hospital semper
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Outras denominações: Hospital da Cruz Vermelha (1948-1982), Hospital
Semper (1982 – dias atuais)
Localização: Centro, Belo Horizonte-MG
Categoria: Hospital-geral
Período de construção: 1948
Proprietária: Sociedade anônima
Autor/construtor: Arquiteto Raffaello Berti
Histórico
A história da filial mineira da Cruz Vermelha foi feita por vários começos e re-
começos, até se consolidar na década de 1940. A primeira iniciativa de criação
da Cruz Vermelha Brasileira – Filial Minas Gerais – é de 22 de outubro de 1914,
quando, na sede do Tiro de Guerra 52, à Avenida Afonso Pena, n. 790, foi escolhi-
do um presidente e publicado um regulamento. Contudo, essa primeira iniciativa
não logrou êxito.
Além dos postos mantidos pelas Damas de Caridade, existiam os da Cruz
Vermelha e os da Sociedade São Vicente de Paulo, que recolhiam doações nos
vários pontos da cidade para acudir aos mais necessitados. Em 1918, as Damas de
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Hospital semper
Caridade de Belo Horizonte já eram um grupo tão forte e respeitável quanto as
outras duas importantes redes internacionais de atendimento aos carentes.
O bom argumento de atendimento aos carentes transformou-se, com o tem-
po, em ajuda mais especializada, como os serviços de enfermagem. No episódio
da gripe espanhola, foram encontradas algumas “senhorinhas da sociedade” au-
xiliando nas enfermarias. Em 2 de agosto de 1924, circulou uma notícia sobre
a Cruz Vermelha Mineira e, mais uma vez, o destaque foi dado à atuação das
mulheres. Dessa vez, em função de mais uma revolta contra o governo de Arthur
Bernardes, que estourou em São Paulo no dia 5 de julho. Os tenentes paulistas
rebelaram-se, exigindo o fim do governo e a convocação de eleições para uma
Assembleia Constituinte. O Governo Federal contra-atacou com artilharia e de-
zenas de pessoas morreram. Preocupadas, as mulheres mineiras, em uma mani-
festação de patriotismo, resolveram oferecer seus serviços à causa da legalidade,
fundando a Cruz Vermelha Mineira.
As associadas da Cruz Vermelha quiseram confirmar seu empenho na asso-
ciação e logo promoveram um curso teórico-prático de enfermagem, a fim de
prestarem auxílios mais relevantes à nação. Nos cursos de enfermagem, minis-
trados por professores da Faculdade de Medicina, as senhorinhas aprenderam a
fazer curativos e prestar socorros imediatos.
Para participar do esforço de guerra do país e graças ao empenho de Clóvis
Salgado, em 23 de fevereiro de 1942, no salão de festas da Feira de Amostras, reor-
ganizou-se a Filial de Minas Gerais. A primeira iniciativa da diretoria foi reorga-
nizar uma Escola de Enfermagem, com o objetivo de preparar enfermeiras para
a Força Expedicionária Brasileira. Com o fim da guerra, organizou-se a Escola de
Auxiliares de Enfermagem, reconhecida em 1950, que continua formando auxilia-
res, agora sob o nome de Escola de Enfermagem Clóvis Salgado.
Os primeiros cursos orientados por Clóvis Salgado foram instalados em coo-
peração com a Faculdade de Medicina, o Hospital do Pronto-socorro, o Hospital
Militar e outros hospitais com os quais Salgado estava envolvido em cargos de
direção, como o Hospital de Ginecologia, a Casa de Saúde São José e o Hospital
São Vicente. Nessa nova fase, foi adotado um curso de socorristas voluntárias
com duração de 4 meses, de acordo com o programa do órgão central.
Com a implantação e a consolidação do curso, cresceu a ideia da criação de
um hospital-escola. Para tanto, Clóvis Salgado, que foi presidente da instituição
entre 1946 e 1978, não poupou esforços.
O primeiro prédio construído para ser hospital-escola foi repassado ao Governo
do Estado para ser hospital de pronto-socorro, tendo em vista a deficiência das ins-
talações existentes para atender à crescente demanda da população. O prédio, que
estava em fase final de construção, localizado à Rua dos Otoni, esquina com a Ave-
nida Bernardo Monteiro, hoje é o Hospital Maria Amélia Lins. A direção do pronto-
-socorro entrou em entendimento com o diretor da Cruz Vermelha – Seção de Minas
Gerais, Clóvis Salgado, e com o interventor federal do Estado, Alcides Lins, a fim de
viabilizar a transação. A negociação, concretizada em 1947, foi possibilitada por meio
da venda de apólices do Estado à Previdência, que permitiram a compra do imóvel.
A Cruz Vermelha também recebeu como doação um terreno destinado às
suas futuras instalações. O novo terreno localiza-se na Alameda Ezequiel Dias e
o projeto foi solicitado ao mesmo arquiteto do antigo prédio, Raffaello Berti. O
novo prédio foi inaugurado em 1948 e, em agosto de 1952, a Cruz Vermelha Bra-
sileira – Seccional de Minas Gerais alugou parte do prédio de seu hospital-escola
à Escola de Enfermagem Carlos Chagas e o prédio passou a abrigar também a
cadeira de Clínica Médica.
O internato das enfermeiras da Escola Carlos Chagas (atual Escola de Enfer-
magem da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG) conviveu no espaço do
Hospital com a Escola de Auxiliares de Enfermagem, atual Clóvis Salgado, que foi
reconhecida em 1950 e funciona até hoje formando auxiliares de enfermagem.
O empreendedorismo de Clóvis Salgado junto à Cruz Vermelha teve refle-
xos positivos também para a cultura de Belo Horizonte. Na década de 1960, teve
início a construção de um auditório para a Escola de Enfermagem da Cruz Ver-
melha. Diante da falta de espaço para a apresentação de peças teatrais na cidade,
Clóvis Salgado, um grande entusiasta do mundo das artes, teve a iniciativa de
transformar as dependências do auditório no primeiro teatro de comédia da ca-
pital, inaugurado em 1963. Batizado com o nome de sua filha, o Teatro Marília,
com seus 500 lugares, é hoje um dos importantes espaços teatrais da cidade e
ainda integra o patrimônio da entidade.
Na década de 1970, diante das perspectivas de duplicação do número de alunos
em 1974 e 1975, Clóvis Salgado, professor de Ginecologia e diretor da Faculdade de
Medicina, cuidou de renovar com a Cruz Vermelha o aluguel do hospital-escola da
Alameda Ezequiel Dias por um prazo de 10 anos. Assim, o hospital passou a abrigar
as clínicas de ginecologia, obstetrícia e clínica médica. Para a ginecologia, o ambu-
latório quadruplicou-se e o bloco cirúrgico passou a ter cinco salas. A residência
passou a ter oito vagas e o mestrado foi criado em 1973.
No início de 1982, finalizada a construção das últimas salas do Hospital das
Clínicas da UFMG e estando terminado o contrato de aluguel do imóvel da Cruz
Vermelha, não havia mais razão para as clínicas da Faculdade de Medicina fun-
cionarem ali. Assim, o prédio foi desocupado.
Com a desocupação, o prédio foi alugado pela direção de uma clínica parti-
cular chamada Semper, criada na região da Savassi, em março de 1961, por um
grupo de cinco médicos. Essa clínica era especializada em urgências e em neu-
rologia, mas, devido ao alto número de pacientes que atendia, tornou-se peque-
na, sendo transferida para local maior em 2 anos, na Avenida Afonso Pena, que
também se tornou insuficiente.
Na década de 1980, o nome Semper já tinha grande aceitação e reconheci-
mento por parte dos belorizontinos, principalmente depois de ter auxiliado no
pronto-atendimento às vítimas do traumático desabamento do “Pavilhão da Ga-
meleira”, na década de 1970. Com o propósito de atender à população de forma
mais confortável e oferecer maior espaço com mais recursos técnicos, a Clínica
Semper alugou o prédio da Cruz Vermelha e ali permanece até hoje.
Em 1998, o prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro, inaugurou a residên-
cia médica no Hospital Semper. A residência permite que o aluno de medicina
trabalhe nas áreas de clínica médica, anestesia, medicina intensiva, pediatria,
ginecologia e cirurgia geral. Além da residência médica, o hospital possui es-
tágios para estudantes de fisioterapia, enfermagem e técnicos de enfermagem,
fonoaudiologia, nutrição, farmácia, serviço social, psicologia, administração e
comunicação.
O hospital possui 7.500 m2, com sete andares. Atualmente, dispõe de 150 lei-
tos e conta com 445 funcionários. Em 2011, o Hospital comemora seu cinquente-
nário, com extensa programação.
Descrição arquitetônica
O edifício segue a tipologia arquitetônica moderna, com influências do art déco.
A planta é simétrica e conformada pela adição de três retângulos que se articu-
lam por corredores, criando a forma de “U”. A entrada é situada no eixo central
e o acesso entre os pavimentos é realizado por meio de elevador e escadas, es-
tando a circulação vertical no saguão central de entrada. A construção apresenta
a característica do monobloco, com volumetria constituída de seis pavimentos e
sete no corpo central (caixa de elevador).
O edifício foi implantado paralelo à Alameda Ezequiel Dias, com recuos fron-
tal, lateral e posterior. A fachada principal é voltada para oeste e a entrada possui
avanço em planta e é assinalada pelos pilares do pilotis (com arremate curvo nas
quinas) e pelo terraço do terceiro pavimento, que funciona como área coberta no
acesso principal, largo para passagem para veículos.
A concepção estilística segue características modernas. A fachada principal
possui conformação sólida e bem marcada por frisos horizontais, colunas verti-
cais e volumes com arremates curvos, traços remanescentes do art déco. As es-
quadrias são em ferro tipo basculante e criam panos de vidro verticais no corpo
central do prédio.
Registro de tombamento: Não está tombado.
Figura 1
Hospital Semper.
Acervo Centro de Memória
da Escola de Enfermagem.
créDitos
Rita de Cássia Marques: pesquisa e texto;
Cláudia Marun Mascarenhas Martins: descrição arquitetônica.
Fontes
CRuz Vermelha Mineira. Jornal O Horizonte. Belo Horizonte, 2 de agosto de 1924. p.1.
DO PALCO para as ruas. Estado de Minas. 7 de abril de 2008.
EntREViStA de Álvaro Vasconcelos Pereira concedida a Rita de Cássia Marques. Belo Horizon-
te, 28 de novembro de 2007.
HiStóRiCO do Hospital Semper. Disponível em: www.cvb.org.br/filiais/minasgarais.htm. Aces-
sado em: 2/6/2011
HiStóRiCO do Hospital Semper. Disponível em: www.hsemper.com.br. Acessado em: 2/6/2011.
MARQuES, R. C. M. A imagem do médico de senhoras no século XX. Belo Horizonte: Coopmed,
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