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I FÓRUM SOBRE ASPECTOS MÉDICOS E SOCIAIS RELACIONADOS AO USO DO
CRACK
Jane Lemos*
INTRODUÇÃO
Tendo em vista a promoção do I Fórum sobre aspectos médicos e sociais
relacionados ao uso do crack pelo Conselho Federal de Medicina e a pedido da
Diretoria do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco elaboramos esse
documento para subsidiar participação dos nossos representantes no citado evento.
O Fórum contará com duas mesas redondas que abordarão:
I-Aspectos Técnicos e Éticos: epidemiologia, abordagens clinicas, dilemas ético-
clínicos na assistência, acolhimento, medicina e interdisciplinaridade;
II- Aspectos institucionais e Sociais: aspectos jurídicos, papel institucional do
Estado, proposta do MEC para combate ao crack no sistema educacional e crack:
visão da sociedade.
A complexidade e gravidade da questão das drogas têm levado a sociedade a
discuti-la em seus mais diversos aspectos numa perspectiva pluridimensional.
Certamente, foi o que levou o Conselho Federal de Medicina, entidade cada vez mais
presente e preocupada com os temas mais relevantes de nossa sociedade a propor
uma discussão mais profunda sobre o uso do crack e suas nefastas conseqüências.
Para elaboração deste texto contamos com a contribuição do Conselheiro José
Francisco de Albuquerque, da Psiquiatra Jandira de Barros Saraiva e da Psicóloga
Enildes Monteiro de Albuquerque Melo, todos com vasta experiência na área de
Dependência Química.
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CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O USO DE DROGAS.
“Parece improvável que a humanidade em geral seja algum dia capaz de
dispensar os “paraísos artificiais”, isto é,... a busca de auto transcendência
através das drogas ou... umas férias químicas de si mesmo... A maioria dos
homens e mulheres levam vidas tão dolorosas- ou monótonas, pobres e
limitadas, que a tentação de transcender a si mesmo, ainda que por alguns
momentos, é e sempre foi um dos principais apetites da alma” .( Aldous Huxley)
Este texto de famoso autor inglês permanece até hoje muito atual com relação
ao complexo tema do uso e abuso de drogas cujo debate deve ser aprofundado
sempre numa visão pluridimensional.
Apesar do cotidiano de noticias na mídia nacional sobre drogas retratar a
gravidade da questão das drogas no país, do ponto de vista de saúde pública, os
estudiosos do tema consideram que há distorções em relação a real situação de
consumo. Por exemplo, entre as causas de óbitos relacionadas com drogas, mais de
95% são devidas a drogas legais, lícitas, como álcool e fumo; no entanto o foco da
mídia sempre se volta para as drogas ilegais, sobre narcotráfico e narcodólares,
violências supostamente decorrentes do uso de drogas-, estas mortes, quando
comparadas com mortes no trânsito ou com a mortalidade infantil, são ínfimas.
Evidentemente, isto não diminui a extensão do problema do ponto de vista técnico,
ético e social.
DEPENDENCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS.
À guisa de introdução é importante ressaltar ser consenso entre os estudiosos
do assunto, que os efeitos de uma droga dependem de três elementos:
1-Suas propriedades farmacológicas ( excitantes, depressoras ou perturbadoras);
2-A personalidade da pessoa que a usa, suas condições físicas e psíquicas, inclusive
suas expectativas;
3-O conjunto de fatores ligados ao contexto de uso dessa droga, tais como as
companhias, o lugar de uso (ambiente sócio/cultural) e o que representa esse uso
socialmente.
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USO, ABUSO E DEPENDENCIA.
Não existe uma fronteira clara entre Uso, Abuso e Dependência. O Uso pode
ser definido como qualquer consumo de substancias, seja para experimentar, seja
esporádico ou episódico; Abuso ou uso nocivo, como o consumo de SPA já associado
a algum tipo de prejuízo ( biológico, psicológico ou social); e, Dependência como o
consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário.
O estado de Dependência não constitui um estado do tipo “tudo ou nada”: trata-
se de um contínuo, de uma gradação entre um extremo e outro. Mesmo o estado de
dependência não constitui uma categoria homogênea, sendo mais adequado
pensarmos em termos de “graus de dependência”. Diferentes mecanismos levam as
pessoas a se tornarem dependentes. Assim, dependência é uma relação alterada
entre um individuo e seu modo de consumir uma substancia, sendo capaz de trazer
problemas para o usuário. No entanto, algumas substâncias psicoativas (SPA)
causam dependência mais rapidamente. O álcool, por exemplo, pode levar meses
para se instalar, já a cocaína e seus derivados, acontece após algumas vezes de uso.
COMORBIDADES
Sabe-se, que é comum o consumo de substancias psicoativas coexistindo com
outros transtornos mentais. De modo geral, o uso de SPA, mesmo ocasional e em
pequenas doses, nesta população pode gerar conseqüências mais serias que as
vistas em pacientes sem comorbidades. Ha poucos estudos realizados no Brasil
investigando a comorbidades entre uso abusivo ou dependência de SPA e transtornos
mentais graves.
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS.
Região Nordeste- CEBRID – Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas
Psicotrópicas. Peculiaridades regionais e populações específicas-
Os objetivos dos estudos epidemiológicos nesta área são:
Diagnosticar o uso de drogas em uma determinada população;
Possibilitar a implantação de programas preventivos adequados à população
pesquisada.
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Os tipos de estudos
1- Levantamentos epidemiológicos (fornecem dados diretos do consumo de drogas):
Domiciliares
Com estudantes (alunos do ensino fundamental, médio e universitários)
Com crianças e adolescentes em situação de rua
Com outras populações específicas; por exemplo: profissionais do sexo;
trabalhadores da indústria; policiais; profissionais de saúde etc.
2-Indicadores epidemiológicos (fornecem dados indiretos do consumo de SPA de uma
determinada população).
Internações hospitalares
Atendimentos ambulatoriais
Atendimentos em salas de emergências
Laudos cadavéricos de mortes violentas
Apreensões de drogas feitas pela policia Federal, Estaduais e Municipais
Prescrição de medicamentos (benzodiazepínicos anfetamínicos)
Mídia
Casos de violência decorrentes do uso de drogas, tanto licitas como ilícitas.
Prisões de traficantes.
Drogas mais usadas no BRASIL, segundo uma ordenação decrescente:
Álcool, tabaco, solventes benzodiazepínicos, anorexígenos, xaropes,
estimulantes, barbitúricos - LÍCITAS
Maconha, Cocaína (pó);opiáceos; alucinógenos; crack; merla; heroína.- ILÍCITAS.
As Principais Drogas Usadas no Nordeste, seu impacto Social e na Saúde
Pública.
Sinopse dos Principais resultados da Região Nordeste no I e II Levantamento
Domiciliar Sobre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil- CEBRID-
2001/2005
População Estudada-
Amostragem de 22 cidades com mais de 200 mil habitantes (1.644 entrevistas).
CIDADES- Maceió, Feira de Santana, Ilhéus, Vitória da Conquista, Caucaia, Fortaleza, Juazeiro do Norte, Imperatriz, São Luis, Campina Grande, João Pessoa, Caruaru, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Petrolina, Recife, Teresina, Mossoró, Natal, Aracaju.
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Faixas etárias- de 12 anos a maiores ou igual a 35 anos. Homens de mulheres.
Grupos étnicos- predomínio de mulatos sobre os demais grupos.
Estado civil- 50% eram solteiros
Classes sociais- maior percentagem de respondentes nas classes C e D
Escolaridade- 1/3 da amostra é de analfabetos ou I grau incompleto.
Religião- 70,7% católicos.
DADOS ESPECÍFICOS-
% de Uso na Vida % de Dependentes
Álcool 68,4 Álcool 16,9
% de USO na Vida % de Dependentes
Tabaco 37,4 Tabaco 8,3
Orexígenos 11,2 Benzodiazepínicos 2,3
Solventes 9,7 Maconha 1,2
Benzodiaz. 5,3
Xarope (codeína) 3,2
Opiáceos 2,2
Estimulantes 1,7
Cocaína 1,4
Anticolinérgicos 1,3
Barbitúricos 0,6 Uso na vida de qualquer droga
Crack 0,4 (exceto tabaco e álcool) – 29%
ACHADOS RELEVANTES
1. Quase 1/3 da população estudada do Nordeste (29%) já fez uso na vida de alguma droga, exceto tabaco e álcool.
2. A estimativa de dependentes de álcool foi a maior do Brasil, com 16,9% , correspondendo a 1.537.000 pessoas.
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3. A porcentagem de dependentes de maconha (1,2 %) foi a segunda colocada , quando comparada às cinco Regiões brasileiras, porém a dependência dos benzodiazepínicos superou a de maconha, apresentando 2,3%, quase o dobro da maconha.
4. Os solventes tiveram o maior uso na vida comparado a todo o país (9,7).
5. O maior uso na vida de orexígenos (estimulantes do apetite) apareceu no Nordeste, com 11,2%.
O I Levantamento Domiciliar feito pelo CEBRID, mostra também dados
importantes em relação a:
A Maconha como a droga ilícita mais fácil de ser obtida pela população-53,3%
Cocaína, referida por 23,9% e o Crack por 19,9%.
Presença de pessoas “bêbadas” nas vizinhanças, nos últimos 30 dias- 66,0%
Pessoas que passaram por algum tratamento por causa do uso de álcool e/ outras drogas- 8,9%
Complicações Decorrentes do Uso de Álcool e de outras Drogas, que
foram pesquisadas.
Acidentes de trânsito- variando de 7,4% a 12% segundo a faixa etária.
Estar sob efeito de drogas no trabalho- 4,4% (faixa etária de 25 a 34 anos)
Quedas decorrentes do uso das drogas- 11,7% para os H e 3,4% para M.
Ferimentos ou agressões físicas sob efeito das drogas- de 5,4% a 13,5%.
Procura por traficantes para obter drogas nas vizinhanças- variando de 5,0% a 20,9%.
O sexo masculino teve mais complicações do que o feminino, em todas as faixas etárias.
São as Drogas licitas as que lideram os problemas no coletivo e na saúde
das pessoas.
No Levantamento de 2005, o Nordeste continua sendo a região de maior
prevalência na dependência de álcool, 14%, ou seja , em cada 100
nordestinos, 14 são dependentes de álcool ( alcoolistas). Houve aumento na
prevalência de dependência de Maconha, que superou os Benzodiazepínicos,
e aumento no uso do crack, principalmente nas regiões metropolitanas.
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COCAÍNA E SEUS DERIVADOS-
Levantamentos epidemiológicos e indicadores epidemiológicos, têm
evidenciado um aumento considerável das apreensões de cocaína, a partir dos anos
oitenta no Brasil.Em paralelo houve um aumento do consumo e com isso a cocaína
tomou o lugar dos medicamentos como o dextropropoxifeno ( Algafan) e derivados
anfetamínicos ( bolinhas; arrebites) na preferência do usuário.É freqüente o uso entre
os adolescentes para “alivio” do desanimo(sic). O Crack é a cocaína preparada para
consumo via inalatória (fumada). A rapidez e intensidade de seus efeitos, decorrentes
da intensa absorção ao nível dos pulmões, são fatores que favorecem a Dependência
dessa droga.
Vale assinalar que, em relação especificamente ao CRACK, o seu surgimento
no espaço da rua, introduziu mudanças profundas no consumo de drogas em situação
de rua por três razões: o produto é Ilícito, justificando a perseguição policial; detém
alto potencial aditivo e provoca dependência rápida e devastadora, além de levar às
perdas da capacidade relacional e da influencia socializantes que o crack acarreta,
tornando a criança ou o Jovem mais indiferentes ou mesmo hostil a propostas de
mudanças de vida ( Carlini, E.A., Napo e Galduroz)
O consumo de CRAK têm se expandido tanto em nosso meio, sobretudo em
cidades maiores ou de região metropolitana, que vem substituindo o consumo da
coca injetável. As razões para isso são:
Efeito rápido e intenso,
Menor custo, em relação ao pó, adequando-se ao perfil de baixa renda dos
consumidores;
Fácil utilização, dispensando a necessidade de seringa;
Tem maior aceitação social por ser consumida fumada e não-injetável, podendo ser
misturado com ao tabaco e à maconha (pistilo, mesclado)
Constitui uma alternativa ao uso das drogas injetáveis, com redução dos riscos de
ISR.
Considerando-se o crescente aumento do Consumo do crack, com seus
desdobramentos (tráfico, violências,roubos, mortes por problemas Clínicos como
pneumonia por crack, Infarto do Miocárdio, AVC, Estado de Mal epiléptico,mortes
violentas por assalto, homicídio, suicídio,AIDS, hepatite tipo C, episódios psicóticos
paranóides,aumento da prostituição e de pessoas com conflitos com a Lei) e o
envolvimento dos usuários com narcotraficantes, além do uso concomitante de álcool
e crack/cocaína, que leva a produção de uma terceira substância extremamente
tóxica para o fígado, o Cocaetileno, foi sendo cada vez mais premente a necessidade
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de intervenções planejadas, com abrangência nacional, respeitando-se as
especificidades de cada Estado e das populações –alvo.
O Decreto Presidencial 7.179, de maio de 2010 e a Medida Provisória 498 de
29/7/2010, assim como a Portaria 2841 de Setembro de 2010, institui o “Plano
Integrado de Enfretamento ao Crack e Outras Drogas, com propostas factíveis de
modificar o atual panorama existente no Brasil, desde que as Normatizações sejam
implementadas, com ênfase também nas Capacitações continuadas dos diferentes
atores que deverão se inserir nas ações preventivas, no tratamento e na reinserção
social.
As ações da saúde não podem deixar de buscar parceiros nas organizações
sociais da comunidade, incluindo-se as Igrejas, Escolas, Pastorais, Comunidades
Terapêuticas Religiosas, Policlínicas, Ambulatórios, Hospitais Clínicos e Psiquiátricos,
Grupos de Auto-Ajuda, Terapia Comunitária, enfim, quanto maior o leque de
diversidade a ofertar, as possibilidades também tenderão a uma resposta mais
satisfatória.
Quanto as abordagens terapêuticas é importante ressaltar que não existe um
uma única abordagem para envolver todas as características multidimensionais
das adições. Portanto, considerando a gênese multifatorial da dependência química,
a atenção deve ser direcionada às diversas áreas afetadas, tais como social, familiar,
física, mental, questões legais, qualidade de vida e enfocando estratégias de
recaídas. Deve-se ainda ressaltar alguns aspectos relevantes considerando a intensa
fissura desencadeada por essas drogas e a baixa adesão ao tratamento a
necessidade criar estratégias que facilitem o acesso dos usuários aos serviços de
assistência, que tendem a procurá-los em situação de maior crise e mesmo com risco
de morte.
As intervenções medicamentosas são de suporte, sintomáticas, objetivando a
redução dos desconfortos provocados e as comorbidades existentes.
Lamentavelmente, apesar das intensas pesquisas dos últimos anos, não há ainda
nenhuma medicação especifica aprovada para dependência de cocaína/crack.
O conhecimento de que o uso da cocaína causa aumento inicial na neuro -
transmissão de dopamina e serotonina relacionados aos efeitos prazerosos e
reforçadores da droga e, a hipótese de que a desregulação desses sistemas tem
importante papel na síndrome de abstinência, levou a inúmeros ensaios clínicos, com
intervenções farmacológicas voltadas para tais sistemas sem, no entanto, resultados
satisfatórios.
Na prática, assim como nos ensaios clínicos tem sido testados diversas
categorias de medicamentos como: Anticonvulsivantes (Carbamazepina,
Topiramato, Gabapentina, Lamotrigina, Valproato de sódio); Antidepressivos
(tricíclicos inibidores da recaptação de serotonina – ISRSs, Inibidores seletivos da
recaptação da Noradrenalina – ISRNs; antidepressivos de ação dual; Estabilizador
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do Humor (Lítio); Antipsicóticos; Antagonistas Opióides, Antagonistas dos
canais de cálcio e Agentes Aversivos. Não há, no entanto, qualquer evidência
científica comprovada ou experiência clinica consistente. Existe ainda em pesquisas
para ser utilizada em humanos uma vacina anticocaína que visa a produção de
anticorpos. (Laranjeira, R)
O conjunto de Ações para o tratamento a essas pessoas incluem entre outros:
Terapia Familiar; Terapia Cognitiva Comportamental (treino de habilidades sociais e
prevenção de recaída); Intervenções Motivacionais – (Motivational Interviewing) e
Gerenciamento de Contingências (uso de incentivos motivacionais) desenvolvidas nos
Estados Unidos; Identificação Dos Fatores de Risco e Proteção aos usuários e suas
Comunidades; Trabalhar estimulando a resiliência dos participantes e familiares;
Construção com os sujeitos envolvidos de um “Projeto de Vida”, sem intermediar com
as drogas; Abrigos ou Pensões protegidas para os usuários em situação de risco;
Hospitais com leitos para as intervenções clinicas; Leitos psiquiátricos para
atendimento aos pacientes em surtos psicóticos e as Comunidades Terapêuticas.
No que tange em relação as Comunidades Terapêuticas, que pese à sua
importância prática, vale a pena ressaltar que tem havido uma proliferação desses
serviços na área privada e, portanto com fins lucrativos.
Como não existem, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Federal de
Medicina, instrumentos normativos que os regulem tecnicamente, deve-se, no
mínimo, questionar quanto ao seu funcionamento e a necessidade do controle de
qualidade. Laranjeira, em um dos seus artigos comenta sobre o funcionamento
precário de alguns desses serviços, sem infra- estrutura e equipe capacitada para
lidar com os internos, ressaltando a falta de estudos relacionados ao tema assim
como ausência de identificador público de quantidade e qualidade. O mesmo autor
chama a atenção tecem considerações sobre os modelos de comunidades
terapêuticas que inspiram esses serviços e especialmente para a carência de
trabalhos na literatura científica nacional a cerca do tema, existindo apenas relatos de
experiência.
Em termos de normatização das Comunidades Terapêuticas existe apenas uma
normatização da ANVISA RDC 101/2001 que estabelece regulamento Técnico
disciplinando as exigências mínimas para o funcionamento de serviços de atenção a
pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias psicoativas,
segundo modelo psicossocial, também conhecido como Comunidades Terapêuticas,
parte integrante desta Resolução. Parece- nos importante o estabelecimentos de
normas técnicas para esses serviços.
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Evidentemente que todas essas articulações perpassam e irão confronta-se
com os modelos existentes na sociedade brasileira, se fazendo também fundamental
o questionamento e a superação dos fatores que facilitam e reforçam o uso de SPA.
Anexo a este texto, encontram-se: contribuição da Dra. Jandira Barros Saraiva
sobre a rede de atenção aos usuários de drogas do Estado de Pernambuco e do
Conselheiro do CREMEPE e Professor de Psiquiatria da UFPE sobre a Experiência
do NEDEQ – Núcleo Especializado em Dependência Química do Hospital das
Clinicas da UFPE.
Anexo – Decreto 7.179/2010, Portaria 480 e 481 do Ministério da Saúde
*Psiquiatra, Conselheira do CREMEPE e Presidente da Associação Médica de
Pernambuco.
Referências Bibliográficas.
- CEBRID- Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas- II
Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil-2005 –
Brasilia – SENAD,2006 – Disponível em URL: HTTP: www.cebrid.epm. BR
Decretos e Portarias Ministeriais – disponíveis no site do Ministério da Saúde –
www.saude.gov. br
-Diehl, A; Cordeiro, D; Laranjeira, R – Tratamento Farmacológicos para Dependência
Química – Da evidencia Científica à Prática Clinica – Porto Alegre - Artmed – 2010
-Figlie, NB; Bordin, S; Laranjeira, R – Aconselhamento em Dependência Química – São
Paulo -Editora Roca Ltda, 2004.
Gigliotti, A; Guimarães, A – Diretrizes Gerais para Tratamento da Dependência
Química – Rio de Janeiro – Editora Rubio/ABEAD – 2010.
-Projeto Diretrizes – Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina,
2002
-Revista Debates- Psiquiatria Hoje – Associação Brasileira de Psiquiatria, Ano 2 – Nº3
– maio/junho de 20010
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-
REALIDADE DA REDE DE TRATAMENTO AOS USUÁRIOS ABUSIVOS OU
DEPENDENTES DE SPA EM PERNAMBUCO.
Jandira Barros Saraiva*
Até o momento atual não há uma abordagem única para pacientes que fazem
uso problemático de álcool e /outras drogas (SENAD, CEBRID). A rede deve ser
diversificada com um leque de opções. A rede de atenção é ainda insuficiente e não
dá conta da demanda existente no Estado e Municípios. Parte desses pacientes estão
sendo atendidos em Hospitais Psiquiátricos, que vão receber aumento de 31% em
suas diárias, repassado pelo Ministério da Saúde ( vide portaria).
Recife e área metropolitana.
Conta com um (1) CAPS ad por Distrito Sanitário (06 CAPS ad) e dois Albergues para
usuários que sejam considerados em situação de alto risco.
Outros Municípios-
Camaragibe- 1 CAPS ad, funcionando os 2 turnos; Jaboatão, 1 Caps ad; Cabo, 1 Caps
ad; Paulista 1 CAPS ad. Olinda- 1 Caps ad
Ambulatórios da Justiça Terapêutica também oferece atendimento e encaminhamentos
quando necessário. ( VEPA)
Leitos de Desintoxicação-
Hospital da Mirueira, em Paulista, com 52 leitos para alcoolismo, e que atende a todo
ESTADO de Pernambuco. As enfermarias foram transformadas em Unidades de
Desintoxicação há cerca de 8 anos atrás.
HUP- Hospital Ulysses Pernambucano - Desintoxicação também em condições
precárias, geralmente transferindo os pacientes para outras unidades.
Hospital Geral de Jaboatão- 6 leitos para desintoxicação, mas, na emergência-
Segundo a GASAM- Gerência de Atenção à Saúde Mental/SES/PE, há outros leitos
conveniados em Hospitais Gerais, mas, que não são Hospitais de Referencia ad,
segundo as portarias de normatização do Ministério da Saúde Há leitos em
Policlínicas do Interior (sic), perfazendo mais 9 leitos .
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TRATAMENTOS EXISTENTES NA COMUNIDADE, EM PERNAMBUCO:
Os Grupos de Auto-Ajuda: Alcoólicos Anônimos (AA); Al-anom (para familiares e
amigos);Amor Exigente; Narcóticos Anônimos ( NA); Pastoral da Juventude da Igreja
das Graças; Grupo de Terapia Comunitária para usuários, familiares e pessoas da
comunidade – reuniões quinzenais na Igreja do Espinheiro, pela manhã; Grupos de
Terapia Comunitária na Igreja do Pátio de Santa Cruz, nas segundas-feiras.
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS RELIGIOSAS. Sem fins Lucrativos
Foram identificadas em Pernambuco no ano de 2007/2008, 14 (quatorze
estabelecimentos, em diferentes Municípios, entre eles: Recife, Jaboatão, Paulista;
Cabo; Caruaru; Garanhuns; Igarassu. Possivelmente já houve aumento das CTR, só
que não foram cadastradas pela GASAM - Gerência de Atenção à Saúde
Mental/SES/PE. Nos últimos tempos tem surgido as comunidades terapêuticas com
fins lucrativos, cujo funcionamento ainda não se conhece o suficiente para uma
avaliação do seu funcionamento inclusive sem normatização técnica pelo Ministério
da Saúde.
Psiquiatra do ASSISTA.
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EXPERIÊNCIA DO NEDEQ (NÚCLEO ESPECIALIZADO EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA
DO HC/UFPE.)
José Francisco de Albuquerque*
O NEDEQ faz parte da Unidade de Saúde Mental do HC/UFPE. Foi implantado no ano
de 2000 e atende a população do SUS que procura o HC. É um projeto de extensão
da UFPE, contribuindo como campo de treinamento para estudantes de graduação
e pós-graduação e profissionais voluntários com interesse de atuação na área.
O atendimento é essencialmente ambulatorial, sendo prestado por uma equipe
constituída por : psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes
sociais (docentes, funcionários do HC ou voluntários)
Em amostra constituída por 576 pacientes atendidos pelo serviço, no período de 2000 a
2008, evidenciou-se um perfil com as seguintes características:
sexo masc . – 89%
Substâncias mais utilizadas: álcool – 66%, maconha- 22% e o crack aprox. 7% dos
pacientes.
Início do uso:
< 15 anos – 29%
15 a 20 anos – 49%
21 a 30 anos – 11%
outros.....
A maioria daqueles que utilizavam substâncias ilícitas, apresentavam história de
dificuldades em várias esferas (estudo, trabalho, família, convivência social).Alguns
com envolvimentos com tráfico, assaltos, etc.
Importante ressaltar que essa amostra descrita acima foi até o início do ano de 2008. Nos
dois últimos anos estamos verificando que o perfil da nossa população atendida,
vem se modificando, ou seja: o percentual de pacientes com uso do crack passou
14
dos 7% para aproximadamente 40 a 45% dos atendidos. Predominam adolescentes
e adultos jovens.
Correspondem a dois grupos:
1º.-Mais freqüente – antigos usuários de outras substâncias, que passaram a usar o
crack
2º.-Jovens sem história importante de uso de substâncias, com vida relativamente
organizada, que iniciaram o uso do crack
Aspecto mais importante a realçar: a rápida intensidade, desorganização pessoal nas
duas situações após início do uso do crack, com o registro crescente de
envolvimento com o tráfico, registro de violência doméstica e de rua, além da
grande dificuldade de aderir ao tratamento.
Maiores dificuldades enfrentadas na condução dos casos:
Escassez ou quase ausência de leitos de desintoxicação na rede
Ausência de leitos na rede pública para internamentos por maior tempo após a desintoxicação (dispomos apenas de leitos para alcoolismo)
Ausência de integração entre os diversos serviços da rede
Necessidades fundamentais:
Uma política pública para a área, com possibilidade de estimular e promover ações a curto, médio e longo prazo para o atendimento a essa população, que possa contemplar:
1. Ações preventivas, de orientação, conscientização, envolvendo recursos da comunidade nas escolas, nas instituições de saúde , e outras instâncias da sociedade organizada;
2. Investimento na formação de recursos humanos especializados, atendendo aos padrões regionais.
*Professor de Psiquiatria da UFPE/Conselheiro do CREMEPE.