razões além de seu
valor artístico. Ao divulgar produtos culturais de diferentes origens, possibilitou
o seu conhecimento por jvens de diferentes camadas sociais de maneira
atraente, voltada para o consumo generalizado da sociedade jovem.
Na Europa e EUA, no final da década de 50, os jovens próximos de
atingir a maioridade não tinham motivos para se orgulhar da civilização
ocidental: duas guerras ocorreram antes do seu nascimento. Conflitos regionais
ocorreram ou ainda permaneciam, deixando mortos ou inválidos. A convivência
com a presença desastrosa de seus países: EUA na Guerra da Coréia (1950-
1953) e a Guerra do Vietnã (1956-1975); a França nas guerras da Indochina
(1945-1954); Inglaterra contra a desobediência civil de Mahatma Gandhi; e
auge do capitalismo que aparentemente não empolgava a juventude. Nos EUA
o racismo dos adultos procurava separar jovens brancos e negros, unidos pelo
som do Rock desde os anos 50. Mesmo para os filhos da classe média que
passou o Pós-Guerra acumulando bens para oferecer um futuro seguro, as
perspectivas de realização pessoal não eram atraentes. Não havia sentido
seguir os passos dos pais, significando assim a restrição da existência ao
mundo individualista de um emprego estável, casamento e ideais patrióticos.
Do bloco socialista poucas informações confiáveis atravessavam a
cortina de ferro da Guerra Fria, algumas nada animadoras: invasão soviética
em países socialistas que buscavam seu próprio caminho, como a Hungria
(1956) e a Tchecoslováquia (1958). Qual a direção o jovem deveria seguir?
Propostas sedutoras se apresentaram aos garotos do mundo: ouvir e dançar
Rock ‘n’ roll, comunidades alternativas, onde compartilhar era a senha de
convivência, como os hippies da costa oeste dos Eua; militância política para
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derrubar o racismo (Black Panthers, Martin Luther King); ou para derrotar o
próprio país, agente agressor internacional (pacifismo); reencontro com a
natureza popular e folclórica de sua nação; busca de experiências místicas e
psicodélicas.
As novas experiências juvenis, algumas desconcertantes, outras
autodestrutivas, outras ainda extremamente subversivas e combatidas, tinham
em comum a rejeição da cultura tradicional, daí serem rotulados de
contracultura, conjunto das manifestações artísticas, existenciais e culturais
características da revolta contra as instituições, os valores, os hábitos, as
hierarquias e as tradições dominantes da sociedade.
Com isso, essa juventude mais crítica e politizada nega a cultura
vigente, até então sustentada e manipulada em sua maior parte pela Indústria
Cultural. Essa reação jovem é conhecida como contracultura, simbolizada
principalmente pelos hippies no final dos anos 50 e década de 60.
Mesmo opondo-se à industrialização da cultura, é através da Indústria
Cultural que esses movimentos jovens acabam se expandindo e se deixando
assimilar. Por um lado, introduzem temas e questões até então ignorados ou
pouco discutidos pela maioria da sociedade, como por exemplo, drogas, sexo,
racismo, ecologia e pacifismo. Por outro lado, evidenciam o aspecto
transformador da cultura jovem que, expressando uma visão crítica da
realidade, acaba por modificá-la, mesmo estando submetida a um rígido
processo de industrialização e comercialização.
O Rock ´n Roll, símbolo de ruptura, de contextação e de irreverência
acabou despertando grandes iras e desgostos nos defensores e
representantes maiores do discurso conservador, ou seja, no clero (católico e
protestante) e em toda a comunidade puritana. O Rock passou a ser
considerado por muitos como a ruína dos ditos bons costumes, a perdição dos
jovens e de todos aqueles que o ouvissem. “Qualquer pai ficaria horrorizado e
chocado ao saber que seus filhos estão ouvindo uma música dessas”. O Rock
‘n’ roll começou a se popularizar ao final dos anos 50 e a destruir os valores
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cristãos. Para os conservadores, a civilização ocidental esteve sob a mira de
um plano deliberado de guerra cultural, com o propósito de eliminar a herança
cultural judaico cristã. (CIAPPINO 2006)
A linguagem do Rock passa a ser observada como um espaço histórico-
ideológico de onde eclode significado através de sua materialidade. O sentido
do Rock é percebido na medida em que contesta o aspecto religioso, jurídico,
ateu, travando-se, assim, uma luta ideológica, isto é, a luta pelo sentido,
contestando a ordem autoritária de poder, que propõe verdades absolutas
como os da educação, da mídia, da ciência, da política, etc.( id 2006)
È indiscutível a contribuição e a relação do Rock ‘n’ roll nas mudanças
de novos padrões comportamentais que se sucederam a partir dos anos 50.
Este movimento marca uma divisão provocando mudanças comportamentais e
ideológicas com seus músicos rebeldes desvairados e contestadores, ou seja,
se constroem sentidos de contestação, afronta e ruptura com a moralidade
cristã. O Rock ‘n’ roll é entendido como manifestação estética, como espaço
histórico-ideológico de onde os sentidos surgem por meio de sua manifestação.
O significado é produzido por sujeitos que ocupam posições, as quais são
determinadas, por sua vez, por reais condições de existência, isto é, são
posições de sujeitos estabelecidas em uma região social, histórica, ideológica e
cultural. As condições sociais, podem, entre outras, ser de classe,
paralelamente as condições de produção definem e organizam a sociedade
determinando o modo com que cada um produz sentido sobre determinados
acontecimentos. Determinam a posição com a qual o sujeito vai se identificar,
determinado por suas reais condições de existência.
Passaram-se meses até a definição do tema para este artigo. A única
certeza é que seria sobre Dança. Isto não restringia meu objeto, já que o
campo da Dança é vasto. Com as leituras o tema foi surgindo. Apaixonada pela
Dança veio a decisão, seria História e Dança: perspectiva de produção
historiográfica com base na manifestação estética do Rock ‘n’ roll nos anos 50.
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As questões surgiram antes do projeto, durante as leituras de referência,
porém as prioridades foram se definindo para o âmbito teórico porque a Dança
faz parte da minha prática pedagógica a alguns anos. A Dança expressa a
brasilidade, através da diversidade cultural de que o Brasil é formado. A Dança
possui conteúdos históricos, sociais e políticos, ou seja, práticas levadas a
efeito por sujeitos históricos em contextos sócio-históricos determinados.
Considerando a inserção de tais sujeitos no seu universo e a diversidade
cultural, expressos pelo movimento do corpo, investigar a memória da dança,
faz sentido aos alunos para que possam aprender através da pesquisa “para
poder mostrar”, experimentando novas formas de expressão que não são
possíveis demonstrar por meio das palavras. A prática pedagógica permite,
através da pesquisa da memória da Dança, trabalhar História de modo
interessante, produtivo e significativo.
A Dança contribui para reforçar laços de amizade, trabalhar, conhecer o
grupo e conhecer a si próprios de outra maneira, enfatizando a importância da
auto-estima, envolvendo a família no desenvolvimento do processo, facilitando
a compreensão da revelação do cotidiano, das ações, atitudes, hábitos mentais
e rituais que indicam ocasiões especiais na vida dos indivíduos e das
comunidades, relacionando sua vida cotidiana à memória e à dança,
mostrando como de fato fazem parte da História.
A investigação da História da Dança e o registro da memória de
referenciais relevantes, sobre a Dança como criação artística e referencial de
memória, para compreender o real sentido e significado da Dança como
manifestação cultural. O exercício da memória e da cidadania garantem a
continuidade da memória da Dança enquanto manifestação cultural e seus
diversos modos de criar composições coreográficas.
O trabalho com a Dança estimula a memória dos alunos e das pessoas
historicamente vinculadas à comunidade, contribuindo para garantir sua
identidade cultural, proporcionar bem-estar, melhorar sua qualidade de vida,
auto-estima, inclusão, solidariedade, amizade, responsabilidade, respeito,
gosto pela pesquisa em aprender, experimenta, investigar e utilizar diversos
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estímulos para criar composições coreográficas de memórias obtidas através
de: notícia de jornal, poesia, literatura, História, emoções, sentimentos, mitos,
obras de arte, quadros, esculturas, elementos de movimento, sons e silêncio,
etc.
A primeira pergunta era como transportar a prática pedagógica utilizada
para tornar as aulas de História interessantes, de modo a alterar a perspectiva
do uso da Dança utilizada até então.
Os referenciais teóricos possibilitaram perceber o significado de um
determinado contexto sócio-cultural a ser investigado e tomar como objeto de
análise a manifestação estética do Rock ‘n’ roll na década de 50.
O modo de observar a relação entre Dança e História nesse caso é mais
do que mera ilustração. Implica em utilizar a memória da dança enquanto uma
prática dos sujeitos inseridos em contextos sócio-históricos do EUA e do Brasil
na década de 50, de modo a possibilitar a compreensão dos significados que
esta prática assume para os mesmos, assim se fez necessário investigar a
relação do Rock ‘n’ roll dos anos 50 com a Indústria Cultural.
Conclusão
A investigação, apesar da escassez de registros documentais sobre a
Dança do Rock ‘n’ roll, permitiu a percepção de que o Rock ‘n’ roll se tornou
símbolo de ruptura e mudança. Novos padrões de comportamento foram
revelados pela juventude rebelde e contestatória da década de 50, que se
tornou público alvo das estratégias de consumo da Indústria Cultural.
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Os valores conservadores e patriarcais no contexto sócio-histórico do
Pós-Guerra se tornaram sem sentido, e são substituídos pela descontração,
sensualidade e liberdade de se divertir. O cinema estadunidense apresenta o
Rock ‘n’ roll ao Brasil, que não permaneceu estanque e evoluiu para o iê iê iê,
absorvendo o Rock ‘n’ roll pela influência sócio-histórica de cada década.
Torna-se relevante sugerir novas investigações ou suscitar novas
discussões de estilos e décadas que consagraram o Rock ‘n’ roll, onde cada
década contribui para a construção da outra. A comunicação próxima do Rock
‘n’ roll, não elimina a história anterior de nenhuma década, pois esta poderá
servir de estímulo, suporte ou princípio para investigar o Rock ‘n’ roll nas
décadas de 60, 70, 80, 90...
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Resumo feito por André Heavyman Morize, com base em textos de José Júlio do Espírito Santo e Adriana Magalhães, Revistas Pop Rock, Revistas o Cruzeiro, capas e contracapas de discos e jornais antigos.
Revista Rock. Música do século XX, nº 3. 1978, Ed. Rio Gráfica Ltda.